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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.

1.FUNDAMENTO DA RESPONSABILIDADE

O surgimento e a evolução do Estado de Direito fazem nascer a ideia de que a


Administração Pública se submete ao direito posto, assim como os demais sujeitos de
direitos da sociedade.

Esse dever de ressarcir particulares por danos causados é manifestação da


responsabilidade extracontratual, haja vista o fato de que não decorre de qualquer
contrato ou vínculo anterior com o sujeito indenizado.

Essa responsabilização decorre, ainda, da aplicação do princípio da isonomia, inerente


ao ordenamento jurídico constitucional pátrio, uma vez que quando, em benefício de
toda a sociedade, o Estado causa um dano específico a alguém ou a pequeno grupo de
pessoas, nada mais justo que os sujeitos prejudicados sejam indenizados, como forma
de reparar a desigualdade causada pela atuação estatal.

2.HISTÓRICO/EVOLUÇÃO

1°) FASE DA IRRESPONSABILIDADE DO ESTADO: As monarquias absolutistas se


fundavam numa ideia de soberania, enquanto autoridade, sem abrir possibilidade ao
súdito de contestação, o Estado não respondia por seus atos, era sujeito irresponsável.
(THE KING CAN NOT WRONG)

ATENÇÃO: No Brasil não houve esta fase.

2°) RESPONSABILIDADE COM PREVISÃO LEGAL: O primeiro caso de responsabilidade


do Estado (leading case) se deu na França e ficou conhecido como caso "Blanco".
Ocorreu que uma garota foi atropelada por um vagão de ferroviária e, comovendo a
sociedade francesa, embasou a responsabilização do ente público pelo dano causado.
O Estado, que, até então, agia irresponsavelmente, passa a ser responsável, em casos
pontuais, sempre que houvesse previsão legal específica para responsabilidade. Eram
situações muito restritas.

No Brasil, surgiu com a criação do Tribunal de Conflitos, em 1873.

3°) TEORIA DA REPONSABILIDADE SUBJETIVA (CIVILISTA): O fundamento aqui é a


intenção do agente público. A Teoria da responsabilidade do Estado evoluiu e se
começou a admitir a sua responsabilidade sem a necessidade de expressa dicção legal.

Para que se possa admitir a incidência desta teoria, necessita-se da comprovação de


alguns elementos: a conduta do Estado; o dano; o nexo de causalidade e o elemento
subjetivo, qual seja, a culpa ou o dolo do agente.

No Direito Brasileiro, a responsabilidade subjetiva (teoria civilista) tinha


embasamento no Código Civil de 1916, ora revogado.
4°) TEORIA DA CULPA DO SERVIÇO OU FAUTE DU SERVICE: Neste caso, a vítima
apenas deve comprovar que o serviço foi mal prestado ou prestado de forma
ineficiente ou ainda com atraso, sem necessariamente apontar o agente causador. Não
se baseia na culpa do agente, mas do serviço como um todo e, por isso, denominamos
CULPA ANÔNIMA.

5°) TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA: Para que haja responsabilidade


objetiva, nos moldes do texto constitucional, basta que se comprovem três elementos,
quais sejam: a conduta de um agente público, o dano causado a terceiro (usuário ou
não do serviço) e o nexo de causalidade entre o fato lesivo e o dano.

''A responsabilidade objetiva é a obrigação de indenizar que incumbe a alguém em


razão de um procedimento licito ou ilícito que produziu uma lesão na esfera
juridicamente protegida de outrem"

Não há necessidade da comprovação do requisito objetivo.

3.RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NA CF/88

A responsabilidade do estado no Brasil é objetiva desde a Constituição de 1946, sendo


que a CF/88 não inovou o ordenamento jurídico. A CF/88 regulamenta a
responsabilidade civil no art. 37, §6º.

A responsabilidade civil do estado estampada na constituição é objetiva. Mas a


responsabilidade do agente público, perante o Estado, é subjetiva, decorrendo da
comprovação da culpa ou dolo. (Art. 37 § 6 CF; Art. 43 CC/02)

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente


responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos
a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se
houver, por parte destes, culpa ou dolo.

4.AGENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL:

a) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO: É composto da Administração


Direta (Entes Políticos: União, Estados, Municípios e DF) e das Autarquias e
Fundações Públicas de Direito Público.
b) PARTICULARES PRESTADORES DE SERVIÇOS PÚBLICOS POR DELEGAÇÃO:
Concessionárias e Permissionárias de serviços.
ATENÇÃO: AS EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA somente se
incluem neste dispositivo, quando criadas para a prestação de serviços públicos.

Quando o PARTICULAR PRESTADOR DO SERVIÇO ou entidade da ADMINISTRAÇÃO


INDIRETA causa o dano, por conduta de seus agentes, a responsabilidade da
concessionária (ou entidade da administração indireta) é objetiva (primária) e o Estado
tem responsabilidade subsidiária - e objetiva - por esta atuação.

