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CÓD: SL-080OT-21

7908433212058

PC-MG
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

Escrivão de Polícia I
EDITAL Nº 04/2021
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Interpretação e compreensão de textos Identificação de tipos textuais: narrativo, descritivo e dissertativo. Critérios de textualidade:
coerência e coesão. Recursos de construção textual: fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. Princípios gerais de leitura e
produção de texto. Intertextualidade. . Vozes discursivas: citação, paródia, alusão, paráfrase, epígrafe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Gêneros textuais da Redação Oficial. Princípios gerais. Uso dos pronomes de tratamento. Estrutura interna dos gêneros: ofício, mem-
orando, requerimento, relatório, parecer. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3. Conhecimentos linguísticos Conhecimentos gramaticais conforme padrão formal da língua. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4. Tipos de discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. Semântica: construção de sentido; sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia, polissemia; denotação e conotação; . . . . . . . . 25
6. Figuras de linguagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
7. Pontuação e efeitos de sentido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
8. Sintaxe: oração, período, termos das orações; articulação das orações: coordenação e subordinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
9. Concordância verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
10. Regência verbal e nominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Direito Administrativo
1. Administração Pública. Conceito e princípios. Administração pública direta e indireta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Agentes públicos. Conceito. Classificação (espécie). Cargo Público, emprego público e função pública. Direitos e deveres. Responsab-
ilidade administrativa, civil e penal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
3. Lei 8.429/92 e alterações (Lei de improbidade administrativa). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4. Poderes da Administração Pública: Poder hierárquico. Poder Disciplinar. Poder Regulamentar. Poder de Polícia. . . . . . . . . . . . . . . 21
5. Fatos e atos administrativos Conceito. Requisitos do ato administrativo. Atributos do ato administrativo.Classificação. Revogação e
anulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
6. Serviços públicos: Conceito. Princípios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
7. Responsabilidade civil do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
8. Regime jurídico administrativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

Direito Civil
1. Da Personalidade E Da Capacidade. Dos Direitos Da Personalidade.da Pessoa Jurídica. Responsabilidade Jurídica . . . . . . . . . . . . . 01
2. Fato Jurídico.negócios Jurídicos. Conceito. Vícios: Erro, Dolo, Culpa E Coação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3. Relações De Parentesco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Direito Constitucional
1. Conceito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Princípios Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
3. Direitos E Garantias Fundamentais. Direitos Individuais. Direitos Coletivos. Direitos Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
4. O Estado. Conceito. Elementos Que Compõem O Estado. Finalidade Do Estado. Organização Do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
5. Funções Essenciais À Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
6. Da Defesa Do Estado E Das Instituições Democráticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Direito Penal
1. Princípios penais constitucionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Tempo e lugar do crime. Contagem de prazo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. Conceito de crime e seus elementos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
4. Concurso de pessoas: Autoria. Participação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
5. Ação penal. Classificação. Condições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Dos crimes em espécie: Crimes contra a pessoa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
7. Crimes contra o patrimônio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
8. Crimes contra a dignidade sexual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
9. Crimes contra a Administração Pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
ÍNDICE
Direito Processual Penal
1. Direitos E Garantias Processuais Penais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Investigação Criminal Policial (Artigos 4° Ao 23° Do Cpp) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Ação Penal (Artigos 24º Ao 62º Do Cpp) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Prisão Cautelar: Prisão Em Flagrante: Tipos E Espécies De Flagrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
5. Teoria Geral Da Prova Penal. Cadeia De Custódia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Direitos Humanos
1. Teoria Geral Dos Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. O Processo Histórico De Construção E Afirmação Dos Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. A Estrutura Normativa Do Sistema Global E Do Sistema Interamericano De Proteção Dos Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
4. A Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988 E Os Tratados Internacionais De Proteção Dos Direitos Humanos . . . . . 07
5. Democracia, Cidadania E Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. Direitos Humanos, Minorias E Grupos Vulneráveis: Mulheres, Idosos, Crianças E Adolescentes, Povos Indígenas E Comunidades Tradi-
cionais, Pessoa Com Deficiência, Lgbtqia+, Refugiados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
7. Política Nacional De Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
8. Educação E Cultura Em Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
9. Agenda 2030 E Os Objetivos De Desenvolvimento Sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
10. Segurança Pública E Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Noções de Informática
1. Sistema Operacional Windows 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Microsoft Word 2016: Edição e formatação de textos. LibreOffice Writer 7.1.6: Edição e formatação de textos. Microsoft Excel 2016:
Elaboração, cálculos e manipulação de tabelas e gráficos. LibreOffice Calc 7.1.6: Elaboração, cálculos e manipulação de tabelas e gráf-
icos. Microsoft PowerPoint 2016: estrutura básica de apresentações, edição e formatação. LibreOffice Impress 7.1.6: estrutura básica
de apresentações, edição e formatação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Microsoft Outlook 2016: Correio Eletrônico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4. Google Chrome 93.x ou superior: Navegação na Internet. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. Segurança: Tipos de vírus, Cavalos de Tróia, Malwares, Worms, Spyware, Phishing, Pharming, Ransomwares, Spam. . . . . . . . . . . . 26

Noções de Criminologia
1. Criminologia: conceito, cientificidade, objeto, método, sistema e funções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Fundamentos históricos e filosóficos da Criminologia: precursores, Iluminismo e as primeiras escolas sociológicas. Marcos científicos
da Criminologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. A escola liberal clássica do Direito Penal e a Criminologia positivista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
4. A Moderna Criminologia científica: modelos teóricos explicativos do comportamento criminal. Biologia criminal, Psicologia Criminal e
Sociologia Criminal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
5. Teoria Estrutural-Funcionalista do desvio e da anomia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
6. Teoria das Subculturas Criminais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
7. Do “Labeling Approach” a uma criminologia crítica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
8. A sociologia do conflito e a sua aplicação criminológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
9. Sistema penal e reprodução da realidade social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
10. Cárcere e marginalidade social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
11. Modelo consensual de Justiça Criminal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
12. Criminologia, policiamento e segurança pública no século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
ÍNDICE
Noções de Medicina Legal
1. Perícias e Peritos. Documentos médico-legais. Quesitos oficiais. Perícias médicas. Ética médica e pericial. .5 Legislação sobre perícias
médico-legais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Antropologia Médico-legal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3. Identidade e identificação Identificação judiciária. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4. Traumatologia Médico-legal. Lesões corporais sob o ponto de vista jurídico. Energias de Ordem MecânicaEnergias de Ordem Química,
cáusticos e venenos, embriaguez, toxicomanias. Energias de Ordem Física: Efeitos da temperatura, eletricidade, pressão atmosférica,
radiações, luz e som. Energias de Ordem Físico-Química: Asfixias em geral. Asfixias em espécie: por gases irrespiráveis, por monóxido
de carbono, por sufocação direta, por sufocação indireta, por afogamento, por enforcamento, por estrangulamento, por esganadura,
por soterramento e por confinamento. Energias de Ordem Biodinâmica e Mistas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Tanatologia Médico-legal. Tanatognose e cronotanatognose. Fenômenos cadavéricos. Necropsia, necroscopia. Exumação. “Causa
mortis”. Morte natural e morte violenta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6. Direitos sobre o cadáver. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
7. Sexologia Médico-legalCrimes contra a dignidade sexual e provas periciais. Gravidez, parto, puerpério, aborto, infanticídio. Repro-
dução assistida. Transtornos da sexualidade e da identidade sexual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
8. Psicopatologia Médico-legalImputabilidade penal e capacidade civil. Limite e modificadores da responsabilidade penal e capacidade
civil. Repercussões médico-legais dos distúrbios psíquicos. Simulação, dissimulação e supersimulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
9. Embriaguez alcoólica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
10. Alcoolismo. Aspectos jurídicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
11. Toxicofilias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

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Lei Orgânica da Polícia Civil de Minas Gerais


1. Lei Estadual N.º 5.406, De 16 De Dezembro De 1969.Livro V - Estatuto Do Servidor Policial Civil.título Xvii - Regime Disciplinar.capítulo
I - Transgressões Disciplinares.seção I - Classificação. Seção Ii - Causas E Circunstâncias Que Influem No Julgamento.capítulo Ii - Pena-
lidades. Capítulo Iii - Competência Para Imposição De Penalidades.capítulo Iv - Prisão Administrativa E Suspensão Preventiva.capítulo
V - Procedimento Administrativo .Seção I - Instauração Do Processo.seção Ii - Sindicância .Seção Iii - Comissões Processantes Perma-
nentes .Capítulo Vi - Atos E Termos Processuais .Capítulo Vii -Processo Por Abandono De Cargo Ou Função. Capítulo Viii - Revisão De
Processo Administrativo. Livro Vi - Disposições Finais E Transitórias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Lei Complementar Estadual N.º 129, De 08 De Novembro De 2013 Título I - Disposições Gerais Capítulo I - Disposições Preliminares
Capítulo Ii - Da Competênciatítulo Ii – Da Organização.capítulo I - Da Estrutura Orgânica. Capítulo Ii - Da Administração Superior.seção
I - Da Chefia Da Pcmg .Seção Ii - Da Chefia Adjunta Da Pcmg .Seção Iii - Do Conselho Superior Da Pcmg.subseção I - Do Órgão Especial.
Subseção Ii - Da Câmara Disciplinar.subseção Iii - Da Câmara De Planejamento E Orçamento .Seção Iv - Da Corregedoria-Geral De
Polícia Civil .Capítulo Iii - Da Administração .Seção I - Do Gabinete Da Chefia Da Pcmg .Seção Ii - Da Academia De Polícia Civil .Seção
Iii - Do Departamento De Trânsito De Minas Gerais.seção Iv - Da Superintendência De Investigação E Polícia Judiciária .Seção V - Da
Superintendência De Informações E Inteligência Policial.seção Vi - Da Superintendência De Polícia Técnico-Científica .Seção Vii - Da
Superintendência De Planejamento, Gestão E Finanças.título Iii - Do Estatuto Dos Policiais Civis .Capítulo I - Das Prerrogativas .Capítulo
Ii - Dos Direitos .Seção I - Dos Direitos Dos Policiais Civis.seção Ii - Das Indenizações E Das Gratificações .Capítulo Iii - Da Remoção.
capítulo Iv - Do Regime De Trabalho Do Policial Civil .Capítulo V - Das Licenças, Dos Afastamentos E Das Disponibilidades .Seção I - Das
Licenças .Seção Ii - Dos Afastamentos E Das Disponibilidades .Capítulo Vi - Da Aposentadoria, Dos Proventos E Da Pensão Especial
.Seção I - Da Aposentadoria .Seção Ii - Dos Proventos. Seção Iii - Da Pensão Especial.título Iv - Das Carreiras Policiais Civis .Capítulo I -
Disposições Gerais .Capítulo Ii - Do Ingresso.capítulo Iii - Do Estágio Probatório .Capítulo Iv - Do Desenvolvimento Na Carreira .Capítulo
V - Do Adicional De Desempenho .Título V - Disposições Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3. Anexo I (A Que Se Refere O Art. 77 Da Lei Complementar Nº129, De 8 De Novembro De 2013) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4. Anexo Ii (A Que Se Refere O § 1º Do Art. 79 Da Lei Complementar Nº 129, De 8 De Novembro De 2013) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5. Anexo Iii (A Que Se Refere O Art. 108 Da Lei Complementar Nº 129, De 8 De Novembro De 2013) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

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LÍNGUA PORTUGUESA
1. Interpretação e compreensão de textos Identificação de tipos textuais: narrativo, descritivo e dissertativo. Critérios de textualidade:
coerência e coesão. Recursos de construção textual: fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. Princípios gerais de leitura e
produção de texto. Intertextualidade. . Vozes discursivas: citação, paródia, alusão, paráfrase, epígrafe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Gêneros textuais da Redação Oficial. Princípios gerais. Uso dos pronomes de tratamento. Estrutura interna dos gêneros: ofício, me-
morando, requerimento, relatório, parecer. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3. Conhecimentos linguísticos Conhecimentos gramaticais conforme padrão formal da língua. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4. Tipos de discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. Semântica: construção de sentido; sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia, polissemia; denotação e conotação; . . . . . . . . 25
6. Figuras de linguagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
7. Pontuação e efeitos de sentido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
8. Sintaxe: oração, período, termos das orações; articulação das orações: coordenação e subordinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
9. Concordância verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
10. Regência verbal e nominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
LÍNGUA PORTUGUESA
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,
INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO DE TEXTOS IDEN- fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.
TIFICAÇÃO DE TIPOS TEXTUAIS: NARRATIVO, DESCRI-
TIVO E DISSERTATIVO. CRITÉRIOS DE TEXTUALIDADE:
COERÊNCIA E COESÃO. RECURSOS DE CONSTRUÇÃO
TEXTUAL: FONOLÓGICOS, MORFOLÓGICOS, SINTÁTI-
COS E SEMÂNTICOS. PRINCÍPIOS GERAIS DE LEITURA
E PRODUÇÃO DE TEXTO. INTERTEXTUALIDADE. VOZES
DISCURSIVAS: CITAÇÃO, PARÓDIA, ALUSÃO, PARÁFRA-
SE, EPÍGRAFE

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto. lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. com a não-verbal.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto
ou que faça com que você realize inferências.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz.
Percebeu a diferença?

Tipos de Linguagem
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que
facilite a interpretação de textos.
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela
pode ser escrita ou oral.

Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-


tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
este processo é intertextualidade.

Interpretação de Texto
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti-
ca e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta-
do, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto-
gráficas, gramaticais e interpretativas;

1
LÍNGUA PORTUGUESA
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po- Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
lêmicos; que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atra-
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre ído pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas. comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Dicas para interpretar um texto: pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
– Leia lentamente o texto todo. Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa- estudos?
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
– Sublinhe as ideias mais importantes. reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto. CACHORROS
– Separe fatos de opiniões.
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
tável). seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
– Retorne ao texto sempre que necessário. zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
enunciados das questões. se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
– Reescreva o conteúdo lido. podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
picos ou esquemas. outro e a parceria deu certo.

Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
distração, mas também um aprendizado. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a compre- do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
ensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de As informações que se relacionam com o tema chamamos de
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
do texto. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias capaz de identificar o tema do texto!
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica-
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
prova. -secundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi-
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can- IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum TEXTOS VARIADOS
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca
extrapole a visão dele. Ironia
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, novo sentido, gerando um efeito de humor.
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.

2
LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo: Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-


Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos: NERO EM QUE SE INSCREVE
ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica). Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
Ironia verbal pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig- conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
intenção são diferentes. Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
principal. Compreender relações semânticas é uma competência
Ironia de situação imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li-
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a Busca de sentidos
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que apreensão do conteúdo exposto.
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
morte. relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
citadas ou apresentando novos conceitos.
Ironia dramática (ou satírica) Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
A ironia dramática é um dos efeitos de sentido que ocorre nos tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
textos literários quando a personagem tem a consciência de que espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
suas ações não serão bem-sucedidas ou que está entrando por um entrelinhas. Deve-seater às ideias do autor, o que não quer dizer
caminho ruim, mas o leitor já tem essa consciência. que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- Importância da interpretação
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. específicos, aprimora a escrita.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre- opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, vencer o leitor a concordar com ele.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apre- Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
ensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não de destaque sobre algum assunto de interesse.
estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira alea-
tória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido, za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que berdade para quem recebe a informação.
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.
Fato
Diferença entre compreensão e interpretação O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
leitor tira conclusões subjetivas do texto. Exemplo de fato:
A mãe foi viajar.
Gêneros Discursivos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- Interpretação
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No sas, previmos suas consequências.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
dárias. tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente ças sejam detectáveis.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única Exemplos de interpretação:
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
encaminham-se diretamente para um desfecho. tro país.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- do que com a filha.
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O Opinião
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de- A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais que fazemos do fato.
curto. Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
como horas ou mesmo minutos. anteriores:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin- tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de do que com a filha. Ela foi egoísta.
imagens.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
mos expressando nosso julgamento. mais direto.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando NÍVEIS DE LINGUAGEM
analisamos um texto dissertativo.
Definição de linguagem
Exemplo: Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
com o sofrimento da filha. gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
e o do leitor. e caem em desuso.
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do perí- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
odo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
sem coerência.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Gíria (Vinícius de Moraes)
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de comportamentos, nas leis jurídicas.
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode Características principais:
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
de pequenos grupos ou cair em desuso. bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
“mina”, “tipo assim”. • Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Linguagem vulgar
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco Exemplo:
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
comida”. na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
Linguagem regional que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- perior para formação de oficiais.
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.
Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

Exemplo: Tipo textual dissertativo-argumentativo


Era uma casa muito engraçada Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
Não tinha teto, não tinha nada sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias
Ninguém podia entrar nela, não apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade,
Porque na casa não tinha chão clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in-
Ninguém podia dormir na rede tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
Porque na casa não tinha parede (leitor ou ouvinte).
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero

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LÍNGUA PORTUGUESA
Características principais: GÊNEROS TEXTUAIS
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté- de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo, dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su- funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são pas-
gestão/solução). síveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservan-
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações do características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela que
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos textu-
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e ais que neles predominam.
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Descritivo Diário
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de- Relatos (viagens, históricos, etc.)
senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios. Biografia e autobiografia
Notícia
Exemplo: Currículo
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol- Lista de compras
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente Cardápio
administração política (tese), porque a força governamental certa- Anúncios de classificados
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Injuntivo Receita culinária
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Bula de remédio
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Manual de instruções
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Regulamento
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Textos prescritivos
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Expositivo Seminários
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Palestras
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Conferências
cobrança efetiva (conclusão). Entrevistas
Trabalhos acadêmicos
Tipo textual narrativo Enciclopédia
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta Verbetes de dicionários
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu- Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Carta de opinião
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Resenha
Artigo
Características principais: Ensaio
• O tempo verbal predominante é o passado. Monografia, dissertação de mes-
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- trado e tese de doutorado
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
Narrativo Romance
onisciente).
Novela
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em
Crônica
prosa, não em verso.
Contos de Fada
Fábula
Exemplo:
Lendas
Solidão
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- nitos e mudam de acordo com a demanda social.
rem, um tirou do outro a essência da felicidade.
Nelson S. Oliveira INTERTEXTUALIDADE
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurre- A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou
ais/4835684 seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
ambos: forma e conteúdo.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri- Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos, cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
provérbios, charges, dentre outros. mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
Tipos de Intertextualidade domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen- que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
(parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se- O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís- enunciador está propondo.
ticos. Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
significa a “repetição de uma sentença”. admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
• Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí- crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha mento de premissas e conclusões.
alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter- Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) A é igual a B.
e “graphé” (escrita). A é igual a C.
• Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção Então: C é igual a A.
textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re- que C é igual a A.
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo Outro exemplo:
“citação” (citare) significa convocar. Todo ruminante é um mamífero.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros A vaca é um ruminante.
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois Logo, a vaca é um mamífero.
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
• Outras formas de intertextualidade menos discutidas são o Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem. também será verdadeira.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
ARGUMENTAÇÃO a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
propõe. instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir outro fundado há dois ou três anos.
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
vista defendidos. pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas der bem como eles funcionam.
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
sos de linguagem. na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
escolher entre duas ou mais coisas”. não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
zado numa dada cultura.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de Argumento Argumento quase lógico
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa- É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu- e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
mento. Exemplo: chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
Argumento de Autoridade elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
dadeira. Exemplo: tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para indevidas.
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
cimento. Nunca o inverso. Argumento do Atributo
Alex José Periscinoto. É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor- que é mais grosseiro, etc.
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
acreditar que é verdade. tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
de.
Argumento de Quantidade Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
largo uso do argumento de quantidade. dizer dá confiabilidade ao que se diz.
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
Argumento do Consenso de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não por bem determinar o internamento do governador pelo período
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- tal por três dias.
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases
carentes de qualquer base científica. Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
Argumento de Existência ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas texto tem sempre uma orientação argumentativa.
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
do que dois voando”. homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa outras, etc. Veja:
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela vam abraços afetuosos.”
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
vios, etc., ganhava credibilidade.

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LÍNGUA PORTUGUESA
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras Desse ponto de vista, a dissertação pode ser definida como dis-
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse cussão, debate, questionamento, o que implica a liberdade de pen-
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, samento, a possibilidade de discordar ou concordar parcialmente.
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. A liberdade de questionar é fundamental, mas não é suficiente para
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- organizar um texto dissertativo. É necessária também a exposição
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: dos fundamentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- de vista.
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
injustiça, corrupção). seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
o argumento. ver as seguintes habilidades:
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por mente contrária;
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir ria contra a argumentação proposta;
outros à sua dependência política e econômica”. - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
ta.
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
o assunto, etc). válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
dades não se prometem, manifestam-se na ação. ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
comportamento. da verdade:
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- - evidência;
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- - divisão ou análise;
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio - ordem ou dedução;
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em - enumeração.
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
mica e até o choro. e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
caracteriza a universalidade.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
o efeito. Exemplo: que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
pesquisa.
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Logo, Fulano é mortal (conclusão) todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o ferro (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o bronze (particular) o relógio estaria reconstruído.
O calor dilata o cobre (particular) Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
O ferro, o bronze, o cobre são metais meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, relacionadas:
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de lha dos elementos que farão parte do texto.
sofisma no seguinte diálogo: Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Lógico, concordo. racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
- Claro que não! por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
Exemplos de sofismas: lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Dedução confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Todo professor tem um diploma (geral, universal) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Fulano tem um diploma (particular) Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
Indução nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
cular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
– conclusão falsa)
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro- sabiá, torradeira.
fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden- Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
ados nos sentimentos não ditados pela razão.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de dida;d
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é diferenças).
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
(Garcia, 1973, p. 302304.) consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- vra e seus significados.
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
de vista sobre ele. mentação coerente e adequada.
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
- o termo a ser definido; cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
- o gênero ou espécie; raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
- a diferença específica. cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
ma espécie. Exemplo: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
Elemento especiediferença causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
a ser definidoespecífica que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
virtude de, em vista de, por motivo de.
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como:
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista,
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...

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LÍNGUA PORTUGUESA
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos que gera o controle demográfico”.
que, melhor que, pior que. Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- elaboração de um Plano de Redação.
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer tecnológica
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais ta, justificar, criando um argumento básico;
caráter confirmatório que comprobatório. - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse (rever tipos de argumentação);
caso, incluem-se - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
mortal, aspira à imortalidade); dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
ência);
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
dos e axiomas);
argumento básico;
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que mento básico;
parece absurdo). - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con- menos a seguinte:
cretos, estatísticos ou documentais.
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se Introdução
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau- - função social da ciência e da tecnologia;
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência. - definições de ciência e tecnologia;
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações, - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini-
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, Desenvolvimento
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex- - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na vimento tecnológico;
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- condições de vida no mundo atual;
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
gumentação: mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran- desenvolvidos;
do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu- - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”; - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses sado; apontar semelhanças e diferenças;
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
banos;
dadeira;
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
mais a sociedade.
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
dade da afirmação;
Conclusão
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ-
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- ências maléficas;
ridade que contrariam a afirmação apresentada; - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- apresentados.
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados ção: é um dos possíveis.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são GÊNEROS TEXTUAIS DA REDAÇÃO OFICIAL. PRINCÍ-
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre- PIOS GERAIS. USO DOS PRONOMES DE TRATAMENTO.
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mobili- ESTRUTURA INTERNA DOS GÊNEROS: OFÍCIO, MEMO-
zar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, além RANDO, REQUERIMENTO, RELATÓRIO, PARECER
de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.
O que é Redação Oficial1
Coerência Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a maneira
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. pela qual o Poder Público redige atos normativos e comunicações.
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do Poder Executivo. A reda-
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na ção oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com culto de linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade.
outra”). Fundamentalmente esses atributos decorrem da Constituição, que
Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se dispõe, no artigo 37: “A administração pública direta, indireta ou
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen- fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de lega-
das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”.
elementos formativos de um texto. Sendo a publicidade e a impessoalidade princípios fundamentais de
A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito toda administração pública, claro está que devem igualmente nor-
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos tear a elaboração dos atos e comunicações oficiais. Não se concebe
elementos textuais. que um ato normativo de qualquer natureza seja redigido de forma
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreensão. A transpa-
de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo- rência do sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibili-
sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, dade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável que
tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade
imediato a coerência de um discurso. implica, pois, necessariamente, clareza e concisão. Além de atender
à disposição constitucional, a forma dos atos normativos obedece
A coerência: a certa tradição. Há normas para sua elaboração que remontam ao
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; período de nossa história imperial, como, por exemplo, a obrigato-
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei- riedade – estabelecida por decreto imperial de 10 de dezembro de
tual; 1822 – de que se aponha, ao final desses atos, o número de anos
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com transcorridos desde a Independência. Essa prática foi mantida no
o aspecto global do texto; período republicano. Esses mesmos princípios (impessoalidade, cla-
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases. reza, uniformidade, concisão e uso de linguagem formal) aplicam-se
às comunicações oficiais: elas devem sempre permitir uma única in-
Coesão terpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exige
É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto, o uso de certo nível de linguagem. Nesse quadro, fica claro também
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um víncu- que as comunicações oficiais são necessariamente uniformes, pois
lo ou conexão sequencial.Se o vínculo coesivo se faz via gramática, há sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o receptor
fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário, dessas comunicações ou é o próprio Serviço Público (no caso de
tem-se a coesão lexical. expedientes dirigidos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos
A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala- cidadãos ou instituições tratados de forma homogênea (o público).
vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos Outros procedimentos rotineiros na redação de comunicações
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo- oficiais foram incorporados ao longo do tempo, como as formas de
nentes do texto. tratamento e de cortesia, certos clichês de redação, a estrutura dos
Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical, expedientes, etc. Mencione-se, por exemplo, a fixação dos fechos
que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge- para comunicações oficiais, regulados pela Portaria no 1 do Ministro
néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir de Estado da Justiça, de 8 de julho de 1937, que, após mais de meio
do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados século de vigência, foi revogado pelo Decreto que aprovou a primei-
advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais. ra edição deste Manual. Acrescente-se, por fim, que a identificação
A coesão: que se buscou fazer das características específicas da forma oficial
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal; de redigir não deve ensejar o entendimento de que se proponha
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial; a criação – ou se aceite a existência – de uma forma específica de
- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes linguagem administrativa, o que coloquialmente e pejorativamente
componentes do texto; se chama burocratês. Este é antes uma distorção do que deve ser a
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases. redação oficial, e se caracteriza pelo abuso de expressões e clichês
do jargão burocrático e de formas arcaicas de construção de frases.
A redação oficial não é, portanto, necessariamente árida e infensa
à evolução da língua.

1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm

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LÍNGUA PORTUGUESA
É que sua finalidade básica – comunicar com impessoalidade e Aquela é extremamente dinâmica, reflete de forma imediata
máxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso que se faz da lín- qualquer alteração de costumes, e pode eventualmente contar
gua, de maneira diversa daquele da literatura, do texto jornalístico, com outros elementos que auxiliem a sua compreensão, como os
da correspondência particular, etc. Apresentadas essas característi- gestos, a entoação, etc. Para mencionar apenas alguns dos fatores
cas fundamentais da redação oficial, passemos à análise pormeno- responsáveis por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais
rizada de cada uma delas. lentamente as transformações, tem maior vocação para a perma-
nência, e vale-se apenas de si mesma para comunicar. A língua es-
A Impessoalidade crita, como a falada, compreende diferentes níveis, de acordo com
A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela o uso que dela se faça. Por exemplo, em uma carta a um amigo,
escrita. Para que haja comunicação, são necessários: podemos nos valer de determinado padrão de linguagem que in-
a) alguém que comunique, corpore expressões extremamente pessoais ou coloquiais; em um
b) algo a ser comunicado, e parecer jurídico, não se há de estranhar a presença do vocabulário
c) alguém que receba essa comunicação. técnico correspondente. Nos dois casos, há um padrão de lingua-
gem que atende ao uso que se faz da língua, a finalidade com que a
No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço empregamos. O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu cará-
Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Departamento, Di- ter impessoal, por sua finalidade de informar com o máximo de cla-
visão, Serviço, Seção); o que se comunica é sempre algum assunto reza e concisão, eles requerem o uso do padrão culto da língua. Há
relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatário dessa consenso de que o padrão culto é aquele em que a) se observam as
comunicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro ór- regras da gramática formal, e b) se emprega um vocabulário comum
gão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União. Perce- ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar que a
be-se, assim, que o tratamento impessoal que deve ser dado aos obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação oficial decorre
assuntos que constam das comunicações oficiais decorre: do fato de que ele está acima das diferenças lexicais, morfológicas
a) da ausência de impressões individuais de quem comunica: ou sintáticas regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincra-
embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por Che- sias linguísticas, permitindo, por essa razão, que se atinja a preten-
fe de determinada Seção, é sempre em nome do Serviço Público dida compreensão por todos os cidadãos.
que é feita a comunicação. Obtém-se, assim, uma desejável padro- Lembre-se que o padrão culto nada tem contra a simplicidade
nização, que permite que comunicações elaboradas em diferentes de expressão, desde que não seja confundida com pobreza de ex-
setores da Administração guardem entre si certa uniformidade; pressão. De nenhuma forma o uso do padrão culto implica empre-
b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com go de linguagem rebuscada, nem dos contorcionismos sintáticos e
duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão, sempre figuras de linguagem próprios da língua literária. Pode-se concluir,
concebido como público, ou a outro órgão público. Nos dois casos, então, que não existe propriamente um “padrão oficial de lingua-
temos um destinatário concebido de forma homogênea e impes- gem”; o que há é o uso do padrão culto nos atos e comunicações
soal; oficiais. É claro que haverá preferência pelo uso de determinadas
c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o uni- expressões, ou será obedecida certa tradição no emprego das for-
verso temático das comunicações oficiais se restringe a questões mas sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se con-
que dizem respeito ao interesse público, é natural que não cabe sagre a utilização de uma forma de linguagem burocrática. O jargão
qualquer tom particular ou pessoal. Desta forma, não há lugar na burocrático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre
redação oficial para impressões pessoais, como as que, por exem- sua compreensão limitada. A linguagem técnica deve ser empre-
plo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de gada apenas em situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso
jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser indiscriminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vo-
isenta da interferência da individualidade que a elabora. A concisão, cabulário próprio a determinada área, são de difícil entendimento
a clareza, a objetividade e a formalidade de que nos valemos para por quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado,
elaborar os expedientes oficiais contribuem, ainda, para que seja portanto, de explicitá-los em comunicações encaminhadas a outros
alcançada a necessária impessoalidade. órgãos da administração e em expedientes dirigidos aos cidadãos.
Outras questões sobre a linguagem, como o emprego de neologis-
A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais mo e estrangeirismo, são tratadas em detalhe em 9.3. Semântica.
A necessidade de empregar determinado nível de linguagem
nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do próprio ca- Formalidade e Padronização
ráter público desses atos e comunicações; de outro, de sua finalida- As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é,
de. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de caráter normati- obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exi-
vo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam gências de impessoalidade e uso do padrão culto de linguagem, é
o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em imperativo, ainda, certa formalidade de tratamento. Não se trata
sua elaboração for empregada a linguagem adequada. O mesmo somente da eterna dúvida quanto ao correto emprego deste ou da-
se dá com os expedientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de quele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível
informar com clareza e objetividade. As comunicações que partem (v. a esse respeito 2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento);
dos órgãos públicos federais devem ser compreendidas por todo e mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade
qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação.
o uso de uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária
dúvida que um texto marcado por expressões de circulação restrita, uniformidade das comunicações. Ora, se a administração federal é
como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jargão técnico, tem una, é natural que as comunicações que expede sigam um mesmo
sua compreensão dificultada. Ressalte-se que há necessariamente padrão.
uma distância entre a língua falada e a escrita.

15
LÍNGUA PORTUGUESA
O estabelecimento desse padrão, uma das metas deste Ma- As comunicações oficiais
nual, exige que se atente para todas as características da redação A redação das comunicações oficiais deve, antes de tudo, se-
oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. A clareza guir os preceitos explicitados no Capítulo I, Aspectos Gerais da
datilográfica, o uso de papéis uniformes para o texto definitivo e a Redação Oficial. Além disso, há características específicas de cada
correta diagramação do texto são indispensáveis para a padroniza- tipo de expediente, que serão tratadas em detalhe neste capítulo.
ção. Consulte o Capítulo II, As Comunicações Oficiais, a respeito de Antes de passarmos à sua análise, vejamos outros aspectos comuns
normas específicas para cada tipo de expediente. a quase todas as modalidades de comunicação oficial: o emprego
dos pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a identificação
Concisão e Clareza do signatário.
A concisão é antes uma qualidade do que uma característica do
texto oficial. Conciso é o texto que consegue transmitir um máxi- Pronomes de Tratamento
mo de informações com um mínimo de palavras. Para que se redija
com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conheci- Breve História dos Pronomes de Tratamento
mento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para O uso de pronomes e locuções pronominais de tratamento tem
revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes larga tradição na língua portuguesa. De acordo com Said Ali, após
se percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias serem incorporados ao português os pronomes latinos tu e vos,
de ideias. O esforço de sermos concisos atende, basicamente ao “como tratamento direto da pessoa ou pessoas a quem se dirigia a
princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de empre- palavra”, passou-se a empregar, como expediente linguístico de dis-
gar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não se deve de tinção e de respeito, a segunda pessoa do plural no tratamento de
forma alguma entendê-la como economia de pensamento, isto é, pessoas de hierarquia superior. Prossegue o autor: “Outro modo de
não se devem eliminar passagens substanciais do texto no afã de tratamento indireto consistiu em fingir que se dirigia a palavra a um
reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras atributo ou qualidade eminente da pessoa de categoria superior, e
inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já não a ela própria. Assim aproximavam-se os vassalos de seu rei com
foi dito. Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe em o tratamento de vossa mercê, vossa senhoria (...); assim usou-se
todo texto de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias o tratamento ducal de vossa excelência e adotou-se na hierarquia
secundárias. Estas últimas podem esclarecer o sentido daquelas de- eclesiástica vossa reverência, vossa paternidade, vossa eminência,
talhá-las, exemplificá-las; mas existem também ideias secundárias vossa santidade. ” A partir do final do século XVI, esse modo de
que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior tratamento indireto já estava em voga também para os ocupantes
relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas. A de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu para vosmecê, e de-
clareza deve ser a qualidade básica de todo texto oficial, conforme pois para o coloquial você. E o pronome vós, com o tempo, caiu em
já sublinhado na introdução deste capítulo. Pode-se definir como desuso. É dessa tradição que provém o atual emprego de pronomes
claro aquele texto que possibilita imediata compreensão pelo leitor. de tratamento indireto como forma de dirigirmo-nos às autorida-
No entanto a clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende des civis, militares e eclesiásticas.
estritamente das demais características da redação oficial. Para ela
concorrem: Concordância com os Pronomes de Tratamento
a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indireta)
que poderia decorrer de um tratamento personalista dado ao texto; apresentam certas peculiaridades quanto à concordância verbal,
b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de en- nominal e pronominal. Embora se refiram à segunda pessoa gra-
tendimento geral e por definição avesso a vocábulos de circulação matical (à pessoa com quem se fala, ou a quem se dirige a comuni-
restrita, como a gíria e o jargão; cação), levam a concordância para a terceira pessoa. É que o verbo
c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a impres- concorda com o substantivo que integra a locução como seu núcleo
cindível uniformidade dos textos; sintático: “Vossa Senhoria nomeará o substituto”; “Vossa Excelên-
d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguís- cia conhece o assunto”. Da mesma forma, os pronomes possessivos
ticos que nada lhe acrescentam. referidos a pronomes de tratamento são sempre os da terceira pes-
soa: “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos-
É pela correta observação dessas características que se redige so...”). Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o gênero
com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável releitura de todo gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que se refere, e
texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais, de trechos obscuros não com o substantivo que compõe a locução. Assim, se nosso in-
e de erros gramaticais provém principalmente da falta da releitu- terlocutor for homem, o correto é “Vossa Excelência está atarefa-
ra que torna possível sua correção. Na revisão de um expediente, do”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vossa
deve-se avaliar, ainda, se ele será de fácil compreensão por seu Excelência está atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeita”.
destinatário. O que nos parece óbvio pode ser desconhecido por
terceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos em de- Emprego dos Pronomes de Tratamento
corrência de nossa experiência profissional muitas vezes faz com Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento obedece
que os tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre a secular tradição. São de uso consagrado:
é verdade. Explicite, desenvolva, esclareça, precise os termos técni- Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
cos, o significado das siglas e abreviações e os conceitos específicos
que não possam ser dispensados. A revisão atenta exige, necessa- a) do Poder Executivo;
riamente, tempo. A pressa com que são elaboradas certas comu- Presidente da República;
nicações quase sempre compromete sua clareza. Não se deve pro- Vice-Presidente da República;
ceder à redação de um texto que não seja seguida por sua revisão. Ministros de Estado;
“Não há assuntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito Fe-
Evite-se, pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir. deral;
Oficiais-Generais das Forças Armadas;

16
LÍNGUA PORTUGUESA
Embaixadores; No envelope, deve constar do endereçamento:
Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupantes de Ao Senhor
cargos de natureza especial; Fulano de Tal
Secretários de Estado dos Governos Estaduais; Rua ABC, nº 123
Prefeitos Municipais. 70.123 – Curitiba. PR

b) do Poder Legislativo: Como se depreende do exemplo acima fica dispensado o em-


Deputados Federais e Senadores; prego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem
Ministro do Tribunal de Contas da União; o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o
Deputados Estaduais e Distritais; uso do pronome de tratamento Senhor. Acrescente-se que doutor
Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais; não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo
Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais. indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em
comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem
c) do Poder Judiciário: concluído curso universitário de doutorado. É costume designar por
Ministros dos Tribunais Superiores; doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em
Membros de Tribunais; Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a dese-
Juízes; jada formalidade às comunicações. Mencionemos, ainda, a forma
Auditores da Justiça Militar. Vossa Magnificência, empregada por força da tradição, em comu-
nicações dirigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o
O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos vocativo:
Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respec-
tivo: Magnífico Reitor,
Excelentíssimo Senhor Presidente da República, (...)
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Fede- Os pronomes de tratamento para religiosos, de acordo com a
ral. hierarquia eclesiástica, são:

As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor, Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa. O voca-
seguido do cargo respectivo: tivo correspondente é:
Senhor Senador, Santíssimo Padre,
Senhor Juiz, (...)
Senhor Ministro,
Senhor Governador, Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima, em co-
municações aos Cardeais. Corresponde-lhe o vocativo:
No envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou
autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a seguinte forma: Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal,
(...)
A Sua Excelência o Senhor
Fulano de Tal Vossa Excelência Reverendíssima é usado em comunicações
Ministro de Estado da Justiça dirigidas a Arcebispos e Bispos; Vossa Reverendíssima ou Vossa Se-
70.064-900 – Brasília. DF nhoria Reverendíssima para Monsenhores, Cônegos e superiores
religiosos. Vossa Reverência é empregado para sacerdotes, clérigos
A Sua Excelência o Senhor e demais religiosos.
Senador Fulano de Tal
Senado Federal Fechos para Comunicações
70.165-900 – Brasília. DF O fecho das comunicações oficiais possui, além da finalidade
óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os modelos
A Sua Excelência o Senhor para fecho que vinham sendo utilizados foram regulados pela Por-
Fulano de Tal taria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, que estabelecia quinze
Juiz de Direito da 10a Vara Cível padrões. Com o fito de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual
Rua ABC, no 123 estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes para to-
01.010-000 – São Paulo. SP das as modalidades de comunicação oficial:
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da Re-
Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento pública:
digníssimo (DD), às autoridades arroladas na lista anterior. A dig- Respeitosamente,
nidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público, b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia in-
sendo desnecessária sua repetida evocação. ferior:
Vossa Senhoria é empregado para as demais autoridades e Atenciosamente,
para particulares. O vocativo adequado é:
Senhor Fulano de Tal, Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a au-
(...) toridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios, de-
vidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das
Relações Exteriores.

17
LÍNGUA PORTUGUESA
Identificação do Signatário Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos casos
Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da Repú- em que estes estejam organizados em itens ou títulos e subtítulos.
blica, todas as demais comunicações oficiais devem trazer o nome e Já quando se tratar de mero encaminhamento de documentos
o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local de sua assina- a estrutura é a seguinte:
tura. A forma da identificação deve ser a seguinte: – Introdução: deve iniciar com referência ao expediente que
solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não tiver
(espaço para assinatura) sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo da comu-
NOME nicação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados completos
Chefe da Secretária-geral da Presidência da República do documento encaminhado (tipo, data, origem ou signatário, e as-
sunto de que trata), e a razão pela qual está sendo encaminhado,
(espaço para assinatura) segundo a seguinte fórmula:
NOME “Em resposta ao Aviso nº 12, de 1º de fevereiro de 1991, enca-
Ministro de Estado da Justiça minho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril de 1990, do Depar-
tamento Geral de Administração, que trata da requisição do servi-
Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura dor Fulano de Tal. ” Ou “Encaminho, para exame e pronunciamento,
em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao me- a anexa cópia do telegrama no 12, de 1o de fevereiro de 1991, do
nos a última frase anterior ao fecho. Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a respeito de
projeto de modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste. ”
O Padrão Ofício – Desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer
Há três tipos de expedientes que se diferenciam antes pela fi- algum comentário a respeito do documento que encaminha, pode-
nalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o memorando. Com rá acrescentar parágrafos de desenvolvimento; em caso contrário,
o fito de uniformizá-los, pode-se adotar uma diagramação única, não há parágrafos de desenvolvimento em aviso ou ofício de mero
que siga o que chamamos de padrão ofício. As peculiaridades de encaminhamento.
cada um serão tratadas adiante; por ora busquemos as suas seme-
lhanças. f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações);

Partes do documento no Padrão Ofício g) assinatura do autor da comunicação; e


O aviso, o ofício e o memorando devem conter as seguintes
partes: h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do Signa-
a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão que tário).
o expede:
Exemplos: Forma de diagramação
Mem. 123/2002-MF Aviso 123/2002-SG Of. 123/2002-MME Os documentos do Padrão Ofício5 devem obedecer à seguinte
forma de apresentação:
b) local e data em que foi assinado, por extenso, com alinha- a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de corpo
mento à direita: 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de rodapé;
Exemplo: b) para símbolos não existentes na fonte Times New Roman po-
13
der-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings;
Brasília, 15 de março de 1991.
c) é obrigatória constar a partir da segunda página o número
da página;
c) assunto: resumo do teor do documento
d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser impres-
Exemplos:
sos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens esquerda
Assunto: Produtividade do órgão em 2002.
e direta terão as distâncias invertidas nas páginas pares (“margem
Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores.
espelho”);
e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de distân-
d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida
a comunicação. No caso do ofício deve ser incluído também o en- cia da margem esquerda;
dereço. f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no míni-
mo, 3,0 cm de largura;
e) texto: nos casos em que não for de mero encaminhamento g) o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm; 5 O
de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura: constante neste item aplica-se também à exposição de motivos e à
– Introdução, que se confunde com o parágrafo de abertura, mensagem (v. 4. Exposição de Motivos e 5. Mensagem).
na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. Evite o h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de
uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”, “Cumpre- 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado não
-me informar que”, empregue a forma direta; comportar tal recurso, de uma linha em branco;
– Desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; se o texto i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado,
contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tratadas letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou qualquer
em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à exposição; outra forma de formatação que afete a elegância e a sobriedade do
– Conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente reapresen- documento;
tada a posição recomendada sobre o assunto. j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em papel
branco. A impressão colorida deve ser usada apenas para gráficos
e ilustrações;
l) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício devem ser
impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7 x 21,0 cm;

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LÍNGUA PORTUGUESA
m) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de arquivo Exposição de Motivos
Rich Text nos documentos de texto;
n) dentro do possível, todos os documentos elaborados devem — Definição e Finalidade
ter o arquivo de texto preservado para consulta posterior ou apro- Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Presidente da
veitamento de trechos para casos análogos; República ou ao Vice-Presidente para:
o) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem a) informá-lo de determinado assunto;
ser formados da seguinte maneira: tipo do documento + número do b) propor alguma medida; ou
documento + palavras-chaves do conteúdo Ex.: “Of. 123 - relatório c) submeter a sua consideração projeto de ato normativo.
produtividade ano 2002”
Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente da
Aviso e Ofício República por um Ministro de Estado.
— Definição e Finalidade Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um Mi-
Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial pratica- nistério, a exposição de motivos deverá ser assinada por todos os
mente idênticas. A única diferença entre eles é que o aviso é expe- Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada de intermi-
dido exclusivamente por Ministros de Estado, para autoridades de nisterial.
mesma hierarquia, ao passo que o ofício é expedido para e pelas
demais autoridades. Ambos têm como finalidade o tratamento de — Forma e Estrutura
assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e, Formalmente, a exposição de motivos tem a apresentação do
no caso do ofício, também com particulares. padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício). O anexo que acompanha a
exposição de motivos que proponha alguma medida ou apresente
— Forma e Estrutura projeto de ato normativo, segue o modelo descrito adiante. A ex-
Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo do padrão posição de motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas
ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o destinatário (v. 2.1 formas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter
Pronomes de Tratamento), seguido de vírgula. exclusivamente informativo e outra para a que proponha alguma
Exemplos: medida ou submeta projeto de ato normativo.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República No primeiro caso, o da exposição de motivos que simplesmen-
Senhora Ministra te leva algum assunto ao conhecimento do Presidente da República,
Senhor Chefe de Gabinete sua estrutura segue o modelo antes referido para o padrão ofício.
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as seguin- Já a exposição de motivos que submeta à consideração do Pre-
tes informações do remetente: sidente da República a sugestão de alguma medida a ser adotada
– Nome do órgão ou setor; ou a que lhe apresente projeto de ato normativo – embora sigam
– Endereço postal; também a estrutura do padrão ofício –, além de outros comentá-
– telefone E endereço de correio eletrônico.
rios julgados pertinentes por seu autor, devem, obrigatoriamente,
apontar:
Memorando
a) na introdução: o problema que está a reclamar a adoção da
medida ou do ato normativo proposto;
— Definição e Finalidade
b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida ou
O memorando é a modalidade de comunicação entre unidades
aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e even-
administrativas de um mesmo órgão, que podem estar hierarquica-
tuais alternativas existentes para equacioná-lo;
mente em mesmo nível ou em nível diferente. Trata-se, portanto,
c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada, ou
de uma forma de comunicação eminentemente interna. Pode ter
caráter meramente administrativo, ou ser empregado para a ex- qual ato normativo deve ser editado para solucionar o problema.
posição de projetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados por
determinado setor do serviço público. Sua característica principal é Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à exposição
a agilidade. A tramitação do memorando em qualquer órgão deve de motivos, devidamente preenchido, de acordo com o seguinte
pautar-se pela rapidez e pela simplicidade de procedimentos buro- modelo previsto no Anexo II do Decreto no 4.176, de 28 de março
cráticos. Para evitar desnecessário aumento do número de comuni- de 2002.
cações, os despachos ao memorando devem ser dados no próprio Anexo à Exposição de Motivos do (indicar nome do Ministério
documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação. ou órgão equivalente) nº de 200.
Esse procedimento permite formar uma espécie de processo sim-
plificado, assegurando maior transparência à tomada de decisões, 1. Síntese do problema ou da situação que reclama providên-
e permitindo que se historie o andamento da matéria tratada no cias
memorando. 2. Soluções e providências contidas no ato normativo ou na
medida proposta
— Forma e Estrutura 3. Alternativas existentes às medidas propostas
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do padrão Mencionar:
ofício, com a diferença de que o seu destinatário deve ser mencio- - Se há outro projeto do Executivo sobre a matéria;
nado pelo cargo que ocupa. - Se há projetos sobre a matéria no Legislativo;
Exemplos: - Outras possibilidades de resolução do problema.
Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Ao Sr. Subche-
fe para Assuntos Jurídicos 4. Custos
Mencionar:
- Se a despesa decorrente da medida está prevista na lei orça-
mentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la;

19
LÍNGUA PORTUGUESA
- Se é o caso de solicitar-se abertura de crédito extraordinário, Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente que
especial ou suplementar; a atenção aos requisitos básicos da redação oficial (clareza, conci-
- Valor a ser despendido em moeda corrente; são, impessoalidade, formalidade, padronização e uso do padrão
culto de linguagem) deve ser redobrada. A exposição de motivos é
5. Razões que justificam a urgência (a ser preenchido somente a principal modalidade de comunicação dirigida ao Presidente da
se o ato proposto for medido provisória ou projeto de lei que deva República pelos Ministros. Além disso, pode, em certos casos, ser
tramitar em regime de urgência) encaminhada cópia ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário
Mencionar: ou, ainda, ser publicada no Diário Oficial da União, no todo ou em
- Se o problema configura calamidade pública; parte.
- Por que é indispensável a vigência imediata;
- Se se trata de problema cuja causa ou agravamento não te- Mensagem
nham sido previstos;
- Se se trata de desenvolvimento extraordinário de situação já — Definição e Finalidade
prevista. É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos
Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas pelo Chefe
6. Impacto sobre o meio ambiente (sempre que o ato ou medi- do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar sobre fato
da proposta possa vir a tê-lo) da Administração Pública; expor o plano de governo por ocasião
7. Alterações propostas da abertura de sessão legislativa; submeter ao Congresso Nacional
8. Síntese do parecer do órgão jurídico matérias que dependem de deliberação de suas Casas; apresentar
Com base em avaliação do ato normativo ou da medida pro- veto; enfim, fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja
posta à luz das questões levantadas no item 10.4.3. de interesse dos poderes públicos e da Nação. Minuta de mensa-
A falta ou insuficiência das informações prestadas pode acar- gem pode ser encaminhada pelos Ministérios à Presidência da Re-
retar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, pública, a cujas assessorias caberá a redação final. As mensagens
mais usuais do Poder Executivo ao Congresso Nacional têm as se-
a devolução do projeto de ato normativo para que se complete o
guintes finalidades:
exame ou se reformule a proposta. O preenchimento obrigatório do
a) encaminhamento de projeto de lei ordinária, complemen-
anexo para as exposições de motivos que proponham a adoção de
tar ou financeira. Os projetos de lei ordinária ou complementar são
alguma medida ou a edição de ato normativo tem como finalidade:
enviados em regime normal (Constituição, art. 61) ou de urgência
a) permitir a adequada reflexão sobre o problema que se busca (Constituição, art. 64, §§ 1o a 4o). Cabe lembrar que o projeto pode
resolver; ser encaminhado sob o regime normal e mais tarde ser objeto de
b) ensejar mais profunda avaliação das diversas causas do pro- nova mensagem, com solicitação de urgência. Em ambos os casos,
blema e dos efeitos que pode ter a adoção da medida ou a edição a mensagem se dirige aos Membros do Congresso Nacional, mas é
do ato, em consonância com as questões que devem ser analisadas encaminhada com aviso do Chefe da Casa Civil da Presidência da
na elaboração de proposições normativas no âmbito do Poder Exe- República ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para
cutivo (v. 10.4.3.). que tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64, caput). Quan-
c) conferir perfeita transparência aos atos propostos. to aos projetos de lei financeira (que compreendem plano plurianu-
al, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e créditos adicio-
Dessa forma, ao atender às questões que devem ser analisadas nais), as mensagens de encaminhamento dirigem-se aos Membros
na elaboração de atos normativos no âmbito do Poder Executivo, do Congresso Nacional, e os respectivos avisos são endereçados ao
o texto da exposição de motivos e seu anexo complementam-se e Primeiro Secretário do Senado Federal. A razão é que o art. 166
formam um todo coeso: no anexo, encontramos uma avaliação pro- da Constituição impõe a deliberação congressual sobre as leis fi-
funda e direta de toda a situação que está a reclamar a adoção de nanceiras em sessão conjunta, mais precisamente, “na forma do
certa providência ou a edição de um ato normativo; o problema a regimento comum”. E à frente da Mesa do Congresso Nacional está
ser enfrentado e suas causas; a solução que se propõe, seus efeitos o Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 57, § 5o), que co-
e seus custos; e as alternativas existentes. O texto da exposição de manda as sessões conjuntas. As mensagens aqui tratadas coroam o
motivos fica, assim, reservado à demonstração da necessidade da processo desenvolvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange
providência proposta: por que deve ser adotada e como resolverá minucioso exame técnico, jurídico e econômico-financeiro das ma-
o problema. Nos casos em que o ato proposto for questão de pes- térias objeto das proposições por elas encaminhadas. Tais exames
soal (nomeação, promoção, ascensão, transferência, readaptação, materializam-se em pareceres dos diversos órgãos interessados no
reversão, aproveitamento, reintegração, recondução, remoção, assunto das proposições, entre eles o da Advocacia-Geral da União.
exoneração, demissão, dispensa, disponibilidade, aposentadoria), Mas, na origem das propostas, as análises necessárias constam da
não é necessário o encaminhamento do formulário de anexo à ex- exposição de motivos do órgão onde se geraram (v. 3.1. Exposição
de Motivos) – exposição que acompanhará, por cópia, a mensagem
posição de motivos.
de encaminhamento ao Congresso.
Ressalte-se que:
b) encaminhamento de medida provisória.
– A síntese do parecer do órgão de assessoramento jurídico
Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da Constituição,
não dispensa o encaminhamento do parecer completo;
o Presidente da República encaminha mensagem ao Congresso,
– O tamanho dos campos do anexo à exposição de motivos dirigida a seus membros, com aviso para o Primeiro Secretário do
pode ser alterado de acordo com a maior ou menor extensão dos Senado Federal, juntando cópia da medida provisória, autenticada
comentários a serem ali incluídos. pela Coordenação de Documentação da Presidência da República.
c) indicação de autoridades.

20
LÍNGUA PORTUGUESA
As mensagens que submetem ao Senado Federal a indicação – Pedido de autorização para operações financeiras externas
de pessoas para ocuparem determinados cargos (magistrados dos (Constituição, art. 52, V); e outros.
Tribunais Superiores, Ministros do TCU, Presidentes e Diretores do Entre as mensagens menos comuns estão as de:
Banco Central, Procurador-Geral da República, Chefes de Missão Di- – Convocação extraordinária do Congresso Nacional (Constitui-
plomática, etc.) têm em vista que a Constituição, no seu art. 52, inci- ção, art. 57, § 6o);
sos III e IV, atribui àquela Casa do Congresso Nacional competência – Pedido de autorização para exonerar o Procurador-Geral da
privativa para aprovar a indicação. O curriculum vitae do indicado, República (art. 52, XI, e 128, § 2o);
devidamente assinado, acompanha a mensagem. – Pedido de autorização para declarar guerra e decretar mobi-
d) pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Presiden- lização nacional (Constituição, art. 84, XIX);
te da República se ausentarem do País por mais de 15 dias. Trata- – Pedido de autorização ou referendo para celebrar a paz
-se de exigência constitucional (Constituição, art. 49, III, e 83), e a (Constituição, art. 84, XX);
autorização é da competência privativa do Congresso Nacional. O – Justificativa para decretação do estado de defesa ou de sua
Presidente da República, tradicionalmente, por cortesia, quando a prorrogação (Constituição, art. 136, § 4o);
ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz uma comunicação a cada – Pedido de autorização para decretar o estado de sítio (Cons-
Casa do Congresso, enviando-lhes mensagens idênticas. tituição, art. 137);
e) encaminhamento de atos de concessão e renovação de – Relato das medidas praticadas na vigência do estado de sítio
concessão de emissoras de rádio e TV. A obrigação de submeter ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo único);
tais atos à apreciação do Congresso Nacional consta no inciso XII – Proposta de modificação de projetos de leis financeiras
do artigo 49 da Constituição. Somente produzirão efeitos legais a (Constituição, art. 166, § 5o);
outorga ou renovação da concessão após deliberação do Congresso – Pedido de autorização para utilizar recursos que ficarem sem
Nacional (Constituição, art. 223, § 3o). Descabe pedir na mensagem despesas correspondentes, em decorrência de veto, emenda ou re-
a urgência prevista no art. 64 da Constituição, porquanto o § 1o do jeição do projeto de lei orçamentária anual (Constituição, art. 166,
art. 223 já define o prazo da tramitação. Além do ato de outorga § 8o);
ou renovação, acompanha a mensagem o correspondente processo – Pedido de autorização para alienar ou conceder terras públi-
administrativo. cas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. 188, § 1o); etc.
f) encaminhamento das contas referentes ao exercício ante-
rior. O Presidente da República tem o prazo de sessenta dias após a — Forma e Estrutura
abertura da sessão legislativa para enviar ao Congresso Nacional as As mensagens contêm:
contas referentes ao exercício anterior (Constituição, art. 84, XXIV), a) a indicação do tipo de expediente e de seu número, horizon-
para exame e parecer da Comissão Mista permanente (Constitui- talmente, no início da margem esquerda:
ção, art. 166, § 1o), sob pena de a Câmara dos Deputados realizar a Mensagem no
tomada de contas (Constituição, art. 51, II), em procedimento disci- b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o cargo
plinado no art. 215 do seu Regimento Interno. do destinatário, horizontalmente, no início da margem esquerda;
g) mensagem de abertura da sessão legislativa. Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal,
Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre a situação c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo;
do País e solicitação de providências que julgar necessárias (Cons- d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do texto, e
tituição, art. 84, XI). O portador da mensagem é o Chefe da Casa horizontalmente fazendo coincidir seu final com a margem direita.
Civil da Presidência da República. Esta mensagem difere das demais A mensagem, como os demais atos assinados pelo Presidente
porque vai encadernada e é distribuída a todos os Congressistas em da República, não traz identificação de seu signatário.
forma de livro.
h) comunicação de sanção (com restituição de autógrafos). Telegrama
Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congresso Nacio-
nal, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da Casa onde — Definição e Finalidade
se originaram os autógrafos. Nela se informa o número que tomou Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar os proce-
a lei e se restituem dois exemplares dos três autógrafos recebidos, dimentos burocráticos, passa a receber o título de telegrama toda
nos quais o Presidente da República terá aposto o despacho de san- comunicação oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Por
ção. tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos cofres públicos
i) comunicação de veto. e tecnologicamente superada, deve restringir-se o uso do telegra-
Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 66, ma apenas àquelas situações que não seja possível o uso de correio
§ 1o), a mensagem informa sobre a decisão de vetar, se o veto é eletrônico ou fax e que a urgência justifique sua utilização e, tam-
parcial, quais as disposições vetadas, e as razões do veto. Seu texto bém em razão de seu custo elevado, esta forma de comunicação
vai publicado na íntegra no Diário Oficial da União (v. 4.2. Forma e deve pautar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e Clareza).
Estrutura), ao contrário das demais mensagens, cuja publicação se
restringe à notícia do seu envio ao Poder Legislativo. (v. 19.6.Veto) — Forma e Estrutura
j) outras mensagens. Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e a estrutura
Também são remetidas ao Legislativo com regular frequência dos formulários disponíveis nas agências dos Correios e em seu sítio
mensagens com: na Internet.
– Encaminhamento de atos internacionais que acarretam en-
cargos ou compromissos gravosos (Constituição, art. 49, I);
– Pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis às opera-
ções e prestações interestaduais e de exportação
(Constituição, art. 155, § 2o, IV);
– Proposta de fixação de limites globais para o montante da
dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI);

21
LÍNGUA PORTUGUESA
Fax Ouvindo e lendo é que você aprenderá a falar e a escrever bem.
Procure ler muito, ler bons autores, para redigir bem.
— Definição e Finalidade A aprendizagem da língua inicia-se em casa, no contexto fa-
O fax (forma abreviada já consagrada de fac-símile) é uma for- miliar, que é o primeiro círculo social para uma criança. A criança
ma de comunicação que está sendo menos usada devido ao desen- imita o que ouve e aprende, aos poucos, o vocabulário e as leis
volvimento da Internet. É utilizado para a transmissão de mensa- combinatórias da língua. Um falante ao entrar em contato com ou-
gens urgentes e para o envio antecipado de documentos, de cujo tras pessoas em diferentes ambientes sociais como a rua, a escola
conhecimento há premência, quando não há condições de envio do e etc., começa a perceber que nem todos falam da mesma forma.
documento por meio eletrônico. Quando necessário o original, ele Há pessoas que falam de forma diferente por pertencerem a outras
segue posteriormente pela via e na forma de praxe. Se necessário cidades ou regiões do país, ou por fazerem parte de outro grupo
o arquivamento, deve-se fazê-lo com cópia xerox do fax e não com ou classe social. Essas diferenças no uso da língua constituem as
o próprio fax, cujo papel, em certos modelos, se deteriora rapida- variedades linguísticas.
mente. Certas palavras e construções que empregamos acabam de-
nunciando quem somos socialmente, ou seja, em que região do
— Forma e Estrutura país nascemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e,
Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a estrutura às vezes, até nossos valores, círculo de amizades e hobbies. O uso
que lhes são inerentes. É conveniente o envio, juntamente com o da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa capa-
documento principal, de folha de rosto, i. é., de pequeno formulário cidade de nos adaptarmos às situações novas e nossa insegurança.
com os dados de identificação da mensagem a ser enviada, confor- A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas,
me exemplo a seguir: contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias te-
levisivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem:
Correio Eletrônico a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou
profissões. O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade
— Definição e finalidade de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou
Correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e celeridade, em nossa comunidade. O domínio da língua culta, somado ao do-
transformou-se na principal forma de comunicação para transmis- mínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados
são de documentos. para nos comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos, já que
a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser a mes-
— Forma e Estrutura ma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana.
Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é sua Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empre-
flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida para sua es- gá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que
trutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de linguagem incompatí- participamos.
vel com uma comunicação oficial (v. 1.2 A Linguagem dos Atos e A norma culta é responsável por representar as práticas linguís-
Comunicações Oficiais). O campo assunto do formulário de correio ticas embasadas nos modelos de uso encontrados em textos for-
eletrônico mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a or- mais. É o modelo que deve ser utilizado na escrita, sobretudo nos
ganização documental tanto do destinatário quanto do remetente. textos não literários, pois segue rigidamente as regras gramaticais.
Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utilizado, prefe- A norma culta conta com maior prestígio social e normalmente é
rencialmente, o formato Rich Text. A mensagem que encaminha al- associada ao nível cultural do falante: quanto maior a escolarização,
gum arquivo deve trazer informações mínimas sobre seu conteúdo. maior a adequação com a língua padrão.
Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de confirmação de Exemplo:
leitura. Caso não seja disponível, deve constar na mensagem o pe- Venho solicitar a atenção de Vossa Excelência para que seja
dido de confirmação de recebimento. conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima
da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao
—Valor documental movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças,
Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem de atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem
correio eletrônico tenha valor documental, i. é, para que possa ser se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte
aceito como documento original, é necessário existir certificação di- violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas fun-
gital que ateste a identidade do remetente, na forma estabelecida ções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe.
em lei.
A Linguagem Popular ou Coloquial
É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mos-
CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS. CONHECIMENTOS tra-se quase sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de
GRAMATICAIS CONFORME PADRÃO FORMAL DA LÍN- vícios de linguagem (solecismo – erros de regência e concordância;
GUA barbarismo – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; ca-
cofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela
A Linguagem Culta ou Padrão coordenação, que ressalta o caráter oral e popular da língua. A lin-
É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em guagem popular está presente nas conversas familiares ou entre
que se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas amigos, anedotas, irradiação de esportes, programas de TV e audi-
instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obedi- tório, novelas, na expressão dos esta dos emocionais etc.
ência às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
cas, noticiários de TV, programas culturais etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Dúvidas mais comuns da norma culta Por exemplo: Mariana trouxe bolo para mim; Caio pediu para
eu curtir as fotos dele.
Perca ou perda
Isto é uma perda de tempo ou uma perca de tempo? Tomara “Tem” ou “têm”
que ele não perca o ônibus ou não perda o ônibus? Quais são as fra- Tanto “tem” como “têm” fazem parte da conjugação do verbo
ses corretas com perda e perca? Certo: Isto é uma perda de tempo. “ter” no presente. Mas o primeiro é usado no singular, e o segundo
no plural.
Embaixo ou em baixo Por exemplo: Você tem medo de mudança; Eles têm medo de
O gato está embaixo da mesa ou em baixo da mesa? Continu- mudança.
arei falando em baixo tom de voz ou embaixo tom de voz? Quais
são as frases corretas com embaixo e em baixo? Certo: O gato está “Há muitos anos”, “muitos anos atrás” ou “há muitos anos
embaixo da cama atrás”
Usar “Há” e “atrás” na mesma frase é uma redundância, já que
Ver ou vir ambas indicam passado. O correto é usar um ou outro.
A dúvida no uso de ver e vir ocorre nas seguintes construções: Por exemplo: A erosão da encosta começou há muito tempo; O
Se eu ver ou se eu vir? Quando eu ver ou quando eu vir? Qual das romance começou muito tempo atrás.
frases com ver ou vir está correta? Se eu vir você lá fora, você vai Sim, isso quer dizer que a música Eu nasci há dez mil anos atrás,
ficar de castigo! de Raul Seixas, está incorreta.

Onde ou aonde
Os advérbios onde e aonde indicam lugar: Onde você está? TIPOS DE DISCURSO
Aonde você vai? Qual é a diferença entre onde e aonde? Onde indi-
ca permanência. É sinônimo de em que lugar. Onde, Em que lugar Discurso direto
Fica? É a fala da personagem reproduzida fielmente pelo narrador,
ou seja, reproduzida nos termos em que foi expressa.
Como escrever o dinheiro por extenso? — Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores com-
Os valores monetários, regra geral, devem ser escritos com al- pletamente bêbados, não é?
garismos: R$ 1,00 ou R$ 1 R$ 15,00 ou R$ 15 R$ 100,00 ou R$ 100 Foi aí que um dos bêbados pediu:
R$ 1400,00 ou R$ 1400. — Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é
o seu marido que os outros querem ir para casa.
Obrigado ou obrigada (Stanislaw Ponte Preta)
Segundo a gramática tradicional e a norma culta, o homem ao
agradecer deve dizer obrigado. A mulher ao agradecer deve dizer Observe que, no exemplo dado, a fala da personagem é intro-
obrigada. duzida por um travessão, que deve estar alinhado dentro do pará-
grafo.
Mal ou mau O narrador, ao reproduzir diretamente a fala das personagens,
Como essas duas palavras são, maioritariamente, pronunciadas conserva características do linguajar de cada uma, como termos de
da mesma forma, são facilmente confundidas pelos falantes. Qual a gíria, vícios de linguagem, palavrões, expressões regionais ou caco-
diferença entre mal e mau? Mal é um advérbio, antônimo de bem. etes pessoais.
Mau é o adjetivo contrário de bom. O discurso direto geralmente apresenta verbos de elocução (ou
declarativos ou dicendi) que indicam quem está emitindo a mensa-
“Vir”, “Ver” e “Vier” gem.
A conjugação desses verbos pode causar confusão em algumas Os verbos declarativos ou de elocução mais comuns são:
situações, como por exemplo no futuro do subjuntivo. O correto é, acrescentar
por exemplo, “quando você o vir”, e não “quando você o ver”. afirmar
Já no caso do verbo “ir”, a conjugação correta deste tempo ver- concordar
bal é “quando eu vier”, e não “quando eu vir”. consentir
contestar
“Ao invés de” ou “em vez de” continuar
“Ao invés de” significa “ao contrário” e deve ser usado apenas declamar
para expressar oposição. determinar
Por exemplo: Ao invés de virar à direita, virei à esquerda. dizer
Já “em vez de” tem um significado mais abrangente e é usado esclarecer
principalmente como a expressão “no lugar de”. Mas ele também exclamar
pode ser usado para exprimir oposição. Por isso, os linguistas reco- explicar
mendam usar “em vez de” caso esteja na dúvida. gritar
indagar
Por exemplo: Em vez de ir de ônibus para a escola, fui de bici- insistir
cleta. interrogar
interromper
“Para mim” ou “para eu” intervir
Os dois podem estar certos, mas, se você vai continuar a frase mandar
com um verbo, deve usar “para eu”. ordenar, pedir

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LÍNGUA PORTUGUESA
perguntar Observe que os verbos de elocução aparecem em letras minús-
prosseguir culas depois dos pontos de exclamação e interrogação.
protestar
reclamar Discurso indireto
repetir No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala
replicar da personagem. O narrador funciona como testemunha auditiva e
responder passa para o leitor o que ouviu da personagem. Na transcrição, o
retrucar verbo aparece na terceira pessoa, sendo imprescindível a presen-
solicitar ça de verbos dicendi (dizer, responder, retrucar, replicar, perguntar,
pedir, exclamar, contestar, concordar, ordenar, gritar, indagar, de-
Os verbos declarativos podem, além de introduzir a fala, indicar clamar, afirmar, mandar etc.), seguidos dos conectivos que (dicendi
atitudes, estados interiores ou situações emocionais das persona- afirmativo) ou se (dicendi interrogativo) para introduzir a fala da
gens como, por exemplo, os verbos protestar, gritar, ordenar e ou- personagem na voz do narrador.
tros. Esse efeito pode ser também obtido com o uso de adjetivos ou
advérbios aliados aos verbos de elocução: falou calmamente, gritou A certo ponto da conversação, Glória me disse que desejava
histérica, respondeu irritada, explicou docemente. muito conhecer Carlota e perguntou por que não a levei comigo.
(Ciro dos Anjos)
Exemplo:
— O amor, prosseguiu sonhadora, é a grande realização de nos- Fui ter com ela, e perguntei se a mãe havia dito alguma coisa;
sas vidas. respondeu-me que não.
Ao utilizar o discurso direto – diálogos (com ou sem travessão) (Machado de Assis)
entre as personagens –, você deve optar por um dos três estilos a Discurso indireto livre
seguir:
Resultante da mistura dos discursos direto e indireto, existe
uma terceira modalidade de técnica narrativa, o chamado discurso
Estilo 1:
indireto livre, processo de grande efeito estilístico. Por meio dele,
João perguntou:
o narrador pode, não apenas reproduzir indiretamente falas das
— Que tal o carro?
personagens, mas também o que elas não falam, mas pensam, so-
Estilo 2: nham, desejam etc. Neste caso, discurso indireto livre corresponde
João perguntou: “Que tal o carro?” (As aspas são optativas) ao monólogo interior das personagens, mas expresso pelo narrador.
Antônio respondeu: “horroroso” (As aspas são optativas) As orações do discurso indireto livre são, em regra, indepen-
dentes, sem verbos dicendi, sem pontuação que marque a passa-
Estilo 3: gem da fala do narrador para a da personagem, mas com transpo-
Verbos de elocução no meio da fala: sições do tempo do verbo (pretérito imperfeito) e dos pronomes
— Estou vendo, disse efusivamente João, que você adorou o (terceira pessoa). O foco narrativo deve ser de terceira pessoa. Esse
carro. discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e
— Você, retrucou Antônio, está completamente enganado. ritmo que confere ao texto.

Verbos de elocução no fim da fala: Fabiano ouviu o relatório desconexo do bêbado, caiu numa in-
— Estou vendo que você adorou o carro — disse efusivamente decisão dolorosa. Ele também dizia palavras sem sentido, conversa
João. à toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era
— Você está completamente enganado — retrucou Antônio. bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se.
Estava preso por isso? Como era? Então mete- se um homem na
Os trechos que apresentam verbos de elocução podem vir com cadeia por que ele não sabe falar direito?
travessões ou com vírgulas. Observe os seguintes exemplos: (Graciliano Ramos)

— Não posso, disse ela daí a alguns instantes, não deixo meu Observe que se o trecho “Era bruto, sim” estivesse um discur-
filho. (Machado de Assis) so direto, apresentaria a seguinte formulação: Sou bruto, sim; em
discurso indireto: Ele admitiu que era bruto; em discurso indireto
— Não vá sem eu lhe ensinar a minha filosofia da miséria, disse livre: Era bruto, sim.
ele, escarrachando-se diante de mim. (Machado de Assis)
Para produzir discurso indireto livre que exprima o mundo inte-
— Vale cinquenta, ponderei; Sabina sabe que custou cinquenta
rior da personagem (seus pensamentos, desejos, sonhos, fantasias
e oito. (Machado de Assis)
etc.), o narrador precisa ser onisciente. Observe que os pensamen-
tos da personagem aparecem, no trecho transcrito, principalmente
— Ainda não, respondi secamente. (Machado de Assis)
nas orações interrogativas, entremeadas com o discurso do narra-
Verbos de elocução depois de orações interrogativas e excla- dor.
mativas:
— Nunca me viu? perguntou Virgília vendo que a encarava com Transposição de discurso
insistência. (Machado de Assis) Na narração, para reconstituir a fala da personagem, utiliza-se
— Para quê? interrompeu Sabina. (Machado de Assis) a estrutura de um discurso direto ou de um discurso indireto. O
— Isso nunca; não faço esmolas! disse ele. (Machado de Assis) domínio dessas estruturas é importante tanto para se empregar
corretamente os tipos de discurso na redação.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Os sinais de pontuação (aspas, travessão, dois-pontos) e outros Discurso Indireto
recursos como grifo ou itálico, presentes no discurso direto, não
aparecem no discurso indireto, a não ser que se queira insistir na • Pretérito imperfeito
atribuição do enunciado à personagem, não ao narrador. Tal insis- A enfermeira afirmou que era uma menina.
tência, porém, é desnecessária e excessiva, pois, se o texto for bem • Futuro do pretérito
construído, a identificação do discurso indireto livre não oferece Pedrinho gritou que não sairia do carro.
dificuldade. • Pretérito mais-que-perfeito
Retrucou com indignação que já esperara (ou tinha espera-
do) demais.
Discurso Direto • Pretérito imperfeito do subjuntivo
• Presente Olhou-a e disse secamente que o deixasse em paz.
A enfermeira afirmou: Outras alterações
– É uma menina. • Terceira pessoa
Maria disse que não queria sair com Roberto naquele dia.
• Pretérito perfeito • Objeto indireto na oração principal
– Já esperei demais, retrucou com indignação. A prima perguntou a João se ele queria café.
• Forma declarativa
• Futuro do presente Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa
Pedrinho gritou: pelo amarelo.
– Não sairei do carro. lá, dali, de lá, naquele momento, naquele dia, no dia an-
terior, na véspera, no dia seguinte, aquela(s), aquele(s), aquilo,
• Imperativo seu, sua (dele, dela), seu, sua (deles, delas)
Olhou-a e disse secamente:
– Deixe-me em paz.

Outras alterações SEMÂNTICA: CONSTRUÇÃO DE SENTIDO; SINONÍMIA,


• Primeira ou segunda pessoa ANTONÍMIA, HOMONÍMIA, PARONÍMIA, POLISSEMIA;
Maria disse: DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO
– Não quero sair com Roberto hoje.
Significação de palavras
• Vocativo As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação.
– Você quer café, João?, perguntou a prima. E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os
• Objeto indireto na oração principal significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos
A prima perguntou a João se ele queria café. que compõem este estudo.

• Forma interrogativa ou imperativa Antônimo e Sinônimo


Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa: Começaremos por esses dois, que já são famosos.
– E o amarelo?
O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras.
• Advérbios de lugar e de tempo Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o signi-
aqui, daqui, agora, hoje, ontem, amanhã ficado de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com
• Pronomes demonstrativos e possessivos homem que é antônimo de mulher.
essa(s), esta(s)
esse(s), este(s) Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e
isso, isto que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é mui-
meu, minha to importante para produções textuais, porque evita que você fi-
teu, tua que repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos
nosso, nossa exemplos, para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/conten-
tamento e homem é sinônimo de macho/varão.

Hipônimos e Hiperônimos
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa
uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperôni-
mo designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, ca-
chorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais
domésticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido
mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com
substantivo coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das
palavras, beleza?!?!

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LÍNGUA PORTUGUESA
Outros conceitos que agem diretamente no sentido das palavras são os seguintes:

Conotação e Denotação
Observe as frases:
Amo pepino na salada.
Tenho um pepino para resolver.

As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

FIGURAS DE LINGUAGEM

Figuras de Linguagem
As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso
linguístico para expressar de formas diferentes experiências comuns, conferindo originalidade, emotividade ao discurso, ou tornando-o
poético.

As figuras de linguagem classificam-se em


- figuras de palavra;
- figuras de pensamento;
- figuras de construção ou sintaxe.

Figuras de palavra: emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um
efeito mais expressivo na comunicação.

Metáfora: comparação abreviada, que dispensa o uso dos conectivos comparativos; é uma comparação subjetiva. Normalmente vem
com o verbo de ligação claro ou subentendido na frase.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplos Figuras Sonoras
...a vida é cigana Aliteração: repetição do mesmo fonema consonantal, geral-
É caravana mente em posição inicial da palavra.
É pedra de gelo ao sol.
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença) Exemplo:
Vozes veladas veludosas vozes volúpias dos violões, vozes ve-
Encarnado e azul são as cores do meu desejo. ladas.
(Carlos Drummond de Andrade) (Cruz e Sousa)

Comparação: aproxima dois elementos que se identificam, Assonância: repetição do mesmo fonema vocal ao longo de um
ligados por conectivos comparativos explícitos: como, tal qual, tal verso ou poesia.
como, que, que nem. Também alguns verbos estabelecem a com-
paração: parecer, assemelhar-se e outros. Exemplo:
Sou Ana, da cama,
Exemplo: da cana, fulana, bacana
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando Sou Ana de Amsterdam.
você entrou em mim como um sol no quintal. (Chico Buarque)
(Belchior)
Catacrese: emprego de um termo em lugar de outro para o Paronomásia: Emprego de vocábulos semelhantes na forma ou
qual não existe uma designação apropriada. na prosódia, mas diferentes no sentido.

Exemplos Exemplo:
– folha de papel Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu
– braço de poltrona [erro
– céu da boca quero que você ganhe que
– pé da montanha [você me apanhe
sou o seu bezerro gritando
Sinestesia: fusão harmônica de, no mínimo, dois dos cinco sen- [mamãe.
tidos físicos. (Caetano Veloso)

Exemplo: Onomatopeia: imitação aproximada de um ruído ou som pro-


Vem da sala de linotipos a doce (gustativa) música (auditiva) duzido por seres animados e inanimados.
mecânica.
(Carlos Drummond de Andrade) Exemplo:
Vai o ouvido apurado
A fusão de sensações físicas e psicológicas também é sineste- na trama do rumor suas nervuras
sia: “ódio amargo”, “alegria ruidosa”, “paixão luminosa”, “indiferen- inseto múltiplo reunido
ça gelada”. para compor o zanzineio surdo
circular opressivo
Antonomásia: substitui um nome próprio por uma qualidade, zunzin de mil zonzons zoando em meio à pasta de calor
atributo ou circunstância que individualiza o ser e notabiliza-o. da noite em branco
(Carlos Drummond de Andrade)
Exemplos
O filósofo de Genebra (= Calvino). Observação: verbos que exprimem os sons são considerados
O águia de Haia (= Rui Barbosa). onomatopaicos, como cacarejar, tiquetaquear, miar etc.

Metonímia: troca de uma palavra por outra, de tal forma que Figuras de sintaxe ou de construção: dizem respeito a desvios
a palavra empregada lembra, sugere e retoma a que foi omitida. em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem,
possíveis repetições ou omissões.
Exemplos:
Leio Graciliano Ramos. (livros, obras) Podem ser formadas por:
Comprei um panamá. (chapéu de Panamá) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
Tomei um Danone. (iogurte) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
Alguns autores, em vez de metonímia, classificam como siné- ruptura: anacoluto;
doque quando se têm a parte pelo todo e o singular pelo plural. concordância ideológica: silepse.

Exemplo: Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um período,


A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro frase ou verso.
sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. (singular pelo
plural) Exemplo:
(José Cândido de Carvalho) Dentro do tempo o universo
[na imensidão.
Dentro do sol o calor peculiar

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LÍNGUA PORTUGUESA
[do verão. Zeugma: Consiste na omissão de palavras já expressas anterior-
Dentro da vida uma vida me mente.
[conta uma estória que fala
[de mim. Exemplos:
Dentro de nós os mistérios Foi saqueada a vila, e assassina dos os partidários dos Filipes.
[do espaço sem fim! (Camilo Castelo Branco)
(Toquinho/Mutinho)
Rubião fez um gesto, Palha outro: mas quão diferentes.
Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam (Machado de Assis)
vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem separadas por
vírgulas. Hipérbato ou inversão: alteração da ordem direta dos elemen-
tos na frase.
Exemplo:
Não nos movemos, as mãos é Exemplos:
que se estenderam pouco a Passeiam, à tarde, as belas na avenida.
pouco, todas quatro, pegando-se, (Carlos Drummond de Andrade)
apertando-se, fundindo-se.
(Machado de Assis) Paciência tenho eu tido...
Polissíndeto: repetição intencional de uma conjunção coorde- (Antônio Nobre)
nativa mais vezes do que exige a norma gramatical.

Exemplo: Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a


Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem frase, alterando a sequência do processo lógico. A construção do
tuge, nem muge. período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem
(Rubem Braga) função sintática definida.

Pleonasmo: repetição de uma ideia já sugerida ou de um ter- Exemplos:


mo já expresso. E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas.
(Manuel Bandeira)
Pleonasmo literário: recurso estilístico que enriquece a expres-
são, dando ênfase à mensagem. Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas bo-
tassem as mãos.
Exemplos: (José Lins do Rego)
Não os venci. Venceram-me
eles a mim. Hipálage: inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que
(Rui Barbosa) pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase).

Morrerás morte vil na mão de um forte. Exemplo:


(Gonçalves Dias) ...em cada olho um grito castanho de ódio.
(Dalton Trevisan)
Pleonasmo vicioso: Frequente na linguagem informal, cotidia- ...em cada olho castanho um grito de ódio)
na, considerado vício de linguagem. Deve ser evitado.
Silepse:
Exemplos:
Ouvir com os ouvidos. Silepse de gênero: Não há concordância de gênero do adjetivo
Rolar escadas abaixo. ou pronome com a pessoa a que se refere.
Colaborar juntos.
Hemorragia de sangue. Exemplos:
Repetir de novo. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho...
(Rachel de Queiroz)
Elipse: Supressão de uma ou mais palavras facilmente suben-
tendidas na frase. Geralmente essas palavras são pronomes, con- V. Ex.a parece magoado...
junções, preposições e verbos. (Carlos Drummond de Andrade)

Exemplos: Silepse de pessoa: Não há concordância da pessoa verbal com


Compareci ao Congresso. (eu) o sujeito da oração.
Espero venhas logo. (eu, que, tu)
Ele dormiu duas horas. (durante) Exemplos:
No mar, tanta tormenta e tanto dano. (verbo Haver) Os dois ora estais reunidos...
(Camões) (Carlos Drummond de Andrade)

Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pessoas.


(Machado de Assis)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Silepse de número: Não há concordância do número verbal Travessão ( — )
com o sujeito da oração. Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-
Exemplo: -men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir
Corria gente de todos os lados, e gritavam. vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter-
(Mário Barreto) calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas.
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão.
PONTUAÇÃO E EFEITOS DE SENTIDO
Parênteses e colchetes ( ) – [ ]
Pontuação Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên-
organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE- dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi-
CHARA, 2009, p. 514) rem uma nova inserção.
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns vernador)
sinais gráficos assim distribuídos:os separadores (vírgula [ , ], ponto
e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ Aspas ( “ ” )
... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido
simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], travessão particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para
chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]). apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain-
da, para marcar o discurso direto e a citação breve.
Ponto ( . ) Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau-
sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo Vírgula
de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
reticências. ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes
Estaremos presentes na festa. disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
vírgula:
Ponto de interrogação ( ? ) 1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti-
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati- mos” o momento certo de fazer uso dela.
va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica. 2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
Você vai à festa? alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
Ponto de exclamação ( ! ) cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama- 3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
tiva. tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
Ex: Que bela festa! menos importante e que pode ser colocada depois.
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or-
Reticências ( ... ) dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo >
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com Mariafoiàpadariaontem.
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor Sujeito VerboObjetoAdjunto
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
Ex: Essa festa... não sei não, viu. Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
re por alguns motivos:
Dois-pontos ( : ) 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída. 2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo, verbo e o adjunto.
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva.
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa. Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem
comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
Ponto e vírgula ( ; ) é necessária:
Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o Ontem, Maria foi à padaria.
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas, Maria, ontem, foi à padaria.
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume- À padaria, Maria foi ontem.
ração (frequente em leis), etc.
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam-
bém uma linda decoração e bebidas caras.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces- • Período Composto: formado por mais de uma oração.
sário: O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
ção. Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período.
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
serem observadas na redação oficial. • Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
• Separa aposto. O problema da violência preocupa os cidadãos.
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica. • Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
• Separa vocativo. A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
Brasileiros, é chegada a hora de votar. • Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo
• Separa termos repetidos. direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da pre-
Aquele aluno era esforçado, esforçado. posição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli- Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo, • Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transi-
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com tivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de
efeito, digo. preposição.
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara, Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
ou seja, de fácil compreensão. João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime
• Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen- determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica
tos). um verbo, adjetivo ou advérbio.
O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula- O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares) Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem prati-
• Separa orações coordenadas assindéticas. ca a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
ideias na cabeça... • Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um subs-
tantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação
• Isola o nome do lugar nas datas. de um verbo.
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006. Um casal de médicos eram os novos moradores do meu pré-
dio.
• Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa • Complemento Nominal: Termo da oração que completa no-
forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões mes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicio-
conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor- nado.
mações comprovam, etc. A realização do torneio teve a aprovação de todos.
Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame- • Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao su-
nizar o problema. jeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao
SINTAXE: ORAÇÃO, PERÍODO, TERMOS DAS ORAÇÕES; objeto direto ou indireto da oração.
ARTICULAÇÃO DAS ORAÇÕES: COORDENAÇÃO E SU- O médico considerou o paciente hipertenso.
BORDINAÇÃO • Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou
identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equi-
Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos valentes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
da sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita • Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a
coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar al- quem se dirige a palavra.
gumas questões importantes: Senhora, peço aguardar mais um pouco.

• Frase:Enunciado que estabelece uma comunicação de senti- Tipos de orações


do completo. As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça,
Os jornais publicaram a notícia. não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, mo-
Silêncio! leza. Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações
• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma de um período são independentes (não dependem uma da outra
locução verbal. para construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as ora-
Este filme causou grande impacto entre o público. ções de um período são dependentes (dependem uma da outra
A inflação deve continuar sob controle. para construir sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas
• Período Simples: formado por uma única oração. uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam
O clima se alterou muito nos últimos dias. da conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não •
passa no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora
quer comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá in-
de mau humor. veja.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito quinta, terão aula de reforço.
anteriormente. SEMPRE serão
acompanhadas por vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de
Restringem o sentido de um termo quinta terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Causais Estou vestida assim porque vou sair.
Assumem a função de advérbio de
causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do
Assumem a função de advérbio de dia.
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar
Assumem a função de advérbio de na reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Orações Subordinadas Adverbiais Assumem a função de advérbio de previsto.
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que
Assumem a função de advérbio de todos tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono
Assumem a função de advérbio de tinha.
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos
Assumem a função de advérbio de saem de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL

Concordância Nominal
Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se re-
ferem.
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amistosa.

Casos Especiais de Concordância Nominal


• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam alerta.

• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na formação de palavras compostas:


Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.

• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de acordo com o substantivo a que se referem:
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.

• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quando
advérbios:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou meia dúzia de ovos.

• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:


Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.

• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o substantivo estiver determinado por artigo:
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Concordância Verbal Assistir (dar assistência) Não usa preposição
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa:
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor- Deparar (encontrar) com
mes. Implicar (consequência) Não usa preposição

Concordância ideológica ou silepse Lembrar Não usa preposição


• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne- Pagar (pagar a alguém) a
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
Precisar (necessitar) de
contexto.
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas. Proceder (realizar) a
Blumenau estava repleta de turistas. Responder a
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con- Visar ( ter como objetivo a
texto. pretender)
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau- NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
sos. QUE NÃO ESTÃO AQUI!
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto.
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po- EXERCÍCIOS
líticos.
1. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é
a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL se fundamenta em intertextualidade é:
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morri-
do há muito tempo.”
• Regência Nominal (B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se
A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan- mete onde não é chamada.”
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar- (C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple- gente mesmo!”
mento é estabelecida por uma preposição. (D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo,
tudo bem.”
• Regência Verbal (E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.”
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o
verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido). Leia o texto abaixo para responder a questão.
Isto pertence a todos. A lama que ainda suja o Brasil
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)
Regência de algumas palavras
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
Esta palavra combina com Esta preposição dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
Acessível a um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
Apto a, para Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
Atencioso com, para com
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela
Coerente com anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica-
Conforme a, com ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro-
Dúvida acerca de, de, em, sobre funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro,
Empenho de, em, por coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica,
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos
Fácil a, de, para,
se tornou uma bomba relógio na região.”
Junto a, de Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
Pendente de de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
Preferível a barragens de mineração em todo o País apresentam condições de
Próximo a, de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
Respeito a, com, de, para com, por
Situado a, em, entre
Ajudar (a fazer algo) a
Aludir (referir-se) a
Aspirar (desejar, pretender) a

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do 5. ( PC-MG - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUMARC – 2018)
senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um Na Redação Oficial, exige-se o uso do padrão formal da língua.
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar- Portanto, são necessários conhecimentos linguísticos que funda-
co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori- mentem esses usos.
dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos Analise o uso da vírgula nas seguintes frases do Texto 3:
judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz 1. Um crime bárbaro mobilizou a Polícia Militar na Região de
Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com Venda Nova, em Belo Horizonte, ontem.
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer. 2. O rapaz, de 22 anos, se apresentou espontaneamente à 9ª
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+- Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e deu detalhes do crime.
QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL 3. Segundo a polícia, o jovem informou que tinha um relaciona-
mento difícil com a mãe e teria discutido com ela momentos antes
2. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido: de desferir os golpes.
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
fato. INDIQUE entre os parênteses a justificativa adequada para uso
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao da vírgula em cada frase.
gênero textual editorial. ( ) Para destacar deslocamento de termos.
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já ( ) Para separar adjuntos adverbiais.
que se trata de uma reportagem. ( ) Para indicar um aposto.
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
se trata de um editorial.
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
(A) 1 – 2 – 3.
Analise as assertivas e responda:
(B) 2 – 1 – 3.
(A) Somente a I é correta.
(C) 3 – 1 – 2.
(B) Somente a II é incorreta.
(C) Somente a III é correta (D) 3 – 2 – 1.
(D) A III e IV são corretas.
6. (IF BAIANO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – IF-BA –
3. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que ain- 2019)
da suja o Brasil”: Acerca de seus conhecimentos em redação oficial, é correto
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas afirmar que o vocativo adequado a um texto no padrão ofício desti-
no desenvolvimento do assunto. nado ao presidente do Congresso Nacional é
II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro- (A) Senhor Presidente.
blemas no uso de conjunções e preposições. (B) Excelentíssimo Senhor Presidente.
III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes (C) Presidente.
de palavras e da ordem sintática. (D) Excelentíssimo Presidente.
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão (E) Excelentíssimo Senhor.
temática e bom uso dos recursos coesivos.
Analise as assertivas e responda: 7. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
(A) Somente a I é correta. 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
(B) Somente a II é incorreta. o seguinte par de palavras:
(C) Somente a III é correta. (A) estrondo – ruído;
(D) Somente a IV é correta. (B) pescador – trabalhador;
(C) pista – aeroporto;
4. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo (D) piloto – comissário;
metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente (E) aeronave – jatinho.
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre-
sente no texto: 8. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - AUXILIAR DE CONSULTÓ-
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação RIO DENTÁRIO - FCM - 2019)
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
O Sol e a Neve
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
Era uma floquinha de neve que vivia no alto de uma montanha
cada sujeito possui atribuições próprias.
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole- gelada. Um dia, se apaixonou pelo sol. E passou a flertar descarada-
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do mente com ele. “Cuidado!”, alertaram os flocos mais experientes.
sujeito. “Você pode se derreter”. Mas a nevinha não queria nem saber e
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho, continuava a olhar para o Sol, que com seus raios a queimava de
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais. paixão. Ela nem percebia o quanto se derretia... e ficou ali um bom
tempo, só se derretendo, se derretendo. Quando viu, era uma goti-
nha, uma pequena lágrima de amor descendo, com nobreza e deli-
cadeza, a montanha. Lá embaixo, um rio esperava por ela.
Disponível em: <file:///C:/Users/sosan/Downloads/2014-08a-18s-
-ep-05.pdf> Acesso em: 15 ago. 2019.

34
LÍNGUA PORTUGUESA
No sentido figurado, a personificação confere características, IV. Em “Nossa cultura popular é uma enciclopédia aberta, en-
qualidades e sentimentos de seres humanos a seres irracionais ou volvente e rica em termos e frases de profundidade inquestionável”
inanimados. (§1), uma das figuras de linguagem empregada é a personificação.
O trecho em que a personificação NÃO aparece é V. A expressão “enciclopédia aberta” (§1) é uma metáfora, pois
(A) “Lá embaixo, um rio esperava por ela.” nela as palavras foram retiradas do seu contexto convencional e um
(B) “... com seus raios a queimava de paixão.” novo campo de significação se instaurou por meio de uma compa-
(C) “Mas a nevinha (...) continuava a olhar para o sol”. ração implícita.
(D) “‘Cuidado’!, alertaram os flocos mais experientes.”
Está correto apenas o que se afirma em
9. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - ASSISTENTE SOCIAL - (A) II e IV.
FCM - 2019) (B) IV e V.
(C) I, II, III.
Um país do balacobaco (D) I, III e V.
Mentor Neto
10. (EMDEC - ADVOGADO JR - IBFC - 2019)
1. Nossa cultura popular é uma enciclopédia aberta, envolven-
te e rica em termos e frases de profundidade inquestionável. Co- A perfeição (adaptado)
nhecimento comum, da gente simples, do dia a dia, que resultou
em gotículas de sabedoria muitas vezes desprezadas. Ao longo dos O susto de reencontrar alguém que não vemos há anos é o im-
anos venho colecionando inúmeras. Utilizo esta enciclopédia aber- pacto do tempo. O desmanche alheio incomoda? Claro que não,
ta como repositório que, acredito, poderia ser de amplo emprego apenas o nosso refletido na hipótese de estarmos também daquele
por alguns brasileiros. jeito. Há momentos nos quais o salto para o abismo do fim parece
2. É verdade que algumas dessas expressões caíram em desuso, mais dramático: especialmente entre 35 e 55. (...)
mas nem por isso perderam o brilhantismo. Por exemplo, no es- Agatha Christie deu um lindo argumento para todos nós que
cândalo mais recente, o caso Intercept Brasil, o conselho “em boca envelhecemos. Na sua Autobiografia, narra que a solução de um ca-
fechada não entra mosca” teria sido de profunda utilidade. samento feliz está em imitar o segundo casamento da autora: con-
3. Há como descrever melhor o trabalho da Lava Jato do que trair núpcias com um arqueólogo (no caso, Max Mallowan), pois,
com um “cada enxadada uma minhoca”? Aos acusados ou suspei- quanto mais velha ela ficava, mais o marido se apaixonava. Talvez
tos de corrupção, aos que se enriqueceram por meios ilícitos, um o mesmo indicativo para homens e mulheres estivesse na busca de
“bobeou, dançou” cai feito uma luva. geriatras, restauradores, historiadores, egiptólogos ou, no limite,
4. “Entornar o caldo” me parece adequado quando nos refe- tanatologistas.
rimos à cultura de delações premiadas na qual estamos imersos. Envelhecer é complexo, a opção é mais desafiadora. O célebre
Por falar nisso, os delatores encontram um sábio conselho no “ajoe- historiador israelense Yuval Harari prevê que a geração alpha (nas-
lhou, tem que rezar” ou, quem sabe, no consagrado “colocar a boca cidos no século em curso) chegará, no mínimo, a 120 anos se obti-
no trombone”! Já aos que preferem manter o silêncio, “boca de siri” ver cuidados básicos. O Brasil envelhece demograficamente e nós
é o ideal. poderíamos ser chamados de vanguarda do novo processo. Dizem
5. Alguns personagens desse “bafafá” que tomou conta de nos- que Nelson Rodrigues aconselhava aos jovens que envelhecessem,
sa política são protagonistas tão importantes que merecem frases como o melhor indicador do caminho a seguir. Não precisamos do
conhecidas de aplicação exclusiva, já que “entraram numa fria”. Afi- conselho pois o tempo é ceifador inevitável. (...)
nal, como descrever mais precisamente o que ocorreu com aquele Como em toda peça teatral, o descer das cortinas pode ser
que “foi pego com a boca na botija”? a deixa para um aplauso caloroso ou um silêncio constrangedor,
6. Para os destacados empresários do ramo frigorífico, um belo quando não vaia estrondosa. É sabedoria que o tempo ensina, ao
“mamar na vaca você não quer, né?” é incontestável. Tenho certeza retirar nossa certeza com o processo de aprendizado. Hoje começa
de que o estimado leitor há de concordar. mais um dia e mais uma etapa possível. Hoje é um dia diferente de
7. E os deputados e senadores? E os que infringiram acordos? todos. Você, tendo 16 ou 76, será mais velho amanhã e terá um dia
Ou aquilo está “um quiprocó”, “um perereco” do caramba mesmo. a menos de vida. Hoje é o dia. Jovens, velhos e adjacentes: é preciso
Alguns ministros “aparecem mais que umbigo de vedete”, mas a ter esperança.
real é que deveriam “sair de fininho”.
8. A verdade é que o País está “do jeito que o diabo gosta” e Leia os trechos retirados do texto e assinale a alternativa que
cabe a nós acabar logo com esse “lero-lero” e “partir pras cabeças”. não possui uma figura de linguagem em sua construção.
Afinal, amigo, nossa situação “está mais feia que bater na mãe”. (A) “pois o tempo é ceifador inevitável.”
IstoÉ, n. 2581, 19 jun. 2019. Adaptado (B) “deixa para um aplauso caloroso.”
(C) “É sabedoria que o tempo ensina.”
Avalie as informações sobre aspectos estilísticos e semânticos (D) “Você, tendo 16 ou 76, será mais velho amanhã.”
utilizados pelo autor do texto.
I. No período “Tenho certeza de que o estimado leitor há de
concordar...”, algumas palavras estão empregadas no sentido cono-
tativo.
II. Identifica-se a metonímia em um dos sintagmas da estrutura
frasal “... aos que se enriqueceram por meios ilícitos, um ‘bobeou,
dançou’ cai feito uma luva”. (§3)
III. A locução adjetiva “do balacobaco”, presente no título, diz
respeito a algo inverossímil, descontextualizado e que caiu em de-
suso.

35
LÍNGUA PORTUGUESA
11. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira- (A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de
mente correta a pontuação do seguinte período: plural em “deflacionados”.
(A) Os personagens principais de uma história, responsáveis (B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque- em “Elevaram-se”.
nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente (C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as
sem importância, ditam o rumo de toda a história. regras de concordância com “economia”.
(B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis (D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas singular em “fez aumentar”.
providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem (E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância
importância, ditam o rumo de toda a história. com “relevantes”.
(C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas 15. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008)
providências, que, tomadas por figurantes aparentemente, Assinale o trecho que apresenta erro de regência.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. (A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fe-
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas cha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a
providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem maior taxa registrada na última década.
importância, ditam o rumo de toda a história. (B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque- conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento
nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente,
em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em
sem importância, ditam o rumo de toda a história.
que se revela queda no desemprego e até se anuncia a am-
pliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de
12. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS –
novas fontes de petróleo.
2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor- (D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente,
miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuí-
oração. da a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação
(A) Oração coordenada assindética aditiva. menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina.
(B) Oração coordenada sindética aditiva. (E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia,
(C) Oração coordenada sindética adversativa. com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro
(D) Oração coordenada sindética explicativa. da América Latina, o organismo internacional está atribuindo
(E) Oração coordenada sindética alternativa. um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do
que o do Brasil.
13. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas GABARITO
orações.
(A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
sativa. 1 E
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
(C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi- 2 C
tiva. 3 D
(D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
4 D
tiva.
(E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver- 5 C
bial consecutiva. 6 B
7 E
14. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012)
Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações 8 B
de concordância no texto abaixo. 9 B
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra- 10 D
tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo- 11 A
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de- 12 C
flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição 13 C
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan- 14 A
ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de
15 D
salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência
social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital,
responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF.

36
DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Administração Pública. Conceito e princípios. Administração pública direta e indireta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Agentes públicos. Conceito. Classificação (espécie). Cargo Público, emprego público e função pública. Direitos e deveres. Responsabi-
lidade administrativa, civil e penal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
3. Lei 8.429/92 e alterações (Lei de improbidade administrativa). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4. Poderes da Administração Pública: Poder hierárquico. Poder Disciplinar. Poder Regulamentar. Poder de Polícia. . . . . . . . . . . . . . . 21
5. Fatos e atos administrativos Conceito. Requisitos do ato administrativo. Atributos do ato administrativo.Classificação. Revogação e
anulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
6. Serviços públicos: Conceito. Princípios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
7. Responsabilidade civil do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
8. Regime jurídico administrativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
DIREITO ADMINISTRATIVO
A Administração Pública também possui elementos que a com-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONCEITO E PRINCÍPIOS. põe, são eles: as pessoas jurídicas de direito público e de direito
‘ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA privado por delegação, órgãos e agentes públicos que exercem a
função administrativa estatal.
Administração pública
Conceito — Observação importante:
Administração Pública em sentido geral e objetivo, é a ativida- Pessoas jurídicas de direito público são entidades estatais aco-
de que o Estado pratica sob regime público, para a realização dos pladas ao Estado, exercendo finalidades de interesse imediato da
interesses coletivos, por intermédio das pessoas jurídicas, órgãos e coletividade. Em se tratando do direito público externo, possuem
agentes públicos. a personalidade jurídica de direito público cometida à diversas na-
A Administração Pública pode ser definida em sentido amplo e ções estrangeiras, como à Santa Sé, bem como a organismos inter-
estrito, além disso, é conceituada por Di Pietro (2009, p. 57), como nacionais como a ONU, OEA, UNESCO.(art. 42 do CC).
“a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob re- No direito público interno encontra-se, no âmbito da adminis-
gime jurídico total ou parcialmente público, para a consecução dos tração direta, que cuida-se da Nação brasileira: União, Estados, Dis-
interesses coletivos”. trito Federal, Territórios e Municípios (art. 41, incs. I, II e III, do CC).
Nos dizeres de Di Pietro (2009, p. 54), em sentido amplo, a No âmbito do direito público interno encontram-se, no campo
Administração Pública é subdividida em órgãos governamentais e da administração indireta, as autarquias e associações públicas (art.
órgãos administrativos, o que a destaca em seu sentido subjetivo, 41, inc. IV, do CC). Posto que as associações públicas, pessoas jurídi-
sendo ainda subdividida pela sua função política e administrativa cas de direito público interno dispostas no inc. IV do art. 41 do CC,
em sentido objetivo. pela Lei n.º 11.107/2005,7 foram sancionadas para auxiliar ao con-
Já em sentido estrito, a Administração Pública se subdivide em sórcio público a ser firmado entre entes públicos (União, Estados,
órgãos, pessoas jurídicas e agentes públicos que praticam funções Municípios e Distrito Federal).
administrativas em sentido subjetivo, sendo subdividida também
na atividade exercida por esses entes em sentido objetivo. Princípios da administração pública
Em suma, temos: De acordo com o administrativista Alexandre Mazza (2017),
princípios são regras condensadoras dos valores fundamentais de
um sistema. Sua função é informar e materializar o ordenamento
SENTIDO Sentido amplo {órgãos governamentais e
jurídico bem como o modo de atuação dos aplicadores e intérpre-
SUBJETIVO órgãos administrativos}.
tes do direito, sendo que a atribuição de informar decorre do fato
SENTIDO Sentido estrito {pessoas jurídicas, órgãos e de que os princípios possuem um núcleo de valor essencial da or-
SUBJETIVO agentes públicos}. dem jurídica, ao passo que a atribuição de enformar é denotada
SENTIDO Sentido amplo {função política e adminis- pelos contornos que conferem à determinada seara jurídica.
OBJETIVO trativa}. Desta forma, o administrativista atribui dupla aplicabilidade
aos princípios da função hermenêutica e da função integrativa.
SENTIDO Sentido estrito {atividade exercida por
OBJETIVO esses entes}. Referente à função hermenêutica, os princípios são amplamen-
te responsáveis por explicitar o conteúdo dos demais parâmetros
Existem funções na Administração Pública que são exercidas legais, isso se os mesmos se apresentarem obscuros no ato de tute-
pelas pessoas jurídicas, órgãos e agentes da Administração que são la dos casos concretos. Por meio da função integrativa, por sua vez,
subdivididas em três grupos: fomento, polícia administrativa e ser- os princípios cumprem a tarefa de suprir eventuais lacunas legais
viço público. observadas em matérias específicas ou diante das particularidades
Para melhor compreensão e conhecimento, detalharemos cada que permeiam a aplicação das normas aos casos existentes.
uma das funções. Vejamos:
a. Fomento: É a atividade administrativa incentivadora do de- Os princípios colocam em prática as função hermenêuticas e in-
senvolvimento dos entes e pessoas que exercem funções de utilida- tegrativas, bem como cumprem o papel de esboçar os dispositivos
de ou de interesse público. legais disseminados que compõe a seara do Direito Administrativo,
b. Polícia administrativa: É a atividade de polícia administrati- dando-lhe unicidade e coerência.
va. São os atos da Administração que limitam interesses individuais
em prol do interesse coletivo. Além disso, os princípios do Direito Administrativo podem ser
c. Serviço público: resume-se em toda atividade que a Admi- expressos e positivados escritos na lei, ou ainda, implícitos, não po-
nistração Pública executa, de forma direta ou indireta, para satis- sitivados e não escritos na lei de forma expressa.
fazer os anseios e as necessidades coletivas do povo, sob o regime
jurídico e com predominância pública. O serviço público também — Observação importante:
regula a atividade permanente de edição de atos normativos e con- Não existe hierarquia entre os princípios expressos e implíci-
cretos sobre atividades públicas e privadas, de forma implementati- tos. Comprova tal afirmação, o fato de que os dois princípios que
va de políticas de governo. dão forma o Regime Jurídico Administrativo, são meramente im-
A finalidade de todas essas funções é executar as políticas de plícitos.
governo e desempenhar a função administrativa em favor do in-
teresse público, dentre outros atributos essenciais ao bom anda- Regime Jurídico Administrativo: é composto por todos os prin-
mento da Administração Pública como um todo com o incentivo das cípios e demais dispositivos legais que formam o Direito Adminis-
atividades privadas de interesse social, visando sempre o interesse trativo. As diretrizes desse regime são lançadas por dois princípios
público. centrais, ou supraprincípios que são a Supremacia do Interesse Pú-
blico e a Indisponibilidade do Interesse Público.

1
DIREITO ADMINISTRATIVO
– Princípio da Publicidade: Trata-se de um mecanismo de con-
Conclama a necessidade da sobreposi-
SUPREMACIA DO trole dos atos administrativos por meio da sociedade. A publicidade
ção dos interesses da coletividade sobre
INTERESSE PÚBLICO está associada à prestação de satisfação e informação da atuação
os individuais.
pública aos administrados. Via de regra é que a atuação da Admi-
Sua principal função é orientar a nistração seja pública, tornando assim, possível o controle da socie-
INDISPONIBILIDA-
atuação dos agentes públicos para que dade sobre os seus atos.
DE DO INTERESSE
atuem em nome e em prol dos interes- Ocorre que, no entanto, o princípio em estudo não é abso-
PÚBLICO
ses da Administração Pública. luto. Isso ocorre pelo fato deste acabar por admitir exceções pre-
vistas em lei. Assim, em situações nas quais, por exemplo, devam
Ademais, tendo o agente público usufruído das prerrogativas ser preservadas a segurança nacional, relevante interesse coletivo e
de atuação conferidas pela supremacia do interesse público, a in- intimidade, honra e vida privada, o princípio da publicidade deverá
disponibilidade do interesse público, com o fito de impedir que tais ser afastado.
prerrogativas sejam utilizadas para a consecução de interesses pri-
vados, termina por colocar limitações aos agentes públicos no cam- Sendo a publicidade requisito de eficácia dos atos administra-
po de sua atuação, como por exemplo, a necessidade de aprovação tivos que se voltam para a sociedade, pondera-se que os mesmos
em concurso público para o provimento dos cargos públicos. não poderão produzir efeitos enquanto não forem publicados.

Princípios Administrativos – Princípio da Eficiência: A atividade administrativa deverá ser


Nos parâmetros do art. 37, caput da Constituição Federal, a Ad- exercida com presteza, perfeição, rendimento, qualidade e econo-
ministração Pública deverá obedecer aos princípios da Legalidade, micidade. Anteriormente era um princípio implícito, porém, hodier-
Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. namente, foi acrescentado, de forma expressa, na CFB/88, com a
Vejamos: EC n. 19/1998.
– Princípio da Legalidade: Esse princípio no Direito Administra-
tivo, apresenta um significado diverso do que apresenta no Direito São decorrentes do princípio da eficiência:
Privado. No Direito Privado, toda e qualquer conduta do indivíduo
que não esteja proibida em lei e que não esteja contrária à lei, é a. A possibilidade de ampliação da autonomia gerencial, orça-
considerada legal. O termo legalidade para o Direito Administrativo, mentária e financeira de órgãos, bem como de entidades adminis-
significa subordinação à lei, o que faz com que o administrador deva trativas, desde que haja a celebração de contrato de gestão.
atuar somente no instante e da forma que a lei permitir.
— Observação importante: O princípio da legalidade considera b. A real exigência de avaliação por meio de comissão especial
a lei em sentido amplo. Nesse diapasão, compreende-se como lei, para a aquisição da estabilidade do servidor Efetivo, nos termos do
toda e qualquer espécie normativa expressamente disposta pelo art. 41, § 4º da CFB/88.
art. 59 da Constituição Federal.
Administração direta e indireta
– Princípio da Impessoalidade: Deve ser analisado sob duas A princípio, infere-se que Administração Direta é correspon-
óticas: dente aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas
que executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O
a) Sob a ótica da atuação da Administração Pública em relação vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a
aos administrados: Em sua atuação, deve o administrador pautar compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto
na não discriminação e na não concessão de privilégios àqueles que os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do
o ato atingirá. Sua atuação deverá estar baseada na neutralidade e Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade
na objetividade. administrativa de maneira centralizada.
b) Em relação à sua própria atuação, administrador deve exe- Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas
cutar atos de forma impessoal, como dispõe e exige o parágrafo criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as Admi-
primeiro do art. 37 da CF/88 ao afirmar que: ‘‘A publicidade dos nistrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa de
atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos maneira descentralizada.
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser exer-
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que carac- cidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com persona-
terizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.’’ lidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a particu-
lares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito público
– Princípio da Moralidade: Dispõe que a atuação administrati- ou de direito privado para esta finalidade. Optando pela segunda
va deve ser totalmente pautada nos princípios da ética, honestida- opção, as novas entidades passarão a compor a Administração Indi-
de, probidade e boa-fé. Esse princípio está conexo à não corrupção reta do ente que as criou e, por possuírem como destino a execução
na Administração Pública. especializado de certas atividades, são consideradas como sendo
manifestação da descentralização por serviço, funcional ou técnica,
O princípio da moralidade exige que o administrador tenha de modo geral.
conduta pautada de acordo com a ética, com o bom senso, bons
costumes e com a honestidade. O ato administrativo terá que obe- Desconcentração e Descentralização
decer a Lei, bem como a ética da própria instituição em que o agen- Consiste a desconcentração administrativa na distribuição in-
te atua. Entretanto, não é suficiente que o ato seja praticado apenas terna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim
nos parâmetros da Lei, devendo, ainda, obedecer à moralidade. sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído
entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre
de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe
a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica.

2
DIREITO ADMINISTRATIVO
Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administra- Ocorre, nesse sentido, uma vinculação administrativa em tais
ção direta como na administração indireta de todos os entes fede- situações, de maneira que os entes federativos somente conse-
rativos do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcen- guem manter-se no controle se as entidades da Administração In-
tração administrativa no âmbito da Administração Direta da União, direta estiverem desempenhando as funções para as quais foram
os vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em criadas de forma correta.
âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais,
dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e Pessoas políticas
as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias As pessoas políticas são os entes federativos previstos na Cons-
agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista, tituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal e os
ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação. Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos pelo
Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder político.
órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos, vindo a
jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos se organizar de forma particular para alcançar as finalidades aven-
estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de su- çadas na Constituição Federal.
bordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração admi- Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois,
nistrativa está diretamente relacionada ao princípio da hierarquia. ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um dos
Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando suas
de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado leis e exercendo as competências que a eles são determinadas pela
transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a Constituição Federal, a soberania nada mais é do que uma caracte-
outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado. rística que se encontra presente somente no âmbito da República
Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuin- Federativa do Brasil, que é formada pelos referidos entes federati-
do suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou ser- vos.
viços transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa
que transfere e a que acolhe as atribuições. Autarquias
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno,
Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e
Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias,
e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar
de iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de determinadas atividades para entidades eivadas de maior especia-
forma privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização lização.
e funcionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar au- As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dan-
mento de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos do a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma
(art. 84, VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e ex- mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a
tinção de órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para dis- sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo.
por sobre a organização e o funcionamento, denota-se que poderá Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público
ser utilizado ato normativo inferior à lei, que se trata do decreto. descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço
Caso o Poder Executivo Federal desejar criar um Ministério a mais, público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar em
o presidente da República deverá encaminhar projeto de lei ao Con- tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem ser-
gresso Nacional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua estrutu- vindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao mesmo
ração interna deverá ser feita por decreto. Na realidade, todos os regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles,
regimentos internos dos ministérios são realizados por intermédio as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou seja, são exe-
de decreto, pelo fato de tal ato se tratar de organização interna do cutoras de ordens determinadas pelo respectivo ente da Federação
órgão. Vejamos: a que estão vinculadas.
As autarquias são criadas por lei específica, que de forma obri-
ÓRGÃO — é criado por meio de lei. gacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo do
ORGANIZAÇÃO INTERNA — pode ser feita por DECRETO, des- ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também que
de que não provoque aumento de despesas, bem como a criação a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida tipica-
ou a extinção de outros órgãos. mente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, em re-
ÓRGÃOS DE CONTROLE — Trata-se dos prepostos a fiscalizar e gime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. Em tais
controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribu- situações, infere-se que é possível que sejam criadas autarquias no
nal de Contas da União. âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, oportunidade na
qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação, deverá, obriga-
Pessoas administrativas toriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita pelo respectivo
Explicita-se que as entidades administrativas são a própria Ad- Poder.
ministração Indireta, composta de forma taxativa pelas autarquias,
fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia Empresas Públicas
mista. Sociedades de Economia Mista
De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao são São a parte da Administração Indireta mais voltada para o di-
reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder político e reito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária de
encontram-se vinculadas à entidade política que as criou. Não exis- empresas estatais.
te hierarquia entre as entidades da Administração Pública indireta e
os entes federativos que as criou.

3
DIREITO ADMINISTRATIVO
Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia • Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder Legis-
mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas lativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores.
entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente atuan-
tes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, obtemos Fundações e outras entidades privadas delegatárias
dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades de eco- Identifica-se no processo de criação das fundações privadas,
nomia mista. duas características que se encontram presentes de forma contun-
Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais explorado- dente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um instituidor
ras de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitu- e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa.
cional, pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de 1988
pelo direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito pre-
prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma dominantemente de direito privado, sendo que a Constituição Fe-
legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma deral dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades
exclusiva e prioritária pelo direito público. de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autoriza-
ção da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso
Observação importante: todas as empresas estatais, sejam das autarquias.
prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade eco- Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que a Fun-
nômica, possuem personalidade jurídica de direito privado. dação Pública poderá ser criada de forma direta por meio de lei
específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica de direi-
O que diferencia as empresas estatais exploradoras de ativida- to público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou Fundação
de econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público Autárquica.
é a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço
público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público, Observação importante: a autarquia é definida como serviço
nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é conceitu-
que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou ada como sendo um patrimônio de forma personificada destinado
sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a uma finalidade específica de interesse social.
a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora de atividade
econômica, como maneira de evitar que o princípio da livre con- Vejamos como o Código Civil determina:
corrência reste-se prejudicado, as referidas atividades deverão ser Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...)
reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo 173 da Consti- IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
tuição Federal, que assim determina: V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz dis-
exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será per- tinção entre as Fundações de direito público ou de direito privado.
mitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as fundações
ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de ligação com a
lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da socieda- Administração Pública.
de de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como
econômica de produção ou comercialização de bens ou de presta- por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada so-
ção de serviços, dispondo sobre: mente às entidades de direito público como um todo. Registra-se
I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela que o foro de ambas é na Justiça Federal.
sociedade;
II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas priva- Delegação Social
das, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, tra- Organizações sociais
balhistas e tributários; As organizações sociais são entidades privadas que recebem
III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e alie- o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas
nações, observados os princípios da Administração Pública; por particulares sob a forma de associação ou fundação que de-
IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de Admi- sempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao
nistração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários; passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma
V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabili- ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do
dade dos administradores Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com
o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos
Vejamos em síntese, algumas características em comum das parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá
empresas públicas e das sociedades de economia mista: constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito
• Devem realizar concurso público para admissão de seus em- privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam
pregados; dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tec-
• Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto nológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à
constitucional; saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que as entidades
• Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas, privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão receber a quali-
bem como ao controle do Poder Legislativo; ficação de OSs.
• Não estão sujeitas à falência;
• Devem obedecer às normas de licitação e contrato adminis-
trativo no que se refere às suas atividades-meio;
• Devem obedecer à vedação à acumulação de cargos prevista
constitucionalmente;

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os VI – as entidades e empresas que comercializam planos de saú-
serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por de e assemelhados;
intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas
por entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publiciza- mantenedoras;
ção. Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo, VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra-
outra entidade de direito privado o substitui no serviço anterior- tuito e suas mantenedoras;
mente prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para IX – as Organizações Sociais;
que seja feita a qualificação da entidade como organização social é X – as cooperativas;
estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, as
Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, utili- Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade
zação de bens públicos e servidores públicos. e o Estado é denominado termo de parceria e que para a qualifi-
cação de uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido
Organizações da sociedade civil de interesse público constituída e se encontre em funcionamento regular há, pelo me-
São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado, nos, três anos nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n.
sem fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatu- 13.019/2014. O Tribunal de Contas da União tem entendido que
tárias devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da o vínculo firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades
Lei n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência da Administração Pública com Organizações da Sociedade Civil de
do Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com Interesse Público não é demandante de processo de licitação. De
o da OS, entretanto, é mais amplo. Vejamos: acordo com o que preceitua o art. 23 do Decreto n. 3.100/1999,
Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em deverá haver a realização de concurso de projetos pelo órgão es-
qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res- tatal interessado em construir parceria com Oscips para que venha
pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi- a obter bens e serviços para a realização de atividades, eventos,
da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos consultorias, cooperação técnica e assessoria.
objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
I – promoção da assistência social; Entidades de utilidade pública
II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe em
histórico e artístico; seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicização dos serviços esta-
III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma tais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para o
complementar de participação das organizações de que trata esta setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor.
Lei; Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro
IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com- Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública,
plementar de participação das organizações de que trata esta Lei; os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exem-
V – promoção da segurança alimentar e nutricional; plo, as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e de interesse público (OSCIP).
promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do vo- É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor
luntariado;
está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiarieda-
VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e com-
de na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da
bate à pobreza;
subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às orga-
IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos sociopro-
nizações civis o atendimento dos interesses individuais e coletivos.
dutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego
Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária nas de-
e crédito;
mandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, não
X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. Dessa
direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na autossufici-
XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu-
ência da sociedade.
manos, da democracia e de outros valores universais;
XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al- Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do
ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos
técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa
neste artigo. a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor
A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos
receber a qualificação. Vejamos: do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o Es-
Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações tado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um
da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que
qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei: instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade
I – as sociedades comerciais; civil de interesse público.
II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação O termo publicização também é atribuído a um segundo sen-
de categoria profissional; tido adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde
III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação à transformação de entidades públicas em entidades privadas sem
de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais; fins lucrativos.
IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas No que condizente às características das entidades que com-
fundações; põem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro enten-
V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar de que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles:
bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;

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DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas te- Servidores Públicos Civis
nham sido autorizadas por lei; De forma geral, servidor público são todas as pessoas físicas
2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse pú- que prestadoras de serviços às entidades federativas ou as pessoas
blico (serviços sociais não exclusivos do Estado); jurídicas da Administração Indireta em função da relação de traba-
3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público; lho que ocupam e com remuneração ou subsídio pagos pelos co-
4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, por fres públicos, vindo a compor o quadro funcional dessas pessoas
isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à Admi- jurídicas.
nistração Depreende-se que alguns autores dividem os servidores públi-
5. Pública e ao Tribunal de Contas; cos em civis e militares. Pelo fato de termos adotado a classificação
6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derroga- aludida por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, trataremos os servidores
do parcialmente por normas direito público; militares como sendo uma categoria à parte, designando-os apenas
Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato de de militares, e, por conseguinte, usando a expressão servidores pú-
não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e tam- blicos para se referir somente aos servidores públicos civis.
bém porque não integram a Administração Pública Direta ou Indi- De acordo com as regras e normas pelas quais são regidos, os
reta. servidores públicos civis podem ser subdivididos da seguinte ma-
Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor neira:
são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado,
seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito pri- Servidores estatutários: ocupam cargo público e são regidos
vado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente de pelo regime estatutário.
algum incentivo do setor público, também podem lhes ser aplicá- Servidores ou empregados públicos: são os servidores contra-
veis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo qual a tados sob o regime da CLT e ocupantes de empregos públicos.
conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado às en- Servidores temporários: são os contratados por determinado
tidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado, podendo período de tempo com o objetivo de atender à necessidade tempo-
ser modificado de maneira parcial por normas de direito público. rária de excepcional interesse público. Exercem funções públicas,
mas não ocupam cargo ou emprego público. São regidos por regime
AGENTES PÚBLICOS. CONCEITO. CLASSIFICAÇÃO (ES- jurídico especial e disciplinado em lei de cada unidade federativa.
PÉCIE). CARGO PÚBLICO, EMPREGO PÚBLICO E FUN-
ÇÃO PÚBLICA. DIREITOS E DEVERES. RESPONSABILI- Servidores militares: antes do advento da EC 19/1998, os mi-
DADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E PENAL litares eram tratados como “servidores militares”. Militares são
aqueles que prestam serviços às Forças Armadas como a Marinha,
o Exército e a Aeronáutica, às Polícias Militares ou aos Corpos de
Conceito Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos territórios,
A Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe em seu bojo, que estão sob vínculo jurídico estatutário e são remunerados pe-
várias regras de organização do Estado brasileiro, dentre elas, as los cofres públicos. Por estarem submetidos a um regime jurídico
concernentes à Administração Pública e seus agentes como um
estatutário disciplinado em lei por lei, os militares estão submeti-
todo.
dos à regras jurídicas diferentes das aplicadas aos servidores civis
A designação “agente público” tem sentido amplo e serve para
estatutários, justificando, desta forma, o enquadramento em uma
conceituar qualquer pessoa física exercente de função pública, de
categoria propícia de agentes públicos.
forma remunerada ou gratuita, de natureza política ou administra-
tiva, com investidura definitiva ou transitória.
Destaca-se que a Constituição Federal assegurou aos militares
alguns direitos sociais conferidos aos trabalhadores de forma geral,
Espécies (classificação)
são eles: o 13º salário; o salário-família, férias anuais remuneradas
Maria Sylvia Zanella Di Pietro, entende que quatro são as ca-
tegorias de agentes públicos: agentes políticos, servidores públicos com acréscimo ao menos um terço da remuneração normal; licença
civis, militares e particulares em colaboração com o serviço público. à gestante com a duração de 120 dias; licença paternidade e assis-
tência gratuita aos filhos e demais dependentes desde o nascimen-
Vejamos cada classificação detalhadamente: to até cinco anos de idade em creches e pré-escolas.
Ademais, os servidores militares estão submetidos por força da
Agentes políticos Constituição Federal a determinadas regras próprias dos servidores
Exercem atividades típicas de governo e possuem a incumbên- públicos civis, como por exemplo: teto remuneratório, irredutibili-
cia de propor ou decidir as diretrizes políticas dos entes públicos. dade de vencimentos, dentre outras peculiaridades.
Nesse patamar estão inclusos os chefes do Poder Executivo federal, Embora haja tais assimilações, aos militares são aplicadas algu-
estadual e municipal e de seus auxiliares diretos, quais sejam, os mas vedações que constituem direito dos demais agentes públicos,
Ministros e Secretários de Governo e os membros do Poder Legisla- como por exemplo, os casos da sindicalização, bem como da greve
tivo como Senadores, Deputados e Vereadores. e, quando estiverem em serviço ativo, da filiação a partidos políti-
De forma geral, os agentes políticos exercem mandato eletivo, cos.
com exceção dos Ministros e Secretários que são ocupantes de car-
gos comissionados, de livre nomeação e exoneração. Cargo, Emprego e Função Pública
Autores como Hely Lopes Meirelles, acabaram por enfatizar de Para que haja melhor organização na Administração Pública, os
forma ampla a categoria de agentes políticos, de forma a transpare- servidores públicos são amparados e organizados a partir de qua-
cer que os demais agentes que exercem, com alto grau de autono- dros funcionais. Quadro funcional é o acoplado de cargos, empre-
mia, categorias da soberania do Estado em decorrência de previsão gos e funções públicas de um mesmo ente federado, de uma pessoa
constitucional, como é o caso dos membros do Ministério Público, jurídica da Administração Indireta de ou de seus órgãos internos.
da Magistratura e dos Tribunais de Contas.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Cargo A diferença entre cargo e emprego público consiste no vínculo
O art. 3º do Estatuto dos Servidores Civis da União da Lei que liga o servidor ao Estado. Ressalta-se que o vínculo jurídico do
8.112/1990 conceitua cargo público como “o conjunto de atribui- empregado público é de natureza contratual, ao passo que o do ser-
ções e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que vidor titular de cargo público é de natureza estatutária.
devem ser cometidas a um servidor”. Via de regra, podemos consi- No âmbito das pessoas de Direito Público como a União, os
derar o cargo como sendo uma posição na estrutura organizacional Estados, o Distrito Federal e os Municípios, bem como em suas au-
da Administração Pública a ser preenchido por um servidor público. tarquias e fundações públicas de direito público, levando em conta
Em geral, os cargos públicos somente podem ser criados, trans- a restauração da redação originária do caput do art. 39 da CF/1988
formados e extinguidos por força de lei. (ADIn 2135 MC/DF), afirma-se que o regime a ser adotado é o esta-
Ao Poder Legislativo, caberá, mediante sanção do chefe do Po- tutário. Entretanto, é plenamente possível a convivência entre o re-
der Executivo, dispor sobre a criação, transformação e extinção de gime estatutário e o celetista relativo aos entes que, anteriormente
cargos, empregos e funções públicas. à concessão da medida cautelar mencionada, tenham realizado
Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, a criação não contratações e admissões no regime de emprego público. No to-
depende de temos exatos de lei, mas, sim de uma norma que mes- cante às pessoas de Direito Privado da Administração Indireta como
mo possuindo hierarquia de lei, não depende de sanção ou veto do as empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
chefe do Executivo. É o que chamamos de Resoluções, que são leis públicas de direito privado, infere-se que somente é possível a exis-
sem sanção. tência de empregados públicos, nos termos legais.

A despeito da criação de cargos, vejamos: Função Pública


a) Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe Função pública também é uma espécie de ocupação de agen-
desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”). te público. Denota-se que ao lado dos cargos e empregos públicos
b) Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e do existem determinadas atribuições que também são exercidas por
Ministério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos respec- servidores públicos, mas no entanto, essas funções não compõem
tivos Tribunais ou Procuradores - Gerais em se tratando da criação a lista de atribuições de determinado cargo ou emprego público,
de cargos para o Ministério Público. como por exemplo, das funções exercidas por servidores contrata-
dos temporariamente, em razão de excepcional interesse público,
c) Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
com base no art. 37, IX, da CFB/88.
transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
Esse tipo de servidor ocupa funções temporárias, desempe-
(Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.
nhando suas funções sem titularizar cargo ou emprego público.
Além disso, existem funções de chefia, direção e assessoramento
Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se para as quais o legislador não cria o cargo respectivo, já que serão
estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por exercidas com exclusividade por ocupantes de cargos efetivos, nos
decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver termos do art. 37, V, da CFB/88.
ocupado, só poderá ser extinto por lei.
Observação importante: nos parâmetros do art. 37, V da
Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. Ve- CFB/88, da mesma forma que previsto para os cargos em comissão,
jamos: as funções de confiança destinam-se apenas às atribuições de dire-
Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes ção, chefia e assessoramento.
podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
razão do regime de progressão do servidor na carreira. Regimente Jurídico
Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de seus Provimento
titulares. Provimento é a forma de ocupação do cargo público pelo ser-
vidor. Além disso, é um ato administrativo por intermédio do qual
Em relação às garantias e características especiais que lhe são ocorre o preenchimento de cargo, por conseguinte, atribuindo as
conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos; funções a ele específicas e inerentes a uma determinada pessoa.
e comissionados. Vejamos: Tanto a doutrina quanto a lei dividem as espécies de provimento de
cargos públicos em dois grupos. São eles:
Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de per-
manência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação para es- Provimento originário: é ato administrativo que designa um
ses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso público. cargo a servidor que antes não integrava o quadro de servidores
Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o art. daquele órgão, ou seja, o agente está iniciando a carreira pública.
37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às atri- O provimento originário é a única forma de nomeação reco-
buições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados de ma- nhecida pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, isso, é claro, ressal-
neira temporária, em função da confiança depositada pela autori- te-se, dependendo de prévia habilitação em concurso público de
provas ou de provas e títulos, obedecidos, nos termos da lei, a or-
dade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não depende
dem de classificação e o prazo de sua validade. Destaque-se que o
de aprovação em concurso público, podendo a exoneração do seu
momento da nomeação configura discricionariedade do adminis-
ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da autoridade
trador, na qual devem ser respeitados os prazos do concurso públi-
nomeante.
co, nos moldes do art. 9° e seguintes da Lei 8112/90, devendo, por
conseguinte, ainda ser feita uma análise a respeito dos requisitos
Emprego para a ocupação do cargo.
Os empregos públicos são entidades de atribuições com o fito
de serem ocupadas por servidores regidos sob o regime da CLT, que
também chamados de celetistas ou empregados públicos.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Entretanto, uma vez realizada a nomeação do candidato, este Denota-se que a escolha do servidor a progredir na carreira
ato não lhe atribui a qualidade de servidor público, mas apenas a deve ser realiza por critérios de antiguidade e merecimento e de
garantia de ocupação do referido cargo. Para que se torne servidor forma alternada por critérios de antiguidade e merecimento.
público, o particular deverá assinar o termo de posse, se submeten- Destaque-se que, intermédio de promoção, não será possível
do a todas as normas estatuárias da instituição. assumir um cargo em outra carreira mais elevada. Como por exem-
O provimento do cargo ocorre com a nomeação, mas a inves- plo, ao ser promovido do cargo de técnico do Tribunal para o cargo
tidura no cargo acontece com a posse nos termos do art. 7°da Lei de analista do mesmo órgão. Isso não é possível, uma vez que tal
8.112/90. situação significaria a possibilidade de mudança de carreira sem a
De acordo com a Lei Federal, o prazo máximo para a posse é realização de concurso público, o que ensejaria a ascensão que foi
de 30 (trinta) dias, contados a partir da publicação do ato de pro- abolida pela Constituição Federal de 1988.
vimento, nos termos do art. 13, §1°, sendo que, desde haja a devi-
da comprovação, a legislação admite que a posse ocorra por meio Provimento derivado horizontal: trata-se da readaptação dis-
de procuração específica, conforme disposto no art. 13, §3° da lei posta no art. 24 da Lei 8112/90. É o aproveitamento do servidor
8.112/90. em um novo cargo, em decorrência de uma limitação sofrida por
Havendo a efetivação da posse dentro do prazo legal, o ser- este na capacidade física ou mental. Em ocorrendo esta hipótese,
vidor público federal terá o prazo máximo de 15 (dias) dias para o agente deverá ser readaptado vindo a assumir um novo cargo,
iniciar a exercer as funções do cargo, nos trâmites do art. 15, §1° no qual as funções sejam compatíveis com as limitações que sofreu
do Estatuto dos Servidores Públicos da União, das Autarquias e das em sua capacidade laboral, dependendo a verificação desta limita-
Fundações Públicas Federais, Lei 8112/90, sendo que não sendo ção mediante a apresentação de laudo laboral expedido por junta
respeitado este prazo, o agente poderá ser exonerado. Vejamos: médica oficial, que ateste demonstrando detalhadamente a impos-
sibilidade de o agente se manter no exercício de suas atividades de
Art. 15. § 2º - O servidor será exonerado do cargo ou será tor- trabalho.
nado sem efeito o ato de sua designação para função de confiança, Na fase de readaptação ficará garantida o recebimento de ven-
se não entrar em exercício nos prazos previstos neste artigo, ob- cimentos, não podendo haver alteração do subsídio recebido pelo
servado o disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei n. 9.527, de servidor em virtude da readaptação.
10.12.97).
Observação importante: esta modalidade de provimento deri-
Ademais, se o candidato for nomeado e não se apresentar para vado independe da existência de cargo vago na carreira, porque ain-
posse, no prazo de determinado por lei, não ocorrerá exoneração, da que este não exista, o servidor sempre terá direito de ser readap-
tendo em vista ainda não havia sido investido na qualidade de ser- tado e poderá exercer suas funções no novo cargo como excedente.
vidor. Assim sendo, o ato de nomeação se torna sem efeito, vindo Caso não haja nenhum cargo na carreira, com funções compatíveis,
a ficar vago o cargo que havia sido ocupado pelo ato de nomeação. o servidor poderá ser aposentado por invalidez. Para que haja rea-
daptação, não há necessidade de a limitação ter ocorrido por causa
Provimento Derivado: o cargo público deverá ser entregue a do exercício do labor ou da função. A princípio, independentemen-
um servidor que já tenha uma relação anterior com a Administra- te de culpa, o servidor tem direito a ser readaptado.
ção Pública e que se encontra exercendo funções na carreira em
que pretende assumir o novo cargo. Denota-se que provimento de- Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o servi-
rivado somente será possível de ser concretizado, se o agente pro- dor de alguma forma, deixou de atuar no labor das funções de cargo
vier de outros cargos na mesma carreira em que houve provimento
específico e retorna às suas atividades. Esse provimento pode ocor-
originário anterior. Não pode haver provimento derivado em outra
rer de quatro formas. São elas:
carreira.
Nesses casos, deverá haver a realização de concurso público
a) Reversão: nos termos do art. 25 da Lei 8.112/90, é o retor-
de provas ou de provas e títulos, para que se faça novo provimento
no do servidor público aposentado ao exercício do cargo público.
originário. A permissão para que o agente ingresse em nova carreira
A reversão pode ocorrer por meio da aposentadoria por invalidez,
por meio de provimento derivado violaria os princípios da isonomia
quando cessarem os motivos da invalidez. Neste caso, por meio de
e da impessoalidade, mediante os benefícios oferecidos de forma
laudo médico oficial, o poder público toma conhecimento de que
defesa. Nesse diapasão, vejamos o que estabelece a súmula vincu-
lante nº 43 do Supremo Tribunal Federal os motivos que ensejaram a aposentadoria do servidor se tornaram
insubsistentes, do que resulta a obrigatoriedade de retorno do ser-
Súmula 43 do STF: É inconstitucional toda modalidade de pro- vidor ao cargo.
vimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação
em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que Também pode ocorrer a reversão do servidor aposentado de
não integra a carreira na qual anteriormente investido. forma voluntária. Dessa maneira, atendidos os requisitos dispostos
em lei, a legislação ordena que havendo interesse da Administração
Assim sendo, analisaremos as espécies de provimento derivado Pública, que o servidor tenha requerido a reversão, que a aposenta-
permitidas no ordenamento Jurídico Brasileiro e suas característi- doria tenha sido de forma voluntária, que o agente público já tives-
cas específicas. Vejamos: se, antes, adquirido estabilidade quando no exercício da atividade,
que a aposentadoria tenha se dado nos cinco anos anteriores à so-
Provimento derivado vertical: é a promoção na carreira ense- licitação e também que haja cargo vago, no momento da petição
jando a garantia de o servidor público ocupar cargos mais altos, na de reversão.
carreira de ingresso, de forma alternada por antiguidade e mereci-
mento. Para que isso ocorra, é necessário que ele tenha ingressado, b) Reintegração: trata-se de provimento derivado que requer o
mediante aprovação em concurso público no serviço público, bem retorno do servidor público estável ao cargo que ocupava anterior-
como mediante assunção de cargo escalonado em carreira. mente, em decorrência da anulação do ato de demissão.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Ocorre a reintegração quando tornada sem validade a demis- • Exoneração
são do servidor estável por decisão judicial ou administrativa, pon- Acontece sempre que o desfazimento do vínculo com o poder
derando que o reintegrado terá o direito de ser indenizado por tudo público ocorre por situação prevista em lei, sem penalidades, dan-
que deixou de ganhar em consequência da demissão ilegal. do fim à relação jurídica funcional que havia tido início com a posse.

c) Recondução: conforme dispõe o art. 29, da lei 8.112/90, tra- Ressalte-se que a exoneração pode ocorrer a pedido do servi-
ta-se a recondução do retorno do servidor ao cargo anteriormente dor, situação na qual, por vontade do agente público, o vínculo se
ocupado por ele, podendo ocorrer em duas hipóteses: restará desfeito e o cargo vago.
• Inabilitação em estágio probatório relacionado a outro car-
go: quando o servidor público retorna à carreira anterior na qual b) Demissão: será cabível todas as vezes em que o servidor co-
já havia adquirido estabilidade, evitando assim, sua exoneração do meter infração funcional, prevista em lei e será punível com a perda
serviço público. do cargo público. A demissão está disposta na lei 8.112/90 em for-
• Reintegração do anterior ocupante: cuida-se de situação ex- ma de sanção aplicada ao servidor que cometer.
posta, na situação prática apresentada anteriormente, através da Quaisquer das infrações dispostas no art. 132 que são configu-
qual, o servidor público ocupa cargo de outro servidor que é poste- radas como condutas consideradas graves. Em determinados casos,
riormente reintegrado. definidos pelo legislador, a demissão proporá de forma automática
a indisponibilidade dos bens do servidor até que esse faça os de-
Observação importante: A recondução não gera direito à per- vidos ressarcimentos ao erário. Em se tratando de situações mais
cepção de indenização, em nenhuma das duas hipóteses. Assim, o extremas, o legislador vedará por completo a o retorno do servidor
servidor público retornará ao cargo de origem, percebendo a remu- ao serviço público.
neração deste cargo. A penalidade deverá ser por meio de processo administrativo
disciplinar no qual se observe o direito ao contraditório e a ampla
d) Aproveitamento: é retorno do servidor público que se en- defesa.
contra em disponibilidade, para assumir cargo com funções com-
patíveis com as que anteriormente exercia, antes de ter extinto o c) Readaptação: é a de investidura do servidor em cargo de
cargo que antes ocupava. atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que
Isso ocorre, por que a Carta Magna prevê que havendo a ex- tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, comprovada em
tinção ou declaração de desnecessidade de determinado cargo pú- inspeção minuciosamente realizada por junta médica oficial do ór-
blico, o servidor público estável ocupante do cargo não deverá ser gão competente.
demitido ou exonerado, mas sim ser removido para a disponibilida- O servidor que for readaptado, assumindo o novo cargo desde
de. Nesses casos, o servidor deixará de exercer as funções de forma que seja com funções compatíveis com sua nova situação, deverá
temporária, mantendo o vínculo com a administração pública. retornar ao cargo anteriormente ocupado. Assim, a readaptação
ensejará o provimento de um cargo e, por conseguinte, a vacância
Destaque-se que não há prazo para o término da disponibilida- de outro, acopladas num só ato.
de, porém, por lei, o servidor tem a garantia de que, surgindo novo
cargo vago compatível com o que ocupava, seu aproveitamento d) Promoção: ocorre no momento em que o servidor público,
será obrigatório. por antiguidade e merecimento, alternadamente, passa a assumir
cargo mais elevado na carreira de ingresso.
Observação importante: o aproveitamento é obrigatório tan-
to para o poder público quanto para o agente. Isso ocorre porque e) Posse em cargo inacumulável: todas as vezes que o servi-
a Administração Pública não pode deixar de executar o aproveita- dor tomar posse em cargo ou emprego público de carreira nova,
mento para nomear novos candidatos, da mesma forma que o ser- mediante aprovação em concurso público de provas ou de provas
vidor não poderá optar por ficar em disponibilidade, vindo a recu- e títulos, de forma que o novo cargo não seja acumulável com o
sar o aproveitamento. primeiro.
Ocorrendo isso, em decorrência da vedação estabelecida pela
Vacância Carta Magna de acumulação de cargos e empregos públicos, será
As situações de vacância são as hipóteses de desocupação do necessária a vacância do cargo anteriormente ocupado. Não fazen-
cargo público. Vacância é o termo utilizado para designar cargo pú- do o servidor a opção, após a concessão de prazo de dez dias, por
blico vago. É um fato administrativo que informa que o cargo públi- conseguinte, o poder público poderá instaurar, nos termos da lei,
co não está provido e poderá preenchido por novo agente. processo administrativo sumário, pugnando na aplicação da penali-
A lei dispõe sete hipóteses de vacância. São elas: dade de demissão do servidor.

a) Aposentadoria: acontece quando mediante ato praticado Efetividade


pela Administração Pública, o servidor público passa para a inati- A efetividade não se confunde com a estabilidade. Ao passo
vidade. No Regime Próprio de Previdência do Servidor Público, a que a estabilidade é a garantia constitucional disposta no art.14,
aposentadoria pode-se dar voluntariamente, compulsoriamente ou que garante a permanência no serviço público outorgada ao servi-
por invalidez, devendo ser aprovada pelo Tribunal de Contas para dor que, no ato de nomeação por concurso público para cargo de
que tenha validade. A aposentadoria pode ocorrer pelas seguintes provimento efetivo, tenha transposto o período de estágio proba-
maneiras: tório e aprovado numa avaliação específica e especial de desempe-
nho, a efetividade é a situação jurídica daquele servidor que ocupa
• Falecimento cargo de provimento efetivo.
Quando se tratar de fato administrativo alheio ao interesse do Os cargos de provimento efetivo são aqueles que só podem ser
servidor ou da Administração Pública, torna inevitavelmente inviá- titularizados por servidores estatutários. Sua nomeação depende
vel a ocupação do cargo. explicitamente da aprovação em concurso público.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Ao ingressar no serviço público, o servidor ao ocupar cargo de dade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não depende
provimento efetivo, já é considerado um servidor efetivo. Entretan- de aprovação em concurso público, podendo a exoneração do seu
to, o mencionado servidor efetivo só terá garantida sua permanên- ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da autoridade
cia no serviço público, a estabilidade, depois de três anos de exercí- nomeante.
cio, desde que seja aprovado no estágio probatório.
Ressalte-se que antes da EC 32/2001, os cargos e as funções
Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e fun- públicas só podiam ser extintos por determinação de lei. Entretan-
ções to, a mencionada emenda constitucional alterou a redação do art.
Via de regra, os cargos públicos apenas podem ser criados, 84, VI, “b”, da CF, passando a legislar admitindo que o Presidente da
transformados ou extintos por determinação de lei. Cabe ao Poder República possa extinguir funções ou cargos públicos por meio de
Legislativo, com o sancionamento do chefe do Poder Executivo, dis- decreto, quando estes se encontrarem vagos.
por sobre a criação, transformação e extinção de cargos, empregos O resultado disso, é que, ao aplicar o princípio da simetria, a
e funções públicas. consequência é que os Governadores e Prefeitos, se houver seme-
Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, o processo de lhante previsão nas respectivas Constituições Estaduais ou Leis Or-
criação não depende apenas de lei, mas sim de uma norma que gânicas, também podem extinguir por decreto funções ou cargos
mesmo apesar de possuir a mesma hierarquia de lei, não está na
públicos vagos nos Estados, Distrito Federal e Municípios.
dependência de deliberação executiva com sanção ou veto do chefe
Assim sendo, em se restando vagos, os cargos ou funções pú-
do Executivo. Referidas normas, em geral, são chamadas de Reso-
blicas, embora sejam criados por lei, poderão ser extintos por lei
luções.
ou por decreto do chefe do Poder Executivo. Entretanto, se o cargo
Denota-se que é a norma criadora do cargo a responsável pela
denominação, as atribuições e a remuneração correspondentes aos estiver ocupado, só poderá ser extinto através de lei, uma vez que
cargos públicos, nos termos da lei. não se admite a edição de decreto com essa finalidade.
Uma questão de suma relevância, é a iniciativa da lei que cria,
extingue ou transforma cargos. A despeito da criação de cargos, ve- Remuneração
jamos: A Constituição Federal Brasileira aduz no art. 37, inciso X do art.
37, a seguinte redação:
Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”). X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que
trata o § 4.º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados
Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e do Minis- por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, as-
tério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos respectivos segurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distin-
Tribunais ou Procuradores - Gerais em se tratando da criação de ção de índices;
cargos para o Ministério Público.
Infere-se que a alteração mais importante trazida a esse dispo-
Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou sitivo por meio da EC 19/1998, foi a exigência de lei específica para
transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder que seja fixada ou que haja alteração na remuneração em sentido
(Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora. amplo de todos os servidores públicos. Isso significa que cada alte-
ração de remuneração de cargo público deverá ser feita através da
Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se edição de lei ordinária específica para tratar desse assunto.
estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver O termo “subsídio”, o qual o texto do inciso X do art. 3 7 men-
ocupado, só poderá ser extinto por lei. ciona, é um tipo de remuneração inserida em nosso ordenamento
Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. Ve- jurídico através da EC 19/1998, que é de medida obrigatória para
jamos: alguns cargos e facultativa para outros.
Nos parâmetros do § 4.º do art. 39 da Constituição Federal,
Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes
o subsídio deverá ser “fixado em parcela única, vedado o acrésci-
podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
mo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
razão do regime de progressão do servidor na carreira.
representação ou outra espécie remuneratória”. No estudo desse
Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de seus paramento legal, depreende-se que o subsídio é uma espécie remu-
titulares. neração em sentido amplo.
Não obstante, a redação do inciso X do art. 3 7 não tenha usado
Em relação às garantias e características especiais que lhe são o termo “vencimento”, convém anotar que este é usado com frequ-
conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos; ência para indicar a remuneração dos servidores estatutários que
e comissionados. Vejamos: não percebem subsídio.
Nesse conceito, os “vencimentos”, também são considerados
Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de per- um tipo de remuneração em sentido amplo. São compostos pelo
manência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação para es- vencimento normal do cargo com o acréscimo das vantagens pecu-
ses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso público. niárias estabelecidas em lei.
Portanto, o disposto no inciso X do art. 37 da CFB/88, ao deter-
Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o art. minar “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio”, está,
37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às atri- em síntese, acoplando as duas espécies remuneratórias, vencimen-
buições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados de ma- tos e subsídios que os servidores públicos estatutários podem re-
neira temporária, em função da confiança depositada pela autori- ceber.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Pondera-se que o termo “salário” não é alcançado pelo cita- O objetivo da revisão geral anual, ao menos, em tese, possui o
do dispositivo, posto que este trata-se do nome usado para o pa- fulcro de recompor o poder de compra da remuneração do servidor,
gamento ou quitação de serviços profissionais prestados em uma devido a inflação que normalmente está em alta. Por não se tratar
relação de emprego quando a mesma é sujeita ao regime traba- de aumento real da remuneração ou do subsídio, mas somente de
lhista, que é controlado e direcionado pela Consolidação das Leis um aumento nominal, por esse motivo, é denominado, às vezes, de
do Trabalho. Assim sendo, entende-se que os empregados públicos “aumento impróprio”.
recebem salário.
Dependerá do cargo conforme o dispositivo de lei que o rege, Esclarece-se que a revisão geral de remuneração e subsídio que
para que a iniciativa privativa das leis que fixem ou alterem as re- o dispositivo constitucional em exame menciona, não é implantada
munerações e subsídios dos servidores públicos. De acordo com a mediante a reestruturação de algumas carreiras, posto que as re-
Constituição, atinente às principais hipóteses de iniciativa de leis estruturações de carreiras não são anuais, nem, tampouco gerais,
que tratem a respeito da remuneração de cargos públicos, pode- pois se limitam a cargos específicos, além de não manterem ligação
mos resumir das seguintes formas: com a perda de valor relativo da moeda nacional. Já a revisão geral,
de forma adversa das reestruturações de carreiras, tem o condão
de alcançar todos os servidores públicos estatutários de todos os
A iniciativa é privativa do
CARGO DO PODER Poderes da Federação em que esteja efetuando e deve ocorrer a
Presidente da República
EXECUTIVO FEDERAL cada ano.
(CFB, art. 61, § 1.º, II, “a”);
CARGOS DA CÂMARA a iniciativa é privativa dessa Casa Registre-se que a remuneração do servidor público é submeti-
DOS DEPUTADOS (CFB, art. 51, IV); da aos valores mínimo e máximo.
CARGOS DO SENADO a iniciativa é privativa dessa Casa (CF, Em relação ao valor mínimo, a Carta Magna predispõe aos ser-
FEDERAL art. 52, XIII); vidores públicos a mesma garantia que é dada aos trabalhadores
em geral, qual seja, a de que a remuneração recebida não pode ser
Compete de forma privativa ao Supremo Tribunal Federal, aos inferior ao salário mínimo. No entanto, tal garantia se refere ao total
Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Le- da remuneração recebida, e não em relação ao vencimento-base.
gislativo a respectiva remuneração dos seus serviços auxiliares e Sobre o assunto, o STF deixou regulamentado na Súmula Vinculante
dos juízos que lhes forem vinculados, e, ainda a fixação do subsídio 16.
de seus membros e dos Juízes, inclusive dos tribunais inferiores, Ressalta-se que a garantia da percepção do salário mínimo não
onde houver (CF, art. 48, XV, e art. 96, II, ‘b ). foi assegurada pela Constituição Federal aos militares. Para o STF,
Observe-se que a fixação do subsídio dos deputados federais, a obrigação do Estado quanto aos militares está limitada ao forne-
dos senadores, do Presidente e do Vice-Presidente da República e cimento das condições materiais para a correta prestação do ser-
dos Ministros de Estado é da competência exclusiva do Congresso viço militar obrigatório nas Forças Armadas. Para tanto, denota-se
Nacional e não se encontra sujeita à sanção ou veto do Presiden- que os militares são enquadrados em um sistema que não se con-
te da República. Nesse sentido específico, em virtude de previsão funde com o que se aplica aos servidores civis, uma vez que estes
constitucional, a determinação dos aludidos subsídios não é reali- têm direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos próprios (RE
zada por meio de lei, mas sim por intermédio de Decreto Legislativo 570177/MG).
do Congresso Nacional. Consolidando o entendimento, enfatiza-se que a Suprema Cor-
Nesse sentido, em relação entendimento do Supremo Tribu- te editou a Súmula Vinculante 6, por meio da qual afirma que “não
nal Federal, esse órgão entende que a concessão da revisão geral viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao
anual” a que se refere o inciso X do art. 37 da Constituição deve salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial”.
ser efetivada por intermédio de lei de iniciativa privativa do Poder
Executivo de cada Federação. Referente ao limite máximo, foi estabelecido o teto remune-
O inciso X do art. 37 da Constituição Federal em sua parte final, ratório pelo art. 37, XI, da CF, com redação dada pela EC 41/2003.
garante a” revisão geral anual” da remuneração e do subsídio dos Vejamos:
“servidores públicos” sempre na mesma data e sem distinção de
índices. XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun-
A Constituição da República em seu texto original, usava os ter- ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e
mos “servidor público civil” e “servidor público militar”. No entanto, fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
a partir da aprovação da EC 1811998, estas expressões deixaram Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
de existir e o texto constitucional passou a se referir aos servidores mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,
civis, apenas como “servidores públicos” e aos servidores militares, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa-
apenas como “militares. mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer ou-
Também em seu texto original e primitivo, a Constituição Fe- tra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie,
deral de 1988 determinava a obrigatoriedade do uso de índices de dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li-
revisão de remuneração idênticos para servidores públicos civis e mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no
para servidores públicos militares (expressões usadas antes da EC Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
18/1998). Acontece que no atual inciso X do art. 37, que resultou Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no
da EC 1911998, existe referência apenas a “servidores públicos”, o âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do
que leva a entender que o preceito nele contido não pode ser apli- Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen-
cado aos militares, uma vez que estes não se englobam mais como tésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
espécie do gênero “servidores públicos”. Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável
A remuneração dos servidores públicos passa anualmente por este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
período revisional. Esse ato também faz parte do contido na EC aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
19/1998. nal nº 41, 19.12.2003).

