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HABITAÇÃO
E AUTOGESTÃO
IV SICCAL
The objectives of this essay are: 1) to approach the relations between the transformations
of contemporary capitalism and the production of urban space; 2) reflect on the role of the
State in the production of housing of social interest in Brazil; 3) problematize the experien-
ces of some of the Latin American social movements that propose self-management of
the houses. The research was organized in two stages: 1) literature review: urbanization
and housing; 2) research on social movements that defend the right to city and housing.
Housing movements play a pedagogical role for society as a whole, evidencing the need
for practical experimentation in another way of reproducing social life. However, self-
-managed housing programs are still a residual public policy with little visibility
Keywords: Urbanization. Social movements. Self-management. Housing. Public policy.
Los objetivos de este trabajo son: 1) abordar las relaciones entre las transformaciones
del capitalismo contemporáneo y la producción del espacio urbano; 2) reflexionar
sobre el papel del Estado en la producción de vivienda de interés social en Brasil;
3) problematizar las experiencias de algunos movimientos sociales latinoamericanos
que proponen la autogestión de las viviendas. La investigación se organizó en dos
etapas: 1) revisión bibliográfica: urbanización y vivienda; 2) investigación sobre movi-
mientos sociales que defienden el derecho a la ciudad y la vivienda. Los movimientos
de vivienda ejercen un papel pedagógico para el conjunto de la sociedad al evidenciar
la necesidad de experimentación práctica de otra forma de reproducción de la vida
social. Sin embargo, los programas de vivienda autogestionarios siguen siendo una
política pública residual y de poca visibilidad.
Palabras clave: Urbanización. Movimientos sociales. La autogestión. La vivienda. Políticas
públicas.
DOI: https://doi.org/10.11606/extraprensa2019.153494
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falta de planejamento que configura o que cidade de São Paulo, de 1989-1992, foi ela-
se costuma denominar de “caos urbano”, borado o FUNAPS Comunitário (Fundo de
mas a própria lógica do planejamento Atendimento à População Moradora em
urbano em uma sociedade capitalista e Habitação Subnormal), um programa habi-
dependente, como a brasileira. tacional para a população de baixa renda que
foi uma grande inovação, pois, pela primeira
As únicas opções à autoconstrução vez, o mutirão autogestionário convertia-se
para a população pobre foram os conjuntos de fato em programa habitacional e os movi-
habitacionais financiados pelo Estado e mentos sociais eram reconhecidos como ato-
construídos pela iniciativa privada, den- res no processo de implementação da política
tro de um regime de gestão tradicional (o que havia anteriormente eram apenas os
imposto pelas empreiteiras, onde predo- mutirões ou a autoconstrução, sem que os
minava a precariedade das condições de recursos fossem geridos pelos movimentos,
trabalho. Assim como a prática da auto- ou seja, antes os futuros moradores eram
construção, estes conjuntos também foram apenas mão-de-obra). As autoras observam
construídos na periferia das cidades, com que este programa era baseado no finan-
acesso precário a infraestrutura urbana ciamento público, gestão dos recursos pelas
e de serviços públicos. Em contraposição organizações populares e responsabilidade
a este modelo (estatista dos anos 1960 e da obra pelas assessorias técnicas. Segundo
1970 e ao novo modelo de oferta privada Ferreira (2012), a experiência emblemática
e subsidiada à demanda nos anos 1990 e do FUNAPS viabilizou 93 convênios com
2000), destacam-se as iniciativas de pro- grupos organizados de famílias em asso-
dução habitacional autogestionária dos ciações comunitárias para a construção de
movimentos sociais urbanos em vários 12.000 unidades habitacionais por mutirão
países da América Latina (USINA, 2012). e autogestão, ampliando e potencializando a
Dentre estas iniciativas, a experiência uru- organização autogestionária dos movimen-
guaia da FUCVAM (Federação Uruguaia tos de moradia na cidade.
