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Saúde Coletiva

Editorial Bolina
editorial@saudecoletiva.com.br
ISSN (Versión impresa): 1806-3365
BRASIL

2008
Celina Martins Ramalho / Paula Soares Meyer Passanezi / Álvaro da Silva Santos
CAPITAL HUMANO E SAÚDE SUSTENTÁVEL: O SETOR DA SAÚDE NO BRASIL E
PERSPECTIVAS PARA A AMÉRICA LATINA E CARIBE
Saúde Coletiva, maio/junho, año/vol. 5, número 021
Editorial Bolina
São Paulo, Brasil
pp. 86-93

Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal

Universidad Autónoma del Estado de México

http://redalyc.uaemex.mx
economia da saúde
Ramalho CM, Passanezi PSM, Santos AS. Capital humano e saúde sustentável: o setor da saúde no Brasil e perspectivas para a América Latina e Caribe

Capital humano e saúde sustentável:


o setor da saúde no Brasil e perspectivas
para a América Latina e Caribe
Aspectos da economia da saúde devem ser considerados no contexto do crescimento econômico e da sustentabilidade nos paí-
ses em desenvolvimento. Para tanto, a teoria do crescimento econômico de Solow e seus desdobramentos pode ser considera-
da nos investimentos em saúde preventiva como parte da variação positiva do capital humano. Por sua vez a viabilidade dos in-
vestimentos em saúde preventiva deve-se aos aspectos institucionais dos países. O exemplo da política de saúde brasileira tem
sua parcela de viabilidade e sustentabilidade ao se considerar o projeto público das Unidades de Saúde da Família. Outrossim,
vários aspectos devem ser considerados quanto a política de saúde dos países da América Latina e Caribe.
Descritores: Capital humano, Saúde sustentável, Crescimento econômico.

Aspects of the economy of the health should be considered in the context of the economic growth and of the sustainable in
the countries in development. For such, the theory of the economic growth of ‘Solow’ and its unfolding can be considered in
the investments in preventive health as part of the positive variation of the human capital. Nevertheless, the viability of the
investments in preventive health is due to the institutional aspects of the countries. The example of the politics of Brazilian
health has its viability portion and sustainable when being considered the public project of the Family Units of Health. Several
aspects should be considered when of the politics of health of American Latin’s countries and Caribbean.
Descriptors: Human capital, Sustainable health, Economic growth.

Los aspectos de la economía de la salud deben ser considerados en el contexto del crecimiento económico y del sustentabi-
lidad en los países en desarrollo. Por lo tanto la teoría del crecimiento económico de ‘Solow’ y sus desdoblamientos puede
ser considerada en las inversiones en salud preventiva como parte de la variación positiva del capital humano. Durante su
tiempo la viabilidad de las inversiones en salud preventiva es debida a los aspectos institucionales de los países. El ejemplo
de la política de salud brasileña tiene su porción de viabilidad y sustentabilidad al ser considerado el proyecto público de las
Unidades de Salud de la Familia. Deben considerarse varios aspectos cuando de la política de salud de los países de Améri-
ca latina y Caribe.
Descriptores: Capital humano, Salud sustentable, Crecimiento económico.

IntroduçÃo
celina martins ramalho: Economista. Doutora em
Economia. Docente da Fundação Getúlio Vargas. Membro da
Ordem dos Economistas do Brasil.
O s aspectos de políticas sociais nos países em desenvolvimento
requerem atenção especial, uma vez que, em condições
adversas da economia refletem o fator trabalho, meio este que
a população de baixa renda tem de superar as necessidades
paula soares meyer passanezi: Economista. Doutora em para o sustento. Este artigo se baseia no âmbito da teoria do
Economia. Coordenadora do Curso de Ciências Econômicas crescimento e do desenvolvimento econômico.
da Universidade Nove de Julho. Diante da escassez dos recursos econômicos de toda
procedência, seja privada ou pública, cabe aos governos
Álvaro da silva santos: Enfermeiro. Doutor em Ciências tratarem o papel do Estado (que pela historicidade tem o papel
Sociais. Líder do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e regulador), de proporcionar recursos de saúde, cujo caráter é
da Família. Docente da Universidade Anhembi Morumbi e essencialmente público, de forma sustentável. Ou seja, dada a
Universidade Nove de Julho. alvaroenf@hotmail.com impossibilidade de contar-se com mais recursos, resta criar os
meios com a disponibilidade que se tem.
Os aspectos do setor saúde são inúmeros e requerem a análise
microeconômica gerencial e macroeconômica quanto ao seu
Recebido: 18/02/2007 cenário. Sendo um dos fatores de produção, os retornos dos
Aprovado: 15/05/2007 investimentos em saúde na economia devem ser considerados

