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T.M. Frazier
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~2~
AVISO
A tradução em tela foi efetivada pelo Grupo de Traduções Pepper
Girl de forma a propiciar ao leitor o acesso à obra, incentivando-o à
aquisição integral da obra literária física ou em formato e-book. O grupo
tem como meta a seleção, tradução e disponibilização apenas de livros
sem previsão de publicação no Brasil, ausentes de qualquer forma de
obtenção de lucro, direto ou indireto. No intuito de preservar os direitos
autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo, sem prévio aviso e
quando julgar necessário poderá cancelar o acesso e retirar o link de
download dos livros cuja publicação for veiculada por editoras
brasileiras.
~3~
SINOPSE
Abby tem vivido um inferno e sobreviveu a uma das infâncias
mais brutais imagináveis... por pouco.
Quando sua avó morre em uma explosão trágica, Abby fica com
perguntas e nada mais.
Duas almas quebradas que não podem ser curadas. Eles não
podem ser salvos.
~4~
A SÉRIE
~5~
Prólogo
Jake
~6~
— Pai, me deixe te ajudar, — eu implorei, chutando o machado
para fora de seu alcance.
~7~
na minha cabeça. Ele nem sequer tentou se mover para fora do
caminho. Eu o balancei com força, mas parei a lâmina a menos de um
centímetro de distância, batendo-a em seu peito.
Em mais de um sentido.
***
~8~
isso, quando eu precisava sumir após matar alguém de alta visibilidade,
eu venderia um pouco de erva ou um pouco de cocaína - apenas o
suficiente para me impedir de ficar ocioso.
Por ela.
~9~
caixas de correios temporárias e telefones celulares não rastreáveis. Eu
nunca me estabeleci em um só lugar tempo o suficiente para ter
relacionamentos que importassem.
~ 11 ~
Capítulo Um
ABBY
Ah Merda.
Nan sempre havia dito que Deus criou o homem à sua imagem.
Quando meu pai estava em causa, Deus ou era um fodido sádico doente
~ 13 ~
ou um inferno de uma mentira que as pessoas se convenceram que era
a verdade.
O xerife não me olha nos olhos. Seu olhar está focado em algum
lugar sobre a minha cabeça, prolongando a notícia que ele tinha vindo
entregar. Com o tempo, cada uma de suas respirações soou mais como
roncos tensos. Eu estava ficando impaciente. — Talvez, você poderia me
dizer por que estou aqui, — eu disparei.
~ 14 ~
sussurrei. Meu coração batia forte em meus ouvidos. Senti o sangue em
minhas veias se tornar ácido. Minha pele estava prestes a queimar os
meus ossos.
~ 15 ~
receptor — Infelizmente, não é nenhum engano. Sua avó morreu esta
manhã em uma explosão em um laboratório de metanfetamina
conhecido. — meu queixo caiu enquanto eu olhava para ele. Ele não
ofereceu nada mais. Em vez disso, ele me perguntou de novo, — Quem
é seu parente mais próximo, senhorita Ford? Não está listado em seu
arquivo. Eu sei que seus pais não estão no quadro, mas existe uma tia
ou tio que podemos ligar?
~ 16 ~
— Não por um tempo. — daqui a dez meses, na verdade. Eu tinha
me formado um ano mais cedo. Quando eu disse a Nan que eu queria
abandonar a escola, ela tinha me dado a única outra opção que ela
aceitaria. — Abby, se você quer sair da escola tão rapidamente, — ela
me disse: — Só se apresse e se gradue cedo.
~ 17 ~
Xerife Fletcher se levantou e me entregou um cartão com o
número de telefone do Reverendo Thomas nele. — O Reverendo pode te
ajudar a fazer todos os arranjos do enterro. — ele disse com
naturalidade, como se ele tivesse acabado de me dar um cupom para
obter uma lavagem de carro. — Sinto muito pela sua perda, senhorita
Ford, — ele falou por cima do ombro enquanto se dirigia para a porta. O
eco de seus passos pesados se arrastaram atrás dele quando ele
desapareceu pelo corredor, assobiando enquanto ele se afastava.
Certo?
~ 18 ~
Capítulo Dois
OS DIAS SEGUINTES SE misturaram. Dia em noite. Um
crepúsculo permanente. Uma mistura de sonhos e pesadelos.
Nan deve ter deixado este mundo chutando e gritando. Eu sei que
ela deve ter me chamado quando ele empurrou sua alma em seu bolso.
~ 19 ~
que eu não responderia. Finalmente, Irma, a vizinha da porta ao lado
começou a pegar minhas entregas de caçarola e as largou na igreja. Os
restos de comida eram demais para o congelador cor de abacate de Nan
armazenar. Eu comecei a passar a tranca na porta da frente, o que era
inédito em nossa pequena cidade. Eu não estava necessariamente
tentando bloquear as pessoas. Eu estava tentando me manter trancada.
O mais distante possível da civilização, o mais perto que eu me sentia
de Nan.
~ 20 ~
Quando uma assistente social em um terninho três tamanhos
maiores que o seu, me levou aos 13 anos de idade pelo caminho para
encontrar a avó que eu nunca tinha conhecido, eu estava além de
apavorada. Ela era a mãe de meu pai. E se ela fosse igual a ele? E se ela
me prometesse o que nunca teria a intenção de manter, assim como ele
tinha? Eu não quis dizer a promessa de brinquedos e festas de
aniversário. Me refiro à promessa de comida, de manter a energia
elétrica ligada. A promessa de que eu estaria segura. Os amigos idiotas
do meu pai tinham rido de mim cada vez que eu entrava na sala, os
mesmos amigos que perguntaram se eu sabia o que era um pau e se eu
sabia o que fazer com um. Aos seis anos, eu disse ao grupo rindo para
ir se foder. Eles riram mais e meu pai ficou com mais raiva.
O meu pai pode ter pensado que sua forma de disciplina tinha me
ensinado algum tipo de lição fodida. A única coisa que realmente fez foi
me tornar fria e insensível. Ele e minha mãe trataram de deixar a sua
marca de drogados fora da justiça dos pais, da mesma forma que eles
se revezavam em entrar e sair das portas sempre girando da prisão
estadual.
Descobri que Nan não era nada parecida com o meu pai. Ela
estava realmente animada por me ter, mas eu poderia dizer que ela
estava tão nervosa quanto eu estava. Ela foi cautelosa, mas me amou.
~ 21 ~
A única coisa que eu pedi a Nan para esse primeiro dia foi uma
tranca na porta do meu quarto. Não houve perguntas, sem hesitações.
Um chaveiro estava na casa e tinha instalado minha tranca dentro de
uma hora. Ela me fez um colar para a chave e me disse para colocá-lo
em volta do meu pescoço. Eu tinha parado de usar o bloqueio algumas
semanas depois de ir morar com ela, mas eu nunca tinha tirado a chave
do colar.
Então, Nan me alimentou com o seu frango frito caseiro com purê
de batatas. Tivemos torta de pêssego para a sobremesa. Ela só me
perguntou se eu gostei da comida. Eu balancei a cabeça. Na verdade, foi
a melhor comida que eu já tinha comido. Após essa primeira refeição,
terça à noite se tornou a Noite do Frango Frito.
~ 22 ~
Capítulo Três
Quando a merda persistente na porta não parava de tocar a
campainha de novo e de novo, eu estava inclinada para pegar a
espingarda do armário no corredor, atirar primeiro e perguntar depois.
— Abby Ford? — ela perguntou sem olhar para mim, seu foco
exclusivamente em sua prancheta. Sua voz era profunda e vibrou
através de seu peito quando ela falou.
~ 23 ~
ou não é Abby Ford, a menor que estava sob os cuidados de Georgianne
Ford antes de sua morte, há três semanas?
Me mexi para fechar a porta, mas ela bloqueou com seu pé, sem
perder uma batida. — Sim, bem, você não tem dezoito anos ainda e ter
dezessete, faz de você uma menor. Portanto, você está atualmente sob a
guarda do estado da Flórida e eu vou levar você em custódia protetora
hoje. Você vai ser colocada em um orfanato até o dia que completar
dezoito anos. — ela virou uma página em sua prancheta. — O que eu
posso ver aqui, é que isso não acontecerá por mais nove meses, mais ou
menos.
~ 24 ~
segunda-feira. — Nós não temos nenhum registro dessa tia que você
fala, qual é o nome dela?
~ 25 ~
vivendo sozinha, então eu preciso ter certeza de que esta ‘tia Priscilla’,
— e ela citou aspas com os dedos, — existe e é capaz de cuidar de você.
Tenho a intenção de falar com as pessoas que você afirma conhecê-la
por algum tempo, esta tarde. Se eles realmente sabem da ‘tia Priscilla’ e
garantirem a existência dela, eu vou voltar amanhã à tarde para
entrevistá-la sobre o processo de se tornar sua guardiã legal. Enquanto
isso, aqui está o meu cartão. — ela me entregou um cartão branco
genérico com o selo do estado da Flórida no canto. — Se por acaso ela
chegar mais cedo, por favor, peça a ela que me ligue.
~ 26 ~
me sufocar em meu sono, para ouvir Greg, o menino mais velho que
dormia na cama debaixo, no nosso quarto com quatro beliches, com
raiva se masturbando todas as noites e amaldiçoando seus pais quando
ele gozava.
Eles provavelmente nem sabiam que ela estava morta até mais
tarde naquele dia.
~ 27 ~
***
~ 28 ~
Se eu quisesse aprender alguma coisa, eu me ensinava. Não havia
ninguém lá para torcer pelas coisas importantes e muito menos as
pequenas.
Ergui a mão para o ar para que ele pudesse ver que era a parte de
ficar chapada e não querendo ser atacada por coiotes que eu estava
fazendo. Eu soprei a fumaça que eu estava segurando dentro dos meus
pulmões. Ela queimou, mas eu não tossi. Owen riu. — Eu estava
esperando que fosse isso. — ele parou o caminhão no acostamento, se
inclinou e abriu a porta do passageiro. — Entre menina e passe essa
merda.
~ 29 ~
noite começou a fazer uma refeição dos meus braços através das
minhas mangas. No ritmo em que eles estavam atacando, não
demoraria muito para que eu não tivesse mais sangue.
~ 30 ~
ele fez foi ficar lá e rir como ele nunca tinha rido, antes de dizer como a
minha recusa foi divertida para ele.
— Ok. Eu poderia ter dito isso, mas eu, com certeza, não soei
assim.
— Isso é verdade. Sua voz estava muito mais baixa e muito, muito
mais irritada. — desta vez, ele usou uma voz mais perto de Cookie
Monster quando ele recitou a minha rejeição.
~ 31 ~
Cada um de nós deu mais alguns tragos. Eu apaguei o baseado
entre o polegar e o indicador e, em seguida, o coloquei de volta no bolso
com zíper na frente da minha mochila.
— Nuh uh. Você tem que me dizer por que você está me olhando
assim. — ele se virou para entrar no estacionamento quebrado e
descascado do Bubba e colocar a caminhonete na vaga.
~ 32 ~
Ele me olhou pensativo por um instante. — Ok, pronto. — ele
clicou no botão. — Agora, me diga.
Pode ser.
~ 33 ~
Capítulo Quatro
BUBBA ESTAVA SEMPRE AGITADO, mas durante os meses em
que os turistas estavam ocupando todos os quartos de hotel e aluguéis
de férias na ilha, era uma loucura total. A maior parte acontecia
durante o inverno, quando as pessoas fugindo migravam para o sul, ou
durante algumas semanas no verão, quando as famílias tiravam férias
juntas.
Férias ou famílias.
1
É um jogo em que tem que acertar a bolinha dentro de copos de bebida, se você acertar, o adversário
tem que beber do copo que você acertou, ganha quem fizer o adversário beber todos os copos dele, e
quem perder ainda tem que beber os copos que sobraram do ganhador.
~ 34 ~
todo o meu corpo tivesse sido maltratado com cerveja, depois frito e
rolado em um cinzeiro. Ainda assim, fiquei até que a última pessoa se
arrastou para fora do bar.
~ 35 ~
porque nós estamos no auge da temporada e cheio de clientes e eu não
tenho tempo para treinar alguém novo. Mas eu te digo isso, você volta a
me procurar quando você fizer dezoito anos e se estivermos menos
agitados, eu prometo que vou tentar encontrar algo para você.
~ 36 ~
acelerou diretamente em minha direção. O estrondo da terra se tornou
mais violento quanto mais próximo ela chegava. A sobrecarga de luz
zumbia conforme ela esforçava o seu caminho de volta à vida.
***
Eu odiava poeira.
Eu odiava alergias.
~ 37 ~
senhorita Thornton estaria muito longe antes de eu ir para casa. Eu
chequei a hora no meu relógio. Eram quase quatro da manhã. Eu
percebi que eu poderia ter outro par de horas de sono tranquilo, então
eu me dobrei debaixo do meu capuz e fechei os olhos.
~ 38 ~
mulheres sujando os sofás e pisos já manchados, espalhando o sangue
que gotejava de feridas recentes de agulhas e da abertura de cicatrizes
mais antigas para outras, enquanto eles grunhiam e gemiam como
animais. Os inconscientes no meio da multidão não foram tratados de
forma diferente do que os conscientes. Suas bocas escancaradas e os
olhos sem vida olhando fixamente para além do teto, não foram motivos
o suficiente para parar essa porra. Eles foram levados várias vezes, até
que alguém percebeu que eles não tinham um pulso. Eu tinha
testemunhado mais de um corpo morto ser descartado no reboque do
meu pai, como uma caixa vazia de pizza.
~ 39 ~
Calafrios correram pela minha espinha e os cabelos da minha nuca se
levantaram em atenção. Meu coração parou. Eu não ousava respirar.
~ 40 ~
Algo dentro de mim, algo que eu pensei ser inexistente, se agitou.
Ele não era muito mais velho do que eu, talvez apenas alguns
anos. Ele estava vestido com uma camiseta preta justa e jeans escuro.
A jaqueta de couro que ele usava durante suas atividades anteriores
contra a caminhonete tinha saído. Seu cabelo loiro areia que estava em
contraste com toda a escuridão, era comprido apenas o suficiente para
se manter escondido atrás de suas orelhas. Seu cavanhaque loiro e
sobrancelhas correspondiam. Tatuagens pretas e cinza, projetos que eu
não poderia identificar, começavam em cima de sua mão direita e
corriam para cima, cobrindo todo o braço, desaparecendo sob a sua
camiseta, emergindo novamente para fora de seu colarinho, parando na
base de seu pescoço.
~ 41 ~
esfregando a mão sobre o seu cavanhaque. Eu me perguntei se ele
sempre fazia isso quando ele estava tentando descobrir alguma coisa.
— Você não pensou que você era tão forte, não é? — um sorriso
brincava em seus lábios.
— Qual é o seu?
~ 42 ~
seria um inferno de um cara legal… para quem pudesse gostar do tipo
irritado, violento e assustador.
Eu não sei o que me obrigou a dizer a ele o meu nome. Pelo que
eu sabia, ele poderia usar isso para arquivar o relatório da polícia. —
Abby, — eu disse quando me virei novamente para andar.
Puta merda.
~ 43 ~
Capítulo Cinco
A primeira coisa que notei quando cheguei em casa foi o lixo, uma
enorme pilha de detritos recolhidos no centro da pequena entrada de
cascalho. Meu coração caiu no meu estômago quando a percepção
tomou conta de mim que não era lixo. Eram nossas vidas.
Minha e de Nan.
~ 44 ~
Este local foi despejado pelo escritório do xerife do condado
de Caloosa, sob a autoridade do tribunal, pedido no que diz respeito
à exclusão de
Caso # 4320951212102013
Por que Nan não tinha me dito que ela estava perdendo a sua
casa? Eu poderia ter ajudado. Eu teria saído da escola e conseguido um
emprego.
Claro que ela não me contou. Ela queria que eu me formasse. Ela
disse isso o tempo todo, todos os dias se pudesse repetir. Era como se a
mulher tivesse somente uma frase em sua mente. — Você quer torta -
se gradue no ensino médio.
~ 45 ~
— Eu com certeza sinto falta do seu avô - se gradue no ensino
médio.
Eu sei que ela não poderia ter imaginado que eu não teria
nenhum lugar para pendurar isso.
***
— Quem?
~ 46 ~
— Senhorita Thornton, — eu esclareci.
~ 47 ~
Eu disse a ela a primeira coisa que veio à minha mente amarga.
— Papai sempre disse que eu não era boa para nada, então eu acho que
é o que eu vou fazer: nada. — a esperança tinha sido despojada de mim,
a cada minuto, de cada hora, de cada dia, por toda a minha vida.
Eu lutava contra Nan, mas eu era muito menor do que ela era.
Ela me tirou do chão, enquanto sussurrava sua marca que garantia
amor em meu ouvido. O quanto ela me amava. Quanto ela acreditava
em mim. — Você pode fazer qualquer coisa, menina. Eu prometo, eu
nunca vou mentir para você. Você é brilhante, bonita e resistente. Você
pode fazer qualquer coisa. — ela repetiu essas palavras até que meus
músculos relaxaram e eu adormeci em seus braços no chão da cozinha.
O fogo em mim não tinha morrido.
De sempre.
~ 48 ~
Naquele mesmo dia eu tinha me apaixonado pela minha avó.
