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UNIDADE 1: ÉTICA, MORAL E O INDIVÍDUO DA SOCIEDADE

SUMÁRIO

1. ÉTICA E MORAL: OS PILARES DA AÇÃO HUMANA 3

2. ÉTICA E PROCESSOS DE DECISÃO 8

3. RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS 9

4. QUESTÕES ÉTICAS CONTEMPORÂNEAS 10

4.1. Desigualdade social 11

4.1.1. A desigualdade social no Brasil 11

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14

CRÉDITOS 15
Olá! Seja bem-vindo(a) à primeira unidade da disciplina Ética, Cidadania e
Gestão! Nessa unidade, você conhecerá as definições de ética e moral e sua relação
com o indivíduo na sociedade. O objetivo é que você saiba diferenciar moral e ética
no contexto contemporâneo das relações sociais e dos processos de tomada de
decisão.

1. ÉTICA E MORAL: OS PILARES DA AÇÃO HUMANA


Você já parou para identificar quais os princípios que conduzem sua vida? Todos nós estamos dentro
de um contexto social que nos leva a tomar decisões a cada instante. Por exemplo, você pode talvez
lembrar de ter visto uma mãe com sua filha querendo atravessar uma faixa de pedestre e nenhum carro
parando para que elas pudessem cruzar de um lado para o outro da via. Sendo você o motorista de um
dos carros, como você se comportaria?
Outra situação: você trabalha em uma distribuidora e descobriu que um funcionário de outro setor
está furtando produtos da empresa. A empresa tem um circuito interno de filmagem que pode registrar
as ações dos funcionários. Qual seria sua atitude?
Aqui, você compreenderá o que é ética e quais são suas origens, seus fundamentos, seu código de
conduta e a sua contribuição para o âmbito profissional e organizacional inserido na tomada de decisão,
bem como entenderá qual o seu papel como indivíduo que compõe uma sociedade e que, possivelmente,
está ou estará em uma organização/empresa ou empreenderá em um negócio próprio.
Devido à competitividade atual, muitos estão em busca da realização pessoal e profissional. Para isso,
é necessário ter um diferencial que se destaque em meio aos outros e um desses possíveis diferenciais é
a ética, pois os comportamentos evidenciados dentro de uma empresa refletem os comportamentos dos
indivíduos fora dessa empresa.
Você, atual ou futuro gestor, tem o desafio de alcançar vantagens sustentáveis sobre seus
concorrentes, fazendo com que a empresa como um todo faça parte desse contexto. Para que isso ocorra,
os seus comportamentos, suas escolhas, sua visão enquanto pessoa e de mundo certamente influenciam
e/ou influenciarão diretamente nas imagens e na repercussão do(s) negócio(s) nos quais você atua ou
atuará. Quer seja uma empresa, uma ONG, um negócio social, uma empresa produtora de eventos, uma
agência de comunicação, ou outro tipo de negócio, a sua marca deve convergir com o seu comportamento.
Para que você seja bem-sucedido, é importante levar em consideração a tomada de decisão, visando
ações e atitudes que possam fazer a diferença e a contínua melhoria no ambiente interno, podendo refletir
a imagem positiva da empresa.
Agregar valor ao negócio, por meio do seu comportamento e das boas práticas implantadas como
legados para a sociedade, será um grande diferencial para sua empresa.
Nossas escolhas são norteadas por nossos valores e aqui é onde precisamos ficar atentos, pois são
nossos princípios éticos que vão nos mover para a tomada de decisão. Para que você compreenda melhor
tais conceitos, vamos conversar, primeiramente, sobre ética.

