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opções interpretativas
Abstract: As result of an ongoing master's research, the present work intends to describe
the preparatory study of the scores by the conductor, author of the research, by justifying
the interpretative options that will guide his rehearsal planning and practice, for the future
undertaking of a didactic experiment with an adult amateur choir a cappella. As a research
methodology, were adopted different musical analyzes of scores from two pieces by
Ernani Aguiar: Psalm 150 and Hallelujah. A semi-structured interview with the composer
was also conducted in order to re-evaluate aesthetic issues and reinterpret them according
to his original intentions, as well as to find new solutions for technical-musical difficulties
and to correct problems of edition.
Keywords: Ernani Aguiar. Psalm 150. Hallelujah. Musical analysis. Interpretation.
1
Bacharel Summa Cum Laude em Regência Orquestral pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), tendo sido aluno dos maestros Ernani Aguiar, Tobias Volkmann, André Cardoso, e do monitor
Juliano Dutra. Em 2014, atuou como assistente de direção musical e de regência conduzindo a OSUFRJ
(Orquestra Sinfônica da UFRJ) na estreia mundial da ópera “O diletante”, de João Guilherme Ripper. Mais
tarde, foi convidado a reger a mesma orquestra no Teatro Municipal de Niterói João Caetano, para a
produção da ópera A Flauta Mágica de Mozart. Ainda, regeu em festivais e cursos em países como
Finlândia, Venezuela e México. Em 2016, ingressou no curso de regência sob a orientação do maestro
espanhol Navarro Lara, cujo diploma é concedido pela ABRSM (Associated Board of the Royal Schools of
Music). Atua em diversos projetos pedagógicos como regente e professor de teoria musical em organizações
não governamentais como a ONG AfroReggae, e Ação social Pela Música do Brasil (ASM do Brasil).
Nesta ONG, desenvolveu orquestras com centenas de crianças e adolescentes, sob a didática do El Sistema.
É mestrando pela UFRJ, na Linha Práticas interpretativas/ Regência Coral e bolsista de regência da UFRJ.
Tem atuado como pianista correpetidor, coach vocal e assistente de direção e é o regente titular do Coral
da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca (CPBT), e o diretor musical da ópera Maroquinhas Fru-
fru de Mahle, no projeto A Escola Vai à Ópera, concepção e direção de Maria José Chevitarese, voltado
para o público infantil.
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investigación, justificando las opciones interpretativas que guiarán su planificación y
práctica de ensayo, para la futura empresa de un experimento didáctico con un coro
amador adulto a cappella. Como metodología de investigación, se adoptaron diferentes
análisis musicales de puntajes de dos piezas de Ernani Aguiar: Salmo 150 y Aleluya.
También se realizó una entrevista semiestructurada con el compositor con el objetivo de
reevaluar cuestiones estéticas y reinterpretarlas de acuerdo con sus intenciones originales,
así como encontrar nuevas soluciones para dificultades técnico-musicales y corregir
problemas de edición.
Palabras clave: Ernani Aguiar. Salmo 150. Aleluya. Análisis musical. Interpretación.
2
Segundo Ferreira (2004): originalmente, tratado, estudo ou crítica literária que trata da natureza, da forma
e das leis da poesia. Hoje esse conceito se estende às demais artes criativas, dentre as quais a música.
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presente artigo busca, portanto, averiguar o estudo preparatório do regente coral – autor
deste trabalho – para o experimento proposto. Uma entrevista com o compositor Ernani
Aguiar se fez então necessária, aproveitando-se da oportunidade rara que é poder
consultar direto da fonte criativa viva. Por meio desta, tornou-se possível aclarar as
intenções iniciais do compositor, pesquisa essa que se faz necessária quando se vislumbra
resgatar alguns caminhos interpretativos esquecidos no tempo ou ainda por se desvelar.