Owen olhou para mim, com o mesmo sorriso que ele sempre tinha
estampado em seu rosto. Eu juro que suas bochechas devem doer no
final do dia. — Tio Cole me ligou e perguntou se eu poderia vir te dar
uma mão com a sua… — ele olhou para a lona. — Porcaria?
— E o problema é que?
~ 49 ~
— Isso provavelmente não é uma boa ideia, Owen. — era uma
péssima ideia, na verdade. Eu não tinha evitado ser social toda a minha
vida para o divertimento dele, ou porque eu pensei que eu não pertencia
a este lugar. Evitei isso porque eu sabia que eu não pertencia. Não só a
esta cidade, não só às crianças da minha escola.
— Bem, o que mais você vai fazer? Olhar fixamente para esta
merda, toda a noite, até que magicamente vire algo diferente, que não
seja um monte de merda?
Seria tão ruim fingir, por uma noite, que eu não era a piada em
alguma piada universal sendo dita à minha custa?
***
~ 50 ~
modelos formavam uma roda, estacionadas com suas portas traseiras
viradas para o fogo. Em uma das caminhonetes maiores, estavam
organizados um barril e um saco enorme de copos vermelhos
descartáveis, enquanto outra tinha todas as suas janelas abertas e
estava tocando música country de uma das estações locais. Grupos de
meninas ou casais com seus braços ao redor um do outro ocupavam a
maior parte das traseiras. Um grupo de rapazes se reuniu perto do
barril, falando alto sobre pneus de caminhonetes e desafiando uns aos
outros para um jogo de ‘quem pode beber mais’.
~ 51 ~
por todos eles. Owen me atendeu de bom grado e manteve a cerveja
fluindo toda a noite.
Sim.
~ 52 ~
Ele realmente era lindo.
Ele empurrou o cabelo atrás das orelhas e passou a mão pelo seu
cavanhaque. — Oi, Abby, — disse ele, como se fôssemos velhos amigos.
Então, eu solucei.
2
Aqui ela se refere à arma dele.
~ 53 ~
inferno? — ela olhou para mim e eu olhei de volta. — Sim, ela está
escondendo alguma coisa ali embaixo, com certeza. Pode ser um
corcunda ou algo assim. Stacey diz que ela esconde gestações e vende
os bebês no eBay. Pessoalmente, eu acho que talvez ela tenha uma
crosta ou algo assim aí embaixo. Ou algo ainda mais medonho.
~ 54 ~
— Você é uma porra de uma anormal! Jake! — ela estendeu a
mão para ele. — Vamos, porra!
Jake não se mexeu. Ele nem sequer olhou para ela. Seu olhar
estava fixo em mim. — Eu disse que iria te encontrar quando
terminasse de conversar com Abby, — disse ele calmamente.
— Impressionante.
~ 55 ~
— Não é, realmente. Eu também estou morrendo de medo de
herpes e gonorreia. Fique muito perto de algumas dessas meninas e
essas merdas apenas saltam delas em você, — eu brinquei.
— Alissa, — disse ele. — Nah. Eu fui para a escola com ela, isso é
tudo.
Bingo.
E nojento.
— Você não quer conversar com alguém como ele, — disse Owen.
— Ele pode ser daqui, mas ele não é como nós.
Oh, ótimo.
~ 56 ~
Jake se levantou e virou para mim. Quando ele estava indo para
me ajudar a me equilibrar, eu fiz questão de colocar uma distância
entre nós. Owen estendeu outro copo vermelho.
— Você não acha que você teve o suficiente, Abby? — Jake entrou
na conversa. Alissa apareceu por trás dele e colocou os braços ao redor
da sua cintura. Ela espiou por sobre seu ombro. Ela parecia assustada,
como ela deveria estar. Eu tinha quase decidido jogá-la no fogo. Jake
desembrulhou os braços, se separando dela. Ela pareceu ofendida, mas
ele não parecia se importar. Ele deu um passo em minha direção.
~ 57 ~
A expressão no rosto de Jake parecia muito com preocupação. Por
mim? Eu atribui isso ao álcool. Não havia como o mesmo homem ‘o
estranho’ que apontou uma arma para mim menos de 24 horas atrás,
estivesse de alguma forma interessado no meu bem-estar. — Você e
Alissa se divirtam, tudo bem? — eu posso ter colocado muita ênfase no
nome dela, como se ele tivesse um gosto amargo na minha boca. Ele fez
uma pausa para olhar nos meus olhos pelo que pareceram horas antes
de olhar de mim para Owen. Finalmente, ele deu de ombros e começou
a ir embora. Alissa se arrastou atrás dele como um cachorrinho
perdido. — E Jake? — eu chamei. Ele parou de andar e olhou por cima
do ombro. — Dê à menina um aviso da próxima vez, ok? — eu não
fiquei olhando para a reação dele, mas ri bobamente todo o caminho de
volta para a caminhonete de Owen.
Missão cumprida.
~ 58 ~
Capítulo Seis
EU DEVO TER ADORMECIDO na caminhonete porque a próxima
coisa que eu sabia, era que estávamos parando na entrada da casa de
Owen. No início, eu estava atordoada. Eu tinha uma regra que eu
nunca cairia no sono a menos que eu estivesse sozinha. Era um pouco
depois das três da manhã. Eu estava me tornando bastante ligada à
noite.
— Então, como é que ele sabe o seu nome, Abby? — sua voz foi
ficando mais alta. Seus olhos estavam vermelhos como sangue. Uma
garrafa aberta de Jameson estava no suporte para copos do console
central; seu punho estava enrolado em volta do gargalo. Ele tomou um
gole e a colocou de volta para baixo, limpando a boca com as costas da
mão.
— Eu não gosto do seu tom, Owen. Eu não sei quem ele é, porra.
Eu o vi andar na cidade e ele quase me mandou para fora da estrada.
Isso é tudo. Alissa deve ter dito a ele o meu nome ou me chamou pelo
nome na frente dele. — eu não mencionei que estive dormindo no ferro-
velho dele. Eu não sei por que eu estava mentindo, mas o estado e
atitude atual de Owen não garantem a verdade. — Será que isso
importa porra?
— Sim, importa pra caralho! Eu não quero que você fale com ele!
~ 59 ~
— Abby! Abby! — Owen gritou. Ele pulou para fora da
caminhonete também, se aproximou de mim em apenas alguns passos.
Ele fez um movimento como se fosse me abraçar ou me restringir de
alguma forma, mas eu dei um passo para trás antes que ele pudesse.
— O que você está falando, Owen? Eu não sei mesmo nada sobre
Jake e você e eu somos apenas amigos. Isso é tudo. — se fosse mesmo
isso, eu pensei. — Então, você não deve se preocupar com quem olha
para mim, porque eu não estou nesse tipo de merda, não com você, não
com qualquer um.
— Ok, ok. Eu entendi. Sinto muito. É só que… ele não é uma boa
pessoa e o jeito que ele olhou para você estava me deixando louco.
Eu abri minha boca para dar uma resposta, mas não saiu nada.
Eu ri.
~ 60 ~
Eu realmente não queria dormir no quarto de Owen com ele há
apenas alguns metros de distância de sua família. Mas eu não tinha
mais para onde ir. Jake tinha me pegado no ferro-velho, então dormir
na caminhonete velha de Nan não era mais uma opção.
Eu suspirei, derrotada.
~ 61 ~
Eu pulei em sua grande e confortável cama e fugi para debaixo
das cobertas. Assim quando eu estava prestes a colocar minha cabeça
no travesseiro, Owen levantou o cotovelo e fez um gesto para a curva de
seu braço. — Aconchegar é sempre bom enquanto assiste TV, — disse
ele. Eu olhei para ele com uma sobrancelha erguida e ele revirou os
olhos para mim.
***
~ 62 ~
Aperto a boneca em um braço. Eu tateio por debaixo do meu
travesseiro, procurando o caco de espelho que apenas algumas horas
atrás foi usado por minha mãe para picar o pó branco antes que ela o
cheirasse em seu nariz através de uma nota de dólar enrolado.
Mamãe não tinha dinheiro. Ela gritava sobre isso o tempo todo e
meu pai estava na prisão. Eu só tenho nove anos, mas não sou estúpida.
Eu sou o pagamento.
A hora é agora.
~ 63 ~
Agora eu não sou mais uma menina de nove anos, mas uma garota
de dezessete anos de idade. Ainda nua no meio do campo, ainda pedindo
para ser levada desta vida.
Jake.
O que ele está fazendo aqui? Tão rapidamente quanto o seu rosto
aparece, desaparece.
Bem demais.
***
~ 65 ~
Todos os vestígios do amigo útil, que eu era estúpida o suficiente para
pensar que eu tinha, foram embora. Essa pessoa era uma espécie de
monstro. Não houve pedido de desculpas em seu tom de voz, nenhum
remorso pelo que tinha quase feito.
— Eu estava dormindo! Você pensou que era uma boa ideia tentar
foder uma menina dormindo bêbada e chapada!
— Não! Eu pensei que era uma boa ideia te foder e te dar o que eu
sei que VOCÊ quer, o que nós dois desejamos. — ele cuspiu entre os
dentes e avançou para mim quando eu abri a porta, ele me pegou pelas
pernas e eu caí para frente, batendo o meu queixo no limiar. Liberei o
meu pé do seu aperto e consegui me endireitar enquanto eu corria para
fora da porta. Owen estendeu a mão para mim, por trás, mas eu me
virei e bati a porta tão forte quanto eu podia, esmagando a mão dele no
processo.
~ 66 ~
Capítulo Sete
EU DESACELEREI PARA UMA CAMINHADA em algum lugar
entre a metade do caminho entre o complexo familiar dos Fletcher e o
resto da cidade. Nuvens escondiam a luz natural da lua e das estrelas,
grilos cantavam e um coiote ocasional uivou. A estrada de cascalho
rangia sob minhas botas.
Meu grande plano era voltar para Nan, cortar a tela da varanda de
trás e dormir lá pelo resto da noite. O amanhecer não estava muito
longe. Eu teria que pensar em algum outro plano até então. Voltar para
um orfanato não era uma opção. Eu faria algo que iria me mandar para
a prisão antes de permitir que me colocassem de volta no sistema.
Até Owen.
Eu nem tinha tido uma escolha sobre o assunto, e o que era pior
foi que o meu corpo gostou disso, queria isso mesmo. — Traidor do
caralho, — eu sussurrei. A única coisa que realmente me incomodou foi
que eu tinha estado ao redor com Owen. Ele era doce e agradável,
quando ele queria ser e ele não era tão ruim de olhar, tampouco. Se ele
somente me desse tempo, então talvez…
~ 67 ~
Não. Nem mesmo com o tempo.
Ótimo.
4 Um site de relacionamentos.
5 Caminhada da vergonha é o que os americanos costumam dizer das meninas que
fazem sexo sem compromisso e depois vai embora.
~ 68 ~
— Por que você está fora de casa? Você está fazendo a caminhada
da vergonha ou você teve que dar o pé na bunda de alguém? — ele
estendeu o maço de cigarros em minha direção.
~ 69 ~
— Como quem? — eu sabia quem era perigoso para mim. A
pergunta era sobre quem era perigoso para ele.
— Por aqui, então. — ele fez um gesto com seu braço, de volta
para onde ele tinha estacionado sua moto.
~ 70 ~
Eu teria que agarrar ele.
— Basta subir atrás de mim, com uma perna de cada vez, tome
cuidado para não tocar as pernas nos tubos de metal na parte inferior,
porque eles podem queimar. — mal sabia ele que eu prefiro a
queimadura das tubulações à queimadura do seu toque.
Mas, eu não era a maioria das pessoas, e não era fácil para mim.
~ 71 ~
pergunta. Ele não me perguntou a razão para isso. Ele não tirou sarro
de mim por perguntar. Só parecia que ele estava pensando e isso era
tudo.
Eu suspirei de alívio.
Uma coisa boa saiu da noite depois de tudo. Descobri que andar
em uma moto era a minha nova coisa favorita.
De sempre.
A emoção da moto que rugia abaixo de mim foi uma emoção que
eu não estava esperando. O vento arrancou meu capuz como se ele não
fosse páreo para o seu poder. Fazia tanto tempo que eu não tinha
encontrado prazer em qualquer coisa, que eu fiquei chocada quando
ouvi minha própria voz gritando para o ar. Todos os meus sentidos
estavam ainda cantarolando quando a moto parou poucos minutos
mais tarde.
Jake riu da minha falta de jeito, mas ainda estava olhando para o
meu queixo como se ele o tivesse ofendido de alguma forma. — Você
realmente nunca andou em uma moto antes? — eu balancei minha
cabeça. Foi então que eu percebi que ele nunca me perguntou onde eu
morava e nós certamente não estávamos na casa de Nan.
~ 72 ~
— Ok, eu sei que eu disse que iria te levar para casa, mas esta é a
minha hora favorita do dia e eu pensei que talvez você gostaria de dar
uma volta comigo. Você está brava? — eu estava prestes a dizer a ele
que eu estava muito cansada para algo assim quando eu percebi que eu
realmente não estava mais cansada. A adrenalina do passeio tinha me
dado um segundo fôlego. Eu olhei para a água. Com certeza o sol tinha
começado a fazer a sua entrada. Eu tinha visto o sol nascer muitas
vezes a partir da varanda de Nan e sempre foi lindo. Mas, eu nunca
tinha visto da praia.
~ 73 ~
— Talvez um dia você possa me dizer o seu.
Pensei em não responder a ele. Seria mais fácil. Mas ele me deu
uma carona e eu estava cansada de correr de alguém que me
perguntasse algo sobre mim. — Não realmente. A mulher da assistência
social estava atrás de mim. Eu estava apenas me escondendo até que
ela se cansasse e saísse.
~ 74 ~
— Você não pode simplesmente ser emancipada ou algo assim? —
era uma pergunta que eu realmente não tinha que procurar a resposta.
— Não. Você tem que ter a autorização dos pais e você tem que
provar que você pode se sustentar. Eu não posso fazer nenhum dos
dois. E leva um longo tempo. Eu teria dezoito anos e seria uma adulta
antes de ser concedida, de qualquer maneira.
Mudei de assunto.
~ 75 ~
Eu pensei que uma vez que chegasse até Nan, se eu não
reparasse a lona azul gigante na entrada da garagem, então ele também
não. — Obrigada pela carona, — eu disse. Entreguei a ele o capacete.
Eu estava fodida.
~ 76 ~
Uma voz perguntou, — Abby?
— Dan, — eu respondi.
~ 77 ~
Ela bufou, como se ela não devesse desperdiçar seu tempo com
uma idiota como eu, como se houvesse algo que eu não estava
entendendo em tudo isso.
— Que eu ia o quê?
— O que é isso?
~ 78 ~
acolhimento. — eu assinei na linha onde ela estava tocando seu dedo
gordo e suado, mas antes de entregar de volta sua prancheta, notei que
a linha acima de onde eu tinha acabado de assinar tinha outra
assinatura recentemente sobre ela.
~ 79 ~
Capítulo Oito
QUANDO DEI A VOLTA NO JARDIM DA FRENTE com a senhorita
Thornton, Jake estava encostado em sua moto, fumando um cigarro.
Seus olhos me seguiram, com o rosto completamente ilegível.
Uma vez lá dentro, percebi que este deve ser o apartamento que
Jake me contou quando nos encontramos no quintal ontem à noite. Não
era ruim. Era pequeno, limpo e acolhedor. O chão era de madeira bege
simples, as paredes de um amarelo cremoso. Para a direita estava uma
pequena cozinha de estilo galley6 com armários brancos simples com
pequenos golfinhos de plástico como puxadores. Os aparelhos eram
pequenos e brancos, mas pareciam bastante novos. As bancadas
6 Cozinha em forma de U.
~ 80 ~
estavam cobertas de pequenos azulejos azul escuro, com linhas de
reboco branco. Havia uma saliência de um lado, onde duas banquetas
de madeira estavam debaixo dela. Atrás dela havia uma pequena área
que parecia que foi designada para a mesa da sala de jantar, mas em
vez disso estava uma pequena mesa de ferro e um laptop.
— Vou ficar até que Abby tenha dezoito anos, mas eu viajo para o
meu próprio trabalho, de modo que haverá momentos em que eu vou
estar fora por um tempo aqui e ali. — suas respostas eram simples e
diretas. Senhorita Thornton assentia.
— Eu espero que você leve isso a sério, Sr. Dunn. Senhorita Ford
está sob seu cuidado agora.
Ela voltou sua atenção para mim. — Sua casa parece ter apenas
um quarto. Onde Ford vai dormir?
~ 81 ~
Senhorita Thornton parecia satisfeita com as respostas dele. Ela
colocou sua prancheta debaixo do braço e se virou para sair, nos
informando de uma visita de acompanhamento nas próximas semanas.
Ela sorriu, abriu a porta, e desapareceu na luz do dia, nos deixando
sozinhos no apartamento escuro.
— Sim. — ele sorriu e foi para o sofá onde ele se sentou e colocou
os pés em cima da mesa do café. Suas botas pesadas bateram contra a
madeira.
— Por quê?
— Como o quê?