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A ética, muitas vezes, é percebida como uma fonte de problemas e não de oportunidades. Trazer a
ética para a discussão no âmbito dos negócios, por diversas vezes, é um ato de coragem, uma vez que a
prioridade das empresas, geralmente, é o resultado financeiro. E, de fato, o resultado financeiro possui
grau elevado de importância, mas, sem princípios, até onde um empreendedor e seus negócios chegarão?
Alguns escândalos éticos foram identificados em empresas de grande porte que jamais seriam
colocadas à prova caso os fatos não tivessem vindo a público como, por exemplo, a tragédia de Brumadinho,
gerada pelas práticas de um negócio de grandes impactos econômicos, sociais, ambientais e culturais.
Sobre a tragédia supracitada, são vários os questionamentos éticos e morais e os impactos reais para
todos os envolvidos, seja diretamente ou indiretamente.
No entanto, considerando a própria evolução do marketing e do mercado relacionado a ele, percebe-
se que muitas empresas, na atualidade, preocupam-se com suas marcas, fazendo um estudo da imagem
e o que esta transmite aos consumidores, pois, para manterem-se competitivas, identificam diferenciais
que alcançam não somente a satisfação do cliente, mas que agregam valor ao negócio e que as tornam
sustentáveis.
O fato de um indivíduo ser reconhecido pelos seus feitos, suas atitudes ou ainda pela sua influência
positiva em um determinado grupo de pessoas, ou comunidade, ou estado ou, ainda, no mundo repercute
em um legado para a sociedade. Um exemplo disso é a influência de Nelson Mandela, primeiro presidente
negro da história, o qual exerceu grande influência na luta contra a segregação racial, deixando um legado
de luta pela união entre os povos, bem como de luta pela paz mundial.
Um outro excelente (e contemporâneo) exemplo é o renomado Muhammad Yunus, ganhador do
Prêmio Nobel da Paz em 2006, pai do microcrédito e dos negócios sociais. Na década de 70, ele fez
algumas experiências com o fornecimento de pequenos empréstimos para os pobres, sem garantias
e sem as exigências tradicionais dos bancos comerciais. Esse projeto foi intitulado Grameen Bank, e
posteriormente, tornou-se um banco oficial para fornecimento de empréstimos para pobres, dentre eles,
principalmente, mulheres da zona rural de Bangladesh.

Caso queira saber mais sobre Muhammad Yunus, acesse o site:


<https://www.yunusnegociossociais.com>

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Considerando a história da sociedade moderna capitalista e as repercussões decorrentes da
globalização em meio às tecnologias, é preciso entender tanto as demandas que vêm ganhando importância
para a sociedade quanto o papel da ética no mundo contemporâneo. Assim, faz-se necessário assimilar os
conceitos de ética, bem como seu estreito relacionamento com a lei e os costumes estabelecidos. Então,
o que é a ética?

Ética vem do grego Ethos, que significa costume, valores, hábitos de uma
pessoa ou grupo de pessoas.

Assim sendo, ela faz sentido em todas as questões humanas. A ética também não é apenas uma lista
padronizada do que você pode ou não pode fazer, pois, diariamente, acontecem situações com as quais
você não tinha se deparado e, sobre as quais, você precisará tomar novas decisões, fazer novas escolhas.
A ética é uma questão humana, uma vez que apenas o ser humano é capaz de escolher, decidir,
julgar e discernir. Ética é um conjunto de valores e princípios que orientam a nossa conduta. Assim, um
ser humano, durante a infância, passa de um estado de anomia - em que apresenta um comportamento
instintivo, ausente de leis e regras, sem compreensão das normas morais - para uma fase em que
apresenta a autonomia, quando a criança já internalizou as normas morais e passa a comportar-se de
acordo com elas.
No campo da filosofia, a palavra ética é mais utilizada para designar a ciência que tem por foco o
estudo das normas morais. Já a moral fica relacionada aos costumes e às normas de comportamento,
internalizadas e aceitas no interior de uma determinada comunidade humana. Assim, ética é a teoria, a
reflexão filosófica sobre a moral, conforme menciona Alencastro (2010, p.33).
Então, o que significa moral?

A palavra moral que vem do latim mores, significa costumes. Moral é o


exercício prático dos valores e princípios.

