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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

BELO HORIZONTE / MG

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3

Da educação ............................................................................................................... 3

Do ensino médio no brasil ........................................................................................... 7

Sociologia da educação o que é? ............................................................................... 9

Sociologia da educação ............................................................................................ 12

Trabalhando com a matéria sociologia ...................................................................... 14

Referências ............................................................................................................... 17

ANEXOS ................................................................................................................... 23

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Da educação
Sejam bem-vindos aos cursos oferecidos Para Carneiro (2008, s/p) podemos dizer
pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais – que não encontramos um sentido unívoco para o
IPEMIG. termo Educação. Educação é algo tão
Nos esforçamos para oferecer um abrangente quanto às relações humanas.
material condizente com a graduação daqueles Podemos confirmar isso a partir da afirmação de
que se candidataram a esta especialização, Brandão (1985) que, nas primeiras linhas de "o
procurando referências atualizadas, embora que é educação", afirma: "Ninguém escapa da
saibamos que os clássicos são indispensáveis ao educação. Em casa, na rua, na igreja ou na
curso. escola, de um modo ou de muitos todos nós
As ideias aqui expostas, como não envolvemos pedaços da vida com ela: para
poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, aprender, para ensinar, para aprender e ensinar.
opiniões e bases intelectuais fundamentam o Para saber, para fazer, para ser ou para conviver,
trabalho dos diversos institutos educacionais, todos os dias misturamos a vida com a
mas deixamos claro que não há intenção de fazer educação." (BRANDÃO, 1985, p. 7, apud
apologia a esta ou aquela vertente, estamos CARNEIRO, 2008, s/p)
cientes e primamos pelo conhecimento científico, Partindo dessa afirmação já constatamos
testado e provado pelos pesquisadores. que educação ultrapassa o ambiente escolar,
Não obstante, o curso tenha objetivos pois ela ocorre "em casa, na rua, na igreja ou na
claros, positivos e específicos, nos colocamos escola". Além disso, "todos nós envolvemos
abertos para críticas e para opiniões, pois temos pedaços da vida com ela". Por que não
consciência que nada está pronto e acabado e escapamos, e por que todos nós temos "pedaços
com certeza críticas e opiniões só irão de vida" envolvidos nela? Porque estamos todos
acrescentar e melhorar nosso trabalho. os instantes realizando atos de aprendizagem e
Como os cursos baseados na de ensino; pela educação desenvolvemos nossa
Metodologia da Educação a Distância, vocês são capacidade e potencialidades para o "saber" e
livres para estudar da melhor forma que possam para o "fazer".
organizar-se, lembrando que: aprender sempre, Em tudo isso se manifesta uma de suas
refletir sobre a própria experiência se somam e características que é o processo. Educação não
que a educação é demasiado importante para é um ponto de chegada, mas um processo.
nossa formação e, por conseguinte, para a Nesse processo está presente a dinamicidade
formação dos nossos/ seus alunos. das ações e relações entre as pessoas e grupos
Trabalharemos nesta apostila intitulada o que faz desse processo um mecanismo que
“Da educação” com conceitos sobre o que é a pode produzir transformações sociais, mas que,
educação, o ensino médio no Brasil. Serão em geral, reforça e mantém a sociedade
abordados também os conceitos e as aplicações estratificada, como veremos a seguir. Podemos
da Sociologia da Educação e os fundamentos dizer, portanto que em todas as dimensões da
sociológicos da educação, e ainda como ensiná- vida existem processos educacionais, como
los. Na parte final, abordaremos a situação da afirma Luckesi:
matéria Sociologia para o ensino médio e uma "A educação é um típico 'que fazer'
sugestão de plano de aula ou projeto a ser humano, ou seja, um tipo de atividade que se
desenvolvido com turmas de Ensino Médio. caracteriza fundamentalmente por uma
Trata-se de uma reunião do pensamento preocupação, por uma finalidade a ser atingida.
de vários autores que entendemos serem os A educação dentro de uma sociedade não se
mais importantes para a disciplina. Para maior manifesta como um fim em si mesmo, mas sim
interação com o aluno deixamos de lado algumas como um instrumento de manutenção ou
regras de redação científica, mas nem por isso o transformação social." (LUCKESI, 2001, p. 30,
trabalho deixa de ser científico. apud CARNEIRO, 2008, s/p).
Desejamos a todos uma boa leitura e A afirmação do autor implica dizer que o
caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila processo educacional exige que olhemos para as
encontrarão nas referências consultadas e ações humanas, as quais se explicam na relação
utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar com sua finalidade. As ações humanas se
os conhecimentos. caracterizam por serem "instrumentos" para a

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"manutenção ou transformação social". Isso e pela informalidade. Informalmente o processo


implica dizer que a educação é um dos elementos educacional ocorre no cotidiano das pessoas e
que ajudam a constituir e moldar a sociedade. nas relações humanas; essa ação cotidiana e
Para a sociedade ser do jeito que é – ou que está informal refere-se à troca de experiência e à
– ocorreram ações e processos educativos: a manutenção de valores da sociedade ou de um
sociedade se educou para isso. "A educação grupo dentro da sociedade.
participa do processo de produção de crenças e A educação informal pode ser
ideias, de qualificações e especialidades que identificada como aqueles processo e ações que
envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes ocorrem no cotidiano e nas inter-relações das
que, em conjunto, constroem tipos de
pessoas e grupos; é prenhe da ideologia ou dos
sociedades. É esta a sua força" (BRANDÃO,
valores do senso comum; dos valores
1985, p. 11).
preservados pela sociedade em que se insere.
Ainda de acordo com Carneiro (2008, As relações cotidianas ocorrem de maneira
s/p) algo semelhante afirma Gadotti (1984), a informal e nelas se manifestam ações
partir de uma afirmação de Gramsci, que "cada educacionais, muitas vezes não intencionadas,
classe tem os seus intelectuais, os seus mas sempre carregadas dos valores. Por sua vez
ideólogos, os seus educadores, cujas tarefas, na o processo formal ou a educação formal, que
sociedade, distinguem-se apenas por grau e por recebe essa caracterização justamente por ser
maior ou menor incidência do trabalho intelectual algo planejado, ocorre, principalmente, a partir de
na sua prática profissional" (GADOTTI, 1984, dentro da instituição escolar.
p.75). E são esses que recriam, constantemente,
A escola acaba sendo um espaço
a ideologia de sua classe ou da classe que
privilegiado para esse processo, principalmente
representam. Isso nos leva à afirmação Paulo
porque na escola não há espaço para a
Freire: "ninguém educa ninguém, ninguém se
informalidade. Nesse ambiente o processo é
educa sozinho. As pessoas se educam em planejado justamente para resultar os interesses
comunidade", (GADOTTI, 1984; BRANDÃO,
e os valores da sociedade em que está inserido.
1985) poderíamos dizer que as ações A educação formal, escolar, reflete sempre a
educacionais ocorrem em processo, implicando
sociedade dominante e, por esse motivo a escola
dizer que estamos trabalhando com algo
é uma instituição reprodutora, pois representa a
dinâmico o qual se renova constantemente, pois classe que a organiza e mantém.
as ações processuais implicam em recriações
constantes. No processo educacional, Uma vez que a instituição escolar é um
paradoxalmente, pretende-se preservar valores, espaço em que ocorre o processo formal de
mas, ao mesmo tempo, pretende-se recriar ou educação, podemos dizer que esse ambiente e
criar novos valores. Sendo que, por vezes, os processo – formal-escolar – manifesta e produz
valores da classe dominante são recriados para divisão social. Divide-se a sociedade entre os
manter inalteradas as relações de dominação que estudaram e os que não estudaram; entre os
(GUARESCHI, 1989). que alcançaram ascensão socioeconômica, a
partir do processo educacional e os que não
Partindo disso podemos dizer que alcançaram melhorias significativas em sua
estagnação é negação da educação. Entretanto qualidade de vida ou, por vezes, nem entram no
a sociedade humana, apesar de se caracterizar processo escolar. Em contrapartida e numa
pela constância do progresso, concretamente é
perspectiva dialética, alguns teóricos vêm, no
avessa às novidades. Por mais que se beneficie processo educacional um instrumento de
com a evolução, com o progresso, com o
libertação (educação crítica, educação
desenvolvimento, sempre que se defronta com
libertadora), na medida em oferece perspectivas
situações que demandam a "desinstalação" para de transformação social (LIBÂNEO, 1990;
instalação de novidades o ser humano cria
LUCKESI 1993; GADOTTI, 1984).
resistências. O novo incomoda (...) e, sendo
assim, o processo educacional é um processo Dentro desta perspectiva "a educação é
incômodo (...) embora visto como necessário. aí compreendida como um dos instrumentos de
apoio na organização e na luta do proletariado
Continuando sua explanação Carneiro
contra a burguesia" (AZEVEDO, 2004, p. 40).
(2008, s/p) diz que o processo educacional
Evidentemente que não se pensa que a
também pode ser caracterizado pela formalidade educação seja, sozinha, capaz de produzir todas

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as transformações de que os trabalhadores pensadores mais expressivos e que mais


