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CONJUNTURA ECONÔMICA

BRASILEIRA E INTERNACIONAL

ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO


ANGÉLICA MASSUQUET T I
IGOR ALEXANDRE CLEMENT E DE MORAIS
MÁRCIO E. SCHWEIG (ORG.)
T IAGO WICKST ROM ALVES

EDIT ORA UNISINOS


2011
APRESENTAÇÃO

O estudo da economia pode ser dividido em duas grandes áreas: a


microeconomia e a macroeconomia. A microeconomia estuda o
comportamento dos consumidores e dos produtores no mercado, bem
como os tipos de mercados em que há a interação destes agentes
econômicos.
A macroeconomia, por sua vez, preocupa-se com o comportamento
da economia como um todo. Envolve um número bastante reduzido de
variáveis, mas com uma amplitude muito grande. São variáveis que
impactam o conjunto do sistema econômico. Entre elas podemos citar o
crescimento da economia, o nível de renda, de produção, de preços, o
emprego, a taxa de juros, a taxa de câmbio, o comércio exterior, entre
outras.
A política econômica de qualquer país deve ser adotada visando
alcançar quatro objetivos:

crescimento econômico;
alto nível de emprego;
estabilidade de preços; e
distribuição socialmente justa da renda.

Para atingir estes objetivos o governo dispõe de algumas políticas


macroeconômicas, quais sejam:

política fiscal;
política monetária;
política cambial; e
política de rendas.

Entender o comportamento das variáveis que compõem a política


econômica, bem como o governo combina o uso destas políticas para
atingir os objetivos macroeconômicos, é o objetivo deste livro de.
Nesse sentido, o livro está organizado em seis capítulos. O primeiro
trata das formas de medir o nível de atividade econômica do país. O
segundo aborda a determinação da renda e do produto. O capítulo
seguinte contempla a atuação do governo através das políticas fiscal e
monetária. Já o quanto capítulo aborda o conceito e os tipos de inflação.
O quinto trata do setor externo da economia. Por fim, o último capítulo
apresenta os indicadores de conjuntura e os métodos de análise.

Boa leitura!
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – MEDIDAS DA ATIVIDADE ECONÔMICA


1.1 Fluxo real e monetário
1.2 O nível de atividade econômica
1.3 A Contabilidade Nacional
1.4 Produto nominal e produto real
1.5 As contas nacionais do Brasil

CAPÍTULO 2 – DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO – O


MERCADO DE BENS E SERVIÇOS: CONSUMO, POUPANÇA E
INVESTIMENTO
2.1 Introdução
2.2 Compreendendo as funções consumo, poupança e
investimento
2.2.1 Função consumo
2.2.2 Função poupança
2.2.3 Função investimento
2.3 Equilíbrio macroeconômico em uma economia com dois
setores – Famílias e empresas
2.4 Equilíbrio macroeconômico em uma economia com três
setores – Famílias, empresas e governo
2.5 Considerações acerca dos conteúdos analisados

CAPÍTULO 3 – GOVERNO E POLÍTICA ECONÔMICA: POLÍTICA


FISCAL E MONETÁRIA
3.1 Política fiscal
3.2 Política monetária
3.2.1 Demanda por moeda
3.2.2 Oferta de moeda
3.2.3 Instrumentos da política monetária
3.3 Considerações acerca dos conteúdos analisados

CAPÍTULO 4 – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE INFLAÇÃO


4.1 Conceito de inflação
4.2 Índices de preços
4.2.1 IBGE: IPCA e INPC
4.2.2 FGV: IGP
4.2.3 FIPE: IPC
4.3 Tipos de inflação e suas causas
4.3.1 Inflação de demanda
4.3.2 Inflação de custos
4.3.3 Inflação inercial
4.4 Sistema de metas para inflação

CAPÍTULO 5 – O SETOR EXTERNO


5.1 Balanço de pagamentos
5.1.1 Estrutura do balanço de pagamentos
5.1.2 Balanço de pagamentos no Brasil
5.2 Regimes cambiais
5.2.1 Câmbio fixo
5.2.2 Câmbio flexível
5.3 Organismos internacionais que regulam o comércio
5.3.1 Organização Mundial do Comércio (OMC)
5.3.2 UNCTAD (United Nations Conference on Trade and
Development)
5.3.3 Grupo dos 20 (G20)

CAPÍTULO 6 – INDICADORES DE CONJUNTURA E MÉTODOS DE


ANÁLISE
6.1 Cenário internacional
6.2 Cenário econômico brasileiro
6.2.1 Atividade econômica
6.2.2 Índices de preços
6.2.3 Contas externas

SOBRE OS AUTORES
CAPÍTULO 1

MEDIDAS DA ATIVIDADE ECONÔMICA

Como mencionado, a macroeconomia se preocupa com o estudo


das variáveis e atividades do conjunto do sistema econômico,
como o nível de renda, produto, consumo, investimento, comércio
exterior, entre outras. Este capítulo tem como objetivo
compreender as formas de medir o nível de atividade econômica.
Para isso, é necessário conhecer o fluxo real e monetário, que
mostra de forma simplificada o funcionamento de uma economia.
A compreensão do fluxo é essencial para o entendimento da
dinâmica e das relações macroeconômicas. Este capítulo também
busca entender um sistema de contas nacionais.

1.1 Fluxo real e monetário

Este fluxo, que também pode ser chamado de fluxo circular da


atividade econômica, mostra as transações e a interação entre os
indivíduos e as empresas na economia. Cada um destes agentes
econômicos busca alcançar e maximizar os seus objetivos. De um lado,
os indivíduos buscando o maior nível de satisfação dos seus desejos e
necessidades e, de outro lado, as empresas procurando obter o maior
lucro possível.
Para entender o fluxo, deve-se imaginar, inicialmente, um sistema
econômico bem simples, em que existem apenas dois agentes, os
indivíduos e as empresas. Os indivíduos são detentores de um fator
produtivo chamado mão de obra e oferecem este fator para as empresas,
para que possam produzir bens e serviços, que são oferecidos para os
indivíduos. Assim, está formado o fluxo real da economia. De outro
lado, ao fornecer seu fator produtivo, os indivíduos recebem uma
remuneração, os salários, que permitem adquirir os bens e serviços
produzidos pelas empresas. É o fluxo monetário.
A seguir está o fluxo que mostra, de forma simplificada, as relações
entre os indivíduos e as empresas.

Figura 1 – Fluxo real e monetário.


Fonte: elaboração do autor.

1.2 O nível de atividade econômica

Como se sabe, os indivíduos são detentores não só da mão de obra,


mas também de outros fatores produtivos, como terras, máquinas,
equipamentos, construções etc. Para produzir, as empresas, direta ou
indiretamente, utilizam esses fatores produtivos e remuneram os
indivíduos pela utilização dos fatores.
A remuneração do conjunto dos fatores produtivos é chamada de
renda e pode ser expressa da seguinte forma:

salários – é a remuneração feita aos proprietários do fator


produtivo trabalho;
lucros – é a remuneração dos empresários no processo de
produção;
juros – é a remuneração dos proprietários do capital financeiro; e
aluguéis – é a remuneração do capital produtivo, ou seja, dos
bens imóveis.

Assim, para um determinado período de tempo, o somatório de toda


a renda recebida pelos indivíduos compõe a Renda Nacional. De outro
lado, ao utilizar o conjunto dos fatores produtivos, as empresas
produzirão bens e serviços, e o valor total resultante da produção é
denominado de Produto Nacional.
Nessa mesma economia, se os indivíduos destinarem toda a sua
renda para o consumo, adquirindo bens e serviços produzidos pelas
empresas, pode-se dizer, então, que o somatório de todos os pagamentos
efetuados na aquisição desses bens e serviços compõe a Despesa
Nacional.
Assim, pode-se perceber que o valor da Renda Nacional é igual ao
valor do Produto Nacional, que é igual ao valor da Despesa Nacional. Ou
seja:
Renda Nacional = Produto Nacional = Despesa Nacional
Essa é a identidade básica da Contabilidade Nacional e que será
apresentada com um maior detalhamento a seguir.

Produto Nacional ou oferta agregada


É o valor monetário de todos os bens finais produzidos na
economia em um determinado período. Deve ser somada a produção de
todas as atividades que compõem cada um dos grandes setores da
economia, como se pode ver a seguir:

no setor da agropecuária fazem parte a agricultura, pecuária,


pesca, extração vegetal e atividades afins;
a indústria é composta pela indústria extrativa mineral, indústria
de transformação, indústria da construção e SIUP – Serviços
Industriais de Utilidade Pública;
no setor de serviços estão comércio, transporte, comunicações,
intermediações financeiras, aluguéis, administração pública,
outros serviços.

Para se calcular o Produto Nacional devem ser considerados


apenas os bens e serviços finais e nunca os bens intermediários, ou seja,
as matérias-primas que serão utilizadas no processo de produção. Caso
se somassem os produtos intermediários no valor final dos bens, estaria
sendo computado duplamente o valor de alguns bens. Isso estaria
ocorrendo porque no valor final dos bens já estão somados os valores de
todas as matérias e os insumos necessários para produzir esse bem.
Uma outra forma de se obter o valor final da produção é através do
valor adicionado ou valor agregado, que é o valor que se adiciona ao
bem em cada etapa do processo de produção. Assim, se fosse somado o
valor adicionado em todas as etapas de produção de um bem, chegar-se-
ia ao valor final deste bem. Generalizando para o conjunto da economia,
pode-se dizer que, se fosse somado o valor adicionado em todas as
etapas da produção de todos os bens de uma economia, chegar-se-ia ao
produto total desta economia.
Assim, para se chegar ao valor adicionado deve ser descontado do
valor do produto final o custo das matérias-primas utilizadas no processo
de produção. O exemplo a seguir mostra o valor adicionado na produção
de uma mesa com seis cadeiras.

Preço final da mesa e das cadeiras = $ 1.000,00


Custo das matérias-primas = $ 400,00
Valor adicionado = $ 600,00

Renda Nacional
É o valor total da remuneração, ou seja, dos pagamentos feitos aos
fatores de produção que foram utilizados para a obtenção do Produto
Nacional.
Exemplo:

Despesa Nacional ou demanda agregada


É o valor total dos gastos pelos agentes econômicos com a
aquisição do Produto Nacional. Deve-se considerar apenas os gastos
com produtos e serviços finais, visto que os gastos com a compra dos
produtos intermediárias já estão incorporados no valor do bens e
serviços finais.
No exemplo anterior das mesas e cadeiras a Despesa Nacional seria
composta apenas pelo consumo dos indivíduos, já que se trata de um
bem de consumo (C). Assim:
Despesa Nacional = Consumo
Em se tratando da economia como um todo, há outros tipos de
produtos produzidos, que não só os bens de consumo. Há, também, por
exemplo, as máquinas, os equipamentos, as instalações, entre outros,
que as empresas utilizam para produzir. Esses bens são chamados de
bens de investimento ou bens de capital. Quem adquire esses bens
são as empresas. Assim, é possível perceber a existência de agentes
econômicos, que são:

indivíduos – famílias;
empresas;
governo;
setor externo.

Quando forem inseridos todos os agentes econômicos na equação


da despesa nacional, tem-se o modelo completo, expresso da seguinte
forma:
D
DN = C + I + G + X - M
Onde:
C = gastos em consumo pelos indivíduos
I = gastos das empresas com os investimentos
G = gastos do governo
X = exportações
M = importações

Em relação aos gastos do governo, são considerados nas contas


nacionais os gastos com serviços públicos como educação, saúde,
justiça, defesa nacional, entre outros. Podem ser despesas correntes ou
de custeio, como salários e manutenção da máquina administrativa, por
exemplo, ou despesas de capital, como aquisição de equipamentos,
construção de estradas, escolas etc.
Não são computados como gastos do governo as despesas das
empresas públicas e sociedades de economia mista, como Petrobras e
Banco do Brasil, por exemplo. Isso se dá porque elas atuam como uma
empresa privada e, portanto, seus gastos são cobertos por receita
advinda da venda de produtos no mercado.
Na equação da Despesa Nacional há ainda o setor externo,
composto por exportações e importações. As exportações representam
as vendas de produtos por empresas brasileiras para outros países. Já as
importações representam as despesas do país com aquisições de
produtos estrangeiros.
Depois de compreendida cada uma das três óticas de se mensurar o
nível da atividade econômica, fica claro de onde vem a identidade básica
da Contabilidade Nacional, ou seja:
Renda Nacional = Produto Nacional = Despesa Nacional

1.3 A Contabilidade Nacional

A exemplo de uma empresa que tem sua contabilidade e nela


registra todas as suas transações, para um país ocorre a mesma coisa.
Então, a contabilidade de um país mensura as transações feitas entre os
agentes econômicos, de maneira a aferir o movimento da economia, num
determinado período de tempo: quanto foi produzido; quanto foi
consumido; de quanto foi o investimento; quanto foi o valor das
transações com outros países.
Estas são algumas das informações que se pode obter com um
sistema de contas de um país. São informações importantes para a
tomada de decisões não só por parte do governo, mas também das
empresas, que podem, por exemplo, aumentar seus investimentos se os
indivíduos estiverem aumentando seus gastos com bens de consumo.
A partir da Contabilidade Nacional é possível entender as relações
entre as variáveis macroeconômicas, tais como:

produção;
consumo;
financiamento;
acumulação de capital;
relações com o resto do mundo.
Como a Contabilidade Nacional abrange um grande número de
variáveis, é necessário compreender alguns conceitos para evitar o uso
equivocado de determinadas informações. Entre eles está a definição de
produto nominal e produto real.

1.4 Produto nominal e produto real

O produto de uma economia, como definido anteriormente, é o


valor de todos os bens e serviços finais produzidos em um determinado
período de tempo, geralmente um ano. Também pode ser chamado de
Produto Nacional Bruto ou simplesmente PNB.
O produto nominal ou a preços correntes mede o valor da produção
tomando como referência os preços dos bens do próprio ano em que
foram produzidos. Já o produto real mede o valor da produção para um
período qualquer, tomando como referência os preços de um
determinado ano, que servirá como base. Assim é possível obter a
estimativa da variação real ou física da produção ao longo de vários
anos. Isso é possível porque não haverá variações de preços dos
produtos de um ano para outro, já que a base de preços é de um ano
específico e, portanto, constante.
Mas como separar o crescimento dos preços do crescimento real
das quantidades produzidas numa economia num determinado período de
tempo?
O exemplo a seguir mostra essas questões. É um exemplo muito
simples e que considera apenas a produção de um único bem num
determinado período de tempo. O valor da produção total desta
economia seria obtido pela multiplicação da quantidade produzida pelo
preço do produto no respectivo ano. Então em 2009 esse valor seria de $
200.000,00 e em 2010 de $ 300.000,00. Ocorre que na variação de 2009
para 2010 houve alteração da quantidade e do preço do produto. O
aumento do preço não pode ser computado no cálculo, porque não
significa aumento de produção efetiva e sim apenas inflação, quando se
generaliza para o conjunto da economia.
No exemplo é fácil de perceber o crescimento real da economia, já
que a quantidade produzida de 10 unidades no ano de 2009 passou para
11 unidades em 2010, mostrando um crescimento real das quantidades
de 10%.

Ano 2009 2010


Quantidade 10 11
Preço por unidade 20.000,00 30.000,00
Valor total da produção 200.000,00 330.000,00

Quando se generaliza o cálculo para uma economia que produz uma


quantidade muito grande de produtos e serviços, que são diferentes e não
podem ser somados diretamente entre si, não há como considerar apenas
as quantidades no cálculo do valor da produção. Para resolver este
problema, utiliza-se a deflação dos valores, que consiste em separar o
aumento dos preços dos bens do crescimento da quantidade produzida.
Quando a produção cresce de um ano para o outro e os preços
(inflação) estão estáveis, significa que houve, apenas, aumento da
quantidade produzida. É o crescimento real da economia ou produto real.
Porém, na maioria das vezes o que ocorre é uma variação dos preços e
das quantidades produzidas. Para que se possa medir apenas o
crescimento real da economia, deve-se deflacionar o valor da produção.
Assim, o deflator é um índice obtido pela agregação ponderada dos
índices de variação dos preços calculados para os diferentes setores da
economia. Mais adiante, no capítulo que trata da inflação, haverá um
detalhamento maior sobre o assunto.
Outro conceito importante para a compreensão dos indicadores das
contas nacionais é do Produto Interno Bruto – PIB. O PIB é o valor
agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do país,
independente da origem da propriedade dos fatores produtivos ou da
empresa produtora desses bens e serviços.

1.5 As contas nacionais do Brasil


No Brasil, o sistema de contas nacionais inicia em 1947 com a
criação do Núcleo de Economia na FGV-RJ. O objetivo inicial era o de
acompanhar a evolução dos preços, elaborar o balanço de pagamentos e
calcular a renda nacional.
Em 1952, a ONU cria o SNA – System of Nacional Accounts com
recomendações metodológicas para padronizar os cálculos e uniformizar
as estimativas. Em 1956, o Brasil apresenta o balanço geral das contas
nacionais para o período 1948-55, elaborado pela FGV e tendo como
base o SNA.
A metodologia do sistema de contas foi sendo melhorado
sistematicamente com os diversos SNA e adaptado ao cálculo das contas
nacionais brasileiras.
Em 1986, as contas nacionais passam a ser calculadas pela
Fundação IBGE. Em 1993, surge um novo SNA, recomendando um
novo formato com significativas alterações em relação ao SNA anterior.
O SNA de 1993 leva o IBGE a alterar mais uma vez o sistema de contas
do Brasil de maneira a adequá-lo às novas recomendações. Desde 1997 o
Brasil vem adotando este sistema.
O SNA de 1993 foi elaborado conjuntamente pela ONU, FMI,
Comissão das Comunidades Europeias, OCDE e Banco Mundial. Este
SNA manteve os fundamentos anteriores, mas incorporou novos
elementos de maneira a acompanhar a evolução das economias. As
mudanças não foram dos fundamentos das contas, mas da forma de
apresentação. Assim, o sistema passa de crédito e débito para recursos e
usos.
A estrutura e a metodologia do sistema de contas nacionais
atualmente adotado pelo Brasil estão detalhados no site do IBGE:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/default_SCN.shtm

Este capítulo foi elaborado por Márcio E. Schweig.


CAPÍTULO 2

DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO


– O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS:
CONSUMO, POUPANÇA E INVESTIMENTO

Este capítulo analisa os aspectos fundamentais da macroeconomia


keynesiana, que são as funções de consumo, poupança,
investimento e a renda de equilíbrio da economia. É um conteúdo
relevante, pois dá a base para o entendimento do funcionamento
da economia. O capítulo apresenta textos destacados em grisê que
contêm resumos dos conceitos vistos no corpo do texto. Ainda,
foram desenvolvidos ao longo do capítulo exercícios resolvidos
denominados de “Aprendendo com exercício”, que têm a
finalidade de consolidar os temas abordados.

2.1 Introdução

A economia forma-se com base em dois grandes núcleos de análise,


a macroeconomia e a microeconomia. Esses ramos da economia na
realidade são estabelecidos mais para fins de análise do que pelas
diferenças existentes entre elas. Na macroeconomia, quando se analisa as
variáveis a ela relacionadas, supõe-se que as variáveis microeconômicas
estejam em equilíbrio. Da mesma forma, quando se analisa os mercados,
supõe-se que as variáveis macroeconômicas estão em equilíbrio.
Exemplificando, em modelos macros como o keynesiano, de
determinação da renda, as variáveis de análise são consumo agregado,
investimento agregado, entre outros. Nestes são considerados constantes
os níveis de preços, que é a variável de estudo em microeconomia, em
que se considera a renda constante.
O modelo keynesiano, que é analisado neste capítulo, foi construído
por John Maynard Keynes em seu livro Teoria Geral dos Preços, do
Juros, da Renda e da Moeda, em 1933. Naquela época o mundo estava
passando por uma de suas maiores crises, que ficou conhecida como a
“Grande depressão de 1930”, e a obra de Keynes desenvolveu um
arcabouço teórico que viabilizava a ação dos governos, que poderiam
amenizar ou até mesmo eliminar a crise.
Parte desta teoria é desenvolvida neste capítulo e no Capítulo 4.
Este forma as bases do funcionamento da economia em termos
agregados e no Capítulo 4 tem-se a descrição dos instrumentos e a
operacionalização destes.
O desenvolvimento deste capítulo inicia com o comportamento do
consumo em termos agregados e a relação deste com a poupança. Após
analisa-se os investimentos e como estes interagem com o consumo para
formar a renda de equilíbrio em uma economia com dois setores
(empresas e famílias). E, por fim, incluiremos o governo na análise,
formando um modelo de três setores. Assim, este capítulo está
segmentado nesta ordem de análise.

