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Para tratar deste assunto tratarei sobre as cotas raciais no ensino superior brasileiro.

A
história das cotas está diretamente ligada ao propósito de lembrar/ resgatar uma reflexão
social sobre o papel do negro na sociedade brasileira.
Em primeiro lugar é de extrema importância compreender que foi o Estado brasileiro
que regulou e sancionou a escravidão do negro. O Estado sucessor (atual) é responsável
pelos bônus e ônus dessa sucessão, o que justifica, legalmente medidas de reparação por
parte do Estado. A Lei Áurea não transformou o negro, subitamente me cidadão. Não
eliminou as consequências dos séculos anteriores - não existe um botão reset para isso-
esquecer o que ocorreu como dizem que deveria ser feito seria mais um passo a
caminho da banalização do preconceito e disparidade existentes hoje. A política de
cotas foi implantada para corrigir um erro histórico. Simplesmente porque ao dar um
fim a escravidão com um decreto sem criar nenhuma rede de proteção aos escravos o
governo brasileiro os condenou a uma segunda segregação, e está ainda não acabou.
Essas leis são criadas para proteger o cidadão comum das pressões exercidas por
qualquer outro poder sem igualdade de condições, isto é, não se busca proteger o
INEXISTENTE cidadão de bem.
A criação de universidades em regiões interioranas, ademais do sistema de cotas
implementa a universialização do ensino superior, seja suprindo lacunas geográficas,
seja suprimindo lacunas demográficas. Continuando nesse raciocínio, muitos afirmam
que segundo a Constituição “Ninguém será discriminado, prejudicado ou privilegiado
em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo........”, entretanto esses mesmos
parecem esquecer como o sistema funciona: O cotista concorrerá por vagas de cotista
para outros cotistas, assim o candidato branco do ensino médio particular concorrerá
com outros candidatos da mesma situação. Ninguém é penalizado ou prejudicado, muito
menos privilegiado, uma vez que se trata de uma forma de promover igualdade, por
meio de equidade. Imaginar a questão das cotas como privilégio é inaceitável e cínico,
tal argumento desconsidera que a discussão é sobre condições sociais, não biológicas.
Ainda sobre igualdade, como se pode promover este discurso quando a desconstrução
do IDH, realizada por Marcelo Paixão – professor de Economia da UFRJ- constatou que
o negro brasileiro tem menor expectativa de vida, menos escolaridade média, que a
população analfabeta negra é o dobro da branca e que a parcela de negros na população
pobre é de cerca de 63%. Isso parece uma forma correta de meritocracia pra você, uma
vez que não partem de pontos iguais?
Por fim busco destacar ser preciso separar bem os culpados desta história e deixar claro
de uma vez por todas que a lei não é ato de caridade e sim a tentativa de se corrigir ao
menos um pouco mais de três séculos de exploração escravocrata e 127 anos de
exclusão e invisibilidade social.

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