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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO

POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas
as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e
direitos conexos. Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença
abaixo indicada.

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RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição CC BY
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

ii
Agradecimentos
Primeiramente gostaria de agradecer à Professora Doutora Maria de Lurdes de Castro
Martins pela orientação prestada e por toda a disponibilidade para acompanhar o presente
trabalho.

Agradecer também à Professora Maria João Thompson pelos conselhos para melhorar o
presente trabalho e pela colaboração prestada.

Agradeço à mãe e ao pai pelo apoio, por estarem sempre lá, por ampararem as minhas
quedas, neste caminho que nem sempre foi fácil.

À minha irmã por tudo. Pelos conselhos, pela mão estendida e o abraço apertado.

À Daniela por me acompanhar durante todo o percurso académico e por estar sempre lá,
em todos os momentos, que nem sempre foram fáceis.

Aos amigos que a Universidade me deu e que espero levar para sempre, obrigada por me
acompanharem nesta caminhada, por concluirmos mais uma etapa, juntos.

Aos amigos de sempre pelo apoio, pela presença, pelo ombro amigo e por todas as vezes
que estiveram lá para me incentivar.

iii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e


confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou
falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.
Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.

iv
Desenvolvimento financeiro e crescimento económico: uma comparação
internacional

Resumo
O sistema financeiro, composto fundamentalmente por três segmentos, o sistema
bancário, o mercado de capitais e o setor segurador, caracteriza-se essencialmente pela função
de canalização de fundos, detidos por aforradores, para a realização de investimentos futuros,
sendo a sua missão primordial a de mobilizar e facilitar a alocação de recursos no tempo e no
espaço. O crescimento económico, por sua vez, representa o aumento da riqueza, gerada através
da produção de bens e serviços, sem ter em atenção a distribuição da mesma, sendo por isso um
indicador quantitativo da riqueza gerada por uma determinada economia como um todo.
Apesar de serem conceitos distintos, uma vez que o sistema financeiro é um conceito
mais amplo, que além de fatores económicos engloba fatores sociais, enquanto o crescimento
económico é um conceito menos abrangente, relacionado apenas com variáveis económicas, tanto
o sistema financeiro como o crescimento económico apresentam uma relação entre si, sendo o
desenvolvimento do sistema financeiro considerado como um aspeto essencial para o crescimento
económico, enquanto que também se crê que o crescimento económico induz à expansão do
sistema financeiro.
O estudo empírico do presente trabalho, pretende por isso, estudar o impacto que um
conjunto de variáveis económicas e sociais, em particular um indicador do sistema bancário e um
indicador do mercado de capitais, têm sobre o crescimento económico, realizando para tal a
análise de um modelo econométrico para o conjunto de 61 países, entre 1996 e 2016.
Os resultados do estudo empírico permitiram compreender a relação entre determinados
fatores macroeconómicos e sociais, e o crescimento económico, sendo que os resultados obtidos
se encontram, na maioria dos casos, em concordância com os de outros autores abordados no
presente trabalho. Da análise do modelo econométrico estimado, que se revelou globalmente
significativo, podemos aferir que os fatores associados ao sistema financeiro analisados
desempenham, de forma conjunta, influência sobre o crescimento económico

Palavras-chave: Crescimento económico, crises bancárias, desenvolvimento financeiro, mercado


de capitais, sistema bancário.

v
Financial development and economic growth: an international comparison

Abstract
The financial system, composed mainly of three segments, the banking system, the capital
market and the insurance sector, is essentially characterized by the function of channeling funds,
held by savers, for the realization of future investments, its primary mission consisting in mobilizing
and facilitating resource allocation over time and space. Economic growth, in turn, represents the
increase in wealth generated through the production of goods and services, without regard to its
distribution, and is therefore a quantitative indicator of the wealth generated by a given economy
as a whole.
Although they are different concepts, since the financial system is a broader concept, which
in addition to economic factors encompasses social factors, while economic growth is a less
comprehensive concept, related only to economic variables, both the financial system and
economic growth are interrelated, with the development of the financial system considered as an
essential aspect of economic growth, while economic growth is also thought to induce the
expansion of the financial system.
The empirical study of the present work intends to study the impact that a set of economic
and social variables, in particular an indicator of the banking system and an indicator of the capital
market, have on the economic growth through the realization of an econometric model for the set
of 61 countries between 1996 and 2016.
The results of the empirical study made it possible to understand the relationship between
certain macroeconomic and social factors and economic growth, and the results obtained are, in
most cases, in agreement with those of other authors addressed in the present work. From the
analysis of the estimated econometric model, which proved to be globally significant, we can see
that the factors associated with the financial system analyzed together influence economic growth.

Keywords: Banking crises, banking system, capital markets, economic growth, financial
development

vi
Índice

1. Introdução ............................................................................................................................ 1

2. Sistema financeiro ................................................................................................................ 5

2.1 Sistema financeiro baseado no setor bancário ................................................................. 7

2.2 Sistema financeiro baseado nos mercados de capitais .................................................... 8

2.3 Abordagem funcional ...................................................................................................... 9

2.4 Funções do sistema financeiro ........................................................................................ 9

2.6 Canais de transmissão ................................................................................................. 15

2.7 Taxa de poupança ........................................................................................................ 16

3. Setor bancário .................................................................................................................... 18

4. Setor dos mercados de capitais .......................................................................................... 22

5. Crescimento económico ..................................................................................................... 25

5.1 Crescimento económico: evolução histórica .................................................................. 25

5.2 Crescimento económico: conceito ................................................................................. 27

6. Crescimento económico e sistema financeiro ...................................................................... 28

7. Fatores que influenciam o crescimento económico.............................................................. 32

7.1 Indicador do desenvolvimento do sistema bancário ....................................................... 32

7.2 Indicador de desenvolvimento do mercado de capitais .................................................. 33

7.3 Inflação ........................................................................................................................ 34

7.4 Despesa governamental em função do PIB ................................................................... 36

7.5 Educação ..................................................................................................................... 38

7.6 Índice de liberdades civis .............................................................................................. 40

7.7 Índice de burocracia ..................................................................................................... 41

7.8 Índice de direitos políticos ............................................................................................. 42

vii
7.9 Crises bancárias ........................................................................................................... 45

8. Análise gráfica .................................................................................................................... 47

8.1 Análise do crescimento económico ............................................................................... 47

8.2 Análise do indicador do desenvolvimento do sistema bancário ....................................... 51

8.3 Análise do indicador do desenvolvimento do mercado de capitais .................................. 56

9. Dados e metodologia .......................................................................................................... 62

9.1 Dados .......................................................................................................................... 62

9.2 Metodologia .................................................................................................................. 63

10. Apresentação e discussão dos resultados ......................................................................... 69

10.1 Estatística descritiva ................................................................................................... 69

10.2 Matriz de correlação ................................................................................................... 72

10.3 Análise dos resultados obtidos .................................................................................... 76

11. Conclusão ........................................................................................................................ 80

12. Referência bibliográficas ................................................................................................... 83

viii
Siglas e abreviaturas

CB- Crises bancárias

Cres PIB- Crescimento do PIB per capita

CSPPIB- Crédito ao setor privado em % do PIB-

DGPIB- Despesa governamental em função do PIB

EP- Estabilidade política

Et al- et alli (entre outros)

EUA- Estados Unidos da América

FED- Federal Reserve

IES- Inscrição no ensino secundário

Inf- Inflação

OR- Opinião e responsabilidade

PIB- Produto Interno Bruto

PIB per capita- Produto Interno Bruto per capita

QR- Qualidade da regulação

UE- União Europeia

ix
Índice de figuras
FIGURA 1- ABORDAGEM TEÓRICA PARA FINANÇAS E CRESCIMENTO ......................................................... 16
FIGURA 2-FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE CRISES BANCÁRIAS SISTÉMICAS PELO MUNDO ENTRE 1970-2017 19
FIGURA 3- EVOLUÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB PER CAPITA EM PORTUGAL ENTRE 1996 E 2016 ... 48
FIGURA 4- EVOLUÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB PER CAPITA NO REINO UNIDO E ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA, ENTRE 1996 E 2016 ............................................................................................ 49
FIGURA 5- EVOLUÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB PER CAPITA EM MACAU E NA NIGÉRIA, ENTRE 1996 E
2016 .............................................................................................................................. 50
FIGURA 6- EVOLUÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB PER CAPITA NA AUSTRÁLIA E NA GRÉCIA, ENTRE 1996
E 2016 ............................................................................................................................ 51

FIGURA 7- EVOLUÇÃO DO CRÉDITO AO SETOR PRIVADO EM FUNÇÃO DO PIB EM PORTUGAL, ENTRE 1996 E 2016
...................................................................................................................................... 52
FIGURA 8- EVOLUÇÃO DO CRÉDITO AO SETOR PRIVADO EM FUNÇÃO DO PIB NO REINO UNIDO E NOS EUA, ENTRE
1996 E 2016 ................................................................................................................... 53
FIGURA 9- EVOLUÇÃO DO CRÉDITO AO SETOR PRIVADO EM FUNÇÃO DO PIB NA ESLOVÉNIA, ENTRE 2004 E
1996, E EM MACAU, ENTRE 1996 E 2016 ............................................................................. 54
FIGURA 10- EVOLUÇÃO DO CRÉDITO AO SETOR PRIVADO EM FUNÇÃO DO PIB NA BULGÁRIA E NA UCRÂNIA, ENTRE
1996 E 2016 ................................................................................................................... 55
FIGURA 11- EVOLUÇÃO DO CRÉDITO AO SETOR PRIVADO EM FUNÇÃO DO PIB NA DINAMARCA ...................... 56
FIGURA 12- EVOLUÇÃO DAS AÇÕES TRANSACIONADAS EM FUNÇÃO DO PIB EM PORTUGAL, ENTRE 1996 E 2014
...................................................................................................................................... 57
FIGURA 13- EVOLUÇÃO DAS AÇÕES TRANSACIONADAS EM FUNÇÃO DO PIB NO REINO UNIDO E NOS EUA, ENTRE
1996 E 2016 ................................................................................................................... 58
FIGURA 14- EVOLUÇÃO DAS AÇÕES TRANSACIONADAS EM FUNÇÃO DO PIB EM HONG KONG E NA SUÍÇA, ENTRE
1996 E 2016 ................................................................................................................... 59
FIGURA 15- EVOLUÇÃO DAS AÇÕES TRANSACIONADAS EM FUNÇÃO DO PIB EM ESPANHA E NA HOLANDA, ENTRE
1996 E 2016 ................................................................................................................... 61

x
Índice de tabelas
TABELA I- IDENTIFICAÇÃO, REFERÊNCIA E FONTE DAS VARIÁVEIS CONSTITUINTES DO MODELO ECONOMÉTRICO.. 67
TABELA II- ESTATÍSTICA DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS EM ANÁLISE............................................................. 71
TABELA III- MATRIZ DE CORRELAÇÃO ............................................................................................... 75
TABELA IV- RESULTADOS DA ESTIMAÇÃO DO MODELO ECONOMÉTRICO .................................................... 77
TABELA V- TESTE VIF PARA A MULTICOLINEARIDADE ........................................................................... 79

xi
1. Introdução
O sistema financeiro é um dos pilares do desenvolvimento económico das sociedades,
permitindo que empresas façam opções quanto aos seus projetos de investimento, bem como
sobre a forma de garantir o seu financiamento, da mesma maneira que permite que os
consumidores optem entre várias alternativas para a alocação do seu rendimento disponível,
distribuindo o mesmo entre consumo e poupança (Santos, 2002). O sistema financeiro é
constituído pelo conjunto de instituições financeiras que realizam, fundamentalmente, a
canalização de poupanças para posteriormente serem efetuados investimentos nos mercados
financeiros, materializados pela compra e venda de produtos financeiros. Desta forma, as
instituições financeiras desempenham o papel de intermediário financeiro entre os agentes
económicos, que em momentos e situações diferentes podem atuar tanto como aforradores ou
como investidores.
Segundo Santos (2002), o sistema financeiro ao efetuar a mobilização de fundos detidos
pelos aforradores para o setor produtivo, possibilita a transmissão de recursos económicos tanto
no tempo como no espaço, entre diferentes países e setores, facilitando desta forma a gestão de
risco através da diversificação.
O sistema financeiro é constituído, fundamentalmente, por três setores: o setor bancário,
que recebe depósitos e efetua empréstimos; o setor financeiro, que permite aceder diretamente
ao mercado financeiro, e o setor segurador, que visa garantir a existência de um pagamento no
caso de ocorrer uma certa contingência. No entanto a distinção entre estes três segmentos tem
vindo a desvanecer-se, devido ao processo de integração tecnológica, geográfica e funcional.
Ao nível das funções do sistema financeiro, a primeira e a mais importante é a função de
mobilização e facilitação da alocação de recursos no tempo e no espaço. Seguindo a
decomposição da função principal do sistema financeiro de Levine (1999), a função principal do
sistema financeiro pode ser decomposta em funções básicas, sendo as mesmas a mobilização de
poupanças; alocação de recursos; exercício de governo de empresas e sociedades e de
monitorização sobre gestores; facilitar a negociação, cobertura e diversificação de risco e; facilitar
a transação de bens, serviços e contratos.
O crescimento económico, por sua vez, é usualmente utilizado para descrever a evolução
económica de um país, representando um indicador quantitativo que demonstra a riqueza gerada
por uma determinada economia. O crescimento representa o aumento da riqueza, sendo que tal

1
riqueza é gerada pela produção de bens e serviços, sem, no entanto, existir preocupação quanto
à distribuição da mesma pela população. Importa também realçar a importância que o conceito
de poupança tem para o crescimento económico, uma vez que este engloba não só a poupança
das famílias, mas também a poupança das empresas e dos governos.
De acordo com Durlauf e Quah (1999), os modelos de crescimento económico analisam
o comportamento de uma economia nacional de forma individual. Os economistas interessam-se
pelo crescimento económico enquanto caminho para compreender o comportamento do
rendimento per capita ou per worker output.
O sistema financeiro e o crescimento económico são conceitos distintos, apesar de serem
muitas vezes confundidos. Enquanto o sistema financeiro é, como refere Rao (1984), um conceito
amplo, que não se expressa unicamente através de taxas, como o PIB ou a taxa de crescimento
do PIB per capita, englobando também outros fatores económicos, tais como a formação de
capital, o crescimento da produtividade, o progresso técnico e a distribuição do rendimento, e
ainda fatores sociais, como mudanças ao nível da educação, da saúde, das relações interpessoais
e da composição etária da população. Todos os fatores associados ao desenvolvimento do sistema
financeiro estão relacionados com a transformação de uma sociedade, tendo em vista uma melhor
situação social. Por outro lado, crescimento económico é um conceito menos abrangente, que se
relaciona apenas com alterações nos valores de variáveis económicas, partindo do pressuposto
de que fatores sociais e políticos se encontram numa situação estável.
Contudo, apesar de serem conceitos distintos, o sistema financeiro e o crescimento
económico apresentam uma importante relação, sendo o desenvolvimento financeiro um processo
que tem por pressuposto a criação de relações estruturais necessárias ao tipo de crescimento
económico desejado, além de que é considerado como um aspeto essencial para o mesmo.
Enquanto que também se crê que o crescimento económico induz à expansão do sistema
financeiro.
O estudo do desenvolvimento financeiro e do crescimento económico é motivado, entre
outros fatores, pela conjuntura económica recente e pelo impacto que crises económicas e
financeiras podem ter tanto a nível financeiro como a nível económico. Por um lado, o sistema
financeiro apresenta elevada importância no que concerne ao desenvolvimento da economia
mundial, sendo a estabilidade do sistema financeiro considerada como condição primária
necessária. Por outro lado, o crescimento económico é uma situação desejável por todas as

2
economias, sendo, contudo, amplamente afetado por fatores económicos e sociais, sofrendo
grandes oscilações.
Na realização da presente dissertação, pretendemos efetuar uma comparação
internacional sobre o impacto que um conjunto de fatores associados ao sistema financeiro, tanto
fatores económicos como fatores sociais, têm sobre o crescimento económico.
O presente trabalho visa contribuir para a literatura em dois aspetos principais.
Pretendemos reunir num mesmo modelo variáveis utilizadas em diferentes estudos empíricos que
se revelaram significativas para explicar o crescimento económico. Em segundo lugar, desejamos
enfatizar o papel que o desenvolvimento do sistema financeiro pode ter no crescimento económico,
utilizando para tal indicadores associados a cada um dos dois segmentos principais do sistema
financeiro, o sistema bancário e mercado de capitais, sendo os respetivos indicadores, o indicador
de desenvolvimento do mercado de crédito bancário e o indicador de desenvolvimento do mercado
de capitais. Importa ainda salientar que no presente trabalho as três variáveis explicativas sob
especial foco são o indicador do mercado de crédito bancário; o indicador do mercado de capitais
e o indicador de crises bancárias.
A presente dissertação apresenta ainda como aspetos diferenciadores de outros trabalhos
nesta área o facto de abranger um período temporal mais recente, entre 1996 e 2016, e
compreender como amostra um alargado conjunto de países.
Desta forma, a presente dissertação encontra-se estruturada da seguinte forma.
Primeiramente, o capítulo 2 apresenta o sistema financeiro enquanto aspeto fulcral para o
desenvolvimento económico, caracterizando-o e expondo algumas das suas fragilidades e
consequentes efeitos. Seguidamente, o capítulo 3 descreve de forma detalhada o setor bancário,
enquanto o capítulo 4 descreve o setor dos mercados de capitais, uma vez que estes são os
segmentos mais importantes do sistema financeiro. Por sua vez, o capítulo 5 procura explicar a
evolução do crescimento económico ao longo da história. O capítulo 6 relaciona o crescimento
económico e o sistema financeiro.
No capítulo 7 são apresentados um conjunto de fatores do sistema financeiro que exercem
influencia sobre o crescimento económico. No capítulo 8 é realizada uma análise gráfica do
comportamento de variáveis em foco no presente trabalho, nomeadamente o indicador do
desenvolvimento do sistema bancário, o indicador do desenvolvimento do mercado de capitais, e
a variável crises bancárias para um grupo de países. No capítulo 9 descreve-se a amostra do
estudo, assim como as fontes usadas na constituição da mesma. Neste capítulo é ainda

3
apresentada a metodologia utilizada na realização do estudo empírico, bem como as variáveis
utilizadas. O capítulo 10 contém a estatística descritiva das variáveis utilizadas, bem como a matriz
de correlações. Esta secção inclui também a apresentação e discussão dos resultados obtidos no
estudo empírico, e ainda os testes econométricos realizados para avaliação do modelo estudado.
Por último, no capítulo 11 são apresentadas as principais conclusões, algumas limitações e,
também, algumas considerações para futuras investigações realizadas neste âmbito.

4
2. Sistema financeiro

O sistema financeiro é um dos pilares do desenvolvimento económico das sociedades,


permitindo que empresas façam opções quanto aos seus projetos de investimento, bem como
sobre a forma de garantir o seu financiamento, da mesma maneira que permite que os
consumidores optem entre várias alternativas para a alocação do seu rendimento disponível,
distribuindo o mesmo entre consumo e poupança (Santos, 2002). O sistema financeiro é
constituído pelo conjunto de instituições financeiras que realizam, fundamentalmente, a
canalização de poupanças para posteriormente serem efetuados investimentos nos mercados
financeiros, materializados pela compra e venda de produtos financeiros. Desta forma, as
instituições financeiras desempenham o papel de intermediário financeiro entre os agentes
económicos, que em momentos e situações diferentes podem atuar tanto como aforradores ou
como investidores.

De acordo com Allen e Gale (2001), o sistema financeiro apresenta como propósito a
canalização de fundos pertencentes a agentes económicos que detêm excedentes, para
posteriormente emprestar a agentes económicos com défices. Ou seja, realiza-se assim a
canalização das poupanças das famílias para o setor produtivo e ocorre a alocação de fundos de
investimento entre empresas. Contudo, o sistema financeiro não é assim tão simplista, existindo
outros aspetos que não podem ser ignorados, como os governos, que desempenham um papel
importante no sistema financeiro, isto porque são detentores de elevadas quantidades de fundos
monetários que são importantes, essencialmente, em períodos de recessão ou para financiamento
de grandes infraestruturas. Assim sendo, podemos referir que, em termos gerais, o sistema
financeiro tem como propósito transferir os recursos detidos por aforradores e outras entidades,
como o Estado, para os setores produtivo e de consumo.

De forma mais particular, no que toca às instituições financeiras, estas desempenham um


papel fundamental ao assegurarem o funcionamento dos sistemas de pagamentos e liquidação,
permitindo o desenvolvimento de uma variedade de produtos financeiros e facilitando as
transações.

Segundo, Santos (2002), o sistema financeiro ao efetuar a mobilização dos fundos detidos
pelos aforradores para o setor produtivo, possibilita a transmissão de recursos económicos tanto

5
no tempo como no espaço, entre diferentes países e setores, facilitando desta forma a gestão de
risco através da diversificação.

No que concerne ao desenvolvimento da economia mundial, a estabilidade do sistema


financeiro é considerada por Costa (2012) como condição primária necessária, reforçando a
importância da sustentabilidade das finanças públicas no financiamento das instituições
financeiras. Da mesma forma, o Livro branco sobre a regulação e supervisão do setor financeiro
do Banco de Portugal refere que a confiança detida sobre o sistema financeiro é também
fundamental, considerando a mesma como um ativo da maior importância. Em concordância,
Santos (2002) menciona também que a confiança representa um fator de elevada importância
para o sucesso da operacionalidade dos mercados financeiros, pelo que as instituições financeiras,
assim como os mercados onde se encontram inseridas, devem ser transparentes, demonstrando
que agem em conformidade com regras e procedimentos e, que colocam o interesse dos clientes
em primeiro lugar.

