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Capitulo.

capítulo 1

Coordenadas deste livro

O campo da pesquisa em comunicação, sem dúvida, está crescendo, e está crescendo

rapidamente; Se isso acontece, é simplesmente porque a transformação social, a

transição para a chamada sociedade da informação ou sociedade em rede, se torna

mais complexa, dinâmica e se expande. Lá, cada vez mais, os processos de mídia e

comunicação articulam outros processos e fenômenos sociais, ao mesmo tempo que

promovem o surgimento de realidades até então inexistentes. Essas transformações

não são gratuitas nem neutras e exigem uma explicação cada vez mais precisa,

exaustiva e clara para compreender seus impactos e causas em sua ampla dimensão.

Nesse sentido, o campo da comunicação e suas práticas acadêmicas e intelectuais

passam a ser um espaço de pensamento que tende a substituir a especulação pelo

empirismo, e a intuição reflexiva pela produção prática de sentido, apoiando-se, cada

vez mais, em atividades investigativas. de diferentes tipos.

Precisamente a partir dessa necessidade, da procura de orientações mais sólidas e

realistas, oferecemos este livro como um guia que fortalece a formação em

investigação, especialmente para professores e alunos de comunicação mais jovens,

dotando-os de uma estrutura explicativa que transcende os limites. mas sem

complicações desnecessárias, com base em exemplos claros, específicos e sistemáticos

do processo de produção do conhecimento no domínio da comunicação, mas que

contenham uma densidade conceptual sólida, especializada e consistente.


Com este objetivo em mente, este livro foi elaborado em três grandes seções, que

podem ser estudadas separadamente, mas que têm uma continuidade explicativa,

temática e prática. Na primeira seção, que corresponde ao primeiro capítulo,

pretendemos traçar um horizonte amplo e geral sobre o processo de pesquisa em

ciências sociais, que inclui uma revisão do panorama da epistemologia, metodologia e

áreas concomitantes na produção das ciências sociais. .- cial do conhecimento, como o

da produção teórica e a relação estrutural entre eles. Esta parte foi concebida como

uma introdução ao assunto para todos aqueles que vêm de qualquer ciência, área ou

disciplina social, que podem prescindir, se quiserem ou precisarem, da segunda parte,

enquanto para os interessados em desenvolver e aplicar - O acréscimo dessas

propostas e conceitos para o campo das ciências da comunicação serve como uma

referência prévia em que objetos e visões de diferentes fenômenos atuais e históricos

que nos preocupam e nos preocupam são instrumentados e especificados.

A segunda seção, pertencente ao segundo capítulo, enfoca a construção de um

protocolo de pesquisa em que a construção de um objeto de estudo se destaca como

objetivo de um exercício sistemático de pesquisa. Enquanto a terceira seção abrange

todos os capítulos subsequentes e é uma tentativa de ampliar a visão em torno das

tendências da pesquisa qualitativa em relação aos objetos de comunicação e

disseminação tradicionais, que consideramos mais novos e úteis hoje.

A preocupação com o poder na mídia, as estratégias de intervenção diante do

consumo midiático e as realidades emergentes que surgem com a mídia e as telas

interativas ocupam um lugar importante na exemplificação dos processos de pesquisa

qualitativa.

Entre outras coisas, é preciso dizer, este livro é, em parte, uma reformulação ampliada,

reprojetada e atualizada da Pesquisa em Comunicação de uma Perspectiva Qualitativa,


escrita por Guillermo Orozco em 1997 (já com duas reedições); Ainda que o presente

seja outro livro, bastante diferente, na medida em que o objetivo central na hora de

concebê-lo como projeto foi a estimulante tarefa de equilibrar o antigo e o novo, e a

partir daí colocar no centro os olhares que consideramos mais pertinente e urgente

hoje, manter vivo o essencial, atento aos perigos que já vivemos antes e oferecer

novas vias de entrada ao universo fascinante (e muitas vezes caótico) dos fenômenos

comunicativos de nosso tempo.

sobre esta pesquisa, o que propomos aqui e uma pesquisa qualitativa

Muito comumente, a primeira abordagem dos estudantes de comunicação (e outras

ciências ou disciplinas sociais) à pesquisa é a partir de cursos de metodologia, pesquisa

aplicada ou o desenvolvimento de projetos de intervenção. Dado que tanto o

bacharelado como o mestrado têm uma agenda cada vez mais apertada no currículo

formativo e a imposição de critérios práticos na formação de competências nos

diversos níveis, este primeiro encontro costuma ser intensivo, sintético e por vezes

demasiado curto, com o que então são óptimos dúvidas sobre o processo de

investigação. Compreendendo este problema e pretendendo dar-lhe uma solução

prática, este livro inicia-se com o processo de investigação em ciências sociais, com o

objetivo de desenvolver para o aluno de graduação e pós-graduação em disciplinas

sociais (em particular na área da comunicação e mídia) a visão totalmente prática do

processo de investigação, procurando oferecer exemplos simples e do quotidiano,

embora apoiados numa visão da complexidade do processo.

a pesquisa social como reveladora de opacidades Vivemos em um mundo onde as

coisas parecem naturais, dadas e lógicas para nós. Como moradores de rua, não
questionamos se existe um contrato implícito de retribuição ao fazer ou receber um

favor, ou se a percepção do risco é uma construção socialmente determinada;

Simplesmente vivemos a "realidade", mas o que é a realidade? É justamente quando

essa pergunta é feita que surgem as ciências sociais, informando-nos que a realidade

não é tão natural quanto parece e que o mundo em que vivemos e interagimos com os

outros está repleto de contradições, miragens e contra-medidas que não conhecemos.

veja, e é também aí que essas ciências sociais começam a agir para tentar explicar

como funciona o que ignoramos, mas na realidade não sabemos.

Como moradores de rua, sabemos que quem anda e fala ao nosso lado quer comprar e

consumir, mas não sabemos que razão poderosa os leva a arriscar um salário mensal

para adquirir calçados esportivos de marca ou para gastar três horas de seu tempo

produtivos em assistir a um rehash de televisão que já viram seis vezes antes. Nesse

sentido, para o cientista social, o cotidiano é uma caixa preta, uma caixa escura por

dentro e opaca por fora que se esconde dentro dos mecanismos que nos fazem ser

quem somos e agimos como agimos.

Para justificar isso, as diferentes ciências e disciplinas sociais baseiam-se na pesquisa

científica, procedimento de produção de conhecimento objetivo que busca ver o que

está aí (insumos ou insumos), desmontar aquela caixa, examinar e isolar seus

mecanismos (inquérito) e veja os resultados de sua operação (saídas ou resultados).

Nesse sentido, a pesquisa social científica busca obter causas, ou o que seja, identificar

as relações que conectam uma causa a um efeito.

Como veremos adiante, esse processo é complexo e sistemático e compromete o

pesquisador, em troca de revelar os segredos da alquimia social, seguir uma ordem em

seus passos e ser perspicaz, cuidadoso, criativo e intuitivo.

