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I. Introdução
No caso Uzuegbunam, parece ter ficado claro que os danos nominais perseguidos
pelos ex-alunos possuíam natureza meramente simbólica. Na medida em que tal
pretensão se afasta da finalidade da efetiva reparação, ela poderia ser considerada um
artifício para forçar a obtenção de uma declaração do Poder Judiciário sobre a questão
constitucional.
Outro ponto sensível tratado pelo Chief Justice Roberts, diz respeito à
possibilidade do réu afastar a atuação do Poder Judiciário simplesmente reconhecendo e
se dispondo a reparar todos os direitos pleiteados contra si. Em outros termos, o Chief
Justice Roberts reconhece que a reparação integral poderia ser considerado um
mecanismo legítimo para suprimir o enfrentamento da questão constitucional2.
Nessa linha, o Chief Justice Roberts parece levar bastante à sério a compreensão
de que o Poder Judiciário não deve rivalizar com os demais poderes, pois compreende
que essa atuação pode influenciar no debate político ou no poder de conformação dos
demais Poderes, acirrando tensões democráticas envolvendo desacordo moral razoável.
Sendo assim, a elevação do rigor dos filtros processuais e jurídicos podem servir
não só para equacionar o volume de trabalho, mas principalmente como válvula de
escape para que a Suprema Corte não adentre, de forma inoportuna, no mérito de
comanda o orçamento, mas prescreve as regras pelas quais os deveres e direitos de cada cidadão devem
ser regulados’, pode-se dizer que o Judiciário ‘não tem nem FORÇA, nem VONTADE, mas apenas
julgamento’. Ainda assim, esse poder de julgamento pode vincular o Executivo e o Legislativo - e os
Estados. Será modesto apenas se ficar confinado à sua própria esfera”. (Tradução livre)
2
Essa questão foi abordada em obter dictum em um certiorari, cujo objeto era um pouco diverso.
Discutiu-se a possibilidade do prosseguimento do feito diante de uma proposta de acordo rejeitada.
Prevaleceu a posição da Justice Ginsburg, no sentido de que um acordo rejeitado não produz efeitos. vide
Campbell-Ewald Co. v. Gomez, 577 US 153, 166 (2016).
questões constitucionais, cabendo reservar sua agenda apenas para situações
extremamente relevantes envolvendo reais violações de direito que precisam ser
remediadas.
Fora dessas circunstâncias justificadoras de uma atuação firme por parte do Poder
Judiciário, a Corte deveria homenagear as vias para desviar do enfrentamento do mérito,
evitando-se com isso uma atuação meramente consultiva que busca fazer prevalecer a
sua leitura da constituição sobre as demais que poderiam ser feitas pelos outros Poderes
ou pela própria sociedade.
Na linha do que propõe o Chief Justice Roberts, essas disposições poderiam ser
utilizadas como válvula de escape para que o Poder Judiciário resguarde sua atuação
apenas para os casos em que sua atuação se revelar estritamente necessária.
Transportando o caso de Uzuegbunam para a realidade brasileira, seria possível
sustentar que o Supremo Tribunal Federal poderia negar a admissão do recurso por
entender que a solução individual do caso tornava o debate inoportuno ou inconveniente
ou poderia compreender que já não havia mais interesse-utilidade na medida.
Por outro lado, o CPConst também abre margem para o conhecimento do recurso
do caso Uzuegbunam (vide parte final do item 16). Vale dizer: quando não houver vício
formal grave e a relevância e a transcendência recomendem a análise do caso, o
Supremo Tribunal Federal poderá ultrapassar a barreira dos filtros processuais e partir
para o enfrentamento da questão constitucional.
Por conta disso, casos como Uzuegbunam et al. v. Preczewski são importantes
para ilustrar o problema de situações constitucionais sensíveis terem seu debate
influenciado ou prejudicado pelo veredito de um punhado de juízes. Sem qualquer
intenção de apequenas a função do Poder Judiciário, não há dúvidas de que Parlamento
constitui o ambiente democrático adequado para resolver esse tipo de disputa.