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FÁBIO IANNI GOLDFINGER

ESTATUTO
DO IDOSO
2 edição
revista, ampliada e atualizada
EDITORA
>P O D IV M
www.editorajuspodivm.com.br

Rua Mato Grosso, 164, Ed. Marfina, 1o Andar - Pituba, CEP: 41830-151 - Salvador - Bahia
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José Henrique Mouta, José Marcelo Vigliar, Marcos Ehrhardt Júnior, NestorTávora,
Robério Nunes Filho, Roberval Rocha Ferreira Filho, Rodolfo Pamplona Filho,
Rodrigo Reis Mazzei e Rogério Sanches Cunha.

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ISBN: 978-85-442-1921-8

Todos os direitos desta edição reservados à Edições Ji/sPODIVM.


É terminantemente proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer
meio ou processo, sem a expressa autorização d o autor e da Edições JusPODIVM. A
violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação em vigor, sem
prejuízo das sanções civis cabíveis.
Coleção Sinopses
para Concursos

A Coleção Sinopses para Concursos tem por finalidade a preparação


para concursos públicos de modo prático, sistematizado e objetivo.
Foram separadas as principais matérias constantes nos editais e
chamados professores especializados em preparação de concursos a
fim de elaborarem, de forma didática, o material necessário para a
aprovação em concursos.
Diferentemente de outras sinopses/resumos, preocupamo-nos
em apresentar ao leitor o entendimento do STF e do STJ sobre os
principais pontos, além de abordar temas tratados em manuais e
livros mais densos. Assim, ao mesmo tempo em que o leitor encon­
trará um livro sistematizado e objetivo, também terá acesso a temas
atuais e entendimentos jurisprudenciais.
Dentro da metodologia que entendemos ser a mais apropriada
para a preparação nas provas, demos destaques (em outra cor) às
palavras-chaves, de modo a facilitar não somente a visualização,
mas, sobretudo, a compreensão do que é mais importante dentro
de cada matéria.
Quadros sinóticos, tabelas comparativas, esquemas e gráficos
são uma constante da coleção, aumentando a compreensão e a
memorização do leitor.
Contemplamos também questões das principais organizado­
ras de concursos do país, como forma de mostrar ao leitor como
o assunto foi cobrado em provas. Atualmente, essa "casadinha" é
fundamental: conhecimento sistematizado da matéria e como foi a
sua abordagem nos concursos.
Esperamos que goste de mais esta inovação que a Editora
Juspodivm apresenta.
Nosso objetivo é sempre o mesmo: otimizar o estudo para que
você consiga a aprovação desejada.
Bons estudos!
Leonardo Garcia
leonardo@leonardogarcia.com.br
www.leonardogarcia.com.br
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Guia de leitura
da Coleção

A Coleção foi elaborada com a metodologia que entendemos ser


a mais apropriada para a preparação de concursos.
Neste contexto, a Coleção contempla:
• DOUTRINA OTIMIZADA PARA CONCURSOS
Além de cada autor abordar, de maneira sistematizada, os assun­
tos triviais sobre cada matéria, são contemplados temas atuais, de
suma importância para uma boa preparação para as provas.

Não obstante, boa parcela da doutrina, há tempos, sustentava


a inconstitucionalidade da execução provisória, sob o argumento de
que ela violaria princípios como a presunção de inocência e a digni­
dade da pessoa humana.

Nesse prism a, reconhecendo a pertinência deste argum ento, o


Pleno do STF, em julgam ento histórico proferido no HC n° 84078/MG,
sob a relato ria do então Ministro Eros Grau, na data de 5/2/2009,
po r 7 (sete) votos a 4 (quatro), resolveu por bem e n cerra r q u al­
quer polêm ica decidind o que a execução p ro visó ria é inconsti­
tucional, eis que afronta 0 princípio da não cu lp ab ilid ad e (art.
5®, inciso LVII, do Texto Constitucional). Corolário im ediato d isso é

• ENTENDIMENTOS DO STF E STJ SOBRE OS PRINCIPAIS PONTOS•

Qual o entendimento do STF sobre o assunto?


0 STF, no julgamento da ADIN n° 1.570-2, decidiu pela inconstitucionalida­
de do art. 30 da Lei n-> 9-034/95 (no que se refere aos dados "fiscais"
e "eleitorais"), que previa a figura do juiz inquisidor, juiz que poderia
a d o t a r direta e p e sso a lm e n te a s d iligên cias p re v ista s n o art. 2 °, in ciso III,
do mesmo diploma legal ("o acesso a dados, documentos e informações
fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais").

• PALAVRAS-CHAVES EM OUTRA COR


As palavras mais importantes (palavras-chaves) são colocadas
em outra cor para que o leitor consiga visualizá-las e memorizá-las
mais facilmente.
8 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Conforme entendimento doutrinário prevalecente, 0 im pedi­


mento do juiz é causa de nulidade absoluta do ato processual. De
se registrar que parcela m inoritária, mas respeitável, da doutrina
entende que 0 ato praticado por juiz im pedido é inexistente, já que
falta jurisdição (NUCCI, 2008, p. 833-834). Já a suspeição é causa de
nulidade relativa (NUCCI, 2008, p. 833-834).

• QUADROS, TABELAS COMPARATIVAS, ESQUEMAS E DESENHOS


Com esta técnica, o leitor sintetiza e memoriza mais facilmente
os principais assuntos tratados no livro.

• QUESTÕES DE CONCURSOS NO DECORRER DO TEXTO


Através da seção "Como esse assunto foi cobrado em concurso?"
é apresentado ao leitor como as principais organizadoras de concur­
so do país cobram o assunto nas provas.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Analista do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito
Santo, promovido pelo Cespe/Unb, em 2011, questionou-se sobre os cri­
térios de definição dos procedimentos ordinário e sumário: "0 procedi­
mento comum será ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção
máxima cominada seja igual ou superior a quatro anos de pena privativa
de liberdade; ou sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxi­
ma cominada seja inferior a quatro anos de pena privativa de liberdade.".
A a sse rtiv a foi c o n sid e ra d a correta.
Sumário

Capítulo I ► DISPOSIÇÕES PRELIMINARES............................................................. ll


1.1 . CONSIDERAÇÕES INICIAIS................................................................................... n
1 .1 .1 . O ido so nas constituições b ra s ile ira s ......................................... 11
1.1.2 . A proteção internacio nal do id o s o ............................................ 12
1.1.3 . A ONU e a proteção ao id o s o ........................................................ 19
1.2. ESTATUTO DO IDOSO E AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES............................ 21
1.3. DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM 0 ESTATUTO DO IDOSO ................................ 34
1.4. A REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS E O DIREITO DO IDOSO....................... 35
1.5. CONSELHO NACIONAL DO IDOSO..................................................................... 36

Capítulo II ► DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS........................................................ 45


2. 1. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS NO ESTATUTO DO IDOSO.............................. 45
2 .1 .1 . Direito à v id a ....................................................................................... 45
2 .1.2 . Direito à lib e rd a d e , ao respeito e à d ig n id ad e .................... 46
2.1.3 . Dos a lim e n to s ...................................................................................... 49
2.1.4. Direito à s a ú d e ................................................................................... 53
2 .1.4 .1. O idoso e a prática da boa m o rte ............................. 65
2.1.4.2. Direito à saú d e do ido so d e fic ie n te ......................... 66
2.1.5. Educação, cultura, espo rte e la z e r ............................................ 68
2.1.6. Da p rofissio nalização e do tra b a lh o .......................................... 70
2.1.7. Direito à p revid ên cia so cia l........................................................... 74
2.1.8. Direito à assistência s o c ia l............................................................. 75
2 .I.8 .I. Benefício de Prestação Continuada (BCP) ao
id o so ....................................................................................... 83
2.1.9. Direito à h a b ita ç ã o ............................................................................ 87
2.1.10 . Direito ao tra n sp o rte ........................................................................ 91
2 .1 .1 1 . O idoso e 0 su p eren d ivid a m en to ................................................ 10 1

Capítulo III ► MEDIDAS DE PROTEÇÃO................................................................... 105


3 .1. MEDIDAS DE PROTEÇÃO.................................................................................... 105
3 .1.1. D isposições g e r a is ............................................................................. 105
3.1.2. M edidas de proteção e s p e c ífic a s ............................................... 109

Capítulo IV ► POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO......................................... 117


4.1. A POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO........................................................ 117
4.2. ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO..... ................................................. 123
4.2.1. Fiscalização d as entidades de atendim ento ao id o s o ..... 129
10 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

4 .2 .1.1. Fiscalização pelo M inistério Público das


Instituições de Longa Perm anência para Id o so s.. 13 1
4.2.2. P enalidade às e n tid ad es de atendim ento ao id o s o ........... 135
4.3. INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS E APURAÇÃO DAS INFRAÇÕES
ADMINISTRATIVAS................................................................................................ 138
4.3.1. Infrações a d m in istra tiv a s ............................................................... 139
4.3.2. Procedim ento adm inistrativo para a p u ra ç ã o .......................... 140
4.4. APURAÇÃO JUDICIAL DAS IRREGULARIDADES DAS ENTIDADES DE
ATENDIMENTO...................................................................................................... 143

Capítulo V ► ACESSO À JUSTIÇA.............................................................................. 149


5 .1. DISPOSIÇÕES GERAIS........................................................................................... 149
5.2. MINISTÉRIO PÚBLICO........................................................................................... 154
5.3. DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E
INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS OU HOMOGÊNEOS............................................ 173
5.3.1. Com petência para ju lg a m e n to ..................................................... 175
5.3.2. Legitim idade.......................................................................................... 175
5.3.3. Tutela p ro visó ria de urgência ou e v id ê n c ia ........................... 179
5.3.4. Fundo do id o s o ................................................................................... 181
5.3.5. Dos re c u rs o s ........................................................................................ 183
5.3.6. Da execução da multa e da d ecisão c o n d e n a tó ria ............. 184
5.3.7. Das d e sp e sas processuais e a su c u m b ê n cia .......................... 184
5.3.8. Das açõ es em d efesa aos d ireito s tra n sin d ivid u a is dos
id o so s...................................................................................................... 186
5.3.8.1. M andado de in ju n ç ã o ..................................................... 186
5.3.8.2. M andado de se g u ra n ç a ................................................. 190
5.3.8.2.1. C o n ce ito ............................................................ 190
5.3.8.2.2. Leg itim id ad e .................................................... 19 1
5.3.8.2.3. Pressupostos para im p e tra ç ã o ............... 192
5.3.8.2.4. Lim inar e suspen são da lim in a r.............. 194
5.3.8.2.5. Prazo para im p etração da segurança .. 195
5.3.8.2.6. Processam ento do m andado de
se g u ra n ç a ......................................................... 196
5 .3.7.8 7. Co m p etên cia.................................................... 197
5.3.8.2.8. S e n te n ç a ............................................................ 199
5.3.8.2.9. R ecursos............................................................. 199

Capítulo VI ► CRIMES EM ESPÉCIES DO ESTATUTO DO IDOSO......................... 201


6.1. DISPOSIÇÕES GERAIS........................................................................................... 201
6.2. DOS CRIMES EM ESPÉCIE.................................................................................. 206

BIBLIOGRAFIA. 219
Capítulo

Disposições Preliminares

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS


1.1.1. O idoso nas constituições brasileiras
No sistema constitucional brasileiro passado no que diz respeito
ao direito do idoso, registre-se:

CONSTITUIÇÃO ARTIGO DISPOSIÇÕES

• instituição de previdência, mediante contribui­


Art. 121,
ção igual da União, do empregador e do em­
§ 1°, alínea
pregado, a favor da velhice, da invalidez, da
"h" e
CF/34 maternidade e nos casos de acidentes de tra­
Art. 212,
balho ou de morte e proibição de diferença de
§ i°, alí­
salário para um mesmo trabalho, por motivo
nea "a".
de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil

Art. 137,
CF/37 • seguros de velhice
alínea "m"

CF/46 Art. 157 • aposentadoria por idade

• previdência social, mediante contribuição da


Art. 165, União, do empregador e do empregado, para
CF/67 inc. XVI e seguro-desemprego, proteção da maternidade
101 e, nos casos de doença, velhice, invalidez e mor­
te e aposentadoria compulsória e voluntária

Com a vigência da Constituição Federal de 1988 a proteção cons­


titucional às pessoas idosas foi inserida, assegurando-se uma forma
direta o amparo à velhice:

Princípios fundamentais da cidadania e da dignidade da pessoa


Art. i °
humana

Art. 3o Promoção do bem de todos

Art. 5»,
Direito à assistência jurídica integral e gratuita aos hipossuficientes
inc. LXXIX
12 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Art. 7o, Vedação de diferença salarial e do exercício de funções e de


inc. XXX critérios em razão de idade

Na hipótese de empate em votação para Presidente ou Vice-Pre­


Art. 77, § 5o sidente, 0 candidato mais idoso será qualificado

Art. 203,
Proteção à velhice
inc. 1

Art. 203, Confere um salário mínimo ao idoso que não possuir meios de
inc. V subsistência

Filhos maiores têm 0 dever de ajudar e amparar os pais na ve­


Art. 229
lhice, carência ou enfermidade

A família, a sociedade e 0 Estado têm 0 dever de amparar as


pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,
Art. 230
defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes 0 di­
reito à vida.

Art. 230, § 2° Transporte coletivo gratuito para os maiores de 65 anos

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Oficial Judiciário (CONSULPLAN.TJ-MG. 2017) foi per­
guntado:
0 nascim ento de João não foi registrado pelo pai, que nunca cum priu 0
seu d e ve r de a ssisti-lo , criá-lo e ed u cá-lo , em bora a p a tern id a d e tenha
sid o reconhecida po r decisão ju d icial quando ele ain d a era menor.
O bservados os p rincípio s constitucionais da fam ília, do adolescente e
do ido so , está correto afirm ar que
a) João está obrigado a a ju d a r 0 seu pai na velh ice, carência ou e n ­
ferm id ade;
b) no registro de nascim ento de João d eve constar que a sua filiação
paterna foi reconhecida po r d ecisão jud icial;
c) a relação entre João e seu pai deve se r entend id a como uma enti­
d ad e fam iliar;
d) os program as de am p aro aos ido so s serã o executados p referen cia l­
m ente em asilo s públicos.
A alternativa a) foi co nsid erad a correta.

1.1.2. A proteção internacional do idoso


No cenário internacional, embora existam diversos instrumentos,
como os Princípios das Nações Unidas em Favor das Pessoas Idosas
(1991), a Proclamação sobre 0 Envelhecimento (1992), a Declaração
Cap. I . Disposições Preliminares 13

Política e o Plano de Ação Internacional de Madri sobre o Envelheci­


mento (2002), bem como os instrumentos regionais, tais como a Es­
tratégia Regional de Implementação para a América Latina e 0 Caribe
do Plano de Ação Internacional de Madri sobre 0 Envelhecimento
(2003), 0 Plano de Ação da Organização Pan-Americana da Saúde so­
bre a Saúde dos Idosos, Incluindo 0 Envelhecimento Ativo e Saudável
(2009), a Declaração de Compromisso de Port of Spain (2009) e a
Carta de San José sobre os direitos do idoso da América Latina e do
Caribe (2012), nenhum destes textos é juridicamente vinculante.
Contudo, em 09 de junho de 2015, foi aprovada a Convenção In­
ternacional sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos, de
abrangência regional, pois firmada no âmbito da Organização dos Es­
tados Americanos (OEA), tratando-se do primeiro instrumento trans-
nacional juridicamente vinculante para a proteção e a promoção de
direitos dos idosos, que passam a ser reconhecidos como sujeitos
de direitos. 0 Brasil segue como um dos primeiros signatários desta
Convenção.
A Convenção tem como objetivo de promover, proteger e asse­
gurar 0 reconhecimento e 0 pleno gozo e exercício, em condições de
igualdade, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais
do idoso, a fim de contribuir para sua plena inclusão, integração e
participação na sociedade.
A Convenção traz em seu bojo algumas definições importantes
para os seus fins:
"Abandono": A falta de ação , d e lib e ra d a ou não, para aten­
d e r de m an eira integral as n ecessid ad es de um idoso, que
ponha em risco sua v id a ou sua integrid ade física, psíquica
ou m oral.

"C u id ad o s p alia tivo s": A atenção e 0 cuidado ativo, inte­


gral e in te rd iscip lin a r de pacientes cuja enferm idade não
respo nd e a um tratam ento curativo ou que sofrem dores
e vitáveis, a fim de m elh o rar sua q u alid a d e de v id a até 0
fim de seus d ia s. Im plicam um a atenção p rim o rd ia l ao con­
trole da dor, de outros sintom as e dos prob lem as so ciais,
psicológicos e e sp iritu ais do idoso. Abrangem 0 paciente,
seu entorno e sua fam ília. Afirmam a v id a e consideram a
m orte como um processo norm al; não a aceleram nem a
retardam .

"D iscrim inação ": Q ualquer distinção, exclusão ou restrição


que tenha como objetivo ou efeito a n u lar ou restringir 0
14 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

reconhecim ento, gozo ou exercício em igualdad e de condi­


ções d os direito s hum anos e lib e rd a d e s fundam entais na
esfera política, econôm ica, so cial, cultural ou em qu alq uer
outra esfera da v id a pública e privada.

"D iscrim inação m últipla": Q ualquer distinção, exclusão ou


restrição do idoso fundam entada em dois ou m ais fatores
de d iscrim inação .

"D iscrim inação p o r id a d e na velh ice": Q ualquer distinção,


exclusão ou restrição b a sead a na id a d e que tenha como
objetivo ou efeito a n u lar ou restringir 0 reconhecim ento,
gozo ou exercício em igualdad e de condições dos direito s
hum anos e lib e rd a d e s fundam entais na esfera política, eco ­
nôm ica, social e cultural ou em q u alq u er outra esfera da
v id a pública e p rivad a.

"Envelhecim ento": Processo gradu al que se d esenvolve d u­


rante 0 curso de vid a e que im plica alteraçõ es biológicas,
fisiológicas, psicosso ciais e funcio nais de v á ria s co nsequên­
cias, as q u ais se associam com interaçõ es d inâm icas e p e r­
m anentes entre 0 sujeito e seu m eio.

"Envelhecim ento ativo e s a u d á v e l" : Processo pelo qual se


otim izam as o po rtun id ad es de b em -estar físico, m ental e
so cial; de p a rticip a r em a tivid a d e s so ciais, econôm icas, cul­
turais, e sp iritu ais e cívicas; e de contar com proteção, segu­
rança e atenção, com 0 objetivo de a m p lia r a esp erança de
vid a sau d á vel e a q u alid a d e de v id a de todos os indivídu o s
na velh ice e p erm itir-lhes assim seguir contribuindo a tiv a ­
m ente para suas fam ílias, am igos, co m unidades e nações. 0
conceito de envelhecim ento ativo e sau d á vel se a p lica tanto
a in d ivíd u o s como a grupos de população.

"M au s-tra to s": Ação ou o m issão, única ou rep etid a, contra


um idoso, a qual produz danos em sua integrid ade física,
psíquica e m oral e vu ln era o gozo ou exercício de seus d i­
reitos hum anos e lib e rd a d e s fundam entais, in d ep en d en te­
m ente de que o corra em um a relação de confiança.

"Negligência": Erro involuntário ou ação não d e lib e ra d a , in­


cluindo, entre outros, 0 d escuid o, om issão, d e sam p aro e
desp ro teção , que causa dano ou sofrim ento a um idoso,
tanto no âm bito público como p rivad o , quando não foram
tom adas as precauções no rm ais necessária s em conform i­
d ad e com as circunstâncias.

"Idoso": Pessoa com 60 anos ou m ais, exceto se a lei interna


d eterm in a r um a id a d e base m enor ou m aior, d esd e que
Cap. I • Disposições Preliminares 15

esta não seja su p e rio r a 65 anos. Este conceito inclui, entre


outros, 0 de pessoa ido sa.

"Idoso que recebe se rviço s de cuid ad o de longo prazo ":


Pessoa que resid e tem p o rária ou perm anentem ente em um
estabelecim ento regulado, seja público, privado ou misto,
no qual recebe serviço s so cio ssanitário s integrais de q u a ­
lid ad e , incluindo as resid ê n cias de longa estad ia, que pro­
porcionam esses serviço s de atenção po r tem po prolonga­
do ao idoso com d ep end ência m o derada ou severa que
não possa receb er cuidado s em seu d om icílio.

"Serviço s so cio ssan itário s integrad o s": Benefícios e p re s­


tações institucio nais para ate n d e r as necessid ad es de tipo
san itário e social do idoso, com 0 objetivo de g a ran tir sua
d ignid ad e e b em -estar e p rom o ver sua in d ep en d ên cia e
autonom ia.

"U nidade dom éstica ou d om icílio": 0 grupo de pesso as que


vivem em um a m esma habitação, com partilham as refei­
ções p rin cip ais e satisfazem juntas suas n ecessid ad es b á si­
cas, sem que seja necessário que existam laços de p a re n ­
tesco entre elas.

"Velhice": Construção so cial da últim a etapa do curso de


vid a .

São princípios aplicáveis a referida Convenção:

a) A promoção e defesa dos direitos humanos e liberdades fundamentais do


idoso.

b) A valorização do idoso, seu papel na sociedade e sua contribuição ao desen­


volvimento.

c) A dignidade, independência, protagonismo e autonomia do idoso.

d) A igualdade e não discriminação.

e) A participação, integração e inclusão plena e efetiva na sociedade.

f) O bem-estar e cuidado.

g) A segurança física, econômica e social.

h) A autorrealização.

i) A equidade e igualdade de gênero e enfoque do curso de vida.

j) A solidariedade e 0 fortalecimento da proteção familiar e comunitária.

k) 0 bom tratamento e a atenção preferencial.


16 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

l) 0 enfoque diferencial para 0 gozo efetivo dos direitos do idoso.

m) 0 respeito e a valorização da diversidade cultural.

n) A proteção judicial efetiva.

0) A responsabilidade do Estado e a participação da família e da comunidade na


integração ativa, plena e produtiva do idoso dentro da sociedade, bem como em
seu cuidado e atenção, de acordo com a legislação interna.

A Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos Hu­


manos dos Idosos estabelece direitos aos idosos que deverão ser
protegidos:
► Igualdade e não discriminação por razões de idade: será proibi­
da a discriminação por idade na velhice.
► Direito à vida e à dignidade na velhice: deverão ser adotadas
todas as medidas necessárias para garantir ao idoso 0 gozo efe­
tivo do direito à vida e o direito a viver com dignidade na velhice
até 0 fim de seus dias, em igualdade de condições com outros
setores da população.
► Direito à independência e à autonomia: será reconhecido 0 di­
reito do idoso a tomar decisões, a definir seu plano de vida, a
desenvolver uma vida autônoma e independente, conforme suas
tradições e crenças, em igualdade de condições, e a dispor de
mecanismos para poder exercer seus direitos.
► Direito à participação e integração comunitária: 0 idoso tem di­
reito à participação ativa, produtiva, plena e efetiva dentro da
família, da comunidade e da sociedade para sua integração em
todas elas.
► Direito à segurança e a uma vida sem nenhum tipo de violência:
0 idoso tem direito à segurança e a uma vida sem nenhum tipo
de violência, a receber um tratamento digno e a ser respeitado
e valorizado, independentemente da raça, cor, sexo, idioma, cul­
tura, religião, opinião política ou de outra índole, origem social,
nacional, étnica, indígena e identidade cultural, posição socioe-
conômica, deficiência, orientação sexual, gênero, identidade de
gênero, sua contribuição econômica ou qualquer outra condição.
► Direito a não ser submetido à tortura nem a penas ou trata­
mentos cruéis, desumanos ou degradantes: 0 idoso tem direito
Cap. I • Disposições Preliminares 17

a não ser submetido à tortura e outros tratamentos ou penas


cruéis, desumanas ou degradantes.
► Direito a manifestar consentimento livre e informado no âmbito
da saúde: o idoso tem o direito irrenunciável a manifestar seu
consentimento livre e informado no âmbito da saúde. A negação
deste direito constitui uma forma de vulneração dos direitos hu­
manos do idoso
► Direitos do idoso que recebe serviços de cuidado de longo pra­
zo: o idoso tem direito a um sistema integral de cuidados que
proporcione proteção e promoção da saúde, cobertura de ser­
viços sociais, segurança alimentar e nutricional, água, vestuário
e habitação, permitindo que o idoso possa decidir permanecer
em seu domicílio e manter sua independência e autonomia.
► Direito à liberdade pessoal: o idoso tem direito à liberdade e
segurança pessoal, independentemente do âmbito em que se
desenvolva.
► Direito à liberdade de expressão e opinião e ao acesso à infor­
mação: o idoso tem direito à liberdade de expressão e opinião e
ao acesso à informação, em igualdade de condições com outros
setores da população e pelos meios de sua escolha.
► Direito à nacionalidade e à liberdade de circulação: o idoso tem
direito à liberdade de circulação, à liberdade para escolher sua
residência e a possuir uma nacionalidade em igualdade de con­
dições com os outros setores da população, sem discriminação
por razões de idade.
► Direito à privacidade e à intimidade: o idoso tem direito à priva­
cidade e à intimidade e a não ser objeto de ingerências arbitrá­
rias ou ilegais em sua vida privada, família, domicílio ou unidade
doméstica, ou qualquer âmbito em que se desenvolvam, bem
como em sua correspondência ou qualquer outro tipo de comu­
nicação.
► Direito à seguridade social: todo idoso tem direito à seguridade
social que o proteja para levar uma vida digna.
► Direito ao trabalho: o idoso tem direito ao trabalho digno e de­
cente e à igualdade de oportunidades e de tratamento em rela­
ção aos outros trabalhadores, seja qual for a sua idade.
18 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

► Direito à saúde: 0 idoso tem direito à saúde física e mental, sem


nenhum tipo de discriminação.
► Direito à educação: 0 idoso tem direito à educação em igualdade
de condições com outros setores da população e sem discri­
minação, a participar de programas educativos existentes em
todos os níveis e a compartilhar seus conhecimentos e experiên­
cias com todas as gerações.
► Direito à cultura: 0 idoso tem direito à identidade cultural, a
participar na vida cultural e artística da comunidade, a desfrutar
dos benefícios do progresso científico e tecnológico e de outros
produtos da diversidade cultural, bem como a compartilhar seus
conhecimentos e experiências com outras gerações, em qual­
quer dos contextos em que se desenvolva.
► Direito à recreação, ao lazer e ao esporte: 0 idoso tem direito à
recreação, atividade física, lazer e esporte.
► Direito à propriedade: todo idoso tem direito ao uso e gozo de
seus bens e a não ser privado deles por motivos de idade. A lei
pode subordinar tal uso e gozo ao interesse social.
► Direito à moradia: 0 idoso tem direito à moradia digna e ade­
quada, e a viver em ambientes seguros, saudáveis, acessíveis e
adaptáveis a suas preferências e necessidades.
► Direito a um meio ambiente saudável: 0 idoso tem direito a viver
em um meio ambiente saudável e a contar com serviços públicos
básicos.
► Direito à acessibilidade e à mobilidade pessoal: 0 idoso tem
direito à acessibilidade ao entorno físico, social, econômico e
cultural e à sua mobilidade pessoal.
► Direitos políticos: 0 idoso tem direito à participação na vida po­
lítica e pública em igualdade de condições com as demais pes­
soas e a não ser discriminado por motivo de idade.
► Direito de reunião e de associação: 0 idoso tem direito a reunir-
-se pacificamente e a formar livremente suas próprias agremia­
ções ou associações, em conformidade com 0 direito Internacio­
nal dos direitos humanos.
Os direitos previstos na Convenção não restringem ou limitam
os direitos ou benefícios mais amplos reconhecidos pela legislação
brasileira.
Cap. I • Disposições Preliminares 19

0 STJ entendeu haver ofensa à liberdade pessoal no caso de policial militar que
fora do exercício de suas funções algema idoso, causando-lhe danos de ordem
moral:
"(...) 4. 0 contexto delineado no acórdão recorrido revela que, ao largo da dis­
cussão acerca da prática de eventual crime de desacato, houve, por parte do
recorrente, uma atuação arbitrária, ao algemar 0 recorrido, pessoa idosa, no
interior do condomínio onde moram, em meio à uma discussão, e ainda lhe cau­
sar severas lesões corporais, caracterizando-se, assim, a ofensa a sua liberdade
pessoal e, consequentemente, a sua dignidade; causadora, portanto, do dano
moral. 5. As Turmas da Seção de Direito Privado têm adotado 0 método bifásico
como parâmetro para valorar a compensação dos danos morais. (...)" (REsp
1675015/DF, Rei. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/09/2017,
DJe 14/09/2017).

1.1.3. A ONU e a proteção ao idoso


A ONU, embora não possua um instrumento jurídico vinculante
que trate de forma específica sobre os direitos humanos das pes­
soas idosas, por meio de sua Assembléia Geral, em 16 de dezembro
de 1991, adotou os Princípios da ONU para Pessoas Idosas (Resolu­
ção n° 46/91).

Princípios das Nações Unidas para as Pessoas Idosas


A Assembléia Geral,
Apreciando a contribuição dada pelas pessoas idosas às suas sociedades.
Reconhecendo que, na Carta das Nações Unidas, os povos das Nações Unidas se
declaram, nomeadamente, decididos a reafirmar a fé nos direitos humanos fun­
damentais, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos
dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas, e a
promover 0 progresso social e melhores condições de vida dentro de um con­
ceito mais amplo de liberdade.
Observando 0 desenvolvimento desses direitos na Declaração Universal dos Di­
reitos do Homem, no Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais, no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e em outras
declarações com vista a garantir a aplicação de normas universais a grupos
concretos.
Em conformidade com 0 Plano de Acção Internacional sobre os Idosos, adoptado
p e la A ss e m b lé ia M u n d ia l s o b r e o s Id o s o s e e n d o s s a d o p e la A ss e m b lé ia G eral na
sua resolução 37/51, de 3 de Dezembro de 1982,
Reconhecendo a enorme diversidade na situação das pessoas idosas, não apenas
entre os vários países, mas também dentro do mesmo país e entre indivíduos, a
qual exige uma série de diferentes respostas políticas.
Consciente de que, em todos os países, as pessoas estão a atingir uma idade
avançada em maior número e em melhor estado de saúde do que alguma vez
sucedeu.
Consciente dos estudos científicos que contrariam muitos estereótipos sobre de­
clínios inevitáveis e irreversíveis com a idade.
20 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Convencida de que, num mundo caracterizado por um número e uma percenta­


gem crescentes de pessoas idosas, deverão ser dadas oportunidades para que
as pessoas idosas capazes, e que 0 desejem fazer, participem nas actividades
em curso da sociedade e contribuam para as mesmas.
Tendo presente que as dificuldades da vida familiar nos países desenvolvidos e
em desenvolvimento exigem que os que prestam assistência às pessoas idosas
frágeis recebam apoio.
Tendo presentes as normas já estabelecidas pelo Plano de Acção Internacional
sobre os Idosos e as convenções, recomendações e resoluções da Organização
Internacional do Trabalho, da Organização Mundial de Saúde e de outros orga­
nismos das Nações Unidas,
Encoraja os Governos a incorporar os seguintes princípios nos seus programas
nacionais, sempre que possível:
Independência
1. Os idosos devem ter acesso a alimentação, água, alojamento, vestuário e
cuidados de saúde adequados, através da garantia de rendimentos, do apoio
familiar e comunitário e da auto-ajuda.
2. Os idosos devem ter a possibilidade de trabalhar ou de ter acesso a outras
fontes de rendimento.
3. Os idosos devem ter a possibilidade de participar na decisão que determina
quando e a que ritmo tem lugar a retirada da vida activa.
4. Os idosos devem ter acesso a programas adequados de educação e formação.
5. Os idosos devem ter a possibilidade de viver em ambientes que sejam seguros
e adaptáveis às suas preferências pessoais e capacidades em transformação.
6. Os idosos devem ter a possibilidade de residir no seu domicílio tanto tempo
quanto possível.
Participação
7. Os idosos devem permanecer integrados na sociedade, participar activamente
na formulação e execução de políticas que afectem directamente 0 seu bem-es­
tar e partilhar os seus conhecimentos e aptidões com as gerações mais jovens.
8. Os idosos devem ter a possibilidade de procurar e desenvolver oportunidades
para prestar serviços à comunidade e para trabalhar como voluntários em tare­
fas adequadas aos seus interesses e capacidades.
9. Os idosos devem ter a possibilidade de constituir movimentos ou associações
de idosos.
Assistência
10. Os idosos devem beneficiar dos cuidados e da protecção da família e da comu­
nidade em conformidade com 0 sistema de valores culturais de cada sociedade.
11. Os idosos devem ter acesso a cuidados de saúde que os ajudem a manter
ou a readquirir um nível óptimo de bem-estar físico, mental e emocional e que
previnam ou atrasem 0 surgimento de doenças.
12. Os idosos devem ter acesso a serviços sociais e jurídicos que reforcem a
respectiva autonomia, protecção e assistência.
13. Os idosos devem ter a possibilidade de utilizar meios adequados de assis­
tência em meio institucional que lhes proporcionem protecção, reabilitação e
estimulação social e mental numa atmosfera humana e segura.
14. Os idosos devem ter a possibilidade de gozar os direitos humanos e liberda­
des fundamentais quando residam em qualquer lar ou instituição de assistência
Cap. I • Disposições Preliminares 21

ou tratamento, incluindo a garantia do pleno respeito da sua dignidade, convic­


ções, necessidades e privacidade e do direito de tomar decisões acerca do seu
cuidado e da qualidade das suas vidas.
Realização pessoal
15. Os idosos devem ter a possibilidade de procurar oportunidades com vista ao
pleno desenvolvimento do seu potencial.
16. Os idosos devem ter acesso aos recursos educativos, culturais, espirituais e
recreativos da sociedade.
Dignidade
17. Os idosos devem ter a possibilidade de viver com dignidade e segurança, sem
serem explorados ou maltratados física ou mentalmente.
18. Os idosos devem ser tratados de forma justa, independentemente da sua
idade, gênero, origem racial ou étnica, deficiência ou outra condição, e ser valo­
rizados independentemente da sua contribuição econômica.

Não se trata, como dito, de uma normatização cogente para 0 Es­


tado, mas sim de vetores que possuem a capacidade de conduzir 0
Estado às atividades que possam implementar e proteger os direitos
dos idosos.

1.2. ESTATUTO DO IDOSO E AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES


A Convenção prevê os Deveres das partes envolvidas, entre ou­
tras disposições que possibilitam a efetivação do referido instrumen­
to jurídico.
No âmbito do direito brasileiro, por fim, em 2004, entrou em vigor
a Lei no 10.741/2003, denominado de Estatuto do Idoso (El), visando
regulamentar todas as questões que envolvam pessoas idosas, tanto
no aspecto material, quanto no processual, criando um microssiste-
ma de direitos de defesa dos idosos.
Na legislação infraconstitucional a Lei n° 8.842/94 dispõe sobre a
Política Nacional do Idoso, cuja função é, entre outras, assegurar os
direitos sociais ao idoso. Outras leis, como a LOAS, ainda complemen­
tam o tratamento jurídico dado ao idoso.
Além das Leis, 0 Poder Executivo emanou diversos Decretos que
regulamentam os dispositivos legais referentes ao Estatuto do Ido­
so, bem como as demais Leis, como 0 Decreto n° 4.227/2002, criou
0 Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos, que possui a compe­
tência, entre outras, de avaliar e supervisionar a Política Nacional
do Idoso.
22 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

Na mesma linha já utilizada no Estatuto da Criança e do Adoles­


cente, 0 Estatuto do Idoso incorporou em seu texto a doutrina da
proteção integral, contemplando dispositivos que visam suprir as
deficiências sofridas pelos idosos no âmbito jurídico, político e social.
0 Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741/03), denominado neste trabalho
de El, foi dividido em 6 grandes blocos:

• DIREITOS FUNDAMENTAIS

• MEDIDAS DE PROTEÇÃO

• POLÍTICA DE ATENDIMENTO DO IDOSO

•APURAÇÃO JUDICIAL DE IRREGULARIDADES

•ACESSO À JUSTIÇA

• DOS CRIMES

Como já mencionado, 0 Estatuto do Idoso (El) é uma legislação


destinada a regular os direitos assegurados aos idosos.
0 conceito elaborado pelo legislador, no Estatuto do Idoso, para a
definição de idoso, foi baseado em critério cronológico. São conside­
radas, pelo Estatuto, idosas as pessoas com idade igual ou superior
a 60 anos, conforme preceitua 0 art. 1°, caput, do El.
Por sua vez, a Lei n° 8.842/94, em seu art. 2°, estabelece que é
considerado, para os efeitos da lei, a pessoa maior de sessenta anos
de idade.
É certo que a maioria dos benefícios se inicia aos 65 anos.

►Atenção!
A g ra tu id a d e d o s tra n s p o rte s c o le tiv o s p ú b lic o s u rb a n o s e s e m iu rb a n o s
é conferido a p e n a s aos ido so s de id ad e igual ou s u p e rio r a 65 anos.

►Atenção!
0 benefício de prestação continuada (BCP) se rá conferido ao idoso com
id a d e igual ou s u p e rio r a 65 anos, desd e que não possua outros m eios
de p ro va r a sua sub sistência nem a te r provido po r sua fam ília, além
dos req uisito s legais.

Ao idoso, segundo 0 Estatuto, há que se assegurarem todos os


direitos fundamentais inerentes à pessoa humana.
Cap. I • Disposições Preliminares 23

Dispõe o art. 3° do El algumas garantias de prioridade ao idoso:

À VIDA

À SAÚDE

À ALIMENTAÇÃO

À EDUCAÇÃO

Á CULTURA

AO ESPORTE
* FAMÍLIA
Assegurar ao idoso, com
* COMUNIDADE
absoluta prioridade, a AO LAZER
* SOCIEDADE
efetivação do direito
* PODER PÚBLICO
AO TRABALHO

À CIDADANIA

Á LIBERDADE

À DIGNIDADE

AO RESPEITO

À CONVIVÊNCIA FAMILIAR

Segundo 0 El (art. 3°, parágrafo único), enumerado de forma


exemplificativa, considera-se absoluta prioridade:

• atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos


e privados prestadores de serviços à população;
• preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas especí­
ficas;
• destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção ao idoso;
• viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do
idoso com as demais gerações;
• priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento
do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condi­
ções de manutenção da própria sobrevivência;
• capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e ge-
rontologia e na prestação de serviços aos idosos;
• estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações
de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;
• garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais;
• prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.
24 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

A Lei n° 13.498/17 acresceu o parágrafo único na Lei n° 9*250/17


para conferir ordem para 0 recebimento da restituição do imposto
de renda:
"I - ido so s, nos term os d efinido s pelo inciso IX do § i ° do
art. 30 da Lei no 10.741, de 1 ° de outubro de 2003;

II - contribuintes cuja m aio r fonte de rend a seja 0 m agis­


tério;

III - d em ais contribuintes."

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Procurador M unicipal de Palm as (COPESE. UFT. Pref.
De Palm as - TO. 2016) foi perguntado:
É obrigação da fam ília, da co m unidade, da so cied ad e e do Poder Públi­
co a sseg u rar ao ido so , com absoluta p rio rid a d e, a efetivação do d ire i­
to à v id a , à saú d e , à alim entação , à educação, à cultura, ao esporte, ao
lazer, ao trab alho , à cid a d a n ia , à lib e rd a d e , à d ignid ad e, ao respeito e
à convivência fa m ilia r e com unitária. De aco rdo com 0 Estatuto do Ido­
so (Lei Federal n ° 10.741/2003), a garantia de p rio rid a d e co m p reende,
dentre outras obrigações.
I. Destinação p rivilegiad a de recurso s públicos nas á re a s relacio n ad as
com a proteção ao idoso.
II. V iab ilização de form as alternativas de participação , ocupação e con­
vívio do ido so com as d em ais gerações.
III. Prio rização do atendim ento do idoso p o r sua p ró p ria fam ília, em
detrim ento do atendim ento asilar, exceto dos que não a possuam ou
careçam de co ndições de m anutenção da próp ria so brevivência.
IV. P rio rid a d e no recebim ento de décim o terceiro sa lá rio , PIS/PASEP, e
outras ve rb as sem elhantes.
Estão corretos os itens I, II e III.

Ressalte-se que os direitos aos idosos devem ser garantidos com


absoluta prioridade.
0 atendimento prioritário ao idoso deverá ser dispensado em
todas as repartições públicas, empresas concessionárias de serviços
públicos, instituições financeiras e ainda em órgãos privados presta­
dores de serviços públicos.
Atenção deve ser dada na prestação de serviços de saúde, em
especial na hipótese do serviço de marcação de hora, pois não se
pode exigir 0 atendimento imediato, sob pena de ofender 0 princípio
Cap. I • Disposições Preliminares 25

da razoabilidade. Ainda no que tange as hipóteses de urgência e


emergência a prioridade imediata do atendimento deverá ser de­
finida em razão de critérios médicos e não etários ou puramente
formais.
As situações de urgência são definidas como "a ocorrência im­
prevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo
portador necessita de assistência médica imediata" ou de emergên­
cia, cuja definição é "a constatação médica de condições de agravo
à saúde que impliquem risco iminente de vida ou sofrimento in­
tenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato" (Resolução
1451/1995 do Conselho Federal de Medicina, publicado no DOU de
17.03.1995), cabendo, portanto, ao médico, em razão de critérios mé­
dicos, verificar se a condição de pessoa idosa deve ser balizada de
priorização.

Ainda, 0 Decreto 5.296/04, no art. 6°, § 30, dispõe que: "Entende-


-se por imediato 0 atendimento prestado às pessoas referidas no
art. 50, antes de qualquer outra, depois de concluído 0 atendimento
que estiver em andamento, observado 0 disposto no inciso I do pa­
rágrafo único do art. 3° da Lei n° 10.741, de 1° de outubro de 2003
(Estatuto do Idoso).
Para a formulação e execução de políticas públicas, há que se
assegurarem aquelas que visam à promoção e a proteção dos di­
reitos fundamentais dos idosos. São exemplos de investimento na
execução de política social ao idoso os Centros de Convivência e 0
Programa São Paulo Amigo do Idoso (Decreto n. 58.047/12).
Entre 0 rol das prioridades encontra-se 0 dispositivo que na ela­
boração da lei orçamentária, deve ser assegurado de forma priori­
tária, recursos públicos às pessoas idosas nas áreas relacionadas à
sua proteção. Ainda que os recursos públicos sejam escassos, a lei
prioriza a sua destinação para 0 desenvolvimento de ações em favor
d o id o s o . A s s e g u r a -s e , p o rta n to , q u a n d o d a e la b o ra ç ã o d o s p ro je to s
e orçamentos, a necessidade de recursos públicos suficientes para
a implementação de uma rede de amparo ao idoso, conforme de­
termina a Constituição Federal, como a instalação de Promotorias de
Justiças especializadas. Varas, Defensorias e Delegacias do Idoso, ca­
pacitação de conselheiros, centros de convivência, casas-lares, aten­
dimento domiciliar multidisciplinar, capacitados em área de geriatria
e gerontologia, entre outros.
26 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de justiça de São Paulo (M P/SC/20 11), foi
questio nado 0 que é co nsid erado p rio rid a d e dentro do Estatuto do
Idoso: "II. A garantia de p rio rid a d e ao idoso com preende dois itens
ap en a s: atendim ento p rio ritário e in d ivid u alizad o junto aos órgãos pú­
blicos e destinação p rivileg iad a de recursos públicos nas á re a s re lacio ­
nadas com a proteção do idoso". 0 Item m encionado está erra d o , pois
há v á ria s p rio rid a d es.

Segundo dispõe o El, é considerado prioridade a manutenção do


idoso a sua permanência no núcleo familiar, pois apenas de forma
excepcional, será permitido o encaminhamento ao asilo ou entida­
de congênere, caso inexista um grupo familiar ou haja carência de
recursos financeiros (Decreto n. 1.948/96, que regulamenta a Política
Nacional do Idoso).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Am azonas (DP/AM /2013 - FCC), foi
perguntado tam bém sobre em que co m p reend e as p rio rid a d e s estab e­
lecid a s no Estatuto do Idoso.

Os idosos devem ser atendidos de maneira satisfatória por


uma equipe de geriatria e gerontólogos, também de modo priori­
tário. A geriatria trata da das doenças e condições gerais dos ve­
lhos, e 0 gerontólogo, por sua vez, trata do estudo do processo de
envelhecimento.
É considerada, como prioridade, a promoção pelo Poder Público
de campanhas educativas contínuas, com a finalidade de conscien­
tizar e sensibilizar a sociedade para que respeite e assegure os di­
reitos da pessoa idosa.
Acrescenta-se a prioridade na tramitação de procedimentos ju­
diciais em quaisquer instâncias para todas que figure como parte ou
interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos
(art. 1048,1, do CPC). No mesmo sentido, dispõe 0 art. 69-A, da Lei do
Processo Administrativo Federal, que confere prioridade de tramita­
ção nos procedimentos administrativos a pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos.
Além do atendimento prioritário absoluto enumerado acima,
0 El traz diversas outras disposições que desse especial dever de
Cap. I • Disposições Preliminares 27

cuidado, como o acesso preferencial aos respectivos locais aos


eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer (art. 23), priorida­
de na aquisição de imóvel para moradia própria (art. 38), prioridade
nos procedimentos de embarque e desembarque nos veículos do
sistema de transporte coletivo (art. 42), prioridade na tramitação
dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências
judiciais processos, bem como nos procedimentos na Administração
Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições fi­
nanceiras (art. 71), 0 atendimento preferencial junto à Defensoria
Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos
Serviços de Assistência Judiciária (art. 71, § 30).
É possível haver um conflito de atendimentos prioritários entre
os idosos (El) e as crianças e adolescentes (art. 227 da CF)? Qual
deverá prevalecer?
À primeira vista, pode-se argumentar que a absoluta priorida­
de se dará à criança e ao adolescente, tendo em vista que esta
possui imposição constitucional (art. 227 da CF). Contudo, há que se
ponderar por uma análise do caso a caso, invocando-se 0 princípio
da razoabilidade para poder solucionar a questão de maneira mais
adequada. É a situação, por exemplo, a destinação de recursos para
a implementação de políticas públicas, onde pode existir demanda
para crianças e adolescentes e para idosos, contudo não há verbas
disponíveis para ambos. Como já dito, à primeira vista, em razão
do disposto constitucional, a prioridade seria voltada à infância e
juventude. Contudo, na pesquisa concreta do caso, realizando uma
análise principiológica e em razão baseado em critérios de razoabi­
lidade, pode-se mostrar uma solução mais adequada e justa para 0
caso concreto que os idosos recebam a prioridade em detrimento
das crianças e adolescentes.

Atenção!
A Lei n ° 13 .4 6 6 /2 0 17 in c lu iu o § 2 ° no a rt. 3 ° d o Estatuto d o Id o so , p a ra
d isp o r que dentre "os ido so s, é assegu rad a p rio rid a d e esp ecial aos
m aio res de o itenta anos, aten d en d o -se suas necessid ad es sem pre
preferencialm ente em relação aos d em ais idosos.".

0 art. 3° do El possui fundamento no art. 230 da CF, devendo ser


assegurado à pessoa idosa 0 dever de amparo, através da família,
da comunidade, da sociedade, e do Poder Público, sendo ambos
responsáveis solidários na proteção.
28 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

Está, portanto, instituído o princípio da solidariedade na obriga­


ção do cumprimento de todas as disposições estatutárias.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso de Analista Legislativo (Consultor Legisla­
tivo - Câm ara dos Deputados/2014 - CESPE): De acordo com 0 Estatuto
do Idoso, com pete ao p o d er público g a ran tir p rio rid a d e na destinação
p rivilegiad a de recurso s públicos a á re a s re lacio n ad as com a proteção
ao idoso. CERTO. Art. 3°, parágrafo único, inc. Ill, do E.I.

Outros dispositivos ainda tratam sobre direitos dos idosos, entre


eles, a denominada Lei n° 8.842/94 que dispõe sobre a política na­
cional do idoso.
Tal legislação tem como objetivo assegurar os direitos sociais do
idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração
e participação efetiva na sociedade. Para que a política nacional do
idoso seja implementada, 0 Poder Executivo deverá regulamentar as
Leis acima mencionadas.
0 Decreto Federal n° 1.948/96 estabelecem as competências de
órgãos e das entidades públicas para a implementação da Política
Nacional do Idoso.
É de competência da Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República coordenar a Política Nacional do Idoso.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público (DP/AC/2012 - CESPE), foi perguntado,
e co nsid erad o correto, sobre 0 Decreto n° 1.948/1996, que regulam en­
ta a Lei n° 8.842/1994, se a co ordenação da PNI é da com petência da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público (DP/PR/2015 - CESPE), foi perguntado 0
seguinte item e considerado correto: "A coordenação da Política Nacional
do Idoso está a cargo da Secretaria Especial dos Direitos Humanos."

0 art. 30 da Lei n° 8.842/94 elenca os princípios da política nacio­


nal do idoso:
I - a fam ília, a so cied ad e e 0 estad o têm o d e v e r de assegu­
ra r ao ido so todos os direito s da cid a d a n ia , garantindo sua
participação na co m unidade, d efen dend o sua dignid ad e,
b em -estar e 0 d ireito à vid a ;
Cap. I • Disposições Preliminares 29

II - o processo de envelhecim ento d iz respeito à so cied ad e


em geral, devendo se r objeto de conhecim ento e info rm a­
ção para todos;

III - o idoso não deve so frer d iscrim inação de q u alq u er n a ­


tureza;

IV - o idoso d eve s e r o principal agente e o d estinatário d as


transform ações a serem efetivad as a través desta política; 3

V - as d iferenças econôm icas, so ciais, regio nais e, particu­


larm ente, as contradições entre 0 m eio ru ral e 0 urbano
do Brasil d eve rão se r o b serva d a s pelos po d eres públicos e
p ela so cied ad e em geral, na aplicação desta lei.

Já 0 art. 4° da Lei n° 8.842/94 estabelecem as diretrizes da política


nacional do idoso;
I - viab ilizaçã o de form as alternativas de p articipação , ocu­
pação e convívio do ido so , que proporcionem sua integra­
ção às d em ais gerações;

II - participação do idoso, através de suas o rganizações re ­


presen tativas, na form ulação , im plem entação e avalia ção
d as políticas, planos, program as e projetos a serem d e se n ­
volvido s;

III - p rio rização do atendim ento ao ido so através de suas


p ró p rias fam ílias, em detrim ento do atendim ento asilar, à
exceção dos ido so s que não possuam co ndições que g aran ­
tam sua p ró p ria so brevivência;

IV - d escentralização p o lítico -adm inistrativa;

V - capacitação e reciclagem dos recursos hum anos nas


áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços;

VI - im plem entação de sistem a de inform ações que perm ita


a divulgação da política, dos serviço s oferecid os, dos p la ­
nos, program as e projetos em cada nível de governo;

VII - e sta b e le c im e n to d e m e c a n ism o s q u e fa v o re ç a m a d i­


vulgação de inform ações de caráter educativo so bre os a s­
pectos bio p sico sso ciais do envelhecim ento;

VIII - p rio rização do atendim ento ao ido so em órgãos p ú bli­


cos e p rivad o s p restad o res de serviço s, quando d e sa b rig a ­
dos e sem fam ília;

IX - apo io a estudos e pesq uisas sobre as questões relativas


ao envelhecim ento.
30 Estatuto do idoso - Vol. 45 . Fábio lanni Coldfinger

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Defensor Público (DP/RR/2013 - CESPE),
so bre q u ais as d iretrizes previstas na Lei n° 8.842/1994. Na m esm a li­
nha foi perguntado no concurso para Defensor Público do Acre (DP/
AC/2012 - CESPE).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público (DP/BA/2010 - CESPE) foi qu estio na­
do 0 seguinte item , co nsid erado erra d o : Deverá se r incentivad a, como
d iretriz da política nacional do idoso, a perm anência, em instituições
a sila re s de c aráte r so cial, d os ido so s po rtado res de doenças que ne­
cessitem de assistência m édica ou de enferm agem perm anente. Art. 40,
da Lei n° 8.842/1994.

Preceitua o El que nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de


negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo
atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, sujeitando-se os
infratores na forma disposta na lei. Impõe o Estatuto a todos o de­
ver de prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso (art. 40,
caput, e § 10, do El).
A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Rede Internacional de
Prevenção à Violência à Pessoa Idosa (IPEA) instituíram 0 dia 15 de
junho como 0 Dia Mundial de Conscientização da Violência da Pes­
soa Idosa, com vistas a conscientizar, mundialmente, a existência de
violência contra pessoas idosas, de forma a sensibilizar a sociedade
para que enfrente a luta contra quaisquer formas de agressão, cruel­
dade ou maus-tratos a pessoas idosas.
A violência contra pessoas idosas pode-se manifestar de diversas
formas, como a psicológica, a econômica, moral, sexual, social, insti­
tucional, social ou ainda estrutural.
Conforme previsão da Convenção Internacional sobre a Proteção
dos Direitos Humanos dos Idosos, violência contra 0 idoso compreen­
de, entre outros, diversos tipos de abuso, incluindo 0 financeiro e
patrimonial, maus-tratos físicos, sexuais ou psicológicos, exploração
do trabalho, expulsão de sua comunidade e toda forma de abando­
no ou negligência que tenha lugar dentro ou fora do âmbito familiar
ou unidade doméstica ou que seja perpetrado ou tolerado pelo Es­
tado ou seus agentes onde quer que ocorra.
Cap. I . Disposições Preliminares 31

Todas as obrigações previstas no El não excluirão da prevenção


outras decorrentes dos princípios por ela adotados.
A Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos Huma­
nos dos Idosos (art. 9°) estipula medidas a serem adotadas para re­
paração e prevenção de quaisquer tipos de violência contra idosos:

► Adotar medidas legislativas, administrativas e de outra índole para prevenir,


investigar, punir e erradicar os atos de violência contra 0 idoso, bem como
aquelas que propiciem a reparação dos danos provocados por esses atos.

