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I. Introdução
Na última aula foi objeto de debate a seção III, subseção I “Do Amicus
Curiae”, do Anteprojeto do Código de Processo Constitucional (CPConst), ocasião em
que fiz algumas propostas e apontamentos para tentar aprimorar a qualidade da
deliberação e do julgamento no âmbito da Suprema Corte.
Como o anteprojeto parece optar pelo caminho sinalizado no item 02, isto é,
que o depoimento da “pessoa especialista-experiente” é meio de prova teremos algumas
dificuldades interpretativas, a exemplo do questionamento sobre a natureza deste meio
de prova?
Art. 464. §2º De ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá, em substituição à
perícia, determinar a produção de prova técnica simplificada, quando o ponto controvertido
for de menor complexidade.
§3º A prova técnica simplificada consistirá apenas na inquirição de especialista, pelo juiz,
sobre ponto controvertido da causa que demande especial conhecimento científico ou
técnico.
A menção “menor complexidade” na parte final do 2º do art. 464 não se
amolda a complexidade das questões que são debatidas no Supremo Tribunal Federal.
Entretanto, é certo que especialistas e técnicos não costumam ser ouvidos como
testemunhas, já que as provas técnicas são produzidas por pessoa de confiança do juízo,
geralmente submetida ao crivo do contraditório e de imparcialidade, assim como à
análise dos assistentes técnicos eventualmente nomeados pelas partes. Tal procedimento
não ocorre no âmbito da prova testemunhal.
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Duas situações curiosas foram retratadas pelo portal de notícias Jota, cujas manchetes serão transcritas:
(i) “Entidades: Fux só liberou associações a favor de auxílio-moradia em julgamento”, publicado em
02/03/2018; (ii) “Juiz aceita TJSP como amicus curiae em causa que será julgada pelo TJSP”, publicado
em 01/08/2018.
As quatro perguntas estão conectadas entre si. Hipoteticamente, não há
dúvidas de que quanto mais amplo o debate da questão constitucional, em tese, maior a
legitimidade da deliberação da Suprema Corte. Isso, portanto, conduz a ideia de que
quanto maior o número de participantes, melhor. Nessa situação hipotética, também
seria importante permitir não só a participação formal do amicus curiae, mas uma
participação substancial com tempo adequado de manifestação, ampla possibilidade de
prova e etc.
3
Vejamos as considerações de Lívia Gil Guimarães, in verbis: “Taylor (2008: p.4), que estudou como os
Tribunais federais brasileiros (STF incluso, portanto) são postos na arena das políticas públicas e como os
policy players usam as cortes para avançar os seus objetivos políticos estratégicos já havia identificado as
cortes a partir deste perfil estratégico e afirmou de forma bastante ilustrativa: “...cortes não estão isentas
do venue-seeking - isto é, da busca estratégica de atores pelo melhor caminho institucional para
influenciar resultados de políticas públicas”. (2008: p.6) [...] Nesse mesmo sentido parecem operar as
audiências públicas realizadas no STF. Elas figuram como mais uma ferramenta e espaço institucional
para que ambos, Tribunal e ator externo a ele, atuem em favor dos seus interesses em torno das políticas
públicas. Sobre a atuação dos participantes, como nas audiências públicas não se trata de participar como
parte jurídica da demanda judicial, mas sim, teoricamente, como especialista em determinado tema que
irá trazer esclarecimentos aos julgadores, as exposições orais e audiovisuais transmitidas ao Tribunal
podem exercer a função de ferramenta de lobby. Isso porque, ao utilizarem este espaço para comunicar
aos ministros do STF seus posicionamentos e suas informações privilegiadas sobre um determinado tema,
as atrizes buscam pressionar ou influenciar os tomadores de decisão (in Participação Social no STF:
repensando o papel das audiências públicas. Rev. Direito Práx. [online]. 2020, vol.11, n.1, p. 245)
É possível observar que os requisitos descritos nos itens “i” e “iii” revelam
figuras distintas. A primeira tem interesse direta no resultado do julgamento a segunda,
em tese, daria uma opinião neutra para auxiliar a corte no julgamento. É interessante
observar que esses dois papeis já foram considerados pelo STF em julgamentos
distintos, sendo que mesmo no caso do “amicus especialistas”, alguns Ministros
consideraram que não há neutralidade absoluta e que muitas vezes o especialista pode
ostentar uma posição autointeressada4.
