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riscos de se ter apenas uma fonte de informação sobre um fato - ou, ainda, diversas fontes que
reproduzem uma única narrativa sobre aquela ocorrência. Esse acesso limitado a dados
ocasiona uma visão igualmente limitada de uma situação. Por descuido, por desejo deliberado
de manipulação, pela manutenção do poder ou por falta de habilidade, uma história pode ser
manipulada ou distorcida por quem a (re)conta. Ao historiador ou à historiadora, cabe, em sua
busca pela reconstrução e pelo entendimento do que já se passou, além da consulta a uma
multiplicidade de fontes de informação, também o acesso à maior quantidade possível de
detalhes e linhas narrativas, para que, ao montar o quebra-cabeça do passado, seja capaz de
identificar peças que não encaixam ou que destoam do todo.
A história, ao mesmo tempo que busca ser fiel aos fatos, também é, por natureza, um conjunto
de versões dos atores e agentes envolvidos, porque, inevitavelmente, há vários pontos de vista
em todos os acontecimentos humanos e naturais. Limitar-se a uma versão, dar a voz a apenas
um ou uma agente, contar e recriar apenas uma narrativa significa, automaticamente, silenciar
todas as demais vozes e condenar o presente ao conhecimento de uma fração estreita do
passado. O compromisso primeiro de quem se dispõe a estudar a história deve ser o de
aproximar-se da verdade, de forma isenta e imparcial, e, mais ainda, defendê-la e, se
necessário, restaurá-la no caso do surgimento de teorias negacionistas ou fantasiosas.
Sobre essa questão, Arthur Ávila discorre sobre o negacionismo crescente não só no Brasil,
mas no mundo, e sobre o risco que essas teorias trazem à preservação da memória e da
história de um povo. É relativamente recente a inclusão de visões de grupos minoritários de
grandes acontecimentos do passado. A história tende a ser contada pelo vencedor – opressor
e colonizador, no caso da história das américas. O "descobrimento" do Brasil, de forma
falaciosa, faz parecer que estas terras estavam "cobertas", "no escuro" ou "sem dono", e o
fato de os indígenas, os primeiros habitantes deste território, terem sido dizimados,
enganados e explorados pelos colonizadores foi, por anos, (esse sim) acobertado pelo discurso
tendencioso e mentiroso de que os nativos teriam sido, generosamente, "salvos" pelo caridoso
homem branco.
Chimamanda é mulher, negra, nigeriana e escritora. Arthur Ávila é homem, branco, brasileiro e
professor. Em comum, têm o fato de que contam (e fazem) história. E preocupam-se, os dois,
com a multiplicidade, a qualidade, a quantidade e o livre acesso às fontes para garantir que
toda história que valha a pena ser contada não corra o risco de ser ingrata ou injusta com
nenhuma das personagens ou grupos envolvidos.