Importa ainda salientar o papel importante que os governos desempenham sobre o


sistema financeiro, tal como referem Allen e Gale (2001). De acordo com os autores, os governos
desempenham a função de borrowers, particularmente em períodos de guerra, recessão ou
quando estão e ser levados a cabo grandes projetos infraestruturais, da mesma forma que
desempenham também a função de savers, sendo capazes de poupar quantias significativas de
fundos. Contudo, além de borrowers e savers, os governos desempenham outras funções
relacionadas com o sistema financeiro, nomeadamente através dos bancos centrais, entidade
responsável pela emissão de moeda, nos países que detêm moeda própria, e estando
significativamente envolvidos no sistema de pagamentos. Cabe ainda aos bancos centrais ou a
outra entidade reguladora a função de regular o sistema financeiro, uma vez que as crises
financeiras ocorridas nos EUA no final do século XIX, onde os mercados e intermediários
financeiros não se encontravam regulados, levaram a que os governos de muitos países
passassem a intervir de forma significativa no sistema financeiro, com o objetivo de mitigar a
ocorrência de crises. Desta forma, Allen e Gale (2001) mencionam que em muitos países os
governos desempenham um papel importante no normal funcionamento do sistema financeiro,
revelando o impacto do setor político.

O sistema financeiro é constituído, fundamentalmente, por três setores, o setor bancário,


que recebe depósitos e efetua empréstimos, o setor financeiro, que permite aceder diretamente

6
ao mercado financeiro; e o setor segurador, que visa garantir a existência de um pagamento no
caso de ocorrer uma certa contingência. No entanto a distinção entre estes três segmentos tem
vindo a desvanecer, devido ao processo de integração tecnológica, geográfica e funcional, como
refere Santos (2002).

De acordo com Gordon (2000), em qualquer economia existem agentes económicos que
gastam mais do que aquilo que ganham, precisando por isso de empréstimos, enquanto outros
agentes económicos ganham do que aquilo gastam e, nesta situação necessitam de um lugar
onde seja possível guardar as suas poupanças. Assim sendo, as instituições bancárias, os
restantes intermediários financeiros e os mercados de capitais surgem para realizar a importante
tarefa de canalizar os fundos detidos pelos agentes que têm excesso de fundos para os agentes
que carecem dos mesmos. Importa porém realçar a importância que o conceito de poupança tem
para o crescimento económico, uma vez que este engloba não só a poupança das famílias, mas
também a poupança das empresas e dos governos.

Apesar de ser apresentado como conceito de forma única, o sistema financeiro varia de
país para país de acordo com as características específicas de cada um, podendo ocorrer variações
ao nível da dimensão, estrutura e nível, adaptando-se assim às características singulares de cada
país.

O sistema financeiro tem sido usualmente distinguido, por diversos autores, de acordo
com duas tipologias, distinguindo-se o sistema financeiro baseado no setor bancário do sistema
financeiro baseado nos mercados de capitais.

2.1 Sistema financeiro baseado no setor bancário

O sistema financeiro baseado no setor bancário apresenta como núcleo central as


instituições bancárias, consideradas como as maiores impulsionadoras do desenvolvimento
financeiro, verificando-se em país como a Alemanha, a França e o Japão. De acordo com Levine
e Demirgüç-Kunt (1999), o sistema baseado na banca possibilita uma melhor canalização das
poupanças, uma melhor identificação no que toca às oportunidades de investimento e permite
deter um maior controlo sobre gestores e empresas.

7
De acordo com Levine (2002), os defensores do sistema financeiro baseado no setor
bancário referem que este funciona melhor no que respeita à mobilização de poupanças, assim
como na identificação de bons investimentos e no exercício de um sólido governo de empresas e
sociedades1, especialmente em estados prematuros de desenvolvimento económico ou em
ambientes institucionais débeis.

Contrariamente, para Boyd e Smith (1998), defensores de um sistema financeiro baseado


nos mercados, os bancos detêm um papel preponderante para que ocorram baixos níveis de
desenvolvimento económico. Seguindo a mesma linha de pensamento, Rajan e Zingales (1998)
mencionam que sistemas financeiros baseados na banca apresentam vantagem comparativa em
países que apresentam sistemas legais enfraquecidos, para os autores, apenas fortalecendo os
sistemas legais podem estes países beneficiar de uma economia baseada nos mercados de
capitais.

Demirgüç-Kunt e Huizinga (2000) referem que países como a Alemanha, a França e o


Japão detêm sistemas financeiros baseados no setor bancário uma vez que o número de
empréstimos bancários em relação ao mercado de ações é bastante elevado.

2.2 Sistema financeiro baseado nos mercados de capitais

O sistema financeiro baseado nos mercados de capitais considera como principal


impulsionador do desenvolvimento financeiro os mercados de capitais, ocorrendo tal sistema em
países como o Reino Unido e os EUA. Segundo Levine e Demirgüç-Kunt (1999), esta tipologia de
sistema financeiro possibilita a alocação de maiores níveis de capital, fundamentalmente para
empresas de investigação e desenvolvimento, disponibilizando diferentes formas de gestão e
diversificação de risco e possibilitando também o distanciamento a problemas relacionados com
instituições bancárias de grande dimensão.

1
Governo das empresas e sociedades- De acordo com Cadburry (1992) é “o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e controladas” ao qual
a OCDE (2004) acresce que “envolve um conjunto de relações entre a gestão da empresa, o seu órgão de administração, os seus acionistas e
outros sujeitos com interesses relevantes. O governo das sociedades estabelece também a estrutura através da qual são fixados os objetivos da
empresa e são determinados e controlados os meios para alcançar esses objetivos. Um bom governo das sociedades deve proporcionar incentivos
adequados para que o órgão de administração e os gestores prossigam objetivos que sejam do interesse da empresa e dos seus acionistas,
devendo facilitar uma fiscalização eficaz.”.

8
Demirgüç-Kunt e Levine (1999) referem que existem estudos que consideram os
mercados de capitais mais eficazes na prestação de serviços financeiros.

2.3 Abordagem funcional

Apesar de tudo que foi anteriormente exposto e independentemente do sistema financeiro


do país ser baseado no setor bancário ou nos mercados de capitais, existe ainda a abordagem
funcional, mencionada por autores como Aguiar e Drummond (2004), segundo a qual a questão
central no que toca aos sistemas financeiros não se prende com a comparação entre bancos e
mercados, mas em proporcionar um ambiente no qual instituições bancárias e mercados prestem
serviços financeiros sólidos, capazes de estimular o crescimento económico. Também Aguiar e
Drummond (2004) referem que a utilização da abordagem funcional tem efeitos positivos, isto
porque os componentes do sistema financeiro, desde instituições, mercados e até os instrumentos
financeiros disponibilizados, são muito inconstantes, apresentando grandes alterações de país
para país e ao longo do tempo, enquanto a função financeira permanece relativamente mais
estável.

De acordo com Demirgüç-Kunt e Levine (1999) contratos, mercados e intermediários


financeiros surgiram para mitigar as limitações dos mercados financeiros, tendo por finalidade a
redução dos custos de transação assim como da assimetria de informação. Desta forma, o sistema
financeiro no desenvolvimento das suas funções, avaliação de oportunidades de investimento
potenciais, exercício de governo de empresas e sociedades, fornecimento de ferramentas para a
gestão de risco, aumento de liquidez e facilitar a mobilização de poupanças, de forma mais ou
menos eficiente irá incrementar o crescimento económico, independentemente do sistema
financeiro ser baseado no setor bancário ou nos mercados de capitais. Podendo assim afirmar
que os custos de transação e de aquisição de informação serviram de base ao aparecimento de
mercados e instituições financeiros.

2.4 Funções do sistema financeiro

Ao nível das funções do sistema financeiro, a primeira e a mais importante é a função de


mobilizar e facilitar a alocação de recursos no tempo e no espaço. A canalização dos fundos dos
9
aforradores para investidores e outros utilizadores dos mesmos pode ser efetuada de duas
maneiras distintas, definidas pela Comissão Europeia (2014) como intermediação direta e
intermediação indireta. No entanto a divisão entre as duas formas de intermediação nem sempre
é muito fácil de verificar visto que em casos de intermediação direta ocorre, muitas vezes, a
intermediação de corretores, consultores, gestores de investimentos, entre outros. No que toca à
intermediação direta, esta ocorre quando os fundos são canalizados sem recurso a intermediários,
sendo efetuada diretamente pelos mercados, ou seja, quando os adquirem dívida ou capital
próprio diretamente ao mutuário emitente desses títulos financeiros nos mercados de capitais. De
outra forma, no que diz respeito à intermediação indireta esta acontece quando a canalização dos
fundos é efetuada através de intermediários financeiros, como por exemplo bancos, seguros ou
fundos de pensões.

Ainda ao nível da função principal dos sistema financeiro, mobilizar e facilitar a alocação
de recursos no espaço e no tempo, esta pode ser decomposta por forma a facilitar a sua análise.
Decomposição esta que foi efetuada por autores como Merton e Bodie (1995), e Levine (1997).
Seguindo a decomposição da função principal do sistema financeiro de Levine (1997), a mesma
pode ser decomposta em cinco funções básicas, sendo as mesmas mobilização de poupanças;
alocação de recursos; exercício de controlo das empresas e das sociedades, e de monitorização
sobre gestores; facilitar a negociação, cobertura e diversificação de risco e, facilitar a transação de
bens, serviços e contratos.

 Mobilização de poupanças

A função básica de mobilização de poupanças, segundo Aguiar e Drummond (2004),


relaciona-se com a garantia de mobilização de fundos detidos pelos aforradores para serem
entregues aos investidores, isto é, reúne o capital destinado ao investimento, oriundo de diversos
aforradores.

Os mesmos autores referem que a mobilização de poupanças torna-se vantajosa na


medida em que o nível de investimento necessário para implementar projetos de grande
envergadura normalmente ultrapassa o capital detido pelo agente que pretende implementá-lo,
pelo que esta função beneficia empresas, que dispondo de acesso ao capital de vários investidores
podem gerar processos produtivos eficientes, deixando de estar numa posição de autarcia. Por
outro lado, a capacidade de mobilização de poupanças beneficia também os aforradores, isto
porque caso não ocorre-se a aglomeração de capital detido por vários aforradores, os mesmos

10
apenas poderiam adquirir ativos que conseguissem pagar na totalidade, sendo que perante tal
situação os aforradores detentores de níveis de capital mais reduzidos não conseguiriam investir
nos projetos e empresas mais rentáveis. Através da mobilização de poupanças, os aforradores
podem ainda constituir um conjunto de pequenos investimentos, permitindo a diversificação de
risco e evitar possíveis problemas de liquidez que possam surgir.

Aguiar e Drummond (2004) referem ainda que cabe às instituições financeiras a criação
de instrumentos financeiros que facilitam a aglomeração de recursos, canalizando-os para
investidores e empresas, permitindo que os aforradores detenham uma carteira diversificada de
ativos financeiros e que façam parte de investimentos de grande dimensão. Por último, importa
referir que sistemas financeiros mais eficientes, no que à mobilização de poupanças diz respeito
verificam um impacto direto na acumulação de capital, levam a cabo uma melhor afetação de
recursos e permitem a aquisição de tecnologias mais recentes e adequadas.

De acordo com N’Zué (2006), inclusivamente Keynes (1936), na sua célebre teoria
afirmava que para alcançar crescimento económico eram necessários alguns fatores de entre os
quais a aglomeração de capital, nomeadamente através do aumento do investimento, uma vez
que tanto as instituições bancárias como os mercados de capitais têm influência sobre a
mobilização de poupanças e, consequentemente, sobre a acumulação de capital.

 Alocação de recursos

A avaliação de empresas, gestores e condições de mercado é extremamente difícil de


efetuar e acarreta elevados custos, razão pela qual aforradores individuais poderiam não ter
disponibilidade de tempo, capacidades ou meios para levar a cabo a recolha e processamento de
informações relativas a tais aspetos, como refere Levine (1999). No entanto, os aforradores são
relutantes quanto ao investimento em atividades e projetos sobre os quais disponham de pouca
informação fiável. Os custos associados à recolha e tratamento de informação fizeram surgir os
intermediários financeiros, que vieram facilitar o processo de aquisição de informação.

De acordo com Levine (1999), se assumirmos que existem custos fixos associados à
recolha e tratamento de informação, sem a existência de intermediários financeiros cada investidor
teria de pagar esses mesmos custos para adquirir informações, pelo que a existência de
intermediários financeiros, que efetuam a recolha e tratamento da informação, permite aos

11
investidores poupar na recolha de informação sobre as oportunidades de investimento, torna a
mesma mais acessível e melhora também a alocação de recursos.

Greenwood e Jovanovic (1990) referem que a capacidade de aquisição bem como de


processamento de informação pode desempenhar um importante papel no crescimento
económico, isto porque tanto empresas como empreendedores irão procurar capital,
intermediários financeiros e mercados que selecionam as empresas e gestores mais promissores,
o que originará uma alocação de capital mais eficiente e um crescimento económico mais célere.
Além disto, King e Levine (1993) referem que os intermediários financeiros conseguem identificar
as melhores tecnologias de produção, podendo fazer aumentar a taxa de inovação tecnológica,
através da identificação de empreendedores que apresentam as melhores perspetivas em relação
à introdução bem-sucedida de novos produtos ou processos de produção.

No que concerne à importância dos mercados de capitais em relação ao processo de


aquisição e processamento de informações, Levine (1999) revela que existe alguma controvérsia,
isto porque mesmo agentes económicos que não despendem de recursos para a obtenção de
informações conseguem observar os preços das ações, reflexo de informação obtida por terceiros.
O carater de bem público da informação pode reduzir o incentivo dos agentes em recolher essa
mesma informação tendo que para tal despender de recursos e, como refere Stiglitz (1985) os
mercados que apresentam maior liquidez, isto é, onde existe facilidade de venda de ações por
parte de investidores insatisfeitos e uma excessiva difusão da propriedade, podem reduzir o
estímulo dos investidores em exercer governo de empresa e sociedades e monitorização sobre
gestores. No entanto, segundo Merton e Bodie (1995), os mercados financeiros ao revelarem as
taxas de juro bem como os preços dos títulos transacionados estão a disponibilizar aos aforradores
informações que estes usam no processo de tomada de decisão sobre o investimento das
poupanças.

 Governo de empresa e sociedades e monitorização sobre gestores

A função de governo de empresas e sociedades e monitorização sobre gestores, ou seja


fiscalização, encontra-se relacionada com a função explicada anteriormente, uma vez que também
esta está associada à recolha de informação, mas, no caso do controlo e da monitorização, a
mesma ocorre após a realização de investimento. Aguiar e Drummond (2004) referem que esta
forma de controlo e monitorização tem como finalidade a prevenção de comportamentos
oportunistas e corruptos por parte dos credores.

12
De acordo com Aguiar e Drummond (2004), os projetos de investimento são financiados
por inúmeros agentes económicos, através da mobilização das poupanças e, recorrendo para tal
aos intermediários financeiros que disponibilizam contratos que permitem reduzir os custos de
fiscalização e que permitem também reduzir os custos agregados de monitorização, uma vez que
o credor é apenas submetido a fiscalização por parte dos intermediários financeiros e não por
todos os aforradores individualmente.

No entanto, segundo Freixas e Rochet (1997), após a delegação do poder de fiscalização


no intermediário financeiro, surge o problema de monitorização sobre o fiscalizador. Contudo,
Levine (1997) refere que caso os intermediários financeiros detenham uma carteira de ativos
diversificada a necessidade de exercer monitorização e controlo sobre estes é mitigada, pois o
intermediário financeiro estará sempre em condições de pagar os juros associados aos depósitos
realizados. Assim sendo, com a diminuição dos custos de monitorização, Levine (1997) menciona
que o investimento eficiente tem tendência a aumentar. O autor refere também que se as relações
entre os aforradores e os intermediários financeiros se mantiverem por longos períodos de tempo,
os custos associados à aquisição de informação tornar-se-ão cada vez mais reduzidos, facilitando
a concessão de créditos a empresas e incrementando uma alocação de recursos mais eficiente.

No que concerne aos mercados de capitais, os mesmos podem também desempenhar a


função de monitorização ou fiscalização. A transação de ações reflete informação acerca das
empresas de forma eficiente, revelando a relação entre a remuneração obtida pelos gestores e os
preços das ações, alinhando os interesses de proprietários e gestores. (Aguiar e Drummond, 2004)

 Facilitar a gestão de risco

De acordo com Levine (1997), com a existência de informações específicas e custos de


transação, podem aparecer mercados e instituições financeiras com vista a facilitar a negociação,
cobertura e combinação de risco. Contudo importa referir a existência de dois tipos de risco
distintos, o risco de liquidez e o risco idiossincrático.

No que concerne ao risco de liquidez, este encontra-se relacionado com a convertibilidade


dos ativos detidos em meios de pagamento, isto porque como refere Levine (1997), os projetos
de investimento necessitam, em muitos dos casos de um compromisso de capital por um longo
período de tempo e, normalmente, os aforradores não apresentam disponibilidade para perder o
controlo sobre as suas poupanças durante esse mesmo período de tempo. Desta forma, o sistema

13
financeiro disponibiliza ferramentas que façam aumentar a liquidez e que motivem os indivíduos
a participar em projetos de longo prazo, mas com elevado retorno. (Aguiar e Drummond, 2004)

De outra forma, no que concerne ao risco idiossincrático, associado a projetos individuais,


empresas, indústrias, setores económicos e países, refere-se a um risco específico a cada projeto
e, tendo em consideração que os agentes são, normalmente, avessos ao risco, os mesmos tendem
a evitar este tipo de risco investindo em projetos com baixo nível de risco, mas que têm também
baixo nível de rendimento, e também adotando tecnologias mais flexíveis, evitando a
especialização. Como forma de gestão do risco idiossincrático surge a diversificação das carteiras
de ativos, algo que é possível aos aforradores adquirir junto dos mercados de capitais. Enquanto
junto dos bancos, os agentes conseguem investir numa carteira diversificada através de uma
mistura adequada de investimentos, isto é, como refere Levine (1997), um conjunto de
investimentos líquidos, com baixos retornos, para fazer face à procura de depósitos pelos
aforradores e, investimentos ilíquidos, de elevados retornos e com maior produtividade, no qual
as instituições bancárias oferecem aos aforradores um seguro completo contra o risco de liquidez,
estimulando ainda o crescimento económico devido aos investimentos financeiros de longo prazo
e elevado retorno.

 Facilitar a transação de bens, serviços e contratos

Por último, no que diz respeito à função de facilitar a transação de bens, serviços e
contratos, surge uma limitação, os chamados custos de transação.

De acordo com o trabalho de Romer (1987), a especialização no que toca à produção de


bens intermédios é passível de gerar crescimento económico, sendo que a presença de
rendimentos crescentes à escala justifica-se por essa mesma especialização. Contudo, apesar de
aumentar a produtividade e o crescimento económico, a especialização tem associado um
conjunto de custos de transação, pelo que o sistema financeiro ao deter instrumentos que
permitem a redução dos custos de transação promove a especialização.

Aguiar e Drummond (2004) referem que o eficiente funcionamento de um sistema de


pagamentos quando se verificam assimetrias de informação constitui uma função básica do
sistema financeiro, isto porque sem existência desse sistema, os custos de transação derivados
da especialização poderiam eliminar os ganhos de produtividade e os aumentos no crescimento
económico.

14
2.6 Canais de transmissão

Após a análise das funções desempenhadas pelo sistema financeiro torna-se também
importante investigar como é que o sistema financeiro influencia o crescimento económico, isto é,
quais os canais, utilizados pelo sistema financeiro, que exercem influência sobre o crescimento
económico. Levine (1997) refere dois canais de influência, sendo os mesmos a acumulação de
capital e a inovação tecnológica.

A acumulação de capital exerce influência sobre o crescimento económico na medida em


que permite realizar a mobilização de capital para o investimento que, consequentemente,
promove o crescimento económico, como referem Aguiar e Drummond (2004). Os autores
mencionam também que através da acumulação de capital é possível introduzir inovação
tecnológica no processo produtivo visto que, pelo menos uma parte da inovação tecnológica é
conseguida através da produção de novos equipamentos. Levine (1999) por sua vez refere a forma
como o sistema financeiro afeta a acumulação de capital, por um lado alterando a taxa de
poupança e, por outro lado, realocando as poupanças entre diferentes tecnologias produtoras de
capital.

De outra forma, a inovação tecnológica aumenta a produtividade uma vez que o progresso
tecnológico incentiva a uma maior especialização e eficiência na produção. Segundo Aguiar e
Drummond (2004), o sistema financeiro, dispondo da capacidade de mobilizar recursos,
diversificar o risco associado à inovação e de adquirir informação de forma mais eficiente, através
da inovação tecnológica poderá exercer influência sobre o crescimento económico.

15
Figura 1- Abordagem teórica para finanças e crescimento

Fonte: Reproduzido de Levine (1999)

2.7 Taxa de poupança

A taxa de poupança é outro fator que é influenciado pelo desenvolvimento do sistema


financeiro, no entanto o impacto que este tem é ambíguo, podendo ser positivo perante algumas
situações e negativo perante outras. Concretamente, no caso do desenvolvimento do sistema
financeiro afetar negativamente a taxa de poupança, por consequência afetará também a
acumulação de capital que, por sua vez, terá impacto negativo na qualidade e quantidades dos
investimentos. Ou seja, o efeito detido pelo desenvolvimento do sistema financeiro sobre a taxa de
poupança encontra-se extremamente relacionado com os canais de transmissão anteriormente
mencionados, a acumulação de capital e afetação de poupanças para investimentos.