~ 82 ~
— Bem, o que você disse a senhorita Thornton vai tirar ela da
minha bunda por um tempo, mas eu ainda tenho que descobrir onde eu
vou viver. Eu acho que eu posso vender algumas das coisas de Nan
para uma passagem de ônibus para um lugar mais para o interior, onde
os hotéis são mais baratos. — eu odiava dizer que eu não tinha para
onde ir. Isso fazia tudo ainda mais real. Jake já sabia de tudo isso,
entre dormir no ferro-velho e estar nas mãos do estado, mas isso não o
torna menos embaraçoso.
~ 83 ~
Jake respirou fundo. — Agora, mais do que nunca. — ele sorriu.
— E eu só... — ele hesitou. — Eu gosto do jeito que você faz o silêncio
suportável.
Minha mente me disse para correr, mas meu corpo não se mexia.
~ 84 ~
que só ficava embaraçada de novo e de novo. Isso me fez questionar
ainda mais por que ele ficaria comigo. Pela primeira vez em muito
tempo, um pouco de algo que eu não estava familiarizada se rastejou
para dentro de mim.
O que eu faria se, por alguma razão, viver lá acabasse por não
funcionar?
~ 85 ~
Capítulo Nove
NÓS NÃO FOMOS NA MOTO DE JAKE. Em vez disso, ele nos
levou de volta para Nan em uma velha caminhonete laranja. Demorou
um pouco menos de uma hora para arrumar e carregar tudo do quintal.
Isso é o quão pouco eu tinha.
— Ontem Reggie disse a uma mulher que se ela não sabia como
cuidar de seu carro, então ela não tinha o direito de ter um.
~ 86 ~
— A menos que você prefere tentar encontrar trabalho em outro
lugar. Isso é legal, também. Há um Hooters7 a poucos quilômetros de
distância. Você ficaria ótima com o uniforme. — ele riu. Ele sabia
exatamente o que estava fazendo. Ele parecia saber o detalhe que iria
ficar sob a minha pele.
— Não. Ele está trancado na casa dele, não sai muito. Ninguém o
viu em um tempo e eu não estou prestes a fazer a ele uma ligação
amigável.
— Isso é péssimo.
— Não exatamente.
7
Restaurante
~ 87 ~
— Atlanta, eu acho, — eu respondi. Eu tinha certeza que era
quase correto, porque meus pais tinham estado dentro e fora do
sistema de Prisão do estado de Georgia. Quando alguém pergunta, eu
costumo dizer Atlanta porque é a única cidade que eu me lembro na
Geórgia.
— Você acha?
— E por que você veio para Coral Pines? — esta era uma ladeira
escorregadia que ele estava descendo.
— Passo.
— Minha Nan.
— Então você vai passar porque a sua Nan inventou um jogo para
deixar você deslizar sobre ter que dizer alguma coisa a alguém? — ele
era um perspicaz.
— Sim.
~ 88 ~
— Minha mãe e meu irmão morreram. — eu pensei que eu tinha
ouvido falar que a esposa e o filho de Frank tinham morrido, mas eu
não somei dois e dois juntos que teria sido a mãe e o irmão de Jake.
Evitei pedir desculpas por isso. Eu não estava arrependida. Eu não fiz
nada. Eu nunca entendi essa prática de qualquer maneira.
~ 89 ~
tapinha na almofada, me convidando a tomar o meu lugar novamente.
Relutantemente, eu fiz. Ingenuamente eu esperava que ele fosse
esquecer o que tinha acontecido. É claro que ele não o fez.
~ 90 ~
E ainda de alguma forma, ela acabou em um trailer de laboratório de
metanfetamina no meio do Preserve durante a luz do dia, quando ela
deveria estar indo para a minha formatura.
— Ok, vamos tirar uma coisa do caminho: não vamos dizer sinto
muito um ao outro. Eu odeio essa expressão. O que você sente muito?
Você não fez nada. Eu não me arrependo porque você perdeu sua mãe e
seu irmão. Eu não fiz isso. — as palavras saíram um pouco mais
ásperas do que eu pretendia.
— Bee, eu não lamento que sua Nan morreu porque eu não fiz
nada para contribuir para a morte prematura dela, mas ainda é uma
merda.
— Melhor. — eu ri.
Jake pode ter tido o olhar duro de alguém que passou por muita
coisa e as pessoas que não o conheciam poderiam tentar adivinhar que
ele era alguns anos mais velho do que vinte e dois. Eu sabia como a
experiência de vida era. Vinte e dois teria sido o meu palpite.
~ 91 ~
cabeça e sorriu para mim. — Quem é o seu... melhor amigo? — eu
poderia dizer que ele estava tentando chegar a uma pergunta simples
para clarear um pouco da tristeza de nossas perguntas anteriores.
— Agora mesmo?
— Passo. — eu não quero ter que dizer a ele que naquele exato
momento, o meu melhor amigo, meu único amigo no mundo inteiro era
ele.
***
~ 92 ~
Após o passeio, Jake e eu voltamos para o apartamento. Ele fez
algum espaço em seu armário para meus poucos artigos de vestuário.
Foi muito fácil, uma vez que nenhum de nós tinha muito. Basicamente,
ele apenas deslizou algumas de suas coisas para baixo nas hastes para
roupas e eu coloquei minhas poucas coisas em cabides de plástico
vermelho. Ele me disse que eu poderia usar qualquer uma das gavetas
da cômoda, uma vez que todas elas estavam vazias de qualquer
maneira.
— Por que você está fazendo tudo isso para mim? — perguntei. —
Você nem mesmo me conhece. — Jake estava na porta de seu quarto e
me via dobrar algumas camisetas em uma das gavetas.
— Não, — disse ele, sem dizer mais nada. Foi uma das coisas que
eu estava começando a gostar nele. Ele não sentia a necessidade de
explicar tudo o tempo todo. Ele não falava apenas para preencher o
silêncio entre nós com palavras inúteis.
~ 94 ~
Eu abri a porta. — Você não deveria pedir desculpas. Eu sou uma
idiota e você provavelmente está pensando que você fez mais do que era
capaz de lidar, e eu entendo, eu só vou ir e...
— Sim, você deve devorar toda a comida. Não precisa olhar muito
para ver que você extrapola.
— Não muito. Posso tirar fotos, ou, pelo menos, eu acho que eu
posso tirar fotos. Na escola eles tinham câmeras emprestadas para a
aula de fotografia e eu fui muito bem. Até mesmo aprendi a usar o
quarto escuro para revelar. Eu tinha um talento especial para isso,
mas, ao final do semestre, tivemos que devolver as câmeras, então eu
nunca cheguei a saber se eu era boa.
— Meu pai deve ter uma câmera que você pode usar, — ele
ofereceu. — Vou ver se ela está no escritório em algum lugar. — ele
jogou uma fatia de batata em sua boca com os dedos.
~ 95 ~
— Sério? Quer dizer, eu não quero tomar a câmera dele.
~ 96 ~
— Sim. Apenas alguma merda de trabalho. — ele esfregou a mão
sobre os olhos e empurrou seu telefone de volta no bolso.
Havia uma razão para que ele não me dissesse o que ele fazia
para viver.
Ele não estava envergonhado pelo que ele fazia. Ele estava
simplesmente escondendo isso. Depois de ouvir sua conversa, todos os
sinais apontam para a razão para que o sigilo fosse muito mais escuro
do que eu pensava.
~ 97 ~
Capítulo Dez
NO DIA SEGUINTE, FOI MEU PRIMEIRO DIA de trabalho na loja.
Quando eu acordei, eu encontrei uma nota que Jake tinha deixado para
mim, me dizendo que ele já estava trabalhando e que eu deveria
encontrá-lo por lá quando eu estivesse pronta. Tomei banho. Puxei meu
cabelo para trás em uma trança simples e coloquei um par de jeans e
uma camiseta de manga comprida. Eu empurrei meus pés em minhas
botas, mas decidi contra o uso de meu capuz em uma tentativa de
parecer um pouco profissional. Foi o melhor que consegui com o que eu
tinha. Peguei meu capuz e trouxe comigo de qualquer maneira, apenas
no caso de eu sentir a necessidade de me esconder nele.
Eu fui ao escritório que Reggie tinha me dito que seria meu no dia
anterior. Uma vez que a loja não abriria oficialmente por mais meia
hora, eu aproveitei a oportunidade para organizar a desordem e tirar a
poeira do mobiliário. Eu senti como se alguém estivesse me observando
enquanto eu trabalhava, e quando me virei, com certeza, eu vi Jake
através das cortinas, limpando a graxa de uma chave com um pano e
sorrindo para mim através da janela. Eu não tirei o meu olhar dele até
que o telefone tocou e me tirou da minha neblina.
***
O dia inteiro voou tão rápido, eu mal tive tempo para terminar o
café que Jake me trouxe, enquanto eu estava no telefone marcando um
horário para ajustar o Chevy da Sra. Grabel. Jake tinha me verificado
algumas vezes e cada vez que eu o vi, ele tinha mais graxa no rosto e
macacão. Marquei todos os compromissos, atendi o telefone, as
encomendas que os caras rabiscaram para mim em um bilhete foram
feitas e ao meio-dia, eu corri em toda a rua para buscar almoço para
todos os quatro mecânicos. Eles estavam agradecidos e comemos
~ 98 ~
enquanto trabalhávamos. Eu tinha uma sensação de que nessa loucura
eles podem ter comido um pouco de graxa com seus sanduíches.
Casa.
~ 99 ~
— Eu nem sei o que isso significa, — disse eu. Mas eu tinha uma
ideia. Algo me disse que era ele que não sabia o que uma casa de
nudismo realmente era.
— Ele enfim colocou alguma cor nele! — cobri minha boca aberta,
fingindo surpresa.
— Eu acho que é.
— Então meu pai deixou a etiqueta. Ele faz coisas assim. — ele
pegou uma garrafa na geladeira e torceu a tampa. — Cerveja?
— Merda, — disse ele. Ele sabia que ele foi pego e seu rosto me
disse que ele não se importava. Ele estava sorrindo de orelha a orelha.
~ 100 ~
— Sim, você pode. Eu faço um bom dinheiro. Eu nunca comprei
nada caro além da minha moto. Eu queria isso para você e eu não vou
pegar de volta. — ele poderia muito bem ter dito que o céu é azul e isso
era um fato.
— Você não faria isso! — eu gritei. Algo me disse que ele não blefa
e eu não estava disposta a correr esse risco com equipamentos caros
como estes.
— Não, não, não, não tão rápido. Vou usar e amar, mas eu vou
pagar de volta. Cada centavo. Assim que eu puder economizar o
suficiente.
— Eu não me importo com o que você faz com ele. Eu ainda estou
pagando.
~ 101 ~
— Eu acredito que nós temos alguns negócios para resolver
primeiro?
— Que negócios?
— Sim. Mas você nunca disse que se você era um deles ou não.
É claro que eu não poderia ser algo mais. Eu mal era capaz de
pensar sobre que tipo de relacionamento, muito menos estar em um.
Além disso, Jake era o tipo de cara que as meninas se jogavam encima
por uma chance de ser tocada por ele.
~ 102 ~
Por que ele iria querer alguém que era apenas capaz de correr
disso?
Por mais que isso foi feito para conhecermos um ao outro, era
como se a única coisa que realmente isso fazia era expor os segredos
que tínhamos toda a intenção de manter.
~ 103 ~
Capítulo Onze
UM ESTRONDO ME ACORDOU. O pequeno relógio digital azul na
mesa de cabeceira marcava 2h14 da manhã, eu me endireitei, meu
coração acelerado.
~ 104 ~
dobradiças. Elas se arrancaram pela metade quando ele caiu lá dentro,
um emaranhado nas roupas e cabides.
— Sente muito por bater nela, ou você está apenas triste que não
era eu? Porque de qualquer forma, o seu pedido de desculpas não faz a
merda melhor. O que um pedaço de merda como você veio fazer aqui no
meio da noite? Que parte disso parecia ser uma boa ideia para você, seu
estúpido fodido? Você poderia a ter matado! — Jake puxou a pistola da
parte de trás de suas calças e segurou o cano na testa do velho. Ele se
inclinou mais perto e olhou o velho nos olhos. — Estou aqui porque
você tem fodido tudo pelo que minha mãe trabalhou durante toda a vida
dela.
Mãe?
— Estou aqui para que a casa que ela amava, a casa que você
gastou o seu tempo apodrecendo dentro, não acabe com o coletor de
impostos e Reggie e Bo não acabem na linha de desemprego do caralho.
Porque você certo pra caralho não parece dar a mínima para nada, além
de beber uísque e chafurdar na sua própria merda. — ele levantou a
arma.
~ 105 ~
O velho manteve os olhos fechados enquanto Jake continuou com
os dentes cerrados. — Enquanto eu estiver na cidade, você nunca virá
aqui novamente e nem colocará um dedo fodido em Abby ou eu vou
explodir sua cabeça do caralho. — enquanto falava as últimas palavras,
ele cutucou a arma contra a testa do velho, empurrando a cabeça dele
contra a parede do armário. — Você tem sorte que eu apenas não
termino com você agora, seu filho da puta.
Jake puxou o velho pela parte de trás de sua camisa. — Hoje não,
velho, — disse ele. Então ele o empurrou aos tropeços para o corredor e
para fora da sala. A porta da frente abriu, então se fechou.
***
~ 106 ~
Jake entrou no quarto. Assim que ele olhou para mim, ele
amaldiçoou. — Merda. — ele se virou, desaparecendo no final do
corredor e o ouvi mexer na cozinha. Gavetas foram abertas, o conteúdo
rolando e sacudindo enquanto procurava o que ele precisava. Em
seguida, ele apareceu novamente segurando um saco plástico cheio de
gelo. Ele se sentou ao meu lado e estendeu a mão para colocar o bloco
de gelo na minha bochecha. Eu peguei isso dele antes que ele pudesse
fazer contato.
— Bee, eu sinto muito. Eu não achei que ele viria aqui, muito
menos no meio da porra da noite. Ninguém o viu em quase um ano. Eu
nem sei como ele sabia que eu estava aqui. — ele se inclinou mais
perto. — Você está bem? — sua voz estava ferida e preocupada.
— É por isso que você e seu pai não se dão bem? Ele bebe e bate
em você?
— Como o quê?
~ 107 ~
vacilei, me afastando dele. Ele franziu a testa e retirou a mão. — Bee,
como é que eu não posso te tocar?
— Eu estou bem.
— Você não tem que ser assim! Não há nenhuma maneira que
você pode estar bem agora! — Jake alisou a mão sobre seu cavanhaque.
— Alguém irrompe aqui no meio da noite e ataca você e você está bem?
Porque eu vou te dizer, eu não estou bem!
— Por que você quer essas coisas de mim? Isso não muda nada.
Eu estou bem, porque eu escolho ficar bem.
~ 108 ~
— Por que você não quer que eu te toque? — ele perguntou de
novo, desta vez mais alto, sua voz cheia de raiva.
— Por que você quer me tocar? Eu não sou nada. Eu não sou
ninguém. — minha voz estava trêmula. Eu estava à beira das minhas
primeiras lágrimas de verdade desde que eu era uma criança e eu era
boa em não deixá-las vir.
Foi tudo que eu sempre quis e não quis ouvir ao mesmo tempo.
Nós nem sequer nos conhecíamos. Nós não poderíamos ter um
relacionamento real. Eu nunca poderia dar o que ele precisava ou
queria e não havia nenhuma maneira no inferno que ele iria ser capaz
de fazer as coisas melhores para mim. Ele nem sequer sabia o que ele
estaria tentando fazer melhorar.
~ 109 ~
eu quero ficar bem porra! Eu não quero ser tocada, porque eu não
quero toda a merda que vem com isso. — a próxima parte derramou
para fora de mim antes que eu pudesse reconsiderar. — Isso queima,
ok? É isso que você quer ouvir? Queima em meus ossos e fisicamente
ser tocada dói porra!
Eu afundei da cama para o chão, então eu não tinha que ver sua
reação à minha confissão.
~ 110 ~
— Me deixe ir porra! — eu lamentei.
~ 111 ~
Me recuso a fingir ser alguém que não sou. Me permito sentir todas as
coisas que eu sou, as coisas que me fazem eu, mesmo que não seja o
que as pessoas comuns considerariam certo ou bom. Eu aprendi a me
alimentar dessas emoções em vez de deixá-las me segurar pelo jeito que
eu sou.
~ 112 ~
Capítulo Doze
SE MONTAR NA MOTO JAKE SEM TOCÁ-LO tinha sido a emoção
de uma vida, então montar em sua moto com meus braços em torno
dele sob sua jaqueta de couro era fodidamente extraordinário.
~ 113 ~
— É lindo aqui. — eu disse, admirando como as copas das
árvores criavam uma pequena copa. Quando me virei para enfrentar
Jake, ele não estava lá comigo. Ele estava do outro lado da clareira, se
ajoelhando na parte inferior da maior árvore. Me aproximei dele
lentamente e coloquei minha mão em seu ombro. Sem se virar, ele
pegou minha mão e apertou. — Por que essas árvores estão em um
círculo? — parecia um pouco não natural para elas não estar na forma
de um laranjal real.
— Quem?
~ 114 ~
Quem poderia ter sido?
~ 115 ~
ambulância e que ela precisava para ir para o hospital. Ela se recusou.
Ela não queria que ninguém soubesse. Ela me fez prometer que não iria
levá-la lá, não importava o quê. Seu rosto estava tão pálido e tudo o que
ela queria era a minha ajuda. Então, eu a ajudei.