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estabelecidos e mensurados quanto à sua O gráfico 1a leva demonstra que


efetividade. “DIANTE DA EVOLUÇÃO DAS quanto mais alta a taxa de crescimento
A análise é essencialmente macroe- da população ( n ), mais pobre é o país.
conômica, mas o reflexo na unidade de PESQUISAS EM ECONOMIA Ao contrário, uma queda de n provoca
negócios quando se tem trabalhadores DA SAÚDE REFERENTE AO um crescimento imediato de k*. Quanto
bem supridos de saúde e seu retorno mais alta a taxa de poupança, maior é o
produtivo está na metodologia da teoria
CRESCIMENTO ECONÔMICO, investimento na economia (k*), e mais
microeconômica e da gestão empresarial. O INVESTIMENTO EM SAÚDE rico é o país. Isto é facilmente notado
ao acompanharmos os deslocamentos
o retorno dos InvestImentos em
NO ÂMBITO DOS RESULTADOS das curvas nos gráficos 1a e 1b, os quais
saúde preventIva DOS ACRÉSCIMOS EM CAPITAL implicam o deslocamento do estado
A teoria do crescimento econômico reve- HUMANO SOBRE A PRODUTIVIDADE estacionário de para .
la empiricamente que como parte dos in- O artigo clássico de Mankiw, Romer e
vestimentos em capital humano deve-se DE UMA ECONOMIA SÃO VISÍVEIS” Weil3 contém em seu argumento que as
considerar o aspecto da saúde preventiva, previsões do modelo de Solow são, em
como meio de assegurar este fator de uma primeira aproximação, consistentes
produção refletindo positivamente no produto da economia. com a evidência. Ao examinar dados disponíveis de uma grande
Esta teoria foi tratada e testada por Ramalho1, baseado no quantidade de países, os autores mostraram que a poupança
modelo de crescimento econômico. O resultado foi a correlação e o crescimento da população afetam a renda na direção das
positiva entre investimentos em saúde e aumento do produto da previsões de Solow. Além disso, mais da metade da variação
economia. É oportuno tratar o desenvolvimento do modelo para entre as rendas per capita dos países pode ser explicada por
esclarecimento da influência da variável saúde no modelo de estas duas variáveis isoladas.
crescimento econômico e sua dinâmica, dentre outras variáveis. Mankiw, Romer e Weil3 incluem a acumulação do capital
No texto clássico sobre crescimento econômico de Solow2, físico e do capital humano ao modelo de Solow, sendo esta
propõe-se que o estudo seja iniciado assumindo uma função última a variável explicativa adicional do modelo. E observam
de produção neoclássica convencional com rendimentos que de fato a acumulação de capital humano relaciona-se ao
decrescentes do capital. Considerando as taxas de poupança crescimento da poupança e da população.
e o crescimento econômico exógenos, estas duas variáveis
determinam o nível de estado estacionário da renda per capita.
Uma vez que as taxas de poupança e crescimento populacional
variam entre as economias, países diferentes atingem estados
estacionários diversos. O modelo de Solow2 aponta previsões
testáveis sobre como estas variáveis influenciam o nível de
estado estacionário da renda.
O modelo é desenvolvido baseado na fórmula que relaciona
o produto da economia em função do capital e do trabalho:

Y= f (K, AL)

Após considerações ao modelo no tempo, temos:

sf (k (t))= (n+g+d) k (t)

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Gráfico 1.a e 1.b. Efeitos da diminuição da taxa de crescimento da população (n) e b - Efeitos do aumento da
taxa de poupança ( sf (k) ) sobre o investimento

A B

poupança e do crescimento da população.


Desenvolve-se um modelo a partir da função Cobb- Primeiro, porque para uma dada taxa de acumulação de
Douglas: capital, mais poupança ou menos crescimento da população
levam a um maior nível de renda e, em conseqüência, a um
Y (t)= K (t)a (A (t) L (t))1-a ,0<a<1 nível superior de capital humano. Portanto, a acumulação de
capital físico e o crescimento da população têm maior impacto
Em seguida, acrescenta-se à função a acumulação de capital sobre a renda quando a acumulação de capital humano é
humano, obtendo-se: considerada. Segundo, a acumulação de capital humano pode
ser correlacionada com as taxas de poupança e de crescimento
Y (t)= K (t)a H (t)b (A (t) L (t))1-a-b ,0<a+b <1 da população; isto implica que a omissão da acumulação de
capital humano causa um viés nos coeficientes estimados da
Neste caso, a evolução da economia é determinada por: poupança e do crescimento populacional.
O parecer final dos pesquisadores sobre o estudo de Solow
k (t)= sk k (t)a h (t)b – (n+g+ d) k (t) e indica que o modelo estendido é consistente com a evidência
h (t)= sh k (t)a h (t)b – (n+g+ d) h (t) internacional, uma vez considerada a importância do capital
humano e do capital físico, e que as diferenças na poupança,
Que resulta no seguite gráfico: na educação e no crescimento da população podem mesmo
explicar as disparidades na renda per capita entre os países.
A análise dos dados indica que estas três variáveis explicam
Gráfico 2. Dinâmica de k e h grande parte da variação internacional. Os autores apontaram
h=0 que o modelo de Solow é o melhor meio para a compreensão de
k como esses determinantes influenciam o bem-estar econômico
de uma população.
É oportuno enfatizar que a questão aqui destacada é a
atribuição do investimento em saúde como parâmetro do capital
k=0 humano. O tema é objeto de análise de alguns estudiosos da
e.e. Economia da Saúde, e possui uma lacuna para a qual o presente
trabalho pretende contribuir. O re
sobr
Impacto do investimento em capital humano
sobre a produtividade da economi

