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Cinza vegetal e biochar na agricultura

Book · March 2021

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4 authors, including:

Edna M. Bonfim-Silva Jefferson Vieira José


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Universidade Federal do Acre
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EDNA MARIA BONFIM-SILVA
Edna Maria Bonfim-Silva
Editora

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


2020 Uniedusul Editora
Copyright da Uniedusul Editora
Editor Chefe: Profº Me. Welington Junior Jorge
Diagramação e Edição de Arte: Uniedusul Editora
Revisão: Os autores

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O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade
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mas sem de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
www.uniedusul.com.br
PREFÁCIO

A minha fé...

Bendita seja a minha fé que me permite criar asas para voar e romper o medo quando não
existir chão...

Bendita seja a minha fé que aumenta a minha resistência e que permite e favorece a minha
resiliência...

Bendita seja a minha fé que permite abraçar os desafios, com a certeza que existe um Deus
misericordioso que me guia, impulsiona e me ampara nos momentos mais difíceis da minha
caminhada...

Bendita seja a minha fé que faz parte da minha essência ... Contribui com o que sou... A

minha essência é o que vem da minha alma... A minha essência é o que jamais poderá ser alterada...

Bendita seja a minha fé que me permite evoluir do lado pessoal e profissional.

Bendita seja a minha fé que me permite confiar que tudo pode sim melhorar... Tudo se torna
menos difícil quando encaro os desafios com fé em Deus e em Nossa Senhora...

Bendita seja a minha fé...


Edna Maria Bonfim-Silva

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


APRESENTAÇÃO

Em termos gerais, o acesso à informação tem melhorado, seja devido ao acesso à internet, seja
pelo acesso à educação básica, que tem evoluído com o passar do tempo ou, ainda, pela própria
maneira de encarar o mundo por parte das novas gerações frente ao uso responsável dos
conhecimentos adquiridos. Assim, ocorre intensa preocupação para a conservação e manejo racional
dos recursos naturais nos processos produtivos, que vem se intensificando a cada ano.

O uso sustentável dos recursos naturais e os novos processos produtivos caminham no sentido
de conservação do solo e água, e de melhorar o gerenciamento de resíduos, buscando novas
alternativas para minimizar os impactos ambientais. Frente a isso, é necessário diversificar fontes de
insumos agrícolas, principalmente alternativas que utilizem resíduos de origem vegetal de maior
eficiência para a agricultura.

Na agricultura, o uso de resíduos sólidos é vantajoso, sendo alguns deles constituídos de


quantidades significativas de nutrientes benéficos para o sistema solo-planta, como a cinza vegetal,
que pode ser utilizada de forma segura como corretivo e fertilizante.

Com o mesmo intuito de conservar os recursos ambientais, um novo produto, o biochar, vem
sendo desenvolvido com o aproveitamento de materiais orgânicos. O biochar é um condicionador do
solo, que retém grande quantidade de carbono por um longo período, sendo utilizado na agricultura
com muita similaridade de seus efeitos, comparados a cinza vegetal.

O livro “Cinza Vegetal e Biochar na Agricultura” traz uma abordagem didática baseada nas
definições, diferenças, similaridades, utilizações, impactos, aplicações, legislações vigentes e
resultados desses materiais na agricultura. Assim, os autores, com a colaboração do GPAS (Grupo de
Práticas em Água e Solo), elaboraram os capítulos objetivando contribuir com um tema importante,
e ainda escasso na literatura brasileira, quando se trata de livro didático, principalmente sobre a
caracterização e destinação da cinza vegetal e do biochar na agricultura.

Boa leitura.

Edna Maria Bonfim-Silva


SUMÁRIO

CAPÍTULO 01..................................................................................................................................07
CINZA VEGETAL COMO CORRETIVO E FERTILIZANTE
Edna Maria Bonfim-Silva
Alessana Franciele Schlichting
Jefferson Vieira José

CAPÍTULO 02..................................................................................................................................31
BIOCHAR: DEFINIÇÕES E APLICAÇÕES NA AGRICULTURA
Alessana Franciele Schlichting
Edna Maria Bonfim-Silva
Jefferson Vieira Jose
Tonny José Araújo da Silva

CAPÍTULO 03..................................................................................................................................42
CINZA VEGETAL NOS ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO
Thiago Franco Duarte
Tonny José Araújo da Silva
Edna Maria Bonfim-Silva

CAPÍTULO 04..................................................................................................................................62
CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA REMEDIAÇÃO
Edna Maria Bonfim-Silva
Rackel Danielly de Souza Alves
Alisson Silva Costa1
Maria Aparecida Peres-Oliveira

CAPÍTULO 05..................................................................................................................................77
CINZA VEGETAL NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES
André Pereira Freire Ferraz
Edna Maria Bonfim-Silva

CAPÍTULO 06..................................................................................................................................86
PRODUÇÃO AGRÍCOLA VS. PRESERVAÇÃO DO CERRADO: O QUE A CINZA VEGETAL TEM
A VER COM ISSO?
Adriane Barth

CAPÍTULO 07..................................................................................................................................96
TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE CINZA VEGETAL E BIOCHAR
William Fenner
Tonny José Araújo da Silva
Edna Maria Bonfim-Silva

CAPÍTULO 08................................................................................................................................103
LEGISLAÇÃO SOBRE O USO DA CINZA VEGETAL E BIOCHAR
Ana Paula Alves Barreto Damasceno
Edna Maria Bonfim-Silva
Capítulo 01
Cinza vegetal como corretivo e fertilizante

Edna Maria Bonfim-Silva1


Alessana Franciele Schlichting 1
Jefferson Vieira José1

RESUMO: A cinza vegetal é um resíduo proveniente da queima de biomassa vegetal resultante da


produção de energia elétrica. Essa queima de biomassa no sistema pode acarretar em problemas
ambientais, devido ao alto volume de material queimado associado a falta de planejamento para uma
destinação segura desse resíduo ao ambiente. Nesse contexto, com foco nas questões ambientais e na
produção agrícola, esse capitulo faz uma abordagem da possibilidade de utilização desse resíduo na
agricultura e traz alternativas de aproveitamento da cinza vegetal. A cinza vegetal pode ser utilizada
como corretivo e fertilizante sendo capaz de proporcionar aumento na produtividade e qualidade das
culturas. A cinza vegetal possui qualidade como corretivo e fertilizante, sendo essas características
relacionadas a matéria prima e a forma de combustão utilizada no processo de produção. Assim, a
análise química da cinza vegetal como corretivo ou fertilizante é recomendada antes da sua utilização.
No entanto, para sua aplicação deve-se levar em consideração a classe de solo, espécie vegetal,
quantidade utilizada e formas de aplicação. A cinza vegetal tem apresentado efeitos positivos no
crescimento, desenvolvimento, produção e na nutrição mineral das plantas. Por isso, os principais
aspectos considerados estão relacionados a destinação segura da cinza vegetal no ambiente e seu
melhor aproveitamento como corretivo e fertilizante para redução dos custos dos produtores rurais
com aquisição de insumos agrícolas. Esse capítulo traz também uma explanação mais geral sobre
outras formas de aproveitamento desse resíduo e o seu ciclo no ambiente.

ABSTRACT: Wood ash is a residue from the burning of plant biomass resulting from the production
of electricity. This burning of biomass in the system can lead to environmental issues due to the high
volume of burnt material associated with the lack of planning for safe disposal of this waste to the
environment. In this context, focusing on environmental issues and agricultural production, this
chapter approaches the possibility of using this residue in agriculture and offers alternatives for using
wood ash. It can be used as a corrective and fertilizer being able to provide increased productivity
and quality of crops. Wood ash has quality as a concealer and fertilizer, these characteristics being
related to the raw material and the combustion form used in the production process. Thus, chemical
analysis of wood ash as a corrective or fertilizer is recommended before use. However, for its
application, the soil class, plant species, amount used and application forms must be taken into
account. Wood ash has shown positive effects on plant growth, development, production, and mineral
nutrition. Therefore, the main aspects considered here are related to the safe disposal of wood ash in
the environment and its better use as a corrective and fertilizer to reduce the costs of rural producers
with the purchase of agricultural inputs. This chapter also provides a more general explanation of
other ways to use this waste and its cycle in the environment.

1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


8
INTRODUÇÃO

A cinza vegetal é um resíduo sólido das indústrias cuja energia é proveniente da queima de
biomassa vegetal. O que se tem observado a nível mundial é a ocorrência de um aumento da
disponibilidade de cinza vegetal, devido a crescente utilização de combustíveis fósseis para geração
de energia. Assim, surge a necessidade de estudos para a sua destinação de forma segura no ambiente.
Esse subproduto tem sido utilizado de diversas formas, sendo uma das mais expressivas sua utilização
como corretivo e fertilizante alternativo nos solos agricultáveis. Esse resíduo tem um alto potencial
na correção da a acidez do solo e na melhoria da fertilidade por ser rica em nutrientes essenciais as
plantas. A cinza também vem sendo utilizada como matéria prima, base para composição de
substratos no desenvolvimento de mudas e para produção de organomineral. Assim, a utilização de
cinza vegetal na agricultura pode proporcionar a diminuição da degradação do solo que pode ser
química, física e biológica. A destinação da cinza vegetal como corretivo e fertilizante na agricultura
aumenta a sustentabilidade da segurança alimentar e a gestão desse resíduo no ambiente de forma
segura.
Embora a utilização da cinza vegetal em cultivos seja uma prática que tem proporcionado
aumento na produção e melhoria na qualidade das culturas, o problema com destino desse resíduo
sólido, tem levantado alguns questionamentos sobre os efeitos nas propriedades químicas do solo em
diversas condições tais como a dose utilizada, a classe de solo, a frequência de aplicação do resíduo,
a forma de aplicação e a qualidade do resíduo.
Nesse capitulo serão abordados alguns conceitos específicos para a cinza vegetal, bem como
os seus efeitos como corretivo e fertilizante na agricultura. Serão apresentados ao longo do capitulo
dados de pesquisa que comprovam que sua utilização na agricultura pode ser uma boa alternativa para
um destino seguro no ambiente.

CINZA VEGETAL – Definições e Produções

A cinza vegetal é um material sólido e acinzentado (Figura 1), podendo apresentar de tom
cinza mais claro até o cinza escuro próximo a cor preta, resultado da incineração de qualquer material
orgânico passível de queima completa (Coelho & Costa, 2007). A cinza é um subproduto que surge
após a geração de vapor para produção de energia térmica, pela combustão de troncos de árvores,
cavacos, casca, galhos, feno, serragem, briquetes, carvão mineral, podas de árvores urbanas, dentre
outras.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


9

A cinza vegetal pode ser armazena no próprio campo, desde que seja coberta com uma lona,
para que não espalhe com o vento e não fique muito úmida com a chuva, assim fica mais próximo
possível da cultura a ser adubada.

Figura 1. Cinza vegetal disposta no campo para aplicação em área de recuperação de pastagem no cerrado mato-
grossense. Rondonópolis-MT. Fonte: Os autores

No processo de produção da cinza vegetal uma tonelada de madeira (100% material seco)
utilizada em gerador de vapor (caldeira), produz aproximadamente 1 megawatt-hora de eletricidade,
o que é suficiente para abastecer 1.000 casas por 1 hora, o que geraria de 0,08 a 0,20 m 3 de cinza
vegetal (Meyer et al.,1999).
A utilização dessa biomassa vegetal para produção de energia térmica, comumente utilizada
em indústrias, está crescendo mundialmente, devido a necessidade em se utilizar fontes de energia
renováveis em resposta as preocupações com as mudanças climáticas (McKendry, 2002). Na Europa
para atender as novas políticas de obtenção de energia sustentável serão necessários um aumento de
130% na queima de madeira até 2024 (Searchinger et al., 2018). Essa é a tendência da maioria dos
países do mundo, devido à preocupação em reduzir a emissão de CO2 na atmosfera. Esse tipo de
geração de energia emite baixo índice de gases de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O), sendo a emissão
desses gases na ordem de 2-19% das emissões a partir de uma fonte de energia equivalente (Raymer,
2006).
As fábricas de produção de celulose produzem em torno de 40 t de cinza vegetal a cada 100 t
de celulose produzida (Bellote et al., 2003). Essa quantidade de cinza vegetal produzida varia de
acordo com o material utilizado, temperatura de combustão e com as especificidades do gerador de
vapor.
Assim, deve-se levar em consideração que o valor calorífero gerado depende do material
utilizado. Em muitos países que utilizam diferentes materiais vegetais como biocombustíveis
produzem diferentes quantidades de cinza vegetal. Em levantamento realizado por Tan & Lagerkvist
(2011), demonstraram que existe um valor calorífero bruto para cada material vegetal utilizado e a
quantidade de cinza vegetal produzida (Tabela 1).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Tabela 1. Cinza vegetal e valor calorífero bruto dos diferentes biocombustíveis


Biomassa Cinza Vegetal (%) Mj kg-1

Caroço de pêssego 0,38 22,02

Bagaço de cana-de-açúcar 2,84 21,16

Bagaço de azeitona 4,42 19,97

Palha de trigo 6,22 18,50

Triagem de grãos 9,02 16,40

Palha de arroz 10,46 14,40

Alga (Sargassum natans) 29,09 8,68

Fonte: Tan & Lagerkvist (2011).

No entanto, os produtos tradicionais da biomassa florestal para geração de calor podem ser
misturados por produtos com maior rendimento energético por meio da técnica de densificação da
biomassa. Um exemplo disso são os resíduos da indústria moveleira, como maravalhas, briquetes e
pó de serra. A densidade energética do briquete é cerca de sete vezes maior que a da madeira e,
consequentemente, maior poder calorífico, usado quando disponível na mistura para combustão
(Abreu et al., 2014).
A cinza vegetal pode ser dividida em dois tipos: a volante (fly-ash) e a de fundo (bottom-ash).
A cinza volante é a mais fina (<0,075 mm), que tende a sair juntamente com a fumaça, mas que é
retida por sistemas de precipitação. A cinza de fundo é mais espessa e se depõe diretamente no fundo
da caldeira. Durante a combustão da biomassa a cinza vegetal passa por vários processos, reações e
diâmetros que as distinguem entre a cinza de fundo e a cinza volante (Figura 2).
Assim, como a quantidade de cinza vegetal produzida depende do material utilizado, a
composição química da cinza também depende da espécie vegetal utilizada para biomassa vegetal
(madeira, cascas e galhos) (Campbell, 1990), do tipo de caldeira (Pugliese et al., 2014), do calor de
combustão (Misra et al., 1993; Etitgni & Campbell 1991; Košnář et al., 2016) e das possíveis fontes
de contaminação, como madeira de demolição, solo e terra presente na cinza (Pitman, 2006).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Figura 2. Mecanismos envolvidos na formação das cinzas de fundo e volantes. Fonte: Adaptado de Silva (2016).

Silva (2016) distinguiu várias classificações para a cinza vegetal, segundo à origem, fonte e
propriedades físico-químicas. Dentro de cada uma dessas distinção pode-se mensurar a finalidade de
destinação do material (Tabela 2).
Tabela 2. Classificação da biomassa quanto à origem, fonte e propriedades físico-químicas.
Origem Propriedades Origem e fonte
Resídos primários Biomassa lenhos: softwood, Biomassa lenhosa: inclui
provinientes da floresta e hardwood, casca folhas resíduos primários,
agricultura (bicadas, cepos, bicadas pellets, briquetes secudários, terciários e
etc) resíduos sivícolas, cepos, etc culturas energéticas
Resíduos secundários Herbárceas e resíduos Herbárceas e resíduos
resultantes do agrícolas matos, bagoço de agrícolas igual à
processameto da biomma azeitona, casca de arroz, propriedades, sem incluir
(estilja, pellets, briquetes, palha, sementes. Frutos, frutos, sementes e caroços,
casca desfibrada, etc) flores, pinhas, caroços, relva, pinhas, casca de frutos, etc
etc
Resíduos terciários Biomassa aquática: algas e Frutos: caroços, sementes,
derivados das commodities espécies unicelulares frutos, etc
(madeira de mobiliário e
construção, etc)
Biomassa proviniente de Biomassa animal e resíduos Mistura de diferentes
culturas energéticas alimentares: camas de gado, biomassas
resíduos de talho, etc.
Biomassa contaminada e
resíduos de biomassa
industrial: resíduos sólidos
urbanos, madeira de mobiliário
e construção, lamas, caixas de
madeira, papel e cartão etc
Mistura de diferentes
biomassas

Fonte: Silva (2016)

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Cinza Vegetal na Agricultura

A cinza vegetal pode ser utilizada na agricultura como corretivo de acidez e fertilizante do
solo fornecendo nutrientes para as plantas. No sistema solo-planta a participação da cinza vegetal,
por ser um material alcalino, tem efeito direto na diminuição da acidez do solo, neutralizando a
toxicidade pelo alumínio (Al3+), aumentando a disponibilidade de nutrientes na solução do solo e a
capacidade de troca catiônicas (Figura 3). Geralmente a cinza vegetal fornece nutrientes ao solo como
magnésio, cálcio, fósforo e potássio (Osaki & Darolt, 1991; Maeda et al., 2017; Ferreira et al., 2012;
Bonfim-Silva et al., 2013 e Bonfim-Silva et al., 2019b) em relação aos outros nutrientes, também
contidos no material.

Figura 3. Cinza vegetal como corretivo e fertilizante no solo. Fonte: Os autores

Nesse contexto, é importante ressaltar que a quantidade de argila no solo influência


diretamente no efeito da cinza vegetal na reação correção da acidez do solo. Assim, quanto menor o
poder tampão (mais arenoso for o solo), mais resistente o solo será a mudança de pH, o que pode ser
observado em experimento realizado por Bonfim-Silva et al. (2020b) em que se avaliaram o cultivo
de cebolinha em função de doses de cinza vegetal e de duas classes de solo sendo o Latossolo
Vermelho e Neossolo Quartzarênico (Figura 4).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Figura 4. pH do solo cultivado com cebolinha em função de doses de cinza vegetal (A) e da classe de solo avaliada (B).
** e * = significativo a 1 e 5%, respectivamente. LatV = Latossolo Vermelho e NeoQ = Neossolo Quartzarênico. As
barras verticais são o intervalo de confiança para a média (95%).
Fonte: Bonfim-Silva et al. (2020b).

Além das mudanças nas propriedades químicas, a adição de cinza vegetal em solos altera
características físicas com a diminuição da densidade e aumento da porosidade total do solo
(Karmakar et al., 2010), o que melhora a aeração e consequentemente melhora a disponibilidade de
nutrientes para as plantas por deixar o espaço poroso em condições mais adequadas.
Nesse contexto, o aproveitamento do cinza vegetal (resíduo industrial) e os benefícios como
corretivo e fertilizante, ainda acarreta economia ao produtor, pois a cinza vegetal é comercializada
em muitos países a custo menores que o calcário agrícola. Assim, além da economia com o valor de
aquisição do calcário tem-se a diminuição dos custos da aquisição de fertilizantes minerais, levando-
se em consideração os nutrientes minerais que a cinza vegetal disponibiliza ao solo.
Além do efeito como fertilizante e corretivo a cinza vegetal pode ser utilizada na
biorremediação do solo contaminados com As, Zn, Cu, Cd e Pb, podendo imobiliza-los ou diminuir
sua mobilidade, além de poder favorecer o melhor desenvolvimento de minhocas (Pukalchik et al.,
2018).
Para sua aplicação, não se aplica cinzas imediatamente antes do plantio ou durante a
emergência inicial, pois pode causar condições alcalinas concentradas de curto prazo que pode
interferir no crescimento da planta. As cinzas também podem absorver pesticidas se ter um tempo
para neutralizar no solo, portanto, evite aplicações químicas por três a cinco dias antes ou depois
aplicação de cinza vegetal (Risse & Gaskin, 2013).

Ação da cinza vegetal como corretivo de solo


A acidificação do solo está associada a perdas de bases trocáveis (Ca, Mg, K e Ca) devido à
lixiviação, prática agrícola sem correção do solo usa de fertilizantes e absorção de nutrientes pelas

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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plantas (Malavolta, Vitti & Oliveira, 1997). Além desses fatores, a mineralização da matéria orgânica
também pode contribuir para acidificação do solo (Hede et al., 2001).
Quanto menor for o pH do solo, maiores serão as concentrações de alumínio na forma de Al3+
que está relacionado à redução de bases trocáveis na solução (Malavolta, Vitti & Oliveira, 1997).
Alto teor de alumínio na solução do solo pode causar danos ao sistema radicular das culturas,
deixando-o esponjoso e expeço reduzindo o crescimento, superfície, expansão, alongamento e divisão
de células radiculares (Kochian, 1995; Barcelo & Poschenrieder, 2002; Kochian et al., 2004)
prejudicando a eficiência na absorção de nutrientes pelas plantas. Quando o pH do solo está inferior
a 5,5, formas solúveis de Al são disponíveis para as plantas principalmente, Al3+ sendo o maior fator
limitante a produção agrícola.
A capacidade da cinza vegetal em neutralizar um solo ácido dependente da quantidade e do
nível de solubilidade das bases alcalinas (Ca+Mg+K+Na) associados a carbonatos, óxidos,
hidróxidos, cloretos, sulfatos, fosfatos, nitratos, silicatos e material amorfo (Füzesi, Heil & Kovács,
2015; Bezerra et al., 2016), esses reagem com H+ e Al3+ no solo, diminuindo a acidez trocável e
aumentam o pH. Assim, quando a cinza vegetal entra em contato com o solo ácido o Al3+ é precipitado
devido suas propriedades alcalinas (Meriño-Gergichevich et al., 2010).
As cinzas volantes podem ter maior poder neutralizante na média de 50% de CaCO3, enquanto
as cinzas de fundo apresentam poder neutralizante de 20 a 25% de CaCO3 (Nurmesniemi et al., 2012,
Dahl et al., 2009 e 2010). Assim, o poder neutralizante da cinza vegetal também variar de acordo com
a granulometria da cinza. Porém, esses valores apresentados ainda são menores do que os materiais
comerciais típicos utilizados para calagem, o calcário, cal virgem e cal hidratado.
A eficiência desse material como alternativa para correção do pH do solo varia de acordo com
a sua dose aplicada (Figura 5).

Figura 5. Variação do pH no solo em função das doses de cinza vegetal. Fonte: Adaptado de Bezerra et al. (2016);
Bonfim-Silva et al. (2013); Bonfim-Silva et al. (2015).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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A quantidade de cinza vegetal a ser aplicada como corretivo pode ser efetuada com base na
equação 1, conforme (Risse & Gaskin, 2013).

Equação 1

Dose de calcário recomendada (t/ha)


Dose de cinza vegetal (t/ha) =
PRNT da cinza ÷ 100
Exemplo de utilização da fórmula:

Após análise do solo, em uma fazenda no Estado de Mato Grosso, verificou-se a


necessidade de correção de acidez do solo. Após cálculos, foi constatado que seriam necessários
a aplicação de 2 t ha-1 de calcário com PRNT 98%. O produtor optou por aplicar a cinza vegetal
para correção do seu solo, porém a cinza disponível na propriedade tem um PRNT de 50%.
Quantas t ha-1 de cinza vegetal serão necessárias para corrigir esse solo?

Dose de calcário recomendada (t/ha)


Dose de cinza vegetal (t/ha) =
PRNT da cinza ÷ 100

2 (t/ha)
Dose de cinza vegetal (t/ha) =
50 ÷ 100

2
Dose de cinza vegetal (t/ha) =
0,5
Dose de cinza vegetal = 4 t ha-1
Assim serão necessárias t ha-1 de cinza vegetal para corrigir o pH do solo ao nível desejado.

Caso o Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT) da cinza vegetal seja baixo de 50%,
pode-se utilizá-la como um complemento a calagem ao invés de um substitutivo total ao calcário.
Essa substituição parcial ajuda a potencializar a produção e minimizar a quantidade de calcário a ser
utilizado (Clapham & Zibilske, 2008), podendo proporcionar economia ao produtor.
A cinza vegetal também vem sendo transformada para diminuir sua perda no transporte e
aumentar sua eficiência de aplicação, alguns procedimentos como a granulação, carbonatação ou
mistura com outros materiais, vem ocorrendo pelo mundo se tornando em materiais ainda mais
competitivos como corretivos e fertilizante.
Em trabalho desenvolvido por Bonfim-Silva et al. (2020c) utilizando cinza vegetal na
formulação de um organomineral, observaram que o efeito foi significativo no aumento pH do solo
quando se utilizou a adubação orgânica (exclusiva com cinza vegetal) e o organomineral a base de
cinza vegetal e adubo mineral (Figura 6). Pode-se observar que todos os fertilizantes com a presença
da cinza vegetal contribuíram com o aumento significativo no pH do solo, quando comparado apenas
ao tratamento com adubação exclusiva com adubo mineral.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


16

7 a
a
6
b
5

pH do solo
4
3
2
1
0
Mineral Organic Organomineral
Fertilizante

Figura 6. Reação do solo (pH em CaCl2) após a colheita, aos 75 dias após a emergência do feijão-caupi. Barras com a
mesma letra não são estatisticamente diferentes, teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Fonte: Os autores.

Ação da cinza vegetal na fertilidade do solo

Na cinza vegetal pode ser encontrada a maioria dos nutrientes da biomassa após a combustão
de todo o carbono orgânico (Jenkins, 1998). Essa composição pode ser muito variável e de difícil
padronização. Na Tabela 3 podem-se observar os resultados de alguns trabalhos que caracterizaram
a cinza vegetal da região de Rondonópolis-MT como corretivo e fertilizante. Para essas
caracterizações utilizou-se a metodologia proposta por Osaki & Darolt (1991).

