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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS

CURSO DE LETRAS INGLÊS

CARLOS EDUARDO FERREIRA COLATINO

LINGUAGEM LITERÁRIA
Elementos distintivos e principais características

Palmeira dos Índios, AL


2021
CARLOS EDUARDO FERREIRA COLATINO

LINGUAGEM LITERÁRIA
Elementos distintivos e principais características

Dissertação apresentada à cadeira Teoria da


Literatura I do curso de Letras Inglês da
Universidade Estadual de Alagoas, como
requisito para obtenção de nota.

Orientadora: Prof. Dr. Helenice Fragoso dos


Santos

Palmeira dos Índios, AL


2021
Linguagem literária: Elementos distintivos e principais características

“No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho [...]”
trecho do poema “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade (1928). Numa
circunstância ordinária, ao se deparar com tal frase, muito provavelmente o primeiro
pensamento a discorrer a mente é uma rocha em uma estrada, porém, ao se ter em mente que a
situação remete um uso especial da linguagem, ou seja, uma poesia, a carga significativa da
sentença é transformada. Existem diversos elementos, apesar de muitas vezes convergentes,
na linguagem literária que a distingue da não literária, bem como atributos específicos que
fazem parte da mesma, o que a difere de qualquer outra manifestação fonética ou escrita,
assim como declara o professor e pesquisador Domício Proença Filho (2007).
Em primeira instância, a expressão literária da palavra pode causar estranhamento,
apesar de ter como similaridade para com o uso não literário, a presença de um igual modelo
de linguagem. Bakhtin (2003, p. 267) diz que a literatura “é um sistema ainda mais complexo
e organizado em outras bases”. Os versos de um poema, por exemplo, podem dispor de
atributos visuais e sonoros fora do padrão, que o fazem transmitir aspectos do mundo real,
todavia distantes de sua interpretação momentânea, isso se dá pela potência artística presente
num texto literário, em que seus fatores estéticos e/ou de embelezamento trazem efeitos
carregados de impacto que desfrutam sentimentos diversos no leitor ou ouvinte. Tendo ainda
como base a obra de Carlos Drummond, a figura da pedra pode ir além de sua materialização
e significar, por exemplo, atribulações, obstáculos enfrentados na vida, que por sua vez estaria
sendo representada pelo caminho, distinguindo-se, assim, do texto jornalístico ou científico.
Existem ainda características que são próprias da obra literária, fazendo-a singular a
outras composições, assim como exibe Proença Filho (2007). Tem-se a complexidade
presente nas obras, que a faz ultrapassar a semântica. Retomando o poema “No meio do
caminho”, os versos revelam uma natureza que vai além do sentido literal da palavra. Outro
traço relevante é a polissemia, ou seja, o múltiplo sentido possível atribuído à uma sentença,
observa-se, analogicamente, outra interpretação possível para o trabalho de Carlos
Drummond, em que a repetição da frase no texto pode ser contemplada como uma crítica ao
parnasianismo, fazendo gozação através de versos simples e nítidos, muito distante do
vocabulário calculado de autores parnasianos. Outra individualidade da linguagem literária é
o predomínio da conotação, permitindo que as palavras adquiram status de símbolo.
Caracteriza-se pelo uso especial dos termos, como anáforas e metáforas, que garantirão a
plurissignificação, deixando espaço aberto para várias interpretações. Um dos mais eminentes
aspectos é a liberdade de criação, implica dizer que o limite é a criatividade do autor,
indivíduo este que tem autonomia para perfurar a tradição linguística. Segundo Proença Filho
(2007, p. 47) “Seu único espaço de criação é o da liberdade”, o que acarreta o próximo
caráter da obra literária, que é a ênfase no significante. Tenha-se, por exemplo, o poema
“Colar de Carolina”, de Cecília Meireles (2012): “Com seu colar de coral, Carolina, corre por
entre as colunas da colina [...]”. Na criação da autora, nota-se o afiado aspecto rítmico. Em
verdade, o poema de Cecília Meireles abandona parte de seu significado dando mais
relevância para seu significante, o aspecto acústico de seu poema, como pode-se perceber em
sua propriedade fonética a presença repetida das letras “C”, “O” e “R”, além da presença de
rima, outra característica sonora voltada para a construção estética da mensagem. Ademais,
possui-se a variabilidade do texto literário, por sua parte estritamente ligada a um contexto
histórico e social. A língua é atrelada a cultura, que segue por séries de transformações ao
longo do tempo, por essa razão não se pode, por exemplo, analisar Memórias Póstumas de
Brás Cubas, obra de Machado de Assis, a partir de um ponto de vista contemporâneo, pois o
conteúdo do livro é puramente baseado nas circunstâncias em que o autor estava quando o
produziu, é distante da realidade atual, e para melhor compreendê-lo é necessário atentar-se a
variabilidade.
O conceito de linguagem literária ainda é muito discutido hoje em dia e não se possui
consenso absoluto, pode-se ainda citar textos de caráter informativo que são declarados
literários por convenção, como é o caso das cartas do padre José de Anchieta, escritas entre
1554 e 1565, documentos de natureza descritiva informativa institucionalmente declarados
literatura. Proença Filho (2007) exibe, porém, peculiaridades consensuais dentro da
linguagem literária tornando-a mais palpável aos olhos, o que permite distingui-la da não
literariedade, sendo estes traços a complexidade, multissignificação, predomínio de
conotação, liberdade, relevância especial no significante e a variabilidade dos textos. As
características expostas acima permitem a visualização e identificação do que vem a ser a
linguagem dessa tão importante manifestação artística e cultural, a literatura.
REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

DRUMMOND, C. No meio do caminho. Revista de Antropofagia. São Paulo, 1928.

MEIRELES, C. Ou isto ou aquilo. São Paulo: Global Editora, 2012.

PROENÇA FILHO, D. A linguagem literária. São Paulo: Ática, 2007

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