16
Aguiar e Drummond (2004) referem a influência que o desenvolvimento do sistema
financeiro tem sobre a taxa de poupança, referindo porém a sua ambiguidade, isto porque ao
permitir uma mais eficiente afetação dos recursos possibilita o aumento do valor esperado do
retorno da poupança. Pelo que o efeito pode ser positivo ou negativo, dependendo da conjugação
existente entre o efeito de substituição e o efeito de rendimento. Isto é, por um lado, retornos mais
elevados geram aumentos no custo de oportunidade do consumo presente face ao consumo
futuro, levando os agentes económicos a adiar um maior consumo, estamos então perante o efeito
de substituição. De outra forma, retornos mais elevados dão aos agentes económicos a
possibilidade destes realizarem um maior nível de consumo futuro para um dado nível de consumo
presente, levando a que se verifique uma diminuição da taxa de poupança e, com tal situação
estamos perante o efeito rendimento. Assim sendo, podemos afirmar que a taxa de poupança
aumenta perante o efeito de substituição e que diminui perante o efeito rendimento. Os autores
referem ainda que esta relação ambígua leva a que o desenvolvimento do sistema financeiro tenha
um efeito também ambíguo em relação à acumulação de capital e, por consequência, sobre o
crescimento económico.

A taxa de juro é um fator que também afeta a taxa de poupança, podendo esta ter dois
efeitos contraditórios, como refere Startz (1998). Por um lado, o aumento da taxa de juro faz
aumentar a remuneração futura da poupança, tornando a mesma mais atrativa. No entanto, por
outro lado, o aumento da taxa de juro permite que seja necessário poupar menos no momento,
mantendo o mesmo rendimento futuro que existiria com a taxa de juro anteriormente verificada,
ou seja, faz com que não seja necessária uma menor poupança.

Por sua vez, Pavelescu (2009) menciona um outro efeito que a taxa de juro pode ter, o
efeito sobre o investimento, isto é, se por um lado o aumento da taxa de juro gera um aumento
da taxa de poupança que deveria gerar um aumento no investimento, contudo o aumento da taxa
de juro tem o efeito contrário sobre o investimento, fazendo com que ocorram reduções nos
montantes que os investidores pretendem colocar nos seus projetos, isto porque eleva os custos
dos investimentos.

17
3. Setor bancário
No que concerne ao segmento bancário, o mesmo é considerado como o segmento
principal do sistema financeiro devido ao papel crucial que detém no financiamento da economia.

As instituições bancárias são detidas como importantes em todos os estados de


desenvolvimento e em qualquer lugar do mundo, sendo por isso esperado que estas instituições
funcionem de forma eficiente, isto porque sistemas bancários que funcionam eficientemente
facilitam a canalização e monitorização de poupanças para os melhores projetos de investimento,
melhorando consequentemente a performance das economias. (Barth, Caprio e Levine, 2008)
Segundo Levine (2002), sistemas bancários funcionais exercem um impacto importante no
crescimento e desenvolvimento económico.

No que concerne ao futuro, Berger e Humphrey (1997) afirmam que os mercados


financeiros tendem a tornar-se mais globalizados, ondem existirão mais instituições de tipo
universal, colocando à disposição dos clientes uma maior seleção de produtos financeiros dentro
de apenas uma instituição bancária.

Apesar da elevada importância que detêm, os sistemas bancários nem sempre operam
de forma eficiente, devido, em grande parte, a crimes de corrupção que não permitem a alocação
eficiente do capital, função primária dos bancos. Esta situação torna-se mais acentuada em países
em desenvolvimento, nos quais o capital é mais escasso.

Além de suscetível à corrupção este é também um setor fortemente afetado pelas crises
económicas, como aconteceu nas últimas décadas, e como é possível observar através da Figura
2. Estas crises que podem ser provocadas por corridas bancárias em tempos de recessão
económica, facto que faz dos bancos instituições financeiras especialmente vulneráveis. No
entanto existe todo um conjunto de outros fatores que levam a que crises económicas aconteçam,
como o rebentar de uma bolha financeira, ou uma quebra no mercado de ações, ou ainda a
ocorrência de ataques especulativos de moeda, fatores mencionados por autores como Demirgüç-
Kunt e Detragiache (1998), e por Krugman (2010).

Da mesma forma, Bordo (2010) refere que além das anteriormente referidas existem
outras variadas razões para a ocorrência de crises financeiras, englobando situações de crise
política, de dificuldades macroeconómicas a antever a crise financeira ou da crise financeira a

18
antever a crise económica, a desregulamentação de mercados, falhas de supervisão, entre outras.
As crises financeiras podem ainda ser consideradas como sistémicas e, segundo Acharya (2009),
uma crise financeira é considerada como sistémica quando muitos bancos entram em falência ao
mesmo tempo, ou quando a falência de apenas um banco se propaga através do efeito contágio2,
causando a falência de muitos outros bancos.

Figura 2-Frequência de ocorrência de crises bancárias sistémicas pelo mundo entre 1970-2017

Fonte: Laeven e Valencia (2018)

O sistema bancário é especialmente vulnerável ao efeito contágio quando a falta de


confiança associada a um pobre desempenho bancário se propaga a outros bancos “saudáveis”.
Isto acontece porque os clientes bancários têm conhecimento de que quando se inicia uma corrida
bancária a liquidez dos ativos bancários vai ser alvo de um rápido declínio, pelo que os mesmos
clientes irão querer retirar os seus depósitos antes de começar a corrida bancária. Nestes casos,
até os bancos saudáveis se encontram sujeitos a tal situação, e se a maioria dos bancos forem
afetados o sistema financeiro pode entrar em colapso, (Heffernan, 2005).

Para Hellmann, Murdock e Stiglitz (2000), no caso concreto das crises bancárias, estas
revelam-se particularmente importantes não apenas pelos danos causados neste setor particular
da economia, mas porque, normalmente, os danos afetam toda a economia. Pois, como refere

2
Contágio ou disseminação de problemas bancários de um banco para todo o sistema bancário, acontecendo por inúmeras razões, como o facto
de os bancos se encontrarem expostos aos mesmos riscos, uma vez que os mesmos oferecem aos seus clientes um conjunto de produtos
homogéneo. Da mesma forma que, ao nível macroeconómico, todos os bancos são afetados por acontecimentos como alterações na política
monetária. (Heffernan, 2005))

19
Conway (2011), “Os negócios, ao contrário das pessoas, não nascem iguais. Existem algumas
empresas que fariam falta caso deixassem de existir, mas a vida continuaria. Existem outras cujo
colapso faria implodir vastas áreas da economia e da sociedade. Os bancos contam-se na segunda
categoria.”.

Como afirma o Demirgüç-Kunt e Detragiache (1998), entre as décadas de 80 e 90, vários


países, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, sofreram severas crises bancárias e,
quando este facto acontece interrompe-se o ciclo de crédito de famílias e empresas, reduz-se o
consumo e o investimento, podendo até originar a falência de algumas empresas. As crises
bancárias podem ainda colocar em causa o sistema de pagamentos uma vez que podem gerar
desconfiança nas instituições financeiras domésticas. Por fim, e em último caso, as crises
bancárias podem obrigar alguns bancos a encerrar as suas instituições.

De outra forma, as crises bancárias geram reações por parte dos decisores políticos, uma
vez que estes levam a cabo inúmeras intervenções, tornando a política monetária menos exigente
ou efetuando resgastes financeiros, através de fundos públicos, a instituições financeiras em
situação de insolvência. Estes mesmos resgates representam elevados custos orçamentais,
podendo permitir que bancos que atuam de forma ineficiente continuem nos mercados e,
reduzindo os incentivos para uma adequada gestão de risco, por parte das instituições financeiras.

Apesar de serem inúmeras as crises ocorridas, como referido anteriormente, devemos


destacar algumas que tiveram particular importância, as denominadas “big five”, neste conjunto
encontram-se as crises ocorridas em Espanha (1977), Noruega (1987), Finlândia (1991), Suécia
(1991) e Japão (1992). Além destas crises financeiras, devemos ainda referir alguns
acontecimentos com graves consequências, tanto nos sistemas financeiros como nos sistemas
bancários, a nível mundial, tais como a grande depressão de 1930, o colapso do sistema de
Bretton Woods em 1973, assim como os choques petrolíferos ocorridos nos anos de 1973 e 1979.
Por último podemos também mencionar a falência de alguns grandes bancos como o como o
British-Israel Bank no Reino Unido, ou o Herstatt Bank na Alemanha, no ano de 1974.

Além de tudo o que foi referido anteriormente, segundo Bordo (2008) e Krugman (2010),
o surgimento do denominado “shadow banking” ou “ sistema bancário-sombra”, foi também um
fator que veio tornar o sistema financeiro ainda mais vulnerável e frágil, uma vez que o “shadow
banking” é constituído por instituições financeiras que funcionam como bancos, isto é, instituições
que contraem créditos e que concedem empréstimos, mas que não são reguladas como tal. Tais

20
instituições foram-se desenvolvendo e crescendo com dinheiro e conceções de crédito de fácil
acesso, disponibilizadas tanto pela Federal Reserve (FED) como por algumas economias
emergentes, ganhando grande importância, mas não estando sujeitos a regulação correspondente.

Todos estes acontecimentos, ocorridos em vários países do mundo e com origem em


diversos fatores tornaram evidente a necessidade de uma efetiva regulação e supervisão,
particularmente no caso do setor bancário. No caso particular da crise de 2008, segundo vários
autores esta poderia ter sido prevista ou até evitada, sendo apontados vários erros às entidades
de regulação e supervisão, assim como falhas nas políticas governamentais.

Dada a enorme importância do setor bancário e devido a todos os fatores que podem
destabilizar a atuação eficiente do mesmo, nas últimas décadas têm ocorrido, nos diferentes
países, inúmeras reformas regulatórias, bem como têm sido implementados diferentes sistemas
de supervisão bancária, de forma a controlar tais situações, pelo que, como referem Chortareas,
Giardone e Ventouri (2012), “Banking is one of the most regulated industries in the world.”. De
acordo com Acharya (2009), se durante as últimas décadas já haviam sido elaboradas inúmeras
propostas acerca da regulação financeira, particularmente após a crise económico-financeira
mundial decorrida entre 2007 e 2009, muitas mais propostas foram levadas a cabo.

21
4. Setor dos mercados de capitais
Mercados de capitais, locais onde poupanças e investimentos são canalizados, traduzem-
se no lugar em que as diversas entidades podem trocar valores mobiliários. Os mercados de
capitais mais comuns são os mercados de ações e os mercados de títulos. Estes mesmos
mercados viabilizam o processo de capitalização e tornam os títulos mais líquidos.

O mercado de capitais é apontado por autores como Levine (1991) e Bencivenga, Smith
e Starr (1999), como um lugar que torna os ativos financeiros negociados menos arriscados, uma
vez que permitem que os poupadores rapidamente comprem e vendam quando têm intenção de
alterar o seu portefólio. As empresas, por sua vez, recorrendo aos mercados de capitais usufruem
de acesso fácil ao capital, por meio de questões de equidade. Assim sendo, ativos que apresentam
menor risco e acesso facilitado ao mercado de capitais melhoram a alocação de capital, canal
importante para o crescimento económico. Recorrendo aos mercados de capitais podem verificar-
se níveis mais elevados de poupança e de investimento, impulsionando ainda mais o crescimento
económico a longo prazo.

Segundo alguns autores como Greenwood e Jovanovic (1990) os mercados de capitais


incentivam a especialização, assim como a aquisição e difusão de informação, além de que, como
referem Greenwood e Smith (1997) poderão reduzir os custos associados à mobilização de
poupanças, tornando mais fácil o investimento. Por sua vez, Arestis, Demetriades e Luintel (2001)
mencionam que mercados de capitais bem desenvolvidos poderão melhorar o governo de
empresas e sociedades, eliminando o problema de agência3, isto é, conjugando os interesses dos
gestores e dos proprietários.

Os mercados de capitais apresentam como característica importante a elevada liquidez,


permitindo que os detentores de ativos facilmente vendam os mesmos, caso necessitem de

3
Problema de agência- De acordo com Shleifer e Vishny (1997) “a essência do problema de agência é a separação entre gestão e finanças- ou
numa terminologia mais padronizada- de propriedade e controlo. Um empreendedor ou um gestor arrecada fundos de investidores para coloca-los
em uso produtivo ou para extrair as participações numa empresa. Os financiadores precisam do capital humano especializado do gestor para gerar
retornos sobre seus fundos. O gestor precisa dos fundos dos financiadores, pois ele não tem capital próprio para investir ou quer sacar suas ações.
Mas como os financiadores podem ter certeza de que, uma vez que consomem seus recursos, recebem qualquer coisa que não seja um pedaço
de papel inútil do gerente? O problema da agência neste contexto refere-se às dificuldades que os financiadores têm em assegurar que seus fundos
não sejam expropriados ou desperdiçados em projetos não atrativos.

22
recorrer às suas poupanças ou diversificar a carteira de ativos, sem que no entanto a empresa
perca o acesso ao investimento concedido pelos investidores iniciais.

Contudo, o aumento de liquidez normalmente associado aos mercados de capitais pode


também afetar negativamente o crescimento económico, tal como refere Levine (1997). O efeito
negativo sobre o crescimento económico pode ocorrer de três formas distintas, como mencionam
Demirgüç-Kunt e Levine (1996), por um lado a elevada liquidez associada a estes mercados,
concretamente associada aos retornos de investimento, pode levar à redução das taxas de
poupança. Por outro lado, o efeito negativo no crescimento económico prende-se com o efeito
ambíguo da incerteza nas poupanças, isto é, verifica-se uma menor incerteza relativamente aos
mercados de capitais que pode originar uma diminuição na procura por poupanças preventivas.
Por último, a terceira forma atua através da miopia e da euforia que podem ser provocadas pela
elevada liquidez dos mercados de capitais, mais concretamente os mercados de ações.

A elevada liquidez associada aos mercados de capitais permite também que participantes
insatisfeitos do mercado consigam vender rapidamente os ativos detidos, contudo pode gerar
desincentivos para o controlo sobre entidades e gestores, afetando negativamente o governo das
empresas e sociedades e, também o crescimento económico, como referem Arestis, Demetriades
e Luintel (2001). Relativamente à negociação excessiva de ações que ocorre, DeLong et al. (1989)
mencionam que esta pode induzir “barulho” no mercado em prejuízo da alocação de recursos
eficiente. Os mercados de capitais além da elevada liquidez têm outra característica, a volatilidade
de preços que ocorre nos mercados de ações, podendo a mesma enfraquecer a capacidade dos
mercados acionistas detêm para promover a eficiente alocação do investimento.

Segundo Arestis, Demetriades e Luintel (2001) nos mercados de capitais é necessário que
se verifique um determinado grau de volatilidade de preços, reflexo dos efeitos de novos fluxos de
informação, num mercado eficiente, todavia determinadas evidências referem que os níveis de
volatilidade observados nestes mercados são por vezes excessivos. Federer (1993) e DeLong et
al. (1989) referem que a presença de volatilidade em excesso levará a uma ineficiente alocação
dos recursos e a pressões crescentes sobre as taxas de juro, derivado da maior incerteza
verificada, prejudicando desta forma tanto o volume como a produtividade de investimento e,
consequentemente, reduzindo o investimento.

23
A relação entre mercados de capitais e crescimento económico pode ser influenciada pela
relação que ocorre entre os mercados de capitais e os intermediários financeiros, que contudo
não é inequívoca. De acordo com Arestis, Demetriades e Luintel (2001), mercados de capitais e
instituições bancárias são fontes de investimento substitutas, como por exemplo quando uma
empresa emite novas ações para fazer face às necessidades de financiamento, em detrimento do
financiamento disponibilizado pelo setor bancário. De acordo com Stiglitz (1985), partindo do
pressuposto de que as instituições bancárias bem como os intermediários financeiros se
encontram numa posição melhor do que os mercados de capitais para lidar com problemas de
agência, torna-se por isso possível que o desenvolvimento dos mercados de capitais possa servir
de entrave ao crescimento económico se o mesmo acontecer causando perdas no
desenvolvimento do sistema bancário.

Por sua vez, Akyuz (1993) e Singh (1997) mencionam que a ocorrência de choques
económicos gera instabilidade macroeconómica, por meio de interações entre mercados de
capitais e mercados de câmbio, que têm um impacto negativo no crescimento económico. Mas,
a nível agregado, o aumento da capitalização pode ser significado de aumento da quantidade de
negócios bancários, mesmo que não se verifiquem concessões de novos empréstimos. Por sua
vez, os intermediários financeiros podem conceder serviços complementares, como a subscrição,
aos mercados financeiros emissores de novas ações. Desta forma, a nível agregado, pode dizer-
se que o desenvolvimento dos mercados de capitais se verifica simultaneamente ao
desenvolvimento do sistema bancário.

24
5. Crescimento económico
5.1 Crescimento económico: evolução histórica

A escola clássica de pensamento económico, fundada por Adam Smith (1723-1790) e


defendida por alguns percursores desta filosofia como David Ricardo (1722-1823) e Thomas

Malthus (1766-1834), assenta no princípio do laissez-faire4, defendendo que a intervenção do

Estado nos sistemas de mercados é desnecessária uma vez que a “mão-invisível” era detentora
do controlo do sistema produtivo, permitindo o equilíbrio da produção e da distribuição de
rendimento e, defendendo que os instintos naturais levariam a sociedade a tornar-se confortável
e próspera, e que a verdadeira fonte de riqueza é o trabalho. Desta forma, associada a esta escola
de pensamento está a ideia de que a sociedade e as instituições fazem com que o Homem, de
certa forma, deixe de realizar as suas inclinações naturais, prejudicando o seu equilíbrio
espontâneo e natural, pelo que condena a intervenção do Estado e defende a ordem natural.
No final do século XIX, em oposição à escola clássica de pensamento económico surge a
teoria da Economia Política de Karl Marx (1818-1883). Karl Marx analisa os sistemas de produção
capitalista na sua obra “O capital” (1869). Durante a análise verifica a ocorrência de inúmeras
crises de superprodução, afirmando assim que não existe uma tendência natural para a harmonia
e o equilíbrio económico, mas sim uma tendência natural para o desequilíbrio denotada pela
periodicidade de ocorrência de crises. Dado isto contraria as ideias defendidas pela Escola Clássica
de que os mercados se equilibram por si próprios, afirmando ser necessária a atuação do Estado,
tanto na distribuição do rendimento como no crescimento e desenvolvimento económico,
desempenhando por isso um papel preponderante no sistema produtivo e na economia como um
todo.
Durante este mesmo período aparece também a Escola Neoclássica, sendo uma teoria
próxima da Escola Clássica mas onde ocorreram algumas alterações. A Escola Neoclássica,
defendida inicialmente por William Stanley Jevons (1835-1882), Carl Menger (1840-1921) e Leon
Walras (1834-1910), sendo posteriormente defendida por célebres economistas como Alfred

4
Laissez-faire- expressão caracterizadora do liberalismo económico, filosofia económica predominante nos Estados Unidos e nos países Europeus
mais ricos no final do século XIX e início do século XX. De acordo com esta filosofia não deveria ocorrer interferência governamental. Isto é, de
acordo com este pensamento económico, o Estado deve deixar os mercados agirem por si, sem interferir na atuação dos mesmos, cabendo apenas
ao Estado a criação de leis protetoras dos cidadãos e dos direitos de propriedade.

25
Marshall (1832-1924), Irving Fisher (1867-1947) e Vilfredo Pareto (1848-1923). Esta mesma
escola defendia ser praticamente desnecessária a atuação estatal na economia, uma vez que se
os mercados competitivos funcionassem livremente alcançariam a plena afetação de recursos de
uma economia, levando ao estado conhecido como o Ótimo de Pareto 5, uma vez que a
interferência do Estado levaria a uma situação subótima.
A Escola Neoclássica ficou também marcada pelos princípios da utilidade marginal
decrescente e de rendimento marginal decrescente, estando na origem do diagrama da procura e
da oferta de Alfred Marshall, em 1890.
No entanto, com a Grande Depressão em 1929 ocorre o rompimento com a Escola
Neoclássica e em 1936 surge a Teoria geral de Keynes (1883-1946) ou Teoria Keynesiana. A
Teoria Geral de Keynes sustentava a importância do papel do estado na economia enquanto
estimulante das principais variáveis agregadas da economia, eliminando desta forma os problemas
macroeconómicos existentes. Esta teoria aparece como forma de resolver alguns problemas
macroeconómicos, evidenciados particularmente pela Grande Depressão.
Nas diversas economias o desemprego involuntário é uma condição inevitável e
persistente que gera problemas de procura efetiva, pelo que, segundo Keynes, tanto a política
monetária como a política orçamental desempenham um papel preponderante na atividade
económica, mais concretamente na minimização dos efeitos adversos dos ciclos económicos e na
prossecução dos principais objetivos macroeconómicos. Isto porque altos níveis de desemprego
geram o arrefecimento da procura agregada, sendo que aqui deve ocorrer a intervenção do Estado,
aumentando as despesas e reduzindo os impostos, tendo em vista a retoma do crescimento, sendo
por isso o estado fundamental na recuperação da procura agregada.
Richard Musgrave (1910-2007) foi um defensor da Teoria Keynesiana, olhando o
orçamento público do ponto de vista macroeconómico, referindo que o comportamento
governamental tem várias funções, nomeadamente no crescimento económico, na distribuição de
riqueza, no emprego e produção, e na eficiente alocação dos recursos.
No entanto, surge ainda um novo modelo económico, o modelo Neoclássico do
Crescimento, iniciado por Robert Solow, no qual o papel do Estado na economia volta a ser
novamente discutido, mais concretamente no que diz respeito à má gestão governamental, em

5
Ótimo de Pareto- ocorre quando existe uma situação em que ao sair dela para que um ganhe existe pelo menos um que tem, necessariamente,
de perder, ou seja o Ótimo de Pareto é atingido quando não é possível melhorar mais a situação de um agente, é o seu ponto ótimo, sem no
entanto degradar a situação de qualquer outro.

