As pessoas, geralmente, não se comunicam por palavras ou frases isoladas. Há uma unidade
comunicativa básica, que é o texto. Quando falamos de texto, identificamos um uso da linguagem
(verbal ou não-verbal) que tem um significado, unidade (é um conjunto em que as partes se ligam
umas às outras) e intenção.
De acordo com Costa Val (1994, p. 3), texto pode ser definido como uma “ocorrência
linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica
e formal”.
Ou seja, o texto é uma manifestação linguística produzida por alguém, em alguma situação
concreta (contexto), com determinada intenção, um todo organizado de sentido. Quando falamos
que ele é um todo organizado de sentido, queremos dizer que o texto é formado por partes
solidárias, em que o sentido de uma das partes depende das outras.
Observe o fragmento abaixo:
O carnaval carioca é uma beleza, mas
mascara com o seu luxo, a miséria social,
o caos político, o desequilíbrio que se
estabelece entre o morro e a Sapucaí.
Embora todos possam reconhecer os
méritos de artistas plásticos que ali
trabalham, o povo samba na avenida
como herói de uma grande jornada. E
acrescente-se: há manifestação em prol
de processos judiciais contra costumes
que ofendem a moral e agridem a
religiosidade popular. O carnaval carioca,
porque se afasta de sua tradição, está
tornando-se desgracioso, disforme, feio.
MEDEIROS, 2000, p.13.
Como você pode verificar, o trecho acima é um fragmento que não constitui um texto. Por
quê? Por várias razões. Veja: não há coerência entre a afirmativa inicial e a afirmativa final; a
oração subordinada iniciada com embora não estabelece coesão com a oração principal (“o povo
samba na avenida como herói de uma grande jornada”); enfim, esse fragmento apresenta várias
informações e estas não constituem um todo significativo, uma unidade. Dessa forma, um
fragmento que trata de diversos assuntos não pode ser considerado um texto.
Assim, se pretendemos produzir textos com qualidade, devemos refletir e conhecer as
características que o fazem constituir textos. Estamos falando de textualidade. Você sabe o que é
isso?
Segundo Costa Val (1994), textualidade é um conjunto de características que conduzem à
elaboração de um texto, fazendo com que este seja considerado como tal, e não como um
amontoado de palavras e frases, sem a devida unidade. O todo significativo, a que chamamos texto,
caracteriza-se por uma série de fatores de textualidade. Dois blocos de sete fatores, segundo
Beaugrande e Dressler (1983 apud COSTA VAL, 1994), são os responsáveis pela textualidade de
qualquer discurso. Esses blocos se distinguem em linguísticos (fatores semânticos/formais, como a
coerência e a coesão) e pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade,
informatividade e intertextualidade).
Os fatores linguísticos
COERÊNCIA. É considerado um fator fundamental da textualidade, porque é responsável pelo
sentido do texto. Um texto para ser coerente depende do conhecimento da língua e de mundo e do
grau de compartilhamento desse conhecimento entre produtor e receptor. Se o receptor de um texto
não conhecer bem a língua que lhe deu forma, bem como a realidade de que ele fala, com toda
certeza irá classificá-lo como incoerente. Veja alguns exemplos:
Foi um milagre, com certeza! A criança caiu do décimo segundo andar e não sofreu
nenhum arranhão.
Carlos e Antônio são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são diferentes. Este não
briga com quem torce para o outro clube; aquele o faz.
Este texto é coeso, pois você pode perceber que há ligação, relação, conexão entre as palavras,
através de elementos formais que assinalam o vínculo entre os seus componentes. Observe que o
termo disso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este recupera a palavra
Antônio; aquele, o termo Carlos; o faz, o predicado briga com quem torce para o outro clube.
A COESÃO TEXTUAL
Conforme Koch (1989, p. 19), “o conceito de coesão textual diz respeito a todos os
processos de sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma relação linguística
significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual”. Para Platão e Fiorin (2002, p.
265), a coesão textual “é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do
texto”.
É a coesão que possibilita a ligação dos elementos que constituem o texto e gera a
interdependência entre as partes constituintes. Existem diferentes estratégias de coesão que
dependem das escolhas do autor e das intenções comunicativas, como você verá na seção seguinte.