Tabela 3. Composição química da cinza vegetal produzidas na região de Rondonópolis, MT.


pH N P2O5 K2O Ca Mg Na SO4 Zn Cu Fe Mn B Si

CaCl2 g kg-1

NA1 NA 16,7 27,2 27,0 NA NA 14,9 0,10 0,10 NA 0,1 0,2 NA

10,72 NA 29,8 33,2 31,5 NA NA 1,5 0,11 0,11 NA 0,7 0,15 NA

11,83 0,25 48,5 16,6 NA 28,5 NA 2,8 0,13 0,00 NA 0,5 0,2 187,0

10,74 3,10 9,6 34,7 33,0 21,0 0,13 2,0 0,1 0,0 10,3 0,4 0,1 274,4

NA= não analisado; N=Nitrogênio; P2O5 = fósforo em citrato neutro de amônio e água (CNA +Água); K 2O=Potássio; Ca=Cálcio; Mg=Magnésio; Na=
Sódio; SO4=Enxofre; Zn= Zinco total; Cu= Cobre total; Mn=Manganês total; B=Boro total; Si= Silício. Fonte: 1- Bonfim-Silva et al. (2013); 2- Espírito
Santo et al. (2018); 3- Bonfim-Silva et al. (2018); 4- Bonfim-Silva et al. (2019a).

As concentrações de nutrientes disponíveis na cinza vegetal irão variar significativamente de


acordo com a matéria prima utilizada na combustão, a temperatura de queima desse material e seu
armazenamento.
A cinza vegetal pode conter quantidades diferentes da maioria dos nutrientes requeridos para
o crescimento de plantas. Apresenta, geralmente, cálcio, magnésio e potássio (Etitgni &

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Campbell,1991; Saarsalmi, Mälkönnen & Piirainen, 2001; Iqbal & Lewandowski, 2016), porém
contêm pequenos traços de nitrogênio, devido à sua baixa temperatura de volatilização (Saarsalmi,
Mälkönnen & Piirainen, 2001) e pouco fósforo (Hakkila & Halaja, 1983) conforme visto
anteriormente na Tabela 3.
Nas Figuras 7 e 8, pode-se observar que em experimentos desenvolvido com capim-mombaça
(Megathyrsus maximus) e com feijão mungo (Vigna radiata L.), demonstram o efeito da cinza vegetal
no desenvolvimento da parte aérea e do sistema radicular das culturas quando se utiliza doses de cinza
vegetal.

Figura 7. Panicum maximum cv. Mombaça, cultivado em vasos, submetido a doses de cinza vegetal (0, 8, 16, 24 e 32 g
dm-3). Fonte: Os autores.

Figura 8. Feijão Mungo (Vigna radiata L.), cultivados em vasos sob tensão de água de 4 kPa, submetido a doses de cinza
vegetal (0, 16 e 32 g dm-3). Fonte: Dourado (2020).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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A aplicação da cinza vegetal aumenta o desenvolvimento das plantas (Figura 9), assim como
a concentração de macronutrientes e micronutrientes e por consequência sua produtividade (Figura
10) com o aumento das doses de cinza vegetal, como relatado em diversos trabalhos.
Na figura 9, demonstra-se o aumento da massa seca das folhas em dois solos (Latossolo e
Argissolo) após aplicação de doses de cinza vegetal, em vasos plásticos em casa de vegetação.

Figura 9. Desenvolvimento das plantas de Urocloa brizantha cv. Marandu em função das doses de cinza vegetal em duas
classes de solos. Fonte: Adaptado de Bezerra (2018).

Efeito da adubação com a cinza vegetal também foi verificado por Espírito Santo et al. (2018),
em que a sua aplicação com manejo não incorporado ao solo, em experimento ao campo, apresentou
maior massa seca da parte área da Urocloa brizantha cv. Marandu em recuperação (Figura 10). Esses
resultados trazem as informações praticas em relação ao manejo da cinza vegetal em área de
pastagem, pois pode-se observar que o manejo de aplicação da cinza vegetal quando não incorporada
ao solo (aplicada apenas na superfície do solo sem a incorporação com a grade leve) apresenta efeito
de maior produção por não provocar o efeito da grade causando danos ao sistema radicular na sendo
na fase inicial de recuperação. Desse modo, em áreas de recuperação de pastagem a melhor
recomendação é para a aplicação de cinza vegetal na superfície do solo, para que a gramínea
forrageira faça maior absorção e aproveitamento dos nutrientes, refletindo na sua produtividade.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


19

6000
MSPAsuperfície = 2380,1 + 188,39*CZ

Massa seca da parte aérea (kg ha-1)


5000 R² = 0,8269

4000

3000

2000
MSPAIncorporada = 422,62 + 15,994*CZ
R² = 0,7546
1000

0
0 3 6 9 12 15
Cinza vegetal (t ha-1)

Figura 10. Massa seca da parte aérea no primeiro corte das plantas de Urocloa brizantha cv. Marandu submetido ao
manejo de aplicação da cinza vegetal na superfície do solo sem incorporação (linha superior) e incorporado ao solo com
grade leve (linha inferior), aos 30 dias após a aplicação de cinza vegetal em área de recuperação de pastagem no Cerrado
mato-grossense. CZ=Cinza Vegetal, *=significativo a 5% de probabilidade. Fonte: Espírito Santo et al. (2018)

Pesquisas realizadas com a adubação com cinza vegetal no desenvolvimento vegetativo e nas
características produtivas de diversas culturas são amplamente discutidas na literatura e vem
demostrando o potencial desse resíduo na substituição total ou parcial ao calcário agrícola em
diferentes culturas e classes de solo (Bonfim-Silva et al., 2020a; Bonfim-Silva et al., 2020b; Bonfim-
Silva et al., 2019a).
Nesse contexto, vale ressaltar que, embora nesse capitulo venha sendo apresentado trabalhos
científicos para abordagem do tema, em termo de aplicação pratica se tem vários relatos sobre a
utilização da adubação exclusiva ou parcial com cinza vegetal por pequenos e médios produtores,
principalmente com cultivos de hortaliças e em área de pastagens.
A cinza vegetal tem pequena quantidade de nitrogênio e fósforo residuais que está diretamente
ligada à temperatura de combustão que esses materiais são expostos para a geração de energia, que
geralmente podem ultrapassar 800°C. O nitrogênio volatiliza após a temperatura de 200°C. De acordo
com Tan & Lagerkvist (2011) o fósforo condensa na forma de óxidos de fósforo na faixa de
temperatura de 400-600°C.
De qualquer forma, a cinza irá conter macronutrientes e micronutrientes, sendo variada apenas
suas concentrações. A solubilidade dos macronutrientes nas cinzas diminuem na seguinte ordem K>
Mg> Ca> P (Eriksson, 1998). Assim, a aplicação de cinza vegetal aumenta a CTC (capacidade de
troca catiônica) do solo e, assim, aumenta a capacidade de retenção de Ca2+, Mg2+ e K+, aumentando
a fertilidade do solo.
A cinza vegetal pode alterar a quantidade de matéria orgânica no solo e potencializar a
adubação nitrogenada (Brais, Bélanger e Guillemette, 2015), proporciona o efeito secundário de

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


20
fertilizantes, que é a aplicação de um nutriente que pode beneficiar ou prejudicar o teor e/ou ação de
outro (Whitehead, 2000). Isso acontece devido ao cálcio, que atua como um mensageiro secundário
para uma gama de respostas e o magnésio que é um outro importante cofator para muitas reações
bioquímicas (Epstein e Bloom, 2004).
Mandre (2006) realizando experimento com aplicação de cinza vegetal no solo com duas doses
de cinza vegetal de 0,25 e 0,5 kg m-2, em solo arenoso cultivado com Pinho, verificou a
disponibilidade de nutrientes no solo no decorrer do tempo. Observou o aumento do pH do solo e de
todos os nutrientes, exceto o nitrogênio (Figura 11).

Figura 11. Dinâmica sazonal e conteúdo médio de elementos minerais no solo após aplicação de cinzas de madeira.
Fonte: Mandre (2006)

As cinzas volantes possuem maior quantidade de nutrientes, podendo reter mais 60% de
P+Ca+Mg+Mn+Cu e até mais de 30% em S+K+Fe. Porém, as cinzas de fundo contêm baixo teor de
nutrientes, por isso se aconselha a mistura de cinzas de fundo e volantes para reciclagem no solo,
aumentando para 75% em P+Ca+Mn+Mg (Roser et al., 2008; Loo & Koppejan, 2003; Obernberger
et al., 1997; Ingerslev et al, 2011; Dahl et al., 2009 e 2010; Insam & Knapp, 2011).
Além de macronutrientes, a cinza vegetal também possui micronutrientes e pode conter
elementos tóxicos às plantas e poluentes ao solo, por isso a necessidade de realizar análise química
antes de aplicá-la (Risse et al., 2012; Dahl et al., 2010). Porém, isso raramente ocorre quando a
procedência do material queimado não teve contato com contaminação.
Por isso dependendo da fertilidade do solo, do requerimento nutricional da cultura e da
capacidade tampão do solo que é verificado a necessidade de adubação complementar após aplicação
da cinza vegetal. A adição de cinza vegetal ao solo acarreta mudanças na sua composição, que por
sua vez pode alterar o metabolismo das plantas.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Cinza vegetal na nutrição mineral de plantas

A cinza vegetal vem apresentando efeitos positivos no que diz respeito a nutrição mineral de
plantas. À medida que esse resíduo colabora com a melhoria das propriedades físicas do solo e com
a restituição de sua fertilidade, aumenta a disponibilidade de nutrientes no solo para que sejam
absorvidos pelas plantas.
Nesse contexto, trabalhos de pesquisa demonstram que a aplicação da cinza vegetal aumenta
o índice de clorofila das plantas (Espírito Santo, 2017) (Figura 12). O índice de clorofila é verificado
por um método indireto, não destrutivo, que se correlaciona positivamente com o teor de clorofila e
a concentração de nitrogênio nas plantas, indicando seu estado nutricional (Schlichting et al., 2015).
Assim, doses de cinza vegetal favorece uma melhor absorção de nitrogênio pelas plantas e
consequentemente apresenta esse reflexo na produção.

Figura 12. Índice de clorofila (IC) no primeiro ano de recuperação de pastagem de Urochoa brizantha cv. Marandu
submetido a adubação com cinza vegetal. Avaliação aos 60 dias após a aplicação do resíduo. CZ=Cinza Vegetal,
**significativo a 1% de probabilidade. Fonte: Espírito Santo (2017).

Os efeitos da cinza vegetal como corretivo e fertilizante vem sendo abordado na nutrição de
plantas com efeitos positivos em diferentes classes de solos e, principalmente em solos de baixa
fertilidade natural, como no caso do Neossolo Quartzarenico.
Nesse contexto, a figura 13 apresenta resultados da nutrição de Urochoa brizantha adubada
com cinza vegetal em Neossolo Quartzarenico, sob formas de aplicação (na superfície e incorporada
ao solo com grade leve). Nessa pesquisa, pode-se observar que houve aumento na disponibilidade de
todos os macronutrientes para as plantas, pois esses nutrientes foram avaliados nas folhas, em que se
observou que a adubação com cinza vegetal influenciou positivamente na nutrição mineral da
gramínea forrageira.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Ainda considerando a figura 13, para os nutrientes N, P e K, ambas formas de aplicação da
cinza vegetal foram significativas na nutrição. Isso demonstra o potencial da cinza vegetal ser
utilizada para recuperar as pastagens degradadas com menor custos com aquisição de insumos
agrícolas (dispensando aquisição de calcário e adubos minerais).

Figura 13. Acúmulo de macronutriente nas plantas de Urocloa brizantha em processo de recuperação e submetidas a
doses de cinza vegetal em Neossolo Quartzarenico submetido a duas formas de aplicação (na superfície e incorporada ao
solo com grade leve). N (nitrogênio), P (fósforo), K (potássio), Ca (Cálcio), Mg (Magnésio) e S (enxofre). Fonte:
Adaptado de Schlichting (2018).

Trabalhos com nutrição de plantas realizados por Mercl et al. (2018) também verificaram o
aumento da concentração de K, S, Ca e Mg em plantas de milho quando adubados com cinza vegetal.
A aplicação da cinza vegetal no solo pode auxiliar nas comunidade microbiana do solo (Jacobson &
Gustafsson, 2001; Gömöryová et al., 2016; Peltoniemi et al., 2016), na multiplicação da mesofauna
(Qin et al., 2017) e nos processos de nitrificação e desnitrificação (Odlare & Pell, 2009), todos esses
processos induzem a disponibilidade e absorção de nutrientes pelas plantas.
Solla-Gullón et al. (2006) verificaram o estado nutricional das plantas de pinheiro Douglas
(Pseudotsuga menziesii) durante 5 anos da aplicação, foram avaliadas em duas doses de cinza vegetal
10 e 20 t ha-1 e um controle. Todos os nutrientes avaliados, N, S, P, Ca, Mg, K, Mn e Fe, nas folhas
da planta tiveram influência com as doses aplicadas (Figura 14).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Figura 14. Concentrações de macro e micronutrientes pinheiro Douglas (Pseudotsuga menziesii). b. nitrogênio (N); c.
enxofre (S); d. fósforo (P); e. cálcio (Ca); f. magnésio (Mg); g. potássio (K); h. manganês (Mn); i. ferro (Fe); O teste
revelou diferenças significativas para o todo o período, os valores médios mensais foram comparados pelo teste de médias
de Tukey em P <0,05. Fonte: Solla-Gullón et al. (2006).

Estudos ainda são escassos quando se trata do efeito da cinza vegetal na bioquímica e
fisiologia das plantas, só sendo possível fazer afirmações de acordo com suas concentrações e
acúmulos de nutrientes, carboidratos solúveis, amido, glicose, lignina, celulose, dentre outros. Para
esses tipos de estudo, deve-se levar em consideração os fatores edafo-climaticos.

Cinza Vegetal e o Meio Ambiente

O uso e incentivo cada vez maior da produção de energia por combustão de biomassa requer
estratégias inovadoras e ambientalmente seguras para a reciclagem das cinzas vegetal restantes do
principal processo, a produção de energia.
A destinação da cinza para aplicação em solos agricultáveis são ambientalmente correta,
porém dependem da análise química da mesma, a quantidade máxima que pode ser aplicada no solo

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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(propriedades químicas e físicas) e a capacidade de absorção da planta, para que não ocorra a
lixiviação excessiva que podem prejudicar o meio ambiente.
O uso de cinzas vegetal também pode ser utilizada na construção e manutenção de estradas
para melhorar a estabilidade mecânica do composto aplicado, sendo um aproveitamento seguro para
o meio ambiente (Oburger et al., 2016) (Figura 15).

Figura 15. Aproveitamento da cinza vegetal em composto para asfalto. Fonte: Os autores.

A cinza vegetal também pode ser aproveitada de forma segura, quando empregada de forma
adequada em substituição à fração de cimento ou fração de agregado na construção civil (Barros,
2018). A fabricação de concreto (Teixeira, Camões & Branco, 2019), tijolos (Masuka, Gwenzi &
Rukuni, 2018) e cerâmica (Kizinievic & Kizinievic, 2016) são opções de reaproveitamento para um
desenvolvimento sustentável pela população.
Assim, a cinza vegetal pode ser utilizada de forma sustentável e seu ciclo de aproveitamento
pode ser visualizado nas figuras16 e 17.

Figura 16. Ciclo da cinza vegetal no meio ambiente. Os autores.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Figura 17. Ciclo de utilização da cinza vegetal. Fonte: Os autores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cinza vegetal pode ser utilizada como corretivo e fertilizante do solo, sendo uma boa opção
para destinação segura deste resíduo no ambiente;
A utilização da cinza vegetal como corretivo e fertilizante era uma prática comum no passado,
mas foi abandonada no início do século 20, quando produtos alternativos chegaram ao mercado, como
o calcário agrícola e o cloreto de potássio;
Com o aumento do número de indústrias e maior utilização de material vegetal para queima
em caldeira para produção de energia, surge a necessidade de voltar os estudos para destinação segura
no ambiente;
O incentivo ao uso da cinza vegetal pode contribuir com a redução dos custos de produção
por reduzir a dependência de aquisição de corretivos e fertilizantes na agricultura;
Com a grande industrialização e a disponibilidade de cinza vegetal crescendo, esse resíduo
começou a ser um problema ambiental e sua destinação para agricultura é uma alternativa para
contornar esse problema;
Para tornar o uso mais seguro é necessário realizar três etapas: a primeira é realizar a análise
química da cinza vegetal, como corretivo e fertilizante antes da sua aplicação no sistema agrícola;
segunda etapa, após aplicação da cinza vegetal é necessário monitoramento das concentrações de
nutrientes no solo, e a terceira etapa é monitorar a absorção de nutrientes pelas plantas. Isto é
necessário para evitar o excesso da aplicação desse resíduo no sistema.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


Capítulo 02 31

Biochar: definições e aplicações na


agricultura

Alessana Franciele Schlichting


Edna Maria Bonfim-Silva
Jefferson Vieira Jose
Tonny José Araújo da Silva

RESUMO: O biochar ou biocarvão é um produto obtido após a queima de qualquer material


biológico. Essa queima acontece por meio de controle de baixas temperatura e pouca disponibilidade
de oxigênio, chamada de pirólise. Desse processo resulta o biochar que conserva uma quantidade
significativa de carbono e possui propriedades químicas e físicas que auxiliam no aumento da matéria
orgânica e na retenção de água no solo. O biochar é conhecido como condicionador do solo, e umas
das suas principais funções é manter o carbono por mais tempo no sistema, alterando o ciclo do CO2
na atmosfera, auxiliando a minimizar os impactos ambientais que o excesso desse gás causa. Os
principais materiais utilizados para a produção de biochar são restos culturais, esses em decomposição
natural retornariam rapidamente ao ambiente. Nesse sentido se a biomassa vegetal foi transformada
em biochar, esse processo permitirá uma maior permanência no sistema trazendo benefícios na
fixação de CO2. Estudos com esse produto vem sendo realizado em todo mundo, porém ainda ocorre
muitos entraves para sua utilização em solos agricultáveis. Dentre esses entraves, pode-se citar a
legislação específica em muitos países e certificação internacional para a utilização do produto. O
capitulo abordará sobre o Biochar, trazendo algumas definições, suas principais diferenças com a
cinza vegetal e sua utilização na agricultura.

ABSTRACT: Biochar or biochar is a product obtained after the burning of any biological material.
This burning happens through the control of low temperature and low oxygen availability, called
pyrolysis. This process results in biochar that conserves a significant amount of carbon and has
chemical and physical properties that assist in increasing organic matter and retaining water in this
oil. The biochar is known as a soil conditioner, and one of its main functions is to keep carbon in the
system for longer, changing the CO2 cycle in the atmosphere, helping to minimize the environmental
impacts caused by the excess of this gas. The main materials used for the production of biochar are
crop remains, which in natural decomposition would quickly return to the environment. In this sense,
if the vegetable biomass was transformed into biochar, this process would allow a longer permanence
in the system, bringing benefits in fixing CO2. Studies with this product have been carried out all over
the world, but there are still many obstacles to its use in agricultural soils. Among these barriers,
specific legislation in many countries and international certification for the use of the product can be
mentioned. This chapter will discuss biochar, bringing some definitions, its main differences to wood
ash, and its use in agriculture.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


32
INTRODUÇÃO

O biochar é um tipo de carvão vegetal, obtido por meio da pirólise (combustão com níveis
controlados de oxigênio) de qualquer material biológico, como resíduos agrícolas. Os resíduos não
se convertem em cinzas nesse processo, em vez disso, o que resulta é um composto similar ao carvão
mineral chamado biochar, em decorrência da ação do carbono pirogênico no complexo.
Essa pirólise ocorre em fornalhas com formatos específicos que limita a oxigenação na
combustão. Por ser um produto obtido sob condições controladas, existe a necessidade de tecnologias
inovadoras de produção. O biochar vem sendo utilizado em solos agricultáveis como forma de
sequestrar o dióxido de carbono (CO2), pois retém por mais tempo o carbono no solo.
Biochar é um produto sólido rico em carbono (65 - 90%) que possui uma estrutura porosa de
partículas de carvão que aumenta a capacidade de retenção de água e nutrientes do solo, assim como
o acúmulo microbiano (Qambrani et al., 2017). As aplicações do biochar são dependentes de suas
propriedades físico-químicas, que irão variar de acordo com a matéria-prima e das condições de
pirólise ou gaseificação.
Com elevado potencial na agricultura, seu uso como condicionador e substrato tem apontado
aumento de nutrientes no solo e na retenção de água, favorecendo a germinação, crescimento e
desenvolvimento vegetal, influenciando diretamente na produtividade das culturas.

BIOCHAR – Definições e Produções

Antes de abordar diretamente o biochar, no capítulo 1 foi explanado sobre cinza vegetal o qual
aparentemente pode ter algumas similaridades, que pode confundir na primeira impressão, por isso
há necessidade de se deixar claro suas principais diferenças. O foco da utilização da cinza vegetal na
agricultura é aproveitar um resíduo que é um subproduto resultado da geração de energia elétrica, que
em muitos países se torna um problema ambiental devido a sua destinação (de acordo com o abordado
no Capítulo 1), no entanto, o biochar é um produto desenvolvido (controle de oxigênio e temperatura,
pirólise) que utiliza diversos tipos de biomassa, geralmente disponível na agricultura (folhas, cascas
de frutos e sementes, ramos, caules, galhos, troncos, soqueiras com raízes e demais restos de cultivos
agrícolas), para fixar carbono, reter uma maior quantidade de nutriente e com porosidade específica,
em alguns casos com o processo de pirólise do biochar consegue-se aproveitar e converter parte em
energia.
A quantidade de cinza vegetal produzida é muito maior que a de biochar, pois as indústrias e
termoelétricas produzem anualmente toneladas desse resíduo, por mês em todo o mundo, enquanto
que para se produzir o biochar é necessário conhecimento técnico e alto nível tecnológico (Tabela 1).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


33

Por isso, há baixa disponibilidade de biochar quando comparada a cinza vegetal. A utilização de
ambos, cinza vegetal e biochar, auxiliam na preservação ambiental. Nesse sentido, a cinza vegetal
quando reaproveitada de uma forma ambientalmente correta, concomitantemente ao biochar por fixar
uma grande quantidade de CO2 e ir liberando esse componente aos poucos, esses resíduos interferem
de forma positiva no ciclo do carbono, o qual vem impactando diretamente nas condições climáticas
mundial (Tabela 1).

Tabela 1. Diferenças básicas entre biochar e cinza vegetal.


Parâmetros Biochar Cinza vegetal
Biomassa Resíduos vegetais e Material vegetal com alto poder
orgânicos calorífero
Tipo de Queima Pirólise Incineração
Temperatura de queima ≤ 700 °C >700 °C
Produto Biochar Energia elétrica de alta eficiência
Subproduto Energia elétrica de baixa Cinza vegetal
eficiência
Carbono Alta fixação Baixa fixação
Liberação de carbono para Lenta Rápida a média
atmosfera
Liberação de nutrientes no Lenta Rápida a média
solo
Porosidade Específica Não específica
Nível Tecnológico Médio a Alto Baixo a médio
Aplicação no solo Análise química da cinza Certificação + propriedades químicas e
físicas
Fonte: Os autores.

O biochar ou biocarvão é o produto formado a partir da pirólise, que é a alteração térmica da


biomassa em ambiente fechado, que não envolva sua rápida mineralização em CO2, por isso com
suprimento limitado de oxigênio e em temperaturas relativamente baixas, rico em carbono (Lehmann
& Joseph, 2009; Trazzi et al., 2018;), sua aplicação no solo reduz os gases de efeito estufa e atua
como um condicionante benéfico do solo (Sharma, 2018) .
O biochar é um material rico em carbono pirogênico, que se caracteriza por estruturas
orgânicas de alta estabilidade que se degradam lentamente no ambiente, onde podem permanecer por
longos períodos de tempo. Assim, seu uso no solo não só para aumentar os estoques de carbono neste
compartimento, mas também como condicionador, visto atuar positivamente nas diferentes
funcionalidades do solo (Maia, 2013).
A pirólise é uma decomposição termoquímica de biomassa, por processos que geram uma
série de produtos gasosos, líquidos e sólidos que são produzidos na ausência de um ambiente
oxidante. Nesse processo, grandes moléculas complexas de biomassa são quebradas em moléculas

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


34
menores e mais simples, existem diferentes tipos de pirolisadores e cada um pode ter um efeito no
rendimento do biochar (Basu, 2018).
A qualidade do biochar produzido, irá depender da biomassa utilizada, temperatura, nível
tecnológico empregado para sua transformação e estabilidade (tempo de permanência no solo).
Tecnologias de "baixa tecnologia" de pequena escala tendem a produzir biochars de qualidade muito
variável e são altamente dependentes da homogeneidade do regime de aquecimento e da duração de
aquecimento, enquanto que termoelétricas que produzem em grande escala e bem gerenciadas podem
produzir biochar de qualidade consistente (McHenry, 2014) (Tabela 2).

Tabela 2. Eficiências de conversão e resultados de algumas tecnologias de produção biochar.


Tecnologia Potência Rendimento C Limitações
da saída de Biochar fixo
Alguma contaminação de
resíduos. O crédito do biochar
Gaseificação Máximo ~5% -
pode ser propriedade dos
operadores da usina
O credito do biochar pode ser
Pirólise Lenta Alguns ~35% ~65% propriedades dos operadores da
usina
Carbono Crucible (Pirólise Lenta Alguns 35% 70% Desenvolvimento de projeto
Pirolisadores de forno (Big Char) Nada 25% -
Forno de Tambor Simples (Ogawa) Nada - Taxa de produção
Forno de Tambor (TLUD) Nada - Taxa de produção
Forno de Poço Nada 12,5-30% (Bower, 2009) Taxa de produção
Fonte: McHenry (2014).

A produção de biochar a partir de resíduos de culturas oferece uma alternativa ambientalmente


segura para evitar a queima de resíduos de culturas em campo aberto (Sharma, 2018), proporcionando
uma maneira eficaz de remover carbono da atmosfera (Mašek, 2016). Cada material utilizado na
formação de biochar gera quantidade distintas de carbono fixo, podendo variar de acordo com a
temperatura da pirólise (Tabela 3).