precisam, mas pode ser um dos caminhos para contribuiu para a consolidação da Sociologia
isso. "Se ideais são necessários para dar vida à como ciência empírica e disciplina acadêmica.
nossa prática, eles são insuficientes para gerar Pesquisador metódico e criativo foi o primeiro
mudanças" (GADOTTI, 1984, p. 77, apud professor universitário de Sociologia e deixou um
CARNEIRO, 2008, s/p). número considerável de seguidores. Durkheim
Apesar disso, parece que uma das viveu numa Europa conturbada por guerras e em
principais características do processo processo de modernização, sua produção
educacional, é o fato de ser um instrumento que intelectual reflete a tensão entre valores e
instituições que estavam desmoronando e
produz e mantém a dominação. Neste caso a
formas emergentes, que ainda estavam se
educação é vista como um aparelho reprodutor
delineando.
das mazelas sociais. Essa perspectiva foi
proposta, principalmente, a partir das análises de O pensamento de Durkheim pode ser
Louis Althusser, ao comentar os aparelhos de balizado, de um lado, pela Revolução Francesa e
reprodução da sociedade, mostrando que o a Revolução Industrial e, de outro, pelo conjunto
processo educacional é reprodutivista de ideias que, sobre esses mesmos
(LIBÂNEO, 1990; LUCKESI 1993) uma vez que acontecimentos, vinha sendo formulado por
ele é criado "pelo grupo dominante para autores como SaintSimon (1760- 1825) e
reproduzir seus interesses, sua ideologia" Auguste Comte (1798- 1857), que passariam a
(GUARESCHI, 1989, p. 69). ocupar posição de destaque na história da
Sociologia. Entre os pressupostos que
Em razão disso somos levados a crer que
constituíram a teoria de Durkheim, destaca-se a
o processo educacional – formal ou não formal –
crença de que a humanidade evolui no sentido de
não tem poder transformador, mas, pelo
um gradual aperfeiçoamento, impulsionada pela
contrário, é reprodutor. Isso porque quando
falamos em educação falamos em valores e os lei do progresso.
valores preservados e ensinados, são os da Esse princípio, herdado do pensamento
classe dominante. Já que os interesses da Iluminista, influenciou toda a vida intelectual do
sociedade são definidos pela classe dominante, século XIX. Afloravase, assim, a consciência de
os valores ensinados serão os seus valores. que as ideias e os valores da velha ordem social
Podemos dizer, portanto, que ao surgir uma (feudal), da qual ainda restavam elementos
classe dominante nasce, também, a necessidade remanescentes, foram destruídos pela
de instituições que a mantenham. Entre essas Revolução e que, portanto, era necessário criar
instituições está a escola que, ao mesmo tempo um novo sistema científico e moral que
reproduz os valores hegemônicos e instrui caminhasse em sintonia com a ordem industrial
quadros para a manutenção do aparato estrutural instaurada. Por outro lado, disseminava-se a
dessa sociedade. crença de que a vida coletiva não era apenas um
"Não é necessário dizer que a educação somatório da vida dos indivíduos, mas,
apresentava-se mais distinta e mais complexa.
imposta pelos nobres se encarrega de difundir e
reforçar esse privilégio. Uma vez constituídas as Certamente, é esse o objeto das
classes sociais, passa a ser um dogma Ciências Sociais e seu estudo demandava a
pedagógico, a sua conservação, e quanto mais a utilização do método positivo, apoiado na
educação conserva o status quo, mais ela é observação, indução e experimentação,
julgada adequada. Já nem tudo o que a educação semelhante, porém, mais adequado as
inculca nos educandos tem por finalidade o bem particularidades dos fatos sociais, ao que vinha
comum, a não ser quando esse 'bem comum' sendo feito pelos cientistas naturais. Dessa
pode ser uma premissa necessária para manter maneira, as ciências da sociedade deviam
e reforçar as classes dominantes. Para estas, a aspirar à formulação de leis que estabelecessem
riqueza e o saber; para as outras, o trabalho e a relações constantes entre os fenômenos.
ignorância." (PONCE, 2001, p. 28, apud (GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p)
CARNEIRO, 2008, s/p) Ainda de acordo com (Galter, Manchope,
- Sobre Émile Durkheim e a educação: s/d, s/p) assim, tendo vivido no interior de um
ambiente bastante conturbado pelas
De acordo com (GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p)
Émile Durkheim é considerado um dos transformações sociais e observado de maneira

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

particular a sociedade francesa a preocupação Mill (FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 33-
de Durkheim foi com a ordem social. Ele afirmava 4), aventando que as definições propostas por
que a raiz de todos os males da sociedade de seu esses autores partem do postulado de que há
tempo era uma certa fragilidade da moral uma educação ideal, perfeita, apropriada a todos
contemporânea. Na busca de resposta a essa os homens, indistintamente. A esse respeito,
questão, propôs a formulação de novas ideias observou que é a "educação universal a única
morais capazes de guiar a conduta dos que o teorista se esforça por defender. Mas, se
indivíduos, aos quais a ciência, através de suas antes de o fazer, ele considerasse a história, não
investigações, poderia indicar os caminhos e as encontraria nada em que apoiasse tal hipótese”.
soluções, pois os valores morais constituíam um
Acerca desse seu posicionamento,
dos elementos mais eficazes para neutralizar as
Durkheim fez um questionamento afirmando que
crises econômicas e políticas.
poderiam objetá-lo dizendo que isso não
O olhar sociológico que determinou o representa o ideal e que se a educação tem
método pelo qual Durkheim investigou a variado, tem sido pelo desconhecimento do que
sociedade da sua época predominou também na deveria ser, considerou tal argumento
maneira como ele encarou a educação. Essa insuficiente: O postulado tão contestável de uma
questão pode ser evidenciada em Paul educação ideal conduz a erro ainda maior. Se se
Fauconnet (1874- 1938), na parte introdutória do
começa por indagar qual deve ser a educação
livro Educação e Sociologia, observou que é por
ideal, abstração feita das condições de tempo e
seu aspecto social que Durkheim abordou a
lugar é porque se admite, implicitamente, que os
educação, e, ainda, que a sua doutrina de sistemas educativos nada têm de real em si
educação é elemento essencial de sua
mesmos.
sociologia.
Não se vê neles um conjunto de
Durkheim, citado por Fauconnet, expôs atividades e de instituições sociais, que a
que: como sociólogo, (...) será, sobretudo dentro
educação exprime ou reflete instituições essas,
da sociologia que vos falarei de educação. Aliás, por consequência, que não podem ser mudadas
assim procedendo, não haverá perigo em à vontade, mas só com a estrutura mesma da
mostrar a realidade educativa, por aspecto que a sociedade.
deforme; estou convencido, ao contrário, de que
não há melhor processo para salientar a Para o autor, cada sociedade,
verdadeira natureza da educação. Ela é considerada em momento determinado de seu
fenômeno eminente social. (FAUCONNET, In: desenvolvimento, possui um sistema de
DURKHEIM, 1975, p. 5, apud GALTER, educação que se impunha aos indivíduos de
MANCHOPE, s/d, s/p) modo geralmente irresistível. Assim, haveria em
No livro As Regras do Método cada sociedade um tipo regulador de educação.
Sociológico, Durkheim já havia exposto a É uma ilusão acreditar que podemos
importância atribuída à educação, considerando- educar nossos filhos como queremos. Há
a como reguladora dos tipos de conduta ou de costumes com relação aos quais somos
pensamentos que são, tanto externos ao obrigados a nos conformar; se os
indivíduo, como, também, dotado dum poder desrespeitamos, muito gravemente, eles se
coercitivo em virtude do qual se lhe impõe. Em vingarão em nossos filhos. Estes, uma vez
Educação e Sociologia, o autor, realizou uma adultos, não estarão em estado de viver no meio
sistemática análise crítica das concepções de seus contemporâneos, com os quais não
acerca dos sistemas de educação, formuladas encontrarão harmonia. (...). Há, pois, a cada
principalmente por pensadores e filósofos momento, um tipo regulador de educação, do
modernos. Crítica, às vezes, a abrangência das qual não podemos separar sem vivas
propostas, noutros casos, o pouco alcance ou o resistências, e que restringem as veleidades dos
caráter subjetivo das formulações. dissidentes.
A crítica do autor centra-se em negar o Considerou, ainda, que os costumes e as
caráter individual da educação (especialmente ideias que determinam o tipo de educação
quanto às suas finalidades), bem como, negar a necessária à sociedade, não é criado
natureza supostamente fixa e imutável do individualmente. Inclusive, em sua maior parte é
indivíduo. O autor citou, por exemplo, as obra das gerações passadas. Para ele, todo o
formulações feitas por Stuart Mill, Kant e James passado da humanidade contribuiu para

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estabelecer um conjunto de princípios que A necessária diversidade pedagógica em


governam a educação do homem no presente. dada sociedade decorre do grau de
Como conhecer a educação necessária a especialização existente em cada sociedade.
cada sociedade? Para o autor, somente o Cada profissão constitui um meio sui generis, que
entendimento histórico, isto é, quando se estuda reclama aptidões particulares e conhecimentos
a maneira pela qual se formaram e se especiais, meio que é regido por certas ideias,
desenvolveram os sistemas de educação, certos usos, certas maneiras de ver as coisas; e
“inseridos no conjunto de outros fenômenos como a criança deve ser preparada em vista de
sociais como a religião, a organização política, o certa função, a que será chamada a preencher, a
grau do desenvolvimento das ciências, do estado educação não pode ser a mesma, desde certa
das indústrias, etc (FAUCONNET, In: idade, para todo e qualquer indivíduo.
DURKHEIM, 1975, p. 37) ”. Afirmava que Durkheim afirma que quanto ao aspecto
separadas dessas causas históricas, os sistemas uno, "Não há povo em que não exista certo
de educação tornam-se incompreensíveis número de ideias, sentimentos e práticas que a
(FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 37). educação deve inculcar a todas as crianças,
Nenhum indivíduo pode construir pelo esforço indistintamente, seja qual for a categoria social a
próprio aquilo que não é obra do pensamento que pertençam (FAUCONNET, In: DURKHEIM,
individual. Afinal, ele não se encontra em face de 1975, p. 40) ”.
uma tábula rasa, sobre a qual poderia construir o Portanto, para Durkheim qualquer que
que quisesse, mas diante de realidades que não seja a importância dos sistemas especiais de
podem ser criadas, destruídas ou transformadas educação, não constitui ele toda a educação. O
à vontade. (GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p) aspecto múltiplo e o aspecto uno divergem até
Nesse sentido, dizem (Galter, Manchope, certo ponto, para além do qual se confundem.
s/d, s/p) o autor questionou aqueles que Assentam assim numa base comum. Em outras
buscavam fixar fins certos à tarefa de educar, palavras, cada sociedade constrói, para seu uso,
afirmando que somente a observação permitiria certo ideal de homem, tanto do ponto de vista
dizer se a educação tem uma finalidade ou outra. intelectual, quanto o físico e moral. Esse ideal é
Não há meios de se saber a priori. Enfatizou que que constitui o eixo educativo. (...) dos muitos
o importante seria dizer em que consiste a tarefa aspectos que compõem a abordagem sociológica
de educar, a que tende, a que necessidades de Émile Durkheim relativas à educação, o que
humanas corresponde. Para responder a essas mais se destaca é a consideração obrigatória de
indagações e constituir a noção preliminar de uma relação estreita entre as determinações
educação, reafirmou o autor: individuais e as construções sociais, donde
resulta, antes de tudo, uma clara ascendência
“Para determinar a coisa a que damos esse nome, dos aspectos sociais sobre os individuais. (...)
a observação histórica parece-nos indispensável Para ele, a educação tinha por objetivo
(FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 38) ”. suscitar e desenvolver, no indivíduo, certo
número de estados físicos, intelectuais e morais,
Na verdade, haveria de se considerar os
reclamados pela sociedade política, no seu
sistemas de educação existentes, ou que tenham conjunto, e pelo meio especial no qual ele está
existido, compará-los e apreender deles os
inserido. Nesse sentido, podemos dizer que seu
caracteres comuns. Que caracteres comuns são
método na verdade expressou um caráter
esses? A existência de gerações de adultos e de eminentemente educativo. Deduz-se daí o
crianças, bem como a ação da primeira, sobre a
importante papel que o autor atribuiu à educação.
segunda. Partindo desses postulados, Durkheim (GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p)
procurou definir a natureza específica dessa
ação (de gerações adultas sobre gerações de
crianças). Para essa tarefa, o autor, partiu do Do ensino médio no brasil
entendimento de que cada sociedade apresenta
sistemas de educação especiais. Esses sistemas
Conforme a professora Sonia Jobim,
apresentam dois aspectos: múltiplo e uno ao
(2006, p. 1) a reformulação do ensino médio no
mesmo tempo. Múltiplo, pois há tantas espécies
Brasil, estabelecida pela Lei de Diretrizes e
de educação, em determinada sociedade,
Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996,
quantos meios diversos nela existirem.
regulamentada em 1998 pelas Diretrizes do