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DIREITO ADMINISTRATIVO
O art. 37, § 11, da CFB/88 também regulamenta o assunto ao Direitos e deveres
afirmar que estão submetidos ao teto a remuneração e o subsídio Adentrando ao tópico dos direitos e deveres dos agentes pú-
dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da adminis- blicos, com o amparo da Lei 8112/90, que dispõe sobre o regime
tração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer jurídico único dos servidores públicos civis da União, das autarquias
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- e das fundações públicas federais, é importante explanar que além
nicípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes do vencimento - base, a lei prevê que o servidor federal poderá re-
políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, ceber vantagens pecuniárias, sendo elas:
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pesso-
ais ou de qualquer outra natureza. Referente às parcelas de caráter Indenizações
indenizatório, estas não serão computadas para efeito de cálculo do Têm como objetivo ressarcir aos servidores em razão de despe-
teto remuneratório. sas que tenham tido por motivo do exercício de suas funções. São
previstos por determinação legal, os seguintes tipos de indeniza-
Perceba que a regra do teto remuneratório também e plena- ções a serem pagas ao servidor federal:
mente aplicável às empresas públicas e às sociedades de economia a) Ajuda de custo: é destinada a compensar as despesas de
mista, e suas subsidiárias, que percebem recursos da União, dos instalação do servidor que, a trabalho em prol do interesse do ser-
Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de viço público, passar a laborar em nova sede, isso com mudança de
despesas de pessoal ou de custeio em geral (art. 37, § 9º, da CF).No domicílio em caráter permanente.
entanto, se essas entidades não vierem a receber recursos públicos A ajuda de custo também será devida àquele agente que, não
para a quitação de despesas de custeio e de pessoal, seus empre- sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comissão,
gados não estarão submetidos ao teto remuneratório previsto no com mudança de domicílio. Por outro ângulo, não será concedida
art. 37, XI, da CF. ajuda de custo ao servidor que em virtude de mandato eletivo se
Nos trâmites desse dispositivo constitucional, resta-se existen- afastar do cargo, ou vier a reassumi-lo.
te um teto geral remuneratório que deve ser aplicado a todos os Po- O cálculo pecuniário da ajuda de custo é feito sobre a remune-
deres da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, sendo este, ração do servidor, e não pode exceder a importância corresponden-
o subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Além disso, te a três meses de remuneração.
referente a esse teto geral, existem tetos específicos aplicáveis aos Referente a cônjuge ou companheiro do servidor beneficiado
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. pela ajuda de custo que também seja servidor e, a qualquer tempo,
Em se tratando da esfera estadual e distrital, denota-se que a passe a ter exercício na mesma sede do seu cônjuge ou companhei-
remuneração dos servidores públicos não podem exceder o subsí- ro, não é permitido pela legislação que ocorra o pagamento de uma
dio mensal dos Ministros do STF, bem como, ainda, não pode ultra- segunda ajuda de custo.
passar os limites a seguir: Além de receber o valor pago pela ajuda de custo, todas as
Na alçada do Poder Executivo: o subsídio do Governador; despesas de transporte do servidor e de sua família, deverão ser
Na alçada do Poder Legislativo: o subsídio dos Deputados Es- arcadas pela Administração Pública, compreendendo passagem,
taduais e Distritais; bagagem e bens pessoais.
Na alçada do Poder Judiciário: o subsídio dos Desembargado- Falecendo o servidor estando lotado na nova sede, sua família,
res do Tribunal de Justiça, limitado este a 90,25% do subsídio dos por conseguinte, fará jus à ajuda de custo bem como de transporte
Ministros do STF. Infere-se que esse limite também é nos termos da para retornar à localidade de origem, no prazo de um ano, contado
Lei, aplicável aos membros do Ministério Público, aos Procuradores do óbito.
e aos Defensores Públicos, mesmo que estes não integrem o Poder Com o fito de evitar enriquecimento sem causa, a lei determina
Judiciário. que o servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo quando,
Em relação aos Estados e ao Distrito Federal, a Carta Magna, no sem se justificar, não se apresentar na nova sede no prazo de 30
dias.
art. 37, § 12 com redação incluída pela EC 47/2005, facultou a cada
um desses entes fixar, em sua alçada, um limite remuneratório local
Observação importante: O STJ entende que a ajuda de custo
único, sendo ele o subsídio mensal dos Desembargadores do res-
somente é devida aos servidores que, no interesse da Administra-
pectivo Tribunal de Justiça que é limitado a 90,25% do subsídio dos
ção, forem removidos ex officio, com fundamento no art. 36, pará-
Ministros do STF. Se os Estados ou Distrito Federal desejarem ado-
grafo único, I, da Lei 8.112/1990. No entanto, quando a remoção
tar o subteto único, deverão realizar tal tarefa por meio de emenda
ocorrer em decorrência de interesse particular do servidor, a ajuda
às respectivas Constituições estaduais ou, ainda, à Lei Orgânica do
de custo não é devida. Assim, por exemplo, se o servidor público
Distrito Federal. Entretanto, em consonância com a Constituição Fe-
passar a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em
deral, o limite local único não deve ser aplicado aos subsídios dos caráter permanente, por meio de processo seletivo de remoção,
Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. não terá direito à percepção da verba de ajuda de custo (AgRg no
Finalizando, em relação à esfera municipal, a remuneração dos REsp 1.531.494/SC).
agentes públicos não poder exceder o teto geral e também não
pode exceder o subsídio do Prefeito que cuida-se do subteto mu- Diárias
nicipal. São devidas ao servidor que a serviço, se afastar da sede em
Registre-se ainda, que a Constituição Federal carrega em seu caráter eventual ou transitório para outro ponto do território nacio-
bojo a regra de que “os vencimentos dos cargos do Poder Legislati- nal ou para o Exterior, que também fará jus a passagens destinadas
vo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo a indenizar as despesas extraordinárias com pousada, alimentação
Poder Executivo” (art. 37, XII, da CF). No entanto, esta norma tem e locomoção urbana.
sido de pouca aplicação, pelo fato de possuir conteúdo genérico, ao As diárias são devidas apenas nas hipóteses de deslocamentos
contrário da previsão inserida no art. 37, XI, da CFB/88, que explici- eventuais ou transitórios. Assim, o servidor não fará jus a diárias se
tamente estabelece limites precisos para os tetos remuneratórios. o deslocamento da sede constituir exigência permanente do cargo
(art. 58, § 2º).

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Não terá direito a diárias o servidor que se deslocar dentro da VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração
mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião, de lotação ou nomeação para cargo efetivo. (Incluído pela Lei nº
constituídas por municípios limítrofes e regularmente instituídas, 11.355, de 2006).
ou em áreas de controle integrado mantidas com países limítrofes, IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006.
cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e servidores (Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007).
brasileiros consideram-se estendidas, salvo se houver pernoite fora Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o
da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre as fixadas prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão
para os afastamentos dentro do território nacional (art. 58, § 3º). relacionado no inciso V. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
A diária será concedida por dia de afastamento, sendo devida
pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora da Gratificações
sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despesas São vantagens pecuniárias que constituem acréscimos de esti-
extraordinárias cobertas por diárias (art. 58, § 1º). pêndio, que acopladas ao vencimento constituem a remuneração
Além disso, o servidor que receber diárias e porventura, não do servidor público.
se afastar da sede, será obrigado a restituí-las em valor integral no Em consonância com o art. 61 da Lei 8.112/1990 depreende-se
prazo de cinco dias. que, além do vencimento e das indenizações, poderão ser deferidas
Da mesma forma, retornando o servidor à sede antes do pre- aos servidores as seguintes retribuições em forma de gratificações
visto, também ficará obrigado a devolver as diárias percebidas em e adicionais:
excesso no prazo de cinco dias. a) Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as-
sessoramento: “Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em
a) Indenização de transporte: é devida ao servidor que no função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento
exercício de serviço de interesse público realizar despesas com a em comissão ou de Natureza Especial é devida retribuição pelo seu
utilização de meio próprio de locomoção para a execução de servi- exercício” (art. 62). O valor dessa retribuição será fixado por lei es-
ços externos, por força das atribuições próprias do cargo (art. 60 da pecífica.
Lei 8.112/90). b) Gratificação natalina: equivale ao 13º salário do trabalhador
da iniciativa privada, ou pública sendo calculada à razão de 1/12 da
b) Auxílio - moradia: é o ressarcimento das despesas devida- remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezembro, por
mente comprovadas e realizadas pelo servidor público com aluguel mês de exercício no respectivo ano. Para efeito de pagamento da
de moradia ou, ainda com outro meio de hospedagem devidamen- gratificação natalina, a fração igual ou superior a 15 dias de exercí-
te administrado por empresa hoteleira, no decurso do prazo de um cio será considerada como mês integral.
mês após a comprovação da despesa pelo servidor. c) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas
ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores
Para fazer jus ao recebimento do auxílio - moradia, o servidor que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que provo-
deverá atender a alguns requisitos cumulativos previstos na lei (art. cam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de pe-
60-B). Vejamos: riculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha
Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio - moradia ao servidor se aten- habitualmente colocam em risco a sua vida.
didos os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). d) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele
I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servidor; exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor.
(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será
II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de
funcional; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). trabalho.
III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou te- (art. 73). No entanto, somente será permitido serviço extraor-
nha sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promi- dinário para atender a situações excepcionais e temporárias, res-
tente cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo, peitado o limite máximo de duas horas por jornada (art. 74).
incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção, e) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido en-
nos doze meses que antecederem a sua nomeação; (Incluído pela tre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor que
Lei nº 11.355, de 2006). exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional noturno,
IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre a hora tra-
auxílio - moradia; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). balhada no turno diurno. Além disso, será considerado como uma
V - o servidor tenha se mudado do local de residência para ocu- hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois minutos e
par cargo em comissão ou função de confiança do Grupo - Direção trinta segundos (art. 75).
e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza Es- f) Adicional de férias: é garantido pela Constituição Federal e
pecial, de Ministro de Estado ou equivalentes; (Incluído pela Lei nº disciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente
11.355, de 2006). de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias,
VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou função um adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período das
de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3o, em re- férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou
lação ao local de residência ou domicílio do servidor; (Incluído pela assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vanta-
Lei nº 11.355, de 2006). gem será considerada no cálculo do adicional de férias.
VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido h) Gratificação por encargo de curso ou concurso: é direito
no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo assegurado ao servidor que, em caráter eventual, se encaixar nas
em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo in- hipóteses do art.76-A, tais como: atuar como instrutor em curso
ferior a sessenta dias dentro desse período; e (Incluído pela Lei nº de formação, de desenvolvimento ou de treinamento regularmente
11.355, de 2006). instituído no âmbito da administração pública federal; participar de

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DIREITO ADMINISTRATIVO
banca examinadora ou de comissão para exames orais, para análise Esse direito do servidor está garantido pela Constituição Federal,
curricular, para correção de provas discursivas, para elaboração de porém, a disciplina do seu exercício pelos servidores estatutários
questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por federais está inserida nos arts. 77 a 80 da Lei 8.112/1990.
candidatos; participar da logística de preparação e de realização de Normalmente, o servidor fará jus a trinta dias de férias a cada
concurso público envolvendo atividades de planejamento, coorde- ano, que por sua vez, podem ser acumuladas até o máximo de dois
nação, supervisão, incluídas entre as suas atribuições permanentes períodos, em se tratando de caso de necessidade do serviço, com
e participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exame ves- exceção das hipóteses em que haja legislação específica (art. 77).
tibular ou de concurso público ou supervisionar essas atividades. Entretanto, o servidor que opera direta em permanência constante
Vale a pena registrar que, em tempos remotos, a lei contem- com equipamentos de raios X ou substâncias radioativas, terá direi-
plava o pagamento do adicional por tempo de serviço. Entretanto, to ao gozo de 20 dias consecutivos de férias semestrais de atividade
o dispositivo legal que previa o mencionado adicional foi revogado. profissional, sendo proibida em qualquer hipótese a acumulação
Contemporaneamente, esta vantagem é paga somente aos servido- desses períodos (art. 79).
res que à época da revogação restavam munidos de direito adquiri-
do à sua percepção. Observação importante: A lei proíbe que seja levada à conta
de férias qualquer falta ao serviço (art. 77, § 2º).
Adicionais
Adicionais são formas de remuneração do risco à vida e à saúde É interessante salientar que no primeiro período aquisitivo de
dos trabalhadores com caráter transitório, enquanto durar a exposi- férias serão exigidos 12 meses de exercício (art. 77, § 1º); a partir
ção aos riscos de trabalho do servidor. No serviço público, podemos daí os períodos aquisitivos de férias são contados por exercício.
resumi-los da seguinte forma: Infere-se que o gozo do período de férias é decisão exclusiva-
a) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas mente discricionária da administração, que só o fará se compreen-
ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores der que o pedido atende ao interesse público.
que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que provo- No condizente à remuneração das férias, depreende-se que
cam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de pe- esta será acrescida do adicional que corresponda a 1/3 incidente
riculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha sobre a remuneração original. Já o pagamento da remuneração de
habitualmente colocam em risco a sua vida. férias, com o acréscimo do adicional, poderá ser efetuado até dois
b) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele dias antes do início do respectivo período do gozo (art. 78).
exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor. Havendo parcelamento de gozo do período de férias, o servidor
Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será receberá o adicional de férias somente após utilizado o primeiro
remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de período (art. 78, § 5º).
trabalho. Caso o servidor seja exonerado do cargo efetivo, ou em comis-
No entanto, somente será permitido serviço extraordinário são, terá o direito de receber indenização relativa ao período das
para atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o férias a que tiver direito, bem como ao incompleto, na exata pro-
limite máximo de duas horas por jornada, nos ditames do art.74. porção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou, ainda de
c) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido en- fração superior a quatorze dias (art. 78, § 3º). Ocorrendo isso, a
tre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor que indenização poderá ser calculada com base na remuneração do mês
exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional noturno, em que for publicado o ato exoneratório (art. 78, § 4º).
cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre a hora tra-
balhada no turno diurno. Além disso, será considerado como uma Observação importante: o STJ vem aplicando de forma pacífica
hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois minutos e o entendimento de que, ocorrendo vacância, por posse em outro
trinta segundos (art. 75). cargo inacumulável, sem solução de continuidade no tempo de
d) Adicional de férias: é disposto na Constituição Federal e dis- serviço, o direito à fruição das férias não gozadas nem indenizadas
ciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente de transfere-se para o novo cargo, ainda que este último tenha remu-
solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias, um neração maior (STJ, 5ª Turma, AgRg no Ag 1008567/DF, Rel. Min.
adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período das Napoleão Nunes Maia Filho, j. 18.09.2008, DJe 20.10.2008).
férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou
assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vanta- Via de regra, as férias dos servidores públicos devem ser goza-
gem será considerada no cálculo do adicional de férias. das sem quaisquer tipos de interrupção. Entretanto, como exceção,
e) Adicional de atividade penosa: será devido aos servidores a lei estabelece dispositivo que determina que as férias somente
que estejam em exercício de suas funções em zonas de fronteira ou poderão ser interrompidas nas seguintes hipóteses art. 80 da Lei
em localidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, 8112/90:
condições e limites fixados em regulamento (art. 71). a) calamidade pública;
b) comoção interna;
Observação importante: O direito ao adicional de insalubrida- c) convocação para júri, serviço militar ou eleitoral; ou
de ou periculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos d) por necessidade do serviço declarada pela autoridade máxi-
riscos que deram causa a sua concessão (art. 68, § 2º). ma do órgão ou entidade.
O servidor que pelas circunstâncias fizer jus aos adicionais de
insalubridade e de periculosidade deverá optar por um deles, não Licenças
podendo perceber ditas vantagens cumulativamente (art. 68, § 1º). São períodos por meio dos quais o servidor tem direito de se
afastar das suas atividades, com ou sem remuneração, de acordo
Férias com o tipo de licença.
De modo geral, podemos afirmar que as férias correspondem A Lei 8112/90 prevê várias espécies de licenças, são elas:
ao direito do servidor a um período de descanso anual remunerado, Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença:
por meio do qual, para a maioria dos servidores é de trinta dias. I - por motivo de doença em pessoa da família;

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DIREITO ADMINISTRATIVO
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro; Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração,
III - para o serviço militar; durante o período que mediar entre a sua escolha em convenção
IV - para atividade política; partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro
V - para capacitação; de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
VI - para tratar de interesses particulares; § 1º O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde
VII - para desempenho de mandato classista; desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia,
VIII - para tratamento de saúde; assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a
IX - Licença por acidente em serviço (art. 211); partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a
X - Licença à Gestante (art. 207); Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito.
XI - Licença à Adotante (art. 210); § 2º A partir do registro da candidatura e até o décimo dia se-
XII – Licença Paternidade (art. 208). guinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os
Nos parâmetros do referido Estatuto, temos a seguinte expla- vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses.
nação: Art. 87. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o servidor
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do
doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padras- cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses,
to ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas para participar de curso de capacitação profissional.
e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao
por perícia médica oficial. servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em está-
§ 1º A licença somente será deferida se a assistência direta do gio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo
servidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamen- prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração.
te com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a qualquer
na forma do disposto no inciso II do art. 44. tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço.
§ 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem re-
poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes muneração para o desempenho de mandato em confederação, fe-
condições: deração, associação de classe de âmbito nacional, sindicato repre-
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a sentativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou,
remuneração do servidor; ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu- cooperativa constituída por servidores públicos para prestar servi-
neração. ços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII
§ 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e obser-
partir da data do deferimento da primeira licença concedida. vados os seguintes limites:
§ 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não re- I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois)
muneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em servidores;
um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no § II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta
3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e mil) associados, 4 (quatro) servidores;
II do § 2º. III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados,
§ 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, 8 (oito) servidores.
poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes § 1o Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para
condições: cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, des-
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a de que cadastradas no órgão competente.
remuneração do servidor; § 2º. A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu- renovada, no caso de reeleição.
neração. Art. 202. Será concedida ao servidor licença para tratamento
§ 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem
partir da data do deferimento da primeira licença concedida. prejuízo da remuneração a que fizer jus.
§ 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não re- Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120
muneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração.
um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no § § 1º . A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de
3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e gestação, salvo antecipação por prescrição médica.
II do § 2º. § 2º No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a
§ 2º No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companheiro partir do parto.
também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos Po- § 3º No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do even-
deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, to, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada apta,
poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da Adminis- reassumirá o exercício.
tração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que para o § 4º No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora
exercício de atividade compatível com o seu cargo. terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado.
Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar será con- Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá
cedida licença, na forma e condições previstas na legislação espe- direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos.
cífica. Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis
Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor terá até meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de tra-
30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do car- balho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em dois
go. períodos de meia hora.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de Nos termos da Lei, o requerimento deverá ser dirigido à auto-
criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias ridade competente para decidi-lo e encaminhado por intermédio
de licença remunerada. daquela a que estiver imediatamente subordinado o requerente
Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de (art. 105).
criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este Além disso, nos trâmites do art. 106, caberá pedido de reconsi-
artigo será de 30 (trinta) dias. deração dirigido à autoridade que houver expedido o ato ou profe-
Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o servidor rido a primeira decisão, não podendo ser renovado.
acidentado em serviço. De acordo com o art. 107 do Estatuto em estudo, caberá re-
curso nas seguintes hipóteses: do indeferimento do pedido de re-
Observação importante: a licença-prêmio não faz mais parte consideração e das decisões sobre os recursos sucessivamente in-
do rol dos direitos dos servidores federais e foi suprimida pela Lei terpostos.
9.527/1997. A licença-prêmio permitia que o servidor, encerrado Nos termos do art. 109, o recurso será dirigido à autoridade
cada quinquênio ininterrupto de serviço, pudesse gozar, como prê- imediatamente superior à que tiver expedido o ato ou proferido a
mio pela assiduidade de três meses de licença, com a remuneração decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais auto-
do cargo efetivo. A legislação vigente à época facultava ao servidor ridades, sendo encaminhado por intermédio da autoridade a que
gozar a licença ou contar em dobro o período da licença para efeito estiver imediatamente subordinado o requerente. Dando continui-
de aposentadoria (o que atualmente não é mais possível, já que dade, o recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo, a juízo
a EC 20/1998 proibiu a contagem de tempo de contribuição fictí- da autoridade competente e em caso de provimento do pedido de
cio para aposentadoria). Entretanto, em análise ao caso específico reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagirão à
daqueles que adquiriram legitimamente o direito antes da supres- data do ato impugnado, nos parâmetros do art. 109, parágrafo úni-
são legal, o STJ entende pacificamente que “o servidor aposentado co da Lei 8112/90.
tem direito à conversão em pecúnia da licença-prêmio não gozada O prazo para interposição de recurso ou de pedido de recon-
e contada em dobro, sob pena de enriquecimento sem causa da
sideração é de 30 dias, a contar da publicação ou da ciência, pelo
Administração Pública” (AgRg no AREsp 270.708/RN).
interessado, da decisão recorrida (art. 108).
Já o direito de requerer prescreve, nos termos do art. 110, em
Concessões
cinco anos, quanto aos atos de demissão e de cassação de aposen-
Três são as espécies de concessão:
a) Primeira espécie de concessão: permite ao servidor se au- tadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse patrimonial e
sentar do serviço, sem qualquer prejuízo a sua remuneração, nas créditos resultantes das relações de trabalho; em 120 dias, nos de-
seguintes condições (art. 97): por um dia, para doação de sangue; mais casos, exceto quando outro prazo for fixado em lei.
por dois dias, para se alistar como eleitor; por oito dias consecuti-
vos em razão de: casamento; falecimento do cônjuge, companhei- Em relação à prescrição, merece também destaque:
ro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda Art. 112: a prescrição é de ordem pública, não podendo ser re-
ou tutela e irmãos. levada pela administração; o pedido de reconsideração e o recurso,
b) Segunda espécie de concessão: relacionada à concessão de quando cabíveis, interrompem a prescrição (art. 111); o prazo de
horário especial, nas seguintes situações (art. 98): ao servidor estu- prescrição será contado da data da publicação do ato impugnado
dante, quando comprovada a incompatibilidade entre o horário es- ou da data da ciência pelo interessado, quando o ato não for publi-
colar e o da repartição, sendo exigida a compensação de horário; ao cado (art. 110, parágrafo único da Lei 8112/90).
servidor portador de deficiência, quando comprovada a necessida-
de por junta médica oficial, independentemente de compensação
de horário;ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com LEI 8.429/92 E ALTERAÇÕES (LEI DE IMPROBIDADE
deficiência, quando comprovada a necessidade por junta médica ADMINISTRATIVA)
oficial, independentemente da compensação de horário; ao servi-
dor que atue como instrutor em curso instituído no âmbito da ad- Conceito
ministração pública federal ou que participe de banca examinadora Para uma melhor compreensão acerca das disposições relati-
de concursos, vinculado à compensação de horário a ser efetivada vas à lei da improbidade administrativa, adentraremos à origem da
no prazo de até um ano. prática dos atos desses atos.
c) Terceira espécie de concessão: cuida dos casos relacionados Fazendo-se menção ao princípio da moralidade, relembremo-
à matrícula em instituições de ensino. Por amparo legal, “ao servi- -nos que este comporta em seu bojo os subprincípios da boa-fé,
dor estudante que mudar de sede no interesse da administração é probidade e decoro. Sendo a moralidade um princípio estabelecido
assegurada, na localidade da nova residência ou na mais próxima, pela Constituição federal de 1.988, de forma a ser cumprido pelos
matrícula em instituição de ensino congênere, em qualquer época,
órgãos e entidades de todos os entes federativos, o fato de inadim-
independentemente de vaga” (art. 99). Denota-se que esse benefí-
plir no respeito à moralidade ou seus subprincípios, de consequên-
cio se estende também “ao cônjuge ou companheiro, aos filhos, ou
cia, virá a causar a anulação do ato administrativo praticado.
enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem como aos
menores sob sua guarda, com autorização judicial” (art. 99, pará-
grafo único). Assim, podemos conceituar a improbidade administrativa
como um designativo técnico que aduz corrupção administrativa,
Direito de petição sendo contrário à boa-fé, à honestidade, à correção de atitude e,
De acordo com o art. 104 da Lei 8.112/1990, é direito do servi- ainda, contra a honradez. Nem sempre o ato de improbidade será
dor público, requerer junto aos Poderes Públicos, a defesa de direi- um ato administrativo, podendo ser configurado como quaisquer
to ou interesse legítimo. tipos de conduta comissiva ou omissiva praticadas no exercício da
O direito de petição pode ser manifestado por intermédio de função ou, ainda, fora dela.
requerimento, pedido de reconsideração ou de recurso.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Nesse diapasão, auferindo um pouco mais de segurança ao res- No condizente ao particular que tenha induzido ou concorrido
peito do subprincípio da probidade, a Carta Magna paramentou, para a improbidade, figurar como sujeito ativo, é preciso de forma
em seu artigo 37, § 4º, as consequência a seguir, elencadas, para obrigatória, que ele tenha agido com dolo.
configurar a prática dos atos de improbidade: Ressalta-se que todos os agentes administrativos encontram-
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a sus- -se subordinados às disposições da Lei n. 8.429/1992 no condizente
pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo- aos atos de improbidade administrativa. Assim temos:
nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada- • Os agentes políticos, em consonância com recente entendi-
ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. mento do STF, estão sujeitos a uma dupla responsabilização no cri-
Trata-se o referido artigo, de norma constitucional com eficá- me de responsabilidade e nos atos de improbidade administrativa.
cia limitada, que requer regulamentação para que produza efeitos • O Presidente da República, em exceção, não está sujeito à du-
jurídicos. pla responsabilização, mas responde ao regulamento estabelecido
Assim sendo, com a edição da Lei n. 8.429/1992, Lei da Im- na Constituição Federal de 1.988.
probidade Administrativa de observância obrigatória por parte da
administração direta e indireta de todos os entes federativos, o le- • Sujeitos Passivos
gislador infraconstitucional veio a estabelecer as regras e procedi- Os sujeitos passivos são as pessoas jurídicas lesadas pela prá-
mentos a serem observados quando ocorrer a prática de atos de tica de improbidade administrativa, vindo a figurar no polo ativo
improbidade. da lide. Nos termos do art. 1º da Lei n. 8.429/1992, podem figurar
como sujeitos passivos nas ações de improbidade administrativa:
Sujeitos da Ação de Improbidade – sujeitos ativos, sujeitos
passivos Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
Sujeitos ativos da ação de improbidade administrativa são público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou
aqueles que estão sujeitos ao cometimento dos atos de improbida- fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis-
de administrativa, vindo a figurar no polo passivo da corresponden- trito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada
te ação. Já os sujeitos passivos, são as pessoas jurídicas vítimas dos ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio
atos de improbidade vindo a figurar no polo ativo da ação. o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por
cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma
Assim, temos: desta lei.
As mencionadas entidades, são as que podem vir a ser lesadas
com a prática de atos de improbidade administrativa, podendo figu-
SUJEITOS São os que cometem atos de improbidade ad-
rar no polo ativo da demanda de improbidade administrativa.
ATIVOS ministrativa e figuram no polo passivo da ação.
Ressalte-se que o Ministério Público, mesmo não sendo uma
São os que sofrem as consequências dos atos das entidades relacionadas pela Lei n. 8.429/1992, é passível de fi-
SUJEITOS
de improbidade administrativa e figuram no polo gurar como polo ativo da lide da mesma forma que as demais pes-
PASSIVOS
ativo da ação. soas jurídicas. Vejamos o fundamento legal, no art. 127 da Consti-
tuição Federal:
Sujeitos Ativos Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essen-
Nos trâmites do art. 2º da Lei n. 8.429/1992, encontramos a cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
relação de pessoas vinculadas ao Poder Público que são passíveis se ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
tornar sujeito passivo da ação de improbidade. individuais indisponíveis.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remunera- Atos de Improbidade Administrativa
ção, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer Nos ditames da Lei 8.429/1992, quatro são as espécies de atos
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou de improbidade administrativa, sendo elas:
função nas entidades mencionadas no artigo anterior. 1) atos que importam em enriquecimento ilícito;
2) atos que causam prejuízo ao erário;
Cuida-se de um conceito amplo de agente público, de maneira 3) atos que atentam contra os princípios da administração pú-
que mesmo os que exerçam suas atribuições em caráter transitório blica; e
ou mesmo sem remuneração, como os estagiários voluntários, pro 4) atos que violam a legislação do ISS no que se refere aos be-
exemplo, são considerados, para efeitos legais, como possíveis su- nefícios financeiros ou tributários.
jeitos ativos. A eventual necessidade de o candidato memorizar todas as
Nesse diapasão, prevê o art., 3º da Lei n. 8.429/1992: condutas previstas em lei.
Art. 3º - As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra Vejamos algumas condutas que ensejam os atos de improbida-
para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qual- de administrativa:
quer forma direta ou indireta. Enriquecimento ilícito: aqui, o agente público recebe vanta-
Ante o estudo do mencionado artigo, entende-se que duas são gem indevida.
as classes de pessoas passíveis de figurar como sujeito ativo dos Prejuízo ao erário: um terceiro que não se trata do agente pú-
atos de improbidade administrativa, sendo elas: as que mantenham blico, recebe a vantagem ou alguma norma prevista em lei ou regu-
algum vínculo com o Poder Público, mesmo que transitório ou sem lamento não observada.
remuneração, bem como os particulares que induzam ou concor- Violação aos princípios: tais situações não criam e nem geram,
ram para a prática de improbidade por si só, vantagem indevida ao agente público ou a terceiros.
Para que o agente público atue na condição de sujeito ativo, Violação da legislação do ISS: trata-se de situações condizen-
deverá ter agido com dolo ou com culpa por negligência, imperícia tes a benefícios financeiros e de tributos.
ou imprudência.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Atos que Importam Enriquecimento Ilícito Atos de Prejuízo ao Erário
São atos resultantes da mais gravosa espécie de improbidade As condutas que causam prejuízo ao erário estão dispostas no
administrativa, nos termos do art. 9º da Lei n. 8.429/1992: artigo 10 da Lei n. 8.429/1992.
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importan- Esse tipo de ato poder resultar tanto de condutas omissivas
do enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patri- quanto comissivas do agente público, podendo dar margem à lesão
monial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, ao erário de atos dolosos, ou culposos nos quais houve a imperícia,
emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º desta a negligência ou a imprudência do agente do Estado.
lei, e notadamente:
1– receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou Vejamos:
imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire- Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa
ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que
quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou
amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agen- dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
te público; desta lei, e notadamente:
2 – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa- I – facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorpora-
cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou ção ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens,
a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1º por rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en-
preço superior ao valor de mercado; tidades mencionadas no art. 1º desta lei;
III – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para II – permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri-
facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o for- vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
necimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a
mercado; observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
IV – utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, à espécie;
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou III – doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente des-
à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º des- personalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens,
ta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades
terceiros contratados por essas entidades; mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades
V – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar,
IV – permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de
de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas
quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
VI – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
por preço inferior ao de mercado;
ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação
V – permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de
em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade,
bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens
VI – realizar operação financeira sem observância das normas
fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta
legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
lei;
VII – adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, nea;
cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo VII – conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser-
valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es-
agente público; pécie;
VIII – aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con- VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo
sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te- seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra-
nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou tivos, ou dispensá-los indevidamente;
omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a IX – ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza-
atividade; das em lei ou regulamento;
IX – perceber vantagem econômica para intermediar a libera- X – agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda,
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;
X – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas
ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara- pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre-
ção a que esteja obrigado; gular;
XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri-
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en- queça ilicitamente;
tidades mencionadas no art. 1º desta lei; XIII – permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí-
XII – usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza,
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio-
art. 1º desta lei. nadas no art. 1º desta lei, bem como o trabalho de servidor público,
empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por ob-
jeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada
sem observar as formalidades previstas na lei;
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi-
ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali-
dades previstas na lei.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
XVI – facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incor- Nos parâmetros da Lei 8.429/1992, encaixa-se nesta modali-
poração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de dade qualquer ação ou omissão destinada a conceder, aplicar ou
bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela adminis- manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que determi-
tração pública a entidades privadas mediante celebração de parce- na o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar n. 116, de 31
rias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares de julho de 2003.
aplicáveis à espécie; Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços de
XVII – permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento). (Incluído pela Lei Com-
privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos plementar nº 157, de 2016)
pela administração pública a entidade privada mediante celebração § 1º O imposto não será objeto de concessão de isenções, in-
de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula- centivos ou benefícios tributários ou financeiros, inclusive de redu-
mentares aplicáveis à espécie; ção de base de cálculo ou de crédito presumido ou outorgado, ou
XVIII – celebrar parcerias da administração pública com entida- sob qualquer outra forma que resulte, direta ou indiretamente, em
des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula- carga tributária menor que a decorrente da aplicação da alíquota
mentares aplicáveis à espécie; mínima estabelecida no caput, exceto para os serviços a que se refe-
XIX – agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise rem os subitens 7.02, 7.05 e 16.01 da lista anexa a esta Lei Comple-
das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração mentar. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
pública com entidades privadas;
XX – liberar recursos de parcerias firmadas pela administração Da Indisponibilidade dos Bens
pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor- O artigo 37, § 4º, da Constituição Federal estabelece Um rol de
mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação consequências para os atos de improbidade administrativa, dentre
irregular. os quais, pode-se incluir a possibilidade da decretação da indispo-
XXI – liberar recursos de parcerias firmadas pela administração nibilidade dos bens.
pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor- Em apoio à disposição constitucional, a Lei n. 8.429/1992 dis-
mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação põe em seu artigo 7º, que a indisponibilidade dos bens será decla-
irregular. rada sempre que o ato de improbidade administrativa ficar caracte-
rizado como enriquecimento ilícito ou lesão ao patrimônio público.
Atos Contra os Princípios da Administração Pública Confirmemos:
Denota-se que mesmo que não tenha ocorrido a vantagem do Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimô-
agente público ou de terceiros, determinados princípios ou deveres nio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade
do Poder Público deixaram de ser cumpridos ou observados pelo administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério
agente público. Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que aten-
ta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou A indisponibilidade a que aduz o caput do referido artigo re-
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, lega- cairá sobre bens que possam assegurar o integral ressarcimento do
lidade, e lealdade às instituições, e notadamente: dano, ou sobre o acréscimo patrimonial que resultou do enriqueci-
I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou mento ilícito.
diverso daquele previsto, na regra de competência; Em consonância com boa parte da doutrina, dois são os requi-
II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício; sitos que devem estar presentes para que ocorra a determinação
III – revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão da indisponibilidade dos bens no decurso da ação de improbidade
das atribuições e que deva permanecer em segredo; administrativa, sendo eles o fumus boni juris e o periculum in mora.
IV – negar publicidade aos atos oficiais; Assim, temos:
V – frustrar a licitude de concurso público; • Fumus boni juris: é a probabilidade de os fatos imputados ao
VI – deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; agente público serem verdadeiros, ou ao menos, haver uma grande
VII – revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei- possibilidade da ocorrência do ato de improbidade administrativa.
ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou • Periculum in mora: é o perigo de dano iminente e irreparável.
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço; Consiste na possibilidade do indiciado dilapidar o seu patrimônio,
VIII – descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização tornando impossível a devolução dos valores devidos aos cofres
e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração públicos.
pública com entidades privadas. Estando presentes estas duas características, a autoridade ad-
IX – deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilida- ministrativa representa ao Ministério Público que analisará os fatos,
de previstos na legislação. pugnando ao juiz responsável pela ação a decretação da indisponi-
X – transferir recurso a entidade privada, em razão da presta- bilidade dos bens.
ção de serviços na área de saúde sem a prévia celebração de con-
trato, convênio ou instrumento congênere, nos termos do parágrafo Das Penas passíveis de aplicação
único do art. 24 da Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. A Lei n. 8.429/1992 dita um rol de sanções de natureza admi-
nistrativa, civil e política para cada uma das condutas que dão en-
Atos advindos de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefí- sejo às quatro diferentes espécies de improbidade administrativa,
cio Financeiro ou Tributário sendo que estas sanções estão classificadas em consonância com
São uma modalidade de atos de improbidade administrativa a gravidade da conduta, de maneira que as ações que dão causa
advindos da Lei Complementar 157, de 2016. ao enriquecimento ilícito, tem como consequência as sanções mais
graves, as que causam lesão ao patrimônio público possuem san-
ções intermediárias e as que atentam contra os princípios da admi-
nistração pública, encontram-se eivadas de as sanções de menor
gravidade.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Ressalte-se que as sanções de natureza civil, implicam na obri- Não cumprindo o servidor a mencionada obrigação, ou, caso
gação explícita de pagar ou devolver algo ao poder público. Sendo apresente falsa declaração, restará ensejada, nos ditames do § 3º
elas de acordo com as normas da Lei n. 8.429/1992: do art. 13 da Lei n. 8.429/1992, a demissão a bem do serviço públi-
• ressarcimento ao Erário; co, sem sofrer prejuízo das demais sanções previstas pela legislação
• perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente ao patrimô- pertinente.
nio; § 3º - Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço
• multa. público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público
que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo de-
Relativo às sanções de natureza política, afirma-se que as apli- terminado, ou que a prestar falsa.
cam em restrições aos direitos políticos, sendo, nos termos do dis-
positivo legal, apenas uma: Procedimento: Administrativo e Judicial
• suspensão dos direitos políticos; No âmbito do procedimento administrativo e judicial destinado
a investigar a ocorrência de improbidade administrativa, infere-se
Temos também as sanções administrativas que implicam na que a Lei n. 8.429/1992 estabelece regras processuais a serem cum-
supressão da possibilidade de ser mantido vínculo com a adminis- pridas.
tração pública. Em suma, são: Denota-se que qualquer pessoa é parte devidamente compe-
• perda da função pública; tente para representar à autoridade administrativa pugnando pela
• proibição de contratar com o Poder Público; instauração das investigações para a apuração de ato de improbida-
• proibição de receber incentivos fiscais ou creditícios por par- de administrativa.
te do Poder Público. Registre-se que, via de regra, a representação deverá ser feita
por escrito ou reduzida a termo, eivada, ainda, com a qualificação
Esquematicamente, temos: e demais dados do denunciante. Feito isso, com os pressupostos
legais, a autoridade competente instaurará o procedimento admi-
• Ressarcimento ao erário. nistrativo disciplinar e acordo com o estatuto de cada categoria fun-
SANÇÃO • Perda dos bens e valores acrescidos cional.
CÍVEL ilicitamente ao patrimônio.
• Multa. É importante ressaltar que mesmo que a autoridade adminis-
trativa seja competente para a apuração das eventuais faltas fun-
• Perda da função pública. cionais arremetidas por servidores públicos, restando a conduta em
• Proibição de contratar com o Poder questão caracterizada como improbidade, a autoridade administra-
SANÇÃO Público. tiva não deterá o poder de aplicar a penalidade, devendo, desta
ADMINISTRATIVA • Proibição de receber incentivos fis- forma, formular representação junto ao Ministério Público, que
cais ou creditícios por parte do Poder Pú- representará ao Poder Judiciário para o ajuizamento da lide, bem
blico. como da aplicação da penalidade cabível.
SANÇÃO Destaque-se que em todas as ações destinadas ao apuramen-
• Suspensão dos direitos políticos. to de improbidade administrativa, obrigatoriamente deverá haver
POLÍTICA
a participação do Ministério Público, conforme determina o artigo
Estas sanções, não importando a da natureza, seja administra- 17, § 4º, da Lei n. 8.429/1992:
tiva, civil ou política, são aplicadas de acordo com a gravidade da § 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como
conduta praticada pelo agente público ou por terceiro, conforme parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nu-
menciona o artigo 12 da Lei 8.429/92: lidade.
Art.12 Independentemente das sanções penais, civis e adminis-
trativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo Competência
ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser Esse tema não se encontra pacificado na doutrina. Isso ocorre
aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade pelo motivo da existência das inúmeras controvérsias dos tribunais
do fato. superiores em relação à possibilidade ou não de aplicação do foro
por prerrogativa de função no âmbito das ações em questão.
Da Declaração de Bens Sendo o foro por prerrogativa de função, ou foro privilegiado,
Nos parâmetros legais, o agente público deverá declarar de uma prerrogativa concedida a autoridades detentoras de poder,
bens na posse e no exercício da função pública. como os Magistrados, os Chefes do Poder Executivo, dentre outras,
Desta forma, o tomar posse em cargo público, deverá o servi- depreende-se que estas autoridades possuem a prerrogativa de se-
dor apresentar a declaração dos bens que constituem o seu patri- rem processadas e julgadas no campo das ações de natureza penal,
mônio, medida esta que deverá ser feita anualmente, até que ocor- por tribunais e juízes especializados, livrando-se assim do julgamen-
ra a sua saída do respectivo cargo, mandato, emprego ou função. to realizado pela justiça comum.
O objetivo de tal medida é dar a oportunidade para que a au- Desde os primórdios, o entendimento do STF foi no sentido de
toridade administrativa possa averiguar a evolução patrimonial do que o foro por prerrogativa de função referia-se à prerrogativa de
agente público, posto que, quando incompatível com a soma das que apenas poderia ser realizada no campo das ações penais, den-
remunerações do servidor, constitui um dos principais indícios de tre as quais não é inclui a ação de improbidade administrativa da
improbidade administrativa. A comprovação dos valores pode ser área cível.
feita mediante cópia de sua declaração do Imposto de Renda à re- Da mesma maneira, o entendimento do tribunal mencionado,
partição pública. era no sentido de que tal prerrogativa somente poderia ser exer-
cida durante o período em que o seu titular estivesse no exercício
no mandato, não se estendendo, após a quebra do vínculo com o
Estado.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Em consonância com os referidos entendimentos, e levando Infere-se que se até aquele instante, todas as ações de ressar-
em conta que a ação de improbidade administrativa possui nature- cimento advindas de ilícitos cíveis, eram consideradas imprescrití-
za cível, a competência para processar e julgar sempre foi designa- veis, a jurisprudência, mas depois do julgado em questão, posicio-
da à justiça comum ao juiz de primeiro grau. na-se no sentido de admitir que as ações de ressarcimento, exceto
Com a aprovação da Lei 10.628/2002, houve a alteração de vá- as hipóteses expressamente ressalvadas, são prescritíveis.
rios artigos do Código de Processo Penal, de maneira que passou a
existir no ordenamento jurídico pátrio, a possibilidade do foro por
prerrogativa de função ser estendido para as ações de improbidade PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: PODER
administrativa. HIERÁRQUICO. PODER DISCIPLINAR. PODER REGULA-
Porém, o STF através da ADIN 2.797, manifestou seu parecer MENTAR. PODER DE POLÍCIA
de que era impossível ao legislador ordinário opor-se a um entendi-
mento diverso, ao até então definido pelo tribunal superior. Poder Hierárquico
Entretanto, surgiram controvérsias quando o STF decidiu, no Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autoridade
julgamento da Questão de Ordem 3.211/DF, que caberia a ele mes- administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de seus
mo o julgamento das ações de improbidade administrativa em face órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação e subordi-
de seus próprios membros: nação entre os servidores que estiverem sob a sua hierarquia.
1. Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar ação de impro- A estrutura de organização da Administração Pública é baseada
bidade contra seus membros. em dois aspectos fundamentais, sendo eles: a distribuição de com-
2. Arquivamento da ação quanto ao Ministro da Suprema Corte petências e a hierarquia.
e remessa dos autos ao Juízo de 1º grau de jurisdição no tocante Em decorrência da amplitude das competências e das res-
aos demais. ponsabilidades da Administração, jamais seria possível que toda a
função administrativa fosse desenvolvida por um único órgão ou
Prescrição agente público. Assim sendo, é preciso que haja uma distribuição
Da mesma maneira como acontece com as demais penalidades dessas competências e atribuições entre os diversos órgãos e agen-
que são aplicadas no Direito Administrativo, as sanções previstas tes integrantes da Administração Pública.
pela prática de improbidade administrativa somente podem ser Entretanto, para que essa divisão de tarefas aconteça de ma-
propostas até certo período de tempo específico, sendo que pós neira harmoniosa, os órgãos e agentes públicos são organizados
esse decurso de tempo, ocorrerá a prescrição e o fim da possibilida- em graus de hierarquia e poder, de maneira que o agente que se
de da aplicação de pena ao agente público ou terceiro beneficiado. encontra em plano superior, detenha o poder legal de emitir ordens
Nos ditames da Lei n. 8.429/1992, esse lapso temporal encon- e fiscalizar a atuação dos seus subordinados. Essa relação de subor-
tra-se previsto no artigo 23, que dispõe: dinação e hierarquia, por sua vez, causa algumas sequelas, como o
Art.23 As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previs- dever de obediência dos subordinados, a possibilidade de o imedia-
tas nesta lei podem ser propostas: to superior avocar atribuições, bem como a atribuição de rever os
I – até cinco anos após o término do exercício de mandato, de atos dos agentes subordinados.
cargo em comissão ou de função de confiança; Denota-se, porém, que o dever de obediência do subordinado
II – dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para não o obriga a cumprir as ordens manifestamente ilegais, advindas
faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, de seu superior hierárquico. Ademais, nos ditames do art. 116, XII,
nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego. da Lei 8.112/1990, o subordinado tem a obrigação funcional de re-
III – até cinco anos da data da apresentação à administração presentar contra o seu superior caso este venha a agir com ilegali-
pública da prestação de contas final pelas entidades referidas no dade, omissão ou abuso de poder.
parágrafo único do art. 1º desta Lei. Registra-se que a delegação de atribuições é uma das mani-
De acordo com o artigo 37, § 5º, da Constituição Federal Bra- festações do poder hierárquico que consiste no ato de conferir a
sileira, as ações de ressarcimento de prejuízos causados ao erário, outro servidor atribuições que de âmbito inicial, faziam parte dos
quando advindas de improbidade administrativa, são imprescrití- atos de competência da autoridade delegante. O ilustre Hely Lopes
veis e possuem a prerrogativa de serem propostas a qualquer tem- Meirelles aduz que a delegação de atribuições se submete a algu-
po. mas regras, sendo elas:
A legislação estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos A) A impossibilidade de delegação de atribuições de um Po-
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que venham a der a outro, exceto quando devidamente autorizado pelo texto da
causar prejuízos ao erário, com exceção às respectivas ações de res- Constituição Federal. Exemplo: autorização por lei delegada, que
sarcimento. ocorre quando a Constituição Federal autoriza o Legislativo a dele-
O fundamento legal para esta possibilidade, é a indisponibili- gar ao Chefe do Executivo a edição de lei.
dade do interesse público que permeia toda a atividade do Poder B) É impossível a delegação de atos de natureza política. Exem-
Público. plos: o veto e a sanção de lei;
Assim sendo, pelo fato da administração somente gerar a coisa C) As atribuições que a lei fixar como exclusivas de determina-
alheia pertencente ao povo, o que motiva as ações de ressarcimen- da autoridade, não podem ser delegadas;
to de prejuízos causados aos cofres públicos, é o ressarcimento dos D) O subordinado não pode recusar a delegação;
danos causados à própria coletividade. E) As atribuições não podem ser subdelegadas sem a devida
Contudo, a imprescritibilidade das ações de ressarcimentos autorização do delegante.
advindas de ilícitos civis, sofreu alterações depois do julgamento Sem prejuízo do entendimento doutrinário a respeito da dele-
do Recurso Extraordinário 669069, realizado pelo STF no mês de gação de competência, a Lei Federal 9.784/1999, que estabelece os
fevereiro de 2016. ditames do processo administrativo federal, estabeleceu as seguin-
tes regras relacionadas a esse assunto:
• A competência não pode ser renunciada, porém, pode ser
delegada se não houver impedimento legal;

21
DIREITO ADMINISTRATIVO
• A delegação de competência é sempre exercida de forma par- Ressalte-se, também, que a relação de hierarquia é inerente
cial, tendo em vista que um órgão administrativo ou seu titular não à função administrativa e não há hierarquia entre integrantes do
detém o poder de delegar todas as suas atribuições; Poder Legislativo e do Poder Judiciário no desempenho de suas fun-
• A título de delegação vertical, depreende-se que esta pode ções típicas constitucionais. No entanto, os membros dos Poderes
ser feita para órgãos ou agentes subordinados hierarquicamente, e, Judiciário e Legislativo também estão submetidos à relação de hie-
a nível de delegação horizontal, também pode ser feita para órgãos rarquia no que condiz ao exercício de funções atípicas ou adminis-
e agentes não subordinados à hierarquia. trativas. Exemplo: um juiz de Primeira Instância, não é legalmente
obrigado a adotar o posicionamento do Presidente do Tribunal no
Não podem ser objeto de delegação: julgamento de um processo de sua competência, porém, encontra-
• A edição de atos de caráter normativo; -se obrigado, por ditames da lei a cumprir ordens daquela autorida-
• A decisão de recursos administrativos; de quando versarem a respeito do horário de funcionamento dos
• As matérias de competência exclusiva do órgão ou autorida- serviços administrativos da sua Vara.
de; Por fim, é de suma importância destacar que a subordinação
não se confunde com a vinculação administrativa, pois, a subordi-
Ressalta-se com afinco que o ato de delegação e a sua revo- nação decorre do poder hierárquico e existe apenas no âmbito da
gação deverão ser publicados no meio oficial, nos trâmites da lei. mesma pessoa jurídica. Já a vinculação, resulta do poder de super-
Ademais, deverá o ato de delegação especificar as matérias e os po- visão ou do poder de tutela que a Administração Direta detém so-
deres transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e bre as entidades da Administração Indireta.
os objetivos da delegação e também o recurso devidamente cabível Esquematizando, temos:
à matéria que poderá constar a ressalva de exercício da atribuição
delegada.
O ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo pela
autoridade delegante como forma de transferência não definitiva
de atribuições, devendo as decisões adotadas por delegação, men-
cionar de forma clara esta qualidade, que deverá ser considerada
como editada pelo delegado.
No condizente à avocação, afirma-se que se trata de procedi-
mento contrário ao da delegação de competência, vindo a ocor-
rer quando o superior assume ou passa a desenvolver as funções
que eram de seu subordinado. De acordo com a doutrina, a norma
geral, é a possibilidade de avocação pelo superior hierárquico de
qualquer competência do subordinado, ressaltando-se que nesses
casos, a competência a ser avocada não poderá ser privativa do ór-
gão subordinado. Poder conferido à autoridade admi-
Dispõe a Lei 9.784/1999 que a avocação das competências do nistrativa para distribuir e dirimir funções
órgão inferior apenas será permitida em caráter excepcional e tem- PODER em escala de seus órgãos, que estabelece
porário com a prerrogativa de que existam motivos relevantes e im- HIERÁRQUICO uma relação de coordenação e subordina-
preterivelmente justificados. ção entre os servidores que estiverem sob
O superior também pode rever os atos dos seus subordinados, a sua hierarquia.
como consequência do poder hierárquico com o fito de mantê-los,
convalidá-los, ou ainda, desfazê-los, de ofício ou sob provocação do A edição de atos de caráter normativo
interessado. Convalidar significa suprir o vício de um ato adminis- NÃO PODEM SER
trativo por intermédio de um segundo ato, tornando válido o ato vi- A decisão de recursos administrativos
OBJETO
ciado. No tocante ao desfazimento do ato administrativo, infere-se DE DELEGAÇÃO As matérias de competência exclusiva
que pode ocorrer de duas formas: do órgão ou autoridade
a) Por revogação: no momento em que a manutenção do ato Por revogação: quando a manutenção
válido se tornar inconveniente ou inoportuna; do ato válido se tornar inconveniente ou
DESFAZIMENTO
b) Por anulação: quando o ato apresentar vícios. inoportuna
DO ATO
No entanto, a utilização do poder hierárquico nem sempre po-
ADMINISTRATIVO Por anulação: quando o ator apresen-
derá possibilitar a invalidação feita pela autoridade superior dos
atos praticados por seus subordinados. Nos ditames doutrinários, a tar vícios
revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tiver se
tornado definitivo para a Administração Pública e, ainda, se houver Poder Disciplinar
sido criado o direito subjetivo para o particular. O poder disciplinar confere à Administração Pública o poder de
autorizar e apurar infrações, aplicando as devidas penalidades aos
Observação importante: “revisão” do ato administrativo não servidores público, bem como às demais pessoas sujeitas à discipli-
se confunde com “reconsideração” desse mesmo ato. A revisão de na administrativa em decorrência de determinado vínculo específi-
ato é condizente à avaliação por parte da autoridade superior em co. Assim, somente está sujeito ao poder disciplinar o agente que
relação à manutenção ou não de ato que foi praticado por seu su- possuir vínculo certo e preciso com a Administração, não importan-
bordinado, no qual o fundamento é o exercício do poder hierárqui- do que esse vínculo seja de natureza funcional ou contratual.
co. Já na reconsideração, a apreciação relativa à manutenção do
ato administrativo é realizada pela própria autoridade que confec-
cionou o ato, não existindo, desta forma, manifestação do poder
hierárquico.

22
DIREITO ADMINISTRATIVO
Existindo vínculo funcional, infere-se que o poder disciplinar é • Pode ter caráter discricionário em relação à escolha entre
decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de distri- sanções legalmente cabíveis e respectiva gradação.
buição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a uma mes-
ma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico determinar o Poder regulamentar
cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for subordinado, Com supedâneo no art. 84, IV, da Constituição Federal, consiste
o cumprimento destas. Não atendendo o subordinado às determi- o poder regulamentar na competência atribuída aos Chefes do Po-
nações do seu superior ou descumprindo o dever funcional, o seu der Executivo para que venham a editar normas gerais e abstratas
chefe poderá e deverá aplicar as sanções dispostas no estatuto fun- destinadas a detalhar as leis, possibilitando o seu fiel regulamento
cional. e eficaz execução.
Conforme dito, o poder disciplinar também detém o poder de A doutrina não é unânime em relação ao uso da expressão po-
alcançar particulares que mantenham vínculo contratual com o Po- der regulamentar. Isso acontece, por que há autores que, asseme-
der Público, a exemplo daqueles contratados para prestar serviços lhando-se ao conceito anteriormente proposto, usam esta expres-
à Administração Pública. Nesse sentido, como não existe relação de são somente para se referirem à faculdade de editar regulamentos
hierarquia entre o particular e a Administração, o pressuposto para conferida aos Chefes do Executivo. Outros autores, a usam com
a aplicação de sanções de forma direta não é o poder hierárqui- conceito mais amplo, acoplando também os atos gerais e abstra-
co, mas sim o princípio da supremacia do interesse público sobre tos que são emitidos por outras autoridades, tais como: resoluções,
o particular. portarias, regimentos, deliberações e instruções normativas. Há
Denota-se que o poder disciplinar é o poder de investigar e ainda uma corrente que entende essas providências gerais e abs-
punir crimes e contravenções penais não se referem ao mesmo tratas editadas sob os parâmetros e exigências da lei, com o fulcro
instituto e não se confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado de possibilitar-lhe o cumprimento em forma de manifestações do
somente àqueles que possuem vínculo específico com a Adminis- poder normativo.
tração de forma funcional ou contratual, o segundo é exercido so- No entanto, em que pese a mencionada controvérsia, prevalece
mente sobre qualquer indivíduo que viole as leis penais vigentes. como estudo e aplicação geral adotada pela doutrina clássica, que
Da mesma forma, o exercício do poder de polícia também não utiliza a expressão “poder regulamentar” para se referir somente à
se confunde com as penalidades decorrentes do poder disciplinar, competência exclusiva dos Chefes do Poder Executivo para editar
que, embora ambos possuam natureza administrativa, estas deve- regulamentos, mantendo, por sua vez, a expressão “poder normati-
rão ser aplicadas a qualquer pessoa que esteja causando transtor- vo” para os demais atos normativos emitidos por outras espécies de
nos ou pondo em risco a coletividade, pois, no poder de polícia, autoridades da Administração Direta e Indireta, como por exemplo,
denota-se que o vínculo entre a Administração Pública e o adminis- de dirigentes de agências reguladoras e de Ministros.
trado é de âmbito geral, ao passo que nas penalidades decorrentes Registra-se que os regulamentos são publicados através de
do poder disciplinar, somente são atingidos os que possuem relação decreto, que é a maneira pela qual se revestem os atos editados
funcional ou contratual com a Administração. pelo chefe do Poder Executivo. O conteúdo de um decreto pode ser
Em suma, temos: por meio de conteúdo ou de determinado regulamento ou, ainda,
1º - Sanção Disciplinar: Possui natureza administrativa; advém a pela adoção de providências distintas. A título de exemplo desta
do poder disciplinar; é aplicável sobre as pessoas que possuem vín- última situação, pode-se citar um decreto que dá a designação de
culo específico com a Administração Pública. determinado nome a um prédio público.
2º - Sanção de Polícia: Possui natureza administrativa; advém Em razão de os regulamentos serem editados sob forma con-
do poder de polícia; aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam dizente de decreto, é comum serem chamados de decretos regu-
às regulamentações de polícia administrativa. lamentares, decretos de execução ou regulamentos de execução.
3º - Sanção Penal: Possui natureza penal; decorre do poder ge- Podemos classificar os regulamentos em três espécies diferen-
ral de persecução penal; aplica-se sobre as pessoas que cometem tes:
crimes ou contravenções penais.
A) Regulamento executivo;
Por fim, registre-se que é comum a doutrina afirmar que o
B) Regulamento independente ou autônomo;
poder disciplinar é exercido de forma discricionária. Tal afirmação
c) Regulamento autorizado.
deve ser analisada com cuidado no que se refere ao seu alcance
Vejamos a composição de cada em deles:
como um todo, pois, se ocorrer de o agente sob disciplina adminis-
trativa cometer infração, a única opção que restará ao gestor será
Regulamento Executivo
aplicar á situação a penalidade devidamente prevista na lei, pois, a
Existem leis que, ao serem editadas, já reúnem as condições
aplicação da pena é ato vinculado. Quando existente, a discriciona-
suficientes para sua execução, enquanto outras pugnam por um re-
riedade refere-se ao grau da penalidade ou à aplicação correta das
sanções legalmente cabíveis, tendo em vista que no direito adminis- gulamento para serem executadas. Entretanto, em tese, qualquer
trativo não é predominável o princípio da pena específica que se re- lei é passível de ser regulamentada. Diga-se de passagem, até mes-
fere à necessidade de prévia definição em lei da infração funcional mo aquelas cuja execução não dependa de regulamento. Para isso,
e da exata sanção cabível. suficiente é que o Chefe do Poder Executivo entenda conveniente
Em resumo, temos: detalhar a sua execução.
O ato de regulamento executivo é norma geral e abstrata. Sen-
Poder Disciplinar do geral pelo fato de não possuir destinatários determinados ou
• Apura infrações e aplica penalidades; determináveis, vindo a atingir quaisquer pessoas que estejam nas
• Para que o indivíduo seja submetido ao poder disciplinar, é situações reguladas; é abstrata pelo fato de dispor sobre hipóteses
preciso que possua vínculo funcional com a administração; que, se e no momento em que forem verificadas no mundo con-
• A aplicação de sanção disciplinar deve ser acompanhada de creto, passarão a gerar as consequências abstratamente previstas.
processo administrativo no qual sejam assegurados o direito ao Desta forma, podemos afirmar que o regulamento possui conteúdo
contraditório e à ampla defesa, devendo haver motivação para que material de lei, porém, com ela não se confunde sob o aspecto for-
seja aplicada a penalidade disciplinar cabível; mal.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
O ato de regulamento executivo é constituído por importantes Embora exista uma enorme importância em termos de pratici-
funções. São elas: dade, denota-se que os regulamentos de execução gozam de hie-
rarquia infralegal e não detém o poder de inovar na ordem jurídica,
1.º) Disciplinar a discricionariedade administrativa criando direitos ou obrigações, nem contrariando, ampliando ou
Ocorre, tendo em vista a existência de discricionariedade quan- restringindo as disposições da lei regulamentada. São, em resumo,
do a lei confere ao agente público determinada quantidade de li- atos normativos considerados secundários que são editados pelo
berdade para o exercício da função administrativa. Tal quantidade e Chefe do Executivo com o fulcro de detalhar a execução dos atos
margem de liberdade termina sendo reduzida quando da editação normativos primários elaborados pelas leis.
de um regulamento executivo que estipula regras de observância Dando enfoque à subordinação dos regulamentos executivos à
obrigatória, vindo a determinar a maneira como os agentes devem lei, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Congresso Na-
proceder no fiel cumprimento da lei. cional sustá-los, caso exorbite do poder regulamentar nos parâme-
Ou seja, ao disciplinar por intermédio de regulamento o exer- tros do art. 49, inc. V da CF/88. É o que a doutrina chama de “veto
cício da discricionariedade administrativa, o Chefe do Poder Exe- legislativo”, dentro de uma analogia com o veto que o Chefe do Exe-
cutivo, termina por voluntariamente limitá-la, vindo a estabelecer cutivo poderá apor aos projetos de lei aprovados pelo Parlamento.
autêntica autovinculação, diminuindo, desta forma, o espaço para Pondera-se que a aproximação terminológica possui limitações,
a discussão de casos e fatos sem importância para a administração uma vez que o veto propriamente dito do executivo, pode ocorrer
pública. em função de o Presidente da República entender que o projeto
de lei é incompatível com a Constituição Federal, que configuraria
2.º) Uniformizar os critérios de aplicação da lei o veto jurídico, ou, ainda, contrário ao interesse público, que seria
É interpretada no contexto da primeira, posto que o regula- o veto político. Por sua vez, o veto legislativo só pode ocorrer por
mento ao disciplinar a forma com que a lei deve ser fielmente cum- exorbitância do poder regulamentar, sendo assim, sempre jurídico.
prida, estipula os critérios a serem adotados nessa atividade, fato Melhor dizendo, não há como imaginar que o Parlamento venha a
sustar um decreto regulamentar por entendê-lo contrário ao inte-
que impede variações significativas nos casos sujeitos à lei aplicada.
resse público, uma vez que tal norma somente deve detalhar como
Exemplo: podemos citar o desenvolvimento dos servidores na car-
a lei ao ser elaborada pelo próprio Legislativo, será indubitavelmen-
reira de Policial Rodoviário Federal.
te cumprida. Destarte, se o Parlamento entende que o decreto edi-
Criadora da carreira de Policial Rodoviário Federal, a Lei
tado dentro do poder regulamentar é contrário ao interesse públi-
9.654/1998 estabeleceu suas classes e determinou que a investidu- co, deverá, por sua vez, revogar a própria lei que lhe dá o sustento.
ra no cargo de Policial Rodoviário Federal teria que se dar no padrão Ademais, lembremos que os regulamentos se submetem ao
único da classe de Agente, na qual o titular deverá permanecer por controle de legalidade, de tal forma que a nulidade decorrente da
pelo menos três anos ou até obter o direito à promoção à classe exorbitância do poder regulamentar também está passível de ser
subsequente, nos termos do art. 3.º, § 2.º. reconhecida pelo Poder Judiciário ou pelo próprio Chefe do Poder
A antiguidade e o merecimento são os principais requisitos Executivo no exercício da autotutela.
para que os servidores públicos sejam promovidos. No entanto,
o vocábulo “merecimento” é carregado de subjetivismo, fato que Regulamento independente ou autônomo
abriria a possibilidade de que os responsáveis pela promoção dos Ressalte-se que esta segunda espécie de regulamento, tam-
servidores, alegando discricionariedade, viessem a agir com base bém adota a forma de decreto. Diversamente do regulamento exe-
em critérios obscuros e casuístas, vindo a promover perseguições e cutivo, esse regulamento não se presta a detalhar uma lei, detendo
privilégios. E é por esse motivo que existe a necessidade de regula- o poder de inovar na ordem jurídica, da mesma maneira que uma
mentação dos requisitos de promoção, como demonstra o próprio lei. O regulamento autônomo (decreto autônomo) é considerado
estatuto dos servidores públicos civis federais em seu art. 10, pará- ato normativo primário porque retira sua força exclusivamente e
grafo único da Lei 8.112/1990. diretamente da Constituição.
Com o fulcro de regulamentar a matéria, foi editado o Decreto A Carta Magna de 1988, em sua redação original, deletou a fi-
8.282/2014, que possui como atributo, detalhar os requisitos e es- gura do decreto autônomo no direito brasileiro. No entanto, com
tabelecer os devidos critérios para promoção dos Policiais Rodoviá- a Emenda Constitucional 32/2001, a possibilidade foi novamente
rios Federais, dentre os quais se encontra a obtenção de “resultado inserida na alínea a do inciso VI do art. 84 da CFB/88.
satisfatório na avaliação de desempenho no interstício considerado Mesmo havendo controvérsias, a posição dominante na doutri-
para a progressão”, disposta no art. 4.º, II, “b”. Da mesma forma, na é no sentido de que a única hipótese de regulamento autônomo
a expressão “resultado satisfatório” também é eivada de subjetivi- que o direito brasileiro permite é a contida no mencionado dispo-
dade, motivo pelo qual o § 3.º do mesmo dispositivo regulamentar sitivo constitucional, que estabelece a competência do Presidente
designou que para o efeito de promoção, seria considerado satisfa- da República para dispor, mediante decreto, sobre organização e
funcionamento da administração federal, isso, quando não implicar
tório o alcance de oitenta por cento das metas estipuladas em ato
em aumento de despesa nem mesmo criação ou extinção de órgãos
do dirigente máximo do órgão.
públicos.
Assim sendo, verificamos que a discricionariedade do dirigente
Por oportuno, registarmos que a autorização que está prevista
máximo da PRF continua a existir, e o exemplo disso, é o estabe-
na alínea b do mesmo dispositivo constitucional, para que o Presi-
lecimento das metas. Entretanto, ela foi reduzida no condizente dente da República, mediante decreto, possa extinguir cargos públi-
à avaliação da suficiência de desempenho dos servidores para o cos vagos, não se trata de caso de regulamento autônomo. Cuida-se
efeito de promoção. O que nos leva a afirmar ainda que, diante da de uma xucra hipótese de abandono do princípio do paralelismo
regulamentação, erigiu a existência de vinculação da autoridade ad- das formas. Isso por que em decorrência do princípio da hierarquia
ministrativa referente ao percentual considerado satisfatório para das normas, se um instituto jurídico for criado por intermédio de
o efeito de promoção dos servidores, critério que inclusive já foi determinada espécie normativa, sua extinção apenas poderá ser
uniformizado. veiculada pelo mesmo tipo de ato, ou, ainda, por um de superior
hierarquia.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Nesse sentido, sendo os cargos públicos criados por lei, nos pa- minadas matérias venham a ser transferidas pelo próprio legislador
râmetros do art. 48, inc. X da CFB/88, apenas a lei poderia extingui- para órgãos administrativos técnicos. Cuida-se do fenômeno da
-los pelo sistema do paralelismo das formas. Entretanto, deixando deslegalização, por meio do qual a normatização sai da esfera da lei
de lado essa premissa, o legislador constituinte derivado permitiu para a esfera do regulamento autorizado.
que, estando vago o cargo público, a extinção aconteça por decreto. No entanto, o regulamento autorizado não se encontra limita-
Poderíamos até dizer que foi autorizado um decreto autônomo, mas do somente a explicar, detalhar ou complementar a lei. Na verdade,
nunca um regulamento autônomo, isso posto pelo fato de tal de- ele busca a inovação do ordenamento jurídico ao criar normas téc-
creto não gozar de generalidade e abstração, não regulamentando nicas não contidas na lei, ato que realiza em decorrência de expres-
determinada matéria. Cuida-se, nesse sentido, de um ato de efeitos sa determinação legal.
concretos, amplamente desprovido de natureza regulamentar. Depreende-se que o regulamento autorizado não pode ser
De forma diversa do decreto regulamentar ou regulamento confundido com o regulamento autônomo. Isso ocorre, porque,
executivo, que é editado para minuciar a fiel execução da lei, desta- ao passo que este último retira sua força jurídica da Constituição,
ca-se que o decreto autônomo ou regulamento independente, en- aquele é amplamente dependente de expressa autorização contida
contra-se sujeito ao controle de constitucionalidade. O que justifica na lei. Além disso, também se diverge do decreto de execução por-
a mencionada diferenciação, é o fato de o conflito entre um decreto que, embora seja um ato normativo secundário que retira sua força
regulamentar e a lei que lhe atende de fundamento vir a configurar jurídica da lei, detém o poder de inovar a ordem jurídica, ao contrá-
ilegalidade, não cabendo o argumento de que o decreto é inconsti- rio do que ocorre com este último no qual sua destinação é apenas
tucional porque exorbitou do poder regulamentar. Assim, havendo a de detalhar a lei para que seja fielmente executada.
agressão direta à Constituição, a lei, com certeza pode ser conside- Nos moldes da jurisprudência, não é admitida a edição de regu-
rada inconstitucional, mas não o decreto que a regulamenta. Agora, lamento autorizado para matéria reservada à lei, um exemplo disso
em se tratando do decreto autônomo, infere-se que este é norma é a criação de tributos ou da criação de tipos penais, tendo em vista
primária, vindo a fundamentar-se no próprio texto constitucional, que afrontaria o princípio da separação dos Poderes, pelo fato de
de forma a ser possível uma agressão direta à Constituição Federal estar o Executivo substituindo a função do Poder Legislativo.
de 1988, legitimando desta maneira, a instauração de processo de Entretanto, mesmo nos casos de inexistência de expressa de-
controle de constitucionalidade. Assim sendo, podemos citar a lição terminação constitucional estabelecendo reserva legal, tem sido
do Supremo Tribunal Federal: admitida a utilização de regulamentos autorizados, desde que a lei
Com efeito, o que é necessário demonstrar, é que o decreto do venha a os autorizar e estabeleça as condições, bem como os limi-
Chefe do Executivo advém de competência direta da Constituição, tes da matéria a ser regulamentada. É nesse sentido que eles têm
ou que retire seu fundamento da Carta Magna. Nessa sentido, caso sido adotados com frequência para a fixação de normas técnicas,
o regulamento não se amolde ao figurino constitucional, caberá, como por exemplo, daquelas condições determinadas pelas agên-
por conseguinte, análise de constitucionalidade pelo Supremo tri- cias reguladoras.
bunal Federal. Se assim não for, será apenas vício de inconstitucio-
nalidade reflexa, afastando desta forma, o controle concentrado Regulamentos jurídicos e regulamentos administrativos
em ADI porque, como adverte Carlos Velloso: “é uma questão de A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que é possível
opção. Hans Kelsen, no debate com Carl Schmitt, em 1929, deixou fazer a distinção entre os regulamentos jurídicos ou normativos e
isso claro. E o Supremo Tribunal fez essa opção também no controle os regulamentos administrativos ou de organização.
difuso, quando estabeleceu que não se conhece de inconstitucio- Afirma-se que os regulamentos jurídicos ou normativos, criam
nalidade indireta. Não há falar-se em inconstitucionalidade indireta regras ou normas para o exterior da Administração Pública, que
reflexa. É uma opção da Corte para que não se realize o velho adá- passam a vincular todos os cidadãos de forma geral, como acontece
gio: ‘muita jurisdição, resulta em nenhuma jurisdição’” (ADI 2.387- com as normas inseridas no poder de polícia. No condizente aos
0/DF, Rel. Min. Marco Aurélio). regulamentos administrativos ou de organização, denota-se que es-
Em suma, conforme dito anteriormente, convém relembrar tes estabelecem normas sobre a organização administrativa ou que
que o art. 13, I, da Lei 9.784/1999 proíbe de forma expressa a de- se relacionam aos particulares que possuem um vínculo específico
legação de atos de caráter normativo. No entanto, com exceção a com o Estado, como por exemplo, os concessionários de serviços
essa regra, o decreto autônomo, diversamente do que acontece públicos ou que possuem um contrato com a Administração.
com o decreto regulamentar que é indelegável, pode vir a ser ob- De acordo com a ilustre professora, outra nota que merece
jeto de delegação aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da destaque em relação à distinção entre os mencionados institutos,
República e ao Advogado é a de que os regulamentos jurídicos, pelo fato de se referirem à
Geral da União, conforme previsão contida no parágrafo único liberdade e aos direitos dos particulares sem uma relação especí-
do art. 84 da Constituição Federal. fica com a Administração, são, por sua vez, elaborados com menor
grau de discricionariedade em relação aos regulamentos adminis-
Regulamento autorizado ou delegado trativos.
Denota-se que além das espécies anteriores de regulamento Esquematicamente, temos:
apresentadas, a doutrina administrativista e jurista também men-
ciona a respeito da existência do regulamento autorizado ou dele- ESPÉCIES DE Regulamentos jurídicos ou normativos
gado. REGULAMENTO
De acordo com a doutrina tradicional, o legislador ordinário QUANTO AOS Regulamentos administrativos ou de
não poderá, fora dos casos previstos na Constituição, delegar de DESTINATÁRIOS organização
forma integral a função de legislar que é típica do Poder Legislativo,
aos órgãos administrativos.
Poder de Polícia
Entretanto, em decorrência da complexidade das atividades
O poder de polícia é a legítima faculdade conferida ao Estado
técnicas da Administração, contemporaneamente, embora haja
para estabelecer regras restritivas e condicionadoras do exercício
controvérsias em relação ao aspecto da constitucionalidade, a dou-
de direitos e garantias individuais, tendo sempre em vista o inte-
trina maior tem aceitado que as competências para regular deter-
resse público.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Limites Por fim, denota-se que as determinações contidas na Lei
No exercício do poder de polícia, os atos praticados, assim 9.873/1999 não se aplicam às infrações de natureza funcional e aos
como todo ato administrativo, mesmo sendo discricionário, está processos e procedimentos de natureza tributária, nos termos do
eivado de limitações legais em relação à competência, à forma, aos art. 5.º.
fins, aos motivos ou ao objeto.
Ressalta-se de antemão com ênfase, que para que o ato de po- Atributos
lícia seja considerado legítimo, deve respeitar uma relação de pro- Segundo a maior parte da doutrina, são atributos do poder de
porcionalidade existente entre os meios e os fins. Assim sendo, a polícia: a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilida-
medida de polícia não poderá ir além do necessário com o fito de de. Entretanto, vale explicitar que nem todas essas características
atingir a finalidade pública a que se destina. Imaginemos por exem- estão presentes de forma simultânea em todos os atos de polícia.
plo, a hipótese de um estabelecimento comercial que somente pos- Vejamos detalhadamente a definição e atribuição de cada atri-
suía licença do poder público para atuar como revenda de roupas, buto:
mas que, além dessa atividade, funcionava como atelier de costura.
Caso os fiscais competentes, na constatação do fato, viessem a in- Discricionariedade
terditar todo o estabelecimento, pondera-se que tal medida seria Consiste na liberdade de escolha da autoridade pública em re-
desproporcional, tendo em vista que, para por fim à irregularidade, lação à conveniência e oportunidade do exercício do poder de polí-
seria suficiente somente interditar a parte da revenda de roupas. cia. Entretanto, mesmo que a discricionariedade dos atos de polícia
Acontece que em havendo eventuais atos de polícia que este- seja a regra, em determinadas situações o exercício do poder de
jam eivados de vícios de legalidade ou que se demostrem despro- polícia é vinculado e por isso, não deixa margem para que a autori-
porcionais devem ser, por conseguinte, anulados pelo Poder Judici- dade responsável possa executar qualquer tipo de opção.
ário por meio do controle judicial, ou, pela própria administração Como exemplo do mencionado no retro parágrafo, compare-
no exercício da autotutela. mos os atos de concessão de alvará de licença e de autorização,
respectivamente. Em se tratando do caso do alvará de licença, de-
Prescrição preende-se que o ato é vinculado, significando que a licença não
poderá ser negada quando o requerente estiver preenchendo os
Determina a Lei 9.873/1999 que na Administração Pública Fe-
requisitos legais para sua obtenção. Diga-se de passagem, que isso
deral, direta e indireta, são prescritíveis em cinco anos a ação pu-
ocorre com a licença para dirigir, para construir bem como para
nitiva para apuração da infração e a aplicação da sanção de polícia,
exercer certas profissões, como a de enfermagem, por exemplo. Re-
desde que contados da data da prática do ato ou, em se tratando de
ferente à hipótese de alvará de autorização, mesmo o requerente
infração de forma permanente ou continuada, do dia em que tiver atendendo aos requisitos da lei, a Administração Pública poderá ou
cessado (art. 1.º). Entretanto, se o fato objeto da ação punitiva da não conceder a autorização, posto que esse ato é de natureza dis-
Administração também for considerado crime, a prescrição deverá cricionária e está sujeito ao juízo de conveniência e oportunidade
se reger pelo prazo previsto na lei penal em seu art. 1.º, § 2.º. da autoridade administrativa. É o que ocorre, por exemplo, coma
Ademais, a Lei determina que prescreve em cinco anos a ação autorização para porte de arma, bem como para a produção de ma-
de execução da administração pública federal relativa a crédito não terial bélico.
tributário advindo da aplicação de multa por infração à legislação
em vigor, desde que devidamente contados da constituição defini- Autoexecutoriedade
tiva do crédito, nos termos da Lei 9.873/1999, art. 1.º-A, com sua Nos sábios dizeres de Hely Lopes Meirelles, o atributo da auto-
redação incluída pela Lei 11.941/2009. executoriedade consiste na “faculdade de a Administração decidir
Denota-se que a mencionada norma prevê, ainda, a possibi- e executar diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem
lidade de prescrição intercorrente, ou seja, aquela que ocorre no intervenção do Judiciário”. Assim, se um estabelecimento comer-
curso do processo, quando o procedimento administrativo vir a fi- cial estiver comercializando bebidas deteriorados, o Poder Público
car paralisado por mais de três anos, desde que pendente de des- poderá usar do seu poder para apreendê-los e incinerá-los, sendo
pacho ou julgamento, tendo em vista que os autos serão arquivados desnecessário haver qualquer ordem judicial. Ocorre, também, que
de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem que tal fato não impede ao particular, que se sentir prejudicado pelo
haja prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorren- excesso ou desvio de poder, de buscar o amparo do Poder Judiciário
te da paralisação, se for o caso, nos parâmetros do art. 1.º, § 1.º. para fazer cessar o ato de polícia abusivo.
Vale a pena mencionar com destaque que a prescrição da ação Entretanto, denota-se que nem todas as medidas de polícia
punitiva, no caso das sanções de polícia, se interrompe no decurso são dotadas de autoexecutoriedade. A doutrina majoritária afirma
das seguintes hipóteses: que a autoexecutoriedade só pode existir em duas situações, sen-
A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por do elas: quando estiver prevista expressamente em lei; ou mesmo
meio de edital; não estando prevista expressamente em lei, se houver situação de
B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do urgência que demande a execução direta da medida. O que infere
que, não sendo cumprido nenhum desses requisitos, o ato de po-
fato; pela decisão condenatória recorrível;
lícia autoexecutado será considerado abusivo. Cite-se como exem-
C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação
plo, o de ato de polícia que não contém autoexecutoriedade, como
expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da
o caso de uma autuação por desrespeito à normas sanitárias. Nesse
Administração Pública Federal.
caso específico, se o poder público tiver a pretensão de cobrar o
Registramos que a Lei em estudo, prevê a possibilidade de em mencionado valor, não poderá fazê-lo de forma direta, sendo ne-
determinadas situações específicas, quando o interessado inter- cessário que promova a execução judicial da dívida.
romper a prática ou sanar a irregularidade, que haja a suspensão
do prazo prescricional para aplicação das sanções de polícia, nos
parâmetros do art. 3.º.

26
DIREITO ADMINISTRATIVO
A renomada Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma Esquematizando, temos:
que alguns autores dividem o atributo da autoexecutoriedade em
dois, sendo eles: a exigibilidade (privilège du préalable) e a execu- ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA
toriedade (privilège d’action d’office). Nesse diapasão, a exigibili-
dade ensejaria a possibilidade de a Administração tomar decisões DISCRICIONARIE- AUTOEXECUTORIE-
COERCIBILIDADE
executórias, impondo obrigações aos administrados mesmo sem a DADE DADE
concordância destes, e a executoriedade, que consiste na faculdade Liberdade de Faculdade de a
de se executar de forma direta todas essas decisões sem que haja a escolha da autori- Administração deci- Faz com que
necessidade de intervenção do Poder Judiciário, usando-se, quando dade pública em dir e executar dire- o ato seja imposto
for preciso, do emprego direto da força pública. Imaginemos como relação à conveni- tamente sua decisão ao particular, con-
exemplo, um depósito antigo de carros que esteja ameaçado de ência e oportunida- por seus próprios cordando este, ou
desabar. Nessa situação específica, a Administração pode ordenar de do exercício do meios, sem interven- não.
que o proprietário promova a sua demolição (exigibilidade). E não poder de polícia. ção do Judiciário.
sendo a ordem cumprida, a própria Administração possui o poder
de mandar seus servidores demolirem o imóvel (executoriedade). Uso e abuso de poder
Ainda, pelos ensinamentos da ilustre professora, ao passo que De antemão, depreende-se que o exercício de poder acontece
a exigibilidade se encontra relacionada com a aplicação de meios de forma legítima quando desempenhado pelo órgão competente,
indiretos de coação, como a aplicação de multa ou a impossibilida- desde que esteja nos limites da lei a ser aplicada, bem como em
de de licenciamento de veículo enquanto não forem pagas as mul- atendimento à consecução dos fins públicos.
tas de trânsito, a executoriedade irá se consubstanciar no uso de No entanto, é possível que a autoridade, ao exercer o poder,
meios diretos de coação, como por exemplo dissolução de reunião, venha a ultrapassar os limites de sua competência ou o utilize para
da apreensão de mercadorias, da interdição de estabelecimento e fins diversos do interesse público. Quando isto ocorre, afirma-se
da demolição de prédio. que houve abuso de poder. Ressalta-se que o abuso de poder ocor-
Adverte-se, por fim, que a exigibilidade se encontra presente re tanto por meio de um ato comissivo, quando é feita alguma coisa
em todas as medidas de polícia, ao contrário da executoriedade, que não deveria ser feita, quanto por meio de um ato omissivo, por
que apenas se apresenta nas hipóteses previstas por meio de lei ou meio do qual se deixa de fazer algo que deveria ser feito.
em situações de urgência. Pode o abuso de poder se dividido em duas espécies, são elas:

Coercibilidade • Excesso de poder: Ocorre a partir do momento em que a au-


É um atributo do poder de polícia que faz com que o ato seja toridade atua extrapolando os limites da sua competência.
imposto ao particular, concordando este, ou não. Em outras termos, • Desvio de poder ou desvio de finalidade: Ocorre quando a
o ato de polícia, como manifestação do ius imperi estatal, não está autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, po-
consignado à dependência da concordância do particular para que rém, o utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária
tenha validade e seja eficaz. Além disso, a coercibilidade é indisso- ao interesse público como um todo.
ciável da autoexecutoridade, e o ato de polícia só poderá ser autoe- Convém mencionar que o ato praticado com abuso de poder
xecutável pelo fato de ser dotado de força coercitiva. pode ser devidamente invalidado pela própria Administração por
Assim sendo, a coercibilidade ou imperatividade, definida intermédio da autotutela ou pelo Poder Judiciário, sob controle ju-
como a obrigatoriedade do ato para os seus destinatários, acaba se dicial.
confundindo com a definição dada de exigibilidade que resulta do
desdobramento do atributo da autoexecutoriedade.
FATOS E ATOS ADMINISTRATIVOS: CONCEITO. REQUI-
Poder de polícia originário e poder de polícia delegado SITOS DO ATO ADMINISTRATIVO. ATRIBUTOS DO ATO
Nos parâmetros doutrinários, o poder de polícia originário é ADMINISTRATIVO. CLASSIFICAÇÃO. REVOGAÇÃO E
aquele exercido pelos órgãos dos próprios entes federativos, tendo ANULAÇÃO
como fundamento a própria repartição de competências materiais
e legislativas constante na Constituição Federal Brasileira de 1988. Conceito
Referente ao poder de polícia delegado, afirma-se que este faz Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo
referência ao poder de polícia atribuído às pessoas de direito pú- “toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública
blico da Administração Indireta, posto que esta delegação deve ser que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, res-
feita por intermédio de lei do ente federativo que possua o poder guardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
de polícia originário. obrigações aos administrados ou a si própria”.
Como uma das mais claras manifestações do princípio segun- Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a
do o qual o interesse público se sobrepõe ao interesse privado, no declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
exercício do poder de polícia, o Estado impõe aos particulares ações jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de
e omissões independentemente das suas vontades. Tal possibilida- direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
de envolve exercício de atividade típica de Estado, com clara ma- O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez,
nifestação de potestade (poder de autoridade). Assim, estão pre- explica o conceito de ato administrativo de duas formas. São elas:
sentes características ínsitas ao regime jurídico de direito público, A) Primeira: em sentido amplo, na qual há a predominância de
o que tem levado o STF a genericamente negar a possibilidade de atos gerais e abstratos. Exemplos: os contratos administrativos e os
delegação do poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado, regulamentos.
ainda que integrantes da administração indireta (ADI 1717/DF).

27
DIREITO ADMINISTRATIVO
No sentido amplo, de acordo com o mencionado autor, o ato Atos normativos
administrativo pode, ainda, ser considerado como a “declaração do
Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um Atos normativos em sentido estrito e propriamente ditos
concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas
públicas, manifestada mediante providências jurídicas complemen- Requisitos
tares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência
legitimidade por órgão jurisdicional”. de cinco requisitos do ato administrativo. São eles: competência,
B) Segunda: em sentido estrito, no qual acrescenta à definição finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a
anterior, os atributos da unilateralidade e da concreção. Desta for- falta ou o defeito desses elementos pode resultar.
ma, no entendimento estrito de ato administrativo por ele expos- De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em
ta, ficam excluídos os atos convencionais, como os contratos, por simples irregularidade com possibilidade de ser sanada, invalidan-
exemplo, bem como os atos abstratos. do o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente.
Embora haja ausência de uniformidade doutrinária, a partir da No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra
análise lúcida do tópico anterior, acoplada aos estudos dos concei- designa a prerrogativa de poder e autorização de alguém que está
tos retro apresentados, é possível extrair alguns elementos funda- legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer
mentais para a definição dos conceitos do ato administrativo. pessoa, ainda que possua capacidade e excelente rendimento para
De antemão, é importante observar que, embora o exercício fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considerada in-
da função administrativa consista na atividade típica do Poder Exe- competente em termos jurídicos para executar tal tarefa.
cutivo, os Poderes Legislativo e Judiciário, praticam esta função Pensamento idêntico é válido para os órgãos e entidades pú-
de forma atípica, vindo a praticar, também, atos administrativos. blicas, de forma que, por exemplo, a Agência Nacional de Aviação
Exemplo: ao realizar concursos públicos, os três Poderes devem no- Civil (ANAC) não possui competência para conferir o passaporte e
mear os aprovados, promovendo licitações e fornecendo benefícios liberar a entrada de um estrangeiro no Brasil, tendo em vista que o
legais aos servidores, dentre outras atividades. Acontece que em controle de imigração brasileiro é atividade exclusiva e privativa da
todas essas atividades, a função administrativa estará sendo exerci- Polícia Federal.
da que, mesmo sendo função típica, mas, recordemos, não é função Nesse sentido, podemos conceituar competência como sendo
exclusiva do Poder Executivo. o acoplado de atribuições designadas pelo ordenamento jurídico às
Denota-se também, que nem todo ato praticado no exercício pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, com o fito de facilitar
da função administrativa é ato administrativo, isso por que em inú- o desempenho de suas atividades.
meras situações, o Poder Público pratica atos de caráter privado, A competência possui como fundamento do seu instituto a di-
desvestindo-se das prerrogativas que conformam o regime jurídico visão do trabalho com ampla necessidade de distribuição do con-
de direito público e assemelhando-se aos particulares. Exemplo: a junto das tarefas entre os agentes públicos. Desta forma, a distri-
emissão de um cheque pelo Estado, uma vez que a referida provi- buição de competências possibilita a organização administrativa
dência deve ser disciplinada exclusivamente por normas de direito do Poder Público, definindo quais as tarefas cabíveis a cada pessoa
privado e não público. política, órgão ou agente.
Há de se desvencilhar ainda que o ato administrativo pode ser Relativo à competência com aplicação de multa por infração à
praticado não apenas pelo Estado, mas também por aquele que legislação do imposto de renda, dentre as pessoas políticas, a União
o represente. Exemplo: os órgãos da Administração Direta, bem é a competente para instituir, fiscalizar e arrecadar o imposto e tam-
como, os entes da Administração Indireta e particulares, como bém para estabelecer as respectivas infrações e penalidades. Já em
acontece com as permissionárias e com as concessionárias de ser- relação à instituição do tributo e cominação de penalidades, que
viços públicos. é de competência do legislativo, dentre os Órgãos Constitucionais
Destaca-se, finalmente, que o ato administrativo por não apre- da União, o Órgão que possui tal competência, é o Congresso Na-
sentar caráter de definitividade, está sujeito a controle por órgão cional no que condizente à fiscalização e aplicação das respectivas
jurisdicional. Em obediência a essas diretrizes, compreendemos penalidades.
que ato administrativo é a manifestação unilateral de vontade pro-
veniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais ampara- Em relação às fontes, temos as competências primária e secun-
das pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito públi- dária. Vejamos a definição de cada uma delas nos tópicos abaixo:
co, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a controle a) Competência primária: quando a competência é estabeleci-
judicial específico. da pela lei ou pela Constituição Federal.
Em suma, temos: b) Competência Secundária: a competência vem expressa em
ATO ADMINISTRATIVO: é a manifestação unilateral de vontade normas de organização, editadas pelos órgãos de competência pri-
proveniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais am- mária, uma vez que é produto de um ato derivado de um órgão ou
paradas pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito agente que possui competência primária.
público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a con-
trole judicial específico. Entretanto, a distribuição de competência não ocorre de forma
aleatória, de forma que sempre haverá um critério lógico informan-
do a distribuição de competências, como a matéria, o território, a
ATOS ADMINISTRATIVOS EM SENTIDO AMPLO hierarquia e o tempo. Exemplo disso, concernente ao critério da
Atos de Direito Privado matéria, é a criação do Ministério da Saúde.
Atos materiais
Atos de opinião, conhecimento, juízo ou valor
Atos políticos
Contratos

28
DIREITO ADMINISTRATIVO
Em relação ao critério territorial, a criação de Superintendên- Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
cias Regionais da Polícia Federal e, ainda, pelo critério da hierarquia, administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
a criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), delegação e avocação legalmente admitidos.
órgão julgador de recursos contra as decisões das Delegacias da Re- Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
ceita Federal de Julgamento criação da Comissão Nacional da Ver- houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou-
dade que trabalham na investigação de violações graves de Direitos tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica-
Humanos nos períodos entre 18.09.1946 e 05.10.1988, que resulta mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns-
na combinação dos critérios da matéria e do tempo. tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
A competência possui como características: Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à
a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
vez que se trata de um poder-dever de ambos. presidentes.
b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vonta- Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
de da Administração, ou mesmo por acordo com terceiros, uma vez I - a edição de atos de caráter normativo;
que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo: II - a decisão de recursos administrativos;
diante de um excessivo aumento da ocorrência de crimes graves e III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori-
da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não poderá dade.
jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi-
a crimes considerados menos graves. cados no meio oficial.
c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou acordo § 1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes
com o fulcro de ser repassada a responsabilidade a outra pessoa. transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob-
Frise-se que a delegação de competência não provoca a transfe- jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva
rência de sua titularidade, porém, autoriza o exercício de deter- de exercício da atribuição delegada.
minadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante, que § 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela
poderá, conforme critérios próprios e a qualquer tempo, revogar a autoridade delegante.
delegação. § 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar
d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente, explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo de-
quando fixada pela lei ou pela Constituição, uma vez que somente legado.
estas normas poderão alterá-la. Convém registrar que a delegação é ato discricionário, que
e) Imprescritível: o agente continua competente, mesmo que leva em conta para sua prática circunstâncias de índole técnica, so-
não tenha sido utilizada por muito tempo. cial, econômica, jurídica ou territorial, bem como é ato revogável
f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista a qualquer tempo pela autoridade delegante, sendo que o ato de
em lei, o agente incompetente não passa a ser competente pelo delegação bem como a sua revogação deverão ser expressamente
mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a publicados no meio oficial, especificando em seu ato as matérias e
tomar conhecimento dos fatos que implicariam a motivação de sua poderes delegados, os parâmetros de limites da atuação do delega-
prática. do, o recurso cabível, a duração e os objetivos da delegação.

Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a Importante ressaltar:


avocação, que podem ser definidas da seguinte forma: Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercí-
a) Delegação de competência: trata-se do fenômeno por in- cio de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segu-
termédio do qual um órgão administrativo ou um agente público rança ou a medida judicial.
delega a outros órgãos ou agentes públicos a tarefa de executar Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamen-
parte das funções que lhes foram atribuídas. Em geral, a delegação to do MS 24.732 MC/DF, que o foro da autoridade delegante não
é transferida para órgão ou agente de plano hierárquico inferior. poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada.
No entanto, a doutrina contemporânea considera, quando justifi- Desta forma, tendo sido o ato praticado pela autoridade delegada,
cadamente necessário, a admissão da delegação fora da linha hie- todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato deve-
rárquica. rão respeitar o respectivo foro da autoridade delegada.
Considera-se ainda que o ato de delegação não suprime a atri-
buição da autoridade delegante, que continua competente para o Seguindo temos:
exercício das funções cumulativamente com a autoridade a que foi
delegada a função. Entretanto, cada agente público, na prática de a) Avocação: trata-se do fenômeno contrário ao da delegação e
atos com fulcro nos poderes que lhe foram atribuídos, agirá sempre se resume na possibilidade de o superior hierárquico trazer para si
em nome próprio e, respectivamente irá responder por seus atos. de forma temporária o devido exercício de competências legalmen-
Por todas as decisões que tomar. Do mesmo modo, adotando te estabelecidas para órgãos ou agentes hierarquicamente inferio-
cautelas parecidas, a autoridade delegante da ação também pode- res. Diferentemente da delegação, não cabe avocação fora da linha
rá revogar a qualquer tempo a delegação realizada anteriormen- de hierarquia, posto que a utilização do instituto é dependente de
te. Desta maneira, a regra geral é a possibilidade de delegação de poder de vigilância e controle nas relações hierarquizadas.
competências, só deixando esta de ser possível se houver quaisquer Vejamos a diferença entre a avocação com revogação de dele-
impedimentos legais vigentes. gação:

É importante conhecer a respeito da delegação de competên- • Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e
cia o disposto na Lei 9.784/1999, Lei do Processo Administrativo temporária, nos termos do art. 15 da Lei 9.787/1999, a competên-
Federal, que tendo tal norma aplicada somente no âmbito federal, cia é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado,
incorporou grande parte da orientação doutrinária existente, dis- sendo que de forma temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou
pondo em seus arts. 11 a 14: autoridade avocante.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
• Já na revogação de delegação, anteriormente, a competên- ABUSO DE AUTORIDADE
cia já era de forma original da autoridade ou órgão delegante, que
achou por conveniência e oportunidade revogar o ato de delega- EXCESSO DE PODER Vício de competência
ção, voltando, por conseguinte a exercer suas atribuições legais por DESVIO DE PODER Desvio de finalidade
cunho de mão própria.
Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é uma
Finalmente, adverte-se que, apesar de ser um dever ser exer- das características do princípio da impessoalidade. Nesse diapasão,
cido com autocontrole, o poder originário de avocar competência a Administração não pode atuar com o objetivo de beneficiar ou
também se constitui em regra na Administração Pública, uma vez prejudicar determinadas pessoas, tendo em vista que seu compor-
que é inerente à organização hierárquica como um todo. Entretan- tamento deverá sempre ser norteado pela busca do interesse públi-
to, conforme a doutrina de forma geral, o órgão superior não pode co. Além disso, existe determinada finalidade típica para cada tipo
avocar a competência do órgão subordinado em se tratando de de ato administrativo.
competências exclusivas do órgão ou de agentes inferiores atribu- Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies
ídas por lei. Exemplo: Secretário de Segurança Pública, mesmo es- de finalidade pública. São elas:
tando alguns degraus hierárquicos acima de todos os Delegados da a) Geral ou mediata: consiste na satisfação do interesse públi-
Polícia Civil, não poderá jamais avocar para si a competência para co considerado de forma geral.
presidir determinado inquérito policial, tendo em vista que esta b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico pre-
competência é exclusiva dos titulares desses cargos. visto na lei, que deve ser alcançado com a prática de determinado
Não convém encerrar esse tópico acerca da competência sem ato.
mencionarmos a respeito dos vícios de competência que é concei- Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a
tuado como o sofrimento de algum defeito em razão de problemas lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para cada espécie de ato.
com a competência do agente que o pratica que se subdivide em:
a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica o Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas finali-
ato acaba por exceder os limites de sua competência, agindo além dades, seja geral ou específica, resulta no vício denominado desvio
das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo a pra- de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é vício que não
ticar abuso de poder. O vício de excesso de poder nem sempre po- pode ser sanado, e por esse motivo, não pode ser convalidado.
derá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em vista A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágra-
que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso. fo único, alínea e, estabelece que “o desvio de finalidade se veri-
b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce fica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele
atribuições próprias de um agente público, sem que tenha esse previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”.
atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra casa- Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência
mentos civis fingindo ser titular do cargo de juiz. estatui de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser
c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o ato venha a ser
está irregularmente investida no cargo, emprego ou função pública praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício
ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo de finalidade.
de impedimento jurídico para a prática do ato naquele momento. O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se ve-
Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que tem rifica em duas hipóteses. São elas:
toda a aparência de legalidade. Por esse motivo, em decorrência da a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da
teoria da aparência, desde que haja boa-fé do administrado, esta prevista por lei. Exemplo: remover um funcionário com o objetivo
deve ser respeitada, devendo, por conseguinte, ser considerados de punição.
válidos os atos, como se fossem praticados pelo funcionário de fato. b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com a
Em suma, temos: finalidade legal, possui, na prática, o foco de atender a fim de inte-
resse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de perse-
VÍCIOS DE COMPETÊNCIA guir inimigo, ocorre a desapropriação de imóvel alegando interesse
público.
Em determinadas situações
EXCESSO DE PODER
é possível a convalidação Em resumo, temos:
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO Ato inexistente
Ato válido, se houver boa-fé Específica ou Imediata e
FUNÇÃO DE FATO FINALIDADE PÚBLICA
do administrado Geral ou Mediata
Ato praticado com finalidade
diversa da prevista em Lei.
e
DESVIO DE FINALIDADE
Ato praticado formalmente
OU DESVIO DE PODER
com finalidade prevista em Lei, po-
rém, visando a atender a fins pes-
soais de autoridade.

30
DIREITO ADMINISTRATIVO
Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas dis- De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de ocor-
tintas de definição como requisito do ato administrativo. São elas: rer nas seguintes situações:
A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o a) quando o motivo é inexistente.
modo de exteriorização do ato administrativo. b) quando o motivo é falso.
B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no c) quando o motivo é inadequado.
conceito de forma apenas o modo de exteriorização do ato, bem
como todas as formalidades que devem ser destacadas e observa- É de suma importância estabelecer a diferença entre motivo e
das no seu curso de formação. motivação. Vejamos:
Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se • Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do
simplesmente de modos diferentes de examinar a questão, sendo ato administrativo. Sempre deve estar previsto no ato administrati-
que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto vo, sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legíti-
exterior do ato já formado e a segunda, analisa a dinâmica da for- mo ou ilegítimo é causa de invalidação do ato administrativo.
mação do ato administrativo. • Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo, sen-
do a declaração das razões que motivaram à edição do ato. Já a mo-
Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade tivação declarada e expressa dos motivos dos atos administrativos,
de forma do ato jurídico, ao passo que no Direito Público, a regra é via de regra, nem sempre é exigida. Porém, se for obrigatória pela
o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser reves- lei, sua ausência causará invalidade do ato administrativo por vício
tido de formas rígidas e solenes, mas é imprescindível que ele seja de forma, e não de motivo.
escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo em vista Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o
que em alguns casos, via de regra, o agente público tem a possibi- processo administrativo na esfera federal, dispõe no art. 50, o se-
lidade de se manifestar de outra forma, como acontece nas ordens guinte:
verbais transmitidas de forma emergencial aos subordinados, ou, Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
ainda, por exemplo, quando um agente de trânsito transmite orien- indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
tações para os condutores de veículos através de silvos e gestos. I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado vício II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
de forma quando é enviado ou emitido sem a obediência à forma e III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via de regra, pública;
considera-se plenamente possível a convalidação do ato adminis- IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
trativo que contenha vício de forma. No entanto, tal convalidação tatório;
não será possível nos casos em que a lei estabelecer que a forma é V - decidam recursos administrativos;
requisito primordial à validade do ato. VI - decorram de reexame de ofício;
Devemos explanar também que a motivação declarada e escri- VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
ta dos motivos que possibilitaram a prática do ato, quando for de ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta maneira, VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida-
quando for obrigatória, a ausência de motivação enseja vício de for- ção de ato administrativo.
ma, mas não vício de motivo. Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve
Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela au- ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
toridade e comprovadamente ilícito ou falso, o vício consistirá no de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, infor-
elemento motivo. mações, decisões ou propostas, que, nesse caso, serão parte inte-
grante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de “motiva-
Motivo ção aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas que está
O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que sendo admitida no direito brasileiro.
estabelecem ou autorizam a edição do ato administrativo.
Quando a autoridade administrativa não tem margem para de- A motivação dos atos administrativos
cidir a respeito da conveniência e oportunidade para editar o ato É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a res-
administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao peito da motivação dos atos administrativo e da teoria dos motivos
ato discricionário, como há espaço de decisão para a autoridade determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei não exi-
administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a prá- gindo a motivação, se o ato administrativo for motivado, ele só terá
tica do ato. validade se os motivos declarados forem verdadeiros.

Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se Exemplo


trata da abstrata previsão normativa de uma situação que ao ser A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de ser-
verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática vidor ocupante de cargo comissionado, uma vez que esse tipo de
do ato, ao passo que o motivo de fato é a concretização no mundo ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente
empírico da situação prevista em lei. venha a alegar que a exoneração transcorre da falta de pontualida-
Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato adminis- de habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá
trativo depende da presença adjunta dos motivos de fato e de direi- a ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já se o
to, posto que para isso, são imprescindíveis à existência abstrata de interessado apresentar a folha de ponto comprovando sua pontua-
previsão normativa bem como a ocorrência, de fato concreto que lidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial, deverá
se integre à tal previsão. ser anulada.
É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes
pode ser aplicada tanto aos atos administrativos vinculados quanto
aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado.

31
DIREITO ADMINISTRATIVO
Em suma, temos: Nos dizeres da mencionada administrativista, os atributos dos
atos administrativos são:
• Motivo do ato administrativo
— Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a • Presunção de legitimidade
edição do ato administrativo. Decorre do próprio princípio da legalidade e milita em favor dos
— Motivo de Direito: é a situação prevista na lei, de forma abs- atos administrativos. É o único atributo presente em todos os atos
trata que autoriza ou determina a prática do ato administrativo. administrativos. Pelo fato de a administração poder agir somente
— Motivo de fato: circunstância que se realiza no mundo real quando autorizada por lei, presume-se, por conseguinte que se a
que corresponde à descrição contida de forma abstrata na lei, ca- administração agiu e executou tal ato, observando os parâmetros
racterizando o motivo de direito. legais. Desta forma, em decorrência da presunção de legitimidade,
os atos administrativos presumem-se editados em conformidade
VÍCIOS DE MOTIVO DO ATO ADMINISTRATIVO com a lei, até que se prove o contrário.
De forma parecida, por efeito dos princípios da moralidade e
Inexistente da legalidade, quando a administração alega algo, presume-se que
Falso suas alegações são verdadeiras. É o que a doutrina conceitua como
presunção de veracidade dos atos administrativos que se cuida da
Inadequado
presunção de que o ato administrativo foi editado em conformida-
de com a lei, gerando a desconfiança de que as alegações produzi-
• Teoria dos motivos determinantes das pela administração são verdadeiras.
— O ato administrativo possui sua validade vinculada aos moti- As presunções de legitimidade e de veracidade são elementos
vos expostos mesmo que não seja exigida a motivação. e qualificadoras presentes em todos os atos administrativos. No
— Só é aplicada apenas se o ato conter motivação. entanto, ambas serão sempre relativas ou juris tantum, podendo
— STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo ser afastadas em decorrência da apresentação de prova em sentido
quando apenas um, entre os diversos motivos determinantes, não contrário. Assim sendo, se o administrado se sentir prejudicado por
está adequado à realidade fática”. algum ato que refutar ilegal ou fundado em mentiras, poderá sub-
metê-lo ao controle pela própria administração pública, bem como
Objeto pelo Judiciário. Já se o órgão provocado alegar que a prática não
O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como está em conformidade com a lei ou é fundada em alegações falsas,
sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Em outras pala- poderá proclamará a nulidade do ato, desfazendo os seus efeitos.
vras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo cuida-se Denota-se que a principal consequência da presunção de vera-
da alteração da situação jurídica que o ato administrativo se propõe cidade é a inversão do ônus da prova. Nesse sentido, relembremos
a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por exemplo, o que em regra, segundo os parâmetros jurídicos, o dever de provar
objeto é a punição do transgressor. é de quem alega o fato a ser provado. Desta maneira, se o particu-
Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve lar “X” alega que o particular “Y” cometeu ato ilícito em prejuízo
ser lícito, possível, certo e revestido de moralidade conforme os pa- do próprio “X”, incumbe a “X” comprovar o que está alegando, de
drões aceitos como éticos e justos. maneira que, em nada conseguir provar os fatos, “Y” não poderá
Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir ser punido.
os esporádicos vícios de objeto dos atos administrativos. Nesse sen-
tido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam os • Imperatividade
seguintes objetos, seguidos com alguns exemplos: Em decorrência desse do atributo, os atos administrativos são
impostos pelo Poder Público a terceiros, independentemente da
a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspen- concordância destes. Infere-se que a imperatividade é provenien-
são por prazo superior ao máximo estabelecido por lei específica. te do poder extroverso do Estado, ou seja, o Poder Público poderá
b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para editar atos, de modo unilateral e com isso, constituir obrigações
evitar o acontecimento de chuva durante algum evento esportivo. para terceiros. A imperatividade representa um traço diferenciado
c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de em relação aos atos de direito privado, uma vez que estes somente
dirigir das pessoas que por ventura tenham dirigido alcoolizadas possuem o condão de obrigar os terceiros que manifestarem sua
nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por au- expressa concordância.
toridade pública ou flagradas no teste do bafômetro. Entretanto, nem todo ato administrativo possui imperativida-
d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de pes- de, característica presente exclusivamente nos atos que impõem
soas específicas para a ocupação noturna de determinado trecho obrigações ou restrições aos administrados. Pelo contrário, se o ato
de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, o objeto administrativo tiver por objetivo conferir direitos, como por exem-
é tido como imoral. plo: licença, admissão, autorização ou permissão, ou, ainda, quan-
do possuir conteúdo apenas enunciativo como certidão, atestado
Atributos do Ato Administrativo ou parecer, por exemplo, não haverá imperatividade.
Tendo em vista os pormenores do regime jurídico de direito
público ou regime jurídico administrativo, os atos administrativos • Autoexecutoriedade
são dotados de alguns atributos que os se diferenciam dos atos pri- Consiste na possibilidade de os atos administrativos serem exe-
vados. cutados diretamente pela Administração Pública, por intermédio de
Acontece que não há unanimidade doutrinária no condizente meios coercitivos próprios, sem que seja necessário a intervenção
ao rol desses atributos. Entretanto, para efeito de conhecimento, prévia do Poder Judiciário.
bem como a enumeração que tem sido mais cobrada em concursos
públicos, bem como em teses, abordaremos o conceito utilizado
pela Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro.

32
DIREITO ADMINISTRATIVO
Esse atributo é decorrente do princípio da supremacia do inte- a) Em relação aos destinatários: atos gerais e individuais. Os
resse público, típico do regime de direito administrativo, fato que atos gerais ou normativos, são expedidos sem destinatários deter-
acaba por possibilitar a atuação do Poder Público no condizente à minados ou determináveis e aplicáveis a todas as pessoas que de
rapidez e eficiência. uma forma ou de outra se coloquem em situações concretas que
No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a autoexecuto- correspondam às situações reguladas pelo ato. Exemplo: o Regula-
riedade somente é possível quando estiver expressamente previs- mento do Imposto de Renda.
ta em lei, ou, quando se tratar de medida urgente, que não sendo
adotada de imediato, ocasionará, por sua vez, prejuízo maior ao • Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários
interesse público. individualizados, podendo ser singulares ou plúrimos. Sendo que
será singular quando alcançar um único sujeito determinado e será
EXEMPLOS DE ATOS ADMINISTRATIVOS AUTOEXECUTÓRIOS plúrimo, quando for designado a uma pluralidade de sujeitos deter-
minados em si.
Apreensão de mercadorias impróprias para o consumo humano
Demolição de edifício em situação de risco Exemplo:
O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel. Por
Internação de pessoa com doença contagiosa
outro lado, como hipótese de ato individual plúrimo, cita-se: o ato
Dissolução de reunião que ameace a segurança de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto aos desti-
natários: ATOS GERAIS, ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES PLÚRIMOS
Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da pres-
tação jurisdicional possui o condão de garantir ao particular que b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem
considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado, possa ser atos vinculados e discricionários.
livremente levar a questão ao Poder Judiciário em busca da defesa • Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração
dos seus direitos. Pública fica sem liberdade de escolha, nos quais, desde que com-
provados os requisitos legais, a edição do ato se torna obrigatória,
Tipicidade nos parâmetros previstos na lei. Exemplo: licença para a construção
De antemão, infere-se que a maior parte dos autores não cita de imóvel.
a tipicidade como atributo do ato administrativo. Isso ocorre pelo • Já os discricionários são aqueles em que a Administração
fato de tal característica não estabelecer um privilégio da adminis- Pública possui um pouco mais de liberdade para, em consonância
tração, mas sim uma restrição. Se adotarmos o entendimento de com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar de-
que a título de “atributos” devemos estudar as particularidades dos cisões quando e como o ato será praticado, com a definição de seu
atos administrativos que os divergem dos demais atos jurídicos, de- conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática.
veremos incluir a tipicidade na lista. Entretanto, se entendermos
que apenas são considerados atributos as prerrogativas que aca- c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos admi-
bam por verticularizar as relações jurídicas nas quais a administra- nistrativos podem ser atos de império, de gestão e de expediente.
ção toma parte, a tipicidade não poderia ser considerada. • Atos de império são atos por meio dos quais a Administra-
Nos termos da primeira corrente, para a Professora Maria Syl- ção Pública pratica no uso das prerrogativas tipicamente estatais
via Zanella Di Pietro, a “tipicidade é o atributo pelo qual o ato admi- usando o poder de império para impô-los de modo unilateral e co-
nistrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela ercitivo aos seus administrados. Exemplo: interdição de estabeleci-
lei como aptas a produzir determinados resultados”. Assim sendo, mentos comerciais.
em consonância com esse atributo, para cada finalidade que a Ad-
ministração Pública pretender alcançar, deverá haver um ato pre- d) Em relação aos atos de gestão, são atos por meio dos quais
viamente definido na lei. a Administração Pública atua sem o uso das prerrogativas prove-
Denota-se que a tipicidade é uma consequência do princípio nientes do regime jurídico administrativo. Exemplo: atos de admi-
da legalidade. Esse atributo não permite à Administração praticar nistração dos bens e serviços públicos e dos atos negociais com os
atos em desacordo com os parâmetros legais, motivo pelo qual o particulares.
atributo da tipicidade é considerado como uma ideia contrária à da Quando praticados de forma regular os atos de gestão, passam
autonomia da vontade, por meio da qual o particular tem liberda- a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos.
de para praticar atos desprovidos de disciplina legal, inclusive atos
inominados. Exemplo:
Ainda nos trâmites com o entendimento exposto, ressalta-se Uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de for-
que a tipicidade só existe nos atos unilaterais, não se encontran- ma vinculante entre a administração e o locatário aos termos do
do presente nos contratos. Isso ocorre porque não existe qualquer contrato, acaba por gerar direitos e deveres para ambos.
impedimento de ordem jurídica para que a Administração venha a • Já os atos de expediente são tidos como aqueles que im-
firmar com o particular um contrato inominado desprovido de regu- pulsionam a rotina interna da repartição, sem caráter vinculante e
lamentação legal, desde que esta seja a melhor maneira de atender sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos e
tanto ao interesse público como ao interesse particular. papéis que tramitam internamente nos órgãos públicos.

Classificação dos Atos Administrativos Exemplo:


A Doutrina não é uniforme no que condiz à atribuição dada Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as
à diversidade dos critérios adotados com esse objetivo. Por esse devidas análises”.
motivo, sem esgotar o assunto, apresentamos algumas classifica-
ções mais relevantes, tanto no que se refere a uma maior utilidade
prática na análise dos regimes jurídicos, tanto pela concomitante
abordagem nas provas de concursos públicos.

33
DIREITO ADMINISTRATIVO
e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras
simples, complexos e compostos. gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou detalhar a correta apli-
• O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas cação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento do
um órgão da administração pública, pouco importando se esse ór- Imposto de Renda”.
gão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação específi-
servidor público pelo Prefeito de um Município, será considerada ca de pessoas ou grupos determinados, sendo que a sua publicação
como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo produz de imediato, efeitos concretos.
administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples cole-
giado. Exemplo:
• O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem
mais órgãos, por meio dos quais as vontades se unem em todos os para fim de desapropriação.
sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto re-
Presidente da República e referendado pelo Ministro de Estado. gulamentar, também designado de decreto de execução. A doutrina
É importante não confundir ato complexo com procedimento o conceitua como sendo aquele que introduz um regulamento, não
administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, “no ato com- permitindo que o seu conteúdo e o seu alcance possam ir além da-
plexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção de queles do que é permitido por Lei.
um mesmo ato, ao passo que no procedimento administrativo pra- Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre
ticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a obtenção matéria não regulada em lei, passando a criar um novo direito. Pon-
de um ato final e principal”. dera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto autônomo
admitidas no direito brasileiro, são as disposta no art. 84, VI, “a”, da
f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional 32/2001,
este também decorre do resultado da manifestação de vontade de que predispõe a competência privativa do Presidente da República
dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de para dispor, mediante decreto, sobre a organização e funcionamen-
que, ao passo que no ato complexo as vontades dos órgãos se unem to da administração federal, quando não incorrer em aumento de
para formar um só ato, no ato composto são praticados dois atos, despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos.
um principal e outro acessório.
• Atos ordinatórios
Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes Mei- Os atos administrativos ordinatórios são aqueles que podem
relles, para quem o ato administrativo composto “é o que resulta da ser editados no exercício do poder hierárquico, com o fulcro de dis-
vontade única de um órgão, mas depende da verificação por parte ciplinar as relações internas da Administração Pública. Detalhare-
de outro, para se tornar exequível”. A mencionada definição, em- mos aqui os principais atos ordinatórios. São eles:as instruções, as
bora seja discutível, vem sendo muito utilizada pelas bancas exa- circulares, os avisos, as portarias, as ordens de serviço, os ofícios e
minadoras na elaboração de questões de provas de concurso pú- os despachos.
blico. Isso ocorreu na aplicação da prova para Assistente Jurídico Instruções: tratam-se de atos administrativos editados pela
do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi considerado correto autoridade hierarquicamente superior, com o fulcro de ordenar a
o seguinte tópico: “Ao ato administrativo cuja prática dependa de atuação dos agentes que lhes são subordinados. Exemplo: as instru-
vontade única de um órgão da administração, mas cuja exequibili- ções que ordenam os atos que devem ser usados de forma interna
dade dependa da verificação de outro órgão, dá-se o nome de ato na análise do pedido de utilização de bem público formalizado uni-
administrativo composto”. camente por particular.
Circulares: são consideradas idênticas às instruções, entretan-
Espécies to, de modo geral se encontram dotadas de menor abrangência.
O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos Avisos: tratam-se de atos administrativos que são editados por
administrativos sejam divididos em cinco espécies. São elas: atos Ministros de Estados com o objetivo de tratarem de assuntos corre-
normativos, atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e latos aos respectivos Ministérios.
atos punitivos. Portarias: são atos administrativos respectivamente editados
por autoridades administrativas, porém, diferentes das do chefe do
• Atos normativos Poder Executivo. Exemplo:determinação por meio de portaria de-
Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é es- terminando a instauração de processo disciplinar específico.
miuçar os procedimentos e comportamentos para a fiel execução Ordens de serviço: tratam-se de atos administrativos ordena-
da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais, dores da adoção de conduta específica em circunstâncias especiais.
não possuem destinatários específicos e determinados, e abstratas, Exemplo: ordem de serviço determinadora de início de obra públi-
versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos. ca.
Ofícios: são especificamente, atos administrativos que se res-
Em relação à forma jurídica adotada, os atos normativos po- ponsabilizam pela formalização da comunicação de forma escrita
dem ser: e oficial existente entre os diversos órgãos públicos, bem como de
a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos entidades administrativas como um todo. Exemplo: requisição de
chefes do Poder Executivo utilizados para regulamentar situação informações necessárias para a defesa do Estado em juízo por meio
geral ou individual prevista na legislação, englobando também de de ofício enviado pela Procuradoria do Estado à Secretaria de Saú-
forma ampla, o decreto legislativo, cuja competência é privativa das de.
Casas Legislativas. Despachos: são atos administrativos eivados de poder decisó-
O decreto é de suma importância no direito brasileiro, moti- rio ou apenas de mero expediente praticados em processos admi-
vo pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os decretos podem ser nistrativos. Exemplo: quando da ocorrência de processo disciplinar,
classificados em decreto geral e individual. Vejamos: é emitido despacho especifico determinando a oitiva de testemu-
nhas.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
• Atos negociais 2) Parecer obrigatório: é o parecer que deve ser necessaria-
Também chamados de atos receptícios, são atos administrati- mente elaborado nas hipóteses mencionadas na legislação, mas a
vos de caráter administrativo editados a pedido do particular, com opinião nele contida não vincula de forma definitiva a autoridade
o fulcro de viabilizar o exercício de atividade específica, bem como a responsável pela decisão administrativa, que pode contrariar o pa-
utilização de bens públicos. Nesse ato, a vontade da Administração recer de forma motivada;
Pública é pertinente com a pretensão do particular. Fazem parte 3) Parecer vinculante: é o parecer que deve ser elaborado de
desta categoria, a licença, a permissão, a autorização e a admissão. forma obrigatória contendo teor que vincule a autoridade adminis-
Vejamos: trativa com o dever de acatá-lo.
a) Licença: possui algumas características. São elas:
— Ato vinculado: desde que sejam preenchidos os requisitos b) Certidões: tratam-se de atos administrativos que possuem
legais por parte do particular, o Poder Público deverá editar a li- o condão de declarar a existência ou inexistência de atos ou fatos
cença; administrativos. As certidões são atos que retratam a realidade, po-
— Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a Admi- rém, não são capazes de criar ou extinguir relações jurídicas.
nistração se torna conivente com o exercício da atividade privada *Nota importante: o art. 5, XXXIV, “b”, da Constituição Federal
como um todo; consagra o direito de certidão no âmbito de direitos fundamentais,
— Ato declaratório: ato que reconhece o direito subjetivo do no qual assegura a todo e qualquer cidadão interessado, indepen-
particular, vindo a autorizar a habilitação do seu exercício. dentemente do pagamento de taxas, “a obtenção de certidões em
repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
b) Permissão: trata-se de ato administrativo discricionário do- situações de interesse pessoal”.
tado da permissão do exercício de atividades específicas realizadas
pelo particular ou, ainda, o uso privativo de determinado bem pú- c) Atestados: tratam-se de atos administrativos similares às
blico. Exemplo: a permissão para uso de bem público específico. certidões, posto que também declaram a existência ou inexistência
A permissão é dotada de características essenciais. São elas: de fatos. Entretanto, os atestados não se confundem com as cer-
— Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a Ad- tidões, uma vez que nas certidões, o agente público utiliza-se do
ministração Pública concorda com o exercício da atividade privada, ato de emitir declaração sobre ato ou fato constante dos arquivos
bem como da utilização de bem público por particulares; públicos, ao passo que os atestados se incumbem da tarefa de re-
— Ato discricionário: ato por intermédio do qual a autoridade tratar fatos que não constam de forma antecipada dos arquivos da
administrativa é dotada de liberdade de análise referente à conve- Administração Pública.
niência e à oportunidade do ato administrativo;
— Ato constitutivo: ato por meio do qual, o particular possui d) Apostilamento: tratam-se atos administrativos que possuem
somente expectativa de direito antes da edição do ato, e não ape- o objetivo de averbar determinados fatos ou direitos reconhecidos
nas de direito subjetivo ao ato. pela norma jurídica como um todo. Como exemplo, podemos citar
o apostilamento, via de regra, feito no verso da última página dos
c) Autorização: é detentora de características iguais às da per- contratos administrativos, da variação do valor contratual advinda
missão, vindo a constituir ato administrativo discricionário permis- de reajuste previsto no contrato, nos parâmetros do art. 65, § 8.°,
sionário do exercício de atividade específica pelo particular ou, da Lei 8.666/1993, Lei de Licitações.
ainda, o uso particular de bem público. Da mesma forma que a per-
missão, a autorização possui como características: o ato de consen- • Atos punitivos
timento estatal, o ato discricionário e o ato constitutivo. Também chamados de atos sancionatórios, os atos punitivos
são aqueles que atuam na restrição de direitos, bem como de in-
d) Admissão: trata-se de ato administrativo vinculado portador teresses dos administrados que vierem a atuar em desalento com
do reconhecimento do direito ao recebimento de serviço público a ordem jurídica de modo geral. Entretanto, exige-se, de qualquer
específico pelo particular, que deve ser editado na hipótese na qual forma, o devido respeito à ampla defesa e ao contraditório na edi-
o particular preencha devidamente os requisitos legais ção de atos punitivos, nos trâmites do art. 5.°, LV, da Constituição
Federal Brasileira, bem como que as sanções administrativas te-
• Atos enunciativos nham previsão legal expressa cumprindo os ditames do princípio
São atos administrativos que expressam opiniões ou, ainda, da legalidade.
que certificam fatos no campo da Administração Pública. A doutri- Podemos dividir as sanções em dois grupos:
na reconhece como espécies de atos enunciativos: os pareceres, as 1) Sanções de polícia: de modo geral são aplicadas com supe-
certidões, os atestados e o apostilamento. Vejamos: dâneo no poder de polícia, bem como são relacionadas aos particu-
a) Pareceres: são atos administrativos que buscam expressar lares em geral. Exemplo: multa de trânsito.
a opinião do agente público a respeito de determinada questão de 2) Sanções funcionais ou disciplinares: são aplicadas com em-
ordem fática, técnica ou jurídica. Exemplo: no curso de processo de basamento no poder disciplinar aos servidores públicos e às demais
licenciamento ambiental é apresentado parecer técnico. pessoas que se encontram especialmente vinculadas à Administra-
De forma geral, a doutrina pondera a existência de três espé- ção Pública. Exemplo:reprimenda imposta à determinada empresa
cies de pareceres. São eles: contratada pela Administração.
1) Parecer facultativo: esta espécie não é exigida pela legislação Em relação aos atos punitivos, pode-se citar como exemplos, as
para formulação da decisão administrativa. Ao ser elaborado, não multas, as interdições de atividades, as apreensões ou destruições
vincula a autoridade competente; de coisas e as sanções disciplinares. Vejamos resumidamente cada
espécie:
Multas: tratam-se de sanções pecuniárias que são impostas
aos administrados.
Interdições de atividades:são atos que proibitivos ou suspensi-
vos do exercício de atividades diversas.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Apreensão ou destruição de coisas: cuidam-se de sanções Esse entendimento, em geral, evita que os particulares sejam
aplicadas pela Administração relacionadas às coisas que colocam a coagidos a conviver com extravagante insegurança jurídica, posto
população em risco. que, a qualquer momento a administração estaria apta a propor a
Ressalta-se que em se tratando de perigo público iminente, a cassação do ato administrativo.
autoridade pública deterá o poder de destruir as coisas nocivas à Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada
coletividade, havendo ou não, processo administrativo prévio, si- como um ato sancionatório, uma vez que a cassação só poderia ser
tuação hipotética na qual a ampla defesa será delongada para mo- proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos agen-
mento posterior. Entretanto, estando ausente a urgência da medi- tes de fiscalização em descumprimento às condições de subsistên-
da, denota-se que a sua aplicação dependerá da formalização feita cia do ato, bem como por ato revisional que implicasse auditoria,
de forma prévia no processo administrativo, situação por intermé- acoplando até mesmo questões relativas à intercepção de bases de
dio da qual, a ampla defesa será postergada para momento ulterior. dados públicas.
Sanções disciplinares: também chamadas de sanções funcio- Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos pa-
nais, as sanções disciplinares são aplicadas aos servidores públicos recidos, porém não são equivalentes, uma vez que a cassação ad-
e aos administrados possuidores de relação jurídica especial com a vém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários
Administração Pública, desde que tenha sido constatada a violação para a formação ou manutenção de uma situação jurídica, ao passo
ao ordenamento jurídico, bem como aos termos do negócio jurídi- que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do ato
co. Um exemplo disso, é a demissão de servidor público que tenha ocorreu na formação do ato.
cometido falta grave.
*Nota importante: Diferentemente das sanções aplicadas aos Anulação
particulares, de modo geral, no exercício do poder de polícia, as É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo
sanções disciplinares são aplicadas no campo das relações de sujei- de ele ter sido produzido com ausência de conformidade com a lei
ção especial de administrados específicos do poder disciplinar da e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle
Administração Pública, como é o caso dos servidores e contratados. de legalidade ou legitimidade do ato. O controle de legalidade ou
Ao passo que as sanções de polícia são aplicadas para o exterior legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito do
da Administração - as chamadas sanções externas - as sanções dis- ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar o
ciplinares são aplicadas no interior da Administração Pública, -as ato por razões de conveniência e oportunidade, deverá, por conse-
denominadas sanções internas. guinte, revogá-lo, e não o anular.
Diferentemente da revogação, que mantém incidência somen-
Extinção do ato administrativo te sobre atos discricionários, a anulação pode atingir tanto os atos
Diversas são as causas que causam e determinam a extinção discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado pelo fato
dos atos administrativos ou de seus efeitos. No entendimento de de que ambos deterem a prerrogativa de conter vícios de legalida-
Celso Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo eficaz poderá de.
ser extinto pelos seguintes motivos: cumprimento de seus efeitos, Em relação à competência, a anulação do ato administrativo
vindo a se extinguir naturalmente; desaparecimento do sujeito, viciado pode ser promovida tanto pela Administração como pelo
vindo a causar a extinção subjetiva, ou sendo do objeto, extinção Poder Judiciário.
objetiva; retirada do ato pelo Poder Público e pela renúncia do be- Muitas vezes, a Administração anula o seu próprio ato. Quando
neficiário. isso acontece, dizemos que ela agiu com base no seu poder de au-
totutela, devidamente paramentado nas seguintes Súmulas do STF:
Nesse tópico trataremos do condizente a outras situações por
meio das quais a extinção do ato administrativo ou de seus efeitos PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ocorre pelo fato do Poder Público ter emitido novo ato que surtiu
efeito extintivo sobre o ato anterior. Isso pode ocorrer nas seguintes A Administração Pública pode declarar
SÚMULA 346
situações: a nulidade dos seus próprios atos.
A Administração pode anular seus pró-
Cassação prios atos, quando eivados de vícios
É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido que os tornam ilegais, porque deles
condições que deveriam permanecer atendidas com o fito de dar não se originam direitos; ou revogá-
continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção SÚMULA 473 -los, por motivo de conveniência ou
do ato administrativo, a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo oportunidade, respeitados os direitos
sendo legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua adquiridos, e ressalvada, em todos os
execução. Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento casos, a apreciação judicial.
de hotel que passou a funcionar ilegalmente como casa de prosti-
tuição.
Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode ser in-
Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação de vocado para anular o ato administrativo por motivo de ilegalidade,
um ato administrativo é a preeminente necessidade de sua vincu- bem como para revogá-lo por razões de conveniência e oportuni-
lação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma similar. dade.
Desta forma, a Administração Pública não detém o poder de de- A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por
monstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para justificar provocação do interessado.
a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que houver sido Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no exer-
fixado nas referidas leis ou normas similares. cício de função jurisdicional, este apenas poderá anular o ato admi-
nistrativo havendo pedido do interessado.

36
DIREITO ADMINISTRATIVO
Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria Convalidação
Administração, somente pode ser realizada dentro do prazo legal- É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando
mente estabelecido. À vista da autonomia administrativa atribuída por sua vez, o vício que o maculava e mantendo seus efeitos, inclu-
de forma igual à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cada sive aqueles que foram gerados antes da providência saneadora.
uma dessas esferas tem a possibilidade de, observado o princípio Em sentido técnico, a convalidação gera efeitos ex tunc, uma vez
da razoabilidade e mediante legislação própria, fixar os prazos para que retroage à data da edição do ato original, mantendo-lhe todos
o exercício da autotutela. os efeitos.
Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua
Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no razão de ser, equivalendo em tudo a uma anulação, apagando os
âmbito federal, em razão do direito de a Administração anular os efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez,
atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os passaria a gerar os seus tradicionais efeitos prospectivos.
destinatários de boa-fé, o prazo de anulação decai em cinco anos, Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios
contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal sanáveis e insanáveis, bem como de atos administrativos nulos e
norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a anuláveis.
estipulação de prazos diferentes em outras esferas. À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi
incorporada formalmente à legislação brasileira. Nesse diapasão, o
Revogação art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a possibi-
É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela pró- lidade de convalidar os atos que apresentarem defeitos sanáveis,
pria Administração, por motivos de conveniência e oportunidade, levando em conta que tal providência não acarrete lesão ao interes-
sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de se público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja destinada
conveniência e oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento à aplicação no âmbito da União, o mesmo entendimento tem sido
do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal e per- aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da existência de
feito se torna inconveniente ao interesse público, a administração dispositivo similar nas leis locais, quanto mediante analogia com a
pública poderá suprimi-lo por meio da revogação. esfera federal e também com fundamento na prevalência doutriná-
A revogação resulta de um controle de conveniência e oportu- ria vigente.
nidade do ato administrativo promovido pela própria Administra- Assim, é de suma importância esclarecermos que a jurispru-
ção que o editou. dência tem entendido que mesmo o ato nulo pode, em determina-
É fundamental compreender que a revogação somente pode das lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em decorrência do
atingir os atos administrativos discricionários. Isso ocorre por que princípio da segurança jurídica.
quando a administração está à frente do motivo que ordena a prá-
tica do ato vinculado, ela deve praticá-lo de forma obrigatória, não Decadência Administrativa
lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de analisar a O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um direi-
conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo. Desta ma- to existente, pela falta de seu exercício, no período de tempo deter-
neira, não havendo possibilidade de análise de mérito para a edição minado em lei e também pela vontade das próprias partes e, ainda
do ato, essa abertura passará a não existir para que o ato seja des- no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu titular, que
feito pela revogação. não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido pela lei.
Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como
Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a prin- sendo a “perda do próprio direito, em si, por não o utilizar no prazo
cípio, a revogação do ato administrativo pode ser realizada a qual- previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a
quer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de certos única forma de expressão do direito coincide conaturalmente com
limites ao poder de revogar. Nos dizeres de Maria Sylvia Zanella Di o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se con-
Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos: funde com o exercício da ação para manifestá-lo”.
a) Os atos vinculados, porque sobre eles não é possível a aná- Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o dis-
lise de conveniência e oportunidade; posto legal sobre a decadência do direito de a administração pú-
b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não blica anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses
retroage e os atos já produziram todos os efeitos que lhe seriam vierem a gerar efeitos favoráveis a seus destinatários. Vejamos:
próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando Artigo 54. O direito da administração de anular os atos admi-
transcorre o prazo de uma licença concedida ao servidor público, nistrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
após o gozo do direito, não há como revogar o ato; decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem o salvo comprovada má-fé.
praticou, o que ocorre quando o ato está sob apreciação de autori- § 1° - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de
dade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o praticou decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
deixou de ser competente para revogá-lo; § 2° - Considera-se exercício do direito de anular qualquer me-
d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados, dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali-
votos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela dade do ato.”
lei; O mencionado direito de anulação do ato administrativo decai
e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada no prazo de cinco anos, contados da data em que o ato foi prati-
novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior; cado. Isso significa que durante esse decurso, o administrado per-
f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito manecerá submetido a revisões ou anulações do ato administrativo
adquirido), conforme estabelecido na Súmula 473 do STF. que o beneficia.
Entretanto, após o encerramento do prazo decadencial, o ad-
ministrado poderá ter suas relações com a administração consolida-
das contando com a proteção da segurança jurídica.

37
DIREITO ADMINISTRATIVO
Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do também passaram a ter sua prestação delegada a outras pessoas
Mandado de Segurança 28.953, adotou o seguinte entendimento jurídicas, que por sua vez, eram criadas pelo próprio Estado para
sobre a matéria na qual o ministro Luiz Fux desta forma esclareceu: esse fim específico. Eram as empresas públicas e sociedades de
“No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante economia mista, que possuem regime jurídico de direito privado,
dez anos a Turma de Direito Público, a minha leitura era exatamente cujo serviço era mais eficaz para que fossem executados os serviços
essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração comerciais e industriais.
tem cinco anos para concluir e anular o ato administrativo, e não Esses acontecimentos acabaram por prejudicar os critérios uti-
para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem que lizados pela doutrina para definir serviço público como um todo.
estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em deca- Denota-se que o elemento subjetivo foi afetado pelo fato de as pes-
dência (grifo aditado). Eu registro também que é da doutrina do soas jurídicas de direito público terem deixado de ser as únicas a
Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da prestar tais serviços, posto que esta incumbência também passou
proteção da confiança, que são expressões do Estado Democrático a ser delegada aos particulares, como é o caso das concessionárias,
de Direito, revelando-se impregnados de elevado conteúdo ético, permissionárias e autorizatárias. Já o elemento material foi atingido
social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive, em decorrência de algumas atividades que outrora não eram tidas
as de Direito Público. De sorte que é absolutamente insustentável como de interesse público, mas que passaram a ser exercidas pelo
o fato de que o Poder Público não se submente também a essa Estado, 8como por exemplo, como se deu com o serviço de loterias.
consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo de- O elemento formal, por sua vez, também foi bastante atingido, na
curso do tempo.” forma que aduz que nem todos os serviços públicos são prestados
Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe sob regime de exclusividade pública, como por exemplo, a aplica-
de cinco anos para anular o ato administrativo, o ministro Luiz Fux ção de algumas normas de direito do consumidor e de direito civil
promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e a contratos feitos entre os particulares e a entidade prestadora de
Administração Pública, suprimindo da administração o poder de serviço público de forma geral.
usar abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato adminis- Assim sendo, em razão dessas inovações, os autores passaram,
trativo, o que proporciona maior equilíbrio entre as partes interes- por sua vez, a comentar em crise na noção de serviço público. Ho-
sadas. diernamente, os critérios anteriormente mencionados continuam
Em resumo, é de grande importância o posicionamento adota- sendo utilizados para definir serviço público, porém, não é exigido
do pela Corte Suprema, levando em conta que ao mesmo só tempo, que os três elementos se façam presentes ao mesmo tempo para
propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de conta-
que o serviço possa ser considerado de utilidade pública, passan-
gem do prazo decadencial.
do a existir no campo doutrinário diversas definições, advindas do
uso isolado de um dos elementos ou da combinação existente entre
SERVIÇOS PÚBLICOS: CONCEITO. PRINCÍPIOS eles.
Registra-se, que além da enorme variedade de definições ad-
vindas da combinação dos critérios subjetivo, material e formal, é
Conceito
de suma importância compreendermos que o vocábulo “serviço
De modo geral, não havendo a existência de um conceito legal
público” pode ser considerado sob dois pontos de vista, sendo um
ou constitucional de serviço público, a doutrina se encarregou de
buscar uma definição para os contornos do instituto, ato que foi re- subjetivo e outro objetivo. Façamos um breve estudo de cada um
alizado com a adoção, sendo por algumas vezes isolada, bem como deles:
em outras, de forma combinadas, vindo a utilizar-se dos critérios
subjetivo, material e formal. Vejamos a definição conceitual de cada Sentido objetivo
em deles: Infere-se que tal expressão é usada para fazer alusão ao sujeito
responsável pela execução da atividade. Exemplo: determinada au-
Critério subjetivo tarquia com o dever de prestar de serviços para a área da educação.
Aduz que o serviço público se trata de serviço prestado pelo
Estado de forma direta. Sentido objetivo ou material
Nesse sentido, a administração pública está coligada à diversas
Critério material atividades que são exercidas pelo Estado, por intermédio de seus
Sob esse crivo, serviço público é a atividade que possui como agentes, órgãos e entidades na diligência eficaz da função adminis-
objetivo satisfazer as necessidades coletivas. trativa estatal.
Destaque-se, por oportuno, que o vocábulo serviço público
Critério formal sempre está se referindo a uma atividade, ou, ainda, a um conjunto
Segundo esse critério, serviço público é o labor exercido sob de atividades a serem exercidas, sem levar em conta qual o órgão
o regime jurídico de direito público denegridor e desmesurado do ou a entidade que as exerce.
direito comum. Mesmo com os aspectos expostos, boa parte da doutrina ain-
da usa de definições de caráter amplo e restrito do vocábulo ser-
Passando o tempo, denota-se que o Estado foi se distanciando viço público. Para alguns, tal vocábulo se presta a designar todas
dos princípios liberais, passando a desenvolver também atividades as funções do Estado, tendo em vista que nesse rol estão inclusas
comerciais e industriais, que, diga se de passagem, anteriormente as funções administrativa, legislativa e judiciária. Já outra corrente
eram reservadas somente à iniciativa privada. De outro ângulo, foi doutrinária, utiliza-se de um conceito com menor amplitude, vindo
verificado em determinadas situações, que a estrutura de organiza- a incluir somente as funções administrativas e excluindo, por sua
ção do Estado não se encontrava adequada à execução de todos os vez, as funções legislativa e judiciária. Destarte, infere-se que den-
serviços públicos. Por esse motivo, o Poder Público veio a delegar tre aquelas doutrinas que adotam um sentido mais restrito, existem
a particulares com o intuito de responsabilidade, a prestação de al- ainda as que excluem do conceito atividades importantes advindas
guns serviços públicos. Em outro momento, tais serviços públicos do exercício do poder de polícia, de intervenção e de fomento.

38
DIREITO ADMINISTRATIVO
Denota-se com grande importância, que o direito brasileiro Subjetivo: Por meio do qual o serviço público está sempre sob
acaba por diferenciar de forma expressa o serviço público e o poder a total responsabilidade do Estado. No entanto, registra-se que ao
de polícia. Em campo tributário, por exemplo, no disposto em seus Estado como um todo, é permitido delegar determinados serviços
arts. 77 e 78, o Código Tributário Nacional dispõe do ensino e deter- públicos, desde que sempre por intermediação dos parâmetros da
minação de duas atuações como fatos geradores diversos do tribu- lei e sob regime de concessão ou permissão, bem como por meio de
to de nome taxa. Nesse diapasão de linha diferenciadora, a ESAF, na licitação. Denota-se que nesse caso, é o próprio Estado que escolhe
aplicação da prova para Procurador do Distrito Federal/2007, veio os serviços que são considerados serviços públicos. Como exem-
a considerar como incorreta a afirmação: “o exercício da atividade plo, podemos citar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica,
estatal de polícia administrativa constitui a prestação de um serviço dentre outros serviços pertinentes à Administração Pública. Esse
público ao administrado”. elemento determina que o serviço público deve ser prestado pelo
De forma geral, a doutrina entende que os elementos subjetivo, Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pessoas jurídi-
material e formal tradicionalmente utilizados para definir serviço cas criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a terceiros
público, continuam de forma ampla a servir a esse propósito, desde para que possam prestá-lo.
que estejam combinados e harmonizados com o fito de acoplar de
forma correta, as contemporâneas figuras jurídicas que vêm sendo Formal: A princípio, o regime jurídico é de Direito Público, ou
inseridas e determinadas pelo legislador com força de lei, com o parcialmente público, sob o manto do qual o serviço público deverá
fulcro de oferecer conveniência e utilidades, bem como de atender ser prestado. No entanto, quando particulares prestam seus servi-
as constantes necessidades da população que sempre acontecem ços em conjunto com o Poder Público, ressalta-se que o regime ju-
de forma mutante, a exemplo das parcerias público-privadas, das rídico é considerado como híbrido. Isso por que nesse caso, poderá
OSCIPs e organizações sociais. haver a permanência do Direito Público ou do Direito Privado nos
Nesse sentido, com o objetivo de reinterpretar o elemento ditames da lei. Porém, em ambas as situações, a responsabilidade
subjetivo em consonância com o atual estágio de evolução do di- será sempre objetiva.
reito administrativo, podemos afirmar que a caracterização de um
serviço como público, em tempos contemporâneos passou a não Material: Por intermédio desse elemento, o serviço público de-
exigir mais que a prestação seja realizada pelo Estado, mas apenas verá sempre prestar serviços condizentes a uma atividade de inte-
que ele passe a deter, nos termos legais dispostos na Constituição resse público como um todo. Denota-se que por meio da aplicação
Federal de 1988, a titularidade de tal serviço. Em relação a esse desse elemento, o objetivo do serviço público será sempre o de sa-
aspecto, destacamos a importância de não vir a confundir a expres- tisfazer de forma concreta as necessidades da coletividade.
siva titularidade do serviço com sua efetiva prestação. Registe-se
que o titular do serviço, trata-se do sujeito que detém a atribuição Esquematizando, temos:
legal constitucional para vir a prestá-lo. Via de regra, aquele que de-
tém a titularidade do serviço não se encontra obrigado a prestá-lo Elementos constitutivos dos serviços públicos
de forma direta através de seus órgãos, mas tem o dever legal de
promover-lhe a prestação, de forma direta por meio de seu aparato Subjetivo - determina que o serviço público deve ser presta-
administrativo, ou, ainda, mediante a legal delegação a particulares do pelo Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pesso-
realizada por meio de concessão, permissão ou autorização. as jurídicas criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a
De maneira igual, contemporaneamente, o critério material terceiros para que possam prestá-lo.
considerado de forma isolada não é suficiente para definir um ser-
viço como público. Isso ocorre pelo fato de existirem determinadas Formal - o regime jurídico é de Direito Público, ou parcial-
atividades relativas aos direitos sociais como saúde e educação, por mente público, sob o manto do qual o serviço público deverá ser
exemplo, que apenas podem ser enquadradas no conceito quando prestado.
forem devidamente prestadas pelo Estado, levando em conta que
a execução desses serviços por particulares deve ser denominada Material - o serviço público deverá sempre prestar serviços
como serviço privado. condizentes a uma atividade de interesse público como um todo.
Finalmente, em relação ao critério formal, nos tempos moder-
nos, infere-se que não é mais necessário que o regime jurídico ao Subjetivo - é o próprio Estado que escolhe os serviços que
qual está submetido o serviço público seja realizado de maneira in- são considerados serviços públicos. Como exemplo, podemos ci-
tegral de direito público, sendo que em algumas situações, acaba tar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica, dentre outros
existindo um sistema híbrido que é formado por regras e normas serviços pertinentes à Administração Pública.
de direito público e privado, principalmente em se tratando de caso
de serviços públicos nos quais sua prestação tenha sido delegada a Formal - poderá haver a permanência do Direito Público ou
terceiros. do Direito Privado nos ditames da lei. Porém, em ambas as situa-
ções, a responsabilidade será sempre objetiva.
Observação importante: Com o entendimento acima mencio-
nado, a ilustre Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro acaba por Material - por meio da aplicação desse elemento, o objetivo
definir serviço público como sendo toda a atividade material que a do serviço público será sempre o de satisfazer de forma concreta
lei atribui ao Estado, para que este a exerça de forma direta ou por as necessidades da coletividade.
intermédio de seus delegados, com o condão de satisfazer de forma
concreta as necessidades da coletividade, sob regime jurídico total
ou parcialmente público.

Elementos Constitutivos
Os elementos do serviço público podem ser classificados sob os
seguintes aspectos:

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Regulamentação e Controle Considera-se que a Lei Federal 8.987/1995, em obediência ao
Tanto a regulamentação quanto o controle do serviço público mandamento constitucional foi editada estabelecendo normas ge-
são realizados de maneira regular pelo Poder Público. Isso ocorre neralizadas como um todo em matéria de concessão e permissão
em qualquer sentido, ainda que o serviço esteja delegado por con- de serviços públicos, devendo tais normas, ser aplicáveis à União,
cessão, permissão ou autorização, uma vez que nestas situações, Estados, Distrito Federal e Municípios, da mesma forma que a Lei
deverá o Estado manter sua titularidade e, ainda que haja situações Federal 9.074/1995, que, embora tenha o condão de estipular re-
adversas e problemas durante a prestação, poderá o Poder Público gras especificamente voltadas a serviços de competência da União,
interferir para que haja a regularização do seu funcionamento, com trouxe também em seu bojo, pouquíssimas regras gerais que po-
fundamento sempre na preservação do interesse público. dem ser aplicadas a todos os entes federados.
Ressalta-se que esses serviços são controlados e também fisca- Em relação à forma de prestação dos serviços públicos, depre-
lizados pelo Poder Público, que deve intervir em caso de má pres- ende-se que estes podem ser prestados de forma centralizada ou
tação, sendo que isso é uma obrigação que lhe compete segundo descentralizada, sendo a primeira forma caracterizada quando o
parâmetros legais. serviço público for prestado pela própria pessoa jurídica federativa
A esse respeito, dispõe a Lei 8997 de 1995 em seus arts. 3º e que detém a sua titularidade e a segunda forma, quando, em várias
32, respectivamente: situações, o ente político titular de determinado serviço público,
Art. 3º. As concessões e permissões sujeitar-se-ão à fiscalização embora continue mantendo a sua titularidade, termina por transfe-
pelo poder concedente responsável pela delegação, com a coopera- rir a pessoas diferentes e desconhecida à sua estrutura administra-
ção dos usuários. tiva, a responsabilidade pela prestação.
Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com Lembremos que o ente político, mesmo ao transferir a respon-
o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço, bem como sabilidade pela prestação de serviços públicos a terceiros, sempre
o fiel cumprimento das normas contratuais, regulamentares e le- poderá conservar a sua titularidade, fato que lhe garante a manu-
gais pertinentes. tenção da competência para regular e controlar a prestação dos
serviços delegados a outrem.
Deve-se registrar também, que outro aspecto que deve ser en- A descentralização dos serviços públicos pode ocorrer de duas
fatizado com destaque em relação à regulamentação e ao contro- maneiras:
le dos serviços públicos, são os requisitos do serviço e direito dos 1. Por meio de outorga ou delegação legal: por meio da qual o
usuários, sendo que o primeiro deles é a permanência, que possui Estado cria uma entidade que poderá ser autarquia, fundação pú-
como atributo, impor a continuidade do serviço. Logo após, temos blica sociedade de economia mista ou empresa pública, transferin-
o requisito da generalidade, por meio do qual, os serviços devem do-lhe, por meios legais a execução de um serviço público.
ser prestados de maneira uniforme para toda a coletividade. Em se- 2. Por meio de delegação ou delegação negocial: por intermé-
guida, surge o requisito da eficiência, por intermédio do qual é exi- dio da qual, o Poder Público detém o poder de transferir por contra-
gida a eficaz atualização do serviço público. Em continuidade, vem to ou ato unilateral a execução ampla do serviço, desde que o ente
a modicidade, por meio da qual, infere-se que as tarifas que são co- delegado preste o serviço em nome próprio e por sua conta e risco,
bradas dos usuários devem ser eivadas de valor razoável e por fim, sob o controle do Estado e dentro da mesma pessoa jurídica.
a cortesia, que por seu intermédio, entende-se que o tratamento Esclarece-se ainda, a título de conhecimento, que a delegação
com o usuário público em geral, deverá ser oferecido com presteza. negocial admite a titularidade exclusiva do ente delegante sobre
Havendo descumprimento de quaisquer dos requisitos retro o serviço a ser delegado. Em se tratando de serviços nos quais a
mencionados, afirma-se que o usuário do serviço terá em suas mãos titularidade não for exclusiva do Poder Público, como educação e
o direito pleno de recorrer ao Poder Judiciário para exigir a correta saúde, por exemplo, o particular que tiver a pretensão de exercê-lo
prestação desses serviços. Neste mesmo sentido, destaca-se que a não estará dependente de delegação do Estado, uma vez que tais
greve de servidores públicos, não poderá jamais ultrapassar o direi- atos de exercício de educação e saúde, quando forem prestados por
to dos usuários dos serviços essenciais, que se tratam daqueles que particulares, não serão mais considerados como serviços públicos,
por decorrência de sua natureza, colocam a sobrevivência, a vida e mas sim como atividade econômica da iniciativa privada.
a segurança da sociedade em risco se estiverem ausentes. Em outras palavras, os serviços públicos podem ser executados
nas formas:
Formas de prestação e meios de execução Direta: Quando é prestado pela própria administração pública
O art. 175 da Constituição Federal de 1988 determina, que por intermédio de seus próprios órgãos e agentes.
compete ao Poder Público, nos parâmetros legais, de forma direta Indireta: Quando o serviço público é prestado por intermé-
ou sob regime de concessão ou permissão a prestação de serviços dio de entidades da Administração Pública indireta ou, ainda, de
públicos de forma geral. De acordo com esse mesmo dispositivo, as particulares, por meio de delegação, concessão, permissão e au-
concessões e permissões de serviços públicos deverão ser sempre torização. Esta forma de prestação de serviço, deverá ser sempre
precedidas de licitação. sobrepujada de licitação, formalizada por meio de contrato admi-
Entretanto, o parágrafo único do art. 175 da Carta Magna dis- nistrativo, seguida de adesão com prazo previamente estipulado
põe a implementação de lei para regulamentar as seguintes refe- e que por ato bilateral, buscando somente transferir a execução,
rências: porém, jamais a titularidade que deverá sempre permanecer com
I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias o poder outorgante.
de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e
rescisão da concessão ou permissão;
II – os direitos dos usuários;
III – política tarifária;
IV – a obrigação de manter serviço adequado.

40
DIREITO ADMINISTRATIVO
Em resumo, temos: Já a concessão de serviço público antecedida de execução de
obra pública pode ser como “a construção, total ou parcial, conser-
vação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de
interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante licita-
ção, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio
de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por
sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária
seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço
ou da obra por prazo determinado” (art. 2º, III). Como hipótese de
exemplo, citamos a concessão a particular, vitorioso de processo
licitatório por construção e conservação de rodovia, com o conse-
quente pagamento realizado mediante a cobrança de pedágio aos
Transferência da execução do particulares que vierem a utilizar da via.
DESCENTRALIZAÇÃO serviço para outra pessoa física ou Pondera-se que a diferença entre as duas modalidades de con-
jurídica. cessão comum está apenas no objeto. Perceba que na concessão
simples, o objeto do contrato é somente a execução de atividade
Divisão interna do serviço com que foi caracterizada como sendo serviço público, ao passo que na
DESCONCENTRAÇÃO outros órgãos da mesma pessoa ju- concessão de serviço público antecedida da execução de obra pú-
rídica. blica existe uma duplicidade de objeto, sendo que o primeiro deles
se refere ao ajuste existente entre o poder concedente e o conces-
Delegação sionário para que certa obra pública seja executada. Em relação ao
Concessão segundo, a prestação do serviço público existe na exploração am-
Ocorre a delegação negocial de serviços públicos mediante: plamente econômica do serviço ou da obra.
concessão, permissão ou autorização.
Nesse tópico, não esgotaremos todas as formas de concessões • Direitos e obrigações dos usuários
existentes e suas formas de aplicação e execução nos serviços públi- Nos ditames do art. 7º da Lei 8.987/1995, os direitos e obriga-
cos, porém destacaremos as mais importantes e mais cobradas em ções dos usuários dos serviços públicos delegados são os seguintes:
provas de concursos públicos e áreas afins. a) Receber serviço adequado;
Conforme o Ordenamento Jurídico Brasileiro, as concessões de b) Receber do poder concedente e da concessionária informa-
serviços públicos podem ser divididas em duas espécies: ções para a defesa de interesses individuais ou coletivos;
1ª) Concessões comuns, que estão sob a égide das leis c) Obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre
8.987/1995 e 9.074/1995 e 2ª, que subdividem em: concessão de vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as
serviços públicos e concessão de serviço público precedida da exe- normas do poder concedente;
cução de obra pública. d) Levar ao conhecimento do poder público e da concessioná-
2ª) Concessões especiais, que são as parcerias público-privadas ria as irregularidades de que tenham conhecimento, referentes ao
previstas na Lei 11.079/2004, sujeitas a alguns dispositivos da Lei serviço prestado;
8.987/1995. Se subdividindo em duas categorias: concessão patro- e) Comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos prati-
cinada e concessão administrativa. cados pela concessionária na prestação do serviço;
A concessão comum de serviço público é uma modalidade de f) Contribuir para a permanência das boas condições dos bens
contrato administrativo por intermédio do qual a Administração Pú- públicos pelos quais lhes são prestados os serviços.
blica transfere delegação a pessoa jurídica ou, ainda, a consórcio de Ademais, as concessionárias de serviços públicos, de direito
empresas a execução de certo serviço público pertencente à sua público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são legalmente
titularidade, na qual o concessionário é obrigado, por meio de con- obrigadas a dispor ao consumidor e ao usuário, desde que dentro
tratos legais a executar o serviço delegado em nome próprio, por do mês de vencimento, o mínimo de seis datas como opção para
sua conta e risco, sendo sujeito a controle e fiscalização do poder escolherem os dias de vencimento de seus débitos a serem adim-
concedente e remunerado através de tarifa paga pelo usuário ou plidos, nos termos do art. 7º-A, da Lei 8.987/1995.
outra modalidade de remuneração advinda da exploração do ser-
viço. Exemplo: as receitas adquiridas por empresas de transporte 1. Serviço adequado
coletivo que cobram por comerciais constantes na parte traseira Os usuários detêm o direito de receber um serviço público
dos ônibus. adequado. Esse direito encontra-se regulamentado pelo seguinte
Conforme mencionado, existem duas modalidades de conces- dispositivo:
são comum, quais sejam: a concessão de serviço público, também
conhecida como concessão simples e a concessão de serviço públi- Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação
co antecedida de execução por meio de obra pública. de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, confor-
A concessão de serviço público ou concessão simples, pode ser me estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo
definida pela lei como a “delegação da prestação de serviço público, contrato.
feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de § 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regula-
concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que de- ridade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalida-
monstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e de, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
por prazo determinado” (art. 2º, II).