As análises musicais das obras Salmo 150 (1993) e Aleluia (segunda versão de
2003) também cumprem importante função: além de estimularem a memorização das
partituras pelo regente, torna-se possível reagrupar seu léxico musical em constituintes
semelhantes e díspares. Com isso, o planejamento de ensaio se torna mais eficaz, já que
agora suas sessões podem ser ordenadas e seus naipes correspondentes selecionados
segundo um critério de igualdade ou semelhança funcional, evitando que uma mesma
instrução seja dada duas ou mais vezes pelo ensaiador – o que seria desperdício de tempo
–, caso não haja necessidade de reforço da informação. Outro ponto é que a análise prévia
da partitura pode permitir o reconhecimento de erros de edição, assim como de problemas
técnico-musicais em potencial, o que permite pronta e ágil correção, ora em momento
anterior ao ensaio – caso opte por corrigir ou alterar/facilitar as partes vocais –, ora
quando programada ou oportuna, durante a prática com o coro. Os exemplos mais críticos
desse repertório e expostos nesse trabalho advêm, a saber, de análises: de tradução e
transcrição fonética, dos ritmos prosódicos, harmônicas, de arranjo 3 vocal, texturais, de
retórica e estilística, das dificuldades técnico-musicais, dentre outras.
Em suma, o estudo da partitura é a base para o planejamento do ensaio. Ao se pré-
conceber uma obra, seja através de seu estudo ao piano ou do solfejo das partes, ou por
meio de análises variadas – podendo ser anexadas por pesquisas exploratórias de cunho
musicológico –, o regente acaba criando suas próprias referências musicais, “um coro
interior”. Em outras palavras, uma memória auditiva interna que represente o seu ideal
sonoro para uma determinada obra, possibilitando-lhe que avalie a mesma música quando
executada pelos coristas durante o transcorrer do ensaio. As discrepâncias sonoras entre
o “coro externo” e o “interno” podem permitir que o regente se utilize mais prontamente
3
O autor opta por utilizar o termo análise de arranjo, em vez de escrita coral, em virtude dos procedimentos
que o maestro Ernani Aguiar costuma adotar quando na elaboração de suas obras corais. Como relatado em
entrevista, o compositor tem por hábito sentar-se ao piano e anotar o desenvolvimento de suas ideias e
técnicas composicionais ao instrumento. Somente após a peça musical ser totalmente escrita para piano, ele
distribui as vozes para um coro, numa nova partitura. Inclusive, o autor deste estudo teve a oportunidade
de conhecer e de poder tocar no piano original em que Ernani concluiu seu Salmo 150, doado pelo
compositor à sede da Academia Brasileira de Música, no bairro da Lapa, Rio de Janeiro.
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de correções musicais pontuais, mesmo que não previamente planejadas, mas sim
improvisadas e espontâneas.
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Termo informal pelo qual são conhecidos os integrantes das academias de arte brasileiras dentro do
cenário artístico nacional.
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Aguiar ainda é o maestro fundador e titular do Coral Municipal de Petrópolis
(ACADEMIA BRASILEIRA DE MÚSICA, s/d) e “foi o único regente não europeu e o
primeiro estrangeiro após dois séculos a reger o Grande Coral da Catedral de Firenze, e
na mesma cidade obteve o título de ‘Maestro de Capela’ recebido na Igreja de Santa Maria
a Peretola” (AGUIAR, 2017, p. 1).
Para Mariz (2005, p.468), Ernani “é um músico sério, persistente e de bom gosto.
Divide suas atividades entre a regência, o professorado e a composição”. Ele também
coordenou os projetos “Orquestra” e “Espiral” da FUNARTE, entre 1982 e 1985, e foi
professor de regência no Instituto Villa-Lobos da UNIRIO (ACADEMIA BRASILEIRA
DE MÚSICA, s/d). Hoje, é professor concursado da UNIRIO e da UFRJ, onde ensina
regência e prática de orquestra desde 1987. Mariz (2005, p. 468-9) afirma, também, que
Ernani “tem estado frequentemente no podium”, dedicando-se principalmente ao
repertório brasileiro e contemporâneo internacional, e que, “como compositor, não está
mais preocupado com vanguardismo e outros ismos. Interessa-lhe saber ‘se o intérprete
gosta de tocar ou cantar sua música e se o público gosta de ouvi-la’. ”
Foi agraciado em 1989 com a Medalha “Cidade de Tiradentes Bi-Centenário da
Inconfidência” e, no ano seguinte, com o título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio
de Janeiro, na ALERJ. Em 2005, recebeu também, da mesma Câmara, a “Medalha
Tiradentes”. Foi eleito em 1993, aos 43 anos, no primeiro escrutínio para a cadeira
número quatro da Academia Brasileira de Música, sendo o acadêmico mais jovem
(MARIZ, 2005). Ernani ainda recebeu outras premiações, como o concedido pela
Associação Paulista de Críticos de Arte em 1998 – por sua atuação como regente do
"Melhor CD de Música Erudita" –, e o "Prêmio Sharp" de 1999, ambos referentes à sua
gravação da ópera Colombo, de Carlos Gomes, à frente de solistas, coros e a Orquestra
Sinfônica da UFRJ. Recebeu ainda, da Sociedade Brasileira de Musicologia, o Prêmio
“SBM 2000”, por seu desempenho como pesquisador (AGUIAR, 2017). Também
destacamos suas gravações como regente de música colonial brasileira: dois CDs,
intitulados “Novenas” e “Responsórios Fúnebres” – com obras do Padre José Maurício
Nunes Garcia executadas pelo Coral Porto Alegre – obtiveram, por duas vezes, o prêmio
“Açorianos” da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (ACADEMIA BRASILEIRA DE
MÚSICA, s/d; AGUIAR, 2017).