Para efeito de se constatar a contribuição da ciência


econômica na análise dos investimentos no setor da saúde, há que
se considerar que os autores sugeriram a extensão do modelo de
Solow através da inclusão do capital humano e do capital físico.
É justamente a ausência do capital humano no modelo original,
que nos faz perceber ainda mais as influências estimadas da

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grande destaque Journal of Health Economics). consideradas na amostra, onde:


A literatura sobre capital humano tem origem nos anos 60, y= Produto Nacional Bruto (PNB) per capita, e as variáveis
quando os trabalhos de Schultz4 apontavam a relevância desse independentes são: fbkf= formação bruta de capital fixo, ou I/
conceito. Nos anos 70 e 80, a variável passa a compor o qua- PNB percapita e n+g+ d= taxa de crescimento da população,
dro de análise de crescimento das economias. Recentemente, somado à taxa de conhecimento, somado à taxa de depreciação,
na teoria de crescimento econômico, o investimento em saúde e = gasto em saúde per capita.
pode ser representado através do parâmetro de acréscimos em A partir deste modelo previsto, os resultados empíricos visam
capital humano. Portanto, a análise permite que se considere o apresentar a relação positiva do gasto em saúde per capita na
parâmetro do capital humano composto não apenas por avan- evolução do crescimento econômico dos países.
ços na educação e nas condições de vida da população, mas Para a inferência estatística no tempo, observa-se que o
também, pela forma como a atenção à saúde é disponibilizada modelo econométrico resulta, conforme o desenvolvimento do
para os indivíduos. modelo de Mankiw, Romer e Weil3, em: ln Yi= ln fbkfi + ln si+
O artigo “Health as an Investment”, de Mushkin , formaliza-
5
ln (n+g+ d)i+i.
va a preocupação com o tema em economia, e estava incluído Aplicando-se os dados para os países, foram obtidos
no volume da conferência do National Bureau of Economic Re- resultados significativos com respeito à correlação positiva entre
search - NBER, que naquele ano (1962) era em Humanidade. A gastos em saúde e retorno sobre o produto da economia1.
autora apontava a relevância do investimento em saúde e dos
meios de distribuição dos recursos do se- aspectos InstItucIonaIs da saúde
tor aos indivíduos. Ao considerar as pesquisas em
Na mesma época, confirmando o que macroeconomia a partir dos anos 1980,
se considerava a fronteira do conheci- “A POBREZA E A FALTA DE SAÚDE destaca-se a atenção que se passou a dar
mento da ciência econômica, o trabalho OCORREM CONJUNTAMENTE E aos aspectos de longo prazo, tais como:
de Becker6 tinha como destaque o tratado os efeitos das políticas de governo sobre
do capital humano. JUSTIFICAM-SE EMPIRICAMENTE o crescimento econômico9. O fato aponta
Na seqüência, Feldstein aplicava os
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POR ESTUDOS QUE APRESENTAM para o reconhecimento de que a diferença
métodos quantitativos (como os quadra- entre prosperidade e pobreza depende da
dos mínimos nos estágios da análise do COMO RESULTADO A RELAÇÃO velocidade do crescimento dentro de um
componente principal e da programação DIRETA DA POBREZA COM período de tempo delimitado. Além das
linear na estimação das funções de produ- políticas monetária e fiscal, a performance
ção) e outros aspectos econômicos impor-
A DOENÇA E DA RIQUEZA COM econômica implica outros aspectos que
tantes da atenção à saúde. A SAÚDE, SEJA ENTRE perfazem a atividade do governo. De
Anos mais tarde, foi vista a aplicação acordo com o autor, um desses aspectos
do modelo de capital humano à saúde,
AS POPULAÇÕES DE é o caráter das instituições políticas, legais
desenvolvida por Grossman8. Naquela PAÍSES RICOS OU POBRES” e econômicas do país. A observação
ocasião, os trabalhos nesta linha indica- empírica prova que, no longo prazo, as
vam a forte correlação entre nível de es- diferenças entre as instituições dos países
colaridade e saúde. A melhor explicação para este resultado é estão entre os determinantes mais importantes das disparidades
que os dois fatores refletem diferentes preferências no tempo. entre as taxas de crescimento econômico e o investimento.
Assim, tanto a saúde como a escolaridade são aspectos do in- O autor destaca que a acumulação de capital humano é uma
vestimento em capital humano. As diferenças entre os indiví- parte importante do processo de desenvolvimento, e que essa
duos nas preferências que são estabelecidas na primeira idade acumulação é inegavelmente influenciada, na maioria dos
podem resultar em quantidades diferentes de investimento em casos, por programas públicos de educação e saúde.
saúde e educação. Alguns analistas acreditam que o direito de propriedade e um
sistema legal forte são centrais para o investimento, assim como
o retorno do InvestImento em saúde preventIva para outros aspectos da atividade econômica. A acumulação de
sobre a produtIvIdade da economIa capital é parte importante do processo de desenvolvimento10,11.
A atribuição do investimento em saúde como parâmetro do ca- Esta acumulação é influenciada, na maioria das vezes, por
pital humano é objeto de análise de alguns estudiosos da Eco- programas públicos de escolarização e saúde. Igualmente
nomia da Saúde. importantes, são as políticas de governo que promovem ou
Considerando o modelo desenvolvido por Mankiw, Romer e restringem os mercados livres, incluindo a regulamentação do
Weil3, por meio da linearização da fórmula de crescimento da trabalho e dos mercados de capital e as intervenções que afetam
economia temos: o grau de abertura comercial. As políticas governamentais
incluem ainda a quantidade e natureza do investimento
ln y= ln fbkf + ln s+ ln (n+g+ d) público, especialmente nas áreas relacionadas ao transporte e
à comunicação.
Torna-se possível a aplicação de dados empíricos, visando-se
avaliar a influência do gasto em saúde per capita, dentre outras relevÂncIa das InstItuIções no setor saúde
variáveis endógenas ao modelo, sobre o produto per capita da Schultz4, ao tratar o investimento na qualidade de vida da
economia. Tem-se as variáveis para cada uma das economias