► Produzir e divulgar informações com 0 objetivo de gerar diagnósticos de risco


de possíveis situações de violência a fim de desenvolver políticas de prevenção.

► Promover a criação e 0 fortalecimento de serviços de apoio para atender


os casos de violência, maus-tratos, abuso, exploração e abandono do idoso.
Fomentar 0 acesso do idoso a esses serviços e à informação sobre eles.

► Estabelecer ou fortalecer mecanismos de prevenção da violência, em qual­


quer de suas manifestações, dentro da família, da unidade doméstica, do
lugar onde recebe serviços de cuidado de longo prazo e da sociedade para a
efetiva proteção dos direitos do idoso.

► Informar e sensibilizar a sociedade em seu conjunto sobre as diversas formas


de violência contra 0 idoso e a maneira de identificá-las e preveni-las

► Capacitar e sensibilizar os funcionários públicos, os encarregados de serviços


sociais e de saúde, 0 pessoal encarregado da atenção e cuidado do idoso nos
serviços de cuidado de longo prazo ou serviços domiciliares sobre as diversas
formas de violência, a fim de dar-lhes um tratamento digno e prevenir negli­
gência e ações ou práticas de violência e maus-tratos.

► Desenvolver programas de capacitação dirigidos aos familiares e pessoas que


exercem tarefas de cuidado domiciliar, a fim de prevenir situações de violên­
cia no domicílio ou unidade doméstica.

► Promover mecanismos adequados e eficazes de denúncia em casos de violên­


cia contra 0 idoso, bem como reforçar os mecanismos judiciais e administrati­
vos para atender esses casos.

► Promover ativamente a eliminação de todas as práticas que geram violência e


que afetam a dignidade e integridade da mulher idosa.

A inobservância das normas de prevenção importará em respon­


sabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei (art.50 do El).
A inobservância acima referida poderá ocasionar penalidades ci­
vis ou administrativas aos responsáveis, previstas tanto no El, como
em outras legislações extravagantes.
32 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

No art. 55 do El há previsão das penalidades a que estão sujeitas


as entidades de atendimento ao idoso, sendo que nos arts. 56 a 58
as infrações administrativas com as devidas sanções.
Disciplina no art. 59 a 63, 0 procedimento de apuração adminis­
trativa de infrações às normas de proteção ao idoso, sendo que nos
arts. 64 a 68, 0 procedimento de apuração judicial de irregularidades
em entidades de atendimento.
Por fim, há os dispositivos prevendo condutas penais (art. 97
ao 108).
As normas de prevenção poderão ocorrer nos níveis: primário,
secundário e terciário (Adriana Melo Diniz. in: AZEVEDO, Vitor Emanuel
de Medeiros. In: PINHEIRO, Naide Maria (Coord.). Estatuto do Idoso
comentado, p. 89):
-> prevenção primária será materializada em razão das medidas
que possuam como objetivo garantir os direitos fundamentais do
idoso, como educação, saúde, moradia, lazer entre outros.
-> prevenção secundária será realizada mediante programas de
atendimento, auxílio, orientação, afim de que seja evitada a
marginalização e a discriminação das pessoas idosas.
-> a prevenção terciária é aquela a serem aplicadas como forma
de reparação ao dano causado ao idoso.
Todo cidadão tem 0 dever de comunicar à autoridade compe­
tente qualquer forma de violação ao Estatuto do Idoso que tenha
testemunhado ou de que tenha conhecimento (art. 6°, do El).
No mesmo teor, dispõe 0 art. 10, § 3°, da Lei n° 8.842/1994, que:
"To d o c id a d ã o te m o d e v e r d e d e n u n c ia r à a u t o r id a d e c o m p e te n te
qualquer forma de negligência ou desrespeito ao idoso.".
Na mesma esteira 0 art. 13, par. único do Decreto 1.948/96.
0 art. 5o, § 3o, do CPP prescreve que nos crimes de ação penal
pública:
"Q ualquer pessoa do povo que tiv e r conhecim ento da exis­
tência de infração penal em que caiba ação pública p o d e­
rá, verb alm en te ou p o r escrito, co m unicá-la à auto rid ade
po licial, e esta, verifica d a a proced ência d as inform ações,
m andará in sta u ra r inquérito."
Cap. I • Disposições Preliminares 33

Na hipótese de qualquer pessoa que tiver conhecimento de


qualquer violação do El, trata-se de uma faculdade atribuída, pois
não há, em tese, qualquer sanção ao seu descumprimento. Porém,
quando no exercício de uma função pública, ao presenciar ou tomar
conhecimento da prática de delito contra idoso que seja de ação
penal pública, há o dever de comunicação à autoridade competente,
sendo que sua omissão poderá caracterizar a contravenção penal
descrita no art. 66, 1do Decreto-Lei n° 3.688/41 (Contravenção Penal):
"Deixar de comunicar à autoridade competente: I - crime de ação
pública, de que teve conhecimento no exercício de função pública,
desde que a ação penal não dependa de representação;".
É possível a denúncia anônima ou notitia criminis inqualificada
para noticiar abusos aos direitos do idoso?
A denúncia anônima servirá para que se procedam as diligências
preliminares para apurar a veracidade e plausibilidade das notícias
que chegaram ao conhecimento das autoridades de forma anônima,
vez que 0 anonimato é vedado constitucionalmente no art. 5°, inc.
IV, da CF.

Segundo a jurisprudência do STJ, a denúncia anônima pode dar início à investi­


gação, desde que corroborada por elementos informativos prévios que denotem
a verossimilhança da comunicação. (HC 312.620/RJ, Rei. Ministro ROGÉRIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 19/05/2016 e HC 312.620/RJ, Rei. Mi­
nistro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 19/05/2016).

0 art. 20, § 30 da Resolução n° 23/2007 do Conselho Nacional do


Ministério Público permite a representação na forma anônima:
"0 conhecim ento po r m anifestação anô nim a, justificad a,
não im p licará ausência de provid ências, d esd e que o be­
d ecid o s os m esm os req uisito s para as rep resen taçõ es em
geral, constantes no artigo 2°, inciso II, desta Resolução."

Sobre as denúncias anônimas recebidas pelo Ministério Públi­


co, há a previsão da seguinte orientação através da Resolução n°
95/2013 do CNMP, art. 6o, parágrafo único:
"Diante do p o d e r-d e v e r da adm inistração pública em con­
tro la r a leg alid ad e e m o ralid a d e dos seus atos, as info rm a­
ções que, a p e s a r de anô nim as, interessarem ao M inistério
Público, serã o registradas e será d ado conhecim ento ao ór­
gão respectivo, quando d otadas de p lau sib ilid ad e .".
34 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

1.3. DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM O ESTATUTO DO IDOSO


Segundo menciona Evandro Fabiani Capano (CAPANO, Evandro
Fabiani. "Legislação Penal Especial". São Paulo: RT, 2015. p. 42/48),
fundamentado no projeto de Lei, os princípios que informam 0 Esta­
tuto do Idoso são os seguintes:
Princípio da proteção integral

Segundo esse princípio, a proteção ao idoso deve ser a mais inte­


gral possível, evitando, assim, que uma interpretação a ser realizada
sobre 0 Estatuto do Idoso leve a uma proteção deficiente.
Como aplicação deste princípio, menciona-se a decisão do STF
que indeferiu medida liminar, em ADI de Lei Estadual do Rj que obri­
gou farmácias e drogarias a conceder descontos a idosos na compra
de medicamentos. Segundo a decisão, "0 disposto no art. 230, caput
da CF, atribui à família, à sociedade e ao Estado 0 dever de amparar
as pessoas idosas, defendendo sua dignidade e bem-estar e ga­
rantindo-lhes 0 direito à vida." (ADI 2435 MC, Relator(a): Min. ELLEN
GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 13/03/2002, Dj 31-10-2003 PP-00014
EMENT VOL-02130-02 PP-00215).
Princípio da participação

Por esse princípio, conclui-se que para que seja propiciado 0 exer­
cício pleno de cidadania ao idoso, são necessários a participação e
0 envolvimento de toda a sociedade, bem como do Poder Público.
Na esteira desse princípio, a seguinte decisão do TCU consolida 0
direito do idoso ao exercício de atividade profissional por concurso
público, respeitando as suas peculiares condições: "(...) 0 Estatuto
do Idoso, consignado na Lei 10.741, de i°/io/2003, regulamenta os
direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60
(se sse n ta ) an o s. A p ró p ria Constituição F ed eral, no a rt. 230, im põe
como dever do Estado o amparo diferenciado às pessoas idosas.
Nesse diapasão, o parágrafo único do art. 27 da Lei 10.741/2003, é
cristalino ao estabelecer como privilégio ao cidadão brasileiro com
60 anos ou mais a idade como primeiro critério de desempate em
concurso público, dando-se preferência ao de idade mais eleva­
da. Assim, quando um idoso participar de concurso público e fizer
0 mesmo número de pontos de um candidato menor de 60 anos,
aquele terá preferência a esse independentemente de quaisquer
outros critérios de desempate. 0 mesmo privilégio deve ser dado
para 0 idoso com idade mais avançada do que outro idoso. (...)"
(TCU, Ac. 664/2005, Plenário, j. 25.05.2005, rei. Min. Ubiratan Aguiar).
Cap. I . Disposições Preliminares 35

Princípio da Independência

Pelo princípio da independência assegura-se ao idoso a possibi­


lidade de tomar suas próprias decisões, ou seja, gerir a sua vida de
maneira individualizada.
Essa individualidade não exclui a participação do idoso da
coletividade.
Tal princípio garante que o idoso administre seus bens, como seu
nome, sua vida e até mesmo a sua personalidade.
Princípio da realização pessoal

0 Estatuto do Idoso contempla ao idoso meios e prestações positi­


vas, de modo a lhe potencializar total satisfação, com acesso à cultu­
ra, educação, religião, jurisdição, entre outros direitos reconhecidos.
A prioridade de tramitação dos processos das pessoas idosas é
considerada como um dos desdobramentos do princípio da realiza­
ção pessoal.
Princípio da dignidade

Em sintonia com o mandamento constitucional, o Estatuto do Ido­


so protege a dignidade da pessoa humana na terceira idade.
Como proteção à dignidade humana do idoso, estabelece-se a
proteção ao direito do recebimento antecipado do crédito humanitá­
rio: "(...) Tal preferência se dá em respeito aos princípios da dignida­
de da pessoa humana e do direito à saúde, garantias fundamentais
a todos os cidadãos. (ST) - RMS 49-539/RO, Rei. Ministro HERMAN BEN­
JAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/09/2016, DJe 10/10/2016)". Tam­
bém se sustenta a aplicação desse princípio para 0 não pagamento
de dívida tributária: "0 princípio da dignidade da pessoa humana,
em especial do idoso, deve ser aqui aplicado no sentido de impedir
qualquer restrição ao direito de moradia do recorrido. Assim, a
e x e g e se p r o p o s t a c o a d u n a -s e com a d ig n id a d e h u m a n a q u e tu te ­
la o idoso, nos termos do artigo 37 da Lei 10.741/03" (STJ - REsp
873.224,rel. Min. LUIZ FUX, j. 16 de outubro de 2008).

1.4. A REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS E 0 DIREITO DO IDOSO


Nota-se que os dispositivos constitucionais que regem a distri­
buição de competências, os artigos 21 a 24 da CF/88, em nenhum
momento tratam sobre os direitos dos idosos.
36 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Não há no cenário constitucional, de forma expressa, qual seria o


Ente Federado que exerce administrativamente a competência para
a proteção do idoso ou ainda para legislar sobre o direito do idoso,
tal como ocorreu no caso das pessoas com deficiência, consoante se
observa nos arts. 23, inc. II e art. 24, inc. XIV, ambos da CF/88.
Portanto, para se concluir qual seria 0 Ente da Federação respon­
sável pelo exercício de competências administrativas e legislativas
em relação ao idoso, é necessária uma interpretação constitucional.
Assim, ao observar 0 disposto no art. 230, caput, da CF/88, é dever
do Estado a proteção do idoso. Dessa forma, é imperativo concluir
que 0 "Estado" deverá será compreendido entre todos os entes fe­
derativos, quais sejam, União, Estados, Distrito-Federal e Municípios.
Trata-se, portanto, de competência administrativa comum e de
competência legislativa concorrente em matéria de idoso.
0 art. 46, caput, do El reforça 0 entendimento de que 0 esforço
para 0 tratamento do tema relacionado ao idoso deverá ser de to­
dos os entes federados. Esse dispositivo, em específico, será tratado
mais à frente.
É certo que tal entendimento não define absolutamente 0 crité­
rio, pois 0 tema que envolve 0 direito do idoso é extenso e revestido
de complexidade. Há assuntos como previdência, educação, cultura,
entre outros, que podem se revestir na esfera de competências pri­
vativas ou exclusivas de alguns dos entes federados.

Sobre a questão já decidiu 0 STF: "(...) A competência para legislar sobre direito
econômico é concorrente entre a União, os Estados-membros, 0 Distrito Federal
e os Municípios, (arts. 24 ,1, e 30, 1da CF/88). Precedentes: ADI n° 1950/SP, Min. Rei.
Eros Grau, DJe de 02/06/06, e RE 585453, Rei. Min. Dias Toffoli, DJe de 21/09/12. 2. 0
acesso gratuito de idosos, previsto em legislação municipal, a salas de projeção
cinematográfica cumpre diretrizes sociais insertas na Carta Magna, não violando
a ordem Constitucional.(...)" (STF - RE 751.345/SP, rei. Min. Luiz Fux. j. em 20, junho
de 2014).

1.5. CONSELHO NACIONAL DO IDOSO


0 cumprimento dos direitos dos idosos, além de uma obrigação
de toda a sociedade, deverão ser zelados pelos Conselhos Nacional,
Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei
n° 8.842, de 4 de janeiro de 1994.
Cap. I • Disposições Preliminares 37

Os conselhos nacional, estaduais, do Distrito Federal e munici­


pais do idoso serão órgãos permanentes, paritários e deliberativos,
compostos por igual número de representantes dos órgãos e enti­
dades públicas e de organizações representativas da sociedade civil
ligadas à área (art. 6°, caput, da Lei n° 8.842/1994).
Nessa esteira, 0 art. 7°, caput, da Lei n° 8.842/1994, prevê que são
competências dos conselhos nacional, estaduais, do Distrito Federal
e municipais do idoso a supervisão, 0 acompanhamento, a fiscali­
zação e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das
respectivas instâncias político-administrativo.
Observa-se que aos Conselhos dos Idosos, 0 El trouxe mais uma
competência, qual seja, a de zelarem pelo cumprimento dos direitos
dos idosos definidos nesta Lei.
A criação dos referidos Conselhos dos Idosos não retira a res­
ponsabilidade da sociedade, do Estado e também da família da obri­
gação de garantir e zelar 0 efetivo cumprimento de todos os direitos
e garantias fundamentais aos idosos.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso de Analista Legislativo (Consultor Legis­
lativo - Câmara dos Deputados/2014 - CESPE): As diretrizes da Política
Nacional do Idoso incluem priorizar 0 atendimento a idosos residentes
em instituições asilares de caráter social e permanente que necessitem
de assistência médica e cuidados de enfermagem. ERRADO. Art. 40 da
Lei n<>8.842/1994.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Defensor Público de Roraima (DP/
RR/2013 - CESPE), com base na Lei n° 8.842/1994, que dispõe sobre a
Política Nacional do Idoso e que criou 0 Conselho Nacional do Idoso,
s o b re a s atribuições do CNI.

Como já mencionado anteriormente, a Lei n° 8.842/94 dispõe so­


bre a política nacional do idoso e cria 0 Conselho Nacional do Idoso.
Será de competência do órgão ministerial responsável pela as­
sistência e promoção social a coordenação geral da política nacional
do idoso, com a participação dos conselhos nacionais, estaduais, do
Distrito Federal e municipais do idoso.
38 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

A União, através do ministério responsável pela assistência e pro­


moção social, terá a competência de elaborar a proposta orçamen­
tária no âmbito da promoção e assistência social e submetê-la ao
Conselho Nacional do Idoso.
0 art. i°, do Decreto Federal n° 5.109/2004, regulamenta 0 Conse­
lho Nacional dos Direitos do Idoso - CNDI.
Segundo o referido Decreto, trata-se de um órgão colegiado de
caráter deliberativo, integrante da estrutura básica da Secretaria
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, tem por
finalidade elaborar as diretrizes para a formulação e implementação
da política nacional do idoso, observadas as linhas de ação e as di­
retrizes, conforme dispõe a Lei n° 10.741, de 1° de outubro de 2003 -
Estatuto do Idoso, bem como acompanhar e avaliar a sua execução.
A estrutura de funcionamento do CNDI compõe-se de:
I - Plenário;
II - Secretaria; e
III - comissões permanentes e grupos temáticos.
É de competência do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso -
CNDI (art. 2° do Decreto Federal n° 5.109/2004):
I - elaborar as diretrizes, instrumentos, normas e priorida­
des da política nacional do idoso, bem como controlar e
fiscalizar as ações de execução;
II - zelar pela aplicação da política nacional de atendimento
ao idoso;
III - dar apoio aos Conselhos Estaduais, do Distrito Federal
e Municipais dos Direitos do Idoso, aos órgãos estaduais,
municipais e entidades não-governamentais, para tornar
efetivos os princípios, as diretrizes e os direitos estabeleci­
dos pelo Estatuto do Idoso;
IV - avaliar a política desenvolvida nas esferas estadual,
distrital e municipal e a atuação dos conselhos do idoso
instituídos nessas áreas de governo;
V - acompanhar 0 reordenamento institucional, propondo,
sempre que necessário, as modificações nas estruturas pú­
blicas e privadas destinadas ao atendimento do idoso;
VI - apoiar a promoção de campanhas educativas sobre
os direitos do idoso, com a indicação das medidas a se-
Cap. I . Disposições Preliminares 39

rem a d o tad as nos caso s de aten tad os ou v io laçã o d esses


d ireito s;

VII - aco m panhar a e lab o ração e a execução da proposta


o rçam entária da União, indican do m odificações n ecessárias
à consecução da política form ulada para a prom oção dos
d ireito s do idoso; e

VIII - e la b o ra r o regim ento interno, que será a p ro va d o pelo


voto de, no m ínim o, dois terços de seus m em bros, nele
definindo a form a de indicação do seu Presidente e Vice-
-Presid ente.

IX - a co m p an h ar e a v a lia r a expedição de o rientaçõ es e


reco m endações sobre a ap licação da Lei n° 10.741, de 2003,
e dos d em ais atos norm ativos relacio n ad o s ao atendim ento
do idoso;

X - p rom o ver a co op eração entre os governos da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos M unicípios e a so cied ad e
civil organizada na form ulação e execução da política nacio ­
nal de atendim ento dos d ireito s do idoso;

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Pernam buco (DP/PE/2015 -
CESPE), foi perguntado, co nsid erado correto, 0 item : As com petências
do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso incluem a prom oção de
co op eração entre governos da União, dos estad o s, do DF e d os m u­
nicípios e a so cied ad e civil organizada na form ulação e execução da
política nacional de atendim ento dos d ireito s do idoso.

XI - prom over, em parceria com organism os governam entais


e não -go vern am entais, nacio nais e internacio nais, a id en ti­
ficação de sistem as de ind icad o re s, no sentido de e sta b e le ­
c e r m etas e procedim entos com base nesses índices, para
m o nito rar a ap licação d as ativid a d e s re lacio n ad as com 0
atendim ento ao idoso;

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Espírito Santo (DP/ES/2012 -
CESPE), foi perguntado: "Com pete ao Conselho Nacional d os Direitos do
Idoso prom over, em parceria com organism os governam entais e não
governam entais nacio nais e internacio nais, a identificação de sistem as
de ind icad o res que sirvam de base para 0 estabelecim ento de m etas e
procedim entos para 0 m onitoram ento d as ativid a d e s re lacio n ad as ao
atendim ento ao ido so .". 0 item foi co nsid erad o correto.
40 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

XII - p rom o ver a realização de estudos, d eb ates e p esq u i­


sas so bre a aplicação e os resultad os estratégicos a lcan ça­
dos pelos program as e projetos de atendim ento ao idoso,
d esen volvido s pela Secretaria Especial d os Direitos Hum a­
nos da Presidência da República; e

XIII - estim ular a am p liação e 0 aperfeiço am ento dos m e­


canism os de participação e controle so cial, p o r interm édio
de red e nacional de órgãos colegiados e stad u a is, regionais,
te rrito ria is e m unicipais, visan d o fo rtalecer 0 atendim ento
dos direito s do idoso.

> Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso p a ra Defensor Público de Roraim a (DP/
RR/2013 - CESPE), com base no Decreto Federal n° 5.109/2004, que d is­
põe sobre a com posição, a estruturação e 0 funcionam ento do CNDI,
q u ais são as com petências d esse conselho.

A composição do Conselho Nacional do Idoso possui paridade en­


tre representantes do Poder Público e da sociedade civil organizada:
I - um rep resentante da Secretaria Especial dos Direitos Hu­
m anos da Presidência da República e de cad a M inistério a
seguir indicado:

a) d as Relações Exteriores;

b) do Trabalho e Em prego;

c) da Educação;

d) da Saúde;

e) d a Cultura;

f) do Esporte;

g) da Justiça;

h) da Previdência Social;

i) da Ciência e Tecnologia;

j) do Turism o;

l) do Desenvolvim ento Social e Com bate à Fome;

m) do Planejam ento, Orçamento e Gestão; e

n) d as Cidades;

II - quatorze rep resen tantes de e n tid ad es da so cied ad e civil


o rganizad a, sem fins lucrativos, com atuação no cam po da
Cap. I . Disposições Preliminares 41

prom oção e defesa dos d ireito s da pesso a id o sa, que te­


nham filiad as organizad as em , pelo m enos, cinco un id ad es
da Federação, d istrib u íd as em três regiões do País.

Todos terão suplentes que serão indicados pelos titulares dos


órgãos representados e serão designados pelo Secretário Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República.
Ainda podem ser convidados para participar das reuniões do
CNDI as personalidades e representantes de entidades e órgãos pú­
blicos e privados, dos Poderes Legislativo e Judiciário, bem como
outros técnicos, sempre que da pauta constar tema de suas áreas
de atuação.
Na hipótese dos representantes de entidades da sociedade ci­
vil organizada, deverá haver eleição em assembléia específica, con­
vocada especialmente para esta finalidade, cujos mandatos serão
de dois anos, podendo ser reconduzidos, mediante novo processo
eleitoral.
0 regimento interno do CNDI deverá disciplinar as normas e os
procedimentos relativos à eleição das entidades da sociedade civil
organizada que comporão sua estrutura, que terá o acompanhamen­
to do Ministério Público Federal.
Ainda, o CNDI poderá instituir comissões permanentes e grupos
temáticos, de caráter temporário, cuja finalidade será o estudo e
elaboração de propostas sobre temas específicos, a serem submeti­
das ao plenário, cuja competência e funcionamento serão definidos
no ato de sua criação.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Tocatins (DP/TO/2013 - CESPE) foi
perguntado so bre 0 conteúdo disposto no Decreto Federal n° 5.109/2004
e no Decreto Federal n° 1.948/1996.

> C om o e sse a ssu n to foi cobrado em co n cu rso ?


No concurso para Prom otor de Justiça do Espírito Santo (MPE-ES/2010 -
CESPE), foi perguntado se as entidades governam entais e não gover­
nam entais de assistência ao idoso estão sujeitas à inscrição de seus
program as junto ao órgão com petente da vigilância san itária e do con­
selho m unicipal da pesso a ido sa e, em sua falta, junto ao conselho
estad ual ou ao Conselho Nacional da Pessoa Idosa. 0 item foi co n sid e­
rado correto.
42 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

0 CNDI possui a seguinte estrutura de funcionamento:

As atribuições do Presidente do CNDI:

r •organizar 0
funcionamento das
comissões

k permanentes e
grupos temáticos
Á

É de atribuição da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da


Presidência da República a promoção de apoio administrativo e os
meios necessários à execução dos trabalhos do CNDI, das comissões
permanentes e dos grupos temáticos.
Para 0 pagamento das despesas com os deslocamentos dos
membros integrantes do CNDI, das comissões permanentes e dos
Cap. I • Disposições Preliminares 43

grupos temáticos, poderão correr à conta de dotações orçamentá­


rias da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República.
0 CNDI contará com recursos orçamentários e financeiros consig­
nados no orçamento da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República para o cumprimento de suas funções.

Atenção!
Nas participaçõ es no CNDI, nas com issões perm anentes e nos grupos
tem áticos, em bora se ja co n sid era d a função relevante, não haverá re­
muneração.

As reuniões do CNDI serão bimestrais em caráter ordinário e ex­


traordinariamente por convocação do seu presidente ou por reque­
rimento da maioria de seus membros.
Capítulo

Dos Direitos Fundamentais

2.1. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS NO ESTATUTO DO IDOSO


São considerados direitos fundamentais previstos no Estatuto do
Idoso:

• Direito à vida

• Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

• Dos Alimentos

• Do Direito à Saúde

• Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer

• Da Profissionalização e do Trabalho

• Da Previdência Social

• Da Assistência Social

• Da Habitação

• Do Transporte

Basicamente, todos os direitos acima mencionados, previstos no


El, são também garantidos pela Carta Cidadã de 1.988, conforme se
verificará, um a um.

2.1.1. Direito à vida


0 direito à vida é previsto constitucionalmente no art. 5°, caput,
da CF.
0 envelhecimento, por sua vez, é considerado como um direito
personalíssimo e sua proteção um direito social.
46 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Defensor Público da Bahia (DP/
BA/2010 - CESPE) so bre se 0 envelhecim ento constitui d ireito p e rso ­
n a líssim o , e a sua proteção, d ireito so cial, nos term os da legislação
vigente.
OBS.: No m esmo sentido a questão no concurso de Prom otor de Justiça
do Mato Grosso (M P/M T/2012 - UFMT) e 0 concurso para Procurador
Federal 2013/CESPE.

0 Estado é obrigado a garantir à pessoa idosa a proteção à


vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas
que permitam um envelhecimento saudável e em condições de
dignidade.

2.1.2. Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade


A dignidade da pessoa humana é um dos pilares da República,
prevista no art. 1°, inc. Ill, da CF.
já a liberdade é um direito fundamental previsto no art. 5°, caput,
da CF.
0 Estado e a sociedade são obrigados a assegurar à pessoa idosa
a liberdade, 0 respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito
de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Consti­
tuição Federal e nas leis.
0 art. 10, § i ° da Lei n° 8.842/1994 assegura ao idoso 0 direito
de gerir os atos da vida civil, no que tange a dispor de seus bens,
proventos, pensões e benefícios, salvo nos casos de incapacidade
judicialmente comprovada. Nas hipóteses de comprovada incapa­
cidade do idoso para gerir seus bens, ser-lhe-á nomeado Curador
especial em juízo.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso p a ra D efenso r Público da B ahia (DP/BA/2010 - CESPE) foi
q u estio n ad o 0 seguinte item : É a sseg u rad o ao id o so 0 d ire ito de d is ­
po r de seus bens, provento s, p en sõ es e b en efício s, salvo se ja com ­
p ro va d a ju d icialm e n te sua in c a p a c id a d e ou 0 ido so u ltrap asse 85
anos de id a d e . 0 item foi c o n sid e ra d o ERRADO. Art. 10, § i« d a Lei n°
8.842/1994.
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 47

0 Direito à liberdade ao idoso compreende (art. 10, § 1° do El):

- faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espa­


ços comunitários, ressalvadas as restrições legais;

- opinião e expressão;

- crença e culto religioso;


0 DIREITO À
LIBERDADE
- prática de esportes e de diversões;
COMPREENDE:

- participação na vida familiar e comunitária;

- participação na vida política, na forma da lei;

- faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.

0 direito à acessibilidade urbana não se restringe somente às


pessoas com deficiência?
Embora os arts. 244, e 227, § 2°, ambos da CF, indiquem como
beneficiários do direito a acessibilidade urbana as pessoas portado­
ras de deficiência. Em uma primeira interpretação pode-se pensar
que os idosos não precisam da acessibilidade urbana para sua lo­
comoção. Contudo, não é possível retirar 0 idoso do contingente de
pessoas que necessitam de avanços na acessibilidade urbana, como
quebra de barreiras arquitetônicas, urbanísticas e dos transportes.
Por isso, 0 art. 3°, inc. IX, da Lei da Inclusão da Pessoa Portadora de
Deficiência, inclui 0 idoso como pessoa com mobilidade reduzida,
para os fins da referida lei. Ainda a Lei n° 10.098/00, que estabelece
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida,
e dá outras providências, mediante a supressão de barreiras e de
obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na
c o n s tru ç ã o e re fo rm a d e e d ifíc io s e no s m e io s d e tra n s p o rt e e de
comunicação, considera 0 idoso como pessoa com mobilidade redu­
zida para os fins da mencionada lei (art. 2°, inc. IV).

A tenção !
A a ce ssib ilid a d e d as pesso as po rtado ras de deficiência ou com m obi­
lid ad e red u zid a d everá s e r o b serva d a tanto em edifício público, como
em privados.
48 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de P ro cu ra d o r M unicípio da c id a d e de São Paulo (P re ­
feitu ra São Paulo - SP/2014 - VUNESP), foi perguntado, no que tange
ao d ireito à lib e rd a d e , ao resp e ito e à d ig n id ad e asse g u rad o s ao
id o so , se a Lei Fed era l n° 10 .741/03 (Estatuto do Idoso) ao e sta b e le ce r
a facu ld a d e de b u sca r refúgio, aux ílio e o rien tação , in se re m -se nos
asp ecto s da co m p reen sã o do d ire ito à lib e rd a d e . 0 item foi co n sid e ­
ra d o correto.

0 direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade


física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços
e dos objetos pessoais.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Juiz do Estado do Am azonas (CESPE. TJ-AM. 2016) foi
perguntado se no âm bito dos d ireito s fundam entais da pesso a id o sa,
0 respeito abrange a preservação do d ireito às id é ia s e crenças. A
alternativa está correta.

A liberdade crença do idoso engloba os aspectos positivos e ne­


gativos, sendo que no aspecto positivo é a liberdade de escolher a
religião (aderir ou mudar), e 0 aspecto negativo é a liberdade de
não seguir religião nenhuma.
Deve ainda ser incluído nos "espaços e objetos pessoais" dos
idosos, 0 direito constitucional da inviolabilidade da intimidade, vida
privada, honra, imagem e da casa (art. 5°, incs. X e XI da CF).
É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Prom otor de Justiça de Rondônia
(MPE-RO/2010 - CESPE), se de acordo com 0 Estatuto do Idoso, é o briga­
ção do Estado e da so cied ad e a sseg u rar à pessoa ido sa a lib erd ad e,
0 respeito e a d ignid ad e, como pessoa hum ana e sujeito de direito s,
0 d ireito ao respeito consiste na in vio la b ilid a d e da integrid ade física,
psíquica e m oral, abrangendo a p reservação da im agem , da id en ti­
d ad e , d a autonom ia, de v a lo re s, id é ia s e crenças, dos espaços e dos
objetos pesso ais.
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 49

2.1.3. Dos alimentos


A obrigação de prestar alimentos é, sem dúvidas, necessária e
imprescindível a qualquer ser humano, conferida, geralmente, aos
seres humanos em formação, cessada, em regra, na fase adulta.
Porém, em situações excepcionais, em outras circunstâncias, co­
mo a idade avançada (velhice), a prestação de alimentos pode se
tornar de igual maneira necessária.
Assim 0 art. 229, caput, da CF dispõe:

Os pais têm 0 dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maio­
res têm 0 dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

0 El prevê que os alimentos aos idosos devem ser prestados de


acordo com a lei civil (art. 11 do El).
Portanto, de acordo com 0 estabelecido no art. 11 do El, os cri­
térios para a fixação da prestação alimentícia deverão ser estabele­
cidos de acordo com os arts. 1.694 e 1.710 do Código Civil, além da
Lei n° 5.478/68.
Na hipótese da obrigação alimentar prevista no El, 0 fundamento
ampara-se no vínculo do parentesco familiar, de forma a materiali­
zar 0 princípio da dignidade da pessoa humana.
Por isso, afirma-se que a obrigação alimentar prevista no El é
solidária, podendo 0 idoso optar entre os prestadores.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça do Estado de São Paulo (MPE/
SP - 2010), foi perguntado em prova discursiva: Qual é 0 tratam ento
d isp en sad o no Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/2003), em relação à
obrigação alim entar, quando 0 alim entando for pesso a com id a d e igual
ou su p e rio r a 60 (sessen ta) anos?

O b s e rv a -s e , p o rta n to , q u e a n a tu re z a ju r íd ic a s o lid á r ia d a o b rig a ­


ção alimentar do El decorre da doutrina da proteção integral previs­
ta no próprio Estatuto.

Segundo já decidiu 0 STJ, 0 Estatuto do Idoso é norma especial e prevalece sobre


as disposições específicas do Código Civil, reafirmando 0 entendimento de que a
solidariedade da obrigação alimentar devida ao idoso lhe garante a opção entre
os prestadores (art. 12) (REsp 775.565/SP, Rei. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 13/06/2006, Dj 26/06/2006, p. 143).
50 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

Na hipótese do idoso optar por um dos prestadores, questio­


na-se a obrigatoriedade do litisconsórcio passivo. Há divergências.
Primeira corrente sustenta a obrigatoriedade de todos os presta­
dores no polo passivo da ação de alimentos, sob pena de extinção.
De outro norte, há quem sustente tratar-se de litisconsórcio passivo
facultativo, podendo o idoso propor a demanda contra qualquer um
dos coobrigados ou ainda contra todos, arcando com as consequên­
cias da escolha, entendimento este preponderante.

0 STJ já decidiu que em ação de alimentos proposta por netos contra avô pater­
no, não há litisconsórcio necessário com os avós maternos (REsp 261.772/SP, Rei.
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 05/10/2000, Dj
20/11/2000, p. 302).

Em razão da natureza jurídica solidária, bem como da facultativida-


de do litisconsórcio passivo entre os alimentantes, não será admitida
a intervenção de terceiros, em ação proposta com fundamento no El.
Assim, sustenta-se que caso o pedido decorra da linha reta do
parentesco não haverá limitação, contudo, caso seja da linha co­
lateral, há limitação de parentesco até o segundo grau, consoante
disposto no art. 1.697 do Código Civil.
Porém, há entendimento diverso quando se trata da limitação
de parentesco na linha colateral, no sentido de que a obrigação ali­
mentar na linha transversal deverá atingir os parentes até de quarto
grau, sendo tal tese sustentada na ordem de vocação hereditária,
prevista no art. 1.829 do Código Civil, na ausência de descendente,
ascendente ou de cônjuge (DIAS, Maria Berenice, in: Comentários ao
Estatuto do Idoso. Lauro Luiz Comes Ribeiro (et al); coordenadores
Maria Garcia, Flávia Almeida Leite Carla Matuck Borba Seraphim. São
Paulo: Saraiva, 2016. p. 65).

0 STJ já decidiu negando a obrigação alimentar de colaterais de 3° grau (REsp


1032846/RS, Rei. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2008,
Dje 16/06/2009)

Como 0 art. 12 do El privilegia a celeridade processual, quando


qualquer dos filhos for chamado à lide, após ele for compelido a rea­
lizar 0 pagamento, poderá ingressar com a ação regressiva contra
os demais irmãos desobrigados, de acordo com a quota-parte que
caberia a cada um na ação de alimentos.
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 51

Na falta de alimentos junto a parentes, o Estado deverá conceder


a prestação alimentícia, conforme art. 14 do El.

I Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Defensor Público de Sergipe (DP/
SE/2012 - CESPE), co nsid erand o as regras e stab elecid as no Estatuto do
Idoso acerca do d ireito à saú d e e a alim entos, se, como a obrigação
a lim en ta r é s o lid á ria , é facultado ao ido so escolher aquele que assu m i­
rá , entre os prestado res, a obrigação. 0 item foi co nsid erad o correto.

Há diferenças entre a obrigação alimentar do El e a prevista no


Código Civil:

REGRA DO CÓDIGO CIVIL REGRA DO El

Art. 1.698 do CC Art. 12

- obrigação subsidiária - obrigação solidária

- há uma ordem de parentes ou fa­


- 0 idoso poderá fazer opção entre
miliares que devem ser chamados
quais parentes ou familiares serão
para assumir a obrigação de pres­
chamados para prestar os alimentos
tar alimentos

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça de São Paulo (M P//SP/2013 -
VUNESP), foi perguntado, tendo em vista a Lei n° 10.741, de 1 ° de outu­
bro de 2003, que d ispõ e sobre 0 Estatuto do Idoso e dá outras provi­
d ências se ao contrário do que prevê 0 Código Civil quanto ao d e ve r
de p restar alim entos entre parentes passivam ente legitim ados, haverá
so lid a rie d a d e entre eles quando 0 cred o r for idoso.

As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas pe­


rante 0 Promotor de Justiça ou Defensor Público, que as referendará,
e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos termos
da lei processual civil.
0 idoso, para que sua subsistência seja provida, poderá optar
p ela via judicial ou p ela v ia a d m in istra tiva . Na h ip ó te se d e a çã o
judicial, 0 procedimento obedecerá a Lei n° 5.487/69. Já na via admi­
nistrativa, a atuação resume-se a celebração da transação.

Atenção!
0 que se discute na transação é quantum d eb ea tu r, pois os alim entos
são in d isp o n íve is, podendo s e r revisto a q u alq u er m omento, em razão
do binôm io n e ce ssid ad e -p o ssib ilid ad e .
52 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

As ações alimentares tramitarão na Vara do Idoso (art. 8o do El)


ou, na ausência, nas Varas de Família.
É possível, ainda, que seja decretada a prisão civil do devedor
de alimentos ao idoso.

t Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Prom otor de Justiça do Estado de SC (MPE-SC. 2016)
foi perguntado se, de aco rdo com 0 Estatuto do Idoso, as transaçõ es
relativas a alim entos p o d erão s e r celeb rad as perante 0 Prom otor de
Justiça ou Defensor Público, que as subm eterá à hom ologação jud icial.
E nos casos em que 0 idoso ou seus fam ilia re s não possuírem condi­
ções econôm icas de p ro ver 0 seu sustento, im p õ e-se ao Poder Público
esse provim ento, no âm bito da assistência so cial.
0 item foi co nsid erad o falso.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Defensor Público da Paraíba (D P //P B /20 14 - FCC), foi qu es­
tionado, se as transaçõ es relativas a alim entos po derão s e r celebrad as
perante 0 Defensor Público, que as referend ará, e passarão a ter efeito
de título executivo extrajudicial nos term os d a lei processual civil. OBS:
Questão sim ila r no concurso para Defensor Público do Am azonas (DP/
AM - FCC - 2013) e no concurso para Defensor Público do DF (2013).

• Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso público para Defensor Público da Bahia
(DP/BA/2010 - CESPE): As transaçõ es relativas a alim entos em favo r do
ido so p o d erão se r celeb rad as perante 0 prom otor de justiça ou d efen­
so r público, que as referen d arão , p assand o elas a te r efeito de título
executivo extrajud icial nos term os da lei processual civil. CERTO. Art. 13,
caput, do E.l. OBS: Questão sim ila r no concurso para Defensor Público
do Am azonas (DP/AM /2011 - Instituto cid ades).

0 Poder Público é obrigado a prover 0 sustento do idoso, no âm­


bito da assistência social, caso seus familiares não possuírem condi­
ções econômicas.
No mesmo teor, dispõe 0 Decreto n° 1.948/96, que 0 idoso que
não possuir meios para prover à sua própria subsistência, que não
tenha família ou cuja família não tenha condições de prover à sua
manutenção, terá assegurada a assistência asilar, pela União, pelos
Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, conforme previsões
legais (art. 17, parágrafo único).
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 53

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público em Roraima (Cespe - Defensor
Público - RR/2013) foi perguntado: Com base no Decreto Federal n°
1.948/1996, que regulamenta a Lei n° 8.842/1994 no que tange à Política
Nacional do Idoso foi questionado se 0 idoso que não tenha meios de
prover a sua própria subsistência, que não tenha família ou cuja família
não tenha condições de prover a sua manutenção terá assegurada a
assistência asilar prestada pela União, pelos estados, pelo DF e pelos
municípios, na forma da lei.

2.1.4. Direito à saúde


0 direito à saúde é, primeiramente, assegurado constitucional­
mente, consoante disposto no art. 196, caput, da CF:
"A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redu­
ção do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promo­
ção, proteção e recuperação."
Outros dispositivos constitucionais ainda tratam da matéria, sen­
do que os arts. 197 a 199 da CF permitem que, de forma paralela
a atuação do Estado, a execução de ações e serviços de saúde por
pessoa física ou jurídica de direito privado.
Detalhando a política de saúde pública prevista na CF, foram edi­
tadas, entre outras, a Lei n° 8.080/90 e Lei n° 8.142/90.
Na linha da CF, 0 El também assegura à atenção integral à saúde
do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde - SUS, garantin-
do-lhe 0 acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e con­
tínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e
recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que
afetam preferencialmente os idosos (art. 15, caput, do El).

O STF já d e c id iu q u e é o b r ig a ç ã o d e t o d a s a s e s fe ra s fe d e r a tiv a s o d e v e r d e p r e s ­
tar serviços de saúde, portanto, trata-se de obrigação solidária entre a União,
Estados, Distrito Federal e Municípios. Assim, 0 polo passivo pode ser composto
por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente. (RE 855178 RC, Relator
(a): Min. LUIZ FUX, julgado em 05/03/2015, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GE­
RAL - MÉRITO DJe-050 DIVULG 13-03-2015 PUBLIC 16-03-2015)

0 art. 2°, § í®, da Lei n° 8.080/90 já possuía a previsão de acesso


universal e igualitário à saúde de maneira geral.
54 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Em razão da necessidade de uma política de saúde bem espe­


cífica para os idosos, foi criada a Política Nacional de Saúde do Ido­
so (PNSI), instituída pela Portaria CM/MS n° 2.528/06. Estabeleceu a
mencionada portaria que seja promovida a elaboração ou a reade-
quação de programas, projetos e atividades em conformidade com
as diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas.
A finalidade da mencionada Portaria é:

"recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos


idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim,
em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. É alvo
dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais de idade."

A Prevenção é a manutenção da saúde do idoso, que será efetiva


da seguinte forma:

- cadastramento da população idosa em base territorial

- atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;

- unidades geriátricas de referência, com pessoal especia­


lizado nas áreas de geriatria e gerontologia social;
Efetivação para
a manutenção e - atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a
a prevenção da população que dele necessitar e esteja impossibilitada
saúde do idoso de se locomover, inclusive para idosos abrigados e aco­
lhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins
lucrativos e eventualmente conveniadas com 0 Poder Pú­
blico, nos meios urbano e rural;

- reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para


redução das sequelas decorrentes do agravo da saúde.

► C o m o e sse a ssu n to foi cobrado em c o n c u rso ?


No concurso para Prom otor de Justiça da Bahia (M P//BA/2015 - CEFET) -,
foi e la b o ra d a a seguinte assertiva : 0 d ireito à saú d e do ido so engloba
atendim ento d om iciliar, incluindo a internação para os que d ele ne­
cessita r e estejam im p o ssib ilitad o s de se locom over, inclusive para os
abrigad o s e aco lhido s po r instituições públicas, filan tróp icas ou sem
fins lucrativos e eventualm ente co nveniad as com 0 Poder Público, tanto
no m eio urbano, quanto ru ral, incum bindo ao Poder Público fornecer,
gratuitam ente, m edicam entos, especialm en te os de uso continuado,
assim como próteses, ó rteses e outros recurso s relativos ao tratam en­
to, habilitação ou reab ilitação dos senis. A assertiva está correta.
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 55

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça do Sergipe (M P E /S E /20 10 - CESPE),
foi questionado se a atenção integral à saú d e dos ido so s im plica um
conjunto articulad o e continuo de ações e serviço s, para prevenção,
prom oção, proteção e recup eração da saú de, incluind o atenção e s ­
pecial às d oen ças que os afetem preferencialm ente. De acordo com 0
Estatuto do Idoso, a prevenção e a m anutenção da saú d e dos ido so s
efetivam -se pelo atendim ento dom iciliar, incluindo a internação , para
a população que d ele necessitar e esteja im p o ssib ilitad a de se locom o­
ver, inclusive para ido so s abrigad o s e a co lh id o s po r instituições p ú bli­
cas, filan tróp icas ou sem fins lucrativos e eventualm ente co nveniad as
com 0 p o d er público, tanto no m eio urbano quanto no rural.

Ao Poder Público incumbe a obrigação de fornecer aos idosos,


gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado,
assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao trata­
mento, habilitação ou reabilitação.

t Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça do Espírito Santo (M P/ES/2013 -
VUNESP), foi perguntado se é direito do idoso, conform e a Lei n°
10.741/2003, obter do Poder Público, gratuitam ente, m edicam entos,
especialm en te os de uso continuado, assim como próteses, ó rteses e
outros recurso s relativos ao tratam ento, h abilitação ou reab ilitação . 0
item foi co nsid erad o correto.

I Atenção!
É v e d ad a a discrim inação do idoso nos planos de saú de pela cobrança
de v a lo re s d iferen ciad o s em razão da id a d e.

Segundo 0 STJ, é possível 0 reajuste do plano de saúde em razão de mudança


de faixa etária, desde que:
a) haja previsão contratual;
b) não aplicação de percentuais desarrazoados;
c) preenchidos os requisitos previstos na Lei n° 9.656/1998;
d) observância do princípio da boa-fé objetiva, que veda reajustes absurdos e
aleatórios que onerem em demasia 0 segurado (REsp 866.840-SP, Rei. originário
Min. Luis Felipe Salomão, Rei. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 7/6/2011)

STJ - É válida a cláusula, prevista em contrato de seguro-saúde, que autoriza o


aumento das mensalidades do seguro quando 0 usuário completar sessenta
anos de idade, desde que haja respeito aos limites e requisitos estabelecidos
na Lei 9.656/1998 e, ainda, que não se apliquem índices de reajuste desarrazoa­
dos ou aleatórios, que onerem em demasia 0 segurado. (REsp 1.381.606-DF, Rei.
originária Min. Nancy Andrighi, Rei. para acórdão Min. João Otávio De Noronha,
julgado em 7/10/2014).
56 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

STJ - Sobre 0 mesmo tema, segundo já decidiu 0 STJ, não há afronta ao art. 15,
§ 3°, do Estatuto do Idoso, que veda a discriminação consistente na cobrança
de valores diferenciados em razão da idade. Caso 0 reajuste está previsto con­
tratualmente e guarda proporção com a demanda, preenchidos os requisitos
estabelecidos na Lei n.9.656/1998, 0 aumento será legal (AgRg no REsp 1315668/
SP, Rei. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rei. p/Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 24/03/2015, DJe 14/04/2015).

STJ - Ainda sobre 0 tema referente aos reajustes dos planos de saúde, 0 STJ já
decidiu "para que as contraprestações financeiras dos idosos não ficassem ex­
tremamente dispendiosas, 0 ordenamento jurídico pátrio acolheu 0 princípio da
solidariedade intergeracional, a forçar que os de mais tenra idade suportassem
parte dos custos gerados pelos mais velhos, originando, assim, subsídios cruza­
dos (mecanismo do community rating modificado).5. As mensalidades dos mais
jovens, apesar de proporcionalmente mais caras, não podem ser majoradas
demasiadamente, sob pena de 0 negócio perder a atratividade para eles, 0
que colocaria em colapso todo 0 sistema de saúde suplementar em virtude do
fenômeno da seleção adversa (ou antisseleção). 6. A norma do art. 15, § 30, da
Lei n° 10.741/2003, que veda "a discriminação do idoso nos planos de saúde pela
cobrança de valores diferenciados em razão da idade", apenas inibe 0 reajuste
que consubstanciar discriminação desproporcional ao idoso, ou seja, aquele sem
pertinência alguma com 0 incremento do risco assistencial acobertado pelo con-
trato.( REsp 1568244/RJ, Rei. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SECUNDA SEÇÃO,
julgado em 14/12/2016, DJe 19/12/2016).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Defensor Público da União CESPE. DPU. 2017) foi p e r­
guntado se 0 STJ entende que, em deco rrência do m andam ento co ns­
titucional de proteção ao idoso e do princípio da s o lid a rie d a d e entre
geraçõ es, são irreg u lares os contratos de plano de saú de que preveem
reaju stes de m en salid ad e em razão da m udança de faixa etária do
beneficiário.
O Item fo i c o n s id e r a d o fa ls o .

A temática de planos de saúde versus direito do idoso é recor­


rente nos Tribunais, sendo, inclusive, alvo de Súmula no TJ/SP:

Súmula 91 do TJ/SP: Ainda que a avença tenha sido firmada antes da sua vigência,
é descabido, nos termos do disposto no art. 15, § 3°, do Estatuto do Idoso, o rea­
juste da mensalidade de plano de saúde por mudança de faixa etária.

Sobre 0 tema tratado, a Lei n° 9.656/98, a Lei dos Planos de Saú­


de, prevê no art. 35-E que qualquer variação na contraprestação
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 57

pecuniária para consumidores com mais de sessenta anos de idade


estará sujeita à autorização prévia da ANS, mesmo que a contratação
decorra de um período anterior a vigência da mencionada Lei.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Defensor Público de Mato Grosso do Sul (DP/MS/Vunes-
pe -2014), foi perguntado se é proibida a discriminação dos idosos nos
planos de saúde, consistente na cobrança de valores diferenciados em
razão da idade.

F Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Juiz Federal Substituto (TRF - 2» re-
g ião /20 13 - CESPE), se de aco rdo com 0 Código Civil, 0 Estatuto do Idoso
e a ju risp ru d ê n cia do ST], segundo os ditam es do Estatuto do Idoso e
de acordo com 0 entendim ento do STJ, é ved ad o às segurado ras de
planos de saú d e 0 aum ento d esa rra zo a d o d as m e n salid a d e s d os pla­
nos pelo sim p les fato de m udança de faixa etária.

> Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Defensor Público do Sergipe (DP/
SE/2012 - CESPE), se segundo a ju risp ru d ê n cia, 0 d ispo sitivo legal que
ved a a d iscrim inação do idoso nos planos de saú de pela cobrança de
valo res d iferenciad o s em razão da id a d e não im plica presunção de
ileg a lid a d e e ab u sivid a d e de toda e q u alq u er cláusula contratual que
estabeleça 0 reajuste de m en salid ad e de plano de saú d e com base
na m udança da faixa etária do idoso. 0 item foi co nsid erad o correto.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Exame da OAB (FGV. Exame XIX.OAB.2016) foi perguntado:
Am adeu, apo sentad o , ad e riu ao plano de saú de coletivo ofertado pelo
sindicato ao qual esteve vinculado po r força de sua a tivid a d e labo rati-
va po r m ais de 30 anos. Ao co m p letar 60 anos, o v a lo r da m ensalid ade
sofreu aum ento significativo (cerca de 400%), 0 que foi questionado po r
Am adeu, a quem os funcio nário s do sindicato explicaram que 0 aum en­
to d eco rreu da m udança de faixa etária do aposentado.
Foi co nsid erad o correta a letra a): 0 aum ento do preço é abusivo e a
norm a consum erista d eve s e r a p licad a ao caso, m esm o em se tratando
de plano de saú d e coletivo e, principalm ente, que envolva interessad o
com am p aro legal no Estatuto do Idoso.
58 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

0 El prevê que o idoso não poderá ser obrigado a comparecer ao


órgão público caso enfermo, ocasião em que deverá ser observado
0 seguinte:

• quando 0 interessado for 0 Poder Público, 0 contato será na residência do


idoso;

• quando 0 interessado for 0 idoso, será representado por procurador legal­


mente constituído.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para P ro curado r ju ríd ico (VUNESP. Pref. de Várzea Paulis-
ta-SP. 2016) foi perguntado se: É v e d ad o exigir 0 com parecim ento do
ido so enferm o perante os órgãos públicos.
A alternativa foi co nsid erad a correta.

0 El assegura, ainda, ao idoso enfermo, o atendimento domiciliar


pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, pelo
serviço público de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contra­
tado ou conveniado, que integre o Sistema Único de Saúde - SUS,
para expedição do laudo de saúde necessário ao exercício de seus
direitos sociais e de isenção tributária.

Atenção!
A Lei n° 13.466/2017, acresceu 0 § 7° no art. 15 do Estatuto do Idoso para
d isp o r que: "Em todo atendim ento de saú d e , os m aio res de oitenta
anos terão preferência esp ecial sobre os d em ais idosos, exceto em
caso de em ergência.".

1 Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No C o n cu rso p a ra P ro c u ra d o r Ju ríd ico (VUNESP. Pref. d e A lum ín io-SP.
2016) foi perguntado se: e) é assegu rad o ao idoso enferm o 0 a ten d i­
m ento d o m icilia r p ela perícia m édica do Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS para expedição do laud o de saú d e necessário ao exercício
de seus d ireito s so ciais.
A alternativa foi co nsid erad a correta.

A Lei n° 7.713/88, no art. 6o, inc. XIV e XV, que trata da isenção do
Imposto de Renda da Pessoa Física, já previa a perícia domiciliar. 0 El
explicitou que na hipótese que é direito do idoso enfermo à perícia
domiciliar para 0 exercício de seus direitos previdenciários ou assis-
tenciais e tributários.
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 59

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Defensor Público da Paraíba (DP/PB/2014 - FCC), foi
perguntado: Quanto ao d ireito à saú d e do idoso, se 0 tratam ento d o ­
m iciliar, seja oferecido pelo SUS ou pelo plano de saú d e , é garantido ao
idoso como form a de prevenção e m anutenção de sua saúde.