Como compositor, Ernani Aguiar tem obtido expressivo sucesso tanto no Brasil
como no exterior, com sucessivas apresentações, gravações, edições e transmissões
radiofônicas e televisivas de suas obras (ACADEMIA BRASILEIRA DE MÚSICA, s/d).
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Dedicou-se às mais variadas formações musicais. No entanto, destaca-se a sua produção
coral, em virtude de sua atividade frequente como regente de coro, o que o levou a
produzir numerosas peças para o gênero. Uma prova disso é o seu catálogo mais
atualizado de composições, em que constam 69 peças destinadas somente à formação para
coro a cappella (AGUIAR, 2017).
Sua obra mais famosa é o Psalmus CL (Salmo 150), composta em latim para coro
misto SATB5 a cappella, com duração aproximada de 1’35”. Foi composta em 1975, mas
editada somente em 1993, pela Earthsongs (EUA), e sua estreia internacional ocorreu em
26 de junho de 1976 no Auditório Reynaldo Chaves da Escola de Música Santa Cecília,
em Petrópolis, RJ, onde foi executada pelo Coral Municipal de Petrópolis, sendo o próprio
autor o regente. Foi gravada nos EUA pela primeira vez em 1994, pela gravadora St. Olaf
Rocords, com o St. Olaf Choir, sendo Anton Armstrong o regente, na cidade de
Northfield, Minnesota (ACADEMIA BRASILEIRA DE MÚSICA, 2013). A partir daí,
esta obra vem obtendo continuamente um sucesso inesperado e crescente (MARIZ,
2005), e hoje “é provavelmente, a música coral brasileira mais interpretada nos Estados
Unidos” (AGUIAR, 2017, p. 1), sucesso este que também se estende a outros continentes,
como Europa, América do Sul e Ásia (AGUIAR, 2017).
Infelizmente, a maioria de suas obras continua ainda inédita, mesmo no Brasil.
Apenas 13% da música de Aguiar já foi publicada no mundo. Sendo assim, é pertinente
olhar para além do Salmo 150 e explorar o pequeno número de peças corais que já foram
ou estão sendo publicadas, todas prontamente disponíveis para serem realizadas, talvez
até mesmo junto com o seu famoso Salmo6 (FARAH, 2011).
Uma dessas peças merece atenção especial, sendo talvez a mais semelhante ao
Salmo 150, e pode ser um interessante acréscimo ao corpo acessível de música
multicultural: Aleluia, com duração aproximada de 1’50” (FARAH, 2011). Editada pela
Plymouth Music Co. (EUA) (ACADEMIA BRASILEIRA DE MÚSICA, 2013), foi
composta em 1995 para 2 vozes iguais quaisquer a cappella. Sua estreia ocorreu em 2 de
agosto de 1996, no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, na cidade do Rio de
Janeiro – RJ –, por encomenda de Elza Lakschevitz, que a apresentou como regente junto
ao Coral Infantil do Rio de Janeiro. Outra versão, também de Aguiar, foi elaborada em
5
Abreviação usual para formações corais mistas que possuem os quatro naipes: soprano, contralto, tenor e
baixo.