[ADI 3460 ED/DF] MIN. TEORI ZAVASCKI 4. Realmente, o figurino do amicus curiae,
além de pouco amadurecido dogmaticamente, ainda não conta com o abono de uma
positivação mais abrangente, o que tem propiciado o surgimento de perplexidades como
essa. Algumas características, porém, parecem marcar-lhe a essência no ordenamento
brasileiro: o amicus curiae é um colaborador da Justiça que, embora possa deter algum
interesse no desfecho da demanda, não se vincula processualmente ao resultado do seu
julgamento, que não atinge sua esfera jurídica em condições diferentes do que as demais
pessoas desvinculadas da relação processual. É que sua participação no processo ocorre e
se justifica, não como defensor de interesses próprios, mas como agente habilitado a
agregar subsídios que possam contribuir para a qualificação da decisão a ser tomada pelo
Tribunal. A presença de amicus curiae no processo se dá, portanto, em benefício da
jurisdição, não configurando, consequentemente, um direito subjetivo processual do
interessado. 5. É por isso que se tem entendido, no Supremo Tribunal Federal, que o
pedido de intervenção de amicus curiae nos processos de controle concentrado, bem assim
nos casos com repercussão geral reconhecida, deve ficar sob o crivo do Relator da causa
que a aceitará ou não à luz de certos moderadores normativos, dois deles legalmente
previstos (Lei 9.868/99) – (a) a relevância da matéria; (b) a representatividade do
postulante, e outros dois jurisprudencialmente definidos; (c) a oportunidade (ADI 4071
AgR, Rel. Min. Menezes Direito, DJe de 16/10/09); e (d) a utilidade das informações
prestadas (ADI 2321 MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 10/6/05). Estes são os critérios
de que hoje o Tribunal dispõe para distinguir, com um mínimo de objetividade, se a
colaboração oferecida constitui um trunfo de consequências positivas para a qualidade
do julgamento, ou uma medida supérflua, de reflexos inconvenientes para que a
instrução da causa siga uma dinâmica regular e de razoável duração. Em outras
palavras, esses padrões possibilitam que o Relator tenha condições de avaliar se
determinada intervenção produz mais vantagens em termos de legitimidade do que
desvantagens em termos de celeridade. [...] Essas características da figura do amicus
curiae e a natureza da sua participação em juízo trazem significativas consequências no
plano processual. A decisão que recusa a intervenção de amicus curiae não pode ser tida
como prejudicial a um direito ou interesse – material ou processual – de quem a requereu,
não configurando, por isso mesmo, uma situação de sucumbência. Trata-se de simples
decisão de recusa de colaboração. Cumpre enfatizar, no ponto, nenhuma oferta de
colaboração é obrigatoriamente exigível do Tribunal. Mesmo um pedido veiculado por
4
“A presença de uma pessoa sem vinculação expressa e formalizada a um grupo, contudo, não significa
necessariamente que ela não está representando um grupo (nesse caso, informalmente). Também não
significa que, a despeito do caráter “solitário”, que ela não esteja tentando influenciar a julgadora quanto
ao resultado que se pretende ver no julgamento. Shapiro (2004, p.262) já indicou em seus estudos sobre
uso de experts (“tecnocratas”) em ambientes “deliberativos”, que há um perigo de se estabelecer um mito
de que esses experts são menos auto-interessados e, portanto, melhores deliberadores que os outros
expositores de argumentos. Este tipo de mito não prospera na vida real da política e, em verdade, apenas
esconde a falta de transparência e oportunidades de participação para o restante dos interessados
(SHAPIRO, 2004: p.262)”. (Lívia Gil Guimarães, op.cit., p. 259-260)
entidade de larga representatividade e de íntima conexão com o tema debatido pode vir a
ser rejeitado, caso tenha sido formalizado de maneira inoportuna ou quando a
colaboração se tornar dispensável, nas circunstâncias do caso. Assim, considerando que
a decisão que recusa pedido de habilitação de amicus curiae não compromete qualquer
direito subjetivo, nem acarreta qualquer espécie de prejuízo ou de sucumbência ao
requerente, está plenamente justificada a jurisprudência do Tribunal que nega
legitimidade recursal ao preterido.