Mecanismos coesivos
Há inúmeras propostas de classificação das relações coesivas que podem ser estabelecidas
formalmente num texto. Nesta aula, portanto, você estudará, com base na classificação de Halliday
e Hasan, apresentada por Fávero (2004), a coesão referencial, a substituição, a elipse, a conjunção e
a coesão lexical.
A coesão referencial
Nesse tipo de coesão, um elemento da superfície do texto remete a outro (s) do universo
textual. Manifesta-se, assim, através da anáfora e da catáfora.
Observe que o termo ele retoma a palavra ISPTEC. Temos, então, o ISPTEC como referente e o
pronome ele como o elemento coesivo. A referência é, portanto, anafórica.
O pronome isso antecipa a expressão muita saúde e paz. Este é, portanto, o referente do pronome coesivo
isso. Dessa vez, a referência é catafórica.
Substituição
A substituição consiste na colocação de um item lexical com valor coesivo no lugar de outro (s) elemento
(s) do texto ou até de uma oração inteira.
Ex. 1: Há hipótese de terem sido os asiáticos os primeiros habitantes da América. Essa hipótese é bastante comentada.
Ex. 2: Pedro corre todos os dias no parque. Humberto faz o mesmo.
Observe que, no primeiro exemplo, a substituição feita pelo pronome essa da expressão “essa hipótese” é de
parte da oração anterior (os asiáticos terem sido os primeiros habitantes da América); já no segundo
exemplo, a expressão faz o mesmo tem por função substituir toda a informação da oração anterior (correr
todos os dias no parque).
Elipse
Na elipse, algum elemento do texto é omitido por Ø (zero) em algum dos contextos em que deveria
ocorrer. A omissão de algum elemento do texto (certas palavras, expressões e até mesmo frases) por
Ø (zero) permite que se evite repetição desnecessária; mas garantindo-se o sentido. Observe o
exemplo abaixo:
Ex. 1: O ministro foi o primeiro a chegar.
Ø (Ele) Abriu a sessão às oito em ponto e Ø (ele) fez então seu discurso emocionado.
Neste exemplo, você observa que ocorreu, em dois momentos, a elipse do pronome ele, mas o
contexto permite recuperação desse elemento por conta da terminação verbal que, nos dois
momentos (abriu e fez), aparece na terceira pessoa do singular.
COERÊNCIA
Quando falamos em redação, a coerência das ideias é apontada como uma qualidade indispensável
para qualquer tipo de texto. Mas, o que é coerência?
Assim, afirmamos que a coerência constitui a textualidade, ou seja, torna uma sequência linguística
um texto e não um amontoado aleatório de frases ou palavras, conforme já dissemos.
A coerência e a coesão textual estão intimamente ligadas. No entanto, há textos que podem ser
coerentes sem possuir elementos explícitos de coesão e outros que apresentam uma sequência de
enunciados coesos, mas não constituem textos, pois lhes falta coerência. Além disso, um texto pode
ser considerado incoerente para alguém, em determinada situação comunicativa, pode não o ser
para outra pessoa.
Para que você entenda melhor isso, leia com atenção os textos abaixo, observando as diferenças
com relação à coerência:
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar.
Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. 24. ed. Rio de Janeiro: Record, 1990. p. 44
Você deve ter notado que nesse texto há unidade de sentido. Trata-se de uma descrição poética de
uma cidadezinha pacata, atribuindo-lhe um enfoque depreciativo, conforme indicia o verso Êta vida
besta, meu Deus.
Pessoas que tomam café da manhã todos os dias correm menos riscos de ter
infecções, conforme estudos realizados. As infecções são comuns em crianças que
frequentam a escola pela primeira vez. Por isso, a escola tem como filosofia o
desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem construtivista.
Neste texto, apesar da presença de elementos de ligação entre as sentenças (como as palavras
conforme, que, por isso), constatamos a ocorrência de incoerência entre elas. O tópico frasal (1ª
oração) não é desenvolvido nas orações subsequentes. Outras ideias são inseridas no parágrafo sem
o estabelecimento de relação de sentido com as anteriores.
Veja outro texto:
O Gabriel passou no vestibular para Medicina.
A Gabrielly faz Direito.
A Grazielly venceu este ano as olimpíadas de Matemática.
Todos os meus sobrinhos são estudiosos.
Você observa que, embora não tenha elementos explícitos de coesão, há coerência entre as frases.
Ela não está apenas na sucessão linear dos enunciados, mas numa ordenação hierárquica.