Também é assegurado ao idoso internado ou em observação 0


direito a acompanhante, devendo 0 órgão de saúde proporcionar
as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral,
segundo 0 critério médico (art. 16 do El).
0 direito a acompanhante será autorizado através de decisão do
profissional de saúde, responsável pelo tratamento. Caso não seja
possível a justificativa deverá ser feita por escrito.
No mesmo sentido artigo acima mencionado, 0 art. 21, inc. VII,
"b", da Resolução Normativa n° 338/13 da Agência Nacional de Saúde:
"cobertura d as d esp esas, incluindo alim entação e acom o­
d ação , re lativas ao acom panhante, salvo co ntraindicação
do m édico ou cirurgião dentista assistente, nos seguintes
casos: (...)

b) ido so s a p artir do 60 anos de id a d e ; e"

0 direito ao acompanhante não é absoluto, devendo a possi­


bilidade de presença do acompanhante ser compatibilizado com a
saúde do idoso, por isso 0 critério médico para a decisão. A Portaria
n° 3.432/MS/GM/98, que trata das UTIs, prevê que são garantidas
as visitas diárias dos familiares à beira do leito, não fazendo refe­
rência ao acompanhante permanente ou por tempo determinado.
0 art. i ° da Portaria MS/GM n° 280/99 determina "obrigatório nos
hospitais públicos, contratados ou conveniados com 0 Sistema Único
de Saúde - SUS, a viabilização de meios que permitam a presença do
acompanhante de pacientes maiores de 60 (sessenta) anos de ida­
de, quando internados." Por sua vez, 0 art. 20 da Portaria MS/GM n°
280/99, dispõe que: "ficam excetuadas da obrigatoriedade definida
no Art. i°, as internações em Unidade de Tratamento Intensivo, ou
nas situações clínicas em que tecnicamente esteja contraindicada a
presença de acompanhante, 0 que deverá ser formalmente justifica­
do pelo médico assistente."
0 El assegura ao idoso que estiver no domínio de suas faculda­
des mentais, optar pelo tratamento de saúde que lhe reputar mais
favorável (art. 17, caput, do El).
60 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

1 Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso de Promotor de Justiça do Tocantins (MP/
TO/2012 - CESPE), se entre os direitos reconhecidos legalmente ao
idoso no domínio de suas faculdades mentais inclui-se 0 de ele op­
tar pelo tratamento de saúde que julgar mais favorável. 0 item está
correto.

Caso 0 idoso não estiver no domínio de suas faculdades men­


tais, a opção do tratamento de saúde será feita da seguinte forma
(art. 17, parágrafo único, do El):

• pelo curador, quando 0 idoso for interditado;

• pelos familiares, quando 0 idoso não tiver curador ou este não puder ser
fazer contato em tempo hábil;

• pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil
para consulta a curador ou familiar;

• pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso
em que deverá comunicar 0 fato ao Ministério Público.

Estas acima são as pessoas que possuem autorização, de forma


subsidiária, para manifestar a vontade do idoso incapaz de exercer
os atos da vida civil. De acordo com o art. 115 do Código Civil, os
poderes para representação poderão decorrer pelo próprio inte­
ressado ou pela lei. Na hipótese de pessoa idosa decorre da repre­
sentação por lei.
0 El determina que a opção para o tratamento de saúde mais fa­
vorável caberá em primeiro lugar ao curador, caso já esteja 0 idoso
interditado; depois aos familiares, se o idoso não possuir curador e
não houver tempo hábil para a consulta de um; ao médico na situa­
ção risco iminente de morte e em razão do curto prazo de tempo
não for possível consultar ou 0 curador ou os familiares; e por último
o próprio médico, quando ausente curador ou familiar.

1 Atenção!
Na hipótese do médico se colocar no lugar de curador ou familiar, é
obrigatória a comunicação da situação ao Ministério Público.

As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos


para 0 atendimento às necessidades do idoso, promovendo 0
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 61

treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orienta­


ção a cuidadores familiares e grupos de autoajuda, conforme precei-
tua o art. i8, caput, do El.
0 El não aponta com clareza quais são os critérios que seriam
necessários para dar efetividade a este dispositivo legal, razão pela
qual se deve atentar aos diversos dispositivos normativos existen­
tes junto ao Ministério da Saúde, às Secretarias Estaduais de Saúde,
bem como às Secretarias Municipais de Saúde, como por exemplo,
o art. 5°, do Decreto Federal n° 7.508/11, que regulamentando a Lei
n° 8.080/90, institui as Regiões de Saúde e estabelecem os requisitos
mínimos de ações e serviços de saúde: I - atenção primária; II - ur­
gência e emergência; III - atenção psicossocial; IV - atenção ambula-
torial especializada e hospitalar; e V - vigilância em saúde, que no
seu âmbito compreendem as Redes de Atenção de Saúde (conjunto
de ações e serviços de saúde articulados em níveis de complexidade
crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência
à saúde). Podem ser mencionadas também as Portarias n° 2.488/11
do Ministério da Saúde e n° 2.528/06 que aprova a política nacional
de saúde da pessoa idosa.
Pode-se mencionar a Portaria n° 249/02, do Ministério da Saúde,
que define critérios de cadastramento e funcionamento dos Centros
de Referência em Assistência à Saúde do Idoso e estabelece, em
linhas gerais, os mecanismos e fluxos assistenciais a serem adotados
pelas Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso, dentre os
quais:
I - Ser hospital geral, com núm ero de leitos instalad o s e
cad astrad o s pelo Sistem a Único de Saúde igual ou m aio r
que cem (100) leitos;

II - G aran tir 0 direito de acom panhante aos ido so s, quando


em regim e de internação hospitalar, em conform idade com
o estab elecid o na Portaria GM/MS n° 280, de 07 de ab ril de
1999 e Portaria GM/MS n° 830, de 24 de junho de 1999;

III - D esenvo lver trabalho de identificação da clientela ido sa


vinculad a à unid ad e - conform e estab elecid o no Anexo II
desta Portaria;

I V - D esenvo lver program a de orientação do acom panhante


do idoso no período de internação , o rien tan d o -o de como
pode m elh o rar 0 apo io que dá à pesso a ido sa que está
62 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

aco m panhando , em relação à sua d ep en d ên cia, buscando


p re se rv a r ao m áxim o sua autonom ia. Após a alta h o spita­
la r d eve receb er a p o io constante, através de um program a
d esen volvido p ela equip e de saú d e quanto aos cuidados
do idoso;

V - D esenvo lver program as de deso spitalização de idosos;

VI - D esenvo lver program as de prom oção, prevenção, pro­


teção e recup eração da saú de do idoso, com cronogram a
anual de acom panham ento;

VII - Estar articulad o , com as equ ip es dos Program as de


Atenção Básica e Saúde da Fam ília, onde estiverem im p lan ­
tados;

VIII - O rganizar grupos de a p o io ao idoso, p referen cialm en­


te em parceria com outras instituições da so cied ad e civil
organizada, que tenham como objetivo prom o ver ações de
m elho ria da q u alid a d e de vida.

Os serviços de saúde públicos e privados deverão notificar com-


pulsoriamente à autoridade sanitária os casos de suspeita ou con­
firmação de violência praticada contra idosos, bem como, de acordo
com a sistemática do El, deverão obrigatoriamente comunicar a
quaisquer dos seguintes órgãos:
a) autoridade policial;
b) Ministério Público;
c) Conselho Municipal do Idoso;
d) Conselho Estadual do Idoso;
e) Conselho Nacional do Idoso.

I Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Guarda Legislativo (Câm ara de Natal-RN. Guarda Le­
gislativo. 2016) foi perguntado se: os casos de suspeita ou confirm ação
de vio lência praticad a contra ido so s serã o objeto de notificação com ­
p u lsó ria, pelos serviço s de saú d e públicos e p rivad o s, à auto rid ade
san itá ria, bem como serã o obrigatoriam ente com unicados p o r eles aos
órgãos enum erad os em lei.
A alternativa foi co n sid era d a a correta.
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 63

I Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Prom otor de Justiça (MP-PR. 2017) foi perguntado:
Nos term os da Lei n° 10.741/03 (Estatuto do Idoso), assin a le a a lte rn a ­
tiva incorreta
a) Os casos de suspeita ou confirm ação de vio lência praticada contra
ido so s serão objeto de notificação com pulsória pelos serviço s de sa ú ­
de públicos e p rivad o s à a u to rid ad e san itá ria, bem como serã o o briga­
toriam ente com unicados po r eles à auto rid ade p o licial e ao M inistério
Público, sendo v e d ad a a com unicação exclusiva ao Conselho M unicipal
do Idoso;
b) As transaçõ es relativas a alim entos po derão s e r celeb rad as p e ran ­
te 0 Prom otor de Justiça ou Defensor Público, que as referen d ará, e
p a ssarão a te r efeito de título executivo extrajud icial nos term os da lei
processual civil;
c) Os descontos nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esp o r­
tivos e de lazer, que têm p o r objetivo pro p o rcio nar a participação dos
ido so s nas re fe rid a s ativid a d es, po derão s e r acim a de 50 % (cinquenta
po r cento);
d) Os m eios de com unicação devem m anter espaços ou h o rário s e sp e ­
cia is vo ltado s aos idosos, com fin alid ad e inform ativa, ed ucativa, a rtísti­
ca e cultural, e ao público so bre 0 processo de envelhecim ento;
e) 0 acolhim ento de ido so s em situação de risco so cial, po r adulto ou
núcleo fam iliar, caracteriza a d ep end ência econôm ica, para os efeitos
legais.
A alternativa a) foi co n sid era d a correta.

A Lei n° 11.551/2007 instituiu 0 Programa Disque Idoso, com a fina­


lidade de atendimento a denúncias de maus-tratos e violência contra
os idosos a partir de 60 (sessenta) anos.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No c o n cu rso p a ra P ro m o to r d e Justiça d a B a h ia (M P /B A /2 0 15 - CEFET)
foi perguntado a seguinte assertiva: Os caso s de suspeita ou co nfirm a­
ção de vio lên cia praticad a contra ido so s serã o objeto de notificação
co m p ulsó ria pelos serviço s de saú de públicos e p rivad o s à auto rid ade
san itá ria, bem como serã o com unicados po r eles a q u aisq u e r dos s e ­
guintes órgãos: a) a u to rid ad e policial; b) M inistério Público; c) Conselho
M unicipal do Idoso; d) Conselho Estadual do Idoso; e e) Conselho Na­
cional do Idoso. A assertiva foi co n sid era d a correta.
64 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Note-se que não há obrigatoriedade para que seja comunicada a


Defensoria Pública, embora possa ser recomendável.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi p ergu ntad o , no co ncurso de Prom otor de Justiça do Espírito Santo
(M PE-ES/2010 - CESPE), se um a m éd ica, ao a te n d e r um se n h o r com
84 an o s de id a d e , no p ro n to -so co rro de um ho sp ital p ú b lico , o b s e r­
vou um a s é rie de ferim en to s e hem ato m as e s p a lh a d o s p elo corpo
do id o so , 0 que a fez s u s p e ita r de que este v in h a se n d o vítim a de
m au s trato s, e sta d e v e rá , com unicar, o b rig a to ria m e n te , a su sp e ita
de m au s-tra to s a q u a lq u e r um d os ó rgãos legalm ente in d ic a d o s para
re c e b ê -la , q u ais se ja m : 0 MP, a a u to rid a d e p o licial ou o s co nselho s
m u n icip al ou e sta d u a l do id o so ou, a in d a , 0 Co nselho N acional do
Idoso.
OBS.: Questão sim ila r foi perguntada no concurso de Analista Legislativo
(Consultor Legislativo - Câm ara d os Deputados/2014 - CESPE).

A notificação compulsória dos casos de suspeita ou violência pra­


ticada contra idoso deverá obedecer, no que couber, 0 disposto na
Lei n° 6.259/75.

Como menciona 0 El, essa notificação será aplicada no que cou­


ber ao previsto na Lei n° 6.259/75, que dispõe sobre a organização
das ações de Vigilância Epidemiológica, sobre 0 Programa Nacional
de Imunizações, e estabelece normas relativas à notificação com­
pulsória de doenças, além de outras providências. Por esta razão,
trata-se de obrigação a notificação compulsória do médico nos casos
mencionados no referido artigo, em razão da aplicação integrada
da Lei n° 6.259/75, em especial 0 art. 8o, caput (É dever de todo ci­
dadão comunicar à autoridade sanitária local a ocorrência de fato,
c o m p ro v a d o ou p re su m íve l, d e c a so d e d o e n ç a tra n sm issíve l, s e n d o
obrigatória a médicos e outros profissionais de saúde no exercício
da profissão, bem como aos responsáveis por organizações e esta­
belecimentos públicos e particulares de saúde e ensino a notificação
de casos suspeitos ou confirmados das doenças relacionadas em
conformidade com 0 artigo 7°).
Para efeitos do Estatuto do Idoso, considera-se violência contra
0 idoso qualquer ação ou omissão praticada em local público ou pri­
vado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico
(art. 19, § 10, do El).
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 65

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso de Defensor Público do Am azonas - FCC -
2013, como 0 Estatuto do Idoso define a vio lência contra 0 idoso
(art. 19, § 10, do Estatuto do Idoso)

2.1.4.1. 0 idoso e a prática da boa morte


Situação complexa ocorre quando 0 idoso se autonegligência, ou
seja, através de sua própria conduta, 0 idoso ameaça sua própria
saúde e bem-estar, recusando-se a prover os cuidados necessários a
si mesmo. 0 idoso lúcido e capaz pode optar em viver dessa forma,
0 que, em tese, poderá impedir a atuação de órgãos da rede de pro­
teção ao idoso, em homenagem aos princípios da proporcionalidade
e da mínima intervenção do Estado nas relações particulares.
Pode 0 idoso optar em não realizar qualquer tratamento mé­
dico? Estará dispondo dessa forma aos direitos fundamentais da
saúde e da vida? Legitima-se no Brasil a prática da boa morte?
A Resolução n° 1.805/06 do Conselho Federal de Medicina regula­
mentou a ortotanásia, assim prevendo:
"Art. i ° É perm itid o ao m édico lim ita r ou su sp e n d e r p roce­
d im entos e tratam entos que prolonguem a v id a do d o e n ­
te em fase term in al, de e n ferm id a d e grave e incurável,
re sp e itad a a vo ntade da pesso a ou de seu rep resen tante
legal.

§ i ° 0 m édico tem a o brigação de e sc la re ce r ao doente


ou a seu rep resen tante legal as m o d a lid a d e s terapêuticas
a d e q u a d a s para cada situação.

§ 2° A d ecisão referid a no caput deve s e r fundam entada e


registrada no prontuário.

§ 3o É assegu rad o ao doente ou a seu rep resentante legal 0


d ireito de so licita r uma segunda o pinião m édica."

Sobre a questão 0 art. 41 e seu parágrafo único do Código de


Ética Médica dispõe:
"A breviar a v id a do paciente, ain da que a ped ido d este ou
de seu rep resen tante legal.

Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e term inal,


deve 0 m édico oferecer todos os cuidado s paliativo s d isp o ­
66 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

n íveis sem em p re e n d e r ações diagnosticas ou terapêuticas


inúteis ou obstin ad as, levand o sem pre em co nsid eração a
vontade expressa do paciente ou, na sua im p o ssib ilid ad e , a
de seu rep resen tante legal".

Ainda sobre a ortotanásia, a Resolução n° 1.995/2012, emanada


pelo Conselho Federal de Medicina, regulamentou as diretivas ante­
cipadas de vontade (conhecida como testamento vital), consistindo
no conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo
paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber
no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e auto-
nomamente, sua vontade.
0 tema provoca discussão em razão do paciente idoso, pois é
natural que a aproximação do final da vida acentua a preocupação
com a morte. Assim, nessas situações, busca-se 0 bem-estar do ido­
so, do conforto da qualidade de vida, sobrepondo-se a um eventual
tratamento inapropriado.

2.I.4.2. Direito à saúde do idoso deficiente


Os idosos com deficiência ou com limitação incapacitante terão
atendimento especializado, conforme dispuser a lei (art. 15, § 40,
do El).
0 art. 25, "b" da Convenção Internacional sobre os Direitos da
Pessoa com Deficiência (aprovada pelo Decreto Legislativo n° 186/08
e promulgada pelo Decreto Presidencial n° 6.949/09), estabelece que:
"Saúde

Os Estados Partes reconhecem que as pesso as com d eficiên ­


cia têm 0 d ireito de gozar do estado de saú d e m ais elevad o
po ssível, sem d iscrim inação b a sead a na deficiência. Os Es­
tados Partes tom arão to das as m edid as a p ro p ria d a s para
a sseg u rar às pesso as com deficiência 0 acesso a serviços
de saú d e , incluindo os serviço s de re a b ilitaçã o , que levarão
em conta as e sp ecificid a d es de gênero. Em e sp ecial, os Es­
tados Partes: (...)

b) P ro piciarão serviço s de saú d e que as pesso as com d efi­


ciên cia necessitam especificam ente po r causa de sua d efi­
ciên cia, inclusive diagnóstico e intervenção precoces, bem
como serviço s projetad o s p a ra re d u zir ao m áxim o e p re ­
v e n ir d eficiên cias ad icio n a is, inclusive en tre cria n ç a s e id o ­
so s;" (grifo do autor).
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 67

0 conceito de deficiência pode ser extraído do disposto no art. 3°,


do Decreto n° 3*298/99, que regulamentou a Lei n° 7.853/89:
"I - deficiência - toda perda ou anormalidade de uma
estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica
que gere incapacidade para 0 desempenho de ativida­
de, dentro do padrão considerado normal para 0 ser
humano;
II - deficiência permanente - aquela que ocorreu ou se es­
tabilizou durante um período de tempo suficiente para não
permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere,
apesar de novos tratamentos; e
III - incapacidade - uma redução efetiva e acentuada da
capacidade de integração social, com necessidade de
equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais
para que a pessoa portadora de deficiência possa receber
ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar
pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser
exercida.".
0 conceito de pessoa com deficiência recebeu uma conotação
mais ampla na Convenção de Guatemala (Convenção Internacional
Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência), ratificada pelo Brasil
através do Decreto n° 3.956/01, conforme 0 preâmbulo "e":
"Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução
e que a deficiência resulta da interação entre pessoas com
deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente
que impedem a plena e efetiva participação dessas pes­
soas na sociedade em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas,".
já a limitação incapacitante, embora possa ser compreendida
dentro do contexto da definição de deficiência, deve-se fazer a dis­
tinção, pois 0 legislador referiu-se ao conceito como diverso da
deficiência. Assim, a limitação incapacitante, na lição de MARGARI­
DA ARAÚjO SEABRA DE MOURA, "é a limitação decorrente de enfer­
midades características do envelhecer que, sem se constituir uma
deficiência propriamente - por não estar diagnosticada como tal -,
implica algum impedimento, como por exemplo, a hipótese de ar-
trose. Mal de Parkinson, dentre outras." (AZEVEDO, Vitor Emanuel
de Medeiros. In: PINHEIRO, Naide Maria (Coord.). Estatuto do Idoso
comentado, p. 256).
68 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Não se faz necessária, embora não exista, uma legislação es­


pecífica sobre a saúde do idoso com deficiência, pois todas as
legislações acima mencionadas referem-se a todas as faixas etárias
sem qualquer ressalva, ou seja, as legislações acima incluem o ido­
so deficiente.

2.1.5. Educação, cultura, esporte e lazer


0 art. 20 do El prevê outros direitos ao idoso:

r iCULTURA

L J
rr RO DU TO S
1! ]
J
SER VIÇO S

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Defensor Público do Tocantins (DP/TO/2013 - CESPE), foi
perguntado, com base no Estatuto do idoso, se é d e ve r do Estado e da
so cied ad e asse g u rar à pessoa idosa 0 d ireito à lib e rd a d e , que com ­
preen d e, entre outros asp ecto s, a prática de espo rtes e de d iversõ es,
resp e itad a s as p e cu lia rid a d e s e co ndições em d eco rrên cia da id a d e.
0 item está correto.

0 Estado possui 0 dever de fomentar 0 esporte, previsto cons­


titucionalmente, como direito de cada um, conforme reza o art. 217
da CF:
"É d e ve r do Estado fom entar práticas d e sp o rtivas form ais
e não -fo rm ais, como d ireito de cada um, o b servado s: (...)"
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 69

►Atenção!
Não há no El q u alq u er v e d açã o legal para que os ido so s pratiquem
esp o rte s ra d ic a is.

Embora a Carta Cidadã não traga de forma expressa o direito da


educação voltada ao idoso, há a garantia do direito à educação a
todos, conforme prevê o art. 205, caput, da CF:
"A educação, direito de todos e d e ve r do Estado e da fa ­
m ília, será prom ovida e incentivad a com a co lab o ração da
so cied ad e, visand o ao pleno d esenvolvim ento da pessoa,
seu p rep aro para 0 exercício da cid a d a n ia e sua q u alifica ­
ção para 0 trabalho ."

Já 0 El, em seu art. 21, garante tal direito ao idoso, alinhando-se


ao Texto Constitucional.
0 Poder Público deverá criar oportunidades de acesso do idoso
à educação, adequando currículos, metodologias e material didático
aos programas educacionais a ele destinados.
Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal se­
rão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento,
ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar 0 precon­
ceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.
A Lei n° 13.535/17 alterou 0 El em seu art. 25, determinando que as
instituições de educação superior deverão ofertar às pessoas idosas,
na perspectiva da educação ao longo da vida, cursos e programas
de extensão, presenciais ou a distância, constituídos por atividades
formais e não formais.
0 art. 25, parágrafo único, estabelece que 0 poder público apoia­
rá a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e in­
centivará a publicação de livros e periódicos de conteúdo e padrão
editorial a d e q u a d o s a o id o so , q u e facilitem a leitura, c o n sid e ra d a a
natural redução da capacidade visual.
0 direito à cultura deve ser garantido pelo Estado, consoante
disposto no art. 215 da CF:
"0 Estado garan tirá a todos 0 pleno exercício dos direito s
culturais e acesso às fontes da cultura nacio nal, e ap o iará
e incentivará a va lo riza çã o e a difusão d as m anifestações
culturais."
70 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Por sua vez, o art. 23 do El estabelece a previsão normativa sobre


0 referido direito:

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça da Bahia (M P/BA/2015 - CEFET),
foi perguntada a seguinte assertiva: A participação d os ido so s em ati­
vid a d e s culturais e de la ze r será p rop orcio nada m ediante descontos
de pelo m enos cinquenta e 5 % (cinco po r cento) nos ingressos para
eventos artísticos, culturais, espo rtivos e de lazer, bem como 0 acesso
preferen cial aos respectivos lo cais. A a ssertiva foi co n sid era d a e rra d a .

0 acesso preferencial ao idoso deve ser compreendido à luz da


análise do art. 114, do El; art. i ° da Lei n° 10.048/00; e art. 6<> do Decre­
to n° 5.296/04, compreendendo a facilitação de compra de ingressos
e t a m b é m o a c e s s o a o lo c a l ( liv r e c ir c u la ç ã o c o m s e g u r a n ç a e a u t o ­
nomia), quando houver eventos ou atividades culturais, esportivas
e de lazer.
Os meios de comunicação manterão espaços ou horários espe­
ciais voltados aos idosos, com finalidade informativa, educativa, ar­
tística e cultural, e ao público sobre 0 processo de envelhecimento.

2.1.6. Da profissionalização e do trabalho


0 direito ao trabalho está elencado na Carta Magna como um dos
direitos sociais (art. 6° da CF).
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 71

A Resolução no 46/91, d a O rganização d as Nações U nidas - ONU,


já m en cio n ada no início d a o b ra, estab e le ceu p rin c íp io s b á sico s que
elevem s e r ad o tad o s em re la ção ao id o so , a s e r d estacad o s:

"(...) 2-) Ter o po rtun id ad e de tra b a lh a r ou te r acesso a ou­


tras form as de geração de rendim entos.

3- ) Poder d eterm in a r em que m omento d eve se a fa star do


m ercado de trabalho.

4- ) Ter acesso a educação perm anente e a program as de


qualificação e req ualificação profissional.

( ...)

8-) A p ro veitar as o po rtun id ad es para prestar serviço s a


co m unidade, trabalhand o como vo lu ntário , de aco rdo com
seus interesses e cap acid ad es."

Por sua vez, 0 art. 26 do El garante ao idoso tanto 0 direito ao


trabalho quanto 0 direito à profissionalização.
0 idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respei­
tadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas.
A expressão atividade profissional deve alcançar quaisquer mo­
dalidades de trabalho, seja ele de natureza privada ou pública, su­
bordinado ou autônomo, urbano, rural, avulso, intelectual, técnico,
temporário, voluntário, religioso ou integral.
Na admissão de qualquer trabalho ou emprego pelo idoso, não
é permitida a discriminação e a fixação de limite máximo de idade,
inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza
do cargo 0 exigir.
A vedação de natureza discriminatória possui previsão constitu­
cional no art. 70, inc. XXX, da CF:

"p r o ib iç ã o d e d ife re n ç a d e s a lá r io s , d e e x e rcíc io d e fu n ç õ e s e d e crité rio d e


a d m is s ã o p o r m o tiv o d e se x o , id a d e , c o r o u e s t a d o c iv il;"

Sobre 0 tema o STF editou a Súmula 683:


"0 lim ite de id a d e para a inscrição em concurso público só
se legitim a em face do art. 7°, XXX, da Constituição, quando
possa s e r justificado pela natureza d as atrib uiçõ es do cargo
a s e r preenchido."
72 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Por sua, vez o art. i°, da Lei 9.029/95, que proíbe práticas discri­
minatórias na relação jurídica de trabalho, estabelece que:
"É proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e
limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou
de sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor,
estado civil, situação familiar, deficiência, reabilitação pro­
fissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso, as
hipóteses de proteção à criança e ao adolescente previstas
no inciso XXXIII do art. 7° da Constituição Federal."
Portanto, a garantia do trabalho do idoso deve ser compatibili­
zada com as tarefas e atividades a serem desenvolvidas e as condi­
ções físicas, intelectuais e psíquicas próprias do idoso. Por tal razão,
0 trabalho do idoso não poderá ser penoso, insalubre ou desempe­
nhado com alta carga de pressão psicológica, sob pena de atentar
contra os direitos dos trabalhadores idosos.
A condição de idoso não pode servir como impedimento para 0
exercício de algum trabalho ou ingresso em concurso público, salvo
se em razão da natureza de suas atividades, exigirem dispêndio de
energia que só será encontrada em algumas faixas etárias.

Já d e c id iu 0 STF q u e é p o s s ív e l e x is t ir um f a t o r d is c r im in a t ó r io , ta n to no s e t o r
p r iv a d o , c o m o no s e t o r p ú b lic o , d e s d e q u e h a ja ju s t if ic a t iv a e p r o p o r c io n a lid a d e
r e la c io n a d o s c o m a a t iv id a d e a s e r d e s e n v o lv id a , o u s e ja , 0 q u e s e v e d a é q u e
s e ja e s t a b e le c id a u m a discriminação infundada. (RM S 210 4 6 , R e la t o r(a ): M in . SE-
PÚLVEDA PERTENCE, T rib u n a l P le n o , ju lg a d o e m 1 4 /1 2 /1 9 9 0 , DJ 1 4 - 1 1 - 1 9 9 1 P P -16 3 5 6
EMENT V O L -0 16 4 2 -0 1 PP-OOO63 RTJ V O L -0 0 13 5 -0 2 PP -0 0528 ).

0 TRT d a 2 1 a R e g iã o (R N ) d e c id iu e m a ç ã o c iv il p ú b lic a p r o p o s t a p e lo MPT, e m u m a


q u e s t ã o q u e e n v o lv e u a d e m is s ã o e m m a s s a d e t r a b a lh a d o r e s , q u e h á d is c r im i­
n a ç ã o s e a s d e m is s õ e s d ir e c io n a m , s e m c r it é r io s , a g ru p o s d e e m p r e g a d o s m a is
id o s o s (TRT 2 1 a R e g iã o - Rio G r a n d e d o N o rte - P ro c. RO 2 7 -5 7 8 6 -9 9 , R ei. Ju íza M a ria
d e L o u rd e s A lv e s L e ite , DJ-RN 5 /2 /2 0 0 3 ).

\ Cuidado!
A d iscrim inação não se d ará som ente na ad m issão do trabalho , mas
tam bém durante todo 0 seu desenvolvimento, bem como no término
da relação trabalhista ou estatutária.

A Convenção n. 111 da Organização Internacional do Trabalho -


OIT-, incorporada no ordenamento jurídico pátrio através do Decreto
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 73

Legislativo n° 104/64 e ratificada pelo Decreto n° 62.150/68, definiu no


art. i°, itens 1 e 2, 0 que se entende por discriminação em matéria
de emprego ou ocupação 0 seguinte:

1 . P a ra o s f in s d a p r e s e n te c o n v e n ç ã o 0 te r m o " d is c r im in a ç ã o " c o m p r e e n d e :
a ) to d a d is t in ç ã o , e x c lu s ã o o u p r e f e r ê n c ia f u n d a d a n a r a ç a , co r, se x o , r e lig iã o ,
o p in iã o p o lít ic a , a s c e n d ê n c ia n a c io n a l o u o rig e m s o c ia l, q u e t e n h a p o r e fe ito
d e s t r u ir o u a lt e r a r a ig u a ld a d e d e o p o r t u n id a d e o u d e tr a ta m e n to e m m a t é r ia
d e e m p re g o o u p r o fis s ã o ;
b ) q u a lq u e r o u t ra d is t in ç ã o , e x c lu s ã o o u p r e f e r ê n c ia q u e te n h a p o r e fe ito d e s ­
t r u ir o u a lt e r a r a ig u a ld a d e d e o p o r t u n id a d e s o u t ra ta m e n to e m m a t é r ia d e
e m p re g o o u p r o fis s ã o q u e p o d e r á s e r e s p e c if ic a d a p e lo M e m b ro in t e r e s s a d o
d e p o is d e c o n s u lta d a s a s o r g a n iz a ç õ e s r e p r e s e n t a t iv a s d e e m p r e g a d o r e s e t r a ­
b a lh a d o r e s , q u a n d o e s t a s e x is ta m , e o u tro s o r g a n is m o s a d e q u a d o s .
2. A s d is t in ç õ e s , e x d u s õ e s o u p r e f e r ê n c ia s f u n d a d a s e m q u a lif ic a ç õ e s e x ig id a s
p a r a um d e t e r m in a d o e m p r e g o n ã o s ã o c o n s id e r a d a s c o m o d is c r im in a ç ã o .

Já d e c id iu 0 TST q u e se a d is p e n s a d o t r a b a lh o o c o r r e r p o r q u e s t õ e s d is c r im i­
n a t ó r ia s , a d is p e n s a é n u la d e p le n o direito, n ã o g e r a n d o e fe ito , t e n d o co m o
c o n s e q u ê n c ia ju r íd ic a a c o n t in u id a d e d a r e la ç ã o d e e m p re g o , e fe t iv a a t r a v é s d a
r e in te g r a ç ã o . (TST, ED-RR 46 28 8 8 -5 6 .19 9 8 .5 .0 9 .5 5 5 5 , 5» T. R ei. ju iz C o n v o c a d o A n d ré
L u iz M o r a e s d e O liv e ir a , ju lg a m e n t o e m 10 .0 9 .20 0 3).

A in d a 0 TRT d a 9 ° R e g iã o , já d e c id iu q u e d is p e n s a d is c r im in a t ó r ia e m r a z ã o d a
id a d e , a lé m d a r e in te g r a ç ã o , e n s e ja a in d e n iz a ç ã o p o r danos morais (TRT - 90
R e g iã o , RO 0 5 7 4 9 -2 0 0 1-0 14 -0 9 -0 0 -6 , R ei. Ju iz C é lio H o rst W a ld ra ff)

0 Estatuto do Idoso assegura que 0 primeiro critério de desem­


pate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de
idade mais elevada.
0 ordenamento jurídico pátrio prevê outra situação de prefe­
rência ao idoso, como critério de desempate, no art. 110 do Código
Eleitoral: "Em caso de empate, haver-se-á por eleito 0 candidato
mais idoso.".

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso p ara Defensor Público da Bahia (MP/BA/2010 - Cespe) foi
perguntada a seguinte assertiva: 0 prim eiro critério de desem pate
em concurso público deve se r 0 de id a d e , d an d o -se preferência ao
can didato de id a d e m ais elevad a. Assertiva foi co n sid era d a correta. 0
art. 27, parágrafo único, do E.l.
74 Estatuto do idoso - vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Cuidado!
0 STF já decidiu que 0 Estatuto do Idoso, po r se r lei geral, não se aplica
como critério de desem p ate, no concurso público de rem oção para ou­
torga de delegação notarial e de registro, porque existente lei estadual
específica regulad o ra do certam e, a tra ta r d as regras a p licáve is em
caso de em pate. (MS 33046/PR, rei. Min. Luiz Fux, 10.3.2015).

Estímulos e criação de programas:

- p r o f is s io n a liz a ç ã o e s p e c ia liz a d a p a ra os id o s o s ,
a p r o v e it a n d o s e u s p o t e n c ia is e h a b ilid a d e s p a r a a t i­
v id a d e s r e g u la r e s e r e m u n e r a d a s ;

- p r e p a r a ç ã o d o s t r a b a lh a d o r e s p a r a a a p o s e n t a d o ­
0 Poder Público
r ia , co m a n t e c e d ê n c ia m ín im a d e 1 (u m ) a n o , p o r
criará e estimulará
m e io d e e s tím u lo a n o v o s p r o je t o s s o c ia is , c o n fo rm e
programas de:
s e u s in t e r e s s e s , e d e e s c la r e c im e n to s o b r e o s d ir e i­
to s s o c ia is e d e c id a d a n ia ;

- e s tím u lo à s e m p r e s a s p r iv a d a s p a r a a d m is s ã o d e
id o s o s a o t r a b a lh o .

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso público de Defensor Público do M aranhão
(DP/M A/2011 - CESPE), com base no Estatuto do Idoso, se na adm issão
do ido so em q u alq u e r trabalho ou em prego, é v e d ad a a discrim inação
e a fixação de lim ite m áxim o de id a d e , ressalvad o s os casos em que a
natureza do cargo 0 exigir.

0 disposto no art. 28, inc. II do El, difere do art. 10, inc. IV, c, da
Lei 8.842/94. No El 0 tempo de preparação é de um ano, enquanto
na outra norma 0 prazo de preparação antes de efetivar-se a apo­
s e n ta d o ria s e ria d e 2 anos. No El a preparação há o estímulo a no­
vos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento
sobre os direitos sociais e de cidadania, enquanto na outra norma
indicava apenas a preparação para a aposentadoria nos setores pú­
blico e privado.

2.1.7. Direito à previdência social


0 art. 6o da CF preconiza a previdência social como direito social,
além do art. 70, reconhecer a aposentadoria como direito do traba­
lhador (inc. XXIV).
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 75

Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da


Previdência Social observarão, na sua concessão, critérios de cálculo
que preservem o valor real dos salários sobre os quais incidiram
contribuição, nos termos da legislação vigente.
Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados na
mesma data de reajuste do salário-mínimo, pro rata, de acordo com
suas respectivas datas de início ou do seu último reajustamento,
com base em percentual definido em regulamento, observados os
critérios estabelecidos pela Lei 8.213/91.
A perda da condição de segurado não será considerada para a
concessão da aposentadoria por idade, desde que a pessoa conte
com, no mínimo, 0 tempo de contribuição correspondente ao exigido
para efeito de carência na data de requerimento do benefício.
0 cálculo do valor do benefício da aposentadoria por idade ob­
servará 0 disposto no caput e § 2° do art. 30 da Lei n° 9-876/99/ ou,
não havendo salários-de-contribuição recolhidos a partir da compe­
tência de julho de 1994, 0 disposto no art. 35 da Lei n° 8.213/91.
Segundo 0 El, 0 pagamento de parcelas relativas a benefícios,
efetuado com atraso por responsabilidade da Previdência Social, se­
rá atualizado pelo mesmo índice utilizado para os reajustamentos
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, verificado no
período compreendido entre 0 mês que deveria ter sido pago e 0
mês do efetivo pagamento (art. 31 do El).
0 Dia Mundial do Trabalho, 1° de Maio, é a data-base dos aposen­
tados e pensionistas, conforme prevê 0 art. 32 do El.

2.1.8. Direito à assistência social


A se g u rid a d e so cial possui d efin içã o no a rt. 19 4 d a CF:

A seguridade social c o m p r e e n d e um c o n ju n to in te g ra d o d e a ç õ e s d e in ic ia tiv a


d o s P o d e r e s P ú b lic o s e d a s o c ie d a d e , d e s t in a d a s a a s s e g u r a r o s d ir e it o s r e la t i­
v o s à s a ú d e , à p r e v id ê n c ia e à a s s is t ê n c ia s o c ia l.

Por su a vez, a a ssistê n cia so cial está o rg an izad a sob as d ire triz e s
d a d e sce n tra liza çã o p o lítico -ad m in istrativ a, além d a p a rticip a ção po ­
pular, conform e a rt. 204, inciso s I e II d a CF.

Já a Lei n ° 8.742/93 (Lei d a A ssistê ncia Social - LOAS) regulam entou


as d isp o siçõ e s co n stitucio n ais re feren te s à assistên cia so cial.
76 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Como regra geral, a assistência social tem por objetivos:

OBJETIVOS GERAIS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

- a proteção à família, - a promoção da


à maternidade, à integração ao mercado
infância, à adolescência de trabalho;
e à velhice;

- a garantia de um salário
mínimo de benefício mensal á
■ a habilitação e reabilitação
pessoa portadora de deficiência
das pessoas portadoras de
e ao idoso que comprovem não
deficiência e a promoção de
possuir meios de prover è
sua integração à vida
própria manutenção ou de tê-la
comunitária; provida por sua família,
conforme dispuser a lei.

► Atenção!
A assistência social será prestada independente de contribuição à se­
guridade social.

Ainda a LOAS (Lei 8.742/93), em seu art. 2®, incisos II e III, estabe­
lece como objetivos da assistência social:
a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorial­
mente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de
vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos;
a defesa de direitos, que visa a garantir 0 pleno acesso aos
direitos no conjunto das provisões socioassistenciais.
Organiza-se a assistência social pelos seguintes tipos de proteção:
I - proteção social básica: conjunto de serviços, programas,
projetos e benefícios da assistência social que visa a pre­
venir situações de vulnerabilidade e risco social por meio
do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários;
conjunto de serviços, progra­
II - proteção social especial:
mas e projetos que tem por objetivo contribuir para a re­
construção de vínculos familiares e comunitários, a defesa
de direito, 0 fortalecimento das potencialidades e aquisi­
ções e a proteção de famílias e indivíduos para 0 enfrenta-
mento das situações de violação de direitos.
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 77

No El a configuração da assistência social aos idosos é a seguinte:

A assistência social será gerida pelo Sistema Único de Assistência


Social (SUAS), o qual integra todos os entes federativos, através dos
Conselhos de Assistência Social e pelas entidades e organizações de
assistência social.
0 art. 195 da CF prevê que as ações assistenciais serão realizadas
com os recursos do orçamento da seguridade social, ressalvadas a
possibilidade de criação de outras fontes.
As entidades de longa permanência, ou casa-lar, serão obrigadas a
firmar contrato de prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada.
A participação do custeio da entidade filantrópica não poderá
exceder a 70% (setenta por cento) de qualquer benefício previden-
ciário ou de assistência social percebido pelo idoso, valor a ser esta­
belecido pelo Conselho Municipal do Idoso ou 0 Conselho Municipal
da Assistência Social.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Promotor de justiça da Bahia (MP/BA/2015 - CEFET), foi
elaborada a seguinte assertiva: Todas as entidades de longa perm anência
ou casa-lar são obrigadas a firm ar contrato de prestação de serviços com
a pessoa idosa abrigada e, para as de natureza filantrópica, é facultada
a cobrança de participação do idoso no custeio da entidade. Contudo,
0 Conselho Municipal do Idoso ou 0 Conselho Municipal da Assistência
Social estabelecerá percentual que não poderá exceder a 70 % (setenta
por cento) de qualquer benefício previdenciário ou de assistência social
percebido pelo idoso. A assertiva foi considerada como correta.
78 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

Caso 0 idoso seja incapaz, o contrato será firmado junto ao seu


representante legal.

I Atenção!
Os contratos de prestação de serviço po r e n tid ad es de longa p erm a ­
nência ou casa -la r, em razão da v u ln e ra b ilid a d e em que se encontra 0
idoso, ap lica-se 0 Código de Defesa do Consumidor.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Analista Legislativo (Consultor Legislativo - Câmara dos
Deputados/2014 - Cespe) foi elaborada a seguinte assertiva: Conforme
0 Estatuto do Idoso, as entidades de longa permanência devem firmar
contrato de prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada, ou
com 0 seu representante legal, caso 0 idoso seja considerado incapaz.
A assertiva foi considerada correta. Art. 35 do E.l.

No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é facultada a co­


brança de participação do idoso no custeio da entidade.

I Atenção!
0 El autoriza a cobrança facultativa apenas na d eno m inada casa-lar.

0 art. 30, parágrafo único V, do El, garante a priorização do atendi­


mento do idoso por sua própria família, em prejuízo do atendimento
asilar. Excetuam-se as situações em que os idosos não possuam ou
careçam de condições de manutenção de sua própria subsistência.
Assim, há duas modalidades de atendimento ao idoso: asilar e
não-asilar.
Por modalidade asilar compreende o atendimento, em regime de
internato, ao idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover
à própria subsistência de modo a satisfazer as suas necessidades
de moradia, alimentação, saúde e convivência social. Ocorrem nos
casos em que há inexistência do grupo familiar, abandono, carência
de recursos financeiros próprios ou da própria família.

^ Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público da Bahia (MP/BA/2010 - CESPE), foi
elab o rad a a seguinte assertiva: Entende-se po r m odalidade a sila r 0
atendim ento, em regime de internato, ao idoso sem vínculo fam iliar ou
sem condições de prover a própria subsistência, de modo a satisfazer as
suas necessidades de m oradia, alim entação, saú de e convivência social.
A assertiva foi co nsid erada correta. Art. 3°, caput, Decreto n° 1.948/96.
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 79

Nas in stitu içõ es a s ila re s d e c a rá te r so cial é p ro ib id a a p e rm a n ê n ­


cia de p o rta d o re s de d o en ças que n ecessitem de assistê n cia m éd ica
ou de enferm agem p e rm an en te (art. 40, parágrafo único d a Lei n°
8.842/1994).

No m esm o sen tido 0 a rt. 18 do Decreto Fe d e ra l n° 1.9 4 8 /19 9 6 , que


p o r sua vez, esclare ce: "Fica p ro ib id a a p erm an ên cia em instituições
a s ila re s, de c a rá te r so cial, de id o so s p o rtad o res de d o en ças que exi­
jam assistên cia m éd ica pe rm anente ou de assistên cia d e enferm agem
intensiva, cuja falta possa a g ra v ar ou por em risco su a v id a ou a v id a
de terceiro s.". Em com plem entação, 0 parágrafo único do m en cio na­
do artigo d isp õ e que: "A p erm an ên cia ou não do id o so d oente em
instituições a sila re s, de c ará te r social, d e p e n d e rá d e a v a lia çã o m é d i­
ca p re sta d a pelo se rv iço de sa ú d e local.", (grifo do autor).

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Acre (DP/AC/2012 - CESPE) foi
perguntado, a respeito da PNI, se a lei não permite a permanência, em
instituições asilares de caráter social, de idoso portador de doença
que exija assistência médica contínua. 0 item foi considerado correto.

Por modalidade não-asilar de atendimento, segundo previsão do


Decreto 1.948/96 (art. 4°), entendem-se:

I - Centro de Convivência: lo c a l d e s t in a d o à p e r m a n ê n c ia d iu r n a d o id o s o , o n d e
s ã o d e s e n v o lv id a s a t iv id a d e s f ís ic a s , la b o r a t iv a s , r e c r e a t iv a s , c u lt u r a is , a s s o c ia ­
t iv a s e d e e d u c a ç ã o p a r a a c id a d a n ia ;

II - Centro de Cuidados Diurno: H o s p ita l-D ia e C e n tr o -D ia - lo c a l d e s t in a d o à p e r ­


m a n ê n c ia d iu r n a d o id o s o d e p e n d e n t e o u q u e p o s s u a d e f ic iê n c ia t e m p o r á r ia e
n e c e s s ite d e a s s is t ê n c ia m é d ic a o u d e a s s is t ê n c ia m u lt ip r o f is s io n a l;

III - Casa-Lar: r e s id ê n c ia , e m s is t e m a p a r t ic ip a t iv o , c e d id a p o r in s t it u iç õ e s p ú b li­


c a s o u p r iv a d a s , d e s t in a d a a id o s o s d e t e n t o r e s d e r e n d a in s u f ic ie n t e p a r a s u a
m a n u t e n ç ã o e s e m f a m ília ;

IV - Oficina Abrigada de Trabalho: lo c a l d e s t in a d o a o d e s e n v o lv im e n t o , p e lo id o ­


s o , d e a t iv id a d e s p ro d u tiv a s , p ro p o r c io n a n d o -lh e o p o r t u n id a d e d e e le v a r su a
r e n d a , s e n d o r e g id a p o r n o r m a s e s p e c íf ic a s ;

V - atendimento domiciliar: é 0 s e r v iç o p r e s t a d o a o id o s o q u e v iv e só e s e ja
d e p e n d e n t e , a fim d e s u p r ir a s s u a s n e c e s s id a d e s d a v id a d iá r ia . E ss e s e r v iç o é
p r e s t a d o e m s e u p r ó p r io la r, p o r p r o f is s io n a is d a á r e a d e s a ú d e o u p o r p e s s o a s
d a p r ó p r ia c o m u n id a d e ;

VI - outras formas de atendimento: in ic ia t iv a s s u r g id a s n a p r ó p r ia c o m u n id a d e ,


q u e v is e m à p ro m o ç ã o e à in te g ra ç ã o d a p e s s o a id o s a n a f a m ília e n a s o c ie d a d e .
80 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Para todos os efeitos legais, o idoso acolhido em situação de


risco social, por adulto ou núcleo familiar, estará caracterizada a
dependência econômica (exemplo: dedução de imposto de renda
da família que acolhe 0 idoso). Trata-se de previsão do art. 36 do El.
De acordo com a redação do aludido dispositivo, pode-se ques­
tionar se 0 idoso acolhido em situação de risco social passa a ser
dependente econômico para fins de dependência econômica previ-
denciária, estabelecendo um possível conflito aparente de normas.
Contudo, a questão resolve-se pelo critério da especialidade. A pre­
visão do Estatuto do Idoso é genérica, enquanto a lei de benefícios
da previdência social é especial.
Ainda, sobre a assistência social aos idosos, importante a Porta­
ria n° 73/2001 da Secretária de Estado de Assistência Social que es­
tabelece normas de funcionamento de serviços de atenção ao idoso
no Brasil.
A Portaria traz em seu bojo diversas definições e esclarecimentos
sobre as normas de funcionamento de serviços de atenção ao idoso
no Brasil, nas modalidades previstas na Política Nacional do Idoso.
Segue alguns esclarecimentos importantes contidos na Portaria
MPAS/SEAS no 73/2001:
"Atendim ento integral institucional - é aquele prestado em
um a instituição a silar, prio ritariam ente aos ido so s sem fam í­
lias, em situação de v u ln e ra b ilid a d e , o ferecen do -lhes se r­
viço s nas á re a s so cial, psicológica, m édica, de fisio te rap ia ,
de te ra p ia o cupacio nal, de enferm agem , de odontologia e
outras ativid a d e s especificas para este segm ento social".

Ainda especifica a referida portaria que:


"Tratam -se de estabelecim ento com d enom inações d iv e r­
sas, co rrespo nd entes aos lo cais físicos eq u ip ad o s para
ate n d e r pesso as com 60 anos e m ais, sob regim e de in ­
ternato, m ediante pagam ento ou não, durante um p e río ­
do indeterm inado e que d ispõ e de um quadro de recursos
hum anos para ate n d e r às n ecessid ad es de cuidado s com
assistência, saú d e , alim en tação higiene, repouso e la zer
dos usu ário s e d ese n vo lve r outras ativid a d e s que garantam
q u alid a d e de vid a . São exem plos de denom inações: abrigo,
asilo, lar, casa de repouso, clínica geriátrica e ancianato.
Estes estabelecim entos po derão s e r classificado s segundo
as m o d a lid a d es, o bservand o a e sp ecialização de a te n d i­
m ento" (grifo do autor).
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 81

A modalidade II de atendimento integral institucional, nos termos


especificados na Portaria:
"É a instituição d estinad a a ido so s d epend entes e in d e p e n ­
dentes que necessitam de auxilio e de cuidado s e sp e c ia li­
zado s e que exijam controle e acom panham ento adeq uado
de p ro fissio nais de saú de. Não serão aceitos ido so s p o rta­
d ores de d ep end ência física acentuada e de doença m ental
incapacitante."

A mencionada Portaria n° 73/2001, ainda trata da denominada


Família Acolhedora:
"É um Program a que oferece co ndições para que 0 idoso
sem fam ília ou im p o ssibilitad o de co nviver com a m esm a,
receba abrigo, atenção e cuidado s de um a fam ília c a d a stra ­
da e cap acitad a para o ferecer este atendim ento. As fam í­
lia s d eve rão s e r cad a stra d as e cap acitad as para oferecer
abrigo às pesso as id o sas em situação de abandono, sem
fam ília ou im p o ssib ilitad a de co nviver com as m esm as. Esse
atendim ento será continuam ente su p ervisio n a d o pelos ó r­
gãos gestores."

Na modalidade acima referida, cada família só poderá receber


um idoso.
Ainda, esclarece a Portaria 73/2001 que:
"A república de id o sos é alternativa de residência para os
ido so s in dep end en tes, organizada em grupos, conform e 0
núm ero de usu ário s, e co -financiada com recursos da a p o ­
sentad o ria, benefício de prestação continuada, renda m en­
sal vitalícia e outras. Em alguns casos a República pode ser
v ia b iliz a d a em sistem a de auto-gestão" (grifo do autor).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso p a ra Defensor Público do Espírito Santo (DP/ES/2012 - CES-
PE), foi perguntado se a m o d alid ad e de atendim ento apo io à pessoa
ido sa inclui a residência em rep ública, im portante alternativa de re­
sidência para ido so s in dep end en tes. Portaria n° 73/2001. 0 item foi
co nsid erado correto.

Atendimento em centro de convivência, também referido em


conformidade com a mencionada Portaria 73/2001: "consiste no
fortalecimento de atividades associativas, produtivas e promocio­
nais, contribuindo para autonomia, envelhecimento ativo e saudável
82 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

prevenção do isolamento social, socialização e aumento da renda


própria. É o espaço destinado à frequência dos idosos e de seus fa­
miliares, onde são desenvolvidas planejadas e sistematizadas ações
de atenção ao idoso, de forma a elevar a qualidade de vida, promo­
ver a participação, a convivência social, a cidadania e a integração
intergeracional".
Os Centros de Convivência poderão ainda usar a rede pública ou
privada de saúde, de educação, de esportes e de cultura.
Também a Portaria 73/2001 esclarece a denominada Assistência
domiciliária/atendimento domiciliário: "é aquele prestado à pessoa
idosa com algum nível de dependência, com vistas a promoção da
autonomia, permanência no próprio domicilio, reforço dos víncu­
los familiares e de vizinhança. Caracteriza-se por ser um serviço
de atendimento público ou privado a domicílio às pessoas idosas
através de um programa individualizado, de caráter preventivo e
reabilitador, no qual se articulam uma rede de serviços e técnicas
de intervenção profissional focada em atenção à saúde, pessoal, do­
méstica, de apoio psicossocial e familiar, e interação com a comuni­
dade. Pode ser de natureza permanente ou provisório, diurno e/ou
noturno, para atendimento de idosos dependentes ou semi-depen-
dentes, com ou sem recursos e mantendo ou não vínculo familiar"
(grifo do autor)

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso de Defensor Público do Acre (DP/AC/2012 -
CESPE), co nsid erando 0 que d ispõ e a Portaria n° 73/2001 com relação
aos m odelos de projetos e program as de atenção à pesso a ido sa no
Brasil, se 0 Atendim ento Integral Institucional não se destina a idosos
po rtado res de doença m ental incapacitante.
OBS.: Na m e sm a lin h a foi q u e s tio n a d o no c o n cu rso D e fe n so r P ú b lico d e
Roraim a (DP/RR/2012 - CESPE).

Entre outros programas previsto na Portaria MPAS/SEAS n° 73/2001,


encontra-se 0 denominado Programa Residência Temporária. 0 men­
cionado programa destina-se a prestação de um serviço em regime
de internação temporária, público ou privado, de atendimento ao
idoso dependente que requeira cuidados biopsicossociais sistemati­
zados, no período máximo de 60 dias.
0 Programa Residência Temporária se faz necessário em razão
de idosos com alta hospitalar sem condições de retorno imediato
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 83

ao seu domicílio e não atende os critérios de elegibilidade para a


assistência domiciliaria, necessitando de cuidados de saúde e sociais
especializados. Ainda na hipótese em que a família e/ou o cuidador
principal se apresenta temporariamente impedidos ou impossibilita­
dos de oferecer os cuidados necessários ao idoso (doenças, faleci­
mento, estresse, dificuldade financeira, etc.).

i Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Paraná (DP/PR/2015 - CESPE),
foi perguntado ela b o ra d o 0 seguinte item : Ao ido so que receba alta
h o sp italar e não atenda aos critério s de eleg ib ilid a d e para a a ssistê n ­
cia d o m icilia r será fo rnecida residência tem p o rária, na m o d alid ad e de
serviço de regim e de internação tem p o rária de atendim ento ao idoso
depend ente que req u eira cuidado s bio p sico sso ciais sistem atizad os. 0
item foi co nsid erad o correto.