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população, aponta que em uma sociedade na qual a vida é curta, relação entre a saúde e os indicadores econômicos, a saúde
a mão-de-obra é desconsiderada do seu valor, o trabalho é árduo, também é um determinante do sucesso econômico. Os autores
e a vida é sacrificada. A vitalidade é baixa, o analfabetismo é citam Mushkin5 e Schultz4, apontando os efeitos diretos da saú-
grande, e as pessoas padecem. A visão para um futuro melhor de sobre diversos fatores do capital humano, tais como a renda
surge quando o tempo de vida aumenta. Os incentivos tornam-se e a riqueza dos indivíduos, a produtividade do trabalho, a par-
interessantes. O investimento em escolaridade e o tempo gasto ticipação na mão-de-obra, as taxas de poupança e investimen-
no trabalho passam a ser mais produtivos. O investimento em to e os fatores demográficos, entre outros. Desta forma, a saúde
capital humano e as melhorias decorrentes na qualidade de vida impacta e é impactada pela performance econômica, levando
da população têm relevância. A vida que se passa no trabalho a questões políticas importantes, uma vez que, melhorada, re-
transforma-se num mito. sulta positivamente nas estratégias de desenvolvimento econô-
Ao definir as instituições como uma construção na mente mico. Tais estratégias devem, portanto, incorporar intervenções
humana se considera as características comportamentais dos de saúde efetivas. O bem-estar humano é um fim em si mesmo,
indivíduos. Nesse sentido, as passagens bem sucedidas da his- mas uma melhor compreensão das relações entre saúde e cres-
tória econômica descrevem as inovações institucionais que têm cimento econômico são importantes para a adoção adequada
contribuído para a redução dos custos de transação, permitindo de prioridades e implementação de políticas. O custo do tra-
maiores ganhos de comércio e a expansão dos mercados12. tamento e a produtividade do trabalho perdida, os efeitos de
A política tem seu papel ao especificar e estabelecer os longo prazo das seqüelas das doenças, os impactos demográfi-
direitos de propriedade no mercado, sendo que as características cos, a endemia das doenças e o isolamento e o ciclo vicioso de
desse mesmo mercado são a solução eventos de saúde adversos são alguns dos
para a compreensão de suas próprias mecanismos pelos quais a saúde determi-
imperfeições. “TEM-SE QUE NAS FORMAS na a performance econômica.
A economia institucional considera Assim, não só as variáveis de renda e
que as instituições são a chave para a POLÍTICAS MAIS DEMOCRÁTICAS riqueza conduzem a um maior crescimen-
compreensão da relação entre política e E ABRANGENTES QUANTO A SE to econômico13. Há também outros fatores
economia, assim como as conseqüências exógenos a elas, como as doenças endêmi-
desta relação para o crescimento ou
ATENDER À MAIOR PARTE DA cas que ocorrem em condições específicas
estagnação econômica. POPULAÇÃO POSSÍVEL REFLETEM de clima, geografia, topologia e história. A
As instituições são consideradas questão da nutrição, objeto de vários desa-
eficientes quando a sua política tem
OS RESULTADOS MAIS EFETIVOS fios científicos sobre a produtividade agrí-