Portanto, como você deve ter observado, a coerência de um texto está relacionada, basicamente,
com as condições para o estabelecimento de um sentido, ou seja, é a relação harmônica que se
estabelece entre as partes de um texto, no alcance de uma unidade de sentido.
Assim, um texto pode ser considerado incoerente quando, dentre tantos outros fatores:
há falhas na continuidade de suas partes;
as palavras aparecem de forma imprecisa;
o vocabulário é inadequado;
há falta de organização no texto como um todo (início, meio e fim);
há inadequação da linguagem ao tipo de texto;
há contradições.
Por fim, para finalizarmos este tópico, veja quantas incoerências o texto a seguir apresenta:
1) É contraditório quando diz que o turismo oferece muitas vantagens e, no final, afirma que
nem sempre as agências conseguem satisfazer os clientes.
2) É contraditório quanto ao uso dos tempos verbais, pois o pensamento inicia no presente, mas
no mesmo raciocínio mistura o pretérito e o futuro.
3) Não há homogeneidade quanto à pessoa do discurso, pois inicia com a 3ª pessoa (“O
turismo oferece”) e passa à 1ª do plural (“voltamos”), no meio do texto.
4) Falta relação entre algumas ideias que perdem a lógica pela falta de sequência ao raciocínio,
como em “para isso existirão as maravilhosas agências e outra é o conhecimento de novos
vocabulários”.
5) Falta de relação do tópico frasal “o turismo oferece muitas vantagens” com a conclusão “a
vida é feita para ser vivida”.
Coerência semântica
Refere-se à relação estabelecida entre os significados dos elementos das frases que estão em
sequência em um texto ou entre os elementos do texto considerado em sua totalidade. Veja o
exemplo abaixo:
A frente da casa da vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda. Todas as tardes
ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr-do-sol (PRESTES, 2001, p.
125).
Você observou, nesse texto, que a informação sobre a posição da frente da casa e o que se diz que a
avó faz à tarde são contraditórios? Pois é, ocorre aí uma incoerência, já que o sol não se põe a leste,
mas a oeste.
Veja esse outro exemplo:
Coerência sintática
Está relacionada à utilização adequada de recursos sintáticos, que podem ser os conectivos, os
pronomes, os sintagmas nominais definidos e indefinidos etc. Observe as ocorrências abaixo:
Como você deve ter notado, apenas as ocorrências a, c e e são coerentes, na medida em que os
recursos sintáticos utilizados foram adequados à expressão da ideia desejada, enquanto que as
ocorrências b e d são incoerentes: em b houve falha no uso do pronome e, em d, o uso de “todavia”
pressupõe uma continuação que não aparece.
Coerência estilística
Prezado Antônio,
Neste momento quero expressar meus profundos
sentimentos por sua mãe ter batido as botas.
Coerência pragmática
É quando o texto tem que seguir uma linha de sentido, ou seja, uma sequência de atos. Não é
possível o locutor dar uma ordem e fazer um pedido no mesmo ato de fala. Quando essas condições
são ignoradas, constituem incoerência pragmática, como você pode observar abaixo:
TEXTO E TEXTUALIDADE
As pessoas, geralmente, não se comunicam por palavras ou frases isoladas. Há uma unidade
comunicativa básica, que é o texto. Quando falamos de texto, identificamos um uso da linguagem
(verbal ou não-verbal) que tem um significado, unidade (é um conjunto em que as partes se ligam
umas às outras) e intenção. Definido como uma “ocorrência linguística falada ou escrita, de
qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal”.
Ou seja, o texto é uma manifestação linguística produzida por alguém, em alguma situação
concreta (contexto), com determinada intenção, um todo organizado de sentido. Quando falamos
que ele é um todo organizado de sentido, queremos dizer que o texto é formado por partes
solidárias, em que o sentido de uma das partes depende das outras.
Observe o fragmento abaixo:
O carnaval carioca é uma beleza, mas mascara com o seu luxo, a miséria social, o caos
político, o desequilíbrio que se estabelece entre o morro e a Sapucaí. Embora todos possam
reconhecer os méritos de artistas plásticos que ali trabalham, o povo samba na avenida como herói
de uma grande jornada. E acrescente-se: há manifestação em prol de processos judiciais contra
costumes que ofendem a moral e agridem a religiosidade popular. O carnaval carioca, porque se
afasta de sua tradição, está tornando-se desgracioso, disforme, feio.
