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(PT-20210317) Visão
(PT-20210317) Visão
SEMANAL
A NEWSMAGAZINE MAIS
MAI S LIDA DO PAÍS WWW.VISAO.PT
REALEZAA
OS ESCÂN
ESCÂNDALOS
DALOS
QUE ABAL
ABALAM
ILHAS:
Nº 1463 . 18/3 A 24/3/2021 . CONT. E ILHA
OS TRONOS
PRESIDÊNCIA
PORTUGUESA
PATROCÍNIOS
PROVOCAM
MAL-ESTAR
NA EUROPA
Jacqueline Acevedo,
consultora, trocou Boston por Cascais,
que não conhecia. “Sei que parece
uma loucura, mas tive um feeling”
O SONHO PORTUGUÊS
QUE ATRAI OS AMERICANOS
AS HISTÓRIAS DE QUEM DEIXOU O “AMERICAN DREAM” PARA TRÁS E SE MUDOU PARA
PORTUGAL, POR CAUSA DA QUALIDADE DE VIDA, DO INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO,
JOSÉ CARLOS CARVALHO
VISÃO ONLINE
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As suas marcações Ler
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BIB
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A EVOLUÇÃO
DUAS OPÇÕES FORÇADA
DE LEITURA DA REVISTA Uma investigadora
portuguesa está a estudar a
Pode escolher resposta dos animais para se
adaptarem às mudanças
como prefere ler provocadas pelo
aquecimento global
a edição semanal: LUÍS RIBEIRO
em formato de texto, sua extinção, seja por que razão for, não
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MPRE DIMEN
EMPREENDIMENTO ARRISCADO
► Aproxime e afaste
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Pode pesquisar um tema que lhe interesse
nos artigos publicados na edição semanal da VISÃO.
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VISÃO
18 MARÇO 2021 / Nº 1463
RADAR
14 Raios X
16 A semana em 7 pontos
18 Holofote
19 Inbox
20 Almanaque
GETTY
21 Transições
22 Próximos capítulos
26 Imagens do mundo 68 Monarquias em vias de extinção?
Ao darem uma entrevista em que acusam a Casa Real de racismo, os
duques de Sussex provocaram a enésima crise que Isabel II enfrenta em
FOCAR quase sete décadas. Os reis e as rainhas são mesmo um anacronismo?
74 Como será o PAN
sem André Silva?
78 O enredo dos “patrocínios”
30 Portugal, a terra prometida
Nos últimos seis anos, as autorizações de residência concedidas a
da Presidência Portuguesa cidadãos dos Estados Unidos da América quase duplicaram – e nem a
80 Saúde: rastrear a pandemia pandemia abrandou as chegadas. O que oferece este sonho português?
LUÍS BARRA
DESPORTO NO PRR
É lamentável que o Plano de
Recuperação e Resiliência (PRR) não
Contactos
visao@visao.pt
As cartas devem ter um máximo
de 60 palavras e conter nome, morada
e telefone. A revista reserva-se
o direito de selecionar os trechos
que considerar mais importantes.
NOVA MORADA
OUTRAS CENTENÁRIO NOJENTO? CORREIO: Rua da Fonte da Caspolima
EPIDEMIAS A História e as O que é que o teu – Quinta da Fonte,
AVC, enfartes histórias do PCP corpo produz – e que Edifício Fernão Magalhães, 8,
e diabetes te mantém saudável 2770-190 Paço de Arcos
A gota
POR MIA COUTO
ILUSTRAÇÃO: SUSA MONTEIRO
“Há este céu duro, diz, as palavras dela enroscam-se no tecido da máscara
A
Empedrado de ventos...” que lhe cobre o rosto. A própria voz de Teófila lhe pare-
Hilda Hilst ce estranha, depois de atravessar o pano que ela teima
em usar sobre a boca e o nariz.
pós os bombardeamentos, a cidade ruiu, Desde os bombardeamentos que não chove, nem
pedra sob pedra. O que antes era chão é sopra a mais ténue brisa. Os sulcos das rodas e as pe-
agora um imenso tapete de cinzas. Por gadas de Diamantino são o único desenho vivo sobre
entre ruínas, nem gente, nem bicho, nem a perpétua poeira dos escombros. Acontece como na
planta. Resta um único sinal de vida: dona superfície lunar: toda a pegada se torna eterna.
Teófila e o seu marido, Diamantino. Vivem O percurso é o mesmo de sempre: dirigem-se às
no que restou da antiga casa, sobrevivem ruínas da casa dos vizinhos, os Pimentas. Ali se senta
do que sobrou na velha despensa. Todas as Dona Teófila numa mutilada sombra enquanto vai de-
manhãs, dona Teófila pede ao marido que satando falas, como se alguém escutasse do outro lado
vá conferir as reservas de comida, as latas do muro. E vai revelando, num longo rosário, peripé-
de conserva, os sacos de arroz, os garrafões de água. cias e segredos do marido. Aos poucos, ali se des-
E o marido, que é cego, sorri, complacente e faz de fiam lembranças de uma vida conjugal que o próprio
conta que cumpre com o que lhe foi mandado. Diamantino desconhecia. Até que, cansado de tanto
Ao fim da tarde, quando o calor amaina, o casal sai esperar, o homem a faz regressar à realidade.
dos seus escombros privados e atravessa em silêncio – Ponha na sua cabeça, mulher: não há ninguém
a defunta paisagem. Com passo trémulo, Diamantino do outro lado do muro, está tudo morto, mais do que
empurra a cadeira de rodas, guiado pelas instruções morto – vai avisando Diamantino. E depois, entediado,
murmuradas com firmeza pela esposa. Protegida por ele reclama – Porque tanto insistes em falar de mim,
um sombreiro, a velha senhora vai sentada como se as mulher?
ruínas fossem o seu reino, a cadeira fosse o seu trono, – Para que essa maldita Marlu morra de ciúmes –
e Diamantino fosse o seu povo. responde Teófila.
– Devagar, Diamantinho – comanda Teófila. Um sol implacável escoa por entre uma espessa e
E acrescenta – Estás farto de saber que esta poeira é persistente bruma. Apesar desse céu fechado – de onde
um veneno – O marido não percebe nada do que ela para sempre se ausentou o sol e a lua – Dona Teófila
L
1
embrei-me, um dia destes, de uma passa- gueiras, o matemático ouvido pelo Governo, é
gem do Yes, Minister. O gabinete de crise impossível manter o índice de transmissibilida-
britânico estava reunido para traçar um de sempre abaixo de 1. É pura matemática: nal-
plano de ataque para um problema com- gumas situações teremos poucos casos e basta
plexo. Eis o que ficou decidido: “No nível 1, uma pequena variação para existir um Rt acima
dizemos que nada vai acontecer. No nível 2, de 1. Se a incidência se mantiver baixa, não há
dizemos que provavelmente alguma coisa problema. Se for um pouco mais alta, o que
acontecerá, mas não devemos fazer nada facilmente acontecerá com uma maior mobili-
sobre o assunto. No nível 3, dizemos que se calhar dade da população, entramos imediatamente na
devíamos fazer algo, mas não há nada que possa- zona vermelha. O tema de capa,
mos fazer. No nível 4, dizemos que provavelmen- A questão é que Portugal só esteve no “verde”, sobre americanos
te havia algo que podia ser feito, mas que é tarde que permite desconfinar, durante um quar- que vieram viver
demais.” É o chamado plano para inglês ver. to da pandemia. Pelos cálculos do Público, dos para Portugal, tem
Por cá, habemus finalmente um plano de 388 dias desde 21 de fevereiro de 2020, Portu- muitas imagens à
desconfinamento para português ver. Ou algo gal passou mais de metade do tempo na zona escolha.
que se assemelha a um plano, uma vez que amarela (219 dias) em que é preciso estagnar ou
tem um calendário, um gráfico quadriculado e mesmo recuar nas medidas, e só 98 dias na zona
números de referência. E, por isso, para efeitos de conforto fixada para se progredir no calendá-
de forma e comunicação, pode ser apresen- rio e continuar a abrir a economia. Nenhum país 2
tado como tal. O problema são os detalhes ou da União Europeia cumpre neste momento as
a substância. Quando se traça um plano com metas definidas pelo Governo além de Portugal,
uma excessiva preocupação na simplificação diz o Jornal de Negócios.
da mensagem e se dá primazia a critérios po- Além dos valores distintos das linhas verme-
líticos em vez de científicos, estão reunidos os lhas, outras recomendações dos cientistas não
ingredientes para que algo corra mal. foram incluídas: 1. O plano não foi definido com
Algo que aconteceu logo na noite em que o metas de critérios epidemiológicos e sem prazos;
plano foi apresentado, na semana passada. Vá- 2. A taxa de positividade dos testes, que permite
rios cientistas e especialistas, incluindo alguns detetar precocemente o aumento da presença
a quem o Governo pediu o estudo, ficaram viral na comunidade, não foi considerada.; 3. Os
pasmados: como é possível que o PM este- valores a ter em conta no mapa de risco são na- Falámos com
ja a apresentar linhas vermelhas muito mais cionais e não regionais. Segundo afirmou Tiago mais de uma
exigentes do que aquelas que tinham sido Antunes, secretário de Estado adjunto do pri- dezena de
recomendadas? “Será que houve um engano?”, meiro-ministro, a análise regional só será feita pessoas e
questionavam-se em surdina. A resposta do numa segunda fase, se sairmos da zona verde. temos todas
Governo à pergunta colocada pela VISÃO veio Talvez por isso, ou não, o plano que foi efe- fotografadas.
em off: não foram seguidos os valores reco- tivamente publicado em Diário da República
mendados, foi uma “decisão política”. no sábado seguinte seja, em pequenas nuances,
A verdade é que as linhas vermelhas apre- ligeiramente diferente daquele que António
sentadas pelo Governo são muito mais baixas
do que as recomendadas pelos especialistas:
Costa apresentou. Continuam a constar as linhas
vermelhas nos valores anunciados, mas introduz
3
uma incidência de 120 casos por 100 mil habi- graduações de cor – o limite máximo de ver-
tantes nos últimos 14 dias e uma taxa de trans- melho só é alcançado com a incidência acima de
missibilidade (ou Rt) de 1. Já no documento 200 casos por 100 mil habitantes e o Rt acima de
apresentado pelos cientistas, a linha vermelha 1,4. E acrescenta mais uma alínea com os valores
está nos 240 casos e o Rt em 1,2. O quadro- efetivamente recomendados pelos especialis-
-síntese em causa foi elaborado não pelos tas para a incidência: “240 por 100 000.” Mas,
cientistas, bem entendido, mas, segundo admi- mais do que isso, não define com rigor o que é
tem fontes governamentais, por elementos do que acontece especificamente em cada fase da
Executivo para “simplificar” a mensagem. evolução epidemiológica. Fica tudo em aberto,
Um plano “mais papista do que o Papa” por portanto, para uma futura avaliação, também ela
opção política pode ter consequências peri- política. Era bom, digo eu, que os cientistas fos- Mas esta
gosas: ou não é para ser levado a sério, o que sem mais ouvidos. E, já agora, faça-se o mesmo fotografia tem o
melhor enqua-
é grave, ou se for, pode colocar em causa o na avaliação de segurança da vacina da AstraZe-
dramento para
ansiado desconfinamento. Segundo Óscar Fel- neca. manjos@visao.pt
capa. Vamos por
aqui.
N A P R Ó X I M A S E M A N A
S
veloz dos pedidos, por colaboradores portugueses.
martphones, equipamento multimédia, dispositivos O objetivo é “resolver rapidamente os acidentes que com-
conectados. Num mundo cada vez mais ligado, a neces- plicam a nossa vida. Ou seja, tornar a vida real fluida, fácil e
sidade de garantir a proteção dos aparelhos imprescindí- agradável, sem ter de se preocupar com estes inconvenientes”,
veis para o dia-a-dia ganha uma importância acrescida. acrescenta Sadri Fegaier. Um objetivo que ganha ainda mais
Segundo dados do Barómetro de Vida Digital 2021, para 54% relevância em contexto de pandemia. Segundo dados do mes-
dos portugueses, o telemóvel é o objeto que mais lhes custa- mo estudo realizado pela Celside em parceria com a Boutique
ria perder. À frente do cartão de cidadão e das chaves de casa. Research, 81% dos portugueses gostaria de continuar em tele-
É aí que a Celside quer estar. Com um volume de negócios de trabalho. E destes, um terço gostaria de fazê-lo todos os dias.
mais de 1100 milhões de euros previstos em 2021, a seguradora
francesa chegou a Portugal para navegar a era da hiper-conectivi- O FOCO LOCAL
dade e propor seguros que protegem os equipamentos multimédia A Celside Insurance gere diariamente 8 milhões de segurados
contra todos os riscos: quebra, oxidação, perda e furto ou roubo. na Europa e é acompanhada por uma rede de 2500 parceiros.
A ambição é mesmo acompanhar todos os momentos da vida e Afirma-se como uma marca internacional com “forte implan-
oferecer cada vez mais serviços “personalizados, fiáveis e eficazes”. tação local”. Para isso, procura desenvolver os seus centros de
atendimento nos territórios em que se encontra implantada e
UMA ABORDAGEM MAIS HUMANA mobilizar equipas de especialistas em seguros com um “conhe-
Num país em que cerca de 80% da população utiliza o telemóvel cimento perfeito das especificidades do seu mercado”.
logo ao acordar e imediatamente antes de dormir, a proposta Presente em França, Espanha, Bélgica, Portugal e Itália, a mar-
da Celside procura diferenciar-se. Para oferecer as “coberturas ca prevê implantar-se, nos próximos meses, em novos mercados
multirriscos mais completas do mercado”, permite que o clien- europeus, nomeadamente na Alemanha.
te possa modular o serviço em função das suas necessidades. A Celside Insurance integra o Indexia Group, grupo francês
Com condições de adesão flexíveis, possibilita ainda um teste que, em 2021, renova a sua aposta na Europa e na peninsula
dos serviços durante 30 dias e alterar o seguro através de uma ibérica, prevendo contratar cerca de 1000
chamada, com cobertura em 48 horas. colaboradores em todo o continente, 500 dos
“A Celside Insurance tem a vocação específica de se adaptar quais na península – 200 deles em Portugal.
Ricos cada vez mais ricos A lista dos multimilionários em tempo real da
Forbes mostra como um ano de pandemia não fez
mossa aos mais ricos – bem pelo contrário
M A N U E L B A R R O S M O U R A mbmoura@visao.pt
VALORES
EM MILHARES
DE MILHÕES
SEMPRE A CRESCER DE EUROS
A revista Forbes mantém uma lista de bilionários em tempo real. Pela análise da evolução desse ranking desde março de 2020,
quando foi declarada a pandemia Covid-19, constata-se que muitas fortunas aumentaram de forma espetacular. O homem mais
rico do mundo continua a ser Jeff Bezos. Durante esse período, porém, chegou a ser pontualmente ultrapassado por Elon Musk,
cuja riqueza cresceu 565,4%. No terceiro lugar, ficou o francês Bernard Arnault, cujo enriquecimento chegou aos 106,3%
Jeff Bez
Bezos (EUA) Elon Musk (EUA) Bernard Arnault (França) tes (EUA)
Bill Gates (E tt (EUA)
Warren Buffett
152,8 137,7 131,8 104,1 79,8
CEO da Amazon, proprietário CEO da Tesla Presidente e diretor-executivo da LVMH Fundador e presidente não executivo Investidor e filantropo, presidente
do Washington Post e da empresa e da SpaceX Moët Hennessy - Louis Vuitton SE, maior da Microsoft. Copresidente da do conselho e diretor-executivo
aeroespacial
p Blue Origin empresa de artigos
a g de luxo do mundo Fundação Bill e Melinda Gates da Berkshire Hathaway
Hat
Mark Zuckerberg
b (EUA) Larry Ellison (EUA) Larry Page (EUA) Sergey Brin (Rússia) Daniel Gilbert (EUA)
E
79,8 76,4 75,6 72,2 69,7
Fundador e CEO Cofundador e presidente-executivo Cofundador da Google. Atual CEO Cofundador da Google. Ex-CEO Cofundador e presidente da Quicken Loans e
do Facebook e CTO da Oracle da Alphabet Inc. da Alphabet Inc. acionista maioritário dos Cleveland Cavaliers
RICAS HERDEIRAS
As dez mulheres mais ricas do mundo são herdeiras de negócios de família. Mas, ao contrário do que acontecia no passado,
há cada vez mais mulheres a assumir a condução das empresas, sendo tão ou mais capazes de fazer crescer os negócios e de
aumentar as fortunas do que os homens. Deste top, apenas MacKenzie Scott, Julia Koch e Laurene Powell Jobs não se dedicam
exclusivamente à gestão de empresas, mas sobretudo a projetos sociais
Françoise Bettencourt
nçoise Bettenc e Walton
Alice Wal (EUA) cKenzie Scott
MacKenzie Scottt ((EUA)
E ulia Koch (EU
Julia (EUA) ang Huiyan (C
Yang (China)
Meyers (F
(França)
59,6 45,8
45 8 37,7 26,5
26
62,5 Filha única e herdeira de Sam A atual diretora-executiva da Bystander Viúva de David Hamilton Koch, Tem apenas 39 anos. Detém 57%
Herdeira de Liliane Bettencourt, fundadora Walton, fundador da cadeia Revolution, organização anti-bullying. vice-presidente da Koch Industries, da imobiliária chinesa
da L'Oréal. Detém 33% da empresa de supermercados WalMart É ex-mulher de Jeff Bezos uma das maiores empresas dos EUA Country Garden Holdings
li M
Jacqueline Mars (EUA) Susanne Klatten (Alemanha) Iris Fontbona (Chile) Gina Rinehart (Austrália) ne Powell Jobs (EUA)
Laurene
24,3 23,1 20,7 20,1 18,6
Herdeira da família Mars, fundadora Empresária herdeira de Herbert e de Viúva de Andrónico Luksic Herdeira e CEO da Hancock Herdeira
ira de Steve Jobs, funda
fundador
da multinacional do setor alimentar, Johanna Quandt. Detém a maioria e faz Abaroa, de quem herdou Prospecting, fundada pelo pai, Lang da Apple. Fundadora e executiva
produtora, entre outros produtos, parte da administração da Altana. a multinacional Hancock, maior empresa de da Emerson Collective, organização
dos chocolates Mars É também dona de 12,5% da BMW Antofagasta PLC prospeção e extração de minério para a mudança social
FORTUNAS À PORTUGUESA
No mesmo ranking, disponível no site da Forbes, constam apenas dois nomes portugueses. Na 600ª posição aparece a família Amorim, com uma fortuna avaliada
em 3,94 mil milhões de euros. Muito mais abaixo, no 1 152º lugar, surge José Neves, fundador, chairman e CEO da Farfetch, com uma riqueza avaliada em 2,26 mil milhões de euros
FONTE The Real-Time Billionaires List, da Forbes, e Visual Capitalism INFOGRAFIA MT/VISÃO
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7
PONTOS DA SEMANA
POR
RUI TAVARES GUEDES*
UNIVERSITY OF SOUTHERN CALIFORNIA/GETTY IMAGES
VACINAR A CONFIANÇA
Se as vacinas são hoje um dos produtos
farmacêuticos mais disseminados e
que todos os estudos posteriores
negaram, tendo até uma investigação
seguros do mundo isso deve-se, em do jornalista Brian Deer, do Sunday
grande medida, a um erro trágico, Times, descoberto que Wakefield era,
ocorrido em 1955, nos EUA. Nesse ano, afinal, financiado por advogados que
durante a primeira grande campanha lhe pediram para manipular os dados,
de vacinação contra a poliomielite, de forma a avançarem com uma ação
mais de 200 mil crianças foram em tribunal a pedir uma indemnização
inoculadas com doses com defeito de milionária.
fabrico. Em consequência do chamado É importante perceber este contexto
“Cutter Incident” (nome do laboratório quando o mundo vive o maior esforço
californiano), cerca de 40 mil crianças de vacinação da História. E quando
contraíram a doença, 200 ficaram o grau de confiança nas vacinas
com diversos graus de paralisia e não é igual em todo o lado. Apesar
10 morreram. Em contrapartida, de ser o continente que possui, em
foi a partir daí que o processo de termos médios, a população mais
desenvolvimento, controlo e fabrico desenvolvida e culta, a Europa é hoje
de vacinas passou a seguir regras e também o epicentro do ceticismo
critérios altamente exigentes. Por isso, relativo à vacinação, como as
segundo a frase tantas vezes citada do sondagens demonstram: enquanto,
virologista Paul Offit, as vacinas têm nos EUA, cerca de 75% das pessoas
hoje um recorde de segurança “sem dizem confiar nas vacinas, esse
paralelo com qualquer outro produto número desce para 68%, na Alemanha,
médico”. 65%, na Suécia e 59%, em França.
