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APRECIAÇÃO:
Nas últimas duas décadas é possível observar uma tendência cada vez maior entre os
pesquisadores de divulgar seus trabalhos por meio de artigos. Isso se deve, em boa medida, ao
acesso amplo e gratuito que a maior parte das revistas e periódicos online tem permitido, assim
como à praticidade de se congregar os resultados de projetos de pesquisa em um único livro2.
Se por um lado, essa modalidade de publicação é extremamente benéfica, por permitir um
acesso mais conciso às ideias que cada autor quer transmitir, por outro, acaba estimulando a
dispersão de suas contribuições historiográficas.
É tentando contornar esse problema e, ao mesmo tempo, articulando alguns resultados
de 44 anos de carreira que Joaquim Romero Magalhães publicou pela Editora da
Universidade de Coimbra o seu “Concelhos e organização municipal na Época Moderna”.
Trata-se do primeiro volume de uma série prevista para três coletâneas intitulada “Miunças”
(termo que, aludindo ao conjunto de produtos menos volumosos que compunham parte dos
dízimos, explica o lugar que este trabalho tem na totalidade da obra do autor: um conjunto de
miudezas que passam a ser agrupadas segundo alguma temática e que assim, ganha algum
sentido mais amplo) que tem por objetivo reunir as publicações do autor sobre as temáticas
1
Agradeço a CAPES pelo financiamento da pesquisa.
2
Note-se, por exemplo, a repercussão que as coletâneas organizadas por professores da Universidade Federal
Fluminense e da Universidade de São Paulo tem alcançado sobre as monografias de conclusão de curso,
dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado. Cf.: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima & BICALHO,
Maria Fernanda B. (Orgs.). O antigo regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII).
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003; FERLINI, Vera Lúcia & BICALHO, Maria Fernanda (Orgs.). Modos
de Governar: ideias e práticas políticas no Império português – séculos XVI a XIX. São Paulo: Alameda, 2005;
SOUZA, Laura de Mello e; FURTADO, Júnia Ferreira; BICALHO, Maria Fernanda (Orgs.). O Governo dos
Povos. São Paulo: Alameda, 2009; FRAGOSO, João e GOUVÊA, Maria de Fátima (Orgs.). Na trama das redes:
política e negócios no mundo português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
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Optou-se por preservar a grafia lusitana do termo “concelho”, já que mantém a distinção entre os órgãos locais
(concelhos) e aqueles que compunham a Coroa Portuguesa (Conselhos).
4
Publicado com o mesmo título, pela primeira vez, no periódico: Notas econômicas. Coimbra: FEUC, nº 4, 1994.
5
Nuno Gonçalo fez uma ressalva em relação ao uso da expressão “Oligarquias” para referir-se aos grupos que
ocupavam os cargos nas centenas de câmaras portuguesas, já que tende a enquadrar uma vasta pluralidade de
composições sociais num grupo homogêneo. Além disso, ele argumenta que “o termo oligarquias municipais’
tende a conferir uma identidade social a uma categoria institucional (a dos vereadores camarários) cuja
existência como grupo social carece de demonstração” (MONTEIRO, 2006, p.45). Essa serve de “ponto de
partida” para que ele comprove a tendência a um desinteresse das elites locais dos pequenos municípios em
ocupar os espaços da vereança, pelas poucas oportunidades de acrescentamento social que trariam.
MONTEIRO, Nuno. Elites locais e mobilidade social em Portugal no final do Antigo Regime. In: Elites e Poder:
entre o antigo regime e o liberalismo. 2ª Edição revista. Lisboa: ICS. Imprensa de Ciências Sociais, 2006. pp. 37 a
82.
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Publicado pela primeira vez em: Optima Pars, Elites Ibero-Americanas do Antigo Regime. MONTEIRO, Nuno
Gonçalo; CARDIM, Pedro e CUNHA, Mafalda Soares da (Orgs.). Lisboa: ICS. Imprensa de Ciências Sociais,
2005.
7
Publicado sob o título “Algumas notas sobre o poder municipal no império português durante o século XVI” na
Revista Crítica de Ciências Sociais. Coimbra: CES nº 25-26, 1998.
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Originalmente intitulado “Uma estrutura do mundo português: o município”, publicado no Ciclo de
Conferencias Portugal e o Oriente. Lisboa: Fundação Oriente Quetzal, 1994.
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possuía no mundo português. Por ser a localidade mais distante de Lisboa, o caso de Macau
apresenta-se, ao mesmo tempo, paradigmático e singular no contexto do império.
Paradigmático porque confirma a organização municipal não só como “mais um modelo”, mas
“o” principal modelo de organização da vida em coletividade: Macau surge como tantos
outros municípios, fundado de forma quase automática, pela comunidade mercantil ali
estabelecida, de acordo com as formas de administração que se conheciam no reino. Singular,
porque sua Câmara acumulou poderes e capacidade de autogoverno como nenhuma outra no
império: chama a atenção seu papel diplomático reconhecido e respeitado pelos poderes
centrais e pelos Imperadores da China; além disso, é dessa câmara que provinha a nomeação
do corpo eclesiástico e militar. É, portanto, a câmara que mais potencializou as capacidades
de negociação e de representação nela investidas.
O quinto artigo “Elementos da História Municipal comparada: os impérios português e
espanhol no Atlântico” é formado pela junção e rearranjo de três trabalhos apresentados em
congressos pelo autor, portanto inédito, até então9. Através de uma comparação entre os
modelos de organização municipal aplicados no império português e no espanhol, ele traça
semelhanças e diferenças. Em ambos os casos, as fases de conquista foram logo seguidas pela
fundação de Câmaras Municipais e Cabildos, algo que encara como uma predisposição natural
de se organizar a vida em comunidade com base nos modelos trazidos da península ibérica.
Da mesma forma que no reino, se formaram comunidades políticas no ultramar, dirigidas por
elites locais, cuja lealdade a seus respectivos soberanos assentava a manutenção dos impérios.
Quanto às diferenças, ele dá enfoque à especificidade na composição desses dois órgãos: nas
Câmaras, os oficiais eram escolhidos anualmente por um complexo sistema que envolvia
indicação, eleição e sorteio, de dois juízes ordinários e, no máximo, três vereadores; já nos
Cabildos, por outro lado, poderia haver até doze regidores (oficial equivalente ao vereador
português) que, a partir de 1545, poderia ser um cargo adquirido por meio de compra ou
sistema de herança – que no mundo português só seria cabível a alguns poucos, como os de
tabelião e escrivão.
9
Do mesmo autor: “Os primórdios de uma vida ‘segura e confortável’ no Brasil”. In: O poder local em tempo de
globalização, uma história e um futuro. Coimbra: Imprensa da Universidade – CEFA, 2005; “Respeito e lealdade:
poder real e municípios nas colônias hispânicas durante os séculos XVI e XVII”. In: História do Municipalismo –
Poder Local e poder central no mundo ibérico. Funchal: CEHA, 2006; “A rede concelhia nos domínios
portugueses”. In: Poder Local, cidadania e globalização. Actas do Congresso Comemorativo dos 500 anos de
elevação de Ribeira Grande a Vila (1507-2007). Ribeira Grande: Câmara Municipal, 2008.
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Do mesmo autor, com o mesmo título, foi publicado na Revista de História Económica e Social. Lisboa: Sá da
Costa nº 16, 1985.
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