incentivos estabelecidos que criam e DE INVESTIMENTO EM CAPITAL cola, também está entre esses fatores.
estabelecem direitos de propriedade HUMANO E, PORTANTO, SOBRE OS Há um “equilíbrio múltiplo” entre
efetivos. Mas é difícil, senão impossível, a saúde e a riqueza13. Nessa relação,
modelar uma política com atores RESULTADOS DO PRODUTO o equilíbrio ruim estaria relacionado à
maximizadores de renda não restringidos DA ECONOMIA" doença e à pobreza, e o equilíbrio bom
por outras considerações. Isto explica por estaria representado pela melhor saúde,
que os modelos econômicos da política a qual conduz ao crescimento econômi-
desenvolvida na literatura da escolha co propício à longevidade e ao bem-estar.
pública comparam o estado a algo como a “Máfia”, ou, em sua Diante deste equilíbrio múltiplo, as políticas de intervenção em
terminologia, “o leviatã”12. Sob essa perspectiva, o estado não saúde devem melhorar as chances da população com incidên-
passa de uma máquina para redistribuir riqueza e renda. cia de doenças, permitindo que os indivíduos passem para um
Mas, a literatura de escolha pública tradicional não é tudo. equilíbrio positivo. A identificação e a compreensão dessas di-
As restrições informais são relevantes. Visando a obtenção de nâmicas resulta na melhora da política de saúde em campos
respostas melhores a estas questões, devemos tentar saber muito diversos, como: o planejamento familiar, a saúde pública, o
mais sobre as normas de comportamento originárias da cultura, planejamento econômico, o desenvolvimento de infra-estrutura
e como elas interagem com as regras formais12. e a política comercial. A saúde preventiva deve se apresentar
como uma meta a ser atingida pelas políticas de saúde. Tal ati-
desIGualdade, status econômIco e crescImento tude trará benefícios a todas as outras áreas.
econômIco Diferente do pensamento sobre os efeitos da desigualdade
A pobreza e a falta de saúde ocorrem conjuntamente e justifi- dos salários e da riqueza como algo positivo aos incentivos, e,
cam-se empiricamente por estudos que apresentam como resul- portanto, bom para o desenvolvimento, os autores do cresci-
tado a relação direta da pobreza com a doença e da riqueza com mento econômico têm apresentado argumentos contra a desi-
a saúde, seja entre as populações de países ricos ou pobres. gualdade. Quatro argumentos, segundo os quais mais igualdade
Outra forma de análise da pobreza é considerá-la causa nos países em desenvolvimento pode, de fato, ser a condição
e conseqüência da falta de saúde. O acesso restrito ao aten- para o crescimento econômico auto-sustentado, são apontados.
dimento a saúde e às condições de vida que proporcionam o São eles: a) despoupança e/ou o investimento improdutivo fei-
bem-estar distanciam a pobreza da saúde. to pelos ricos; b) baixos níveis de capital humano retidos pe-
Hamoudi e Sachs13 (este último Chefe da Comissão de Ma- los pobres; c) padrão de demanda dos pobres direcionado aos
croeconomia da OMS) indicam que, além da robustez da cor- bens locais; e d) rejeição política em relação às massas14. A vi-
são da desigualdade como geradora de crescimento tem sido

