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Pedro John Martins

Licenciatura em Psicologia Educacional

Projecto de planifição social, 3º Ano

Docente: Adolfo Brides

1. Serviço social e assistência social

Segundo (Iamamoto; Carvalho, 1982) Serviço Social é uma especialização do trabalho


da sociedade, inscrita na divisão social e técnica do trabalho social, o que supõe afirmar
o primado da produção na constituição dos indivíduos sociais. Ou seja, Serviço social é
uma profissão de caráter interventivo, que se baseia em instrumentos e métodos
multidisciplinares das ciências sociais para analisar e propor adequações nas diversas
questões sociais das comunidades.

Neste sentido, promove o desenvolvimento, a mudança e a coesão social dentro do


conjunto de desigualdades que se formam na sociedade, através de intervenções em
pontos-chave para que estas situações possam ser modificadas. Estas intervenções são
baseadas sobretudo em métodos analíticos das ciências sociais e humanas. Além disso,
também se baseiam nos princípios de justiça social, nos direitos humanos, na assistência
social, na responsabilidade coletiva e no respeito pela diversidade humana.

De acordo José Filho (2002, p.56): O Serviço Social actua na área das relações sociais, mas
sua especificidade deve ser buscada nos objetivos profissionais tendo estes que serem
adequadamente formulados guardando estreita relação com objeto. Essa formulação dos
objetivos garante-nos, em parte, a especificidade de uma profissão.

1.2. Assistência social

A Assistência Social é uma politica pública, ou seja, um direito de todo cidadão que
dela necessitar. Ela está organizada por meio do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS). Seu objetivo é garantir a proteção social aos cidadãos, por meio de serviços,
benefícios, programas e projetos que se constituem como apoio aos indivíduos, famílias
e para a comunidade no enfrentamento de suas dificuldades.

Sistema Único de Assistência Social - SUAS organiza as ações da assistência social


em dois tipos de proteção social. A primeira é a Proteção Social Básica, destinada à
prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos,
serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social.

A segunda é a Proteção Social Especial, destinada a famílias e indivíduos que já se


encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de
abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre outros.

2. O percurso histórico da assistência social

Desde o Brasil colonial, a assistência aos pobres foi marcada por: um caráter
filantrópico e caritativo, sob a liderança da Igreja e dos chamados “homens bons”, e
tinha por atividade principal o recolhimento e a distribuição de esmolas. A assistência
encontrava-se associada à tutela e ao controle dos grupos assistidos, inicialmente sob
uma perspectiva voltada principalmente para as questões de higiene e saúde da
população, confundindo-se com a assistência médica.

A partir da segunda metade do século XIX, como resposta ao fim da escravidão e ao


início do processo de industrialização, a assistência passou a fomentar a disciplina e a
preparação para o trabalho.

No início do século XX, como resposta ao fortalecimento das lutas sociais e


trabalhistas, o Estado foi obrigado a ampliar sua ação na área social, inicialmente nas
relações de trabalho:

A Revolução de 1930 conduziu a questão social para o centro da agenda pública.


Datam desse período:

a) a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio;

Em 1923, criaram-se as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) dos ferroviários,


abrindo-se, com isso, as vias de acesso da questão social ao campo da ação política do
Estado.

b) a publicação da consolidação das leis do Trabalho (CLT) e


c) criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), como parte de um
sistema de Previdência Social em que o acesso aos benefícios é condicionado ao
pagamento da contribuição.
Assim inicia a construção de um sistema público de proteção social, embora de base
contributiva, isto é, os trabalhadores formais, com carteira de trabalho assinada e que
contribuíam para a Previdência Social eram assegurados pela proteção social do Estado.

Aqueles que não conseguiam garantir sua sobrevivência pelo trabalho ou pelo apoio
familiar restavam, portanto, o provimento de amparo social pelas entidades e
organizações da sociedade civil. Com isso, as pessoas atendidas pelas entidades sociais
eram vistas como pobres, carentes, incapazes para o trabalho. Eram responsabilizadas
pela sua situação e eram percebidas, ainda, como incapazes de lutar por seus próprios
interesses e de se organizar politicamente.

3. Breve historial da Assistência Social em Moçambique

A assistência social no contexto moçambicano, ultrapassou diferentes etapas, de acordo


com Quive (s/d) cita Kassotche (1998), salienta que a primeira etapa:

É o período pré-colonial onde refere-se que a tarefa de assegurar socialmente as


pessoas era baseada no princípio de solidariedade e ajuda mútua enquadrado nas
“relações e práticas sociais que, por via de trocas de bens e serviços, asseguram
na sociedade algo do bem-estar e alguma protecção social”.

Assim, de acordo Faleiros (1991) citado por Quive (s/d), diz que estas relações
caracterizam-se por ser de familiaridade, de amizade e vizinhança, em que cada um
pode ajudar o outro na esperança de que amanhã também vai receber ajuda, sem, no
entanto, precisar de pagar monetariamente. Os moçambicanos adotaram este princípio
ao longo da sua vida, com o propósito de enfrentar as diferentes formas de riscos sociais
que predominam até hoje nas zonas rurais e urbanas, referenciadas a um grupo de
pertença e obedecendo a regras sociais de cada grupo ou comunidade “numa economia
de subsistência”.

