Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)
A CF outorga competê ncia aos Estados para instituir imposto sobre
a propriedade de veı́culos automotores. Propriedade é o direito real por excelê ncia, o mais amplo, que envolve as prerrogativas de usar e dispor . Já o conceito de veículos automotores compreende as coisas movidas a motor de propulsã o, que circulam por seus pró prios meios e que servem
normalmente para o transporte viá rio de pessoas ou coisas,
conforme o anexo I do Có digo Brasileiro de Trâ nsito. Entende o STF que não abrange embarcações e aeronaves.
Submete-se o IPVA, por certo, à s limitações constitucionais ao
poder de tributar previstas no art. 150 do CTN e aplicá veis aos tributos em geral, como a legalidade, a isonomia, a irretroatividade, as anterioridades, a vedaçã o do confisco e as imunidades gené ricas a impostos. Mas o § 1o do art. 150 da CF excepciona o IPVA da necessidade de observâ ncia da anterioridade nonagesimal no que diz respeito “à fixaçã o da base de cá lculo”. Desse modo, as tabelas utilizadas para a definiçã o do valor dos veı́culos conforme sua marca, modelo, ano de fabricaçã o etc. podem ser alteradas ao final de um ano para aplicaçã o ao fato gerador que se considere ocorrido já no inı́cio do ano subsequente, ainda que nã o decorridos noventa dias.
A base de cálculo do imposto é o valor de mercado do veı́culo
usado, conforme tabela divulgada pelo Poder Executivo, considerados a marca, o modelo, a espé cie e o ano de fabricaçã o, independentemente do estado de conservaçã o, ou o valor constante no documento fiscal de aquisiçã o do veı́culo, quando novo, forte no art. 7o. Há regras especı́ficas para veı́culos antigos. Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)
O ICMS é um dos impostos mais complexos do sistema tributá rio
brasileiro. Sua legislação é extensa, começando pelo art. 155, inciso II e seus longos §§ 2o a 5o, passando por Resoluçõ es do Senado que estabelecem alı́quotas má ximas e mı́nimas para determinadas situaçõ es, seguindo com a intermediaçã o de lei complementar que uniformiza diversos pontos do seu regime jurı́dico (art. 155, § 2o, XII, da CF, LC n. 87/96) e envolvendo també m convê nios entre os estados (Convê nios Confaz) que especificam os benefı́cios fiscais que podem ser concedidos . Isso sem falar nas leis instituidoras do tributo em cada Estado, nos regulamentos e na plê iade de outros atos normativos infralegais que detalham sua aplicaçã o concreta. Importa compreendermos as linhas gerais de todo esse microssistema.
Cabe-nos ter em conta, em primeiro lugar, que temos diversas
bases econô micas sob o mesmo tı́tulo e, por vezes, com fundamento constitucional pró prio: • operaçõ es de circulaçã o de mercadorias; • operaçõ es mistas de circulaçã o de mercadorias e prestaçõ es de serviços nã o compreendidos na competê ncia tributá ria dos Municı́pios; • prestaçõ es de serviços de transporte interestadual e intermunicipal; • prestaçõ es de serviços de comunicaçã o; • importaçã o de bens e mercadorias; • importaçã o de serviços.
No art. 155, II, a Constituiçã o prevê a competência dos Estados
para instituir imposto “sobre operaçõ es relativas à circulaçã o de mercadorias e sobre prestaçõ es de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicaçõ es, ainda que as operaçõ es e as prestaçõ es se iniciem no exterior”. De pronto, podemos perceber que a norma de competê ncia apresenta materialidades de natureza distinta, permitindo a cobrança de impostos sobre operaçõ es relativas a circulaçã o de mercadorias, de um lado, e sobre a prestaçã o de determinados serviços, de outro. Ef dizer, o ICMS, no que diz respeito ao “S” da sua sigla, é um imposto sobre a prestaçã o de serviços també m, embora só incida relativamente à queles expressamente apontados: “transporte interestadual e intermunicipal e de comunicaçõ es”.
Operações sã o negó cios jurı́dicos; circulação é transferê ncia de
titularidade, e nã o apenas movimentaçã o fı́sica; mercadorias sã o bens objeto de comé rcio.
