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MANUAL DE ENERGIA SOLAR

1 – APROVEITAMENTO DA ENERGIA SOLAR

2. Aproveitamento da energia
1. Introdução
solar

Arranjo fotovoltaico na residência do autor, potência: 4,1 Figura 1: Formas de aproveitar a energia solar
kWp, primeiro SFCR do Rio de Janeiro
Existem, basicamente, duas formas de se
A convite da revista O Setor Elétrico começamos
aproveitar a energia solar (fig. 1): aquecimento
em janeiro de 2019 um manual de energia solar.
solar e energia fotovoltaica. O aquecimento solar
Ele tem como objetivo ensinar as etapas para
aproveita a energia térmica em que se transforma
projetar um sistema fotovoltaico conectado à
a irradiação solar quando atinge um corpo.
rede (SFCR).
O corpo pode ser um coletor solar, onde o calor
Iniciamos com uma introdução, situando este do sol é transferido para a água que percorre o
tipo de sistema dentro das formas de coletor e encaminhada para o reservatório. O uso
aproveitamento da energia solar para, então, final é água quente para tomar banho, para uso
abordar uma visão geral dele. em cozinhas ou em processos industriais.

A estrutura dos capítulos segue aquela que se Aquecimento de ar é outra tecnologia simples e
mostrou eficaz nos cursos ministrados desde empregada em regiões com clima moderado, mas
2012 na nossa empresa Solarize. nunca ganhou grande escala. Resfriamento solar
transforma o calor em frio, usando maquinas de
O detalhamento das matérias segue o espaço gelo. Como é uma tecnologia bem mais complexa
disponível na revista. Se pretender empreender do que a combinação de energia fotovoltaica com
nesta área recomendamos fortemente participar aparelhos de ar condicionado comuns, ela perdeu
de um curso reconhecido que entra em muito viabilidade na medida que os painéis
mais detalhes e oferece treinamento prático. fotovoltaicos caíram de preço.

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M ANUAL DE ENERGIA SOLAR
1 – APROVEITAMENTO DA ENERGIA SOLAR

Figura 2: Tipos de sistemas fotovoltaicos

Usinas termossolares concentram a irradiação Aplicações novas incluem pontos de aluguel de


mediante espelhos para aquecer um fluído e bicicletas, para os quais uma instalação elétrica
gerar energia numa turbina. A vantagem é o fixa seria muito onerosa frente ao baixo consumo
armazenamento da energia térmica por algumas de energia.
horas após o pôr do sol e a consequente geração
O custo das baterias e a capacidade limitada delas
de eletricidade no horário de pico.
torna sistemas autônomos desinteressantes
onde há opção para usar a rede da
3. Tipos de sistemas concessionária.
fotovoltaicos Postes solares também ganham na simplicidade
Podemos dividir os sistemas fotovoltaicos em três da instalação, porém devem ser avaliados
grupos (fig. 2). O primeiro é representado por financeiramente em longo prazo por causa da
bombas solares, única aplicação onde os módulos troca das baterias no final da vida útil.
fotovoltaicos são conectados diretamente a um
Localidades afastadas, como sítios ou aldeias na
aparelho. Estas bombas adaptam sua velocidade
região amazônica, frequentemente contam com
à energia disponível e são indicadas em locais
mais do que uma fonte de energia: solar, eólica e
sem rede elétrica, como fazendas.
gerador a diesel. Neste caso, o gerador é ligado
somente em última necessidade, por causa do
3.1. Sistemas autônomos (off-grid)
custo de combustíveis e manutenção. A
A característica principal de sistemas autônomos combinação requer um controle automatizado
é o armazenamento da energia em baterias, para que atenda às características de cada fonte.
uso à noite ou em dias chuvosos. Essa tecnologia
O termo “sistema híbrido” pode gerar confusão,
já é empregada há muitas décadas em localidades
porque é usado tanto para sistemas que usam
sem acesso à rede elétrica, aplicações
fontes diferentes, explicados acima, quanto para
automatizadas, como pontos de transmissão
inversores conectados à rede com baterias, que
telefônica ou estações meteorológicas.
serão abordados em seguida.

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3.2. Sistemas conectados à rede 4. Conexão do sistema solar à


(on-grid) instalação predial
Usinas representam o tipo clássico de sistemas
conectados à rede: toda a energia gerada é
escoada instantaneamente à rede da
concessionária, sem armazenamento local. Essa
modalidade é denominada de Geração
Centralizada (GC).
A Geração Distribuída (GD) ocorre em locais onde
há consumo próprio, como residências, prédios
ou empresas. A energia gerada é aproveitada em
primeiro lugar na instalação local, e apenas o
excedente é injetado na rede da concessionária.
No Brasil, a legislação determina que a
concessionária devolva a energia injetada em Figura 3: Esquema da instalação predial com sistema solar

outro horário, como se fosse uma bateria Na geração distribuída, o sistema solar é
(compensação em net-metering). introduzido em uma unidade de consumo que é
formada por consumidores (iluminação, motores,
Há duas situações distintas onde a combinação
refrigeração etc.), conectados a um quadro de
com baterias em sistemas híbridos pode ser
distribuição, que recebe energia da rede da
interessante: no nobreak solar, a energia
concessionária com medição unidirecional do
armazenada é revertida quando a rede da
consumo.
concessionária falha. Neste caso, a potência e a
autonomia do nobreak devem ser dimensionados O sistema solar é composto por
conforme carga a ser alimentada, similarmente a
• um arranjo fotovoltaico, um conjunto de
sistemas autônomos. módulos fotovoltaicos interligados, que
Já o gerenciamento de energia por baterias é gera a energia em corrente contínua,
usado na Europa e nos Estados Unidos: durante o • e inversor(es) que transformam a energia
gerada para corrente alternada em
dia armazena-se a energia para convertê-la à
sincronismo com a rede.
noite, durante o horário da ponta. No Brasil, esta
opção começa a ficar viável em regiões com O sistema solar é conectado à instalação predial
grande diferença entre as tarifas da ponta e fora em algum quadro de distribuição adequado (fig.
da ponta. 3), não necessariamente o quadro do ponto de
conexão. Após aprovação da instalação, a
Os capítulos que publicaremos ao longo deste concessionária substitui o medidor por um
ano focarão em sistemas de geração distribuída. modelo bidirecional que mede a energia
consumida e a energia injetada, de forma
independente. As duas leituras são usadas para
emitir a conta de energia a cada mês
(abordaremos detalhes em outro capítulo).

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1 – APROVEITAMENTO DA ENERGIA SOLAR

5. Funcionamento dinâmico ao chaveamento. O inversor simplesmente gera


energia em uma tensão levemente superior à da
longo do dia rede, o que garante o escoamento preferencial.
A situação descrita acima ocorre em diversas
ocasiões, não somente numa passagem de
nuvens:
• No início e no final do dia, quando a
irradiação é baixa
• Em dias nublados ou chuvosos
• Quando o consumo supera a geração,
mesmo em dias ensolarados
• Na ocasião de defeitos do sistema solar
Observamos um ponto muito importante: o
funcionamento dos aparelhos não depende do
sol ou do sistema solar. Os moradores ou
funcionários da empresa não precisam mudar sua
Figura 4: Fluxo da energia em geração solar superior ao
consumo rotina conforme o tempo – é a concessionária
que garante a alimentação da unidade.
Fig. 4 mostra o fluxo de energia em momentos
com geração superior ao consumo: do inversor, a
energia flui em direção ao quadro de distribuição.
Dali, ela alimenta os consumidores. O excedente
é injetado na rede da concessionária e
contabilizado pelo medidor de injeção.

Figura 6: fluxo da energia à noite

À noite (fig. 6) não ocorre mais geração solar


(aliás, é um mito que a lua consiga gerar energia)
e toda a energia é suprida pela rede da
concessionária.
Figura 5: Fluxo da energia com geração inferior ao consumo

Na fig. 5 observamos o momento de passagem de


uma nuvem. A energia gerada cai
instantaneamente e não supre mais a demanda
total dos consumidores. A energia da
concessionária complementa a energia solar.
A alimentação oscilante entre inversor e
concessionária funciona em fluxo natural, sem

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Figura 5: a falha da rede causa desligamento do inversor

A figura 5 mostra a situação da falta de energia. O


inversor desliga automaticamente, por duas
Figura 8: : Inversor com quadros de proteção
razões. Primeiramente, para evitar um choque no
técnico da concessionária. Segundo, porque o resfriamento que liga automaticamente
sistema solar sem baterias não consegue garantir quando o inversor esquenta;
a potência necessária para alimentar qualquer • Reduz carga térmica no prédio: a
aparelho. O desligamento automático é chamado cobertura recebe muito menos sol, o que
de proteção “anti-ilhamento” (mais detalhes no diminui a demanda por ar condicionado
capítulo sobre inversores) e a reconexão é na edificação.
automática. Um sistema de alta qualidade requer como
manutenção constante somente a limpeza dos
6. Características do sistema módulos, duas vezes ao ano, que é efetuada com
água e um pano macio. Apenas em locais com
fotovoltaico
elevada carga de sujeira atmosférica recomenda-
A instalação elétrica em uma residência ou uma se uma limpeza mais frequente.
empresa é simples, já que dispensa modificações
na instalação existente. Apenas no quadro da Além disso, uma revisão periódica da instalação
física e elétrica garante a longevidade com os
conexão é inserido mais um disjuntor (vemos
detalhes da instalação elétrica mais adiante). benefícios previstos.

O sistema solar traz as seguintes vantagens: 7. Próximo Capítulo


• Redução do custo de energia; No capítulo do próximo mês conheceremos as
• Maior autonomia: para muitas pessoas é
etapas da elaboração de um projeto fotovoltaico
importante saber que grande parte do
na visão macro.
consumo é gerado no próprio telhado;
• Silencioso: na maioria dos inversores só Acesse o manual completo aqui – é grátis!
se escutam os relês na hora de ligar.
Alguns poucos têm um cooler de

FiguraHans
O autor, 6: Inversor com quadrosédesócio-gerente
Rauschmayer, proteção da empresa Solarize Treinamentos
Profissionais Ltda, onde montou a abrangente grade de capacitação.
Reconhecido especialista em energia solar, ele já foi convidado para ensinar e
palestrar em universidades, instituições, congressos nacionais e internacionais
e vários programas de TV. Entre em contato pelo site www.solarize.com.br.

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2 – O PROJETO DO SISTEMA FOTOVOLTAICO CONECTADO À REDE

Figura 1: As etapas da elaboração do projeto fotovoltaico para um sistema conectado à rede

1. A fase da análise das informações;


1. Introdução 2. A fase do projeto técnico;
3. A fase do cálculo do retorno energético e
No primeiro capítulo do manual de energia solar financeiro.
apresentamos as diferentes formas de As etapas serão descritas em seguida, seguindo a
aproveitamento da energia solar. Delas, numeração do gráfico.
selecionamos a geração distribuída com sistemas
fotovoltaicos conectados à rede (SFCR) como (1) Análise do Consumo e
tema dos capítulos e explicamos como este tipo Dimensionamento do Sistema
de sistema é conectado numa rede predial e
como ele se comporta ao longo do dia. No Brasil, a regulamentação da geração
distribuída foi publicada pela Aneel na REN
No presente capítulo abordaremos as etapas da 482/2012. Ela impõe o conceito chamado de Net-
elaboração de um projeto desta modalidade. Metering: o usuário é permitido a compensar seu
consumo, mas ele não poderá vender energia.
2. As etapas do projeto
Queremos, nesta etapa, estabelecer a meta do
A figura 1 apresenta as etapas de um projeto futuro sistema solar. Usamos o consumo dos
fotovoltaico conectado à rede. Em primeiro lugar, últimos 12 meses, eventualmente corrigido por
percebemos três áreas de atuação: previsões sobre aumento ou redução no futuro.
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2 – O PROJETO DO SISTEMA FOTOVOLTAICO CONECTADO À REDE

Aliás, a implantação de medidas de eficiência


energética antes ou em paralelo à instalação do
sistema solar aumenta drasticamente o retorno
financeiro do conjunto.
Para obter a estimativa correta é imprescindível
conhecer a tarifação do cliente:
• De consumidores grupo B, que recebem
energia em baixa tensão, é cobrada uma
taxa mínima mensal (Custo de Figura 2: Classificação de áreas da cobertura de uma residência
Disponibilidade);
• As contas de clientes grupo A separam a A melhor captação da energia solar se faz quando
demanda contratada do consumo e são os módulos são orientados em direção ao
calculadas em tarifas horo-sazonais. equador, portanto ao norte na maior parte do
Dependendo do negócio, o cliente ainda Brasil. Por isso, escolhemos primeiramente a face
pode compensar impostos aplicados na norte de um telhado, e em seguida as faces leste
tarifa, o que reduz a viabilidade do
e/ou oeste.
projeto;
• A potência da ligação do cliente à rede da Analisamos o sombreamento pela própria
concessionária limita a potência do edificação, por prédios vizinhos, por árvores ou
sistema solar. morros e classificamos as áreas conforme sua
Uma vez estabelecida a meta de geração, usamos qualidade, como mostrado na figura 2.
os dados climáticos do local para estipular a
Qual é a área necessária? Cada kW de potência,
potência do sistema que, supostamente, será
estipulada na primeira etapa, necessita
necessário para obter tal geração.
aproximadamente 6 m² em módulos. Há
O dimensionamento será abordado em detalhe acréscimos para compensar má distribuição dos
num dos capítulos finais, pois requer o painéis, sombreamento, desvios da orientação
entendimento da tecnologia fotovoltaica. Se ideal, e instalação em laje ou terreno (por causa
quiser se antecipar, então procure o assunto na dos corredores entre as fileiras).
coletânea de apresentações no nosso site
Outras opções, mais complexas, seriam ainda um
www.solarize.com.br.
estacionamento solar, que requer um projeto
físico detalhado em paralelo ao estudo solar, ou
(2) Análise das Áreas Disponíveis
fachadas. No nosso país, cruzado pelo equador,
Na segunda etapa procuramos áreas adequadas as fachadas recebem no máximo 50% da radiação
para gerar energia solar no terreno do cliente, que incide sobre as coberturas. Tais projetos
geralmente parte da cobertura ou do terreno. dificilmente se pagam pelo retorno energético,
A procura pelas áreas disponíveis costuma mas podem ser bastante interessantes pelo viés
começar com estudo de imagens de satélite. arquitetônico ou de marketing verde.
Ferramentas como Google Earth permitem tomar O resultado desta etapa é a demarcação de áreas
as dimensões de forma aproximada e ajudam a utilizáveis para o sistema solar com classificação
ver obstáculos na superfície e ao redor. conforme a qualidade da captação da energia
Posteriormente será necessário visitar o local e solar.
efetuar medições exatas.

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2 – O PROJETO DO SISTEMA FOTOVOLTAICO CONECTADO À REDE

(3) Projeto Físico • Somente em casos muito específicos


misturam-se diferentes modelos na
mesma instalação.
A fixação dos módulos na cobertura requer um
cuidado adicional, porque traz riscos estruturais
e/ou de infiltração, com possíveis danos de alto
prejuizo. Geralmente, as soluções desenvolvidas
prontas pela indústria são muito práticas e
Figura 3: Cobertura com distribuição dos módulos
permitem um trabalho eficiente.
Chegou a hora de distribuir módulos fotovoltai-
A estética do conjunto requer um cuidado
cos na área disponível com objetivo de tentar
adicional. O cliente pode, inclusive, optar por
alcançar a potência estipulada durante a primeira
uma solução tecnicamente inferior.
etapa. A figura 3 apresenta a distribuição de
módulos na área classificada com A da etapa
anterior, na residência do autor.
(4) Projeto Fotovoltaico
Esta etapa é o coração do projeto e será
O tipo de módulo é escolhido conforme os
detalhada nos próximos capítulos. Escolhemos
seguintes critérios:
um ou mais inversores que funcionem bem com
• Há, basicamente, dois formatos de os módulos escolhidos na situação encontrada.
módulos no mercado, com dimensões de
aproximadamente 1,00m x 1,65m ou A configuração deve preencher critérios de
1,00m x 2,00m. Ambos podem ser • Relação da potência entre arranjo
montados na posição retrato ou fotovoltaico e inversores;
paisagem; • Compatibilidade das grandezas elétricas
• O desenho técnico mostra qual formato e nas diferentes condições climáticas do
qual posição melhor se encaixa na área local da instalação;
disponível; • Configuração da ligação série-paralelo
• A eficiência do módulo se traduz na conforme sombreamento encontrado;
quantidade de área ocupada. Portanto é • Compatibilidade com a rede elétrica que
um critério mais importante em casos de recebe a energia.
área insuficiente;

Figura 4: O diagrama unifilar de um projeto fotovoltaico

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2 – O PROJETO DO SISTEMA FOTOVOLTAICO CONECTADO À REDE

(5) Projeto Elétrico • A conversão da energia gerada pelo


inversor a cada instante, conforme curva
O projeto elétrico (fíg. 4) é formado por duas de eficiência dele;
partes: o lado em corrente contínua, entre o • As perdas dentro da instalação elétrica.
arranjo fotovoltaico e o(s) inversor(es), e a ligação A resolução dos dados climáticos merece atenção
do inversor à rede predial, em corrente alternada. especial, já que a oscilação dos parâmetros
Ambas partes incluem climáticos se propaga em todo o sistema
• A definição dos dispositivos de proteção fotovoltaico. Dados em intervalos horários
e seccionamento; (formato TMY = typical meteorológical year) são
• A definição dos cabos e da condução necessárias para que não se percam efeitos de
física deles pela edificação; dias ensolarados, parcialmente nublados ou
• O aterramento com ligação equipotencial chuvosos.
e interligação, se necessária, com o
sistema de proteção contra descargas Dados gerados em intervalos de minuto
atmosféricas (SPDA). (softwares como PVSYST ou PV*SOL oferecem
Como o inversor injeta energia na rede da esta função) conseguem até simular a passagem
concessionária, é necessário respeitar a norma de nuvens e situações de sombreamento mais
dela e solicitar a aprovação do projeto. complexos. Haverá outro capítulo sobre
softwares fotovoltaicos.
(6) Geração de energia
(7) Retorno Financeiro

Figura 5: Gráfico da geração de energia com consumo no software


PV*SOL
A energia gerada (exemplo na fíg. 5) representa o
benefício do sistema solar para o cliente. Ela pode Figura 6: Gráfico de fluxo de caixa

ser estimada por uma simulação que usa os Para se chegar ao retorno financeiro, deve-se
seguintes dados de entrada: simular a conta de energia do cliente a partir do
resultado da etapa anterior, da energia gerada a
• Os dados climáticos do local da
instalação; cada mês. Aqui entram vários parâmetros, como
• O sombreamento a partir de uma faixa de ICMS aplicada na tarifa, taxa mínima e
modelagem 3D do projeto físico, dos contabilidade de créditos entre meses.
obstáculos e da posição do sol ao longo
Do lado do custo, são contabilizados o
do ano;
• A geração de cada módulo e equipamento instalado, a mão de obra, custos
considerando o sombreamento bancários em caso de financiamento e a previsão
individual; de operação e manutenção (O & M).
• A interligação dos módulos com os
devidos efeitos elétricos;

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2 – O PROJETO DO SISTEMA FOTOVOLTAICO CONECTADO À REDE

Benefício e custo são organizados em uma tabela resultado com a meta estabelecida e ajustar
de fluxo de caixa (gráfico na fig. 6), de onde os todos os parâmetros para melhorar o resultado.
seguintes indicadores são extraídos:
Aspectos estéticos ou a disposição financeira do
• O prazo de retorno simples, quando os cliente podem também exigir modificações do
benefícios superam os investimentos; projeto.
• O prazo de retorno descontado, que
informa quando o investimento no É comum elaborar o projeto fotovoltaico de
sistema solar chega a render mais do que forma evolutiva: a primeira proposta é emitida
um investimento de comparação (ex. com premissas simplificadas, ainda sem visita no
CDB); local. Na medida que a negociação avança, são
• A Taxa Interna de Retorno (TIR) que definidos os detalhes.
informa os juros que o sistema solar paga
sobre o investimento; Nestas iterações, softwares profissionais
• O custo da energia ao longo da vida do mostram seu valor: a integração com mapas de
projeto, um comparativo com a tarifa satélites permite extrudar uma maquete com
paga à concessionária (LCOE = levelized poucos cliques, inserir módulos e configurar
cost of Energy). inversores (veja fig. 7). Onde o detalhamento do
Empresas eletrointensivas sofrem com oscilações projeto pode ser postergado, são aplicados
nas tarifas e enxergam no sistema solar uma valores padrão. Modificações ocorrem de forma
forma de se proteger contra aumentos da tarifa: pontual e as simulações apresentam os
uma vez instalado, o custo da energia solar é resultados de forma imediata.
conhecido e reduz o risco tarifário.
1. Próximo Capítulo
(8) Revisão
Os próximos capítulos explanarão o projeto
técnico do sistema fotovoltaico, começando com
módulos e inversores. As questões legais ficarão
para o final, quando uma nova revisão normativa
está prevista para ser publicada (acompanhe
notícias no site www.solarize.com.br).
Acesse o manual completo aqui – é grátis!