Apesar dessa eficácia e segurança, Por outro lado, a Europa é também o
que contribuiu, por exemplo, para espaço geográfico onde o processo de
a erradicação de uma doença como vacinação corre de forma mais lenta. E
a varíola (responsável pela morte onde se acumulam queixas e alarmes
de milhões de pessoas), a imagem sobre os alegados efeitos secundários
das vacinas nunca conseguiu livrar- de uma das vacinas, a da AstraZeneca
se completamente do “Cutter –, mas sem qualquer tipo de
Incident”. Até porque houve quem paralelo com o que acontece noutras
se tivesse aproveitado disso para latitudes onde as mesmas doses são
as denegrir, como sucedeu com o administradas.
agora desacreditado médico Andrew Neste momento, por tudo isto, a
Wakefield que, em 1998, publicou Europa não precisa apenas de acelerar
um artigo a denunciar uma suposta a vacinação contra a Covid-19. Tem
ligação entre uma vacina combinada também, com urgência, de encontrar
(contra sarampo, rubéola e parotidite uma vacina para que os seus cidadãos
epidémica) e o autismo – algo ganhem confiança na Ciência.
*Diretor-executivo
rguedes@visao.pt
DE HOLLYWOOD. COM
decorrerá a 25 produtora do antigo
de abril, com Homenagem A filmar desde vizinho, George
dez nomeações,
incluindo nas
ao pai
Mank é um drama
ELE NA CORRIDA PARA os 8
David Andrew Leo
Lucas, com quem
colaborou em
categorias de
Melhor Filme,
biográfico, produ- MELHOR REALIZAÇÃO Fincher nasceu a O Regresso de
Jedi e no primeiro
ESTÃO, PELA PRIMEIRA
zido em 2020 pela 28 de agosto de
Melhor Realização, Netflix, que retrata 1962, em Denver, Indiana Jones.
Melhor Direção de A estreia na reali-
Fotografia, Melhor
a história de Her-
man J. Mankiewicz VEZ NA HISTÓRIA, DUAS Colorado. Filho de
Jack, jornalista zação deu-se em
MULHERES
Ator Principal (Gary na época em que que chegou a publicidade. Mais
Oldman) e Melhor escreveu o argu- chefe de redação tarde, ganhou fama
Atriz Secundária mento de Citizen da revista Life, a dirigir videoclips,
(Amanda Seyfried). MANUEL BARROS MOURA tendo arrecadado
Kane (1941). Para e de Claire Mae,
Nada que homenagearr os enfermeira de
enfe dois MTV Video
garanta, por si só, filmes dessa a época, saúd
saúde mental. Music Awards, em
favoritismo. Basta David Fincherer A fam
família mudou- 1989 e 90, com
ver o que aconteceu optou por filmar
mar -se p para a Express Yourself e
nos Globos de Ouro, a preto e branco
nco Calif
Califórnia quando Vogue, de Madonna.
em que o filme e utilizar câmaras
maras David tinha apenas A estreia no cinema
liderou também RED, dando, assim, anos e passou a
2 ano aconteceu em 1992
as nomeWações, maior destaque ue ao ser vivizinha, entre com Alien 3. Desde
mas acabou sem argumento escrito,
scrito, outros, do cineasta
outro então, realizou
prémios. Nos na década de 1990, George Lucas.
Georg vários filmes de
Oscars deste ano pelo seu pai, Jack paixão pelo
A paix sucesso, incluindo
o destaque vai Fincher. A ideiaia cinema surgiu no
cinem Seven (1995), The
igualmente para inicial era de que o pequeno Fincher
peque Game (1997), Fight
o facto de ser a filme fosse realiza-
aliza- aos 8 anos, Club (1999), Panic
primeira vez que do em 1997, mas quando viu um
quand Room (2002), Zodiac
duas mulheres acabou por só se documentário
docum (2007), The Girl With
competem pela concretizar em m sobre a produção the Dragon Tattoo
Melhor Realização: 2020, 17 anos Butch Cassidy
de But (2011) e Gone Girl
a chinesa Chloé após a morte e o SuSundance Kid. (2014). Também
Zhao (a primeira de Jack, com “Nunca me ocorreu produziu três séries
mulher de um cancro. que os filmes não de televisão para
ascendência Por causa da acontecessem
aconte a Netflix: House
asiática nomeada), pandemia, o em temtempo real”, of Cards (2013-
que dirigiu filme teve um conta David,
D 2018), Mindhunter
Nomadland lançamen- explicando que foi
explica (2017-presente) e
− Sobreviver to muito desde então que Love, Death and Ro-
na América, e limitado nas começou
começ a fazer bots (2019). Antes
Emerald Fennell, salas de filmes com uma de Mank, foi nomea-
atriz britânica cinema a 13 câmara
câmar de 8 mm. do para o Oscar de
que integra a de novembro, E nunca
nunc mais Melhor Realizador
série The Crown, sendo, depois, parou. por O Curioso Caso
que se estreia na disponibilizado, de Benjamin Button
realização com a 4 de dezembro, o, (2008) e The Social
Promising Young na plataforma Network (2010). Não
Woman. Netflix. ganhou. Será desta?
M O D É S T I A À PA R T E
Tornei-me
Posso parecer
louco, mas
a última
vamos lutar pelass vítima da
medalhas nos
Jogos Olímpicos cultura do
PAULO JORGE PEREIRA
Selecionador nacional de
andebol, que conduziu a equipa
ao apuramento
cancelamento
que está a
tomar conta
do nosso
país
PIERS MORGAN
O apresentador de televisão, que se
de
demitiu do programa Good Morning Britain
a
após criticar Meghan Markle, lembra que
A única maneira ttambém foi afastado do Daily Mirror por
ser contra a guerra do Iraque e viu um
de entender a comida programa seu ser cancelado nos EUA por
pr
é poder olhar para criticar a lei das armas, de Trump
a cara dos clientes
LJUBOMIR STANISIC FRASE DA SEMANA
O chef estreou no domingo,
14, o seu programa Hell’s
Kitchen, na SIC
Se até ao final
Se Portugal está
de abril os
no armário? Sim. idosos
i estiverem
É o País dos modestos C H O Q U E F R O N TA L
vacinados,
e moderados
FADO BICHA
venceremos
Há quatro anos que Tiago Lila
(ou Lila Fadista), na voz, e João a batalha contra
Caçador, na guitarra elétrica,
assumiram o lado mais queer
do fado
a Covid-19
HENRIQUE OLIVEIRA
Matemático, professor e investigador
na área da dinâmica de populações
do Instituto Superior Técnico
Não me apetece mais
e... deixem-me sair Lucas Veríssimo é Lucas Veríssimo
bem. Ridículos, não. imbatível por cima, não tem metade da
Terem pena de mim, faz-me lembrar o minha loucura
não Carlos Mozer CARLOS MOZER
SIMONE DE OLIVEIRA JORGE JESUS O antigo jogador
A cantora, de 83 anos, anunciou Treinador do Benfica recusa parecenças
que o espetáculo que se realizará elogia o novo defesa- com o reforço do
“em abril ou maio”, no CCB, será central da equipa, Benfica e diz que quem
o último da sua carreira comparando-o ao antigo ele faz lembrar é
internacional brasileiro, Ricardo Gomes, outro
que jogou na Luz nos internacional brasileiro
anos 1980 e 90 que brilhou com o
emblema da águia
NÚMEROS DA SEMANA
€58,4 milhões
A obra de arte digital do artista
Beeple, intitulada Todos os
ias: os primeiros 5 000 dias,
foi vendida na quinta-feira, 10,
em leilão através da internet,
por 69,4 milhões de dólares
(58,4 milhões de euros), valor
recorde para obras não físicas.
Trata-se de uma colagem
digital de fotografias tiradas
pelo artista desde maio de
2007.
€22 milhões
A família do afro-americano
Grilo governante
George Floyd, morto em 2020 Na Nova Zelândia, gostam tanto da primeira-ministra que até dão o seu
por um polícia de Minneapolis, nome a grilos, fungos, besouros e formigas. E Jacinda não se importa
vai receber uma indemnização
de 27 milhões de dólares (22
milhões de euros) do município É do conhecimento geral que a Hemiandrus jacinda, aparentemente
norte-americano. primeira-ministra da Nova Zelândia, por causa da sua coloração vermelha,
Jacinda Ardern, é, nos dias que correm, semelhante à do Partido Trabalhista
uma das políticas mais prestigiadas em do qual Jacinda Ardern é líder. As
€3 milhões
Cinco projetos
todo o mundo. O que talvez poucos
acreditassem era que esse prestígio
fizesse com que o seu nome fosse
suas longas pernas terão, igualmente,
influenciado a escolha. Steven Trewick,
professor de Ecologia Evolutiva
cinematográficos vão receber utilizado para batizar outros seres vivos, responsável pelo “batismo”, explica que
um total de três milhões que não humanos. Desta vez, o nome o inseto “reflete traços da primeira-
de euros de financiamento da chefe de Governo neozelandesa ministra”, na medida em que cada um
à produção de longas- foi o escolhido para identificar uma deles “é muito importante para a Nova
metragens, segundo decisão nova espécie de grilo, recentemente Zelândia”. Um porta-voz da governante
do Instituto do Cinema e do descoberto pela Universidade Massey, garantiu que esta se sente “muito
Audiovisual. A verba é para na Nova Zelândia. Trata-se de um honrada”, lembrando que o seu nome
dividir em partes iguais pelos inseto gigante, incapaz de voar e já servira para batizar “um besouro, um
projetos Gran Tour, de Miguel nativo daquele país. Chamaram-lhe líquen e uma formiga”. Podia ser pior...
Gomes, Vidros no Asfalto, de
Edgar Pêra, Restos, de Tiago
Guedes, Sob a Chama da
Candeia, de André Gil Mata, ESTUDO
e Malcriado, de Vicente Alves
do Ó.
Anda meio mundo a ser enganado com o peixe
Um estudo realizado pelo The Guardian, que comparou os resultados de 44 pesquisas
2 674
Portugal acolheu esta semana
recentes que avaliaram mais de nove mil amostras de peixe e marisco à venda em
restaurantes, peixarias e supermercados em mais de 30 países, concluiu que 36%
apresentavam rótulos incorretos, o que indicia uma fraude generalizada à escala global. O
jornal explica que este tipo de fraude é há muito um problema conhecido em todo o mundo.
cinco migrantes resgatados no Tratando-se de um dos produtos alimentares mais comercializados internacionalmente,
Mediterrâneo e 23 refugiados geralmente através de cadeias complexas e opacas, o pescado é altamente vulnerável à
oriundos da Turquia, elevando rotulagem incorreta. Grande parte da captura global é transportada
para 2 674 o total de de barcos de pesca para enormes navios de transbordo para
requerentes e beneficiários processamento, onde é relativamente fácil falsear os rótulos.
de proteção internacional E há de tudo: desde substituição de espécies por outras
recebidos nos últimos anos, semelhantes mas mais vulgares e baratas a introdução de
anunciou, no sábado, 13, o pescado ilegal no circuito ou a classificação como sendo
Governo. “de mar” de muito peixe criado em aquacultura.
PRÉMIO
A cientista que inventou a
eletrónica transparente e a
eletrónica do papel, Elvira
Fortunato, foi escolhida
pelo júri do Prémio Pessoa,
uma iniciativa conjunta
anual promovida pelo
Expresso e pela Caixa Geral
de Depósitos. Elvira Maria
Correia Fortunato tem 56
anos e nasceu em Almada.
Licenciada em Engenharia
de Materiais, é catedrática
da Faculdade de Ciências
e Tecnologia e vice-reitora
da Universidade Nova de
Lisboa. É a sétima mulher e,
também, a sétima cientista,
a ser distinguida com o
maior galardão atribuído
em Portugal nas áreas de
Ciência, Artes ou Cultura.
C A R L O S C O S TA ( 1 9 2 7- 2 0 2 1 ) E J Ú L I O C O S TA ( 1 9 3 5 - 2 0 2 1 )
MORTES
PERISCÓPIO
É preciso o medo da
morte para mudar?
P O R J O S É M A N U E L P U R E Z A / Professor universitário. Deputado do Bloco de Esquerda
D
os quatro retângulos que compõem o filhos e netos. São eles os grupos de risco e, irrespon-
“boneco” apresentado pelo primeiro-mi- savelmente, não estamos a encará-los como tal, antes
nistro, é o vermelho que tem comandado a acelerar a sua morte. Não nos impomos o inves-
a nossa vida coletiva nos últimos meses. timento em transportes públicos energeticamente
Por nos sabermos no retângulo vermelho limpos, em eficiência energética na habitação e em
da saúde pública, aceitámos fechar-nos em energias renováveis como urgência, e mudamos po-
casa, com o cortejo de desgraças sociais e líticas e hábitos de vida com a mesma lentidão com
económicas daí decorrente. Aceitámo-lo que percebemos que o último Natal não era pro-
porque acreditamos que isso é imprescin- priamente para festas de família. O resultado desta
dível para passarmos do vermelho para os inconsciência social será o mesmo que vivemos em
amarelos e, desejavelmente, para o verde, onde a vida janeiro nos hospitais. Com uma diferença: quando a
reganhará possibilidades de ser fruída com hori- catástrofe ambiental se tornar irreversível, não haverá
zontes de futuro. Temos vivido na má exceção para vacina para a fazer recuar.
reconquistar a boa regra. O segundo exemplo é o da habitação. Neste do-
Compreende-se esta aceitação geral: é o medo da mínio, estamos no retângulo vermelho há décadas.
morte que nos determina. De uma morte ali à esquina, Quem entregou ao mercado e à banca a satisfação do
uma morte no nosso tempo, a direito à habitação sabia o que
nossa morte. A pergunta que te- daí ia resultar: apenas 2% de ha-
mos de nos fazer é se só a morte Estamos no retângulo bitação pública, cerca de 20% da
iminente nos consegue convencer, população em situação de pobre-
como sociedade, de que temos de ambiental vermelho za energética, com os preços da
arrepiar radicalmente caminho e continuamos a ter habitação a aumentar 17% desde
para que a vida em abundância 2010, ao mesmo tempo que mais
para todos possa ser um facto. políticas que são, de 730 mil casas estão vazias.
A verdade é que, em várias dimen- para o Ambiente, É, há tempo demais, de uma si-
sões da nossa vida, estamos, há equivalentes ao que as tuação de catástrofe que se trata.
muito, no retângulo vermelho. E, no entanto, insistimos na ir-
No retângulo da morte. E, desgra- festas clandestinas ou responsabilidade. Continuamos a
çadamente, continuamos a viver o não uso de máscara aceitar políticas de promoção da
na irresponsabilidade que torna os aquisição face ao arrendamento,
retângulos amarelos e verde mira- são para a Covid mesmo sabendo que o recurso ao
gens longínquas. Dou, de seguida, crédito afoga muitas famílias em
dois exemplos de emergências que dívidas que não conseguem pa-
vivemos de modo irresponsável. gar e que se mantêm após a entrega da casa ao banco.