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Conselho Nacional de Educação e pelos aprofundamento ou uma certa especialização de


Parâmetros Curriculares Nacionais, procurou caráter técnico, em detrimento de uma formação
atender a uma reconhecida necessidade de mais geral, ou seja, promoviam-se competências
atualização da educação brasileira, tanto para específicas dissociadas de uma formação
impulsionar uma democratização social e cultural cultural mais ampla. É importante que continuem
mais efetiva, pela ampliação da parcela da existindo e se disseminem escolas que
juventude brasileira que completa a educação promovam especialização profissional em nível
básica, como para responder a desafios impostos médio, mas que essa especialização não
por processos globais, que têm excluído da vida comprometa uma formação geral para a vida
econômica os trabalhadores não qualificados, pessoal e cultural, em qualquer tipo de atividade.
por causa da formação exigida de todos os O novo ensino médio, nos termos da lei,
partícipes do sistema de produção e de serviços. de sua regulamentação e encaminhamento,
A expansão do ensino médio brasileiro, deixa de ser, portanto, simplesmente
que cresce exponencialmente, é outra razão pela preparatório para o ensino superior ou
qual esse nível de escolarização demanda estritamente profissionalizante, para assumir
transformações de qualidade, para adequar-se à necessariamente a responsabilidade de
promoção humana de seu público atual, diferente completar a educação básica. Em qualquer de
suas modalidades, isso significa preparar para a
daquele de há trinta anos, quando suas antigas
vida, qualificar para a cidadania e capacitar para
diretrizes foram elaboradas.
o aprendizado permanente, em eventual
A ideia central expressa na nova Lei, e
que orienta a transformação, estabelece o ensino prosseguimento dos estudos ou diretamente no
mundo do trabalho. (JOBIM, 2006, p. 1)
médio como a etapa conclusiva da educação
Seguindo na sua explanação Jobim
básica de toda a população estudantil e não mais
somente como etapa preparatória de outra etapa (2006, p. 2) as transformações de caráter
econômico, social ou cultural, no Brasil e no
escolar ou do exercício profissional. Isso desafia
a comunidade educacional a pôr em prática mundo, que levaram à modificação dessa escola,
propostas que superem as limitações do antigo não tornaram o conhecimento humano menos
ensino médio, organizado em termos de duas disciplinar em nenhuma das três áreas em que se
principais tradições formativas: a pré- decidiu organizar o novo ensino médio, ou seja,
na de Ciências da Natureza e da Matemática, na
universitária e a profissionalizante.
Especialmente em sua versão pré- de Ciências Humanas e na de Linguagens e
Códigos.
universitária, o ensino médio tem-se
Essas áreas, portanto, organizam e
caracterizado por uma ênfase na estrita divisão
disciplinar do aprendizado. Seus objetivos articulam as disciplinas, mas não as diluem nem
educacionais se expressavam – e, usualmente, as eliminam. No entanto, a intenção de completar
ainda se expressam – em termos de listas de uma formação geral nessa escola implica uma
tópicos, dos quais a escola média deveria tratar, ação articulada, no interior de cada área e no
a partir da premissa de que o domínio de cada conjunto das áreas, que não é compatível com
um trabalho solitário, definido
disciplina era requisito necessário e suficiente
independentemente no interior de cada
para o prosseguimento dos estudos. Dessa
forma, parecia aceitável que só em uma etapa disciplina, como acontecia no antigo ensino de
superior tais conhecimentos disciplinares segundo grau, para o qual haveria outra etapa
formativa que articularia os saberes e,
adquirissem, de fato, sua amplitude cultural ou
seu sentido prático. Por isso, essa natureza eventualmente, lhes daria sentido.
estritamente propedêutica não era contestada ou Não havendo necessariamente essa
outra etapa, a articulação e o sentido devem ser
questionada, mas é hoje inaceitável.
Em contrapartida, em sua versão garantidos já no ensino médio.
profissionalizante, o ensino médio era, ou é Mais do que reproduzir dados,
denominar classificações ou identificar símbolos,
caracterizado por uma ênfase no treinamento
estar formado para a vida, num mundo como o
para fazeres práticos, associados por vezes a
algumas disciplinas gerais, mas, sobretudo atual, de tão rápidas transformações e de tão
difíceis contradições, significa saber se informar,
voltados a atividades produtivas ou de serviços.
se comunicar, argumentar, compreender e agir,
Treinava-se para uma especialidade laboral,
razão pela qual se promovia um certo enfrentar problemas de qualquer natureza,

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

participar socialmente, de forma prática e impostos por processos globais que têm excluído
solidária, ser capaz de elaborar críticas ou da vida econômica os trabalhadores não
propostas e, especialmente, adquirir uma atitude qualificados do sistema de produção e serviços”.
de permanente aprendizado. (JOBIM, 2006, p. 2)
Uma formação com tal ambição exige
métodos de aprendizado compatíveis, ou seja, Sociologia da educação o que é?
condições efetivas para que os alunos possam
comunicar-se e argumentar, deparar-se com
problemas, compreendê-los e enfrentá-los, De acordo com a Infopédia (s/d, s/p) a
participar de um convívio social que lhes dê escola, enquanto agente especializado na
oportunidade de se realizarem como cidadãos, transmissão de modos de pensar, agir e sentir, é
fazerem escolhas e proposições, tomarem gosto o objeto de estudo central da sociologia da
pelo conhecimento, aprenderem a aprender. educação. Embora a sociologia da educação
Diferentemente das características como campo distinto da sociologia seja
necessárias para a nova escola, esboçadas relativamente recente, as suas raízes encontram-
anteriormente, nossa tradição escolar tem sido, se logo nos primeiros pensadores,
de um lado, a de compartimentar disciplinas, em nomeadamente em Émile Durkheim. Para este
ementas estanques, em atividades autor, a educação é um processo que deve ser
padronizadas, não referidas a contextos reais e, entendido como um contributo para a
de outro lado, de passividade imposta ao manutenção da ordem social.
conjunto dos alunos, em função dos métodos Esta perspectiva influenciou fortemente
adotados e também da própria configuração os estudos sobre a educação até aos anos
física dos espaços e condições de aprendizado cinquentas. A abordagem da corrente
que, em parte, refletem a pouca participação do funcionalista entende a escola como um
aluno ou mesmo do professor na definição das contributo vital à sobrevivência e perpetuação da
atividades formativas. sociedade, pois imprime nos indivíduos os
As perspectivas profissional, social ou valores dominantes nessa sociedade.
pessoal dos alunos não têm feito parte das Nos anos cinquenta e sessenta, na Grã-
preocupações escolares, assim como as Bretanha, os estudos versaram sobre o papel do
questões e problemas da comunidade, da sistema educacional na mobilidade social e sobre
cidade, do país ou do mundo só têm recebido as diferenças entre classes sociais no sucesso
atenção marginal no ensino médio que, também escolar.
por isso, precisaria ser reformulado. Nos anos setenta o interesse da
Essa falta de sintonia entre realidade sociologia da educação estendeu-se a estudos
escolar e necessidades formativas se reflete nos de caso acerca dos sistemas sociais nas escolas,
projetos pedagógicos das escolas, preocupando-se com a importância da relação
frequentemente inadequados e raramente professor/aluno para o sucesso escolar e com o
explicitados, como objeto de reflexão consciente papel das escolas enquanto agentes de
da comunidade escolar. Quando essa reflexão reprodução cultural. Foi também a época em que
ocorre, cada professor conhece por que razões a se desenvolveram mais investigações acerca de
escola optou por promover quais atividades para diferentes estilos de ensino.
os alunos, em função do desenvolvimento de que Os fatores que intervêm nos resultados
competências, em nome de que prioridades os escolares também têm sido estudados por este
recursos materiais foram utilizados e a carga ramo da sociologia. Ter boas ou más notas não
horária foi distribuída e, sobretudo, qual sentido e depende unicamente da inteligência do indivíduo
relevância tem seu trabalho, em sua disciplina, nem mesmo do seu esforço; as classificações
para se alcançarem as metas formativas gerais são produto de um processo complexo no qual
definidas para os alunos da escola. Sem isso, intervêm outros saberes exigidos pela escola que
pode faltar clareza sobre como conduzir o não os contidos nos currículos: valores, atitudes
aprendizado, no sentido de promover no conjunto e princípios que são os da parcela dominante da
dos alunos as qualificações humanas sociedade. Serão premiados os indivíduos que
pretendidas pelo novo ensino médio. aceitam e/ou que já trazem da sua socialização
Com efeito, define-se como orientação primária esses outros saberes ocultamente
básica do ensino médio “responder a desafios exigidos.

