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Alberto Raimundo Novela

Cátia Daniel Chivambo

Dânia Alberto Chipanga

Elias Jacinto Tauene

Geraldo Fenias Matsinhe

Síntia Francisco Machava

Linguagem e Cultura, Linguagem e Realidade e a Hipótese de Sapir-Worf

Licenciatura em Português

Universidade Save

Maxixe

2021
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Alberto Raimundo Novela

Cátia Daniel Chivambo

Dânia Alberto Chipanga

Elias Jacinto Tauene

Geraldo Fenias Matsinhe

Síntia Francisco Machava

Linguagem e Cultura, Linguagem e Realidade e a Hipótese de Sapir-Worf

Trabalho de pesquisa a ser apresentado na


cadeira de Sociolinguística para efeitos de
avaliação.

Docente: João Alfeu

Universidade Save

Maxixe

2021
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Índice
1. Introdução...........................................................................................................................4

2. Relação entre linguagem e cultura......................................................................................4

3. Linguagem e realidade........................................................................................................5

4. Hipótese de Sapir-Whorf e relativismo linguístico.............................................................6

4.1. Criticas à hipótese de Sapir-worf e relativismo linguístico............................................7

5. Conclusão............................................................................................................................9

6. Referências Bibliográficas................................................................................................10
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1. Introdução
O presente trabalho, é a visão panorâmica da sociolinguística que procura ressaltar o
comportamento da língua na sociedade, através das relações entre linguagem e cultura assim
como com a realidade. Este trabalho torna importante para que o estudante de sociolinguística
e toda a comunidade académica compreenda como é que a linguagem se manifesta através do
pensamento.

É no contexto linguístico social o motivo pelo qual este trabalho foi desenvolvido. Para o
efeito, temos como objectivo: Estudar a relação que a cultura e a realidade têm com a
linguagem sob o ponto vista sociolinguístico e demonstrar a hipóteses de Sapir-Worf nos
estudos sociolinguísticos.

Com efeito para desenvolver o trabalho, a metodologia usada foi meramente bibliográfica, e
foi crucial que se lesse de forma profunda trabalhos científicos (livros, teses, artigos) que
debruçam em torno da temática linguagem. Em termos de estrutura do trabalho, encontra-se
dividido em quatro partes: a introdução, o desenvolvimento, a conclusão e as referências
bibliográficas.

2. Relação entre linguagem e cultura


A cultura é uma síntese dos conhecimentos que são compartilhados pelos membros de uma
determinada sociedade e que lhes servem de parâmetros para interagir entre si e também para
aprender o mundo à sua volta (Goodnough, 1964, cit. em Durati, 1997).

De um modo geral, a cultura é um processo contínuo em que se acumulam conhecimentos e


também práticas que resultam da interacção social entre indivíduos. Esse processo é mediado
pela língua, que permite que a cultura seja transmitida e difundida entre as gerações, daí
compreendermos que a cultura de um povo constitui-se como um todo que é realizado por
cada indivíduo, afinal, cada um é uma peça importante na construção cultural, uma vez que é
portador, disseminador, mas também criador de cultura.

A linguagem é a actividade humana que, nas representações do mundo constrói, revela


aspectos históricos, sociais e culturais. É por meio da linguagem que o ser humano organiza e
dá forma às suas experiências. E seu uso ocorre na interacção social e pressupõe a existência
de interlocutores.
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É de salientar que, a linguagem é usada para pedir ou transmitir informações na maior parte
do tempo, mas além do intuito comunicativo, a linguagem deve dar conta também das
necessidades subjectivas que se expressam nas palavras, nos sentimentos, nas sensações e nas
emoções.

A relação entre linguagem e cultura é complexa, os dois estão interligados. uma determinada
língua geralmente aponta para um grupo específico de pessoas é deste modo que quando você
interage com outra língua, significa que também está interagindo com a cultura, não pode
entender a cultura de alguém sem aceder sua língua directamente e quando aprende uma nova
língua, não envolve apenas aprender seu alfabeto, o arranjo de palavras e as regras
gramaticais, mas também aprender sobre os costumes e comportamentos específicos da
sociedade. Ao aprender ou ensinar uma língua, é importante que a cultura à qual a língua
pertence seja referenciada, porque a língua está muito arraigada na cultura.

