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INMETRO
A ancoragem tem a mesma importância dentro do sistema individual de trabalho em
altura, porém, os outros componentes contam com um selo de qualidade que garante sua
integridade. Este selo, presente hoje em cintos, talabartes e travaquedas veio a se somar
às NBRs (Normas Brasileiras), lançadas em 2010, que representaram um avanço na
forma de teste e consequentemente nos equipamentos disponíveis no mercado. O selo do
Inmetro pede de forma compulsória que os componentes sejam fabricados sob um
sistema de gestão de qualidade ou lote de produção controlado conforme estabelecido na
Portaria nº 388, de 24 de julho
de 2012 do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior que resultou no
termo de cooperação entre este e o Ministério do Trabalho.
Este selo garante: cinto, talabarte e travaqueda mais seguros, mas, o que acontece com
a ancoragem que faz parte do mesmo sistema de trabalho? Ela não ficaria sendo o “elo
mais frágil da corrente”? Esta é justamente uma das discussões neste momento: a busca
por uma forma de certificação para o dispositivo de ancoragem garantindo assim que os
componentes do sistema fornecidos no mercado tenham um mesmo controle
gerando uma corrente em que os elos sejam homogêneos. Ou seja, dar ao dispositivo
de ancoragem a garantia do cinto, talabarte e travaqueda. O primeiro passo para isto será
a norma NBR que se encontra em fase final de projeto. Uma vez aprovada, a busca
por laboratórios que atendam ao escopo da norma de dispositivos de ancoragem e que
sejam certificados pela norma ISO 17025 será um bom caminho. Se o selo compulsório
se tornar realidade será uma vitória para a segurança do trabalhador.
Se faz necessário entender um pouco mais sobre como se divide um sistema de
ancoragem e quais as formas de se obter um dispositivo de ancoragem ou mesmo o que
é este dispositivo que pode ser adquirido como um produto. Produto este que um dia
poderá contar com um selo do Inmetro. Para iniciar este entendimento uma forma é
compreender como são as garantias dos dispositivos de ancoragem comercializados hoje
no mercado:
• produtos que têm apenas a sua resistência mecânica conhecida;
• produtos sendo garantidos por responsabilidade técnica com referências diversas;
• produtos certificados por normas internacionais justificados pela NR 35 item 1.3.
Aqui entra um ponto crucial para o entendimento do dispositivo de ancoragem e que será
abordado ao longo o artigo: o dispositivo de ancoragem é sempre um produto? A resposta
pontual à pergunta é não e a certificação que se busca é apenas para o produto a ser
comercializado no mercado.
ABNT
Atualizamos as NBRs para cinto, talabarte e travaqueda, mas e a ancoragem onde
estarão conectados estes componentes, não deveria ter uma norma técnica também?
Qual a garantia que o usuário tem sobre a sua ancoragem? Alguns aspectos destas
perguntas apareceram quando o CB-32 (Comitê Brasileiro de Equipamentos de Proteção
Individual) da ABNT estudava as normas técnicas NBR para cinto, talabarte e travaqueda
antes de 2010. Este ponto acabou por gerar a criação de uma CE (Comissão de
Estudos) para equipamentos auxiliares para o trabalho em altura. Esta CE estuda
hoje justamente um projeto de norma para dispositivos de ancoragem.
VALORES
Basicamente, devemos esquecer o peso de 100kg para conhecer outro valor fixo:
- a força gerada pela retenção de uma queda
- 6kN (seis Kilo-newton) ou 600kgf (Kilogramas-força).
Sem dúvida é mais importante não deixar a força passar dos 6kN no trabalhador do que a
ancoragem resistir a várias toneladas. A norma de cinto tem como requisito duas quedas
dinâmicas consecutivas que geram no cinto impactos em torno de 12kN. Ao contrário, as
normas de talabarte com absorvedor de energia e todos os tipos de travaqueda, têm
como requisito para queda dinâmica, que estes não gerem um impacto maior do que 6kN
para que sejam aprovados. O projeto de dispositivos de ancoragem prevê um impacto de
9kN, o que é superior aos 6kN que atendem à técnica correta de trabalho.
Todos os componentes citados também são ensaiados com uma carga estática, em que
afora alguma exceções, é uma carga de 15kN. Internacionalmente 6kN (seis Kilo-Newton)
é o valor máximo estabelecido como aceitável para ser recebido pelo trabalhador pela
retenção de uma queda. É um valor em que as chances de se gerar uma lesão são
pequenas. Acima deste valor de impacto as chances de ruptura de órgãos ou fraturas
aumentam significativamente. Temos então de retrabalhar a famosa pergunta: pode um
trabalhador de mais de 100 quilos atuar de forma segura?