Por exemplo, o ato de matar deve ser evitado, pois, vai contra a dignidade do ser humano, que deve
ser respeitada sempre como um fim, pois, se todos podem matar indiscriminadamente, não há como
garantir o direito à vida de quem quer que seja. Logo, “não matar” é uma regra universal, um princípio ético,
conforme ressalta Alencastro (2010, p. 42). No entanto, se abordarmos a temática do aborto podemos
perceber que existe em si mesmo uma questão moral, conforme o exemplo a seguir:
Em países onde a legislação descriminaliza o aborto, este não é compreendido como ato de matar.
Portanto, o crime pode, também, ser entendido como um conceito moral. Dessa forma, a ética não é
passível de relativismo, pois trata-se de um paradigma universal. Já a moral obedece a uma lógica relativa,
compreendendo códigos de leis, normas sociais, convenções familiares e orientações religiosas. Assim, a
moral é a prática que norteia o indivíduo nas escolhas que ele faz diariamente.

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É importante, ainda, citar alguns importantes filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates nasceu em Atenas em 469 a.C. e era filho de um pedreiro e de uma parteira. Ele estudou
filosofia e se tornou conhecido em Atenas por suas discussões filosóficas. É frequentemente citado com um
dos fundadores da filosofia ocidental, embora, não tenha escrito nenhuma obra ou desenvolvido uma teoria.
Quem registrou as ideias socráticas que conhecemos foi um de seus discípulos, Platão. Tais ideias
se baseavam, principalmente, em questionamentos sobre a vida e sobre o que pensamos e que, como
consequência, geravam uma nova maneira de pensar. Aplicando os conhecimentos de Sócrates nos dias de
hoje, podemos imaginar a seguinte situação: você torce para um time e esse é o seu time do coração. Mas,
porque você precisa torcer apenas para um time? Não pode torcer para vários? Nessa situação, Sócrates
questionaria tal pensamento de forma racional.
Sócrates confrontava questionamentos sobre ideias opostas que, por sua vez, constituía um novo
modo de investigar o que pensamos. Esse novo modo foi chamado de método socrático ou dialético, o que
lhe rendeu vários seguidores e, também, inimigos.
O método socrático trouxe novas perspectivas práticas para a filosofia ao examinar um argumento por
meio da discussão racional a partir de uma posição de conhecimento ou de ignorância. Para Sócrates, era
crucial que a filosofia tentasse responder prioritariamente o que somos. Logo, era necessário abordar, por
meio de um processo exclusivamente racional, conceitos essenciais do nosso cotidiano tais como, o bom, o
mau, o justo etc. Diante disso, Sócrates foi, por vezes, difamado como sofista (alguém que argumenta para
vencer uma discussão) e, por fim, condenado à morte por corromper a juventude com ideias que abalavam
as tradições.
Platão (amplo) era o apelido de Arístocles, nascido em Atenas, por volta de 427 a. C. Ele escreveu várias
obras e fundou, em Atenas, uma escola conhecida como Acadêmica, na qual permaneceu como líder até
a morte, em 347 a.C. Platão teve Sócrates como mentor e foi responsável, como visto anteriormente, pelo
registro das ideias de seu mestre. Logo, quando se aborda as obras de Platão, por vezes, confunde-se com
os ensinamentos de Sócrates. Contudo, Platão tratou dos mais diversos temas da vida com uma abordagem
racional. Concluiu que o verdadeiro conhecimento é alcançado pela razão e não pelos sentidos, ou seja,
que o mundo das ideias é de fato a realidade que, por sua vez, supera (pela razão) o mundo material (dos
sentidos).
Por exemplo: uma empresa reconhecida como excelente no mundo material (que tenha, até mesmo,
ganhado prêmios ou certificações pela distinção em seus trabalhos) pode não ser considerada tão boa
como uma empresa concebida como excelente no mundo das ideias. Logo, a organização verdadeiramente
excelente é aquela idealizada e tal ideal, portanto, não carece de mudanças, uma vez que passou pelo crivo
da razão, enquanto que a instuição reconhecida como excelente no mundo dos sentidos sempre estará
sujeita a mudanças.
Aristóteles era o filho do médico da família real da Macedônia, foi aluno de Platão na Academia de
Atenas, onde o acompanhou por quase 20 anos. Entretanto, suas abordagens seguiram caminhos diferentes.
Aristóteles apresentou argumentos contrários a algumas teorias de Platão, principalmente no que tange aos
sentidos, apresentando uma abordagem empírica, ou seja, com base nas experiências. Se para Platão o
mundo das ideias era soberano, para Aristóteles, a verdade era encontrada a partir das evidências existentes
no mundo à nossa volta. Dessa feita, pode-se considerar que uma empresa excelente é aquela que apresenta
uma série de evidências observadas e encontradas em empresas classificadas como excelentes no mundo
material e não somente aquela existente apenas no mundo das ideias.