Tabela 3. Concentração de equilíbrio termodinâmico de pirólise de celulose em diferentes temperaturas


Temperatura ºC
Produto
200 300 400 500 600
C 32 28 27 27 25,2
H2O 36,5 32,5 9,5 27 22,5
CH4 8,5 10 10,5 10 9
CO2 23,9 28 32 35 36
CO 0 0 0,1 1,2 4,5
Fonte: Adaptado de Antal (2003) em Basu (2018).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


35

A qualidade do biochar é definida pelas seguintes características: A área de superfície interna;


pH, capacidade de troca catiônica no solo e fixação do carbono no solo (Lehman et al., 2007).
Dentre as qualidades do biochar pode-se citar a sua baixa densidade. Trabalho realizado com
serragem proveniente de indústria moveleira para produção de biochar, indicou que o tamanho da
serragem influencia na densidade do biochar produzido, sendo a menor densidade a granel do biochar
de 0,07 g cm−3 para o tamanho de serragem de aproximadamente 7 mm e a maior densidade do
biochar de 0,12 g cm−3 para serragem de menor tamanho, com aproximadamente 0,6mm (Figura 1).

Figura 1. Densidade a granel do biochar em diferentes tamanhos de partículas da serragem de madeira. y - Densidade a
granel do biochar; x - Tamanho de partículas da serragem de madeira. Fonte: Os autores (2019).

Biochar – Benefícios para agricultura

Biochar, é utilizado na agricultura como uma forma de aumentar o armazenamento de


carbono, disponibilidade dos nutrientes no solo (direta ou indiretamente), correção da acidez do solo
e aumentar a quantidade de matéria orgânica, o que influência ao melhor desenvolvimento das
plantas. Permite a reciclagem de nutrientes minerais presentes na matéria-prima original, exceto
nitrogênio, pois esse é perdido no processo de gaseificação (Dubois et al., 2019).
Quando o biochar é aplicado no solo ele influencia, estrutura, porosidade, pois ele tem área
de superfície, distribuição de tamanho de poro (macro e microporosidade) e densidade do solo e
densidade da partícula que aumentam a capacidade de retenção de água no solo. A presença do
biochar irá afetar diretamente a resposta do solo à água, sua agregação e permeabilidade, bem como
sua capacidade de reter cátions e sua resposta às mudanças de temperatura ambiente (Assunto que
será melhor abordado na capitulo 3). Porém a qualidade das propriedades físicas do biochar está
ligada diretamente a sua temperatura de pirólise, maiores temperaturas derretem mais os minerais,
diminuindo sua porosidade e área de superfície (Lehmann & Joseph, 2009) (Figura 2).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Figura 2. Biochar de cama de frango (A) - Micrografia com pirólise a 400°C, maior porosidade (B) – Micrografia com
pirólise a 550 °C, menor porosidade. Fonte: Lehmann & Joseph (2009).

O biochar atua com efeitos benéficos nas funções microbianas do solo e imobilização ou
transformação de contaminantes (metais orgânicos e pesados) Zhu et al. (2017), conforme o
observado na Figura 3.

Figura 3. Efeito do Biochar no solo. Fonte: Adaptado de Zhu et al. (2017) e http://www.nakanoassociates.
com/biochar/.

Biochar não é algo revolucionário que resolverá os problemas ambientais sem uma estratégia
mais ampla e de longo prazo, mas pode fornecer uma ferramenta importante para enfrentar diversos
desafios, principalmente: degradação do solo, insegurança alimentar, mudanças climáticas, geração
de energia sustentável e gestão de resíduos (Lehmann & Joseph, 2009), esses mesmos quesitos se
aplicam a utilização da cinza vegetal em solos agricultáveis (Figura 4).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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Figura 4. Componentes do sistema Biochar. Fonte: Lehmann & Joseph (2009).

Para auxiliar nas condições climáticas, o Biochar tem que realizar um verdadeiro sequestro de
carbono, por isso as plantas têm de ser cultivadas na mesma proporção, a mesma quantidade de
sequestro de CO2 (realizada pela fotossíntese) que será fixado nelas no processo de carbonização
(pirólise da biomassa), ao passo que se a planta fosse se decompor iria realizara liberação de carbono
rapidamente, porém quando transformada em biochar esse processo é bem mais lento, parcelando a
disponibilidade do carbono, chamado de ciclo do biochar (Lehmann, 2007). Além disso, o biochar
precisa ser muito mais estável que a biomassa de sua origem.
Porém o biochar ainda enfrentam muitos entraves para sua aplicação em solos cultiváveis.
Nesse sentido, não são todos os países que permitem, pois ainda não se sabe o verdadeiro efeito do
biochar ao longo das décadas para o meio ambiente. Além disso, para a comercialização desse produto
é necessária sua certificação em órgão internacional, juntamente com informações sobre sua
fabricação e propriedades físicas e químicas para a utilização do produtor.

Ação do Biochar na fertilidade do solo

Os benefícios do biochar para a fertilidade do solo podem ser verificados pela alta adsorção
de nutrientes e outros compostos e pela sua estabilidade e persistência no solo. No entanto, a sua ação
como fertilizante não e tão diferente quanto a de cinza vegetal, incluindo pH do solo, nitrogênio,
matéria orgânica e carbono no solo (Figura 5). Por isso o biochar é mais adequado para uso como
condicionar de solo.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


38

Figura 5. Influência da aplicação do biochar (BIO: linha sólida), cinza de madeira (CZ: linha tracejada) e controle (C:
linha cinza), no solo por um ano. Os valores são a média de 4 repetições. Fonte: Reed et al. (2017).

O que vem sendo verificado é que o biochar tem uma longa persistência no solo, tornando-o
um candidato principal para a mitigação das mudanças climáticas como um sumidouro potencial de
dióxido de carbono atmosférico (Lehmann, 2007), pois pode aumentar o carbono no solo após anos
de sua aplicação (Han et al., 2017).
O armazenamento de carbono no solo é um indicador importante da fertilidade e qualidade
biológica do solo, pois desempenha um papel vital em diferentes processos biogeoquímicos no
sistema (Doetterl et al., 2015), inclusive favorecendo o crescimento e diversificação da maioria da
biomassa microbiana (Lehmann et al., 2011) aumentando a matéria orgânica (Han et al., 2017), e a
disponibilidade de nutrientes para as plantas.
O conteúdo de nutrientes no biochar são altamente dependentes da qualidade do material, por
suas propriedades químicas e físicas afetarem a liberação de nutrientes. Assim, a aplicação de forma

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


39

inadequada desse material ao solo pode afetar negativamente a qualidade ambiental e a saúde humana
(El-Naggar et al., 2019).
Em cultivos agrícolas, o biochar tem se mostrado com alta performance nas propriedades
químicas, físicas e contribuindo positivamente com a qualidade nutricional das plantas, como no caso
da berinjela e couve flor (Haque et al., 2019), auxiliado na qualidade do mirtilo, Vaccinium
corymbosum L. (Zhan et al., 2020), na produção de trigo (Solaiman et al., 2010), milho (Rajkovich
et al., 2012), aumenta a produção de vegetais folhosos (Awad et al., 2017) e diversas outras pesquisas
em plantas em diversos locais e solos. O seu ciclo no solo é demonstrado por Gul & Whalen (2016)
(Figura 6).

Figura 6. Modelo conceitual que ilustra a influência do biochar nas propriedades físico-químicas e biológicas do solo e
as consequências para o crescimento da raiz da cultura e aquisição de nutrientes do solo. EUN: eficiência de uso de
nitrogênio; EUP: eficiência de uso do fósforo. Fonte: Adaptado de Gul & Whalen (2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O biochar vem sendo amplamente estudado em todo o mundo, uma das suas maiores
perspectivas de utilização está na possibilidade de alterar o ciclo do CO2, fazendo com que o carbono
possa permanecer por mais tempo condicionado ao solo e auxiliando no desenvolvimento das plantas;
As propriedades físicas e químicas do biochar estão intrinsicamente ligadas as suas reações
no solo, inclusive como um condicionante de umidade do solo e reações de disponibilidade de
nutrientes às plantas;
O biochar é produzido de acordo com as propriedades que se deseja alcançar, por isso o uso
da matéria prima e o tipo de tecnologias empregadas estão relacionadas a sua eficiência de utilização;
Estudos sobre as doses e frequência de aplicação estão sendo realizados, haja vista que uma
grande quantidade de carbono condicionada ao solo pode diminuir o impacto no meio ambiente a
curto prazo, porém a longo prazo os resultados são incertos.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


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CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


Capítulo 03
Cinza vegetal nos atributos físicos do solo

Thiago Franco Duarte1


Tonny José Araújo da Silva1
Edna Maria Bonfim-Silva1

RESUMO: A adição de cinza de madeira ao solo pode modificar algumas de suas propriedades e
características físicas importantes para o cultivo de plantas. As pesquisas têm demonstrado que a
resposta do solo à aplicação de cinza depende da interação entre as características da cinza, como
tamanho e formato das partículas, e também do tipo de solo, especialmente sua textura. Este capítulo
trata dos principais efeitos gerados pela adição de cinza em propriedades físico-hídricas do solo, como
a retenção de água, a condutividade hidráulica e a infiltração, e em características físicas como a
densidade do solo, das partículas e a porosidade total.

ABSTRACT: The addition of wood ash to the soil can modify some of its properties and important
physical characteristics for plant cultivation. Research has shown that the soil response to ash
application depends on the interaction between the characteristics of wood ash, such as particle size
and shape, and also the type of soil, especially its texture. This chapter deals with the main effects
generated by the addition of wood ash in soil physical-hydric properties, such as water retention,
hydraulic conductivity and infiltration, and on physical characteristics such as soil bulk density,
particle density, and total porosity.

INTRODUÇÃO

A cinza vegetal é um resíduo de origem principalmente agroindustrial, resultante do processo


de queima de material vegetal, sem o controle da temperatura e de níveis de concentração de oxigênio.
Os estudos avaliando a aplicação de cinza ao solo e seus efeitos nas propriedades físicas, se
iniciaram na década de 1970 com os trabalhos de Amos & Wright (1972) e posteriormente de Chang
et al. (1977). Desde então, vários outros foram realizados com o intuito de se verificar a
potencialidade da cinza como agente melhorador da qualidade do solo. Entende-se aqui como
qualidade do solo, de maneira genérica, como: “a capacidade do solo de realizar suas funções” (Lal
& Shukla, 2004). Ou ainda, de maneira mais específica do ponto de vista agrícola, podemos utilizar
parte da interpretação feita por Topp et al. (1997): “solo com estrutura estável e adequada ao
desenvolvimento das plantas cujas propriedades permitam o fornecimento necessário de água,
nutrientes, oxigênio e calor”.

1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


43

As propriedades do solo que as pesquisas têm buscado alterar com a aplicação de cinza são
principalmente àquelas relacionadas à água, como retenção e disponibilidade de água, condutividade
hidráulica e infiltração. Sabendo-se que solos arenosos possuem, em geral, baixa capacidade de reter
água, a maioria dos estudos têm se concentrado nessa classe textural, buscando uma alternativa capaz
de elevar não apenas a retenção, mas também a disponibilidade de água às plantas. As demais
propriedades ou características do solo, como densidade do solo e de suas partículas, porosidade total,
macro e microporos, normalmente são utilizadas para explicar os efeitos encontrados nas
propriedades citadas anteriormente.
A maior parte da literatura científica que aborda esse tema até o presente momento é
concentrada em pesquisas feitas no exterior. No Brasil, o tema é relativamente novo, e por isso ainda
há poucos estudos relacionando a alteração das características físicas do solo em função da aplicação
da cinza. Assim, o objeto deste capítulo será demonstrar os principais efeitos da aplicação de cinza
vegetal no solo sob o ponto de vista físico.

A CINZA E AS PROPRIEDADES HÍDRICAS DO SOLO

Retenção de água no solo

A maioria dos estudos acerca do tema têm procurado avaliar o efeito da aplicação de cinza
nas propriedades hídricas do solo como: a retenção de água; a disponibilidade de água às plantas; a
infiltração e a condutividade hidráulica do solo. No geral, os efeitos provocados são variáveis e
dependem da interação entre as características da cinza utilizada e do solo, especialmente a sua
textura.
Para bem compreender os efeitos, é preciso antes definir os termos utilizado pelos autores. A
relação existente entre diversos valores de umidade do solo e o potencial matricial correspondente, é
chamado de curva característica de água no solo ou curva de retenção de água. Dentre os diversos
pares de valores de umidade e potencial matricial, existem dois de caráter especial: a umidade
correspondente a tensão de 10 kPa (para solos arenosos) ou 33 kPa (solos textura média e argilosos)
e a umidade correspondente a tensão de 1500 kPa. A umidade do solo correspondente a tensão de 10
ou 33 kPa é comumente considerada a Capacidade de Campo, que corresponde a máxima quantidade
de água que o solo pode reter contra a ação da gravidade após a completa saturação e drenagem livre
(Veihmeyer & Hendrickson, 1931). E, teoricamente, a umidade do solo que limitaria a extração de
água pelas plantas, correspondente a tensão de 1500 kPa, é normalmente considerada o Ponto de
Murcha Permanente (Richards & Weaver, 1943). É o limite inferior de umidade no qual a água está

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


44

disponível às plantas. A diferença entre a umidade na capacidade de campo e no ponto de murcha


permanente dá-se o nome de Capacidade de Água Disponível (CAD).
CAD = CC – PMP
CAD: Capacidade de água disponível;
CC: Capacidade de Campo;
PMP: Ponto de Murcha Permanente;
O valor máximo de água que um solo é capaz de disponibilizar às plantas, ou seja, a máxima
CAD depende de diversos fatores, mas principalmente da distribuição de poros no solo e da textura.
Na Figura 1 podemos observar que os solos de textura próximo aos francos siltosos são os que
possuem maior capacidade de água disponível. Nesse sentido, observa-se que que a CAD diminui na
direção dos solos de partículas maiores (areia) e nos de partículas menores (argila).

Figura 1. Relação entre a capacidade de água disponível (CAD) e a textura do solo. Fonte: Adaptado de Brady (1990).

Como solos de textura grosseira (arenosos) normalmente são mais susceptíveis a secagem
quando comparados aos demais solos, de maneira geral, os estudos utilizando cinza vegetal são
usualmente conduzidos nessas classes de solo. A hipótese comumente levantada pelos autores é de
que a cinza tem o potencial de elevar a retenção de água nesses solos dentro dos limites disponíveis
às plantas, aumentando a capacidade de água disponível. Isso proporcionaria uma menor
suscetibilidade ao estresse hídrico, especialmente em cultivos não irrigados, sujeitos a longos
períodos de estiagem.
Nesse sentido, um dos primeiros estudos realizados foi o de Chang et al. (1977). Os autores
adicionaram cinza em diferentes solos em proporções que variaram de 0 a 50% com base no volume.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


45

De modo geral, quando a adição de cinza ultrapassou 25%, a tendência foi de aumento na retenção
de água.
Além disso, análise interessante foi feita pelos autores, que será explorada a seguir. A relação
entre água no solo e o potencial matricial foi expressa de uma forma diferente. A curva característica
de água no solo é chamada pelos autores de “curva de liberação de água” cujo resultado foi
reproduzido na figura abaixo.

Figura 2. Curva de liberação de água em função de doses de cinza. Solo de textura areia franca. Fonte: adaptado de Chang
et al. (1977).

O resultado expressa a fração volumétrica de água que é extraída do solo a cada valor de
tensão. Convencionalmente, a curva característica do solo é representada de forma oposta, ou seja, a
cada nível de tensão o quanto de água ainda permanece no solo. A equação utilizada por Chang segue
a análise de Richards (1968):
Wt(0) − Wt( )
 ( ) =
V   H 2O

em que:
() - liberação ou extração de água do solo;
Wt(0) - massa inicial do solo quando a sucção é zero;
Wt() - massa do solo na sucção ;
V - volume do solo;
 H O - densidade da água.
2

Richards define () como uma fração volumétrica de água que foi liberada pelo solo no valor
de sução .

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


46

A partir da Figura 2, observa-se, portanto, que a adição de cinza provocou uma alteração
significativa na característica da curva de liberação de água, de modo que a adição de 50 %
proporcionou menores extrações de água (ou liberação) com o aumento da tensão.
Na Figura 3 estão os valores da água liberada pelo solo em duas classes de tensões, entre 0 a
10 e 10 a 80 kPa, conforme adição de cinza. Esse resultado foi calculado com base na figura anterior
e representa um indicativo da quantidade de água que estaria disponível para as plantas até o limite
de 80 kPa.

Figura 3. Água liberada pelo solo em duas classes de tensões conforme adição de cinza. Solo de textura areia franca.
Fonte: adaptado de Chang et al. (1977).

Veja que a principal diferença está concentrada entre as tensões de 0 a 10 kPa. De acordo com
Chang et al. (1977), em condições de campo, a água retida em tensões menores que 10 kPa é
provavelmente perdida por drenagem no perfil do solo, o que torna essa água de pouca utilidade para
as plantas. Mas nota-se que o solo com a maior dose de cinza (50%) obteve a menor extração de água
nessa faixa de tensão, o que pode ser uma vantagem, já que indica neste solo a água não seria tão
facilmente perdida.
Para os intervalos de tensões entre 10 e 80 kPa a adição de cinza não teve efeito significativo
na quantidade de água extraída do solo.
O estudo de Chang et al. (1977) foi um dos primeiros realizados relacionado cinza e as
propriedades físicas do solo. Seus resultados, embora sejam interessantes, não podem ser
generalizados. Gangloff et al. (2000) também não encontraram diferença na fração da água liberada
pelo solo entre as tensões de 33 a 100 kPa, em solos adicionados com cinza. Porém, entre as tensões
de 100 e 300 kPa, as diferenças entre os solos com e sem adição de cinza foram de até 13%.
Nessa mesma linha, Campbell et al. (1983) avaliaram o efeito da adição de cinza sobre as
propriedades hídricas em duas classes de areia: fina (0,2 – 0,5 mm) e grossa (1,4 – 2,0 mm). A adição

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


47

de 10% (base no peso) de cinza aumentou a capacidade de água disponível (10 – 1500 kPa) em 7,2 e
13,5 %, nas areias finas e grossas, respectivamente. Segundo os autores, esse efeito foi devido ao
aumento dos poros capilares em detrimento dos poros não capilares.
É importante observar também que a forma de aplicação da cinza influencia diretamente nos
resultados de modo que, quando a cinza é incorporada uniformemente no solo, os efeitos são mais
pronunciados do que quando é aplicada sobre o solo em cobertura. Em um solo de textura areia franca,
Stoof et al. (2010) observaram que a incorporação da cinza proporcionou um aumento da capacidade
da água disponível (considerada pelos autores no intervalo de 10 a 1550 kPa) em 57% ao passo que
a adição de cinza apenas na superfície do solo promoveu um aumento de 19%.
As causas por trás das modificações promovidas pelas cinzas podem ser reunidas em dois
grupos gerais: alteração da porosidade do solo; e absorção de água pelas próprias partículas de cinza.
No primeiro caso, a adição de cinza deve proporcionar uma alteração na distribuição de poros, ou
seja, diminuição de macroporos para uma maior porcentagem de microporos (Ghodrati et al., 1995).
Solos com elevada porosidade total e constituídos por maior porcentagem de microporos possuem
maior habilidade de retenção de água em pressões atmosféricas normais e pressões negativas maiores
(tensões de água no solo) na medida que ocorre a secagem do solo. No segundo caso, Stoof et al.
(2010) por exemplo afirmaram que quando um solo é adubado com cinza, o volume total de água
armazenada não é devido apenas a água contida nos poros do solo, mas também, a água que foi
absorvida pelas partículas de cinza vegetal, o que provocaria aumento da umidade do solo.
No Brasil, dados preliminares de retenção de água foram executados em Neossolo
Quartzarênico (Areia) e Latossolo Vermelho (Franco Argilosa) com doses de 0, 16 e 32 g dm -3 de
cinza vegetal incorporada uniformemente (Figura 4 e 5).
60
NQ 0 NQ 16 NQ32
Umidade a base de massa (%)

50 LV 0 LV16 LV32

40

30

20

10

0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000
Pressão (kPa)
Figura 4. Curva característica de retenção de água no solo (0 a 1500 kPa) em função da adição de cinza vegetal (0, 16 e
32 g/dm3). NQ 0, NQ 16 e NQ 32: Neossolo Quartzarênico com 0, 16 e 32 g/dm3 de cinza; LV 0, LV 16 e LV 32: Latossolo
Vermelho com 0, 16 e 32 g/dm3 de cinza. Fonte: Os autores.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


48

Figura 5. Latossolo Vermelho distrófico incubado com cinza vegetal demonstrando diversos tamanhos e formatos das
partículas de cinza vegetal. Fonte: Os autores.

600
Umidade a base de massa (%)

500

400

300

200

100

0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000
Pressão (kPa)
Figura 6. Curva característica de retenção de água da cinza vegetal (0 a 1500 kPa). Fonte: Os autores.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


49

35

Umidade a base de massa (%)


NQ 0 NQ 16 NQ32
30
25
20
15
10
5
0
10 33 1500
Tensão - kPa
Figura 7. Umidade do solo (m - %) nas tensões de 10 e 1500 kPa em função da adição de cinza vegetal em Neossolo
Quartzarênico. NQ 0, NQ 16 e NQ 32: Neossolo Quartzarênico com 0, 16 e 32 g/dm3 de cinza. Fonte: Os autores.

35
Umidade a base de massa (%)

30 LV 0 LV16 LV32

25
20
15
10
5
0
10 33 1500
Tensão - kPa
Figura 8. Umidade do solo (m - %) nas tensões de 10, 33 e 1500 kPa em função da adição de cinza vegetal (0, 16 e 32
g/dm3) em Latossolo Vermelho. LV 0, LV 16 e LV 32: Latossolo Vermelho com 0, 16 e 32 g dm -3 de cinza. Fonte: Os
autores.

Analisando toda a curva de retenção de água (Figura 4), não se observa efeito pronunciado da
adição de cinza nas duas classes de solo até a dose aplicada, embora a cinza pura tenha uma alta
capacidade de reter água (Figura 6), com umidade de aproximadamente 45% na tensão de 1500 kPa.
Além disso, quando se observa isoladamente os valores de umidade nas tensões de 10, 33 e 1500 kPa
(Figura 7 e 8), as diferenças de umidade também não foram expressivas.
Embora não se tenha observado aumento expressivo na retenção de água para as doses de
cinza vegetal avaliadas, vale ressaltar que pequenas variações do valor de umidade correspondem a
elevadas variações no potencial de água no solo, uma vez que a relação é logarítmica. O movimento
da água no sistema solo-planta-atmosfera ocorre devido a diferenças potenciais, e alterações na
relação do potencial da água no solo em função da adição de cinza vegetal influenciará a dinâmica
do movimento da água nesse sistema.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


50

Além da aplicação de cinza vegetal, há também estudos avaliando o efeito da adição de


biochar. Basicamente, a diferença entre biochar e cinza vegetal é que no primeiro, a produção é feita
sob níveis controlados de oxigênio e de temperatura. De maneira geral, os efeitos no solo são
semelhantes à cinza, com relatos de aumento da capacidade de campo, alteração da curva
característica do solo e aumento da disponibilidade de água às plantas (Basso et al., 2013).
Liu et al. (2017) propõem que o mecanismo de atuação do biochar nas propriedades hídricas
do solo está relacionado a dois fatores: poros existentes no interior do biochar (intraporos) e os poros
formados entre as partículas de biochar e as partículas de solo (interporos). Esses dois fatores
relacionados aos poros atuam de forma diferente na retenção de água. Os intraporos são responsáveis
pela retenção de água no solo em potenciais da água mais baixos (mais negativos, - ) já que são
menores. Em contrapartida, os interporos são constituídos por macroporos, ou seja, poros bem
maiores que dos intraporos, e por isso mesmo, controlariam a retenção de água na faixa de potencias
maiores (menos negativos, ou menores tensões).
Liu et al. (2017) também destacam a importância das partículas de biochar terem formato
irregular. O arranjamento dessas partículas com as partículas do solo em diversos ângulos de contato
permite que haja um aumento bem maior da interporosidade caso as partículas possuíssem um
formato mais arredondado e regular. Essas verificações influenciam na escolha do material que deve
ser adicionado ao solo, ou seja, um material com mais intraporos e com formatos irregulares devem
ser, portanto, mais efetivos.

Condutividade hidráulica e infiltração de água

Não há um consenso geral a respeito dos efeitos da cinza na infiltração e na condutividade


hidráulica do solo. Os resultados são ainda diversos e por vezes contraditórios. Segundo Woods &
Balfour (2010), essas contradições são decorrentes da interação que existe entre a cinza vegetal, sua
qualidade e quantidade, e o solo local, especialmente a textura, o que provoca efeitos bem diferentes.
Os resultados mostram que ora a adição de cinza reduz a taxa de infiltração (Gangloff et al.,
2000; Mallik et al., 1984; Gabet & Sternberg, 2008) e a condutividade hidráulica (Chang et al., 1977)
ora provoca um aumento (Stoof et al., 2016). É válido destacar que grande parte dos estudos avaliando
o efeito da cinza vegetal na infiltração da água no solo, o fizeram adicionando cinza sobre a superfície
do solo, como forma de simular um evento de incêndio e que também se adequa ao exemplo de
adubação com cinza sem a incorporação no solo.
No caso de redução da taxa de infiltração, a hipótese levantada por Mallik et al. (1984) seria
a de que as partículas pequenas de cinza penetrariam nos poros maiores do solo ocasionando
obstrução ainda que parcial. Já no interior dos poros, partículas de cinza vegetal aumentam de volume

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


51

quando em contato com a água, provocando diminuição do espaço disponível para o movimento da
água.
Por outro lado, Chang et al. (1977) sugeriram como uma possível explicação as reações
aglutinantes provocadas pelas cinzas quando umedecidas no solo. Essas reações geram como efeito
a cimentação das partículas do solo ocasionando um bloqueio parcial da passagem de água. Como
consequência, haveria uma suposta tendência de a cinza favorecer o processo de erosão do solo em
ambientes susceptíveis.
Pode-se afirmar que a hipótese de Chang et al. (1977) não é aplicável em todas situações. Na
realidade, a redução da taxa de infiltração por conta da aplicação de cinza é resultado de uma série de
fatores. Dentre esses, a obstrução dos poros. No entanto, Larsen et al. (2009) discordaram que as
cinzas poderiam provocar o entupimento dos poros. Woods & Balfour (2010) e Stoof et al. (2016)
em estudos relacionados ao tema e fundamentados nos resultados relatados por esses autores,
concluíram que:
➢ O transporte de partículas de cinza da camada superior para o interior dos poros pode, de
fato, ocorrer dependendo da interação entre o tamanho das partículas de cinza vegetal e o
tamanho médio dos poros do solo;
➢ Solos de textura arenosa predominantemente composto por areia grossa, que possuem
mais macroporos, sobrepostos com partículas muito pequenas de cinza vegetal, são os
mais susceptíveis;
➢ O transporte das partículas de cinza vegetal para o interior dos poros não implica,
necessariamente, que ocorrerá o bloqueio ou “entupimento” e redução do movimento de
água já que a trajetória da água no solo segue um caminho tortuoso, de forma que, mesmo
havendo poros bloqueados, a água pode fluir por outros caminhos preferenciais.