Para o sistema de trabalho, levando em consideração o peso do profissional, é garantido
que o impacto da retenção de uma queda será menor do que 6kN. O responsável por esta
validação será o profissional legalmente habilitado que terá de conhecer esta força para
calcular a instalação do dispositivo de ancoragem.
Está sendo previsto um ensaio exclusivo para os dispositivos de ancoragem.
Chama-se ensaio de integridade realizado imediatamente depois do ensaio
dinâmico onde, de forma estática são colocados300kg no dispositivo de ancoragem para
uma pessoa. Este ensaio prevê uma situação de resgate quando um resgatista pode, com
o risco calculado, se conectar à própria ancoragem da vítima para resgatá-la. Isto faz com
que esta norma possa ser referenciada na permissão de trabalho em que o sistema de
resgate previsto utilize as próprias ancoragens do sistema de trabalho.
Tipos de dispositivos
Instalação e produto dividem as responsabilidades em uma ancoragem
O instalador é o responsável pela estrutura, é ele quem vai calcular e realizar ensaios,
caso ache necessário, e assim garantir que ela irá suportar as forças geradas em uma
queda. No momento em que o dispositivo de
ancoragem não pode ser separado da estrutura sem que seja danificado ou que se
danifique a estrutura, ele deixa de ser um dispositivo para se tornar parte da estrutura.
Desta forma, o fabricante não pode garantir que esta fixação permanente não venha a
alterar as características de seu dispositivo. Independente de estar fixado de forma
permanente ou não, o instalador deve se comunicar com o fabricante em caso de
dúvida. Outra forma de destacar a importância do profissional legalmente habilitado e
sua responsabilidade referente à instalação pode ser observada nas práticas
realizadas em outros países. No final de junho, durante o Simpósio Internacional de
Proteção de Queda promovido pela ISFP (International Society for Fall Protection), um
dos itens comentados em mais de uma apresentação foi sobre como é tratada hoje esta
responsabilidade nos Estados Unidos. A legislação norte-americana permite que uma
pessoa que não seja um profissional legalmente habilitado escolha uma ancoragem
quando esta apresenta uma resistência “garantida” para mais de 2.200 kg. Digo
“garantida” porque a forma de se garantir é apenas visual e intuitiva. O que está sendo
questionado é o fato de que um percentual pequeno destas ancoragens supostamente
garantidas não são tão seguras quanto parecem. O ideal sob o ponto de vista do
especialista de uma das palestras, seria que 100 por cento das ancoragens fossem
validadas por um profissional legalmente habilitado. Isto é o que a legislação brasileira já
exige.
Destaque ao tipo C
Linha de vida horizontal flexível possui requisitos de ensaio diferenciados
INFORMAÇÃO
Sem citar a hierarquia das soluções, que pede que o risco seja evitado sempre
que possível, o texto presume que o cinturão foi escolhido como a melhor solução para o
trabalho. Seja realizando a limpeza e a manutenção de fachadas de edificações
a dezenas de metros de altura ou em um enlonamento de caminhão pouco mais de dois
metros do chão. Em ambos os casos existe o risco de queda com diferença de nível que
deve ser prevenido ou ter minimizadas as suas consequências.
Lembre-se de uma coisa apenas: a boa vontade e a presunção de que algo “vai resistir”
não são suficientes para garantir a segurança do sistema. Algumas dicas para se chegar
ao melhor sistema de ancoragem são: cobrar por informações de qualidade do
profissional legalmente habilitado, e também exigir suporte de seu fornecedor de sistemas
e equipamentos.
A parte prática do trabalho em altura sempre aconteceu e não vai parar. A
expectativa, inclusive, é de aumento. As estatísticas de acidentes são muito altas
e geraram a NR 35 para tentar mudar este quadro e para que estes números diminuam.
Sem interromper suas atividades, os responsáveis pelos sistemas têm de tomar
consciência sobre a importância da teoria obrigatória para execução de suas tarefas.
Parece simples o apelo e espero que não seja necessária uma geração para aceitar a
mudança. A máxima “sempre trabalhei assim há mais de 20 anos e nada me aconteceu”,
pode ser perigosamente substituída por uma nova versão do tipo “sempre assinei a
Anotação de Responsabilidade Técnica assim, sem cálculos e nada aconteceu, não será
agora”!