La investigación social como develadora de opacidades/ A pesquisa social como


reveladora de opacidades (Gráfico)
O problema central da pesquisa científica é o da produção de conhecimento válido,
embora o problema seja definir precisamente o que é válido e o que não é; Na
verdade, muitos estudantes e jovens pesquisadores tendem a pensar que a única
forma de produzir esse tipo de conhecimento é por meio do chamado “método
científico”, enquanto acreditam que tudo o mais é de alguma forma apócrifo, inválido
ou fraco do conhecimento. Essa percepção, como veremos, é errônea, uma vez que

A potencialidade e organização das nossas estruturas cognitivas, tanto individuais


como sociais, permitem a construção e utilização de diferentes sistemas de produção
de conhecimento, embora o que se deva reconhecer é que existe uma diferença
fundamental na forma como o conhecimento é produzido. para que esses
conhecimentos diferenciados são potencialmente úteis; Provavelmente, o melhor
exemplo para ilustrar esse ponto é a oposição tradicional entre os sistemas científico e
filosófico, que tendem a se confrontar quando chega a hora da argumentação.
A resposta reside no entendimento de que, embora ambas sejam atividades de
produção de conhecimento, a filosofia é uma atividade eminentemente especulativa
(ou seja, reflexiva), enquanto a científica é essencialmente empírica (ou o que seja,
que busca sua validação na verificação dos fatos para em seguida, validar ou anular
uma ou mais hipóteses).
Em outras palavras e de forma simplista, enquanto o filósofo se preocupa em construir
possíveis explicações sobre o mundo e como ele funciona, mas não em verificá-las, o
cientista tem como eixo de sua prática justamente a verificação dessas explicações.
Nesse sentido, como tem sido comum na história da filosofia e das ciências sociais,
uma explicação proposta a partir de alguma área da filosofia pode ser exportada e
testada do ponto de vista científico para tentar comprovar sua validade objetiva ou
empírica, e então colocá-lo ou não funcionar como um arcabouço explicativo válido
sobre fenômenos de diferentes tipos, mas também vice-versa, com não poucos casos
em que os desenvolvimentos teóricos nas ciências sociais serviram como contribuições
importantes para a filosofia.
Nesta relação clássica e produtiva (embora às vezes conflituosa) entre filosofia e
ciência, surge precisamente uma

conceito nem sempre claro, o de epistemologia. Como será visto nesta seção, este é
um conceito que tem sido confundido livremente, tornando-o sinônimo de conceitos
como metodologia, ciência ou método. Dizemos que a confusão é gratuita, pois o
conceito de epistemologia é bastante autônomo, autoexplicativo e claro se visto de
onde surge, pois o problema surge quando não é buscado e dimensionado em suas
origens, ou seja, como Estávamos dizendo, na relação entre atividade filosófica e
científica.
A partir daqui, definiremos epistemologia como a área da filosofia (e, portanto, uma
atividade reflexiva) que tem se preocupado em explicar o que é o conhecimento e
como o conhecimento é produzido objetivamente.
Outros termos associados, assimilados e comumente confundidos são teoria do
conhecimento e gnoseologia, ambas relacionadas, embora não sejam sinônimos. A
chamada teoria do conhecimento, ao invés de um domínio unificado de posições sobre
ele, é um horizonte plural, heterogêneo e fragmentado de proposições sobre o
conhecimento, entre as quais estão variantes filosóficas e científicas (como as
diferentes ciências cognitivas e várias correntes do filosófico estudo da linguagem),
enquanto a gnoseologia é apresentada como um conjunto de posições interessadas,
por sua vez, nas diferentes opiniões sobre o conhecimento que os diferentes sistemas
filosóficos históricos têm (Vázquez, 1984: 13).
Após essa explicação, e então entendendo a epistemologia como a preocupação
reflexiva pela produção de conhecimento objetivo, exporemos que toda operação
epistemológica (isto é, que tenta explicar o que é o conhecimento ou a forma como é
produzido objetivamente), contempla sistematicamente pelo menos três

elementos em constante interação, e que dão origem a relações epistemológicas


(detalhadas a seguir):
1. O sujeito (quem sabe).
2. O objeto (o que é conhecido).
3. Categorias (mediações que determinam as relações entre sujeito e objeto, como
qualidade, quantidade, etc.).

Como atividade reflexiva sobre a problemática do conhecimento objetivo, a


epistemologia, de diferentes autores e ao longo do tempo, tem sido questionada sobre
as diferentes relações que potencialmente guardam esses três elementos, sobre a
forma como eles interagem e a ordem hierárquica que ocupam no conhecimento.
processo de produção. Algumas posições, por exemplo, indicam que o ser humano
(sujeito) é capaz de reconhecer certas coisas do mundo ou de suas relações com elas
(objetos e categorias), mas não é capaz de “saber” (ou seja, de explicar como
funciona); outras posições afirmam que nada é cognoscível e que tudo o que
"sabemos", como sujeitos, é uma projeção mentalmente construída do mundo na
cabeça de quem "sabe"; enquanto outro grupo de opiniões se inclina a explicar que
sujeito e objeto são iguais, enquanto o objeto é capaz de conhecer o sujeito e vice-
versa, o que faz com que os conceitos de sujeito e objeto sejam infinitamente
modificados e simultaneamente naquela interminável interação dialética. No entanto,
embora toda reflexão seja inegavelmente legítima, a tendência geral e convencional na
prática científica atual se baseia no pressuposto de que:
1. O sujeito é capaz de saber.
2. Que o objeto (realidade) é cognoscível, embora seu funcionamento seja opaco ou
pouco evidente.

Esse fato exige desmontar, por meio de práticas empíricas, as relações causais que
intervêm em seu funcionamento, para depois evitá-lo e torná-lo cognoscível.
Visto daqui, quando o sujeito tenta conhecer o objeto, a relação aparece como algo
opaco, pois é uma relação mediada, ou seja, que verifica a presença de elementos que
chamaremos de categorias, que modificam o modo em quais esta relação é projetada
e que não são totalmente óbvios. Nessa concepção, as categorias são todas as
contingências contextuais ou acidentais que afetam o sujeito e o objeto em sua
relação, como tempo (por exemplo, quanto tempo o sujeito pode conhecer o objeto
antes de ele ser modificado?), Quantidade (quantos os sujeitos sabem quantos
objetos?), ou qualidade (são todos os objetos reconhecíveis a partir da mesma
posição?). As categorias, como também se intui, seriam tantas quanto a realidade
possui, embora em termos práticos sejam limitadas pela capacidade que o pesquisador
(sujeito) tem de percebê-las na realidade que analisa.
Com essa perspectiva de fundo, em uma investigação, as relações epistemológicas são
de dois tipos: relações teóricas e relações metodológicas. Começamos com os teóricos
para depois passar aos metodológicos.

relações teóricas
Quando nos aproximamos de uma realidade que queremos desmontar e analisar
cientificamente, muito freqüentemente partimos de suposições formais sobre essa
realidade. Esses orçamentos costumam ser bem organizados e explicam uma forma
explicativa de funcionamento do mundo ou de algo no mundo. Chamamos esse
conjunto de teoria dos pressupostos organizados, e a maneira como ele explica as
relações entre sujeitos, categorias e objetos é chamada de relacionamentos ou
implicações teóricas. Nesse sentido, a teoria (ou teorias) são histórias ou discursos
explicativos sobre o funcionamento de algum aspecto da realidade, e operam como
“atalhos cognitivos” que, ao invés de nos colocarmos no início de tudo, propõem ao
pesquisador pistas e constrangimentos em sua trajetória (que seria real ou não, como
se verá) sobre a natureza do fenômeno a ser estudado e seus possíveis caminhos de
desmontagem.
Como histórias ou discursos explicativos, as teorias são constituídas por proposições
que, juntas, explicam algum fenômeno de forma argumentativa. As proposições, por
sua vez, são enunciados possíveis, ou seja, lógicos, e são construídos a partir de
conceitos ou unidades descritivas mínimas sobre as qualidades da realidade; Assim,
podemos sintetizar que uma teoria é um conjunto de enunciados possíveis que,
logicamente e sistematicamente organizados por meio da concatenação causal de
conceitos, descreve as operações operativas de alguma parte da realidade e as
relações de conhecimento que nela armazenam sujeitos, categorias e objetos. .