Outra hipótese para explicar a redução da infiltração da água é a formação de uma espécie de
“gradiente textural” provocado pelo acúmulo de cinza vegetal sobreposta ao solo (na superfície). Esse
“gradiente textural” tem como implicação dois fatores: diferença de condutividade hidráulica do
perfil do solo como todo, já que são camadas de materiais com características diferentes; e um retardo
no processo de infiltração da água (Stoof et al., 2016).
O “delay” na infiltração da água é explicado pela diferença no tamanho médio dos poros da
camada de cinza depositada sobre a camada de solo subjacente. No início do processo de infiltração
a água penetra a camada de cinza, e ao encontrar a camada de solo com poros de maior dimensão (no
caso solos arenosos) a água não penetra imediatamente no solo.
Esse efeito “delay” acontece devido a descontinuidade dos espaços capilares entre a camada
de cinza vegetal e o solo, causando diminuição da efetividade do movimento vertical da água no solo

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


52

em profundidade. Ao contrário, a água tende a se mover horizontalmente na camada de cinza, ou seja,


ocorre um fluxo preferencial no qual a água percorre. Após algum tempo adicionando água, o
potencial gravitacional irá superar o potencial matricial da camada de cinza vegetal, promovendo o
movimento vertical da água no solo subjacente em direção as camadas mais profundas.
Essa análise foi demonstrada por Gardner em 1960 com a publicação do filme “O movimento
da água no solo”. Gardner demonstrou em colunas de solo o caminho preferencial que a água percorre
quando há um gradiente textural abrupto. Kung (1990), analisou esse problema em campo, em um
perfil de solo no qual uma camada de areia fina está sobreposta a uma camada de areia grossa.
Segundo o autor, a água somente passará da camada superior (diâmetro dos poros menor) para a
camada subjacente (diâmetro dos poros maior) após a desigualdade expressa abaixo for superada:

2 2
 gh − −
r R
Pressão nos poros Pressão nos poros
menores (camada maiores (camada
superior) inferior)

Em que , g e h representam a densidade da água, aceleração da gravidade e altura de ascensão


capilar respectivamente. E , r e R representam a tensão superficial da água, o raio médio dos poros
da camada superior e o raio médio dos poros da camada subjacente, respectivamente. Segundo Kung
(1990), considerando que os parâmetros , g,, r e R não se alteram, o único modo da água penetrar
os poros maiores do solo seria aumentando o valor de h até o ponto em que a pressão exceda o valor
de entrada de ar necessário para penetrar nos poros maiores.
A hipótese anterior e a análise de Kung ainda precisam ser confirmadas. Porém, elas poderiam
ser idealizadas na situação em que uma fina camada de cinza, com predominância de poros de
pequenas dimensões (microporos), sobrepõe uma camada de solo de textura grosseira (predominância
de poros de maiores dimensões – macroporos).
Stoof et al. (2016) enfatizam, que esse caminho preferencial somente seria efetivo para
provocar erosão se a camada de solo subjacente possuir características hidrofóbicas. Caso contrário,
a infiltração da água nessa camada de solo ocorre ainda na condição em que o fluxo de água não está
saturado pois o valor da pressão de entrada de ar será negativo. Em solos hidrofóbicos o valor da
pressão de entrada de ar é positivo e, nesse caso, há a necessidade de acúmulo de água para iniciar o
processo de infiltração.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


53

A adição de cinza sobre o solo pode ainda provocar efeito oposto ao descrito anteriormente,
ou seja, um aumento na taxa de infiltração. Esse efeito foi evidenciado por Woods & Balfour (2010)
(Figura 9).
90 Antes Depois

Taxa de infiltração (mm h-1 )


80
70
60
50
40
30
20
10
0.5 2.5 5.0
Adição de cinza (cm)

Figura 9. Taxa de infiltração da água (mm h-1) em solo de textura franco-arenoso antes a após a aplicação de cinza. Fonte:
adaptado de Woods & Balfour (2010).

Inicialmente, com adição de 0,5 cm de cinza sobre o solo, o efeito foi de redução na taxa de
infiltração. Adicionando, porém, 2,5 e 5,0 cm a tendência foi de aumento da taxa de infiltração.
Woods & Balfour (2010) sugeriram que a causa desse efeito seria o aumento geral do fluxo de água
nos macroporos.

A CINZA VEGETAL E A DENSIDADE DO SOLO, DAS PARTÍCULAS E A POROSIDADE


TOTAL

Densidade do solo

A densidade do solo (d) é a relação existente entre a massa seca de uma certa porção de solo
com estrutura preservada e o seu volume total (volume das partículas + poros). Esse parâmetro físico
varia conforme o tipo de solo, como demonstrado na Tabela 1, de modo que solos com textura arenosa
tendem a ser naturalmente mais densos do que solos argilosos e solos orgânicos.

Tabela 1. Densidade do solo para diferentes classes de solo


Classe de solo Densidade (kg m-3)
Arenosos 1250 – 1400
Argilosos e Francos 1000 – 1400
Humíferos 750 – 1000
Turfosos 200 – 450
Fonte: Prevedello (2015).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


54

A densidade da cinza varia conforme a matéria prima geradora. No caso de Chang et al. (1977)
o valor encontrado foi aproximadamente 1000 kg m-3. Entretanto, no trabalho de Stoof et al. (2016)
as densidades das cinzas avaliadas variaram desde 198 kg m-3 até 847 kg m-3. Assim, quando se
incorpora cinza ao solo, o efeito natural esperado é de redução da densidade da mistura. Chang et al.
(1977) demonstraram esse efeito utilizando solos com diferentes texturas (Figura 10). Observa-se que
em todos os casos, na medida em que se aumentou a proporção de cinza, o valor da densidade do solo
converge para densidade da cinza utilizada (1001 kg m-3).

1700 Franco-arenosa
Franco-arenosa
Densidade do solo (kg m-3 )

1600 Franco-argilo-arenosa
Franca
1500
1400
1300
1200
1100
1000
0 20 40 60 80 100
Porcentagem de cinza (vol)

Figura 10. Variação da densidade de solos com diferentes texturas em função da adição de cinza (em porcentagem por
volume e densidade da cinza utilizada = 1001 kg m -3). Fonte: adaptado de Chang et al. (1977).

Densidade das partículas

A densidade das partículas (s) é definida como a relação entre a massa das partículas sólidas
presentes no solo (sejam elas mineiras ou orgânicas) e o volume ocupado pelas mesmas. Esse
parâmetro reflete a composição existente no solo, ou seja, sua constituição mineral e orgânica. Por
essa razão, a densidade das partículas pode ser interpretada também como a média ponderada das
massas específicas dos componentes presentes na fase sólida do solo (Ferreira, 2010).
O valor médio da densidade das partículas normalmente considerado como representativo para
solos é de 2650 kg m-3. Esse valor é devido a grande influência dos minerais caulinita e do quartzo
na constituição dos solos, que possuem respectivamente valores de massa específica que variam de
2600 – 2680 e 2650 – 2660 kg m-3.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


55

A densidade das partículas do solo é considerada um parâmetro estável, de pouca variação ao


longo do tempo e efeito do manejo do solo. Apesar disso, a adição de cinza ao solo pode reduzir os
valores globais da mistura solo-cinza vegetal, especialmente nas camadas mais superficiais. Esse
efeito deve-se também ao aumento de matéria orgânica provocado pela adição de cinza (Pereira,
2014).
Para demonstrar esse efeito, será utilizado os dados publicados por Pereira (2014), no qual o
autor verificou aumento no teor de matéria orgânica de 2,4 a 5,3 %, para a adição de 0 a 32 g dm-3 de
cinza vegetal, respectivamente. Considerando um solo cuja fase mineral possui valor de 2650 kg m-3
de densidade das partículas e um valor de 400 kg m-3 para fase orgânica. Se esse solo possui 2,4 %
de matéria orgânica, então tem-se em 100 g de solo:
Massa fase mineral: 97,6 g
Massa fase orgânica: 2,4 g
Volume fase mineral: 97,6/2,65 = 36,93 cm3
Volume fase orgânica: 2,4/0,4 = 6,0 cm3
Volume total: 42,83 cm3

Portanto, a densidade das partículas para este solo com 2,4% de matéria orgânica será:
s = 100/42,83 = 2,33 g cm-3 ou 2330 kg m-3
Na Figura 11 está representado o resultado dos demais cálculos para densidade das partículas
até o limite de 5,3 % de matéria orgânica ocasionado pela adição de cinza vegetal ao solo. Na condição
de maior teor da matéria orgânica, a densidade das partículas será de 2040 kg m-3, ou seja, uma
redução de 12,4 %.

2350
Densidade das partículas (kg m-3 )

2300
2250
2200
2150
2100
2050
2000
2.0 3.0 4.0 5.0 6.0
Matéria orgânica (%)

Figura 11. Redução da densidade das partículas do solo em função do aumento do teor de matéria orgânica no solo
devido a adição de cinza vegetal ao solo. Fonte: Pereira (2014).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


56

Efeito semelhante ao descrito anteriormente foi verificado em condições de campo por


Blanco-Canqui et al. (2006). Esses autores avaliaram o efeito da concentração do carbono orgânico
no solo sobre a densidade das partículas em um solo Franco-Siltoso. Os autores observaram redução
significativa da densidade das partículas com o aumento da concentração de carbono orgânico.

Porosidade total do solo

A porosidade total do solo () pode ser calculada de forma simples utilizando a relação entre
a densidade do solo e das partículas:
 = 1 – d/s
Onde,
d – densidade do solo;
s – densidade das partículas.

Partindo dessa relação, e assumindo um valor constante de s igual a 2650 kg m-3, conclui-se
que a porosidade total deve aumentar com a adição de cinza vegetal, já que a densidade do solo tende
a reduzir conforme demonstrado em 3.1.
Entretanto, se considerarmos um valor de densidade do solo constante, associado a uma
redução da densidade das partículas por conta da dição da cinza vegetal, conforme descrito no item
3.2, pode-se observar efeito contrário. A Figura 12 traz os resultados de simulações utilizando dados
publicados por Pereira (2014). As simulações foram realizadas com valores de densidade do solo
variando de 1,0 a 1,8 g cm-3.
0.70
0.60
Porosidade total (m3 m-3)

0.50
1,0
0.40
1,2
0.30 1,4
0.20 1,6
0.10 1,8

0.00
2.0 3.0 4.0 5.0 6.0
Matéria orgânica (%)

Figura 12. Porosidade total do solo em função do aumento do teor de matéria orgânica devido a adição de cinza vegetal.
1,0;1,2;1,4;1,6;1,8 correspondem aos níveis de densidade do solo (g cm -3). Dados utilizados para simulação foram
extraídos de Pereira (2014).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


57

De qualquer maneira, teoricamente, haveria tendência de redução na porosidade total devido


a diminuição da densidade das partículas provocada pela adição de cinza vegetal. Esse resultado
embora eminentemente teórico, pode oferecer perspectivas a respeito de outros efeitos causados pela
adição de cinza vegetal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A adição de cinza vegetal ao solo pode trazer diversos benefícios relacionados a qualidade do
solo e suas propriedades físicas, especialmente referente à retenção de água em solos arenosos com
predominância de macroporos. Porém, informações referentes a dose aplicada, a forma de aplicação,
e o tipo de cinza vegetal ainda precisam ser exploradas pelas pesquisas levando-se em consideração
suas propriedades físicas e químicas, considerando também as classes de solo. Todavia, de modo
contrário, algumas hipóteses já levantadas, como a que relaciona o bloqueio de poros do solo pela
adição de cinza vegetal, gerando diminuição na infiltração de água, e aumento do risco de erosão,
ainda não são conclusivas.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


58

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CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


Capítulo 04
Cinza vegetal e biochar na remediação

Edna Maria Bonfim-Silva1


Rackel Danielly de Souza Alves1
Alisson Silva Costa1
Maria Aparecida Peres-Oliveira1

RESUMO: O aumento da demanda por alimentos impulsionou o crescimento da produção agrícola


e maior quantidade de solos foi exposta a riscos de contaminação ambiental. Metais pesados,
poluentes orgânicos e insumos agrícolas, quando não manejados adequadamente, causam impactos
negativos no meio ambiente, pois estão entre os principais poluentes que prejudicam a qualidade do
solo. Uma forma de resolver esse problema é fazer uso da remediação, tecnologia de mitigação de
impactos ambientais, é aplicada com o objetivo de reduzir os agentes poluentes, eliminando por
completo a contaminação causada ou diminuindo a níveis toleráveis, de forma a não prejudicar o
equilíbrio ecossistêmico. O uso de cinza vegetal e biochar aumenta o pH do solo, a capacidade de
troca catiônica e quantidade de minerais e carbono orgânico, bem como atua estimulando a
comunidade microbiana e o seu metabolismo. A qualidade do solo pode ser avaliada tanto com foco
nos agroecossistemas, onde o principal serviço é a produtividade, quanto para ecossistemas naturais,
onde o principal serviço é a conservação da biodiversidade. Desta forma, a aplicação de cinza vegetal
e biochar no solo abre novas possibilidades de desenvolvimento da tecnologia de remediação
melhorando o solo em todos os aspectos, para a biodiversidade ou para produção agrícola.

ABSTRACT: The increase in demand for food drove the growth of agricultural production and a
greater amount of soil was exposed to risks of environmental contamination. Heavy metals, organic
pollutants and agricultural inputs, when not properly handled, cause negative impacts on the
environment, as they are among the main pollutants that harm soil quality. One way to solve this
problem is to make use of remediation, a technology that mitigates environmental impacts, which is
applied with the objective of reducing polluting agents, completely eliminating the contamination or
decreasing it to tolerable levels, in order not to harm the ecosystem balance. The use of vegetable ash
and biochar increases the pH of the soil, the capacity for cation exchange, and the amount of minerals
and organic carbon, as well as stimulating the microbial community and its metabolism. Soil quality
can be assessed both with a focus on agro-ecosystems, where the main service is productivity, as well
as for natural ecosystems, where the main service is biodiversity conservation. In this way, the
application of vegetable ash and biochar in the soil opens up new possibilities for the development of
remediation technology, improving the soil in all aspects, for biodiversity or for agricultural
production.

1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


63

INTRODUÇÃO

No final do século XX houve uma mudança na percepção geral da importância do solo no


contexto ambiental, onde se reconheceu a necessidade de manter ou melhorar a capacidade do solo
de realizar as suas múltiplas funções. Os solos geralmente reagem lentamente às mudanças no uso e
manejo, desta maneira pode ser mais difícil identificar mudanças na qualidade do solo antes que danos
severos tenham ocorrido (NORTCLIFF, 2002).
A contaminação, seja por metais pesados, compostos orgânicos ou agroquímicos, além de
prejudicar as culturas, diminuindo a produtividade e gerando prejuízos para os produtores, pode gerar
danos à saúde dos animais e dos seres humanos. Em produtos de origem animal existe a maior
possibilidade de se encontrar contaminantes bioacumulados. Esse efeito ocorre, pois, na sua maioria,
alguns contaminantes são lipossolúveis, ficando estocados no tecido adiposo dos animais.
Com a crescente expansão das áreas cultivadas, causada pelo aumento da demanda de
alimentos, maior quantidade de solo foi exposta a riscos de contaminação ambiental, pois a
agricultura atual é dependente de insumos oriundos de fontes não renováveis que se não manejados
da forma adequada causam impactos negativos no meio ambiente.
Tem crescido os estudos no âmbito do reaproveitamento dos resíduos agroindustriais, devido
à necessidade de se diminuir os impactos gerados por essas atividades. Na remediação dos solos
contaminados, vários materiais têm sido utilizados tais como a cinza vegetal (PUKALCHIK et al.,
2018), biochar (HE et al., 2019) e substâncias húmicas (PERMINOVA; HATFIELD, 2005).
A remediação atua nesse contexto e tem como objetivo reduzir os impactos causados por
alguns contaminantes. Essa tecnologia faz com que a cinza vegetal e o biochar atuem diretamente na
descontaminação dos solos, participando dos processos de adsorção e dessorção dos contaminantes,
ou indiretamente, melhorando sua fertilidade. Podem atuar na remediação de solos contaminados por
metais pesados por uma interação direta ou indireta e também possuem a capacidade de remediar os
poluentes orgânicos do solo, da água e de sedimentos.
A cinza vegetal e o biochar são fontes de carbono, macro e micro nutrientes. O uso desses
materiais no solo pode aumentar a fertilidade, estimular a comunidade microbiana e o seu
metabolismo e participar dos processos de adsorção e dessorção dos contaminantes.
Esse capítulo tem como objetivo explorar o uso da cinza vegetal e do biochar como
alternativas nas técnicas de remediação de solos contaminados com metais pesados, poluentes
orgânicos e agroquímicos, visando aproveitar o potencial que esses resíduos possuem de melhorar a
qualidade do solo.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


64

POLUENTES DE SOLO

O mundo tem enfrentando as consequências de uma crescente industrialização com compostos


contaminantes sendo liberados diariamente, causando sérios problemas ambientais (GAUR et al.,
2014). A degradação dos solos é um problema de caráter mundial que diminui a quantidade de solo
disponível para atividade agrícola.
Desde a Revolução Industrial vem crescendo a utilização em larga escala de produtos
químicos que afetam a saúde não só de plantas, mas também de animais e seres humanos. A
industrialização não traz consigo somente as inovações tecnológicas, mas também o uso de produtos
com potencial de contaminação e degradação. Desta forma, existe um sistema continuo de liberação
(acidental ou intencional) de xenobióticos, produtos químicos e gases tóxicos para o meio ambiente
(Figura 1).

Figura 1. Compostos xenobióticos presentes no ambiente. Fonte: Adaptado de VARJANI et al. (2019).

Dentre alguns poluentes, as contaminações nos solos podem ocorrem por metais pesados
devido ao descarte inadequado de resíduos tóxicos realizados pelas indústrias. As principais
substâncias tóxicas descartadas são o chumbo, cádmio, arsênio, mercúrio e cromo que geram maiores
preocupações devido à toxicidade para as plantas e para os seres humanos (OJUEDERIE;
BABALOLA, 2017). Esses descartes podem ser de caráter planejado ou acidental.
Esses metais pesados não são biodegradáveis, o que faz com que sejam acumulados ao longo
da cadeia alimentar, podendo prejudicar o meio ambiente e a saúde dos animais e seres humanos
(GAUR et al., 2014). São citotóxicos em baixas concentrações e podem causar câncer em humanos
(OJUEDERIE; BABALOLA, 2017).
Solos sob processos de degradação não conseguem realizar suas funções de filtração e
tamponamento, o que, consequentemente, leva a penetração de poluentes nos corpos hídricos
subterrâneos e na atmosfera (JONIEC et al., 2019).
Os Poluentes Orgânicos Persistentes - POPs são substâncias químicas que têm sido utilizadas
como agroquímicos, para fins industriais ou liberados de modo não intencional em atividades

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


65

antropogênicas, e que possuem características de alta persistência (não são facilmente degradadas).
São capazes de serem transportadas por longas distâncias pelo ar, água e solo, e de se acumularem
em tecidos gordurosos dos organismos vivos, sendo toxicologicamente preocupantes para a saúde
humana e o meio ambiente (MMA, 2004).
Os POPs são substâncias sintéticas e essa característica de longa persistência no ambiente
pode significar até dezenas de anos ou séculos para serem degradados. Devido a tendência de
permanecer em tecidos ricos em gordura e a essa afinidade com os tecidos adiposos, as evidencias
reforçam que esses produtos são suscetíveis a acumular, persistir e bioconcentrar. Isso contribui para
que entrem no ciclo ecossistêmico, acumulando-se ao longo da cadeia alimentar, o que facilita sua
dissipação pelo mundo.
Atualmente, os sistemas de cultivos são dependentes de fertilizantes minerais industriais e de
agroquímicos para conseguir uma produção em massa. Para diminuir essa dependência e aperfeiçoar
a produção de forma sustentável devem-se adotar tecnologias de manejo do solo que alinhem aumento
na produção com preservação ambiental, como por exemplo, o plantio direto, a aplicação responsável
de agroquímicos, a adubação verde, uso de biofertilizantes, cinza vegetal e biochar.
A contaminação dos solos por aplicação inadequada de agroquímicos vem crescendo cada vez
mais com a falta de responsabilidade e a falta de treinamento dos técnicos envolvidos na aplicação.
Esses compostos possuem longo efeito residual, o que prejudica não só as culturas, mas também a
qualidade do solo e das águas subjacentes.
Os agroquímicos são os principais compostos que promovem a contaminação dos solos, pois
são insumos agrícolas com potencial tóxico, onde os princípios ativos são, principalmente, compostos
xenobióticos aplicados para controlar pragas que prejudicam as culturas (MOREIRA; SIQUEIRA,
2006).

REMEDIAÇÃO E USO DE CINZA VEGETAL E BIOCHAR

Remediação se define como uma tecnologia de mitigação de impactos ambientais negativos,


aplicada com o objetivo de reduzir os agentes poluentes, eliminando por completo a contaminação
causada ou diminuindo a níveis toleráveis, de forma a não prejudicar o equilíbrio ecossistêmico.
O solo contaminado pode ser tratado na área, técnica denominada in situ, sendo realizadas
práticas que retiram os agentes contaminantes, ou ser feita fora da área, técnica denominada ex situ,
que é a retirada do solo contaminado, sendo direcionado a um local próprio para o tratamento, para
posteriormente ser devolvido ao local.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


66

As técnicas ex situ são onerosas e muitas vezes inviáveis economicamente, o que acaba por
ser um obstáculo na remediação. Dessa maneira, têm crescido os estudos com foco em tecnologias in
situ, pois estas podem apresentar resultados satisfatórios com menor custo de operação.
Mesmo fazendo uso de tecnologias in situ, os custos para a remediação do solo, dependendo
do tamanho da área, pode encarecer a prática. Com isso, o uso de resíduos surge como uma
possibilidade economicamente viável, a exemplo o uso da cinza vegetal e do biochar.
A cinza vegetal e o biochar são oriundos de uma energia limpa, produzidos por meio da
pirólise lenta de resíduos orgânicos, sendo uma tecnologia cada vez mais viável economicamente,
pois além de melhorar a fertilidade dos solos, promovem sequestro de carbono e aumento na produção
agrícola.
Para aplicar a cinza vegetal e o biochar na remediação de um solo degradado é preciso analisar
as características químicas dos materiais. Os diferentes tipos de matérias-primas utilizadas na
produção da cinza vegetal e do biochar, bem como as condições da pirólise realizada ocasionam as
diferenças em sua composição química e granulométrica.
Essas mudanças afetam o pH, a quantidade de carbono orgânico presente, a capacidade de
troca catiônica, a porosidade, a área superficial específica e a quantidade de nutrientes das cinzas e
do biochar, consequentemente afetando também a relação com os compostos poluentes.

Cinza Vegetal e Biochar na Remediação de Solos Contaminados por Metais Pesados

A expressão “metal pesado” é usada para um grupo de elementos químicos com alta densidade
e tóxicos em determinadas doses, podendo impactar o meio ambiente e os seres vivos. A cinza vegetal
e o biochar podem atuar na remediação de solos contaminados por esses compostos seja por uma
interação direta com os poluentes ou por uma interação indireta, onde a qualidade do solo é melhorada
com o aumento da fertilidade, favorecendo a recuperação do mesmo (Figura 2).
Muitas pesquisas demonstram a eficiência do biochar na diminuição da mobilidade e na
disponibilidade de metais pesados nos solos contaminados, consequentemente diminuindo a
quantidade de poluentes que é absorvida pelas plantas (BASHIR et al., 2018; MENG et al., 2018;
YANG et al., 2017).
A cinza vegetal e o biochar são capazes de imobilizar os metais pesados nos solos (MENG et
al., 2018), através de mecanismos como a atração eletrostática, a troca iônica, a complexação e a
precipitação dos poluentes.
Os principais mecanismos de remediação direta da cinza vegetal e do biochar incluem a
atração eletrostática, onde a alta eletronegatividade das cinzas e do biochar pode facilitar a atração

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


67

eletrostática de íons carregados positivamente. A intensidade dessa atração irá depender das
características químicas do produto utilizado.
Outro mecanismo é a troca de íons. A cinza vegetal e o biochar possuem alta capacidade de
troca de cátions proporcionada pela alta superfície especifica desses materiais. Esse fator associado
com a alta quantidade de cálcio e magnésio presentes favorecem os processos de adsorção dos
contaminantes.
A cinza vegetal e o biochar podem atuar complexando os metais pesados do solo. Os grupos
funcionais presentes nesses materiais, como por exemplo as hidroxilas, podem fornecer locais de
ligação para os metais pesados formarem complexos. Além disso, a presença de íons inorgânicos,
como silício, enxofre e cloro podem complexar os metais pesados, diminuindo sua mobilidade nos
solos.
Os compostos poluentes também podem ser precipitados através da cinza vegetal e do biochar,
pois quando são adsorvidos podem formar compostos insolúveis.
Além desses efeitos diretos, é importante ressaltar a influência indireta da aplicação de cinza
vegetal e biochar no solo na biodisponibilidade dos metais pesados. Ao impactar a características do
solo, aumentando o pH, a capacidade de troca de cátions e a quantidade de minerais e carbono
orgânico, as cinzas e o biochar melhoram a capacidade que o solo tem de se regenerar.