2.2 Compreendendo as funções consumo, poupança e


investimento

Esta seção inicia com as definições de consumo e estabelece a


relação entre consumo e poupança, examinando suas equações e suas
representações gráficas. Este conteúdo é a base da análise do Capítulo 3,
pois envolve conceitos que são fundamentais em macroeconomia e que,
uma vez compreendidos, tornam muito mais fácil entender as demais
funções, como investimento e tributos, pois elas são semelhantes em
suas estruturas.
2.2.1 Função consumo

O consumo agregado é uma função da renda disponível agregada.


Formalmente pode-se escrevê-lo como sendo C = f(Yd), onde C é
consumo agregado e Yd a renda disponível. A renda disponível é a renda
bruta menos os tributos mais as transferências, ou seja: Yd = Y - T + R,
onde Y é a renda agregada da economia, T são os tributos e R as
transferências. 1 Pense no seu salário. Verá que o salário bruto é um valor
maior do que aquele que você recebe, pois é descontado dele o imposto
de renda, a previdência pública, etc. Logo, o que você dispõe para gastar
é valor líquido. O seu salário bruto representaria a sua renda (Y) e o seu
salário líquido a renda disponível (Yd). Evidentemente que, quanto maior
for a sua renda líquida, maior será seu consumo e vice-versa.
Porém, é necessário que se expresse de forma mais clara como se
dá essa relação. O que a função de consumo keynesiana faz é isso,
generalizar um modelo, representado por uma equação, que exprime o
comportamento médio das pessoas.
Vamos começar construindo uma função consumo pensando da
seguinte forma: aumenta a renda, aumenta o consumo. Logo, temos uma
relação direta entre renda e consumo. Agora, se por ventura alguém
perder o emprego e necessitar consumir, este consumo necessariamente
será feito pela utilização de uma poupança feita previamente ou via
endividamento. Assim, independentemente de ter renda ou não, haverá
consumo.
Bem esses dois elementos nos permitem formular uma equação que
represente este comportamento. Vamos denominar de consumo
autônomo - Ca o consumo que é independente da renda, ou seja, aquele
que haverá mesmo quando a renda for zero. O consumo que aumenta
com o aumento da renda denominaremos de consumo induzido. Como
o consumo total é a soma de ambos, então: C = Ca + Consumo
induzido.
Para melhorar nosso entendimento dessa relação e especificá-lo de
forma mais precisa, vamos representar graficamente a função consumo
escrita anteriormente. C é o consumo agregado, Ca o consumo
autônomo e consumo induzido o consumo que cresce com a renda.
Então, graficamente, poderia ser representado como:

Figura 2 – Representação gráfica da função consumo, com destaque para o Consumo


autônomo e o consumo induzido.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Veja que a representação gráfica do consumo é o de uma reta, onde


o intercepto vertical – onde a reta corta o eixo das ordenadas – é dado
pelo consumo autônomo (Ca). O acréscimo de consumo além do
consumo autônomo foi consequência do nível de renda definido como
Yd, ou seja, o consumo induzido é dado por a × Yd. Como C = Ca +
Consumo induzido, então: C = Ca + a × Yd. Onde a é o coeficiente
angular da reta do consumo apresentado na figura 2.
Assim como denominamos o intercepto linear de consumo
autônomo, chamaremos o coeficiente angular da reta de consumo de
propensão marginal a consumir - PMgC. Desta forma, a da figura 2
é, na nossa codificação, representado como PMgC. Unindo essas
informações, temos a função de consumo expressa como:

Função consumo
C = Ca + PMgC × Yd

Onde:
C = consumo agregado;
Ca = consumo autônomo – aquele que independe do nível de renda
e é o valor considerado como o mínimo de subsistência quando o
nível de renda for zero;
PMgC = propensão marginal a consumir – coeficiente angular da
reta de consumo e quando multiplicado pela renda disponível dá o
valor do consumo induzido;
Yd = renda disponível – renda bruta menos tributos mais
transferências. Isto é:
Yd = Y – T + R

Um elemento importante da função consumo é a PMgC, que vamos


explorar um pouco mais. Dado que o incremento de renda gerará um
incremento de consumo, definido pela inclinação da reta a, que é a
PMgC, então, este incremento pode ser expresso da seguinte forma: ΔC
= a × ΔYd ou ΔC = PMgC × ΔYd. Isolando a PMgC, temos a fórmula
para propensão marginal a consumir, que é:

Propensão marginal a consumir


Onde:

PM gC = propensão marginal a consumir – que pode ser interpretado como o


percentual da variação da renda que é destinada ao consumo. Seu campo de
variação é 0 < PMgC < 1;
Δ C = variação do consumo
ΔYd = variação da renda

É importante destacar a magnitude que a PMgC pode assumir. Se


ela representa o efeito da renda sobre o consumo e temos como
consenso que o aumento de renda gerará incrementos no consumo,
então ela será positiva e maior que zero. Por outro lado, se a renda
aumenta, digamos, em 100 unidades, o consumo deverá aumentar, mas
em valores inferiores a 100, pois é natural que as pessoas façam
poupança. Ou, pensando de outra forma, se a PMgC é o percentual de
variação da renda que é destinado ao consumo, então ela deve variar
entre zero e um, ou seja: 0 < PMgC < 1.
Para melhor compreensão dos termos analisados, faremos um
exercício resolvido, que busca estabelecer a compreensão da função
consumo e seus componentes.

Aprendendo com exercício 1

Dada uma economia que tenha como função consumo a seguinte


equação: C = 100 + 0,8Yd, pergunta-se:

a. Qual seria o consumo nacional caso a renda disponível fosse


de 600 milhões de reais?
b. De quanto aumentaria o consumo se a renda aumentasse em
100 milhões?
c. Represente graficamente a equação de consumo com a
solução da questão “a”.
Solução:

a. Para verificar o consumo, basta substituir o valor da renda


agregada na função de consumo: C = 100 +0,8(600) = 100 +
480 = 580. Logo, o consumo agregado da economia seria de
580 milhões de reais.
b. A variação do consumo depende da PMgC. Como ela é de
0,8, significa que 80% das variações de renda serão
destinadas ao consumo, ou seja, se a renda aumenta em 100
milhões, então o consumo aumentará em 80 milhões.
Formalmente poderia ser calculado como ΔC = PMgC × ΔYd
= 0,8(100) = 80.
c. Graficamente essa equação teria a seguinte representação:

Os dados do “Aprendendo com exercício 1” indicam que, se a


renda fosse zero, os gastos necessários para a sobrevivência seriam de
100 milhões (o valor do Ca). A PMgC de 0,8 indica que para cada um
real de variação de renda disponível haverá uma variação de 0,8 centavos
no consumo, que pode ser lido como 80% dos acréscimos ou redução
da renda serão destinados ao consumo ou reduzido do consumo,
respectivamente. Isso é, se a renda aumenta, então 80% deste aumento
vai para o consumo, e, se diminui, haverá uma redução no consumo de
80%. Este valor (0,8) é a inclinação da reta de consumo.

2.2.2 Função poupança

No final da seção anterior, com base no “Aprendendo com


exercício 1”, dissemos que, quando a renda diminuía em um
determinado valor, o consumo se reduziria em apenas 80%. Você deve
ter se perguntado: como isso é possível? É que a diferença, 20%, será
reduzida da poupança. Como poupança é definida em economia como
renda menos o consumo, então, quando a renda aumenta o que não é
destinado ao consumo vai para a poupança e da mesma forma quando se
reduz. Por exemplo, nos dados do “Aprendendo com exercício 1”,
vimos que da renda disponível, de 600 milhões, o consumo foi de apenas
580 milhões. Assim, existe renda excedente, que é a poupança da
economia no valor de 20 milhões.
Estas informações nos permitem definir a função poupança. Se o
consumo é representado por C = Ca + PMgC × Yd e a poupança, que
simbolizaremos por S, é a renda menos o consumo, ou seja, S = Yd - C,
então:
S = Yd - C = Yd - (Ca + PMgC × Yd) = Yd - Ca - PMgC × Yd
= - Ca + (Yd - PMgC × Yd)
Isolando Yd, temos:
S = - Ca + (1 - PMgC) × Yd
Veja que essa equação diz que, quando não houver renda, haverá
uma despoupança no exato valor do consumo autônomo. Isso é lógico,
pois consumo autônomo é aquele que independe do nível de renda, pois
é o valor mínimo necessário para a sobrevivência. Logo, os indivíduos
estarão gastando poupanças prévias para manter o consumo. E se a
propensão marginal a consumir significa o percentual de variação de
renda que é destinado para o consumo, então, 1- PMgC será o
percentual de variação de renda que será destinado à poupança. Sendo
assim, para resumir a equação de poupança, escreveremos Sa como
sendo - Ca, e 1 - PMgC como sendo PMgS. Logo a equação de
demanda seria representada por S = Sa - PMgS × Yd.
Graficamente a representação da função poupança é dada na figura
3.

Figura 3 – Representação gráfica da função poupança, com destaque para a poupança


autônoma e poupança induzida.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Ao analisar o gráfico da poupança dado na figura 3, observa-se que


ela inicia com um valor negativo, que é igual ao negativo do consumo
autônomo e passa a crescer a medida que aumenta a renda. Na realidade,
até um determinado nível de renda haverá uma redução da perda de
poupança. Quando a reta de poupança corta o eixo das abscissas, isto é,
a reta da renda, significa que tudo que os indivíduos estão ganhando está
sendo consumido. Só haverá poupança positiva a partir deste nível de
renda, ou seja, no segmento da reta de poupança que está acima do eixo
da renda.
Função poupança
S = Sa + PMgS × Yd

Onde:

S = poupança agregada;
As = poupança autônoma – aquela que independe do nível de renda e é o
negativo valor considerado como o mínimo de subsistência quando o nível de
renda for zero:
PM gS = propensão marginal a poupar – coeficiente angular da reta de poupança
e quando multiplicado pela renda disponível dá o valor da poupança induzida;
Yd = renda disponível – renda bruta menos tributos mais transferências. Isto é:
Yd = Y - T + R

O que a função de poupança expressa na realidade é algo bastante


intuitivo, pois percebemos facilmente que, se a renda aumentar, haverá
poupança. E se reduzir, também esta será reduzida. E que com níveis
baixos de renda não há poupança e sim uma despoupança.
Destaca-se que a propensão marginal a poupar é dada por 1-
PMgC, logo, PMgC + PMgS = 1 e como o campo de variação da PMgC
é O < PMgC < 1, então, a variabilidade admitida para a propensão
marginal a poupar é: O < PMgS < 1.

Propensão marginal a poupar

Onde:
PM gS = propensão marginal a poupar – que pode ser interpretado como o
percentual da variação da renda que é destinado a poupança. Ela é definida como
PM gS = 1 – PM gC e seu campo de variação é 0 < PMgC < 1;
Δ S = variação do consumo
ΔYd = variação da renda

O “Aprendendo com exercício 2” visar fixar os conteúdos relativos


à função poupança, e busca, também, destacar as relações existentes
entre poupança e consumo.

Aprendendo com exercício 2

Com base na função consumo dada no “Aprendendo com


exercício 1”, C = 100 + 0,8Yd, responda:

a. Qual seria a função poupança correspondente?


b. Qual seria a poupança nacional caso a renda disponível fosse
de 600 milhões de reais? E quando a renda disponível fosse de
400?
c. De quanto aumentaria a poupança se a renda aumentasse em
100 milhões?
d. Represente graficamente a equação da poupança com a
solução da questão “a”, com a renda de equilíbrio da questão
“b” de 600 milhões de reais.

Solução:

a. A Função de poupança genérica é: S = Sa - PMgC × Yd,


sendo Sa = - Ca e PMgS = 1 - PMgC. Assim, Sa = - 100 e
PMGS = 1 - 0,8 = 0,20. Logo:

S = -100 + 0,2 × Yd
b. Para encontrar a poupança nacional, basta substituir o valor
da renda agregada na função na função da poupança: para a
renda de 600 milhões S = - 100 +0,2(600) = - 100 + 120 =
20. Logo, a poupança agregada da economia seria de 20
milhões de reais; para a renda de 40 milhões S = - 100
+0,2(400) = - 100 + 80 = - 20. Desta forma uma economia
que apresentasse uma renda de 400 milhões estaria em um
nível de renda tão baixo que teria uma poupança negativa.
c. A variação da poupança depende da PMgS. Como ela é de 0,2,
significa que 20% das variações de renda serão destinadas à
poupança, ou seja, se a renda aumenta em 100 milhões, então,
a poupança aumentará em 20 milhões. Formalmente poderia
ser calculado como ΔS = PMgS × ΔYd = 0,2(100) = 20.
Observe que na questão “b” a renda calculada oscilou de em
-200 (de 600 para 400) e veja que a poupança caiu de 20
positivo para 20 negativo, que é uma redução de 40 milhões,
exatamente o valor da PMgS × ΔYd = 0,2(-200) = -40
d. Graficamente essa equação teria a seguinte representação:

Das relações básicas vimos o consumo e a poupança, que são


variáveis relacionadas as decisões da família. Agora analisaremos o
investimento que é uma variável relacionada às empresas. Este é o
objetivo da próxima seção.
2.2.3 Função investimento

Antes de iniciar a análise da função de investimento, vamos definir o


que é investimento em economia. Para a economia, investimento é a
aquisição de máquinas e equipamentos para a produção de novos
produtos e serviços. Assim, a compra de um carro para ser utilizado na
empresa pela equipe de vendas, por exemplo, é um investimento. É
necessário ressaltar que a compra de ações ou de um título público é
uma aplicação financeira e não um investimento como é comumente
chamado na imprensa. Tenha atenção para essa distinção neste tópico e
no Capítulo 4, que trata de políticas econômicas.
Quando tratamos de compreender o que determina o nível de
investimentos pelas firmas nos perguntamos: quais as variáveis
macroeconômicas que afetam a decisão de investimento? Ao refletirmos
sobre isso, verificamos que duas variáveis são determinantes, que são o
nível de renda e a taxa de juros. Ambas são fáceis de compreender, pois
uma economia em que a renda está crescendo indica que está se abrindo
novas oportunidades de negócios e de ampliação do mercado para os já
existentes, necessitando assim, expandir a empresa. Já em um período
de depressão (queda acentuada da renda) as empresas reduzirão seus
investimentos por não perceberem oportunidades para novos produtos e,
ao mesmo tempo, as fábricas já instaladas estarão operando com
ociosidade, não tendo o porquê de aumentá-las. Assim, vê-se que o
investimento apresenta uma relação positiva com o nível de renda.
Quando esta aumenta, os investimentos também aumentam, e quando a
renda diminui, os investimentos diminuem.
Já no que se refere à taxa de juros, o empresário terá um leque de
alternativas de investimentos e dentre estes poderá também aplicar seu
dinheiro em uma operação financeira. Logo, como o capital disponível é
escasso, então o empresário decidirá por aquela utilização que lhe dê o
maior retorno. Assim, se ele decidir ampliar a fábrica e calcular o retorno
desta ampliação como sendo de, digamos, 14% ao ano, ele deverá fazer
uma comparação com o que receberia no mercado financeiro. Se a
melhor aplicação apresentar um rendimento inferior a 14% ao ano, ele
fará a ampliação da fábrica. Se o rendimento da aplicação for superior ao
do investimento, ele deveria abandonar o investimento e aplicar os
recursos no mercado financeiro. Com este raciocínio em mente, então
poderemos ver que, se a taxa de juros diminuir, investimentos que antes
não eram rentáveis passam a ser rentáveis e, portanto, os empresários
ampliarão os investimentos. Já se a taxa de juros aumentar, ocorre o
contrário. Logo, o investimento apresenta uma relação inversa à taxa de
juros, isto é, quando a taxa aumenta, os investimentos diminuem, e
quando diminui, o investimento aumenta.
Considerando o fato de que a investimento tem uma relação direta
com a renda e inversa com o investimento, poderíamos escrever a
função de forma simbólica como: I = f(Y, i) e sua representação genérica
como: I = Ia + PMgI × Y - a × i, onde:

Ia representa o investimento autônomo. Este refere-se àquele que


é independente do nível de renda. O que se quer dizer é que em
qualquer economia sempre haverá um nível de investimento.
Pessoas que mesmo com elevadas taxas de juros na economia e
com o nível de renda muito baixo fazem investimento, por
acreditarem que esses valores são temporários e que seu
investimento lhe dará o retorno desejado. O investimento
autônomo é composto, então, em grande medida, por
expectativas.
PMgI é a propensão marginal a investir. Ela dá a magnitude que
crescerá o investimento para cada real adicional na renda. Ou, em
outras palavras, o percentual de crescimento da renda que será
empregado em investimento.
Y é a Renda Nacional.
a mede a sensibilidade dos investimentos decorrentes da variação
de um ponto percentual na taxa de juros.
i é a taxa de juros.

Veja que a função investimento é semelhante à do consumo com um


termo a mais, que é a taxa de juros. No entanto, é necessário destacar
um diferença significativa desta em relação ao consumo no que se refere
a renda. Na função consumo a renda era a renda disponível, no
investimento é a renda bruta. A razão desta diferença é que os
consumidores recebem a renda líquida, ou seja, os descontos são
realizados antes de que os assalariados recebam seus rendimentos. Já as
empresas apuram os resultados que são os lucros líquidos antes dos
impostos (LAIR) e só então é que incide o imposto de renda sobre as
empresas. Logo, os investimentos são realizados com base na renda
bruta.

Função investimento
I = Ia + PMgI × Y -a × i

Onde:
Ia é o investimento autônomo, composto basicamente por
expectativas;
PMgI é a propensão marginal a investir, que representa a
magnitude que crescerá o investimento para cada real
adicional na renda. Y é a Renda nacional;
a mede a sensibilidade dos investimentos decorrentes da
variação de um ponto percentual na taxa de juros;
i é a taxa de juros.

Para exercitar os conhecimentos adquiridos nessa seção, tem-se o


“Aprendendo com exercício 3”, a seguir.

Aprendendo com exercício 3

Através de testes estatísticos, calculou-se os investimentos da


economia nacional como sendo: C = 200 + 0,1Y – 10i. Conhecendo a
função de investimento, responda:
a. Qual seria o investimento nacional caso a renda disponível
fosse de 1.200 milhões reais e a taxa de juros da economia
fosse de 12% ao ano?
b. Interprete os parâmetros da equação do investimento.
c. De quanto aumentaria o investimento se a renda aumentasse
em 100 milhões?
d. Represente graficamente a equação do investimento com a
solução da questão “a”.

Solução:

a. A função investimento genérica é: I = Ia – PMgC × Yd - ai,


sendo Ia = 200 e PMgI = 0,1, a = 10, a renda de 1.200
milhões e a taxa de juros de 12%, ou seja, i = 12. Logo:
I = 200 + 0,1 × 1.200 - 10 × 12 = 200 + 120 - 120 = 200.
Desta forma uma economia que apresentasse uma renda de
1.200 milhões reais e uma taxa de juros de 12% ao ano teria
um investimento agregado de 200 milhões de reais.
b. Sendo Ia = 200, então, as expectativas geradas pela economia
fizeram com que os investimentos sejam de 200 milhões de
reais, independente do nível de renda e da taxa de juros. Já a
propensão marginal de 0,1 (PMgI = 0,1) indica que cada real
a mais de renda gerará um centavo de acréscimo nos
investimentos e decréscimo se a renda se reduzir. Já a = 10
indica que para cada aumento de + ponto porcentual na taxa
de juros reduzirá os investimentos em 10 milhões de reais, ou,
se a taxa de juros cair um ponto, os investimentos aumentarão
em 10 milhões de reais.
c. A variação do investimento em função da renda depende da
magnitude da PMgI. Como ela é de 0,1, significa que 10%
das variações de renda serão destinadas aos investimentos, ou
seja, se a renda aumenta em 100 milhões, então o
investimento aumentará em 10 milhões. Formalmente, poderia
ser calculado como ΔI = PMgS × ΔY = 0,1(100) = 10.
d. Graficamente essa equação teria a seguinte representação:

É importante destacar que os investimentos atuam como demanda


no mercado enquanto estão sendo realizados, pois para ampliar ou
construir novas fábricas são necessários compra de cimento, telhado,
vigas de ferro etc., o que representa consumo por parte das empresas.
Porém, quando concluídos, representam capacidade ampliada.
As funções estudadas neste capítulo são fundamentais para
compreender a economia em termos agregados. As análises dos
impactos da mudança das expectativas dos empresários, da tributação
etc. serão determinadas, basicamente, pela estrutura destas funções. O
que os analistas de mercado, os investidores e os tomadores de decisão
de políticas macroeconômicas estão preocupados é com os níveis de
equilíbrio da economia e com o seu ritmo de crescimento. A
determinação do equilíbrio na economia é o tema da próxima seção.