PARTICULAR PRESTADOR DE SERVÇO / ESTADO


ADM INDIRETA
RESP. OBJETIVA PRIMÁRIA RESP. OBJETIVA SUBSIDIÁRIA

A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA se dá quando o Estado responde pelos danos


causados por outra pessoa jurídica. Neste caso, a obrigação de reparar o dano é da
pessoa jurídica prestadora do serviço e, caso seja inviável esse pagamento, o Estado é
chamado à responsabilidade.

Supremo Tribunal Federal - RExt n. 591874/2009- dano causado a terceiro, não


usuário do serviço público, também enseja responsabilidade objetiva, pois, a própria
constituição não diferencia em usuário ou não usuários do serviço.

(...) I. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento no


sentido de que, embora a autarquia seja responsável pela conservação e manutenção
das rodovias, deve ser reconhecida a responsabilidade subsidiária do Estado, pelos
danos causados a terceiros, em decorrência de sua má conservação (...)

5.RESPONSABILIDADE OBJETIVA 1

CONDUTA
DANO
NEXO DE
CAUSALIDADE

A) CONDUTA: A conduta deve ser de determinado agente público que atue nesta
qualidade ou, ao menos, se aproveitando da qualidade de agente para causar o dano.

AGENTE PÚBLICO: O conceito de agente público abarca os agentes políticos, os


servidores estatais e também os particulares em colaboração com o poder público.

1
Culpa In Eligendo: é a culpa na escolha. Isto é, a escolha de algo ou alguém é realizada sem as cautelas
necessárias, surgindo responsabilidade para aquele incumbido de escolher.
Culpa in vigilando: ocorre quando há falta de cautela na supervisão de algo ou de alguém.
ATENÇÃO: Entendimento majoritário da doutrina é que a conduta que enseja a
responsabilidade objetiva do ente público é a conduta comissiva.

Agente público abarca todos aqueles que atuam em nome do Estado, ainda que
temporariamente e sem remuneração, seja a qualquer título, com cargo, emprego,
mandato ou função.

B) DANO:

O dano a um bem tutelado pelo direito,


JURÍDICO: ainda que exclusivamente moral.
(Inovação CF/88).
Quando o dano decorre de um ato ilícito
a responsabilização do ente estatal
DANO ANORMAL E ESPECIFICO: depende da comprovação de que estes
danos são anormais e específicos. Isso
porque o dano deve ser certo, valorado
economicamente e de passível
demonstração.

ATENÇÃO: A TEORIA DO DUPLO EFEITO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS: o mesmo ato


administrativo pode vir a causar um dano específico/anormal para determinada
pessoa e para outra não causar dano passível de indenização. Aqui não se pode
embasar um pedido de indenização no fato de outrem ter sido indenizado, ainda que
pelo mesmo ato.

ATENÇÃO! No Brasil, adota-se a TEORIA DO DANO DIRETO E IMEDIATO, de forma que


o dever de reparar só ocorrer quando o dano é efeito necessário de determinada
causa.

C) NEXO DE CAUSALIDADE:

Como regra, o Brasil adotou a TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA, por meio da


qual o Estado responde desde que sua conduta tenha sido determinante para o dano
causado ao agente.

ATENÇÃO: As condutas posteriores que causem danos a um terceiro, alheias à vontade


do Estado, excluem a responsabilidade do Poder Político (TEORIA DA INTERRUPÇÃO
DO NEXO CAUSAL).

ATENÇÃO! A RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL FICA EXCLUÍDA NAS HIPÓTESES EM


QUE O PODER PÚBLICO COMPROVA CAUSA IMPEDITIVA DA SUA ATUAÇÃO
PROTETIVA DO DETENTO, ROMPENDO O NEXO DE CAUSALIDADE DA SUA OMISSÃO
COM O RESULTADO DANOSO.
EXCLUDENTES:
1. CASO FORTUITO
a) Fortuito Interno: Decorre de situação de custodia (condição sem a qual não
haveria o dano).
b) Fortuito Externo: Não decorre da situação de custodia, mas de algo externo a ela.
Alguns chamam o Fortuito externo de Força Maior.
2. FORÇA MAIOR
3. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA

6.TEORIAS DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO:

A) TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO:

A atividade administrativa tem como finalidade alcançar o bem comum e se trata de


uma atividade potencialmente danosa. Por isso, surge a obrigação econômica de
reparação de dano pelo Estado pelo simples fato de assumir o risco de exercer tal
atividade, independentemente da má prestação do serviço ou da culpa do agente
público faltoso.

ATENÇÃO: ADMITE AS CAUSAS DE EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE.