Figura 2. Mecanismos de interação entre o biochar e os metais pesados no solo. Fonte: Adaptado de HE et al. (2019).

Cinza Vegetal e Biochar na Remediação de Poluentes Orgânicos

Os poluentes orgânicos são substâncias altamente tóxicas formadas por compostos químicos
orgânicos semelhantes aos dos seres vivos. Surgem de diversos processos industriais, porém, em sua
grande maioria estão na composição de agroquímicos e assim, cada vez mais presentes em áreas

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


68

agrícolas. Desse modo, o uso de cinza vegetal e biochar se mostra uma tecnologia sustentável na
agricultura para auxiliar na remediação desses compostos. Além de promoverem o aumento da
fertilidade no solo, visa também aumentar a produção com a menor geração de poluição, devido a
diminuição do uso de fertilizantes oriundos de fontes não renováveis.
Com o objetivo de melhorar os solos, o uso de cinza vegetal e biochar aumentam a retenção
de água e nutrientes, e também auxiliam na remediação desses compostos contaminantes (TANG et
al., 2013).
Sendo assim, a cinza vegetal e o biochar possuem a capacidade de remediar os poluentes
orgânicos do solo, da água e de sedimentos através dos processos de adsorção, sorção e da estimulação
dos microrganismos responsáveis por realizar a decomposição química desses compostos, o que
consequentemente gera a diminuição da biodisponibilidade dos poluentes orgânicos presentes no
solo.
A adsorção refere-se às interações superficiais que levam à adesão das moléculas de poluentes
nas superfícies das moléculas das cinzas e do biochar, enquanto a sorção inclui adsorção e também a
partição de moléculas poluentes no microporos de biochar (Figura 3) (TANG et al., 2013).

Figura 3. Mecanismos de remediação de poluentes orgânicos da cinza vegetal e do biochar. Fonte: Adaptado de TANG
et al. (2013).

Na remediação mediada por microrganismos, um dos principais benefícios obtidos com a


adição de cinza vegetal e biochar no solo é o aumento da comunidade microbiana (ZIMMERMAN;
WEINDORF, 2010). Isso ocorre pelo fato de esses resíduos possuírem uma estrutura porosa, elevada
área superficial e alta capacidade de reter matéria orgânica solúvel, gases e nutrientes inorgânicos.
Essas características favorecem o surgimento de sítios de reação (Figura 4), fornecendo um habitat

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


69

com nutrientes e proteção contra predação e dessecação dos microrganismos (SAITO;


MARUMOTO, 2002).

Figura 4. Poros de biochar ideais para colonização de fungos (A), bactérias (B) e hifas de fungos micorrízicos
arbusculares (C). Fonte: Ogawa (1994).

A área para a colonização microbiana é aumentada com o incremento de cinza vegetal e


biochar, pois a área de superfície pode variar de dez a várias centenas de metros quadrados por grama
(LEHMANN; JOSEPH, 2009). A maior quantidade de sítios de reação pode beneficiar os
microrganismos que são menos competitivos no solo (OGAWA, 1994). O tamanho do poro determina
quais microrganismos terão ou não acesso aos espaços internos. Em função desses eventos, diversos
efeitos atuarão na qualidade do solo e remediação da rizosfera (Figura 5).

Figura 5. Descrição dos principais efeitos da cinza vegetal e do biochar na qualidade do solo e remediação da rizosfera.
Fonte: Adaptado de SANCHEZ-HERNANDEZ et al., 2019).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


70

Cinza Vegetal e Biochar na Remediação de Solos Contaminados com Agroquímicos

Muito utilizados na agricultura e pecuária, os agroquímicos podem percorrer por diversos


caminhos. Após a pulverização, podem escorrer das plantas e se depositar no solo ou ainda serem
aplicados diretamente no solo. Quando entram em contato com o solo sofrem inúmeras interações
químicas, físicas e biológicas, o que influencia na sua biodisponibilidade, na persistência do composto
no solo e na lixiviação. Podem ainda volatizar, sofrer deriva ou serem absorvidos pelas raízes das
plantas, chegando aos animais e também aos seres humanos (Figura 6).

Figura 6. Resumo esquemático do comportamento de agroquímicos no ambiente. Fonte: Adaptado de EMBRAPA


(2018).

Esses fatores podem contribuir para aumentar ou diminuir o seu impacto ambiental e as
interações com o solo podem variar de acordo com as características de cada produto e de acordo
com as características e propriedades do solo. Algumas moléculas possuem baixa mobilidade e longo
efeito residual, o que aumenta os riscos de contaminação quando as aplicações são realizadas de
maneira inadequada.
Uma das vias de mitigação dos agroquímicos é através do processo de biodegradação, onde
os microrganismos irão metabolizar os poluentes ou decompô-los por meio de enzimas extracelulares.
Como um dos benefícios obtidos com a adição de cinza vegetal e biochar no solo é o aumento da
comunidade microbiana, esse processo também é favorecido por essa técnica.
A persistência é o período em que o produto permanece no solo na forma solúvel, na forma
de vapor no ar, adsorvido nos minerais ou na matéria orgânica do solo. A dissipação é a fração do
poluente que é degradada ou permanece no solo na maneira insolúvel. Dessa maneira, a dissipação

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


71

mede a remediação dos poluentes no solo, seja ela por mineralização, degradação, formação de
complexos com outros compostos, absorção e transporte (LAVORENTI et al., 2003).
A retenção e a mobilidade dos agroquímicos são delimitadas pelos processos de adsorção e
dessorção, sendo que estes são dependentes das propriedades do solo, principalmente teor de argila e
de matéria orgânica, bem como das características químicas dos compostos aplicados (DI MARSICO
et al., 2018).
Quando há baixa sorção, os agroquímicos ficam disponíveis no solo com maior potencial de
lixiviação (OUYANG et al., 2016). A adição de cinza vegetal e biochar pode proporcionar ao solo
compostos orgânicos que pelo processo de adsorção, podem promover a mitigação da lixiviação dos
herbicidas no solo, por exemplo (JIN et al., 2016).
Essa técnica de remediação com cinza vegetal e biochar pode evitar que os poluentes
adsorvidos às partículas do solo sejam arrastados com o material particulado pela erosão até os corpos
hídricos, onde podem persistir por muito tempo, gerando grandes impactos negativos na qualidade da
água ou ainda entrar na cadeia alimentar resultando em bioacumulação. De forma geral, podem
impedir que os compostos solubilizados sejam lixiviados para as águas subterrâneas, comprometendo
a qualidade dos reservatórios.
Um exemplo de atuação do biochar na degradação de compostos orgânicos é a decomposição
de pentaclorofenol (ZHU et al., 2018), uma substância que possui ação algicida, fungicida e
inseticida, usada para preservar madeira (ANVISA, 2006).
Como a contaminação por agroquímicos causam um grande impacto ambiental, deve-se
constantemente aumentar a eficiência do controle. Dentro desse contexto, as técnicas que inserem
resíduos no processo produtivo são muito promissoras, pois podem promover a sorção dos poluentes
ou auxiliarem na degradação (MARÍN-BENITO et al., 2018).

QUALIDADE DO SOLO

Qualidade do solo é um conceito amplo e não definido, que pode abranger as características
que um solo precisa ter para estar apto para uma determinada atividade, seja ela da agricultura,
pecuária ou da construção civil, bem como pode ser um conceito associado à presença de algum
processo de degradação.
A qualidade do solo pode ser avaliada tanto com foco nos agroecossistemas, onde o principal
serviço é a produtividade, quanto para ecossistemas naturais, onde o principal serviço é a conservação
da biodiversidade (BÜNEMANN et al., 2018).
Os parâmetros que irão determinar o nível da qualidade do solo dependerão do objetivo da
avaliação. Mesmo quando se trata de processos de degradação, os parâmetros avaliados precisam ser

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


72

escolhidos de acordo com o tipo de contaminação existente, para que haja maior eficiência na
quantificação dos poluentes.
Não é possível estabelecer valores universais absolutos como parâmetros para a qualidade do
solo, pois fatores extrínsecos como material de origem, clima, relevo e hidrologia podem influenciar
nos valores potenciais das propriedades (BÜNEMANN et al., 2018). Diferentes de outros conceitos
estabelecidos como a qualidade da água e do ar, a qualidade do solo não tem um padrão definido
(ARAÚJO et al., 2012).
A avaliação do solo está conectada com a avaliação dos serviços ecossistêmicos fornecidos
pelo mesmo. Esta avaliação fornece ferramentas científicas para o uso e manejo dos recursos naturais,
considerando as demandas sociais e ambientais (BÜNEMANN et al., 2018). A partir disso, define-se
a capacidade do solo como a capacidade intrínseca de um solo contribuir para serviços
ecossistêmicos, incluindo a produção de biomassa (BOUMA et al., 2017).
Os termos qualidade e saúde do solo são semelhantes. O conceito de saúde do solo tem origem
na observação de que a qualidade do solo influencia a saúde de animais e humanos através da
qualidade das culturas (MENG et al., 2018).
Pankhurst, Doube e Gupta (1997) afirmaram que embora os conceitos de qualidade e saúde
do solo se assemelham de maneira geral, sendo muitas vezes usados como sinônimos, a qualidade do
solo se concentra mais na capacidade do solo em proporcionar o crescimento adequado de uma
cultura, enquanto que a saúde do solo se concentra na capacidade contínua do solo em sustentar o
crescimento das plantas e manter suas funções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A degradação dos solos é um problema ambiental que afeta diretamente o equilíbrio dos
ecossistemas, pois um solo degradado não é capaz de exercer suas funções, seja nos ecossistemas
naturais ou nos sistemas produtivos.
Os mais comuns e principais contaminantes que afetam os solos são metais pesados, poluentes
orgânicos e agroquímicos. A grande maioria desses compostos possuem longo efeito residual gerando
riscos para as plantas, animais, seres humanos e ainda podem comprometer as safras agrícolas.
Por outro lado, aliado ao processo de degradação, existe uma demanda crescente por alimentos
por conta do aumento populacional, porém, essa demanda só poderá ser alcançada com o aumento da
produtividade agrícola.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


73

É preciso buscar tecnologias para aumentar a produtividade com o menor impacto ambiental
possível de modo que o uso do solo seja equilibrado para atender as demandas agrícolas e também as
demandas ambientais.
O uso de resíduos para recuperar solos degradados se encaixa como uma alternativa
sustentável para a remediação de contaminações e otimização de uso de áreas que já foram abertas,
mas que estão impossibilitadas para o uso agrícola, por exemplo.
A aplicação de cinza vegetal e biochar no solo abre novas possibilidades de desenvolvimento
da tecnologia de remediação em solos contaminados com esses compostos de modo a recuperar as
propriedades do solo e favorecer o reestabelecimento de suas funções.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


74

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CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


Capítulo 05
Cinza vegetal na germinação de sementes

André Pereira Freire Ferraz¹

Edna Maria Bonfim-Silva¹

RESUMO: A agricultura brasileira vem crescendo sistematicamente ao longo dos anos. As mudanças
impostas pelo homem relacionadas às práticas agrícolas resultaram em grandes avanços para o
desenvolvimento econômico, em áreas onde o cultivo de plantas era até então praticamente
impossível. Para os níveis de desenvolvimento que se observa hoje foi necessário lançar mão do uso
de energia e recursos naturais. Nesse processo, questões ambientais passaram a ser relevantes. As
práticas da correção do solo do solo e da adubação com fertilizantes minerais passaram por
transformações técnicas no que diz respeito à eficiência do uso de nutrientes, tendo em vista não se
tratarem de recursos renováveis. Ainda assim, surgiu a necessidade de incorporar novos produtos à
agricultura visando não somente a redução do custo médio de produção, mas também resultados
positivos para o meio ambiente. Nesse contexto, os resíduos sólidos, tais como a cinza vegetal,
passaram a ser utilizados na agricultura como corretivos e fonte de nutrientes. A cinza vegetal é capaz
de elevar o pH do solo e a disponibilidade de bases trocáveis. No entanto, doses muito elevadas podem
causar efeitos deletérios sobre a produção vegetal, principalmente na fase inicial, que diz espeito a
germinação das sementes. O elevado potencial osmótico pode dificultar, por exemplo, a entrada de
água na semente (embebição), e retardar o processo germinativo, ou mesmo impedi-lo. Assim, surge
a necessidade de maiores investimentos em estudos que visem a determinação do manejo da cinza
vegetal na agricultura, visando também sua destinação correta ao ambiente. Além dos benefícios do
uso da cinza em doses adequadas, há também o fator ambiental que resulta da destinação desse
resíduo sólido na agricultura.

ABSTRACT: Brazilian agriculture has been growing systematically over the years. The changes
imposed by men relating to agricultural practices resulted in great advances for economic
development, in areas where the cultivation of plants was practically impossible. For the levels of
development observed today, it was necessary to resort to the use of energy and natural resources. In
this process, environmental issues became relevant. The practices of soil correction and fertilization
with mineral fertilizers have undergone technical transformations with regard to the nutrients use
efficiency, in view of not being renewable resources. Even so, the need arose to incorporate new
products to agriculture aiming not only to reduce the average cost of production, but also positive
results for the environment. In this context, solid waste, such as wood ash, started to be used in
agriculture as a corrective and source of nutrients. Wood ash is able to raise soil pH and the
availability of exchangeable bases. However, very high doses can cause deleterious effects on plant
production, especially in the initial phase, which concerns seed germination. The high osmotic
potential can make it difficult, for example, for water to enter the seed (imbibition), and delay the
germination process, or even prevent it. Thus, there is a need for greater investments in studies aiming
at determining the management of wood ash in agriculture, as well as aiming at its correct destination
to the environment. In addition to the benefits of using wood ash in adequate doses, there is also the
environmental factor that results from the destination of this solid waste in agriculture.

1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


78

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da agricultura se deve, em grande parte, às pesquisas voltadas a obtenção


de novas técnicas de manejo, insumos mais eficientes, insumos de baixo custo e cultivares mais
produtivas e adaptadas às diferentes condições edafoclimáticas brasileiras. Nesse contexto, um dos
fatores que tem contribuído para os sucessivos incrementes de produtividade da agricultura é a
procura, por parte dos produtores, por sementes certificadas e de alta qualidade, a exemplo da soja e
do milho, duas das principais culturas do Brasil.
De acordo com a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem, 2018), em 2018 as
vendas de sementes certificadas atingiram 71% do plantio de soja, equivalente a mais de 35 milhões
(35.149.200 ha) de hectares semeados. Na safra 2017/2018 a produção de sementes de soja
ultrapassou 3 milhões de toneladas (3.069.575 t). No caso do milho, as vendas alcançaram 92% do
plantio, com mais de 16 milhões de ha semeados (16.631.800 ha) e 562.955 t de sementes certificadas
produzidas.
A produção no setor de plantas forrageiras variou de 27 mil toneladas de sementes, em 2010,
para 50 mil toneladas, em 2013, impulsionada, principalmente, pelo aquecimento do mercado de
carnes e por programas de incentivo do governo federal, por meio do Plano Agrícola e Pecuário
(Santos et al., 2014). O estabelecimento inicial das pastagens é fundamental para evitar a formação
de um estande desuniforme. Isso retarda a formação da pastagem e favorece o aparecimento de plantas
daninhas em áreas de solo exposto.
De acordo com a lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997 (Lei de Proteção de Cultivares), semente
é “toda e qualquer estrutura vegetal utilizada na propagação de uma cultivar”. A referida lei discorre
também sobre o termo “material propagativo”, o qual é definido como “toda e qualquer parte da
planta ou estrutura vegetal utilizada na sua reprodução e multiplicação”, e nesse caso, a semente
também se enquadraria como material de propagação (Brasil, 1997). O sucesso na implantação de
uma cultura é dependente da qualidade da semente e o valor cultural é um importante fator que deve
ser considerado no momento da aquisição das sementes.
Diversos fatores podem influenciar a germinação de sementes, sejam o fotoperíodo,
quantidade de luz, disponibilidade hídrica, temperatura e fatores ligados ao solo. Dentre estes, os
fatores ligados ao solo estão entre os mais importantes, a exemplo do pH (Luttge & Scarano, 2004;
Li et al., 2020). Como o pH do solo está relacionado a uma dinâmica muito complexa de reações
químicas e disponibilidade de nutrientes para as plantas, essa torna uma das principais características
a ser estudada quando se trabalha com materiais que podem interferir na germinação e
consequentemente na produtividade das culturas.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


79

Sob pH ácido (<5,5) a maioria das culturas apresentam desenvolvimento reduzido. Portanto,
a correção do solo é uma importante prática agrícola que visa tornar o meio de cultivo adequado às
exigências das plantas, desde a germinação das sementes. Assim, em trabalho realizado com o cultivo
de beterraba sacarina (Beta vulgaris L.), Olsson et al. (2019) verificaram aumento no rendimento da
cultura quando o pH do solo foi corrigido.
Nota-se, por outro lado, que valores extremos de pH, isto é, em pH muito ácido ou
demasiadamente alcalino, a produção vegetal pode ser significativamente reduzida. A prática da
correção do solo precisa ser planejada para evitar excessos de cátions na superfície do solo. Em uma
condição como essa, a germinação das sementes pode ser substancialmente reduzida, ou mesmo não
ocorrer.
O estágio de maior sensibilidade das culturas à variação de disponibilidade de água, salinidade
do solo, pH e absorção excessiva de nutrientes e/ou elementos químicos oriundos de fertilizantes
ocorre justamente após a germinação, nos estágios iniciais de desenvolvimento das plantas (Carvalho
& Nakagawa, 2000).
O pH do solo pode exercer um efeito direto na composição botânica de pastagens, por
exemplo. Em condições de acidez pode haver aumento de populações de plantas de baixa produção
e valor nutritivo (Hodgson, 1990; Holechek et al., 2011). Em adição, solos alcalinos, ou áreas de
descarte de resíduos industriais, como a cinza vegetal, podem desfavorecer o estabelecimento de
cultivos agrícolas, dada o acúmulo excessivo de íons no solo.
Nesse contexto, o uso da cinza vegetal na agricultura, ao mesmo tempo que proporciona uma
destinação segura para esse resíduo, tem apresentado grande potencial de contribuição com a correção
e adubação do solo, podendo interferir na fase de germinação das sementes. Assim, esse capitulo trará
uma abordagem sob os aspectos dos impactos da utilização do resíduo agroindustrial cinza vegetal
na germinação de sementes.

EFEITOS DA CINZA VEGETAL NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES

Os efeitos agronômicos da aplicação de cinza vegetal na agricultura são muito variados.


Alguns estudos, como os discutidos no Capítulo 1, demonstraram efeitos positivos, neutros e até
negativos da aplicação da cinza vegetal na produtividade das culturas que podem ser explicados pelas
diferentes características químicas e físicas da cinza vegetal (Siddique, 2008) e pelas doses utilizadas
desse resíduo. Os efeitos da cinza vegetal como corretivo e fertilizante são altamente dependentes do
conteúdo elementar da matéria-prima da qual a cinza foi obtida (Campbell, 1990; Bonfim-Silva et
al., 2013; Espírito Santo et al., 2018).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


80

Atualmente a correção do solo ainda é uma prática negligenciada em diversas partes do Brasil,
mas que ao ser adotada possibilitou, por exemplo, a exploração dos solos do cerrado brasileiro
décadas atrás (Lopes & Cox, 1977; Lopes, 1996; Lopes & Guilherme, 2016). O surgimento da
agricultura no cerrado brasileiro é considerado uma das maiores conquistas da ciência agrícola no
século XX (Alves et al., 2008; Lopes & Guilherme, 2016).
Nesse contexto, o suprimento equilibrado de nutrientes constitui exigência básica para a
manutenção produtiva das diversas culturas, incluindo culturas alimentícias, florestais e forrageiras.
Por isso, além do déficit de nutrientes, seu excesso pode afetar diversos processos morfofisiológicos
nas plantas, desde a germinação das sementes até seu estágio de produção.
A quantidade demasiada de nutrientes pode ocorrer de forma natural, o que é comum em
regiões semiáridas devido o menor potencial de lixiviação, e em áreas em que houve aplicação
excessiva de fertilizantes e/ou corretivos. Vale ressaltar que solos salinos geralmente possuem pH
alcalino. Ryan et al. (1975) mostraram que a germinação de várias espécies de gramíneas forrageiras
reduziu não somente devido à concentração de sais, mas também pelo tipo de íon presente na solução
(Tabela 1).

Tabela 1. Concentrações de sais (meq L-1) necessárias para reduzir a germinação de sementes de várias gramíneas em 20
e 50% em relação à condição controle (água destilada).
Espécies NaCl MgCl2 CaCl2 Na2SO4 MgSO4
20% de redução da germinação
Sporobolus airoides Torr. 41 - - - -
Panicum antidotale Retz. 62 54 105 106 150
Eragrostis lehmanniana Nees. 53 54 100 64 200
Eragrostis curvula (Schrad.) Nees. 165 100 >200 153 90
Eragrostis superba Peyr. 150 127 190 115 200
50% de redução da germinação
Sporobolus airoides Torr. 113 - - - -
Panicum antidotale Retz. 116 114 161 132 192
Eragrostis lehmanniana Nees. 81 97 184 83 >200
Eragrostis curvula (Schrad.) Nees. 200 122 >200 171 133
Eragrostis superba Peyr. 187 182 >200 164 >200
Experimento conduzido em temperatura constante de 27°C; primeira contagem de germinação aos 12 dias após a
incubação. Fonte: adaptado de Ryan et al. (1975).

A cinza vegetal apresenta alta solubilidade e disponibilidade de nutrientes, notadamente


potássio, magnésio, cálcio, manganês, fósforo e sódio (Eriksson, 1998; Mosoarca et al., 2019). Esses
materiais apresentam de 20 a 25% de CaO e podem auxiliar, também, na correção da acidez do solo
(Campos et al., 2013). Por definição, corretivos da acidez do solo “são produtos capazes de neutralizar
(diminuir ou eliminar) a acidez dos solos e ainda levar nutrientes vegetais, principalmente cálcio e
magnésio” (Malavolta et al., 2002). A cinza vegetal atende a esses requisitos por atuar diretamente
na correção da acidez do solo.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


81

Além de adicionar nutrientes ao solo, a cinza vegetal também eleva o pH do solo e com isso
também aumenta a disponibilidade de outros nutrientes, como o molibdênio (Saarsalmi et al., 2012).
Por outro lado, a elevação excessiva do pH do solo pode imobilizar certos micronutrientes, tais como
o Zn, B, Fe e Cu (Sims, 1986; Moreno-Jiménez et al., 2019).
A cinza vegetal é um produto alcalino e seu pH pode variar de 8,5 a 13,5 (Campbell, 1990;
Etiégni & Campbell, 1991; Chen et al., 2015; Mosoarca et al., 2019; Vanapalli et al., 2021). Essa
forte capacidade alcalina indica que a cinza vegetal pode ser uma alternativa à correção da acidez do
solo, seja por si só ou combinada com calcário (Aronsson & Ekelund, 2004). No entanto, tanto os
efeitos da acidez quanto os da alcalinidade do solo são prejudiciais à germinação das sementes.
A elevada alcalinidade, que está ligada a quantidade de bases trocáveis no solo, produz uma
pressão osmótica que torna mais difícil a embebição das sementes e a absorção de água pelas plântulas
(Justice & Reece, 1954; Ne’eman et al., 2002; Vanapalli et al., 2021). Dessa forma, a germinação é
consideravelmente reduzida, ou não ocorre até que as condições externas à semente sejam favoráveis
ao desenvolvimento das plântulas (Carvalho & Nakagawa, 2000). Poonia et al. (1972) adicionaram
NaHCO3 em um solo franco-arenoso no cultivo do trigo (Triticum spp.) e verificaram aumento do pH
do solo e redução da germinação (Tabela 2).

Tabela 2. pH do substrato de cultivo e efeito sobre a germinação de sementes em diferentes espécies de plantas.
pH Germinação (%) Espécie Referência
5,3 60,5
6,0 29,7 Dimorphandra mollis Benth. Fagundes et al. (2011);
6,4 13,6
8,1 100
8,9 97
Trigo (Triticum spp.) Poonia et al. (1972)
9,3 85
9,5 80

Para Nabeela et al. (2015), a cinza vegetal é uma fonte rica em nutrientes para as plantas. Os
autores verificaram que em concentrações mais baixas (1 e 10 g de cinza por kg de solo – g kg-1), a
cinza estimulou a germinação de Brassica napus L., mas em concentrações mais elevadas (acima de
25 g kg-1) afetou adversamente essa característica. A cinza vegetal também resultou em aumento da
bioacumulação de micronutrientes nas plântulas. A bioacumulação é um processo pelo qual
substâncias ou compostos químicos são absorvidos pelas plantas. Assim, em concentrações muito
elevadas, a cinza vegetal pode ser prejudicial para a germinação e desenvolvimento inicial das plantas
devido à presença de elementos tóxicos. Na maior dose de cinza vegetal avaliada (100 g kg-1 de solo),
não houve germinação (Tabela 3).