[AG.REG. no RE 602.584/DF] MIN. CÁRMEN LÚCIA: Neste ano de 2018, Ministro Fux,
Vossa Excelência haverá de se lembrar que, quando a Presidência, na esteira de um
julgamento, convocou os advogados que estavam devidamente apresentados para a
sustentação oral, e na linha do que a Presidência faz uso de uma determinada orientação e
uso de outra, em uma sequência, um dos advogados disse a todos nós aqui: "Mas eu sou
amigo da Corte e do autor e fui contratado por ele." Nem era do autor, porque o autor,
naquele caso, era a União, portanto, era de uma empresa que tinha sido contratada para
defender. Então, o amigo da Corte e de alguém não é da Corte, porque a Corte é
imparcial. Logo, quando se traz em determinado momento, lembro-me que o Ministro
Barroso até anotou, na época: "Não, mas todos vêm com uma tendência ou uma vocação à
apresentação de uma determinada linha a ser debatida como questão posta no processo."
Diferente de ser amigo da Corte, de alguém que se apresenta em um dos lados e que já
previamente ele disse isso, quer dizer...MIN. LUÍS ROBERTO BARROSO – Ministra
Cármen, eu acho que não há neutralidades na vida, as pessoas têm lado mesmo. MIN.
CÁRMEN LÚCIA - Têm; na vida, na Supremo Tribunal Federal política, no amor, em
tudo as pessoas têm lado. MIN. LUÍS ROBERTO BARROSO - É isso, menos juiz do
Supremo, que não pode ter lado. MIN. CÁRMEN LÚCIA - Mas, neste caso, o amigo é da
Corte, o que foi enfatizado. É isto apenas que eu estou dizendo. Nenhuma dúvida de que,
quando alguém tem um pensamento - e as audiências públicas abriram espaço para que
pudéssemos tratar desse assunto exatamente -, dizemos quem defende uma determinada
tese e quem defende a tese contrária para dar o contraditório. É diferente de quando
comparece como alguém que diz que é amigo da Corte e do Fulano. É um pouco diferente.
É amigo do amigo e que, às vezes, nem é tão nosso amigo, porque nós não temos amigos;
nós temos partes em um processo sobre o qual nos manifestamos. MIN. LUIZ FUX -
Escritórios de advocacia, sob a alegação de que são expert no tema, têm pedido a
intervenção como amicus curiae. Então, fomos colocados em um corner em que ou
admitimos, ou inadmitimos e há agravo. Assim, eles sabem que isso vai nos obrigar a
julgar um recurso. Logo, teríamos que admitir todos - teríamos de admitir tudo, não é?
[ADI 3396 AgR/DF] MIN. LUÍS ROBERTO BARROSO [...] Eu acho que a posição de
condução do processo, com todas as vênias também do Ministro Celso, é do Relator.
Portanto, se o Relator entender que não é pertinente e ali não há um direito subjetivo em
jogo, porque veja Vossa Excelência, agora cabe pedido de amicus curiae por pessoa
natural. Então imagina se qualquer quantidade de pessoas naturais pedem admissão, o
relator indefere, pela boa tramitação do processo, aí vai haver uma chuva de agravos que
têm que vir ao Plenário, atravancando o fluxo das ações diretas. [...] MIN. LUIZ FUX -
Eu gostaria de dar um exemplo aqui, Ministro Fachin. É um exemplo que eu acabei de
verificar. Eu tenho sob a minha relatoria um recurso extraordinário com repercussão
geral de amplo espectro que vai tratar do problema relativo à terceirização. Vossa
Excelência imagina quantos amici curiae pediram intervenção? Cinquenta. [...] Eu
indefiro cinquenta intervenções, que vão falar meio segundo aqui. Cabe agravo dessa
decisão? [...] MIN. RICARDO LEWANDOWSKI (PRESIDENTE) - Eu queria dessa linha,
Ministro, embora ainda tivesse alguma coisa a dizer, até porque julgamos questões muito
relevantes para o País. Esse Plenário é uma ribalta extraordinária, dá uma exposição
tremenda. Quem é que não quer ser amicus curiae com essa exposição nacional que essa
situação propicia? Mas, de qualquer maneira, encerrado esse julgamento com empate,
quem desempatará será a Ministra Cármen Lúcia.
Essas preocupações dos Ministros refletem problemas reais que são
enfrentados pela Suprema Corte e que não deveriam passar ao largo do anteprojeto.
Assim, poderíamos depurar essas preocupações em três itens a serem explorados: i)
requisitos para ingresso do amicus; ii) aferição do real interesse do amicus; iii) poderes
do amicus.
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Há regramento parecido na Federal Rules of Appellate Procedure do Direito Norte-Americano: “(3)
Motion for Leave to File. The motion must be accompanied by the proposed brief and state: (A) the
movant's interest; and (B) the reason why an amicus brief is desirable and why the matters asserted are
relevant to the disposition of the case. (4) Contents and Form. An amicus brief must comply with Rule 32.