~ 116 ~
— Quem é o L, então? — eu segui as letras entrelaçadas em seu
antebraço com os meus dedos.
— Era o que ela queria Jake, — eu disse. — Você era jovem. Você
fez o que podia.
— Não, eu poderia ter feito mais. Eu poderia ter feito muito mais.
— Eles acham que ela fugiu. Todo mundo sabia que o pai dela era
um tipo religioso realmente rigoroso e dos machucados constantes dela.
Eu suspeitava que ele batia nela pra caramba em uma base regular,
mas eu era muito covarde até mesmo para fazer alguma coisa sobre
isso. O irmão de Sabrina tinha fugido quando ele tinha quinze anos,
então o pai dela assumiu que ela ou foi procurá-lo ou seguiu o exemplo
dele. Honestamente, eu acho que ele nunca ligou para ela.
— Eu sei como é.
~ 117 ~
— Se você tivesse desaparecido, eu iria te procurar até os confins
da Terra e de volta. Eu sempre vou te encontrar, Bee. Sempre. — ele me
segurou mais apertado.
— Eu sei. — não só eu sei, mas por mais estranho que pareça, ele
virou algo dentro de mim. De repente, tive uma necessidade profunda e
poderosa de ser cuidada por alguém que faria qualquer coisa por mim,
mesmo que isso significasse tirar uma vida. Pode ter estado ali o tempo
todo, mas só agora eu tinha alguém que realmente se sentia assim, e eu
iria me permitir sentir isso.
~ 118 ~
— Não sair, sair. Eu tenho que ir fazer um trabalho, eu ia desistir,
mas eles já enviaram o pagamento e cortaram a comunicação, então
dizer ‘não’ a esta altura não é realmente uma opção, a menos que eu
queira pessoas procurando por mim.
Um mês?
— Quero dizer depois que você voltar. Quanto tempo até você sair
de novo? Você me disse que Coral Pines não é permanente para você.
Eu não posso deixar de me perguntar quando você realmente pensou
em ir embora. — eu precisava me preparar para quando chegasse a
hora. Eu precisava da Abby entorpecida para isso.
Ele não ia fazer isso fácil para mim. Os pequenos pelos na parte
de trás do meu pescoço ficaram em alerta. — De quê?
— Para onde você quer ir. — ele beijou meu pescoço, ficando mais
ousado a cada vez. Cada vez mais perto, seus beijinhos rastejavam em
direção a minha boca e a emoção sobre o meu primeiro beijo real
cresceu na boca do estômago.
Espere.
— Eu? — perguntei.
~ 119 ~
Ele assentiu com a cabeça. — Eu estive pensando que este é o
meu último show... por falta de uma palavra melhor. Pelo menos por
um tempo. Não é exatamente um trabalho permanente. Depois de um
tempo, as pessoas descobrem quem você é e o que você faz e eles vêm
procurando por você. A quantidade de vingança e retaliação começa se
amontoar em alguns anos. Então há um monte de pessoas se lançando
para você.
~ 120 ~
Isso não era verdade. Eu tinha ouvido tudo o que ele disse. Era
mais que eu não era uma boa crente.
— Uma vez que eu tiver dezoito anos, você não será legalmente
responsável por mim. Você não é obrigado a me levar com você. — ele já
tinha feito muito. Ele não precisava de mim em seu caminho por mais
tempo do que ele tinha assinado.
Teria sido tão fácil dizer sim, tão fácil de saltar sobre a traseira de
sua moto e deixar tudo para trás. Então, o quê? O que aconteceria
quando ele percebesse que eu era incapaz de um relacionamento
normal, incapaz de algo tão básico como o sexo? O que aconteceria
quando ele ficasse aborrecido e cansado das minhas merdas, da minha
tristeza e sofrimento?
~ 121 ~
Capítulo Treze
A SEMANA SEGUINTE DA REVELAÇÃO DE JAKE voou. Nós
caímos em uma rotina confortável. Jake fez o jantar e eu lavei os pratos.
Então, a gente assistia a um filme no sofá antes de ir para a cama e
adormecer nos braços um do outro. Ele nunca tentou mais nada. Ele
estava me dando tempo, mas ele não sabia que mesmo uma vida pode
não ser suficiente. Eu nunca seria normal. Nenhuma quantidade de
tempo poderia me fazer isso. Do lado de fora parecíamos como um casal
comum.
~ 122 ~
Eu praticamente acabei de conhecê-lo e ele estava fazendo
arranjos para mim em sua vida e em sua casa. Eu nunca tive isso
antes.
Talvez milhares.
~ 123 ~
— Por que você quis fazer isso para mim naquela época? Nós
nunca sequer nos falamos naquela noite. — eu pensei na noite há
apenas duas semanas, que consistia em eu sendo uma sem-teto e Jake
me ameaçando com a arma. — Foi mais como uma briga.
— Eu não vou sair até amanhã, Bee. Vamos guardar isso para
depois. — Jake não entendeu que eu não estava falando sobre esta
viagem. Eu estava falando sobre ele indo embora pra sempre.
Sem mim.
Seus belos olhos azuis brilhavam. Ele olhou para mim com tal
intensidade, como fogo. Eu queria saber o que ele viu em mim que o fez
parecer assim, porque eu não vi isso. Talvez, ele estivesse delirando. Ele
me virou para ele, inclinou meu queixo para cima, e, lentamente, muito
lentamente, fechou os lábios sobre os meus.
~ 124 ~
Isso transformou o desejo em uma coisa engraçada para mim. Em
todos os meus 17 anos, eu nunca pensei que eu seria capaz de senti-lo.
Eu sempre pensei que era um dos sentimentos que estava morto dentro
de mim. Não era como se eu estivesse procurando por isso. Eu não
queria ter nada a ver com isso. Mas esteve dentro de mim o tempo todo,
eu imaginei. Eu só nunca conheci ninguém capaz de agitar isso com
força suficiente para romper a minha determinação de não senti-lo em
tudo.
Até Jake.
Eu queria mais.
— Jake.
~ 125 ~
em algum momento eu não vou ser capaz de te dar o que você quer. E
depois?
Ele esfregou seu nariz no meu pescoço. — O que é que você acha
que eu quero?
Nua.
— Por que você não me diz sobre isso, fale comigo? Será que
torna mais fácil? — ele mostrou muito mais compreensão do que eu
pensei que ele teria. — Em vez de me mostrar o que você acha que é tão
ruim, você pode me dizer.
~ 126 ~
abrir. Não apenas para Jake, mas para mim. Eu precisava que isso
ficasse onde eu tinha armazenado durante os últimos oito anos.
— Eu não sei como explicar isso a você para fazer você entender.
Você é linda, baby. Dentro e fora. Eu sei disso sem ter que te ver sem
suas roupas.
~ 127 ~
— Não por dentro. — seus olhos ficaram sérios. — Eu não sou
estúpido. Eu sei que é um lugar escuro lá dentro.
Comecei a rir.
— Sim, eu tenho.
— E você não tem um pau? — ele estava tentando não rir quando
ele perguntou.
~ 128 ~
Peguei minha bolsa e viramos para o estacionamento de mãos
dadas quando um grupo de pessoas se aproximou de nós. Havia cerca
de doze deles, alguns familiares. Owen estava entre eles. Ele liderou o
grupo, com o braço em torno de uma pequena menina morena vestindo
shorts jeans branco e um top vermelho que não fazia nada para cobrir
os seios enormes. Big Willie Ray estava ao seu lado, arrastando um
cooler sobre rodas através da areia. Várias meninas - incluindo Alissa –
estavam penduradas na parte de trás da multidão.
— Hey baby, — disse ela, olhando para nossas mãos unidas com
ceticismo. — Onde você estava?
Ela estendeu a mão para colocar os braços em volta dele, mas ele
deu um passo para trás e me puxou na frente dele em seu lugar. Ele
passou os braços em volta da minha cintura. Alissa olhou para ele com
sua mandíbula aberta e os olhos arregalados.
— Boa contusão, Owen. Parece que você pode ser a pessoa que
precisa de uma prostituta agora, vendo como sua mão direita parece
estar fora da jogada por um tempo. Como você se machucou, afinal? —
eu perguntei.
~ 129 ~
— Cale a boca, sua porra louca. Por que você não levanta essa
camisa e mostre a todos o que você está escondendo sob elas? Porque
eu vou te dizer, eu tive um vislumbre e não é muito bonito lá embaixo.
— ele se virou para Jake. — Boa sorte com essa merda, irmão. Espero
que você não se importe de broxar. Quando ela tirar esse moletom feio
dela, ela é ainda mais feia por baixo.
Jake olhou para mim como se eu fosse louca. — Vale a pena para
mim.
Como você argumenta com alguém que mata pessoas para viver?
Tudo o que eu sabia era que eu estava falando com ele, segurando sua
mão em algo que eu não queria que ele apontasse.
Controle intacto.
~ 130 ~
Jake deu de ombros e me agarrou pela cintura. Ele passou
comigo pelo grupo de amigos de Owen. Assim quando nós passamos por
Owen, Jake me empurrou para o lado e deu um soco em cheio em toda
a mandíbula de Owen. Ele caiu com força. Seus olhos ainda estavam
abertos quando caiu de costas na areia. Jake não sentiu nada. Ele
simplesmente continuou andando, pegando a minha mão e me levando
para longe da multidão de boca aberta.
***
~ 131 ~
— Eu tenho problemas de confiança como você não iria acreditar,
baby. Mas isso é mais sobre que o que eu acredito ou não. Assim, para
o nosso bem agora, só me diga se esse filho da puta te tocou.
~ 132 ~
Ele ainda não estava entendendo. — Ouça idiota! Eu não quero
que você vá, porque eu não quero perder você!
Eu não tinha certeza que ele estava ouvindo, até que ele repetiu
minhas palavras. — Você não quer me perder. — ele suavizou sua
postura em cima de mim, com as mãos descendo para descansar sobre
os meus ombros.
— Não.
— Como eu sei que você não está apenas dizendo isso para eu
não ir atrás dele?
— Eu fiz isso. Bati a mão dele na porta quando eu corri para fora.
— eu parecia orgulhosa de mim mesma.
— Baby, eu odeio que ele tocou em você, que ele achava que a
bunda privilegiada dele era o suficiente para chegar a por as mãos
sobre você. — ele fez uma pausa e esfregou os dedos para o lado do
meu rosto. — Eu não quero que ninguém te toque além de mim. — Jake
cheirava a praia e couro. Sua respiração era forte quando veio em
rajadas rápidas e pesadas. — Eu não sou bom o suficiente para te tocar
também, mas isso não é suficiente para me fazer parar.
~ 133 ~
Minha própria respiração acelerou.
— Só você, Jake.
~ 134 ~
Jake parecia confuso. — Você estava imaginando que era eu?
Jake ainda não sabia tudo sobre mim. Eu queria dizer a ele tudo
e apenas arrancar isso como um curativo, mas querer e ser capaz eram
coisas tão distantes. Eu queria que ele me ajudasse a curar, e que ele
se curasse comigo.
Eu queria estar em sua dor, porque ele tinha tomado a minha tão
completamente.
Não era uma questão do que eu queria. Era uma questão do que
eu era capaz.
~ 135 ~
Eu tinha que sair de lá. Então eu fiz o que era mais familiar para
mim.
Eu corri.
Ele me deixou.
~ 136 ~
Capítulo Quatorze
O VENTILADOR DE TETO SE MOVIA enquanto virava ao redor.
Com cada rotação vacilante, as correntes dançavam e tilintavam. A
pálida luz da lua brilhava através da janela aberta, lançando a sombra
de uma palmeira em uma das paredes nuas do quarto de Jake. Suas
folhas pareciam dentes longos, balançando em uníssono com o
ventilador.
~ 137 ~
Pela primeira vez na minha vida, o meu corpo ansiava pelo toque.
Mas, meu passado não me permitiria diminuir o muro entre nós, o
muro que me manteve a uma distância segura de todos, incluindo
aquele que me fez sentir mais segura de todos.
Tentei dormir, mas eu sabia que isso traria o belo rosto de Jake
em um sonho, as mãos calejadas, seus lábios macios, a forma como as
linhas duras do seu rosto suavizavam quando ele ria. Eu sabia que eu
gostaria muito de sonhar com esses olhos. Estas piscinas de safira
tinham me acordado e me fizeram lembrar de como era sentir a
sensação - apenas algo, qualquer coisa. Tudo. Jake tinha quebrado
através de toda a minha dormência e me lembrou que eu estava bem,
assim como eu estava e que eu era humana, afinal.
Era hora.
Pronta ou não.
~ 138 ~
Ele usou os dedos para fazer círculos ao longo da minha coxa
nua. Eu fiquei tensa, consciente agora que eu estava vestindo apenas
calcinha e nós estávamos em cima das cobertas. Eu verifiquei se minha
camisa estava no local. Felizmente, estava.
Palavras.
Elas ficaram pesadas na minha língua por quase nove anos. Elas
nunca tinham ido mais longe do que isso. Era hora. Eu sabia que era.
Eu queria estar aliviada e eu deixei esse sentimento liderar o caminho.
Parecia a coisa certa fazer Jake saber tudo de mim.
~ 139 ~
quieto, enquanto ouvia, mas ele continuou a traçar em torno de minha
coxa com os dedos, fazendo um rastro de fogo na minha pele em todos
os lugares que ele tocou. Mas, não era como o fogo de algumas semanas
atrás.
Com uma mão envolta em meu cabelo, ela está me arrastando pela
grama alta, areia grudando nos meus pés. — Você acha que pode me
desafiar? Você acha que pode dizer não? Eu possuo você e esse seu
pequeno corpo magricela. Se você não quer dar ele quando eu digo para
você dar, eu vou fazer com que ninguém jamais queira você de novo.
Eu estou acordando.
Estou desmaiando.
Eu estou acordando.
Estou desmaiando.
~ 140 ~
Eu acordo e minha mãe já não está sobre mim. Ela está do outro
lado da sala no sofá, amarrando um tubo em torno de seu braço e
enfiando a agulha na veia com seu cotovelo.
— Abby tem sido uma garota má, Vinnie. Ela grita quando eu a
puno.
— Ela precisa aprender a calar a boca dela. Acha que você pode
ajudar?
~ 141 ~
Em vez disso, eu corro. Tão rápido quanto eu posso e me deparo
com a noite, na estrada, três milhas ao longo da estação. Nua, coberta de
sangue e vômito, eu bato na porta e quando ela abre, eu caio nos braços
de um grande homem negro vestindo uma camiseta azul e suspensórios
vermelhos.
Jake precisava saber de tudo isso. Ele precisava ver. Chupei tanto
ar em meus pulmões quanto pude. — Você pode acender a luz, por
favor? — perguntei. Enquanto Jake se inclinou para trás para fazer o
que eu pedi, eu levantei minha camisa sobre a minha cabeça e a atirei
no chão. Eu não estava usando sutiã, então ele podia ver claramente
tudo de mim. Me sentei de joelhos na cama e esperei para ele ver quem
eu realmente era e como eu realmente parecia.
Prendi a respiração.
~ 142 ~
braço direito. Ele abaixou a cabeça e beijou ao longo das linhas que
estragavam os topos dos meus seios por cima de cada mamilo. Esses
não eram beijos destinados a excitar.
— Minha mãe está na prisão. Ela ganhou isso pelo que ela fez
comigo e pelas drogas que encontraram com ela. Ela tinha tanta droga
com ela que jogaram ela na prisão, sem liberdade condicional. — eu
exalei e fechei os olhos.
Jake segurou meu rosto com as mãos. Ele me olhou bem nos
meus olhos quando ele finalmente falou. — Você é tão bonita porra, —
ele sussurrou.
Não era o que eu esperava que ele dissesse. Eu esperava que ele
corresse.
O quê?
~ 143 ~
Jake não hesitou. Ele me puxou para um abraço indomável. —
Ela deveria morrer pelo que fez, — disse ele.
~ 144 ~
Jake gemeu em meu pescoço. Ele me puxou pelo ombro e me
posicionou sobre minhas costas. Ele se abaixou em cima de mim,
segurando meu rosto com as mãos. Estávamos olhando diretamente
para o outro.
Jake empurrou a mão mais para baixo, até que seus dedos
encontraram minha umidade e a espalhou sobre minha protuberância
sensível. Ao mesmo tempo, ele chupou meu mamilo direito em sua
boca, passando sua língua mais e mais no pico endurecido enquanto
seus dedos acariciavam minha carne tenra.
Meu corpo nunca tinha estado tão alerta. Era como se sua boca
estivesse bem no meu núcleo. Cada lambida, cada giro, cada som que
ele fazia me enviou mais e mais em direção a um lugar que eu não
estava familiarizada.
~ 145 ~
Jake olhou nos meus olhos enquanto ele pressionou dois dedos
dentro de mim, empurrando-os na medida em que sua mão se deixava
ir. Eu engasguei com a nova sensação enquanto ele assistia a minha
reação com um sorriso malicioso no rosto. Ele lentamente e habilmente
bombeou seus dedos dentro e fora. Seu polegar circulou meu clitóris em
um ritmo torturante, de rápido a lento, duro e suave. Eu empurrei
meus quadris com a sensação dele tocando a parte mais sensível do
meu corpo. O puxão no interior ficou mais forte e uma pressão começou
a se construir no meu estômago.
~ 146 ~
Eu pisco em antecipação.
Puta. Merda.