2.3 Equilíbrio macroeconômico em uma economia


com dois setores – Famílias e empresas

O estudo do equilíbrio em macroeconomia é fundamental porque


permite aos agentes que atuam no mercado estabelecer suas estratégias
de atuação e ao mesmo tempo aos governantes as políticas
macroeconômicas. Elas permitem avaliar os movimentos que ocorrerão
na economia como consequência de mudanças na estrutura da carga
tributária, nas modificações das taxas de juros etc., que são
fundamentais para quem atua no mercado e necessita planejar suas
operações.
Para melhor compreensão destes mecanismos, começaremos nossa
análise por uma economia com dois setores, ou seja, em que só existam
famílias em empresas. Uma vez compreendido como se dá o equilíbrio
nesta economia, agregaremos outros setores até que ele esteja completo.
O fundamental desta análise é que a demanda agregada é que
determina o nível de renda. Assim, se a demanda agregada aumentar, os
empresários responderão com mais produção. Essa relação se dá sempre
pela análise dos estoques. Se os empresários percebem que seus
estoques planejados estão diminuindo, aumentarão a produção para
elevar o nível de estoques ao almejado, e vice-versa.
Assim, se tivermos apenas dois setores na economia, empresas e
famílias, então a demanda agregada (DA) será composta por consumo –
C (demanda das famílias) e investimentos – I (demanda das empresas).
Resumidamente DA = C + I. E o equilíbrio ocorrerá quando a oferta
agregada (Y) for igual à demanda agregada. O que se quer dizer é:
quando tudo que foi produzido foi consumido, ou seja, Y = DA.
Substituindo DA pelos seus componentes, temos: Y = C + I.
Assim, o equilíbrio será encontrado quando introduzirmos as
equações de consumo e investimento na equação de equilíbrio, de forma
que a representação geral para a determinação da renda de equilíbrio é:

Veja que na função consumo, dada na equação de equilíbrio, foi


substituída a renda disponível (Yd) por renda (Y). Isso se deve ao fato
de não termos governo nesse modelo, logo, não haverá tributação nem
transferências governamentais, de forma que Yd = Y.
Vejamos um exemplo para compreender como isso funciona. Se
uma economia apresenta as seguintes funções:

Consumo C = 200 + 0,70Yd (lembre-se que Yd = Y quando não


há governo)
Investimento I = 300 + 0,2Y – = × 10
A renda de equilíbrio seria encontrada fazendo Y = C + I, ou seja:
Y=C+I
Y = 200 + 0,70Y + 300 + 0,2Y – 5 × 10
Y = 450 + 0,70Y + 0,2Y
Y – 0,70Y – 0,20Y = 450
0,1Y = 450
Y = 450/0,1
Y = 4.500 renda de equilíbrio, isto é, tudo que foi produzido foi
consumido.

O que este resultado diz é que, quando o produto interno bruto de


uma economia (ou sua renda equivalente) for de 4.500, todo ele será
adquirido pelas famílias (consumo das famílias) e pelas empresas
(aquisição das empresas em forma de investimento). Para comprovar
essa afirmação, vamos substituir a renda encontrada na função consumo
e na função investimento e verificar seus valores.

Consumo: C = 200 + 0,70(4.500) = 200 + 3.150 = 3.350


Investimento: I = 300 + 0,2(4.500) – 5 × 10 = 250 + 900 = 1.150
Demanda agregada = C + I = 3.350 + 1.150 = 4.500.

Equilíbrio em uma economia com dois setores - Famílias e empresas

O equilíbrio significa que tudo que foi produzido internamente no país


(PIB ou sua renda equivalente) será demandado Y=C+I
Em uma economia de dois setores, sem governo, não haverá tributos nem
tampouco transferências governamentais; assim, a renda disponível que é
Yd = Y - T + R será idêntica à renda bruta, ou seja, Yd = Y.
Algebricamente se determina a renda de equilíbrio por:

Para exercitar os conhecimentos adquiridos nessa seção, tem-se o


“Aprendendo com exercício 4”, a seguir.

Aprendendo com exercício 4

Supondo a função consumo como sendo C = 1.000 + 0,8Yd e a


função de investimento dada por I = 600 + 0,1Y - 10 × i, e sabendo
que a taxa de juros da economia é 10% ao ano, responda:

a. Qual seria a renda de equilíbrio da economia?


b. Qual seria o nível de consumo e investimento na renda de
equilíbrio?
c. O que significa renda de equilíbrio?

Solução:

a. A renda de equilíbrio:
Y=C+I
Y = 1.000 + 0,8Yd + 600 + 0,1Y - 10 × 10
Y = 1.500 + 0,90Y
Y - 0,9Y = 1.500
0,1Y = 1.500
Y = 1.500/01
Y = 15.000 renda de equilíbrio.
b. Total do consumo e do investimento:
Consumo: C = 1.000 + 0,8(15.000) = 1.000 + 12.000 =
13.000
Investimento: I = 600 + 0,1(15.000) - 10 × 10 = 500 + 1.500
= 2.000
c. Renda de equilíbrio indica que tudo o que foi produzido foi
demandado. Ou seja, o produto de 15.000 desta economia foi
consumido pelas famílias no valor de 13.000 e pelas empresas
em forma de investimento no valor de 2.000, que totalizam
15.000 de demanda agregada, valor equivalente ao produto.

Uma vez visto o equilíbrio em uma economia com dois setores


podemos partir para avaliação do impacto na economia decorrente da
inserção do governo. Este tema é abordado na seção seguinte.

2.4 Equilíbrio macroeconômico em uma economia


com três setores – Famílias, empresas e governo

Quando introduzimos o governo em nossa economia, teremos no


fluxo do produto dois elementos importantes. O primeiro a questão da
tributação (T) e o segundo a questão dos gastos públicos (G). Estes
elementos se referem às receitas e despesas do governo. O setor público
terá equilíbrio orçamentário quando receitas e despesas forem iguais (T
= G + R). Quando as receitas forem superiores às despesas (T > G +
R), haverá superávit fiscal na economia e, quando ocorrer o contrário (G
+ R > T), esta economia estará incorrendo em déficit orçamentário.
Vejamos como se compõe cada uma destas duas grandes contas do
governo. As receitas, que denominaremos de “T”, são compostas por
uma diversidade de taxas e impostos. Faremos uma simplificação para
agrupá-los em impostos que são função da renda, como o imposto de
renda (seja da pessoa física ou da pessoa jurídica), e os impostos que
são realizados independentes da renda, como, por exemplo, o Imposto
Predial e Territorial Urbano – IPTU. Para compreender por que este
independe do nível de renda, pense em um condomínio de apartamentos
onde morem mais de 100 famílias. As rendas destas famílias
possivelmente serão diferentes, mas todas pagarão o mesmo imposto
predial, e mesmo que algumas delas percam o emprego e não tenham
renda alguma, deverão pagar o mesmo valor de IPTU.
Assim, poderemos simbolizar as receitas como sendo T = Ta +
PMgT × Y. Onde: Ta representa o total dos impostos que são
independentes do nível de renda; PMgT a propensão marginal a tributar,
que tem sentido semelhante à PMgI ou à PMgC, ou seja, representa o
quanto de cada real adicional da economia será transformado em
impostos; e Y a renda total da economia ou o PIB equivalente a esta
renda.
Já os gastos do governo serão sempre considerados uma constante
– G, dado que as análises macroeconômicas da renda de equilíbrio são
de curto prazo, ou seja, análise do produto etc. de um ano. Como os
gastos são definidos por orçamento antes do início do exercício, então
ele está determinado para o ano em que entra em vigor,
independentemente do que ocorra com a renda ao longo do ano em
questão.
Outro aspecto fundamental é a interferência do governo nos gastos
de consumo, pois a renda disponível, que é aquela que recebemos após
os descontos no salário, é dada pela renda bruta (Y) menos os tributos
(T) e mais as transferências governamentais (R), que são aquelas rendas
decorrentes, por exemplo, de auxílio-desemprego, natalidade etc., isto é:
Yd = Y - T + R.
Logo, a função consumo que é C = Ca + PMgC × Yd ficará sendo:

C = Ca + PMgC × Yd substituindo a renda disponível por Yd = Y -


T + R, obtemos:
C = Ca + PMgC × (Y - T + R) substituindo o tributo por sua
função, resulta:
C = Ca + PMgC × (Y - [Ta + PMgT × Y] + R)

Os investimentos, como destacado na seção 2.2.3, não sofrem


influência dos tributos, logo a renda de equilíbrio fica sendo:
Y = C + I+ G

Vejamos um exemplo para compreender como se dá o equilíbrio.


Para isso, vamos utilizar o exemplo visto na seção anterior e apenas
acrescentaremos o governo. Assim, a economia apresentaria as
seguintes funções:
Consumo C = 200 + 0,70Yd
Investimento I = 300 + 0,2Y - 5 × 10
Tributo T = 60 + 0,05Y
G = 250
R = zero (não há transferências nesta economia)
A renda de equilíbrio seria encontrada fazendo Y = C + I, ou seja:
Y=C+I
Y = 200 + 0,70(Y - [50 + 0,05Y]) + 300 + 0,2Y - 5 × 10 + 250
Y = 200 + 300 - 50 + 250 + 0,70Y - 35 - 0,035Y + 0,2Y
Y = 700 - 35 + 0,70Y - 0,035Y + 0,2Y
Y = 665 + 0,865Y
Y - 0,865Y = 665
0,135Y = 665
Y = 665/0,135
Y = 4.925,92 renda de equilíbrio, isto é, tudo que foi produzido
foi consumido.

Vamos calcular o consumo, o investimento, a arrecadação do


governo e avaliar a existência de déficit ou superávit nas contas públicas.
Consumo: C = 200 + 0,70(Y - [50 + 0,05Y])
Simplificando a função consumo:
C = 200 – 35+ 0,7Y - 0,035Y = 165 + 0,665Y
Substituindo o valor da renda de equilíbrio:
C = 165 + 0,665(4.925,92) = 3.440,74

Investimento: I = 300 + 0,2(4.925,92) - 5 × 10 = 1.235,18


Demanda agregada = C + I + G = 3.440,74 + 1.235,18 + 250 =
4.925,92.
Arrecadação total do governo: T = 50 + 0,05 × 4.925,92 = 296,30
Déficit ou superávit = T - G + R = 296,30 - 250 = 46,30
superávit

Interessante observar que, em uma economia com governo, a


influência do governo para a magnitude da renda é imensa, pois ela entra
na equação somando diretamente a demanda agregada e no consumo
retirando via PMgC, ou seja, parte da tributação é redução de consumo e
parte de poupança. Como poupança no curto prazo é ruim, pois
representa vazamento de demanda, então sua redução e o consequente
aumento da demanda agregada faz com que a renda agregada aumente.
Por exemplo, veja que na seção anterior, em que não havia governo, a
renda de equilíbrio – para as mesmas funções de consumo e
investimento – geraram uma renda de equilíbrio de 4.500. Agora, com a
introdução do governo, a renda de equilíbrio passou para 4.925,92.

Equilíbrio em uma economia com três setores – Famílias, empresas e governo


O equilíbrio significa que tudo que foi produzido internamente no país
(PIB ou sua renda equivalente) será demandado Y = C + I + G
Algebricamente se determina a renda de equilíbrio por:
Y=C+I+G
Déficit ou superávit = T - G + R
Se T - G + R < 0 Déficit
Se T - G + R = 0 Equilíbrio orçamentário
Se T - G + R > 0 S uperávit

Para exercitar os conhecimentos adquiridos nessa seção, tem-se o


“Aprendendo com exercício 5”, a seguir.

Aprendendo com exercício 5

Supondo a função consumo como sendo C = 1.000 + 0,8Yd; a


função de investimento é I = 600 + 0,1Y - 10 × i; a função tributária é
T = 100 + 0,18Y; os gastos do governo são G = 400; e a taxa de
juros da economia é 10% ao ano, responda:

a. Qual seria a renda de equilíbrio da economia?


b. Qual seria o nível de consumo e investimento na renda de
equilíbrio?
c. Essa economia apresenta déficit ou superávit fiscal?

Solução:

a. A renda de equilíbrio:
Y = C + I+ G
Y = Y = 1.000 + 0,8 × (Y -100 -0,18 × Y) + 600 + 0,1Y - 10
× 10 + 400
Y = 1.920 + 0,756
Y - 0,756 Y = 1.820
0,244Y = 1.820
Y = 1.820/0,244
Y = 7.459,01 renda de equilíbrio.
b. Total do consumo e do investimento:
Consumo: C = 1.000 + 0,8 × (7.459,01 -100 -0,18 ×
7.459,01) = 5.813,11
Investimento: I = 600 + 0,1(7.459,01) - 10 × 10 = 1.245,90
c. Déficit ou Superávit = T - G + R = 100 + 0,18 × 7.459,01 -
400 = 1.042,62.
Logo, esta economia apresenta superávit fiscal.

Importante observar que em uma economia, quando há alterações


na demanda, essa alteração exercerá um efeito multiplicador da renda.
Ou seja, se os gastos do governo aumentarem, mantendo constantes as
demais variáveis, esse aumento de gastos fará com que a economia
cresça em valores superiores a este gasto. Intuitivamente, pode-se
pensar que este gasto inicial de renda na economia vá tendo impactos em
outros setores, na medida em que impulsionarem novos negócios em
efeitos cada vez mais fracos até que seja eliminado. Quando isso ocorrer,
a renda terá crescido mais que o valor inicial.
Este efeito multiplicador é denominado de multiplicador keynesiano
(k) e é determinado pela equação:

O multiplicador keynesiano, para os dados do “Aprenda com


exercício 5”, seria:

Pelo valor do multiplicador teríamos que o aumento, por exemplo,


dos gastos públicos de 100 teria um impacto na renda de 410.
Conhecendo este efeito é que os países realizaram uma política de
aumento dos gastos públicos para conter a crise do subprime, que
iniciou em 2006 e atingiu seu ápice em 2008. Os países desenvolvidos,
percebendo o impacto elevado da crise sobre suas economias, lançaram
mão de aumento dos gastos públicos para manter a demanda agregada
em níveis elevados e com isso conseguiram reduzir de forma drástica o
efeito da crise, mas, como em muitos deles a situação fiscal já era
deficitária, a ampliação dos gastos fez com que, em muitos deles, as
dívidas públicas atingissem níveis insustentáveis, gerando a crise de
2010, na Comunidade Econômica Europeia, em que diversos países
europeus se viram forçados a realizar pesados ajustes fiscais para conter
este elevado déficit.

2.5 Considerações acerca dos conteúdos analisados

O conteúdo estudado neste capítulo é a base teórica para a


formulação de políticas fiscais de estabilização econômica para avaliar os
impactos em termos de geração ou perda de empregos decorrentes das
alterações na carga tributária. Existem diversos livros que tratam deste
tema e, portanto, sugeriremos algumas referências para que o leitor
possa se aprofundar no tema caso tenha interesse.
Um livro introdutório ao tema, mas bastante completo no assunto é
o “ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 20. ed., São
Paulo: Atlas, 2003”. É um excelente livro, bastante completo, e podem
ser adquiridas edições anteriores em muitos sebos. Segundo o material
publicitário do site da Atlas: “Constitui um clássico na literatura brasileira
da área. Tem sido objeto de constantes revisões e adaptações desde o
seu lançamento. Desse modo, apresenta um texto abrangente e
completo, capaz de atender às exigências de um curso introdutório de
Economia de alto padrão”. Um pouco mais aprofundado no tema
versado no capítulo é o livro de MANKIW, N. Gregory. Macroeconomia.
Rio de Janeiro, LTC, 2010. Como indicação final, com abordagens mais
avançadas no tema tem-se BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 4.
ed. São Paulo: Pearson, 2006.
Outro local onde se pode obter informações muito boas é no
YouTube. Indicamos em especial as videoaulas do prof. Rubens Ramos,
onde indicamos para localização inicial a aula
http://www.youtube.com/watch?v=gXeXM2VsXjk&feature=related.
Outros vídeos bem feitos são as aulas denominadas de Economia
Descomplicada que pode ser obtida a aula inicial em
http://www.youtube.com/watch?v=liZcE05M93U&feature=related. Para
quem compreende o espanhol, há uma gama mais ampla de aulas, como
as do Juan Garcia http://www.youtube.com/watch?
v=qLv2Jz8v3Wg&feature=related.

Este capítulo foi elaborado por Tiago Wickstrom Alves.

1 A análise sobre os tributos e as transferências é realizada na seção 2.4, quando


incluímos o governo na análise.
CAPÍTULO 3

GOVERNO E POLÍTICA ECONÔMICA:


POLÍTICA FISCAL E MONETÁRIA

Este capítulo é uma aplicação dos conceitos vistos no Capítulo 2,


no que se refere à política fiscal, e agrega novos conteúdos ao
tratar da economia monetária, um ramo da economia que trata do
mercado financeiro e dos instrumentos de política monetária. A
integração destes dois grupos dá as condições necessárias para
avaliar as alternativas de política econômica para aplacar crises
econômicas, impulsionar o crescimento e, também, realizar a
construção de cenários de futuro a partir das políticas de juros e
gastos do governo no presente.

3.1 Política fiscal

A política fiscal tem como base os gastos públicos ou a tributação.


Aumentos dos gastos públicos, conforme visto no Capítulo 2, gera
aumento da demanda agregada e, pelo efeito multiplicador keynesiano
(k), aumento da produção do emprego e renda em valores superiores aos
realizados nos gastos. Ou seja, se o governo aumentar os gastos em 100
milhões de reais, a renda irá crescer em valores superiores a 100. Por
exemplo, no multiplicador keynesiano, para os dados do “Aprendendo
com exercício 5”, da seção 2.4, tínhamos obtido o valor k como sendo:
Uma economia
com este multiplicador teria como impacto de 100 milhões a mais de
gastos públicos um crescimento do PIB, como consequência deste
gasto, de 410 milhões de reais.
A redução de gastos teria o mesmo impacto só que em sentido
negativo, ou seja, de queda da renda e do produto. Você pode estar se
perguntando por que os governos reduzem gastos se essa redução causa
queda da renda. Ocorre que, em determinadas situações, a demanda está
crescendo acima da capacidade de expansão da economia e o resultado
será inflação. Para frear a inflação, os governos podem lançar mão da
redução de gastos.
Os mesmos resultados podem ser obtidos por meio da variação na
taxa dos impostos ou criação/extinção de tributos. A diferença básica
entre estes, do ponto de vista econômico, refere-se ao fato de que os
tributos agem sobre o consumo e este sobre a demanda. Já os gastos
públicos não, eles entram diretamente na demanda agregada. Assim, um
aumento de gastos tem efeito direto na demanda e pelo efeito
multiplicador no restante dos componentes da demanda (consumo,
investimento e importação), enquanto a tributação age por meio do
consumo e poupança e estes sobre a demanda e, por fim, em função do
multiplicador nos demais componentes da demanda agregada.
A demanda agregada vista no Capítulo 2 era de três setores
(famílias, empresas e governo) que era dada por PIB = C + I + G
(lembrando que PIB era igual à renda Y). Esta, na realidade, é uma
economia fechada, isto é, que não tem o setor externo. Ampliando a
demanda agregada para introduzir o setor externo, portanto uma
economia com quatro setores, teríamos a demanda agregada como
sendo PIB = C + I + G + (X - M), onde C é o consumo, I o
investimento, G os gastos públicos como visto no Capítulo 2, e X
representa as exportações e M as importações. Veja que M é negativo,
logo, ampliação das importações reduz a demanda agregada. Isso é
obviamente percebido, pois os agentes deixam de consumir produtos
fabricados no país para consumir artigos importados.
Logo, os tributos também afetam as exportações e as importações
se forem realizados sobre estas. Assim, resumidamente, se os tributos
variam, alteram o consumo que por sua vez altera o PIB. Já se os gastos
do governo alteram diretamente o PIB. O mesmo ocorre com os tributos
de importação. Esquematicamente apresentam-se os efeitos de políticas
fiscais expansionistas na figura 4. Nesta são considerados apenas efeitos
expansionistas, isto é, que fazem com que a renda aumente.