B) TEORIA DO RISCO INTEGRAL:

O ente público é garantidor universal e, sendo assim, a simples existência do dano e do


nexo causal é suficiente para que surja a obrigação de indenizar para a Administração,
pois NÃO SE ADMITE AQUI NENHUMA DAS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE.

APLICAÇÃO PELA DOUTRINA MAJORITÁRIA:

a) Dano decorrente de atividade nuclear exercida pelo estado ou autorizada pelo


mesmo.
b) Dano ao meio ambiente, quanto aos atos comissivos do agente público.
Em relação a atos omissivos, o Superior Tribunal de Justiça vem-se
posicionando que a teoria do risco integral ainda se aplica, no entanto, a
responsabilidade objetiva do Estado será de execução subsidiária, sendo
necessário o prévio esgotamento das tentativas de cobrança de indenização do
poluidor direto.
c) Crimes ocorridos a bordo de aeronaves que estejam sobrevoando o espaço
aéreo brasileiro
d) Danos decorrentes de ataques terroristas.
e) Acidente de trânsito. Decorre do seguro obrigatório DPVAT. Ressalte-se que,
nesses casos, o Estado não figura no polo passivo da ação judicial. A ação é
proposta em face de alguma seguradora que arcará com os prejuízos,
utilizando os valores do seguro obrigatório.

C) RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DO ESTADO:

Basta a comprovação da má prestação de serviço ou da prestação ineficiente do


serviço ou, ainda, da prestação atrasada do serviço como ensejadora do dano (CULPA
ANÔNIMA).

ATENÇÃO! A responsabilização, neste contexto, depende da ocorrência de ato


omissivo ilícito, ou seja, a omissão do agente deve configurar a ausência de
cumprimento de seus deveres legalmente estabelecidos.

D) TEORIA DO RISCO CRIADO (RISCO SUSCITADO):

Dependerá somente da comprovação de que a CUSTÓDIA é uma condição sem a qual


o dano não teria ocorrido, mesmo que situações supervenientes tenham contribuído
para o dano. Trata-se da chamada teoria SINE QUA NON.

ATENÇÃO! O Estado responderá ainda que haja uma situação de caso fortuito,
bastando a comprovação de que este fortuito só foi possível em virtude da custódia do
ente estatal. Tal situação é o que a doutrina designa FORTUITO INTERNO (OU CASO
FORTUITO).

A responsabilidade é OBJETIVA DO ESTADO

ATENÇÃO! Não há responsabilização do Estado se o dano decorrer de um fortuito


externo (ou força maior), ou seja, totalmente alheio e independente da situação de
custódia.

Ex. O estado na custodia de preso no presidio ou de crianças em uma escola a


responsabilidade é OBJETIVA DO ESTADO.

7. INDENIZAÇÃO

A) RESPONSABILIDADE CONTRATUAL: Danos ocorridos no bojo de contratos


administrativos que ensejaram um de desequilíbrio contratual. (Lei 8666/93).

Finalidade da reparação: manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

B) RESPONSABILIDADE CIVIL (EXTRACONTRATUAL) DO ESTADO: Base legal - art., 37§


6º da CF.

A responsabilidade civil objetiva da concessionária de serviço público alcança também


não usuários do serviço por ela prestado.
Dano indireto causado a terceiros (sem vínculo direto e contratual com o poder
público) por atuação do Estado na busca do interesse coletivo, seja a execução de
obras púbicas ou prestação de serviços públicos.

Finalidade da reparação: garantir a isonomia e reparar danos causados indiretamente.

C) SACRIFÍCIO DE DIREITO: Base legal - art. 5º, XXIV e XXV da CF. DL 3365/41, entre
outros. (EX: DESAPROPRIAÇÃO E REQUISIÇÃO)

Dano direto causado por atuação administrativa direcionada a restringir ou retirar o


direito do particular.

Finalidade da reparação: ressarcir pela retirada ou extinção do direito.

8. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIZAÇÃO DO ESTADO

A ausência de qualquer dos elementos da responsabilidade (conduta, dano e nexo)


excluí o dever de indenizar do ente público.

Desta forma, a doutrina que aponta caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da
vítima, como únicas hipóteses de excludentes de responsabilidade, está totalmente
equivocada.

ATENÇÃO! Nas situações em que não se pode atribuir exclusivamente à vítima o dano
causado, verificando-se a culpa concorrente entre a vítima e o ente público, haverá
redução do valor indenizatório a ser pago pelo Estado.

9. REPONSABILIDADE DO AGENTE PUBLICO

Agentes respondem somente de forma subjetiva - ou seja, após a análise de dolo ou


culpa desse - perante o Estado em ação de regresso.

ATENÇÃO! TEORIA DA DUPLA GARANTIA é, de acordo com o STF, o


STF direito do particular lesado de ser indenizado pelos prejuízos que sofreu
e a garantia ao agente de só ser cobrado pelo Estado.