26
que a economia apresenta desequilíbrios de mercado, défices crescentes, ocorrência de corrupção
e alocação ineficiente dos recursos, pelo que Friedrich Hayek (1899-1992), um dos maiores
percursores deste modelo afirmava que as falhas governamentais superam as falhas de mercado.
O modelo Neoclássico do crescimento assenta nas ideias de liberdade de mercado e de reduzida
intervenção do Estado na economia, uma vez que esta intervenção causaria imperfeições no
sistema.

5.2 Crescimento económico: conceito

O crescimento económico é usualmente utilizado para descrever a evolução de um país,


representando um indicador quantitativo que demonstra a riqueza gerada por uma dada
economia. O crescimento representa o aumento da riqueza, gerada esta pela produção de bens e
serviços, sem no entanto existir preocupação quanto à distribuição da mesma pela população. No
entanto, como referem Jones e Vollrath (2013), “Durante o longo curso da história, o processo de
crescimento económico foi esporádico e inconsistente”.

De acordo com Durlauf e Quah (1999), os modelos de crescimento económico analisam


o comportamento de uma economia nacional de forma individual. Economistas interessam-se pelo
crescimento económico enquanto caminho para compreender o comportamento do rendimento
per capita ou per worker output.

Por sua vez, Hall and Jones (1999) e Acemoglu et al. (2001) referem que as instituições
são fatores muito importantes no que diz respeito à riqueza e ao crescimento económico de longo
prazo, pelo que países com um passado marcado por instituições políticas e económicas de
elevada qualidade tendem a ser mais ricos nos dias de hoje.

27
6. Crescimento económico e sistema financeiro
Quando falamos em crescimento económico e desenvolvimento financeiro devemos referir
que estes são conceitos distintos que são, por vezes, confundidos. De acordo com Rao (1984),
desenvolvimento económico é um conceito amplo, um termo inclusivo, que não se expressa
unicamente através de taxas como o PIB ou a taxa de crescimento do PIB per capita, este conceito
junta também outros fatores económicos tais como formação de capital, crescimento da
produtividade, progresso técnico e distribuição do rendimento, englobando ainda mudanças na
educação, saúde, relações interpessoais e na composição etária da população. Todos estes fatores
estão associados à transformação de uma sociedade para uma melhor situação social.

Por outro lado, crescimento económico é um conceito menos abrangente, que se relaciona
apenas com alterações nos valores de variáveis económicas, partindo do pressuposto de que
fatores sociais e políticos se encontram numa situação estável. No entanto, Rao (1984) considera
que os dois conceitos apresentam uma relação, referindo que o desenvolvimento económico é um
processo deliberado que tem por pressuposto a criação de relações estruturais necessárias ao
tipo de crescimento económico desejado. Ou seja, apesar de distintos, crescimento e
desenvolvimento económico encontram-se relacionados, sendo que o desenvolvimento económico
é considerado como um aspeto essencial para o crescimento económico. Por sua vez, também se
crê que, o crescimento económico induza a uma expansão do sistema financeiro.

No que toca à relação causal entre sistema financeiro e crescimento económico Caldéron
e Liu (2003) afirmam que a mesma é fundamental uma vez que apresenta implicações
significativas no que toca ao desenvolvimento de políticas, no entanto a relação causal entre estes
dois elementos é ainda pouco clara. Patrick (1966) apresenta duas hipóteses possíveis de relação
de causalidade entre o sistema financeiro e o crescimento económico, a supply-leading e a
demand-leading.

A hipótese supply-leading refere uma relação causal em que o desenvolvimento do sistema


financeiro origina o crescimento económico, isto é, significa que a criação de instituições
financeiras e mercados faz com que, consequentemente a oferta de serviços financeiros aumente
também, originando crescimento económico. A hipótese em questão tem como defensores
Mckinnon (1973); King e Levine (1993), Neusser e Kugler (1998) e Levine, Loyaza e Beck (2000).

28
Por sua vez, a hipótese demand-leading refere a relação causal entre crescimento
económico e desenvolvimento do sistema financeiro, sendo que nesta situação, a procura
crescente por serviços financeiros poderá originar a expansão do setor financeiro à medida que
cresce a economia real, isto é, o sistema financeiro responde aos estímulos do crescimento
económico. Esta hipótese tem como apoiantes Gurley e Show (1967), Goldsmith (1959) e Jung
(1986).

A importância que o sistema financeiro detém sobre o crescimento económico ocorre por
vários motivos e, tanto através do sistema bancário como através dos mercados de capitais.

O sistema bancário influencia, de variadas maneiras, o crescimento económico,


nomeadamente, como refere Schumpeter (1934), este apresenta um papel determinante para o
crescimento económico de longo prazo, dado que afeta de forma eficiente o capital, isto é as
poupanças, aos diversos projetos de investimento, que a longo prazo se traduzem na aquisição de
valor para a economia. Também os serviços disponibilizados pelas instituições bancárias têm
especial importância, isto porque, sendo os bancos capazes de identificar os investimentos mais
produtivos, através da recolha de informação, avaliação de projetos, partilha de risco e promoção
da liquidez, fazem posteriormente a afetação de poupanças para as diversas oportunidades de
investimento, criando inovação e consequente crescimento económico, devido ao aumento da
produtividade do capital, resultante da melhor afetação de recursos, como menciona Levine
(2002).

Além disto, Levine (2002) refere ainda que os intermediários financeiros, recorrendo a
economias de escala6, conseguem diminuir os custos associados à obtenção de informação,
essencialmente informação relacionada com o sistema produtivo, conseguindo levar a cabo algum
governo sobre as empresas e sociedades. O desempenho de tal papel adquire especial
importância em estados iniciais de desenvolvimento económico, bem como em ambientes
institucionais fracos.

Contudo os sistemas bancários apresentam também uma limitação ao crescimento


económico quando, em alguns países, os empréstimos bancários são limitados a determinado
grupo de investidores individuais e empresas, isto porque o sistema bancário tende a conceder

6
Economias de escala- são vantagens de custo obtidas pelas empresas quando a produção se torna eficiente, nomeadamente caso a produção
aumente reduzindo os custos associados. As economias de escala podem ser internas ou externas, isto é, derivando de decisões de gestão ou de
fatores externos, respetivamente.

29
empréstimos especificamente a agentes que sejam capazes de liquidar todo o empréstimo no final
do período de concessão. Contrariamente aos mercados de capitais que permitem o financiamento
de projetos inovadores, que podem ser arriscados, como defendem Caporale, Howells e Soliman
(2004).

No que concerne ao contributo dos mercados de capitais sobre o crescimento económico,


este verifica-se de diversas formas. Primeiramente, caso não existissem mercados financeiros, os
investidores que enfrentassem choques de liquidez seriam obrigados a abandonar os seus
investimentos de longo prazo, pelo que, consequentemente, em períodos marcados pela ausência
de liquidez no mercado, o investimento diminuiria e ocorreria um abrandamento ou regressão no
que respeita ao crescimento económico (Nieuwerburgh et al., 2007). Da mesma forma, o
desenvolvimento dos mercados de capitais, concretamente através da mobilização e alocação de
poupanças em investimentos de longo prazo, da existência de liquidez e da possibilidade de
diversificação e gestão do risco, serve de estímulo ao crescimento económico, permitindo também
assegurar um governo de empresas e sociedades de qualidade, bem como melhorar a aquisição
e difusão de informação (Carp, 2012; Ross e Levine, 2005; Arestis e Demetriades, 2001). A
possibilidade de criar carteiras de ativos diversificadas, contendo projetos que apresentam
retornos esperados elevados, é outra das formas dos mercados de capitais contribuírem para o
crescimento económico.

Importa ainda referir que a mobilização de poupanças efetuada através dos mercados de
capitais tem também influência sobre o crescimento económico, uma vez que se se verificar uma
eficiente afetação destes recursos, permitirá que novas tecnologias sejam introduzidas. Além de
que, a mobilização de poupanças permite ainda que a taxa de poupança aumente, colocando à
disposição dos indivíduos um instrumento financeiro complementar que vai ao encontro das
necessidades individuais de liquidez e da posição que detém perante o risco (Levine e Zervos,
1998). Por último, outro contributo dos mercados de capitais sobre o crescimento económico está
relacionado com a redução do custo associado à aquisição de informação, tendo tal aspeto uma
maior dimensão caso o mercado atue de forma eficiente, isto é, caso os preços das ações sejam
reflexo da informação disponibilizada, tornado assim mais fácil o acesso dos investidores à
informação necessária para analisarem as várias oportunidades de investimento e, por
conseguinte, efetuarem uma melhor afetação dos fundos disponíveis sobre as diversas empresas.

30
Goldsmith (1959) afirmou que períodos que apresentavam taxas de crescimento
económico superiores ao nível médio são usualmente acompanhados por um célere
desenvolvimento financeiro. De acordo com Levine e Zervos (1998), um estudo empírico dos
autores revelou a existência de uma relação positiva e forte entre o desenvolvimento financeiro e
o crescimento económico, revelando ainda que fatores financeiros também fazem parte do
processo de crescimento económico.

Segundo Abu-Bader e Abu-Qarn (2008), o desenvolvimento do sistema financeiro


consagra-se através de um processo de melhoria tanto na qualidade quanto na eficiência dos
serviços disponibilizados pelos intermediários financeiros, englobando a existência de diversas
instituições e atividades. Um estudo empírico levado a cabo por Brownbridge e Kirkpatrick (2000)
revelou que os sistemas financeiros são importantes tanto para o crescimento como para o
desenvolvimento da economia.

O desenvolvimento do sistema financeiro pode ser considerado como um indicador de


previsão do crescimento económico, considerando que os mercados de capitais revelam o valor
presente de oportunidades futuras de crescimento, como referem Zingales e Rajan (1996).

31
7. Fatores que influenciam o crescimento económico
7.1 Indicador do desenvolvimento do sistema bancário

O indicador do desenvolvimento do sistema bancário escolhido foi crédito ao setor privado


em função do PIB.

A concessão de crédito pode ser distinguida de duas maneiras. Por um lado a distinção
faz-se de acordo com e entidade emissora do crédito, podendo tratar-se dos bancos ou de bancos
centrais. Enquanto, por outro lado, a distinção ocorre de acordo com o recetor do crédito, podendo
este ser concedido ao setor privado ou ao setor público, mais concretamente aos governos. (Levine
e Zervos, 1998)

De forma particular, no que ao crédito ao setor privado em função do PIB diz respeito,
Calderón e Liu (2003) referem que a parcela do PIB destinada ao crédito bancário se encontra
diretamente relacionada com duas variáveis, nomeadamente, o investimento e o crescimento
económico. Dado isto, um valor elevado do rácio entre o crédito e o PIB é associado a mais serviços
financeiros, ou seja, é indicador de desenvolvimento no que toca a intermediários financeiros. De
acordo com Levine, Loyaza e Beck (2000) o crédito concedido ao setor privado em função do PIB
é mais do que uma medida relativa ao tamanho do setor financeiro, o crédito ao setor privado
isola este tipo de crédito, em oposição ao crédito concedido aos governos, agências
governamentais e empresa públicas, excluindo ainda créditos concedidos pelos bancos centrais.

Os investimentos levados a cabo pelo setor privado bem como o seu desenvolvimento
podem ter efeitos socias, nomeadamente no que toca à redução da pobreza. E, visto que os
investimentos deste setor são efetuados em mercados competitivos, quando associados aos
investimentos e esforços públicos, em áreas como a regulamentação, a prestação de serviços ou
o financiamento de algumas atividades, são suscetíveis de ter um impacto muito notório no
crescimento económico, uma vez que o setor privado é altamente produtivo, gerando emprego e
elevados rendimentos.

Levine e Zervos (1998) afirmam que o crédito bancário se encontra altamente


correlacionado com indicadores de crescimento económico. Enquanto Calderón e Liu (2003),
mencionam que o rácio entre crédito ao setor bancário e o PIB é uma medida de desenvolvimento

32
financeiro mais adequado do que muitas outras recorrentemente utilizadas na literatura. No
entanto, um rápido crescimento económico pode necessitar de maior nível de crédito.

7.2 Indicador de desenvolvimento do mercado de capitais

O indicador de desenvolvimento de mercado de capitais escolhido foram as ações


transacionadas.

Levine e Zervos (1998) recorrem às ações transacionadas em relação ao tamanho da


economia, ou seja em relação ao crescimento económico, sendo esta uma medida que demonstra
a liquidez dos mercados de capitais, considerando a liquidez característica dos mercados de
capitais como um indicador robusto do crescimento real do PIB per capita. Os mesmos autores
concluem que tanto a liquidez do mercado de capitais como o desenvolvimento do sistema
bancário são bons indicadores de crescimento económico. Por sua vez, Levine e Renelt (1992)
referem que a liquidez característica dos mercados de capitais e o desenvolvimento bancário se
encontram positiva e significativamente correlacionados com as atuais e futuras taxas de
económico, mesmo após o estudo de muitos outros fatores associados ao mesmo.

De acordo com Levine e Zervos (1998), estes referem ainda que o valor das ações
transacionadas quando relacionado com a dimensão da economia se encontra positiva e
significativamente correlacionado com as taxas de crescimento económico, tanto atuais como
futuras. Os autores, através do seu estudo empírico concluem que a liquidez do mercado de ações
bem como o desenvolvimento do mercado de capitais se encontram fortemente e positivamente
correlacionados com as taxas atuais e futuras de crescimento económico.

Levine (1991) e Bencivenga et al. (1995) por sua vez mencionam que o valor das ações
transacionadas, apesar de não medir diretamente os custos de negociação ou o nível de incerteza
associado à negociação numa bolsa de valores em específico, os modelos de liquidez do mercado
de ações bem como o crescimento económico afetam diretamente o valor transacionado.

33
7.3 Inflação

A inflação, considerada como a subida contínua e generalizada do nível dos preços, é uma
medida quantitativa do nível médio a que sobem os preços de um cabaz selecionado de bens e
serviços, numa economia, ao longo de um determinado período de tempo, sendo que esta medida
quantitativa é expressa em percentagem. Desta forma, Laidler e Parkin’s (1975) referem que a
inflação é considerada como o processo do aumento contínuo dos preços ou como o decréscimo
contínuo do valor do dinheiro, enfatizando também a persistência ou continuidade de mudança
nos preços como característica que define a inflação.

Da mesma forma, Friedman (1963) menciona que a inflação representa o aumento


constante e contínuo do nível geral dos preços. No entanto, o mesmo autor dá ênfase à distinção
entre duas formas de inflação, a estável e a intermitente, sendo que a inflação estável é aquela
que é mais o menos constante e, a inflação intermitente, aquela que reduz e aumenta de forma
repentina. Friedman (1963) realça a importância da distinção entre as duas formas de inflação
uma vez que a inflação estável ou constante é mais facilmente expectável, enquanto a inflação
intermitente ou transitória não é tão facilmente prevista ou antecipada.

De acordo com McNabb e McKenna (1990), a mesma distinção feita anteriormente é


agora referida como inflação antecipada e inflação não antecipada. No que concerne à inflação
antecipada, se a mesma fosse totalmente antecipada seria espectável que aspetos como valores
nominais, salários, taxas de juro e pensões, seriam totalmente ajustados para que em termos reais
não ocorressem alterações. No entanto na realidade tal não se verifica uma vez que mesmo uma
inflação totalmente antecipada acarreta custos para a economia. Tal situação ocorre porque
quando se verificam subidas da taxa de inflação ocorre também perda do poder de compra, ou
seja, uma perda no valor da moeda, tendendo assim os detentores de riqueza a reduzir os
montantes de saldo disponíveis, podendo isto ocorrer a qualquer momento, esta mesma redução
origina efeitos reais de alocação de recursos na economia.

De outra forma, quando se verifica inflação não antecipada não ocorre um ajustamento
total às mudanças ocorridas nos níveis dos preços, trazendo isto um conjunto de consequências
para a distribuição de riqueza e gerando incerteza na sociedade, podendo tornar as empresas
relutantes no que diz respeito aos investimentos e os credores a fixar elevadas taxas de juro.

34
Ao nível da inflação verificam-se ainda casos excecionais em que ocorre hiperinflação, isto
é, quando a inflação é considerada como fora de controlo, podendo ser associada a situações de
recessão, de acentuada desvalorização da moeda, devido a problemas nas contas públicas e
impressão de moeda de forma descontrolada, e também de subida elevada dos preços dos
produtos. Alguns dos casos mais marcantes deste fenómeno são a hiperinflação alemã no período
posterior à I Guerra Mundial, e a hiperinflação húngara, no período após a II Guerra Mundial.

Além das subidas da taxa de inflação é ainda importante referir que reduções na taxa de
inflação impõem também custos para a economia, tais como baixa produtividade e elevados níveis
de desemprego, que podem até ser superiores aos verificados aquando das subidas da inflação.
Quando ocorre uma redução da taxa de inflação estamos perante o efeito de deflação, sendo este
o oposto da inflação, em que ocorre uma redução contínua e prolongada do nível dos preços,
ocorrendo um aumento do valor real do dinheiro, no entanto este fenómeno acarreta efeitos
nefastos uma vez que ocorre, normalmente, em períodos de recessão.

Segundo Barro (1995), nos últimos anos, muitos bancos centrais aumentaram as
preocupações associadas à estabilidade de preços, pelo que a política monetária, expressa tanto
através de taxas de juro como também através de agregados monetários, tem sido cada vez mais
orientada para a obtenção de taxas de inflação mais reduzidas e ao mesmo tempo estáveis. Desta
forma, os bancos centrais vêm a estabilidade de preços como um objetivo central uma vez que
consideram que subidas da taxa de inflação acarretam elevados custos, tanto gerados pela própria
taxa de inflação como pela imprevisibilidade e incerteza associadas à mesma. Estes últimos
fatores, a imprevisibilidade e incerteza, estão também associados a uma fraca performance de
famílias e empresas. Tal facto é realçado por Roger (1998), que refere que nas últimas décadas
os bancos centrais têm feito da procura por baixas taxas de inflação o seu objetivo primário.

No caso particular das instituições bancárias, segundo Staikouras e Wood (2004) a


inflação é capaz de originar efeitos diretos e indiretos na rentabilidade dos bancos. Efeitos diretos
no que concerne ao aumento do preço do trabalho e indiretos no que respeita à alteração de taxas
de juro, assim como dos preços dos ativos. Pelo que os efeitos da inflação na performance
bancária dependem das expectativas associadas à inflação serem ou não antecipadas. Sendo as
expectativas antecipadas, as taxas de juro são ajustadas de forma que as receitas cresçam mais
rapidamente do que os custos, tendo esta situação um impacto positivo na rentabilidade. No
entanto, se as expectativas relativamente à inflação não forem antecipadas, os bancos tornam-se

35
mais morosos a ajustar as taxas de juro, originando que os custos cresçam mais aceleradamente
do que as receitas, tendo tal situação tem um impacto negativo na rentabilidade.

Enquanto fator explicativo, a inflação é, em grande parte das vezes medida a preços do
consumidor.

7.4 Despesa governamental em função do PIB

A despesa governamental foca-se no fornecimento de bens e serviços importantes para o


bem-estar dos cidadãos e das respetivas sociedades e, cujo fornecimento dos quais não representa
interesse para empresas privadas, uma vez que são atividades demasiado dispendiosas ou que
não representam uma oportunidade de obtenção de elevados lucros. Tais despesas
governamentais englobam, normalmente, áreas como a defesa nacional, a saúde, a educação,
assistência social e infraestruturas de interesse geral, englobam também despesas correntes e de
capital. No decorrer do século XX, o peso de Estado na economia adquiriu uma grande dimensão
na generalidade dos países, pelo que surgiram muitos trabalhos empíricos que analisam as
consequências que o aumento da dimensão do Estado na economia tem sobre o crescimento
económico.

Rodrik (1998) faz referência a uma tendência nas exigências dos cidadãos no que
concerne a medidas promotoras do bem-estar social devido à maior ou total abertura dos
mercados que ocorreu nas últimas décadas, uma vez que tais medidas reduzem a exposição dos
países a riscos e fatores externos, no entanto levou a um aumento da despesa destinada a este
tipo de medidas.

Despesas governamentais são consideradas como pagamentos em dinheiro para


atividades operacionais do governo no fornecimento de bens e serviços, englobando pagamentos
de remunerações de funcionários, como salários e vencimentos, juros, subsídios, transferências,
benefícios socias, entre outas despesas como o pagamento de alugueres.

A estrutura de despesas do Estado é também importante, podendo afetar as taxas de


crescimento económico, uma vez que algumas funções e atividades são fortemente
impulsionadoras do crescimento enquanto outras não o são de igual forma. Isto é, diferentes tipos
de despesas podem afetar o crescimento económico de diferentes formas.

36
A despesa governamental dos governos é ainda distinguida por alguns autores em despesa
produtiva e não produtiva. Devarajan, Swaroop e Zou (1996) e Kneller, Bleaney e Gemmell (1999)
referem que as despesas produtivas aumentam a produtividade do setor privado, de tal forma que
aumentam o crescimento económico, por outro lado, as despesas não produtivas são as que se
encontram relacionadas com o aumento do bem-estar dos cidadãos, porém apenas afetam o
crescimento económico quando financiadas por impostos distorcionários7. Por sua vez, Barro
(1990) refere que as despesas produtivas são aquelas que surtem efeitos no crescimento
económico de longo prazo, em contrapartida às despesas não produtivas, que não apresentam
efeitos no crescimento económico de longo prazo. No entanto, despesas produtivas podem tornar-
se improdutivas caso ocorram em quantidades consideradas exageradas.