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desafiada por estudos empíricos base- custos de saúde, não deveria aumentar
ados em regressões cross-country do os desequilíbrios entre os diferentes
crescimento do PNB sobre as diferenças extratos de renda. Sugere-se então que
de renda. Todos os resultados apresentam ocorram pagamentos regressivos pelo
uma correlação negativa entre a taxa mé- atendimento à saúde15.
dia do crescimento e o número de medidas Na visão geral sobre o tema, três pontos podem
da desigualdade14. ser desta­cados15:
O processo de crescimento, contudo, faz Primeiramente, o que mais se evidencia na conexão entre
variar a desi­gual­dade. A questão a ser discuti- as desigualdades em saúde entre os pobres e os não-pobres nos
da é se isto cria um círculo vir­tuoso, no qual a países em desenvolvimento, bem como aquelas relativas aos
política redistributiva pode ser usada para reduzir a desigual- determinantes de saúde, é a falha no atendimento financiado
dade, que por sua vez aceleraria o crescimento, induzindo publicamente, o qual deveria atingir os pobres e mereceria uma
automaticamente a maiores reduções da desigualdade. Ou se, atenção mais séria dos governos e das agências de fomento.
ao contrário, o crescimento inicia um círculo vicioso por au- Em segundo lugar, pouco se sabe sobre a importância relativa
mentar espontaneamente a desigualdade, levando a esforços das discrepâncias nos determinantes de saúde e na utilização de
redistributivos permanentes. Isto leva à da hipótese de Kuznets seus serviços. O que se conhece sugere que as desigualdades
(este estudioso encontrou uma relação em U invertido entre de- em saúde, e provavelmente no acesso a seus serviços, refletem
sigualdade de renda e PNB per capita). fortemente as diferenças das variáveis como educação, renda e
Há uma regra de eficiência importante na análise do efeito localização da moradia e suas características, nos níveis individuais
da desigualdade sobre o crescimento econômico: a redistribui- e das famílias. As políticas de combate às desigualdades nesse setor
ção sustentada. Segundo esse conceito, uma redução da desi- devem procurar reduzir as diferenciações existentes na qualidade
gualdade após a tributação, e que promova os investimentos e e disponibilidade dos serviços, ou seja, no lado da oferta. Para
o crescimento no curto prazo, resultaria no surgimento, ainda tanto, os ministérios da saúde devem atuar conjuntamente a
que temporário, da desigualdade como conseqüência do pro- outros ministérios (intersetorialidade), com uma visão mais
gresso técnico acelerado induzido por esse processo14. A au- geral, capaz de explorar métodos de distribuição alternativos
sência de um círculo virtuoso durável à la Kuznets leva a po- para atingir os pobres, por exemplo, a difusão de informações, o
líticas redistributivas permanentes, visando o controle do nível acesso aos serviços de saúde e a disponibilidade de água potável
de desigualdade e a promoção da mobilidade social e do cres- e de instalações sanitárias.
cimento. Estas políticas, no entanto, ainda devem ser avaliadas Por último, tem-se noção limitada sobre os impactos dos
quanto ao seu design e implementação. programas e políticas de combate às desigualdades no setor saúde.
É vasta a literatura que analisa os efeitos da desigualdade de Sem dúvida, há uma profunda lacuna no conhecimento sobre
renda sobre a performance macroeconômica refletida nas taxas como atingir as classes menos favorecidas de forma satisfatória.
de crescimento econômico e nos investimentos. Esta análise é Desta forma, as desigualdades do setor saúde e da política pública
empírica, e os autores utilizam dados sobre a performance de devem ser enfrentadas com ações mais efetivas.
um grande grupo de países.
Os estudos da relação macroeconômica com a desigual- Enfoque sócio-político: investimentos em saúde e
dade e o crescimento econômico podem ser classificadas em desenvolvimento econômico
quatro categorias10: O enfoque do desenvolvimento como liberdade, considera-o
• imperfeições do mercado financeiro que impossibilitam aos como um processo de expansão das liberdades reais desfrutadas
indivíduos pobres fazer investimentos em capital humano; pelos indivíduos. A liberdade humana com visões mais restritas
• a política que não assegura a forma igualitária de distribuição de desenvolvimento, as quais o identificam com o crescimento
dos gastos em educação e saúde; do Produto Nacional Bruto (PNB), aumento de rendas pessoais,
• o desajuste sociopolítico que gera a situação da desigualdade industrialização, avanço tecnológico ou modernização social16,
da riqueza e da renda motiva os pobres a se engajarem no cri- podem ser contrastados.
me, no contrabando, no tráfico de drogas, nos seqüestros e em A evolução do PNB, ou das rendas individuais, é relevante
outras atividades degradantes e; como um meio de expandir as liberdades desfrutadas pelos
• as taxas de poupança em que a redistribuição de recursos membros da sociedade. Estas, porém, dependem de outros
dos ricos para os pobres tende a diminuir a taxa agregada de determinantes, a exemplo das disposições sociais e econômicas
poupança em uma economia. Através deste canal, um aumento (serviços de educação e saúde) e dos direitos civis (liberdade
da desigualdade tende a elevar o investimento. para opinar a respeito de discussões e averiguações públicas).
Os países pobres tendem a ter populações com menos resultados O desenvolvimento, por sua vez, requer a remoção das
de tratamentos médicos que os países desenvolvidos15. Além principais fontes de privação de liberdade: miséria e tirania,
disso, as populações carentes têm resultados piores de tratamentos carência de oportunidades econômicas e destituição social
médicos que aquelas mais favorecidas economicamente. Essa sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou
associação reflete a causalidade em duas direções: a pobreza leva interferência excessiva de estados repressivos.
à má saúde, e a má saúde mantém as pessoas pobres. A evidência O mundo atual nega liberdades elementares a um grande
das desigualdades em saúde entre popula­ções economicamente número de pessoas, senão à maioria. Freqüentemente, a ausência
diferen­ciadas contém pouca explicação sobre os impactos das de liberdades substantivas relaciona-se diretamente com a
políticas de combate a es­tas disparidades. A distribuição dos pobreza, a qual rouba das pessoas o direito de saciar a fome,