teoria, uma entidade que simultaneamente explica e é explicada


Embora as relações teóricas sejam geralmente muito úteis para reduzir os tempos e as
operações cognitivas de produção de conhecimento (vamos pensar como seria lento o
acúmulo de conhecimento se cada vez que estudássemos um fenômeno partíssemos
sempre do zero), devemos entender que as teorias são propostas explicativas , e que,
como tais, seriam falíveis ou encontrariam limites de validade. Caso contrário, as
teorias, ao tentarem explicar algo, seriam elas mesmas objeto de explicação e
verificação por outro sistema de produção de conhecimento. Este fato, embora
inicialmente um pouco difícil de entender,
Vale a pena evitá-lo, pois é um equívoco comum que às vezes custa anos de atraso no
aprendizado da pesquisa de jovens estudantes, pois comumente se parte do
pressuposto de que a teoria serve apenas para intervir, como se fosse alheia ao
evolução dos sistemas de conhecimento ou para a ação da própria atividade científica
(lembre-se que a teoria também é um objeto de investigação científica e filosófica, e
que isso tem consequências; se ninguém tivesse questionado a física newtoniana,
simplesmente não existiria a física quântica hoje, e continuaríamos a ler tudo, desde
maçãs caindo). Assim, no momento de serem construídas e enunciadas, as teorias
possuem duas condições implícitas que não podem ser declaradas: 1) oferecem
explicações possíveis e 2) permanecem sujeitas à possível rejeição ou modificação de
seus enunciados por meio das operações empíricas de verificação das mesmas.
pesquisador ou outros.
Isso tem consequências práticas para quem as escolhe e as põe para funcionar, porque
quando escolhemos uma teoria ou grupos de teorias é como entrar em um navio: se o
navio flutua, flutuamos junto com ele, mas se afundar, nós também vamos afundar.
Assim, quando usamos uma teoria ou um conjunto destas, talvez, ao tentar explicar o
funcionamento de um fato, verificamos ou reafirmamos a validade das proposições
nas quais a teoria se baseia e com isso, além disso, vamos explicar parte do fenômeno
que queremos analisar, mas também é possível que encontremos um limite de
validade ou que encontremos deficiências de validade em toda a teoria ou em algumas
de suas proposições.
Se isso acontecesse, significaria que esses construtos não possuíam solvência teórica
suficiente, deixando-nos então como únicas alternativas para resgatar as explicações
que não eram falsas, para encontrar outras explicações anteriormente propostas (que
seriam, então, outras teorias, e chamaremos esta forma de agir de procedimento
dedutivo), ou, começar do zero a inferir relações a partir de processos empíricos a
partir de trabalhos de campo e, a seguir, a partir dos dados obtidos, buscar relações
causais distintas entre elas , gerando uma nova teoria sobre este fenômeno,
proporcionando assim novas explicações tanto para o campo teórico deste fenômeno
quanto para o fenômeno especificamente analisado (e chamaremos este
procedimento de procedimento indutivo). Lembrando as palavras do eminente
epistemólogo austríaco Karl Popper, “toda teoria nunca é verdadeira, mas apenas
momentaneamente não é falsa” (Popper, 2005).
Como podemos adivinhar a partir de agora, uma vez que teorias e relações teóricas
são modificadas e novas formas de explicação aparecem, é comum que uma mesma
realidade seja explicada a partir de duas ou mais teorias, e estas são mutuamente
exclusivas ou complementares. O papel do pesquisador é justamente estudar em
profundidade o maior número de ofertas teóricas disponíveis, contrastá-las, encontrar
suas carências, contradições, utilidades potenciais e possíveis sobreposições, para
então escolher uma teoria ou uma combinação delas e colocá-las em prática. atue
sobre a realidade que se deseja investigar, então, ao mesmo tempo, tente produzir
novos conhecimentos e, colateralmente, normalizar a validade de uma teoria.

teorias e modelos: chaves de fenda ou martelos?


Na literatura científica, mas principalmente na não científica, é comum encontrarmos
que os termos teoria e modelo se confundem, conceitos que, embora relacionados,
remetem a questões distintas. Em termos gerais, diríamos que um modelo é a
abstração em que um conjunto de relações conceituais sobre uma realidade ou um
fenômeno são formalizados,

e, nesse sentido, são esquemas de representação, na medida em que uma teoria não
apenas representa as relações entre si, mas também os modos como essas relações
são construídas. Em outras palavras, os modelos são entidades explicativas (eles
explicam algo instrumentalmente formalizando seus relacionamentos e depois
esquematizados), enquanto as teorias são entidades metaexplicativas (ou que
explicam como explicam o que explicam).
Como pode ser antecipado, geralmente não há consenso sobre quais teorias são
realmente teorias ou se um modelo o é formalmente, enquanto os limites entre um
termo e outro são altamente subjetivos. Nesse sentido, basta dizer que se um sistema
explicativo apenas expõe as relações formais entre os conceitos que explicam uma
realidade, estamos falando de um modelo; Ao passo que, se esse sistema não apenas
explica como um conceito se junta a outro para explicar uma parte da realidade, mas
também constrói suas próprias explicações para evitar as relações causais que dão
origem a essas relações conceituais, então estamos diante de uma teoria.
Explicado este ponto, é importante mostrar que alguns estudantes e jovens
investigadores tendem a questionar-se, quando passam a ignorar este problema
epistemológico, o que é melhor: se utilizam uma teoria ou um modelo, e na mesma
ordem de ideias a resposta é que eu exemplificaria com outra pergunta: o que é
melhor, um martelo ou uma chave de fenda? E a resposta depende, como já
percebemos, de se tratar de um prego ou de um parafuso; Vistos desta forma, a teoria
e os modelos são também ferramentas cognitivas, são instrumentos práticos que nos
ajudam a melhorar os processos através dos quais explicamos a realidade e, como tal,
têm funções especiais e operacionais, mas também limites e especificidades.
Assim, tomando como exemplo o martelo e a chave de fenda, fica claro que se
insistirmos em cravar um prego com uma chave de fenda ou um parafuso com um
martelo, o mais provável é que o consigamos no final de um tempo, embora os
resultados não sejam nem os melhores nem os mais práticos. Da mesma forma, deve
ficar claro que existem fenômenos observáveis e analisáveis de forma profunda e
limpa por meio da aplicação de um modelo, enquanto certos objetos de pesquisa
requerem o escopo solvente das teorias.
Como um guia prático, digamos que usar grandes teorias para fenômenos muito
restritos seja tão útil e prático quanto tentar atirar em uma mosca até a morte. Nesse
sentido, algo que nenhum manual explica, mas antes corresponde às competências
que todo pesquisador deve desenvolver experiencial e intuitivamente, é o
desenvolvimento da sensibilidade para medir as dimensões e abrangência dos
componentes teóricos de uma investigação, bem como os tamanhos potenciais e as
complexidades dos fenômenos a serem analisados, deixando claro que à medida que a
experiência do pesquisador avança e sua riqueza teórica aumenta, esses exercícios de
medição e aplicação tornam-se mais claros, precisos e eficazes.