2.1.8.1. Benefício de Prestação Continuada (BCP) ao idoso.


0 El prevê no art. 34 0 d en o m in a d o Benefício d e P re stação Con­
tin u a d a (BCP).

0 El dispõe que aos idosos a partir de 65 (sessenta e cinco) anos,


que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la
provida por sua família, é assegurado 0 benefício mensal de 1 (um)
salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social -
Loas (art. 34, caput, do El).
Tal benefício de prestação continuada possui previsão também
no art. 203 da CF e no art. 20 da LOAS:
"0 benefício de prestação continuada é a garantia de um sa­
lário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua
família."
Segundo a LOAS, a família é composta pelo requerente, 0 cônjuge
ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou
0 padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os
menores tutelados, desde que vivam sob 0 mesmo teto.
Para os efeitos da lei é considerado incapaz de prover a ma­
nutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda
mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo.
84 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

0 BCP não pode ser acumulado pelo beneficiário com qual­


quer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime,
salvo os da assistência médica e da pensão especial de natureza
indenizatória.
Ainda a LOAS esclarece que a condição de acolhimento em insti­
tuições de longa permanência não prejudica 0 direito do idoso ou da
pessoa com deficiência ao benefício de prestação continuada.
Por sua vez, o Decreto n° 6.214/07, alterado pelo Decreto n°
8.805/16, regulamenta 0 benefício de prestação continuada da as­
sistência social devido à pessoa com deficiência e ao idoso de que
trata a Lei n° 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e a Lei n° 10.741, de
i ° de outubro de 2003.
De acordo com 0 mencionado Decreto, para 0 reconhecimento ao
benefício, considera-se idoso aquele com idade de sessenta e cinco
anos ou mais (art. 40, inc. I).
Para se habilitar e fazer jus ao benefício 0 idoso deverá
comprovar:
I - contar com sessenta e cinco anos de id a d e ou m ais;

II - renda m ensal bruta fam iliar, d ivid id a pelo núm ero de


seus integrantes, in fe rio r a um quarto do sa lá rio m ínim o; e

III - não p o ssuir outro benefício no âm bito da Seguridade


Social ou de outro regim e, inclusive 0 seguro -desem prego ,
salvo 0 de assistência m édica e a pensão esp ecial de natu­
reza inden izató ria.

A comprovação da condição prevista de não possuir outro bene­


fício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime poderá ser
f e it a m e d ia n t e d e cla ra ç ã o do idoso o u , n o c a s o d e s u a in c a p a c id a d e
para os atos da vida civil, do seu curador.
Para a comprovação da idade do idoso, os seguintes documentos
poderão ser apresentados:
I - certid ão de nascim ento;

II - certid ão de casam ento;

III - certificado de reservista;

IV - carteira de id en tid a d e ; ou

V - carteira de trabalho e p revid ên cia so cial.


Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 85

Na hipótese de idoso brasileiro naturalizado deverão ainda ser


juntados os seguintes documentos:
I - título d e clarató rio de n acio nalid ad e b ra sile ira ; e

II - carteira de id en tid a d e ou carteira de trabalho e p re v i­


d ência social.

► Lembrando!
0 Benefício de Prestação Continuada será concedido ao b rasileiro , n a ­
tu ra liza d o ou nato, que com prove dom icílio e residência no Brasil e
atenda os d em ais req uisito s previstos no El, na LOAS e no Regulam ento.

Pode ser concedido o Benefício de Prestação Continuada inde­


pende da interdição judicial do idoso ou da pessoa com deficiência.
Na hipótese de descumprimento das Leis e do Regulamento, qual­
quer pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, especial­
mente os Conselhos de Direitos, os Conselhos de Assistência Social
e as Organizações Representativas de pessoas com deficiência e de
idosos, poderá provocar a iniciativa das autoridades do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Ministério da Pre­
vidência Social, do INSS, do Ministério Público e órgãos de controle
social, fornecendo-lhes informações sobre irregularidades na aplica­
ção e concessão do benefício.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso de Auditor de Controle (CESPE. TCE-PA. 2016) foi perguntado
se: Aos idosos, com sessenta anos de id ad e ou m ais, que não possuam
m eios para prover sua subsistência é assegurado 0 benefício de um sa ­
lário mínimo m ensal, independentem ente da condição econômica de sua
fam ília, ficando os m em bros da fam ília responsáveis solidariam ente pelas
necessidades do idoso que ultrapassem 0 patam ar de um salário mínimo.
0 item foi co nsid erad o falso.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso público para Defensor Público da Bahia (DPBA/2010 - CES­
PE): foi ela b o ra d a a seguinte assertiva: Considere a seguinte situação
hipotética: João e M aria, m aio res de setenta anos de id a d e , carentes,
moram juntos e não possuem m eios para p ro ver sua subsistência nem
podem tê-la provida po r sua fam ília. A M aria foi assegurado 0 benefício
m ensal de um salário -m ín im o , nos term os da Lei Orgânica da Assistência
Social. Nessa situação, João fica im p edido de receb er 0 m esmo benefí­
cio, d ado 0 não atendim ento, pelo casal, do requisito da renda fam iliar
per capita. A assertiva foi co nsid erada e rra d a . Art. 34, caput, do E.l.
86 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

• Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso de Prom otor de Justiça de Goiás (M P/
GO/2012) se é d ireito da pessoa ido sa 0 benefício m ensal de 1 salário
m ínim o para aq u e le s que, com id a d e igual ou su p e rio r a 60 anos, não
tenham m eios para p ro ver sua subsistência po r si ou p o r sua fam ília.

0 benefício acima referido, já concedido a qualquer membro da


família, não será computado para os fins do cálculo da renda familiar
per capita a que se refere a Loas (art. 34, parágrafo único do El).
0 BCP concedido ao idoso não pode ser contabilizado, no cálculo
da renda familiar 0 benefício assistencial a ser deferido à pessoa com
deficiência, razão pela qual 0 STF reconheceu a inconstitucionalidade
parcial por omissão do parágrafo único do art. 34, parágrafo único do
El, em razão da discriminação indevida (RE 580963 RG, Relator (a): Min.
GILMAR MENDES, julgado em 16/09/2010, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-190
DIVULG 07-10-2010 PUBLIC 08-10-2010 RT V . 100, n. 904, 2011, p. 131-133).

STF - 0 M in. G ilm a r M e n d e s a lu d iu q u e a C o rte d e v e r ia r e v is it a r a c o n tro v é r­


s ia , t e n d o e m c o n ta d is c r e p â n c ia s , h a ja v is t a a e x is tê n c ia d e a ç ã o d ir e t a d e
in c o n s t it u c io n a lid a d e co m e fe ito v in c u la n t e e , a o m e s m o te m p o , p r o n u n c ia m e n ­
to s e m r e c la m a ç õ e s , ju lg a d a s d e a lg u m a fo r m a im p r o c e d e n te s , co m a v a lid a ç ã o
d e d e c is õ e s c o n t r á r ia s a o q u e n a q u e la d e c id id o . E n fa tiz o u q u e a q u e s t ã o s e r ia
r e le v a n t e s o b d o is p r is m a s : i ° ) a e v o lu ç ã o o c o r r id a ; e 2 °) a c o n c e s s ã o d e o u tro s
b e n e f íc io s co m a a d o ç ã o d e c r it é r io s d is t in to s d e 1 / 4 d o s a lá r io m ín im o . 0 M in .
L u iz Fux c o n s id e r o u q u e , n o s c a s o s e m q u e a r e n d a p e r c a p it a s u p e r a s s e a té 5 %
d o lim ite le g a l e m c o m e n to , o s ju iz e s te r ia m f le x ib ilid a d e p a r a c o n c e d e r a b e n e s ­
s e , c o m p r e e n d id o c o m o g ru p o f a m ilia r o s in te g r a n t e s q u e c o n trib u ís s e m p a r a a
s o b r e v iv ê n c ia d o m é s tic a . No to c a n te a o p a r á g r a f o ú n ic o d o a rt. 34 d o E sta tu to
d o Id o s o , 0 M in. G ilm a r M e n d e s re p u to u v io la d o 0 p r in c íp io d a is o n o m ia . R e a lç o u
q u e , no r e f e r id o e s ta tu to , a b r ir a -s e e x c e ç ã o p a r a 0 re c e b im e n to d e d o is b e n e f í­
c io s a s s is t e n c ia is d e id o s o , m a s n ã o p e r m itir a a p e r c e p ç ã o c o n ju n ta d e b e n e fíc io
d e id o s o co m 0 d e d e f ic ie n te o u d e q u a lq u e r o u tro p r e v id e n c iá r io . A s s e v e ro u
q u e o le g is la d o r in c o r r e r a e m e q u ív o c o , p o is , e m s itu a ç ã o a b s o lu ta m e n te id ê n t i­
c a , d e v e r ia s e r p o s s ív e l a e x c lu s ã o d o c o m p u to d o b e n e fíc io , in d e p e n d e n t e m e n ­
te d e s u a o rig e m . (RE 567985/M T, r e i. o rig . M in . M a rco A u ré lio , r e d . p /o a c ó r d ã o
M in. G ilm a r M e n d e s , 1 7 e 18 .4 .2 0 13 )

STJ - 0 b e n e fíc io p r e v id e n c iá r io d e v a lo r m ín im o re c e b id o p o r p e s s o a a c im a d e
65 a n o s n ã o d e v e s e r c o n s id e r a d o n a c o m p o s iç ã o d a r e n d a fa m ilia r , p a r a f in s d e
c o n c e s s ã o d o b e n e fíc io a s s is t e n c ia l a o u tro m e m b ro d a f a m ília , c o n fo rm e p r e c o ­
n iz a 0 a rt. 34, p a r á g r a f o ú n ic o , d a Lei n. 10 .7 4 1/2 0 0 3 (E sta tu to d o Id o s o ). P re c e ­
d e n te s c it a d o s : Pet 7 .2 0 3 -P E , DJe 1 1 / 1 0 / 2 0 1 1 , A R Esp 2 3 2 .9 9 1-S C , DJe 2 5 /9 /2 0 1 2 ; AgRg
no Ag 1.39 4.59 5-SP , DJe 9 /5 /2 0 1 2 , e AgRg no R Esp 1.24 7.8 6 8 -R S , DJe 1 3 / 1 0 / 2 0 1 1 . (AgRg
no A R Esp 2 15 .1 5 8 -C E , R e i. M in. M a u ro C a m p b e ll M a rq u e s , ju lg a d o e m 1 8 /1 0 /2 0 1 2 ) .
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 87

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de A ssessor Jurídico M inisterial (MPE - RN/2014), foi qu es­
tionado se aos idosos, a p artir de 60 (sessen ta) anos, que não possuam
m eios para p ro ve r sua sub sistência, nem de tê-la provida po r sua fa­
m ília, é assegu rad o 0 benefício m ensal de 1 (um) salário -m ín im o , nos
term os da Lei Orgânica da Assistência Social.

2.1.9. Direito à habitação


A moradia é condição essencial para a garantia da dignidade da
pessoa humana e para uma vida saudável, razão pela qual 0 art. 6°,
da CF, prevê de forma expressa 0 direito a moradia como um direito
social.
0 art. XXV, n° 1, da Declaração Universal dos Direitos do Homem
e do Cidadão estabelece que:

I) T o d o 0 h o m e m te m d ir e it o a u m p a d r ã o d e v id a c a p a z d e a s s e g u r a r a s i e a
s u a f a m ília s a ú d e e b e m e s ta r, in c lu s iv e a lim e n t a ç ã o , v e s t u á r io , h a b ita ç ã o , c u id a ­
d o s m é d ic o s e o s s e r v iç o s s o c ia is in d is p e n s á v e is , e d ir e it o à s e g u r a n ç a e m c a so
d e d e s e m p r e g o , d o e n ç a , in v a lid e z , v iu v e z , v e lh ic e o u o u tro s c a s o s d e p e r d a d e
m e io s d e s u b s is t ê n c ia e m c irc u n s t â n c ia s fo r a d e s e u c o n tro le .

Por sua vez, o Protocolo de Direitos Sociais Econômicos e Cultu­


rais (Protocolo de San Salvador), em seu art. 17, traça disposições
de proteção aos idosos:

T o d a p e s s o a te m d ir e it o à p r o t e ç ã o e s p e c ia l n a v e lh ic e . N e s s e s e n tid o , o s E s ta ­
d o s P a rte s c o m p r o m e t e m -s e a a d o t a r d e m a n e ir a p r o g r e s s iv a a s m e d id a s n e c e s ­
s á r ia s a fim d e p ô r e m p rá t ic a e s te d ir e it o e , e s p e c ia lm e n t e , a :
a . P r o p o r c io n a r in s t a la ç õ e s a d e q u a d a s , b e m c o m o a lim e n t a ç ã o e a s s is t ê n c ia m é ­
d ic a e s p e c ia liz a d a , à s p e s s o a s d e id a d e a v a n ç a d a q u e c a r e ç a m d e la s e n ã o
e s t e ja m e m c o n d iç õ e s d e p r o v ê -la s p o r s e u s p r ó p r io s m e io s ;
b. E x e c u ta r p r o g r a m a s t r a b a lh is t a s e s p e c íf ic o s d e s t in a d o s a d a r a p e s s o a s id o s a s
a p o s s ib ilid a d e d e r e a liz a r a t iv id a d e p r o d u t iv a a d e q u a d a à s s u a s c a p a c id a ­
d e s , r e s p e it a n d o s u a v o c a ç ã o o u d e s e jo s ;
c. P ro m o v e r a f o r m a ç ã o d e o r g a n iz a ç õ e s s o c ia is d e s t in a d a s a m e lh o r a r a q u a li­
d a d e d e v id a d a s p e s s o a s id o s a s .

0 El estabelece que 0 idoso terá direito a moradia digna, no seio


da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus fami­
liares, quando assim 0 desejar, ou, ainda, em instituição pública ou
privada (art. 37 do El).
88 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

►Atenção!
0 Idoso possui 0 direito de escolher se v ive rá acom panhado de seus
fam ilia re s ou sozinho.

A assistência integral na modalidade de entidade de longa per­


manência será prestada quando verificada inexistência de grupo
familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos financeiros pró­
prios ou da família.
A assistência integral é a última alternativa de atendimento ao
idoso.
0 atendimento integral institucional ao idoso poderá receber
diversos nomes como: abrigo, asilo, lar, casa de repouso, clínica
geriátrica ancianato e destina-se prioritariamente aos idosos sem
famílias, em situação de vulnerabilidade, oferecendo-lhes serviços
nas áreas social, psicológica, médica, de fisioterapia, de terapia ocu-
pacional, de enfermagem, de odontologia e outras atividades espe­
cificas para este segmento social.
As instituições dedicadas ao atendimento ao idoso são obrigadas a
manter identificação externa visível, sob pena de interdição, além de
atender toda a legislação pertinente. Tal providência é necessária para
a publicidade e facilitar a possibilidade de fiscalização da instituição.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Advogado (SAMAE de Jaguariaíva-PR. 2016) foi per­
guntado:
C o n sid eran d o -se a Lei n° 10.741/03 - Estatuto do Idoso, a n a lis a r os itens
abaixo:
I - No sistem a de transporte coletivo in terestad ual d everá h aver re se r­
v a d e d u a s v a g a s g ra tu ita s p o r v e íc u lo p a ra id o s o s com r e n d a ig ual ou
in fe rio r a dois salário s-m ín im o s.
II - 0 idoso tem d ireito à m o rad ia digna, no seio da fam ília natural ou
substituta, ou d esaco m p an had o de seus fam ilia res, quando assim 0
d esejar, ou, a in d a , em instituição pública ou privada.
Os itens I e II estão corretos.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do M aranhão (DP/M A/2011 - CESPE),
foi questionado se, sob pena de interdição, toda instituição dedicada ao
atendim ento ao idoso é obrigada a m anter identificação externa visível.
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 89

As Instituições que abrigam idosos possuem obrigações:

á 0 b r i g a ç õ e s d; 3S
k
In s t i t u i ç õ e s q i je
a l a r i g a m id o s c >s 1

0 idoso gozará de prioridade nos programas habitacionais, pú­


blicos ou subsidiados com recursos públicos, para a aquisição de
imóvel para moradia própria, observado o seguinte:
• reserva de pelo menos 3 % (três por cento) das unidades habita­
cionais residenciais para atendimento aos idosos;
• implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao
idoso;
• eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para ga­
rantia de acessibilidade ao idoso;
• critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de
aposentadoria e pensão.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Defensor Público (FCC.DPE-ES. 2016) foi perguntado:
0 Estatuto do Idoso é um dos dip lo m as legais que busca robustecer a
tutela coletiva dos direito s dos idosos, que conjugando-se com outros
grupos vuln e rá ve is, dispõe sobre os seguintes direitos, com EXCEÇÃO de
a) As instituições filan tróp icas ou sem fins lucrativos p restad o ras de
serviço ao ido so terão d ireito à assistência ju d ic iá ria gratuita;
b) Os alim entos serão prestado s ao idoso na form a da lei civil e as
transaçõ es relativas a alim entos p o d erão se r c e le b rad as perante 0
Prom otor de Justiça ou Defensor Público, que as referen d ará, e pas
sarão a te r efeito de título executivo extrajud icial nos term os da lei
processual civil;
90 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

c) Aos m aio res de sessenta e cinco anos fica assegu rad a a gratuidade
d os transpo rtes coletivos públicos urbanos e sem iu rbano s, exceto nos
se rviço s seletivo s e e sp eciais, quando prestado s p aralelam ente aos
se rviço s regulares;
d) As entidades que d esenvolvam program as de institucio nalização de
longa perm anência a do tarão como p rincípio s no rteado res a p re se rv a ­
ção d os vínculos fam ilia re s e a m anutenção do idoso na m esm a insti­
tuição, salvo em caso de força m aior;
e) Nos program as habitacion ais, públicos ou su b sid ia d o s com recursos
públicos, 0 idoso goza de p rio rid a d e na aq uisição de im óvel para m o­
ra d ia p ró p ria, o b servada a reserva de 8 % d as u n id ad es habitacionais
para 0 atendim ento aos ido so s ou de pesso as por ele in d icad a s.
A alternativa e) foi co n sid era d a correta.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça da Bahia (M P/BA/2015 - CEFET) foi
ela b o ra d a a seguinte prop osição : Nos program as habitacion ais, p ú b li­
cos ou su b sid ia d o s com recurso s públicos, 0 idoso goza de p rio rid a d e
na aq uisição de im óvel para m o rad ia p ró p ria, o b servada reserva de
pelo m enos 3 % (três po r cento) d as u n id ad es h abitacion ais resid en ciais
para atendim ento d esses cid a d ã o s, im p lan tan d o -se os equipam entos
urbanos co m unitários necessário s, elim in an d o -se as b a rre ira s a rq u ite ­
tônicas e urbanísticas, para a garantia da sua a ce ssib ilid a d e , e estab e­
lecend o -se critério s de financiam ento com patíveis com os rendim entos
de a p o sen tad o ria e pensão. A proposição foi co nsid e rad a v e rd a d e ira .

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Prom otor de Justiça do Mato Grosso
(M P/M T/2012 - UFMT), se 0 Estatuto do Idoso reserva um a determ inada
porcentagem de u n id ad es re sid e n ciais em q u alq u er program a habita­
cional público ou su b sid ia d o po r recurso s públicos e qual seria essa
porcentagem .

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça de São Paulo (M P/SP/2013 -
VUNESP), foi questionado se, nos program as habitacionais, públicos ou
sub sid iad o s com recursos públicos, 0 idoso goza de p rio rid a d e na aq u i­
sição de im óvel para m oradia próp ria, incluind o -se a reserva de 3 %
(três po r cento) d as un id ad es resid en ciais para 0 seu atendim ento e
critérios de financiam ento com patíveis com os rendim entos de apo sen­
tad o ria e pensão.
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 91

0 Decreto Presidencial n° 1.948/96 (art. 8°, inc. II) estabelece que


será de atribuição do Ministério do Planejamento e Orçamento, por
intermédio da Secretaria de Política Urbana, compete promover ges­
tões para viabilizar linhas de crédito visando ao acesso a moradias
para 0 idoso, junto:
a) às entidades de crédito habitacional;
b) aos Governos Estaduais e do Distrito Federal;
c) a outras entidades, públicas ou privadas, relacionadas com os
investimentos habitacionais.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso para Defensor Público do Sergipe (DP/
SE/2012 - CESPE), com base no decreto que estabelece critérios para 0
exercício do direito ao transporte coletivo gratuito interestadual pelo
idoso e do que regulam enta a Política Nacional do Idoso, se compete ao
M inistério do Planejam ento, Orçamento e Gestão, por m eio da Secretaria
de Política Urbana, prom over gestões para viab ilizar linhas de crédito
para 0 acesso a m oradias para 0 idoso junto a entidades relacionadas
com os investim entos habitacionais, sejam elas públicas ou privadas.

As unidades residenciais reservadas para atendimento a idosos


devem situar-se, preferencialmente, no pavimento térreo, reconhe­
cendo a legislação as limitações de mobilidade dos idosos.
Por fim, importante destacar que a Lei n° 10.098/00, estabelece
normas gerais e ainda critérios básicos para a promoção de acessi­
bilidade das pessoas com deficiência ou ainda com mobilidade re­
duzida (idosos), mediante a supressão de barreiras e obstáculos
nas vias públicas e também nos espaços públicos, mobiliário urba­
no, construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e
comunicação.

2 .1.10 . D ir e it o a o t r a n s p o r t e

0 art. 230, § 2o, da CF estabelece que: "Aos maiores de sessen­


ta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos
urbanos."

Já s e m a n ife s to u 0 STF no s e n tid o d e q u e 0 art. 230, § 2°, da CF é d e e fic á c ia p le n a


e a p lic a b ilid a d e im e d ia t a (A l 70 7.8 10 -A g R , r e i. m in . R o sa W e b e r, ju lg a m e n to em
2 2 -5 -2 0 1 2 , P r im e ir a T u rm a , DJE d e 6 -6 -2 0 1 2 .)
92 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Por sua vez, 0 Estatuto do Idoso confere a gratuidade aos maio­


res de 65 (sessenta e cinco) anos dos transportes coletivos públicos
urbanos e semiurbanos. exceto nos serviços seletivos e especiais,
quando prestados paralelamente aos serviços regulares (art. 39,
caput, do El).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso de Defensor Público do Am azonas (DP/
A M /2011 - Instituto cid ad es), se é d ireito do ido so expressam ente p re ­
visto no texto constitucional a gratuidade dos transpo rtes coletivos ur­
banos aos m aio res de sessenta e cinco anos.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Prom otor de Justiça do Estado de Goiás (MPE-GO.
2016) foi perguntado sobre os direito s previstos no Estatuto do Ido­
so, send o co n sid era d a in co rre ta a a lte rn a tiv a b): Ainda que não haja
legislação local, ao idoso com 60 (sessen ta) anos fica assegu rad a a
gratuidade dos transpo rtes coletivos públicos urbanos e sem iurbanos.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso de Auditor de Controle (CESPE. TCE-PA. 2016) foi pergunta­
do se: À luz do Código de Defesa do Co nsum id or (CDC) e do Estatuto do
Idoso, julgue os itens a seguir.
Em bora 0 Estatuto do Idoso regule d ireito s assegu rad o s a pesso as de
id a d e igual ou su p e rio r a sessenta anos, a gratuidade nos transportes
coletivos públicos urbanos nele prevista é assegu rad a àqueles com
m ais de sessenta e cinco anos de id a d e.
0 item foi co n sid era d o ve rd a d e iro .

STF - 0 T rib u n a l in ic io u ju lg a m e n to d e a ç ã o d ir e t a d e in c o n s t it u c io n a lid a d e a ju iz a ­


d a p e lo P r o c u r a d o r -G e r a l d a R e p ú b lic a c o n tra a e x p r e s s ã o " e x c e to n o s s e r v iç o s
s e le t iv o s e e s p e c ia is , q u a n d o p r e s t a d o s p a r a le la m e n t e a o s s e r v iç o s r e g u la r e s " ,
c o n s ta n te d o caput d o a rt. 39, d a Lei 10 .7 4 1/2 0 0 3 (E sta tu to d o Id o s o ), q u e a s s e ­
g u ra a o s m a io r e s d e 65 a n o s a g r a t u id a d e d o s t r a n s p o r t e s c o le tiv o s p ú b lic o s e
u r b a n o s e s e m i-u r b a n o s , e d o a rt. 94, d o m e s m o d ip lo m a le g a l, q u e d e t e r m in a
a a p lic a ç ã o , a o s c r im e s t ip if ic a d o s n e s s a le i, c u ja p e n a m á x im a p riv a t iv a d e
lib e r d a d e n ã o u lt r a p a s s e 4 a n o s , d o p r o c e d im e n to p r e v is t o n a Lei 9 099/95» e,
s u b s id ia r ia m e n t e , no q u e c o u b e r, a s d is p o s iç õ e s d o C ó d ig o P e n a l e d o C ó d ig o d e
P ro c e s s o P e n a l. P r e lim in a r m e n t e , 0 T rib u n a l n ã o c o n h e c e u d a a ç ã o r e la t iv a m e n t e
a o a rt. 39 d a le i im p u g n a d a , p o r já t e r s e p r o n u n c ia d o p e la c o n s t it u c io n a lid a d e
d e s s e d is p o s it iv o q u a n d o d o ju lg a m e n t o d a ADI 37 6 8 /D F (DJE d e 2 6 .10 .2 0 0 7 ). Em
s e g u id a , a M in . C á r m e n L ú c ia , r e la t o r a , ju lg o u p a r c ia lm e n t e p r o c e d e n t e 0 p e d id o
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 93

f o r m u la d o p a r a d a r in t e r p r e t a ç ã o c o n fo rm e a C o n s titu iç ã o a o a rt. 94 d a Lei


10 .7 4 1/2 0 0 3 , no s e n tid o d e q u e , a o s c r im e s p r e v is t o s n e s s a le i, c u ja p e n a m á x im a
p r iv a t iv a d e lib e r d a d e n ã o u lt r a p a s s e 4 a n o s , a p lic a -s e 0 p r o c e d im e n to s u m a -
r ís s im o p r e v is t o n a Lei 9 .0 9 9 /9 5 , n ã o s e a d m it in d o in t e r p r e t a ç ã o q u e p e rm ita
a p lic a ç ã o b e n é fic a a o a u t o r d o c r im e c u ja v ítim a s e ja id o s o . A s s e v e r o u q u e , s e
in t e r p r e t a d a a n o rm a no s e n tid o d e q u e s e r ia m a p lic á v e is a o s c r im e s c o m e t id o s
c o n tra o s id o s o s o s b e n e fíc io s d a Lei 9 .0 9 9 /9 5 , a le i im p u g n a d a s e r ia in c o n s t it u ­
c io n a l, h a ja v is t a a p o s s ib ilid a d e d e , e m fa c e d e um ú n ic o d if e r e n c ia l, q u a l s e ja , a
id a d e d a v ítim a d o d e lit o , t e r -s e , p o r e x e m p lo , um a g e n te r e s p o n d e n d o p e ra n te
0 S is te m a J u d ic iá r io C o m u m e o u tro co m t o d o s o s b e n e f íc io s d a Lei d o s J u iz a d o s
E s p e c ia is , n ã o o b s ta n te a p rá t ic a d e c r im e s d a m e s m a g r a v id a d e ( p e n a m á x im a
n ã o s u p e r io r a 4 a n o s ). A s s im , e s t a b e le c e n d o q u e s e r ia a p lic á v e l a p e n a s 0 p r o ­
c e d im e n to s u m a r ís s im o p r e v is t o n a Lei 9.0 9 9 /9 5 a o s c r im e s m e n c io n a d o s , 0 id o s o
s e r ia , e n t ã o , b e n e fic ia d o co m a c e le r id a d e p r o c e s s u a l, m a s 0 a u t o r d o c r im e n ã o
s e r ia b e n e f ic ia d o co m e v e n t u a l c o n c ilia ç ã o o u t r a n s a ç ã o p e n a l. Em d iv e r g ê n c ia ,
0 M in . E ro s G ra u ju lg o u im p r o c e d e n te 0 p le it o , p o r re p u ta r, t e n d o e m c o n ta n ã o
t e r s id o a p o n t a d a , n a in ic ia l, a v io la ç ã o a n e n h u m p re c e ito c o n s t it u c io n a l, n ã o
c a b e r a o S u p r e m o 0 e x e rc íc io d o c o n tro le d a r a z o a b ilid a d e e d a p r o p o r c io n a li­
d a d e d a s le is . A p ó s, p e d iu v is t a d o s a u t o s 0 M in . C a r lo s B ritto . (ADI 3096/DF, re i.
M in . C á rm e n L ú c ia , 19 .8 .20 0 9 ).

0 idoso, para 0 acesso à gratuidade, poderá apresentar qualquer


documento pessoal que faça prova de sua idade (art. 39, § 1°, do El).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça da Bahia (M P/BA/2015 - CEFET), foi
e la b o ra d a a seguinte prop osição : Aos m aio res de 60 (sessenta) anos
fica assegu rad a a gratuidade dos transpo rtes coletivos públicos u rb a­
nos e sem iurbano s, exceto nos serviço s seletivo s e esp e ciais, quando
prestado s p aralelam ente aos serviços regulares, bastando a a p re se n ­
tação de q u alq u er docum ento p esso al que faça prova de suas id ad es.
A proposição foi co nsid erad a falsa.

No transporte coletivo, segundo prevê 0 El, deverá ser reservado


10% (dez por cento) dos assentos para os beneficiados, devidamen­
te identificados com a placa de reservado preferencialmente para
id o s o s (art. 39, § 2°, d o El).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça da Bahia (M P/BA/2015 - CEFET), foi
ela b o ra d a a seguinte prop osição : Nos veícu lo s de transporte coletivo
serã o re se rva d o s 1 5 % (quinze po r cento) dos assentos para os idosos,
d evid am ente identificado s com a placa de "re se rva d o p referen cia l­
mente para idosos". A proposição foi co n sid era d a falsa.
94 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

O art. 3o, da Lei n° 10.048/00, já previa que: "As empresas públi­


cas de transporte e as concessionárias de transporte coletivo reser­
varão assentos, devidamente identificados, aos idosos, gestantes,
lactantes, pessoas portadoras de deficiência e pessoas acompanha­
das por crianças de colo.". Trata-se de uma medida para que se fixe
um percentual de vagas e seja afixação de placas para a informa­
ção, sujeita a infração prevista no art. 6°, da mencionada Lei. As va­
gas não são de uso exclusivo de idoso, trata-se de uso preferencial,
ou seja, caso não haja idoso ocupando a vaga, qualquer um poderá
ocupá-la.

F Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça do Mato Grosso do Sul (MP/
M S/2013), foi questio nado , se é assegu rad o aos m aio res de sessenta e
cinco anos, a gratuidade dos transpo rtes coletivos públicos urbanos e
sem iu rbano s, exceto nos se rviço s seletivo s e esp e ciais, quando p re s­
tad o s p aralelam ente aos se rviço s regulares. 0 item foi co nsid erado
correto.

0 art. 39, § 3°, do El, estabelece que a legislação local poderá dis­
por sobre as condições da gratuidade nos meios de transporte para
as pessoas entre 60 a 65 anos.
0 art. 22, inc. XI, da CF, prevê a competência privativa da União
para legislar sobre trânsito e transporte, contudo, 0 El confere aos
municípios a competência para legislar sobre as condições da gra­
tuidade nos meios de transporte para as pessoas entre 60 a 65 anos,
pois 0 art. 30, inc. I da CF, confere-se aos municípios a competência
para legislar sobre assuntos locais, bem como para organizar e pres­
tar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os ser­
v iç o s p ú b lic o s d e in t e re s s e lo c a l, in c lu íd o o d e tra n s p o rt e c o le tiv o ,
que tem caráter essencial.
Na hipótese do transporte coletivo interestadual;

No sistema de - re se rv a d e 2 (duas) vagas gratuitas p o r v e íc u lo p a ra


transporte coletivo id o s o s c o m r e n d a ig u a l o u in f e r io r a 2 ( d o is ) s a lá r io s -
interestadual -m ín im o s ;

observado,
- desconto de 50%, no mínimo, no v a lo r d a s p a s s a g e n s ,
nos termos
p a r a o s id o s o s q u e e x c e d e r e m a s v a g a s g ra t u ita s , com
da legislação
r e n d a ig u a l o u in f e r io r a 2 ( d o is ) s a lá r io s -m ín im o s .
específica:
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 95

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Paraná (DP/PR/2015 - CESPE), foi
ela b o ra d o 0 seguinte item : Em cada veícu lo , com boio ferro viário ou
em barcação do serviço convencional de transporte interestad ual de
passageiro s, serã o re se rv a d a s duas vagas gratuitas, que p o d erão se r
usadas po r ido so s, indep end en tem en te da condição financeira destes.
0 item foi co nsid erad o errado .

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça da Bahia (M P/BA/2015 - CEFET),
foi e la b o ra d a a seguinte a sse rtiva : No sistem a de transp o rte co leti­
vo in terestad u al, o b se rv a r-se -ã o , nos term o s da legislação específica,
para ido so s com renda igual ou in fe rio r a 2 (d o is) salário s-m ín im o s,
a rese rva de 3 (três) vagas gratuitas p o r veícu lo e 0 desconto de 50%
(cinquenta p o r cento), no m ínim o, no v a lo r d as p assagens, para os
ido so s que excederem as vagas gratuitas. A a ssertiva foi co n sid era d a
e rra d a .

É possível estender os dispositivos do El referentes ao direito do


transporte ao transporte aéreo?

0 MPF em Santarém/PA e no Paraná já ingressou com ações civis


públicas, com a finalidade de conferir 0 transporte aéreo gratuito
para os idosos e pessoas deficientes carentes, bem como seus acom­
panhantes se necessário. Funda-se a ação civil pública no sentido
que a Constituição Federal não restringiu a garantia do passe livre
aos transportes terrestres e aquáticos, 0 que somente é feito infra-
constitucionalmente. Com base no Código Civil, sustenta que a ex­
pressão transporte interestadual engloba também a via área, pois
0 contrato de transporte é 0 instrumento pelo qual se obriga, me­
diante retribuição, a transportar de um lugar para outro pessoas ou
coisas, sem restrição à espécie do veículo a ser utilizado. Ainda, ad
argumentum, no que se refere ao ICMS, ao tratar de serviço de trans­
porte intermunicipal e interestadual tem sido interpretada como o
transporte aéreo compreendido no conceito.
Vagas em estacionamento: 0 idoso terá direito a reserva, nos
termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos estacio­
namentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas
de forma a garantir a melhor comodidade ao idoso (art. 41 do El).
96 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

STJ: A p r e v is ã o le g a l d e r e s e r v a d e 5 % d a s v a g a s n o s e s t a c io n a m e n t o s p ú b lic o s
p r e v is t a no a r t . 4 1 d a Lei n. 10 .7 4 1/2 0 0 3 n ã o im p e d e q u e a a d m in is t r a ç ã o r e s t r in ja
0 u so d e d e t e r m in a d a á r e a d e e s t a c io n a m e n t o s o m e n te à s p e s s o a s id o s a s q u e ,
d e a lg u m a fo rm a , e s t ã o v in c u la d a s à s a t iv id a d e s d e s e n v o lv id a s p e lo ó rg ã o p ú ­
b lic o (RM S 32.340/DF, R ei. M in istro BENEDITO GONÇALVES, PRIM EIRA TURM A, ju lg a d o
e m 2 6 /1 0 /2 0 10 , DJe 0 4 /1 1 /2 0 1 0 ) .

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de justiça do Mato Grosso (M P/M T/2012 -
UFMT), foi questionado sobre a proteção civil esp ecial que é conferida
aos ido so s pela ordem ju ríd ica b rasile ira, se 0 El assegura 0 acesso
gratuito aos m eios públicos e regulares de transpo rte coletivo urbano;
garante a p rio rid a d e na aq u isiçã o de im óvel em program as públicos
de habitação e assegura 0 acesso gratuito no sistem a de transporte
coletivo interestad ual e não perm ite 0 acesso a tarifas d iferen ciad a s. 0
item foi co nsid erad o correto.

No sistema de transporte coletivo é garantida a prioridade e a


segurança do idoso nos procedimentos de embarque e desembar­
que nos veículos (art. 42 do El).

STJ - É ile g a l a e x ig ê n c ia d e c a d a s t r a m e n t o d o is s o p e r a n t e à c o n c e s s io n á r ia d e
t r a n s p o r t e p a r a 0 g o z a r o d ir e it o d o p a s s e liv r e (R Esp 10 5 7 27 4 /R S , R ei. M in istra
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, ju lg a d o e m 0 1 /1 2 /2 0 0 9 , DJe 2 6 /0 2 /2 0 1 0 ). No m e sm o
s e n tid o 0 TJMG d e c id iu q u e a e x ig ê n c ia d e c a d a s t r o p r é v io , co m a e x p e d iç ã o d e
c a rtã o d e a c e s s o , im p e d e 0 e x e rc íc io d o d ir e it o g a ra n tid o a o id o s o . (TJMG; APCV
1.0 18 8 .12 .0 0 5 9 16 -0 /0 0 2 ; R ei. D es. O liv e ira F irm o ; Julg. 0 1/0 4 /2 0 16 ; DJEMG 0 5 /0 4 /2 0 16 )

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Defensor Público de Goiás (DP/GO/2010 - Instituto ci­
d ad es), foi perguntado, se 0 Sup erio r Tribunal de Justiça, a respeito
de d isp o sitivo s previstos no Estatuto do Idoso, entende que é ilícita a
exigência de cadastram ento do idoso junto à co ncessio nária de serviço
de transporte coletivo, para 0 gozo do benefício do passe livre.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso público para Defensor Público da Bahia (D P /B A /2 0 10 - CES-
PE) foi ela b o ra d a a seguinte prop osição : 0 Estatuto do Idoso garante
aos m aio res de 65 anos de id a d e a gratuidade dos transpo rtes coleti­
vo s públicos urbanos e sem iurbano s; no entanto, tal norm a foi d e cla ra ­
da inconstitucional pelo STF, na m edida em que foi criad a d esp esa para
as em presas de transpo rte, sem previsão da d evid a com pensação fi­
n an ceira, 0 que tra ria preju ízos graves às co ncessio nárias, a ponto de
re p re se n tar risco ao eq u ilíb rio econôm ico-fm anceiro dos contratos de
concessão entre a adm inistração e os co ncessio nário s. A prop osição foi
co nsid erad a e rra d a . Art. 39, caput, e § 3°, do E.l.
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 97

0 Decreto n° 5.934/06 define os mecanismos e os critérios para


0 exercício do direito previsto no art. 40 da Lei n° 10.741, de 1° de
outubro de 2003, no sistema de transporte coletivo interestadual, nos
modais rodoviário, ferroviário e aquaviário.
Será de competência da Agência Nacional de Transportes Terres­
tres - ANTT e à Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ
a edição de normas complementares objetivando 0 detalhamento
para execução de disposições referidas no Decreto n° 5.934/06.
0 Decreto n° 5.934/06 estabelece alguns conceitos:

idoso - p e s s o a co m id a d e ig u a l o u s u p e r io r a s e s s e n t a a n o s ;

Serviço de transporte interestadual de passageiros - 0 q u e t r a n s p õ e 0 lim ite d o


E s ta d o , d o D istrito F e d e r a l o u d e T e rritó rio ;

Linha - s e r v iç o d e t r a n s p o r t e c o le tiv o d e p a s s a g e ir o s e x e c u ta d o e m u m a lig a ç ã o


d e d o is p o n to s t e r m in a is , n e la in c lu íd a o s s e c c io n a m e n t o s e a s a lt e r a ç õ e s o p e ­
r a c io n a is e f e t iv a d a s , a b e r t o a o p ú b lic o e m g e r a l, d e n a t u r e z a r e g u la r e p e r m a ­
n e n te , co m it in e r á r io d e f in id o no a to d e s u a d e le g a ç ã o o u o u to rg a .

Seção - s e r v iç o r e a liz a d o e m tre c h o d o it in e r á r io d e lin h a d o s e r v iç o d e t r a n s ­


p o rte , co m f r a c io n a m e n t o d o p r e ç o d e p a s s a g e m .

Bilhete de viagem do idoso - d o c u m e n to q u e c o m p ro v e a c o n c e s s ã o d o t r a n s p o r ­


te g ra tu ito a o id o s o , f o r n e c id o p e la e m p r e s a p r e s t a d o r a d o s e r v iç o d e t r a n s p o r ­
te , p a r a p o s s ib ilit a r 0 in g re s s o d o id o s o no v e íc u lo .

Segundo dispõe 0 art. 30 do Decreto n° 5.934/06, conforme defini­


ção do art. 40 da Lei n° 10.741, de 2003, ao idoso com renda igual ou
inferior a dois salários-mínimos serão reservadas duas vagas gratui­
tas em cada veículo, comboio ferroviário ou embarcação do serviço
convencional de transporte interestadual de passageiros.
Esclarece 0 Decreto n° 5.934/06 que se incluem na condição de
serviço convencional:
I - os serviço s de transporte ro d o viá rio interestad ual con­
vencion al de passageiro s, prestado com veículo de caracte­
rísticas básicas, com ou sem san itário s, em linhas regulares;

II - os serviço s de transporte fe rro viário interestad ual de


passageiro s, em linhas regulares; e

III - os serviço s de transporte a q u a viário interestad ual,


abertos ao público, rea liza d o s nos rio s, lagos, lagoas e
b a ías, que o peram linhas regulares, inclusive tra vessia s.
98 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Espírito Santo (DP/ES/2012 - CES-
PE), foi ela b o ra d a a seguinte prop osição : No que se refere ao direito
do idoso, julgue os itens a seguir. Para fins de reserva de vaga gratuita
para idoso, não são co n sid e ra d a s em barcação do serviço convencional
de transporte interestad ual de p assageiro s as em barcações que o p e ­
rem tra ve ssia s em lagoas a b ertas ao público. A proposição foi co n sid e­
ra d a e rra d a . Art. 3° do Decreto n. 5.934/06.

0 idoso, para fazer uso da reserva, deverá solicitar um único


"Bilhete de Viagem do Idoso", nos pontos de venda próprios da
transportadora, com antecedência de, pelo menos, três horas em
relação ao horário de partida do ponto inicial da linha do serviço
de transporte, podendo solicitar a emissão do bilhete de viagem
de retorno, respeitados os procedimentos da venda de bilhete de
passagem.
Segundo o Decreto n° 5.934/06, caso haja a existência de seções,
nos pontos de seção devidamente autorizados para embarque de
passageiros, a reserva de assentos também deverá estar disponível
nas três horas em relação ao horário de partida do ponto inicial da
linha do serviço de transporte.
Após 0 prazo, caso os assentos reservados não tenham sido ob­
jeto de concessão do benefício, as empresas prestadoras dos ser­
viços poderão colocar à venda os bilhetes desses assentos, que,
enquanto não comercializados, continuarão disponíveis para 0 exer­
cício do benefício da gratuidade.
Para que sua reserva seja assegurada, 0 idoso, no dia marcado
p a ra a v ia g e m , d e v e r á c o m p a r e c e r a o t e rm in a l d e e m b a rq u e a té
trinta minutos antes da hora marcada para 0 início da viagem. Do
contrário perderá 0 benefício.
Os Bilhetes de "Viagem do Idoso" e os com desconto do valor da
passagem serão intransferíveis.
Além das vagas gratuitas, 0 idoso com renda igual ou inferior a
dois salários-mínimos terá direito ao desconto mínimo de cinquenta
por cento do valor da passagem para os demais assentos do veícu­
lo, comboio ferroviário ou embarcação do serviço convencional de
transporte interestadual de passageiros.
C a p . II . D o s D ir e it o s F u n d a m e n t a is 99

Para receber o desconto, o idoso deverá adquirir o bilhete de


passagem obedecendo aos seguintes prazos:

I - para viagens com distância até 500 km, com, no máximo,


seis horas de antecedência; e

II - para viagens com distância acima de 500 km, com, no


máximo, doze horas de antecedência.

0 "Bilhete de Viagem do Idoso" será emitido pela empresa


prestadora do serviço, em pelo menos duas vias, sendo que uma
via será destinada ao passageiro e não poderá ser recolhida pela
transportadora.

Estabelece 0 Decreto n° 5.934/06 que a segunda via do "Bilhete de


Viagem do Idoso" deverá ser arquivada, permanecendo em poder
da empresa prestadora do serviço nos trezentos e sessenta e cinco
dias subsequentes ao término da viagem.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Espírito Santo (DP/ES/2012 - CES-
PE), foi elaborada 0 seguinte item: 0 idoso que pretenda viajar utili­
zando 0 chamado bilhete de viagem do idoso deverá comprovar sua
idade, por meio de documento pessoal, e sua renda, que não pode
ultrapassar um salário mínimo. 0 item está errado. Art. 2», inc. V, do
Decreto n° 5.934/06.

Todas as empresas prestadoras dos serviços de transporte de­


verão informar à ANTT e à ANTAQ, na periodicidade definida em seus
regulamentos, a movimentação de usuários titulares do benefício,
por seção e por situação.

Segundo previsão do Decreto n° 5.934/06, quando do ato da so­


licitação do "Bilhete de Viagem do Idoso" ou do desconto do va­
lor da passagem, 0 idoso deverá apresentar documento pessoal
que faça prova de sua idade e da renda igual ou inferior a dois
salários-mínimos.

Para fins dos benefícios previstos no Decreto n<> 5.934/06, a pro­


va de idade do idoso será feita mediante apresentação do original
de qualquer documento pessoal de identidade, com fé pública, que
contenha foto.
100 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Já a comprovação de renda será feita mediante a apresentação


de um dos seguintes documentos:

rL 1
À
irteira de Traball
atualizada

Os idosos estão sujeitos aos procedimentos de identificação de


passageiros ao apresentarem-se para embarque, de acordo com o
estabelecido pela ANTT e pela ANTAQ, em suas respectivas esferas
de atuação.
Todos os direitos assegurados aos demais passageiros são es­
tendidos aos idosos, até porque a concessão de um benefício não
poderá prejudicá-los, nem os alijar da garantia de outros direitos já
existentes para todos.
Os benefícios do Decreto n° 5.934/06 não incluem as tarifas de pe­
dágio e de utilização dos terminais e as despesas com alimentação.
Na hipótese de infrações ao Decreto n° 5.934/06 será aplicado 0
disposto no art. 78-A e seguintes da Lei n° 10.233, de 5 de junho de 2001.
Segundo 0 mencionado artigo, na hipótese de descumprimento dos de­
veres estabelecidos no contrato de concessão, no termo de permissão
e na autorização, sem prejuízo das de natureza civil e penal, sujeitará
o responsável às sanções, aplicáveis pela ANTT e pela ANTAQ:

• Advertência

• Multa
Cap. II . Dos Direitos Fundamentais 101

No concurso para Defensor Público de Roraima (DP/RR/2013), foi per­


guntado, com base no Decreto Federal n° 5.934/2006, que regulamenta
0 exercício de direitos do idoso no sistema de transporte coletivo in­
terestadual nos modais rodoviário, ferroviário e aquaviário, se con­
sidera-se bilhete de viagem do idoso 0 documento que comprove a
concessão do transporte gratuito ao idoso, fornecido pela empresa
prestadora do serviço de transporte, de modo a possibilitar 0 ingresso
do idoso no veículo.

2.1.11. 0 idoso e 0 superendividamento


0 superendividado é aquela pessoa física que, de boa-fé, não
possui os rendimentos necessários e suficientes para honrar as obri­
gações contraídas. Há um excesso de dívidas, tornando a conduta
de consumo nociva, de forma a gastar 0 que não tem, ou confiar na
concessão de outros créditos, ou ainda desconhecer a sua saúde
financeira.

0 idoso, por certo, está entre os consumidores, pois podem


ser mais facilmente lesados, possuem maior dificuldade na luta
pelos seus direitos e por isso devem receber atenção e proteção
redobradas.
0 endividamento do idoso poderá ocorrer por meio de gastos
em cartão de crédito, cheque especial, concessão de crédito consig­
nado, concessão esta realizada de fácil acesso, baixo risco para a
empresa financeira e altos juros para 0 consumidor. Têm-se, na hipó­
tese, situações em que se infere abuso na contratação, não havendo
os cuidados necessários para que os idosos tomem um empréstimo
responsável e seguido de uma orientação financeira.
É certo que 0 idoso já é qualificado como vulnerável, em razão
de suas condições biológicas, físicas ou psíquicas, por isso são mais
explorados, obtendo-se uma maior vantagem sobre suas condições.
102 E s t a t u t o d o Id o s o - V o l. 4 5 • Fábio lanni Coldfinger

No plano do direito do consumidor, a vulnerabilidade do consu­


midor no mercado de consumo já está devidamente reconhecida
(art. 4°, inc. I, do CDC), independentemente de sua idade.
Contudo, na hipótese de consumidor idoso, tem-se reconheci­
da a denominada hipervulnerabilidade (leigo, consumidor e idoso).
0 CDC já reconhece que 0 fornecimento de produtos e serviços a
consumidor, prevalecendo-se da fraqueza ou ignorância de consumi­
dor de idade avançada, pode ser considerado como prática abusiva
(art. 39, inc. IV, do CDC).
Há em andamento Projeto de Lei no Senado Federal (PL
n. 283/2012) para a modificação do CDC, com a finalidade de inserir
uma proteção especial ao idoso consumidor, que se denomina "as­
sédio de consumo".
Assim, não restam dúvidas de que o idoso possui proteção na
sociedade de consumo brasileira, por meio do que denomina-se
"diálogo das fontes protetivas".
A teoria do diálogo das fontes tem orientado a jurisprudência
do STJ para as questões relacionadas aos reajustes de contratos de
plano de saúde:

"(...) Inexistência de antinomia entre 0 Estatuto do Idoso e a Lei 9.656/98 (que


autoriza, nos contratos de planos de saúde, a fixação de reajuste etário aplicá­
vel aos consumidores com mais de sessenta anos, em se tratando de relações
jurídicas mantidas há menos de dez anos). Necessária interpretação das normas
de modo a propiciar um diálogo coerente entre as fontes, à luz dos princípios da
boa-fé objetiva e da equidade, sem desamparar a parte vulnerável da contrata­
ção. 2.1. Da análise do artigo 15, § 3°, do Estatuto do Idoso, depreende-se que res­
ta vedada a cobrança de valores diferenciados com base em critério etário, pelas
pessoas jurídicas de direito privado que operam planos de assistência à saúde,
quando caracterizar discriminação ao idoso, ou seja, a prática de ato tendente a
impedir ou dificultar 0 seu acesso ao direito de contratar por motivo de idade.
2.2. Ao revés, a variação das mensalidades ou prêmios dos planos ou seguros
saúde em razão da mudança de faixa etária não configurará ofensa ao princípio
constitucional da isonomia, quando baseada em legítimo fator distintivo, a exem­
plo do incremento do elemento risco nas relações jurídicas de natureza securitá-
ria, desde que não evidenciada a aplicação de percentuais desarrazoados, com
0 condão de compelir 0 idoso à quebra do vínculo contratual, hipótese em que
restará inobservada a cláusula geral da boa-fé objetiva, a qual impõe a adoção
de comportamento ético, leal e de cooperação nas fases pré e pós pactuai. 2.3.
Consequentemente, a previsão de reajuste de mensalidade de plano de saúde
em decorrência da mudança de faixa etária de segurado idoso não configura, por
si só, cláusula abusiva, devendo sua compatibilidade com a boa-fé objetiva e a
equidade ser aferida em cada caso concreto. Precedente: REsp 866.840/SP, Rei.
Ministro Luis Felipe Salomão, Rei. p/ Acórdão Ministro Raul Araújo, Quarta Turma,
julgado em 07.06.2011, Dje 17.08.2011. (...)" (REsp 1280211/SP, Rei. Ministro MARCO
BUZZI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/04/2014, Dje 04/09/2014).
Cap. II • Dos Direitos Fundamentais 103

Ainda sobre o id o s o c o n s u m id o r já decidiu o STJ: "(...) 1. Muito embora no rito


sumário seja cabível a intervenção da seguradora, ao menos desde o advento
da Lei n. 10.444/2002 (CPC, art. 280), e o próprio CDC permitir a denunciação da
lide nessas situações (art. 101, inciso II), 0 instituto processual deve atender aos
propósitos a que se destina, que é a celeridade e economia processuais, nota-
damente nos casos a envolver idoso (CPC, art. 1.211-A; Estatuto do Idoso, art. 71,
caput). 2. A denunciação da lide, como modalidade de intervenção de terceiros,
busca atender aos princípios da economia e da presteza na entrega da presta­
ção jurisdicional, não devendo ser prestigiada quando 0 deferimento for apto a
subverter exatamente os valores tutelados pelo instituto. Precedentes. 3. Permi­
tir a denunciação da lide à seguradora no estado em que se encontra 0 processo
fulmina a própria finalidade da denunciação e, a um só tempo, vulnera a espe­
cial proteção conferida pelo ordenamento jurídico à pessoa do consumidor e do
idoso. (...)" (AgRg no AREsp 557.860/MG, Rei. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 05/02/2015, Dje 10/02/2015)

Em outro julgado 0 STJ utilizou-se do CDC para a proteção de idosos: "(..•) I - A


dicção do artigo 6°, VI, do Código de Defesa do Consumidor é clara ao possibilitar
0 cabimento de indenização por danos morais aos consumidores, tanto de or­
dem individual quanto coletivamente. II - Todavia, não é qualquer atentado aos
interesses dos consumidores que pode acarretar dano moral difuso. É preciso
que 0 fato transgressor seja de razoável significância e desborde os limites da
tolerabilidade. Ele deve ser grave 0 suficiente para produzir verdadeiros sofri­
mentos, intranquilidade social e alterações relevantes na ordem extrapatrimo-
nial coletiva. Ocorrência, na espécie. Ill - Não é razoável submeter aqueles que já
possuem dificuldades de locomoção, seja pela idade, seja por deficiência física,
ou por causa transitória, à situação desgastante de subir lances de escadas, exa­
tos 23 degraus, em agência bancária que possui plena capacidade e condições
de propiciar melhor forma de atendimento a tais consumidores. IV - Indenização
moral coletiva fixada de forma proporcional e razoável ao dano, no importe de
R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). (...)" (REsp 1221756/RJ, Rei. Ministro MASSAMI
UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/02/2012, Dje 10/02/2012).