MEDEIROS, 2000, p.13.
Como você pode verificar, o trecho acima é um fragmento que não constitui um texto. Por
quê? Por várias razões. Veja: não há coerência entre a afirmativa inicial e a afirmativa final; a
oração subordinada iniciada com embora não estabelece coesão com a oração principal (“o povo
samba na avenida como herói de uma grande jornada”); enfim, esse fragmento apresenta várias
informações e estas não constituem um todo significativo, uma unidade. Dessa forma, um
fragmento que trata de diversos assuntos não pode ser considerado um texto.
Assim, se pretendemos produzir textos com qualidade, devemos refletir e conhecer as
características que o fazem constituir textos. Estamos falando de textualidade. Você sabe o que é
isso?
Segundo Costa Val (1994), textualidade é um conjunto de características que conduzem à
elaboração de um texto, fazendo com que este seja considerado como tal, e não como um
amontoado de palavras e frases, sem a devida unidade. O todo significativo, a que chamamos texto,
caracteriza-se por uma série de fatores de textualidade. Dois blocos de sete fatores, segundo
Beaugrande e Dressler (1983 apud COSTA VAL, 1994), são os responsáveis pela textualidade de
qualquer discurso. Esses blocos se distinguem em linguísticos (fatores semânticos/formais, como a
coerência e a coesão) e pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade,
informatividade e intertextualidade).
A palavra texto provém do latim textum, que significa “tecido, entre-laçamento”. Há, por-
tanto, uma razão etimológica para nunca esquecermos que o texto resulta da ação de tecer, de
entrelaçar unidades e partes, a fim de formar um todo inter-relacionado. Daí podermos falar em
textura ou tessitura de um texto: é a rede de relações que garantem sua coesão, sua unidade.
Os fatores linguísticos
COERÊNCIA
COESÃO
É a manifestação linguística da coerência; é responsável pela ligação dos sentidos isolados
para evidenciar a estruturação da sequência superficial do texto, não perdendo de vista o todo e a
intenção com que se produz esse todo, para constituir finalmente um texto. Os mecanismos para a
coesão de um texto podem ser o uso adequado dos operadores argumentativos, do léxico através da
reiteração (repetição do mesmo item lexical: sinônimos, nomes genéricos etc.) e da colocação (uso
de termos pertencentes a um mesmo campo significativo). Observe o exemplo abaixo:
Carlos e Antônio são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são diferentes. Este não
briga com quem torce para o outro time; aquele o faz.
Este texto é coeso, pois você pode perceber que há ligação, relação, conexão entre as
palavras, através de elementos formais que assinalam o vínculo entre os seus componentes. Observe
que o termo disso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este recupera a palavra
Antônio; aquele, o termo Carlos; o faz, o predicado briga com quem torce para o outro time.
Os fatores pragmáticos
Os outros cinco fatores estudados por Beaugrande e Dressler (1983 apud COSTA VAL, 1994), os
chamados fatores pragmáticos, são de natureza social, pois envolvem o contexto situacional -
sociocultural, circunstancial -, os interlocutores, suas crenças e intenções comunicativas. Estes
fatores contribuem para a construção e o reconhecimento do texto, ou seja, para sua produção e
recepção. Vamos a eles:
INTENCIONALIDADE: revela o esforço feito pelo produtor para estabelecer um discurso
coerente e coeso, a fim de cumprir o seu objetivo comunicativo em função do receptor.
ACEITABILIDADE: é inerente ao receptor, que analisa e avalia o grau de coerência,
coesão, utilidade e relevância do texto, capaz de levá-lo a alargar os seus conhecimentos ou de
aceitar a intenção do produtor.
SITUACIONALIDADE: é responsável pela adequação do texto ao contexto
sociocomunicativo.
INFORMATIVIDADE: está relacionada ao grau de Práticas Educativas I Oficina de
Leitura e Produção Textual na Prática Escolar I Escrita: fatores formais e pragmáticos da
produção textual previsibilidade (ou de expectabilidade) da informação que o texto traz. Se ele
conter apenas informação previsível ou redundante, seu grau de informatividade será baixo; se,
além da informação esperada, conter informação não-previsível, seu grau de informatividade será
maior.
INTERTEXTUALIDADE: mostra a interdependência dos textos entre si, tendo em vista
que um texto só faz sentido quando é entendido em relação a outro texto, que funciona como seu
contexto.