ALUNOS: Ana Luiza Meireles (202051674237) e Heberson Santos (202051066024)
PROFº: Glaybson Guedes Estudo de Caso – AV1 Um caso de racismo envolvendo dois estudantes da Universidade Estadual de Santa Catarina é investigado pela Polícia Civil. Conforme a queixa feita à polícia, Alvinho Deutchliter, um aluno de doutorado em Filosofia, de 28 anos, enviou uma série de mensagens de cunho racista à namorada de Sildemário Taberilônio de Jesus do Amor Divino, de 24 anos, estudante de Políticas Públicas da mesma universidade, pelas redes sociais. Ele afirma que a mulher "merece coisa melhor", e faz declarações como a de que os negros possuem características genéticas diferentes, e exalam cheiro típico, como se lê a seguir: "Pensa que assim como no gene o negro é dominante, ele também exala um cheiro típico, libera substâncias no ambiente e na troca com parceiros. Por isso, os europeus são protetores, "patriarcais", porque se não fosse isso eles perderiam potencialmente a etnia. As mulheres sempre foram muito protegidas contra influências de estranhos, sobretudo negros", diz a mensagem. Ao ser questionado pela imprensa sobre o caso, Alvinho disse que "está saindo uma enxurrada de fake news muito graves a meu respeito" e informou que deve buscar assessoramento jurídico. Na manhã desta terça (5), ao ser questionado sobre a expressão "exala um cheiro típico", ele informou que "não há a menor carga de racismo ou injúria", e que "deve esse debate às autoridades". E continuou: "Não sou um demônio, não sou racista e não cometi crime. É por isso que ao invés de simplesmente processar eles quiseram usar de meios mais cruéis para fazer de mim um demônio em sociedade. (...) Isso é criminoso, de má fé, algo muito pior que simplesmente chamar alguém de 'homúnculo', como o rapaz está dizendo que foi chamado", afirma. 1) No caso selecionado, há a violação de direitos de acordo com a legislação brasileira vigente? Justifique sua resposta. (1,5 ponto) Sim. O racismo no Brasil produz inúmeras violações de Direitos na Sociedade. O aluno Alvinho, no caso em tela, fere a dignidade da pessoa humana, fere direitos naturais, fundamentados na nossa carta magna, tais como Direito à honra, à moral, a imagem pessoal, etc. 2) Pesquise e apresente a legislação vigente que melhor se aplicaria à resolução do caso de acordo com o seu entendimento da questão anterior. (1,5 ponto) No caso acima, Alvinho cometeu ofensa diretamente a pessoa do Sr. Sildemário quando encaminha as mensagens a namorada do mesmo, ato esse que poderá ser tipificado como Injúria Racial, (art. 20 da lei 7.716/89 caput e § 2º e art. 140 do Código Penal). O Sr. Alvinho também fere toda uma coletividade indeterminada de indivíduos quando sustenta que “como no gene o negro é dominante, ele também exala um cheiro típico, libera substâncias no ambiente e na troca com parceiros”, crime previsto no art.1º da lei 7.716/89, sendo inafiançável, imprescritível e punidos com pena de reclusão. Os crimes de racismo e injuria racial estão expressos na Lei 7.716/1989, no Código Penal Brasileiro, além da previsão constitucional. Art. 1º da lei 7.716/1989 “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Art. 20 da lei 7.716/89 caput e § 2º Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza. Art. 140 do CP- Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. Já a previsão constitucional, enquadrada no caso estudado, está expressa nos art. 1º e 5º Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana Art. 5º, inciso X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. 3) De acordo com seu entendimento, quais fatores sócio-históricos contribuem para que o caso que você escolheu seja verossímil na realidade brasileira atual (1,5 ponto). Historicamente falando, os problemas raciais no Brasil surgiram na era colonial, quando os portugueses importaram seres humanos escravizados para trabalhar nas capitanias, esse foi um dos pilares que, infelizmente, tornou o racismo como algo estrutural em nosso país e na nossa constituição de sociedade, contribuindo, entre outros fatores, para uma visão deturpada de uma “supremacia branca”, que vive em uma sociedade patriarcal e racista, sendo por tanto, o viés epistemológico que insiste em viver dentro de algumas pessoas. No tocante ao cenário atual, o racismo é um câncer espalhado e difundido de pai para filho. Como bem parafraseado pelo cantor Gabriel Pensador: “O racismo é passado em forma de piada, transmitindo a discriminação desde a infância, e o que as crianças aprendem brincando, é nada mais nada menos do que a estupidez se propagando”. Quando a lei Áurea foi assinada em 13 de maio de 1988, o negro estava livre, porém ele se viu livre sem perspectiva de viver, foi jogado às margens da sociedade. Ora podemos, portanto, citar Lazzo Matume, que é categórico em seu trecho quando o mesmo diz que: “No dia 14 de maio, eu saí por aí. Não tinha trabalho, nem casa, nem pra onde ir, levando a senzala na alma, eu subi a favela. Pensando em um dia descer, mas eu nunca desci. O mundo me olhava, mas ninguém queria me ver.” A etimologia da palavra discriminação significa distinguir, separar, determinar uma diferença, classificando grupos de seres humanos. Enquanto o racismo for difundido de forma estrutural, concomitantemente está nutrindo a discriminação, e a responsabilidade da população está diretamente ligada a seu privilégio. 4) Apresente uma ou mais ações que você acredita serem possíveis de você mesmo realizar como futuro profissional do Direito no exercício da sua profissão para reduzir as desigualdades sociais do seu entorno. (1,5 ponto) As questões relacionadas a discriminação, racismo, preconceitos se manifestam de diferentes formas, ainda muito velado, até sob um viés inconsciente. Dito isto, devem ser combativos com a educação, tanto do oprimido quanto do opressor. Para o oprimido deve-se valer de políticas públicas de inclusão, oportunizar a esses indivíduos, sobretudo, equidade junto aos demais, reequiparando a sociedade. Para o opressor deve-se valer de educação/programas de conscientização, saber ouvir o outro, não calar sua voz, parafraseando Djamila Ribeiro em seu livro “O que é lugar de fala?”: “é oferecer visibilidade a sujeitos cujos pensamentos foram desconsiderados durante muito tempo”. O trabalho de conscientização é do Estado e do indivíduo, brancos e negros, todos são responsáveis por reequilibrar a sociedade e transformar o que vai ser contado para as crianças. A punição legal, o jus puniendi, sendo como taxativo, também contribuem como freio para discriminação e racismo.