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Dessa forma, fica evidenciada a importância do autoconhecimento, pois ele nos movimenta para as
nossas escolhas, para nossas decisões. Sendo assim, faça uma reflexão e responda: Você conhece seus
valores? Saberia elencá-los? Como você está agindo para alcançar os seus objetivos? Você está respeitando
os seus princípios? Está sendo íntegro?
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Segundo Alencastro (2012, p.27), compreender a origem dos valores humanos e sua aplicabilidade
é um dos objetivos do estudo da ética. Para algumas pessoas, faz parte de seu cotidiano “fazer qualquer
negócio”. No entanto, para outras, isso não procede.
Os valores morais dizem respeito às crenças pessoais sobre comportamento eticamente correto ou
incorreto, tanto por parte do próprio indivíduo quanto com relação aos outros, conforme afirma Ashley
(2005, p.5), uma vez que a convivência humana em sociedade deve ocorrer por meio de regras, leis e
normas que regem os relacionamentos humanos e as interações sociais e, assim, servem de norteador do
que é certo ou errado, lícito ou ilícito, justo ou injusto.
Para que você possa compreender alguns princípios éticos e analisar aqueles que lhes norteiam,
confira o quadro abaixo:

Principais Sistemas Éticas Deontológicas – Éticas Teleológicas – (Filósofos


Éticos (Filósofo Immanuel Kant) Aristóteles, Sócrates, Platão)

Conceito Ênfase nas normas e Ênfase nas consequências dos


deveres atos.

Dificuldades para lidar com


exceções. Flexibilizar demais os meios para
Pontos de atenção alcançar os fins desejados.
Pela rigidez cuidado ao
fanatismo.

Utilitarismo – Proporcionar o
Ética do dever – Centrada máximo de felicidade ao maior
na razão humana. Um número de pessoas. Maior prazer
ato bom é aquele que é e mínimo de dor. O bom é aquilo
praticado por todos. que é útil para a maioria. Admite-
se a possibilidade do sacrifício
Teorias individual a favor da coletividade.

Ética religiosa – Definida Ética finalista – Parte-se dos


por princípios e regras objetivos, e não mais das regras.
religiosas. Os princípios de As ações são avaliadas a partir
Deus são imperativos nas do momento que favorecem os
decisões. objetivos.

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2. ÉTICA E PROCESSOS DE DECISÃO
Como já dito anteriormente, em nosso dia a dia, passamos por situações de vida que nos exigem um
posicionamento, uma tomada de decisão. O trânsito, por exemplo, nos coloca a prova. Vamos supor que um
de seus sonhos seja tirar sua carteira de motorista. Você vai a uma autoescola, cumpre com os requisitos
e, após o término daquela etapa, você agenda o dia de sua avaliação prática. Neste dia, enquanto você
vai com um grupo de colegas para a prova prática de direção, algumas pessoas comentam que precisam
separar o dinheiro do avaliador. Qual seria o primeiro pensamento que viria a sua mente? O que você faria?
Como você agiria?
Há pessoas, por exemplo, que relataram ter passado por essa situação. Elas tomaram a decisão de
não serem intimidadas pelo avaliador e, na ocasião da avaliação prática, lamentavelmente, sentiram-se
enganadas pelo avaliador; mas, tranquilas a decisão, optando por completarem/refazerem as aulas de
direção para passar pela avaliação prática novamente.
A ética deve percorrer todas as relações pessoais. Você, certamente, já deve ter se perguntado:
“Como tomar decisões éticas?”.
Em nosso cotidiano, existem grandes questões com as quais nos deparamos a todo instante: Quero
isso? Devo fazer isso? Posso fazer isso? Nem tudo que queremos, podemos. Nem tudo que podemos,
devemos fazer. Nem tudo que devemos, queremos fazer.
Outra situação com a qual nos deparamos com certa frequência: você chega em um shopping para
almoçar, fazer compras e ir ao banco. O trânsito estava bastante intenso e você chegou um pouco atrasado
para seu compromisso. O estacionamento do shopping estava lotado. Você identificou que a vaga para
pessoas com deficiência está disponível. O que você faz? Estaciona e sai com sua consciência tranquila
para resolver seus compromissos? Ou dá outras voltas até encontrar a vaga para estacionar?
Quando você estaciona numa vaga que não é sua por direito, você faz uma escolha que, certamente,
lhe favorece, mas que prejudica alguém.
O egoísmo diz respeito ao indivíduo que, para gerar um bem pessoal e afirmar seu exclusivismo, age
de forma nociva que prejudica os outros, configurando, assim, uma prática abusiva, particularista, que
se efetiva às custas dos outros. (SROUR, 2013, p.11)