In addition to the requirements of Rule 32, the cover must identify the party or parties supported and
indicate whether the brief supports affirmance or reversal. An amicus brief need not comply with Rule
28, but must include the following: (A) if the amicus curiae is a corporation, a disclosure statement like
that required of parties by Rule 26.1; (B) a table of contents, with page references; (C) a table of
authorities—cases (alphabetically arranged), statutes, and other authorities—with references to the
pages of the brief where they are cited; (D) a concise statement of the identity of the amicus curiae, its
interest in the case, and the source of its authority to file; (E) unless the amicus curiae is one listed in the
first sentence of Rule 29(a)(2), a statement that indicates whether: (i) a party's counsel authored the brief
in whole or in part; (ii) a party or a party's counsel contributed money that was intended to fund
preparing or submitting the brief; and (iii) a person—other than the amicus curiae, its members, or its
counsel—contributed money that was intended to fund preparing or submitting the brief and, if so,
identifies each such person; (F) an argument, which may be preceded by a summary and which need not
include a statement of the applicable standard of review; and (G) a certificate of compliance under Rule
32(g)(1), if length is computed using a word or line limit”.
6
Neste sentido Débora Costa Ferreira: “Caso efetivamente caminhe no sentido de ampliar a base
argumentativa e informacional por intermédio do amicus curiae, duas propostas já estão lançadas:
estabelecer regra processual que determine que o peticionário antecipe resumidamente os argumentos e
informações que pretende apresentar e informe, assim como é exigido nos principais países que se
utilizam desse instituto, a parte que deseja apoiar, o seu interesse na demanda, e quem eventualmente
patrocina a sua intervenção. Não cabe mais alegar a ingenuidade de uma amizade desinteressada contra a
seletividade que os dados revelam” (Op. cit, p. 106).
7
De acordo com Eloísa Machado de Almeida: “Com essas considerações percebe-se que para além do
cumprimento do critério da representatividade, os amici curiae têm a responsabilidade de levar novos
configuram métodos para otimização do trabalho e administração da agenda da
Suprema Corte.
argumentos ao tribunal, sem o que se tornam inúteis no processo, o que pode ser um fator de estímulo
criativo a que os atores sociais se engajem em interpretações constitucionais. Apesar da inovação dos
argumentos ser analisada pelos ministros como uma condição de admissibilidade, a partir desta
classificação proposta sobre as capacidades institucionais dos amici curiae (condições de acessibilidade,
condições de admissibilidade e condições de influência) essa inovação dos argumentos estaria alocada,
também, enquanto uma condição de influência”. (in Capacidades institucionais dos amici curiae no
Supremo Tribunal Federal: acessibilidade, admissibilidade e influência, Rev. Direito Práx. vol.10 no.1
Rio de Janeiro Jan./Mar. 2019, p. 691).
8
Fernando Leal, O mito da sociedade aberta dos intérpretes da Constituição, JOTA, Brasília, 08/03/2018.
Conforme aponta Fernando Leal9:
13
O poder do Relator influenciar o debate foi denunciado pela doutrina do Prof. Miguel Gualano Godoy,
in verbis: “a. No que se refere aos amigos da corte, eles solicitam seu ingresso no feito e o ministro
relator é quem decide sobre a aceitação ou não do seu pedido de ingresso. Ou seja, o ministro relator tem
um papel fundamental na promoção do debate público, pois ele possui a faculdade de possibilitar que
diferentes vozes possam ser ouvidas e, principalmente, a de escolher e selecionar aquelas que se farão
ouvir. Esse poder do ministro relator também pode, por outro lado, impossibilitar, restringir e até mesmo
enviesar o debate (As audiências públicas e os amici curiae influenciam as decisões dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal? e por que isso deve(ria) importar?, Revista da Faculdade de Direito da UFPR,
v. 60, 2015.p. 150).