ATENÇÃO! Em 2014, o STJ admitiu a propositura da ação de reparação


STJ civil pela vítima, diretamente, em face do agente público, devido à busca
por economicidade e eficiência processual, devendo comprovar o dolo ou
a culpa do sujeito.

9.1. DENUNCIAÇÃO À LIDE DO AGENTE PÚBLICO: Alguns julgados antigos do STJ


entendem ser possível a aplicação da denunciação à lide, figurando o AGENTE e o
ESTADO no polo passivo da ação. (aqui não é obrigatória, mas uma possibilidade).
Já DOUTRINA MAJORITÁRIA e o STF defende a vedação da denunciação à lide, pois, ao
colocar o agente no processo, ocorrerá uma ampliação do mérito, discutindo-se o dolo
e culpa, quebrando a garantia da vítima.

ATENÇÃO! Em determinadas situações a discussão de dolo e culpa é inerente à


responsabilização do Estado, não havendo qualquer vedação à denunciação à lide. Ex:
Ambulância que ultrapassou o sinal vermelho com giroflex ligado e colidiu com o carro.
Negada indenização na via administrativa, o particular ajuizou ação comprovando que
não havia urgência que justificasse o avanço do sinal - não havia vítima a ser socorrida.

10. PRAZO PRESCRICIONAL PARA PROPOSITURA DE AÇÃO INDENIZATÓRIA EM FACE


DO ESTADO

5 ANOS: Jurisprudência e doutrina que defendem essa posição explicam que, o CC/02
é lei geral e lei geral não revoga lei especial.

3 ANOS: Jurisprudência e doutrina que o defendem explanam que, o CC/02 é norma


posterior e mais benéfica ao ente público.

O melhor entendimento é o que sustenta o prazo prescricional de 5 anos. Há


embasamento jurisprudencial.

As ações de reparação de dano ajuizadas contra o Estado em decorrência de


perseguição, tortura e prisão, por motivos políticos, durante o Regime Militar não se
sujeitam a qualquer prazo prescricional.

11. RESPONSABILIDADE POR OBRA PUBLICA

Há duas possibilidades.

A) POR MÁ EXECUÇÃO DA OBRA:

Executada pelo próprio Estado, a responsabilidade é objetiva, uma vez que a conduta
do agente público está ensejando um dano ao particular.

Executada por um empreiteiro através de contrato administrativo. Se o dano foi


provocado por culpa exclusiva do executor, lhe será atribuída responsabilidade
subjetiva (corrente majoritária). Já o Estado responde subjetivamente, se foi omisso
no dever de fiscalização do contrato celebrado.

B) PELOS SIMPLES FATO DA OBRA: O simples fato de a obra existir poderá vir a causar
um dano ao particular. Nestes casos é irrelevante saber quem está executando a obra.
Ocorrendo o prejuízo, ter-se-á a responsabilidade objetiva do Estado.

12. RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS

A) LEIS DE EFEITOS CONCRETOS: Algumas leis ostentam a qualidade de lei em sentido


formal, porém não o são em sentido material, configurando, de fato, verdadeiros atos
administrativos. Tais atos legislativos ensejam responsabilidade objetiva do Estado,
nos moldes estipulados pelo art. 37, §6 da Carta Magna

B) LEIS EM SENTIDO FORMAL E MATERIAL: São os atos legislativos típicos, ou seja,


emanados pelo legislativo, com sanção do executivo (em obediência ao processo
legislativo constitucional) e por estipularem normas gerais e abstratas, a regra é que
não podem ensejar responsabilidade estatal.

ATENÇÃO: Excepcionalmente, é possível a responsabilidade por atos legislativos,


desde que presentes dois requisitos:
a) decorrer dano especifico a alguém
b) ato normativo for declarado inconstitucional, por meio de ação direta, em
controle concentrado exercido pelo STF.

13. RESPONSABILIDADE POR ATOS JURISDICIONAIS

O entendimento majoritário da doutrina é em relação a irresponsabilidade do Estado


por atos jurisdicionais típicos. Afinal, pelo princípio da recorribilidade se um ato
jurisdicional de um magistrado prejudica a parte no processo ela possui mecanismo
recursais e até outras ações para eventuais revisões do ato. Ademais o exercício da
função jurisdicional também retrata uma parcela da soberania do Estado, não sujeita a
responsabilização geral.

Art. 5° LXXV, CF/88: LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim
como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

O Estado assume o risco de APLICAR A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE e, por isso, se


torna objetivamente responsável pelos danos que dele decorram. Enfim, a
responsabilidade do ente estatal por atos jurisdicional, na hipótese prevista na
Constituição Federal é objetiva.