Primeiro exemplo: a nossa resposta às alterações Continuamos a aceitar políticas de animação especu-
climáticas. Desde que as Nações Unidas reconheceram lativa do mercado de arrendamento, como os vistos
a existência de alterações climáticas, nos anos 70, as gold ou os benefícios fiscais a fundos imobiliários.
emissões mundiais de gases com efeito de estufa pra- Passar do retângulo vermelho para os amarelos
ticamente duplicaram. Em termos relativos, Portugal ou para o verde supõe a coragem de reverter estas
contribuiu como os demais para este comportamento políticas de décadas e deixarmos de olhar a habitação
suicida. Resta-nos agora menos de uma década para como um assunto do mercado, mas sim como um
adotar e dar efeito concreto às medidas de emergência direito de todos. É essa a emergência. Uma governa-
que nos podem livrar da irreversibilidade da tragédia. ção que nos mantém no retângulo vermelho para ce-
Estamos no retângulo ambiental vermelho e con- der ao negacionismo dos especuladores será julgada
tinuamos a ter políticas que são, para o Ambiente, por isso.
equivalentes ao que as festas clandestinas ou o não Aplicar o boneco dos quatro retângulos às dife-
uso de máscara são para a Covid. Não assumimos a rentes emergências do presente levará a escolhas
emergência porque nos convencemos de que o risco determinadas de mudança. Antes que a emergência
de morte incidirá não sobre nós, mas sobre os nossos vire catástrofe consumada. visao@visao.pt
Oceano de Esperança é um projeto da VISÃO em parceria com a ROLEX, no âmbito da sua iniciativa Perpetual Planet, para dar
voz a pessoas e a organizações extraordinárias que trabalham para construir um planeta e um futuro mais sustentáveis
“Temos dinheiro, temos tempo e temos equipa para traba- Biologia, e especialização em Biologia Marinha com os gol-
lhar”, conta à VISÃO a diretora do Centro de Humanidades finhos do Sado e os grandes cetáceos no Atlântico. Seria,
da Universidade Nova, Cristina Brito, alertando logo de se- aliás, onde provavelmente estaria, não fosse por um pequeno
guida para a magnitude da tarefa: “Trata-se de um projeto pormenor: “Adoro o mar, e sempre trabalhei no mar, mas
muito ambicioso que pretende criar a primeira avaliação infelizmente enjoo. E, se aqui no continente e nos Açores
global do papel dos recursos marinhos no desenvolvimen- consegui aguentar, quando fui para São Tomé estudar as
to das sociedades humanas.” Recuando o mais possível no baleias corcundas era tão duro que não conseguia trabalhar.”
tempo, e procurando também perceber o impacto da nossa Num dia particularmente mau ficou em terra e acabou
atividade nos ambientes marinhos. por entrar no Arquivo Histórico da cidade de São Tomé,
Quase como se à História Universal da Humanidade lhe onde começou a ler a Crónica dos Feitos da Guiné, de Eanes
faltasse um capítulo importantíssimo, porque “o foco foi de Zurara, ficando fascinada pelas vívidas descrições dos
sempre o desenvolvimento agrícola, estudando muito pouco animais marinhos, baleias, golfinhos ou lobos marinhos.
o que aconteceu no mar. A nossa tese é precisamente a de “Nunca me tinha ocorrido que nas narrativas históricas
que os recursos marinhos influenciaram decisivamente as existissem estas descrições e no espaço de um mês aban-
sociedades humanas”, e dá alguns exemplos, como a caça donei a biologia”, recorda a investigadora.
intensiva de baleias francas na Península Ibérica, que já no O projeto tem início oficial marcado para julho deste
século XVII levou à sua extinção nestes mares, obrigan- ano – e duração prevista até 2027 –, sendo que a primeira
do bascos e portugueses a irem para a Terra Nova. Onde, etapa passa pela criação de um “Atlas da Exploração His-
aliás, já andávamos atrás de bacalhau desde o século XV. tórica dos Recursos Marinhos”. Um mapa mundial com
“O recurso importa” explica, “e as populações vão atrás vários dados quantitativos ao longo dos últimos séculos,
dele onde existe”. como capturas e trocas económicas, desenvolvimentos
A tese conquistou o júri do Conselho Europeu de Inves- tecnológicos, dados ambientais, como eventos extremos
tigação, que a escolheu entre 440 candidaturas, e conce- ou temperaturas das águas. “Várias camadas de informação,
deu uma bolsa de 10,4 milhões de euros, a maior alguma para ir alimentando ao longo do tempo”, e por equipas que
vez atribuída a um projeto na área das Humanidades na podem chegar aos 30 investigadores. Esses dados estarão
Europa. Cristina Brito é o braço português de uma equipa disponíveis em modo aberto e quase à medida que forem
internacional que conta com mais três investigadores: Ja- sendo recolhidos, para que se possam tomar decisões mais
mes Barrett, da Universidade de Cambridge, especialista em informadas: “O objetivo é que o projeto 4 Oceans ofereça
Arqueologia Biomolecular e, do Trinity College de Dublin, essa dimensão cronológica às questões sociais e ambien-
Francis Ludlow, historiador ambiental e especialista em tais que a Humanidade enfrenta”, especialmente numa
Climatologia Histórica, e Poul Holm, perito em História década que as Nações Unidas dedicaram aos oceanos e ao
Ambiental e Económica. Foi este último quem montou a desenvolvimento sustentável. “Mostrar aos cientistas e aos
equipa dos quatro magníficos pelos oceanos. decisores políticos que a História pode dar um contributo
Se hoje a área de investigação de Crsitina Brito se centra importante para a valorização, conservação, e para a apro-
sobretudo na história ambiental e na expansão marítima ximação das pessoas aos oceanos. Porque é fundamental
europeia, o seu trajeto começou com uma licenciatura em criar essa empatia.” visao@visao.pt
WASHINGTON, EUA
Um homem branco e uma mulher negra discutem, a 24 de junho de 2020, sobre a
hipotética remoção do Memorial da Emancipação, no Lincoln Park, em Washington.
A estátua mostra um homem negro ajoelhado perante o Presidente Lincoln, que segura
uma cópia da proclamação de emancipação, de 1862, que determinou a proibição da
escravatura. Foto de Evelyn Hockstein, para o Washington Post, candidata a Foto do Ano
ARCHERS POST,
QUÉNIA
Therny Lanayasa, líder
da comunidade Samburu
de Archers Post, no
Quénia, tenta afugentar
uma imensa praga de
gafanhotos, a 24 de abril
do ano passado.
A foto de Luís Tato para
o Washington Post está
nomeada na categoria
principal
BEIRUTE, LÍBANO
Homem ferido ajoelha-se perante os destroços e os incêndios provocados
pela violentíssima explosão que ocorreu, a 4 de agosto, no porto de Beirute,
e que destruiu grande parte da capital do Líbano, matando pelo menos 210
pessoas e deixando mais de 300 mil sem casa. A imagem, candidata a Foto do
Ano, é da autoria de Lorenzo Tugnoli e foi publicada no Washington Post
“PORTUGUESE
DREAM”
Cada vez mais norte-americanos escolhem viver em Portugal.
Nos últimos seis anos, as autorizações de residência quase
duplicaram e os vistos Gold multiplicaram-se por seis – e nem a
pandemia abrandou as chegadas. Há quem venha atraído pelo
investimento imobiliário, pelo potencial tecnológico do País,
pela qualidade de vida e, até, pelos vinhos. Afinal, o que oferece
o sonho português a quem tem capacidade financeira para
morar em qualquer parte do mundo?
VÂ N I A M A I A E M A R I S A A N T U N E S
A norte-americana
está em vias de
fazer a escritura do
seu terceiro imóvel
adquirido em Portugal
– uma moradia para a
família, no centro de
Cascais, que vai somar-
se a um apartamento
em Lisboa “para
rentabilizar” e à
casa de férias em
Tavira. “Tínhamos, na
Califórnia, uma casa
com piscina e tudo o
que se pode considerar
uma vida fantástica,
mas as pessoas são
JOSÉ CARLOS CARVALHO
muito materialistas e
as crianças crescem
com o mesmo foco”,
critica.
18 MARÇO 2021 VISÃO 31
T
€750 MIL
1 245 da decisão”, refere, sublinhando que “os norte-
1 182 -americanos já aparecem em 2019 e 2020 no
top 5 das nacionalidades que mais requerem
os vistos Gold”.
766 6,3% É O VALOR MÉDIO “Muitos vêm atrás dos filhos que vieram
5,2% QUE OS NORTE- para cá estudar, porque as nossas faculdades
AMERICANOS têm uma boa reputação, outros já estão na
2,4% GASTAM PARA reforma, mas há também muitos profissionais
1,6% COMPRAR UMA no ativo que vieram para cá trabalhar, porque
1,1% CASA EM PORTUGAL,
0,3% não suportavam Donald Trump”, realça ainda
SEGUNDO DADOS Luís Lima.
2015 2016 2017 2018 2019 2020 DOS CLIENTES DA Stephanie Bennett, o marido e os dois filhos
FONTE Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) INFOGRAFIA MT/VISÃO CONSULTORA JLL mais novos, ainda menores, tinham tudo o
20,2
13,8
10,5
1,18
LUCÍLIA MONTEIRO
“A Califórnia não é hoje aquilo que as pessoas
veem nos filmes. Não é fácil sentirmo-nos bem
e achar que é um local agradável para os filhos
crescerem... Tínhamos uma casa com piscina e
tudo o que se pode considerar uma vida fan-
tástica, mas as pessoas são muito materialistas
e as crianças crescem com o mesmo foco... Nós
Lisa Graziano 750 mil euros, o que já é um posicionamento
elevado”, aponta Patrícia Barão. A aposta na
queremos outros valores para os nossos filhos”, 61 ANOS divulgação do imobiliário português em meios
afirma Stephanie que, tal como o marido, tra- ESPECIALISTA muito específicos – “como o Financial Times,
balhava na área tecnológica, em Silicon Valley. EM VINHOS por exemplo” – e um investimento significativo
Mas não era só a superficialidade que in- E PROFESSORA na digitalização do produto a mostrar têm sido
DENVER
comodava a família Bennett. “Estamos muito as fórmulas de sucesso para a empresa junto
felizes com a saída de Trump, mas há mais de deste mercado.
Antes de se mudarem
70 milhões de pessoas que votaram nele e que para o Porto, Lisa
Jeffery Kent Wade, recém-chegado ao Por-
alimentam as mesmas ideias... Do que tenho Graziano e o marido to, confirma que foi a primeira vez na vida que
mais receio é o nacionalismo, o fascismo, que ainda ponderaram ir se instalou num país sem nunca ter visto a casa
infelizmente também está a espalhar-se pela viver para Valência, pessoalmente, só através de (muitas) visitas
Europa... Nós, pelo contrário, queremos que os em Espanha. Contudo, virtuais, não só a casas mas à própria cidade.
nossos filhos tenham experiências multicultu- quando visitaram Desde setembro a morar num apartamento
rais, algo, aliás, que eles muito valorizam nos Portugal, descobriram no último andar de um edifício totalmente re-
colégios internacionais onde andam”, refere a que o País “tinha cuperado, no centro da Invicta, com uma vista
norte-americana que teve o primeiro contacto um governo mais aberta que se alonga até Gaia, o designer de
com Portugal como atleta, quando, há 10 anos, estável, pessoas mais interiores trouxe tudo o que tinha na sua casa
participou na Maratona Rock ‘N’ Roll Lisbon. simpáticas e um custo de Miami, onde viveu mais de duas décadas. A
de vida mais baixo”. sua “coleção de memórias”, como lhe chama,
MAIS-VALIA IMOBILIÁRIA Além disso, a norte- foi transportada integralmente de barco até
Patrícia Barão, diretora do departamento Re- americana tinha-se ao Porto. Aqui está o espelho Luís XVI, uma
sidencial da consultora imobiliária JLL, diz apaixonado pelos vinhos relíquia de família; o candelabro que repousa
que o peso dos clientes norte-americanos na portugueses, há anos. sobre a mesa de centro, uma oferta do estilista
faturação da empresa cresceu 15%, em 2019, e Na Invicta, aprenderam Gianni Versace ou, ainda, as muitas peças de-
20%, em 2020, fazendo este grupo já parte das uma nova forma de senhadas pelo próprio Jeffery.
estar: “Estávamos
nacionalidades que mais investem em Portugal. “Tudo acabou por caber de uma forma
habituados ao ‘para já’,
“Há muita diversidade entre os nossos perfeita na minha nova casa! Sinto-me real-
mas agora aprendemos
clientes desta nacionalidade. Temos pessoas o ter ‘calma’.”
mente bem aqui nesta linda cidade, com as
que nos compram apartamentos de 250 mil pessoas mais espetaculares e genuínas do
euros e outras que facilmente chegam a imó- mundo e que tão bem me acolheram. Estou
veis de 4 milhões de euros. A média ronda os absolutamente apaixonado pelo Porto”, diz,
Fiorentino
Convenção Nacional do Partido Republicano Instalou-se num condomínio de luxo, no
que formalizou a nomeação de Donald Trump Estoril, onde em tempos viveu o rei Carol II,
à Presidência. Três semanas depois, Thomas da Roménia. Adora saber que frequenta o su-
37 ANOS
Murray aterrava em Portugal. permercado aonde também vai o Presidente
FUNDADOR
Responsável pelo blogue Americans Li- da República.
DE UMA START-UP
ving in Portugal, desfaz as dúvidas de quem NOVA IORQUE
Thomas Murray é ainda autor de livros. As
planeia mudar-se para o País, dá sugestões Aventuras de Nuno e Figo é dirigido ao pú-
turísticas, explica como funciona o SNS e até “Acho que é uma blico juvenil e conta a história de um lince-i-
compara o Orçamento do Estado português questão de respeito bérico e de um rato que viajam de barco até
com o norte-americano. “Os EUA são o me- mostrar que quero à Califórnia. Também já publicou um policial
lhor país do mundo para fazer dinheiro, mas aprender a língua e prepara-se para editar um romance que
um dos piores para se viver. Já Portugal é um nacional”, defende o tem como cenário o palácio onde vive. A sua
péssimo país para fazer dinheiro, mas é ótimo nova-iorquino, que namorada tem nacionalidade portuguesa e
para se viver”, sintetiza o norte-americano. assentou arraiais em partilha com ele várias referências literárias. O
Atualmente, trabalha como consultor e garante Marvila (“the Brooklyn norte-americano é leitor de Fernando Pessoa e
que consegue mudar o destino de empresas de of Lisbon”), junto com até já arriscou ler Os Lusíadas em português.
todo o mundo, “desde que esteja perto de um o marido. Lisboa “é
aeroporto internacional”. Também já ajudou uma encruzilhada, o A ATRAÇÃO DO DOURO
a criar negócios em território nacional. “É que é ótimo para fazer “The USA is a bagunça”, diz Lisa Graziano,
uma forma de retribuir a generosidade de me negócios com o Brasil, misturando o inglês e o português no afã de
permitirem viver aqui”, diz. a América do Norte justificar a sua mudança para Portugal. “A
“O cartão de residente é o que trago de ou a União Europeia”, eleição de Trump foi terrível. Se as pessoas
mais valioso na carteira, ainda mais do que o ilustra. achavam que era boa ideia aquele homem
dinheiro”, afirma, divertido. “Claro que preten- ser Presidente, então eu tinha de sair.” Faltava
do viajar, mas não me vejo a ir embora. Amo decidir para onde. Anos antes, tinha-se cru-
Portugal”, acrescenta, antes de fazer uma con- zado com Portugal numa prova de vinhos a
fissão: “Vou muito a Espanha, mas fico ansioso que assistiu em Denver, a capital do Colora-
por voltar. O pão, a comida, o vinho... É tudo do, onde viveu mais de duas décadas. Como
muito melhor aqui. Além disso, os espanhóis trabalhava numa garrafeira, estava habituada a
4 134
3 254
2 888
2 619 2 705
REFORMADO
uma empresa de software ligada à Inteligência SÃO FRANCISCO
Artificial. “Não só Portugal é um ótimo sítio
para testar novos produtos como também tem
muitos talentos na área da engenharia. Além Ron Gompertz e a sua
disso, em conjunto com a União Europeia, família encontraram a
facilita o financiamento de start-ups”, elogia. casa ideal em Lisboa,
Enquanto na cidade californiana a competição num dos apartamentos italiana estava decidido a fundar a sua empre-
é feroz – é em Silicon Valley que estão sediadas do projeto do premiado sa de tecnologia na Europa e, para ajudá-lo a
arquiteto Renzo Piano,
empresas como a Apple, o Facebook ou o Twit- decidir qual seria a sua próxima morada, criou
no Braço de Prata,
ter –, em Lisboa é mais fácil crescer “porque há uma folha de cálculo, na qual classificava várias
em Marvila, que
menos tecnológicas”. A Apres começou o ano compraram por 780
cidades de acordo com o seu desempenho em
com uma ronda de investimento de 1,5 milhões mil euros. “Temos critérios como políticas de atração de start-
de dólares (1,26 milhões de euros) e, em 2021, uma casa de férias na -ups, investimento na sustentabilidade, dina-
planeia duplicar o número de trabalhadores, Itália (Toscana), mas mismo da atividade cultural ou vitalidade da
chegando às duas dezenas. estamos a pensar cena gay. Barcelona, Copenhaga, Estocolmo,
“A ideia de que Portugal é um bom sítio vendê-la quando Madrid, Milão, Paris, Viena e Zurique faziam
para os nómadas digitais funciona como uma acabar a pandemia, parte da lista, mas as finalistas foram Berlim
bola de neve. Os primeiros que vieram cha- porque é um país muito e Lisboa. Depois de uma breve passagem pela
maram outros e, agora, são eles que fazem a volátil em termos cidade, na primavera de 2017, voltou no final
nossa atratividade”, sintetiza o diretor-execu- políticos. Também do ano para assistir à Web Summit e foi nessa
tivo da incubadora de empresas tecnológicas considerámos o Sul altura que tirou todas as dúvidas. “É aqui que
StartUp Portugal, João Mendes Borga. “A vida de França, Croácia, eu quero viver”, pensou.
de bairro que nós temos não existe em Nova Grécia e Malta, onde Em 2018, a lua de mel em Portugal garan-
Iorque ou em Los Angeles, e essa vivência já tínhamos estado, tiu-lhe a aprovação do marido para a mudança
da cidade é extremamente atrativa”, garante. mas na nossa segunda e, nesse mesmo ano, deixou Nova Iorque e
Também ao nível de negócio, Portugal tem viagem a Portugal, instalou-se em Marvila, nas suas palavras, “the
bons argumentos: “A nossa engenharia é de no ano passado, Brooklyn of Lisbon”, devido às semelhanças
topo”, sublinha. O StartUp Visa, que facilita a resolvemos comprar com uma das zonas mais criativas de Nova
em Lisboa”, diz.
entrada de empreendedores, ou o Tech Visa, Iorque. O companheiro continuou a viver en-
que simplifica a contratação de quadros qua- tre as duas cidades mas, devido à pandemia,
lificados, são outras ferramentas do País. De também se fixou em Portugal – e está a adorar.
acordo com João Mendes Borga, “muita gente Aos 37 anos, Michael Fiorentino sente-se
experimentou vir a Lisboa por causa da Web um pioneiro. Acredita que escolheu aquele que
Summit e ficou com vontade de voltar, depois irá tornar-se o destino top choice dos nómadas
de sentir a energia da cidade”. digitais. “Acho que muito mais pessoas vão
Foi o caso de Michael Fiorentino. Contudo, mudar-se para cá. Até porque a pandemia en-
a capital portuguesa teve de vencer uma forte sinou-nos que podemos trabalhar onde estiver
concorrência. O norte-americano de origem o nosso computador portátil.” A empresa que
-4 -6,1
-8
-12
-16 -16,3
1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 4 TRIM
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2020
ENERGIA EM DIFICULDADES
Tal como a indústria, as contrações do setor
da energia, água e saneamento estão a acon-
tecer desde 2019, depois de ter vivido um
2018 muito positivo. A recuperação também
já se nota, mas ainda muito longe de algum Construção (variação homóloga, em %)
tipo de crescimento. 8,3
8
Energia e água (variação homóloga, em %)
12 6
10 4,6
8 3,9
4
4
0 2
-4,6
-0,1
-4
0
-8
3,3%
CONSTRUÇÃO
RESISTE
O setor da construção foi o único capaz de
escapar a um único trimestre de quebra
durante a pandemia. No total, esta área
cresceu 3,3% em 2020
22%
Em vez de olharmos para a variação, estes gráficos mostram o VAB de cada
setor em milhões de euros. Permite não só perceber a relevância de cada um
para a economia nacional, como a dimensão da quebra durante a pandemia.