Quando falamos de moral, na prática, estamos mencionando os dilemas éticos, pois, para que as
ações aconteçam e as escolhas sejam feitas, na maioria das vezes, existe mais de um caminho. No entanto,
um desses caminhos é o eticamente aceito. Assim, seria possível sacrificar uma pessoa para salvar a vida
de outras pessoas? Há alguma precedência em seus valores morais? Há alguma precedência entre os
direitos humanos? A relação moral beneficia ou prejudica alguém?
A moral brasileira passa, desde o período colonial, por determinada ambivalência em que, conforme
apresenta Srour (2013, p.14), dissocia-se “o discurso da prática, o enunciado e o vivido, o país legal e o país
real (...), a prevalência da retórica liberal e a vigência dos padrões autoritários. Em suma, o divórcio entre
o que se diz e o que se faz.” Aqui, explicam-se as morais da integridade e do oportunismo:
A moral da integridade obedece à razão ética e tem caráter altruísta, porque adota os imperativos do
bem comum quando ensina a cumprir as obrigações sociais. É um código público que não transige
com valores como a honestidade (ser honrado e não roubar em circunstância alguma); a idoneidade
(construir um bom nome pela conduta sempre reta, realizar transações justas); a lealdade (ser fiel
aos compromissos assumidos e defender quem confia em nós, sobretudo nos contratempos); a
confiabilidade (ser digno de crédito e honrar a palavra ampenhada); a veracidade (falar sempre a
verdade); a legalidade (observar rigorosamente as leis); o respeito ao próximo (levar as necessidades

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e os interesses alheios em conta e agir de forma consequente): a lisura no trato da coisa pública (zelar
pelos recursos coletivos e cuidar dos interesses gerais); a obediência aos costumes vigentes (manter
a decoro). SROUR (2013, p.14)

Já a moral do oportunismo corresponde à racionalização antiética e defende o particularismo (cada


um por si e ninguém por todos), evidenciando uma postura egoísta, em que se celebra a astúcia e se
faz apologia à esperteza. Nesse caso, trata-se de pessoas que querem levar vantagem em tudo. Quando
esse grupo de pessoas está unido dentro de uma organização com um objetivo comum, os casos acabam
ocasionando impactos mundiais, como por exemplo, os dilemas éticos presentes em muitas organizações,
casos que envolvem subornos, assédios, preconceitos, dentre outros.
Para você compreender melhor tudo o que tratamos até aqui, veja a figura a seguir, a qual se trata do
leque das decisões éticas.

Escolha do bem para


afastar o mal Escolha entre dois bens
Bem/Mal
Bem/Bem

Sacrifício do mal
Sacrifício do mal
Mal/Mal necessário para
menor para evitar Mal/Bem
obter um bem
um mal maior
maior

Fonte: Imagem adaptada do livro Ética Empresarial, de Robert Srour.

3. RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem, ou sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, podem ser
ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu
oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.”
Nelson Mandela

Comumente, racismo e preconceito são dois assuntos abordados conjuntamente, pois ambos estão
relacionados à falta de conhecimento. O preconceito é a formulação de conceitos ou juízo sem conhecimento
prévio sobre o assunto abordado. Logo, disseminar conceitos ou juízo sobre algo ou alguém sem que,
para tanto, tenha-se analisado todos os fatos e/ou ideias trata-se, não somente de uma inverdade, mas
também de preconceito.

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Por vezes, pode parecer mais fácil formular uma ideia sobre algo ou alguém sem antes buscar algo
que indique que tal ideia seja verdadeira ou falar o que pensamos sobre um assunto do qual não temos
conhecimento. No entanto, esse tipo de ato pode gerar problemas na sociedade.
Imagine que uma pessoa sem conhecimento prévio sobre um determinado alimento experimente
uma versão ruim desse alimento (mal preparado ou impróprio para consumo). A partir disso, essa pessoa
formula um juízo de que aquele alimento é horrível, repugnante e inapropriado e, assim, influencia várias
pessoas a pensar da mesma forma sem que elas provem aquele alimento. Agora imagine quantas crianças
morreriam ou teriam seu desenvolvimento afetado se esse alimento “repugnante” fosse o leite materno.
Embora, por vezes, o preconceito possa parecer apenas uma forma de pensar ou de se expressar, ele
se manifesta nas mais diferentes maneiras. O comportamento racista no Brasil é tão sério que o fato de
nascer com a cor da pele branca já é um sinal de vantagem. O crime de racismo é um crime inafiançável.
No passado, era considerado uma contravenção, ou seja, julgado da mesma forma que o jogo do bicho ou
ainda uma direção perigosa de veículo, no entanto apesar de ser considerado crime desde 1988, com base
na Lei 7716/88, muitas vezes é julgado como injúria racial, o que o torna afiançável. Além disso, muitas
vezes não há registro de denúncias desses crimes o que dificulta o aumento de ações.

O livro Na minha pele, do ator Lázaro Ramos, relata experiências pessoais


do autor e convida o leitor a vestir a outra pele, com o intuito de sensibilização,
consciência, respeito à diferença e atitude. Desenvolve ainda a leitura que amplia a
visão de mundo, trazendo a pluralidade cultural, racial, étnica, social como um valor
positivo.

4. QUESTÕES ÉTICAS CONTEMPORÂNEAS


No Brasil, o exercício da cidadania ainda não faz parte da totalidade da população. Há grupos de
pessoas que estão à margem do sistema e que sofrem com algum tipo de exclusão. As políticas públicas
não conseguem atuar com a eficácia necessária e a sociedade em geral encontra meios de colaborar para
suprir as novas demandas sociais. Nesse contexto, as empresas também utilizam, nas suas práticas de
mercado, inovações e estratégias que colaboram com temas referentes à igualdade e à diversidade de
indivíduos e grupos.

Podemos ler na Declaração Universal dos Direitos Humanos, instituída em 1948,


o seguinte trecho:
“Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
língua,  religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social,
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.”

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O respeito à dignidade humana, ou seja, o respeito aos outros, foi instituído de forma que este deve
ser a base da condição humana, uma vez que o indivíduo passa a pertencer a um grupo de pessoas com
objetivos comuns, tornando-se uma organização.

4.1. Desigualdade social


Vivemos em uma sociedade heterogênea onde há grupos de diferentes pessoas com seus diferentes
modos e condições de vida. Contudo, a concentração de renda e poder destinados a um determinado
grupo em detrimento da existência de outros grupos (desprovidos de oportunidades ou condições para
a aquisição de poder, de renda e, até mesmo, de ter seus direitos básicos respeitados) se configura como
desigualdade social.
Trata-se de uma situação comum nas relações sociais e, desta forma, se manifesta em todos os
países. No entanto, essa forma de desigualdade determina a condição social das pessoas, as questões
econômicas, as questões de gênero, de cor, de crença, de grupo social e, consequentemente, prejudica e
limita o acesso dessas pessoas aos direitos básicos, como educação, saúde, trabalho, moradia, condições
de transporte etc.
A questão econômica é geralmente a mais expressiva e, em síntese, pessoas de famílias pobres tem
menor probabilidade de ter uma excelente educação e instrução. Assim, com baixo nível de escolaridade,
terão destinados para si certos empregos sem grande prestígio social e com uma remuneração modesta,
mantendo seu status social intacto. Pode-se então, constatar que se trata de um ciclo.
Dessa forma, pode-se compreender que a meritocracia é uma falácia, pois seria, no mínimo, injusto
validar que uma classe social alcance bons resultados por mérito, diante de outra classe que sequer
consegue acessar as mesmas oportunidades.