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


82
Tabela 3. Efeito da cinza vegetal na germinação (%) de sementes de Brassica napus L. variedade Gangon.
Dose de cinza Tempo após o início do teste de germinação (h)
Média†
(g kg-1 de solo) 24 48 72 96 120 144 168
0 76,8 90,5 90,5 93,7 94,0 93,9 93,2 90,4
1 56,9 90,2 90,1 89,8 93,3 93,3 96,2 87,1
10 73,5 97,0 96,7 96,6 99,8 99,8 99,8 94,7
25 60,5 77,1 86,5 86,5 86,4 86,4 86,3 81,4
50 30,4 37,2 53,5 63,3 66,8 66,4 66,7 54,9
100 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
pH da cinza: 10,26±0,12; condutividade elétrica da cinza: 3,09±0,06 ds m -1. Fonte: dados extraídos de Nabeela et al.
(2015) com auxílio do software g3data (Frantz, 2000). †Calculada com base nos dados extraídos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A germinação de sementes é um processo influenciado por diversos fatores e dentre esses, o


pH do solo é um dos principais;
Do início do processo germinativo à formação de uma plântula normal, é no solo que ocorrem
as primeiras restrições e/ou estímulos sobre o que pode vir a se tornar uma planta produtiva;
O manejo dos sistemas agrícolas, que envolvem a correção e adubação do solo, torna-se
imprescindível para o adequado desenvolvimento das culturas, e isso deve ser garantido desde a
geminação das sementes. Nesse aspecto, a cinza vegetal pode contribuir com esse processo;
Visualiza-se como desafio estudos sobre a composição química da cinza vegetal, que não é
padrão, isto é, varia conforme as biomassas vegetais das quais a cinza é obtida;
No que se trata do estudo de efeitos da cinza vegetal na germinação de sementes, a literatura
ainda está escassa, sendo necessários estudos mais específicos com esse resíduo sólido para se obter
maior eficiência e sustentabilidade ambiental, associados aos efeitos que esse resíduo pode causar na
fase de germinação de sementes.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


83

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CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


Capítulo 06
Produção agrícola vs. preservação do Cerrado: o
que a cinza vegetal tem a ver com isso?

Adriane Barth¹

RESUMO: O aumento na produção agrícola no Brasil tem provocado altos índices de degradação
ambiental. O Cerrado Brasileiro, cuja ocupação mais intensa se deu para produção agrícola há
aproximadamente 50 anos, já perdeu mais da metade de sua vegetação nativa. Produzir com menos
impacto é o grande o desafio da agricultura no século XXI tendo em vista a mudança no pensamento
global com relação à preservação do meio ambiente. Métodos de produção que permitam reduzir os
impactos ambientais são essenciais para manutenção dos recursos naturais e da população humana.
Este texto traz apontamentos relacionados ao papel da cinza vegetal na agricultura e sua contribuição
para uma prática ambientalmente mais sustentável e economicamente viável.

ABSTRACT: The increase in farm production in Brazil has caused high rates of environmental
degradation. The Brazilian Savana, whose most intense occupation took place for agricultural
production approximately 50 years ago, has already lost more than half of its native vegetation. To
increase agricultural production with less environmental impact is the great challenge of agriculture
in the 21st century in view of changing global thinking regarding environmental preservation.
Production methods that reduce environmental impacts are essential for the maintenance of natural
resources and the human population. This chapter brings notes related to the role of wood ash in
agriculture and its contribution to more environmentally sustainable and economically viable
practices.

INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos grandes exportadores de produtos para o restante do mundo, sendo estes,
em sua maioria, oriundos de produção agrícola. Embora o aumento da produção seja essencial para a
economia do país, observa-se uma gradativa e acelerada redução das florestas em detrimento do
aumento das áreas cultivadas. O Cerrado, tido até a década de 70 como terra improdutiva, teve sua
ocupação intensificada a partir deste período. Políticas públicas que incentivaram a expansão das
fronteiras agrícolas, aumento da malha viária, condições climáticas e grandes extensões de planícies,
que otimizam o uso de mecanização, são alguns dos fatores que favoreceram a ocupação do Cerrado
para produção agrícola. Desde então, esse bioma já perdeu mais de 50% de sua área de vegetação
original. Juntamente com a floresta, perdeu-se em biodiversidade animal, vegetal e alterou-se a
dinâmica dos recursos hídricos.

1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – campus Rondonópolis.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


87

Nos últimos anos, direcionados principalmente pela comunidade internacional, surgem


cobranças para processos de produção que sejam ecologicamente mais sustentáveis. No Brasil, são
criadas leis ambientais mais restritivas e desenvolvidas tecnologias que buscam otimizar o uso dos
recursos naturais. O desafio da agricultura atual é produzir mais sem precisar aumentar a área de
produção e ainda reduzir seus custos. Nesse sentido, centros de pesquisa tem melhorado a qualidade
das sementes, desenvolvido tecnologias para otimizar os processos de irrigação, estudado melhorias
no manejo do solo e pesquisado a ação de fertilizantes alternativos, como a cinza vegetal.
A cinza vegetal, nas indústrias, é um resíduo produzido a partir da queima de madeira,
principalmente de eucalipto, para produção de energia. Com o aumento do custo das fontes de energia
provenientes de combustíveis fósseis, a madeira de reflorestamento surgiu como uma alternativa para
diminuir os custos de produção em indústrias que necessitam de energia térmica. No entanto, o
aumento no uso gerou a necessidade de criar alternativas para descartar o resíduo (cinza vegetal)
produzido sem agredir o meio ambiente. Dados de 2001 apontam que, no mundo, são produzidos
cerca de 550 milhões de toneladas/ano de cinza provenientes do uso de carvão vegetal (Querol et al.,
2001).
Pesquisas têm apresentado diferentes usos para a cinza vegetal, como incorporação no cimento
utilizado em diferentes modalidades da construção civil, demonstrado na revisão sobre o tema de
Ondova et al. (2011) e o uso como fertilizante do solo nos cultivos agrícolas, conforme o abordado
em capítulos anteriores. Este último é uma prática já utilizada, principalmente, na agricultura familiar,
mas sem uma sistematização do manejo o que pode gerar danos às culturas e ao meio ambiente.
Estudos têm sido desenvolvidos a fim de determinar as doses corretas a serem utilizadas e os
resultados que a cinza vegetal tem proporcionado para diversas culturas (Bezerra, 2018; Bonfim-
Silva et al., 2013, 2011). Dentre os benefícios observados tem-se a elevação do pH do solo para a
faixa adequada para a maioria das culturas (6,0-6,5). O pH do solo na faixa adequada viabiliza a
absorção dos nutrientes pelas plantas, aumenta a retenção de agua do solo, reduz o uso de água em
sistemas agrícolas irrigados e proporciona também a redução do uso de fertilizantes. Os estudos
apontam que, todos esses fatores associados aumentam a produtividade por área cultivada e diminuem
o custo de produção com insumos agrícolas (Bonfim-Silva et al., 2013; Bezerra, 2018).
A melhoria das características qualitativas e produtivas no setor agrícola apontados nos
estudos apresentados nos capítulos anteriores que utilizaram cinza vegetal, são importantes para a
preservação do meio ambiente tendo em vista que permitem produzir mais em áreas menores,
contribuindo assim com a redução da exploração dos recursos naturais não renováveis.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


88

CERRADO: CARACTERÍSTICAS GERAIS, EXPLORAÇÃO E PRESERVAÇÃO

O bioma Cerrado é o segundo mais extenso do Brasil, menor apenas que o bioma Amazônia,
ocupando cerca de 23% da área total do país. Apresenta variação em sua fitofisionomia, o que fornece
riqueza de hábitat e, consequentemente, rica biodiversidade tanto de espécies animais quanto
vegetais. Sua localização está mais concentrada na região central do Brasil chegando ao litoral do
estado do Piauí e norte do Paraná, além de regiões com características de Cerrado, em áreas de bioma
Amazônia.
O Cerrado apresenta diversas fitofisionomias, as quais variam de acordo com diferentes
autores. Ribeiro & Walter (1998) reconhecem três grandes grupos de vegetação: a floresta -
subdividida em cerradão e mata seca; savanas - que envolve o cerrado stricto senso e cerrado ralo,
áreas campestres - que compreendem as regiões de campo sujo, campo limpo e campo cerrado. A
grande variabilidade de habitats desse domínio comporta uma enorme diversidade de espécies de
plantas e animais, muitos deles com ocorrência restrita a essa região. Embora seja um bioma cuja
biodiversidade ainda é pouco conhecida, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2002),
estima-se que mais de 50% das abelhas e mais de 40% das espécies de plantas lenhosas que habitam
o Cerrado, sejam endêmicas. Com relação a avifauna, são conhecidas 837 espécies, sendo que destas,
29 são endêmicas e para os mamíferos, são conhecidas 194 espécies, sendo 14 endêmicas.
Devido à grande diversidade, o grande número de espécies endêmicas e do elevado nível de
degradação, o Cerrado brasileiro é tido como hotspots de biodiversidade ameaçada de extinção
(Myers et al., 2000; Strassburg et al., 2017). Apesar da sua importância na manutenção da
biodiversidade, o Cerrado já perdeu cerca de 54% de sua cobertura vegetal e, dos 46% de floresta
restantes, apenas 19,8% permanecem sem nenhuma alteração. Estudos de projeção apontam que até
2050, é provável que de 31-34% dos 46% de vegetação remanescente de Cerrado, sejam derrubados.
Essa sombria perspectiva para o Cerrado, também aponta que aproximadamente 480 espécies
endêmicas de plantas seriam extintas, superando em três vezes as extinções de plantas documentadas
desde o ano de 1500 (Strassburg et al., 2017).
A extensão territorial do Cerrado, associado a grandes áreas de planície, que facilitam a
mecanização agrícola, são fatores importantes no processo de substituição da vegetação nativa pelo
cultivo de grãos e pecuária. Outro fator que favorece a agropecuária massiva são os períodos
relativamente estáveis entre seca e chuvas. O Cerrado apresenta duas estações bem definidos, uma
seca, de maio a setembro e um período chuvoso, de outubro a abril. Nesse bioma, a produção agrícola
pode ocorrer com relativa precisão com relação ao período em que começam e terminam as chuvas
e, durante o período seco, os solos podem ser irrigados, garantindo produção ao longo de todo ano.
Segundo Lima & Silva (2005), a preocupação com relação ao uso da água nos processos de irrigação

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


89

está centrada no fato de sua demanda aumentar no período mais seco do ano, ampliando os danos
ambientais gerados com essa prática.
Embora o bioma Amazônia comporte cerca de 70% de toda água doce de superfície brasileira,
o Cerrado foi contemplado com riqueza de nascentes, e por ser região de planalto, atua como área de
recarga hídrica, o que contribui para a manutenção das bacias hidrográficas. É no bioma Cerrado que
surgem as nascentes que abastecem seis, das oito bacias hidrográficas brasileiras Lima & Silva
(2005). Essa abundante disponibilidade hídrica associada ao curso dos rios que nascem no Cerrado,
ressalta a importância na manutenção e preservação das fontes hídricas desse bioma, além do uso
sustentável desse recurso, para assim garantir a manutenção da disponibilidade e qualidade água nas
demais regiões brasileiras.
A paisagem de savana rica em biodiversidade animal, vegetal e hídrica, vêm sendo
gradativamente modificada pela ocupação urbana, industrial e cultivo de grãos e pecuária. A flora e
fauna nativas têm sido reduzidas a, principalmente, áreas de preservação ambiental obrigatórias,
como as matas de galerias e reservas indígenas. Segundo Machado & Aguiar (2010), substituindo as
florestas do Cerrado, temos a metade da soja e mais de 60% da carne bovina produzida no Brasil.
A preocupação com a preservação do Cerrado chegou já com a perda de mais da metade da
cobertura vegetal do bioma. Segundo a CNUC (2019), somente um pouco mais de 8% do Cerrado
estão legalmente protegidos em Unidades de Conservação, que são os parques federais, estaduais e
municipais. E, diferentemente do bioma Amazônia cuja proteção legal está estabelecida em 80% da
floresta nativa, para o Cerrado a legislação brasileira - Novo código Florestal Lei Nº 12.651, de 2012
(Brasil, 2012) exige que, cada proprietário rural preserve apenas 35% da vegetação nativa, o que, na
prática, significa que o desmatamento observado atualmente (cerca de 56%) ainda tem margem legal
para progredir.
Considerando os apontamentos acima relacionados ao bioma Cerrado, associados a busca de
maior produtividade agrícola e redução dos custos e das áreas de produção, centros de pesquisa tem
investido em novas tecnologias que podem ser um caminho interessante na busca de uma produção
agrícola rentável com redução do seu impacto na dinâmica dos ecossistemas. Um exemplo a ser
explorado é o caso do uso da cinza vegetal como fertilizante agrícola, abordado em sequência.

USO DA CINZA VEGETAL E AS VARIAVEIS AMBIENTAIS ENVOLVIDAS

Os estudos com uso da cinza vegetal na produção agrícola têm demonstrado que, sob manejo
adequado e especial cuidado com relação a qualidade do produto utilizado, essa prática pode
promover vários benefícios ambientais em detrimento das práticas de produção tradicionais. Será

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


90

apresentado aqui duas questões ambientais cujos impactos podem ser minimizados com a introdução
da cinza vegetal na agricultura.

Alternativa ao uso de calcário: efeitos da extração de calcário e seus impactos ao meio


ambiente

O solo do Cerrado apresenta elevada acidez natural, baixo teor de fósforo e alto teor de
alumínio tóxico às plantas Sanchez & Cochrane (1980). Essas características dificultam o
desenvolvimento e, principalmente, a absorção dos nutrientes pelas plantas cultivadas. As espécies
vegetais nativas estão adaptadas a essa característica tendo em vista os milhares de anos de adaptação
das espécies do Cerrado ao meio ambiente.
As plantas do Cerrado apresentam resposta de crescimento mesmo em baixos teores de
nutrientes e pH ácido do solo e acumulam o alumínio, tóxico para plantas cultivadas, em sua área
foliar. No entanto, ao se introduzir qualquer cultura agrícola neste ambiente, é necessário a prática de
correção do solo, ou calagem. Sendo a calagem o método até então, mais eficiente e economicamente
viável disponível aos produtores para corrigir o pH do solo e aumentar a produtividade dos sistemas
agrícolas. O produto utilizado para essa prática é o calcário, que, em doses específicas para cada
cultivar e cada tipo de solo, diminui o pH, diminui o efeito tóxico do alumínio, aumenta a
disponibilidade de uma série de nutrientes, além de melhorar a qualidade física do solo
proporcionando maior aeração e circulação de água, o que favorece o desenvolvimento das raízes
(Corrêa et al., 2011).
O calcário apresenta uma variedade de usos, como corretivo do solo é apenas um deles. De
modo geral, é matéria prima para a construção civil, indústria de papel, plástico, vidros, entre outras.
É um mineral extraído de pedreiras e depósitos geologicamente muito antigos, formados desde o
período Cambriano até o Holocelo (Sampaio & Almeida, 2008). O calcário utilizado hoje foi formado
principalmente por conchas e exoesqueletos de organismos aquáticos que, sob pressão, originaram
rochas sedimentares ricas nesse mineral (Popp, 2010).
As reservas lavráveis de calcário têm ocorrência em todos os estados brasileiros. Segundo
Silva (2009) a produção total de calcário no Brasil no ano de 2008 foi de um pouco mais de 107
milhões de toneladas, com estimativa de crescimento a até, pelo menos, 158 milhões de toneladas até
2030. Fatores que favorecem seu crescimento vão desde a abundância deste mineral ao longo do país,
seu uso diversificado, o aporte financeiro gerado e até a geração de empregos, tendo em vista que
essa atividade exige essencialmente mão de obra pouco qualificada.
A despeito de ser importante matéria prima, o aumento do uso de calcário, e
consequentemente, aumento no processo de extração deste mineral, aumenta também a preocupação

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


91

com a preservação ambiental devido aos impactos ocasionados pelo processo de mineração. A
retirada da vegetação nativa, processos erosivos, assoreamentos de córregos, contaminação da água
de córregos próximos às minas e perda de registros fósseis, são alguns dos impactos gerados no
processo. A extração do calcário também pode afetar localmente o ciclo natural das águas tendo em
vista que, a característica porosa das rochas onde esse mineral é encontrado, otimiza a absorção da
água das chuvas e seu direcionamento para os corpos d’agua subterrâneas, garantindo a alimentação
do lençol freático.
Rochas calcárias, devido a sua origem geológica, são fontes importantes de registro fóssil. O
não aproveitamento dos fósseis e até mesmo a sua destruição no processo de mineração são uma
perda irreparável para o conhecimento científico sobre a formação geológica das regiões e das
espécies que ali habitavam em um passado remoto, como pôde ser constatado por Martins-Neto &
Ramalho (2010), em um estudo de acompanhamento da evolução do impacto ambiental em uma
mineradora de calcário no interior de São Paulo.
As atividades de mineração promovem ainda, o desmatamento da área e a modificação do
relevo no local onde estão inseridas, bem como a morte de animais silvestres devido ao intenso tráfego
de caminhões de transporte de minério, como observado por Alves & Monteiro (2015), em uma área
de Cerrado no Piauí sob ação de mineradoras de calcário.
Maior controle dos órgãos ambientais pode garantir o correto processo de extração e a devida
aplicação dos planos de recuperação das áreas utilizadas pelas mineradoras. A fiscalização pelos
órgãos de controle é uma ação essencial para mitigar os danos ambientais causados por essa atividade.
Além disso, o uso de produtos alternativos para a calagem do solo, como tem se mostrado a cinza
vegetal, pode, sob manejo adequado, atuar como importante substituto para diminuir o uso e
consequentemente, reduzir o processo de extração do calcário, diminuindo os impactos causados por
essa atividade ao meio ambiente.
Estudos utilizando cinza vegetal em substituição ao calcário na produção de rúcula, girassol,
algodoeiro e em diferentes gramíneas forrageiras demonstram que, em doses específicas, a cinza
vegetal aumenta o pH do solo se mostrando como alternativa viável na correção da acidez (Bonfim-
Silva et al., 2015a, b; 2013; 2011; Bezerra, 2018).

Redução do uso de água para irrigação

Aumentar a produção agrícola sem dizimar as fontes hídricas tem sido um dos desafios da
produção no século XXI. A crescente demanda por produção, o rápido esgotamento das áreas
cultivadas e a pressão de países mais desenvolvidos com relação à preservação do meio ambiente tem
direcionado o desenvolvimento de tecnologias de produção que visam produzir mais com menos

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


92

investimento e redução do uso dos recursos naturais. O uso mais sustentável da água tem sido uma
demanda crescente dentro desta dinâmica.
Segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA, 2017) a agricultura irrigada consome
745 m3/s de água e com previsão de aumento de 42% até 2030. Considerando as demais demandas
de uso de água, a agricultura irrigada ocupa 67% do valor de consumo de toda água utilizada no
Brasil. Gerenciar esse intenso uso da água de forma sustentável é uma questão de sobrevivência
global, tendo em vista que, mesmo o ciclo da água sendo um ciclo fechado, a água retirada para o
processo de irrigação (e para os demais usos) não retorna exatamente para o local de onde foi extraída.
Quando do uso irracional, essa dinâmica natural da água pode proporcionar o declínio da
disponibilidade hídrica em regiões com menos disponibilidade desse recurso. Além de problemas no
ciclo da água, o manejo incorreto dos processos de irrigação pode gerar excesso de água no solo, que
quando não utilizados pelas plantas, podem retornar aos corpos d’água contaminados por sais e
defensivos agrícolas alterando a dinâmica ecológica destes ambientes.
Metodologias de irrigação que otimizam o uso da água, observação da sazonalidade dos
períodos de disponibilidade hídrica, além do manejo adequado do solo, contribuem para um uso mais
sustentável desse recurso na agricultura.
Dentro de manejo do solo, a substituição do calcário utilizado para calagem dos solos ácidos
pelo uso da cinza vegetal tem se mostrado, também, uma alternativa interessante para a redução do
uso da água para irrigação. O uso de cinza vegetal em substituição ao calcário em experimentos com
capim Urochloa brizantha cv., demonstrou aumento na capacidade de retenção de água no solo, com
uma eficiência de 70%, o que permitiu o desenvolvimento da gramínea em períodos de estiagem sem
o uso de irrigação (Bezerra, 2018).
Aumento significativo da eficiência do uso da água também já havia sido observado em
experimentos utilizando cinza vegetal no cultivo de rúcula (Bonfim-Silva et al., 2011). A capacidade
em reter a água do solo é um indicativo de que a cinza vegetal pode atuar como importante alternativa
na otimização do uso dos recursos hídricos na agricultura, tendo em vista que poderá reduzir a
quantidade de água utilizada nos processos de irrigação, minimizando assim os impactos ambientais
causados por essa prática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ação da cinza vegetal observada até então nas culturas agrícolas não traz apenas benefícios
à cadeia produtiva. O efeito redutor do pH do solo permite que ela substitua o uso do calcário para
calagem dos solos ácidos, reduzindo a exploração desse mineral e os impactos causados no meio
ambiente pelo processo de mineração. A capacidade de retenção de água no solo proporciona menor

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


93

utilização de água para irrigação, reduzindo a pressão de uso dos recursos hídricos. A diminuição no
uso de fertilizantes industrializados pode reduzir o processo de saturação desses minerais no solo;
O ambiente favorável proporcionado pela cinza vegetal aumenta a produtividade por hectare
cultivado, sendo esse um fator essencial para a preservação da vegetação nativa, tendo em vista que
não será necessária a abertura de novas áreas para exploração agrícola. A manutenção da área de
vegetação ainda existente no Cerrado é essencial para a preservação da biodiversidade desse bioma
e, como vimos, para a conservação dos recursos hídricos, essenciais para todas as demais cadeias
produtivas e sobrevivência humana. Além de todos estes fatores, o aumento da incorporação da cinza
como matéria prima, seja na agricultura ou construção civil, proporciona a esse resíduo um destino
econômica e ecologicamente mais viável;
Importante ressaltar que, os estudos com cinza vegetal ainda estão em processo de
desenvolvimento. Os resultados observados até então apontam a cinza vegetal como uma ferramenta
que pode auxiliar na diminuição do impacto ambiental promovido pela prática agrícola. No entanto,
os benefícios para a produção e para o ambiente estão diretamente relacionados a qualidade e correto
manejo da cinza vegetal utilizada.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


94

REFERÊNCIAS

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CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


Capítulo 07
Tecnologia de aplicação de cinza vegetal e biochar

William Fenner1
Tonny José Araújo da Silva1
Edna Maria Bonfim-Silva1

RESUMO: O planejamento precede toda e qualquer atividade, de modo que com a aplicação de cinza
vegetal ou Biochar (biocarvão) isso também ocorre. O embasamento teórico, prático, a finalidade da
operação, bem como, os recursos operacionais e financeiros disponíveis é que irão embasar o
agricultor, o profissional técnico, ou até mesmo o pesquisador, de que maneira realizar a aplicação
da cinza ou Biochar, para otimizar a operação em si, com maior eficiência do produto aplicado e
menor custo. De posse de todas as informações discutidas anteriormente, pode-se proceder a
aplicação da cinza vegetal ou biochar. É claro que serão necessárias algumas adequações a cada
realidade e disponibilidade de recursos disponíveis. No entanto, tomando-se os cuidados necessários,
é possível garantir a qualidade da operação e a correta e uniforme distribuição do material. Neste
capítulo serão descritos os aspectos relacionados aos métodos de aplicação de cinza e biochar com o
objetivo de subsidiar o leitor quanto ao método a ser utilizado e os cuidados necessários para maior
proveito do produto aplicado.

ABSTRACT: Planning precedes all activities, so that with the application of wood ash or Biochar
this also occurs. The theoretical, practical basis, the purpose of the operation, as well as the
operational and financial resources available are the support to the farmer, the technical professional,
or even the researcher, on how to carry out the application of wood ash or Biochar, to optimize the
operation itself, with greater efficiency of the applied product and lower cost. With all the information
discussed above, you can proceed with the application of wood ash or biochar. Some adjustments
will be necessary for each reality and availability of available resources. However, taking the
necessary care, it is possible to guarantee the quality of the operation and the correct and uniform
distribution of the material. In this chapter, the aspects related to the methods of applying wood ash
and biochar will be described in order to support the reader on the method to be used and the necessary
care for greater benefit of the applied product.

1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


97

INTRODUÇÃO

Antecedendo a definição do método de aplicação é necessário considerar a finalidade da aplicação


e o tipo de cultura ao qual se almeja a aplicação da cinza vegetal ou biochar. Devido a sua
versatilidade, a cinza e o biochar podem ser aplicados em vasos (jardinagem ou experimentação
agrícola), jardins, hortas (olericultura), áreas degradadas, silvicultura e agricultura de modo geral,
bem como serem utilizados em associação a outros fertilizantes para a produção de adubo
organomineral.
Outro aspecto importante é quanto ao local de armazenamento da cinza ou biochar. Uma vez que
estes resíduos proporcionam grandes volumes a serem transportados e aplicados, recomenda-se a
deposição dos mesmos próximos ao local de aplicação, facilitando as operações subsequentes.
No entanto, não é recomendado que esses materiais recebam chuva. Sendo assim, deve-se preferir
aplicação em épocas sem chuva, se possível, ou operações de transporte de aplicação e sequência. A
chuva sobre o resíduo não inviabiliza o seu uso, mas pode dificultar a aplicação homogênea do mesmo
e dificultar a distribuição mecanizada do produto. Além disso, pode ocorrer o carreamento desses
resíduos para corpos hídricos ou causar deposição excessiva em áreas indesejadas.