Por exemplo, é fácil ver a violência do choque sobre o transporte e
armazenagem naquele segundo trimestre de 2020, mas também como
a recuperação está a ser mais rápida, enquanto a agricultura ainda segue
numa tendência descendente. Além disso, neste gráfico, é bastante visível o
avanço imperturbável da construção – é o único setor no qual não se con-
segue identificar o momento em que o sismo pandémico atingiu Portugal.
INTERROGAÇÃO
Uma das principais fontes de incerteza para
o futuro da economia portuguesa é o que
acontecerá quando as moratórias forem SETORES I (em milhões de euros)
levantadas. 22% da carteira de crédito da
banca está em moratória Agricultura e pesca Energia e água
2 000 2 000
1 640
1 498,7
2,5 1,2
3 000 3 000
0
-2,5
-4 1 957,2
2 000 2 000
-5 1 612,6
-7.5
-12,5
-15
-14,3
0 0
1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 4 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 4 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 4 TRIM
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2020 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2020 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2020
-6%
Consumo (variação homóloga, em %)
MENOS COMPRAS
O consumo das famílias portuguesas afundou
6% em 2020. É a maior quebra desde que o
INE tem dados – pior do que qualquer ano do
programa de ajustamento
-40 -40
Comércio externo (em milhões de euros)
-50 -50
Exportação de bens Importação de bens
-60 -60 17 151,5
14 591,3 14 073,4
18 000 12 515,5 18 000
-68,5
-70
1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 4 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 1 TRIM 4 TRIM 9 000 9 000
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2020 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2020
0 0
Construção Propriedade intelectual 1 TRIM 4 TRIM 1 TRIM 4 TRIM
2015 2020 2015 2020
20 13,9 20 9,3
9,4 Exportação de serviços Importação de serviços
6,6
10 10
0,8 -2,3 18 000 18 000
2
020 deveria ter sido uma espécie
de virar de página para a economia
portuguesa. O País tinha atingi-
A LONGA DESCIDA DO DESEMPREGO
do, no ano anterior, o primeiro O desemprego em Portugal seguiu uma trajetória de descida entre 2013 e o
excedente orçamental desde a verão de 2019, passando de um valor seis pontos percentuais acima da média
Revolução de 1974, a dívida pú- da União Europeia para um número abaixo da média comunitária. A reação
blica estava a cair, o desemprego tinha inicial do indicador à crise pandémica foi voltar a cair, devido ao recuo da
recuado quase até aos 6% no verão e a população ativa, tendo depois começado a agravar-se. Em fevereiro, estava
economia, embora a desacelerar, ainda em 7,5% – 0,7 pontos acima do pré-pandemia e alinhado com a média da UE.
crescia acima de 2 por cento. No entan-
to, a pandemia mostrou que as vulne- Taxa de desemprego (em % da população ativa)
rabilidades nacionais estavam longe de Portugal UE 27
ter desaparecido.
A primeira conclusão, que chegou 17,9
20
relativamente rápido, é que a economia
portuguesa seria especialmente afetada
por um choque que impede o contacto
entre as pessoas. Não apenas pela sua 15
9,5 12,1
dependência do turismo, mas também
devido ao elevado peso de setores como 8,3 7,6
a restauração, em que os níveis de pre- 10 7,5
cariedade são igualmente mais elevados.
A elevada percentagem de contratos a
prazo e recibos verdes entre a população 5
empregada significa que, num contexto 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
de crise, esses postos de trabalho podem
ser rapidamente destruídos. Os apoios
que o Governo pôs no terreno impe-
diram uma subida mais dramática do
desemprego, mas é ainda uma enorme
interrogação o que irá acontecer quando
RETROCESSO NO DÉFICE
eles forem retirados. Um longo caminho desfeito em apenas alguns meses. O défice orçamental por-
Tal como a generalidade das econo- tuguês atingiu níveis historicamente elevados durante a crise da dívida soberana
mias avançadas, o Estado português da zona euro. O duro caminho da consolidação iniciado em 2011 culminou com
gastou muito dinheiro com a crise. O o excedente orçamental atingido em 2019. Contudo, esse feito durou poucos
saldo das contas públicas deverá ter meses, uma vez que o esforço exigido pelo combate à Covid-19 empurrou as
passado de um excedente para um dé- contas públicas novamente para o vermelho, desta vez em linha com a UE.
fice entre 6% e 7 por cento. Contudo, as
medidas de apoio adotadas são relati- Saldo orçamental (em % do PIB)
vamente tímidas em comparação com
Portugal UE 27
outros países europeus. Portugal foi um 10
dos Estados que menos gastaram. Um
motivo apontado é que, embora viesse 5
a cair, a dívida pública nacional era 0
ainda uma das mais elevadas da UE, o
-5
que faz com que o Governo queira ser
mais cauteloso. -10 -2,8
Entre contas públicas frágeis e es- -3,8
trutura económica vulnerável a um
-15 -4,0
choque desta natureza, é fácil perceber -20 -5,3
como a Covid-19 atingiu o País de forma 1 TRIM 3 TRIM
devastadora. 2007 2020
10 10,1
3,2
0
-10
-20 -11,1
-30
-40
-31,4
-50 -45,6
UE 27
LUXEMBURGO
REP. CHECA
SUÉCIA
LITUÂNIA
MALTA
BÉLGICA
ÁUSTRIA
FINLÂNDIA
ESLOVÉNIA
ESTÓNIA
IRLANDA
ALEMANHA
HOLANDA
BULGÁRIA
ITÁLIA
DINAMARCA
FRANÇA
ROMÉNIA
GRÉCIA
POLÓNIA
CROÁCIA
LETÓNIA
HUNGRIA
ESPANHA
PORTUGAL
ESLOVÁQUIA
CHIPRE
Perto-longe Pureza
é um dos 17 bebés do
grupo de amigos de
Teresa e de Gonçalo que
todos conhecem apenas
por videochamadas
LUÍS BARRA
80,93
grávidas se infetam como as outras
pessoas. Mas, em relação à gravidez,
há mais duas certezas: algumas situa-
ções de vulnerabilidade de mulheres
mais velhas e com fatores de risco
associados podem ter quadros mais
graves de Covid-19, e a infeção da
mãe pode predispor à prematuridade.
É E S TA A I D A D E
DIANA TINOCO
123 467
daí a semelhança com as outras pan-
demias”, sublinha. “Temos, por isso,
de estabelecer normas de segurança
de movimentação e de proteção. De-
vemos ter a capacidade de manter a
mesma atitude, adotar estratégias de
prevenção para a nossa vida – usar
sempre a máscara, por exemplo.”
NÚMERO DE ÓBITOS Lisete e Fábio nem põem outra hi-
EM PORTUGAL, EM pótese. Apesar dos testes negativos de
2 0 2 0 , O VA L O R M A I S ambos, todas as primeiras fotografias
A LT O R E G I S TA D O do filho, do nascimento ao primeiro
D ES D E H Á 10 0 A N O S . banho, estão povoadas de máscaras,
SÃO MAIS 11 359 e nem agora elas desapareceram de
M O RT ES D O Q U E E M
todo. “Do mal, o menos”, diz, prag-
2 0 19 , S EG U N D O O I N E
mática, a geógrafa, de 37 anos. “O
Rodrigo foi planeado, porque já tínha-
LUÍS BARRA
ANA CAMPOS
começado na China, onde há um regi- quem me dissesse ‘Se eu soubesse o
me autoritário, fez com que os países que sei hoje, teria adiado a gravidez’.”
Teletrabalho
Rita está previsto para junho. Até
lá, Fábio e Margarida fazem por não
= mais filhos?
perder o sorriso. “Estaremos cá
para lhe contar como foi nascer em
plena pandemia”
Estudo europeu conclui
que o modelo presencial
de aplicações móveis e mais velho dois desincentiva as famílias
anos, vir a perder o emprego por tra- a crescerem
balhar numa empresa de organização
“A mudança nas condições
de eventos. “A pandemia trouxe-nos Tomás não queria conhecer o filho só
de trabalho que a pandemia
a possibilidade do teletrabalho. Se veio provocar poderá ter duas
ao fim de três dias.
havia entidades reticentes, durante o consequências benéficas: “Já tinha sido mau eu não poder ir
primeiro confinamento demos provas aumentar o número de filhos às consultas nem às ecografias”, con-
de que conseguíamos produzir como que cada família decide ter e fessa o gestor de projeto num grupo
sempre. Até pondero a hipótese de aumentar a produtividade de de saúde, que ainda acompanhou dois
ficar em casa até o Rodrigo fazer 3 cada colaborador, ao permitir dos exames por FaceTime, dentro do
anos”, confessa. “Evito toda a logís- que estes poupem imensas carro, no parque de estacionamento
tica das deslocações e ficarei mais horas em deslocações, do hospital, em Lisboa. “A própria
tranquila para me concentrar no meu reduzam o stresse e tenham obstetra lamentou só conhecer os pais
trabalho.” uma maior satisfação global na sala de parto, porque assim não se
com o emprego.” Esta é a estabelece uma relação de confiança.”
EXAMES À DISTÂNCIA convicção de Carla Henriques, Quanto à proibição de visitas nos
No meio da “alegria com medo” que professora na Coimbra dias em que estiveram no hospital,
lhes trouxe a notícia da gravidez em Business School, coautora privado, essa foi quase celebrada por
pandemia, o confinamento também de um estudo que avaliou o ambos. Aproveitaram para descansar
foi visto por Carolina Jardine, de 28 bem-estar dos trabalhadores a e já foram avisando os avós de que é
anos, e Tomás Costa, 29, como o mo- tempo inteiro e a tempo parcial, uma experiência a repetir. Em casa,
mento ideal para se estrearem como citada pela Lusa. António tem recebido família e ami-
pais. “Há menos solicitações”, resume Com uma amostra de mais de gos, mas com hora marcada e nunca
19 mil pessoas de 34 países
a account numa empresa de óculos. mais de duas pessoas de cada vez,
europeus, entre os quais
Casados há um ano e meio, ambos sempre de máscara.
Portugal, o estudo, publicado
queriam ter um filho antes dos 30, recentemente no Journal of
Pureza é também a primeira filha
mas só avançaram quando percebe- Economic Analysis and Policy, de Teresa Taborda e de Gonçalo An-
ram que iam ter de adiar a viagem conclui que o trabalho a tempo tão, e um dos 17 bebés do grupo de
à Austrália, marcada para a última inteiro no modelo presencial amigos do casal que todos conhecem
passagem de ano. “Em abril, tirámos desincentiva as famílias a terem apenas por videochamadas desde que
o cavalinho da chuva quanto às férias mais do que um filho. “Antes nasceu, a 30 de dezembro. “Abrimos
fora de Portugal, e na minha cabeça da pandemia, os profissionais só para os nossos pais, e os convívios
eu iria engravidar em novembro ou indicavam ser muito difícil estão fora de questão”, conta Tere-
em dezembro, mas aconteceu logo”, criar uma harmonia entre sa. “É muito assustador estas novas
conta Carolina. o trabalho e a vida pessoal, variantes atacarem as crianças e os
António nasceu a 18 de janeiro. uma vez que chegavam a casa bebés, não quero arriscar. A maioria
No verão, os futuros pais recusaram esgotados com o ritmo e o das minhas amigas abriu mais, mas
os convites para os casamentos dos stresse da rotina dos empregos não há certo ou errado, e eu sinto-me
amigos (estavam planeados dez, ce- presenciais e das pendulações confortável assim.”
lebraram-se quatro), e após o Natal casa-trabalho”, salienta Carla Gonçalo trabalha numa farmacêuti-
entraram em quarentena para não Henriques. ca, e Teresa numa agência de comuni-
correrem o risco de apanhar Covid-19. cação, em Lisboa. Os dois já andavam
MARCOS BORGA
Se há coisa que incomoda Mar-
garida Tomás é o afastamento a que
tem estado votado o marido, Fábio.
“É muito duro e injusto ele não poder
há uns tempos a falar em ter filhos e, Dúvidas desfeitas Quando soube acompanhar nada da gravidez, não
em dezembro de 2019, ela apostou que estava grávida, Ana passou ouvir o som do coração da Maria Rita,
com as suas quatro primas que ia ser por um misto de sentimentos. não ver os seus bracinhos a mexer nas
a primeira a engravidar. Mas a aposta Como seria ter mais um filho numa ecografias...”, diz a cozinheira e dona
seria suspensa quando uma amiga altura de grande pressão para os do restaurante Vintage e do bar Crio-
médica, que estava a trabalhar numa hospitais e os profissionais de lina, ambos em Pombal. “Ainda por
ala de Covid, lhe disse: “Por favor, não saúde? Não teve Daniel ao seu cima, vamos tê-la muito por pressão
engravides neste ano, não se sabe o lado, mas correu tudo bem dele que adora crianças.”
que isto é, quando vai acabar e que O nascimento de Maria Rita está
problemas pode trazer às grávidas.” previsto para daqui a três meses. Mar-
Em abril, porém, decidiram avan- garida tem 34 anos e Fábio 39, estão
çar. Queriam muito ser pais e já ti- TAXAS ELEVADAS DE ANSIEDADE juntos há 11 anos e só não são ainda
nham esperado até aos 30 anos. “Pa- Os cientistas já se perguntam se as pais porque o empresário sofreu um
rece que nunca é a altura certa”, nota crianças geradas e nascidas durante acidente de trabalho e ela passou por
Teresa. “Mas, se o mundo tiver de esta pandemia poderão vir a sofrer um problema de saúde complicado. Há
acabar, vamos todos.” de traumas a longo prazo. A hipó- um ano, por coincidência, Margarida
Avançaram, mas com cuidados tese é cabal. Basta olhar para o que tinha consulta marcada com a obstetra
redobrados, recorda Teresa. “Sentia aconteceu após a chamada “grande para 16 de março. Queria começar a
esse dever e fui tendo picos de stres- tempestade de gelo norte-americana tomar ácido fólico e tentar engravidar,
se, ataques de histeria, conforme as de 1998”, acredita a médica Catherine “tudo certinho”, diz, mas o fecho dos
notícias. Era capaz de decidir ‘Agora Lebel, especialista em imagiologia pe- restaurantes levou-a a adiar os planos.
não vejo ninguém!’ e passava três se- diátrica e professora na Universidade Seguiram-se uns meses difíceis,
manas sozinha. Também não ajudou de Calgary, no Canadá. inclusive com a equipa do Vintage em
ter ficado em casa de repouso desde Em janeiro de 1998, uma combi- layoff, até que, em julho, decidiram
outubro, porque estava com contra- nação de cinco tempestades de gelo arriscar. “Pensámos ‘Não vamos estar
ções e ainda de 20 e poucas semanas sucessivas atingiu uma faixa de terra no à espera de que a pandemia passe,
de gestação.” Leste de Ontário e no Sul do Quebeque, ficamos velhos’”, recorda Margarida.
acabando por deixar a população sem “Pôr um filho ao mundo é sempre
energia ao longo de seis semanas. O uma grande incerteza, mas se não o
Projeto Tempestade de Gelo estudou o fizéssemos agora estaríamos a perder
AS CRIANÇAS cérebro de 68 crianças, cujas mães es-
tavam grávidas nesse período, para ver
mais um ano. Temos de arriscar viver.”
Entretanto, os restaurantes abri-
GERADAS DURANTE se o evento teve influência na amígdala
que está envolvida na gestão das emo-
ram, voltaram a fechar “e o futuro
ninguém sabe o que vai ser”, diz a
A PANDEMIA ções. Os investigadores concluíram que, cozinheira. A incerteza, porém, não
PODERÃO VIR A
uma década mais tarde, elas tinham as lhe rouba o sorriso. “Isto é tudo mui-
amígdalas maiores, um aumento que to stressante, mas estaremos cá para
SOFRER DE TRAUMAS
corresponde a uma maior frequência contar à Maria Rita como foi nascer em
de comportamentos agressivos. plena pandemia.” rruela@visao.pt
BERÇO
Nasce a 24 de julho
de 1946, em Vila Nova
da Barquinha, numa
família de classe média.
Completa o Ensino
Secundário no Colégio
O que o moveu, então?
A Academia Militar foi um espaço que me
permitiu libertar da minha família. Deixei
de ter de dar satisfações aos meus pais –
embora nunca mas pedissem, fui criado
com uma enorme liberdade. Mas deixava
de ter o tipo de necessidades como a
mesada e assumia a carta de alforria muito
cedo, o que sempre ansiei.
Mas sabia que, após concluir o curso,
iria combater em África. Qual era a sua
ideia?
No meu caso, foi uma questão de afirmação
pessoal. Até que ponto é que consigo ir?
Que aventura é que vou viver? Por isso,
após terminar o curso, ofereci-me para
ser destacado para o teatro de guerra que
estivesse o mais longe possível, quando me
perguntaram para qual dos três – Angola,
Guerra Colonial (como a Nó Górdio, em Nun’Álvares, em Tomar. Guiné ou Moçambique – eu queria ir.