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Tem sido estudado outro fator de • Certos estados físicos e mentais, que o
influência dos resultados escolares: o das grupo social particular (casta, classe
expectativas dos professores face aos alunos. Os família, profissão) considere igualmente
estereótipos do professor acerca das classes indispensáveis a todos quantos o formem.
sociais, dos grupos raciais ou do gênero Ao tratar das relações entre o educador
influenciam o modo como ele age com os alunos e a criança submetida à sua influência, Durkheim
levando estes a corresponderem às "profecias" (1967, p. 53-54) defende que a criança fique “por
do professor. (INFOPÉDIA, s/d, s/p) condição natural, em estado de passividade” e o
Conforme Correia, Batista (s/d, s/p) educador assume uma posição de superioridade
dentre os inúmeros enfoques da sociedade e da advinda da sua experiência, sua cultura e da
educação, destacam-se os paradigmas moral que ele encarna. Assim a ação educativa é
considerados clássicos que enfocam em suas entendida como um trabalho de autoridade. A
análises o consenso ou o conflito, autoridade é o meio essencial da ação educativa.
correspondendo às correntes “A autoridade moral é a qualidade essencial do
positivista/funcionalista e crítica/dialética educador”.
originadas respectivamente em Émile Durkheim Essa concepção de educação e do papel
e Karl Marx, que influenciam análises e do professor influenciou as práticas pedagógicas
pesquisas no campo da Sociologia da Educação adotadas no Brasil ao longo da história da
(SE). educação e a atividade docente que nela se
O estudo dos autores considerados realiza.
clássicos propicia o entendimento da sociedade Como pode se observar nas tendências
relacionada com a práxis educativa. Émile pedagógicas analisadas por Libâneo (1989),
Durkheim é um marco no surgimento da especialmente na sua vertente tradicional que
Sociologia como ciência e como disciplina. Além tem no professor a figura central do processo
de ter contribuído para a definição do objeto e do ensino aprendizagem, como detentor do domínio
método sociológico, foi um dos pioneiros na de conteúdos que devem ser repassados aos
inclusão da Sociologia no currículo acadêmico, educandos que devem se portar passivamente
especificamente no curso de formação de como receptores de conteúdos. Prática docente
professores, no qual lecionava. Destaca-se na denominada de “bancária” e enfaticamente
teoria durkheimiana sua concepção de sociedade criticada por Paulo
como um organismo composto por distintas Freire. As ideias de Durkheim
instituições que se complementam e se influenciaram vários autores destacando-se
interpenetram, cada uma desempenhando uma Fernando Azevedo e Anísio Teixeira influentes
função e formando um todo homogêneo e educadores da escola nova. (CORREIA,
consensual. BATISTA, s/d, s/p)
Nesse arcabouço explicativo a educação Noutra perspectiva, de acordo com
ocupa lugar central como um fato social, que Correia, Batista (s/d, s/p) temos a teoria crítica
contribui para a “socialização metódica das fundamentada no materialismo histórico dialético
novas gerações” (DURKHEIM, 1987, p.41, apud de Karl Marx, que influenciou todo o pensamento
CORREIA, BATISTA, s/d, s/p) e para integrar os crítico em educação, começando pelas ideias
indivíduos na sociedade em que estão inseridos, reprodutivistas de Althusser, Establet e Baudelot
disseminando a consciência coletiva. que ressaltaram a contribuição da educação na
Seguindo na sua explanação, Correia, reprodução das relações sociais de produção.
Batista (s/d, s/p) dizem que vendo a educação A análise materialista histórica de Marx
com duplo aspecto, uno e múltiplo como seus vê a sociedade capitalista sob a perspectiva do
constituintes básicos Durkheim (1967, p. 40) conflito resultante das contradições produzidas
aponta suas principais funções: Suscitar na pela divisão da sociedade em classes sociais,
criança: definidas pela apropriação dos meios de
produção, demarcando uma classe detentora dos
• Um certo número de estados físicos e meios de produção e da riqueza que advém do
mentais, que a sociedade a que pertença, trabalho da classe trabalhadora.
considere como indispensáveis a todos os Para Marx, a sociedade se estrutura por
seus membros; uma base constituída das forças produtivas e das
relações de produção, donde se originam as

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

ideias, a política, a religião, o direito e a filosofia conflituosa e contraditória, baseada em princípios


que constituem a superestrutura. As relações de capitalistas de exploração e submissão, vincula a
produção classistas são conflitivas e educação a uma estrutura de combate ideológico
contraditórias provocando constantemente crises hegemônico e contra hegemônico e a considera
que não encontram solução nos marcos da um espaço pedagógico que funciona tanto como
sociedade burguesa. Assim, ele defende uma instrumento de dissimulação, a serviço da classe
revolução liderada pelas classes trabalhadoras dominante, quanto revela à classe dominada as
para superar essa sociedade classista e a contradições existentes, permitindo a esta última
criação de uma sociedade onde não mais reagir.
existiria a exploração do homem pelo homem, A defesa de Gramsci define-se na
culminando numa sociedade comunista, na qual utilização da escola como centro de formação da
os meios de produção seriam coletivizados. consciência crítica e política para realizar uma
Marx não se deteve numa discussão mudança real da estrutura social vigente.
sobre a educação, sua teoria se concentrou na Essas e outras diferentes concepções de
análise econômica, sociológica, histórica e sociedade e de educação permitem uma análise
filosófica, da sociedade capitalista, mas o de diversos temas tratados pela Sociologia da
desdobramento de suas análises das relações de Educação destacando-se: concepções de
poder inerentes às relações classistas produziu sociedade, de educação, a relação entre
contribuições importantes para a compreensão educação e sociedade, as relações de poder na
da escola e da ação educativa. escola, as determinações das políticas
Originadas da teoria marxista, surgem as educacionais, a relação entre classes sociais e o
concepções crítico reprodutivistas de Althusser acesso à educação escolar, os fundamentos das
(1983), Bourdieu e Passeron (1982), Establet e tendências pedagógicas na prática escolar,
Baudelot (1971) que denunciavam o caráter questões das realidades sociais e educacionais.
classista, excludente, ideológico e reprodutor das (CORREIA, BATISTA, s/d, s/p)
relações sociais de produção e dominação da Já para Guimarães, Gomyde (2007, s/p)
educação no sistema capitalista. Esses autores em cada aluno há dois seres inseparáveis, porém
ressaltam a atuação da educação escolar na distintos. Um deles seria o que o sociólogo
reprodução das relações sociais de produção e francês Émile Durkheim chamou de individual, e
de dominação. tal porção do sujeito (o jovem bruto) é formada
O primeiro desvenda a atuação do pelos estados mentais de cada pessoa.
Estado capitalista na reprodução das classes O desenvolvimento dessa metade do
sociais, através dos aparelhos repressivos e homem foi a principal função da educação até o
ideológicos que o compõem, e apresenta a século XIX. Principalmente por meio da
escola como o principal Aparelho Ideológico do psicologia, os professores tentavam construir nos
Estado que atua essencialmente pela estudantes os valores e a moral.
transmissão e inculcação da ideologia, A caracterização do segundo ser foi o
especialmente a ideologia que interessa à classe que deu projeção a Durkheim. "Ele ampliou o
dominante. Uma vez que atua ao longo de vários foco conhecido até então, considerando e
anos na preparação de crianças e jovens, estimulando também o que concebeu como o
transmitindo a ideologia da classe dominante, outro lado dos alunos, algo formado por um
recalcando e reprimindo uma ideologia orgânica sistema de ideias que exprimem, dentro das
à classe, ao mesmo tempo em que proporciona a pessoas, a sociedade de que fazem parte",
reprodução da submissão às normas da ordem explica Dermeval Saviani professor emérito da
vigente. Universidade Estadual de Campinas. Durkheim
Contribuindo dessa forma para a acreditava que a sociedade seria mais
reprodução das relações sociais de exploração beneficiada pelo processo educativo: "a
(entre explorados e exploradores), ao educação é uma socialização da jovem geração
escamotear, esconder, dissimular as reais pela geração adulta". E quanto mais eficiente for
condições de exploração. o processo, melhor será o desenvolvimento da
Antonio Gramsci, outro autor que bebeu comunidade em que a escola esteja inserida.
da fonte sociológica marxista e desenvolveu sua Nessa concepção durkheimiana,
análise social e educacional partindo do também chamada de funcionalista — as
pressuposto da existência de uma sociedade consciências individuais são formadas pela

11
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

sociedade. Ela é oposta ao idealismo, de acordo reflexão privada, o que não é obra do
com o qual a sociedade é moldada pelo "espírito" pensamento individual?"
ou pela consciência humana: "A construção do E ele mesmo respondeu: "O indivíduo só
ser social, feita em boa parte pela educação, é a poderá agir na medida em que aprender a
assimilação pelo indivíduo de uma série de conhecer o contexto em que está inserido, a
normas e princípios — sejam morais, religiosos, saber quais são suas origens e as condições de
éticos ou de comportamento — que balizam a que depende. E não poderá sabê-la sem ir à
conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais escola, começando por observar a matéria bruta
do que formador da sociedade, é um produto que está lá representada." (GUIMARAES,
dela". GOMYDE, 2007, s/p).
Essa teoria, além de caracterizar a
educação como um bem social, a relacionou pela FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA
primeira vez às normas sociais e à cultura local, EDUCAÇÃO E COMO ENSINAR
diminuindo o valor que as capacidades
Sociologia da educação
individuais têm na constituição de um
desenvolvimento coletivo. "Todo o passado da
humanidade contribuiu para fazer o conjunto de Segundo Silva (s/d, p. 2) que faz um
máximas que dirigem os diferentes modelos de artigo sobre como os futuros professores, ou os
educação, cada uma com as características que alunos de graduação em sociologia devem
lhe são próprias. As sociedades cristãs da Idade observar a sociologia da educação, coloca: para
Média, por exemplo, não teriam sobrevivido se que servem os fundamentos sociológicos da
tivessem dado ao pensamento racional o lugar educação? (...) O sociólogo francês Christian
que lhe é dado atualmente”. (GUIMARAES, Baudelot, tentando responder à questão
GOMYDE, 2007, s/p) semelhante a essa propôs que a sociologia da
Ainda de acordo com Guimarães, educação servisse para instrumentalizar os
Gomyde (2007, s/p) Durkheim não desenvolveu professores com mapas que os ajudassem a
métodos pedagógicos, mas suas ideias ajudaram traçar seus itinerários, veja o que ele diz: no
a compreender o significado social do trabalho do fundo o trabalho do sociólogo da educação se
professor, tirando a educação escolar da assemelha ao trabalho de um cartógrafo.
perspectiva individualista, sempre limitada pelo Levantar o mapa escolar, proceder ao
psicologismo idealista (influenciado pelas levantamento topográfico do terreno e do relevo,
escolas filosóficas alemãs de Kant e Hegel). representar uma escala precisa os principais
"Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é maciços da paisagem escolar, medir os caudais
formar um cidadão que tomará parte do espaço dos rios, ter os mapas em dia, eis aqui em que o
público. sociólogo da educação pode ajudar o professor.
Não somente o desenvolvimento Pode ajudálo a orientar-se na “floresta” escolar.
individual do aluno", explica José Sérgio Fonseca Ajudá-lo a orientar-se e não o guiar.
de Carvalho, da Faculdade de Educação da USP. Caberá aos professores depois traçar, com o
Nas palavras de Durkheim, "a educação tem por mapa na mão, seus próprios itinerários em
objetivo suscitar e desenvolver na criança função de suas opções e da natureza do terreno
estados físicos e morais que são requeridos pela em que se encontram. (Baudelot, 1991, apud,
sociedade política no seu conjunto". Tais SILVA, s/d, p. 2)
exigências, com forte influência no processo de A sociologia da educação comporia o
ensino, estão relacionadas à religião, às normas arsenal teórico que ajudaria os professores a se
e sanções, à ação política, ao grau de orientarem, juntamente com as outras disciplinas,
desenvolvimento das ciências e até mesmo ao mas que deveria oferecer aos futuros professores
estado de progresso da indústria local. Se a instrumentos para olhar a sociedade e a escola,
educação for desligada das causas históricas, ela as crianças, as famílias, a sua prática docente e
se tornará apenas exercício da vontade e do o contexto macrossocial e político.
desenvolvimento individual, o que para ele era Penso que os olhares dos alunos (futuros
incompreensível: professores) deverão ser alterados pelos “óculos”
"Como é que o indivíduo pode pretender das teorias sociais. Seus olhares deverão se
reconstruir, por meio do único esforço da sua desprender das imagens já construídas sobre a
escola, os professores, os pobres, os ricos, as