Assim, nota-se que 0 CDC deve ser utilizado em diálogo com


0 Estatuto do Idoso nas hipóteses que estejam presentes idosos
consumidores.
Portanto, para as hipóteses acima ventiladas que levam 0 idoso
consumidor ao superendividamento, pode-se utilizar o CDC e as nor­
mas protetivas aos idosos em diálogo para a proteção do idoso, em
toda sua dignidade e integridade física, moral e psíquica.
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Medidas de Proteção

3.1. MEDIDAS DE PROTEÇÃO


3.1.1. Disposições gerais
As hipóteses fáticas que ensejam as medidas de proteção estão
previstas no art. 43 do El:

- por ação ou omissão da sociedade ou


Aplicação de do Estado;
Direitos
Medidas de
violados ou - por falta, omissão ou abuso da família.
Proteção ao
ameaçados: curador ou entidade de atendimento;
Idoso
- em razão de sua condição pessoal.

0 disposto no art. 43 do El leva em consideração a sistemática da


aplicação da doutrina da proteção integral, para que fossem pre­
vistos mecanismos que pudessem garantir a preservação ou ainda
a reparação dos direitos fundamentais dos idosos, em hipóteses de
violação ou ameaça a direitos em razão da omissão ou abuso da
família, curador ou entidade de atendimento ou ainda em casos que
direitos sejam violados em razão de sua condição pessoal.
As situações de riscos que justificam a aplicação de medidas de
proteção possuem enorme diversidade, por isso dependem da aná­
lise concreta do caso a caso. São exemplos as situações de agressões
físicas, psíquicas, ou ainda de abandono material ou afetivo.
Segundo o Plano de Ação para o Enfrentamento da violência Con­
tra Pessoa Idosa da Presidência da República, publicado em 2005,
são categorias e tipologias para verificar as formas mais frequentes
de violências contra os idosos:
"A b u so físico, m aus-tratos físicos ou violência física dizem
respeito ao uso da força física para co m p elir os ido so s a
fazerem 0 que não d eseja m , para fe ri-lo s, provo car-lhes
dor, in cap acid ad e ou m orte.
106 E s ta t u t o d o id o s o - V o l. 4 5 • Fábio lanni Goldfinger

Abuso psicológico, violência psicológica ou maus-tratos psi­


cológicos correspondem a agressões verbais ou gestuais
com 0 objetivo de aterrorizar os idosos, humilhá-los, res­
tringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social.
Abuso sexual, violência sexual referem-se ao ato ou ao jogo
sexual de caráter homo ou heterorrelacional, utilizando
pessoas idosas. Esses agravos visam a obter excitação, re­
lação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento,
violência física ou ameaças.
Abandono é uma forma de violência que se manifesta pela
ausência ou deserção dos responsáveis governamentais,
institucionais ou familiares de prestarem socorro a uma
pessoa idosa que necessite de proteção.
Negligência refere-se à recusa ou à omissão de cuidados
devidos e necessários aos idosos, por parte dos respon­
sáveis familiares ou institucionais. A negligência é uma das
formas de violência contra os idosos mais presente no país.
Ela se manifesta, frequentemente, associada a outros abu­
sos que geram lesões e traumas físicos, emocionais e so­
ciais, em particular, para as que se encontram em situação
de múltipla dependência ou incapacidade.
Abuso financeiro e econômico consiste na exploração im­
própria ou ilegal dos idosos ou ao uso não consentido por
eles de seus recursos financeiros e patrimoniais. Esse tipo
de violência ocorre, sobretudo, no âmbito familiar.
Autonegligência diz respeito à conduta da pessoa idosa que
ameaça sua própria saúde ou segurança, pela recusa de
prover cuidados necessários a si mesma."
(http://www.saudeidoso.icict.fiocruz.br/pdf/PlanodeAcaopa-
raoEnfrentamentodaViolenciaContraaPessoaldosa.pdf).
0 abandono efetivo encontra fundamento na violação do princí­
pio da solidariedade familiar, na medida em que a expressão soli­
dariedade compreende a fraternidade e a reciprocidade. Por essa
razão, 0 disposto no art. 229 e 230 da CF estabelecem que os filhos
maiores e famílias devem amparar os idosos. Possuem 0 dever de
cuidado, de zelo, de respeito aos laços familiares e à condição da
pessoa idosa.
A família possui o dever jurídico de amparar os idosos, devendo
colocá-los a salvo de qualquer forma de negligência, discriminação,
crueldade, opressão, violência, e ainda, considerando a proteção
Cap. Ill • Medidas de Proteção 107

integral da pessoa idosa, abrangida pela preservação de sua saúde


mental em condições de dignidade, a omissão familiar implicará no
abandono afetivo ou ainda moral.
É possível ainda, caso seja possível constatar, que seja concedi­
da a indenização por danos morais ao idoso, caso haja o nexo de
causalidade entre o dano e abandono afetivo, embora não haja no
ordenamento jurídico norma específica sobre o dano moral no direi­
to de família.
A compensação por danos morais, incluída também as decorren­
tes do âmbito familiar, possui previsão expressa dentro dos direitos
e garantias fundamentais dos cidadãos a Carta Magna, nos termos
do art. 5°, inc. V e X.
Os danos morais podem decorrer da ofensa ao princípio da afe-
tividade. 0 princípio da afetividade decorre do dever imposto aos
pais em relação aos filhos e aos filhos em relação aos pais. Este prin­
cípio, embora seja implícito na Constituição Federal, se fundamenta
na evolução social da família brasileira, e ainda nos seguintes dis­
positivos constitucionais: 227, caput e 227, §§ 4°, 5° e 6°; e 230, caput.

Já decidiu 0 STJ que 0 abandono afetivo que decorre da omissão do genitor no


dever de cuidar da prole constitui elemento suficiente para caracterizar dano
moral compensável, pois 0 nonfacere que atinge 0 necessário dever de cuidado
(dever de criação, educação e companhia), importa em vulneração da imposi­
ção legal, gerando a possibilidade de pleitear compensação por danos morais
por abandono afetivo. Ainda registrou-se na decisão, que não há restrições le­
gais à aplicação das regras relativas à responsabilidade civil e ao consequente
dever de indenizar no Direito de Família e que 0 cuidado como valor jurídico
objetivo está incorporado no ordenamento pátrio não com essa expressão,
mas com locuções e termos que manifestam suas diversas concepções, como
se vê no art. 227 da CF. (REsp 1.159.242-SP, Rei. Min. Nancy Andrighi, julgado em
24/4/2012).

Embora seja mais comum a ocorrência da responsabilidade civil


nas relações familiares 0 abandono afetivo dos pais em relação aos
filhos, é possível que haja em relação aos idosos, por não raras ve­
zes, se encontrarem em situações de hipossuficiência econômica e
vulnerabilidade social, 0 que é possível denominar-se de abandono
afetivo inverso.
Tendo em vista existirem diversas medidas e institutos que visam
proteger 0 idoso de um abandono seja ele material, seja ele afetivo,
bem como é possível a aplicação do instituto da responsabilização civil
108 E s ta t u t o d o Id o s o - V o l. 4 5 • Fábio la n n i Goldfinger

às relações familiares, conclui-se que poderá haver responsabilização


civil de eventuais danos morais causados resultantes de abandono
afetivo por aqueles que responsáveis pelos idosos, sejam eles filhos,
netos ou demais parentes que possuíam o dever de ampara-los.
Assim, a omissão, de quaisquer dos responsáveis por amparar o
idoso, sejam familiares ou não, em prestar assistência afetiva, moral
ou material, de forma a negar a possibilidade de um convívio sadio
e digno, poderá configurar ato ilícito, possibilitando a reparação de
danos morais daí advindos.
Para a concessão de medidas de proteção, ainda pode-se men­
cionar as pessoas idosas vítimas de maus-tratos, de negligência de
saúde, de higiene, falta de acesso aos serviços públicos assistenciais,
políticas sociais insuficientes.
Também a omissão na prestação de alimentos poderá justificar a
prestação de medidas de proteção, em face da responsabilidade so­
lidária da família, consoante disposto no art. 12 do El e art. 229 da CF.
As violações aos direitos da pessoa idosa possuem duas conse­
quências jurídicas a serem observadas:

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


0 concurso para promotor de justiça do Estado de São Paulo (MPE-
-SP/2012), questionou sobre quais as medidas específicas de proteção
são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos no Estatuto do
Idoso (Lei n° 10.741/2003) forem ameaçados ou violados.

A figura denominada de curador deverá surgir quando haja no­


meação da justiça com a finalidade de representar 0 idoso incapaz
C a p . Ill . M e d i d a s d e P r o t e ç ã o 109

de gerir seus bens ou sua pessoa. Caso o curador pratique qualquer


ato que acarrete prejuízos de qualquer ordem, restará configurado
o abuso ou omissão.

3.1.2. Medidas de proteção específicas


0 El, no art. 45/ prevê a aplicação das Medidas Específicas de
Proteção:

Medidas de São
Legitimado: E s p é c ie s :
p ro te çã o : aplicadas:

encaminhamento à família ou
curador, mediante termo de
responsabilidade;

orientação, apoio e acompa­


nhamento temporários;

Ministério requisição para tratamento de


Público sua saúde, em regime ambula-
ou torial, hospitalar ou domiciliar;
Ameaça ou Isoladas
Requerimento
violação de ou
do Ministério inclusão em programa oficial ou
direitos cumuladas
Público comunitário de auxílio, orienta­
ao Poder ção e tratamento a usuários
Judiciário dependentes de drogas lícitas
ou ilícitas, ao próprio idoso ou
à pessoa de sua convivência
que lhe cause perturbação;

abrigo em entidade;

abrigo temporário;

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Promotor de Justiça do Estado de SC (MPE-SC. 2016)
foi perguntado se dentre as medidas de proteção estabelecidas pelo
Estatuto d o Id o so , no ca so d e a m e a ç a ou v io la ç ã o a o s d ire it o s do
idoso, estão: 0 encaminhamento à família ou curador, mediante termo
de responsabilidade; a requisição para tratamento de sua saúde, em
regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar; e 0 abrigo em entidade.
As medidas de proteção podem ser determinadas ou requeridas pelo
Ministério Público, não podendo 0 Poder Judiciário determiná-las de
ofício.
0 item foi considerado verdadeiro.
no E s t a t u t o d o id o s o - V o l. 4 5 • Fábio lanni Coldfinger

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Promotor de justiça (MPE-RS. 2016) foi pedido:
Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as seguintes afirmações,
relativas a dispositivos da Lei n° 10.741/2003.
( ) No caso de pessoa idosa abrigada em entidade filantrópica de
longa permanência, ou casa-lar, é facultada a cobrança de participação
do idoso no custeio da entidade, desde que não exceda ao valor do
benefício mensal de 1 (um) salário mínimo previsto na Lei n° 8.742/93
(Lei orgânica da assistência social - Loas).
( ) Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratui­
dade dos transportes coletivos públicos urbanos e semiurbanos, sendo
que para ter acesso ao benefício basta a realização de cadastramento
prévio.
( ) Constitui obrigação das entidades de atendimento ao idoso propi­
ciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas
crenças.
( ) Verificada ameaça ou violação a direitos de pessoa idosa, 0 Mi­
nistério Público ou 0 Poder Judiciário, a requerimento daquele, pode
determinar, dentre outras, a medida de orientação e tratamento a
usuário dependente de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à
pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para
baixo, é F-F-V-V.
A alternativa d) (F-F-V-V) foi considerada correta.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Advogado (Pref. de Piracanjuba-CO. 2017) foi per­
guntado:
O Estatuto d o Id o so (Lei n .° 10 .74 1/2 0 0 3 ) d e te rm in a com o m e d id a s d e
proteção ao idoso, a serem aplicadas isoladas e cumulativamente
a) abrigo em entidade e abrigo permanente;
b) encaminhamento a órgão responsável pelo tratamento de usuários
de drogas ilícitas;
c) orientação, apoio e acompanhamento temporários e abrigo em en­
tidade;
d) repreensão à família ou ao curador, que deverá assinar termo de
responsabilidade pelo idoso.
A alternativa c) foi considerada correta.
C a p . ill • M e d id a s d e P r o t e ç ã o 111

I Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para promotor de justiça do Estado de São Paulo (MPE-
-SP/2010), foi perguntado em prova discursiva: • diretrizes assumidas
pelo Estatuto do Idoso destinadas a instituir medidas de proteção aos
idosos. Discorra acerca das disposições gerais e das medidas específi­
cas de proteção, especificando cada uma delas; •garantia de priorida­
de atribuída aos idosos; •0 direito à liberdade, ao respeito e à digni­
dade que são assegurados aos idosos pelas disposições constantes no
Estatuto do Idoso, especificando em que consiste 0 direito ao respeito
e quais aspectos estão compreendidos no direito à liberdade.

0 El é expresso em buscar a preservação dos vínculos familiares,


prevendo, assim, como primeira medida de específica de proteção,
0 encaminhamento do idoso à sua família, devendo interpretar a fa­
mília em sentido amplo, abrangendo a família extensa e a substituta.
0 inc. II do art. 45 do El, tem-se que os programas de orientação,
de apoio e ainda os acompanhamentos temporários aos idosos de­
vem ter como baliza 0 disposto no art. 46 do El, 0 qual estabelece
que a política de atendimento aos idosos deverá ser realizada por
meio de conjunto articulado de ações governamentais e não gover­
namentais entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Analista Legislativo (Consultor Legislativo - Câmara dos
Deputados/2014 - CESPE) foi elaborada a seguinte assertiva: As medidas
de proteção ao idoso incluem inserir pessoas usuárias de substâncias
psicoativas que convivam com idosos e lhe causem sofrimento psico­
lógico ou físico em programas oficiais ou comunitários de auxílio, de
orientação e de tratamento. A assertiva foi considerada correta. Art.
45 do E.l.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Exame da OAB (FCV. OAB. XXIII. 2017) foi perguntado:
João sempre agiu de forma prestativa e solidária na comunidade, aju­
dando todas as pessoas conforme suas possibilidades. Agora, os co­
nhecidos estão revoltados porque ele foi abandonado pelos filhos,
quando eles se tornaram adultos. Enquanto os filhos estão emprega­
dos, joão tem dificuldades financeiras até para comprar comida. Você
foi procurado(a) por um grupo de pessoas que buscam amparo para
esse idoso. Tendo em vista a Constituição da República e 0 Estatuto do
Idoso, assinale a afirmativa correta
112 E s ta t u t o d o Id o s o - V o l. 4 5 • Fábio la n n i Coldfinger

a) 0 dever de amparo, incluindo obrigação alimentar, dá-se apenas


dos pais para os filhos; portanto, não se pode exigir juridicamente dos
filhos a prestação alimentar para os pais que estejam em necessidade;
b) João pode exigir judicialmente dos filhos prestação alimentar que
funcione como amparo, mas caso seus filhos se mantenham omissos, 0
Poder Judiciário ou 0 Ministério Público podem determinar medida de
orientação e apoio temporários;
c) A pensão alimentícia por parte dos filhos é exigível judicialmente, mas
se houver inadimplência, não há nenhuma medida de proteção que 0
Poder Judiciário possa determinar, pois se trata de questão privada;
d) Não há alternativa jurídica para 0 problema de João de acordo com
a legislação brasileira, sendo a única solução possível a solidariedade
de pessoas próximas e sensíveis.
A alternativa b) foi considerada correta.

Já nas medidas relacionadas à saúde do idoso envolve o Sistema


Único de Saúde, consoante estabelecido na Lei n° 8.080/90, que dis­
põe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação
da saúde, bem como organiza os serviços correspondentes.
Por sua vez, os serviços de atendimento institucional serão or­
ganizados pela rede de proteção social especial, que faz parte do
Sistema Único de Assistência Social, estabelecido pela Lei Orgânica da
Assistência Social (Lei n° 8.742/93).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para promotor de justiça (MPSP/2013 - VUNESP), foi per­
guntado sobre as regras dispostas na Lei n° 10.741, de 1° de outubro de
2003 (Estatuto do Idoso), a respeito das medidas específicas de pro­
teção ao idoso. No mesmo sentido, foi questionado no concurso para
assessor do Ministério Público (UCP - Assessor - Direito - MPE - RS/2014).

0 Ministério Público é a instituição, segundo 0 El, responsável pela


tutela dos direitos dos idosos, determinando ou requerendo junto ao
Poder Judiciário que se determine a adoção de medidas protetivas.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Analista do INSS (CESPE/2016) foi perguntado:
0 Poder Judiciário pode, de ofício, determinar medida de proteção ao
idoso na hipótese de ação ou omissão estatal que viole direito que lhe
seja reconhecido no Estatuto do Idoso.
0 item foi considerado falso.
C a p . Ill • M e d id a s d e P r o t e ç ã o 113

Não são todas as medidas que podem ser determinadas direta­


mente pelo Ministério Público, pois aquelas restrições involuntárias
que afetem ao direito de liberdade, como na hipótese de uma inter­
nação compulsória, dependem de uma decisão judicial.

A jurisprudência do STJ entende que o Ministério Público tem legitimidade ativa


ad causam para propor ação civil pública com o objetivo de proteger in t e r e s s e
in d iv id u a l d e id o s o , ante o disposto nos artigos 74, 15 e 79 do Estatuto do Idoso
(Lei 10.741/03) (EREsp 695 665/RS, Rei. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 23/04/2008, DJe 12/05/2008).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para promotor de Justiça de Minas Gerais (ConsulplanMP/
MG/2012), foi questionado quais as medidas que poderá 0 Ministério
Público determinar, quando verificada a ameaça ou violação dos direi­
tos reconhecidos aos idosos pelo Estatuto.

Observe-se que 0 rol das medidas de proteção ao idoso é


exemplificativo.
Ainda se esclareça que as medidas de proteção poderão ser apli­
cadas isoladas ou cumulativamente, bem como não excluem outras
medidas dentro do Estatuto do Idoso e ainda se complementam com
outras leis que tratam sobre a mesma matéria.
Destaca-se que 0 El não previu medidas de emergência capazes
de defender os idosos em hipóteses de risco iminente, ameaça ou
violência de seus direitos.
Por isso, permite-se ao Poder Judiciário, aplicar as medidas pro-
tetivas da Lei Maria da Penha ao idoso em situação de risco, através
de uma aplicação analógica.
0 art. 22 da Lei Maria da Penha prevê que quando constatada
a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, 0 juiz
poderá aplicar algumas medidas protetivas de urgência contra 0
agressor, de forma conjunta ou separada:
I - susp ensão da posse ou restrição do porte de armas, com
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei n°,
10.826. de 22 de dezem bro de 2003:

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência


com a ofendida;
114 E s t a t u t o d o Id o s o - V o l. 4 5 • Fábio lanni Goldfinger

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:


a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das tes­
temunhas, fixando 0 limite mínimo de distância entre estes
e 0 agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas
por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preser­
var a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes me­
nores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou
serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
Também será possível que sejam aplicadas as medidas cautela-
res previstas no CPP, aplicando-se a conversão em prisão preventi­
va, caso sejam descumpridas as cautelares diversas impostas.
As medidas cautelares diversas da prisão preventiva, previstas
no art. 319 do CPP, também poderão ser utilizadas para resguardar
os direitos dos idosos:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo


juiz, para informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por cir­
cunstâncias relacionadas ao fato, deva 0 indiciado ou acusado permanecer dis­
tante desses locais para evitar 0 risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circuns­
tâncias relacionadas ao fato, deva 0 indiciado ou acusado dela permanecer
distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja convenien­
te ou necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando 0
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza eco­
nômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática
de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou
semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar 0 comparecimento a
atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistên­
cia injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
C a p . ill • M e d id a s d e P r o t e ç ã o 115

Estabelece o Código de Processo Penal que é possível a decre­


tação da prisão preventiva diante de crime que envolva violência
doméstica contra mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
com deficiência, como forma de garantir a execução das medidas
protetivas de urgência. A norma é imposta em razão da vulnerabili­
dade própria dos grupos por ela protegidos.
Independente da pena cominada a prisão preventiva poderá ser
decretada para que seja garantida a execução de medida de prote­
ção ao idoso, desde que estejam previstos os requisitos e pressu­
postos fundamentadores da prisão cautelar.
Ainda poderão ser utilizadas as tutelas de urgências previstas
no art. 300 do CPC, bem como os instrumentos necessários à sua
efetivação (art. 301 do CPC). Dispõe 0 art. 300 do CPC: "A tutela de ur­
gência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e 0 perigo de dano ou 0 risco ao resultado
útil do processo.".
Por fim, observa-se que 0 art. 82 do El admite qualquer espécie
de ação em defesa dos interesses protegidos, incluindo 0 mandado
de segurança.
As medidas beneficiadoras previstas no artigo 45 podem alcançar
outras pessoas, incluindo aqueles que comentem infração.
Política dp Atendimento ao Idoso

4.1. A POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO


A política de atendimento ao idoso será realizada através do
conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 46
do El).

Só com essa articulação poderá ser aplicada a doutrina da pro­


teção integral.
Para se dar efetividade ao art. 230, caput, da CF, faz-se necessá­
rio que a política de atendimento ao idoso seja implementada de
forma articulada entre órgãos do governo e privado, seja através
de convênios ou parcerias, outros mecanismos de atuações entre as
instituições públicas e privadas.
As ações em prol dos idosos não são realizadas apenas pelo
Estado, mas também através de toda a sociedade (organizações não
governamentais).
As ações governamentais previstas no art. 46 do El abarcam atua­
ções nas mais diversas áreas, como saúde, esporte, previdência, cul­
tura, assistência social, educação, direcionadas a efetivar as políticas
públicas do Estado e os direitos dos idosos definidos pelo El.
118 E s t a t u t o d o Id o s o - V o l. 4 5 • Fábio lanni Goldfinger

Nesse sentido, estabelece o art. 47 do El as linhas de ações polí­


ticas de atendimento ao idoso:

- políticas sociais básicas, previstas na Lei n° 8.842, de 4 de janeiro de 1994

- políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles


que necessitarem;

- serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência,


maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

- serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos


abandonados em hospitais e instituições de longa permanência;

- proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos;

- mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos seg­


mentos da sociedade no atendimento do idoso.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Analista Legislativo (Consultor Legislativo - Câmara dos
Deputados/2014) foi elaborada a seguinte assertiva: Entre as ações pre­
vistas na política de atendimento ao idoso, incluem-se os serviços para
a identificação e a localização de parentes ou de responsáveis por
idosos abandonados em hospitais e instituições de longa permanência.
A assertiva foi considerada como correta. Art. 47 do Estatuto do Idoso.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Procurador Jurídico (UNILAVRAS. Pref. de Campo Belo-
-MG. 2016) foi perguntado:
Quanto ao Estatuto do Idoso é INCORRETO afirmar que:
a) destina-se a regular os direitos assegurados às pessoas com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos;
b) idoso goza parcialmente dos direitos fundamentais inerentes à pes­
soa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata a Lei, as­
segurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades
e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições
de liberdade e dignidade;
c) é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao es­
porte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
respeito e à convivência familiar e comunitária;
C a p . IV • P o lít ic a d e A t e n d im e n t o a o Id o s o 119

d) Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discri­


minação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus
direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
A alternativa b) foi considerada a correta.

As diretrizes do art. 47 do El já estavam materializadas na Lei de


Política Nacional do Idoso (Lei n° 8.842/94), previstas no art. 4°.
As políticas sociais básicas mencionadas no art. 47, I do El, não
é expressão utilizada na Lei de Política Nacional do Idoso, contudo,
subentende-se que 0 El refere-se às ações governamentais previstas
no art. 10 da Lei de Política Nacional do Idoso.
Segundo 0 referido art. 10, quando da implementação da políti­
ca nacional do idoso são de competências dos órgãos e entidades
públicos:

Á r e a d e p r o m o ç ã o e a s s is t ê n c ia s o c ia l

• prestar serviços e desenvolver ações voltadas para 0 atendimento das neces­


sidades básicas do idoso, mediante a participação das famílias, da sociedade
e de entidades governamentais e não governamentais.

• estimular a criação de incentivos e de alternativas de atendimento ao idoso,


como centros de convivência, centros de cuidados diurnos, casas-lares, ofici­
nas abrigadas de trabalho, atendimentos domiciliares e outros;

• promover simpósios, seminários e encontros específicos;

• planejar, coordenar, supervisionar e financiar estudos, levantamentos, pesqui­


sas e publicações sobre a situação social do idoso;

• promover a capacitação de recursos para atendimento ao idoso;

Á re a de sa ú d e

• garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do


Sistema Único de Saúde;

• prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde do idoso, mediante progra­


m a s e m e d id a s p ro filáticas;

• adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas e simila­


res, com fiscalização pelos gestores do Sistema Único de Saúde;

• elaborar normas de serviços geriátricos hospitalares;

• desenvolver formas de cooperação entre as Secretarias de Saúde dos Esta­


dos, do Distrito Federal, e dos Municípios e entre os Centros de Referência em
Geriatria e Gerontologia para treinamento de equipes interprofissionais;
120 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

• incluir a Geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos públi­


cos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais;

• realizar estudos para detectar 0 caráter epidemiológico de determinadas


doenças do idoso, com vistas a prevenção, tratamento e reabilitação; e

• criar serviços alternativos de saúde para 0 idoso;

Área de educação

• adequar currículos, metodologias e material didático aos programas educacio­


nais destinados ao idoso;

• inserir nos currículos mínimos, nos diversos níveis do ensino formal, conteú­
dos voltados para 0 processo de envelhecimento, de forma a eliminar precon­
ceitos e a produzir conhecimentos sobre 0 assunto;

• incluir a Gerontologia e a Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos


superiores;

• desenvolver programas educativos, especialmente nos meios de comunica­


ção, a fim de informar a população sobre 0 processo de envelhecimento;

• desenvolver programas que adotem modalidades de ensino à distância, ade­


quados às condições do idoso;

• apoiar a criação de universidade aberta para a terceira idade, como meio de


universalizar 0 acesso às diferentes formas do saber;

Área de trabalho e previdência social

• garantir mecanismos que impeçam a discriminação do idoso quanto a sua


participação no mercado de trabalho, no setor público e privado;

• priorizar 0 atendimento do idoso nos benefícios previdenciários;

• criar e estimular a manutenção de programas de preparação para aposenta­


doria nos setores público e privado com antecedência mínima de dois anos
antes do afastamento;

Área de habitação e urbanismo

• destinar, nos programas habitacionais, unidades em regime de comodato ao


idoso, na modalidade de casas-lares;

• incluir nos programas de assistência ao idoso formas de melhoria de condi­


ções de habitabilidade e adaptação de moradia, considerando seu estado
físico e sua independência de locomoção;

• elaborar critérios que garantam 0 acesso da pessoa idosa à habitação po­


pular;

• diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas;


C a p . IV • P o lít ic a d e A t e n d im e n t o a o Id o s o 121

Área de justiça

• promover e defender os direitos da pessoa idosa;

• zelar pela aplicação das normas sobre o idoso determinando ações para evi­
tar abusos e lesões a seus direitos;

Área de cultura, esporte e lazer

• garantir ao idoso a participação no processo de produção, reeiaboração e


fruição dos bens culturais;

• propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços


reduzidos, em âmbito nacional;

• incentivar os movimentos de idosos a desenvolver atividades culturais;

• valorizar o registro da memória e a transmissão de informações e habilidades


do idoso aos mais jovens, como meio de garantir a continuidade e a identida­
de cultural;

• incentivar e criar programas de lazer, esporte e atividades físicas que propor­


cionem a melhoria da qualidade de vida do idoso e estimulem sua participa­
ção na comunidade.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Advogado da Prefeitura de Pompeia (CEMAT. Pref. de
Pompeia - SP. Advogado. 2016) foi perguntado: segundo a Lei n° 8.842/94:
I. Na área de saúde: garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diver­
sos níveis de atendimento no setor público e privado, em detrimento
ao Sistema Único de Saúde;
II. Na área de saúde: propiciar e incentivar 0 funcionamento de institui­
ções geriátricas e asilos dentro do Sistema Único de Saúde;
III. Na área de cultura, esporte e lazer: garantir ao idoso a participação
no processo de produção, reeiaboração e fruição dos bens culturais;
IV. Na área de cultura, esporte e lazer: valorizar 0 registro da memó­
ria e a transmissão de informações e habilidades do idoso aos mais
jovens, como meio de garantir a continuidade e a identidade cultural.
Resposta: estão corretos os itens III e IV.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Advogado (Pref. de Piracanjuba-GO. 2017) foi per­
guntado:
Conforme 0 que dispõe a Lei n.° 8.842/1994, que dispõe sobre a política
nacional do idoso, há previsão, no artigo 10, como competências dos
órgãos e entidades públicos na área de promoção e assistência social
122 E s t a t u t o d o id o s o - V o l. 4 5 • Fábio la n n i Goldfinger

a) prestar sen/iços e desenvolver ações voltadas para o atendimen­


to das necessidades básicas do idoso, mediante a participação das
famílias, da sociedade e de entidades governamentais e não gover­
namentais;
b) adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas
e similares, com fiscalização pelos gestores do Sistema Único de Saúde;
c) desenvolver programas educativos, especialmente nos meios de
comunicação, a fim de informar a população acerca do processo de
envelhecimento;
d) criar e estimular a manutenção de programas de preparação para
aposentadoria nos setores público e privado com antecedência mínima
de dois anos em relação ao afastamento.
A alternativa a) foi considerada correta.

0 art. 47, inc. II do El, estabelece que os órgãos governamentais


deverão promover política de assistência social aos idosos, e de
forma aparentemente similar, dispõe o art. 10, 1 da Lei n° 8.824/94,
assegura que na implementação da política nacional do idoso deve­
rão os órgãos públicos atuar para a promoção e assistência social
aos idosos. Contudo, há diferença entre estes dispositivos legais!
No inc. II do art. 47 há referência à assistência apenas aos ido­
sos necessitados, enquanto 0 art. 10, inc. I, atua de forma mais
abrangente.
Ao realizar a interpretação do art. 47, inc. II, do El, pode-se con­
cluir que 0 atendimento não será para as pessoas com mais de 60
anos ou mais, mas somente para aqueles idosos necessitados.
0 inc. Ill, do art. 47 do El menciona os serviços especiais, sendo
estes considerados os diversos meios de atendimentos aos idosos,
como o social, jurídico, de saúde, psicológico, cabendo não só ao
Estado, mas principalmente através de uma ação conjunta entre 0
Estado, Ministério Público e a sociedade civil organizada, como asso­
ciações de defesa do idoso, entre outras.
A criação do serviço de identificação e localização de parentes ou
responsáveis abandonados em hospitais e instituições de longa per­
manência, mencionados no art. 47, inc. IV, do El, é muito importante
para que se impeça que idosos que possuem famílias, sejam coloca­
dos em abrigos ou entidades similares, pois é prioridade do idoso,
0 atendimento pela sua própria família (art. 3°, par. único, V, do El).
C a p . IV . P o lít ic a d e A t e n d im e n t o a o Id o s o 123

0 texto legal utiliza a expressão "idosos abandonados" não ape­


nas no sentido da vontade deliberada dos parentes ou responsá­
veis, mas também quando ocorrem situações que independem da
vontade daquelas pessoas, como na hipótese do idoso morar sozi­
nho, adoecer e ficar internado em um hospital, sem o conhecimento
da família, seja porque não possui contato com os familiares, seja
porque desconhece o lugar onde vivem.
0 art. 47, inc. V do El diz respeito às entidades que tenham, entre
suas finalidades, a defesa dos direitos dos idosos. A proteção jurídi-
co-social deverá ser realizada tanto por pessoas jurídicas de direito
público, como por pessoas jurídicas de direito privado.
Das entidades que visam a defesa do idoso, destaca-se o Ministé­
rio Público, em razão das suas atribuições previstas na Constituição
Federal e nas Leis Orgânicas.
A Ordem dos Advogados do Brasil e a Defensoria Pública são
outras instituições que também poderão promover a defesa dos
idosos.
0 art. 47/ inc. VI estabelece uma norma para orientar e mobilizar
a sociedade sobre os direitos dos idosos, como forma de garantir
que estes possuam um atendimento adequado nas diferentes áreas
que vigem os diretos que lhes são assegurados. Assim, a mobiliza­
ção junto à sociedade deverá ocorrer na imprensa falada, internet,
imprensa escrita, televisionada, para que juntos, tanto o Poder Pú­
blico, como as organizações sociais, não governamentais, possam
conscientizar a população em geral sobre a obrigação de todos no
atendimento aos idosos, possibilitando a inclusão dessas pessoas
na sociedade.

4.2. ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO


As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção
das próprias unidades, observadas as normas de planejamento e
execução emanadas do órgão competente da Política Nacional do
Idoso.
Em razão de graves problemas de ordem econômica, de planeja­
mento e administração de recursos públicos que envolvem o Estado,
a jurisprudência, no que tange aos direitos sociais, impõe o que se
denomina de reserva do possível.
124 E s t a t u t o d o id o s o - V o l. 4 5 • Fábio lanni Goldfinger

O tema reserva do possível é argumento bastando invocado em sede efetivação e


implementação (usualmente onerosas) de determinados direitos cujo adimplemen-
to, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestações estatais positivas concre-
tizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas. Para os tribunais supe­
riores, 0 princípio da reserva do possível não pode ser invocado em oposição ao
princípio do mínimo existencial. Não pode 0 Estado utilizar 0 argumento da escas­
sez de recursos para escusar-se do cumprimento de suas obrigações prioritárias,
marcadamente na efetivação dos direitos essenciais (garantia 0 mínimo existen­
cial), como, por exemplo, no implemento de políticas públicas voltadas a educação,
saúde e segurança. (STJ, 2» Turma, REsp. 1.389.952-MT, Rei. Min. Herman Benjamin, J.
3/6/2014) (STF, ARE 745745 AgR, Rei. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, j. 2/12/2014).

As entidades governamentais e não governamentais de assistên­


cia ao idoso ficam sujeitas à inscrição de seus programas, junto ao
órgão competente da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal da
Pessoa Idosa e, em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional
da Pessoa Idosa, especificando os regimes de atendimento.
São requisitos que as entidades governamentais e não governa­
mentais precisam observar quando da inscrição de seus programas:

• oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higie­


ne, salubridade e segurança;

• apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com os


princípios do Estatuto do Idoso;

• estar regularmente constituída;

• demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.

0 El não explicita quais circunstâncias, bem como quais os tipos


de entidades deverão inscrever seus programas. Tal explicitação de­
verá ficar a ca rg o d o C o n se lh o M u n icip a l d a P e s s o a Id o sa , pois a
lei determina que a inscrição das entidades seja realizada junto a
referido órgão. Terá, portanto, o Conselho Municipal, discricionarie-
dade de especificar, por meio de Resolução, quais as circunstâncias
e modalidades em que a inscrição dos regimes serão obrigatórios,
além dos documentos necessários, os requisitos necessários, prazo
para renovação da inscrição, as consequências de uma eventual não
inscrição do programa, entre outros.
Na hipótese das entidades que desenvolvam programas de ins­
titucionalização de longa permanência ao idoso, deverá haver a ob­
servância dos seguintes princípios:
C a p . IV • P o lít ic a d e A t e n d im e n t o a o Id o s o 125

• preservação dos vínculos familiares;

• atendimento personalizado e em pequenos grupos;

• manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior;

• participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo;

• observância dos direitos e garantias dos idosos;

As Instituições de Longa Permanência para Idosos possuem uma


regulamentação técnica prevista na RDC n° 283/05 (ANVISA), com a
finalidade de garantir aos idosos os direitos assegurados no El, bem
como prevenir e reduzir os riscos dos idosos nessas Instituições. As
secretarias de saúde estaduais, municipais e do Distrito Federal de­
vem implementar procedimentos previsto na mencionada RDC, mas
poderá adotar normas de caráter suplementar, com a finalidade de
adequá-lo às especificidades locais.
A RDC n° 283/05 (ANVISA) traz em seu bojo uma definição de Insti­
tuições de Longa Permanência para Idosos (ILPI): "instituições gover­
namentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinada
a domicilio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60
anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e dig­
nidade e cidadania.".
0 referido RDC traça de forma bem minuciosa as condições e
requisitos necessários, bem como estabelece um padrão mínimo de
funcionamento das Instituições de Longa Permanência para Idosos.
Importante destacar que 0 eventual descumprimento das deter­
minações da mencionada RDC constitui infração de natureza sani­
tária sujeitando o infrator a processo e penalidades previstas na
Lei n° 6437, de 20 de agosto de 1977, ou instrumento legal que ve­
nha a substituí-la, sem prejuízo das responsabilidades penal e civil
cabíveis.
Para a constituição das entidades a escolha dos dirigentes de­
vem obedecer a legislação regulamentadora, devendo seus dirigen­
tes serem escolhidos de forma a demonstrar aptidão, habilidade e
honestidade para 0 exercício da função, além de que poderá ser
solicitada pelos órgãos de fiscalização toda a documentação hábil
para o preenchimento dos requisitos necessários, como a cópia do
ato ou contrato constitutivo da entidade, devidamente registrado
e atual; cópia do regimento interno ou estatuto social da entidade
126 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

devidamente atualizado; cópia da ata de eleição da atual diretoria


da entidade e da mantenedora; cópia do registro de inscrição no
Conselho Municipal do Idoso ou outra Instituição que tenha auto­
rização para substituí-lo; cópia do alvará da autorização sanitária;
cópia do alvará de localização e funcionamento do Município; cópia
de alvará emitido pelo Corpo de Bombeiro; cópia da inscrição ou re­
gistro do CNPJ; folha de antecedentes criminais dos atuais diretores;
listagem completa e mais especificada possível de todos os idosos
abrigados, inclusive com cópia do contrato firmado.
Preceitua o art. 49, parágrafo único, do El, a regra da indepen­
dência das instâncias, pois haverá responsabilização civil e penal,
sem prejuízo das sanções administrativas, aos dirigentes de institui­
ções prestadoras de atendimento ao idoso.
De acordo com 0 disposto no art. 50 do El, são obrigações das
entidades de atendimento:

► celebrar contrato escrito de prestação de serviço com 0 idoso, especificando


0 tipo de atendimento, as obrigações da entidade e prestações decorrentes
do contrato, com os respectivos preços, se for 0 caso;
► observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos;
► fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimentação suficiente;
► oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade;
► oferecer atendimento personalizado;
► diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares;
► oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas;
► proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso;
► promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer;
► propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas
crenças;
► proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
► comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso por­
tador de doenças infectocontagiosas;
► providenciar ou solicitar que 0 Ministério Público requisite os documentos
necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem, na forma
da lei;
► fornecer comprovante de depósito dos bens móveis que receberem dos
idosos;
► manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendi­
mento, nome do idoso, responsável, parentes, endereços, cidade, relação de
seus pertences, bem como 0 valor de contribuições, e suas alterações, se hou­
ver, e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do
atendimento;
C a p . IV . P o lít ic a d e A t e n d im e n t o a o Id o s o 127

► comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de


abandono moral ou material por parte dos familiares;
► manter no quadro de pessoal profissionais com formação específica.

0 art. 50 do El não esgota todas as obrigações das entidades de


atendimento, pois há outras espalhadas, inclusive no próprio El:
a) art. 37, § 2°, onde se determina a obrigação de toda instituição
dedicada ao atendimento ao idoso a manter identificação ex­
terna visível, sob pena de interdição, além de atender toda a
legislação pertinente;
b) as entidades de longa permanência são obrigadas a firmar con­
trato de prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada
(art. 35, caput); e
c) a participação do idoso não poderá ultrapassar a 70% (setenta
por cento) de qualquer benefício previdenciário ou de assistên­
cia social percebido pelo idoso (art. 35, § 2°).

I Atenção!
0 fornecimento obrigatório de vestuário adequado é nas instituições
públicas.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi perguntado no concurso de Defensor Público do Estado da Paraíba
(FCC - Defensor Público - PB/2014), em que constituem obrigações das
entidades de atendimento ao idoso, públicas ou privadas.

0 El reconhece que há uma relação de consumo entre os idosos


e a entidade que presta serviço com 0 objetivo de oferecer moradia
coletiva, razão pela qual a entidade deverá firmar contrato escrito
de prestação de serviços.
As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos prestadoras de
serviço ao idoso terão direito à assistência judiciária gratuita.
A entidade filantrópica ou sem fins lucrativos que presta serviços
ao idoso deverá apresentar todos os documentos relativos ao seu
estatuto ou atos constitutivos, capazes de demonstrar 0 atendimen­
to aos fins de proteção ao idoso, para, assim, fazer jus ao direito à
assistência judiciária de forma gratuita.
128 E s t a t u t o d o Id o s o - V o l. 4 5 • Fábio la r in i Goldfinger

Na hipótese de ações promovidas pelas entidades que não este­


jam dentro do objeto de proteção direta dos serviços disponibiliza­
dos aos idosos beneficiados, não poderão gozar da isenção acima
mencionada.
A previsão do art. 51 do El não se presta a disputas judiciais
relativas a composição patrimonial da entidade, quadro associati­
vo, despesas decorrentes de contrato de trabalho mantidos pela
entidade, pois tais situações não se amoldam aos fins previstos no
artigo mencionado, uma vez que a isenção se restringe à atividade
finalística da entidade.

► Atenção!
A Defensoria Pública pode assistir pessoas jurídicas pelo El.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público de Goiás (DP/GO/2010 - Instituto ci­
dades), foi perguntado se é garantido às instituições filantrópicas ou
sem fins lucrativos prestadoras de serviço ao idoso 0 direito à assis­
tência judiciária gratuita. No mesmo sentido 0 concurso para Defensor
Público do Maranhão (FCC, Defensor Público/MA - 2009).

Na hipótese de descumprimento das obrigações há penalidades


que podem ser impostas.

Na hipótese de interdição do estabelecimento de longa perma­


nência, os idosos abrigados serão transferidos para outra institui­
ção, as expensas do estabelecimento interditado, enquanto durar a
interdição.
C a p . IV . P o lít ic a d e A t e n d im e n t o a o Id o s o 129

4.2.1. Fiscalização das entidades de atendimento ao idoso


Segundo dispõe 0 art. 52 do El, a fiscalização das entidades
(governamentais e não governamentais) de atendimento ao idoso
caberá:

0 rol dos legitimados à fiscalização não é taxativo, pois outros


poderão exercer 0 seu poder de fiscalização, dentro de sua área
de atuação, como por exemplo, órgãos de segurança pública, como
0 corpo de bombeiros, nos aspectos de segurança dos prédios, ou
mesmo 0 Procon quanto a fiscalização dos contratos firmados entre
a entidade e os idosos, ou ainda os Tribunais de Contas.
Também prevê 0 art. 6° do El que todo cidadão deve fiscalizar as
entidades.
Os Conselhos do Idoso deverão exercer a supervisão, 0 acompa­
nhamento, a fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso,
n o s â m b ito s d a s re sp e c tiv a s in stâ n cia s político-ad m in istrativas, c o n ­
fo rm e e sta b e le c e o art. 7°, d a Lei 8.842/94.

As entidades de atendimento deverão dar publicidade das pres­


tações de contas dos recursos públicos e privados recebidos (art. 54
do El).
A publicidade é um princípio constitucional expresso da adminis­
tração pública, consoante disposto no art. 37, caput, da CF.
130 E s ta t u t o d o id o s o - V o l. 4 5 • Fábio lanni Goldfinger

0 Princípio da publicidade apresenta também duas acepções:

a) exige que o ato administrativo seja publicado em um órgão ofi­


cial como requisito de eficácia dos atos administrativos que de­
vam produzir efeitos externos e dos atos que impliquem em
ônus ao patrimônio público; e
b) exige a transparência na atuação administrativa.
Do princípio da publicidade decorre o direito de petição aos Po­
deres Públicos e o direito à obtenção de certidões em repartições
públicas (art. 5°, inc. XXXIV, "a" e "b", respectivamente), além do
dever de divulgação dos atos oficiais.
As exceções ao princípio da publicidade possuem contornos
constitucionais e podem ser admitidas nos casos expressos na pró­
pria CF: a) art. 5°, inc. X, da CF, nos casos inviolabilidade da intimida­
de, vida privada e da honra; b) art. 5°, inc. XXXIII, da CF, quando as
informações forem imprescindíveis para a segurança da sociedade
e do Estado e c) art. 5°, inc. LX, da CF, ocasião em que a publicidade
poderá ser restrita nos casos de defesa da intimidade ou 0 interesse
social exigir.
A prestação de contas da utilização de recursos público é norma
de natureza constitucional. Dispõe 0 parágrafo único do art. 70 da
CF que: "Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre di-
nheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou
que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.".
Assim, a fiscalização contábil e financeira exercida pelo Congresso
Nacional, mediante controle externo, com 0 auxílio do Tribunal de
Contas é realizado em pessoas físicas ou jurídicas, sejam elas pú­
blicas ou privadas, desde que de alguma forma mantenham contato
com recursos públicos.
Caso a verba seja federal, é possível que a atribuição seja do
Tribunal de Contas da União, mas se for verba pública estadual, a
fiscalização será do Tribunal de Contas estadual ou municipal, se
houver.

Atenção!
Nem sempre a verba pública de natureza federal deverá a prestação
de contas ser destinada ao Tribunal de Contas da União.
Cap. IV . Política de Atendimento ao Idoso 131

Já decidiu o STJ que compete à Justiça Estadual processar e julgar ação de ressar­
cimento movida contra ex-prefeito, pela inaplicação de verbas federais repas­
sadas por força de convênio (REsp 925.494/RN, Rei. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 16/03/2010, DJe 26/03/2010).

Para que seja efetivada a prestação de contas, de modo que a


mesma seja pública, as informações deverão ser prestadas de forma
contábil, publicadas no Diário Oficial ou por edital afixado em lugar
próprio para que sejam divulgados os atos públicos.
Para viabilizar a fiscalização, todos os comprovantes que digam
respeito às despesas e receitas da entidade devem ser devidamente
descritos e individualizados, se for 0 caso, de cada um dos idosos,
que os mesmos tenham deixado a entidade, quando da prestação
de contas.

►Atenção!
Tanto os recursos públicos, como os recursos privados deverão ob se r­
var a regra da publicidade.

4.2.I.I. Fiscalização pelo Ministério Público das Instituições de Longa


Permanência para Idosos
A atribuição do Ministério Público na fiscalização dos Instituições
de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) está prevista tanto na Lei
Orgânica Nacional do MP (art. 25, inc. VI), como no próprio Estatuto
do Idoso (art. 74, inc. VIII).
É certo que tal atribuição não exclui, tampouco substitui, a atua­
ção de fiscalização dos órgãos sanitários ou assistenciais. A tarefa
ministerial deve ser voltada para a verificação do cumprimento da
legislação e 0 bem-estar dos idosos, a fim de saber se estão sendo
assistidos em suas necessidades, bem como a verificação do respei­
to à sua integridade. 0 Ministério Público, ao realizar a fiscalização,
poderá contar com um corpo técnico especializado, capaz de lhe
suprir conhecimentos técnicos indispensáveis para uma efetiva fisca­
lização. Assim, seja do próprio corpo técnico do Ministério Público,
ou, ainda, de outros órgãos, poderá dispor de pessoal dos quadros
do CRAS/CREAS, Conselho Estadual ou Municipal de Assistência Social,
Conselho Estadual ou Municipal do Idoso, Corpo de Bombeiros e 0
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.
132 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Examinará o Ministério Público:


a) constituição formal da ILPI e sua regularidade;
b) os recursos humanos específicos das ILPIs diante da demanda e
suas peculiaridades;
c) as características qualitativas do serviço de acolhimento presta­
do com vistas ao cuidado integral.
Segundo o Manual de Atuação Funcional do CNMP, para que haja
uma fiscalização nas ILPIs, de modo a identificar a instituição, duran­
te a inspeção técnica deverá ser apurado:
"i° ) nome de fantasia da unidade de acolhimento (art. 48,
parágrafo único, II e III, do Estatuto do Idoso - El);

2°) razão social (art. 48, parágrafo único, II e III, do El) e


número do CNP] e/ou seu número no cadastro de entidades
assistenciais/filantrópicas junto à Secretaria de Assistência
Social (Leis Federais 8.909/94 ou 9-637/98 e 9790/99);

3») endereço e ponto de referência (art. 48, parágrafo úni­


co, II e III, do El);

4°) telefones, correio eletrônico e página ou sítio eletrônico


(art. 48, parágrafo único, II e III, do El);

5°) nom es dos responsáveis legais e responsáveis técnicos,


quando for 0 caso;

6°) capacidade máxima de atendimento e número de pes­


so a s acolhidas no local no momento da inspeção;

70) característica do público-alvo (grau de dependência,


gênero, número de leitos, ou dem ais especificidades, caso
exista);

8°) existência de identificação externa v isív e l (art. 37, § 2°,


do El);

90) natureza jurídica, que poderá ser pública, caso a insti­


tuição integre a estrutura do Estado, ou privada, caso a ins­
tituição NÃO integre a estrutura do Estado, podendo, neste
caso, se r uma sociedade em presária, ou uma sociedade
sim ples que poderá usar ou não os tipos previstos nos 1.039
a 1.092 do Código Civil c/c art. 983 do Código Civil - exceto
a de sociedades por ações -, p odendo se r uma Ltda, por
exemplo, ou ainda se r pessoa jurídica de direito privado
com natureza fundacional ou associativa;
Cap. IV • Política de Atendimento ao Idoso 133

io°) Estatuto ou Estatuto Social, com registro de a p re se n ­


tação e autorização junto à Prom otoria de Justiça com
atribuição na Seara de Fundações." (M anual de atuação
funcional: o M inistério Público na Fiscalização d as Institui­
ções de Longa Perm anência para Idosos/ Conselho Nacio­
nal do M inistério Público. - Brasília: CNMP, 2016. 130 p. il.,
p. 22/23).

Ainda será necessário, para que se proceda uma fiscalização


adequada, a verificação da existência dos seguintes documentos
que gravitam em torno da constituição formal e regular funciona­
mento da entidade:
"a ) Estatuto registrado, caso seja associação, ou escritura
pública/ testamento, caso seja fundação, ou contrato s o ­
cial, caso seja sociedade em presária (arts. 45, 985 e 1.150
do Cód. Civil e arts. 114 à 121 da Lei Federal 6.015/73);

b) Alvará de Localização e Funcionamento (ao m enos p ro­


visório) fornecido pelo município onde está situada a ILPI;

c) Laudo do Corpo de Bom beiros (CB) retirado a pó s avalia­


ção do quartel do CB próxim o à instituição, conforme item
4.7.5 da Resolução ANVISA/RDC 283/2005;

d) Licença ou Alvará Sanitário concedido pela Vigilância Sa­


nitária (VISA) municipal (art. 48, parágrafo único, do El e
Resolução ANVISA/RDC 283/2005, item 4.5.1);

e) Inscrição de se us program as junto ao Conselho M uni­


cipal da Pessoa Idosa (CMDI ou CMI, conforme 0 municí­
pio. Art. 48, parágrafo único, do El e Resolução ANVISA/RDC
283/2005, item 4.5.1);

f) Caso seja entidade de assistência social, deverá estar


inscrita no Conselho Municipal de Assistência social, nos
term os da Lei Federal 8.742/93;

g) E os seguintes docum entos operacionais:

1. Plano de atendim ento individualizado ao idoso (art. 50,


V, El);

2. Plano de atenção integral à saúde do idoso (item 5.2.1 à


5.2.3 da Resolução ANVISA/RDC 283/05);

3. Contrato com a prestadora de serviço e cópia do alvará


sanitário da em presa contratada, quando os serviços de
rem oção d o s idosos, alimentação, limpeza e/ou lavande-
134 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

ria forem terceirizados (item 4.5.6 da Resolução ANVISA/


RDC 283/05);

4. Documento com probatório da higienização dos reserva­


tórios de água e de controle de pragas e vetores (verificar
legislação estadual e municipal);

5. POPs e rotinas de boas práticas para os serviços de ali­


mentação (nos termos da Resolução ANVISA/RDC 216/04),
limpeza de ambientes e processam ento de roupas (itens
5.5.2 e 5.4.1 da Resolução ANVISA/RDC 283/05);

6. Contrato de serviço terceirizado de rem oção de resíduos


(Resolução ANVISA/RDC 283/05);

7. Lista de eventos sentinelas (item 7.4 da Resolução ANVISA/


RDC 283/05);

8. Listagem com 0 levantamento dos graus de dependência


dos idosos;

9. Existência de contratos escritos com os idosos, salvo se


tratar-se de instituição pública ou de institucionalização de­
terminada pelo Poder Judiciário ou por requisição do Pro­
m otor de Justiça (art. 35 c.c art. 45, V, do El)." (Manual de
atuação funcional: 0 Ministério Público na Fiscalização das
Instituições de Longa Permanência para Idosos/ Conselho
Nacional do Ministério Público. - Brasília: CNMP, 2016. 130
p. il., p. 24/25).