Faleiros (2001), ao abordar o surgimento do serviço social a nível mundial, aponta que
o serviço social era estruturado por organizações religiosas, especialmente da Igreja
Católica Romana e nesse momento, tinha sua prática fundamentada e inspirada na
providência divina, uma vez que “o trabalho social consistia no reforço da moralidade e
da submissão das classes dominadas. Era, portanto, o controlo social da família operária
para adequar e ajustar seu comportamento às exigências da ordem social estabelecida”.
Voltando ao contexto moçambicano sobre o surgimento do serviço social, Quive (s/d),
refere que a segunda etapa ocorreu nos finais do século XIX. Com a colonização
introduziram-se novas formas de trabalho, o trabalho assalariado, particularmente nas
zonas urbanas, o que promoveu o êxodo rural, bem como à dissociação dos indivíduos
dos seus grupos de referência, criando-lhes novas necessidades por passarem a
trabalhadores assalariados.

Neste período colonial, o regime colonial, dada a sua natureza, era constituído por três
classes de cidadãos:

1ª Classe: os colonos que tinham direito ao gozo pleno de cidadania;

2ª Classe: os assimilados que gozavam de alguns direitos e;

3ª Classe: os indígenas que não gozavam de nenhum direito de cidadania.

Ainda de acordo com Quive (s/d), aponta que com o objectivo de beneficiar os
servidores do regime colonial, foi introduzido em 1901 em Moçambique o Regulamento
da Fazenda do Ultramar, redigido na Metrópole, que garantia a Previdência Social aos
Servidores do Aparelho do Estado Colonial, em detrimento dos trabalhadores
moçambicanos e indígenas. Uma das razões primordiais para a aplicação deste
Regulamento visava a reintegração destes trabalhadores portugueses no sistema de
segurança social português quando regressassem à Metrópole. Outra razão, é justificada
pelo facto destes possuírem condições económicas e financeiras que lhes possibilitavam
as contribuições para a segurança social.

Segundo Quive (idem) salienta que os trabalhadores indígenas ocupavam posições


subalternas e auferirem salários muito baixos. Além disso, o movimento associativo nos
locais de trabalho era quase inexistente, o que neste período fragilizou muito a luta dos
moçambicanos pelo alargamento dos seus direitos sociais, incluindo os de segurança
social.

Com a independência nacional em 1975, o Regulamento Ultramarino da Fazenda de


1901 foi actualizado através do decreto 52/75 de 8 de Fevereiro, tendo sido introduzidas
alterações de acordo com as novas condições dos funcionários do aparelho do Estado.
Por exemplo, o tempo de serviço reduziu de 40 para 35 anos, (Estatuto do
Funcionalismo Ultramarino, artigo n.º 430), e passaram a ser concedidas prestações em
caso de acidentes de trabalho, doença, invalidez, aposentadoria e morte (idem).

É fundamental acrescentar que a Constituição da então República Popular de


Moçambique de 1975 já impunha o direito à segurança social quando, no artigo 32º, se
refere a protecção de todos os cidadãos em caso de incapacidade e velhice. A Lei 8/85
de 14 de Dezembro (Lei do Trabalho) retoma a questão, mostrando necessidade da
criação de um sistema de segurança social (Quive, s/d).

Importa ainda referir segundo Quive (s/d) que logo depois da independência nacional,
em 1975, o Governo moçambicano criou vários programas de assistência social. Mais
tarde em 1994, a partir da Secretaria do Estado para a Acção Social, é criado o
Ministério para a Coordenação da Acção Social (MCAS), o qual, por decreto
presidencial n.º 01/2000 de 17 de Janeiro, deu origem ao Ministério da Mulher e da
Coordenação da Acção Social (MMCAS). A partir de 2005, este Ministério foi
transformado em Ministério da Mulher e Acção Social.

De forma mais resumida, o desenvolvimento da protecção social em Moçambique


conheceu várias fases, sendo de destacar as seguintes:

 Período pré-colonial que se estende até 1901;


 1901 - Regulamento da Previdência Social;
 1914 – Criação do Montepio; Regulamento do Funcionalismo do Ultramar;
 1963 – Fundo da Acção Social para Trabalhadores Rurais (FAST);
 1966 – Surgimento de primeiros sindicatos de trabalhadores;
 1967 - Aprovação do Abono de Família;
 1975 até 1987 - Adaptação do sistema de protecção social colonial para à nova
realidade de Moçambique independente;
 1987 até à actualidade (Aprovação do novo Estatuto dos Funcionários do
Estado);
 1989 - Criação do INSS;
 1994 - Criação do Ministério para a Coordenação da Acção Social;
 2000 – Criação do Ministério da Mulher e Coordenação da Acção Social;
 2005 – Criação do Ministério da Mulher e Acção Social.

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