Jake me deu seu sorriso mais perverso. Ele passou a mão pelo
cabelo e sorriu para mim. — Só na melhor das formas, baby.
Com a base de seu pênis em sua mão, ele esfregou a ponta sobre
o meu clitóris, criando uma pressão nova dentro de mim. Ele se
arrastou até o meu corpo e me beijou. Não um eu vou ser gentil com
você beijo. Era um beijo que consumia tudo. Voltei com a paixão que
tinha estado fervendo na superfície desde o dia em que o conheci.
Minhas mãos agarraram a parte de trás de sua cabeça quando eu o
puxei para mim. A vibração de seus gemidos em minha boca enviou um
pulso elétrico direito para o meu núcleo.
~ 147 ~
Éramos apenas nós. Quebrados e machucados. Fodidos e
bagunçados. E, juntos, erámos tudo o que nunca pensei que
poderíamos ser. Nós não precisávamos do doce e gentil. Eu não
precisava ser mimada. Eu precisava de Jake e ele deu a si mesmo para
mim, assim como eu me entreguei a ele.
~ 148 ~
Minhas pernas dispararam de debaixo de mim quando eu senti a
pressão começar a me levar dominar. Jake segurou o meu olhar quando
o sentimento voltou, desta vez ainda maior do que antes, rolando em
ondas que pareciam nunca terminar até que as chamas incendiaram
em uma forte explosão. Eu pulsava em torno de Jake até que ele
empurrou profundamente em mim uma última vez. Senti sua bunda
contrair em minhas mãos. Ele endureceu ainda mais, se isso fosse
possível, e se contorceu dentro de mim. Então, ele segurou o meu olhar
e gritou o meu nome quando ele se derramou em mim.
— Eu amo você, Bee. Tanto que dói. — foi a última coisa que ele
disse antes de fechar os olhos e ceder a sua exaustão.
~ 149 ~
Capítulo Quinze
MEDO CONTINUOU ME ESPREITANDO. Eu estava com medo de
que se eu olhasse em seus olhos, eu iria me jogar à sua mercê, pedir a
ele para ficar aqui comigo e perder o controle inteiramente. Eu olhei
para a calçada e arrastei os pés nervosamente, colocando uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha. Jake correu os dedos pela minha
bochecha. Me inclinei para o seu toque que há apenas duas semanas
teria me mandado correndo a toda velocidade.
Sem o capuz.
Sem mangas.
— O quê?
— Sim.
~ 150 ~
— Jake, está na maior parte do meu corpo. Eu seria uma
daquelas malucas em um show de aberração.
~ 151 ~
— Oh, eles estão abertos. — eu não podia deixar de me inclinar
para beijar o belo homem de olhos azuis que eu amava.
Por uma fração de segundo, eu pensei que ele queria dizer que eu
tinha sido uma decepção, que ele estava acostumado a algo melhor do
que o que tínhamos compartilhado.
~ 152 ~
pessoa de palavras, mas me deixe colocar desta forma: Eu não acho que
a maioria das pessoas já sentiu algo tão fodidamente surpreendente...
— seu olhar se aprofundou. — tão incrível. — ele se inclinou para mim.
Eu podia sentir o roçar de seu cavanhaque levemente passar em meu
queixo e bochecha antes que seus lábios cobrissem os meus.
Lentamente, o calor que nunca teve tempo suficiente para morrer
começou a se construir de novo. Sua língua separou suavemente meu
lábio. Quando se encontrou com a minha, a nossa respiração se tornou
dura e minhas mãos se moviam em seu cabelo.
Jake afastou seus lábios para longe, mas ficou perto o suficiente
para que eu não tivesse que liberar meu domínio sobre ele. — Se eu não
tivesse que sair agora, jovem senhora, eu iria te arrastar de volta para a
minha cama e nunca, nunca sair de lá.
Ele quase me fez esquecer o que ele estava saindo para fazer.
Tão sexy.
~ 153 ~
— É melhor mesmo, — eu disse, tentando manter um tom leve de
palavras que estavam pesadas na minha língua. Eu respirei fundo e
convoquei o controle que eu nunca soube que eu tinha. Então, eu me
virei e caminhei de volta pela porta da frente.
Não era só que eu tinha perdido minha virgindade. Era que, a não
ser com Nan, eu nunca tinha me sentido tão necessária, tão querida,
em toda a minha vida. O que aconteceu com a irritada Abby Ford, com
as defesas mais fortes do que o Fort Knox8? Quem era essa garota que
realmente tinha conseguido deixar alguém entrar em sua vida além de
sua avó? Pela primeira vez desde que Nan morreu, eu não me sentia
sozinha. Eu não tenho que ser a Abby ruim com Jake. Eu não tenho
que mostrar a ele o quão dura eu poderia ser. Eu estava mais suave.
Ele me desafiou, na melhor das formas. Eu até adorava que ele era tão
teimoso quanto eu.
Eu preferia brigar com ele do que ter uma conversa normal com
qualquer outra pessoa.
8
Fort Knox é uma pequena cidade americana e base do Exército dos Estados Unidos, localizada no
estado de Kentucky, ao longo do rio Ohio. A área ao redor de Fort Knox começou a ser fortificada em
1861.
~ 154 ~
Se o telefone do apartamento não tivesse tocado, eu já teria
escolhido imagens do que eu queria retratado em torno de minhas
cicatrizes. Eu teria estado o resto da noite contemplando a nova Abby,
alguém que eu estava realmente começando a gostar.
~ 155 ~
paredão. À distância, eu ouvi as ondas de música e risos enquanto as
pessoas entravam e saíam da porta giratória do Bar do Bubba.
Assobiando?
~ 156 ~
Minha vida finalmente tinha uma possibilidade.
Ele apontou sua garrafa para meus braços expostos. — Veja aqui.
Alguém decidiu sair do esconderijo. Já era hora você mostrar esses
peitos grandes. — eu fiquei em silêncio. Eu não queria ter mais
problemas com ele. Eu só precisava sair de perto.
— O que você acha que a sua Nan diria se soubesse que você ia
ficar com um cão de ferro-velho como Jake Dunn? Você realmente acha
que ela ficaria orgulhosa de você fodendo esse perdedor? — Owen deu
mais um passo ameaçador em minha direção. — Você mentiu para
mim. — havia uma pontada na sua voz que eu nunca tinha ouvido
antes. Sua parte superior da camisa branca estava manchada de
marrom e vermelho com o que eu só podia imaginar era uma mistura de
isca e vísceras. Mesmo a partir de alguns metros de distância, eu podia
sentir o cheiro do licor flutuando dele.
~ 157 ~
Ele fechou a distância entre nós.
Eu nunca tinha o ouvido falar muito com este ódio e dor por trás
de suas palavras.
— Owen, você não sabe o que está falando. Leve sua bunda
bêbada pra casa. — eu tentei acabar com isso, andando rápido em
direção à porta da unidade. A alça estava a poucos passos de distância
do meu alcance.
— Então Abby, por que eu iria voltar para casa para a minha
cama vazia quando eu tenho você aqui? — ele me alcançou e me
agarrou pela parte de trás da minha blusa, me girando para a cara dele,
o meu tornozelo torcendo pelo desnível da estrada, enviando um choque
de dor na minha perna. Eu recuperei meu equilíbrio e dei um passo
para trás, mas Owen me segurou. — Especialmente desde que você está
jogando agora, — ele acrescentou. O veneno em sua voz mais potente
do que qualquer cascavel.
— Ah, não, você não vai, senhorita Abby, — ele fervia. — Não
desta vez. — a saliva que ele tinha escondido em seu lábio inferior
pulverizou para fora de sua boca com a ênfase de cada uma de suas
palavras, pedaços dele deslizando do lábio para o queixo. Owen
esmagou seus frios e molhados lábios com gosto de tabaco em minha
boca. Meu rosto inflamou com a sensação. Eu consegui um braço livre,
e assim que eu fiz, eu o inclinei de volta e bati com o punho diretamente
em sua mandíbula.
~ 159 ~
irregulares do paredão. Eu perdi um pontapé, depois outro. Minha faca
estava firmemente dobrada na minha calça. Ainda assim, eu me recusei
a abrandar o meu esforço.
— Você acha que vai mudar alguma coisa? — ele falou com um
tom brincalhão em cima de seu riso ameaçador. Eu já sabia que isso
era apenas um jogo para ele, com as regras que eu não tinha qualquer
esperança de compreender.
~ 160 ~
Palavras que eu tinha ouvido antes e tinha a esperança de nunca
ouvir novamente.
Tentei gritar, mas tudo o que saiu foi um gemido fraco. A onda de
náusea tomou conta de mim. Virei a cabeça para o lado, e eu vomitei na
areia, engasgando com os pedaços de frango frito quando eles vieram
para cima.
Tinha passado somente uma hora desde que estava com Jake?
Isso seria possível?
~ 161 ~
Owen não pareceu notar o vômito, e se o fizesse, ele não parecia
se importar. Com um movimento, ele puxou suas calças jeans para
baixo e se libertou dos seus boxers. Ele forçou uma mão sob minhas
costas, me puxando para mais perto dele, e com a outra mão ele se
empurrou dentro de mim. Eu podia sentir o grão da areia da praia
rasgando minhas entranhas, como cacos de vidro. A queimação não foi
como nada que eu já tinha experimentado a partir do contato externo.
Isso não era como se a minha pele estivesse sendo incendiada.
Eu gritei.
Desta vez, era a chama. A dor era ofuscante. Tudo o que eu via
era branco.
~ 162 ~
Owen de repente saiu de mim, raspando minhas entranhas como
uma lixa, me virando para o meu estômago como se eu fosse uma
boneca de pano. Com uma mão na parte de trás da minha cabeça, ele
empurrou meu rosto na areia molhada. — Isso é o que você ganha por
tentar gritar. — seu próximo impulso enviou dores através do meu
corpo, eu tenho certeza que eu perdi a consciência por um minuto ou
dois.
Eu abri minha boca para gritar para o chão. Em vez disso, fui
congratulada com areia molhada em meus pulmões, engasgando até
que a areia da praia foi forçada ainda mais em minha garganta.
Eu vou morrer.
A força.
~ 163 ~
tratada. Eu ia morrer aqui. Ergui a cabeça da areia em uma última
tentativa para me manter viva.
E então, eu morri.
~ 164 ~
Capítulo Dezesseis
A MORTE NÃO ME CHAMOU EM SEUS braços naquela noite,
embora eu realmente acreditasse que ela tinha. Eu preferia ter morrido
do que ter que ser a porra da vítima novamente. Eu preferia ter morrido
do que segurar o conhecimento do que aconteceu, de ter o poder de ver
essas imagens sempre que meus pensamentos iam para além das
paredes que eu tinha construído. Todas as lembranças dos golpes em
meu rosto e corpo viriam com eles, revivendo a intrusão terrível dentro
de mim.
Eu não era o tipo que tinha final feliz, depois de tudo. Eu era a
garota fodida que estava fodida. Por que eu pensei que eu merecia
mais?
Eu não sei quanto tempo eu tinha ficado lá, não sabia se era dia
ou noite. Eu não abri meus olhos por horas. Eu os mantive fechados e
desejei uma morte rápida. Eu pensei que se eu me concentrasse
bastante, eu poderia cair no esquecimento. Pessoas como eu, só foram
feitas para sentir dor e sofrimento, eu abri meus olhos - ou, devo dizer,
eu abri meu olho.
Ele me moveu.
~ 165 ~
A onda de náusea tomou conta de mim. Incapaz de suportar e
correr para o banheiro, eu tentei miseravelmente vomitar no chão ao
lado da cama, no processo, desobstruindo uma narina cheia de sangue
seco, enviando pedaços de preto e vermelho fresco para a bílis do lado
do colchão.
Exausta devido ao que não poderia ter sido mais do que alguns
minutos de consciência, eu voltei a dormir deitada sobre a bagunça que
acabei de criar.
Então, eu engatinhei.
~ 166 ~
Meus olhos estavam ambos negros como a noite, com manchas de
roxo e amarelo. Minha pele normalmente pálida estava irreconhecível
sob as manchas vermelhas de sangue. Hematomas azuis e amarelos se
estendiam por todo o caminho pelo meu rosto ao longo da minha
mandíbula. Meu cabelo cor de cobre estava penteado para trás e
coberto de pedaços de sangue vermelho escuro. Corri meus dedos sobre
meus lábios, me encolhendo ao meu próprio toque. A parte superior da
camiseta que eu usava estava manchada de sujeira e vômito. Eu estava
nua da cintura para baixo. Linhas de vermelho corriam ao longo do
interior das minhas pernas, como veias grossas se espalhando para os
meus pés. Abri a boca o máximo que pude, a fim de pressionar um dedo
dentro para sentir meus dentes. Tanto quanto eu poderia dizer, eles
estavam todos lá.
Eu preciso de Jake.
Nan...
Me arrastar até o vaso não era uma opção. Eu não tinha forças.
Urina saiu de mim em ondas de agonia queimando, me fazendo ver o
que parecia neve por trás das minhas pálpebras.
Minha vida era a minha dor, e havia muito mais para vir.
Owen ia morrer.
Jake sim.
Quase.
~ 168 ~
Capítulo Dezessete
ERAM DEZ HORAS DA NOITE, e todas as luzes dentro da escola
secundária de Coral Pines estavam desligadas. Eu não queria ligar
qualquer delas por medo de chamar a atenção para mim mesma. O que
eu estava lá para fazer não necessita de luz, de qualquer maneira. O
brilho vermelho dos sinais de saída acima de cada porta e minha
pequena lanterna me permitiram ver apenas o suficiente para encontrar
o meu caminho.
Eu.
~ 169 ~
Olhar para elas me fez sentir como se nem mesmo um segundo
tivesse passado e muito menos algumas semanas. Eu estava lá de novo.
Fechei os olhos para lutar contra as memórias intrusas, mas que eu
não iria ceder.
Mais uma vez, eu senti cada golpe, cada pedaço de força que ele
usou quando ele se empurrou para dentro de mim. Eu senti um
aumento súbito de pânico no meu peito que irradiava pelo meu corpo
até os dedos dos pés.
~ 170 ~
nu. Cada contusão, cada sangue seco, cada ondulação e arranhão foi
pego pela lente da câmera e ampliado à luz verdadeira e sombra da
imagem em preto e branco. A próxima era semelhante. Nessa, meu
corpo estava virado como se eu olhasse para o meu próprio ombro para
as manchas de sangue se espalhando sob a pele que cobria as minhas
costelas. A próxima era semelhante, mas apenas um pouco diferente.
E a próxima.
E a próxima.
E a próxima.
Esta foto não foi feita para documentar o que Owen tinha feito.
Eu tinha tirado para mim. Feridas frescas misturadas com cicatrizes
antigas. Um retrato da minha vida de dor. A prova de que eu tinha sido
espancada, mas eu não estava quebrada.
~ 171 ~
haveria fotografias semelhantes dessa causa, do homem que fez essa
miséria comigo.
~ 172 ~
Capítulo Dezoito
EU ESTAVA NO TOPO NA PASSAGEM do Matlacha em um dia
sem nuvens. O único lembrete visível do pesadelo de cinco semanas
antes, quando minha vida mudou para sempre, mais uma vez foi uma
pequena cicatriz vermelha e brilhante no meu lábio inferior. Eu me
encontrei querendo passar mais tempo no sol do que eu tive no
passado. Eu adorava a sensação de uma queimadura solar agora. Era
apenas desconforto suficiente para me lembrar que eu ainda estava viva
e matar a dormência que ameaçou a cada dia que Jake estava fora.
~ 173 ~
garoupa de volta para casa para o rio com uma refeição grátis em sua
barriga.
Jake.
~ 174 ~
seu cabelo e tomar uma respiração profunda para que eu pudesse levá-
lo todos os momentos.
Eu não sabia como ele iria ficar depois de terminar uma matança.
Honestamente, eu tinha passado por tanta coisa eu mesma que eu não
tinha passado algum tempo pensando sobre isso, também. Agora, eu
percebi que ele tinha passado por algo incrivelmente escuro enquanto
ele estava desaparecido. Talvez, ele só precisasse de facilidade de volta
para a realidade da sua outra vida.
Toquei seu queixo com os dedos e levantei seu rosto. Seus belos
olhos azuis encontraram os meus, mas eles eram frios e distantes. Eu
corri meus lábios suavemente sobre os dele, dando a ele tempo para
reagir a minha proximidade. Mas quando ele ainda ficou duro e mesmo
depois de tudo isso, eu sabia que havia algo mais acontecendo.
— Jake?
Ele deu um passo para trás e meus pés foram para o chão.
Meu estômago revirou, meus braços tão pesados que eu não tinha
certeza se meu corpo iria apoiá-los. Eles penduraram ao meu lado
enquanto eu tentava formar um pensamento coerente.
~ 175 ~
— Eu perguntei se você fodeu Owen Fletcher. — ele disse isso
com os dentes cerrados, com os punhos cerrados ao seu lado, com o
rosto de aço corando levemente. Eu podia ver sua mandíbula apertar e
sua pulsação correr em sua testa.
— Porque uma fonte confiável disse que viu você passar sob a
porra da ponte com Owen logo depois que eu saí e quando ele foi para
encontrar Owen, ele tinha a porra das suas roupas de baixo no bolso e
se gabava de como você finalmente deu pra ele.