Figura 7: Modelagem 3D no software PV*SOL premium

Elaboramos o projeto, desde a primeira etapa,


partindo de certas premissas: estipulamos a
potência ideal conforme as condições climáticase
a aumentamos em decorrência de defeitos da
área disponível. Depois da simulação do projeto
completo, precisamos agora comparar o

O autor, Hans Rauschmayer, é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos


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3 – TÉCNOLOGIA FOTOVOLTAICA E MÓDULOS

• A irradiação difusa é aquela refletida por


1. Introdução partículas na atmosfera;
• O albedo é a radiação refletida pelos
No primeiro fascículo do manual de energia solar arredores da instalação;
aprendemos as características de sistemas • Os módulos aproveitam a irradiação
fotovoltaicos conectados à rede (SFCR), total, que é a soma da irradiação direta,
instalados em geração distribuída (GD). difusa e do albedo
A norma NBR 10899:2006 define a terminologia
O segundo fascículo explanou o passo-a-passo
da energia solar fotovoltaica. Importante é
para elaborar um projeto deste tipo, abrangendo
diferenciar entre os seguintes termos:
questões legais brasileiras e questões técnicas,
que independem do país da instalação, e • A Irradiância solar G é a potência
questões estéticas, individuais para cada cliente. incidente em uma área num determinado
Concluímos com a visão do cálculo do retorno de instante, medida em W/m²;
investimento do projeto. • A Irradiação I ou H é o integral da
irradiância, portanto é a energia que
No presente fascículo abordaremos a tecnologia incide num certo intervalo, acumulado
fotovoltaica, que transforma a luz em energia, e por hora, dia, mês ou ano [Wh/m²].
as características dos módulos fotovoltaicos.

2. A Composição da Irradiação 3. A Tecnologia Fotovoltaica

Figura 1: A composição da irradiação

Antes de nos debruçarmos sobre a tecnologia em


si precisamos entender melhor nossa fonte Figura 2:A geração de energia numa célula fotovoltaica
energética, a radiação solar. Ela chega aos
módulos fotovoltaicos por três caminhos: Base da tecnologia fotovoltaica é um material
semicondutor (Fig. 2: massa azul) que contém
• A irradiação direta chega em linha reta e elétrons com baixa ligação aos átomos. Quando
é reduzida pela atmosfera e eventuais
um raio de luz, na forma de um fóton, (raio
nuvens;
amarelo na figura), alcança um desses elétrons

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3 – TÉCNOLOGIA FOTOVOLTAICA E MÓDULOS

(bolinha laranja), este consegue se liberar e


escapar aos condutores (trilhos cinzas na
Qual tecnologia escolher?
superfície).
• Silício monocristalino é mais eficiente
Um fio elétrico conduz o elétron a uma carga (a (até 24%) do que o policristalino (até
lâmpada, na figura), de onde um segundo fio o 19%). A maior eficiência reduz a área
leva de volta até o condutor inferior da célula ocupada e o custo com suporte,
fotovoltaica, fechando assim o circuito elétrico. cabeamento e mão de obra durante a
As bolinhas azuis na imagem representam instalação. Por si só, a eficiência não
representa uma vantagem para o cliente,
“buracos”, cargas positivas à espera de elétrons.
mas deve ser avaliada no contexto do
Durante o processo ocorrem diversas perdas, projeto inteiro.
cujo detalhamento extrapola o presente capítulo. • Perdas relacionadas à temperatura são
significativas (veremos a seguir),
Tradicionalmente, as células são captam luz especialmente no nosso país tropical, e
somente pelo lado frontal. Em instalações de geralmente menor na tecnologia
grande porte, a tendência é o uso de células monocristalina.
bifaciais, onde a radiação refletida pelo ambiente Há várias tecnologias adicionais (ex. PERC) que
também é aproveitada. aumentam a eficiência, mas podem ter efeitos
adversos em clima tropical. É importante
acompanhar as notícias a respeito.
4. Materiais fotovoltaicos
Além do silício cristalino há outros materiais,
como filme fino ou orgânicos, sendo que silício
cristalino corresponde por 94% do mercado
mundial. Por causa dessa predominância, que
deve ser ainda maior no Brasil, os capítulos a
Figura 3: Comparação entre módulo monocristalino (esq.) e
seguir se concentram em módulos cristalinos.
policristalino

O material mais usado na fabricação de células 5. Combinação de Células


fotovoltaicas é silício cristalino ultra purificado. Fotovoltaicos
Há dois processos distintos de fabricação:
• O silício monocristalino é produzido em
cristais uniformes, no formato de
cilindros, que são cortados em lâminas
quadradas (wafer) com pontas
chanfradas.
• O silício policristalino (também chamado
de multicristalino) não apresenta a
uniformidade cristalina, o que causa
perdas na geração da energia. Ele é
produzido em paralelepípedos que
permitem, depois de cortados, preencher
o módulo sem buracos entre as células.
Essa diferença permite distinguir
Figura 4: Composição de Células Fotovoltaicas em Módulos e Arranjos
visualmente as duas tecnologias (fig. 3).
A dimensão mais comum das células
fotovoltaicas é de 156 mm x 156 mm. Cada célula
produz uma tensão de aproximadamente 0,5 V.

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3 – TÉCNOLOGIA FOTOVOLTAICA E MÓDULOS

Para formar um módulo, as células são 6. Características Elétricas de


combinadas por ligação em série. Os formatos
mais comuns para sistemas conectados à rede
Módulos Fotovoltaicos
são módulos de 60 células (tensão na faixa de 30
V) e 72 células (tensão na faixa de 36 V).
O tamanho dos módulos é muito similar entre os
diferentes fabricantes: módulos de 60 células têm
1m de largura por 1,65m de comprimento,
enquanto os de 72 células tem dimensão de 1 m
x 2 m. Ambos podem ser instalados na posição
retrato ou paisagem.
Módulos destinados a sistemas com baterias
costumam ser compostos de 36 células e são
fabricados em diversos formatos.
A combinação de módulos numa instalação real é
denominada de “painel fotovoltaico”, conforme
NBR 10899, o que pode causar equívocos, já que
o próprio módulo também costuma ser chamado
de painel (de inglês panel). O termo arranjo
Figura 5: Curvas características de módulos fotovoltaicos
fotovoltaico evita este equívoco, mas se refere
mais à conexão elétrica do que à montagem física A célula fotovoltaica gera energia em corrente
dos módulos. contínua (c.c.), com um polo positivo e um
negativo. Outras fontes em c.c. que conhecemos
Normas aplicáveis: são baterias, mas com características
• ABNT NBR 10899:2006 — Energia solar completamente diferentes, como veremos a
fotovoltaica – Terminologia seguir.
• ABNT NBR 11876:2010 — Módulos
Na figura 5, a curva roxa apresenta a corrente I
fotovoltaicos — Especificação
• IEC 61215 — Módulos fotovoltaicos em gerada pelo módulo em determinação da tensão
silício cristalino para aplicações terrestres V de saída, com as seguintes características:
- qualificação do design e aprovação do
• Isc determina a corrente de curto circuito
tipo.
(do inglês short circuit = SC). Ela ocorre
• IEC 61646 — o mesmo para módulos de
quando os conectores do módulo são
Filme Fino
interligados diretamente. Vale observar
• IEC 61730 — qualificação de segurança que o módulo, sob curto circuito, não é
de módulos fotovoltaicos danificado. Ele simplesmente mantém
uma certa corrente passando pelos
condutores enquanto há incidência de
luz.
• Voc determina a tensão de circuito aberto
(do inglês open circuit = OC) que ocorre
quando o módulo está desconectado.
• Na faixa inferior da tensão observamos
um longo trecho quase constante e uma
brusca queda após o ponto VPMP, que é
deduzido da segunda curva.

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3 – TÉCNOLOGIA FOTOVOLTAICA E MÓDULOS

• O módulo, portanto, é um gerador de 7.1. A Influência da Irradiância


corrente.
A segunda curva apresenta a potência P do
módulo sobre a tensão V. Vejamos as
características:
• Como a potência é o produto de tensão
com corrente P = I x V, e a corrente é
praticamente constante em grande parte
da faixa, a curva ascende de forma quase
linear.
• Ela alcança o Ponto de Máxima Potência
PPMP (em inglês seria PMPP = máximum
power point) para depois cair
fortemente. A potência nominal do
módulo é aquela determinada no ponto
PPMP.
• A tensão VPMP e a corrente IPMP são
deduzidos do ponto PPMP.

7. Características Elétricas sob Figura 6: A influência da irradiância

Influências Climáticas A figura 6 mostra a influência da irradiância sobre


As curvas apresentadas no item anterior e as as características elétricas:
características informadas na ficha técnica do • A irradiância determina a corrente, já que
produto são obtidas em laboratório, sobre as a quantidade de fótons determina a
seguintes condições padrão de teste (STC = quantidade de elétrons, responsáveis
standard test conditions): pelo fluxo elétrico.
• A tensão é pouco afetada e alcança 30 V
• Irradiância de 1000 W/m², o que já com uma luz crepuscular.
corresponde ao valor máximo possível • A potência, sendo o produto de tensão e
em radiação direta sobre a superfície da corrente, segue a irradiância.
terra
• Temperatura de 25° C (na célula)
• Espectro solar conforme AM = 1,5 (Air
mass factor)
Numa instalação real, essa combinação de
condições raramente é alcançada. As condições
climáticas variam constantemente e, com elas, as
características elétricas do módulo.

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3 – TÉCNOLOGIA FOTOVOLTAICA E MÓDULOS

7.2. A Influência da Temperatura 7.3. A Variação Climática e o


Seguidor do Ponto de Máxima
Potência

Figura 8: curvas de geração em dias com clima diferente

Em dias de céu aberto, as condições climáticas


mudam de forma gradativa, como mostra a curva
vermelha na figura 8, obtida através de um
Figura 7: A Influência da Temperatura monitoramento de um sistema solar ao longo de
O impacto da temperatura é apresentado na um dia.
figura 7: Já com a passagem de nuvens (curva azul,
• A corrente aumenta ligeiramente; gravada em outro dia), as mudanças são
• A tensão cai de forma significativa. A abruptas. A irradiância chega a superar o máximo
ficha técnica do módulo informa o teórico de 1000 W/m² quando a irradiação direta
coeficiente, na faixa de 0,3% / °C se soma com irradiação refletida por nuvens.
• Com a tensão, a potência é reduzida
também, numa proporção de Com as condições climáticas oscilam também os
aproximadamente 0,4% / °C parâmetros elétricos dos módulos. É tarefa do
O resultado é uma perda que pode chegar a 20% inversor assegurar que a potência máxima seja
em relação à potência nominal, quando o módulo extraída dos módulos a qualquer instante, e ele
alcança 75°C (no sistema da empresa Solarize, conta com um elemento chamado seguidor do
isso acontece em alguns momentos do ano). ponto de máxima potência (SPMP, em inglês MPP
tracker = MPPT). O SPMP varia a tensão
O efeito inverso ocorre, quando a temperatura do
continuamente e observa a potência fornecida
módulo cai abaixo de 25°C: a tensão aumenta
pelos módulos.
acima dos valores informados na ficha técnica, e
este aumento precisa ser levado em consideração
na hora de compor módulos com um inversor,
como veremos em outro capítulo.

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3 – TÉCNOLOGIA FOTOVOLTAICA E MÓDULOS

8. A Estrutura Física do Módulo

Figura 9: A estrutura de um módulo vidro-vidro


Figura 10: A estrutura física de um módulo com moldura Módulos vidro-vidro (fig. 10) eliminam a moldura
A figura 9 mostra a estrutura física do módulo: e estabilizam a célula, por causa da construção
simétrica. Eles são usados preferencialmente em
• A célula é envolvida entre dois filmes
usinas de grande porte.
transparentes de EVA;
• Por cima, ela é protegida por um vidro
especial, de baixo teor de ferro, o que 9. Próximo Capítulo
garante maior transparência;
No próximo capítulo conheceremos o inversor,
• Por baixo, um filme Tedlar (backsheet)
cuja tarefa principal é extrair o máximo de
protege o conjunto.
• As camadas são laminadas em forno, energia dos módulos, o que ocorre em corrente
para garantir a proteção contra umidade contínua, e transformá-la em corrente alternada.
e oxigênio; Acesse o manual completo aqui – é grátis!
• A moldura em alumínio anodizado, que
permite fixação e aterramento, contém
outra vedação de silicone.
Opcionalmente, os módulos são fornecidos com
moldura e filme Tedlar pretos, para formar uma
superfície de cor uniforme.

O autor, Hans Rauschmayer, é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos


Profissionais Ltda, onde montou a abrangente grade de capacitação.
Reconhecido especialista em energia solar, ele já foi convidado para ensinar e
palestrar em universidades, instituições, congressos nacionais e internacionais
e vários programas de TV. Entre em contato pelo site www.solarize.com.br.

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MANUAL DE ENERGIA SOLAR
4 – O INVERSOR FOTOVOLTAICO

Figura 1: O diagrama elétrico do sistema fotovoltaico conectado à rede

1. Introdução 2.1. Funções obrigatórias


As seguintes funções devem estar presentes em
Nos capítulos iniciais do manual de energia solar
todos os inversores:
abordamos características de sistemas
fotovoltaicos conectados à rede (SFCR) e o passo- • A principal função do inversor é
a-passo na elaboração de um projeto solar. No converter a energia gerada pelos
módulos fotovoltaicos, em corrente
terceiro capítulo estudamos os módulos
contínua, para corrente alternada na
fotovoltaicos. tensão da rede à qual o inversor é
No presente capítulo entraremos em detalhes conectado;
sobre o inversor, o componente que transforma • No capítulo anterior vimos que as
características elétricas dos módulos
a energia gerada pelos módulos para que possa
variam com as condições climáticas
ser injetada na rede elétrica.
(irradiância e temperatura). Por isso, o
inversor contém na entrada um
elemento chamado Seguidor do Ponto
2. O Inversor Fotovoltaico de Potência Máxima SPMP (em inglês
Inversores são usados em várias áreas da MPPT = maximum power point tracker)
engenharia elétrica com características distintas, que acompanha essas variações,
conforme demanda de cada aplicação. Aqui procurando o melhor rendimento a cada
instante;
estamos falando de inversores para sistemas
• O inversor injeta energia em uma rede
fotovoltaicos conectados à rede, uma categoria
conectada à concessionária. Ele usa
de produtos com funções específicas. tensão e frequência da rede como
A figura 1 apresenta o diagrama elétrico do referência e se ajusta continuamente às
oscilações percebidas (relê de
sistema inteiro, que será detalhado num capítulo
sincronismo);
específico. • Quando a rede sai da faixa permitida de
tensão e frequência, ou quando há falha
de fase, então o inversor se desliga
automaticamente, o que é chamado de
“anti-ilhamento”;

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R. Paschoal Carlos Magno, 57 20240-290 Rio de Janeiro RJ | contato@solarize.com.br | CNPJ 28.150.768/0001-60

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4 – O INVERSOR FOTOVOLTAICO

• Internamente, o inversor se protege


contra superaquecimento e contra uma
potência de entrada excessiva. Nestes
casos, o inversor reduz sua potência de
saída;
• Ele ainda supervisiona o circuito da
entrada em relação à resistência de
isolamento entre os polos e a terra. Em
casos de falhas, ele se desliga e dispara
um alarme;
• O mesmo ocorre em casos de passagem
de corrente contínua para a rede de
corrente alternada (para inversores sem
transformador interno, o tipo comum).