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Denota-se que além do conhecimento da previsão no citado Referente às concessões advindas de parceria público-priva-
dispositivo, é importante compreendermos o significado prático de da, infere-se que a vigência de tais contratos deverá ser sempre
cada condição citada, com o objetivo de garantir que cada exigência compatível com o abatimento dos investimentos realizados, não
legal seja cumprida para a qualificação do serviço como adequado. podendo ser sendo inferior a 5 e nem superior a 35 anos, já restan-
Desta forma, temos: do-se incluído nesse prazo eventual prorrogação nos termos da Lei
1 – Regularidade: exige que os serviços públicos sejam presta- 11.079/2004, art. 5º, I.
dos de forma a garantir a estabilidade e a manutenção dos requi-
sitos essenciais, sendo prestados em perfeita harmonia com a lei e Cláusulas do contrato de concessão
com o regulamento que disciplina a matéria. Nos ditames dos arts. 23 e 23-A da Lei 8.987/1995, as cláusu-
2 – Continuidade: impõe que o serviço público, uma vez insti- las do contrato de concessão tratam de modo geral sobre o modo,
tuído, seja prestado de forma permanente e sem interrupção, com a forma e as condições de prestação dos serviços; os direitos e as
exceção de situações de emergência, bem como a que advém de obrigações do concedente, do concessionário e dos usuários; os po-
razões de ordem técnica ou de segurança das instalações elétricas, deres de fiscalização do concedente; a obrigação do concessionário
por exemplo. de prestar contas; ou e disciplinam aspectos relativos à extinção da
3 – Eficiência: refere-se à obtenção de resultados eficazes na concessão.
prestação do serviço público, exigindo que o serviço seja realiza- Infere-se que as cláusulas podem ser divididas em: cláusulas
do de acordo com uma adequada relação de custo/benefício, para, essenciais obrigatórias em qualquer contrato de concessão, quer
com isso, evitar desperdícios. seja concessão simples, quer seja concessão de serviço público pre-
4 – Segurança: deverão os serviços públicos respeitar padrões, cedida de obra pública, cláusulas obrigatórias apenas nos contratos
bem como normas de segurança, de forma a preservar a integri- de concessão de serviço público precedida da execução de obra pú-
dade da população de modo geral e dos equipamentos utilizados. blica e cláusulas facultativas. Vejamos, em síntese:
5 – Atualidade: possui como foco o impedimento de que o
prestador se encontre alheio às inovações tecnológicas, suprimindo (São obrigatórias nas concessões):
o investimento em termos de disponibilização aos usuários das me- I – objeto, área e prazo da concessão;
lhorias de qualidade e amplitude do serviço. II – modo, forma e condições de prestação do serviço;
6 – Generalidade: deve oferecer a garantia de que o serviço III – critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros definidores
seja ofertado da forma mais abrangente possível. da qualidade do serviço;
7 – Cortesia: o prestador do serviço deverá tratar o usuário de IV – preço do serviço, critérios e procedimentos para o reajuste
forma educada e gentil. e a revisão das tarifas;
8 – Modicidade das tarifas: aduz que o valora a ser pago pela V – direitos, garantias e obrigações do poder concedente e da
prestação dos serviços, deverá, nos parâmetros legais, ser estabe- concessionária, inclusive os relacionados às previsíveis necessida-
lecido de acordo com os padrões de razoabilidade, buscando evitar des de futura alteração e expansão do serviço e consequente mo-
que os prestadores de serviços venham o obter lucros extraordiná- dernização, aperfeiçoamento e ampliação dos equipamentos e das
rios causando prejuízo aos usuários econômico-financeiros do con- instalações;
trato firmado com a administração. VI – direitos e deveres dos usuários para obtenção e utilização
do serviço;
Observação importante: A celebração de qualquer espécie de VII – forma de fiscalização das instalações, dos equipamentos,
contrato de concessão ou permissão de serviço público deve ser dos métodos e práticas de execução do serviço, bem como a indi-
realizada mediante licitação, conforme previsto no art. 175 da Cons- cação dos órgãos competentes para exercê-la; simples e nas con-
tituição Federal. Concernente às concessões, a Lei 8.987/1995 de- cessões de serviço público precedida da execução de obra pública
terminou que a delegação dependerá da realização de prévio pro- (art. 23,caput);
cedimento licitatório para que seja escolhido o concessionário, na VIII – penalidades contratuais e administrativas a que se sujeita
modalidade obrigatória da concorrência. Sendo a modalidade licita- a concessionária e sua forma de aplicação;
tória regulada pela Lei de Licitações e Contratos, Lei 8.666/1993, e IX – casos de extinção da concessão;
tema dos próximos tópicos de estudo, mais adiante, detalharemos X – bens reversíveis;
com maior aprofundamento sobre este importante tema. XI – critérios para o cálculo e a forma de pagamento das indeni-
zações devidas à concessionária, quando for o caso;
Passemos a abordar a respeito do prazo que a Administração XII – condições para prorrogação do contrato;
Pública permite à concessão na execução dos serviços públicos XIII – à obrigatoriedade, forma e periodicidade da prestação de
como um todo. A Lei 8.987/1995 estabelece que a concessão sim- contas da concessionária ao poder concedente;
ples de serviço público ou a concessão de serviço público prece- XIV – exigência da publicação de demonstrações financeiras
dida de obra pública deverá ser realizada por prazo determinado, periódicas da concessionária; e
mas não define quais seriam os limites desse prazo. Assim sendo, XV – o foro e o modo amigável de solução das divergências con-
caberá à lei reguladora específica de cada serviço público, devida- tratuais.
mente editada pelo ente federado detentor de competência para
prestá-lo, aditar definindo qual o prazo de duração do contrato de Cláusulas obrigatórias somente nas concessões de serviços
concessão. Caso o legislador competente não estabeleça qualquer públicos precedidas de obras públicas (art. 23, parágrafo único)
prazo, deverá, por conseguinte, o poder concedente fixá-lo no ato I – estipular os cronogramas físico-financeiros de execução das
da minuta do contrato de concessão, que se encontra afixado como obras vinculadas à concessão; e
anexo no edital da licitação. Denota-se que o prazo deve ser razo- II – exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessionária,
ável, de forma a permitir o abatimento dos investimentos a serem das obrigações relativas às obras vinculadas à concessão.
realizados pelo concessionário.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Cláusulas facultativas (art. 23-A) B) A concessionária descumprir cláusulas contratuais ou dispo-
I – o contrato de concessão poderá prever o emprego de meca- sições legais ou regulamentares concernentes à concessão;
nismos privados para resolução de disputas decorrentes ou relacio- C) A concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tan-
nadas ao contrato, inclusive a arbitragem, a ser realizada no Brasil to, ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força
e em língua portuguesa, nos termos da Lei 9.307, de 23.09.1996; maior;
II – qualquer outra que não seja obrigatória. D) A concessionária perder as condições econômicas, técnicas
ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço con-
É importante, demonstrar que o contrato de concessão é firma- cedido; a concessionária não cumprir as penalidades impostas por
do tendo em vista, não apenas oferecimento da melhor proposta, infrações, nos devidos prazos;
mas incluindo também as características referentes à pessoa con- E) A concessionária não atender a intimação do poder conce-
tratada, devendo o concessionário demonstrar capacidade técnica dente no sentido de regularizar a prestação do serviço; e
e econômico-financeira que faça haver a presunção de que haverá F) A concessionária não atender a intimação do poder conce-
a perfeita execução do serviço. A esse aspecto, a doutrina deno- dente para, em 180 dias, apresentar a documentação relativa à re-
mina de contrato firmado intuitu personae, que se trata da prática gularidade fiscal, no curso da concessão, na forma do art. 29 da Lei
de eventual transferência da concessão para outra pessoa jurídica, 8.666, de 21.06.1993.
bem como do controle societário da concessionária, sem prévia avi-
so ou autorização do poder concedente, vindo a implicar a caduci- 3 – Rescisão
dade que nada mais é do que a extinção da concessão. De acordo com a Lei 8.987/1995 a rescisão é a forma de ex-
tinção da concessão, por iniciativa da respectiva concessionária,
Intervenção na concessão quando esta se encontrar motivada pelo descumprimento de nor-
A intervenção na concessão encontra-se submetida a um pro- mas contratuais advindas do poder concedente, nos ditames do art.
cedimento formal. De antemão, o poder concedente, por meio de 39. Nesta hipótese, sendo a autoexecutoriedade privilégio aplicável
ato do Chefe do Poder Executivo, ao tomar conhecimento da falta somente à Administração Pública, para que o concessionário possa
de adequação da prestação do serviço ou do descumprimento pela rescindir o contrato de concessão, deverá fazê-lo por intermédio de
concessionária das normas pertinentes, edita o decreto de inter- ação judicial, sendo que os serviços prestados pela concessionária
venção que deverá conter a designação do interventor, o prazo da não deverão ser interrompidos e nem mesmo paralisados em hi-
intervenção e os objetivos e limites da medida nos ditames do le- pótese alguma, até que a decisão judicial que determine a rescisão
gais pertinentes. transite em julgado.
Declarada a intervenção por intermédio de decreto, o poder
concedente deverá, no prazo de até 30 dias, realizar a instauração 4 – Anulação
de procedimento administrativo com o fito de comprovar as causas Trata-se de hipótese de extinção do contrato de concessão em
determinadas na medida e apurar as responsabilidades. Esse proce- decorrência de vício de legalidade, que pode, via de regra, ser de-
dimento administrativo deverá ser concluído em até 180 dias, sob clarado por via administrativa ou judicial.
pena de ser considerada inválida a intervenção, nos termos do art.
33, § 2º da Lei 8987/95. 5 – Falência ou extinção da empresa concessionária e faleci-
mento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual
Extinção da concessão A Lei 8.987/1995, embora a Lei 8.987/95 mencione esse tópico
A concessão pode ser extinta por várias causas, colocando como formas de extinção da concessão no art. 35, VI, nada dispõe
fim à prestação dos serviços pelo concessionário. O art. 35 da Lei em relação aos efeitos dessas hipóteses de extinção. No entendi-
8.987/1995, prevê de forma expressa algumas causas de extinção mento de José dos Santos Carvalho Filho, tais fatos acabam por
da concessão. Sendo elas: o advento do termo contratual; a encam- provocar a extinção de pleno direito do contrato, pelo fato de que
pação; a caducidade; a rescisão; a anulação; e a falência ou extinção tornam inviável a execução do serviço público objeto do ajuste.
da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade do titu-
lar, em se tratando de empresa individual. 6 – Desafetação do serviço público
Pondera-se que além das causas anteriores, previstas na legis- A Lei 8.987/1995 não se refere e nem minucia a desafetação
lação e adotadas pela doutrina, a extinção da concessão de serviço de serviço público como causa de extinção da concessão. Entretan-
público também pode ocorrer por: desafetação do serviço; distrato; to, no entender de Diógenes Gasparini, a desafetação do serviço
ou renúncia da concessionária. público em decorrência de lei também é hipótese de extinção da
Vejamos: concessão, tendo em vista que a desafetação ocorre no momento
em que uma lei torna público um serviço.
1 – Encampação (ou resgate)
Consiste na extinção da concessão em decorrência da retoma- 7 – Distrato (acordo)
da do serviço pelo poder concedente durante o prazo da concessão, Mesmo não havendo referência legal à extinção da concessão
por motivos de interesse público. por intermédio de acordo ou distrato entre o poder concedente e
a concessionária, esta hipótese não foi vedada pela legislação. Por
2 – Caducidade (ou decadência) esse motivo, boa parte da doutrina vem admitindo a extinção an-
Consiste na extinção do contrato de concessão de serviço pú- tecipada da concessão de forma amigável e também consensual.
blico em decorrência de inexecução total ou parcial do contrato,
por razões que devem ser imputadas à concessionária. Poderá ser
declarada pelo poder concedente pelas seguintes maneiras, nos
termos do art. 38, § 1º, I a VII:
A) O serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou
deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicadores e parâ-
metros definidores da qualidade do serviço;

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DIREITO ADMINISTRATIVO
8 – Renúncia da concessionária Relativo a primeira, aduz-se que todo contrato administrativo
Nesse caso, a lei também não menciona essa hipótese como é um contrato de adesão, posto que a minuta do contrato deve ser
maneira de extinção da concessão. Porém, o ilustre Diogo de Figuei- redigida pela Administração, bem como integra todos os anexos do
redo Moreira Neto, a renúncia da concessionária será aceita como edital de licitação apresentado. Desta maneira, aquele que vence a
forma de extinção da concessão, a partir do momento em que hou- licitação e, por sua vez, assina o contrato, passa a aderir somente ao
ver previsão contratual nesse sentido vindo a disciplinar-lhe as de- que foi estipulado pela Administração Pública, não podendo haver
vidas consequências. discussões sobre as cláusulas contratuais. Assim ocorrendo, tanto a
concessão quanto a permissão de serviço público estarão se cons-
Nota importante acerca da concessão: tituindo em contrato de adesão, sendo que essa circunstância, não
• Outro efeito da extinção da concessão é a assunção imediata serve para diferenciar os dois institutos.
do serviço pelo poder concedente, ficando este autorizado a ocupar Direcionado à segunda observação a ser feita, trata-se de uma
as instalações e a utilizar todos os bens reversíveis, tendo em vista a relação à precariedade do vínculo, que de antemão, pode vir a ser
necessidade de dar continuidade à prestação do serviço público nos extinto a qualquer tempo, havendo ou não indenização. Registra-
parâmetros do art. 35, §§ 2º e 3º. se que o texto da lei acabou por usar designação imprópria de re-
• Independente da causa da extinção da concessão, os bens re- vogação do contrato, tendo em vista que este não é revogado, é
versíveis que ainda não se encontrem amortizados ou depreciados rescindido, o que se dá de forma contrária do ato administrativo
deverão ser indenizados ao concessionário, sob pena de, se não o que é sujeito à revogação. De qualquer maneira, a precariedade do
fizer, haver enriquecimento sem causa do poder concedente. vínculo encontra-se relacionada à possibilidade de extinção sem o
pagamento de indenização.
Permissão Pondera-se que todo e qualquer tipo de contrato administra-
O art. 175 da Constituição Federal Brasileira determina que tivo, desde que esteja justificado pelo interesse público, pode ser
“incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob rescindido de forma unilateral pela Administração Pública, não con-
regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a figurando esse aspecto apenas uma particularidade do contrato de
prestação de serviços públicos”. permissão de serviços públicos.
Passível de observação, o ditado dispositivo constitucional não Infere-se que quando a rescisão do contrato de concessão não
faz nenhum tipo de referência relativa à autorização de serviços pú- for causada pelo concessionário, acarretará em direito a percepção
blicos. Entretanto, denota-se que existe a admissão da delegação de indenização pelos prejuízos sofridos, uma vez que a concessão é
de serviços públicos por intermédio de autorização com fulcro nos impreterivelmente celebrada por prazo certo. No tocante à permis-
art. 21, XI e XII, e art. 223 da Constituição Federal. Desta forma, são, existem contradições, pois existem doutrinadores que enten-
infere-se que a delegação de serviços públicos pode ser realizada dem que a permissão sempre ocorre, via de regra, por prazo certo
por meio de concessão, permissão ou autorização. Tratada anterior- e determinado, ao passo que outros doutrinadores defendem que
mente, passemos a explorar os demais institutos. a permissão ocorre, de antemão, por prazo indeterminado, porém,
Infere-se que a Lei 8.987/1995 não traz em seu bojo muitos também admitem que ocorre prazo determinado, desde que tal
dispositivos relacionados à permissão de serviços públicos, vindo dispositivo esteja fixado no edital da correspondente licitação. Essa
a limitar-se a estabelecer o seu conceito. A permissão de serviço última posição, é a que a Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro
público, nos ditames da lei, pode ser conceituada como “a delega- defende, para quem a fixação de prazo de vigência da permissão faz
ção, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços com que desapareçam as diferenças existentes entre os institutos
públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que da permissão e da concessão. Por conseguinte, em se tratando da
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e ris- permissão por prazo determinado, ressalta-se que não existe a pre-
co” (art. 2º, IV). Já o art. 40 da mesma Lei dispõe: cariedade do vínculo, vindo, desta forma, o permissionário obter o
Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada me- direito de indenização quando não der causa à rescisão deste.
diante contrato de adesão, que observará os termos desta Lei, das
demais normas pertinentes e do edital de licitação, inclusive quanto Em síntese, vejamos as principais características da concessão
à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato pelo poder e da permissão de serviços públicos:
concedente.
Proveniente do exposto, podemos expor com destaque as prin- PERMISSÃO DE CONCESSÃO DE
cipais características da permissão de serviço público. São elas: SERVIÇO PÚBLICO SERVIÇO PÚBLICO
a) É uma forma de delegação de serviços públicos;
b) Deve ser precedida de licitação pública, mas a Lei não de- • Forma de delegação de
termina a modalidade licitatória a ser seguida (diferencia-se da serviço público; • Forma de delegação de
concessão de serviço público que exige a licitação na modalidade • Depende de licitação, serviço público;
concorrência); mas a lei não • Depende de licitação na
c) É formalizada por meio de um contrato de adesão, de natu- • Predetermina a modali- modalidade obrigatória da con-
reza precária, uma vez que a lei prevê que pode ser revogado de dade licitatória; corrência;
maneira unilateral pelo poder concedente (diferencia-se das con- • Possui natureza precária, • Não possui natureza pre-
cessões de serviço público que não possuem natureza precária); e havendo controvérsias na dou- cária;
d) Os permissionários podem ser pessoas físicas ou jurídicas trina; • Os concessionários só
(diferencia-se das concessões de serviço público em razão de os • Os permissionários po- podem ser pessoa jurídica ou
concessionários somente poderem ser pessoa jurídica ou consórcio dem ser pessoa física ou pessoa consórcio de empresas.
de empresas). jurídica.
Por motivos importantes relacionados às características ante-
riores, destacamos algumas observações.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Autorização b) Serviços próprios e impróprios
De acordo com o entendimento da doutrina, a autorização se A classificação de serviços públicos próprios e impróprios é
constitui em ato administrativo unilateral, discricionário e precário apresentada com variações de sentido na doutrina.
por intermédio do qual, o poder público detém o poder de delegar No entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a doutri-
a execução de um serviço público de sua titularidade, possibilitando na clássica classifica como serviços públicos próprios aqueles que,
que o particular o realize em seu próprio benefício. Nos ditames em decorrência de sua importância, o Estado passa a assumir como
de Hely Lopes Meirelles, “serviços autorizados são aqueles que o seus e os coloca em execução de forma direta por intermédio de
Poder Público, por ato unilateral, precário e discricionário, consente seus agentes, ou, ainda, indireta que ocorre mediante delegação
na sua execução por particular para atender a interesses coletivos a terceiros concessionários ou permissionários. Referente aos ser-
instáveis ou emergência transitória”. viços públicos impróprios, são aqueles que, embora atendam às
necessidades coletivas, não estão sendo executados pelo Estado,
Depreende-se que a autorização de serviço público não é de- nas suas formas direta ou indireta, mas estão autorizados, regula-
pendente de licitação, posto que esta somente é exigível para a rea- mentados e fiscalizados pelo Poder Público. Exemplo: as institui-
lização de contrato. Sendo a autorização ato administrativo, enten- ções financeiras, de seguro e previdência privada, dentre outros.
de- se que não deverá ser precedida de procedimento licitatório. Entretanto, a própria autora explica que os serviços considerados
Entretanto, se houver uma quantidade limitada de autorizações a impróprios pela retro mencionado corrente doutrinária, em sentido
serem fornecidas e existindo determinada pluralidade de possíveis jurídico, sequer poderiam ser considerados serviços públicos, tendo
interessados, em atendimento ao princípio da isonomia, é neces- em vista que a lei não atribui a sua prestação ao Estado.
sário que se faça um processo seletivo para facilitar a escolha dos Hely Lopes Meirelles ensina que serviços próprios do Estado
entes que serão autorizados pelo Poder Público. “são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do
Caso o ato de autorização seja precário, pode de antemão, ser Poder Público, como: segurança, polícia, higiene e saúde públicos
revogado a qualquer tempo, desde que seja por motivo de interesse etc., sendo que para a execução destes, a Administração utiliza de
público, suprimindo o direito à indenização por parte do eventual seu poder de hierarquia sobre os administrados. Por esse motivo,
prejudicado. No entanto, a exemplo de exceção, existindo estabele- infere-se que só devem ser prestados por órgãos ou entidades pú-
cimento de prazo para a autorização, ressalta-se que o vínculo aca- blicas, sem delegação a particulares”. Por sua vez, os serviços im-
ba por perder a precariedade, passando a ser cabível o direito de próprios do Estado “são os que não afetam substancialmente as ne-
indenização em se tratando de caso de revogação da autorização. cessidades da comunidade, mas satisfazem interesses comuns de
Demonstramos, por fim, que embora seja tradição se definir a seus membros, e, por isso, a Administração os presta remunerada-
autorização como ato administrativo discricionário, a Lei Geral de mente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas (autarquias,
Telecomunicações determina que a autorização de serviço de te- empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações go-
lecomunicações é ato administrativo vinculado, nos parâmetros da vernamentais), ou delega sua prestação a concessionários, permis-
Lei 9.472/1997, art. 131, § 1º, de forma a não existir possibilidade sionários ou autorizatários”.
de a administração denegar a prática da atividade para os particu-
lares que vierem a preencher devidamente as condições objetivas e c) Serviços administrativos, econômicos (comerciais ou indus-
subjetivas necessárias
triais) e sociais
São constituídos por atividades promovidas pelo Poder Público
Classificação
com o fulcro de atender às necessidades internas requeridas pela
Existem vários critérios adotados para classificar os serviços,
Administração. Também podem preparar outros serviços que deve-
dentre os quais, vale à pena destacar os seguintes:
rão ser prestados ao público, como por exemplo, as estações expe-
rimentais e a imprensa oficial.
a) Serviços públicos propriamente ditos (essenciais) e serviços
Nos ditames da lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o serviço
de utilidade pública (não essenciais)
comercial ou industrial é aquele que a Administração Pública exe-
Em relação aos serviços públicos propriamente ditos, afirma-
-se que são serviços classificados como essenciais à sobrevivência cuta, direta ou indiretamente, com o objetivo de atender às neces-
da sociedade e do próprio Estado. Como exemplo, podemos citar sidades coletivas de ordem econômica, tendo como supedâneo no
o serviço de Polícia Judiciária e Administrativa. Tendo em vista que art. 175 da Constituição Federal, a exemplo dos serviços de teleco-
tais serviços exigem a prática de atos de império relacionados aos municações, dentre outros.
administrados, denota-se que os mesmos só podem ser prestados Já o serviço público social, cuida-se daquele que atende a ne-
de forma direta pelo Estado, sem a necessidade de delegação a ter- cessidades coletivas, em áreas cuja atuação do Estado é considera-
ceiros. Concernente aos serviços de utilidade pública, aduz-se que da de caráter essencial, a exemplo dos serviços de educação, saúde
são aqueles cuja prestação é de bom proveito à coletividade, tendo e previdência. De acordo com a doutrina dominante, tais serviços,
em vista que, mesmo que estes visem a facilitação da vida do indiví- quando são prestados pela iniciativa privada não são considerados
duo na sociedade como um todo, não são considerados essenciais, como serviços públicos, mas sim como serviços de natureza priva-
podendo, por esse motivo, ser executados de forma direta pelo Es- da.
tado ou ter sua prestação delegada a particulares. Exemplo: a água
tratada, o transporte coletivo, dentre outros. d) Serviços uti singuli (singulares) e uti universi (coletivos)
Também chamados de serviços singulares ou individuais, os
serviços uti singuli são aqueles cuja finalidade é a satisfação indivi-
dual e direta das necessidades do indivíduo. Esses serviços têm usu-
ários determinados, sendo, por esse motivo, possível a mensuração
de forma individualizada da utilização de cada usuário. São incluí-
dos nessa categoria os serviços de fornecimento de água, energia
elétrica, telefone, etc. que podem ser remunerados por intermédio
de taxa ou tarifa.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Os serviços uti universi, também conhecidos como serviços uni- Sem qualquer tipo de dependência da quantidade de princípios
versais, coletivos ou gerais, são os serviços prestados à coletividade, elencados pelo ordenamento e pela doutrina, podemos destacar,
porém, são usufruídos somente de forma indireta pelos indivíduos. para fins de estudo os principais princípios do Direito Administrati-
Exemplos: serviço de iluminação pública, defesa nacional, dentre vo: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,
outros. Denota-se que os serviços uti universi, de modo geral são razoabilidade, proporcionalidade, finalidade pública (supremacia
prestados a usuários indeterminados e indetermináveis, não sendo do interesse público sobre o interesse privado), continuidade, auto-
por esse motivo, passíveis de ter seu uso individualizado. Além disso tutela, consensualidade/participação, segurança jurídica, confiança
são custeados através de impostos ou contribuições especiais. Por legítima e boa-fé.
esse motivo, o STF editou a Súmula 670 (posteriormente convertida Vejamos a definição e a importância de cada um deles:
na Súmula Vinculante 41), na qual predomina o entendimento de
que “o serviço de iluminação pública não pode ser remunerado me- Princípio da legalidade
diante taxa”, uma vez que se trata de serviço uti universi. Previsto no art. 37 da CRFB/1988, é conceituado como um pro-
duto do Liberalismo, que pregava a superioridade do Poder Legisla-
Por fim, ressalta-se que há uma correlação entre a conceitua- tivo na qual a legalidade se divide em dois importantes desdobra-
ção do serviço como uti universi ou uti singuli e o seu custeio, pois, mentos:
quando o serviço é uti singuli, é possível identificar o usuário e men- a) supremacia da lei: a lei acaba por prevalecer e tem preferên-
cionar a utilização da expressão a “conta” deve ser paga pelo pró- cia sobre os atos da Administração;
prio usuário, mediante o implemento de taxa, preço ou tarifa. Em se b) reserva de lei: o tratamento de determinadas matérias deve
tratando de serviço uti universi, quando não é possível saber quem ser formalizado pela legislação, excluindo o uso de outros atos com
são os usuários de forma individualizada, pois, o usuário é a “coleti- caráter normativo.
vidade”, nem quantificar o uso, a “conta” é paga pela coletividade, Todavia, o princípio da legalidade deve ser conceituado como o
mediante o recolhimento de impostos ou contribuições especiais. principal conceito para a configuração do regime jurídico-adminis-
trativo, tendo em vista que segundo ele, a administração pública só
Princípios poderá ser desempenhada de forma eficaz em seus atos executivos,
Os princípios jurídicos solidificam os valores fundamentais da agindo conforme os parâmetros legais vigentes. De acordo com o
ordem jurídica. Em razão de sua fundamentalidade e abertura lin- princípio em análise, todo ato que não possuir base em fundamen-
guística, os princípios se espalham sobre todo o sistema jurídico, tos legais é ilícito.
vindo a garantindo-lhe harmonia e coerência.
Os princípios jurídicos são classificados a partir de dois crité- Princípio da impessoalidade
rios. Partindo da amplitude de aplicação no sistema normativo, os Consagrado de forma expressa no art. 37 da CRFB/1988, possui
princípios podem ser divididos em três espécies: duas interpretações possíveis:
a) Princípios fundamentais: são princípios que representam a) igualdade (ou isonomia): dispõe que a Administração Pública
as decisões políticas de estrutura do Estado, servindo de base para deve se abster de tratamento de forma impessoal e isonômico aos
todas as demais normas constitucionais, como por exemplo: prin- particulares, com o fito de atender a finalidade pública, vedadas a
cípios republicanos, federativo, da separação de poderes, dentre discriminação odiosa ou desproporcional. Exemplo: art. 37, II, da
outros; CRFB/1988: concurso público. Isso posto, com ressalvas ao trata-
b) Princípios gerais: via de regra, se referem a importantes es- mento que é diferenciado para pessoas que estão se encontram em
pecificações dos princípios fundamentais, embora possuam menor posição fática de desigualdade, com o fulcro de efetivar a igualdade
grau de abstração e acabam por se espalhar sobre todo o ordena- material. Exemplo: art. 37, VIII, da CRFB e art. 5.0, § 2. °, da Lei
mento jurídico. Exemplos: os princípios da isonomia e da legalidade; 8.112/1990: reserva de vagas em cargos e empregos públicos para
c) Princípios setoriais ou especiais: se destinam à aplicação de portadores de deficiência.
certo tema, capítulo ou título da Constituição. Exemplos: princípios b) proibição de promoção pessoal: quem faz as realizações
da Administração Pública dispostos no art. 37 da CRFB: legalidade, públicas é a própria entidade administrativa e não são tidas como
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. feitos pessoais dos seus respectivos agentes, motivos pelos quais
toda a publicidade dos atos do Poder Público deve possuir caráter
Já a segunda classificação, acaba por levar em conta a menção educativo, informativo ou de orientação social, nos termos do art.
expressa ou implícita dos princípios em seus textos normativos. São 37, § 1.°, da CRFB : “dela não podendo constar nomes, símbolos
eles: ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
a) Princípios expressos: são os que se encontram expressa- servidores públicos” .
mente mencionados no texto da norma. Exemplos: princípios da
Administração Pública que são elencados no art. 37 da CRFB); Princípio da moralidade
b) Princípios implícitos: são os reconhecidos pela doutrina e Disposto no art. 37 da CRFB/1988, presta-se a exigir que a atua-
pela jurisprudência advindo da interpretação sistemática do orde- ção administrativa, respeite a lei, sendo ética, leal e séria. Nesse dia-
namento jurídico. Exemplos: princípios da razoabilidade e da pro- pasão, o art. 2. °, parágrafo único, IV, da Lei 9.784/1999 ordena ao
porcionalidade, da segurança jurídica. administrador nos processos administrativos, a autêntica “atuação
Em relação ao processo administrativo, denota-se que estes segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”. Exemplo:
são regulados por leis infraconstitucionais e que também elencam a vedação do ato de nepotismo inserido da Súmula Vinculante 13
outros princípios do Direito Administrativo. A nível federal, registra- do STF. Entretanto, o STF tem afastado a aplicação da mencionada
-se que o art. 2. ° da Lei 9.784/1999 cita a existência dos seguintes súmula para os cargos políticos, o que para a doutrina em geral não
princípios: legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, propor- parece apropriado, tendo em vista que o princípio da moralidade é
cionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança um princípio geral e aplicável a toda a Administração Pública, vindo
jurídica, interesse público e eficiência. a alcançar, inclusive, os cargos de natureza política.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Princípio da publicidade O princípio da proporcionalidade, por sua vez origina-se das te-
Sua função é impor a divulgação e a exteriorização dos atos orias jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, a partir do momento
do Poder Público, nos ditames do art. 37 da CRFB/1988 e do art. no qual foi reconhecida a existência de direitos perduráveis ao ho-
2. ° da Lei 9.784/1999). Ressalta-se com grande importância que a mem oponíveis ao Estado. Foi aplicado primeiramente no âmbito
transparência dos atos administrativos guarda estreita relação com do Direito Administrativo, no “direito de polícia”, vindo a receber,
o princípio democrático nos termos do art. 1. ° da CRFB/1988), vin- na Alemanha, dignidade constitucional, a partir do momento em
do a possibilitar o exercício do controle social sobre os atos públicos que a doutrina e a jurisprudência passaram a afirmar que a propor-
praticados pela Administração Pública em geral. Denota-se que a cionalidade seria um princípio implícito advindo do próprio Estado
atuação administrativa obscura e sigilosa é característica típica dos de Direito.
Estados autoritários. Como se sabe, no Estado Democrático de Di- Embora haja polêmica em relação à existência ou não de di-
reito, a regra determinada por lei, é a publicidade dos atos estatais, ferenças existentes entre os princípios da razoabilidade e da pro-
com exceção dos casos de sigilo determinados e especificados por porcionalidade, de modo geral, tem prevalecido a tese da fungibi-
lei. Exemplo: a publicidade é um requisito essencial para a produ- lidade entre os mencionados princípios que se relacionam e forma
ção dos efeitos dos atos administrativos, é uma necessidade de mo- paritária com os ideais igualdade, justiça material e racionalidade,
tivação dos atos administrativos. vindo a consubstanciar importantes instrumentos de contenção dos
excessos cometidos pelo Poder Público.
Princípio da eficiência O princípio da proporcionalidade é subdividido em três
Foi inserido no art. 37 da CRFB, por intermédio da EC 19/1998,
subprincípios:
com o fito de substituir a Administração Pública burocrática pela
a) Adequação ou idoneidade: o ato praticado pelo Estado será
Administração Pública gerencial. O intuito de eficiência está relacio-
adequado quando vier a contribuir para a realização do resultado
nado de forma íntima com a necessidade de célere efetivação das
pretendido.
finalidades públicas dispostas no ordenamento jurídico. Exemplo:
duração razoável dos processos judicial e administrativo, nos dita- b) Necessidade ou exigibilidade: em decorrência da proibição
mes do art. 5.0, LXXVIII, da CRFB/1988, inserido pela EC 45/2004), do excesso, existindo duas ou mais medidas adequadas para alcan-
bem como o contrato de gestão no interior da Administração (art. çar os fins perseguidos de interesse público, o Poder Público terá
37 da CRFB) e com as Organizações Sociais (Lei 9.637/1998). o dever de adotar a medida menos agravante aos direitos funda-
Em relação à circulação de riquezas, existem dois critérios que mentais.
garantem sua eficiência: c) Proporcionalidade em sentido estrito: coloca fim a uma tí-
a) eficiência de Pareto (“ótimo de Pareto”): a medida se torna pica consideração, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
eficiente se conseguir melhorar a situação de certa pessoa sem pio- atuação do Estado e o benefício que ela produz, motivo pelo qual
rar a situação de outrem. a restrição ao direito fundamental deverá ser plenamente justifica-
b) eficiência de Kaldor-Hicks: as normas devem ser aplicadas de da, tendo em vista importância do princípio ou direito fundamental
forma a produzir o máximo de bem-estar para o maior número de que será efetivado.
pessoas, onde os benefícios de “X” superam os prejuízos de “Y”).
Ressalte-se, contudo, em relação aos critérios mencionados Princípio da supremacia do interesse público sobre o interes-
acima, que a eficiência não pode ser analisada apenas sob o prisma se privado (princípio da finalidade pública)
econômico, tendo em vista que a Administração possui a obrigação É considerado um pilar do Direito Administrativo tradicional,
de considerar outros aspectos fundamentais, como a qualidade do tendo em vista que o interesse público pode ser dividido em duas
serviço ou do bem, durabilidade, confiabilidade, dentre outros as- categorias:
pectos. a) interesse público primário: encontra-se relacionado com a
necessidade de satisfação de necessidades coletivas promovendo
Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade justiça, segurança e bem-estar através do desempenho de ativi-
Nascido e desenvolvido no sistema da common law da Magna dades administrativas que são prestadas à coletividade, como por
Carta de 1215, o princípio da razoabilidade o princípio surgiu no di- exemplo, os serviços públicos, poder de polícia e o fomento, dentre
reito norte-americano por intermédio da evolução jurisprudencial outros.
da cláusula do devido processo legal, pelas Emendas 5.’ e 14.’ da b) interesse público secundário: trata-se do interesse do pró-
Constituição dos Estados Unidos, vindo a deixar de lado o seu cará-
prio Estado, ao estar sujeito a direitos e obrigações, encontra-se
ter procedimental (procedural due process of law: direito ao contra-
ligando de forma expressa à noção de interesse do erário, imple-
ditório, à ampla defesa, dentre outras garantias processuais) para,
mentado através de atividades administrativas instrumentais que
por sua vez, incluir a versão substantiva (substantive due process of
são necessárias ao atendimento do interesse público primário.
law: proteção das liberdades e dos direitos dos indivíduos contra
abusos do Estado). Exemplos: as atividades relacionadas ao orçamento, aos agentes
Desde seus primórdios, o princípio da razoabilidade vem sendo público e ao patrimônio público.
aplicado como forma de valoração pelo Judiciário, bem como da
constitucionalidade das leis e dos atos administrativos, demons- Princípio da continuidade
trando ser um dos mais importantes instrumentos de defesa dos Encontra-se ligado à prestação de serviços públicos, sendo que
direitos fundamentais dispostos na legislação pátria. tal prestação gera confortos materiais para as pessoas e não pode
ser interrompida, levando em conta a necessidade permanente de
satisfação dos direitos fundamentais instituídos pela legislação.
Tendo em vista a necessidade de continuidade do serviço pú-
blico, é exigido regularidade na sua prestação. Ou seja, prestador
do serviço, seja ele o Estado, ou, o delegatório, deverá prestar o
serviço de forma adequada, em consonância com as normas vigen-
tes e, em se tratando dos concessionários, devendo haver respeito

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DIREITO ADMINISTRATIVO
às condições do contrato de concessão. Em resumo, a continuidade dos interessados na decisão”, o que poderá gerar tanto uma “atu-
pressupõe a regularidade, isso por que seria inadequado exigir que ação coadjuvante” como uma “atuação determinante por parte de
o prestador continuasse a prestar um serviço de forma irregular. interessados regularmente habilitados à participação” (MOREIRA
Mesmo assim, denota-se que a continuidade acaba por não NETO, 2006, p. 337-338).
impor que todos os serviços públicos sejam prestados diariamente Desta forma, o princípio constitucional da participação é o pio-
e em período integral. Na realidade, o serviço público deverá ser neiro da inclusão dos indivíduos na formação das tutelas jurídico-
prestado sempre na medida em que a necessidade da população -políticas, sendo também uma forma de controle social, devido aos
vier a surgir, sendo lícito diferenciar a necessidade absoluta da ne- seus institutos participativos e consensuais.
cessidade relativa, onde na primeira, o serviço deverá ser prestado
sem qualquer tipo interrupção, tendo em vista que a população ne- Princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
cessita de forma permanente da disponibilidade do serviço. Exem- boa-fé
plos: hospitais, distribuição de energia, limpeza urbana, dentre ou-
tros. Os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
boa-fé possuem importantes aspectos que os assemelham entre si.
Princípio da autotutela
Aduz que a Administração Pública possui o poder-dever de re- O princípio da segurança jurídica está dividido em dois senti-
ver os seus próprios atos, seja no sentido de anulá-los por vício de dos:
legalidade, ou, ainda, para revogá-los por motivos de conveniência Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico, levando em
e de oportunidade, de acordo com a previsão contida nas Súmulas conta a necessidade de que sejam respeitados o direito adquirido,
346 e 473 do STF, e, ainda, como no art. 53 da Lei 9.784/1999. o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5.°, XXXVI, da CRFB);
A autotutela designa o poder-dever de corrigir ilegalidades, Subjetivo: infere a proteção da confiança das pessoas relacio-
bem como de garantir o interesse público dos atos editados pela nadas às expectativas geradas por promessas e atos estatais.
própria Administração, como por exemplo, a anulação de ato ilegal
e revogação de ato inconveniente ou inoportuno. Já o princípio da boa-fé tem sido dividido em duas acepções:
Fazendo referência à autotutela administrativa, infere-se que Objetiva: diz respeito à lealdade e à lisura da atuação dos par-
esta possui limites importantes que, por sua vez, são impostos ante ticulares;
à necessidade de respeito à segurança jurídica e à boa-fé dos parti- Subjetiva: está ligada à relação com o caráter psicológico da-
culares de modo geral. quele que atuou em conformidade com o direito. Esta caracteriza-
ção da confiança legítima depende em grande parte da boa-fé do
Princípios da consensualidade e da participação particular, que veio a crer nas expectativas que foram geradas pela
Segundo Moreira Neto, a participação e a consensualidade tor- atuação do Estado.
naram-se decisivas para as democracias contemporâneas, pelo fato Condizente à noção de proteção da confiança legítima, verifi-
de contribuem no aprimoramento da governabilidade, vindo a fazer ca-se que esta aparece em forma de uma reação frente à utilização
a praticar a eficiência no serviço público, propiciando mais freios abusiva de normas jurídicas e de atos administrativos que termi-
contra o abuso, colocando em prática a legalidade, garantindo a nam por surpreender os seus receptores.
atenção a todos os interesses de forma justa, propiciando decisões Em decorrência de sua amplitude, princípio da segurança jurí-
mais sábias e prudentes usando da legitimidade, desenvolvendo a dica, inclui na sua concepção a confiança legítima e a boa-fé, com
responsabilidade das pessoas por meio do civismo e tornando os supedâneo em fundamento constitucional que se encontra implí-
comandos estatais mais aceitáveis e mais fáceis de ser obedecidos. cito na cláusula do Estado Democrático de Direito no art. 1.° da
Desta forma, percebe-se que a atividade de consenso entre o CRFB/1988, na proteção do direito adquirido, do ato jurídico perfei-
Poder Público e particulares, ainda que de maneira informal, veio a to e da coisa julgada de acordo com o art. 5.0, XXXVI, da CRFB/1988.
assumir um importante papel no condizente ao processo de iden- Por fim, registra-se que em âmbito infraconstitucional, o
tificação de interesses públicos e privados que se encontram sob a princípio da segurança jurídica é mencionado no art. 2. ° da Lei
tutela da Administração Pública. 9.784/1999, vindo a ser caracterizado por meio da confiança legíti-
Assim sendo, com a aplicação dos princípios da consensualida- ma, pressupondo o cumprimento dos seguintes requisitos:
de e da participação, a administração termina por voltar-se para a a) ato da Administração suficientemente conclusivo para gerar
coletividade, vindo a conhecer melhor os problemas e aspirações no administrado (afetado) confiança em um dos seguintes casos:
da sociedade, passando a ter a ter atividades de mediação para confiança do afetado de que a Administração atuou corretamente;
resolver e compor conflitos de interesses entre várias partes ou confiança do afetado de que a sua conduta é lícita na relação jurídi-
entes, surgindo daí, um novo modo de agir, não mais colocando o ca que mantém com a Administração; ou confiança do afetado de
ato como instrumento exclusivo de definição e atendimento do in- que as suas expectativas são razoáveis;
teresse público, mas sim em forma de atividade aberta para a cola- b) presença de “signos externos”, oriundos da atividade admi-
boração dos indivíduos, passando a ter importância o momento do nistrativa, que, independentemente do caráter vinculante, orien-
consenso e da participação. tam o cidadão a adotar determinada conduta;
De acordo com Vinícius Francisco Toazza, “o consenso na toma- c) ato da Administração que reconhece ou constitui uma situa-
da de decisões administrativas está refletido em alguns institutos ção jurídica individualizada (ou que seja incorporado ao patrimônio
jurídicos como o plebiscito, referendo, coleta de informações, con- jurídico de indivíduos determinados), cuja durabilidade é confiável;
selhos municipais, ombudsman, debate público, assessoria externa d) causa idônea para provocar a confiança do afetado (a con-
ou pelo instituto da audiência pública. Salienta-se: a decisão final fiança não pode ser gerada por mera negligência, ignorância ou to-
é do Poder Público; entretanto, ele deverá orientar sua decisão o lerância da Administração); e
mais próximo possível em relação à síntese extraída na audiência do e) cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obriga-
interesse público. Nota-se que ocorre a ampliação da participação ções no caso.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
A Constituição de 1967, acoplada à Emenda 1, de 1969, foi
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO audaz e manteve a responsabilidade objetiva do Estado, fazendo o
acréscimo referente de que a ação regressiva contra o funcionário
Evolução histórica ocorreria também nos casos de dolo, e não somente nos casos de
De início, adentraremos esse módulo respaldando sobre o con- culpa, como era disposto na Constituição de 1946.
ceito de responsabilidade civil do Estado. Consiste esse instituto Em âmbito contemporâneo, a Constituição Federal de 1988, no
na obrigação estatal de indenizar os danos patrimoniais, morais ou art. 37, § 6º, determina: “As pessoas jurídicas de Direito Público e
estéticos que os seus agentes, agindo nessa qualidade, causarem a as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responderão
terceiros. A responsabilidade civil do Estado pode ser dividida em pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a tercei-
dois grupos: a contratual, que advém da ausência de cumprimento ros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos ca-
de cláusulas inclusas em contratos administrativos, e a extracontra- sos de dolo ou culpa”.
tual ou aquiliana, que alcança as demais situações. O referido dispositivo constitucional em alusão, trouxe infor-
Em relação à evolução histórica, de acordo com o Professor Cel- mação inovadora ao ampliar a responsabilidade civil objetiva do
so Antônio Bandeira de Mello, a tese da responsabilidade civil do Estado, que por sua vez, passou também a alcançar as pessoas jurí-
Estado sempre foi aceita em forma de princípio amplo. Isso ocorreu dicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, como por
mesmo no período em que não existia dispositivo de norma espe- exemplo: as fundações governamentais de direito privado, as em-
cífica. Para o mencionado autor, desde os primórdios, predominou presas públicas, sociedades de economia mista, e, ainda qualquer
no Brasil a tese da responsabilidade do Estado com base na teo- pessoa jurídica de direito privado, desde que estejam devidamente
ria da culpa civil. Logo após, houve o avanço para que houvesse a paramentadas sob delegação do Poder Público e a qualquer título
admissão da culpa pela ausência de serviço. Por fim, chegou-se à para a prestação de serviços públicos.
aprovação da responsabilidade objetiva do Estado. Esclarece-se, nesse sentido, que a regra da responsabilidade
Nos tempos imperiais, a Constituição de 1824 vigente à épo- civil objetiva não pode ser aplicada aos atos das empresas públicas
ca, previa somente a responsabilidade pessoal do agente público, e das sociedades de economia mista exploradoras de atividade eco-
conforme disposto no art. 179, XXIX: “Os empregados públicos são nômica, tendo em vista que o art. 173, § 1º, da CF/1988, determina
estritamente responsáveis pelos abusos e omissões praticados no de forma expressa que elas sejam regidas pelas mesmas normas
exercício de suas funções e por não fazerem efetivamente respon- aplicáveis às empresas privadas. Por consequência, tais entidades
sáveis aos seus subalternos”. estão sujeitas à responsabilidade subjetiva, sendo controladas pe-
Ressalta-se, que nesse período, mesmo não existindo previsão las normas comuns pertinentes ao Direito Civil.
constitucional a respeito da responsabilidade do Estado, a doutrina Aduz-se que a aglutinação do art. 37, § 6º, com o art. 5º, X, am-
e a jurisprudência compreendiam que existia solidariedade do Esta- bos da CF/1988, leva à conclusão de que a responsabilização estatal
do em alusão aos atos de seus agentes. tem ampla abrangência tanto no condizente ao dano material como
No art. 82 da Constituição Federal de 1891, no seu art. 82, car- o dano moral. Entretanto, a jurisprudência achou por bem ampliar
regou e trouxe em seu bojo, dispositivo semelhante ao da Consti- as espécies de danos indenizáveis, passando a determinar que o
tuição de 1824. dano estético se constituiria em uma espécie de dano autônomo
no qual a indenização poderia ser expressamente cumulada com a
Em âmbito civilista, o Código Civil de 1916, em seu art. 15, dis-
reparação pelos danos materiais e morais.
pôs: “As pessoas jurídicas de Direito Público são civilmente respon-
Ressalta-se que a responsabilidade objetiva do Estado deve se-
sáveis por atos de seus representantes que nessa qualidade causem
guir a teoria do risco administrativo, conforme previsto na CF/1988
danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direito ou fal-
e a teoria do risco integral jamais recebeu acolhimento como nor-
tando a dever prescrito em lei, salvo o direito regressivo contra os
ma ou regra em nenhuma das constituições brasileiras.
causadores do dano”. Para a doutrina, o entendimento é de que o
No entanto, no ordenamento jurídico brasileiro algumas hipó-
referido dispositivo legal consagrava a responsabilidade subjetiva
teses em que se aplica a teoria do risco integral foram inseridas.
do Estado tanto no sentido de culpa civil, quanto por ausência de
A título de exemplo disso, temos os casos de danos causados por
serviço.
acidentes nucleares (CF, art. 21, XXIII, “d”, disciplinado pela Lei
Referente à Constituição de 1934, depreende-se que esta man- 6.453/1977), e, ainda, de danos decorrentes de atentados terroris-
teve a responsabilidade civil subjetiva do Estado, determinando no tas ou atos de guerra contra aeronaves de empresas aéreas brasilei-
art. 171, o seguinte: “Os funcionários públicos são responsáveis so- ras (Leis 10.309/2001 e 10.744/2003).
lidariamente com a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por Finalmente, após inúmeras delongas ao longo da história, che-
quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso ga-se ao Código Civil de 2002 que, em seu art. 43, reitera a mesma
no exercício dos seus cargos”. orientação inserida na Constituição Federal de 1988, suprimindo,
A Carta Magna de 1937, por sua vez, reiterou no art. 158 o mes- no entanto, a alusão à responsabilidade das pessoas jurídicas de
mo dispositivo da Constituição de 1934. direito privado prestadoras de serviço público. Entretanto, ressal-
No condizente à Constituição de 1946, aduz-se que esta repre- ta-se que a omissão, nesse caso, não impede a responsabilização
sentou uma importante e grande inovação no assunto ao introduzir, objetiva dessas pessoas jurídicas, posto que está prevista no texto
por sua vez, a teoria da responsabilidade objetiva do Estado, con- constitucional.
forme ditado no dispositivo a seguir: Ante o exposto, aduz-se que as conclusões a respeito da maté-
ria podem ser resumidas da seguinte maneira:
Art. 194. As pessoas jurídicas de Direito Público Interno são ci- • A teoria da irresponsabilidade civil do Estado nunca foi aceita
vilmente responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa no direito brasileiro.
qualidade, causem a terceiros. • A evolução legislativa mostra que o ordenamento jurídico pá-
Parágrafo único. Caber-lhes-á ação regressiva contra os funcio- trio previu de início a responsabilidade civil do Estado com base na
nários causadores do dano, quando tiver havido culpa destes. culpa civil, vindo a evoluir para a responsabilidade pela ausência de
trabalho até chegar à responsabilidade objetiva.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
• A responsabilidade objetiva do Estado foi inserida no ordena- Adverte-se que a conduta omissa do Estado não é o que causa
mento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1946. diretamente o dano, uma vez que este é proveniente de ato de ter-
• A Constituição Federal de 1988, veio a ampliar a responsabi- ceiro, razão pela qual pode-se afirmar que o dano à vítima não foi
lidade objetiva do Estado, vindo a responsabilizar objetivamente as consequência de forma direta da conduta omissa do agente do Es-
pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público. tado, o que faz inaplicável o artigo 37, § 6º, da CFB/88 às hipóteses
• A Constituição Federal de 1988 consagrou a responsabilidade de omissão do Estado, restando incabível a teoria da responsabili-
por danos morais ou extrapatrimoniais. dade objetiva com base no risco administrativo.
• A responsabilidade objetiva do Estado adotada pela Carta
Magna de 1988, segue a teoria do risco administrativo, sendo que a Responsabilidade por omissão do Estado
teoria do risco integral foi acolhida apenas em situações e hipóteses Atos omissivos são aqueles por meio dos quais o agente pú-
excepcionais. blico deixa de agir e sua omissão, ainda que não venha a causar
• Divergindo da Constituição Federal de 1988, pelo fato de não diretamente o dano, possibilita sua ocorrência.
haver feito referência à responsabilidade objetiva das pessoas jurí- Quando o Estado é omisso no seu dever de agir de acordo com
dicas que prestam serviços ao poder público, o Código Civil de 2002, os parâmetros legais, terá o dever de reparar o prejuízo causado.
prevê também a responsabilidade objetiva do Estado. No entanto, a responsabilidade será aplicada na forma subjetiva,
posto que deverá ser demonstrada a culpa do Estado, ou seja, a
Responsabilidade por ato comissivo do Estado omissão estatal.
De antemão, convém respaldar que responsabilidade civil do Prevalece entre os doutrinadores, apesar de não haver pacifi-
Estado é passível de advir de atos comissivos ou omissivos pratica- cidade doutrinária e nem tampouco nos tribunais, o entendimento
dos por seus agentes. de que a redação do art. 37, § 6º, da CFB/88, só consagra a respon-
sabilidade objetiva nos atos comissivos.
Em consonância com o estudo em questão, aduz-se que atos
Destaque-se que não é qualquer ato omissivo praticado por
comissivos são aqueles por meio dos quais o agente público atua de
agente público que intitula a responsabilidade civil do Estado. A
forma positiva causando danos a um terceiro. Exemplo: um condu-
responsabilização estatal em função de omissivos, ocorre somente
tor de veículo automotor e servidor do Estado, embriagado e sob o
quando o agente público omisso possui o dever legal de praticar um
efeito de drogas, dirigindo a serviço, atropela um pedestre. determinado ato, e deixa de fazê-lo. Exemplo: em situação hipoté-
Cumpre ressaltar que a teoria adotada em relação à responsa- tica, um agente salva-vidas que ao se deparar diante de situação na
bilidade civil do Estado por prática de conduta omissa, não é a mes- qual um banhista está se afogando, permanece inerte, permitindo
ma a ser aplicada à responsabilização por atos comissivos. Infere-se que o banhista venha a falecer sem ser socorrido. Nesta situação,
que o artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988 é de aplicação o Estado explicitamente será responsabilizado pelo ato de omis-
restrita em relação aos atos comissivos, sendo, assim, incorreta a são do agente público, tendo em vista que este tinha o dever legal
sua invocação nos casos específicos de responsabilidade por omis- de agir, ao menos tentando salvar a vida do banhista e não o fez.
são estatal. Em outro ângulo, aproveitando o mesmo exemplo, se, ao invés do
guarda salva-vidas, a mencionada omissão fosse praticada por um
Para melhor entendimento do raciocínio, o artigo 37, § 6º, da Analista Judiciário do Tribunal de Justiça de algum Estado da Fede-
Constituição Federal, em relação à responsabilidade civil do Estado, ração, o Estado não poderia ser responsabilizado, tendo em vista
dispõe: que ao Analista, não era incumbido o dever legal de tentar salvar
o banhista.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri- Não obstante, afirma-se que é inaplicável o uso do artigo 37,
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que § 6º da Constituição Federal de 1988, bem como da teoria do ris-
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o co administrativo às lides de responsabilidade civil por omissão do
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Estado.
Registre-se ainda, que a responsabilidade civil por omissão
O mencionado dispositivo, sob plena concordância unânime da estatal é subjetiva. Isso ocorre, também, devido à inaplicabilidade
doutrina e jurisprudência, consagra de forma expressa a responsa- do artigo 37, § 6º da Constituição Federal, que é a instituidora da
bilidade civil objetiva do Estado. No entendimento desse parâmetro responsabilidade objetiva aos casos de omissão estatal, o que ense-
Constitucional, a vítima se encontra de forma ampla, dispensada do ja ao entendimento de que a responsabilização do mesmo apenas
ônus da prova da culpa da Administração, tendo a incumbindo-lhe poderá ser invocada se sua ausência de ação houver sido culposa.
somente comprovar o nexo causal entre o ato desta e o prejuízo Em outras palavras, aduz-se que a responsabilidade civil do
estatal por conduta omissa é subjetiva. Ressalte-se que tal posicio-
sofrido.
namento já foi referendado por muitos de nossos mais renomados
Contudo, ressalta-se que o dispositivo se reporta apenas aos
e importantes administrativistas. Ótimos exemplos disso, são Hely
danos causados pelos agentes das pessoas jurídicas de direito pú-
Lopes Meirelles e Celso Antônio Bandeira de Mello, sendo desse úl-
blico ou, ainda, das pessoas jurídicas de direito privado que pres-
timo, o esclarecedor ensinamento de que a partir do momento em
tam serviço público, não tendo qualquer espécie de alcance às si- que o dano foi constatado em decorrência de uma omissão do Esta-
tuações nas quais o dano tenha decorrido de ato de terceiro ou de do, sendo pelo serviço que não funcionou, ou, funcionou de forma
fatos advindos de caso fortuito ou força maior. ineficientemente ou tardia, aduz-se que caberá a aplicabilidade da
Assim sendo, afirma-se que o artigo 37, § 6º, Constituição Fe- teoria da responsabilidade subjetiva. Entretanto, se o Estado não
deral de 1988, não enseja ao alcance das hipóteses de omissão es- agiu, não será, por conseguinte, ser ele o autor do dano. E, não sen-
tatal, posto que, nestas situações, o dano não decorre, exatamente do ele o autor, só será responsabilizado se caso estivesse obrigado
da ação de um agente do Estado, mas sim da atitude de um terceiro, a impedir o dano.
denotando que a omissão do Estado apenas contribui para o resul-
tado.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Em alusão ao retro ensinamento, afirma-se que a teoria apli- Observação importante: O STF tem entendido que, havendo
cada não poderia ser a objetiva, isso porque tal teoria admite a co- fuga de preso na qual o detento se encontre há muito tempo fo-
brança de responsabilização até mesmo quando o dano é advindo ragido e venha a cometer algum crime, com a geração de dano a
de atuação lícita do Estado. particular, não existe a responsabilidade do Estado, pelo fato de não
Nos casos relacionados à omissão estatal, o Estado não é o ver- haver mais nexo causal, interrompido pelo prolongado período de
dadeiro autor do dano, uma vez este o advém de atividade de ter- fuga. Entende o STF que o longo período do tempo entre a fuga e
ceiro. Assim sendo, sua responsabilidade somente poderá ser invo- o crime faz com que o nexo causal deixe de existir, não sendo mais
cada caso esteja obrigado a agir com o fulcro de impedir que o dano possível imputar ao Estado o dano causado. O tempo que o STF en-
ocorra, isso, em havendo ilegalidade na sua omissão. Resta registrar tende como longo, pondera-se que não existe uma tabela de prazos
também, inclusive, que a responsabilidade estatal não poderá ser que regule tal entendimento. O que a Suprema Corte faz é a análise
invocada quando existir a impossibilidade real de impedimento do de casos concretos e específicos.
dano mediante atuação aplicadora do Estado.
Por fim, devido ao fato de a responsabilização estatal ocorrer Causas Excludentes e Atenuantes da Responsabilidade do Es-
apenas quando sua omissão for caracterizada por uma atitude ilíci- tado
ta, a Administração não será responsabilizada se houver utilizado e Dentro do instituto da responsabilidade civil do Estado existem
esgotado suas possibilidades e formas de amparo no limite máximo algumas causas que excluem ou atenuam a sua obrigação de acatar
e, mesmo desta forma, não tiver conseguido impedir o dano, posto ou não com tais prerrogativas. Pondera-se que a única circunstân-
que a Administração Pública somente poderá ser responsabilizada cia que explicitamente atenua ou diminui a responsabilidade civil
por danos que estava obrigada a impedir.
estatal é a existência de culpa concorrente da vítima, comprovan-
do assim a inexistência de culpa exclusiva do Estado. Desta forma,
Requisitos para a demonstração da responsabilidade do es-
na situação hipotética de colisão entre veículo que pertence a ente
tado
público e a um particular, na qual tenha ocorrido imprudência de
Os requisitos que compõem a estrutura e demarcam o perfil da
responsabilidade civil objetiva do Poder Público, são: a alteridade ambos os condutores, o Estado não responde pela integralidade do
do dano; a causalidade material entre o eventus damni e o com- dano, o que faz por força de lei, com que os prejuízos deverão ser
portamento positivo por ação, ou negativo por omissão do agen- rateados na proporção da culpa de cada responsável pelo ato.
te público; a oficialidade da atividade causal e lesiva, imputável a Em relação às circunstâncias excludentes da responsabilidade
agente público que tenha, nessa condição de servidor, incidido em do Estado, a doutrina e a jurisprudência consideram as seguintes:
conduta comissiva ou omissiva, isso, independentemente da licitu- culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito e
de, ou não, do comportamento funcional e a inexistência de causa força maior.
excludente da responsabilidade do Estado.
Em suma, os requisitos para a demonstração da responsabi- Vejamos:
lidade do Estado são necessariamente a conduta a ser praticada
pelo agente que poderá ser lícita ou ilícita. Veja-se por exemplo, Culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros
no caso de odontologista que realiza cirurgia pertinente à sua área É excludente da responsabilidade do Estado, uma vez que afas-
de atuação em hospital público e venha a cometer algum erro, ca- ta o nexo causal entre a conduta do agente público e o dano exis-
racterizado como ato ilícito, ou em campanha de aplicação de flúor tente. A esse respeito, é de suma importância ressaltarmos que não
contra cáries, quando a substância vem a causar situação adversa é cabível a invocação de culpa ou de dolo exclusiva da vítima na
irreversível caracterizada como ato lícito, são atos que acabam por hipótese de suicídio de detento. Isso ocorre pelo fato do preso se
gerar danos passíveis de reparação, na forma objetiva. encontrar sob a custódia do Estado que tem o dever de manter-lhe
Para que a responsabilidade objetiva estatal seja configurada, a integridade física e moral, buscando sua total proteção, inclusive
deve haver um dano, tendo em vista que indenizar é “suprimir o do suicídio. Nesse sentido, o STF entende que o suicídio de detento
dano” por meio do adimplemento de uma contraprestação de na- é motivo de omissão ilegítima, que por sua vez, gera responsabili-
tureza pecuniária. Isso pode ser tanto dano de efeito moral como a dade civil objetiva do Estado, que passará a ter o dever de indenizar
violação à dignidade e à honra, por exemplo, quanto dano material por meio de danos morais os familiares do falecido.
que cause prejuízo financeiro a outrem. Em algumas situações ocorrem no mundo dos fatos eventos
Assegura-se ainda, que quando houver mera possibilidade de imprevisíveis, extraordinários e de força irresistível, externos à ad-
dano, esta não será passível de indenização. Exemplo: a constru-
ministração pública e que causam danos aos administrados. Tendo
ção de um presídio perto de pré-escola. Isso é fato que pode vir a
em vista a inexistência de qualquer nexo de causalidade entre a atu-
causar danos irreparáveis tanto aos alunos, como às suas famílias.
ação administrativa e o prejuízo sofrido pelo terceiro, ter-se-á por
Pondera-se também que deve haver o nexo causal, que se trata da
excluída a responsabilidade civil do Estado, não lhe sendo imputado
necessária e importante relação de causa e efeito entre a conduta
praticada pelo agente e o dano causado. Não existindo o nexo cau- qualquer dever de indenizar.
sal, ou for disseminado por algum fator, estará afastada a responsa-
bilidade do Estado. Caso fortuito e força maior
No contexto acima, compreende-se que é insuficiente a de- Boa parte dos doutrinadores denominam consideram esta ex-
monstração somente do dano e da conduta do Estado. É necessário cludente como sendo os eventos naturais, a exemplo das tempes-
e devido também que se prove o nexo causal. tades, dos furacões, dos raios, dentre outros, vindo a reservar a ex-
pressão “caso fortuito” para os acontecimentos humanos, como os
arrastões, as guerras, as greves, etc., ao passo que outros possuem
conceitos opostos, designando a “força maior” para os eventos que
podem ser imputados aos homens e o “caso fortuito” para os even-
tos naturais.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Pondera-se que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tri- No entanto, ressalte-se, que é ilegal usar com imposição o des-
bunal de Justiça tem atribuído aos eventos extraordinários, im- conto em folha de pagamento dos agentes públicos de valores re-
previsíveis e de força irresistível, ocorridos de forma externa à ferentes ao ressarcimento ao erário, exceto se houver autorização
administração pública com causídico de danos aos administrados, prévia do agente ou procedimento administrativo com a aplicação
a especificidade de excludentes do nexo causal ocorridas entre a da ampla defesa e do contraditório.
atuação administrativa e o evento danoso, de modo a impedir a Na segunda situação, o terceiro, como vítima do dano, pode-
responsabilização estatal pelos prejuízos causados. rá ajuizar ação em face do Estado, aplicando a responsabilidade
Desta maneira, nos julgados de ambos os Tribunais, não exis- objetiva, ou do próprio agente público, se valendo nesse caso da
te a preocupação em diferenciar caso fortuito de força maior, mas responsabilidade subjetiva, exceto nos casos em que houver a ado-
somente a tentativa de averiguar a presença deles em cada caso ção da teoria da dupla garantia, por meio da qual, a única medida
específico do objeto de exame. cabível seria o direcionamento da pugnação de reparação em face
Nesse entendimento, o STJ já validou que “somente se afas- do Estado.
ta a responsabilidade se o evento danoso resultar de caso fortui- De qualquer maneira, o Estado, ao indenizar a vítima, deterá o
to ou força maior, ou decorrer de culpa da vítima” (REsp 721.439/ dever de cobrar, de forma regressiva, o valor desembolsado perante
RJ), enquanto o STF asseverou que “o princípio da responsabilidade o agente público que causou o dano efetivo e que agiu com dolo ou
objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite o abran- culpa.
damento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil Entende-se que o direito de regresso do Estado em face do
do Estado, nas hipóteses excepcionais configuradoras de situações li- agente público nasce com o pagamento da indenização à vítima.
beratórias – como o caso fortuito e a força maior – ou evidenciadoras Assim sendo, não basta o que ocorra o trânsito em julgado da sen-
de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima” (RE109.615/RJ). tença que condena o Estado na ação indenizatória, posto que o in-
teresse jurídico para propor a ação regressiva depende em grande
Esquematizando, temos: parte do efetivo desfalque nos cofres públicos. Denota-se que caso
ocorra a propositura da ação regressiva antes do pagamento, pode-
ria denotar e ensejar o enriquecimento sem causa do Estado.
CULPA OU DOLO Pondera-se que em fase inicial, a cobrança regressiva em face
CASO FORTUITO
EXCLUSIVO DA VÍTIMA do agente público deve ocorrer na esfera administrativa. Em se
E FORÇA MAIOR
OU DE TERCEIROS tratando de caso de acordo administrativo, o agente deverá, nos
O STF e o STJ tem atribuído trâmites legais, providenciar o ressarcimento aos cofres públicos.
aos eventos extraordinários, im- Restando ausente o acordo, o Poder Público terá o dever de propor
previsíveis e de força irresistível, a ação regressiva contra o agente público culpado.
ocorridos de forma externa à ad- Apesar de grande parte da doutrina e jurisprudência compre-
É excludente da respon- ender que a ação de ressarcimento proposta pelo Poder Público
ministração pública com causídi-
sabilidade do Estado, uma em face de seus agentes é definitivamente imprescritível, à vista do
co de danos aos administrados,
vez que afastam o nexo cau- disposto na parte final do § 5.° do art. 37 da Constituição Federal,
a especificidade de excludentes
sal entre a conduta do agen- o Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, acabou
do nexo causal ocorridas entre a
te público e o dano existente por decidir que é prescritível nos trâmites do art. 206, § 3.°, V, do
atuação administrativa e o evento
danoso, de modo a impedir a res- Código Civil, no prazo de três anos, a ação de reparação de danos à
ponsabilização estatal pelos preju- Fazenda Pública advinda de ilícito civil e de origem de acidente de
ízos causados. trânsito, o que não alcança à primeira vista, os ilícitos relacionados
às infrações ao direito público, como por exemplo, os de natureza
Infere-se que o Código Civil brasileiro, no parágrafo único do penal e os atos de improbidade.
art. 393, determina que “O caso fortuito ou de força maior verifica-
-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impe- Direito de regresso
dir.” Percebe-se que, à semelhança das decisões do STF e do STJ, a O parágrafo 6º do art. 37 da Constituição Federal Brasileira pre-
referência é a “caso fortuito ou de força maior”, com as expressões nuncia a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de di-
objeto de tanta discussão acadêmica citadas em conjunto, separa- reito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras
das apenas pela partícula “ou”, como que querendo demonstrar de serviços públicos pelos danos que seus agentes, nessa qualida-
que, se as consequências são semelhantes, estando regidas pelo de, causarem a terceiros. Assegura ainda ao Estado ou a seus pres-
mesmo regime jurídico, não há relevância na tentativa de diferen- tadores de serviços públicos, o direito de regresso contra o agente
ciação. responsável, nos casos em que este aja com dolo ou culpa.
Levando em conta os princípios constitucionais da ampla defe-
Reparação do dano sa e do contraditório, o direito de regresso deve ser desempenhado
Em sentido geral, a reparação do dano pode ser viabilizada na e exercido sob o manuseio de ação própria e regressiva, não admi-
esfera administrativa por meio de acordo administrativo, ou na via tindo ao Estado efetuar de forma direta o desconto nos subsídios do
servidor, sem o consentimento deste.
judicial.
Existe ainda, a possível hipótese de o servidor reconhecer a
O agente estatal, na qualidade de agente público, em se tra-
sua responsabilidade vindo a optar por recolher espontaneamente
tando de caso de dolo ou culpa, pode causar danos ao Estado ou
a quantia devida aos cofres públicos e até mesmo autorizar que o
a terceiros.
valor venha a ser descontado de seus vencimentos, desde que res-
Na primeira situação, a responsabilidade deverá ser apurada
peitados os percentuais máximos previstos em lei para essa espécie
por intermédio de processo administrativo, garantidos a ampla de-
de desconto.
fesa e o contraditório. Comprovada a responsabilidade subjetiva do
agente, o adimplemento poderá ser feito de forma espontânea ou,
caso contrário, por medida judicial.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Sobre o assunto, é importante destacar alguns pontos: Nesse sentido, pode-se se afirmar que a supremacia do inte-
A) A ação de responsabilização do agente público deduz que o resse público se encontra eivada de justificativas para a concessão
Poder Público tenha indenizado o particular, tanto em virtude de de prerrogativas, ao passo que a indisponibilidade de tal interesse,
acordo com o reconhecimento da responsabilidade civil estatal, por sua vez, passa a impor a estipulação de restrições e sujeições à
como em decorrência de condenação em ação ajuizada pelo lesado. atuação administrativa, sendo estes os princípios da Administração
B) Em ação regressiva, a responsabilidade do agente público é Pública, que nesse estudo, trataremos especificamente dos Princí-
de natureza subjetiva, às expensas da comprovação de que ele agiu pios Expressos e Implícitos de modo geral.
com culpa ou dolo. Desta forma, é possível que o Estado venha a
indenizar o particular e não reconheça o direito de ser ressarcido Princípios Expressos da Administração Pública
pelo servidor responsável. Para isso, basta que não seja comprova- Princípio da Legalidade
do dolo ou culpa advinda desse agente público. Surgido na era do Estado de Direito, o Princípio da Legalidade
C) A parte final do § 5º do art. 37 da CFB/88, pode levar ao possui o condão de vincular toda a atuação do Poder Público, seja
entendimento precípuo de que quaisquer e todos as espécies de de forma administrativa, jurisdicional, ou legislativa. É considerado
ações de ressarcimento movidas pelo Poder Público são imprescri- uma das principais garantias protetivas dos direitos individuais no
tíveis. Entretanto, o STF, no julgamento do RE 669.069/MG, decidiu, sistema democrático, na medida em que a lei é confeccionada por
com repercussão geral, que “é prescritível a ação de reparação de intermédio dos representantes do povo e seu conteúdo passa a li-
danos à fazenda pública decorrentes de ilícito civil. mitar toda a atuação estatal de forma geral.
D)É transmitida aos herdeiros a qualquer tempo, a obrigação Na seara do direito administrativo, a principal determinação
de ressarcir o Estado, respeitada, sem dúvidas, a possibilidade de advinda do Princípio da Legalidade é a de que a atividade adminis-
prescrição na hipótese de danos decorrentes de ilícito civil, ten- trativa seja exercida com observância exata dos parâmetros da lei,
do como limite o valor do patrimônio transferido (art. 5º, XLV, da
ou seja, a administração somente poderá agir quando estiver devi-
CF/1988). Entretanto, ocorrendo a prescrição da ação regressiva,
damente autorizada por lei, dentro dos limites estabelecidos por
beneficiará também aos herdeiros, que não poderão mais ser de-
lei, vindo, por conseguinte, a seguir o procedimento que a lei exigir.
mandados pelos danos advindos pelo falecido.
O Princípio da Legalidade, segundo a doutrina clássica, se des-
E) O servidor responde pelos seus atos, inclusive após a extin-
ção de seu vínculo com a Administração Pública, desde a ação re- dobra em duas dimensões fundamentais ou subprincípios, sendo
gressiva não esteja prescrita. Desta forma, o agente que foi exone- eles: o Princípio da supremacia da lei (primazia da lei ou da lega-
rado ou demitido, pode, nos trâmites legais, ser obrigado a ressarcir lidade em sentido negativo); e o Princípio da reserva legal (ou da
os prejuízos causados ao ente público. legalidade em sentido positivo). Vejamos:
De acordo com os contemporâneos juristas Ricardo Alexandre
Nota – Sobre Súmulas Vinculantes e João de Deus, o princípio da supremacia da lei, pode ser concei-
Súmula 187, STF: A responsabilidade contratual do transpor- tuado da seguinte forma:
tador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de
terceiro, contra o qual tem ação regressiva. O princípio da supremacia da lei, ou legalidade em sentido ne-
Súmula 188, STF: O segurador tem ação regressiva contra o gativo, representa uma limitação à atuação da Administração, na
causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite pre- medida em que ela não pode contrariar o disposto na lei. Trata- se
visto no contrato de seguro. de uma consequência natural da posição de superioridade que a
lei ocupa no ordenamento jurídico em relação ao ato administra-
tivo. (2.017, ALEXANDRE e DEUS, p. 103).
REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO Entende-se, desta forma, que o princípio da supremacia da lei,
ou legalidade em sentido negativo, impõe limitações ao poder de
Conceito atuação da Administração, tendo em vista que esta não pode agir
O vocábulo “regime jurídico administrativo” se refere às inú- em desconformidade com a lei, uma vez que a lei se encontra em
meras particularidades que tornam a atuação da administração posição de superioridade no ordenamento jurídico em relação ao
pública individualizada nos momentos em que é comparada com a ato administrativo como um todo. Exemplo: no ato de desapropria-
atuação dos particulares de forma generalizada. Possui sentido res- ção por utilidade pública, caso exista atuação que não atenda ao
trito, restando-se com a serventia única de designar o conjunto de interesse público, estará presente o vício de desvio de poder ou de
normas de direito público que caracterizam o Direito Administrativo finalidade, que torna o ato plenamente nulo.
de modo geral, estabelecendo, via de regra, prerrogativas que colo-
cam a Administração Pública em posição privilegiada no que condiz
Em relação ao princípio da reserva legal, ou da legalidade em
às suas relações com os particulares, bem como restrições, que tem
sentido positivo, infere-se que não basta que o ato administrativo
o fulcro de evitar que ela se distancie da perseguição que não deve
simplesmente não contrarie a lei, não sendo contra legem, e nem
cessar no sentido da consecução do bem comum.
mesmo de ele pode ir além da lei praeter legem, ou seja, o ato ad-
Desta forma, de maneira presumida, o Regime Jurídico Admi-
nistrativo passa a atuar na busca da consecução de interesses cole- ministrativo só pode ser praticado segundo a lei secundum legem.
tivos por meio dos quais a Administração usufrui de vantagens não Por esta razão, denota-se que o princípio da reserva legal ou da le-
extensivas aos particulares de modo geral, como é o caso do poder galidade em sentido positivo, se encontra dotado do poder de con-
de desapropriar um imóvel, por exemplo. Assim sendo, a Adminis- dicionar a validade do ato administrativo à prévia autorização legal
tração Pública não pode abrir mão desses fins públicos, ou seja, ao de forma geral, uma vez que no entendimento do ilustre Hely Lopes
agente público não é lícito, sem a autorização da lei, transigir, ne- Meirelles, na administração pública não há liberdade nem vontade
gociar, renunciar, ou seja, dispor de qualquer forma de interesses pessoal, pois, ao passo que na seara particular é lícito fazer tudo o
públicos, ainda que sejam aqueles cujos equivalentes no âmbito que a lei não proíbe, na Administração Pública, apenas é permitido
privado, seriam considerados via de regra disponíveis, como o direi- fazer o que a lei disponibiliza e autoriza.
to de cobrar uma pensão alimentícia, por exemplo.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Pondera-se que em decorrência do princípio da legalidade, não Desta maneira, a exigência de impessoalidade advém do princípio
pode a Administração Pública, por mero ato administrativo, permi- da isonomia, vindo a repercutir na exigência de licitação prévia às
tir a concessão por meio de seus agentes, de direitos de quaisquer contratações a ser realizadas pela Administração; na vedação ao
espécies e nem mesmo criar obrigações ou impor vedações aos ad- nepotismo, de acordo com o disposto na Súmula Vinculante 13 do
ministrados, uma vez que para executar tais medidas, ela depende Supremo Tribunal Federal; no respeito à ordem cronológica para
de lei. No entanto, de acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, pagamento dos precatórios, dentre outros fatores.
existem algumas restrições excepcionais ao princípio da legalidade Outro ponto importante que merece destaque acerca da acep-
no ordenamento jurídico brasileiro, sendo elas: as medidas provisó- ção do princípio da impessoalidade, diz respeito à imputação da
rias, o estado de defesa e o estado de sítio. atuação administrativa ao Estado, e não aos agentes públicos que
Em resumo, temos: a colocam em prática. Assim sendo, as realizações estatais não são
• Origem: Surgiu com o Estado de Direito e possui como obje- imputadas ao agente público que as praticou, mas sim ao ente ou
tivo, proteger os direitos individuais em face da atuação do Estado; entidade em nome de quem foram produzidas tais realizações.
• A atividade administrativa deve exercida dentro dos limites Por fim, merece destaque um outro ponto importante do prin-
que a lei estabelecer e seguindo o procedimento que a lei exigir, cípio da impessoalidade que se encontra relacionado à proibição
devendo ser autorizada por lei para que tenha eficácia; da utilização de propaganda oficial com o fito de promoção pesso-
• Dimensões: Princípio da supremacia da lei (primazia da lei ou al de agentes públicos. Sendo a publicidade oficial, custeada com
legalidade em sentido negativo); e Princípio da reserva legal (legali- recursos públicos, deverá possuir como único propósito o caráter
dade em sentido positivo); educativo e informativo da população como um todo, o que, assim
• Aplicação na esfera prática (exemplos): Necessidade de pre- sendo, não se permitirá que paralelamente a estes objetivos o ges-
visão legal para exigência de exame psicotécnico ou imposição de tor utilize a publicidade oficial de forma direta, com o objetivo de
limite de Idade em concurso público, ausência da possibilidade de promover a sua figura pública.
decreto autônomo na concessão de direitos e imposição de obriga- Lamentavelmente, agindo em contramão ao princípio da im-
ções a terceiros, subordinação de atos administrativos vinculados e pessoalidade, nota-se com frequência a utilização da propaganda
atos administrativos discricionários; oficial como meio de promoção pessoal de agentes públicos, agin-
• Aplicação na esfera teórica: Ao passo que no âmbito parti- do como se a satisfação do interesse público não lhes fosse uma
cular é lícito fazer tudo o que a lei não proíbe, na administração obrigação. Entretanto, em combate a tais atos, com o fulcro de
pública só é permitido fazer o que a lei devidamente autorizar; restringir a promoção pessoal de agentes públicos, por intermédio
• Legalidade: o ato administrativo deve estar em total confor- de propaganda financiada exclusivamente com os cofres públicos,
midade com a lei e com o Direito, fato que amplia a seara do con- o art. 37, § 1.º, da Constituição Federal, em socorro à população,
trole de legalidade; determina:
• Exceções existentes: medida provisória, estado de defesa e Art. 37. [...]
estado de sítio. § 1.º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor-
Princípio da Impessoalidade mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
É o princípio por meio do qual todos os agentes públicos devem símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto-
cumprir a lei de ofício de maneira impessoal, ainda que, em decor- ridades ou servidores públicos.
rência de suas convicções pessoais, políticas e ideológicas, conside- Desta maneira, em respeito ao mencionado texto constitucio-
nal, ressalta-se que a propaganda anunciando a disponibilização de
rem a norma injusta.
um recente serviço ou o primórdio de funcionamento de uma nova
Esse princípio possui quatro significados diferentes. São eles: a
escola, por exemplo, é legítima, possuindo importante caráter in-
finalidade pública, a isonomia, a imputação ao órgão ou entidade
formativo.
administrativa dos atos praticados pelos seus servidores e a proibi-
Em resumo, temos:
ção de utilização de propaganda oficial para promoção pessoal de
• Finalidade: Todos os agentes públicos devem cumprir a lei
agentes públicos.
de ofício de maneira impessoal, ainda que, em decorrência de suas
Pondera-se que a Administração Pública não pode deixar de
convicções pessoais, políticas e ideológicas, considerem a norma
buscar a consecução do interesse público e nem tampouco, a con-
injusta.
servação do patrimônio público, uma vez que tal busca possui cará-
• Significados: A finalidade pública, a isonomia, a imputação
ter institucional, devendo ser independente dos interesses pessoais ao órgão ou entidade administrativa dos atos praticados pelos seus
dos ocupantes dos cargos que são exercidos em conluio as ativida- servidores e a proibição de utilização de propaganda oficial para
des administrativas, ou seja, nesta acepção da impessoalidade, os promoção pessoal de agentes públicos.
fins públicos, na forma determinada em lei, seja de forma expressa • Princípio implícito: O princípio da finalidade, posto que se
ou implícita, devem ser perseguidos independentemente da pessoa por ventura o agente público vier a praticar o ato administrativo
que exerce a função pública. sem interesse público, visando tão somente satisfazer interesse pri-
Pelo motivo retro mencionado, boa parte da doutrina conside- vado, tal ato sofrerá desvio de finalidade, vindo, por esse motivo a
ra implicitamente inserido no princípio da impessoalidade, o prin- ser invalidado.
cípio da finalidade, posto que se por ventura, o agente público vier • Aspecto importante: A imputação da atuação administrativa
a praticar o ato administrativo sem interesse público, visando tão ao Estado, e não aos agentes públicos que a colocam em prática.
somente satisfazer interesse privado, tal ato sofrerá desvio de fina- • Nota importante: proibição da utilização de propaganda ofi-
lidade, vindo, por esse motivo a ser invalidado. cial com o fito de promoção pessoal de agentes públicos.
É importante ressaltar também que o princípio da impesso- • Dispositivo de Lei combatente à violação do princípio da im-
alidade traz o foco da análise para o administrado. Assim sendo, pessoalidade e a promoção pessoal de agentes públicos, por meio
independente da pessoa que esteja se relacionando com a adminis- de propaganda financiada exclusivamente com os cofres públicos:
tração, o tratamento deverá ser sempre de forma igual para todos. Art. 37, § 1.º, da CFB/88:

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DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 1.º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e ato e, ainda, impondo ao agente responsável sanções de caráter
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, in- pessoal de peso considerável. Uma vez reconhecida, a improbidade
formativo ou de orientação social, dela não podendo constar no- administrativa resultará na supressão do ato do ordenamento jurí-
mes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de dico e na imposição ao sujeito que a praticou grandes consequên-
autoridades ou servidores públicos. cias, como a perda da função pública, indisponibilidade dos bens,
ressarcimento ao erário e suspensão dos direitos políticos, nos ter-
Princípio da Moralidade mos do art. 37, § 4.º da Constituição Federal.
A princípio ressalta-se que não existe um conceito legal ou Por fim, de maneira ainda mais severa, o art. 85, V, da Consti-
constitucional de moralidade administrativa, o que ocorre na ver- tuição Federal Brasileira, determina e qualifica como crime de res-
dade, são proclamas de conceitos jurídicos indeterminados que são ponsabilidade os atos do Presidente da República que venham a
formatados pelo entendimento da doutrina majoritária e da juris- atentar contra a probidade administrativa, uma vez que a prática de
prudência. crime de responsabilidade possui como uma de suas consequências
Nesse diapasão, ressalta-se que o princípio da moralidade é determinadas por lei, a perda do cargo, fato que demonstra de for-
condizente à convicção de obediência aos valores morais, aos prin- ma contundente a importância dada pelo legislador constituinte ao
cípios da justiça e da equidade, aos bons costumes, às normas da princípio da moralidade, posto que, na ocorrência de improbidade
boa administração, à ideia de honestidade, à boa-fé, à ética e por administrativa por agressão qualificada, pode a maior autoridade
último, à lealdade. da República ser levada ao impeachment.
A doutrina denota que a moral administrativa, trata-se daquela Em resumo, temos:
que determina e comanda a observância a princípios éticos retira- • Conceito doutrinário: Moral administrativa é aquela deter-
dos da disciplina interna da Administração Pública. minante da observância aos princípios éticos retirados da disciplina
Dentre os vários atos praticados pelos agentes públicos viola- interna da administração;
dores do princípio da moralidade administrativa, é coerente citar: • Conteúdo do princípio: Total observância aos princípios da
a prática de nepotismo; as “colas” em concursos públicos; a práti- justiça e da equidade, à boa-fé, às regras da boa administração, aos
ca de atos de favorecimento próprio, dentre outros. Ocorre que os valores morais, aos bons costumes, à ideia comum de honestidade,
particulares também acabam por violar a moralidade administrati- à ética e por último à lealdade;
va quando, por exemplo: ajustam artimanhas em licitações; fazem • Observância: Deve ser observado pelos agentes públicos e
“colas” em concursos públicos, dentre outros atos pertinentes. também pelos particulares que se relacionam com a Administração
É importante destacar que o princípio da moralidade é possui-
Pública;
dor de existência autônoma, portanto, não se confunde com o prin-
• Alguns atos que violam o princípio da moralidade adminis-
cípio da legalidade, tendo em vista que a lei pode ser vista como
trativa a prática de nepotismo; as “colas” em concursos públicos; a
imoral e a seara da moral é mais ampla do que a da lei. Assim sendo,
prática de atos de favorecimento próprio, dentre outros.
ocorrerá ofensa ao princípio da moralidade administrativa todas as
• Possuidor de existência autônoma: O princípio da moralida-
vezes que o comportamento da administração, embora esteja em
de não se confunde com o princípio da legalidade;
concordância com a lei, vier a ofender a moral, os princípios de jus-
• É requisito de validade do ato administrativo: Assim quando
tiça, os bons costumes, as normas de boa administração bem como
a moralidade não for observada, poderá ocorrer a invalidação do
a ideia comum de honestidade.
Registra-se em poucas palavras, que a moralidade pode ser ato;
definida como requisito de validade do ato administrativo. Desta • Autotutela: Ocorre quando a invalidação do ato administra-
forma, a conduta imoral, à semelhança da conduta ilegal, também tivo imoral pode ser decretada pela própria Administração Pública
se encontra passível de trazer como consequência a invalidade do ou pelo Poder Judiciário;
respectivo ato, que poderá vir a ser decretada pela própria adminis- • Ações judiciais para controle da moralidade administrativa
tração por meio da autotutela, ou pelo Poder Judiciário. que merecem destaque: ação popular e ação de improbidade ad-
Denota-se que o controle judicial da moralidade administrativa ministrativa.
se encontra afixado no art. 5.º, LXXIII, da Constituição Federal, que
dispõe sobre a ação popular nos seguintes termos: Princípio da Publicidade
Art. 5.º [...] Advindo da democracia, o princípio da publicidade é carac-
LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação terizado pelo fato de todo poder emanar do povo, uma vez que
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de sem isso, não teria como a atuação da administração ocorrer sem
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, o conhecimento deste, fato que acarretaria como consequência a
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o impossibilidade de o titular do poder vir a controlar de forma con-
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus tundente, o respectivo exercício por parte das autoridades consti-
da sucumbência. tuídas.
Pontua-se na verdade, que ao atribuir competência para que
agentes públicos possam praticar atos administrativos, de forma Pondera-se que a administração é pública e os seus atos devem
implícita, a lei exige que o uso da prerrogativa legal ocorra em con- ocorrer em público, sendo desta forma, em regra, a contundente e
sonância com a moralidade administrativa, posto que caso esse re- ampla publicidade dos atos administrativos, ressalvados os casos de
quisito não seja cumprido, virá a ensejar a nulidade do ato, sendo sigilo determinados por lei.
passível de proclamação por decisão judicial, bem como pela pró- Assim sendo, denota-se que a publicidade não existe como um
pria administração que editou a ato ao utilizar-se da autotutela. fim em si mesmo, ou apenas como uma providência de ordem me-
Registra-se ainda que a improbidade administrativa constitui- ramente formal. O principal foco da publicidade é assegurar trans-
-se num tipo de imoralidade administrativa qualificada, cuja gra- parência ou visibilidade da atuação administrativa, vindo a possibi-
vidade é preponderantemente enorme, tanto que veio a merecer litar o exercício do controle da Administração Pública por meio dos
especial tratamento constitucional e legal, que lhes estabeleceram administrados, bem como dos órgãos determinados por lei que se
consequências exorbitantes ante a mera pronúncia de nulidade do encontram incumbidos de tal objetivo.

55
DIREITO ADMINISTRATIVO
Nesse diapasão, o art. 5º, inciso XXXIII da CFB/88, garante a to- a Administração Direta, quanto as entidades da Administração In-
dos os cidadãos o direito a receber dos órgãos públicos informações direta e demais entidades controladas de forma direta ou indireta
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo, que deverão pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios.
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, com Também estão submetidas à ordenança da Lei da Transparência Pú-
exceção daquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da so- blica as entidades privadas sem fins lucrativos, desde que recebam
ciedade como um todo e do Estado de forma geral, uma vez que recursos públicos para a realização de ações de interesse público,
esse dispositivo constitucional, ao garantir o recebimento de infor- especialmente as relativas à publicidade da destinação desses re-
mações não somente de interesse individual, garante ainda que tal cursos, sem prejuízo de efetuarem as prestações de contas a que
recebimento seja de interesse coletivo ou geral, fato possibilita o estejam obrigadas por lei.
exercício de controle de toda a atuação administrativa advinda por Por fim, pontua-se que embora a regra ser a publicidade, a Lei
parte dos administrados. 12.527/2011 excetua com ressalvas, o sigilo de informações que
É importante ressaltar que o princípio da publicidade não pode sejam imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado de
ser interpretado como detentor permissivo à violação da intimida- forma geral. Ocorre que ainda nesses casos, o sigilo não será eter-
de, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, conforme no, estando previstos prazos máximos de restrição de acesso às
explicita o art. 5.º, X da Constituição Federal, ou do sigilo da fonte informações, conforme suas classificações da seguinte forma, nos
quando necessário ao exercício profissional, nos termos do art. 5.º, ditames do art. 24, § 1º:
XIV da CFB/88. a) Informação ultrassecreta (25 anos de prazo máximo de res-
Destaca-se que com base no princípio da publicidade, com trição ao acesso);
vistas a garantir a total transparência na atuação da administração b) Informação secreta (15 anos de prazo máximo de restrição
ao acesso);
pública, a CFB/1988 prevê: o direito à obtenção de certidões em
c) Informação reservada (cinco anos de prazo máximo de res-
repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de si-
trição ao acesso).
tuações de interesse pessoal, independentemente do pagamento de
Em síntese, temos:
taxas (art. 5.º, XXXIV, “b”); o direito de petição aos Poderes Públicos
• É advindo da democracia e se encontra ligado ao exercício da
em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder, in-
cidadania;
dependentemente do pagamento de taxas (art. 5.º, XXXIV, “a”); e o
• Exige divulgação ampla dos atos da Administração Pública,
direito de acesso dos usuários a registros administrativos e atos de
com exceção das hipóteses excepcionais de sigilo;
governo (art. 37, § 3.º, II).
• Se encontra ligado à eficácia do ato administrativo;
Pondera-se que havendo violação a tais regras, o interessado
• Possui como foco assegurar a transparência da atuação admi-
possui à sua disposição algumas ações constitucionais para a tutela nistrativa, vindo a possibilitar o exercício do controle da Administra-
do seu direito, sendo elas: o habeas data (CF, art. 5.º, LXXII) e o ção Pública de modo geral;
mandado de segurança (CF, art. 5.º, LXIX), ou ainda, as vias judiciais • Em relação à sua manifestação, concede ao cidadão: direito
ordinárias. à obtenção de certidões em repartições públicas; direito de petição;
No que concerne aos mecanismos adotados para a concretiza- direito de acesso dos usuários a registros administrativos e atos de
ção do princípio, a publicidade poderá ocorrer por intermédio da governo; direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
publicação do ato ou, dependendo da situação, por meio de sua interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, com exceção
simples comunicação aos destinatários interessados. daquelas informações, cujo sigilo seja indispensável à segurança da
Registra-se, que caso não haja norma determinando a publi- sociedade e do Estado.
cação, os atos administrativos não geradores de efeitos externos • Não se trata de um princípio absoluto, necessitando que seja
à Administração, como por exemplo, uma portaria que cria deter- harmonizado com os demais princípios constitucionais;
minado evento, não precisam ser publicados, bastando que seja • A publicação é exigida desde que exista previsão legal ou de
atendido o princípio da publicidade por meio da comunicação aos atos que sejam produtores de efeitos externos;
interessados. Entendido esse raciocínio, pode-se afirmar que o de- • Não havendo exigência legal, a publicidade dos atos internos
ver de publicação recai apenas sobre os atos geradores de efeitos poderá ser feita por intermédio de comunicação direta ao interes-
externos à Administração. É o que ocorre, por exemplo, num edital sado;
de abertura de um concurso público, ou quando exista norma legal • A Lei 12.527/2011 foi aprovada como um mecanismo amplo
determinando a publicação. e eficaz de concretização do acesso à informação, vindo a se tornar
Determinado a lei a publicação do ato, ressalta-se que esta de- um genuíno corolário do princípio da publicidade.
verá ser feita na Imprensa Oficial, e, caso a divulgação ocorra ape- • A publicação deverá ser feita pela Imprensa Oficial, ou, onde
nas pela televisão ou pelo rádio, ainda que em horário oficial, não não houver órgão oficial, em consonância com a Lei Orgânica do
se considerará atendida essa exigência. No entanto, conforme o en- Município, a publicação oficial poderá ser feita pela afixação dos
sinamento do ilustre Hely Lopes Meirelles, onde não houver órgão atos e leis municipais na sede da Prefeitura ou da Câmara Munici-
oficial, em consonância com a Lei Orgânica do Município, a publica- pal.
ção oficial poderá ser feita pela afixação dos atos e leis municipais
na sede da Prefeitura ou da Câmara Municipal. Princípio da Eficiência
Dotada de importantes mecanismos para a concretização do A princípio, registra-se que apenas com o advento da Emenda
princípio da publicidade, ganha destaque a Lei 12.527/2011, tam- Constitucional nº 19/1998, também conhecida como “Emenda da
bém conhecida como de Lei de Acesso à Informação ou Lei da Reforma Administrativa”, o princípio da eficiência veio a ser previs-
Transparência Pública. A mencionada Lei estabelece regras gerais, to no caput do art. 37 da Constituição Federal Brasileira de 1988.
de caráter nacional, vindo a disciplinar o acesso às informações Acrescido a tais informações, o princípio da eficiência também se
contidas no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 encontra previsto no caput do art. 2.º da Lei 9.784/1999, lei que
e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal Brasileira de 1.988. regula o processo administrativo na seara da Administração Pública
Encontram-se subordinados ao regime da lei 12.527/2011, tanto Federal.

56
DIREITO ADMINISTRATIVO
Desta forma, elevado à categoria de princípio constitucional ex- • Trata-se de um princípio que se encontra relacionado à admi-
presso pela Emenda Constitucional 19/1998, o dever de eficiência nistração pública gerencial;
corresponde ao dever de bem administrar a Máquina Pública. • É um princípio de se soma-se aos demais princípios da Ad-
No entendimento de Hely Lopes Meirelles, “o princípio da efi- ministração Pública, não se sobrepõe a nenhum deles e deve ser
ciência exige que a atividade administrativa seja exercida com pres- exercido nos conformes ditados pelo princípio da legalidade.
teza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio
da função administrativa, que já não se contenta em ser desem- Princípios Implícitos da Administração Pública
penhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para No estudo anterior, foi exposto com ênfase os princípios apli-
o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da cáveis à administração pública expressos na Constituição Federal
comunidade e de seus membros”. de 1988. Entretanto, a doutrina também reconhece outros princí-
Pondera-se que princípio da eficiência deverá estar eivado de pios que, embora não estejam contidos de forma expressa no texto
valores e uma boa administração pública que dê preferência por constitucional, são retirados da Carta Magna e são igualmente aco-
produtividade elevada, economicidade, excelente qualidade e ce- lhidos pelo sistema constitucional e importantes no estudo do direi-
leridade dos serviços prestados, vindo a reduzir os desperdícios e, to administrativo. Trata-se dos princípios administrativos implícitos,
ainda, que trabalhe pela desburocratização e pelo elevado rendi- os quais iremos abordar em estudo neste tópico.
mento funcional como um todo. Afirma-se que diversos desses princípios constitucionais implí-
De acordo com a Constituição Federal Brasileira, existem nor- citos são encontrados contemporaneamente em diversas leis. A Lei
mas inseridas no ordenamento jurídico pátrio que possuem o con- 9.784/1999, por exemplo se encontra eivada de normas e regras
dão de tornar mais eficiente a prestação de serviços públicos. Pas- básicas sobre o processo administrativo na seara da Administração
semos a analisar almas destas regras: Federal, vindo a citar diversos princípios que não se encontram
1. Nos termos do art. art. 41, § 4.º da CFB/88, com o fito de dispostos na Constituição Federal de 1.988, embora sejam desta
adquirir estabilidade, o servidor público, após ser aprovado em con- advindos, como o interesse público, a segurança jurídica, a finalida-
curso, terá que passar por uma avaliação especial de desempenho de, a motivação, dentre outros. Desta maneira, depreende-se que
por comissão instituída para essa finalidade; quando um princípio administrativo é qualificado como implícito,
2. Segundo o art. 41, §1º da CFB/88, após ter adquirido estabi- significa que ele não se encontra nominalmente expresso no texto
lidade, o servidor não pode relaxar, uma vez que se encontra sujeito constitucional, fato que não importa para efeito tal classificação, se
a passar por periódicas avaliações de desempenho, podendo correr ele se encontra ou não previsto de modo explícito em alguma forma
o risco de perder o cargo, caso seja declarado insuficiente, assegu- de norma respectivamente infraconstitucional.
rada ampla defesa;
Apelidada de “Lei de Responsabilidade das Estatais”, a Lei Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade
13.303/2016, dentre as diversas novidades estatuídas em seu di- Sendo princípios gerais de direito, a razoabilidade e a propor-
ploma, destacamos com ênfase no art. 17, a estipulação de notório cionalidade, embora não estejam previstos expressamente no texto
conhecimento, bem como tempo de experiência profissional e for- da CFB/88, transpassam vários dispositivos da CF/1988, vindo a se
mação acadêmica como pré-requisitos legais para que alguém pos- constituir em princípios constitucionais implícitos.
sa ser nomeado para o Conselho de Administração ou Diretoria de Assim sendo, pondera-se que não existe nenhuma uniformida-
uma Empresa Pública ou sociedade de economia mista. Pondera-se de na doutrina em relação ao conteúdo dos princípios da razoabi-
que tais exigências são uma autêntica homenagem ao princípio da lidade e da proporcionalidade, tendo em vista que há autores que
eficiência, bem como aos princípios da moralidade e da isonomia. entendem os dois princípios como sendo sinônimos, ao passo que
Por fim, denota-se que o princípio da eficiência não se sobrepõe consideram que a proporcionalidade se trata apenas uma das ca-
aos demais princípios, aliás, acrescente-se, que ela se soma aos racterísticas do princípio da razoabilidade, havendo ainda, uma cor-
demais princípios administrativos, fatos que demonstram que a rente que considera os dois como princípios distintos um do outro.
função administrativa executada de forma eficiente, deverá sempre Embora haja doutrinárias divergentes em relação ao assunto,
ser exercida nos parâmetros de conformidade com o princípio da entende-se de modo geral, que o princípio da razoabilidade está re-
legalidade. lacionado ao aceitamento explícito da conduta em face de padrões
Em suma, temos: racionais de comportamento, que buscam levar em conta tanto o
• Se encontra expresso na Constituição Federal e foi inserido bom senso do homem médio, quanto a finalidade para a qual foi
pela EC 19/1998; outorgada a competência legítima ao agente público. Assim sen-
• Princípio da eficiência ou dever de eficiência é o dever bem do, o princípio da razoabilidade exige de maneira contundente do
administrar; administrador, atuação com bom senso, coerência e racionalidade.
• É o mais moderno princípio da função administrativa, que Em relação ao princípio da proporcionalidade, entende-se que
já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, este se refere à postura de conduta equilibrada, sendo proporcional
exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório à finalidade que se destina e também sem excessos em si mesmo.
atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros; Ponto importante que merece registro, é que o que considera uma
• Exigências legais: as atividades administrativas devem ser conduta como proporcional em um caso concreto, uma vez que de-
exercidas com presteza, perfeição e rendimento funcional; deverão vem estar presentes três elementos, sendo eles:
surtir resultados positivos para o serviço público, bem como um 1. A adequação: Trata-se da compatibilidade entre o meio em-
atendimento que possa satisfazer as necessidades da população e pregado e o fim almejado;
de seus membros; prima-se por economicidade, produtividade ele- 2. A exigibilidade: Por meio da qual, a conduta praticada deve
vada, qualidade e celeridade na prestação dos serviços bem como ser necessária, não existindo meio menos gravoso para alcançar o
pela redução dos desperdícios e desburocratização; fim público;
• Aspectos importantes: o modo como o agente público atua; 3. A proporcionalidade em sentido estrito: Por meio da qual,
a forma de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Públi- as vantagens obtidas com conduta acabam por superar as desvan-
ca como um todo; tagens.

57
DIREITO ADMINISTRATIVO
Na seara de controle de constitucionalidade, denota-se que o Na Legislação Pátria, a regra geral é a necessidade de motiva-
Supremo Tribunal Federal tem adotado com enorme frequência os ção de todos os atos ou decisões administrativas, fato que indica
princípios da razoabilidade e proporcionalidade, de forma especial que a Administração Pública deve, por força de lei, deixar sempre
nas situações em que o legislador ordinário edita lei que, embo- expressos os motivos que a levaram a praticar um ato ou a tomar
ra aparentemente não contrarie qualquer dispositivo disposto na certa decisão, seja esta de ato vinculado ou de ato discricionário.
CFB/88, definha de ausência plena de razoabilidade. Bastante reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência, o
Explicita-se ainda, que a jurisprudência do Supremo Tribunal princípio da motivação encontra-se previsto em diversos diplomas
Federal tem usado de maneira contundente o princípio da razoa- normativos. Um exemplo disso, é o art. 50 da Lei 9.784/1999 que
bilidade como forma de examinar se discriminações usadas pelo ordena que os atos administrativos deverão ocorrer sempre de for-
legislador ordinário ou pela Administração Pública, são ou não de ma motivada eivados da indicação dos fatos e dos fundamentos ju-
fato agressivas ao princípio da isonomia que se encontra inserido rídicos, quando:
na Constituição Federal. a) Negarem, limitarem ou vierem a afetar direitos ou interes-
Ressalte-se, por fim, que o princípio da isonomia, além de auto- ses;
rizar, exige também tratamentos de forma diferente entre pessoas b) Agravarem ou imporem deveres, encargos ou sanções;
que se encontram em situações distintas. Desta maneira, o proble- c) Decidirem a respeito de processos administrativos de con-
ma não é diferenciar, mas sim saber aplicar a razoabilidade do cri- curso ou seleção pública;
tério utilizado para a diferenciação. Um exemplo clássico disso, é a d) Dispensarem ou declararem a inexigibilidade de processo
exigência de altura mínima para cargos de carreiras policiais, uma licitatório;
vez que esta é considerada razoável e válida, levando em conta que e) Decidirem a respeito de recursos administrativos;
o porte físico é característica importante e relevante para o exercí- f) Decorrerem de reexame de ofício;
cio de tais cargos. g) Sempre que deixarem de aplicar jurisprudência firmada so-
Em resumo, temos: bre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e re-
Razoabilidade latórios oficiais;
• Exige do administrador atuação coerente, racional e com h) Importarem sobre anulação, suspensão, revogação ou con-
bom senso; validação de ato administrativo.
• Diz respeito à aceitabilidade de uma conduta, dentro de pa-
drões e ditames normais de comportamento; De acordo com o art. 50, § 1º da Lei 9.784/1999, a motivação
• Permite o controle de legalidade das leis e atos administra- deve ser explícita, clara, harmônica ou congruente, ainda que, via
tivos, vindo a se constituir em limitação ao poder discricionário da de regra, que não exija uma forma específica. Por esse motivo, são
Administração Pública como um todo. considerados nulos os atos que dependem de motivação. Porém,
a autoridade competente, de modo geral, compreende que ela se
Proporcionalidade encontra implícita nas circunstâncias causadoras da edição do ato,
• Exige do administrador conduta equilibrada, balanceada, sem ou que aponta motivos complexos, ou que não possuem nada a ver
excessos, proporcional ao fim ao qual se destina; com a medida tomada, ou, ainda, que estejam eivados da necessi-
• É uma das características do princípio da razoabilidade; dade de providência colocada de forma oposta à que foi adotada.
• Elementos: Por fim, é importante registrar que o momento da motivação
1) adequação; pode ocorrer de forma prévia ou simultaneamente ao ato, caso não
se tenha atendido ao requisito com uma posterior declinação de
2) exigibilidade;
motivos. Isso ocorre por que a doutrina e a jurisprudência afugen-
3) proporcionalidade em sentido estrito;
tam o uso de fórmulas prontas e vazias como forma de motivação
• É permissionário do controle de legalidade das leis e atos ad-
para a prática de atos administrativos. Desta maneira, não se aceita
ministrativos, vindo a se constituir em limitação ao poder discricio-
por exemplo, como sendo suficiente a afirmação de que o ato ad-
nário da Administração Pública.
ministrativo foi praticado por causa de interesse público, ou, ainda
porque os argumentos que foram demonstrados pelo administrado
Princípio da motivação
não são suficientes, sendo necessário que seja indicado, no primei-
Trata-se de um princípio implícito que determina à Adminis-
ro caso, a correlação existente entre o ato e o interesse público vi-
tração Púbica a indicação dos fundamentos de fato e de direito
sado e, no segundo, o porquê da falta de suficiência dos argumento
referentes às suas decisões. Por permitir o controle por meio dos apresentados.
administrados, tendo em vista a licitude, a existência e a ampla sufi- Em síntese, temos:
ciência dos motivos indicados pela Administração na prática de seus • É um princípio implícito que determina à Administração Pú-
atos, o princípio da motivação é considerado como um princípio bica a indicação dos fundamentos de fato e de direito referentes às
moralizador. suas decisões;
Depreende-se que motivo é a circunstância de fato ou de di- • É considerado como um princípio moralizador;
reito determinadora ou autorizadora da prática de ato específico. • Motivo é a circunstância de fato ou de direito determinadora
Referindo-se a atos vinculados, o motivo passa a determinar que o ou autorizadora da prática de ato específico;
ato seja praticado. Porém, quando o ato é discricionário, havendo • Na Legislação Pátria, a regra geral é a necessidade de moti-
a presença do motivo, ela apenas irá validar a consumação do ato. vação de todos os atos ou decisões administrativas, fato que indica
Exemplo: contemplando uma manobra proibida no trânsito, sendo que a Administração Pública deve, por força de lei, deixar sempre
esta o “motivo”, o agente deverá aplicar a multa correspondente, expressos os motivos que a levaram a praticar um ato ou a tomar
não sendo permitido e nem lícito à autoridade de trânsito analisar certa decisão, seja esta de ato vinculado ou de ato discricionário;
a conveniência e nem tampouco a oportunidade em relação à puni- • De acordo com o art. 50, § 1º da Lei 9.784/1999, a motivação
ção da infração cometida, tendo em vista que o ato é vinculado e a deve ser explícita, clara, harmônica ou congruente, ainda que, via
presença do motivo acabam por determinar sua prática. de regra, esta não exija uma forma específica.

58
DIREITO ADMINISTRATIVO
• O momento da motivação pode ocorrer de forma prévia ou a) Os atos vinculados, tendo em vista que não há nestes os
simultaneamente ao ato, caso não se tenha atendido o requisito aspectos da oportunidade e conveniência de sua prática como um
com uma posterior declinação de motivos. todo;
b) Os atos que extenuaram seus efeitos. Isso ocorre pelo fato
Princípio da autotutela da revogação não retroagir, mas apenas impedir que o ato continue
O princípio da autotutela consiste na possibilidade de a Ad- a produzir seus efeitos, uma vez que não haveria proveito em revo-
ministração rever seus próprios atos. É o poder acompanhado do gar um ato que já produziu todos os seus efeitos;
dever concedido à administração para zelar pela legalidade, pela c) Os atos que estiverem sendo apreciados por autoridade de
conveniência e pela oportunidade dos atos que pratica. instância superior. Isso acontece, porque a competência da autori-
Levando em conta que a Administração Pública poderá agir dade que o praticou para revogá-lo se esgotou;
apenas quando autorizada por lei e nos termos legalmente esta- d) Os meros atos administrativos como certidões, atestados,
belecidos, dessa enunciação, decorre a presunção de que os atos votos, dentre outros, porque os efeitos deles advindos são estabe-
administrativos são dotados de presunção de legalidade, ou seja, lecidos pela lei;
são legais e se encontram fundamentados em presunção de veraci- e) Os atos que integram um procedimento, tendo em vista que
dade, sendo por isso, considerados verdadeiros. a cada novo ato praticado ocorre a preclusão quanto ao ato ante-
Tendo a Administração a prerrogativa de agir de ofício, pode- rior;
-se afirmar que esta possui o deve anular seus atos ilegais, e pode, f) Os atos geradores de direitos adquiridos, posto que violam a
também revogar os atos que considerar inoportunos ou inconve- Constituição Federal Brasileira.
nientes, independentemente de houver ou não a intervenção de Em resumo, temos:
terceiros. • Consiste na possibilidade de a Administração rever seus pró-
Pondera-se que a autotutela possui dois aspectos do controle prios atos. É o poder acompanhado do dever concedido à adminis-
interno dos atos administrativos, sendo eles: tração para zelar pela legalidade, pela conveniência e pela oportu-
1) O controle de legalidade: Por meio do qual a Administração nidade dos atos que pratica.
Pública anula os atos ilegais; • A Administração pode de agir de ofício, deve anular seus atos
2) O controle de mérito: Por meio do qual a Administração ilegais, e pode, também, revogar os atos que considerar inoportu-
pode revogar os atos inoportunos ou inconvenientes. nos ou inconvenientes, independentemente de haver ou não a in-
Registra-se com grande ênfase, o fato de o princípio autotutela tervenção de terceiros.
se achar consagrado em duas súmulas do Supremo Tribunal Fede-
ral, sendo elas: Aspectos do controle interno dos atos administrativos:
STF – Súmula 346: “A administração pública pode declarar a 1) O controle de legalidade: Por meio do qual a Administração
nulidade dos seus próprios atos.” Pública anula os atos ilegais;
STF – Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios 2) O controle de mérito: Por meio do qual a Administração
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles pode revogar os atos inoportunos ou inconvenientes.
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, Súmulas:
em todos os casos, a apreciação judicial”. STF – Súmula 346: “A administração pública pode declarar a
Denota-se que embora as Súmulas mencionadas acima afir- nulidade dos seus próprios atos.”
mem que a administração “pode anular seus próprios atos”, ela STF – Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios
na verdade, “deve anular seus atos”, tendo em vista que anular a atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
revogação é um poder-dever, e não uma somente uma simples pos- não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
sibilidade. ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
Destaca-se com grande importância, o fato da autotutela, se em todos os casos, a apreciação judicial”.
diferenciar do controle judicial no sentido de que ela depende de • Para Maria Sylvia Zanella não podem ser revogados os se-
provocação externa para poder se manifestar, bem como pode ser guintes atos:
exercida de ofício, ou, ainda por meio de provocação de terceiros a) Os atos vinculados;
estranhos à Administração. Colocando em prática, quando uma b) Os atos que extenuaram seus efeitos;
autoridade pública recebe uma comunicação de irregularidade na c) Os atos que estiverem sendo apreciados por autoridade de
Administração Pública, ela obtém a obrigação de dar ciência do instância superior;
ocorrido ao seu chefe imediato ou, sendo esta competente, poderá d) Os meros atos administrativos como certidões, atestados,
a adotar as providências cabíveis para a apuração dos fatos, bem votos, dentre outros, porque os efeitos deles advindos são estabe-
como dos demais procedimentos necessários para a correção da ili- lecidos pela lei;
citude ocorrida e, caso seja necessário, punir os culpados, sob pena e) Os atos que integram um procedimento, tendo em vista que
de ser responsabilizada por omissão. Assim sendo, é plenamente a cada novo ato praticado ocorre a preclusão quanto ao ato ante-
possível afirmar que a provocação do exercício da autotutela pode rior;
vir de fora da Administração Pública. f) Os atos geradores de direitos adquiridos, posto que violam a
A respeito da revogação de atos da Administração Pública, Ma- Constituição Federal Brasileira de 1.988.
ria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que não podem ser revogados os
seguintes atos: Princípios da segurança jurídica, da proteção à confiança e da
boa-fé
De antemão, salienta-se que a segurança jurídica é um dos
princípios fundamentais do direito e possui como atributos garantir
a estabilidade das relações jurídicas consolidadas, bem como a cer-
teza das consequências jurídicas dos atos praticados pelos indivídu-
os em suas diversas relações sociais.

59
DIREITO ADMINISTRATIVO
Tendo em vista garantir os retro mencionados atributos, em re- 2) Aspecto subjetivo: Refere-se à crença do agente de que está
lação à estabilidade das relações jurídicas, o ordenamento jurídico agindo de forma correta. Pois, caso contrário, se o agente tiver ciên-
pugna pela exigência do respeito ao direito adquirido e também ao cia de que o seu comportamento não se encontra em consonância
ato jurídico perfeito e à coisa julgada. Já em relação à certeza das com as normas jurídicas, estará agindo de má-fé.
consequências jurídicas dos atos praticados, é possível se prever a Alguns doutrinadores identificam o princípio da boa-fé como
regra geral da irretroatividade da lei acompanhada de sua interpre- sendo o princípio da proteção à confiança. Entretanto, entende-se
tação de modo geral. que ao passo que a proteção à confiança visa proteger somente a
No âmbito do Direito Administrativo, são plenamente aplicá- boa-fé dos administrados, é necessário que o princípio da boa-fé
veis todas as regras mencionadas, porém, ganha destaque a impor- se encontre presente do lado da Administração Pública em geral e
tância da vedação em relação à interpretação retroativa da norma também do lado dos administrados.
jurídica. Ocorre que ao expressar seu entendimento a respeito de Por fim, vale a pena registrar que o princípio da boa-fé, seme-
determinada matéria, a Administração Pública acaba por subme- lhantemente ao princípio da proteção à confiança, também tem
ter o administrado à orientação administrativa e passa por boa-fé a sido invocado como forma de justificativa da manutenção de atos
guiar o seu comportamento. Entretanto, não pode a Administração, administrativos sem validade, bem como de atos praticados por
sob pena de ferir o princípio da segurança jurídica, prejudicar o par- funcionário de fato.
ticular, aplicando a este, nova interpretação a casos retrógrados já Em síntese:
interpretados em concordância com as concepções anteriormente
vigentes. Por esse motivo, em âmbito federal, a Lei 9.784/1999 em Princípio da segurança jurídica
seu art. 2.º, parágrafo único, XIII, veda de forma expressa a aplica- • Objetivo: Busca a garantia da estabilidade das relações jurídi-
ção retroativa de nova interpretação de matéria administrativa que
cas consolidadas, bem como a certeza das consequências jurídicas
já fora anteriormente avaliada.
dos atos que são praticados pelos indivíduos em suas distintas re-
Em suma, como consequências do princípio da segurança jurí-
lações sociais;
dica, podemos citar: a vedação da interpretação retroativa da nor-
• Consequências: Busca vedar a interpretação retroativa da
ma jurídica; a limitação temporal ao exercício da autotutela; o res-
peito ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito. norma jurídica; a limitação temporal ao exercício da autotutela; o
Em relação ao princípio da proteção à confiança ou proteção respeito ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico per-
à confiança legítima, denota-se que se trata esse princípio de as- feito.
pecto subjetivo da segurança jurídica, de forma que é considerado
como um desdobramento deste. Princípio da proteção à confiança
A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, leciona que o “princípio • Foco: A proteção da confiança dos administrados nos atos da
da proteção à confiança leva em conta a boa-fé do cidadão, que Administração Pública;
acredita e espera que os atos praticados pelo Poder Público sejam • Aspecto ou dimensão subjetiva do princípio da segurança ju-
lícitos e, nessa qualidade, serão mantidos e respeitados pela pró- rídica;
pria Administração e por terceiros”. • Consequências legais: A manutenção de atos ilegais ou in-
Ressalte-se que o princípio da proteção à confiança possui o constitucionais, a manutenção de atos praticados por funcionários
condão de fundamentar a manutenção de atos ilegais e inconstitu- de fato, dentre outros.
cionais, condições nas quais, o juízo que os pondera tem tido como
consequência, uma graduação redutiva do alcance do princípio da Princípio da boa-fé
legalidade como um todo. Um exemplo disso é o que ocorre nos ca- • Aspecto objetivo: Ter conduta leal e honesta;
sos em que a Administração, em decorrência de interpretação errô- • Aspecto subjetivo: A crença do agente de que está agindo de
nea da lei, adimple com o pagamento de valores que não são devi- forma correta;
dos a servidores que, de boa-fé, entendem ter direito a tais verbas. • A boa-fé deve ser exigida da Administração e do Administra-
Ocorrendo esse tipo de erro, o Judiciário, para proteger a confiança do;
que os servidores possuem na Administração, tem se manifestado • Consequências: manutenção de atos ilegais ou inconstitucio-
de maneira constante pela desnecessidade de reposição ao erário nais, dentre outros.
público de forma geral.
Por fim, vale a pena mencionar outro efeito concreto do prin- Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos
cípio da proteção à confiança, que trata-se da manutenção de atos O foco fundamental do Estado é a consecução do bem comum
praticados por funcionário de fato, posto que, de forma teórica,
do seu povo como um todo. Pondera-se que para atingir tal objeti-
caso o servidor tenha sido investido de forma irregular no cargo,
vo, é necessário que a Administração disponibilize para os adminis-
via de regra, não teria este a competência para praticar atos admi-
trados utilidades específicas, atenda necessidades determinadas, e,
nistrativos, uma vez que tais atos seriam considerados nulos. No
ainda que possa oferecer comodidades a depender de cada caso
entanto, os atos praticados, por terem aparência de legalidade e
que vierem a gerar a crença nos destinatários de que realmente são específico. Ressalta-se que estas atividades podem ser encaixadas
válidos, deverão ser mantidos. no sentido amplo do vocábulo da prestação de serviços públicos,
Passemos à análise do princípio da boa-fé, que mesmo se en- tendo em vista que a interrupção da prestação de serviços públicos
contrando implícito no texto da Carta Magna, depreende-se que ele não pode ser vedada.
pode ser extraído do princípio da moralidade. Ademais, esse prin- Sem sombra de dúvidas, a busca do bem comum deverá sem-
cípio se encontra previsto nos artigos 2º, parágrafo único, IV, e 4.º, pre acontecer de maneira incessante e sem vedação de continui-
II, da Lei 9.784/1999. dade. Desse cenário, podemos extrair o conteúdo do princípio da
Registra-se que a boa-fé está subdividida em dois aspectos, continuidade do serviço público, cuja materialização é assegurada
sendo eles: por inúmeros ordenamentos. Como exemplo, podemos citar o di-
1) Aspecto objetivo: Esta relacionado à conduta leal e honesta, reito de greve no serviço público de modo geral, que, embora seja
considerada de forma objetiva; reconhecido, se encontra eivado de sujeições e restrições, tendo

60
DIREITO ADMINISTRATIVO
em vista que uma vez que o disposto no art. 37, VII da Constituição • Hipóteses legais de interrupção dos serviços públicos:
Federal que o explicita, prevê a edição de uma lei específica que Em situação de emergência e sem aviso prévio; razões de or-
limita os seus termos e limites. dem técnica ou de segurança das instalações, após prévio aviso;
Assim sendo, com vistas ao mesmo objetivo e reconhecendo inadimplemento do usuário, após prévio aviso.
que alguns serviços públicos são delegados a particulares, a Cons-
tituição Federal no art. 9º, § 1º, ao disciplinar o direito de greve Princípio da Presunção de Legitimidade ou de Veracidade
assegurado aos trabalhadores em geral, estipula que a lei deverá Trata-se de um importante princípio que diz respeito a duas
elencar com ênfase os serviços ou atividades essenciais, vindo a dis- características dos atos praticados pela Administração Pública, sen-
por sobre o atendimento das necessidades da comunidade que são do elas:
consideradas inadiáveis. 1) A presunção de verdade: Que se encontra relacionada aos
Outro ponto importante que merece ser explanado é o fato da fatos;
existência da inoponibilidade da exceção de contrato não cumpri- 2) A presunção de legalidade: Que se encontra relacionada ao
do, exceptio non adimpleti contractus, nos contratos de concessão direito.
de serviços públicos, fato que nos parâmetros legais, ainda que o Infere-se que em decorrência da presunção de legitimidade ou
poder concedente se exima de cumprir as normas contratuais, os de veracidade dos atos administrativos, todos os fatos argumenta-
serviços prestados pela concessionária correspondente não pode- dos pela Administração são verdadeiros e os seus atos são prati-
rão jamais ser interrompidos, nem tampouco paralisados sem que cados de acordo com as normas determinadas por lei, até que se
haja decisão judicial transitada em julgado, nos parâmetros do art. prove o contrário, assegurada a ampla defesa.
39, parágrafo único da Lei 8.987/1995. Refere-se à presunção relativa ou juris tantum, vindo a acolher
Ressalta-se que relacionado ao princípio da continuidade dos a produção de prova em contrário com o fito de afastá-la, sendo
serviços públicos, nos ditames do art. 80, II da Lei 8.666/1993, caso que o efeito primordial e principal da referida presunção trata-se de
a administração venha a rescindir unilateralmente um contrato ad- inverter o ônus da prova. Desta maneira, caso um agente de trânsi-
ministrativo, ela passará a obter o direito à ocupação e utilização to aplique uma autuação a um condutor de veículo automotor em
do local, bem como das instalações, dos equipamentos ali utiliza- decorrência de avanço de sinal, para que o motorista afaste a multa,
dos, do material e pessoal empregados na execução do contrato e terá que provar que não cometeu a infração.
tudo o mais que for necessário à continuidade do serviço público Denota-se que como consequência da presunção de legitimi-
essencial. dade, em regra, as decisões administrativas que podem ser feitas de
Nos parâmetros do art. 36 da Lei 8.897/1995, depreende-se forma imediata, vindo a gerar obrigações para os particulares, fato
que ao término da concessão, existe previsão de lei para reverter que independe de sua concordância. Ademais, em determinadas
ao poder público os bens do concessionário necessários à continui- situações, poderá a própria Administração Pública vir a executar as
dade e atualização dos serviços públicos que haviam sido concedi- suas próprias decisões, utilizando-se de meios diretos bem como
dos. É importante registrar também a existência dos institutos da indiretos de coação que lhes forem disponíveis e permitidos.
suplência, da substituição de servidores públicos, bem como da de- Em resumo:
legação, para se possa evitar que diante da ausência de um servidor • Conteúdo: A presunção de que os atos praticados pela Admi-
público ao trabalho, possa a Administração Pública e aqueles que nistração são verdadeiros, bem como são praticados de acordo com
dela dependem, vir a sofrer com a paralisação do serviço público as normas legais”;
• Aspectos: A presunção da verdade no que diz respeito à ve-
prestado.
racidade das alegações da Administração Pública; e a presunção de
Entretanto, ante o mencionado acima, ressalta-se que nos pa-
legalidade;
râmetros do art. 6.º, § 3.º, da Lei 8.987/1995, é caracterizada como
• Presunção relativa juris tantum: Possuindo o efeito de inver-
descontinuidade do serviço público a sua interrupção em situação
ter o ônus da prova;
de casos excepcionais de emergência, ou, após aviso previamente
• Consequências da presunção de legitimidade: decisões
dado, quando estiver motivada por razões de ordem técnica ou de
administrativas possuem execução imediatas; decisões adminis-
segurança das instalações presentes, ou em decorrência de falta de
trativas podem criar obrigações particulares, ainda que estes não
adimplemento do usuário, considerando, por conseguinte o inte-
concordem; em algumas situações, a própria Administração pode
resse da coletividade de modo geral. executar suas próprias decisões
Em suma, temos:
• Conteúdo: Vedação da interrupção da prestação de serviços Princípio da Especialidade
públicos; O princípio da especialidade consiste na criação de entidades
• Regras para garantir a continuidade do serviço público: restri- da Administração Pública Indireta, fazendo alusão à ideia de des-
ção ao direito de greve no serviço público; inoponibilidade ou res- centralização administrativa. Pondera-se que tais entidades, ao se-
trição a exceção do contrato não cumprido, exceptio non adimpleti rem criadas, terão como missão a prestação de serviços públicos,
contractus; encampação de serviços públicos delegados; de forma descentralizada acrescida da especialização da função.
Além disso, podemos afirmar com concomitante certeza, que
Objeto: A busca do bem comum deverá sempre acontecer de o princípio da especialidade se encontra diretamente ligado aos
maneira incessante e sem cessação de continuidade. princípios da legalidade e da indisponibilidade do interesse público.
Denota-se que esta ligação com a legalidade, decorre do fato
• Inoponibilidade da exceção de contrato não cumprido, ex- da criação de entidades da Administração Indireta da Administra-
ceptio non adimpleti contractus: nos contratos de concessão de ção, que só pode ser executada diretamente por lei ou, dependen-
serviços públicos, ainda que o poder concedente se exima de cum- do do caso, por autorização legal.
prir as normas contratuais, os serviços prestados pela concessio-
nária correspondente não poderão jamais ser interrompidos, nem
tampouco paralisados sem que haja decisão judicial transitada em
julgado.

61
DIREITO ADMINISTRATIVO
E, ainda, da indisponibilidade do interesse público, pelo motivo
segundo o qual, a lei criadora ou autorizadora da criação de entida- EXERCÍCIOS
des da Administração Indireta, detalha com exatidão as finalidades
que deverão ser executadas por essas entidades, de forma que não 1. A Administração Direta é correspondente aos órgãos que
cabe ao administrador da entidade criada, dispor com precisão a compõem a estrutura das pessoas federativas que executam a ati-
respeito dos objetivos definidos pela legislação equivalente. vidade administrativa de maneira centralizada. O vocábulo “Admi-
Registra-se, por fim, que o princípio da especialidade possui nistração Direta” possui sentido abrangente vindo a compreender
abrangência somente para a criação de entidades da administra- todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto os que fazem
ção indireta. Isso significa que sua abrangência não diz respeito, por parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do Poder Judiciá-
exemplo, a parcerias feitas pelo poder público com as entidades do rio, que são os responsáveis por praticar a atividade administrativa
terceiro setor e suas funções gerenciais como um todo. de maneira centralizada.
Em breve síntese: ( ) CERTO
• O princípio da especialidade consiste na criação de entidades ( ) ERRADO
da Administração Pública Indireta, fazendo alusão à ideia de des-
centralização administrativa. 2. Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser
• É composto por meio da criação de entidades da Adminis- exercidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com per-
tração Indireta, que se tornarão prestadoras de serviços públicos sonalidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a
de forma descentralizada acrescida com especialização de função; particulares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito
• Relaciona-se com princípios da legalidade e da indisponibili- público ou de direito privado para esta finalidade.
dade do interesse público; ( ) CERTO
• O princípio da especialidade não é adaptável às parcerias fir- ( ) ERRADO
madas pelo Poder Público com as organizações do terceiro setor.
3. (CESPE- 2012-TJ-RR- TÉCNICO JUDICIÁRIO) No que se refe-
Princípio da Hierarquia re à classificação e às espécies de agentes públicos, julgue os itens
De antemão, afirma-se que existe em decorrência princípio da seguintes.
hierarquia, uma ligação correlata de coordenação e subordinação Os empregados públicos, embora sujeitos à legislação traba-
entre os órgãos da Administração Pública. Depreende-se que desta lhista, submetem-se às normas constitucionais referentes a concur-
ligação advém um rol de funções laborativas para o superior hie- so público e à acumulação remunerada de cargos públicos.
rárquico. As que mais se destacam, são: fazer a revisão dos atos ( ) CERTO
dos subordinados, fazer a delegação de competências e punir os ( ) ERRADO
agentes subordinados. Em relação ao agente público subordinado à
relação hierárquica, por sua vez, é imposto o dever de prestar obe- 4. (CESPE- 2012-TJ-RR- TÉCNICO JUDICIÁRIO) No que se refe-
diência às ordens imediatamente superiores, ressalvadas aquelas re à classificação e às espécies de agentes públicos, julgue os itens
manifestamente ilegais. seguintes.
Ressalta-se que a relação de hierarquia é condizente aos órgãos Os servidores contratados para atender a necessidade tempo-
de uma mesma pessoa jurídica. Isso significa dizer que o princípio rária de excepcional interesse público estão sujeitos ao mesmo re-
da hierarquia se encontra diretamente relacionado à ideia de des- gime jurídico aplicável aos servidores estatutários.
concentração administrativa, fato que não diz respeito, por exem- ( ) CERTO
plo, ao processo de descentralização administrativa ou de criação ( ) ERRADO
de entidades da Administração Pública Indireta como um todo.
Em breve síntese: 5. Com a edição da Lei n. 8.429/1992, Lei da Improbidade Ad-
• É composto por meio de uma relação de coordenação e su- ministrativa de observância obrigatória por parte da administração
bordinação entre os órgãos da Administração Pública de modo am- direta e indireta de todos os entes federativos, o legislador infra-
plo e total; constitucional veio a estabelecer as regras e procedimentos a se-
• Consequências do princípio da hierarquia: Existe a possibili- rem observados quando ocorrer a prática de atos de improbidade.
dade de o superior fazer revisão junto aos atos dos subordinados; ( ) CERTO
há a possibilidade de o superior vir a delegar ou a avocar competên- ( ) ERRADO
cias; existe a possibilidade de punir na forma da lei ao subordina-
do; dever do subordinador de obedecer as ordens do seu superior 6. Em apoio à disposição constitucional, a Lei n. 8.429/1992 dis-
imediato, ressalvadas as manifestamente ilegais; o princípio da hie- põe em seu artigo 7º, que a indisponibilidade dos bens será decla-
rarquia se encontra relacionado à ideia de desconcentração admi- rada sempre que o ato de improbidade administrativa ficar caracte-
nistrativa; o princípio da hierarquia não se encontra relacionado ao rizado como enriquecimento ilícito ou lesão ao patrimônio público.
processo de descentralização administrativa. ( ) CERTO
( ) ERRADO

7. No tocante ao desfazimento do ato administrativo, infere-se


que pode ocorrer de duas formas: por revogação, no momento em
que a manutenção do ato válido se tornar conveniente ou inoportu-
na e por anulação, quando o ato não apresentar vícios.
( ) CERTO
( ) ERRADO

62
DIREITO ADMINISTRATIVO
8. Inexistindo vínculo funcional, infere-se que o poder discipli- 15. Sendo princípios gerais de direito, a razoabilidade e a pro-
nar é decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de porcionalidade, embora não estejam previstos expressamente no
distribuição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a uma texto da CFB/88, transpassam vários dispositivos da CF/1988, vindo
mesma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico determi- a se constituir em princípios constitucionais implícitos.
nar o cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for subordi- ( ) CERTO
nado, o cumprimento destas. ( ) ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 16. Embora haja doutrinárias divergentes em relação ao as-
sunto, entende-se de modo geral, que o princípio da razoabilidade
9. (CESPE- 2013-CNJ -ANALISTA JUDICIÁRIO -ÁREA JUDICIÁ- está relacionado ao aceitamento explícito da conduta em face de
RIA) A decisão do Tribunal de Contas da União que, dentro de suas padrões racionais de comportamento, que buscam levar em conta
atribuições constitucionais, julga ilegal a concessão de aposentado- tanto o bom senso do homem médio, quanto a finalidade para a
ria, negando-lhe o registro, possui caráter impositivo e vinculante qual foi outorgada a competência legítima ao agente público.
para a administração. A Assertiva se encontra:
( ) CERTO ( ) CERTO
( ) ERRADO ( ) ERRADO

10. (CESPE- 2013 -INPI-ANALISTA- FORMAÇÃO: DIREITO) Os 17. Afirma-se que o princípio da isonomia, além de autorizar,
requisitos dos atos administrativos são a competência, o objeto, a exige também tratamentos de forma igualitária entre pessoas que
forma, o motivo e a finalidade, sendo o motivo e o objeto requisitos se encontram em situações distintas. Desta maneira, o problema
discricionários; e a competência, a forma e a finalidade, vinculados. não é diferenciar, mas sim saber aplicar a razoabilidade do critério
( ) CERTO utilizado para a diferenciação.
( ) ERRADO A assertiva se encontra:
( ) CERTO
11. Por meio aspecto objetivo dos elementos constitutivos o ( ) ERRADO
serviço público está sempre sob a total responsabilidade do Estado.
No entanto, registra-se que ao Estado como um todo, é permitido 18. O princípio da motivação é um princípio implícito que de-
delegar determinados serviços públicos, desde que sempre por in- termina à Administração Púbica a indicação dos fundamentos de
termediação dos parâmetros da lei e sob regime de concessão ou fato e de direito referentes às suas decisões.
permissão, bem como por meio de licitação. Denota-se que nesse A assertiva se encontra:
caso, é o próprio Estado que escolhe os serviços que são considera- ( ) CERTO
dos serviços públicos. ( ) ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 19. O princípio da autotutela consiste na possibilidade de a Ad-
ministração rever seus próprios atos. É o poder acompanhado do
12. Por intermédio do elemento formal, o serviço público deve- dever concedido à administração para zelar pela legalidade, pela
rá sempre prestar serviços condizentes a uma atividade de interesse conveniência e pela oportunidade dos atos que pratica.
público como um todo. Denota-se que por meio da aplicação desse A assertiva se encontra:
elemento, o objetivo do serviço público será sempre o de satisfazer ( ) CERTO
de forma concreta as necessidades da coletividade. ( ) ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 20. A segurança jurídica é um dos princípios fundamentais do
direito e possui como atributos garantir a estabilidade das relações
13. Quando o Estado é omisso no seu dever de agir de acordo jurídicas consolidadas, bem como a certeza das consequências jurí-
com os parâmetros legais, não terá o dever de reparar o prejuízo dicas dos atos praticados pelos indivíduos em suas diversas relações
causado. No entanto, a responsabilidade será aplicada na forma sociais.
objetiva, posto que deverá ser demonstrada a culpa do Estado, ou A assertiva se encontra:
seja, a omissão estatal. ( ) CERTO
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) ERRADO

14. Para que a responsabilidade objetiva estatal seja configura-


da, deve haver um dano, tendo em vista que indenizar é “suprimir
o dano” por meio do adimplemento de uma contraprestação de na-
tureza pecuniária. Isso pode ser tanto dano de efeito moral como a
violação à dignidade e à honra, por exemplo, quanto dano material
que cause prejuízo financeiro a outrem.
( ) CERTO
( ) ERRADO

63
DIREITO ADMINISTRATIVO
______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

______________________________________________________
1 CERTO
2 CERTO ______________________________________________________
3 CERTO ______________________________________________________
4 ERRADO
______________________________________________________
5 CERTO
6 CERTO ______________________________________________________

7 ERRADO ______________________________________________________
8 ERRADO
______________________________________________________
9 CERTO
______________________________________________________
10 CERTO
11 ERRADO ______________________________________________________
12 ERRADO
______________________________________________________
13 ERRADO
______________________________________________________
14 CERTO
15 CERTO ______________________________________________________
16 CERTO ______________________________________________________
17 ERRADO
______________________________________________________
18 CERTO
19 CERTO ______________________________________________________
20 CERTO ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES
______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

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DIREITO CIVIL
1. Da Personalidade E Da Capacidade. Dos Direitos Da Personalidade.da Pessoa Jurídica. Responsabilidade Jurídica . . . . . . . . . . . . . 01
2. Fato Jurídico.negócios Jurídicos. Conceito. Vícios: Erro, Dolo, Culpa E Coação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3. Relações De Parentesco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
DIREITO CIVIL
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela ex-
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE. DOS DIREI- istência de relação de emprego, desde que, em função deles, o
TOS DA PERSONALIDADE.DA PESSOA JURÍDICA. RES- menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
PONSABILIDADE JURÍDICA Art. 6 o A existência da pessoa natural termina com a morte;
presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei
LEI N° 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 autoriza a abertura de sucessão definitiva.
Art. 7 o Pode ser declarada a morte presumida, sem decre-
INSTITUI O CÓDIGO CIVIL. tação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso em perigo de vida;
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisionei-
ro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
PARTE GERAL Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses
casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as
LIVRO I buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável
DAS PESSOAS do falecimento.
Art. 8 o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma
TÍTULO I ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes
DAS PESSOAS NATURAIS precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
Art. 9 o Serão registrados em registro público:
CAPÍTULO I I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do
juiz;
Art. 1 o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
civil. IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presu-
Art. 2 o A personalidade civil da pessoa começa do nasci- mida.
mento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:
direitos do nascituro. I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do
Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoal- casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento
mente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. da sociedade conjugal;
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou
I - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) reconhecerem a filiação;
(Vigência) III - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
II - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência) Conforme entendimento doutrinário personalidade e ca-
III - (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) pacidade jurídica transmite a ideia de personalidade, que revela
(Vigência) a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações.
Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à ma- Segundo Maria Helena Diniz: a pessoa natural o sujeito ‘das
neira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) relações jurídicas e a personalidade, a possibilidade de ser sujei-
(Vigência) to, toda pessoa é dotada de personalidade. Esta tem sua medida
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; na capacidade, que é reconhecida, num sentido de universali-
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dade, no art. 12 do Código Civil, que, ao prescrever “toda pessoa
dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) é capaz de direitos e deveres”, emprega o termo “pessoa” na
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, acepção de todo ser humano, sem qualquer distinção de sexo,
não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº idade, credo ou raça.
13.146, de 2015) (Vigência) - Capacidade de direito e capacidade de exercício: À ap-
IV - os pródigos. tidão oriunda da personalidade para adquirir direitos e contrair
Parágrafo único.A capacidade dos indígenas será regulada obrigações na vida civil dá-se o nome de capacidade de gozo ou
por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de de direito.
2015) (Vigência) - Quando o Código enuncia, no seu art. 1º, que toda pessoa
Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, é capaz de direitos e deveres na ordem civil, não dá a entender
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da que possua concomitantemente o gozo e o exercício desses di-
vida civil. reitos, pois nas disposições subsequentes faz referência àqueles
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: que tendo o gozo dos direitos civis não podem exercê-los, por
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do out- si, ante o fato de, em razão de menoridade ou de insuficiência
ro, mediante instrumento público, independentemente de ho- somática, não terem a capacidade de fato ou de exercício.
mologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o Para discorrer sobre este tema, iremos trazer o entendi-
menor tiver dezesseis anos completos; mento da professora Maria Helena Diniz:
II - pelo casamento; Começo da personalidade natural:
III - pelo exercício de emprego público efetivo; Pelo Código Civil, para que um ente seja pessoa e adquira
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; personalidade jurídica, será suficiente que tenha vivido por um
segundo.

1
DIREITO CIVIL
- Direitos do nascituro: conveniente ou prejudicial Por isso para a validade dos seus
atos, será preciso que estejam representados por seu pai, por
Conquanto comece do nascimento com vida a personali- sua mãe, ou por tutor.
dade civil do homem, a lei põe a salvo, desde a concepção, os Já em relação aos relativamente incapazes:
direitos do nascituro (CC, ais. 22, 1.609, 1.779 e parágrafo único - Incapacidade relativa: A incapacidade relativa diz respeito
e 1.798), como o direito à vida (CF, art. 52, CP, ais. 124 a 128, àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil desde que
1 e II), à filiação (CC, ais. 1.596 e 1.597), à integridade física, a assistidos por quem o direito encarrega desse ofício, em razão
alimentos (RT 650/220; RJTJSP 150/906), a uma adequada as- de parentesco, de relação de ordem civil ou de designação ju-
sistência pré-natal, a um curador que zele pelos seus interesses dicial, sob pena de anulabilidade daquele ato (CC, art. 171), de-
em caso de incapacidade de seus genitores, de receber herança pendente da iniciativa do lesado, havendo até hipóteses em que
(CC, arts. 1.798 e 1.800, § 3º), de ser contemplado por doação tal ato poderá ser confirmado ou ratificado. Há atos que o rela-
(CC, art. 542), de ser reconhecido como filho etc. tivamente incapaz pode praticar, livremente, sem autorização.
Poder-se-ia até mesmo afirmar que, na vida intrauterina, - Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos: Os
tem o nascituro, e na vida extrauterina, tem o embrião, person- maiores de dezesseis e menores de dezoito anos só poderão
alidade jurídica formal, no que atina aos direitos personalíssi- praticar atos válidos se assistidos pelo seu representante. Caso
mos, ou melhor, aos da personalidade, visto ter a pessoa carga contrário, serão anuláveis.
genética diferenciada desde a concepção, seja ela in vivo ou in - Ébrios habituais ou viciados em tóxicos: Alcoólatras,
vitro (Recomendação n. 1.046/89, n. 7 do Conselho da Europa), dipsômanos e toxicômanos.Aqueles que, por causa transitória
passando a ter a personalidade jurídica material, alcançando os ou permanente, não puderem exprimir sua vontade: Abrangidos
direitos patrimoniais, que permaneciam em estado potencial, estão, aqui: os fracos de mente, surdos mudos e portadores de
somente com o nascimento com vida (CC, art. 1.800, § 3º). Se anomalia psíquica que apresentem sinais de desenvolvimento
nascer com vida, adquire personalidade jurídica material, mas, mental incompleto, comprovado e declarado em sentença de in-
se tal não ocorrer, nenhum direito patrimonial terá. terdição, que os tornam incapazes de praticar atos na vida civil,
Momento da consideração jurídica do nascituro: sem a assistência de um curador (CC, art. 1.767. IV). E portadores
Ante as novas técnicas de fertilização in vitro e do con- de deficiência mental, que sofram redução na sua capacidade
gelamento de embriões humanos, houve quem levantasse o de entendimento, não poderão praticar atos na vida civil sem
assistência de curador (CC, art. 1.767, III). Desde que interditos.
problema relativo ao momento em que se deve considerar ju-
- Pródigos: São considerados relativamente incapazes os
ridicamente o nascitum, entendendo-se que a vida tem início,
pródigos, ou seja, aqueles que, comprovada, habitual e desorde-
naturalmente, com a concepção no ventre materno. Assim sen-
nadamente, dilapidam seu patrimônio, fazendo gastos excessivos.
do, na fecundação na proveta, embora seja a fecundação do
Com a interdição do pródigo, privado estará ele dos atos que pos-
óvulo, pelo espermatozoide, que inicia a vida, é a nidação do
sam comprometer seus bens, não podendo, sem a assistência de
zigoto ou ovo que a garantirá; logo, para alguns autores, o nas-
seu curador (CC, art. 1.767, V), alienar, emprestar, dar quitação,
cituro só será “pessoa” quando o ovo fecundado for implantado
transigir, hipotecar, agir em juízo e praticar, em geral, atos que
no útero materno, sob a condição do nascimento com vida. O
não sejam de mera administração (CC, art. 1.782).
embrião humano congelado não poderia ser tido como nasci-
A capacidade dos indígenas será regulada por legislação es-
turo, apesar de dever ter proteção jurídica como pessoa virtual, pecial.
com uma carga genética própria. Embora a vida se inicie com Quanto à maioridade, Maria Helena Diniz defende que a
a fecundação, e a vida viável com a gravidez, que se dá com a incapacidade cessará quando o menor completar dezoito anos,
nidação, entendemos que na verdade o início legal da consider- segundo nossa legislação civil. Ao atingir dezoito anos a pessoa
ação jurídica da personalidade é o momento da penetração do tornar-se-á maior, adquirindo a capacidade de fato, podendo,
espermatozóide no óvulo, mesmo fora do corpo da mulher. Por então, exercer pessoalmente os atos da vida civil.
isso, a Lei n. 8.974/95, nos arts. 8, II, III e IV, e 13, veio a reforçar, - Emancipação expressa ou voluntária: Antes da maioridade
em boa hora, essa ideia não só ao vedar: legal, tendo o menor atingido dezesseis anos, poderá haver a
a) manipulação genética de células germinais humanas; outorga de capacidade civil por concessão dos pais, no exercício
b) intervenção em material genético humano in vivo, salvo do poder familiar, mediante escritura pública inscrita no Regis-
para o tratamento de defeitos genéticos; tro Civil competente (Lei n. 6.015/73, arts. 89 e 90; CC, art. 92,
c) produção, armazenamento ou manipulação de embriões II), independentemente de homologação judicial. Além dessa
humanos destinados a servir como material biológico disponív- emancipação por concessão dos pais, ter-se-á a emancipação
el, como também ao considerar tais atos como crimes, punin- por sentença judicial, se o menor com dezesseis anos estiver sob
do-os severamente. tutela e ouvido o tutor.
Com isso, parece-nos que a razão está com a teoria con- - Emancipação tácita ou legal: A emancipação legal decorre
cepcionista, uma vez que o Código Civil resguarda desde a con- dos seguintes casos:
cepção os direitos do nascituro e além disso, no art. 1.597, pre- a) casamento, pois não é plausível que fique sob a autor-
sume concebido na constância do casamento o filho havido, a idade de outrem quem tem condições de casar e constituir
qualquer tempo, quando se tratar de embrião excedente, decor- família; assim, mesmo que haja anulação do matrimônio, viuvez,
rente de concepção artificial heteróloga. separação judicial ou divórcio, o emancipado por esta forma não
Em relação aos incapazes, são considerados absolutamente retoma à incapacidade;
incapazes: b) exercício de emprego público efetivo, por funcionário
- Menoridade de dezesseis anos: Os menores de dezesseis nomeado em caráter efetivo (não abrangendo a função pública
anos são tidas como absolutamente incapazes para exercer atos extranumerária ou em comissão), com exceção de funcionário
na vida civil, porque devido à idade não atingiram o discerni- de autarquia ou entidade paraestatal, que não é alcançado pela
mento para distinguir o que podem ou não .fazer que lhes, é emancipação.

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DIREITO CIVIL
De acordo com o art. 6º a existência da pessoa natural ter- CAPÍTULO II
mina com a morte podendo esta ser morte real ou presumida. DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
- Morte real: Com a morte real, cessa a personalidade ju-
rídica da pessoa natural, que deixa de ser sujeito de direitos e Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos
deveres, acarretando: da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não po-
a) dissolução do vínculo conjugal e do regime matrimonial; dendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
b) extinção do poder familiar; dos contratos personalíssi- Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a di-
mos, com prestação de serviço e mandato; reito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo
c) cessação da obrigação, alimentos com o falecimento do de outras sanções previstas em lei.
credor; do pacto de preempção; da obrigação oriunda de in- Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação
gratidão de donatário; á extinção de usufrutos; da doação na para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobre-
forma de subvenção periódica e do encargo da testamentaria. vivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
- Morte presumida: A morte presumida pela lei se dá ausên- quarto grau.
cia de uma pessoa nos casos dos arts 22 a 39 do Código Civil. Se Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de dis-
uma pessoa desaparecer, sem deixar notícias, qualquer interes- posição do próprio corpo, quando importar diminuição perma-
sado na sua sucessão ou o Ministério Público poderá requerer ao nente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
juiz a declaração de sua ausência e a nomeação de curador. Se Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido
após um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se deix- para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
ou algum representante. em se passando três anos, sem que dê Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a
sinal de vida, poderá ser requerida sua sucessão provisória (CC, disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para
art.. 26) e o início do processo de inventário e partilha de seus depois da morte.
bens, ocasião em que a ausência do desaparecido passa a ser Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente
considerada presumida. Feita a partilha, seus herdeiros deverão revogado a qualquer tempo.
administrar os bens, prestando caução real, garantindo a resti- Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com
tuição no caso de o ausente aparecer. Após dez anos do trânsito
risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
em julgado da sentença da abertura da sucessão provisória (CC,
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendi-
art. 37), sem que o ausente apareça, ou cinco anos depois das
dos o prenome e o sobrenome.
últimas notícias do desaparecido que conta com oitenta anos de
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por
idade (CC, art. 38), será declarada a sua morte presumida a req-
outrem em publicações ou representações que a exponham ao
uerimento de qualquer interessado, convertendo-se a sucessão
desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
provisória em definitiva. Se o ausente retornar em até dez anos
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio
após a abertura da sucessão definitiva, terá os bens no estado
em propaganda comercial.
em que se encontrarem e direito ao preço que os herdeiros hou-
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza
verem recebido com sua venda. Porém, se regressar após esses
dez anos, não terá direito a nada. da proteção que se dá ao nome.
Morte presumida sem decretação de ausência: Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à adminis-
Admite-se declaração judicial de morte presumida sem de- tração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divul-
cretação de ausência em casos excepcionais, apenas depois de gação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a
esgotadas todas as buscas e averiguações, devendo a sentença exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão
fixar a data provável do óbito, e tais casos são: ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização
que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitab-
a) probabilidade da ocorrência da morte de quem se encon- ilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815)
trava em perigo de vida e Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente,
b) desaparecimento em campanha ou prisão de pessoa, não são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os
sendo ela encontrada até dois anos após o término da guerra. ascendentes ou os descendentes.
A comoriência é a morte de duas ou mais pessoas na mesma Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o
ocasião e em razão do mesmo acontecimento. Embora o prob- juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências
lema da comoriência, em regra, alcance casos de morte conjun- necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
ta, ocorrida no mesmo acontecimento, ela coloca-se, com igual norma. (Vide ADIN 4815)
relevância, no que concerne a efeitos dependentes de sobre-
vivência, na hipótese de pessoas falecidas em locais e acontec- De acordo com o art. 11, os direitos da personalidade são
imentos distintos, mas em datas e horas simultâneas ou muito intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício
próximas. sofrer limitação voluntária, salvo exceções previstas em lei.
- Efeito da morte simultânea no direito sucessório: - Sanções suscitadas pelo ofendido em razão de ameaça
A comoriência terá grande repercussão na transmissão de ou lesão a direito da personalidade: Os direitos da personali-
direitos sucessórios, pois, se os comorientes são herdeiros uns dade destinam-se a resguardar a dignidade humana, mediante
dos outros, não há transferência de direitos; um não sucederá sanções, que devem ser suscitadas pelo ofendido (lesado di-
ao outro, sendo chamados à sucessão os seus herdeiros ante a reto). Essa sanção deve ser feita por meio de medidas caute-
presunção juris tantum de que faleceram ao mesmo tempo. Se lares que suspendam os atos que ameacem ou desrespeitem
dúvida houver no sentido de se saber quem faleceu primeiro, o a integridade físico-psíquica, intelectual e moral, movendo-se,
magistrado aplicará o art. 8º, caso em que, então, não haverá em seguida, uma ação que irá declarar ou negar a existência da
transmissão de direitos entre as pessoas que morreram na mes- lesão, que poderá ser cumulada com ação ordinária de perdas e
ma ocasião. danos a fim de ressarcir danos morais e patrimoniais.