Por fim, a fiscalização pelo Ministério Público ainda deverá abran­


ger os cuidados com que os idosos são tratados no local, levando-se
em conta as suas peculiares necessidades, envolvendo os aspectos
da saúde, física, mental, espiritual, social, todos garantidos no Es­
tatuto do Idoso. Assim, o conteúdo mínimo a ser verificado, para
fins da prestação de serviços na ILPI, de acordo com o previsto no
Estatuto do Idoso, será ("Manual de atuação funcional": 0 Ministério
Público na Fiscalização das Instituições de Longa Permanência pa­
ra Idosos/ Conselho Nacional do Ministério Público. - Brasília: CNMP,
2016.130 p. il., p. 30/37):
a) Verificação contratual individualizada da prestação de serviço
com as especificações do art. 35 e 50, 1, do El.
b) Verificação do ambiente institucional (respeito e dignidade, con­
forme previsto nos artigos 10 e 49, VI, do El).
Cap. IV . Política de Atendimento ao Idoso 135

c) Existência de prontuário e plano de atendimento individualiza­


do, preservando a identidade dos idosos, nos termos dos arti­
gos 10, § 20, 49, II, e 50, V, do El.
d) Garantia à convivência familiar e comunitária, preservando o
máximo possível os vínculos familiares, nos termos dos artigos
3°, 49, I e IV, 50, VI, VII e XVI, do El.
e) Oferta de atividades culturais, de lazer, religiosa e educacionais,
respeitando e estimulando a autonomia dos idosos, nos termos
do art. 50, IX e X, do El.
f) Organização e rotinas técnicas de trabalho, nos termos do art. 50,
XII, XIV e XV, do El.

g) Integralização à rede de serviços de assistência social (SUAS) e à


de atenção à saúde pública (SUS), nos termos do art. 15 e pará­
grafos, e artigos 33 à 35, do El.

4.2.2. Penalidade às entidades de atendimento ao idoso

0 El prevê penalidades às entidades de atendimento que des-


cumprirem as determinações do Estatuto do Idoso (art. 55):

ENTIDADES GOVERNAMENTAIS ENTIDADES NÃO GOVERNAMENTAIS

SANÇÕES
observado 0 devido processo legal

• advertência • advertência

• afastamento provisório de seus diri­


• multa
gentes;

• afastamento definitivo de seus diri­ • suspensão parcial ou total do re­


gentes; passe de verbas públicas;

• interdição de unidade ou suspen­


são de programa;
• fechamento de unidade ou interdi­
ção de programa; • proibição de atendimento a idosos
a bem do interesse público.

A sanção da proibição do atendimento a idosos a bem do interes­


se público pode restar configurada uma penalidade de caráter per­
pétuo, sendo que 0 STF já invocou a proibição de penas perpétuas
136 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

p a ra o âm bito a d m in istrativ o (RE 154.134, rei. Min. Sydn ey Sanches,


DJ 29.10.1999).

►Atenção!
A multa só cabível nas entidades não governamentais. 0 fechamento
da unidade som ente é possível nas entidades governamentais, en­
quanto nas entidades não governam entais somente é possível a inter­
dição da unidade.

Caso haja d an o s ao s id o so s ab rig ad o s ou q u a lq u e r tipo de frau d e


em re la ção ao p ro gram a, c a b e rá 0 afastam e n to p ro v is ó rio dos d ir i­
gentes (e n tid a d e s g o ve rn am en tais) ou a in te rd içã o d a u n id a d e e a
su sp e n sã o do p ro g ra m a (e n tid a d e s não g o vern am en tais).

F Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Advogado (VUNESP. Crbio i a Região. 2017) foi per­
guntado se: as entidades governam entais e não-governam entais de
atendimento ao idoso serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso,
Ministério Público, Vigilância Sanitária, entre outros previstos em lei.
A alternativa foi considerada correta.

1 Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No co n cu rso p a ra P ro m o to r d e Justiça (M P /B A /2 0 15 - CEFET), fo i e la b o r a ­
da a seguinte proposição: As entidades governam entais de atendim en­
to aos id o sos serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério
Público, Vigilância Sanitária e outros previstos em lei, send o que, ha­
vendo danos para os abrigados ou qualquer tipo de fraude em relação
ao programa, caberá 0 afastamento provisório dos dirigentes ou a
interdição da unidade e a su sp e n são do programa. A proposição foi
considerada verdadeira.

A su sp e n sã o p a rc ia l ou to tal d o re p a s s e de v e rb a s p ú b licas ocor­


re rá q uand o v e rific a d a a m á ap licação ou d esvio de fin a lid a d e dos
recu rso s (e n tid a d e s não g o vern am en tais).
Cap. IV . Política de Atendimento ao Idoso 137

0 destino das verbas públicas, contrário ao estabelecido pela


Lei, poderá ensejar ao responsável à prática do crime previsto no
art. 315 do CP.
A comunicação das infrações por entidades de atendimento, se­
gundo 0 art. 55, § 3°, do El:

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça na Bahia (MP//BA/2015 - CEFET),
foi elaborada a seguinte proposição: Na ocorrência de infração por
entidade de atendimento, que coloque em risco os direitos dos idosos,
será 0 fato comunicado ao Ministério Público, para as providências
cabíveis, inclusive para prom over a susp ensão das atividades ou d is­
solução da entidade, com a proibição de atendimento a idosos a bem
do interesse público, sem prejuízo das providências a serem tom adas
pela Vigilância Sanitária. A proposição foi considerada verdadeira.

Para a aplicação das penalidades, algumas considerações devem


ser observadas:
138 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

0 El não especifica quais circunstâncias são consideradas agra­


vantes ou atenuantes, de forma diferente do que ocorre no Código
Penal. Assemelham-se essas circunstâncias do El àquelas previstas
no art. 59 do Código Penal, conhecidas como circunstâncias judiciais,
as quais o juiz utiliza-as para fixar a pena base necessária e suficien­
te para a reprovação e a prevenção do crime.

4.3. INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS E APURAÇÃO DAS INFRAÇÕES ADMI­


NISTRATIVAS
A aplicação de sanções administrativas pelo Estado decorre das
funções do poder de polícia.
0 poder de polícia é um dos poderes administrativos de maior
destaque junto a Administração Pública, pois este é exercido sobre
todas as atividades e bens que possam de algum modo afetar toda
a coletividade e se fundamenta no princípio da predominância do
interesse público sobre 0 particular, dando a Administração Pública
uma posição de hegemonia sobre os administrados.
0 poder de polícia possui previsão legal no art. 78 do CTN, obser­
va-se que a realização deste poder possui um vínculo íntimo com o
interesse público:
"Considera-se p od er de polícia atividade da adm inistração
pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse
ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato,
em razão de intêresse público concernente à segurança, à
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção
e do mercado, ao exercício de atividades econôm icas d e ­
pendentes de concessão ou autorização do Poder Público,
à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos
direitos individuais ou coletivos."

São características do regime do poder de polícia:


a) atividade restrita - são atuações que em geral representam a
limitações de atuação de particular;
b) limita a liberdade e propriedade;
c) possui um caráter liberatório, manifestado através de atos que
autorizam 0 exercício de atividades até então vedadas pela lei;
d) é sempre geral;
e) possui como regra geral criar a obrigação de não fazer;
Cap. IV . Política de Atendimento ao Idoso 139

f) não gera indenização;


g) em geral atinge particulares;
h) é indelegável; e
i) possui, em geral, natureza discricionária, pois a Administração Pú­
blica poderá escolher, dentre as opções previstas em lei, o melhor
momento para sua atuação, bem como a sanção que se enquadra­
rá no caso concreto, sempre tendo em vista o interesse público.
0 poder de polícia tem por essência um caráter negativo, vez
que ao Poder Público incumbe evitar a ocorrência de um dano, dife­
rente da prestação do serviço público em que a atuação do Estado é
positiva, embora possa conferir caráter positivo, quando esse instru­
mento representa a construção de utilidade pública.

4 .3 1 - In fra ç õ e s a d m in is tra tiv a s

0 Estatuto do Idoso elenca 3 (três) infrações administrativas


(arts. 56, 57 e 58):

Dispositivo
Infração Penalidade
Legal

Deixar de cumprir as obriga­ Multa de R$ 500,00 a 3.000,00 e;


Art. 56 ções das entidades de atendi­ Interdição até a regularização
mento. da entidade.

Deixar 0 profissional de saúde


Multa de R$ 500,00 a 3.000,00,
ou responsável por estabeleci­
Art. 57 podendo ser aplicada em do­
mento de saúde de comunicar
bro em caso de reincidência.
crime que tenha conhecimento

Multa de R$ 500,00 a 1.000,00; e


Deixar de cumprir as determi­
multa civil a ser aplicada pelo
Art. 58 nações de prioridade de aten­
juiz de acordo com 0 dano so­
dimento ao idoso.
frido pelo idoso.

►Atenção!
Na hipótese do art. 56 do El, a multa não será aplicada, caso os fatos
se enquadrarem como crime.

0 art. 57 do El prevê como infração administrativa, a omissão


de profissional de saúde, como médicos, fisioterapeutas, enfermei­
ros, entre outros, ou ainda os responsáveis pelo estabelecimento de
140 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

saúde, como hospitais, clínicas, postos de saúdes, laboratórios, en­


tre outros ou, ainda, pelas instituições de longa permanência, como
os asilos, as casas de repousos, entre outros, em comunicar à auto­
ridade competente (Ministério Público, juiz de direito, as policias) os
crimes contra idosos aos quais tenham conhecimento. Embora não
descrito no dispositivo legal, 0 conhecimento exigido deverá ser no
exercício de suas funções.
Será considerada a infração administrativa a ausência de comu­
nicação de algum fato descrito como crime, mas não contravenção
penal, vez que as infrações administrativas, assim como ocorre no
direito penal, submetem-se ao princípio da legalidade.

►Atenção!
Não há diferença ontológica (de essência) entre 0 crime e a contraven­
ção penal, distinguindo-se apenas em questão de grau e quantidade. A
contravenção compreende fatos de menor gravidade social, cujas penas
cominadas são de prisão simples ou multa, diferente do crime. 0 reno-
m ado penalista Nelson Hungria designa a contravenção de "crim e-anão".

A infração administrativa descrita no art. 58, do El, prevê a punição


àqueles que deixarem (instituição financeira, transporte coletivo, pos­
to de saúde, etc.) de assegurar 0 atendimento prioritário ao idoso.
A Lei n° 10.048/00 assegura 0 atendimento prioritário ao idoso, re­
gulamentada pelo Decreto n° 5.296/04. Outros dispositivos do próprio
El (art. 3°, par. único I; 42 e 71) dispõem também sobre a prioridade
ao idoso.
Os valores monetários constantes nas penalidades referentes às
infrações administrativas deverão ser atualizados anualmente, na
forma da lei (art. 59, do El). A correção monetária é 0 reajuste feito
em razão da perda do valor da moeda.
Na hipótese de interdição do estabelecimento de longa perma­
nência, os idosos abrigados serão transferidos para outra instituição,
a expensas do estabelecimento interditado, enquanto durar a inter­
dição (art. 56, parágrafo único, do El).

4.3.2. Procedimento administrativo para apuração


Procedimento administrativo para imposição de penalidade ad­
ministrativa por infração às normas de proteção ao idoso (art. 60 a
63 do El):
Cap. IV . Política de Atendimento ao Idoso 141

í - Início: a) por requisição do MP; ou

b) auto de infração elaborado por se rv id o r efetivo e a ssi­


nado por duas testemunhas, caso seja possível.

2 - Defesa: o autuado terá o prazo de ío dias para defesa.

3 - Aplicação de penalidade:

a) havendo risco para a saúde ou vida do idoso - sanções


regulam entares (art. 62 do Estatuto do Idoso); ou

b) não havendo risco para a saúde ou vida à saúde do id o ­


so - sanções regulam entares (art. 63 do Estatuto do Idoso).

0 servidor efetivo que elabora 0 auto de infração deverá ser 0


servidor específico, ou seja, 0 servidor que atua junto ao serviço de
fiscalização específica (de proteção ao idoso).

Nesse sentido, já decidiu 0 STJ que 0 termo servidor efetivo previsto no art. 60
do El refere-se ao servidor do serviço de fiscalização específico, deve contar
nas suas atribuições 0 dever de aplicar as normas de proteção ao idoso. (RMS
26.166/RJ, Rei. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2009,
DJe 27/05/2009).

0 auto de infração deverá ser elaborado por servidor "efeti­


vo", portanto, aquele ingresso no serviço público via concurso públi­
co, afastando-se a possibilidade de 0 auto de infração ser lavrado
por agentes públicos detentores de cargo em comissão ou de con­
trato temporário, em razão da precariedade dessas investiduras,
pois estes são sujeitos a pressões externas oriundas daqueles que
efetivaram a nomeação, passíveis, muitas vezes, de demissão sem
motivação.

►Atenção!
A requisição expedida pelo Ministério Público é ordem e, como tal
deverá se r cumprida, não entrando na esfera dos destinatários a sua
avaliação ou pertinência para cumprimento.

Já com relação ao procedimento administrativo descrito no El, es­


te deverá observar todos os princípios que lhes são inerentes, como
os princípios do contraditório e da ampla defesa.
0 administrativista Celso Antônio Bandeira de Mello descreve 12
(doze) princípios que são inerentes ao processo administrativo: prin­
cípio da audiência do interessado; princípio da acessibilidade aos
142 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

elementos do expediente; princípio da ampla instrução probatória;


princípio da motivação; princípio da revisibilidade; princípio da repre­
sentação e assessoramento; princípio da lealdade e boa-fé; princípio
da verdade material; princípio da celeridade processual; princípio da
oficialidade; princípio da gratuidade e princípio do informalismo.
(MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 30o
ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 509/510).
Na hipótese de auto de infração poderão ser utilizadas fórmulas
impressas, com especificação da natureza e as circunstâncias da in­
fração (art. 60, § i°, do El).
Verificada a infração deverá ser lavrado 0 auto em seguida ou,
ainda, senão for possível, dentro de 24 horas, por motivo justificado
(art. 60, § 2°, do El).
0 prazo acima referido é um prazo impróprio, assim, superado 0
prazo não há nulidade, mas mera irregularidade.
Os prazos da intimação para a defesa serão computados da data
intimação, que será realizada:
a) pelo autuante, no instrumento de autuação, quando for lavrado
na presença do infrator;
b) por via postal, com aviso de recebimento.

► Atenção!
0 prazo para defesa computa-se da intimação e não das regras previs­
tas no Código do Processo Civil (juntada do instrumento de autuação,
quando procedida pessoalmente, ou do tempo de anexação ao pro­
cesso da carta registrada, com aviso de recebimento).

É possível a utilização da intim ação v ia e d ital, com a p ublica­


ção no respectivo Diário Oficial, quando incerto ou desconhecido 0
paradeiro.
Na hipótese de entidade governamental, a defesa será realizada
pela Procuradoria do ente federativo ao qual pertence à entidade,
ainda que seja intimado o agente público por ela responsável.
Nas hipóteses em que 0 autuado se nega a assinar 0 auto de
infração ou o aviso de recepção, 0 agente público deverá consignar
0 fato em termo próprio, presente duas testemunhas, cientificando
0 autuado que a citação será concluída dessa forma.
Cap. fV • Política de Atendimento ao Idoso 143

Se o autuado for pessoa física somente ele ou seu representante


poderão firmar o aviso de recebimento, não podendo haver apenas
a simples entrega da carta no seu endereço, havendo de ser decla­
rado prejuízo da defesa, com a consequente nulidade do ato.

0 STJ já decidiu que na hipótese de citação de pessoa física por via postal, é indis­
pensável a entrega diretamente ao citando, devendo o carteiro colher seu ciente.
Assim, se o aviso de recebimento da carta citatória for assinado por outra pessoa,
que não o próprio citando, e não houver contestação, o autor tem o ônus de de­
monstrar que o réu, ainda que não tenha assinado o aviso, teve conhecimento da
demanda que lhe foi ajuizada. (REsp 164.661/SP, Rei. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 03/12/1998, DJ 16/08/1999, P- 74)

De forma diferente na hipótese de 0 infrator ser pessoa jurídica


privada, aplica-se a teoria da aparência, considerando-se legítima a
citação da pessoa jurídica realizada, na sua sede, em que se apre­
senta para receber e aceita a citação sem mencionar que não possui
poderes para representar a pessoa jurídica naquele ato.

Já d e c id iu 0 STJ q u e é válida a c ita ç ã o d e p e s s o a ju r íd ic a p o r v ia p o s ta l, q u a n d o


im p le m e n t a d a no e n d e r e ç o o n d e s e e n c o n tr a 0 e s t a b e le c im e n to d o r é u , s e n d o
d e s n e c e s s á r io q u e a c a rta c it a t ó r ia s e ja r e c e b id a e 0 a v is o d e re c e b im e n to
a s s in a d o p o r r e p r e s e n t a n t e le g a l d a e m p r e s a . (R Esp 5 8 2.0 0 5 /B A , R ei. M in istro
FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURM A, ju lg a d o e m 18 /0 3 /2 0 0 4 , DJ 0 5 /0 4 /20 0 4 , p. 273)

p Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Analista Legislativo (Cespe - Consultor Legislativo - Câ­
mara dos Deputados/2014) foi elaborada a seguinte proposição: Con­
siderando 0 disposto no Estatuto do Idoso, julgue os itens a seguir,
referentes às instituições de longa permanência.
Se, devido ao não cumprimento de exigências legais, um estabeleci­
mento de longa permanência de idosos for interditado, os idosos abri­
gados nesse local deverão ser transferidos para outra instituição da
mesma natureza, e os custos da transferência serão de responsabili­
dade da vigilância sanitária. A proposição foi considerada errada. Art.
56, p a rá g ra fo ú n ico , d o E.l.

4.4. APURAÇÃO JUDICIAL DAS IRREGULARIDADES DAS ENTIDADES DE


ATENDIMENTO
0 El também prevê procedimento específico para a apuração ju­
dicial de irregularidades em Entidade de Atendimento ao idoso, con­
soante dispõe 0 art. 64 a 68, do diploma legal mencionado.
144 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Embora 0 procedimento judicial possua as mesmas característi­


cas do procedimento administrativo acima mencionado, há diferença
substancial.
0 El delegou ao Poder Judiciário a possibilidade de aplicar as
sanções mais graves às entidades de atendimento ao idoso, como o
afastamento temporário ou definitivo dos dirigentes, suspensão da
entidade, entre outras.
0 procedimento para as apurações de infrações administrativas
aos idosos possui aplicação subsidiária da Lei n° 9.784/99 (Processo
administrativo federal) e da Lei n° 6.437/77 (Configura infrações à
legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas, e dá
outras providências).
Embora seja de aplicação subsidiária, registrem-se algumas das
peculiaridades das leis acima mencionadas:

Lei n° 6.437/77
(Configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções
respectivas, e dá outras providências).

® Infrações sanitárias previstas: I - advertência; II - multa; (...) VIII - interdição


parcial ou total do estabelecimento; IX - proibição de propaganda; X - cance­
lamento de autorização para funcionamento da empresa; XI - cancelamento
do alvará de licenciamento de estabelecimento; XI - A - intervenção no esta­
belecimento que receba recursos públicos de qualquer esfera; XII - imposição
de mensagem retificadora; XIII - suspensão de propaganda e publicidade.
® Conteúdo do auto de infração: - nome do infrator
® Competência: para que seja aplicada as sanções são competentes as auto­
ridades sanitárias do Ministério da Saúde, dos Estados ou Distrito Federal e
dos Territórios, de acordo com as atribuições conferidas pela lei respectiva ou
delegada a competência, via convênio.
® Notificação: 0 in f r a t o r s e r á n o tific a d o p a r a c iê n c ia d o a u to d e in fr a ç ã o - p e s ­
s o a lm e n t e , p e lo c o r r e io o u v ia p o s ta l, e p o r e d it a l, c a s o e n c o n t r e -s e e m lu g a r
in c e rto e n ã o s a b id o .
® Defesa: 0 infrator poderá oferecer a defesa ou ainda impugnar 0 auto de
infração no prazo de 15 dias, contados da notificação.
® Oitiva/autuante: antes de julgar as razões apresentas pela defesa ou a impug­
nação, a autoridade tem 0 dever de ouvir 0 servidor autuante no prazo de
dez dias.
® Julgamento: com ou sem a defesa ou a impugnação, encerrado 0 prazo para a
defesa, 0 auto de infração será julgado pelo dirigente do órgão de vigilância
sanitária competente.
® Recurso: das decisões condenatórias poderá haver recurso, dentro de igual
prazo fixado para a defesa. Caso mantida a condenação poderá haver recurso
para autoridade superior, dentro do prazo de 20 dias, que se inicia da ciência
ou publicação.
Cap. IV • Política de Atendimento ao Idoso 145

Lei n° 9784/99
(Processo Administrativo Federal)

® Direito dos administrados: - ser tratado com respeito pelas autoridades e


servidores, que deverão facilitar 0 exercício de seus direitos e 0 cumpri­
mento de suas obrigações; ter ciência da tramitação dos processos adminis­
trativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter
cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas;
formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais se­
rão objeto de consideração pelo órgão competente; e IV - fazer-se assistir,
facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a representação,
por força de lei.
® Deveres dos administrados: - expor os fatos conforme a verdade; - proceder
com lealdade, urbanidade e boa-fé; - não agir de modo temerário; - prestar
as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para 0 esclarecimento
dos fatos.
® Início do processo: de ofício ou a pedido do interessado.
® Requisitos do requerimento inicial: - órgão ou autoridade administrativa a que
se dirige; - identificação do interessado ou de quem 0 represente; - domicílio
do requerente ou local para recebimento de comunicações; - formulação do
pedido, com exposição dos fatos e de seus fundamentos; - data e assinatura
do requerente ou de seu representante.
® Recusa imotivado do requerimento: à Administração é proibida de recusar de
forma imotivada de recebimento de documentos, devendo 0 servidor orientar
0 interessado quanto ao suprimento de eventuais falhas.
® Forma: os atos do processo administrativo não dependem de forma de­
terminada senão quando a lei expressamente a exigir. Contudo, os atos do
processo devem ser produzidos por escrito, em vernáculo, com a data e 0
local de sua realização e a assinatura da autoridade responsável. A autenti­
cação de documentos exigidos em cópia poderá ser feita pelo órgão admi­
nistrativo. 0 processo deverá ter suas páginas numeradas sequencialmente
e rubricadas.
® Tempo: os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, no horário nor­
mal de funcionamento da repartição na qual tramitar 0 processo.
® Lugar: Os atos do processo devem realizar-se preferencialmente na sede do
órgão, cientificando-se 0 interessado se outro for 0 local de realização.
® Instrução do processo administrativo: conferir 0 procedimento de realização
de instrução abaixo.
® Recurso: das decisões administrativas caberá recurso, em face de razões
de legalidade e de mérito. 0 recurso será dirigido à autoridade que pro­
feriu a decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, 0
encaminhará à autoridade superior. 0 prazo para interposição de recurso
administrativo, contado a partir da ciência ou divulgação oficial da decisão
recorrida.

Na petição a ser encaminhada ao juiz, seja através da pessoa


interessada, seja através de representação do Promotor de Justiça,
deverá constar preencher alguns requisitos básicos:
146 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lonni Goldfinger

Observa-se que a legitimidade é genérica, assim, pode ser exer­


cida por qualquer pessoa, como, por exemplo, um vizinho do idoso
que possui conhecimento dos fatos ou, ainda, um amigo, bem como
um agente comunitário, que comumente visita residências.
0 procedimento judicial de apuração de irregularidade em enti­
dade governamental e não governamental de atendimento ao idoso
possui 0 seguinte procedimento:
Cap. IV • Política de Atendimento ao Idoso 147

Observe o quadro de prazos do procedimento acima:

► Resposta de dirigente da entidade investigada 10 dias

► Alegações Finais 5 dias

► Decisão da autoridade judiciária 5 dias

► Substituição em caso de afastamento de dirigente 24 horas

0 prazo de defesa deverá ser contado a partir da citação.

Atenção!
EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO: antes de aplicar qualquer das
medidas, a autoridade judiciária poderá fixar prazo para a remoção
das irregularidades verificadas, que, após cumpridas, o processo será
extinto, sem julgamento do mérito.

Caso se ja extinta a ação sem julgam e nto do m érito, não re stará


afastad a a su b m issã o do re sp o n sá v e l a eventual pu n ição c rim in a l ou
m esm o civil pelo s se u s atos.

Na hipótese de afastamento provisório ou definitivo de dirigente


de entidade governamental, a autoridade judiciária oficiará a auto­
ridade administrativa imediatamente superior ao afastado, fixando-
lhe prazo de 24 (vinte e quatro) horas para proceder à substituição.
E dirigente de entidade privada poderá ser afastado?
Sobre 0 afastamento de dirigente de entidade privada foi omisso
0 El, consoante se observa do disposto no art. 55, inc. I e II e art. 68,
§ 2°, ambos do El. Na hipótese de entidade privada, há a sanção da
interdição da unidade, que na prática resultaria não só no afasta­
mento do dirigente da entidade privada, mas também de impossibi­
lidade do funcionamento de toda a estrutura de atendimento.
otótao fctf ttfcsvjiQ j t . . r; o;. msíesU v ^ k -oc
Capítu

Acesso à Justiça

5.1. DISPOSIÇÕES GERAIS


O El facultada a Lei a criação de varas especializadas e exclusivas
dos idosos, pelo Poder Público, conforme preceitua 0 art. 70.
A competência para a criação de varas especializadas é de com­
petência da Justiça Estadual, consoante disposto no art. 125, da CF. É
certo ainda que possa haver competência da Justiça Federal para a
criação das referidas varas.
Portanto, a criação de varas especializadas para 0 processamen­
to e julgamento de causas exclusivas dos idosos, deverá decorrer
por iniciativa de lei do respectivo tribunal de justiça ou, ainda, do
tribunal regional federal, observada toda a implicação processual
decorrente da origem da nova vara, como a redistribuição de com­
petência de juizes de igual hierarquia.
Em regra, não se pode editar atos normativos regimentais pa­
ra criar as varas especializadas, sob pena de editar-se norma
inconstitucional.

Entretanto, já decidiu 0 STF que é possível a criação de varas especializadas de


idosos por Resolução de Tribunal de Justiça, desde que não haja impacto orça­
mentário, sendo considerada uma simples alteração administrativa, com a finali­
dade de melhorar a prestação da tutela jurisdicional, de natureza especializada
(STF. HC 91024/RN, rei. Min. Ellen Grade, 5.8.2008).

A parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60


(sessenta) anos é garantida a prioridade na tramitação dos proces­
sos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais
em que figure como em qualquer instância (art. 71 do El).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de justiça do Estado de São Paulo (Vunesp/-
MP/SP/2013) foi perguntado sobre a prioridade concedida ao idoso na
tramitação de procedimentos, judiciais ou administrativos.
150 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

0 STF já decidiu que a prioridade de tramitação de processos nas hipóteses em


que as partes sejam maiores de 6o anos abrange todas as instâncias recursais,
bastando simples petição nos autos para a observância do benefício (STF. MS
26946 AgR, rei. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 08/10/2008, Dje-216).

Não é possível que a possibilidade de prioridade das ações judi­


ciais seja estendida a pessoas jurídicas, cujos sócios sejam maiores
de 60 anos (STJ - AgRg no Ag 468.648/SP, Rei. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA
RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/11/2003, DJ 01/12/2003, p. 348).
Há preferência do pagamento dos precatórios para os idosos,
nos termos em que prevê o art. 100, § 2°, da CF:

"Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 6o (sessenta) anos de


idade ou mais na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doen­
ça grave, definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os
demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins do
disposto no § 3» deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo
que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório."

Sobre o tema já decidiu o STJ: "(...) 3. Como se vê, a CF dispõe que os débitos de
natureza alimentícia serão pagos com preferência. Contudo, o artigo 12 da Resolu­
ção 115/2010 do Conselho Nacional de Justiça definiu, para recebimento de créditos
humanitários, 0 conceito de idoso da seguinte forma: "Serão considerados idosos
os credores originários de qualquer espécie de precatório, que contarem com 60
(sessenta) anos de idade ou mais na data da expedição do precatório em 9 de
dezembro de 2009, data da promulgação da EC 62/2009, sendo também conside­
rados idosos, após tal data, os credores originários de precatórios alimentares
que contarem com 60 (sessenta) anos de idade ou mais, na data do requerimento
expresso de sua condição, e que tenham requerido 0 benefício". 4- Tal preferência
se dá em respeito aos princípios da dignidade da pessoa humana e do direito
à saúde, garantias fundamentais a todos os cidadãos. (...)". (RMS 49-539/RO, Rei.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/09/2016, DJe 10/10/2016).

0 direito de preferência para pagamento dos precatórios não


poderá ser estendido aos sucessores do titular originário do preca­
tório, ainda que estes sejam também idosos, pois se trata de direito
de preferência personalíssimo (RMS 44.836-MG, Rei. Min. Humberto
Martins, julgamento em 20.2.2014).
Sobre a prioridade na tramitação dos processos 0 art. 1.048, inc.
I, do novo CPC dispõe que:

"Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimen­


tos judiciais: I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim
compreendida qualquer das enumeradas no art. 6», inciso XIV, da Lei n° 7 713» de
22 de dezembro de 1988;".
Cap. V • Acesso à Justiça 151

0 art. 1.048, § i°, do CPC, prevê que: "A pessoa interessada na


obtenção do benefício, juntando prova de sua condição, deverá re­
querê-lo à autoridade judiciária competente para decidir 0 feito, que
determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas.".
Quando deferida a prioridade, os autos deverão receber uma
identificação própria que evidenciará a tramitação prioritária.

já entendeu 0 STJ que a prioridade na tramitação do processo não alcança 0


advogado que não é parte ou interveniente, salvo na hipótese de estar exe­
cutando honorários de sucumbência definitivamente fixada (STJ. AgRg no REsp
285.812/ES, rei. Min. Aldir Passarinho Júnior, Quarta Turma, julgado em 07.06.2005,
DJ 01.08.2005 p. 461).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público da Bahia - (DP/BA/2010 - CESPE) foi
elaborada a seguinte proposição: É assegurada prioridade na trami­
tação dos processos e procedim entos e na execução dos atos e dili­
gências judiciais em que figure, como parte ou interveniente, pessoa
com idade igual ou superior a sessenta anos, em qualquer instância.
A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se
em favor do cônjuge supérstite, com panheiro ou companheira, com
união estável, m aior de sessenta anos. A proposição foi considerada
correta. Art. 71, c a p u t , do E.l.

0 STJ já havia decidido, com fundamento no art. 1.211-A do antigo CPC, que 0
dispositivo havia contemplado, com 0 benefício da prioridade na tramitação pro­
cessual, todos os idosos com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos que
figurem como parte ou interveniente nos procedimentos judiciais, abrangendo a
intervenção de terceiros na forma de assistência, oposição, nomeação à autoria,
denunciação da lide ou chamamento ao processo. (REsp 664.899/SP, Rei. Ministra
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/02/2005, DJ 28/02/2005, p. 307).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Sergipe - (DP/SE/2012 - CESPE),
foi perguntado se de acordo com 0 STJ, 0 benefício da prioridade na
tra m ita ç ã o p ro c e s s u a l c o n te m p la to d o s o s id o s o s q u e fig u re m com o
parte ou como intervenientes nos procedim entos judiciais, razão pela
qual abrange o idoso que intervenha no processo em todas as form as
de intervenção de terceiros.

0 beneficiário da prioridade procedimental fará prova de sua ida­


de e requererá o benefício à autoridade judiciária competente para
decidir o feito, que determinará as providências a serem cumpridas,
anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo.
152 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

► Cuidado!
A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se
em favor do cônjuge supérstite, com panheiro ou companheira, com
união estável, m aior de 60 (sessenta) anos.

►Atenção!
A Lei n° 13.466/2017 acresceu 0 § 5° ao art. 71 do Estatuto do Idoso
para d isp or que: "Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade
especial aos maiores de oitenta anos."

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Procurador Jurídico (VUNESP. PSMI. 2016) foi pergun­
tado sobre a relação ao acesso do idoso à Justiça, assim como sobre
a prioridade na tramitação de processos e procedimentos envolvendo
idosos, nos term os da Lei Federal n° 10.741/2003. Foi considerada corre­
ta a alternativa b): a obtenção da prioridade de tramitação processual
deverá se r feita pelo interessado mediante requerimento, fazendo
prova de sua idade à autoridade judiciária competente para decidir 0
feito, que determinará as providências a serem cumpridas, anotando-
-se essa circunstância em local visível nos autos do processo.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Estado do Am azonas -(DP/
AM/2011 - Instituto cidades), foi perguntado se a prioridade na trami­
tação dos processos judiciais é personalíssima, cessando com a morte
do beneficiado, não se estendendo em favor de cônjuge supérstite,
com panheiro ou com panheira em união estável.

A prioridade ainda será garantida aos processos e procedi­


mentos na Administração Pública, direta ou indireta, empresas
prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao aten­
dimento preferencial junto à Defensoria Pública da União, dos Es­
tados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência
Judiciária.
Dispõe 0 art. 69-A da Lei n° 9.784/99 (Lei que dispõe sobre pro­
cesso administrativo federal) que:
"Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou
instância, os procedimentos adm inistrativos em que figure
como parte ou interessado:

I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;


Cap. V • Acesso à Justiça 153

Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil


acesso aos assentos e caixas, identificados com a destinação aos
idosos em local visível e caracteres legíveis.
Por fim, cumpre registrar que a Resolução n° 277/2003 do STF, no
exercício de regulamentar 0 art. 71 do El, estabelece que no âmbito
do Supremo Tribunal Federal dar-se-á prioridade na tramitação, no
processamento, no julgamento e nos demais procedimentos dos fei­
tos judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com
idade igual ou superior a sessenta anos. Para obter a prioridade 0
interessado deverá requerer 0 benefício ao Presidente do Tribunal
ou ao Relator do feito, mediante prova de sua idade.
A Resolução n° 11/2003 do STJ, no exercício de regulamentar do
art. 71 do El, prevê que no âmbito do Superior Tribunal de justiça,
que dar-se-á prioridade na tramitação, no processamento, no jul­
gamento e nos demais procedimentos dos processos judiciais em
que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos. Para obter a prioridade 0 interessado
deverá requerer 0 benefício ao Presidente do Tribunal ou ao Relator
do feito, mediante prova de sua idade. 0 STJ identificará os proces­
sos com pedido de prioridade, na forma desta Resolução, por uma
etiqueta verde-oliva afixada na capa dos autos, em que constará a
indicação maior de 6o(sessenta) anos em cor branca.
A prioridade da tramitação se aplica a ação coletiva movida pelo
Ministério Público?
A tramitação da prioridade de ação coletiva movida em defesa
do idoso em primeira análise não seria admitida, pois primeiro que
as ações civis públicas possuem um regramento próprio e a pessoa
idosa não é parte, mas sim substituta processual, e segundo, 0 art.
70 do El se dirige as demandas individuais e não coletivas. Contudo,
a interpretação não poderá ocorrer com a simples leitura da lei, po­
dendo admitir-se 0 deferimento da prioridade de uma ação coletiva
de defesa de direitos ao idoso, ainda que tal prioridade não seja
aplicada em sua integralidade. A prioridade de uma ação coletiva
movida em defesa do idoso poderá ter incidência, por se revelar
de extrema necessidade, dependendo da análise do caso concreto,
pois se trata de defesa de muitas pessoas idosas, que por vezes,
buscam a concretização de direitos básicos para a garantia de sua so­
brevivência, como situações que envolvam direito à saúde, havendo
necessidade de uma resposta jurisdicional rápida, considerando-se
esse 0 entendimento mais favorável à defesa dos direitos humanos.
154 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

5.2. MINISTÉRIO PÚBLICO


0 Ministério Público tem o seu conceito elaborado pela Carta Ci­
dadã, consoante dispõe o art. 127, caput, da CF:
"0 Ministério Público é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses so ­
ciais e individuais indisponíveis."

A Constituição Federal estabelece as funções do Ministério Públi­


co, conforme previsão do art. 129.
As funções do Ministério Público possuem previsão nas respecti­
vas Leis Orgânicas e em outras leis extravagantes.
Nessa linha, 0 Estatuto do Idoso prevê diversas funções ao Mi­
nistério Público.
Competências (atribuições) do Ministério Público:

• instaurar 0 inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e
interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homo­
gêneos do idoso;

• promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial,


de designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medi­
da e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em
condições de risco;

• atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme 0


disposto no art. 43 do Estatuto do Idoso;

• promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses pre­


vistas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou 0 interesse público justificar;

a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimen­


tos e, em caso de não comparecimento injustificado da pes­
soa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela
Polícia Civil ou Militar;
Instaurar pro-
cedimento ad­ b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de
ministrativo e, autoridades municipais, estaduais e federais, da adminis­
para instruí-lo: tração direta e indireta, bem como promover inspeções e
diligências investigatórias;

c) requisitar informações e documentos particulares de insti­


tuições privadas;

• instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de


inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de pro­
teção ao idoso;
Cap- V . Acesso à Justiça 155

• zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao ido­
so, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;

• inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os pro­


gramas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas adminis­
trativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura
verificadas;

• requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde,


educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas
atribuições;

• referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


- No Concurso para Promotor de justiça (CESPE.MPE-RR. 2017) foi per­
guntado:
Com referência ao Estatuto do Idoso e suas alterações, julgue os se ­
guintes itens, relativos às competências do MP no tocante a feitos que
envolvam a proteção ao idoso.
I - Compete ao MP a instauração de inquérito civil e ação civil pública
para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, indivi­
duais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso.
II - Cabe ao MP prom over e acom panhar ações de alimentos, de in­
terdição, de designação de curador especial, em circunstâncias que
justifiquem a medida, bem como oficiar em todos os feitos nos quais
estejam send o discutidos os direitos de id o sos em condições de risco.
III - A atuação do parquet como substituto processual do idoso em
situação de risco encontra-se prevista de forma expressa na legislação
infraconstitucional nos casos em que, no âmbito do Estatuto do Idoso,
direitos reconhecidos forem am eaçados ou violados.
IV - A possibilidade de requisitar força policial bem como de solicitar
a colaboração d o s serviços de saúde, educacionais e de assistência
social públicos para 0 desem penho de suas atribuições é inerente à
atividade específica do MP como protetor dos idosos em situação de
risco. Assinale a opção correta
Estão corretos todos os itens..

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Promotor de Justiça do Estado de Mato Grosso (MP/
MT/2014 - UFMT), foi perguntado se 0 Ministério Público não pode atuar
como substituto processual do idoso em situação de risco, se ao mem­
bro do Ministério Público competirá intervir nas ações de alimentos que
discutam 0 direito de idosos, em situação de risco, se as circunstâncias
assim 0 justificarem, bem como se Ministério Público é parte legítima para
156 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

p rop or ação civil pública com 0 objetivo de tutelar direitos individuais


indisponíveis, como 0 de recebimento de medicamento de uso contí­
nuo por p essoa idosa, e ainda se as transações relativas a alimentos
a serem prestados a o s id o sos poderão se r celebradas perante 0 Pro­
m otor de Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e p assarão
a ter efeito de título executivo extrajudicial nos term os da lei proces­
sual civil.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça do Estado de SC (MPE-SC. 2016)
foi perguntado se 0 Ministério Público atua como substituto processual
em defesa dos direitos dos idosos, entendidos estes, nos termos da
Lei n. 10.741/03 (Estatuto do Idoso), como p essoas com idade igual ou
superior a setenta anos, ao que permanece 0 titular do direito su b s­
tancial na polaridade ativa da ação.
0 item foi considerado falso.

As competências (I ao X) do Ministério Público no detalhe:

I - instaurar 0 inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos
e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homo­
gêneos do idoso.

As disciplinas do inquérito civil e da ação civil pública possuem


previsão constitucional e em especial, está devidamente disciplinada
na Lei de Ação Civil Pública (Lei n° 7.347/85).
Este inciso completa-se com o disposto no Capítulo III, arts. 78 a
92 do El, cujos comentários seguem mais à frente.
Outros instrumentos normativos ainda regulam 0 inquérito civil e
a ação civil pública, como a Resolução n° 23/2007 do Conselho Nacio­
nal d o M in isté rio Público.

0 Inquérito civil é um procedimento administrativo que possui


natureza inquisitória e possui a finalidade de coletar elementos que
possam embasar eventual ação civil pública.
0 Inquérito civil possui previsão no art. 8°, § 1°, da LACP e art.
129, inc. Ill, da CF, além do art. 90 do CDC, art. 6o da Lei Federal n°
7.583/89, art. 201, V, do ECA, art. 25, inc. VI da LONMP, art. 7®, inc. I da
LOPMU, entre outras. Trata-se de um instrumento privativo do MP,
sendo que nenhum dos outros legitimados ativos poderá instaurá-lo
ou impulsioná-lo.
Cap. V • Acesso à Justiça 157

O inquérito civil é dispensável, ou seja, pode o MP propor ação


civil pública, caso possua elementos suficientes, sem que haja ne­
cessidade de se instaurar previamente um inquérito civil público.
Em razão da prescindibilidade e da natureza inquisitiva as irregu­
laridades existentes no trâmite do inquérito civil não ensejaram
decreto de nulidade do processo que vier a ser ajuizado.

Embora a publicidade seja a regra, o inquérito civil poderá ser


decretado sigilo, determinado pelo seu presidente, quando se mos­
trar conveniente para o desenvolvimento das investigações, aplican-
do-se de forma analógica o art. 20 do CPP.
A decisão de sigilo deverá ser fundamentada e poderá ensejar
recurso junto ao Conselho Superior do MP.
Para 0 Ministério Público, presidindo 0 inquérito civil, a fim de
instruí-lo, poderá requisitar, de qualquer organismo público ou par­
ticular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que
assinalar, 0 qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis. A
requisição é uma ordem legal de apresentação de documentos, for­
necimento de certidões ou realização de exames ou perícias (art.
92 do El).
Além da requisição, a notificação também é comumente usada.
A notificação é 0 instrumento utilizado para coletar prova oral
dentro do inquérito civil, ou seja, é uma determinação para que
alguém compareça ao Ministério Público e preste depoimento ou
ainda forneça esclarecimentos.
0 inquérito civil possui as seguintes fases: a instauração, a instru­
ção e a conclusão.
158 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

A instauração do inquérito civil poderá ser de ofício ou por pro­


vocação. A portaria é o meio mais conhecido e comum de instau­
ração. Ainda poderá ser instaurado por delegação, por ordem do
procurador-geral de justiça ou decorrer de ordem do Conselho Su­
perior do MP, quando o órgão der provimento a recurso interposto
contra indeferimento de representação.

Segundo 0 STJ, a simples instauração do inquérito dvil não se constitui em cons­


trangimento ilegal (RHC 5.873/PR, Rei. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, julgado
em 24/11/1997, DJ 19/12/1997. p. 67532).

0 inquérito civil poderá ser arquivado, de forma fundamentada,


sendo que sua promoção de arquivamento será submetida a exame
e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público (CSMP),
conforme dispuser o seu Regimento (art. 92, §§ 1° e 2°, do El).
Até que seja homologado ou rejeitado 0 arquivamento, pelo Con­
selho Superior do Ministério Público ou por Câmara de Coordenação
e Revisão do Ministério Público, as associações legitimadas poderão
apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados ou
anexados às peças de informação (art. 92, § 30, do El).
Caso 0 Conselho Superior ou a Câmara de Coordenação e Revisão
do Ministério Público deixe de homologar a promoção de arquiva­
mento, será designado outro membro do Ministério Público para 0
ajuizamento da ação (art. 92, § 4°, do El).
Cap. V . Acesso à Justiça 159

A Lei de Ação Civil pública ainda confere ao Ministério Público


a possibilidade de elaborar um termo de ajustamento de conduta
(TAC). Trata-se de um título executivo extrajudicial, obtido através
de um acordo bilateral e consensual entre o Ministério Público e o
causador ou potencial causador do dano, assumindo o compromisso
de adequar sua conduta às exigências legais.
A tomada de compromisso de ajustamento de conduta vem regu­
lamentada por meio da Resolução n° 179/2017 do CNMP.
Além do Ministério Público, os órgãos públicos legitimados po­
derão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua
conduta às exigências legais, mediante cominações. Por isso, em re­
lação as empresas públicas e sociedade de economia mista, em que
pese terem personalidade jurídica de direito privado, há controvér­
sia doutrinária sobre a possibilidade de tomarem compromisso. Uma
corrente sustenta a impossibilidade, pois estas não estão abarcadas
pela expressão dos órgãos públicos, pois possuem personalidade
jurídica de direito privado. Outra corrente sustenta que a expressão
"órgãos públicos" refere-se a qualquer órgão que integre a estrutura
pública, ou que seja por este controlado, como as empresas públicas
e sociedades de economia mista. Contudo, uma terceira corrente
prevalece, no sentido de que apenas as empresas públicas e so­
ciedades de economia mista quando prestadoras de efetivos servi­
ços públicos, por auxiliarem 0 Estado na prestação de seus deveres
constitucionais, podem firmar compromisso.
Nas cláusulas do termo de compromisso deverá haver a imposi­
ção de uma sanção ao interessado, com vistas a assegurar 0 efetivo
cumprimento da obrigação principal assumida.

I Atenção!
A eficácia do título extrajudicial decorrerá tão som ente da assinatura
por tom ador e interessado, dispensada qualquer outra form alidade
(como a presença de testem unhas ou hom ologação judicial).

Quando descumprido o TAC, um dos legitimados para a ação civil


pública poderá executá-lo ou mesmo um indivíduo lesado, na hipó­
tese de interesses individuais homogêneos.
Uma vez firmado, 0 termo de ajustamento de conduta poderá ser
objeto de discussão em ação judicial própria para a sua rescisão,
caso haja a alegação de algum vício no negócio jurídico, como erro,
dolo, simulação, fraude etc., podendo ainda a rescisão ser voluntária.
160 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

Após esgotadas as diligências no inquérito civil, caso não seja


promovido 0 arquivamento, 0 MP promoverá a ação civil pública.
Esclareça-se, como já dito anteriormente, que o inquérito civil é dis­
pensável, ou seja, pode-se propor a ação civil pública sem que haja
um inquérito civil.
Contudo, identificada uma situação em que há ofensa ao direito
de idosos, obrigatória se torna a atuação do Ministério Público na
defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Sus­
tenta-se 0 princípio da obrigatoriedade da atuação no MP na LACP
através da interpretação dos arts. 5°, §§ 1° e 3° e 15 da LACP.

Já decidiu 0 STJ que 0 "(...) Ministério Público Federal, no exercício de sua função
institucional (Constituição Federal, art. 129, incs. I e II; Lei Complementar 75/93,
art. 6°, XII; e Estatuto do Idoso, art. 74), tem legitimidade para ajuizar ação civil
pública com 0 escopo de impedir 0 oferecimento de serviços de advocacia, que
alega ser feito mediante a cobrança excessiva e abusiva de horários, para a
propositura de ações judiciais referentes ao já pacificado direito à revisão de
benefícios previdenciários mediante a incidência do IRSM.(...)" (Aglnt no REsp
1528630/SP, Rei. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rei. p/ Acórdão Ministra MARIA ISA­
BEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 08/09/2017).

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça de Goiás ((MP/GO/2012), foi per­
guntado sobre a atuação do MP quanto à atuação na proteção das p e s­
so a s idosas, se órgão tem atribuição para prom over ação para defesa
de seus direitos ou oficiar em todos os feitos que não tiver intentado
na qualidade de fiscal da lei.

II - promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou par­


cial, de designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a
medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos
em condições de risco

Trata -se d e atu ação do M inistério Público em d u a s h ip ó teses:

a) Com o autor, nos caso s de açõ e s d e alim en to s, in terd ição (total,


p a rcia l ou e sp ecial);

b) Obrigação d e o ficia r com o fiscal d a le i, sob pena de n u lid ad e ,


nos feitos em que se d iscutam d ire ito d o s id o so s em condição
de risco.

Para a in terve n ção do M inistério Público é n e ce ssária que haja a


situ a çã o de risco do id o so , se n d o que tal condição possui p revisão
no art. 43 do El.
Cap. V . Acesso à justiça 161

Na hipótese do idoso que nunca cumpriu o seu dever de encar­


go alimentar com seus filhos, poderá ver sua pretensão de plei­
tear alimentos a seus filhos, em razão da violação do princípio da
reciprocidade?
Em um julgado do TJ/RS, já foi decidido que não é possível o
pedido de alimentos com fundamento no dever de solidariedade,
daquele genitor que nunca cumpriu com os seus deveres inerentes
ao poder familiar, deixando de prestar aos filhos os cuidados e o
afeto necessário (TJRS, Apelação Cível n° 70013502331, Sétima Câmara
Cível, Relatora: Des. Maria Berenice Dias. J. em 15/02/2006). Contu­
do, há entendimento que 0 princípio constitucional da solidariedade
familiar deve se sobrepor ao princípio da reciprocidade, devendo,
preenchido os requisitos legais, haver a possibilidade da obrigação
alimentar. (CABRIELLE CARVALHO RIBEIRO, na obra: AZEVEDO, Vitor Ema­
nuel de Medeiros. In: PINHEIRO, Naide Maria (Coord.). Estatuto do
Idoso comentado, p. 611).
0 idoso somente será interditado se houver prova em processo
de interdição e através de perícia, caso estejam presentes uma das
hipóteses do art. 1.767 do CC. Assim, aspectos relacionados com 0
processo de envelhecimento, como a fragilidade física, por si só, não
são motivos para a incapacidade civil.
Segundo os arts. 474 e 748 do CPC, 0 Ministério Público terá legiti­
midade para atuação somente de forma subsidiária ou casos espe­
cificados pela Lei.
A presença de um curador especial no processo não dispensa a
participação do Ministério Público, na hipótese em que há interesses
de capazes (art. 178, inc. II, do CPC), situação em que deverá atuar
como fiscal da ordem jurídica (custus legis).

0 STJ já decidiu que no procedimento de interdição não requerido pelo Minis­


tério Público, quem age em defesa do suposto incapaz é 0 órgão ministerial e,
p o rta n to , r e s g u a r d a d o s o s in t e r e s s e s in te rd ita n d o , n ã o s e ju stifica a n o m e a ç ã o
de curador especial. A atuação do Ministério Público como defensor do inter­
ditando, nos casos em que não é 0 autor da ação, decorre da lei (CPC, art.
1.182, § i ° e CC/2002, art. 1.770) e se dá em defesa de direitos individuais indis­
poníveis, função compatível com as suas funções institucionais. (REsp 1099458/
PR, Rei. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 02/12/2014,
Dje 10/12/2014)

Não são em todos os feitos relativos aos idosos que há a atuação


do Ministério Público.
162 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Já decidiu o STJ que o idoso que pleiteia benefícios previdenciários, por si só,
dispensa a intervenção do MP, em razão da natureza disponível do interesse,
devendo ser demonstrada a situação de risco do idoso que justifique a inter­
venção ministerial (STJ - REsp 1235375/PR, Rei. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA,
julgado em 12/04/2011, DJe 11/05/2011).

Ill - atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme 0


disposto no art. 43 do Estatuto do Idoso

Em face da proteção integral à pessoa do idoso, base funda­


mental do El, é possível o Ministério Público, em seu nome, postular
medidas judiciais em favor do idoso (substituição processual) que se
encontra em situações de risco, descritas no art. 43 do El.
A substituição processual é uma forma de legitimação extraordi­
nária, ou seja, consiste na hipótese de alguém, desde que tenha au­
torização legal, pleitear em juízo como parte, em nome próprio para
a defesa de um direito de outrem. 0 titular do direito de ação será
denominado de substituto processual e 0 titular do direito material
defendido pelo substituído será denominado de substituído.

0 STJ já decidiu que 0 MP possui legitimidade extraordinária prevista no art. 74,


III do El, para fornecimento de medicamento para idoso, consistindo na "subs­
tituição processual", assim cognominada por Chiovenda. (REsp 851.174/RS, Rei.
Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/10/2006, DJ 20/11/2006, p. 290)

IV - promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses


previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou 0 interesse público justificar.

Trata-se de um dispositivo em que permite o Ministério Público


buscar a declaração de invalidade dos efeitos jurídicos de um instru­
mento procuratório que poderá causar prejuízos ao idoso, embora
p o s s a e sta r fo rm a lm e n te e m ate rialm e n te em orde m .

Pode-se promover a revogação de qualquer tipo de mandato,


seja ele ad judicia, a d negotia, ou in rem propriam, ainda que com
cláusula de irrevogabilidade.
0 idoso, por vezes, é compelido a outorgar instrumentos procu-
ratórios para diversas finalidades, seja a terceiros ou a parentes,
que acabam fazendo do uso abusivo da confiança, obtendo créditos,
alienando bens, de forma a ludibriar e iludir o outorgante/idoso.
Para essas situações, ao MP foi atribuída a função de zelar pe­
los interesses dos idosos, outorgando poderes que se promova a
Cap. V . Acesso à Justiça 163

revogação dos instrumentos de procuração que se revelarem ser


utilizados de forma abusiva.
A revogação, que ocorrerá por meio de ação desconstitutiva, tem
por finalidade invalidar os efeitos do instrumento e ainda dar pu­
blicidade da decisão judicial de revogação, seja através de comuni­
cação ao constituído, notificação de terceiros, conhecidos, seja pela
publicação de editais. Pode ainda ser requerida na forma cautelar
ou ainda preparatória ou incidental.

-■ Atenção!
Se a procuração for registrada no ofício de notas, por meio de trans­
crição no Registro de Títulos e Documentos para fins de conservação
ou de prova de obrigações convencionadas (art. 127, l e VII, da Lei n°
6.015/73), deve se r averbada no m esm o qualquer alteração a ela ou a
revogação (art. 128, da Lei n° 6.015/73).