relações e o problema conceitual da metodologia


Voltando ao ponto de partida, e uma vez explicadas as relações teóricas, expliquemos
as relações metodológicas. Assim como as teóricas, as relações metodológicas são
operações epistemológicas que buscam ver as relações entre sujeitos, objetos e
categorias, embora estas não tenham como objetivo construir explicações, mas sim
aplicá-las para obter dados sobre a realidade investigada.
Outro problema comum ao aprender a fazer pesquisa é a definição do termo
metodologia, que geralmente é

confundir-se com conceitos como método, técnica ou similares. Em nossa proposta,


voltada para as ciências sociais, definiremos metodologia como a orientação
epistemológica no desvelamento de mecanismos sociais, o que requer métodos,
técnicas e ferramentas, que explicaremos a seguir.
Ao apontar que se trata de uma “orientação epistemológica” no desvelamento dos
mecanismos sociais, e por entender que a ideia de epistemologia está relacionada à
preocupação reflexiva com a produção de conhecimento objetivo, podemos definir a
metodologia, então, como o conjunto de decisões coerentes, gerais e abstratas que o
pesquisador toma sobre como obter que tipo de dados da realidade que investiga, mas
que se refletirão objetivamente nas formas como ele abordará a realidade e obterá
dados desta, com o uso de métodos, técnicas e ferramentas.
Num exemplo muito simples, vale dizer que não é a mesma coisa abordar uma
realidade tentando obter dados “mensuráveis” (números, pesos, magnitudes) sobre os
sujeitos sociais que intervêm em uma dada realidade, do que tentar obter
“Perspectivas” Ou “percepções”, por esses mesmos sujeitos, da realidade em que
habitam ou atuam. Esta primeira grande diferença é marcada desde o início por uma
destas duas orientações epistemológicas, que então determinam a intervenção de
instrumentos e modos de fazer muito específicos e correspondentes a cada
orientação.
Tomando o exemplo que acabamos de ler, esclareçamos que, do nosso ponto de vista,
existem dois tipos principais de metodologia ou orientações: a quantitativa e a
qualitativa. O quantitativo é a orientação que exige a intervenção de dados
quantificáveis ou numéricos (quantidades, magnitudes,

proporções, etc.) e a qualitativa que faz uso das “percepções” dos sujeitos que estuda,
ou seja, das “qualidades” de mundo a partir das representações dos sujeitos. Como
outro exemplo, vale esclarecer que não é o mesmo dizer “3 266 001 donas de casa
assistem novela às 6:00” do que “nossos sujeitos de estudo, algumas donas de casa,
acreditam que os papéis de gênero são altamente distorcidos na novela as 6:00 ".
Nesse sentido, é importante destacar que a busca por valores métricos (ou “hard
data”) em metodologias quantitativas não é uma escolha livre ou um capricho, mas
antes responde à necessidade de oferecer conclusões generalizáveis sobre os
fenômenos. que analisa mais do que detalhes “de significado” sobre eles; Mas com
isso você tem que ter cuidado, porque nem sempre é tão claro quando se desenha
uma investigação, pois, embora possamos quantificar as opiniões de um grupo social
(pesquisas de opinião, por exemplo), estamos na verdade falando de um estudo do
tipo quantitativo e não qualitativo, enquanto a ênfase não é colocada na profundidade
das opiniões e interpretações que os sujeitos oferecem sobre eles, mas na prevalência
estatística de um conjunto de opiniões sobre outros.
Por esse mesmo motivo, e como os estudos qualitativos tendem a buscar as causas dos
fenômenos na profundidade das interpretações e representações que os sujeitos têm
sobre eles, a pesquisa quantitativa trabalha com universos muito grandes (dos quais
tomam amostras representativas como critérios de validação) e amostras qualitativas
com porções de assuntos ou materiais às vezes muito pequenos (validando, muitas
vezes, na chamada “saturação de uma amostra”, procedimento que será discutido
posteriormente).

Por esta mesma razão, as metodologias quantitativas também são frequentemente


chamadas de "metodologias descritivas" e as qualitativas, "metodologias
interpretativas".

Integração de métodos qualitativos e quantitativos em ciências sociais


Em nossos dias, ainda é comum que a divisão entre metodologias qualitativas e
quantitativas seja mantida de forma radical e diferenciada por disciplinas; Assim,
sabemos que uma imensa parte do campo das ciências do comportamento, por
exemplo, opta pelas metodologias quantitativas, enquanto a antropologia pelas
qualitativas, mas é importante dizer que as coisas estão mudando. Embora a natureza
dos dados quantitativos e qualitativos seja muito diferente e os dados sirvam para
validar ou descartar hipóteses de natureza diferente, cada vez mais pesquisadores
defendem a integração de ambas as metodologias.
Como aqui argumentamos, a dimensão dos fenômenos sociais seria melhor
compreendida se, ao mesmo tempo em que se conhecem as dimensões desse
fenômeno, se identificassem as explicações que os sujeitos dão a essas dimensões (ou
seja, não apenas afirmando o fato de que N número de donas de casa assiste a novela
às 6h no canal X, ou que percebem uma grande desigualdade nos papéis de gênero
que ali se apresentam, mas vão além de ambas as explicações para descobrir
realidades do tipo de: N número de donas de casa assistem a novela das 6 horas do
canal X, e não a transmitida por Y, por não se identificarem com os papéis femininos
representados naquela novela).
Grande parte da incompatibilidade fictícia entre as metodologias qualitativas e
quantitativas tem suas origens na predominância da ciência positiva no final do século
XIX e início do século XX, que fazia referência direta, sinônima à

às ciências naturais (biologia, fisiologia, geologia, etc.), e a partir das quais se


argumentou que a ciência, para ser assim, tinha que ser objetiva, ou seja, neutra na
produção de seus dados e conhecimentos, e como parâmetro de objetividade a ciência
positiva viu no manuseio de dados quantificáveis (números) sua melhor referência.
Vistos desta forma, todos os dados que não eram mensuráveis, quantificáveis e
matematizáveis, passaram a ser vistos como uma forma inferior de dados ou como
informações de segunda classe. A partir daí, dado que as ciências sociais rapidamente
revelaram a impossibilidade de tratar a grande maioria dos fenômenos sociais de
forma positiva (poucas disciplinas como a geografia humana ou a demografia se
aproximam desse ideal), os rótulos de ciências duras (ciências naturais) e soft sciences
(ciências sociais e cognitivas), deixando o soft label mais próximo do pejorativo do que
do dignificante, percepção esta se estendendo ao status de seus métodos e
procedimentos.
O que a ciência positiva não levava em conta naquela época era o fato de que a
realidade, assim como seus instrumentos, organização e interpretação, são fatos
carregados de subjetividade, nos quais o pesquisador, ao invés de negar sua
subjetividade, tem que tentar fazer. transparente e manejá-la dentro de certos limites
e criar formas de obter esses dados, bem como dar uma leitura e explicação dos dados
que supostamente refletem aquela realidade, deixando de ser, automaticamente, uma
prática neutra.
Porém, desde a década de 60 do século passado, quando a impossibilidade objetivista
e positiva da pesquisa quantitativa foi afirmada, um renovado interesse pela pesquisa
qualitativa começou a emergir. Com isso veio o chamado “retorno ao sujeito”
(Certeau, 1999) e “a virada linguística” (Searle, 1997), entre outras manifestações que
se propuseram.

