Você está na página 1de 5

XXX ENCONTRO ANUAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

REFLEXÕES FILOSÓFICAS ACERCA DA TECNOLOGIA E O MEIO AMBIENTE


A PARTIR DE FEENBERG

Ana Cristina dos Santos ( IC Voluntário UNICENTRO)


Email: crisana08032020@gmail.com
Dr. Gilmar Evandro Szczepanik( Orientador)
gilmarevandro@unicentro.br
Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO
Departamento de Filosofia – Guarapuava - Paraná

Área e sub-área do conhecimento conforme tabela do CNPq: filosofia da


ciência

Palavras-chave:
Reflexões, filosóficas, meio ambiente, tecnologia, evolução, ciência.

Resumo:
A presente pesquisa tem por objetivo apresentar o conceito de tecnologia a partir do
autor Andrew Feenberg, buscando compreender e problematizar as relações entre
a tecnologia e o meio ambiente. O trabalho foi realizado por meio investigativo
bibliográfico e buscou identificar as bases teóricas para a compreensão da evolução
tecnológica e seus efeitos ao meio ambiente. A pesquisa também ressalta algumas
das principais contribuições do autor para o meio ambiente, afirmando
especificamente que progressos tecnológicos e meio ambiente não devem ser
necessariamente compreendidos com paradigmas opostos.

Introdução
A presente pesquisa buscou compreender as reflexões filosóficas sobre a
tecnologia e o meio ambiente através das análises obtidas do trabalho do filósofo
norte-americano Andrew Feenberg. Este autor foi escolhido por apresentar uma
concepção que nos interessa e possibilita pensar propostas tecnológicas alternativas
levando em conta os aspectos ambientais e sociais. Além disso, considera-se que a
abordagem crítica da tecnologia abre um vasto caminho de questionamentos dignos
de pesquisa e riquíssimos de conteúdos.
A abordagem crítica da tecnologia apresentada pelo autor prolonga as
análises da escola de Frankfurt em particular as de Marcuse. A abordagem propõe
a tecnologia além do objeto neutro. Pelo fato de incorporar um conjunto de valores

Anais do XXX EAIC – Encontro Anual de Iniciação Científica


22 a 24 de novembro de 2021, UNICENTRO, ISSN 2526-0677
obtendo o domínio do indivíduo, a sociedade e o meio ambiente. Assim, afirma
Feenberg (2013,p.63):
A teoria crítica da tecnologia sustenta que os seres humanos
não precisam esperar um Deus para mudar a sua sociedade
tecnológica. A teoria crítica reconhece as consequências
catastróficas do desenvolvimento tecnológico resultadas pelo
substantivo, mais anda vê uma promessa de maior liberdade
tecnológicas. O problema não está na tecnologia como tal
senão no nosso fracasso até agora em inventar instituições
apropriadas para exercer o controle humano da tecnologia.
Poderíamos adequar a tecnologia, todavia, submetendo-a a
um processo mais democrático no designer e no
desenvolvimento.
Deste modo observamos que o desenvolvimento tecnológico é influenciado
tampo por critérios técnicos quanto sociais, podendo seguir diferentes ramos das
mais variadas direções. Assim o autor considera inadequado se pensar a tecnologia
por meio determinista, pois sempre haverá possibilidades de desenvolver
tecnologias alternativas que possam resolver os problemas. Surgem várias questões
a serem trabalhadas: Quais são os elementos que constroem uma tecnologia plural?
Há espaço para valores ambientais no processo de criação de novas tecnologias?
Quais as possíveis saídas para termos tecnológicos, com maiores ajustes na
demanda social e ambiental? O que pode se fazer? Foi a partir destas questões que
busquei realizar o projeto. Sabe-se que são questões complexas e que não tem uma
resposta simples, mas nos desafiam a pensar e a estudar alternativas para que
possamos ver bem.

Material e métodos:
A investigação fez o levantamento dos principais textos publicados sobre a
temática, envolvendo principalmente livros, artigos, dissertações e teses. A partir
da seleção do material, foi feita a leitura crítica e o fichamento. A pesquisa focou
principalmente nas abordagens desenvolvidas por Andrew Feenberg. Além dos
textos do autor, também foram utilizadas obras de comentadores e outras
referências importantes da área de filosofia da tecnologia. As dúvidas e
dificuldades enfrentadas foram discutidas junto ao professor orientador.