4.1.1. A desigualdade social no Brasil


No Brasil, existe a chamada extrema desigualdade, na qual muita riqueza e poder concentram-se nas
mãos de pouquíssimas pessoas em detrimento de uma grande maioria de pobres.

Sobre esse assunto, confira o curta metragem premiado The Other Pair, de Sarah Rozik.

As causas dessa desigualdade são complexas e históricas. Até hoje, elas se perpetuam e se agravam.
São as causas:
• O Brasil foi constituído como uma colônia de exploração e demorou a abolir a escravidão;
• A divisão de terras aconteceu de maneira desigual, concentrando grandes territórios nas mãos de
poucos;
• A desigualdade da qualidade da educação de acordo com as classes sociais;
• A evasão escolar e a dificuldade das classes mais baixas em conquistar boa formação escolar e
qualificação profissional;
• As diferenças salariais e de oportunidades de emprego de acordo com raça e gênero;

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• A inflação e os altos impostos que diminuem o poder de consumo, principalmente das classes
menos favorecidas;
• A distribuição ineficiente da verba pública associada à corrupção;
• O princípio capitalista do acúmulo de bens e da meritocracia;
• A falta de estímulo para programas nas áreas socioculturais, da saúde e da educação;
• A falta de melhor distribuição da renda. (CELI, 2018)

4.2. As consequências da desigualdade social


A manutenção desse ciclo é interessante para quem explora os mais pobres e assim, aumenta sua
concentração de renda. Contudo o resultado que se tem é um crescente estado de miséria, salários baixos,
desemprego, fome que atinge milhões de brasileiros, desnutrição, mortalidade infantil, marginalidade,
violência etc.
Compreende-se, então, que as desigualdades sociais não são acidentais, mas sim produzidas por um
conjunto de relações que abrangem as esferas da vida social. Na economia, existem relações que levam
à exploração do trabalho e à concentração da riqueza nas mãos de poucos. Na política, a população é
excluída das decisões governamentais e, por certas vezes, suas escolhas são manipuladas por causa de
fakes news.
Considere ainda que a propaganda é capaz de criar uma concepção do mundo, mostrando elementos
que evidenciam uma situação de riqueza, iludindo as pessoas de baixo poder econômico que não enxergam
sua real condição. Toda forma de comunicação pode ser usada para o bem ou mal.
Constrói-se então, a ideia de que ser pobre é algo errado ou feio, quando, na verdade, diante da
realidade social brasileira, é muito mais comum (e até aceitável) ser pobre do que ser rico. Diante da
não aceitação ou até mesmo do desconhecimento de sua condição social, muitos brasileiros ignoram sua
condição de pobre na estratificação social e, assim, não lutam contra um sistema que “finge” que todos
têm seus direitos respeitados, bem como, oportunidades e condições iguais.
Da mesma forma, há também tentativas de esconder (por questões de gênero, raça, religião, classe
socioeconômica etc.) a existência, as diferenças e as necessidades de outros grupos.
O Ministério do Trabalho, interessado em combater a discriminação e promover a igualdade de
oportunidades e de tratamento no emprego e na ocupação, criou o Grupo de Trabalho para Eliminação da
Discriminação no Emprego e Ocupação (GTEDEO), de composição tripartite entre governo, trabalhadores
e empresários, os quais assumiram a missão de elaborar um Plano de Ações para eliminação da
discriminação no mercado de trabalho, conforme explicita o artigo 2º do Decreto de 20 de março de 1996:
Art.2º - Compete ao GTEDEO:
I - definir ações de combate à discriminação e estabelecer o cronograma para sua execução;
II - propor estratégias de implementação de ações de combate à discriminação no emprego e na
ocupação;
III - sugerir entidades ou órgãos para a execução das diferentes ações programadas;
IV - propor atos normativos que se fizerem necessários à implantação das ações programadas.