De acordo com Tanzi e Schuknecht (2000) a globalização é também uma fator importante,
isto porque fomenta a competitividade, o que consequentemente gera um aumento da parte
orçamental dedicada às despesas produtivas, o que originará uma redução nos recursos
financeiros destinados às despesas não produtivas.

Relativamente ao impacto da despesa governamental no crescimento económico de um


país vários foram os estudos realizados, nomeadamente Grier e Tullock (1989) revelam que existe
uma relação significativamente negativa entre o crescimento do PIB real e a parcela de consumo
do governo face ao PIB. Mas, apesar disso, Barro (1990) refere que a composição da despesa
governamental é um fator de elevada importância no crescimento económico de longo prazo,
sendo que o efeito negativo da mesma sobre o crescimento económico só pode ser encontrado
quando a despesa governamental, o peso do Estado na economia, excede um certo nível. Assim
sendo, Barro (1991) concluiu que o aumento dos recursos destinados ao consumo não produtivo
esta associado a uma redução no crescimento per capita, defende ainda que os gastos de capital
são estimulantes para o crescimento, enquanto que as despesas correntes amenizam o mesmo.

De acordo com Devarajan, Swaroop e Zou (1996), as despesas governamentais de


consumo, apesar de aumentarem a utilidade das famílias, reduzem o crescimento económico isto
porque é necessário um maior nível de impostos para fazer face a tais despesas, reduzindo assim
os resultados obtidos, bem como os incentivos associados aos investimentos. Seguindo a mesma

7
Impostos distorcionários- “Em geral os impostos assumem um caráter distorcionário no medida em que a massa coletável não é fixada,
independentemente das atividades económicas dos contribuintes”.

37
linha de pensamento, Barro (1990) refere que um aumento das despesas públicas tem um efeito
nulo no crescimento económico no caso de não afetar a produtividade do setor privado.

7.5 Educação

A educação aumenta a capacidade de receber, descodificar e entender informações,


sendo que o processamento e interpretação das mesmas são fatores importantes no que toca à
aprendizagem de realização de certas tarefas, assim como à realização efetiva das mesmas.
(Nelson e Phelps, 1966). No entanto, os mesmos autores fazem referência a dois tipos de funções,
as que são altamente rotinizadas, funções cujas discriminações e tarefas a realizar permanecem
relativamente constantes ao longo do tempo, e as que são inovadoras, funções que exigem o
acompanhamento das inovações tecnológicas. Apesar de tudo isto, e da educação ser
especialmente importante para funções que requerem constantes adaptações à mudança, onde é
necessário acompanhar e compreender os novos desenvolvimentos tecnológicos, até mesmo um
trabalho com funções altamente rotinizadas pode exigir uma educação considerável, para dominar
as discriminações e corresponder às exigências de habilitações.

A educação é considerada como condição necessária para que as pessoas possam


beneficiar com o avanço tecnológico, aprendendo a lidar com ele, sendo também importante para
que as mesmas possam contribuir para que esse avanço tecnológico ocorra. Isto porque, como
referem Asteriou e Agiomirgianakis (2001), atualmente, com a crescente globalização e os
constantes avanços tecnológicos mundiais, a falta de capacidades ou de capital humano podem
consistir num entrave ao crescimento económico de uma economia moderna.

Mankiw et al. (1992), referem a educação como um fator impulsionador do capital


humano, que faz aumentar a força laboral e, consequentemente, a produtividade laboral, logo,
ocorre também, um crescimento de transição em direção a um nível de produção mais elevado e
equilibrado. Por outro lado, Lucas (1998) e Romer (1990) mencionam que a educação pode
aumentar a capacidade da economia, o conhecimento sobre as novas tecnologias, produtos e
processos promotores do crescimento. Por último, Nelson e Phelps (1966) e Benhabib e Spiegel
(1994) referem que a educação pode facilitar a difusão e transmissão do conhecimento necessário

38
para entender e processar novas informações e para implementar com sucesso novas tecnologias
que promovem o crescimento.

Geralmente é aceite que a principal fonte institucional para o desenvolvimento das


capacidades humanas e para a aquisição de conhecimento é a educação formal. Segundo Veiga
(2013), a acumulação de conhecimento foi um aspeto fundamental para que os países ocidentais
se transformassem em economias modernas, realçando porém que tal apenas é possível com a
existência simultânea de instituições económicas, políticas e sociais que estimulam a acumulação
de conhecimento e a sua incorporação no desenvolvimento de novas tecnologias.

De acordo com Asteriou e Agiomirgianakis (2001) o investimento em capital humano é


normalmente representado por variáveis ligadas à educação sendo que, afirmam também que a
educação é reconhecida como um dos motores mais importantes do crescimento económico,
referindo que o PIB se encontra correlacionado positivamente e no longo prazo com as variáveis
educacionais.

Cooray (2009) refere que os benefícios económicos da educação, enquanto


impulsionadores das taxas de crescimento, parecem ser bastante alargados, sendo que uma
sociedade com níveis de educação mais elevados revela taxas mais elevadas de crescimento
económico e, consequentemente, traduz-se também numa maior capacidade por parte dos
governos para mitigarem a pobreza da sociedade, verificando assim uma relação positiva e
altamente significativa para o crescimento económico. Também Baladaci et al. (2008) verificaram
a existência de uma relação positiva entre despesas com educação e crescimento económico.

De outra forma, Devarajan, Swaroop e Zou (1996) na realização do seu estudo


encontraram uma relação negativa e insignificante entre despesa pública com educação e
crescimento económico.

Importa também realçar que existem vários estudos que fazem distinção entre a
quantidade e a qualidade da escolaridade, no entanto, no presente estudo iremos utilizar a vertente
quantitativa da educação.

39
7.6 Índice de liberdades civis

A opinião e responsabilidade, representando um índice de liberdades civis, são reflexo das


perceções de até que ponto os cidadãos de um país podem participar na escolha do seu governo,
analisando também a existência de liberdade de expressão, de associação e existência de
liberdade para os media. A opinião e responsabilidade prendem-se em certa medida com a
existência de uma democracia, uma vez que, apenas neste contexto fatores como a liberdade de
expressão ou dos media são permitidas.

Relativamente à democracia Rao (1984) refere que não existe uma definição única e
universalmente aceite, no entanto define a mesma como o processo pelo qual os cidadãos comuns
de um país exercem um certo grau de controlo, grau este relativamente alto, sobre os líderes desse
mesmo país. Democracia pode ainda significar liberdades básicas como a liberdade de expressão,
de crenças religiosas e de filosofias políticas. No entanto, estas mesmas liberdades apresentam
certas limitações que são definidas de acordo com os requerimentos de segurança nacional e de
crescimento económico, isto é, para que a existência das liberdades básicas não interfira com a
prossecução do interesse geral da sociedade, isto porque sem tais limitações nenhuma
democracia, nem mesmo as altamente evoluídas, sobreviveria enquanto nação, mesmo em
tempos normais, se se concedessem tais direitos e liberdades em termos absolutos.

Pelo que, o mesmo autor refere que desta forma a democracia apenas pode existir em
termos diluídos, isto é, os direitos e liberdades devem ser atribuídos aos cidadãos mas de forma
controlada, permitindo manter o bom funcionamento da sociedade. No entanto o grau em que a
democracia se encontra é determinado por circunstâncias específicas de cada sociedade de forma
individual, nomeadamente se a sociedade em causa for ou não democrática. No que concerne
aos casos de se verificarem regimes ditatoriais e não-democráticos significa que ocorre uma
redução dos direitos democráticos de forma bastante significativa. Pelo que o Rao (1984) afirma
que existe uma linha ténue entre os direitos e liberdades existentes numa sociedade, separando
assim um regime democrático de um regime ditatorial.

De acordo com a Freedmon House, as liberdades civis são consideradas como o direito à
liberdade de expressão, organização ou manifestação, assim como direitos representativos de um
certo grau de autonomia, obtidos pela liberdade de religião, de educação, de viajar, entre outros.

40
No que se refere à relação entre democracia e crescimento económico, Barro (2000)
defende que a ideia de que a democracia, no que respeita aos direitos eleitorais, é condição
necessária para que ocorra crescimento económico é falsa, referindo que esta ideia é tão falsa
quanto a ideia de que um regime ditatorial é necessário para erradicar a pobreza de um país. No
entanto, refere também que além de não ser condição necessária para o crescimento económico,
o seu impacto neste é reduzido. Barro (1996) refere também que quanto mais democrático é um
país maior desenvolvimento económico tende a ter.

Por outro lado, de acordo com Gerring et al. (2005), a visão predominante no que respeita
ou efeito da democracia sobre o crescimento económico é de que a democracia afeta
negativamente o crescimento económico ou não apresenta qualquer efeito.

Segundo Weiner, Huntington e Almond (1987) na época em que se vivia, não era possível
alcançar um rápido crescimento económico mantendo um quadro democrático, pelo que o autor
refere que à época, os países em desenvolvimento enfrentam o dilema entre o crescimento
económico e o desenvolvimento democrático, considerando não ser possível alcançar os dois em
simultâneo.

7.7 Índice de burocracia

O índice de burocracia escolhido no presente trabalho foi um índice que mede a qualidade
da regulação, presente no estudo empírico de Kaufmann, Kraay e Mastruzzi (2009).

Parker (1999) defende que um sistema de regulação eficaz deve conjugar alguns fatores,
nomeadamente, responsabilidade, transparência e consistência, sendo que a responsabilidade se
prende com o facto de que as entidades reguladoras devem ser responsabilizadas pelos resultados
tanto das suas decisões quanto das suas ações, devendo levar a cabo ações que se encontrem
dentro dos seus poderes legais. Por outro lado, a transparência refere-se ao facto de que decisões
regulatórias devem ser comunicadas a todas as partes interessadas. E, por último, a consistência,
fator de elevada importância uma vez que decisões regulatórias inconsistentes colocam em causa
a confiança pública sobre o sistema regulador, levando também a uma certa incerteza por parte
dos investidores. E, uma vez que, a intervenção política tende a interferir com a atividade
reguladora visando o alcance de interesses pessoais em detrimento do interesse geral, a

41
consistência ganha especial importância, revelando ser um fator primordial no que toca à
regulação.

Levy e Spiller (1994) referem que existem diversas formas de regulação compatíveis com
boas performances, no entanto realçam que para que tal seja possível é necessário que as políticas
de regulação sejam estáveis, coerentes e consistentes.

De acordo com Jalilian, Kirkpatrick e Parker (2007), a capacidade do Estado em promover


a existência de instituições reguladoras robustas pode ser um importante fator para o alcance de
um bom desempenho dos mercados, sendo que um país cuja economia é capaz de elaborar e
implementar uma forma de regulação eficaz, consegue melhorar os níveis de crescimento
económico, enquanto, pelo contrário, um país que apresenta deficiências na capacidade
institucional de elaborar e implementar formas de regulação eficazes, tem um pior desempenho
no que toca ao crescimento económico. Pelo que, a qualidade associada à governação regulatória
afetará os resultados regulatórios que por sua vez poderão afetar o crescimento económico.

A variável qualidade da regulação reflete as perceções da capacidade do governo em


formular e implementar políticas e regulamentações sólidas e capazes de permitir e promover o
desenvolvimento do setor privado.

7.8 Índice de direitos políticos

O índice de direitos políticos escolhido no presente trabalho foi o índice que mede a
estabilidade política presente no estudo empírico de Kaufmann, Kraay e Mastruzzi (2009).

De acordo com Alesina et al. (1996), a ausência de estabilidade política ou a instabilidade


política afeta o crescimento económico, isto porque aumenta a incerteza política que por sua vez
apresenta efeitos negativos nas decisões que se prendem com a produtividade económica, como
o investimento e a poupança. A incerteza política prende-se com a alta probabilidade de ocorrer
uma alteração governamental, fator gerador de incerteza quanto a políticas futuras, sendo que
nestes casos, agentes económicos adversos ao risco podem esperar até que tal situação de
incerteza se altere, para realizar os seus investimentos e as suas decisões financeiras, estagnando
a economia, ou realizando os seus investimentos em países exteriores. Este efeito adverso da

42
instabilidade política sobre a economia não pode ser eliminado, contudo pode ser atenuado através
da existência de instituições eficazes.

Por outro lado, um baixo crescimento económico aumenta a instabilidade política, uma
vez que em economias insdustriais as hipóteses de reeleição dos governos se prende em certa
parte com a taxa de crescimento económico que antecede as eleições, enquanto em países não
democráticos, baixas taxas de crescimento económico levam à insatisfação social, ao
aparecimento de momentos e atividades antigovernamentais, podendo até motivar a ocorrência
de golpes de estado.

No que concerne às taxas de crescimento económico, mesmo que estas sejam reduzidas
por motivos exógenos, a responsabilidade pelas mesmas vais ser atribuída ao governo,
aumentando a possibilidade de queda do mesmo. Se da mesma forma, a estabilidade política for
colocada em causa por fatores exógenos pode gerar o aumento do conflito político, mesmo quando
gerada por fatores não relacionados com a economia ou resultado de acontecimentos políticos
internacionais. Sendo que nestas ocasiões, cai o investimento, assim como o crescimento
económico, gerando uma maior tensão e aumentando possibilidade de colapso governamental.

Alesina et al. (1996) referem que o efeito da estabilidade ou da falta dela é mais sentida
em países cujos grupos políticos são polarizados8, em que a previsão de uma possível alteração
governamental pode não afetar muitas expectativas acerca de políticas económicas futuras no
caso daquele que é indicado como o governo futuro seguir políticas semelhantes ao atual, no
entanto, em países com sociedades altamente polarizadas alterações nos partidos governamentais
podem gerar alterações extremas e radicais nas decisões políticas. Mas, no caso do governo em
funções ser corrupto ou incompetente pode ocorrer o efeito contrário, sendo esperado que uma
alteração governamental acarrete uma melhoria nas decisões políticas e na gestão do país.

No caso de ocorrerem mudanças de governo inconstitucionais, como golpes de estado,


ou mudanças que alterem significativamente a ideologia governamental, geram maior instabilidade
política e, consequentemente, uma redução no crescimento económico, sendo que tais efeitos
não se verificam de forma tão acentuada em países com alterações de governo constitucionais e

8
Polarização- considerada como as diferenças nas preferências económicas entre diferentes grupos e partidos políticos, de acordo com Alesina et
al. (1996) Consiste numa divergência de atitudes políticas entre grupos com ideologias opostas extremas.

43
frequentes. Assim sendo, Alesina et al. (1996) afirmam que um baixo crescimento económico se
encontra interligado com o aumento da probabilidade de rotatividade governamental.

De acordo com Aisen e Veiga (2013) “a instabilidade política é vista por muitos
economistas como prejudicial para a performance económica”. Assim sendo, Aisen e Veiga (2013)
referem que a instabilidade política é suscetível de encurtar os horizontes dos decisores políticos,
levando a que optem por políticas macroeconómicas de curto prazo e sob otimizadas, pode ainda
originar maior volatilidade, ocorrendo uma maior e mais frequente alteração de políticas, afetando
negativamente o desempenho macroeconómico da economia. De acordo com os mesmos autores
a extensão, entre países, em que a instabilidade financeira é difundida é muito alargada, e no que
diz respeito ao tempo, alastra-se muito rapidamente. Aisen e Veiga (2013) mostram ainda que
maior incidência de instabilidade política se encontra associada a taxas mais reduzidas de
crescimento do PIB per capita. Analisando os canais de transmissão, os autores verificaram que
a instabilidade política afeta negativamente o crescimento económico através da diminuição que
causa no crescimento da produtividade e, de forma não tão acentuada, ao desincentivar a
acumulação de capital físico e humano. Desta forma, Aisen e Veiga (2013) consideram a
estabilidade política essencial para o crescimento económico.

Estes autores referem o estudo de Alesina et al. (1996), que mostra que o crescimento
do PIB é consideravelmente mais reduzido em países e períodos temporais cuja probabilidade do
governo colapsar é superior. Em consonância com o trabalho anterior, mais recentemente, um
estudo de Jon-a-Pin (2009) refere que graus mais elevados de instabilidade política fazem com
que ocorra um menor crescimento económico.

De acordo com Aisen e Veiga (2013) a instabilidade política gera também um aumento da
inflação. Um estudo dos mesmos autores mas de 2010 refere que os países precisam de aprender
a enfrentar a instabilidade, reconhecendo causas e mitigando efeitos desta sobre a qualidade e a
sustentabilidade das políticas capazes de gerar crescimento económico, sendo que apenas assim
os países conseguirão ter políticas geradoras de crescimento económico.

Uma estrutura legal eficiente e direitos de propriedade seguros foram referidos na


literatura como fatores cruciais para aumentar o investimento e o crescimento. Assim sendo, a
estabilidade política mede não só a estabilidade política de um país, mas também a ausência de
violência ou terrorismo, medindo a perceção da probabilidade de ocorrer instabilidade política e/
ou violência, com base em motivos políticos, incluíndo o terrorismo.

44
7.9 Crises bancárias

O desenvolvimento financeiro promove e suporta o crescimento económico, contudo o


crescimento económico é afetado pela acentuada fragilidade financeira característica de sistemas
de maturação (Loayza e Rancière, 2004). Esta mesma fragilidade leva à ocorrência de crises
financeiras e, mais particularmente crises bancárias, que podem resultar no colapso do setor
bancário se não ocorrer uma intervenção governamental.

O processo de desenvolvimento financeiro implica o aprofundamento dos mercados e


serviços que canalizam as poupanças para investimentos produtivos e que permitem a
diversificação do risco, sendo estes os aspetos positivos do desenvolvimento financeiro que levam
a um crescimento económico superior a longo prazo. No entanto, à medida que as economias
amadurecem, o mesmo processo pode revelar fraquezas que são evidenciadas por crises
bancárias sistémicas, ciclos de altos e baixos, e volatilidade financeira de uma maneira geral. O
setor financeiro apresenta algumas características que o tornam frágil, podendo afetar o
crescimento económico, acontecendo isto até estar reposta a maturidade.

O estudo levado a cabo por Loayza e Rancière (2004) revelou que países financeiramente
frágeis, nomeadamente os que experienciaram crises bancárias ou sofrem de elevada volatilidade
financeira, têm tendência para apresentar uma relação negativa e significativa entre crises
bancárias e crescimento. Contudo, em países mais estáveis este efeito é em média igual a zero.
Referem ainda que o estudo revelou que aspetos como crises e volatilidade da intermediação
financeira são determinantes relevantes para o crescimento. A fragilidade financeira medida pela
volatilidade financeira e crises bancárias tem consequências negativas para o crescimento
económico.

De acordo com Stiglitz (2000), no último quarto de século ocorreram inúmeras crises,
estimando-se que tenham ocorrido entre 80 e 100 crises, sendo que estas se tornaram mais
frequentes e severas, revelando alguma fragilidade no contexto económico global. A estrutura
económica internacional deve ser desenvolvida não apenas para lidar com uma gestão económica
perfeita, mas também para lidar com governos e funcionários públicos que são falíveis, situações
que ocorrem, de facto, em sociedades democráticas.

45
Além disso, a crise que se espalhou do Leste Asiático para a Rússia e posteriormente para
a América Latina tornou clara a ideia de que mesmo países que apresentam políticas económicas
de elevada qualidade instituições financeiras consideradas como relativamente sólidas foram
afetadas negativa e severamente pelas crises bancárias.

De acordo Caprio (1997), estudos realizados mostraram que a instabilidade financeira


tem efeitos persistentes no crescimento económico, mostrando também que o mesmo se retrai
durante vários após a ocorrência de uma crise. Por outro lado, segundo Dell’Ariccia, Detragiache
e Rajan (2008), as crises bancárias são normalmente precedidas por períodos de reduzidos níveis
de concessão de crédito e por reduzidas taxas de crescimento do PIB. Pelo que, como conclui Teo
et al. (2000) situações de fragilidade e volatilidade no setor bancário têm-se revelado prejudiciais
para o crescimento económico.

46
8. Análise gráfica
De forma a enriquecer o presente trabalho consideramos de relevância introduzir uma
secção destinada à análise gráfica do comportamento de alguns países, para variáveis com
especial importância no estudo que levaremos a cabo. As variáveis escolhidas foram a do
crescimento económico, medido pela taxa do PIB per capita, sendo esta a variável dependente do
modelo posteriormente analisado; a do crédito ao setor privado em função do PIB, representativa
do indicador do desenvolvimento do sistema bancário, escolhida esta por analisar o
comportamento de um dos ramos do sistema financeiro, o segmento bancário; e, por último, a
das ações transacionadas em função do PIB, representativa do indicador do desenvolvimento do
mercado de capitais, analisando esta o comportamento do outro ramo do sistema financeiro, o
segmento dos mercados de capitais.

Na análise gráfica vamos analisar, para todas as variáveis selecionadas, apenas alguns
países do total de países que fazem parte da amostra que será utilizada no estudo empírico. No
que concerne aos países escolhidos para a análise gráfica, Portugal será analisado, para as três
variáveis selecionadas, uma vez que representa o país a que pertencemos, sendo por isso reflexo
da realidade em que vivemos; também o Reino Unido e os EUA serão analisados em todas as
variáveis por serem considerados como potências económicas mundiais e por serem amplamente
mencionados em diversos estudos empíricos. Serão ainda analisados outros países, alterando os
mesmos consoante a variável em análise, onde se verifiquem comportamentos de crescimento
económico, de concessão de crédito ao setor privado ou de ações transacionadas, merecedores
de destaque.