Deste modo, ao analisar a teoria de Edward Sapir (1956:69), cada língua reflecte experiências
culturais dos falantes dessa sociedade. Susan Bassnet (2002:22) conclui ser esta relação entre
língua e cultura que mantém as línguas vivas: a linguagem, então, é o coração dentro do
corpo da cultura, e é a interacção entre os dois que resulta na comunicação.

3. Linguagem e realidade
A relação linguagem/realidade é oferecida pela lógica, a proposição com sentido/significação
e referência, de modo que esta vem colada, pressuposta por toda asserção de um estado de
coisas; além do mais a asserção demanda uma comparação com o estado de coisas, portanto,
um preenchimento empírico para que a asserção se complete com um valor de verdade. A
realidade não tem um modo preferencial (no caso, a proposição), para ser designada ou
referida.
Segundo Araújo (2001:11) através da linguagem dizemos algo sobre o mundo, nos referimos
à realidade, as concepções pragmático-discursivas a própria "realidade" é uma construção de
perspectivas que se devem em grande parte à linguagem.
Nessa altura, parece-nos lícito afirmar que ao invés de a linguagem depender da relação
referencial com a realidade, retrato ou representação da realidade, é a realidade que vai sendo
"construída" pela linguagem, ou pelo menos, é preciso levar em conta que ontos e logos são
inseparáveis.
Segundo Agostinho (354-430, cit. em Araújo, 2001:18), a linguagem serve para ensinar ou
recordar, serve também para a fala interior, que é o pensamento de palavras aderidas à
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memória, este processo traz à mente as próprias coisas, as palavras são sinais dessas coisas,
contudo, há palavras que são sinais e que nada significam por não remeterem a coisa alguma,
caso das conjunções e das proposições, por exemplo, que podem ser explicitados por outras
palavras. Quando não for possível indicar o significado das palavras abstractas apontando
para algo, o sinal deve ser interpretado através de outro sinal, por exemplo um gesto. Se
alguém não conhece o sinal, ele pode ser explicado através da acção correspondente.

Por isso Araújo restringe a linguagem à referência, sem esta o significado é vazio, pois a
linguagem deve transmitir pensamento, e pensamento é sobre algo.
Por outro lado, para Descartes (cit. em Araújo, 2001:20), a linguagem pode ser, inclusive,
uma das causas dos erros e equívocos, tem-se de um lado as ideias e de outro lado o mundo, a
realidade a ser captada pelas ideias, a linguagem faz a intermediação, por isso pode atrapalhar
a relação entre pensamento e ser, as palavras distinguem-se do conhecimento claro e distinto
das coisas, como, porém, as palavras que exprimem as coisas são melhor lembradas do que as
coisas que expressam, valoriza-se a palavra e esquece-se que o meio para apreender é a
intuição racional das coisas pelo pensamento.
As palavras são sons distintos e articulados que se transformam em signos, encarregados de
traduzir o que se passa no pensamento, isto é, as operações lógicas, tais como conceber,
julgar, raciocinar. Os homens inventaram os signos para explicar seus pensamentos, por
detrás dos signos há toda uma lógica das ideias e dos juízos. A gramática busca mostrar como
as ideias ou essências são significadas, quer dizer, qual a sua relação com a realidade.
Deste modo podemos afirmar que o homem, é equipado pela linguagem, os sons são sinais de
ideias e a linguagem transmite pensamentos através desses sinais, marcas exteriores das
ideias internas.

4. Hipótese de Sapir-Whorf e relativismo linguístico


No âmbito da Linguística, a noção de relatividade gira em torno, principalmente, da hipótese
Sapir-Whorf, segundo a qual a língua que se fala influencia, em alguma medida, o modo
como se pensa. Apesar de carregar o nome de Edward Sapir (1884-1939) e de seu discípulo
Benjamin Lee Whorf (1897-1941), considerados responsáveis pela organização desse
pensamento na década de 1920, a cunhagem do termo se deve a Harry Hoijer, em 1954 e não
possui uma definição canónica.
Segundo a hipótese Sapir-Whorf, a língua de uma determinada comunidade organiza sua
cultura, sua visão de mundo, pois uma comunidade vê e compreende a realidade que a cerca
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através das categorias gramaticais e semânticas de sua língua. Há portanto uma