ver novamente o mundo conforme ele é elaborado por meio dos sujeitos e do uso da
linguagem.
Precisamente neste ponto, em que, como um pêndulo que move os extremos de um
lado para o outro e depois gravita para o centro, as ciências sociais vão tomando
consciência de que, longe de serem visões opostas, são formas altamente
complementares de produção de conhecimento. , e é cada vez mais comum encontrar
trabalhos que apóiem a pesquisa qualitativa na produção de dados quantitativos e
vice-versa.
Métodos, técnicas e ferramentas:
o mesmo ovo, muitos cafés da manhã
Para começar com esse tópico nebuloso e nunca consensual, vamos começar com
outra analogia. Imagine o chef em um restaurante, com um armário cheio de
ingredientes e uma prateleira com todos os utensílios de cozinha que podem ser
nomeados, pronto às 8h da manhã para começar a servir o café da manhã.
Com sua experiência de vários anos, ele sabe que de tudo no cardápio, a grande
maioria dos comensais matinais pedem ovos. Como sabemos, os ovos que você vai
usar são os mesmos que todos usam em suas casas e restaurantes: o ovo branco
típico, de cinco centímetros de comprimento, que vem das mesmas fazendas; Ovos
que, embora sejam iguais em todas as partes, dão origem a pratos muito diferentes,
dependendo do processo culinário a que são submetidos e da forma com que são
cozinhados.
Assim, quando um cliente pede o prato de sua preferência, o chef deve decidir o
“como”, ou seja, “a orientação” do que deseja obter. No momento em que o
cozinheiro escolhe a orientação, ele também está decidindo implicitamente uma
grande parte dos procedimentos e instrumentos

quem vai intervir em todo o processo, são os mesmos que vão definir o produto final.
Assim, quando nosso cozinheiro imaginário recebe um pedido de alguns ovos mexidos
(ou seja, eles fazem parte da orientação culinária de “ovos fritos na frigideira” e,
portanto, sujeitos a certas regras ou “formas de fazê-lo”) sabe que o o ovo será frito e
não cozido, como requer um desjejum com ovos cozidos ou quentes. Isso envolverá o
uso de uma frigideira e óleo, e não uma panela e água.
Como nosso cozinheiro, o pesquisador, a partir do momento em que decide intervir
em uma realidade, já tem uma orientação (embora às vezes não tenha clareza ou não
tenha plena consciência dela), que o implicará seguir certas regras para obter algo
muito perto do que você deseja. Ele sabe que se tiver que produzir um mapa longo e
geral de algum fenômeno, terá que quantificar, e isso implica uma orientação
metodológica quantitativa.
Mas voltemos ao nosso cozinheiro e seus ovos mexidos. Embora você saiba de
antemão que neste tipo de prato os ovos devem ser fritos, você também sabe que não
é a mesma coisa fritá-los em fogo baixo e com pouca manteiga, do que fritar e quase
nadar no óleo. Se os ovos em questão são preparados da primeira forma, pense neles,
eles ficam fofos e estufados (o que é muito desejável em alguns pratos, mas
inaceitável em outros), enquanto se você fizer da segunda forma, obterá algo mais
bom crocante e muito gorduroso.
Conhecendo o cliente há muito tempo, já que é um lanchonete frequente, também
sabe que gosta deles bastante fofos e macios, por isso opta por prepará-los da
primeira vez. Este procedimento, que implica reconhecer uma orientação geral sobre o
tipo de resultado que se pretende obter, chamaremos de método, que do ponto de
vista que aqui interessa será definido como o conjunto de técnicas (a definir
posteriormente) que, consistente com o

A orientação do que se deseja obter e a utilização de determinadas ferramentas


permitirá a obtenção de um determinado produto.
Dentro da orientação “ovos mexidos”, que já tem uma forma de deixar bem clara e
diferente daquela usada pelos “ovos cozidos” ou “ovos quentes”, para citar apenas
dois exemplos, encontramos pelo menos duas técnicas de fritura que já mencionamos:
fritar em fogo baixo e com baixo teor de gordura e fritar em profundidade e com muito
óleo. Assim, por técnica entendemos o uso particular de uma ferramenta ou de um
conjunto destas, enquanto ferramenta é o dispositivo que permite, no caso da
pesquisa, a coleta de dados instrumentáveis.
Da mesma forma, o pesquisador, uma vez que sua orientação é clara, sabe que tem N
número de métodos à sua disposição, mas também sabe que os resultados da
utilização de um ou de outro (ou da combinação de vários) serão conduzi-lo a um
resultado muito particular e não a outro. No caso do nosso pesquisador quantitativo,
interessado em saber quantas donas de casa médias assistem à novela às 6 horas,
veiculada no canal N, ele sabe que tem que calcular médias sobre os universos totais, o
método que considera mais conveniente é o do “Levantamento estatístico”, ou seja, vá
lá e, com base em uma amostra de todo o universo, obtenha um número aproximado
dessas donas de casa.
Mas antes de continuar com o investigador, vamos voltar ao nosso cozinheiro. Assim
que pedirem um prato de ovo mexido fofo, você saberá que não precisará apenas de
uma frigideira, mas também de uma pequena com superfície antiaderente, permitindo
que você concentre o calor uniformemente e o uso de baixo teor de gordura . Como
podemos ver, a escolha da orientação e do método também o referia quase
automaticamente a um universo particular e limitado de técnicas.

(Fritura com baixo teor de gordura e fogo baixo em vez de fritura profunda com alto
teor de óleo), bem como a sua escolha de ferramentas (a pequena frigideira
antiaderente em vez da frigideira normal).
Da mesma forma, nosso pesquisador quantitativo, quando optou por fazer um
levantamento estatístico (em vez de um censo direto, por exemplo), limitou-se a um
conjunto finito de métodos e ferramentas. Como você escolheu, por razões de
financiamento, realizar uma pesquisa estatística (já que os censos diretos são muito
caros), você sabe que deve escolher um método de amostragem que valide sua
amostra sobre o universo de estudo, de forma que use uma amostragem probabilística
aleatória simples (embora saiba que o melhor seria um aleatório estratificado, o que
reduziria os erros de amostragem e, portanto, a probabilidade, mas tem pouco
dinheiro e quase nenhum tempo).
No seu caso, também dispõe de diferentes técnicas de aplicação do método, entre as
quais, pelos mesmos critérios práticos, identifica duas opções como mais úteis:
inquéritos telefónicos ou inquéritos de rua. Ciente da questão quantitativa, ele sabe
que as pesquisas telefônicas, embora mais baratas que as de rua, reduzem o universo
às donas de casa que possuem linha telefônica, além de implicar em enormes perdas
de tempo (a cada vinte ligações, em média uma atende, enquanto na rua, em cada
vinte, ele obtém seis respostas). Por sua vez, sabendo que o que pede de vez em
quando são dados descritivos e não explicativos (dizer-lhe quantas donas de casa
assistem mais à novela do que por que a assistem) e que a questão do financiamento é
algo que o impele, ele faz, como ferramenta, um levantamento básico de questões
fechadas (que, embora menos ricas, são mais fáceis de manusear e, portanto, mais
baratas).
Voltando ao nosso cozinheiro, as coisas correram muito bem para ele. Usando sua
intuição, a experiência acumulada e o profundo conhecimento de sua culinária e suas
possibilidades foram combinados para obter exatamente o que ele queria: não apenas
excelentes ovos mexidos muito fofos, mas acima de tudo um cliente satisfeito que
retorna à sua mesa no mínimo três vezes uma semana, porque nossa cozinheira sabe
que embora os ovos sejam iguais em todas as casas e restaurantes da cidade, há
muitos que preparam ovos mexidos que nem os bichinhos querem comer; ele sabe,
afinal, que a diferença está em colocar bastante atenção, empenho e habilidade nas
"formas de fazer".