Por isso, o STF já reconheceu que: “O simples deslocamento de
coisas de um estabelecimento para outro, sem transferê ncia de propriedade, nã o gera direito à cobrança de ICM. O emprego da expressã o ‘operaçõ es’, bem como a designaçã o do imposto, no que consagrado o vocá bulo ‘mercadoria’, sã o conducentes à premissa de que deve haver o envolvimento de ato mercantil e esse nã o ocorre quando o produtor simplesmente movimenta frangos, de um estabelecimento a outro, para simples pesagem”
A prestação de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal é a segunda base econô mica do ICMS. Sã o tributá veis os diversos serviços de transporte: de passageiros, de valores, de bens ou de mercadorias.
Mas a base econô mica nã o é o transporte em si; é , isto sim, o
“serviço” de transporte. Desse modo, exige-se a contrataçã o onerosa de tal fazer para ensejar a incidê ncia do imposto. O transporte realizado por uma empresa em veı́culo pró prio para levar bens ou mercadorias de um a outro dos seus estabelecimentos ou mesmo para entregar mercadorias aos clientes que as tenham adquirido nã o se sujeita à incidê ncia do imposto.
Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD)
Ef dos Estados a competê ncia para instituir impostos sobre
“transmissã o causa mortis e doaçã o, de quaisquer bens ou direitos”, nos termos do art. 155, I, da CF, com a redaçã o da EC 3/93. Transmissã o é transferê ncia jurı́dica, implicando a sucessã o na titularidade do bem ou direito. Será causa mortis quando ocorra por força do falecimento real ou presumido do titular. A ausência de onerosidade é o traço comum entre tais transmissõ es. Ao referir-se a quaisquer bens ou direitos, o dispositivo constitucional dá enorme abrangê ncia a tal base econô mica, alcançando inclusive a transmissã o de imó veis.
A alíquota má xima possı́vel é de 8%, limite este estabelecido pela
Resoluçã o n. 9/92 do Senado Federal, forte no que prevê o art. 155, § 1o, V, da CF. Nã o podem os Estados estabelecer que a alı́quota do seu imposto seja equivalente à alı́quota má xima, porque a instituiçã o do tributo exige a definiçã o da alı́quota pelo ente competente.
Fato gerador é a “transmissã o de qualquer bem ou direito havido
por sucessã o legı́tima ou testamentá ria, inclusive a sucessã o provisó ria, inclusive o fideicomisso, ou por doaçã o” (art. 2o). O § 1o esclarece que “ocorrem tantos fatos geradores distintos quantos forem os herdeiros, legatá rios ou donatá rios”. O art. 3o esclarece que també m se sujeita ao imposto a transmissã o de “qualquer tı́tulo ou direito representativo do patrimô nio ou capital de sociedade e companhia, tais como açã o, quota, quinhã o, participaçã o civil ou comercial, nacional ou estrangeira, bem como, direito societá rio, debê nture, dividendo e cré dito de qualquer natureza”. Assim també m a transmissã o de “dinheiro, haver monetá rio em moeda nacional ou estrangeira e tı́tulo que o represente, depó sito bancá rio e cré dito em conta corrente, depó sito em caderneta de poupança e a prazo fixo, quota ou participaçã o em fundo mú tuo de açõ es, de renda fixa, de curto prazo, e qualquer outra aplicaçã o financeira e de risco, seja qual for o prazo e a forma de garantia”. E, ainda, a transmissã o de “bem incorpó reo em geral, inclusive tı́tulo de cré dito que o represente, qualquer direito ou açã o que tenha de ser exercido e direitos autorais”.
Base de cálculo é o valor venal do bem ou direito transmitido,
assim considerado “o valor de mercado do bem ou direito na data da abertura da sucessã o ou da realizaçã o do ato ou contrato de doaçã o”. Na transmissã o causa mortis, o valor do bem ou direito “é o atribuı́do na avaliaçã o judicial e homologado pelo Juiz”, tudo conforme os arts. 9o e 10 da lei paulista. Nos termos dos pará grafos do art. 9o, quando a transmissã o disser respeito ao domı́nio ú til, a base de cá lculo corresponderá a 1/3 do valor do bem; a domı́nio direto, 2/3; a usufruto por ato nã o oneroso, a 1/3; a transmissã o nã o onerosa da nua-propriedade, 2/3.