A PRISÃO ALÉM DO TEMPO DA SENTENÇA NÃO É ATO JURISDICIONAL, é ato


administrativo exercido posteriormente à decisão judicial, em sede de cumprimento e
execução da pena. Logo, a hipótese expressa na constituição de responsabilidade do
Estado por erro jurisdicional ocorreria nos casos de prisão por erro judiciário.

A ação de regresso em face do agente público juiz depende da demonstração do dolo


ou erro grosseiro, em garantia ao princípio do livre consentimento motivado.

CAIU ASSIM: Pedro foi preso preventivamente, por meio de decisão judicial
devidamente fundamentada, mas depois absolvido por se entender que ele não
tivera nem poderia ter nenhuma participação no evento. No entanto, por causa da
prisão cautelar, Pedro sofreu prejuízo econômico e moral. Nessa situação, conforme
entendimento recente do STF, poderão ser indenizáveis os danos moral e material
sofridos. (CERTO) (COMO ELE FOI ABSOLVIDO, TRATA-SE DE ERRO JUDICIÁRIO)
14. OMISSÃO DO ESTADO

CONDUTA
DANO
NEXO CAUSAL
CULPA/DOLO

A responsabilidade do Estado, em se tratando de conduta omissiva, dependerá dos


elementos caracterizadores da culpa, isto é, DEVE HAVER DOLO OU CULPA.

O Profº Celso Antonio Bandeira de Mello precisamente aponta que no caso de


OMISSÃO DO ESTADO a responsabilidade é SUBJETIVA, reclamando, além da
demonstração da conduta danosa, do efetivo resultado danoso e do nexo causal,
também a presença de elemento subjetivo (dolo ou culpa) naquela conduta do agente
causador do dano, valendo conferir, verbis:

“Quando o dano foi possível em decorrência de uma omissão do Estado (o


serviço não funcionou, funcionou tardia ou ineficientemente) é de aplicar-se a
TEORIA DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. Com efeito, se o Estado não agiu,
não pode, logicamente, ser ele o autor do dano. E, se não foi o autor, só cabe
responsabilizá-lo caso esteja obrigado a impedir o dano. Isto é: só faz sentido
responsabilizá-lo se descumpriu dever legal que lhe impunha obstar ao evento
lesivo." (DE MELLO, Celso Antônio Bandeira, “Curso de Direito
Administrativo", 15ª Ed. Malheiros, São Paulo, 2003, p. 871/872).

ATENÇÃO! Todavia, a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes de


omissão sua NEM SEMPRE É SUBJETIVA. Nesse sentido, a lição de Guilherme Couto de
Castro e de Sergio Cavalieri, o qual afirma, verbis:

“(...) não ser correto dizer, sempre, que toda hipótese de dano proveniente de
omissão estatal será encarada, inevitavelmente, pelo ângulo subjetivo. Assim
o será quando se tratar de omissão genérica. Não quando houver OMISSÃO
ESPECÍFICA, pois aí há dever individualizado de agir".

A OMISSÃO ESPECÍFICA (CULPA DO SERVIÇO) do Estado difere de sua


omissão genérica no sentido de que “haverá omissão específica quando o
Estado, por omissão sua, crie a situação propícia para a ocorrência do evento
em situação em que tinha o dever de agir para impedi-lo".

A responsabilidade do Estado será subjetiva no caso de omissão genérica e


objetiva no caso de omissão específica, pois aí há dever individualizado de
agir.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
OMISSÃO ESPECÍFICA (DEVER ESPECÍFICO) OMISSÃO GENÉRICA (DEVER GENÉRICO)
Estado se encontra na condição de garante Situações em que não se pode exigir do
e, por omissão, cria situação propícia para a Estado uma atuação específica. A inação do
ocorrência do evento em situação em que Estado não se apresenta como causa direta e
tenha o dever de agir para impedi-lo. imediata da não ocorrência do dano, razão
pela qual deve o lesado provar que a falta do
Pressupõe um dever específico do Estado, serviço (culpa anônima) concorreu para o
que o obrigue a agir para impedir o dano.
resultado danoso.
Ex.: morte de detento em rebelião em Ex. queda de ciclista em bueiro há muito
presídio; suicídio cometido por paciente tempo aberto em péssimo estado de
internado em hospital público, tendo o conservação, o que evidencia a culpa
médico responsável ciência da intenção anônima pela falta do serviço; estupro
suicida do paciente e nada feito para cometido por presidiário, fugitivo
evitar; paciente que dá entrada na contumaz, não submetido à regressão de
emergência de hospital público, onde regime prisional como manda a lei.
fica internada, não sendo realizados os
exames determinados pelo médico,
vindo a falecer no dia seguinte; acidente
com aluno nas dependências de escola
pública.