Figura 4 – Política fiscal expansionista.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Políticas fiscais expansionistas são extremamente relevantes em


situações em que a economia tenha escassez de demanda, pois o impacto
destas políticas em momentos de crise por deficiência de demanda,
como foram a crise que se iniciou em 1929 e ficou conhecida como a
grande depressão de 1930, pois perdurou por toda essa década, e a crise
do subprime.
Já as políticas fiscais contracionistas fazem com que a renda e o
PIB diminuam, conforme pode ser observado na figura 5. Essas políticas
visam à contenção da demanda com fins de evitar inflação que esteja
sendo ocasionada pelo fato de esta estar crescendo acima da capacidade
de crescimento da produção.
Figura 5 – Política fiscal contracionista.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Em resumo, o governo pode agir através dos gastos públicos e dos


tributos com a finalidade de, no curto prazo, alterar a demanda agregada
e com isso minimizar os efeitos de crises econômicas ou reduzir
processos inflacionários que sejam causados por excesso de demanda
agregada.
Alguns elementos dificultam a eficácia das políticas fiscais. O
primeiro deles é o fato de que o governo federal tem um programa
orçamentário para ser desenvolvido ao longo do ano seguinte no qual ele
foi determinado, em que são fixadas as despesas planejadas e as taxas
tributárias. Supondo que a previsão seja de um superávit fiscal, este pode
não ser atingido, uma vez que ele dependerá do nível de atividade
econômica que ocorrerá no ano seguinte e que é desconhecido no
presente.
O segundo elemento é que as decisões da política fiscal envolvem
tanto o poder executivo como o legislativo, e algumas decisões que vão à
votação no congresso poderão ser rejeitadas, embora fossem
necessárias, se elas tiverem impactos negativos fortes na base eleitoral
dos deputados.
3.2 Política monetária

Na política monetária as relações analisadas são a oferta e a


demanda de moeda. Na política fiscal a oferta e a demanda referiam-se a
produtos e serviços, já na política monetária busca-se estabelecer as
relações para que haja equilíbrio entre oferta e demanda de moeda.
Ou seja, o governo, via Banco Central, busca estabelecer um
controle da oferta e da demanda de moeda, controlando, assim, a
liquidez da economia e estabilizando as taxas de juros da mesma. Dessa
forma, para compreender como se dá este controle é preciso primeiro
definir o que é a demanda por moeda e depois o que se entende por
oferta de moeda. Compreendidos estes conceitos, analisamos então os
instrumentos pelos quais o Banco Central opera no mercado financeiro
para impor as políticas monetárias.

3.2.1 Demanda por moeda

A demanda por moeda refere-se ao volume de papel-moeda que os


indivíduos mantêm, em média, por mês para realizar suas transações
comerciais e por motivos de segurança. Assim, a forma de como estão
distribuídas as despesas dos agentes ao longo do mês e os períodos de
recebimento das suas rendas afetam drasticamente a demanda por
moeda.
Vamos exemplificar para melhor compreender esse ponto, supondo
dois indivíduos (A e B) que ganhem 1.000 reais mensais e que seus
salários são recebidos no primeiro dia do mês.
O indivíduo A realiza a quase totalidade de suas compras com
cartão de crédito que tem vencimento no mesmo dia em que recebe o
salário (primeiro dia de cada mês), ficando com apenas 100 reais ao
longo do mês para compras de pequeno valor. Ainda, toda sua renda é
gasta no período de um mês, e, portanto, no dia 30 ou 31, data anterior
ao recebimento, não terá nenhum real na carteira ou em depósito à vista
no banco.
O indivíduo B também gasta todo seu salário no mês, mas tem suas
despesas distribuídas de forma mais uniforme ao longo do período. Paga
as contas relacionadas a casa, como água, luz telefone etc., no dia 5. Já
as contas relacionadas ao supermercado no dia 10. As compras com
roupas etc. ele procura concentrar o vencimento para o dia 20. A partir
deste dia, ele mantém o que sobra para uma eventualidade e vai gastando
paulatinamente até o final do mês.
Qual destes dois indivíduos possui maior demanda por moeda? É o
B, pois ao longo do mês ele reteve mais papel-moeda ou depósito à vista
no banco. A melhor associação, para que se possa compreender a
questão da demanda por moeda, é associá-la com o saldo médio
bancário. Se colocarmos 10 mil reais em uma conta bancária, e
retirarmos logo o recurso, nosso saldo médio será muito pequeno no
mês. Já se formos sacando aos poucos da conta, vamos ter um saldo
médio maior e, por fim, se depositarmos no primeiro dia do mês e
sacarmos no último dia, teremos o maior saldo médio dos três casos,
que é o próprio valor depositado, 10 mil.
Assim, qualquer fator que afete o custo de manutenção destes
recursos em espécie ou no depósito à vista no banco, alterará a demanda
por moeda. Por exemplo, se a inflação aumentar, então, manter dinheiro
no banco em depósito à vista ou em casa, sem aplicá-lo, ele estará
perdendo poder aquisitivo e a cada dia poderemos adquirir menos bens e
serviços. Ou seja, a cesta de compras no supermercado no início de mês
custará menos que a realizada no final do mês, logo, os indivíduos
tenderão a gastar logo seus recursos e o que sobrar aplicar no mercado
financeiro para tentar preservar o poder aquisitivo de seus recursos,
reduzindo assim sua demanda por moeda.
Outro fator que afeta a demanda por moeda é a taxa de juros.
Quanto mais alta ela for, mais incentivo teremos para aplicar nossos
recursos no mercado financeiro, obtendo, assim, ganhos de capital.
Logo estaremos reduzindo a demanda por moeda à medida que aumenta
a taxa de juros.
Esquematicamente podemos representar essas relações como dado
na figura 6.

Figura 6 – Impacto dos juros e inflação sobre a demanda por moeda.


Fonte: Elaborada pelo autor.

A figura 6 evidencia que quando os custos de retenção de moeda


aumentam a demanda por moeda diminui e vice-versa. Quando nos
referimos a custos de manutenção, basicamente estamos dizendo que a
moeda está perdendo valor no tempo ou que estamos deixando de obter
ganhos de capital de aplicações financeiras.

3.2.2 Oferta de moeda

A oferta de moeda representa os recursos monetários que os


indivíduos dispõem para realizar suas transações ou, em conceito mais
amplo, a riqueza monetária dos indivíduos. Esse capital pode estar sob a
forma de espécie, isto é, dinheiro manual e moedas; e/ou em depósitos à
vista nos bancos comerciais ou múltiplos ou na Caixa Econômica
Federal. Pode também estar em diversas aplicações que existem no
mercado financeiro. Essas aplicações podem ser resgatadas e
transformadas em dinheiro, portanto são consideradas como meios de
pagamentos. Porém, mesmo sendo considerados meios de pagamentos,
eles diferem entre si e podem ser agrupados em quatro grandes grupos.
Esses grupos são os denominados de M1, M2, M3 e M4. São assim
agrupados para permitir uma melhor gestão da oferta de moeda.
Destaca-se que toda a riqueza monetária da sociedade tem como
base o volume de moeda em espécie em circulação na economia, que se
denomina de base monetária. A moeda produzida pela Casa da Moeda e
posta em circulação pelo Banco Central passa a compor a base
monetária. Assim, o papel-moeda e moedas metálicas que estão em
poder do público mais as reservas bancárias, que são o volume de
dinheiro retido pelas instituições bancárias para atender a necessidade de
saque de seus clientes mais o papel-moeda retido como compulsório pelo
Banco Central compõem a base monetária. A base monetária, de fato, dá
o lastro de papel-moeda e moeda na economia.
Alicerçado na base monetária e na organização do sistema financeiro
nacional é que se compõem os demais grupos de meios de pagamentos.
Esses conceitos sofreram uma modificação no seu agrupamento em
julho de 2001. Até essa data, eles eram definidos pelo critério de liquidez.
Os novos conceitos de meios de pagamento representam uma mudança
nos critérios de ordenamento de seus componentes, pois deixaram de
seguir o grau de liquidez e passaram a ser compostos por seus sistemas
emissores.
A conceituação atual é:
Meios de pagamento restritos:
M1 = papel-moeda em poder do público + depósitos à vista

Meios de pagamento ampliados:


M2 =M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de
poupança + títulos emitidos por instituições depositárias
M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações
compromissadas registradas no Selic (Sistema Especial de
Liquidação e Custódia)
M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez

O conceito convencional (M1) baseia-se fundamentalmente na


função da moeda como intermediária nas trocas. Os demais representam
riqueza que pode ser convertida em moeda em espécie, mas requer
algum tempo ou perda de rendimentos para tal. Sua conceituação tem
como base o agente emissor destes recursos.
Para se ter ideia da composição destes meios de pagamentos na
economia brasileira, construiu-se a figura 7. Nesta o volume dos meios
de pagamentos estão em percentual do PIB.

Figura 7 – Composição dos meios de pagamentos no Brasil.


Fonte: Banco Central do Brasil.

Pelos dados da figura 7 pode-se perceber que o que existe de fato


de riqueza monetária das pessoas na economia brasileira é de menos de
10% do PIB, enquanto o M4 chega a quase 80% do PIB. Se houvesse
uma crise de confiança e as pessoas corressem aos bancos para sacar
seus recursos, a economia entraria em colapso imediatamente. Ainda,
uma crise no sistema bancário é sistêmica, pois afeta todos os demais
setores da economia, seja pelo aumento dos juros, seja pela falta de
liquidez e impossibilidade de ampliação das relações comerciais, seja pelo
risco de corrida bancária. Por todas estas razões é que o sistema
financeiro requer um rígido controle por um órgão que seja técnico e, no
mínimo, relativamente independente dos desejos políticos.

3.2.3 Instrumentos da política monetária

Os instrumentos de política monetária são os meios pelos quais o


Banco Central consegue exercer o controle dos meios de pagamentos,
ou seja, de ampliar ou reduzir a oferta de moeda. Os quatros
instrumentos são: Depósito Compulsório; Redesconto ou Empréstimo de
Liquidez; Operações de Mercado Aberto; e Controle e Seleção de
Crédito. Vejamos cada um deles.
a. Depósito Compulsório ou Taxa de Reserva
A taxa de reserva refere-se ao percentual dos depósitos à vista que
os bancos são obrigados a recolher aos cofres do Banco Central. Por
exemplo, se ela for de 10%, significa que, para cada 100 reais em
depósitos à vista, 10 reais deverão ser recolhidos como depósito
compulsório aos cofres do Banco Central.
Cada banco, ao realizar uma operação de crédito, está ampliando os
meios de pagamentos. Por quê? Porque, ao emprestar um recurso de um
cliente para outro, o cliente que havia deixado dinheiro no depósito à
vista não perdeu seu direito sobre este recurso e o cliente que recebeu o
empréstimo passa a ter o valor do crédito como moeda para gastar.
Logo, esta operação multiplica os meios de pagamentos.
Dessa forma, a aplicação de um depósito compulsório restringe a
capacidade dos bancos realizarem empréstimos e, portanto, reduz os
meios de pagamentos. Assim, as taxas de reserva são determinantes na
magnitude dos meios de pagamentos, pois o multiplicador dos meios de
pagamento decorre basicamente desta taxa. Portanto, a determinação das
taxas de reserva é o elemento de maior impacto sobre o volume dos
meios de pagamentos na economia.
Vamos avaliar o mecanismo de multiplicação dos meios de
pagamentos através de um exemplo. Suponha que as pessoas não
retenham moeda em casa, ou seja, toda moeda é depositada no banco em
depósito à vista. A taxa de depósito compulsório é de 20% (aquele que
deve ser recolhido à ordem do Banco Central) e o encaixe técnico de
10% (aquele volume de moeda em espécie que o banco retém para
atender aos possíveis saques de seus clientes). Logo, o total das reservas
é 30%. No primeiro período ingressa em uma conta corrente 100 reais.
Esquematicamente poderíamos apresentar o movimento de multiplicação
dos meios de pagamentos conforme a figura 8.
Veja no esquema apresentado na figura 8 que, em apenas três
operações, os meios de pagamentos que eram de 100 passaram para
219. Representando em uma tabela o exemplo acima, com dezesseis
operações, obtemos a tabela 1.

Figura 8 – Efeito multiplicador dos meios de pagamentos decorrentes de operações de


crédito.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 1 – Efeito multiplicador dos meios de pagamentos quando as


taxas de reserva forem 30%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Considerando os mesmos dados, porém alterando as taxas de


depósito compulsório para 40%, de forma que o total das taxas de
reserva passasse a ser de 50%, teríamos os dados conforme a Tabela 2.

Tabela 2 – Efeito multiplicador dos meios de pagamentos quando as


taxas de reserva forem 50%
Fonte: Elaborada pelo autor.

Veja que em apenas nove operações se esgotaram os empréstimos e


os meios de pagamentos se ampliaram para apenas 200. Embora este
valor seja significativamente menor que o obtido com uma taxa de 30%,
ainda é o dobro do valor da base monetária.
Com estes exemplos, pode-se compreender como se dá o efeito
multiplicador dos meios de pagamentos pelos bancos e também permite
avaliar como o sistema financeiro é dependente de credibilidade para ser
estável, pois ao se multiplicar os meios de pagamentos, não há recursos
monetários em espécie para a riqueza que os indivíduos possuem em
termos monetários.
Logo, quando o Banco Central aumenta o depósito compulsório
estará reduzindo os meios de pagamentos e vice-versa. No Brasil as
taxas de reservas compulsórias são determinadas pelo Conselho
Monetário Nacional, sendo Recolhidas à Ordem do Banco Central. O
Conselho Monetário Nacional (CMN) tem a responsabilidade de formular
a política da moeda e do crédito, objetivando a estabilidade da moeda e o
desenvolvimento econômico e social do país, e é o órgão superior do
Sistema Financeiro Nacional. Ele foi criado pela Lei 4.595, de 31 de
dezembro de 1964, e sofreu algumas alterações em sua composição ao
longo dos anos. Atualmente, é composto pelo:
Ministro da Fazenda, como Presidente do Conselho;
Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão;
Presidente do Banco Central do Brasil.

Os seus membros reúnem-se uma vez por mês para deliberar sobre
assuntos relacionados com as competências do CMN e, em casos
extraordinários, pode acontecer mais de uma reunião por mês. As
matérias aprovadas são regulamentadas por meio de resoluções,
normativo de caráter público, sempre divulgado no Diário Oficial da
União e na página de normativos do Banco Central do Brasil.
b. Redesconto ou empréstimo de liquidez
As operações de redesconto são na realidade uma assistência
financeira de liquidez, prestadas pelas autoridades monetárias aos bancos
comerciais. Essa operação ocorre tendo por base títulos descontados
pelos clientes do banco. Por exemplo, quando um cliente vai ao banco
com um determinado título de crédito, digamos uma nota promissória, e
a desconta, ele está antecipando o recebimento da mesma com um
desconto de juros cobrado pelo banco pela antecipação. Porém, se o
banco tiver problemas de liquidez, poderá ir ao Banco Central e
redescontar este título mediante pagamento de juros. Por isso se chama
de operação de redesconto ou empréstimo de liquidez.
A operacionalização desse instrumento pode ser feita de quatro
formas:

1. Alteração da taxa de juros cobrada pelo Banco Central.


Esquematicamente seus efeitos são:
2. Alteração dos prazos para resgate de títulos. Esquematicamente
seus efeitos são:

3. Alteração dos limites de operação. Esquematicamente seus


efeitos são:

4. Restrição de títulos descontáveis. Esquematicamente seus efeitos


são:

O aumento da taxa de juros, redução nos prazos de resgate, redução


nos limites das operações e maiores restrições aos tipos de títulos atuam
no sentido de forçar os bancos comerciais a aumentarem suas reservas e
com isso reduz-se os meios de pagamentos, e vice-versa.
As operações de redesconto possuem duas formas. A primeira
quando a operação se realiza dentro do limite fixado pelo BACEN (em
função das médias dos depósitos à vista e a prazo, captados pelos
bancos comerciais), que se denomina de intralimites. A segunda, quando
essa operação extrapola o limite estipulado pelo BACEN e se denomina
de extralimite. Estas apresentam uma taxa de juros mais elevada que a do
intralimite.
c. Operações de mercado aberto
É o instrumento mais ágil e de reflexos mais rápidos. Permite o
controle da oferta e da taxa de juros monetária no dia a dia. As operações
de mercado aberto referem-se a compra e venda de títulos da dívida
pública e permitem: controlar a oferta monetária dia a dia; fixar a taxa de
juros (tanto pelo volume de moeda como pela taxa paga pelo Banco
Central); operações de curto e curtíssimo prazo para as instituições
financeiras e ao público; cria liquidez para os títulos públicos.
Quando o Banco Central vende títulos, retira dinheiro de circulação,
reduzindo os meios de pagamentos. Esquematicamente pode se visualizar
os efeitos na figura 9, a seguir:
Figura 9 – Venda de títulos públicos e seu efeito nos meios de pagamentos.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Quando o Banco Central compra títulos que estão em poder do


público, retira o título e coloca dinheiro na economia, expandindo os
meios de pagamentos. Esquematicamente pode se visualizar os efeitos na
figura 10.

Figura 10 – Compra de títulos públicos e seu efeito nos meios de pagamentos.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Veja que as operações de crédito são aquelas que multiplicam os


meios de pagamentos e ocorre entre o mercado bancário e o público em
geral. Já a operação de Mercado Aberto, que ocorre entre o Banco
Central (BACEN) e as instituições financeiras, são aquelas que
representam o instrumento disponível para o Banco Central controlar os
meios de pagamentos e a taxa de juros.
d. Controle e seleção de crédito
É uma intervenção direta no controle do volume e da destinação do
crédito, das taxas de juros e dos prazos dos empréstimos. Esse
instrumento foi muito criticado pelas correntes monetaristas ortodoxas,
que argumentavam que um controle direto impõe restrições à livre
alocação dos recursos, suprimindo forças do mercado que gerassem
alocações eficientes. Porém, após a crise financeira do subprime que
acabou se espalhando para toda a economia norte-americana e para a
quase totalidade das economias no mundo, esse instrumento passou a
ser valorizado e defendido por diversos economistas.
Importante ressaltar que, quando aumentam os meios de
pagamentos, a taxa de juros se reduz e isso faz com que os
investimentos aumentem. Ainda, com mais moedas em circulação
aumenta o crédito e com isso tem-se um incremento na demanda
agregada, gerando um impacto positivo no crescimento da economia.

3.3 Considerações acerca dos conteúdos analisados

Este capítulo teve como objetivo explicar como o governo pode


controlar os meios de pagamentos na economia e o impacto deste na
economia nacional.
O livro do “ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia.
20. ed. São Paulo: Atlas, 2003”, indicado também no Capítulo 2, tem
uma excelente cobertura de política monetária. Este mesmo autor possui
um ótimo livro de economia monetária que trata de forma ampla esta
temática. A referência do mesmo é: “ROSSETTI, José Paschoal.
Economia Monetária. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
Ainda, o Banco Central do Brasil possui em seu site diversas
publicações e informações sobre o Sistema Financeiro Nacional e suas
variáveis. Veja em: http://www.bcb.gov.br/
No YouTube temos poucos vídeos relacionados com política
monetária. Em espanhol existem diversos e em inglês ainda mais.
Estimulamos que veja alguns destes vídeos. Como sugestão, indicamos:

Em espanhol:
http://www.youtube.com/watch?v=TEpzUK7kg6Y&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Pw65th_tZ48
http://www.youtube.com/watch?v=oiVJc0SFJXs&feature=related
Em inglês:
http://www.youtube.com/watch?
v=HdZnOQp4SmU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=DjTs-rjVkB8&feature=related

Este capítulo foi elaborado por Tiago Wickstrom Alves.


CAPÍTULO 4

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE INFLAÇÃO

O objetivo do capítulo é compreender o significado de inflação, os


principais índices de preços ao consumidor calculados no Brasil e
os tipos de inflação, ou seja, a inflação de demanda, de custos e
inercial. Também é objeto deste estudo identificar as políticas que
podem ser utilizadas pelo governo para combater a inflação e
entender o Sistema de M etas para Inflação.

4.1 Conceito de inflação

A inflação ocorre quando há um aumento sustentado do nível geral


de preços de bens e de serviços dentro da economia. Por sua vez, a
deflação pode ser definida como uma diminuição sustentada do nível de
preços na economia. A ampliação dos preços em poucos produtos não
pode ser caracterizada como inflação, já que é necessário um aumento
contínuo e generalizado ao longo do tempo (Figura 11).
Figura 11 – Definições de inflação e de deflação.
Fonte: Elaborada pela autora.

Os principais efeitos da inflação ocorrem sobre a distribuição de


renda, o balanço de pagamentos e o mercado de capitais. Na primeira
situação, a inflação provoca a redução relativa do poder aquisitivo dos
trabalhadores que dependem de rendimentos fixos e que enfrentam
períodos legais de reajuste de seus rendimentos. No caso dos
proprietários de imóveis, há uma perda de rendimento real em relação
aos aluguéis, contudo, os imóveis sofrem uma valorização nos períodos
inflacionários, havendo uma compensação (LUQUE; VASCONCELLOS,
2004; KRUGMAN; WELLS, 2007; MANKIW, 2008).
Quando a taxa de inflação está acima do aumento dos preços
internacionais, há uma elevação dos preços do produto nacional em
relação aos preços do produto produzido no exterior. Assim, ocorre uma
perda da competitividade do país no cenário internacional. O estímulo às
importações e o desestímulo às exportações reduzem o saldo da balança
comercial (exportações menos importações). Uma solução para este
déficit, adotada pelas autoridades monetárias, é a desvalorização cambial,
pois resulta na depreciação da moeda, estimulando as exportações e
desestimulando as importações. Todavia, nas situações de dependência
de produtos importados, como petróleo, máquinas e equipamentos não
fabricados no país etc. ocorre o aumento dos custos de produção dos
produtos que requerem estes bens importados, provocando um novo
aumento dos preços no país (LUQUE; VASCONCELLOS, 2004;
KRUGMAN; WELLS, 2007; MANKIW, 2008).
Por fim, com o processo inflacionário, há um desestímulo para a
aplicação de recursos no mercado de capitais financeiro e uma tendência
de aquisição de terras e de imóveis, que sofrem valorização neste
período. A correção monetária é a forma de reajustar (indexar) as
aplicações financeiras por índices que refletem a elevação da inflação
(LUQUE; VASCONCELLOS, 2004; KRUGMAN; WELLS, 2007;
MANKIW, 2008).
Revisão
Com a inflação, há uma redução do poder de compra de cada unidade monetária
(no Brasil, em reais; nos Estados Unidos da América, em dólares; nos países da
União Europeia, em euros, etc.).