2.2. Funções opcionais


Algumas funções são opcionais e incluídas Figura 2: Instalação do inversor da marca Fronius durante o
curso da Solarize
conforme decisão do fabricante do inversor:
e nas normas da maioria das concessionárias. A
• O monitoramento envia os dados de respectiva norma internacional é a
produção via internet para o servidor do
IEC62109:2011.
fabricante.
• Alguns inversores permitem conexão de Todos os inversores vendidos no Brasil com
sensores de irradiância, de temperatura potência até 10 kW devem ser certificados pelo
ou medidores de energia com fins de Inmetro. Os mais potentes são aprovados pelas
enriquecer o monitoramento;
concessionárias mediante apresentação de um
• O inversor pode conter componentes
elétricos como seccionadores, fusíveis ou certificado de laboratório internacional.
dispositivos de proteção contra surtos.
Estes componentes, alternativamente,
seriam colocados em caixas separadas. 3. As Características Elétricas

2.3. Tipologias de Inversores 3.1. As Características da Entrada


Há diferentes tipologias de inversores a respeito em c.c.
do melhor aproveitamento de cada módulo: A entrada do inversor recebe a energia gerada
inversores com várias entradas (multi-MPPT), pelo arranjo fotovoltaico, em c.c., que é
microinversores e inversores com otimizadores especificada pelas seguintes características:
de potência. Estes conceitos serão abordados
• Potência nominal Pnom e potência máxima
após discutir a conexão entre módulos e
Pmax
inversores e questões de sombreamento, nos • Corrente máxima Imax
próximos capítulos. • Tensão máxima Vmax
• Faixa de tensão permitida em operação:
2.4. Normas para Inversores VPMP min e VPMP max
As características da conexão com a rede elétrica • Tensão mínima para início do trabalho
Vstart
de distribuição foram definidas na norma ABNT
O arranjo fotovoltaico, que consiste numa
NBR 16149:2013, e foram incluídas também nos
conexão série-paralela de módulos, deve ser
Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica
configurado da forma que não passe das
no Sistema Elétrico Nacional PRODIST Módulo 3

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4 – O INVERSOR FOTOVOLTAICO

características acima. Como isso é calculado nuvens), sem poder garantir a potência
aprenderemos no próximo capítulo. suficiente para o funcionamento de
qualquer carga;
2. A injeção de energia na rede desligada
3.2. As Características da Saída em poderia expor ao risco de choque algum
c.a. técnico que esteja fazendo manutenção
A saída em corrente alternada é caracterizada da rede.
pelas seguintes grandezas: O inversor deve operar normalmente na faixa de
80% ... 110% da tensão nominal da rede e desligar
• Potência nominal P nom (igual à potência
quando a tensão sair disso. A faixa permitida da
máxima de entrada) e potência máxima
Pmax frequência vai de 57,5 Hz até 62 Hz, sendo que o
• Corrente máxima Imax inversor deve reduzir a potência gradativamente
• Tensão nominal e faixa de tensão acima de 60,5 Hz conforme gráfico da fig. 3.
• Quantidade de fases
Após um desligamento por falhas na rede, o
• Frequência nominal e faixa permitida
inversor volta a operar automaticamente sem
A maioria dos inversores de baixa potência (até
intervenção manual, da mesma forma que ele
cerca de 5 kW) é oferecida com a saída em 220 V
“acorda” toda manhã com a primeira claridade. O
monofásica. Estes inversores são conectados
tempo de religamento é definido pela
entre fase e neutro ou entre fase e fase,
concessionária local e publicada na norma dela e
dependendo da tensão da rede local. Há poucos
varia de 30 a 300 segundos.
produtos com saída em 127 V.
Somente inversores com bateria conseguem
Verifique com os fabricantes quais inversores se
trabalhar de forma ilhada – veja capítulo a seguir.
adaptam a redes menos comuns no Brasil, com
tensão em 115 V, 120 V, 208 V, 230 V e 254 V.
3.4. A Eficiência do inversor
Os inversores maiores apresentam saída trifásica
com tensões variadas. Detalharemos este
assunto no capítulo sobre a conexão elétrica.

3.3. A Proteção de Anti-Ilhamento

Figura 3: Curva de eficiência de um inversor no software PV*SOL

A eficiência do inversor é a relação entre a


energia injetada na saída e a energia recebida na
Figura 4: Comportamento do inversor sob variações da entrada. Ela depende das condições elétricas a
frequência da rede. Fonte: NBR 16149 cada instante (veja fig. 4).
Inversores conectados à rede não devem Além da eficiência máxima, a ficha técnica do
trabalhar de forma ilhada, por duas razões: inversor apresenta a “eficiência europeia”, um
1. Eles fornecem a cada instante a potência valor ponderado sobre a eficiência em diferentes
recebida, que oscila em decorrência das faixas da potência do inversor que serve para
condições climáticas (ex. passagem de comparar diferentes produtos.

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M ANUAL DE ENERGIA SOLAR
4 – O INVERSOR FOTOVOLTAICO

A eficiência efetiva pode ser estipulada usando 5. Monitoramento


programas que simulam o sistema fotovoltaico ao
longo de um ano típico, em passos de hora ou de
minuto, como PV*SOL ou PVSyst.

4. Onde Instalar o Inversor

Figura 5: Geração diária de um inversor (barras coloridas) comparadas


com a meta calculado pela irradiância (triângulo) no sistema Solarize
Os inversores atuais permitem acompanhar seu
funcionamento pela internet. O proprietário
deseja verificar a energia gerada ou mostrar a
Figura 6: Distâncias mínimas para refrigeração, conforme amigos sua nova aquisição. Além disso, ele
manual de instalação da PHB
precisa saber de defeitos muito antes de receber
Inversores aquecem internamente e dissipam o uma alta conta de energia.
calor por convecção natural ou usando coolers
Já para o instalador, o monitoramento serve para
internos. Por facilitar isso, deve-se escolher um
averiguar se o sistema realmente está
local de instalação arejado, sem poeira e sem
funcionando de forma satisfatória. Ele ainda pode
incidência do sol. O manual de instalação de cada
detectar defeitos, planejar uma manutenção ou
fabricante informa sobre distâncias mínimas ao
antecipar problemas remotamente e sem
redor do inversor (fig. 5).
depender de uma irradiação forte durante uma
Muitos inversores permitem até instalação ao eventual visita à instalação.
tempo, já que contam com um grau de proteção
O instalador usa os dados acumulados durante o
IP 65 ou superior, mas não é recomendado.
mês junto com a conta de energia para explicar
O inversor é acessado somente em casos de ao cliente os fluxos da energia: este precisa
manutenção, e ele deve estar fora do alcance de aprender que a energia que é consumida na hora
crianças, especialmente quando há fios expostos. da geração não aparece na conta de energia,
No entanto, a norma da Aneel exige um fácil porque não passa pelo medidor (autoconsumo).
acesso para o comissionamento pelo técnico da
Geralmente, os inversores enviam informações
concessionária.
sobre a potência atual e sobre a energia
Faclitar o cabeamento c.c. e c.a. também é acumulada ao longo do dia, mês e ano ao site do
importante, já que o comprimento do fio fabricante do equipamento. O acesso se dá via
determina a bitola dele. Para monitoramento é aplicativo, resumido e mais bonito, ou via site,
importante verificar o acesso à internet, por cabo com mais detalhes. Muitos sites ainda enviam
ou Wifi. avisos por e-mail quando o sistema está fora do
Quem julga sobre a estética é o proprietário que ar ou apresenta defeitos.
deseja ver fotos para poder imaginar como o No entanto, não é simples verificar se um sistema
equipamento se insere no local. está realmente funcionando bem. Afinal de
contas, ele depende das condições climáticas que
oscilam. Estratégias compreendem a comparação

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M ANUAL DE ENERGIA SOLAR
4 – O INVERSOR FOTOVOLTAICO

entre inversores da mesma instalação, entre A segunda opção atende a um nicho de mercado
diferentes sistemas na mesma região (cuidado crescente, já que segurança energética apresenta
com microclima!), ou com sensores de um valor alto para empresas e um conforto
irradiância. importante para residências. Os projetos
misturam cálculos de sistemas autônomos (“off-
grid”) e sistemas conectados à rede e requerem
6. Inversores Híbridos com uma intervenção na instalação elétrica do cliente
Baterias para criar uma rede emergencial. Em caso de
Inversores com baterias carregam e descarregam ilhamento, o sistema precisa garantir a
baterias em paralelo à injeção na rede ou à desconexão do gerador da rede.
alimentação de cargas. Eles podem servir a dois O tema excede o conteúdo previsto para os
propósitos: capítulos desta série.
1. Gerenciar energia: parte da energia
gerada ao longo do dia é injetada no 7. Próximo Capítulo
horário da ponta. Este modelo é
interessante quando a tarifa da ponta é O próximo capítulo será dedicado ao cálculo da
muito superior à fora da ponta, ou conexão entre módulos e inversor para
quando a legislação restringe a energia determinar o layout elétrico do arranjo
injetada. fotovoltaico.
2. Nobreak solar: as baterias servem para
alimentar cargas no caso de falhas na Acesse o manual completo aqui – é grátis!
rede.
As condições no Brasil ainda não viabilizam a
primeira opção – há expectativas que isso seja
alcançado ao longo dos próximos anos, quando a
frota de veículos elétricos levar à redução do
preço das baterias.

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MANUAL DE ENERGIA SOLAR
5 – CONFIGURAÇÃO DO ARRANJO FOTOVOLTAICO COM O INVERSOR

módulos e do inversor forem compatíveis, na


1. Introdução conexão série-paralelo escolhida.
Nos capítulos anteriores do manual de energia Como a tensão do módulo depende da
solar abordamos características de sistemas temperatura das células devemos levar ainda em
fotovoltaicos conectados à rede (SFCR) e o passo- consideração o local da instalação com suas
a-passo na elaboração de um projeto solar. condições climáticas, e a ventilação dos módulos
Depois conhecemos os módulos fotovoltaicos e o na condição em que serão instalados (paralelo ao
inversor, componentes principais do nosso telhado ou em fileiras elevadas).
sistema.
Chegou a hora de compreender como se
3. Temperaturas no Local da
configura um arranjo fotovoltaico com Instalação
determinados módulos e o inversor escolhido e
definir, chegando à conexão série-paralelo dos
módulos.
Uma planilha que efetua os cálculos
apresentados neste capítulo está disponível na
mesma página do manual.

2. Visão Geral

Figura 1: Curva característica V-P em diferentes temperaturas, gerada


no software PV*SOL

Aprendemos no capítulo 3 que a tensão


produzida pelo módulo é fortemente afetada
pela temperatura, com comportamento inverso:
quanto maior o calor do módulo, menor é a
Figura 2: O arranjo fotovoltaico é uma conexão série- tensão de saída.
paralela de módulos que precisa combinar com as
características do inversor • A faixa de temperatura do módulo em
operação determina a faixa de tensão na
Costumo chamar a configuração entre módulos e saída do módulo VPMP. A temperatura
inversor de “casamento”, já que ela deve máxima do módulo Tcélula,máx determina a
funcionar por muitos anos, em dias de sol e de menor tensão de saída do módulo em
chuva, e em horas de calor e de frio. operação VPMP,mín. A literatura
recomenda usar um valor 30°C a 40°C
O casamento vai funcionar, se os parâmetros acima da máxima ambiental do local,
elétricos de tensão, corrente e potência dos
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5 – CONFIGURAÇÃO DO ARRANJO FOTOVOLTAICO COM O INVERSOR

dependendo da ventilação dos módulos e condições STC, sob 25°C (veja capítulo 3). A
da ocorrência de vento no local. seguinte fórmula aplica o coeficiente da variação
• A temperatura mínima da célula em da tensão e a diferença da temperatura:
operação Tcélula,mín determina a tensão
VPMP,máx. É a temperatura que o módulo Os valores derivados são:
alcança com um pouco de irradiação.
• Tensão máxima e circuito aberto
• A terceira condição climática a ser
Vmód,OC,máx
considerada é a temperatura mínima do
• Tensão mínima e máxima em operação
local da instalação Tambiente,mín. Ela causa
Vmód,PMP,mín e Vmód,MP,máx (obs.: usando a
a tensão máxima que o módulo produz,
fórmula chegamos a um valor
VOC,máx.
aproximado para Vmód,PMP, já que o valor
O INPE oferece a busca por dados climáticos, mas exato pode ser determinado somente
geralmente prevalece o bom senso e a com um software de simulação).
experiência na definição do trio das
temperaturas. A tabela 1 lista valores que podem 5. Dados Características do
servir como referência.
Inversor
Tabela 1: Valores referenciais para a escolha das temperaturas
características Na ficha técnica do inversor escolhido buscamos
os seguintes dados:
Fonte Tcélula,máx Tcélula,mín Tambiente,mín
Alemanha 70°C 15°C -10°C
• Potência nominal Pinv,nom;
• Potência máxima Pinv,máx;
Sistema Solarize 75°C 25°C +10°C • Corrente máxima Iinv,máx;
(Rio de Janeiro – RJ)
• Tensão máxima Vinv,máx;
• Faixa de tensão de operação Vinv,PMP,mín e
Vinv,PMP,máx.
A variação da corrente com a temperatura é
O objetivo é calcular a combinação entre os
desprezível e não costuma ser levada em
módulos e o inversor, portanto devemos buscar
consideração.
os valores da entrada do inversor, em c.c.. No
entanto, a potência nominal pode ser informada
4. Dados Características do na seção c.c. ou c.a., dependendo do fabricante.
Módulo
Para efetuar o cálculo, buscamos os seguintes 6. O Cálculo do Arranjo
dados na ficha técnica do módulo: Fotovoltaico
• Potência nominal Pmód,nom;
• Corrente de curto circuito Imód,SC;
• Tensão PMP nominal Vmód,PMP;
• Tensão em circuito aberto Vmód,OC;
• Coeficiente da variação da tensão com a
temperatura CoefV, comumente
informado em % / °C ou % / K
(observação: 1 K = 1 °C).
Em seguida calculamos as tensões derivadas das Figura 3: O layout do arranjo fotovoltaico é determinado respeitando os
temperaturas no local da instalação. As tensões limites do inversor
informadas na ficha técnica foram medidas nas Depois de colher as informações básicas
podemos agora mapear as características
elétricas dos módulos com as do inversor

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5 – CONFIGURAÇÃO DO ARRANJO FOTOVOLTAICO COM O INVERSOR

escolhido. Objetivo é definir o arranjo Esta condição é calculada independentemente


fotovoltaico, que é a associação de n séries de (A), mas como resultado deve valer o menor
fotovoltaicas (usamos a seguir o nome inglês, número dos dois, ainda arredondado para baixo.
string) em paralelo, cada com m módulos
(C) Número mínimo de módulos por string,
conectados em série (figura 3). pela tensão de operação
Importante: O arranjo precisa ser O inversor exige um número mínimo de módulos
homogêneo, usando somente um modelo para trabalhar, que é calculado dividindo a tensão
de módulo e o mesmo número de módulos mínima do inversor pela tensão mínima do
em todos os strings. Casos onde isto não é módulo, ambos em condição de operação:
possível serão analisados no próximo
capítulo, que tratará também de
sombreamento parcial.

Pelas leis ôhmicas, a tensão resultante de cada


string é o produto do número de módulos m com O número resultante deve ser arredondado para
a tensão de cada módulo. A corrente resultante cima.
do arranjo é o produto do número de strings n
(D) Número máximo de strings
com a corrente de cada string.
O número máximo de strings conectados em
O mapeamento é feito por condições paralelo é calculada dividindo a corrente máxima
independentes que, depois, são reunidas. de entrada do inversor pela corrente gerada
pelos módulos em condições padrão:

(A) Número máximo de módulos por string,


pela tensão máxima do inversor
A primeira condição calcula o número máximo de
módulos m por string que podemos conectar em
série, respeitando a limitação do inversor.
(E) Potência máxima
O número máximo de módulos por string mmáx é O fabricante indica a potência máxima do arranjo
igual à tensão máxima da entrada do inversor fotovoltaico na ficha técnica, que determina
Vinv,máx, dividida pela tensão máxima do módulo número máximo total de módulos que devem ser
em circuito aberto Vmod,OC,máx. conectados:

A potência máxima é correlacionada ao fator de


(B) Número máximo de módulos por string,
dimensionamento, que discutiremos em seguida,
pela tensão de operação
e não representa uma restrição crítica.
A segunda condição calcula, quantos módulos
podemos conectar em série, considerando agora
o limite de tensão de operação do inversor:

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5 – CONFIGURAÇÃO DO ARRANJO FOTOVOLTAICO COM O INVERSOR

(F) Fator de dimensionamento


7. Verificação de Alternativas
O fator de dimensionamento expressa a relação
da potência entre o arranjo fotovoltaico e o Depois de calcular as condições, podemos
inversor e costuma ser informado em porcento. verificar alternativas do layout elétrico. Vamos
usar um exemplo resumido para compreender
este procedimento:
• Pretendemos montar um sistema de 12
kWp, usando 40 módulos de 300 Wp de
É comum superdimensionar o arranjo, já que a um determinado modelo;
potência nominal dos módulos raramente é • Um inversor de 10 kW seria adequado,
alcançada em clima tropical. levando em consideração um FDI de
120%;
Um FDI entre 100% e 120% é considerado • Usamos as fichas técnicas do módulo e do
conservador. Um FDI mais alto traz a vantagem inversor para levantar os dados listados
de reduzir o investimento, mas acarreta um corte acima e calcular das condições listadas
de produção em horas de alta irradiância. acima;
• Com 40 módulos temos as seguintes
alternativas de layout: 5 strings de 8
módulos, 4 strings de 10 módulos ou 2
strings de 20 módulos;
• Testamos as alternativas contra as
condições apresentadas no capítulo
anterior para determinar quais delas são
permitidas.
• Em termos elétricos, é favorável
aumentar o número de módulos por
string para manter a corrente baixa. No
Figura 4: Comparação entre um sistema com FDI de 119% (linha entanto pode haver outros critérios da
amarela) com um de 158% (linha azul), simulado no software PV*SOL execução que nos levam a priorizar uma
alternativa diferente.
A figura 4 mostra este efeito: o sistema com FDI
Se nenhuma das alternativas for viável, então é
de 158% (linha azul) perde energia quando a
necessário mudar a escolha do equipamento e
potência máxima do inversor é alcançada. Já o
refazer o cálculo. Isso ocorre com certa
sistema com FDI de 119% raramente alcança a
frequência com inversores que apresentam uma
potência máxima.
faixa estreita de tensão.
Outra desvantagem de um alto FDI é o
Se um determinado inversor, por exemplo,
aquecimento da eletrônica de potência que pode
permitir somente 19 ou 20 módulos por string,
reduzir a longevidade do inversor. Recomenda-se
então o número total de módulos deve ser
consultar o fabricante para assegurar as
divisível por 19 ou 20, e a área de montagem deve
condições de garantia.
permitir a fixação deste número de módulos.
Um FDI abaixo de 100% é aceitável quando não
se encontra um inversor menor com potência
adequada, algo frequente em sistemas muito
pequenos.

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5 – CONFIGURAÇÃO DO ARRANJO FOTOVOLTAICO COM O INVERSOR

A planilha está com os campos todos abertos para


8. Uso da Planilha
que você possa verificar e, se for necessário,
modificar as fórmulas.

9. Outros tipos de inversores


Apresentamos o cálculo para a tipologia chamada
de “inversor string”, com apenas uma entrada.
Há outras opções, cuja discussão detalhada
extrapola o espaço do capítulo:
• Inversores múlti-MPPT oferecem mais
do que uma entrada, cada uma com seu
Figura 5: A planilha de configuração seguidor de ponto de máxima potência
SPMP (inglês MPPT). Neste caso, o
Disponibilizamos no nosso site uma planilha
cálculo deve ser repetido para cada
(figura 5, acesse aqui) que efetua os cálculos entrada separadamente, cujas
apresentados neste capítulo e que contém um características podem ser diferentes. O
exemplo completo. A planilha serve para fator de dimensionamento deve ser
configurar projetos reais, ela não é meramente avaliado para cada entrada, e também
didática. para inversor como um todo;
• A configuração de Microinversores, que
Ela deve ser preenchida na seguinte sequência: atendem de um a quatro módulos, usa
os mesmo cálculos apresentados acima;
1. Local da instalação;
• Para sistemas com otimizadores de
2. Dados do módulo: preencha os campos
em azul. Os campos em cinza apresentam potência é necessário efetuar o cálculo
para cada otimizador separadamente.
resultados intermediários e os em verde,
Além disso, há regras para o número de
resultados finais;
3. Dados do inversor: procure os dados na otimizadores que podem ser conectados
ficha técnica; a cada entrada do inversor. Consulte a
documentação do fabricante.
4. Após preencher os dados acima, o
quadro “Cálculo” já apresenta as
condições de mapeamento, com 10. Próximo Capítulo
números mínimos e máximos de módulos
No presente capítulo tratamos de arranjos
e strings;
5. Fator de dimensionamento: informe fotovoltaicos homogêneos. A realidade, no
aqui o limite inferior e superior da faixa entanto, nos desafia com telhados complexos de
tolerada e da faixa ideal; várias águas e com objetos que causam
6. Verificação de alternativas: preenche os sombreamento, atrapalhando a geração de
campos “Nº de strings” e “Nº módulos energia. Estes desafios serão o tema do próximo
por string” e observe o campo
capítulo.
“Verificação” à direita, que testa a
alternativa contra as condições no Acesse o manual completo aqui – é grátis!
quadro “Cálculo”

O autor, Hans Rauschmayer, é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos


Profissionais Ltda, onde montou a abrangente grade de capacitação.
Reconhecido especialista em energia solar, ele já foi convidado para ensinar e
palestrar em universidades, instituições, congressos nacionais e internacionais e
vários programas de TV. Entre em contato pelo site www.solarize.com.br.