interdependência entre linguagem e cultura. Um povo vê a realidade através das categorias de
sua língua, mas sua língua se constitui com base em sua forma de vida.
As formulações de Sapir, portanto, contribuíram para a desconstrução da crença de
superioridade que as sociedades europeias acreditavam possuir sobre os povos considerados
primitivos. Quem impulsionou essa discussão, no entanto, foi Benjamin Lee Whorf,
apresentando de forma mais ousada do que seu mestre o conceito de relatividade linguística.
Whorf, engenheiro de formação e profissão, o que lhe confere o rótulo frequente de “linguista
amador”, tornou-se discípulo de Sapir e dedicou-se ao estudo da língua Hopi.
O posicionamento de Whorf decorre de sua pesquisa com os Hopis 1, que, segundo ele,
apresentariam uma grande diferença, se comparados ao padrão europeu, na concepção das
noções de espaço e tempo. Para Whorf, a língua Hopi não teria referência implícita ou
explícita a tempo, nem tempos verbais, substantivos que denotassem intervalos de tempo
(como “dia” ou “hora”) ou metáforas de tempo-espaço (por exemplo, período “longo” ou
“curto” de tempo)
Dessa forma, atesta-se a estreita relação que une língua, cognição e cultura na medida em que
se torna evidente que os Hopis, por não possuírem um entendimento da realidade tão básico
para nós, pensam e vêem a realidade de forma diferente da nossa.
Uma consequência lógica dessa descoberta seria admitir que as palavras provocam e moldam
nosso pensamento.
Em seu lendário livro Linguagem: uma introdução ao estudo da fala, publicado em 1920
(disponível na internet em www.bartleby.com/186/), Sapir argumentou que, mesmo em
momentos de silêncio, sem serem pronunciadas, as palavras são usadas durante o processo de
pensamento. Segundo ele, as pessoas, ao pensar, “deslizam para um fluxo silencioso de
palavras”, que servem como “cápsulas de pensamento que contêm milhares de experiências
distintas”. Essas idéias foram desenvolvidas e radicalizadas mais tarde por Whorf e são hoje
conhecidas como a ‘hipótese de Sapir-Whorf’. Em sua forma mais dura, essa hipótese diz que
sem as palavras e sem os conceitos que elas trazem, sequer seria possível pensar.

4.1. Criticas à hipótese de Sapir-worf e relativismo linguístico


Gipper (1979) é um dos estudiosos que põe em xeque as declarações de Whorf, apontando
uma série de falhas ocorridas na pesquisa com os Hopis. A partir de uma extensa análise do
1
Os Hopis são uma pequena tribo de índios pueblo localizada no estado do Arizona (EUA), cujo idioma
pertence à família Uto-Asteca (GIPPER, 1979).
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documento sobre a concepção de tempo e espaço dessa tribo, identificou-se que há