os tipos de pesquisa por sua finalidade


Agora, deve ser explicado que nem todas as pesquisas têm o mesmo propósito. Mas
todos devem ter um e, acima de tudo, todo pesquisador tem um, como veremos em
outra seção deste livro. Há investigações que se fazem para saber de uma forma geral
algo sobre o que ainda não foi investigado, ou sobre o qual há pouquíssimos dados,
tentando dar um primeiro olhar e uma primeira versão do “mapa” do fenômeno, o que
ajuda a gerar, então, hipóteses mais complexas. Chamaremos esse tipo de pesquisa de
“descritiva” ou “exploratória”, na medida em que sua função fundamental é descrever
o que é um fenômeno e na medida em que essa descrição será baseada em um olhar
exploratório. Um exemplo simples: pensemos que não é a mesma coisa estudar um
fenômeno televisivo (em que a televisão é um meio com muitos anos de existência e
com muitos estudos a reboque) do que um relacionado à Internet (onde está
emergindo como um meio novo e em constante mudança, sobre o qual muitos de seus
aspectos são desconhecidos).
Outros estudos têm como objetivo central “explicar” precisamente como é ou como
funciona um fenômeno, ao invés de descrevê-lo, e chamaremos esse tipo de pesquisa
de “explicativo”. Nisso, os “vínculos causais” são muito importantes, que nada mais
são do que explicações baseadas na compreensão de quais fatores causam ou
produzem quais tipos de eventos. Voltando ao exemplo da televisão, que como
dissemos é um meio sobre o qual muito já foi estudado, a maioria dos estudos atuais
sobre este meio não tenta descrever ou explorar o que é o fenômeno da televisão,
mas sim explicar aspectos específicos de seu funcionamento. e suas causas, como o
papel que desempenha na economia doméstica, na percepção da violência ou na
transformação da identidade dos telespectadores, para citar alguns exemplos.
O terceiro objetivo da pesquisa é o “prospectivo” ou “preditivo”, ou o que seja, que
tenta antecipar o desenvolvimento de um fenômeno ou as possíveis transformações
que ele terá no futuro. Como se intui, é um tipo de pesquisa muito complexo, no qual
intervém um grande número de fatores. Devido à alta complexidade dos fenômenos
sociais e à impossibilidade prática de gerar leis sobre eles, esse tipo de pesquisa
costuma ser rara nas ciências sociais, sendo que as poucas vezes que projetos desse
tipo são realizados sua confiabilidade é muito reduzida.
Sinteticamente, diríamos que a pesquisa descritiva corresponde a questões de
pesquisa do tipo “como” e “o quê” (como os jovens usam a Internet? ”(Por que o
gênero talk show tende a desaparecer na televisão aberta?), Enquanto o prospectar
em torno de questões do tipo "o que vai acontecer" e outras formuladas em

futuro ou subjuntivo (as indústrias da Internet absorverão as indústrias da mídia


tradicional?; se a velocidade de transmissão atual fosse mantida, o crescimento da
Internet continuaria a aumentar?).

• Descritivo como / o quê


• Explicação por que
• Prospectar o que vai acontecer
aquela coisa escorregadia chamada de objeto
Quando se fala em pesquisa, aparece o tempo todo uma palavra que geralmente é
pronunciada com um ar solene, mas geralmente não fica claro a que se refere: (o)
objeto. É paradoxal porque, embora seja mencionado o tempo todo, é um dos
conceitos investigativos menos compreendidos e provavelmente o mais nebuloso
deles, e em grande parte esse problema surge porque normalmente o carregamos com
bom senso e tomamos como certo o que nós dizemos. Isso deve ser; na verdade, se
alguém anda pelos corredores da universidade perguntando ao acaso o que é um
"objeto" no vocabulário da pesquisa, a resposta comum é algo como "o que é
estudado", "o assunto de uma investigação" ou "o que é analisado em um estudo ”.
Como já dissemos, isso é em grande parte verdade pelo bom senso, mas quando
falamos de pesquisa, as coisas são um pouco menos simples, porque o que queremos
dizer com "o que estudamos" ou "o que é analisado"? O objeto, na realidade, não é
uma coisa, mas a interação calibrada e organizada de muitos deles. Por outro lado,
vale dizer que o objeto não é algo que você tem, que está aí, mas que está sendo
construído. Embora fenômenos existam lá fora, independentemente de serem
estudados, quando os mandamos estudar, de certa forma eles

estamos construindo ou desconstruindo. Dizemos que os construímos porque ao nos


aproximarmos deles os preenchemos com o nosso olhar, ou seja, os abordamos com
determinadas posturas e de um ponto de vista; Nós os separamos artificialmente de
seu ambiente, que é um continuum e não uma cena de fatos e coisas fragmentados, a
fim de isolá-los e olhar para eles. Nesse sentido, o mesmo fenômeno visto a partir de
diferentes preconceitos e pressupostos muda, e se diferencia então porque o
pesquisador o constrói fornecendo elementos de avaliação a partir de sua própria
subjetividade.
Desse modo, a subjetividade, que é a capacidade do pesquisador de interpretar a
realidade, funciona como a lente de uma câmera, a partir da qual se escolhe o que ver
e o que não ver, por entender que é simplesmente impossível ver tudo em todos os
seus. aviões ou todos ao mesmo tempo. Com isso, a partir da lente você escolhe
fotografar a floresta ou a árvore (e esta é uma escolha: haverá quem preferir ver o
detalhe e quem preferir ver o panorama), e a imagem resultante, como provavelmente
nós todos concordam, então é algo construído, uma imagem do que está lá fora (que
seria muito fiel, é claro), mas que definitivamente não é "o que está lá fora", mas algo
que dizemos ou acreditamos que está atrás da janela .
Visto dessa forma, o objeto é algo que surge à medida que nos questionamos sobre
ele, focalizando-o e propondo caminhos para esclarecê-lo, apreendê-lo e evidenciar os
aspectos que o constituem a partir de nossas orientações teóricas e metodológicas.
Como talvez tenhamos visto ou ouvido, muitos jovens pesquisadores partem da ideia
de que o objeto é “realidade” por si só, como se fosse o mesmo e uma coisa para
todos, e como se o pesquisador fosse (ou pudesse ser), fora dessa realidade,
independente dela, mas o

Os fatos são mais complicados: o que tendemos a ter menos consciência é


precisamente a nossa própria realidade, pois o que é naturalizado ou dado como certo
é o que, via de regra, ignoramos; Lembremo-nos simplesmente de que o peixe não vê
a água em que nada.
Nesse sentido, o objeto não é, não pode ser, realidade; É, em todo o caso, um aspecto
e ao mesmo tempo uma representação, mais ou menos fiável, daquela realidade
construída a partir da subjectividade do investigador a partir das relações observadas
entre os elementos, que não é óbvia nem transparente e, aliás, é sempre visto de um
certo ponto de vista. Nas próximas seções veremos, antes de chegar a uma explicação
especialmente dedicada ao que é o objeto e quais são esses elementos e relações,
uma breve revisão de alguns conceitos que nos ajudarão a entender seu papel na
pesquisa e a forma como chegamos a isso. construa.
A primeira abordagem: a hipótese
Embora não possamos perceber, a principal atividade humana é a construção de
hipóteses: levantamos, formulamos ou pensamos quando olhamos para o céu e vemos
uma nuvem cinza, quando vemos alguém na rua que nos olha de perto desde o frente,
quando nos contam uma fofoca sobre alguém que conhecemos, e é que as hipóteses
são o nosso principal mecanismo de defesa, pois nos permitem gerar processos
através dos quais damos razão sobre o funcionamento do mundo, das oportunidades
que se apresentam a nós e os possíveis perigos que nos ameaçam. Sem a capacidade
de formular hipóteses e agir de acordo, provavelmente ainda estaríamos nas árvores
ou já estaríamos extintos, mas então, se a construção de hipóteses é tão natural, por
que dedicar um
separado? A razão é que a grande maioria das hipóteses que fazemos são produções
do senso comum; Processos tão comuns e naturais que os tomamos como certos, mas
que no processo de pesquisa devem ser explicitamente formulados e conceitualmente
formalizados, uma vez que tudo o mais deriva deles.
Como podemos ver, as hipóteses são projeções intuitivas sobre relações causais. Ou,
de outra forma, são procedimentos cognitivos que nos permitem inferir possíveis
correlações entre as causas de algo e seus efeitos. No entanto, o poder no nível de
correspondência entre uma causa e um determinado efeito resulta em hipóteses
fracas ou fortes. Como podemos imaginar, a grande maioria das hipóteses que
formulamos no cotidiano é débil, pois os níveis de correspondência não buscam chegar
às últimas consequências, mas apenas nos dar pistas rápidas sobre algum aspecto
prático da realidade, o que nos permite para agir conseqüentemente (se nossos
ancestrais não tivessem feito uma hipótese prática e rápida sobre as intenções
daquele animal enorme com dentes gigantes correndo em sua direção, nós
definitivamente não estaríamos aqui).
Ao contrário, no processo de pesquisa tentamos fornecer correspondências causais
fortes para um determinado fenômeno, a partir das quais ele é explicado e verificado
até chegar às suas últimas consequências. Porém, o processo não é tão linear quanto
parece, pois embora digamos que toda pesquisa parte de uma hipótese forte, na
realidade ela é gerada na alternância constante entre hipóteses fracas e fortes, então,
é possível abordar algo sem uma ideia anterior ou que relacionamentos fortes surgem
do nada? A verdade é que não. Quando Newton viu a maçã cair diante de seus olhos,
ainda não tinha em mente a hipótese de que a aceleração constante da massa
terrestre atrai os corpos circundantes.