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MANUAL DE ENERGIA SOLAR
6 – SOMBREAMENTO E OUTRAS F ORMAS DE DESCASAMENTO

1. Introdução 3. O Efeito Elétrico do


Conhecemos, nos capítulos anteriores do manual Descasamento
de energia solar, o projeto de um sistema solar
como um todo e os principais componentes,
módulos e inversores, e aprendemos como
configurá-los conforme suas características
elétricas.
No presente capítulo abordaremos como tratar
as dificuldades que a realidade nos impõe:
sombreamento parcial de módulos ou outras
formas de descasamento que impedem o Figura 2: Curvas características geradas no software PV*SOL para a
perfeito aproveitamento da radiação solar. situação da figura 1, com sombreamento

Frequentemente se escuta que um módulo


2. Visão Geral sombreado inibe a série inteira de módulos
(string) de gerar energia, em analogia ao caso de
um rádio com pilhas, das quais uma está
esgotada. Essa comparação é simplista demais –
no nosso caso precisamos analisar a curva
característica do string.
Vamos aproveitar o exemplo da figura 1. Do string
que ocupa a metade da esquerda do telhado,
quatro módulos recebem pleno sol e os outros
Figura 1: Exemplo de sistema solar com sombreamento pela têm algum sombreamento (o software informa
árvore numa manhã de inverno, modelado no software PV*SOL valores entre 2% e 85%).
premium
A figura 2 retrata a curva característica do string
Descasamento (o termo em inglês “mismatch” é
no exato instante daquela imagem.
mais usado na prática) ocorre quando as
características elétricas de módulos • A curva azul (corrente versus tensão)
interconectados não são iguais. Possíveis causas evidencia que apenas parte dos módulos
são consegue gerar a corrente total de aprox.
2,7 A, enquanto o restante é limitado a
• Defeitos técnicos; uma corrente de 0,8 A;
• Diferentes modelos; • A curva preta (potência versus tensão)
• Insolação diferente devido a apresenta dois máximos locais, um com
sombreamento parcial (veja figura 1) ou um pouco mais de 500 W e o outro pouco
instalação em planos divergentes acima de 300 W.
(consulte capítulo 3).
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6 – SOMBREAMENTO E OUTRAS FORMAS DE DESCASAMENTO

Se o inversor conectado ao string encontrar o


1. Sombreamento
ponto PMP1, então ele vai fornecer 500 W.
Vamos analisar o grande vilão, o sombreamento,
Dependendo das condições, ele pode encontrar
começando pelo percurso do sol.
somente PMP2 e permanecer na geração de 300
W. Ambos pontos não aproveitam a potência dos
módulos por completo (veremos alternativas 1.1. Geometria solar
mais adiante).

Figura 2: O percurso solar nas estações do ano.


Fonte: pacearquitetura.ning.com

A figura 4 mostra o percurso do sol para a latitude


Figura 1: Curvas características sem sombreamento do Rio de Janeiro:
Já a figura 3 mostra a curva característica duas • Durante o inverno, o sol nasce no
horas depois, quando todos os módulos se Nordeste, passa pelo Norte, e se põe no
encontram sob pleno sol. As duas curvas são Noroeste;
uniformes com somente um ponto de máxima • No verão, o percurso começa no Sudeste
potência, com mais de 2000 W. e termina no Sudoeste. O ápice chega ao
zênite no solstício do verão (dia 21 de
dezembro);
4. Diodos de Desvio • Ao longo do ano, o sol faz um percurso
O descasamento não somente causa perdas, ele entre os dois apresentados na figura.
também pode danificar módulos, devido à Em latitudes menores (locais mais próximos ao
conexão em série das células: quando todas as equador), a altura do sol no inverno é maior e o
células recebem a mesma radiação, elas sol do verão passa mais ao sul. Já em latitudes
produzem a mesma corrente. No momento em maiores, o sol do meio-dia fica mais baixo e mais
que uma célula é sombreada, ela deixa de ao norte, com uma variação maior entre nascer e
produzir e vira resistência por onde passa a pôr do sol.
corrente gerada pelas outras células.
Em consequência a célula aquece (efeito hot 1.2. Sombra Distante
spot). Sem proteção, este aquecimento poderia
até derreter a célula. Por isso, os módulos contam
com diodos de desvio (by-pass), que conduzem a
corrente reversa, tirando as células inoperantes
do circuito.
Normalmente, há três diodos de desvio por
módulo, cada um protegendo duas fileiras do Figura 3: Sombreamento pelo horizonte no diagrama e na
módulo. modelagem 3D no software PV*SOL premium

Objetos distantes da nossa planta solar afetam


todos os módulos da mesma forma, num efeito

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6 – SOMBREAMENTO E OUTRAS FORMAS DE DESCASAMENTO

liga/desliga. Eles são modelados como horizonte retrata apenas certos instantes. O cálculo do
(figura 5). percentual das horas com sombra ao longo do
ano (figura 7) é uma informação mais rica e ajuda
Um meio simples para analisar o horizonte é o
ao projetista tomar decisões sobre a colocação
aplicativo Sun Surveyor para smartfones que
dos módulos:
projeta a curva solar na imagem captada pela
câmera. Publicamos um manual de uso do • Neste exemplo, percebemos um alto
aplicativo no site. percentual próximo à antena, indicando
que deveríamos afastar os módulos dela
(ou então remover a antena para outro
1.3. Sombreamento próximo lugar).
• Pela sombra da árvore há outros valores
elevados. Estes seriam os primeiros
módulos a serem retirados se uma
potência reduzida fosse suficiente para o
cliente.

2. Como Otimizar um Sistema


com Descasamento
Figura 4: Sombreamento pela antena parabólica O projetista deve reduzir as perdas por
descasamento, pela seleção do módulo
Objetos próximos ao nosso arranjo fotovoltaico
apropriado, a melhor instalação física dos
causam sombra que afeta parte dos módulos e se
módulos, a devida escolha da tecnologia do
“movimenta” pelos módulos conforme percurso
inversor e a adequada interligação do arranjo.
solar diário e anual:
• A sombra visível na figura 1 ocorre no dia
21/06 às 9hs. Durante o verão, a casa
2.1. Inversor String ou Multi-MPPT
O inversor string recebe a energia de uma grande
deste exemplo fica fora da sombra da
árvore; quantidade de módulos em cada entrada dele
• Em contrapartida ocorre sombreamento (chamado de SPMP ou MPPT, veja capítulos 4 e 5)
pela antena parabólica durante os meses e exige mais homogeneidade no subarranjo que é
do verão (figura 6). conectado a uma entrada: Use o mesmo modelo
de módulos, todos com a mesma orientação
1.4. Análise da Situação geográfica e com a mesma inclinação.
No entanto é possível dividir o arranjo e conectar
partes com características diferentes em
entradas separadas. No nosso exemplo é
recomendável escolher um inversor com duas
entradas, no mínimo, e separar os módulos do
lado esquerdo, sombreados pela árvore, dos da
direita, sombreados pela antena.
Voltando à figura 2, da curva característica, é
Figura 5: Frequência de sombreamento ao longo do ano importante evitar que o inversor permaneça no
(visualização PV*SOL premium)
Ponto de Máxima Potência inferior PMP2.
A visualização da sombra (figuras 1 e 6) ajuda a
compreender causas do sombreamento, mas

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6 – SOMBREAMENTO E OUTRAS FORMAS DE DESCASAMENTO

Além disso, é deve-se escolher um inversor com 2.3. Inversores com Otimizadores
otimização de sombreamento. Esta função
de Potência
percorre a curva característica (figura 2) de
tempos em tempos com objetivo de identificar o
maior ponto PMP existente (ex. Fronius Dynamic
Peak Manager).

2.2. Micro Inversores

Figura 7: Diagrama do inversor com otimizadores

O inversor fotovoltaico comporta duas funções


que podem ser separadas: o Seguidor do Ponto
de Máxima Potência (SPMP, inglês Maximum
Figura 6: Monitoramento de sistema com micro inversores APS Power Point Tracker MPPT).
A figura 8 mostra o monitoramento de uma No conceito do inversor com otimizadores de
instalação com micro inversores, com a foto real potência (figura 9), o componente que une o
à direita. Os números no gráfico à esquerda, e as SPMP e um conversor c.c. / c.c é instalado por
barras cor laranja representam a energia gerada baixo dos módulos. Já o inversor propriamente
naquele instante (de manhã cedo – a foto foi dito se limita à conversão de c.c. para c.a.
tirada em outro momento).
Este conceito traz as mesmas vantagens do micro
É visível que os módulos da fileira inferior sofrem inversor em termos de melhor aproveitamento
com o sombreamento pela platibanda, energético de cada módulo e monitoramento. Ele
especialmente os centrais, onde a platibanda é ganha ainda nos quesitos de manutenção, por
mais alta (o monitoramento retrata um momento concentrar o inversor num aparelho instalado em
de manhã, diferente da hora quando a foto foi local abrigado, e na escalabilidade.
tirada).
Neste caso, os micro inversores foram vantajosos 3. Próximo Capítulo
também por causa do espaço disponível no O próximo capítulo abordará a instalação elétrica.
telhado: couberam módulos menores na fila Vale reforçar que os capítulos não substituem um
inferior, e maiores, na superior. Outros dois curso de capacitação profissional e literatura
módulos foram instalados na água oposta, não aprofundada, por causa da restrição neste
visíveis na foto. espaço.
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7 – O PROJETO ELÉTRICO

Figura 1: Diagrama exemplar de um projeto fotovoltaico conectado à rede.

1. Introdução 2. Conexão entre Gerador e


Nos capítulos anteriores do manual de energia Inversor
solar aprendemos como o projeto de um sistema A figura 1 apresenta o exemplo de um projeto de
solar conectado à rede é elaborado, e como são sistema fotovoltaico conectado à rede (SFCR).
configurados os principais componentes, Este diagrama serve como guia para o presente
módulos e inversores. capítulo.
O presente capítulo trata do projeto elétrico, Iniciaremos a descrição com o lado da corrente
dividido em duas partes: o lado da corrente contínua, entre os módulos e o inversor,
contínua, entre módulos e inversores, e o lado da lembrando que as características dos módulos e a
corrente alternada, na conexão do inversor à configuração dos módulos em séries fotovoltaicas
rede predial e da concessionária. (usaremos em seguida o termo inglês string) já
Em função da profundidade do tema e do espaço foram abordadas em capítulos anteriores.
restrito aqui, recomendamos ao leitor
A norma que regulamenta o projeto ainda está
acrescentar estudos de normas e literatura e
capacitar-se num curso profissional para em elaboração: ABNT NBR 16690 – Instalações
complementar o conhecimento. Elétricas de Arranjos Fotovoltaicas.
Na ausência de outra, utilizamos a versão
distribuída para consulta pública em julho de
2019 como base da seguinte descrição e a
disponibilizamos na página do manual de energia
solar.

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7 – O PROJETO ELÉTRICO

Figura 2: Conectores fotovoltaicos tipo MC4, com crimpagem


(acima) ou sem crimpagem (abaixo, marca Weidmüller PV-Stick)
Figura 3: Cabeamento do string sem laço para redução de
indução de surtos
2.1. Conectores Fotovoltaicos
arranjo paralelamente aos fios dos módulos (na
Módulos para sistemas conectados à rede já são
figura, é o fio negativo).
equipados com conectores específicos para este
fim. O modelo mais comum é chamado de MC4 Observe que o cabo do string está energizado
(figura 2). sempre que há incidência de luz nos módulos.
Este fato implica em cuidados especiais durante a
Os conectores foram projetados para conduzir a
instalação e manutenção que serão abordados
corrente durante muitos anos nas condições
num capítulo mais à frente.
encontradas embaixo dos módulos (calor e
chuva).
2.3. Fusíveis
Eles são polarizados e evitam acidente com curto
circuito durante a instalação. Invista em alta Os fusíveis protegem os módulos do string, ao
qualidade! qual estão conectados, contra uma possível
corrente reversa gerada pelos strings conectados
em paralelo. Esta situação pode ocorrer no caso
2.2. Cabo do String de um curto circuito entre o polo positivo e o
A figura 3 mostra a ligação de um string: os negativo em algum ponto deste string. A
módulos são interconectados em série, usando consequência seria o aquecimento e potencial
diretamente os próprios conectores pré- derretimento das células que recebem a corrente
montados nos cabos dos módulos (repesentado reversa.
pelas caixinhas verdes na figura; a norma
Os fusíveis devem ser específicos para sistemas
proposta exige que os conectores interligados
fotovoltaicos, tipo gPV conforme norma IEC
sejam do mesmo fabricante).
60269-6. A corrente nominal é indicada pelo
Dois fios distintos levam o polo negativo e o fabricante do módulo – usar fusíveis com
positivo à caixa de junção – eles formam o cabo amperagem inferior não é recomendado, porque
do string. Por serem expostos a intempéries e causa perdas em momentos de alta irradiância!
altas temperaturas, estes fios devem atender à
norma ABNT NBR 16612:2017 (Cabos de potência
para instalações fotovoltaicas).
É importante evitar laços na fiação que possam
aumentar a tensão induzida por uma descarga
atmosférica próxima ao sistema. Por isso, o fio
conectado ao último módulo percorre todo o

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7 – O PROJETO ELÉTRICO

Geralmente, fusíveis são necessários em arranjos string, melhor será a proteção – o mercado
com três ou mais strings em paralelo. Para oferece tensões de 600 V, 1000 V e 1500 V).
entender isso, vamos ver um exemplo ilustrativo,
usando valores comuns de módulos de 60 células. 2.5. Dispositivo Interruptor-
Considere a seguinte situação: Seccionador
• Corrente de curto circuito do módulo, O dispositivo interruptor-seccionador deve ser
conforme ficha técnica do módulo Imód,SC = 9 A; capaz de abrir o circuito sob plena carga na
• Corrente reversa máxima do módulo máxima corrente de falta (manobra de
Imód reversa max = 15 A; interrupção) e manter o circuito aberto de forma
• Três strings conectados em paralelo; segura (seccionamento).

• No caso de curto circuito em um dos strings, a Ele precisa ser aprovado pelo fabricante para
corrente gerada nos outros dois strings é igual operar em corrente contínua – jamais use
a I = 2 x 9 A = 18 A. Esta corrente é superior à componentes de corrente alternada! Verifique
corrente reversa permitida de 15 A, o que especificações adicionais na proposta da norma
indica a necessidade dos fusíveis. NBR 16690.
Diodos de bloqueio e disjuntores, que poderiam
ser meios alternativos de proteção, não se 2.6. Cabo do Arranjo Fotovoltaico
mostraram confiáveis na prática.

2.4. Dispositivo de Proteção contra


Surtos (DPS) Figura 3: Opções de isolamento para o cabo em corrente
contínua (proposta NBR 16690)

O cabo do arranjo fotovoltaico interliga a caixa de


junção ao inversor. Por ser abrigado, ele não
precisa ser um cabo fotovoltaico. No entanto, a
proposta da norma 16690 exige duplo isolamento
para cada polo (figura 5).
A boa prática recomenda que a bitola dos fios em
corrente contínua nunca seja inferior à dos
módulos (usualmente cobre de 4 mm²) e que ela
Figura 2: DPS fotovoltaico da marca DEHN
seja calculada para que a perda de potência seja
inferior à 1% da potência nominal, tanto do lado
O dispositivo de proteção contra surtos (DPS)
c.c. quanto do lado c.a.
protege o inversor contra surtos ou descargas
atmosféricas provindo do circuito fotovoltaico e Na página do manual de energia solar
evita que estes surtos sejam propagados à disponibilizamos uma planilha que calcula a bitola
instalação predial por indução. e a perda associada.

O DPS deve ser do tipo fotovoltaico conforme


norma EN 50539-11 (exemplo na figura 4).
A tensão nominal do DPS deve ser superior à
tensão máxima do string em circuito aberto
(Vmód,OC,máx, veja capítulo 5). Quanto menor a
diferença entre a tensão nominal do DPS e a do

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7 – O PROJETO ELÉTRICO

2.7. Caixa de Junção e Localização 3. Conexão do Inversor à Rede


dos Componentes Predial
Lembrando que o diagrama da figura 1 é A conexão do inversor à rede predial, a princípio,
exemplar, cabe ao projetista avaliar variantes apresenta poucos detalhes que diferem de uma
dele e especificar o local da instalação de cada instalação comum. No entanto, ela representa
componente: uma modificação do projeto original do local da
• A caixa de junção (normalmente se usa o instalação e requer uma reconsideração das
termo inglês stringbox), normalmente, é premissas consideradas durante a elaboração
instalada do lado do inversor, o que daquele projeto.
facilita a verificação e manutenção;
Isto vale especialmente para locais de afluência
• Outra possibilidade é instalar o stringbox
de público (NBR 13570) ou com ambiente
próximo aos módulos. Vantagem é a
unificação dos cabos dos strings e uma classificado. O projeto de energia solar deve ser
melhor proteção da rede predial contra elaborado seguindo todos os conceitos da
surtos; engenharia.
• Em certos casos é necessário duplicar o Seguimos com a descrição dos elementos
stringbox com parte dos componentes; apresentados na figura 1, agora do lado da
• Em instalações com exigências elevadas corrente alternada.
de segurança pode ser necessário inserir
um dispositivo que desenergize o cabo do
arranjo em casos de emergência 3.1. Caixa de Proteção
(seccionamento remoto ou redução
A caixa de proteção contém um disjuntor,
automática da tensão por otimizadores
de potência); dimensionado de acordo com a corrente máxima
de saída do inversor, e um DPS que protege o
Alguns inversores são produzidos com
inversor contra surtos vindo da rede predial.
dispositivos embutidos, o que dispensa a
duplicação deles dentro do stringbox.
3.2. Quadro de Distribuição
2.8. Separação entre Corrente No quadro onde ocorre a conexão do inversor à
Contínua e Corrente Alternada rede predial é acrescentado um disjuntor que
desarma em casos de curto-circuito no inversor
As normas NBR 5410 e NBR 16690 exigem que
ou no cabo que leva a ele.
circuitos em corrente contínua e alternada
devem ser separados. A saída deste disjuntor é conectada ao
barramento do quadro, por onde ele descarrega
É ainda altamente recomendável sinalizar dutos e
a energia gerada, alimentando as outras cargas.
caixas de passagem de corrente contínua para
Em certos momentos, a geração pode superar o
evitar que algum técnico não capacitado os
consumo destas cargas e o fluxo de energia no
acesse e cause um acidente (veja sugestão na
quadro inteiro pode ser invertido e até chegar a
NBR 16690).
injetar energia na rede da concessionária, como
vimos no primeiro capítulo.