1970, em Moçambique), também relata de E o Exército fez-lhe a vontade?
forma crua a conclusão de que as armas DE CAMUFLADO Sim. Fui colocado, em 1967, no ponto mais
não resolveriam o conflito. Ao longo de Entra para a longínquo que existia, junto ao lago Niassa,
13 anos, a guerra, iniciada em Angola em Academia Militar. em Moçambique, num sítio chamado
fevereiro/março de 1961, provocou a morte Faz três comissões Meponda. Estava, pois, no extremo mais
de cerca de nove mil militares e civis (Moçambique, 1967, afastado do Império – tirando Timor ou
portugueses e ferimentos graves em 33 Angola e Moçambique, Macau, onde não havia guerra – e junto à
mil. Agora, Matos Gomes, 74 anos, tanto 1969/1971, e Guiné, fronteira com a Tanzânia e o Malawi.
defende o seu camarada Marcelino da Mata, 1972/1974), as duas Começou a arriscar a vida, em nome
últimas como oficial dos do Império defendido pela ditadura do
apelidado de “criminoso de guerra”, como
Comandos. Casa-se com
diz que os peticionários da manutenção Estado Novo...
Céu Lickfold, professora
dos brasões coloniais no jardim da Praça Eu e os meus camaradas jurámos bandeira,
de Inglês, com quem
do Império, em Lisboa, são “patrioteiros” tem uma filha, Carla.
não jurámos o salazarismo.
que “apoucam” a discussão da expansão Porquê, então, fazer a guerra?
portuguesa. E atribui à esquerda, campo OPERACIONAL Porque éramos militares e portugueses, e
político onde se situa, uma “reanálise do Participa em grandes porque tínhamos de acabar com ela. E é por
passado muito pouco rigorosa e científica”, operações, como a Nó isso que a minha geração, que aos 20 anos
o que associa ao crescimento da extrema- Górdio (Moçambique, começou a ir para a guerra, será aquela
direita. É assim, desconcertante, o também 1970), a Ametista Real que, uma década depois, se perguntará: “O
escritor que, sob o pseudónimo de Carlos (Senegal, 1973) e a Neve que é que andamos aqui a fazer?”. Quase
Vale Ferraz, tem 12 romances publicados, Gelada (Guiné, 1974). todos fizemos três comissões. E, sempre
o primeiro dos quais, Nó Cego, de 1982, “Feitos em combate” que íamos para a próxima, a situação estava
se tornou uma obra de culto, por ser valem-lhe as medalhas pior do que na anterior. Vimos que a guerra
“um fresco sobre a Guerra Colonial e um de Cruz de Guerra de 1ª não era solução para a guerra.
requiem sobre os soldados portugueses”, e 2ª Classe, a medalha Regressando a 1967 e ao Niassa: que
sintetizou o cineasta António-Pedro de prata de serviços cenário de guerra encontrou?
Vasconcelos. Com a guerra em fundo, os distintos, a medalha Ao Niassa chamávamos “o estado de minas
protagonistas das obras de Carlos Vale de mérito militar de gerais”. Era a zona em que a guerra se
Ferraz são quase sempre alguém que 1ª Classe e a medalha revelava mais violenta. Aliás, o primeiro
não alcançou o que se tinha proposto a coletiva da Ordem da congresso da Frelimo em território
Torre e Espada.
conseguir. Dir-se-ia, pela entrevista que moçambicano foi realizado no Niassa,
se segue, que autor e personagens se em 1968. Tenho aí a primeira grande
CARLOS,
confundem. MAS FERRAZ
experiência de vida e de morte, e do que é
Quando em 1963, aos 17 anos, escolheu Em 1982, torna-se comandar como alferes. E esse era o desafio
entrar para a Academia Militar, estava escritor, como Carlos – connosco próprios e o de ter alguém pelo
imbuído do espírito de defesa do Vale Ferraz. Com qual somos responsáveis. Era adjunto de
Império? A Última Viúva de uma companhia e comandava um grupo de
Não. O Império não fazia parte do África vence o Prémio combate com 30 homens.
imaginário da minha geração. Resumia- Fernando Namora, Qual foi a situação mais marcante dessa
se, na escola, a dividir orações n’Os em 2018. Em abril 1ª comissão?
Lusíadas. Tínhamos a noção do Ultimato próximo, sairá o seu 13º Uma emboscada noturna que fizemos a
inglês, no século XIX, mas das províncias romance: Angoche – Os uma grande coluna de reabastecimento
ultramarinas sabíamos muito pouco. Fantasmas do Império. da Frelimo que vinha da Tanzânia em
OS VIOLENTOS
Justiça] Merrick Garland, o magistrado A ameaça emana, hoje em dia, de uma
que chefiou o processo do Departa- teia emaranhada de ideologias, sejam
mento de Justiça contra os autores
do atentado bombista na Cidade de EXTREMISTAS elas de supremacistas brancos, neo-
nazis, milícias antigovernamentais e
Oklahoma, em 1995 – o mais mortífero
ato de terrorismo interno na História INTERNOS. defensores da teoria de conspiração
Qanon, movimento nascido em 2017,
dos EUA. Garland prometeu que a sua
“primeira prioridade” será punir a tur- CONTUDO, MUITAS na internet, para disseminar a ideia de
que EUA são controlados por uma ca-
ba que atacou o Capitólio. Agentes do
FBI e delegados do Ministério Público VEZES OPTAM bala de pedófilos e de canibais. Noções
que antes pertenciam às margens de
já localizaram e acusaram cerca de 300
insurretos. “O dia 6 de janeiro não foi
POR NÃO USÁ-LAS, lunáticos são, agora, parte do mains-
tream, porque redes de notícias, po-
um acontecimento isolado”, certificou ADMITEM ANTIGOS líticos e grupos de interesses ligados à
AGENTES
o diretor do FBI, Christopher Wray, direita, ao abraçarem uma postura de
ao depor perante o Congresso, em 2 nós ou eles contra as “elites liberais”,
41,5
46,3
2015
2016
48,8
da para o país, que não conhece uma república
desde que Oliver Cromwell e respetivos pares
mandaram decapitar Carlos I, em 1649. Ou
seja, os estudos de opinião, por enquanto, não
refletem a suposta crise institucional provocada
pelos duques de Sussex. No entanto, a conversa
entre a rainha das entrevistas televisivas nos EUA
(Oprah Winfrey) e o mediático casal que decidiu 2018
55,2
revoltar-se contra a Casa de Windsor e insta-
lar-se em Los Angeles, em 2020, inspira todo
o tipo de polémicas dos dois lados do Atlântico. de viver “num casamento a três” com Carlos e
Do Washington Post aos inevitáveis tabloides, a amante do marido, Camilla Parker Bowles.
sucedem-se artigos e colunas de opinião em que No meio de todos estes dramas palacianos há
se especula que este novo escândalo pode pôr em uma personagem que sai ilesa: a rainha. Após a
causa a sobrevivência da dinastia. transmissão da entrevista, a 7 de março, Oprah
Num acerto de contas familiar com porme- 2019 Winfrey afirmou que as declarações racistas
78,0
nores edipianos, Harry (neto de Isabel II e sexto sobre a cor da pele de Archie, o filho de Harry
na linha de sucessão ao trono) e a sua mulher, e de Meghan, nascido em maio de 2019, não
Meghan Markle (antiga atriz e filha de pai branco partiram da monarca, dando origem a novas
e de mãe negra), disseram que a vida de ambos especulações sobre a possível autoria de tais
no Palácio de Kensington, em Londres, nada comentários: Carlos e Camilla e, claro, os duques
tinha que ver com os contos de fadas e que fo- de Cambridge, William e Kate.
ram alvo de um tratamento racista e desumano 2020 “A ocorrência de escândalos sugere que temos
80,8
pela Casa Real. Sem nunca identificarem os um problema estrutural. Reparar as linhas de
alegados responsáveis, as duas altezas reais, que fratura é cada vez mais urgente. A rainha tem
perderam os títulos para rumarem à Califórnia e ainda um papel a desempenhar, enquanto âncora
assinarem contratos milionários com a Netflix e da estabilidade nacional. Mas Isabel II, que fará
a Spotify, conseguiram recordes de audiência e 95 anos no próximo mês (...), não é imortal. (...)
impressionaram milhões de pessoas. A etiqueta Se a Firma [nome dado à trituradora máquina
#abolishthemonarchy (abolir a monarquia) tor- da monarquia] não souber adaptar-se, estará
nou-se um tema de discussão nas redes sociais condenada (...) a um final potencialmente infe-
e não faltaram sequer as comparações com as liz”, advertiu o Financial Times, num editorial
confidências feitas por Diana, em 1995, à BBC, em que se faz também uma referência cirúrgica
ao filho favorito da rainha: o príncipe André. Na BRITÂNICAS e o reino é agora liderado pelo polémico prín-
cipe herdeiro Mohammed bin Salman, que se
primeira metade dos anos 90, o casamento do
também duque de Iorque com Sarah Ferguson
NÃO TÊM aproveitou da debilitada saúde do seu pai (o rei
Salman) para impor uma agenda dita reformista
fez as delícias da imprensa de mexericos. Depois UMA que passa por projetos faraónicos e a eliminação
REPÚBLICA
do divórcio, já como embaixador especial da Co- de qualquer dissidência – a CIA e a Administra-
roa, continuou a alimentar manchetes por jogar ção Biden consideram-no o responsável pelo as-
DESDE QUE
golfe à borla nos cinco cantos do planeta e pelos sassínio do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018.
seus negócios obscuros com ditadores; e, em Nos Emirados Árabes Unidos, os atropelos
maio, foi sumariamente afastado de quaisquer
funções oficiais devido à sua amizade de longa OLIVER aos Direitos Humanos não são tão óbvios, mas
a democracia continua a ser uma miragem. O
data com Jeffrey Epstein, o milionário pedófilo
que se suicidou na prisão, em 2019, e em cujas CROMWELL emir do Dubai, que é também primeiro-minis-
tro do país, não gosta de ser contrariado nem
festas André participava com frequência.
Na revista digital UnHerd, Will Lloyd desdra- MANDOU em casa. Com mais de 30 filhos e seis esposas,
é suspeito do sequestro de duas princesas e de
matiza o atual momento da família real britânica
e garante que Sua Majestade e respetiva prole
CORTAR ter tentado fazer o mesmo à mulher com quem
se casou em 2004, a princesa jordana Haya bint
saem sempre a ganhar: “A monarquia é uma for-
ma de entretenimento (...) para os súbditos terem
A CABEÇA Hussein, que se exilou em Londres e recorreu
à justiça britânica para garantir a sua proteção.
sempre escândalos, fofocas e anedotas. (...) Harry AO REI Mais a sul, na Tailândia, o rei Rama X passa
CARLOS I,
odeia o pai profundamente. (...) Se estivéssemos mais tempo no seu palacete bávaro (na Alema-
no século XIV, ele estaria em França, a conspirar nha) do que em Banguecoque. E os protestos
EM 1649
e a constituir um exército que viesse até Ingla- pró-democracia, contra as arbitrariedades dos
terra para se apoderar do trono, torturar Piers militares e os affairs do monarca, continuam
Islândia Finlândia
Islândia Finlândia
Suécia Suécia
Noruega
Noruega
Est.
Rússia
Dinamarca Império Russo Dinamarca Let.
Países Baixos Lit.
Irlanda Países Baixos
Bélgica Irlanda Bielorrússia
Reino Reino Bélgica
Unido Império Unido Polónia
Alemão Alemanha Ucrânia
Luxemburgo Luxemburgo
Rep. Checa Moldávia
Império Esl.
Austro-Húngaro Áust. Hungria
Suíça Suíça Roménia
França França
Roménia
San Marino Itália Bósn. Sérv.
Sérvia Bulgária Bulgária
Itália Croá.
Mac.
Espanha Império Otomano Espanha Turquia
Portugal Grécia
Portugal Grécia
Montenegro Albânia Montenegro Albânia
INFOGRAFIA MT/VISÃO
sem surtir os efeitos desejados: no ano passado, génito, Felipe VI: o seu estilo de vida, as suas pai-
23 pessoas foram condenadas pelo crime de le- xões por figuras como Corinna Larsen e os seus
sa-majestade e, em janeiro, uma ex-funcionária negócios das arábias constituíam uma ameaça
pública, sexagenária, recebeu uma sentença de para o regime criado em 1975, após a morte do
43 anos por partilhar vídeos considerados difa- ditador Francisco Franco. Como escreveu José
matórios para a família real. Antonio Zarzalejos (monárquico assumido e
No extremo oposto, as monarquias da Europa
do Norte aparecem invariavelmente no topo de JUAN ex-diretor do diário ABC) no seu mais recente
livro, Juan Carlos sucumbiu à “avareza, à pro-
todos os rankings de democracia e qualidade
de vida. “Tenho a certeza de que se houvesse CARLOS, miscuidade e à prepotência”.
Na opinião de Filipe Vasconcelos Romão,
referendos para a implantação de repúblicas
na Escandinávia, mais de 85% das populações
COMO SE investigador do ISCTE, a democracia espanho-
la nasce de um “pecado original”: “A escolha
iriam votar contra”, afirma à VISÃO Hélder ESCREVE de Juan Carlos para liderar o reino é feita por
NUM LIVRO
Fernandes, jornalista português que vive na re- Franco. Apesar da Constituição de 1978 e do
gião desde 1988. No seu entender, as dinastias papel do monarca contra o golpe de 23 de fe-
nórdicas também têm escândalos e polémicas,
mas a monarquia é vista como um instrumento RECÉM- vereiro de 1981, ele sempre teve de enfrentar
essa aparente falta de legitimidade que depois
essencial à coesão nacional. E dá como exemplo o
namoro da princesa Marta Luísa da Noruega, de -LANÇADO se agudizou nos últimos anos. As franjas radicais
do espetro político continuam a aproveitar-se. A
49 anos e quarta na linha de sucessão ao trono, EM ESPANHA, esquerda e os nacionalistas instrumentalizam a
SUCUMBIU
a qual se envolveu com um guru californiano, questão republicana e a extrema-direita defende
dado às ciências do oculto (Durek Verrett): “As a monarquia, com prejuízo da própria Casa Real.”
pessoas acham que ela tem todo o direito de
viver com o bruxo. Encaram o caso como uma À “AVAREZA, Um autêntico berbicacho que, segundo Xavier
de Xaxàs, jornalista do diário La Vanguardia,
curiosidade, um fait divers que só a ela pode
envergonhar – ou não!” À PROMIS- só o futuro pode resolver: “Nem Espanha, nem
o Reino Unido, nem o resto das monarquias
Em Espanha e durante quase quatro déca-
das, acreditou-se que Juan Carlos I era o “rei
CUIDADE europeias têm a autoconfiança suficiente para
viver sem coroa. Os reis, no entanto, já morre-
das grandes virtudes públicas”, a quem se podia E À PREPO- ram. Só Isabel II e Felipe VI sobrevivem (...) mas
TÊNCIA”
“perdoar os vícios privados”. Só que em 2014, o também eles entraram no nevoeiro das tragédias
monarca teve de abdicar a favor do seu primo- shakespearianas.” ffialho@visao.pt
ELEIÇÕES INTERNAS
“Nada é PAN
constante, neste
mundo, exceto a
inconstância” Mais do que
Jonathan Swift
Escritor anglo-irlandês
(1667-1745)
um castelo
de cartas?
Passaram-se mais de seis anos
desde que André Silva assumiu
a liderança do PAN. Na hora
da saída, deixa um partido André
Silva
amadurecido para o exterior, mas
cheio de contradições internas
R I TA R AT O N U N E S
Cristina
Rodrigues
Francisco
Guerreiro
A
substituirá na estrrutura da pirâmide?
Três “temas”
P O R J O S É C A R L O S D E VA S C O N C E L O S
A
UTÁRQUICAS A candidatura de cinco milhões; b) o não estar provado
Carlos Moedas à câmara de o “nexo de causalidade” entre a vacina-
Lisboa é uma boa notícia. E ção e tais coágulos – questiono-me se
não só para o PSD. Porque é isso não será prudência a mais e razão
de toda a conveniência, para a menos... Por os governos e outros
os concelhos, o País e a de- decisores considerarem correr menos
mocracia, haver bons candi- riscos com tal excesso do que fazendo
datos capazes – para haver na minha ótica o mais adequado: espe-
bons autarcas. Candidatos como rar pela recomendação a tal propósito
Moedas, com um perfil de compe- que a OMS fará nesta quinta-feira, 18,
tência e não agressividade política, com base científica, a partir de dados
além de currículo. Aliás, também em recolhidos em todo o mundo.
Coimbra o PSD de Rui Rio terá um A suspensão, além de atrasar a va-
cabeça de lista de peso, José Manuel cinação em curso, teve/tem ainda o
Silva, ex-bastonário da Ordem dos demérito de amedrontar quem já a
D.R.