A esse respeito, confira-se o seguinte trecho do voto condutor do RE 841.526/RS:

“Diante de tal indefinição, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vem


se orientando no sentido de que a responsabilidade civil do Estado por
omissão também está fundamentada no artigo 37, § 6º, da Constituição
Federal, ou seja, configurado o nexo de causalidade entre o dano sofrido pelo
particular e a omissão do Poder Público em impedir a sua ocorrência –
quando tinha a obrigação legal específica de fazê-lo – surge a obrigação de
indenizar, independentemente de prova da culpa na conduta administrativa.

A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que as pessoas jurídicas de


direito público responde objetivamente pelos danos que causarem a
terceiros, com fundamento no art. 37, § 6o, da Constituição Federal, tanto
por ato comissivos quanto por atos omissivos, desde que demonstrado o
nexo causal entre o dano e a omissão do Poder Público. (...) STF. 2a Turma.
ARE 897890 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2015.

IMPORTANTE!!!!! COMO CAIU NA CESPE: João foi furtado nas dependências


de uma entidade que é pessoa jurídica de direito privado prestadora de
serviço público, a qual deixou de agir com o cuidado necessário à vigilância.
Nessa situação hipotética, considerando-se os dispositivos constitucionais e o
entendimento do STF, a entidade deverá ser responsabilizada civilmente, de
forma objetiva e nos termos da CF, pelo dano suportado por João.

Isso não significa, todavia, que o STF aplique indistintamente tal modalidade de
responsabilização a todo e qualquer dano advindo da omissão da Administração. Pelo
contrário, entende o Excelso Pretório pela aplicação da responsabilidade subjetiva por
omissão, com base na culpa anônima, nos casos em que há um dever genérico de agir
e o serviço não funciona, funciona mal ou funciona tardiamente (omissão genérica).

CAIU ASSIM: Excetuados os casos de dever específico de proteção, a responsabilidade


civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, devendo ser comprovados a
negligência na atuação estatal, o dano e o nexo de causalidade. (CERTO)

15. REPONSABILIDADE DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES

O Estado possui responsabilidade civil direta e primária pelos danos que tabeliães e
oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.

O Estado tem responsabilidade civil objetiva para reparar danos causados a terceiros
por tabeliães e oficiais de registro no exercício de suas funções cartoriais. Por maioria
de votos, o colegiado negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 842846, com
repercussão geral reconhecida, e assentou ainda que o Estado deve ajuizar ação de
regresso contra o responsável pelo dano, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de
improbidade administrativa.

Nesta ação de regresso, o Estado, para ser indenizado, deverá comprovar que o
tabelião ou registrador agiu com dolo ou culpa? SIM.

Qual é o tipo de responsabilidade civil dos notários e registradores? Trata-se de


responsabilidade SUBJETIVA.

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO PROPOSTA POR PESSOA QUE SOFREU


DANO EM RAZÃO DE ATO DE NOTÁRIO OU REGISTRADOR
Se for proposta contra o Estado: Se for proposta contra o tabelião ou
registrador:
Responsabilidade objetiva. Responsabilidade subjetiva
Prazo prescricional: 5 anos. Prazo prescricional: 3 anos
Receberá por precatório ou RPV. Receberá por execução comum.

SÚMULAS DO STF

Súmula Vinculante n.11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de


fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da
prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
Estado.

Súmula Vinculante n.17: Durante o período previsto no parágrafo III do artigo 100 da
Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.

Súmula n. 562: na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a


atualização de seu valor, utilizando-se, para esse fim, dentre outros critérios, dos
índices de correção monetária,

SÚMULAS DO STJ

Súmula n.7: A Pretensão De Simples Reexame De Prova Não Enseja Recurso Especial.

Súmula n. 37: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral
oriundos do mesmo fato.

Súmula n. 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de


responsabilidade extracontratual.

Súmula n. 130: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou


furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.

Súmula n, 186: Nas indenizações por ato ilícito, os juros compostos somente são
devidos por aquele que praticou o crime.

Súmula n, 326: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante


inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência reciproca.

Súmula n, 362: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide


desde a data do arbitramento.

Súmula n, 387: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

Súmula n, 406: A Fazenda Pública pode recusar a substituição do bem penhorado por
precatório.