A taxa de inflação representa a taxa de elevação do nível de preços.


A aceleração inflacionária acontece quando há aumento da taxa de
inflação, enquanto a hiperinflação diz respeito ao crescimento muito
elevado da taxa de inflação. A desinflação, por sua vez, representa a
queda da taxa de inflação.
O nível de preços pode ser medido por meio de índices de preços,
em que os índices de preços ao consumidor (IPC) mais utilizados são
calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (FIPE).

4.2 Índices de preços

O IPC é empregado para medir o efeito que o aumento sustentado e


generalizado do nível de preços tem sobre o custo de uma cesta básica
de bens e de serviços adquirida por uma família. A variação dos índices
representa a variação média dos preços dos produtos que integram esse
conjunto de bens e de serviços. De acordo com BCB (2010b), os índices
apurados no Brasil podem ser classificados em três grupos:

1. Índices de preços ao consumidor de cobertura nacional, que são


calculados pelo IBGE;
2. Índices gerais de preços, que são calculados pela FGV;
3. Índice de preços ao consumidor, que são calculados pela FIPE.

4.2.1 IBGE: IPCA e INPC

O IBGE mede, desde 1979, o Índice Nacional de Preços ao


Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC) com periodicidade mensal. As Regiões
Metropolitanas (RM) pesquisadas são Belém, Belo Horizonte, Brasília,
Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São
Paulo e o município de Goiânia. Os grupos pesquisados de bens e de
serviços são alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência,
vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais,
educação e comunicação. A coleta de dados para a constituição dos
índices que medem o custo de vida das famílias ocorre do 1° ao 30° dia
do mês de referência (sempre em comparação com os 30 dias do mês
base) e as características das famílias pesquisadas são distintas de
acordo com IBGE (2010):

a. IPCA – rendimentos mensais entre 1 e 40 salários mínimos,


independentemente da origem dos rendimentos, e residentes nas
áreas urbanas das regiões;
b. INPC – rendimentos mensais entre 1 e 6 salários mínimos, o
chefe da família deve ser assalariado em sua principal ocupação,
e residentes nas áreas urbanas das regiões.

A agregação dos índices regionais, por faixa de renda, resulta no


índice nacional e a pesquisa é realizada, nas respectivas regiões, em
estabelecimentos comerciais, em prestadores de serviços, em domicílios
e em concessionárias de serviços públicos. As regiões empregam
informações de algumas pesquisas básicas:

1. Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF);


2. Pesquisa de Locais de Compra (PLC);
3. Pesquisa de Especificação de Produtos e Serviços (PEPS).

Nas tabelas 3 e 4 é possível observar a variação acumulada do IPCA


e do INPC, respectivamente, durante o período do Plano Real.

Tabela 3 – Variação acumulada do IPCA por regiões (%) – julho de 1994


a outubro de 2010
Fonte: IBGE, 2010.

Tabela 4 – Variação acumulada do INPC por regiões (%) – julho de 1994


a outubro de 2010
Fonte: IBGE, 2010.

Em relação ao IPCA, as maiores variações acumuladas durante o


período do Real ocorreram nas RM de Belo Horizonte, de Belém e do Rio
de Janeiro. No caso do INPC, as RM de Belo Horizonte, do Rio de
Janeiro e de São Paulo enfrentaram as três principais variações
acumuladas. No que diz respeito aos grupos, de acordo com IBGE
(2010), Comunicação (688,14% – IPCA; 714,84% – INPC) e Habitação
(523,56% – IPCA; 597,41% – INPC) tiveram os aumentos mais
expressivos durante o Plano Real. O IPCA é a medida oficial do governo
federal para o seu Sistema de Metas para a Inflação.
O IBGE também calcula o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo-15 (IPCA-15). Contudo, no caso destes índices, a
coleta de informações é realizada do 16° dia do mês anterior ao 15° dia
do mês de referência (IBGE, 2010).

4.2.2 FGV: IGP


A FGV, desde a década de 1940, divulga os índices gerais de
preços. O Índice Geral de Preços (IGP) é um importante indicador
macroeconômico, um indexador de contratos e um deflator de valores
monetários e é obtido a partir da média aritmética ponderada de três
índices de preços, com distintas abrangências geográficas (IBGE, 2010):

1. Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) – 60% – nacional;


2. Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – 30% – Rio de Janeiro,
São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife e
Salvador;
3. Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) – 10% – Belém,
Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza,
Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São
Paulo.

O IGP possui três versões:

1. Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI)


(desde 1944);
2. Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) (desde 1989);
3. Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) (desde 1993).

Eles diferenciam-se em relação à coleta de informações e os preços


pesquisados são sempre comparados àqueles obtidos nos 30 dias
anteriores: o IGP-DI ocorre do 1º do mês ao dia 30 do mês de
referência; o IGP-M é coletado do 21° dia do mês anterior ao dia 20 do
mês de referência (1ª prévia: dia 21 a 30; e 2ª prévia: dia 21 a 10); e o
IGP-10 é obtido do 11º dia do mês anterior ao dia 10 do mês de
referência. A faixa de renda é de um a 33 salários mínimos no IPC, que é
calculado juntamente com o IPA e o INCC. A abrangência geográfica do
IGP compreende a cobertura geográfica de cada um dos índices (IPA,
IPC e INCC) (IBGE, 2010).
O IGP-DI é empregado como indicador econômico, para a
correção de preços e de valores contratuais, no cálculo do PIB e das
contas nacionais, sendo formado por três índices. O IGP-M também é
calculado a partir da média ponderada de três índices de preços, que
representam a variação dos preços de comercialização de produtos no
atacado, no varejo e na construção civil (IBRE, 2010). No quadro +
observam-se os componentes do IGP-DI e do IGP-M, seus pesos e suas
respectivas descrições.

Quadro 1 – Características do IGP-DI e do IGP-M

Fonte: Elaborado pela autora.

A tabela 3 apresenta a inflação medida pelo IGP-DI e pelo IGP-M


no período 1994 a 2009. Observa-se a redução da inflação com a
implantação do Plano Real. O IGP-DI e o IGP-M alcançaram taxas de
1.093,89% e 1.246,62%, respectivamente, em 1994, caindo para
14,78% e 15,25%, respectivamente, já no ano seguinte. Em 2009, os
índices acumularam taxas negativas, sendo a primeira vez desde o início
do Plano.

Tabela 5 – Variações anuais do IGP-DI e do IGP-M (%) – 1994 a 2009


Fonte: IPEADATA, 2010.

Ressalta-se que o IGP-DI era o índice oficial de inflação do Brasil,


sendo empregado como índice de correção monetária. A intensificação
do processo inflacionário a partir da década de 1980, combatido com
inúmeros planos econômicos, provocou alterações nas regras de
indexação e nas medidas de inflação, gerando a criação de novos índices,
como foi o caso do IGP-M, entre outros.

4.2.3 FIPE: IPC

O IPC para o município de São Paulo é calculado desde 1939 e


avalia a evolução do custo de vida das famílias deste município. Em
1973, com a criação da FIPE, ele passou a ser elaborado por esta
instituição. O índice é calculado para a faixa de renda de 1 a 20 salários
mínimos e a coleta ocorre do 1° ao 30 dia do mês de referência. O
cálculo do IPC-FIPE abrange a variação quadrissemanal de um período
de coleta de oito semanas (entre sete e oito dias, já que os meses
possuem entre 28 e 31 dias). As variações são calculadas a partir da
comparação dos preços médios das semanas de referência (quatro
últimas semanas) com os preços médios das semanas base (primeiras
quatro semanas). A determinação de cada nova taxa inclui os preços
coletados na última semana e exclui as informações mais antigas
(primeira semana). As categorias pesquisadas para a construção do
índice são habitação, alimentação, transporte, despesas pessoais, saúde,
vestuário e educação (FIPE, 2010).

Curiosidade
O cálculo do IPC iniciou, em 1939, na Divisão de Estatística e Documentação da
Prefeitura de São Paulo, sendo transferido para o Instituto de Pesquisa
Econômica da Universidade de São Paulo (USP), em 1968, e para a FIPE, em
1973.

A tabela 6 apresenta a inflação medida pelo IPC-FIPE no período


1994 a 2009, em que se observa a queda da taxa a partir do início do
Plano Real, inclusive com uma taxa negativa em 1998.

Tabela 6 – Variação anual do IPC-FIPE em São Paulo (%) – 1994 a 2009

Fonte: IPEADATA, 2010.

Apesar de ser um índice restrito em sua abrangência geográfica (o


município de São Paulo), sua importância relaciona-se, principalmente, à
divulgação de resultados quadrissemanais.
4.3 Tipos de inflação e suas causas

4.3.1 Inflação de demanda

Não há uma única causa para a inflação, como será possível


compreender nesta seção. A inflação de demanda, por exemplo, ocorre
quando há um excesso de demanda agregada em relação ao volume de
produto disponível de bens e de serviços (LUQUE; VASCONCELLOS,
2004; KRUGMAN; WELLS, 2007; MANKIW, 2008).
A figura 12 descreve um equilíbrio inicial com preço P1. O choque
de demanda desloca a curva de demanda agregada para a direita (de DA1
para DA2) e o efeito é uma elevação da inflação até P2, mas com um
aumento da produção.

Figura 12 – Inflação de demanda.


Fonte: Elaborada pela autora.

Este tipo de inflação ocorre, geralmente, quando a economia está


próxima ao pleno emprego dos recursos, já que a existência de
desemprego provocaria outro fenômeno (três etapas):

1. Aumento da demanda agregada;


2. Aumento da produção agregada de bens e de serviços em razão
do aumento da utilização de recursos que estavam
desempregados;
3. Não haveria necessidade de aumento geral do nível de preços.

A política econômica adotada numa situação de inflação de demanda


será direcionada para a demanda agregada, pois ela é mais sensível do
que a oferta agregada (o ajuste ocorre no curto prazo, enquanto os
efeitos sobre a oferta demoram períodos mais longos). Os principais
instrumentos adotados pelo governo têm o objetivo de reduzir a demanda
agregada por bens e serviços, como: redução dos gastos do governo e
aumento dos impostos (política fiscal), redução da quantidade de moeda
e do volume de crédito (política monetária) (LUQUE; VASCONCELLOS,
2004; KRUGMAN; WELLS, 2007; MANKIW, 2008).

4.3.2 Inflação de custos

A inflação de custos ocorre quando há uma elevação dos custos das


empresas, como o aumento dos salários (pressão dos sindicatos) ou do
custo das matérias-primas (choque de oferta) e estes, por sua vez, são
repassados para os preços dos produtos. Este tipo de inflação também
pode ocorrer em estruturas de mercado caracterizadas por uma menor
concorrência, como é o caso do oligopólio (ou do monopólio, no limite).
Nestes casos, a margem de repasse de custos para os preços é maior.
Esta situação é chamada de inflação de lucros, pois essas empresas têm
poder de mercado para elevar seus lucros acima da elevação dos custos
de produção (LUQUE; VASCONCELLOS, 2004; KRUGMAN; WELLS,
2007; MANKIW, 2008).
A figura 13 descreve o equilíbrio inicial com preço P1. O choque de
oferta desloca a curva de oferta agregada para a esquerda (de OA1 para
OA2) e o efeito é uma elevação da inflação até P2 ao lado de uma queda
da produção (estagflação).

Figura 13 – Inflação de custos.


Fonte: Elaborada pela autora.

A política econômica empregada, considerando que a situação é de


queda no nível da oferta agregada, pode ser de estímulo à demanda
agregada (se o objetivo é manter a economia no maior nível possível de
emprego), ou seja: aumento dos gastos do governo e redução dos
impostos (política fiscal), aumento da quantidade de moeda e do volume
de crédito (política monetária). A adoção destes instrumentos, contudo,
provocará uma elevação dos preços (inflação de demanda). É importante
lembrar que a oferta agregada somente reage à política econômica num
prazo mais longo (LUQUE; VASCONCELLOS, 2004; KRUGMAN;
WELLS, 2007; MANKIW, 2008).
A situação descrita pela figura 14 é de uma inflação de custos, que
reduz a oferta agregada, provocando o deslocamento de OA1 para OA2.
Se a opção do governo for uma política anti-inflacionária, a economia
será mantida pela combinação de DA1 e de OA2, ao preço P3 e com
desemprego. Contudo, se a opção for a manutenção do emprego, a
política econômica adotada será expansionista, deslocando a demanda
agregada de DA1 para DA2 e estabelecendo um novo preço de equilíbrio,
que será dado por P2.

Figura 14 – Interação entre inflação de demanda e inflação de custos.


Fonte: Elaborada pela autora.

Curiosidade
As crises do petróleo em 1973 e em 1979 provocaram um aumento nos preços
deste produto e, consequentemente, uma elevação do nível de preços nos
principais países industrializados do mundo. Nestes episódios, houve o
aumento de preços de matérias-primas e de insumos básicos, provocando a
elevação dos custos de produção das empresas.
4.3.3 Inflação Inercial

Na compreensão do conceito de inflação inercial é importante


considerar que taxa de inflação em um determinado momento é
fortemente relacionada à taxa de inflação de um momento anterior.
Sendo assim, a inflação inercial é o resultado de um processo de
realimentação de preços em razão, principalmente, de mecanismos de
indexação (atrelam os preços do presente à inflação passada) (LUQUE;
VASCONCELLOS, 2004; KRUGMAN; WELLS, 2007; MANKIW,
2008).

4.4 Sistema de metas para inflação

A inflação é um problema que a economia brasileira enfrenta desde,


principalmente, a década de 1950. O elevado aumento da taxa de inflação
marcou o Brasil na década de 1980 e na primeira metade da década de
1990, provocando a adoção de sucessivos planos de estabilização
econômica. 1 O desenvolvimento econômico é possível apenas com a
estabilidade de preços, revelando a sua importância na política monetária
do país, já que o aumento da inflação gera insegurança para os
investidores e concentração de renda.
A tabela 7, que apresenta a taxa de inflação no Brasil entre 1980 e
2009, permite observar que em vários anos a taxa alcançou os três
dígitos e, inclusive, em alguns chegou a quatro dígitos, como em 1989,
1990, 1992 e 1993. O leitor pode imaginar o que representava para o
consumidor brasileiro uma taxa de inflação de quatro dígitos, como
ocorreu em 1993 (2.477,15%), se comparar com a experiência de uma
taxa de inflação abaixo dos 6%, como ocorreu nos últimos cinco anos.

Tabela 7 – Variação anual do IPCA (%) – 1980 a 2009


Fonte: IPEADATA, 2010.
O Brasil é, portanto, um exemplo de país que enfrentou momentos
de inflação muito elevada nas últimas três décadas. No final da década de
1980 e no início da década seguinte, a evolução da taxa de inflação
esteve em grande parte associada à taxa de crescimento da oferta
monetária. A principal razão para a expansão da oferta monetária no país
era a dificuldade do governo em equilibrar seu déficit orçamentário.

Curiosidade
A hiperinflação ocorrida na Alemanha em 1922-1923: no final deste período, os
preços subiam 16% ao dia. As empresas pagavam seus trabalhadores diversas
vezes ao dia, permitindo que eles pudessem consumir antes que seus
rendimentos perdessem valor (KRUGM AN; WELLS, 2007).
A diretriz para o regime de política monetária no Brasil, a partir do
final da década de 1990, foi determinada pelo sistema de metas de
inflação, com o Decreto N° 3.088, de 21 de junho de 1999. Neste
documento, estabeleciam-se as metas das variações anuais do IPCA e os
intervalos de tolerância seriam fixados pelo Conselho Monetário Nacional
(CMN) (BCB, 2010c). O quadro 2 apresenta o histórico de metas para a
inflação no Brasil no período de 1999 a 2012.

Quadro 2 – Histórico de metas para a inflação no Brasil

Fonte: BCB, 2010d.


Nota: Carta Aberta, de 21/1/2003, estabeleceu metas ajustadas de 8,5% para 2003 e de
5,5% para 2004.
Observa-se no quadro 2 que o IPCA ficou abaixo da meta
determinada pelo governo apenas nos anos de 2000, 2006, 2007 e 2009.
No período 2001-2003, contudo, ultrapassou o limite superior definido
pelo Sistema. Nos demais anos, a taxa de inflação esteve dentro dos
limites previstos.
No país, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil
(COPOM) é responsável por estabelecer as diretrizes da política
monetária e por definir as taxas de juros. Criado em 20 de junho de
1996, o Comitê tem a função de cumprir as metas de inflação definidas
pelo CMN. Quando as metas não são cumpridas, o presidente do Banco
Central informa o ministro da Fazenda, por meio de Carta Aberta, as
razões e as estratégias que serão adotadas para cumprir as metas
propostas. Nos meses de março, de junho, de setembro e de dezembro
são divulgados, pelo COPOM, os Relatórios de Inflação, analisando a
conjuntura econômica e as projeções para a taxa de inflação (BCB,
2010a).
A tabela 8 apresenta a inflação de países selecionados em 2009 e em
2010, permitindo uma análise comparativa do Brasil com outras nações.

Tabela 8 – Inflação (preços ao consumidor) de países selecionados (%)


– 2009-2010*
Fonte: The Economist, 2010.
Nota: (*): Acumulado até outubro.

Observa-se que houve um aumento da taxa de inflação em onze


países, do conjunto analisado, no ano de 2010 (acumulado até outubro)
em comparação a 2009. Destes países, destacam-se as maiores
variações na China e na Argentina. No caso do Brasil, observa-se que o
país apresenta uma taxa de inflação relativamente baixa, em 2010, em
comparação com países como Argentina, Índia, Turquia, Rússia e
Indonésia. Além disto, o país tem conseguido permanecer dentro dos
limites previstos pelo Sistema de Metas para Inflação.

COMPLEMENTAÇÃO DE ESTUDOS

Site oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br


Site oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br
Site oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
www.ibge.gov.br
Site oficial da Fundação Getúlio Vargas (Brasil): www.fgv.br
Site oficial da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE):
www.fipe.org.br

REVISÃO DOS CONCEITOS

Termos Básicos

Índice Nacional de Preços ao Consumidor


Inflação
Amplo (IPCA)
Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Deflação
(INPC)
Índice Geral de Preços – Disponibilidade
Taxa de inflação
Interna (IGP-DI)
Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-
Nível de preços
M)
Inflação de demanda Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10)
Índice de Preços ao Consumidor FIPE
Inflação de custos
(IPC-FIPE)
Inflação inercial Sistema de Metas para Inflação
Comitê de Política Monetária do Banco
Índice de Preços ao Consumidor (IPC)
Central do Brasil (COPOM)
Índice Geral de Preços (IGP) Conselho Monetário Nacional (CMN)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB). Copom. Definição e Histórico.


Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?COPOMHIST>. Acesso em:
20 nov. 2010a.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB). Índices de Preços no Brasil.
Disponível em: <http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/port/focus/FAQ02-
%C3%8Dndices%20de%20Pre%C3%A7os.pdf>. Acesso em: 21 nov.
2010b.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB). Sistema de Metas para a
Inflação. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?SISMETAS>.
Acesso em: 20 nov. 2010c.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB). Sistema de Metas para a
Inflação. Histórico de Metas para Inflação no Brasil. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/Pec/metas/TabelaMetaseResultados.pdf>.
Acesso em: 20 nov. 2010d.
BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Pearson,
2007.
CARMO, Heron Carlos Esvael do. Como medir a inflação: os números
índices de preços. In: GARCIA et al. Manual de Economia. 5. dd. São
Paulo: Editora Saraiva, 2004, p. 352-364.
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS (FIPE).
Índices. Disponível em: <http://www.fipe.org.br/web/index.asp>.
Acesso em: 20 nov. 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA (IBRE) – FUNDAÇÃO
GETÚLIO VARGAS (FGV). Indicadores de Preços. Disponível em:
<http://portalibre.fgv.br/main.jsp?
lumChannelId5402880811D8E34B9011D92AF56810C57>. Acesso em:
20 nov. 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).
Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/defaultprecos.shtm
Acesso em: 15 nov. 2010.
IPEADATA. Macroeconômico. Preços. Disponível em:
<http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata?190134812>. Acesso
em: 20 nov. 2010.
KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à Economia. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2007.
LOPES João C.; ROSSETTI, José P. Economia Monetária. 8. ed. São
Paulo: Atlas S/A: 2002.
LUQUE, Carlos Antonio; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval
de. Considerações sobre o problema da inflação. In: GARCIA et al.
Manual de Economia. 5. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2004, p. 336-
351.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e
macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
MANKIW; N. Gregory. Macroeconomia. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2008.
MOCHON, Francisco TROSTER, Roberto Luis. Introdução à
Economia. São Paulo: Makron Books, 2001.
TAYLOR, John B. Princípios de Macroeconomia. São Paulo: Ática,
2007.
THE ECONOMIST. Disponível em: <http://www.economist.com/>.
Acesso em: 21 nov. 2010.