Médicos e cujo movimento, Somos tomou, ou quem iria e, por isso, deixa
Coimbra, elegeu dois vereadores em de ir; ou até de fazer recear de todas as
OS SUBSTITUTOS 2017. Se a isto acrescentarmos, nas vacinas. Qualquer medicamento pode
O lugar do deputado já se sabe que fica duas cidades como noutros locais, ter efeitos secundários – quem ler cer-
para Nelson Silva, 35 anos, programador as coligações do PSD com o CDS e tas “bulas” e for muito temeroso já nem
informático. Foi ele, aliás, quem substi- outros acordos, torna-se evidente um o toma... E, para mais numa pandemia,
tuiu André Silva no Parlamento durante o efetivo potencial de vitória. impõe-se ponderar: se há o “perigo” de
tempo da licença de paternidade. Nelson Sendo assim, o que 0,00 XX dos vacinados
Silva, licenciado em Estudos Europeus, fará o PS? Creio óbvio sofrerem certas conse-
filiou-se no PAN em 2017, ano em que que devia (tentar) fazer Se em Lisboa, quências, não poderão
foi eleito para a Assembleia Municipal de também coligações ou quando de ser muito mais graves
Odivelas, e é também um dos membros da acordos. De imediato costas voltadas, as consequências de só
Comissão Política Nacional. No currículo, pelo menos em Lisboa e se vacinarem mais tarde
tem uma passagem pela Comissão Polí- com o PCP – dado que PS e PCP se milhões de pessoas que
tica da Distrital de Lisboa. Identifica-se o BE já anunciou a sua entenderam estavam para ser vaci-
com o estilo de André Silva e quer dar candidata e parece não para conquistar nadas e não foram?
continuidade ao seu trabalho. “Eu par- saber ou querer inter-
tilho da visão que o André deixou e são pretar o significado do a câmara, será EUTANÁSIA Compreende-
essas causas que continuarei a defender seu resultado nas pre- um enorme -se a decisão do TC na
à minha maneira”, promete. Quanto à sidenciais. Se em Lis- erro político restrita parte em que
liderança do partido, ainda é cedo para boa, quando estavam considerou inconstitu-
apontar nomes. “Estamos a processar a de costas voltadas, PS e
agora não cional a lei, em confor-
saída do André”, diz Nelson Silva. Mas as PCP se conseguiram en- fazerem nada midade com o exposto
fontes ouvidas pela VISÃO acreditam que tender para conquistar nesse sentido por Marcelo ao enviá-la
esta ficará entre as duas deputadas: Inês a câmara, será incom- para apreciação preven-
Sousa Real (líder do grupo parlamentar) e preensível e um enorme tiva por ter conceitos
Bebiana Cunha. Para já, apenas Inês Sousa erro político, 32 anos e um acordo de “indeterminados”. Porém, mais impor-
Real admitiu essa hipótese: “Naturalmente governo depois, não fazerem nada em tante, do acórdão resulta estar votado
que, atendendo às responsabilidades que conjunto nesse sentido. ao insucesso um pedido de fiscalização
assumo no partido, não me excluo desta sucessiva, com base na violação do di-
reflexão. Oportunamente, as candidaturas A VACINA DA ASTRAZENECA A suspensão da reito à vida. Quanto à indeterminação,
à Comissão Nacional serão conhecidas”, administração da vacina da AstraZene- considerada inconstitucional, de um
diz-nos, sem adiantar mais. André Silva ca, na sequência de casos de formação pressuposto exigido na lei – “lesão
deixa um partido fraturado, que enfren- de coágulos em pessoas que a rece- definitiva de gravidade extrema de
tará um teste importante, em junho, para beram, é uma compreensível medida acordo com o consenso científico” –,
saber quem vai substituir o líder que levou prudencial. Mas será a mais ajustada? não creio possível encontrar para ele
o PAN de um partido ridicularizado na Tendo em conta: a) a ínfima percenta- uma formulação clara e rigorosa como
Assembleia da República a um partido que gem de pessoas vacinadas em que ocor- o TC quer. Por isso, o caminho tem de
representa entre 3% e 4% das intenções reram esses casos, na Europa 30 em ser outro. visao@visao.pt
de voto nas sondagens. visao@visao.pt
Patrocínios da
presidência portuguesa
causam mal-estar Portugal alvo de abaixo-
-assinado por resgatar prática de
lideranças rotativas em Bruxelas
sob a chancela de grandes empresas.
Gastos de Lisboa cimentam imagem
despesista e avessa à ética
NUNO MIGUEL ROPIO
D
iversos feitos ainda podem depois de a secretária de Estado dos desconforto com a reposição de uma
vir a ser conquistados pela Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, prática que parecia que seria extinta.
liderança portuguesa do Con- se ter apresentado na Comissão de As- Para Freund, “a Presidência do Con-
selho da União Europeia (UE), suntos Constitucionais ao lado de quatro selho não é um Campeonato do Mundo
nos três meses e meio que garrafas de águas e sumos de uma mul- FIFA, que deva ser utilizado como pla-
ainda tem pela frente. Porém, tinacional portuguesa que, a par de uma taforma de publicidade”. Além disso,
de um desaire já não se livra: transformadora de pasta de papel e de diz à VISÃO, “trata-se de criar políticas
o de ter a imagem de Lisboa uma empresa cafeeira, é patrocinadora responsáveis para mais de 400 milhões
colada ao regresso do pa- da atual gestão semestral – que arrancou de pessoas. A associação de marcas e
trocínio privado de grandes a 1 de janeiro e termina a 30 de junho. logótipos à sua missão política criará
marcas às presidências rotativas, após a “Se a presidência portuguesa manti- a impressão de que poderá favorecer
Alemanha deixar cair, no ano passado, ver os produtos dos seus patrocinadores o interesse de alguma corporação”. Até
essa prática com mais de 15 anos – já em reuniões oficiais, deveremos colocar porque as empresas podem chegar ao
criticada pela Provedora de Justiça Eu- no ecrã das transmissões um ‘aviso’ com ponto de assumir o pagamento de alguns
ropeia e na mira das organizações não exclusão de responsabilidade”, avisa Da- custos relativos às presidências.
governamentais (ONG) anticorrupção. niel Freund, eurodeputado alemão da Apesar de uma denúncia da Foodwat-
Um abaixo-assinado dirigido a An- bancada dos Verdes/Aliança Livre, que ch – grupo de defesa europeu dos direi-
tónio Costa, contra aquilo que é visto confrontou Zacarias com o tal cenário tos do consumidor –, em julho de 2019,
como um retrocesso relativamente aos na referida comissão, a 27 de janeiro. A contra a polémica presidência romena,
seis meses da presidência alemã, está a representante do Governo evitou tocar patrocinada pela Coca-Cola, Renault
ser organizado a partir do coração da diretamente no assunto, embora reco- e Mercedes, a Provedora de Justiça da
Europa, pelo Observatório Corporativo nhecendo a necessidade de aperfeiçoar UE, Emily O’Reilly, não exigiu logo ao
Europeu (CEO, na sigla inglesa), grupo as linhas que guiam o lóbi em Bruxelas. Conselho Europeu explicações sobre
que se bate contra a influência das em- Desde então, aquele vice-presidente do este procedimento. No caso da Roménia,
presas e do lóbi industrial na construção Intergrupo Parlamentar Anticorrupção, a Coca-Cola ofereceu mobiliário e 140
das leis comunitárias. E do Parlamento responsável pelo controlo da transpa- mil litros em bebidas, numa altura em
Europeu (PE) partem mais avisos à na- rência e integridade nas instituições se afinava o Regulamento Europeu de
vegação portuguesa, principalmente europeias, tem sido a voz mais ativa do Informação Alimentar.
NÃO É UM CONCURSO DE
impacto económico
econó da crise, certamente
existem maneiras
mane mais inteligentes de
BELEZA”, CRITICA DANIEL gastar o dinheiro
dinhe dos contribuintes do
que em equip
equipar centros de imprensa
FREUND, ROSTO DA vazios”. O alemão
alem é ainda mais incisivo:
“Uma Presidência
Presidên do Conselho da UE
COMISSÃO ANTICORRUPÇÃO não é um conconcurso de beleza – espe-
cialmente no meio de uma pandemia
DO PARLAMENTO EUROPEU global.” nropio@
nropio@visao.pt
Os detetives da pandemia
Com a estratégia de desconfinamento assente em testar em massa,
rastrear, isolar e vacinar, o inquérito epidemiológico feito pelos
rastreadores é uma missão em que todos os minutos contam.
Fomos ver como trabalham
D
SÓNIA CALHEIROS LUÍS BARRA
epois de saber que estava infe- o filho de 18 anos não o sabia fazer; uma baixo risco, mentem, omitem e tentam
tado pelo SARS-CoV-2, um jo- profissional de saúde que omitiu o con- ludibriar os rastreadores, os inquéritos
vem rapaz não aguentou estar tacto da empregada doméstica para não epidemiológicos perdem velocidade e
sozinho e organizou uma es- ficar sem a limpeza da casa; um senhor os profissionais de saúde que, na sua
pécie de Covid party, chaman- que dizia estar deitado na cama e do outro maioria, os fazem, mais os militares que
do alguns amigos lá para casa lado da linha ouviam o motor do carro a reforçam a operação desde novembro,
para lhe fazerem companhia. carburar; alguém que não atendeu o te- desperdiçam tempo precioso para fazer
Quando a duas dessas pessoas lemóvel, mas no telefone fixo o seu filho face à estratégia de desconfinamento,
o rastreador que fazia o inqué- descaiu-se dizendo que o pai não estava agora apostada em testar em massa (es-
rito epidemiológico lhes disse em casa; uma pessoa no supermercado colas, prisões e empresas), rastrear, isolar
que também teriam de ficar isoladas além (ouvia-se o ato de passar os códigos de e vacinar. Todos os minutos contam num
do tempo do infetado inicial, por terem barra na caixa), a dizer que só estava a verdadeiro “trabalho de formiguinha” em
tido proximidade desprotegida, choveram comprar lixívia para desinfetar tudo; al- busca da verdade. Só assim conseguem
impropérios ao telefone. guém que garantia que morava sozinho, encontrar a cadeia de transmissão, isolar
Relatos de discursos perturbados e mas o Registo Nacional de Utentes men- os casos e travar a disseminação do vírus.
casos insólitos não faltam no rol de histó- cionava que existia um cônjuge e filhos a Mas este não é um problema exclusivo
rias que os rastreadores têm para contar morarem na mesma casa... português. Em Inglaterra, os rastreadores
– seja uma mãe de família que mesmo De cada vez que os casos positivos, não conseguem contactar uma em cada
infetada continuava a cozinhar porque bem como os seus contactos de alto e de oito pessoas com teste positivo e 18% dos
282
Total de rastreadores
no País a tempo inteiro
(35 horas semanais)
130
Total de rastreadores na
região de Lisboa e Vale
do Tejo a tempo inteiro
que são encontrados não fornecem de- na véspera, pediram para ligar mais tar- (35 horas semanais)
talhes sobre os seus contactos próximos. de ou podem estar internadas ou até no
“Além de fazermos os telefonemas, estrangeiro – há rastreadores a dar apoio
€1 205
que não demoram cinco ou dez minutos, aos agrupamentos de centros de saúde
temos de ensinar conceitos às pessoas, na marcação da vacinação da população
como o que é estar a menos ou a mais de incluída na fase 1. Não há tempos mortos
dois metros de distância, dando exemplos e a polivalência faz-se notar numa equipa
para perceberem. Temos de perguntar se muito jovem e com formação superior.
bebeu café com o caso positivo, se usou Cada um dos 13 líderes tem uma ou mais Salário bruto dos
máscara, se partilharam casa de banho, equipas para gerir, compostas por sete rastreadores a tempo
se foram juntos fumar um cigarro, por a nove pessoas, que estão a trabalhar a inteiro, mais subsídio de
exemplo. Às vezes são estas perguntas partir de casa. alimentação, com contrato
que fazem a diferença e tudo isso demora São todos profissionais de saúde, desde a termo incerto na categoria
o seu tempo”, exemplifica Cláudia Rainha, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, de técnicos superiores
responsável pelo GRIS – Gabinete Regio- fisioterapeutas, farmacêuticos ou com
nal de Intervenção para a Supressão da mestrados em Saúde Pública. Para Cláudia
Covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo, uma Rainha, 46 anos, enfermeira especializada
779
sala de comando que concentra os chefes em Saúde Infantil e Pediátrica, recrutar
de equipa dos rastreadores. pessoas que estivessem desempregadas
foi condição sine qua non, pois este tra-
A CRIAR EMPREGO balho não dá para “fazer no intervalo das
Numa terça-feira calma de março, com consultas”. “Muitos candidatos desistiram
183 inquéritos pendentes – o que significa quando perceberam que não dava para
que as pessoas não atenderam o telefone fazer ‘só uma horinha’.” Total de militares dos três
ramos das Forças Armadas
Expressiva e com sotaque alentejano
a realizarem inquéritos,
de Beja, Filipa Lopes, 34 anos, psicólo-
divididos em 43 equipas
ga, estava a trabalhar na receção de uma
clínica quando quis mudar de percurso
DE CADA VEZ QUE OS
54 992
profissional. Desconhecia que apenas ia
contactar com casos positivos e que era
INFETADOS MENTEM, uma tarefa tão minuciosa. Também João
OMITEM E TENTAM
Jesus, 24 anos, fisioterapeuta a exercer
numa clínica, quis experimentar um tra-
LUDIBRIAR OS balho diferente. Agora, “levanta-se com as
galinhas”, como brinca Cláudia, para às Pico máximo de inquéritos
RASTREADORES, OS sete da manhã fazer a exportação da base
de dados dos novos casos positivos diários
em atraso, em janeiro,
na região de Lisboa
INQUÉRITOS PERDEM e assim disponibilizar os recursos para os
rastreadores começarem os telefonemas.
e Vale do Tejo
MILITARES NO BARCO
Desde 19 de novembro de 2020 que mili-
tares dos três ramos das Forças Armadas
integram a operação dos inquéritos epi-
demiológicos. São 779 militares divididos
em 43 equipas (só 20 operam em Lisboa,
com 462 militares), sempre apoiadas
por um profissional de saúde, que co-
meçam por fazer o “contacto prévio”, a
abordagem para perceber a morada de
isolamento, que pode não coincidir com
a morada de residência. Além da notória
Trabalho de “formiguinha” capacidade de trabalho – os rastreado-
Todos os minutos contam para se res militares trabalham 12 horas diárias,
encontrar a cadeia de transmissão, sete dias da semana – acrescem outras
isolar os casos e travar a mais-valias destes profissionais, como
disseminação do vírus a disciplina, capacidade de planeamento
e de trabalho em equipa e sensibilidade.
O caos de milhares de inquéritos em
mentar. Por diversas vezes, e em janeiro atraso “não vai voltar a acontecer”, prevê
aconteceu, multiplicaram-se as histórias o major António Valente, responsável
de doentes e dos seus contactos mais pelo centro logístico que tem a seu cargo
próximos que não foram identificados planear, coordenar e monitorizar todo o
pelos rastreadores, ficando assim por apoio que as Forças Armadas dão nesta
quebrar a cadeia de transmissão. operação. “Nós entrámos no barco já
Segundo a Organização Mundial da em situação de crise; agora temos uma
a mais nova desta equipa de 130 funcio- Saúde, para uma operação de rastrea- resposta rápida e organizada”, afiança.
nários a tempo inteiro (inseridos numa mento de contactos Covid-19 ser bem- A monitorizar o fim da vigilância, cabe
bolsa de 1 193 adaptável às necessidades -sucedida é preciso detetar e colocar em a Ana Martins, 37 anos, perceber como foi
só da região de Lisboa), terminou a li- quarentena 80% dos contactos próximos, feito o isolamento. Há pessoas a chora-
cenciatura em Ciências da Saúde em se- no espaço de três dias após a confir- rem com medo de perderem o emprego
tembro e conseguiu logo o seu primeiro mação de um caso. Christophe Fraser, se ficarem de quarentena. Nesses casos,
emprego. Mudou-se de Armação de Pêra, biólogo matemático da Universidade de Ana explica os direitos laborais e quais
no Algarve, para um quarto alugado no Oxford, no Reino Unido, aperta ainda os apoios sociais da autarquia e como
bairro de Arroios, em Lisboa, e coordena mais o cerco: num único dia, 70% dos os pode solicitar. Outra realidade com
nove pessoas, mais uma equipa de 20 casos positivos precisam de ser isolados a qual já contactou é a dos migrantes
a 25 militares. “Pensar na pandemia é e 70% dos seus contactos precisam de positivos que não falam nem português,
assustador, mas no meu caso abriu di- ser rastreados e colocados em isolamento nem inglês, e é preciso chegar à única
versas portas.” profilático (quarentena). pessoa da casa que fala inglês. Apesar
Só na região de Lisboa e Vale do Tejo, de haver uma linha telefónica de apoio
O FANTASMA DE JANEIRO entre 8 e 14 de janeiro, foram notificados linguístico disponível, com intérpretes
Com o levantamento gradual das restri- 23 264 novos casos positivos (76,22% dos prontos a fazerem a tradução, entre os
ções, uma maior circulação de pessoas quais na Área Metropolitana de Lisboa) 300 internos de Medicina da Universida-
levará a um novo aumento dos casos e realizados 15 028 inquéritos, tendo 8 de Nova existem muitos russos, moldavos
positivos, logo voltará a subir o número 236 ficado atrasados. “Houve incapaci- e ucranianos que se disponibilizam para
de inquéritos epidemiológicos para fazer dade, por não estarmos a prever aquele traduzir, por exemplo.
– um círculo vicioso com tendência a au- aumento tão acelerado de novos casos. Na hora em que a pandemia for con-
Tivemos de readaptar a nova metodolo- trolada, a Cláudia Rainha não faltam
gia, reorganizar equipas, centralizá-las, ideias de como no futuro dar uso aos
uniformizar processos e torná-los mais dados recolhidos de milhares de pes-
céleres”, elenca Ana Dinis, delegada de soas. Podem ser válidos para estudar a
HÁ PSICÓLOGOS, saúde regional-adjunta da ARSLVT. incidência da doença num determinado
NUTRICIONISTAS,
Em janeiro, esta ARS atingiu o máximo local, qual a implicação do fenómeno das
de 54 992 inquéritos em atraso – o mês baixas temperaturas num determinado
ENFERMEIROS, registou 42,2% do total de casos acumu-
lados desde o início da pandemia. “Mas,
concelho ou o meio socio-económico
mais fustigado pela doença. Nos Estados
FISIOTERAPEUTAS, a partir de 21 de janeiro, todos os novos
casos diários que entravam na nossa base
Unidos da América, por exemplo, já exis-
tem estudos com estes dados: são as co-
FARMACÊUTICOS... de dados eram contactados no próprio
dia, passando o número de telefonemas
munidades afro-americanas e os setores
mais pobres quem mais tem sofrido com
ALÉM DOS MILITARES a ultrapassar o de entradas”, garante. a Covid-19. Sem surpresa. scalheiros@visao.pt
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FIGURA
Rafael
VAGA R
“As paródias
e as caricaturas
são as formas
mais agudas
de crítica”
Bordalo Pinheiro,
Aldous Huxley
Escritor
(1894-1963)
um contemporâneo
ARMADO COM LÁPIS “GALHOFEIRO”, CRIADOR DE
“TRAÇOS FUNAMBULESCOS”, PAI DO ZÉ POVINHO
E ZURZIDOR DAS ELITES, O CARICATURISTA,
CERAMISTA, ILUSTRADOR, JORNALISTA E BON
VIVANT CRIOU UMA OBRA MAIOR QUE, VAI-SE
A VER, CONTINUA FRESCA COMO UMA ALFACE.