8.1 Análise do crescimento económico

A evolução da taxa do PIB per capita real em Portugal verifica alguns altos e baixos durante
o período em análise, compreendido entre 1996-2016, como é possível observar na Figura 3.
Entre 1996 e 2000 verificam-se taxas de PIB per capita positivas, sendo que posteriormente o
mesmo começa a decrescer, até que em 2003 atinge o primeiro pico negativo, -1,305%. Volta a
crescer nos anos seguintes, até que em 2008 começa a decrescer novamente, atingindo mais um
pico negativo em 2009, registando-se uma taxa do PIB per capita de -3,07%, sendo o decréscimo

47
verificado, derivado do alastrar da crise do sub-prime à Europa. O país volta a recuperar em 2010,
no entanto, a taxa do PIB per capita, decresce uma mais vez nos dois anos seguintes, derivado da
interrupção abrupta dos fluxos de crédito à economia, verificando-se em 2012 o pior valor da taxa
de PIB per capita, durante o período em análise, -3,64%. Nos últimos anos do período analisado,
a economia portuguesa recupera novamente, apresentando valores positivos, apesar de não muito
acentuados, de crescimento económico.

Portugal
6

0
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
-2

-4

-6

Figura 3- Evolução da taxa de crescimento do PIB per capita em Portugal entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

O Reino Unido, no que concerne à taxa de crescimento do PIB per capita, apresenta um
comportamento maioritariamente estável para o período em análise, compreendido entre 1996 e
2016, começando, no entanto, a decrescer no ano de 2008 e apresentando um pico negativo no
crescimento económico, no ano de 2009, no qual se verifica uma taxa do PIB per capita de -
4.91%. O período de recessão ocorrido no Reino Unido deve-se à crise do sub-prime que se instalou
no país durante este período. Nos anos seguintes a economia britânica volta a recuperar, voltando
aos valores positivos e mantendo-se estável durante o restante período analisado. O
comportamento do crescimento económico, medido pela taxa de crescimento do PIB per capita,
para este país é observável através da Figura 4.

Por sua vez, os EUA, como é observável na Figura 4, apresentam um crescimento


económico positivo para a maioria dos anos analisados, contudo verificam-se dois picos negativos,
verificando-se o primeiro em 2001, ano em que a taxa de crescimento do PIB per capita apresenta
o valor de -0,02%, ficando a dever-se este período de abrandamento da economia americana ao
início de um período de recessão económica. O segundo pico negativo verificado na taxa de
48
crescimento do PIB per capita, onde esta atingiu o valor de -3,62%, ocorreu no ano de 2009, sendo
este valor resultado dos efeitos da crise económica mundial que surgiu no país, a já referida crise
do sub-prime.

Reino Unido EUA


6 4
3
4
2
2
1
0 0
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 -1 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
-2
-2
-4
-3
-6 -4

Figura 4- Evolução da taxa de crescimento do PIB per capita no Reino Unido e Estados Unidos da América, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

Além dos países acima mencionados foi ainda observado o comportamento da taxa de

crescimento do PIB per capita de Macau e da Nigéria, presente na Figura 5.

No que concerne a Macau, este apresenta um comportamento de certo modo


contraditório, como é possível observar na Figura 5, uma vez que apresenta tanto valores
extremamente altos como valores extremamente baixos, quando comparado com os restantes
países analisados, no que toca à taxa de crescimento do PIB per capita. Nos primeiros anos da
análise, este país apresenta um crescimento económico negativo, que começa a crescer em 1998,
atingindo o seu valor máximo no ano de 2004, 23,71%, decrescendo acentuadamente no ano
seguinte e, tornando-se novamente negativo em 2009, -0,79%. Contudo em 2010, Macau volta a
registar um pico de crescimento económico, verificando o valor de 22,55%, decrescendo de forma
abrupta nos anos seguintes, até que em 2015 atinge o seu valor mínimo, -23,18%, e, em 2016, a
economia começa a mostrar sinais de recuperação.

A Nigéria, apesar de ser um dos países mais pobres do continente africano, apresenta
uma evolução da taxa de crescimento do PIB per capita bastante positiva, como é possível auferir
na Figura 5. Durante o período analisado, verifica-se, na maioria dos anos, um crescimento
económico positivo, à exceção de 1999, 2015 e 2016, ano em que se verifica o seu pior resultado,

49
-4,16. Nos restantes anos analisados, ocorre neste país um crescimento económico moderado,
registando valores entre 1 e 6 pontos percentuais, tendo porém um pico em 2002, registando-se
um crescimento de 12,46%.

Macau Nigéria
30 15

20
10
10

0 5
19961998200020022004200620082010201220142016
-10
0
-20 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

-30 -5

Figura 5- Evolução da taxa de crescimento do PIB per capita em Macau e na Nigéria, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

Por último analisamos a Austrália e a Grécia no que concerne à evolução da taxa de


crescimento do PIB per capita. A Austrália, país altamente desenvolvido apresenta uma evolução
de crescimento económico sempre positiva ao longo de todo o período analisado, isto é, apesar
das oscilações verificadas, percetíveis através da observação da Figura 6, o crescimento
económico, medido pela taxa de crescimento do PIB per capita, registou entre 1996 e 2016
valores sempre acima de zero, tendo atingido o valor mais elevado em 1999, 3,83%.

Por sua vez, a Grécia, como é percetível pela análise da Figura 6, apresenta um
crescimento económico estável entre 1996 e 2004, sofrendo apenas ligeiras oscilações, contudo
em 2005 verifica-se a diminuição mais acentuada deste fator, que volta a recuperar no ano
seguinte, mas que, a partir de 2007 e até 2011, volta a decrescer, sendo que em 2011 atinge o
valor de -8,99%. O período de recessão económica que se verificou na Grécia ao longo deste
período ficou a dever-se pelos graves efeitos que a crise económica e mundial do sub-prime teve
no país, tendo o mesmo de recorrer a apoio financeiro externo do Fundo Monetário internacional.
A economia deste país começa a mostrar sinais de recuperação a partir de 2012, voltando a
registar um crescimento positivo apenas em 2014, mantendo-se com crescimento reduzido até
ao final do período analisado.

50
Austrália Grécia
8
5
6
4 4
2
3
0
2 -2 19961998200020022004200620082010201220142016
-4
1
-6
0 -8
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 -10
-1
Figura 6- Evolução da taxa de crescimento do PIB per capita na Austrália e na Grécia, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

8.2 Análise do indicador do desenvolvimento do sistema bancário

No que diz respeito à evolução da variável crédito ao setor privado em função do PIB, no
período compreendido entre 1996 e 2016, Portugal apresenta um comportamento estável, onde
se verifica apenas uma evolução positiva entre 2006 e 2009, em que o crédito ao setor privado
aumentou ligeiramente, voltando depois, aproximadamente, aos valores iniciais. A evolução desta
variável em Portugal pode ser observada na Figura 7, sendo possível auferir que tal variável tem
ainda um impacto significativo na economia do país, representando taxas relativamente elevadas
do PIB, ou seja, o investimento privado apresenta no país um dimensão considerável.

51
Portugal
200

150

100

50

0
2002

2004
2001

2003

2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Figura 7- Evolução do crédito ao setor privado em função do PIB em Portugal, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

O Reino Unido, no que concerne ao crédito concedido ao setor privado em percentagem


do PIB, como é possível observar através da Figura 8 apresenta uma evolução ascendente, entre
1996 e 2009, iniciando esta evolução nos 101% do PIB em 1996 e alcançando os 195% do PIB
em 2009, porém, no ano seguinte, começa um percurso descente até 2014, ano em que
apresenta o valor de 137% do PIB, sendo que entre 2014 e 2016 a evolução desta variável
mantem-se bastante estável.

Por sua vez, nos EUA, o crédito ao setor privado em percentagem do PIB apesar de
apresentar uma evolução crescente verifica a ocorrência de algumas oscilações. A variável em
questão apresenta em 1996 um valor de 137% do PIB, atingindo o valor máximo para este país
em 2007, 206% do PIB, no entanto, devido às oscilações verificadas termina o período em análise,
o ano de 2016, com um valor de 192% do PIB.

Como é possível observar através da Figura 8, o crédito ao setor privado tem, à


semelhança do que acontece em Portugal, mas com uma maior dimensão, grande influência na
economia, representando grandes parcelas do PIB, podendo auferir que existe um grande
investimento privado, uma vez que os investimentos deste setor são, normalmente efetuados em
mercados competitivos, quando associados aos investimentos e esforços públicos, em áreas como
a regulamentação, a prestação de serviços ou o financiamento de algumas atividades, são
passíveis de gerar crescimento económico, uma vez que o setor privado é altamente produtivo,
gerando emprego e desse modo possíveis elevados rendimentos.

52
Reino Unido EUA
250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
19961998200020022004200620082010201220142016 19961998200020022004200620082010201220142016

Figura 8- Evolução do crédito ao setor privado em função do PIB no Reino Unido e nos EUA, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

Para levar a cabo análise da variável crédito ao setor privado em função do PIB, além dos
países acima referidos foram ainda analisados a Eslovénia e Hong Kong.

Com é possível observar na Figura 9, a Eslovénia, cujos dados disponíveis para a variável
crédito ao setor privado em função do PIB estão apenas disponíveis para o período entre 2004 e
2016, apresenta o valor mínimo registado para a presente variável de entre todos os países
considerados na análise, 0,19% do PIB registado em 2004. No ano seguinte, o país registou uma
variação positiva muito elevada, passando para 52% do PIB, continuando a crescer, de forma
menos intensa até 2010, ano em que alcança o valor de 85% do PIB. Nos anos seguintes e até ao
final da amostra, a variável em análise, começou porém a decrescer, registando em 2016 o valor
de 47% do PIB. Assim sendo, podemos concluir que no início do período analisado para este país
o crédito ao setor privado tinha uma dimensão praticamente nula, começando posteriormente a
aumentar, sem no entanto apresentar uma elevada expressão e, por conseguinte, não tendo tanto
impacto sobre o crescimento económico.

Pelo contrário, Hong Kong, país analisado para o período entre 1996 e 2016, apresentou
o valor máximo registado de entre todos os países analisados, 233% do PIB, ocorrido em 2014.
Este país verifica valores consideravelmente elevados no que se refere a esta variável, variando os
mesmos entre 137% do PIB e 233% do PIB. De realçar ainda que Hong Kong assinala uma
evolução do crédito ao setor privado em função do PIB que entre 1996 e 2008 não sofre oscilações
significativas, como é possível ver através da análise da Figura 8, começando contudo a crescer
53
nos anos seguintes e até 2014, ocorrendo apenas uma oscilação negativa em 2012. Nos anos de
2015 e 2016 o país volta a assinalar um ligeiro decréscimo nos valores da variável em estudo.

Da análise do crédito ao setor privado em Hong Kong é possível verificar que o mesmo
representa uma elevada parcela do PIB, realçando desta forma o investimento privado levado a
cabo no país, tendendo assim a ter um impacto positivo sobre o crescimento económico.

Eslovénia Hong Kong


100 250

80 200

60 150
40 100
20
50
0
0
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016

19961998200020022004200620082010201220142016

Figura 9- Evolução do crédito ao setor privado em função do PIB na Eslovénia, entre 2004 e 1996, e em Macau, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

Analisamos ainda o comportamento da Bulgária a da Ucrânia no que toca à evolução do


crédito ao setor privado em função do PIB, comportamento este observável através da Figura 10.
A Bulgária, que em 1996 apresentava um crédito ao setor privado de 62% do PIB, em 1997
registaria um acentuado decréscimo, passando para 9% do PIB, para a mesma variável.
Posteriormente a esta grande variação, o crédito ao setor privado na Bulgária começa a crescer
de forma discreta, até que em 2009 regista o seu valor máximo para o país, 69% do PIB. Após
2009, a Bulgária começa a registar um decréscimo no crédito ao setor privado, durante o restante
período analisado, sem no entanto este decréscimo ser muito acentuado, apresentando em 2016,
último ano analisado, o valor verificado era de 53% do PIB. Apesar das oscilações do crédito aos
setor privado registadas no país, o mesmo não apresenta ter uma dimensão muito elevada no PIB,
ou seja não tem grande impacto no crescimento económico do país.

A Ucrânia por sua vez inicia o período analisado com um valor de crédito ao setor privado
bastante reduzido, 1% do PIB em 1996, verificando nos anos seguintes um acréscimo gradual até
2004, ano em que atingiria 25% do PIB, posteriormente, a subida do crédito ao setor privado

54
tornar-se-ia mais acentuada até 2009, onde se registou o valor de 91% do PIB. Entre 2010 e 2012
a Ucrânia registou um decréscimo ligeiro, voltando a crescer nos dois anos seguintes, registando
em 2014 o valor de 75% do PIB. Contudo nos dois últimos anos analisados, 2015 e 2016 o crédito
ao setor privado sofreu um decréscimo acentuado, registando em 2016 com 47% do PIB. O
indicador do desenvolvimento do setor bancário na Ucrânia é, no início do período analisado, muito
diminuto, ganhando posteriormente alguma dimensão, sem no entanto a mesmas se tornar muito
significativa, quando comparada com outros países analisados, pelo que podemos daí inferir que
o investimento privado no país não é muito elevado.

Bulgária Ucrânia
80 100
70
80
60
50 60
40
30 40
20
20
10
0 0
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 19961998200020022004200620082010201220142016

Figura 10- Evolução do crédito ao setor privado em função do PIB na Bulgária e na Ucrânia, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

Por último, analisamos a evolução do crédito ao setor privado na Dinamarca, observável


através da Figura 11. A Dinamarca inicia o período amostral com um crédito ao setor privado com
níveis relativamente reduzidos, rondando os 30% do PIB entre 1996 e 1999, porém no ano de
2000 este país registou uma subida muito acentuada no crédito ao setor privado, passando de
34% do PIB em 1999 para 132% do PIB em 2000. Nos seguintes anos, o crédito ao setor privado
continuou o seu percurso ascendente, de forma menos acentuada, até que em 2009 atinge o alor
máximo para este país 201% do PIB. Posteriormente a 2009, esta variável começa a decrescer de
forma muito discreta até ao final do período analisado, verificando-se em 2016 o valor de 170%
do PIB.

55
Assim sendo, podemos concluir que apesar de inicialmente o crédito ao setor privado na
Dinamarca tem uma dimensão muito reduzida, o mesmo vai ganhando dimensão ao longo do
período em análise, tornando-se, no final do mesmo, relativamente elevado.

Dinamarca
250

200

150

100

50

0
19961998200020022004200620082010201220142016

Figura 11- Evolução do crédito ao setor privado em função do PIB na Dinamarca, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

8.3 Análise do indicador do desenvolvimento do mercado de capitais

Ao nível das ações transacionadas em função do PIB, no período compreendido entre


1996 e 2014, Portugal apresenta algumas alterações acentuadas, como é possível observar na
Figura 12. Entre 1996 e 1998 registou-se um aumento significativo nos valores da variável para
este país, passando de 6% do PIB em 1996 para 41% do PIB. Contudo, em 1999, sofre um grande
decréscimo, atingindo o valor de 30% do PIB, recuperando no ano seguinte, registando em 2000
o valor de 47% do PIB. Entre 2001 e 2005 o valor das ações transacionadas, apesar de te sofrido
um decréscimo acentuado em 2001, estabilizou nos anos seguintes, rondando os 20% do PIB.
Nos anos de 2006 e 2007 volta a crescer, atingindo o valor máximo registado para o país em
2007, 57% do PIB. Até 2009 volta a decrescer, atingindo os 18% do PIB, mantendo-se,
posteriormente e até ao final da análise, mais ou menos estável, não sofrendo grandes oscilações.

Desta forma, podemos afirmar que o mercado de capitais não tem grande impacto na
economia portuguesa, registando valores bastante reduzidos no que toca às ações transacionadas.

56
Portugal
70
60
50
40
30
20
10
0
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Figura 12- Evolução das ações transacionadas em função do PIB em Portugal, entre 1996 e 2014

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

O Reino Unido no que diz respeito à variável ações transacionadas em função do PIB, para
o período compreendido entre 1996 e 2014, apresenta algumas oscilações, como é possível
observar através da Figura 13. No início do período analisado, entre 1996 e 2001, o Reino Unido
apresenta um crescimento gradual no que a esta variável diz respeito, registando em 1996 o valor
de 42% do PIB, e em 2001, o valor de 117% do PIB. No entanto o país em 2002 regista um
decréscimo abrupto no que às ações transacionadas diz respeito, passando para 59% do PIB. Vota
a crescer ao longo dos anos seguintes da amostra, de forma muito discreta, entre 2003 e 2005,
e de forma mais acentuada nos anos de 2006 e 2007, ano em que as ações transacionadas
alcançaram os 128% do PIB. Porém em 2008 volta a registar uma queda, menos significativa,
recuperando nos dois anos seguintes, alcançando em 2010 o valor máximo registado no Reino
Unido para a variável em análise, 131% do PIB. Entre 2011 e 2013 decresce uma vez mais,
chegando aos 61% do PIB e em 2014 inicia um período de recuperação. Por conseguinte podemos
concluir que os mercados de capitais têm alguma expressão no Reino Unido, sendo um setor da
economia que representa uma parcela significativa do PIB, sendo que, tal situação é expectável,
uma vez que este é um país cujo sistema financeiro é referido na literatura como baseado no
mercado de capitais.

Os EUA, um país onde os mercados de capitais detêm uma grande importância,


apresentam também, por sua vez, muitos altos e baixos ao nível das ações transacionadas em
função do PIB, entre 1996 e 2016, como é visível na Figura 13. Iniciam o período analisado com
um percurso ascendente, registando em 1996 o valor de 86% do PIB e em 2000, o valor de 290%

57
do PIB. Contudo, no ano seguinte iniciam um período descendente até que em 2003, as ações
transacionadas atingem o valor de 139% do PIB. Entre 2004 e 2008 o nível ações transacionadas
volta a recuperar, chegando aos 321% do PIB. Durante os anos seguintes, regista uma queda até
2009, passando para 238% do PIB, recupera ligeiramente nos dois anos seguintes, tendo em
2011 o valor de 264% do PIB, em 2012 decresce acentuadamente para os 200% do PIB e,
posteriormente e até ao final do período analisado, permanece de certa forma estável.

Os elevados níveis de ações transacionadas em função do PIB verificados nos EUA revelam
a elevada importância que os mercados de capitais têm no país, sendo que além do Reino Unido,
também os EUA são mencionados por diversos autores como detentores de sistemas financeiros
baseados nos mercados de capitais.

Reino Unido EUA


140 350
120 300
100 250
80 200
60 150
40 100
20 50
0 0
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 19961998200020022004200620082010201220142016

Figura 13- Evolução das ações transacionadas em função do PIB no Reino Unido e nos EUA, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

Além dos países acima mencionados optamos por estudar outros dois países, Hong Kong
e a Suíça, no que às ações transacionadas em função do PIB diz respeito, sendo o comportamento
destes mesmos países observável através da Figura 14. No que diz respeito a Hong Kong, este
país apresenta grandes oscilações ao nível das ações transacionadas, se em 1996 estas
registavam 104% do PIB, em 1997 registariam já 255% do PIB e, em 1998 registavam porém
122% do PIB. É assim o comportamento desta variável, com algumas oscilações acentuadas, em
Hong Kong durante os primeiros anos da amostra, mais concretamente entre 1996 e 2005, ano
em que regista 232% do PIB. Mas é nos anos de 2006 e 2007 que este regista a maior subida ao
nível de ações transacionadas, em 2006 este era de 390% do PIB e em 2007 alcançaria o valor
máximo registado para todos os países analisados, 953% do PIB. Nos anos seguintes, entre 2008

58
e 2012, este valor começa a decrescer, permanecendo porém em níveis bastante elevados, sendo
em 2012 de 410% do PIB. As ações transacionadas voltam a crescer entre 2013 e 2015, ano em
que apresentam um novo pico, 669% do PIB, e decrescem no último ano da análise.

Assim sendo podemos concluir que Hong Kong é país da amostra onde as ações
transacionadas em função do PIB e, consequentemente o mercado de capitais, tem maior
dimensão, ou seja, esta variável independente detém grande importância na economia e no
crescimento económico do país em questão.

No que concerne à Suíça, as ações transacionadas sofrem grandes oscilações como é


possível observar através da Figura 14. Se em 1998 registavam o valor de 233% do PIB e em
2000, 233% do PIB, contrariamente em 1996 registavam 126% do PIB e em 1999 registariam
160% do PIB. Contudo a partir de 2001 o nível das ações transacionadas inicia um período
descente na Suíça chegando em 2004 ao valor mínimo registado no país ao longo do período
analisado, 11% do PIB, mantendo-se em níveis muito reduzidos até 2006, tendo em 2007 uma
subida extremamente elevada, registando 262% do PIB, mantendo-se elevado em 2008. No ano
de 2009 o país volta a registar uma descida acentuada, passando para 142% do PIB. No restante
período analisado, a Suíça vai apresentando alguns altos e baixos, porém muito menos acentuados
do que os mencionados até então.

Desta forma, auferimos que o mercado de capitais tem uma expressão significativa na
Suíça, apesar da mesma não ser muito acentuada, principalmente quando comparada com outros
países analisados.

Hong Kong Suíça


1200 300
1000 250
800 200
600
150
400
100
200
50
0
0
19961998200020022004200620082010201220142016

Figura 14- Evolução das ações transacionadas em função do PIB em Hong Kong e na Suíça, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

59
Por último, para estudar a evolução das ações transacionadas em função do PIB,
selecionamos outros dois países, a Espanha e a Holanda, como é observável na Figura 15. A
Espanha que inicia o período da amostra com as ações transacionadas a representar 16% do PIB,
apresenta um período ascendente até que em 2000 regista o valor máximo ocorrido no país, para
o período analisado, 266% do PIB, verificando logo de seguida uma queda abrupta, registando em
2002, 64,32% do PIB. A Espanha, no restante período analisado, mantem um comportamento
mais o menos estável, excetuando 2007, ano em que apresenta um pico, registando 154% do
PIB.