Assim que ele disse isso, eu perdi toda a esperança pelo que
poderia ter sido. O olhar acusador em seus olhos. O olhar frio, duro
queimando um buraco através de mim. A maneira que eu me senti
como uma vagabunda sob seu olhar, mesmo que eu não tinha feito uma
única coisa para merecer tal olhar. O que eu acreditava que Jake e eu
tivemos, realmente não existia, afinal. Seu olhar me disse isso. Ele
ouviu a porra de um rumor de algum amigo babaca ignorante de Owen
- como os rumores que ouço todos os dias - e ele achava que era
verdade. Ele acreditava que eu era capaz de traí-lo tão facilmente. Senti
minhas paredes subindo. Eu estava construindo tijolo por tijolo de
volta. A velha Abby estava sendo colocada de volta no lugar. Parte de
mim estava com o coração partido sobre isso, mas parte de mim não
podia deixar de me sentir aliviada. No fundo, não importava quanta fé
eu me deixei ter em Jake, de alguma forma, eu sabia que esse momento
viria eventualmente.
~ 176 ~
— Basta responder a maldita pergunta. — sua voz estava com
raiva, mas havia algo implorando sobre isso também. Ele queria a
verdade, mas apenas em seus termos. Ele queria que eu dissesse que
eu não tinha feito nada e que ele não tinha nada para se preocupar. Ele
queria que eu dissesse que estava tudo bem.
Mas, por trás disso, ele duvidou de mim. Ele duvidou de nós. Ele
questionou isso, embora eu tivesse livremente lhe dado tudo de mim.
Me ocorreu então por que isso foi tão significativo. Por que eu não
podia simplesmente dizer a ele que não tinha acontecido e seguir em
frente.
Eu estava errada.
~ 177 ~
— Você pode acreditar no que quiser, — eu disse a ele.
— Bee. — ele agarrou meu cotovelo. Eu olhei para ele para que eu
pudesse ver seus belos olhos de safira azul pelo que eu imaginava que
ia ser uma última vez. Seus lábios estavam apertados e seu aperto no
meu braço era ainda mais firme.
Naquele momento, não era vermelho que eu vi. Era azul. Azul
radiante, como a cor dos olhos dele. Eu não me lembro do olhar em seu
rosto. Eu só me lembro da bela cor azul nublando minha visão.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele disse. — Você era
a minha única razão para eu voltar aqui.
~ 178 ~
— Bem, não tem nada prendendo você aqui agora.
~ 179 ~
Capítulo Dezenove
NOSSA CIDADE PODE PARECER como o Mayberry9 de destinos
turísticos, mas se você fosse entrar e ficar um tempo, não levaria muito
tempo para aprender que a imundície, a cárie e as trevas eram a cola
que mantém tudo isso junto.
Era hora de eu dar o fora. Toda razão que eu já tive para ficar
parada naquela cidade havia ido embora.
9
Mayberry é uma comunidade fictícia que foi cenário para dois seriados americanos populares , The
Andy Griffith Show e Mayberry RFD. Mayberry também foi cenário para a reunião de 1986 do filme
intitulado Return to Mayberry.
~ 180 ~
lágrimas. Em seus suspeitosos, olhos cor de carvão, eu vi um flash de
conhecimento e eu sabia que ele sabia de tudo.
~ 181 ~
Ele não estava, porém, e ele nunca estaria novamente. Eu nunca
iria experimentar seu toque reconfortante. Eu nunca mais veria seu
rosto de pedra ficar suave quando ele olhasse para mim. Este tipo de
dor, que vem de um coração que eu pensei que eu tinha fechado com
sucesso para o mundo exterior anos atrás, era pior do que qualquer dor
física que alguém pudesse me causar. Era pior do que o que eu tinha
experimentado pela manhã, após Owen me atacar.
Gostaria de passar por aquilo que Owen me fez passar mil vezes
para ter Jake sendo a pessoa que eu achava que ele era.
Quando pensei nisso como simplesmente era, talvez não fosse tão
embaçado depois de tudo.
~ 182 ~
Esta cadela pensou que poderia comprar o meu silêncio? Bem, ela
estava fodidamente e absolutamente enganada. Todos os Fletchers
estavam. E, eu estava prestes a mostrar a eles quão errados eles
realmente estavam.
~ 183 ~
Foda-se. Essa. Merda.
~ 184 ~
Peguei uma pedra do que tinha sido o jardim e deixei cair o
envelope com as notas. As molhei, jogando a garrafa no chão quando
ela estava vazia. Abri o pacote de fósforos e acendi o pacote inteiro.
Então eu acendi meu baseado e coloquei fogo no envelope.
~ 185 ~
Eu sabia que Owen teve ajuda para me mover. Mesmo tão
pequena como eu era, o meu peso morto deve ter sido difícil para
levantar e manobrar. Não me surpreende que ele tivesse sido ajudado
pelo xerife. Me surpreendeu mais que ele não tinha me deixado morrer.
Teria sido menos trabalho da sua parte.
Não havia nada que o xerife pudesse dizer para mim, nem mesmo
a confissão de sua decisão de me manter viva - em vez de me deixar
morrer - que poderia ter acabado com minha descarga de adrenalina.
Os Fletchers tinham trazido a minha loucura sobre eles próprios. Eles
não deveriam ter acobertado Owen. Eles não deveriam ter protegido ele
quando era eu que precisava de proteção. Eles certamente não deveriam
ter pensado que dez mil dólares teriam comprado meu silêncio ou o que
for, teria me feito inteira de novo.
Eles não sabiam que estavam lidando com alguém que nunca
tinha estado completa, para começar.
***
Com seus olhos verdes e cabelos escuros, eles quase poderiam ser
confundidos como irmãos em vez de mãe e filho. Bethany parecia mais
~ 186 ~
nítida, porém, como uma faca com uma lâmina nova. Ela usava um
terno preto poderosamente equipado. Os saltos tinham quinze
centímetros de couro vermelho.
~ 187 ~
— Então, meu doce, não use o nome do bom Deus em vão10. Não
é uma coisa cristã a se fazer. Este relato do que aconteceu em troca de
esquecer as acusações por incendiar minha casa. Você é a pessoa que
arruinou isso, Abby. Você poderia ter pego o seu dinheiro e saído da
cidade, mas em vez disso você escolheu ir para a vingança.
— Vá se foder.
10Do original Goddamned, que se traduz como “maldição”. Ela disse para não utilizar
o nome de Deus em vão por causa do God de goddamned.
~ 188 ~
Ela deu de ombros e se virou para ir embora, mas antes que ela
pudesse torcer o botão na porta, ela se virou e olhou para mim. —
Desfrute da prisão, Abby. É sempre bom quando uma filha segue os
passos de seus pais.
Cadela.
Ela tentou sufocar a ofegar. Ela trocou seu aperto sobre a mesa
antes de tomar sua decisão.
Ela pegou sua maleta e saiu pela porta. Xerife Fletcher encontrou
com ela do outro lado. Um sorriso malicioso cruzou os lábios dela. —
~ 189 ~
Eu vou pensar sobre isso. Nesse meio tempo, Carl, — disse ela quando
ela colocou a mão no ombro do xerife Fletcher, — por favor, leve Abby
para a enfermaria. Parece que ela precisa de atenção médica.
Oh. Porra.
~ 190 ~
Capítulo Vinte
ACORDEI TÃO DE REPENTE, me senti como se tivesse sido
lançada na consciência. Me sentei, jogando algum tipo de bloco de gelo
da minha testa e através da sala. Minhas costelas protestaram. Me
agarrei a elas em um pedido de desculpas.
Droga.
~ 191 ~
par de luvas de látex e tentou me empurrar de volta para a mesa de
exame, mas me esquivei dela. Ela estendeu a mão para o meu rosto
com uma das mãos enluvadas e eu corri para o outro lado da sala, a
minha cabeça latejando. — Eu não posso cuidar de você, se você não
me deixa te tocar.
~ 192 ~
Casos? Como o meu?
— Pai?
— Sim. O pai do seu filho que está pra nascer. Você está grávida,
senhorita Ford.
***
Dois minutos podem ser muito mais do que a maioria das pessoas
imagina.
~ 193 ~
meu moletom. Eu não estava pronta para a cidade saber algo que eu
não tinha certeza.
***
— Abby Ford?
~ 194 ~
tinha que passar por isso. Tentei cantar na minha cabeça para me
distrair do que o médico estava fazendo.
~ 195 ~
bolso do jaleco dele. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro,
como se algo que estava escrito fosse quase inacreditável para ele. — É
um feto forte que você tem aí. — ele olhou para cima de seu arquivo,
seu constrangimento estampado em seu rosto. — Sinto muito. Isso foi
totalmente insensível da minha parte. Me desculpe.
E eu ia matá-lo.
***
Ele se foi.
O Chevy não poderia ser minha casa para sempre, mas era tudo
que eu tinha por agora. Eu tinha feito um pouco de dinheiro
trabalhando na loja de Jake, mas os hotéis na ilha eram armadilhas
para turistas e uma única noite de estadia era mais do que a metade do
que eu tinha. Tentei alugar um quarto, mas tendo dezessete anos e sem
emprego não era exatamente um mix atraente para potenciais
proprietários.
~ 196 ~
Deitei na Chevy, virando e revirando.
Foi realmente só um dia desde que eu tinha visto ele pela última
vez, desde que eu o deixei ir embora? Onde ele está? O que ele está
fazendo?
Sim, certo.
No que era para ser minha terceira noite dormindo no Chevy, subi
através da porta do lado do motorista e me deitei no assento do banco
para dormir um sono necessário. Eu passei o dia inteiro andando para
cima e para baixo na ilha à procura de trabalho e só estava à deriva
quando ouvi algo tinir. Lá na minha frente, refletindo a luz da lua cheia,
estava um chaveiro com duas chaves douradas e uma chave prata com
o emblema da Ford colada nela. As chaves estavam anexadas ao volante
por um grande gancho de estilo zelador. Uma nota da Auto Reparos
Dunn pegajosa estava anexada ao centro do volante. A nota pareceu ser
escrita por uma criança:
~ 197 ~
Abby,
Desculpe novamente.
Frank Dunn
O bebê...
~ 198 ~
Eu não sabia se eu seria uma boa mãe, ou se eu seria mesmo
capaz de ser uma de acordo com as circunstâncias. Mas quando chegou
a hora, eu não poderia matar alguém que nem sabia que era o produto
de um ato odioso, especialmente depois de que ele ou ela tinha
sobrevivido, apesar da condição horrível que meu corpo estava. Este
bebê era um lutador, um sobrevivente como eu.
Foi por causa disso, pela vida crescendo dentro de mim, que eu
fui capaz de me mover para frente, um pouco de cada vez.
~ 199 ~
Capítulo Vinte e Um
QUATRO ANOS DEPOIS...
Só pareceu assim.
Sra. Garrith, uma mulher com o cabelo loiro branco e unhas cor
de rosa brilhantes, estava se preparando para saltar para o competição
quando me aproximei dos degraus. — E quando ele perdeu a doce
Marlena, fiz questão de trazer a ele uma caçarola todos os dias durante
um mês. Eu poderia dizer que ele realmente apreciou o meu gesto de
bondade... ele me disse. Essas caçarolas foram um salva-vidas para
aquele o homem. — ela ajustou os dedos de suas luvas rendilhadas
pretas.
11 É um festival na praia.
~ 200 ~
— Bem, abençoado seja seu coração, Maria, — acrescentou a Sra.
Morrison. Todo mundo sabia que era gíria para Vai se foder. — Você
sabia que Franklin me pediu para ir com calma com ele na escola?
Praticamente me implorou, realmente, antes que ele e Marlena tivessem
alguma coisa acontecendo. Aquele garoto era um doce comigo, eu digo.
— ela se abanou com um dos folhetos do funeral entregues pelos
meninos do coro.
Eu não sei como Nan se deu bem com aquelas senhoras. Nunca
me pareceu que ela realmente se encaixava com elas. Nan era alguém
que iria aparecer para um funeral vestindo seu vestido brilhante de cor
floral em vez de um vestido preto de funeral. Eu não sei como ela fez
tudo isso sem chamar toda a atenção negativa que eu parecia atrair, ou
talvez ela chamasse a atenção negativa e eu nunca realmente notei.
Talvez, eu estivesse muito envolvida na minha própria autopiedade e
besteira para perceber que estas senhoras a machucavam, também.
~ 201 ~
Foram aquelas pessoas, aquelas desagradáveis mulheres de duas
caras que pregavam sua moral impossível sobre a cidade para quem
quisesse ouvir, o que me irritou mais. Essas mulheres não viviam a vida
que pregavam mais do que as pessoas sobre as quais elas falavam. Elas
só sabiam como esconder isso melhor. Quanto mais eu as ouvia
falarem, mais eu percebi que elas não estavam falando sobre a vida de
Frank. Todas as suas histórias e revelações eram sobre suas tentativas
de se associar com ele. Elas queriam se pintar na imagem da vida dele
apenas para chamar atenção.
12
~ 202 ~
Os sorrisos do rosto das duas se derreteram em carrancas. Uma
das outras senhoras da plateia questionou esta nova informação em voz
alta. — História?
— Ah, claro. Você sabe que essas senhoras e o Sr. Dunn tem um
passado. — eu pisquei.
Eu fui primeiro, mas não antes de olhar por cima do ombro para
as mulheres visivelmente abaladas. Me virei para entrar, convencida de
que Nan teria me repreendido por castigar as senhoras da igreja em
público, mas eu também sabia que ela teria estado segurando o riso.
~ 203 ~
que era um espaço que precisava ser preenchido. Havia muito poucos
sussurros dirigidos a minha decisão de assento.
~ 204 ~
por alguma razão, eu estava tendo um problema de lê-las agora. Em vez
disso, eu decidi dizer a eles sobre o Sr. Dunn que eu conhecia.
— Eu não vou ficar aqui em cima e dizer que Frank era um santo,
porque não é verdade, — eu comecei. — Ele era um homem perturbado.
Ele se virou para seus vícios para anestesiar a dor dele quando ele
pensou que não tinha mais nada. Houve muitas ocasiões em que,
depois de não vê-lo por dias, eu ia até sua casa e o encontrava
desmaiado no chão. Limpei-o, joguei fora os cigarros, esvaziei os
cinzeiros e me livrei das garrafas vazias. Eu não gritava com ele. Eu não
dizia a ele o quanto ele estava fazendo burrada. Em vez disso, eu disse a
ele o quanto a ajuda dele significava para mim, que ele fez diferença em
minha vida. Então, eu falava para ele encontrar seu caminho para fora
da neblina. E ele fazia, um dia de cada vez, às vezes até algumas
semanas.
~ 205 ~
ele tinha experimentado um tremendo amor. Quando você tiver um
amor tão grande como ele teve, é fácil deixar a tristeza e raiva te
consumirem. É mais fácil se afastar daqueles que ainda restam e deixar
a dormência te levar. Ele convidou a dor para entrar porque isso o
ajudou a se lembrar e ele anestesiava com uísque quando tudo se
tornava demais. Certa vez, ele me disse que ele estava com medo de
esquecer como Marlena e Mason pareciam se ele tentasse seguir em
frente. Às vezes, ele falava sobre eles como se eles estivessem no outro
quarto.
— Mas o seu imenso amor não tinha ido embora. Ele não morreu
com sua esposa e filho. Ele sobreviveu, na forma como ele se sentia
sobre o filho que ele se afastou e na forma como ele cuidou de mim... de
nós.
~ 206 ~
o lembrava de sua perda e ele não sabia como ou onde canalizar toda a
dor.
~ 207 ~
À menção de nós, ela se arrastou do colo da loira e para o
corredor. Ela correu até o púlpito, deu um salto e se jogou nos meus
braços. Eu dei a ela um aperto e a coloquei sobre meu quadril. Eu olhei
para ela e perguntei: — Como chamamos Frank, menininha?
~ 208 ~
As portas se fecharam com um estrondo alto. Ecoando por toda a
igreja e balançando os vitrais.
~ 209 ~
Capítulo Vinte e Dois
ATÉ O MOMENTO QUE O FUNERAL tinha terminado, Jake
estava muito longe. A triste verdade de tudo era que, se não tivesse sido
por Geórgia, eu teria corrido atrás dele, diretamente para fora da igreja.
Eu estava feliz que eu não tinha feito isso. Eu não precisava de outra
imagem de seu belo rosto assombrando todos os meus movimentos. Eu
tive o suficiente para durar uma vida. Mesmo se eu tivesse tido a
chance de falar com ele, o que eu teria dito? Ele me odiava porque eu o
deixei me odiar. Porque era mais fácil ter deixado ele me odiar do que
lidar em permitir alguém na minha vida que eu acreditava que não
confiava em mim, ou o que eu pensei que nós tínhamos tido.
Tess tinha sido uma dádiva de Deus desde que ela se mudou para
a cidade de Gainesville. Felizmente ela levava Geórgia todas as chances
que tinha para que ela pudesse passar um tempo com ela, o que me
permitiu mais tempo para trabalhar em minhas fotos.
Foi bom ter uma amiga ao redor novamente. Alguém que eu podia
confiar minha filha, de qualquer maneira.
~ 210 ~
Ela estava indo rápido a lugar nenhum.
~ 211 ~
facilmente ter deixado cair todas as acusações, mas manter uma era o
seu jeito de me deixar saber que era ela quem puxava as cordas em
Coral Pines.