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DIREITO CIVIL
- Lesado indireto: Se se tratar de lesão a interesses econôm- ficáveis, implicando o reconhecimento de seu titular por meio de
icos, o lesado indireto será aquele que sofre um prejuízo em in- fotografia, escultura, desenho, pintura. Intepretação dramática,
teresse patrimonial próprio, resultante de dano causado a um cinematográfica, televisão, sites etc., que requer autorização do
bem jurídico alheio, podendo a vítima estar falecida ou declara- retratado. E a imagem-atributo é o conjunto de caracteres ou
da ausente. A indenização por morte de outrem é reclamada qualidades cultivadas pela pessoa, reconhecidos socialmente.
jure próprio, pois ainda que o dano, que recai sobre a mulher Abrange o direito: á própria imagem ou a difusão da im-
e os filhos menores do finado, seja resultante de homicídio ou agem, a imagem das coisas próprias e á imagem em coisas, pa-
acidente, quando eles agem contra o responsável, procedem em lavras ou escritos ou em publicações; de obter imagem ou de
nome próprio, reclamando contra prejuízo que sofreram e não consentir em sua captação por qualquer meio tecnológico.
contra o que foi irrogado ao marido e pai. O direito à imagem é autônomo, não precisando estar em
Como o exemplo trazido pela autora Maria Helena Diniz: a conjunto com a intimidade, a identidade, a honra etc. Embora
viúva e os filhos menores da pessoa assassinada são lesados in- possam estar em certos casos, tais bens a ele conexos, isso não
diretos, pois obtinham da vítima do homicídio o necessário para faz com que sejam partes integrantes um do outro.
sua subsistência. A privação de alimentos é uma consequência - Direito de interpretação, direito à imagem e direito au-
do dano. No caso do dano moral, pontifica Zannoni, os lesados toral: O direito de interpretação, ou seja, o do ator numa repre-
indiretos seriam aquelas pessoas que poderiam alegar um inter- sentação de certo personagem, pode estar conexo como direito
esse vinculado a bens jurídicos extrapatrimoniais próprios, que à voz, à imagem e com o direito autoral. O autor de obra intelec-
se satisfaziam mediante a incolumidade do bem jurídico mor- tual pode divulgá-la por apresentação pública, quando a obra
al da vítima direta do fato lesivo. Por ex.: o marido ou os pais é representada dramaticamente, executada, exibida, projetada
poderiam pleitear indenização por injúrias feitas à mulher ou em fita cinematográfica, transmitida por radiodifusão etc., e é
aos filhos, visto que estas afetariam também pessoalmente o neste terreno que se situa o contrato de representação e ex-
esposo ou os pais, em razão da posição que eles ocupam dentro ecução, de conteúdo complexo por se referir não só ao desem-
da unidade familiar. Haveria um dano próprio pela violação da penho pessoal, mas também à atuação por meios mecânicos e
honra da esposa ou dos filhos. Ter-se-á sempre uma presunção eletrônicos dos diferentes gêneros de produção intelectual, sus-
juris tantum de dano moral, em favor dos ascendentes, descen- cetíveis de comunicação audiovisual.
dentes, cônjuges, irmãos, tios, sobrinhos e primos, em caso de Na representação pública há imagens transmitidas para di-
ofensa a pessoas da família mortas ou ausentes. Essas pessoas fundir obra literária, musical ou artística que deverão ser tute-
não precisariam provar o dano extrapatrimonial, ressalvando-se ladas juridicamente, juntamente com os direitos do autor. Os
a terceiros o direito de elidir aquela presunção. O convivente, direitos dos artistas, intérpretes e executantes são conexos aos
ou concubino, noivo, amigos, poderiam pleitear indenização por dos escritores, pintores, compositores, escultores etc. Logo, po-
dano moral, mas terão maior ônus de prova, uma vez que de- dem eles impedir a utilização indevida de suas interpretações,
verão provar, convincentemente. o prejuízo e demonstrar que bem como de sua imagem.
se ligavam à vítima por vínculos estreitos de amizade ou de in- - Proteção da imagem como direito autoral: A imagem é
suspeita afeição. protegida pelo art. 52, XXVIII, a, da CF, como direito autoral,
- Elementos constitutivos do nome: Dois, em regra, são os desde que ligada à criação intelectual de obra fotográfica, cine-
elementos constitutivos do nome: o prenome próprio da pes- matográfica, publicitária etc.
soa, que pode ser livremente escolhido, desde que não exponha - Limitações ao direito à imagem: Todavia, há certas lim-
o portador ao ridículo; e o sobrenome, que é o sinal que iden- itações do direito à imagem, com dispensa da anuência para sua
tifica a procedência da pessoa, indicando sua filiação ou estir- divulgação, quando:
pe, podendo advir do apelido de família paterno, materno ou a) se tratar de pessoa notória, pois isso não constitui per-
de ambos. missão para devassar sua privacidade, pois sua vida íntima deve
A aquisição do sobrenome pode decorrer não só do nasci- ser preservada. A pessoa que se toma de interesse público, pela
mento, por ocasião de sua transcrição no Registro competente fama ou significação intelectual, moral, artística ou política não
reconhecendo sua filiação, também da adoção, do casamento, poderá alegar ofensa ao seu direito à imagem se sua divulgação
da união estável, ou ato de interessado, mediante requerimento estiver ligada à ciência, às letras, à moral, à arte e a política.
ao magistrado. Isto é assim porque a difusão de sua imagem sem seu consen-
A pessoa tem autorização de usar seu nome e de defendê-lo so deve estar relacionada com sua atividade ou com o direito à
de abuso cometido por terceiro, que, em publicação ou repre- informação;
sentação, venha a expô-la ao desprezo público — mesmo que b) se referir a exercício de cargo público, pois quem tiver
não haja intenção de difamar — por atingir sua boa reputação, função pública de destaque não poderá impedir que no exercício
moral e profissional, no seio da coletividade (honra objetiva). de sua atividade, seja filmada ou fotografada, salvo na intimi-
Em regra, a reparação por essa ofensa é pecuniária, mas há ca- dade;
sos em que é possível a restauração in natura, publicando-se c) se procurar atender à administração ou serviço da justiça
desagravo. ou de polícia, desde que a pessoa não sofra dano à sua privaci-
É vedada a utilização de nome alheio em propaganda com- dade;
ercial, por ser o direito ao nome indisponível, admitindo-se sua d) se tiver de garantir a segurança pública nacional, em que
relativa disponibilidade mediante consentimento de seu titular, prevalecer o interesse social sobre o particular, requerendo a
em prol de algum interesse social ou de promoção de venda de divulgação da imagem, p. ex., de um procurado pela policia ou
algum produto, mediante pagamento de remuneração conven- a manipulação de arquivos fotográficos de departamentos poli-
cionada. ciais para identificação de delinquente. Urge não olvidar que o
A imagem-retrato é a representação física da pessoa como civilmente identificado não possa ser submetido a identificação
um todo ou em partes separadas do corpo, desde que identi- criminal, salva nos casos autorizados legalmente;

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DIREITO CIVIL
e) se buscar atender ao interesse público, aos fins culturais, SEÇÃO II
científicos e didáticos; DA SUCESSÃO PROVISÓRIA
f) se houver necessidade de resguardar a saúde pública. As-
sim, portador de moléstia grave e contagiosa não pode evitar Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do aus-
que se noticie o fato; ente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se
g) se obtiver imagem, em que a figura seja tão-somente passando três anos, poderão os interessados requerer que se
parte do cenário (congresso, enchente, praia, tumulto, show, declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
desfile, festa carnavalesca, restaurante etc.), sem que se a Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se
destaque, pois se pretende divulgar o acontecimento e não a consideram interessados:
pessoa que integra a cena; I - o cônjuge não separado judicialmente;
h) se tratar de identificação compulsória ou imprescindível a II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
algum ato de direito público ou privado. III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito depen-
- Reparação do dano à imagem: O lesado pode pleitear a rep- dente de sua morte;
aração pelo dano moral e patrimonial (Súmula 37 do STJ) provo- IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.
cado por violação à sua imagem-retrato ou imagem-atributo e Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão
pela divulgação não autorizada de escritos ou de declarações provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de
feitas. Se a vítima vier a falecer ou for declarada ausente, serão publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, pro-
partes legítimas para requerer a tutela ao direito à imagem, na ceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário
qualidade de lesados indiretos, seu cônjuge, ascendentes ou de- e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.
scendentes e também, no nosso entender, o convivente, visto § 1 o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo
ter interesse próprio, vinculado a dano patrimonial ou moral interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Pú-
causado a bem jurídico alheio. Este parágrafo único do art. 20 blico requerê-la ao juízo competente.
seria supérfluo ante o disposto no art. 12, parágrafo único. § 2 o Não comparecendo herdeiro ou interessado para req-
O direito à privacidade da pessoa contém interesses juríd- uerer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a
icos, por isso seu titular pode impedir ou fazer cessar invasão sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á
em sua esfera íntima, usando para sua defesa: mandado de in- à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos
junção, habeas data, habeas corpus, mandado de segurança, arts. 1.819 a 1.823.
cautelares inominadas e ação de responsabilidade civil por dano Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente,
moral e patrimonial. ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração
ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União.
CAPÍTULO III Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens
DA AUSÊNCIA do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante pen-
hores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.
SEÇÃO I § 1 o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não
DA CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído,
mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que
dela haver notícia, se não houver deixado representante ou preste essa garantia.
procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a re- § 2 o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez
querimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independente-
declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. mente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não
curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o
ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus juiz, para lhes evitar a ruína.
poderes forem insuficientes. Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios fi-
Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes carão representando ativa e passivamente o ausente, de modo
e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que que contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro
for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores. àquele forem movidas.
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja sep- Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for
arado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e ren-
declaração da ausência, será o seu legítimo curador. dimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores,
§ 1 o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos,
incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não hav- segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante
endo impedimento que os iniba de exercer o cargo. do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz com-
§ 2 o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os petente.
mais remotos. Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que
§ 3 o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do
escolha do curador. sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória
poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue
metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria.

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DIREITO CIVIL
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exa- aplicáveis, reguladores da situação similar dos tutores e cura-
ta do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aber- dores, para que a atuação do curador dos bens do ausente seja
ta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo. realmente eficiente e responsável.
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, A curadoria dos bens do ausente deverá ser deferida, se
depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo casado for, não estando separado judicialmente, ao seu cônjuge,
as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, para que seu patrimônio não se perca ou deteriore, assumindo
obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a en- sua administração. Ante o interesse na conservação dos bens do
trega dos bens a seu dono. ausente, qualquer que seja o regime matrimonial de bens, seu
curador legítimo será seu cônjuge.
SEÇÃO III - Nomeação de curador dos bens do ausente na falta do
DA SUCESSÃO DEFINITIVA cônjuge: Se o ausente que deixou bens não tiver consorte, no-
mear-se-á o pai ou a mãe do desaparecido como curador, e, na
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença falta destes, os descendentes, desde que tenham idoneidade
que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os in- para exercer o cargo.
teressados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das - Ordem de nomeação entre os descendentes: Na curadoria
cauções prestadas. dos bens do ausente cabível a descendente seguir-se-á o princí-
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, pio de que os mais próximos excluem os mais remotos.
provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que - Escolha de curador dos bens de ausente pelo órgão judi-
de cinco datam as últimas notícias dele. cante: Na falta de cônjuge, ascendente ou descendente do aus-
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à ab- ente competirá ao juiz a escolha do curador, desde que idôneo
ertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou a exercer o cargo.
ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no A curadoria dos bens do ausente perdura por um ano, du-
estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o rante o qual o juiz ordenará a publicação de editais, de dois em
preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebi- dois meses, convocando o ausente a reaparecer para retornar
do pelos bens alienados depois daquele tempo. seus haveres (CPC, art 1.161).
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este arti- - Abertura da sucessão provisória: Passado um ano da ar-
go, o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a recadação dos bens do ausente sem que se saiba do seu para-
sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio deiro, ou, se ele deixou algum representante, em se passando
do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respecti- três anos, poderão os interessados requerer que se abra, provi-
vas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quan- soriamente, a sucessão, cessando a curatela (CPC, art. 1.162,III).
do situados em território federal. A sucessão provisória poderá ser requerida por qualquer in-
teressado:
Verificado o desaparecimento de uma pessoa do seu dom- a) cônjuge não separado judicialmente;
icílio, sem dar qualquer notícia de seu paradeiro e sem deixar b) herdeiros presumidos legítimos e testamentários;
procurador, ou representante, para administrar seus bens, o juiz c) pessoas que tiverem sobre os bens do ausente direito
a requerimento de qualquer interessado, seja ou não parente, subordinado à condição de morte, ou seja, se houver fideicom-
bastando que tenha interesse pecuniário ou do Ministério Pú- isso;
blico, nomeará um curador para administrar seu patrimônio res- d) credores de obrigações vencidas e não pagas (CPC, art.
guardando-o. 1.163, § lº).
Não havendo bens, não se terá nomeação de curador. Em - Abertura da sucessão provisória pelo Ministério Público:
caso de ausência, a curadoria é dos bens do ausente e não da Se, findo o prazo legal de um ano, não houver interessado na
pessoa do ausente. Há quem ache, acertadamente, não se tratar sucessão provisória, ou se entre os herdeiros houver interdito
de ausência o desaparecimento de alguém num acidente aéreo, ou menor, competirá ao Ministério Público requerer a abertura
rodoviário, ferroviário etc. em que, pelos indícios, a sua morte da sucessão provisória (CPC, art. 1.163, § 2º).
parece óbvia, apesar de não ter sido encontrado seu cadáver já - Efeitos da sentença declaratória da abertura da sucessão
que não há incerteza de seu paradeiro. provisória: A sentença que determinar a abertura da sucessão
A nomeação de curador a bens de um ausente dar-se-á mes- provisória produzirá efeitos somente 180 dias depois de sua
mo que ele tenha deixado procurador que se recuse a adminis- publicação pela imprensa. Assim que transitar em julgado, ter-
trar seu patrimônio ou que não possa exercer ou continuar o se-á a abertura do testamento, se houver, e proceder-se-á ao
mandato, seja por ter ocorrido o término da representação a inventário e partilha dos bens como se fosse o ausente falecido
termo, seja por sua renúncia, não aceitando a fortiori o manda- (CPC, art. 1.165).
to, seja por sua morte ou incapacidade. O mesmo se diga se os - Ausência de herdeiro: Se, dentro de trinta dias do trânsito
poderes outorgados ao procurador forem insuficientes para a em julgado da sentença que manda abrir a sucessão provisória,
gestão dos bens do ausente. não aparecer nenhum interessado, ou herdeiro, que requeira o
Com isso, o ausente ficará sem representante que venha a inventário, sendo a sucessão requerida pelo Ministério Público,
gerir seu patrimônio, urgindo, pois, que se nomeie curador. a herança será considerada jacente (CPC, art. 1.165, parágrafo
O curador dos bens do ausente, uma vez nomeado, terá único; CC, ais. 1.819 a 1.823).
seus deveres e poderes estabelecidos pelo juiz de conformidade Para garantir ao ausente a devolução de seus bens, por oc-
com as circunstancias do caso. Logo, o magistrado, conforme o asião de sua volta, o juiz, antes da partilha, deverá ordenar a
caso, no ato da nomeação determinará pormenorizadamente conversão, por meio de hasta pública, dos bens móveis, sujeitos
as providências a serem tomadas e as atividades a serem real- a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos de dívida
izadas, observando os dispositivos legais, sempre no que forem pública da União, adquiridos com o produto obtido.

6
DIREITO CIVIL
Os herdeiros que forem imitidos na posse dos bens do aus- A sucessão definitiva poderá ser requerida dez anos depois
ente deverão dar garantias de sua devolução mediante penhor de passada em julgado a sentença que concedeu abertura de
ou hipoteca proporcionais ao quinhão respectivo (CPC, art. sucessão provisória.
1.166), exceto se ascendentes, descendentes ou cônjuge, desde Efeitos da abertura da sucessão definitiva:
que comprovada a sua qualidade de herdeiros. Com a sucessão definitiva, os sucessores:
- Falta de condição para prestar garantia: Se o herdeiro que a) passarão a ter a propriedade resolúvel dos bens recebi-
tiver direito à posse provisória não puder prestar as garantias dos;
exigidas no caput deste artigo, não poderá entrar na posse dos b) perceberão os frutos e rendimentos desses bens, poden-
bens, que ficarão sob a administração de um curador, ou de out- do utilizá-los como quiser;
ro herdeiro designado pelo magistrado, se prontifique a prestar c) poderão alienar onerosa ou gratuitamente tais bens, e
a referida garantia. d) poderão requerer o levantamento das cauções prestadas.
Os imóveis do ausente, não só os arrecadados, mas também Abertura de sucessão definitiva de ausente com oitenta
os convertidos por venda dos móveis, não poderão ser aliena- anos:
dos, salvo em caso de desapropriação ou por ordem judicial para Se se provar que o ausente tem oitenta anos de nascido e
lhes evitar a ruína. que de cinco datam as últimas notícias suas; poder-se-á ter a
Os sucessores provisórios, uma vez empossados nos bens, abertura da sucessão definitiva, considerando-se a média de
ficarão representando ativa e passivamente o ausente; logo, vida da pessoa, mesmo que não tenha havido anteriormente
contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro, após sucessão provisória.
a abertura da sucessão provisória, àquele se moverem. - Regresso do ausente ou de seu herdeiro necessário: Se o
Consequentemente, o curador dos bens do ausente não ausente, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, re-
mais será o representante legal, pois, uma vez que os herdeiros, gressar nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definiti-
em caráter provisório, entraram na posse da herança, justifica- va, apenas poderá requerer ao magistrado a devolução dos bens
tiva alguma há para que o curador continue na representação existentes no estado em que se encontrarem os sub-rogados em
daqueles bens, quer ativa, quer passivamente, ou seja, como réu seu lugar ou o preço os herdeiros ou interessados receberam
ou como autor. pelos alienados depois daquele tempo, respeitando-se assim, os
Se o sucessor provisório do ausente for seu descendente, direitos de terceiro.
ascendente ou cônjuge, terá a propriedade de todos os frutos - Declaração da vacância dos bens do ausente: Se, nos dez
e rendimentos dos bens que a este couberem, podendo deles anos a que se refere o caput do artigo ora examinado, o aus-
dispor como quiser. Se se tratar de outros sucessores que não ente não retornar, e nenhum interessado requerer a sucessão
aqueles acima enumerados, sendo. p. ex., parentes colaterais, definitiva os bens serão arrecadados como vagos, passando sua
deverão converter a metade desses rendimentos e frutos em im- propriedade plena ao Município, ao Distrito Federal, se situados
óveis ou títulos de dívida pública, a fim de garantir sua ulterior nas respectivas circunscrições, ou à União.
e possível restituição ao ausente. Tal capitalização deverá ser
feita de acordo com o Ministério Público, que, além de determi- TÍTULO III
nar qual o melhor emprego da metade daqueles rendimentos, Do Domicílio
deverá fiscalizá-lo.
Os sucessores provisórios deverão prestar contas, anual- Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela
mente, ao juiz, do emprego da metade dos frutos e rendimentos. estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
Se o ausente aparecer e ficar comprovado que sua ausência foi Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residên-
voluntária e injustificada ele perderá, em favor dos sucessores cias, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu
provisórios, a parte que lhe caberia nos frutos e rendimentos. qualquer delas.
O sucessor provisório que não pôde entrar na posse de seu Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às
quinhão, por não ter oferecido a garantia legal, poderá justific- relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
ar-se provando a falta de recursos, requerendo judicialmente, Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares
que lhe seja entregue metade dos frutos e rendimentos produzi- diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações
dos pela parte que lhe caberia, e que foi retida, para poder fazer que lhe corresponderem.
frente à sua subsistência. Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não
Retornando o ausente ou enviando notícias suas, cessarão tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.
para os sucessores provisórios todas as vantagens, ficando Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com
obrigados a tornar medidas assecuratórias até a devolução dos a intenção manifesta de o mudar.
bens a seu dono, conservando-os e preservando-os sob pena de Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que decla-
perdas e danos. rar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para
Sucessores provisórios como herdeiros presuntivos: Os onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança,
sucessores provisórios são herdeiros presuntivos, uma vez que com as circunstâncias que a acompanharem.
administram patrimônio supostamente seu: o real proprietário Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
é o ausente, cabendo-lhe, também a posse dos bens, bem como I - da União, o Distrito Federal;
os seus frutos e rendimentos, ou seja, o produto da capitalização II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
ordenada pelo art. 3º. O sucessor provisório, com o retorno do III - do Município, o lugar onde funcione a administração
ausente, deverá prestar contas dos bens e de seus acrescidos, municipal;
devolvendo-os , assim como, se for o caso, os sub-rogados, se IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem
não mais existirem. as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem
domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

7
DIREITO CIVIL
§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em o ato. De forma que o local de cada estabelecimento dotado de
lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio autonomia será considerado domicilio para os atos ou negócios
para os atos nele praticados. nele efetivados, com o intuito de beneficiar os indivíduos que
§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no contratarem com a pessoa jurídica.
estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, Se a sede da Administração, ou diretoria, da pessoa jurídi-
no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas ca se acha no exterior, os estabelecimentos, agências, filiais ou
agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela sucursais situados no Brasil terão por domicilio o local onde as
corresponder. obrigações foram contraídas pelos respectivos agentes.
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor pú- Ter-se-á o domicílio necessário ou legal quando for determi-
blico, o militar, o marítimo e o preso. nado por lei, em razão da condição ou situação de ceias pessoas.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu repre- O domicilio do incapaz é legal, pois sua fixação operar-se-á por
sentante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que determinação de lei e não por volição. O recém-nascido adquire
exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde ser- o domicilio de seus pais. Os absoluta ou relativamente incapazes
vir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando terão por domicilio o de seus representantes legais (pais, tuto-
a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, res ou curadores).
onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que - Domicilio necessário do servidor público: Deriva o domi-
cumprir a sentença. cílio legal ou necessário do servidor público de lei, pois o artigo
Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no es- sub examine entende por domiciliado o funcionário público no
trangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, local onde exerce suas funções por investidura efetiva. Logo tem
no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Fe- por domicílio o lugar onde exerce sua função permanente.
deral ou no último ponto do território brasileiro onde o teve. O domicilio do militar do Exército é o lugar onde servir e o
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes es- do da Marinha ou da Aeronáutica em serviço ativo, a sede do
pecificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e comando a que se encontra imediatamente subordinado. Ma-
obrigações deles resultantes. rinha mercante é a encarregada de transportar mercadorias e
passageiros. Os oficiais e tripulantes dessa marinha mercante
têm por domicílio necessário o lugar onde estiver matriculado o
Conceito legal de domicilio civil da pessoa natural: Pelo
navio, embora passem a vida em viagens.
art. 70 do Código Civil, o domicílio civil é o lugar onde a pessoa
O preso terá por domicílio o lugar onde cumprir a senten-
estabelece sua residência com animo definitivo tendo, portan-
ça. Tratando-se de preso internado em manicômio judiciário, é
to, por critério a residência. Nesta conceituação, legal há dois
competente o juízo local para julgar pedido de sua interdição,
elementos: o objetivo, que é a fixação da pessoa em dado lugar,
nos termos do art. 76 do Código Civil. Se se tratar de preso ainda
e o subjetivo, que é a intenção de ali permanecer com animo
não condenado, seu domicilio será o voluntário.
definitivo. Importa em fixação espacial permanente da pessoa
natural. A nossa legislação admite a pluralidade de domicilio se a
- Citação de ministro ou agente diplomático no estrangeiro:
pessoa natural tiver mais de uma residência, pois se considerará Se o ministro ou agente diplomático brasileiro for citado no exte-
domicilio o seu qualquer uma delas. Admite também que, ex- rior e alegar a imunidade sem designar o local onde tem, no país,
cepcionalmente, pode haver casos em que uma pessoa natural o seu domicílio, deverá responder perante a Justiça do Distrito
não tenha domicílio certo ou fixo, ao estabelecer que aquele que Federal ou do último ponto do território brasileiro onde o teve.
não tiver residência habitual, como, p. ex., o caixeiro-viajante, o
circense, terá por domicilio o lugar onde for encontrado. - Domicílio contratual ou de eleição é o estabelecido con-
As pessoas jurídicas têm seu domicílio que é sua sede jurídi- tratualmente pelas partes em contrato escrito, que especificam
ca, onde os credores podem demandar o cumprimento das obri- onde se cumprirão os direitos e os deveres oriundos da avença
gações. Como não têm residência, é o local de suas atividades feita. O domicilio de eleição dependerá de manifestação expres-
habituais, de seu governo, administração ou direção, ou, ainda, sa dos contraentes, da qual surge a competência especial, deter-
o determinado no ato constitutivo. minada pelo contrato, do foro que irá apreciar os possíveis lití-
As pessoas jurídicas de direito público interno têm por do- gios decorrentes do negócio jurídico contratual. O local indicado
micílio a sede de seu governo. De maneira que a União aforará no contato para o adimplemento obrigacional será também
as causas na capital do Estado ou Território em que tiver do- aquele onde o inadimplente irá ser demandado ou acionado.
micílio a outra parte e será demandada, àescolha do autor, no
Distrito Federal ou na capital do Estado em que se deu o ato que DAS PESSOAS JURÍDICAS
deu origem à demanda, ou em que se situe o bem. Os Estados
e Territórios têm por sede jurídica as suas capitais, e os Municí- Conceito de pessoa jurídica: A pessoa jurídica é a unidade
pios, o lugar da Administração municipal. de pessoas naturais ou de patrimônios que visa à obtenção de
As pessoas jurídicas de direito privado têm por domicilio o certas finalidades, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito
lugar onde funcionarem sua diretoria e administração ou onde de direitos e obrigações.
elegerem domicilio especial nos seus estatutos ou atos constitu- Pessoas jurídicas de direito público interno: São pessoas ju-
tivos, devidamente registrados. rídicas de direito público interno:
- Pluralidade do domicilio da pessoa jurídica de direito pri- a) a União, que designa a nação brasileira, nas suas relações
vado: O art.75, § 1º, admite a pluralidade domiciliar da pessoa com os Estados federados que a compõem e com os cidadãos
jurídica de direito privado desde que tenham diversos estabe- que se encontram em seu território; logo, indica a organização
lecimentos (p. ex., agências, escritórios de representação, de- política dos poderes nacionais considerada em seu conjunto. As-
partamentos, filiais), situados em comarcas diferentes, caso em sim, o Estado Federal (União) seria ao mesmo tempo Estado e
que poderão ser demandadas no foro em que tiverem praticado Federação;

8
DIREITO CIVIL
b) os Estados federados, que se regem pela Constituição e d) sociedades empresárias, que visam o lucro, mediante ex-
pelas leis que adotarem. Cada Estado federado possui autono- ercício de atividade empresarial ou comercial (RT, 468/207), as-
mia administrativa, competência e autoridade na seara legislati- sumindo as formas de: sociedade cm nome coletivo; sociedade
va, executiva e judiciária, decidindo sobre negócios locais; em comandita simples; sociedade em comandita por ações; so-
c) o Distrito Federal, que é a capital da União. É um mu- ciedade limitada; sociedade anônima ou por ações. Assim, para
nicípio equiparado ao Estado federado por ser a sede da União, saber se dada sociedade é simples ou empresária basta consid-
tendo administração, autoridades próprias e leis atinentes aos erar a natureza de suas operações habituais; se estas tiverem
serviços locais. Possui personalidade jurídica por ser um organ- por objeto o exercício de atividades econômicas organizadas
ismo político administrativo, constituído para a consecução de para a produção ou circulação de bens ou de serviços próprias
fins comuns; de empresário, sujeito a registro, a sociedade será empresária;
d) os Territórios, autarquias territoriais (Hely Lopes Meire- caso contrario, simples, mesmo que adote quaisquer das formas
lles), ou melhor, pessoas jurídicas de direito público interno, empresariais, como permite o Art. 983 do Código Civil, exceto
com capacidade administrativa e de nível constitucional, ligadas se for anônima, que, por força de lei, será sempre empresária.
à União, tendo nesta a fonte de seu regime jurídico infracon- As sociedades empresárias deverão ter assento no Registro
stitucional (Michel Temer) e criadas mediante lei complementar; Público de Empresas Mercantis. E as simples, no Registro Civil
e) os Municípios legalmente constituídos, por terem inter- das Pessoas Jurídicas;
esses peculiares e economia própria. A Constituição Federal as- e) partidos políticos, no interesse do regime democrático,
segura sua autonomia política, ou seja, a capacidade para legis- da autenticidade do sistema representativo e defensoras dos di-
lar relativamente a seus negócios e por meio de suas próprias reitos fundamentais definidos na Constituição Federal.
autoridades. O fato que dá origem a pessoa jurídica de direito privado é
Ampliação legal do número das pessoas jurídicas de direito pú- a vontade humana, sem necessidade de qualquer ato adminis-
blico interno: Além das pessoas enumeradas pelo por este artigo, trativo de concessão ou autorização, salvo os casos especiais do
a lei estendeu a personalidade de direito público, como já tivemos Código Civil, porém a sua personalidade jurídica permanece em
oportunidade de dizer ao comentarmos o art. 40, às autarquias. estado potencial, adquirindo status jurídico, quando preencher
Pessoas jurídicas de direito público externo: São as regulam- as formalidades ou exigências legais.
entadas pelo direito internacional público, abrangendo: nações
- Fases do processo genético da pessoa jurídica de direito
estrangeiras, Santa Sé e organismos internacionais (ONU, OEA,
privado: Na criação da pessoa jurídica de direito privado há duas
Unesco, FAO etc.).
fases:
O artigo 43 traz a teoria do risco e responsabilidade objeti-
a) a do ato constitutivo, que deve ser escrito, podendo reve-
va, e por essa teoria cabe indenização estatal de todos os danos
stir-se de forma pública ou particular, com exceção da fundação,
causados, por comportamentos dos funcionários, a direitos de
que requer instrumento público ou testamento. Além desses
particulares. Trata-se da responsabilidade objetiva do Estado,
requisitos, há certas sociedades que para adquirir personalidade
bastando a comprovação da existência do prejuízo a administra-
jurídica dependem de previa autorização ou aprovação do Poder
dos. Mas o Estado tem ação regressiva contra o agente, quando
Executivo Federal, como, p. ex., as sociedades estrangeiras;
tiver havido culpa ou dolo deste, de forma a não ser o patrimô-
nio público desfalcado pela sua conduta ilícita. Logo, na relação b) a do registro público, pois para que a pessoa jurídica de
entre poder público e agente, a responsabilidade civil é subje- direito privado exista legalmente é necessário inscrever os con-
tiva, por depender da apuração de sua culpabilidade pela lesão tratos ou estatutos no seu registro peculiar; o mesmo deve fazer
causada ao administrado. quando conseguir a imprescindível autorização ou aprovação do
Classificação das pessoas jurídicas de direito privado: As Poder Executivo Federal.
pessoas jurídicas de direito privado, instituídas por iniciativa de Apenas com o assento adquirirá personalidade jurídica, po-
particulares, dividem-se, segundo o artigo focado, em: dendo, então, exercer todos os direitos; além disso, quaisquer
a) Fundações particulares, que são universalidades de bens, alterações supervenientes havidas em seus atos constitutivos
personalizadas pela ordem pública, em consideração a um fim deverão ser averbadas no registro. Como se vê esse sistema do
estipulado pelo fundador, sendo este objetivo imutável e seus registro sob o regime da liberdade contratual, regulado por nor-
órgãos servientes, pois todas as resoluções estão delimitadas ma especial, ou com autorização legal, é de grande utilidade em
pelo instituidor. Deve ser constituída por escrito e lançada no razão da publicidade que determinará os direitos de terceiros.
registro geral; O registro do ato constitutivo é uma exigência de ordem pública
b) Associações civis, religiosas, pias, morais, cientificas ou no que atina à prova e à aquisição da personalidade jurídica das
literárias e as associações de utilidade pública, que abrangem entidades coletivas.
um conjunto de pessoas, que almejam fins ou interesses dos - Prazo decadencial para anular constituição de pessoa ju-
sócios, que podem ser alterados, pois os sócios deliberam livre- rídica de direito privado: Havendo defeito no ato constitutivo de
mente, já que seus órgãos são dirigentes. Na associaçãonão há pessoa jurídica de direito privado, pode-se desconstituí-la den-
fim lucrativo, embora tenha patrimônio formado com a con- tro do prazo decadencial de três anos, contado da publicação de
tribuição de seus membros para a obtenção de fins culturais, sua inscrição no Registro.
educacionais, esportivos, religiosos, recreativos, morais etc.; - Registro civil da pessoa jurídica: Somente com o registro
c) sociedade simples, na qual se visa o fim econômico ou ter-se-á a aquisição da personalidade jurídica.
lucrativo, pois o lucro obtido deve ser repartido entre os sóci- Tal registro de atos constitutivos de sociedades simples dar-
os, sendo alcançado pelo exercício de cenas profissões ou pela se-á no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, sendo que as socie-
prestação de serviços técnicos (p. ex., uma sociedade imobiliária dades empresárias deverão ser registradas no Registro Público
ou uma sociedade cooperativa — CC, ais. 982, parágrafo único, de Empresas Mercantis, sendo competentes para a prática de
e 1.093 a 1.096). As sociedades devem constituir-se por escrito, tais atos as Juntas Comerciais, e seguem o disposto nas normas
lançar-se no registro civil das pessoas jurídicas; dos arts. 1.150 e 1.154 do Código Civil.

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DIREITO CIVIL
- Requisitos para o registro da pessoa jurídica de direito mau uso da finalidade social, ou quando houver confusão patri-
privado: O artigo sub examine aponta os requisitos do assento, monial (mistura do patrimônio social com o particular do sócio,
pois este declarará: causando dano a terceiro) em razão de abuso de personalidade
a) a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o jurídica, o magistrado, a pedido do interessado ou do Ministério
fundo social, quando houver; Público, está autorizado, com base na prova material do dano,
b) nome e individualização dos fundadores ou instituidores a desconsiderar, episodicamente, a personalidade jurídica, para
e dos diretores; coibir fraudes e abusos dos sócios que dela se valerem como
c) a forma de administração e a representação ativa e passi- escudo, sem importar essa medida numa dissolução da pessoa
va, judicial e extrajudicial; jurídica.
d) a possibilidade e o modo de reforma do estatuto social no Em relação à questão processual, esta teoria propõe a vin-
que atina à administração da pessoa jurídica; cular todos os possíveis responsáveis previstos, ou seja, todos
e) a responsabilidade subsidiária dos sócios pelas obrigações os sócios, fazendo uso de institutos processuais que regulam o
sociais; litisconsórcio a fim de garantir um grau de aproveitamento e
f) as condições de extinção da pessoa jurídica e otimização do processo. É de certa forma uma maneira eficaz
g) o destino do seu patrimônio nesse caso. para fins de prevenir futuras fraudes a credores, desde que req-
- Vinculação da pessoa jurídica aos atos praticados pelos uerida em casos extremos de desvio de finalidade da empresa e
administradores: Se seus administradores a representam ativa abuso da personalidade jurídica dos sócios, entre outros.
e passivamente, em juízo ou fora dele, todos os atos negociais Atualmente a desconsideração da personalidade jurídica
exercidos por eles, dentro dos limites de seus poderes estabele- é um remédio bastante eficaz, utilizado ao caso concreto, pois
cidos no estatuto social, obrigarão a pessoa jurídica, que deverá se torna cada vez mais necessário a existência de mecanismos,
cumpri-los. para garantir o pagamento de credores que sofreram de alguma
- Administração coletiva: Se por lei ou pelo contrato social forma prejuízos ocasionados por fraude permeando assim pela
vários forem os administradores, as deliberações deverão ser eficácia real do Direito.
tomadas por maioria de votos dos presentes, contados segun- A desconsideração é um instrumento para a efetividade do
do o valor das quotas de cada um, exceto se ato constitutivo processo, a fim de elencar os responsáveis pelos danos, executar
dispuser de modo contrário. Para a formação dessa maioria, é o fiel cumprimento do pagamento do crédito aos credores e o
necessário votos correspondentes a mais de metade do capital. retorno da atividade empresarial.
- Anulação de decisão contrária à lei e ao estatuto ou eivada
de vício de consentimento ou social: O direito de anular delib- Havendo dissolução da pessoa jurídica ou cassada sua au-
eração de administradores que violar norma legal ou estatutária torização para funcionamento, ela subsistirá para fins de liq-
ou for eivada de erro, dolo, simulação ou fraude, poderá ser ex- uidação, mas aquela dissolução ou cassação deverá ser averba-
ercido dentro do prazo decadencial de três anos. da no registro onde ela estiver inscrita.
Como a pessoa jurídica precisa ser representada, ativa ou - Liquidação da sociedade: Percebe-se que a extinção da
passivamente, em juízo ou fora dele, deverá ser administrada pessoa jurídica não se opera instantaneamente, pois se houver
por quem o estatuto indicar ou por quem seus membros ele- bens de seu patrimônio e dívidas a resgatar, ela continuará em
gerem. Por isso, se a administração da pessoa jurídica vier a fase de liquidação, durante a qual subsiste para a realização do
faltar, o magistrado, mediante requerimento de qualquer in- ativo e pagamento de débitos, cessando, de uma só vez, quando
teressado, deverá nomear um administrador provisório, que a se der ao acervo econômico o destino próprio.
representará enquanto não se nomear seu representante legal, - Cancelamento da inscrição da pessoa jurídica: Encenada a
que exteriorizará sua vontade, no exercício dos poderes que lhe liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pes-
forem conferidos pelo contrato social. soa jurídica. A extinção da pessoa jurídica, com tal cancelamen-
to, produzirá efeitos ex nunc, mantendo-se os atos negociais por
Desconsideração da pessoa jurídica: ela praticados até o instante de seu desaparecimento, respeit-
A teoria da desconsideração permite que o juiz não mais ando-se direitos de terceiro.
considere os efeitos da personificação ou da autonomia jurídica
da sociedade para atingir e vincular a responsabilidade dos sóci- Conceito de associação:
os, com o intuito de impedir a consumação de fraudes e abusos É uma pessoa jurídica de direito privado voltada à realização
de direito cometidos por meio da personalidade jurídica que de finalidades culturais, sociais, pias, religiosas, recreativas etc.,
causem prejuízos ou danos a terceiros. cuja existência legal surge com a inscrição do estatuto social que
Em muitas situações os sócios ou acionistas administradores a disciplina, no registro competente. Por exemplo: APAE, UNE,
das sociedades, sejam elas de capital ou pessoas, acabam agindo Associação de Pais e Mestres, Associação dos Advogados de São
com excesso de poder ou má-fé, contrariam o contrato e estatu- Paulo.
to social da sociedade, ou até mesmo as leis. - Inexistência de reciprocidade de direitos e obrigações en-
Esta teoria foi desenvolvida pelos tribunais norte-america- tre os associados: Com a personificação da associação, para os
nos, tendo em vista aqueles casos concretos, em que o contro- efeitos jurídicos, ela passará a ter aptidão para ser sujeito de
lador da sociedade a desviava de suas finalidades, para impedir direitos e obrigações. Cada um dos associados constituirá uma
fraudes mediante o uso da personalidade jurídica, responsabili- individualidade e a associação uma outra (CC, art. 50, 2a par-
zando seus membros. te), tendo cada um seus direitos, deveres e bens, não havendo,
Pelo Código Civil, quando a pessoa jurídica se desviar dos porém, entre os associados direitos e deveres recíprocos.
fins que determinarem sua constituição, em razão do fato de os
sócios ou administradores a utilizarem para alcançar finalidade
diversa do objetivo societário para prejudicar alguém ou fazer

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DIREITO CIVIL
Conteúdo do estatuto da associação: Compete à assembleia a deliberação sobre: eleição e desti-
A associação é constituída por escrito e o estatuto social, tuição de administradores; aprovação de contas e alteração do
que a regerá, sob pena de nulidade, poderá revestir-se de forma estatuto social.
pública ou particular, devendo conter: a denominação, a finali- - Princípio da maioria: Consagra-se o princípio da maioria
dade e a sede da associação; requisitos para admissão, demissão nas deliberações assembleares, exigindo-se, para destituição de
e exclusão de associados; direitos e deveres dos associados; diretoria e alteração estatutária, o voto concorde de dois terços
fontes de recursos para sua manutenção; modo de constituição dos presentes à assembleia especialmente convocada para esse
e funcionamento dos órgãos deliberativos e administrativos e fim, não podendo ela deliberar em primeira convocação, sem a
condições para alteração de disposições estatutárias e para dis- maioria absoluta dos associados, ou com menos de um terço nas
solução da associação. Isto é assim porque toda estruturação do convocações seguintes.
grupo social baseia-se nessas normas estatutárias. Todos os associados têm direito de participação na assem-
Exige-se uma regulamentação bastante uniforme e severa, bleia geral e de nela votar; logo, tal assembleia é convocada, na
no estatuto, dos direitos e deveres dos associados, que deverão forma do estatuto, garantindo-se a um quinto dos associados o
ter tratamento igual. direito de promovê-la.
O ato constitutivo poderá, apesar de os associados deverem Sendo extinta uma associação, o remanescente do seu
ter direitos iguais, criar posições privilegiadas ou conferir dire- patrimônio líquido depois de deduzidas quando for o caso, as
itos preferenciais para certas categorias de membros, como, p. quotas ou frações ideais do patrimônio, em razão de transferên-
ex.: a dos fundadores, que não poderá ser alterada sem o seu cia a adquirente ou a herdeiro de associado, será destinado a
consenso, mesmo que haja decisão assemblear aprovando tal entidade de fins não econômicos indicada pelo estatuto. Ante
alteração; a de sócios remidos de determinado clube, que pa- a omissão estatutária, por deliberação dos associados, os seus
gam certa importância em dinheiro para ter o direito de pert- bens remanescentes deverão ser transferidos para um estabe-
encer vitaliciamente à associação, sem mais dispêndios, não lecimento municipal, estadual ou federal que tenha finalidade
podendo, assim, a assembleia deles exigir pagamento de outra similar ou idêntica à sua. E se porventura não houver no Municí-
contribuição, salvo se houver seu expresso consentimento ou se pio, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a ex-
for tal exigência imprescindível para obter meios necessários à tinta associação está sediada, estabelecimento, ou instituição,
sobrevivência da associação. nas condições indicadas, seus bens remanescentes irão para os
A qualidade de associado somente poderá ser transferida cofres do Estado, do Distrito Federal ou da União.
a terceiro com o consenso da associação ou com permissão es-
- Possibilidade de restituição da contribuição social aos as-
tatutária.
sociados: Os associados poderão receber em restituição, com a
- Transferência de quota ideal do patrimônio da associação:
devida atualização, as contribuições que prestaram à formação
Se, p. ex., por morte, falência, interdição ou retirada de associa-
do patrimônio social, antes da destinação do remanescente, se
do que tenha uma fração ideal do patrimônio da associação hou-
cláusula estatutária permitir ou se houver deliberação dos asso-
ver transferência de sua quota, tal fato não importará, obrigato-
ciados nesse sentido.
riamente, na atribuição da qualidade de membro da associação
Constituir-se-á a fundação mediante escritura pública ou
ao seu sucessor (adquirente ou herdeiro), a não ser que haja, no
testamento, contendo ato de dotação que compreende a res-
estatuto, convenção nesse sentido.
erva de bens livres (propriedades, créditos ou dinheiro) legal-
- Exclusão de associado: Há imposição de sanções disciplinares
ao associado que infringir as normas estatutárias ou que praticar mente disponíveis, indicação do fim lícito colimado e o modo
ato prejudicial ao grupo, que poderão, ante a gravidade do motivo, de administração. O próprio instituidor poderá providenciar a
chegar até mesmo à expulsão, desde que haja justa causa e delib- elaboração das normas estatutárias e o registro da fundação
eração fundamentada da maioria absoluta dos presentes à assem- (forma direta) ou encarregar outrem para este fim (forma fi-
bleia geral especialmente convocada para essa finalidade. duciária). Se, porventura, na dotação de bens o instituidor vier
- Injustiça ou arbitrariedade na exclusão de associado: O es- a lesar a legítima de seus herdeiros necessários, estes poderão
tatuto poderá indicar, taxativamente, as causas graves determi- pleitear o respeito ao quantum legitimário. Dever-se-á proced-
nantes da exclusão do membro associado, sendo que, se a apre- er ao registro, mediante intervenção do Ministério Público, que
ciação da sua conduta for considerada injusta ou arbitrária, o deverá analisar o estatuto elaborado pelo fundador, verificando
lesado poderá, da decisão do órgão que decretou sua expulsão, se houve observância das bases da fundação, se os bens são su-
interpor recurso à assembleia geral e, ainda, defender seu dire- ficientes aos fins colimados e há licitude de seu objeto.
ito de associado por via jurisdicional, embora a jurisprudência Estando tudo em perfeita ordem o Ministério Público
tenha negado provimento à ação judicial para indenização de aprovará o estatuto, dentro de quinze dias da autuação do pedi-
danos, em razão do afastamento ilícito do associado, devido à do de aprovação. Se, porventura, o fundador não elaborar o es-
natureza do vínculo contratual que o une à associação, sujeit- tatuto nem ordenar algum para fazê-lo ou se o estatuto elabo-
ando-o aos termos estatutários e às decisões dos órgãos da as- rado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo,
sociação. em 180 dias, o Ministério Público poderá tornar a iniciativa.
Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito Portanto, para que a fundação tenha personalidade jurídica
ou função que lhe foi conferida pelo pacto social a não ser nos será preciso dotação, elaboração e aprovação dos estatutos e
casos e no modo previsto legal ou estatutariamente são invul- registro.
neráveis direitos individuais especiais, como p. ex., o direito á A lei prevê a possibilidade de ter bens insuficientes para a
presidência, ao voto reforçado, ás atribuições especificas etc., constituição da fundação, doados por escritura pública ou deixa-
Apesar de seus vastos poderes, a assembleia não poderá efe- dos por via testamentária, ordenando, então, que sejam incor-
tivar todas as deliberações da maioria, uma vez que há certos porados em outra fundação que vise igual ou semelhante ob-
direitos essenciais dos associados oriundos do pacto social, in- jetivo, exceto se outra coisa não houver disposto o instituidor.
suscetíveis de violação.

11
DIREITO CIVIL
Se a fundação for constituída por meio de escritura públi- Com a decretação judicial da extinção da fundação pelos
ca, o instituidor terá a obrigação de transferir a propriedade, ou motivos acima arrolados, seus bens serão, salvo disposição em
outro direito real, dos bens livres colocados a serviço de um fim contrário no seu ato constitutivo ou no seu estatuto, incorpora-
lícito e especial por ele pretendido, sob pena de, não o fazendo, dos em outra fundação, designada pelo juiz, que almeje a con-
serem registrados em nome dela, por mandado judicial. secução de fins idênticos ou similares aos seus. O Poder Público
Caso o instituidor não elaborou os estatutos da fundação, dará destino ao seu patrimônio, entregando-o a uma fundação
estes deverão ser organizados e formulados por aqueles a quem que persiga o mesmo objetivo, exceto se o instituidor dispôs de
foi incumbida a aplicação do patrimônio, de conformidade com forma diversa, hipótese em que se respeitará sua vontade e a
a finalidade específica e com as restrições impostas pelo fun- do estatuto.
dador, de maneira a não ser violada a vontade do instituidor. E, Com o advento da Lei n.º 13.151 de 2015, a fundação so-
se os estatutos não forem elaborados dentro do prazo imposto mente poderá ser constituir somente para as seguintes finali-
pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em 180 dias, caberá ao dades:
Ministério Público tal incumbência. – assistência social;
Uma vez elaborados os estatutos com base nos objetivos que – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e
se pretende alcançar, deverão ser eles submetidos à aprovação artístico;
do órgão local do Ministério Público, que é o órgão fiscalizador – educação;
da fundação em virtude de lei. Se, porventura, este vier a rec- – saúde;
usar tal aprovação, o elaborador das normas estatutárias poderá – segurança alimentar e nutricional;
requerer aquela aprovação denegada, mediante recurso ao juiz. – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
O órgão legítimo para velar pela fundação, impedindo que se promoção do desenvolvimento sustentável;
desvirtue a finalidade específica a que se destina, é o Ministério – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alter-
Público. Consequentemente, o órgão do Ministério Público de nativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divul-
cada Estado ou o Ministério Público Federal, se funcionar no gação de informações e conhecimentos técnicos e científicos;
Distrito Federal ou em Território, terá o encargo de fiscalizar – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos di-
as fundações que estiverem localizadas em sua circunscrição,
reitos humanos e
aprovar seus estatutos no prazo de quinze dias e as suas even-
– atividades religiosas.
tuais alterações ou reformas, zelando pela boa administração da
entidade jurídica e de seus bens.
A ação da fundação poderá circunscrever-se a um só Estado FATO JURÍDICO.NEGÓCIOS JURÍDICOS. CONCEITO.
ou a mais de um. Se sua atividade estender-se a vários Estados, VÍCIOS: ERRO, DOLO, CULPA E COAÇÃO
o Ministério Público de cada um terá o ônus de fiscalizá-la, veri-
ficando se atende à consecução do seu objetivo específico. Ter-
Elementos essenciais do ato negocial:
se-á, então, uma multiplicidade de fiscalização, embora dentro
dos limites de cada Estado.
A Alteração dos estatutos apenas será admitida nos casos Os elementos essenciais são imprescindíveis à existência e
em que houver necessidade de sua reforma. A Fundação, como validade do ato negocial, pois formam sua substância; podem
qualquer pessoa jurídica devido aos progressos sociais precisará ser gerais, se comuns à generalidade dos negócios jurídicos, di-
amoldar-se ás novas necessidades, adaptando seus estatutos á zendo respeito à capacidade do agente, ao objeto lícito e possí-
nova realidade jurídico-social. vel e ao consentimento dos interessados; e particulares, pecu-
Se na reforma estatutária houver minoria vencida, os ad- liares a determinadas espécies por serem concernentes à sua
ministradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão forma e prova.
do Ministério Público, requererão que se cientifique o fato
àquela minoria, que poderá, se quiser, estando inconformada, Capacidade do agente:
impugnar aquela alteração recorrendo ao Judiciário dentro do Como todo ato negocial pressupõe uma declaração de von-
prazo decadencial de dez dias, pleiteando a invalidação das tade, a capacidade do agente é indispensável à sua participação
modificações estatutárias feitas pela maioria absoluta dos mem- válida na seara jurídica. Tal capacidade poderá ser:
bros da Administração da fundação e aprovadas pelo órgão local a) geral, ou seja, a de exercer direitos por si, logo o ato pra-
do Ministério Público. ticado pelo absolutamente incapaz sem a devida representação
Isto é assim porque a lei apenas conferiu ao Ministério Pú- será nulo e o realizado pelo relativamente incapaz sem assistên-
blico o dever de fiscalizar e não o direito de decidir, uma vez cia será anulável;
que o controle da legalidade compete ao Judiciário. O magistra- b) especial, ou legitimação, requerida para a validade de
do terá, então, a competência para decidir e conhecer das nul- certos negócios em dadas circunstâncias (p. ex., pessoa casada
idades que, porventura, apareçam no processo de alteração do é plenamente capaz, embora não tenha capacidade para ven-
estatuto da fundação, mediante recurso interposto pela minoria der imóvel sem autorização do outro consorte ou suprimento
vencida dos membros de sua Administração, cuja decadência se judicial desta, exceto se o regime matrimonial de bens for o de
opera em dez dias. separação).
Constatado ser ilícito, impossibilidade, ou inútil o objetivo
da fundação, o órgão do Ministério Público, ou ainda, qualquer Objeto lícito, possível, determinado ou determinável:
interessado poderá requerer a extinção da instituição. O negócio jurídico válido deverá ter, como diz Crome, em
Terminará a existência da fundação com o vencimento todas as partes que o constituírem, um conteúdo legalmente
do prazo de sua duração. Para tanto, o Ministério Público ou permitido. Deverá ser lícito, ou seja, conforme a lei, não sendo
qualquer interessado deverá, mediante requerimento, promov- contrário aos bons costumes, à ordem pública e à moral. Se tiver
er a extinção da fundação. objeto ilícito será. E o que ocorrerá, p. ex., com a compra e ven-

12
DIREITO CIVIL
da de coisa roubada. Deverá ter ainda objeto possível, física ou Cessação da impossibilidade do objeto negocial antes do
juridicamente. Se o ato negocial contiver prestação impossível, implemento da condição. Se o negócio jurídico contendo objeto
como a de dar volta ao mundo em uma hora ou de vender heran- impossível, tiver sua eficácia subordinada a um evento futuro
ça de pessoa viva, deverá ser declarado nulo. e incerto, e aquela impossibilidade cessar antes de realizada
Deverá ter objeto determinado ou, pelo menos, suscetível aquela condição válida será a avença.
de determinação, pelo gênero e quantidade, sob pena de nuli- Previsão contratual de forma especial:
dade absoluta. A emissão da vontade é dotada de poder criador; assim
sendo, se houver cláusula negocial estipulando a invalidade do
Consentimento dos interessados: negócio jurídico, se ele não se fizer por meio de escritura públi-
As partes deverão anuir, expressa ou tacitamente, para a ca, esta passará a ser de sua substância. Logo, tal declaração de
formação de uma relação jurídica sobre determinado objeto, vontade somente terá eficácia jurídica se o ato negocial revestir
sem que se apresentem quaisquer vícios de consentimento, a forma prescrita contratualmente.
como erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão, ou vícios so-
ciais, como simulação e fraude contra credores. Reserva mental lícita:
A reserva mental é a emissão de uma intencional declaração
Forma prescrita ou não defesa em lei: não querida em seu conteúdo, nem tampouco em seu resultado,
Às vezes será imprescindível seguir determinada forma de pois o declarante tem por único objetivo enganar o declaratário.
manifestação de vontade ao se praticar ato negocial dirigido à Logo, se conhecida da outra parte, não toma nula a declara-
aquisição, ao resguardo, à modificação ou extinção de relações ção da vontade, pois esta inexiste, e, consequentemente, não se
jurídicas. O princípio geral é que a declaração de vontade forma qualquer ato negocial, uma vez que não havia intentio de
independe de forma especial, sendo suficiente que se manifeste criar direito, mas apenas de iludir o declaratário. Se for desco-
de modo a tornar conhecida a intentio do declarante, dentro nhecida pelo destinatário, subsiste o ato.
dos limites em que seus direitos podem ser exercidos. Apenas,
excepcionalmente, a lei vem a exigir determinada forma, cuja Reserva mental ilícita conhecida do declaratário:
inobservância invalidará o negócio. Se, além de enganar, houver intenção de prejudicar, ter-
-se-á vício social similar à simulação, ensejando nulidade do ato
Incapacidade relativa como exceção pessoal: negocial. É preciso esclarecer que o conhecimento da reserva
Por ser a incapacidade relativa uma exceção pessoal, ela so- mental que acarreta a invalidade do negócio somente pode ser
mente poderá ser formulada pelo próprio incapaz ou pelo seu admissível até o momento da consumação do ato negocial, pois
representante. Como a anulabilidade dó ato negocial praticado se o declaratário comunicar ao reservante, antes da efetivação
por relativamente incapaz é um beneficio legal para a defesa do negócio, que conhece a reserva, não haverá esta figura, que
de seu patrimônio contra abusos de outrem, apenas o próprio tem por escopo enganar o declaratário.
incapaz ou seu representante legal o deverá invocar. Assim, se
num negócio um dos contratantes for capaz e o outro incapaz, O silêncio pode dar origem a um negócio jurídico, visto que
aquele não poderá alegar a incapacidade deste em seu próprio indica consentimento, sendo hábil para produzir efeitos jurí-
proveito, porque devia ter procurado saber com quem contra- dicos, quando cedas circunstâncias ou os usos o autorizarem,
tava e porque se trata de proteção legal oferecida ao relativa- não sendo necessária a manifestação expressa da vontade. Caso
mente incapaz. Se o contratante for absolutamente incapaz, o contrário, o silêncio não terá força de declaração volitiva. Se as-
ato por ele praticado será nulo, pouco importando que a inca- sim é, o órgão judicante deverá averiguar se o silêncio traduz,
pacidade tenha sido invocada pelo capaz ou pelo incapaz, tendo ou não, vontade. Logo, a parêmia “quem cala consente” não tem
em vista que o Código Civil, pelo art. 168, parágrafo único, não juridicidade. O puro silêncio apenas terá valor jurídico se a lei à
possibilita ao magistrado suprir essa nulidade, nem mesmo se os determinar, ou se acompanhado de certas circunstâncias ou de
contratantes o solicitarem, impondo-se lhe até mesmo o dever usos e costumes do lugar, indicativos da possibilidade de ma-
de declará-la de ofício. nifestação da vontade, e desde que não seja imprescindível a
forma expressa para a efetivação negocial.
Invocação da incapacidade de uma das partes ante a indivi- A interpretação do ato negocial situa-se na seara do conteú-
sibilidade do objeto do direito ou da obrigação comum: do da declaração volitiva, pois o intérprete do sentido negocial
Se o objeto do direito ou da obrigação comum for indivisí- não deve ater-se, unicamente, à exegese do negócio jurídico,
vel, ante a impossibilidade de separar o interesse dos contratan- ou seja, ao exame gramatical de seus termos, mas sim em fixar
tes, a incapacidade de um deles poderá tornar anulável o ato ne- a vontade, procurando suas consequências jurídicas, indagando
gocial praticado, mesmo que invocada pelo capaz, aproveitando sua intenção, sem se vincular, estritamente, ao teor linguístico
aos cointeressados capazes, que porventura houver. Logo, nesta do ato negocial. Caberá, então, ao intérprete investigar qual a
hipótese, o capaz que veio a contratar com relativamente in- real intenção dos contratantes, pois sua declaração apenas terá
capaz estará autorizado legalmente a invocar em seu favor a significação quando lhes traduzir a vontade realmente existente.
incapacidade relativa deste, desde que indivisível a prestação, O que importa é a vontade real e não a declarada; daí a impor-
objeto do direito ou da obrigação comum. tância de desvendar a intenção consubstanciada na declaração.

Impossibilidade relativa do objeto: Conceito de representação:


Se a impossibilidade do objeto for relativa, isto é, se a pres- A representação é a relação jurídica pela qual certa pessoa
tação puder ser realizada por outrem, embora não o seja pelo se obriga diretamente perante terceiro, por meio de ato pra-
devedor, não invalidade o negócio jurídico. ticado em seu nome por um representante, cujos poderes são
conferidos por lei ou por mandato.

13
DIREITO CIVIL
Representante legal: a) aceitação voluntária, por ser declaração acessória da von-
O representante legal é aquele a quem a norma jurídica con- tade incorporada a outra, que é a principal por se referir ao ne-
fere poderes para administrar bens alheios, como o pai, ou mãe, gócio a que a cláusula condicional se adere com o objetivo de
em relação a filho menor, tutor, quanto ao pupilo e curador, modificar uma ou algumas de suas consequências naturais;
no que concerne ao curatelado. A representação legal serve aos b) futuridade do evento, visto que exigirá sempre um fato
interesses do incapaz. futuro, do qual o efeito do negócio dependerá; e
Representante convencional ou voluntário: c) incerteza do acontecimento, pois a condição relaciona-se
O representante convencionado é o munido de mandato ex- com um acontecimento incerto, que poderá ocorrer ou não.
presso ou tácito, verbal ou escrito, do representante, como o
procurador, no contrato de mandato. Condição lícita:
Efeitos da representação: Lícita será a condição quando o evento que a constitui não
A manifestação da vontade pelo representante ao efetivar for contrário à lei, à ordem pública ou aos bons costumes.
um negócio em nome do representado, nos limites dos poderes
que lhe foram conferidos, produz efeitos jurídicos relativamen- Estão defesas as condições:
te ao representado, que adquirirá os direitos dele decorrentes a) perplexos, se privarem o ato negocial de todo o efeito,
ou assumirá as obrigações que dele advierem. Logo, uma vez como a venda de um prédio sob a condição de não ser ocupado
realizado o negócio pelo representante, os direitos serão adqui- pelo comprador; e
ridos pelo representado, incorporando-se em seu patrimônio; b) puramente potestativas, se advindas de mero arbítrio de
igualmente os deveres contraídos em nome do representado um dos sujeitos. Por exemplo, constituição de uma renda em
devem ser por ele cumpridos, e por eles responde o seu acervo seu favor se você vestir tal roupa amanhã; aposição de cláusula
patrimonial. que, em contrato de risco, dê ao credor poder unilateral de pro-
Se o representante vier a efetivar negócio jurídico consigo vocar o vencimento antecipado da dívida, diante de simples cir-
mesmo no seu interesse ou por conta de outrem anulável será cunstancia de romper-se o vínculo empregatício entre as partes.
tal ato, exceto se houver permissão legal ou autorização do re- Urge lembrar que a condição resolutiva puramente potestativa é
presentado. admitida juridicamente, pois não subordina o efeito do negócio
Consequência jurídica do substabelecimento: jurídico ao arbítrio de uma das partes, mas sim sua ineficácia.
Se, em caso de representação voluntária, houve substabele- Sendo tal condição resolutiva, nulidade não há porque existe um
cimento de poderes, o ato praticado pelo substabelecido repu- vínculo jurídico válido consistente na vontade atual de se obri-
tar-se-á como tendo sido celebrado pelo substabelecente, pois gar, de cumprir a obrigação assumida, de sorte que, como obser-
não houve transmissão do poder, mas mera outorga do poder va Vicente Ráo, o ato jurídico chega a produzir os seus efeitos,
de representação. É preciso esclarecer que o poder de repre- só se resolvendo se a condição, positiva ou negativa, se realizar
sentação legal é insuscetível de substabelecimento. Os pais, os e quando se realizar. O art. 122 veda a condição suspensiva pu-
tutores ou os curadores não podem substabelecer os poderes ramente potestativa.
que têm em virtude de lei.
Como os negócios jurídicos realizados pelo representante Condições suspensivas física ou juridicamente impossíveis:
são assumidos pelo representado, aquele terá o dever de provar As condições fisicamente impossíveis são as que não podem
àqueles, com quem vier a tratar em nome do representado, não efetivar-se por serem contrárias à natureza. Por exemplo, a doa-
só a sua qualidade, mas também a extensão dos poderes que ção de uma casa a quem trouxer o mar até a Praça da República
lhe foram conferidos, sob pena de, não o fazendo, ser responsa- da cidade de São Paulo será inválida, visto que a condição sus-
bilizado civilmente pelos atos que excederem àqueles poderes. pensiva que subordina a eficácia negocial a evento futuro incer-
Se, porventura, o representante concluir negócio jurídico, to é impossível fisicamente. As condições juridicamente impos-
havendo conflito de interesses com o representado, com pessoa síveis são as que invalidamos atos negociais a elas subordinados,
que devia ter conhecimento desse fato, aquele ato negocial de- por serem contrarias à ordem legal, como, p. ex., a outorga de
verá ser declarado anulável. uma vantagem pecuniária sob condição de haver renúncia ao
Prazo decadencial para anulação de ato efetuado por repre- trabalho.
sentante em conflito de interesses com o representado: Pode-se
pleitear anulação do negócio celebrado com terceiro, pelo re- Condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita:
presentante em conflito de interesses com o representado, den- As condições ilícitas ou as de fazer coisa ilícita são condena-
tro de cento e oitenta dias, contados da conclusão do negócio das pela norma jurídica, pela moral e pelos bons costumes e, por
jurídico ou da cessação da incapacidade do representado. isso, invalidam os negócios a que forem apostas. Por exemplo:
Papel do curador especial: prometer uma recompensa sob a condição de alguém viver em
Havendo conflito de interesses entre representado e repre- concubinato; dispensar, se casado, os deveres de coabitação e
sentante, os atos negociais deverão, para ser válidos, ser cele- fidelidade mútua; mudar de religião, ou, ainda, não se casar.
brados por curador especial.
Condições incompreensíveis ou contraditórias:
Conceito de condição: Se os negócios contiverem cláusulas que subordinem seus
Condição é a cláusula que subordina o efeito do negócio ju- efeitos a evento futuro e incerto, mas eivadas de obscuridades,
rídico, oneroso ou gratuito, a evento futuro e incerto. possibilitando várias interpretações pelas dúvidas que levan-
Requisitos: tam, tais atos negociais invalidar-se-ão.
Para a configuração da condição será preciso a ocorrência
dos seguintes requisitos:

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DIREITO CIVIL
Condição resolutiva impossível: Quanto aos atos de administração praticados na pendência
Se for aposta num negócio condição resolutiva impossível da condição, ela não terá efeito retroativo, salvo se a lei expres-
ou de não fazer coisa impossível, será tida como não escrita; samente o determinar, de maneira que tais atos serão intocá-
logo, o negócio valerá como ato incondicionado, sendo puro e veis, e os frutos colhidos não precisarão ser restituídos. Porém,
simples, como se condição alguma se houvesse estabelecido, a norma jurídica estabelece que a condição terá efeito retroa-
por ser considerado inexistente. tivo quanto aos atos de disposição, que, com sua ocorrência,
serão tidos como nulos.
Condição suspensiva: Será suspensiva a condição se as par- Não há que confundir o termo com o prazo, que é o lapso
tes protelarem, temporariamente, a eficácia do negócio até a de tempo compreendido entre a declaração de vontade e a su-
realização do acontecimento futuro e incerto. perveniência do termo em que começa o exercício do direito ou
Efeito da condição suspensivo pendente: Pendente a con- extingue-se o direito até então vigente.
dição suspensiva não se terá direito adquirido, mas expectativa
de direito ou direito eventual. Só se adquire o direito após im- Contagem dos prazos:
plemento da condição. A eficácia do ato negocial ficará suspensa O prazo é contado por unidade de tempo (hora, dia, mês
até que se realize o evento futuro e incerto. A condição se diz e ano), excluindo-se o dia do começo (dies a quo) e incluindo-
realizada quando o acontecimento previsto se verificar. Ter-se- -se o do vencimento (dies ad quem), salvo disposição, legal ou
-á, então, o aperfeiçoamento do ato negocial, operando-se ex convencional, em contrário. Se se assumir uma obrigação dia 15
tunc, ou seja, desde o dia de sua celebração, se inter vivos, e da de maio, com prazo de um mês, não se computará o dia 15, e a
data da abertura da sucessão, se causa mortis, daí ser retroativo. obrigação vencer-se-á dia 16 de junho.
A retroatividade da condição suspensiva não é aplicável aos
contratos reais, uma vez que só há transferência de proprieda- Para resolver questões alusivas a prazo, o Código Civil apre-
de após a entrega do objeto sobre que versam ou da escritura senta os seguintes princípios:
pública devidamente transcrita. Esclarece Clóvis Beviláqua que a) se o vencimento do ato negocial cair em feriado ou do-
o implemento da condição suspensiva não terá efeito retroativo mingo, será prorrogado até o primeiro dia útil subsequente.
sobre bens fungíveis, móveis adquiridos de boa-fé e imóveis, se Logo, como sábado não é feriado, não há qualquer prorrogação,
não constar do registro hipotecário a inscrição do título, onde se a não ser que o pagamento tenha de ser efetuado em Banco que
acha consignada a condição. não tiver expediente aos sábados;
Inserção posterior de novas disposições: A norma não veda b) se o termo vencer em meados de qualquer mês, o venci-
a possibilidade de, na pendência de uma condição suspensiva, mento dar-se-á no décimo quinto dia, qualquer que seja o nú-
fazer novas disposições, que, todavia, não terão validade se, mero de dias que o acompanham; assim sendo, pouco importará
realizada a condição, forem com ela incompatíveis. que o mês tenha 28 ou 31 dias;
A condição resolutiva subordina a ineficácia do negócio a c) se o prazo estipulado for estabelecido por mês, este será
um evento futuro e incerto. Enquanto a condição não se realizar contado do dia do início ao dia correspondente do mês seguinte.
o negócio jurídico vigorará, podendo exercer-se desde a cele- Se no mês do vencimento não houver o dia correspondente, o
bração deste o direito por ele estabelecido. Mas, verificada a prazo findar-se-á no primeiro dia subsequente;
condição, para todos os efeitos extingue-se o direito a que ela d) se o prazo for fixado em horas, a contagem far-se-á de
se opõe. Por exemplo, constituo uma renda em seu favor, en- minuto a minuto.
quanto você estudar. Os atos negociais inter vivos sem prazo serão exequíveis
Se uma condição resolutiva for aposta em um ato negocial, imediatamente, abrangendo tanto a execução promovida pelo
enquanto ela não se der; vigorará o negócio jurídico, mas, ocor- credor como o cumprimento pelo devedor. Todavia, como nos
rida a condição, operar-se-á a extinção do direito a que ela se ensina João Franzen de Lima: “não se deve entender ao pé da le-
opõe. Mas, se tal negócio for de execução continuada, a efetiva- tra, como sinônimo de imediatamente, a expressão desde logo,
ção da condição, exceto se houver disposição em contrário, não contida na regra deste dispositivo. Entendida ao pé da letra po-
atingirá os atos já praticados, desde que conformes com a na- deria frustrar o benefício, poderia anular o negócio. Deve haver
tureza da condição pendente e aos ditames da boa-fé. Acatado o tempo bastante para que se realize o fim visado, ou se empre-
está princípio da irretroatividade da condição resolutiva. guem meios para realizá-lo”.
A condição suspensiva ou resolutiva valerá como realizada Caso haverá em que impossível será o adimplemento ime-
se seu implemento for intencionalmente impedido por quem diato.
tirar vantagem com sua não-realização. Se a parte beneficiada
com o implemento da condição forçar maliciosamente sua rea- Prazo tácito:
lização, esta será tida aos olhos da lei como não verificada para Para evitar hipóteses em que o adimplemento do contrato
todos os efeitos; p. ex., se alguém contempla certa pessoa com não se pode dar de imediato, esclarece o artigo sub examine
um legado sob condição de prestar serviços a outrem, e o le- que, se a execução tiver de ser feita em local diverso ou depen-
gatário maliciosamente cria uma situação que venha forçá-lo a der de tempo, não poderá, obviamente, prevalecer o imediatis-
ser despedido sem justa causa, para receber o legado sem ter mo da execução. O prazo tâcito decorrerá, portanto, da natureza
de prestar serviços. Provada a má-fé do legatário, não se lhe do negócio ou das circunstâncias. Por exemplo, no transporte de
entregará o legado. Se, ao contrário, se forçar uma justa causa uma mercadoria de São Paulo a Manaus, mesmo que não haja
para despedir o legatário, com o intuito de privá-lo de receber prazo, mister será um espaço de tempo para que seja possível a
o legado, provada a má-fé, o legado ser-lhe-á entregue, mesmo efetivação da referida entrega no local designado; na compra de
que não continue a prestação de serviços. uma safra de laranja, o prazo será a época da colheita, mesmo
que não tenha sido estipulado.

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DIREITO CIVIL
Erro substancial: vontade, se se puder, por seu contexto e pelas circunstâncias.
O erro é uma noção inexata sobre um objeto, que influência identificar a pessoa ou a coisa. Assim, o erro sobre a qualida-
a formação da vontade do declarante, que a emitirá de manei- de da pessoa, de ser ela casada ou solteira, não terá o condão
ra diversa da que a manifestaria se dele tivesse conhecimento de anular um legado que lhe for feito, se se puder identificar a
exato. Para viciar a vontade e anular o ato negocial, deste de- pessoa visada pelo testador, apesar de ter sido erroneamente
verá ser substancial, escusável e real. Escusável, no sentido de indicada.
que há de ter por fundamento uma razão plausível ou ser de tal
monta que qualquer pessoa de atenção ordinária seja capaz de - Erro de cálculo e sua retificação:
cometê-lo em face da circunstância do negócio. Real, por impor- O errar in quantitate diz respeito a engano sobre peso, me-
tar efetivo dano para o interessado. O erro substancial é erro dida ou quantidade do bem, logo é erro acidental, não induzin-
de fato por recair sobre circunstância de fato, ou seja, sobre as do anulação do negócio, por não incidir sobre a declaração da
qualidades essenciais da pessoa ou da coisa. Poderá abranger o vontade. Se assim é, o erro de cálculo não anula o negócio, nem
erro de direito, relativo à existência de uma norma jurídica dis- vicia o consentimento, autorizando tão-somente a retificação da
positiva, desde que afete a manifestação da vontade, caso em declaração volitiva.
que viciará o consentimento.
Conceito de dolo:
- Erro sobre o objeto principal da declaração: Dolo, segundo Clóvis Beviláqua, é o emprego de um artifício
Ter-se-á erro substancial quando atingir o objeto principal astucioso para induzir alguém à prática de um ato que o prejudi-
da declaração em sua identidade, isto é, o objeto não é o pre- ca e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. O dolus malus, de
tendido pelo agente (p. ex., se um contratante supõe estar ad- que cuida o art. 145, é defeito do ato jurídico, idôneo a provocar
quirindo um lote de terreno de excelente localização, quando na sua anulabilidade, dado que tal artifício consegue ludibriar pes-
verdade está comprando um situado em péssimo local). soas sensatas e atentas.
O dolo principal é aquele que dá causa ao negócio jurídico,
- Erro sobre a qualidade essencial do objeto: sem o qual ele não se teria concluído, acarretando a anulação
Apresentar-se-á o erro substancial quando recair sobre a daquele ato negocial. Para que o dolo principal se configure e
qualidade essencial do objeto, como, p. ex., se a pessoa pensa tome passível de anulação o ato negocial, será preciso que:
adquirir um relógio de prata que, na realidade, é de aço. a) haja intenção de induzir o declarante a praticar o negócio
lesivo à vítima;
- Erro de direito: b) os artifícios maliciosos sejam graves, aproveitando a
O errar juris não consiste apenas na ignorância da norma quem os alega, por indicar fatos falsos, por suprimir ou alterar
jurídica, mas também em seu falso conhecimento e na sua os verdadeiros ou por silenciar algum fato que se devesse reve-
interpretação errônea, podendo ainda abranger a ideia errônea lar ao outro contratante;
sobre as consequências jurídicas do ato negocial. Se o erro de c) seja a causa determinante da declaração de vontade, cujo
direito afetar a manifestação volitiva, tendo sido o principal efeito será a anulabilidade do ato, por consistir num vício de
ou o único motivo da realização do ato negocial, sem, contudo consentimento; e
importar em recusa à aplicação da lei vicia o consentimento. d) proceda do outro contratante, ou seja, deste conhecido,
Para anular o negócio não poderá, contudo recair sobre norma se procedente de terceiro.
cogente, mas tão somente sobre normas dispositivas, sujeitas - Dolus incidens:
ao livre acordo das partes. O dolo acidental ou dolus incidens é o que leva a vítima a
realizar o negócio, porém em condições mais onerosas ou me-
- Erro na transmissão da vontade por instrumento ou por nos vantajosas, não afetando sua declaração de vontade, em-
interposta pessoa: bora venha a provocar desvios, não se constituindo vício de
Se alguém recorrer a rádio, televisão, telefone, mensageiro consentimento, por não influir diretamente na realização do ato
ou telégrafo para transmitir uma declaração de vontade, e o veí- negocial que se teria praticado independentemente do emprego
culo utilizado o fizer com incorreções, acarretando desconfor- das manobras astuciosas.
midade entre a vontade declarada e a interna, poder-se-á alegar O dolo acidental, por não ser vício de consentimento nem
erro nas mesmas condições em que a manifestação volitiva se causa do contrato, não acarretará a anulação do negócio, obri-
realiza inter presentes. gando apenas à satisfação de perdas e danos ou a uma redução
da prestação convencionada.
Se uma declaração de vontade com certo conteúdo for - Dolo positivo e dolo negativo:
transmitida com conteúdo diverso, o negócio poderá ser passí- O dolo positivo é o artifício astucioso decorrente de ato co-
vel de nulidade relativa, porque a manifestação de vontade do missivo em que a outra parte é levada a contratar por força de
emitente não chegou corretamente à outra parte. Se, contudo, afirmações falsas sobre a qualidade da coisa. O dolo negativo,
a alteração não vier a prejudicar o real sentido da declaração previsto no Art. 147, vem a ser a manobra astuciosa que cons-
expedida, o erro será insignificante e o negócio efetivado pre- titui uma omissão dolosa ou reticente para induzir um dos con-
valecerá. tratantes a realizar o negócio. Ocorrerá quando uma das partes
vem a ocultar algo que a outra deveria saber e se sabedora não
- Erro acidental: teria efetivado o ato negocial. O dolo negativo acarretará anula-
O erro acidental diz respeito às qualidades secundárias ou ção do ato se for dolo principal.
acessórias da pessoa, ou do objeto. Não terá qualquer influên-
cia na perfeição do negócio jurídico. O erro acidental não induz Para o dolo negativo deverá haver:
anulação do ato negocial por não incidir sobre a declaração da a) um contrato bilateral;

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DIREITO CIVIL
b) intenção de induzir o outro contratante a praticar o ne- a) seja a causa determinante do negócio jurídico, pois de-
gócio jurídico; verá haver um nexo causal entre o meio intimidativo e o ato
c) silêncio sobre uma circunstância ignorada pela outra par- realizado pela vítima;
te; b) incuta à vítima um temor justificado, por submetê-la a
d) relação de causalidade entre omissão intencional e a de- um processo que lhe produza ou venha a produzir dor (morte,
claração volitiva; cárcere privado, desonra, mutilação, escândalo etc.), fazendo-a
e) ato omissivo do outro contratante e não de terceiro; recear a continuação ou o agravamento do mal se não manifes-
f) prova da não-realização do negócio se o fato omitido fos- tar sua vontade no sentido que se lhe exige;
se conhecido da outra parte contratante. c) o temor diga respeito a um dano iminente, suscetível de
Se o dolo for provocado por terceira pessoa a mando de um atingir a pessoa da vítima, sua família ou seus bens. E se o ato
dos contratantes ou com o concurso direto deste, o terceiro e o coativo disser respeito a pessoa não pertencente à família da
contratante serão tidos como autores do dolo. Poder-se-á apre- vítima, o órgão judicante, com equidade e com base nas circuns-
sentar três hipóteses: tâncias, decidirá se houve, ou não, coação;
a) o dolo poderá ser praticado por terceiro com a cumplici- d) o dano seja considerável ou grave, podendo ser moral,
dade de um dos contratantes; se a ameaça se dirigir contra a vida, liberdade, honra da vítima
b) o artifício doloso advém de terceiro, mas a pane, a quem ou de pessoa de sua família, ou patrimonial, se a coação disser
aproveita, o conhece ou o deveria conhecer; e respeito aos seus bens. O dano ameaçado deverá ser efetivo ou
c) o dolo é obra de terceiro, sem que dele tenha ciência o potencial a um bem pessoal ou patrimonial. E necessário, por-
contratante favorecido. tanto, que a ameaça se refira a prejuízo que influencie a vontade
Se o dolo de terceiro apresentar-se por cumplicidade de um do coacto a ponto de alterar suas determinações, embora não
dos contratantes ou se este dele tiver conhecimento, o ato ne- possa, no momento, verificar, com justeza, se será inferior ou
gocial anular-se-á, por vício de consentimento, e se terá indeni- superior ao resultante do ato extorquido.
zação de perdas e danos a que será obrigado o autor do dolo, Ao apreciar a gravidade da via compulsiva, o magistrado
mesmo que o negócio jurídico subsista. Se o contratante favore- deverá, em cada caso concreto, ater-se aos meios empregados
cido não tiver conhecimento do dolo de terceiro, o negócio efe- pelo coator, verificando se produzem constrangimento moral,
tivado continuará válido, mas o terceiro deverá responder pelos sem olvidar o sexo, a idade, a condição social, a saúde e o tem-
danos que causar. Logo, se houver dolo principal de terceiro, e peramento da vítima. Deverá, portanto, averiguar quaisquer cir-
uma das partes tiver ciência dele, não advertindo o outro con- cunstâncias, sejam elas pessoais ou sociais, que concorram ou
tratante da manobra, tornar-se-á corresponsável pelo engano influam sobre o estado moral do coacto, levando-o a executar
a que a outra parte foi induzida, que terá, por isso, o direito de ato negocial que se lhe é exigido. Isto é assim porque a lei, ao
anular o ato, desde quê prove que o outro contratante sabia da pressupor que todos somos dotados de certa energia ou grau
dolosa participação do terceiro. Assim, se não se provar, no ne- de resistência, não desconhece que sexo, idade, saúde, condi-
gócio, que uma das partes conhecia o dolo de terceiro, e mesmo ção social, temperamento podem tornar decisiva a coação, que,
que haja presunção desse conhecimento, não poderá o ato ser exercida em certas circunstâncias, pode pressionar e influir mais
anulado. poderosamente.

- Dolo de representante legal ou convencional: - Excludentes da coação:


O dolo de representante legal ou convencional de uma das Não se considerará coação, portanto, vício de consentimen-
partes não pode ser considerado de terceiro, pois, nessa quali- to suscetível de anular negócio, a ameaça do exercício normal de
dade, age como se fosse o próprio representado, sujeitando-o um direito e o simples temor reverencial. Assim, se algum negó-
à responsabilidade civil até a importância do proveito que tirou cio for levado a efeito por um dos contratantes nas circunstân-
do ato negocial, com ação regressiva contra o representante. O cias acima enumeradas, não se justificará a anulabilidade do ato,
representado deverá restituir o lucro ou vantagem oriunda do que permanecerá válido, uma vez que não se trata de coação.
ato doloso de seu representante ante o princípio que veda o
enriquecimento sem causa, tendo, porém, uma actio de in rem - Ameaça do exercício normal de um direito: A ameaça do
verso. E se o representante for convencional, deverá responder exercício normal de um direito exclui a coação, porque se exige
solidariamente com ele por perdas e danos. que a violência seja injusta. Desse modo, se um credor de dívida
vencida e não paga ameaçar o devedor de protestar o título e
Pode haver dolo de ambas as partes que agem dolosamen- requerer falência, não se configurará a coação por ser ameaça
te, praticando ato comissivo ou configurando-se torpeza bilate- justa que se prende ao exercício normal de um direito; logo o
ral. Se o ato negocial foi realizado em virtude de dolo principal devedor não poderá reclamar a anulação do protesto. O simples
ou acidental de ambos os contratantes, não poderá ser anulado, temor reverencial vem a ser o receio de desgostar ascendente
nem se poderá pleitear indenização; ter-se-á uma neutralização ou pessoa a quem se deve obediência e respeito, que não po-
do delito porque há compensação entre dois ilícitos; a ninguém derá anular o negócio, desde que não esteja acompanhado de
caberá se aproveitar do próprio dolo. Se ambas as partes contra- ameaças ou violências irresistíveis.
tantes se enganaram reciprocamente, uma não poderá invocar A coação exercida por terceiro vicia o negócio jurídico, cau-
contra a outra o dolo, que ficará paralisado pelo dolo próprio. sando sua anulabilidade, se dela teve ou devesse ter conheci-
mento o contratante que dela se aproveitar. Havendo coação
Coação: exercida por terceiro, urge averiguar, para apurar a responsa-
Para que haja coação moral, suscetível de anular ato nego- bilidade civil, se a parte a quem aproveite teve prévio conheci-
cial, será preciso que: mento dela, pois esta responderá solidariamente com o coator
por todas as perdas e danos causados ao coacto. Logo, além da

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DIREITO CIVIL
anulação do ato negocial pelo vício de consentimento, a vitima Contrato oneroso fraudulento:
terá direito de ser indenizada pelos prejuízos sofridos, ficando Será suscetível de fraude o negócio jurídico a título onero-
solidariamente obrigados a isso o autor da via compulsiva e o so se praticado por devedor insolvente ou quando a insolvência
outro contraente que dela teve ciência e dela auferiu vantagens. for notória ou se houver motivo para ser conhecida do outro
contratante. Podendo ser anulado pelo credor. Por exemplo,
Estado de perigo: quando se vender imóvel em data próxima ao vencimento das
No estado de perigo, há temor de grave dano moral ou ma- 0brigações inexistindo outros bens para saldaria dívida.
terial à própria pessoa, ou a parente seu, que compele o de- Será notória a insolvência de certo devedor se for tal esta-
clarante a concluir contrato, mediante prestação exorbitante. A do do conhecimento geral. Todavia, desta notoriedade não se
pessoa natural premida pela necessidade de salvar-se a si pró- poderá dispensar prova; logo todos os meios probatórios serão
pria, ou a um familiar seu, de algum mal conhecido pelo outro admitidos. Por exemplo, será notória a insolvência se o devedor
contratante, vem a assumir obrigação demasiadamente onero- tiver seus títulos protestados ou ações judiciais que impliquem a
sa. Por exemplo: venda de casa a preço fora do valor merca- vinculação de seus bens.
dológico para pagar um débito assumido em razão de urgente Será presumida a insolvência quando as circunstâncias in-
intervenção cirúrgica, por encontrar-se em perigo de vida. dicarem tal estado, que já devia ser do conhecimento do outro
Em se tratando de pessoa não pertencente à família do de- contraente que tinha motivos para saber da situação financeira
clarante, o juiz decidirá pela ocorrência, ou não, do estado de precária do alienante. Por exemplo, preço vil, parentesco próxi-
perigo, segundo as circunstâncias, guiando-se pelo bom senso. mo alienação de todos os bens, relações de amizade, de negó-
cios mútuos etc.
Lesão:
E um vício de consentimento decorrente do abuso praticado - Perda da legitimação ativa para mover ação pauliana:
em situação de desigualdade de um dos contratantes, por estar Perderão os credores a legitimação ativa para mover a ação
sob premente necessidade, ou por inexperiência, visando a pro- revocatória dos bens do devedor insolvente que ainda não pa-
tegê-lo ante o prejuízo sofrido na conclusão do contrato, devido gou q preço, que é o corrente, depositá-lo em juízo, com citação
à desproporção existente entre as prestações das duas partes, em edital de todos os interessados ou, ainda, se o adquirente,
dispensando-se a verificação do dolo, ou má-fé, da pane que se sendo o preço inferior, para conservar os bens, depositar quan-
aproveitou. tia correspondente ao valor real.
A desproporção das prestações, ocorrendo lesão, deverá ser Para que não haja nulidade relativa do negócio jurídico lesi-
apreciada segundo os valores vigentes ao tempo da celebração vo a credor, será mister que o adquirente:
do negócio jurídico pela técnica pericial e avaliada pelo magis- a) ainda não tenha pago o preço real, justo ou corrente;
trado. Se a desproporcionalidade for superveniente à formação b) promova o depósito judicial desse preço; e
do negócio, será juridicamente irrelevante. c) requeira a citação em edital de todos os interessados,
A lesão inclui-se entre os vicio de consentimento e acarreta- para que tomem ciência do depósito.
rá a anulabilidade do negócio, permitindo-se, porém, para evitá- Com isso estará assegurando a satisfação dos credores, não
-la, a oferta de suplemento suficiente, ou, se o favorecido con- se justificando a rescisão contratual, pois ela não trará qualquer
cordar, a redução da vantagem, aproveitando, assim, o negócio. vantagem aos credores defraudados, que, no processo de con-
signação em pagamento, poderão, se for o caso, contestar o pre-
Fraude contra credores e seus elementos: ço alegado, hipótese em que o magistrado deverá determinar a
A fraude contra credores constitui a prática maliciosa, pelo perícia avaliatória.
devedor, de atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de
colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento - Ação pauliana contra o devedor insolvente:
dos direitos creditórios alheios. Dois são seus elementos: o ob- Em regra a revocatória deverá ser intentada contra o deve-
jetivo, que é todo ato prejudicial ao credor, por tornar o devedor dor insolvente, seja em caso de transmissão gratuita de bens,
insolvente ou por ter sido realizado em estado de insolvência, seja na hipótese de alienação onerosa, tendo-se em vista que tal
ainda quando o ignore ou ante o fato de a garantia tornar-se in- ação visa tão-somente anular um negócio celebrado em prejuízo
suficiente; e o subjetivo que é a má-fé, a intenção de prejudicar do credor. Mas nada obsta a que seja movida contra a pessoa
do devedor ou do devedor aliado a terceiro, ilidindo os efeitos que com ele veio a efetivar o ato fraudulento ou contra terceiro
da cobrança. adquirente de má-fé. Logo, poderá ser proposta contra os que
intervieram na fraude contra credores, citando-se todos que
- Estado de insolvência: nela tiverem tomado pane. “O litisconsórcio, na ação pauliana,
Pelo art. 748 do Código de Processo Civil, ter-se-á insolvên- é obrigatório. Não podem as partes dispensá-lo” (RT, 447/147).
cia sempre que os débitos forem superiores à importância dos - Revocatória contra a pessoa que celebrou o ato fraudató-
bens do devedor. A prova da insolvência far-se-á, em regra, com rio com o devedor insolvente:
a execução da dívida. Poderão ser acionados por terem celebrado estipulação
fraudulenta com o devedor insolvente:
- Ação pauliana: a) herdeiros do adquirente, com a restrição do art. 1.792 do
A fraude contra credores, que vicia o negócio de simples Código Civil;
anulabilidade, somente é atacável por ação pauliana ou revoga- b) contratante ou adquirente de boa-fé, sendo o ato a tí-
tória, movida pelos credores quirografários (sem garantia) que tulo gratuito, embora não tenha o dever de restituir os frutos
já o eram ao tempo da prática desse ato fraudulento que se pre- percebidos (CC, art. 1.214) nem o de responder pela perda ou
tende invalidar. O credor com garantia real (penhor, hipoteca ou deterioração da coisa, a que não deu causa (CC, art. 1.217), ten-
anticrese) não poderá reclamar a anulação, por ter no ônus real do, ainda, o direito de ser indenizado pelas benfeitorias úteis e
a segurança de seu reembolso. necessárias que fez (CC, art. 1.219);

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DIREITO CIVIL
c) adquirente de boa-fé, sendo o negócio oneroso, hipótese - Efeitos da nulidade absoluta: Com a declaração da nulidade
em que, com a revogação do ato lesivo e restituição do bem ao absoluta do negócio jurídico, este não produzirá qualquer efeito
patrimônio do devedor, se entregará ao contratante acionado a por ofender princípios de ordem pública, por estar inquinado por
contraprestação que forneceu, em espécie ou no equivalente. vícios essenciais. Por exemplo, se for praticado por pessoa abso-
Quem receber bem do devedor insolvente, por ato oneroso ou lutamente incapaz (CC, art. 32); se tiver objeto ilícito ou impos-
gratuito, conhecendo seu estado de insolvência, será obrigado sível; se não revestir a forma prescrita em lei ou preterir alguma
a devolvê-lo, com os frutos percebidos e percipiendos (CC, art. solenidade imprescindível para sua validade; se tiver por objetivo
1.216), tendo, ainda, de indenizar os danos sofridos pela perda fraudar lei imperativa; e quando a lei taxativamente o declarar
ou deterioração da coisa, exceto se demonstrar que eles sobre- nulo ou lhe negar efeito. De modo que um negócio nulo é como se
viriam se ela estivesse em poder do devedor (CC, art. 1.218). nunca tivesse existido desde sua formação, pois a declaração de
Todavia, resguardado estará seu direito à indenização das ben- sua invalidade produz efeito ex tunc (Súmula 346 do STF).
feitorias necessárias que, porventura, tiver feito no bem (CC,
art. 1.220). - Simulação como vício social:
- Ação pauliana contra terceiro adquirente de má-fé: O ter- Consiste num desacordo intencional entre a vontade inter-
ceiro será aquele que veio a adquirir o bem daquele que o obte- na e a declarada para criar, aparentemente, um ato negocial que
ve diretamente do alienante insolvente, ou melhor, é o segundo inexiste, ou para ocultar, sob determinada aparência, o negócio
adquirente ou sub adquirente que, estando de má-fé, deverá ser quando, enganando terceiro, acarretando a nulidade do negó-
acionado e restituir o bem. cio. Mas entendemos que tecnicamente mais apropriado seria
O pagamento antecipado do débito a credores frustra a admitir a sua anulabilidade, por uma questão de coerência lógi-
igualdade que deve existir entre os credores quirografários, ca ao disposto no caput do art. 167, em que se admite a subsis-
que, por tal razão, poderão propor ação pauliana para invalidá- tência do ato dissimulado se válido for na forma e na substância
-lo, determinando que o beneficiado reponha o que recebeu em e diante, por exemplo, como veremos logo mais, do prescrito no
proveito do acervo. art. 496 do Código Civil.
O credor que vier a receber pagamento de dívida ainda não
vencida será obrigado a devolver o que recebeu, mas essa devo- - Simulação absoluta:
lução não apenas aproveitará aos que o acionaram, pois reverte- Ter-se-á simulação absoluta quando a declaração enganosa
rá em beneficio do acervo do devedor, que deverá ser partilhado da vontade exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral,
entre todos os credores que legalmente estiverem habilitados não havendo intenção de realizar ato negocial algum. Por exem-
no concurso creditório. plo, é o caso da emissão de títulos de crédito, que não repre-
Se o devedor insolvente vier a contrair novo débito, visan- sentam qualquer negócio, feita pelo marido antes da separação
do beneficiar os próprios credores, por ter o escopo de adquirir judicial para lesar a mulher na partilha de bens.
objetos imprescindíveis não só ao funcionamento do seu estabe-
lecimento mercantil, rural ou industrial, evitando a paralisação - Simulação relativa:
de suas atividades e consequentemente a piora de seu estado A simulação relativa é a que resulta no intencional desacor-
de insolvência e o aumento do prejuízo aos seus credores, mas do entre a vontade interna e a declarada. Ocorrerá sempre que
também à sua subsistência e a de sua família, o negócio por ele alguém, sob a aparência de um negócio fictício, realizar outro
contraído será válido, ante a presunção em favor da boa-fé. que é o verdadeiro, diverso, no todo ou em parte, do primeiro,
Todos os novos compromissos indispensáveis à conservação com o escopo de prejudicar terceiro. Apresentam-se dois con-
e administração do patrimônio do devedor insolvente, mesmo tratos: um real e outro aparente. Os contratantes visam ocultar
que o novo credor saiba de sua insolvência, serão tidos como de terceiros o contrato real, que é o querido por eles.
válidos, e o novel credor equiparar-se-á aos credores anteriores.
A dívida contraída pelo insolvente com tal finalidade não cons- - Modalidades de simulação relativa:
tituirá fraude contra credores, sendo incabível a ação pauliana. A simulação relativa poderá ser:
A ação pauliana tem por primordial efeito a revogação do a) subjetiva, se a parte contratante não tira proveito do
negócio lesivo aos interesses dos credores quirografários, re- negócio, por ser o sujeito aparente. O negócio não é efetuado
pondo o bem no patrimônio do devedor, cancelando a garantia pelas próprias partes, mas por pessoa interposta ficticiamente.
real concedida em proveito ao acervo sobre que se tenha de Por exemplo, é o que sucede na venda realizada a um terceiro
efetuar o concurso de credores, possibilitando a efetivação do para que ele transmita a coisa a um descendente do alienante,
rateio, aproveitando a todos os credores e não apenas ao que a quem se tem a intenção de transferi-la desde o início, burlan-
a intentou. do-se o disposto no Art. 496 do Código Civil, mas tal simulação
Se, porventura, o ato invalidado tinha por único escopo só se efetivará quando se completar com a transmissão dos bens
conferir garantias reais, como penhor, hipoteca e anticrese, sua ao real adquirente (STF, Sumulas 152 e 494);
anulabilidade alcançará tão-somente a da preferência estabele- b) objetiva, se respeitar à natureza do negócio pretendido,
cida pela referida garantia; logo a obrigação principal (débito) ao objeto ou a um de seus elementos contratuais; se o negócio
continuará tendo validade. Com a anulação da garantia, o credor contiver declaração, confissão, condição ou cláusula não verda-
não irá perder seu crédito, pois figurará, perdendo a preferên- deira - é o que se dá, p. ex., com a hipótese em que as partes
cia, como quirografário, entrando no rateio final do concurso na escritura de compra e venda declaram preço inferior ao con-
creditório. vencionado com a intenção de burlar o fisco, pagando menos
Conceito de nulidade: imposto; se as partes colocarem, no instrumento particular, a
Nulidade é a sanção, imposta pela norma jurídica, que de- antedata ou a pós-data, constante no documento, não aquela
termina a privação dos efeitos jurídicos do ato negocial pratica- em que o mesmo foi assinado, pois a falsa data indica intenção
do em desobediência ao que prescreve. discordante da verdade.

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DIREITO CIVIL
- Direitos de terceiro de boa-fé: necessário que o ratificante conceda a ratificação no momento
Havendo decretação da invalidação do negócio jurídico si- em que haja cessado o vício que maculava o negócio e que o ato
mulado, os direitos de terceiro de boa-fé em face dos contratan- confirmativo não incorra em vício de nulidade.
tes deverão ser respeitados.
- Confirmação expressa:
- Dissimulação e simulação: O ato de confirmação deverá conter a substância da obriga-
Não há que confundir a simulação com a dissimulação. A ção confinada e a vontade expressa de confirmá-la. Logo, pre-
simulação provoca falsa crença num estado não real; quer enga- ciso será que se deixe patente a livre intentio de confirmar ato
nar sobre a existência de uma situação não verdadeira, tornan- negocial que se sabe anulável, devendo-se, para tanto, conter,
do nulo o negócio. A dissimulação oculta ao conhecimento de por extenso, o contrato primitivo que se pretende confinar, in-
outrem uma situação existente, pretendendo, portanto, incutir dicando-o de modo que não haja dúvida alguma. Não se poderá
no espírito de alguém a inexistência de uma situação real. No fazer uso de frases vagas ou imprecisas, pois a vontade de ratifi-
negócio jurídico subsistirá o que se dissimulou se válido for, na car deverá constar de declarações explícitas e claras.
substância e na forma.
- Forma da confirmação: O ato de confirmação deverá ob-
O negócio nulo não poderá ser confirmado, nem convales- servar a mesma forma prescrita para o contrato que se quer
cerá pelo decurso do tempo. confirmar. Assim, se se for confirmar uma doação de imóvel, o
ato de ratificação deverá constar de escritura pública, por ser
- Conversão do ato negocial nulo: esta da substância do ato.
A conversão acarreta nova qualificação do negócio jurídico.
Refere-se à hipótese em que o negócio nulo não pode prevale- - Confirmação tácita:
cer na forma pretendida pelas partes, mas, como seus elemen- A confirmação tácita dar-se-á quando a obrigação já tiver
tos são idôneos para caracterizar outro, pode ser transformado sido parcialmente cumprida pelo devedor conhecedor do vício
em outro de natureza diversa, desde que isso não seja proibido, que a maculava, tomando-a anulável. A vontade de confirmar
taxativamente, como sucede nos casos de testamento. Assim está ínsita, pois, mesmo sabendo do vício, o confirmador não se
sendo, ter-se-á conversão própria apenas se se verificar que os importou com ele, e teve a intenção de confirmá-lo e de reparar
contratantes teriam pretendido a celebração de outro contrato, a mácula.
se tivessem ciência da nulidade do que realizaram. A conversão
subordinar-se-á à intenção das partes de dar vida a um contrato - Requisitos: Para que se configure a confirmação tácita será
diverso, na hipótese de nulidade do contrato que foi por elas mister que haja:
estipulado, mas também à forma, por ser imprescindível que, no a) voluntária execução parcial da obrigação;
contrato nulo, tenha havido observância dos requisitos de subs- b) conhecimento do vício que a toma anulável; e
tância e de forma do contrato em que poderá ser transformado e) intenção de confirmá-la.
para produzir efeitos.
A nulidade relativa ou anulabilidade refere-se, na lição de Prova: A prova da confirmação tácita competirá a quem a
Clóvis Beviláqua, “a negócios que se acham inquinados de vício arguir.
capaz de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá ser elimi-
nado, restabelecendo-se a sua normalidade”. A confirmação expressa, ou a execução voluntária da obri-
gação anulável, conduzirá ao entendimento de que houve re-
- Atos negociais anuláveis: núncia a todas as ações, ou exceções, de que o devedor dispu-
Serão anuláveis os negócios se: sesse contra o ato. Deveras, se o ato for passível de anulação,
a) praticados por pessoa relativamente incapaz (CC, art. 42) o lesado poderá lançar mão de uma ação, mas se houve confir-
sem a devida assistência de seus legítimos representantes legais mação expressa ou tácita, subentende-se que houve renúncia a
(CC, art. 1.634, V); qualquer providência que possa obter a decretação judicial da
b) viciados por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão nulidade relativa.
ou fraude contra credores, simulação ou fraude (CC, arts. 138
e 165); e - Irrevogabilidade da renúncia: Com a ratificação não mais
c) a lei assim o declarar, tendo em vista a situação particular será possível anular o ato negocial viciado, pois a nulidade dei-
em que se encontra determinada pessoa (CC, Art. 1.650). xou de existir, ante a irrevogabilidade do ato ratificatório, que
validou a obrigação em definitivo.
Confirmação: Se a nulidade relativa do ato negocial ocorrer por falta de
A nulidade relativa pode convalescer, sendo confirmada, ex- autorização de terceiro, passará a ter validade se, posteriormen-
pressa ou tacitamente, pelas partes, salvo direito de terceiro. te, tal anuência se der.
A confirmação é, portanto, segundo Serpa Lopes, o ato jurídico
pelo qual uma pessoa faz desaparecer os vícios dos quais se en- - Efeito “ex nunc” da declaração judicial de nulidade relativa:
contra inquinada uma obrigação contra a qual era possível pro- A declaração judicial de ineficácia do ato negocial opera ex
ver-se por via de nulidade ou de rescisão. O ato nulo, por sua nunc, de modo que o negócio produz efeitos até esse momen-
vez, será insuscetível de ratificação, por prevalecer o interesse to, respeitando-se as consequências geradas anteriormente. Tal
público. ocorre porque a anulabilidade prende-se a uma desconformida-
A confirmação retroage à data do ato, logo, seu efeito é ex de que a norma considera menos grave, uma vez que o negócio
tunc, tornando válido o negócio desde sua formação, resguar- anulável viola preceito concernente a interesses meramente in-
dados os direitos, já constituídos, de terceiros. Para tanto será dividuais, acarretando uma reação menos extrema.

20
DIREITO CIVIL
A anulabilidade só pode ser alegada pelos prejudicados com - Nulidade parcial de um negócio:
o negócio ou por seus representantes legítimos, não podendo A nulidade parcial de um ato negocial não o atingirá na pane
ser decretada ex officio pelo juiz. Sendo que só aproveitará à válida, se esta puder subsistir autonomamente, devido ao prin-
parte que a alegou, com exceção de indivisibilidade ou solida- cípio utile per mutile non vitiatur.
riedade.
O prazo de decadência para pleitear, judicialmente, a anu- - Nulidade da obrigação principal:
lação do negócio jurídico é de quatro anos, contado, havendo: A nulidade da obrigação principal implicará a da acessória,
a) coação, do dia em que ela cessar; p. ex., a nulidade de um contrato de locação acarretará a da
b) erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou fiança, devido ao princípio de que o accessorium sequitur suum
lesão, do dia da celebração do ato negocial; e principale.
c) ato de incapaz, do dia em que cessar a incapacidade.
- Nulidade da obrigação acessória:
- Proibição de alegação da menoridade para eximir-se de A nulidade da obrigação acessória não atingirá a obrigação
obrigação assumida: principal, que permanecerá válida e eficaz. Se numa locação for
O menor, entre dezesseis e vinte um- anos não poderá invo- anulada a fiança, o pacto locatício subsistirá.
car a proteção legal em favor de sua incapacidade para eximir-se
da obrigação ou para anular um ato negocial que tenha pratica- Disciplina jurídica dos atos jurídicos em sentido estrito:
do, sem a devida assistência, se agiu dolosamente, escondendo Os atos jurídicos em sentido estrito geram consequências
sua idade, quando inquirido pela outra parte, ou se espontanea- jurídicas previstas em lei e não pelas partes interessadas, não
mente se declarou maior. O menor não poderá, portanto, em havendo, como ocorre nos negócios jurídicos, regulamentação
tais circunstancias, alegar sua menoridade para escapar à obri- da autonomia privada. Trata-se dos atos materiais (acessão, fi-
gação contraída. xação e transferência de domicilio, especificação etc.) e das par-
Não será juridicamente admissível que alguém se prevale- ticipações (aviso, confissão, notificação etc.).
ça de sua própria malícia para tirar proveito de um ato ilícito, Juntamente com os negócios jurídicos constituem espécie
causando dano ao outro contratante de boa-fé, protegendo-se,
de um gênero, que é o ato jurídico em sentido amplo. E, assim
assim, o interesse público.
sendo, aos atos lícitos, que não são negócios jurídicos, aplicam-
Se não houver malícia por parte do incapaz, ter-se-á a invali-
-se, no que couberem, as disposições atinentes aos negócios ju-
dação de seu ato, que será, então, nulo, se sua incapacidade for
rídicos.
absoluta, ou anulável, se relativa for, sendo que, neste último
caso, competirá ao incapaz, e não àquele que com ele contratou,
Ato ilícito:
pleitear a anulabilidade do negócio efetivado. Se a incapacidade
O ato ilícito é praticado em desacordo com a ordem jurídica,
for absoluta, qualquer interessado poderá pedir a nulidade do
violando direito subjetivo individual. Causa dano patrimonial ou
ato negocial, e até mesmo o magistrado poderá pronunciá-la de
moral a outrem, criando o dever de repará-lo (STJ, Súmula 37).
ofício.
Logo, produz efeito jurídico, só que este não é desejado
- Impossibilidade de reclamar a devolução da importância pelo agente, mas imposto pela lei.
paga a incapaz: - Elementos essenciais: Para que se configure o ato ilícito,
O absoluta ou relativamente incapaz não terá o dever de será imprescindível que haja:
restituir o que recebeu em razão do ato negocial contraído e a) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou
declarado inválido, a não ser que o outro contratante prove que omissão voluntária, negligência ou imprudência;
o pagamento feito reverteu em proveito do incapaz. A parte b) ocorrência de um dano patrimonial ou moral, sendo que
contrária, para obter a devolução do quantum pago ao menor, pela Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça serão cumulá-
deverá demonstrar que o incapaz veio a se enriquecer com o pa- veis as indenizações por dano material e moral decorrentes do
gamento que lhe foi feito em virtude do ato negocial invalidado. mesmo fato;
Com a invalidação do ato negocial ter-se-á a restituição das c) nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do
partes contratantes ao statu quo ante, ou seja, ao estado em agente.
que se encontravam antes da efetivação do negócio. O pronun-
ciamento da nulidade absoluta ou relativa requer que as partes - Consequência do ato ilícito:
retomem ao estado anterior, como se o ato nunca tivesse ocor- A obrigação de indenizar é a consequência jurídica do ato
rido. Por exemplo, com a nulidade de uma escritura de compra ilícito (CC, arts. 927 a 954), sendo que a atualização monetária
e venda, o comprador devolve o imóvel, e o vendedor, o preço. incidirá sobre essa dívida a partir da data do ilícito (Súmula 43
Se for impossível que os contratantes voltem ao estado em do STJ).
que se achavam antes da efetivação negocial, por não mais exis-
tir a coisa ou por ser inviável a reconstituição da situação jurídi- - Abuso de direito ou exercício irregular do direito:
ca, o lesado será indenizado com o equivalente. O uso de um direito, poder ou coisa, além do permitido ou
- Exceções: A norma do art. 182, ora comentado, comporta’ extrapolando as limitações jurídicas, lesando alguém, traz como
as seguintes exceções: efeito o dever de indenizar. Realmente, sob a aparência de um
a) impossibilidade de reclamação do que se pagou a inca- ato legal ou lícito, esconde-se a ilicitude no resultado, por aten-
paz, se não se provar que reverteu em proveito dele a importân- tado ao princípio da boa-fé e aos bons costumes ou por desvio
cia paga (CC, art. 181); e de finalidade socioeconômica para a qual o direito foi estabele-
b) o possuidor de boa-fé poderá fruir das vantagens que lhe cido.
são inerentes, como no caso dos frutos percebidos e das benfei-
torias que fizer (CC, arts. 1.214 e 1.219).

21
DIREITO CIVIL
- Atos lesivos que não são ilícitos: a encontrar limite apenas na dignidade das pessoas. Não se deve
Há hipóteses excepcionais que não constituem atos ilícitos negar um digno tratamento aos diferentes modelos arraigados
apesar de causarem danos aos direitos de outrem, isto porque na sociedade por razões preconceituosas.
o procedimento lesivo do agente, por motivo legítimo estabele- Com a tutela principal das relações familiares voltada para
cido em lei, não acarreta o dever de indenizar, porque a própria a realização personalística de seus membros, a pluralidade de
norma jurídica lhe retira a qualificação de ilícito. Assim, ante o entidades familiares se impõe. Respeitando-se as diferenças, as
artigo sub examine não são ilícitos: a legítima defesa, o exercício pessoas poderão conviver familiarmente conforme o modelo
regular de um direito e o estado de necessidade. que melhor represente seus anseios pessoais.
Neste contexto, a relação entre pessoas do mesmo sexo
- Legítima defesa: deve ser apreendida pelo ordenamento jurídico e pelos opera-
A legítima defesa exclui a responsabilidade pelo prejuízo dores do direito, como mais um modelo de entidade familiar.
causado se, com uso moderado de meios necessários, alguém Vários princípios jurídicos agasalham a tutela da parceria
repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de homoafetiva, sendo uma realidade a demandar igualmente uma
outrem. solução jurídica positiva. Isto é defendido, pois se acredita não
haver nenhum empecilho de cunho axiológico para reconhece-
- Exercício regular de um direito reconhecido: Se alguém no rem-se efeitos jurídicos a essa dimensão privada de formação de
uso normal de um direito lesar outrem não terá qualquer res- núcleos afetivos semelhantes aos modelos de famílias contem-
ponsabilidade pelo dano, por não ser um procedimento ilícito. poraneamente reconhecidos.
- Estado de necessidade: O estado de necessidade consiste A prevalência da socioafetividade, amparada na dignidade
na ofensa do direito alheio para remover perigo iminente, quan- da pessoa humana e na solidariedade familiar são modernos
do as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário e princípios do Direito de Família hábeis a demonstrar a relativiza-
quando não exceder os limites do indispensável para a remoção ção dos laços parentais de natureza biológica.
do perigo.
Do Casamento
A doutrina majoritária conceitua casamento como um ato
RELAÇÕES DE PARENTESCO jurídico negocial, solene, público e complexo, mediante o qual
um homem e uma mulher constituem família, pela livre manifes-
tação de vontade e pelo reconhecimento do Estado.
A concepção de família não pode ser compreendia em É, portanto, uma união permanente entre um homem e uma
caráter restrito. Mais do que uma entidade a ser percebida sob mulher, um contrato totalmente vinculado às normas públicas,
a ótica do Direito, a família requer a percepção de questões que tem como pressuposto a livre manifestação de vontade dos
multifatoriais que interferem na sua definição e na sua nubentes. Estabelecendo comunhão plena de vida, com base na
retratação. Questão relevante que determina a impossibilidade igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.
de se fixar um modelo familiar uniforme é a necessidade de O casamento é civil e gratuita a sua celebração. A habili-
ser, a família, compreendida de acordo com as relações sociais tação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão
ocorridas ao longo do tempo, adaptadas às necessidades sociais, isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja
facilmente percebidos quando fazemos uma digressão histórica pobreza for declarada, sob as penas da lei.
e antropológica de tal instituto. Este instituto se realiza no momento em que o homem e a
O conceito jurídico de família evoluiu com o progresso da mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabele-
sociedade, condicionando-se, durante muito tempo, ao casa- cer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.
mento religioso e, mais tarde, ao casamento civil disciplinado Já o casamento religioso, que atender às exigências da lei
legalmente. para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde
O novo referencial da família, pautado na afetividade, como que registrado no registro próprio, produzindo desta forma efei-
valor jurídico, é reforçado na Constituição, acompanhando o tos a partir da data de sua celebração. Submetendo aos mesmos
progresso e a mudança de valores da sociedade. requisitos exigidos para o casamento civil.
A nossa Constituição definiu o Direito de Família com base - o registro civil do casamento religioso deverá ser promovi-
em três linhas: vedação da discriminação entre filhos, igualdade do dentro de noventa dias de sua realização, mediante comuni-
entre homens e mulheres e entidade familiar. cação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de
Pode-se identificar, pela literalidade da Constituição de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previa-
1988, 3 espécies exemplificativas e bem definidas de arranjos mente a habilitação regulada pelo Código Civil, Após este prazo
familiares: o registro dependerá de nova habilitação.
- a matrimonial; - o casamento religioso, celebrado sem as formalidades exi-
- a decorrente da união estável e gidas, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registra-
- a monoparental, formada por qualquer dos pais e respec- do, a qualquer tempo, no registo mediante prévia habilitação
tiva prole. perante a autoridade competente e observado o prazo estipula-
Os modelos de família presentes em nossa realidade social do pelo artigo 1.532.
devem ser reconhecidos pelo Direito sempre, para que haja res- - será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes
peito aos valores essenciais dos membros do grupo familiar, es- dele, qualquer dos consorciados houver contraído com outrem
pecialmente o da dignidade da pessoa humana. casamento civil.
Baseando nos preceitos do direito italiano, pode-se afirmar
dever o princípio da pluralidade no âmbito familiar receber uma
interpretação ampla, respeitadora das diversas formas de união,

22
DIREITO CIVIL
Da Capacidade
A capacidade para contrair matrimônios teve sua idade núbil equiparada entre homens e mulheres: 16 anos. A condição de
discernir mostra-se para o legislador em sintonia e que não haveria o porquê de trazer uma variação etária relativa ao fato de que
a aptidão de ambos se equivalem nesta nuance. Mostrando-se alerta a isso, não confunde-se neste âmbito os termos capacidade
matrimonial e capacidade de ação, já que este último é conseguido através do alcance da maioridade civil, excetuada pelo instituto
da emancipação, ocorrendo, portanto, em princípio, com 18 anos, vislumbrado está aqui o art. o caput do art. 5º: “a menoridade
cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à pratica de todos os atos da vida civil.”.

Dos Impedimentos e das Causas Suspensivas


Além da capacidade matrimonial, os impedimentos sofrem uma alteração doutrinária; nos artigos 1.521, 1.523 e 1.548 en-
contram-se os denominados impedimentos dirimentes absolutos ou públicos, com efeito ex tunc, causado consequentemente por
uma nulidade absoluta que há de ser arbitrada judicialmente em ação posterior, não podendo os nubentes, portanto, se casar nas
seguintes hipóteses:
- quando são ascendentes e descendentes, partindo-se aí tanto do parentesco oriundo da consanguinidade (parentesco natural),
quanto da adoção (parentesco civil);
- os parentes por afinidade que encontram-se na linha reta, especialmente noras com sogros e genros com sogras, além de
padrastos com enteadas e enteados com madrastas, ressaltando-se aqui que a linha reta por afinidade não tem limite em suas
gerações, pela quantidade de graus;
- o adotante com a pessoa que foi casada com o adotado e o adotado com quem foi consorte de quem o adotou;
- os irmãos, tanto os unilaterais (que não possuem o mesmo pai e a mesma mãe), quanto os bilaterais ou germanos (que têm
os mesmos pais), e demais colaterais, até o terceiro grau (tios e sobrinhos), sendo que há um entendimento de que, apresentando
documento médico, podem os mesmos contrair matrimônio;
- o adotado com o filho de quem o adotou;
- as pessoas que são casadas; o consorte sobrevivente com o indivíduo condenado pela prática do crime de homicídio, ou ten-
tativa deste, em face do seu cônjuge;
- além da hipótese do casamento contraído com enfermo mental sem a necessária capacidade de discernimento para a prática
dos atos da vida civil.
O legislador elencou as hipóteses dos impedimentos impedientes, denominados como causas suspensivas, que não acarretam
nem a nulidade absoluta, nem tão pouco, a nulidade relativa, oriunda de ato jurídico anulável, sendo, portanto, um casamento de-
nominado de irregular, trazendo aos consortes uma sanção que é a impossibilidade de se escolher livremente qual o regime de bens
que deve reger o matrimônio do casal, devendo este se dar sob o regime da separação total de bens.
Abaixo segue um quadro exemplificativo diferenciado causas de impedimento e causas suspensivas para a constituição do
matrimonio. Vale ressaltar que as causas suspensivas são obstáculos transponíveis, suscetíveis de transposição, constituindo meras
recomendações do legislador; podendo ser de ordem privada, ou seja, somente poderão ser opostas pelos parentes em linha reta
de qualquer dos nubentes, e pelos colaterais até o segundo grau.
Já em relação a causas de impedimentos, a decretação da nulidade se dará mediante ação direta, promovida por qualquer in-
teressado ou então pelo Ministério Público.

Impedimentos Causas suspensivas


Não podem casar Não DEVEM casar
Se casarem, o casamento será nulo. Se casarem, o casamento será valido, sendo imposto a eles ape-
nas uma sanção administrativa, qual seja: o regime da separação
obrigatória de bens.
Quem pode arguir: qualquer pessoa capaz, até o momento da Quem pode arguir: Os parentes em linha reta de um dos nuben-
celebração do casamento. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver tes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo
conhecimento da existência de algum impedimento, será obriga- grau, sejam também consanguíneos ou afins.
do a declará-lo.
São 7 hipóteses São 4 hipóteses
São hipóteses de impedimento: São hipóteses de suspensão:
1.  os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natu- 1.  O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, en-
ral ou civil; quanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos
2.  os afins em linha reta; herdeiros;
3.  o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com 2.  A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou
quem o foi do adotante; ter sido anulado, até 10 meses depois do começo da viuvez, ou da
4.  os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o dissolução da sociedade conjugal;
terceiro grau inclusive; 3.  O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou deci-
5.  o adotado com o filho do adotante; dida a partilha dos bens do casal;
6.  as pessoas casadas; 4.  O tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes,
7.  o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou cura-
tentativa de homicídio contra o seu consorte. telada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem
saldadas as respectivas contas.

23
DIREITO CIVIL
No processo de habilitação para o casamento, são reflexos Existem duas formas de casamento religioso com efeitos ci-
de um procedimento necessário à condição das pessoas quere- vis: com habilitação prévia (onde será apresentado ao ministro
rem contrair núpcias, encontrando aqui uma lista de documen- religioso o certificado de habilitação e ele irá arquivá-lo, o re-
tos necessários para tal ato em si, sendo este o primeiro ato gistro civil tem que ser feito dentro do prazo decadencial que é
para a efetivação do matrimonio. de 90 dias da celebração) e com habilitação posterior (onde os
Depois disto será encaminhado ao Ministério Público, para nubentes podem requerer o registro a qualquer tempo).
que este se manifeste. Não havendo oposições ao casamento, o
terceiro ato deste procedimento consiste na publicação dos edi- Casamento Consular
tais, que serão afixados nas circunscrições dos noivos, durante Ocorre quando a celebração é feita perante a autoridade
15 dias. diplomática ou consular de ambos os nubentes.
As formalidades preliminares da habilitação para o casa- Para que ele acontece deve ser observados alguns requisitos:
mento serão encerradas com a expedição de uma habilitação, - é preciso que ambos tenham a mesma nacionalidade do
em sentido estrito, por meio da qual os nubentes ficam autori- cônsul ou autoridade diplomática.
zados a se casarem no prazo decadencial de 90 dias a contar da - quanto às formalidades e aos impedimentos são da legisla-
data da expedição. ção do país de origem dos nubentes.
- o casamento não se realizará se a legislação do país em
O art. 1.528 faz menção ao fato de que é dever do oficial do
que se localiza o consulado ou embaixada não permitir.
registro esclarecer, orientar, os que pretendem o enlace matri-
A autoridade consular deve ser de carreira (tempo de exer-
monial no que concerne aos fatos que podem ocasionar a invali-
cício de função).
dade do casamento, bem como sobre os quatro regimes de bens
Quando realizado o casamento consular, este terá que ser
que incidem sobre o aludido negócio jurídico. registrado em 180 dias, contados da data em que um ou ambos
O referido preceito acima indica uma solução lógica ao in- os cônjuges voltarem ao Brasil.
terpretar que ninguém poderia alegar a não ciência a respeito
do que estivesse para ocorrer com o destino de seus bens in- Casamento por Procuração
clusive pós matrimônio, o que de muita valia esta indicação se O nosso ordenamento jurídico permite aos cônjuges que
reveste. não possam, por qualquer motivo, estarem presentes na cele-
bração do seu próprio matrimônio, que se façam representar
Existindo o casamento, como já vimos ele pode ser válido por procurador bastante, munido de poderes especiais, necessa-
ou inválido. Para que o casamento seja válido, também já de- riamente através de instrumento público, feito por tabelião de
monstrado, é preciso que ele seja realizado mediante todos os notas, com prazo de validade de noventa dias e menção inequí-
requisitos estabelecidos em lei. voca do outro contraente.
Poderá um ou ambos estar ausentes, mas a única exigência
Casamento Putativo é que o procurador represente apenas um do casal. Na ausência
O casamento putativo ocorre quando um ou ambos os côn- dos dois, serão necessárias duas procurações, com mandatários
juges desconhece algum impedimento, portanto ele pode ser distintos, um para cada qual dos consortes. A restrição se faz
nulo ou anulável. Para o cônjuge de boa fé, ele produz efeitos porque sendo o casamento um contrato bilateral, é necessária a
de casamento válido. Esses efeitos são desde a celebração do manifestação de duas vontades.
casamento até a data da sentença anulatória, após a sentença, O casamento celebrado, mesmo ausentes ambos os con-
cessam todos os deveres que são resultantes do casamento. traentes, cada qual representado por mandatário próprio, é le-
Os filhos que porventura nascerem de um casamento puta- gal, não sendo passível de se tornar nulo ou anulável o ato feito
tivo, terão seus direitos garantidos. por procuração.
Nota-se que o casamento existe a partir da manifestação
Casamento Nuncupativo e em caso de Moléstia Grave de vontade de querer se casar de ambas as partes, homem e
O casamento nuncupativo é uma forma especial de cele- mulher, formando assim uma união, uma família. Mas para a sua
validação é preciso que ele estabeleça os requisitos previstos
bração do casamento, onde um dos nubentes está em iminente
em lei. Sendo assim, todas as formas de casamento citadas são
risco de vida, assim devido à urgência e a falta de tempo não
formas de casamento válido, pois preenchem todos os requisi-
foram cumpridas todas as formalidades para a celebração. Mas
tos necessários especificados pelo nosso ordenamento jurídico.
é dispensada a presença de autoridade, possuindo apenas seis
testemunhas, desde que não sejam parentes dos nubentes. Es- Separação e divórcio
sas testemunhas precisam ser convocadas pelo enfermo e, ouvir Conforme nosso ordenamento jurídico, a dissolução da so-
do casal a manifestação de vontade de contrair núpcias. ciedade conjugal termina com a morte de um dos cônjuges, com
Após a celebração as testemunhas devem procurar a auto- a nulidade, ou anulação do casamento, pela separação judicial
ridade competente para reduzir à termo as suas declarações, ou então pelo divórcio.
devendo fazer isso em 10 dias. Mas em 2010 com a Emenda Constitucional n° 66, alterou-
Já a celebração em caso de moléstia grave, consiste em um -se o artigo 226, § 6° da Constituição Federal, dispondo que a
casamento civil, onde um dos nubentes encontra-se em com separação judicial, segundo posicionamento majoritário, foi
uma doença grave que o impeça de locomover-se e também de revogada remanescendo os demais institutos.
adiar tal cerimônia. Desta forma, o vínculo matrimonial poderá ser desfeito de
maneira mais rápida e menos custosa. Sendo que as principais
Casamento Religioso com Efeitos Civis alterações foram a fim da separação judicial, mas também põem
O casamento religioso com efeitos civis é realizado perante fim ao divórcio indireto, posto não haver mais o que ser con-
um ministro de qualquer fé religiosa, logo após a habilitação dos vertido. Outra questão que foi abolida é em relação ao prazo
nubentes. mínimo para a dissolução do vínculo matrimonial.

24
DIREITO CIVIL
Com isso ficam tacitamente revogados os artigos 1.572 a Havendo motivos graves, poderá o juiz, em qualquer caso,
1.578 e 1.580. a bem dos filhos, regular de maneira diferente da estabelecida
nos artigos 1.583 a 1.585 – a situação deles para com os pais.
A referida emenda tem efeito ex nunc, ela não retroage e O pai ou a mãe que contrair novas núpcias não perde o di-
nem altera relações jurídicas pretéritas, ou seja, é a proteção ao reito de ter consigo os filhos, que só lhe poderão ser retirados
direito adquirido. Quem já está separado judicialmente continua por mandado judicial, provado que não são tratados convenien-
neste mesmo estado civil, por isso dá permanência da possibili- temente.
dade do divórcio por conversão. As disposições relativas à guarda e prestação de alimentos
Uma outra questão relevante a cerca desta alteração esta- aos filhos menores estendem-se aos maiores incapazes.
belecida pela EC 66, diz respeito aos processos de separação que Cumpre ressaltar que em relação a guarda dos filhos, estes
estão em curso, estes não podem ser convertidos de ofício pelo deverão ficar com quem tiver melhores condições psicológicas e
magistrado, mas extintos ante a perda superveniente do objeto morais, devendo levar em conta o interesse do menor.
a não ser que as partes requeiram a conversão.
Relações de Parentesco
Divórcio extrajudicial Doutrinadores conceituam relações de parentesco como
Esta matéria sofreu mudanças significativas através da Lei sendo as pessoas que se unem a uma família em razão de víncu-
Federal n° 11.441/07 que trouxe importante inovação ao per- lo conjugal ou união estável, de parentesco por consanguinida-
mitir o divórcio administrativo, realizado perante um tabelião de ou outra origem, e da afinidade.
e desde que não haja litígio entre os divorciados, nem incapa- Parentesco tem pela doutrina, em sua definição, dois senti-
zes envolvidos. A presença do advogado é imprescindível, sendo dos: em sentido estrito é o que abrange o consanguíneo, ou seja,
possível, inclusive, um só causídico para ambos os clientes. a relação que vincula entre si pessoas que descendem umas das
O procedimento é simples, estando toda a documentação outras, ou de um mesmo tronco. Já em sentido amplo, no entan-
em dia, o tabelião lavrará a escritura pública do divórcio extraju- to, inclui o parentesco por afinidade e o decorrente da adoção
dicial, que será o título hábil tanto à averbação deste à margem ou de outra origem, como modalidades de técnicas de reprodu-
do registro de casamento, quanto para eventual alteração do ção assistida.
registro imobiliário ou do nome de uma das partes. Podemos então definir parentesco como o vínculo jurídico
Com a extinção da separação judicial não cabe falar em se- que une duas pessoas por questões consanguíneas ou por de-
paração extrajudicial. terminação legal. O parentesco proveniente de afinidade surge
com a ocorrência do casamento ou de união estável, onde o côn-
Os efeitos que são geridos pelo divórcio, assim como o ca- juge ou o companheiro se vincula aos parentes consanguíneos
samento, são de ordem pessoal e patrimonial em relação aos do outro, daí surgindo o parentesco por afinidade.
divorciados e seus filhos. O parentesco consanguíneo pode ser então dividido em:
Um desses efeitos é em relação ao nome de casado, como consanguíneo na linha reta e consanguíneo na linha colateral
é uma faculdade do nubente, que poderá acrescer ou não ao ou transversal.
seu nome o sobrenome do outro cônjuge, na dissolução também O grau de parentesco é definido em linha reta ascenden-
cabe a mesma regra, é uma faculdade manter o nome ou retor- te e/ou descendente pelo número de gerações que separam as
nar ao nome de solteiro. pessoas entre si, pois os indivíduos que estão uns para com os
Em relação ao direito a alimentos, cumpre ressaltar que se outros na relação de ascendentes e/ou descendentes são sem-
trata de um direito do cônjuge a alimento prestado pelo outro pre parentes, independentemente da distância em graus entre
cônjuge. os mesmos.
Os alimentos serão devidos levando-se em conta basica- O grau de parentesco na linha colateral ou transversal é
mente o binômio necessidade/utilidade. O quantum devido será contado partindo-se do parente cujo grau de parentesco se pre-
fixado na justa medida entre a capacidade do alimentante e a tende determinar, subindo-se em linha reta, contando-se cada
necessidade do alimentado, mas mantendo o padrão de vida do grau, até o ascendente comum, descendo-se em seguida até en-
cônjuge enquanto estava casado e não somente é apenas o que contrar o outro parente, mas o parentesco entre os colaterais
se come. vai até o quarto grau, limitação imposta pelo novo diploma civil.
Se o divórcio for consensual, os próprios divorciados deve- Já em relação à definição do grau de parentesco por afini-
rão acordar sobre o montante a ser pago. Mas se o divórcio for dade, o procedimento é o mesmo, colocando-se apenas a posi-
judicial e cumulado com alimentos, o juiz é quem decidirá de ção do cônjuge ou companheiro no lugar ocupado naturalmente
forma equilibrada. pelo outro, observando-se que o parentesco por afinidade na
linha colateral estende-se até o 2º grau (cunhado/cunhada) e,
Proteção dos filhos na linha reta, estende-se ao infinito e, mesmo após a dissolução
No caso de dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal do casamento, não se extingue.
pela separação judicial por mútuo consentimento ou pelo divór-
cio direto consensual, observar-se-á o que cônjuges acordarem Filiação
sobre a guarda dos filhos. Como demonstra o artigo 1.596, filiação é filiação é uma re-
Como dispõe o artigo 1.584, verificando que os filhos não lação de parentesco em linha reta de primeiro grau, estabeleci-
devem permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, o juiz de- da entre pais e filhos, seja por relação de vínculo sanguíneo ou
ferirá a sua guarda à pessoa que revele compatibilidade com a de outra origem legal, como por exemplo, nos casos de adoção
natureza da medida, de preferência levando em conta o grau de ou de reprodução assistida como utilização de material genético
parentesco e relação de afinidade e afetividade, de acordo com de outra pessoa estranha ao casal.
a referida lei.

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DIREITO CIVIL
A Constituição Federal, no artigo 227, § 6° disciplina a Ação de investigação de paternidade é o meio pelo qual se
igualdade existente entre os filhos, não admitindo qualquer pode reconhecer judicialmente a filiação de alguém. Qualquer
distinção ou denominação que o diferencie dos demais. filho poderá propor a ação de investigação de paternidade.
Art. 227 – Já na ação negatória de paternidade, conforme estabelece
§ 6° - os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou o artigo 1.601, p autor é o marido que pretende a declaração de
por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas que não é pai do filho nascido de sua mulher. Sendo esta ação
quaisquer designações descriminatórias relativas à filiação. imprescritível por expressa disposição legal. Se o marido não
Importante também ressaltar em relação a inseminação ajuizar, ninguém poderá o fazer.
artificial homóloga, ou seja, é a técnica de reprodução assistida Em relação a impugnação ao estado de filiação, o filho que
havida com material genético (semem e óvulo) do próprio casal. está registrado como filho, que no prazo de 4 anos a contar ou
Pela lei, nestes casos a presunção da filiação na constância do da sua emancipação, ou da maioridade, a impugnação deste re-
casamento sempre existirá, mesmo se o nascimento, ou a fecun- gistro, com o subsequente cancelamento de mesmo.
dação, ou ainda a inseminação, se der após a morte, desde que Como já demonstrado com as inseminações artificiais, o Di-
presentes autorização expressa e prévia do marido. reito não pode negar a necessidade de acomodar novos proble-
A inseminação artificial heteróloga, é a fecundação realiza- mas jurídicos, como o direito subjetivo de alguém a conhecer,
da com material genético de pelo menos um terceiro aprovei- exclusivamente, de sua antecedência biológica, de seu DNA, sem
tando ou não semem ou óvulo de um ou outro cônjuge, razão que isto importe numa imputação de paternidade indesejada.
pela qual exige autorização do outro cônjuge, sob pena de não
se presumir filho do casal. Poder Familiar
Esta presunção é relativa, podendo ser afastadas por prova Significa o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos
em sentido contrário. pais, em relação aos filhos menores e seus bens. É irrenunciável,
Presumem-se concebidos na constância do casamento: indelegável e imprescritível, desta forma os pais não podem re-
1. Os filhos nascidos 180 dias, pelo menos, depois de esta- nunciar a ele, bem como transferi-lo a outrem.
belecida a convivência conjugal. O art.1.630 traz em seu texto que os filhos estão sujeitos ao
2. Os filhos nascidos 300 dias após a dissolução da socieda- poder familiar enquanto menores. Cabe ressaltar que o disposi-
de conjugal – seja pela morte, separação, nulidade e anulação tivo engloba os filhos menores, havidos ou não no casamento e
do casamento. adotivos, e que compete a ambos os pais o exercício do poder,
3. Os filhos havidos por fecundação artificial homóloga, de forma igualitária de condições, sendo que no caso de diver-
mesmo que falecido o marido. gência poderá ser solucionado por via judicial. Na ausência de
4. Os filhos havidos a qualquer tempo, quando se tratar de um dos pais, o outro possui o exercício com exclusividade e a
embriões excedentários, decorrente de concepção artificial ho- família é identificada como monoparental.
móloga. A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união es-
A presunção de paternidade em caso de viuvez é atribuível tável, não alteram o poder familiar. Somente se altera com re-
ao segundo marido se o nascimento se deu após 300 dias da dis- lação à guarda do menor, sendo que este fica somente com um
solução da sociedade conjugal anterior e se o nascimento se deu dos pais, assegurado ao outro o acompanhamento por meios de
após 180 dias do início da segunda sociedade conjugal. visita e fiscalização.
Já na presunção de paternidade e impotência, o legislador A doutrina determina que nenhum dos pais perde o poder
questiona se a impotência generandi (de gerar) foi constatada familiar com a separação judicial ou divórcio. O pátrio poder ou
no período em que teria ocorrido a concepção. A ocorrência poder familiar decorre da paternidade e da filiação e não do ca-
dessa concepção presume o impedimento para gerar. Provada a samento, tanto que o mais recente código se reporta também à
impotência do cônjuge desaparece a presunção de paternidade. união estável. A guarda normalmente ficará com um deles, asse-
No caso de adultério, não basta à confissão da mulher de gurado ao outro o direito de visita.
que cometeu adultério para ilidir a presunção legal de pater- O poder familiar incumbe aos pais na criação e educação
nidade. Neste caso é preciso a existência de exame de DNA e dos filhos menores, tê-los em sua guarda e administrar os atos
eventual reconhecimento pelo pai biológico. da vida civil enquanto forem menores, conforme exposto no art.
Desta forma, se o marido não contestar a paternidade, a 1.634. Incumbe aos pais também a administração dos bens dos
mulher não poderá contestá-la, pois sua confissão não possui filhos, bem como o direito ao usufruto destes.
valor probante. O poder família tem sua extinção prevista no artigo seguin-
Esta filiação em regra geral será feita em prova pela certidão te. A qual se dá por fatos de plenos direito, fatos naturais ou
de nascimento, ou na falta do documento, por qualquer modo por decisão judicial. O artigo supracitado define as causas de
admissível em direito, isto quando houver começo de prova por extinção, sendo elas: morte dos pais ou do filho, emancipação,
escrito, vindo dos pais, conjunta ou separadamente, ou ainda maioridade, adoção e decisão judicial na forma do art.1.638.
quando existir intensas presunções resultantes de fatos já cer- A extinção do poder familiar pela morte do pai justifica-se
tos. pelo motivo que na morte deste, desaparece o titular de tal di-
É irrevogável o reconhecimento do filho mesmo quando reito. Já na morte do filho, na sua emancipação ou maioridade,
feito em testamento, sendo que havido fora do casamento, faz desaparecer a razão do poder familiar, que é a proteção do
reconhecido por um dos cônjuges, não poderá residir no lar menor. A adoção por sua vez extingue o poder familiar quanto
conjugal sem o consentimento do outro, sendo ineficazes a ao pai natural, o qual transfere o pátrio poder ao pai adotivo.
condição e o termo apostos ao ato de reconhecimento do filho. Já a extinção por decisão judicial se dá na forma do art.
O reconhecimento do filho maior não pode acontecer sem o 1.638, nas seguintes hipóteses:
consentimento do filho. Se for menor, este poderá impugnar nos a) castigo imoderado ao filho;
quatros anos que se seguirem à maioridade ou a emancipação. b) abandono do filho;

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DIREITO CIVIL
c) prática de atos contrários à moral e aos bons costumes; (B) Joaquina poderá casar sob o regime de bens que melhor en-
d) reiteração de faltas aos deveres inerentes ao poder fa- tender, tendo em vista que é dotada de plena capacidade civil.
miliar. (C) O juiz deverá nomear um curador para que possa analisar as
Nas infrações menos graves, pode o juiz aplicar sanção de pretensões do noivo em relação a Joaquina e decidir acerca do
suspensão do poder familiar com o intuito de proteção ao me- melhor regime patrimonial para o casal.
nor. É temporária, pois tem duração somente quanto ao tempo (D) Joaquina é relativamente incapaz e deve ser assistida no ato
necessário, de forma que, desaparecendo a causa, os pais po- do casamento que somente pode ser celebrado sob o regime
dem recuperar o poder familiar. da separação legal.
Desta forma, o poder familiar em síntese é o dever dos pais (E) Joaquina somente poderá casar se obtiver autorização dos
do momento do nascimento do filho até enquanto estes per- pais que poderá ser suprida pelo juiz, ouvido o Ministério Pú-
manecerem menores, de criá-los e educá-los, nunca de forma blico.
imoderada, administrando seus bens e nunca ultrapassando os
limites da lei. O poder familiar não distingue o filho concebido 03. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Sobre a
durante o casamento, ou fora deste e que os pais tem sobre prescrição e a decadência, é correto afirmar:
(A) contra os ébrios habituais, os viciados em tóxico e aqueles
o menor o poder familiar, independente de separação judicial,
que, por causa transitória ou permanente, não puderem expri-
divórcio ou dissolução da união estável, lhes garantido o direito
mir sua vontade, a prescrição e a decadência correm normal-
de visita e fiscalização. Quando estes restarem casados e fize-
mente.
rem o exercício do poder familiar conjuntamente, têm direito ao
(B) antes de sua consumação, a interrupção da prescrição pode
exercício de forma igualitária, estando sujeitos a condições que ocorrer mais de uma vez; aplicam-se à decadência as normas
suspendam ou extinguem o poder familiar. que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição, salvo
disposição legal em contrário.
EXERCÍCIOS (C) a prescrição e a decadência legal e convencional podem ser
alegadas em qualquer grau de jurisdição, podendo o juiz conhe-
cê-las de ofício, não havendo necessidade de pedido das partes.
01. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). José e Ma- (D) é válida a renúncia à prescrição e à decadência fixada em
ria (grávida de 9 meses) sofreram um acidente automobilístico. lei, desde que não versem sobre direitos indisponíveis ou sobre
José faleceu no acidente. Maria foi levada com vida ao hospi- questões de ordem pública ou interesse social.
tal e o filho que estava em seu ventre faleceu alguns minutos (E) os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação
após o nascimento, tendo respirado. Na manhã seguinte, Maria contra os seus assistentes ou representantes legais que derem
também faleceu em decorrência dos ferimentos causados pelo causa à prescrição ou não a alegarem oportunamente; no que
acidente. José e Maria não tinham outros filhos. O casal tinha se refere à decadência, a lei não prevê a referida ação regressiva.
uma fortuna de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais)
em aplicações financeiras, numa conta conjunta, valores acumu- 04. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Egídio
lados exclusivamente durante o período do casamento, sob o descobre que sua esposa Joana está com um câncer. Ao iniciar o
regime legal de bens (comunhão parcial). Os pais de José (Josefa tratamento, o plano de saúde de Joana se recusa a cobrir as des-
e João) e os pais de Maria (Ana e Paulo) ingressaram em juízo pesas, em razão da doença ser preexistente à contratação. Em
postulando seus direitos hereditários. Assinale a alternativa cor- razão disso, o casal coloca à venda um imóvel de propriedade do
reta. casal com valor de mercado de R$ 1.000.000,00 (um milhão de
(A) Os pais de Maria têm direito a 75% do valor da herança e os reais) por R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), visando
pais de José ao restante. obter, de forma rápida, valores necessários para o pagamento
(B) Os pais de José têm direito a 75% do valor da herança e os do tratamento de saúde de Joana. Raimundo, tomando ciência
pais de Maria ao restante. da oferta da venda do imóvel de Egídio e Joana, não tendo qual-
(C) A herança deve ser atribuída totalmente aos pais de José, quer intenção de auferir um ganho exagerado na compra e nem
nada cabendo aos pais de Maria. causar prejuízo aos vendedores, apenas aproveitando o que con-
(D) A herança deve ser atribuída totalmente aos pais de Maria, sidera um excelente negócio, compra o imóvel em 01.01.2015.
nada cabendo aos pais de José. Em 02.01.2018, Egídio e Joana ajuízam uma ação judicial contra
(E) Os pais de José e os pais de Maria têm direito, cada um de- Raimundo, na qual questionam a validade do negócio jurídico.
les, à metade da herança.
Assinale a alternativa correta.
02. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Joaquina (A) O negócio jurídico é anulável. Em razão da doença de Joana,
nasceu com o diagnóstico de síndrome de Down; aos 18 anos, o casal estava numa situação que os levou à conclusão de um
conheceu Raimundo e decidiu casar. Os pais de Joaquina decla- negócio jurídico eivado pelo vício da lesão que poderia ser de-
raram que somente autorizam o casamento se o mesmo for ce- cretada para restituir as partes à situação anterior, mas que não
lebrado sob o regime da separação convencional de bens, tendo poderá ser realizada em razão do decurso do prazo decadencial
em vista que a família é possuidora de uma grande fortuna e de 3 (três) anos.
Raimundo é de origem humilde. Joaquina, que tem plena capaci- (B) O negócio jurídico é anulável. Em razão da doença de Joa-
dade de comunicação, não aceitou a sugestão dos pais e deseja na, o casal estava numa situação que os levou à conclusão de
casar sob o regime legal (comunhão parcial de bens). Assinale a um negócio jurídico eivado pelo vício do estado de perigo que,
alternativa correta. entretanto, não pode ser reconhecido em razão do decurso do
(A) Para que possa casar sob o regime da comunhão parcial de prazo decadencial de 2 (dois) anos.
bens, deverá Joaquina ser submetida, mesmo contra sua von-
tade, ao procedimento de tomada de decisão apoiada.

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DIREITO CIVIL
(C) O negócio jurídico é válido e eficaz. Não há qualquer norma (C) cobrar de Paulo e André a totalidade da dívida, tendo em
que impeça um vendedor, por livre e espontânea vontade, de vista que ambos, reunidos, são considerados como um deve-
alienar um bem por valores abaixo dos praticados no mercado, dor solidário em relação aos demais devedores; porém, isola-
em razão do princípio da autonomia da vontade que prevalece, damente, somente podem ser demandados pelo valor corres-
principalmente no presente caso, onde não se verifica que uma pondente ao seu quinhão hereditário.
das partes seja hipossuficiente em relação à outra. (D) cobrar o valor da totalidade da dívida de José, Joaquim,
(D) O negócio jurídico é nulo de pleno direito por ilicitude do Paulo ou André, isolada ou conjuntamente, tendo em vista que,
objeto. Não existe uma contraprestação válida, tendo em vista o após o falecimento de Manuel, resultou numa obrigação soli-
valor da prestação, comparada ao preço real do bem adquirido, dária passiva com 4 (quatro) devedores.
bem como pela ausência de vontade válida, podendo a nulidade (E) cobrar de Paulo ou André, isoladamente, a importância de
ser declarada a qualquer tempo. R$ 100.000,00 (cem mil reais) tendo em vista que o quinhão
(E) O negócio jurídico é anulável. Em razão da doença de Joana, hereditário de Manuel é uma prestação indivisível em relação
o casal estava numa situação que os levou à conclusão de um aos herdeiros.
negócio jurídico eivado pelo vício da lesão que pode ser descons-
tituído; caso Raimundo concorde em suplementar o valor ante- 08. (PC/BA/2018 - Delegado de Polícia - VUNESP). De acor-
riormente pago, o negócio pode ser mantido. do com a disciplina constante do Código Civil acerca dos vícios
de vontade dos negócios jurídicos, assinale a alternativa correta.
05. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Sobre os (A) O erro de indicação da pessoa ou da coisa a que se referir
vícios redibitórios, assinale a alternativa correta. a declaração de vontade viciará o negócio, mesmo se, por seu
(A) O adquirente que já estava na posse do bem decai do direito contexto e pelas circunstâncias, for possível identificar a coisa
de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta ou pessoa cogitada.
dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel. (B) O silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato
(B) No caso de bens móveis, quando o vício, por sua natureza, ou qualidade que a outra parte haja ignorado, nos negócios ju-
só puder ser conhecido mais tarde, se ele aparecer em até 180 rídicos bilaterais, constitui omissão culposa, provando-se que,
dias, terá o comprador mais 30 dias para requerer a redibição ou sem ela, o negócio não teria sido celebrado, ou o seria de outro
abatimento no preço. modo.
(C) Somente existe o direito de obter a redibição se a coisa foi ad- (C) A coação, para viciar o negócio jurídico, deve incutir ao pa-
quirida em razão de contrato comutativo, não se aplicando aos ciente temor de dano iminente à sua pessoa, à sua família, aos
casos em que a aquisição decorreu de doação, mesmo onerosa. seus bens ou a terceiros, devendo ser levados em conta o sexo,
(D) O prazo para postular a redibição ou abatimento no preço, a idade, a condição, a saúde e, no temor referencial, o grau de
quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais parentesco.
tarde, somente começa a correr a partir do aparecimento do ví- (D) Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido
cio, o que pode ocorrer a qualquer tempo. da necessidade de salvar-se, ou a pessoa pertencente ou não à
(E) No caso de bens imóveis, quando o vício, por sua natureza, só sua família, de grave dano conhecido ou não pela outra parte,
puder ser conhecido mais tarde, o prazo é de um ano para que assume obrigação excessivamente onerosa.
o vício apareça, tendo o comprador, a partir disso, mais 180 dias (E) Se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favore-
para postular a redibição ou abatimento no preço. cida concordar com a redução do proveito, segundo os valores
vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico, não
06. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Maria vivia se decretará a anulação do negócio, nos casos de lesão.
em união estável com José, sob o regime da comunhão parcial de
bens. Este possuía dois filhos decorrentes de relacionamento an- 09. (PC/BA/2018 - Delegado de Polícia - VUNESP). A res-
terior e três filhos com Maria. José faleceu. Considerando a disci- peito da prescrição e decadência, assinale a alternativa correta.
plina constante do Código Civil, bem como o entendimento do STF (A) Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se
proferido em Repercussão Geral sobre o tema, podemos afirmar extingue pela prescrição; a exceção prescreve nos prazos pro-
que caberá a Maria, na sucessão dos bens particulares de José, cessuais previstos em lei especial, não havendo coincidência
(A) um sexto da herança. com os prazos da pretensão, em razão da sua disciplina própria.
(B) um terço da herança. (B) A renúncia à prescrição pode ser expressa ou tácita, e só va-
(C) metade do que couber a cada um dos filhos de José. lerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, antes de a prescrição
(D) um quarto da herança. se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos
(E) metade da herança. do interessado, incompatíveis com a prescrição.
(C) Os prazos de prescrição podem ser alterados por acordo
07. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). João das partes; a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de
emprestou a José, Joaquim e Manuel o valor de R$ 300.000,00 jurisdição pela parte a quem aproveita e, iniciada contra uma
(trezentos mil reais); foi previsto no instrumento contratual a pessoa, continua a correr contra o seu sucessor.
solidariedade passiva. Manuel faleceu, deixando dois herdeiros, (D) A interrupção da prescrição pode se dar por qualquer inte-
Paulo e André. É possível afirmar que João poderá ressado, somente poderá ocorrer uma vez e, após interrompi-
(A) cobrar de Paulo e André, reunidos, somente até o valor da da, recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do
parte relativa a Manuel, ou seja, R$ 100.000,00 (cem mil reais), último ato do processo para a interromper.
tendo em vista que o falecimento de um dos devedores extin- (E) Não corre a prescrição entre os cônjuges e/ou companhei-
gue a solidariedade em relação aos herdeiros do falecido. ros, na constância da sociedade conjugal, entre ascendentes e
(B) cobrar a totalidade da dívida somente se acionar conjunta- descendentes, durante o poder familiar, bem como contra os
mente todos os devedores, tendo em vista que o falecimento relativamente incapazes.
de um dos devedores solidários ocasiona a extinção da solida-
riedade em relação a toda a obrigação.

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DIREITO CIVIL
10. (PC/BA/2018 - Delegado de Polícia - VUNESP). Com re- (C) Tanto a cláusula resolutiva tácita quanto a expressa depen-
lação à posse, assinale a alternativa correta. dem de interpelação judicial.
(A) A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, (D) Nos contratos bilaterais, não é permitida a alegação de
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não exceptio non adimpleti contractus caso um dos contratantes,
anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possui- antes de cumprida a sua obrigação, exija o implemento da obri-
dor direto defender a sua posse contra o possuidor indireto. gação do outro.
(B) Tendo em vista que a posse somente é defendida por ser (E) Nos contratos por execução continuada, a resolução por
um indício de propriedade, obsta à manutenção ou reintegra- onerosidade excessiva só poderá ser alegada em casos de ex-
ção na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito trema vantagem para uma das partes, decorrentes de eventos
sobre a coisa. previsíveis.
(C) Não autorizam a aquisição da posse justa os atos violentos,
senão depois de cessar a violência; entretanto, se a coisa obti- 13. (Prefeitura de Bauru/SP/2018 - Procurador Jurídico -
da por violência for transferida, o adquirente terá posse justa e VUNESP). Mandato ocorre quando alguém recebe de outrem
de boa-fé, mesmo ciente da violência anteriormente praticada. poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar inte-
(D) É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obs- resses. A respeito do mandato, assinale a alternativa correta.
táculo que impede a aquisição da coisa. O possuidor com justo (A) O mandato, por ser um contrato, pode ser verbal ou escrito,
título tem por si a presunção de boa-fé, mesmo após a ciência mas não tácito.
inequívoca que possui indevidamente. (B) O mandato presume-se oneroso, devendo o próprio instru-
(E) O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou mento prever o valor e a forma de remuneração.
restituir-se por sua própria força, a qualquer tempo; os atos de (C) O mandato pode ser outorgado por instrumento público ou
defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à particular. Em ambos os casos, pode substabelecer-se median-
manutenção, ou restituição da posse. te instrumento particular.
(D) Os atos praticados por quem não tenha o mandato são ine-
11. (PC/BA/2018 - Delegado de Polícia - VUNESP). A respei- ficazes, não sendo possível a ratificação pelo mandante.
to da responsabilidade civil, assinale a alternativa correta. (E) A aceitação do mandato deve ser expressa e por escrito.
(A) A indenização mede-se pela extensão do dano, não poden-
do ser reduzida pelo juiz, mesmo na existência de excessiva 14. (Prefeitura de Bauru/SP/2018 - Procurador Jurídico -
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano; se a vítima VUNESP). Sobre o direito real de servidão, assinale a alternativa
tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua in- correta.
denização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua (A) A servidão não pode ser removida de um local para outro,
culpa em confronto com a do autor do dano. por se tratar de direito real relativo ao imóvel.
(B) A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no (B) Uma das hipóteses de extinção da servidão é pela morte do
pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido; titular do prédio serviente.
se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao (C) A servidão predial, em regra, é automaticamente dividida
juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na confor- em caso de divisão dos imóveis, devendo apenas posterior-
midade das circunstâncias do caso; considera-se ofensiva da mente ser levada a registro.
liberdade pessoal a denúncia falsa e de má-fé. (D) O dono do prédio serviente é obrigado a sofrer a imposi-
(C) No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir ção de maior largueza à servidão no caso de necessidade da
outras reparações, no pagamento das despesas com o trata- indústria do prédio dominante, mas tem direito a ser indeniza-
mento da vítima, seu funeral e o luto da família e na prestação do pelo excesso.
de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se (E) Quando constituída para certo fim, pode se ampliar para
em conta a duração provável da vida do alimentado. outro, desde que com o pagamento das despesas e indeniza-
(D) No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor in- ção correspondente.
denizará o ofendido das despesas do tratamento e dos danos
emergentes, além de algum outro prejuízo que o ofendido pro- 15. (Prefeitura de Bauru/SP/2018 - Procurador Jurídico - VU-
ve haver sofrido, não sendo devidos lucros cessantes. NESP). Ana contraiu um empréstimo no valor de quarenta mil reais
(E) Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não pos- com o Banco Z. Após o pagamento de duas parcelas, no valor de
sa exercer o seu ofício ou profissão, a indenização, além das cinco mil reais cada, não conseguiu realizar o pagamento das de-
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da con- mais. Antes que o Banco Z buscasse judicialmente o cumprimen-
valescença, incluirá pensão correspondente à importância do
to da obrigação, Ana transferiu seu carro, único bem que possuía
trabalho para que se inabilitou, não podendo a indenização ser
em seu nome, à sua tia, que sabia de toda sua situação financeira.
arbitrada e paga de uma só vez.
Diante do caso hipotético, assinale a alternativa que corresponde
ao defeito do negócio jurídico e ao respectivo prazo de decadência.
12. (Prefeitura de Bauru/SP/2018 - Procurador Jurídico -
(A) Dolo; prazo de decadência de quatro anos, contados da
VUNESP). Sobre a extinção dos contratos, assinale a alternativa
data em que Ana contraiu o empréstimo.
correta.
(B) Fraude contra credores; prazo de decadência de quatro
(A) Para os casos de distrato, não há que se falar em atendi-
anos, contados da data em que Ana transferiu o seu carro.
mento ao princípio do paralelismo entre as formas.
(C) Coação; prazo de decadência de cinco anos, contados da
(B) No caso de um contrato em que houve investimentos consi-
data em que cessar a coação de Ana em sua tia.
deráveis por uma das partes, a denúncia unilateral só produzirá
(D) Simulação; prazo de decadência de quatro anos, contados
efeitos após o transcurso de prazo compatível com a natureza e
da data em que Ana transferir o carro para o seu nome.
valor dos investimentos.
(E) Estado de perigo; prazo de decadência de quatro anos, con-
tados da data em que cessar a dívida de Ana.