NOS 175 ANOS DO SEU NASCIMENTO, FOLHEÁMOS
LIVROS COM EDIÇÃO RECENTE QUE O MOSTRAM
EM QUARENTENA, ECOLOGISTA AVANT LA LETTRE
E CRÍTICO DE UMA LISBOA EM TRANSFORMAÇÃO.
ONDE É QUE JÁ VIMOS ISTO?
S Í LV I A S O U TO C U N H A
O ARTISTA INQUIETO
Atrás das grades do Lazareto, Rafael
“sonha” com Lisboa “tal qual era dan-
tes”: “à porta da Havaneza, os mesmos
grupos”, os mesmos políticos em que
avista “menos convicções e mais alguns
elefantes”. “Um, que quando eu partia
para o Brasil acendia majestosamente um
charuto, acaba agora mesmo de o fumar”,
larga, afiado. O “sol da tragédia declina
no horizonte”, no Rossio, enquanto “às
10 horas da noite, os mesmos três gatos
comendo a mesma sardinha no Largo de
S. Julião”, perora, provocatório. Cruza os
fios da mitologia grega e da ópera bufa da
realidade: “Caronte pede um vintenzinho
para cigarros, queixando-se de que o
governo não lhe paga. Pago e sigo como
condenado que recolhe do exílio”, legenda
Rafael no desenho autobiográfico, repre-
sentando-se com o característico bigode
farfalhudo, cenho franzido a esticar uma
moeda ao barqueiro com nome mitoló-
gico que arrasta os turistas infelizes para
o Lazareto. Na ilustração seguinte, ele
representa-se de costas curvadas, pernas
cambadas e chapéu enterrado na cabeça,
ladeado por dois guardas, lembrando a
sua célebre criação do Zé Povinho.
Raphael Augusto Prostes Bordallo Exposição Universal de Paris de 1900. miniscência: “Nesse país essencialmente
Pinheiro, alfacinha, filho de artistas, Em 1883, o artista inquieto fundou a agrícola, o Tesouro emagrece, e não
cedo sentiu vocação pelas artes: foi Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha, obstante os cafezais são prósperos.” Se
aluno do Conservatório e da Academia aí criando um extraordinário universo a crítica ferina aos poderes é traço ha-
de Belas Artes, experimentou sentar-se cerâmico povoado por figuras populares, bitual, o que Bordalo traz do Brasil será
num curso de Letras e na Escola de Arte sopeiras em forma de couve, vasos que coisa mais verdejante. “Em pouco tempo
Dramática, e até estrear-se nas tábuas desafiavam as tecnologias conhecidas, Bordalo transforma-se num arauto ativo
do Teatro Garrett. De tudo desistiu. O ou um bestiário cornucópico: lagartixas, da arborização, um defensor incansável
pai empurrou-o para umas funções sapos, vespas, lagostas, gatos arrepiados, e quase obsessivo dos jardins, não se
burocráticas na Câmara dos Pares, cujos andorinhas esvoaçantes… E não nos coibindo de zurzir feroz e humoristi-
bastidores e bengaladas lhe aguçaram o esqueçamos da sua “botânica política”. camente sobre as cabeças de todos os
talento para a sátira e o fizeram renegar Nas primeiras ilustrações de No La- que, por carência mental e cultural, não
carreira sossegada. Até porque as suas zareto de Lisboa, uma figura indígena celebram as árvores e as flores”, escreve
caricaturas já varriam a capital. mirrada com uma chave de cofre a Susana Neves, investigadora que escre-
Bordalo Pinheiro, precursor da ca- trespassar-lhe a barriga, e empoleirada veu o precioso Rafael Bordalo Pinheiro
ricatura e da sátira (sobretudo políti- num burrito esquelético, ganha esta re- – De Árvore em Punho. É uma original
ca), deu-lhes ampla rédea nos jornais investigação sobre a presença botânica
satíricos que fundou. A lista é longa: A na obra de Rafael, espoletada por um
Berlinda e O Binóculo (1870), A Lan- detalhe: ela ter reparado numa orquídea
terna Mágica (1875), O Mosquito, o na lapela do artista num desses retratos
À beira-jardim plantado Rafael Bordalo
Psit!! e O Besouro (publicados durante Pinheiro − De Árvore em Punho (edição
a sépia, de pose respeitável em estúdio,
os anos brasileiros), O António Maria, Câmara Municipal de Lisboa, com apoio tão ao gosto oitocentista. E que revelou
assim batizado para alfinetar o chefe Museu Bordalo Pinheiro/Egeac, 160 um conhecimento botânico aprofunda-
de governo António Maria Fontes Pe- págs., €25), da autoria de Susana Neves, do que atravessa toda a obra de Bordalo
reira de Melo (1879 e 1891), Pontos nos é um volume ilustrado que revela um Pinheiro. A autora recorda a febre das
ii (1885) e o célebre A Paródia (1900). Bordalo ecológico em cinco capítulos: orquídeas vivida na altura: estas flores
Mas a sua criatividade inesgotável es- Uma flor com binóculos; A couve requintadas eram vendidas por fortunas.
tendeu-se além de jornais e capas de ensopada em vinho; Regar os bigodes; “Vivendo no Brasil, pátria das Cattleyas,
livros, cartoons e figurinos, rótulos e até Fruta verde come-se com a testa; e O país onde se encontra a maior diver-
a decoração do Pavilhão de Portugal na pinheiro que não parava de crescer sidade de orquídeas no mundo, mais
GRAMMYS 2021
Beyoncé e Taylor Swift, poder feminino
N
ão foram só mais uns pré- Stevie Wonder e Paul Simon). Beyoncé Numa edição muito marcada pela
mios nas carreiras vence- tornou-se, na cerimónia do passado música feita por mulheres (e pelo obri-
doras de Beyoncé Knowles, domingo, 14, em Los Angeles, a artista gatório distanciamento social, que não
39 anos, e Taylor Swift, com mais Grammys no currículo. São, combina bem com este tipo de festas
31. Com os Grammys que agora, 28 – quatros deles conquistados musicais...), não foram só Beyoncé e
acrescentaram às suas coleções bateram nesta edição: Melhor Videoclip (para Taylor Swift a festejar. Houve, mesmo,
dois impressionantes recordes. Brown Skin Girl), Melhor Performance muitos mais exemplos: Fiona Apple
Swift, ao ser escolhida como autora de R&B, Melhor Canção de Rap e Melhor venceu dois prémios: Melhor Álbum
do Melhor Álbum do Ano (Folklore), Performance de Rap (estas duas últimas de Música Alternativa (Fetch the Bolt
tornou-se a primeira
p mulher a ter ven- categorias
g num pprémio ppartilhado com Cutters) e Melhor Performance Rock;
cido três vezes nessa categoria (juntando outra das figuras da noite, Megan Thee Billie Eilish, com 19 anos, acrescentou
o seu nome aos de três pesos-pesados Stallion, já que o remix da canção Sa- duas estatuetas às cinco que venceu
da música made in USA: Frank Sinatra, tra, vage junta as duas artistas).
artistas) no ano passado: Melhor Gra Gravação do
Ano (Everything I Wanted) e Melhor
Canção para Filme (No Time Tim to Die);
Brittany Howard, a carismática
carismátic guitar-
rista e vocalista dos Alabam
Alabama Shakes,
venceu o prémio de MelhoMelhor Canção
Rock (Stay High); a categoria
cate de
Melhor Álbum Pop di distinguiu
Future Nostalgia, de Du Dua Lipa; a
Melhor Canção do Ano ffoi I Can’t
Breathe, tema de H.E. H.E.R. (nome
artístico da jovem calicaliforniana
Gabriella Sarmiento Wilson)
Wil ins-
pirado nos movimentos de protesto
que alastraram depois da morte de
George Floyd na via públic
pública provo-
cada pelo joelho de um polí polícia que o
sufocou ao longo de oito minutos;
Megan Thee St Stallion foi
considerada a artista
considerad
revelação de 2020.
Pelo meio,
me sim,
também houve
alguns homens
premiados (Harry
premiado
Styles, The
Th Strokes,
Nas...), mas
m este
ano os G Grammys
dela P.D.A.
foram delas.
90
0 VISÃO 18 MARÇO 2021
Lídia Jorge
Mais um filme a caminho a partir das suas palavras
Em 2004, estreou A Costa dos Murmúrios, filme
realizado por Margarida Cardoso a partir daquele que
é, muito provavelmente, o romance mais lido de Lídia
Jorge. Agora, está em marcha outra adaptação. Desta
vez, a longa-metragem vai basear-se no livro lançado
em 2002, O Vento Assobiando nas Gruas. Será uma
coprodução luso-suíça – tal como a sua realizadora,
Jeanne Waltz, nascida em 1962 em Basileia mas há
muitos anos radicada em Portugal – e a rodagem
deve começar este ano.
O Vento Assobiando nas Gruas, que recebeu, em
2003, o Grande Prémio de Romance e Novela da
Associação Portuguesa de Escritores, passa-se
numa aldeia ficcional chamada Valmares, no Sul
de Portugal. No seu centro está uma personagem
feminina, Milene Leandro, com a sua história de
ANTÓNIO PEDRO FERREIRA
EDIÇÃO MENSAL
GRATUITA,
EXCLUSIVA PARA
INVISUAIS
Porque
é bom ler
Com o apoio de:
PA P E L F OR NE C ID O P OR :
O
vídeo tem pouco fardo de suceder ao imenso Lagerfeld, com em autênticos espetáculos televisivos
mais de dez minutos quem trabalhou mais de 30 anos. semelhantes a filmes de Hollywood. Na
e começa por mos- O vídeo da coleção ready to wear ou- maior parte das vezes, aquilo que anti-
trar um grupo de tono/inverno 21/22 da Chanel pode ser gamente era apenas uma montra de uma
modelos a caminhar visto no YouTube e nos sites de tudo o que nova coleção é atualmente alvo de uma
numa rua de Paris é revista de moda e não só. Sem público narrativa própria, com um ou mais te-
e a entrar no Cast- para ver de perto e em primeira mão as mas, e que procura não apenas mostrar o
le, famoso nightclub novas peças, a marca arranja outras formas trabalho dos criadores e das marcas, mas
em Saint Germain. A ideia é retratar uma de chegar aos seus clientes. Já no final do também proporcionar um bom espetáculo
“noite de miúdas”. Sem ninguém para as ano passado, a apresentação da coleção Le a quem o vê, mesmo que normalmente
ver ao vivo, claro. Pandemia oblige. “Ima- Château des Dames foi feita em grande, não assista a desfiles de moda.
ginei as modelos a fazerem um desfile num fabuloso castelo do Loire. “Temos As grandes alterações são sobretudo
para elas mesmas, indo de sala em sala, de fazer eventos impactantes para man- os locais escolhidos para fazer os desfiles,
cruzando-se nas escadas, empilhando os ter uma ligação forte ao nosso público”, tal como a plataforma onde os partilham.
casacos no bengaleiro e subindo ao andar reconheceu Bruno Pavlovsky, presidente No Instagram e no TikTok, a alta-costura
seguinte para se trocarem. E pensei nos da divisão de moda da marca, ao jornal compete com os vídeos de qualquer in-
desfiles sobre os quais Karl me contava, The Guardian. “Isto é sobre as emoções.” fluencer menor... enquanto tenta captar
naquela época, muito tempo atrás, quando Grandes marcas de alta-costura como influencers maiores para dar lastro às suas
as modelos se vestiam e se maquilhavam Chanel, Valentino ou Dior utilizam o talen- coleções. E assim temos a Chanel a recor-
elas mesmas”, descreve Virginie Viard, a to de artistas de música e de cinema para rer a realizadores como Anton Corbijn, um
diretora criativa da Chanel com o pesado transformar os seus desfiles sem público “artista visual” que assinou obras como o
O
s contactos com o mundo fazem-se tendo a tecnologia
como interface e tem sido muito nela que me tenho
visto ao espelho. Tem sido nela que tenho fotografado
os outros, procurado novos estímulos e encontrado
recorrentes constatações.
Foi a ver a minha imagem no ecrã durante uma
videochamada de Zoom, que reparei que era quase
P O R C A P I C U A / Rapper fevereiro e a árvore de Natal ainda estava montada.
Não fosse essa coisa Escheriana de nos vermos enquadrados numa janela,
enquanto falamos para dentro de um ecrã, num jogo de espelhos, em que
outras janelas se agrupam, com outros rostos em interação cruzada, e não
“Espelhos” teria tido aquela perfeita imagem de mim. Uma mãe, com ar cansado, com
o mesmo camisolão cor-de-rosa e o mesmo rabo de cavalo semidesfeito,
tentando manter a concentração numa longa videochamada de fim de tarde,
ou a últi- com uma anacrónica árvore de Natal de fundo.
A árvore de um Natal coletivamente muito arrependido, mas que
ma crónica foi muito desejada e celebrada por aqui. Primeiro, por ter sido uma
estreia absoluta. Saí de casa dos meus pais há 20 anos e nunca tinha feito
uma árvore de Natal, em nenhuma das casas em que vivi, sozinha ou
JOSÉ MARIA LS
RICARDO JERÓNIMO
RICARDO JERÓNIMO
GONÇALO MILLER
WOOMETRY STUDIO
pt.woometry.com
Os painéis
tridimensionais, feitos
de madeira reciclada,
são o principal produto
deste estúdio, fundado
pela arquiteta Kate
Bombony, 28 anos,
e pelo marceneiro
ANTÓNIO FORJAZ NASCIMENTO
Geometria sustentável
O efeito tridimensional dos painéis da Woometry é um verdadeiro quebra-cabeças. “Parece que estamos a ver uma coisa do
outro mundo, porque a isometria não existe na realidade, vemos sempre em perspetiva”, explica Kate Bombony, arquiteta e
cofundadora deste estúdio, instalado na antiga MEC, fábrica de aparelhagem industrial, em Santa Iria de Azoia. O sistema isométrico
não foi inventado por Kate nem por Mike Beck, marceneiro e parceiro de projeto e de vida de Kate: “Não somos os primeiros a
cortar losangos e triângulos de madeira e a fazer painéis. O que nos distingue é a forma como colocamos, no plano, imagens
tridimensionais complexas, o uso de cores e de transições incomuns, tudo a partir de madeira reciclada”, dizem. Na oficina, arejada
e luminosa, há paredes forradas com tábuas, mesas de trabalho e prateleiras produzidas por Mike, a partir da única matéria-prima
trabalhada pela dupla. “Percebemos que havia muita madeira deitada fora [portas, janelas, mobiliário], um recurso que podia ser
reaproveitado, revalorizado. O caminho por detrás de cada peça, da sua origem à utilização anterior, é algo que nos inspira.”
Natural de Kharkiv, na Ucrânia, o casal instalou-se em Portugal em 2015. Kate veio estudar para a Faculdade de Arquitetura de
Lisboa, um ano depois foi a vez de Mike, que deixou as Tecnologias de Informação e que por cá se tornou marceneiro autodidata.
A recolha do material é da sua responsabilidade, assim como todo o processo de produção. “A madeira dita o que fazer com ela. É
um material muito especial, tem muita vida e alma; é algo que veio da Natureza e tem uma forte ligação com o tempo”, sublinham.
Fruto da sua formação, Kate está mais focada nos pormenores, combinando os diferentes tons de madeira, de forma que a imagem
final fique tridimensional e certificando-se de que, mesmo depois de lhe aplicarem uma cor, a textura do material continue visível,
formando peças únicas, “do outro mundo”, como dizem. E tão bonitas, acrescentamos nós.
F L O R B E L A A L V E S falves@visao.pt
BOLO DE BANANA
E C H O C O L AT E
POR MARLENE VIEIRA
PREPARAÇÃO
Pré-aqueça o forno a 180º C.
No copo da batedeira coloque os ovos e o açúcar e bata
até formar um creme esbranquiçado.
Numa tigela, junte o chocolate e a manteiga e leve
a derreter em banho-maria.
Ponha o açúcar para o caramelo num tacho, adicione uma
colher de sopa de água e leve ao lume até atingir o ponto
de caramelo. Verta-o no fundo de uma forma de bolo e
unte a parte lateral com manteiga e polvilhe com farinha.
Disponha as bananas em rodelas no fundo da forma.
Entretanto, misture o chocolate derretido aos ovos
batidos. Adicione a farinha peneirada com o fermento
e mexa com cuidado.
Encha a forma com a massa e leve ao forno a 180º C
durante 15 minutos. Retire e deixe arrefecer. Desenforme
BOLO DE CAFÉ PREPARAÇÃO
depois de frio.
COM LEITE Pré-aqueça o forno a 180 graus.
Leve ao lume (ou micro-ondas) Do livro Os Doces da Chef Marlene – O Sabor do Saber
POR RITA NASCIMENTO
o leite juntamente com o café Português (Casa das Letras)
solúvel para dissolver o café
INGREDIENTES e amornar ligeiramente o leite.
• 200 ml de leite Reserve.
• 4 colheres de sopa Com a batedeira, bata a
de café solúvel manteiga amolecida e o
• 200 g de manteiga açúcar até obter uma mistura
mais fofa, cremosa e clara.
• 350 g de açúcar
• 4 ovos Junte as gemas e continue a
bater para que fiquem bem
• 350 g de farinha
integradas. Envolva metade
• 2 colheres de chá do leite.
de fermento
Junte a farinha e o fermento,
mexendo suavemente.
Do livro Um Bolo por Semana Adicione o restante leite.
(Arte Plural Edições) Bata as claras em castelo e
envolva-as delicadamente
na massa. Coloque a massa
numa forma preparada e leve
ao forno. Coza durante cerca
de 45 minutos ou até um palito
espetado no centro sair limpo.
INGREDIENTES
• 2 peras grandes (300 g) sem caroços
• 1/2 chávena de água
• 1 colher de sopa de vinagre
de sidra ou sumo de limão
• 1/2 chávena de agave
• 5 colheres de sopa de óleo de coco
(60 g) derretido
• 1 1/2 chávena de farinha de arroz
(225 g)
• 1/3 chávena de farinha de araruta
(50 g)
• 5 colheres de sopa de linhaça moída
(50 g)
• 1 colher de chá de fermento em pó
• 1 colher de chá de bicarbonato
de sódio
• 1 colher de chá de canela
• Óleo de coco para untar
BOLO DE CENOURA E ESPECIARIAS
POR MARIA JOÃO CLAVEL PREPARAÇÃO
Corte e descaroce as peras e coloque-as
na liquidificadora juntamente com todos
INGREDIENTES PREPARAÇÃO os ingredientes líquidos. Triture e reserve.