Este capítulo foi elaborado por Angélica Massuquetti.

1 Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor e Plano Real.
CAPÍTULO 5

O SETOR EXTERNO

O surgimento da disciplina de Economia está associado ao estudo


do comércio internacional. Os filósofos escoceses David Hume e
Adam Smith, ao publicarem suas obras Da balança comercial e A
riqueza das nações, no século XVIII, trataram de temas
relacionados diretamente ao comércio internacional entre os
países. Desde então, a análise do setor externo dos países se
tornou uma das principais preocupações dos economistas. Este
capítulo trata de alguns dos aspectos mais importantes do setor
externo da economia, envolvendo a estrutura do balanço de
pagamentos de um país, os diferentes tipos de taxa de câmbio e os
principais organismos internacionais que regulam o comércio entre
os países.

5.1 Balanço de pagamentos

As contas do balanço de pagamentos de um país mostram o


registro sistemático das transações entre residentes e não residentes
durante determinado período de tempo. Qualquer pagamento a um
estrangeiro é lançado no balanço de pagamentos como um débito,
enquanto qualquer transação que resulte em recebimento de recursos do
exterior é lançada como crédito. As transações econômicas registradas
no balanço de pagamentos são divididas em dois grandes grupos, as
transações correntes e a conta de capital (CAVES et al. 2001).
5.1.1 Estrutura do balanço de pagamentos

As transações correntes incluem a movimentação de bens, serviços


e as doações realizadas entre países, sendo divididas em balança
comercial, balança de serviços e transferências unilaterais, conforme
mostra o quadro 3. A balança comercial registra o saldo das exportações
e importações de bens do país. Assim, quando o Brasil exporta calçados
para os Estados Unidos, a transação é lançada na conta do balanço de
pagamentos do Brasil como um crédito na balança comercial, entrando
como um débito na balança comercial norte-americana. A balança de
serviços considera o saldo das operações de serviços não fatores, tais
como de frete e seguros dos bens comercializados, gastos com turismo,
e com serviços vinculados aos fatores de produção, como juros,
dividendos e lucros. Já as transferências unilaterais se referem a
transações que não envolvem contrapartida, e consistem tanto em
doações governamentais internacionais de qualquer natureza como
transferências privadas, como o envio de recursos de emigrantes para
seu país de origem.

Quadro 3 – Estrutura do balanço de pagamentos

1) Balança Exportações (FOB)


comercial Importações (FOB)
Lucros e dividendos
Fatores Lucros reinvestidos
Juros
Serviços governamentais
2) Balança de Viagens intern.
Seguros
serviços Fretes
Seguros

3) T ransferências unilaterais

4) Saldo em transações correntes (1+2+3)


Investimentos diretos (ID)
Empréstimos e financiamentos
5) Capitais autônomos
Amortizações
Capitais a curto prazo

6) Erros e omissões

7) Saldo total do balanço de pagamentos (4+5+6)

Reservas
8) Capitais (Haveres no exterior, ouro DES e
compensatórios Empréstimos de reservas no FMI)
regularização atrasados

Fonte: Elaborado pelo autor.

A conta de capital envolve deslocamentos de moeda, créditos e


títulos representativos de investimentos e divide-se em capitais
autônomos e capitais compensatórios. Os capitais autônomos
correspondem a empréstimos, investimentos diretos estrangeiros (IDE),
amortizações, financiamentos e capitais de curto prazo. No que se refere
ao prazo, os fluxos de capitais que apresentam maior divergência são os
IDE e os de curto prazo. O IDE ocorre quando os residentes de um país
adquirem o controle sobre uma empresa de outro país, comprando a
empresa no exterior ou construindo uma nova empresa, geralmente
permanecendo um longo período no país receptor dos investimentos. Já
os capitais de curto prazo envolvem ativos com período de maturação
inferior a um ano, como compra de títulos públicos e de ações de
empresas. Assim, quando o Brasil recebe IDE, ele é lançado a crédito na
sua conta de capital autônomo, enquanto é lançada a débito na conta de
capital do país que está realizando o investimento.
Os capitais compensatórios envolvem transações de bancos centrais
com reservas internacionais, empréstimos de regularização do FMI e os
chamados atrasados, ou seja, contas vencidas e não pagas pelo país. As
reservas internacionais são o estoque de ativos em poder das autoridades
monetárias para o pagamento de dívidas ou aquisição de direitos de não
residentes. Elas englobam o estoque de moeda ou títulos estrangeiros,
ouro monetário e a posição de reservas junto ao FMI que o país detém.
Toda vez que se observa um superávit no balanço de pagamentos de um
país, as suas reservas crescem, declinando em caso de déficit. Quando
as reservas de um país chegam a um nível muito baixo, resultados de
anos de déficits no balanço de pagamentos, ele pode receber os
empréstimos de regularização do FMI, sujeitando-se a um programa de
ajuste, seguindo as normas ditadas pelo FMI. Em casos-limite, quando
as reservas internacionais e os empréstimos do FMI não fazem frente às
obrigações internacionais do país, ele pode ser levado a requerer a
moratória de sua dívida externa. 1
Atualmente, a China é o país que detém o maior volume de reservas
internacionais do mundo, chegando a US$ 2,4 trilhões, em junho de
2010, conforme mostra a tabela 1. O Japão surge em um distante
segundo lugar, com reservas de US$ 1,050 trilhão, enquanto os demais
países do chamado BRIC2 também se destacam, com a Rússia em
terceiro lugar, com reservas de US$ 476 bilhões, a Índia, em sexto, com
US$ 294 bilhões, e o Brasil surgindo em nono, com US$ 253,1 bilhões.
Apesar do surgimento do euro em 20023 , o dólar norte-americano
continua sendo a principal moeda reserva internacional do mundo, com
aproximadamente 62% do total das reservas, com o euro já
correspondendo a 27% do total.

Tabela 9 – Países com maior volume de reservas internacionais*

Rank PAÍS US$ milhõe s)


1 CHINA 2.454,3
2 JAPÃO 1.050,2
3 RÚSSIA 476,0
4 ARÁBIA SAUDITA 410,3
5 TAIWAN 372,1
6 ÍNDIA 294,0
7 COREIA DO SUL 289,8
8 SUÍÇA 255,5
9 BRASIL 253,1
10 SINGAPURA 206,9
T OTAL DO MUNDO 10.008,4

Fonte: Banco Central do Brasil.


*Posição em junho de 2010.

5.1.2 Balanço de pagamentos no Brasil

Desde o início da contabilização do balanço de pagamentos


brasileiro, em 1947, o saldo em transações correntes do país tem sido
predominantemente deficitário. No período mais recente, a partir do
Plano Real, lançado em 1994, com a estabilização da economia, a
situação não se alterou, com o Brasil registrando déficits recorrentes em
transações correntes, que chegaram a atingir o pico de US$ 33,4 bilhões,
em 1998, como mostra a tabela 10. Estes déficits têm sido provocados
pelo saldo negativo da balança de serviços, que tem se situado acima de
US$ 20 bilhões desde 1996, com uma trajetória ascendente a partir de
2004, chegando a atingir a US$ 57,2 bilhões, em 2008. Boa parte deste
aumento do déficit na conta de serviços se deve às remessas de lucros e
dividendos de empresas estrangeiras sediadas no Brasil para suas filiais
no exterior. Somente em 2008, elas alcançaram a US$ 25,3 bilhões.
Ao contrário do que ocorre com a balança de serviços, a balança
comercial brasileira tem sido superavitária na maior parte dos anos. A
exceção foi o período logo após o Plano Real, entre 1995 e 2000, quando
a acentuada valorização da taxa de câmbio, ao lado do intenso processo
de liberalização comercial do início dos anos 1990 e a forte aceleração do
crescimento econômico no Brasil, atuaram no sentido de estimular as
importações e restringir as exportações. Em apenas dois anos, entre
1994 e 1996, as importações cresceram 61%, chegando a US$ 53,3
bilhões, enquanto as exportações elevaram-se em apenas 9,6%, atingindo
a US$ 47,7 bilhões.
No entanto, a partir da mudança do regime cambial, em janeiro de
1999, e a forte desvalorização do real que se seguiu, as exportações
voltaram a crescer mais rapidamente do que as importações, e o saldo
comercial voltou a se tornar superavitário. O período de forte
crescimento da economia mundial entre 2002 e 2008 ajudou a expansão
das exportações brasileiras, especialmente devido ao aumento do
intercâmbio comercial do país com a China, com as vendas externas
brasileiras atingindo o pico histórico de US$ 197,9 bilhões, em 2008. Em
2009, em razão da crise financeira internacional, houve uma queda
acentuada do comércio internacional, levando tanto as exportações como
as importações brasileiras a recuarem a um patamar próximo ao de 2007.

Tabela 10 – Balanço de pagamentos do Brasil (US$)


Fonte: Banco Central do Brasil.

Em relação à conta de capitais autônomos, ela tem sido geralmente


superavitária no país, mais do que compensando os déficits em
transações correntes, levando a resultados positivos do balanço de
pagamentos e à acumulação de reservas internacionais pelo Brasil, que já
ultrapassam os US$ 250 bilhões, conforme destacado acima. Somente
no período 2006-2009, houve um superávit acumulado do balanço de
pagamentos brasileiro da ordem de US$ 167 bilhões, permitindo uma
ampliação significativa das reservas internacionais do país.
A entrada de investimentos diretos externos no país tem sido o
principal responsável pelo desempenho da conta de capitais autônomos,
chegando a apresentar um superávit de US$ 36 bilhões, em 2009, o
maior resultado já obtido. Não apenas em 2009, mas ao longo da maioria
dos últimos anos, a entrada líquida do IDE tem compensado o saldo
negativo em transações correntes brasileiro, como mostra o gráfico da
figura 15. Como o IDE representa investimentos de longo prazo no país,
expandindo a sua capacidade de produção, ele não apenas estimula o
crescimento econômico, mas garante uma boa qualidade do
financiamento do déficit em transações correntes, sem a dependência de
capitais voláteis, de curto prazo, como aqueles que são aplicados em
títulos do governo ou no mercado acionário.

Figura 15 – Investimento Direto Externo (IDE) versus Saldo em Transações Correntes


(TC).
Fonte: Banco Central do Brasil.

5.2 Regimes cambiais

Todos os países possuem uma moeda, cujos preços dos bens e


serviços são cotados. As taxas de câmbio desempenham um papel-chave
nas relações econômicas internacionais, pois permitem comparar os
preços de bens produzidos em diferentes países, na medida em
expressam o preço de uma moeda em termos de outra. Devido a sua
influência sobre o resultado em transações correntes e outras variáveis
da conta de capital, as taxas de câmbio estão entre os preços mais
relevantes da economia.

5.2.1 Câmbio fixo

Os países se defrontam com uma série de opções para a escolha de


seu regime cambial, ou seja, como a moeda de seu país irá se vincular às
demais moedas, especialmente à moeda reserva internacional, o dólar
norte-americano. Em um extremo de rigidez, há o câmbio fixo, em que o
preço da moeda do país em relação à moeda reserva é determinado
exclusivamente pelo Banco Central. A autoridade monetária é obrigada a
garantir a conversão da moeda reserva em moeda nacional àquele preço
estabelecido. Assim, todas as operações com o exterior que envolvam
entrada ou saída de reservas são realizadas àquela taxa de câmbio.
Conforme mostra a figura 16, sempre que houver um aumento da
demanda pela moeda reserva internacional (ex: dólar norte-americano),
deslocando a curva de demanda por reservas de D0 para D1, o Banco
Central é forçado a intervir no mercado cambial4 , vendendo a moeda
reserva, deslocando a curva de oferta de reservas de S0 para S1, de
modo a garantir a estabilidade da taxa de câmbio (equilíbrio passa do
ponto e0 para ponto e1). Caso não houvesse a intervenção do Banco
Central, ocorreria uma desvalorização da moeda local em relação à
moeda reserva (ponto d), devido ao excesso de demanda pela moeda
reserva. 5 Portanto, para garantir um determinado valor fixo para a taxa
de câmbio (E0 no gráfico 2), é necessária a manutenção de um estoque
elevado de reservas internacionais. Neste regime cambial, o ajuste ocorre
via aumento ou redução das reservas. 6
Figura 16 – Ajuste com taxa de câmbio fixa.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Em caso de uma forte e contínua elevação da demanda por moeda


estrangeira o Banco Central será levado ou a desvalorizar a moeda,
mantendo o câmbio fixo, ou a deixar a taxa de câmbio flutuar, alterando
o regime cambial. O abandono de um regime de câmbio fixo geralmente
ocorre em circunstâncias desfavoráveis, entre as quais: (i) as reservas
externas estão caindo rapidamente; (ii) há ataques especulativos contra a
moeda nacional; e (iii) a economia apresenta baixas taxas de
crescimento. 7

5.2.2 Câmbio flexível

Em outro extremo em relação ao câmbio fixo se encontra o câmbio


flexível, em que o mercado cambial define a taxa de câmbio, sem
interferência alguma do Banco Central. Como mostra a figura 17,
quando houver um aumento da demanda pela moeda reserva
internacional, deslocando a curva de demanda por reservas de D0 para
D1, haverá uma mudança do equilíbrio do ponto e0 para o ponto d. Com
esta taxa de câmbio E0, há um excesso de demanda pela moeda reserva,
levando a uma desvalorização da moeda local em relação à moeda
reserva (com a taxa de câmbio passando de E0 para E*), alterando o
equilíbrio do ponto d para o ponto e1. Neste regime cambial, o ajuste
ocorre via valorização ou desvalorização da taxa de câmbio. Sempre que
há um excesso de demanda pela moeda reserva, há uma desvalorização
da taxa de câmbio, ao passo que o excesso de oferta de moeda reserva
leva a uma valorização da taxa de câmbio.

Figura 17 – Ajuste com taxa de câmbio flexível.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Na verdade, as escolhas dos países de seu regime cambial se


encontram geralmente em um meio termo entre estas situações
extremas, conforme mostra o quadro 4. O regime mais utilizado
atualmente é denominado de flutuação suja, que é uma situação híbrida
entre o regime de taxa de câmbio fixa e flexível. Neste regime o mercado
cambial define a taxa, havendo intervenções esporádicas do Banco
Central em momentos de grande volatilidade. Países com Estados
Unidos, Japão, Canadá, Brasil e até a União Europeia adotam este
sistema.

Quadro 4 – Regimes cambiais

Re gime s Caracte rísticas Exe mplos


Flutuação Intervenções esporádicas do BC na taxa de EUA, EU, Japão, México
Suja câmbio de mercado. após 1994, Brasil após 1999
Crawling Sistema de bandas em que a paridade central Chile (1986-98), Brasil
Band desliza com o tempo. (1994-1998
Taxa de É o regime mais popular do
A taxa de câmbio nominal é fixa mas o
câmbio século XX. Muitos países
banco central não é obrigado a manter a
fixa, mas emergentes continuam a se
paridade indefinida.
ajustável submeter ao sistema
Historicamente, um número
Sistema muito rígido de taxa de câmbio
Currency pequeno de países tem tido
fixo. O BC pode interferir somente quando
Board um sistema deste tipo.
houver entrada de divisas.
Argentina (1991-01)
Nome genérico dado a uma forma extrema Existem poucos episódios de
do sistema de currency board, em que o país dolarização plena. Um
Dolarização abandona completamente sua autonomia regime similar a esse tem
monetária adotando a moeda de um outro dado relativamente certo no
país. Panamá.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A adoção de regimes com maior flexibilidade cambial, como a


flutuação suja, pela maior parte dos países, atualmente não ocorre por
acaso. Um dos principais benefícios da adoção deste sistema é a
possibilidade de ajustar os desequilíbrios do balanço de pagamentos via
mudanças da taxa de câmbio. Toda vez que houver um déficit no balanço
de pagamentos, haverá uma perda de reservas internacionais, refletindo
uma saída líquida de moeda reserva no país. Neste caso, há uma
tendência de desvalorização da moeda local em relação à moeda reserva.
Esta desvalorização da moeda local afetará todas as contas do balanço de
pagamentos, no sentido de eliminar o déficit. Vejamos o que ocorre na
balança comercial. Com a desvalorização cambial, o exportador brasileiro
recebe mais reais para cada dólar vendido, podendo reduzir seu preço em
dólares para se tornar mais competitivo, o que deve elevar as suas
exportações. O importador, por sua vez, passa a pagar mais reais para
cada dólar importado, tornando o produto importado mais caro em reais,
desestimulando as importações. Assim, após a desvalorização da taxa de
câmbio há uma tendência de redução do saldo negativo da balança
comercial e, por consequência, do balanço de pagamentos. 8

5.3 Organismos internacionais que regulam o


comércio

Quando se observa a evolução do comércio internacional nas


últimas décadas, é possível perceber que o seu crescimento tem
superado a expansão do PIB dos países. Isso demonstra que os países
estão cada vez mais integrados comercialmente. O período de maior
expansão dos fluxos comerciais no século XX ocorreu a partir dos anos
1940, quando uma série de organismos internacionais foi criada para
regular o comércio e as finanças internacionais.
Em julho de 1944, representantes de 44 países reunidos na cidade
de Bretton Woods, nos Estados Unidos, criaram o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento (BIRD). Preocupados com os graves problemas
econômicos do período entre guerras, os representantes dos países
aliados pretendiam criar um sistema monetário internacional que
promovesse o pleno emprego, a estabilidade de preços e o equilíbrio do
balanço de pagamentos logo após a Segunda Guerra Mundial. O FMI
tinha como objetivos principais promover a cooperação monetária
internacional, favorecer a expansão equilibrada do comércio e oferecer
ajuda financeira aos países membros em dificuldades econômicas,
emprestando recursos com prazos limitados. Já o BIRD seria
responsável por financiar a reconstrução dos países destruídos pela
guerra e viabilizar empréstimos para projetos de longo prazo em países
em desenvolvimento (KRUGMAN, OBSTFELD, 2005).
Devido ao colapso do comércio internacional durante os anos 1930,
havia uma convicção ao final da Segunda Guerra Mundial, entre os
especialistas em comércio internacional, da necessidade de criação de
um organismo internacional que pudesse restringir o uso de medidas
protecionistas praticadas pelos países-membros. Assim, surgiu o General
Agreement on Trade and Tariffs (GATT), em 1947, como uma
instituição multilateral dedicada a promover o comércio internacional. O
objetivo desta seção é apresentar os principais organismos internacionais
que regulam o comércio mundial, com destaque para a Organização
Mundial de Comércio (OMC).

5.3.1 Organização Mundial do Comércio (OMC)

A OMC foi fundada em 1994, durante a rodada Uruguai, com o


objetivo de montar uma estrutura para tratar das regras sobre o
comércio entre os países-membros em substituição ao GATT, que vigia
desde 1947. O objetivo da OMC é estabelecer um conjunto de regras
para um livre comércio em que todos os países integrantes tenham os
mesmos direitos e obrigações, supervisionando os acordos sobre as
regras do comércio entre os países-membros. O princípio básico da
OMC é o da não discriminação, ou Cláusula da Nação Mais Favorecida,
em que cada membro da OMC deve garantir aos demais membros as
mesmas vantagens, privilégios e imunidades que conceder para um ou
mais países.
A ideia fundamental é proporcionar um comércio internacional mais
livre, através da redução das barreiras ao comércio, através de
negociação. Além disso, ele deve ser mais previsível, em que os agentes
econômicos devem ter confiança de que as barreiras não serão elevadas
arbitrariamente, geralmente através da imposição de tetos para tarifas e
barreiras não tarifárias. E, também, que o comércio seja mais justo,
desencorajando-se práticas consideradas desleais de comércio, como o
uso do dumping e subsídios. 9
Periodicamente, sob o âmbito da OMC (ex-GATT), são promovidos
encontros multilaterais de negociações comerciais, denominadas de
“rodadas”. Estas rodadas visam reduzir tarifas e barreiras não tarifárias
entre seus países-membros, liberalizando o comércio internacional entre
eles. Desde a sua fundação, a OMC já realizou oito rodadas de
negociação, tendo iniciado a nona rodada, denominada de “Rodada
Doha”, em 2001. Um aspecto marcante da OMC é o fato da duração e
complexidade das rodadas de negociação terem aumentado com o passar
dos anos, devido ao maior número de participantes e à ampliação da
agenda de assuntos, conforme consta no quadro 5. Além disso, as
decisões devem ocorrer por consenso, o que em um grupo de mais de
cem países não é uma tarefa fácil.
Nas rodadas iniciais, o foco era a negociação do comércio de
produtos industrializados. Especificamente nas seis primeiras rodadas, o
tema predominante foi a busca de reduções tarifárias. A partir da sétima
rodada, diversos novos temas foram incluídos nas negociações,
incluindo medidas antidumping, subsídios, salvaguardas e compras
governamentais. Devido ao maior número de países-membros, que já
chegava a 99 na época de sua realização, e à maior complexidade dos
temas, a rodada Tóquio se estendeu por seis anos, a mais longa até
então. 10

Quadro 5 – Rodadas de negociação da OMC


Fonte: OMC.