— Como?
— Então, eu estou farta agora. Eu não vou fazer mais isso e não
tenho feito por um longo tempo, — ela anunciou, como se fosse algo que
ela estava pensando por um tempo. — Eu sei que você nunca poderia
perdoar Owen, e eu não culpo você. Eu não posso perdoá-lo, também.
Nossa relação não tem sido a mesma desde que isso aconteceu se isso
faz as coisas melhores. — ela olhou para cima de suas mãos em minhas
sobrancelhas levantadas, percebendo o quão fraco isso soou. — É claro
que não.
~ 212 ~
— Eu sei que eu não mereço isso. Eu não mereço nada depois da
maneira como eu te tratei, e você deve saber que eu estou tão, tão triste
por isso, também. Eu nem sequer reconheço a pessoa que eu sou mais,
e me deixa doente pensar em todas as coisas que eu fiz para machucar
as pessoas naquela época, o que eu fiz para te machucar. — ela
balançou a cabeça como se estivesse apertando as más memórias de
seu cérebro. — Eu quero conhecer Geórgia, — disse ela. — Estou
disposta a trabalhar para isso, ganhar sua confiança. Eu sei que você
nunca veio a público e disse quem é o pai dela, mas eu a vi com a babá
no supermercado na semana passada e dei uma boa olhada nela. Ela
tem aqueles olhos verdes dos Fletcher, apesar de serem um pouco mais
brilhantes do que de todos os outros. — ela limpou a garganta. — Eu
realmente gostaria de uma chance de conhecê-la.
Fiquei chocada ao ouvir que ela queria alguma coisa a ver com
Geórgia e meu instinto de brigar com ela pelos quatro anos atrás
borbulhou na superfície.
13 Arma.
~ 213 ~
— Você quer levar a minha filha para conviver Owen? — eu
perguntei a Bethany. Eu tentei controlar o pânico na minha voz, mas eu
sei que ela percebeu.
— Sim, bem. Jake deveria estar com Mason, naquela manhã, mas
ele ainda era adolescente e, provavelmente, não queria estar em um
barco no meio do rio, às cinco horas da manhã de um domingo. Assim,
na forma típica adolescente, ele não apareceu nas docas. Mason saiu
sozinho. Ninguém sabe o que aconteceu para virar o barco. As águas
~ 214 ~
deveriam estar turbulentas, mas nada mais do que o habitual. Owen só
assumiu que se Jake tivesse estado lá com ele, então talvez Mason
ainda estivesse vivo.
— Será que ele fez mal a alguém depois de mim? — era algo que
eu me perguntei quase todos os dias.
Ela limpou a garganta. — Eu sei que isso não significa nada para
você, Abby, mas eu acho que você está fazendo um ótimo trabalho como
uma mãe, um trabalho muito melhor do que eu já fiz. — os olhos de
Bethany tinham começado a ficar vidrados. Estava congelando, ou
estava Bethany Fletcher - ex-braço direito de Satanás - na verdade, a
ponto de chorar? E na minha frente, nada menos. — Owen é o pai dela,
não é Abby? Quer dizer, eu sei que você estava vivendo com Jake por
um tempo...
~ 215 ~
que a maioria dos bebês que nascem com olhos azuis mudam de cor ao
longo do tempo. Um dia eu estava olhando para a minha bebê de seis
meses de idade e seus olhos eram verdes como o maldito Emerald
City14. Foi quando eu desisti de toda a esperança de que ela fosse de
Jake. — foi difícil admitir em voz alta.
— Oh, Abby, — disse Bethany. — Isso deve ter sido difícil para
você.
Aparentemente, eu tinha.
— Você sabe o que Owen fez comigo. Você sabe o quanto ele me
machucou. Mas o que você não disse é como você soube.
~ 216 ~
— Ele dirigiu por algumas cidades e ligou para Cole. Cole me ligou. Eu
sinto muito. — ela balançou a cabeça. — Eu ajudei Cole a te trazer para
casa naquela noite. — as lágrimas escorriam pelo seu rosto.
~ 217 ~
Capítulo Vinte e Três
EU TENTEI NÃO PENSAR SOBRE Bethany e seu pedido a partir
daquela noite, ou ela revelando que ela tinha mais a ver em encobrir o
comportamento doente de Owen do que eu tinha pensado inicialmente.
Mas, eu disse a ela que eu iria pensar sobre deixá-la conhecer Geórgia,
e eu quis dizer isso. Eu não faria isso de imediato. Eu tinha outras
questões na minha mente.
~ 218 ~
Poucos meses antes, eu estava sentada no sofá no apartamento,
triando algumas fotos antigas na minha caixa de sucata quando
Geórgia virou partir do desenho animado ela estava assistindo e
perguntou se ela tinha um pai. Eu não tinha ideia de como responder a
isso. Dizer a ela sobre Owen estava fora de questão. Eu estava tentando
descobrir o caminho certo para dizer que ela, na verdade, não tinha um
pai quando ela puxou uma imagem da parte inferior da caixa que eu
estava separando.
No dia em que nos mudamos para a casa de Nan, ela pediu uma
moldura para a foto dela e anunciou que ela queria que ficasse sobre
~ 219 ~
sua cama. Eu não queria fazer isso. Ela levou o fingimento um pouco
longe demais para o meu gosto. Mas, a imagem foi posta lá e, a cada
noite, quando eu colocava Geórgia para dormir, eu fiquei cara a cara
com o que quase tinha sido.
Fiquei imaginando o que Nan teria dito se ela pudesse ver todas
as mudanças feitas em sua pequena casa. Fiquei triste ao ver que os
antigos aparelhos cor de abacate e armários brancos tinham ido
embora, mas eu não estava prestes a reclamar sobre a madeira e aço
inoxidável que tinham tomado o seu lugar. Os pisos de linóleo também
tinham sido substituídos por um de madeira escura em vários tons. A
casa de Nan, mesmo em seu estado novo e melhorado, com a melhoria
no paisagismo e nova camada de tinta, ainda parecia a casa de Nan...
apenas misturada com um anúncio do Island Home Magazine.
~ 220 ~
comprar uma cama de verdade pra mim, junto com um sofá e uma
mesa para a sala de estar em um bazar na semana anterior.
Eu tinha ligado para ele naquele dia, para contar a ele sobre ter
alugado a casa de Nan, e para dizer a ele que eu faria a compra de
mantimentos para ele um pouco mais tarde do que o normal. Depois de
duas horas, sem retorno da parte dele, eu tive uma sensação de mal
estar que algo estava errado.
Eu fui até a casa dele e bati na porta da frente. Quando ele não
respondeu, eu tentei abrir a porta... que já estava desbloqueada. Assim
que eu tinha entrado na casa, eu sabia que ele estava morto. Parecia
irradiar um frio por todo o espaço.
~ 221 ~
na mão, e na outra ele levantava o fim de sua linha de pesca com um
enorme peixe pendurado no anzol. Eu tinha tocado a imagem e sorrido
para mim mesma. Eu adorava ver que ele tinha sido feliz uma vez com
sua família. Sua vida nem sempre girou em torno do mau; parecia ter
sido muito boa naquela casa uma vez também.
Era eu.
Eu não pude deixar de pensar sobre o quão bom pai Jake teria
sido para Geórgia. Se ele tivesse ficado naquele dia, eu duvido que eu
teria decidido mantê-la depois de tudo. O pensamento fez com que meu
coração apertasse no meu peito. Eu definitivamente não ia me deixar ir
~ 222 ~
para lá. Geórgia foi a melhor coisa que já me aconteceu e eu me recusei
a pensar em um mundo sem ela.
— Hey, — ele disse. Sua voz familiar passou sobre mim como o
conforto que eu não tinha conhecido desde que ele foi embora.
Ele se encolheu quando ele percebeu o que ele tinha dito. Eu fingi
não perceber.
~ 223 ~
Ele riu.
Seu cabelo estava maior do que quando ele foi embora. Seu rosto
era mais duro e parecia mais velho do que quatro anos deveriam ter
feito. Mas seus olhos eram tão azuis e incríveis como sempre. Eu tive
que apertar as minhas pernas juntas para me livrar do arrepio que
estava passando sobre mim. — Talvez entregar minha arma é parte de
todo o meu plano de defesa. Acabei de dar a pessoa o que ela pediu.
Isso a distrairia enquanto eu fujo.
Eu quase desmaiei.
— Seu braço. Puta merda, você fez isso. — ele estendeu a mão
para mim e quando ele estava a ponto de me tocar, ele se afastou. —
Isso é fodidamente incrível, — disse ele em voz baixa.
~ 224 ~
linha e marca oferecida pelas minhas cicatrizes havia sido usada como
parte do design. Quando as pessoas olhavam para mim, eles estavam
olhando para as marcas que eu escolhi para mim e não as marcas que
outros haviam forçado em mim. Tinha sido libertador.
Desejei que Jake tivesse estado lá para ver o que eu tinha feito.
Jake deu de ombros e deu uma longa tragada no seu cigarro. Ele
passou de um pé para o outro, soprando a fumaça pelo nariz.
~ 225 ~
Jake se deixou cair na cadeira e deu uma tragada. Estendi a mão
para a mini geladeira e tirei duas Coronas16, entregando uma a ele.
O silêncio.
Eu não podia dizer que foi tão confortável como sempre tinha
sido. Mas foi o mais próximo possível de confortável, pelas
circunstâncias. Seu rosto suavizou depois de alguns minutos e eu sabia
que ele podia sentir isso também.
16 Marca de cerveja.
~ 226 ~
— Eu não tinha mais para onde ir, — eu disse com firmeza. Mas,
Jake parecia torturado de uma maneira que eu não me lembro dele ter
estado todos esses anos atrás.
— Oh.
~ 227 ~
Eu estava tão distraída com Jake que eu não ouvi a porta de vidro
abrindo. Quando o olhar de Jake se arregalou e focou atrás da minha
cadeira, eu sabia que alguém estava atrás de mim. Me virei para ver
Geórgia, de pé no pátio, esfregando os olhos com os punhos. Sua
camisola estava por dentro de roupa de baixo, e sua boneca favorita,
Raggedy Ann17, estava sendo estrangulada na dobra de seu braço.
17
18
June Cleaver é a personagem principal do seriado americano Leave It to Beaver.
~ 228 ~
relaxe em sua cadeira sozinho e eu vou te levar de volta para a cama?
— eu disse com cuidado. — Você precisa voltar a dormir.
~ 229 ~
Capítulo Vinte e Quatro
EU COLOQUEI GEÓRGIA DE VOLTA em sua cama e cantei para
ela dormir. Lullabies19? Não para a minha filha. A canção da noite, por
seu pedido, tinha sido ‘Bennie and the Jets’ de Elton John. Isso era
definitivamente culpa de Frank. Ele tinha dado a ela um iPod no Natal
do ano passado, pré-carregado com suas músicas preferidas de sua
coleção de discos.
Onde quer que Frank estivesse agora, eu sabia que ele estava
rindo de mim.
Vá se foder, Frank.
Jake estava encostado no balcão quando voltei para ele. Ele tinha
as pernas cruzadas nos tornozelos, com os braços cruzados na frente
dele e um enorme sorriso presunçoso no rosto.
— O quê? — perguntei.
— Menina esperta.
19 Música de ninar.
~ 230 ~
— Quantos anos ela tem?
Eu nem sequer hesitei. — Ela não tem um. — era a verdade. Por
mais que eu odiava dizer isso, nunca haveria um pai na vida da minha
menina.
— Posso não ter sido mito bom na escola, — Jake disse, — mas
eu me lembro de educação sexual muito bem e eu me lembro de que
um homem e uma mulher são obrigados a fazer um desses. — ele
apontou para a casa com sua cerveja.
— Oh wow. Não, Jake. — eu não tentei ser uma idiota sobre isso.
~ 231 ~
Ele ficou parado por um momento, deixando isso afundar um
pouco. Então ele se levantou, como se estivesse se preparando para a
guerra. Aqueles ombros tensos disseram que ele estava pronto para
uma luta. Ele rugiu uma corrente de palavrões no ar e lançou sua
cerveja dentro do rio. Em seguida, se virou e, com um golpe de seu
braço virou a mesa de metal entre nós, fazendo-a rolar na grama.
~ 232 ~
— Verdes, — ele sussurrou. Seus ombros caíram de sua posição
dominante e ele se afastou de mim. Ele afundou em uma cadeira e seu
rosto caiu em suas mãos. — E nós usamos proteção, então por que ela
seria minha porra? — ele parecia derrotado.
~ 233 ~
— Porque... — ele começou a andar novamente. Apenas quando
eu pensei que isso iria continuar a ser um mistério para sempre, ele
parou de novo, e se virou para mim. — Porque eu queria que fosse
comigo, Bee.
~ 234 ~
UM HOMEM DE UM OLHO FOI ENCONTRADO
~ 235 ~
Capítulo Vinte e Cinco
EU NÃO TINHA VISTO OU OUVIDO FALAR de Jake desde a noite
da nossa discussão. Algumas semanas se passaram, mas eu sabia que
ele ainda estava na cidade. Eu tinha visto sua moto estacionada no
apartamento ocasionalmente. Ele nunca chegou a trabalhar na loja. Eu
me perguntava por que ele ainda estava lá. Frank estava morto e
enterrado. Reggie e eu estávamos mantendo a loja funcionando sem
problemas, mas no final, estávamos à espera de Jake decidir quais
eram seus planos para a Reparações Automotivas Dunn.
Era uma manhã muito clara, sem uma nuvem no céu. As ondas
estavam pequenas. Pássaros voavam sobre a minha cabeça, em seu
caminho para os restaurantes para roubar bagels e ovos dos turistas
comendo fora. As condições eram perfeitas. Tirei algumas fotos deitada
de bruços na areia para pegar o ângulo certo do horizonte e tirei uma
dúzia ou mais. Aquelas sempre acabavam por serem minhas favoritas, e
não doíam que elas também eram as favoritas dos turistas, que queriam
desembolsar três dólares por cada.
~ 236 ~
E eu sabia pior também.
20É um restaurante que tem aquela pessoa típica vestida de galinha na frente para
chamar clientes.
~ 237 ~
— Eu não estou de brincadeira porra. — eu mantive a arma
apontada para sua cabeça. Eu não queria ter que atirar duas vezes.
~ 238 ~
Jake se virou para mim a arma ainda mirando Owen. — Sua
decisão, baby. — ele estava me perguntando se Owen deveria morrer,
ali mesmo. Tanto quanto eu estava tentada a dizer que sim, havia muito
em risco.
Jake riu alto. — Demorou esse tempo todo para descobrir isso?
Você é mais burro do que eu pensava. — Jake enfiou a arma na parte
de trás de sua calça jeans e colocou o braço em volta de mim. — Se eu
te ver perto dela novamente, você está morto - minha escolha, não dela.
Simples assim. — nós nos viramos para a estrada e começamos a
andar. Jake se virou para Owen novamente. — E se você sequer pensar
em chegar perto de Geórgia, eu não vou simplesmente te matar. Eu vou
te cortar em pedaços e espalhar as partes.
~ 239 ~
Capítulo Vinte e Seis
Em vez de me dirigir para casa, Jake me levou de volta para a
clareira entre as laranjeiras onde ele revelou o seu último segredo para
mim, o lugar onde ele havia enterrado o corpo de sua namorada de
infância e sua filha natimorta.
— Bee, o que aconteceu entre você e Owen, e por que diabos você
estava tentando matá-lo na praia?
Eu pensei que a questão era bastante óbvia. — Por que você está
aqui comigo? Por que você me ajudou na praia? Por que você ainda está
falando comigo? Eu iria me odiar se eu fosse você.
Ele olhou para mim do jeito que ele costumava fazer: passando
dos olhos e para a alma quebrada abaixo. Ele tirou alguns cabelos
dispersos do meu rosto e segurou meu rosto na palma da mão.
~ 240 ~
isso era um eufemismo. — Vamos começar do pequeno. — ele pegou o
pingente no meu pescoço e passou os dedos sobre o metal ornamentado
que segurava suas iniciais escondidas dentro do design. — Por que você
ainda usa isso?
— Passo.
***
~ 241 ~
estado pendurado ao redor desde que ele se foi. Apenas sua presença
parecia tornar as coisas mais claras. Era engraçado pensar que alguém
tão emocionalmente pesado em meu coração realmente poderia tornar
as coisas mais claras.
Tess tinha a chave da casa. Talvez ela tivesse vindo antes de seu
turno.
Ela me disse que ela iria lidar com isso. Isso é tudo o que eu
precisava saber.
~ 242 ~
ela saltou no ar e bateu palmas. Se eu não soubesse, eu poderia jurar
que ela estava pulando por causa da cafeína.
Ela olhou para seus pés. — Mama tem que dizer sim.
— É isso mesmo: mama tem que dizer sim. — ele piscou para
mim, em seguida, baixou o olhar para onde a minha camisola de alças
se agarrava aos meus seios. Eu não estava usando sutiã. Ele olhou
novamente para as tatuagens pelo meu braço e seu sorriso se
transformou em um sorriso malicioso. — Então, mamãe? — ele
perguntou. — O que vai ser? Quer ir pescar?