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7 – O PROJETO ELÉTRICO

Figura 4: Exemplos de conexão de inversores à rede e balanceamento das fases

3.3. Dispositivo de Proteção contra 3.6. Balanceamento das fases


Surtos (DPS) A maioria dos inversores pequenos (até 5 .. 6 kW)
O DPS do quadro geral protege toda a rede tem saída monofásica em 220 V, com conexão
predial contra surtos ou descargas atmosféricas entre fase e neutro ou entre duas fases,
entrando pela rede da concessionária e pode dependendo da rede local (veja exemplos na
tornar dispensável um DPS específico do inversor. figura 6). Não há necessidade de gerar energia em
todas as fases da rede predial.

3.4. Dispositivo Residual (DR) No caso da instalação com mais de um inversor,


faz-se um balanceamento das fases, observando
Os módulos fotovoltaicos apresentam um efeito
capacitivo que aparenta ser uma fuga de corrente os limites impostos pela concessionária. Os
inversores se ajustam automaticamente à
na amplitude de 10 mA por cada kWp de potência
sequência das fases.
instalada (norma IEC 62109-2).
Inversores de potência maior são trifásicos e
Dispositivos Residuais (DR) instalados para
precisam de um transformador, caso a tensão de
proteger pessoas em caso de choque elétrico
saída seja diferente da tensão da rede.
devem ter sensibilidade de 30 mA e podem
desarmar, caso instalado no circuito do sistema
solar, mesmo sem falha técnica. 3.7. Aterramento
O circuito do inversor, neste caso, deve ser O sistema solar necessita de um aterramento
conectado separadamente dos outros circuitos sólido. Ele serve como referência para o inversor,
protegidos por DR, e deve receber um DR com é conectado aos DPS e é usado para aterrar a
sensibilidade de 300 mA, que atua em casos de estrutura e as molduras dos módulos.
incêndio (IEC 62109-2). Em muitos locais é necessário reforçar o
aterramento presente. Ele deve ser interligado
3.5. Cabo em corrente alternada com o existente no barramento PEN. Somente em
esquemas TT é admitido ter-se aterramentos
O cabo em corrente alternada e os dutos devem
separados para alimentação e
ser dimensionados conforme NBR 5410. Boa
equipotencialização.
prática é prever uma perda de potência abaixo de
1% relativo à potência nominal.

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7 – O PROJETO ELÉTRICO

4. O Padrão de Entrada
O padrão de entrada é definido pela
concessionária local, que publica também uma
norma para conexão de sistemas de geração
distribuída à rede dela com base na
Regulamentação Normativa da Aneel 482/2012 e
na Seção 3.7 do Módulo 3 do PRODIST.
A concessionária não pode exigir uma atualização
do padrão de entrada por causa da solicitação de
conexão do sistema solar, a não ser que o padrão
existente esteja fora dos padrões da época da
conexão original da unidade ou que não seja
possível substituir o medidor atual pelo modelo Figura 5: Densidade de raios nas regiões do Brasil,
bidirecional. Este item merece avaliação comparado com a Alemanha

criteriosa, já que a atualização do padrão de um Sistema de Proteção contra Raios e Surtos


conexão pode ser custosa. (SPDA) e da distância mantida dele.
Na microgeração, a concessionária não pode A abordagem excede o espaço disponível aqui.
cobrar pela troca do medidor. Na minigeração, Acesse uma apresentação a respeito na página do
ela cobra o valor e pode ainda exigir diversos manual de energia solar.
estudos e proteções adicionais.

6. Previsão
5. Proteção contra Raios e Continuaremos a sequência de capítulos no
Surtos próximo mês com a descrição do suporte dos
Um estudo de uma seguradora alemã aponta que módulos, que serve para fixá-los à cobertura.
28% dos danos em plantas solares são causadas Acesse o manual completo com o material
por raios ou surtos. Considerando que a adicional aqui – é grátis!
incidência de raios no Brasil supera a da
Alemanha em grande parte do seu território
(figura 7), podemos constatar que o tema
extremamente relevante.
Nosso sistema deve ser protegido tanto por raios
e surtos entrando pelo arranjo fotovoltaico
quanto pela rede da concessionária. A
especificação depende da existência ou não de

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8 – FIXAÇÃO DOS MÓDULOS EM ESTRUTURAS DE BASE

fundamental que os módulos possam dissipar o


calor não somente pela frente, mas também por
trás.
Em consequência, os módulos nunca são
colocados diretamente sobre telhas, mas sempre
sobre uma estrutura que garanta a circulação do
ar por baixo dos módulos, diferente de coletores
para aquecimento solar.
Os princípios para escolher a correta base de
Figura 1: Montagem de sistema solar em laje fixação são os seguintes:
• Local da instalação: telhado inclinado,
laje, solo ou fachada;
1. Introdução • Forma da fixação, que o local permite;
• Resistência estrutural da cobertura onde
Abordamos nos capítulos anteriores do manual
os módulos serão instalados
de energia solar as questões elétricas do sistema
• Montagem fixa ou com seguidor do sol;
fotovoltaico. Agora entraremos em questões • Especificações do fabricante dos
mecânicas e estruturais: como fixar os módulos módulos.
em estruturas de base de forma segura e durável. Em seguida mostraremos várias tipologias.
A discussão evidencia o fato de que o projeto
fotovoltaico é multidisciplinar, requerendo
conhecimento de várias áreas. 3. Telhado inclinado
Vale ressaltar que o trabalho na cobertura é tão A instalação de módulos em telhados inclinados
importante quanto a instalação elétrica do ocorre paralela à cobertura. Procuramos a
projeto, porém exige muito mais do instalador melhor face em relação à irradiação e ao
por causa do desconforto de trabalhar sob o sol, sombreamento, respeitando preferências
estéticas e funcionais do telhado.
do perigo de trabalhar em altura, e por causa do
risco de infiltração com possíveis danos de alto A instalação paralela ao telhado é leve, simples de
prejuízo. Por isso é frequente ter nas equipes de executar e causa pouca carga de vento. Essas
instalação carpinteiros além de eletricistas. vantagens, junto à queda de preço dos módulos,
fazem com que, hoje em dia, não se corrija mais
a orientação ou inclinação da cobertura.
2. Estruturas de Base
As condições encontradas são simplesmente
Já aprendemos que as células fotovoltaicas avaliadas num software fotovoltaico. Caso
perdem eficiência com o aumento da necessário, aumenta-se a potência do gerador.
temperatura (veja terceiro capítulo). Por isso é

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8 – FIXAÇÃO DOS MÓDULOS EM ESTRUTURAS DE BASE

3.1. Telhado de barro 3.2. Telhado ondulado

Figura 3: Fixação com parafuso prisioneiro em telhado ondulado.


Fonte: Solar Group
Figura 2: Componentes da estrutura de base para telhado de
barro Em telhado ondulado usam-se parafusos
Em telhado de barro, a estrutura é fixada no prisioneiros que atravessam as telhas e que são
madeiramento do telhado (figura 2): fixados na estrutura do telhado (figura 3). Os
parafusos são oferecidos com diferentes tipos de
• Ganchos são fixados nos caibros, da roscas e pontas na parte inferior, para base de
forma que eles passem entre uma telha e
madeira e metal.
outra. Ajustes laterais e de altura
permitem a adequação da estrutura ao O comprimento dos parafusos varia também e
telhado; deve ser escolhido conforme a altura da
• Na parte superior do gancho entra o ondulação das telhas.
trilho. Aqui também há ajustes para
adequar a distância dos trilhos à Na parte superior da rosca é fixado um adaptador
especificação dos módulos (veja a fazendo a conexão com o trilho, que é o mesmo
seguir); da telha de barro. Aliás, o sistema de parafusos
• Os grampos seguram o módulo no trilho: pode ser aplicado também em telhados de barro.
o grampo terminal é usado no início e no
final de cada fileira, e o grampo
intermediário, entre os módulos.
3.3. Telhado metálico
O maior desafio na fixação em telhados de barro
é a falta de padronização: o formato das telhas
varia muito, o que dificulta não somente a
instalação, mas também a reposição de telhas
quebradas.
Os sistemas de montagem oferecidos no mercado
economizam tempo gasto e material empregado
e otimizam as ferramentas necessárias. O
material mais usado é alumínio para trilhos e
Figura 4: Base em telhado metálico trapezoidal, pronta para receber os
grampos, e aço inoxidável, para ganchos e
módulos. Fonte: TRITEC
parafusos. É recomendável procurar um
No caso de coberturas metálicas, a estrutura é
fabricante que ofereça consultoria para situações
fixada diretamente na telha, exigindo uma
difíceis.
espessura mínima do metal de 0,5 mm (verifique
Estruturas artesanais de material de qualidade no manual da estrutura!). Há opções com trilhos
inferior são menos eficientes e comprometem a inteiros ou então com peças pequenas de apoio,
durabilidade. como no exemplo da figura 4.

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8 – FIXAÇÃO DOS MÓDULOS EM ESTRUTURAS DE BASE

A baixa inclinação deste tipo de telhado


compromete a autolimpeza dos módulos e deve
ser considerada no plano de manutenção.

4. Laje

Figura 5:Índice de sombreamento em módulos num projeto em laje,


causado pela platibanda e pelas outras fileiras.
Cálculo no software PV*SOL.

Figura 6: Base para laje com dormentes de concreto como lastro. mesmo que a sombra causa perdas nos meses do
Fonte: Solar Group inverno.
A instalação em laje requer uma base elevada. É essencial usar um software que permita
Como não é aconselhável perfurar a laje, usa-se
experimentar de forma rápida alternativas,
lastro como ancoragem contra a força do vento
variando equipamento, conexão elétrica e
(figura 5).
configuração da montagem elevada (inclinação,
Até poucos anos atrás, a inclinação e a orientação orientação, altura, afastamento).
eram determinadas otimizando a geração de
energia por cada módulo. Este conceito mudou
na decorrência da redução do preço dos módulos. 4.2. Base Leste-Oeste
Hoje, a inclinação costuma variar entre 10° e 15°,
minimizando assim a carga de vento sem abrir
mão da autolimpeza.
Seguindo o mesmo princípio, atualmente as
fileiras são alinhadas com a laje, simplificando
projeto e instalação e aproveitando melhor o
espaço disponível.

4.1. Distância entre Fileiras


A distância entre as fileiras deve respeitar dois
Figura 7: A base Leste-Oeste aproveita melhor o espaço
quesitos:
Já bastante popular na Europa, a base Leste-
(1) A movimentação dos técnicos durante a Oeste começou a chegar ao Brasil. Ela aproveita
instalação e manutenção (mín. 50 cm). melhor o espaço disponível, por economizar um
(2) O aproveitamento energético: havendo corredor a cada duas fileiras. Outra vantagem é a
espaço sobressalente vamos distanciar mais as proteção melhor do cabeamento contra
fileiras e evitar o sombreamento entre elas (veja eventuais intervenções por pessoas não
figura 6 e capítulo 6). capacitadas.

Em espaços apertados e quando o objetivo do No nosso país, próximo ao equador, esta base
cliente for gerar o máximo de energia, então será pode ser instalada em qualquer orientação. Use o
necessário aumentar o número das fileiras, software para simular o rendimento anual.

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8 – FIXAÇÃO DOS MÓDULOS EM ESTRUTURAS DE BASE

Algumas bases, como a da figura 7, economizam várias desvantagens que comprometem a


material, mas devem ser homologadas pelo viabilidade:
fabricante do módulo.
• O formato das telhas dificilmente é o
Vale lembrar que os módulos de diferentes mesmo do telhado existente e demanda
orientações não devem ser conectados juntos, uma reconstrução;
como descrito no capítulo 6. • A reposição de telhas danificadas será
restrita ao mesmo modelo e depende da
existência do fornecedor;
• Cada telha representa, em termos
5. Estruturas em Solo elétricos, um módulo e é equipado com
dois conectores, aumentando assim os
riscos de má conexão;
• Mesmo com uma ventilação interna, as
telhas esquentam mais do que os
módulos comuns, causando perdas
adicionais. O calor ainda é transferido à
própria edificação, um efeito indesejado
no nosso país tropical;
• A manutenção e a simples limpeza das
telhas requer técnicos capacitados.

Figura 8: Planta fotovoltaica em solo


6.2. Estacionamento
Usinas fotovoltaicas de grande porte usam Para estacionamentos com cobertura
estruturas específicas que requerem estudos fotovoltaica e carports (vagas individuais)
geológicos e máquinas especiais. A maioria delas existem no mercado estruturas específicas com
vedação entre os módulos. Consulte os
usa mesas que seguem o percurso do sol ao longo
do dia (seguidor/tracker). fabricantes para obter mais informações.

Em usinas de pequeno porte, como trabalhadas


nesta série de capítulos, usam-se soluções mais 6.3. Fachadas
simples, normalmente bases fixas com fundação Fachadas podem receber módulos opacos,
de concreto. cobrindo muros, ou translúcidos, em substituição
Neste caso, o layout das mesas é adequado ao a vidros. Como a fachada recebe menos
layout elétrico, da forma que uma mesa irradiação do que a cobertura, fica difícil viabilizar
comporte strings inteiros. uma usina vertical somente pela energia gerada.

6. Outras Estruturas

6.1. Telhas fotovoltaicas


Telhas fotovoltaicas têm gerado grandes
expectativas por serem consideradas mais
bonitas do que módulos comuns, em função de
sua integração arquitetônica. No entanto, há

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8 – FIXAÇÃO DOS MÓDULOS EM ESTRUTURAS DE BASE

Figura 9: Princípios da disposição do arranjo no telhado


O cálculo da viabilidade é diferente em casos de permitida para fixação (fig. 10). Esta faixa precisa
construções novas ou em retrofit de prédios: o ser respeitada para assegurar a resistência física
custo adicional da função fotovoltaica, quando da instalação e para manter as condições de
comparado com uma fachada comum, pode garantia – é frequente observar erros em fotos
trazer um retorno financeiro interessante. divulgadas pelos instaladores.
Além disso ocorre uma valoração do prédio pelo
aspecto de sustentabilidade. 7.2. Disposição no telhado
A figura 9 mostra os princípios do projeto físico
7. Projeto e Execução do arranjo fotovoltaico:

O objetivo da base é oferecer sustentação aos • Os trilhos são montados paralelos às


módulos pela vida útil deles, estimada em mais de ripas;
• Os pontos de apoio dos trilhos (ganchos
25 anos. Esta responsabilidade justifica um
ou parafusos) devem ser distribuídos
planejamento detalhado do projeto que tornará
conforme especificações do fabricante
a execução mais segura e rápida. do sistema de base. A distância mínima
depende, principalmente, da resistência
do próprio trilho;
7.1. Faixa para Fixação do Módulos • Emendas de trilhos precisam ser
conectadas por junções, para evitar que a
dilatação provoque danos nos módulos;
• A distância vertical entre os trilhos deve
respeitar as exigências do fabricante dos
módulos em todas as fileiras (veja item
anterior);
• A distância entre os módulos e a
cumeeira lateral deve ser igual nos dois
lados.
Na execução é extremamente importante alinhar
Figura 10: Faixa para fixação do módulo o primeiro módulo com muito cuidado, já que
O manual de instalação dos módulos especifica as todo o resto do arranjo será alinhado com ele.
condições da fixação deles, em especial a faixa Uma pequena inclinação será multiplicada pelo

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8 – FIXAÇÃO DOS MÓDULOS EM ESTRUTURAS DE BASE

número de módulos na fileira e será visível a olho A força oposta ocorre durante ventanias,
nu. A correção posterior causa um esforço chamada de carga de vento. Esta é mínima em
enorme de retrabalho. instalações paralelas ao telhado, mas
considerável em montagens elevadas.

7.3. Sequência da Execução Quem fornece a garantia de que a cobertura


resiste a estas forças, é o engenheiro calculista.
Vários fatores determinam a melhor sequência Ele emitirá uma Anotação de Responsabilidade
da execução: Técnica (ART), indispensável quando há
• Acesso e movimentação dos técnicos, movimentação de pessoas por baixo da
respeitando NR-35 (segurança de instalação.
trabalho em altura) e NR-33 (espaços
confinados). É proibido pisar nos
módulos e deve-se tomar muito cuidado 8. Manutenção
para não danificar os mesmos com os A estrutura deve ser verificada em intervalos
mosquetões do talabarte. regulares por
• Içamento dos módulos: procure uma
• Corrosão dos elementos de fixação;
solução adequada, que pode ser
• Aperto adequado dos parafusos;
içamento manual, com elevador ou • Equipotencialização;
usando um caminhão Munck; • Eventuais tensões entre a estrutura do
• Local da passagem dos cabos para dentro arranjo e a estrutura da própria
do telhado (sempre protegido por um cobertura.
duto resistente às intempéries);
• Interligação dos módulos: o cabo de
retorno do string (veja capítulo 7) é
9. Previsão
conduzido em paralelo à colocação dos No presente capítulo já mencionamos cuidados
módulos; importantes a serem tomados na execução da
• Equipotencialização: para o aterramento instalação física.
dos módulos existem soluções com No próximo, veremos quais medições elétricas
chapinhas integradas à fixação ou usando devem ser executadas durante a obra e no ato do
os orifícios previstos no módulo. Consulte comissionamento. Explicaremos também o
o fabricante sobre restrições; processo de legalização do projeto na
• O trilho também deve ser aterrado. concessionária.
Acesse o manual completo com o material
7.4. Resistência da Cobertura adicional aqui – é grátis!
O arranjo fotovoltaico impõe uma carga adicional
à cobertura, pelo peso dos módulos (aprox. 12
kg/m²), da base de montagem e do lastro (em
caso de lajes).

O autor, Hans Rauschmayer, é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos


Profissionais Ltda, onde montou a abrangente grade de capacitação.
Reconhecido especialista em energia solar, ele já foi convidado para ensinar e
palestrar em universidades, instituições, congressos nacionais e internacionais e
vários programas de TV. Entre em contato pelo site www.solarize.com.br.