Na rodada Uruguai outros temas foram acrescentados na pauta de


negociação, tais como a preservação das patentes sobre propriedade
intelectual (TRIPS) e a liberalização do setor de serviços. Esses novos
temas têm grande importância nos mercados dos países em
desenvolvimento, que até então estavam praticamente excluídos do
processo de negociação. Também houve significativos avanços nas
negociações sobre as regras da OMC em matéria de subsídios, barreiras
técnicas, salvaguardas, regras de origem, licenças de importação,
antidumping, medidas fitossanitárias e investimentos relacionados ao
comércio (TRIMS), entre outros. No que se refere a tarifas, houve a
redução das tarifas de importação de bens industriais em países
desenvolvidos de 40% (de uma média de 6,3% para 3,8%). Outros
aspectos importantes negociados foram o estabelecimento de regras
mais precisas para medidas antidumping e direitos compensatórios e a
eliminação das “Restrições Voluntárias às Exportações” até 1999. 11
Em 2001, foi lançada a Rodada de Doha, com 21 itens de
negociação, com ênfase no tema de acesso a mercados, agricultura,
serviços, comércio eletrônico, meio ambiente, entre outros. Esta rodada
tinha prazo de conclusão de um programa de trabalho até início de 2005,
no entanto até o final de 2010 ela ainda se encontra longe de um
desfecho. Além dos aspectos já mencionados, por tratar de dois setores
muito relevantes para os países em desenvolvimento, mas que ainda são
muito protegidos nos países desenvolvidos, agricultura e têxteis, a nona
rodada já é a mais longa da história da OMC.
Para a dinamização de seu trabalho, a OMC instituiu e aprimorou
mecanismos e instrumentos ao longo dos anos de sua atuação.
Atualmente, a organização conta com ferramentas para “forçar” o
cumprimento das regras pelos seus países-membros, como os Painéis,
Órgão de Apelação, Entendimento sobre Solução de Controvérsias (ESC)
e o Órgão de Solução de Controvérsias. O mecanismo de resolução de
disputas comerciais envolve cinco etapas, desde consultas iniciais entre
os países diretamente envolvidos até a implementação das
recomendações do painel de especialistas. A duração varia de um ano
(sem apelação) a 15 meses (com apelação). O grande problema é que o
mecanismo de solução de controvérsias da OMC dá o direito de
retaliação àquele país que se sentiu prejudicado por outro país-membro.
Isto é, além de não ter poder de retirar a restrição imposta originalmente,
ela permite que outra seja imposta, na tentativa de dissuadir o país
considerado infrator de manter a sua restrição original, o que nem
sempre ocorre.
Os países em desenvolvimento tiveram pouca participação nas
negociações realizadas no âmbito da OMC até recentemente. A situação
começou a mudar somente na Rodada Uruguai, em que uma série de
temas de seu interesse passaram a fazer parte do processo de
negociação. Além da maior participação na OMC, um organismo
(UNCTAD) e um fórum (G20) foram criados para atender mais
diretamente aos interesses dos países em desenvolvimento.

5.3.2 UNCTAD (United Nations Conference on Trade and


Development)
A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD) foi criada em Genebra, na Suíça, no ano
de 1964, como uma instituição da ONU. A sua criação foi uma resposta
aos países em desenvolvimento em relação a falta de atendimento de
seus interesses nas negociações do GATT, as quais não abordavam a
exportação dos produtos primários, principais componentes de suas
pautas de exportação. Portanto, a UNCTAD dedica-se a negociar com os
países desenvolvidos a redução dos obstáculos tarifários e não tarifários
ao comércio de produtos originários de países em desenvolvimento.
Como a cláusula da nação mais favorecida do GATT impedia que os
países-membros concedessem reduções de barreiras tarifárias e não
tarifárias a outros membros, pois teriam que estendê-los aos demais
países, surgiu a ideia de estabelecer um sistema de preferências tarifárias
aplicável apenas aos países em desenvolvimento. Assim, foi criado o
chamado Acordo Geral de Preferências, em 1968, que permite um
acesso facilitado às exportações dos países em desenvolvimento aos
mercados dos países desenvolvidos, contrariando o princípio básico de
não discriminação da OMC. Além disso, a UNCTAD também fornece
ajuda aos países em desenvolvimento, particularmente aos mais
subdesenvolvidos, para que estes possam aproveitar os efeitos positivos
da globalização e fomentar a diversificação de sua produção, em que
ainda predominam os produtos básicos.

5.3.3 Grupo dos 20 (G-20)

O G-20 é um fórum informal que estimula o debate entre países


desenvolvidos e em desenvolvimento a respeito de assuntos relacionados
a questões econômicas. 12 O G-20 foi criado nos anos 1990 como uma
resposta às sucessivas crises financeiras ocorridas naquele período e à
maior importância econômica que foram assumindo alguns países em
desenvolvimento. Assim, o grupo foi alçado ao papel de principal fórum
de discussão sobre temas envolvendo a estabilidade econômica
internacional, em substituição ao G-7, composto somente por países
desenvolvidos.
Entre os principais objetivos do G-20 se destacam o favorecimento
de negociações econômicas internacionais, a promoção de debates sobre
políticas globais para promover o desenvolvimento econômico mundial
de forma sustentável, a discussão de regras comuns para a flexibilização
do mercado de trabalho, a criação de mecanismos voltados para a
desregulamentação econômica e a criação de formas para liberação do
comércio mundial, através da OMC e de acordos preferenciais de
comércio.

REFERÊNCIAS

BAUMANN, Renato (org.). O Brasil e a Economia Global. Rio de


Janeiro: Campus/SOBEET, 1996.
CARBAUGH, Robert. Economia Internacional. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2004.
CARVALHO, M. e C. DA SILVA. Economia internacional. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2002.
CAVES, R., J. FRANKEL, e R. JONES. Economia Internacional:
Comércio e Transações Globais. São Paulo: Saraiva, 2001.
KRUGMAN, P. e M. OBSTFELD. Economia Internacional: Teoria e
Política. 6. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005.
THORSTENSEN, V. H. OMC – Organização Mundial do Comércio: as
regras do comércio internacional e a nova rodada de negociações
multilaterais. 2. ed. São Paulo: Edições Aduaneiras, 2001.

Este capítulo foi elaborado por André Filipe Zago de Azevedo.

1 Moratória consiste no ato unilateral de um país declarando a suspensão do pagamento


da sua dívida externa.
2 O termo BRIC se refere às quatro mais relevantes economias em desenvolvimento –
Brasil, Rússia, Índia e China, sendo cunhado originalmente pelo banco de investimentos
Goldman Sachs, em 2001. De acordo com o banco, estes países figurarão entre as seis
maiores economias do mundo até o ano de 2050.
3 O euro atualmente é a moeda de 16 países que integram a União Européia. Os demais
países do bloco, 27 no total, ou ainda não preenchem os requisitos para a adoção do
euro ou optaram pela não adoção, como são os casos do Reino Unido e da Dinamarca.
4 O mercado cambial é composto pelos demandantes de moeda reserva (exemplos:
importadores, investidores que estão retirando seus recursos do país, turistas do país em
viagem ao exterior) e pelos ofertantes (exemplos: exportadores, investidores entrando
com seus recursos no país e turistas estrangeiros em viagem pelo país).
5 O aumento da demanda pela moeda reserva pode ocorrer devido a vários fatores, por
exemplo, um aumento das importações, a saída de capitais de curto prazo e a remessa
de lucros e dividendos para o exterior.
6 Um caso ainda mais extremo do que o câmbio fixo é a adoção da moeda de outro país,
abandonando a moeda local, perdendo assim completamente a sua autonomia na
condução da política monetária.
7 Geralmente, há muita hesitação para abandonar um regime de câmbio fixo, pois a
maioria dos ministros da Fazenda perde seus empregos ao desvalorizar a moeda logo
após o episódio, deixando-os hesitantes em adotar tal medida.
8 A lógica inversa se aplica ao caso do país que apresenta um superávit do balanço de
pagamentos, com a taxa de câmbio apresentando uma tendência de valorização,
eliminando o superávit.
9 Dumping no comércio internacional ocorre quando uma empresa exporta seus
produtos a um preço menor do que aquele praticado no mercado nacional.
10 Para T horstensen (2001) todas as oito rodadas do GAT T são consideradas como um
sucesso, quando se tem em mente que as médias tarifárias aplicadas aos produtos eram
de 40% em 1947 e caíram para 5% em 1994, quando se finalizou a Rodada Uruguai.
11 Uma restrição voluntária à exportação é uma cota sobre o comércio imposta pelo
país exportador, geralmente a pedido do país importador, com a concordância do
exportador, a fim de evitar outras restrições comerciais.
12 É composto por África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil,
Canadá, China, Coreia do Sul, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia,
T urquia, Reino Unido, Estados Unidos e demais países membros da União Europeia.
CAPÍTULO 6

INDICADORES DE CONJUNTURA E MÉTODOS


DE ANÁLISE

Este capítulo tem como objetivo inserir o aluno na prática de


análise de conjuntura econômica. Para tanto, são usadas diversas
fontes estatísticas e também técnicas de manipulação de dados
para avaliar o cenário internacional e nacional, em especial no ano
de 2010. No primeiro caso, são avaliados o PIB, os dados do
mercado de trabalho, produção industrial e vendas do comércio.
Para o Brasil é feita uma descrição mais detalhada de como são
fornecidos os dados do PIB sob as três óticas, produção, renda e
gasto. Também são descritos alguns dos principais índices de
inflação calculados no país, tanto as relativas ao produtor quanto
ao consumidor. Por fim, os dados de comércio exterior são
avaliados à luz da publicação do Balanço de Pagamentos,
procurando inserir o leitor na interpretação das contas externas.

6.1 Cenário internacional

Para fazer uma avaliação do cenário econômico mundial, podemos


recorrer aos institutos de pesquisas de cada país, tal qual o IBGE quando
queremos dados do Brasil. Se por um lado esse tipo de pesquisa fornece
ganhos com informações detalhadas, por outro consumiria um enorme
tempo na busca de informações.
Felizmente, diversas instituições coletam dados de países, fazem a
harmonização entre os mesmos, muitas vezes agregando e produzindo
resultados regionais, por blocos econômicos, ou configurações diversas,
como, por exemplo, para países emergentes, e divulgam para fins de
comparação. O problema é que essas informações são fornecidas com
uma defasagem de tempo que pode comprometer a análise. De qualquer
forma, podemos destacar a OCDE1 , o FMI e o BIS. Mas também outros
institutos produzem informações comparáveis, como BLS – Bureau
Labour Statistics (www.bls.gov) dos EUA, WTO – Word Trade
Organization (www.wto.org), para dados de comércio mundial, ECB –
Europe Central Bank (www.ecb.int) para dados macroeconômicos da
Região do Euro e o site da Comissão Europeia para dados estatísticos
dos países europeus, http://epp.eurostat.ec.europa.eu.
A seguir, vamos fazer uma avaliação dos dados mundiais à luz da
crise financeira, originada dos problemas de crédito subprime em 2007.
A figura 18 mostra a evolução do PIB mundial e a previsão feita pelo
FMI em seu último relatório de avaliação do cenário internacional. 2 É
possível notar que o ápice dos impactos da crise ocorreu em 2009 com
o PIB mundial apresentando sua primeira retração em décadas.

Figura 18 – Evolução do PIB mundial (var.% ao ano).


Fonte: IMF.
Figura 19 – Evolução do PIB – EUA (var. % ao trimestre – anualizado).
Fonte: www.bea.gov.

Em alguns países, como foi o caso dos EUA3 , a retração na


economia interna foi muito forte. Como pode ser visto na figura 19, a
atividade no país já mostrava sinais de desaceleração ao final de 2007,
mas foi no último trimestre de 2008 e nos dois primeiros de 2009 que a
crise foi sentida de forma mais intensa. Ao avaliar os dados de PIB
divulgados para os EUA, é importante ter em mente uma diferença em
relação a outros institutos. A queda de 7,9% em 2008-IV representa, na
verdade, uma retração de 2,04% em relação a 2008-III. Porém, o
instituto divulga o resultado anualizado. Ou seja, é feito o seguinte
cálculo: Δpib = (1 - 2,04%)^(4)21) × 100.
Além dos dados do PIB, a avaliação do cenário conjuntural pode ser
feita a partir de outras variáveis, como, por exemplo, os dados do
mercado de trabalho. Nesse caso, é possível notar que os efeitos da
crise sobre as economias ocorreram de maneira diversa, com a retração
do emprego nos países desenvolvidos se mostrando bem mais
pronunciada. A taxa de desemprego desse grupo, que oscilava em torno
de 5%, passou rapidamente para cerca de 8%. Por outro lado, no grupo
dos países emergentes, esses impactos foram mais amenos, tendo sido
observado um ligeiro aumento na taxa de desemprego, como pode ser
visto na figura 20.

Figura 20 – Taxa de desemprego (em %).


Fonte: IMF.

Figura 21 – Desempregados nos EUA (em 1.000 – outubro de cada ano).


Fonte: www.bls.gov.

Novamente podemos usar o exemplo dos EUA para repercutir


como o mercado de trabalho foi atingido. A figura 21 mostra o número
de pessoas acima de 16 anos que estavam desempregadas nos meses de
outubro de cada ano. Em 2007, era um total de 7,2 milhões, quantidade
essa que rapidamente passou para 10 milhões no ano seguinte e, em
outubro de 2009, atingiu o pico de 15,6 milhões de desempregados.
Outra fonte de informação sobre dados do mercado de trabalho é a
OCDE. De acordo com a instituição, dentre os países-membros da
OCDE4 , ocorreu um aumento de 14,3 milhões de desempregados entre
maio de 2008 e setembro de 2010. Tal elevação aumentou o estoque de
desempregados para 45 milhões de pessoas. A tabela 11 mostra esses
valores apenas para alguns países. Em destaque os 2,4 milhões de
desempregados a mais na Espanha e que se somaram aos já 2,3 milhões
que não encontravam emprego. Ou seja, o número de desempregados no
país dobrou nesse período. Outros países também experimentaram
aumentos expressivos, como foi o caso da França e do Japão.

Tabela 11 – Pessoas desempregadas – países da OCDE (em 1.000)

Fonte: www.oecd.org.

Outra atividade econômica muito atingida pela crise do subprime foi


a indústria. A título de ilustração é feita uma avaliação da produção
industrial de três países desenvolvidos. a figura 22 mostra a evolução do
número índice da produção industrial em que foi considerado o mês de
maio de 2008 como a base de comparação, ou seja, assumindo o valor
100. Nesse caso, pode ser visto que, mesmo após 27 meses, o nível de
produção do setor industrial nos EUA, Alemanha e Japão não voltaram
ao patamar de 2008. No caso do Japão, o mês de fevereiro de 2009
representou o pior momento para o setor. O valor de 65 para o número
índice significa que, comparativamente a maio de 2008, a indústria teve
queda de 35%. Em agosto de 2010 a indústria na Alemanha ainda
produzia 7% abaixo de maio de 2008. Nos EUA essa diferença era de 9%
e, no Japão, de 14%.

Figura 22 – Produção industrial (maio/08 = 100).


Fonte: www.oecd.org.
Figura 23 – Vendas do comércio (maio/08 = 100).
Fonte: www.oecd.org.

Cenário idêntico, porém menos intenso, pode ser observado nas


vendas do comércio para esses mesmos três países. Como indica a
figura 23, esse segmento no Japão já conseguiu superar o nível de
vendas de maio de 2008 em 5%. Na Alemanha, em agosto de 2010, o
nível de vendas do comércio encontrava-se no mesmo patamar e, para
os EUA, é possível notar uma defasagem em torno de 5%.
Essa primeira parte do capítulo procurou ilustrar alguns pontos de
análise da conjuntura internacional avaliando dados agregados e de
países. Longe de esgotar o tema, a abordagem teve como foco os
impactos da crise econômica e o uso de variáveis como o PIB, taxa de
desemprego, produção industrial e vendas do comércio. O leitor pôde
notar uma importante ferramenta de análise para esse fim que é a
mudança de base nos números índices.
6.2 Cenário econômico brasileiro

6.2.1 Atividade econômica

Uma das formas mais comuns de se avaliar o desempenho de uma


economia é a partir do resultado do PIB – Produto Interno Bruto. No
Brasil, a fonte oficial de cálculo é o IBGE. 5 Os resultados são
apresentados a partir de três diferentes óticas: (i) Renda; (ii) Produção;
(iii) Gasto. Tal divisão permite obter diferentes informações sobre a
atividade econômica em determinado momento, sendo útil para
comparações no tempo, entre países e também para análise de
conjuntura.
Os dados são apresentados tanto no formato de número índice
quanto em valores e sua periodicidade é trimestral. A tabela 1621* do
IBGE mostra o número índice ajustado sazonalmente para a ótica da
produção e do gasto. Na primeira, as informações são referentes à
evolução da produção agropecuária, da indústria e também dos serviços,
ao passo que, para os gastos, são fornecidas as informações do
consumo das famílias, gasto do governo, investimento, exportações,
importações e variações de estoques.
Como pode ser visto na tabela 12, no ano de 2009, o PIB do Brasil
era de R$ 3,1 trilhões, sendo que, pelo lado da produção, os serviços
respondem pela maior participação. A indústria, com PIB de R$ 686
bilhões, é dividida entre Extrativa Mineral, Transformações, Construção
Civil e SIUP – Serviços Industriais de Utilidade Pública, e que agrega a
atividade de produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e
limpeza urbana.

Tabela 12 – Composição do PIB do Brasil – ótica da produção e demanda


(R$ bilhões – 2009)
Fonte: IBGE, tabela 1846.

Em relatórios de conjuntura é comum ver a referência sobre o


comportamento da demanda, em vez de se dizer a ótica do gasto. Na
verdade é a mesma definição. Um desdobramento dos dados, e que não é
fornecido pelo IBGE, é encontrar a diferença de comportamento da
demanda interna e externa. Esse valor está na tabela 12. A primeira é
composta pela soma do consumo das famílias, governo e investimentos.
Para os dados de 2009, a demanda interna foi da ordem de R$ 3,1
trilhões, com destaque para a demanda das famílias, com um PIB de R$
1,9 trilhão. A demanda externa mostrou-se praticamente nula devido à
pequena diferença entre as exportações e as importações. Se o país
tivesse um elevado superávit nas transações com o exterior, como foi o
ano de 2005, por exemplo, a demanda externa seria positiva. Por outro
lado, quando as importações superam as exportações, ou seja, há déficit
comercial, a demanda externa fica negativa. Por fim, temos as variações
de estoques. Essas costumam ter valores pequenos e apontam o grau de
ajuste da produção em relação ao consumo.
Além dos valores, a partir dos dados dos números índices, contidos
na tabela 1621, podemos calcular as variações percentuais. Fazendo a
relação de cada trimestre em relação ao trimestre imediatamente
anterior6 , podemos ver os impactos da crise mundial sobre o PIB no
Brasil, como mostra a figura 24. Note que o ritmo de crescimento da
economia foi rapidamente interrompido no último trimestre de 2008,
caindo 3,2% sobre o terceiro trimestre, e seus impactos ainda se
estenderam para o primeiro trimestre de 2009, quando o PIB teve novo
recuo, dessa vez de 1,6%.
Porém, a recuperação da economia foi muito rápida nos trimestres
seguintes e contou com a ajuda de fatores como: (i) os incentivos
tributários concedidos pelo governo federal, em especial a redução do
IPI dos automóveis; (ii) a manutenção dos juros baixos, que
contribuíram para manter o crédito aquecido; (iii) elevação do gasto
público, que alimentou a demanda interna; (iv) concessão de recursos ao
sistema financeiro para evitar a queda da liquidez, com a forte presença
dos bancos públicos; (v) efeito estatístico sobre os dados, uma vez que
a base de comparação ficou muito baixa.

Figura 24 – Evolução do PIB do Brasil (Var.% trimestre sobre trimestre anterior).


Fonte: IBGE.

Figura 25 – Evolução do PIB do Brasil (Nº índice 2008-II5100).


Fonte: IBGE.