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obter uma nutrição satisfatória e ter acesso a medicamentos, de políticas econômicas, em adição a outros papéis que essas
artigos de vestuário, moradia apropriada e saneamento básico16. prerrogativas possam ter. Nesse sentido, as liberdades participativas
Em outros casos, a privação de liberdade vincula-se estreitamente são essenciais para a análise de políticas públicas.
à carência de serviços públicos e assistência social, tais como: A negação de oportunidades de educação a uma criança,
programas epidemiológicos, sistemas de assistência médica e ou de serviços de saúde a um enfermo, é uma falha de respon-
educação, bem como instituições eficazes para a manutenção sabilidade social. Entretanto, a utilização exata das conquistas
da ordem local. Há situações em que a violação da liberdade nessas áreas só poderá ser determinada pela própria pessoa16.
resulta da negação de direitos políticos e civis por parte de A liberdade não produz uma visão de desenvolvimento prontamente
regimes autoritários, ou de limites impostos à participação na traduzível em fórmulas de acumulação de capital, abertura de mercados
vida social, política e econômica da comunidade. ou planejamento econômico eficiente, embora essas características
Conforme Sen16 os “welfaristas”, argumentando que o ‘espaço’ específicas se insiram no quadro mais amplo. O princípio organizador
apropriado não é o das utilidades, nem o dos bens primários, mas o que monta todas as peças de um todo integrado é a abrangente
das liberdades substantivas, consolidadas na capacidade de escolher preocupação com o processo do aumento das liberdades individuais e
uma vida com razões para ser valorizada. Se o objetivo é concentrar- o comprometimento social para que isso se concretize16.
se na oportunidade real do indivíduo e promover seus objetivos, Tem-se que nas formas políticas mais democráticas e
então será preciso levar em conta, não apenas os bens primários que abrangentes quanto a se atender à maior parte da população possí-
as pessoas possuem, mas também as características pessoais que vel refletem os resultados mais efetivos de investimento em capital
governam a conversão desses bens na capacidade de promoção de humano e, portanto sobre os resultados do produto da economia.
objetivos individuais. Quanto mais aberto o debate sobre política
Sen16 desenvolve dois conceitos funda- mais beneficiada é a população em termos
mentais. O primeiro é o conceito de “funcio- “A IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA da distribuição dos recursos públicos, bem
namentos”, que tem raízes claramente aris- como da concorrência deste mercado.
totélicas e incluem objetos ou atividades SAÚDE DA FAMÍLIA(ESF) QUE NA Nisso, o aspecto institucional se justifica
consideradas valiosas para o indivíduo. Os VERDADE TEM COMO PROPOSTA principalmente no que cabe aos governos
funcionamentos dividem-se entre valorizados dos países menos desenvolvidos.
ou elementares, e englobam desde uma A IMPLEMENTAÇÃO DO SUS,
nutrição adequada e condições de saúde livres SEJA NA MODALIDADE DE a recente eXperIÊncIa do sIstema
de doenças evitáveis, até atividades ou estados de saúde brasIleIro
pessoais complexos, como a participação no PROGRAMA DE AGENTES A Constituição Federal Brasileira de 1988
dia-a-dia da comunidade e o respeito próprio. COMUNITÁRIOS DE SAÚDE(PACS) contém a política de descentralização do
A “capacidade” (capability) de poder federal aos estados e municípios.
uma pessoa consiste nas combinações
OU PROGRAMA DE SAÚDE DA Cabe então, ao governo federal fazer
alternativas de funcionamentos cuja FAMÍLIA(PSF), SÃO EXEMPLOS transferências diretas não apenas para os
realização é factível para ela. A capacidade governos estaduais, como também para os
é, portanto, a liberdade substantiva de
DE SUCESSO” municípios. Dessa forma passou a destinar
realizar tais combinações ou, menos recursos que objetivam o crescimento das
formalmente expresso, de ter estilos de vida regiões consideradas menos desenvolvidas
diversos. Uma pessoa abastada que faz jejum (quanto ao ato de comparadas às de maiores recursos no país, as quais criam recursos
se alimentar) pode ter a mesma realização de funcionamento próprios através de suas economias de resultados maiores. Esta foi
que alguém forçado a passar fome, mas possui um “conjunto a premissa para se obter o resultado de universalização da saúde
capacitário” diferente deste último, pois pode escolher entre comer aos cidadãos, com equidade.
bem ou jejuar, enquanto que a segunda não tem a oportunidade Considera-se também a abertura da concorrência de mercado
de optar16. através da legislação à saúde suplementar, operada através de
Ao analisar a justiça social, há bons motivos para julgar a seguros de saúde e prestadoras de atendimento a saúde através
vantagem individual em função das capacidades particulares de convênios particulares. Essa modalidade cabe na política de
de um indivíduo ou de suas liberdades substantivas para levar saúde em atendimento à classe média, cujos recursos podem ser
o tipo de vida que melhor lhe aprouver16. Sob esse ângulo, a destinados às mensalidades dos planos de saúde, desonerando
pobreza deve ser vista como privação de capacidades básicas e assim o sistema público, Sistema Único de Saúde, o SUS.
não meramente como um nível de renda desfavorável, critério Mas, visando avaliar a estratégia da política pública de
tradicionalmente empregado para identificá-la. Esse conceito saúde no Brasil, a qual visa a prestação de saúde às populações
não nega a idéia sensata de que a baixa renda é uma das mais distantes e que dispõem de menores recursos, é possível
principais causas da pobreza, sendo ainda uma razão primordial observar-se melhorias pontuais, mas não em geral, das condições
da privação de capacidades. Uma renda inadequada é, com de saúde de certas regiões do país. E assim, a prevenção de
efeito, uma forte condição predisponente de uma vida pobre. diversas moléstias, a atenção à saúde das gestantes e primeira
A discussão pública e a participação social são centrais para idade dos filhos bem como de idosos têm apresentado resultados
a elaboração de políticas em uma estrutura democrática. O uso satisfatórios nos últimos anos. Em tempos do papel do Estado
de prerrogativas democráticas, sejam as liberdades políticas ou regulador e não mais investidor, há que se observar o aspecto da
os direitos civis, é parte crucial do exercício da própria formação sustentabilidade da adoção desta política pública brasileira.
A implantação da Estratégia Saúde da Família (ESF) que na