JURISPRUDÊNCIAS:

O STF: “NA HIPÓTESE DE POSSE EM CARGO PÚBLICO DETERMINADA POR DECISÃO


JUDICIAL, O SERVIDOR NÃO FAZ JUS A INDENIZAÇÃO, SOB FUNDAMENTO DE QUE
DEVERIA TER SIDO INVESTIDO EM MOMENTO ANTERIOR, SALVO SITUAÇÃO DE
ARBITRARIEDADE FLAGRANTE”. ASSIM, PARA QUE QUALQUER NOMEADO RECEBA
VALORES EM RAZÃO DO CARGO É IMPRESCINDÍVEL, NA JURISPRUDÊNCIA DO STJ E
DO STF, O EFETIVO EXERCÍCIO NO CARGO. ASSIM, A POSSE TARDIA, SEJA POR
COMANDO JUDICIAL OU POR ERRO RECONHECIDO PELA PRÓPRIA ADMINISTRAÇÃO,
NÃO GERA DIREITO À INDENIZAÇÃO.
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO (CF, ART. 37, § 6Q) -
CONFIGURAÇÃO-TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO - MORTE CAUSADA POR
DISPARO EFETUADO COM ARMA DE FOGO PARTICULAR MANEJADA POR POLICIAL
MILITAR DO ESTADO DE PERNAMBUCOEM PERÍODO DE FOLGA - RECONHECIMENTO,
PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL, DE QUE SE ACHAM PRESENTES TODOS OS
ELEMENTOS IDENTIFICADORES DODEVER ESTATAL DE REPARAR O DANO-CARÁTER
SOBERANO DA DECISÃO LOCAL, QUE, PROFERIDA EM SEDE RECURSAI ORDINÁRIA,
RECONHECEU, COM APOIO NO EXAME DOS FATOS E PROVAS, A INEXISTÊNCIA DE
CAUSA EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO PODER PÚBLICO.

EMENTA AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA


DO ENTE PÚBLICO. DEVERES DE FISCALIZAÇÃO DO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES
TRABALHISTAS. DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA. AUSÊNCIADE AFRONTA À
DECISÃO PROFERIDA NA ADC 16. PRECEDENTES. 1. O registro da omissão da
Administração Pública quanto ao poder-dever de fiscalizar o adimplemento, pela
contratada, das obrigações legais que lhe incumbiam - a caracterizar a CULPA IN
VIGILANDO-, ou da falta de prova acerca do cumprimento dos deveres de fiscalização
– de observância obrigatória-, não caracteriza afronta à ADC 16. 2.

EMENTA: DIREITO DO TRABALHO E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM


RECLAMAÇÃO. ART. 71, § lo, DA LEI NO 8.666/1993. RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO POR DÍVIDAS TRABALHISTAS EM CASO DE
TERCEIRIZAÇÃO. ADC 16. SUPERVENIÊNCIA DO JULGAMENTO DO TEMA 246 DA
REPERCUSSÃO GERAL. NOVO PARÂMETRO. 1. O Supremo Tribunal Federal firmou, no
julgamento do RE 760.931, Rei. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, a seguinte tese: "O
inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não
transfere automaticamente ao Poder Público contratante a responsabilidade pelo seu
pagamento, seja em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § lo, da Lei
no 8.666/93" (tema 246 da repercussão geral).

RESPONSABILIDADE DA UNIÃO POR DANOS CAUSADOS À CONCESSIONÁRIA DE


SERVIÇO DE TRANSPORTE AÉREO (VARIG S/A). DEVER DE INDENIZAR.
RESPONSABILIDADE POR ATOS LÍCITOS QUANDO DELES DECORREREM PREJUÍZOS
PARA OS PARTICULARES EM CONDIÇÕES DE DESIGUALDADE COM OS DEMAIS.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ART. 37, § 60. 2. VIOLAÇÃO A DIREITOS