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Também conhecido como lalala-lalala Psalmus, de acordo com Farah (2011).
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2003, dessa vez para 4 vozes SATB. Foi estreada em 4 de setembro do mesmo ano na
Casa de Ruy Barbosa, na mesma cidade, sendo interpretada pelo Coral Brasil Ensemble
da UFRJ, tendo Maria José Chevitarese como regente (orientadora da presente pesquisa).
O compositor ainda reaproveitou o mesmo material para o final de sua cantata de Páscoa
para coro e orquestra – “Para Festejar a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo” – de
2002. (AGUIAR, 2017).
Entre as duas peças, podemos destacar como semelhanças: ambas são a priori
para corais a cappella; possuem caráter festivo constante (con brio); são religiosas; a
escrita de dinâmica é forte e uniforme nos dois casos, sem alterações; são essencialmente
modais com caráter vocal rítmico percussivo constante. Aguiar (2017) ainda acrescenta
que ele próprio pensou as variações de dinâmica como consequência das mudanças
texturais e das disposições do arranjo vocal, do fluxo de intensidade rítmica e
principalmente dos registros vocais. Eis uma bela oportunidade de se explorar durante o
ensaio e na apresentação as nuances musicais quanto a sua espacialidade, alternando o
posicionamento de cantores ou explorando uma configuração espacial não habitual que
favoreça algum tipo de efeito estereofônico coral. O regente não deve esquecer, no
entanto, de buscar estimular no corista amador essa percepção do fluxo musical como
espaço e coabitação.
Já Mariana Farah (2011), diretora das atividades corais da Universidade do
Sudeste de Indiana, descreve como semelhanças: o fato das duas obras sacras serem em
latim; o uso extensivo de homorritmia e de quintas paralelas; a preferência pela textura
homofônica e a repetição de padrão rítmico curto sobre uma mesma nota – 1º motivo
principal –; a adição de sílabas neutras (Salmo 150: “la” e Aleluia: “ê-ô”), configurando
o 2º. Motivo principal de cada peça. Ainda acrescenta que ambas são relativamente curtas
(Salmo 150: aprox. 1’35” e Aleluia: aprox. 1’50”), e empregam um tratamento silábico
do texto semelhante, com ausência de melismas.
Verificando mais detalhadamente, o Salmo 150 e o Aleluia possuem certas
peculiaridades. O primeiro foi composto por Aguiar em agradecimento ao sucesso de seus
estudos na Europa. É totalmente modal, com amplo emprego de oitavas paralelas, e seu
caráter festivo se dá dentro de um tom solene (AGUIAR, 2017). A ausência de elementos
nacionais evidentes nessa obra contraria a afirmação de Mariz (2005, p. 469): que o
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compositor de Ouro Preto “procura sempre elementos da música brasileira, embora sem
compromissos nacionalistas”. Como afirmado em entrevista (AGUIAR, 2017), na época
da criação do Psalmus CL, ele compunha de modo mais universalista (de fato, europeu),
ou não nacionalista. Outro elemento que Ernani cita é sua alusão ao pictorialismo numa
dada passagem - melhor pormenorizada adiante -, além do emprego de uma palavra
tomada de empréstimo do hebraico: “Alleluia”, cuja acentuação deve recair sobre a última
sílaba da palavra (AGUIAR, 2017), diferentemente do Aleluia em português, cujo acento
é paroxítono.
O Aleluia, por sua vez, é fruto de uma encomenda por uma companhia norte
americana e trabalha uma estética que alterna entre o tonal e o modal, com algumas
mesclas de efeitos de glissando e de percussão corporal (palmas). Seu caráter é divertido
e popular, e explora os ritmos brasileiros, com texto em língua vernácula.
O Psalmus CL faz uma alusão ao estilo das estampies europeias medievais (danças
de roda festivas sapateadas), com o motivo rítmico principal em métrica interna ternária.
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Na análise dos ritmos prosódicos por Pauxy Gentil-Nunes (2015), i significa ritmo iâmbico, termo advindo
da métrica da poesia grega, o que é equivalente à terminologia (01) num nível arquitetônico inferior. 1
significa um apoio rítmico forte/longo, sempre dominante, conceito advindo de Meyer e Cooper (1963); 0
submete-se a um evento sonoro fraco/curto. Logo, o ritmo prosódico iâmbico representa um som curto/fraco
sucedido por outro forte/longo. Por sua vez, 1i é igual a 1(01), sendo o primeiro algarismo 1 o dominante
em relação aos demais.