IMPOSTO DE COMPETÊNCIA DOS MUNICÍPIOS
Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana
(IPTU)
O art. 156, I, da CF outorga aos Municı́pios competê ncia para
instituir imposto sobre “propriedade predial e territorial urbana”. Para compreendermos a amplitude da base econô mica dada à tributaçã o, importa considerar o que significa.
Propriedade é o direito real mais amplo, envolvendo as faculdades
de usar, de gozar e de dispor.
Prédio é toda porçã o de terra ou de solo, constituı́da em
propriedade de algué m, haja nele, ou nã o, construçõ es. A combinaçã o com “territorial”, no entanto, leva ao entendimento de que o constituinte quis ressaltar a possibilidade de tributaçã o da riqueza revelada nã o apenas pela propriedade da terra (territorial) como desta com as construçõ es nela edificadas
A zona urbana, por sua vez, parece constar na Constituiçã o em
oposiçã o à á rea rural, pelo crité rio da localizaçã o. A zona urbana é definida por lei municipal, devendo observar os crité rios constantes dos §§ 1o e 2o do art. 32 do CTN. O § 1o exige, pelo menos, a existê ncia de dois melhoramentos de infraestrutura urbana, dentre os seguintes: “meio-fio ou calçamento, com canalizaçã o de á guas pluviais”, “abastecimento de á gua”, “sistema de esgotos sanitá rios”, “rede de iluminaçã o pú blica, com ou sem posteamento para distribuiçã o domiciliar”, ou “escola primá ria ou posto de saú de a uma distâ ncia má xima de 3 (trê s) quilô metros do imó vel considerado”. O § 2o permite que sejam consideradas urbanas “á reas urbanizá veis, ou de expansã o urbana, constantes de loteamentos aprovados pelos ó rgã os competentes, destinados à habitaçã o, à indú stria ou a comé rcio”. Conforme a Sú mula 626 do STJ, “A incidê ncia do IPTU sobre imó vel situado em á rea considerada pela lei local como urbanizá vel ou de expansã o urbana nã o está condicionada à existê ncia dos melhoramentos elencados no art. 32, § 1o, do CTN”. O CTN define o fato gerador, base de cá lculo e contribuintes do IPTU, estabelecendo o arqué tipo possı́vel desses aspectos da norma tributá ria impositiva, a ser observado pelas leis municipais quando da efetiva instituiçã o do imposto.
O art. 32 do CTN estabelece que o IPTU “tem como fato gerador a
propriedade, o domı́nio ú til ou a posse de bem imó vel por Natureza ou por acessã o fı́sica, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Municı́pio”. Extrapola, assim, a base econô mica “propriedade” ao estender o imposto també m ao domı́nio ú til ou à posse.
O art. 33 do CTN define como base de cálculo o “valor venal do
imó vel”, ou seja, seu valor no mercado imobiliá rio. Tal valor nã o é verificado imó vel a imó vel e sim presumido conforme tabelas chamadas “planta fiscal de valores”, que definem o valor do metro quadrado conforme a localizaçã o, a natureza e o nı́vel da construçã o.
Contribuinte do imposto, nos termos do art. 34 do CTN, é “o
proprietá rio do imó vel, o titular do seu domı́nio ú til, ou o seu possuidor a qualquer tı́tulo”, dispositivo este que, embora esteja em consonâ ncia com a definiçã o que o Có digo faz do fato gerador em seu art. 32, pode merecer censura constitucional por desbordar do titular da propriedade.
Imposto sobre Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis e de
Direitos Reais sobre Imóveis (ITBI)
O art. 156, II, da Constituiçã o outorga aos Municı́pios competê ncia
para instituir imposto sobre “transmissã o inter vivos, a qualquer tı́tulo, por ato oneroso, de bens imó veis, por natureza ou acessã o fı́sica, e de direitos reais sobre imó veis, exceto os de garantia, bem como cessã o de direitos a sua aquisiçã o”. Ef o chamado ITBI. A competê ncia é sempre do Municı́pio da situaçã o do bem, nos termos do art. 156, § 2o, da CF.