Contudo, há condições para que se possibilite 0 manejo da


ação revocatória de instrumento de procuração pelo Ministério
Público:
a) Idoso em situação de risco (art. 43 do El);
b) Necessidade ou interesse público.
A expressão "quando necessário" deverá ser avaliada no caso
a caso, de modo que a autonomia da pessoa idosa deverá ser pre­
servada, ainda que presente as hipóteses do art. 43 do El, devendo
0 Ministério Público atuar somente quando se revelar necessária a
ingerência externa.
A revogação não se faz necessária que ocorra no âmbito judicial,
podendo a mesma se dar no âmbito administrativo, por meio de
um procedimento administrativo instaurado pelo MP que envolva os
interessados (0 idoso, 0 mandatário, e a serventia do Cartório de
Notas, além de outros eventuais participantes).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça de Santa Catarina (MP/SC/2012)
foi elaborada a seguinte assertiva, considerada como correta: De acor­
do com 0 Estatuto do Idoso - Lei n. 10.741/2003: III - Compete ao M inis­
tério Público prom over a revogação de instrumento procuratório do
idoso, nas hipóteses previstas em Lei, quando necessário ou 0 interes­
se público justificar.
164 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

V - Instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo: a) expedir no­


tificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não com-
parecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coerciti­
va, inclusive pela Polícia Civil ou Militar; b) requisitar informações, exames,
perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da
administração direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências
investigatórias; c) requisitar informações e documentos particulares de ins­
tituições privadas.

0 procedimento administrativo poderá ser o inquérito civil ou


outro tipo de procedimento previsto em legislação específica.
A CF, em seu art. 129, inc. VI, já previa a faculdade da instauração
de procedimento administrativo pelo Ministério Público.
Na hipótese em que as notificações e requisições tiverem co­
mo destinatários 0 Governador do Estado, os membros do Poder
Legislativo e os desembargadores, serão encaminhadas pelo Pro­
curador-Geral de justiça art. 26, § i°, da Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público), já nas hipóteses em que as correspondências,
notificações, requisições e intimações do Ministério Público tiverem
como destinatários 0 Presidente da República, 0 Vice-Presidente da
República, membro do Congresso Nacional, Ministro do Supremo
Tribunal Federal, Ministro de Estado, Ministro de Tribunal Superior,
Ministro do Tribunal de Contas da União ou chefe de missão diplo­
mática de caráter permanente serão encaminhadas e levadas a
efeito pelo Procurador-Geral da República ou outro órgão do Mi­
nistério Público a quem essa atribuição seja delegada, cabendo às
autoridades mencionadas fixar data, hora e local em que puderem
ser ouvidas, se for 0 caso (art. 8°, § 40, da Lei Orgânica do Ministério
Público da União).
0 Ministério Público poderá utilizar 0 instrumento da condução
coercitiva caso seja desatendido à notificação de comparecimento.

0 STF já deixou esclarecido que a condução coercitiva não poderá ser ordenada
pelo Ministério Público, devendo submeter 0 pedido à apreciação judicial (HC
89837, Relator (a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 20/10/2009,
Dje-218 DIVULG 19-11-2009 PUBLIC 20-11-2009 EMENT VOL-02383-01 PP-00104 LEXSTF V .
31, n. 372, 2009, p. 355-412 RTJ VOL-00218-01 PP-00272).

Em recente decisão liminar do Min. Gilmar Mendes, na ADPF 444, 0 STF vedou a
utilização da condução coercitiva de investigados para interrogatório, sob pena
de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de
ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da responsabilidade do Estado.
Cap. V . Acesso à Justiça 165

A testemunha, quando advertida a dizer a verdade, não poderá


mentir sobre os fatos, sob pena de caracterizar o crime de falso
testemunho (art. 342 do CP).
0 desatendimento injustificado ou 0 retardamento indevido do
cumprimento das requisições ministeriais poderá dar ensejo a res­
ponsabilização civil, penal ou administrativa a quem der causa. Em
tese, a conduta também poderá se caracterizar como ato de impro­
bidade administrativa, por ofensa ao disposto no art. 11, inc. II, da
Lei de Improbidade Administrativa.

0 STJ já entendeu que a recusa poderá até, dependendo do caso concreto, carac­
terizar improbidade administrativa (REsp 1116964/PI, Rei. Ministro MAURO CAM­
PBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/03/2011, DJe 02/05/2011).

Na esfera criminal poderá restar caracterizado o crime de deso­


bediência (art. 330 do CP) e prevaricação (art. 319).
Qual 0 prazo para responder a requisição?
0 dispositivo em análise não fixa prazo para 0 cumprimento da
requisição, ficando a cargo do membro do Ministério Público fixar,
fundado na razoabilidade e proporcionalidade, dependendo da
complexidade da requisição e capacidade de atendimento do desti­
natário da ordem. Não poderá ser um prazo longo que prejudicará 0
trabalho, bem como não poderá ser exíguo que impossibilite 0 cum­
primento. Contudo, pode-se, de forma analógica, estabelecer 0 pra­
zo geral de 10 dias previsto no art. 92 para as requisições destinadas
a instruir 0 inquérito civil. Por fim, 0 art. 8o, § 5°, da Lei Orgânica do
Ministério Público da União dispõe que as requisições do Ministério
Público serão feitas fixando-se prazo razoável de até dez dias úteis
para atendimento, prorrogáveis mediante solicitação justificada.
0 poder requisitório sofrerá restrições em relação a documen­
tos e informações que possuem sigilo constitucional e necessitam
de intervenção judicial. Portanto, para os fins de instruir 0 proce­
dimento administrativo, 0 Ministério Público poderá obter acesso
in f o r m a ç õ e s s ig ilo s a s , s a lv o q u a n d o a p r ó p r ia C o n s t it u iç ã o F e d e r a l
somente admite a quebra do sigilo com a autorização judicial.
Sobre 0 poder requisitório ainda conferir 0 art. 8o, § 2°, da Lei
Orgânica do Ministério Público da União que dispõe:
"Nenhum a autoridade poderá op o r ao Ministério Público,
sob qualquer pretexto, a exceção de sigilo, sem prejuízo da
subsistência do caráter sigiloso da informação, do registro,
do dado ou do docum ento que lhe seja fornecido".
166 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

Ressalte-se que a Lei Orgânica do Ministério Público da União


poderá ser aplicada subsidiariamente aos Ministérios Públicos dos
Estados, por expressa disposição do art. 8o da Lei Orgânica Nacional
do Ministério Público.
Assim, a quebra de sigilo bancário, sigilo fiscal e o sigilo telefôni­
co, em regra, deverá decorrer de ordem judicial.
0 sigilo das operações financeiras é tratado pela Lei Complemen­
tar n° 105/01, permitindo sua quebra apenas através de ordem ju­
dicial ou de Comissão Parlamentar de Inquérito (arts. 30 e 4°)- Caso
haja consentimento expresso do interessado, a revelação das infor­
mações bancárias, não haverá dever de sigilo (art. 1, § 30, inc. V).

0 STF já decidiu que caso se trate de dinheiro público envolvido na investigação,


não poderá opor a exceção do sigilo bancário por parte da instituição financeira
à requisição do Ministério Público, em razão do princípio da publicidade que
rege a atuação da Administração Pública (MS n° 21.727-DF, j. 05-10-95, STF Pleno).

A interceptação de comunicações telefônicas possui sua discipli­


na e sigilo legal previsto na Lei n° 9.296/96. A interceptação telefônica
somente será admitida para fins de investigação criminal ou instru­
ção processual penal, preenchidos os requisitos legais. Porém, os
registros das ligações telefônicas já recebidas ou efetuadas, denomi­
nadas de bilhetagem, sem acesso ao teor das conversas, podem ser­
vir a processos criminais e investigações, bem como a outros tipos
de processos não criminal, sendo que tanto em um caso, como no
outro, é necessária a autorização judicial.
0 Ministério Público poderá acessar aos bancos de dados da Jus­
tiça Eleitoral, conforme a Resolução no 21.538/03 do TSE.
Sobre as requisições, prevê 0 art. 26 § 30, da Lei Orgânica Nacional
do Ministério Público que:
"Se rã o cum pridas gratuitamente as requisições feitas pelo
Ministério Público às autoridades, órgãos e entidades da
Administração Pública direta, indireta ou fundacional, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios."

É possível a realização de diligências pessoais, como inspeções e


outras diligências investigatórias.
Por fim, é possível que haja convênios entre os particulares, co­
mo centros de pesquisas, fundações ou universidades privadas, e 0
Ministério Público para que realize perícias e exames.
Cap. V . Acesso à Justiça 167

VI - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração


de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de
proteção ao idoso.

A sindicância é um procedimento administrativo que poderá


ser utilizado como medida preparatória para apurar os fatos que
possam ensejar a prática de infrações previstas no art. 55, § 3°, do
El (pedido judicial para a suspensão de atividade, dissolução de
atendimento etc.).

y Atenção!
0 Ministério Público em bora possua 0 p o d e r de investigação crim in al
reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência, não possui legitimi­
dade para instaurar inquérito policial (STF - RE 205473, Relator (a): Min.
CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 15/12/1998, DJ 19-03-1999
PP-00019 EMENT VOL-01943-02 PP-348).

A instauração de inquérito policial é exclusiva da polícia, contudo,


sua instauração poderá ser requisitada pelo Ministério Público, mas
não é 0 único meio de investigação criminal.
A requisição para a instauração de inquérito policial do Minis­
tério Público já possuía previsão no art. 26, inc. IV, da Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público.
Sobre 0 poder de investigação criminal do Ministério Público,
merecem destaques os julgados recentes dos Tribunais Superio­
res. 0 STF já decidiu, em repercussão geral reconhecida, que 0
Ministério Público possui competência e autoridade própria para
promover, por um prazo razoável, investigação de natureza penal,
desde que respeitados os direitos e garantias constitucionais que
assistem a quaisquer pessoas que estejam sendo investigadas pelo
Estado (RE 593727, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Relator(a) p/Acór-
dão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-175 DIVULG 04-
09-2015 PUBLIC 08-09-2015). Ainda, a tese do poder investigatório
também tem acolhida no STJ, ressaltando que 0 Ministério Público
possui a prerrogativa de instaurar procedimento administrativo de
investigação e conduzir diligências investigatórias cíveis e criminais
(HC 351.763/AP, Rei. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 24/05/2016, DJe 01/06/2016).

VII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao
idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis.
168 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

É possível que o Ministério Público na defesa da pessoa idosa uti­


lize todos os meios judiciais ou extrajudiciais que estejam previstos
não só no El, mas em todo o ordenamento jurídico.
São inúmeros os mecanismos e os instrumentos que são postos
à disposição do Ministério Público para o cumprimento da men­
cionada função.
Entre as medidas a serem utilizadas pelo Ministério Público está
o Mandado de Injunção Coletivo, previsto no art. 12, inc. I, da Lei
n° 13.300/16, quando a tutela requerida for especialmente relevante
para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos
interesses sociais ou individuais indisponíveis. Sobre o Mandado de
Injunção Coletivo, verificar os comentários abaixo.
0 mandado de injunção será utilizado sempre que a falta total
ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania.

VIII - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os pro­


gramas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas
ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas.

Tal atribuição já possui previsão em outras Leis que estabelecem


as funções do Ministério Público, com a Lei Orgânica Nacional do Mi­
nistério Público, em seu art. 25, inc. VI:

"exercer a fiscalização dos estabelecimentos prisionais e dos que abriguem ido­


sos, menores, incapazes ou pessoas portadoras de deficiência;"

A inspeção e a fiscalização nas entidades e programas de atendi­


mento, pública ou privada, ao idoso devem ser feitas de forma pes­
soal pelo membro do Ministério Público, de forma periódica, para
que sejam verificadas as condições do local e se todos os requisitos
legais estão sendo cumpridos, devendo verificar todas as instalações
físicas, as rotinas da casa, a oferta de medicamentos, em especial os
controlados, 0 armazenamento de alimentação, a assistência médica
praticada no local, entre outras situações.
Se necessário, poderá 0 membro do Ministério Público se valer
de técnicos da própria instituição ou de outras áreas, como a Vigi­
lância Sanitária, 0 Corpo de Bombeiros, engenheiros, profissionais da
medicina, arquitetos, entre outros.
Cap. V . Acesso à Justiça 169

É fato que tais entidades podem ser fiscalizadas pelos Conse­


lhos dos idosos, pelas Vigilâncias Sanitárias, pelo Poder Judiciário,
entre outros.
Ao detectar irregularidades o Ministério Público tem o dever de
adotar as providências necessárias saná-las, eliminando os riscos ou
o resguardando os interesses dos idosos, sendo que para isso, pode­
rá se valer de todos os instrumentos de atuação previstos no El, bem
como quaisquer outros encontrados na Constituição Federal ou leis.
0 El ainda prevê como crime (art. 109) 0 fato de impedir ou em­
baraçar ato do representante do Ministério Público ou de qualquer
outro agente fiscalizador.

IX - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde,


educacionais e de assistência social, públicos, para 0 desempenho de suas atri­
buições.

0 poder de requisição do Ministério Público já está previsto na


Constituição Federal, bem como nas suas respectivas Leis Orgânicas,
sendo este um instrumento necessário para que a Instituição possa
desenvolver suas funções e conferir ao idoso, toda a proteção ne­
cessária, em especial, as previstas no El.

X - referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos

0 instrumento de transação homologado pelo Ministério Público


valerá como título executivo extrajudicial (art. 784, IV, do CPC), de
forma que permitirá a execução judicial direta. Assim, trata-se de
importante instrumento para que se possam efetivar os direitos da
pessoa idosa.
Deverá o membro do Ministério Público analisar com todo cuida­
do possível as cláusulas e condições do acordo a ser referendado,
para que se verifique se todos os interesses do idoso estão sendo
atendidos, bem como se há discussão de direitos que não admitem
a transação.
A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis é concor­
rente, ou seja, não impedirá a de terceiros, nas mesmas hipóteses,
segundo dispuser a legislação (art. 74, § i°, do El).
Por não haver exclusividade do MP no exercício do direito de
ação, trata-se de uma legitimação concorrente e disjuntiva que po­
derá permitir, se for o caso, a formação de litisconsorte facultativo.
170 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Segundo precedentes do STJ, bem como do STF, há 0 reconhecimento de que 0


evidente relevo social da situação em concreto atrai a legitimação do Ministé­
rio Público para a propositura de ação civil pública em defesa de interesses
individuais homogêneos, mesmo que disponíveis, em razão de sua vocação
constitucional para defesa dos direitos fundamentais ou dos objetivos funda­
mentais da República, como 0 é caso do idoso, e ainda a dignidade da pessoa
humana, meio ambiente, saúde, educação, consumidor, previdência, criança e
adolescente, moradia, salário mínimo, serviço público, dentre outros. Portanto,
é possível a propositura de ação civil pública para assegurar direito individual
de idoso (AgRg no REsp 1094914/RS, Rei. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TUR­
MA, julgado em 06/09/2012, DJe 13/09/2012).

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público da Paraíba- (DP/PB/2014 - FCC) foi
perguntado sobre a legitimidade da defesa do idoso em juízo, inclusive
sobre a possibilidade da Defensoria Pública possuir legitimidade para
a tutela coletiva do idoso.

Preceitua o El que as atribuições do Ministério Público previstas


na mencionada lei não excluíram outras, desde que compatíveis com
a finalidade e atribuições do Ministério Público (art. 74, § 2°, do El).
Tal disposição já possuía previsão no art. 129, inc., IX da CF, como
função institucional do Ministério Público, 0 exercício de outras fun­
ções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua fina­
lidade, sendo-lhe vedadas a representação judicial e a consultoria
jurídica de entidades públicas.
Ainda 0 El estipula que 0 representante do Ministério Público,
no exercício de suas funções, terá livre acesso a toda entidade de
atendimento ao idoso (art. 74, § 30, do El).
0 art. 75, do El, prevê a figura de custus legis do membro do
Ministério Público, nos processos e procedimentos em que for parte
a Instituição. Assim, nos processos e procedimentos em que não for
parte, atuará obrigatoriamente 0 Ministério Público na defesa dos
direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipóteses em que terá
vistas dos autos depois das partes, podendo juntar documentos,
requerer diligências e produção de outras provas, usando os recur­
sos cabíveis.
A intimação do Ministério Público sempre será feita pessoalmente.
Tanto na sistemática do processo penal (art. 370, § 4° do CPP) e do pro­
cesso civil (art. 180, caput, do CPC) essa hipótese já se encontrava pre­
vista. Aliás, trata-se de prerrogativa do membro do Ministério Público
Cap. V . Acesso à Justiça 171

assegurada em Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (art. 41, inc.


IV) e na Lei Orgânica do Ministério Público da União (art. 18, inc. II, h).
Qualquer posição em que 0 Ministério Público assuma na lide irá
possuir a prerrogativa de ser intimado pessoalmente com a entrega
dos autos para manifestação.

F Atenção!
Já decidiu 0 STF que a contagem do prazo não se computa a partir
do "ciente" do mem bro do Ministério Público no processo, mas partir
do ingresso dos autos no setor administrativo do Ministério Público
(HC 83255, Relator (a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
05/11/2003, DJ 12-03-2004 PP-00038 EMENT VOL-02143-03 PP-00652 RTJ VOL-
00195-03 PP-00966). Em igual sentido já decidiu 0 STJ no REsp 628.621/DF,
Rei. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, CORTE ESPECIAL, julgado
em 04/08/2004, DJ 06/09/2004, p. 155.

A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade


do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento
de qualquer interessado.

0 STJ já decidiu que não há obrigatoriedade de intervenção do Ministério Público


em processos em que idosos capazes sejam parte e postulem direito individual
disponível. Só é necessária a intervenção em situações que 0 idoso se tratar-se
de direito individual indisponível, de grande relevância social ou de comprovada
situação de risco a justificar a intervenção do MP (Resp 1.235.375-PR, Rei. Min.
Gilson Dipp, julgado em 12/4/2011).

Na mesma linha de entendimento já se manifestou 0 STF, no sentido que somente


haverá nulidade por ausência de intervenção do Ministério Público, quando em
discussão direito do idoso em situação de risco (ARE 809.245, Rei. Min. Gilmar
Mendes, Dje 8-5-2014).

A nulidade que origina no processo se dá pela falta de intimação do


Ministério Público e não pela falta de efetiva manifestação, conforme já
decidiu 0 STJ no REsp 5.469/MS, Rei. MIN. SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 20/10/1992, DJ 23/11/1992, p. 21893. No mes­
m o sentido v o lt o u a a f ir m a r o STF n o ju lg a m e n t o d a ADI 19 3 6 , R e la t o r
(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 21/08/2002, DJ 06-
12-2002 PP-00051 EMENT VOL-02094-01 PP-00124 RTJ VOL-00184-01 PP-00070.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso público para Prom otor de Justiça de Mato Grosso (MP/
MT/2014 - UFMT), foi perguntado sobre a competência e a atuação do
Ministério Público de acordo com 0 Estatuto do Idoso.
172 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

As consequências da ausência de intimação do Ministério Públi­


co nos processos em que seja obrigatória, não possui entendimen­
to pacífico de suas consequências:
1 - a falta da intervenção gera nulidade insanável, não se convalidan-
do com intervenção posterior (RTj 72/267; RT 469/92);
2 - a nulidade só ocorrerá se houver prejuízo (AgRg no REsp 915.539/
RJ, Rei. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 11/09/2007, DJ 01/10/2007, p. 382);
3 - a falta de intervenção do Ministério Público em primeiro grau po­
derá ser suprida com a manifestação da Procuradoria de Justiça
perante 0 colegiado de segundo grau, quando não arguir nuli­
dade ou prejuízo (REsp 2.903/MA, Rei. Ministro ATHOS CARNEIRO,
QUARTA TURMA, julgado em 07/05/1991, DJ 10/06/1991, p. 7852).
4 - quando a nulidade decorrer da manifestação como custus legis, a
nulidade será insanável, não se aplicando 0 critério do prejuízo
(RT 636/63; RT 586/227).
A nulidade poderá ser arguida de ofício, em qualquer momento e
grau de jurisdição ou ainda a pedido de qualquer interessado, incluí­
do 0 próprio membro do Ministério Público que não fora intimado.

► C om o e sse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Prom otor de Justiça (FMP Concursos. MPE-RO. 2017)
foi perguntado:
Dentre os m odos de proteção do idoso, segundo a legislação em vigor,
é CORRETO afirmar que
a) não se inclui na competência do Ministério Público prom over 0 enca­
minhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;
b) não se inclui na com petência do M inistério Público re q u e re r a im ­
posição de p en alid ad e adm inistrativa po r infração às norm as de pro­
teção ao idoso;
c) não se inclui na competência do Ministério Público prom over ação ci­
vil pública em proteção de interesses ou direitos individuais do idoso;
d) compete ao Ministério Público atuar como substituto processual do
idoso, 0 que se exclui apenas quando a pretensão se dirija contra seus
próprios familiares;
e) a falta de intervenção do Ministério Público em processos em defesa
dos direitos e interesses difusos é causa de nulidade do feito.
A alternativa e) foi co n sid era d a correta.
Cap. V . Acesso à Justiça 173

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça do Estado de Santa Catarina (MP/
SC/2012), foi questionado se compete ao Ministério Público atuar como
assistente do idoso em ações individuais que tratem de direitos indis­
poníveis, send o que nos processos que envolvam interesses e direitos
de idosos previstos no Estatuto do Idoso, a ausência de intervenção do
Ministério Público acarreta nulidade que será declarada de ofício pelo
juiz ou a requerimento de qualquer interessado.

Todas as manifestações processuais do Ministério Público deve­


rão ser fundamentadas, conforme preceitua 0 art. 78 do El.

►Cuidado!
Tanto as m anifestações escritas, como a s orais, devem ser fu n d a­
mentadas.

Tal preceito possui fundamento constitucional, conforme se ob­


serva no art. 129, VIII da CF, determinando que ao membro do Mi­
nistério Público 0 dever de motivação em todas as manifestações
processuais judiciais ou extrajudiciais. Ademais, aplica-se ao Minis­
tério Público 0 disposto no art. 93 da CF, conforme preceitua 0 art.
129, § 4°. Assim, 0 princípio da fundamentação das decisões judiciais,
também é aplicável ao Ministério Público. Nesse sentido já esclare­
ceu 0 STF no julgamento do MS 24268, Relator (a): Min. ELLEN CRACIE,
Relator(a) p/Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado
em 05/02/2004, DJ 17-09-2004 PP-00053 EMENT VOL-02164-01 PP-00154
RDDP n. 23, 2005, p. 133-151 RTJ VOL-00191-03 PP-00922.
É certo que os despachos de mero expediente, manifestações
de ciência ou singelas cotas de andamento dispensam a motivação,
contudo, trata-se de exceção.
Ainda 0 art. 43, III da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público
impõe como dever funcional a indicação dos fundamentos jurídicos
nas manifestações processuais.

5.3. DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E IN D I­


VIDUAIS INDISPON ÍVEIS OU HOMOGÊNEOS

Os assuntos abordados nesse tópico complementam as explica­


ções explanadas por ocasião dos comentários elaborados do art. 74,
I, do El, quando se tratou da ação civil pública e inquérito civil na
defesa dos direitos do idoso.
174 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Ofensa a direitos assegurados aos idosos (art. 79 do El):


• acesso às ações e serviços de saúde;
atendimento especializado ao idoso
Ações de portador de deficiência ou com limita­
em razão de
responsabilidade ção incapacitante;
omissão ou
por ofensas aos
oferecimento atendimento especializado ao idoso
direitos dos
insatisfatório: portador de doença infectocontagiosa;
idosos:
serviço de assistência social visando ao
amparo do idoso.
OBS.: Essas hipóteses não excluem da proteção judicial outros interesses difusos,
coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos próprios do idoso.

0 rol de hipóteses previstas no artigo acima mencionado é


exemplificativo.
Cumpre, primeiramente, realizar a distinção entre 0 que são inte­
resses difusos, coletivos e individuais homogêneos:
Interesses difusos: são aqueles de natureza transindividuais, de
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indetermina­
das e ligadas por circunstância de fato.
Interesses coletivos: são aqueles também de natureza transindi­
viduais de natureza indivisível, mas que 0 titular dos direitos seja
um grupo, categoria ou classe de pessoas que estejam ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
Interesses individuais homogêneos: são aqueles interesses de
pessoas determinadas ou determináveis, titulares de objetos
divisíveis, as quais estão ligas entre si por um vínculo fático,
decorrente da origem das lesões.
0 art. 81, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor,
conceitua os direitos coletivos como:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para
efeitos deste código, os transindividuais, de natureza in­
divisível, de que sejam titulares p essoas indeterm inadas e
ligadas p or circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para


efeitos deste código, os transindividuais, de natureza in­
divisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
p essoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais hom ogêneos, assim


entendidos os decorrentes de origem comum.
Cap. V • Acesso à Justiça 175

Para a defesa destes direitos transindividuais são utilizadas as


regras pertinentes especificadas no El, bem como a Lei de Ação Civil
Pública e a Código de Defesa do Consumidor (que possui uma norma
de integração, onde se aplicam à defesa dos direitos e interesses di­
fusos, coletivos e individuais, no que forem cabíveis, os dispositivos
do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor).

5.3.1. Competência para julgamento


A competência para a propositura de ações para a proteção
judicial dos interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis
ou homogêneos serão no foro do domicílio do idoso (art. 80 do El).

Atenção!
Trata-se de com petência a b so luta, com exceção das competências da
Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Juiz do Estado de Mato Grosso do Sul (Juiz Substituto -
MS/2010), foi perguntado se as ações correspondentes serão propostas
no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá competência absoluta
para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal
e a competência originária dos Tribunais Superiores.

5.3.2. Legitimidade
Segundo 0 El, possuem legitimação para a propositura das ações:
176 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lonni Goldfinger

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso público para Defensor Público da Paraíba (DP/PB/2014 -
FCC), foi perguntado acerca da defesa do idoso em juízo, se a União,
os Estados e os Municípios têm legitimidade para atuar na defesa dos
direitos individuais indisponíveis do idoso.

Na hipótese das associações, 0 requisito pertinente ao interesse


de agir da associação civil, também conhecido como representati-
vidade adequada ou pertinência temática está previsto expressa­
mente. A representatividade adequada consiste na necessidade de
que as finalidades institucionais das associações legitimadas estejam
relacionadas com 0 objeto a ser tutelado, qual seja a defesa dos
interesses e direitos da pessoa idosa.
As associações, para serem legitimadas, precisam preencher os
seguintes requisitos legais:
a) legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano;
b) incluam entre os fins institucionais a defesa dos interesses
e direitos da pessoa idosa;
c) Dispensa de autorização da assembléia, se houver prévia
autorização estatutária.
0 El não contemplou a dispensa da pré-constituição, prevista no
art. 5o, § 4o, da Lei de Ação Civil Pública; assim, é possível sua apli­
cação subsidiária?
0 art. 93 do El prevê a possibilidade aplicação subsidiária, no
que couber, da Lei de Ação Civil Pública, portanto, pode-se permi­
tir a utilização do dispositivo mencionado, de modo a dispensar a
pré-constituição quando haja manifesto interesse social evidenciado
pela dimensão ou característica do dano, ou ainda pela relevância
do bem jurídico protegido.
A atuação do Ministério Público na defesa dos direitos e interesses
dos idosos já foi devidamente explicitada nos capítulos anteriores.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Assistente jurídico (FCC.AL-MS. 2016) foi perguntado:
Segundo 0 Estatuto do Idoso, para as ações cíveis fundadas em in­
teresses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou hom ogêneos,
consideram -se legitimados
Cap. V . Acesso à Justiça 177

A alternativa d) foi considerada a correta: concorrentemente, o M inis­


tério Público; a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; a
Ordem dos A dvogados do Brasil; as associações legalmente constituí­
d as há pelo m enos um ano e que incluam entre os fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa.

Registrem-se ainda os dispositivos dos arts. 89 e 90 que tratam da


provocação de iniciativa de atuação do Ministério Público na defesa
do idoso:

Provocação de qualquer pessoa prestar informações sobre fatos


iniciativa do MP pode que constituem objeto de ação ci­
no cível (art. 89 vil; e
do El): - 0 servidor deve indicar elementos de convicção.

0 El já prevê em seu art. 6° que todo cidadão possui 0 dever de


comunicar às autoridades eventuais ofensas ao idoso que tenha teste­
munhado ou ainda que tenha tomado conhecimento. De similar teor 0
disposto no art. io, § 3°, da Lei n° 8.842/94 e art. 13 do Decreto 1.948/96.
0 art. 6° do El trata como dever, enquanto 0 art. 89 do El trata
como faculdade. Questiona-se, 0 El confere a pessoa um dever ou
uma faculdade a provocação à iniciativa do Ministério Público?
É certo que 0 art. 6° do El engloba 0 art. 89 do El, pois 0 primeiro
dispositivo incumbe como dever, a pessoa comunicar a autoridade
competente qualquer tipo de agressão aos direitos da pessoa idoso.
Contudo, como não sanção para 0 seu descumprimento, interpreta-
se 0 dispositivo como uma faculdade.
0 servidor público é aquele que exerce um cargo, emprego ou
função pública, ainda que de forma temporária. Este possui 0 dever
de comunicar 0 Ministério Público caso tenha conhecimento de fatos
que constituam objeto de ação civil.
Na medida do possível a representação ofertada ao Ministério
P ú b lic o d e v e r á c o n t e r p r o v a s s o b r e o s fa t o s , a in d a q u e s e ja m in d i-
ciárias ou referidas.
Provocação do MP no crime (art. 90 do El):

Os agentes públicos em geral, os juizes e tribunais, no exercício de suas funções,


quando tiverem conhecimento de fatos que possam configurar crime de ação
pública contra idoso ou ensejar a propositura de ação para sua defesa, devem
encaminhar as peças.
178 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Nessa hipótese, há uma obrigação legal para que os agentes pú­


blicos em geral e para os juizes, incluindo os tribunais, comuniquem
fatos ao Ministério Público que, em tese, caracterizem crime de ação
penal pública contra 0 idoso.
Por se tratar de obrigação legal, 0 descumprimento (omissão)
poderá ensejar infração funcional e sujeitar 0 infrator à sujeição
disciplinar, bem como poderá caracterizar, em tese, 0 crime de pre­
varicação (art. 319 do CP).
Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às
autoridades competentes as certidões e informações que julgar ne­
cessárias, que serão fornecidas no prazo de 10 (dez) dias.
Lembra 0 El que na hipótese do Ministério Público não ser parte
na ação civil pública, de forma obrigatória será fiscal da lei (art. 75
do El), sob pena de nulidade.
E a Defensoria Pública? Possui legitimidade para a defesa de di­
reitos transindividuais dos idosos?
A Defensoria Pública terá legitimidade para a propositura de
ação civil pública desde que 0 interesse a ser tutelado pertença a
pessoas necessitadas de assistência jurídica do Estado, a quem cabe
ao órgão público representar, conforme disposição do art. 134 da CF.
A legitimação da Defensoria Pública já possui previsão expressa do
art. 82, III, do CDC. Contudo, posteriormente, a Lei n° 11.448/07, incluiu
no rol do art. 50 da LACP a legitimidade da Defensoria Pública, que,
aliás, possui aplicação subsidiária autorizada pelo art. 93 do El.
No julgamento da ADln 3.943/DF proposta pela CONAMP contra a pos­
sibilidade da legitimidade da Defensoria Pública para a propositura de
ação civil pública, foram discutidas diversas questões jurídicas sobre
a questão, incluindo 0 alcance da legitimidade. No julgado da referida
A D ln , o STF d e ix o u c o n s ig n a d o a p o s s ib ilid a d e d a D e fe n s o r ia P ú b lic a
propor ação civil pública, vez que inexiste vedação constitucional, bem
como há compatibilidade com as suas funções institucionais (ADI 3943,
RelatoKa): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 07/05/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-154 DIVULG 05-08-2015 PUBLIC 06-08-2015).

STJ - Tal quando objetiva proteger o interesse individual do menor carente (arts, n ,
201, V, 208, VI e VII, da Lei n. 8.069/1990), o Ministério Público tem legitimidade ativa
ad causam para propor ação civil pública diante da hipótese de aplicação do Estatuto
do Idoso (arts. 15,74 e 79 da Lei n. 10.741/2003). No caso, cuidava-se de fornecimento
de remédio. Precedentes citados: REsp 688.052-RS, DJ17/8/2006, e Resp 790.920-RS, DJ
4/9/2006. (Resp 855.739-RS, Rei. Min. Castro Meira, julgado em 21/9/2006).
Cap. V • Acesso à Justiça 179

É possível o litisconsórcio facultativo entre Ministérios Públicos


da União e dos Estados na defesa dos interesses dos idosos (art. 81,
§ i° do El).
Dispositivos similares já se encontravam presentes no ordena­
mento jurídico vigente: art. 5°, § 50, da Lei de Ação Civil Pública e art.
90 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Já decidiu 0 STJ que não há qualquer óbice para que 0 MPT atue em litisconsórcio
ativo facultativo com 0 MPF e 0 MPE, desde que a ação civil pública também vise
à tutela de interesse difuso ou coletivo de natureza trabalhista. (REsp 1.444.484-
RN, Rei. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/9/2014). 0 STF já se posicionou
também pela possibilidade de litisconsórcio facultativo entre 0 Ministério Público
da União e dos Estados (STF - ACO 1020/SP, Rei. Min. Carmen Lúcia, Tribunal Pleno,
DJE 20/03/2009, p. 237).

Caso a associação legitimada desista ou abandone a ação, 0 Mi­


nistério Público ou outro legitimado deverá assumir a titularidade
ativa (art. 81, § 2° do El). Tal dispositivo também já se encontra pre­
visto na Lei de Ação Civil Pública e no Estatuto da Criança e do Ado­
lescente. Assim, os colegitimados possuem a faculdade de assumir 0
polo ativo da demanda, a exceção do Ministério Público que possui
0 dever de assumir a posição de autor.
Tem-se interpretado que não só a desistência infundada ou aban­
dono das associações aplica-se a regra acima da legitimidade subsi­
diária, mas também por quaisquer outros legitimados, em razão do
princípio da razoabilidade.

5.3.3. Tutela provisória de urgência ou evidência


Na ação que tenha por objeto 0 cumprimento de obrigação de
fazer ou não fazer, 0 juiz concederá a tutela específica da obriga­
ção ou determinará providências que assegurem 0 resultado prático
equivalente ao adimplemento.
Trata-se de dispositivo semelhante ao previsto no art. 84 do CDC
e do art. 596 do CPC.
0 El faz remissão aos arts. 294 a 311 do CPC (antigo art. 273 do
CPC), que tratam da tutela provisória de urgência ou evidência.
É possível que haja uma tutela liminar, com ou sem justificação
prévia, sendo relevante 0 fundamento da demanda e havendo justi­
ficado receio de ineficácia do provimento final.
180 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Já decidiu 0 STJ que não é possível a concessão de antecipação de tutela de


ofício, dependendo de requerimento da parte interessada (REsp 1178500/SP, Rei.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2012, DJe 18/12/2012).

Outro ponto que ainda gera muita discussão na jurisprudência


é a concessão de liminar contra a Fazenda Pública. 0 art. 1.059
do CPC restringe a concessão de liminares contra 0 Poder Público.
Sobre 0 tema já decidiu 0 STJ que de forma excepcional é possível
conceder liminar sem prévia oitiva da pessoa jurídica de direito
público, desde que não ocorra prejuízo a seus bens e interes­
ses ou quando presentes os requisitos legais para a concessão
de medida liminar em ação civil pública (AgRg no REsp 1372950/
PB, Rei. Ministro HUMBERTO MARTINS, SECUNDA TURMA, julgado em
11/06/2013, DJe 19/06/2013).
Para fins de tutela liminar ou na sentença, 0 juiz poderá impor
multa diária ao réu, independentemente do pedido do autor, se for
suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável
para 0 cumprimento do preceito.
A multa diária é necessária para a garantia da efetividade das
providências judiciais, as multas diárias são conhecidas como astre-
inte, que poderão ser concedidas tanto na medida liminar, como na
sentença.
0 STJ tem rechaçado 0 argumento do Estado de que a imposi­
ção de sanção pecuniária não pode ser imposta, pois a própria
sociedade estaria sendo prejudicada (REsp 784.188/RS, Rei. Ministro
TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/10/2005, DJ
14/11/2005, p. 230).
Essa multa poderá ser cumulada com outra, que poderá ser de
natureza diferente, como por exemplo, a do art. 77, IV e §§ i ° e 2
do CPC.
A multa, segundo prevê 0 El, será exigida do réu após 0 trânsito
em julgado da sentença favorável ao réu (improcedência ou extinta
sem julgamento do mérito), mas será devida desde 0 dia em que
houver configurado consoante art. 83, § 3°, do El.
A intimação do devedor deverá ser pessoal, conforme Súmula
410 do STJ: "A prévia intimação pessoal do devedor constitui condi­
ção necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer".
Cap. V . Acesso à Justiça 181

5.3.4. Fundo do idoso


0 art. 13, caput, da Lei de Ação Civil Pública já previa a destinação
das condenações em ações envolvendo direitos difusos, coletivos
e individuais homogêneos a um Fundo: "Havendo condenação em
dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo
gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que
participarão necessariamente 0 Ministério Público e representantes
da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição
dos bens lesados."
A partir desta normativa outros Fundos específicos foram cria­
dos, como nas matérias relativas ao meio ambiente (art. 73 da Lei
n° 9-605/98) e da criança e do adolescente (art. 214 do Estatuto da
Criança e do Adolescente).
Dessa forma seguiu 0 Estatuto do Idoso. Previu, assim, 0 Fundo
do Idoso no art. 84, caput, do El: "Os valores das multas, previstas no
Estatuto do Idoso, serão revertidas ao Fundo do Idoso, onde houver,
ou na falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando
vinculados ao atendimento ao idoso.".

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Estado de Mato Grosso do Sul(-
DP/MS/2014 - VUNESP) foi perguntado, em relação às ações civis para a
tutela de direitos coletivos em sentido amplo, ajuizadas nos term os do
Estatuto do Idoso, se os valores oriundos de multas im postas no trans­
correr da ação reverterão ao Fundo do Idoso, onde houver, ou na falta
deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando vinculados ao
atendimento ao idoso.

Nessa linha seguiu 0 Estatuto do Idoso, conforme se observa 0


disposto no art. 115 do El:
"0 Orçamento da Seguridade Social d estinará ao Fundo Na­
cional de Assistência Social, até que 0 Fundo Nacional do
Idoso seja criad o , os recurso s necessário s, em cada exercí­
cio fin an ceiro , para aplicação em program as e ações re la ­
tivos ao idoso."

A Lei n° 12.213/10 cria 0 Fundo Nacional do Idoso. A mencionada Lei


instituiu 0 Fundo Nacional do Idoso, 0 qual será destinado a financiar
os programas e as ações relativas ao idoso com vistas em assegurar
os seus direitos sociais, além de criar condições para promover sua
autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
182 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

0 Fundo do Idoso terá como receita:

I - os recursos que, em conformidade com 0 art. 115 da Lei n° 10.741, de i ° de


outubro de 2003, foram destinados ao Fundo Nacional de Assistência Social, para
aplicação em programas e ações relativos ao idoso;

II - as contribuições feitas aos Fundos controlados pelos Conselhos Municipais,


Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e pelos Conselhos
Municipais, Estaduais e Nacional do Idoso e as doações feitas em imposto de
renda, conforme especificado na Lei;

III - os recursos que lhe forem destinados no orçamento da União;

IV - contribuições dos governos e organismos estrangeiros e internacionais;

V - 0 resultado de aplicações do governo e organismo estrangeiros e internacionais;

VI - 0 resultado de aplicações no mercado financeiro, observada a legislação


pertinente;

VII - outros recursos que lhe forem destinados.

Há entendimento de que além das multas aplicadas administra­


tivamente e judicialmente, as multas de caráter criminal podem ser
destinadas o Fundo do Idoso e não o Fundo Nacional Penitenciá­
rio (AZEVEDO, Vitor Emanuel de Medeiros. In: PINHEIRO, Naide Maria
(Coord.). Estatuto do Idoso comentado, p. 523).
As multas penais em regra serão destinadas ao Fundo Peniten­
ciário Nacional, em razão do disposto no art. 2°, inc. V, da Lei Com­
plementar n° 79/94- Porém, 0 art. 84 do El não restringe quanto às
multas nele previstas, interpretando-se também as multas de caráter
penal, aplicando-se 0 princípio da especialidade.
Permite a Lei n° 12.213/10 que a pessoa jurídica deduza do imposto
de renda devido, em cada período de apuração, 0 total das doações
feitas a o s F u n d o s Nacional, Estad u ais ou M u n icip a is d o Id o so d e v id a ­
mente comprovadas, vedada a dedução como despesa operacional. A
dedução não poderá passar do total de 1% do imposto devido.
0 Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa - CNDI possui a
competência para gerir 0 Fundo Nacional do Idoso e ainda fixar os
critérios para sua utilização.
0 que ocorre senão houver o Fundo Municipal do Idoso, nem 0
Fundo Municipal de Assistência Social?
0 El não confere resposta, devendo ser realizada interpretação
sistemática em relação aos direitos e interesses transindividuais. 0
Cap. V • Acesso à Justiça 183

art. 13, parágrafo único da Lei de Ação Civil Pública e o art. 214, § 2°,
do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecem que 0 dinheiro
será depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta
com correção monetária.

5.3.5. Dos recursos


0 El não prevê um sistema recursal próprio.

Há previsão apenas uma regra especial quanto aos efeitos do re­


curso. Na hipótese de recurso, poderá 0 juiz conferir efeito suspen-
sivo, para evitar dano irreparável à parte (art. 85 do El). Quando no
Tribunal, 0 relator será quem analisará a eventual efeito suspensivo
do art. 85 do El. Tal efeito não será concedido nos recursos especial
e extraordinário, por ambos possuírem processamento diferenciado.
Portanto, os re cu rso s a d m itid o s n as açõ es a que se refere 0 c a ­
pítulo III do título V do Estatuto do Idoso são os m esm os q u e estão
p revisto s no a rt. 994 do CPC.

Os prazos para recursos serão de 15 dias, conforme dispõe 0 art.


1003, § 5° do CPC, alvo os embargos de declaração, que possuem 0
prazo de 5 dias (art. 1.023, caput, do CPC).
A Fazenda Pública possui 0 prazo em dobro para todos os atos
(art. 183 do CPC). 0 prazo não será contado em dobro quando a lei
estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para 0 ente público.
A admissibilidade do recurso será feita pelo tribunal ad quem,
conforme art. 1.010, § 3° c.c. art. 1.011, caput, todos do CPC.
É possível a concessão do efeito suspensivo de ofício pelo juiz?
Em regra, 0 efeito suspensivo somente poderá ser concedido a re­
querimento da parte, pois a lei não conferiu a possibilidade ao juiz.
Uma vez transitada em julgado a sentença que impuser condenação
ao Poder Público, 0 juiz determinará a remessa de peças à autoridade
competente, para apuração da responsabilidade civil e administrativa
do agente a que se atribua a ação ou omissão (art. 86 do El).
No que tange a responsabilidade administrativa, a autoridade
competente será aquela superior ao agente administrativo que pra­
ticou a ação ou omissão.
A responsabilidade civil caberá ao Ministério Público, desde que
verificada a situação de risco prevista no art. 74 do El.
184 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

5.3.6. Da e x e cu çã o d a m ulta e d a d e c isã o c o n d e n a tó ria


0 Ministério Público executará, nos mesmos autos, as multas não
recolhidas até 30 (trinta) dias após 0 trânsito em julgado da decisão,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados em caso de inércia
daquele (art. 84, parágrafo único do El).

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de Justiça do Estado de Santa Catari-
na(MP/SC/2oi2) foi perguntado foi elaborada a seguinte assertiva: IV
- Os va lore s d as multas reverterão ao Fundo do Idoso, onde houver,
ou na falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, fican­
do vinculados ao atendim ento ao idoso, se n d o que as multas não
recolhidas até 60 (se sse n ta) dias a p ó s 0 trânsito em julgado da d e ­
cisão se rã o exigidas por meio de execução prom ovida pelo M inisté­
rio Público, nos m esm os autos, facultada igual iniciativa a o s dem ais
legitim ados em caso de inércia daquele. A assertiva foi considerada
errada.

Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença


condenatória favorável ao idoso sem que 0 autor lhe promova a
execução, deverá fazê-lo 0 Ministério Público, facultada, igual inicia­
tiva aos demais legitimados, como assistentes ou assumindo 0 polo
ativo, em caso de inércia desse órgão.
A execução terá 0 rito previsto no CPC, conforme art. 93 do El e
art. 19 da Lei de Ação Civil Pública. Caso seja a execução relativa a
direitos individuais homogêneos, a execução terá de observar os
arts. 97, 98 e 100 do Código de Defesa do Consumidor.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público de Rondônia -(DP/RO/2012 - CESPE),
foi perguntado se decorridos sessenta dias do trânsito em julgado de
sentença condenatória favorável a pessoa idosa sem que 0 autor lhe
prom ova a execução, deverá fazê-lo 0 MP.

5.3.7. D a s d e s p e s a s p ro c e s s u a is e a su cu m b ê n cia
Nas ações para a proteção judicial dos interesses difusos, cole­
tivos e individuais indisponíveis ou homogêneos não haverá adian­
tamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer
outras despesas (art. 88 do El). Por força do art. 93 do El, em rela­
ção ao adiantamento de despesas processuais, aplicam-se os arts.
Cap. V • Acesso à Justiça 185

18 e 21 da Lei de Ação Civil Pública e 87, caput, e 90 do Código de


Defesa do Consumidor.
Os réus serão beneficiados pelo art. 88 do El?
Os beneficiários desta norma processual são os legitimados do
art. 81 do El. Os réus nessas ações recebem 0 tratamento geral
previsto no CPC, pois não há posicionamento diferente previsto
no El. Portanto, a isenção não atingirá 0 réu, que deverá custear
a produção de provas que for de seu interesse. Nesse sentido já
decidiu 0 STJ no REsp 479.830/GO, Rei. Ministro TEORI ALBINO ZAVASC-
Kl, PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/08/2004, DJ 23/08/2004, p. 122.
0 requerido deverá antecipar 0 pagamento de todas as despe­
sas de atos processuais decorrentes de iniciativa própria, inclusive
0 preparo recursal.

0 STJ já decidiu que a isenção do adiantamento das despesas processuais esta­


belecida no art. 18 da Lei da Ação Civil Pública dirige-se somente à parte autora
e não ao réu. (AgRg no Ag 1189728/SP, Rei. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 18/02/2010, Dje 15/03/2010).

A vantagem do art. 88, caput, do El aplica-se a ação individual


indisponível de idoso, que, embora não se trate de ação coletiva,
pois, 0 objeto da ação trata-se apenas de uma pessoa, refere-se a
um direito individual indisponível.

Já decidiu 0 STJ que é possível utilizar verba do Fundo Especial de Reparação de


Interesses Difusos Lesados para que haja 0 pagamento dos honorários periciais
(AgRg no REsp 1423840/SP, Rei. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julga­
do em 08/03/2016, Dje 15/03/2016).

0 STJ já decidiu que é inviável a antecipação de honorários periciais pelo Minis­


tério Público (EREsp 981.949/RS, Rei. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 24/02/2010, Dje 15/08/2011).

Ao Ministério Público não se imporá sucumbência.

0 STJ já decidiu que no sistema normativo vigente, incluída a Constituição, está


consagrado 0 princípio de que, em ações que visam a tutelar os interesses
sociais dos cidadãos, os demandantes, salvo em caso de comprovada má-fé,
não ficam sujeitos a Ônus sucumbenciais (art. 5», incisos LXXIII e LXXVII da Cons­
tituição e 0 art. 18 da Lei 7.347/85). Assim, ainda que não haja regra específica
a respeito, justifica-se, em nome do referido princípio, 0 Ministério Público será
dispensado de ônus sucumbenciais, a não ser quando comprovada a abusi-
vidade de sua atuação. (REsp 577.804/RS, Rei. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/11/2006, DJ 14/12/2006, p. 250)
186 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

5.3.8. Das ações em defesa aos direitos transindividuais dos idosos


0 art. 82 do El estabelece que para a defesa dos interesses
e direitos dos idosos são admissíveis todas as espécies de ação
pertinentes.
São várias as ações previstas no ordenamento jurídico brasileiro
que poderá ser utilizada para a defesa dos interesses e direitos dos
idosos.
Contudo, merece destaque a novel Lei do Mandado de Injunção,
Lei n° 13.300/16.
0 mandado de injunção é mais um poderoso instrumento conferido
ao Ministério Público para a promoção da defesa dos interesses e di­
reitos dos idosos, vez que frequentemente direitos dos idosos são ne­
gados ou omitidos aos idosos, por ausência de regulamentação legal.
Por sua vez, dispõe o parágrafo único do art. 82 do El que contra
atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições de Poder Público, que lesem di­
reito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental,
que se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.

5.3.8.I. Mandado de injunção


0 mandado de injunção é uma ação constitucional, prevista no
art. 50, inc. LXXI, da CF:
"conceder-se-á m andado de injunção sem pre que a falta
de norma regulam entadora torne inviável 0 exercício dos
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;".

Antes da regulamentação da Lei n° 13.300/16, de 23 de junho de


2016, 0 STF entendia que a norma constitucional, em sendo autoapli-
cável, utilizava-se, no que couber, 0 rito do mandado de segurança.
0 Instrumento constitucional é utilizado nas hipóteses em que fal­
tar norma regulamentadora que torne inviável 0 exercício de direi­
tos constitucionais, situação esta conhecida como "mora legislativa".
0 mandado de injunção será concedido sempre que a falta total
ou parcial de norma regulamentadora torne inviável 0 exercício dos
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Cap. V • Acesso à Justiça 187

A falta parcial de regulamentação será considerada quando


forem insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador
competente.
Os direitos dos idosos previstos 3°, 8° ao 42 do El, bem como em
outros dispositivos previstos no El, já estudados anteriormente, re­
vestem em direitos constitucionalmente previstos, razão pela qual,
em tese, pode-se utilizar 0 mandado de injunção para proteção dos
mencionados direitos, visando sua concretização.
Não serão todas as espécies de normas constitucionais que
autorizaram propositura da mencionada ação. Não será admitida
na hipótese da norma constitucional ser autoaplicável, ou seja,
deverá ser uma norma constitucional de eficácia limitada. Também
não será admitida a ação constitucional para que haja uma nova
legislação, a fim de modificar a já existente, ainda que seja incom­
patível com a CF. Por fim, não será possível quando a finalidade do
pedido foi buscar junto ao Poder judiciário interpretação correta
da legislação já existente.
0 mandado de injunção poderá ser individual ou coletivo.
São legitimados do mandado de injunção individual:
► IMPETRANTES: as pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam
titulares dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas.
► IMPETRADOS: poder, o órgão ou a autoridade com atribuição para
editar a norma regulamentadora.
Já no mandado de injunção coletivo:

Contudo, os legitimados do mandado de injunção coletivo ainda


possuem interesse de agir específico que os autorizarão a proposi­
tura da referida ação constitucional:

LEGITIMADO TUTELA REQUERIDA

• especialmente relevante para a defesa da


ordem jurídica;

• especialmente relevante para a defesa do


MINISTÉRIO PÚBLICO
regime democrático;

• dos interesses sociais ou individuais indis­


poníveis.
188 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

LEGITIMADO TUTELA REQUERIDA

PARTIDO POLÍTICO COM • para assegurar 0 exercício de direitos, liber­


REPRESENTAÇÃO NO CONGRESSO dades e prerrogativas de seus integrantes
NACIONAL ou relacionados com a finalidade partidária;

ORGANIZAÇÃO SOCIAL • para assegurar 0 exercício de direitos, liber­


dades e prerrogativas em favor da totalida­
ENTIDADE DE CLASSE
de ou de parte de seus membros ou asso­
ASSOCIAÇÃO LEGALMENTE ciados, na forma de seus estatutos e desde
CONSTnuÍDA (com um ano de que pertinentes a suas finalidades, dispen­
funcionamento) sada, para tanto, autorização especial;

• promoção dos direitos humanos;

DEFENSORIA PÚBLICA • defesa dos direitos individuais e coletivos


dos necessitados, na forma do inciso LXXIV
do art. 5° da Constituição Federal.

A competência está prevista na Carta Magna.


Será competência do STF, nos termos do art. 10 2, 1, q:
" o m andado de injunção, quando a elaboração da norma
regulam entadora for atribuição do Presidente da República,
do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Sena­
do Federal, das M e sa s de uma d e ssa s Casas Legislativas, do
Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superio­
res, ou do próprio Suprem o Tribunal Federal;"

Será competência do STJ, art. 105, 1, h:


" 0 m andado de injunção, quando a elaboração da norma
regulam entadora for atribuição de órgão, entidade ou au­
toridade federal, da adm inistração direta ou indireta, ex­
cetuados os casos de competência do Suprem o Tribunal
Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral,
da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;"

Procedimento do mandado de injunção:


A petição inicial quando não for transmitida por meio eletrônico,
a peça e os documentos que a instruem serão acompanhados de
tantas vias quantos forem os impetrados.
Caso 0 documento necessário à prova do alegado encontre-se
em repartição ou estabelecimento público, em poder de autoridade
ou de terceiro, se houver recusa em fornecê-lo por certidão, no ori­
ginal, ou em cópia autêntica, será ordenada, caso seja pedido pelo
Cap. V • Acesso à justiça 189

impetrante, a exibição do documento no prazo de 10 (dez) dias,


devendo, nesse caso, ser juntada cópia à segunda via da petição.
Na hipótese da recusa em fornecer o documento for do impetra­
do, a ordem será feita no próprio instrumento da notificação.
Quando a decisão de relator for de indeferimento da petição
inicial, será possível interpor agravo, em 5 (cinco) dias, para 0 órgão
colegiado competente para 0 julgamento da impetração.
Na situação em que 0 Poder judiciário reconhecer a mora legisla­
tiva, será deferida a injunção para:
I - determ inar prazo razoável para que 0 im petrado prom o­
va a ed ição d a norm a regulamentadora;

II - estab e le ce r as co ndições em que se dará 0 exercício dos


direitos, das liberdades ou d as prerrogativas reclam ados
ou, se for 0 caso, as condições em que poderá 0 interessa­
do prom over ação própria visando a exercê-los, caso não
seja suprida a mora legislativa no prazo determinado.