MÉTODOS DE APLICAÇÃO

Definida a finalidade e o tipo de resíduo a ser utilizado (cinza vegetal ou biochar), pode-se
então, proceder a definição do método de aplicação. Quanto aos métodos de aplicação, esses podem
ser manuais ou mecânicos, de forma superficial ou incorporada, podendo ser adaptados de acordo
com a realidade de cada agricultor (Lehmann & Joseph, 2009; Bega, 2014). Para usos em vasos ou
em jardinagem em pequena escala a aplicação pode ser realizada manual ou mecanicamente,
superficialmente ou incorporando de forma homogênea a cinza vegetal ou o biochar ao solo e/ou
substrato (Figuras 1 e 2). Nesse tipo de uso, deve-se considerar a dose recomendada, mantendo-se a
proporção ideal de mistura ou considerar a densidade (relação massa/volume de substrato).
A. B.

Figura 1. Aplicação manual superficial de cinza vegetal (A e B) em área experimental de implantação de pastagem de
Urocloa brizantha cv. Paiaguás no Cerrado mato-grossense, Rondonópolis, MT. Fonte: Os autores.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


98

A. B.

Figura 2. Aplicação manual (A) e mecanizada de biochar em canteiros (B). Fonte: (HELM, 2017; Dennis and Kevin,
2013).

Em olericultura, o resíduo pode ser distribuído uniformemente sobre os canteiros e, se


necessário, incorporado ao solo manualmente (com enxadas) ou mecanicamente com auxílio de moto-
encanteirador ou enxada rotativa, de acordo com a finalidade e disponibilidade de recursos.
Em maiores escalas, tem-se uma série de possibilidades para a aplicação de cinza e/ou
biochar. Dependendo da cultura, a aplicação pode ser realizada na cova, linha ou área total. Nesse
caso, deve-se considerar o granulometria do resíduo (como vimos anteriormente, o tipo de biomassa
pode dar origem a resíduos de diferentes granulometrias), o tipo de cultura (culturas anuais ou
perenes), estádio de desenvolvimento dentre outros fatores.
Em espécies florestais por exemplo, a cinza vegetal e o bichar podem ser aplicados na linha
ou área total. Vale lembrar que o método irá interferir na dosagem e no rendimento operacional. Outro
exemplo é a aplicação em áreas voltadas para a pecuária (pastagens) ou agricultura (soja, milho,
algodão, dentre outras), no qual a aplicação em área total é mais indicada. Nesses casos, a aplicação
pode ser realizada com distribuidores de fertilizantes granulados ou em pó convencionais, atentando-
se apenas para a largura da faixa e a dosagem de aplicação (Figuras 3, 4 e 5).

A. B.

Figura 3. Aplicação de cinzas em área de canavial (A) e torta de filtro no sulco de plantio de cana de açúcar (B). Estes
equipamentos também podem ser utilizados para aplicação de biochar. Fonte: (Rosseto e Santiago, 2018).

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99

A. B.

Figura 4. Distribuidor específico para a distribuição de resíduos orgânicos com capacidade de armazenamento de 3 a 6
m3 de acordo com cada modelo e fabricante (A e B). Estes equipamentos também podem ser utilizados para aplicação de
biochar. Fonte: (Jan Implementos, 2018).
A. B.
B.

Figura 5. Aplicação de cinza vegetal em área destinada ao cultivo do algodoeiro (A) e aspecto visual após a aplicação de
aproximadamente 9,8 toneladas por hectare (B). Fonte: (Cottoninc, 2018).

Alguns equipamentos têm com itens opcionais de fábrica uma calha vibratória para aplicação
em linhas e um dispositivo para aplicação em uma única faixa central, específicos para resíduos
orgânicos sólidos (Figura 6).
A. B.

Figura 6. Distribuidor de resíduo sólido equipado com calha vibratória para distribuição em linhas (A) e distribuidor de
resíduo sólido para distribuição em faixa central (B). Estes equipamentos também podem ser utilizados para aplicação de
biochar. Fonte: (Jan Implementos, 2018).

Devido à baixa densidade e granulometria da cinza e do biochar, cuidados com a época e o


método de aplicação são fundamentais. Em algumas regiões, o vento pode ser um entrave para a

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


100

correta e uniforme distribuição dos resíduos, tal qual como ocorre para a aplicação de calcário e gesso
por exemplo. Frente a estas situações, deve-se optar por horários com ausência ou menores
velocidades do vento (até mesmo operações noturnas em algumas regiões) e ainda, reduzir a faixa de
aplicação (estreitar), para favorecer a correta deposição do produto aplicado.
Outro aspecto importante a se considerar é com diferentes granulometrias de um mesmo
material, ou aquele provindo de diferentes materiais que, por consequência, irão resultar em um
composto de partículas de diversos diâmetros e densidades, podendo ocasionar distribuições
desuniformes. Para solucionar isso, caso não seja possível homogeneizar o material para uniformizar
o tamanho das partículas, recomenda-se optar por faixas de aplicação mais estreitas, favorecendo a
sobreposição das faixas de aplicação, com uma distribuição do material de maneira uniforme. Estes
cuidados são fundamentais para evitar as “manchas” de fertilidade, que são aquelas regiões que
recebem maiores ou menores quantidade de fertilizantes, causando desuniformidade no crescimento
e desenvolvimento vegetal.
Em casos específicos, e de acordo com as recomendações técnicas, é necessário a
incorporação da cinza vegetal ou biochar após a aplicação. Esta operação pode ser realizada de duas
maneiras convencionais além daquelas específicas para a olericultura.
Em casos de recuperação de áreas de pastagens degradadas, em que exista a necessidade de
implantação de um novo do pasto com a introdução de uma nova espécie por exemplo, pode ser
necessário a incorporação do material com grade aradora, incorporando os resíduos à uma
profundidade média de 0 a 0,20 m (Figura 7). No entanto, dependendo do nível de degradação
observado, existe a possibilidade de recuperação da mesma espécie na área e nesse caso, a
incorporação pode ser realizada por meio de uma grade niveladora, incorporando o resíduo em uma
camada mais superficial (0 a 0,10 m). Vale ressaltar que a definição do método de aplicação e de
incorporação da cinza e do biochar deve ter embasamento técnico, objetivando minimizar ou mitigar
os impactos ambientais negativos.

Figura 7. Incorporação de cinza vegetal com grade aradora em área de em área experimental de implantação de pastagem
de Urocloa brizantha cv. Paiaguás no Cerrado mato-grossense, Rodonopolis, MT. Fonte: Os autores.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


101

Considerando a baixa densidade do material e que normalmente são recomendadas a


aplicação de altas doses de cinza vegetal e/ou biochar ocorre a diminuição do rendimento operacional,
uma vez que são necessários realizar uma maior quantidade de reabastecimentos dos equipamentos.
Um modo de diminuir este atraso na operação é a distribuição do material em vários pontos do talhão.
Assim, não é necessário que o operador desloque o conjunto aplicador por maiores distancias, o que
neste caso, diminuirá ainda mais o rendimento operacional e, consequentemente, aumentar os custos
com a operação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cinza vegetal e o biochar são materiais que podem ser produzidos a partir de diversas
matérias primas, o que lhes confere, produtos de diferentes tamanhos de partículas e densidades. Essas
características são fundamentais para a definição do método de aplicação. Basicamente, a cinza
vegetal e o biochar podem ser aplicados manual ou mecanicamente, de acordo com cada realidade e
disponibilidade de recursos. Isso confere a esses materiais uma versatilidade quanto ao uso em
diferentes sistemas agrícolas;
Os equipamentos disponíveis para a aplicação de insumos agrícolas granulados ou em pó
(calcário, gesso, fertilizantes granulados), podem ser utilizados para a aplicação da cinza vegetal e do
biochar;
Maiores cuidados devem ser tomados quanto a granulometria do material, doses e faixa de
aplicação, dando preferência por faixas mais estreitas, que minimizam os efeitos do vento,
proporcionando uma distribuição mais uniforme e evitando a criação das “manchas” de fertilidade no
solo.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


102

REFERÊNCIAS

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ROSSETO, R.; SANTIAGO, A. D. EMBRAPA - Arvore do conhecimento – Cana-de-açúcar:


Adubação – resíduos alternativos. Disponível em:
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-
acucar/arvore/CONTAG01_39_711200516717.html>. Acesso em: março de 2018.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


Capítulo 08
Legislação sobre o uso da cinza vegetal e Biochar

Ana Paula Alves Barreto Damasceno1


Edna Maria Bonfim-Silva1

RESUMO: A utilização de resíduos para a agricultura tem muitas vantagens, mas também podem
trazer riscos ambientais. A legislação tem o objetivo de regulamentar esse tipo de aplicação,
possibilitando, de maneira consciente, o melhor aproveitamento das propriedades benéficas e
reduzindo os riscos ambientais causados pelo mau uso. A cinza vegetal e o biochar são dois produtos
amplamente estudados em pesquisas científicas, devido aos benefícios que apresentam para diversos
cultivos, mas que não possuem legislação própria para seu uso na agricultura. Existem alguns
regulamentos que apresentam diretrizes para seu uso mais sustentável dentro da cadeia produtiva.
Nesse capítulo são apresentados, dentro legislação vigente em quais aspectos esses dois produtos,
cinza vegetal e biochar, podem ser enquadrados para uma melhor destinação e manuseio.

ABSTRACT: The use of waste for agriculture has many advantages, but it can also bring
environmental risks. The legislation aims to regulate this type of application, making it possible, in a
conscious way, to make the best use of beneficial properties and reducing the environmental risks
caused by misuse. Wood ash and biochar are two products widely studied in scientific research, due
to the benefits they present for different crops, but they do not have their own legislation for use in
agriculture. There are some regulations that provide guidelines for its more sustainable use within the
production chain. This chapter presents, within the current legislation, the aspects in which these two
products, wood ash and biochar, can be classified for a better destination and handling.

INTRODUÇÃO

Quando se trata de questões que envolvem o meio ambiente, é necessário que se tenha em
mente conceitos que vão fazer diferença em relação ao que se pretende, cujo foco está em que haja
conservação e não poluição. Em relação aos resíduos, dois conceitos são de fundamental importância
e devem ser considerados; o primeiro, muito utilizado é o descarte, que é definido como ato ou efeito
de desfazer-se de coisas que se tornaram inúteis ou, ainda, qualquer coisa que se pôs de lado ou se
jogou fora por não ter mais serventia. O segundo termo, que deveria ser de utilização mais ampla, é
o dispor, definido como colocar ou distribuir; ordenar, distribuir de certa maneira, seguindo um
formato; estruturar, organizar, planejar, programar; fazer uso ou proveito de; aproveitar. Assim, o ato
de descartar tem por princípio o interesse em se livrar do resíduo sem que importe a sua destinação.

1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


104
Já no caso da disposição, é realizado um planejamento com o intuito de utilizar o resíduo e não apenas
eliminá-lo.
A disposição da cinza vegetal não obedece, na maior parte dos casos, a práticas propícias,
podendo configurar sério problema ambiental (PAULA et al., 2009), que podem ir desde
desequilíbrio químico do solo, lixiviação até o comprometimento da sua qualidade física quando
utilizada de forma inadequada. Dentre as alternativas, têm-se os aterros, um problema corrente no
Brasil, pois na maioria das vezes não atendem aos padrões ambientais de qualidade. Esta opção é
inviável, em função dos altos custos para implantação e manutenção, além de exigir cuidados
especiais no manuseio, tendo em vista os riscos de contaminação ambiental (BELLOTE et al., 1998).
A reutilização de resíduos é a opção que é mais interessante sob o ponto de vista econômico,
ambiental, e, muitas vezes, social. A reciclagem de resíduos possui como principal benefício a
minimização do problema ambiental que representa seu descarte inadequado (PIRES &
MATTIAZZO, 2008).
Como foi visto no capítulo 1, a cinza vegetal é um composto rico em nutrientes que podem
ser aproveitados como corretivos e fertilizantes na agricultura, cuja composição varia de acordo com
o material de origem, assim como a quantidade de nutrientes disponíveis. Considerando os estudos a
respeito de seu uso, verifica-se o potencial para uso agrícola, podendo ser utilizada na adubação em
práticas de manejo de solo com baixa fertilidade natural onde muitas vezes ajuda a elevar o teor de
matéria orgânica. Isso se torna possível mediante cuidados com recomendações de doses seguras,
respeitando as classes de solos, bem como as suas formas de aplicação.
O solo, por suas características físicas, químicas e biológicas, é um atraente meio para
depuração desses resíduos. A eficiência do solo em depurar resíduos deve-se, principalmente, à
grande biodiversidade presente no mesmo. Entretanto, junto com a matéria orgânica, os resíduos
carreiam minerais prejudiciais ao solo, tanto pela sua característica química, como pela quantidade
adicionada (BELLOTE, 1998).
Quando se pretende viabilizar o uso de resíduos, vários aspectos devem ser observados, desde
aqueles relacionados à legislação pertinente, como aqueles que serão base para a avaliação e para a
tomada de decisão sobre a viabilidade de se realizar a reciclagem agrícola do resíduo (PIRES &
MATTIAZZO, 2008).
Não existe no Brasil, uma legislação específica para o uso da cinza, sendo ela considerada um
resíduo limpo. Esse capítulo tem por objetivo apresentar dentro da legislação brasileira em quais
aspectos legais esse resíduo pode ser enquadrado e fazer um contraponto com a legislação em outros
países a respeito do mesmo assunto.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


105

ASPECTOS LEGAIS DO USO AGRÍCOLA DE RESÍDUOS

Legislação sobre o meio ambiente

A questão jurídica sobre o uso da cinza vegetal está intrinsicamente ligada a questão
ambiental, de modo que sua disposição no solo deve ser avaliada observando os diferentes aspectos
que direcionam o enquadramento para seu uso.
Primeiramente, destaca-se o que diz a Constituição Federal de 1988, que traz em seu artigo
24 sobre o que compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar:

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;

Ainda sobre o assunto é tratado em outro artigo da Constituição:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;(LEI Nº 11.105, DE 24 DE MARÇO DE 2005).
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
(...)
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados.

Dentre as leis formuladas, ressalta-se a Lei N° 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá
outras providências:

(...)
Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
(...)
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
(...)

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


106
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
(...)
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
(...)
Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
I - à compatibilização do desenvolvimento econômico social com a preservação da qualidade do
meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
(...)
III - ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso
e manejo de recursos ambientais;

Outra lei Federal que deve ser considerada é a Lei N° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que
dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente.
Com base nessas leis é possível compreender que a destinação inadequada de resíduos e,
principalmente, os prejuízos ambientais que possam causar, consiste em uma atividade ilegal sujeita
às penalidades impostas por lei.

Legislação sobre uso e conservação do solo

Devido a sua capacidade de inativação de compostos potencialmente adversos ao ambiente,


uma das principais alternativas de destinação final de resíduos tem sido a disposição no solo, em
função das reações de sorção, complexação e precipitação e de outros mecanismos de interação com
os resíduos aplicados, reduzindo os riscos de impacto sobre o solo e a água. No entanto, esta
capacidade, varia com a classe de solo e é inerente às suas características específicas, assim como as
condições climáticas do ambiente onde estão inseridos (TEIXEIRA, 2003).
Apesar dos setores da pecuária e agricultura possuírem grande importância na economia
brasileira e contarem com pesquisa e infraestrutura, ainda é comum que solos de áreas marginais
(periféricas) e de menor fertilidade natural ainda são destinados aos cultivos de pastagens e lavouras
que, consequentemente, favorecem o processo de degradação das propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo, cenário que compromete a sustentabilidade do ecossistema (GALHARTE &
CRESTANA, 2010).
Segundo Dolabella (2014), a legislação brasileira sobre uso e conservação de solos agrícolas
encontra-se dispersa em diversas leis ordinárias e decretos regulamentadores. De forma que, a partir
dos anos 2000 a política para o setor passou a ser pautada por programas e projetos que incentivam,
principalmente por intermédio do crédito rural com juros favorecidos, o emprego de técnicas
agronômicas apropriadas ao uso sustentável e à conservação dos solos agrícolas

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


107

A legislação sobre o tratamento acerca dos solos é outro aspecto importante a ser lembrado
em relação a disposição de resíduos, devendo sempre considerar que a conservação deva ser
prioridade em seu uso.
Dentre as principais normas encontramos a lei Federal N° 6.225 de 14 de julho de 1975, que
dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução obrigatória de
planos de proteção ao solo e de combate à erosão e dá outras providências. Embora ainda em vigor,
essa lei não foi implantada em sua plenitude e atualmente podemos considerá-la norma morta em
nosso sistema jurídico (DOLABELLA, 2014).
O Decreto 77.775, de 1976, que regulamenta a Lei 6.225, de 1975, determina, entre outros
aspectos, que:
Art. 3º. Considera-se plano de proteção ao solo e de combate à erosão o conjunto de medidas que
visa a promover a racionalização do uso do solo e o emprego de tecnologia adequada, objetivando
a recuperação de sua capacidade produtiva e a sua preservação.

A Lei N° 8.171 de 17 de janeiro de 1991, conhecida como Lei de Política Agrícola trata em
alguns aspectos sobre a preocupação com a conservação do solo:
(...)
Art. 2° A política fundamenta-se nos seguintes pressupostos:
I - a atividade agrícola compreende processos físicos, químicos e biológicos, onde os recursos
naturais envolvidos devem ser utilizados e gerenciados, subordinando-se às normas e princípios de
interesse público, de forma que seja cumprida a função social e econômica da propriedade;
(...)
Art. 3° São objetivos da política agrícola:
IV - proteger o meio ambiente, garantir o seu uso racional e estimular a recuperação dos recursos
naturais;
(...)
Art. 19. O Poder Público deverá:
(...)
II - disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora;
(...)
IV - promover e/ou estimular a recuperação das áreas em processo de desertificação;
(...)
CAPÍTULO XIII Do Crédito Rural
(...)
III - incentivar a introdução de métodos racionais no sistema de produção, visando ao aumento da
produtividade, à melhoria do padrão de vida das populações rurais e à adequada conservação do
solo e preservação do meio ambiente;
(...)
Art. 102. O solo deve ser respeitado como patrimônio natural do País.
Parágrafo único. A erosão dos solos deve ser combatida pelo Poder Público e pelos proprietários
rurais.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


108
Além das normas citadas, o Governo lançou um plano para a agricultura chamado Plano
Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia
de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, também denominado de Plano ABC (Agricultura de
Baixa Emissão de Carbono). Este Plano é uma parte importante do compromisso de reduzir as
emissões de gases de efeito estufa (GEE), assumido pelo Brasil na 15ª Conferência das Partes –
COP15 ocorrida em Copenhague, no ano de 2009 (BRASIL, 2012).
O Plano ABC é uma política pública que apresenta o detalhamento das ações de mitigação e
adaptação às mudanças do clima para o setor agropecuário, e aponta de que forma o Brasil pretende
cumprir os compromissos assumidos de redução de emissão de gases de efeito estufa neste setor
(BRASIL, 2012).
Dentre os programas em que o Plano ABC está estruturado, está a Recuperação de Pastagens
Degradadas. Com o avanço do processo de degradação, verifica-se perda de cobertura vegetal e
redução no teor de matéria orgânica do solo, com resultante aumento da emissão de CO2 para a
atmosfera. A recuperação de pastagens degradadas e a manutenção da produtividade das pastagens
contribuem para mitigar a emissão dos gases do efeito estufa (BRASIL, 2012).
Pode-se dividir as políticas federais nos últimos quarenta anos visando ao uso sustentável e a
conservação dos solos agrícolas em três fases: (i) a fase de comando e controle, quando Ministério da
Agricultura definia os planos e métodos de controle de erosão a serem empregados pelos agricultores
como condição prévia ao uso dos solos do imóvel rural; (ii) a fase em que a responsabilidade pela
preservação dos recursos naturais passou a ser compartilhada entre agricultor e Poder Público, todavia
sem restrições legais ao agricultor quanto a escolha da área a ser cultivada e a técnica de plantio e
manejo dos solos a ser utilizada; e (iii) a fase de planos e programas que fornecem estímulos ao uso
sustentável dos recursos naturais, principalmente linhas específicas de crédito subsidiado para o
emprego de um conjunto de práticas agronômicas que promovem a conservação dos recursos naturais
e a transição para uma agricultura de baixo carbono (DOLABELLA, 2014).

Legislação sobre a disposição de resíduos

A cinza vegetal é qualificada como um resíduo sólido não perigoso, deste modo é pertinente
conhecer o que diz a legislação sobre este aspecto.
A lei Federal Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 em seu artigo 1o, institui a Política Nacional
de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as
diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos,
às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
(...)
Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


109

(...)
VII- destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a
reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações
admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final,
observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à
segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;
VIII- disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros,
observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à
segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;
(...)
XVI- resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado
a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia disponível;
(...)
Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
(...)
VI- incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos
derivados de materiais recicláveis e reciclados;
(...)
Art. 8o São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros:
(...)
VII- a pesquisa científica e tecnológica;
(...)
Art. 13. Para os efeitos desta Lei, os resíduos sólidos têm a seguinte classificação:
I- quanto à origem:
(...)
f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais;
(...)
i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os
relacionados a insumos utilizados nessas atividades;

A Resolução Nº 23 do CONAMA de 12 de dezembro de 1996, dispõe sobre as definições e

o tratamento a ser dado aos resíduos perigosos, conforme as normas adotadas pela Convenção da

Basiléia sobre o controle de Movimentos transfronteiriços de Resíduos perigosos e seu depósito. Essa

resolução define os resíduos como perigosos (Classe I), não inertes (Classe II), inertes (Classe III) e

outros.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


110
Legislação referente ao enquadramento da cinza vegetal

A utilização da cinza vegetal em solo agrícola deveria suscitar alguns questionamentos por
parte das entidades regulatórias de meio ambiente com relação ao balanço dos efeitos potencialmente
benéficos ou prejudiciais às propriedades químicas, físicas e biológicas do solo e em que condição
(dose, classe de solo e outras) este material é benéfico ao solo e às plantas. Nos capitulos 1 e 3 foram
feitas abordagens a respeito dos efeitos benéficos da cinza vegetal na agricultura contribuindo com a
melhoria da fertilidade e na qualidade física do solo.
Para Brunelli & Pisani (2006) há necessidade de estudos que subsidiem as decisões referentes
às autorizações do uso agrícola deste resíduo posto que a disposição da cinza vegetal como material
de descarte em áreas agrícolas não é autorizada pelas agências ambientais do Brasil.
Diversos estudos comprovam que a cinza, mesmo sendo um resíduo, trata-se de um material
limpo, não apresentando problemas de patogenicidade. No entanto, é necessário verificar de acordo
com sua origem a presença de metais pesados, que possam estar presentes em quantidades
prejudiciais.
Não existe no Brasil, uma legislação específica para a classificação da cinza vegetal. Como
ela é classificada como resíduo, as normas que norteiam seu uso são aquelas que se referem à
utilização, tratamento, armazenamento, classificação de resíduos, de qualquer origem. Assim, serão
apresentadas essas normas que podem ser utilizadas para o enquadramento da cinza vegetal.
A cinza vegetal é, em sua maior quantidade, um resíduo de origem industrial, devido ao uso
da biomassa para geração de energia em diversos processos. Dessa forma ela está enquadrada dentro
da Resolução N° 313 do CONAMA, de 29 de outubro de 2002 que estabelece:

Art. 1° Os resíduos existentes ou gerados pelas atividades industriais serão objeto de controle
específico, como parte integrante do processo de licenciamento ambiental.
Art. 2° Para fins desta Resolução entende-se que:
I - resíduo sólido industrial: é todo o resíduo que resulte de atividades industriais e que se encontre
nos estados sólido, semi-sólido, gasoso - quando contido, e líquido - cujas particularidades tornem
inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou em corpos d`água, ou exijam para isso
soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Ficam
incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água e aqueles gerados
em equipamentos e instalações de controle de poluição.

Para efeito de classificação é utilizada a norma da ABNT NBR 10.004. De acordo com esta
norma as cinzas brasileiras são classificadas, em sua maioria, como "resíduo Classe II - A - não
inerte", apresentando assim, propriedades tais como: combustibilidade, biodegrabilidade ou
solubilidade em água.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


111

A norma NBR 10.004 (ABNT, 2004), classifica os resíduos sólidos em dois grupos: perigosos
e não perigosos, sendo este último grupo subdividido em: não inerte e inerte. A classificação de
resíduos sólidos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus
constituintes e características, e a comparação destes constituintes com listagens de resíduos e
substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido. O objetivo desta norma é
classificar os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública,
para que possam ser gerenciados adequadamente.
Essa mesma norma estabelece algumas definições para o melhor entendimento. Nesse
contexto, serão apresentadas nesse tópico aquelas cuja descrição evidenciam sob que abordagem é
feita a caracterização da cinza vegetal.
i. resíduos sólidos: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de
origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
ii. periculosidade de um resíduo: Característica apresentada por um resíduo que, em função de
suas propriedades físicas, químicas ou infecto - contagiosas, pode apresentar:
• risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando
seus índices;
• riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada.
iii. toxicidade: Propriedade potencial que o agente tóxico possui de provocar, em maior ou menor
grau, um efeito adverso em consequência de sua interação com o organismo.