No Brasil, de acordo com Alves e Galeão-Silva (2004), estamos diante de mudanças edeológicas.
Em outros tempos, a ideologia era vista pelo mito da democracia racial que negava a existência das
discriminações. Agora, a nova ideologia é a da diversidade administrada. A primeira pressupunha uma
negação das diferenças por meio da miscigenação. A segunda revela a discriminação para, posteriormente,
propagar e combater a intolerância.

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4.3. Diversidade
Diversidade se refere a uma condição básica de respeitar as pessoas simplesmente por serem
pessoas, cada qual com suas capacidades, potencialidades, subjetividades, valores, crenças, etnias, enfim;
com suas semelhanças e suas diferenças.
É uma questão básica de ética para que possamos viver e contribuir mutuamente com o
desenvolvimento de ambientes de convivência e de relacionamentos mais ricos.
No ambiente empresarial, a diversidade propicia a troca de experiências, a inovação e o aumento
da eficiência, uma vez que as pessoas passam a ser melhor aproveitadas e reconhecidas por suas
competências. Por outro lado, o reconhecimento da diversidade inibe tentativas inúteis de homogeneizar
as pessoas e logo que elas sejam consideradas e respeitadas apenas pela sua condição social, sexual, étnica
etc., mas sim, por toda complexidade que o ser humano pode representar, ser e significar.
Segundo Borin, Fieno e Sampaio (2015), onde a diversidade é reconhecida e praticada, a existência
de conflitos chega a ser 50% menor que nas demais organizações.

Finalizamos aqui a primeira unidade. Nela, falamos sobre as definições de ética,


de moral e sua implicação nas relações sociais. Também vimos como o respeito à
diversidade pode melhorar as relações pessoais e no ambiente corporativo.

Na próxima unidade, falaremos sobre a ética e a cidadania no mundo dos


negócios. Até lá!

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCASTRO, M. S. C. Ética empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa.
Curitiba: Ibpex, 2010.

ALVES, M. A.; GALEAO-SILVA, L. G. A crítica da gestão da diversidade nas organizações. Rev. adm.
empres.,  São Paulo , v. 44, n. 3, Set. 2004, p. 20-29.

ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e responsabilidade social nos negócios. 2.ed.São Paulo: Saraiva,
2005.  

BORIN, Fernanda; FIENO, Priscilla; SAMPAIO, Bernardo. Diversidade: inclusão ou estratégia? 2015.
Disponível em: < https://hbrbr.uol.com.br> Acesso em: 25/07/2019.

CELI, R. “Desigualdade social: o que é, tipos, causas e consequências!”. 2018. Disponível em: <https://
www.stoodi.com.br/blog/2018/10/29/desigualdade-social/> Acesso em: 23/07/2019.

SROUR, Robert. Ética Empresarial. 4ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

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CRÉDITOS

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

Núcleo de Educação a Distância

Coordenação do Núcleo de Educação a Distância


Andrea Chagas Alves de Almeida
Assessoria Pedagógica - Desenvolvimento NEaD
Ariane Nogueira Cruz
Projeto Instrucional
Bruna Batista dos Santos
Arte
Francisco Cristiano Lopes de Sousa
Identidade Visual
Francisco Cristiano Lopes de Sousa
Régis da Silva Pereira
Diagramação
Rafael Oliveira de Souza
Programação
Rafael Rodrigues de Moraes
Revisão
Janaína de Mesquita Bezerra
Produção de Áudio e Vídeo
José Moreira de Sousa
Lilian Oliveira Dantas
Pedro Henrique de Moura Mendes

O trabalho UNIDADE 1: ÉTICA, MORAL E O INDIVÍDUO DA SOCIEDADE de Gleiva Rios de Araujo Felix, da
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-
NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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