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9 – INSTALAÇÃO SEGURA E COMISSIONAMENTO

um disjuntor que permite desenergizar o circuito


inteiro a partir de um ponto único.
1. Introdução
No sistema fotovoltaico, a energia vem de duas
fontes:
• Da rede predial em corrente alternada,
protegida por um disjuntor;
• Dos módulos que fornecem tensão
sempre que recebem irradiação,
energizando assim o circuito em corrente
contínua.
Como está fora do nosso alcance desligar o sol,
devemos aprender a trabalhar com um circuito
energizado sem colocar nossa vida e a integridade
Figura 1: A sequência correta da montagem com medições do prédio em risco.
assegura segurança e qualidade da instalação
A equipe deve ser treinada também na norma
Depois de termos estudado, nos capítulos
regulatória NR-10, que trata da segurança em
anteriores do manual de energia solar, os
instalações elétricas;
conceitos do projeto de um sistema solar
conectado à rede, entraremos agora na parte
prática. 2.1. O arco voltaico
Há diversas características associadas a
segurança e qualidade que fogem do
conhecimento dos eletricistas prediais e exigem
cuidados especiais: a sequência da montagem do
sistema e as medições durante instalação e
manutenção asseguram a segurança da equipe e
preservam o local da instalação. Figura 2: O arco voltaico atravessa o ar. Com corrente
contínua, ele apaga somente com o afastamento dos polos
Em seguida introduziremos algumas medições ou com dispositivos construídos para este fim.
obrigatórias para o comissionamento do sistema.
Ao abrir um circuito sob carga, isto é, com
passagem de corrente, ocorre um arco voltaico: a
corrente consegue ultrapassar o ar (figura 2). Em
2. Perigos específicos de
corrente alternada, o arco é rapidamente
sistemas fotovoltaicos apagado quando a tensão é zerada, o que ocorre
Eletricistas prediais estão acostumados com
120 vezes ao segundo considerando a frequência
instalações em corrente alternada, dotados de
de rede de 60 Hz.

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Figura 3: Exemplos de pontos do circuito onde pode ocorrer um arco voltaico

Em corrente contínua, o arco fica estável até que menos módulos do que o outro
os polos sejam afastados o suficiente para conectado em paralelo;
interromper a corrente ou ao acionar um 5. Falha de isolamento em algum ponto do
circuito (incluindo curto circuito em DPS
dispositivo construído para este fim, como um
defeituoso).
disjuntor de corrente contínua.
O desligamento correto do sistema solar começa
O arco danifica os contatos de ambos os lados, com o disjuntor em c.a., o que leva o inversor a
coloca em risco a saúde e a vida dos técnicos e abrir o circuito primário. O dispositivo
pode causar um incêndio no local onde ocorre. interruptor-seccionador isola o inversor do
Disponibilizamos no site o link para um vídeo que circuito c.c., mas não abre a conexão paralela
demonstra o efeito. Não deixe de apresentá-lo a entre strings: a carga nas situações 2 a 5 acima
todos os técnicos envolvidos na instalação ou somente desaparecem ao cair da noite!
manutenção! Em sistemas fotovoltaicos, É imprescindível verificar a ausência da corrente
trabalhamos com tensões superiores à do vídeo, antes de abrir qualquer conexão em corrente
chegando até 1.000 V em instalações pequenas e contínua, seja conector MC4, conexão por
1.500 V em usinas. parafuso em algum dispositivo ou remoção de
um dispositivo (fusível, DPS)! Na dúvida,
2.2. Carga em c.c. e sua interrupção aguarde a noite!
A carga no circuito em c.c. ocorre em diferentes
Como seria um procedimento seguro para a
situações:
instalação do sistema solar? Durante a instalação
1. Funcionamento normal: o inversor devemos prevenir as situações de falha, e
recebe a energia em c.c. e a injeta no durante a manutenção precisamos detectá-las a
circuito em c.a.; fim de evitar acidentes.
2. Conexão errada: um dos strings está com
polaridade invertida;
3. Diferença de potencial por defeito: um
módulo está com defeito, da forma que o
string ao qual pertence produz uma
tensão inferior aos outros strings;
4. Diferença de potencial por erro de
projeto ou execução: um string contém

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Figura 4: Divisão do circuito durante a instalação

3. Procedimento seguro da 3.1. Montagem do circuito do string


O circuito do string é conectado em simultâneo à
instalação montagem dos módulos:
A instalação física e elétrica do sistema solar é
dividida em três partes, que podem ser • O conector positivo de cada módulo é
executadas simultaneamente: ligado ao negativo do módulo adjacente;
• O cabo do retorno acompanha os de
• Circuito do string: a montagem dos interligação, para reduzir eventuais
módulos e a interligação dos mesmos; surtos (veja capítulo 7);
• Circuito da caixa de junção: do cabo do • O fio de equipotencialização (terra)
string até o inversor; também é conectado durante a
• O circuito em corrente alternada, do montagem. A continuidade da mesma
inversor até o quadro de distribuição: a deve ser verificada durante a instalação.
montagem deste circuito é bem É importante deixar o conector de saída do string
conhecida e segue as regras normais;
aberto para manter o cabo desenergizado que
segue até a caixa de junção. Este conector deve
ser de fácil acesso para concluir a instalação e
para permitir abertura em casos de manutenção.

Figura 5: Durante a montagem dos módulos, o circuito do string é conectado, deixando apenas o último
conector aberto

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Figura 6: O circuito da caixa de junção (string box) é montado em paralelo com o do string

Técnicos sem prática de medição em c.c. devem


3.2. Montagem do circuito da caixa ser bem treinados no uso correto do multímetro
e no padrão de cores dos fios.
de junção (string box)
O circuito da caixa de junção, que começa com o
fio descendo dos módulos e vai até o inversor, é 3.5. Verificar a tensão do string em
montado em simultâneo com o circuito do string. circuito aberto
Os fusíveis são removidos, evitando assim o A tensão produzida por cada string é medida em
paralelismo entre os strings, e o dispositivo simultâneo com a polaridade. Ela indica se o
interruptor-seccionador é aberto. número correto de módulos foi efetivamente
conectado, e se os strings são homogêneos entre
3.3. Fechamento do último conector si.

dos strings Exemplo:


Depois de montar os três circuitos podemos
• A ficha técnica do módulo informa a
então fechar o conector de saída de cada string e tensão nominal de circuito aberto UOC,
assim energizar o circuito da caixa de junção até módulo = 35 V – lembrando que ela é
a entrada dos porta-fusíveis. medida a 25 °C (condições STC, capítulo
3);

3.4. Verificação da polaridade • A medição da tensão do string fornece


O primeiro passo na verificação elétrica é a UOC, string = 200 V;
medição da polaridade, já que a polaridade • O projeto elétrico indica que 6 módulos
invertida de apenas um dos strings causa um compõem o string;
curto circuito com os outros conectados em • Dividimos a tensão medida pelo número
paralelo e poderá ser aberto somente à noite. dos módulos e chegamos à tensão gerada
por cada módulo: UOC, mod = 200 V / 6 =
33,3 V

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• O resultado coincide com uma 3.7. Iniciar o inversor


temperatura dos módulos pouco acima Depois de aferir todos os strings e corrigir
de 25 °C, o que pode ser verificado com
um toque manual. Se a instalação
estivesse errada, com 5 ou 7 módulos no
string, então a tensão estaria
significativamente diferente (mais
adiante abordaremos o
comissionamento, que exige uma
medição mais precisa);
• Portanto podemos concluir que o
número de módulos no string está
correta.
A medição deve ser executada separadamente
para cada string, e os resultados devem ficar
dentro de uma faixa de 5%.

3.6. Verificar a corrente do string


em curto circuito
Para aferir a corrente é necessário fechar um
curto circuito no string. A forma mais simples com
uso da caixa de junção é o seguinte
Figura 7: Exemplo de uma caixa de curto circuito
procedimento:
eventuais erros podemos colocar os fusíveis,
• Abra o dispositivo interruptor-
fechar a seccionadora e o disjuntor c.a. e iniciar o
seccionador (abreviamos o termo em
seguida).; inversor. Estude o manual com cuidado e respeite
• Interligue o polo positivo da seccionadora a sequência correta dos passos de configuração.
com o negativo;
• Insira o fusível do primeiro string e feche
o porta-fusível;
• Feche a seccionadora
• Meça a corrente;
• Abra a seccionadora e o porta- fusível.
Repita o procedimento para todos os strings. Os
resultados devem ficar dentro de uma faixa de
5%. É importante que a irradiância não mude
entre uma medição e outra, e que não haja
sombra nos módulos, já que a corrente oscila
instantaneamente com a irradiância.
Em instalações sem caixa de junção usa-se uma
caixa de curto-circuito, como apresentada a
figura 7, que contém um interruptor c.c., ao invés
da seccionadora. Tome muito cuidado com
acidentes por arcos voltaicos entre fios
desencapados!

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4. Comissionamento 4.1. Verificar a tensão conforme


temperatura
A tensão produzida pelo módulo depende da
temperatura atual da célula. Portanto, devemos
medir as duas grandezas simultaneamente. A
seguinte fórmula calcula a tensão nominal de um
string em determinada temperatura Vstring,OC,temp,
usando
• O número de módulos por string n;
• A tensão de curto circuito nominal do
módulo Vmód,OC;
• A temperatura atual da célula T;
• O coeficiente da variação da tensão com
a temperatura CoefV;

Confira também capítulos 3 e 5. Para medir a


temperatura da célula, coloque um sensor com
Figura 8: Equipamento profissional de comissionamento corte quadrado por baixo do módulo e o
agiliza a medições e aumenta a precisão (exemplo Seaward pressione contra a célula.
Solar PV200)

O instalador do sistema solar é obrigado, pela


4.2. Verificar a corrente conforme
norma ABNT NBR 16274:2014, a efetuar ensaios
e entregar uma documentação ao cliente. Este
irradiância
A corrente depende da irradiância e esta relação
comissionamento não deve ser confundido com
é linear na faixa superior da escala. Por isso, a
aquele que a concessionária de energia efetua:
norma exige um comissionamento em condições
ela se interessa somente por eventuais perigos
estáveis com irradiância acima de 700 W/m².
para sua rede de distribuição e não com o
Podemos usar a seguinte fórmula para calcular a
funcionamento ou riscos fora do escopo dela.
corrente esperada Iirrad, a partir da
O desafio do comissionamento do sistema solar
• Corrente nominal do módulo Inom; e
consiste na fonte: a irradiação é variável e com
• Irradiância geral medida G
isso, a energia gerada. Nunca teremos certeza de
que o sistema está realmente funcionando
perfeitamente.
O que podemos fazer é medir as grandezas
climáticas junto às elétricas, e é isso que a norma 4.3. Ensaiar o isolamento do circuito
exige. A seguir apresentamos os principais em c.c.
ensaios – estude a norma para complementar a A norma exige o ensaio do isolamento entre os
informação e acesse nosso mini curso sobre o polos e a terra, porque falhas podem causar
tema no site. acidentes ou incêndios. O próprio inversor ensaia
Todos os ensaios devem ser executados para o isolamento e deixa de iniciar quando detecta
cada string, e o resultado não pode ultrapassar um problema.
uma faixa de 5% da média.

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9 – INSTALAÇÃO SEGURA E COMISSIONAMENTO

Parte do Manual de energia solar


Comissionamento: aferição da medição de um string www.solarize.com.br

Fabricante Jinko Configuração do string


Modelo JKM270PP-60 N° de módulos em série 6

Ficha técnica Valor Parâmetros climáticos medidos


P nom [Wp] 270 Irradiância [W/m²] 654
I SC [A] 9,09 Temperatura módulo [°C] 60
I MPP nom [A] 8,52
V MPP nom [V] 31,7 Medição fora de operação Medido Calculado Diferença Observação
V OC [V] 38,8 I SC [A] 6,0 5,9 0,9% ok
Coef V [%/°C] -0,30% V OC [V] 200 208,4 -4,0% ok

Preenche ou veri fi que os ca mpos em a zul Medição em operação Medido Calculado Diferença Observação
Ca mpos ci nza s mos tra m res ul tados i ntermedi á ri os I MPP [A] 5,8 5,6 4,1% ok
Ca mpos verdes a pres entam res ul tados pri nci pa i s V MPP [V] 160 170,2 -6,0% diferença acima de 5%!

Figura 9: Planilhas de comissionamento ajudam a detectar problemas no ato (acesse solarize.com.br)

O ensaio é efetuado por um megômetro, que irradiância, e compara as medições com


mede a resistência enquanto injeta uma tensão o cálculo;
superior à do arranjo fotovoltaico (detalhes na • A segunda permite cadastrar as medições
norma). Se a tensão ficar próxima à tensão para vários strings e compara cada uma
com a média, apontando desvios.
nominal do DPS, então este deve ser
Ambas planilhas, quando usadas em notebook,
desconectado do circuito.
tablet ou até celular, podem ser preenchidas no
ato do comissionamento. Erros são detectados na
4.4. Equipamento para hora, permitindo um conserto imediato.
comissionamento
Uma apresentação, também disponibilizada no
Um solarímetro com termômetro é essencial para
site, detalha melhor os passos do
efetuar os ensaios (figura 8 apresenta um
comissionamento.
exemplo à direita). Além disso, existem
multímetros específicos que efetuam os
principais ensaios de forma automática, recebem
5. Previsão
os dados do solarímetro e gravam os resultados
O próximo capítulo abordará o dimensionamento
na memória para posterior exportação ao
adequado do sistema solar para um determinado
computador.
cliente, levando em consideração a legislação
brasileira e diversas modalidades de
4.5. Planilhas de verificação compensação remota.
Disponibilizamos no site duas planilhas que
Acesse o manual completo com o material
facilitam a verificação:
adicional aqui – é grátis!
• A primeira calcula tensão e corrente para
o string de um determinado módulo a
partir das medições de temperatura e

O autor, Hans Rauschmayer, é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos


Profissionais Ltda, onde montou a abrangente grade de capacitação.
Reconhecido especialista em energia solar, ele já foi convidado para ensinar e
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vários programas de TV. Entre em contato pelo site www.solarize.com.br.

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MANUAL DE ENERGIA SOLAR
10 – DIMENSIONAMENTO E COMPENSAÇÃO DA ENERGIA GERADA

Figura 1: Ilustração de algumas formas de compensação da energia.


Fonte: Guia de Constituição de Cooperativas de Geração Distribuída Fotovoltaica, OCB

1. Introdução 2. A Regulamentação Brasileira


Os nove capítulos que publicamos até agora no
REN ANEEL 482/2012
manual de energia solar ensinaram conteúdo Em 17 de abril de 2012, a Agência Nacional de
técnico que tem validade no mundo inteiro, Energia Elétrica ANEEL publicou a Resolução
independentemente do local da instalação Normativa Nº 482 que introduziu a Geração
fotovoltaica. No presente capítulo, Distribuída no território brasileiro. Ela sofreu uma
apresentaremos o dimensionamento do sistema revisão em 2015 pela REN 687/2015, além de
solar baseado na regulamentação brasileira. modificações redacionais que esclareceram
algumas dúvidas.
No nosso país, o princípio da compensação da
energia gerada na Geração Distribuída é o No momento da redação deste manual, a
abatimento da energia consumida, um regime regulamentação está em outra revisão cujos
conhecido como net-metering. Não há venda da resultados ainda estão em aberto.
energia à concessionária. A ANEEL buscou regras simples, com objetivo de
Esse regime, junto com a aplicação de taxas facilitar a disseminação da nova tecnologia.
mínimas, determina o dimensionamento ideal de Temas fora da alçada da ANEEL, como taxação da
uma planta fotovoltaica para um determinado energia gerada, não foram abordadas.
cliente.

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M ANUAL DE ENERGIA SOLAR
10 – DIMENSIONAMENTO E COMPENSAÇÃO DA ENERGIA GERADA

A regulamentação inclui diversas fontes


renováveis (solar, hídrica, eólica, biomassa) como
também cogeração, considerada uma forma mais
eficiente de geração elétrica.

2.1. Princípios do Net-metering


conforme REN 482
Os princípios básicos definidos pela REN
482/2012 são os seguintes:
• A energia gerada abate o consumo da
própria unidade;
• A energia excedente é injetada na rede
da concessionária e considerada Figura 2: Exemplo de fluxo de energia em um determinado mês
emprestada à distribuidora. Em outro
horário ela é devolvida ao cliente; simultaneamente, o chamado
• O faturamento mensal apura a energia “autoconsumo”;
consumida e injetada: a diferença • O restante da energia gerada, 120 kWh,
positiva é cobrada; foi injetada na rede da concessionária;
• O excedente mensal gera crédito que • O consumo total dos aparelhos elétricos
pode ser abatido em um dos meses nesta unidade somou 500 kWh;
subsequentes; • Deste consumo, 180 kWh foram
• Os créditos podem ser transferidos para fornecidos pelo sistema solar e o
outras contas vinculadas – veremos este restante, 320 kWh, vieram da rede da
tema em seguida; concessionária (consumo bruto da rede);
• Outras cobranças na conta de energia, • A concessionária recebeu da unidade 120
como o custo de disponibilidade ou da kWh em energia injetada e a devolveu em
demanda contratada, não são outro horário. Ela precisou, portanto,
modificadas. comprar 200 kWh de outras usinas para
completar o fornecimento (consumo
líquido da rede).
3. Faturamento do consumidor • O consumo líquido da rede é faturado na
conta do mês.
grupo B Precisamos de três leituras para estabelecer
O grupo B reúne consumidores que recebem a
todos os números do fluxo de energia:
energia em baixa tensão, por exemplo residências
e pequenas empresas. Eles pagam uma tarifa • A leitura do medidor de consumo;
única ao longo do dia (com exceção da Tarifa • A leitura do medidor de injeção;
Branca, que é opcional e desvantajosa no caso da • A leitura do inversor.
geração solar) e são faturados pelo consumo É importante que o proprietário do sistema
mensal. compreenda esta lógica. Em especial, ele deve
estar ciente que a conta de energia apresenta
Para compreender como funciona o faturamento, apenas parte das informações.
vamos usar o exemplo da figura 2, que apresenta
o fluxo de energia ao longo de um mês:
3.1. O custo de disponibilidade
• Neste mês, o sistema solar gerou 300 Em meses com consumo muito baixo é cobrada
kWh; uma taxa mínima, chamada “Custo de
• Desta energia, 180 kWh foram
Disponibilidade”, no valor de
consumidas por aparelhos ligados

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10 – DIMENSIONAMENTO E COMPENSAÇÃO DA ENERGIA GERADA

• 30 kWh para ligações monofásicas;


• 50 kWh para ligações bifásicas;
4. Dimensionar o sistema solar
• 100 kWh para ligações trifásicas. para um consumidor do grupo B
Esta taxa é aplicada para todos os consumidores
do grupo B, independentemente de haver uma 4.1. Analisar a conta do cliente
geração solar no local ou não. Com isso fica Tabela 2: Exemplo para aplicação de duas abordagens para
impossível zerar a conta com energia solar. estipular a potência do sistema solar para um determinado cliente

Geração Geração
total otimizada
3.2. Cálculo da fatura
Consumo médio mensal [kWh] 733 733
Tabela 1: Cálculo de fatura e crédito com aplicação do Custo de
Disponibilidade em três meses exemplares Custo de disponibilidade [kWh] 100 100

Mês A Mês B Mês C Meta de geração mensal [kWh] 733 633

Energia injetada 120 kWh 150 kWh 240 kWh Geração típica no local da instalação 120 120
[kWh / kWp]
Consumo bruto da rede 320 kWh 180 kWh 200 kWh
Potência do sistema solar [kWp] 6,1 5,3
Consumo líquido da rede 200 kWh 30 kWh -40 kWh
Fatura 200 kWh 100 kWh 100 kWh A tarefa do projetista consiste em dimensionar o
Prejuízo 0 kWh 70 kWh 100 kWh sistema solar de forma adequada para cada
Crédito 0 kWh 0 kWh 40 kWh
cliente.
Ponto de partida é a conta do cliente, devido aos
A tabela 1 apresenta exemplos de três meses que
princípios da REN 482/2012 explicados acima.
ajudam a compreender melhor o cálculo do
Usamos o histórico de consumo ao longo dos
faturamento (presume-se que a unidade seja
últimos 12 meses, impresso na conta como base
trifásica).
de cálculo, e formamos a média destes valores.
Explicação:
A média mensal deve ser corrigida pela
• O mês A apresenta o mês com o mesmo expectativa de aumento do consumo: é
fluxo da figura 2 e consta na tabela para frequente que o cliente seja mais generoso no
fins de comparação;
consumo a partir da instalação do sistema solar.
• No mês B, o consumo líquido da rede
Mas ele pode também prever mudanças de
ficou abaixo do custo de disponibilidade,
e este é faturado pela concessionária. O hábito que reduzam o consumo de energia.
proprietário da unidade ficou com um Recomendável é aproveitar o momento para
prejuízo de 70 kWh, energia que ele
efetuar medidas de eficiência energética, antes
gerou e entregou à concessionária sem
receber por ela; do dimensionamento do sistema solar.
• No mês C, a geração superou o consumo Em unidades novas, sem histórico deve-se
bruto e gerou crédito de 40 kWh. Neste estimar o futuro consumo a partir de unidades
caso também há prejuízo pela cobrança
similares ou outros métodos da engenharia
do custo de disponibilidade.
elétrica.
• O crédito será abatido em meses
subsequentes que apresentam consumo
líquido superior ao custo de 4.2. Estipular a meta de geração
disponibilidade, e até o limite deste
Quanta energia deve ser gerada pelo futuro
custo. Após 60 meses, o crédito é
perdido. sistema solar? A abordagem simples toma como
meta de geração a média mensal de consumo,
corrigido pela expectativa de sua variação.