Importa salientar que ao longo do período analisado, em Espanha, as ações


transacionadas tanto têm uma expressão acentuada, em certos anos, como em outros têm uma
expressão bastante reduzida, não sendo por isso possível depreender a real dimensão que o
mercado de capitais tem no país.

A Holanda por sua vez inicia o período amostral com o nível de ações transacionadas em
função do PIB a subir, sendo esse de 38% do PIB em 1996 e, em 2000 apresenta o valor de 157%
do PIB. Em 2001 o mesmo reduz para os 107% do PIB, sofrendo pequenas oscilações nos anos
seguintes, até que em 2007 regista o valor máximo registado no país, 184% do PIB, decresce
porém em 2008 e 2009, ano em que regista 63% do PIB, mantendo-se relativamente estável até
ao final do período analisado. Assim sendo, podemos concluir que as ações transacionadas tem
um expressão relativamente alta, ou seja, o mercado de capitais representa um fator importante
na economia do país, apesar de, quando comparado com outros países, mesmo não apresentando
valores muito elevados.

60
Espanha Holanda
300 200
250
150
200
150 100
100
50
50
0 0
19961998200020022004200620082010201220142016 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Figura 15- Evolução das ações transacionadas em função do PIB em Espanha e na Holanda, entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboração do autor com base nos dados recolhidos no World Bank

61
9. Dados e metodologia
9.1 Dados

De forma a verificar a influência de um conjunto de variáveis macroeconómicas e socias


têm no crescimento económico utilizamos um conjunto de dados, sendo que mesmos dados, a
utilizar na realização do estudo empírico, foram obtidos através da base de dados internacional,
World Bank Open Data, assim como dos trabalhos científicos de Kaufmann, Kraay e Mastruzzi
(2010) e Laeven e Valencia (2018). Importa também referir que os mesmos vão ser trabalhados
com recurso ao software Gretl.

Na análise da nossa amostra serão utilizados dados em painel, os quais apresentam


inúmeras vantagens mencionadas por diversos autores, nomeadamente Baltagi (2008), que
menciona como vantagens a possibilidade de obter uma maior quantidade de informação, assim
como a análise de uma maior variedade de dados. Este tipo de dados permite ainda que se
verifique uma menor colinearidade entre as variáveis, um maior número de graus de liberdade e
uma maior eficiência na estimação. A utilização de dados em painel é ainda vantajosa por permitir
o controlo sobre a heterocedasticidade individual e por simplificar a eficiente análise das dinâmicas
de ajustamento.

No presente estudo foram considerados 61 países, nomeadamente 6 países de África-


Argélia, Botswana, Quénia, Maurícia, Nigéria e África do Sul-, 13 países asiáticos- Arménia, Hong
Kong, Índia, Cazaquistão, República da Coreia, Macau, Malásia, Paquistão, Filipinas, Rússia,
Singapura, Tailândia, Turquia-, 14 países da América- Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile,
Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Panamá, Paraguai, Trinidad e Tobago, EUA e Uruguai-
, 27 países da Europa- Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, República Checa, Dinamarca, França,
Alemanha, Grécia, Hungria, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, República da Macedónia,
Moldávia, Holanda, Polónia, Portugal, Roménia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Suécia, Suíça,
Ucrânia e Reino Unido-, e 1 país da Oceania- Austrália. A amostra inicial abrangia um número
mais alargado de países, no entanto por problemas de falta de dados no que respeitava a algumas
variáveis em análise os mesmos tiveram de ser excluídos da análise.

62
Os países anteriormente mencionados foram analisados no período compreendido entre
1996 e 2016, sendo que foram utilizados valores médios para este mesmo período para levar a
cabo a estimação do modelo econométrico.

9.2 Metodologia

No presente trabalho irá realizar-se um estudo empírico, sendo que para o efeito foi
identificado na literatura um modelo econométrico que posteriormente será estimado com base
no método dos mínimos quadrados ou Ordinary Least Squares (OLS). O mesto método é assim
denominado pelo facto das estimativas minimizarem a soma do quadrado dos resíduos, além de
que é o apropriado para a estimação dos parâmetros do modelo.

O modelo econométrico em análise no presente trabalho tem por base o estudo de Levine
(1998), no qual este estuda a relação entre o sistema legal de um conjunto de países e o respetivo
desenvolvimento financeiro, observando se componentes exógenas associadas ao
desenvolvimento bancário, sendo as mesmas componentes definidas pelo sistema legal, se
encontram positivamente associadas com o desenvolvimento económico. Para tal, Levine (1998)
apresenta um modelo econométrico no qual pretende estudar o crescimento económico, através
da análise média de um longo período de tempo, entre 1976 e 1993, havendo apenas uma
observação por país.

O presente trabalho um estudo econométrico baseado no do autor, mas no qual apenas


existirá uma variável dependente em análise que será o crescimento económico, medido pela taxa
de crescimento do PIB per capita.

Assim sendo, após a análise das variáveis utilizadas no estudo empírico de Levine (1998)
o presente trabalho pretende estudar o efeito que um conjunto de variáveis macroeconómicas, e
socias, concretamente o crédito ao setor privado em função do PIB, indicador do desenvolvimento
do sistema bancário; as ações transacionadas em função do PIB, indicador do desenvolvimento
do mercado de capitais; a taxa de inflação; a despesa governamental em função do PIB; a inscrição
no ensino secundário, variável que analisa o nível de educação do país; a opinião e
responsabilidade, representando um índice de liberdades civis; a qualidade da regulação, referente
a um índice de burocracias; a estabilidade política, representando um índice de direitos políticos;
e a variável crises bancárias; têm sobre o crescimento económico medido pela taxa de crescimento
63
do PIB per capita. Desta forma, com modelo econométrico abaixo apresentado pretendemos
estudar a possibilidade de cada variável explicativa ter uma contribuição para a variável
dependente. Sendo o mesmo modelo em análise:

𝐶𝑟𝑒𝑠. 𝑃𝐼𝐵𝑝𝑒𝑟𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑖
𝐶𝑟é𝑑𝑖𝑡𝑜 𝑎𝑜 𝑠𝑒𝑡𝑜𝑟 𝑝𝑟𝑖𝑣𝑎𝑑𝑜 𝐴çõ𝑒𝑠 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠
= 𝛽0 + 𝛽1 + 𝛽2
𝑃𝐼𝐵 𝑖 𝑃𝐼𝐵 𝑖
𝐷𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎 𝑔𝑜𝑣𝑒𝑟𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙
+ 𝛽3 𝐼𝑛𝑓𝑙𝑎çã𝑜𝑖 + 𝛽4
𝑃𝐼𝐵 𝑖

+ 𝛽5 𝐼𝑛𝑠𝑐𝑟𝑖çã𝑜 𝑒𝑛𝑠𝑖𝑛𝑜 𝑠𝑒𝑐𝑢𝑛𝑑á𝑟𝑖𝑜𝑖


+ 𝛽6 𝑂𝑝𝑖𝑛𝑖ã𝑜 𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑝𝑜𝑛𝑠𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑖 + 𝛽7 𝑄𝑢𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑎 𝑟𝑒𝑔𝑢𝑙𝑎çã𝑜𝑖
+ 𝛽8 𝐸𝑠𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑙í𝑡𝑖𝑐𝑎𝑖 + 𝛽9 𝐶𝑟𝑖𝑠𝑒𝑠 𝑏𝑎𝑛𝑐á𝑟𝑖𝑎𝑠𝑖 + 𝜀𝑖

Variável dependente

A variável dependente, o crescimento económico medido pela taxa de crescimento do PIB


per capita é obtida pela divisão do PIB pelo total da população a meio do ano, sendo que o valor
do PIB considerado é o PIB a preços do consumidor, valor que engloba o valor acrescentado bruto
de todos os produtos de uma economia, ao qual se adicionam todos os impostos acrescidos a
esses mesmos produtos e retirando qualquer subsídio que seja atribuído para a produção dos
mesmos.

No cálculo do modelo econométrico foi considerado o valor médio da taxa de crescimento


do PIB per capita de cada país para a totalidade do período em análise, compreendido entre 1996
e 2016.

Variáveis independentes

As variáveis independentes compreendem o conjunto das variáveis macroeconómicas,


concretamente o crédito ao setor privado em função do PIB, as ações transacionadas em função
do PIB, a inflação, a despesa governamental em função do PIB e as crises bancárias, e das
variáveis sociais, especificamente a inscrição no ensino secundário, a opinião e responsabilidade,
a qualidade da regulação e a estabilidade política. Importa realçar que para a análise de todas as

64
variáveis foram considerados os valores médios para de cada país, para cada variável, para todo
o período da análise, 1996-2016.

No que diz respeito à variável crédito ao setor privado em função do PIB, variável
representativa do segmento bancário, esta representa a parcela do PIB destinada ao crédito
concedido ao setor privado, ou seja, compreende os recursos financeiros colocados à disposição
deste, tais como empréstimos, compras de títulos de terceiros, créditos comerciais e outras contas
a receber, que estabelecem a obrigatoriedade de reembolso. Esta mesma variável foi utilizada por
autores como Levine e Zervos (1998) e Calderón e Liu (2003). De outra forma, a variável
representativa do segmento dos mercados de capitais, a variável ações transacionadas em função
do PIB, representa o valor total das ações transacionadas, tanto a nível nacional como estrangeiro,
sendo o valor das mesmas multiplicado pelo respetivo preço. Os valores de ações transacionadas
são contados individualmente, considerando para tal apenas um dos lados da transação. O valor
das ações transacionadas encontra-se em percentagem do PIB, isto é a parcela do PIB destinada
às ações transacionadas. O efeito que as ações transacionadas têm sobre o crescimento
económico foi também estudado por autores como Levine e Zervos (1998).

Por outro lado, no que se prende com a inflação, foi utilizada a taxa de inflação medida
pelo índice de preços do consumidor, sendo reflexo da variação percentual no custo médio que
um certo cabaz de bens e serviços tem para o consumidor, sendo que este mesmo cabaz de bens
e serviços pode ser fixo ou alterado em intervalos regulares, por exemplo semestralmente ou
anualmente. Barro (1995) identifica também a inflação enquanto fator que exerce influencia sobre
o crescimento económico.

Por sua vez, a variável despesa governamental em função do PIB, utilizada por autores
como Grier e Tullock (1989) e Barro (1990) para explicar crescimento económico, compreende a
percentagem do PIB destinada a fazer face às despesas governamentais, sendo que as despesas
são compreendidas como os pagamentos em dinheiro por forma a financiar as atividades
operacionais do governo no fornecimento de bens e serviços às populações, englobando
remunerações, juros, subsídios, transferências, benefícios sociais, entre outras despesas que
possam surgir.

No que concerne à variável crises bancárias, esta é uma variável dicotómica ou dummy,
em que para cada ano do período da análise se atribui o valor 0 no caso do país não se encontrar
em situação de crise bancária nesse ano e, em que se atribui o valor 1 caso contrário, isto é, no

65
caso do país estar a atravessar uma crise bancária no ano em questão. Para a construção desta
variável dicotómica recorremos ao trabalho de Laeven e Valencia (2018), onde os autores referem
as crises bancárias pelas quais passaram os diversos países e o período em que ocorreram. O
impacto que as crises bancárias têm sobre o crescimento económico foi também estudado por
autores como Caprio (1997) e Loyaza e Rancière (2004).

A inscrição no ensino secundário é uma variável introduzida no modelo estudado por


Levine (1998) como forma de verificar o investimento realizado na promoção da aquisição de
capital humano, isto é medindo o nível de educação de cada país. Desta forma, no presente
modelo a inscrição no ensino secundário é representada pela taxa bruta de matrícula,
representando o rácio entre o total de matrículas, independentemente da idade, e o número de
matrículas da população que se encontra na faixa etária correspondente ao nível de escolaridade
em estudo, o ensino secundário. O impacto detido por esta variável no crescimento económico foi
também estudado por autores como Asteriou e Agiomirgianakis (2001) e Cooray (2009).

No que concerne à opinião e responsabilidade, variável representativa de um índice de


liberdades civis, como o que se encontra presente em Levine (1998), tem por objetivo analisar a
influência que os cidadãos conseguem ter na sociedade onde estão inseridos. Assim sendo, a
variável opinião e responsabilidade presente no trabalho de Kaufmann, Kraay e Mastruzzi (2009),
permite avaliar a capacidade detida pelos cidadãos para participarem na seleção do governo do
seu país, bem como a existência de liberdade de expressão, de associação e nos media.

Por sua vez, a variável qualidade da regulação representa um índice de burocracia, como
o que se encontra presente em Levine (1998), tendo por objetivo verificar a existência de más
decisões políticas, de procedimentos burocráticos desnecessários e instituições ineficientes e
ineficazes. Desta forma, a variável qualidade da regulação presente no trabalho de Kaufmann,
Kraay e Mastruzzi (2009), permite avaliar as perceções no que toca à capacidade do governo do
país em desenvolver e implementar políticas e regulamentos consistentes, permitindo e
promovendo o desenvolvimento do setor privado. Para o cálculo desta variável, o valor médio
obtido para cada país foi transformado numa variável dummy, sendo atribuído o valor 0 quando o
valor médio da variável é negativo ou igual a zero e o valor 1 quando o valor médio da variável é
positivo.

Por último, no que diz respeito ao índice de direitos políticos utilizado por Levine (1998),
utilizámos a variável estabilidade política presente em Kaufmann, Kraay e Mastruzzi (2009) que

66
visa medir as perceções quanto à possibilidade do governo ser perturbado ou destituído por meios
inconstitucionais ou violentos, podendo os movimentos antigovernamentais ter motivações
políticas. No cálculo da presente variável, após obtidos os valores médios para cada país, a variável
foi transformada numa variável dummy, sendo atribuído o valor 0 quando o valor médio deste
índice era negativo ou igual a zero e o valor 1 quando o valor médio deste índice era positivo.

Importa agora referir o local onde foram obtidas as diversas variáveis utilizadas no modelo
econométrico, bem como as referências bibliográficas que serviram de base ao presente modelo,
encontrando-se estas informações presentes na Tabela I.

Tabela I- Identificação, referência e fonte das variáveis constituintes do modelo econométrico

Variável Fonte

World Development
Crescimento do PIB per capita
Indicators

Crédito ao setor privado em World Development


percentagem do PIB Indicators

Ações transacionadas em World Development


percentagem do PIB Indicators

World Development
Inflação
Indicators

Despesa governamental em World Development


função do PIB Indicators

World Development
Inscrição no ensino secundário
Indicators

67
Worldwide Governance
Opinião e responsabilidade
Indicators

Worldwide Governance
Qualidade da regulação
Indicators

Worldwide Governance
Estabilidade política
Indicators

Laeven and Valencia


Crises bancárias
(2018)
Fonte: Elaboração própria

68
10. Apresentação e discussão dos resultados
10.1 Estatística descritiva

A tabela II apresenta as estatísticas descritivas para as variáveis incluídas no estudo


empírico para todos os países estudados no período compreendido entre 1996 e 2016.

Como observável na mesma, no que concerne ao crescimento do PIB per capita os países
da amostra apresentam, em média, um crescimento de 2,56%, ou seja, os países do conjunto da
amostra crescem, em média e ao logo do período analisado, 2,56%. O valor médio mais elevado,
6,72%, ocorre na Arménia e o valor médio mais reduzido, 0,23%, ocorre em Itália, ou seja,
podemos auferir que a Arménia é em termos médios o país com maior crescimento económico,
contrariamente à Itália que revelou ser o país que cresce menos. Por outro lado, a variável crédito
ao setor privado em percentagem do PIB revela um valor médio de 69,09% do PIB. O país que
apresenta o valor médio mais elevado para esta variável são os EUA, 178,53% do PIB, enquanto
o valor médio mais reduzido se verifica na Nigéria, 11,65% do PIB. Isto é, nos EUA o crédito ao
setor privado tem uma grande expressão, representando uma grande parcela do PIB, enquanto
na Nigéria este mesmo fator tem um impacto substancialmente mais reduzido, pelo que o crédito
ao setor privado na Nigéria é bastante reduzido.

A variável ações transacionadas em função do PIB tem como valor médio, para o total de
países analisados, 39,45% do PIB. Sendo que o país que regista o valor médio mais elevado para
a presente variável é Hong Kong, verificando 387,07%, contrariamente ao Uruguai que apresenta
o valor médio mais reduzido, registando 0.0014% do PIB. Da análise da estatística descritiva
referente às ações transacionadas podemos concluir que em Hong Kong os mercados de capitais
representam um segmento do sistema financeiro com elevada importância, e que compreende
uma elevada parcela do PIB, sendo que, de outra forma, podemos referir que no Uruguai o
mercado de capitais apresenta valores muito reduzidos, ou seja, não tem grande importância no
país.

No que se refere à taxa de inflação, os países de forma geral apresentam para este período
um valor médio de 6,68%, valor relativamente baixo e desejável, uma vez que os bancos centrais
dos diferentes países têm trabalhado nos últimos anos no sentido de reduzir e estabilizar as taxas
de inflação. Em relação à inflação, o país que apresenta o valor médio mais alto é a Bulgária,
69
60,82%, e que é na Suíça que se verifica o valor mais reduzido, 0,48%. Assim sendo podemos
concluir que a Bulgária enfrenta níveis elevados de inflação, podendo a mesma ser um entrave ao
crescimento económico, enquanto a Suíça apresenta níveis bastante reduzidos de inflação, fator
importante para o crescimento económico. De outra forma no que diz respeito à variável despesa
governamental em função do PIB, esta apresenta um valor médio de 28,29% do PIB para o
conjunto de todos os países em análise. O valor médio mais elevado para esta variável ocorre na
Grécia, 47,05% do PIB, e o valor médio mais baixo verifica-se na Nigéria, 5,71% do PIB. Isto é, na
Grécia verifica-se um grande investimento do Estado na sociedade, uma vez que a despesa
governamental representa uma elevada parcela do PIB, por outro lado, na Nigéria, a intervenção
Estatal na sociedade é muito reduzida, ou seja o investimento em infraestruturas, serviços ou em
aspetos de bem-estar social é diminuto.

No que toca à variável inscrição o ensino secundário, esta taxa apresenta um valor médio
para os países em análise de 92,53%, ou seja, existe uma elevada escolarização, uma vez que em
média 92,53% da população dos países analisados se encontra inscrita no ensino secundário. O
valor médio mais elevado para esta variável ocorre na Bélgica, 156,32%, havendo, por isso, um
elevado número de pessoas inscritas no ensino secundário, ou seja, que apresentam um nível de
escolaridade superior, enquanto o valor médio mais reduzido dá-se no Paquistão, 35,27%, ou seja,
apenas 35,27% da população em idade de frequentar o ensino secundário se encontra inscrita no
mesmo, revelando assim que o país apresenta uma população com menores níveis de
escolarização. De outra forma, a variável opinião e responsabilidade, reflexo de um índice de
liberdades civis, apresenta um valor médio de 0,48, para a generalidade dos países, verificando-
se o valor médio mais alto na Suécia, 1,57, representando o país onde a participação dos cidadãos
na sociedade é maior, enquanto o valor médio mais baixo ocorre na República Coreia, -2,18,
reflexo da falta de liberdades que existe no país e do regime em que é governada.

No caso particular das variáveis qualidade de regulação e estabilidade política, que


refletem um índice de burocracia e um índice de direitos políticos, respetivamente, as mesmas
tiveram de sofrer uma alteração transformando-se em variáveis dummy, devido a problemas de
heterocedasticidade no modelo econométrico, pelo que na tabela 2 apresentam como valor
máximo e mínimo, 0 e 1, no entanto da análise inicial das variáveis foi possível observar que no
que diz respeito à variável qualidade da regulação, esta apresenta um valor médio para a análise
de todos os países de 0,58, sendo que o valor médio mais elevado é observável em Singapura,
1,96, país onde o sistema regulador mostra ser mais eficaz, gerando a confiança dos investidores,
70
enquanto o valor médio mais reduzido é percetível na República da Coreia, -2,28, depreendendo
por isso que o sistema regulador do país seja pouco responsável, transparente e consistente. Por
sua vez, no que concerne à variável estabilidade política, esta apresenta um valor médio na
combinação de todos os países de 0,20, atingindo o valor médio mais elevado no Luxemburgo,
1,42, isto é, o Luxemburgo é considerado o país com maior estabilidade política e com menor
possibilidade de ocorrência de revoltas, enquanto o valor médio mais reduzido se verifica no
Paquistão, -2,09, país em que existe grande tensão política e conflitos bélicos, sendo por isso um
país muito instável.

Por fim, no que concerne à variável crises bancárias, esta apresenta um valor médio para
a generalidade dos países de 0,11 crises, sendo que o valor médio mais elevado se verifica na
Eslovénia, 0,43, pelo que depreendemos que este foi o país que esteve mais anos em crise durante
o período da análise. Contrariamente, o valor médio mínimo, 0, ocorre em 24 dos países em
análise, demonstrando que esses mesmos países, durante o período em análise, não passaram
por nenhuma crise bancária.