controvérsias em seus escritos, o que faz com que não encontrem aceitação. Segundo Gipper,
a língua Hopi possui, sim, muitas formas de referências a espaço e tempo – há, inclusive,
indícios de que existe uma palavra especial para “tempo”: o termo shato, que ocorre na
expressão nono’bshato (“food time”) – e essa afirmação pode ser verificada no material do
próprio Whorf.
As críticas e correções sugeridas por Gipper são importantes para a discussão sobre a
hipótese Sapir-Whorf porque questionam a existência de um princípio da relatividade
linguística, na medida em que se evidencia que as diferenças entre o pensamento dos Hopis e
o padrão europeu não são tão radicais quanto alegava o linguista. Faz-se necessário, no
processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, uma atitude de imersão em sua cultura,
o que não ocorreu com Whorf, que realizou seu estudo por meio de um informante e não
conseguiu se desvincular suficientemente do etnocentrismo, o que prejudicou sua
compreensão do língua.
Gipper destaca o fato de que o tempo, para os Hopis, é cíclico, comparado a uma roda que
gira eternamente, e medido pelo curso do sol. Eles não têm calendário e não contam os anos
de forma cumulativa; além disso, suas experiências são encaradas como uma repetição
contínua da mesma sequência de eventos, estações, de tempos de semeadura, tempos de
colheita e assim por diante: “Eles vivem imersos no tempo, não fora dele [...]. Eles não vivem
dependentes do relógio como nós” (GIPPER, 1979, p. 11, tradução nossa). As cerimónias,
nessa sociedade, são de fundamental importância para a compreensão de sua visão sobre o
tempo.
O autor conclui, então, que a ideia de um princípio da relatividade linguística deve ser
questionada, pelo menos nos termos em que foi proposta por Whorf, pois existem
experiências comuns à existência humana que, muito provavelmente, terão lugar em qualquer
língua do planeta.
Segundo a universidade ‘Konrad Szczesniak’, Peter Gordon, da Universidade de Columbia,
junto com o casal Daniel e Keren Everett – estudou a tribo amazónica Pirahã, cuja língua só
tem três maneiras de exprimir numerais. Além das palavras “hói” (‘um’), “hoí” (‘dois’) e
“baagi” ou “aibai” (que correspondem a ‘muito; mais que dois’), os Pirahã não têm outros
numerais. Para Gordon, os Pirahã e sua língua eram uma oportunidade excelente para
averiguar a hipótese de Sapir-Whorf, bastando verificar se a relativa escassez léxico-
numérica dessa língua estava ou não relacionada a uma percepção também falha de
quantidades maiores que dois entre os seus falantes.
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No artigo ‘Numerical cognition without words: evidence from Amazonia’ (‘Cognição


numérica sem palavras: evidência da Amazônia’), publicado em Agosto de 2004 na revista
Science, Gordon descreve como, durante suas três estadias na selva amazónica, observava os
índios nas tarefas que envolviam quantidades maiores que três, ouvindo o que diziam e
tentando ainda verificar se eles por acaso não usavam outros meios de exprimir números,
como, por exemplo, algum tipo de gesticulação. Tendo excluído essa possibilidade, após
várias observações, Gordon constatou que os Pirahã realmente não pareciam ver diferença
alguma entre, por exemplo, oito, nove ou 10 pedaços de pau, e não conseguiam reconstituir,
de memória, a ordem em que viram essas quantidades.
As descobertas de Gordonm e dos Everett excitaram o mundo a tal ponto que os maiores
jornais e revistas chegaram a dizer solenemente que as idéias de Sapir e Whorf finalmente se
confirmaram.

5. Conclusão
Findo o presente trabalho, e tendo em vista o estudo da relação que a cultura e a realidade
têm com a linguagem sob o ponto de vista sociolinguístico podemos afirmar que esses três
termos (a cultura, a realidade e a linguagem), estão interligados. Na medida em que a
linguagem é provavelmente a marca mais notoria da cultura. As trocas simbólicas permitem a
comunicação, geram relações sociais, mantêm ou interrompem essas relações, possibilitam o
pensamento abstracto e os conceitos.
Portanto em relação à perspectiva proposta por Edward Sapir e Benjamin Whorf, no início do
século XX, essa faz parte de uma então nova tendência de pensamento que procura se despir
do cunho etnocêntrico em que se pautavam os estudos das línguas até o momento. Ainda há,
entretanto, uma série de pontos problemáticos que circundam a dita hipótese. Trazemos à
tona, aqui, principalmente as concepções adotadas por Gipper (1979), Peter Gordon e casal
Daniel e Keren Everett sobre a relação existente entre linguagem, cognição e cultura,
evidenciando que a teoria da relatividade linguística, apesar de amplamente aceita no meio
científico, ainda está longe de ser esgotada.
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6. Referências Bibliográficas
Szczesniak, K. 2005. O retorno da hipótese de Sapir-Whorf. Faculdade da Língua Inglesa,
Universidade da Silésia (Sosnowiec, Polónia)

SAMPAIO, D.R. 2018. Linguagem, cognição e cultura: a hipótese sapir-whorf. Cadernos do


IL, Porto Alegre, n.º 56, mês de Novembro

ARAÚJO, L.I. 2001. Linguagem e realidade: do signo ao discurso. UNIVERSIDADE


FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LÈTRAS E ARTES. C
U R I T I BA.

PEDRO, C & MEDALHA, E, Isabel et Maria C. 2009. Linguagem, cultura e sociedade.


Edição colibri

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