Para o bolo Para o bolo Numa taça média, junte os restantes
• 250 g de açúcar mascavado Coloque o açúcar, os ovos, a baunilha ingredientes secos. Adicione o líquido anterior
integral e o óleo numa taça e bata durante cinco e envolva bem.
• 4 ovos minutos. Unte uma forma para bolos com um pouco
• 1 c. de chá de extrato Junte aos poucos as farinhas, o de óleo de coco, verta o preparado e leve
de baunilha fermento, o bicarbonato, a canela, o ao forno, pré-aquecido a 180° C, durante cerca
• 300 ml de óleo de coco gengibre e o sal peneirados e bata em de 30 minutos.
(ou outro óleo vegetal) velocidade baixa, só até ficar tudo ligado.
• 200 g de farinha de trigo Adicione a cenoura e a noz e envolva Do livro Eu Sei Como Ser Feliz (Manuscrito)
• 200 g de farinha de trigo tudo com uma espátula.
integral Verta a massa em duas formas de 20
• 2 c. de chá de fermento cm untadas com manteiga e polvilhadas
em pó com farinha e leve ao forno a 180ºC,
• 1 c. de chá de bicarbonato durante 45 minutos ou até um palito sair
de sódio seco do interior do bolo.
• 1 c. de café de canela em pó Para o recheio
• 1 c. de café de gengibre Bata numa taça o queijo-creme com
em pó a manteiga até obter uma pasta macia.
• 1 pitada de sal Adicione o açúcar e bata até incorporar.
• 300 g de cenoura ralada Reserve.
• 100 g de miolo de noz Retire os bolos do forno e deixe arrefecer
picado um pouco antes de desenformar.
Para o creme Deixe arrefecer por completo e corte
• 250 g de queijo-creme cada um ao meio. Espalhe uma porção
de creme por cima de uma camada,
• 50 g de manteiga
coloque outra camada por cima, mais
• 150 g de açúcar em pó uma porção de creme e novamente uma
camada de bolo, repetindo até terminar.
Do blogue Clavel’s Kitchen Leve ao frigorífico para endurecer.
Animalphabet GUR
A coleção de
tapetes da
GUR continua a
crescer, agora
com o divertido
Animalphabet,
da ilustradora
Mariana Malhão.
Neste abecedário,
vivem 26 bichos,
desenhados numa
ampla paleta de
D.R.
tons. “Não é só uma
Goiaba
letra ou um bicho”,
diz Mariana. “São
figuras divertidas,
alegres e, às vezes,
Palavras em palco – Um
Os Filhos do Mal caminho para Caryl
Os dois lados da memória do Estado Novo Churchill
O afastamento dos
palcos forçou as
Depois de “Os Filhos do Colonialismo”, estreado em 2019, André Amálio e Tereza companhias a pensar
Havlíčková regressam, no São Luiz, ainda via online, à nossa história recente em novas formas de
chegar ao público.
O Teatro Aberto também
não escapou ao digital
e estreia neste domingo,
dia 21, um espetáculo
pensado e filmado para
ser visto em casa, num
ecrã. “Não é teatro, mas
é, sem dúvida, uma
forma de nos
aproximarmos dos
nossos espectadores,
que nos fazem tanta
falta”, sublinham.
Palavras em palco – Um
caminho para Caryl
Churchill parte da obra
da dramaturga britânica,
ESTELLE VALENTE
referência maior da
companhia, combinando
excertos das peças
Proprietários (1972) e
Top Girls (1983) com os
textos integrais de Sete
Há os filhos e outros familiares “Falar do ‘mal’ é, para nós, uma crianças judias. Uma
de pessoas que se opuseram à posição política; não temos dúvidas peça para Gaza (2009) e
ditadura; há os filhos e outros sobre dizer que o antigo regime é um de Os amigos de Barba
familiares de pessoas que período do mal e achamos que, às Azul (2019). A autora,
eram afetas ao regime. vezes, isso não é dito claramente em apontam, “distingue-se
Nas memórias e nos relatos Portugal”, diz André Amálio. A Hotel pelas experiências
da convivência com estas pessoas, reside Europa seguiu a mesma metodologia inovadoras com as
um dos fatores mais importantes deste do espetáculo anterior: encontrar as formas de escrita para
espetáculo: quer tenham sido familiares suas personagens reais através de o teatro e pelo modo
de oponentes ou de coniventes com a workshops. O espetáculo é, depois, crítico, enigmático e
ditadura que em Portugal durou de 1926 pautado por documentação saída de poético como interpela
a 1974, todos se posicionam do lado certo arquivos, por vídeos e por um trabalho os espectadores a refletir
da História. Numa altura em que de movimento que parte, também, da sobre o mundo que os
movimentos políticos populistas ideia de memória: os gestos que um rodeia”. Encenado por
aproveitam a polarização da sociedade avô fazia na fábrica, a marcha da Legião Marta Dias, realizado
para se alimentarem, esse lado traduz-se Portuguesa ou dos soldados durante a por Nuno Neves e
na certeza de que uma alteração dos guerra... “Este espetáculo vem provar interpretado por Bruno
que as gerações do pós-25 de Abril, Bernardo, Margarida
valores democráticos definidos na
Vila-Nova, Sílvia Filipe
Constituição seria um retrocesso da democracia, precisam de conhecer
e Vítor d’Andrade, o
civilizacional. Depois de trabalhar a o passado dos seus pais e olhá-lo espetáculo cruza a
memória e o colonialismo, a companhia criticamente; de repente, há perguntas linguagem do teatro e
Hotel Europa, de André Amálio, retrata que nunca tinham sido feitas”, explica do cinema, tendo sido
agora a memória do Estado Novo também Amálio. E acrescenta: “É um esforço que filmado precisamente
através das gerações pós-25 de Abril e do espero que cada espectador faça por si.” para esta estreia no
que lhes foi transmitido por pais e avós. Cláudia Marques Santos streaming. J.L.
X
X
teatroaberto.com > 21 mar,
Sala Virtual do São Luiz – bol.pt > 25-31 mar, qui-qua 19h (disponível até às 24h), 2-4 abr, sex-dom 14h
dom > grátis
(disponível até às 19h) > €3
Bresson. M.H.
X X
filmin.pt > 17 mar-14 abr medeiafilmes.com > 18 mar-1
abr > grátis
Subterrâneos O Gajo
Uma campaniça sem amarras
O Gajo já não está sozinho. No novo disco tem a companhia
do contrabaixo de Carlos Barretto e da percussão de José Salgueiro
Suspense ou a Arte
da Ficção Patricia
Highsmith
Para quem quer
truques infalíveis,
outros manuais
existem. Suspense
ou a Arte da Ficção
(Cavalo de Ferro, 143
págs., €14,99) tem
a honestidade certa.
JORGE BUCO
Patricia Highsmith
(1921-1995) aborda
as etapas essenciais:
as “sementes” das
O passado de João Morais nos meios mais underground do ideias, o caderno de
rock nacional, como guitarrista de bandas como Corrosão bolso (“a frequência
Caótica, Carbon H ou Gazua, não deixava adivinhar uma com que uma frase,
reinvenção como a que conseguiu enquanto O Gajo. Tanto registada num bloco
dele próprio, como músico, como do instrumento adotado de notas, conduz
por esse seu alter ego nascido em 2017: a tradicional viola de imediato a uma
campaniça, que conheceu, “quase por acaso”, numa noite em Beja, pela segunda frase”), o
mão de “um exímio tocador” da dita. Sem o saber, tinha encontrado a trunfo das emoções,
via que há muito procurava: “Criar um som próprio, imediatamente É já o terceiro o exercício de tornar
identificado como português.” Pelo caminho, trocou as voltas a este disco assinado o herói simpático
instrumento tradicional alentejano, trazendo-o para a confusão da pelo projeto (“terrivelmente
grande cidade com o elogiado álbum de estreia, Longe do Chão, que O Gajo, de difícil”), o ponto de
através de 11 temas instrumentais transportava o ouvinte numa João Morais. vista (“um bicho-
nostálgica viagem por uma Lisboa cada vez mais em risco de extinção, Subterrâneos papão para muitos”).
guiado pelo som de uma viola campaniça entre o fado e o punk rock. marca uma Fala-se, também, da
viragem no seu falta de dinheiro, da
Um universo entretanto alargado com As 4 Estações de O Gajo (2018)
percurso, agora singularidade de cada
e agora outra vez expandido a territórios totalmente virgens neste
menos solitário criador, das dúvidas
Subterrâneos, um disco no qual, pela primeira vez, se apresenta em em obras como O
depois de
formato trio e logo na companhia de dois pesos-pesados da música Desconhecido do
apostar num trio
portuguesa: Carlos Barretto, no contrabaixo, e José Salgueiro, na instrumental Norte Expresso, do
percussão. “Gosto de me reformular, de não repetir fórmulas, e por “ardor do público
isso senti necessidade de trazer mais alguém para o barco”, assume. pela justiça, bastante
Antes, porém, teve de “criar uma narrativa própria”, que deixasse a enfadonho e
linguagem d’O Gajo intacta mas ao mesmo tempo permitisse aos artificial”. “Explicar
convidados desbravarem novos caminhos para a viola, tal como como se escreve um
acabou por acontecer. São vários os ambientes musicais que se cruzam livro bem-sucedido
neste álbum, por entre jazz, fado, rock e sonoridades tradicionais mais – ou seja, bom de ler
ou menos exóticas. “Se é indefinível é bom sinal, porque esse é o – é impossível”, diz.
espaço onde gosto de me mover”, sublinha. Miguel Judas Mas ela tenta, e muito
bem. S.S.C.
D.R.
O argumento de
Nick Cuse e Damon
A Unidade AXN
Lindelof leva-nos
então até a um outro
grupo, denominado
de elite e liderado
Palavras cruzadas
>> H O R IZONTAIS >> 1. Nome da letra “f”. Tremer de frio.
// 2. Ação de cortar. Contr. da prep. “de” com o pron. pess. “ele”.
// 3. Género de moluscos acéfalos hermafroditas que vivem encerrados
numa concha bivalve. Valor intrínseco ou estimativo. // 4. Nome
genérico de um grupo de substâncias de origem vegetal, uma das
quais é o ácido tânico. // 5. Instrumento de ferro para escavar a terra,
arrancar pedras, etc. Bismuto (s.q.). // 6. Acrónimo de Imposto sobre o
Valor Acrescentado. Revestir de gesso para pintar ou dourar. // 7. O m.q.
“drenar”. // 8. Pessoa excessivamente gorda (fig.). Metal precioso de cor
amarela, dúctil e maleável. // 9. Baixio. A pessoa ou coisa masculina de
que se fala. Sensação emocional ou psicológica que causa sofrimento.
// 10. Agregar. Chefe supremo em Moçambique. // 11. Quantia reposta
por um parceiro no jogo do voltarete. Conjunto de coisas descritas e
enumeradas. >> VE RT ICAIS >> 1. Repetição de um som reenviado
por um corpo duro. Letra grega correspondente a “p”. Cidade do distrito
de Aveiro. // 2. Festa religiosa ou civil. // 3. Pau aguçado que se crava na
terra para diferentes usos. De sentimentos perversos. // 4. Caixa em
que se recolhem os votos nas eleições. Designa diferentes relações,
como posse, matéria, lugar, proveniência (prep.). Graceja. // 5. Revelar
informação que era secreta. // 6. Imposto automóvel (sigla). Recusa a
dar lição ou a ser chamado à lição. Lírio. // 7. Aprovei ou elegi por meio
de voto. Eia (interj.). // 8. Jornada. Jumento. // 9. O tecido em que se
pintam os quadros desde que, postos no cavalete, se lhes dá a primeira
mão de pintura. Cumprimentar. // 10. Naquele lugar. Exuberante.
// 11. Exercer reação. Diz-se do fonema que é produzido pela boca,
sem ressonância nasal (gram.).
Ruim. // 4. Urna, De, Ri. // 5. Trair. // 6. IA, Nega, Lis. // 7. Votei, Ena. // 8. Ida, Asno. // 9. Tela, Saudar. // 10. Ali, Barroco. // 11. Reagir, Oral.
// 8. Odre, Ouro. // 9. Vau, Ele, Dor. // 10. Adir, Inhaca. // 11. Remissa, Rol. >> V E RT I CA I S > > 1. Eco, Pi, Ovar. // 2. Festividade. // 3. Estaca,
> > H O R I ZO N TA I S > > 1. Efe, Tiritar. // 2. Cesura, Dele. // 3. Ostra, Valia. // 4. Tanino. // 5. Picareta, Bi. // 6. IVA, Gessar. // 7. Drainar.
AIRFREE
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Manuel Barros Moura (Radar) e Pedro Dias de Almeida (Cultura)
Redatores Principais e Grandes Repórteres: Cláudia Lobo, José Plácido Júnior,
(computador, monitor da TV,
Miguel Carvalho e Rosa Ruela tablet, smartphone, etc.), e chegar
Redação: André Moreira, Carmo Lico (online), Cesaltina Pinto, Clara Soares,
Clara Teixeira, Florbela Alves (Coordenadora VISÃO Se7e/Porto),
mais facilmente a qualquer página ou função.
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Paulo Zacarias Gomes, Rita Rato Nunes, Rui Antunes, Rui Barroso, Sandra Pinto,
Sara Rodrigues, Sara Santos (redes sociais), Sílvia Caneco, Sílvia Souto Cunha, Sónia de ar Airfree, com a sua
Calheiros, Susana Lopes Faustino, Susana Silva Oliveira, Teresa Campos e Vânia Maia tecnologia TSS exclusiva e patenteada.
Grafismo: Paulo Reis (Editor adjunto), Teresa Sengo (Coordenadora),
Ana Rita Rosa, Edgar Antunes, Filipa Caetano, Hugo Filipe, Patrícia Pereira e Rita Cabral Em páginas de informação interativa podem
Infografia: Álvaro Rosendo e Manuela Tomé analisar-se as especificidades e benefícios de cada
Fotografia: Fernando Negreira (Coordenador), José Carlos Carvalho,
Lucília Monteiro, Luís Barra e Marcos Borga
aparelho, numa descrição detalhada.
Copydesk: Maria João Carvalhas, Rui Carvalho e Teresa Machado
Secretariado: Sofia Vicente (Direção), Teresa Rodrigues (Coordenadora),
e Ana Paula Figueiredo
Colunistas: Capicua, Cecília Meireles, Gonçalo Cadilhe, Isabel Moreira,
José Eduardo Martins, José Manuel Pureza, Miguel Araújo, Pedro Norton
e Ricardo Araújo Pereira
DONA ERMELINDA GRANDE RESERVA
“PARA UM GRANDE PAI, UM GRANDE RESERVA”
Colaboradores Texto: Manuel Gonçalves da Silva, Manuel Halpern, Miguel Judas;
Margarida Robalo e Sónia Graça (Revisão)
Ilustração: João Fazenda (Boca do Inferno) e Susa Monteiro
Centro de Documentação: Gesco
Redação, Administração e Serviços Comerciais: Rua da Fonte da Caspolima
– Quinta da Fonte, Edifício Fernão de Magalhães, 8
2770-190 Paço de Arcos – Tel.: 218 705 000
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Marketing: Marta Silva Carvalho (diretora) – mscarvalho@trustinnews.pt
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Parcerias e Novos Negócios: Diretor – Pedro Oliveira - poliveira@trustinnews.pt
Branded Content: Diretora – Rita Ibérico Nogueira – rnogueira@trustinnews.pt
Tecnologias de Informação: João Mendes (Diretor)
Lavagem
de manto real sujo
POR RICARDO ARAÚJO PEREIRA
A
entrevista aos duques de Sussex revelou além disso, o assaltante estava bastante mal vestido.
mais uma vez a importância de nos co- O resto da entrevista já foi mais fácil de com-
locarmos no lugar do outro. Como tenho preender. Os duques revelaram a Oprah Winfrey a
uma capacidade muito grande para a sua intenção de começar a levar um estilo de vida
empatia, fui obrigado a ver a entrevista que caracterizaram como de “regresso ao essencial”.
aos poucos, uma vez que o sofrimento, Mais uma vez, o meu coração apertou-se, imagi-
mesmo em segunda mão, estava a cau- nando o escárnio daqueles que nunca passaram pela
sar-me muito transtorno. O que se pas- dificuldade de regressar ao essencial numa mansão
sou foi o seguinte: a duquesa de Sussex de 14 milhões de dólares. Uma coisa é viver uma vida
decidiu integrar voluntariamente uma simples num T2 no Cacém. Mas eu gostava de ver
família cuja existência assenta na ideia de que não esses privilegiados habitantes dos subúrbios a man-
somos todos iguais. Uma vez instalada no palácio, a terem presente o essencial numa mansão de 14 mi-
família fê-la sentir que – preparem-se – não somos lhões de dólares. Em princípio, não teriam disciplina
todos iguais. Só posso imaginar a dor. Preparamo- para tanto. É um esforço duro e diário. Só espero
-nos para usufruir da discriminação boazinha de, que os duques continuem a poder fazê-lo sem dis-
por exemplo, sermos designados por alteza, que é o tracções como, por exemplo, terem de arranjar um
dever de todas as baixezas que se cruzam connosco, emprego a sério. Queira deus que nunca cheguem a
e de repente somos alvo de discriminação abjecta. esse ponto. visao@visao.pt
Deve ser uma surpresa muito grande.
Logo a seguir a fazer a acusação de racismo, a
duquesa lamentou também uma ocasião em que
discutiu com a cunhada acerca da indumentária das
meninas que levavam as flores no seu casamento,
discussão essa que acabou com ela em lágrimas.
Aqui, confesso, tive de fazer um esforço maior para
compreender sua alteza real. Tem a ver com a minha
idade. No meu tempo, o racismo era uma questão
muito séria, e ainda não estou habituado a que a pa-
lavra se aplique a ninharias como a que, há uns me-
ses, custou uma suspensão e uma multa ao Bernardo
Silva. Por isso, para mim, denunciar uma situação de
racismo na mesma entrevista em que também refe-
rimos a altura em que nos fizeram chorar por causa
de collants é como relatar que fomos vítimas de um
assalto muito violento e depois acrescentar que,
BUMBA
NA
FOFINHA
QUEM TEM UMA PRIMA
ASSIM, TEM TUDO!
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