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

igrejas, as religiões, a cidade, os bairros, as parciais. Até porque o tempo das aulas, o número
favelas, a violência, os políticos, a política, os de aulas por semana, por mês e por ano exige
movimentos sociais, os conflitos, as que selecionemos o que consideramos o melhor
desigualdades, entre outros. desse “acúmulo”. Bem, uma vez feita a escolha,
O que significa alterar os olhares dos a seleção e as divisões dos conteúdos, devemos
nossos alunos? Significa doutriná-los em nossas cuidar para sermos “neutros”, fiéis à ciência, ou
convicções ideológicas, religiosas, políticas? como diria Marx, sermos comprometidos com a
Significa dizer para eles que tudo o que eles busca da essência superando as visões que
pensam é senso comum, não serve para o temos sobre a aparência da vida social. (SILVA,
exercício da profissão? Significa afirmar-se com s/d, p. 3)
um discurso moralista ou revolucionário? Continuando sua explanação Silva (s/d,
Certamente, que não. Mesmo que a p. 4) aponta que o fato de estarmos
neutralidade não exista na elaboração dos comprometidos com uma classe social, no caso,
programas da disciplina e das aulas, um certo a classe trabalhadora, exige ainda mais rigor
rigor é necessário. Como dizia Max Weber, cientifico. É o contrário do que propalam algumas
sociólogo alemão, o professor não pode usar a versões vulgares de pedagogias liberais, do
docência para panfletar, para defender suas ensino por competências, do “aprender a
posições ideológicas, partidárias, religiosas, etc. aprender”, em que os pobres deverão ter um
Como homem público sim, poderá e ensino mais leve, mais palatável, simplificado e
deverá fazê-lo, mas como professor deve ter um resumido no imediato das experiências
rigor cientifico que lhe permita oferecer aos cotidianas, normalmente tratadas de forma
alunos o acúmulo de conhecimento da disciplina. sincrônica (sem história).
Marx também advertia que a caracterização de Com esses princípios poderemos
uma teoria como representando o ponto de vista enriquecer os olhares dos alunos, futuros
de uma classe determinada não significava, professores. (...) A sociologia da educação
necessariamente, que fosse uma visão sem valor deverá ajudar os alunos a perceberem as
cientifico. Por isso, Marx, em sua obra, estudou e determinações sociais da sua prática
discutiu com o que havia de mais sofisticado na profissional, da configuração do sistema
Filosofia e na Economia dos séculos XVIII e XIX. educacional no país, da sua inserção na estrutura
O ensino dos fundamentos sociológicos de classes do capitalismo, do significado da
da educação, muitas vezes, foi direcionado como educação no capitalismo, entre outros. Ou, como
um mecanismo de inculcação de valores sejam diria Baudelot, a sociologia da educação deverá
conservadores, no antigo curso Normal, em que fornecer os mapas para orientação dos futuros
imperava o positivismo; sejam progressistas, professores, mapas que permitam estabelecer
muito comum nos anos de 1980, no Brasil, devido itinerários nas escolas e nos centros de
à ansiedade dos professores em romper com o educação infantil.
autoritarismo do regime militar, passavam a fazer Nesse sentido, a disciplina uma
discursos em favor das mudanças, ora mais existência histórica que coincide com a
democráticas, ora mais socialistas- historicidade da educação nas sociedades
revolucionárias. modernas e que deve ser compreendida dessa
Ainda hoje, encontramos justificativas forma, como um instrumento cientifico que altera
para o ensino de sociologia geral nas escolas, os olhares e, consequentemente, a prática pelas
tais como: “essa disciplina deverá ajudar o aluno práxis educativas. Práxis, porque não nega, não
a entender seus direitos e deveres, muito mais escamoteia seu sentido político, de
seus deveres já que não se comportam transformação.
adequadamente”; “a sociologia deverá ajudar na A disciplina, como todo o currículo,
disciplina dos alunos, no controle da violência, intenta transformar os alunos no sentido de um
etc”; “Essa disciplina deverá dar mais civismo educador comprometido com o direito sagrado
para os jovens”, e assim por diante. das crianças ao atendimento escolar de
Levar aos alunos o acúmulo de reflexões qualidade. Ser comprometido com esse direito
ou o estado da arte da disciplina não é uma tarefa pressupõe a compreensão da sociedade
fácil, porque exigirá recortes, escolhas, capitalista, dividida em classes sociais.
delimitações de conteúdos, de teorias, e Pressupõe a compreensão da gênese
parafraseando Weber, aqui nós podemos ser das relações sociais no país, as formações e os

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

modos de vida no Brasil em suas manifestações a ser viável sua introdução no nível médio de
culturais, a escola em relação às religiões, aos ensino. É importante ressaltar que as ciências
sem-terra, aos latifundiários, aos negros, aos possuem fronteiras dadas, antes de tudo, por
portadores de necessidades especiais, às divisões políticas internas e, em se tratando de
mulheres, aos índios, aos filhos de trabalhadores, ensino médio, é preciso criar essas diferenças e
aos filhos da pequena burguesia, da burguesia, afirmar uma identidade para a sociologia se
da classe de renda média, entre outros. Em desejamos sua reintrodução neste segmento de
segundo lugar, estabelecer algumas diretrizes ensino. (SARANDY, 2001, s/p)
para o ensino da disciplina de acordo com o seu Mas isto não responde à questão
papel no contexto geral do currículo. (SILVA, s/d, proposta: o que marca a especificidade da
p. 5). sociologia e torna importante sua introdução nos
meios escolares? Algumas tentativas de resposta
têm sido formuladas.
Trabalhando com a matéria sociologia
O filósofo e sociólogo Gilson Teixeira
Leite (Jornal A Gazeta em 11/12/00) afirmou que
Apresentaremos algumas possibilidades “se é imprescindível dominar a informática e
para o planejamento das aulas, sempre no todas as novas tecnologias para uma colocação
sentido de contribuição ao professor. qualificada no mercado de trabalho, também se
Conforme Sarandy (2001, s/p) para faz necessário, no universo educacional,
compreendermos o sentido da sociologia como problematizar a vida do próprio aluno, sua
disciplina na grade curricular do Ensino Médio existência real num mundo real, com suas
deveremos, antes de tudo, compreender os implicações nos diversos campos da vida: ético-
objetivos que por meio dela se pretende atingir. moral, sociopolítico, religioso, cultural e
Esses objetivos podem ser divididos em duas econômico”. E conclui que “a volta das disciplinas
classes: os que são específicos para a disciplina humanísticas – filosofia, sociologia, antropologia,
e os que não se restringem a ela, indo ao psicologia, entre outras – tem muito a contribuir
encontro dos que foram traçados para o Ensino com a formação do jovem naquilo que lhe é mais
Médio a partir da Lei n.º. 9.394, de 1996. peculiar: o questionamento.
Entretanto, antes de se estabelecer os Desmistificando ideologias e apurando o
objetivos para a disciplina, deveremos pensamento crítico das novas gerações,
dimensionar a importância da sociologia poderemos continuar sonhando, e construindo,
enquanto disciplina do nível médio de ensino, o um país, não de iguais, mas justo para mulheres
que significa perguntar sobre seu sentido, buscar e homens que apenas querem viver”.
compreender o que ela tem de específico que Isto nos remete à contribuição que a
não encontramos nas disciplinas de história, sociologia pode dar para o desenvolvimento do
geografia ou filosofia; enfim, perguntar qual sua pensamento crítico, não porque teria um
especificidade em relação às demais disciplinas conteúdo imprescindível – não devemos pensar
de humanidades. Essa pergunta não é de fácil de modo messiânico na sociologia. Nem o
resposta e todo pesquisador da área de ciências pensamento crítico se desenvolve devido à
humanas sabe que as fronteiras entre as suas aprendizagem de algum tipo especial de
diversas áreas são bastante tênues. conteúdo.
E acrescenta-se a isso o fato de que Como Gilson bem expressou, a
transformar os saberes científicos em saberes sociologia tem a contribuir para o
escolares implica em um grau de diferenciação e desenvolvimento do pensamento crítico, ao lado
criação de identidades entre as diversas de outras disciplinas, pois promove o contato do
disciplinas. aluno com sua realidade, e podemos
A história e a geografia, provavelmente acrescentar, bem como o confronto com
devido à longa tradição no meio escolar, estão realidades distantes e culturalmente diferentes. É
bem estabelecidas, possuem um discurso justamente nesse movimento de distanciamento
construído sobre a realidade já aceito e do olhar sobre nossa própria realidade e de
amplamente disponível para todos os aproximação sobre realidades outras que
professores. desenvolvemos uma compreensão de outro nível
A sociologia conta com este agravante, e crítica. A cientista política Marta Zorzal e Silva
qual seja construir um saber organizado de modo (Gazeta Mercantil, 11/12/00), numa interessante