Tabela II- Estatística descritiva das variáveis em análise

Desvio
Média Mediana Mínimo Máximo
Padrão
Crescimento do PIB per 2,5567 2,3897 0,23324 6,7249 1,3440
capita

Crédito ao setor privado em 69,094 49,007 11,647 178,53 44,429


% do PIB

Ações transacionadas em % 39,454 13,0674 0,0014157 387,07 64,095


do PIB

Inflação 6,6844 4,0002 0,48167 60,819 8,9687

Despesa governamental em 28,292 28,477 5,7117 47,053 10,091


função do PIB

Inscrição no ensino 92,529 93,324 35,270 156,32 21,047


secundário

Opinião e responsabilidade 0,48304 0,56333 -2,1806 1,5733 0,81390

71
Qualidade da regulação 0,75410 1 0 1 0,43419

Estabilidade política 0,65574 1 0 1 0,47907

Crises bancárias 0,10773 0,095238 0,00000 0,42857 0,11096

Fonte: Elaboração própria com base nos resultados do Gretl

10.2 Matriz de correlação

A tabela III permite-nos avaliar a relação entre as diferentes variáveis que constituem o
modelo econométrico em análise no presente estudo, ou seja, permite observar qual a correlação
existente entre as mesmas.

Da análise da matriz de correlação, presente na tabela III, é possível observar que o crédito
ao setor privado em função do PIB (CSPPIB) apresenta uma correlação negativa considerável com
as variáveis inflação (Inf), (-0,42), e crescimento do PIB per capita (Cres PIB), (-0,39), pelo que
podemos inferir que o crédito ao setor privado se move em direção oposta às variáveis inflação e
crescimento do PIB per capita, quando um cresce o outro diminui. No entanto, seria esperado que
o crédito ao setor privado em função do PIB e o crescimento do PIB per capita se movessem no
mesmo sentido, contrariando desta forma a literatura referida, como Calderón e Liu (2003) que
defende que o crédito ao setor privado se encontra diretamente relacionado com o crescimento
económico, ou como Levine e Zervos (1998) que referem que o crédito aos setor privado se
encontra altamente relacionado com o crescimento económico.

Por outro lado, no que diz respeito às ações transacionadas em função do PIB, esta
variável encontra-se positivamente relacionada com as variáveis crédito do setor privado em função
do PIB, inscrição no ensino secundário, opinião e responsabilidade, qualidade da regulação e
estabilidade política e negativamente relacionada com as vaiáveis crédito ao setor privado em
função do PIB, inflação, despesa governamental em função do PIB e com a variável dependente,
crescimento do PIB per capita. Relativamente à relação entre as ações transacionadas e o
crescimento do PIB per capita, era esperado que estas variáveis apresentassem uma relação
positiva entre elas, isto é que se movessem no mesmo sentido, contrariando desta forma a
literatura mencionada em que, segundo autores como Levine e Zervos (1998) e Levine e Renelt

72
(1992), as ações transacionadas desempenham um impacto positivo sobre o crescimento
económico, considerando as mesmas como um indicador robusto deste.

Importa ainda realçar a correlação positiva e considerável entre a variável ações


transacionadas e a variável crédito ao setor privado em função do PIB, (0,70). Dado que o
indicador do desenvolvimento do sistema bancário e o indicador do desenvolvimento do mercado
de capitais se encontram fortemente correlacionados, podemos realçar a relação existente entre
o sistema bancário e o mercado de capitais.

No que toca à inflação (Inf), esta encontra-se correlacionada negativamente com todas as
variáveis em análise, exceto com a variável dependente, crescimento do PIB per capita (0,25).
Apesar de apresentar correlações negativas, os valores das mesmas não são muito acentuados.
A relação existente entre a inflação e o crescimento do PIB per capita contraria de certa forma
autores como Barro (1995) ou Roger (1998), que referem que a inflação tem efeitos nefastos para
a economia, razão pela qual muitos bancos centrais se têm preocupado nos últimos anos em
manter as taxas de inflação reduzidas e estáveis, pois só nestes casos as mesmas conseguem ser
benéficas para as economias e, consequentemente, geradoras de crescimento económico, ou seja
ambas as variáveis mover-se-iam em sentidos opostos. No entanto a inflação é necessária para a
ocorrência de crescimento económico, sendo benéfica até certo ponto, começando depois a ser
nefasta para a economia, surgindo a assim a necessidade da mesma ser controlada pelos bancos
centrais como forma de a manter estável, desta forma, as variáveis mover-se-iam na mesma
direção.

Por sua vez, a despesa governamental em função do PIB (DGPIB) denota correlação
positiva com a maioria das variáveis, sendo a mesma consideravelmente significativa para as
variáveis inscrição no ensino secundário (IES), (0,47), e opinião e responsabilidade (OR), (0,55).
Ou seja quando a despesa governamental aumenta o nível de educação do país assim como o
índice de liberdades civis registado. Porém, a variável despesa governamental em função do PIB
apresenta correlação negativa com a variável dependente de (-0,19), pelo que depreendemos que
o aumento da despesa governamental tem um impacto negativo no crescimento económico. A
situação observada é espectável pois aumentando a escolaridade da população bem como a
liberdade da mesmo e a possibilidade de participação civil faz aumentar a despesa governamental
e, quando esta aumenta poderá ocorrer um decréscimo no crescimento do PIB se não estiver
associada a atividades produtivas, geradoras de receitas, como refere Barro (1990), isto é, o facto

73
de que se a despesa governamental não incidir, primordialmente, em fatores produtivos, mas sim
na prestação dos bens e serviços necessários ao normal funcionamento de uma sociedade, a
mesma terá um impacto negativo no crescimento económico, pois apesar de permitir a evolução,
não gera crescimento económico em si. A literatura neste domínio aponta para este mesmo
resultado pois, como refere Barro (1991) o aumento dos recursos financeiros destinados ao
financiamento de atividades não produtivas encontra-se associado a uma redução no crescimento
económico. Da mesma forma, Grier e Tullock (1989) referem a relação negativa e estatisticamente
significativa entre as duas variáveis.

No que concerne à variável inscrição no ensino secundário importa salientar a correlação


positiva e acentuada com as variáveis opinião e responsabilidade, (0,58), qualidade da regulação
(QR), (0,49) e estabilidade política (ES), (0,51), podendo ressalvar a forte correlação da variável
inscrição no ensino secundário com as restantes variáveis sociais. Devemos ainda salientar a
correlação negativa, apesar pouco notória, com a variável crescimento do PIB per capita, (-0,21),
ou seja ambas as variáveis movem-se em direções opostas, quando o crescimento económico
aumenta, a inscrição no ensino secundário diminui e vice-versa. O efeito negativo da escolaridade
ou da educação sobre o crescimento económico contraria a perspetiva de vários autores,
nomeadamente Asteriou e Agiomirgianakis (2001) que referem a educação como um dos mais
importantes fatores impulsionadores do crescimento económico, da mesma forma que Cooray
(2009) que afirma que sociedades com níveis mais elevados de escolarização exprimem também
níveis mais elevados no que respeita ao crescimento. Este autor refere ainda a educação como
fator que permite ajudar na erradicação da pobreza, acabando por funcionar de forma mais
alargada como promotor do crescimento económico.

Por sua vez, a variável opinião e responsabilidade apresenta correlação positiva e


acentuada com as variáveis qualidade da regulação (0,69) e estabilidade política (0,68),
compreendida pelo facto de que o maior envolvimento dos cidadãos na escolha governamental e
participação social gerar uma maior estabilidade política e a construção de melhores políticas
públicas. Importa ainda salientar que a variável opinião e responsabilidade apresenta ainda
correlação negativa com o crescimento do PIB per capita (-0,34).

No que toca à qualidade da regulação, esta apresenta uma correlação positiva e acentuada
com a estabilidade política (0,71), e correlação negativa com as crises bancárias, compreendida
pelo facto de melhores e mais eficientes formas de regulação terão efeitos na redução de

74
ocorrência de crises, e com a variável dependente, crescimento do PIB per capita. O relação entre
a qualidade da regulação e o crescimento do PIB per capita não se encontra em concordância
com a literatura analisada pois, como referem Jalilian, Kirkpatrick e Parker (2007), economias que
apresentam formas de regulação eficientes e eficazes conseguem alcançar melhores níveis de
crescimento económico.

A estabilidade política apresenta uma correlação negativa, mas muito próxima de zero
tanto com as crises bancárias e com o crescimento do PIB per capita, pelo que auferimos que a
estabilidade política não se encontra fortemente associada à ocorrência de crises bancárias e ao
crescimento económico.

Por último, no que diz respeito à variável crises bancárias, esta apresenta uma correlação
negativa com a varável dependente (-0,23), uma vez que se ocorrer uma crise bancária o
crescimento económico do país irá sofrer perdas ou até mesmo decrescer. O resultado obtido vai
ao encontro de muitos autores e economistas, como Loayza e Rancière (2004), que defendem
que países financeiramente mais frágeis têm tendência a apresentar um pior desempenho no que
concerne ao crescimento económico, e Caprio (1997), que afirma que a instabilidade financeira
gera problemas no crescimento económico que vão muito para além do período a que fica
circunscrita uma crise bancária.

Tabela III- Matriz de correlação

CSPPI AT Inf DGPIB IES OR QR EP CB Cres


B PIB
CSPPIB 1,00 0,70 -0,42 0,06 0,44 0,41 0,43 0,37 0,07 -0,39

AT 1,00 -0,25 -0,20 0,17 0,09 0,14 0,12 -0,12 -0,21

Inf 1,00 -0,08 -0,20 0,28 -0,21 -0,23 -0,01 0,25

DGPIB 1,00 0,47 0,55 0,42 0,37 0,29 -0,19

IES 1,00 0,58 0,49 0,51 0,16 -0,21

OR 1,00 0,69 0,68 0,11 0,34

QR 1,00 0,71 -0,03 -0,15

EP 1,00 -0,02 -0,002

CB 1,00 -0,23

75
Cres 1,00
PIB

Fonte: Elaboração própria com base nos resultados de Gretl

10.3 Análise dos resultados obtidos

Da análise do modelo econométrico do presente estudo depreendemos um conjunto de


dados que podem ser observados através da análise da Tabela IV.

A tabela IV apresenta os resultados de dois modelos de estimação OLS, tendo por base a
variável dependente crescimento do PIB per capita, contendo as estimativas para os coeficientes
das variáveis e os respetivos erros padrão. O primeiro modelo presente na Tabela IV prende-se
com e estimação do modelo OLS sem erros robustos, enquanto os resultados do segundo modelo
presentes nesta mesma tabela, representam a estimação do modelo OLS com erros robustos,
para resolver o problema de heteroscedasticidade detetado.

Da análise dos valores contidos na Tabela IV podemos depreender a variável opinião e


responsabilidade revelou, no modelo econométrico em análise, ter um impacto negativo no
crescimento do PIB per capita, indo ao encontro da posição de alguns autores como Huntington
(1987), ou mais recentemente, Gerring et al. (2005), defensores de que a democracia e a
participação dos cidadãos na sociedade não são promotoras do crescimento económico, sendo
que Huntington (1987) realça ainda que não é possível a coexistência dos dois, democracia e
crescimento económico. No entanto, contrariando em certa medida o resultado do modelo, Barro
(2000) refere não ser necessária a democracia para existir crescimento económico, mas refere
também que o impacto desta no crescimento é reduzido.

No que concerne à estabilidade política esta revelou ter um efeito positivo sobre o
crescimento do PIB per capita. O resultado obtido para a presente variável vai ao encontro daquilo
que se encontra presente na revisão de literatura, mais concretamente quando referenciamos
Alesina et al. (1996), que menciona que a instabilidade política gera incerteza no que toca a
decisões relacionadas com a produtividade económica e, consequentemente, afeta o crescimento
económico. Ou quando referimos Jon-a-Pin (2009), que afirma que quanto maior for o grau de
instabilidade política existente num país menor vai ser o respetivo crescimento económico. Ou,

76
por último, quando citamos Aisen e Veiga (2010), aquando da sua afirmação que relaciona a
instabilidade política com uma performance económica.

Da estimação do modelo resultou que será apenas relevante analisar o coeficiente


estimado das variáveis opinião e responsabilidade, e estabilidade política, uma vez que foram as
que se revelaram individualmente significativas quando analisado o valor t.

Tabela IV- Resultados da estimação do modelo econométrico

Modelo estimado 2
Variável Modelo estimado 1
(erros padrão robustos)
1,95534 1,95534***
Constante (0,790963)** (0,690215)

Crédito ao setor
-0,00794363 -0,00794363
privado em % do (0,00606808) (0,00471723)
PIB
Ações
-0,00572910 -0,00572910
transacionadas em (0,00551543) (0,00443779)
% do PIB
0,009977531 0,009977531
Inflação (0,0160635) (0,00964572)

Despesa
-0,0250264 -0,0250264
governamental em (0,0186792) (0,0179733)
função do PIB

Inscrição no ensino 0,00932732 0,00932732


secundário (0,00868233) (0,00801699)

Opinião e -1,08664*** -1,08664***


responsabilidade (0,293491) (0,237131)

Qualidade da 0,750060 0,750060*


regulação (0,584545) (0,441742)

1,47311*** 1,47311***
Estabilidade política (0,465324) (0,382247)
-0,173777 -0,173777
Crises bancárias (1,31528) (1,20533)

Observações 61 61

77
Observações
12 12
omissas

R-quadrado 0,518228 0,518228

R-quadrado
0,407050 0,407050
ajustado

Nota: * representa um nível de significância estatística de 10%; ** representa um nível de


significância estatística de 5%, *** representa um nível de significância estatística de 1%.

Fonte: Elaboração própria com base nos resultados do Gretl

Para a análise da significância global do modelo, testamos se todas as variáveis explicativas


são, num âmbito geral, significativas para o modelo, sendo que por isso testamos as seguintes
hipóteses.

𝐻0 = 𝛽1 = 𝛽2 = 𝛽3 = 𝛽4 = 𝛽5 = 𝛽6 = 𝛽7 = 𝛽8 = 𝛽9 = 0

𝐻1 = 𝑃𝑒𝑙𝑜 𝑚𝑒𝑛𝑜𝑠 𝑢𝑚 𝛽𝑗 ≠ 0; 𝑗 = 1,2,3,4,5,6,7,8,9

Sob H0,

𝐸𝑆𝑆/(𝑘 − 1) 𝑅 2 /(𝑘 − 1)
𝐹= = ~𝐹
(1 − 𝑅 2 )/(𝑇 − 𝑘) (1 − 𝑅 2 )/(𝑇 − 𝑘) 𝑘−1;𝑇−𝑘

0,51823/9
𝐹= ~𝐹 = 4,6612
0,4818/39 9;39

Nesta situação, o valo crítico segundo a tabela de distribuição F de Snedecor é 2,13.


Rejeita-se H0 se 𝐹𝑜𝑏𝑠 > Valor crítico. Assim sendo, rejeita-se HO, comprovando-se que o modelo é
globalmente significativo, ou estatisticamente significativo.

De forma a averiguar a existência de heteroscedasticidade no modelo econométrico em


análise vamos recorrer ao teste White.

78
Dado que valor do Qui-quadrado é de 11,25 e o correspondente valor crítico presente na
tabela da distribuição do Qui-quadrado é de 7,962 rejeita-se a hipótese nula, pelo que podemos
concluir que existe um problema de heteroscedasticidade, não sendo possível confiar na inferência
estatística do modelo estimado, dado isto necessitamos de recorrer à estimação do modelo com
erros padrão robustos.

Os resultados desta estimação encontram-se presentes na Tabela IV.

O modelo de regressão linear múltipla, utilizando o método dos mínimos quadrados,


pressupõe a não ocorrência de forte correlação entre as variáveis independentes, isto é, assume
a ausência de multicolinearidade.

Desta forma, de modo a averiguar a interdependência das variáveis independentes, surge


a necessidade de levar a cabo um teste relativamente à multicolinearidade, concretamente,
levámos a cabo a realização de um teste VIF, indicador frequentemente utilizado para a análise
desta problemática. Na realização deste mesmo teste, caso o resultado obtido individualmente
para uma das variáveis em análise seja superior a 10 concluímos que a variável apresenta
multicolinearidade.

Segundo a regra supracitada, e como constatável na Tabela V, nenhum dos valores


apresentados é superior a 10, ou seja, as variáveis não apresentam relações entre si, pelo que os
valores os valores das variáveis podem ser utilizados para a estimação do modelo, podendo ser
utilizados para efetuar previsões.

Tabela V- Teste VIF para a multicolinearidade

CSPPIB AT Inf DGPIB IES OR QR EP CB


VIF 3,732 3,063 1,288 2,003 1,903 3,243 2,776 2,287 1,153
Fonte: Elaboração própria com base nos resultados do Gretl

79
11. Conclusão
A presente dissertação teve por objetivo estudar o impacto que um conjunto de variáveis
macroeconómicas e sociais desempenha junto do crescimento económico, ou seja, testar a
importância que o desenvolvimento do sistema financeiro pode ter para o crescimento económico.

Da análise de literatura efetuada depreendemos que o sistema financeiro é um conceito


bastante amplo, que engloba inúmeros aspetos, devendo, porém, realçar dois dos segmentos que
o compõem, o sistema bancário e o mercado de capitais. Contudo apesar de existirem países com
sistemas financeiros baseados no sistema bancário e outros cujos sistemas financeiros são
baseados nos mercados de capitais, a criação de ambiente em que instituições financeiras e
mercados de capitais consigam prestar um conjunto de serviços financeiros sólidos e capazes de
estimular o crescimento económico deve ser a questão central no que se refere aos sistemas
financeiros.

O sistema financeiro desempenha ainda algumas funções distintas, havendo, no entanto,


a função de mobilizar e facilitar a alocação de recursos no espaço e no tempo que é a mais
importante, sendo que posteriormente, através dos canais de transmissão, acumulação de capital
e inovação tecnológica, o sistema financeiro exerce influência sobre o crescimento económico. Por
sua vez, o crescimento económico é um conceito mais restrito, usualmente utilizado para analisar
o comportamento de uma economia nacional. Contudo, o sistema financeiro e o crescimento
económico encontram-se fortemente relacionados, nomeadamente através da alocação eficiente
do capital que é capaz de gerar crescimento económico no longo prazo, assim como o crescimento
económico, que quando apresenta taxas superiores ao nível médio, torna mais célere o
crescimento económico.

No entanto, as crises financeiras e bancárias são um aspeto que devemos ter em


consideração uma vez que afeta todos o sistema financeiro, assim como a economia em geral,
além de que podem fazer com que ocorram períodos de recessão económica, afetando o
crescimento a médio e longo prazo, isto porque, os efeitos de uma crise perduram no tempo,
apresentando efeitos mesmo após alguns anos.

De modo a testar o impacto que o desenvolvimento do sistema financeiro tem sobre o


crescimento económico recorremos à construção um modelo econométrico baseado em estudos

80
empíricos realizados anteriormente para o mesmo âmbito, reunindo num mesmo trabalho as
variáveis utilizadas em diversos estudos e que se revelaram significativas para explicar o
crescimento económico. Para tal incluímos no modelo econométrico: um indicador do
desenvolvimento do sistema bancário, o crédito ao setor privado em função do PIB; um indicador
do desenvolvimento do mercado de capitais, as ações transacionadas em função do PIB; a variável
inflação; a variável despesa governamental em função do PIB; um indicador do nível de educação,
a variável inscrição no ensino secundário; um índice de liberdades civis, a variável opinião e
responsabilidade; um índice de burocracia, a variável qualidade da regulação; um índice de direitos
políticos, a variável estabilidade política; e, a variável crises bancárias. O modelo econométrico foi
analisado para um universo de 61 países, entre 1996 e 2016.

Da análise dos resultados obtidos após a estimação do modelo econométrico concluímos


que o modelo estipulado se revelou globalmente significativo, apesar de apresentar problemas de
heteroscedasticidade, resolvidos com recurso à estimação do modelo econométrico com erros
robustos. O valor dos coeficientes estimados das varáveis, opinião e responsabilidade, reflexo de
um índice de liberdades civis, e estabilidade política, reflexo de um índice de direitos políticos,
encontram-se em concordância com a literatura existente.

Porém no que concerne à correlação existente entre as restantes variáveis a maioria vai
ao encontro da literatura estudada, contudo, as variáveis, crédito do setor privado em função do
PIB, indicador do desenvolvimento do setor bancário; ações transacionadas em função do PIB,
indicador do desenvolvimento do mercado de capitais; a variável inscrição no ensino secundário,
reflexo o nível de educação do país e a variável qualidade da regulação, reflexo do índice de
burocracia; contrariam a literatura referida.

Importa também mencionar que, no presente trabalho, três das variáveis explicativas
analisadas tiveram especial foco, sendo as mesmas o indicador do desenvolvimento do sistema
bancário e o indicador do desenvolvimento do mercado de capitais, uma vez que representam
dois dos segmentos que compõem o sistema financeiro. Além destas variáveis, também as crises
bancárias tiveram especial atenção, uma vez que estes fenómenos além de destabilizarem o
normal e eficiente funcionamento do sistema financeiro, destabilizam também a economia de
forma generalizada.

Da análise dos resultados obtidos a partir do modelo econométrico utilizado, que se


revelou globalmente significativo, como já mencionamos anteriormente, podemos auferir que os

81
fatores associados ao sistema financeiro analisados desempenham, de forma conjunta, influência
sobre o crescimento económico.

No que à realização do estudo empírico diz respeito, deparamo-nos com algumas


limitações, mais concretamente com a falta de dados disponíveis para alguns países, durante
alguns anos ou para variáveis em específico, razão pela qual a amostra inicial teve de ser redefinida
para existirem dados disponíveis.

Por último, importa realçar o facto de que, apesar das inúmeras crises financeiras,
monetárias e bancárias ocorridas ao longo da história, o conhecimento que detemos sobre as
mesmas é ainda reduzido, pelo que continuamos a não compreender como ou quando irão
ocorrer, sendo surpreendidos pelo desencadear dos colapsos financeiros. Desta forma torna-se
preponderante continuar a estudar, observar e refletir sobre as crises, tentando assim evitar que
aconteçam, ou caso já não seja possível evitar, minimizando o impacto, os danos e os custos que
estas causam nas economias.

82
12. Referência bibliográficas
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