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DIREITO CIVIL
16. (PauliPrev/SP/2018 - Procurador Autárquico - VUNESP). (A) Cada um dos irmãos germanos receberá R$ 100.000,00 (cem
Pedro é dono de um laticínio que fornecia queijos para o res- mil reais), o irmão unilateral receberá R$ 50.000,00 (cinquenta
taurante de Paulo. Um certo dia, Paulo encomendou duzentos mil reais) e o sobrinho R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
quilos de queijo para a realização de um grande casamento, mas (B) Cada um dos irmãos e o tio materno receberão, respectiva-
Pedro não realizou a entrega. Paulo, dois anos após o incidente, mente, R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais).
ajuizou ação de reparação de danos materiais e morais contra (C) Cada um dos irmãos receberá um quinhão de R$ 100.000,00
Pedro, alegando o enriquecimento sem causa e exigindo a re- (cem mil reais).
paração civil dos danos experimentados. Após análise do caso (D) Cada um dos irmãos germanos receberá R$ 100.000,00 (cem
hipotético, é correto afirmar que a pretensão de Paulo mil reais), o irmão unilateral receberá R$ 50.000,00 (cinquenta
(A) está prescrita, considerando que o prazo para ressarcimen- mil reais), o tio materno e o sobrinho receberão, respectivamen-
to de enriquecimento sem causa é de um ano. te, R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) cada um.
(B) não está prescrita, considerando que o prazo para ressarci-
mento de enriquecimento sem causa é de cinco anos. 20. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Regis-
(C) está prescrita, mas o prazo pode ser alterado por acordo tros/Provimento - VUNESP). No que concerne à deserdação e à
entre as partes. exclusão por indignidade, é correto afirmar:
(D) não está prescrita, considerando que o prazo para ressarci- (A) na exclusão por indignidade, os fatos que a fundamentam
mento de enriquecimento sem causa é de três anos. não podem ser posteriores à morte do autor da herança.
(E) não será conhecida em juízo, considerando a extinção do (B) se a deserdação não se concretizar por ser nulo o testamen-
direito pelo decurso do tempo. to que a contempla, e a causa invocada pelo testador for cau-
sa também de exclusão por indignidade, poderá ser proposta
17. (PauliPrev/SP/2018 - Procurador Autárquico - VUNESP). ação para exclusão do herdeiro indigno.
Dois moradores da cidade de Paulínia firmaram um contrato (C) a deserdação e a exclusão por indignidade atingem herdei-
preliminar de compromisso de compra e venda de um imóvel si- ros necessários e testamentários.
tuado no centro da cidade. Sobre esse tipo de contrato, assinale (D) todos os motivos que ensejam a deserdação configuram
a alternativa correta. causas que servem de fundamento para a exclusão por indig-
(A) Os contratos preliminares devem ter todos os requisitos es- nidade.
senciais do contrato a ser celebrado, inclusive quanto à forma.
(B) Concluído o contrato preliminar, qualquer das partes tem 21. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Regis-
o direito de exigir a celebração do contrato definitivo no prazo tros/Provimento - VUNESP). Em relação à imissão provisória de
legal de trinta dias. posse em processo de desapropriação judicial, assinale a alter-
(C) O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao nativa correta.
registro do compromisso de compra e venda no cartório de (A) Por se tratar de ato de transmissão de posse e não de pro-
imóveis priedade, a mesma não poderá ser objeto de registro, mas tão
(D) É vedada a inclusão de cláusula de arrependimento nos somente de averbação.
contratos preliminares. (B) Por ser ato meramente processual, não há previsão de in-
(E) Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, gresso no registro.
poderá a outra parte considerá-lo desfeito, não sendo possível (C) Quando houver expressa concordância do expropriado, ela
o pedido de perdas e danos. pode ser registrada na matrícula, como aquisição do domínio
pelo expropriante, mesmo em caso de contestação do valor
18. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Regis- ofertado como indenização.
tros/Provimento - VUNESP). A substituição compendiosa é (D) Somente quando se tratar de implementação de projetos
(A) a concorrência da substituição ordinária e da substituição habitacionais ou de regularização fundiária, em área urbana
recíproca. ou de expansão urbana, poderão ser unificados dois ou mais
(B) aquela em que o testador determina que certa parte de seu imóveis, mesmo quando imitidos em favor do expropriante em
patrimônio ou um ou mais bens dele destacado fiquem sob a processos distintos; todavia, a unificação não poderá abranger
confiança de um herdeiro instituído, sobre o qual pesará a obri- imóvel contíguo, cuja propriedade já tenha sido adquirida pelo
gação de transmitir o conteúdo da deixa testamentária a um mesmo expropriante.
outro herdeiro ou legatário.
(C) aquela em que o testador designa vários substitutos simul- 22. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Regis-
tâneos ao herdeiro instituído. tros/Provimento - VUNESP). A propósito da conversão da união
(D) a concorrência da substituição vulgar e da substituição fi- estável em casamento, assinale a alternativa correta.
deicomissária. (A) A união estável poderá converter-se em casamento median-
te pedido dos companheiros ao Juiz Corregedor Permanente,
19. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Regis- independentemente de prévia habilitação para o casamento.
tros/Provimento - VUNESP). Pompeu era solteiro, não vivia em (B) Não se admite, para fins de registro, a conversão de união
união estável e faleceu sem deixar ascendentes ou descenden- estável em casamento de pessoas do mesmo sexo.
tes e testamento. Entretanto, deixou um tio materno, dois ir- (C) O processo de habilitação se desenvolve sob o mesmo rito
mãos germanos, um irmão unilateral e um sobrinho - filho de um previsto para o casamento, devendo constar dos editais que se
irmão unilateral premorto. O acervo hereditário corresponde ao trata de conversão, seguindo-se a lavratura do respectivo assen-
montante em pecúnia de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). to independentemente de autorização do Juiz Corregedor Per-
manente, prescindindo o registro da celebração do matrimônio.
Nesse caso, assinale a alternativa correta referente à divisão do
(D) O assento de conversão da união estável em casamento será
acervo hereditário.
lavrado imediatamente após a celebração do matrimônio, com
expressa indicação da data do início de seu estabelecimento.

30
DIREITO CIVIL
23. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Regis-
tros/Provimento - VUNESP). A presunção de paternidade dos fi- GABARITO
lhos concebidos na constância do casamento, prevista no artigo
1.597 do Código Civil,
(A) tem caráter absoluto em relação ao pai e relativo em rela- 1 D
ção a terceiros.
(B) configura-se para os havidos a qualquer tempo, quando se 2 B
tratar de embriões excedentários decorrentes de concepção 3 A
artificial heteróloga.
4 E
(C) é estabelecida para os havidos por fecundação artificial ho-
móloga, mesmo que falecido o marido. 5 B
(D) é estabelecida para os havidos por inseminação artificial 6 A
heteróloga, desde que haja prévia autorização do marido e
mediante comprovação de que esse seja incapaz de procriar. 7 C
8 E
24. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Regis- 9 D
tros/Provimento - VUNESP). O ato da criação de uma obrigação
com a finalidade de extinguir uma obrigação antiga encerra: 10 A
(A) Novação. 11 B
(B) Transação. 12 B
(C) Imputação em pagamento.
(D) Compensação. 13 C
14 D
25. (IPSM/2018 – Procurador – VUNESP). José, funcioná- 15 B
rio público, casou-se com Maria em 2015. Entretanto, ambos
tinham uma relação tumultuada, razão pela qual José saiu de 16 D
casa no mês de dezembro do ano de 2016 e foi morar em outro 17 C
imóvel alugado, não tendo se divorciado. O casal não teve filhos. 18 D
Em janeiro de 2017 José conheceu Paulo e Renata, irmãos, e ini-
ciou, concomitantemente, uma relação amorosa com ambos, 19 A
pública e notória. José faleceu em outubro de 2017 em razão de 20 B
um infarto fulminante, em sua residência, onde morava sozinho. 21 C
Nesse caso hipotético, a pensão
(A) por morte não será paga nem a Maria e nem a Renata e/ou 22 C
Paulo. Houve a dissolução do vínculo conjugal existente entre 23 C
Maria e José, em razão do abandono do lar. A união homoafeti- 24 A
va não é reconhecida para fins previdenciários. Como não havia
coabitação, Renata não ostentava a condição de companheira 25 C
de José.
(B) por morte deverá ser paga a Renata e Paulo. Pela atual disci-
plina constitucional, havendo a separação de fato, independen-
temente do prazo, considera-se imediatamente extinto o vín- ANOTAÇÕES
culo conjugal. Não há impedimentos legais ao reconhecimento
de uniões estáveis poliafetivas para fins previdenciários.
(C) por morte deverá ser paga exclusivamente a Maria, que ______________________________________________________
ostentava a condição legal de cônjuge de José. Mesmo com o
abandono do lar, não houve dissolução do vínculo conjugal. Re- ______________________________________________________
nata e Paulo ostentam a condição de concubinos de José, não
tendo, assim direitos previdenciários. ______________________________________________________
(D) somente poderá ser paga a Renata e Paulo. Entretanto, am-
bos devem, preliminarmente, obter o reconhecimento judicial
______________________________________________________
da existência de uma sociedade de fato com José, configurada
pela confusão patrimonial e rateio de despesas comuns. Tal
ação deverá correr perante a Vara Cível. ______________________________________________________
(E) será paga exclusivamente a Renata. O vínculo conjugal com
Maria estava dissolvido pelo abandono do lar. A união homo- ______________________________________________________
afetiva não é prevista na Constituição Federal e leis civis, não
podendo, assim, ser reconhecida para fins previdenciários. A ______________________________________________________
inexistência de coabitação não impede o reconhecimento da
união estável. ______________________________________________________

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31
DIREITO CIVIL

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32
DIREITO CONSTITUCIONAL
1. Conceito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Princípios Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
3. Direitos E Garantias Fundamentais. Direitos Individuais. Direitos Coletivos. Direitos Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
4. O Estado. Conceito. Elementos Que Compõem O Estado. Finalidade Do Estado. Organização Do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
5. Funções Essenciais À Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
6. Da Defesa Do Estado E Das Instituições Democráticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
DIREITO CONSTITUCIONAL
Constituição no sentido político
CONCEITO Carl Schmitt2 propõe que o conceito de Constituição não
está na Constituição em si, mas nas decisões políticas tomadas
O Direito Constitucional é ramo complexo e essencial ao ju- antes de sua elaboração. Sendo assim, o conceito de Constitui-
rista no exercício de suas funções, afinal, a partir dele que se ção será estruturado por fatores como o regime de governo e
delineia toda a estrutura do ordenamento jurídico nacional. a forma de Estado vigentes no momento de elaboração da lei
Embora, para o operador do Direito brasileiro, a Constitui- maior. A Constituição é o produto de uma decisão política e va-
ção Federal de 1988 seja o aspecto fundamental do estudo do riará conforme o modelo político à época de sua elaboração.
Direito Constitucional, impossível compreendê-la sem antes si-
tuar a referida Carta Magna na teoria do constitucionalismo. Constituição no sentido material
A origem do direito constitucional está num movimento de- Pelo conceito material de Constituição, o que define se uma
nominado constitucionalismo. norma será ou não constitucional é o seu conteúdo e não a sua
Constitucionalismo é o movimento político-social pelo qual mera presença no texto da Carta Magna. Em outras palavras,
se delineia a noção de que o Poder Estatal deve ser limitado, que determinadas normas, por sua natureza, possuem caráter cons-
evoluiu para um movimento jurídico defensor da imposição de titucional. Afinal, classicamente a Constituição serve para limi-
normas escritas de caráter hierárquico superior que deveriam tar e definir questões estruturais relativas ao Estado e aos seus
regular esta limitação de poder. governantes.
A ideologia de que o Poder Estatal não pode ser arbitrário Pelo conceito material de Constituição, não importa a manei-
fundamenta a noção de norma no ápice do ordenamento jurídi- ra como a norma foi inserida no ordenamento jurídico, mas sim o
co, regulamentando a atuação do Estado em todas suas esferas. seu conteúdo. Por exemplo, a lei da ficha limpa – Lei Complemen-
Sendo assim, inaceitável a ideia de que um homem, o governan- tar nº 135/2010 – foi inserida no ordenamento na forma de lei
te, pode ser maior que o Estado. complementar, não de emenda constitucional, mas tem por fina-
O objeto do direito constitucional é a Constituição, notada- lidade regular questões de inelegibilidade, decorrendo do §9º do
mente, a estruturação do Estado, o estabelecimento dos limites artigo 14 da Constituição Federal. A inelegibilidade de uma pessoa
de sua atuação, como os direitos fundamentais, e a previsão de influencia no fator sufrágio universal, que é um direito político,
logo, um direito fundamental. A Lei da Ficha Limpa, embora pre-
normas relacionadas à ideologia da ordem econômica e social.
vista como lei complementar, na verdade regula o que na Cons-
Este objeto se relaciona ao conceito material de Constituição.
tituição seria chamado de elemento limitativo. Para o conceito
No entanto, há uma tendência pela ampliação do objeto de
material de Constituição, trata-se de norma constitucional.
estudo do Direito Constitucional, notadamente em países que
Pelo conceito material de Constituição, não importa a ma-
adotam uma Constituição analítica como o Brasil.
neira como a norma foi inserida no ordenamento jurídico, mas
sim o seu conteúdo. Por exemplo, a lei da ficha limpa – Lei Com-
Conceito de Constituição
plementar nº 135/2010 – foi inserida no ordenamento na forma
É delicado definir o que é uma Constituição, pois de forma
de lei complementar, não de emenda constitucional, mas tem
pacífica a doutrina compreende que este conceito pode ser vis-
por finalidade regular questões de inelegibilidade, decorrendo
to sob diversas perspectivas. Sendo assim, Constituição é muito do §9º do artigo 14 da Constituição Federal. A inelegibilidade
mais do que um documento escrito que fica no ápice do orde- de uma pessoa influencia no fator sufrágio universal, que é um
namento jurídico nacional estabelecendo normas de limitação e direito político, logo, um direito fundamental. A Lei da Ficha
organização do Estado, mas tem um significado intrínseco socio- Limpa, embora prevista como lei complementar, na verdade re-
lógico, político, cultural e econômico. gula o que na Constituição seria chamado de elemento limitati-
vo. Para o conceito material de Constituição, trata-se de norma
Constituição no sentido sociológico constitucional.
O sentido sociológico de Constituição foi definido por Ferdi-
nand Lassale, segundo o qual toda Constituição que é elaborada Constituição no sentido formal
tem como perspectiva os fatores reais de poder na sociedade. Como visto, o conceito de Constituição material pode abran-
Neste sentido, aponta Lassale1: “Colhem-se estes fatores reais ger normas que estejam fora do texto constitucional devido ao
de poder, registram-se em uma folha de papel, [...] e, a partir conteúdo delas. Por outro lado, Constituição no sentido formal é
desse momento, incorporados a um papel, já não são simples definida exclusivamente pelo modo como a norma é inserida no
fatores reais do poder, mas que se erigiram em direito, em ins- ordenamento jurídico, isto é, tudo o que constar na Constituição
tituições jurídicas, e quem atentar contra eles atentará contra Federal em sua redação originária ou for inserido posteriormen-
a lei e será castigado”. Logo, a Constituição, antes de ser nor- te por emenda constitucional é norma constitucional, indepen-
ma positivada, tem seu conteúdo delimitado por aqueles que dentemente do conteúdo.
possuem uma parcela real de poder na sociedade. Claro que o Neste sentido, é possível que uma norma sem caráter ma-
texto constitucional não explicitamente trará estes fatores reais terialmente constitucional, seja formalmente constitucional,
de poder, mas eles podem ser depreendidos ao se observar fa- apenas por estar inserida no texto da Constituição Federal. Por
vorecimentos implícitos no texto constitucional. exemplo, o artigo 242, §2º da CF prevê que “o Colégio Pedro II,
localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita
federal”. Ora, evidente que uma norma que trata de um colégio
não se insere nem em elementos organizacionais, nem limitati-
vos e nem socioideológicos. Trata-se de norma constitucional no
sentido formal, mas não no sentido material.
1 LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. 6. ed. Rio de Janei- 2 SCHMITT, Carl. Teoría de La Constitución. Presentación de Francisco
ro: Lumen Juris, 2001. Ayala. 1. ed. Madrid: Alianza Universidad Textos, 2003.

1
DIREITO CONSTITUCIONAL
Considerados os exemplos da Lei da Ficha Limpa e do Co- c) Sistema de governo – delimita como se dá a relação entre
légio Pedro II, pode-se afirmar que na Constituição Federal de Poder Executivo e Poder Legislativo no exercício das funções do
1988 e no sistema jurídico brasileiro como um todo não há per- Estado, como maior ou menor independência e colaboração en-
feita correspondência entre regras materialmente constitucio- tre eles. Pode ser Parlamentarismo ou Presidencialismo, sendo
nais e formalmente constitucionais. que o Brasil adota o Presidencialismo.
d) Regime político – delimita como se dá a aquisição de po-
Constituição no sentido jurídico der, como o governante se ascende ao Poder. Se houver legiti-
Hans Kelsen representa o sentido conceitual jurídico de mação popular, há Democracia, se houver imposição em detri-
Constituição alocando-a no mundo do dever ser. mento do povo, há Autocracia.
Ao tratar do dever ser, Kelsen3 argumentou que somente
existe quando uma conduta é considerada objetivamente obri- Elementos Limitativos
gatória e, caso este agir do dever ser se torne subjetivamente A função primordial da Constituição não é apenas definir e
obrigatório, surge o costume, que pode gerar a produção de estruturar o Estado e o governo, mas também estabelecer limi-
normas morais ou jurídicas; contudo, somente é possível impor tes à atuação do Estado. Neste sentido, não poderá fazer tudo o
objetivamente uma conduta por meio do Direito, isto é, a lei que que bem entender, se sujeitando a determinados limites.
estabelece o dever ser. As normas de direitos fundamentais – categoria que abran-
Sobre a validade objetiva desta norma de dever ser, Kelsen4 ge direitos individuais, direitos políticos, direitos sociais e direi-
entendeu que é preciso uma correspondência mínima entre tos coletivos – formam o principal fator limitador do Poder do
a conduta humana e a norma jurídica imposta, logo, para ser Estado, afinal, estabelecem até onde e em que medida o Estado
vigente é preciso ser eficaz numa certa medida, considerando poderá interferir na vida do indivíduo.
eficaz a norma que é aceita pelos indivíduos de tal forma que
seja pouco violada. Trata-se de noção relacionada à de norma Elementos Socioideológicos
fundamental hipotética, presente no plano lógico-jurídico, fun- Os elementos socioideológicos de uma Constituição são
damento lógico-transcendental da validade da Constituição ju- aqueles que trazem a principiologia da ordem econômica e so-
rídico-positiva. cial.
No entanto, o que realmente confere validade é o posicio-
namento desta norma de dever ser na ordem jurídica e a quali- Ciclos constitucionais: o movimento do constitucionalismo
dade desta de, por sua posição hierarquicamente superior, es-
truturar todo o sistema jurídico, no qual não se aceitam lacunas. Constitucionalismo é o movimento político-social pelo qual
Kelsen5 definiu o Direito como ordem, ou seja, como um se delineia a noção de que o Poder Estatal deve ser limitado, que
sistema de normas com o mesmo fundamento de validade – a evoluiu para um movimento jurídico defensor da imposição de
existência de uma norma fundamental. Não importa qual seja normas escritas de caráter hierárquico superior que deveriam
o conteúdo desta norma fundamental, ainda assim ela confe- regular esta limitação de poder.
rirá validade à norma inferior com ela compatível.Esta norma A ideologia de que o Poder Estatal não pode ser arbitrário
fundamental que confere fundamento de validade a uma ordem fundamenta a noção de norma no ápice do ordenamento jurídi-
jurídica é a Constituição. co, regulamentando a atuação do Estado em todas suas esferas.
Pelo conceito jurídico de Constituição, denota-se a presença Sendo assim, inaceitável a ideia de que um homem, o governan-
de um escalonamento de normas no ordenamento jurídico, sen- te, pode ser maior que o Estado.
do que a Constituição fica no ápice desta pirâmide.
Lei natural como primeiro limitador do arbítrio estatal
Elementos da Constituição A ideia de limitação do arbítrio estatal, em termos teóricos,
Outra noção relevante é a dos elementos da Constituição. começa a ser delineada muito antes do combate ao absolutis-
Basicamente, qualquer norma que se enquadre em um dos se- mo renascentista em si. Neste sentido, remonta-se à literatura
guintes elementos é constitucional: grega. Na obra do filósofo Sófocles6 intitulada Antígona, a per-
sonagem se vê em conflito entre seguir o que é justo pela lei dos
Elementos Orgânicos homens em detrimento do que é justo por natureza quando o
Referem-se ao cerne organizacional do Estado, notadamen- rei Creonte impõe que o corpo de seu irmão não seja enterrado
te no que tange a: porque havia lutado contra o país. Neste sentido, a personagem
a) Forma de governo – Como se dá a relação de poder entre Antígona defende, ao ser questionada sobre o descumprimento
governantes e governados. Se há eletividade e temporariedade da ordem do rei: “sim, pois não foi decisão de Zeus; e a Justiça,
de mandato, tem-se a forma da República, se há vitaliciedade e a deusa que habita com as divindades subterrâneas, jamais es-
hereditariedade, tem-se Monarquia. tabeleceu tal decreto entre os humanos; tampouco acredito que
b) Forma de Estado – delimita se o poder será exercido de tua proclamação tenha legitimidade para conferir a um mortal
forma centralizada numa unidade (União), o chamado Estado o poder de infringir as leis divinas, nunca escritas, porém irre-
Unitário, ou descentralizada entre demais entes federativos vogáveis; não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eter-
(União e Estados, classicamente), no denominado Estado Fede- nas, sim! E ninguém pode dizer desde quando vigoram! Decretos
ral. O Brasil adota a forma Federal de Estado. como o que proclamaste, eu, que não temo o poder de homem
algum, posso violar sem merecer a punição dos deuses! [...]”.
3 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6. ed. Tradução João Baptista
Em termos de discussão filosófica, muito se falou a respeito do
Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 08-10. Direito Natural, limitador do arbítrio estatal, antes da ascensão
4 Ibid., p. 12. 6 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean Melville. São Paulo:
5 Ibid., p. 33. Martin Claret, 2003, p. 96.

2
DIREITO CONSTITUCIONAL
do absolutismo. Desde a filosofia grega clássica, passando pela dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justificam os
construção da civilização romana com o pensamento de Cícero, meios. Portanto, se um príncipe pretende conquistar e manter
culminando no pensamento da Idade Média fundado no cris- o poder, os meios que empregue serão sempre tidos como hon-
tianismo, notadamente pelo pensamento de Santo Agostinho e rosos, e elogiados por todos, pois o vulgo atenta sempre para as
Santo Tomás de Aquino. No geral, compreende-se a existência aparências e os resultados”.
de normas transcendentais que não precisam ser escritas para Os monarcas dos séculos XVI, XVII e XVIII agiam de forma
que devam ser consideradas existentes e, mais do que isso, con- autocrática, baseados na teoria política desenvolvida até então
solida-se a premissa de que norma escrita contrária à lei natural que negava a exigência do respeito ao Direito Natural no espaço
não poderia ser norma válida. público. Somente num momento histórico posterior se permitiu
“A estes princípios, que são dados e não postos por conven- algum resgate da aproximação entre a Moral e o Direito, qual
ção, os homens têm acesso através da razão comum a todos, e seja o da Revolução Intelectual dos séculos XVII e XVIII, com o
são estes princípios que permitem qualificar as condutas huma- movimento do Iluminismo, que conferiu alicerce para as Revolu-
nas como boas ou más – uma qualificação que promove uma ções Francesa e Industrial – ainda assim a visão antropocentrista
contínua vinulação entre norma e valor e, portanto, entre Di- permaneceu, mas começou a se consolidar a ideia de que não
reito e Moral”7. Sendo assim, pela concepção de Direito Natural era possível que o soberano impusesse tudo incondicionalmente
se funda o primeiro elemento axiológico do constitucionalismo, aos seus súditos.
que é a limitação do arbítrio estatal.
Iluminismo e o pensamento contratualista
Ascensão do absolutismo O Iluminismo lançou base para os principais eventos que
As origens históricas do constitucionalismo remetem-se à ocorreram no início da Idade Contemporânea, quais sejam as
negação do absolutismo, ao enfrentamento da ideia de que o Revoluções Francesa, Americana e Industrial. Tiveram origem
rei, soberano, tudo poderia fazer quanto aos seus súditos. nestes movimentos todos os principais fatos do século XIX e do
No processo de ascensão do absolutismo europeu, a monar- início do século XX, por exemplo, a disseminação do liberalismo
quia da Inglaterra encontrou obstáculos para se estabelecer no burguês, o declínio das aristocracias fundiárias e o desenvolvi-
início do século XIII, sofrendo um revés. Ao se tratar da forma- mento da consciência de classe entre os trabalhadores9.
ção da monarquia inglesa, em 1215 os barões feudais ingleses, Jonh Locke (1632 D.C. - 1704 D.C.) foi um dos pensadores da
em uma reação às pesadas taxas impostas pelo Rei João Sem- época, transportando o racionalismo para a política, refutando
-Terra, impuseram-lhe a Magna Carta. Referido documento, em o Estado Absolutista, idealizando o direito de rebelião da socie-
sua abertura, expõe a noção de concessão do rei aos súditos, dade civil e afirmando que o contrato entre os homens não reti-
estabelece a existência de uma hierarquia social sem conceder raria o seu estado de liberdade. Ao lado dele, pode ser colocado
poder absoluto ao soberano, prevê limites à imposição de tri- Montesquieu (1689 D.C. - 1755 D.C.), que avançou nos estudos
butos e ao confisco, constitui privilégios à burguesia e traz pro- de Locke e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em definitivo
cedimentos de julgamento ao prever conceitos como o de devi- a clássica divisão de poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
do processo legal, habeas corpus e júri. A Magna Carta de 1215 Por fim, merece menção o pensador Rousseau (1712 D.C. - 1778
instituiu ainda um Grande Conselho que foi o embrião para o D.C.), defendendo que o homem é naturalmente bom e formu-
Parlamento inglês, embora isto não signifique que o poder do lando na obra O Contrato Social a teoria da vontade geral, aceita
rei não tenha sido absoluto em certos momentos, como na di- pela pequena burguesia e pelas camadas populares face ao seu
nastia Tudor. Havia um absolutismo de fato, mas não de Direito. caráter democrático. Enfim, estes três contratualistas trouxe-
Com efeito, em termos documentais, a Magna Carta de 1215 já ram em suas obras as ideias centrais das Revoluções Francesa
indicava uma ideia contemporânea de constitucionalismo que e Americana. Em comum, defendiam que o Estado era um mal
viria a surgir – a de norma escrita com fulcro de limitadora do necessário, mas que o soberano não possuía poder divino/ab-
Poder Estatal. soluto, sendo suas ações limitadas pelos direitos dos cidadãos
Em geral, o absolutismo europeu foi marcado profunda- submetidos ao regime estatal. No entanto, Rousseau era o pen-
mente pelo antropocentrismo, colocando o homem no centro sador que mais se diferenciava dos dois anteriores, que eram
do universo, ocupando o espaço de Deus. Naturalmente, as pre- mais individualistas e trouxeram os principais fundamentos do
missas da lei natural passaram a ser questionadas, já que geral- Estado Liberal, porque defendia a entrega do poder a quem re-
mente se associavam à dimensão do divino. A negação plena da almente estivesse legitimado para exercê-lo, pensamento que
existência de direitos inatos ao homem implicava em conferir mais se aproxima da atual concepção de democracia.
um poder irrestrito ao soberano, o que gerou consequências Com efeito, o texto constitucional tem a aptidão de exte-
que desagradavam a burguesia. Não obstante, falava-se em Di- riorizar, dogmatizar, este contrato social celebrado entre a so-
reito Natural do soberano de fazer o que bem entendesse, por ciedade e o Estado. Neste sentido, a Declaração Francesa dos
sua herança divina do poder. Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 foi o primeiro passo
O príncipe, obra de Maquiavel (1469 D.C. - 1527 D.C.) con- escrito para o estabelecimento de uma Constituição Escrita na
siderada um marco para o pensamento absolutista, relata com França, datada de 1791; ao passo que a Constituição dos Estados
precisão este contexto no qual o poder do soberano poderia se Unidos da América foi estabelecida em 1787, estando até hoje
sobrepor a qualquer direito alegadamente inato ao ser huma- vigente com poucas emendas, notadamente por se tratar de tex-
no desde que sua atitude garantisse a manutenção do poder. to sintético com apenas 7 artigos.
Maquiavel8 considera “na conduta dos homens, especialmente
7 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com
o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das Letras, 2009, p. 16. 9 BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: do homem
8 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro Nassetti. São Pau- das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Atualização Robert E. Lerner e
lo: Martin Claret, 2007, p. 111. Standisch Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.

3
DIREITO CONSTITUCIONAL
Rumos do constitucionalismo Mantém o Estado presidencialista, republicano, federal e
A partir dos mencionados eventos históricos, o constitucio- laico. A alteração mais sensível quanto à Constituição anterior
nalismo alçou novos rumos. Hoje, é visto não apenas como fator consistiu na instauração do constitucionalismo social, garantin-
de limitação do Poder Estatal, mas como verdadeiro vetor social do expressamente os direitos fundamentais de segunda dimen-
que guia à efetivação de direitos e garantias fundamentais e que são ao criar a Justiça do Trabalho, colacionar os direitos sociais e
busca a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. assegurar a educação fundamental gratuita, bem como estabe-
lecendo o direito de voto da mulher.
Histórico das Constituições Brasileiras
Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 10 de novem-
Constituição Política do Império do Brasil de 25 de março bro de 1937
de 1824 Sob o argumento de que um golpe comunista estaria se
Trata-se do texto constitucional outorgado pelo imperador infiltrando no país (plano Cohen), Getúlio Vargas ab-rogou a
Dom Pedro I após a independência brasileira em 07 de setembro Constituição de 1934 e outorgou a Carta de 1937. Sendo assim,
de 1822. Inicialmente, o imperador havia chamado os represen- trata-se de Constituição outorgada, fruto da concepção ideoló-
tantes da província para discutirem o seu texto, mas dissolveu a gica totalitária do integralismo. Esta Constituição foi apelidada
Assembleia e nomeou pessoas que elaboraram a Carta que pos- de polaca, por ser influenciada pela Constituição totalitária da
teriormente ele outorgou. Polônia e por sua origem espúria, não genuína.
Uma de suas principais características é a criação de um O federalismo foi mantido na teoria, mas na prática o que se
Poder Moderador, exercido pelo imperador, que controlava percebia era a intervenção crescente da União nos Estados-mem-
os demais poderes, conforme o artigo 98 da referida Carta: “O bros pela nomeação dos interventores federais. Também a sepa-
Poder Moderador é a chave de toda a organização Política, e é ração dos poderes se torna uma falácia, mediante a transferência
delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo de ampla competência legislativa ao Presidente e a conferência
da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessante- de poder a este para dissolver a Câmara dos Deputados e colocar
mente vele sobre a manutenção da Independência, equilíbrio, em recesso o Conselho Federal. Neste sentido, na vigência desta
e harmonia dos mais Poderes Políticos”. Sendo assim, criava um Carta a atividade legislativa passou a se dar predominantemente
Estado imperial, unitário (centralizado no imperador). pelos decretos-leis (ato legislativo do Presidente com força de lei
Foi a que por mais tempo vigorou no Brasil – 65 anos. Era federal), restando em recesso o Congresso Nacional.
semirrígida, criando procedimentos diversos de alteração das
normas constitucionais (única brasileira que teve esta caracte- Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setem-
rística). Estabelecia o catolicismo como religião oficial (Estado bro de 1946
confessional). Não permitia que todos votassem, mas apenas os Em 29 de outubro de 1945 um golpe militar derrubou a dita-
que demonstrassem certa renda (sufrágio censitário). dura de Vargas, depondo o então Presidente, que havia iniciado
tentativas de restabelecer a alternância de poder, como a auto-
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de rização de funcionamento dos partidos políticos, mas que após
24 de fevereiro de 1891 uma onda de manifestações para sua permanência parecia relu-
Foi promulgada por representantes reunidos em Congresso tante (queremismo). Ao final de 1945 foram realizadas eleições
Constituinte, presididos pelo primeiro presidente civil do Brasil diretas, que levaram ao poder o General Eurico Gaspar Dutra,
(Estado presidencialista), Prudente de Moraes, após a queda do candidato do Partido Social Democrático contra o candidato da
Império, diante da proclamação da República em 15 de novem- União Democrática Nacional, Brigadeiro Eduardo Gomes.
bro de 1889. Foi convocada Assembleia Nacional Constituinte que pro-
Em termos de modelo político, se inspirou no norte-ameri- mulgou a Constituição de 1946 e restabeleceu o Estado Demo-
cano, recentemente adotado após a independência das 13 colô- crático de Direito, devolvendo autonomia aos Estados-membros.
nias, denominado Estado federalista. Quanto ao modelo filosófi- Mantém o Estado presidencialista, republicano, federal e
co, seguiu o positivismo de Augusto Comte (do qual se extraiu o laico. Logo, o federalismo e a separação dos poderes deixam de
lema “Ordem e Progresso”. ser mera fachada.
O Estado deixa de ser confessional, não mais tendo a reli- Nos anos 50, realizam-se eleições livres e diretas que recon-
gião católica como oficial, se tornando um Estado laico. duzem Getúlio ao poder, mas agora ele assume num contexto não
ditatorial, com Poder Legislativo funcionando e Estados-membros
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de independentes. Na tentativa de eliminar esta oposição, Getúlio
16 de julho de 1934 organiza atentado contra seu líder, Carlos Lacerda, que é frustra-
Promulgada por uma Assembleia Nacional Constituinte do. Após, em 1955, Getúlio se suicida no palácio do catete.
reunida no Rio de Janeiro, a qual elegeu indiretamente Getúlio Então, é eleito Juscelino Kubitscheck de Oliveira, que cum-
Vargas como Presidente da República. Decorreu de um delicado pre com o propósito de transferir a capital do país ao planal-
contexto histórico, após a quebra da Bolsa de Nova Iorque em to central (Brasília). Após seu mandato, é eleito Jânio da Silva
1929, entrando em crise a política do café com leite segundo a Quadros, que renuncia numa tentativa de obter mais poderes
qual a indicação do Presidente deveria se revezar entre mineiros porque imaginava que o Congresso se oporia à sua renúncia
e paulistas. O paulista Washington Luís, em vez de respeitar a para evitar que João Goulart, seu vice, assumisse. Contudo, a
ordem, indicou outro paulista, Júlio Prestes, levando os mineiros renúncia foi aceita, emendando-se a Constituição para colocar
a lançarem candidato de oposição, Getúlio Vargas. Com a Revo- João Goulart na posição de chefe de Estado e Tancredo Neves
lução de 1930, Washington Luís foi deposto e, após a derrota de na de chefe de governo, mudança que foi rejeitada em plebiscito
São Paulo na Revolução Constitucionalista de 1932, entendeu-se posterior, passando João Goulart a concentrar as duas funções
que seria necessário elaborar uma nova Constituição. no cargo de Presidente da República.

4
DIREITO CONSTITUCIONAL
Constituição da República Federativa do Brasil de 24 de ja- “A luta pela normalização democrática e pela conquista do
neiro de 1967 Estado de Direito Democrático começará assim que instalou o
Diante de iniciativas de João Goulart contra os interesses golpe de 1964 e especialmente após o AI5, que foi o instrumento
militares, é dado golpe em 31 de março de 1964, a princípio mais autoritário da história política do Brasil. Tomará, porém,
apoiado pela população. Então, os militares outorgam ato ins- as ruas, a partir da eleição de Governadores em 1982. Intensifi-
titucional pelo qual se revestem de poder normativo, passam a car-se-á, quando, no início de 1984, as multidões acorreram en-
poder caçar parlamentares, suspender direitos políticos, restrin- tusiásticas e ordeiras aos comícios em prol da eleição direta do
gir direitos e garantias e requerer nomeação de Presidente da Presidente da República, interpretando o sentimento da Nação,
República ao Congresso Nacional, findando as eleições diretas e em busca do reequilíbrio da vida nacional, que só poderia con-
livres. O segundo ato institucional põe o Congresso em recesso e substanciar-se numa nova ordem constitucional que refizesse o
extingue partidos políticos. pacto político-social”11.
Este Congresso somente é ressuscitado para votar a Consti- A atual Constituição institucionaliza a instauração de um re-
tuição enviada pelo Presidente, homologando-a sem qualquer au- gime político democrático no Brasil, além de introduzir indiscu-
tonomia. A Constituição é, assim, promulgada, mas não de forma tível avanço na consolidação legislativa dos direitos e garantias
democrática. Logo, pode ser considerada imposta, outorgada. fundamentais e na proteção dos grupos vulneráveis brasileiros.
Em termos meramente teóricos, a Constituição de 1967 Assim, a partir da Constituição de 1988 os direitos humanos ga-
mantinha o Estado presidencialista, republicano, federal e laico. nharam relevo extraordinário, sendo este documento o mais
Contudo, de forma inegável concentrava os poderes na União e abrangente e pormenorizado de direitos fundamentais já ado-
no Poder Executivo. Em verdade, a Constituição permitia esta tado no Brasil12.
concentração e intervenção, mas ela era regulamentada por Piovesan13 lembra que o texto de 1988 inova ao disciplinar
meio dos atos institucionais, que reformavam a Constituição e primeiro os direitos e depois questões relativas ao Estado, dife-
derrogavam seus dispositivos. rente das demais, o que demonstra a prioridade conferida a es-
Entre os atos institucionais, destaca-se o denominado ato tes direitos. Logo, na Constituição de 1988, o Estado não existe
institucional nº 5, pelo qual continuaria em vigor a Constituição para o governo, mas sim para o povo.
no que não contrariasse este ato, sendo que ele estabelecia uma Sendo assim, a Constituição Federal de 1988 foi promulga-
restrição sem precedentes dos direitos individuais e políticos. O da, adotando um Estado presidencialista, republicano, federal e
AI nº 5 foi uma resposta ao movimento de contestação ao siste- laico. Destaca-se que a escolha pela forma e pelo sistema de go-
ma político que se fortalecia. verno foi feita pela participação direta do povo mediante plebis-
Em 17 de outubro de 1969 sobrevém a Emenda Constitucio- cito realizado em 21 de abril de 1963, concernente à aprovação
nal nº 1/69, que altera a Constituição de 1967 de forma subs- ou rejeição de Emenda Constitucional que adaptaria a Constitui-
tancial, a ponto de ser considerada por parte da doutrina e pelo ção ao novo modelo. A maioria votou pelo sistema republicano
próprio Supremo Tribunal Federal como Constituição autônoma. e pelo regime presidencialista, mantendo a estrutura da Consti-
Entre outras disposições, legalizava a pena de morte, a pena de tuição de 1988.
banimento e validava os atos institucionais. Sendo assim, distan-
ciava ainda mais o país do modelo democrático. A Constituição Federal de 1988 adota a seguinte estrutura:

Histórico e Estrutura da Constituição Federal de 1988 - PREÂMBULO, que tem a função introdutória ao texto cons-
titucional, exteriorizando a ideologia majoritária da constituinte
O início da redemocratização do Brasil se deu no governo e que, sem dúvidas, tem importância por ser um elemento de
Geisel, que assumiu a presidência em março de 1974 prome- interpretação. Há posição que afirme que o preâmbulo tem for-
tendo dar início a um processo de redemocratização gradual e ça normativa, da mesma forma que existe posição em sentido
seguro, denominado distensão. A verdade é que a força militar contrário.
estava desgastada e nem ao menos era mais viável manter o - DISPOSIÇÕES PERMANENTES, divididas em títulos:
rigoroso controle exercido na ditadura. A era do chamado “mila- Título I – Dos princípios fundamentais;
gre econômico” chegava ao fim, desencadeando-se movimentos Título II – Dos direitos e garantias fundamentais;
de greve em todo país. Logo, não se tratou de ato nobre ou de Título III – Da organização do Estado;
boa vontade de Geisel ou dos militares. Título IV – Da organização dos Poderes;
No governo Geisel, é promulgada a Emenda Constitucional Título V – Da defesa do Estado e das instituições democrá-
nº 11 à Constituição de 1967, revogando os atos institucionais. ticas;
No início do governo seguinte, de Figueiredo, é promulgada a Lei Título VI – Da tributação e do orçamento;
da Anistia, retornando os banidos ao Brasil. Título VII – Da ordem econômica e financeira;
A primeira eleição neste contexto de redemocratização foi Título VIII – Da ordem social;
indireta, vencida por Tancredo Neves, que adoeceu antes de as- Título IX –Das disposições constitucionais gerais.
sumir, passando a posição a José Sarney. No governo Sarney foi - DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS, que traz disposições de direi-
convocada a Assembleia Constituinte, que elaborou a Constitui- to intertemporal que têm por finalidade básica regulamentar a
ção Federal de 1988. transição de um sistema constitucional para outro.
Com efeito, após um longo período de 21 anos, o regime mi-
ternacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 21-37.
litar ditatorial no Brasil caiu, deflagrando-se num processo de-
11 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25.
mocrático. As forças de oposição foram beneficiadas neste pro- ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
cesso de abertura, conseguindo relevantes conquistas sociais e 12 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional In-
políticas, processo que culminou na Constituição de 198810. ternacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 21-37.
10 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional In- 13 Ibid., p. 21-37.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Além disso, também compõem o bloco de constitucionali- Quanto à função
dade em sentido estrito, isto é, são consideradas normas cons- a) Garantia – busca garantir a liberdade e serve notadamen-
titucionais: te para limitar o poder do Estado.
b) Dirigente – vai além da garantia da liberdade e da limita-
- EMENDAS CONSTITUCIONAIS, que decorrem do Poder ção do poder do Estado, definindo um projeto de Estado a ser
Constituinte derivado, reformando o texto constitucional. alcançado. A Constituição brasileira de 1988 é dirigente.
- TRATADOS SOBRE DIREITOS HUMANOS APROVADOS NOS
MOLDES DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004 (art. 5º, Quanto à origem
§2º, CF), isto é, como se emenda constitucional fosse, em 2 tur- a) Outorgada – é aquela imposta unilateralmente pelo agen-
nos no Congresso Nacional por 3/5 do total dos membros de te revolucionário. A Constituição outorgada é denominada como
cada Casa. Carta.
b) Promulgada – é aquela que é votada, sendo também co-
Classificação das Constituições nhecida como democrática ou popular. Decorre do trabalho de
Por fim, ressaltam-se as denominadas classificações das uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita pelo povo para em
Constituições: nome dele atuar (legitimação popular). A Constituição promul-
gada é denominada Constituição, enquadrando-se nesta catego-
Quanto à forma ria a Constituição brasileira de 1988.
a) Escrita – É a Constituição estabelecida em um único texto Obs.: Constituição cesarista é aquela que não é outorgada,
escrito, formalmente aprovado pelo Legislativo com esta quali- mas também não é promulgada. Se dá quando um projeto do
dade. Se o texto for resumido e apenas contiver normas básicas, agente revolucionário é posto para votação do povo, que mera-
a Constituição escrita é sintética; se o texto for extenso, delimi- mente ratifica a vontade do detentor do poder.
tando em detalhes questões que muitas vezes excedem mes-
mo o conceito material de Constituição, a Constituição escrita é Quanto à dogmática
analítica. Firma-se a adoção de um sistema conhecido como Civil a) Ortodoxa – formada por uma só ideologia.
Law. O Brasil adota uma Constituição escrita analítica.
b) Eclética – atenta a fatores multiculturais, trazendo ideo-
b) Não escrita – Não significa que não existam normas escri-
logias conciliatórias. A Constituição de 1988 é eclética.
tas que regulem questões constitucionais, mas que estas normas
não estão concentradas num único texto e que nem ao menos
Classificação das Constituições
dependem desta previsão expressa devido à possível origem em
Por fim, ressaltam-se as denominadas classificações das
outros fatores sociais, como costumes. Por isso, a Constituição
Constituições:
não escrita é conhecida como costumeira. É adotada por países
como Reino Unido, Israel e Nova Zelândia. Adotada esta Cons-
Quanto à forma
tituição, o sistema jurídico se estruturará no chamado Common
a) Escrita – É a Constituição estabelecida em um único texto
Law (Direito costumeiro), exteriorizado no Case Law (sistema de
precedentes). escrito, formalmente aprovado pelo Legislativo com esta quali-
dade. Se o texto for resumido e apenas contiver normas básicas,
Quanto ao modo de elaboração a Constituição escrita é sintética; se o texto for extenso, delimi-
a) Dogmática –sempre escritas, estas Constituições são ela- tando em detalhes questões que muitas vezes excedem mes-
boradas num só ato a partir de concepções pré-estabelecidas mo o conceito material de Constituição, a Constituição escrita é
e ideologias já declaradas. A Constituição brasileira de 1988 é analítica. Firma-se a adoção de um sistema conhecido como Civil
dogmática. Law. O Brasil adota uma Constituição escrita analítica.
b) Histórica – aproxima-se da Constituição dogmática, eis b) Não escrita – Não significa que não existam normas escri-
que o seu processo de formação é lento e contínuo com o passar tas que regulem questões constitucionais, mas que estas normas
dos tempos. não estão concentradas num único texto e que nem ao menos
dependem desta previsão expressa devido à possível origem em
Quanto à estabilidade outros fatores sociais, como costumes. Por isso, a Constituição
a) Rígida – exige, para sua alteração, um processo legislativo não escrita é conhecida como costumeira. É adotada por países
mais árduo. como Reino Unido, Israel e Nova Zelândia. Adotada esta Cons-
Obs.: A Constituição super-rígida, classificação defendida tituição, o sistema jurídico se estruturará no chamado Common
por parte da doutrina, além de ter um processo legislativo dife- Law (Direito costumeiro), exteriorizado no Case Law (sistema de
renciado para emendas constitucionais, tem certas normas que precedentes).
não podem nem ao menos ser alteradas – denominadas cláusula
pétreas. Quanto ao modo de elaboração
A Constituição brasileira de 1988 pode ser considerada rí- a) Dogmática –sempre escritas, estas Constituições são ela-
gida. Pode ser também vista como super-rígida aos que defen- boradas num só ato a partir de concepções pré-estabelecidas
dem esta subclassificação. e ideologias já declaradas. A Constituição brasileira de 1988 é
b) Flexível – Não é necessário um processo legislativo mais dogmática.
árduo para a alteração das normas constitucionais, utilizando-se b) Histórica – aproxima-se da Constituição dogmática, eis
o mesmo processo das normas infraconstitucionais. que o seu processo de formação é lento e contínuo com o passar
c) Semiflexível ou semirrígida – Ela é tanto rígida quanto fle- dos tempos.
xível, pois parte de suas normas precisam de processo legislativo
especial para serem alteradas e outra parte segue o processo
legislativo comum.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Quanto à estabilidade c) Sistema de governo – delimita como se dá a relação entre
a) Rígida – exige, para sua alteração, um processo legislativo Poder Executivo e Poder Legislativo no exercício das funções do
mais árduo. Estado, como maior ou menor independência e colaboração en-
Obs.: A Constituição super-rígida, classificação defendida tre eles. Pode ser Parlamentarismo ou Presidencialismo, sendo
por parte da doutrina, além de ter um processo legislativo dife- que o Brasil adota o Presidencialismo.
renciado para emendas constitucionais, tem certas normas que d) Regime político – delimita como se dá a aquisição de po-
não podem nem ao menos ser alteradas – denominadas cláusula der, como o governante se ascende ao Poder. Se houver legiti-
pétreas. mação popular, há Democracia, se houver imposição em detri-
A Constituição brasileira de 1988 pode ser considerada rí- mento do povo, há Autocracia.
gida. Pode ser também vista como super-rígida aos que defen-
dem esta subclassificação. Elementos Limitativos
b) Flexível – Não é necessário um processo legislativo mais A função primordial da Constituição não é apenas definir e
árduo para a alteração das normas constitucionais, utilizando-se estruturar o Estado e o governo, mas também estabelecer limi-
o mesmo processo das normas infraconstitucionais. tes à atuação do Estado. Neste sentido, não poderá fazer tudo o
c) Semiflexível ou semirrígida – Ela é tanto rígida quanto fle- que bem entender, se sujeitando a determinados limites.
xível, pois parte de suas normas precisam de processo legislativo
especial para serem alteradas e outra parte segue o processo As normas de direitos fundamentais – categoria que abran-
legislativo comum. ge direitos individuais, direitos políticos, direitos sociais e direi-
Quanto à função tos coletivos – formam o principal fator limitador do Poder do
a) Garantia – busca garantir a liberdade e serve notadamen- Estado, afinal, estabelecem até onde e em que medida o Estado
te para limitar o poder do Estado. poderá interferir na vida do indivíduo.
b) Dirigente – vai além da garantia da liberdade e da limita-
ção do poder do Estado, definindo um projeto de Estado a ser Elementos Socioideológicos
alcançado. A Constituição brasileira de 1988 é dirigente. Os elementos socioideológicos de uma Constituição são
aqueles que trazem a principiologia da ordem econômica e so-
Quanto à origem cial.
a) Outorgada – é aquela imposta unilateralmente pelo agen-
te revolucionário. A Constituição outorgada é denominada como
Carta. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
b) Promulgada – é aquela que é votada, sendo também co-
nhecida como democrática ou popular. Decorre do trabalho de Forma, Sistema e Fundamentos da República
uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita pelo povo para em
nome dele atuar (legitimação popular). A Constituição promul- Papel dos Princípios e o Neoconstitucionalismo
gada é denominada Constituição, enquadrando-se nesta catego- Os princípios abandonam sua função meramente subsidiária
ria a Constituição brasileira de 1988. na aplicação do Direito, quando serviam tão somente de meio
Obs.: Constituição cesarista é aquela que não é outorgada, de integração da ordem jurídica (na hipótese de eventual lacu-
mas também não é promulgada. Se dá quando um projeto do na) e vetor interpretativo, e passam a ser dotados de elevada e
agente revolucionário é posto para votação do povo, que mera- reconhecida normatividade.
mente ratifica a vontade do detentor do poder.
Princípio Federativo
Quanto à dogmática Significa que a União, os Estados-membros, o Distrito Fe-
a) Ortodoxa – formada por uma só ideologia. deral e os Municípios possuem autonomia, caracteriza por um
b) Eclética – atenta a fatores multiculturais, trazendo ideo- determinado grau de liberdade referente à sua organização, à
logias conciliatórias. A Constituição de 1988 é eclética. sua administração, à sua normatização e ao seu Governo, porém
limitada por certos princípios consagrados pela Constituição Fe-
Elementos da Constituição deral.
Basicamente, qualquer norma que se enquadre em um dos
seguintes elementos é constitucional: Princípio Republicano
É uma forma de Governo fundada na igualdade formal entre
Elementos Orgânicos as pessoas, em que os detentores do poder político exercem o
Referem-se ao cerne organizacional do Estado, notadamen- comando do Estado em caráter eletivo, representativo, tempo-
te no que tange a: rário e com responsabilidade.
a) Forma de governo – Como se dá a relação de poder entre
governantes e governados. Se há eletividade e temporariedade Princípio do Estado Democrático de Direito
de mandato, tem-se a forma da República, se há vitaliciedade e O Estado de Direito é aquele que se submete ao império da
hereditariedade, tem-se Monarquia. lei. Por sua vez, o Estado democrático caracteriza-se pelo res-
b) Forma de Estado – delimita se o poder será exercido de peito ao princípio fundamental da soberania popular, vale dizer,
forma centralizada numa unidade (União), o chamado Estado funda-se na noção de Governo do povo, pelo povo e para o povo.
Unitário, ou descentralizada entre demais entes federativos
(União e Estados, classicamente), no denominado Estado Fede-
ral. O Brasil adota a forma Federal de Estado.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Princípio da Soberania Popular X - concessão de asilo político.
O parágrafo único do Artigo 1º da Constituição Federal re- Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará
vela a adoção da soberania popular como princípio fundamental a integração econômica, política, social e cultural dos povos da
ao prever que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos des- -americana de nações.
ta Constituição”.
Referências Bibliográficas:
Princípio da Separação dos Poderes DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
A visão moderna da separação dos Poderes não impede que Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
cada um deles exerça atipicamente (de forma secundária), além
de sua função típica (preponderante), funções atribuídas a outro
Poder. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. DIREITOS
INDIVIDUAIS. DIREITOS COLETIVOS. DIREITOS SOCIAIS
Vejamos abaixo, os dispositivos constitucionais correspon-
dentes ao tema supracitado:
Distinção entre Direitos e Garantias Fundamentais
TÍTULO I Pode-se dizer que os direitos fundamentais são os bens ju-
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS rídicos em si mesmos considerados, de cunho declaratório, nar-
rados no texto constitucional. Por sua vez, as garantias funda-
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união mentais são estabelecidas na mesma Constituição Federal como
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons- instrumento de proteção dos direitos fundamentais e, como
titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como funda- tais, de cunho assecuratório.
mentos:
I - a soberania; Evolução dos Direitos e Garantias Fundamentais
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana; Direitos Fundamentais de Primeira Geração
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Possuem as seguintes características:
V - o pluralismo político. a) surgiram no final do século XVIII, no contexto da Revolu-
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce ção Francesa, fase inaugural do constitucionalismo moderno, e
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos dominaram todo o século XIX;
desta Constituição. b) ganharam relevo no contexto do Estado Liberal, em opo-
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos sição ao Estado Absoluto;
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. c) estão ligados ao ideal de liberdade;
d) são direitos negativos, que exigem uma abstenção do Es-
Objetivos Fundamentais da República tado em favor das liberdades públicas;
Os Objetivos Fundamentais da República estão elencados
no Artigo 3º da CF/88. Vejamos: e) possuíam como destinatários os súditos como forma de
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fe- proteção em face da ação opressora do Estado;
derativa do Brasil: f) são os direitos civis e políticos.
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional; Direitos Fundamentais de Segunda Geração
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi- Possuem as seguintes características:
gualdades sociais e regionais; a) surgiram no início do século XX;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, b) apareceram no contexto do Estado Social, em oposição
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimina- ao Estado Liberal;
ção. c) estão ligados ao ideal de igualdade;
d) são direitos positivos, que passaram a exigir uma atuação
Princípios de Direito Constitucional Internacional positiva do Estado;
Os Princípios de Direito Constitucional Internacional estão e) correspondem aos direitos sociais, culturais e econômi-
elencados no Artigo 4º da CF/88. Vejamos: cos.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas re-
lações internacionais pelos seguintes princípios: Direitos Fundamentais de Terceira Geração
I - independência nacional; Em um próximo momento histórico, foi despertada a preo-
II - prevalência dos direitos humanos; cupação com os bens jurídicos da coletividade, com os deno-
III - autodeterminação dos povos; minados interesses metaindividuais (difusos, coletivos e indi-
IV - não-intervenção; viduais homogêneos), nascendo os direitos fundamentais de
V - igualdade entre os Estados; terceira geração.
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da huma-
nidade;

8
DIREITO CONSTITUCIONAL
Direitos Metaindividuais Colisão entre os Direitos e Garantias Fundamentais
O princípio da proporcionalidade sob o seu triplo aspecto
Natureza Destinatários (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estri-
Difusos Indivisível Indeterminados to) é a ferramenta apta a resolver choques entre os princípios
Coletivos Indivisível Determináveis liga- esculpidos na Carta Política, sopesando a incidência de cada um
dos por uma relação no caso concreto, preservando ao máximo os direitos e garan-
jurídica tias fundamentais constitucionalmente consagrados.
Individuais Homo- Divisível Determinados ligados Os quatro status de Jellinek
gêneos por uma situação fática a) status passivo ou subjectionis: quando o indivíduo encon-
tra-se em posição de subordinação aos poderes públicos, carac-
Os Direitos Fundamentais de Terceira Geração possuem as terizando-se como detentor de deveres para com o Estado;
seguintes características: b) status negativo: caracterizado por um espaço de liber-
a) surgiram no século XX;
dade de atuação dos indivíduos sem ingerências dos poderes
b) estão ligados ao ideal de fraternidade (ou solidariedade),
públicos;
que deve nortear o convívio dos diferentes povos, em defesa
c) status positivo ou status civitatis: posição que coloca o in-
dos bens da coletividade;
divíduo em situação de exigir do Estado que atue positivamente
c) são direitos positivos, a exigir do Estado e dos diferentes
em seu favor;
povos uma firme atuação no tocante à preservação dos bens de
d) status ativo: situação em que o indivíduo pode influir na
interesse coletivo;
formação da vontade estatal, correspondendo ao exercício dos
d) correspondem ao direito de preservação do meio am-
direitos políticos, manifestados principalmente por meio do voto.
biente, de autodeterminação dos povos, da paz, do progresso
da humanidade, do patrimônio histórico e cultural, etc.
Referências Bibliográficas:
Direitos Fundamentais de Quarta Geração DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
Segundo Paulo Bonavides, a globalização política é o fator Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
histórico que deu origem aos direitos fundamentais de quarta
geração. Eles estão ligados à democracia, à informação e ao plu-
ralismo. Também são transindividuais. Os individuais estão elencados no caput do Artigo 5º da CF.
Vejamos:
Direitos Fundamentais de Quinta Geração
Paulo Bonavides defende, ainda, que o direito à paz repre- TÍTULO II
sentaria o direito fundamental de quinta geração. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Características dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO I


São características dos Direitos e Garantias Fundamentais: DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
a) Historicidade: não nasceram de uma só vez, revelando
sua índole evolutiva; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
b) Universalidade: destinam-se a todos os indivíduos, inde- quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
pendentemente de características pessoais; residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
c) Relatividade: não são absolutos, mas sim relativos; à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
d) Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia; (....)
e) Inalienabilidade: são indisponíveis e inalienáveis por não
possuírem conteúdo econômico-patrimonial; Direito à Vida
f) Imprescritibilidade: são sempre exercíveis, não despare- O direito à vida deve ser observado por dois prismas: o direi-
cendo pelo decurso do tempo. to de permanecer vivo e o direito de uma vida digna.

Destinatários dos Direitos e Garantias Fundamentais O direito de permanecer vivo pode ser observado, por
Todas as pessoas físicas, sem exceção, jurídicas e estatais, exemplo, na vedação à pena de morte (salvo em caso de guerra
são destinatárias dos direitos e garantias fundamentais, desde declarada).
que compatíveis com a sua natureza. Já o direito à uma vida digna, garante as necessidades vitais
básicas, proibindo qualquer tratamento desumano como a tor-
Eficácia Horizontal dos Direitos e Garantias Fundamentais tura, penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc.
Muito embora criados para regular as relações verticais, de
subordinação, entre o Estado e seus súditos, passam a ser em- Direito à Liberdade
pregados nas relações provadas, horizontais, de coordenação, O direito à liberdade consiste na afirmação de que ninguém
envolvendo pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado. será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em
virtude de lei. Tal dispositivo representa a consagração da auto-
Natureza Relativa dos Direitos e Garantias Fundamentais nomia privada.
Encontram limites nos demais direitos constitucionalmente Trata-se a liberdade, de direito amplo, já que compreende,
consagrados, bem como são limitados pela intervenção legislati- dentre outros, as liberdades: de opinião, de pensamento, de lo-
va ordinária, nos casos expressamente autorizados pela própria comoção, de consciência, de crença, de reunião, de associação
Constituição (princípio da reserva legal). e de expressão.

9
DIREITO CONSTITUCIONAL
Direito à Igualdade II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntá-
A igualdade, princípio fundamental proclamado pela Cons- rio;
tituição Federal e base do princípio republicano e da democra- III - fundo de garantia do tempo de serviço;
cia, deve ser encarada sob duas óticas, a igualdade material e a IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unifica-
igualdade formal. do, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de
A igualdade formal é a identidade de direitos e deveres con- sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
cedidos aos membros da coletividade por meio da norma. vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes
Por sua vez, a igualdade material tem por finalidade a busca periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada
da equiparação dos cidadãos sob todos os aspectos, inclusive o sua vinculação para qualquer fim;
jurídico. É a consagração da máxima de Aristóteles, para quem V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade
o princípio da igualdade consistia em tratar igualmente os iguais do trabalho;
e desigualmente os desiguais na medida em que eles se desi- VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em conven-
gualam. ção ou acordo coletivo;
Sob o pálio da igualdade material, caberia ao Estado promo- VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os
ver a igualdade de oportunidades por meio de políticas públicas que percebem remuneração variável;
e leis que, atentos às características dos grupos menos favoreci- VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração inte-
dos, compensassem as desigualdades decorrentes do processo gral ou no valor da aposentadoria;
histórico da formação social. IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime
Direito à Privacidade sua retenção dolosa;
Para o estudo do Direito Constitucional, a privacidade é gê- XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da
nero, do qual são espécies a intimidade, a honra, a vida privada remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da
e a imagem. De maneira que, os mesmos são invioláveis e a eles empresa, conforme definido em lei;
assegura-se o direito à indenização pelo dano moral ou material XII - salário-família pago em razão do dependente do traba-
decorrente de sua violação. lhador de baixa renda nos termos da lei;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas
Direito à Honra diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação
O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atributos per- de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou conven-
tinentes à reputação do cidadão sujeito de direitos, exatamente ção coletiva de trabalho;
por tal motivo, são previstos no Código Penal. XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em tur-
nos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
Direito de Propriedade XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos
É assegurado o direito de propriedade, contudo, com res- domingos;
trições, como por exemplo, de que se atenda à função social da XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mí-
propriedade. Também se enquadram como espécies de restri- nimo, em cinquenta por cento à do normal;
ção do direito de propriedade, a requisição, a desapropriação, o XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos,
confisco e o usucapião. um terço a mais do que o salário normal;
Do mesmo modo, é no direito de propriedade que se asse- XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do sa-
guram a inviolabilidade do domicílio, os direitos autorais (pro- lário, com a duração de cento e vinte dias;
priedade intelectual) e os direitos reativos à herança. XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante
Referências Bibliográficas: incentivos específicos, nos termos da lei;
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
Os direitos sociais estão previstos na CF nos artigos 6 a 11. normas de saúde, higiene e segurança;
Vejamos: XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas,
insalubres ou perigosas, na forma da lei;
CAPÍTULO II XXIV - aposentadoria;
DOS DIREITOS SOCIAIS XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o
nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimen-
tação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a seguran- XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos
ça, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, de trabalho;
a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015) XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do em-
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além pregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado,
de outros que visem à melhoria de sua condição social: quando incorrer em dolo ou culpa;
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrá- XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
ria ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que pre- trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os traba-
verá indenização compensatória, dentre outros direitos; lhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extin-
ção do contrato de trabalho;

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DIREITO CONSTITUCIONAL
a) (Revogada). § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas
b) (Revogada). da lei.
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de fun- Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e
ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus
estado civil; interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de dis-
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a sa- cussão e deliberação.
lário e critérios de admissão do trabalhador portador de defi- Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é
ciência; assegurada a eleição de um representante destes com a finali-
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico dade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os
e intelectual ou entre os profissionais respectivos; empregadores.
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre
a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de de- Os direitos sociais regem-se pelos princípios abaixo:
zesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze → Princípio da proibição do retrocesso: qualifica-se pela
anos; impossibilidade de redução do grau de concretização dos di-
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com víncu- reitos sociais já implementados pelo Estado. Ou seja, uma vez
lo empregatício permanente e o trabalhador avulso. alcançado determinado grau de concretização de um direito so-
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalha- cial, fica o legislador proibido de suprimir ou reduzir essa con-
dores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, cretização sem que haja a criação de mecanismos equivalentes
X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e chamados de medias compensatórias.
XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observa- → Princípio da reserva do possível: a implementação dos
da a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, direitos e garantias fundamentais de segunda geração esbarram
principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e no óbice do financeiramente possível.
suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e → Princípio do mínimo existencial: é um conjunto de bens e
XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. direitos vitais básicos indispensáveis a uma vida humana digna,
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observa- intrinsecamente ligado ao fundamento da dignidade da pessoa
do o seguinte: humana previsto no Artigo 1º, III, CF. A efetivação do mínimo
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fun- existencial não se sujeita à reserva do possível, pois tais direitos
dação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, se encontram na estrutura dos serviços púbicos essenciais.
vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na or-
ganização sindical; Referências Bibliográficas:
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser Os direitos referentes à nacionalidade estão previstos dos
inferior à área de um Município; Artigos 12 a 13 da CF. Vejamos:
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses cole-
tivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais CAPÍTULO III
ou administrativas; DA NACIONALIDADE
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tra-
tando de categoria profissional, será descontada em folha, para Art. 12. São brasileiros:
custeio do sistema confederativo da representação sindical res- I - natos:
pectiva, independentemente da contribuição prevista em lei; a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de
a sindicato; seu país;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negocia- b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe bra-
ções coletivas de trabalho; sileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado Federativa do Brasil;
nas organizações sindicais; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par- brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira
tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representa- competente ou venham a residir na República Federativa do Bra-
ção sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o sil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maiorida-
final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. de, pela nacionalidade brasileira;
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à II - naturalizados:
organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade bra-
atendidas as condições que a lei estabelecer. sileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos tra- apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
balhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na
interesses que devam por meio dele defender. República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininter-
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e dis- ruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacio-
porá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comu- nalidade brasileira.
nidade.

11
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, Critérios para Adoção de Nacionalidade Primária
se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos O Estado pode adotar dois critérios para a concessão da na-
os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta cionalidade originária: o de origem sanguínea (ius sanguinis) e o
Constituição. de origem territorial (ius solis).
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros O critério ius sanguinis tem por base questões de heredita-
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constitui- riedade, um vínculo sanguíneo com os ascendentes.
ção. O critério ius solis concede a nacionalidade originária aos
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: nascidos no território de um determinado Estado, sendo irrele-
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; vante a nacionalidade dos genitores.
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; A CF/88 adotou o critério ius solis como regra geral, possibi-
III - de Presidente do Senado Federal; litando em alguns casos, a atribuição de nacionalidade primária
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; pautada no ius sanguinis.
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa. Portugueses Residentes no Brasil
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro O §1º do Artigo 12 da CF confere tratamento diferenciado
que: aos portugueses residentes no Brasil. Não se trata de hipótese
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, de naturalização, mas tão somente forma de atribuição de di-
em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; reitos.
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei Portugueses Equiparados
estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, Igual os Direitos Se houver 1) Residência permanente
ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição dos Brasileiros no Brasil;
para permanência em seu território ou para o exercício de di- Naturalizados 2) Reciprocidade aos
reitos civis. brasileiros em Portugal.
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República
Federativa do Brasil. Distinção entre Brasileiros Natos e Naturalizados
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a ban- A CF/88 em seu Artigo 12, §2º, prevê que a lei não poderá
deira, o hino, as armas e o selo nacionais. fazer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, com ex-
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ceção às seguintes hipóteses:
ter símbolos próprios. Cargos privativos de brasileiros natos → Artigo 12, §3º, CF;
Função no Conselho da República → Artigo 89, VII, CF;
A Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Pú- Extradição → Artigo 5º, LI, CF; e
blico interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes Direito de propriedade → Artigo 222, CF.
da dimensão pessoal do Estado (o seu povo).
Considera-se povo o conjunto de nacionais, ou seja, os bra- Perda da Nacionalidade
sileiros natos e naturalizados. O Artigo 12, §4º da CF refere-se à perda da nacionalidade,
que apenas poderá ocorrer nas duas hipóteses taxativamente
Espécies de Nacionalidade elencadas na CF, sob pena de manifesta inconstitucionalidade.
São duas as espécies de nacionalidade:
a) Nacionalidade primária, originária, de 1º grau, involun- Dupla Nacionalidade
tária ou nata: é aquela resultante de um fato natural, o nas- O Artigo 12, §4º, II da CF traz duas hipóteses em que a op-
cimento. Trata-se de aquisição involuntária de nacionalidade, ção por outra nacionalidade não ocasiona a perda da brasileira,
decorrente do simples nascimento ligado a um critério estabele- passando o nacional a possuir dupla nacionalidade (polipátrida).
cido pelo Estado na sua Constituição Federal. Descrita no Artigo Polipátrida → aquele que possui mais de uma nacionalida-
12, I, CF/88. de.
b) Nacionalidade secundária, adquirida, por aquisição, de Heimatlos ou Apátrida → aquele que não possui nenhuma
2º grau, voluntária ou naturalização: é a que se adquire por ato nacionalidade.
volitivo, depois do nascimento, somado ao cumprimento dos re-
quisitos constitucionais. Descrita no Artigo 12, II, CF/88. Idioma Oficial e Símbolos Nacionais
O quadro abaixo auxilia na memorização das diferenças en- Por fim, o Artigo 13 da CF elenca o Idioma Oficial e os Sím-
tre as duas: bolos Nacionais do Brasil.

Nacionalidade Referências Bibliográficas:


Primária Secundária DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
Nascimento + Requisitos cons- Ato de vontade + Requisitos Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
titucionais constitucionais
Brasileiro Nato Brasileiros Naturalizado Os Direitos Políticos têm previsão legal na CF/88, em seus
Artigos 14 a 16. Seguem abaixo:

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DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Jus-
CAPÍTULO IVDOS DIREITOS POLÍTICOS tiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação,
instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, cor-
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio uni- rupção ou fraude.
versal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, § 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em se-
nos termos da lei, mediante: gredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se teme-
I - plebiscito; rária ou de manifesta má-fé.
II - referendo; Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda
III - iniciativa popular. ou suspensão só se dará nos casos de:
§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; em julgado;
II - facultativos para: II - incapacidade civil absoluta;
a) os analfabetos; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto
b) os maiores de setenta anos; durarem seus efeitos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou presta-
§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, ção alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vi-
I - a nacionalidade brasileira; gor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que
II - o pleno exercício dos direitos políticos; ocorra até um ano da data de sua vigência.
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; De acordo com José Afonso da Silva, os direitos políticos,
V - a filiação partidária; relacionados à primeira geração dos direitos e garantias funda-
VI - a idade mínima de: mentais, consistem no conjunto de normas que asseguram o di-
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da reito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos
República e Senador; governamentais.
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado São instrumentos previstos na Constituição e em normas
e do Distrito Federal; infraconstitucionais que permitem o exercício concreto da parti-
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Esta- cipação do povo nos negócios políticos do Estado.
dual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador. Capacidade Eleitoral Ativa
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. Segundo o Artigo 14, §1º da CF, a capacidade eleitoral ativa
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado é o direito de votar nas eleições, nos plebiscitos ou nos referen-
e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou dos, cuja aquisição se dá com o alistamento eleitoral, que atribui
substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para ao nacional a condição de cidadão (aptidão para o exercício de
um único período subsequente. direitos políticos).
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Re-
pública, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Alistamento Eleitoral e Voto
Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis
meses antes do pleito. Obrigatório Facultativo Inalistável – Artigo
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o 14, §2º
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo Maiores de 18 e Maiores de 16 e me- Estrangeiros (com
grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governa- menores de 70 nores de 18 anos exceção aos portu-
dor de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou anos Maiores de 70 anos gueses equiparados,
de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores Analfabetos constantes no Artigo
ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à 12, §1º da CF)
reeleição. Conscritos (aqueles
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes convocados para o
condições: serviço militar obri-
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se gatório)
da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela Características do Voto
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no O voto no Brasil é direito (como regra), secreto, universal,
ato da diplomação, para a inatividade. com valor igual para todos, periódico, personalíssimo, obrigató-
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inele- rio e livre.
gibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a pro-
bidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato Capacidade Eleitoral Passiva
considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e le- Também chamada de Elegibilidade, a capacidade eleitoral
gitimidade das eleições contra a influência do poder econômico passiva diz respeito ao direito de ser votado, ou seja, de eleger-
ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na admi- -se para cargos políticos. Tem previsão legal no Artigo 14, §3º
nistração direta ou indireta. da CF.

13
DIREITO CONSTITUCIONAL
O quadro abaixo facilita a memorização da diferença entre Da mesma forma, a privação dos direitos políticos pode se
as duas espécies de capacidade eleitoral. Vejamos: dar por prazo determinado (suspensão), em que o restabeleci-
mento se dará automaticamente, ou seja, independentemente
Capacidade Eleitoral Ativa Capacidade Eleitoral Passiva de manifestação do suspenso, desde que ultrapassado as razões
da suspensão. Vejamos:
Alistabilidade Elegibilidade
Direito de votar Direito de ser votado Privação dos Direitos Políticos

Inelegibilidades Perda Suspensão


A inelegibilidade afasta a capacidade eleitoral passiva (direi- Privação por prazo inde- Privação por prazo deter-
to de ser votado), constituindo-se impedimento à candidatura a terminado minado
mandatos eletivos nos Poderes Executivo e Legislativo. Restabelecimento dos di- Restabelecimento dos
reitos políticos depende de um direitos políticos se dá automa-
Inelegibilidade Absoluta novo alistamento eleitoral ticamente
Com previsão legal no Artigo 14, §4º da CF, a inelegibilidade
absoluta impede que o cidadão concorra a qualquer mandato Referências Bibliográficas:
eletivo e, em virtude de natureza excepcional, somente pode ser DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
estabelecida na Constituição Federal. Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
Refere-se aos Inalistáveis e aos Analfabetos.

Inelegibilidade Relativa A previsão legal dos Partidos Políticos de dá no Artigo 17 da


Consiste em restrições que recaem à candidatura a determi- CF. Vejamos:
nados cargos eletivos, em virtude de situações próprias em que
se encontra o cidadão no momento do pleito eleitoral. São elas: CAPÍTULO V
→ Vedação ao terceiro mandato sucessivo para os Chefes DOS PARTIDOS POLÍTICOS
do Poder Executivo (Artigo 14, §5º, CF);
→ Desincompatibilização para concorrer a outros cargos, Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de
aplicada apenas aos Chefes do Poder Executivo (Artigo 14, §6º, partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime
CF); democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da
→ Inelegibilidade reflexa, ou seja, inelegibilidade relativa pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
por motivos de casamento, parentesco ou afinidade, uma vez I - caráter nacional;
que não incide sobre o mandatário, mas sim perante terceiros
(Artigo 14, §7º, CF). II - proibição de recebimento de recursos financeiros de enti-
dade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
Condição de Militar III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
O militar alistável é elegível, desde que atenda as exigências IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
previstas no §8º do Artigo 14, da CF, a saber: § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para de-
I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar- finir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha,
-se da atividade; formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios
II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os cri-
pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, térios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições ma-
no ato da diplomação, para a inatividade. joritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais,
sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em
Observa-se que a norma restringe a elegibilidade aos milita- âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
res alistáveis, logo, os conscritos, que são inalistáveis, são inele- estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidá-
gíveis. O quadro abaixo serve como exemplo: ria. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade
Militares – Exceto os Conscritos jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tri-
bunal Superior Eleitoral.
Menos de 10 anos Registro da candidatura →
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e
Inatividade
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os parti-
Mais de 10 anos Registro da candidatura → dos políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda
Agregado Constitucional nº 97, de 2017)
Na diplomação → Inatividade I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em
Privação dos Direitos Políticos pelo menos um terço das unidades da Federação, com um míni-
De acordo com o Artigo 15 da CF, o cidadão pode ser priva- mo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas;
do dos seus direitos políticos por prazo indeterminado (perda), ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
sendo que, neste caso, o restabelecimento dos direitos políticos II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais
dependerá do exercício de ato de vontade do indivíduo, de um distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federa-
novo alistamento eleitoral. ção. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

14
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de orga- O Estado Unitário pode ser classificado em:
nização paramilitar. a) Estado unitário puro ou centralizado: casos em que ha-
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos verá somente um Poder Executivo, um Poder Legislativo e um
previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facul- Poder Judiciário, exercido de forma central;
tada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os b) Estado unitário descentralizado: casos em que haverá a
tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de formação de entes regionais com autonomia para exercer ques-
distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gra- tões administrativas ou judiciárias fruto de delegação, mas não
tuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda se concede a autonomia legislativa que continua pertencendo
Constitucional nº 97, de 2017) exclusivamente ao poder central.

De acordo com os ensinamentos de José Afonso da Silva, o Estado Federativo – Federação


partido político é uma forma de agremiação de um grupo social Também chamados de federados, complexos ou compostos,
que se propõe a organizar, coordenar e instrumentar a vontade são aqueles em que as capacidades judiciária, legislativa e admi-
popular com o fim de assumir o poder para realizar seu progra- nistrativa são atribuídas constitucionalmente a entes regionais,
ma de governo. que passam a gozar de autonomias próprias (e não soberanias).
Os partidos são a base do sistema político brasileiro, pois a Nesse caso, as autonomias regionais não são fruto de dele-
filiação a partido político é uma das condições de elegibilidade. gação voluntária, como ocorre nos Estados unitários descentra-
Trata-se de um privilégio aos ideais políticos, que devem es- lizados, mas se originam na própria Constituição, o que impede
tar acima das características pessoais do candidato. a retirada de competências por ato voluntário do poder central.
Segundo Dirley da Cunha Júnior, entende-se por partido O quadro abaixo facilita este entendimento. Vejamos:
político uma pessoa jurídica de Direito Privado que consiste na
união ou agremiação voluntária de cidadãos com afinidades ide- FORMAS DE ESTADO
ológicas e políticas, organizada segundo princípios de disciplina
Unitário
e fidelidade.
Tal conceito vai ao encontro das disposições acerca dos Único centro de onde emana o poder estatal
partidos políticos trazidas pelo Artigo 1º da Lei nº 9296/1995, Puro Descentralizado
para quem o partido político, pessoa jurídica de Direito Privado,
destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a Não há delegação de
Há delegação de competências
autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos competências
fundamentais definidos na Constituição Federal. Federado
A Constituição confere ampla liberdade aos partidos políti- O exercício do poder estatal é atribuído constitucionalmente a
cos, uma vez que são instituições indispensáveis para concreti- entes regionais autônomos
zação do Estado democrático de direito, muito embora restrinja
a utilização de organização paramilitar. Confederação
Se caracteriza por uma reunião dissolúvel de Estados sobe-
Referências Bibliográficas: ranos, que se unem por meio de um tratado internacional. Aqui,
BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons- percebe-se o traço marcante da Confederação, ou seja, a disso-
titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. lubilidade do pacto internacional pelos Estados soberanos que o
Salvador: Editora JusPODIVM. integram, a partir de um juízo interno de conveniência.
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Observe a ilustração das diferenças entre uma Federação e
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. uma Confederação:

O ESTADO. CONCEITO. ELEMENTOS QUE COMPÕEM O FEDERAÇÃO CONFEDERAÇÃO


ESTADO. FINALIDADE DO ESTADO. ORGANIZAÇÃO DO
ESTADO Formada por um trato
Formada por uma Constituição
internacional
Os entes regionais gozam de Os Estados que o integram
Formas de Estado - Estado Unitário, Confederação e Federação autonomia mantêm sua soberania
A forma de Estado relaciona-se com o modo de exercício do
poder político em função do território do Estado. Verifica-se no Indissolubilidade do pacto Dissolubilidade do pacto
caso concreto se há, ou não, repartição regional do exercício de federativo internacional
poderes autônomos, podendo ser criados, a partir dessa lógica,
um modelo de Estado unitário ou um Estado Federado. O Federalismo Brasileiro

Estado Unitário Observe a disposição legal do Artigo 18 da CF:


Também chamado de Estado Simples, é aquele dotado de
um único centro com capacidade legislativa, administrativa e
judiciária, do qual emanam todos os comandos normativos e
no qual se concentram todas as competências constitucionais
(exemplos: Uruguai, e Brasil Colônia, com a Constituição de
1824, até a Proclamação da República, com a Constituição de
1891).

15
DIREITO CONSTITUCIONAL
TÍTULO III Repartição de Competências Constitucionais
DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO A Repartição de competências é a técnica de distribuição de
competências administrativas, legislativas e tributárias aos en-
CAPÍTULO I tes federativos para que não haja conflitos de atribuições dentro
DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA do território nacional.
Competência é a capacidade para emitir decisões dentro de
Art. 18. A organização político-administrativa da República um campo específico.
Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distri- A Constituição trabalha com três naturezas de competência,
to Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta a administrativa, legislativa e a tributária.
Constituição. → Competência administrativa ou material: refere-se à
§ 1º Brasília é a Capital Federal. execução de alguma atividade estatal, ou seja, é a capacidade
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, para atuar concretamente sobre a matéria;
transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem → Competência legislativa: atribui iniciativa para legislar
serão reguladas em lei complementar. sobre determinada matéria, ou seja, é a capacidade para esta-
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se belecer normas gerais e abstratas sobre determinado campo;
ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem → Competência tributária: refere-se ao poder de instituir
novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da tributos.
população diretamente interessada, através de plebiscito, e do
Congresso Nacional, por lei complementar. Técnica da Repartição de Competência
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramen- Trata-se da predominância do interesse, segundo a qual, à
to de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período União caberão as matérias de interesse nacional (Artigos 21 e 22
determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de da CF), aos Estados-membros, o interesse regional, e aos muni-
consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Muni- cípios, as questões de predominante interesse local (Artigo 30
cípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade da CF).
Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. Para tanto, a Constituição enumerou expressamente as
competências da União e dos municípios, resguardando aos Es-
Nos termos do supracitado Artigo 18, a organização políti- tados-membros a chamada competência residual, remanescen-
co-administrativa da República Federativa do Brasil compreende te, não enumerada ou não expressa (Artigo 25, §1º da CF).
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos Acresça-se que, para o Distrito Federal, a Constituição atri-
autônomos (não soberanos). Trata-se de norma que reflete a buiu as competências previstas para os estados e os municípios,
forma federativa de Estado. denominada de competência cumulativa (Artigo 32, § 1º da CF).
Ser ente autônomo dentro de um federalismo significa a
possibilidade de implementar uma gestão particularizada, mas Organização do Estado – União
sempre respeitando os limites impostos pelos princípios e regras A União é a pessoa jurídica de Direito Público interno, parte
do Estado federal. Daí, têm-se os seguintes elementos: integrante da Federação brasileira dotada de autonomia. Possui
→ Auto-organização: permite aos Estados-membros cria- capacidade de auto-organização (Constituição Federal), auto-
rem as Constituições Estaduais (Artigo 25 da CF) e aos Municí- governo, auto legislação (Artigo 22 da CF) e autoadministração
pios firmarem suas Leis Orgânicas (Artigo 29 da CF); (Artigo 20 da CF).
→ Auto legislação: os entes da federação podem estabele- A União tem previsão legal na CF, dos Artigos 20 a 24. Ve-
cer normas gerais e abstratas próprias, a exemplos das leis esta- jamos:
duais e municipais (Artigos 22 e 24 da CF);
→ Auto governo: os Estados membros terão seus Governa- CAPÍTULO II
dores e Deputados estaduais, enquanto os Municípios possuirão DA UNIÃO
Prefeitos e Vereadores, nos termos dos Artigos 27 a 29 da CF;
→ Auto administração: os membros da federação podem Art. 20. São bens da União:
prestar e manter serviços próprios, atendendo às competências I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a
administrativas da CF, notadamente de seu Artigo 23. ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das frontei-
ras, das fortificações e construções militares, das vias federais
de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
Vedação aos Entes Federados III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos
Consoante ao Artigo 19 da CF, destaca-se que a autonomia de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de
dos entes da federação não é limitada, e sofre as seguintes ve- limites com outros países, ou se estendam a território estran-
dações: geiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e praias fluviais;
aos Municípios: IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com ou-
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, tros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costei-
embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus ras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios,
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade
na forma da lei, a colaboração de interesse público; ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
II - recusar fé aos documentos públicos; V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. econômica exclusiva;

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DIREITO CONSTITUCIONAL
VI - o mar territorial; XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a po-
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; lícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal,
VIII - os potenciais de energia hidráulica; bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Re-
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueoló- dação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
gicos e pré-históricos; XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística,
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diver-
ao Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado sões públicas e de programas de rádio e televisão;
da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos XVII - conceder anistia;
para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as
minerais no respectivo território, plataforma continental, mar calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;
territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação finan- XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recur-
ceira por essa exploração. (Redação dada pela Emenda Constitu- sos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;
cional nº 102, de 2019) XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, in-
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largu- clusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
ra, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema na-
fronteira, é considerada fundamental para defesa do território cional de viação;
nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei. XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuá-
Art. 21. Compete à União: ria e de fronteiras;
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qual-
organizações internacionais; quer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a
II - declarar a guerra e celebrar a paz; lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e
III - assegurar a defesa nacional; o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que seguintes princípios e condições:
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele a) toda atividade nuclear em território nacional somente
permaneçam temporariamente; será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Con-
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a inter- gresso Nacional;
venção federal; b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercializa-
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de mate- ção e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médi-
rial bélico; cos, agrícolas e industriais;
VII - emitir moeda; c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, co-
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as mercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual
operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, ou inferior a duas horas;
câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdên- d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe
cia privada; da existência de culpa;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de or- XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
denação do território e de desenvolvimento econômico e social; XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; atividade de garimpagem, em forma associativa.
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, conces- Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
são ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrá-
da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de rio, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
um órgão regulador e outros aspectos institucionais; II - desapropriação;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, con- III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo
cessão ou permissão: e em tempo de guerra;
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radio-
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aprovei- difusão;
tamento energético dos cursos de água, em articulação com os V - serviço postal;
Estados onde se situam os potenciais hidro energéticos; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aero- metais;
portuária; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre valores;
portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os VIII - comércio exterior e interestadual;
limites de Estado ou Território; IX - diretrizes da política nacional de transportes;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e inter- X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima,
nacional de passageiros; aérea e aeroespacial;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; XI - trânsito e transporte;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Pú- XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
blico do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
dos Territórios; XIV - populações indígenas;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão
de estrangeiros;

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DIREITO CONSTITUCIONAL
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condi- Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para
ções para o exercício de profissões; a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distri- Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
to Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territó- bem-estar em âmbito nacional.
rios, bem como organização administrativa destes; Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia legislar concorrentemente sobre:
nacionais; I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupan- urbanístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
ça popular; II - orçamento;
XX - sistemas de consórcios e sorteios; III - juntas comerciais;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material béli- IV - custas dos serviços forenses;
co, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões V - produção e consumo;
das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Re- VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
dação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio am-
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviá- biente e controle da poluição;
ria e ferroviária federais; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, tu-
XXIII - seguridade social; rístico e paisagístico;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao con-
XXV - registros públicos; sumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; turístico e paisagístico;
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnolo-
as modalidades, para as administrações públicas diretas, autár- gia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela
quicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Muni- Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
cípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas X - criação, funcionamento e processo do juizado de peque-
públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. nas causas;
173, § 1°, III; XI - procedimentos em matéria processual;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marí- XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
tima, defesa civil e mobilização nacional; XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
XXIX - propaganda comercial. XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Es- de deficiência;
tados a legislar sobre questões específicas das matérias relacio- XV - proteção à infância e à juventude;
nadas neste artigo. XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do civis.
Distrito Federal e dos Municípios: § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das institui- da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº
ções democráticas e conservar o patrimônio público; 13.874, de 2019)
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e ga- § 2º A competência da União para legislar sobre normas ge-
rantia das pessoas portadoras de deficiência; rais não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de va- Lei nº 13.874, de 2019)
lor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
naturais notáveis e os sítios arqueológicos; exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
cultural; suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) Organização do Estado – Estados
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em Os Estados-membros são pessoas jurídicas de Direito Públi-
qualquer de suas formas; co interno, dotados de autonomia, em razão da capacidade de
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; auto-organização (Artigo 25 da CF), autoadministração (Artigo
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abas- 26 da CF), autogoverno (Artigos 27 e 28 da CF) e auto legislação
tecimento alimentar; (Artigo 25 e parágrafos da CF).
IX - promover programas de construção de moradias e a me- Os dispositivos constitucionais referentes ao tema vão dos
lhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; Artigos 25 a 28:
X - combater as causas da pobreza e os fatores de margina-
lização, promovendo a integração social dos setores desfavore- CAPÍTULO III
cidos; DOS ESTADOS FEDERADOS
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de di-
reitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Cons-
em seus territórios; tituições e leis que adotarem, observados os princípios desta
XII - estabelecer e implantar política de educação para a se- Constituição.
gurança do trânsito.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não Como pessoa política também dotada de autonomia, pos-
lhes sejam vedadas por esta Constituição. suem auto-organização (Artigo 29 da CF), auto legislação (Artigo
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante 30 da CF), autogoverno (Incisos do Artigo 29 da CF) e autoadmi-
concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, nistração (Artigo 30 da CF).
vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. A previsão legal sobre os Municípios está prevista na CF, dos
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, insti- Artigos 29 a 31. Vejamos:
tuir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrre-
giões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, CAPÍTULO IV
para integrar a organização, o planejamento e a execução de DOS MUNICÍPIOS
funções públicas de interesse comum.
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergen- dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por
tes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulga-
decorrentes de obras da União; rá, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Muni- I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores,
cípios ou terceiros; para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâ-
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; neo realizado em todo o País;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primei-
União. ro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato
dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso
Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa de Municípios com mais de duzentos mil eleitores;
corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro
dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acres- do ano subsequente ao da eleição;
cido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de IV - para a composição das Câmaras Municipais, será obser-
doze. vado o limite máximo de:
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quin-
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estadu-
ze mil) habitantes;
ais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre siste-
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000
ma eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda
(quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes;
de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000
Armadas.
(trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitan-
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei
tes;
de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo,
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000
setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie,
(cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habi-
para os Deputados Federais, observado o que dispõem os arts.
tantes;
39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte
regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua se- mil) habitantes;
cretaria, e prover os respectivos cargos. f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo le- 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento
gislativo estadual. sessenta mil) habitantes;
Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (tre-
domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo zentos mil) habitantes;
de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de
término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocen-
em primeiro de janeiro do ano subsequente, observado, quanto tos e cinquenta mil) habitantes;
ao mais, o disposto no art. 77. i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até
cargo ou função na administração pública direta ou indireta, res- 600.000 (seiscentos mil) habitantes;
salvada a posse em virtude de concurso público e observado o j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
disposto no art. 38, I, IV e V. 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos cinquenta mil) habitantes;
Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da As- k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de
sembleia Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000
39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (novecentos mil) habitantes;
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
Organização do Estado – Municípios 900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um mi-
Sobre os Municípios, prevalece o entendimento de que são lhão e cinquenta mil) habitantes;
entes federativos, uma vez que os artigos 1º e 18 da CF, são m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
expressos ao elencar a União, os Estados, o Distrito Federal e os de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até
Municípios como integrantes da Federação brasileira. 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes;

19
DIREITO CONSTITUCIONAL
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, pala-
de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até vras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Mu-
1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes; nicípio;
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vere-
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até ança, similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição
1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes; para os membros do Congresso Nacional e na Constituição do
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais respectivo Estado para os membros da Assembleia Legislativa;
de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de até X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da
q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais Câmara Municipal;
de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até XII - cooperação das associações representativas no plane-
2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes; jamento municipal;
r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse especí-
de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes e de fico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifesta-
até 3.000.000 (três milhões) de habitantes; ção de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado;
s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28,
de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 parágrafo único.
(quatro milhões) de habitantes; Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Munici-
t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais pal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos
de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais,
(cinco milhões) de habitantes; relativos ao somatório da receita tributária e das transferências
u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente
de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 realizado no exercício anterior:
(seis milhões) de habitantes; I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais até 100.000 (cem mil) habitantes;
de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre
(sete milhões) de habitantes; 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes;
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população
de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil)
(oito milhões) de habitantes; e habitantes;
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para
Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e um)
de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
e 3.000.000 (três milhões) de habitantes;
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população
Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, ob-
entre 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões)
servado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III,
de habitantes;
e 153, § 2º, I;
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Mu-
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas
nicípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões e um)
Câmaras Municipais em cada legislatura para a subsequente,
habitantes.
observado o que dispõe esta Constituição, observados os crité-
§ 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por
rios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limi-
cento de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto
tes máximos: com o subsídio de seus Vereadores.
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máxi- § 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Muni-
mo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio cipal:
dos Deputados Estaduais; I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste ar-
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitan- tigo;
tes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a trinta II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitan- Orçamentária.
tes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a quaren- § 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente da
ta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitan- Art. 30. Compete aos Municípios:
tes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a cinquen- I - legislar sobre assuntos de interesse local;
ta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que cou-
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil ber;
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem
sessenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e cin- IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legisla-
co por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; ção estadual;
VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de con-
não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita cessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, in-
do Município; cluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;

20
DIREITO CONSTITUCIONAL
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União Territórios
e do Estado, programas de educação infantil e de ensino funda- Os Territórios possuem natureza jurídica de autarquias ter-
mental; ritoriais integrantes da Administração indireta da União. Por
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União isso, não são dotados de autonomia política.
e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento ter- SEÇÃO II
ritorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcela- DOS TERRITÓRIOS
mento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e
local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e es- judiciária dos Territórios.
tadual. § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste
Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas Título.
de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas
com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Muni- da União.
cípio ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, § 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitan-
onde houver. tes, além do Governador nomeado na forma desta Constituição,
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância, mem-
as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de bros do Ministério Público e defensores públicos federais; a lei
prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e sua compe-
Municipal. tência deliberativa.
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias,
anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame Intervenção Federal e Estadual
e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos É uma excepcional possibilidade de supressão temporária
termos da lei.
da autonomia política de um ente federativo. Suas hipóteses in-
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos
tegram um rol taxativo previsto na Constituição Federal.
de Contas Municipais.

Organização do Estado - Distrito Federal e Territórios


CAPÍTULO VI
DA INTERVENÇÃO
Distrito Federal
O Distrito Federal é o ente federativo com competências
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito
parcialmente tuteladas pela União, conforme se extrai dos Arti-
Federal, exceto para:
gos 21, XIII e XIV, e 22, VII da CF.
Por ser considerado um ente político dotado de autonomia, I - manter a integridade nacional;
possui capacidade de auto-organização (Artigo 32 da CF), auto- II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Fede-
governo (Artigo 32, §§ 2º e 3º da CF), autoadministração (Artigo ração em outra;
32, §§ 1º e 4º da CF) e auto legislação (Artigo 32, § 1º da CF). III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas
CAPÍTULO V unidades da Federação;
DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de
SEÇÃO I dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
DO DISTRITO FEDERAL b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fi-
xadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Muni- VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão ju-
cípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com dicial;
interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da VII - assegurar a observância dos seguintes princípios cons-
Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios titucionais:
estabelecidos nesta Constituição. a) forma republicana, sistema representativo e regime de-
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências le- mocrático;
gislativas reservadas aos Estados e Municípios. b) direitos da pessoa humana;
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, obser- c) autonomia municipal;
vadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá d) prestação de contas da administração pública, direta e
com a dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato indireta.
de igual duração. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de im-
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica- postos estaduais, compreendida a proveniente de transferên-
-se o disposto no art. 27. cias, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do serviços públicos de saúde.
Distrito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia mili- Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a
tar e do corpo de bombeiros militar. (Redação dada pela Emenda União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto
Constitucional nº 104, de 2019) quando:

21
DIREITO CONSTITUCIONAL
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois § 1º São princípios institucionais do Ministério Público a uni-
anos consecutivos, a dívida fundada; dade, a indivisibilidade e a independência funcional.
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; § 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcio-
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita mu- nal e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169,
nicipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e
e serviços públicos de saúde; serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de
para assegurar a observância de princípios indicados na Consti- carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.
tuição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou § 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamen-
de decisão judicial. tária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orça-
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: mentárias.
I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo § 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva
ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de
Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Po- diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para
der Judiciário; fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com
de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal os limites estipulados na forma do § 3º.
de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; § 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de repre- encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma
sentação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. do § 3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários
34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal. para fins de consolidação da proposta orçamentária anual.
IV - (Revogado). § 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não po-
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, derá haver a realização de despesas ou a assunção de obriga-
o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará ções que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes
o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacio- orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a
nal ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e abertura de créditos suplementares ou especiais.
quatro horas.
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Art. 128. O Ministério Público abrange:
Assembleia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no I - o Ministério Público da União, que compreende:
mesmo prazo de vinte e quatro horas. a) o Ministério Público Federal;
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispen- b) o Ministério Público do Trabalho;
sada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia c) o Ministério Público Militar;
Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da nor- II - os Ministérios Públicos dos Estados.
malidade. § 1º O Ministério Público da União tem por chefe o Procura-
dor-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos,
afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos mem-
legal. bros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida
a recondução.
Referências Bibliográficas: § 2º A destituição do Procurador-Geral da República, por
BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons- iniciativa do Presidente da República, deverá ser precedida de
titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. autorização da maioria absoluta do Senado Federal.
Salvador: Editora JusPODIVM. § 3º Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Fe-
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e deral e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procu-
rador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo,
para mandato de dois anos, permitida uma recondução.
§ 4º Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Fe-
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA deral e Territórios poderão ser destituídos por deliberação da
maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei comple-
mentar respectiva.
CAPÍTULO IV § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja ini-
DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA ciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabe-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014) lecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Minis-
SEÇÃO I tério Público, observadas, relativamente a seus membros:
DO MINISTÉRIO PÚBLICO I - as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, es- perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julga-
sencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a de- do;
fesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.

22
DIREITO CONSTITUCIONAL
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos Tri-
mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério bunais de Contas aplicam-se as disposições desta seção perti-
Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, asse- nentes a direitos, vedações e forma de investidura.
gurada ampla defesa;
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público com-
4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, põe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da Re-
153, § 2º, I; pública, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
II - as seguintes vedações: Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, hono- recondução, sendo:
rários, percentagens ou custas processuais; I o Procurador-Geral da República, que o preside;
b) exercer a advocacia; II quatro membros do Ministério Público da União, assegu-
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; rada a representação de cada uma de suas carreiras;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra III três membros do Ministério Público dos Estados;
função pública, salvo uma de magistério; IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal
e) exercer atividade político-partidária; e outro pelo Superior Tribunal de Justiça;
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contri- V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Or-
buições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, res- dem dos Advogados do Brasil;
salvadas as exceções previstas em lei. VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ili-
§ 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto bada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo
no art. 95, parágrafo único, V. Senado Federal.
§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério Pú-
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: blico serão indicados pelos respectivos Ministérios Públicos, na
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma forma da lei.
da lei; § 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério
serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus mem-
Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garan- bros, cabendo lhe:
tia; I zelar pela autonomia funcional e administrativa do Minis-
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
tério Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
de sua competência, ou recomendar providências;
outros interesses difusos e coletivos;
II zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou represen-
mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos pra-
tação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos
ticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União
previstos nesta Constituição;
e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo
V - defender judicialmente os direitos e interesses das po-
para que se adotem as providências necessárias ao exato cum-
pulações indígenas;
primento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos
Contas;
de sua competência, requisitando informações e documentos
para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; III - receber e conhecer das reclamações contra membros
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na for- ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, in-
ma da lei complementar mencionada no artigo anterior; clusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da compe-
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de tência disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar
inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a
manifestações processuais; disponibilidade e aplicar outras sanções administrativas, assegu-
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde rada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional
que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a repre- nº 103, de 2019)
sentação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. IV rever, de ofício ou mediante provocação, os processos
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis disciplinares de membros do Ministério Público da União ou dos
previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas Estados julgados há menos de um ano;
hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei. V elaborar relatório anual, propondo as providências que
§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exerci- julgar necessárias sobre a situação do Ministério Público no País
das por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem
da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição. prevista no art. 84, XI.
§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á § 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corre-
mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a gedor nacional, dentre os membros do Ministério Público que o
participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realiza- integram, vedada a recondução, competindo-lhe, além das atri-
ção, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos buições que lhe forem conferidas pela lei, as seguintes:
de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem I receber reclamações e denúncias, de qualquer interessa-
de classificação. do, relativas aos membros do Ministério Público e dos seus ser-
§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o dis- viços auxiliares;
posto no art. 93. II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e
§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será correição geral;
imediata.

23
DIREITO CONSTITUCIONAL
III requisitar e designar membros do Ministério Público, de- § 3º Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a
legando-lhes atribuições, e requisitar servidores de órgãos do representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda
Ministério Público. Nacional, observado o disposto em lei.
§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advo-
gados do Brasil oficiará junto ao Conselho. Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Fede-
§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Mi- ral, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de
nistério Público, competentes para receber reclamações e de- concurso público de provas e títulos, com a participação da Or-
núncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos dem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão
do Ministério Público, inclusive contra seus serviços auxiliares, a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas
representando diretamente ao Conselho Nacional do Ministério unidades federadas.
Público. Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo
é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício,
Advocacia Pública mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios,
após relatório circunstanciado das corregedorias.
Advocacia Pública Federal
A Advocacia Pública Federal é exercida pela Advocacia-Geral Advocacia
da União, que é a instituição que, diretamente ou através de
órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmen- Advocacia Privada
te, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser O Artigo 133 da CF preceitua que o advogado é indispensá-
sobre sua organização e funcionamento (Lei Complementar nº vel à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e
73/1993), as atividades de consultoria e assessoramento jurídi- manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.
co do Poder Executivo. Esta norma traz a lume duas características fundamentais
Observe o quadro abaixo: do advogado:
a) a indispensabilidade, como regra; e
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO b) a imunidade relativa no exercício do seu mister.

Representação judicial e ex- Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a


trajudicial da União (órgãos e en- Advocacia Privada:
Dimensão contenciosa
tidades dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário). SEÇÃO III
Consultoria e Assessora- DA ADVOCACIA
Dimensão consultiva mento jurídico dos órgãos e enti- (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)
dades do Poder Executivo.
Art. 133. O advogado é indispensável à administração da
Advocacia Pública nos Estados e no Distrito Federal justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercí-
É exercida pelos procuradores dos estados e pelos procu- cio da profissão, nos limites da lei.
radores do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o
ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com Defensoria Pública
a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as
suas fases, cumprindo a representação judicial e a consultoria É instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
jurídica das respectivas unidades federadas. incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os
graus, dos necessitados, na forma do Artigo 5º, LXXIV.
Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a
Advocacia Pública: Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a
Defensoria Pública:
SEÇÃO II
DA ADVOCACIA PÚBLICA SEÇÃO IV
DA DEFENSORIA PÚBLICA
Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)
diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União,
judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, es-
complementar que dispuser sobre sua organização e funciona- sencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como
mento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico expressão e instrumento do regime democrático, fundamental-
do Poder Executivo. mente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e
§ 1º A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado- a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos
-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos neces-
dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber sitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição
jurídico e reputação ilibada. Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de
§ 2º O ingresso nas classes iniciais das carreiras da institui- 2014)
ção de que trata este artigo far-se-á mediante concurso público § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União
de provas e títulos. e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais
para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos,

24
DIREITO CONSTITUCIONAL
na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, asse- Vejamos o dispositivo constitucional que o representa:
gurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o
exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. TÍTULO V
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas au- Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas
tonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta CAPÍTULO I
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretri- DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO
zes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. Seção I
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da DO ESTADO DE DEFESA
União e do Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Constitucio-
nal nº 74, de 2013) Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conse-
§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a lho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar es-
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplican- tado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em
do-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social
II do art. 96 desta Constituição Federal. (Incluído pela Emenda ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou
Constitucional nº 80, de 2014) atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará
Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplina- o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangi-
das nas Seções II e III deste Capítulo serão remunerados na for- das e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas
ma do art. 39, § 4º. a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
Referências Bibliográficas: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Pro- c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
vas e Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos,
na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos
danos e custos decorrentes.
DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMO- § 2º O tempo de duração do estado de defesa não será su-
CRÁTICAS perior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual
período, se persistirem as razões que justificaram a sua decre-
TÍTULO V tação.
DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS § 3º Na vigência do estado de defesa:
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo exe-
O Título V da Carta Constitucional consagra as normas per- cutor da medida, será por este comunicada imediatamente ao
tinentes à defesa do Estado e das instituições democráticas, juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao
prevendo medidas excepcionais para manter ou restabelecer a preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;
ordem constitucional em momentos de anormalidade da vida II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela
política do Estado, é o chamado sistema constitucional das cri- autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de
ses, composto pelo estado de defesa (Artigo 136, da CF) e pelo sua autuação;
estado de sítio (Artigos 137 a 139, da CF). III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá
Ademais, prevê o Texto Maior o perfil constitucional das ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Ju-
instituições responsáveis pela defesa do Estado, quais sejam, as diciário;
Forças Armadas (Artigos 142 e 143, da CF) e os órgãos de segu- IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
rança pública (Artigo 144, da CF). § 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o
Com efeito, os estados de defesa e de sítio são momentos Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, subme-
de crise constitucional de legalidade extraordinária, em que são terá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional,
permitidas a suspensão ou a diminuição do alcance de certos que decidirá por maioria absoluta.
direitos fundamentais, mitigando a proteção dos cidadãos em § 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convo-
face da ação opressora do Estado. cado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.
§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de
Sistema Constitucional das Crises dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar fun-
cionando enquanto vigorar o estado de defesa.
Estado de Defesa Estado de Sítio § 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de
defesa.
Estado de Defesa
Estado de Sítio
Consiste na instauração de uma legalidade extraordinária,
por tempo certo, em locais restritos e determinados, median- Consiste na instauração de uma legalidade extraordinária,
te decreto do Presidente da República, ouvidos o Conselho da por tempo determinado (que poderá ser no território nacio-
República e o Conselho de Defesa Nacional, para preservar a or- nal inteiro), objetivando preservar ou restaurar a normalidade
dem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente ins- constitucional, perturbada por motivo de comoção grave de re-
tabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes percussão nacional ou por situação de beligerância com Estado
proporções da natureza. estrangeiro (Artigo 49, II c/c Artigo 84, XIX, da CF).

25
DIREITO CONSTITUCIONAL
É mais grave que o estado de defesa, no sentido em que as Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio,
medidas tomadas contra os direitos individuais serão mais res- cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade
tritivas, conforme faz ver o Artigo 139, da CF. pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.
Vejamos os dispositivos constitucionais correspondentes: Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o
estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão rela-
Seção II tadas pelo Presidente da República, em mensagem ao Congres-
DO ESTADO DE SÍTIO so Nacional, com especificação e justificação das providências
adotadas, com relação nominal dos atingidos e indicação das
Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conse- restrições aplicadas.
lho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao
Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio Forças Armadas e Segurança Pública
nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de Forças Armadas
fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o
estado de defesa; Constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáuti-
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão ca, são instituições nacionais permanentes e regulares, organi-
armada estrangeira. zadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar au- suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da
torização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Con- qualquer destes, da lei e da ordem.
gresso Nacional decidir por maioria absoluta.
Segurança Pública
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração,
as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucio- Dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
nais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumida-
da República designará o executor das medidas específicas e as
de das pessoas e do patrimônio.
áreas abrangidas.
Os órgãos de segurança pública são: polícia federal, polícia
§ 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá
rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polí-
ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada
cias militares e corpos de bombeiros militares e polícias penais
vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por
federal, estaduais e distrital.
todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada es-
trangeira.
Segue abaixo os Artigos da CF, correspondentes aos referi-
§ 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio
dos temas:
durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal,
de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacio-
nal para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato. CAPÍTULO II
§ 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamen- DAS FORÇAS ARMADAS
to até o término das medidas coercitivas.
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha,
Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fun- pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais per-
damento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pes- manentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
soas as seguintes medidas: disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República,
I - obrigação de permanência em localidade determinada; e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes consti-
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou conde- tucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
nados por crimes comuns; § 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a se-
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondên- rem adotadas na organização, no preparo e no emprego das For-
cia, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à ças Armadas.
liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disci-
IV - suspensão da liberdade de reunião; plinares militares.
V - busca e apreensão em domicílio; § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados mi-
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; litares, aplicando-se lhes, além das que vierem a ser fixadas em
VII - requisição de bens. lei, as seguintes disposições:
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a di- I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas
fusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República e assegu-
Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa. radas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reforma-
dos, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares e, junta-
Seção III mente com os demais membros, o uso dos uniformes das Forças
DISPOSIÇÕES GERAIS Armadas;
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou em-
Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líde- prego público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista
res partidários, designará Comissão composta de cinco de seus no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será transferido para a reserva,
membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas nos termos da lei;
referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar pos- I - apurar infrações penais contra a ordem política e social
se em cargo, emprego ou função pública civil temporária, não ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
eletiva, ainda que da administração indireta, ressalvada a hipó- suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como ou-
tese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, ficará agregado tras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser
nessa situação, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe em lei;
o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferên- II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e
cia para a reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da
contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei; ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; áreas de competência;
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filia- III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e
do a partidos políticos; de fronteiras;
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciá-
indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de ria da União.
tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organi-
tribunal especial, em tempo de guerra; zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena -se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias
privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença tran- federais.
sitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, orga-
inciso anterior; nizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, -se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias
XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, federais.
bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade mili- § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
tar, no art. 37, inciso XVI, alínea “c”; carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as fun-
IX - (Revogado) ções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exce-
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os to as militares.
limites de idade, a estabilidade e outras condições de transfe- § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a pre-
rência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a servação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares,
remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, in- atividades de defesa civil.
clusive aquelas cumpridas por força de compromissos interna- § 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administra-
cionais e de guerra. dor do sistema penal da unidade federativa a que pertencem,
cabe a segurança dos estabelecimentos penais. (Redação dada
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares,
serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente
alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos
decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou polí- Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
tica, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
militar. § 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos
§ 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a ga-
militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros rantir a eficiência de suas atividades.
encargos que a lei lhes atribuir. § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais
destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, con-
CAPÍTULO III forme dispuser a lei.
DA SEGURANÇA PÚBLICA § 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos
órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e res- do art. 39.
ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem § 10. A segurança viária, exercida para a preservação da or-
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio
dos seguintes órgãos: nas vias públicas:
I - polícia federal; I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de
II - polícia rodoviária federal; trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegu-
III - polícia ferroviária federal; rem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
IV - polícias civis; II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.
dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão perma- Referências Bibliográficas:
nente, organizado e mantido pela União e estruturado em car- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Pro-
reira, destina-se a: vas e Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
5. Com base nas disposições constitucionais sobre os direi-
EXERCÍCIOS tos e garantias fundamentais, analise as afirmativas a seguir:
I. Os cargos de Vice-Presidente da República e Senador são
1. [...] não se pode deduzir que todos os direitos fundamen- privativos de brasileiro nato.
tais possam ser aplicados e protegidos da mesma forma, embora II. São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
todos eles estejam sob a guarda de um regime jurídico refor- III. Os partidos políticos não estão subordinados a nenhum
çado, conferido pelo legislador constituinte. (HACHEM, Daniel tipo de governo, mas podem receber recursos financeiros de en-
Wunder. Mandado de Injunção e Direitos Fundamentais, 2012.) tidades nacionais ou estrangeiras.
Sobre o tema, assinale a alternativa correta.
(A)É compatível com a posição do autor inferir-se que, não Assinale
obstante o reconhecimento do princípio da aplicabilidade (A) se somente a afirmativa I estiver correta.
imediata das normas definidoras de direitos e garantias fun- (B) se somente a afirmativa II estiver correta.
damentais, há peculiaridades nas consequências jurídicas (C) se somente a afirmativa III estiver correta
extraíveis de cada direito fundamental, haja vista existirem (D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
distintos níveis de proteção. (E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(B)É compatível com a posição do autor a recusa ao reco-
nhecimento do princípio da aplicabilidade imediata das 6. Doutrinariamente, o conceito e a classificação das cons-
normas definidoras de direitos e garantias fundamentais no tituições podem variar de acordo com o sentido e o critério
sistema constitucional brasileiro. adotados para sua definição. A respeito dessa temática, leia as
(C) O autor se refere particularmente à distinção existente afirmativas abaixo:
entre direitos fundamentais políticos e direitos fundamentais I. Para o sociólogo Ferdinand Lassalle, “Constituição” seria
sociais, haja vista a mais ampla proteção constitucional aos a somatória dos fatores reais de poder dentro de uma socieda-
primeiros, que não estão limitados ao mínimo existencial. de, enquanto reflexo do embate das forças econômicas, sociais,
(D) O autor se refere particularmente à distinção entre os políticas e religiosas de um Estado. Nesse sentido, por ser uma
direitos fundamentais que consistem em cláusulas pétreas e norma jurídica, ainda que não efetiva, uma Constituição legítima
os direitos fundamentais que não estão protegidos por essa é aquela escrita em uma “folha de papel”.
cláusula, sendo que a maior proteção dada aos primeiros os II. O alemão Carl Schmitt define “Constituição” como sendo
torna imunes à incidência da reserva do possível. uma decisão política fundamental, cuja finalidade precípua é or-
(E) O autor se refere particularmente à distinção entre os di- ganizar e estruturar os elementos essenciais do Estado. Trata-se
reitos fundamentais que estão expressos na Constituição de do sentido político delineado na teoria decisionista ou volunta-
1988 e aqueles que estão implícitos, decorrendo dos princí-
rista, em que a Constituição é um produto da vontade do titular
pios por ela adotados, haja vista o expresso regime diferen-
do Poder Constituinte.
ciado de proteção estabelecido em nível constitucional para
III. Embasada em uma concepção jurídica, “Constituição”
esses dois grupos de direitos.
é uma norma pura, a despeito de fundamentações oriundas de
outras disciplinas. Através do sentido jurídico-positivo, Hans Kel-
2. De acordo com a Constituição Federal de 1988, é certo
sen define a Constituição como norma positiva suprema, dentro
dizer que quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
de um sistema escalonado e hierarquizado de normas, em que
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
aquela serve de fundamento de validade para todas as demais.
seguintes requisitos: aproveitamento racional e adequado; utili-
IV. “Constituição-dirigente ou registro” é aquela que traça di-
zação adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação
do meio ambiente; observância das disposições que regulam as retrizes objetivando nortear a ação estatal, mediante a previsão
relações de trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos de normas programáticas. Marcante em nações socialistas, visa
proprietários e dos trabalhadores, está cumprida a: reger o ordenamento jurídico de um Estado durante certo perío-
(A) Função econômica. do de tempo nela estabelecido, cujo decurso implicará a elabora-
(B) Reforma agrária. ção de uma nova Constituição ou adaptação de seu texto.
(C) Desapropriação. V. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
(D) Função social. é classificada, pela doutrina majoritária, como sendo de ordem
democrática, nominativa, analítica, material e super-rígida.
3. Assinale a única alternativa que não contemple um direito
social previsto na Constituição Federal. Assinale a alternativa correta.
(A)direito ao lazer (A)Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas
(B) . direito à previdência social (B) . Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas
(C) direito à alimentação (C)Apenas as afirmativas II, III e V estão corretas
(D)direito à ampla defesa (D) Apenas as afirmativas II e III estão corretas
(E) direito à educação
7. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da Repú-
4. Segundo as disposições do Art. 12 da Constituição Fede- blica, auxiliado pelos Ministros de Estado. No que se refere às
ral, é privativo de brasileiro nato o cargo de: disposições constitucionais sobre o Poder Executivo, analise as
(A)Ministro do Supremo Tribunal Federal. afirmativas abaixo:
(B)Ministro de Estado da Justiça e da Segurança Pública. I. O Vice-Presidente da República, além de outras atribui-
(C) Ministro do Superior Tribunal de Justiça. ções que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará
(D) Deputado Federal. o Presidente, sempre que por ele convocado para missões es-
(E) Senador da República. peciais.

28
DIREITO CONSTITUCIONAL
II. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presi- (D)A atenção prestada não se refere ao escopo de um indi-
dente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamen- víduo ou uma família, mas deve ter presente que sua res-
te chamados ao exercício da Presidência o Presidente do Supre- ponsabilidade exige que se organize para que a ela tenham
mo Tribunal Federal, da Câmara dos Deputados e o do Senado acesso todos aqueles que estão na mesma situação.
Federal. (E) Atenções prestadas de modo focalizadas a grupos de po-
III. Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período bres e miseráveis, de forma subalternizadora, constituindo
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias um processo de assistencialização das políticas sociais.
depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
11. Acerca do Controle de Constitucionalidade, marque a
Assinale a alternativa correta. opção CORRETA.
(A)As afirmativas I, II e III estão corretas (A)Os efeitos da decisão que afirma a inconstitucionalidade
(B)Apenas as afirmativas I e II estão corretas da norma em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade,
(C) Apenas as afirmativas II e III estão corretas em regra, são ex nunc.
(D) Apenas as afirmativas I e III estão corretas (B)O controle de Constitucionalidade de qualquer decreto
regulamentar deve ser realizado pela via difusa.
8. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsa- (C) É impossível matéria de fato em sede de Ação Direta de
bilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem públi- Inconstitucionalidade.
ca e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos (D) Após a propositura da Ação Declaratória de Constitucio-
seguintes órgãos, EXCETO: nalidade é admissível a desistência.
(A) Polícia Federal. (E) A mutação constitucional tem relação não com o aspec-
(B) Polícia Rodoviária Federal. to formal do texto constitucional, mas com a interpretação
(C) Defesa Civil. dada à Constituição.
(D) Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
12. Sobre a aplicabilidade das normas constitucionais, exa-
9. De acordo com as disposições constitucionais acerca da mine as assertivas seguintes:
Ordem Social, assinale a afirmativa incorreta. I – Para Hans Kelsen, eficácia é a possibilidade de a norma
(A)A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata- jurídica, a um só tempo, ser aplicada e não obedecida, obedeci-
mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e da e não aplicada. Para se considerar um preceito como eficaz
o progresso da ciência, tecnologia e inovação. deve existir a possibilidade de uma conduta em desarmonia com
(B)A educação básica pública terá como fonte adicional de a norma. Uma norma que preceituasse um certo evento que
financiamento a contribuição social do salário-educação, re- de antemão se sabe que necessariamente se tem de verificar,
colhida pelas empresas na forma da lei. sempre e em toda parte, por força de uma lei natural, será tão
absurda como uma norma que preceituasse um certo fato que
(C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados de antemão se sabe que de forma alguma se poderá verificar,
a vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades igualmente por força de uma lei natural.
públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tec- II – O fenômeno relativo à desconstitucionalização, ou seja,
nológica. a retirada de temas do sistema constitucional e a sua inserção
(D) Incumbe ao Poder Público promover a educação am- em sede de legislação ordinária, pode ser observado no Brasil.
biental em todos os níveis de ensino e a conscientização pú- III – A norma constitucional com eficácia relativa restringí-
blica para a preservação do meio ambiente. vel tem aplicabilidade direta e imediata, podendo, todavia, ter
(E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no a amplitude reduzida em razão de sobrevir texto legislativo or-
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos dinário ou mesmo sentença judicial que encurte o espectro nor-
pais ou responsáveis, pela frequência à escola. mativo, como é, por exemplo, o direito individual à inviolabilida-
de do domicílio, desde que é possível, por determinação judicial,
10. A Constituição Brasileira instituiu um modelo de prote- que se lhe promova restrição.
ção social aos brasileiros que inclui a assistência social como um
direito de seguridade social reclamável juridicamente e traduzí- Assinale a alternativa CORRETA:
vel em proteção social não contributiva devida ao cidadão (BRA- (A)Apenas as assertivas I e II estão corretas.
SIL, 2013). Sobre a assistência social como direito à seguridade (B)Apenas as assertivas I e III estão corretas.
social é CORRETO afirmar que: (C) Apenas as assertivas II e III estão corretas.
(A) A confguração da assistência social como política pública (D) Todas as assertivas estão corretas.
lhe atribui um campo específico de ação, no caso, a prote-
ção social não contributiva como direito de cidadania, aos 13. Sobre o Poder Legislativo da União, assinale a alternati-
que dela necessitar, os pobres. va INCORRETA.
(B)A política de assistência social, como política de seguri- (A)A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes
dade social, é responsável pela provisão de direitos sociais. do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada esta-
(C) Na condição de prática, a política de assistência social do, em cada território e no Distrito Federal.
pode ter múltiplas expressões, ser realizada em direções (B) O Senado Federal compõe-se de representantes dos es-
e abrangências diferentes, desenvolver experiências, fazer tados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio ma-
uma ou outra atenção. joritário.
(C) Cada estado, território e o Distrito Federal elegerão três
senadores, com mandato de oito anos.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
(D) O número total de deputados, bem como a representa- 17. A respeito do controle de constitucionalidade preventi-
ção por estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por vo no direito brasileiro, é correto afirmar que
lei complementar, proporcionalmente à população, proce- (A)é exercido pelo Legislativo ao sustar os atos normativos
dendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às elei- do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar
ções, para que nenhuma das unidades da Federação tenha ou dos limites de delegação legislativa.
menos de oito ou mais de setenta deputados. (B)é praticado, por exemplo, quando o Senado suspende a
execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitu-
14. Referente ao Poder Judiciário, assinale a alternativa correta. cional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal.
(A)O ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, (C) não cabe ao Poder Judiciário exercer esse tipo de contro-
por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da le, Poder este que tem competência apenas para exercer o
maioria do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de controle repressivo.
Justiça, assegurada ampla defesa. (D) as comissões parlamentares têm competência para
(B)Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julga- exercer esse tipo de controle ao examinar os projetos de lei
dores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo a elas submetidos.
de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exer- (E) o veto presidencial, que é uma forma de controle pre-
cício das atribuições administrativas e jurisdicionais delega- ventivo de constitucionalidade, é sujeito à apreciação e anu-
das da competência do tribunal pleno, provendo-se metade lação pelo Poder Judiciário.
das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo
tribunal pleno. 18. Acerca do Controle de Constitucionalidade, marque a
(C) Aos juízes é vedado exercer a advocacia no juízo ou tri- opção CORRETA.
bunal do qual se afastou, antes de decorridos 02 (dois) anos (A)Os efeitos da decisão que afirma a inconstitucionalidade
do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. da norma em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade,
(D) As custas e emolumentos serão destinados, preferen- em regra, são ex nunc.
cialmente, ao custeio dos serviços afetos às atividades es- (B)O controle de Constitucionalidade de qualquer decreto
pecíficas da Justiça. regulamentar deve ser realizado pela via difusa.
(E)O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) (C) É impossível matéria de fato em sede de Ação Direta de
membros com mandato de 2 (dois) anos, vedada a recon- Inconstitucionalidade.
dução. (D)Após a propositura da Ação Declaratória de Constitucio-
nalidade é admissível a desistência.
15. O Ministério Público da União compreende: (E) A mutação constitucional tem relação não com o aspec-
(A)o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Tra- to formal do texto constitucional, mas com a interpretação
balho e o Ministério Público Militar. dada à Constituição.
(B) o Ministério Público Estadual, o Ministério Público do
Trabalho e o Ministério Público Militar. 19. A luz da Constituição Federal de 1988, é CORRETO afir-
(C) o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Tra- mar que é um princípio da República Federativa do Brasil, em
balho e o Ministério Público do Distrito Federal. que irá reger-se em suas relações internacionais.
(D)o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Tra- (A) Soberania.
balho e o Ministério Público Militar, do Distrito Federal e (B)Garantir o desenvolvimento nacional.
territórios. (C) A dignidade da pessoa humana.
(E) o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Tra- (D) Auto determinação dos povos.
balho e o Ministério Público Militar e territórios.
20. Leia as afirmativas a seguir:
16. Com base nas disposições constitucionais sobre a Ad- I. De acordo com o artigo 20 da Constituição da República
vocacia Pública e a Defensoria Pública, analise os itens abaixo: Federativa do Brasil de 1988, são bens da União as terras de-
I. Aos advogados públicos são assegurados a inamovibilida- volutas dispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e
de, a independência funcional e a estabilidade após três anos de construções militares, das vias internacionais de comunicação e
efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante à degradação ambiental, definidas em lei.
os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das correge- II. A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 7º, a ida-
dorias. de inicial e as condições em que é permitido trabalhar no Brasil.
II. A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado- O dispositivo constitucional estabelece a proibição de trabalho
-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República noturno, perigoso ou insalubre aos menores de dezesseis anos
dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber e de qualquer trabalho aos menores de quatorze anos, salvo na
jurídico e reputação ilibada. condição de aprendiz, a partir de doze anos.
III. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial
à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, dentre outras Marque a alternativa CORRETA:
atribuições, a orientação jurídica aos necessitados. (A) . As duas afirmativas são verdadeiras.
(B)A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.
Assinale: (C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
(A)se apenas a afirmativa I estiver correta. (D)As duas afirmativas são falsas.
(B) se apenas a afirmativa II estiver correta.
(C) se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas.
(D) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.

30
DIREITO CONSTITUCIONAL
21. De acordo com as disposições constitucionais acerca da
Ordem Social, assinale a afirmativa incorreta. GABARITO
(A)A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata-
mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e 1 A
o progresso da ciência, tecnologia e inovação.
(B) A educação básica pública terá como fonte adicional de 2 D
financiamento a contribuição social do salário-educação, re- 3 D
colhida pelas empresas na forma da lei.
4 A
(C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados
a vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades 5 B
públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tec- 6 D
nológica.
(D) Incumbe ao Poder Público promover a educação am- 7 D
biental em todos os níveis de ensino e a conscientização pú- 8 C
blica para a preservação do meio ambiente. 9 C
(E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos 10 D
pais ou responsáveis, pela frequência à escola. 11 E
12 B
22. A Constituição Federal de 1988 traz uma nova concep-
ção para a Assistência Social brasileira. Incluída no âmbito da 13 C
Seguridade Social e regulamentada pela Lei Orgânica da Assis- 14 B
tência Social (LOAS), como política social pública, a assistência
15 D
social inicia seu trânsito para um campo novo: o campo dos
direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade 16 D
estatal. Entre as diretrizes traçadas para a Assistência Social en- 17 D
contra-se:
(A) participação da população, por meio de organizações re- 18 E
presentativas, na formulação das políticas e no controle das 19 D
ações em todos os níveis.
20 D
(B) centralização político-administrativa, cabendo a coorde-
nação e as normas gerais à esfera municipal com a participa- 21 C
ção de outras entidades. 22 A
(C)primazia da responsabilidade da sociedade civil na con-
dução da Política de Assistência Social em cada esfera de
governo.
(D) centralidade nas pessoas em situação de risco para con- ANOTAÇÕES
cepção e implementação dos benefícios, serviços, progra-
mas e projetos.
(E) gestão dos recursos financeiros pela Câmara Municipal ______________________________________________________
local, a quem cabe definir as prioridades para a distribuição.
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DIREITO PENAL
1. Princípios penais constitucionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Tempo e lugar do crime. Contagem de prazo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. Conceito de crime e seus elementos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
4. Concurso de pessoas: Autoria. Participação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
5. Ação penal. Classificação. Condições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Dos crimes em espécie: Crimes contra a pessoa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
7. Crimes contra o patrimônio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
8. Crimes contra a dignidade sexual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
9. Crimes contra a Administração Pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
DIREITO PENAL
• Administrativa: na execução da pena as decisões do juiz da
PRINCÍPIOS PENAIS CONSTITUCIONAIS execução precisam ser pautadas na individualidade de cada um.

Princípio da Legalidade Princípio da intranscendência da pena


Nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena Este princípio impede que a pena ultrapasse a pessoa do infra-
criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência deste fato tor, ex. não se estende aos familiares. Todavia, a obrigação de repa-
exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção rar o dano e a decretação do perdimento de bens podem ser atribu-
correspondente (nullum crimen sine praevia lege). Ou seja, a lei ídas aos sucessores, mas somente até o limite do valor da herança.
precisa existir antes da conduta, para que seja atendido o princípio Isso ocorre porque tecnicamente o bem é do infrator, os sucessores
da legalidade. vão utilizar o dinheiro do infrator para realizarem o pagamento.
Multa é espécie de pena, portanto, não pode ser executada em
Princípio da Reserva Legal face dos herdeiros. Com a morte do infrator extingue-se a punibili-
Somente a lei em sentido estrito, emanada do Poder Legislati- dade, não podendo ser executada a pena de multa.
vo, pode definir condutas criminosas e estabelecer sanções penais.
Todavia, de acordo com posicionamento do STF, norma não incrimi- Princípio da limitação das penas ou da humanidade
nadora (mais benéfica ao réu) pode ser editada por medida provi- De acordo com a Constituição Federal, são proibidas as seguin-
sória. Outro entendimento interessante do STF é no sentido de que tes penas:
no Direito Penal cabe interpretação extensiva, uma vez que, nesse • Morte (salvo em caso de guerra declarada);
caso a previsão legal encontra-se implícita. • Perpétua;
• Trabalho forçado;
Princípio da Taxatividade • Banimento;
Significa a proibição de editar leis vagas, com conteúdo impre- • Cruéis.
ciso. Ou seja, ao dizer que a lei penal precisa respeitar a taxativida-
de enseja-se a ideia de que a lei tem que estabelecer precisamente Esse ditame consiste em cláusula pétrea, não podendo ser
a conduta que está sendo criminalizada. No Direito Penal não resta suprimido por emenda constitucional. Ademais, em razões dessas
espaço para palavras não ditas. proibições, outras normas desdobram-se – ex. o limite de cumpri-
mento de pena é de 40 anos, para que o condenado não fique para
Princípio da anterioridade da lei penal sempre preso; o trabalho do preso sempre é remunerado.
Em uma linguagem simples, a lei que tipifica uma conduta pre-
cisa ser anterior à conduta. Princípio da Presunção de Inocência ou presunção de não cul-
Na data do fato a conduta já precisa ser considerada crime, pabilidade
mesmo porque como veremos adiante, no Direito Penal a lei não Arrisco dizer que é um dos princípios mais controversos no STF.
retroage para prejudicar o réu, só para beneficiá-lo. Em linhas gerais, significa que nenhuma pessoa pode ser conside-
Ou seja, a anterioridade culmina no princípio da irretroativida- rada culpada antes do trânsito em julgado da sentença penal con-
de da lei penal. Somente quando a lei penal beneficia o réu, estabe- denatória.
lecendo uma sanção menos grave para o crime ou quando deixa de Tal princípio está relacionado ao in dubio pro reo, pois enquan-
considerar a conduta como criminosa, haverá a retroatividade da lei to existir dúvidas, o juiz deve decidir a favor do réu. Outra implica-
penal, alcançando fatos ocorridos antes da sua vigência. ção relacionada é o fato de que o acusador possui a obrigação de
• 1º fato; provar a culpa do réu. Ou seja, o réu é inocente até que o acusador
• Depois lei; prove sua culpa e a decisão se torne definitiva.
• A lei volta para ser aplicada aos fatos anteriores a ela. Exceções: utiliza-se o princípio in dubio pro societate no caso
de recebimento de denúncia ou queixa; na decisão de pronúncia.
Por outro lado, o princípio da irretroatividade determina que se Não é uma exceção, faz parte da regra: prisões cautelares não
a lei penal não beneficia o réu, não retroagirá. E você pode estar se ofendem a presunção de inocência, pois servem para garantir que o
perguntando, caso uma nova lei deixar de considerar uma conduta processo penal tenha seu regular trâmite.
como crime o que acontece? Abolitio criminis. Nesse caso, a lei pe-
nal, por ser mais benéfica ao réu, retroagirá. Obs.: Prisão como cumprimento de pena não se confunde com
No caso das leis temporárias, a lei continua a produzir efeitos prisão cautelar!
mesmo após o fim da sua vigência, caso contrário, causaria impu- • Processos criminais em curso e IP não podem ser considera-
nidade. Não gera abolitio criminis, mas sim uma situação de ultra- dos maus antecedentes;
tividade da lei. A lei não está mais vigente, porque só abrangia um • Não há necessidade de condenação penal transitada em jul-
período determinado, mas para os fatos praticados no período que gado para que o preso sofra regressão de regime;
estava vigente há punição. • A descoberta da prática de crime pelo acusado beneficiado
com a suspensão condicional do processo enseja revogação do be-
Princípio da individualização da pena nefício, sem a necessidade do trânsito em julgado da sentença con-
As pessoas são diferentes, os crimes por mais que se enqua- denatória do crime novo.
drem em um tipo penal, ocorrem de maneira distinta. Assim, a in-
dividualização da pena busca se adequar à individualidade de cada
um, em 3 fases:
• Legislativa: o legislador ao pensar no crime e nas penas em
abstrato precisa ter proporcionalidade para adequar a cominação
de punições à gravidade dos crimes;
• Judicial: o juiz ao realizar a dosimetria da pena precisa ade-
quar o tipo penal abstrato ao caso concreto;

1
DIREITO PENAL
▪ Vedações constitucionais aplicáveis a crimes graves Interpretação x Integração da Lei
A interpretação da lei não pode ser confundida com a integra-
Não recebem ção da lei. A interpretação é utilizada para buscar o significado da
Imprescritível Inafiançável anistia, graça, norma, já a integração é utilizada para preencher lacunas na legis-
indulto lação.
A integração não é uma forma de interpretação da lei penal,
Racismo e Racismo; Ação de haja vista que nem lei existe para o caso concreto.
Ação de grupos grupos armados O juiz pode utilizar-se dos seguintes meios para suprir as lacu-
armados civis civis ou militares Hediondos e nas na legislação:
ou militares contra a ordem equiparados - Analogia: aplica-se a um caso não previsto em lei, uma norma
contra a ordem constitucional e o (terrorismo, tráfico que regule caso semelhante. No Direito Penal a analogia in malam
constitucional Estado Democrático; e tortura). partem, que prejudica o réu, não é admitida. Admite-se apenas a
e o Estado Hediondos e analogia in bonan partem.
Democrático. equiparados (TTT). - Costumes: prática reiterada de determinadas condutas pela
sociedade.
▪ Menoridade Penal - Princípios Gerais do Direito: princípios que norteiam e orien-
A menoridade penal até os 18 anos consta expressamente na tam o ordenamento jurídico.
CF. Alguns consideram cláusula pétrea, outros entendem que uma
emenda constitucional poderia diminuir a idade. De toda forma, Interpretação Extensiva x Interpretação Analógica
atualmente, os menores de 18 anos não respondem penalmente, Na interpretação extensiva o texto da lei diz menos que a von-
estando sujeitos ao ECA. tade do legislador, por esta razão o intérprete precisa ampliar sua
interpretação para encontrar o sentido da norma. Não há lacuna da
lei, nem conceitos genéricos (a lei neste caso não fornece parâme-
TEMPO E LUGAR DO CRIME. CONTAGEM DE PRAZO
tros genéricos para a interpretação, ela fala menos do que deveria).
Já na interpretação analógica existe uma norma regulando a
A interpretação da lei busca interpretar a vontade da norma hipótese, mas de forma genérica, o que torna necessário a interpre-
penal, ou seja, busca encontrar o sentido mais adequado e o alcan- tação. A própria norma neste caso fornece os elementos e parâme-
ce que a lei penal pretende atingir. tros para a interpretação.
A interpretação pode se dar das seguintes formas: Ex: art.121, §2º, I, CP: “mediante paga ou promessa de re-
compensa, ou por outro motivo torpe” / art.121, § 2º, III, CP: com
1) Quanto ao sujeito: emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
- Autêntica: quando o próprio legislador edita uma nova nor- insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
ma para interpretar uma primeira. Pode vir dentro da própria legis-
lação (ex. crime de peculato -o conceito de funcionário público vem Interpretação Analógica x Analogia
explicado na própria lei, mas em outro artigo - no artigo 327, CP) A interpretação analógica e a analogia não se confundem, prin-
ou por lei posterior. Deve emanar do próprio órgão que elaborou o cipalmente porque a analogia não é forma de interpretação da lei,
preceito interpretado. mas sim de integração da lei.
- Doutrinária: realizada por juristas e estudiosos do Direito. A analogia é utilizada para suprir lacunas na lei e não pode ser
- Jurisprudencial: realizada por juízes e tribunais (Jurisprudên- utilizada in malam partem. Já na interpretação analógica não exis-
cias). tem lacunas, mas sim uma lei com expressões genéricas que pre-
cisam ser interpretadas. A interpretação analógica pode se dar in
2) Quanto aos resultados: bonam partem” e in malan partem”.
- Extensiva: quando o texto da lei diz menos que a vontade
do legislador, o intérprete precisa ampliar sua interpretação para Lei Penal em Branco
encontrar o sentido da norma.
- Restritiva: quando o texto da lei diz mais do que a vontade ▪ Interpretação e Analogia
do legislador e o intérprete precisa restringir o seu alcance para a As normas penais em branco são normas que dependem do
efetiva interpretação. complemento de outra norma.
- Declarativa: quando o texto da lei expressa exatamente a
vontade do legislador, sem precisar ampliar ou restringir o seu al-
Norma Penal em branco Norma Penal em branco
cance para a interpretação.
Homogênea Heterogênea
3) Quanto aos meios: A norma complementar
- Gramatical/Literal: quando a interpretação considera o senti- possui o mesmo nível
do literal das palavras da lei. hierárquico da norma penal. A norma complementar
- Histórica: a interpretação considera o contexto histórico do Quando homovitelina, não possui o mesmo nível
processo de elaboração da lei. corresponde ao mesmo hierárquico da norma penal. Ex.
- Sistemática: quando a interpretação considera a integração ramo do Direito, ex. o complemento da lei de drogas
da lei com as demais leis do ordenamento jurídico e ainda com os Penal e Penal. Quando está em decreto que define
princípios gerais do direito. heterovitenila, abrange substâncias consideradas drogas.
- Teleológica: quando a interpretação busca encontrar a fina- ramos diferentes do Direito,
lidade da lei. ex. Penal e Civil.
- Lógica: a interpretação se dá através do raciocínio dedutivo/
lógico.

2
DIREITO PENAL
Outro ponto fundamental é a diferenciação entre analogia e c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
interpretação analógica: d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado
no Brasil;
A lei penal admite interpretação Já a analogia só pode II - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA):
analógica para incluir hipóteses ser utilizada em normas a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
análogas às elencadas pelo não incriminadoras, para b) praticados por brasileiro;
legislador, ainda que prejudiciais beneficiar o réu. c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mer-
ao agente. cantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro
e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei
Lei Penal no Tempo
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depen-
▪ Conflito Aparente de Leis Penais e Tempo do Crime
de do concurso das seguintes condições:
Sobre o tempo do crime, é importante saber que: A teoria da
a) entrar o agente no território nacional;
atividade é adotada pelo Código Penal, de maneira que, conside-
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
ra-se praticado o crime no momento da ação ou omissão (data da
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasilei-
conduta).
ra autoriza a extradição;
Nos crimes permanentes e continuados aplica-se a lei em vigor
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí
ao final da prática criminosa, ainda que mais gravosa. Não é caso de
cumprido a pena;
retroatividade, pois na verdade, a lei mais grave está sendo aplicada
a um crime que ainda está sendo praticado.
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro
Sobre o conflito aparente de leis penais, a doutrina resolve essa
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favo-
aparente antinomia através dos seguintes princípios:
rável.
• Princípio da especialidade = norma especial prevalece sobre
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por
a geral, ex. infanticídio.
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condi-
• Princípio da subsidiariedade = primeiro tentar aplicar o crime
ções previstas no parágrafo anterior:
mais grave, se não for o caso, aplicar a norma subsidiária, menos
grave.
• Consunção = ao punir o todo pune a parte. Ex. crime progres-
sivo (o agente necessariamente precisa passar pelo crime menos CONCEITO DE CRIME E SEUS ELEMENTOS
grave), progressão criminosa (o agente queria praticar um crime
menos grave, mas em seguida pratica crime mais grave), atos impu-
Conceito
níveis (prévios, simultâneos ou subsequentes).
O crime, para a teoria tripartida, é fato típico, ilícito e culpável.
Alguns, entendem que a culpabilidade não é elemento do crime (te-
Lei Penal no Espaço
oria bipartida).
▪ Lugar do Crime, Territorialidade e Extraterritorialidade
Classificações
Quanto à aplicação da lei penal no espaço, a regra adotada no
• Crime comum: qualquer pessoa pode cometê-lo.
Brasil é a utilização do princípio da territorialidade, ou seja, aplica-
• Crime próprio: exige determinadas qualidades do sujeito.
-se a lei penal aos crimes cometidos no território nacional.
• Crime de mão própria: só pode ser praticado pela pessoa.
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
Não cabe coautoria.
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no ter-
• Crime material: se consuma com o resultado.
ritório nacional.
• Crime formal: se consuma independente da ocorrência do
Como o CP admite algumas exceções, podemos dizer que foi
resultado.
adotado o princípio da territorialidade mitigada/temperada.
• Crime de mera conduta: não há previsão de resultado natu-
Fique atento, pois são considerados como território brasileiro
ralístico.
por extensão:
• Navios e aeronaves públicos;
Fato Típico e Teoria do Tipo
• Navios e aeronaves particulares, desde que se encontrem em
O fato típico divide-se em elementos:
alto mar ou no espaço aéreo. Ou seja, não estando no território de
• Conduta humana;
nenhum outro país.
• Resultado naturalístico;
• Nexo de causalidade;
Por outro lado, a extraterritorialidade é a aplicação da lei penal
• Tipicidade.
brasileira a um fato criminoso que não ocorreu no território nacio-
nal.
▪ Teorias que explicam a conduta
Extraterritorialidade
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no Teoria Causal- Teoria Finalista
Teoria Social
estrangeiro: Naturalística (Hans Welzel)
I - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA): Conduta é ação
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; Conduta como Ação humana
voluntária (dolosa ou
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Fe- movimento voluntária com
culposa) destinada a
deral, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, so- corporal. relevância social.
uma finalidade.
ciedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
Poder Público;

3
DIREITO PENAL
A teoria finalista da conduta foi adotada pelo Código Penal, Mas pera... O que é uma concausa? Circunstância que atua pa-
pois como veremos adiante o erro constitutivo do tipo penal exclui ralelamente à conduta do agente em relação ao resultado. As con-
o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. causas absolutamente independentes são aquelas que não se jun-
Isso demonstra que o dolo e a culpa se inserem na conduta. tam à conduta do agente para produzir o resultado, e podem ser:
A conduta humana pode ser uma ação ou omissão. Há também • Preexistentes: Já tinham colocado veneno no chá do meu de-
o crime omissivo impróprio, no qual a ele é imputado o resulta- safeto quando eu vou matá-lo.
do, em razão do descumprimento do dever de vigilância, de acordo • Concomitantes: Atiro no meu desafeto, mas o teto cai e mata
com a TEORIA NATURALÍSTICO-NORMATIVA. ele.
Perceba a diferença: • Supervenientes: Dou veneno ao meu desafeto, mas antes de
• Crime comissivo = relação de causalidade física ou natural fazer efeito alguém o mata.
que enseja resultado naturalístico, ex. eu mato alguém.
• Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio) = relação Consequência em todas as hipóteses de concausa absoluta-
de causalidade normativa, o descumprimento de um dever leva ao mente independente: O AGENTE SÓ RESPONDE POR TENTATIVA,
resultado naturalístico, ex. uma babá fica no Instagram e não vê a PORQUE O RESULTADO SE DEU POR CAUSA ABSOLUTAMENTE IN-
criança engolir produtos de limpeza – se tivesse agido teria evitado DEPENDENTE. SE SUBTRAIR A CONDUTA DO AGENTE, O RESULTADO
o resultado. TERIA OCORRIDO DE QUALQUER JEITO (TEORIA DA EQUIVALÊNCIA
DOS ANTECEDENTES).
O dever de agir incumbe a quem? Até aí fácil né? Mas agora vem o pulo do gato! Existem as con-
causas relativamente independentes, que se unem a outras cir-
A quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou cunstâncias para produzir o resultado.
vigilância, ex. os pais. • Preexistente: O agente provoca hemofilia no seu desafeto,
A quem tenha assumido a responsabilidade de impedir o já sabendo de sua doença, que vem a óbito por perda excessiva de
resultado, ex. por contrato. sangue. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e ele teve
dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consuma-
A quem com o seu comportamento anterior, criou o risco
do), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes.
da ocorrência do resultado (norma de ingerência), ex. trote de
• Concomitante: Doses de veneno se unem e levam a óbito
faculdade.
a vítima. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e existe
dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consuma-
Quanto ao resultado naturalístico, é considerado como mu- do), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes.
dança do mundo real provocado pela conduta do agente. Nos cri- • Superveniente: Aqui tudo muda, pois é utilizada a teoria da
mes materiais exige-se um resultado naturalístico para a consuma- causalidade adequada. Se a concausa não é um desdobramento na-
ção, ex. o homicídio tem como resultado naturalístico um corpo tural da conduta, o agente só responde por tentativa, ex. eu dou um
sem vida. tiro no agente, mas ele morre em um acidente fatal dentro da am-
Nos crimes formais, o resultado naturalístico pode ocorrer, mas bulância. Todavia, se a concausa é um desdobramento da conduta
a sua ocorrência é irrelevante para o Direito Penal, ex. auferir de do agente, ele responde pelo resultado, ex. infecção generalizada
fato vantagem no crime de corrupção passiva é mero exaurimento. gerada pelo ferimento do tiro (homicídio consumado).
Já os crimes de mera conduta são crimes em que não há um
resultado naturalístico, ex. invasão de domicílio – nada muda no Agora vem a cereja do bolo, com a Teoria da Imputação Ob-
mundo exterior. jetiva (Roxin). Em linhas gerais, nessa visão, só ocorre imputação
Mas não confunda! O resultado normativo/jurídico ocorre em ao agente que criou ou aumentou um risco proibido pelo Direito,
todo e qualquer crime, isto é, lesão ao bem jurídico tutelado pela desde que esse risco tenha ligação com o resultado. Ex. Eu causo
norma penal. um incêndio na casa do meu desafeto, serei imputada pelo incên-
dio, não pela morte de alguém que entrou na casa para salvar bens.
O nexo de causalidade consiste no vínculo que une a conduta Explicando melhor, para a teoria da imputação objetiva, a im-
do agente ao resultado naturalístico ocorrido no mundo exterior. putação só pode ocorrer quando o agente tiver dado causa ao fato
No Brasil adotamos a Teoria da Equivalência dos Antecedentes (causalidade física), mas, ao mesmo tempo, haja uma relação de
(conditio sine qua non), que considera causa do crime toda conduta causalidade normativa, isto é, criação de um risco não permitido
sem a qual o resultado não teria ocorrido. para o bem jurídico que se pretende tutelar.
Por algum tempo a teoria da equivalência dos antecedentes foi Criar ou aumentar um risco + O risco deve ser proibido pelo
criticada, no sentido de até onde vai a sua extensão?! Em resposta Direito + O risco deve ser criado no resultado
a isso, ficou definido que como filtro o dolo. Ou seja, só será consi-
derada causa a conduta que é indispensável ao resultado e que foi Por fim, a tipicidade consiste na subsunção – adequação da
querida pelo agente. Assim, toda conduta que leva ao resultado do conduta do agente a uma previsão típica. Algumas vezes é necessá-
crime deve ser punida, desde que haja dolo ou culpa. rio usar mais de um tipo penal para fazer a subsunção (conjugação
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, de artigos).
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a Ainda dentro do fato típico, vamos analisar dolo e culpa. Com o
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. finalismo (Hans Welzel), o dolo e a culpa, que são elementos subje-
Em contraposição a essa teoria, existe a Teoria da Causalidade tivos, foram transportados da culpabilidade para o fato típico (con-
Adequada, adotada parcialmente pelo sistema brasileiro. Trata-se duta). Assim, a conduta passou a ser definida como ação humana
de hipótese de concausa superveniente relativamente independen- dirigida a um fim.
te que, por si só, produz o resultado. Crime Doloso
• Dolo direto = vontade livre e consciente de praticar o crime.
• Dolo eventual = assunção do risco produzido pela conduta.

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DIREITO PENAL
Perceba que no dolo eventual existe consciência de que a con- f) Previsibilidade objetiva: o homem médio seria capaz de pre-
duta pode gerar um resultado criminoso, e mesmo diante da proba- ver o resultado.
bilidade de dar algo errado, o agente assume esse risco.
Culpa Consciente Culpa Inconsciente
Vontade de praticar a conduta O agente prevê o resultado O agente não prevê que o
Dolo genérico descrita no tipo penal sem como possível, mas acredita resultado possa ocorrer. Só tem a
nenhuma outra finalidade sinceramente que este não previsibilidade objetiva, mas não
Dolo específico O agente pratica a conduta típica irá ocorrer. subjetiva.
(especial fim de agir) por alguma razão especial.
Culpa Própria Culpa Imprópria
Dolo direto de primeiro A vontade é direcionada para a
grau produção do resultado. O agente quer o resultado, mas
acha que está amparado por
O agente possui uma vontade, O agente não quer o uma excludente de ilicitude ou
mas sabe que para atingir resultado criminoso. culpabilidade.
sua finalidade existem Consequência: exclui o dolo, mas
efeitos colaterais que irão imputa culpa.
Dolo direto de
necessariamente lesar outros bens
segundo grau (dolo
jurídicos. Não existe no Direito Penal brasileiro compensação de culpas,
de consequências
Ex. dolo direto de primeiro grau é de maneira que cada um deve responder pelo o que fez. Outro pon-
necessárias)
atingir o Presidente, dolo direto de to interessante é que o crime preterdoloso é uma espécie de crime
segundo grau é atingir o motorista qualificado pelo resultado. No delito preterdoloso, o resultado que
do Presidente, ao colocar uma qualifica o crime é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resul-
bomba no carro. tado que ocorreu.
Ocorre quando o agente, O crime material consumado exige conduta + resultado natura-
acreditando ter alcançado seu lístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes tentados, por
objetivo, pratica nova conduta, não haver consumação (resultado naturalístico), não estarão pre-
Dolo geral, por erro sentes resultado e nexo de causalidade. Eventualmente, a tentativa
com finalidade diversa, mas depois
sucessivo, aberratio pode provocar resultado naturalístico e nexo causal, mas diverso do
se constata que esta última foi
causae (erro de relação pretendido pelo agente no momento da prática criminosa.
a que efetivamente causou o
de causalidade) Na adequação típica mediata, o agente não pratica exatamen-
resultado. Ex. enforco e depois
atiro no lago, e a vítima morre de te a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra
afogamento. norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo
penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia a execução
O dolo antecedente é o que se penal, mas em razão a circunstâncias alheias à vontade do agente o
dá antes do início da execução. O resultado pretendido (consumação) não ocorre – o agente é punido
dolo atual é o que está presente pelo crime, mas de forma tentada.
durante a execução. O dolo
Dolo antecedente,
subsequente ocorre quando Crime Preterdoloso
atual e subsequente
o agente inicia a conduta com O crime preterdoloso é uma espécie de crime qualificado pelo
finalidade lícita, mas altera o seu resultado. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime
ânimo e passa a agir de forma é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resultado que ocorreu.
ilícita. Como consequência, o crime preterdoloso não admite tentativa, já
que o resultado é involuntário.
Crime Culposo
No crime culposo, a conduta do agente viola um dever de cui- Erro de Tipo
dado:
• Negligência: o agente deixa de fazer algo que deveria. ▪ Erro de tipo essencial
• Imprudência: o agente se excede no que faz. O agente desconhece algum dos elementos do tipo penal. Ou
• Imperícia: O agente desconhece uma regra técnica profissio- seja, há uma representação errônea da realidade, na qual o agente
nal, ex. o médico dá um diagnóstico errado ao paciente que vem a acredita não se verificar a presença de um dos elementos essenciais
receber alta e falecer. que compõe o tipo penal. Quem nunca pegou a coisa de alguém
pensando que era sua?! Cometeu furto? Não, pois faltou você saber
• Requisitos do crime culposo que a coisa era alheia. O erro de tipo exclui o dolo e a culpa (se foi
a) Conduta Voluntária: o fim da conduta pode ser lícito ou ilíci- um erro perdoável/escusável) ou exclui o dolo e o agente só respon-
to, mas quando ilícito não é o mesmo que se produziu (a finalidade de por culpa, se prevista (no caso de erro inescusável).
não é do resultado). Outros exemplos: não sabe que o agente é funcionário público,
b) Violação de um dever objetivo de cuidado: negligência, im- em desacato; não sabe que é garantidor em crime comissivo por
prudência, imperícia. omissão; erro sobre o elemento normativo, ex. justa causa.
c) Resultado naturalístico involuntário (não querido). Não restam mais dúvidas, certo? Erro de tipo é erro sobre a
d) Nexo causal. existência fática de um dos elementos que compõe o tipo penal.
e) Tipicidade: o fato deve estar previsto como crime culposo
expressamente.