A transmissão de bens imó veis e de direitos reais a eles relativos
dá -se mediante registro do respectivo tı́tulo (como a escritura de compra e venda) no Cartó rio de Registro de Imó veis. O art. 1.227 do Có digo Civil dispõ e que “Os direitos reais sobre imó veis constituı́dos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro”. O art. 1.245, que cuida especificamente da aquisiçã o da propriedade, dispõ e: “Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do tı́tulo translativo no Registro de Imó veis”.
Os direitos reais estã o arrolados no art. 1.225 do Có digo Civil:
propriedade, superfı́cie, servidõ es, usufruto, uso, habitaçã o, direito do promitente comprador do imó vel, penhor, hipoteca, anticrese, concessã o de uso especial para fins de moradia e concessã o de direito real de uso.
O CTN dispõe que o fato gerador é a “transmissã o”, a qualquer
tı́tulo, da propriedade e do domı́nio ú til (art. 35, I) ou “de direitos reais sobre imó veis, exceto os direitos reais de garantia” (35, II). Conforme a Súmula 111 do STF: “Ef legı́tima a incidê ncia do Imposto de Transmissã o Inter Vivos sobre a restituiçã o, ao antigo proprietá rio, de imó vel que deixou de servir à finalidade da sua desapropriaçã o”.
A base de cálculo “é o valor venal dos bens ou direitos
transmitidos” (art. 36). Quando da transmissã o da propriedade, considera-se o seu valor venal, ainda que haja gravames temporá rios.
As alíquotas sã o fixadas pela legislaçã o municipal, nã o prevendo
mais a Constituiçã o a fixaçã o de limite por Resoluçã o do Senado, o que só está previsto para o ITCMD, mas nã o para o ITBI.
Contribuinte pode ser qualquer das partes na operaçã o tributada,
nos termos do art. 42 do CTN.
Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)
O art. 156, III, da CF outorga aos Municı́pios competê ncia para
instituir imposto sobre “serviços de qualquer natureza, nã o compreendidos no artigo 155, II, definidos em lei complementar”, o chamado ISS.
O conceito de serviços de qualquer natureza é fundamental para
definirmos o que pode ser tributado a tı́tulo de ISS. No RE 651.703, o STF decidiu que extrapola o conceito civilista de prestaçã o de serviços, atrelado à s obrigaçõ es de fazer. Ef mais amplo, alcançando o “oferecimento de uma utilidade para outrem, a partir de um conjunto de atividades materiais ou imateriais, prestadas com habitualidade e intuito de lucro, podendo estar conjugada ou nã o com a entrega de bens ao tomador”. Assim, o legislador complementar pode submeter ao ISS diversas atividades econô micas que, de outro modo, ficariam sem tributaçã o, incluindo-as na lista dos serviços tributá veis anexa à LC 116/03.
Há serviços, contudo, excluídos da possibilidade de tributação a
título de ISS. Note-se que o pró prio art. 156, III, afasta aqueles serviços cuja tributaçã o compete aos Estados a tı́tulo de ICMS: os serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. Alé m disso, o art. 150, VI, a, e §§ 2o e 3o, da CF atribui imunidade aos serviços públicos típicos prestados pelos entes polı́ticos, autarquias ou fundaçõ es pú blicas vinculados a suas finalidades essenciais ou delas decorrentes, nã o regidos pelas normas aplicá veis a empreendimentos privados e sem contraprestaçã o ou pagamento de preços ou tarifas.
O ISS exige, ainda, a intermediação de lei complementar,
porquanto o art. 156, III, da Constituiçã o comete a tal veı́culo legislativo o papel de definir, dentre os serviços de qualquer natureza, aqueles que poderã o ensejar a instituiçã o do imposto por parte dos Municı́pios. A Lei Complementar n. 116/03 traz, em anexo, a lista de serviços tributáveis arrolados em quarenta itens, cada qual com seus subitens.