Caso a norma regulamentadora for editada antes da decisão, a


ação estará prejudicada, caso em que 0 processo será extinto sem
resolução de mérito.
A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá
efeitos até 0 advento da norma regulamentadora. Contudo poderá
à decisão ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes, quando
isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberda­
de ou da prerrogativa objeto da impetração.
Uma vez transitada em julgado a decisão, poderão seus efeitos se
estenderem aos casos análogos por decisão monocrática do relator.
Caso 0 mandado de injunção tenha sido indeferido seu pedido,
com lastro na insuficiência de prova, a ação poderá ser novamente
proposta, mas, fundada em outros elementos probatórios.
A decisão poderá ser revista a pedido de qualquer interessa­
do, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, quando sobrevierem
relevantes modificações das circunstâncias de fato ou de direito,
hipótese em que a ação de revisão observará, no que couber, 0
procedimento acima já referido.
A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex
nunc em relação aos beneficiados por decisão transitada em julga­
do, salvo se a aplicação da norma editada lhes for mais favorável.
190 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fdbio lanni Goldfinger

No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada


limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da
classe ou da categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo de
conferir eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando isso
for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade
ou da prerrogativa objeto da impetração, bem como após o transito
em julgado a decisão, os efeitos da decisão poderão ser estendidos
aos casos análogos por decisão monocrática do relator.
0 mandado de injunção coletivo não induz litispendência em rela­
ção aos individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão
0 impetrante que não requerer a desistência da demanda individual
no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da im­
petração coletiva.
Serão aplicadas de forma subsidiária, as normas do Código de
Processo Civil e as normas do mandado de segurança, disciplinado
pela Lei n° 12.016, de 7 de agosto de 2009.

S .3 . 8 .2 . Mandado de segurança
5.3.8.2.I. Conceito
0 mandado de segurança é uma ação constitucional prevista para
conceder a proteção a direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, quando a agente coator da ilegalida­
de ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica que esteja no exercício de atribuições do Poder Público.
Assim prevê o art. 50, inc. LXIX, da CF:
"conceder-se-á m andado de segurança para proteger direi­
to líquido e certo, não am parado por h a b e a s c o r p u s ou h a ­
b e a s d a t a , quando 0 responsável pela ilegalidade ou abuso
de p od er for autoridade pública ou agente de p essoa jurídi­
ca no exercício de atribuições do Poder Público;".

A CF ainda prevê 0 mandado de segurança coletivo, conforme


art. 50, inc. LXX:
" 0 m andado de segurança coletivo pode se r im petrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação


legalmente constituída e em funcionamento há pelo m enos
um ano, em defesa dos interesses de se us m em bros ou
associados;".
Cap. V . Acesso à Justiça 191

0 mandado de segurança possui disciplina jurídica prevista na


Lei n° 12.016/09.

5.3.8.2.2. Le gitim id a d e

0 sujeito ativo, denominado de impetrante, poderá ser qual­


quer pessoa, seja ela física ou jurídica, que estiver sofrendo ou
estiver com justo receio de sofrer violação a direito líquido e certo
não amparado por habeas corpus ou habeas data por ilegalidade
ou abuso de poder de autoridade.
Na hipótese do Ministério Público impetrar mandado de segu­
rança em matéria criminal, é obrigatória a citação do réu como
litisconsorte passivo, assim dispõe a Sumula n° 701 do STF "no
mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público contra
decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do
réu como litisconsorte passivo". (RHC 30.946/MG, Rei. Ministro JOR­
GE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 10/12/2013, DJe 03/02/2014)
Caso várias pessoas tiverem seus direitos ameaçado ou violado,
quaisquer destas pessoas poderão impetrar mandado de seguran­
ça. Os entes com personalidade jurídica, os órgãos públicos, fundos
financeiros, ou seja, todos que possuem capacidade processual po­
derão utilizar-se e ainda ser pacientes do mandado de segurança.
Não são todas as pessoas privadas que exigem a personalida­
de jurídica, vez que basta possuir a personalidade judiciária, ou
seja, a capacidade de ser parte para a defesa de direitos próprios
ou coletivos para a impetração da segurança, como, por exemplo,
a Câmara de Vereadores, como, aliás, ficou editado na Súmula n°
525 do STJ: " a Câmara de Vereadores não possui personalidade
jurídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo de­
mandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.".

Para agir em defesa de prerrogativas, pode ajuizar mandado de segurança a Pre­


sidência da República, Presidência da Câmara dos Deputados, Mesa do Senado
Federal, Prefeitos, segundo já decidiu 0 STF. (MS 21239, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 05/06/1991, DJ 23-04-1993 PP-06920 EMENT
VOL-01700-02 PP-00237).

São legitimados para impetrar 0 Mandado de Segurança


Coletivo:

- partido político com representação no Congresso Nacional;


192 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

- organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída


e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros e associados.

Sobre a legitimidade da associação de classe dispõe Súmula n°


630 do STF: "A entidade de classe tem legitimação para o mandado
de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas
a uma parte da respectiva categoria.".
Na hipótese de impetração de mandado de segurança coletivo
por entidade de classe em favor de associados, não será necessária
a autorização destes (Súmula n° 629 do STF).
Os direitos protegidos no mandado de segurança coletivo estão
previstos no art. 21, parágrafo único da Lei do Mandado de Segurança:
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular
grupo ou categoria de p essoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica básica;
II - individuais hom ogêneos, assim entendidos, para efeito
desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade
ou situação específica da totalidade ou de parte dos a s so ­
ciados ou m em bros do impetrante.

No mandado de segurança, 0 sujeito passivo é a autoridade coatora.


São equiparados para efeitos de autoridade coatora:
► os representantes ou órgãos de partidos políticos;
► os administradores de entidades autárquicas,
► bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas na­
turais no exercício de atribuições do poder público, somente no
que disser respeito a essas atribuições.

já decidiu 0 STJ que 0 Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como
autoridade coatora em mandado de segurança no qual se impugna a elabora­
ção, aplicação, anulação ou correção de testes ou questões de concurso pú­
blico, cabendo à banca examinadora, executora direta da ilegalidade atacada,
figurar no polo passivo da demanda. (AgRg no RMS 37.924/GO, Rei. Ministro MAU­
RO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/04/2013, DJe 16/04/2013).

5.3.8.2.3. Pressupostos para impetração


São pressupostos do Mandado de Segurança:

a) Ato de autoridade

b) Ilegalidade ou abuso de poder


Cap. V . Acesso à Justiça 193

c) L e s ã o o u a m e a ç a d e le s ã o

d) Direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data

Segundo o STJ a errônea indicação da autoridade coatora não implica ilegitimi­


dade ad causam passiva se aquela pertence à mesma pessoa jurídica de direito
público; porquanto, nesse caso não se altera a polarização processual, o que
preserva a condição da ação (AgRg no AREsp 188.414/BA, Rei. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 31/03/2015).

Na hipótese de ato praticado por autoridade no exercício de


competência delegada, contra caberá 0 mandado de segurança. Nes­
se sentido a Súmula 510 do STF.
Aplica-se ao mandado de segurança a teoria denominada de en­
campação, com vistas a superar a indicação equivocada da autoridade
coatora pelo impetrante, desde que preenchidos determinados requisi­
tos, a ilegitimidade passiva originária seria suprimida, dando prossegui­
mento regular ao feito, visando à celeridade e à economia processual.
Os pressupostos para a aplicação da teoria da encampação no
mandado de segurança são:
a) Subordinação hierárquica entre a autoridade efetivamente coatora e
apontada na petição inicial, discussão de mérito nas informações; e
b) Ausência de modificação de competência (MS 15.114/DF, Rei. Mi­
nistro NEFI CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/08/2015, Dje
08/09/2015)
São hipóteses em que não é cabível a impetração da segurança:

- contra ato que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, indepen­
dente de caução;

- contra decisão judicial que caiba recurso com efeito suspensivo ou correição
(Súmula n° 267 do STF);

- co n tra d e c is ã o ju dicial t ra n sita d a e m ju lg a d o (S ú m u la 2 6 8 d o STF);

- contra lei em tese (Súmula 266 do STF);

- para assegurar liberdade de locomoção;

- para assegurar informações relativas à pessoa do impetrante constantes de regis­


tro ou bancos de dados de caráter público ou a retificação dessas informações;

- como substituto de ação popular (Súmula n° 101 do STF);


194 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

- não cabe mandado de segurança contra atos de gestão comercial praticados


pelos administradores de empresas públicas, da sociedade de economia mis­
ta e de concessionárias de serviço público.

- como substituto de ação de cobrança (Súmula n° 269 do STF)

Ainda sobre a impossibilidade de impetração de segurança foram


editadas as seguintes Súmulas dos Tribunais Superiores:
• Súmula n° 270 do STF: "Não cabe mandado de segurança para
impugnar enquadramento da L 3.780, de 12.7.60, que envolva
exame de prova ou de situação funcional complexa."
• Súmula n° 460 do ST): "É incabível 0 mandado de segurança
para convalidar a compensação tributária realizada pelo con­
tribuinte."

5.3.8.2.4. Liminar e suspensão da liminar


Para a concessão de liminar em mandado de segurança são ne­
cessários 0 preenchimento simultâneo dos seguintes requisitos:
a) fundamento relevante; e
b) que do ato impugnado possa resultar a ineficácia da segurança,
caso seja deferida.
Caso a segurança seja denegada, a liminar ficará sem efeito, e
ainda irá retroagir os efeitos da decisão contrária. Nesse sentido a
Súmula n° 405 do STF: "Denegado 0 mandado de segurança pela sen­
tença, ou no julgamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a
liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária."
Os efeitos da concessão da medida liminar deverão ter efeito até
que a sentença seja prolatada, salvo se revogada ou cassada.
Uma vez concedida a liminar, 0 processo terá prioridade para
julgamento.
A Lei do Mandado de Segurança (art. 70, § 20) proíbe a concessão
de liminar que tenha por objeto:

- compensação de créditos tributários;

- entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior;

- reclassificação ou equiparação de servidores públicos; e

- concessão de aumento ou a extensão de vantagens de pagamentos de qual­


quer natureza.
Cap. V . Acesso à Justiça 195

A concessão liminar da segurança poderá sofrer a decretação de


perempção ou caducidade, de forma ex officio ou a requerimento do
Ministério Público quando, concedida uma vez concedida a medida,
o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do processo ou
deixar de promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as
diligências que lhe cumprirem.
Dispõe a Súmula n° 622 do STF que: "Não cabe agravo regimental
contra decisão do relator que concede ou indefere liminar em man­
dado de segurança."
Sobre a suspensão de liminar em mandado de segurança conferir
a Súmula n° 626 do STF: "A suspensão da liminar em mandado de se­
gurança, salvo determinação em contrário da decisão que a deferir,
vigorará até 0 trânsito em julgado da decisão definitiva de conces­
são da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo
Supremo Tribunal Federal, desde que 0 objeto da liminar deferida
coincida, total ou parcialmente, com 0 da impetração.".
A liminar a ser proferida em mandado de segurança coletivo de­
verá observar 0 disposto no art. 22, § 2°:
"No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser con­
cedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica
de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta
e duas) horas.".

3.3.8.2.3. Prazo para impetração da segurança


0 prazo para a impetração do Mandado de Segurança é de 120
dias, contados da ciência do ato impugnado pelo interessado.

0 prazo, em se tratando de impetração contra ato omissivo da Administração,


que envolve obrigação de trato sucessivo, para 0 ajuizamento da ação manda-
mental se renova mês a mês (AgRg no AREsp 593738/PB, Rei. Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/08/2015, Dje 03/09/2015).

Na hipótese de pedido de reconsideração em procedimento


administrativo não irá interromper o prazo para a impetração da
segurança. Nesse sentido a Súmula n° 430 do STF: "Pedido de re­
consideração na via administrativa não interrompe 0 prazo para 0
mandado de segurança.".
É possível a fixação legal em lei de prazo para a configuração
da decadência, consoante se observa da Súmula n° 632 do STF: "É
196 E s t a t u t o d o id o s o - V o l. 4 5 • Fábio lanni Coldfinger

constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração


de mandado de segurança.".

5.3.8.2.6. Processamento do mandado de segurança


Na petição inicial do mandado de segurança, deverá preencher
os requisitos estabelecidos pela lei processual, e ainda deverá ser
apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a
primeira reproduzidos na segunda.
A inicial ainda deverá indicar, além da autoridade coatora, a pes­
soa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual
exerce atribuições.
No caso em que 0 documento necessário à prova do alegado
se ache em repartição ou estabelecimento público ou em poder de
autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro,
0 juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse docu­
mento em original ou em cópia autêntica e marcará, para 0 cumpri­
mento da ordem, 0 prazo de 10 (dez) dias. 0 escrivão extrairá cópias
do documento para juntá-las à segunda via da petição.
No despacho a inicial, 0 juiz deverá ordenar:
I - a notificação do co ato r do conteúdo da petição inicial,
en vian d o -lh e a segunda via a p resen ta d a com as có p ias dos
docum entos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) d ia s, preste
as inform ações;

II - a ciê n cia do feito ao órgão de re p re se n ta ç ã o ju d ic ia l


da p e sso a ju ríd ic a in te re s s a d a , e n v ia n d o -lh e có p ia da in i­
cia l sem d o cum ento s, p a ra qu e, q u e re n d o , in g re sse no
feito ;

III - a suspen são do ato que deu m otivo ao ped ido , casa
haja fundam ento re lev an te e do ato im pugnado pu der re­
sultar a ineficácia da m ed id a, caso seja finalm ente d e fe ri­
d a, send o facultado exigir do im petrante caução, fiança ou
d epó sito , com 0 objetivo de a sseg u rar 0 ressarcim ento à
pesso a ju ríd ica.

Será indeferida a inicial, fundamentadamente, desde logo:


• quando não for 0 caso de mandado de segurança;
• faltar algum dos requisitos legais;
• quando decorrido 0 prazo legal para a impetração.
Cap. V • Acesso à Justiça 197

Após as notificações, o serventuário em cujo cartório corra o feito


juntará aos autos cópia autêntica dos ofícios endereçados ao coator
e ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada,
bem como a prova da entrega a estes ou da sua recusa em aceitá-
-los ou dar recibo e, no caso de telegrama, radiograma, fax ou outro
meio eletrônico de autenticidade comprovada, a prova da remessa.
Encerrado o prazo para que as informações sejam prestadas, o
juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, den­
tro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias.
Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão con­
clusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser necessariamente
proferida em 30 (trinta) dias.
Caso a segurança seja concedida, 0 juiz transmitirá em ofício,
por intermédio do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante cor­
respondência com aviso de recebimento, 0 inteiro teor da sentença
à autoridade coatora e à pessoa jurídica interessada. Na hipótese
de urgência, poderá 0 juiz enviar por telegrama, radiograma, fax ou
outro meio eletrônico de autenticidade comprovada.

5.3.7.87. Competência
A competência para 0 julgamento do mandado de segurança será de
acordo com a autoridade coatora, devendo ser observada 0 Texto Maior
para observar as prerrogativas relacionadas a determinadas funções.

COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO EM MANDADO DE SEGURANÇA

a julgar mandado de segurança contra atos do Presi­


dente da República, das Mesas da Câmara dos Depu­
Supremo Tribunal
tados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da
Federal
União, do Procurador-Geral da República e do próprio
Art. 102, inc. I,d, da CF
Supremo Tribunal Federal e atos do Conselho Nacional
do Ministério Público e Conselho Nacional de Justiça.

Superior Tribunal de a contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes


Justiça da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do
Art. 105, inc. 1, b, da CF próprio Tribunal;

Tribunal Regional
a contra ato do próprio tribunal ou de juiz federal
Federal

a a competência será definida nas constituições esta­


Tribunal de Justiça
duais
198 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO EM MANDADO DE SEGURANÇA

Justiça Federal si demais autoridades federais

Justiça Estadual n demais autoridades estaduais ou municipais

0 STF já decidiu que a competência desta Corte para conhecer e julgar ações
que questionam atos do Conselho Nacional de Justiça - CNj e do Conselho
Nacional do Ministério Público - CNMP se limita às ações tipicamente consti­
tucionais: mandados de segurança, mandados de injunção, habeas corpus e
habeas data. Na hipótese de ação ordinária de declaração de nulidade de
ato administrativo, não será de competência do STF para processar e julgar
0 feito. (Pet 4794 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
13/10/2015, PROCESSO ELETRÔNICO Dje-2l6 DIVULG 27-10-2015 PUBLIC 28-10-2015).

Sobre competência ainda conferir as Súmulas dos Tribunais


Superiores:
Súmula n° 330 do STF: 0 Supremo Tribunal Federal não é com­
petente para conhecer de mandado de segurança contra atos dos
tribunais de justiça dos estados.
Súmula n° 376 do STJ: Compete a turma recursal processar e julgar
0 mandado de segurança contra ato de juizado especial.

Consoante a jurisprudência do STJ, admite-se a impetração de mandado de segu­


rança perante os Tribunais de Justiça dos Estados para 0 exercício do controle de
competência dos juizados especiais, ficando a cargo das Turmas Recursais, a teor
do que dispõe a Súmula n° 376 do STJ, 0 writ que tenha por escopo 0 controle de
mérito dos atos de juizado especial. (RMS 46.955/GO, Rei. Ministro MOURA RIBEIRO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 23/06/2015, DJe 17/08/2015).

Súmula n° 177 do STJ - 0 superior tribunal de justiça é incom­


petente para processar e julgar, originariamente, mandado de
segurança contra ato de órgão colegiado presidido por ministro
de estado.
Súmula n° 624 do STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal
conhecer originariamente de mandado de segurança contra atos de
outros tribunais.
Súmula n° 623 do STF: "Não gera por si só a competência ori­
ginária do Supremo Tribunal Federal para conhecer do mandado
de segurança com base no art. 102, I, n, da Constituição, dirigir-se
0 pedido contra deliberação administrativa do Tribunal de ori­
gem, da qual haja participado a maioria ou a totalidade de seus
membros."
Cap. V . Acesso à Justiça 199

5.3.8.2.8. Sentença

A sentença no mandado de segurança possui efeito inter partes.


Na hipótese de mandado de segurança coletivo o efeito será
para todos os integrantes da pessoa impetrante, conforme art. 22,
caput, da Lei de Mandado de Segurança:
"No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa
julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria
substituídos pelo impetrante."
0 art. 26, da Lei de Mandado de Segurança prevê que:

"Constitui crime de desobediência, nos termos do art. 330 do


Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940, 0 não cum­
primento das decisões proferidas em mandado de seguran­
ça, sem prejuízo das sanções administrativas e da aplicação
da Lei n° 1.079, de 10 de abril de 1950, quando cabíveis."
A coisa julgada dependerá do tipo de decisão proferida:
a) Se houver a concessão da ordem ou a denegação, a decisão fará
coisa julgada material;
b) Extinguindo 0 processo sem julgamento do mérito, 0 mandado
de segurança poderá ser novamente ajuizado.
No caso mandado de segurança coletivo, 0 art. 22, § i°, prevê que:
"0 mandado de segurança coletivo não induz litispendência
para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada
não beneficiarão 0 impetrante a título individual se não re­
querer a desistência de seu mandado de segurança no prazo
de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impe-
tração da segurança coletiva."

5.3.8.2.9. Recursos
A Lei d o M a n d a d o d e S e g u ra n ç a e sta b e le c e a p o s s ib ilid a d e d e
recursos para as seguintes hipóteses:

RECURSOS NA LEI DO MANDADO DE SEGURANÇA

RECURSO DISPOSITIVO LEGAL HIPÓTESE LEGAL

Do indeferimento da inicial pelo juiz de


APELAÇÃO 10, § 1°
primeiro grau
200 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

RECURSOS NA LEI DO MANDADO DE SEGURANÇA

RECURSO DISPOSITIVO LEGAL HIPÓTESE LEGAL

Da sentença, denegando ou concedendo


APELAÇÃO 14 0 mandado

Da decisão juiz de primeiro grau que


AGRAVO 7o, § i °
conceder ou denegar a liminar

Do indeferimento da inicial quando a


competência para 0 julgamento do man­
AGRAVO 10, § 1°
dado de segurança couber originaria-
mente a um dos tribunais.

Da decisão que suspende a execução da


AGRAVO 15 liminar

Da decisão do relator que conceder ou


AGRAVO 15, par. único
denegar a medida liminar

Não cabem a interposição de embargos infringentes

Das decisões em mandado de seguran­


Recurso
18 ça proferidas em única instância pelos
Especial
tribunais

Das decisões em mandado de seguran­


Recurso
18 ça proferidas em única instância pelos
Extraordinário
tribunais

Recurso Ordi­
18 Quando a ordem for denegada
nário
Crimes em Espécies
do Estatuto do Idoso

6.1. DISPOSIÇÕES GERAIS


O El prevê no Título VI as disposições penais, estabelecendo nor­
mas tanto de direito processual penal, como de direito material
penal.
0 art. 94 do El prevê que:

"A o s crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa


de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se 0
procedimento previsto na Lei n° 9.099, de 26 de setembro
de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições
do Código Penal e do Código de Processo Penal."

0 dispositivo foi alvo de intensa discussão jurídica na doutrina e


nos Tribunais, em especial sobre a aplicação de medidas despenali-
zadoras ao agente que pratica crimes contra os idosos.
0 STF na ADI 3096 firmou entendimento de que 0 dispositivo legal
acima mencionado deve ser interpretado em favor do idoso, não de­
vendo ser beneficiado quem lhe viole os direitos. Por isso, os agentes
que praticam crimes contra 0 idoso não poderão ter acesso a bene­
fícios despenalizadores de direito material, como conciliação, transa­
ção penal, composição civil de danos ou conversão da pena. Somente
se aplicam as normas estritamente processuais para que 0 processo
termine mais rapidamente, em benefício do idoso: "(...) 2. Art. 94 da
Lei n. 10.741/2003: interpretação conforme à Constituição do Brasil,
com redução de texto, para suprimir a expressão "do Código Penal
e". Aplicação apenas do procedimento sumaríssimo previsto na Lei
n. 9-099/95: benefício do idoso com a celeridade processual. Impossi­
bilidade de aplicação de quaisquer medidas despenalizadoras e de
interpretação benéfica ao autor do crime. 3. Ação direta de inconstitu-
cionalidade julgada parcialmente procedente para dar interpretação
conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, ao art. 94 da
202 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Lei n. 10.741/2003." (ADI 3096, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal


Pleno, julgado em 16/06/2010, DJe-164 DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-
2010 EMENT VOL-02413-02 PP-00358 RTJ V0L-OO2i6-Ol PP-00204)
Assim, concluiu o STF, julgando a ADI 3096, que aqueles que come­
tem crimes contra os idosos, cujas penas máximas forem superiores
a dois anos, não poderão se beneficiar das medidas despenalizado-
ras previstas na Lei n° 9.099/95.
Portanto, 0 art. 94 do El apenas determina que seja adotado, como
forma procedimental, a Lei n° 9-099/95 aos crimes cuja pena máxima
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos. Assim, esses
crimes não estão sujeitos à competência dos juizados Especiais Crimi­
nais, nem tampouco foi ampliado 0 crime de menor potencial ofensivo.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público de Rondônia (DP/RO/2012 - CESPE),
foi perguntado, se ao indivíduo que se aproprie de pensão de pessoa
idosa, dando-lhe aplicação diversa da de sua finalidade, aplica-se 0
procedimento previsto na Lei n° 9 -099/i 995-

Nota-se, portanto, que não estão inclusos no procedimento pro­


cessual, as fases que antecedem a denúncia (peça inicial da ação
penal). Assim, a investigação criminal, competência, questões e pro­
cessos incidentes, prisão e liberdade, entre outros temas, na hipóte­
se de tipificação no Estatuto do Idoso, serão tratadas pelo Código de
Processo Penal que possui aplicação subsidiária.
Não haverá, portanto, fase preliminar prevista no art. 69 a 76 da Lei
n° 9.099/95, pois tal fase apenas antecede 0 procedimento processual.
Também não será possível, em razão da impossibilidade da tran­
sação penal, a aplicação dos arts. 76, 77 e 78 da Lei n<> 9-099/ 95, não
sendo ainda admissível a denúncia oral, bem como se faz necessária
a juntada do exame de corpo de delito.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Delegado de Polícia (FUNCAB. PC-PA. 2016) foi per­
guntado se:
A p essoa que se apropria de pensão de idoso, dando-lhe destinação
diversa daquela definida como sua finalidade
a) comete crime previsto na Lei n° 10.741, que respeitará 0 procedi­
mento comum ordinário, em bora com a possibilidade de aplicação de
transação penal;
Cap. VI . Crimes em Espécies do Estatuto do Idoso 203

b) comete crime previsto na Lei n° 10.741, que respeitará 0 procedi­


mento comum ordinário, send o vedada a transação penal;
c) comete crime previsto na Lei n° 10.741, que respeitará 0 procedim en­
to previsto na Lei n° 9 -099/ de 1995, inclusive quanto à transação penal;
d) comete crime previsto no código penal, que respeitará 0 procedi­
mento comum ordinário;
e) comete crime previsto na Lei n° 10.741, que respeitará 0 procedim en­
to previsto na Lei n° 9 -099, de 1995, sendo vedada a transação penal
A alternativa e) foi co nsid erad a a correta.

Após, então, 0 oferecimento da denúncia (escrita), serão obede­


cidas às normas procedimentais da Lei n° 9.099/95:

Observações ao procedimento acima mencionado:


i a) 0 procedimento não prevê 0 número de testemunhas, aplican-
do-se, assim, a analogia ao CPP, no máximo 5 (crimes punidos
com detenção) e 8 (crimes punidos com reclusão);
204 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

2a) Caso a defesa deseje que as testemunhas da defesa compa­


reçam através de intimação, deverá apresentar requerimento
para tanto com no mínimo 5 dias antes de sua realização;
3a) Não há previsão legal do tempo para os debates orais, apli­
cando-se então 0 art. 534 do CPP, que estabelece 0 prazo de 20
minutos para cada parte, possível a prorrogação por mais 10, a
critério do juiz;
4a) Aplica-se 0 art. 81 da Lei n° 9.099/95, ou seja, poderá 0 juiz limitar
provas protelatórias ou excessivas, e será lavrado termo de todo
0 ocorrido na audiência, e a dispensa do relatório na sentença;

►Atenção!
Aos crimes previstos no art. 99, § 2° e art. 107 do El 0 rito que deverá
se r seguido será 0 comum ordinário, previsto no art. 394 e seguintes
do CPP. Contudo, se 0 crime for de coação tentada (art. 107 do El c/c
art. 14, inc. II, do CP, aplica-se 0 procedim ento sum aríssim o da Lei n°
9.099/95, em razão da incidência obrigatória da causa de diminuição
de pena.

As condutas tipificadas no El ingressam na dimensão político-


-criminal denominada de Direito Penal Promocional, ou seja, há
uma função promocional da intervenção punitiva. Como funda­
mento promocional, as condutas previstas visam transformar as
condições de vida e a consciência do povo no sentido de dar uma
direção a determinada finalidade. Têm por objetivo as condutas
criminais propostas pelo El em incutir uma cultura de proteção ao
idoso.
Ainda os tipos penais descritos no El se enquadram no movimento
politico-criminal conhecido como Direito Penal Simbólico, na medida
em que a utilização do Direito Penal está servindo para reproduzir
de forma intencional efeitos meramente simbólicos na opinião pú­
blica, de modo a causar um impacto psicossocial e de tranquilizar
0 cidadão. A simbologia da intervenção penal é observada quando
uma grande massa de sentimentos de medo e insegurança permeia
pela sociedade.
No que tange aos crimes previstos no El, tanto as dimensões do
Direito Penal Promocional, como do Direito Penal Simbólico encon­
tram-se presentes. (Sobre o tema conferir a abordagem de Eduardo
Medeiros Cavalcanti, na obra: PINHEIRO, Naide Maria (Coord.). Estatu­
to do Idoso comentado, p. 764).
Cap. VI . Crimes em Espécies do Estatuto do Idoso 205

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para o cargo de Delegado de Polícia no Estado de São Paulo
(Vunesp/Delegado de Polícia - SP/2014), foi perguntado, se aos crimes
previstos na Lei n° 10.741, de 2003 - Estatuto do Idoso -, aplica-se 0 proce­
dimento previsto na Lei n° 9.099, de 26 de setembro de 1995, desde que
a pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Estado do Am azonas (DP/
AM/2013 _ FCC) foi perguntado: 0 Estatuto do Idoso estabelece que aos
crimes em espécie, previstos em seu texto, cuja pena máxima privativa
de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se 0 procedimento
previsto na Lei n° 9 -099/95- Com base nos princípios norteadores da
Lei n° 10.741/03, é correto afirmar, se a regra permite, tão somente, a
aplicação do procedimento sum aríssim o previsto na Lei n° 9.099/95 e
não outros benefícios nela previstos.

Os crimes previstos no Estatuto do idoso são de ação penal pú­


blica incondicionada.
Não se aplica ao Estatuto do Idoso os arts. 181 e 182 do CP (escu­
sa absolutória e escusa relativa), ou seja, qualquer delito praticado
contra idoso seja patrimonial ou não, com ou sem violência ou grave
ameaça, a ação será sempre pública incondicionada.
Embora 0 El estabeleça que os crimes previstos no El sejam de
ação penal pública incondicionada, é possível ainda que seja ajui­
zada a ação penal privada subsidiária da pública na hipótese de
inércia do Ministério Público, pois se trata de garantia constitucional,
prevista no art. 5°, inc. LIX, da CF, e ainda com previsão no art. 100,
§ 30, do CP e art. 29 do CPP.

►Atenção!
0 art. 183, inc. Ill, do Código Penal já prevê a inaplicabilidade dos arts
181 e 182 do CP se 0 crime for praticado contra pessoa de idade igual
ou su p e rio r a 60 anos.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Defensor Público do Estado do Tocantins (DP/TO/2013
- CESPE), foi perguntado, se os crimes definidos no Estatuto do Idoso
são de ação penal pública incondicionada, e a eles não se aplicam as
escusas absolutórias do Código Penal, quando praticados em detrim en­
to de cônjuge, ascendente e descendente.
206 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

6.2. DOS CRIMES EM ESPÉCIE


0 El prevê diversos tipos penais:

Dispõe 0 art. 96, caput, e seus §§ do El:

• Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações ban­


cárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro
meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade.

0 tipo penal tutela as regras fixadas em direitos que proíbem a


discriminação, consoante disposto nos arts. 2°, 3°, caput, io, §§ i ° a
3°, 26, 27, 49, V e VI, 50, todos do El.
Objeto jurídico: a dignidade do idoso e 0 exercício dos seus di­
reitos de cidadão, 0 tratamento desigual das pessoas idosas, em
função da idade da vítima, ofendendo dessa forma a igualdade
(princípio da isonomia).
Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive em concurso (crime comum).
Sujeito passivo: idoso, segundo 0 El.
- Tipo objetivo: tratar mal 0 idoso impedindo-o de exercer os seus
direitos de cidadão. 0 legislador não previu todas as formas
possíveis da conduta discriminadora, deixando em aberto uma
cláusula genérica, admitindo a interpretação analógica. Trata-se
de crime comissivo e de perigo concreto. É crime de perigo con­
creto, pois 0 risco de lesão ao bem jurídico de ser visualizado de
forma concreta, sem presunções, demonstrando, assim, 0 efeti­
vo perigo ao bem jurídico-penal.
- Tipo subjetivo: dolo. Não se pune a conduta culposa.
Consumação: trata-se de crime material, exigindo a realização
da conduta descrita no tipo penal.
Tentativa: admite.
Pena: reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Sobre o crime em questão já decidiu 0 STJ: "(...) 2. In casu, apura-se no inquérito poli­
cial instaurado 0 cometimento, em tese, de crime praticado por empregado da Caixa
Econômica Federal no exercício de suas funções, já que a suposta vítima, pessoa ido­
sa, teria sido discriminada pelo acusado enquanto aguardava atendimento bancário,
conduta esta que se subsume ao delito previsto no art. 96 da Lei n° 10.741/2003 (Esta­
tuto do Idoso). 3. Conflito conhecido para declarar-se competente 0 juízo Federal da
9a Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado de São Paulo, 0 suscitante." (CC 97.995/
SP, Rei. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2009, DJe 26/08/2009).
Cap. VI • Crimes em Espécies do Estatuto do Idoso 207

• Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discrimi­


nar pessoa idosa, por qualquer motivo.

Cuida-se do § 1°, do art. 96 do El.


Objeto jurídico: a dignidade do idoso.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive em concurso (crime comum).
Sujeito passivo: idoso, segundo 0 El.
Tipo objetivo: tratar mal 0 idoso impedindo-o de exercer os seus
direitos de cidadão. Não há, pelo tipo penal, necessidade de
verificar quais foram os motivos que levaram 0 sujeito a praticar
a conduta criminosa. Trata-se de crime de mera conduta e comis-
sivo.
- Tipo subjetivo: dolo. Não é possível a punição culposa.
Consumação: com a realização das condutas descritas no tipo
penal.
- Tentativa: não é possível, pois não é possível haver a interrup­
ção da conduta criminosa. Outros sustentam a possibilidade da
tentativa.
Pena: reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

• A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os


cuidados ou responsabilidade do agente.

Trata-se de causa de aumento de 1/3 (um terço): se a vítima se


encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Investigador de Polícia (FUNCAB. PC-PA. 2016) foi p er­
guntado se:
Acerca do Estatuto do idoso, Lei n° 10.741, de 2003, é correto afirmar que
a) a limitação expressa no edital de concurso público para o provi­
mento de cargo efetivo, quanto ao limite de idade, afasta a incidência
da prática do crime de obstar 0 acesso de alguém a qualquer cargo
público por motivo de idade;
b) 0 Estatuto do Idoso é destinado a regular os direitos assegurados
às p essoas com idade igual ou superiora 65 (sessenta e cinco) anos;
c) admite-se a possibilidade de cobrança de valores diferenciados em
razão da idade, sem a caracterização da discriminação do idoso;
208 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Coldfinger

d) constitui crime discrim inar pessoa idosa, im pedindo ou dificultando


seu acesso a operações bancárias, aos m eios de transporte, ao direito
de contratar ou p or qualquer outro meio ou instrumento necessário ao
exercício da cidadania, por motivo de idade;
e) constitui crime deixar de prestar assistência ao idoso, m esm o quan­
do im possível fazê-lo sem risco pessoal.
A alternativa d) foi considerada a correta.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No Concurso para Escrivão de Polícia (FUNCAB.PC-PA. 2016) foi pergun­
tado se: constitui crime discrim inar pessoa idosa, im pedindo ou difi­
cultando seu acesso a operações bancárias, aos m eios de transporte,
ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento
necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade
A alternativa foi considerada correta.

Dispõe 0 art. 97, caput e parágrafo único do El:

• Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pes­
soal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua
assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, 0 socorro de
autoridade pública.

Objeto jurídico: vida e a saúde do idoso, esse crime assemelha-


se com 0 art. 135 do CP.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
- Sujeito passivo: idoso.
- Tipo objetivo: delito omissivo, as condutas do tipo penal indicam
abstenções (crime omissivo puro ou próprio).
T ip o s u b je tiv o : d o lo d e perigo concreto; d e v e h a v e r a c o m p ro ­
vação da efetiva existência de perigo em face do idoso. Não se
pune a culpa.
Consumação: no momento em que a omissão é praticada.
Tentativa: não admite (crime unissubsistente).
Pena: detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Dispõe 0 Art. 97, parágrafo único:

• Causa de aumento de pena: aumenta da metade, se da omissão resulta lesão


corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Cap. VI • Crimes em Espécies do Estatuto do Idoso 209

Embora assemelhado com o art. 135 do CP, 0 dispositivo previsto


no El possui requisitos especiais:

Omissão de socorro - CP Estatuto do Idoso - art. 97

Deixar de prestar assistência, quando Deixar de prestar assistência ao idoso,


possível fazê-lo sem risco pessoal, à quando possível fazê-lo sem risco pes­
criança abandonada ou extraviada, ou soal, em situação de iminente perigo,
à pessoa inválida ou ferida, ao desam­ ou recusar, retardar ou dificultar sua
paro ou em grave e iminente perigo; assistência à saúde, sem justa causa,
ou não pedir, nesses casos, 0 socorro ou não pedir, nesses casos, 0 socorro
da autoridade pública: de autoridade pública.

Pena - detenção, de um a seis meses, Pena - detenção de 6 (seis) meses a 1


ou multa. (um) ano e multa.

Algumas diferenças são possíveis de serem extraídas: a) no Có­


digo Penal 0 sujeito passivo é a criança abandonada ou extraviada,
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; enquanto no El são os idosos em situação de iminente perigo;
e b) no Código Penal a sanção de multa é alternativa, enquanto no
El é cumulativa.
Trata-se de causa de aumento de pena. Necessário que haja 0
nexo de causalidade entre a omissão de socorro do agente e 0 re­
sultado exigido no dispositivo, e ainda a conduta deve ser efetiva e
capaz de evitar 0 resultado descrito.
Dispõe 0 art. 98, caput, do El:

• Abandonar 0 idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa per­


manência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando
obrigado por lei ou mandado:

Objeto jurídico: dignidade e a saúde do idoso, esse crime se


assemelha com 0 art. 133 e 244, ambos do CP.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Na segunda par­
te do disp ositivo penal (não p ro ver su as n e ce ssid a d e s básicas,
quando obrigado por lei ou mandado) trata-se de crime próprio.
Sujeito passivo: idoso.
Tipo objetivo: deixar 0 idoso sujeito à própria sorte.
- Tipo subjetivo: dolo. Não se pune a culpa. 0 dolo é de perigo,
pois caso a intenção seja da prática de um crime mais grave, por
ele responderá.
210 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

Consumação: com o efetivo abandono ou não-provimento das


necessidades do idoso.
- Tentativa: Na primeira parte é possível a tentativa, pois a con­
duta do agente pode ser comissiva. Já na segunda parte, não
admite, pois se trata de crime omissivo próprio.
Pena: detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.

►Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Analista Jurídico do Ministério Público do Estado do
Pará (MPE/PA/2012 - FADESP), foi perguntado, se abandonar 0 idoso em
hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência ou congê­
neres, ou não prover suas necessidades básicas quando obrigado por
lei ou m andado, sujeita 0 infrator a pena de detenção de seis meses
a três anos, mais multa.

Dispõe 0 art. 99, caput e §§ i ° e 20, do El:

• Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, subme­


tendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos
e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a tra­
balho excessivo ou inadequado:

Objeto jurídico: saúde física ou psíquica e a dignidade do idoso.


Este crime assemelha-se ao art. 136 do CP.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), contudo, para a
conduta "privar de alimentos", somente aquele que estiver obri­
gado a prestar 0 alimento (crime próprio).
- Sujeito passivo: idoso.
- Tipo objetivo: praticar as condutas descritas no tipo penal, que
podem se r co m issivas ou om issivas.

- Tipo subjetivo: dolo de perigo.


Consumação: surgindo o perigo, ou seja, submetendo a pessoa
idosa a condutas caracterizadas no tipo penal.
Tentativa: se comissiva, admite-se; se omissiva não se admite.
Pena: detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
Qualificadoras: Se do fato resulta lesão corporal de natureza
grave, pena de reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos; se resulta
a morte reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Cap. Vi • Crimes em Espécies do Estatuto do Idoso 2 11

0 art. 99 do El possui muita semelhança com o art. 136 do CP,


inclusive nas penas:

Maus-tratos - Código Penal Estatuto do Idoso - art. 99

Expor a perigo a vida ou a saúde de Expor a perigo a integridade e a saú­


pessoa sob sua autoridade, guarda de, física ou psíquica, do idoso, sub­
ou vigilância, para fim de educação, metendo-o a condições desumanas ou
ensino, tratamento ou custódia, quer degradantes ou privando-o de alimen­
privando-a de alimentação ou cuida­ tos e cuidados indispensáveis, quando
dos indispensáveis, quer sujeitando-a obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a
a trabalho excessivo ou inadequado, trabalho excessivo ou inadequado.
quer abusando de meios de correção
ou disciplina.

Pena - detenção, de dois meses a um Pena - detenção de 2 (dois) meses a 1


ano, ou multa. (um) ano e multa.

§ i ° - Se do fato resulta lesão corporal


de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Igual ao El.
§ 2» - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze
anos.

Dispõe 0 art. 100, caput, do El:

• Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
I - obstar 0 acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;
II - negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;
lli - recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência
à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa;
IV - deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de
ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
V - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da
ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.

Objeto jurídico: Na hipótese do inc. I é a dignidade e 0 acesso do


idoso aos cargos públicos; do inc. II é a dignidade e 0 acesso do
idoso ao trabalho; inc. Ill é a saúde do idoso; inc. IV é a adminis­
tração da Justiça e os direitos dos idosos; já no inc. V é 0 poder
do Ministério Público de requisitar informações.
Sujeito ativo: no caso do inc. I é qualquer pessoa que tenha 0
poder de impor impedimento ao idoso; inc. II é qualquer pes­
soa, em especial 0 empregador; inc. Ill é qualquer pessoa que
preste serviços relacionados à saúde; inc. IV e V é qualquer
pessoa.
2 12 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

- Sujeito passivo: nas hipóteses dos incisos I, II e III são as pessoas


com idade igual ou superior a 6o anos; no inc. IV é o Estado e o
idoso; e no inc. V é o Ministério Público e os idosos.
- Tipo objetivo: a conduta do inc. I consiste em obstar o acesso ao
idos em qualquer cargo público, em razão da idade; a conduta
punida no inc. II é negar a alguém, pelo fato de ser idoso, em­
prego ou trabalho, desde que o trabalho seja compatível com a
condição do idoso; já o inc. Ill a conduta é recusar, retardar ou
dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência a saúde
do idoso; por sua vez o inc. IV pune a conduta daquele que dei­
xar de cumprir, retardar ou frustrar a execução de ordem judicial
expedida nas ações civis a que alude o El; por fim o inc. V pune
a conduta daquele que recusa, retarda ou omite dados técnicos
indispensáveis à propositura de ação civil, requisitados pelo Mi­
nistério Público.
- Tipo subjetivo: trata-se do dolo genérico.
Consumação: 0 inc. I consuma-se com o impedimento; o inc. II
com a negativa do trabalho ou emprego; no inc. Ill com a efetiva
prática dos atos incriminados; nos incisos IV e V com e efetivo
descumprimento, retardo, frustração ou omissão.
Tentativa: No inc. I é possível, nos incisos II e III não é possível,
em razão de se tratar de atos unissubsistentes. Já a forma de
frustrar é possível. No inc. V não é possível.
Pena: reclusão de seis meses a um ano e multa.
Dispõe o art. 101, caput, do El:

• Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de or­


d e m ju dicial e x p e d id a n a s a ç õ e s e m q u e fo r p a rte o u in te rv e n ie n te o id o so :

Objeto jurídico: administração da justiça e os direitos dos idosos.


Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: o imediato é o Estado e mediato o idoso que foi
prejudicado pela conduta comissiva ou omissiva do agente.
Tipo objetivo: deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo
motivo, a ordem judicial expedida nas ações em que o idoso
for parte ou interveniente. A execução de ordem judicial não
se refere a processo de execução, mais de qualquer tipo de
Cap. VI . Crimes em Espécies do Estatuto do Idoso 213

processo em que o idoso seja parte ou interveniente do idoso,


em qualquer que seja o momento processual e independente do
conteúdo da ordem.

►Atenção!
Caso a ordem judicial desobedecida tenha sido em anada em ação civil
cm fundamento nos arts. 78 a 92 do El, 0 crime será aquele previsto no
art. 101, IV, do El.

Há ainda entendimento de que se a ordem judicial ser oriunda


de uma ação civil cujo objeto é direito individual indisponível de
pessoa idoso, proposta por um dos legitimados ativos do art. 81 do
El, 0 crime praticado é do art. 100, IV, do El, com a pena do art. 101,
que é mais branda, mais favorável ao agente. Sustenta-se que não
há razão jurídica para a pena ser mais grave na hipótese da ação
ser proposta pelos legitimados do art. 81 do El, e a pena se menor
se idêntica ação for proposta pelo idoso.

►Outra observação necessária!


Se for ordens expedidas em ações da Lei n° 7.853/89, que trata dos
direitos m etaindividuais d as p essoas portadoras de necessidades es­
peciais, 0 crime será 0 previsto no art. 8°, inc. V, da m encionada Lei.

- Tipo subjetivo: dolo. Não se pune a culpa.


Consumação: efetivo descumprimento, retardo ou frustração da
execução da ordem judicial.
- Tentativa: não admite, salvo nas condutas de retardar e frustrar,
que em tese é possível.
Pena: detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Por sua vez, dispõe 0 art. 102, caput, do El:

• Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendi­


m e n to d o id o s o , d a n d o -lh e s a p lic a ç ã o d iv e r s a d a d e s u a fin a lid a d e :

Objeto jurídico: 0 patrimônio do idoso.


Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito passivo: idoso.
- Tipo objetivo: apropriar-se de patrimônio do idoso, com a finali­
dade de aplicá-los de forma diversa.
214 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

- Tipo subjetivo: dolo.


Consumação: na apropriação, com a inversão do patrimônio, no
desvio, no momento da aplicação diversa.
0 ressarcimento do prejuízo, a restituição ou a composição após consumado
0 crime, não torna a conduta atípica, podendo restar configurado ou 0 arre­
pendimento posterior, se anterior a denúncia, ou atenuante genérica, se pos­
terior. (REsp 843.713/RS, Rei. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
12/12/2006, DJ 12/02/2007, p. 297).

- Tentativa: é possível.
- Pena: reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

STJ - "(...) 3. Embora a apropriação do imóvel tenha se dado no ano de 2001, hou­
ve nitidamente a prorrogação do momento consumativo, porquanto o Paciente
poderia fazer cessar, a qualquer momento, a atividade delituosa e assim não 0
fez. Trata-se, portanto, de crime permanente, tendo em vista a natureza dura­
doura de sua consumação. (...)" (HC 111.120/DF, Rei. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 17/12/2010)

0 art. 102 do El assemelha-se com 0 art. 168 do CP, contudo, há


diferenças no objetivo jurídico específico previsto no El, bem como
em relação ao sujeito ativo:
Apropriação indébita - CP Estatuto do Idoso - art. 102

Apropriar-se de ou desviar bens, pro­


Apropriar-se de coisa alheia móvel, de ventos, pensão ou qualquer outro ren­
que tem a posse ou a detenção. dimento do idoso, dando-lhes aplica­
ção diversa da de sua finalidade.

Pena - reclusão, de um a quatro anos,


Idêntica.
e multa.

Dispõe 0 art. 103, caput, do El:


• Negar 0 acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa
deste em outorgar procuração à entidade de atendimento:

Objeto jurídico: saúde e 0 patrimônio do idoso.


Sujeito ativo: responsáveis pelas entidades de atendimento ou
outra pessoa que tenha poderes para recusar 0 abrigamento do
idoso em entidade de atendimento, tratando-se de crime próprio.
Sujeito passivo: idoso.
Tipo objetivo: praticar a conduta negar, de acordo com 0 descrito
no tipo penal.
Cap. VI • Crimes em Espécies do Estatuto do Idoso 215

Tipo subjetivo: dolo. Não há punição culposa.


Consumação: com a negativa ou expulsão do idoso.
- Tentativa: na conduta negar acolhimento, não é possível (delito unis-
subsistente); na conduta negar permanência, em tese, será possível.
Pena: detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
já o art. 104, caput, do El dispõe:

• Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos


ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de
assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:

Objeto jurídico: patrimônio do idoso.


- Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito passivo: idoso.
- Tipo objetivo: reter o cartão, nos termos do tipo penal. 0 tipo
penal não exige a apropriação de valores. Caso ocorra a apro­
priação de valores, a conduta pode deixar de configurar o delito
em análise, para o delito previsto no art. 102.
Tipo subjetivo: dolo.
Consumação: com a efetiva retenção do cartão.
Tentativa: não é possível (crime unissubsistente).
Pena: detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Dispõe 0 art. 105, caput, do El:

• Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou ima­


gens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso:

Objeto jurídico: a dignidade do idoso, além da imagem e a honra


subjetiva.

Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).


Sujeito passivo: idoso.
Tipo objetivo: conduta de exibir ou veicular, informações ou ima­
gens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso. Os meios de
comunicação poderão ser por meio televisivo, rádio, fotográfico,
ambiente digital, jornalístico entre outros. A conduta depreciar
216 Estatuto do Idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

significa rebaixar o valor, desprezar, menoscabar, enquanto a


conduta de injuriar é a ofensa ao decoro ou à dignidade de al­
guém, de forma a atingir a sua honra subjetiva.
- Tipo subjetivo: dolo. Não se pune a culpa.
Consumação: com a exibição ou veiculação da imagem pelos
meios de comunicação.
- Tentativa: admite.
Pena: detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
0 art. 106, caput, do El estabelece que:

• Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração


para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:

Objeto jurídico: 0 patrimônio do idoso.


Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Caso estejam ser­
ventuários da justiça envolvidos no crime, 0 tipo penal será 0
previsto no art. 108 do El.
Sujeito passivo: idoso que não possua lucidez para discernir os
seus atos, não havendo necessidade de que 0 idoso tenha sido
interditado judicialmente.
- Tipo objetivo: a conduta consiste em induzir pessoa idosa sem
discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de
administração de bens ou deles dispor de forma livre.
- Tipo subjetivo: dolo.
Consumação: com a outorga da procuração.
- Tentativa: é possível na forma plurissubsistente.
Pena: reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Dispõe 0 art. 107, caput, do El:

• Coagir, de qualquer modo, 0 idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração:

Objeto jurídico: liberdade individual e patrimônio do idoso.


Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: idoso.
- Tipo objetivo: coagir, constranger, de qualquer forma, 0 idoso a
doar, contratar, testar ou outorgar procuração.
Cap. VI • Crimes em Espécies do Estatuto do Idoso 217

- Tipo subjetivo: dolo.


Consumação: com a prática da coação.
Tentativa: é possível.
Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Dispõe 0 art. 108, caput, do El:

• Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos,
sem a devida representação legal:

Objeto jurídico: fé pública e a tutela ao patrimônio do idoso.


Sujeito ativo: tabelião ou escrivão público, e ainda 0 escrevente
autorizado do cartório de registros públicos. Crime próprio.
Sujeito passivo: imediato 0 Estado e mediato 0 idoso sem dis­
cernimento.
- Tipo objetivo: a conduta de lavrar ato notarial que envolva pes­
soa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida repre­
sentação legal.
Tipo subjetivo: dolo.
Consumação: com a lavratura do ato notarial, lançado em livro
próprio no cartório.
- Tentativa: admite.
Pena: reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Dispõe 0 art. 109, caput, do El:

• Impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público ou de qual­


quer outro agente fiscalizador:

Objeto jurídico: a fiscalização das entidades do idoso e a atribui­


ção de fiscalização do MP para inspecionar as entidades.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito p a ssiv o : o ó rg ã o d o MP e o s a g e n te s p ú b lico s q u e re a li­
zam a fiscalização nas entidades de idosos.

1 Atenção!
Segundo NUCCI 0 sujeito passivo é 0 idoso e de form a secund ária 0
Estado, pois 0 MP e os outros fiscais não defendem interesse próprio
(NUCCI, Guilherm e de Souza. Leis Especiais e Pro cessuais Penais Com en­
tad as. São Paulo: Ed. RT, 2006, p .114 ).
218 Estatuto do idoso - Vol. 45 • Fábio lanni Goldfinger

- Tipo objetivo: a conduta de impedir ou embaraçar ato do re­


presentante do Ministério Público ou de qualquer outro agente
fiscalizador
- Tipo subjetivo: dolo.
Consumação: com o impedimento ou embaraço.
- Tentativa: não é possível.
Pena: reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

: Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Prom otor de justiça do Estado de Santa Catarina (MP/
SC/2011), foi perguntado, considerado como correto, os seguintes itens:
I. Entre as linhas de ação da política de atendimento ao idoso estão
as políticas sociais básicas e a proteção jurídico-social por entidades
de defesa dos direitos dos idosos. II. Constitui infração administrativa
a entidade de atendimento ao idoso não oferecer atendimento per­
sonalizado, bem como não diligenciar no sentido da preservação dos
vínculos familiares, entre outras medidas.

’ Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Analista de Promotoria do Estado de São Paulo (IBFC
- Analista de Promotoria - Assistente Jurídico - MPE - SP/2013), foi ela­
borada a seguinte proposição: Constitui crime a conduta de deixar 0
profissional de saúde ou 0 responsável por estabelecimento de saúde
ou instituição de longa permanência de comunicar à autoridade com ­
petente os casos de crimes contra idoso de que tiver conhecimento. A
proposição foi considerada incorreta.
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LEITE, George Salomão; LEITE, Glauco Salomão; MENDES, Gilmar Fer­
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MIRELLES, Hely Lopes. Direito Adm inistrativo Brasileiro. 39o ed. atual.
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MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso d e Direito Adm inistrativo.
14a ed. rev. ampl. e atual. Rio de janeiro: Forense, 2006.
NOHARA, Irene Patrícia. Direito Adm inistrativo. 2a ed. atual, e rev. São
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NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Especiais e Processuais Penais


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