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DIREITO PENAL
▪ Erro de tipo acidental O erro de proibição pode ser:
Aqui o erro ocorre na execução ou há um desvio no nexo causal a) inevitável (escusável): o agente não conhece a ilicitude de
da conduta com o resultado. sua conduta e nem teria como conhecer. Neste caso, qualquer pes-
• Erro sobre a pessoa: O agente pratica o ato contra pessoa soa na mesma situação, cometeria o mesmo erro. Exclui a culpabi-
diversa da pessoa visada, por confundi-la com o seu alvo, que nem lidade/ não há crime.
está no local dos fatos. Consequência: o agente responde como se Ex. lavrador de pouca instrução que coloca fogo em mata para
tivesse praticado o crime contra a pessoa visada (teoria da equiva- formar pasto e criar algumas cabeças de gado, para sua subsistên-
lência). cia e de sua família.O lavrador, de pouca instrução, agiu em erro,
• Erro sobre o nexo causal: o resultado é alcançado mediante acreditando que atear fogo em área de mata para formar pasto,
um nexo causal diferente daquele que planejou. para sua subsistência e de sua família, era permitido.
a) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: com um ato o O desconhecimento da lei é inescusável, ou seja, em tese, o
agente produz o resultado, apesar do nexo causal ser diferente, ex. lavrador deveria saber que sua conduta era criminosa. No entanto,
eu disparo contra o meu desafeto, mas ele morre afogado ao cair na naquelas circunstâncias não lhe era possível atingir a consciência
piscina. Consequência: o agente responde pelo o que efetivamente do caráter ilícito de sua conduta.
ocorreu (morte por afogamento).
b) Dolo geral/aberratio causae/dolo geral ou sucessivo: O agen- b)evitável (inescusável): neste caso o agente teria condições
te acredita que já ocorreu o resultado pretendido, então, pratica de conhecer a ilicitude do fato, se fosse diligente. O agente tem
outro ato (+ de 1 ato). Ao final verifica-se que o último ato foi o que potencial consciência da ilicitude. Não exclui a culpabilidade. Aqui a
provocou o resultado. Consequência: o agente responde pelo nexo pena poderá ser reduzida de 1/6 a 1/3.
causal efetivamente ocorrido, não pelo pretendido. Ex. Holandês, que por falta de conhecimento da legislação bra-
sileira, acende um cigarro de maconha no meio da rua acreditando
• Erro na execução (aberratio ictus): é o famoso erro de pon- ser permitido o seu comportamento. No caso, o erro poderia ter
taria, no qual a pessoa visada e a de fato acertada estão no mesmo sido evitado se o holandês tivesse se inteirado sobre as leis brasilei-
local. ras antes de vir para o Brasil (além disso é de conhecimento comum
a) Erro sobre a execução com unidade simples (aberratio ictus que a maconha é proibida em vários países, logo era de se esperar
de resultado único): O agente somente atinge a pessoa diversa da que no Brasil talvez também fosse). O erro, portanto, era perfeita-
pretendida. Consequência: responde como se tivesse atingido a mente evitável e apenas reduz a pena.
pessoa visada.
b) Erro sobre a execução com unidade complexa (aberratio O erro de proibição divide e:
ictus de resultado duplo): O agente atinge a vítima pretendida, e, a) Erro de Proibição Direto: o erro recai sobre a proibição da
também, a vítima não pretendida. Consequência: responde pelos conduta. O agente erra quanto o conteúdo da norma proibitiva. Ex.
dois crimes em concurso formal. estrangeiro que fuma maconha em praça pública no Brasil, pois no
seu país tal conduta é permitida e ele acredita que aqui também
• Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido (aber- seja.
ratio delicti ou aberratio criminis): o agente pretendia cometer um b) Erro de Proibição Indireto: o erro recai sobre a existência ou
crime, mas por acidente ou erro na execução acaba cometendo ou- limites da conduta (descriminante putativa por erro de proibição).
tro (relação pessoa x coisa ou coisa x pessoa). O agente sabe que sua conduta é ilícita, mas acredita que naquelas
a) Com unidade simples: O agente atinge apenas o resultado circunstâncias ela é permitida e estaria acobertada por uma exclu-
não pretendido. Ex. uma pessoa é visada, mas uma coisa é atin- dente de ilicitude. Ex. pai que mata homem que estuprou sua filha.
gida – responde pelo dolo em relação a pessoa, na forma tentada Ele sabe que matar é crime, mas acredita que naquelas circunstân-
(tentativa de homicídio, tentativa de lesão corporal). Ex. Uma coisa cias ele não estaria cometendo um crime.
é visada, mas a pessoa é atingida – responde apenas pelo resultado c) Erro Mandamental:o erro recai sobre uma norma manda-
ocorrido em relação à pessoa, de forma culposa (homicídio culposo, mental. A norma determina que o agente realize uma conduta, mas
lesão corporal culposa). ele, por desconhecer o dever de agir, acaba nada fazendo. Ele igno-
b) Com unidade complexa: O agente atinge tanto a pessoa ra uma norma que determina o dever de agir.
quanto a coisa. Consequência: responde pelos dois crimes em con-
curso formal. Ex. Um sujeito vê outra pessoa se afogando no mar e fica iner-
te, lembrando que a norma penal prevê que a omissão de socorro é
• Erro sobre o objeto (Error in objecto): imagine que o agente crime. Nessa situação, o sujeito se mantém inerte por supor não ter
deseja furtar uma valiosa obra de arte, mas acaba subtraindo um o dever de agir, isto é, imagina que não tem a obrigação de prestar
quadro de pequeno valor, por confundir-se. Consequência: o agen- socorro, que esta seria uma obrigação do bombeiro e não dele.
te responde pelo o que efetivamente fez. Para melhor compreensão, vamos a leitura dos artigos do CP
▪ Erro determinado por terceiro que tratam da matéria ora analisada:
O agente erra porque alguém o induz a isso, de maneira que o
autor mediato (quem provocou o erro) será punido. O autor ime- Iter Criminis
diato (quem realiza) é mero instrumento, e só responderá caso ficar Iter Criminis significa caminho percorrido pelo crime. A cogita-
demonstrada alguma forma de culpa. ção (fase interna) não é punida – ninguém pode ser punido pelos
seus pensamentos. Os atos preparatórios, em regra, também, não
Erro de Proibição (art. 21, CP): também conhecido como erro são punidos.
sobre a ilicitude do fato.
Ocorre quando o agente atua acreditando que sua conduta é A partir do início da execução do crime, o agente sofre punição.
lícita, quando na verdade é ilícita. O erro neste caso recai sobre a Caso complete o que é dito pelo tipo penal, o crime estará consu-
da ilicitude do fato.O sujeito age sem imaginar que sua conduta é mado; caso não se consume por circunstâncias alheias à vontade do
proibida. agente, pune-se a tentativa.

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DIREITO PENAL
Tentativa — A diminuição é de 1/3 a 2/3, a depender da celeridade e
O crime material consumado exige conduta + resultado natura- voluntariedade do ato.
lístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes tentados, por — O arrependimento posterior se comunica aos demais agen-
não haver consumação (resultado naturalístico), não estarão pre- tes.
sentes resultado e nexo de causalidade. Eventualmente, a tentativa — Se a vítima se recusar a receber a reparação mesmo assim o
pode provocar resultado naturalístico e nexo causal, mas diverso do agente terá a diminuição de pena.
pretendido pelo agente no momento da prática criminosa.
Na adequação típica mediata, o agente não pratica exatamen- Crime Impossível (tentativa inidônea)
te a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra Embora o agente inicie a execução do delito, jamais o crime se
norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo consumará.
penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia a execução Por quê? O meio utilizado é completamente ineficaz ou o obje-
penal, mas em razão a circunstâncias alheias à vontade do agente o to material do crime é impróprio para aquele crime.
resultado pretendido (consumação) não ocorre – o agente é punido Ex. Ineficácia absoluta do meio = arma que não dispara.
pelo crime, mas de forma tentada. Ex. Absoluta impropriedade do objeto = atirar em corpo sem
O CP adotou a teoria dualística/realista/objetiva da punibi- vida.
lidade da tentativa. Assim, a pena do crime tentado é a pena do
crime consumado com diminuição de 1/3 a 2/3 (varia de acordo o O CP adotou a teoria objetiva da punibilidade do crime impos-
quanto chegou perto do resultado). Isso ocorre porque o desvalor sível, ou seja, não é punido (atipicidade).
do resultado para a sociedade é menor. Câmeras e dispositivos de segurança em estabelecimentos
— Tentativa branca ou incruenta = o agente não atinge o bem comerciais não tornam o crime impossível.
que pretendia lesar;
— Tentativa vermelha ou cruenta = o agente atinge o bem que Ilicitude
pretendia lesar; Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Estrito Cumprimento
— Tentativa perfeita = o agente completa os atos de execução; de Dever Legal, Exercício Regular de Direito.
— Tentativa imperfeita = o agente não esgota os meios de exe-
cução. A ilicitude, também conhecida como antijuridicidade, nos traz
a ideia de que a conduta está em desacordo com o Direito.
▪ Crimes que não admitem tentativa Presente o fato típico, presume-se que o fato é ilícito. Assim, o
• Culposo (é involuntário); ônus da prova passa a ser do acusado, ou seja, o acusado é quem
• Preterdoloso (o resultado é involuntário); vai precisar comprovar a existência de uma excludente de ilicitude.
• Unissubsistente (um ato só); As excludentes da ilicitude podem ser genéricas (incidem em
• Omissivo puro (não dá para tentar se omitir); todos os crimes) ou específicas (próprias de alguns crimes).
• Perigo abstrato (só de gerar o perigo o crime se consuma); Causas genéricas = estado de necessidade; legítima defesa;
• Contravenção (a lei quis assim); exercício regular de direito; estrito cumprimento do dever legal.
• De atentado/empreendimento (a tentativa já gera consuma- Causa supralegal de exclusão da ilicitude = consentimento do
ção); ofendido nos crimes contra bens disponíveis.
• Habitual (atos isolados são indiferentes penais).
a) Estado de Necessidade:
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica
Ambas afastam a tipicidade do dolo inicial e o agente só res- o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vonta-
ponde pelo o que fez (danos que efetivamente causou). de, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
• Na desistência voluntária, o agente voluntariamente desiste sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
de dar sequência aos atos executórios iniciados, mesmo podendo § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
fazê-lo (fórmula de Frank). O resultado não se consuma por desis- dever legal de enfrentar o perigo.
tência do agente. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ame-
• No arrependimento eficaz, o agente pratica todos os atos de açado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
execução, mas após isto se arrepende e adota medidas que impe-
dem a consumação. De acordo com a TEORIA UNITÁRIA, o bem jurídico protegido
Atenção: se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado. Ex. vida x vida. Se
responde pelo crime com uma atenuante genérica. compromete um bem de maior valor para salvar um bem de menor
Atenção: se o crime for cometido em concurso de pessoas e valor incide uma causa de diminuição de pena (-1/3 a 2/3).
somente um deles realiza a conduta de desistência voluntária ou Requisitos:
arrependimento eficaz, esta circunstância se comunica aos demais. — Perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiro;
Motivo: Trata-se de exclusão da tipicidade, o crime não foi cometi- — Conduta do agente na qual ele sacrifica o bem alheio para
do, respondendo todos apenas pelos atos praticados até então. salvar o próprio ou do terceiro;
— A situação de perigo não pode ter sido criada voluntaria-
Arrependimento Posterior mente pelo agente;
É uma causa de diminuição de pena para o crime já consuma- — O perigo tem que estar ocorrendo (atual);
do, desde que: — O agente não pode ter o dever jurídico de impedir o resulta-
1. Crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa, do, ex. bombeiro;
ou culposo; — A conduta do agente precisa ser inevitável (o bem jurídico só
2. O juiz ainda não recebeu a denúncia ou queixa; pode ser salvo se ele agir);
3. O agente reparou o dano ou restituiu a coisa voluntariamen- — A conduta do agente precisa ser proporcional (salvar bem de
te. valor igual ou maior).

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DIREITO PENAL

Estado de Estado de Estado de Estado de • Particular também pode estar amparado pelo estrito cumpri-
necessidade necessidade necessidade necessidade mento do dever legal.
agressivo defensivo real putativo
d) Exercício Regular de Direito:
Quando a O agente age no legítimo exercício de um direito seu (previsto
situação de em lei). Ex. lutas desportivas.
perigo não existe
O agente de fato, apenas EXCESSO PÚNIVEL: EM TODAS AS EXCLUDENTES DE ILICUTDE,
prejudica o na imaginação EVENTUAL EXCESSO SERÁ PUNIDO, SEJA ELE DOLOSO OU CULPO-
O agente
bem jurídico do agente. SO!
sacrifica o
de terceiro Consequência:
bem jurídico
que não O perigo se o erro é Culpabilidade: Imputabilidade Penal, Potencial Consciência
de quem
produziu o existe. escusável, da Ilicitude, Exigibilidade de Conduta Diversa
provocou o
perigo. exclui dolo e O último elemento da análise analítica do crime é a culpabili-
perigo.
Obs. o agente culpa; se o erro dade. Lembre-se, para a teoria tripartida o crime é fato típico, anti-
precisa é inescusável, jurídico e culpável. Para a teoria bipartida a culpabilidade é pressu-
indenizar. exclui o dolo, posto para a aplicação da pena.
mas responde A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade, e divide-se nas
por culpa, se seguintes teorias:
prevista. • Teoria Psicológica: Os causalistas acreditavam que o agente
era culpável se imputável no momento do crime e se havia agido
• Estado de necessidade recíproco é possível, se nenhum deles com dolo ou culpa.
provocou o perigo. • Teoria normativa (psicológico-normativa): Além de imputá-
• O estado de necessidade se comunica a todos os agentes. vel e com dolo ou culpa o agente tinha que estar consciente da ilici-
tude e ser exigível conduta diversa.
b) Legítima Defesa: • Teoria extremada da culpabilidade (normativa pura): Se coa-
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando mode- duna com a teoria finalista, pois dolo e culpa transportaram-se para
radamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou a tipicidade (dolo subjetivo). Para essa teoria, os elementos da cul-
iminente, a direito seu ou de outrem. pabilidade são: imputabilidade + potencial consciência da ilicitude
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput (dolo normativo) + exigibilidade de conduta diversa.
deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de • Teoria limitada da culpabilidade: A teoria normativa pura se
segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a víti- divide em teoria extremada e teoria limitada. O que as diferencia é
ma mantida refém durante a prática de crimes. o tratamento dado ao erro sobre as causas de justificação (exclusão
da ilicitude), isto é, descriminantes putativas. A teoria extremada
O agente pratica um fato para repelir uma agressão injusta, atu- defende que todo erro que recaia sobre uma causa de justificação
al ou iminente (prestes a ocorrer), contra direito próprio ou alheio. seja equiparado ao ERRO DE PROIBIÇÃO. A teoria limitada divide
Ex. o dono de um animal bravo utiliza o animal como instrumento o erro sobre pressuposto fático da causa de justificação e o erro
de agressão contra outrem – o agente poderá se defender. sobre a existência ou limites jurídicos de uma causa de justificação.
• Cabe LD contra agressão de inimputável; No primeiro caso (erro de fato) aplicam-se as regras do erro de tipo,
• Ainda que possa fugir, o agente pode escolher ficar e repelir a que aqui passa a se chamar erro de tipo permissivo. No segundo
agressão (no estado de necessidade não); caso (erro sobre a ilicitude da conduta) aplicam-se as regras do erro
• Os meios utilizados devem ser suficientes e necessários para de proibição.
repelir a injusta agressão (proporcionalidade);
• Na LD putativa, o agente pensa que está sendo agredido. Obs.: O CP adota a teoria normativa pura limitada, ou seja, se-
Consequência: se o erro é escusável, exclui dolo e culpa; se o erro para o erro de tipo do erro de proibição.
é inescusável, exclui o dolo, mas responde por culpa, se prevista.
• É possível que ocorra LD sucessiva, ex. A agride B, B repele a ▪ Elementos da culpabilidade:
agressão de forma excessiva, A passa ter o direito de agir em LD em 1. Imputabilidade Penal: Capacidade de entender o caráter ilí-
razão do excesso (agressão injusta). cito da conduta e autodeterminar-se conforme o Direito. Na ausên-
• Se o bem é indisponível, a vontade do dono (consentimento) cia de qualquer desses elementos será inimputável, de acordo com
é indiferente para a atuação da LD de terceiro. o critério biopsicológico.
• Não cabe LD real em face de LD real, porque falta injusta O CP também adota o critério biológico, pois os menores de 18
agressão. Por outro lado, pode ter LD putativa (agressão injusta) anos são inimputáveis.
sucedida por LD real (repelir agressão injusta). Lembre-se que a imputabilidade penal deve ser aferida no mo-
mento que ocorreu o fato criminoso.
c) Estrito Cumprimento do Dever Legal: Lembre-se, também, que em crime permanente só cessa a con-
O agente comete um fato típico, em razão de um dever legal. duta quando a vítima é liberada (ex. sequestro), logo, a idade do
Mas não confunda! Quando um policial numa troca de tiros mata agente vai ser analisada até que realmente cesse a conduta, com a
um bandido não age em estrito cumprimento de dever legal, mas libertação da vítima/apreensão do agente.
em LD, pois não existe o dever legal de matar, mas sim injusta agres-
são.
• O estrito cumprimento do dever legal se comunica aos de-
mais agentes.

8
DIREITO PENAL
O ordenamento jurídico prevê a completa inimputabilidade,
que exclui a culpabilidade e impõe medida de segurança (sentença CONCURSO DE PESSOAS: AUTORIA. PARTICIPAÇÃO
absolutória imprópria); bem como, prevê a semi-imputabilidade,
que enseja medida de segurança (sentença absolutória imprópria) Concurso de Pessoas
ou sentença condenatória com causa de diminuição de pena (-1/3 O concurso de pessoas consiste na colaboração de dois ou mais
a 2/3). agentes para a prática de um delito ou contravenção penal. De acor-
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou do com a teoria monista (unitária), todos respondem pelo mesmo
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo crime, na medida de sua culpabilidade. Ex. 3 amigos furtam uma
da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter casa, todos respondem pelo crime de furto, mas o juiz vai valorar a
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimen- conduta de cada um de acordo com a individualidade dos agentes.
to.
Redução de pena
Concurso de pessoas
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, Concurso de pessoas necessário
eventual
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por de-
senvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramen- O tipo penal não exige a O tipo penal exige que a
te capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de presença de mais de uma conduta seja praticada por mais
acordo com esse entendimento. pessoa. de uma pessoa.

Atenção ▪ Requisitos do concurso de pessoas:


— Os índios podem ser imputáveis (integrados à sociedade), — Pluralidade de agentes: Se um imputável determina que um
semi-imputáveis (parcialmente integrados à sociedade) ou inimpu- inimputável realize um crime não existe concurso de pessoas, mas
táveis (não integrados). sim autoria mediata (o mandante é o autor do crime e o inimputá-
— A conduta do sonâmbulo é atípica, pois falta conduta (dolo/ vel instrumento).
culpa). Nos crimes plurissubjetivos (concurso de pessoas necessário),
— A embriaguez acidental gera inimputabilidade (isenção de se um dos colaboradores não é culpável, mesmo assim haverá cri-
pena), desde que decorrente de caso fortuito ou força maior + com- me.
pleta + retirar totalmente a capacidade de discernimento do agen- Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (concurso de pes-
te. Obs. se for parcial (retirar parcialmente a capacidade de discer- soas eventual) não é necessário que todos os agentes sejam cul-
nimento do agente) a pena será reduzida. páveis, basta um deles para qualificar o crime, ex. o concurso de
• Nos casos de embriaguez não se aplica medida de segurança, pessoas qualifica o furto, logo, se um é imputável, não importa se os
pois o agente não é doente mental. demais são inimputáveis, pois o furto estará qualificado.
• A embriaguez voluntária e culposa não exclui a imputabili- Nesses casos que tem inimputáveis, mas eu considero o con-
dade! curso para tipificar ou qualificar o crime a doutrina os denomina de
• A lei de drogas exclui a imputabilidade do inebriado patoló- concurso impróprio/aparente.
gico. — Relevância da colaboração: A participação do agente deve
— A embriaguez preordenada (se embriaga para cometer cri- ser relevante para a produção do resultado. Ou seja, a colabora-
me) não retira a imputabilidade do agente, pelo contrário, trata-se ção que em nada contribui para o resultado é um indiferente penal.
de circunstância agravante da pena. Além disso, a colaboração deve ser prévia ou concomitante à exe-
cução. A colaboração posterior à execução enseja crime autônomo,
2. Potencial consciência da ilicitude: neste elemento da impu- salvo o ajuste tenha ocorrido previamente.
tabilidade, é verificado se a pessoa tinha a possibilidade de conhe- — Vínculo subjetivo (concurso de vontades): Ajuste ou adesão
cer o caráter ilícito do fato, de acordo com as suas características de um à conduta do outro. Caso não haja vínculo subjetivo entre os
(não como parâmetro o homem médio). agentes haverá autoria colateral, e não coautoria.
Quando o agente age acreditando que sua conduta não é pe- — Unidade de crime (identidade de infração): todos respon-
nalmente ilícita comete erro de proibição. dem pelo mesmo crime.
— Existência de fato punível: a colaboração só é punível se o
3. Exigibilidade de conduta diversa: É verificado se o agente crime for, pelo menos, tentado (princípio da exterioridade – exige o
podia agir de outro modo. Caso comprovado que não dava para início da execução).
agir de outra maneira, no caso concreto, a culpabilidade é excluída • Na autoria mediata por inimputabilidade do agente não basta
(isenção de pena). Ex. coação moral irresistível – uma pessoa coage que o executor seja inimputável, ele deve ser um instrumento do
outra a praticar determinado crime, sob ameaça de lhe fazer algum mandante (não ter o mínimo discernimento).
mal grave. Obs. se a coação é física exclui a tipicidade pela falta de • Na autoria mediata por erro do executor, quem pratica a con-
conduta. Obs. se podia resistir a coação, recebe apenas uma ate- duta é induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro de proi-
nuante genérica. Ex. obediência hierárquica – funcionário público bição), ex. médico determina que enfermeira aplique uma injeção
cumpre ordem não manifestamente ilegal emanada pelo seu su- tóxica no paciente alegando que é um medicamento normal.
perior (isenção de pena). Obs. se a ordem é manifestamente ilegal • Na autoria mediata por coação do executor existe coação mo-
comete crime. ral irresistível, a culpabilidade é apenas do coator, não do coagido
(inexigibilidade de conduta diversa).
• Para ter autoria mediata em crime próprio, o autor mediato
(mandante) precisa reunir as condições especiais exigidas pelo tipo
penal. Se o mandante não reúne as condições do crime próprio há
autoria por determinação, punindo quem exerce sobre a conduta
domínio equiparado à figura da autoria (autor da determinação da
conduta/responsável pela sua ocorrência).

9
DIREITO PENAL
• Nos crimes de mão própria não se admite autoria mediata,
Exige que O
porque o crime não pode ser realizado por interposta pessoa. To-
a conduta partícipe Exige que o
davia, pode ter a figura do autor por determinação (pune quem de- A conduta
principal seja só é fato principal
terminou o crime). principal só
típica e ilícita. punido seja típico,
precisa ser
Recorda que se o fato ilícito,
Autor é quem pratica a conduta descrita no núcleo do tipo pe- típica para a
as excludentes principal culpável e
nal, todos os demais que de alguma forma prestarem colaboração punição do
de ilicitude se for típico, o autor seja
serão partícipes. Essa teoria foi adotada pelo Código Penal e é de- partícipe.
comunicam?! ilícito e punido.
nominada de teoria objetivo-formal.
Ahá! culpável.
No entanto, atente-se para a teoria do domínio do fato (nos
crimes dolosos), criada por Hans Welzel e desenvolvida por Claus
— A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a participação
Roxin: o autor é todo aquele que possui domínio da conduta cri-
é de menor importância.
minosa, seja ele executor ou não. O importante, para essa teoria,
— A doutrina admite participação nos crimes comissivos por
é que tenha o poder de decidir sobre o rumo da prática delituosa,
omissão, quando o partícipe devia e podia evitar o resultado.
o cabeça do crime. O partícipe, por sua vez, é quem contribui, mas
— Participação inócua não se pune, ex. eu emprestei a arma
sem poder de direção. Ou seja, o controle da situação (quem pode
para o agente, mas ele matou com o uso de veneno.
intervir a qualquer momento para fazer cessar a conduta) é o crité-
— Participação em cadeia é possível, ex. eu empresto a arma
rio utilizado para definir o autor.
para A, para este emprestar para B e matar a vítima. Eu e A somos
A coautoria é espécie de concurso de pessoas na qual duas ou
partícipes de B.
mais pessoas praticam a conduta descrita no núcleo do tipo penal.
Na coautoria funcional, os agentes realizam condutas diversas que
se somam para produzir o resultado. Na coautoria material (direta) Comunicam-se: Não se comunicam:
todos realizam a mesma conduta. Elementares do crime Circunstâncias subjetivas
• Cabe coautoria em crimes próprios (todos reúnem as condi- (caracteriza o crime) e (influencia a pena de acordo
ções ou pelo menos tem ciência que um deles as possui), mas não circunstâncias objetivas com a pessoa do agente) e
cabe coautoria em crime de mão própria (só participação). (influencia a pena de acordo condições de caráter pessoal
• Nos crimes omissivos não cabe coautoria, só participação. com o fato). (relativas à pessoa do agente).
• Nos crimes culposos cabe coautoria, mas não participação.
• Na autoria mediata não há concurso entre autor mediato e Preste atenção, circunstâncias e condições de caráter pessoal
autor imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se valeu não se comunicam. Por outro lado, as circunstâncias de caráter real
de alguém sem culpabilidade para a execução do delito. Entretan- ou objetivas (se referem ao fato), se comunicam, sob uma condi-
to, é possível coautoria e participação na autoria mediata (vários ção: é necessário que a circunstância tenha entrado na esfera de
mandantes). conhecimento dos demais agentes. Ex. A informa o seu partícipe
• Na coação física irresistível, o coator é autor direto. que usará emboscada para matar, ambos respondem por essa qua-
• Existe autoria mediata de crime próprio, mas não de crime lificadora.
de mão própria. Outro ponto interessante é que elementares sempre se comu-
nicam, sejam objetivas ou subjetivas, desde que tenham entrado na
Participação é modalidade de concurso de pessoas, na qual o esfera de conhecimento do partícipe.
agente colabora para a prática delituosa, mas não pratica a conduta Para fechar com chave de ouro vale abordar a autoria colateral.
descrita no núcleo do tipo penal. O que é isso? Não se confunde com o concurso de pessoas, pois não
existe acordo de vontades. Imagine que 2 pessoas atiram na mesma
Participação Moral Participação Material vítima, mas os peritos não conseguem identificar quem efetuou o
disparo fatal. O resultado desta autoria incerta é que ambos res-
Instiga (reafirma a ideia) ou Presta auxílio fornecendo
pondem de forma tentada.
induz (cria a ideia) em outrem. objeto ou condições para a
Outra figura curiosa é a cooperação dolosamente distinta, que
fuga (cumplicidade).
consiste em participação em crime menos grave (desvio subjetivo
de conduta). Ambos os agentes decidem praticar determinado cri-
Pela teoria da adequação típica mediata, o partícipe mesmo
me, mas durante a execução um deles decide praticar outro crime,
sem praticar a conduta descrita no núcleo do tipo pode ser punido,
mais grave. Aquele que escolheu praticar somente o crime inicial
uma vez que, as normas de extensão da adequação típica possibili-
só responderá por este, salvo ficar comprovado que podia prever a
tam o raio de aplicação do tipo penal. Ou seja, soma o art. do crime
ocorrência do crime mais grave. Neste último caso, a pena do crime
+ o art. 29 do CP = o resultado é conseguir punir o partícipe.
inicial é aumentada até a metade.
Conforme a teoria da acessoriedade, o partícipe é punido mes-
mo que sua conduta seja considerada acessória em relação ao au-
Obs.: No concurso de multidão criminosa, quem lidera o crime
tor. Vejamos:
terá pena agravada e quem adere a conduta tem a pena atenuada.
Há concurso de pessoas, pois existe vínculo subjetivo, no sentido
Teoria da Teoria da de que um adere a conduta do outro, mesmo que de forma tácita.
Teoria da Teoria da
acessoriedade acesso-
acessoriedade hiperacesso-
limitada riedade
mínima riedade
(adotada) máxima

10
DIREITO PENAL
II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito
AÇÃO PENAL. CLASSIFICAÇÃO. CONDIÇÕES dos outros;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - se o querelado o recusa, não produz efeito. (Redação dada
DECRETO-LEI N° 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompa-
Código Penal. tível com a vontade de prosseguir na ação. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe § 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julga-
confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte Lei: do a sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
TÍTULO VII
DA AÇÃO PENAL
DOS CRIMES EM ESPÉCIE: CRIMES CONTRA A PESSOA
Ação pública e de iniciativa privada
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressa- Os crimes contra a pessoa protegem os bens jurídicos vida e
mente a declara privativa do ofendido.(Redação dada pela Lei nº integridade física da pessoa, encontram-se entre os artigos 121 ao
7.209, de 11.7.1984) 154 do Código Penal. A jurisprudência é vasta sobre tais tipos pe-
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, nais e muitas vezes repleta de polêmicas, como, por exemplo, no
dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido caso do aborto.
ou de requisição do Ministro da Justiça.(Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) Homicídio
§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa • O homicídio simples consiste em matar alguém.
do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo.(Reda- • O homicídio privilegiado recebe causa de diminuição de pena
ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) de 1/6 a 1/3, desde que o motivo seja de relevante valor moral ou
§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes social (ex. matou o estuprador da filha); sob domínio de violenta
de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no emoção logo após injusta provocação da vítima (ex. matou o aman-
prazo legal.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) te da esposa ao pegá-los no flagra).
§ 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declara- • O homicídio é qualificado e recebe pena-base maior nos ca-
do ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de sos de paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe
prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou (ex. matar por dinheiro); emprego de veneno, fogo, explosivo, as-
irmão. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) fixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (ex. queimar a pes-
A ação penal no crime complexo soa viva), ou de que possa resultar perigo comum (ex. incendiar um
Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou circuns- prédio para matar seu desafeto); traição, emboscada, dissimulação
tâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes, ou outro recurso que dificulte a defesa do ofendido (ex. mata-lo em
cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qual- rua sem saída); para assegurar a execução, ocultação, impunidade
quer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público. ou vantagem de outro crime (ex. matar a testemunha de um crime).
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Irretratabilidade da representação Obs.: O feminicídio é uma espécie de homicídio qualificado, no
Art. 102 - A representação será irretratável depois de oferecida qual o agente mata a mulher por razões da condição de sexo fe-
a denúncia.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) minino, isto é, no contexto de violência doméstica ou familiar, ou,
Decadência do direito de queixa ou de representação menosprezo/discriminação à condição de mulher.
Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido
decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce den- Causas de Causas de
tro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber Causas de aumento
aumento do aumento do
quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Códi- do feminicídio
homicídio culposo homicídio doloso
go, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Ocorrer durante a
Renúncia expressa ou tácita do direito de queixa gestação ou nos 3
Vítima menor de
Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando meses posteriores
14 anos ou maior
renunciado expressa ou tacitamente. (Redação dada pela Lei nº ao parto; contra
de 60 anos; crime
7.209, de 11.7.1984) menor de 14 anos
Se ocorrer a praticado por
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a ou maior de 60 anos
inobservância milícia privada,
prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a im- ou pessoa portadora
de regra técnica sob o pretexto
plica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano de deficiência/
profissional; deixar de prestação
causado pelo crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) doença degenerativa;
de prestar socorro. de serviço
Perdão do ofendido na presença de
de segurança
Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somen- ascendente ou
ou grupo de
te se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. descendente;
extermínio.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) descumprindo
Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou táci- medida protetiva.
to:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aprovei- Obs.: O homicídio contra autoridade da Segurança Pública, no
ta;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente até 3º grau qualifica o homicídio.

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DIREITO PENAL
É interessante que recentemente o STJ entendeu que o sim- Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
ples fato do condutor do automóvel estar embriagado não gera a § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
presunção de que tenha havido dolo eventual, no caso de acidente quando o crime envolve:
de trânsito com o resultado morte. O STF, no mesmo sentido, con- I - violência doméstica e familiar;
siderou que não havia homicídio doloso na conduta de um homem II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
que entregou o seu carro a uma mulher embriagada para que esta
dirigisse o veículo, mesmo tendo havido acidente por causa da em- ▪ Homicídio culposo
briaguez, resultando a morte da mulher condutora. § 3º Se o homicídio é culposo:
Por outro lado, já foi reconhecido o dolo eventual por estar diri- Pena - detenção, de um a três anos.
gindo na contramão embriagado, uma vez que, o condutor assumiu
o risco de causar lesões/morte de outrem. Inclusive, a tentativa é ▪ Aumento de pena
compatível com o dolo eventual. § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um ter-
Quanto a qualificadora do motivo fútil, o STJ não a enquadra ço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profis-
nos casos de racha. Todavia, aplica-se a qualificadora do meio cruel são, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro
no caso de reiteração de golpes na vítima. Ademais, a qualificadora à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge
do motivo fútil é compatível com o homicídio praticado com dolo para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
eventual. Mas a qualificadora da traição/emboscada/dissimulação aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa
não é compatível com dolo eventual, pois exige-se um planejamen- menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
to do crime que o dolo eventual não proporciona. § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de
A qualificadora do feminicídio é compatível com o motivo tor- aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio
pe, pois está solidificado nos tribunais superiores o entendimento agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desneces-
que o feminicídio é uma qualificadora objetiva que combina com sária.
as qualificadoras subjetivas (motivo do crime), bem como com o § 6oA pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
homicídio privilegiado. crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação
Por fim, lembre-se que a jurisprudência considera que algumas de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
situações merecem a extinção da punibilidade pelo perdão judicial, § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
quando o homicídio é culposo e o agente já sofreu suficientemente metade se o crime for praticado:
as consequências do crime. Exemplo: pai atropela o filho. I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao par-
Ainda sobre o homicídio culposo, a causa de aumento não é to;
afastada se o agente deixa de prestar socorro em caso de morte II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (ses-
instantânea da vítima, salvo se o óbito realmente for evidente. senta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerati-
vas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física
▪ Homicídio simples ou mental;
Art. 121. Matar alguém: III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascen-
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. dente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência
• Caso de diminuição de pena previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele- 7 de agosto de 2006.
vante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção,
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automuti-
a pena de um sexto a um terço. lação
Este crime sofreu alteração com o Pacote Anticrime, em razão
▪ Homicídio qualificado do episódio da “Baleia Azul”, jogo desenvolvido entre jovens, no
§ 2° Se o homicídio é cometido: qual incitava-se a automutilação e o suicídio.
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
motivo torpe; ▪ Antes do Pacote Anticrime
II - por motivo fútil; Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura auxílio para que o faça:
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou
comum; reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou ou- corporal de natureza grave.
tro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; Parágrafo único - A pena é duplicada:
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime: Aumento de pena
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa,
▪ Feminicídio a capacidade de resistência.
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 Após o Pacote Anticrime
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da For- Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar
ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Re-
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente dação dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação
VIII - (VETADO): dada pela Lei nº 13.968, de 2019)

12
DIREITO PENAL
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta le- Infanticídio
são corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º Consiste em matar o filho sob influência dos hormônios (esta-
e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) do puerperal), durante o parto ou logo após.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio
13.968, de 2019) filho, durante o parto ou logo após:
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta Pena - detenção, de dois a seis anos.
morte:(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº Aborto
13.968, de 2019) O Código Penal divide o aborto em:
§ 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) ▪ Aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimen-
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; to: Consiste em provocar o aborto em si mesma, ex. mediante chás.
(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) Ou, consentir que alguém o provoque, ex. ir em uma clínica abor-
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, tiva.
a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada ▪ Aborto provocado por terceiro: No aborto provocado por
por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida terceiro, pode existir ou não o consentimento da gestante. No pri-
em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) meiro caso perceba que cada um vai responder por um crime, a
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou co- gestante por consentir, o terceiro por abortar.
ordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968,
de 2019) É considerado aborto sem o consentimento da gestante se ela
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em le- é menor de 14 anos, sofre de problemas mentais, se o consenti-
são corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de mento é obtido mediante fraude/grave ameaça/violência.
14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência Tanto no aborto com ou sem o consentimento da gestante exis-
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, te causa de aumento de pena se ela morre ou sofre lesão corporal
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, grave.
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste ▪ Aborto necessário: Não se pune o aborto praticado por médi-
Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) co caso não haja outro meio se salvar a vida da gestante.
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido
contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o ne- ▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: Não se
cessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estu-
outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo pro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou seu
crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. representante legal, no caso de incapacidade.

O crime consiste em colocar a ideia ou incentivar a ideia do A grande polêmica do aborto circunda na questão da interrup-
suicídio ou automutilação, bem como prestar auxílio material (ex. ção da gravidez no primeiro trimestre. O STF já decidiu que não há
emprestar a faca). As penas são diferentes, a depender do resultado crime se existe o consentimento da gestante ou trata-se de auto-
do crime. aborto. A Suprema Corte fundamentou que a criminalização, nessa
• Lesão corporal de natureza grave ou gravíssima: Reclusão de hipótese, viola os direitos fundamentais da mulher e o princípio da
1 a 3 anos; proporcionalidade.
• Resultado morte: Reclusão de 2 a 6 anos.
▪ Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Ademais, as penas são duplicadas se o crime é praticado por Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que ou-
motivo egoístico, torpe ou fútil (motivo banal), bem como se a ví- trem lho provoque:
tima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade Pena - detenção, de um a três anos.
de resistência. No mesmo sentido, a pena é aumentada até o do-
bro se a conduta é realizada por meio da internet (ex. jogo baleia ▪ Aborto provocado por terceiro
azul). Ademais, aumenta-se a pena em metade se o agente é o líder Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
(quem manda). Pena - reclusão, de três a dez anos.
Se o resultado é lesão corporal de natureza gravíssima e é co- Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
metido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por Pena - reclusão, de um a quatro anos.
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discerni- Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a ges-
mento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não tante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental,
pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de Lesão ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
Corporal qualificada como gravíssima. violência
Se o resultado é a morte e o crime é cometido contra menor
de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discer- ▪ Forma qualificada
nimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são
não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos
homicídio. meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas cau-
sas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

13
DIREITO PENAL
▪ Aborto necessário A jurisprudência caminha no sentido que a qualificadora da
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; deformidade permanente não é afastada em razão de posterior ci-
rurgia plástica reparadora. Ademais, perda de dois dentes configura
▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro lesão grave, uma vez que, ocasiona debilidade permanente (dificul-
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de dade para mastigar).
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu represen-
tante legal. Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Lesão Corporal Pena - detenção, de três meses a um ano.
Consiste em ofender a integridade corporal ou saúde de ou-
trem. A pena é aumentada em caso de violência doméstica, como Lesão corporal de natureza grave
forma de prestígio à Lei Maria da Penha. Ademais, qualifica o crime § 1º Se resulta:
a depender do resultado das lesões: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta
dias;
Qualificadora de natureza II - perigo de vida;
Qualificadora de natureza grave III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
gravíssima
IV - aceleração de parto:
Incapacidade para as ocupações
Incapacidade permanente Pena - reclusão, de um a cinco anos.
habituais por mais de 30 dias,
para o trabalho, ex. não § 2° Se resulta:
ex. passar roupa.
consegue mais trabalhar. I - Incapacidade permanente para o trabalho;
Perigo de vida, ex. correu risco
Enfermidade incurável, ex. II - enfermidade incurável;
na cirurgia.
adquire deficiência mental. III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
Debilidade permanente de
Deformidade permanente, IV - deformidade permanente;
membro, sentido ou função, ex.
ex. rosto queimado. V - aborto:
não consegue escrever como
Aborto. Pena - reclusão, de dois a oito anos.
antes.
Perda de membro, sentido
Aceleração do parto, ex. nasce
ou função, ex. fica cego. Lesão corporal seguida de morte
prematuro.
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
No caso de lesão corporal seguida de morte, a morte é culposa agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
e a lesão corporal dolosa. A morte qualifica a lesão corporal. Ex. Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
João tem a intenção de espancar seu desafeto, que acaba falecen-
do. Diminuição de pena
A lesão corporal é privilegiada se o agente comete o crime im- § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele-
pelido por motivo de relevante valor moral ou social (ex. espanca vante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção,
o estuprador de sua filha); sob o domínio de violenta emoção logo logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
após injusta provocação da vítima (ex. espanca o amante da esposa a pena de um sexto a um terço.
ao pegá-los no flagra). Resultado: O juiz pode diminuir a pena, ou,
não sendo grave a lesão, o juiz pode substituir a pena de detenção Substituição da pena
por multa. No mesmo sentido, se a lesão não é grave e as lesões § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
são recíprocas, o juiz pode substituir a pena de detenção por multa. pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos
São causas de aumento: de réis:
• Na lesão corporal culposa – inobservância de regra técnica I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
profissional, deixar de prestar socorro. II - se as lesões são recíprocas.
• Na lesão corporal dolosa – vítima menor de 14 anos ou maior
de 60 anos, praticado por milícia privada ou grupo de extermínio. Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa:
Obs.: Causar lesão contra autoridade de segurança pública no
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
exercício de função ou em decorrência dela, bem como contra pa-
rente até 3º grau dessas pessoas enseja causa de aumento.
Aumento de pena
Bem como no homicídio culposo, a lesão corporal culposa pos- § 7oAumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer
sibilita a aplicação do perdão judicial e a isenção da pena. Ex. ma- das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código.
chucou o filho sem querer. § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
A lesão corporal praticada contra o cônjuge, ascendente, des-
cendente e irmão, com quem conviva ou tenha convivido, ou, pre- Violência Doméstica
valecendo-se das relações domésticas enseja aumento na pena do § 9oSe a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
crime qualificado por lesão grave ou gravíssima. Ademais, aumenta irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha
a pena o crime de lesão corporal em âmbito doméstico se a vítima convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domés-
é portadora de deficiência. ticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as cir-
cunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a
pena em 1/3 (um terço).

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DIREITO PENAL
§ 11.Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada Aumento de pena
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
deficiência. terço:
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão,
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no tutor ou curador da vítima.
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. • Exposição de abandono de recém nascido: consiste em ex-
por/abandonar o recém nascido para ocultar desonra própria. Ex.
Periclitação da vida e da saúde tenho um filho fora do casamento e o abandono para o meu esposo
• Perigo de contágio venéreo: Consiste em expor outrem por não saber. Eventual lesão corporal ou morte do recém-nascido qua-
meio de relações sexuais a contágio de moléstia venérea, quando lificam o crime.
sabe ou deve saber que está contaminado. Ex. João sabe que tem Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar de-
AIDS, mas insiste em ter relações sexuais com a sua esposa de ma- sonra própria:
neira desprotegida. Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Se a intenção do agente é transmitir a moléstia venérea o crime § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
qualifica-se, isto é, possui uma pena mais severa. Pena - detenção, de um a três anos.
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qual- § 2º - Se resulta a morte:
quer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou
Pena - detenção, de dois a seis anos.
deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
• Omissão de socorro: crime omissivo, no sentido de deixar de
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
prestar assistência quando possível fazê-lo a criança abandonado,
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação. pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, em grave ou iminente pe-
rigo. Se não for possível o socorro direto, o agente deve, pelo me-
• Perigo de contágio de moléstia grave: consiste em praticar nos, pedir socorro à autoridade pública, para não cometer o crime
ato capaz de produzir contágio, tendo o dolo se transmitir a outrem de omissão de socorro. A lesão corporal grave e a morte aumentam
a moléstia (doença) de que está contaminado. Ex. sabendo que es- a pena.
tou com coronavírus espirro na face do meu desafeto. Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa
grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
• Perigo para a vida ou saúde de outrem: consiste em expor Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omis-
a vida ou saúde de outrem a perigo direto e iminente. A pena é são resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta
aumentada se o perigo ocorre em transporte de pessoas. Ex. trans- a morte.
portar crianças de uma creche sem que o automóvel respeite as
normas de segurança. • Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emer-
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e gencial: exigir garantia, bem como preenchimento de formulários
iminente: administrativos, como condição para o atendimento médico hos-
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui pitalar emergencial. Ex. chego no PS infartando e me mandam dar
crime mais grave. uma garantia financeira para que ocorra o meu atendimento. Au-
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço mentam a pena eventual morte ou lesão corporal grave.
se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do Art. 135-A.Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer
transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabeleci- garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários admi-
mentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. nistrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar
emergencial:
• Abandono de incapaz: Abandonar a pessoa que está sob o
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
seu cuidado/guarda/vigilância/autoridade incapaz de se defender
Parágrafo único.A pena é aumentada até o dobro se da negati-
dos riscos do abandono. Ex. deixo meu sobrinho menor de idade
va de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o
em uma viela perigosa. Eventual lesão corporal ou morte qualificam
triplo se resulta a morte.
o crime. Aumenta a pena se o abandono ocorrer em local ermo,
entre parentes próximos/tutor/curador, se a vítima é maior de 60
anos. • Maus tratos: Expor a perigo de vida/saúde uma pessoa que
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, está sob sua autoridade/guarda/vigilância, tendo como finalidade
vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defen- educação, ensino, tratamento, custódia, privando-a de alimentação
der-se dos riscos resultantes do abandono: ou cuidados indispensáveis, sujeitando-a a trabalho excessivo ou
Pena - detenção, de seis meses a três anos. inadequado, abusando dos meios de correção e disciplina. Ex. pai
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: espanca o filho com a intenção de educá-lo. Caso ocorra lesão cor-
Pena - reclusão, de um a cinco anos. poral grave ou morte da vítima a pena é aumentada, bem como se
§ 2º - Se resulta a morte: ela possui menos de 14 anos de idade.
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

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DIREITO PENAL
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua Obs.: A injúria possui duas qualificadoras: 1) se há violência/
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tra- vias de fato, ex. puxão de orelha para dizer que Juquinha é burro;
tamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados 2) Injúria racial, ex. dizer que Juquinha é um macaco em razão da
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequa- sua cor.
do, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. Em qualquer dos 3 crimes a pena é aumentada quando prati-
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: cado contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo
Pena - reclusão, de um a quatro anos. estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas funções;
§ 2º - Se resulta a morte: na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. da calúnia, da difamação ou da injúria; contra pessoa maior de 60
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injú-
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. ria (neste caso qualifica). Se o crime é cometido mediante paga ou
promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
▪ Rixa: Consiste em participar da rixa, salvo se a intenção do Existe a exclusão do crime de injúria ou difamação se:
agente é separar a briga. Qualifica o crime eventual lesão corporal I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte
grave ou morte. ou por seu procurador (ex. discussões nas sessões de julgamento);
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou cientí-
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: fica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar (ex.
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. crítica de um especialista no assunto);
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natu- III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público,
reza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever
detenção, de seis meses a dois anos. do ofício (ex. avaliação de funcionário).

▪ Crimes contra a honra Todavia, nos casos dos nº I e III, responde pela injúria ou pela
• Calúnia: Atribuir a outrem um fato criminoso que o sabe fal- difamação quem lhe dá publicidade.
so. Ex. Eu digo que Juquinha subtraiu o relógio de Joana enquanto
ela dormia, mesmo sabendo que isso não é verdade. Por fim, cabe retratação, isto é, o agente antes da sentença se
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato de- retrata cabalmente da calúnia ou difamação. A consequência é que
finido como crime: ficará isento de pena. Outra opção para evitar a responsabilização
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. criminal é se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, di-
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputa- famação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações
ção, a propala ou divulga. em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Para se livrar do crime de calúnia o agente pode provar que re- Quanto ao entendimento dos tribunais, algumas decisões me-
almente está certo no fato criminal que contou. Esse é o instituto da recem destaque:
exceção da verdade, mas que não pode ser usado em alguns casos: • Em uma única carta pode estar configurado o crime de calú-
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o nia, difamação e injúria.
ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; • Configura difamação edição e publicação de vídeo que faz
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº parecer que a vítima está falando mal de negros e pobres.
I do art. 141 (contra o Presidente da República, ou contra chefe de • A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra
governo estrangeiro); autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido com outro homem.
foi absolvido por sentença irrecorrível. • Deputado que em entrevista afirma que determinada depu-
tada não merece ser estuprada pratica, em tese, crime de injúria.
• Difamação: Atribuir a outrem um fato desabonador. Ex. Eu • Não deve ser punido deputado federal que profere palavras
digo que Joana se prostitui nas horas vagas. injuriosas contra adversário político que também o ofendeu ime-
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua diatamente antes.
reputação: • O advogado não comete calúnia se não ficar provada a sua
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. intenção de ofender a honra, ainda que contra magistrado.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se Crimes contra a liberdade pessoal
o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício • Constrangimento ilegal: Consiste em constranger alguém
de suas funções. mediante violência ou grave ameaça, ou depois de reduzir a sua
Motivo: é do interesse da Administração Pública saber sobre a capacidade de resistência, para não fazer o que a lei permite ou
conduta dos seus funcionários. a fazer o que ela não mandar. Além da pena do constrangimento,
é aplicada a pena da violência. Exceções: intervenção médica ou
• Injúria: É o famoso xingar outrem. Ex. palavrões. cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou seu representante
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o de- legal, se justificada por iminente perigo de vida, e no caso de impe-
coro: dimento de suicídio. Aumento de pena: reunião de mais de 3 pes-
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. soas ou emprego de arma.
Não cabe exceção da verdade. Mas o juiz pode deixar de aplicar Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
a pena se o ofendido provocou a injúria ou no caso de retorsão ime- ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio,
diata que consista em outra injúria (um injuria o outro). a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a
fazer o que ela não manda:

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DIREITO PENAL
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apo-
dera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim
Aumento de pena de retê-lo no local de trabalho.
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quan- § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
do, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou I – contra criança ou adolescente;
há emprego de armas. II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as corresponden- origem.
tes à violência.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: •Tráfico de Pessoas: Consiste em agenciar/ aliciar/recrutar/
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do transportar/transferir/comprar/alojar/acolher, mediante violência,
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente grave ameaça, coação, fraude ou abuso uma pessoa tendo a finali-
perigo de vida; dade de remover partes do corpo, submetê-la a trabalho em con-
II - a coação exercida para impedir suicídio. dições análogas a de escravo, submetê-la a servidão, adoção ilegal
ou exploração sexual. Aumenta a pena se o crime é cometido por
• Ameaça: Ameaçar alguém de lhe causar mal injusto e grave. funcionário público; contra criança/adolescente/idoso/deficiente;
Ex. vou te matar. se há retirada do território nacional; se prevalece da relação que
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou tem com a vítima. A pena é diminuída caso o agente seja primário e
qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: não integre organização criminosa.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. Art. 149-A.Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir,
comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violên-
• Sequestro e cárcere privado: Consiste em privar alguém da cia, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
sua liberdade. Ex. Juquinha prende Maria no quarto por dias. Qua- I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
lifica o crime se a vítima é maior de 60 anos ou menor de 18 anos, II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
parente, o modus operandi é a internação da vítima, se dura mais III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
de 15 dias, se há fins libidinosos, resulta grave sofrimento físico ou IV - adoção ilegal; ou
moral. V - exploração sexual.
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
ou cárcere privado: § 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
Pena - reclusão, de um a três anos. I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: suas funções ou a pretexto de exercê-las;
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou compa- II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa
nheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; idosa ou com deficiência;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domés-
casa de saúde ou hospital; ticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica,
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; de emprego, cargo ou função; ou
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território na-
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natu- cional.
reza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for pri-
Pena - reclusão, de dois a oito anos. mário e não integrar organização criminosa.

• Redução à condição análoga a de escravo: consiste em sub- Crimes contra a inviolabilidade do domicílio - Violação de do-
meter alguém a trabalhos forçados ou jornada exaustiva, condições micílio
degradantes de trabalho, restringindo a sua locomoção em razão de Entrar ou permanecer em casa alheia, de maneira clandestina/
dívida contraída. Responde pela mesma pena quem cerceia o meio astuciosa, contra a vontade de quem de direito (ex. proprietário).
de transporte para reter a vítima no local de trabalho, mantém vi- Qualifica quando o crime é cometido no período da noite, lugar
gilância ou se apodera de documentos da vítima com o fim retê-la. ermo, mediante violência ou arma, 2 ou mais pessoas. Aumenta
Aumenta a pena se existe motivo de preconceito ou se é contra se o agente é funcionário público. Não configura o crime se é caso
criança/adolescente. de prisão em flagrante ou efetuar prisão/diligências durante o dia.

Obs.: Não é requisito para a configuração do crime a restrição É casa Não é casa
da liberdade de locomoção dos trabalhadores.
I - qualquer compartimento
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer habitado; I - hospedaria, estalagem ou
submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer II - aposento ocupado de habita- qualquer outra habitação
sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringin- ção coletiva; coletiva, enquanto aberta;
do, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída III - compartimento não aberto II - taverna, casa de jogo e ou-
com o empregador ou preposto: ao público, onde alguém exerce tras do mesmo gênero.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena cor- profissão ou atividade.
respondente à violência.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;

17
DIREITO PENAL
Em recente decisão, o STJ entendeu que configura o crime de Nesse último caso, aumenta-se a pena de um a dois terços se
violação de domicílio o ingresso e permanência, sem autorização, houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a
em gabinete de delegado de polícia, embora faça parte de um pré- qualquer título, dos dados ou informações obtidas.
dio/repartição pública.
Obs.: Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for
Crimes contra a inviolabilidade de correspondências praticado contra: Presidente da República, governadores e prefei-
• Violação de correspondência: Devassar indevidamente o tos; Presidente do Supremo Tribunal Federal; Presidente da Câmara
conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem. dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de
• Sonegação ou destruição de correspondência: Se apossa in- Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Mu-
devidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no nicipal; ou dirigente máximo da administração direta e indireta fe-
todo ou em parte, a sonega ou destrói. deral, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
• Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou tele-
fônica: Quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza
abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;
Em primeiro lugar, é importante conhecer as alterações que o
Quem impede a comunicação ou a conversação referidas no Pacote Anticrime fez nos crimes contra o patrimônio:
número anterior;
Quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico. • No crime de roubo, a pena passou a ser aumentada de 1/3
• Correspondência comercial:Abusar da condição de sócio ou até 1/2 se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de
empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no ARMA BRANCA. Ademais, a pena aumenta-se de 2/3 se a violên-
todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspon- cia ou ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO. Por
dência, ou revelar a estranho seu conteúdo. fim, aplica-se a pena em DOBRO se a violência ou grave ameaça é
exercida com emprego de ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU
Obs.:As penas aumentam-se de metade, se há dano para ou- PROIBIDO.
trem. Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço • O crime de estelionato passou a ter como regra de Ação Pe-
postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico o crime qualifica-se. nal Pública Condicionada a Representação. Exceção: Será de Ação
penal pública INCONDICIONADA quando a vítima for: I - a Admi-
Crimes contra a inviolabilidade dos segredos nistração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III
- pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 anos de idade
Violação do segredo ou incapaz.
Divulgação de segredo
profissional • A pena do crime de concussão também mudou: De Reclusão,
Divulgar alguém, sem justa de 2 a 8 anos, e multa, passou para Reclusão, de 2 a 12 anos, e mul-
causa, conteúdo de documento ta. Essa é uma novatio legis in pejus, logo, não retroage.
particular ou de correspondência
confidencial, de que é Revelar alguém, sem justa Furto
destinatário ou detentor, e cuja causa, segredo, de que Consiste na subtração de bem alheio, sem violência nem grave
divulgação possa produzir dano tem ciência em razão de ameaça.
a outrem. função, ministério, ofício ou
Qualifica divulgar, sem justa profissão, e cuja revelação Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
causa, informações sigilosas ou possa produzir dano a Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
reservadas, assim definidas em outrem. — Causa de aumento
lei, contidas ou não nos sistemas A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado duran-
de informações ou banco de te o repouso noturno. Ex. enquanto os moradores da casa esta-
dados da Administração Pública. vam dormindo o agente furta o lar.
— Qualificadoras
Por fim, configura o crime de invasão de dispositivo informá- A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é
tico o indivíduo que invade dispositivo informático alheio, conecta- cometido:
do ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração
mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou des- da coisa;
truir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou
titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vanta- destreza;
gem ilícita. Ex. Hacker. III - com emprego de chave falsa;
Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa,
de permitir a prática da conduta. Aumenta-se a pena de um sexto se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. Qualifica o perigo comum.
crime se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunica- A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de
ções eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, infor- veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado
mações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não ou para o exterior.
autorizado do dispositivo invadido. A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração
for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes no local da subtração.

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DIREITO PENAL
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, Extorsão e Extorsão mediante sequestro
se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, Os dois tipos penais não se confundem. Na extorsão, constran-
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ge-se alguém, de forma violenta ou com grave ameaça, para obter
ou emprego. vantagem econômica. Na extorsão, mediante sequestro, seques-
tra-se a pessoa para obter qualquer vantagem, como condição ou
▪ Furto privilegiado preço do resgate.
Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada,
o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminu- ▪ Extorsão
í-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Obs. Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
outros crimes patrimoniais sem violência/grave ameaça, também, ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
recebem o benefício. vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa:
▪ Furto de Coisa Comum Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o dis-
§ 1º - Somente se procede mediante representação. posto no § 3º do artigo anterior.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo § 3ºSe o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da
valor não excede a quota a que tem direito o agente. vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem
econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além
Roubo
da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as
É a subtração de bens alheios violenta, com grave ameaça ou
penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
reduzindo a possibilidade de resistência da vítima (ex. boa noite
cinderela).
▪ Extorsão mediante sequestro
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta)
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
ou para terceiro. § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
— Causa de aumento Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 2ºA pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: § 3º - Se resulta a morte:
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que
agente conhece tal circunstância. o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado,
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser terá sua pena reduzida de um a dois terços.
transportado para outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo ▪ Extorsão indireta
sua liberdade. Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de aces- da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedi-
sórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, mento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
montagem ou emprego. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
de arma branca; Usurpação
§ 2º-AA pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): Dentro do capítulo usurpação estão inseridos os seguintes cri-
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma mes:
de fogo; • Alteração de limites: suprimir ou deslocar tapume, marco, ou
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se,
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo co- no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia.
mum. • Usurpação de águas: desviar ou represar, em proveito próprio
— Qualificadora ou de outrem, águas alheias.
§ 2º-B.Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego • Esbulho possessório: invadir, com violência a pessoa ou grave
de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno
pena prevista no caput deste artigo. ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. Obs. Se a pro-
§ 3º Se da violência resulta: priedade é particular, e não há emprego de violência, somente se
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 procede mediante queixa.
(dezoito) anos, e multa; • Supressão ou alteração de marca em animais: Suprimir ou
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal
e multa. indicativo de propriedade.

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DIREITO PENAL
Dano I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de ofe-
No crime de dano, os verbos núcleos do tipo são 3 - Destruir, recida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciá-
inutilizar ou deteriorar (coisa alheia). Ademais, em 4 situações o cri- ria, inclusive acessórios; ou
me é qualificado: II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja
• com violência à pessoa ou grave ameaça; igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, admi-
• com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato nistrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
não constitui crime mais grave; execuções fiscais.
• contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, § 4oA faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos
de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de servi- acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente,
ços públicos; como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
• por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a víti-
ma (somente se procede mediante queixa). Apropriação
de coisa havida por
No mesmo capítulo, o Código Penal traz mais algumas figuras Apropriação de Apropriação
erro, caso fortuito
típicas: tesouro de coisa achada
ou força da natu-
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia reza
(somente se procede mediante queixa)
II - quem
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
acha coisa alheia
sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte
perdida e dela se
prejuízo: I - quem acha
Art. 169 - Apro- apropria, total
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. tesouro em prédio
priar-se alguém de ou parcialmente,
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico alheio e se apro-
coisa alheia vinda deixando de resti-
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela pria, no todo ou
ao seu poder por tuí-la ao dono ou
autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico em parte, da quota
erro, caso fortuito legítimo possuidor
ou histórico: a que tem direito
ou força da natu- ou de entregá-la à
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. o proprietário do
reza. autoridade com-
Alteração de local especialmente protegido prédio.
petente, dentro
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o as- no prazo de quinze
pecto de local especialmente protegido por lei: dias.
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Apropriação indébita Estelionato e outras fraudes
O agente apropria-se de coisa alheia, valendo-se da posse ou O estelionato caracteriza-se por obter, para si ou para outrem,
detenção que tem dela. Ex. o motoboy que ia levar a sua pizza por vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo al-
delivery, aproveita para apropriar-se dela. A pena é aumentada de guém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
um terço, quando o agente recebeu a coisa: em depósito neces- fraudulento.
sário; na qualidade de tutor, curador, síndico (atual administrador Após o Pacote Anticrime a ação passou a ser pública condicio-
judicial), liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário nada à representação, salvo: se a vítima for a Administração Públi-
judicial; em razão de ofício, emprego ou profissão. ca, criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental, maior
Atenção: O STF, já decidiu que ressarcimento em acordo homo- de 70 anos de idade ou incapaz.
logado no juízo cível é fundamento válido para trancar a ação penal. O Código Penal determina que deve incorrer na mesma pena
Obs. a apropriação indébita previdenciária (forma qualificada) do estelionato quem comete:
caracteriza-se por deixar de repassar à previdência social as con- • Disposição de coisa alheia como própria;
tribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou • Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria;
convencional, independente de dolo específico. • Defraudação do penhor;
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: • Fraude na entrega de coisa;
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância • Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro;
destinada à previdência social que tenha sido descontada de paga- • Fraude no pagamento por meio de cheque.
mento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que te- Estelionato contra idoso
nham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de
produtos ou à prestação de serviços; § 4ºAplica-se a pena em dobro se o crime for
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cometido contra idoso.
cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela pre- § 5º Somente se procede mediante representa-
vidência social. ção, salvo se a vítima for:
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, I - a Administração Pública, direta ou indireta;
declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, impor- II - criança ou adolescente;
tâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência III - pessoa com deficiência mental; ou
social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou
ação fiscal. incapaz.
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar so-
mente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, O Código Penal, inclusive, se preocupa em tipificar algumas
desde que: outras fraudes, menos incidentes em prova:

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DIREITO PENAL
Duplicata simulada IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite;
corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualida- V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social,
de, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;
27.12.1990) VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desa-
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.(Reda- cordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou divi-
ção dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) dendos fictícios;
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsi- VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa,
ficar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou pa-
(Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) recer;
Abuso de incapazes VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessida- IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autori-
de, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade zada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos ns. I
mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato susce- e II, ou dá falsa informação ao Governo.
tível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: § 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos,
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para
Induzimento à especulação outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral.
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiên- Emissão irregular de conhecimento de depósito ou «warrant»
cia ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzin- Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em de-
do-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou sacordo com disposição legal:
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Fraude à execução
Fraude no comércio Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adqui- ou danificando bens, ou simulando dívidas:
rente ou consumidor: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsifi- Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa.
cada ou deteriorada; Alguns pontos merecem atenção:
II - entregando uma mercadoria por outra: • Adulterar o sistema de medição de energia elétrica para pagar
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. menos que o devido é estelionato (e não furto mediante fraude);
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou • Uso de processo judicial para obter lucro é figura atípica;
o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por • É justificável a exasperação da pena-base em caso de confian-
falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadei- ça da vítima no autor do crime de estelionato;
ra; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade: • O delito de estelionato não é absorvido pelo roubo de talão
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. de cheque.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
Outras fraudes Receptação
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito
ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir
efetuar o pagamento: para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Perceba
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. que no crime de receptação, o agente tem contato com um bem
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, obtido por meio de crime anterior, ex. objeto furtado.
e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
▪ Receptação Qualificada
Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
por ações
depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazen-
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exer-
do, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia,
cício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser
afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
produto de crime:
fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do pará-
constitui crime contra a economia popular.
§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime grafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandesti-
contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de 1951) no, inclusive o exercício em residência.
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao pú- desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a
blico ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições eco- oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
nômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as
parte, fato a elas relativo; penas.
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento
artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade; de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o
usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a
sem prévia autorização da assembleia geral; pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.

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DIREITO PENAL
§ 6oTratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, § 1oIncorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa conces- caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não
sionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
caput deste artigo. Ex. receptação de bens do correio. qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2o(VETADO)
▪ Receptação de Animal § 3oSe da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Art. 180-A.Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comer- § 4oSe da conduta resulta morte:
cialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: § 5ºAs penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste arti-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. go aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou
do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
Nos crimes patrimoniais existem causas de isenção de pena,
e causas que a ação deixa de ser pública incondicionada, para ser ▪ Corrupção de menores
tratada como ação penal pública condicionada à representação: Art. 218.Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes a lascívia de outrem:
previstos neste título, em prejuízo: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ▪ Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou ado-
ou ilegítimo, seja civil ou natural. lescente
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o
Art. 218-A.Praticar, na presença de alguém menor de 14 (cator-
crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
ze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando ▪ Favorecimento da prostituição ou de outra forma de explora-
haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; ção sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável
II - ao estranho que participa do crime. Art. 218-B.Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou
superior a 60 (sessenta) anos. que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
que a abandone:
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1oSe o crime é praticado com o fim de obter vantagem econô-
Todos os crimes contra a dignidade sexual passaram a ser de mica, aplica-se também multa.
Ação Penal Pública Incondicionada, ou seja, a denúncia é feita pelo § 2oIncorre nas mesmas penas:
Ministério Público, independente de interesse da vítima. I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com
• Estupro: Constranger alguém, mediante violência ou grave alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situ-
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ação descrita no caput deste artigo;
ele se pratique outro ato libidinoso. II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que
• Violação sexual mediante fraude: Ter conjunção carnal ou se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.
praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou ou- § 3oNa hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório
tro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da condenação a cassação da licença de localização e de funciona-
da vítima. mento do estabelecimento.
• Importunação sexual: Praticar contra alguém e sem a sua
anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascí- ▪ Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vul-
via ou a de terceiro. nerável, de cena de sexo ou de pornografia
• Assédio sexual: Constranger alguém com o intuito de obter Art. 218-C.Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da
expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio
sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
- inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de infor-
exercício de emprego, cargo ou função.
mática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovi-
• Registro não autorizado da intimidade sexual: Produzir,
sual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e priva- que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento
do sem autorização dos participantes. da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não cons-
Merece atenção os crimes sexuais praticados contra os vulne- titui crime mais grave.
ráveis: Aumento de pena
§ 1ºA pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços)
▪ Estupro de vulnerável se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido
Art. 217-A.Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou
com menor de 14 (catorze) anos: humilhação.

22
DIREITO PENAL
Exclusão de ilicitude II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, represen-
§ 2ºNão há crime quando o agente pratica as condutas descri- tação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou
tas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que im- III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo
possibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autoriza- rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.
ção, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.
Quanto às causas de aumento de pena é importante conhecer A pena é aumentada:
a literalidade da letra da lei:
Art. 226. A pena é aumentada: • de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez;
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 • de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite
(duas) ou mais pessoas; à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madras- saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiên-
ta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou cia.
empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade
sobre ela; É importante saber que, O STJ, em recente julgado, conside-
III(Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) rou que o crime de estupro de vulnerável NÃO pressupõe o sexo
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: vaginal, anal ou oral para a sua configuração. Ademais, “O crime de
estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prá-
▪ Estupro coletivo tica de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo IRRELEVANTE
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua expe-
riência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso
▪ Estupro corretivo com o agente” (Súmula 593, STJ).
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.
O Lenocínio, o tráfico de pessoas para fim de prostituição e
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
outras formas de exploração sexual englobam os seguintes crimes:
• Mediação para servir a lascívia de outrem;
• Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração Neste ponto algumas informações são essenciais:
sexual; • A elementar do crime de peculato se comunica aos coautores
• Casa de prostituição; e partícipes estranhos ao serviço público;
• Rufianismo; • Consuma-se o crime de PECULATO-DESVIO no momento em
• Promoção de migração ilegal que o funcionário efetivamente desvia o dinheiro, valor ou outro
bem móvel, em proveito próprio ou de terceiro, ainda que NÃO ob-
É importante conhecer o que vem entendendo a jurisprudên- tenha a vantagem indevida;
cia: • Configura o crime de CONCUSSÃO a conduta do funcionário
• Passar as mãos no corpo da vítima configura estupro de vul- público que, fora do exercício de sua função, mas em razão dela,
nerável consumado; exige o pagamento de uma verba indevida (“taxa de urgência), para
a aprovação de uma obra que sabe irregular;
• Beijar criança na boca configura estupro de vulnerável (beijo
• O EXCESSO DE EXAÇÃO – funcionário exige tributo ou con-
lascivo);
tribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando
• Contemplar lascivamente menor de 14 anos nua configura
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei
estupro de vulnerável;
NÃO autoriza;
•Cabe absolvição do crime de estupro de vulnerável se prova-
• O crime de CORRUPÇÃO PASSIVA possui natureza FORMAL e
do o desconhecimento da idade da vítima (erro de tipo);
independe de resultado, NÃO se exigindo a prática de ato de ofício;
• Beijo roubado em contexto de violência física pode configu-
• Para o STJ, ao contrário do que ocorre no peculato culposo, a
rar estupro.
reparação do dano antes do recebimento da denúncia NÃO exclui
o crime de peculato doloso, diante da ausência de previsão legal,
Por fim, há um capítulo de ultraje público, que engloba 2 cri- mas pode configurar arrependimento posterior (v. HC 239127/RS);
mes: • Nos crimes contra a Administração Pública não incide o prin-
cípio da insignificância.
Ato obsceno
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou Peculato-Apropriação e Peculato-Desvio
exposto ao público: Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qual-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. quer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse
em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.
Escrito ou objeto obsceno Obs. É peculato-furto, se o funcionário público, embora não
Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre
guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pú- para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
blica, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obs- de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
ceno:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Peculato Culposo
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos outrem:
objetos referidos neste artigo; Pena - detenção, de três meses a um ano.

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DIREITO PENAL
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se • Violência arbitrária: Praticar violência, no exercício de função
precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é ou a pretexto de exercê-la.
posterior, reduz de metade a pena imposta. • Abandono de função: Abandonar cargo público, fora dos ca-
sos permitidos em lei.
Peculato mediante erro de outrem • Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado:
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exi-
no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: gências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso.
Modificação ou alteração • Violação de sigilo funcional: Revelar fato de que tem ciência
Inserção de dados falsos em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-
não autorizada de sistema de
em sistema de informações -lhe a revelação.
informações
Por fim, é importante conhecer a descrição de quem é funcio-
Art. 313-B. Modificar ou nário público, para as leis penais:
Art. 313-A. Inserir ou faci- alterar, o funcionário, sistema Funcionário público
litar, o funcionário autorizado, de informações ou programa Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos pe-
a inserção de dados falsos, de informática sem autoriza- nais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce
alterar ou excluir indevida- ção ou solicitação de autorida- cargo, emprego ou função pública.
mente dados corretos nos de competente: § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, em-
sistemas informatizados ou Pena – detenção, de 3 prego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para
bancos de dados da Adminis- (três) meses a 2 (dois) anos, e empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
tração Pública com o fim de multa. execução de atividade típica da Administração Pública.(Incluído
obter vantagem indevida para Parágrafo único. As penas pela Lei nº 9.983, de 2000)
si ou para outrem ou para são aumentadas de um terço § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores
causar dano: Pena – reclusão, até a metade se da modifica- dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em
de 2 (dois) a 12 (doze) anos, ção ou alteração resulta dano comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
e multa. para a Administração Pública administração direta, sociedade de economia mista, empresa públi-
ou para o administrado. ca ou fundação instituída pelo poder público.
Quanto aos crimes praticados por particular contra a Adminis-
tração temos: usurpação de função pública; resistência; desobedi-
• Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento: ência; desacato; tráfico de influência; corrupção ativa; descaminho;
Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda contrabando; impedimento, perturbação ou fraude de concorrên-
em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente. cia; inutilização de edital ou sinal; subtração de inutilização de livro
• Emprego irregular de verbas ou rendas pública: Dar às ver- ou documento; sonegação de contribuição previdenciária.
bas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei. Aqui é importante memorizar que resistência, desobediência e
• Concussão: Exigir, para si ou para outrem, direta ou indire- desacato não se confundem:
tamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em Resistência
razão dela, vantagem indevida. Obs. é crime formal, se consuma Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência
com a exigência da vantagem indevida. ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe
• Excesso de exação: Se o funcionário exige tributo ou contri- esteja prestando auxílio:
buição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devi- Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
do, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
autoriza. Pena - reclusão, de um a três anos.
• Corrupção passiva: Solicitar ou receber, para si ou para ou- § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das cor-
trem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de respondentes à violência.
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar pro- Desobediência
messa de tal vantagem. Obs. configura corrupção passiva receber Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
propina sob o disfarce de doações eleitorais. Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
• Facilitação de contrabando ou descaminho: Facilitar, com in- Desacato
fração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho. Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função
• Prevaricação: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ou em razão dela:
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Obs. Deixar o Diretor de O tráfico de influência consiste em: Solicitar, exigir, cobrar ou
Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente ex- exercício da função (qualquer funcionário público). A pena é au-
terno. mentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é
• Condescendência criminosa: Deixar o funcionário, por indul- também destinada ao funcionário.
gência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no É importante conhecer a literalidade do crime de corrupção
exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o ativa:
fato ao conhecimento da autoridade competente. Corrupção ativa
• Advocacia administrativa: Patrocinar, direta ou indiretamen- Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcio-
te, interesse privado perante a administração pública, valendo-se nário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato
da qualidade de funcionário. de ofício:

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DIREITO PENAL
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Por fim, vale diferenciar patrocínio infiel de patrocínio simultâ-
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em ra- neo ou tergiversação:
zão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Patrocínio infiel
De acordo com o STJ, a inépcia da denúncia de corrupção ativa Patrocínio simultâneo ou
Art. 355 - Trair, na
não induz, por si só, o trancamento da ação penal de corrupção tergiversação
qualidade de advogado ou
passiva. Os dois crimes estão em tipos penais autônomos, e um não Parágrafo único - Incorre
procurador, o dever profissio-
pressupõe o outro. na pena deste artigo o advo-
nal, prejudicando interesse,
Ademais, o CP elenca os crimes praticados por particular contra gado ou procurador judicial
cujo patrocínio, em juízo, lhe
a Administração Pública Estrangeira:Corrupção ativa em transação que defende na mesma causa,
é confiado:
comercial internacional; Tráfico de influência em transação comer- simultânea ou sucessivamente,
Pena - detenção, de seis
cial internacional. E, também, estabelece os crimes contra a Admi- partes contrárias.
meses a três anos, e multa.
nistração da Justiça:
• Reingresso de estrangeiro expulso;
• Denunciação caluniosa;
• Comunicação falsa de crime ou contravenção;
• Auto-acusação falsa; EXERCÍCIOS
• Falso Testemunho ou falsa perícia;
• Coação no Curso do Processo;
• Exercício arbitrário das próprias razões;
1. (AV MOREIRA - 2020 - PREFEITURA DE NOSSA SENHORA DE
• Fraude processual;
NAZARÉ - PI - PROCURADOR MUNICIPAL) Marque a alternativa em
• Favorecimento pessoal;
que o princípio constitucional do direito penal NÃO corresponde ao
• Favorecimento real;
seu conceito.
• Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança;
(A) Princípio da Individualização da Pena: Qualquer que seja
• Evasão mediante violência contra a pessoa;
a pena aplicada, ela estará restrita à liberdade, ao patrimônio
• Arrebatamento de preso;
e à pessoa do condenado. A exceção é o uso do patrimônio
• Motim de presos;
transferido em herança para quitar obrigação de decretação de
• Patrocínio infiel;
perdimento de bens e de reparação de dano.
• Patrocínio simultâneo ou tergiversação;
(B) Princípio da Irretroatividade: Enquanto as leis em geral go-
• Sonegação de papel ou objeto de valor probatório;
zam de retroatividade mínima – alcançam obrigações vencidas
• Exploração de prestígio;
não pagas e por vencer –, a lei definidora de crime não retroage
• Violência ou fraude em arrematação judicial;
senão para beneficiar o réu.
• Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão
(C) Princípio da Legalidade: A norma basilar do Direito Penal é
de direitos.
a não existência de crime sem lei anterior que o defina. Isto é,
para que uma conduta seja considerada um delito, é preciso
Aqui, o mais importante é ter em mente que denunciação ca-
que seu dispositivo e sua hipótese de incidência estejam pre-
luniosa exige dolo direto do agente. Ou seja, o agente saiba que a
vistos em um documento escrito que superou todas as etapas
pessoa é inocente:
do processo legislativo.
(D) Princípio da Presunção da Inocência: Ninguém será consi-
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de pro-
derado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
cedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo
condenatória.
administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi-
(E) Princípio da Responsabilidade Pessoal: Qualquer que seja
dade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração
a pena aplicada, ela estará restrita à liberdade, ao patrimônio
ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:
e à pessoa do condenado. A exceção é o uso do patrimônio
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
transferido em herança para quitar obrigação de decretação de
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve
perdimento de bens e de reparação de dano.
de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prá-
tica de contravenção.
Ademais, tanto no falso testemunho como na falsa perícia: O
fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
É importante saber diferenciar o favorecimento real do favo-
recimento pessoal:
• Exemplo de favorecimento real: um amigo do criminoso guar-
da em sua casa o proveito do crime (um objeto furtado).
• Exemplo de favorecimento pessoal: um amigo do criminoso
esconde o foragido em sua casa. Se quem presta o auxílio é ascen-
dente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de
pena.

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DIREITO PENAL
2. (FGV - 2019 - MPE-RJ - ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – (E) Crime praticado em aeronave brasileira de propriedade pri-
PROCESSUAL) Renato, Bruno e Diego praticaram diferentes crimes vada em território estrangeiro não se sujeita à lei penal brasi-
de roubo com emprego de armas brancas. Renato, no ano de 2017, leira, mesmo que não seja julgado no exterior.
foi condenado definitivamente pelo crime de roubo majorado pelo
emprego de arma, pois, em 2015, teria, com grave ameaça exercida 5. (CONSULPLAN - 2019 - TJ-MG - TITULAR DE SERVIÇOS DE
com emprego de faca, subtraído um celular. Bruno foi condenado, NOTAS E DE REGISTROS – REMOÇÃO) A norma penal incriminadora
em primeira instância, em março de 2018, também pelo crime de é formada basicamente por dois preceitos: o preceito primário (ou
roubo majorado pelo emprego de arma, já que teria utilizado um preceptum juris), em que se prevê a conduta abstrata que a socie-
canivete para ameaçar a vítima e subtrair sua bolsa. A decisão ain- dade pretende punir, o preceito secundário (ou sanctio juris), em
da está pendente de confirmação diante de recurso do Ministério que se fixa a sanção penal correspondente. As normas que necessi-
Público, apenas. Diego, por sua vez, responde à ação penal pela su- tam de complementação no preceito secundário, por não trazerem
posta prática de crime de roubo majorado pelo emprego de arma, a cominação da pena correspondente à prática da conduta típica
que seria um martelo, por fatos que teriam ocorrido em fevereiro são chamadas de normas penais:
de 2018, estando o processo ainda em fase de instrução probatória. (A) Explicativas.
Ocorre que, em abril de 2018, entrou em vigor lei alterando o art. (B) Em branco homogêneas.
(C) Em branco heterogêneas.
157 do CP, sendo revogado o inciso I do parágrafo 2º, e passando
(D) Imperfeitas (ou incompletas strictu sensu).
a prever que apenas o crime de roubo com emprego de arma de
fogo funcionaria como causa de aumento de pena. Considerando
6. (FGV - 2012 - PC-MA - DELEGADO DE POLÍCIA) Ocorrido um
apenas as informações expostas e que a inovação legislativa não
fato criminoso, às vezes duas ou mais normas se apresentam para
teria inconstitucionalidades, as novas previsões: regulá-lo, surgindo o chamado conflito aparente de normas. A res-
(A) seriam aplicáveis a Diego, que ainda não possui sentença peito de tal questão, assinale a afirmativa incorreta.
condenatória em seu desfavor, com base no princípio da re- (A) A pluralidade de fatos e a pluralidade de normas são pressu-
troatividade da lei penal benéfica, mas não seriam aplicáveis a postos do conflito, que aparentemente com eles se identificam.
Renato e Bruno; (B) O princípio da subsidiariedade atua como “soldado de re-
(B) não seriam aplicáveis a Renato, que já possui condenação serva”, aplicando a norma subsidiária menos grave quando im-
com trânsito em julgado, aplicando-se o princípio da irretro- possível a aplicação da norma principal mais grave.
atividade da lei penal, mas deveriam ser aplicadas a Bruno e (C) A questão da progressão criminosa e do crime progressivo é
Diego; resolvida pelo princípio da absorção ou consunção.
(C) não seriam aplicáveis a Renato, Bruno nem a Diego, já que (D) Na progressão criminosa, o agente inicialmente pretender
os fatos imputados teriam ocorrido antes de sua entrada em praticar um crime menos grave, e, depois, resolve progredir
vigor, aplicando-se o princípio da irretroatividade da lei penal; para o mais grave.
(D) seriam aplicáveis a Renato, Bruno e Diego, em razão do (E) No crime progressivo, o sujeito, para alcançar o crime queri-
princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica; do, passa necessariamente por outro menos grave que aquele
(E) seriam aplicáveis apenas a Bruno e Diego, mas não a Rena- desejado.
to, diante do princípio do tempus regit actum.
7. (MPE-GO - 2019 - MPE-GO - PROMOTOR DE JUSTIÇA – RE-
3. (VUNESP - 2018 - PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA) Se- APLICAÇÃO) A clássica frase a seguir inaugurou uma nova fase na
gundo o disposto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, dogmática jurídico-penal: « O caminho correto só pode ser deixar
“Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de as decisões valorativas político-criminais introduzirem-se no siste-
pena mais leve, o delinquente será por isso beneficiado.” Essa nor- ma de direito penal” . Assinale a alternativa em que consta o autor
ma de direito penal é representada pelo Princípio da referida afirmação, bem como o sistema jurídico-penal a que se
(A) da Individualização da Pena. refere:
(B) da Legalidade. (A) Edmund Mezger - neokantismo penal
(B) Claus Roxin - funcionalismo teleológico racional
(C) da Norma Penal em Branco.
(C) Günther Jakobs - funcionalismo sistêmico radical
(D) da Presunção da Inocência.
(D) Hans Welzel - finalismo penal
(E) da Retroatividade.
8. (INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - PERITO OFICIAL CRIMINAL
4. (CESPE - 2019 - TJ-DFT - TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E - ÁREA 8) O agente que pratica o fato para salvar de perigo atual,
DE REGISTROS – REMOÇÃO) Acerca das regras de territorialidade e que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evi-
de extraterritorialidade da lei penal, assinale a opção correta. tar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
(A) Crime de genocídio praticado fora do território brasileiro era razoável exigir-se, age amparado por qual causa excludente de
poderá ser julgado no Brasil quando cometido contra povo alie- ilicitude?
nígena por estrangeiro domiciliado no Brasil. (A) Legítima defesa.
(B) O brasileiro que praticar crime em território estrangeiro po- (B) Estado de necessidade.
derá ser punido, devendo ser aplicada ao fato a lei penal brasi- (C) Estrito cumprimento de dever legal.
leira, ainda que o agente não mais ingresse no Brasil. (D) Exercício regular de direito.
(C) Crime contra a administração pública nacional praticado no (E) Consentimento do ofendido.
exterior ficará sujeito à lei brasileira quando o agente criminoso
que estava a serviço da administração regressar ao Brasil.
(D) Crime praticado em embarcação de propriedade de gover-
no estrangeiro, quando se encontrar em mar territorial brasilei-
ro, ficará sujeito à lei penal brasileira.

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DIREITO PENAL
9. (VUNESP - 2019 - TJ-AL - NOTÁRIO E REGISTRADOR – RE- 13. (VUNESP - 2019 - TJ-RO - JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO)
MOÇÃO) No tocante ao concurso do pessoas, é correto afirmar que Tícia, de 16 anos, há dois anos namora Caio, de 19 anos. Tícia é
(A) se entende por participe aquele que pratica a conduta des- virgem e está decidida a apenas manter relação sexual após o casa-
crita no verbo núcleo do tipo penal. mento, já marcado para ocorrer no dia em que ela completará 18
(B) quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas anos. Quando estavam sozinhos, na sala, assistindo TV, Caio, apro-
penas para este cominadas, na medida de sua culpabilidade. veitando-se que Tícia cochilava, masturbou-se e ejaculou no corpo
(C) a participação de menor Importância conduz à exclusão da da namorada que, imediatamente, acordou. Sentindo-se profunda-
culpabilidade. mente violada e agredida, Tícia grita e acorda os pais, que dormiam
(D) se algum dos agentes quis participar de crime menos grave, no quarto da casa. Os pais, vendo a filha suja e em pânico, impedem
responderá por este ainda que fosse previsível o resultado mais Caio de fugir e decidem chamar a polícia. Acionada a polícia, Caio é
grave. preso, em flagrante delito e, encerradas as investigações, denuncia-
do pelo crime sexual praticado. Diante da situação hipotética, Caio
10. (UNIFAL-MG - 2021 - UNIFAL-MG - MÉDICO – PEDIATRIA) poderá ser processado pelo crime de
João Paulo, devidamente aprovado dentro do número de vagas (A) corrupção de menores, tratando-se de ação penal pública
ofertadas no Edital do concurso para o cargo de médico, técnico- incondicionada.
-administrativo em educação, realizado pela Universidade Federal (B) violação sexual mediante fraude, haja vista que Tícia estava
de Alfenas, já convocado para a posse a ser realizada em 10 (dez) dormindo, sem possibilidade de resistir, tratando-se de crime
dias, recebe do Diretor do campus responsável pelo espaço físico da de ação penal pública condicionada.
Universidade, uma oferta da melhor sala disponível dentre as exis- (C) importunação sexual, tratando-se de ação penal pública in-
tentes para os médicos, desde que ele emita atestados médicos em condicionada.
favor do Diretor, quando esse precisar faltar ao trabalho sem justifi- (D) estupro de vulnerável, haja vista que Tícia é menor, tratan-
cativa. João Paulo, que ainda não entrou em exercício na função de do-se de crime de ação penal pública incondicionada.
médico, aceita a promessa do Diretor do campus. Nesse caso, João (E) estupro, incidindo causa de aumento em virtude de a vítima
Paulo incorreu naquele momento: ser menor de 18, tratando-se de ação penal pública condicio-
(A) Em crime de corrupção passiva, uma vez que, ainda que nada.
João Paulo não estivesse no exercício da função, aceitou vanta-
gem em razão dela, condição suficiente para a configuração do 14. (FGV - 2019 - MPE-RJ - ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
crime de corrupção passiva. – PROCESSUAL) Tício, padrasto de Lourdes, criança de 11 anos
(B) Em crime de falsidade de atestado médico, considerando de idade, praticou, mediante violência consistente em diversos
que a mera promessa do atestado falso já configura a efetiva- socos no rosto, atos libidinosos diversos da conjunção carnal
ção da infração penal. com sua enteada. A vítima contou o ocorrido à sua mãe, apre-
(C) Em tentativa de falsidade de atestado médico, porque não sentando lesões no rosto, de modo que a genitora de Lourdes,
houve a concretização do ato ilícito, mas ainda sim João Paulo de imediato, compareceu com a filha em sede policial e narrou
está sujeito a uma punição mais branda. o ocorrido. Recebidos os autos do inquérito policial, o promo-
(D) Em nenhuma infração penal, haja vista que João Paulo ain- tor de justiça com atribuição deverá oferecer denúncia impu-
da não havia assumido a função de médico na Universidade, e tando a Tício o crime de:
a mera conversa entre ele e o Diretor não configura ato ilícito. (A) estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), podendo o em-
prego de violência real ser considerado na pena base para fins
11. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - ANALISTA DE CON- de aplicação da sanção penal, bem como cabendo reconheci-
TROLE EXTERNO - ESPECIALIDADE: DIREITO) Com relação aos cri- mento da causa de aumento de pena pelo fato de o autor ser
mes contra a administração pública, julgue o item subsequente: A padrasto da ofendida;
oposição manifestada pelo indivíduo, mediante resistência passiva, (B) estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), não podendo o
sem o uso da violência, contra ordem emanada por autoridades emprego de violência real ser considerado na pena base por já
policiais que pretendessem levá-lo à delegacia, sem que houvesse funcionar como elementar do delito, mas cabendo reconheci-
flagrante, é suficiente para caracterizar o delito de resistência. mento da causa de aumento de pena pelo fato de o autor ser
( ) CERTO padrasto da ofendida;
( ) ERRADO (C) estupro qualificado pela idade da vítima (art. 213, §1º do
CP), diante da violência real empregada, de modo que a ida-
12. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - ANALISTA DE CON- de da vítima não poderá funcionar como agravante, apesar de
TROLE EXTERNO - ESPECIALIDADE: DIREITO) Com relação aos cri- presente a causa de aumento pelo fato de o autor ser padrasto
mes contra a administração pública, julgue o item subsequente: da ofendida;
Servidor público que, violando dever funcional, facilite a prática de (D) estupro simples (art. 213 do CP), diante da violência real
contrabando responderá como partícipe pela prática desse crime. empregada, funcionando a idade da vítima como agravante da
( ) CERTO pena, não havendo previsão de causa de aumento de pena,
( ) ERRADO que somente seria aplicável se o autor fosse pai da ofendida;
(E) estupro qualificado pela idade da vítima (art. 213, §1º do
CP), sem causa de aumento por ser o autor padrasto da ofen-
dida, diante da violência real empregada, podendo a idade da
vítima funcionar também como agravante da pena.

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DIREITO PENAL
15. (INSTITUTO ACESSO - 2019 - PC-ES - DELEGADO DE POLÍ- 19. (CESPE - 2020 - MPE-CE - PROMOTOR DE JUSTIÇA DE EN-
CIA) A profissional do sexo Gumercinda atende a seus clientes no TRÂNCIA INICIAL) Acerca do delito de homicídio doloso, assinale a
local onde reside juntamente com seu filho Joaquim de dez anos. opção correta.
O local é bastante exíguo, tendo pouco mais de quinze metros qua- (A) Constitui forma privilegiada desse crime o seu cometimen-
drados, onde existem apenas um quarto e um banheiro, ficando a to por agente impelido por motivo de relevante valor social ou
cama onde Joaquim dorme ao lado da cama da mãe. Em uma deter- moral, ou sob influência de violenta emoção provocada por ato
minada madrugada, Gumercinda acerta um “programa sexual” com injusto da vítima.
Caio e o leva até sua casa. Durante o ato sexual, Joaquim acorda e (B) A qualificadora do feminicídio, caso envolva violência do-
presencia tudo, sem que Gumercinda ou Caio percebam que ele méstica, menosprezo ou discriminação à condição de mulher,
está assistindo à cena. No dia seguinte, Joaquim vai para a escola e não é incompatível com a presença da qualificadora da moti-
conta o fato a um amigo, o qual, por sua vez, relata a história para vação torpe.
Joana, sua mãe. Esta, abismada com a história, procura a delegacia (C) A prática desse crime contra autoridade ou agente das for-
do bairro e narra os fatos acima descritos. Diante desta situação ças de segurança pública é causa de aumento de pena.
hipotética, assinale a alternativa correta do ponto de vista legal. (D) É possível a aplicação do privilégio ao homicídio qualificado
(A) Gumercinda e Caio responderão pelo delito de satisfação de independentemente de as circunstâncias qualificadoras serem
lascívia mediante a presença de criança ou adolescente. de ordem subjetiva ou objetiva.
(B) Gumercinda e Caio não cometeram nenhum crime. (E) Constitui forma qualificada desse crime o seu cometimento
(C) Gumercinda e Caio praticaram exploração sexual de criança por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
ou adolescente. segurança, ou por grupo de extermínio.
(D) Gumercinda e Caio praticaram crime previsto no Estatuto
da Criança e do Adolescente. 20. (IBFC - 2020 - EBSERH – ADVOGADO) O atual Código de Di-
(E) Apenas Gumercinda responderá pelo delito de satisfação de reito Penal, recepcionado pela Constituição de 1988, inicia a Parte
lascívia mediante a presença de criança ou adolescente. Especial tratando dos crimes contra a pessoa. Sobre eles, assinale a
alternativa incorreta.
16. (VUNESP - 2020 - EBSERH – Advogado) O crime de roubo (A) Também é crime se a lesão corporal for praticada contra
tem pena aumentada (CP, art. 157, § 2° e 2° A) se ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou
(A) o bem subtraído é de propriedade de ente público Munici- com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecen-
pal, Estadual ou Federal. do-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
(B) a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente hospitalidade
conhece tal circunstância. (B) Trata-se de homicídio qualificado aquele cometido contra a
(C) praticado em transporte público ou coletivo. mulher por razões da condição do sexo feminino
(D) cometido por quem, embora transitoriamente ou sem re- (C) É crime o aborto de feto com anencefalia
muneração, exerce cargo, emprego ou função pública. (D) É crime contra a pessoa praticar, com o fim de transmitir a
(E) cometido por quem for ocupante de cargos em comissão ou outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de
de função de direção ou assessoramento de órgão de empresa produzir contágio
pública. (E) É crime abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guar-
da, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de
17. (FAFIPA - 2019 - CREA-PR - AGENTE PROFISSIONAL – AD- defender-se dos riscos resultantes do abandono
VOGADO) Considerando o seguinte fato: Tício finge ser cliente da
loja X e ali efetua a compra de um par de meias no valor de R$ 21. (CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-BA - JUIZ LEIGO) Márcio e
10,90. No momento do pagamento, faz confusão dentro da loja, Pedro eram amigos havia anos. Tendo descoberto que Pedro estava
finge que paga pelo produto e induz o funcionário a lhe devolver saindo com a sua ex-esposa, Márcio planejou matar Pedro durante
troco. Esse fato típico enquadra-se como o delito de: uma pescaria que fariam juntos. Durante uma tempestade, em al-
(A) Furto. to-mar, Márcio aproveitou-se de um deslize de Pedro para de fato
(B) Furto mediante fraude. matá-lo. Logo após a conduta, Márcio percebeu que na canoa onde
(C) Apropriação indébita. estavam só havia um colete salva-vidas e que, em razão disso, a
(D) Estelionato. eliminação de Pedro foi sua única chance de sobreviver. A canoa
(E) Roubo. afundou e Márcio sobreviveu ao naufrágio. Nessa situação hipoté-
tica, Márcio
18. (INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES – INVESTIGADOR) Em re- (A) cometeu crime de homicídio qualificado.
lação aos crimes contra o patrimônio, assinale a alternativa correta. (B) não cometeu crime, porque agiu em legítima defesa da
(A) É isento de pena o agente que pratica o crime de roubo con- honra.
tra seu cônjuge, na constância da sociedade conjugal. (C) cometeu crime, mas sua conduta será justificada pelo esta-
(B) É isento de pena o agente que pratica o crime de furto em do de necessidade putativo.
prejuízo de seu cônjuge, que possui 50 anos de idade, na cons- (D) não cometeu crime, porque agiu em estado de necessida-
tância da sociedade conjugal. de.
(C) A pena do delito de receptação é reduzida de um a dois (E) cometeu crime, mas sua pena será diminuída porque agiu
terços se o crime for praticado contra descendente, seja o pa- em estado de necessidade.
rentesco legítimo ou ilegítimo.
(D) A pena do delito de furto é aumentada de um terço se o
crime for praticado em prejuízo do cônjuge, na constância da
sociedade conjugal.
(E) É isento de pena quem pratica o crime de extorsão em pre-
juízo do cônjuge judicialmente separado.

28
DIREITO PENAL
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EXERCÍCIOS
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1 A
2 D ______________________________________________________
3 E ______________________________________________________
4 A
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5 D
6 A ______________________________________________________
7 B ______________________________________________________
8 B
______________________________________________________
9 B
10 A ______________________________________________________
11 ERRADO ______________________________________________________
12 ERRADO
______________________________________________________
13 C
14 A ______________________________________________________
15 B ______________________________________________________
16 B
______________________________________________________
17 D
18 B ______________________________________________________
19 B ______________________________________________________
20 C
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21 A
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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1. Direitos E Garantias Processuais Penais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Investigação Criminal Policial (Artigos 4° Ao 23° Do Cpp) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Ação Penal (Artigos 24º Ao 62º Do Cpp) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Prisão Cautelar: Prisão Em Flagrante: Tipos E Espécies De Flagrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
5. Teoria Geral Da Prova Penal. Cadeia De Custódia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípio da inocência
DIREITOS E GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS
O Princípio da inocência dispõe que ninguém pode ser con-
Princípios do direito processual penal brasileiro siderado culpado senão após o trânsito em julgado de uma sen-
tença condenatória (vide art. 5º, inciso LVII, CF/88).
Princípio do Devido Processo Legal
O princípio é também denominado de princípio do estado
O Princípio do devido processo legal está consagrado, na de inocência ou da não culpabilidade. Apesar de responder a
legislação brasileira, no art. 5º, inciso LIV, da CF/88, e visa as- inquérito policial ou processo judicial, ainda que neste seja
segurar a qualquer litigante a garantia de que o processo em condenado, o cidadão não pode ser considerado culpado, an-
que for parte, necessariamente, se desenvolverá na forma que tes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. O
estiver estabelecido a lei. tratamento dispensado ao acusado deve ser digno e respeitoso,
Este princípio divide-se em: devido processo legal material, evitando-se estigmatizações.
ou seja trata acerca da regularidade do próprio processo legisla-
tivo, e ainda o devido processo legal processual, que se refere a A acusação por sua vez é incumbida do ônus da prova de
regularidade dos atos processuais. culpabilidade, ou seja, a prova com relação a existência do fato e
O devido processo legal engloba todas as garantias do dire- a sua autoria, ao passo que à defesa incumbe a prova das exclu-
ito de ação, do contraditório, da ampla defesa, da prova lícita, dentes de ilicitude e de culpabilidade, acaso alegadas. Em caso
da recursividade, da imparcialidade do juiz, do juiz natural, etc. de dúvida, decide-se pela não culpabilidade do acusado, com a
O processo deve ser devido, ou seja, o apropriado a tutelar o fundamentação legal no princípio do in dubio pro reo.
interesse discutido em juízo e resolver com justiça o conflito.
Tendo ele que obedecer a prescrição legal, e principalmente ne- Ratificando a excepcionalidade das medidas cautelares,
cessitando atender a Constituição. devendo, por conseguinte, toda prisão processual estar funda-
da em dois requisitos gerais, o periculum libertatis e o fumus
Conforme aduz o inciso LIV, do art. 5º, da Magna Carta, comissi delicti.
Restou ainda consagrado no art. 5º, LXIII, da CF/88 que nin-
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o dev-
guém é obrigado a fazer prova contra si, consagrando, assim,
ido processo legal”. A palavra bens, utilizado pelo inciso, está
o direito ao silêncio e a não auto incriminação. O silêncio não
empregado em sentido amplo, a alcançar tanto bens materi-
poderá acarretar repercussão positiva na apuração da responsa-
ais como os imateriais. Na ação muitas vezes a discussão ver-
bilidade penal, nem poderá acautelar presunção de veracidade
sa sobre interesses de natureza não material, como a honra, a
dos fatos sobre os quais o acusado calou-se, bem como o im-
dignidade, etc, e as consequências de uma sentença judicial não
putado não pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo.
consistem apenas em privar alguém de sua liberdade ou de seus
bens, mas, podem também representar um mandamento, uma
Princípio do juiz natural
ordem, um ato constitutivo ou desconstitutivo, uma declaração
ou determinação de fazer ou não fazer. O princípio do juiz natural está previsto no art. 5º, LIII da
Constituição Federal de 1.988, e é a garantia de um julgamen-
Em razão do devido processo legal, é possível a alegação de to por um juiz competente, segundo regras objetivas (de com-
algumas garantias constitucionais imprescindíveis ao acusado, petência) previamente estabelecidas no ordenamento jurídico,
que constituem consequência da regularidade processual: bem como, a proibição de criação de tribunais de exceção, con-
stituídos à posteriori a infração penal, ou seja, após da prática
a) Não identificação criminal de quem é civilmente identifi- da violação, e especificamente para julgá-la.
cado (inciso LVIII, da Magna Carta de 1988, regulamentada pela
Lei nº 10.054/00); O Juiz natural, é aquele dotado de jurisdição constitucion-
b) Prisão só será realizada em flagrante ou por ordem judi- al, com competência conferida pela Constituição Federativa do
cial (inciso LVI, CF/88), que importou em não recepção da prisão Brasil ou pelas leis anteriores ao fato. Pois, somente o órgão
administrativa prevista nos arts. 319 e 320 do Código de Proces- pré-constituído pode exercer a jurisdição, no âmbito predefini-
so Penal; do pelas normas de competência assim, o referido princípio é
c) Relaxamento da prisão ilegal (inciso LXV, CF/88); uma garantia do jurisdicionado, da jurisdição e do próprio mag-
d) Comunicação imediata da prisão ao juiz competente e à istrado, porque confere ao primeiro direito de julgamento por
família do preso (inciso LXII, Carta Magna de 1988); autoridade judicante previamente constituída, garante a impar-
e) Direito ao silêncio, bem como, a assistência jurídica e fa- cialidade do sistema jurisdicional e cerca o magistrado de instru-
miliar ao acusado (inciso LXIII, CF/88); mentos assecuratórios de sua competência, regular e anterior-
f) Identificação dos responsáveis pela prisão e/ou pelo in- mente fixada.
terrogatório policial (inciso LXIV, Magna Carta de 1988);
g) Direito de não ser levado à prisão quando admitida liber- Princípio da legalidade da prisão
dade provisória, com ou sem o pagamento de fiança (inciso LXVI,
CF/88); A Magna Carta prevê um sistema de proteção às liberdades,
h) Impossibilidade de prisão civil, observadas as exceções colecionando várias medidas judiciais e garantias processuais no
dispostas no texto constitucional (LXVII, CF/88). intuito de assegurá-las.
Existem assim as medidas específicas e medidas gerais. En-
tre as específicas, são consideradas aquelas voltadas à defesa
de liberdades predefinidas, como por exemplo: o Habeas Cor-

1
DIREITO PROCESSUAL PENAL
pus, para a liberdade de locomoção. A CF/88 demonstra grande Princípio da verdade real
preocupação com as prisões, tutelando a liberdade contra elas
em várias oportunidades, direta e indiretamente, impondo lim- A função punitiva do Estado só pode fazer valer-se em face
itações e procedimentos a serem observados para firmar a reg- daquele que realmente, tenha cometido uma infração, portan-
ularidade da prisão, meios e casos de soltura do preso, alguns to, o processo penal deve tender à averiguação e a descobrir a
direitos do detento, e medidas para sanar e questionar a prisão. verdade real.

Por outro lado, os incisos do art. 5º da Constituição Fed- No processo penal o juiz tem o dever de investigar a ver-
eral asseguram a liberdade de locomoção dentro do território dade real, procurar saber como realmente os fatos se passaram,
nacional (inciso XV), dispõe a cerca da personalização da pena quem realmente praticou-os e em que condições se perpetuou,
(inciso XLV), cuidam do princípio do contraditório e da ampla para dar base certa à justiça. Salienta-se que aqui deferente-
defesa, assim como da presunção da inocência (inciso LV e LVII, mente da área civil, o valor da confissão não é extraordinário
respectivamente), e, de modo mais taxativa, o inciso LXI - da porque muitas vezes o confidente afirma ter cometido um ato
nossa Lei Maior - que constitui que criminoso, sem que o tenha de fato realizado.
“Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por or- Se o juiz penal absolver o Réu, e após transitar em julgado a
dem escrita e fundamentada da autoridade competente...”; sentença absolutória, provas concludentes sobre o mesmo Réu
surgirem, não poderá se instaurado novo processo em decor-
O inciso LXV, por sua vez traz que “a prisão ilegal será im- rência do mesmo fato. Entretanto, na hipótese de condenação
ediatamente relaxada pela autoridade judiciária; o inciso LXVI, será possível que ocorra uma revisão. Pois, o juiz tem poder
estabelece que ninguém será levado à prisão ou nela mantido autônomo de investigação, apesar da inatividade do promotor
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem o pag- de justiça e da parte contrária.
amento de fiança; o inciso LXVII, afirma que não haverá prisão A busca pela verdade real se faz com as naturais reservas
civil por dívida, exceto a do responsável pelo inadimplemento oriundas da limitação e falibilidade humanas, sendo melhor diz-
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do de- er verdade processual, porque, por mais que o juiz procure fazer
positário infiel; o inciso LXVIII, prescreve que conceder-se-ha- uma reconstrução histórica e verossímil do fato objeto do pro-
beas corpus sempre que alguém sofrer ou julgar-se ameaçado cesso, muitas vezes o material de que ele se vale poderá condu-
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, zi-lo ao erro, isto é, a uma falsa verdade real.
por ilegalidade ou abuso de poder; e também prescreve o inci-
Princípio do livre convencimento
so LXXV, que o Estado indenizará toda a pessoa condenada por
erro judiciário, bem como aquela que ficar presa além do tempo
O presente princípio, consagrado no art. 157 do Código de
fixado na sentença.
Processo Penal, impede que o juiz possa julgar com o conhec-
imento que eventualmente tenha além das provas constantes
Princípio da publicidade
nos autos, pois, o que não estiver dentro do processo equipa-
ra-se a inexistência. E, nesse caso o processo é o universo em
Todo processo é público, isto, é um requisito de democra-
que deverá se ater o juiz. Tratando-se este princípio de excelente
cia e de segurança das partes (exceto aqueles que tramitarem
garantia par impedir julgamentos parciais. A sentença não é um
em segredo de justiça). É estipulado com o escopo de garantir a ato de fé, mas a exteriorização da livre convicção formada pelo
transparência da justiça, a imparcialidade e a responsabilidade juiz em face de provas apresentadas nos autos.
do juiz. A possibilidade de qualquer indivíduo verificar os au-
tos de um processo e de estar presente em audiência, revela-se Princípio da oficialidade
como um instrumento de fiscalização dos trabalhos dos opera-
dores do Direito. Este princípio esta inicialmente relacionado com os princípi-
os da legalidade e da obrigatoriedade. A diretriz da oficialidade
A regra é que a publicidade seja irrestrita (também de- funda-se no interesse público de defesa social.
nominada de popular). Porém, poder-se-á limitá-la quando o Pela leitura do caput do art. 5º da Lei Maior (CF/88), com-
interesse social ou a intimidade o exigirem (nos casos elencados preende-se que a segurança também é um direito individual,
nos arts. 5º, LX c/c o art 93, IX, CF/88; arts. 483; 20 e 792, §2º, sendo competência do estado provê-la e assegurá-la por meio
CPP). Giza-se que quando verificada a necessidade de restringir de seus órgãos.
a incidência do princípio em questão, esta limitação não poderá O art. 144 da Constituição Federal, trata da organização da
dirigir-se ao advogado do Réu ou ao órgão de acusação. Contu- segurança pública do País, ao passo que o art. 4º do Código de
do, quanto a esse aspecto, o Superior Tribunal de Justiça, em Processo Penal estabelece atribuições de Polícia Judiciária e o
algumas decisões, tem permitido que seja restringido, em ca- art. 129, inciso I, da Constituição Federal especifica o munus do
sos excepcionais, o acesso do advogado aos autos do inquérito Ministério Público no tocante à ação penal pública.
policial. Sendo assim, a regra geral a publicidade, e o segredo
de justiça a exceção, urge que a interpretação do preceito con- O artigo art. 30 do Código Processual Penal estabelece
stitucional se dê de maneira restritiva, de modo a só se admitir o as exceções ao princípio da oficialidade em relação a ação pe-
segredo de justiça nas hipóteses previstas pela norma. nal privada; e ainda no art. 29 deste Código, para a ação penal
privada subsidiária da pública.
A publicidade traz maior regularidade processual e a justiça Existe ainda outra aparente exceção à oficialidade da ação
da decisão do povo. penal, a qual, trata da ação penal popular, instituída pelo art. 14,
da Lei nº 1.079/50, que cuida dos impropriamente denominados
“crimes” de responsabilidade do Presidente da República.

2
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Esta lei especial esta relacionada ao que alude o art. 85, Princípio da indisponibilidade
parágrafo único, da Constituição Federal de 1988. Perceba-se
que os delitos previstos na legislação de 1950, que foi recepcio- Este princípio da ação penal refere-se não só ao agente, mas
nada pela Carta de 1988, não atribuem sanção privativa de liber- também aos partícipes. Todavia, apresenta entendimentos diver-
dade. A punição esta restrita à perda do cargo com a inabilitação gentes, até porque, em estudo nenhum a doutrina consagra um ou
para a função pública, na forma do art. 52, parágrafo único, da outro posicionamento, entendendo-se que embora possa ensejar
Constituição Federal, c/c o art. 2º, da Lei nº. 1079/50. o entendimento de que tal dispositivo, de fato fere o princípio de
indisponibilidade e indivisibilidade da ação penal pública, analisan-
Ficando claro, portanto, que, embora chamadas de “crimes” do-se de maneira ampla e moderna o princípio da indisponibili-
de responsabilidade, as infrações previstas pela Lei nº. 1079/50 dade, no intuito de demonstrar que tal ataque não é uno.
e pelo art. 85, da CF/88 não são de fato delitos criminais, mas Partindo-se de que a atuação do MP no processo penal é
sim infrações político-administrativas, que acarretam o “im- dupla, com dominus litis e, simultaneamente, com custos legis.
peachment” do Presidente da República. E, por estas razões, o representante do Ministério Público além
de ser acusador, tem legitimidade e, em determinados casos, o
Os doutrinadores LUIZ FLÁVIO GOMES e ALICE BIANCHINI, dever de recorrer em favor do Réu, requerendo-lhe benefícios,
coerentemente afirmaram que “se for entendido que as condu- etc. Por isso, o Ministério Público não se enquadra como “parte”
tas previstas no art. 10 da Lei 1.079/50 são de caráter penal, na relação formada no processo penal, estabelecendo-se mera-
torna-se absurdo permitir a todo cidadão o oferecimento da mente como órgão encarregado de expor os fatos delituosos e
denúncia, pois amplia o rol dos legitimados para propositura de representar o interesse social na sua apuração.
ação penal, em total afronta ao art. 129, I, da Constituição, que O código processual penal, dispõe em seu art 42, que o
estabelece a competência privativa do Ministério Público”. Ministério Público não poderá desistir da ação penal, entretanto
na mesma norma jurídica, estabelece que o MP promoverá e
Princípio da disponibilidade fiscalizará a execução da lei, forte no art 257, da referida lei.
Necessário se faz enxergar, que não se tratam de desistências,
É um princípio cujo o titular da ação penal pode utilizar-se visto que receberá a denúncia, quanto ao mérito da causa crimi-
dos institutos da renúncia, da desistência, etc. É um princípio nal, o que lhe é terminantemente proibido, mas quando à viabil-
exclusivo das ações privadas. idade acusatória, e ainda assim, o não recebimento da denúncia
deverá ser justificado, como diz o dispositivo. Tratando-se, na
O princípio da disponibilidade significa que o Estado, sem realidade, de um verdadeiro juízo de admissibilidade da denún-
abrir mão do seu direito punitivo, outorga ao particular o direito cia, onde são verificadas as condições da ação e a definição do
de acusar, podendo exerce-lo se assim desejar. Caso contrário, quadro probatório.
poderá o prazo correr até que se opere a decadência, ou ainda, Assim sendo, uma vez constatado materialmente o fato,
o renunciará de maneira expressa ou tácita, causas extas que o há que se justificar o abordamento da ação penal que o motiv-
isenta de sanção. ou, aqui não poderá, o Ministério Público ficar inerte. Se a lei
lhe conferiu a incumbência de custos legis, com certeza, deve
Esclareça-se que ainda que venha a promover a ação penal também ter atribuído a estes instrumentos para o seu exercício.
, poderá a todo instante dispor do conteúdo material dos autos, Porém, se verificar que não há causa que embase o
quer perdoando o ofensor, quer abandonando a causa, dando prosseguimento do feito ou da ação penal, o promotor ou
assim lugar à perempção, ou seja, prescrição do processo. At- procurador deve agir da seguinte forma: afirmando que em face
ente-se que mesmo após proferida a sentença condenatória, o de aparente contradição, entre a conduta do representante do
titular da ação pode perdoar o réu, desde que a sentença não Ministério Público que, como autor, não pode desistir da ação
tenha transitado em julgado. penal, e ao mesmo tempo, contudo, agira na qualidade de fiscal
Princípio da oportunidade da lei, não pode concordar com o prosseguimento de uma ação
juridicamente inviável, sendo a única intelecção que entende-se
Baseado no princípio da Oportunidade, o ofendido ou seu ser cabível quanto ao princípio da obrigatoriedade da ação penal
representante legal pode analisar e decidir se irá impetrar ou é de que o MP não poderá desistir da ação penal se reconhecer
não a ação. Salienta-se, que o princípio da oportunidade so- que ela possa ser viável, isto é, se houver justa causa para a
mente será valido ante ação penal privada. sua promoção. Ocorrendo o contrário, ou seja, reconhecendo o
Parquet que a ação é injusta, tem o dever de requerer a não in-
O Estado, diante destes crimes concede ao ofendido ou ao stauração do processo, com a aplicação subsidiária do art. 267,
seu representante legal, o direito de invocar a prestação juris- incisos VI e VIII, do Código Processual Civil, sob pena de estar
dicional. Contudo não havendo interesse do ofendido em pro- impetrando uma ação penal injusta, desperdiçando os esforços
cessar o seu injuriador, ninguém poderá obrigá-lo a fazer. Ainda e serviços da Máquina Judiciária.
que a autoridade policial surpreenda um indivíduo praticando O art 28 do Código Penal, explana que se o Promotor ao
um delito de alçada privada, não poderá prendê-lo em flagrante invés de apresentar a denúncia, pugnar pelo arquivamento do
se o ofendido ou quem o represente legalmente não o permitir. inquérito, o juiz caso considere improcedente as alegações invo-
Poderá apenas intervir para que não ocorra outras conseqüên- cadas pelo MP, fará a remessa do referido inquérito ao Procura-
cia. A autoridade policial não pode, por exemplo, dar-lhe voz de dor-Geral, e, este por sua vez, oferecerá a denúncia ou manterá
prisão e leva-lo à delegacia para lavratura de auto de prisão em o pedido de arquivamento do referido inquérito.
flagrante, sem o consentimento do ofendido. Lei nº 10.409/00, traz em seu texto que o Promotor de
Justiça não poderá deixar de propor a ação penal, a não ser que
haja uma justificada recusa.

3
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Outrossim, m relação ao inquérito, se ainda houver algum A mesma definição pode ser dada para o termo circunstan-
o juiz o remeterá ao Procurador-Geral, para que este por sua ciado (ou “TC”, como é usualmente conhecido), que são instau-
vez, ofereça a denúncia, ou reitere o pedido de arquivamento, e rados em caso de infrações penais de menor potencial ofensivo,
assim sendo, ao juiz caberá apenas acatá-lo. Logo, se MP possuir a saber, as contravenções penais e os crimes com pena máxima
o intuito de barganhar, poderá fazê-lo, independente da nova não superior a dois anos, cumulada ou não com multa, submeti-
lei. É certo e não se pode negar que com a mobilidade que a dos ou não a procedimento especial.
lei proporciona ao Ministério Público, à primeira vista pode se A natureza jurídica do inquérito policial, como já dito no
sentir que a barganha está sendo facilitada, mas fica a certeza item anterior, é de “procedimento administrativo investigató-
de que não é este advento que se vê aventar esta possibilidade, rio”. E, se é administrativo o procedimento, significa que não
pois, como já sustentou-se a recusa do MP não será um ato dis- incidem sobre ele as nulidades previstas no Código de Processo
cricionário, tampouco livre do dever de motivação. Penal para o processo, nem os princípios do contraditório e da
ampla defesa.
Princípio da legalidade Desta maneira, eventuais vícios existentes no inquérito poli-
cial não afetam a ação penal a que der origem, salvo na hipótese
O Princípio da Legalidade impõe ao Ministério Público o de- de provas obtidas por meios ilícitos, bem como aquelas provas
ver de promover a ação penal. que, excepcionalmente na fase do inquérito, já foram produzi-
O princípio da legalidade atende aos interesses do Estado. das com observância do contraditório e da ampla defesa, como
Baseado no princípio, o Ministério Público dispõe dos elementos uma produção antecipada de provas, por exemplo.
mínimos para impetrar a ação penal. A finalidade do inquérito policial é justamente a apuração
O delito necessariamente para os órgãos da persecução, do crime e sua autoria, e à colheita de elementos de informação
surge conjuntamente com o dever de atuar de forma a reprimir do delito no que tange a sua materialidade e seu autor.
a conduta delituoso. Cabendo assim, ao Ministério Publico o ex-
ercício da ação penal pública sem se inspirar em motivos políti- “Notitia criminis”
cos ou de utilidade social. A necessidade do Ministério Público
invocar razões que o dispensem do dever de propor a ação falam É o conhecimento, pela autoridade policial, acerca de um
bem alto em favor da tese oposta. fato delituoso que tenha sido praticado. São as seguintes suas
Para o exercício da ação são indispensáveis determinados espécies:
requisitos previstos em lei, tais como: autoria conhecida, fato A) “Notitia criminis” de cognição imediata. Nesta, a autori-
típico não atingido por uma causa extintiva da punibilidade e um dade policial toma conhecimento do fato por meio de suas ati-
mínimo de suporte probatório. Porém, se não oferecer denún- vidades corriqueiras (exemplo: durante uma investigação qual-
cia, o Ministério Público deve dar as razões do não oferecimen- quer descobre uma ossada humana enterrada no quintal de uma
to da denúncia. Pedindo o arquivamento em vez de denunciar, casa);
poderá ele responder pelo crime de prevaricação B) “Notitia criminis” de cognição mediata. Nesta, a autori-
Nos dias atuais a política criminal está voltada para soluções dade policial toma conhecimento do fato por meio de um ex-
distintas, como a descriminalização pura e simples de certas con- pediente escrito (exemplo: requisição do Ministério Público; re-
dutas, convocação de determinados crimes em contravenções, querimento da vítima);
dispensa de pena, etc. Também, em infrações penais de menor C) “Notitia criminis” de cognição coercitiva. Nesta, a autori-
potencial ofensivo, o órgão ministerial pode celebrar um acor- dade policial toma conhecimento do fato delituoso por intermé-
do com o autor do fato, proponde-lhe uma pena restritiva de dio do auto de prisão em flagrante.
direito ou multa. Se houver a concordância do acusado o juiz “Delatio criminis”
homologará a transação penal.
Por fim, na Carta Magna, além dos princípios estritamente Nada mais é que uma espécie de notitia criminis, consiste na
processuais, existem outros, igualmente importantes, que de- comunicação de uma infração penal à autoridade policial, feita
vem servir de orientação ao jurista e a todo operador do Direito. por qualquer pessoa do povo.
Afinal, como afirmam inúmeros estudiosos, “mais grave do que
ofender uma norma, é violar um princípio, pois aquela é o corpo Características do inquérito policial
material, ao passo que este é o espírito, que o anima”.
- Peça escrita. Segundo o art. 9º, do Código de Processo Pe-
nal, todas as peças do inquérito policial serão, num só processo,
reduzidas a escrito (ou a termo) ou datilografadas e, neste caso,
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL POLICIAL rubricadas pela autoridade policial. Vale lembrar, contudo, que
(ARTIGOS 4° AO 23° DO CPP) o fato de ser peça escrita não obsta que sejam os atos produ-
zidos durante tal fase sejam gravados por meio de recurso de
Inquérito Policial áudio e/ou vídeo;
Peça sigilosa. De acordo com o art. 20, caput, CPP, a autori-
O inquérito policial é um procedimento administrativo in- dade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do
vestigatório, de caráter inquisitório e preparatório, consistente fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investiga- Mas, esse sigilo não absoluto, pois, em verdade, tem acesso
tiva para apuração da infração penal e de sua autoria, presidido aos autos do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autorida-
pela autoridade policial, a fim de que o titular da ação penal de policial, e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art.
possa ingressar em juízo. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94 - Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil - e com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
acesso aos atos já documentados nos autos, independentemen- Identificação criminal
te de procuração, para assegurar direito de assistência do preso
e investigado. Envolve a identificação fotográfica e a identificação dati-
Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e loscópica. Antes da atual Constituição Federal, a identificação
irrestrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas criminal era obrigatória (a Súmula nº 568, STF, anterior a 1988,
nos autos, mas não em relação às diligências em andamento. inclusive, dizia isso), o que foi modificado na atual Lei Funda-
Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos mental pelo art. 5º, LVIII, segundo o qual o civilmente identi-
já documentados, é cabível Reclamação ao STF para ter acesso ficado não será submetido à identificação criminal, “salvo nas
às informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), hipóteses previstas em lei”.
habeas corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido A primeira Lei a tratar do assunto foi a de nº 8.069/90 (“Es-
que é o mandado de segurança em nome do próprio advogado, tatuto da Criança e do Adolescente”), em seu art. 109, segun-
já que a prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele. do o qual a identificação criminal somente será cabível quando
Por fim, ainda dentro desta característica da sigilosidade, há houver fundada dúvida quanto à identidade do menor.
se chamar atenção para o parágrafo único, do art. 20, CPP, com Depois, em 1995, a Lei nº 9.034 (“Lei das Organizações Cri-
nova redação dada pela Lei nº 12.681/2012, segundo o qual, nos minosas”) dispôs em seu art. 5º que a identificação criminal de
atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autori- pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações crimi-
dade policial não poderá mencionar quaisquer anotações refe- nosas será realizada independentemente de identificação civil.
rentes à instauração de inquérito contra os requerentes. Posteriormente, a Lei nº 10.054/00 veio especialmente para
Isso atende a um anseio antigo de parcela considerável da tratar do assunto, e, em seu art. 3º, trouxe um rol taxativo de
doutrina, no sentido de que o inquérito, justamente por sua ca- delitos em que a identificação criminal deveria ser feita obriga-
racterística da pré-judicialidade, não deve ser sequer menciona- toriamente, sem mencionar, contudo, os crimes praticados por
do nos atestados de antecedentes. Já para outro entendimento, organizações criminosas, o que levou parcela da doutrina e da
agora contra a lei, tal medida representa criticável óbice a que jurisprudência a considerar o art. 5º, da Lei nº 9.034/90 parcial-
se descubra mais sobre um cidadão em situações como a inves- mente revogado.
tigação de vida pregressa anterior a um contrato de trabalho. Como último ato, a Lei nº 10.054/00 foi revogada pela Lei
- Peça inquisitorial. No inquérito não há contraditório nem nº 12.037/09, que também trata especificamente apenas sobre
ampla defesa. Por tal motivo não é autorizado ao juiz, quando o tema “identificação criminal”. Esta lei não traz mais um rol ta-
da sentença, a se fundar exclusivamente nos elementos de in- xativo de delitos nos quais a identificação será obrigatória, mas
sim um art. 3º com situações em que ela será possível:
formação colhidos durante tal fase administrativa para emba-
A) Quando o documento apresentar rasura ou tiver indícios
sar seu decreto (art. 155, caput, CPP). Ademais, graças a esta
de falsificação (inciso I);
característica, não há uma sequência pré-ordenada obrigatória
B) Quando o documento apresentado for insuficiente para
de atos a ocorrer na fase do inquérito, tal como ocorre no mo-
identificar o indivíduo de maneira cabal (inciso II);
mento processual, devendo estes ser realizados de acordo com
C) Quando o indiciado portar documentos de identidade dis-
as necessidades que forem surgindo.
tintos, com informações conflitantes entre si (inciso III);
- Peça Discricionária. A autoridade policial possui liberdade
D) Quando a identificação criminal for essencial para as in-
para realizar aquelas diligências investigativas que ela julga mais
vestigações policiais conforme decidido por despacho da auto-
adequadas para aquele caso.
ridade judiciária competente, de ofício ou mediante represen-
- Peça oficiosa/oficial. Pode ser instaurada de oficio. tação da autoridade policial/promotor de justiça/defesa (inciso
- Peça indisponível. Uma vez instaurado o inquérito policial IV). Nesta hipótese, de acordo com o parágrafo único, do art. 5º
ele se torna indisponível. O delegado não pode arquivar o in- da atual lei (acrescido pela Lei nº 12.654/2012), a identificação
quérito policial (art. 17, CPP). Quem vai fazer isso é a autoridade criminal poderá incluir a coleta de material biológico para a ob-
judicial, mediante requerimento do promotor de justiça. tenção do perfil genético;
E) Quando constar de registros policiais o uso de outros no-
Valor probatório mes ou diferentes qualificações (inciso V);
F) Quando o estado de conservação ou a distância tempo-
Fernando Capez ensina que, “o inquérito tem valor proba- ral ou da localidade da expedição do documento apresentado
tório meramente relativo, pois serve de base para a denúncia impossibilitar a completa identificação dos caracteres essenciais
e para as medidas cautelares, mas não serve sozinho para sus- (inciso VI).
tentar sentença condenatória, pois os elementos colhidos no in- Por fim, atualmente, os dados relacionados à coleta do per-
quérito o foram de modo inquisitivo, sem contraditório e ampla fil genético deverão ser armazenados em banco de dados de
defesa.” perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia cri-
minal (art. 5º-A, acrescido pela Lei nº 12.654/2012). Tais bancos
Grau de Cognição de dados devem ter caráter sigiloso, respondendo civil, penal e
administrativamente aquele que permitir ou promover sua utili-
Consiste no valor probatório a criar um juízo de verossimi- zação para fins diversos do previsto na lei ou em decisão judicial.
lhança, assim, não é um juízo de certeza da autoria delitiva a
fase de inquérito policial. Compete à fase processual a análise Aplicação do Princípio da Insignificância no Inquérito Policial
probatória de autoria. O princípio da insignificância tem origem no Direito Roma-
no. E refere-se, então, à relevância ou à insignificância dos ob-
jetos das lides. Vale analise sobre a relevância jurídica do ato
praticado pelo autor do delito e sua significância para o bem
jurídico tutelado.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
No caso do Direito Penal, não se trata de um princípio pre- Indiciamento
visto na legislação. É, por outro lado, uma construção doutriná-
ria. E foi assimilado, então, pela jurisprudência. O ato de “Indiciar” é atribuir a alguém a prática de uma in-
A depender da natureza do fato, os prejuízos ocasionados fração penal. Trata-se de ato privativo do delegado policial.
podem ser considerados ínfimos ou insignificante. E, desse
modo, incidir o princípio da bagatela para absolvição do réu. Condução Coercitiva no Inquérito Policial
Nessa perspectiva, dispõe, então, o art. 59 do Código Penal:
A condução coercitiva é o meio pelo qual determinada pes-
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos anteceden- soa é levada à presença de autoridade policial ou judiciária. É
tes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, comando impositivo, que independente da voluntariedade da
às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao com- pessoa, admitindo-se o uso de algemas nos limites da Súmula 11
portamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e do Supremo Tribunal Federal.
suficiente para reprovação e prevenção do crime... Incomunicabilidade do indiciado preso

Como o Princípio da Insignificância decorre de uma cons- De acordo com o art. 21, do Código de Processo Penal, seria
trução histórica, doutrinária e jurisprudencial, o Supremo Tri- possível manter o indiciado preso pelo prazo de três dias, quan-
bunal Federal houve por bem fixar critérios que direcionem a do conveniente à investigação ou quando houvesse interesse da
aplicabilidade ou não da ‘insignificância’ aos casos concretos. sociedade
Para tanto, estabeleceu os seguintes critérios, de observação O entendimento prevalente, contudo, é o de que, por ser o
cumulativa: Código de Processo Penal da década de 1940, não foi o mesmo
- a mínima ofensividade da conduta do agente; recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, preva-
- a ausência de periculosidade social da ação; lece de forma maciça, atualmente, que este art. 21, CPP está
- o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; tacitamente revogado.
- a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Prazo para conclusão do inquérito policial
Não há qualquer dúvida de que o princípio da insignificância
pode ser aplicado pelo magistrado ou tribunal quando verificada De acordo com o Código de Processo Penal, em se tratando
a presença dos mencionados requisitos autorizadores e se tratar de indiciado preso, o prazo é de dez dias improrrogáveis para
de crimes que admitam a sua aplicação. conclusão. Já em se tratando de indiciado solto, tem-se trinta
No entanto, apesar de ainda controverso, a jurisprudência dias para conclusão, admitida prorrogações a fim de se realizar
atual vem sendo direcionada no sentido de que não é possível ulteriores e necessárias diligências.
a analise jurídica da conduta do acusado, em sede de inquérito Convém lembrar que, na Justiça Federal, o prazo é de quinze
policial, para então aplicar desde logo o princípio da insignifi- dias para acusado preso, admitida duplicação deste prazo (art.
cância diante de eventual atipicidade da conduta imputada ao 66, da Lei nº 5.010/66). Já para acusado solto, o prazo será de
autor do ilícito. trinta dias admitidas prorrogações, seguindo-se a regra geral.
Para o STJ, a resposta é negativa. A análise quanto à insigni- Também, na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), o prazo é de
ficância ou não do fato seria restrita ao Poder Judiciário, em ju- trinta dias para acusado preso, e de noventa dias para acusado
ízo, a posteriori. Cabe à autoridade policial o dever legal de agir solto. Em ambos os casos pode haver duplicação de prazo.
em frente ao suposto fato criminoso. Este entendimento consta Por fim, na Lei nº 1.551/51 (“Lei dos Crimes contra a Eco-
do Informativo 441 do STJ: nomia Popular”), o prazo, esteja o acusado solto ou preso, será
sempre de dez dias.
A Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus E como se dá a contagem de tal prazo? Trata-se de prazo
a paciente condenado pelos delitos de furto e de resistência, processual, isto é, exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do
reconhecendo a aplicabilidade do princípio da insignificância vencimento, tal como disposto no art. 798, §1º, do Código de
somente em relação à conduta enquadrada no art. 155, caput, Processo Penal.
do CP (subtração de dois sacos de cimento de 50 kg, avaliados
em R$ 45). Asseverou-se, no entanto, ser impossível acolher o Conclusão do inquérito policial
argumento de que a referida declaração de atipicidade teria o
condão de descaracterizar a legalidade da ordem de prisão em De acordo com o art. 10, §1º, CPP, o inquérito policial é con-
flagrante, ato a cuja execução o apenado se opôs de forma vio- cluído com a confecção de um relatório pela autoridade policial,
lenta. no qual se deve relatar, minuciosamente, e em caráter essen-
Segundo o Min. Relator, no momento em que toma conhe- cialmente descritivo, o resultado das investigações. Em seguida,
cimento de um delito, surge para a autoridade policial o dever deve o mesmo ser enviado à autoridade judicial.
legal de agir e efetuar o ato prisional. O juízo acerca da inci- Não deve a autoridade policial fazer juízo de valor no rela-
dência do princípio da insignificância é realizado apenas em tório, em regra, com exceção da Lei nº 11.343/06 (“Lei de Dro-
momento posterior pelo Poder Judiciário, de acordo com as gas”), em cujo art. 52 se exige da autoridade policial juízo de
circunstâncias atinentes ao caso concreto. Logo, configurada valor quanto à tipificação do ilícito de tráfico ou de porte de
a conduta típica descrita no art. 329 do CP, não há de se falar drogas.
em consequente absolvição nesse ponto, mormente pelo fato de Por fim, convém lembrar que o relatório é peça dispensável,
que ambos os delitos imputados ao paciente são autônomos e logo, a sua falta não tornará inquérito inválido.
tutelam bens jurídicos diversos. HC 154.949-MG, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em 3/8/2010.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Recebimento do inquérito policial pelo órgão do Ministério a investigação é absolutamente infundada, abusiva, não indica
Público o menor indício de prova da autoria ou da materialidade. Aqui
a situação é de paralisação do inquérito policial, determinada
Recebido o inquérito policial, tem o agente do Ministério através de acórdão proferido no julgamento de habeas corpus
Público as seguintes opções: que impede o prosseguimento do IP.
A) Oferecimento de denúncia. Ora, se o promotor de justiça
é o titular da ação penal, a ele compete se utilizar dos elementos Investigação pelo Ministério Público
colhidos durante a fase persecutória para dar o disparo inicial
desta ação por intermédio da denúncia; Apesar do atual grau de pacificação acerca do tema, no sen-
B) Requerimento de diligências. Somente quando forem in- tido de que o Ministério Público pode, sim, investigar - o que se
dispensáveis; confirmou com a rejeição da Proposta de Emenda à Constituição
C) Promoção de arquivamento. Se entender que o investi- nº 37/2011, que acrescia um décimo parágrafo ao art. 144 da
gado não constitui qualquer infração penal, ou, ainda que cons- Constituição Federal no sentido de que a apuração de infrações
titua, encontra óbice nas máximas sociais que impedem que o penais caberia apenas aos órgãos policiais -, há se disponibilizar
processo se desenvolva por atenção ao “Princípio da Insignifi- argumentos favoráveis e contrários a tal prática:
cância”, por exemplo, o agente ministerial pode solicitar o arqui- A) Argumentos favoráveis. Um argumento favorável à possi-
vamento do inquérito à autoridade judicial; bilidade de investigar atribuída ao Ministério Público é a chama-
D) Oferecer arguição de incompetência. Se não for de sua da “Teoria dos Poderes Implícitos”, oriunda da Suprema Corte
competência, o membro do MP suscita a questão, para que a Norte-americana, segundo a qual “quem pode o mais, pode o
autoridade judicial remeta os autos à justiça competente; menos”, isto é, se ao Ministério Público compete o oferecimento
E) Suscitar conflito de competência ou de atribuições. Con- da ação penal (que é o “mais”), também a ele compete buscar os
forme o art. 114, do Código de Processo Penal, o “conflito de indícios de autoria e materialidade para essa oferta de denúncia
competência” é aquele que se estabelece entre dois ou mais ór- pela via do inquérito policial (que é o “menos”). Ademais, o pro-
gãos jurisdicionais. Já o “conflito de atribuições” é aquele que se cedimento investigatório utilizado pela autoridade policial seria
estabelece entre órgãos do Ministério Público. o mesmo, apenas tendo uma autoridade presidente diferente,
no caso, o agente ministerial. Por fim, como último argumento,
Arquivamento do inquérito policial tem-se que a bem do direito estatal de perseguir o crime, atri-
buir funções investigatórias ao Ministério Público é mais uma
No arquivamento, uma vez esgotadas todas as diligências arma na busca deste intento;
cabíveis, percebendo o órgão do Ministério Público que não há B) Argumentos desfavoráveis. Como primeiro argumento
indícios suficientes de autoria e/ou prova da materialidade de- desfavorável à possibilidade investigatória do Ministério Públi-
litiva, ou, em outras palavras, em sendo caso de futura rejeição co, tem-se que tal função atenta contra o sistema acusatório.
da denúncia (art. 395 do CPP) ou de absolvição sumária (397 Ademais, fala-se em desequilíbrio entre acusação e defesa, já
do CPP), deverá ser formulado ao juiz pedido de arquivamento que terá o membro do MP todo o aparato estatal para conseguir
do inquérito policial. Quem determina o arquivamento é o juiz a condenação de um acusado, restando a este, em contraparti-
por meio de despacho. O arquivamento transmite uma ideia de da, apenas a defesa por seu advogado caso não tenha condições
“encerramento” do IP. financeiras de conduzir uma investigação particular. Também,
Assim, quem determina o arquivamento do inquérito é a au- fala-se que o Ministério Público já tem poder de requisitar di-
toridade judicial, após solicitação efetuada pelo membro do Mi- ligências e instauração de inquérito policial, de maneira que a
nistério Público. Disso infere-se que, nem a autoridade policial, atribuição para presidi-lo seria “querer demais”. Por fim, ale-
nem o membro do Ministério Público, nem a autoridade judicial, ga-se que as funções investigativas são uma exclusividade da
podem promover o arquivamento de ofício. Ademais, em caso polícia judiciária, e que não há previsão legal nem instrumentos
de ação penal privada, o juiz pode promover o arquivamento para realização da investigação Ministério Público.
caso assim requeira o ofendido.
Controle externo da atividade policial
Desarquivamento
O controle externo da atividade policial é aquele realizado
Quem pode desarquivar o Inquérito Policial é do Ministério pelo Ministério Público no exercício de sua atividade fiscaliza-
Público, quando surgem fatos novos. Assim, deve a autoridade tória em prol da sociedade (art. 127 e 129, II, da Constituição
policial representar neste sentido, mostrando-lhe que existem Federal de 1988) e em virtude de mandamento constitucional
fatos novos que podem dar ensejo a nova investigação. Vejamos expresso (art. 129, VII, da Constituição Federal de 1988).
o mencionada na Súmula 524do STF:
“Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a re- Vejamos o que estabelece a norma processual em relação
querimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser ao Inquérito Policial nos termos do Código de Processo Penal.
iniciada, sem novas provas”.
TÍTULO II
Trancamento do inquérito policial DO INQUÉRITO POLICIAL

Trata-se de medida de natureza excepcional, somente sen- Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades
do possível nas hipóteses de atipicidade da conduta, de causa policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá
extintiva da punibilidade, e de ausência de elementos indiciários por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
relativos à autoria e materialidade. Ou seja, é cabível quando

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o dis-
excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja posto no Capítulo II do Título IX deste Livro.
cometida a mesma função. Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
iniciado: rubricadas pela autoridade.
I - de ofício; Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Mi- o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso pre-
nistério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver ventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia
qualidade para representá-lo. em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias,
§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
que possível: § 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; apurado e enviará autos ao juiz competente.
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característi- § 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas
cos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde pos-
da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; sam ser encontradas.
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua pro- § 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado
fissão e residência. estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no
de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia. prazo marcado pelo juiz.
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que
existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.
verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou
esta, verificada a procedência das informações, mandará instau- queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.
rar inquérito. Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender I - fornecer às autoridades judiciárias as informações neces-
de representação, não poderá sem ela ser iniciado. sárias à instrução e julgamento dos processos;
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial so- II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Mi-
mente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem te- nistério Público;
nha qualidade para intentá-la. III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autori-
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração dades judiciárias;
penal, a autoridade policial deverá: IV - representar acerca da prisão preventiva.
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alte- Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A,
rem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peri- no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
tos criminais; dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8.069,
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o
após liberados pelos peritos criminais; membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá
III - colher todas as provas que servirem para o esclareci- requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas
mento do fato e suas circunstâncias; da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima
IV - ouvir o ofendido; ou de suspeitos. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo
do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o de 24 (vinte e quatro) horas, conterá:
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe te- I - o nome da autoridade requisitante;
nham ouvido a leitura; II - o número do inquérito policial; e
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a aca- III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsá-
reações; vel pela investigação.
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de cor- Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos cri-
po de delito e a quaisquer outras perícias; mes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo da- Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante
tiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de an- autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de te-
tecedentes; lecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediata-
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de mente os meios técnicos adequados – como sinais, informações
vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos
atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, do delito em curso.(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
e quaisquer outros elementos que contribuírem para a aprecia- § 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posiciona-
ção do seu temperamento e caráter. mento da estação de cobertura, setorização e intensidade de
X - colher informações sobre a existência de filhos, respecti- radiofrequência.
vas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato § 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de
pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, con-
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido forme disposto em lei;
praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel
proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por
contrarie a moralidade ou a ordem pública. uma única vez, por igual período;

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe
será necessária a apresentação de ordem judicial. forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito con-
deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) tra os requerentes.
horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial. Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sem-
§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 pre de despacho nos autos e somente será permitida quando o
(doze) horas, a autoridade competente requisitará às empresas interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de
disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a
como sinais, informações e outros – que permitam a localização requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério
da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata co- Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo
municação ao juiz. 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indicia- n. 4.215, de 27 de abril de 1963)
do poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver
não, a juízo da autoridade. mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício
Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às insti- em uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo,
tuições dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem ordenar diligências em circunscrição de outra, independente-
como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais mente de precatórias ou requisições, e bem assim providenciará,
militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for até que compareça a autoridade competente, sobre qualquer
a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal pra- fato que ocorra em sua presença, noutra circunscrição.
ticados no exercício profissional, de forma consumada ou ten- Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz
tada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Iden-
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado tificação e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o
poderá constituir defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infra-
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o inves- ção penal e à pessoa do indiciado.
tigado deverá ser citado da instauração do procedimento inves-
tigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (qua-
renta e oito) horas a contar do recebimento da citação. (Incluído AÇÃO PENAL (ARTIGOS 24º AO 62º DO CPP)
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com au- Com o fato delituoso, nasce para o Estado o direito de bus-
sência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade car e punir um culpado. Esta busca punição necessitam respeitar
responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que um percurso que, prejudicialmente, em geral se dá pelo inquéri-
estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, to policial, e, judicialmente, se inicia com a ação penal.
para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique A ação penal consiste no direito de buscar junto ao Estado
defensor para a representação do investigado. (Incluído pela Lei tutela jurisdicional para decidir sobre um determinado proble-
nº 13.964, de 2019) ma que concretamente se apresenta.
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Pressupostos processuais
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Os pressupostos processuais e as condições da ação são os
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos requisitos, sem os quais não pode o juiz sequer examinar a situ-
servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. ação deduzida.
142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados Pressupostos processuais são aqueles que possibilitam a
digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. constituição e desenvolvimento válidos do processo.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Há duas correntes a respeito do tema: uma inclui nos pres-
Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador supostos processuais todos os requisitos necessários ao nasci-
pela autoridade policial. mento e desenvolvimento válido e regular do processo; outra,
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolu- uma tendência mais restritiva dos pressupostos processuais, en-
ção do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligên- tende como únicos requisitos o pedido, a capacidade de quem o
cias, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. formula e a investidura do destinatário.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar Pressupostos processuais, nessa visão restrita, seriam os re-
autos de inquérito. quisitos mínimos para a existência de um processo válido, de
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito uma relação jurídica regular, sem qualquer nexo com a situação
pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, de direito material deduzida na demanda.
a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de A grande vantagem dessa posição consiste exatamente em
outras provas tiver notícia. ressaltar a autonomia da relação processual frente à de direito
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos substancial. Aquela teria seus requisitos básicos, fundamentais,
do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguar- que não guardam qualquer elo com esta última.
darão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou Deste modo, pode-se afirmar que existem pressupostos de
serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado. existência e de validade do processo. Sejam completos ou restri-
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo neces- tos os pressupostos processuais, fato é que, para emitir o provi-
sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. mento final sobre o caso concreto, o magistrado precisa que o
processo se desenvolva sem vícios.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Sem prejuízo, vamos elencar os pressupostos processuais Por fim, a utilidade consiste na eficácia prática que uma
indicados pela corrente mais restritiva: ação deve ter. Se não há nada a ser apurado, ou não há qualquer
O primeiro pressuposto processual, portanto, refere-se à sanção a ser aplicada, inútil e desnecessária será a ação penal;
capacidade para ser parte. Assim, não podem oferecer denún-
cia aquele que não integre o Ministério Público ou queixa o ente D) Justa causa. Trata-se de condição genérica da ação pre-
desprovido da condição de pessoa – natural, jurídica ou judici- vista apenas no processo penal (art. 395, III, CPP), mas não no
ária. processo civil. Consiste em se obter o mínimo de provas indis-
Nestas circunstâncias, incabível, por exemplo, a denúncia pensável para o início de um processo, até para com isso não
oferecida apenas por “estagiário”, ou a queixa apresentada por submeter o cidadão à situação degradante e embaraçosa que
pessoa falecida ou por sociedade de fato. desempenha a persecução criminal na vida de uma pessoa.
À capacidade para ser parte acrescenta-se a capacidade
postulatória, isto é, de estar em juízo regularmente represen- 2 Condições específicas. São condições exigidas apenas para
tado. alguns delitos. Assim, por exemplo, nos crimes de ação de inicia-
Logo, para o recebimento de queixa-crime, não basta o seu tiva pública condicionada, indispensável será o oferecimento de
oferecimento pelo ofendido, devendo estar firmada por advoga- representação pelo ofendido, nos termos do art. 39, do Código
do, com os poderes específicos, observados os requisitos do art. de Processo Penal, ou a requisição do Ministro da Justiça, em
44, do Código de Processo Penal. Tais requisitos são essenciais se tratando de crime contra a honra praticado contra o Presi-
para que o pedido possa ser aceito. dente da República, contra chefe de governo estrangeiro, con-
Ausentes os pressupostos relativos às partes, a denúncia ou forme art. 145, parágrafo único, do Código Penal; no crime de
a queixa deverão ser rejeitadas, de acordo com a redação do induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art.
art. 396, parágrafo único, primeira parte, do Código de Processo 236,do CP), constitui condição específica da ação penal – queixa
Penal. – o trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou
Além dos pressupostos relativos às partes, a inicial acusató- impedimento, anule o casamento. Ainda podemos citar o laudo
ria deve ser oferecida a quem tem jurisdição, poder para decidir pericial nos crimes contra a propriedade imaterial; o exame pre-
a causa, isto é, a juiz regularmente investido no cargo. Assim, liminar em crimes de tóxicos; a representação do ofendido etc.
absolutamente nula a ação penal recebida por juiz afastado de Deste modo, ausente condição específica de procedibilidade
suas funções ou aposentado. exigida pela lei, de rigor será a rejeição da denúncia ou queixa.
Tratando-se de juízo incompetente, todavia, somente são
passíveis de anulação os atos decisórios, devendo o processo, Classificação / Espécies das ações penais.
ao ser declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente, A classificação das ações penais observa, em regra, o titular
conforme previsão do art. 567, do Código de Processo Penal. para sua propositura.
1 Ação penal pública. É de iniciativa exclusiva do Ministério
Condições da Ação Penal Público (órgão do Estado, composto por promotores e procura-
Tratam-se de condições que regulam o exercício do direito. dores de justiça no âmbito estadual, e por procuradores da Re-
Com efeito, estas condições podem ser genéricas ou específicas. pública, no federal). Na ação pública vigora o princípio da obri-
gatoriedade, ou seja, havendo indícios suficientes, surge para o
1 Condições genéricas. São aquelas que devem estar pre- Ministério Público o dever de propor a ação. A peça processual
sentes em toda e qualquer ação penal. São elas: que dá início à ação penal pública é a denúncia, sendo suas ca-
A) Possibilidade jurídica do pedido. O pedido formulado racterísticas principais:
deve encontrar amparo no ordenamento jurídico, ou seja, deve A) A denúncia conterá a exposição do fato criminoso, com
se referir a uma providência admitida pelo direito objetivo. Deve todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado (ou es-
ser um fato típico; clarecimentos pelos quais se possa identificá-lo), a classificação
B) Legitimidade para agir. Deve-se perguntar “quem pode”, do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas (art. 41,
e “contra quem se pode” manejar ação penal. CPP). A ausência destes requisitos pode levar à inépcia da de-
A regra geral é a de que no polo ativo da ação penal públi- núncia.
ca figura o Ministério Público. No polo ativo da ação penal de
iniciativa privada figura o ofendido. No polo passivo, sendo a Também, a impossibilidade de identificar o acusado com
ação penal pública ou privada, figurará o provável autor do fato seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a
delituoso maior de dezoito anos; ação penal, quando certa a identidade física. Assim, se desco-
C) Interesse de agir. Composto pelo trinômio necessidade/ berta posteriormente a qualificação, basta fazer retificação por
adequação/utilidade. termo nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes
Pela necessidade, analisa-se até que ponto a existência de (art. 259, CPP);
ação penal é fundamental para esclarecimento da causa. Pode B) Na hipótese de concurso de agentes, ou em crimes de
ser que em um determinado caso uma solução extrajudicial seja concurso necessário, a denúncia deve especificar a conduta de
muito melhor, por exemplo. cada um. É posicionamento pacífico no Supremo Tribunal Fede-
Já a adequação consiste no enquadramento da medida bus- ral e no Superior Tribunal de Justiça de que a “denúncia genéri-
cada por meio da ação penal com o instrumento apto a isso. ca” deve ser de todo evitada, por prejudicar o direito de defesa
Assim, a título ilustrativo, caso se deseje trancar uma ação penal do(s) agente(s) envolvido(s);
cuja única sanção cominada ao delito seja a de multa, não se C) É possível “denúncia alternativa”? Neste caso, o agente
mostra como medida mais adequada à utilização do habeas cor- ministerial pede a condenação por um crime “X”, ou, caso isso
pus, já que não há risco à liberdade de locomoção, mas sim por não fique provado, que seja o agente condenado, com a mesma
meio do mandado de segurança. narrativa acusatória fática, pelo crime “Y”.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Diverge amplamente a doutrina quanto a essa possibilidade: Os princípios que norteiam esta espécie de ação são os mes-
quem entende que isso não é possível, ampara-se no argumento mos da ação penal pública incondicionada.
de que isso torna a acusação incerta e causa insegurança jurídi- Com efeito, há se estudar algumas questões pertinentes à
ca ao acusado; quem entende que isso é possível, afirma que, representação do ofendido e à requisição do Ministro da Justiça:
como o acusado se defende meramente de fatos, e não de uma A) Representação do ofendido. É a manifestação do ofendi-
tipificação imposta, nada obsta que subsista um crime em detri- do ou de seu representante legal no sentido de que tem interes-
mento de outro e a condenação por um ou por outro seja pedida se na persecução penal do fato delituoso. Ela deve ser ofereci-
na acusação; da por pessoa maior de dezoito anos através de advogado, ou,
D) Pouco importa a definição jurídica que o agente minis- se menor de dezoito anos, é o representante legal deste quem
terial atribui ao acusado. Este sempre se defenderá dos fatos procura um advogado para que o faça. Se houver colisão de in-
narrados, e não do tipo penal imputado; teresses entre o menor e seu representante, nomeia-se curador
E) Com base no art. 46, CPP, o prazo para oferecimento da especial, na forma do art. 33, do Código de Processo Penal.
denúncia (que é um prazo de natureza processual penal, isto é, Ademais, com fundamento no primeiro parágrafo, do art.
contado da forma do art. 798, CPP) será de cinco dias, estando o 24, CPP, no caso de morte do ofendido ou quando declarado
réu preso (contado da data em que o órgão do Ministério Públi- ausente por decisão judicial, o direito de representação passará
co receber o inquérito policial), e de quinze dias, estando o réu ao cônjuge (ou convivente), ao ascendente, ao descendente, ou
solto ou afiançado. Agora, se o agente do MP tiver dispensado o irmão;
inquérito, o prazo para a exordial acusatória contar-se-á da data B) Natureza jurídica da representação do ofendido. Em re-
em que tiver recebido as peças informativas substitutivas do gra, a representação funciona como condição específica de pro-
procedimento administrativo investigatório (art. 46, §1º, CPP). cedibilidade aos processos que ainda não tiveram início. Por ou-
Há, ainda, prazos especiais na legislação extravagante para tro lado, se o processo já está em andamento, a representação
oferecimento de denúncia, como o de dez dias para crime elei- passa a ser uma condição de prosseguibilidade da ação penal, já
toral, o de dez dias para tráfico de drogas, o de quarenta e oito que, para que o processo prossiga, uma condição superveniente
horas para crime de abuso de autoridade, e o de dois dias para tem de ser sanada;
crimes contra a economia popular; C) Forma da representação do ofendido. Trata-se de peça
F) De acordo com o art. 395, CPP, a denúncia será rejeitada sem rigor formal, bastando que fique devidamente demonstra-
quando for manifestamente inepta (inciso I); quando faltar pres- do o interesse da vítima ou de seu representante legal em repre-
suposto processual ou condição para o exercício da ação penal sentar o ofensor. Conforme o art. 39, da Lei Processual Penal,
(inciso II); e quando faltar justa causa para o exercício da ação o direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente
penal (inciso III); ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração,
G) Da decisão que recebe a denúncia não cabe qualquer re- escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou
curso, devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou man- à autoridade policial. Ato contínuo, o primeiro parágrafo do
dado de segurança, que não são recursos, mas sim meios autô- mencionado dispositivo prevê que a representação feita oral-
nomos de impugnação. Já da que rejeita a denúncia ou a acolhe mente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada
apenas parcialmente cabe recurso em sentido estrito, por força do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será re-
do art. 581, I, CPP. duzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente
Vale lembrar apenas que, excepcionalmente, na Lei nº o órgão do MP, quando a este houver sido dirigida. Por fim, o
9.099/95, de acordo com seu art. 82, a rejeição da inicial acusa- parágrafo segundo do art. 39 prevê que a representação conterá
tória desafia o recurso de apelação. todas as informações que possam servir à apuração do fato e da
autoria;
Súmula 707 do STF: “constitui nulidade a falta de intimação D) Direcionamento da representação. É feita à autoridade
do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interpos- policial, ao Ministério Público, ou ao juiz, pessoalmente ou por
to da rejeição da denúncia, não suprimindo a nomeação do de- represente com procuração atribuidora de poderes especiais
fensor dativo”. para tal;
E) Prazo para oferecimento da representação. Assim como a
1.1 Ação penal pública incondicionada. É a regra no orde- queixa-crime, a representação está sujeita ao prazo decadencial
namento processual penal. Para que ação penal seja de outra de seis meses, em regra contados do conhecimento da autoria.
espécie, isso deve estar expressamente previsto. Se não houver Trata-se de prazo penal, isto é, o dia do início é contabilizado
previsão diversa, entende-se pública a ação penal. (art. 10, CP);
Com efeito, a titularidade da ação penal pública incondicio- F) Retratação da representação. Antes do oferecimento da
nada é do Ministério Público, com fundamento no art. 129, I, denúncia pode ocorrer a retratação. Depois de oferecida a de-
da Constituição Federal, que a exercerá por meio de denúncia, núncia, não é mais possível retratar-se da representação. Eis o
como já dito. teor do art. 25, do Código de Processo Penal;
1.2 Ação penal pública condicionada. O Ministério Público G) Retratação da retratação da representação. Trata-se de
depende do implemento de uma condição, que pode ser a re- uma nova representação, ou seja, o agente representou, se re-
presentação do ofendido, ou a requisição do Ministro da Justiça. tratou, e então se retrata da retratação. Ela é possível, desde
A sua titularidade também compete ao Ministério Público, que dentro do prazo decadencial de seis meses;
que o faz por meio de denúncia. A diferença é que, enquanto H) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja
na ação pública incondicionada não carece o MP de qualquer representação. A representação oferecida não vincula o agente
autorização, na condicionada fica o órgão ministerial subordina- ministerial a oferecer denúncia se averiguar que o fato descrito
do justamente a uma autorização prévia que se faz por meio de não constitui delito, ou, ainda que constitua, não mais é possível
representação/requisição. sua punibilidade;

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
I) Requisição do Ministro da Justiça. É condição específica de de prazo se dá no caso do crime previsto no art. 236, do Código
procedibilidade (ex.: crimes contra a honra do Presidente da Re- Penal (crime de induzimento a erro essencial e ocultação de im-
pública, nos moldes do art. 145, CP). Trata-se, essencialmente, pedimento ao casamento), em que o prazo de seis meses para
de ato político praticado pelo Ministro da Justiça, endereçado ao queixa começa a contar do trânsito em julgado da sentença que
Ministério Público na figura de seu Procurador Geral; anule o casamento no âmbito cível, conforme disposto no pará-
J) A requisição do Ministro da Justiça está sujeita a prazo grafo único do aludido dispositivo;
decadencial? Não. O crime contra o qual se exige a requisição F) Da decisão que recebe a queixa não cabe qualquer recur-
está sujeito à prescrição, mas a requisição do Ministro da Justiça so, devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado
não se sujeita a prazo decadencial; de segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos
K) Possibilidade de retratação da requisição. Há divergência de impugnação. Já da que rejeita a queixa ou a acolhe apenas
na doutrina. Para uma primeira corrente, não se admite retrata- parcialmente cabe recurso em sentido estrito, por força do art.
ção da requisição, justamente pela grande natureza política que 581, I, CPP.
este ato importa; para uma segunda corrente, essa retratação Isto posto, feitas estas considerações acerca da queixa-cri-
é, sim, admitida, desde que feita antes do oferecimento da peça me, há se discorrer sobre as espécies de ação penal privada.
acusatória. O posicionamento que vem se consolidando na dou-
trina bem como nos Tribunais é que não é cabível a retratação 2.1 Ação penal exclusivamente privada. É possível sucessão
da requisição (Tourinho Filho, Fernando Capez). processual, já que, apesar de competir ao ofendido a iniciativa
L) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja re- de manejo, o art. 31, CPP permite que cônjuge (ou convivente),
quisição. Vale o mesmo que foi dito para a representação. ascendente, descendente ou irmão nela prossigam no caso de
morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão
2 Ação penal de iniciativa privada. Trata-se de oportunida- judicial.
de conferida ao ofendido de oferecer queixa-crime, caso enten- Dentro de tal postulado, temos ainda que estudar dois insti-
da ter sido vítima de delito. Vale dizer que, como a regra no si- tutos, a saber, o perdão da vítima e a perempção.
lêncio do legislador é a ação penal pública incondicionada, para O perdão é ato bilateral, isto é, precisa ser aceito pelo im-
que a ação penal seja de iniciativa privada deve haver previsão putado (ao contrário da renúncia, que é ato unilateral). Ocorre
legal neste sentido. quando já instaurado o processo (não é pré-processual como a
Importante ainda, discorrer sobre algumas das característi- renúncia); é irretratável; pode ser expresso ou tácito (o silêncio
cas principais da queixa-crime: do acusado, de acordo com o art. 58, CPP, implica aceitação do
A) De acordo com o art. 30, do Código de Processo Penal, ao perdão); processual ou extrajudicial (de acordo com o art. 59,
ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo (quere- CPP, a aceitação do perdão fora do processo constará de decla-
lante) caberá intentar ação privada contra o ofensor (querela- ração assinada pelo querelado, ou por seu representante legal,
do). Ademais, no caso de morte do ofendido ou quando declara- ou por procurador com poderes especiais); e por fim, pode ser
do ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou ofertado até o trânsito em julgado da sentença final.
prosseguir na ação passará ao cônjuge (ou convivente), ascen- Já a perempção, prevista no art. 60, CPP, revela a desídia do
dente, descendente, ou irmão (se houver colisão de interesses querelante quando, iniciada a ação penal, deixa de promover o
entre o menor e seu representante, nomeia-se curador especial, andamento do processo durante trinta dias seguidos (inciso I);
na forma do art. 33, do Código de Processo Penal). quando, falecendo o querelante ou sobrevindo sua incapacida-
Como se não bastasse, de acordo com o art. 36, CPP, se de, não comparece em juízo para prosseguir no processo dentro
comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá do prazo de sessenta dias qualquer das pessoas a quem couber
preferência o cônjuge (ou convivente), e, em seguida, o paren- fazê-lo (ressalvado o disposto no art. 36, CPP) (inciso II); quan-
te mais próximo da ordem de enumeração constante do art. 31 do o querelante deixa de comparecer sem motivo justificado
(cônjuge, ascendente, descendente, irmão), podendo, entretan- a qualquer ato do processo a que deva estar presente (inciso
to, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista III, primeira parte); quando o querelante deixa de formular o
da instância ou a abandone; pedido de condenação nas alegações finais (inciso III, segunda
B) Com supedâneo no art. 44, CPP, a queixa poderá ser dada parte); quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se ex-
por procurador com poderes especiais, devendo constar do ins- tinguir sem deixar sucessor (inciso IV);
trumento do mandado o nome do querelante e a menção do
fato criminoso (salvo quando tais esclarecimentos dependerem 2.2 Ação penal privada personalíssima. Não é possível a su-
de diligências que devem previamente ser requeridas no juízo cessão processual. No caso de morte da vítima, extingue-se a
criminal); punibilidade por não admitir sucessão (ex: o delito previsto no
C) A queixa-crime deve conter todos os elementos da de- art. 236, do Código Penal).
núncia previstos no art. 41, CPP, valendo a mesma ressalva feita É como se vê, um direito personalíssimo e intransferível.
no art. 259, da Lei Processual; Os princípios aplicáveis à ação penal exclusivamente privada
D) De acordo com o art. 45, CPP, a queixa, ainda quando a também se aplicam à ação penal privada personalíssima.
ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo
Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos 2.3 Ação penal privada subsidiária da pública (ou ação pe-
subsequentes do processo; nal privada supletiva). Somente é cabível diante da inércia deli-
E) O prazo para oferta de queixa-crime é decadencial de seis berada do Ministério Público.
meses, contados com a natureza de prazo penal (art. 10, CP) De acordo com o inciso LIX, do art. 5º, da Constituição Fede-
do conhecimento da autoridade delitiva, tal como o prazo para ral, será admitida ação penal privada nos crimes de ação pública,
a representação do ofendido nos delitos de ação penal pública se esta não for intentada no prazo legal. No mesmo sentido, o
condicionada à representação. A exceção ao início da contagem art. 29, d Código Processual Penal, regulamenta o preceito cons-

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
titucional e prevê que será admitida ação privada nos crimes de mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá
ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo propor acordo de não persecução penal, desde que necessário
ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer de- e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as
núncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, for- seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:
necer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na
principal (o terceiro parágrafo, do art. 100, CP, também trata da impossibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
ação penal privada supletiva que aqui se estuda). II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados
Vale lembrar que, para caber tal ação, é necessária delibe- pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito
rada desídia do agente do Ministério Público. Caso tal membro do crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
não tenha ofertado denúncia, porque entendeu não ser o caso, III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas
desautorizado fica o agente ofendido a manejar a ação privada por período correspondente à pena mínima cominada ao deli-
subsidiária da pública. to diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo
Por fim, cabe ressaltar que caso o Ministério Público retome juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848,
a ação penal manejada pelo querelante subsidiário por negligên- de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei nº
cia deste, a doutrina costuma designar tal retomada de “ação 13.964, de 2019)
penal indireta”. IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos
Seguem os dispositivos legais previstos no Código de Pro- do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
cesso Penal sobre Ação Penal. (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser
indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmen-
TÍTULO III te, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes
DA AÇÃO PENAL aos aparentemente lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indica-
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o da pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível
exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação com a infração penal imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. 2019)
§1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado au- § 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que
sente por decisão judicial, o direito de representação passará ao se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela
§2º Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento Lei nº 13.964, de 2019)
do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação § 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas se-
penal será pública. guintes hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 25. A representação será irretratável, depois de ofere- I - se for cabível transação penal de competência dos Juiza-
cida a denúncia. dos Especiais Criminais, nos termos da lei; (Incluído pela Lei nº
Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com 13.964, de 2019)
o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos
pela autoridade judiciária ou policial. probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada
Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciati- ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pre-
va do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, téritas; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anterio-
e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. res ao cometimento da infração, em acordo de não persecução
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o ór- (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
gão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica
à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condi-
revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. ção de sexo feminino, em favor do agressor. (Incluído pela Lei nº
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 13.964, de 2019)
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concor- § 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por
dar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo
de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a investigado e por seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, 2019)
conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído pela Lei nº § 4º Para a homologação do acordo de não persecução pe-
13.964, de 2019) nal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em de- voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença
trimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquiva- do seu defensor, e sua legalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964,
mento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do de 2019)
órgão a quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela § 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abu-
Lei nº 13.964, de 2019) sivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal,
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o in- devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformu-
vestigado confessado formal e circunstancialmente a prática lada a proposta de acordo, com concordância do investigado e
de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos,
penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu repre-
inicie sua execução perante o juízo de execução penal. (Incluído sentante legal.
pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 35. Revogado pela Lei nº 9.520/97.
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a ade- queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente
quação a que se refere o § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31,
13.964, de 2019) podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao querelante desista da instância ou a abandone.
Ministério Público para a análise da necessidade de complemen- Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente
tação das investigações ou o oferecimento da denúncia. (Incluí- constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser repre-
do pela Lei nº 13.964, de 2019) sentadas por quem os respectivos contratos ou estatutos desig-
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de narem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-ge-
não persecução penal e de seu descumprimento. (Incluído pela rentes.
Lei nº 13.964, de 2019) Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no representante legal, decairá no direito de queixa ou de represen-
acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá co- tação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado
municar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior ofereci- do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso
mento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal da denúncia.
pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de
Público como justificativa para o eventual não oferecimento de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos
suspensão condicional do processo. (Incluído pela Lei nº 13.964, arts. 24, parágrafo único, e 31.
de 2019) Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pes-
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não per- soalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante
secução penal não constarão de certidão de antecedentes cri- declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério
minais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste Público, ou à autoridade policial.
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) §1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem as-
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução sinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu represen-
penal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. tante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público,
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em quando a este houver sido dirigida.
propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá §2º A representação conterá todas as informações que pos-
requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. sam servir à apuração do fato e da autoria.
28 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) §3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a auto-
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pú- ridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente,
blica, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Mi- remetê-lo-á à autoridade que o for.
nistério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia §4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para que
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de esta proceda a inquérito.
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. §5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se
Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para repre- com a representação forem oferecidos elementos que o habili-
sentá-lo caberá intentar a ação privada. tem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denún-
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado cia no prazo de quinze dias.
ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou pros- Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem,
seguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação
irmão. pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os docu-
Art. 32. Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento mentos necessários ao oferecimento da denúncia.
da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato
promover a ação penal. criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
§1º Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo,
despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis a classificação do crime e, quando necessário, o rol das teste-
ao próprio sustento ou da família. munhas.
§2º Será prova suficiente de pobreza o atestado da autori- Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação pe-
dade policial em cuja circunscrição residir o ofendido. nal.
Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmen- Art. 43. Revogado pela Lei nº 11.719/08.
te enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante le- Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com po-
gal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de deres especiais, devendo constar do instrumento do mandato o
queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando
ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz compe- tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser
tente para o processo penal. previamente requeridas no juízo criminal.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa Art. 59. A aceitação do perdão fora do processo constará de
do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem declaração assinada pelo querelado, por seu representante legal
caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo. ou procurador com poderes especiais.
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante
réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o
dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se hou- andamento do processo durante 30 dias seguidos;
ver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), con- II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua inca-
tar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público pacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no proces-
receber novamente os autos. so, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a
§1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito po- quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
licial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo
data em que tiver recebido as peças de informações ou a repre- justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presen-
sentação te, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações
§2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, finais;
contado da data em que o órgão do Ministério Público receber IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se ex-
os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, enten- tinguir sem deixar sucessor.
der-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer
termos do processo. extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.
Art. 47. Se o Ministério Público julgar necessários maio- Parágrafo único. No caso de requerimento do Ministério Pú-
res esclarecimentos e documentos complementares ou novos blico, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apar-
elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de tado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, con-
quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou possam cederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão
fornecê-los. dentro de cinco dias ou reservando-se para apreciar a matéria
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obri- na sentença final.
gará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista
indivisibilidade. da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público,
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em rela- declarará extinta a punibilidade.
ção a um dos autores do crime, a todos se estenderá.
Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assina-
da pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com PRISÃO CAUTELAR: PRISÃO EM FLAGRANTE:
poderes especiais. TIPOS E ESPÉCIES DE FLAGRANTE
Parágrafo único. A renúncia do representante legal do me-
nor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este Prisões  
do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza
do primeiro. humana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - es-
Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveita- tudadas pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão
rá a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que civil” (em caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito
o recusar. constitucional, pelo direito internacional, e pelo direito civil -
Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, somente se estudará as tipicamente denominadas “prisões pro-
o direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu repre- cessuais”, decretadas durante a fase investigatória ou judicial.
sentante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposi- De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as
ção do outro, não produzirá efeito. medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo
Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liber-
Art. 53. Se o querelado for mentalmente enfermo ou retar- dade Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a neces-
dado mental e não tiver representante legal, ou colidirem os in- sidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou instru-
teresses deste com os do querelado, a aceitação do perdão cabe- ção criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a
rá ao curador que o juiz Ihe nomear. prática de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da
Art. 54. Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á, medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52. pessoais do indiciado ou acusado (inciso II).
Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com po- Deve haver a observância do binômio necessidade/adequa-
deres especiais. ção quando da análise de imposição de prisão processual/medi-
Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o da cautelar diversa da prisão. Pode ser que, num extremo mais
disposto no art. 50. gravoso, a prisão preventiva seja a mais adequada. Já noutro
Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos extremo, mais brando, pode ser que a liberdade provisória seja
os meios de prova. palavra de ordem. Qualquer coisa que ficar entre estes dois ex-
Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa tremos pode importar a imposição de medida cautelar de natu-
nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, reza diversa da prisão processual.
se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o  
seu silêncio importará aceitação.
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a pu-
nibilidade.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Espécies § 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual-
São três espécies de prisão cautelar: quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade
a) Prisão em Flagrante; do domicílio. 
b) Prisão Temporária;
c) Prisão Preventiva.  Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a
 Verificaremos o que estabelece a lei processual penal sobre indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do
as prisões, medidas cautelares e liberdade provisória: preso.