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10 – DIMENSIONAMENTO E COMPENSAÇÃO DA ENERGIA GERADA

Se quisermos evitar o prejuízo induzido pelo o sistema projetado com todos os detalhes de
custo de disponibilidade, então devemos reduzir sombreamento e das perdas envolvidas. Ele traz
a média mensal pelo custo de disponibilidade a estimativa da futura geração (figura 3).
para chegar à meta da geração, representado
pela coluna “Geração otimizada” na tabela 2.
Os dois cálculos representam o limite inferior e
superior de um sistema bem adaptado ao cliente.

4.3. Aplicar a geração típica Figura 3: Comparação da conta de energia atual (azul) e posterior à
No último passo dividimos a meta de geração pela instalação do sistema solar (amarelo) no software PV*SOL.
geração típica para chegar à potência do futuro Aplicando a tarifa, chega-se à futura conta de
sistema solar. energia que o cliente pagará. A figura 3 mostra o
A geração típica é obtida mediante simulação de resultado para um sistema projetado conforme a
um sistema de 1kWp em softwares ou aplicativos regra “geração total” na tabela 2, com potência
e representa a quantidade de energia gerada por de 5,9 kWp. A curva azul representa a conta atual,
este sistema na região da futura instalação. e a amarela, após a instalação do sistema solar.

Como nós efetuaremos o cálculo inverso em Na curva amarela fica evidente que o cliente
seguida, podemos usar neste passo um valor pagará o custo de disponibilidade em todos os
aproximado. Com isso, é possível executar todo meses do ano. Neste caso, o software estima um
o cálculo acima rapidamente na cabeça. prejuízo acumulado de 8%, aproximadamente um
mês de geração solar.
4.4. Projetar o sistema solar
O cálculo anterior usou premissas simplificadas
para chegar a uma faixa de potência interessante.
Agora chegou a hora de projetar o sistema real,
ocupando parte da cobertura ou do terreno do
cliente, como abordado nos capítulos anteriores. Figura 4: Comparação entre conta atual e com energia solar, para
um sistema projetado para geração otimizada
É possível que a área disponível não seja
suficiente para o sistema ideal e nos força a A aplicação das regras para a geração otimizada
restringir a potência ou a procurar soluções de (compare tabela 2) resulta em um sistema de 4,8
geração remota. kWp, cujas contas de energia são apresentadas
na figura 5. Neste caso, o prejuízo com custo de
disponibilidade ocorre em apenas quatro meses e
4.5. Verificar o dimensionamento
cai para 2,7% da geração. Consequentemente há
melhora no retorno de investimento.
Repare que a potência dos dois sistemas
simulados ficou abaixo dos valores inicialmente
estipulados na tabela 2. A razão disso é que a
Figura 5: Consumo (barras cinzas) e geração simulada (barras média mensal usada no cálculo inicial não
amarelas) a cada mês. Diagrama do software PV*SOL.
representa perfeitamente o comportamento do
O cálculo inverso vai mostrar se a potência cálculo mês a mês.
projetada realmente é adequada. Quem traz a
resposta é um software de simulação, que calcula

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10 – DIMENSIONAMENTO E COMPENSAÇÃO DA ENERGIA GERADA

4.6. Otimizar o dimensionamento • A demanda contratada é cobrada


A escolha entre um sistema com potência menor mensalmente com um valor fixo,
independentemente do consumo
ou maior deve levar em consideração os objetivos
ocorrido;
do cliente: • Há ainda multas por demanda acima da
• se ele preferir pagar um valor mensal contratada e por excesso de energia
fixo, então o sistema deve ser reativa.
superdimensionado; A abordagem simples segue o cálculo
• Se ele preferir um retorno financeiro apresentado na tabela 2. Usamos o consumo no
melhor, o sistema deve ser otimizado horário Fora de Ponta e desconsideramos o
para baixo. custo de disponibilidade.
A disponibilidade financeira do cliente pode ser
outra restrição. A demanda contratada limita a potência do
sistema solar e faz com que o sistema solar, em
quase todos os casos, gere apenas uma parte do
4.7. Limite conforme demanda consumo. A razão disso é simples: o sol não gera
disponibilizada energia com 100% da potência de 8 às 18 hs,
Quando uma unidade de consumo é conectada à muito menos à noite.
rede elétrica, o proprietário informa à
distribuidora qual demanda máxima ele precisa. A avaliação de opções como aumento da
Esta usa a informação no planejamento da rede demanda contratada ou compensação do
de distribuição e no dimensionamento do ramal consumo em horário de Ponta extrapolam a
abrangência deste capítulo.
de conexão.
O sistema solar não pode superar a demanda
máxima para garantir o escoamento da energia.
Nesta comparação, a potência da planta solar é o
menor valor entre a soma da potência dos
módulos e a soma da potência dos inversores.
O disjuntor geral da unidade, junto com a norma
da concessionária, permite determinar a
demanda máxima. Se desejar instalar um sistema
maior será necessário solicitar um aumento de
carga à concessionária.

5. Dimensionar o sistema solar


para um consumidor do grupo A
Consumidores do grupo A recebem energia em
média tensão. A fatura deles é dividida em
diversas rubricas. Segue uma abordagem
resumida, sem entrar nos detalhes e nas
diferentes opções:
• O consumo é separado pelo horário de
Ponta e Fora de Ponta, aplicando tarifas
diferentes;

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10 – DIMENSIONAMENTO E COMPENSAÇÃO DA ENERGIA GERADA

O excedente pode ser transferido até para mais


6. Compensação remota
do que uma unidade. Neste caso, o proprietário
declara à concessionária o percentual que cada
unidade deve receber.
Eventuais créditos permanecem na respectiva
unidade receptora.

6.2. Geração compartilhada


Grupos de empresas podem formar um consórcio
e construir uma usina em conjunto. No contrato
é definido o percentual de energia que cada
Figura 6: Ilustração da compensação remota. consorciado recebe.
Fonte: Guia de Constituição de Cooperativas de GD

A compensação local é a forma mais simples: o Regras similares permitem a geração


sistema solar é instalado na própria unidade de compartilhada para condomínios (múltiplas
consumo. Neste caso, aplicam-se as regras unidades de consumo) ou cooperativas. Acesse
descritas anteriormente. através do site www.solarize.com.br o Guia de
Constituição de Cooperativas de Geração
No entanto, a regulamentação permitiu diversas Distribuída Fotovoltaica, disponibilizado pelo
formas de compensação remota, onde o OCB.
excedente da energia na unidade de geração é
transferido para outras unidades. A compensação
é efetuada de forma contábil e é restrita à mesma 7. Retorno financeiro
área de concessão. Se quisermos calcular o retorno financeiro do
Todas as formas de compensação remota têm em sistema solar, precisamos valorar a energia
comum a transferência em kWh, independente gerada conforme o fluxo apresentado na figura 2.
da tarifa da origem e do destino. É possível que a
reforma da REN 482 em curso, mude este 7.1. Autoconsumo
princípio e abata um percentual como O autoconsumo simplesmente abate o consumo
contribuição para a rede de distribuição. e é valorado pela tarifa de consumo.
As faixas progressivas de ICMS, instituídas na
6.1. Autoconsumo remoto maioria dos estados brasileiros, podem trazer um
O excedente da energia gerada pode ser ganho adicional ao proprietário, já que o
transferido para uma outra unidade do mesmo consumo bruto dele é reduzido. Isso vale também
titular. Se for pessoa física, então as duas contas para a bandeira tarifária.
devem estar cadastradas no mesmo CPF. No caso
A cobrança da taxa de iluminação pública traz
da pessoa jurídica é permitida a transferência
outro ganho em municípios onde ela é cobrada
entre diferentes filiais (CNPJ idêntico antes da
conforme consumo mensal.
barra).
Na unidade de origem, se for do grupo B, é 7.2. Energia injetada
cobrado o custo de disponibilidade. Na unidade Na visão da Aneel, a energia injetada deve ser
receptora, também, se o consumo líquido ficar devolvida em outro horário, abatendo o consumo
abaixo deste valor. da unidade. Nesta perspectiva, ela é valorada
também com a tarifa de consumo.

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10 – DIMENSIONAMENTO E COMPENSAÇÃO DA ENERGIA GERADA

A legislação sobre ICMS, que é da alçada estadual, 9. Previsão


não seguiu completamente este conceito. Mencionamos em diferentes itens dos capítulos
Infelizmente, ela deixa dúvidas, o que levou as softwares de simulação e mostramos resultados
concessionárias a aplicar regras não uniformes. dos cálculos. Eles realmente são fundamentais
Algumas retêm ICMS sobre a em energia injetada, para elaborar um projeto tecnicamente
referente à tarifa de uso do sistema de impecável, para calcular o retorno financeiro com
distribuição, TUSD. segurança e para efetuar vendas de forma
Antes de realizar um projeto, pesquise a forma de eficiente. Este será o tema do próximo capítulo.
taxação que a concessionária do cliente aplica, Acesse o manual completo com o material
especialmente quando se trata de potências adicional aqui – é grátis!
maiores ou de geração remota.

8. Modelos de Negócio
A construção e a operação da planta solar não
precisam, necessariamente, serem executadas
pelo cliente em propriedades dele. Além da
venda do equipamento há modalidades de
locação do equipamento, do local da instalação e
de locação virtual de partes de uma usina maior.
Todos os modelos exigem muita atenção para a
correta contratação em consideração à legislação
fora do setor elétrico, evitando conflitos com o
monopólio da distribuidora local. Oferecemos um
curso que apresenta diversos modelos de
negócios com suas particularidades. Acesse nossa
agenda de cursos para saber mais.

O autor, Hans Rauschmayer, é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos


Profissionais Ltda, onde montou a abrangente grade de capacitação.
Reconhecido especialista em energia solar, ele já foi convidado para ensinar e
palestrar em universidades, instituições, congressos nacionais e internacionais e
vários programas de TV. Entre em contato pelo site www.solarize.com.br.

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MANUAL DE ENERGIA SOLAR
11 – SOFTWARES DE PLANEJAMENTO E SIMULAÇÃO PARA PROJETOS
FOTOVOLTAICOS

Figura 1: As etapas da elaboração do projeto fotovoltaico

2.1. O Fluxo de Trabalho


1. Introdução O segundo capítulo apresentou o passo-a-passo
O tema do presente capítulo do manual de da elaboração de um projeto fotovoltaico
energia solar serão softwares de planejamento e conectado à rede (figura 1, disponível no site
simulação de projetos fotovoltaicos. Eles são www.solarize.com.br).
fundamentais para elaborar um projeto As etapas principais são
tecnicamente impecável, para calcular o retorno
1. A análise das informações que embasam
financeiro com segurança e para efetuar vendas o projeto;
de forma eficiente, como já vimos em outros 2. A elaboração do projeto técnico;
capítulos. 3. O cálculo do retorno do investimento
(custo / benefício).
2. Requisitos ao Software O resultado do terceiro passo pode levar a uma
Fotovoltaico revisão do projeto, por questões técnicas ou
financeiras. O software ideal conduz o projetista
A engenharia de software, formação original do no fluxo natural do seu trabalho, ao mesmo
autor deste manual, ensina que se deve iniciar a tempo que oferece flexibilidade conforme o tipo
escolha de um software pela análise dos do projeto e o perfil do usuário.
requisitos. Em seguida, é preciso priorizar as
demandas para então escolher uma solução.
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11 - SOFTWARES DE PLANEJAMENTO E SIMULAÇÃO
PARA PROJETOS FOTOVOLTAICOS

Figura 2: O projeto fotovoltaico visto por diferentes atores

2.2. Os Diferentes Atores 2.2.2. O Projetista


O projetista recebe o projeto primário do
Cada ator envolvido no projeto tem interesses vendedor e o detalha com objetivo de aprimorar
próprios, com demandas de informações, que questões técnicas e financeiras.
devem ser atendidas pelo software (figura 2).
Vamos entender os principais. Ele produz listas de materiais e diagramas
técnicos para planejamento, aprovação e
2.2.1. O Vendedor execução do projeto.
O vendedor recolhe as informações do cliente e
elabora um projeto primário que precisa ter o 2.2.3. O Cliente
detalhamento suficiente para garantir a O cliente tem vários papéis neste processo, que
viabilidade técnica e calcular o retorno do podem ser acumulados:
investimento. Com esta informações, ele prepara • No papel de investidor, ele compara o
uma proposta para iniciar as negociações com o rendimento do sistema solar com outras
cliente. aplicações financeiras;
• Sendo proprietário do local da instalação,
Na realidade brasileira, o processo da venda é ele se preocupa com a estética e
muito mais importante do que os processos segurança da instalação;
técnicos, por causa da baixa taxa de conversão: o • No caso de uma empresa pode haver
estudo da empresa Greener sobre o mercado de outros interesses, como marketing verde
geração distribuída relata que apenas 7% dos ou proteção contra aumentos da tarifa.
projetos viram contrato. O software ideal oferece diversidade de
informações técnicas e financeiras, que serão
Com isso, a qualidade da proposta é fundamental
utilizadas de acordo com o perfil de interesse do
para aumentar as vendas, e a agilidade na
cliente
elaboração reduz o tempo que, possivelmente,
não será remunerado. Ambas são questões onde 2.2.4. A Distribuidora de Energia
um software pode ajudar muito. A distribuidora espera receber a documentação
padronizada conforme normas próprias e da
ANEEL, para então aprovar o projeto.

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11 - SOFTWARES DE PLANEJAMENTO E SIMULAÇÃO
PARA PROJETOS FOTOVOLTAICOS

Figura 3: Projetos de portes diferentes apresentam características diferenciadas

2.2.5. Instituições 2.3.3. Usinas em Solo


Outras instituições recebem a documentação do No caso de usinas em solo, o projeto técnico é
projeto, conforme o caso: modular e repetitivo. Podemos diferenciar ainda
usinas de grande porte, que usam rastreadores
• Conselhos de engenharia ou de técnicos;
• Bancos ou investidores; (tracking), de usinas menores, com aplicação de
• Seguradoras; tecnologias mais simples.
• Instituições públicas, como por exemplo O financiador destas usinas deseja receber
órgãos ambientais, EPE (Empresa de
informações detalhadas e altamente confiáveis, e
Pesquisa Energética, no caso de leilões de
as insere nas próprias planilhas financeiras.
usinas), órgãos de preservação de
patrimônio histórico, etc.
2.4. Questões Técnicas
2.3. Escopo do projeto
2.4.1. Cálculo Confiável
Podemos diferenciar as seguintes categorias de Pelo ponto de vista do investidor, a questão
projetos (figura 3): fundamental é a confiabilidade dos resultados.
Um software com reputação internacional ganha
2.3.1. Projetos de Pequeno Porte
pontos na avaliação.
Projetos residenciais ou comerciais de pequeno
porte devem priorizar a venda individualizada ao 2.4.2. Dados Meteorológicos Detalhados
cliente, com propostas bonitas. A margem de Os dados meteorológicos formam a entrada
lucro, geralmente reduzida, exige que o processo principal dos algoritmos de simulação. O formato
de venda e instalação seja eficiente. padrão se chama TMY (typical metereological
2.3.2. Prédios Comerciais year), em detalhamento horário.
Projetos em prédios comerciais costumam Este detalhamento é essencial para simular o
apresentar uma série de exigências técnicas: sistema fotovoltaico, porque a eficiência dos
coberturas repletas de obstáculos (casa de componentes varia conforme irradiação e
máquinas, caixas d´água, aparelhos de ar temperatura momentânea, e porque as perdas
condicionado, ...) e uma maior complexidade na dependem da potência gerada a cada instante.
conexão elétrica. O software ideal permite um
Há empresas internacionais que fornecem séries
trabalho interativo com grande flexibilidade.
de dados a partir de medições de solo e por
Este tipo de cliente exige também um cálculo do satélite (ex. Meteonorm). As fontes brasileiras, do
rendimento mais apurado. atlas solarimétrico, infelizmente não são

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11 - SOFTWARES DE PLANEJAMENTO E SIMULAÇÃO
PARA PROJETOS FOTOVOLTAICOS

Figura 4: Exemplo de uma instalação comercial, onde o projetista definiu a configuração dos módulos de forma semi-
automática (PV*SOL premium)

fornecidas na resolução horária, mas por médias por cima do arranjo. A cada momento, a sombra
mensais. atinge outras partes dos módulos.