em relação a ela (hipótese forte), mas o fato de que algo além do mero acaso fez com
que a maçã caísse e não voasse para o céu (hipótese fraca). Assim, uma hipótese fraca
leva a uma forte, até que encontremos um limite de validade ou anulação para a
primeira.
Esse ponto deve ser bem compreendido, pois, como veremos adiante, a pesquisa,
longe do que costumamos pensar, é uma atividade de "ida e volta"; um processo que,
se levado a sério, requer a geração e eliminação constantes de hipóteses fortes e
fracas, à medida que o desenvolvimento empírico avança.
premissas iniciais e hipóteses de trabalho
Como já dissemos, os seres humanos formulam hipóteses sobre tudo e para tudo, mas
a grande maioria delas são meros procedimentos de sobrevivência. Em termos de
pesquisa, chamaremos essa hipótese (geralmente fraca) de premissas iniciais que,
como seu nome indica, são elucidações informais sobre a natureza geral de algo, que
servem como entrada na construção de hipóteses fortes. Como já vimos, sempre que
abordamos um fenômeno não o fazemos em branco, mas com a cabeça imbuída desse
tipo de premissas, e embora estas sejam tão informais que não façam parte do projeto
de pesquisa, não há. não os descuidar em nenhum momento, já que são por si só o
material a partir do qual formularemos intuições mais formais e instrumentais, que
tomam o nome de hipóteses de trabalho (hipóteses fortes, embora este seja o seu
nome de batalha).
Estes últimos não são apenas nodais, mas vitais no processo de pesquisa, uma vez que
constituem o ponto de partida da grande maioria das pesquisas, uma vez que as
questões de pesquisa e as questões de pesquisa são comumente derivadas delas.

objetivos (embora nem sempre, como será visto na próxima seção).


Em um exemplo rápido, vamos voltar a Newton e sua maçã novamente e lembrar
quantas vezes vimos algo cair? E agora, quando foi a primeira vez que chegamos à
conclusão de que a aceleração da massa de terra puxa tudo ao seu redor para o chão?
Como podemos ver, haverá muito poucos que podem dizer quando, e isso porque,
para chegar a uma hipótese de trabalho como esta (uma hipótese forte altamente
complexa), é necessário ter várias premissas iniciais. No caso dele, é certo que Newton
não recebeu a iluminação divina e, ao ver a maçã cair, sua mente iluminou-se de tal
forma que formulou essa hipótese. Longe disso, como se sabe, Newton se interessou
por física há vários anos, lendo muito e se perguntando várias coisas sobre como o
mundo funciona (e quanto ao resto, assistir as coisas caindo); Nesse sentido, Newton,
ao ver a fruta no chão, tudo o que fez foi formalizar em uma hipótese de trabalho
(que, insistimos, é uma hipótese forte) diferentes premissas de partida previamente
existentes em sua cabeça.
Neste ponto, também deve ser observado (já que quase sempre é ignorado) que os
pesquisadores tendem a começar a investigar algo porque em torno desse algo
existem questões existenciais próprias, dúvidas das quais muitas vezes não temos
conhecimento, mas que de Eles sempre mordem nós, mova-nos e reapareça
constantemente. Nesse sentido, embora não estejamos totalmente cientes, o mais
comum é que quando passamos a observar e analisar um fenômeno já temos
diferentes premissas de partida, tantas vezes a única coisa que deve ser feita para
formalizar um projeto de pesquisa está presente. essas premissas, expresse-as e tente
pensar sobre o uso que teremos delas.

Uma vez que tenhamos nossas hipóteses, para que possam operar em uma relação
forte, elas devem ser formulações já estabelecidas das intuições do pesquisador,
tomando cuidado, como indica o preceito da vigilância epistemológica (que será
especificado mais adiante) , que contém todos os elementos conceituais necessários
para apreender as dimensões fenomênicas que queremos estudar. Vista de outro
modo, uma hipótese de trabalho é uma proposta provisória que damos a um
fenômeno, enquanto o verificamos, e que pode (deve) variar à medida que temos
dados empíricos que o contrastam.

A hipótese de trabalho é um elemento obrigatório?


Como podemos ter percebido, muitos são os manuais que fazem da hipótese de
trabalho um elemento essencial, prescritivo e normativo no processo de pesquisa,
quando na realidade pode ou não ser, e ressaltamos esse fato porque tende a gerar
longa confusão e duradouro, com consequências que variam de cômicas a
verdadeiramente trágicas.
Embora todo trabalho de pesquisa seja especulativamente baseado em premissas de
partida (já que é impossível, em termos cognitivos, chegar em branco), nem todos
partem de hipóteses de trabalho, já que o papel de algumas pesquisas é justamente
gerar as primeiras de seu tipo. . Isso é muito comum no caso da pesquisa descritiva ou
exploratória, que, como discutimos na seção dedicada ao objetivo da pesquisa, tem
como principal tarefa dar um primeiro olhar ou fazer um levantamento do terreno em
relação a fenômenos pouco conhecidos.
Nesse cenário, é muito provável que também tenhamos visto ou ouvido mais de um
aluno à beira da angústia ou colapso nervoso, porque ele não consegue "encontrar"
seu

hipótese de trabalho, sem perceber que é muito provável que você não a encontre
porque está simplesmente lidando com uma investigação que não precisa dela. Porém,
mesmo quando não temos hipóteses de trabalho, é altamente recomendável tentar
identificar e sistematizar as nossas premissas de partida, uma vez que estas, ao seu
nível de informalidade e sem substituir as hipóteses de trabalho, irão atuar como estas
no trabalho exploratório, funcionando como primeiro ponto de partida e como
parâmetro de avaliação para contrastar os dados obtidos no decorrer do trabalho de
investigação.

Tudo é muito bom, mas como usamos a hipótese de trabalho?


Como já foi dada bastante ênfase, o papel da hipótese de trabalho é propor os
cenários possíveis que intuímos sobre as relações causais de um fenômeno,
entendendo que essa abordagem nunca é definitiva, mas sim flexível, adaptável e
dinâmica. Se a hipótese de trabalho se tornar rígida e hermética, pode nos dar a falsa
sensação de segurança, mas como falsa, em algum ponto sua incapacidade de guiar o
pesquisador para respostas viáveis será descoberta, e é provável que nessa hora ou
tarde demais para consertar as coisas.
Quando entendemos que a pesquisa deve ser um procedimento plástico e adaptável
que muitas vezes envolve grandes decepções e constantes retrocessos, entendemos
também que a hipótese de trabalho nada mais é do que a parte mais flexível da
pesquisa, pois sem sua capacidade de assumir as mudanças. que surgem e imprevistos
que surgem, o projeto torna-se uma estrutura mais rígida do que uma mesa e,
portanto, completamente inútil na medida em que não pode se conformar com a
natureza extremamente inconstante da realidade social.