TÍTULO IX Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o


DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES respectivo mandado.
E DA LIBERDADE PROVISÓRIA Parágrafo único. O mandado de prisão:
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deve- b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome,
rão ser aplicadas observando-se a:  alcunha ou sinais característicos;
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investiga- c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
ção ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previs- d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável
tos, para evitar a prática de infrações penais;  a infração;
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstân- e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execu-
cias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.  ção.
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.  Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o execu-
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a tor entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exempla-
requerimento das partes ou, quando no curso da investigação res com declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega
criminal, por representação da autoridade policial ou mediante deverá o preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não
requerimento do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº
souber ou não puder escrever, o fato será mencionado em decla-
13.964, de 2019)
ração, assinada por duas testemunhas.
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi-
cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar
mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será ime-
no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requeri-
diatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado,
mento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juí-
para a realização de audiência de custódia. (Redação dada pela
zo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados
Lei nº 13.964, de 2019)
e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso
concreto que justifiquem essa medida excepcional. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exi-
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações bido o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, entregue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia ex-
de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, pedida pela autoridade competente, devendo ser passado recibo
impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a pri- da entrega do preso, com declaração de dia e hora.
são preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio
Código. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) exemplar do mandado, se este for o documento exibido.
§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revo- Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional,
gar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta fora da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua pri-
de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se são, devendo constar da precatória o inteiro teor do mandado. 
sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº § 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por
13.964, de 2019) qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo
da prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada. 
§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quan- § 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as
do não for cabível a sua substituição por outra medida caute- precauções necessárias para averiguar a autenticidade da co-
lar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da municação.
substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de § 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção do
forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, preso no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetiva-
de forma individualizada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de ção da medida. 
2019).  
Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato re-
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante de- gistro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo
lito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciá- Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade. 
ria competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude § 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter-
de condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional
pela Lei nº 13.964, de 2019) de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se apli- o expediu. 
cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa-
mente cominada pena privativa de liberdade. 

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decre- Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu
tada, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para
adotando as precauções necessárias para averiguar a autenti- que se proceda contra ele como for de direito.
cidade do mandado e comunicando ao juiz que a decretou, de-
vendo este providenciar, em seguida, o registro do mandado na Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o
forma do caput deste artigo.  disposto no artigo anterior, no que for aplicável.
§ 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do lo-
cal de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à
extraída do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão
ao juízo que a decretou.  antes de condenação definitiva:
§ 4o O preso será informado de seus direitos, nos termos do I - os ministros de Estado;
inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado II - os governadores ou interventores de Estados ou Territó-
não informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defen- rios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários,
soria Pública.  os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; 
§ 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legiti- III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de
midade da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados;
aplica-se o disposto no § 2o do art. 290 deste Código.  IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”;
§ 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o regis- V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Esta-
tro do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo.  dos, do Distrito Federal e dos Territórios; 
  VI - os magistrados;
Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores
outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a pri- da República;
são no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à VIII - os ministros de confissão religiosa;
autoridade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de IX - os ministros do Tribunal de Contas;
flagrante, providenciará para a remoção do preso. X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a fun-
§ 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do ção de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de in-
réu, quando: capacidade para o exercício daquela função;
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, em- XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e
bora depois o tenha perdido de vista; Territórios, ativos e inativos. 
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o § 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras
réu tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo leis, consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto
lugar em que o procure, for no seu encalço. da prisão comum. 
§ 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões § 2o Não havendo estabelecimento específico para o preso
para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da lega- especial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabe-
lidade do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o lecimento. 
réu, até que fique esclarecida a dúvida. § 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo,
atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela con-
Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á fei- corrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento
ta desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apre- térmico adequados à existência humana. 
sente o mandado e o intime a acompanhá-lo. § 4o O preso especial não será transportado juntamente com
o preso comum. 
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resis- § 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os
tência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade mesmos do preso comum. 
competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão
usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, se-
resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por rão recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acor-
duas testemunhas. do com os respectivos regulamentos.
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela
grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios autoridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tan-
para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem tos outros quantos necessários às diligências, devendo neles ser
como em mulheres durante o período de puerpério imediato. fielmente reproduzido o teor do mandado original.
(Redação dada pela Lei nº 13.434, de 2017)
Art. 298 - (Revogado).
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com seguran-
ça, que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de man-
será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não dado judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela
for obedecido imediatamente, o executor convocará duas tes- autoridade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessá-
temunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as rias para averiguar a autenticidade desta. 
portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação
ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separa-
tornando a casa incomunicável, e, logo que amanheça, arromba- das das que já estiverem definitivamente condenadas, nos ter-
rá as portas e efetuará a prisão. mos da lei de execução penal. 

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a E) No mesmo prazo de vinte e quatro horas, será entregue
lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela au-
instituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das toridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das
autoridades competentes.  testemunhas (art. 306, §2º, CPP);
F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamen-
Prisão em flagrante  te com o próprio detido, haverá a audiência de custódia (Res.
 A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa 213/2015, CNJ) e, posteriormente, o juiz deverá fundamentada-
da sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de loco- mente poderá relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão em
moção daquele que é surpreendido em situação de flagrância, flagrante em preventiva (quando presentes os requisitos do art.
independentemente de prévia autorização judicial. A própria 312, do Código de Processo Penal, e quando se revelarem inade-
Constituição Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu art. quadas as medidas cautelares diversas da prisão), ou conceder
5º, LXI, o qual afirma que “ninguém será preso senão em flagran- liberdade provisória com ou sem fiança (art. 310, CPP);
te delito...” G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato
A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que sig- em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimen-
nifica “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o de- to do dever legal, ou exercício regular de um direito (todos pre-
lito em flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, vistos no art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamen-
“que acaba de acontecer”. te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo
Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de
e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado revogação (art. 310, parágrafo único, CPP).
em flagrante delito.
 Funções da prisão em flagrante  Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado
São elas: a prisão, o preso será apresentado à prisão do lugar mais próxi-
A) Evitar a fuga do infrator; mo (art. 308, CPP).
B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios; Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liber-
C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito. dade, depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante)
  (art. 309, CPP).
Procedimento do flagrante   
O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente Espécies/modalidades de flagrante. 
descrito entre os art. 304 e 310, do Código de Processo Penal: Vejamos a classificação feita pela doutrina:
A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autorida-
esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregan- des policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão
do a este cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, em flagrante;
caput, primeira parte, CPP); B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer
B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva pessoa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender
das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do em flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade;
acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante
oitiva, suas respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao verdadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando
final, o auto (art. 304, caput, parte final, CPP); está cometendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão
C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem está nos incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal;
serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Mi- D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “qua-
nistério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada se flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido,
(art. 306, caput, CPP); logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pes-
D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado soa, em situação que se faça presumir ser ele autor da infração.
fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará re- Sua previsão está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Pro-
colhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar cessual Penal.
fiança, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para
isso for competente (se não o for, enviará os autos à autoridade esta perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. As-
que o seja) (art. 304, §1º, CPP); sim, pode um agente ser perseguido por vinte e quatro horas
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto após a prática delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em fla-
de prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deve- grante;
rão assiná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunha- E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que
do a apresentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). ocorre se o agente é encontrado, logo depois do crime, com ins-
Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder trumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele
fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas o autor da infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP;
testemunhas que tenham ouvido sua leitura na presença deste F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito
(art. 304, §3º, CPP). Na falta ou no impedimento do escrivão, putativo por obra do agente provocador). A autoridade policial
qualquer pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, de- instiga o indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em
pois de prestado o compromisso legal (art. 305, CPP); flagrante. O entendimento jurisprudencial, contudo, é no senti-
F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, do de que esta espécie de flagrante não é válida, por se tratar
será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla- de crime impossível. Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº
grante, e caso o autuado não informe o nome de seu advogado, 145, do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual não há crime
será encaminhada cópia integral deste auto para a Defensoria quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível
Pública (art. 306, §1º, CPP); a sua consumação;

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que  Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente
o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não, em flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para  
efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de fla- Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou-
grante perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritá- virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre-
rio que o considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em
preparado; seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanha-
H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagran- rem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe
te maquiado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas,
(ex.: a autoridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do lavrando, a autoridade, afinal, o auto. 
investigado somente para prendê-lo em flagrante). § 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o
I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no
protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, para caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos
que o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista da atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se
colheita de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.
Atualmente, encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Or- § 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto
ganizações Criminosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”). de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deve-
rão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado
Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada a apresentação do preso à autoridade.
é permitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao § 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou
contrário do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado
observados alguns requisitos para o procedimento, tais como: por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na pre-
comunicar sigilosamente a ação ao juiz competente que, se for sença deste. 
o caso, estabelecerá os limites desta e comunicará ao Ministé- § 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá
rio Público; até o encerramento da diligência, o acesso aos au-
constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas
tos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato
polícia, como forma de garantir o êxito das investigações e ao
de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela
término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca
pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
da ação controlada. Outrossim, na Lei nº 11.343/06, em seu art.
 Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer
53, II, a ação controlada é possível, desde que haja autorização
pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de
judicial, ouvido o Ministério Público.
prestado o compromisso legal.
 
  
Apresentação espontânea do acusado 
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se en-
Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que
a apresentação espontânea do acusado à autoridade não impe- contre serão comunicados imediatamente ao juiz competente,
diria a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em fla- ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele
grante não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente indicada. 
quem se apresentou à autoridade policial, e não a autoridade § 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da
policial que foi no encalço do agente), o que não obstava, contu- prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão
do, a decretação de prisão preventiva.  em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu ad-
Com a Lei nº 12.403/11, tal dispositivo foi suprimido, cau- vogado, cópia integral para a Defensoria Pública. 
sando alguma divergência doutrinária acerca da possibilidade § 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante re-
de se prender em flagrante ou não em caso de livre apresenta- cibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da
ção por parte do acusado. Apesar de inexistir qualquer entendi- prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. 
mento doutrinário/jurisprudencial consolidado, até agora tem  
prevalecido a ideia de que a apresentação espontânea continua Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da auto-
impedindo a prisão em flagrante. ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão
  do auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações
CAPÍTULO II que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo
DA PRISÃO EM FLAGRANTE assinado pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e re-
  metido imediatamente ao juiz a quem couber tomar conheci-
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais mento do fato delituoso, se não o for a autoridade que houver
e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado presidido o auto.
em flagrante delito.  
  Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais
I - está cometendo a infração penal; próximo.
II - acaba de cometê-la;  
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberda-
ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor de, depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. 
da infração; Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no pra-
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, zo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da -se a certeza acerca da autoria, mesmo porque, em termos prá-
Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa ticos, caso fique realmente comprovada, a autoria só o ficará, de
audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada fato, quando de um eventual decreto condenatório definitivo.
pela Lei nº 13.964, de 2019) No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a pri-
I - relaxar a prisão ilegal; ou  são preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando prisão preventiva, mas os dois pressupostos devem estar neces-
presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se sariamente previstos cumulativamente. Então, sempre deve ha-
revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares ver, obrigatoriamente, os dois pressupostos (existência do crime
diversas da prisão; ou  e indícios de autoria), mais ao menos um motivo ensejador (ou
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.  a garantia da ordem pública, ou a garantia da ordem econômica,
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que ou o asseguramento da aplicação da lei penal, ou a conveniên-
o agente praticou o fato em qualquer das condições constantes cia da instrução criminal, ou o descumprimento de qualquer das
dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, medidas cautelares diversas da prisão).
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamenta-  
damente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante Motivos da prisão preventiva 
termo de comparecimento obrigatório a todos os atos proces- Eles estão no art. 312, do Código de Processo Penal, e de-
suais, sob pena de revogação. (Renumerado do parágrafo único vem ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício
pela Lei nº 13.964, de 2019) suficiente de autoria. A saber:
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável
integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta de reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade
arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade pro- do agente. Necessidade de afastamento do convívio social.
visória, com ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação
13.964, de 2019) de prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à que sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há
não realização da audiência de custódia no prazo estabelecido risco de caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito
no caput deste artigo responderá administrativa, civil e penal- para com a sociedade;
mente pela omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso reiteração delituosa, porém relacionado com crimes contra a
do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de ordem econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma
audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também espécie da garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei
a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade compe- nº 8.884/94 (“Lei Antitruste”);
tente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir
prisão preventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) que o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo,
pois, é proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor
Prisão preventiva  ainda não teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.)
Em qualquer fase da investigação policial ou do processo que podem auxiliar no deslinde da lide;
penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requeri-
mento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons-
por representação da autoridade policial. (art. 311, CPP). trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia-
De antemão já se pode observar que à autoridade judicial bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
é vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do preventiva por este motivo;
inquérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que an- E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas
tes desta previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz cautelares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas
prisão preventiva de ofício também durante as investigações, o da prisão” são novidade no processo penal, e foram trazidas
que era bastante criticado pela doutrina garantista, uma vez que pela Lei nº 12.403/2011.
agindo assim poderia deixar de ser imparcial no momento de F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do
julgar a ação). imputado, veio com a Lei 13.964/2019.
Assim, no nosso regime democrático, as funções são distin-  
tas e bem definidas: um acusa, outro defende e o terceiro julga. Hipóteses em que se admite prisão preventiva 
  São elas, de acordo com o art. 312, CPP:
Pressupostos da prisão preventiva A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liber-
Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejado- dade máxima superior a 4 (quatro) anos (inciso I);
res” da prisão. São pressupostos: B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime dolo-
A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comis- so, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no
si delicti”; art. 64, I, do Código Penal (configuração do período depurador)
B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum (inciso II);
libertatis”. C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra
a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualis- deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
mo penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta urgência (inciso III);
com “indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que
haja um contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pes- § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser
soa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para es- motivada e fundamentada em receio de perigo e existência con-
clarecê-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto creta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a apli-
em liberdade após a identificação, salvo de outra hipótese reco- cação da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
mendar a manutenção da medida) (parágrafo único).  
  Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida
Revogação da prisão preventiva  a decretação da prisão preventiva: 
Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a au- I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberda-
toridade judicial a falta de motivo para que subsista a prisão pre- de máxima superior a 4 (quatro) anos; 
ventiva. Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sen-
se sobrevierem razões que a justifiquem. tença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do
De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou dene- caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
gar a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, 1940 - Código Penal; 
nos termos dos parágrafos dos artigos 315, CPP.. III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra
  a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
Recurso de decisão acerca da prisão preventiva  deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
Conforme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau in- urgência; 
deferir requerimento de prisão preventiva ou revogar a medida IV - (Revogado).
colocando o agente em liberdade, caberá recurso em sentido § 1º Também será admitida a prisão preventiva quando hou-
estrito. ver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta
Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à re- não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo
vogação de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a iden-
diversa da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipó- tificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da
teses acima vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por medida. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
importarem maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria § 2º Não será admitida a decretação da prisão preventi-
o manejo de tal instrumento. Por outro lado, há quem entenda va com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena
que tal decisão seja irrecorrível por ausência de previsão legal ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da
expressa. Não há qualquer entendimento consolidado sobre o apresentação ou recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº
tema. 13.964, de 2019)
De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido
estrito somente será cabível caso se indefira o requerimento de Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decre-
preventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão tada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o
recursal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja man- agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e
tida não há previsão recursal). III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
  de 1940 - Código Penal.
Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar 
O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a pri-
12.403/11) ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no são preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Reda-
recolhimento do indiciado em sua residência, só podendo dela ção dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
ausentar-se com autorização judicial. Trata-se de medida huma- § 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou
nitária a ser tomada em situações especiais, desde que se com- de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente
prove a real existência da excepcionalidade (parágrafo único, do a existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem
art. 318, do Código de Processo Penal). a aplicação da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
 CAPÍTULO III 2019)
DA PRISÃO PREVENTIVA § 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judi-
cial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pela Lei nº 13.964, de 2019)
processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Minis- normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
tério Público, do querelante ou do assistente, ou por representa- decidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
ção da autoridade policial.  II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem expli-
  car o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga- Lei nº 13.964, de 2019)
rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, outra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no pro-
de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do impu- cesso capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo
tado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) julgador; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula,
caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas sem identificar seus fundamentos determinantes nem demons-
por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação trar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegu-
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de rar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimen- seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem
to. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) judicial (inciso VIII);
I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10,
revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do e, agora, também o foi para o prisma processual.
processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem  
como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifi- O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de
quem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) medidas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispo-
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o sitivo, o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá
órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manuten- converter esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos
ção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, do art. 312, CPP, e se revelarem inadequadas as medidas caute-
de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº lares diversas da prisão.
13.964, de 2019) Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada
na execução penal, de aprisionamento corporal via pena pri-
Medidas cautelares diversas da prisão vativa de liberdade somente quando estritamente necessário,
  Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções também assim passa a acontecer no ambiente processual, o que
cabíveis na seara processual eram o aprisionamento cautelar do retira da prisão preventiva grande poder de atuação ao se pre-
acusado ou a concessão de liberdade provisória, em dois extre- vê-la, apenas, em último caso. Assim, atualmente, primeiro o
mos antagonicamente opostos que desconsideravam hipóteses juiz verifica se é caso de liberdade provisória pura e simples;
em que nem a liberdade e nem o aprisionamento cautelar eram depois, se é caso de liberdade provisória com medida cautelar
as medidas mais adequadas. Em razão disso, após o advento da diversa da prisão; depois, se é caso de liberdade provisória mais
“Nova Lei de Prisões”, inúmeras opções são conferidas no vácuo a cumulação de medidas cautelares diversas da prisão; e, apenas
deixado entre o claustro e a liberdade, opções estas conhecidas por último, se é caso de aprisionamento processual.
por “medidas cautelares diversas da prisão”. Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade
Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão pre- judicial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser funda-
vistas no art. 282 do CPP, sendo estes: mentada. Ao juiz compete decretar prisão preventiva funda-
- Necessidade para aplicação da lei penal, para a investiga- mentadamente; ao juiz compete conceder liberdade provisória
ção ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previs- fundamentadamente; ao juiz compete decretar medida cautelar
tos, para evitar a prática de infrações penais;  diversa da prisão fundamentadamente; ao juiz compete conver-
- Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias ter a medida cautelar diversa da prisão em outra medida caute-
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. lar diversa da prisão fundamentadamente; ao juiz compete con-
  verter a medida cautelar diversa da prisão em prisão processual
Medidas cautelares diversas da prisão em espécie fundamentadamente.
Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz
Lei nº 12.403/2011 São elas: respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di-
A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas con- versas da prisão.
dições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (in- Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas
ciso I); uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o
B) Proibição de acesso ou frequência a determinados luga- caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese,
res quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indi- é perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida
ciado ou acusado permanecer distante destes locais para evitar cautelar diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a
o risco de novas infrações (inciso II); determinados lugares (art. 319, II) e a determinação de com-
C) Proibição de manter contato com pessoa determinada parecimento periódico em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indicia- da suspensão do exercício da função pública (art. 319, VI) e da
do ou acusado deva permanecer distante (inciso III); proibição de ausentar-se da Comarca (art. 319, IV), como outro
D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a perma- exemplo, ou da monitoração eletrônica (art. 319, IX) e da fiança
nência seja conveniente ou necessária para a investigação/ins- (art. 319, VIII), como último exemplo. Tudo depende, insiste-se,
trução (inciso IV); da necessidade da medida, e da devida fundamentação feita
pela autoridade policial.
E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias
de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e CAPÍTULO IV
trabalho fixos (inciso V); DA PRISÃO DOMICILIAR
F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade
de natureza econômica ou financeira quando houver justo re- Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do in-
ceio de sua utilização para a prática de infrações penais (inciso diciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausen-
VI); tar-se com autorização judicial. 
G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de cri- Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela
mes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peri- domiciliar quando o agente for: 
tos concluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco I - maior de 80 (oitenta) anos; 
de reiteração (inciso VII); II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; 

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva-
de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência;  lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória
IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incom- nº 12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a
pletos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) liberdade provisória mera medida de contracautela à imposição
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do de prisão preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto,
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela de liberdade provisória juntamente ou não com medida cautelar
Lei nº 13.257, de 2016) diversa da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova esta hipótese em que o acusado “se livrava solto” foi revogado,
idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo.  tendo sido substituído por redação absolutamente diferente da
anterior. Assim, conforme entendimento doutrinário prevalen-
CAPÍTULO V te, a “liberdade provisória obrigatória” foi suprimida pelo ad-
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES vento da Lei nº 12.403/11;
B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da con-
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:  versão da prisão em flagrante em preventiva por estarem pre-
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- sentes os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP),
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;  ou, se não houver hipótese que enseje a determinação de prisão
II - proibição de acesso ou frequência a determinados luga- preventiva por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o
res quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indi- indivíduo praticou o fato em excludente de ilicitude/culpabili-
ciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar dade (art. 310, parágrafo único, CPP), é permitido à autoridade
o risco de novas infrações;  judicial a concessão de liberdade provisória, cumulada ou não
III - proibição de manter contato com pessoa determinada com as medidas cautelares diversas da prisão;
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indicia- C) Liberdade provisória vedada. O entendimento preva-
do ou acusado dela permanecer distante;  lente da doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a perma- 12.403/11, é o de que a liberdade provisória não pode ser veda-
nência seja conveniente ou necessária para a investigação ou da, admita ou não o delito fiança, e, ainda, independentemente
instrução;  do que diz o diploma legal. Isto ficou ainda mais clarividente com
 V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias a “Nova Lei de Prisões”, de maneira que, atualmente, é possível
de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e liberdade provisória com fiança, liberdade provisória sem fiança,
trabalho fixos;  liberdade provisória com a cumulação de medida cautelar, liber-
VI - suspensão do exercício de função pública ou de ativi- dade provisória sem a cumulação de medida cautelar, liberdade
dade de natureza econômica ou financeira quando houver justo provisória mediante o cumprimento de obrigações, e liberdade
receio de sua utilização para a prática de infrações penais;  provisória sem o cumprimento de obrigações.
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de cri-
mes praticados com violência ou grave ameaça, quando os pe- Recurso em sede de liberdade provisória 
ritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a
Código Penal) e houver risco de reiteração;  decisão que conceder liberdade provisória desafia recurso em
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o sentido estrito. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível,
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu podendo ser combatida pela via do habeas corpus, que não é
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem ju- recurso, mas meio autônomo de impugnação.
dicial; 
IX - monitoração eletrônica.  Fiança 
§ 1º ao §3º (Revogados). A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação re-
§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições forçado e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua
do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras permissão para delitos que antes não a permitiam, seja através
medidas cautelares.  de sua existência como medida cautelar diversa da prisão, seja
  como condicionante ou não da concessão de liberdade provisó-
Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunica- ria.
da pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que de-
do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para cidirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do
entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.  Código de Processo Penal).
  A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos
Liberdade provisória, com ou sem fiança  casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não
Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da pri- seja superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP).
são preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo
o juiz deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se Penal, não será concedida fiança:
de garantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui,
Constituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à pri- o art. 5º, XLII, da Constituição Federal;
são ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
com ou sem fiança. drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos
São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provi- (art. 323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constitui-
sória, a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada: ção Federal;

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou mi- Destinação da Fiança
litares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar
(art. 323, inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constitui- as seguintes providências:
ção Federal; A) Pagamento de custas;
B) Indenização do dano;
D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança C) Pagamento de prestação pecuniária;
anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qual- D) Pagamento de multa;
quer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Có- E) Remanescente será devolvido.
digo de Processo Penal (art. 324, inciso I);
E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II);
F) Quando presentes os motivos que autorizam a decreta- Objeto da Fiança
ção da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III); A) Depósito em dinheiro;
G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”). B) Pedras, objetos ou metais preciosos;
Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava- C) Títulos da dívida pública;
gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança; D) Hipoteca de imóvel.
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Siste-
ma Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos Perda da fiança 
nesta lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fian- Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do
ça se presentes os motivos ensejadores da prisão preventiva. cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente
  imposta, independentemente do regime, a fiança será dada por
Valor da fiança  perdida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em seu valor, deduzidas as custas e demais encargos a que o acusa-
consideração a natureza da infração, as condições pessoais de do estiver obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário.
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicati- Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sen-
vas de sua periculosidade, bem como a importância provável das tido estrito (art. 581, VII, CPP).
custas do processo, até final julgamento (art. 326, CPP).
Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual Cassação da fiança 
Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conce- A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equi-
der nos seguintes limites: vocadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele
A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infra- praticado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode de-
ção cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for terminar a cassação, de ofício ou a requerimento da parte.
superior a quatro anos (inciso I); Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo
B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cas-
da pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro sação.
anos (inciso II). Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sen-
tido estrito (art. 581, V, CPP).
Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de
Processo Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em Reforço da fiança 
depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títu- Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja
los da dívida pública (federal, estadual ou municipal), ou em hi- porque o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova
poteca inscrita em primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de tipificação do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor,
pedras/objetos/metais preciosos será feita por perito nomeado seja porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja
pela autoridade. Quando a fiança consistir em caução de títulos porque ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos precio-
da dívida pública, o valor será determinado pela sua cotação em sos. Se tal reforço não for realizado, a fiança será julgada sem
Bolsa. efeito (fiança inidônea).
Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em
Dispensa/redução/aumento da fiança  sentido estrito (art. 581, V, CPP).
Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fian-
ça poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP): CAPÍTULO VI
A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I). DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA
Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e,
verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação
o sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisó-
essa “prova de capacidade econômica” pode ser feita de qual- ria, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no
quer maneira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do
discricionariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito art. 282 deste Código. 
subjetivo do beneficiário;
B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II); Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder
C) Aumentada em até mil vezes (inciso III). fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade
máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. 
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida
ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. 

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
 Art. 323. Não será concedida fiança:  § 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais
I - nos crimes de racismo;  preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au-
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e toridade.
drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;  § 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou mi- pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e,
litares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;  sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de
ônus.
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: 
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an- Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido
teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer à repartição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao
das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;  depositário público, juntando-se aos autos os respectivos conhe-
II - em caso de prisão civil ou militar;  cimentos.
III - (Revogado). Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se pu-
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decreta- der fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa
ção da prisão preventiva (art. 312).  abonada, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á
ao valor o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a do termo de fiança.
conceder nos seguintes limites:  Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar para conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo
de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, auto, e, em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver
não for superior a 4 (quatro) anos;  expedido, ou a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o requisitada a prisão.
máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a
4 (quatro) anos.  Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida in-
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a dependentemente de audiência do Ministério Público, este terá
fiança poderá ser:  vista do processo a fim de requerer o que julgar conveniente.
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; 
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou  Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transi-
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes.  tar em julgado a sentença condenatória. 

Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a
terá em consideração a natureza da infração, as condições pes- concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá pres-
soais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias tá-la, mediante simples petição, perante o juiz competente, que
indicativas de sua periculosidade, bem como a importância pro- decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. 
vável das custas do processo, até final julgamento.
Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão
Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado ao pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação
a comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for in- pecuniária e da multa, se o réu for condenado. 
timado para atos do inquérito e da instrução criminal e para o Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no
julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida caso da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do
como quebrada. Código Penal). 
Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra- Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em
mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão julgado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada
da autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) extinta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será
dias de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar restituído sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do
onde será encontrado. art. 336 deste Código. 
 
Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espé-
um livro especial, com termos de abertura e de encerramento, cie será cassada em qualquer fase do processo.
numerado e rubricado em todas as suas folhas pela autorida-
de, destinado especialmente aos termos de fiança. O termo será Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida
lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade e por quem a existência de delito inafiançável, no caso de inovação na clas-
prestar a fiança, e dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos sificação do delito.
autos.
Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo Art. 340. Será exigido o reforço da fiança:
escrivão notificados das obrigações e da sanção previstas nos I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insufi-
arts. 327 e 328, o que constará dos autos. ciente;
II - quando houver depreciação material ou perecimento dos
Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou
depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos pedras preciosas;
da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipote- III - quando for inovada a classificação do delito.
ca inscrita em primeiro lugar.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será re- mentar prisões. O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa
colhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for a posição absolutamente prevalente), tem entendimento de que
reforçada. a Lei nº 7.960/89 é plenamente constitucional.
Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo,
Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:  da Lei nº 7.960/89:
 I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de A) Quando esta for imprescindível para as investigações do
comparecer, sem motivo justo;  inquérito policial (inciso I);
II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamen- B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não for-
to do processo;  necer elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade
 III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente (inciso II);
com a fiança;  C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qual-
 IV - resistir injustificadamente a ordem judicial;  quer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participa-
V - praticar nova infração penal dolosa.  ção do indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput
  e seu §2º, CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput,
Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se e seus §§1º e 2º, CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e
declarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus 3º, CP), extorsão (art. 158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extor-
efeitos são mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º,
CP), estupro e atentado violento ao pudor (art. 213, caput, CP),
Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará epidemia com resultado de morte (art. 267, §1º, CP), envenena-
na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre mento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal
a imposição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c. art. 285, CP), qua-
decretação da prisão preventiva.  drilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qualquer de suas
Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56), tráfico de
fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o sistema fi-
do cumprimento da pena definitivamente imposta.  nanceiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III).
Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguin-
Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas te: quantos destes requisitos precisam estar presentes para se
as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será decretar a prisão temporária? Há várias posições na doutrina.
recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.  Um primeiro entendimento defende que o requisito “C”
deve estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja
Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as de- ao lado do requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes
duções previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será dois requisitos ao menos.
recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.  Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta
a presença de apenas um requisito.
Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será Um terceiro entendimento defende que é necessária a pre-
entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos sença dos três requisitos conjuntamente.
os encargos a que o réu estiver obrigado. Um quarto entendimento diz que é necessária a presença
dos três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do
Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por Código de Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva.
meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo Não há um entendimento prevalente, todavia.
órgão do Ministério Público.
Prazo da prisão temporária
Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais De acordo com o art. 2º, da Lei nº 7.960/89, o prazo da pri-
preciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor. são temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período
em caso de comprovada e extrema necessidade.
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando
a situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo
provisória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida
e 328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso.  por “Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo temporária será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual perío-
justo, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se- do em caso de comprovada e extrema necessidade.
-á o disposto no § 4o do art. 282 deste Código.
  Procedimento da prisão temporária 
Prisão temporária  O procedimento está previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº
A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar, 7.960/89:
mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício
como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisão pelo juiz, dependendo de representação da autoridade policial
para averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo ou de requerimento do Ministério Público (na hipótese de repre-
Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. sentação da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá
Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão ouvir o Ministério Público);
pela qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei in-
constitucional, por não ser dado a Medidas Provisórias regula-

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser De acordo com os ensinamentos de Paulo Rangel: “O objeto
fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro da prova é a coisa, o fato, o acontecimento que deve ser conhe-
horas, contados a partir do recebimento da representação ou cido pelo juiz, a fim de que possa emitir um juízo de valor. São
do requerimento; os fatos sobre os quais versa o caso penal. Ou seja, é o ‘thema
C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério probandum’ que serve de base à imputação penal feita pelo Mi-
Público e do advogado, determinar que o preso lhe seja apre- nistério Público. É a verdade dos fatos imputados ao réu com
sentado, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade todas as suas circunstâncias”.
policial e submetê-lo a exame de corpo de delito; Na hipótese do Ministério Público imputar à determinada
D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de pessoa a prática do crime de homicídio, este crime caracterizar-
prisão (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado -se-á como o objeto da prova.
e servirá como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente Cabe destacar que há diferença entre objeto da prova e ob-
poderá ser executada depois de expedido o mandado judicial jeto de prova. O objeto de prova significa todos os fatos ou coi-
(aqui reside a principal diferença em relação à “prisão para ave- sas que necessitam da comprovação de sua veridicidade.
riguações”, extinta pela Lei nº 7.960/89, em que a autoridade Durante um processo, tanto o autor quanto o réu irão apre-
policial meramente recolhia o indivíduo ao claustro e se limitava sentar argumentos favoráveis à eles, assim como acontecimen-
a notificar a autoridade judicial disso); tos que demonstrem a veracidade de suas alegações. Ocorrendo
E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso isso, os mesmos acabam por delimitar o objeto da prova, deven-
dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale do o julgador ater-se à somente estes fatos, visando a economia
lembrar que os presos temporários deverão permanecer, obri- processual.
gatoriamente, separados dos demais detentos); Neste contexto, podemos concluir que são as partes que
F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deve- definem essencialmente os fatos que deverão ser objeto de pro-
rá ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a va, restando ao juiz, eventualmente, apenas completar o rol de
conversão da medida em prisão preventiva. provas a produzir, utilizando-se de seu poder instrutório, o que
determinará somente com a finalidade de fazer respeitar o prin-
Mandado de prisão  cípio da verdade real.
É o instrumento emanado da autoridade competente para a Classificação Da Prova
execução da prisão, prevista no artigo 285. Existem alguns critérios que classificam a prova, a saber:
a) Quanto ao objeto:
- direta: apresenta o fato de forma instantânea, não neces-
TEORIA GERAL DA PROVA PENAL. sitando de nenhuma construção lógica. 
CADEIA DE CUSTÓDIA - indireta: afirma uma fato do qual se infira, por dedução ou
indução, a existência do fato que se busque provar. Neste caso,
Prova consiste num conjunto de provas que podem ser há a necessidade de um processo de construção lógica com o
produzidas pelas partes, pelo juiz ou por terceiros (peritos, por intuito de chegar a um determinado fato que se quer provar. 
exemplo), os quais destinam à convicção do magistrado acerca b) Quanto ao sujeito ou causa:
da existência ou não de um fato. Assim, trata-se da convicção - real: é uma prova encontrada em objeto ou coisa que pos-
do juiz sobre os elementos essenciais para o decorrer da causa. sua vestígios de um crime como, por exemplo, uma camisa en-
Enquanto os elementos informativos são aqueles produzidos sanguentada da vítima, etc.
durante a fase do inquérito policial (em regra, já que o inquérito, - pessoal: é uma prova surgida da vontade consciente huma-
é dispensável, podendo os elementos informativos ser produzidos na e que tem como objetivo mostrar a veracidade dos fatos asse-
em qualquer outro meio de investigação suficiente a embasar uma verados como, por exemplo, o testemunho de quem presenciou
acusação), a prova deve ser produzida à luz do contraditório e da um crime, um laudo pericial assinado por dois peritos, etc.
ampla defesa, almejando a consolidação do que antes eram meros  
indícios de autoria e materialidade delitiva, e ainda, com a finalida- c) Quanto à forma:
de imediata de auxiliar o juiz a formar sua livre convicção. - testemunhal: é a prova produzida através de declaração
Vale informar, que não poderá o juiz, nessa sua livre con- subjetiva oral e algumas vezes por escrito (art.221, §1º, CPP). Es-
vicção, se fundar exclusivamente nos elementos informativos sas provas podem ser produzidas por testemunhas, pelo próprio
colhidos durante a fase investigatória. Estes terão apenas fun- acusado (confissão) ou pelo ofendido.
ção complementar na formação do processo de convencimento - documental: é a prova originada através de documento
do magistrado. Isso significa dizer que a prova é, sim, essencial, escrito ou gravação como, por exemplo cartas, fotografias au-
para se condenar alguém. Justamente porque, a ausência de tenticadas etc.
prova é um dos motivos que pode levar à absolvição. - material: é a que consiste em qualquer materialidade que
A prova está intimamente ligada à demonstração da ver- sirva de elemento para o convencimento do juiz sobre o fato que
dade dos fatos, sendo inerente ao desempenho do direito de se está provando.
ação e de defesa. É verdadeiro direito subjetivo com vertente  
constitucional para demonstração da realidade dos fatos. Já as d) Quanto ao valor ou efeito:
normas atinentes às provas são de natureza processual, tendo - plena (perfeita ou completa): é a prova que é capaz de
aplicação imediata. Se o legislador disciplina um novo meio de conduzir o julgador à uma absoluta certeza da existência de um
prova, ou altera as normas já existentes, tais alterações terão fato.
incidência instantânea, abarcando os processos já em curso. Os - não plena (imperfeita ou incompleta): é a prova que ape-
crimes ocorridos antes da vigência da lei poderão ser demons- nas conduz à uma probabilidade da ocorrência de um evento,
trados pelos novos meios de prova. não sendo suficiente para a comprovação.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
 Meios de Prova Posto isto, fazendo uma análise em sentido contrário, fatos
Meio de prova é todo fato, documento ou alegação que pos- que não sejam notórios, que não sejam axiomáticos, que não se-
sa servir, direta ou indiretamente, à busca da verdade real den- jam desnecessários, que não sejam presunções legais, e que não
tro do processo. É o instrumento utilizado pelo juiz para formar digam respeito, como regra, necessitam ser provados.
a sua convicção acerca dos fatos alegados pelas partes.  
Em outras palavras, meio de prova é tudo aquilo que pos- “Prova nominada”, “prova inominada”, “prova típica”,
sibilita o convencimento do julgador quanto a veracidade dos “prova atípica”, e “prova irritual”. 
fatos expostos, estando ou não estes meios inseridos em lei. A “prova nominada” é aquela cujo “nomen juris” consta da
Os meios de prova podem ser tanto nominados quanto ino- lei (ex.: prova pericial).
minados. Os primeiros são estabelecidos através da lei e os úl- A “prova inominada” é aquela cujo “nomen juris” não consta
timos são moralmente legítimos. Como exemplo de meios de da lei, mas que é admitida por força do “Princípio da Liberdade
prova, existe a perícia no local em que ocorreu o delito (art.169, Probatória”.
CPP), a confissão do réu (art.197, CPP) e o depoimento do ofen- A “prova típica” é aquela cujo procedimento probatório está
dido (art.201, CPP). previsto na lei.
Sob o Princípio da Verdade Real, as investigações devem ser A “prova atípica” é aquela cujo procedimento não está pre-
feitas de forma ampla, ou seja, não havendo restrições quan- visto em lei.
to aos meios de provas, salvo nos casos previstos no parágrafo A “prova irritual” é aquela colhida sem a observância de mo-
único do art.155, CPP: “Somente quanto ao estado das pessoas delo previsto em lei. Trata-se de prova ilegítima.
serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil”.  
  Princípios relacionados à prova penal. 
“Prova cautelar”, “prova não repetível”, e “prova anteci- São eles, além do Princípio da Liberdade Probatória, já men-
pada”.  cionado anteriormente, em um rol exemplificativo:
A parte final, do caput do art. 155, CPP, se refere a estas três A) Princípio da presunção de inocência (ou princípio da pre-
provas, produzidas em regra ainda durante a fase inquisitória, as sunção de não-culpabilidade). Todos são considerados inocen-
quais poderia o juiz se utilizar para formar sua convicção. Embo-
tes, até que se prove o contrário por sentença condenatória
ra exista posicionamento que clama pela sinonímia das expres-
transitada em julgado;
sões, há se distingui-las.
B) Princípio da não autoincriminação. Ninguém é obrigado a
A “prova cautelar” é aquela em que existe risco de desapa-
produzir prova contra si mesmo. É por isso que o acusado pode
recimento do objeto da prova, em razão do decurso do tempo,
mentir, pode distorcer os fatos, pode ser manter em silêncio,
motivo pelo qual o que se pretende provar deve ser perpetuado.
e tem direito à consulta prévia e reservada com seu advogado,
O contraditório, aqui, é diferido, postergado.
como exemplos;
A “prova não repetível” é aquela que não tem como ser pro-
C) Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por
duzida novamente, em virtude do desaparecimento da fonte
meios ilícitos. São inadmissíveis no processo as provas obtidas
probatória, como o caso de um exame pericial por lesão corpo-
ral, cujos sinais de violência podem desaparecer com o tempo. de modo ilícito, assim entendidas aquelas obtidas em violação
O contraditório, aqui, é diferido, postergado. às normas constitucionais. Ou seja, o direito à prova não pode se
A “prova antecipada”, por fim, é aquela produzida com ob- sobrepor aos direitos fundamentalmente consagrados na Cons-
servância do contraditório real (ou seja, o contraditório não é tituição Federal.
diferido como nas duas hipóteses anteriores), perante a auto- “Prova ilícita” é o mesmo que “prova ilegítima”? Há quem
ridade judicial, mas em momento processual distinto daquele diga que se tratam de expressões sinônimas. Contudo, o enten-
previamente previsto pela lei (podendo sê-lo até mesmo antes dimento prevalente é o de que, apesar de espécies do gênero
do processo). O melhor exemplo é a oitiva da testemunha para “provas ilegais”, “prova ilícita” é aquela violadora de alguma
perpetuar a memória da prova, disposta no art. 225, da Lei Pro- norma constitucional (ex.: a prova obtida não respeitou a invio-
cessual Penal. labilidade de domicílio assegurada pela Constituição), enquanto
  a “prova ilegítima” é aquela violadora dos procedimentos pre-
Fatos que não precisam ser provados.  vistos para sua realização (tais procedimentos são aqueles re-
São eles: gularmente previstos no Código de Processo Penal e legislação
A) Fatos notórios. É o caso da chamada “verdade sabida” especial).
(ex.: não se precisa provar que dia vinte e cinco de dezembro é Qual será a consequência da prova ilícita/ilegítima? Sua con-
Natal, conforme o calendário cristão ocidental); sequência primeira é o desentranhamento dos autos, devendo
B) Fatos axiomáticos, intuitivos. São aqueles evidentes (ex.: esta ser inutilizada por decisão judicial (devendo as partes acom-
“X” é atingido e despedaçado por um trem. Não será preciso um panhar o incidente). Agora, uma consequência reflexa é que as
exame para se apurar que a causa da morte foi o choque com provas derivadas das ilícitas, pela “Teoria dos Frutos da Árvore
o trem); Envenenada”, importada do direito norte-americano, também
C) Presunções legais. São aquelas decorrentes da lei, valen- serão inadmissíveis, salvo se existirem como fonte independen-
do lembrar que, em se tratando de presunção relativa, contudo, te, graças à “Teoria da Fonte Independente” (considera-se fonte
admitir-se-á prova em contrário; independente aquela prova que, por si só, seguindo os trâmites
D) Fatos desnecessários ao deslindes da lide. São os “fatos típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução crimi-
inúteis” (ex.: “X” morreu de envenenamento por comida. Pouco nal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova).
importa saber se a carne estava bem ou mal passada);  
E) O direito, como regra. O direito não precisa ser provado,
salvo em se tratando de direito estadual, municipal, costumeiro,
ou estrangeiro, se assim o requerer o juiz.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ônus da prova.  § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilíci-
De acordo com o art. 156, caput, do Código de Processo Pe- tas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre
nal, a prova da alegação incumbirá a quem o fizer, embora isso umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por
não obste que o juiz, de ofício, ordene, mesmo antes de inicia- uma fonte independente das primeiras. 
da a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas § 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só,
urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação
proporcionalidade da medida (inciso I), ou determine, no curso ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da
da instrução ou antes de proferir sentença, a realização de di- prova. 
ligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante (inciso II). § 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova de-
Esse poder de atuação do juiz é também conhecido por “gestão clarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial,
da prova” (por ser o juiz, naturalmente, um “gestor da prova”). facultado às partes acompanhar o incidente.
  § 4° (VETADO)
Prova emprestada. É aquela produzida em um processo e § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada
transportada documentalmente para outro. Apesar da valia po- inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão. (Incluí-
sitiva acentuada que lhe deve ser atribuída, a prova emprestada do pela Lei nº 13.964, de 2019)
não pode virar mera medida de comodidade às partes, afinal,  
como regra, cada fato apurado numa lide depende de sua pró- Exame de Corpo de Delito e Perícias em Geral.
pria prova. O corpo de delito é, em essência, o próprio fato criminal,
Contudo, podem acontecer casos em que um determinado sobre cuja análise é realizada a perícia criminal a fim de deter-
fato já não possa mais ser apurado nos autos, embora o tenha minar fatores como autoria, temporalidade, extensão de danos,
sido devidamente em outros autos, caso em que a prova em- etc., através do exame de corpo de delito.
prestada pode se revelar um eficaz aliado na busca pela verdade Quando a infração deixar vestígios (o chamado “delito não
real. transeunte”), o exame de corpo de delito se torna indispensá-
Vale lembrar, contudo, que a prova emprestada não vem vel, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Vale lembrar,
aos autos com o “contraditório montado” do outro processo, contudo, que não sendo possível o exame de corpo de delito,
isto é, no processo recebedor terão as partes a oportunidade por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal po-
de questionar a própria validade desta bem como de tentar des- derá suprir-lhe a falta (art. 167, CPP).
qualificá-la. Muitos confundem o “corpo de delito” com o “exame de
Não se pode, ainda, dizer que a prova emprestada, por ser corpo de delito”. Explico. Dá-se o nome de “corpo de delito” ao
emprestada, valha “mais” ou “menos” que outra prova. Não há local do crime com todos os vestígios materiais deixados pela
mais, como já dito, “tarifação de provas”. A importância de uma infração penal. Trata-se dos elementos corpóreos sensíveis aos
prova será aferida casuisticamente. Assim, em que pese o res- sentidos humanos, ou seja, aquilo que se pode ver, tocar, etc.
peito a entendimento minoritário neste sentido, não parece ser Contudo, “corpo”, não diz respeito apenas a um ser humano sem
o melhor argumento defender que a prova emprestada, por si vida, mas a tudo que possa estar envolvido com o delito, como
só, não pode ser suficiente para condenar alguém. um fio de cabelo, uma mancha, uma planta, uma janela que-
brada, uma porta arrombada etc. Em outras palavras, “corpo de
TÍTULO VII delito” é o local do crime com todos os seus vestígios; “exame
DA PROVA de corpo de delito” é o laudo técnico que os peritos fazem nesse
determinado local, analisando-se todos os referidos vestígios.
CAPÍTULO I Em segundo lugar, logo ao tratar deste meio de prova es-
DISPOSIÇÕES GERAIS pécie, fica claro que a confissão do acusado, antes considerada
a “rainha das provas”, hoje não mais possui esse “status”, haja
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação vista uma ampla gama de vícios que podem maculá-la, como a
da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fun- coação e a assunção de culpa meramente para livrar alguém de
damentar sua decisão exclusivamente nos elementos informati- um processo-crime.
vos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,  
não repetíveis e antecipadas.  Corpo de delito direto e indireto.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas se- a) Corpo de delito direto: Conjunto de vestígios deixados
rão observadas as restrições estabelecidas na lei civil.  pelo fato criminoso. São os elementos materiais, perceptíveis
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sen- pelos nossos sentidos, resultante da infração penal. Esses ele-
do, porém, facultado ao juiz de ofício:  mentos sensíveis, objetivos, devem ser objetos de prova, obtida
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produ- pelos meios que o direito fornece. Os técnicos dirão da sua na-
ção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, tureza, estabelecerão o nexo entre eles e o ato ou omissão, pelo
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da qual se incrimina o acusado. O corpo de delito deve realizar-se o
medida;  mais rapidamente possível, logo que se tenha conhecimento da
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir existência do fato.
sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre O perito dará atenção a todos os elementos, que se vincu-
ponto relevante.  lem ao fato principal, sobretudo o que possa influir na aplicação
  da pena.
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em vio-
lação a normas constitucionais ou legais. 

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
b) Corpo de delito indireto: Quando o corpo de delito se Durante o curso de processo judicial, é permitido às partes,
torna impossível, admite-se a prova testemunhal, por haverem quanto à perícia: requer a oitiva dos peritos para esclarecerem a
desaparecido os elementos materiais. Essa substituição do exa- prova ou responder a quesitos, desde que o mandado de intima-
me objetivo pela prova testemunhal, subjetiva, é indevida, pois ção e os quesitos ou questões a serem esclarecidos sejam enca-
não há corpo, embora haja o delito. Cabe ressaltar que o exame minhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo
indireto somente deve ser realizado caso não seja possível à rea- apresentar as respostas em laudo complementar. 
lização do exame direto. A atuação do perito far-se-á em qualquer fase do processo
Segundo legislação específica, o exame de corpo de delito ou mesmo após a sentença, em situações especiais. Sua função
poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora. não termina com a reprodução de sua análise, mas se continua
  além dessa apreciação, por meio do juízo de valor sobre os fa-
Perícia Criminal tos, o que se torna o diferencial da função de testemunha. Ou
A perícia criminal é uma atividade técnico-científica previs- seja, a diferença entre testemunha e perito é que a primeira é
ta no Código de Processo Penal, indispensável para elucidação solicitada porque já tem conhecimento do fato e o segundo para
de crimes quando houver vestígios. A atividade é realizada por que conheça e explique os fundamentos da questão discutida,
meio da ciência forense, responsável por auxiliar na produção por meio de uma análise técnica científica.
do exame pericial e na interpretação correta de vestígios. Os A autoridade que preside o inquérito poderá nomear, nas
peritos desenvolvem suas atribuições no atendimento das re- causas criminais, dois peritos. Em se tratando de peritos não ofi-
quisições de perícias provenientes de delegados, procuradores e ciais, assinarão estes um termo de compromisso cuja aceitação
juízes inerentes a inquéritos policiais e a processos penais. A pe- é obrigatória com um “compromisso formal de bem e fielmente
rícia criminal, ou criminalística, é baseada nas seguintes ciências desempenharem a sua missão, declarando como verdadeiro o
forenses: química, biologia, geologia, engenharia, física, medici- que encontrarem e descobrirem e o que em suas consciências
na, toxicologia, odontologia, documentoscopia, entre outras, as entenderam”. 
quais estão em constante evolução. Os peritos terão um prazo máximo de 10 (dez) dias para ela-
A perícia requisitada pela Autoridade Policial, Ministério boração do laudo pericial, podendo este prazo ser prorrogado,
Público e Judiciário, é a base decisória que direciona a inves- em casos excepcionais, a requerimento dos peritos, conforme
tigação policial e o processo criminal. Como já mencionado, a dispõe o parágrafo único do artigo 160 do Código de Processo
prova pericial é indispensável nos crimes que deixam vestígio, Penal. Apenas em casos de suspeição comprovada ou de impedi-
não podendo ser dispensada sequer quando o criminoso confes- mento previsto em lei é que se eximem os peritos da aceitação. 
sa a prática do delito. A perícia é uma modalidade de prova que
requer conhecimentos especializados para a sua produção, rela- Atividades Desenvolvidas
tivamente à pessoa física, viva ou morta, implicando na aprecia- As atividades desenvolvidas pelos peritos são de grande
ção, interpretação e descrição escrita de fatos ou de circunstân- complexidade e de natureza especializada, tendo por objeto
cias, de presumível ou de evidente interesse judiciário. executar com exclusividade os exames de corpo de delito e to-
O conjunto dos elementos materiais relacionados com a in- das as perícias criminais necessárias à instrução processual pe-
fração penal, devidamente estudados por profissionais especia- nal, nos termos das normas constitucionais e legais em vigor,
lizados, permite provar a ocorrência de um crime, determinan- exercendo suas atribuições nos setores periciais de: Acidentes
do de que forma este ocorreu e, quando possível e necessário, de Trânsito, Auditoria Forense, Balística Forense, Documen-
identificando todas as partes envolvidas, tais como a vítima, o toscopia, Engenharia Legal, Perícias Especiais, Fonética Foren-
criminoso e outras pessoas que possam de alguma forma ter re- se, Identificação Veicular, Informática, Local de Crime Contra
lação com o crime, assim como o meio pelo qual se perpetrou o a Pessoa, Local de Crime Contra o Patrimônio, Meio Ambiente,
crime, com a determinação do tipo de ferramenta ou arma utili- Multimídia, Papiloscopia, dentre outros. A função mais relevan-
zada no delito. Apesar de o laudo pericial não ser a única prova, te do Perito Criminal é a busca da verdade material com base
e entre as provas não haver hierarquia, ocorre que, na prática, a exclusivamente na técnica. Não cabe ao Perito Criminal acusar
prova pericial acaba tendo prevalência sobre as demais. Isto se ou suspeitar, mas apenas examinar os fatos e elucidá-los. Des-
dá pela imparcialidade e objetividade da prova técnico-científi- ventrar todos os aspectos inerentes aos elementos investigados,
ca enquanto que as chamadas provas subjetivas dependam do do ponto exclusivamente técnico.
testemunho ou interpretação de pessoas, podendo ocorrer uma
série de erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em Responsabilidades Civil e Penal do Perito
relatar determinado fato, até o emprego de má-fé, onde exista a Aos peritos oficiais ou inoficiais são exigidas obrigações de
intenção de distorcer os fatos. ordem legal e a ilicitude de suas atividades caracteriza-se como
violação a um dever jurídico, algumas delas com possíveis re-
Perito  percussões a danos causados a terceiros. Em tese, pode-se di-
Com relação aos peritos importante trazer ao estudo o que zer que os peritos na área civil são considerados auxiliares da
prevê o Código de Processo Penal em seu artigo 159, vejamos: justiça, enquanto na perícia criminal são os servidores públicos.
“O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados Quanto ao fiel cumprimento do dever de ofício, os primeiros
por perito oficial, portador de diploma de curso superior”. Na prestam compromissos a cada vez que são designados pelo juiz
falta de perito oficial, o exame será realizado por duas pessoas e, os segundos, o compromisso está implícito com a posse no
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencial- cargo público, a não ser nos casos dos chamados peritos nomea-
mente na área especifica, dentre as que tiveram habilitação téc- dos ad hoc.
nica relacionada com a natureza do exame. Estes prestarão o
compromisso de e finalmente desempenhar o cargo.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Laudo pericial.  Incêndio.
O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar
dias, podendo este prazo ser prorrogado em casos excepcionais em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para
a requerimento dos peritos. No laudo pericial, os peritos descre- a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu
verão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação
eventuais quesitos formulados. Tratando-se de perícia comple- do fato (art. 173, CPP);
xa, isto é, aquela que abranja mais de uma área de conhecimen-
to especializado, será possível designar a atuação de mais de um Exame para reconhecimento de escritos. 
perito oficial, bem como à parte será facultada a indicação de Deve-se observar, de acordo com o art. 174, da Lei Adjetiva,
mais de um assistente técnico; o seguinte: a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o es-
  crito será intimada para o ato (se for encontrada) (inciso I); para
Autópsia.  a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita
A autópsia será feita no cadáver pelo menos seis horas após pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconheci-
o óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, dos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que deverão dúvida (inciso II); a autoridade, quando necessário, requisitará,
declarar no auto (art. 162, caput, CPP). No caso de morte vio- para o exame, os documentos que existirem em arquivos ou es-
lenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não tabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí
houver infração penal que apurar ou quando as lesões externas não puderem ser retirados (inciso III); quando não houver es-
permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade critos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a
de exame interno para a verificação de alguma circunstância re- autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado,
levante (art. 162, parágrafo único, CPP); valendo lembrar que, se estiver ausente a pessoa, mas em lugar
  certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em
Exumação de cadáver.  que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a es-
Em caso de exumação de cadáver, a autoridade providen- crever (inciso IV);
ciará que, em dia e hora previamente marcados, se realize a dili- Importante, ressaltar, que o juiz não fica adstrito ao laudo,
gência, da qual se lavrará auto circunstanciado (art. 163, caput, podendo rejeitá-lo no todo ou em parte (art. 182, CPP).
CPP). Neste caso, o administrador do cemitério público/parti-  
cular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. CAPÍTULO II
Agora, havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, DO EXAME DE CORPO DE DELITO, DA CADEIA DE
se procederá ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação CUSTÓDIA E DAS PERÍCIAS EM GERAL
e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de tes- (REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 13.964, DE 2019)
temunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identida-  
de, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indi- Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispen-
cações (art. 166, CPP); sável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não poden-
  do supri-lo a confissão do acusado.
Fotografia dos cadáveres.  Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame
Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: (Incluí-
forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as do pela Lei nº 13.721, de 2018)
lesões externas e vestígios deixados no local do crime (art. 164, I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído
CPP). Para representar as lesões encontradas no cadáver, os pe- pela Lei nº 13.721, de 2018)
ritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas foto- II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa
gráficas, esquemas ou desenhos, todos devidamente rubricados com deficiência. (Incluído pela Lei nº 13.721, de 2018) 
(art. 165, CPP);
  Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de
Crimes cometidos com destruição/rompimento de obstácu- todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a
lo à subtração da coisa.  história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas
Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os pe- reconhecimento até o descarte. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
ritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instru- 2019)
mentos, por quais meios e em que época presumem ter sido o § 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação
fato praticado (art. 171, CPP); do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos
  quais seja detectada a existência de vestígio. (Incluído pela Lei
Material guardado em laboratório para nova perícia.  nº 13.964, de 2019)
Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material § 2º O agente público que reconhecer um elemento como de
suficiente para a eventualidade de nova perícia. Ademais, sem- potencial interesse para a produção da prova pericial fica res-
pre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas ponsável por sua preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
fotográficas, provas microfotográficas, desenhos ou esquemas 2019)
(art. 170, CPP); § 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou la-
tente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração pe-
nal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamen- § 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a
to do vestígio nas seguintes etapas: (Incluído pela Lei nº 13.964, remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da li-
de 2019) beração por parte do perito responsável, sendo tipificada como
I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de fraude processual a sua realização.  (Incluído pela Lei nº 13.964,
potencial interesse para a produção da prova pericial; (Incluído de 2019)
pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coi- Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio
sas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e será determinado pela natureza do material. (Incluído pela Lei
relacionado aos vestígios e local de crime; (Incluído pela Lei nº nº 13.964, de 2019)
13.964, de 2019) § 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres,
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabi-
encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posi- lidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. (Incluído
ção na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, pela Lei nº 13.964, de 2019)
filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no lau- § 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar
do pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento; suas características, impedir contaminação e vazamento, ter
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) grau de resistência adequado e espaço para registro de informa-
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido ções sobre seu conteúdo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
à análise pericial, respeitando suas características e natureza; § 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) proceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada § 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar
vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acor- na ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula
do com suas características físicas, químicas e biológicas, para do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as infor-
posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem mações referentes ao novo lacre utilizado. (Incluído pela Lei nº
realizou a coleta e o acondicionamento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
13.964, de 2019) § 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para do novo recipiente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veícu-
los, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manuten- Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter
ção de suas características originais, bem como o controle de uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestí-
sua posse; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) gios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão cen-
VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do tral de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº
vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informa- 13.964, de 2019)
ções referentes ao número de procedimento e unidade de polícia § 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de
judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transpor- protocolo, com local para conferência, recepção, devolução de
tou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação
do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o re- e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e
cebeu; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) apresentar condições ambientais que não interfiram nas carac-
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do terísticas do vestígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas carac- § 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio
terísticas biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resul- deverão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a
tado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido ocorrência no inquérito que a eles se relacionam. (Incluído pela
por perito; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Lei nº 13.964, de 2019)
IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em § 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio ar-
condições adequadas, do material a ser processado, guardado mazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a
para realização de contraperícia, descartado ou transportado, data e a hora do acesso. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
com vinculação ao número do laudo correspondente; (Incluído § 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, to-
pela Lei nº 13.964, de 2019) das as ações deverão ser registradas, consignando-se a identi-
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, ficação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e
respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante horário da ação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada pre- ser devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer.
ferencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
necessário para a central de custódia, mesmo quando for neces- Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua es-
sária a realização de exames complementares. (Incluído pela Lei paço ou condições de armazenar determinado material, deverá
nº 13.964, de 2019) a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de
§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou depósito do referido material em local diverso, mediante reque-
processo devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando rimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza
órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
por detalhar a forma do seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias se- tura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a
rão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso inumações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o
superior.  que tudo constará do auto.
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2  
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posi-
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem ha- ção em que forem encontrados, bem como, na medida do pos-
bilitação técnica relacionada com a natureza do exame.  sível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem crime. 
e fielmente desempenhar o encargo.   
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver,
acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formula- os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas
ção de quesitos e indicação de assistente técnico.  fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão  
pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver
pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.  exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às par- Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela in-
tes, quanto à perícia:  quirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os
ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de inti- sinais e indicações.
mação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam en- Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e au-
caminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo tenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis
apresentar as respostas em laudo complementar;  para a identificação do cadáver.
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pa-  
receres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em au- Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por
diência.  haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá
§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probató- suprir-lhe a falta.
rio que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente  
do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame
de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for im- pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame comple-
possível a sua conservação.  mentar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de
§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou
uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a do acusado, ou de seu defensor.
atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de § 1o No exame complementar, os peritos terão presente o
um assistente técnico.  auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou re-
  tificá-lo.
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde des- § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do deli-
creverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos to no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que
quesitos formulados.  decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo § 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela
máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em ca- prova testemunhal.
sos excepcionais, a requerimento dos peritos.   
  Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido
Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente
qualquer dia e a qualquer hora. para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos
  peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, dese-
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois nhos ou esquemas elucidativos. 
do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alte-
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que decla- rações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as conse-
rarão no auto. quências dessas alterações na dinâmica dos fatos. 
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o  
simples exame externo do cadáver, quando não houver infração Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão
penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem pre- material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sem-
cisar a causa da morte e não houver necessidade de exame inter- pre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas foto-
no para a verificação de alguma circunstância relevante. gráficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.
   
Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompi-
autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente mento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escala-
marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circuns- da, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que
tanciado. instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido
Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou o fato praticado.
particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobe-  
diência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepul-

33
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de  Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no
coisas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade
crime. judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou es-
Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos clarecer o laudo. 
procederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que
autos e dos que resultarem de diligências. se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conve-
  niente.
Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa  
e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver re- Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-
sultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do -lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem  
à elucidação do fato. Art. 183. Nos crimes em que não couber ação pública, obser-
  var-se-á o disposto no art. 19.
Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por  
comparação de letra, observar-se-á o seguinte: Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes,
será intimada para o ato, se for encontrada; quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documen-
tos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmen- Do Interrogatório do Acusado e da Confissão 
te reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade Interrogatório do acusado. Consiste o interrogatório em
não houver dúvida; meio de defesa do acusado (em outros tempos, já houve di-
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o vergência se consistiria o interrogatório em meio de defesa ou
exame, os documentos que existirem em arquivos ou estabele- mero meio de prova). Disso infere-se que é facultado ao acusado
cimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não ficar em silêncio, mentir, ser acompanhado por seu advogado,
puderem ser retirados; deixar de responder às perguntas que lhe forem feitas etc.
IV - quando não houver escritos para a comparação ou fo- A) Características. Trata-se de ato personalíssimo (não pode
rem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pes-
ser realizado por interposta pessoa); de ato público (em regra);
soa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa,
assistido tecnicamente por advogado (lembrando que é meio de
mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por
defesa); e bifásico (sobre as duas fases melhor se falará a se-
precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será
guir);
intimada a escrever.
B) “Interrogatório por videoconferência”. Esta é inovação
 
prevista pela Lei nº 11.900/2009, apesar de parte minoritária da
Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos emprega-
doutrina ainda sustentar a inconstitucionalidade desta forma de
dos para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar a natu-
interrogatório.
reza e a eficiência.
 
Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos Sua realização é excepcional. Ele somente será utilizado se
até o ato da diligência. para prevenir risco à segurança pública, quando exista funda-
  da suspeita de que o preso integra organização criminosa ou de
que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; se
Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos para viabilizar a participação do réu neste ato processual, quan-
far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de ação do haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juí-
privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo zo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; ou se para
juiz deprecante. impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da víti-
Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão ma, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
transcritos na precatória. videoconferência; se for necessário por questão de gravíssima
  utilidade pública.
Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado pela Ademais, sua determinação é feita pelo juiz, por decisão
autoridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o fundamentada, tomada de ofício ou a requerimento das partes.
laudo assinado pelos peritos. Ainda, da decisão que determinar a realização do interrogatório
  por videoconferência, as partes deverão ser intimadas com, no
Art. 179. No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará o mínimo, dez dias de antecedência.
auto respectivo, que será assinado pelos peritos e, se presente Também, antes do interrogatório por videoconferência, o
ao exame, também pela autoridade. preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema, a realização de
Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único, o lau- todos os atos da audiência única de instrução e julgamento.
do, que poderá ser datilografado, será subscrito e rubricado em Por fim, o juiz garantirá o direito de entrevista prévia e re-
suas folhas por todos os peritos. servada do réu com seu defensor (como ocorre em qualquer
  modalidade de interrogatório judicial);
Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão con- C) Fases do interrogatório. São duas fases (procedimento
signadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de bifásico, como dito alhures), a saber, sobre a pessoa do acusa-
outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a auto- do (o interrogando será perguntado sobre a residência, meios
ridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autori- de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a
dade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos. sua atividade, vida pregressa, se foi preso ou processado alguma

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
vez, se houver suspensão condicional ou condenação e qual foi o réu confessa agregando fatos novos e modificativos que até
a pena imposta caso o indivíduo tenha sido processado, obvia- então não eram sabidos, ou, ainda que sabidos, não eram com-
mente); e sobre os fatos (será perguntado ao interrogando se provados por outros meios);
é verdadeira a acusação que lhe é feita, onde estava ao tempo E) Características da confissão. A confissão é: divisível (pode
em que foi cometida a infração e se teve notícia desta, sobre ser que o indivíduo confesse apenas uma parte dos crimes. Nada
as provas já apuradas, se conhece as vítimas e testemunhas já obsta que a parte não confessada também tenha sido pratica-
inquiridas ou por inquirir, se conhece o instrumento com que da por este acusado. Neste caso, os outros elementos de prova
foi praticada a infração ou qualquer objeto que com esta se re- serão fundamentais para a descoberta da autoria (ou não) da
lacione e tenha sido apreendido, e, se não sendo verdadeira a parte não confessada); e retratável (admite-se “voltar atrás”
acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-la e se na confissão. Isso não representa empecilho a que o indivíduo
conhece, então, quem teria sido o autor da infração, se tem algo seja condenado mesmo tendo se retratado da confissão, caso
mais a alegar em sua defesa etc.); o conjunto probatório aponte que foi o acusado, de fato, quem
D) Pluralidade de acusados. Havendo mais de um acusado, praticou a infração).
serão interrogados separadamente (art. 191, CPP);  
E) Interrogatório do surdo-mudo. Ao surdo serão apresen- CAPÍTULO III
tadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO
ao mudo, as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as  
por escrito; ao surdo-mudo, as perguntas serão formuladas por Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade
escrito e do mesmo modo dará a resposta (art. 192, CPP); judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e inter-
F) Interrogando analfabeto (total ou parcialmente). Caso o rogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. 
interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como § 1o O interrogatório do réu preso será realizado, em sala
intérprete e sob compromisso, a pessoa habilitada a entendê-lo própria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que
(art. 192, parágrafo único, CPP); estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministé-
G) Interrogando que não fala a língua nacional. Se o interro- rio Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e
gando não falar a língua nacional, sua oitiva será feita por meio a publicidade do ato. 
de intérprete (art. 193, CPP); § 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada,
H) Reinterrogatório. A todo tempo, o juiz poderá proceder de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o inter-
a novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de rogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro
qualquer das partes (art. 196, CPP). recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo
real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das
seguintes finalidades: 
Confissão. 
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista funda-
A confissão, como qualquer outro meio de prova, destina-se
da suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de
à apuração da verdade dos fatos.
que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; 
Se o interrogando confessar a autoria, será perguntado so-
II - viabilizar a participação do réu no referido ato proces-
bre os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas con-
sual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimen-
correram para a infração.
to em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; 
A) Confissão e seu valor relativo. Não se pode dizer que a
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou
confissão seja algo absoluto. O valor da confissão se aferirá pe-
da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento des-
los critérios adotados para outros elementos de prova, e para
tas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; 
sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. 
do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibili- § 3o Da decisão que determinar a realização de interrogató-
dade ou concordância. Pode ser, por exemplo, que a confissão rio por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez)
esteja ocorrendo sob coação, ou mesmo para acobertar a real dias de antecedência. 
autoria do delito. Logo, hoje não há mais se falar na confissão § 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o preso
como “rainha das provas”, como era no sistema inquisitorial; poderá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realiza-
ção de todos os atos da audiência única de instrução e julgamen-
B) Silêncio do acusado. O silêncio do acusado não importará to de que tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código. 
confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do
convencimento do juiz, conforme consta do art. 198, da Lei Ad- § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garan-
jetiva Penal. Desta maneira, se o acusado se manter em silêncio, tirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu
não se presumirão verdadeiros os fato alegados contra ele como defensor; se realizado por videoconferência, fica também garan-
é possível de acontecer no processo civil. Entretanto, quando da tido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação
formação de seu convencimento, autoriza-se que a autoridade entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente
judicial utilize tal silêncio como mais um (e não como item exclu- na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso. 
sivo) dos elementos em prol da sua convicção; § 6o A sala reservada no estabelecimento prisional para a
C) Formas de confissão. A confissão pode ser tanto judicial realização de atos processuais por sistema de videoconferência
como extrajudicial. Se feita extrajudicialmente, deverá ser to- será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa,
mada por termo nos autos; como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advo-
D) Espécies de confissão. A confissão pode ser simples (quan- gados do Brasil. 
do o confidente simplesmente confessa, sem agregar ou modi- § 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo
ficar informações constantes dos autos); complexa (quando o nas hipóteses em que o interrogatório não se realizar na forma
réu reconhece vários fatos criminosos); ou qualificada (quando prevista nos §§ 1o e 2o deste artigo. 

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 8o Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste arti- Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-
go, no que couber, à realização de outros atos processuais que -mudo será feito pela forma seguinte: 
dependam da participação de pessoa que esteja presa, como I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas,
acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de que ele responderá oralmente; 
testemunha ou tomada de declarações do ofendido.  II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respon-
§ 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acom-dendo-as por escrito; 
panhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor.  III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escri-
§ 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre to e do mesmo modo dará as respostas. 
a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escre-
deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos ver, intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela habilitada a entendê-lo. 
Lei nº 13.257, de 2016)  
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional,
Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado o interrogatório será feito por meio de intérprete. 
do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz,  
antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não puder ou
calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas.  não quiser assinar, tal fato será consignado no termo. 
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confis-  
são, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.  Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo inter-
  rogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das
Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: partes. 
sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos. 
§ 1o Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre CAPÍTULO IV
a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, DA CONFISSÃO
lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamen-  
te se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmati- Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios ado-
vo, qual o juízo do processo, se houve suspensão condicional ou tados para os outros elementos de prova, e para a sua apre-
ciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do pro-
condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados
cesso, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou
familiares e sociais. 
concordância.
§ 2 Na segunda parte será perguntado sobre: 
o
 
I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita; 
Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão,
II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum moti-
mas poderá constituir elemento para a formação do convenci-
vo particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas
mento do juiz.
a quem deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e
 
se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela; 
Art. 199. A confissão, quando feita fora do interrogatório, será
III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e
tomada por termo nos autos, observado o disposto no art. 195.
se teve notícia desta;   
IV - as provas já apuradas;  Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo
V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas
inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas;  em conjunto.
VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infra-
ção, ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido Qualificação e Oitiva do Ofendido
apreendido;   O “ofendido” é o titular do direito lesado ou posto em pe-
VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à rigo. É a vítima, e, como tal, suas declarações correspondem à
elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração;  versão que lhe cabe dos fatos, tendo, consequencialmente, na-
VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.  tureza probatória.
  Conforme o art. 201, caput, do Código de Processo Penal,
Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará sempre que possível o ofendido será qualificado e perguntado
das partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser
as perguntas correspondentes se o entender pertinente e rele- o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo
vante.  suas declarações.
  A) Ofendido que, intimado, deixa de comparecer sem justo
Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em motivo. Se, intimado, deixa o ofendido de comparecer sem justo
parte, poderá prestar esclarecimentos e indicar provas.  motivo, poderá ele ser conduzido à autoridade judicial mediante
 Art. 190. Se confessar a autoria, será perguntado sobre os auxílio das autoridades policiais;
motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorre- B) Dever de comunicação ao ofendido. O ofendido será co-
ram para a infração, e quais sejam.  municado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sen-
Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados tença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem
separadamente.  (art. 201, §2º, CPP). As comunicações ao ofendido deverão ser
  feitas no endereço por ele indicado, admitindo-se, por sua op-
ção, o uso de meio eletrônico (art. 201, §3º, CPP);

36
DIREITO PROCESSUAL PENAL
C) Direitos do ofendido. Antes do início da audiência, bem Os informantes são aquelas pessoas que não prestam com-
como durante sua realização, será reservado espaço separado promisso e têm o valor de seu depoimento, exatamente por
para o ofendido (art. 201, §4º, CPP). Ademais, se entender ne- isso, bastante reduzido.
cessário, poderá o juiz encaminhar o ofendido para atendimento As referidas são ouvidas por juiz após outros que depuseram
multidisciplinar, a expensas do ofensor ou do Estado (art. 201, antes delas a elas fazerem menção.
§5º, CPP). Por fim, o juiz deverá tomar as providências necessá- As próprias são as que depõem sobre o fato objeto do litígio.
rias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem As impróprias são a que prestam depoimento sobre um ato
do ofendido, podendo, inclusive, determinar segredo de justiça do processo, como o interrogatório, por exemplo.
em relação aos dados, depoimentos e outras informações cons- As diretas são as que prestam depoimento sobre um fato
tantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos que presenciaram
meios de comunicação (art. 201, §6º, CPP). As indiretas são as que prestam o depoimento de fatos que
ouviram dizer por palavras de outros.
CAPÍTULO V As “de antecedentes” são aquelas que prestam informações
DO OFENDIDO relevantes quanto à dosagem e aplicação da pena, por se referi-
rem, primordialmente, a condições pessoais do acusado;
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado B) Pessoas que podem ser testemunha. Qualquer pessoa
e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou pode ser testemunha, como regra. O depoimento será presta-
presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando- do oralmente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por
-se por termo as suas declarações.  escrito. Não se vedará a testemunha, contudo, acesso a meros
§ 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem breves apontamentos para que não se esqueça de nada;
motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da au- C) Pessoas que podem se recusar a depor. O ascendente, o
toridade.  descendente, o afim em linha reta, o cônjuge e o convivente, o
§ 2o O ofendido será comunicado dos atos processuais rela- irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado não estão
tivos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação obrigados a depor, salvo se não for possível, por outro modo,
de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que obter-se a prova do fato e de suas circunstâncias (art. 206, CPP);
a mantenham ou modifiquem.  D) Pessoas que estão proibidas de depor. As pessoas que, em
§ 3o As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no en- razão de função, ministério, ofício ou profissão, devem guardar
dereço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o segredo, estão proibidas de depor, salvo se, desobrigadas pela
uso de meio eletrônico.  parte interessada, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP);
§ 4o Antes do início da audiência e durante a sua realização, E) Pessoas que não serão compromissadas ao prestar teste-
será reservado espaço separado para o ofendido.  munho. É o caso dos doentes e deficientes mentais; dos meno-
§ 5o Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o res de quatorze anos; e do ascendente, descendente, afim em
ofendido para atendimento multidisciplinar, especialmente nas linha reta, cônjuge e convivente, irmão e pai, mãe, ou filho ado-
áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas tivo do acusado (art. 208, CPP);
do ofensor ou do Estado. F) Modo de inquirição das testemunhas. As testemunhas se-
§ 6o O juiz tomará as providências necessárias à preservação rão ouvidas individualmente, de modo que uma não saiba do
da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, po- que foi falado pela outra (art. 210, caput, primeira parte, CPP).
dendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos O juiz deve advertir sobre a possibilidade de incurso no crime de
dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos falso testemunho (art. 210, caput, parte final, CPP). As pergun-
a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comuni- tas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha,
cação.  não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta,
não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de
Testemunhas outra já repetida.
 É a pessoa sem qualquer interesse no deslinde da lide pro- G) Inquirição de pessoas impossibilitadas por enfermidade
cessual penal, que apenas relata à autoridade judicial sua per- ou velhice. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por
cepção sobre os fatos, em face do que viu, ouviu ou sentiu (ela velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde esti-
utiliza-se, veja, de sua percepção sensorial). verem (art. 220, CPP);
Consoante o disposto no art. 203, do Código de Processo H) Testemunha que não conhecer a língua nacional. Quando
Penal, a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de a testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado in-
dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo térprete para traduzir as perguntas e respostas (art. 223, caput,
declarar seu nome, sua idade, seu estado, sua residência, sua CPP);
profissão, lugar onde exerce a atividade, se é parente de alguma I) Testemunha surda-muda. Tratando-se de surdo, mudo, ou
das partes e em que grau, bem como relatar o que souber. surdo-mudo, proceder-se-á tal como no interrogatório do acusa-
A) Espécies de testemunhas. Há se distinguir as testemunhas do para estas situações (art. 223, parágrafo único, CPP);
numerárias, das extranumerárias, dos informantes, das referi- J) Testemunha que deixa de comparecer sem justo motivo.
das, das próprias, das impróprias, das diretas, das indiretas, e Se, regularmente intimada, a testemunha deixa de comparecer
das “de antecedentes”. sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade po-
As numerárias são aquelas arroladas pelas partes de acordo licial a sua apresentação ou determinar que seja conduzida por
com o número máximo previsto em lei. oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio de força pública
As extranumerárias são as ouvidas por iniciativa do juiz após (art. 218, CPP);
serem compromissadas.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
K) Presença do réu na produção da prova testemunhal. Se o  CAPÍTULO VI
juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, DAS TESTEMUNHAS
temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendi-  
do, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha.
inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade  
dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na in- Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a pro-
quirição, com a presença do seu defensor (art. 217, caput, CPP); messa de dizer a verdade do que souber e Ihe for perguntado,
L) Oitiva do Presidente da República, do Vice-Presidente da devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residên-
República, dos Senadores, dos Deputados Federais, dos Minis- cia, sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente,
tros de Estado, dos Governadores de Estados e Territórios, dos e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações
Secretários de Estado, dos Prefeitos Municipais, dos Deputados com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando sempre
Estaduais, dos membros do Poder Judiciário, dos membros do as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa
Ministério Público, dos Ministros dos Tribunais de Contas da avaliar-se de sua credibilidade.
União, dos Estados e do Distrito Federal. Estes serão inquiridos  
em local, dia e hora previamente designados pelo juiz (art. 221, Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo
caput, CPP). Ademais, o Presidente da República, o Vice-Presi- permitido à testemunha trazê-lo por escrito.
dente da República, o Presidente do Senado, o Presidente da Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entretan-
Câmara dos Deputados, e o Ministro Presidente do Supremo to, breve consulta a apontamentos.
Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento  
por escrito, caso em que as perguntas formuladas pelas partes Art. 205. Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemu-
e deferidas pelo juiz lhe serão transmitidas por ofício (art. 221, nha, o juiz procederá à verificação pelos meios ao seu alcance,
§1º, CPP); podendo, entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo.
M) Oitiva dos militares. Os militares serão requisitados jun-  
to à sua autoridade superior (art. 221, §2º, CPP); Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação
N) Oitiva dos funcionários públicos. A expedição do manda-
de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente
do deve ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição
ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que des-
em que servirem, com indicação do dia e da hora marcados (art.
quitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado,
221, §3º, CPP);
salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou inte-
O) Oitiva por carta precatória. A testemunha que morar fora
grar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.
da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua re-
 
sidência, mediante carta precatória (que não suspenderá a ins-
Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão
trução criminal), intimadas as partes (art. 222, caput, CPP). Vale
de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segre-
lembrar que, aqui, também é prevista a possibilidade de oitiva
do, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
da testemunha por videoconferência ou outro recurso tecnoló-
gico de transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida o seu testemunho.
a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, du-  
rante a realização da audiência de instrução e julgamento (art. Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art.
222, §3º, CPP); 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (qua-
P) Oitiva por carta rogatória. Aplica-se à carta rogatória o torze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.
que se acabou de falar da carta precatória, respeitando-se a  
particularidade de que as cartas rogatórias somente serão ex- Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir ou-
pedidas se demonstrada previamente sua imprescindibilidade, tras testemunhas, além das indicadas pelas partes.
arcando a parte requerente com os cursos do envio (art. 222-A, § 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas
CPP); a que as testemunhas se referirem.
Q) Prova testemunhal “para perpetuar a memória da pro- § 2o Não será computada como testemunha a pessoa que
va”. É aquela prevista no art. 225, do Código de Processo Penal, nada souber que interesse à decisão da causa.
segundo o qual, se qualquer testemunha houver de ausentar-se,  
ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per
tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofí- si, de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos
cio ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhes ante- das outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao
cipadamente o depoimento. falso testemunho. 
R) Número de testemunhas. No procedimento comum ordi- Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a
nário, este número é de oito no máximo para cada parte (art. sua realização, serão reservados espaços separados para a ga-
401, CPP); no procedimento comum sumário, esse número é de rantia da incomunicabilidade das testemunhas. 
no máximo cinco para cada parte (art. 532, CPP); no procedi- Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer
mento sumaríssimo, três é o número máximo de testemunhas que alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a
de cada parte; e no plenário do júri o número máximo é de cinco verdade, remeterá cópia do depoimento à autoridade policial
testemunhas para cada parte (art. 422, CPP). Vale lembrar, ain- para a instauração de inquérito.
da, que de acordo com o segundo parágrafo, do art. 209, CPP, Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em ple-
não será computada como testemunha a pessoa que nada sou- nário de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão na au-
ber que interesse à decisão da causa. Também não entrarão nes- diência (art. 538, § 2o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de
sa contagem o mero informante e a mera testemunha referida sentença, após a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar
(art. 401, §1º, CPP). imediatamente a testemunha à autoridade policial.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
 Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes di- § 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os pre-
retamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que pu- sidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Su-
derem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou premo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoi-
importarem na repetição de outra já respondida.  mento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz po- partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício. 
derá complementar a inquirição.  § 2o Os militares deverão ser requisitados à autoridade su-
  perior. 
Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste § 3o Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art.
suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narra- 218, devendo, porém, a expedição do mandado ser imediata-
tiva do fato. mente comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com
  indicação do dia e da hora marcados. 
Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão  
contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz
que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se,
fará consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemu- para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas
nha, mas só excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compro- as partes.
misso nos casos previstos nos arts. 207 e 208. § 1o A expedição da precatória não suspenderá a instrução
  criminal.
Art. 215. Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, § 2o Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamen-
tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, to, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será
reproduzindo fielmente as suas frases. junta aos autos.
   § 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de
Art. 216. O depoimento da testemunha será reduzido a ter- testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência
mo, assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a testemunha ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens
não souber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser
faça por ela, depois de lido na presença de ambos. realizada, inclusive, durante a realização da audiência de instru-
  ção e julgamento. 
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá  
causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à teste- Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se de-
munha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do monstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a
depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente parte requerente com os custos de envio. 
na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto
prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor.  nos §§ 1o e 2o do art. 222 deste Código. 
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previs-  
tas no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como Art. 223. Quando a testemunha não conhecer a língua na-
os motivos que a determinaram.  cional, será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e
  respostas.
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar Parágrafo único. Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mu-
de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar do, proceder-se-á na conformidade do art. 192.
à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja  
conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um
força pública. ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela sim-
  ples omissão, às penas do não-comparecimento.
Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa  
prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se,
de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da di- ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao
ligência.  tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício
  ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipa-
Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou damente o depoimento.
por velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde  
estiverem. Do Reconhecimento
   O reconhecimento de pessoas/coisas é o ato pelo qual al-
Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os guém verifica e confirma (ou nega) a identidade de pessoa ou
senadores e deputados federais, os ministros de Estado, os go- coisa que lhe é mostrada.
vernadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os De acordo com o art. 226, CPP, o itinerário do “reconheci-
prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às mento” é o seguinte: a pessoa que tiver de fazer o reconheci-
Assembleias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judi- mento será convidada a descrever a pessoa/coisa que deva ser
ciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, reconhecida (inciso I); a pessoa/coisa cujo reconhecimento se
dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marí- pretender será colocada, se possível, ao lado de outras pessoas/
timo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados coisas que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-
entre eles e o juiz.  -se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la (inciso
II); se houver razão para recear que a pessoa chamada para o

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, Parágrafo único. Os acareados serão reperguntados, para
não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconheci- que expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo
da, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela o ato de acareação.
(inciso III) (de acordo com o parágrafo único, do art. 226, CPP, o  
disposto neste inciso não terá aplicação na fase da instrução cri- Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações
minal ou em plenário de julgamento); do ato de reconhecimento divirjam das de outra, que esteja presente, a esta se darão a
se lavrará auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela conhecer os pontos da divergência, consignando-se no auto o
pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas que explicar ou observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-
testemunhas presenciais (inciso IV). -á precatória à autoridade do lugar onde resida a testemunha
Vale lembrar, por fim, que se várias forem as pessoas cha- ausente, transcrevendo-se as declarações desta e as da testemu-
madas a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada nha presente, nos pontos em que divergirem, bem como o texto
uma fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunica- do referido auto, a fim de que se complete a diligência, ouvindo-
ção entre elas (art. 228, CPP). -se a testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida para
  a testemunha presente. Esta diligência só se realizará quando
CAPÍTULO VII não importe demora prejudicial ao processo e o juiz a entenda
DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS conveniente.
 
Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhe- Dos Documentos 
cimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma: Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresen-
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convi- tar documentos em qualquer fase do processo.
dada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; A) Conceito de “documento”, para efeito de prova. Quais-
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será coloca- quer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares,
da, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer serão considerados documentos, com fulcro na cabeça do art.
semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimen- 232, CPP. Inclusive, à fotografia do documento, devidamente
to a apontá-la;
autenticada, se dará o mesmo valor do original (art. 232, pará-
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para
grafo único, CPP).
o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência,
O que são “instrumentos”? São documentos confeccionados
não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida,
com o estrito objetivo de fazer prova, como os contratos, por
a autoridade providenciará para que esta não veja aquela;
exemplo. O conceito de documento é muito mais amplo que o
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenori-
de “instrumento”, portanto;
zado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para pro-
B) Restrição a documento. De acordo com o art. 233, da Lei
ceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Adjetiva, as cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá
meios criminosos, não serão admitidas em juízo, salvo se exibi-
aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de jul-
gamento. das pelo respectivo destinatário para defesa de seu direito (ain-
  da que não haja consentimento do remetente);
Art. 227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com C) Determinação judicial de juntada de documento. Se o juiz
as cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável. tiver notícia da existência de documento relativo a ponto rele-
  vante da acusação ou da defesa, providenciará, independente-
Art. 228. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o mente de requerimento de qualquer das partes, para sua junta-
reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova da aos autos, se possível (art. 234, CPP);
em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas. D) Documento em língua estrangeira. Os documentos em
  língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão,
Da Acareação se necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por
 Sempre que houver divergência de declarações sobre fatos pessoa idônea nomeada pela autoridade (art. 236, CPP);
ou circunstâncias relevantes, a acareação será admitida, com E) Devolução do documento às partes. Os documentos origi-
supedâneo no art. 229, caput, do Código de Processo Penal, en- nais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante
tre acusados, entre acusados e testemunha, entre testemunhas, que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante
entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, entre ofen- requerimento e ouvido o Ministério Público, ser entregues à parte
didos etc. (as combinações são múltiplas, veja-se). que os produziu, ficando o traslado nos autos (art. 238 CPP);
Com efeito, os acareados serão reperguntados, para que ex- F) Documento particular e sua autenticidade. A letra e firma
pliquem os pontos de divergências (ou seja, os acareados já de- dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial,
vem ter sido ouvidos uma vez, fora da acareação), reduzindo-se quando contestada a sua autenticidade (art. 235, CPP);
a termo o ato de acareação. G) Documento no júri. De acordo com o art. 479, do Código
de Processo Penal, durante o julgamento não será permitida a
CAPÍTULO VIII leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido
DA ACAREAÇÃO juntado aos autos com a antecedência mínima de três dias úteis,
  dando-se ciência à outra parte (compreende-se nessa proibição
Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, entre a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exi-
acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou bição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui
testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar so-
sempre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou cir- bre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos
cunstâncias relevantes. jurados).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
CAPÍTULO IX Se tal vestígio, após devidamente analisado, interpretado
DOS DOCUMENTOS e associado com os minuciosos exames laboratoriais e dados
  da investigação policial do fato, enquadrando-se em toda a sua
Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão moldura, tiver estabelecida a sua inequívoca relação com o fato
apresentar documentos em qualquer fase do processo. delituoso e com as pessoas com este relacionadas, aí ele terá se
Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, ins- transformado em indício.
trumentos ou papéis, públicos ou particulares. Atesta-se, dessa forma, o que, com muita precisão, proprie-
Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente dade e singeleza distingue o eminente mestre Professor Gilberto
autenticada, se dará o mesmo valor do original. Porto, em seu já referido Manual de Criminalística: “o vestígio
  encaminha; o indício aponta”.
Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas  
por meios criminosos, não serão admitidas em juízo. CAPÍTULO X
Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo DOS INDÍCIOS
pelo respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda  
que não haja consentimento do signatário. Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e
  provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução,
Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de documento concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, providen-
ciará, independentemente de requerimento de qualquer das par- Da Busca e Apreensão 
tes, para sua juntada aos autos, se possível. Trata-se de medida cuja essência visa evitar o desapareci-
  mento de provas, podendo ser realizada tanto na fase inquisi-
Art. 235. A letra e firma dos documentos particulares serão torial como durante a ação penal. A apreensão, neste diapasão,
submetidas a exame pericial, quando contestada a sua autenti- nada mais é que o resultado da busca, isto é, se a busca resulta
cidade. frutífera, procede-se à apreensão da coisa buscada.
  A) Espécies de busca. A busca pode ser domiciliar (art. 240,
Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuí- §1º, CPP) ou pessoal (art. 240, §2º, CPP);
zo de sua juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por B) Hipóteses em que se utiliza a busca e apreensão. De acor-
tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela do com o primeiro parágrafo, do art. 240, CPP, a busca domici-
autoridade. liar é comumente utilizada para prender criminosos (alínea “a”);
  para apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos
Art. 237. As públicas-formas só terão valor quando conferi- (alínea “b”); para apreender instrumentos de falsificação ou de
das com o original, em presença da autoridade. contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos (alínea “c”);
  para apreender armas e munições, instrumentos utilizados na
Art. 238. Os documentos originais, juntos a processo findo, prática de crime ou destinados a fim delituoso (alínea “d”); para
quando não exista motivo relevante que justifique a sua conser- descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do
vação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o réu (alínea “e”); para apreender cartas, abertas ou não, destina-
Ministério Público, ser entregues à parte que os produziu, fican- das ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que
do traslado nos autos. o conhecimento de seu conteúdo possa ser útil à elucidação do
  fato (alínea “f”); para apreender pessoas vítimas de crimes (alínea
Dos Indícios “g”); e para colher qualquer elemento de convicção (alínea “h”).
 É todo e qualquer fato sinal, marca ou vestígio, conhecido
e provado, que, possua relação necessária ou possível com outro Já consoante o segundo parágrafo, do mesmo art. 240, a
fato, que se desconhece, prova ou leva a presumir a existência busca pessoal será utilizada quando houver fundada suspeita de
deste último. que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencio-
O Art 239 do CPP define indício como: “a circunstância conhe- nados nas letras “b”, “c”, “d”, “e”, e “f” do primeiro parágrafo
cida e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indu- visto acima;
ção, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”. C) Requerimento da busca. A busca poderá ser determinada
  de ofício ou a requerimento de qualquer das partes (art. 242,
Quando falamos em “indícios” temos que ter cuidado para CPP);
não confundir estes com os “vestígios”, posto que para os leigos D) Conteúdo do mandado de busca. Deverá o mandado, con-
em criminalística e na linguagem destituída de características forme o art. 243, CPP, indicar, o mais precisamente possível, a
jurídicas, depreende-se que vestígios e indícios praticamente se casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo
constituem em sinônimos. proprietário ou morador, ou, no caso de busca pessoal, o nome
Para Aurélio Buarque de Holanda Pereira, em seu novo Dicio- da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem
nário da Língua Portuguesa, vestígio é: “Sinal que homem ou ani- (inciso I); mencionar os motivos e o fim da diligência (inciso II);
mal deixa com os pés no lugar por onde passa; rastro, rasto, pega- ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fi-
da, pista; no sentido figurado, indício, sinal, pista, rastro, rasto”. zer expedir (inciso III); se houver ordem de prisão, esta constará
Entretanto, sob o enfoque criminalístico e também proces- do próprio texto do mandado de busca (§1º);
sualístico, há que se ter em mente a perfeita delimitação e dife- E) Documento em poder do defensor do acusado. Não será
renciação entre cada um dos vocábulos. Assim, qualquer marca, permitida a apreensão de documento em poder do defensor do
fato, sinal, que seja detectado em local onde haja sido praticado acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito
um fato delituoso é, em princípio, um vestígio. (art. 243, §2º, CPP);

41
DIREITO PROCESSUAL PENAL
F) Busca independente de mandado. A busca pessoal inde- Art. 243. O mandado de busca deverá:
penderá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fun- I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será
dada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibi- realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou mo-
da ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou rador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá
quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
(art. 244, CPP); II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
G) Modo de execução da busca domiciliar. As buscas domi- III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade
ciliares serão executadas durante o dia, salvo se o morador con- que o fizer expedir.
sentir que se realizem a noite, e, antes de penetrarem na casa, § 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do
os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a mandado de busca.
quem os represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta § 2o Não será permitida a apreensão de documento em po-
(art. 245, caput, CPP). der do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento
do corpo de delito.
H) Cláusula de reserva de jurisdição. A busca domiciliar so-
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso
mente pode ser determinada pela autoridade judiciária. Uma
de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa
Comissão Parlamentar de Inquérito, por exemplo, não tem com-
esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que
petência para determinar busca domiciliar.
constituam corpo de delito, ou quando a medida for determina-
Ainda, convém lembrar que essa busca somente poderá ser da no curso de busca domiciliar.
feita durante o dia (a noite será possível desde que haja anuên-  
cia do morador). “Dia”, conforme entendimento prevalente do Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia,
critério misto, vai das seis horas da manhã (desde que já tenha salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de
nascido o sol) até dezoito horas (desde que o sol ainda não te- penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o manda-
nha se posto). do ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em segui-
I) Busca em mulher. A busca em mulher será feita por outra da, a abrir a porta.
mulher em regra, se isso não importar retardamento ou prejuízo § 1o Se a própria autoridade der a busca, declarará previa-
da diligência; mente sua qualidade e o objeto da diligência.
J) Busca em território de jurisdição alheia. A autoridade ou § 2o Em caso de desobediência, será arrombada a porta e
seus agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia, forçada a entrada.
ainda que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, § 3o Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de
forem no encalço de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à força contra coisas existentes no interior da casa, para o desco-
competente autoridade local, antes da diligência ou após, con- brimento do que se procura.
forme a urgência desta (art. 250, caput, CPP). § 4o Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausen-
tes os moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à
CAPÍTULO XI diligência qualquer vizinho, se houver e estiver presente.
DA BUSCA E DA APREENSÃO § 5o Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar,
  o morador será intimado a mostrá-la.
Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal. § 6o Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será ime-
§ 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas ra- diatamente apreendida e posta sob custódia da autoridade ou
zões a autorizarem, para: de seus agentes.
a) prender criminosos; § 7o Finda a diligência, os executores lavrarão auto circuns-
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios crimino- tanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, sem
prejuízo do disposto no § 4o.
sos;
 
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação
Art. 246. Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior,
e objetos falsificados ou contrafeitos;
quando se tiver de proceder a busca em compartimento habita-
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na
do ou em aposento ocupado de habitação coletiva ou em com-
prática de crime ou destinados a fim delituoso; partimento não aberto ao público, onde alguém exercer profis-
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à são ou atividade.
defesa do réu;  Art. 247. Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procu-
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado rada, os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver
ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento sofrido a busca, se o requerer.
do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;  
g) apreender pessoas vítimas de crimes; Art. 248. Em casa habitada, a busca será feita de modo que
h) colher qualquer elemento de convicção. não moleste os moradores mais do que o indispensável para o
§ 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada êxito da diligência.
suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos  
mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior. Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se
  não importar retardamento ou prejuízo da diligência.
Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária  
não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser pre- Art. 250. A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no
cedida da expedição de mandado. território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quan-
  do, para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa
Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a re- ou coisa, devendo apresentar-se à competente autoridade local,
querimento de qualquer das partes. antes da diligência ou após, conforme a urgência desta.

42
DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 1o Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em (C) perde a possibilidade de representar pelo arquivamento
seguimento da pessoa ou coisa, quando: do inquérito e não pode repudiar a queixa.
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, (D) pode aditar a queixa.
a seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista; (E) deixa de ser parte e passa a atuar como custos legis e não
b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por in- pode, por exemplo, fornecer elementos de prova.
formações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sen-
do removida ou transportada em determinada direção, forem ao 4. (TJ-CE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA JUDICIÁRIA -
seu encalço. FGV – 2019) Gabriel, funcionário público do Tribunal de Justiça
§ 2o Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para do Ceará, foi vítima de um crime de injúria, sendo a ofensa rela-
duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligên- cionada ao exercício de sua função pública. Optou, porém, por
cias, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos manda- nada fazer em desfavor do autor da ofensa. Ocorre que a chefia
dos que apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimi- imediata de Gabriel, informada sobre o ocorrido, e revoltada com
dade, mas de modo que não se frustre a diligência. o desrespeito, compareceu à delegacia e narrou o fato para auto-
ridade policial, que instaurou procedimento e fixou prazo inicial
de 20 dias para investigações.
EXERCÍCIOS Após 19 dias, concluídas as investigações, o Delegado se pre-
para para apresentar relatório final. Ao tomar conhecimento dos
1. (TRE-PA - ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA fatos, Gabriel procura seu advogado para assistência jurídica.
- IBFC – 2020) No que se refere às disposições do Código de Considerando as informações narradas e o Enunciado 704
Processo Penal sobre a ação penal, analise as afirmativas abaixo da Súmula de Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (É
e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F): concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
( ) Nos crimes de ação pública, esta será promovida por de- Ministério Público, condicionada à representação do ofendido,
núncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exi- para a ação penal por crime contra a honra de servidor público
gir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do em razão do exercício de suas funções), o advogado de Gabriel
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. deverá esclarecer que:
( ) O Ministério Público não poderá desistir da ação penal. (A) a denúncia por parte do Ministério Público depende de
( ) Qualquer pessoa poderá intentar a ação privada. representação do ofendido, a ser oferecida no prazo de 06
(seis) meses a contar do conhecimento da autoria, ainda
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de que o inquérito policial possa ser instaurado independente-
cima para baixo. mente da manifestação de vontade de Gabriel;
(A) V, V, V (B) as investigações em inquérito policial não poderiam
(B) V, V, F ocorrer pelo prazo inicial de 20 (vinte) dias, considerando
(C) V, F, V a previsão legislativa de que o inquérito deve ter prazo má-
(D) F, F, V ximo de 10 (dez) dias, apenas podendo ser prorrogado por
igual prazo;
2. (TJ-PA - AUXILIAR JUDICIÁRIO - CESPE – 2020) A ação (C) o inquérito policial não poderia ter sido instaurado pela
penal pública pode ser incondicionada ou condicionada à repre- autoridade policial sem a concordância do ofendido, con-
sentação. Em relação à ação penal pública condicionada à re- siderando a natureza da ação penal do crime investigado;
presentação, há a exigência da manifestação do ofendido ou de (D) a queixa, caso Gabriel opte por apresentá-la, deverá ser
quem tenha qualidade para representá-lo. Acerca da ação penal oferecida no prazo máximo de 06 (seis) meses a contar da
pública condicionada à representação, assinale a opção correta. data do fato, ainda que outra data seja a do conhecimento
(A) A representação é uma condição de procedibilidade da da autoria;
ação penal, e sua ausência impede o Ministério Público de (E) a autoridade policial poderá, entendendo pela ausência
oferecer a denúncia. de materialidade delitiva, arquivar diretamente o inquérito
(B) Opera-se a decadência da ação penal condicionada à re- policial.
presentação se o direito de representar não for exercido no
prazo de seis meses, a contar da data do fato criminoso. 5. (MPE-MT - PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO -
(C) O ofendido pode, a qualquer tempo, exercer o direito de FCC – 2019) Ao tratar da iniciativa da ação penal, o Código de
se retratar da representação, sendo a extinção da punibili- Processo Penal, estabelece, como regra, que a iniciativa será do
dade sem resolução de mérito o efeito da retratação. Ministério Público. Todavia, mesmo nos crimes de ação pública,
(D) A ação penal pública condicionada à representação é es- por vezes, a lei exige a representação do ofendido. Declarado
sencialmente de interesse privado e regida pelos princípios judicialmente ausente o ofendido, terão qualidade para repre-
da conveniência e oportunidade. sentá-lo APENAS
(E) A irretratabilidade da representação inicia-se com a ins- (A) os herdeiros necessários, o curador especial ou advoga-
tauração do inquérito policial. do constituído.
(B) o cônjuge, ascendente ou descendente.
3. (TJ-RJ - JUIZ SUBSTITUTO - VUNESP – 2019) Oferecendo (C) o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
o ofendido ação penal privada subsidiária da pública, o Ministé- (D) os sucessores ou curador.
rio Público, nos exatos termos do art. 29 do CPP, (E) os sucessores ou tutor.
(A) perde interesse processual e deixa de intervir nos autos.
(B) pode intervir em todos os termos do processo, contudo, 6. Acerca da aplicação da lei processual no tempo e no espa-
sem capacidade recursal. ço e em relação às pessoas, julgue os itens a seguir.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
I O Brasil adota, no tocante à aplicação da lei processual pe- 9. Em relação ao direito processual penal, assinale a opção
nal no tempo, o sistema da unidade processual. correta.
II Em caso de normas processuais materiais — mistas ou hí- (A) De acordo com o procedimento especial de apuração
bridas —, aplica-se a retroatividade da lei mais benéfica. dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos
III Para o regular processamento judicial de governador de es- contra a administração pública, previsto no CPP, recebida
tado ou do Distrito Federal, é necessária a autorização da respec- a denúncia e cumprida a citação, o juiz notificará o acusa-
tiva casa legislativa — assembleia legislativa ou câmara distrital. do para responder a acusação por escrito, dentro do prazo
legal.
Assinale a opção correta. (B) A interceptação telefônica será determinada pelo juiz na
(A) Apenas o item I está certo. hipótese de o fato investigado constituir infração penal pu-
(B) Apenas o item II está certo. nida com pena de detenção.
(C) Apenas os itens I e III estão certos. (C) A decisão que autoriza a interceptação telefônica deve
(D) Apenas os itens II e III estão certos.
ser fundamentada, indicando a forma de execução da dili-
(E) Todos os itens estão certos.
gência, que não poderá exceder o prazo legal nem ser pror-
rogada, sob pena de nulidade.
7. Sobre a aplicação da lei processual penal no tempo e no
(D) A lei processual penal brasileira adota o princípio da ab-
espaço, analise os itens a seguir.
I. A lei processual penal entra em vigor e passa a ser aplicada soluta territorialidade em relação a sua aplicação no espa-
imediatamente, mesmo nas hipóteses em que o delito já tenha ço: não cabe adotar lei processual de país estrangeiro no
sido cometido, o acusado já esteja sendo processado e extinga cumprimento de atos processuais no território nacional.
modalidade de defesa. (E) A lei processual penal não admite o uso da analogia ou
II. Aplica-se a lei processual penal brasileira quando o crime da interpretação extensiva, em estrita observância ao prin-
é cometido por cidadão brasileiro no exterior e ali o autor passa cípio da legalidade.
a ser processado.
III. Nos crimes cometidos em embarcações estrangeiras pri- 10. Acerca dos princípios aplicáveis ao direito processual pe-
vadas estacionadas em portos brasileiros, aplica-se a lei proces- nal e da aplicação da lei processual no tempo, no espaço, analise
sual penal de seu país de origem. as assertivas e indique a alternativa correta:
IV. O cumprimento de sentença penal condenatória emitida I - A lei processual penal tem aplicação imediata, nos ter-
por autoridade estrangeira não se submete a exame de legalida- mos do art. 2º do Código de Processo Penal. O legislador pátrio
de e correspondência de crimes, cabendo ao juiz criminal apli- adotou o princípio do tempus reget actum, não existindo efeito
ca-la de imediato. retroativo.
II - A lei processual penal se submete ao princípio da retroa-
Assinale a alternativa correta. tividade in mellius, devendo ter incidência imediata sobre todos
(A) Apenas I e II estão corretos os processos em andamento, independentemente de o crime
(B) Apenas I e IV estão incorretos haver sido cometido antes ou depois de sua vigência, desde que
(C) Apenas II e III estão incorretos seja mais benéfica.
(D) Apenas III e IV estão corretos III - A busca pela verdade real constitui princípio que rege o
(E) I, II, III e IV estão incorretos Direito Processual Penal. A produção das provas, porque consti-
tui garantia constitucional, pode ser determinada, inclusive pelo
8. Com relação às regras da lei processual no espaço e no Juiz, de ofício, quando julgar necessário.
tempo, o Código de Processo Penal vigente adota, respectiva-
mente, os princípios da lex fori e da aplicação imediata. Com
IV - O princípio da verdade real comporta algumas exceções,
base nessa informação, é correto afirmar que
como o descabimento de revisão criminal contra sentença ab-
(A) as normas do Código de Processo Penal vigente são inapli-
solutória.
cáveis, ainda que subsidiariamente, no âmbito da Justiça Mili-
V - A lei processual penal não admitirá interpretação exten-
tar e aos processos da competência do tribunal especial.
(B) delegado de polícia estadual, que é informado , sobre a siva e aplicação analógica, mas admitirá o suplemento dos prin-
prática de crime cometido por promotor de justiça estadual, cípios gerais do direito.
está autorizado expressamente por lei, a instaurar inquérito
policial para a apuração dos fatos. (A) Apenas as assertivas II, III e IV são verdadeiras.
(C) é possível a prisão em flagrante de magistrado estadual (B) Apenas as assertivas I, II e IV são verdadeiras.
por delegado de polícia estadual, quando se tratar de cri- (C) Apenas as assertivas I, III e IV são verdadeiras.
me inafiançável, sendo obrigatória apenas a comunicação (D) Apenas as assertivas III, IV e V são verdadeiras.
ao presidente do tribunal de justiça a que estiver vinculado (E) Apenas as alternativas I, III, e V são verdadeiras.
para evitar vício do ato.
(D) a lei processual penal tem aplicação aos processos em 11. (PC-MA - PERITO CRIMINAL – CESPE/2018) A respeito
trâmite no território brasileiro, contudo, uma hipótese de do inquérito policial, assinale a opção correta.
exclusão da jurisdição pátria é a imunidade dos agentes di- (A) O inquérito policial poderá ser iniciado apenas com base
plomáticos e seus familiares que com eles vivam. em denúncia anônima que indique a ocorrência do fato cri-
(E) a lei processual penal atende a regra do tempus reígit ac- minoso e a sua provável autoria, ainda que sem a verificação
tum, porém a repetição de atos processuais anteriores é exi- prévia da procedência das informações.
gida por lei em observância da interpretação constitucional, (B) Contra o despacho da autoridade policial que indeferir a
além disso, não é possível alcançar os processos que apu- instauração do inquérito policial a requerimento do ofendi-
ram condutas delitivas consumadas antes da sua vigência. do caberá reclamação ao Ministério Público.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
(C) Sendo o inquérito policial a base da denúncia, o Ministé- 15. (PC/PE - ESCRIVÃO DE POLÍCIA - CESPE/2016) O in-
rio Público não poderá alterar a classificação do crime defi- quérito policial
nida pela autoridade policial. (A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido
(D) O inquérito policial pode ser definido como um procedi- oferecida e a ação penal dela depender.
mento administrativo pré-processual destinado à apuração (B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado
das infrações penais e da sua autoria. o contraditório ao indiciado.
(E) Por ser instrumento de informação pré-processual, o (C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime
inquérito policial é imprescindível ao oferecimento da de- de ação penal pública incondicionada.
núncia. (D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Públi-
co se tratar-se de crime de ação penal privada.
12. (PC-SC - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL – FEPESE/2017) (E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação
É correto afirmar sobre o inquérito policial. penal pública incondicionada.
(A) A notitia criminis deverá ser por escrito, obrigatoriamen-
te, quando apresentada por qualquer pessoa do povo 16. (TJ-MS - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA FIM - PUC-
(B) A representação do ofendido é condição indispensável -PR/2017) Sobre a prova no direito processual penal, marque a
para a abertura de inquérito policial para apurar a prática alternativa CORRETA.
de crime de ação penal pública condicionada. (A) São também inadmissíveis as provas derivadas das ilíci-
(C) O Ministério Público é parte legítima e universal para tas, inclusive aquelas que evidenciam nexo de causalidade
requerer a abertura de inquérito policial afim de investigar entre umas e outras, bem como aquelas que puderem ser
a prática de crime de ação penal pública ou privada. obtidas por uma fonte independente das primeiras.
(D) Apenas o agressor poderá requerer à autoridade policial (B) A confissão será indivisível e irretratável, sem prejuízo
a abertura de investigação para apurar crimes de ação penal do livre convencimento do juiz, fundado no exame das pro-
privada. vas em conjunto.
(E) O inquérito policial somente poderá ser iniciado de ofício (C) Considera-se indício a circunstância conhecida e provada,
pela autoridade policial ou a requerimento do ofendido. que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, con-
cluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias; entre-
tanto, tal espécie de prova não é aceita nos tribunais supe-
13. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2016)
riores por violar o princípio constitucional da ampla defesa.
Pode-se afirmar que a autoridade policial, assim que tiver co-
(D) A prova emprestada, quando obedecidos os requisitos
nhecimento da prática da infração penal deverá:
legais, tem sua condição de prova perfeitamente aceita no
(A) intimar às partes para formular quesitos sobre que dili-
processo penal; no entanto, ela não tem o mesmo valor pro-
gências periciais pretendem fazer.
batório da prova originalmente produzida.
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se al-
(E) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
terem o estado e a conservação das coisas, até sua chegada.
prova produzida em contraditório judicial, não podendo
(C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato,
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos in-
depois que já tiverem sido liberados pelos peritos criminais.
formativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
(D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para cautelares, não repetíveis e antecipadas.
seus respectivas familiares.
(E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três tes- 17. (PC/GO - AGENTE DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES-
temunhas que presenciaram o fato. PE/2016) No que diz respeito às provas no processo penal, assi-
nale a opção correta.
14. (PC/GO - ESCRIVÃO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES- (A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova
PE/2016) Acerca de aspectos diversos pertinentes ao IP, assina- pericial médica, que não pode ser suprida por testemunho.
le a opção correta. (B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
(A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se
ser apurado, poderá ser presidido por representante do MP, desnecessária a produção de outras provas.
mediante prévia determinação judicial nesse sentido. (C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão
(B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria ser avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para for-
vítima provoca a atuação da polícia judiciária, comunican- mar o livre convencimento do magistrado, quando ampara-
do a ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade das em outros elementos de prova.
policial. (D) São objetos de prova testemunhal no processo penal
(C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser fatos relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo,
adotado na fase inquisitorial. casamento, menoridade, filiação e cidadania.
(D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante in- (E) O procedimento de acareação entre acusado e testemu-
dependentemente de o indiciado estar solto ou preso, visto nha é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser
que a superação dos prazos de investigação tem o efeito de presidido pelo delegado de polícia.
encerrar a persecução penal na esfera policial.
(E) Do despacho da autoridade policial que indeferir reque- 18. (PC/DF - PERITO CRIMINAL - IADES/2016) O Código de
rimento de abertura de IP feito pelo ofendido ou seu re- Processo Penal elenca um conjunto de regras que regulamen-
presentante legal é cabível, como único remédio jurídico, tam a produção das provas no âmbito do processo criminal. No
recurso ao juiz criminal da comarca onde, em tese, ocorreu tocante às perícias em geral, as normas estão previstas nos arti-
o fato delituoso. gos 158 a 184 da lei em comento. Quanto ao exame de corpo de
delito, nos crimes

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
(A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a (A) o Vereador, o Magistrado e o Ministro de Confissão Re-
prova testemunhal não poderá suprir-lhe a falta. ligiosa.
(B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado (B) o Ministro de Estado, o Governador e o Agente Munici-
durante o dia. pal de Trânsito.
(C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver (C) o Prefeito Municipal, o Praça das Forças Armadas e o
sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar ape- Ministro do Tribunal de Contas.
nas por determinação da autoridade judicial. (D) o Agente Fiscal de Posturas Públicas, o membro da As-
(D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de sembleia Legislativa dos Estados e os Delegados de Polícia.
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a (E) o Oficial das Forças Armadas, o diplomado por qualquer
confissão do acusado. das faculdades superiores da República e o Agente Fiscal de
(E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias Rendas.
sejam realizadas por dois peritos oficiais.
22. (PC/AC - AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - IBADE/2017) So-
19. (PC/GO - ESCRIVÃO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES- bre o tema prisão preventiva assinale a alternativa correta.
PE/2016) Quanto à prova pericial, assinale a opção correta. (A) Não será permitido o emprego de força, salvo a indis-
(A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pe- pensável no caso de resistência, de tentativa de fuga do pre-
ricial para atestar o rompimento de obstáculo nos casos de so, dos reincidentes e dos presos de alta periculosidade por
furto mediante arrombamento, prevalecendo em tais situa- terem passado pelo regime disciplinar diferenciado.
ções a qualificadora do delito. (B) O mandado de prisão, na ausência do juiz, poderá ser
(B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se lavrado e assinado pelo escrivão, ad referendum do juiz.
durante o dia, de modo a não suscitar qualquer tipo de dúvi- (C) O mandado de prisão mencionará a infração penal e ne-
da, sendo vedada a sua realização durante a noite. cessariamente a quantidade da pena privativa e de multa,
(C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória parti- bem como eventual pena pecuniária.
cipação da defesa na produção da prova pericial na fase in- (D) A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual-
vestigatória, antes do encerramento do IP e da elaboração quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilida-
do laudo pericial. de do domicílio.
(D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um
(E) A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res-
perito oficial e, na falta deste, admite a lei que duas pessoas
pectivo mandado, salvo quando, por questão de urgência,
idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas
nos crimes inafiançáveis, poderá a prisão ocorrer por ordem
de habilidade técnica relacionada com a natureza do exame,
verbal do juiz.
sejam nomeadas para tal atividade.
(E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu re-
23. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE/2019)
sultado vincula o juízo; por isso, a sentença não poderá ser
Em decorrência de um homicídio doloso praticado com o uso de
contrária à conclusão do laudo pericial.
arma de fogo, policiais rodoviários federais foram comunicados
de que o autor do delito se evadira por rodovia federal em um
20. (AL/MS - AGENTE DE POLÍCIA LEGISLATIVO -
FCC/2016) Sobre o exame de corpo de delito e as perícias em veículo cuja placa e características foram informadas. O veículo
geral, nos termos preconizados pelo Código de Processo Penal, foi abordado por policiais rodoviários federais em um ponto de
é INCORRETO afirmar: bloqueio montado cerca de 200 km do local do delito e que os
(A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado neces- policiais acreditavam estar na rota de fuga do homicida. Dada
sariamente por três pessoas idôneas, portadoras de diplo- voz de prisão ao condutor do veículo, foi apreendida arma de
ma de curso superior preferencialmente na área específica, fogo que estava em sua posse e que, supostamente, tinha sido
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com utilizada no crime.
a natureza do exame. Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte
(B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento item.
de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, De acordo com a classificação doutrinária dominante, a situ-
os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com ação configura hipótese de flagrante presumido ou ficto.
que instrumentos, por que meios e em que época presu- ( ) CERTO
mem ter sido o fato praticado. ( ) ERRADO
(C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou
rejeitá-lo, no todo ou em parte. 24. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CES-
(D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o PE/2019) Com relação aos meios de prova e os procedimentos
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo inerentes a sua colheita, no âmbito da investigação criminal, jul-
supri-lo a confissão do acusado. gue o próximo item.
(E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a A entrada forçada em determinado domicílio é lícita, mes-
autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, mo sem mandado judicial e ainda que durante a noite, caso es-
quando não for necessária ao esclarecimento da verdade. teja ocorrendo, dentro da casa, situação de flagrante delito nas
modalidades próprio, impróprio ou ficto.
21. (CÂMARA DE CAMPO LIMPO PAULISTA/SP - PRO- ( ) CERTO
CURADOR JURÍDICO – VUNESP/2018) Nos expressos e literais ( ) ERRADO
termos do artigo 295 do CPP, têm direito à prisão especial – que
nada mais é do que o recolhimento em local distinto da prisão
comum – entre outros,

46
DIREITO PROCESSUAL PENAL
25. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2016) 28. Com base nas disposições da Lei nº 7.960/1989 sobre a
Samuel teve voz de prisão dada por Agostinho, seu vizinho que prisão temporária, analise os itens a seguir:
é alfaiate, quando tentava esfaquear sua madrasta. Neste caso I. A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da re-
é possível dizer: presentação da autoridade policial ou de requerimento do Minis-
(A) Agostinho jamais poderia prender Samuel, pois não é tério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por até
policial. 30 (trinta) dias em caso de extrema e comprovada necessidade.
(B) Agostinho poderia prender Samuel em 48 (quarenta e II. A prisão somente poderá ser executada depois da expedi-
oito) horas depois, se a polícia não tivesse chegado ao local. ção de mandado judicial.
(C) Em face do flagrante delito, Agostinho poderia sim ter III. Os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
dado voz de prisão a Samuel. mente, separados dos demais detentos.
(D) Agostinho somente poderia dar voz de prisão a Samuel,
se este tivesse cometido o crime contra sua genitora. Analisados os itens, pode-se afirmar corretamente que:
(E) Samuel somente poderia ser preso em flagrante, se ele
(A) Apenas o item I está correto.
tivesse levado para a Delegacia de Polícia a faca com a qual
(B) Apenas o item II está correto.
tentara esfaquear sua madrasta.
(C) Apenas o item III está correto.
(D) Apenas os itens I e II estão corretos.
26. Considere os seguintes casos hipotéticos:
I. Paulo, funcionário público no exercício do seu cargo, come- (E) Apenas os itens II e III estão corretos.
teu crime de corrupção passiva ao exigir dinheiro de uma deter-
minada pessoa para deixar de praticar determinado ato de ofício. 29. No que concerne ao regramento legal do habeas corpus
II. Júlio cometeu crime de cárcere privado (artigo 148, do previsto no CPP, é correto afirmar:
Código Penal) ao invadir a casa da ex-namorada, que não queria (A) dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se
reatar o relacionamento amoroso. achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na
III. Afonso cometeu crime de roubo (artigo 157, do Código sua liberdade de ir e vir, inclusive nos casos de punição dis-
Penal) contra um hipermercado situado na cidade de São Paulo, ciplinar.
em comparsaria com outros elementos. (B) recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar ne-
IV. Manoel, funcionário público, cometeu crime de peculato cessário, e estiver preso o paciente, mandará que este lhe
após se apropriar de dinheiro de que teve a posse em razão do seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar.
seu cargo. (C) se o habeas corpus for concedido em virtude de nulidade
do processo, este será definitivamente arquivado.
Presentes todos os requisitos legais previstos na Lei n° (D) a lei processual penal não prevê a possibilidade de os
7.960/1989, que dispõe sobre a prisão temporária, o magistrado juízes e os tribunais expedirem de ofício ordem de habeas
competente poderá decretar a prisão temporária de: corpus.
(A) Paulo, Júlio e Manoel, apenas. (E) não cabe habeas corpus quando negada a liberdade sob
(B) Paulo, Júlio, Afonso e Manoel. fiança, mesmo que a lei autorize a liberdade no caso con-
(C) Paulo, Afonso e Manoel, apenas. creto.
(D) Júlio e Afonso, apenas.
(E) Júlio e Manoel, apenas. 30. O habeas corpus é uma garantia constitucional em que
se obtém, por meio da ação, uma ordem escrita tutelando a li-
27. Mariana, tecnicamente primária e com endereço fixo, berdade de locomoção, o direito de ir e vir, e de não ser preso.
foi identificada, a partir de câmeras de segurança, como autora Acerca do habeas corpus, assinale a alternativa correta.
de um crime de furto simples (Pena: 01 a 04 anos de reclusão e
(A) Pode ser paciente qualquer pessoa natural ou jurídica.
multa) em um estabelecimento comercial. O inquérito policial
(B) É medida que tutela o direito de permanecer, de ir e vir
com relatório conclusivo, acompanhado da Folha de Anteceden-
e de não ser preso em nenhuma situação.
tes Criminais com apenas uma outra anotação referente à ação
(C) É medida que protege direito líquido e certo.
penal em curso, sem decisão definitiva, foi encaminhado ao Po-
der Judiciário e, posteriormente, ao Ministério Público. (D) É medida que tutela o direito de permanecer, de ir e vir
Entendendo que existe risco de reiteração delitiva, já que e de não ser preso.
testemunhas indicavam que Mariana, que se encontrava solta, (E) É medida que tutela o direito patrimonial, mesmo quan-
já teria praticado delitos semelhantes, no mesmo local, em ou- do por ordem de autoridade judiciária incompetente.
tras ocasiões, poderá o Promotor de Justiça com atribuição re-
querer que seja: 31. Cabível habeas corpus quando
(A) fixada cautelar alternativa de comparecimento mensal (A) o processo for manifestamente nulo, mas não para o re-
em juízo, proibição de contato com as testemunhas, mas conhecimento de extinção da punibilidade do paciente.
não o recolhimento domiciliar no período noturno por au- (B) não houver justa causa para o inquérito policial, mas não
sência de previsão legal; quando já extinta a pena privativa de liberdade.
(B) fixada cautelar alternativa de proibição de frequentar, (C) relativo a processo em curso por infração penal a que a
por determinado período, o estabelecimento lesado, mas pena pecuniária seja a única cominada, mas não quando já
não a decretação da prisão preventiva ou temporária; proferida decisão condenatória exclusivamente a pena de
(C) fixada a cautelar alternativa de internação provisória, multa.
que gera detração da pena, mas não a prisão preventiva ou (D) imposta pena de exclusão de militar ou de perda de pa-
temporária; tente ou de função pública.
(D) decretada a prisão temporária da indiciada; (E) não for admitida a prestação de fiança e quando seu ob-
(E) decretada a prisão preventiva da indiciada. jeto consistir em resolução sobre o ônus das custas.

47
DIREITO PROCESSUAL PENAL
32. Sobre o habeas corpus, é correto afirmar que (C) se não existe conexão entre o crime de porte ilegal de
(A) qualquer coação que parta de autoridade pública e cons- arma de fogo e o homicídio, o reconhecimento da incom-
tranja sujeito particular enseja a impetração de habeas corpus. petência do Tribunal do Júri para deliberar sobre o primeiro
(B) a concessão do habeas corpus consequentemente obs- e, por consequência, de nulidade de parte da sessão de jul-
tará o processo, pondo termo no seu prosseguimento juris- gamento, afeta a deliberação do Tribunal Popular sobre o
dicional. delito contra a vida.
(C) o habeas corpus, embora classificado pela legislação (D) ainda que não haja ligação entre o crime de posse irre-
processual penal brasileira como “recurso penal”, é uma gular de arma de fogo de uso permitido, que ocorreu em
ação de impugnação de natureza constitucional. contexto diverso da investigação relativa aos crimes contra
(D) o habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer a Administração pública apurados, deve-se reconhecer a co-
pessoa, em seu favor ou de outrem, exceto pelo Ministério nexão pelo princípio da conveniência processual.
Público, órgão de natureza acusatória. (E) a garantia constitucional de vitaliciedade aos membros
(E) apenas os tribunais colegiados têm competência para ex- da magistratura lhes assegura o foro por prerrogativa mes-
pedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de mo após a aposentadoria.
processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência
de sofrer coação ilegal. 36. (CRAISA DE SANTO ANDRÉ/SP – ADVOGADO - CAI-
P-IMES/2016) Assinale a alternativa INCORRETA. Em processo
33. (MPE-CE - PROMOTOR DE JUSTIÇA DE ENTRÂNCIA INI- penal a competência jurisdicional será determinada pelo (a):
CIAL - CESPE – 2020) Deputado federal eleito pelo estado do Ceará (A) o local da prisão sendo indiferente o lugar da infração.
que praticar crime de estelionato em São Luís – MA antes de entrar (B) o domicílio ou residência do réu.
em exercício no cargo eletivo deverá ser processado no(a) (C) a natureza da infração.
(A) Superior Tribunal de Justiça. (D) a distribuição.
(B) justiça federal do Ceará, em razão do cargo ocupado.
(C) justiça estadual comum do Ceará, na comarca de Forta- 37. (TJ/SC – JUIZ – TJSC) Examine as proposições abaixo e
leza. assinale a alternativa correta:
(D) justiça estadual comum do Maranhão, na comarca de I. Na sentença envolvendo réu primário, o juiz, após desclas-
São Luís.
sificar a infração penal para outra considerada como de menor
(E) Supremo Tribunal Federal.
potencial ofensivo, aplicará de imediato a pena correspondente
desde que estejam descritas na denúncia as elementares do cri-
34. (TJ-PA - JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO - CESPE – 2019)
me resultante da desclassificação.
A respeito de jurisdição e competência no processo penal, assi-
II. Encerrada a instrução probatória, o juiz, se entender ca-
nale a opção correta.
bível nova definição jurídica para o fato, deverá determinar o
(A) Em caso de crime praticado por prefeito em concurso
envio dos autos ao Ministério Público para aditamento da de-
com partícipe que não tenha foro privilegiado, a separação
núncia, com posterior remessa ao Procurador-Geral de Justiça
do processo será obrigatória, e a competência para julga-
se isso não ocorrer. Todavia, mantida pelo Procurador-Geral a
mento será do tribunal de justiça.
(B) No caso de ter sido praticado mais de um crime, um de- capitulação inicial, o juiz, na sentença, verificando que há prova
les com o objetivo de se conseguir impunidade em relação da materialidade e da autoria, bem como que não estão presen-
ao outro, a competência será determinada pela conexão. tes causas de exclusão da antijuridicidade e da culpabilidade,
(C) Ocorrerá a conexão intersubjetiva por reciprocidade se estará obrigado a condenar o réu pelo crime atribuído na de-
duas ou mais infrações forem cometidas por duas pessoas núncia.
contra terceira pessoa sem unidade de desígnios. III. É requisito obrigatório da sentença a fixação do valor mí-
(D) A precedência da distribuição fixará a competência quan- nimo para a reparação dos danos causados pela infração, inde-
do em comarcas contíguas houver mais de um juiz compe- pendente de requerimento expresso na denúncia.
tente, face o início da execução ou o resultado do crime. IV. Aditada a denúncia, o juiz desde logo a receberá se es-
(E) É de competência da justiça estadual o julgamento dos tiverem presentes os requisitos legais, determinando, na sequ-
crimes de embriaguez ao volante e contrabando descober- ência, a continuidade da audiência de instrução e julgamento.
tos em diligência policial, por se tratar de competência por
conexão instrumental. (A) Somente as proposições I e IV estão corretas.
(B) Somente as proposições II e III estão corretas.
35. (DPE/AM - DEFENSOR PÚBLICO – FCC/2018) Em ma- (C) Somente as proposições I e II estão corretas.
téria de competência, (D) Somente as proposições III e IV estão corretas.
(A) a redação dos art. 76, II e 78, I do CPP permite a exten- (E) Todas as proposições estão incorretas.
são da competência do Tribunal do Júri a delitos conexos ao
crime contra a vida e não autoriza concluir que o Tribunal do 38. (MPE/SC - PROMOTOR DE JUSTIÇA MANHÃ - MPESC)
Júri esteja proibido de julgar réu acusado de praticar crime Analise o enunciado abaixo e assinale “verdadeiro” ou “falso”.
conexo na hipótese de não ter sido também acusado pela Segundo o Código de Processo Penal, o juiz, ao proferir sen-
prática do crime doloso contra a vida. tença condenatória, fixará valor máximo para reparação dos da-
(B) resta configurada a competência do Tribunal do Júri fe- nos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
deral se as vítimas da tentativa de homicídio são policiais pelo ofendido.
militares estaduais no exercício de suas funções e a motiva- ( ) CERTO
ção do delito foi evitar a prisão em flagrante pela prática de ( ) ERRADO
crime da competência federal.

48
DIREITO PROCESSUAL PENAL
39. (TJ/AM - ANALISTA JUDICIÁRIO II - OFICIAL DE JUS-
TIÇA AVALIADOR - FGV) A principal consequência do trânsito 42. (TJ/SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO - VU-
em julgado da sentença condenatória é fazer com que o con- NESP/2017) Estabelece o CPP em seu art. 353 que, quando o
denado cumpra a pena determinada, geralmente privativa de réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante,
liberdade, restritiva de direito ou de multa. Contudo, existem será citado mediante
outros efeitos da condenação previstos na legislação penal. A (A) precatória.
esse respeito, analise as afirmativas a seguir. (B) carta com aviso de recebimento, “de mão própria”.
I. É efeito genérico de a condenação tornar certa a obriga- (C) edital.
ção de indenizar o dano causado pelo crime. (D) videoconferência.
II. Um dos efeitos específicos da condenação é a perda do (E) qualquer meio que o juiz entenda idôneo.
cargo, função pública ou mandato eletivo, desde que a pena pri-
vativa de liberdade aplicada seja superior a 2 anos, qualquer que 43. (PC/GO - DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES-
seja o crime praticado pelo funcionário público. PE/2017) Com referência a citação e intimação no processo pe-
III. Os efeitos de perda em favor da União dos instrumentos nal, assinale a opção correta.
do crime e da perda de cargo, função pública ou mandato eleti- (A) A citação do réu preso poderá ser cumprida na pessoa do
vo, nas hipóteses previstas em lei, serão automáticos e indepen- procurador por ele constituído na fase policial.
derão de previsão na sentença condenatória. (B) As intimações dos defensores públicos nomeados pelo
juízo devem ser realizadas mediante publicação nos órgãos
Assinale: incumbidos da publicidade dos atos judiciais da comarca, e
(A) se somente a afirmativa I estiver correta. não os havendo, pelo escrivão, por mandado ou via postal.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta. (C) Os prazos para a prática de atos processuais contam-se
(C) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. da data da intimação e não da juntada aos autos do manda-
(D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. do ou da carta precatória ou de ordem.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas. (D) Em função dos princípios da simplicidade, informalida-
de e economia processual, é admissível a citação por edital
40. (DPE/TO - DEFENSOR PÚBLICO - CESPE) No que diz e por hora certa nos procedimentos sumaríssimos perante
respeito à sentença e à coisa julgada, assinale a opção correta.
juizado especial criminal.
(A) A cassação dos direito políticos, um dos efeitos da sen-
(E) No procedimento comum, não se admite a citação ficta
tença penal condenatória com trânsito em julgado, encon-
nem tampouco a contumácia do réu.
tra-se presente em qualquer condenação criminal e perdura
enquanto o sentenciado estiver cumprindo pena em regime
44. (TJ/RS - Assessor Judiciário - FAURGS/2016) Sobre cita-
fechado ou semiaberto.
ção, intimação e notificação, assinale a alternativa correta.
(B) Há, no CPP, regra expressa para os limites objetivos da
(A) Se o réu estiver preso, será citado por intermédio de seu
coisa julgada da sentença penal condenatória, segundo a
defensor.
qual, diferentemente do que dispõe a norma processual ci-
(B) Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem
vil, a motivação, o dispositivo e as questões prejudiciais, por
se encontrarem ligados à definição do fato principal, devem constituir advogado, o processo seguirá sem sua presença,
ser objeto da coisa julgada. devendo o juiz nomear defensor para patrocinar a sua de-
(C) O reconhecimento, pelo juiz, de circunstância agravante fesa.
na sentença penal condenatória, não delineada expressa- (C) Se o acusado se oculta para não ser citado, o oficial de
mente na peça acusatória, exsurgida da instrução processu- justiça certificará a ocorrência e procederá à citação por
al, independe de pedido expresso da parte acusatória e da edital.
submissão ao mutatio libelli. (D) Será pessoal a intimação do Ministério Público e do de-
(D) As sentenças terminativas são as que encerram o pro- fensor nomeado.
cesso, com exame e julgamento do meritum causae, absol- (E) No Código de Processo Penal, não há previsão de intima-
vendo ou condenando o réu, e que permitem a formação da ção da sentença por edital.
coisa julgada formal e material.
(E) A sentença penal absolutória com trânsito em julgado, en-
tre outros efeitos, obsta a arguição da exceção da verdade.

41. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2017)


Quanto às citações e intimações, marque a alternativa CORRETA.
(A) a citação inicial do réu é realizada por publicação no diá-
rio da justiça ou em jornal de grande circulação.
(B) a citação inicial do réu é realizada por mandado, ou
quando o réu estiver no estrangeiro, por carta precatória.
(C) a citação inicial do réu é realizada por mandado, ou
quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz
processante, por carta precatória.
(D) no caso de réu preso, a sua citação será feita diretamen-
te ao diretor do estabelecimento penitenciário no qual esti-
ver cumprindo pena.
(E) a citação do militar dar-se-á pessoalmente.

49
DIREITO PROCESSUAL PENAL

GABARITO ANOTAÇÕES

1 B
2 A
______________________________________________________
3 D
4 C ______________________________________________________
5 C
______________________________________________________
6 B
7 E ______________________________________________________
8 D
9 D ______________________________________________________

10 C ______________________________________________________
11 D
12 B ______________________________________________________
13 C
______________________________________________________
14 C
15 A ______________________________________________________
16 E
______________________________________________________
17 C
18 D ______________________________________________________
19 D
20 A ______________________________________________________

21 A
______________________________________________________
22 D
23 CERTO ______________________________________________________
24 CERTO
______________________________________________________
25 C
26 D ______________________________________________________
27 B
______________________________________________________
28 E
29 B ______________________________________________________
30 D
31 B ______________________________________________________

32 C
______________________________________________________
33 A
34 B ______________________________________________________
35 A
______________________________________________________
36 A
37 E ______________________________________________________
38 ERRADO
_____________________________________________________
39 A
40 E _____________________________________________________
41 C
42 A ______________________________________________________

43 C
______________________________________________________
44 D

50
DIREITOS HUMANOS
1. Teoria Geral Dos Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. O Processo Histórico De Construção E Afirmação Dos Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. A Estrutura Normativa Do Sistema Global E Do Sistema Interamericano De Proteção Dos Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
4. A Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988 E Os Tratados Internacionais De Proteção Dos Direitos Humanos . . . . . 07
5. Democracia, Cidadania E Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. Direitos Humanos, Minorias E Grupos Vulneráveis: Mulheres, Idosos, Crianças E Adolescentes, Povos Indígenas E Comunidades Tradi-
cionais, Pessoa Com Deficiência, Lgbtqia+, Refugiados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
7. Política Nacional De Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
8. Educação E Cultura Em Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
9. Agenda 2030 E Os Objetivos De Desenvolvimento Sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
10. Segurança Pública E Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
DIREITOS HUMANOS
Com vistas a criar um sistema internacional de proteção no
TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS qual a tutela dos direitos humanos seja o fim maior dos Esta-
dos, em 1945 é criado a Organização das Nações Unidas (ONU),
A teoria geral dos direitos humanos compreende os elementos instituição internacional global para a promoção e garantia dos
basilares acerca do estudo dos direitos humanos internacionais. direitos humanos e da paz no mundo.
Apresenta temas como conceito, histórico, características e Sobre o tema preceitua Flávia Piovesan:
outros pontos elementares para o conhecimento da disciplina. No momento em que os seres humanos se tornam supérfluos
e descartáveis, no momento em que vige a lógica da destruição,
Sistema Internacional dos Direitos Humanos em que cruelmente se abole o valor da pessoa humana, torna-se
A luta do homem pela efetivação de direitos humanos fun- necessária a reconstrução dos direitos humanos, como paradig-
damentais existiu em muitos períodos da história da humanida- ma ético capaz de restaurar a lógica do razoável. A barbárie do
de, sendo resultado das inquietações do ser humano e de seus totalitarismo significou a ruptura do paradigma dos direitos hu-
processos de luta por reconhecimento. manos, por meio da negação do valor da pessoa humana como
Na esfera interna dos Estados a efetivação e positivação dos valor fonte do direito. Diante dessa ruptura, emerge a necessida-
direitos humanos coincide com o advento do constitucionalismo de de reconstruir os direitos humanos, como referencial e para-
moderno em seu mister de limitar o arbítrio estatal e de garantir digma ético que aproxime o direito da moral.
a tutela dos direitos do homem. Tem início assim um novo paradigma para a aplicação dos
No campo internacional a existência de um sistema de nor- direitos humanos, por meio de um sistema normativo de grande
mas e mecanismos de tutela dos direitos humanos apresenta conteúdo axiológico, no qual a dignidade da pessoa humana e o
como marco histórico o pós-segunda guerra mundial, a partir seu reconhecimento enquanto sujeito de direitos, passa a ser o
da criação da Organização das Nações Unidas. Destaca-se como vetor de interpretação e aplicação do Direito.
precedentes desse processo de internacionalização, a criação da A construção de um sistema internacional marca também
Liga das Nações, a Organização Internacional do Trabalho e o Di- a relativização da soberania dos Estados, pois através da rati-
reito Humanitário. ficação de Tratados Internacionais os Estados aceitam serem
julgados e condenados por tribunais internacionais de direitos
Precedentes históricos humanos.
Direito humanitário: conjunto de normas e medidas que discipli-
nam a proteção dos direitos humanos em tempo de guerra (1863). Sobre o tema afirma Portela:
Direito humanitário versa sobre a proteção às vitimas de conflitos ar- Na atualidade, a soberania nacional continua a ser um dos
mados, atua também em situações de graves calamidades. pilares da ordem internacional. Entretanto, limita-se pela obri-
Criação da liga das nações (1919): antecessora da ONU, a gação de os Estados garantirem aos indivíduos que estão sob
liga das nações foi criada após a 1ª guerra mundial com o escopo a sua jurisdição o gozo de um catálogo de direitos consagrados
de garantir a paz no mundo. Sua proposta falhou pois não foi em tratados. A soberania restringe-se também pelo dever estatal
apta a impedir a ocorrência da 2ª guerra mundial. de aceitar a fiscalização dos órgãos internacionais competentes
Criação da OIT (1919): criada após a 1ª guerra mundial com quanto à conformidade de sua atuação com os atos internacio-
o escopo de promover a tutela dos direitos dos trabalhadores nais dos quais faça parte
por meio da garantia de padrões internacionais de proteção.
Ao dispor sobre os antecedentes históricos Flavia Piovesan Importante ressaltar no entanto, que não há hierarquia
dispõe: entre o Sistema Internacional de Direitos Humanos e o Direito
Ao lado do Direito Humanitário e da Liga das Nações, a Interno dos Estados-partes, ao contrário, a relação entre essas
Organização Internacional do Trabalho (International Labour esferas de proteção é complementar. O sistema internacional é
Office, agora denominada International Labour Organization) mais uma instância na proteção dos direitos humanos.
também contribuiu para o processo de internacionalização dos Importante ressaltar também o caráter subsidiário do sis-
direitos humanos. Criada após a Primeira Guerra Mundial, a Or- tema internacional dos direitos humanos, pois seus órgãos só
ganização Internacional do Trabalho tinha por finalidade promo- poderão ser acionados diante da omissão ou falha dos Estados
ver padrões internacionais de condições de trabalho e bem-estar. na proteção dos direitos humanos. Cabe aos Estados em primei-
Sessenta anos após a sua criação, a Organização já contava com ro lugar a tutela e proteção dos direitos humanos daqueles que
mais de uma centena de Convenções internacionais promulga- se encontram sob a sua jurisdição. Diante da falha ou omissão
das, às quais Estados-partes passavam a aderir, comprometen- dessa proteção poderão ser acionados os organismos interna-
do-se a assegurar um padrão justo e digno nas condições de tra- cionais.
balho. As partes no Sistema Internacional dos Direitos Humanos
a) Estados: os Estados tem legitimidade ativa e passiva no
A Organização Internacional do Trabalho e o Direito Humani- sistema internacional de direitos humanos, podendo atuar no
tário ainda atuam na tutela dos direitos humanos. pólo ativo e passivo das Comunicações Interestatais e no pólo
passivo das petições individuais.
Histórico do sistema internacional dos direitos humanos b) Indivíduos: os indivíduos em regra não possuem legitimi-
O sistema internacional de direitos humanos é fruto do pós dade ativa ou passiva no sistema internacional, a exceção é a
2ª guerra mundial e surge como decorrência dos horrores prati- legitimidade ativa em petições individuais em alguns sistemas
cados na guerra. A desvalorização e reificação da pessoa humana regionais a exemplo do sistema europeu de direitos humanos,
faz emergir a necessidade de construção de uma nova lógica ao possui ainda legitimidade passiva nas denúncias do Tribunal Pe-
Direito, pautada em um sistema de valores éticos e morais, no nal Internacional (TPI), orgão jurisdicional de natureza penal do
qual a pessoa humana seja o fim e não um meio. sistema internacional de direitos humanos.