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

reflexão sobre as mudanças no mundo Segundo a socióloga Cristina Costa “o


contemporâneo – no campo das tecnologias, nas conhecimento sociológico é mais profundo e
relações de trabalho e nas relações culturais – amplo do que a simples formação técnica –
afirma que a informação se tornou elemento representa uma tomada de consciência de
estratégico para o mundo globalizado devido aspectos importantes da ação humana e da
“aos impactos dos processos que têm sido realidade na qual se manifesta.
denominados de globalização”. A autora ainda Adquirir uma visão sociológica do mundo
observa que “a informação em si é um dado bruto ultrapassa a simples profissionalização, pois, nos
(...) o ato de transformar a informação em mais diversos campos do comportamento
conhecimento não é uma tarefa simples. Exige humano, o conhecimento sociológico pode levar
capacidade de processamento da mesma. a um maior comprometimento e responsabilidade
Significa (...) saber o que pode ser feito com os para com a sociedade em que se vive”
“tijolos de saberes” que o sistema de ensino (Sociologia – introdução à ciência da sociedade,
fornece (...) isto implica em capacidade de Cristina Costa, Editora Moderna, 1997).
raciocínio, de questionamento, do confronto de Ainda para Sarandy (2001, s/p) a
outras fontes e experiências, enfim, habilidades questão metodológica fundamental é: seja qual
que se adquire ao ser treinado a ver os mesmos for o conteúdo, ele será sempre um meio para se
panoramas a partir de diferentes perspectivas. atingir o fim: o desenvolvimento da perspectiva
Essa é a habilidade que se adquire por sociológica. Mais que discorrer sobre uma série
excelência com o estudo das ciências humanas de conceitos, a disciplina pode contribuir para a
e, em especial, com a filosofia e a sociologia. É formação humana na medida em que
da essência destes campos de conhecimento a proporcione a problematização da realidade
tarefa de desenvolver o pensamento, sem próxima dos educandos a partir de diferentes
nenhuma utilidade ou objetivo prático. perspectivas, bem como pelo confronto com
A preocupação maior está em educar o realidades culturalmente distantes.
olhar e processar tanto informações como Tratasse de uma apropriação, por parte
saberes já produzidos”. Diante do desafio de dos educandos, de um modo de pensar distinto
nosso tempo ela questiona a nossa capacidade sobre a realidade humana, não pela
de desenvolvermos o gerenciamento da aprendizagem de uma teoria, mas pelo contato
informação para que possamos ter com diversas teorias e com a pesquisa
competitividade no mercado global. Mas lembra sociológica, seus métodos e seus resultados.
que a maioria dos países do Leste Asiático Nesse sentido, o objetivo do ensino de sociologia
superou suas condições e tornaram-se como, aliás, deveria ser o de qualquer ciência, é
competitivos. proporcionar a aprendizagem do modo próprio de
Entre os vários fatores que permitiram pensar de uma área do saber aliada à
esse avanço, Marta Zorzal afirma que se destaca compreensão de sua historicidade e do caráter
a educação: “todos construíram sólidos alicerces provisório do conhecimento – expressões da
fundados na boa educação pública estendida a dinâmica e complexidade da vida. No caso da
maioria da população”. Mas a educação deve sociologia, isso pode ser conseguido por meio de
conter esse aspecto de permitir o confronto de uma tomada de consciência sobre como a nossa
diferentes perspectivas e que é por excelência o personalidade está relacionada à linguagem, aos
que faz a sociologia. (SARANDY, 2001, s/p) gestos, às atitudes, aos valores, à nossa posição
Ainda discorrendo sobre o assunto na estrutura social – nas palavras de Dumont:
Sarandy (2001, s/p) coloca que o conhecimento para que o indivíduo de ontem torne-se social,
sociológico certamente beneficiará nosso não mais ele e os outros, mas ele em meio aos
educando na medida em que lhe permitirá uma outros. E isso por meio da aproximação da
análise mais acurada da realidade que o cerca e metodologia de pesquisa à metodologia de
na qual está inserido. Mais que isto, a sociologia ensino, bem como por ações pedagógicas que
constitui contribuição decisiva para a formação busquem desvelar e discutir narrativas sociais,
da pessoa humana, já que nega o individualismo sejam elas científicas, literárias e outras – suas
e demonstra claramente nossa dependência em implicações, seus dilemas, o que falam da
relação ao todo, isto é, à sociedade na qual heterogeneidade cultural e da estrutura social.
estamos inseridos.

15
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Ensinar sociologia é, antes de tudo, Assim, o professor pode contribuir para a


desenvolver uma nova postura cognitiva no inserção dos alunos num campo conceitual e
indivíduo. para que estes desvelem processos históricos
Pode-se mesmo argumentar que tais que contribuíram para delinear o caráter das
competências também podem ser desenvolvidas relações sociais no mundo contemporâneo.
pelas disciplinas de história e geografia, mas este Muitas vezes, observamos a
é um argumento que não se sustenta. Senão preponderância de uma sociologia temática e a
vejamos, a história e a geografia podem tratar as ausência de uma perspectiva histórica, em que
questões referentes à crítica social e à conceitos e teorias estejam ancorados,
diversidade cultural, mas de um modo secundário comprometendo dessa forma a qualidade da
ou periférico; outras vezes numa perspectiva aproximação dos alunos e do trabalho realizado
descritiva. Não se trata de objetivos principais de no campo científico, e reproduzindo
suas propostas. Além do que, tradicionalmente representações sociais que veem o fazer do
essas disciplinas têm-se voltado para pesquisador como imediatista e pouco rigoroso.
“conteúdos” exigidos principalmente pela É importante ressaltar que o professor de
instituição do vestibular. sociologia do ensino médio pode ter como
Por fim, existe uma distância muito estratégia didática explorar os diversos recursos
grande entre as discussões temáticas – reforma pedagógicos disponíveis na escola como meios
agrária, exclusão social, mudança social, de levar o aluno a construir conhecimento e a
sexualidade, democracia, consumismo, obter mais informações sobre questões
representação política, família, direitos humanos, importantes do cotidiano. Assim, vale apreciar
sindicato, gênero, violência etc – e o filmes, fazer visitas à biblioteca e ao laboratório
desenvolvimento de modos de pensar. de informática para a realização de pesquisas em
(SARANDY, 2001, s/p) livros, jornais e na internet.
Como possibilidades para os Outras estratégias também podem
planejamentos das aulas de Sociologia O contribuir para dinamizar as aulas e aproximar os
Educador (2009, s/p) coloca que num mundo em alunos do trabalho investigativo. As realizações
que as relações sociais se apresentam mediadas de trabalhos de campo, por exemplo, visam
por uma série de fatores, faz-se necessário integrar o conhecimento do aluno e a realidade
construir objetos de estudo que busquem integrar sociocultural de seu contexto de vivência e
as perspectivas das diversas áreas do aprimorar um olhar de distanciamento dessa
conhecimento sobre questões sociais de realidade. (O EDUCADOR, 2009, s/p).
relevância, ou seja, em que a
interdisciplinaridade funcione de forma a iluminar
os objetos de estudo de diferentes pontos de
vista e aconteça em função das demandas da
investigação.
É fundamental, também, valorizar o
contexto local na elaboração dos objetos de
estudo. Além de se tratar de uma iniciativa
importante para engajar os alunos nos projetos,
essa perspectiva pode referenciar o contexto
local na cultura contemporânea, possibilitando a
compreensão do caráter das relações sociais
locais, mediado por condições sociais e
históricas de caráter mais amplo.
Ao elaborar as sequências didáticas e o
currículo da disciplina, o professor pode tentar
equilibrar diferentes dimensões de abordagem da
sociologia: A temática, a dimensão
compreensiva (com ênfase nas teorias);
A dimensão discursiva (com ênfase nos
conceitos).

16
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Filmes sugeridos: Cão de Briga

Elenco: Jet Li, Morgan Freeman, Bob Hoskins, Kerry Condon.

Sinopse: Desde que Bart tirou Danny da rua, com a idade de 4 anos, sempre o tratou como um
cão, treinando-o literalmente para o ataque. Danny é hoje sua arma total, capaz de se atirar sobre
qualquer um, após uma simples ordem, sem lhe dar a menor chance. Isolado do mundo, Danny não
tem outra escolha que não aceitar essa existência de animal, até que, por acaso, encontra Sam, um
cego que ganha a vida como afinador de pianos. Sam e sua nora, Victória, farão Danny descobrir uma
humanidade que até então lhe era desconhecida, até mesmo proibida. Toda a sua percepção da vida
vai, então, ruir. Daí em diante, contra Bart e seu bando, que preferirão vê-lo morto a deixá-lo livre,
Danny tentará ser finalmente ele mesmo e desvendar os segredos de seu passado. Para escapar dessa
condição, Danny deverá se libertar sem deixar de proteger aqueles que constituem a sua família.
Esse será seu último combate, de longe o mais perigoso...
Extraído de: <http://www.cinepop.com.br/arquivog.htm> Acesso em: 05.08.2010.

A corrente do bem

Elenco: Kevin Spacey, Helen Hunt, James Caviezel, Shawn Pyfrom, Jon Bon Jovi, Angie Dickinson,
Jay Mohr, Jeanetta Arnette, Marc Donato, Rusty Meyers, Haley Joel Osment, David Ramsey.

Sinopse: Eugene Simonet (Kevin Spacey), um professor de Estudos Sociais, faz um desafio
aos seus alunos em uma de suas aulas: que eles criem algo que possa mudar o mundo. Trevor
McKinney (Haley Joel Osment), um de seus alunos e incentivado pelo desafio do professor, cria um
novo jogo, chamado "pay it forward", em que a cada favor que recebe você retribui a três outras
pessoas. Surpreendentemente, a ideia funciona, ajudando o próprio Eugene a se desvencilhar de
segredos do passado e também a mãe de Trevor, Arlene (Helen Hunt), a encontrar um novo sentido
em sua vida.
Extraído de: <http://www.adorocinema.com/filmes/pay-it-forward/> Acesso em: 05.08.2010.

Gattaca - A Experiência Genética

Elenco: Ethan Hawke, Uma Thurman, Gore Vidal, Xander Berkeley , Jayne Brook, Elias
Koteas, Maya Rudolph, Una Damon, Elizabeth Dennehy, Blair Underwood, Mason Gamble, Vincent
Nielson, Chad Christ, William Lee Scott, Clarence Graham.

Sinopse: Num futuro no qual os seres humanos são criados geneticamente em laboratórios, as
pessoas concebidas biologicamente são consideradas "inválidas". Vincent Freeman (Ethan Hawke),
um "inválido", consegue um lugar de destaque em corporação, escondendo sua verdadeira origem.
Mas um misterioso caso de assassinato pode expor seu passado.
Extraído de: <http://www.interfilmes.com/filme_13454_gattaca.a.experiencia.genetica.html>
Acesso em: 05.08.2010.

Matrix
Elenco: Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Moss, Hugo Weaving, Gloria
Foster, Joe Pantoliano, Marcus Chong, Julian Arahanga, Matt Doran, Belinda McClory, Ray Anthony
Parker.