Nesse sentido, a hipótese de trabalho deve ser uma proposta que diga “assim pode
ser, mas veremos se sim”, ou seja, uma entidade cognitiva aberta a se transformar e
dar origem a outras propostas que mantenham vivo o ideal de venha com o máximo
que puder.
Em termos instrumentais, as hipóteses darão origem às questões de pesquisa e delas
derivarão os objetivos. Se a hipótese sugere que “a televisão propõe modelos de
comportamento violento que os pré-escolares integram em suas identidades
masculina e feminina”, as questões serão derivadas lógicas dessa hipótese, gerando
algo semelhante ao seguinte:

• A televisão propõe modelos de comportamento violento que as crianças em idade


pré-escolar integram às suas identidades masculina e feminina?

Pergunta que, por sua vez, leva a um objetivo geral do seguinte tipo:

• Identificar se a televisão propõe modelos de comportamento violento que as


crianças pré-escolares integram às suas identidades masculina e feminina.

Como se vê, se a hipótese não atingir um nível de formalidade suficiente, as respostas


que acabaremos dando serão igualmente duvidosas ou nebulosas.

contraste, verificação e cancelamento da hipótese de trabalho


Como observamos até o momento, a hipótese de trabalho não é apenas um enunciado
comum e atual, mas aquele que, buscando orientar a ação de busca do pesquisador,

o objetivo final é uma afirmação ou negação. Assim, se com os dados que vamos
recolhendo ao longo do trabalho de campo obtivermos informações congruentes ou
complementares sobre a hipótese de trabalho, a questão está bastante resolvida:
temos uma hipótese positiva. Pelo contrário, se os dados que obtemos o refutam,
temos uma hipótese falsa. Chamamos esse processo de teste e refutação de
falsificação de hipóteses.
Quando obtemos uma hipótese falsa e não há respostas verificadas sobre o fenômeno
(que viria não só de nós ou de nossa equipe, mas de investigações alternativas), o
fenômeno fica exigindo uma explicação, portanto, se o pesquisador interessado
continuar em esclarecê-lo , essas mesmas hipóteses devem ser reformuladas, ou novas
hipóteses geradas. Nesse processo, a pesquisa pode alterar várias vezes suas hipóteses
de trabalho e, portanto, seus questionamentos e objetivos. Justamente por isso,
insistimos mais de uma vez que o processo de pesquisa é uma “viagem de ida e volta”,
o que necessariamente nos obriga a voltar ao ponto de partida e recomeçar.
Embora pareça ingrato, o processo de pesquisa é, no final das contas, gratificante o
suficiente para que muitos se dediquem a ele.

as hipóteses na questão qualitativa e quantitativa


Em um último ponto, cabe esclarecer que enquanto nos estudos qualitativos as
hipóteses e suas implicações constituem entidades e procedimentos de produção
muito flexíveis (mas não por isso pouco rigorosos), nos estudos quantitativos são
questões extremamente codificadas e protocolizadas. Nestes falamos de hipóteses
nulas, testes de hipóteses, hipóteses alternativas, hipóteses direcionais e não
direcionais, entre outros termos.

associados à prática estatística. Embora neste texto não falemos sobre esses tipos e
suas diferenças e utilidades (para isso existem manuais verdadeiramente
especializados e extensos), é conveniente saber que esses termos pertencem a essa
área e, portanto, são um tanto inadequados em pesquisas qualitativas. . Tirar
conceitos de seu contexto original para aplicá-los a outros totalmente diferentes é um
risco que deve ser rigorosamente avaliado pelo pesquisador antes de realizá-lo.

Gráfica 1. Articulación de premisas, hipótesis, preguntas y objeti ( pagina 49)


la pregunta y el problema de investigació
Voltando à metáfora, já mencionada, da câmera e da lente, diríamos que o primeiro
procedimento que nos permite “focalizar” o que queremos é identificar e formular uma
questão (que, como já vimos, é comumente derivada da hipótese de trabalho, embora
possa ser opcional), que é a questão de pesquisa. Em si, mais do que a questão, o
importante é a operação cognitiva que está por trás dela: definir o que queremos saber
sobre o que decidimos estudar, ou o que é igual, identificar o problema de pesquisa
(desde toda pesquisa, para
tem um senso de existência, você deve ter um problema que deseja resolver).
Neste ponto, imagine que devemos responder à pergunta de qual é o alvo? Como já
vimos, poderíamos responder coisas muito diferentes, embora todas corretas, como que
é um comprimento de onda no espectro visual, que é a ausência de cor, que é a
tonalidade neutra na paleta cromática, que é uma cor que na cultura ocidental está
associada à pureza, etc. A partir desse exemplo deduziríamos que embora a questão
geral aponte para um objeto e não para outro (o que é óleo, por exemplo, e não pepino),
é necessário fazer perguntas complementares que limitem seu campo de visão e
direcionem nosso olhar para o aspecto ou aspectos que ocasionalmente queremos saber
sobre ele.
Quando fazemos uma pergunta, também identificamos um conflito de conhecimento
(problema de pesquisa), que então nos permite automaticamente restringir, identificar e
limitar o que queremos saber. A partir deste momento, chamaremos esta grande questão
de questão geral (que, quando há uma hipótese de trabalho é derivada diretamente dela,
não devemos esquecê-la).
Porém, a questão geral, como o próprio nome indica, é uma entidade muito extensa, é
uma questão que, de fato, contém outras mais específicas. Se perguntássemos, por
exemplo, como é escolhida a notícia publicada em um jornal, estaríamos fazendo uma
pergunta geral de pesquisa completamente válida e formal, embora, para respondê-la de
verdade, ainda tenhamos que fazer outras perguntas ao fenômeno (nem tanto nós
mesmos, se olharmos de perto), por exemplo, existe um processo formal de seleção de
notas? Quem as escolhe? Por que critérios eles as selecionam?
Quem designa quem seleciona as notas? Por quais critérios é selecionado quem
seleciona as notas? E essas perguntas,

A que chamaremos de particulares, podem ser tantos quantos forem os motivos para ter
formulado a questão geral.
Nesse sentido, o que as questões particulares de pesquisa fazem é estabelecer limites
mínimos e máximos para a extensão da questão geral, com a qual obtemos um
equilíbrio, na medida em que afirmamos o tamanho provável do fenômeno a ser
estudado, mas também declaramos o limites que queremos (e em mais maneiras do que
podemos) alcançar.
Em termos de um processo investigativo sistemático, as questões de pesquisa também
são centrais, uma vez que delas (questão geral e questões secundárias) derivam os
objetivos gerais e particulares (dos quais não falaremos agora, mas dos quais veremos
adiante), que servem para especificar as etapas da investigação a fim de obter resultados
viáveis.
A partir daí, quando conseguimos construir nossa questão de pesquisa, identificando um
problema, também decidimos, em grande parte, o caminho que teremos que percorrer e
o que isso implicará, em linhas gerais. Do contrário, enquanto nossa pergunta não for
clara, tudo à nossa frente também não será (ficará embaçado). Por isso, a questão é o
elemento central que nos levará à construção do objeto, sendo a causa da possibilidade
de dar uma resposta útil ao problema que nele reside.

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