de Cooperativas de Habitação por Ajuda
Mútua) tem um papel histórico central por A autogestão na habitação não pode
influenciar a luta por moradia e autoges- ser confundida com a autoconstrução, prá-
tão em outros países, assim como possi- tica que dominou as periferias das grandes
bilitar que o cooperativismo se tornasse cidades latino-americanas e que representa
uma das principais formas de produção uma das formas mais precárias de habita-
habitacional no Uruguai. A experiência da ção da classe trabalhadora (consumindo
FUCVAM foi fundamental para a luta por seu tempo de lazer e prejudicando outros
habitação no Brasil, especialmente, para os gastos básicos, como alimentação, saúde
mutirões autogeridos realizados na cidade e educação). Além disso, geralmente, a
de São Paulo nas décadas de 1980 e 1990 autoconstrução, não gera a organização
(BONDUKI, 1992; USINA, 2012). de coletividades e pressupõe outras formas
de precariedades como o acesso irregular
Por exemplo, segundo Tatagiba e a terra. Em contraposição, a luta pela pro-
Teixeira (2016), no primeiro ano da gestão dução e gestão autogestionária da habita-
de Luiza Erundina (PT) na prefeitura da ção, nos diversos países latino-americanos,
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ocorre como um movimento pela reforma imobiliário. Nesse sentido, as autoras res-
urbana, acesso aos fundos públicos, assis- saltam que, apesar das demandas, do ponto
tência técnica, projeto e planejamento da de vista ideológico, serem potencialmente
obra, qualidade urbana e fortalecimento disruptivas (propriedade da terra para os
político comunitário, constituindo-se como mais pobres; empreendimento subsidiado
experimentação prática de outra forma de pelo Estado e não por meio de emprés-
produção da vida social (USINA, 2012). timo no mercado financeiro; construção
autogestionária; e a propriedade coletiva,
A partir da Constituição Federal de que ainda não foi conquistada, mas segue
1988, surgiram inovações como o direito como demanda), os programas de habitação
à moradia e a regulamentação da função autogestionários se tornaram uma política
social da propriedade e da cidade. Este pública residual e de pouca visibilidade.
arcabouço legal confronta-se com o pro-
jeto neoliberal de desregulação do mercado Segundo Rolnik (2015), o programa
provocando uma nova contradição urbana. Minha Casa Minha Vida (MCMV) que, ini-
O conflito e as contradições no âmbito das cialmente, foi elaborado como pacote de sal-
políticas urbanas ampliam-se a partir de vamento de incorporadoras financeirizadas
2003, devido à crescente alocação de recur- (quando estoura a crise hipotecária e finan-
sos públicos federais para formas associati- ceira nos Estados Unidos), transformou-se
vas de produção habitacional, assim como, na política habitacional do país (baseada no
dialeticamente, a crescente absorção dessas modelo único de promoção da casa própria,
experiências coletivas pela racionalidade acessada via mercado e crédito hipotecário).
hegemônica da valorização imobiliária A autora observa que, consequentemente,
(LAGO, 2015). Isto significa que a conquista abortou-se a incipiente construção de uma
de recursos públicos pelos movimentos política habitacional diversificada, que res-
sociais para a produção autogestionária da peitasse as especificidades locais e estivesse
moradia, não está sendo acompanhada por sob controle social, aposta dos movimentos
uma significativa alteração na correlação de sociais de moradia e reforma urbana no
forças que define as regras de distribuição início do governo de Luiz Inácio Lula da
desses recursos. Por exemplo, pode-se citar Silva (PT). O MCMV que, por um lado, foi
a inoperância dos governos locais quanto desenhado para incentivar empresas priva-
às políticas regulatórias de uso e ocupação das a se comprometerem com a produção de
do solo, principal recurso para a democrati- habitação para moradores de baixa renda,
zação do acesso à terra urbanizada e como por outro, permaneceu altamente depen-
o controle da especulação fundiária. dente de recursos públicos, mobilizados
para subsidiar a aquisição da propriedade
Tatagiba e Teixeira (2016) ao estu- por compradores de baixa e média renda.
dar a União Nacional por Moradia Popular Este arranjo financeiro ambíguo implica a
(UNMP) perceberam que muitos progra- transferência de riscos para as instituições
mas foram exitosos por não mexer em um públicas e mantém os lucros (geralmente
conflito central: a propriedade privada da aumentados por subsídios indiretos) com
terra, ou seja, não afetaram os interesses atores privados, reiterando os padrões his-
do mercado da construção civil e do setor tóricos de apropriação de fundos públicos.
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Referências
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. Para entender a crise urbana. São Paulo: Expressão Popular, 2015, 112 p.
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Solidária (SENAES). Movimentos sociais, trabalho associado e educação para além do
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