Uma alternativa de avaliação interessante nesse cenário é procurar


responder à seguinte pergunta: “O Brasil conseguiu superar a crise?”.
Para tal, precisamos modificar a base do número índice do PIB na tabela
1621. Olhando a série do PIB podemos ver que o segundo trimestre de
2008 foi o melhor momento do pré-crise, quando o indicador atingiu o
valor de 149,78. Sendo assim, vamos mudar essa base para 100,
modificando todos os demais números índices. 7 Note que, ao fazer isso,
continuamos com a queda de 3,2% no terceiro trimestre, e que colocou
o índice em 96,8, como mostra a figura 25. Mas ganhamos uma
importante informação, que é a data em que o PIB voltou ao patamar de
100, igualando-se ao nível do período pré-crise. Pelos resultados,
podemos dizer que o Brasil conseguiu superar a crise de 2008 após =
trimestres, tendo o mesmo ocorrido apenas ao final de 2009. A partir de
então, a economia continuou se expandindo fortemente, a ponto de, no
segundo trimestre de 2010, estar produzindo 5,1% acima do que
produzia em 2008-II, quando o número índice atingiu o patamar de
105,1.
Apesar de fornecer informações úteis, há duas dificuldades em se
trabalhar com dados do PIB. A primeira é a sua periodicidade, trimestral,
e que muitas vezes não atende às necessidades de avaliação do mercado,
que necessita de informações mais dinâmicas. E, em segundo, a
defasagem na divulgação, cerca de 60 dias após o encerramento de cada
trimestre. 8
Diversas instituições no exterior procuram construir indicadores
que possam representar o PIB em periodicidade mensal. No Brasil, o
Banco Central calcula o IBC-BR – Índice de Atividade Econômica, cujo
objetivo é produzir uma estimativa mensal do PIB em número índice.
Esse é feito com base em um conjunto de informações mensais do
desempenho da economia, como as vendas do comércio e a produção
industrial, e que são, posteriormente, agregadas. 9

6.2.2 Índices de preços

Assim como em vários países, há diversos índices de preços


calculados no Brasil, cada qual podendo ser usado de acordo com o
objetivo de avaliação. No grupo dos índices que procuram representar o
lado da oferta, destaque para o IPA – Índices de Preços no Atacado10 ,
que são calculados para a agropecuária e para a indústria. Aqui podemos
ver, por exemplo, como evoluiu o preço, mês a mês, da indústria de
couro e calçado, da indústria química ou, então, da indústria de
máquinas e equipamentos.
A figura mostra a evolução do IPA – veículos automotores entre
2002 e 2009. Entre os anos de 2002 e 2005, os preços dos veículos
aumentaram de forma sistemática, e refletiam a demanda aquecida.
Nesse período analisado, houve uma queda dos preços apenas no ano de
2009 e que refletiu, sobremaneira, o cenário adverso de retração da
demanda interna.
Outro grupo de indicadores de preços que a Fundação Getúlio
Vargas fornece é o IGPs – Índices Gerais de Preços, muito comuns no
cálculo de reajuste de contratos de aluguéis, energia elétrica e também é
utilizado no mercado financeiro. Os IGP são divididos em três grupos,
ambos calculados a partir de uma média ponderada do IPA, INCC e
IPC. 11 São eles: (i) IGP-M – Índice Geral de Preço de Mercado,
coletado entre o dia 21 de um mês e 20 do próximo; (ii) IGP-10,
coletado entre os dias 11 e 10 do mês seguinte; (iii) IGP-DI, coletado
entre os dias + e 30 do respectivo mês. Esses três índices possuem a
mesma composição, o mesmo peso para todos os componentes,
diferindo apenas em seu período de coleta. Note que, da forma como os
mesmos são calculados, podemos ter uma informação sobre o
comportamento da inflação a cada dez dias.
Outra instituição que também coleta informações sobre índices de
preços é o IBGE. Porém, este se restringe a fazer uma avaliação da
evolução dos preços relacionados aos consumidores. São dois
indicadores fornecidos, e que diferem no peso de seus componentes e na
fonte de dados: (i) IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo12 ,
que também se divide em IPCA-E e IPCA-15; (ii) INPC – Índice
Nacional de Preços ao Consumidor. O IPCA representa o perfil de gasto
de uma família com rendimento entre + e 44 salários mínimos. Já o
INPC considera famílias com rendimentos mensais entre + e 6 salários
mínimos, portanto, sendo mais representativo do comportamento dos
preços da população de baixa renda.
Para encontrar esses pesos, o IBGE recorre a uma pesquisa que
abrange todo o país, e levanta o perfil de gasto de uma família brasileira
de acordo com sua faixa de renda. Essa é conhecida como POF –
Pesquisa de Orçamento Familiar. A última foi realizada em 2002/2003. A
seguir, essas informações foram utilizadas para inserir novos produtos
no cálculo do índice de preço, e também para rever seus respectivos
pesos. A tabela 13 compara o peso dos grupos que compõem o IPCA e o
INPC. O grupo que mais representa, em termos percentuais, no gasto da
família brasileira é alimentação e bebidas, com 22,6% no IPCA e chega a
29,8% no INPC. Assim sendo, uma inflação que esteja sendo puxada por
esse grupo deve pesar mais nas famílias de renda mais baixa. Outra
diferença importante são os gastos com educação, muito mais
representativos para as famílias que ganham de + a 44 salários mínimos,
representando 7,2%.

Figura 26 – IPA – veículos automotores (Var.% ac. no ano).


Fonte: FGV.

Tabela 13 – Grupos do IPCA e INPC (Pesos no indicador)

IPCA INPC
Alimentação e bebidas 22,67 29,87
Habitação 13,32 16,16
Artigos de residência 4,18 5,16
Vestuário 6,76 8,12
T ransportes 18,97 16,25
Saúde e cuidados pessoais 10,91 9,20
Despesas Pessoais 10,39 7,20
Educação 7,23 3,18
Comunicação 5,57 4,86
Total 100 100
Fonte: IBGE/ dados de outubro de 2010.

Um ponto importante para compreender nesta análise é o papel do


peso na composição do indicador. Por exemplo, se no mês corrente o
grupo alimentação e bebidas tiver variação de preços de 10%, então,
somente com esse, a inflação já seria de 2,26%, quando medida pelo
IPCA, e de 2,98%, quando medida pelo INPC. Como são vários
produtos que compõem o indicador final, é natural esperar que a
deflação em algum item puxe a inflação total para baixo.
A figura 27 mostra a evolução dos preços, acumulado no ano de
2010 até outubro, dos seis itens que tiveram as maiores variações. Veja
que tanto os três que tiveram maiores aumentos de preços, como o feijão
carioca, com 109%, o quiabo e a abóbora, bem como aqueles que
tiveram as maiores deflações, como a cebola, com queda de 47% no
preço, e a tangerina e cenoura, são todos relacionados ao grupo de
alimentos. Isso é de se esperar, pois esses são produtos com muitas
oscilações de preços, sofrendo diversas influências adversas, como
sazonalidade de safra, intempéries climáticas dentre outros. Nos dez
primeiros meses do ano, o índice agregado do IPCA acumulou 4,3% de
variação.

Figura 27 – IPCA – Principais variações (var.% ac. Em 2010).


Fonte: IBGE, de janeiro a outubro de 2010.

6.2.3 Contas externas

O último grupo de estatísticas a ser avaliado neste capítulo, refere-


se ao setor externo. Neste caso, recorremos aos dados do balanço de
pagamentos, que pode ser acessado no Banco Central de três formas. A
primeira é a partir das notas econômico-financeiras para imprensa,
divulgado mensalmente, em um conjunto de mais de 60 planilhas.
Alternativamente, podemos usar a opção de séries temporais,
consultando uma por uma as séries que se deseja. Por fim, pode-se
consultar em indicadores de conjuntura, no capítulo V sobre balanço de
pagamentos.
Uma fotografia do Balanço de Pagamentos (BP) acumulado entre
janeiro e setembro de 2010, comparativamente ao mesmo período de
2009, mostra aspectos interessantes da dinâmica de relações do Brasil
com o exterior. Como pode ser visto na tabela 14, o BP é dividido em
duas partes. Na primeira estão as transações correntes, compostas pela
soma do resultado comercial, conta de serviços e as transferências
unilaterais. Note que o déficit das transações correntes aumentou entre
um ano e outro, passando de US$ 12 bilhões entre janeiro e setembro de
2009 para US$ 35 bilhões no mesmo período de 2010. Dois movimentos
podem ajudar a explicar esse cenário: (i) a piora no superávit comercial,
que caiu de US$ 21 bilhões para US$ 12 bilhões; (ii) o maior déficit na
conta de serviços e rendas, fundamentalmente um aumento de US$ 14
bilhões.
Os dados refletem tanto a dinâmica de crescimento maior da
economia brasileira relativamente à média mundial quanto uma taxa de
câmbio valorizada, que incentiva as importações, maiores gastos com
serviços e o envio de renda ao exterior. Por exemplo, na conta de
serviços existe uma rubrica de nome “despesas de viagens”. Seu
resultado líquido costuma ser sempre negativo, ou seja, gastamos mais
no exterior com viagens do que os estrangeiros gastam no Brasil. Em
2009, o déficit nessa conta era de US$ 3,6 bilhões e saltou, apenas nos
primeiros nove meses do ano de 2010, para US$ 7,1 bilhões. Enquanto
que os estrangeiros gastaram no Brasil US$ 4,3 bilhões, gastamos no
exterior US$ 11,4 bilhões. Além disso, também tivemos déficit no
pagamento de juros da ordem de US$ 7,1 bilhões e na conta de lucros e
dividendos, US$ 20,9 bilhões. Em resumo, pela conta de serviços, o
Brasil mais enviou do que recebeu dólares do exterior.
Para que o balanço fique em equilíbrio, é necessário recorrer ao
financiamento dessas operações. Esses resultados podem ser
consultados na conta capital e financeira. A entrada de recursos no
Brasil, tanto em 2009 quanto em 2010, foi mais do que suficiente para
cobrir o déficit nas transações correntes. E essa relativa “folga”
mostrou-se muito mais pronunciada no ano de 2010, quando nos
primeiros nove meses do ano entraram o equivalente a US$ 70,8 bilhões,
fundamentalmente pela conta financeira.
Tabela 14 – Balanço de pagamentos (jan-set – US$ bilhões)

2009 2010
Balança comercial 21,2 12,8
Serviços e rendas (35,8) (50,1)
T ransferências unilaterais 2,6 2,3
Transaçõe s corre nte s (12,1) (35,1)
Conta capital 0,8 0,8
Conta financeira 38,5 70,0
Conta capital e finance ira 39,3 70,8
Variação de re se rvas 29,1 34,5

Fonte: Banco Central do Brasil.

Vale destacar que a conta financeira é composta por duas


importantes rubricas. A primeira é a que trata dos investimentos diretos.
Nos primeiros nove meses de 2010 entraram no Brasil o equivalente a
US$ 22 bilhões em investimentos estrangeiros diretos (IED). Porém,
também fizemos investimentos no exterior, no montante de US$ 5,6
bilhões, produzindo um resultado líquido positivo de US$ 16,9 bilhões.
Mas ainda estariam faltando outros US$ 53 bilhões para explicar a conta
financeira. Aqui entra a segunda rubrica, que são os investimentos em
carteira. Esta contempla investimentos em ações e títulos de renda fixa,
tanto de estrangeiros no Brasil quanto de brasileiros no exterior. No
período analisado, entre janeiro e setembro de 2010, esta teve um
resultado positivo de US$ 43 bilhões, reflexo do elevado volume de
dólares que aportou no país para se aproveitar do diferencial de juros
interno e externo que os títulos de renda fixa do governo ofereceram e
também da perspectiva de retornos no mercado acionário.
Não devemos avaliar a saúde econômica de um país apenas pela
entrada de dólares para fazer frente a um déficit em transações
correntes. É muito importante entender a composição desses recursos.
Vimos acima que nos últimos anos aportou no Brasil uma enorme
quantidade de divisas, suficiente para financiar o déficit em transações
correntes. Porém, boa parte desses recursos foi direcionada para
investimentos em carteira, aproveitando-se dos bons retornos que a
economia brasileira ofereceu vis-à-vis o cenário internacional.
Porém, o mais recomendado é considerar, para efeito de
financiamento externo, o fluxo de IED. A diferença entre o déficit em
transações correntes e o IED é o que se denomina de necessidade de
financiamento externo. Quando o valor é positivo, significa que o país
precisa de recursos para financiar seus gastos. Por outro lado, valores
negativos dessa necessidade de financiamento significam que a entrada
de IED tem sido suficiente para financiar o déficit em transações
correntes. Avaliando os dados para a economia brasileira, podemos ver
que, desde 2002, o único ano em que essa necessidade se tornou
positiva13 foi 2010. As elevadas necessidades de financiamento, com
valores negativos, de 2006 e 2007, refletem a forte entrada de recursos
no Brasil pelo lado dos investimentos diretos, bem como o baixo déficit
em transações correntes. Atualmente, a necessidade de US$ 12 bilhões
reflete muito mais um elevado déficit nas transações com o exterior do
que uma ausência de IED. Novamente, um sinal de que há um
desequilíbrio nas contas externas.
Figura 28 – Necessidade de financiamento externo (Em US$ bilhões).
Fonte: Banco Central do Brasil.

Por fim, no fechamento do balanço de pagamentos, a diferença


entre o resultado das transações correntes, do lado esquerdo, e a conta
capital e financeira, do lado direito, reflete, essencialmente, as variações
nas reservas cambiais. 14 Assim, entre janeiro e setembro de 2009, as
reservas aumentaram em US$ 29 bilhões e, no mesmo período de 2010,
mais US$ 34,5 bilhões. Destaca-se que o processo de compra de moeda
por parte do Banco Central, na tentativa de evitar uma apreciação mais
forte da taxa de câmbio, vem desde 2006, tendo sido intensificado em
2007 e agora, em 2010.
A figura 29 mostra a evolução das reservas cambiais em poder do
Banco Central. Essa saiu de um patamar de US$ 54 bilhões em 2005
para US$ 285 bilhões em outubro de 2010. Mesmo assim, essas
intervenções não foram o suficiente para evitar que a moeda brasileira se
apreciasse frente ao dólar no período considerado. Como pode ser visto
na figura 30, a taxa de câmbio era de R$/US$ 2,37 em meados de 2006,
valorizando-se para cerca de R$/US$ 1,57 em meados de 2008. A crise
do subprime mudou essa trajetória rapidamente, produzindo uma
desvalorização da ordem de 58%. Mas esse cenário durou pouco, e o
real novamente ganhou valor frente ao dólar.
Figura 29 – Reservas internacionais (em US$ bilhões).
Fonte: Banco Central do Brasil.
Figura 30 – Evolução da taxa de câmbio.
Fonte: Banco Central do Brasil.

Neste capítulo o leitor pôde fazer uma breve avaliação sobre a


economia brasileira a partir de dados do PIB, índices de preços e do
balanço de pagamentos. Tal como feito na abordagem sobre o cenário
internacional, usou-se da ferramenta de mudança de base em números
índices para ter informações mais específicas sobre alguns pontos. Essa
abordagem não esgota o assunto. Há muitas outras fontes de
informações estatísticas, conceituações de variáveis e ferramentas de
manipulação de dados que também podem ser utilizadas na prática de
análise de conjuntura.

SUGESTÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR

Livros
Livro de número índice
Livro em inglês de avaliação de dados da economia
Livros sobre a crise internacional

ARTIGOS
IMF, World Economic Outlook – Recovery, Risk and Rebalancing,
World Economic and Financial Surveys, October, 2010a.
IMF, Global Financial Stability Report – Sovereigns, Funding and
Systemic Liquidity, World Economic and Financial Surveys, October,
2010b.
IMF, Fiscal Monitor – Fiscal Exit: From Strategy to Implementation,
World Economic and Financial Surveys, November, 2010c.
SITES

www.bcb.gov.br
www.ibge.gov.br
www.imf.org
www.oecd.org
www.bls.gov
www.bea.gov,
www.federalreserve.gov
www.economist.com,

Este capítulo foi elaborado por Igor Alexandre Clemente de Morais.

1 A OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico


(www.oecd.org), possui um grande banco de dados de diversos países que fazem parte da
instituição. O Fundo Monetário Internacional (www.imf.org) não tem a mesma
abrangência de informações que a OCDE, mas é uma referência para diversos dados
macroeconômicos que contemplam, em alguns casos, mais de 170 países, como é o
caso do PIB e dados de setor externo. O BIS (www.bis.org) traz diversos dados
relacionados ao sistema financeiro dos países.
2 Esse é conhecido como WEO – World Economic Outlook. É divulgado duas vezes no
ano e, além da avaliação da conjuntura internacional, traz uma detalhada previsão sobre
variáveis como PIB, emprego, setor externo, inflação e fluxo de capitais para diversos
países.
3 Os dados de Contas Nacionais dos EUA estão em www.bea.gov.
4 No total são 33 países-membros.
5 Ver www.ibge.gov.br e depois selecione Sidra e, a seguir, contas nacionais.
* A tabela 1621 foi elaborada pelo IBGE, e é atualizada periodicamente. Está disponível
no site www.ibge.gov.br.
6 Sempre que for feita uma análise nesse tipo de comparação, é necessário ter dados
dessazonalizados.
7 Uma das propriedades de mudança de base de número índice é que a mesma não muda as
propriedades estatísticas do dados e, muito menos, as variações entre os períodos.
8 Essa é uma característica presente em diversos institutos de pesquisa no mundo. Em
alguns casos a defasagem na divulgação é menor, cerca de 45 dias.
9 O leitor pode consultar www.bcb.gov.br e procurar pela série de número 17632.
10 Esses são calculados pela FGV – Fundação Getúlio Vargas, e podem ser vistos em
www.portalibre.fgv.br.
11 IPC – Índice de Preço ao Consumidor, tem como objetivo medir a evolução dos
preços de bens e serviços consumidos por uma família com renda entre + e 33 salários
mínimos. Diversas aberturas são feitas pelo indicador, dentre elas o IPC-3i, que mede a
evolução de preços de pessoas com mais de 60 anos, e o IPC-S, divulgado
mensalmente. INCC – Índice Nacional da Construção Civil, que representa a evolução
dos custos da Construção Civil, medindo os preços de materiais, equipamentos,
serviços e mão de obra. O INCC também se divide entre INCC-M, INCC-10 e INCC-
DI, sendo que a única diferença entre eles é o período de coleta.
12 O IPCA é utilizado pelo Banco Central do Brasil na determinação das metas de
inflação. Além disso, as NT N-B – Notas do Tesouro Nacional Série B tem como
indexador a evolução do IPCA.
13 Dados acumulados até setembro de 2010.
14 A pequena diferença que se verifica entre essas contas é a rubrica “ erros e omissões”.
SOBRE OS AUTORES

ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO


Doutor em Economia pela Universidade de Sussex (Inglaterra). Mestre em Economia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Economia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenador e professor do
Mestrado em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Bolsista
de produtividade em pesquisa do CNPq. Economista-chefe da FEDERASUL.

ANGÉLICA MASSUQUET T I
Doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS. Professora do
Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS).

IGOR ALEXANDRE CLEMENT E DE MORAIS


Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul,(UFRGS) com
ênfase em Econometria. Várias publicações na área, dentre as quais autor do livro A crise
econômica internacional e os impactos no Rio Grande do Sul. Obteve o 2º lugar no VI
Prêmio do Tesouro Nacional, 2001, área de Finanças Públicas, tema – Ajuste Fiscal e
Dívida Pública; 1º lugar no Concurso de Monografias do XVI Congresso da ABAMEC
Nacional, abril de 2002, Menção Honrosa do Prêmio CNI de 2009. Atualmente, é
economista-chefe da FIERGS e professor do Programa de Pós-Graduação em Economia
da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

MÁRCIO E. SCHWEIG
Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Professor de Graduação e Pós-Graduação. Coordenador do Curso de Comércio Exterior da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

T IAGO WICKST ROM ALVES


Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre
em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel
em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor dos
Programas de Pós-Graduação em Economia e em Ciências Contábeis da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

Reitor
Pe. M arcelo Fernandes de Aquino, SJ

Vice-reitor
Pe. José Ivo Follmann, SJ

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C751 Conjuntura econômica brasileira e internacional / autores


André Filipe Zago de Azevedo … [et al.] ; M árcio E.
Schweig, organizador. – São Leopoldo, RS : Ed. UNISINOS,
2011.
104 p. – (EAD)

ISBN 978-85-7431-424-2

1. Economia. 2. Relações econômicas internacionais. 3.


Política econômica. 4. Ensino a distância. I. Azevedo, André
Filipe Zago de. II. Schweig, M árcio E. III. Série.
CDD 330
CDU 33

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Bibliotecário Flávio Nunes, CRB 10/1298)

Esta obra segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa vigente desde
2009.

Editor
Carlos Alberto Gianotti

Acompanhamento editorial
M ateus Colombo M endes

Revisão Editoração Capa


José Luiz Dias Renato Deitos Isabel Carballo

Impressão, verão de 2011

A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio, das páginas


que compõem este livro, para uso não individual, mesmo para fins
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Edição digital: dezembro 2013

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