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LABORATÓRIO JURÍDICO

I. Procurações

O que são?
Para responder à indagação feita, lançam-se algumas premissas, a começar
pela lembrança do art. 653 do Código Civil, o qual registra que se opera o
mandato, "quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu
nome, praticar atos ou administrar interesses".
O mesmo artigo da codificação civil esclarece que "a procuração é o
instrumento do mandato". Assim, a procuração deve discriminar quais os
atos ou interesses que o procurador (tecnicamente também denominado
mandatário) vai praticar ou administrar em nome do outorgante da procuração
(que, em termos jurídicos, se denomina mandante), não podendo ser
procuração genérica, sem finalidade específica.
Se os atos a serem praticados ou interesses a serem defendidos se situam
na esfera de um processo que corre em juízo, o mandato é judicial, caso em
que, por tradição vinda do Direito romano, se diz que o mandato é conferido
com a cláusula "ad judicia", expressão latina essa que pode ser traduzida pelo
circunlóquio "para as questões judiciais".
Nesse caso, se o mandato é outorgado para o foro em geral, quem o recebe
pode atuar em toda e qualquer medida judicial que envolva o mandante; se,
contudo, os poderes outorgados se restringem à autorização para um processo
específico, a procuração apenas autoriza a prática de atos naquele processo.
Recebendo a procuração "ad judicia", o mandatário está autorizado a agir
em nome do mandante, bem como a praticar todos os atos indispensáveis ao
andamento do processo, os quais se consideram implicitamente autorizados
pelo referido documento.

Poderes Especiais
Determinados atos, embora se considerem tecnicamente processuais,
exigem poderes especiais e menção expressa na procuração "ad judicia", para
que possam ser praticados pelo procurador: receber a citação inicial,
confessar, transigir, desistir e dar quitação e firmar compromisso.
A terminação “et extra”, no caso, é prefixo latino, que carrega o
significado de fora de, além de, de modo que, quando alguém outorga uma
procuração extrajudicial, está autorizando o mandatário a praticar atos que não
se situam na esfera judicial. Suas regras estão discriminadas nos arts.
653/691 do Código Civil.
Por fim, quando alguém outorga uma procuração "ad judicia et extra",
isso significa que os poderes por ela conferidos se situam não apenas
na esfera judicial, mas também na esfera extrajudicial, de modo que
uma procuração assim conferida nada mais é do que a junção de ambos os
instrumentos anteriormente referidos.
Nada impede, como se vê, que, em mesma procuração, haja tanto a
outorga de poderes para a prática de atos na esfera judicial, como também a
autorização para a defesa de interesses na esfera extrajudicial.
Para que possa valer para atuação em ambas as esferas,
entretanto, não basta constar, na epígrafe, no início do documento, a
expressão "procuração 'ad judicia et extra'", já que um título de documento
pode não valer por si nem significar efetivamente o que diz tal título. E, assim,
devem também estar discriminados, de modo específico, os atos e
interesses que poderão especificamente ser defendidos,
administrados ou praticados pelo mandatário tanto na esfera
judicial como no âmbito extrajudicial.
Sintetizando especificamente a resposta à indagação: (i) se o mandante
quer que o mandatário apenas ajuíze ação ou defenda interesses na esfera
judicial, nada mais é preciso do que uma procuração "ad judicia"; (ii) nesse
caso, se a autorização é genérica, o mandatário pode atuar em todo e qualquer
processo judicial em que esteja envolvido o mandante; (iii) e, ainda nesse caso,
se há a discriminação de um feito judicial específico, apenas nesse poderá haver
a atuação por parte do mandatário; (iv) por outro lado, se, além da autorização
para a prática de atos judiciais, o mandante quer, em mesmo instrumento,
autorizar que seu procurador também pratique atos na esfera extrajudicial,
então ele outorga uma procuração "ad judicia et extra", discriminando também,
no corpo do documento, quais são esses atos extrajudiciais cuja prática autoriza
em seu nome; (v) nada impede, por fim, que sejam confeccionados documentos
diversos, um para cada qual das finalidades estampadas, especificando-se, de
modo pormenorizado, os atos cuja prática o mandante está autorizando se
realize em seu nome.

O artigo 105, do CPC, regulamenta a procuração. Vejamos:

Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por


instrumento público ou particular assinado pela parte,
habilita o advogado a praticar todos os atos do
processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer
a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar
ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar
quitação, firmar compromisso e assinar declaração de
hipossuficiência econômica, que devem constar de
cláusula específica.
§ 1º A procuração pode ser assinada digitalmente, na
forma da lei.

§ 2º A procuração deverá conter o nome do advogado, seu


número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e
endereço completo.

§ 3º Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a


procuração também deverá conter o nome dessa, seu número
de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço
completo.

§ 4º Salvo disposição expressa em sentido contrário


constante do próprio instrumento, a procuração outorgada
na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do
processo, inclusive para o cumprimento de sentença.

Veja que a procuração “geral para o foro” não autoriza o advogado a


praticar os chamados “poderes especiais” (receber a citação inicial,
confessar, transigir, desistir e dar quitação e firmar compromisso).
Para isso é preciso que a procuração seja “et extra”, como explicado acima.

Por isso é importante que o advogado faça uso das procurações “ad judicia
et extra”. Caso contrário, terá que requerer do cliente nova procuração caso
precise praticar atos considerados “especiais”.

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