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Ex. 2: Aleluia.
Análise do inciso “Aleluia”8 segundo Meyer (1963), Lerdahl e Krumhansl (2007) e Gentil-
Nunes (2015); baixos; compassos 1 e 2. Motivo recorrente por toda a peça.
Outro momento crítico da mesma obra está nos compassos nove e dez. Aqui, a
pronúncia dos tenores necessita ser realizada com agilidade e clareza rítmica, mantendo
o caráter impetuoso e magnânimo com referência ao texto do trecho em questão, original
do latim: magnitudinis eius (tradução: de sua grandeza).
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Desta vez, t significa o ritmo trocaico (10), forte sucedido por fraco. Logo, t10=(10)10, sendo 1 o
dominante.
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Sua transcrição fonética [mɑɲi'tudinis ʔ 'ejus] (THE INTERNATIONAL
PHONETIC ALPHABET, 2015) indica uma separação entre o “s” de magnitudinis e a
vogal inicial da palavra seguinte.
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O texto do Aleluia de Ernani Aguiar, embora aparentemente simples, indica uma
curiosa idiossincrasia, não muito explorada nas gravações desta peça no Youtube. Ao
analisar-se a transcrição fonética de sua letra original – “Aleluia Aleluia ê-ô ê-ô ê-ô” –
encontrou-se, nos primeiros 23 compassos da peça, de acordo com o THE
INTERNATIONAL PHONETIC ALPHABET (2015), a resolução: [ɑle'luɪɐ ʔ ɑle'luɪɐ ʔ
‘eo ʔ ‘eo ʔ ‘eo]; mas, num trecho mais adiante (compassos 23 a 31 e 69 a 85) tem-se uma
análise diferente: [ɑle'luɪɐ‿ɑle'luɪɐ‿ɑle'luɪɐ].
Essa variação ocorre devido às diferenças de velocidades rítmicas descritas na
partitura. Assim, a elisão fonética no segundo caso, entre a vogal final da palavra e a vogal
inicial do “Aleluia” que se sucede, se faz necessária, conservando o tipo de ritmo
prosódico característico da peça, destacando-o como um dos principais elementos de sua
brasilidade, além de conferir uma unidade estética de caráter musical.
Ex. 6: Aleluia.
Motivo característico presente nos compassos 23 a 31 e 69 a 85. Pode-se manter o inciso característico t1
(Aguiar, 2017; GENTIL-NUNES, 2015), ligando as duas semicolcheias situadas na zona de elisão entre
as vogais finais e iniciais de cada palavra.
Considerações Finais
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contemporâneos. Propõe-se, com isso, que novas pesquisas nesse campo sejam
realizadas, estimulando ainda a editoração, gravação e estreia de obras nacionais.
Com as análises das partituras, foi possível revelar problemas técnico-musicais
que poderiam ocorrer durante o ensaio com o coro – objeto de estudo – além de erros de
edição. Procurou-se embasar aqui algumas tomadas de decisão acerca dos caminhos
interpretativos para a realização futura de um experimento didático com um coro amador
adulto a cappella. Contudo, o mais importante é a possibilidade de se enxergar a poética
dentro de uma diretriz que, à primeira vista, pode parecer essencialmente didática e
objetiva. Basta, para isso, assumir que a pedagogia é também uma prática-criação; e partir
do pressuposto que a poética é a base e – pelo menos deveria ser – o norte de toda
pedagogia musical.
Referências
AGUIAR, Ernani. [Sobre a vida do compositor e suas obras: Salmo 150 e Aleluia]. Rio
de Janeiro, 2017. Entrevista concedida a Jean Molinari em 14 de junho de 2017.
Gravação de áudio.
AGUIAR, Ernani. Aleluia. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Música, 2003. 1
partitura. Coro.
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recebida por: <jeanxk9@gmail.com> em 23 jun. 2017.
AGUIAR, Ernani. Salmo 150. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Música, 1993. 1
partitura. Coro.
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4 - 5, jun. 2011. Tradução Nossa.
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