Resultados e Discussão:

Praticamente todos concordam com a tese de que a tecnologia modificou


muito a vida em sociedade, proporcionando mais comodidade ao indivíduo,
ampliando a atuação do homem sobre a natureza. Contudo, as ambiguidades do
desenvolvimento tecnológico também são gritantes, pois ao mesmo tempo que ela
trouxe conforto para alguns ela acabou contribuindo para o aumento da

Anais do XXX EAIC – Encontro Anual de Iniciação Científica


22 a 24 de novembro de 2021, UNICENTRO, ISSN 2526-
0677
desigualdade social. Ao mesmo tempo que possibilitou o aumento do consumo fez
com que a natureza praticamente entrasse em colapso. Tais disparidades nos levam
a concordar com Feenberg de que a tecnologia é neutra, mas se encontra carregada
de valores. Porém, os valores que geralmente são incorporados pela tecnologia
pertencem a uma classe dominante, isto é, a um restrito grupo de pessoas que
decide qual tecnologia será desenvolvida e implementada em determinada
sociedade.
Em sua tese doutoral Cristiano Cruz (2019, p. 17) sustenta as tecnologias
socias são ótimos exemplares de como a tecnologia pode incorporar um conjunto de
valões, pois “uma produção técnica do tipo da tecnologia social, que envolve
metodologias participativas (como a pesquisa-ação) e educação popular, pode não
apenas ser capaz de escutar as demandas e urgências efetivas do grupo, como,
além disso, incorporar seus valores e saberes próprios ao conhecimento e à solução
técnica assim construídos”. Winner (1987), por sua vez, também é um autor
constantemente citado para demonstrar como que a tecnologia pode incorporar um
conjunto de valores, especialmente associados à construção de viadutos sobre os
acessos a um parque em Nova Iorque. A altura do viaduto, que poderia ser
aumentada, sem impacto inviabilizador ou proibitivo para obra, foi definida
propositalmente baixa, de modo a impossibilitar a passagem de ônibus sob eles.
Dessa forma, bania-se o acesso de usuários de transporte público – ou seja, os
segmentos mais pobres da população –, que eram, assim, impedidos técnica e
intencionalmente de frequentar o lugar.
Assim, por exemplo, prossegue Cruz (2017 p. 20) “em face da questão da
produção agrícola, pode-se optar tanto pela solução adotada pelo agrobusiness
(latifúndios, monoculturas, uso intensivo de fatores de produção e agrotóxicos,
menor procura de mão de obra etc.) como pela solução da agroecologia popular
(pequenas propriedades, diversidade de culturas, ausência de agrotóxicos, uso
intensivo da mão de obra e do saber dos agricultores etc.); diante da necessidade
de se produzir energia elétrica, pode-se tanto optar pela macro quanto pela
microgeração, tanto por métodos sustentáveis, quanto por formas que impactam
mais profundamente o meio ambiente etc.; e relativamente ao problema do destino
dos resíduos sólidos urbanos, pode-se escolher tanto uma solução articulada em
torno de cooperativas de recolha de resíduos, quanto uma liderada por grandes
empresas do setor de limpeza urbana (seja para reciclagem ou reuso, seja para
incineração).
Mas, voltando à relação entre tecnologia e meio ambiente, Feenberg
considera essencial entender as relações de poder que estruturam e regularizam a
tecnologia e seu uso. Assim, [a] “reivindicação de técnicas que não minariam o meio
ambiente, de um trabalho organizado democraticamente, que não seria perigoso e
que teria um sentido para o homem, como a exigência de uma melhor comunicação

Anais do XXX EAIC – Encontro Anual de Iniciação Científica


22 a 24 de novembro de 2021, UNICENTRO, ISSN 2526-0677
no seio da sociedade, são valores que precisariam ou deveriam substituir a eficácia
técnica” (FEENBERG, 2004, p. 214).
Desse modo, a proposta sustentada por nosso autor consiste em
reestruturar a relação entre tecnologia e meio ambiente, pois crítica a tese de que
somos obrigados a escolher entre o sistema industrial e o meio ambiente. Em outras
palavras, trata-se de um falso dilema o princípio de que devemos escolher entre o
desenvolvimento tecnológico ou a preservação do meio ambiente. Faz-se necessário
modificar a forma como lidamos com as questões ambientais, pois a teoria das trocas
compensatórias, não está apresentando os resultados previstos. Assim, escreve
Feenberg (2017, p. 64)
esta expectativa mais esperançosa implica a possibilidade de
sistemas industriais alternativos com diferentes impactos
ambientais. Ao negar esta possibilidade, a afirmação de que
precisamos de escolher entre a sociedade industrial e a vida
primitiva é essencialmente determinista. Exclui uma reforma
do industrialismo moderno que conduza à invenção de
tecnologias alternativas compatíveis com a boa saúde do
ambiente.