Sinopse: O filme apresenta diversos efeitos, pois Matrix tem como tema a luta do ser humano,
por volta do ano de 2200, para se livrar do domínio das máquinas que evoluíram após o advento da
Inteligência Artificial. Em um recurso extremo para derrotar as máquinas, a humanidade cobriu a luz do
Sol para cortar o suprimento de energia das mesmas, mas elas adotam uma solução radical: como
cada ser humano produz, em média, 120 volts de energia elétrica, começam a cultivá-los em massa
como fonte de energia. Para que o cultivo fosse eficiente, os seres humanos passaram a receber

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

programas de realidade virtual, enquanto seus corpos reais permaneciam mergulhados em habitáculos
nos campos de cultivo. Essa realidade virtual, que é um programa de computador ao qual todos são
conectados, chama-se Matrix e simula a humanidade do final do século XX.
Há, porém, perto do calor do centro da terra, uma última cidade de seres humanos livres, que
mandam missões em naves para combater as máquinas. O líder de uma dessas missões é Morpheus
(O Líder da nave Nabucodonosor), um visionário que vislumbra em um dos habitantes da Matrix o
escolhido, que vem a ser Neo, interpretado por Keanu Reeves. Neo é resgatado de seu casulo, sacado
da ilusão da realidade virtual e passa a ser treinado por Morpheus. A questão filosófica principal que o
filme traz é justamente essa: O que é o real?
Em sua saga Neo atinge o status de Escolhido, no sentido messiânico da palavra, ao
ressuscitar e conseguir, dentro da própria Matrix, controlar o programa e derrotar os mecanismos
antivírus, personalizados por agentes vestidos de terno e óculos escuros. Do ponto de vista do
programa, os humanos livres e/ou pensantes são os vírus do planeta Terra.
O filme é notório por suas inovações em efeitos especiais e na ação terem acabado por criar
diversos clichês no cinema, como as imagens de projéteis se deslocando dentre ondas em câmera
lenta. Mas seu verdadeiro valor é filosófico, ao explorar o tema da realidade confrontada à ilusão do
cotidiano.
O filme é repleto de mensagens sutis, dentre as quais a de que a máquina jamais controlará o
homem, pois seu "comportamento" é baseado em programas e programas podem ser entendidos pela
complexa mente humana que transcende a simples racionalidade da lógica ao constituir o ser
integralmente. Por isso as mensagens do Oráculo, uma senhora que cozinha biscoitos, são
aparentemente equivocadas e ilógicas, mas ao final condizem com a realidade.
Extraído de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Matrix> Acesso em: 05.08.2010.

O Exterminador do Futuro – a salvação

Elenco: Arnold Schwarzenegger, Christian Bale, Anton Yelchin e Sam Worthington.

Sinopse: Um único homem previu o Julgamento final. Um homem, cujo destino sempre esteve
atrelado ao destino da raça humana: John Connor (Christian Bale). Agora, o mundo está diante do
futuro para o qual Connor foi preparado a sua vida inteira. Mas algo totalmente novo abalou sua crença
de que a humanidade tem uma chance de vencer esse combate: a chegada de Marcus Wright (Sam
Worthington), um desconhecido que surge do passado e cuja última lembrança é estar no corredor da
morte antes de acordar nesse estranho mundo novo. Connor precisa decidir se Marcus é ou não
confiável. Mas enquanto a Skynet cria novas estratégias para dar cabo da resistência de vez, Connor
e Marcus precisam se entender para impedir o massacre — infiltrando-se na Skynet e enfrentando o
inimigo cara a cara.
Extraído de: <http://www.semmundo.com/o-exterminador-do-futuro-a-salvacaotrailersinopse-
e-estreia.html> Acesso em: 05.08.2010.

Blade Runner - O Caçador de Andróides

Elenco: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Edward James Olmos, Daryl Hannah.

Sinopse: No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve um robô que é mais forte
e ágil que o ser humano e se equiparando em inteligência. São conhecidos como replicantes e
utilizados como escravos na colonização e exploração de outros planetas. Mas, quando um grupo dos
robôs mais evoluídos provoca um motim, em uma colônia fora da Terra, este incidente faz os replicantes
serem considerados ilegais na Terra, sob pena de morte. A partir de então, policiais de um esquadrão
de elite, conhecidos como Blade Runner, têm ordem de atirar para matar em replicantes encontrados
na Terra, mas tal ato não é chamado de execução e sim de remoção. Até que, em novembro de 2019,
em Los Angeles, quando cinco replicantes chegam a Terra, um ex-Blade Runner (Harrison Ford) é
encarregado de caçá-los
Extraído de: <http://www.adorocinema.com/filmes/blade-runner/> Acesso em: 05.08.2010.

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Duna

Elenco: Max Von Sydow, Kyle MacLachlan, Sting.

Sinopse: Em 10191, no desértico planeta de Arrakis conhecido como "Duna" situado numa
distante galáxia, é extraída e produzida uma droga poderosa usada pelos viajantes do espaço
conhecida como a Especiaria Laranja. Duas famílias rivais, os Atreides e os Harkonnens lutam pelo
controle das operações de mineração em Duna. Porém, quando o Duque Leto Atreides (Jürgen
Prochonow) é assassinado pelo cruel Barão Vladimir Harkonnen (Kenneth McMillan), seu filho Paul
(Kyle MacLachlan) e sua mãe Lady Jessica (Francesca Annis) fogem para o meio do deserto e se
tornam amigos dos Fremen, povos antigos de Duna. Sob a influência da poderosa droga, Paul descobre
que é um ser especial e une todos os nativos formando um exército de guerreiros os quais lidera numa
batalha monumental contra o Barão Harkonnen e o corrupto Imperador Padisha Saddam IV (José
Ferrer). Agora, Paul que jurou vingança à morte de seu pai, luta para libertar Duna e seu povo das
garras de seu terrível Imperador.
Extraído de: <http://www.interfilmes.com/filme_17711_duna.html> Acesso em:
05.08.2010.

Olhos Azuis

Elenco: David Rasche, Cristina Lago, Irandhir Santos, Erica Gimpel, Frank Grillo.

Sinopse: Marshall (David Rasche) é o chefe do Departamento de Imigração do aeroporto JFK,


nos Estados Unidos. Ele está prestes a se aposentar e decide começar a comemorar no último dia de
trabalho, juntamente com seus colegas Sandra (Erica Gimpel) e Bob (Frank Grillo). Marshall começa a
beber e resolve se divertir com um grupo de imigrantes, complicando sua entrada no país apenas por
diversão. Entre eles está Nonato (Irandhir Santos), seu alvo predileto, que faz com que ele viaje ao
Brasil. No caminho ele conhece Bia (Cristina Lago), uma prostituta que o ajuda em sua busca.
Extraído de: <http://www.adorocinema.com/filmes/olhos-azuis/> Acesso em: 05.08.2010.

ANEXOS
Quem tem chefe é índio

Plano de aula retirado da Revista Nova Escola – elaborado por Débora C. de Carvalho –
Doutoranda em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Araraquara-SP.

Plano de aula ligado à reportagem da Revista Veja.

Bloco de Conteúdo: Sociologia – Ensino Médio

Conteúdo: O mundo do trabalho

Conteúdos: Transformações no mundo do trabalho

Habilidade: Identificar transformações no processo de trabalho e suas consequências


sociais.

Tempo estimado: duas aulas

Os jovens estão mudando de comportamento. Eles não orientam mais suas vidas conforme o
modelo oferecido por seus pais. Se o sonho da geração que agora tem entre 50 e 60 anos era sair da
casa da família assim que terminasse os estudos e arrumasse um emprego, a geração atual não deseja
fazer isso. Ela não tem pressa alguma em abandonar a casa paterna. Nem acalenta o sonho de fazer
carreira como assalariada.

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Essas informações constam de uma reportagem de VEJA sobre as tendências do


comportamento dos pós-universitários brasileiros. Eles estão retardando o início da “carreira solo” e,
por isso mesmo, ficando com os pais até passar dos 30 anos de idade. Pensam em ser empresários.
Para analisar esse fenômeno social com seus alunos, use o texto da revista e este plano de aula.
Atividades:
1ª aula – Comece por sensibilizar os estudantes para a questão. Pergunte o que eles desejam
no futuro, se pensam em ingressar numa grande empresa ou em abrir seu próprio negócio. Eles têm
irmãos ou outros parentes próximos que estejam vivendo essa experiência? Como explicam essa
mudança de comportamento?
Aproveite as hipóteses oferecidas para introduzir uma questão relevante: será que esse
fenômeno apresenta alguma relação com aspectos novos da vida social e política, com o mercado de
trabalho ou com as transformações recentes nele verificadas?
Mostre que a sociedade capitalista é dinâmica e requer transformações constantes, a fim de
aumentar a produtividade social e expandir as taxas de lucro. O dinamismo da economia e da
sociedade acarreta uma série de fenômenos sociais e psicológicos. Como se fosse uma força social,
ela estimula objetivamente mudanças tanto no perfil psicológico dos cidadãos quanto no
comportamento de várias camadas da população.
Você pode mostrar que a mudança de expectativas dos jovens está relacionada com alguns
aspectos da modernização recente experimentada pela sociedade brasileira. Eles almejam não serem
assalariados como seus pais foram porque querem obter rápido sucesso profissional, além de uma
posição privilegiada na estrutura social. Para tanto, pensam que o melhor meio é abrir seu próprio
negócio. Explique que essa percepção social está fundada em fatores sociais objetivos: graças ao
aparecimento de novos instrumentos tecnológicos de comunicação e de produção, originários da onda
da terceira revolução industrial, que disseminou a eletrônica e a informática por todo o mundo, a
estrutura e a natureza das empresas mudaram radicalmente.
Se, anteriormente, era necessário grande capital para abrir uma indústria, mesmo que
pequena, hoje os aparelhos tecnológicos possibilitam a criação de uma empresa de prestação de
serviços com pouco investimento. Além disso, também não é mais necessária uma grande edificação
para sediar a firma, que pode inclusive ser instalada em alguma dependência da moradia. Isso
possibilita uma mudança fundamental no trabalho: com o computador, pode-se desempenhar a
atividade profissional no ambiente doméstico, o que equivale a abolir a jornada fixa de trabalho. Conclua
essa parte observando ser bastante viável o sonho dos jovens da atualidade. De certo modo, pode-se
até dizer que eles agem assim porque a sociedade exige deles essa postura.
Leve a turma a perceber que o desejo de fazer sucesso rápido e conquistar uma boa posição
na estrutura social também é estimulado. Ele se apoia em uma percepção realista acerca das
possibilidades sociais, as quais emanam da transformação da sociedade, que se torna mais aberta,
mais plural, menos estratificada.
Proponha que a moçada faça um levantamento de pequenas empresas instaladas na região
pertencentes a jovens. A ideia é verificar se o perfil desses empresários corresponde ao dos
entrevistados pela revista. Os resultados devem ser trazidos para a aula seguinte.
2ª aula – Encomende a montagem de um quadro com os dados da pesquisa. Em seguida,
retome o exame do novo comportamento dos jovens. Ressalte que ele está relacionado tanto com as
modificações no processo de trabalho quanto com a consolidação da vida democrática no país, que
torna as pessoas mais tolerantes e propensas a aceitarem o outro. “Não querer mais ter chefe” é sinal
de que a democracia faz bem. Ela torna a sociedade mais horizontal, menos hierarquizada. Quanto
ao processo de trabalho, assinale que ele sofreu profundas transformações nas últimas décadas. Elas
ocorreram por causa da introdução tanto das tecnologias de produção e comunicação, já nomeadas,
quanto de novos métodos científicos de gerenciamento e organização empresarial. Discuta as
características do sistema fordista de produção, que vigorou das primeiras décadas do século XX,
quando Henry Ford criou a linha de montagem, até o fim da década de 1970. Destaque o fato de ele
empregar enormes contingentes de trabalhadores e de produzir em massa. Conte que, da indústria
automobilística, o método fordista de produção se espalhou para as demais atividades econômicas,
gerando a chamada “sociedade do pleno emprego” ou “sociedade do
trabalho”.