Eu sabia o que ele estava fazendo. Eu não podia dizer não para
Geórgia, especialmente quando ele já tinha lhe dado esperanças. — Eu
não sei, — brinquei com Geórgia quando ela olhou para mim, um brilho
de esperança nos olhos dela. — Acho que podemos ir. — ela pulou e
gritou. — Mas, primeiro, eu preciso saber uma coisa. — ela prendeu a
respiração. — Sobrou alguma panqueca?
Depois que ela me mostrou onde o prato que fizeram para mim
estava, ela correu de volta para fora com Jake. Eu não sabia se eu
estava pronta para passar um tempo com ele e minha filha juntos e eu
não sei que tipo de jogo ele estava brincando. Mas, eu teria odiado ver o
olhar de decepção no rosto da minha menina, então eu fui junto com
ele.
***
~ 243 ~
Eu tinha bebido duas xícaras de café até então e estava
completamente acordada. Vi agora que a minha filha foi decorada em
artes de pesca rosa. Ela estava usando uma viseira cor-de-rosa que
dizia ‘Fisher Girl’. Sua camisa parecia uma versão em miniatura das
camisas de colarinho usadas pelos guias de pesca. E mesmo eu tendo
trançado seu cabelo na noite anterior, estava agora em um coque na
base do pescoço dela... no mesmo estilo que o cabelo de Jake.
~ 244 ~
Até o final do dia, ela tinha pegado pelo menos três Eltons.
~ 245 ~
— O que você tem feito desde que você foi embora?
— Passo.
Eu me afastei.
~ 246 ~
quero que você comece a conhecer Geórgia, faça ela te amar e depois vá
embora, porque eu sei como é e eu prefiro poupá-la dessa tortura.
— Você me ama?
— Ela não vai se machucar, Bee. Ela vai ser nossa. Vamos ser
uma família. Eu prometo que não vou me ressentir. Não é mesmo
possível. Eu a amo muito.
~ 248 ~
podemos encontrar a felicidade... pelo menos, tanto quanto fodidos
como nós somos capazes de ter.
~ 249 ~
A força que eu tinha construído ao longo dos últimos quatro anos
caiu. — Eu ainda estou com medo.
Meu peito inchou. Eu acreditei nele quando ele disse que amava a
mim e a minha filha, porque eu sabia como o amor era. Eu não sei se
eu deveria me permitir a esperança de que Geórgia poderia realmente
ter um pai depois de tudo. Eu não estava convencida de que o amor
seria suficiente.
~ 250 ~
Capítulo Vinte e Sete
CLASSIFICANDO ATRAVÉS DO QUE EU PENSEI que fosse a
última das caixas não foi a minha ideia de diversão, mas tinha que ser
feito. Eu poderia ter batido em Jake quando ele tão cuidadosamente me
lembrou que ainda haviam algumas caixas no apartamento. Ele deve ter
sabido que eu estava prestes a lançar o restante delas no canal, então
ele se ofereceu para ir buscá-las para mim.
~ 251 ~
— Tudo bem Owen. Vamos apenas ir para fora e podemos
conversar sobre o que quiser, — eu disse. Eu estava disposta a ir a
qualquer lugar que ele quisesse desde que isso significava tê-lo longe do
meu bebê.
Minha cabeça girava. — Por que, Owen? O que foi que eu fiz para
fazer você me odiar tanto?
Nan...
~ 253 ~
caminho para um resgate. — ele riu. — Ela era fodidamente patética.
Ela era tão malditamente ingênua.
— Não foi nem mesmo difícil fazer o maldito trailer explodir. Esses
laboratórios de metanfetamina geralmente acabam fazendo isso por
conta própria de qualquer maneira. Eles são como bombas-relógio. A
parte difícil foi conseguir que o detonador cooperasse em fazê-lo
explodir assim que ela batesse na porta. — ele mudou o peso de um pé
para o outro. — Quando aquele filho da puta explodiu, você não poderia
dizer quais partes eram corpos e o que era trailer.
— Você faz parecer tão simples. Não, eu não só quero que você
more comigo. Eu queria ser o seu herói. Eu queria que você visse o
quanto eu te amei, assim você me amaria de volta.
~ 254 ~
tinha a minha Geórgia. Ela era a única contribuição positiva que eu
tinha feito para o mundo cheio de ódio.
Minha única esperança era que ela não teria que sofrer na vida do
jeito que eu sofri.
— Jake! — eu gritei.
E então, eu vi.
21
~ 255 ~
Corri para ela e deslizei seu corpo flácido em meus braços,
apoiando-a em meus joelhos. Limpei seu cabelo do rosto. — Geórgia! —
eu gritei tentando acordá-la. Seus olhos estavam fechados. Havia muito
sangue. Eu tentei a pulsação em seu pescoço por um instante, mas não
conseguia sentir nada além da minha própria.
— Mama, — disse ela. Era fraco. Ela estava viva, mas por pouco.
Socorro. Ela precisava de ajuda. Eu não podia perdê-la.
Ele mal terminou a frase, quando seus olhou caíram para onde eu
segurava Georgia no chão. Ele largou o envelope, espalhando fotos preto
e branco por toda parte. Em um passo, ele estava ajoelhado ao lado de
nós, puxando Geórgia em seus braços.
~ 256 ~
Eu desejei que o hospital estivesse mais próximo.
Eles colocaram uma máscara sobre o rosto dela com uma bomba
de bola azul ligada a ela. Em seguida, eles estavam correndo, os
enfermeiros rodando pelo corredor e apertando a bomba, enquanto o
médico gritava mais instruções. Eles desapareceram por trás de um
conjunto de portas duplas.
~ 257 ~
— Eles não podem ajudá-la com você pairando sobre ela, senhor,
— disse ela calmamente. — Por favor, sente-se na sala de espera. No
segundo que soubermos algo, eu virei. Eu prometo. — era uma luta que
nós não poderíamos ganhar. Eu precisava estar lá. Eu precisava dizer a
ela que tudo ia ficar bem. E se não ficasse? E se a última coisa que a
minha menina visse fosse o médico e enfermeiros trabalhando sobre
ela? E se a sua última sensação na vida dela fosse o medo?
— Que verdade?
~ 258 ~
me estuprar. As fotos que eu tinha tirado para Jake, para abastecer o
seu ódio por Owen.
— Sim. — não havia mais como negar. Não havia mais razões
para manter isso para mim mesma.
— Quando?
~ 259 ~
— Eu sei que você lutou com ele, Bee. Eu sei que você fez. E eu
não estava aqui para você. É tudo minha fodida culpa.
— Não. Se você não tivesse ido embora, eu não teria ficado com
ela. Eu teria sabido que ela era de Owen e teria me livrado dela por
causa de você. Eu estava tão perto de fazer isso de qualquer maneira.
Mas desde que eu não tinha nada e ela estava lá, uma sobrevivente, eu
a mantive. Eu precisava dela porque eu não tinha você. Era uma razão
egoísta, mas ela era o bem que saiu quando você foi embora. Tanto
quanto me machucou, eu não teria feito de nenhuma outra maneira. Eu
devia ter te contado tudo depois do funeral de Frank, no primeiro dia
em que você voltou. — meus pensamentos estavam de volta em Geórgia,
me perguntando onde a tinham levado e quanto tempo levaria para que
alguém nos deixasse saber como ela estava. — Eu simplesmente não
posso acreditar que isso está acontecendo. Eu não posso acreditar que
eu deixei isso acontecer.
— Não podemos culpar a nós mesmos agora. Nós temos que ser
fortes para ela, para a nossa menina. — Jake colocou uma mecha de
cabelo atrás da minha orelha e beijou minha testa.
Não foi até que o sol se levantou acima das janelas da sala de
espera que o médico finalmente entrou. Nós todos ficamos em alerta.
Ele olhou para nós enquanto ele falava. — Ela está acordada agora, mas
não será por muito tempo. Seu pequeno corpo passou por muito e ela
vai precisar de um monte de descanso.
~ 260 ~
— Não foi um tiro certeiro, o tiro se dispersou. Milagrosamente,
nenhum dos estilhaços atingiu quaisquer artérias principais ou órgãos
vitais. Houveram alguns fragmentos que quase atingiram a coluna, mas
tiramos. Ela perdeu muito sangue durante tudo isso, por isso, dei a ela
uma transfusão. — eu não podia acreditar que estávamos discutindo a
minha menina em termos como estes. — Restrição de quaisquer
circunstâncias imprevistas, e mesmo que isso vai demorar um pouco de
tempo, parece que ela se recuperar completamente. — Jake me pegou
quando meus joelhos cederam e eu quase cai no chão. — Vamos mantê-
la por algumas noites na UTI em observação, apenas para nos certificar
que tudo permaneça como deveria.
— O que aconteceu?
~ 261 ~
— Você teve um pequeno acidente, baby, mas está tudo bem
agora. Você vai estar em casa muito em breve.
— Oh, é mesmo?
~ 262 ~
Em seguida, havia Jake e Geórgia. Eles haviam escolhido um ao
outro. Não tinha sido há tanto tempo, mas eles já sabiam que queriam
ser uma família e independentemente de como meus sentimentos eram
inicialmente, eles sabiam que era para acontecer.
Uma família por escolha, não por acaso. A escolha de amar e ser
amado em troca. A escolha de cuidar e desfrutar um do outro, não para
aturar ou sofrer pelo outro.
***
~ 263 ~
foi provavelmente tão vítima de seu filho como eu tinha sido. — Você
cometeu um monte de erros, todos nós fizemos. Eu não culpo você, por
nada disso. Então, pare de se desculpar.
— Oh? Bem, já que o seu bebê tem o O- e você não tem isso, o pai
do bebê biológico tem que ter. Então, quando você falar com ele, envie-o
até a Senhorita Karla para que eu possa colocar esse ouro líquido na
torneira! — Senhorita Karla amava seu trabalho até demais. — Este pai
biológico tem olhos azuis como ele ali?
— Não, ele tem olhos verdes, como a minha filha, — disse eu. —
Não é possível que dois pais de olhos azuis tenham um filho de olhos
verdes. — parecia tão ensaiado... provavelmente porque foi uma
conversa que eu tive na minha cabeça umas mil vezes.
— Ah, claro que pode. Minha amiga Marni, o marido dela, Brian,
tem olhos verde-esmeralda e ambos os pais dele tem olhos azuis como
as águas do Caribe.
~ 264 ~
— Então a sua amiga Marni precisa contar ao marido para
verificar a cor dos olhos do carteiro porque seus pais estão mentindo
para ele, — eu respondi. Eu acho que a Srta. Karla detectou que a
nossa conversa era muito mais grave do que as brincadeiras que ela
inicialmente pensou que era.
Seu volume baixou e de repente ela foi discreta. — Eu sei que não
é da minha conta, mas se você não tem certeza sobre quem é o pai do
bebê, podemos fazer um teste. Basta trazer o homem pra cá e eu vou
fazer isso. — ela piscou, e eu sabia que ela estava tentando ajudar. Em
seguida, ela pegou um panfleto de uma dúzia de diferentes papéis
coloridos que se aglomeravam na parede. — Isto é sobre os tipos de
sangue. O seu é fácil de descobrir. Sua menina tem O e você tem A, de
modo que o pai tem que ter O. É simples assim.
~ 265 ~
Havia realmente uma chance de que Jake fosse o pai de Geórgia?
— Bethany? — perguntei.
— Ele não é O?
Jake estava tão ansioso para ouvir a minha resposta quanto ela.
— Porque, Bethany, — eu sorri e peguei as mãos de Jake na minha. —
O pai de Geórgia não é Owen depois de tudo. — Uma vez eu disse isso,
ele sorriu, também - a verdadeira felicidade no rosto.
~ 266 ~
Capítulo Vinte e Oito
GEORGIA DORMIA TRANQUILAMENTE EM seu quarto depois de
uma estadia de seis dias no hospital. Tínhamos trazido ela para casa
apenas algumas horas antes. Durante o dia, eu observei os olhos de
Jake escurecerem enquanto o sol desaparecia no horizonte e eu sabia
que ele estava se preparando para o que ele precisava fazer.
~ 267 ~
cidade. Imaginei que você gostaria de ficar com ela, não importa onde
acabássemos indo. Demorou quase um ano para aqueles fodidos
aceitarem a minha oferta e quase o mesmo tempo para fechar o maldito
negócio. Quando finalmente consegui, eu tinha tudo arrumado para
você. Então, eu percebi que você provavelmente não teria aceitado isso
de mim como um presente depois do que eu tinha feito.
— Você era tudo em que eu pensava, Bee, todo tempo que eu fui
embora – todos esses quatro anos. Quando eu finalmente tive a
coragem de ligar para Reggie alguns anos atrás para perguntar a ele
sobre você, eu estava morrendo de medo que ele me dissesse que você
tinha feito as malas e deixado a cidade, ou se juntado com outra
pessoa... ou casado.
~ 268 ~
podia para te fazer feliz, mesmo que fosse de longe - mesmo que eu não
fosse fazer parte disso. Eu apenas lamento que me levou tanto tempo
para fazer isso. — ele roçou os lábios sobre os meus. — Acontece que
você estava bem sem mim depois de tudo.
~ 269 ~
— Vocês duas me salvaram, — disse Jake. — O quanto eu possa
ser salvo. — seu tom ficou sério. — Eu preciso que você faça uma coisa
para mim, baby.
— Por quê?
~ 270 ~
parecido com isto. Jake tinha muitas coisas em guerra dentro dele. Eu
queria saber o máximo que pudesse sobre o que fez dele um assassino.
Eu gemi.
~ 271 ~
que Owen me estuprou. Eu não deixei nenhum detalhe de fora, como
ele tinha solicitado. Eu usei as imagens para explicar como cada lesão
aconteceu. Enquanto eu falava, o seu estado de espírito escureceu em
uma versão muito mais sinistra de si mesmo. Os olhos de safira de Jake
compartilhavam seu corpo com um monstro. Eu podia senti-lo se
movendo de lado, quando a besta dentro dele firmemente tomou o
controle.
Jake colocou as mãos nos meus ombros e me puxou para ele. Ele
me beijou com tanta raiva crua e paixão que eu não sabia se eu ia ser
capaz de sobreviver aos sentimentos avassaladores se construindo
dentro de mim.
Jake pode ter tido um monstro vivendo dentro dele. Mas nada
sobre qualquer um de nós tinha sido apenas de um jeito. Nada era
preto ou branco, claro ou escuro.
Coral Pines era um lugar que parecia como o céu do lado de fora e
parecia como o inferno no interior. Owen, o menino de ouro da nossa
cidade, acabou por ser o maior monstro de todos eles. E Jake, que tinha
se acostumado a viver nas sombras escuras de sua alma torturada,
acabou por ser uma das luzes mais brilhantes da minha vida.
~ 272 ~
Jake o assassino, que se levantou para sair, colocando sua arma
na parte de trás de sua calça jeans e verificando a adicional em sua
bota.
— Me diga mais uma vez você está bem com isso, que você não
vai olhar para mim de forma diferente depois. — seu tom era de
preocupação.
— Deixar você foi o pior erro da minha vida, Bee. Eu não vou
fazer isso de novo. — em seguida, ele foi embora, desaparecendo na
escuridão da noite.
~ 273 ~
Podemos não ter sido perfeitos, ou mesmo aceitáveis para os
padrões de qualquer outra pessoa. Mas juntos, éramos perfeitos.
Eu tinha aceitado Jake por ser todas essas coisas, ainda que por
muito tempo eu não pudesse aceitá-las dentro de mim. Eu finalmente
percebi que é possível amar dentro de um espaço que às vezes não
possui nada além do vazio... ou nada além de escuridão.
~ 274 ~
Epílogo
Jake
Fazer amor não era nossa coisa. Nós já tínhamos amor. Fazíamos
isso todos os dias. Estava em cada olhar, cada toque, cada palavra de
entendimento.
~ 275 ~
Sim, nos casamos. Nós não fizemos um negócio muito grande. Foi
apenas algo que nós sentimos que precisávamos fazer. Para não falar
que eu realmente queria. Minhas meninas sempre foram destinadas a
compartilhar o meu sobrenome. Tornou-se mais importante para mim
do que eu pensava que seria. Nosso casamento foi apenas nós três, uma
testemunha e um juiz de paz. Fizemos a cerimônia na clareira do
bosque durante o pôr do sol, onde mais de meus segredos foram
colocados para descansar.
~ 276 ~
Abby e eu paramos de falar de Owen inteiramente depois disso. O
povo de Coral Pines assumiu que ele estava bêbado uma noite, caiu no
quebra-mar e se afogou, como tantos alcoólatras da cidade antes dele.
Tenho certeza de que pensavam que seu corpo havia sido uma boa
refeição para um jacaré ou javali nos manguezais em algum lugar.
Ela me disse que não poderia viver com o que ela tinha feito para
a nossa família e ela não sabia se ela poderia sobreviver à morte de seu
único filho. Ela ainda o amava, não importava o quanto ele estava
quebrado.
~ 277 ~
Não foi fácil nas primeiras semanas após Owen ‘desaparecer’.
Bethany veio ver Geórgia, mas não conseguia me olhar nos olhos. Com
o tempo, ela aceitou melhor o nosso novo e ‘incomum’ cotidiano familiar
e se tornou regular em nossa casa.
~ 278 ~
observava a vida fluir para fora dele como o sangue que derramou de
seu pescoço, mandando-o para as profundezas do inferno, para onde
ele pertencia.
Fim!
22 Uísque.
~ 279 ~