A classificação se dá da seguinte forma:


a) Resíduo Classe I - Perigoso
b) Resíduo Classe II – Não Perigoso
b.1) Classe II A: Resíduo não inerte
b.2) Classe II B: Resíduo inerte

O artigo 10 da Lei 12.305 de 2 de agosto de 2010, incumbe ao Distrito Federal e aos


Municípios a gestão integrada dos resíduos sólidos gerados nos respectivos territórios, sem prejuízo
da responsabilidade do gerador pelo gerenciamento de resíduos. Os Anexos A e B contidos na norma
NBR 10.004/2004 da ABNT especificam os materiais considerados perigosos.
Os resíduos são classificados por características de periculosidade como inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade.
A norma NBR 10.007 (ABNT, 2004), tem por objetivo fixar os requisitos exigíveis para
amostragem de resíduos sólidos. Nela é estabelecido as linhas básicas que devem ser observadas,
antes de se retirar qualquer amostra, com o objetivo de definir o plano de amostragem.
As normas NBR 10.005 (ABNT, 2004) e NBR 10.006 (ABNT, 2004) descrevem
procedimentos laboratoriais a serem executados para obtenção dos extratos. A primeira tem por
objetivo fixar os requisitos exigíveis para a obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos, visando

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


112
diferenciar os resíduos classificados pela ABNT NBR 10.004/2004 como classe I – perigosos - e
classe II – não perigosos. A segunda tem por objetivo fixar os requisitos exigíveis para obtenção de
extrato solubilizado de resíduos sólidos, visando diferenciar os resíduos classificados na ABNT NBR
10.004/2004 como classe II A - não inertes – e classe II B – inertes.
As principais alternativas para a disposição final de resíduos sólidos, particularmente os
industriais, são as seguintes:
a) Incineração ou coprocessamento - é a técnica de queima de resíduos que visa à diminuição
da quantidade e volume de resíduos, bem como a sua toxicidade.
b) Aterros industriais – destinam-se a armazenar os resíduos sólidos produzidos pelas
indústrias dos mais variados segmentos. São classificados nas classes I, IIA ou IIB,
conforme a periculosidade dos resíduos a serem dispostos.;
c) Reciclagem - é um processo no qual os resíduos são reaproveitados para um novo produto,
economizando matéria-prima;
d) Descarte ou disposição em solos agrícolas ou de floresta.

Mattiazzo-Prezoto & Glória (2000) consideram que a classificação de um resíduo em classe I


ou classe II não inviabiliza o seu uso agrícola, uma vez que os testes realizados para a sua classificação
consideram apenas a característica de solubilidade em água ou ácido de elementos presentes no
resíduo. Quando a abordagem é a sua aplicação no solo, reações específicas são desenvolvidas a partir
das características físicas e químicas de cada classe de solo (SANEPAR, 1997). O conhecimento
desses aspectos é fundamental para um manejo adequado dos resíduos, com um mínimo de impacto
ambiental.

Legislação sobre o uso de fertilizantes

A cinza vegetal por sua composição pode ser utilizada como fertilizante, no entanto, os
nutrientes presentes estão em quantidades que variam de acordo com sua origem. Existem estudos
que sustentam essa informação e recomendam o uso deste material como insumo agrícola,
substituindo inclusive, algumas formulações comerciais. A legislação sobre o uso de fertilizantes traz
os parâmetros a serem observados para que seja utilizada de maneira correta.
A Lei N° 8.171 de 17 de janeiro de 1991, conhecida como Lei de Política Agrícola, determina
as diretrizes para que os insumos agrícolas sejam utilizados de forma segura, de modo a promover a
idoneidade das atividades agropecuárias através da fiscalização.
Para que resíduos possam ser adicionados aos solos agrícolas, é necessário que esses gerem
algum benefício agronômico, por exemplo, agindo como condicionador ou fertilizante do solo
(PIRES & MATTIAZZO, 2008) ou corretivo de acidez do solo.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


113

Ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) compete a inspeção e


fiscalização da produção e comércio de fertilizantes, corretivos e inoculantes (Decreto N° 4.954,
publicado em 14 de janeiro de 2004, que regulamenta a Lei N° 6.894, de 16 de dezembro de 1980).
Sendo, portanto, necessária autorização ou registro junto ao MAPA para se adicionar um resíduo ao
solo agrícola. Para que seja possível, é necessário que se respeite uma série de parâmetros de
qualidade do resíduo relativos à presença de contaminantes e à garantia de benefícios agronômicos.
De acordo com este regulamento:
(...)
III - fertilizante: substância mineral ou orgânica, natural ou sintética, fornecedora de um ou mais
nutrientes de plantas, sendo:
(...)
b) fertilizante orgânico: produto de natureza fundamentalmente orgânica, obtido por processo físico,
químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matérias-primas de origem
industrial, urbana ou rural, vegetal ou animal, enriquecido ou não de nutrientes minerais;
(...)
IV - corretivo - produto de natureza inorgânica, orgânica ou ambas, usado para melhorar as
propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, isoladas ou cumulativamente, não tendo em
conta seu valor como fertilizante, além de não produzir característica prejudicial ao solo e aos
vegetais, assim subdividido: (Redação dada pelo Decreto 8.384/2014)
a) corretivo de acidez: produto que promove a correção da acidez do solo, além de fornecer cálcio,
magnésio ou ambos;
b) corretivo de alcalinidade: produto que promove a redução da alcalinidade do solo;
c) corretivo de sodicidade: produto que promove a redução da saturação de sódio no solo;
d) condicionador do solo: produto que promove a melhoria das propriedades físicas, físico-químicas
ou atividade biológica do solo;
(...)
Um exemplo interessante refere-se aos fertilizantes orgânicos. Na Instrução Normativa Nº
61 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Secretaria de Defesa Agropecuária
de 8 de julho de 2020, os fertilizantes orgânicos são classificados de acordo com suas características:
(...)
Art. 3º Os fertilizantes orgânicos simples, mistos, compostos e organominerais serão classificados
de acordo com as matérias-primas utilizadas na sua produção em:
I - Classe "A": produto que utiliza, em sua produção, matéria-prima gerada nas atividades extrativas,
agropecuárias, industriais, agroindustriais e comerciais, incluindo aquelas de origem mineral,
vegetal, animal, lodos industriais e agroindustriais de sistema de tratamento de águas residuárias
com uso autorizado pelo Órgão Ambiental, resíduos de frutas, legumes, verduras e restos de
alimentos gerados em pré e pós-consumo, segregados na fonte geradora e recolhidos por coleta
diferenciada, todos isentos de despejos ou contaminantes sanitários, resultando em produto de
utilização segura na agricultura; e,
II - Classe "B": produto que utiliza, em sua produção, quaisquer quantidades de matérias-primas
orgânicas geradas nas atividades urbanas, industriais e agroindustriais, incluindo a fração orgânica
dos resíduos sólidos urbanos da coleta convencional, lodos gerados em estações de tratamento de

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


114
esgotos, lodos industriais e agroindustriais gerados em sistemas de tratamento de águas residuárias
contendo qualquer quantidade de despejos ou contaminantes sanitários, todos com seu uso
autorizado pelo Órgão Ambiental, resultando em produto de utilização segura na agricultura.

Para serem registrados como fertilizantes orgânicos, esses materiais devem atender a
determinadas especificações (garantias) de acordo com sua classificação. Além das garantias, também
deve ser observada a Instrução Normativa Nº. 27SDA, de 05 de junho de 2006 alterada pela
Instrução Normativa Nº 7 SDA, de 12 de abril de 2016, que apresenta os limites para contaminantes.

Legislação sobre a agricultura orgânica

A cinza vegetal, possui características químicas e físicas que conferem a ela potencial para ser
utilizada no sistema orgânico de produção. Por ser um resíduo com potencial de aproveitamento,
garante entre outras coisas sustentabilidade dentro do processo produtivo.
A lei N° 8.171 de 17 de janeiro de 1991, conhecida como Lei de Política Agrícola em sua
abordagem sobre a agricultura orgânica, estimula que seja adotado esse tipo de sistema com
concessão de incentivos especiais.
A Lei N° 10.831 de 23 de dezembro de 2003, dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras
providências.
Art. 1° Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam
técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos
disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a
sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da
dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais,
biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de
organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de
produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio
ambiente.
§ 1° A finalidade de um sistema de produção orgânico é:
(...)
III - incrementar a atividade biológica do solo;
IV - promover um uso saudável do solo, da água e do ar; e reduzir ao mínimo todas as formas de
contaminação desses elementos que possam resultar das práticas agrícolas;
V - manter ou incrementar a fertilidade do solo a longo prazo;
VI - a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-
renováveis;
VII - basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente;
O Decreto N° 6.323, de 27 de dezembro de 2007 que regulamenta a lei N° 10.831, estabelece
em suas diretrizes:
(...)

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


115

Art. 3° São diretrizes da agricultura orgânica:


(...)
VI - preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento
da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção, com
especial atenção às espécies ameaçadas de extinção;
(...)
XIII - incremento dos meios necessários ao desenvolvimento e equilíbrio da atividade biológica do
solo;
XIV - emprego de produtos e processos que mantenham ou incrementem a fertilidade do solo em
longo prazo;
XV - reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-
renováveis;

Deve-se considerar também o Decreto N° 7.794, de 20 de agosto de 2012 que institui a


Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica - PNAPO.
(...)
Art. 3° São diretrizes da PNAPO:
(...)
II - promoção do uso sustentável dos recursos naturais, observadas as disposições que regulem as
relações de trabalho e favoreçam o bem-estar de proprietários e trabalhadores;
III - conservação dos ecossistemas naturais e recomposição dos ecossistemas modificados, por meio
de sistemas de produção agrícola e de extrativismo florestal baseados em recursos renováveis, com
a adoção de métodos e práticas culturais, biológicas e mecânicas, que reduzam resíduos poluentes e
a dependência de insumos externos para a produção;

E a Instrução Normativa N° 46 do MAPA, de 6 de outubro de 2011 que estabelece o


Regulamento Técnico para os Sistemas Orgânicos de Produção, bem como as listas de substâncias e
práticas permitidas para uso nos Sistemas Orgânicos de Produção, na forma desta Instrução
Normativa e de seus Anexos I a VIII. (Redação dada pela Instrução Normativa 17/2014/MAPA).
No capítulo II que trata dos sistemas produtivos e das práticas de manejo temos:

Art. 103. Somente é permitida a utilização de fertilizantes, corretivos e inoculantes que sejam
constituídos por substâncias autorizadas no Anexo V deste Regulamento Técnico e de acordo com a
necessidade de uso prevista no Plano de Manejo Orgânico.
§ 1º A utilização desses insumos deverá ser autorizada especificamente pelo OAC ou pela OCS,
quando da aprovação do Plano de Manejo Orgânico, devendo ser especificadas: (Redação dada pela
Instrução Normativa 17/2014/MAPA)
I - as matérias-primas e o processo de obtenção do produto; (Redação dada pela Instrução
Normativa 17/2014/MAPA)
II - a quantidade aplicada; e (Redação dada pela Instrução Normativa 17/2014/MAPA)
III - a necessidade de análise laboratorial em caso de suspeita de contaminação. (Redação dada pela
Instrução Normativa 17/2014/MAPA)

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


116
§ 2º Devem ser observados, quando indicado, os limites máximos de contaminantes previstos no
Anexo VI desta Instrução Normativa. (Acrescentado pela Instrução Normativa 17/2014/MAPA)
(...)
Art. 117-B. O registro diferenciado de produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura
orgânica somente será concedido àqueles formulados com as substâncias e práticas elencadas no
Anexo VII e no Anexo VIII desta Instrução Normativa, podendo ser atestados. (Acrescentado pela
Instrução Normativa 17/2014/MAPA)
Art. 117-C. Insumos produzidos em conformidade com as tabelas anexas a esta Instrução Normativa,
porém não oriundos de sistemas orgânicos de produção poderão receber atestação de aprovação
para uso na produção orgânica pelos OAC, respeitada a legislação específica vigente. (Acrescentado
pela Instrução Normativa 17/2014/MAPA)
(...)
ANEXO V (Redação dada pela Instrução Normativa 17/2014/MAPA) - Substâncias e produtos
autorizados para uso como fertilizantes e corretivos em sistemas orgânicos de produção

Restrições, descrição, requisitos de composição


SUBSTÂNCIAS E PRODUTOS e condições de uso
Condições Gerais
(...)
Permitidos desde que a matéria prima não esteja
contaminada por substâncias não permitidas
22. Pó de serra, casca e outros
para uso em sistemas orgânicos de produção;
derivados da madeira, pó de
proibido o uso de extrato pirolenhoso;
carvão e cinzas
permitidos desde que não sejam oriundos de
atividade ilegal

Legislação internacional sobre o uso de resíduos na agricultura

Uma diferença importante entre o biochar (biocarvão na tradução) e a cinza vegetal está nos
processos utilizados para sua obtenção. Ambos são obtidos por meio da carbonização de biomassa,
no entanto, no caso do biochar utiliza-se um processo denominado pirólise, que corresponde a uma
combustão controlada em altas temperaturas com pouca ou nenhuma presença de oxigênio. Já no
processo para obtenção da cinza vegetal não existe nenhum tipo de controle, estas são resíduos
gerados devido a utilização de biomassa como fonte de energia em indústrias.
O biochar tem implicações em várias áreas políticas da União Européia (UE), incluindo
proteção ambiental, gerenciamento de resíduos, política de mudanças agrícolas e climáticas, dentre
outros. O objetivo principal é integrar benefícios e impactos em um quadro comum, encontrando as
soluções mais adequadas e econômicas (VERES et al., 2014). Os produtos químicos são amplamente
utilizados em nosso vida diária, quase em todos os lugares e em tudo. Para controlar e proteger a
saúde humana das exposições químicas, os reguladores precisam de informações científicas sobre
potenciais impactos nocivos dos produtos químicos no mercado e no meio ambiente (LEE et al.,
2013). Os requisitos legislativos para o uso comercial de biochar são mais frequentemente associados

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


117

a garantir a segurança, a saúde e a proteção ambiental. A premissa básica é a criação de um plano


jurídico que proporcionaria essas garantias e criaria confiança geral no biochar como um produto útil
(VERES et al., 2014).
A tarefa da legislação é principalmente introduzir tais medidas e definir regras que assegurem
o mais alto padrão de proteção e tornem os impactos indesejáveis no meio ambiente os menores
possíveis. A aplicação de medidas e restrições regulatórias baseia-se no uso pretendido para o biochar.
Os problemas de gerenciamento de resíduos devem ser considerados primeiro. A legislação nesta área
é relativamente nova e, embora tenha sofrido um grande desenvolvimento nos últimos anos, ainda
não é inteiramente sistemática e abrangente (VERES et al., 2014). A legislação básica da União
Européia (UE) que regula esta área é a Waste Framework Directive (WFD), que estabelece os
conceitos e definições básicos relacionados com o gerenciamento de resíduos. A implementação,
aplicação e execução adequada da legislação de resíduos da UE estão entre os principais atributos da
política ambiental. A WFD revisada introduz novas disposições para impulsionar a prevenção e
reciclagem de resíduos como categorias de resíduos e esclarece nomeando conceitos-chave, as
definições de resíduos, recuperação e eliminação e estabelece os procedimentos apropriados
aplicáveis aos subprodutos e resíduos que deixam de ser resíduos (CE, 2008).

(31) A hierarquia dos resíduos estabelece uma ordem de prioridades do que constitui geralmente a
melhor opção ambiental global na legislação e política de resíduos, embora possa ser necessário
que certos fluxos específicos de resíduos se afastem dessa hierarquia sempre que tal se justifique por
razões designadamente de exequibilidade técnica e viabilidade econômica e de proteção ambiental.

Artigo 4° Hierarquia dos resíduos


1. A hierarquia dos resíduos a seguir apresentada é aplicável enquanto princípio geral da legislação
e da política de prevenção e gestão de resíduos:
a) Prevenção e redução;
b) Preparação para a reutilização;
c) Reciclagem;
d) Outros tipos de valorização, por exemplo a valorização energética;
e) Eliminação.

Dependendo do país, pode haver diferentes permissões necessárias para a aplicação de biochar
no solo. Por exemplo, se o biochar for aplicado com o objetivo de melhorar o solo agrícola (em
oposição, por exemplo, à eliminação de resíduos), não é provável a obtenção de permissão nos
Estados Unidos, independentemente da escala de aplicação. O mesmo se aplica ao aproveitamento
em ambientes de paisagismo urbano e residencial. No entanto, a definição de resíduos varia de acordo
com a jurisdição e, por exemplo, em Ontário, no Canadá, um material que passou por um processo
como a pirólise ou a gasificação é considerado um resíduo e deve ser tratado como tal. Os

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


118
regulamentos relevantes para o uso de biochar nos solos podem evoluir ou mudar à medida que a
indústria se desenvolve, e os potenciais usuários devem se informar e atuar de acordo com todas as
normas e regulamentos relevantes pertinentes ao biochar em sua localidade.
O Programa Nacional Orgânico do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos afirma
que o biochar é considerado um material "não sintético permitido", desde que seja feito de biomassa
vegetal e não de estrume animal, uma vez que a cinza do estrume é proibida. O uso de "cinzas de
madeira" também é restrito para uso em terras orgânicas certificadas por certos programas nos
Estados Unidos (Serviço Nacional de Informação sobre Agricultura Sustentável). A AsureQuality
(Empresa de certificação alimentar da Nova Zelândia) lista "carvão de madeira" e "cinzas de madeira"
como material de uso restrito para utilização em agricultura orgânica certificada (ASUREQUALITY,
2018). Na província de Québec, no Canadá, o Conselho de Designações Reservadas e Termos de
Avaliação (CARTV) (Conselho sobre designações reservadas e termos de valor agregado, que regula
as agências de certificação orgânica que operam na província) aprova o carvão vegetal como um
substitutivo na agricultura orgânica (MAJOR, 2010).
Espera-se que, com o aumento do interesse e disponibilidade de biochar, as agências de
certificação individuais começarão a regular o biochar como um melhorador do solo na agricultura
orgânica. Os agricultores, antes de usar biochar, devem verificar com sua agência certificadora. É
previsível que os produtos individuais de biochar necessitem de certificação orgânica, dada a grande
variabilidade nas matérias-primas e nas características do biochar (MAJOR, 2010).
Com base na diretiva Diretiva 2008/98/EC pode-se dizer que o biochar não deve ser
considerado como um resíduo, uma vez que ele pode ser usado diretamente sem processamento, como
misturado com outras substâncias, que não fazem parte integrante do processo de fabricação. A
questão da distinção entre "resíduo" e "produto" foi levantada, particularmente, no âmbito do direito
da União e os resultados deste processo são, sem dúvida, de grande importância para os órgãos
nacionais de decisão em todos os Estados membros. A situação atual é tal que a lei não faz distinção
entre produtos, resíduos de produção ou subprodutos não residuais (VERES et. al, 2014). Relevante
é apenas a determinação se o material é um resíduo ou não (CE, 2008).

(2) A Decisão n° 1600/2002/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de julho de 2002, que


estabelece o Sexto Programa Comunitário de Ação em matéria de Ambiente, apela à elaboração ou
revisão da legislação referente a resíduos, incluindo a clarificação da distinção entre resíduos e não
resíduos e o desenvolvimento de medidas relativas à prevenção e à gestão de resíduos, incluindo a
definição de objetivos.

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


119

A Diretiva 2006/12/CE considera que deverá incentivar-se a valorização dos resíduos e a


utilização dos materiais valorizados como matérias-primas, a fim de preservar os recursos naturais.
Pode ser necessário adotar normas específicas para os resíduos reutilizáveis.
A remoção de dióxido de carbono da atmosfera é um exemplo de uma estratégia de mitigação.
O dióxido de carbono, o mais presente dos gases de efeito estufa, é o maior contribuinte total para o
aumento radiativo que é a fonte das mudanças climáticas.
Em caso de aplicação de biochar em terras agrícolas exclusivamente para sequestro de
carbono, isso não é tratado por nenhuma regulamentação específica, como é o caso do sequestro de
carbono em estruturas de rochas naturais - Diretiva 2009/31 / EC sobre o armazenamento geológico
de dióxido de carbono (CE, 2009). É possível que o futuro desenvolvimento legislativo no sequestro
de carbono por aplicação de biochar em terras agrícolas siga os princípios estabelecidos na Diretiva
sobre o armazenamento geológico.
O biochar tem muitas propriedades positivas que o tornam adequado para uso em agricultura
ou jardinagem. Devido à sua porosidade, aumenta a capacidade do solo de reter água e nutrientes
dissolvidos. Sua enorme superfície interna é um substrato para colonização microbiana. Não há
aspectos negativos conhecidos sobre as propriedades do solo se o biochar for produzido a partir de
matéria-prima não contaminada e as condições de produção estejam de acordo com os requisitos e
sejam controlados continuamente (VERHEIJEN et al., 2010).
Mesmo o biochar bruto não possuindo nutrientes suficientes para ser classificado como
fertilizante, ele pode ser considerado como melhorador do solo (condicionador), aumentando a media
de regeneracao/recuperação do solo. Os melhoradores de solo são aplicados principalmente para
melhorar a estrutura física, adicionando matéria orgânica estável ao solo. No entanto, a aplicação de
biochar na agrcultura deve estar em conformidade com a legislação pertinente. As principais
disposições europeias relativas aos adubos são o Regulamento EC 2003/2003 relativo aos adubos. O
regulamento relativo aos fertilizantes visa garantir a livre circulação no mercado interno dos "adubos
EC", ou seja, os fertilizantes que satisfaçam os requisitos desta legislação quanto ao seu teor de
nutrientes, a sua segurança e a ausência de efeitos adversos sobre o meio ambiente. O regulamento
na sua forma atual aplica-se apenas aos fertilizantes minerais inorgânicos (EC, 2003).
Mesmo não sendo reconhecidas por nenhuma legislação nacional como métodos oficiais em
diversos países, diferentes programas de biochar apresentam diretrizes para a certificação do biochar,
com o objetivo de estabelecer critérios de qualidade para o biochar e trazer confiança para o
consumidor e o mercado em torno desse produto, com um sistema padronizado e reconhecido. A
International Biochar Initiative (IBI), European Biochar Certificate (EBC) e Biochar Quality Mandate
(BQM) propoem diretrizes para a aplicação sustentável de biochar ao solo, definindo critérios de
produção e propriedades e qualidade do biochar. No entanto, a visão expressa nesses documentos é

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120
que uma estrutura de certificação robusta deve se estender além de uma descrição técnica e rotulagem
da matéria-prima de biomassa e material de biochar, deve incluir o contexto ambiental e
socioeconômico relevante para o local onde o biochar seria aplicado aos solos.
O Certificado Europeu de Biochar (EBC, na sigla em inglês) foi desenvolvido pelo Instituto
Ithaka para se tornar o padrão industrial europeu voluntário. O EBC garante uma produção sustentável
de biochar e baixo risco em sistemas agronômicos. Baseia-se nos dados científicos mais recentes, é
economicamente viável e próximo à prática técnica e agrícola. Os usuários de biochar e produtos à
base de biochar se beneficiarão de um monitoramento transparente e verificável e controle de
qualidade independente. Atualmente na Suíça, se tornou obrigatório para todo biochar vendido para
uso na agricultura, além disso, outros países alinharam suas regulamentações relacionadas ao biochar
com a EBC.
O biochar produzido de acordo com os padrões da EBC cumpre todos os requisitos de
produção sustentável e uma pegada (footprint) de carbono positiva. Esses padrões garantem
aquisições ecologicamente sustentáveis e produção de matéria-prima de biomassa para produção de
biochar, em conformidade com padrões de emissão e armazenamento ambientalmente seguro. A
qualidade do Biochar é monitorada e documentada de forma abrangente. Todos os valores limites,
correspondentes aos da Portaria sobre Proteção do Solo, são cumpridos.
A intenção da EBC em publicar estas diretrizes sobre como obter certificação de biochar é,
primeiro introduzir um mecanismo de controle baseado nas pesquisas e práticas mais recentes. Em
segundo lugar, o certificado biochar visa habilitar e garantir a produção sustentável de biochar. É
introduzido para oferecer aos clientes uma base de qualidade confiável, enquanto (terceiro) dá aos
produtores a oportunidade de provar que seu produto atende aos padrões de qualidade bem definidos.
Em quarto lugar, visa fornecer uma transferência de conhecimento de última geração sólida como
base sólida para a futura legislação. Finalmente, é introduzido para prevenir e dificultar o uso indevido
ou perigos desde o início, para que nenhum "interesse especial" exija exceções (por exemplo, cortar
as florestas nativas para produzir biochar).
O objetivo das diretrizes é assegurar o controle da produção e da qualidade do biochar com
base em boas pesquisas, suporte legal e processos de práticas economicamente viáveis e aplicáveis.
Os usuários de biochar e produtos à base de biochar se beneficiarão de um monitoramento e garantia
de qualidade transparente e verificável. É nosso dever, assim como de cada usuário de biochar,
certificar-se de que uma boa idéia não seja levada ao mau uso. O certificado foi projetado para atender
esse objetivo.
Segundo Verheijen et al., (2010) um esquema de certificação internacional harmonizado deve
ser um objetivo comum, levando em consideração as diferenças nacionais e continentais. Para que o
desenvolvimento de qualquer certificação / regulamento para o biochar é imprescindivel que hajam

CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA AGRICULTURA


121

evidências e recomendações científicas sólidas. Dessa forma, independente de qualquer conflito de


interesses, o fornecimento de evidências científicas à comunidade política de forma abrangente,
robusta e objetiva é indispensável. Todos os dados devem ser disponibilizados de forma transparente,
com divulgação completa de estatísticas e financiamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A legislação específica com relação ao uso da cinza vegetal é inexistente. O que existe são
normas para adequá-la como um resíduo, que em muitas características causa dúvidas se o
enquadramento está sendo feito de maneira correta. Dessa forma, é preciso o uso do bom senso quanto
a sua aplicação, de modo a destiná-la da melhor maneira possível, que não afete o meio ambiente,
uma vez que dentro da legislação existente, os pontos a respeito estão dispersos;
É evidente que há uma necessidade em se criar regras que regulem sua disposição. O
gerenciamento do uso da cinza é benéfico tanto para as indústrias, que ficam com um problema a
menos na hora de descartar o resíduo, como para os produtores, que passam a dispor de um insumo
seguro para ser aplicado.
Em relação ao Biochar, a legislação internacional também enfrenta uma falta de consenso
entre os diversos países sobre o uso do biochar na agricultura;
As pesquisas científicas envolvendo esses dois materiais (cinza vegetal e biochar) podem
lançar luz sobre o seu uso de maneira correta, promovendo melhoria nos sistemas agrícolas e
sustentabilidade ambiental.

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1975, que dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução
obrigatória de planos de proteção ao solo e de combate à erosão, e dá outras providências. Diário
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2003. Seção 1.

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225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de
atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o
Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei no
8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts.
5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências.
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altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial [da]
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