FUNDAMENTAIS CAUSADORA DE DANOS PESSOAIS A DETENTOS EM
ESTABELECIMENTOS CARCERÁRIOS. INDENIZAÇÃO. CABIMENTO. O dever de ressarcir
danos, inclusive morais, efetivamente causados por ato de agentes estatais ou pela
inadequação dos serviços públicos decorre diretamente do art. 37, § 60, da
Constituição, disposição normativa autoaplicável. Ocorrendo o dano e estabelecido o
nexo causal com a atuação da Administração ou de seus agentes, nasce a
responsabilidade civil do Estado. 3. "Princípio da reserva do possível".
Inaplicabilidade. O Estado é responsável pela guarda e segurança das pessoas
submetidas a encarceramento, enquanto permanecerem detidas. É seu dever mantê-
las em condições carcerárias com mínimos padrões de humanidade estabelecidos em
lei, bem como, se for o caso, ressarcir danos que daí decorrerem. 4. A violação a
direitos fundamentais causadora de danos pessoais a detentos em estabelecimentos
carcerários não pode ser simplesmente relevada ao argumento de que a indenização
não tem alcance para eliminar o grave problema prisional globalmente considerado,
que depende da definição e da implantação de políticas públicas específicas,
providências de atribuição legislativa e administrativa, não de provimentos judiciais.
Esse argumento, se admitido, acabaria por justificar a perpetuação da desumana
situação que se constata em presídios como o de que trata a presente demanda. 5. A
garantia mínima de segurança pessoal, física e psíquica, dos detentos, constitui dever
estatal que possui amplo lastro não apenas no ordenamento nacional (Constituição
Federal, art. 5o, XLV/1 "e':· XLVIII; XL/X; Lei 7.210/84 (LEP), arts. 10; 11; 12; 40; 85; 87;
88; Lei 9.455/97 - crime de tortura; Lei 12.874/13-Sistema Nacional de Prevenção e
Combate à Tortura), como, também, em fontes normativas internacionais adotadas
pelo Brasil (Pacto Interacional de Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas, de
1966, arts. 2; 7; 10; e 14; ConvençãoAmericana de Direitos Humanos, de 1969, arts. So;
11; 25; Princípios e Boas Práticas para a Proteção de Pessoas Privadas de Liberdade nas
Américas - Resolução 01/08, aprovada em 13 de março de 2008, pela Comissão
lnteramericana de Direitos Humanos; Convenção da ONU contra Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 1984; e Regras
Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros - adotadas no lo Congresso das Nações
Unidas para a Prevenção ao Crime e Tratamento de Delinquentes, de 1955). 6.
Aplicação analógica do art. 126 da Lei de Execuções Penais. Remição da pena como
indenização. Impossibilidade. A reparação dos danos deve ocorrer em pecúnia, não
em redução da pena. Maioria. 7. Fixada a tese: "Considerando que é dever do Estado,
imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões mínimos de
humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos
termos do art. 37 § 60, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive
morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou
insuficiência das condições legais de encarceramento". 8. Recurso extraordinário
provido para restabelecer a condenação do Estado ao pagamento de R$ 2.000,00 (dois
mil reais) ao autor, para reparação de danos extra patrimoniais, nos termos do
acórdão proferido no julgamento da apelação. (STF. RE 580252 / MS. Ministro Relator:
ALEXANDRE DE MORAES. Plenário.Julgado em: 16/02/2017)

INFORMATIVO N. 819 STF

Em caso de inobservância do seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, XLIX,
da CF, o Estado é responsável pela morte de detento. Essa a conclusão do Plenário,
que desproveu recurso extraordinário em que discutida a responsabilidade civil
objetiva do Estado por morte de preso em estabelecimento penitenciário. No caso, o
falecimento ocorrera por asfixia mecânica, e o Estado-Membro alegava que, havendo
indícios de suicídio, não seria possível impor-lhe o dever absoluto de guarda da
integridade física de pessoa sob sua custódia. O Colegiado asseverou que a
responsabilidade civil estatal, SEGUNDO A CF/1988, EM SEU ART. 37, § 6º, SUBSUME-
SE À TEORIA DO RISCO ADMINISTRATVO (REPONSABILIDADE OBJETIVA), TANTO
PARA AS CONDUTAS ESTATAIS COMISSIVAS QUANTO PARAS AS OMISSIVAS, UMA
VEZ REJEITADA A TEORIA DO RISCO INTEGRAL. Assim, a OMISSÃO DO ESTADO
reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nas hipóteses
em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para
impedir o resultado danoso. Além disso, é dever do Estado e direito subjetivo do
preso a execução da pena de forma humanizada, garantindo-se lhe os direitos
fundamentais, e o de ter preservada a sua incolumidade física e moral. Esse dever
constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando possível a
atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto
inafastável para a configuração da responsabilidade civil objetiva estatal. Por essa
razão, NAS SITUAÇÕES EM QUE NÃO SEJA POSSÍVEL AO ESTADO AGIR PARA EVITAR A
MORTE DO DETENTO (QUE OCORRERIA MESMO QUE O PRESO ESTIVESSE EM
LIBERDADE), ROMPE-SE O NEXO DE CAUSALIDADE. AFASTA-SE, ASSIM, A
RESPONSABILIDADE DO PODER PÚBLICO, SOB PENA DE ADOTAR-SE A TEORIA DO
RISCO INTEGRAL, AO ARREPIO DO TEXTO CONSTITUCIONAL. A morte do detento
pode ocorrer por várias causas, como homicídio, suicídio, acidente ou morte natural,
não sendo sempre possível ao Estado evitá-la, por mais que adote as precauções
exigíveis. Portanto, A RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL FICA EXCLUÍDA NAS
HIPÓTESES EM QUE O PODER PÚBLICO COMPROVA CAUSA IMPEDITIVA DA SUA
ATUAÇÃO PROTETIVA DO DETENTO, ROMPENDO O NEXO DE CAUSALIDADE DA SUA
OMISSÃO COM O RESULTADO DANOSO. Na espécie, entretanto, o tribunal "a quo"
não assentara haver causa capaz de romper o nexo de causalidade da omissão do
Estado-Membro com o óbito. Correta, portanto, a decisão impositiva de
responsabilidade civil estatal. RE 841526/RS, rei. Min. Luiz Fux, 30.3.2016. (RE-841526)

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