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economia da saúde
Ramalho CM, Passanezi PSM, Santos AS. Capital humano e saúde sustentável: o setor da saúde no Brasil e perspectivas para a América Latina e Caribe

verdade tem como proposta a implementação do SUS, seja na da população menos informada que, por pouca orientação que
modalidade de Programa de Agentes Comunitários de Saúde receba, obtem retorno em benefício da sua saúde.
(PACS) ou Programa de Saúde da Família (PSF), são exemplos A observação macroeconômica da sustentabilidade da saúde
de sucesso, que podem servir de experiência a outras realidades deve ter por efeito o resultado geral do atendimento público que
latino-americanas. melhora diretamente o capital humano, recurso este contemplado
As Unidades de Saúde da Família (USF) contém cada no modelo de crescimento econômico e suas adaptações à
uma: um médico, um enfermeiro e seis agentes comunitários variável investimento em prevenção. O melhor uso de recursos
de saúde(ACS), todos remunerados pelo governo federal em prevenção alcança resultados abrangentes18. Daí, ao se
atendendo de 600 a 1000 famílias17. O destaque ao exemplo considerar a necessidade de organização política e institucional
de sustentabilidade são os ACS, os quais têm conhecimentos do atendimento público preventivo à população que não tem
adquiridos não necessariamente na formalidade do sistema acesso ao sistema privado, se pode esperar resultados positivos
educacional brasileiro. Portanto, a avaliação das condições para sobre o crescimento da economia.
ocuparem a atividade se dá muito pela habilidade e competência Em tempos do processo de globalização da economia, é
adquiridas que sejam suficientes para a garantia da prestação necessário que esta pretensão de atender ao desafio dos recursos
do atendimento às necessidades básicas, porém necessárias e escassos à saúde se dê de forma geral para a América Latina, uma
fundamentais à população cujo acesso à saúde é por esta via. vez que o padrão de crescimento e desenvolvimento econômico
dos países tem grandes similaridades.
O que a política de saúde dos países da América La-
tina e Caribe deve ter? Considerações finais
O padrão de crescimento e desenvolvimento dos países da América O foco em sustentabilidade leva a identificar que a população
Latina e Caribe tem semelhanças profundas em termos históricos, de baixa renda tem o trabalho como o elemento crítico contra a
políticos, econômicos, comerciais e, portanto sociais. Este cenário pobreza e a desigualdade. Isso leva a concluir a relevância dos
nos deixa a atribuição de refletir sobre as discrepâncias que se investimentos em capital humano em todas as idades.
observa levarem inclusive a situações adversas de violência, Os investimentos em educação são contemplados em
crime, rebeliões em várias instâncias e a insatisfação pelos parcos estudos, mas o foco em saúde leva a se refletir sobre políticas e
resultados da tentativa de política democrática. sistemas de saúde que assegurem sustentabilidade em tempos
Da parte da saúde, a melhoria das condições das populações, de Estado regulador. Sua meta deve ser a melhoria da igualdade,
é oportuno destacar a necessidade de ação com os recursos que da eficiência e da eficácia sobre os gastos sociais. Seu reflexo, a
se tem. Um deles que requer recursos financeiros relativamente partir do que a teoria econômica aponta é sobre o crescimento
baixos são a remuneração dos ACS. A prática destes atores em econômico, ponto de partida macroeconômico para se ter
saúde é de grande impacto, com baixo custo e otimizam a melhores retornos do comércio dos países.
informação vinda da comunidade de onde vivem e que assistem A via institucional e da sustentabilidade do setor saúde
para os profissionais de saúde, traduzindo-as e tornando-as requerem atenção especial nos países da América Latina
possíveis de intervenções conjuntas e palpáveis. Além do que, e Caribe, pois a partir destes arranjos se obtém o retorno no
criam vínculo e ampliam a confiança da população na atenção produto das economias. Antes disso, se tem a tarefa de criar
primária a saúde, perdida talvez nas Unidades Básicas de meios de atendimento à saúde da população com recursos
Saúde(UBS) tradicionais. Desta forma, temos os meios de conter escassos. Para isto, políticas de disseminação de informações
o alastramento de epidemias, dentre elas as tropicais, fazendo e atendimento primário a saúde, em regiões distantes, carentes
uso do recurso de forma relativamente benéfica com respeito (mas não só), como a do modelo público brasileiro, devem ser
ao seu custo. E as informações vão de encontro às necessidades consideradas e adotadas.

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