14
“Uma das formas de tentar diminuir esse desequilíbrio entre a representatividade dos interesses
conflituosos nos julgamentos que irão definir a tese jurídica vinculante está na atuação dos amici curiae,
devendo a própria seleção daqueles que irão atuar como amicus ter por escopo a diminuição da assimetria
de forças no processo, a equalização do contraditório e a diminuição do desequilíbrio processual entre os
interesses dos litigantes eventuais (dispersos por milhares de processos) e do litigante habitual (com
esforços concentrados no julgamento paradigmático). Nesse sentido, sempre que se esteja diante de um
julgamento apto a formar uma tese jurídica obrigatória, incumbe aos tribunais, ao decidir os pedidos de
intervenção formulados pelos que pretendem atuar como amicus curiae, considerar não somente a
representatividade dos postulantes, mas também o equilíbrio entre os interesses contrapostos, de molde a
que se mantenha a isonomia processual e a paridade de armas entre eles, com a admissão dos litigant
amici em quantidade, representatividade dos interessados e capacidade de manifestação Se só houver
pedido de admissão de amicus curiae para a defesa de um dos interesses em conflito, cabe ao relator
determinar, de ofício (como permite o art. 138 do CPC), a intimação de pessoas, órgãos ou entidades que
possam atuar como amicus curiae e apresentar manifestação e subsídios em favor do interesse
contraposto, igualando as forças argumentativas no processo. equivalentes, contemplando de modo
paritário todos os interesses conflituosos”. (Cíntia Regina Guedes, in A evolução da figura do amicus
curiae, seu potencial de participação nas demandas repetitivas e a necessidade de observância da paridade
de armas. Revista de Processo, v. 294/2019, Ago/2019, p. 12)
15
“Do ponto de vista de um debate público robusto e anterior à decisão, a performance deliberativa da
fase pré-decisional pode e deve melhorar. Do ponto de vista da deliberação interna na fase decisional,
falta um espaço ou momento que propicie o engajamento coletivo para uma deliberação sincera entre os
ministros. As decisões fracionárias e individuais também não contribuem para um adequado momento
pós-decisional, já que as decisões escritas individuais são muito pouco deliberativas, fundadas sobre
diferentes razões e, assim, perde-se de vista a racionalidade decisória que fundamenta a decisão do
Supremo Tribunal Federal” (Miguel Gualano Godoy, op. cit., p. 156).
ponto de vista da necessidade de auxílio técnico; viii) Ademais, critérios como
oportunidade e utilidade da participação foram inseridos dentre os requisitos, o que
confere maior margem de discricionariedade à Corte e torna o processo de escolha mais
democrático.
VI. Conclusão
16
Na ADPF 54, apesar do Ministro Relator ter indeferido a participação da Confederação Nacional dos
Bispos do Brasil em tema que, inequivocamente, despertava o interesse da entidade, o Min. Cezar Peluso,
em seu voto, fez menção expressa aos memoriais apresentados pela entidade (p. 26 do referido voto).
É preciso, no entanto, estar atento para a experiência concreta e para as
preocupações legítimas que vêm sendo externadas pelos Ministros do STF durante os
debates envolvendo a figura do amicus curiae, a exemplo do potencial conflito de
interesse, ausência de imparcialidade, relevância da contribuição, volume de trabalho e
de escassez de tempo.
Tudo isso sugere que, ao lado das contribuições teóricas que buscam
melhorar o tratamento do tema, não podemos perder de vista o pragmatismo necessário
para que o anteprojeto não se torne letra morta.
VII. Referências:
ALMEIDA, Eloísa Machado, Capacidades institucionais dos amici curiae no Supremo Tribunal Federal:
acessibilidade, admissibilidade e influência, Rev. Direito Práx. vol.10 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2019;
FERREIRA, Débora Costa, Amizade seletiva análise estratégica da funcionalidade do amicus curiae,
Revista Teoria Jurídica Contemporâneo, v. 5, n.2, 2020;
GODOY, Miguel Gualano, As audiências públicas e os amici curiae influenciam as decisões dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal? e por que isso deve(ria) importar?, Revista da Faculdade de
Direito da UFPR, v. 60, 2015;
GUEDES, Cíntia Reginas, A evolução da figura do amicus curiae, seu potencial de participação nas
demandas repetitivas e a necessidade de observância da paridade de armas. Revista de Processo, v.
294/2019, Ago/2019;
GUIMARÃES, Lívia Gil, Participação Social no STF: repensando o papel das audiências públicas. Rev.
Direito Práx. [online]. 2020, vol.11, n.1;
JOTA, Brasília, “Entidades: Fux só liberou associações a favor de auxílio-moradia em julgamento”,
publicado em 02/03/2018;
JOTA, Brasília, “Juiz aceita TJSP como amicus curiae em causa que será julgada pelo TJSP”, publicado
em 01/08/2018;
LEAL, Fernando, O mito da sociedade aberta dos intérpretes da Constituição, JOTA, Brasília,
08/03/2018;
SOMBRA, Thiago Luís Santos, in Supremo Tribunal Federal representativo? O impacto das audiências
públicas na deliberação, Rev. direito GV vol.13 no.1 São Paulo Jan./Apr. 2017.