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

No entanto, o fordismo acabou por emperrar a dinâmica do capitalismo, sendo substituído por
outro método de organização empresarial, chamado toyotismo. Sintetize suas características centrais:
ele elimina a linha de montagem tradicional, típica do fordismo, e introduz máquinas polivalentes, que
exigem um trabalhador qualificado, que trabalha em equipe. O trabalhador toyotista passa a receber,
além do salário fixo, um ganho de produtividade.
Examine suas consequências devastadoras no mercado de trabalho, já que o toyotismo
requer um número reduzido de trabalhadores, o que condena ao desemprego a grande maioria. Esse
fenômeno desmantelou a “sociedade do trabalho”, dando origem ao que alguns sociólogos chamam de
“sociedade do póstrabalho” e outros de era do “fim do trabalho”.
Para concluir, mostre que o neoliberalismo – o projeto político que busca, sobretudo, restringir
a ação do estado – não inventou a roda. Os defensores do estado mínimo aproveitaram a onda de
desemprego causado tanto pela disseminação mundial do toyotismo quanto pela tecnologia digital para
flexibilizar as leis trabalhistas e desmantelar ainda mais os resquícios da sociedade do trabalho.
Introduza algumas questões para debate: em que medida o sonho dos jovens é uma reação ao fim do
trabalho? É a sociedade que os obriga a sonhar e, desse modo, a buscar inovações que possam
dinamizar a vida econômica?

A turma que não quer ter chefe

Cresce no país o grupo de jovens que, uma vez com diploma, preferem abrir a própria empresa.
Qualificados, eles têm altas chances de prosperar. Bom para o país.

Renata Betti – Revista Veja- Edição 2130 – 16.09.2009. Anderson Schneider

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

"Nunca quis emprego"


O cientista da computação Thiago
Ventura, 23 anos, e mais dois colegas de
faculdade vivem de criar jogos on-line. O
escritório, ainda hoje, resume-se a um laptop no
quarto da casa dele. "Agora, estamos prontos
para expandir"
As universidades brasileiras estão
despejando no mercado de trabalho um grupo de
jovens cujas angústias e ambições já não são as
mesmas do típico recémformado: no lugar de um
emprego fixo numa grande empresa, eles preferem
aventurar-se num negócio próprio, ainda que essa
opção traga mais riscos e incertezas. Em apenas
cinco anos, esse grupo ficou 30% maior, de acordo
com um novo estudo do instituto internacional Global
Entrepreneurship Monitor. Já são 3 milhões os
brasileiros entre 18 e 24 anos que, com o diploma na
mão ou prestes a obtê-lo, estão à frente da própria
companhia. Eles vislumbram a possibilidade de
alcançar sucesso mais rapidamente – mas também
desejam usufruir a liberdade de quem não está sob
as asas de um chefe. Outro aspecto captado pela pesquisa diz respeito à visão otimista que têm da
economia brasileira. "Eles enxergam espaço para a inovação – e isso é um estímulo decisivo para que
tentem a vida por conta própria", diz Simara Greco, coordenadora do estudo. Está-se falando de gente
como Pedro Valiati, 27 anos, que ainda cursava engenharia ambiental na USP quando, junto com dois
colegas, teve a ideia de abrir uma empresa numa área até então inexplorada: a de softwares para
racionalizar o uso da água. Emprego? "Era o sonho dos meus pais, nunca foi o meu."
Mais da metade desses novos negócios se Lailson Santos concentra no setor de tecnologia,
muitos deles na área de TI, um mercado em expansão e passível de ser explorado sem grandes
investimentos iniciais – vantagem determinante para profissionais que, em início de carreira, não
contam com capital e começam sua empresa até dentro de casa. "Trabalho no meu quarto, em frente
a um único computador", diz o cientista da computação Thiago Ventura, de 23 anos. Em 2007, ele e
dois amigos de faculdade selaram sociedade num negócio voltado para o desenvolvimento de
games Marketing é com elas enquanto a maioria dos colegas das publicitárias Ana
educativos, em Cuiabá. Já com uma dezena Carolina (à esq.) e Patrícia Moreno sonhava arranjar
emprego em agências e grandes empresas, elas de clientes fixos no país inteiro, cogitam preferiram
montar uma consultoria. Já têm quinze clientes fixos: "É bem remunerado e divertido" agora
recrutar mais gente e, enfim, abrir um escritório. Esse modelo de negócio só foi possível porque, nos
últimos dois anos, os rapazes estiveram sob a guarida dos pais, que os sustentavam em casa enquanto
eles acumulavam dinheiro. A mesma fórmula tem ajudado outros jovens no país a dar o pontapé inicial
em sua empresa, e é reflexo de uma mudança de comportamento. Os brasileiros estão postergando a
decisão de morar longe dos pais: 62% dos jovens só começam a pensar nisso quando já passaram
dos 30 anos, segundo mostra o IBGE. Até lá, vão se capitalizando. Conclui o economista Marcelo Neri,
da Fundação Getulio Vargas: "Esse padrão é determinante para explicar o aumento do
empreendedorismo entre os jovens com ensino superior no Brasil".
Ao tomarem a decisão de montar uma empresa, os jovens pesam também o fato de que,
desse modo, terão mais liberdade para ditar os rumos do negócio e tomar conta do próprio tempo. É
verdade que isso sempre impulsionou, em algum grau, a opção pelo empreendedorismo – mas foi mais
recentemente que se tornou um fator decisivo. Fruto de uma educação mais liberal, dada por pais que
viram de perto a ascensão dos movimentos estudantis e da contracultura, os jovens de hoje são menos
afeitos à noção de hierarquia. "Criados com liberdade, eles resistem mais à ideia de responder a chefes
e dar satisfação sobre o que fazem", diz a educadora Tania Zagury. É natural que vejam o
empreendedorismo como uma alternativa. Ao segui-la, também buscam chegar ao sucesso mais rápido

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

– o que, evidentemente, nem todos conseguem. A ideia de que se pode obter o sucesso, contudo, é
reforçada pela ascensão-relâmpago de figuras como Larry Page e Sergey Brin, os fundadores do
Google, ou de Mark Zuckerberg, o criador do site de relacionamentos Facebook. O jovem trio, que
antes dos 30 amealhou fortunas na casa dos bilhões de dólares, chega a ser venerado pela nova
geração de empreendedores brasileiros. Pedro Rubens Carteira assinada para quê?
Os engenheiros Pedro Valiati, Diogo Almeida e Fernando Mortara (da esq. para a dir.) nem
mesmo haviam se formado na Escola Politécnica da USP quando decidiram investir num
negócio próprio. Optaram por uma área a que foram apresentados durante estágio na
universidade: a de softwares capazes de controlar o gasto de água. Deu certo. "É um mercado
com bom espaço para crescer"

Outro impulso para o empreendedorismo vem do próprio mercado de trabalho, que está
mudando em ritmo veloz no Brasil. Enquanto os empregos formais entre os que ganham menos
aumentam, no topo da pirâmide eles se estão reduzindo. Segundo um levantamento da consultoria
LCA, desde 2003 surgiram no país 700 000 postos formais de trabalho para quem ganha acima de
3 500 reais – o que é bom, porém insuficiente para absorver os 2,5 milhões de novos profissionais com
diploma que, no mesmo período, saíram à procura de emprego. Nesse meio tempo, as grandes
empresas no Brasil passaram por uma transformação espelhada numa tendência mundial:
terceirizaram vários dos setores que não tinham relação direta com suas atividades-fim, como o de
recursos humanos, o jurídico e a área de TI. Isso abriu um novo campo para quem trabalha por conta
própria, como bem ilustra o caso das publicitárias Patrícia Moreno, 27 anos, e Ana Carolina Patrício,
28. Tão logo saíram da faculdade, em 2005, elas decidiram abrir uma consultoria. Hoje, trabalham para
quinze empresas. "Somos o setor de marketing delas",
explicam as moças.

O aumento do número de
jovens Lailson Santos empreendedores é desejável para
qualquer país. "Recémsaídos da universidade, eles estão
atualizados sobre sua área – e têm grande capacidade
de inovar", diz o especialista Marcos Hashimoto, do
Insper. Inovação é hoje, afinal, o que mais enriquece um
país. Num cenário em que 83% dos donos de negócio
brasileiros nem sequer pisaram numa universidade,
esses jovens com diploma têm, também, infinitamente
mais chances de prosperar. Para se ter uma ideia,
apenas 7% das empresas abertas por brasileiros com
tudo planejado

Aos 20 anos, o administrador de empresas


Rafael ensino superior fecham antes de completar
Soares entendeu que faltava uma boa loja de material
de construção em certa região da cidade de São
Paulo. Um ano de vida, um quarto da média foi aí que, com a ajuda financeira do pai, resolveu
investir no ramo. Criou de saída um diferencial: ele nacional. O Brasil sempre registrou altos
também oferece serviços de empreiteiro. "Minha vida hoje é só trabalho"

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Índices de empreendedorismo. Entre os jovens, 15% dos brasileiros já estão à frente de um


negócio próprio, mais do que americanos (14%) ou indianos (12%) – ambos tradicionalmente
empreendedores. A boa novidade, no entanto, é que nunca se viu tanta gente qualificada. Em 2007,
aos 20 anos e com um empurrão financeiro dos pais, o administrador de empresas Rafael Soares
decidiu se tornar dono de uma loja de material de construção, em São Paulo. Só fez isso depois de
estar convicto de que o momento era bom e de inventar para o negócio um diferencial: junto com o
material, ele vende serviços de empreiteiro. "Trabalho obcecadamente dia e noite", resume. A tão
sonhada liberdade, ele não tem. Mas, a exemplo de tantos outros de sua geração, tem tudo para fazer
seu negócio vingar.

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