2.4.3. Flexibilidade da Configuração dos As duas formas causam efeitos elétricos


Inversores diferentes, o que exige uma modelagem
O software deve providenciar as regras diferente no software.
específicas para inversores string, micro
inversores e otimizadores de potência. 3. Comparação de Softwares
A associação dos módulos a inversores deve ser Mais Utilizados
resultado da modelagem 3D. Nos últimos anos foram desenvolvidos muitos
Já o projetista deve ter a liberdade total na softwares fotovoltaicos. A seguir analisaremos as
configuração: juntar módulos de diferentes características dos mais populares no Brasil.
prédios, modificar limites de configuração (ex. Nenhum software é perfeito - recomendamos
fator de dimensionamento, veja capítulo 5) e priorizar pelo tipo de projeto mais utilizado e
definir a sequência dos strings (figura 4). testar o programa antes de efetuar a compra.
Telhados em arco são um exemplo onde pode ser
necessário juntar módulos de diferentes
inclinações no mesmo string. O software deve
calcular as perdas causadas no descasamento, o
que é possível somente com dados climáticos
detalhados.

2.4.4. Tratamento Diferenciado da Sombra


por Objetos Próximos e Distantes
Objetos distantes como, por exemplo, morros
causam um efeito “liga/desliga” no arranjo
fotovoltaico inteiro. Eles representam o
horizonte do cenário.
Objetos próximos, como prédios, árvores ou
antenas, projetam uma sombra que parece andar

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11 - SOFTWARES DE PLANEJAMENTO E SIMULAÇÃO
PARA PROJETOS FOTOVOLTAICOS
3.1. PVSyst

Figura 6: Foto de uma usina com tracking e a simulação do


sombreamento no software PVSyst
Figura 5: Exemplo de diagrama elétrico gerado pelo
PVSyst é o programa clássico para usinas de software Solergo
grande porte. Parâmetros específicos permitem Ele pertence a uma família de programas para
aos especialistas modelarem detalhes que são elaborar diagramas elétricos (figura 6). E é neste
importantes para esta categoria de projetos. quesito que ele tem sua maior força: o banco de
PVSyst permite também analisar sombreamento dados contém normas e catálogos de dispositivos
em instalações com tracking (rastreamento, de proteção.
figura 5).
O programa trabalha baseado em imagens de
A interface do usuário é antiquada e pouco satélite e extrusão de prédios, com pouca
amigável e não foi traduzido para português. A versatilidade de importação.
modelagem em 3D não é intuitiva, o que restringe
O fluxo de trabalho dentro do Solergo parte da
o uso do software a especialistas. PVSyst não
premissa que o projetista iniciou o projeto num
oferece uma análise financeira do projeto.
software CAD para definir o número de módulos
Os dados meteorológicos são horários e a serem colocados em cada cobertura – um passo
fornecidos pela empresa Meteonorm, mas é que idealmente deveria ser indicado pelo próprio
possível importar outras fontes. O programa software de planejamento fotovoltaico.
consegue até gerar dados em minuto para
É fácil modelar projetos simples, porém falta
simular sombreamento com mais precisão.
apoio para projetos complexos. A liberdade de
configuração dos inversores também é restrita e
3.2. Solergo
pouco interativa.
Solergo foi o primeiro programa a ser traduzido
Os dados meteorológicos abrangem somente
para português e recebeu adaptações ao Brasil, o
médias mensais, não permitindo uma simulação
que o tornou bastante popular.
da oscilação da irradiação ao longo do dia.

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11 - SOFTWARES DE PLANEJAMENTO E SIMULAÇÃO
PARA PROJETOS FOTOVOLTAICOS
3.3. Helioscope 3.4. PV*SOL premium

Figura 8: Projeto elaborado a partir de modelagem 3D obtida por


Figura 7: Helioscope trabalha com extrusão a partir de imagens de aerofotogrametria com drones (PV*SOL premium)
satélite
PV*SOL premium é um software que ganhou
Helioscope é um programa online que usa
reconhecimento em mais de 20 anos de
imagens de satélite como base (figura 7). Ele é
existência. Ele foi traduzido para português do
oferecido somente em inglês. Diferente dos Brasil e adaptado às tarifas nacionais.
outros programas, a cobrança é por mensalidade,
o que o torna mais caro a longo prazo. Ele se diferencia pelo fluxo natural com qual ele
conduz o usuário: cada passo é consequência dos
A interface dele é muito intuitiva, com alto grau passos anteriores e resolvido dentro do próprio
de automação, o que o torna muito eficiente para
PV*SOL.
projetos simples. No entanto, a automatização
pode atrapalhar em projetos mais complexos, O vendedor gasta pouco tempo para elaborar
onde o projetista precisa ter mais autonomia de propostas bonitas, aproveitando escolhas
decisão. automáticas e simplificadas.

Como não foi adaptado às regras do Brasil, o O projetista, em seguida, tem toda liberdade para
software exige planilhas financeiras à parte. detalhar e modificar o projeto. O software
permite controle total sobre a configuração dos
módulos com os inversores e a sequências da
conexão em strings.
Os diagramas elétricos permitem desenhar um
diagrama unifilar, satisfatório para a legalização
na concessionária. Para ir além disso, recomenda-
se o uso de um software CAD.
A planta da cobertura também é produzida pelo
software e pode ser importada no CAD.
A simulação é baseada em dados climáticos
horários, permitindo também a geração de dados
em minutos. Diversos coeficientes de perdas

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M ANUAL DE ENERGIA SOLAR
11 - SOFTWARES DE PLANEJAMENTO E SIMULAÇÃO
PARA PROJETOS FOTOVOLTAICOS
podem ser aplicados: sujeira, degradação, cabos A importação de programas de arquitetura é
com cálculo da bitola, entre outros. Cada outra opção, essencial para a colaboração com
parâmetro é simulado separadamente, e as arquitetos.
informações ajudam a otimizar o sistema.
O software PV*SOL permite ainda integrar
Os parâmetros econômicos incluem o valor do veículos elétricos à modelagem, calculando seu
investimento, custos com financiamento, consumo no sistema predial e o custo de
despesas com operação e manutenção e a taxa de rodagem com energia solar e com energia da
desconto. As tarifas respeitam faixas de ICMS, concessionária.
presentes na maioria dos estados brasileiros, e
Consideramos PV*SOL o software mais completo
tarifas horo-sazonais.
para projetos de geração distribuída simples e
O relatório do cálculo econômico traz vários complexos. Uma versão de avaliação está
indicadores, como retorno de investimento e taxa disponível que permite testar o programa por 30
interna de retorno com um aspecto apresentável. dias com funcionalidade completa. Acesse
www.pvsol.com.br.
Uma qualidade importante é a versatilidade da
modelagem: ela pode partir da imagem de
satélite ou de uma planta baixa, mas permite 4. Previsão
também uma modelagem de maquete com O próximo capítulo será o último desta série,
dimensões dos prédios. onde abordaremos a legalização de projetos na
A forma mais nova é a importação de modelos 3D concessionária com aspectos da diferenciação
criados por drone, importante no interior onde o entre micro e minigeração. Outros temas serão
Google fornece uma baixa resolução, e facilitador tendências do mercado, como veículos elétricos e
sistemas com baterias.
em coberturas complexas que, antes,
necessitavam um levantamento demorado dos Acesse o manual completo com o material
obstáculos (figura 8). adicional aqui – é grátis!

O autor, Hans Rauschmayer, é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos


Profissionais Ltda, onde montou a abrangente grade de capacitação.
Reconhecido especialista em energia solar, ele já foi convidado para ensinar e
palestrar em universidades, instituições, congressos nacionais e internacionais e
vários programas de TV. Entre em contato pelo site www.solarize.com.br.

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MANUAL DE ENERGIA SOLAR
12 – LEGALIZAÇÃO DE PROJETOS E TENDÊNCIAS DO MERCADO

Figura 1: Etapas do processo de legalização de um projeto fotovoltaico conectado à rede

A distribuidora local tem o monopólio de


1. Introdução fornecimento de energia elétrica na sua área de
concessão. Ela ganhou o direito de vender
O presente capítulo encerra a série do manual de
energia e assumiu a obrigação de atender todos
energia solar. Aprenderemos neste mês como
os clientes naquela área.
legalizar um projeto fotovoltaico na
concessionária. Além de vender energia, ela também distribui
energia dentro do Ambiente de Contratação Livre
E vamos ainda dar uma olhada em tendências do
(ACL), também chamado de “Mercado Livre”. E é
mercado: sistemas híbridos, uso de drones como
isso que ela faz na Geração Distribuída também:
ferramenta e a sinergia de veículos elétricos com
ela recebe energia gerada pelo consumidor
a energia solar.
produtor, sem qualquer cunho comercial, e a
devolve em outro horário.
2. Legalização de Projetos
O relacionamento entre o cliente e a distribuidora
Fotovoltaicos – Princípios
envolve diferentes esferas:
O estado oferece diversas concessões. No nosso
contexto estamos falando da distribuição • A esfera contratual: consumo e produção
de energia;
regional de energia. Portanto, seria mais correto
• O faturamento da energia;
usar o termo “distribuidora” ao invés de
• A esfera técnica: como acessar à rede
“concessionária”. para receber e injetar energia.

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12 – LEGALIZAÇÃO DE PROJETOS E TENDÊNCIAS DO MERCADO

O lado contratual é padronizado pela Aneel, de • O profissional elabora o projeto e


forma simplificada. Sobre o faturamento falamos prepara a documentação;
no capítulo 10 – ele também é padronizado. • Opcionalmente, ele faz a consulta de
Ambas estão descritas na Regulação Normativa acesso. Este passo é recomendado
quando o acesso pode envolver custos
REN 482/2012 ANEEL.
adicionais, como, por exemplo, obras na
O lado técnico é o mais delicado para a subestação da distribuidora;
distribuidora, porque envolve equipamento • A solicitação de acesso representa o
individual e pode causar impactos na rede e em início da legalização e deve ser
acompanhada pelos documentos
outros clientes dela.
necessários (veja a seguir);
• A distribuidora analisa os documentos e
3. Normas para definir o acesso o ponto de conexão no local e informa
à rede pendências ou condições específicas;
• Depois da resolução das pendências, a
A ANEEL descreveu as condições para o acesso à distribuidora emite o Parecer de Acesso e
rede no documento chamado PRODIST envia, junto, os contratos a serem
(Procedimentos de Distribuição de Energia fechados;
Elétrica no Sistema Elétrico Nacional), no Módulo • O parecer tem validade de 120 dias, que
é o prazo para instalar o sistema;
3 – Acesso ao Sistema de Distribuição, Seção 3.7
• Concluída a instalação, o profissional
– Acesso de Micro e Minigeração Distribuída.
solicita a vistoria;
Cada distribuidora publica uma norma própria • A distribuidora conduz a vistoria, emite
que alinha as regras do PRODIST à sua norma do um relatório e troca o medidor;
acesso à rede. • Eventuais pendências devem ser
adequadas antes da troca e liberação do
acesso.
4. O Processo da Legalização A figura 1 indica os prazos máximos da
distribuidora para cada passo em caso de micro e
4.1. Os Atores
minigeração. Para eventuais obras de reforço da
O processo da legalização envolve três atores: rede, os prazos são maiores.
• O acessante, que é o proprietário ou
locatário da unidade de consumo onde o 4.3. A Documentação
sistema solar será conectado; A PRODIST define também a documentação a ser
• Um profissional habilitado que conduz o
entregue ao solicitar o acesso, que é feito no site
processo e representa o cliente frente à
distribuidora. Infelizmente não existem da distribuidora:
regras uniformes no Brasil sobre a • O formulário de solicitação, definido na
habilitação do profissional para conduzir PRODIST;
o processo. Algumas distribuidoras são • A ART de projeto e execução. Procure
até mais restritivas do que os conselhos informações sobre os detalhes da ART
regionais e as câmeras técnicas. É que a respectiva distribuidora espera;
importante consultar a distribuidora; • Diagrama unifilar e memorial descritivo;
• A distribuidora de energia. • Os certificados Inmetro dos inversores;
• Dados para registro do sistema no banco
4.2. O Processo de dados da ANEEL;
A figura 1 apresenta as etapas do processo
(detalhadas nos PRODIST):

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Figura 2: Exemplo de projeto unifilar para legalização do projeto

• Se houver compensação remota (veja Já nos casos de minigeração, a concessionário


capítulo 10), os dados das respectivas pode solicitar do acessante uma série de estudos,
unidades e a porcentagem de rateio; pagos por ele mesmo. O próprio acesso à rede
• Eventuais documentos que comprovam a pode exigir obras custeadas pelo cliente. Por isso
relação entre os participantes do rateio;
recomenda-se executar a Consulta de Acesso em
• Em sistemas com potência acima de 10
kW é exigida uma documentação técnica casos de dúvidas.
mais detalhada, com diagrama de blocos
e projeto elétrico;

4.4. O Projeto Unifilar


Frequentemente percebe-se entre empresas
iniciantes neste setor uma preocupação com o
conteúdo ou formato do projeto unifilar a ser
entregue à distribuidora. No entanto, ele é
bastante simples e repetitivo e inclui poucos
elementos. Figura 2 apresenta um exemplo.

4.5. Microgeração versus


Minigeração
Na definição dos procedimentos, a ANEEL partiu
da premissa que o cliente que deseja instalar um
sistema de microgeração (até 75 kW de potência)
deve ter um acesso simplificado sem custo
adicional.

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com objetivo de aumentar a cota do

Figura 3: Um inversor híbrido e suas possíveis conexões

autoconsumo;
5. Tendências do Mercado • Controle de gerador: um gerador externo
é ativado dependendo da demanda atual
5.1. Inversores Híbridos e da carga das baterias;
• Devolução à rede: a injeção de energia à
Inversores híbridos oferecem funções para
rede pode ser desligada, evitando assim a
sistemas conectados à rede (on-grid), e
necessidade da legalização na
autônomos (off-grid). Eles carregam e distribuidora.
descarregam baterias. Diversos parâmetros permitem balancear os
A faixa de aplicações é bastante ampla: objetivos de segurança energética, economia e
gerenciamento de energia.
• No-break: o inversor alimenta uma sub-
rede emergencial em caso de falha da Inversores híbridos devem aumentar sua
rede da concessionária. As baterias são participação no mercado com a queda de preço
carregadas pelo sol, durante o dia, e pela das baterias. A taxação proposta pela ANEEL, se
rede, quando esta está disponível;
realmente for aprovada, será mais um incentivo
• Off-grid com backup pela rede: o inversor
para usar baterias e reduzir a parcela da energia
alimenta uma sub-rede a partir do sol e
das baterias. Quando a tensão das injetada.
baterias cai abaixo de um limite Os projetos que usam inversores híbridos são
configurável entra a rede para alimentar
mais exigentes do que aqueles sem baterias, por
a carga;
causa dos cálculos em torno de potência,
• Peak-shaving: as baterias são carregadas
em horário de baixo consumo e corrente e carga, e por causa das modificações na
descarregados em horário de alto rede predial existente.
consumo com objetivo de limitar a
potência da carga;
• Gerenciamento de energia: as baterias
são carregadas quando há energia solar
sobressaliente e descarregadas à noite,

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5.2. Drones como Ferramenta de interesse e tirar fotos com uma sobreposição
Trabalho definida.
As fotos, depois, são tratadas em softwares
específicos e geram dois produtos:
• Mapas ortomosáicos, similares a imagens
de satélite, só que com uma definição e
precisão muito superior;
• Modelos em 3D para levantamento
integral de coberturas: a figura 4 mostra
uma laje típica, repleta de obstáculos,
entre os quais foram encaixados os
módulos, respeitando o sombreamento.
Um voo de drone de 10 minutos substitui
várias horas gastas para levantamento da
planta da cobertura e substitui acesso
pessoal.
Figura 4: Exemplo de uma laje, onde o levantamento por O aproveitamento completo destas técnicas se
drone economiza o trabalho faz com um software de modelagem que importa
Drones surgiram como equipamento de diversão. tanto o mapa ortomosáico quanto o modelo 3D.
Logo em seguida foram usados para filmar festas PV*SOL premium é um exemplo disso (leia mais
e eventos. no capítulo 11).

No setor de energia solar, muitas instaladoras já


5.3. Veículos elétricos
costumam filmar suas instalações executadas
com drones. Além de documentar o sistema, o
vídeo e permite ao proprietário compartilhar a
aquisição com seus amigos – marketing perfeito
para a integradora.
Em usinas de porte maior, o drone pode tirar uma
foto por dia, sempre do mesmo lugar, para
mostrar o progresso no estilo time-lapse. A
filmagem permite também um acompanhamento
remoto.
Para uma usina em funcionamento é
imprescindível detectar e consertar defeitos, Figura 5: A Guarda Municipal de São José dos Campos com seus
carros elétricos (foto do site da prefeitura)
antes que acumulem prejuízos financeiros.
Drones com câmeras termográficas conseguem Veículos elétricos estão começando a aparecer na
apontar módulos ou células com problemas, realidade brasileira. Quem acompanha nosso
porque estes esquentam mais do que as em blog já viu notícias de guardas municipais (figura
funcionamento normal. 5), de ônibus municipais e de empresas de
transporte executivo.
Mapeamento aéreo
O primeiro grande mercado será o uso comercial
No planejamento de instalações lança-se mão do
em serviços urbanos. Nestas aplicações, os
mapeamento aéreo de terrenos ou edificações. O
drone é programado para sobrevoar a área de veículos rodam, diariamente, um percurso
conhecido e são recarregadas durante a noite. As

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questões da autonomia restrita e da demora na 6. Conclusão


recarga não aparecem.
Agradecemos ao convite da revista O SETOR
A grande vantagem dos veículos elétricos é o ELÉTRICO para apresentar em 12 capítulos o
custo menor por quilômetro rodado e da conteúdo resumido do nosso curso para projetos
manutenção, quando comparado aos veículos fotovoltaicos conectados à rede.
equipados com motores a explosão. Publicamos
estudos para carros elétricos, onde o valor caiu de Acesse o manual completo com o material
0,40 ou 0,50 R$ / km com gasolina para 0,13 R$ / adicional no nosso site – é grátis. Esperamos que
km com energia da concessionária (acesse na tenha gostado e aproveitado. No caso de
sugestões ou dúvidas não hesite em nos contatar.
coletânea de apresentações do nosso site).
Com energia solar, o custo por quilômetro cai E aproveite para participar de um dos nossos
cursos: oferecemos turmas para iniciantes, para
ainda mais, a meros R$ 0,06 R$. Imbatível,
quando a montadora oferece modelos de aluguel avançados e para experientes, com os temas mais
para diluir o valor de compra mais alto. variados.

Podemos afirmar que os mercados de energia


solar e de veículos elétricos andam de mãos
dadas: quem se interesse por uma dessas
tecnologias, invariavelmente vai querer a outra
também. Uma vantagem para empresas que
conhecem ambas.
A questão chave para o uso de veículos elétricos
é a infraestrutura de carregamento: a potência do
eletroposto define o tempo da recarga e a
conexão na rede predial e na distribuidora.
As opções de faturamento devem ser estudadas
para uso compartilhado em edifícios ou pontos
públicos de recarga, que foram liberadas pela
ANEEL na Resolução 819/2018.

O autor, Hans Rauschmayer, é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos


Profissionais Ltda, onde montou a abrangente grade de capacitação.
Reconhecido especialista em energia solar, ele já foi convidado para ensinar e
palestrar em universidades, instituições, congressos nacionais e internacionais e
vários programas de TV. Entre em contato pelo site www.solarize.com.br.

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