Trata-se de um falso dilema, pois o ambientalismo não irá empobrecer a


nossa sociedade e tampouco se voltará contra todo e qualquer tipo de inovação
tecnológica. Levar em consideração os aspectos ambientais pressupõe uma
valorização e um enriquecimento da própria humanidade

Considerações Finais

Parece extremamente necessário refletimos sobre a relação entre


tecnologia e o meio ambiente, pois apresenta-se como um problema inevitável para
aqueles que tentam compreender a dinâmica e os rumos de nossa civilização. Nesse
sentido, concordamos com Cupani (2011, p. 167) quando afirma que “a percepção
da tecnologia como veículo de exercício de poder social e político é sedutora, embora
contrarie a tendência de que espontaneamente temos de considera-los como meros
meios para diversos interesses e intensões”. Tais reflexões nos conduzem a outros
problemas como aqueles associados à democratização da tecnologia e ao
desenvolvimento de tecnologias cada vez mais adequadas e ajustas
social/econômica/ambientalmente.
Encontramos em Feenberg e em seus comentadores um terreno fértil
para compreender o atual desenvolvimento tecnológico e para pensar os rumos do
progresso das próximas gerações. Sua análise crítica não nos conduz à tecnofobia
ou à completa rejeição dos projetos tecnológicos. Ao contrário, nos estimula e nos

Anais do XXX EAIC – Encontro Anual de Iniciação Científica


22 a 24 de novembro de 2021, UNICENTRO, ISSN 2526-
0677
desafia a procurar transformar a tecnologia (título, inclusive, de um dos livros de
Feenberg), tornando-a cada vez mais plural, democrática e responsável. Desse
modo, Feenberg nos convida a repensar o processo de inovação e de
desenvolvimento tecnológico, pois este precisa ser desenvolvido de forma igualitária
a todos e com maior suscetibilidade. Devemos sempre relembrar que enquanto
sujeitos portadores da responsabilidade do que criamos e daquilo que modificamos
e ampliamos.

Agradecimentos
Agradeço ao meu orientador professor, Dr. Gilmar Evandro Szcepanik, que esteve
presente durante toda a pesquisa se propôs a ajudar e o mais importante que mesmo
em meio a pandemia teve a paciência e dedicou o seu tempo para que esta pesquisa
acontecesse. Meu muito obrigada.

Referências
CUPANI, Alberto Oscar. Filosofia da tecnologia: um convite. Florianópolis: Ed. Da
UFSC,2021.

CRUZ, Cristiano Cordeiro, tecnologia social: fundamentação, desafios, urgência.


USP 2019. (tese de doutorado)

FEENBERG, Andrew . Transforming technology: a criticar theory revisted. New


York: Oxford u.p 2002.

_________ (Re)penser la technique: vers une technologie democratique. Paris: La


Decouverte; M.A.U.S, 2004

_________ O que é a filosofia da tecnologia? In: NEDER, Ricardo T. (Org.). A teoria


crítica de Andrew Feenberg: racionalização democrática, poder e tecnologia.
Brasília: 2ª ed. Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na América Latina
/ CDS / UnB / Capes, 2013.

__________. Tecnologia, modernidade e democracia. Inovatec, MIT Portugal, 2015.

__________. Entre a razão e a experiência: ensaios sobre tecnologia e


modernidade. Inovatec, MIT Portugal, 2019.

WINNER, Langdon. La Ballena y el Reactor: una búsqueda de los limites em la era


de la alta tecnología. Barcelona: Gedisa editorial, 1987.

Anais do XXX EAIC – Encontro Anual de Iniciação Científica


22 a 24 de novembro de 2021, UNICENTRO, ISSN 2526-0677

Você também pode gostar