1
DIREITOS HUMANOS
Tribunal de Nuremberg A divisão em geração/dimensão é uma das formas de se es-
Tribunal militar internacional criado para julgar os crimes tudar os direitos humanos, e essas categorias não impõe uma
militares praticados pelos nazistas. Este foi um Tribunal pós divisão rígida ou hierárquica dos direitos humanos, mas apenas
factum, criado exclusivamente para punir os Alemães acusados uma forma didática de melhor abordá-los. A existência de uma
de violar direitos humanos na segunda guerra mundial, direitos nova dimensão/geração não exclui a anterior, mas amplia o ca-
estes que não eram previstos ou regulados por quaisquer orga- tálogo de direitos.
nismos internacionais e cujas violações eram permitidas pelo Por meio do estudo das dimensões/gerações e pode perce-
Direito do Estado Alemão. Essas características fizeram com que ber o desenvolvimento histórico acerca da fundamentalidade
Nuremberg fosse alvo de grandes controvérsias entre os críticos dos direitos humanos. O estudo das dimensões de direitos hu-
da época. manos deixa clara a ausência de diferença ontológica entre os
direitos humanos e direitos fundamentais, eis que a efetivação
Críticas: desses direitos na ordem Interna dos Estados precede a existên-
Tribunal de exceção. cia do Sistema Internacional.
Julgamento apenas de alemães.
Violação da legalidade e da anterioridade penal. 1ª geração: direitos da liberdade. São os direitos civis e po-
Pena de prisão perpétua e de morte por enforcamento. líticos, frutos das revoluções liberais e da transição do Estado
Absolutista para o Estado Liberal de Direito. São direitos negati-
Favoráveis: vos, pois negam a intervenção estatal. A burguesia necessita de
Prevalência de direitos humanos. liberdade frente ao despotismo do Estado Monárquico. Marco
Ponderação de interesses. jurídico: Declaração francesa dos Direitos do Homem e do Cida-
dão de 1789.
Esferas de proteção do Sistema Internacional de Direitos 2ª dimensão: direitos da igualdade. Direitos sociais, eco-
Humanos nômicos e culturais. Direitos positivos prestacionais. O Estado
O sistema internacional de direitos humanos apresenta duas precisa intervir na economia frente aos desequilíbrios causados
esferas complementares de proteção o sistema global e o siste- pela revolução industrial. Constituição Mexicana e Constituição
ma regional. Alemã – Constituição de Weimar.
Sistema global de direitos humanos: esfera de âmbito global 3ª dimensão: Direitos da fraternidade ou solidariedade. Di-
formada pelos países membros da ONU com jurisdição em todo reitos difusos, direitos dos povos, direitos da humanidade. São
o mundo; direitos que transcendem a noção de individualidade do sujeito
Sistema Regional de Direitos Humanos: esfera de âmbito criando novas categorias de tutela como a dos direitos transin-
regional que compreende determinadas regiões do mundo a dividuais. Ex: direito ao desenvolvimento, ao meio ambiente, ao
exemplo do sistema interamericano de direitos humanos que consumidor.
compreende os países da América, o sistema europeu de direi- 4ª geração: para Norberto Bobbio compreende a bioética e
tos humanos que compreende países do continente europeu, o biodireito. De acordo com Paulo Bonavides direito à Democracia.
sistema asiático com países da Ásia, o sistema africano integrado 5ª geração: Segundo Paulo Bonavides o direito a paz.
por países da África e o sistema Árabe formado por países de
cultura Árabe. Os Quatro Status de Jellinek
Outra importante divisão didática dos direitos humanos está
Direitos Humanos X Direitos Fundamentais presente na classificação de Jellinek, em sua classificação esse
Ontologicamente não há distinção entre direitos humanos e autor apresenta quatro status de efetivação dos direitos huma-
direitos fundamentais, sendo essas expressões comumente usa- nos na relação entre o indivíduo e o Estado.
das como termos sinônimos. Didaticamente, no entanto algu- Status passivo: o indivíduo apresenta deveres em relação ao
mas doutrinas as utilizam como expressões diversas, de acordo Estado. Ex.: obrigação de participar do serviço militar.
com o preceituado abaixo: Status negativo: liberdades individuais frente ás ingerências
do Estado. Liberdades civis tais como a liberdade de expressão
Direitos Fundamentais: Direitos essenciais à dignidade hu- e de crença.
mana, positivados na ordem interna do País, previstos na Cons- Status positivo ou status civitatis: neste o indivíduo passa a
tituição dos Estados. ter direito de exigir do estado uma atuação positiva uma obriga-
Direitos Humanos: direitos essenciais à dignidade humana, ção de fazer. Ex.: direito a saúde.
reconhecidos na ordem jurídica internacional com previsão nos Status ativo: neste o indivíduo passa a ter direito de influir
Tratados ou outros instrumentos normativos do Direito Interna- nas decisões do Estado. Ex.: direitos políticos.
cional, são direitos que transcendem a ordem interna dos Esta-
dos. Características dos Direitos Humanos
Devido ao caráter complexo e evolutivo dos direitos huma-
Gerações/dimensões de Direitos Humanos nos não um rol taxativo de suas características, segue abaixo um
A expressão gerações/dimensões de direitos humanos é uti- rol meramente exemplificativo.
lizada para representar categorias de direitos humanos, que de Historicidade: os direitos humanos são fruto do desenvolvi-
acordo com o momento histórico de seu surgimento passam a mento histórico e social dos povos.
representar determinadas espécies de tutela dentro do catálogo Universalidade: os direitos humanos são universais, pois
de proteção dos direitos da pessoa humana. não pode eleger determinadas categorias de indivíduos a serem
merecedores da tutela desses direitos. Os direitos humanos são
inerente á condição de pessoa humana. Essa característica não

2
DIREITOS HUMANOS
exclui a existência de direitos especiais que por sua característi- No mínimo considerada costume internacional (soft low –
ca essencial deva ser destinado a pessoas específicas a exemplo fontes secundárias). Passou a ser respeitada pela consciência da
dos direitos das pessoas com deficiência. A universalidade impe- obrigatoriedade alcançando o status de costume internacional
de o discrímen negativo de direitos. – fonte de direito internacional.
Relatividade: os direitos humanos podem sofrer relativiza- Acerca do status da Declaração preleciona Flávia Piovesan:
ção, não são absolutos. No caso concreto, determinados direitos
podem ser relativizados em prol da efetivação de outros direitos. Há, contudo, aqueles que defendem que a Declaração teria
Obs: o direito de proibição a tortura é um direito de caráter ab- força jurídica vinculante por integrar o direito costumeiro in-
soluto. ternacional e/ou os princípios gerais de direito, apresentando,
Irrenunciabilidade: as pessoas não tem o direito de dispor assim, força jurídica vinculante. Para essa corrente, três são as
sobre a proteção a dignidade humana. argumentações centrais:
Inalienabilidade: os direitos humanos não podem ser aliena- a) a incorporação das previsões da Declaração atinentes aos
dos, não são objeto de comércio. direitos humanos pelas Constituições nacionais;
Imprescritibilidade: os direitos humanos não são atingidos b) as frequentes referências feitas por resoluções das Nações
pelo decurso do tempo. Unidas à obrigação legal de todos os Estados de observar a De-
Vedação ao retrocesso: os direitos humanos caminham pra claração Universal; e
frente, e uma vez garantida a sua efetivação, esta deve ser am- c) decisões proferidas pelas Cortes nacionais que se referem
pliada, mas não suprimida, sendo vedado o seu retrocesso. à Declaração Universal como fonte de direito.

Unidade e indivisibilidade: os direitos humanos são unos Não há como se negar a relevância da Declaração enquan-
e indivisíveis. Não há que falar em hierarquia entre os direitos, to fonte no Sistema Internacional dos Direitos Humanos, o que
todos conjuntamente compõem um conjunto de direitos essen- decorre de sua relevância enquanto vetor de interpretação e de
ciais à efetividade da dignidade da pessoa humana. criação dos direitos humanos no mundo. Nesse mister pode se
inferir que a DUDH não possui força jurídica de lei formalmente,
Sistema Global de Proteção no entanto apresenta força jurídica material.
O sistema global de proteção abrange todos os países do Reconhecendo os direitos humanos: o preâmbulo da Decla-
globo, sendo instituído pela Organização das Nações Unidas. ração elenca importantes princípios, imprescindíveis à plena efe-
Trata-se de um sistema subsidiário e complementar de prote- tividade dos direitos humanos:
ção aos direitos humanos, atuando em conjunto com a proteção Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente
Interna dos Estados e a proteção dos Sistemas Regionais de Di- a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais
reitos Humanos. e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz
no mundo,
Carta Internacional de Direitos Humanos Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos
A Carta Internacional de Direitos Humanos é formada pelos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a cons-
três principais documetos do sistema global: ciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que
Declaração Universal Direitos Humanos: os todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberda-
Pacto Internacional dos direitos civis e políticos (1966). de de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado
Pacto Internacional dos direitos econômicos, sociais e cul- como a mais alta aspiração do ser humano comum;
turais (1966). A Declaração reconhece expressamente o caráter inerente
dos direitos humanos, característica que conforme abordado em
O primeiro documento desse sistema foi a Declaração Inter- tópico anterior afirma a universalidade desses direitos. Todo ser
nacional de Direitos Humanos (1948) uma recomendação com humano, independente de credo, etnia ou ideologia é titular de
um amplo catálogo de direitos humanos de primeira e segunda direitos humanos. Reafirma ainda o tripé da liberdade, igualda-
dimensões. A Declaração foi criada para que em seguida fosse de e fraternidade como principais vetores dos direitos humanos.
elaborado o Tratado Internacional, a divisão e bipolaridade mun-
dial existente na época, com os interesses do bloco socialista re- Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
presentados pela URSS e os interesses do bloco capitalista repre- Aprovado em 1966. Entrou em vigor em 1976.
sentados pelos EUA, impedia um acordo acerca do conteúdo do Tratado internacional que disciplina os direitos de 1ª dimen-
Tratado. De um lado a URSS desejava um Tratado contemplando são, os direitos civis e políticos.
direitos sociais, econômicos e culturais do outro lado os EUA de- Institui o Comitê de Direitos Humanos: órgão de natureza
fendia um Tratado contemplando os direitos civis e políticos. A civil destinado á tutela e promoção dos direitos previstos no Pac-
dicotomia de interesses fez com que aprovassem dois Tratados to.
um com direitos de primeira e outro com direitos de segunda Como mecanismo de monitoramento institui o sistema de
dimensão. relatórios e comunicações interestatais. Os relatórios são instru-
mentos obrigatórios nos quais os Estados-parte devem informar
Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH). as medidas por eles adotadas para a efetivação das obrigações
Aprovado em 1948. previstas no Pacto. As comunicações interestatais são denúncias
Resolução da Assembleia Geral da ONU. A Declaração foi de violações de obrigações previstas no Pacto feitas por um Es-
aprovada como uma resolução, recomendação e não apresen- tado-parte em relação a outro Estado-parte, é mecanismo facul-
tando estrutura de Tratado Internacional, por isso pode se afir- tativo que só pode ser aplicado se ambos os Estados, denuncian-
mar que esta não possui força de lei. te e denunciado estiverem expressamente se submetido a este
mecanismo.

3
DIREITOS HUMANOS
Aplicabilidade imediata. Tratados Especiais do Sistema Global
Primeiro Protocolo Facultativo: institui a sistemática de pe- O sistema global apresenta um rol de Tratados Especiais,
tições individuais, que são denúncias feitas por pessoas, grupos cujos tutela destina-se a temas ou indivíduos determinados. Se-
de pessoas ou organização não governamentais (ongs) diante da gue abaixo o rol com os principais Tratados Especiais do sistema.
violação pelos Estados-parte dos direitos previstos no Pacto. As Convenção para prevenção e repressão dos crimes de geno-
petições são instrumentos facultativos que só serão admitidas se cídio (1948).
o Estado-parte tiver ratificado o protocolo facultativo. Convenção sobe a eliminação de todas as formas de discri-
minação racial (1965).
Pacto Internacional de Direitos Sociais Econômicos e Cul- Convenção sobe a eliminação de todas as formas de discri-
turais minação contra as mulheres (1979).
Aprovado em 1966. Entrou em vigor em 1976. Convenção contra a tortura ou outros tratamentos ou penas
Tratado internacional de direitos de 2ª dimensão, os direitos cruéis, desumanos e degradantes (1984).
sociais, econômicos e culturais. Convenção sobre os direitos da criança (1989).
Não institui Comitê próprio. Convenção para proteção dos direitos dos trabalhadores mi-
Como mecanismo de monitoramento prevê apenas os rela- grantes (1990).
tórios. Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência
Aplicação progressiva: o Pacto prevê a aplicação progressi- (2006).
va dos direitos sociais, econômicos e culturais, essa disposição Convenção para proteção contra desaparecimentos força-
não significa a menor efetividade desses direitos. O preâmbulo é dos (2006).
claro ao dispor que os Estados devem dispor de todos os meios
apropriados para buscar a plena efetivação desses direitos: Tribunais do Sistema Internacional
Artigo 2-1. Todos os estados integrantes do presente Pacto Visando dar mais efetividade ao cumrpimento dos direitos
se comprometem a agir, tanto por seu próprio esforço quanto humanos no sistema internacional foram criados tribunais de
com a ajuda e cooperação internacionais, sobretudo nos planos natureza criminal e não criminal para julgar Estados ou indiví-
econômico e técnico, com o máximo de recursos disponíveis, vi- duos violadores dos direitos humanos.
sando garantir progressivamente o pleno exercício dos direitos Cortes não criminais: são tribunais, orgãos de natureza juris-
reconhecidos no presente Pacto por todos os meios apropriados, dicional, criados nos sistemas de proteção para julgar os Estados
inclusive e particularmente a doção de medidas legislativas. que descumprirem as obrigações assumidas nos Tratados Interna-
Não obstante seu caráter progressivo, os seus direitos pos- cionais, a exemplo da Corte Internacional de Justiça (CIJ) do sistema
suem justiciabilidade e, portanto são exigíveis juridicamente, fa- global e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) orgão
tor que decorre de sua fundamentalidade. jurisdicional do sistema interamericano de direitos humanos.
Corroborando com este entendimento Flávia Piovesan pre- Corte criminal: orgão jurisdicional de natureza penal criado
ceitua: para julgar os indivíduos acusados de praticar os crimes contra
Acredita-se que a ideia da não acionabilidade dos direitos os direitos humanos tipificados. O único tribunal penal do sis-
sociais é meramente ideológica e não científica. É uma precon- tema é o Tribunal Penal Internacional (TPI) criado pelo Estatuto
cepção que reforça a equivocada noção de que uma classe de di- de Roma. O Estatuto dispõe ainda acerca dos crimes contra os
reitos (os direitos civis e políticos) merece inteiro reconhecimento direitos humanos no sistema internacional.
e respeito, enquanto outra classe (os direitos sociais, econômicos
e culturais), ao revés, não merece qualquer reconhecimento. Sus-
tenta-se, pois, a noção de que os direitos fundamentais — se- O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO E AFIRMA-
jam civis e políticos, sejam sociais, econômicos e culturais — são ÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
acionáveis e demandam séria e responsável observância.
A afirmação histórica dos direitos humanos em nossa socie-
Não basta a proteção do direito à vida sem a tutela do direi- dade estão relacionados aos acontecimentos históricos relevan-
to à saúde, a educação, a moradia, à cultura entre outros. A dig- tes e que formaram o sistema jurídico protetivo que temos hoje.
nidade da pessoa humana só se efetiva com a proteção integral Tem-se como absolutamente importante conhecer o con-
dos direitos fundamentais, por isso a relevância da afirmação de texto histórico do desenvolvimento dos direitos humanos para
sua indivisibilidade e unidade conforme expressamente previsto compreender sua exata dimensão e o papel desempenhado em
no preâmbulo do PIDESC: importantes conquistas sociais, especialmente porque é isto que
garante um conhecimento mais abrangente sobre a matéria e,
Reconhecendo que, conforme a declaração Universal dos neste sentido, permite ao candidato responder mais questões,
Direitos do Homem, o ideal do ser humano livre, libertado do inclusive as menos específicas.
medo e da miséria, só poderá ser atingido se forem criadas as O primeiro marco histórico ao qual devemos fazer referencia
condições que permitam a cada um desfrutar direitos sociais, é o ano de 1215, em que ocorreu a edição da Carta Magna, reco-
econômicos e culturais, assim como direitos civis e políticos. nhecida como o primeiro esboço de Constituição e até hoje pre-
cursora de um modelo amplamente adotado séculos mais tarde
Protocolo Facultativo: aprovado em 2008, esse protocolo de submissão dos governantes a um sistema jurídico.
institui o sistema de petições individuais mediante o Comitê dos Naquele momento, em plena Idade Média, uma das manei-
Direitos Econômicos e Culturais, órgão da ONU. A aprovação des- ras de demonstrar força era pela terra, sendo que como o rei à
te protocolo visa dar mais efetividade aos direitos previstos no época não tinha terra (e entrou para a história como sendo o
Pacto. João Sem Terras) restou acuado por um grupo de nobres que
desejavam limitar seus poderes.

4
DIREITOS HUMANOS
Assim, ao prestar juramento a um documento, o Rei reco- São as chamadas dimensões ou gerações de direitos huma-
nheceu a existência de uma série de normas jurídicas limitadoras nos e, até hoje, servem para embasar sua evolução histórica.
de seu poder (uma vez que na época havia diversos poderosos O principal parâmetro é o momento histórico ao qual cada
que governavam sem limites, o que inclusive continuou existin- um dos direitos restou inserido (cronologicamente).
do no período subsequente que entrou para a história como o A primeira dimensão/geração está relacionado às revolu-
absolutismo). ções liberais, uma vez que tenta proteger o cidadão dos abusos
Com isso, tivemos pela primeira vez na história um docu- cometidos pelo Estado.
mento que garantia uma limitação ao poder do soberano, o que Até aquele momento, o indivíduo não podia demandar ne-
serviu como um embrião para as Constituições que viriam. nhum direito em face do Estado, sendo que este rompimento
Em 1628, com a edição do petition of rights tivemos um ou- está umbilicalmente às agitações iluministas e as revoluções li-
tro marco importante no âmbito dos direitos humanos, uma vez berais que ocorre naquele momento.
que, pela primeira vez, houve um requerimento por liberdades e Historicamente, temos o aparecimento das constituições es-
direitos civis, pelos súditos, ao Rei. critas e que visavam delimitar os poderes e a atuação do Estado,
Em 1679, com o habeas corpus act, tivemos a introdução especialmente em face da relação entre este e os indivíduos.
de um mecanismo que visava a revogação de prisões injustas, Neste contexto, vê-se o surgimento de direitos civis e políti-
sendo que até hoje esta figura se encontra prevista em diversos cos, tais como vida e propriedade. Isto decorre porque o libera-
ordenamentos (inclusive no Brasil, que visa combater os atos de lismo surge como um movimento que busca proteger o indivíduo
cerceamento de liberdade praticados com ilegalidade e abuso em detrimento de outros valores sociais.
de poder). Ademais, o foco de tais estavam ligados intimamente à li-
Em 1689, em um importante marco aos direitos humanos, berdade e, de uma maneira geral, importavam em um dever de
temos a edição da bill of right (declaração de direitos), que sur- abstenção do Estado em relação aos particulares (em termos
giu após a revolução gloriosa e que submetia a monarquia à so- não técnicos, um dever de “não fazer” e, com isso, garantir os
berania popular (antes se entendia que o poder vinha direta- direitos basilares dos particulares).
mente dos deus aos monarcas). Em outras palavras, trata-se de uma imposição ao Estado
Trata-se do maior embrião da visão jurídica de que o poder para que este se abstenha de intervir indevidamente na vida das
emana do Povo e que o mesmo poderia pleitear direitos em face pessoas (deixar de cercear a liberdade, deixar de dominar a pro-
do Estado. priedade etc.).
Em 1776, com a declaração de independência dos Estados Os direitos de segunda dimensão surgem em um momento
Unidos da América, houve uma grande influência dos ideais ilu- de grande desigualdade social, o que leva ao questionamento
ministas e importantes conquistas na promoção de uma socieda- acerca da necessidade de uma outra espécie de atuação do Es-
de em que todos os cidadãos seriam iguais perante a lei. tado, relacionada a uma conduta POSITIVA e que tenha como
Em 1779, no auge da Revolução Francesa, temos a Decla- norte a promoção do bem-estar social e da igualdade (facere).
ração Universal de Direitos Humanos, contemplando diversos e Neste sentido, o Estado não só deveria se abster de intervir
importantes elementos que estruturam até hoje o estudo e apli- na liberdade, mas também implantar determinadas medidas que
cação dos direitos humanos. possibilitem a reversão das desigualdades sociais.
A Revolução Francesa entrou para história, dentre outros Por exemplo, o Estado deve assumir o ônus de garantir uma
motivos, porque ela foi a responsável por encerrar a época ab- educação acessível e de qualidade, assim como a saúde de toda
solutista na Europa e, por sua vez, por instaurar e disseminar a a população e que todos tenham oportunidades e possam reali-
Constituição como verdadeiro elemento fundante de um Estado. zar o seu mínimo vital.
Além disto, o modelo quase universalmente utilizado de É importante destacar que a medida da igualdade está rela-
tripartição dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) tam- cionada à liberdade material e não meramente a forma (aquela
bém surgiu nesta época, o que levou a diversos desdobramen- do “somos todos iguais perante a lei”).
tos, especialmente ao maior controle do Estado sobre seus pró- A liberdade material surge quando se garante que os iguais
prios atos, na medida em que não seria mais o mesmo órgão que serão tratados de maneira igual, mas os desiguais serão tratados
elaboraria as leis, executaria e julgaria as mesmas. de maneira desigual (ex.: não dá pra dizer que há igualdade ma-
Em 1948, após o mundo ter ficado consternado com tanta terial entre um rico e um miserável, uma vez que o segundo não
destruição causada pela segunda guerra mundial, veio a Decla- terá acesso as mesmas coisas e nem às condições de vida que o
ração Universal de Direitos Humanos em 10/12/1948 e que re- rico, então neste contexto o Estado deve promover medidas que
presentou um imenso avanço na proteção dos direitos humanos. façam com que o miserável possa ter condições de ter uma vida
Surgiu naquela ocasião a Liga das Nações (que acabou ex- digna – algo que não é preciso de se importar quando se fala do
tinta pouco tempo depois e, posteriormente, ressurgiu como as rico).
Nações Unidas – ONU). Então, ao passo que na primeira geração bastava que o Esta-
Em 1969 foi assinado o Pacto de São José da Costa Rica, o do não atropelasse as liberdades individuais, na segunda ocorreu
qual foi incorporado ao ordenamento jurídico em 1992, fazendo a imposição de uma obrigação do Estado de realizar prestações
com que o Brasil entrasse na Convenção Americana Sobre Direi- positivas e equilibrar as situações sociais que são naturalmente
tos Humanos e que tivesse diversos respaldos no ordenamento desequilibradas.
jurídico. Os direitos de terceira geração (fraternidade) são aqueles
Quanto à evolução dos direitos humanos, a partir de uma surgidos após a segunda guerra mundial e se relacionam aos di-
proposta de 1979, tivemos uma proposta de classificação em re- reitos transindividuais (coletivos).
lação às gerações dos direitos humanos e que até hoje é a mais Após a destruição causada pela Grande Guerra, o mundo co-
amplamente aceita. Ela se baseia nos lemas da revolução france- meçou a perceber que era necessário criar um plexo de direitos
sa: igualdade, fraternidade e liberdade. que versasse sobre aquilo que fossem além dos indivíduos.

5
DIREITOS HUMANOS
Por exemplo, temos o direito ao meio ambiente equilibrado, Assim, o Brasil aderiu aos mencionados tratados interna-
posto que ele não pertence a uma ou outra pessoa individual- cionais, porém, ainda não reconhece a competências de seus
mente, mas a toda a coletividade. órgãos de supervisão, impede a fiscalização de suas obrigações
Em suma, eles visam tutelar a própria existência humana internacionais por parte daqueles órgãos. Na prática, tal fato re-
(o que faz bastante sentido considerada a comoção causada no presenta a impossibilidade de tais órgãos receberem denúncias
pós-guerra). individuais de casos de violações de direitos humanos ocorridos
Esta é a ideia básica e que surgiu a partir do estudo con- no país, através do sistema de petições ou denúncias individuais.
solidado e amplamente aceito (e que tem maiores chances de A possibilidade de acionar outros órgãos internacionais de su-
incidir na prova). pervisão, além da Comissão Interamericana de Direitos Huma-
Contudo, existem os que afirmam a existência dos direitos nos da OEA, seria uma garantia a mais da proteção dos direitos
de quarta e quinta geração (apesar de não haver unanimidade humanos no Brasil.
a este respeito, é importante conhecer porque isso pode incidir
na prova). Assim, no sistema global, além do sistema de denúncias
A quarta geração/dimensão aparece no contexto de demo- individuais, há também o sistema de investigações e o de re-
cracia e universalização do acesso à informação e ampla integra- latórios. Ao ratificar os tratados internacionais mencionados, o
ção dos países (globalização política) sem prejuízo dos avanços Brasil assumiu a obrigação de enviar relatórios periódicos para
tecnológicos e do avanço da ciência o que acaba refletindo na os Comitês e de sujeitar-se a uma eventual investigação sobre
necessidade de desenvolvimento do biodireito e dos direitos a situação dos direitos humanos no seu território. Uma forma
tecnológicos. de participação e de intervenção das organizações de direitos
A quinta geração, por fim, defendido pelo professor Paulo humanos no sistema da ONU é o encaminhamento de relató-
Bonavides como sendo o direito à paz (para Vazak é um direito rios próprios aos respectivos Comitês, para que sejam analisados
de terceiro geração). juntamente com os relatórios enviados pelos Estados.

O sistema da ONU possui dois tipos de procedimento: os


A ESTRUTURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL E convencionais e os não convencionais.
DO SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS O procedimento convencional requer a sua previsão expres-
sa em tratados, pactos e convenções internacionais, e é super-
A ESTRUTURA NORMATIVA DO SISTEMA INTERNACIONAL visionado pelos órgãos internacionais de supervisão, os Comitês
DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS (através do sistema de denúncias, relatórios e investigações).

O Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: ins- Os procedimentos não convencionais são mecanismos não
trumentos de alcance geral e especial previstos em tratados que contribuem para a maior eficácia do
sistema internacional de proteção. Os mecanismos não conven-
O sistema global de proteção dos direitos humanos, da ONU, cionais são bastante específicos e são acionados em caso de não
contém normas de alcance geral e de alcance especial. As nor- assinatura dos tratados internacionais pelos países violadores
mas de alcance geral e destinadas a todos os indivíduos, gené- de direitos humanos num caso específico, como por exemplo,
rica e abstratamente, são os Pactos Internacionais de Direitos o sistema de ações urgentes. Nestes casos, a ONU analisará as
Civis e Políticos e o de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. violações com base em requisitos como a persistência, a siste-
maticidade, a gravidade e a prevenção, para decidir se intervirá
As normas de alcance especial são destinadas a indivíduos através de um dos seus órgãos, tomando providências concretas.
ou grupos específicos, tais como: mulheres, refugiados, crianças
entre outros. Dentre as normas especiais do sistema global da O Sistema Regional Interamericano de Proteção aos Direi-
ONU, destacam-se a Convenção contra a Tortura e outros Trata- tos Humanos: instrumentos de alcance geral e especial
mentos ou Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes, a Conven-
ção para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, a Con- O sistema interamericano de proteção aos direitos huma-
venção para a Eliminação de todas as formas de Discriminação nos, do qual participam os estados membros da OEA, integra o
Racial e a Convenção sobre os Direitos da Criança. sistema regional de proteção juntamente com os sistema euro-
peu e a sistema africano.
Nos sistema global da ONU, o Brasil ratificou a maior parte
dos instrumentos internacionais de proteção aos direitos huma- O sistema interamericano de promoção dos direitos huma-
nos, tais como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, nos teve início formal com a aprovação da Declaração Americana
em 24/01/92; o Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de Direitos e Deveres do Homem em 1948 na Colômbia. A Decla-
24/01/92; a Convenção para a Eliminação de toda a Discrimina- ração Americana é um instrumento de alcance geral que integra
ção contra a Mulher, em 01/02/84; a Convenção para a Elimina- o sistema interamericano, destinada a indivíduos genéricos e
ção de todas as formas de Discriminação Racial, em 27/03/68; e abstratos, estabelecendo os direitos essenciais da pessoa inde-
a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24/09/90. Porém, pendente de ser nacional de determinado Estado, tendo como
o Brasil ainda não reconhece a competência dos seus órgãos de fundamento os atributos da pessoa humana. Além da Declara-
supervisão e monitoramento, os respectivos Comitê de Direitos ção Americana, há outros instrumentos de alcance geral que fa-
Humanos, o Comitê contra a Discriminação Racial, o Comitê con- zem parte do sistema interamericano, como a Convenção Ame-
tra a Tortura, no que tange à apreciação de denúncias de casos ricana sobre os Direitos Humanos ou “Pacto de San José”(1969),
individuais de violação dos direitos humanos. ratificada pelo Brasil em 25/09/92

6
DIREITOS HUMANOS
Além dos instrumentos de alcance geral, os sistema intera- A Corte possui duas funções principais: a função contencio-
mericano também é integrado por instrumentos de alcance es- sa, que é a análise dos casos individuais de violações de direitos
pecial, tais como: a Comissão Interamericana de Direitos Huma- humanos encaminhados pela Comissão ou pelos Estados-parte;
nos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ao ratificar e a função consultiva. A sua função consultiva refere-se a sua ca-
a Convenção Americana, o Brasil aceitou compulsoriamente a pacidade para interpretar a Convenção e outros instrumentos in-
competência da Comissão para receber denúncias de casos indi- ternacionais de direitos humanos. Qualquer dos Estados partes
viduais de violações de direitos humanos. da OEA podem solicitar à Corte uma opinião consultiva, mesmo
os que não são partes na Convenção Americana ou outros órgãos
Assim, no caso do Brasil, até o presente, o único órgão inter- enumerados no Capítulo X da Carta da Organização, conforme o
nacional que têm competência para aceitar denúncias de casos artigo 64 da Convenção Americana.
individuais ;e a Comissão Interamericana conforme estabelece
a Convenção Americana no seu artigo 44: “Qualquer pessoa ou A função consultiva da Corte foi usada com mais freqüência
grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente nos seus primeiros anos de funcionamento, e as Opiniões Con-
reconhecida em um ou mais Estados-membros da Organização, sultivas versaram sobre temas como: os limites de sua autori-
pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias dade; os limites das ações dos Estados; discriminação; habeas
ou queixas de violação desta Convenção por um Estado-parte.” corpus; garantias judiciais; pena de morte; responsabilidade do
Estado, entre outros temas cruciais para a efetiva proteção dos
Além do recebimento de denúncias, a Comissão tem duas direitos humanos.
funções: promover e estimular em termos gerais os direitos hu-
manos através da elaboração de relatórios gerais; elaborar estu- A Conjugação dos Sistemas Global e regional e a prevalên-
dos e relatórios sobre a situação dos direitos humanos nos países cia da norma mais benéfica
membros da OEA; realizar visitas in loco aos países membros e,
apresentar um Relatório Anual na qual são reproduzidos relató- Não existe hierarquia entre o sistema global e o sistema
rios finais dos casos concretos, nos quais já houve uma decisão regional (interamericano) de proteção dos direitos humanos. A
sobre a responsabilidade internacional dos países denunciados. A lógica do sistema internacional é de somar e proteger de for-
publicação de um relatório final no Relatório Anual da Comissão ma mais integral possível os direitos da pessoas humana. Neste
divulgado para os Estados membros da Assembléia Geral da OEA sentido, o critério adotado para evitar conflitos entre os vários
é a sanção mais forte a que pode estar submetido um Estado, que instrumentos internacionais é da prevalência da norma mais be-
ainda não tenha reconhecido a competência da jurisdição da corte néfica para a vítima de violações de direitos humanos. Tal crité-
Interamericana, proveniente do sistema interamericano. rio contribui para minimizar os conflitos e possibilitar uma maior
coordenação entre os instrumentos de proteção.
A Corte Interamericana, diferentemente da Comissão, é um
órgão de caráter jurisdicional, que foi criado pela Convenção Além disso, igualmente não existe hierarquia entre o sis-
Americana sobre Direitos Humanos com o objetivo de supervi- tema internacional, seja global ou interamericano, e o sistema
sionar o seu cumprimento, como função complementar a função jurídico dos países. A tendência e o propósito da coexistência
conferida pela mesma a Comissão. de distintos instrumentos jurídicos que garantem os mesmos di-
reitos é no sentido de ampliar e fortalecer a proteção dos direi-
Assim, a legitimidade processual para o envio de casos para tos humanos, importando em última análise o grau de eficácia
a Corte é somente concedida para a Comissão os Estado-parte, da proteção. Assim será aplicada ao caso concreto a norma que
não sendo permitido o envio de casos pelas próprias vítimas de melhor proteger a vítima seja ela de direito internacional ou de
violações, seus representantes, familiares ou pelas organizações direito interno.
não-governamentais. Para que os casos não sejam encaminha-
dos à Corte primeiramente terão que passar pelo exame da Co- Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/dh/mun-
missão, esgotando o seu procedimento: do/oea/cejil/aestruturanormativa.html

“Art. 61-1. Somente os Estados-parte e a Comissão têm di-


reito de submeter um caso à decisão da Corte”. A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL DE 1988 E OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE
“Art. 62-1. Todo Estado-parte pode, no momento do depó- PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
sito de seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de
adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
especial, a competência da Corte em todos os casos relativos à adotados, ou dos tratados internacionais em que a Republica
interpretação ou aplicação desta Convenção.” Federativa do Brasil seja parte” [27]. Os direitos humanos che-
gam ao nosso ordenamento jurídico com nível constitucional de
No caso do Brasil, recentemente em 07 de setembro de aplicação imediata, e como possuem nível constitucional, não
1998, o Presidente da República aceitou a competência da Corte, podem ser revogadas por leis ordinárias posteriores. Entende-se
após decorridos seis anos de ratificação da Convenção America- que os tratados internacionais que constam na CF são como se
na pelo Brasil (25/09/92). Porém a aceitação ainda terá que ser estivessem sido redigidos em sua redação original.
ratificada pelo Congresso Nacional para ter validade. Assim nos A CF de 1988 em seu art. 5º § 2º inovou ao reconhecer a
próximos anos, a Corte poderá examinar casos sobre a s viola- dupla forma normativa, a primeira que vem do direito interno
ções de direitos humanos ocorridos no Brasil. e a segunda do direito internacional dando eficácia e igualdade,

7
DIREITOS HUMANOS
e se caso ocorrer conflito deve optar pela norma mais favorá- nômico, social e cultural, o alcance de um padrão internacional
vel, podendo até aplicar as duas conjuntamente aproveitando de saúde, a proteção ao meio ambiente, à criação de uma nova
no que tem de melhor à proteção do direito da pessoa. Existem ordem econômica internacional e a proteção internacional dos
entendimentos em defesa de que os tratados internacionais por direitos humanos.
serem jus cogens internacional possuem status supraconstitu- Seguindo a tendência mundial, vários países latino-america-
cional, porém, é um assunto que nunca foi solucionado pelo Su- nos integram os direitos humanos às suas normas internas.
premo Tribunal Federal (STF). A Constituição do Peru, anterior a 1979 dizia que os tratados
A divergência acerca do posicionamento dos tratados inter- internacionais celebrados com eles formariam parte do ordena-
nacionais é em relação à forma de como este era incorporado ao mento jurídico deles e que em caso de conflito entre tratado e
ordenamento jurídico brasileiro, pois antes da Emenda Constitu- lei, prevalecia o tratado.
cional nº 45 de 2004 (EC45/2004) os tratados internacionais de Na Guatemala também dá se uma atenção especial aos tra-
direitos humanos eram ratificados por meio de Decreto Legisla- tados internacionais de direitos humanos, concedendo preva-
tivo por maioria simples no Congresso dando o entendimento lência sobre a legislação ordinária.
para alguns que as normas seriam infraconstitucionais. Para que A Nicarágua faz integrar na sua Constituição vários direitos
a discussão em relação aos tratados anteriores a EC45/2004 fos- já consagrados: Declaração Universal dos Direitos Humanos,
se sanada, estudiosos viram uma solução, incluir no ordenamen- Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, Pacto
to jurídico um parágrafo abaixo do § 2º do art. 5º da CF que lhe Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, Pacto
confira uma interpretação, através de uma Emenda Constitucio- Internacional sobre Direitos Civis Políticos e a Convenção Ameri-
nal, assim como fez a EC45/2004, e seria a seguinte: cana sobre Direitos Humanos.
§ 3º. Os tratados internacionais referidos pelo paragrafo an- Na Constituição do Chile em seu art. 5º, inciso II fica claro
terior, uma vez ratificados, incorporam-se automaticamente na que o Estado tem que aceitar os tratados internacionais de qual
ordem interna brasileira com hierarquia constitucional, preva- faça parte em quanto estiverem vigentes.
lecendo, no que forem suas disposições mais benéficas ao ser A Colômbia segue o mesmo sentido, dizendo que os trata-
humano, às normas estabelecidas por esta Constituição. dos internacionais de direitos humanos têm prevalência na or-
Essa proposta, que ampliaria um parágrafo no art. 5º da CF dem interna e que os direitos humanos já existentes são inter-
colocaria fim nas discussões no STF relativas ao assunto. pretados como se tratados de direitos humanos fossem.
As unidades federativas, por fazerem parte do Estado sobe- A Constituição Argentina reformada em 1994 segue o sen-
rano e não terem autonomia em relação aos tratados interna- tido de que os direitos humanos que lá se encontram têm hie-
cionais, devem se submeter a respeitar tais tratados nos limites rarquia constitucional, são eles: Declaração Americana dos Di-
de sua competência, sob a pena do Estado soberano responder reitos e Deveres do Homem, Declaração Universal dos Direitos
internacionalmente pelas suas violações. Exemplo disso é o Pac- Humanos, Convenção Americana sobre Direitos Humanos, Pacto
to dos Direitos Civis e Políticos no seu art. 50 que estabelece, Internacional sobre Direitos Civis Políticos, Convenção para a
“Aplicar-se-ão as disposições do presente Pacto, sem qualquer Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, Convenção In-
limitação ou exceção, a todas as unidades constitutivas dos Es- ternacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discrimi-
tados federativos”, e o Pacto de São Jose da Costa Rica em seu nação Racial, Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas
art. 28, estabelece que o governo nacional deva fazer cumprir o de Discriminação contra a Mulher, Convenção contra a Tortura e
Pacto em conformidade com sua Constituição. Por consequência outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradan-
surge o Incidente de Deslocamento de Competência (IDC), que tes, e Convenção sobre os Direitos da Criança. Esta reforma teve
nos casos de grave violação de direitos humanos, o Procurador muita influencia em uma nova jurisprudência que reconhece o
Geral da República (PGR) poderá ingressar perante o Superior principio da primazia dos tratados internacionais de proteção
Tribunal de Justiça (STJ) com o pedido de mudança de competên- dos direitos humanos, coisa que no Brasil não se fez.
cia para a justiça federal (Art. 109 § 5º da CF). A Constituição que mais se destaca pela sua evolução de
Os Estados que assinam um Tratado de Direitos Humanos proteção aos direitos humanos é a da Venezuela com sua Carta
podem o fazer com reservas, ou seja, consentirem em partes, de 1999, que dispõe em seu art. 23.
ratificando o tratado e colocando observações sobre alguns pon- Têm hierarquia constitucional e prevalecem na ordem in-
tos, são cláusulas que podem excluir ou modificar alguns dis- terna, na medida em que contenham normas sobre seu gozo e
positivos, porém nem sempre são permitidas, as reservas não exercício mais favoráveis às estabelecidas por esta Constituição
podem ir contra aos pontos centrais do tratado, caso contrario e pela lei da República, e são de aplicação imediata e direita pe-
poderiam desfigurar o instrumento internacional. los tribunais e demais órgãos do Poder Público.
É o que vários internacionalistas buscam, “hierarquia cons-
OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS titucional, incorporação imediata e princípio da primazia da nor-
NAS CONSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS ma mais favorável”.
Com vistas nas Constituições citadas, tem se mostrado de-
Após a Segunda Guerra Mundial, quando da adoção da Car- senvolvimento nos países democráticos e o Brasil, segundo al-
ta da ONU, que o Direito Internacional dos Direito Humanos co- guns pensamentos, ficou pra trás em relação às Constituições no
meçou de fato se efetivar como um ramo autônomo do Direito que diz respeito à eficácia interna dos tratados internacionais de
Internacional Público, proteção aos direitos humanos, mesmo após a EC45/2004, mo-
O surgimento de uma nova ordem internacional que instau- mento em que teve oportunidade de reavaliar conceitos.
ra um novo modelo de conduta nas relações internacionais, com
preocupações que incluem a manutenção da paz e segurança in-
ternacional, o desenvolvimento de relações amistosas entre os
Estados, o alcance da cooperação internacional no plano eco-

8
DIREITOS HUMANOS
PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DOS DIREITOS HUMANOS Em síntese, os tratados de direitos humanos e os demais tra-
NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS tados internacionais, para que tenham eficácia no ordenamento
jurídico brasileiro, devem ser celebrados e assinados pelo Presi-
O princípio da primazia dos direitos humanos nas relações dente da República, após essa solenidade dependeram de aprova-
internacionais está previsto no art. 4º, inciso II da CF, serve de ção nas duas casas do Congresso Nacional (CN), que será por meio
base para orientar o Brasil diante das relações internacionais. de Decreto Legislativo, depois voltará para o Presidente da Repú-
blica que, em ato discricionário, poderá ratificar ou não o tratado.
Em relação às questões internacionais, o princípio obriga o
Brasil a tratar a dignidade humana com suma importância, com O POSICIONAMENTO HIERÁRQUICO DOS TRATADOS DE DI-
prioridade, não só elaborando um sistema de proteção interna- REITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
cional dos direitos humanos, mas também na sua aplicabilidade,
participar das negociações de tratados de direitos humanos, for- Como a CF de 1988 colocou a dignidade humana como um
talecer as estruturas internacionais e aplicar as normas proteti- dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil
vas à dignidade humana em todo o mundo. (art. 1º, III),[49] os direitos humanos tem lugar de prioridade no
O Brasil “consagra o primado dos direitos humanos como ordenamento jurídico interno brasileiro, com status de direitos
paradigma propugnado para a ordem internacional”. fundamentais.
Portanto, fica estabelecida a prevalência das normas de pro- Como o § 2º do art. 5º da CF estabelece “Os direitos e ga-
teção direitos humanos sobre as normas de origem interna, ge- rantias expressos nesta Constituição não excluem outros, decor-
rando compromissos internos, que é onde a garantia de direitos rente do regime e dos princípios por ela adotados ou dos trata-
humanos deve ser aplicada. Com isso, fazendo com que o princí- dos internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
pio da não ingerência internacional em assuntos internos fique parte”, a cláusula garanti a abertura para os tratados de direitos
de forma relativa, pois se analisa primeiro a norma internacional humanos, com rapidez e agilidade na ordem constitucional, com
e depois a interna ou as duas ao mesmo tempo. isso aumentando o rol de garantias e direitos constitucionalmen-
O art. 4º da Carta Magna já mencionava sobre os direitos hu- te protegidos.
manos, como a autodeterminação dos povos, a defesa da paz, o O STF, até pouco tempo atrás, entendia que os tratados de
repúdio ao terrorismo e ao racismo, a cooperação entre os povos direitos humanos tinham status de lei ordinária, nesse sentido
e a concessão de asilo político. afirmava o Ministro Sepúlveda Pertence “mesmo em relação às
Contudo, mesmo que à proteção da dignidade humana deva convenções internacionais de proteção de direitos fundamen-
ser aplicada em caráter prioritário, nem sempre isso acontece. tais, preserva a jurisprudência que a todos equipara hierarquica-
mente às leis ordinárias”.
INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS Após o julgamento do RE 466.343-1/SP[52], onde se discu-
AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: PROCESSO LEGIS- tia prisão civil por dívida de alienação fiduciária, o Min. Gilmar
LATIVO DE INCORPORAÇÃO Mendes defendeu que os tratados de direitos humanos estariam
em posição intermediária em relação à Constituição e as demais
Exceto os tratados de direitos humanos aprovados fora do leis do ordenamento jurídico brasileiro, só que com caráter es-
marco estabelecido pelo parágrafo 3º do art. 5º da CF, o proce- pecial devido sua maior importância diante dos demais tratados
dimento para a incorporação dos tratados de direitos humanos internacionais.
ao ordenamento jurídico brasileiro é o mesmo como se qualquer A EC45/2004 deu um grande avanço para tentar solucionar
outro tratado fosse. este problema, introduzindo o § 3º no art. 5º da Carta Magna,
A CF de 1988 estabelece o procedimento necessário para dispondo o seguinte: “Os tratados e convenções internacionais
a incorporação, primeiro precisa ser celebrado exclusivamente sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
pelo Presidente da República após a celebração pelo Presidente, CN, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
o tratado só terá validade se aprovado pelos Poderes Legisla- membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.
tivo e Executivo, que por sinal também são responsáveis para Abriu-se, portanto, a possibilidade de normas internacionais
“resolver definitivamente sobre tratados, acordos e atos inter- de direitos humanos terem status constitucional formal, contan-
nacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos to que sejam aprovadas por um procedimento especial no CN,
ao patrimônio nacional”, portanto o presidente não tem com- previsto no art. 5º, § 3º da CF.
petência para decidir sozinho sobre a homologação dos tratados Em relação aos tratados que haviam sido aprovados antes da
internacionais. EC45/2004, ou fora de seus parâmetros, o STF, por entendimen-
Ministro Celso de Melo é claro ao afirmar que: to majoritário, concedeu a supralegalidade dos tratados, como
O exame da vigente Constituição Federal permite constatar por exemplo, no julgamento do HC 90.172/SP[56] pelo Ministro
que a execução dos tratados internacionais e a sua incorpora- Gilmar Mendes. O segundo entendimento, porém minoritário,
ção à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo é do Ministro Celso de Mello no HC 87.585/TO e após no HC
Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da con- 96.772/SP, no caso de prisão civil por infidelidade depositária,
jugação de duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacio- dando posição constitucional aos tratados internacionais de di-
nal, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, reitos humanos. O referido Ministro Celso de Mello atualmente
sobre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a vem defendendo, também a aplicação do princípio da primazia
do Presidente da República, que, além de poder celebrar esses da norma mais favorável.
atos de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe – O tema ainda é controvertido na doutrina e jurisprudência,
enquanto chefe de Estado que é – da competência para promul- entretanto, a Suprema Corte Brasileira tem seu entendimento
gá-los mediante decreto. “de que os tratados de direitos humanos sempre prevalecerão
diante da legislação ordinária”.

9
DIREITOS HUMANOS
Apesar do exposto, as normas internacionais de direitos hu- A Constituição Federal é clara em seus motivos quando men-
manos continuam passando pelo controle de constitucionalida- ciona a prisão do depositário infiel, pelo grau de confiança que é
de, por ser supralegal, portanto infraconstitucional, ou por se- depositada em tal figura e a mesma não poderia, simplesmente,
rem emendas constitucionais e não podendo confrontar cláusula faltar com a obrigação, lesando terceiros.
pétrea (art. 60, § 4º da CF). O termo depositário infiel soa como gênero dando assim,
ensejo para lei ordinária classificar vários tipos de depósito. A CF
CONFLITOS COM NORMAS INTERNAS visa coibir que o depositário infiel, de forma delituosa, aproprie-
-se de forma indébita de algo, um comportamento desleal em
Os direitos humanos emanam de várias fontes, de nível in- face da grande confiança nele depositada. A condenação tem
ternacional ou interno, de caráter obrigatório ou não, genérico caráter dissuasório, objetivando a restituição da coisa.
ou específico. Devido à grande variedade, as normas de direitos Vale lembrar que por enquanto, no Direito Brasileiro, os tra-
humanos acabam por entrar em conflitos. tados de direitos humanos têm posição de acordo com o proce-
Para começar a dirimir conflitos é necessário identificar o dimento de sua aprovação, distinguindo-se os aprovados pelo
que são compromissos internacionais ou somente recomenda- CN com procedimento especial regido pela EC45/2004, dos de-
ções, pois os primeiros, se devidamente incorporados pelo Esta- mais, aprovados de formas distintas, que devem ser interpreta-
do, vinculam; enquanto os segundos são orientações, com base dos a égide do art. 5º, § 2º da CF.
nisso os compromissos prevalecem sobre as orientações.
No direito internacional, os Estados têm o compromisso de Casos envolvendo o Brasil na Corte Interamericana de
cumprir os tratados internacionais, não podendo se valer de Direitos Humanos
normas internas para justificar o inadimplemento dos compro-
missos firmados, como consagra o princípio das normas interna- O Brasil já sofreu sanções pela Corte Interamericana de Di-
cionais sobre as internas, extraindo um entendimento de supra- reitos Humanos por desrespeitar garantias e deveres recorrentes
constitucionalidade do Direito Internacional. de direitos humanos, foram vários casos.
A história do ordenamento jurídico brasileiro até 1988 mos- O caso mais recente foi o “Caso Júlia Gomes Lund e outros”
tra que os tratados internacionais de direitos humanos não pos- que diz respeito ao desaparecimento de pessoas na Guerrilha
suem essa hierarquia citada no parágrafo anterior, era somente do Araguaia.
dado o status supralegal até 1977, e após esse ano passaram a
Primeiramente o caso foi para a Comissão Interamericana de
ser entendidos como lei ordinária.
Direitos Humanos que decidiu submetê-lo para à Corte Intera-
A CF de 1988 em seu art. 4º, inciso II, consagrou o princípio
mericana de Direitos Humanos, oportunidade para trazer “a ju-
da primazia dos direitos humanos nas relações internacionais,
risprudência interamericana sobre as leis de anistia com relação
dispondo que o Estado deve fazer o máximo para efetivar os tra-
aos desaparecimentos forçados e as execuções extrajudiciais e a
tados de direitos humanos no ordenamento jurídico interno e
possibilidade de o Tribunal afirmar a incompatibilidade da Lei de
garantir, tão logo, a proteção e a promoção de direitos das pes-
Anistia e das leis sobre sigilo de documentos com a Convenção
soas que vivem em seu território, e sob a jurisdição brasileira.
Americana”
Com isso, têm o entendimento de que os tratados de direi-
O caso refere-se à responsabilidade do Brasil pela detenção
tos humanos deveriam ter o posto superior em relação às outras
normas que garantisse a sua efetiva aplicação antes de outra sem fundamento, tortura e desaparecimento de setenta pes-
norma. soas, em reflexo aos resultados de operações do Exército bra-
Na história recente do constitucionalismo brasileiro, não é sileiro que tinha como propósito, terminar com a Guerrilha do
isso que vem se observando, somente no ano de 2007 que a Araguaia. O processo também diz respeito à questão de o Brasil
hierarquia dos tratados no ordenamento jurídico começou a ser não ter realizado a investigação penal para julgar e punir os res-
revista, (apesar de já terem saído do mesmo patamar às demais ponsáveis.
leis ordinárias, ainda não possuem status definido), deu inicio A Corte entendeu que as normas da Lei da Anistia que não
ao caminho para conseguir seu status apropriado, de especial deixam investigar e aplicar sanções sobre violações de direitos
importância. humanos são incompatíveis com a Convenção Americana, care-
Uma questão bastante polêmica é de prisão civil de depo- cem de efeitos jurídicos, não podem obstar as investigações do
sitário infiel. O artigo 5º, LXVII, da Constituição Federal de 1988 caso e não deve ter posição semelhante em relação a outros ca-
dispõe que “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do res- sos de violações de direitos humanos tipificados na Convenção
ponsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obri- Americana, ocorridos no Brasil.
gação alimentícia e a do depositário infiel”, contudo, o Pacto de Foi decidido também que o Brasil violou os “direitos ao re-
San Jose da Costa Rica em seu art. 7º, § 7º dispõe que: conhecimento da personalidade jurídica, à vida, à integridade
Art. 7. Direito à liberdade pessoal pessoal, e à liberdade pessoal.”
§ 7º. Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não O importante desse julgamento, é que as condenações sofri-
limita os mandados de autoridade judiciária competente expedi- das pelo Brasil são consideradas normas de jus cogens, e fazem
dos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar. parte dos deveres do Estado no sistema interamericano de direi-
tos humanos.
E o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos com A grande consequência acerca de Caso Júlia Lund foi a cria-
seu art. 11: “Art. 11. Ninguém poderá ser preso apenas por não ção da lei 12.528/11 (Comissão Nacional da Verdade) com o fim
poder cumprir com uma obrigação contratual.”, os dois da qual esclarecer as graves violações de direitos humanos relativos ao
o Brasil é signatário, derem entendimento contrário ao assunto período descrito no art.8º do Ato de Disposições Transitórias
e também após a EC45/2004 que dava o entendimento “majo- (ADCT).
ritário” à questão, persistiam as discussões acerca da prisão de
depositário infiel.

10
DIREITOS HUMANOS
Por enquanto o Brasil não sofreu nenhum tipo de sanção Pedro Lenza comenta que os tratados internacionais de di-
aplicada pala Corte Interamericana de Direitos Humanos, não reitos humanos aprovados após a EC45/2004 equivalem a emen-
por falta de oportunidade, pois já ocorreram vários casos em que das constitucionais e podem ser objetos de controle de consti-
a referida Corte teve oportunidade de aplicar sanções contra o tucionalidade enquanto os aprovados antes da reforma teriam
Brasil. Entretanto o STF vem adotando medidas em consonância paridade com leis ordinárias, e também podem sofrer controle
com casos julgados pelo “principal tribunal de direitos humanos de constitucionalidade.
do sistema interamericano” Para que um tratado aprovado antes da reforma tenha hie-
rarquia constitucional, deverá o CN ratificar tal tratado pelo quó-
POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS DE DIREITOS HU- rum qualificado, ampliando os direitos e garantias individuais.
MANOS APROVADOS FORA DO MARCO ESTABELECIDO PELO PA- Tal procedimento se justificaria em caso de denúncia (ato de re-
RÁGRAFO 3º DO ART. 5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. tirada do tratado), pois aqueles que seguiram o procedimento
previsto no art. 5º, § 3º da CF dependem de prévia autorização
Cabe ressaltar o procedimento adotado pelo Brasil para que do CN enquanto os demais poderão ser denunciados pelo execu-
um tratado internacional seja aprovado. O Presidente da Repú- tivo sem prévia autorização do CN.
blica é o responsável pelas relações internacionais incluindo a Flávia Piovesan afirma que:
negociação de um tratado, ele tem autonomia para iniciar uma A teoria da paridade entre o tratado internacional e a legis-
negociação ou jamais inicia-la, salvo algumas exceções, porém, lação federal não se aplica aos tratados de direitos humanos,
o Presidente da República não pode, de forma alguma, manifes- tendo em vista que a Constituição de 1988 assegura a estes ga-
tar um posicionamento definitivo em relação à aprovação de um rantia de privilégio hierárquico, atribuindo-lhes a natureza de
tratado internacional, como dispõe o art. 5º, § 3º da CF: norma constitucional.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual- Contudo, essa constitucionalidade não foi reconhecida ab-
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros solutamente pelo STF, e com base nesse assunto veremos algu-
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, mas interpretações do Pretório Excelso quanto à forma em que
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: os tratados de direitos humanos se posicionam dentro do nosso
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos ordenamento jurídico mais sem fixar posicionamento estável.
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Na- Basicamente o STF oscila entre três entendimentos desde
cional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respecti- 2007:
vos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. A equiparação dos tratados de direitos humanos à lei ordi-
Isto significa que a vontade da nação, através de seus repre- nária, que foi abandonada; a supralegalidade, que é atualmente
sentantes, é que pode firmar um compromisso externo, isso diz o entendimento majoritário; e a constitucionalidade material,
respeito ao CN, nas suas duas casas, Câmara dos Deputados e noção ainda minoritária, mais que já apareceu em votos de Mi-
Senado Federal. nistros do Pretório Excelso.
Um tratado para ser ratificado é enviado pelo Presidente da Até 2007 o posicionamento dos tratados de direitos huma-
República ao Ministro das Relações Exteriores, a matéria será nos era entendimento pacífico, com hierarquia de lei ordinária.
discutida no CN separadamente, primeiro na Câmara dos Depu- Esse posicionamento hierárquico dos tratados de direitos hu-
tados e depois no Senado Federal, uma eventual aprovação do manos no ordenamento jurídico brasileiro era fundamentado
tratado internacional precisa, necessariamente, ser aprovado na concepção clássica de soberania estatal, onde a Constituição
nas duas casas do Congresso, o que vale dizer que se ocorrer prevalece na ordem jurídica nacional.
uma eventual desaprovação na primeira casa, esta põe termo A reavaliação do posicionamento dos tratados de direitos
ao processo, não havendo necessidade de se levar ao Senado humanos ocorreu em um processo que era reexaminado a legali-
Federal. dade da prisão civil do depositário infiel,[84] na qual é permitida
Caso ocorra a aprovação no CN, essa decisão é formalizada pela atual Constituição (art. 5º, LXVIII), pelo Código Civil de 2002
através de um decreto legislativo promulgado pelo presidente (art.652) e proibida pela Convenção Americana de Direitos Hu-
do Senado, e posteriormente o faz publicar no Diário Oficial da manos de 1969 (art. 7º, §7º).
União (DOU). Era de entendimento pacífico do STF a prisão civil do depo-
O posicionamento dos tratados internacionais de direitos sitário infiel, entretanto com o status supralegal adquirido pelos
humanos sempre geraram muitas discussões em nosso orde- tratados de direitos humanos a prática deste tipo de restrição à
namento jurídico, pois existem os tratados aprovados anterior- liberdade passou a ser inadmissível.
mente e os aprovados posteriormente a EC45/2004, esta por sua Cabe ressaltar que as normas supralegais são aquelas posi-
vez acrescentou o parágrafo 3º no art. 5º da CF que dispõe o cionadas entre a Constituição Federal e as leis ordinárias, não
seguinte: “Os tratados e convenções internacionais sobre direi- podendo ser por estas derrogadas. O posicionamento das nor-
tos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso mas supralegais de direitos humanos parte da ideia de que a
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respec- Constituição Federal abriu um espaço claro para que as normas
tivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. de tratados internacionais de direitos humanos fossem recebi-
O parágrafo 3º do art. 5º da CF deixou claro seu posiciona- das em nosso ordenamento jurídico, tornando-as assim normas
mento em relação a os tratados aprovados pelo Brasil. O conflito de relevância maior perante as leis ordinárias, com isso adqui-
acontece em relação aos tratados que foram aprovados anterior- rindo um grau elevado na hierarquia do ordenamento jurídico
mente a EC 45/2004. Onde seria o posicionamento ideal para brasileiro.
eles? Existem os entendimentos majoritários e os minoritários A tese defendida pelo Min. Gilmar Mendes no julgamento RE
em relação a esta questão. 466.343-1/SP gera discussão por criar uma duplicidade de regi-
mes jurídicos, em detrimento de tratados aprovados pela maio-
ria no Congresso Nacional, uma vez que estabelece “categorias”

11
DIREITOS HUMANOS
para tratados de direitos humanos com o mesmo fundamento Estes pensamentos começaram a dar frutos inicialmente no
ético, são “categorias” de tratados de direitos humanos de nível Reino Unido durante a Revolução Inglesa onde as prisões ilegais
constitucional e supralegal, essa tese de supralegalidade regu- feitas pelos Monarcas começaram a ser contestadas com o sur-
lou de forma desigual os iguais, colocando certos tratados de gimento do Habeas Corpus (1679). Seguindo essa linha tempo-
direitos humanos abaixo da Constituição e outros, também de ral o segundo país a abraçar a luta pelo Direito Natural e por
direitos humanos, no mesmo nível dela, ou seja, desigualou os um Estado Livre foram os Estados Unidos da América em 4 de
“iguais”, afrontando o princípio constitucional da isonomia e in- julho de 1776 ao declararem independência e protegerem em
vertendo a lógica convencional dos direitos, como por exemplo, sua constituição os direitos naturais do ser humano que o poder
o instrumento acessório aprovado com equivalência de emenda político deve respeitar.
constitucional e o instrumento principal abaixo dela. A Revolução Francesa que deu padrões universais para o
Existe o entendimento de que esse posicionamento acima Direito Natural, sendo nesta época que passou a ser utilizado
descrito é insuficiente, que os tratados internacionais comuns o termo Direitos do Homem, tal universalismo é expresso pela
ratificados pelo Brasil devem ter posicionamento hierárquico in- Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Sendo que a Igualdade
termediário, entre a Constituição e as leis infraconstitucionais muitas vezes é vista, de maneira Marxista, como Fator Social,
que não poderão ser revogadas por lei posterior, enquanto os mas na prática, tal ideia comunista é utópica, desnecessária e le-
tratados de direitos humanos teriam posicionamento paritário vou vários países a um absolutismo sem procedentes na história
com a Constituição Federal. da humanidade. Logo o correto é apenas a igualdade de condi-
Independentemente do momento em que as normas defini- ções e possibilidades, pois do contrário à igualdade social consti-
doras de direitos humanos foram ou serão ratificadas pelo Brasil, tui um pesadelo horrendo, onde as pessoas são vistas como fer-
de acordo com o parágrafo 1º do art. 5º da CF, eles tem ou te- ramentas do mesmo tipo, fabricadas em série, pela indústria do
rão aplicação imediata, portanto os tratados de direitos huma- Estado. Nesta realidade as particularidades de cada ser humano
nos ratificados anteriormente ou posteriormente a EC45/2004, como a cultura, as características próprias e principalmente os
tem eficácia a partir do momento de sua ratificação, o que pode méritos pessoais não existem. Poderia adentrar mais neste as-
acontecer também com as normas de direitos humanos prove- sunto, porém tal conduta fugiria do tema proposto.
niente do Direito interno. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)
A CF no art. 5º, § 2º dispõe que “Os direitos e garantias ex- oriunda da Revolução Francesa, deu uma amplitude muito maior
pressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do às liberdades individuais e serviu de base para edificação dos
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados inter- Direitos Humanos do tempo atual, porém os acontecimentos
nacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. históricos que mais influenciaram este ramo do Direito Inter-
[93] Apesar da CF não especificar o termo seja parte a Conven- nacional aconteceram entre os anos de 1914 e 1948, quando o
ção de Viena de 1969 o fez. Segundo a Convenção de Viena, ser mundo cria consciência sobre as atrocidades terríveis aconteci-
parte é o mesmo que ratificar um tratado em vigor (art. 2º, § das na 1ª e 2ª Guerra mundial, Na guerra Espanhola, Na Exter-
1º, alínea g).[94] Assim, independentemente de promulgações minação Ética de 10 milhões de Ucranianos em 1932 pela URSS,
e publicações oficiais, os tratados de direitos humanos tem apli- no Holocausto com o extermino de 6 milhões de Judeus, entre
cabilidade imediata pelo poder judiciário sem prejuízo de futura outras barbáries acontecidas neste período. Surgindo assim, em
promulgação e publicação. outubro de 1945, à Organização das Nações Unidas, que no dia
A discussão acerca do posicionamento hierárquico dos tra- 10 de dezembro de 1948 proclamaria à Declaração Universal dos
tados de direitos humanos aprovados anteriormente ou poste- Direitos Humanos.
riormente a EC45/2004, continua gerando muitas controvérsias,
pois ainda não existe um posicionamento pacífico em relação Direitos humanos são os direitos e liberdades básicas de
questão. todos os seres humanos.

Seu conceito também está ligado com a ideia de liberdade


de pensamento, de expressão, e a igualdade perante a lei. A
DEMOCRACIA, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS ONU (Organização das Nações Unidas) foi a responsável por pro-
clamar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que deve
Os Direitos Humanos surgiram na idade média, do casamen- ser respeitada por todas as nações do mundo.
to entre a Filosofia Cristã Católica com o Direito Natural (Jus A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organi-
Naturale). Tal afirmação pode ser comprovada de forma simples zação das Nações Unidas afirma que todos os seres humanos
uma vez que ao surgir o Cristianismo todos os homens (nobres e nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, dotados de
plebeus) passaram a ser fruta do mesmo saco sendo colocados razão e de consciência, e devem agir uns para com os outros em
ao mesmo nível como criaturas e filhos de Deus. Até mesmo os espírito de fraternidade.
Reis, que eram em muitos lugares da antiguidade, considerados A ONU adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos
como naturais representantes de Deus na terra passaram a ne- com o objetivo de evitar guerras, promover a paz mundial e de
cessitar da benção da igreja, pois do contrário nada mais seriam fortalecer os direitos humanitários.
do que déspotas excomungados. A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem uma im-
No início da Idade Moderna os racionalistas desvincularam portância mundial, apesar de não obrigar juridicamente que to-
a visão divina do Jus Naturale e passaram a defender que o ho- dos os Estados a respeitem. Para a Assembleia Geral da ONU, a
mem é por natureza livre e possuidor de direitos irrevogáveis Declaração Universal dos Direitos Humanos tem como ideal ser
que não podem ser subtraídos ao se viver em sociedade. atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de
que todos tenham sempre em mente a Declaração, para promo-
ver o respeito a esses direitos e liberdades.

12
DIREITOS HUMANOS
Por exemplo, durante o século XX nos Estados Unidos, o sequências infligidas pelas Guerras Mundiais e o surgimento de
movimento a favor dos direitos humanos defendia a igualdade regimes totalitários (nazismo) - como organização social– que
entre todas as pessoas. Na sociedade americana daquela época, colocaram em evidencia os limites morais da humanidade.
havia uma forte discriminação contra os negros, que muitas ve- Os Direitos Humanos é um tema que não está incorporado
zes não desfrutavam dos plenos direitos fundamentais. Um im- na vida política, como o conceito/pratica Cidadania - e muitas
portante defensor dos movimentos a favor dos direitos humanos vezes, é até distorcido. Ao contrário, nos países “desenvolvidos”,
foi Martin Luther King Jr. a questão já é presente nos discursos e no espírito político, e
Existem várias organizações e movimentos que têm como a margem de conscientização a respeito, é bem maior nas ca-
objetivo defender os direitos humanos, como por exemplo a madas baixas (socioeconomicamente) da sociedade, do que nos
Anistia Internacional. países de terceiro mundo.
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos Os direitos humanos no Brasil são garantidos na Constitui-
e sociais estabelecidos na Constituição de um país. ção de 1988. Nessa constituição, consagra no artigo primeiro o
A cidadania também pode ser definida como a condição do princípio da cidadania, dignidade da pessoa humana e os valores
cidadão, indivíduo que vive de acordo com um conjunto de es- sociais do trabalho. Ao longo da constituição, encontra-se no ar-
tatutos pertencentes a uma comunidade politicamente e social- tigo 5.º o direito à vida, à privacidade, à igualdade, à liberdade,
mente articulada. além de outros, conhecidos como direitos fundamentais, que
Uma boa cidadania implica que os direitos e deveres estão podem ser divididos entre direitos individuais, coletivos, difu-
interligados, e o respeito e cumprimento de ambos contribuem sos e de grupos. Os direitos individuais têm como sujeito ativo o
para uma sociedade mais equilibrada e justa. indivíduo humano, os direitos coletivos envolvem a coletividade
Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e obri- como um todo, direitos difusos, aqueles que não conseguimos
gações, garantindo que estes sejam colocados em prática. Exer- quantificar e identificar os beneficiários e os direitos de grupos
cer a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitu- são, conforme o Código de Defesa do Consumidor, são direitos
cionais. Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um individuais “homogêneos, assim entendidos os decorrentes de
dos objetivos da educação de um país. origem comum”.
O conceito de cidadania também está relacionado com o A história dos direitos humanos no Brasil está vinculada
país onde a pessoa exerce os seus direitos e deveres. Assim, a com a história das constituições brasileiras. Na constituição de
cidadania brasileira está relacionada com o indivíduo que está 1824 garantia direitos liberais, por mais que concentrasse poder
ligado aos direitos e deveres que estão definidos na Constituição nas mãos do imperador. Foi rejeitada em massa por causa da
do Brasil. dissolução da constituinte. A inviolabilidade dos direitos civis e
Para ter cidadania brasileira, a pessoa deve ter nascido em políticos contidos na constituição tinha por base a liberdade, a
território brasileiro ou solicitar a sua naturalização, em caso de segurança individual e a propriedade. Na constituição de 1891, a
estrangeiros. No entanto, os cidadãos de outros países que de- primeira constituição republicana, garantiu sufrágio direto para
sejam adquirir a cidadania brasileira devem obedecer todas as a eleição dos deputados, senadores, presidente e vice-presiden-
etapas requeridas para este processo. te da República, mas impediu que os mendigos, os analfabetos
Uma pessoa pode ter direito a dupla cidadania, isso significa e os religiosos pudessem exercer os direitos políticos. A força
que deve obedecer aos diretos e deveres dos países em que foi econômica nas mãos dos fazendeiros permitiu manipular os
naturalizada. mais fracos economicamente. Com a Revolução de 1930, houve
A Constituição da República Federativa do Brasil, promulga- um desrespeito aos direitos humanos, que só seria recuperado
da em 5 de outubro de 1988, pela Assembleia Nacional Cons- com a constituição de 1934. Em 1937, com o Estado Novo, os
tituinte, composta por 559 congressistas (deputados e sena- direitos humanos eram quase inexistentes. Essa situação foi só
dores), consolidou a democracia, após longos anos da ditadura recuperada em 1946, com uma nova constituição, que durou até
militar no Brasil. 1967. Durante o Regime Militar, houve muitos retrocessos, como
Para exercer a cidadania, os membros de uma sociedade de- restrições ao direito de reunião, além de outros. Com o fim do
vem usufruir dos direitos humanos, direitos fundamentais tanto regime militar, foi promulgada a constituição de 1988, que dura
no âmbito individual, coletivo ou institucional. Assim também até os dias atuais.
poderão cumprir os seus deveres para o bem da sociedade. O Brasil é membro da Organização dos Estados Americanos
e ratificou a Convenção Americana de Direitos Humanos.
DESENVOLVIMENTO O Brasil é um país profundamente injusto e desigual, onde
direitos humanos são violados todos os dias de várias formas.
Direitos Humanos, assim, como a Cidadania, é um dos te- A Amnistia Internacional (AI) acusa o Brasil de ignorar as
mas mais debatidos atualmente. Ambos se entrecruzaram no “graves violações dos direitos humanos no país”, assim como os
decorrer da história ocidental, em movimento de encontro e “retrocessos iminentes” de algumas medidas legislativas em cur-
desencontro de debates, associações, esclarecimentos, por di- so no país.
versas correntes de pensamento político – jurídico - filosófico, A AI apresentou a sua crítica ao Governo brasileiro na reu-
ganhando sentidos, significâncias e considerações variadas. nião da Revisão Periódica Universal (RPU) do Conselho dos Direi-
Hoje, a questão dos Direitos Humanos (associada à Cidadania) tos Humanos das Nações Unidas, que periodicamente analisa a
é, a questão da Condição Humana, no sentido colocado por Han- situação dos direitos humanos dos seus Estados-membros.
nah Arendt. Para a organização não-governamental, o Brasil apresentou
Hannah Arendt, Norberto Bobbio e outros teóricos - se pro- diante do Conselho dos Direitos Humanos da ONU “uma situa-
puseram a retomar criticamente o pensamento político-jurídi- ção longe da realidade” e assinalou que nos últimos cinco anos,
co ocidental para reconstruir novas reflexões acerca das bases desde a última revisão da RPU sobre o Brasil, “houve um agrava-
morais e empíricas dos Direitos Humanos. Isso, devido às con- mento das violações dos direitos humanos no Brasil”.

13
DIREITOS HUMANOS
A Amnistia Internacional referiu ainda que houve um au- o foco das organizações de direitos humanos e organizações de
mento no número de homicídios, especialmente de jovens ne- apoio a vítimas desempenharam um papel de resistência e de
gros, um aumento da população prisional e uma situação de denúncia, que ultrapassavam as fronteiras do Estado e atingiam
agravamento nos conflitos pelas terras, em que houve um au- organismos internacionais.
mento no número de assassinatos. As normas de direitos humanos são organizadas por cada
De acordo com a ONG Conectas, em março desse ano, 30 país através de negociação com organizações como a ONU e em
entidades comunicaram aos especialistas da ONU treze medidas encontros e conferências internacionais. Vários países ainda fir-
adotadas pelo Governo brasileiro que violam os compromissos mam compromisso em garantir os direitos humanos através de
internacionais, como o projeto PEC 215, que propõe passar para tratados das Nações Unidas, sobre as mais diversas áreas, como
o Parlamento a demarcação das reservas indígenas, que até ago- direitos econômicos, discriminação racial, direitos da criança,
ra está nas mãos do Governo brasileiro. entre outros. Para cada um destes tratados, existe um comitê
Na Revisão Periódica Universal, a situação dos direitos hu- de peritos que avalia como as nações participantes estão cum-
manos de todos Estados-Membros das Nações Unidas é passada prindo as obrigações que assumiram ao se comprometer com o
em revista pelos demais países, de acordo com um calendário tratado.
pré-definido pelo organismo da ONU. Além disso, outros órgãos da ONU, como a Assembleia Geral
Entre os principais problemas apontados nas Américas estão das Nações Unidas, o Conselho de Direitos Humanos e o Alto
sistemas fracos de segurança e Justiça, o que também leva à im- Comissariado para os Direitos Humanos constantemente se pro-
punidade de criminosos, corrupção e a crescente influência das nunciam sobre casos de violações de direitos humanos em todo
redes do crime organizado. o mundo.
Oito dos dez países mais violentos do mundo estão na Amé- Outro instrumento para garantia destes direitos são as ope-
rica Latina e Caribe. Em quatro deles – Brasil, Colômbia, México rações de manutenção da paz, realizadas pela ONU e que fiscali-
e Venezuela – se cometem um de cada quatro homicídios vio- zam o cumprimento dos direitos humanos em diversas partes do
lentos ocorridos no mundo. Além disso, de cada 100 homicídios mundo. Além disso, já existem três tribunais de direitos huma-
cometidos na América Latina, somente 20 resultaram em con- nos, um localizado na Europa, um na África e um no continente
denação. americano.
Outro problema frequente é o uso excessivo da força pela A nível nacional, cada país é responsável por garantir os
polícia e outras forças de segurança, que foi registrado em países direitos humanos dentro de seu território. Mas na fiscalização
como Bahamas, Brasil, Chile, Equador, Guiana, Jamaica, Repúbli- destes direitos atuam também instituições de direitos humanos,
ca Dominicana, Trinidad e Tobago e Venezuela. organizações profissionais, instituições acadêmicas, grupos reli-
No Brasil, as forças de segurança com frequência usaram giosos, organizações não governamentais, entre outros.
força excessiva ou desnecessária para suprimir manifestações. No cenário atual, em que os direitos humanos são enten-
O número de homicídios cometido durante operações policiais didos em uma perspectiva integral e multidimensional, fica evi-
permaneceu alto e essas mortes raramente foram investigadas. dente que o respeito aos direitos humanos na América Latina
Além disso, uma quantidade cada vez maior de conflitos so- tem distintas vertentes, nuances e desafios. Profundas desigual-
cioambientais foi origem de violência e violações de direitos hu- dades sociais, acesso limitado a oportunidades de educação,
manos. No Brasil, dezenas de pessoas foram mortas no contexto saúde pública precária, questões fronteiriças e migratórias inde-
de conflitos por terras e recursos naturais. finidas, violências institucionalizadas, exploração irresponsável
Entre as crises de direitos humanos que afetaram nações dos recursos naturais, falta de transparência e abuso de poder
inteiras estava a do México, país assolado por milhares de de- são apenas algumas problemáticas enfrentadas por um número
núncias de tortura e outros maus-tratos, além de execuções ex- expressivo de latino-americanos.
trajudiciais, e onde o paradeiro de pelo menos 27 mil pessoas
continuava desconhecido no fim do ano.
Na Venezuela, um ano após as grandes manifestações que DIREITOS HUMANOS, MINORIAS E GRUPOS VULNE-
deixaram 43 pessoas mortas, centenas feridas e dezenas tortura- RÁVEIS: MULHERES, IDOSOS, CRIANÇAS E ADOLES-
das ou vítimas de maus-tratos, ninguém foi condenado por esses CENTES, POVOS INDÍGENAS E COMUNIDADES TRA-
crimes, enquanto as pessoas detidas de modo arbitrário pelas DICIONAIS, PESSOA COM DEFICIÊNCIA, LGBTQIA+,
autoridades continuavam sendo processadas. REFUGIADOS
No Paraguai, a situação dos direitos sexuais e reprodutivos,
particularmente no caso de uma menina de dez anos que en- A Constituição Federal declara que “todos são iguais perante
gravidou depois de estuprada várias vezes, supostamente pelo a lei” [...] (art. 5º “caput”), mas a desigualdade e discriminação
padrasto, teve repercussão internacional e chamou atenção para são históricas e permanentes, fazendo parte da atual realidade
a necessidade de revogar a draconiana legislação antiaborto do brasileira. Então, como promover a igualdade neste contexto
país. As autoridades se recusaram a permitir que ela fizesse um para atender o princípio da isonomia previsto na Constituição
aborto apesar das evidências de que a gestação colocava sua Federal? Por um lado, este trabalho pretende analisar e/ou
vida em risco. demonstrar que a igualdade formal não é suficiente, por si só,
As discussões dos direitos humanos na América Latina sem- para efetivamente diminuir o racismo, o preconceito e qualquer
pre estiveram atreladas aos diferentes momentos históricos da outra forma de discriminação. Por outro lado, apresenta as
região. Da mesma forma, as organizações que atuam em prol da ações afirmativas como um porto seguro para implementação de
defesa dos diretos humanos também tiveram distintos papeis. medidas compensatórias, que incluem o sistema de cotas, pro-
Entre os anos 60 e 80, por exemplo, a América do Sul estava pondo uma discriminação positiva de inclusão social, que aten-
imersa em ditaduras, e a violência institucionalizada era massiva da o princípio da isonomia como base de sustentação do Estado
e sistemática, além dos conflitos armados internos. Nesta fase, Democrático de Direito.

14
DIREITOS HUMANOS
Para tanto, no primeiro momento vamos apresentar concei- políticas de identidade. No caso brasileiro, a diversidade cultur-
tos básicos utilizados no contexto da igualdade e discriminação, al engloba o conjunto de culturas que existem com identidades
como das expressões etnia, diversidade, preconceito, racismo, próprias, reforçando as diferenças culturais que existem entre
estereótipos, reparação, discriminação, discriminação racial. os seres humanos, justificando assim tratamentos ou medidas
No segundo momento, vamos analisar e discutir a igualdade, diferenciadas. O reconhecimento da existência da diversidade
a desigualdade e a discriminação (racial e positiva) do ponto exige tratar desigualmente as pessoas que estão em situações
de vista teórico, legal e no Direito Internacional dos Direitos de desigualdade em razão de discriminação racial e social. O ar-
Humanos. No terceiro momento, responderemos algumas in- gumento da diversidade não é muito comum no debate juríd-
dagações como: o que é ação afirmativa? Cotas e ação afirmati- ico sobre ação afirmativa, mas presente nos debates públicos,
vas significam a mesma coisa? Qual o fundamento legal? Qual a principalmente nos discursos de pessoas ligadas aos movimen-
relação da discriminação positiva com as ações afirmativas? Em tos sociais e movimento negro (Igualdade, diferença e direitos
relação às ações afirmativas e cotas vamos tratar das experiên- humanos, 2008, p. 356).
cias dos Estados Unidos da América e do Brasil. No caso bra- c) Preconceito – É um julgamento prévio ou pré-julgamento
sileiro, vamos destacar a importância dos programas de ações de uma pessoa com base em estereótipos, ou seja, simples ca-
afirmativas e cotas no campo da educação, em especial no curso rimbo. Este conceito prévio nada mais é do que preconceito. Tra-
superior. ta-se de atitudes negativas, desfavoráveis, para com um grupo
Enfim, estamos em um bom momento para refletir, discutir ou seus componentes individuais. É caracterizado por crenças
e contribuir para as políticas de ações afirmativas e de cotas ra- estereotipadas. A atitude resulta de processos internos do por-
ciais e sociais, quer sejam na educação ou no mercado de tra- tador e não do teste dos atributos reais do grupo. Nas ciências
balho. Observamos que nos meados da década de 1990, mais sociais, o termo preconceito é usado quase exclusivamente em
precisamente a partir do século XXI, os governos passaram a relação aos grupos étnicos. Preconceito é a atitude desfavorável
desenvolver programas de ações e políticas públicas afirmativas para com um grupo étnico ou membros individuais do grupo.
principalmente na área da educação, fato que vem provocando Mas os psicólogos, em geral, se referem a uma atitude como
a participação e a discussão dos diferentes segmentos da socie- preconceito, quando ela não está de acordo com testes adequa-
dade brasileira, por ser tema de política de Estado e de interesse dos da realidade dos atributos do grupo contra o qual é dirigida,
geral. Aliás, em uma sociedade do conhecimento e globalizada, nem se baseia neles (Dicionário de Ciências Sociais – Fundação
a educação é prioridade. Getúlio Vargas – MEC, 1987, p 962). O preconceito localiza-se na
esfera da consciência dos indivíduos e, por si só, não fere direi-
2. CONCEITOS BÁSICOS UTILIZADOS NO CONTEXTO DA tos. Mas o preconceito inconsciente também é problemático na
IGUALDADE E DISCRIMINAÇÃO medida em que ele não pode ser objeto de autocorreção pelas
vias jurídicas. Embora violando as normas do bom-senso e da
Antes de adentrarmos ao tema proposto, é importante apre- afetividade, o preconceito não implica, necessariamente, em vi-
sentar os conceitos e entendimentos das expressões etnia, di- olação de direitos. Isto porque ninguém é obrigado a gostar, por
versidade, preconceito, racismo, estereótipos, reparação e dis- exemplo, do portador de deficiência, do homossexual, do idoso,
criminação social e racial. do índio ou do afrodescendente. Aliás, a legislação pouca alusão
a) Etnia – Etnia refere-se a um conjunto de dados culturais faz ao preconceito. Embora o Preâmbulo da Constituição Federal
— língua, religião, costumes alimentares, comportamentos soci- manifeste o seu repúdio ao preconceito, bem como o art. 3º, IV
ais — mantidos por grupos humanos (grupo étnico) não muito dispõe: “Constituem objetivos fundamentais da República Fed-
distantes em sua aparência, os quais preservam e reproduzem erativa do Brasil: [...] promover o bem de todos, sem preconcei-
seus aspectos culturais no interior do próprio grupo, sem que tos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
estejam necessariamente vinculados por nacionalidade comum, de discriminação”.
ainda que compartilhem um território comum e se organizem, d) Racismo – É uma doutrina ou ideologia que defende a
em determinados casos, como população geral deste território existência de hierarquia entre grupos humanos, ou seja, algu-
(SILVA, 2002, p.18). Para alguns autores, a noção de etnia supõe mas raças são superiores a outras, assim os superiores teriam
uma base biológica, um grupo com características raciais própri- o direito de explorar e dominar os inferiores. As teorias racistas
as. Isto significa que uma etnia pode ser definida tanto como surgem na Europa, em meados do século XIX, preconizando su-
cultura, como por uma raça, ou por ambas. Apesar da constante perioridade do povo europeu em contrapartida à inferioridade
associação entre etnia e raça, estes dois conceitos não podem dos povos não europeus. E, atualmente, em várias partes do
ser tomados como sinônimos. Em suma, raça é um conceito cuja mundo, as teorias racistas servem para justificar a dominação
fundamentação científica é exclusivamente biológica, enquanto e a exploração de determinados grupos humanos sobre outros.
que etnia tem base social e cultural e, tal como grupo étnico O racismo inclui no seu conceito de raça, indiscriminadamente,
(Dicionário de Ciências Sociais – Fundação Getúlio Vargas MEC, agrupamentos não biológicos tais como seitas religiosas, nações,
1987, p.435). grupos linguísticos e grupos culturais (Dicionário de Ciências So-
b) Diversidade – A expressão diversidade pertence ao vo- ciais – Fundação Getúlio Vargas – MEC, 1987, p 962). Trata-se
cabulário da doutrina do multiculturalismo, não raro associada de um equívoco, pois além das dificuldades de definir uma raça
à ideia do relativismo cultural, ou seja, à ideia de que todas as pura, não existem raças superiores, e sim culturas e valores dif-
culturas e formas de vida têm um valor equivalente. Os Estados erentes. No entanto, mesmo admitindo que a raça não exista do
Unidos é o país onde o argumento da diversidade foi articulado ponto de vista biológico, ela existe do ponto de vista sociológico,
pela primeira vez devido à política de ação afirmativa. Nas últi- e continua a atuar no plano social e político. No Brasil, 98% dos
mas décadas, o termo diversidade adquiriu grande popularidade brasileiros reconhecem que existe racismo, mas 95% declaram
no cenário político e institucional norte-americano, tornando-se que não são racistas. Percebe-se que, apesar da existência do
central em discursos multiculturalistas e na justificação das racismo, ele muitas vezes é oculto e/ou invisível, manifestan-

15
DIREITOS HUMANOS
do-se em determinadas situações e momentos. Na realidade, miserável, preto, fanático religioso, pobretão etc., desde que
ninguém nasce racista e/ou com preconceito, estas atitudes com intenção ou vontade de lhe ofender a honra e a dignidade
são adquiridas na convivência social, inicialmente na família e relacionada com a cor, religião, raça ou etnia, sujeita o autor a
também na sociedade, inclusive devido aos padrões e/ou es- uma pena prevista na lei penal. Da mesma forma, a prática da
tereótipos criados no contexto social e institucional. discriminação constitui-se, em matéria civil (art. 186 do Código
e) Estereótipos – O termo deve ser claramente distinguido Civil), em um ato ilícito praticado em desacordo com a ordem
do preconceito, pois pertence à categoria das convicções, ou jurídica, violando direito subjetivo individual. Causar dano à víti-
seja, de um fato estabelecido. Trata-se de uma convicção que ma comete ato ilícito, criando o dever de repará-lo (MARTINS,
não está alicerçada por hipótese apoiada na evidência, mas é an- 1999, p.27). A discriminação racial ocorre com a manifestação
tes confundida, no todo ou em parte, com um fato estabelecido. exteriorizada do preconceito do racismo.
Uma vez “carimbados” os membros de determinado grupo como
possuidores deste ou daquele “atributo”, as pessoas deixam de 3. IGUALDADE, DESIGUALDADE E DISCRIMINAÇÃO
avaliar os membros desses grupos pelas suas reais qualidades e
passam a julgá-los pelo carimbo. Exemplo: todo judeu é sovina; Igualdade, desigualdade e discriminação são inseparáveis
todo português é burro; todo negro é ladrão; toda mulher não na realidade social. Contudo, em relação à igualdade existe di-
sabe dirigir (Dicionário de Ciências Sociais – Fundação Getúlio ficuldade inicial de estabelecer o seu significado, sobretudo
Vargas – MEC, 1987, p 419). pela sua indeterminação. Aliás, dizer que todos são iguais não
f) Reparação – É um argumento de grande apelo moral e significa ausência das diferenças e discriminação na sociedade,
social, para justificar medidas compensatórias tanto para de- até porque uns são mais iguais do que outros. Falando em igual-
scendentes de africanos, os quais foram trazidos para este país dade, temos que reconhecer que existem as desigualdades
à força e escravizados, como para os indígenas e seus descend- nas relações humanas. O campeão do igualitarismo, J.J. Rous-
entes, que foram, em grande parte, dizimados ou, às vezes, es- seau, não exige que, como condição para instauração do reino
cravizados. Existe, hoje, um grau razoável de consenso acerca da da igualdade, todos os homens sejam iguais em tudo (BOBBIO,
existência de desigualdade e discriminação racial em nosso país, 1996, p. 25). No discurso sobre a origem e sobre os fundamentos
da perpetuação dessa realidade desde os tempos da colônia e da das desigualdades entre os homens Rousseau diz o seguinte:
necessidade de se fazer algo para remediar esse problema. Não Concebo, na espécie humana, duas espécies de desigual-
é por acaso que indígenas e afrodescendentes são os únicos gru- dade: uma a que chamo natural ou física, por ser estabelecida
pos humanos nomeados explicitamente na Carta de 1988, o qual pela natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde,
recomenda a proteção de suas manifestações culturais por parte das forças do corpo e das qualidades do espírito ou da alma;
do Estado. O argumento da reparação é muito comum no debate a outra, a que se pode chamar desigualdade moral ou política,
público sobre as cotas e também se faz presente no discurso ju- por depender de uma espécie de convenção e ser estabelecida,
rídico (Igualdade, diferença e direitos humanos, 2008, p.357). ou pelo menos autorizada pelo consentimento dos homens. Esta
No entanto, a medida compensatória de reparação justifica-se consiste nos diferentes privilégios que alguns usufruem em pre-
pelo fato de o Estado, após a abolição da escravatura, ter nega- juízo dos outros, como serem mais ricos, mais reverenciados e
do aos descendentes africanos a educação, a qualificação para o mais poderosos do que eles, ou mesmo em se fazerem obedecer
trabalho e a reforma agrária. por eles. (ROUSSEAU, 1993, p. 144)
g) Discriminação – Diferentemente do preconceito, a dis- No caso brasileiro, a Constituição Federal de 1988, caput
criminação depende de uma conduta ou ato (ação ou omissão), de seu artigo 5º, declara expressamente que “todos são iguais
que resulta em violar direitos com base na raça, sexo, idade, es- perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”, mas a
tado civil, deficiência física ou mental, opção religiosa e outros. desigualdade e a discriminação social são históricas e perma-
A Carta Constitucional de 1988 alargou as medidas proibitivas de nentes, bem como fazem parte da atual realidade brasileira de
práticas discriminatórias no país. Algumas delas como, por ex- uma forma acentuada, que exigem medidas compensatórias e
emplo, discriminação contra a mulher (discriminação de gênero), justiça social. A propósito, quando afirmamos que todos são
discriminação contra a criança e o adolescente, discriminação iguais perante a lei, é preciso responder a duas perguntas: a)
contra o portador de necessidades especiais, discriminação em Igualdade entre quem?; e b) Igualdade em quê? Todos são iguais,
razão da idade, discriminação em razão de credo religioso, dis- porém alguns são mais iguais do que outros (BOBBIO, 1996,
criminação em virtude de convicções filosóficas e políticas, dis- p.12). Além disso, para erradicar a pobreza e a marginalização
criminação em função do tipo de trabalho. Além disso, é opor- e reduzir as desigualdades sociais e regionais, como objetivos
tuno combater a discriminação contra o índio, o homossexual, o fundamentados da República Federativa (Art. 3º, III, CF/88) não
cigano, a cultura afro-brasileira e as religiões de matriz africana podemos aplicar o princípio da igualdade formal, e sim tratar os
(JOAQUIM, 2009, p.255). desiguais de forma desigual através de políticas públicas e ações
h) Discriminação racial – A discriminação racial está em foro afirmativas.
constitucional, que considera prática do racismo como crime in- A concepção de igualdade puramente formal, ou seja, com
afiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão (art. 5º, base apenas na lei, representada pelo princípio da igualdade
incisos XLI e XLII). Para o direito penal brasileiro, a prática da perante a lei, não contribui para erradicação da pobreza, tam-
discriminação e preconceito por raça, etnia, cor, religião ou pro- pouco reduz as desigualdades sociais e regionais. O princípio da
cedência nacional consiste em delito previsto na lei 7.716/89, igualdade torna-se efetivo não somente pelo oferecimento de
alterada pela lei 9.459/97. Aqui, segundo art. 140, parágrafo ter- iguais condições a todos, mas, também, pela estipulação de dis-
ceiro do Código Penal: Se a injúria utilizar elementos relaciona- criminação positiva, quando verificado um desequilíbrio entre
dos à raça, cor, etnia, religião ou origem, a pena é de reclusão, determinados grupos sociais que torna difícil a plena isonomia
de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. De acordo com a intenção constitucional. Nesse sentido, a reserva de vagas para os negros,
da lei nova, chamar alguém de judeu, pretão, negão, crioulo, indígenas e estudantes de baixa renda como verdadeira discrim-

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DIREITOS HUMANOS
inação positiva, não ofende o princípio da isonomia previsto no Cabe também ressaltar, como mais uma forma de ação
caput do art. 5º da Constituição Federal (Igualdade, discrimi- afirmativa, o que contém a Lei do Estatuto do Idoso, na qual se
nação e direitos humanos, 2008, p. 354). deu prioridade de tramitação aos procedimentos judiciais no
Vale lembrar que o Estado e a sociedade brasileira demor- qual figure como parte, pessoas com idade igual ou superior a
aram muito a perceber que o princípio da igualdade de todos sessenta e cinco anos.
perante a lei não é suficiente para defender uma ordem social Mas é no Direito Internacional dos Direitos Humanos que se
justa e democrática, pois as desigualdades foram acumuladas no encontram as melhores definições para o fenômeno da discrim-
processo histórico. Além da base geral em que assenta o princí- inação, como diz Joaquim Barbosa (2001, p.19). Para Convenção
pio da igualdade perante a lei, ou seja, a igualdade formal se faz Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de discrim-
necessário tratamento desigual a situações desiguais, isto é, a inação racial de 1966:
igualdade real ou material. Contudo, com advento da Constitu- Discriminação racial significa qualquer distinção, exclusão,
ição Federal de 1988 e de algumas leis ordinárias, surgem ino- restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou
vações no que diz respeito à igualdade e à discriminação. origem nacional ou étnica, que tenha por objeto ou efeito an-
A Constituição Federal estabelece a “proibição de qualquer ular ou restringir o reconhecimento, o gozo ou o exercício, em
discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do condições de igualdade, dos direitos humanos e liberdades fun-
trabalhador portador de deficiência” (Art. 7º, XXXI). Ainda em damentais no domínio político, econômico, social e cultural ou
relação às pessoas portadoras de deficiência, no caso dos cargos em qualquer outro domínio da vida pública.
e empregos públicos, a constituição determinou que a lei reser- A Convenção destaca a necessidade de que não haja discrim-
vasse percentual, ou seja, cotas para deficiente físico no merca- inação de qualquer espécie e enfatiza a questão de raça, cor ou
do de trabalho e na universidade. Outro exemplo está no art. 37, origem nacional. Um ponto interessante na referida Convenção
VII, da Constituição Federal, e nas Leis n.º 7.835/89 e 8.112/90, é de que os Estados, além de condenarem a discriminação racial,
que regulamentaram o dispositivo constitucional referido, no se comprometem a adotar uma política de eliminação da referi-
qual há reservas de vagas em concurso público para os porta- da discriminação em todas as suas formas, criando, inclusive,
dores de deficiência física. Aqui, temos também cotas para de- a chamada discriminação positiva, isto é, as chamadas ações
ficientes físicos no mercado de trabalho e na universidade. Al- afirmativas (GUERRA, 2014, p. 137). Nesse sentido, o Brasil vem
iás, a Lei 8.213/91 chamada “Lei de Cotas” para deficientes, em desenvolvendo uma série de ações afirmativas para aumentar
seu art. 93 no setor privado, determina uma cota mínima para as possibilidades de alguns grupos que tradicionalmente ficaram
pessoas com alguma deficiência em empresas com mais de 100 afastados das oportunidades patrocinadas a outros segmentos
empregados. A propósito, os portadores de deficiência foram os sociais, como verá no momento próprio neste artigo. No en-
primeiros a serem beneficiados pelas ações afirmativas e de co- tanto, o Brasil demorou a entender a importância do Direito In-
tas em foro constitucional e leis ordinárias no mercado de tra- ternacional para o combate ao racismo e a implementação das
balho, educação e outras situações. ações afirmativas e das cotas. Principalmente os movimentos so-
Em sentido semelhante, a Lei 9.504/1997 assegura cotas ciais, em especial o movimento negro, ignoravam as convenções
para mulheres nas candidaturas partidárias, ao determinar que e os pactos internacionais no contexto dos Direitos Humanos.
“cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta O repúdio ao racismo nas relações internacionais foi,
por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candida- também, expressamente estabelecido no art. 4º inciso VIII da
tura de cada sexo” (art. 10,§ 3º). Constituição Federal: “A república Federativa do Brasil rege-se
Outra inovação da Constituição de 1988 ocorreu com a su- nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios [...]
peração do tratamento desigual fundado no sexo, ao equiparar repúdio ao terrorismo e ao racismo”. Nele se encontra inclu-
os direitos e obrigações de homens e mulheres (art. 5º, I). A sive, o reconhecimento de que o preconceito de origem, raça
questão mais complexa consiste na discriminação sofrida pelos e cor, especialmente contra os negros, não estão ausentes das
homossexuais. “Aqui, embora a Constituição não mencione a relações sociais brasileiras. Disfarçadamente ou, não raro, osten-
expressão textualmente, entende-se que é proibida a discrim- sivamente, pessoas negras sofrem discriminação até mesmo nas
inação de qualquer natureza, inclusive em razão de orientação relações com entidades públicas (SILVA, 2003, p. 223).
sexual”. Quanto à criança e ao adolescente, é dever da família, Segundo o jurista constitucionalista José Afonso da Silva:
da sociedade e do Estado assegurar com absoluta prioridade to- A discriminação é proibida expressamente, como consta no
dos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, previs- art. 3º, IV da Constituição Federal, no qual se dispõe que, en-
tos no art. 227 da Constituição Federal: tre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil,
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à está: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimi-
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profission- nação. Proibiu-se, também, a diferença de salário, de exercício
alização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à con- de fundações e de critério de admissão por motivo de sexo,
vivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de idade, cor, estado civil ou portador de deficiência (art. 7º, XXX
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, e XXXI). (Curso de Direito Constitucional Positivo, 2003, p. 222)
crueldade e opressão. No que diz respeito à discriminação na educação, a “Con-
Da mesma forma, o idoso goza de todos os direitos funda- venção sobre a luta contra a discriminação no domínio do en-
mentais inerentes à pessoa humana, conforme dispõe o art. 9º do sino”, adotada pela Conferência Geral da Unesco em 1960, foi
Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 01/10/2003): “É obrigação o principal instrumento jurídico internacional específico sobre
do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, direito à educação. A propósito, o termo discriminação abarca
mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam qualquer distinção, exclusão, limitação ou preferência que, por
um envelhecimento saudável e em condições de dignidade”. motivo de raça, cor, sexo, língua, opinião pública ou qualquer
outra opinião, origem nacional ou social, condição econômica

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DIREITOS HUMANOS
ou nascimento, tenha por objeto ou efeito destruir ou alterar a no início dos anos 1960, logo após o Presidente Kennedy haver
igualdade de tratamento em matéria de ensino (Convenção rela- determinado, através de decreto executivo, que fossem tomadas
tiva à Luta Contra a Discriminação no Campo do Ensino – adota- medidas positivas no sentido de promover a inserção dos negros
da pela Conferência Geral da Unesco em Paris, 1960 – promulga- no sistema educacional de qualidade, historicamente reservado
da pelo Decreto nº 63.223, de 6 de setembro de 1968). às pessoas de raça branca, como diz Joaquim Barbosa Gomes,
Nesse sentido, vale destacar que uma das mais graves dis- ex-ministro do STF (2001, p.103). A Corte Americana decidiu que
criminações ocorre quando o direito de ser educado de uma pes- as ações afirmativas são discriminações positivas constitucionais
soa e/ou de uma geração ou de um segmento social é negado autorizadas, fundamentadas no direito e garantias constitucion-
e atingido. O direito à educação é um direito natural, humano, ais da diversidade racial e cultural.
social e fundamental para o ser humano. Aliás, do ponto de vista No governo de Lyndon Johnson (1963-1968), foram criados
histórico, o direito à educação foi negado aos descendentes de mecanismos e estratégias importantes de combate e de super-
escravos após a abolição da escravatura no Brasil. Não foi pro- ação das desigualdades raciais e de gênero, principalmente. A
porcionado a este segmento social educação para a sua inserção partir de 1964 até o início dos anos 1980, as políticas de ação
no mercado de trabalho. afirmativa nos EUA passaram por um processo de crescimento
Enfim, ao tratar da discriminação, quer seja racial ou so- gradual. Com base no artigo VII do Civil Rights Act, são criadas e
cial, com a pretensão de estabelecer a igualdade como solução, implementadas políticas antidiscriminatórias com vistas a inibir
verifica-se que a melhor opção é reconhecer a importância da discriminações no mercado de trabalho, que tivessem por sub-
discriminação positiva como medida compensatória para pro- trato a raça ou a etnia, a religião, o sexo ou a origem nacional
moção da igualdade na sociedade. Além disso, não basta com- dos trabalhadores. Na administração do Presidente Ronald Rea-
bater a discriminação apenas no campo normativo, com regras gan, entretanto, as ações afirmativas enfraqueceram, voltando
meramente proibitivas de discriminação, é preciso também pro- a fortalecer-se na administração do Presidente Clinton e pelo
mover a igualdade material. Para tanto, surgiram às ações afirm- Ato de Direitos Civis (Civil Rights Act) de 1991 (SISS, 2003: p.
ativas e as cotas que têm como objetivo, sobretudo, de eliminar 113/118/131).
ou atenuar a discriminação do passado e do pressente, como Além do sistema de cotas, também existem outras opções
veremos a seguir. que podem ser consideradas importantes para efetivação das
ações afirmativas: o método do estabelecimento de preferên-
AÇÃO AFIRMATIVA E COTAS COMO cias, o sistema de bônus e os incentivos fiscais (como instru-
MEDIDAS COMPENSATÓRIAS mento de motivação do setor privado). Mas no caso do Direito
brasileiro, falta um maior conhecimento das modalidades e das
Inicialmente, cabem cinco indagações: o que é ação afirm- técnicas que podem ser utilizadas na implementação de ações
ativa? Cotas e ação afirmativas significam a mesma coisa? Mas afirmativas. Na realidade, ação afirmativa não se confunde nem
o que são cotas? Qual o seu fundamento legal? Existe relação se limita às cotas (GOMES, 2002 apud PISCITELLI, 2009, p.71).
entre a discriminação positiva e a ação afirmativa? Joaquim Barbosa Gomes, Ex-Ministro do Supremo Tribunal
A adoção das medidas de ação afirmativa e cotas é o recon- Federal, autor do livro Ação afirmativa & princípio constitucional
hecimento de que o princípio da igualdade formal é insuficiente da igualdade – o Direito como instrumentos de transformação
para garantir a plena cidadania. Podemos formular ações ou social, nos dá uma definição de ação afirmativa:
políticas afirmativas, sem utilização de cotas, pois esta é apenas Um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter
uma modalidade ou forma de ação afirmativa. As expressões compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vista ao
ação afirmativa e sistema de cotas são tidas, frequentemente, combate à discriminação racial, de gênero e de origem nacional,
como sinônimas, o que se revela equivocado, uma vez que a bem como para corrigir os efeitos presentes da discriminação
ação afirmativa é gênero do qual o sistema de cotas é apenas praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ide-
espécie, ainda que a mais difundida, polêmica, no âmbito da ed- al de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a
ucação e do trabalho. educação e o emprego. (2001, p. 40)
Portanto, as cotas nasceram no bojo das ações afirmativas, Carmem Lúcia Antunes Rocha, por sua vez, vislumbra a ação
mas com essas não se confundem. Para facilitar o desenvolvi- afirmativa como “uma forma para se promover a igualdade
mento e compreensão do tema, vamos iniciar explicando o que daqueles que foram e são marginalizados por preconceitos en-
são ações afirmativas, até porque as cotas são uma segunda eta- cravados na cultura dominante da sociedade”. Por esta desigual-
pa delas. dade positiva promove-se a igualdade jurídica efetiva [...]. Ação
As primeiras experiências de ações afirmativas surgiram nos afirmativa é, então, forma jurídica para se superar o isolamento
Estados Unidos da América, a partir de meados do século XX. ou a diminuição social a que se acham sujeitas as minorias.[4]
Mais precisamente em 1957, 1960, 1964 e 1965, o Congresso Nesse sentido, segundo o professor Sergio Abreu, a discrimi-
dos EUA promulgou leis dos direitos civis, editando-se a lei sobre nação positiva, assim como a ação afirmativa, não contrariam o
igualdade de salário, em 1964, referente a direitos civis. Isto ac- princípio da igualdade, ao contrário, reforçam, bem como reafir-
onteceu após-intensa pressão da sociedade civil, especialmente mam o princípio da igualdade. É o reconhecimento do direito à
dos movimentos negros, com lideranças como Martin Luther diferença, a pedra de toque da discriminação positiva.[5]
King, Malcon X, e de grupos raciais como os Panteras Negras na Porém, os Estados Unidos da América não detêm monopólio
luta pelos direitos civis dos afro-americanos. das ações afirmativas (ou políticas compensatórias), programas
Desta forma, o termo ação afirmativa surgiu nos Estados Un- semelhantes ocorrem em vários países da Europa Ocidental, na
idos, no pós-guerra, já na década de 1960, quando as sociedades Índia, na Malásia, na Austrália, no Canadá, na Nigéria, em Cuba,
ocidentais cobravam a presença de critérios mais justos na re- dentre outros países, como diz Domingues Petrônio no seu livro
estruturação dos Estados de Direito. No campo da educação, os A nova Abolição” (2008, p.151). A propósito, as ações afirmati-
primeiros programas de ação afirmativa foram postos em prática vas foram adotadas em mais de 25 países, com diferentes modal-

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DIREITOS HUMANOS
idades. As ações afirmativas como mecanismo de inclusão social, Art. 1º Todos os órgãos da administração pública direta e
já espalhados por todo o mundo, além de promoverem maior indireta, as empresas públicas e as sociedades de economia
participação das categorias discriminadas, são vistos como in- mista são obrigados a manter, nos seus respectivos quadros de
strumentos que possuem o condão de proporcionar maior igual- servidores, 20% (vinte por cento) de homens negros e 20% de
dade social de um modo geral (BELLINTANI, 2006, p.41). mulheres negras, em todos os pontos de trabalho e de direção.
No caso brasileiro existem experiências de cotas, como foi Art. 2º Toda empresa privada ou estabelecimento de serviços
a “Lei do Boi”, nº 5465, de 3 de julho de 1968, que dispõe so- são obrigados a executar medidas de ação compensatórias com
bre preenchimento de vagas nos estabelecimentos de ensino vistas a atingir, no prazo de cinco anos, a participação de ao
agrícola. Cotas para beneficiar filhos de fazendeiros brancos e menos 20% (vinte por cento) de homens negros e 20% (vinte por
da elite rural. Outras experiências, como já foram mencionadas, cento) de mulheres negras em todos os níveis de seu quadro de
previstas na Constituição Federal de 1988, estabeleceu em seu empregos e remunerações.
art. 7º, XX, proteção especial de trabalho à mulher, fundamen- Art. 6º serão destinadas a estudantes negros 40% (quarenta
tando, desse modo, o conteúdo da Lei n. 9.504/97, que em seu por cento) das bolsas de estudo concedidas em todos os níveis
art. 10, § 2º, cria cotas para mulheres nas candidaturas partidári- de ensino. (Publicado no Diário do Senado Federal, de 25-04-97).
as; e prevê no art. 37, VIII, percentual de cargos para portadores A participação do Brasil na 3ª Conferência Mundial de Com-
de deficiência física. No entanto, quando se fala em cotas para bate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerân-
os afrodescendentes cria-se uma polêmica, como foi o caso do cia Correlata, ocorrida em 2001 na África do Sul fortaleceu o
programa de cotas raciais na Universidade Estadual do Rio de movimento nacional para implementação de ações afirmativas
Janeiro (UERJ), quando houve resistência por parte de vários e cotas. Após assinar a Declaração de Duban, o Brasil compro-
segmentos da sociedade brasileira (DOMINGUES, 2008, p.152). meteu-se a adotar medidas para eliminar o racismo, o precon-
As discussões sobre ação afirmativas e cotas datam das duas ceito e, acima de tudo, a discriminação estrutural que gera a
últimas décadas, mas precisamente a partir da década de 1990 falta de oportunidade socioeconômica para afro-brasileiros.[6]
e início do século XXI. Inicialmente, no âmbito das organizações A propósito, este compromisso foi reafirmado pelo governo bra-
do Movimento Negro Nacional, bem como em alguns restritos sileiro, quando assinou a Declaração e o Plano de Ação da III
espaços acadêmicos (SISS, 2003, p. 131). Em 20 de novembro Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Ra-
de 1995, como comemoração ao Tricentenário da Imortalidade cial, Xenofobia e Intolerância Correlata (art. 99 e 100).··
de Zumbi dos Palmares, ocorreu em Brasília a Marcha contra o Em 20 de novembro de 2001, o Presidente do Supremo Tri-
Racismo, pela Igualdade e pela Vida, como resultado da ação do bunal Federal (STF), Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias
Movimento Negro Nacional, com apoio de setores do movimen- Mello, no Seminário “Discriminação e Sistema Legal Brasileiro”,
to social. Essa marcha reuniu cerca de 30 mil pessoas de todo promovido pelo Tribunal Superior do Trabalho, proferiu uma pal-
país que, através de uma comissão, apresentou ao então Presi- estra intitulada “Óptica constitucional – a igualdade e as ações
dente Fernando Henrique Cardoso, um documento contendo um afirmativas”, em que defendeu a constitucionalidade da imple-
rol de reivindicações para o desenvolvimento de políticas públi- mentação de ações afirmativas em favor dos afro-brasileiros
cas de ações afirmativas nos mais diversos campos. Este impor- (SILVA, 2004). Segundo o Ministro Marco Aurélio (STF), a ação
tante documento contribuiu para as propostas e formulações de afirmativa evidencia o conteúdo democrático do princípio de
políticas compensatórias e ações afirmativas que promovessem igualdade jurídica e, neste caso, cabe citar uma pensadora do
socialmente e economicamente a comunidade negra (Levando a Direito, a nossa Carmem Lucia Antunes Rocha:
raça a sério – ação afirmativa e universidade, p.30). A ação afirmativa é um dos instrumentos possibilitadores da
Em documento publicado em 1996, surge a primeira superação do problema do não cidadão, daquele que não partic-
definição oficial de ações afirmativas: ipa política e democraticamente como lhe é na letra da lei fun-
Ações afirmativas são medidas especiais e temporárias to- damental assegurado, porque não se lhe reconhecem os meios
madas pelo Estado e/ou iniciativa privada, espontânea ou com- efetivos para se igualar com os demais. Cidadania não combina
pulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualdades histori- com discriminação. (Apud MARTINS, 2002, p.43)
camente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidade e No Brasil, as políticas de ação afirmativas possuem amplo
tratamento, bem como compensar perdas provocadas pela dis- suporte constitucional. Além disso, elas possuem suporte jurídi-
criminação e a marginalização por motivos raciais, étnicos, reli- co também no Direito Internacional. Destaca-se, especialmente,
giosos, de gênero e outras. (GTI/População Negra, 1996, p.10) a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de discrim-
Portanto, do ponto de vista institucional, cabe destacar o inação racial, aliás, o Brasil é signatário (Igualdade, diferença e
Programa Nacional de Direitos Humanos – Ministério da Justiça, direitos humanos, 2008, p.353/354). O Decreto nº 4.228 de 13
em 1996, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Aqui, en- de maio de 2002, instituiu o Programa Nacional de Ações afirm-
tre as propostas de ações governamentais, em curto prazo in- ativas no âmbito da administração pública Federal; Programa de
centivar e apoiar a criação e instalação, a níveis estadual e mu- Ação Afirmativa do Ministério da Justiça, que reserva 20% (vinte
nicipal, de Conselhos da Comunidade Negra; em médio prazo por cento) de seus cargos de direção e assessoramento superi-
desenvolver ações afirmativas para o acesso dos negros aos cur- or (DAS) a afro-brasileiros (Portaria 1.156/2001); Programa de
sos profissionalizantes, à universidade e às áreas de tecnologia Ação Afirmativa do Instituo Rio Branco, que cria “bolsas-prêmio
de ponta. (Programa Nacional de Direitos Humanos. Ministério de vocação para a diplomacia” em favor dos candidatos afrode-
da Justiça, 1996, p. 29). scendentes; Programa de Ação Afirmativa no Supremo Tribunal
Em 1997 um projeto de lei de iniciativa do senador Abdias Federal, que estabelece cota de 20% (vinte por cento) para af-
do Nascimento (nº 75/1997) dispõe sobre medidas de ação com- ro-brasileiros nas empresas que prestam serviços autorizados a
pensatórias para implementação do princípio da isonomia social essa Corte (JOAQUIM, 2009, p.265).
do negro no mercado de trabalho e no ensino:

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DIREITOS HUMANOS
A Lei nº 10.558, de 13 de novembro de 2002, criou o Progra- Para o cumprimento do disposto no art. 9º, os governos
ma de Diversidade na Universidade no âmbito do Ministério da federal, estaduais, distrital e municipal adotarão as seguintes
Educação, com a finalidade de implementar e avaliar estratégias providências: I – promoção de ações para viabilizar e ampliar o
para a promoção do acesso ao ensino superior de pessoas pert- acesso da população negra ao ensino gratuito e às atividades es-
encentes a grupos socialmente desfavorecidos, especialmente portivas e de lazer [...]. Portanto, o dispositivo autoriza a doção
dos afrodescendentes e dos indígenas brasileiros (art. 1º). En- pelo Governo Federal e pelos Governos Estaduais e Municipais
quanto a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igual- do sistema de cotas em suas respectivas universidades públi-
dade Racial foi criada pela Lei nº 10.678 de 23 de maio de 2003 cas, sem necessidade de qualquer ato do Congresso Nacional.
para o cumprimento de tratados internacionais pelo Brasil no (SCHREIBER, 2013, p.251)
combate à discriminação racial. Tivemos mais de dez anos de debates, discussões com
Em 2003, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) posições favoráveis e contrárias às ações afirmativas e cotas,
realizou o primeiro vestibular do país com cotas reservadas para mas finalmente temos a Lei Federal n. 12.711, de 29 de agos-
estudantes negros e oriundos de escolas públicas, decorrente to de 2012, que contemplou as cotas sociais e raciais. Esta Lei
da Lei Estadual 3708/2001 e da Lei Estadual 4151/2003, esta ini- dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas insti-
ciando uma segunda etapa das ações afirmativas nas universi- tuições federais de ensino técnico de nível médio. Ela fixa um
dades fluminenses, instituindo nova disciplina sobre o sistema percentual de 50% das vagas para estudantes que tenham cursa-
de cotas para ingresso nas Universidades Públicas Estaduais. As- do integralmente o ensino médio nas escolas públicas e afirma
sim, a iniciativa pioneira foi amparada em lei estadual específica, que essas vagas serão preenchidas por autodeclarados pretos,
que reservava o percentual mínimo de 45% das vagas dos cursos pardos e indígenas em “proporção no mínimo igual à de pretos,
de graduação das universidades estaduais do Rio de Janeiro para pardos e indígenas na população da unidade da Federação onde
“estudantes carentes” na seguinte proporção: 20% das vagas está instalada a instituição, segundo o último censo da Fundação
para estudantes oriundos da “rede pública de ensino”, 20% para Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE”.[7] Diante da
“negros” e 5% para pessoas com deficiência, nos termos da leg- flagrante diversidade entre os Estados brasileiros nesse aspecto,
islação em vigor, e integrante de minorias étnicas. Tudo como tal critério afigura-se, de fato, mais adequado a uma lei feder-
forma de democratizar o acesso ao ensino superior (SCHREIBER, al que tem aplicação em todo o território nacional (SCHREIBER,
2013, p.248). 2013, p.252).
A propósito, em pesquisa realizada pelo Programa de Apoio Esta Lei 12.711/2012 foi regulamentada pelo Decreto nº
ao Estudante da UERJ, constatou-se que os alunos que entraram 7824/2012, que define as condições gerais de reservas de vagas
pelo critério de cotas tiveram, no primeiro semestre de estudo e a regra de transição para as instituições federais de educação
de 2003, rendimento acadêmico superior à taxa de evasão, que superior. Temos também a Portaria Normativa nº 18/2012, do
foi menor em relação aos alunos não cotistas (DOMINGUES, Ministério da Educação, que estabelece os conceitos básicos
2008, p.157). para aplicação da lei, prevê as modalidades das reservas de va-
Ainda na área da educação, em 2004, no governo Lula, foi gas e as fórmulas para cálculo, fixa as condições para concorrer
criado o Programa Universidade para Todos – PROUNI. Política às vagas reservadas e estabelece a sistemática de preenchimen-
de ação afirmativa, destinada à concessão de bolsas de estudos to dessas vagas.
integrais e bolsas de estudos parciais de 50% (meia bolsa) para A cota racial e social na educação constituiu-se como para-
curso de graduação e sequenciais de formação específica, em digma para outros Estados da Federação. Durante os últimos 12
instituições privadas de Ensino Superior com ou sem fins lucra- anos, as ações afirmativas e cotas têm marcado profundamente
tivos. Aqui, há cotas para negros e indígenas. O percentual terá os debates públicos e acadêmicos, chegando a mais alta Corte da
que ser, no mínimo, correspondente ao percentual de cidadãos justiça brasileira (STF), através de demandas judiciais e audiên-
autodeclarados negros, pardos e indígenas. cias públicas promovidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Vale destacar que as instituições privadas de ensino supe- Este reconheceu a constitucionalidade das cotas sociais e raciais,
rior também estão implementando ações afirmativas, com pro- bem como das ações afirmativas. Em 2013, reportagem recente
gramas de inclusão social no ensino, programas de acompan- da revista ISTOÉ (nº 2264, de 5 de abril de 2013), com o títu-
hamento pedagógico, inclusive previsto nos projetos políticos lo “Porque as cotas raciais deram certo no Brasil”, entrevistou
pedagógicos. Oferecendo bolsas de estudo parciais para alunos alunos cotistas de diferente universidade pública do Brasil, que
carentes de recursos e outras iniciativas de inclusão social no já se formaram e foram bem-sucedidos no mercado de trabalho.
ensino, promovendo igualdade racial e social (JOAQUIM, 2009, Vale mencionar também a recente Lei 12.290/2014, voltada
p.266). para o mercado de trabalho, que estabeleceu cotas raciais em
A Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, instituiu o Estatuto concurso público. A Lei reserva aos negros que se declararem
da Igualdade Racial recheado de referências às ações afirmati- pretos ou pardos no ato da inscrição, 20% (vinte por cento) das
vas, ali definidas no art. 1º, inciso V como: “políticas públicas: as vagas oferecidas no concurso público federal para provimento
ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumpri- de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da adminis-
mento de suas atribuições institucionais”; Inciso VI como: “ações tração pública federal. Semelhante ao que ocorre com os porta-
afirmativas os programas e medidas especiais adotados pelo Es- dores de deficiência na lei constitucional e ordinária, por razões
tado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades de discriminações históricas.
raciais e para a promoção da igualdade de oportunidade” (inciso Por fim, as ações afirmativas decorrem de políticas públicas
VI). Em seu art. 9º: “A população negra tem direito a participar concebidas pelo Estado, que atendem ao acesso à educação e,
de atividades educacionais culturais, esportivas e de lazer ade- por consequência, a qualificação para o trabalho, dois direitos
quadas a seus interesses e condições, de modo a contribuir para que historicamente foram negados aos descendentes de escra-
o patrimônio cultural de sua comunidade e da sociedade bra- vos após a Abolição da escravidão. Com as cotas raciais e sociais
sileira”. Já no art. 10, inciso I dispõe expressamente: retoma-se o papel democrático da universidade pública, propor-

20
DIREITOS HUMANOS
cionando oportunidade para todos, bem como adotando a di- II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos:
versidade étnica para que negros pobres e indígenas ingressem a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento
nas universidades federais e nas instituições federais de ensino sustentável, com inclusão social e econômica, ambientalmente
técnico de nível médio. Assim, os afro-brasileiros, indígenas e equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural e regional-
estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio mente diverso, participativo e não discriminatório;
nas escolas públicas, podem adquirir conhecimento, se prepa- b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito
rar para o exercício da cidadania, assim como se qualificar e in- central do processo de desenvolvimento; e
gressar no mercado de trabalho, ajudando o desenvolvimento c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais
do país. como Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como su-
jeitos de direitos;
III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contex-
POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS to de desigualdades:
a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma uni-
A política nacional de direitos humanos do Estado brasileiro, versal, indivisível e interdependente, assegurando a cidadania
desenvolvida desde o retorno ao governo civil em 1985, e de plena;
forma mais definida, desde 1995, pelo governo do Presidente b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescen-
Fernando Henrique Cardoso, reflete e aprofunda uma concepção tes para o seu desenvolvimento integral, de forma não discrimi-
de direitos humanos partilhada por organizações de direitos hu- natória, assegurando seu direito de opinião e participação;
manos desde a resistência ao regime autoritário nos anos 1970. c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e
Pela primeira vez, entretanto, na história republicana, quase d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;
meio- século depois da Declaração Universal de Direitos Hu- IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e
manos de 1948, os direitos humanos passaram a ser assumidos Combate à Violência:
como política oficial do governo, num contexto social e político a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema
deste fim de século extremamente adverso para a maioria das de segurança pública;
não-elites na população brasileira. b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no siste-
A luta pelos direitos humanos é um processo contraditório, ma de segurança pública e justiça criminal;
no qual o Estado, qualquer que seja o governo no regime de- c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e
mocrático, e a sociedade civil têm responsabilidades necessaria- profissionalização da investigação de atos criminosos;
mente compartilhadas. É uma parceria que se funda sobre prin- d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase
cípios rígidos e irrenunciáveis, qualquer que seja a conjuntura. na erradicação da tortura e na redução da letalidade policial e
Não há política sem contradição, não há luta pelos direitos carcerária;
humanos sem conflitos, obstáculos e resistências: negar essa e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e
realidade é recusar a própria luta, na qual como a viagem do de proteção das pessoas ameaçadas;
navegante na política e na democracia não há porto final. f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal,
priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à priva-
DECRETO Nº 7.037, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2009. ção de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e
g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessí-
Aprova o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH- vel, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a defesa de
3 e dá outras providências. direitos;
V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Hu-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe manos:
confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da
política nacional de educação em Direitos Humanos para fortale-
DECRETA: cer uma cultura de direitos;
b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia
Art. 1o Fica aprovado o Programa Nacional de Direitos Hu- e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica, nas
manos - PNDH-3, em consonância com as diretrizes, objetivos instituições de ensino superior e nas instituições formadoras;
estratégicos e ações programáticas estabelecidos, na forma do c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal
Anexo deste Decreto. como espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos;
Art. 2o O PNDH-3 será implementado de acordo com os se- d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos
guintes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes: no serviço público; e
I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrá-
sociedade civil: tica e ao acesso à informação para consolidação de uma cultura
a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e socie- em Direitos Humanos; e
dade civil como instrumento de fortalecimento da democracia VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:
participativa; a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade
b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como como Direito Humano da cidadania e dever do Estado;
instrumento transversal das políticas públicas e de interação de- b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e constru-
mocrática; e ção pública da verdade; e
c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de infor- c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com
mações em Direitos Humanos e construção de mecanismos de promoção do direito à memória e à verdade, fortalecendo a de-
avaliação e monitoramento de sua efetivação; mocracia.

21
DIREITOS HUMANOS
Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos res- ferente, desde a mais tenra idade, é perder o medo do desco-
ponsáveis nele indicados, envolve parcerias com outros órgãos nhecido, formar opinião respeitosa e combater o preconceito, às
federais relacionados com os temas tratados nos eixos orienta- vezes arraigado na própria família.
dores e suas diretrizes.
Art. 3o As metas, prazos e recursos necessários para a imple- No Programa, essa concepção se traduz em propostas de
mentação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de mudanças curriculares, incluindo a educação transversal e per-
Ação de Direitos Humanos bianuais. manente nos temas ligados aos Direitos Humanos e, mais espe-
Art. 4 (Revogado pelo Decreto nº 10.087, de 2019) cificamente, o estudo da temática de gênero e orientação se-
Art. 5o Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os xual, das culturas indígena e afro-brasileira entre as disciplinas
órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Ministério do ensino fundamental e médio.
Público, serão convidados a aderir ao PNDH-3.
Art. 6o Este Decreto entra em vigor na data de sua publica- No ensino superior, as metas previstas visam a incluir os Di-
ção. reitos Humanos, por meio de diferentes modalidades como dis-
Art. 7o Fica revogado o Decreto no 4.229, de 13 de maio de ciplinas, linhas de pesquisa, áreas de concentração, transversali-
2002. zação incluída nos projetos acadêmicos dos diferentes cursos de
Brasília, 21 de dezembro de 2009; 188o da Independência e graduação e pós-graduação, bem como em programas e projetos
121o da República. de extensão.

A educação não formal em Direitos Humanos é orientada


pelos princípios da emancipação e da autonomia, configurando-
EDUCAÇÃO E CULTURA EM DIREITOS HUMANOS -se como processo de sensibilização e formação da consciência
crítica. Desta forma, o PNDH-3 propõe inclusão da temática de
Educação e Cultura em Direitos Humanos Educação em Direitos Humanos nos programas de capacitação
de lideranças comunitárias e nos programas de qualificação pro-
A educação e a cultura em Direitos Humanos visam à for- fissional, alfabetização de jovens e adultos, entre outros. Volta-
mação de nova mentalidade coletiva para o exercício da solida- -se, especialmente, para o estabelecimento de diálogo e parce-
riedade, do respeito às diversidades e da tolerância. Como pro- rias permanentes como o vasto leque brasileiro de movimentos
cesso sistemático e multidimensional que orienta a formação do populares, sindicatos, igrejas, ONGs, clubes, entidades empresa-
sujeito de direitos, seu objetivo é combater o preconceito, a dis- riais e toda sorte de agrupamentos da sociedade civil que desen-
criminação e a violência, promovendo a adoção de novos valores volvem atividades formativas em seu cotidiano.
de liberdade, justiça e igualdade.
A formação e a educação continuada em Direitos Humanos,
A educação em Direitos Humanos, como canal estratégico com recortes de gênero, relações étnicoraciais e de orientação
capaz de produzir uma sociedade igualitária, extrapola o direito sexual, em todo o serviço público, especialmente entre os agen-
à educação permanente e de qualidade. Trata-se de mecanismo tes do sistema de Justiça e segurança pública, são fundamentais
que articula, entre outros elementos: a) a apreensão de conhe- para consolidar o Estado Democrático e a proteção do direito à
cimentos historicamente construídos sobre Direitos Humanos e vida e à dignidade, garantindo tratamento igual a todas as pes-
a sua relação com os contextos internacional, nacional, regional soas e o funcionamento de sistemas de Justiça que promovam
e local; b) a afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que os Direitos Humanos.
expressem a cultura dos Direitos Humanos em todos os espaços
da sociedade; c) a formação de consciência cidadã capaz de se Por fim, aborda-se o papel estratégico dos meios de comuni-
fazer presente nos níveis cognitivo, social, ético e político; d) o cação de massa, no sentido de construir ou desconstruir ambien-
desenvolvimento de processos metodológicos participativos e te nacional e cultura social de respeito e proteção aos Direitos
de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáti- Humanos. Daí a importância primordial de introduzir mudanças
cos contextualizados; e) o fortalecimento de políticas que gerem que assegurem ampla democratização desses meios, bem como
ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da de atuar permanentemente junto a todos os profissionais e em-
defesa dos Direitos Humanos, bem como da reparação das vio- presas do setor (seminários, debates, reportagens, pesquisas e
lações. conferências), buscando sensibilizar e conquistar seu compro-
misso ético com a afirmação histórica dos Direitos Humanos.
O PNDH-3 dialoga com o Plano Nacional de Educação em Di-
reitos Humanos (PNEDH) como referência para a política nacio-
nal de Educação e Cultura em Direitos Humanos, estabelecendo AGENDA 2030 E OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO
os alicerces a serem adotados nos âmbitos nacional, estadual, SUSTENTÁVEL
distrital e municipal. O PNEDH, refletido neste programa, se des-
dobra em 5 grandes áreas:
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável
Na educação básica, a ênfase do PNDH-3 é possibilitar, des-
de a infância, a formação de sujeitos de Em setembro de 2015, representantes dos 193 Estados-
direito, priorizando as populações historicamente vulnera- -membros da ONU se reuniram em Nova York e reconheceram
bilizadas. A troca de experiências de crianças de diferentes raças que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimen-
e etnias, imigrantes, com deficiência física ou mental, fortalece, sões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e
desde cedo, sentimento de convivência pacífica. Conhecer o di- um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável.

22
DIREITOS HUMANOS
Ao adotarem o documento “Transformando o Nosso Mundo: Aprendendo com os Objetivos do Milênio (ODM)
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” (A/70/L.1), Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) emer-
os países comprometeram-se a tomar medidas ousadas e trans- giram de uma série de cúpulas multilaterais realizadas durante
formadoras para promover o desenvolvimento sustentável nos os anos 1990 sobre o desenvolvimento humano. O processo de
próximos 15 anos sem deixar ninguém para trás. construção dos ODM contou com especialistas renomados e es-
teve focado, principalmente, na redução da extrema pobreza. A
A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o pla- Declaração do Milênio e os ODM foram adotados pelos Estados-
neta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O -membros da ONU em 2000 e impulsionaram os países a enfren-
plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os tarem os principais desafios sociais no início do século XXI.
ODS, e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida dig-
na para todos, dentro dos limites do planeta. São objetivos e
metas claras, para que todos os países adotem de acordo com
suas próprias prioridades e atuem no espírito de uma parceria
global que orienta as escolhas necessárias para melhorar a vida
das pessoas, agora e no futuro.

Este é um plano para governos, sociedade, empresas, aca-


demia e para você.

Mas, afinal, como chegamos a esta agenda global de desen-


volvimento?
Esses oito Objetivos foram o primeiro arcabouço global de
Avançando o Desenvolvimento Sustentável políticas para o desenvolvimento e contribuíram para orientar
O relatório Nosso Futuro Comum (1987), define desenvolvi- a ação dos governos nos níveis internacional, nacional e local
mento sustentável: por 15 anos. Os ODMs reconheceram a urgência de combater a
pobreza e demais privações generalizadas, tornando o tema uma
O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades prioridade na agenda internacional de desenvolvimento.
da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.
Em 2010, a Cúpula das Nações Unidas sobre os Objetivos do
Milênio demandou a aceleração na implementação dos Objeti-
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
vos. Além disso, solicitou ao então Secretário-Geral da Nações
Desenvolvimento, que ficou conhecida como Rio 92, reuniu mais
Unidas, Ban Ki-moon, elaborar recomendações sobre os próxi-
de 100 chefes de Estado na cidade do Rio de Janeiro, em 1992,
mos passos após 2015. Com o suporte do Grupo de Desenvolvi-
para discutir como garantir às gerações futuras o direito ao desen-
mento das Nações Unidas, o Secretário-Geral lançou um proces-
volvimento. Na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente, os países
so de consultas com várias partes interessadas e/ou impactadas
concordaram com a promoção do desenvolvimento sustentável,
para discutir uma nova agenda de desenvolvimento.
com foco nos seres humanos e na proteção do meio ambiente
como partes fundamentais desse processo. E adotaram aAgenda
21, a primeira carta de intenções para promover, em escala pla- O processo de construção de uma agenda pós-2015
netária, um novo padrão de desenvolvimento para o século XXI.

20 anos depois, 193 delegações, além de representantes da


sociedade civil, voltariam à cidade do Rio de Janeiro para reno-
var o compromisso global com o desenvolvimento sustentável.
O objetivo da Rio+20 era avaliar o progresso obtido até então
e as lacunas remanescentes na implementação dos resultados
das cúpulas anteriores, abordando novos emergentes desafíos.
O foco das discussões da Conferência era, principalmente: a eco-
nomia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da
erradicação da pobreza e o arcabouço institucional para o desen-
volvimento sustentável.

A Declaração Final da Conferência Rio+20, o documento “O


Futuro que Queremos”, reconheceu que a formulação de metas
poderia ser útil para o lançamento de uma ação global coerente Após a Rio+20, um amplo e inclusivo sistema de consulta foi
e focada no desenvolvimento sustentável. Assim, foi lançada as empreendido sobre questões de interesse global que poderiam
bases de um processo intergovernamental abrangente e trans- compor a nova agenda de desenvolvimento pós-2015. Diferente-
parente, aberto a todas as partes interessadas, para a promoção mente do processo dos ODMs, os novos objetivos de desenvolvi-
de objetivos para o desenvolvimento sustentável. Essa orienta- mento sustentável foram construídos a muitas mãos.
ção guiou as ações da comunidade internacional nos três anos
seguintes e deu início ao processo de consulta global para a O Grupo de Trabalho Aberto para a elaboração dos ODS
construção de um conjunto de objetivos universais de desenvol- (GTA-ODS) estava encarregado da elaboração de uma proposta
vimento sustentável para além de 2015. para os ODS. Composto por 70 países, contou com o envolvimen-

23
DIREITOS HUMANOS
to das mais diversas partes interessadas: desde contribuições es-
pecializadas da sociedade civil, até contribuições da comunidade
científica e do sistema das Nações Unidas. O objetivo era propor-
cionar uma diversidade de perspectivas e experiências.

Em agosto de 2014, o GTA-ODS compilou os aportes rece-


bidos, finalizou o texto e submeteu a proposta dos 17 Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável, e das 169 metas associadas à
apreciação da Assembleia Geral da ONU em 2015.

A Agenda 2030: Um plano de ação global para um 2030 sus-


tentável
O documento adotado na Assembleia Geral da ONU em
2015, “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o De-
senvolvimento Sustentável”, é um guia para as ações da comu-
nidade internacional nos próximos anos. E é também um plano
de ação para todas as pessoas e o planeta que foi coletivamente Ao combinar os processos dos Objetivos do Milênio e os
criado para colocar o mundo em um caminho mais sustentável e processos resultantes da Rio+20, a Agenda 2030 e os ODS inau-
resiliente até 2030. guram uma nova fase para o desenvolvimento dos países, que
busca integrar por completo todos os componentes do desen-
volvimento sustentável e engajar todos os países na construção
do futuro que queremos.

Os 17 ODS e suas 169 metas

Objetivo 1.
Erradicação da Pobreza
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos
os lugares
Em 2000, o mundo comprometeu-se em reduzir pela meta-
de o número de pessoas vivendo em extrema pobreza e alcançou
ganhos notáveis no desenvolvimento humano. Até 2015, a po-
breza havia sido reduzida significativamente, o acesso ao ensino
básico e os resultados da saúde melhoraram, bem como foram
realizados progressos na promoção da igualdade de gênero e no
empoderamento das mulheres e meninas. No entanto, a erradi-
cação da pobreza extrema continua a ser um desafio, com mais
de 700 milhões de pessoas vivendo, globalmente, com menos
A Agenda 2030 consiste em uma Declaração, em um quadro de US$ 1,90 (PPP) por dia e mais da metade da população global
de resultados - os 17 ODS e suas 169 metas -, em uma seção so- vivendo com menos de US$ 8,00 por dia.
bre meios de implementação e de parcerias globais, bem como
de um roteiro para acompanhamento e revisão. Os ODS são o Em um mundo confrontado pelos crescentes desafios para
núcleo da Agenda e deverão ser alcançados até o ano 2030. o desenvolvimento, a Agenda 2030 reconhece que a erradicação
Os 17 Objetivos são integrados e indivisíveis, e mesclam, de da pobreza, em todas as suas formas, é o maior desafio global
forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sus- para atingirmos o desenvolvimento sustentável. Por isso, a gran-
tentável: a econômica, a social e a ambiental. São como uma de prioridade do desenvolvimento sustentável deve ser os mais
lista de tarefas a serem cumpridas pelos governos, a sociedade pobres e vulneráveis: ninguém será deixado para trás!
civil, o setor privado e todos cidadãos na jornada coletiva para
um 2030 sustentável. Nos próximos anos de implementação da Metas do Objetivo 1
Agenda 2030, os ODS e suas metas irão estimular e apoiar ações 1.b Criar marcos políticos sólidos, em níveis nacional, regio-
em áreas de importância crucial para a humanidade: Pessoas, nal e internacional, com base em estratégias de desenvolvimen-
Planeta,Prosperidade, Paz e Parcerias. to a favor dos pobres e sensíveis a gênero, para apoiar investi-
mentos acelerados nas ações de erradicação da pobreza
1.a Garantir uma mobilização significativa de recursos a par-
tir de uma variedade de fontes, inclusive por meio do reforço da
cooperação para o desenvolvimento, de forma a proporcionar
meios adequados e previsíveis para que os países em desenvol-
vimento, em particular os países de menor desenvolvimento re-
lativo, implementem programas e políticas para acabar com a
pobreza em todas as suas dimensões

24
DIREITOS HUMANOS
1.5 Até 2030, construir a resiliência dos pobres e daqueles e a repartição justa e equitativa dos benefícios decorrentes da
em situação de vulnerabilidade, e reduzir a exposição e vulnera- utilização dos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais
bilidade destes a eventos extremos relacionados com o clima e associados, conforme acordado internacionalmente.
outros choques e desastres econômicos, sociais e ambientais 2.4 Até 2030, garantir sistemas sustentáveis de produção
1.4 Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, de alimentos e implementar práticas agrícolas robustas, que au-
particularmente os pobres e vulneráveis, tenham direitos iguais mentem a produtividade e a produção, que ajudem a manter
aos recursos econômicos, bem como acesso a serviços básicos, os ecossistemas, que fortaleçam a capacidade de adaptação às
propriedade e controle sobre a terra e outras formas de proprie- mudança do clima, às condições meteorológicas extremas, se-
dade, herança, recursos naturais, novas tecnologias apropriadas cas, inundações e outros desastres, e que melhorem progressi-
e serviços financeiros, incluindo microfinanças vamente a qualidade da terra e do solo.
1.3 Implementar, em nível nacional, medidas e sistemas de 2.3 Até 2030, dobrar a produtividade agrícola e a renda dos
proteção social apropriados, para todos, incluindo pisos, e até pequenos produtores de alimentos, particularmente das mulhe-
2030 atingir a cobertura substancial dos pobres e vulneráveis res, povos indígenas, agricultores familiares, pastores e pescado-
1.2 Até 2030, reduzir pelo menos à metade a proporção de res, inclusive por meio de acesso seguro e igual à terra, outros
homens, mulheres e crianças, de todas as idades, que vivem na recursos produtivos e insumos, conhecimento, serviços financei-
pobreza, em todas as suas dimensões, de acordo com as defini- ros, mercados e oportunidades de agregação de valor e de em-
ções nacionais prego não-agrícola.
1.1 Até 2030, erradicar a pobreza extrema para todas as 2.2 Até 2030, acabar com todas as formas de desnutrição,
pessoas em todos os lugares, atualmente medida como pessoas inclusive pelo alcance até 2025 das metas acordadas internacio-
vivendo com menos de US$ 1,25 por dia nalmente sobre desnutrição crônica e desnutrição em crianças
menores de cinco anos de idade, e atender às necessidades nu-
Objetivo 2. tricionais de meninas adolescentes, mulheres grávidas e lactan-
Fome Zero e Agricultura Sustentável tes e pessoas idosas.
Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e me- 2.1 Até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de to-
lhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável das as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações
Durante as duas últimas décadas, o rápido crescimento eco- vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e
nômico e o desenvolvimento da agricultura foram responsáveis suficientes durante todo o ano.
pela redução pela metade da proporção de pessoas subnutridas
no mundo. Entretanto, ainda há 795 milhões de pessoas no mun- Objetivo 3.
do que, em 2014, viviam sob o espectro da desnutrição crônica. Saúde e Bem-Estar
O ODS 2 pretende acabar com todas as formas de fome e má-nu- Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para
trição até 2030, de modo a garantir que todas as pessoas - es- todos, em todas as idades
pecialmente as crianças - tenham acesso suficiente a alimentos Desde os ODM foram registrados progressos históricos na
nutritivos durante todos os anos. redução da mortalidade infantil, na melhoria da saúde materna
e na luta contra o HIV/Aids, a tuberculose, a malária e outras
Para alcançar este objetivo, é necessário promover práticas doenças. Em 15 anos, o número de pessoas infectadas pelo HIV
agrícolas sustentáveis, por meio do apoio à agricultura familiar, anualmente caiu de 3,1 milhões para 2 milhões e mais de 6,2
do acesso equitativo à terra, à tecnologia e ao mercado. milhões de vidas foram salvas da malária.

Metas do Objetivo 2 Apesar do progresso, as doenças crônicas e aquelas resul-


2.c Adotar medidas para garantir o funcionamento adequa- tantes de desastres continuam a ser os principais fatores que
do dos mercados de commodities de alimentos e seus derivados, contribuem para a pobreza e para a privação dos mais vulne-
e facilitar o acesso oportuno à informação de mercado, inclusive ráveis. Atualmente, 63% de todas as mortes do mundo provêm
sobre as reservas de alimentos, a fim de ajudar a limitar a volati- de doenças não transmissíveis, principalmente cardiovasculares,
lidade extrema dos preços dos alimentos respiratórias, câncer e diabetes. Estima-se que as perdas econô-
2.b Corrigir e prevenir as restrições ao comércio e distorções micas para os países de renda média e baixa provenientes destas
nos mercados agrícolas mundiais, inclusive por meio da elimina- doenças ultrapassaram US$ 7 trilhões até 2025.
ção paralela de todas as formas de subsídios à exportação e to-
das as medidas de exportação com efeito equivalente, de acordo Os ODS propõem metas integradas que abordam a promo-
com o mandato da Rodada de Desenvolvimento de Doha ção da saúde e bem estar como essenciais ao fomento das capa-
2.a Aumentar o investimento, inclusive por meio do reforço cidades humanas.
da cooperação internacional, em infraestrutura rural, pesquisa e
extensão de serviços agrícolas, desenvolvimento de tecnologia,
e os bancos de genes de plantas e animais, de maneira a aumen- Metas do Objetivo 3
tar a capacidade de produção agrícola nos países em desenvol- 3.d reforçar a capacidade de todos os países, particularmente
vimento, em particular nos países de menor desenvolvimento os países em desenvolvimento, para o alerta precoce, redução de
relativo. riscos e gerenciamento de riscos nacionais e globais à saúde.
2.5 Até 2020, manter a diversidade genética de sementes, 3.c Aumentar substancialmente o financiamento da saúde
plantas cultivadas, animais de criação e domesticados e suas e o recrutamento, desenvolvimento, treinamento e retenção do
respectivas espécies selvagens, inclusive por meio de bancos pessoal de saúde nos países em desenvolvimento, especialmen-
de sementes e plantas diversificados e adequadamente geridos te nos países de menor desenvolvimento relativo e nos peque-
em nível nacional, regional e internacional, e garantir o acesso nos Estados insulares em desenvolvimento

25
DIREITOS HUMANOS
3.b Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas e Metas do Objetivo 4
medicamentos para as doenças transmissíveis e não transmissí- 4.c Até 2030, substancialmente aumentar o contingente de
veis, que afetam principalmente os países em desenvolvimento, professores qualificados, inclusive por meio da cooperação inter-
proporcionar o acesso a medicamentos e vacinas essenciais a nacional para a formação de professores, nos países em desen-
preços acessíveis, de acordo com a Declaração de Doha sobre volvimento, especialmente os países de menor desenvolvimento
o Acordo TRIPS e Saúde Pública, que afirma o direito dos países relativo e pequenos Estados insulares em desenvolvimento
em desenvolvimento de utilizarem plenamente as disposições 4.b Até 2020 substancialmente ampliar globalmente o nú-
do Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Inte- mero de bolsas de estudo disponíveis para os países em desen-
lectual Relacionados ao Comércio (TRIPS, na sigla em inglês) so- volvimento, em particular, os países de menor desenvolvimento
bre flexibilidades para proteger a saúde pública e, em particular, relativo, pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os
proporcionar o acesso a medicamentos para todos países africanos, para o ensino superior, incluindo programas de
3.a Fortalecer a implementação da Convenção-Quadro para formação profissional, de tecnologia da informação e da comu-
o Controle do Tabaco da Organização Mundial de Saúde em to- nicação, programas técnicos, de engenharia e científicos em pa-
dos os países, conforme apropriado íses desenvolvidos e outros países em desenvolvimento
3.9 Até 2030, reduzir substancialmente o número de mortes 4.a Construir e melhorar instalações físicas para educação,
e doenças por produtos químicos perigosos e por contaminação apropriadas para crianças e sensíveis às deficiências e ao gênero
e poluição do ar, da água e do solo e que proporcionem ambientes de aprendizagem seguros, não
3.8 Atingir a cobertura universal de saúde, incluindo a prote- violentos, inclusivos e eficazes para todos
ção do risco financeiro, o acesso a serviços de saúde essenciais 4.7 Até 2030, garantir que todos os alunos adquiram co-
de qualidade e o acesso a medicamentos e vacinas essenciais se- nhecimentos e habilidades necessárias para promover o de-
guros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis para todos senvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, por meio da
3.7 Até 2030, assegurar o acesso universal aos serviços de educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida
saúde sexual e reprodutiva, incluindo o planejamento familiar, sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção
informação e educação, bem como a integração da saúde repro- de uma cultura de paz e não-violência, cidadania global, e valo-
dutiva em estratégias e programas nacionais rização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para
3.6 Até 2020, reduzir pela metade as mortes e os ferimentos o desenvolvimento sustentável
globais por acidentes em estradas 4.6 Até 2030, garantir que todos os jovens e uma substancial
3.5 Reforçar a prevenção e o tratamento do abuso de subs- proporção dos adultos, homens e mulheres, estejam alfabetiza-
tâncias, incluindo o abuso de drogas entorpecentes e uso nocivo dos e tenham adquirido o conhecimento básico de matemáti-
do álcool ca
3.4 Até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura 4.5 Até 2030, eliminar as disparidades de gênero na educa-
por doenças não transmissíveis por meio de prevenção e trata- ção e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educa-
mento, e promover a saúde mental e o bem-estar ção e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo
3.3 Até 2030, acabar com as epidemias de AIDS, tuberculo- as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em
se, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater a he- situação de vulnerabilidade
patite, doenças transmitidas pela água, e outras doenças trans- 4.4 Até 2030, aumentar substancialmente o número de
missíveis jovens e adultos que tenham habilidades relevantes, inclusive
3.2 Até 2030, acabar com as mortes evitáveis de recém-nas- competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho
cidos e crianças menores de 5 anos, com todos os países obje- decente e empreendedorismo
tivando reduzir a mortalidade neonatal para pelo menos até 12 4.3 Até 2030, assegurar a igualdade de acesso para todos os
por 1.000 nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de homens e mulheres à educação técnica, profissional e superior
5 anos para pelo menos até 25 por 1.000 nascidos vivos de qualidade, a preços acessíveis, incluindo universidade
3.1 Até 2030, reduzir a taxa de mortalidade materna global 4.2 Até 2030, garantir que todos os meninos e meninas te-
para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos nham acesso a um desenvolvimento de qualidade na primeira
infância, cuidados e educação pré-escolar, de modo que estejam
Objetivo 4. prontos para o ensino primário
Educação de Qualidade 4.1 Até 2030, garantir que todas as meninas e meninos com-
Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, pletem o ensino primário e secundário livre, equitativo e de qua-
e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida lidade, que conduza a resultados de aprendizagem relevantes e
para todos eficazes
Desde 2000, houve enorme progresso na promoção do aces-
so universal à educação primária para as crianças ao redor do Objetivo 5.
mundo. Para além do foco na educação básica, todos os níveis de Igualdade de Gênero
educação estão contemplados no objetivo de desenvolvimento Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mu-
sustentável 4, que enxerga como fundamental a promoção de lheres e meninas
uma educação inclusiva, igualitária e baseada nos princípios de A igualdade de gênero não é apenas um direito humano
direitos humanos e desenvolvimento sustentável. A promoção fundamental, mas a base necessária para a construção de um
da capacitação e empoderamento dos indivíduos é o centro des- mundo pacífico, próspero e sustentável. O esforço de alcance do
te objetivo, que visa ampliar as oportunidades das pessoas mais ODS 5 é transversal à toda Agenda 2030 e reflete a crescente evi-
vulneráveis no caminho do desenvolvimento. dência de que a igualdade de gênero tem efeitos multiplicadores
no desenvolvimento sustentável.

26
DIREITOS HUMANOS
Muitos avanços em termos de assegurar melhores condi- A escassez de água afeta mais de 40% da população mundial,
ções de vida a mulheres e meninas são um importante legado número que deverá subir ainda mais como resultado da mudança
dos ODM. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável visam do clima e da gestão inadequada dos recursos naturais. É possível
intensificar estas realizações, não apenas nas áreas de saúde, trilhar um novo caminho que nos leve à realização deste objetivo,
educação e trabalho, mas especialmente no combate às discri- por meio da cooperação internacional, proteção às nascentes, rios e
minações e violências baseadas no gênero e na promoção do bacias e compartilhamento de tecnologias de tratamento de água.
empoderamento de mulheres e meninas para que possam atuar
enfaticamente na promoção do desenvolvimento sustentável, Metas do Objetivo 6
por meio da participação na política, na economia, e em diversas 6.b Apoiar e fortalecer a participação das comunidades lo-
áreas de tomada de decisão. cais, para melhorar a gestão da água e do saneamento
6.a Até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio
O desenvolvimento sustentável não será alcançado se as ao desenvolvimento de capacidades para os países em desen-
barreiras tangíveis e intangíveis que impedem o pleno desen- volvimento em atividades e programas relacionados a água e ao
volvimento e exercício das capacidades de metade da população saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a efici-
não forem eliminadas. ência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e
as tecnologias de reuso
Metas do Objetivo 5 6.6 Até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relaciona-
5.c Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável dos com a água, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas,
para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de rios, aquíferos e lagos
todas as mulheres e meninas, em todos os níveis 6.5 Até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos
5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular hídricos em todos os níveis, inclusive via cooperação transfron-
as tecnologias de informação e comunicação, para promover o teiriça, conforme apropriado
empoderamento das mulheres 6.4 Até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do
5.a Empreender reformas para dar às mulheres direitos uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentá-
iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a proprie- veis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez
dade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que
serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo sofrem com a escassez de água
com as leis nacionais 6.3 Até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a
5.6 Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodu- poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de pro-
tiva e os direitos reprodutivos, como acordado em conformida- dutos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a pro-
de com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre porção de águas residuais não tratadas, e aumentando substan-
População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de cialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente
Pequim e os documentos resultantes de suas conferências de re- 6.2 Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene ade-
visão quados e equitativos para todos, e acabar com a defecação a céu
5.5 Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres
igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade
de tomada de decisão na vida política, econômica e pública 6.1 Até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo à água
5.4 Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e do- potável, segura e acessível para todos
méstico não remunerado, por meio da disponibilização de ser-
viços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social, bem Objetivo 7.
como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do Energia Acessível e Limpa
lar e da família, conforme os contextos nacionais Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a pre-
5.3 Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos ço acessível à energia para todos
prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femini- De 2000 a 2013, mais de 5% da população mundial obteve
nas acesso à eletricidade (de 79,313% para 84,58%). Para os próxi-
5.2 Eliminar todas as formas de violência contra todas as mos anos a tendência é aumentar a demanda por energia barata.
mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o Contudo, combustíveis fósseis e suas emissões de gases de efeito
tráfico e exploração sexual e de outros tipos estufa provocam mudanças drásticas no clima. Atender às neces-
5.1 Acabar com todas as formas de discriminação contra to- sidades da economia e proteger o meio ambiente é um dos gran-
das as mulheres e meninas em toda parte des desafios para o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, o
ODS 7 reconhece a importância e traça metas focadas na transição
energética, de fontes não renováveis e poluidoras, para fontes re-
Objetivo 6. nováveis limpas, com especial atenção às necessidades das pesso-
Água Potável e Saneamento as e países em situação de maior vulnerabilidade.
Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e
saneamento para todos Metas do Objetivo 7
A água está no centro do desenvolvimento sustentável e das 7.b Até 2030, expandir a infraestrutura e modernizar a tec-
suas três dimensões - ambiental, econômica e social. Os recursos nologia para o fornecimento de serviços de energia modernos e
hídricos, bem como os serviços a eles associados, sustentam os sustentáveis para todos nos países em desenvolvimento, parti-
esforços de erradicação da pobreza, de crescimento econômico cularmente nos países de menor desenvolvimento relativo, nos
e da sustentabilidade ambiental. O acesso à água e ao sanea- pequenos Estados insulares em desenvolvimento e nos países
mento importa para todos os aspectos da dignidade humana: da em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus respecti-
segurança alimentar e energética à saúde humana e ambiental. vos programas de apoio

27
DIREITOS HUMANOS
7.a Até 2030, reforçar a cooperação internacional para fa- 8.5 Até 2030, alcançar o emprego pleno e produtivo e tra-
cilitar o acesso a pesquisa e tecnologias de energia limpa, in- balho decente todas as mulheres e homens, inclusive para os
cluindo energias renováveis, eficiência energética e tecnologias jovens e as pessoas com deficiência, e remuneração igual para
de combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, e promover o trabalho de igual valor
investimento em infraestrutura de energia e em tecnologias de 8.4 Melhorar progressivamente, até 2030, a eficiência dos
energia limpa recursos globais no consumo e na produção, e empenhar-se para
7.3 Até 2030, dobrar a taxa global de melhoria da eficiência dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental, de
energética acordo com o “Plano Decenal de Programas Sobre Produção e
7.2 Até 2030, aumentar substancialmente a participação de Consumo Sustentáveis”, com os países desenvolvidos assumindo
energias renováveis na matriz energética global a liderança
7.1 Até 2030, assegurar o acesso universal, confiável, mo- 8.3 Promover políticas orientadas para o desenvolvimento,
derno e a preços acessíveis a serviços de energia que apoiem as atividades produtivas, geração de emprego de-
cente, empreendedorismo, criatividade e inovação, e incentivar
Objetivo 8. a formalização e o crescimento das micro, pequenas e médias
Trabalho Decente e Crescimento Econômico empresas, inclusive por meio do acesso a serviços financeiros
Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e 8.2 Atingir níveis mais elevados de produtividade das eco-
sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho decente nomias, por meio da diversificação, modernização tecnológica e
para todos inovação, inclusive por meio de um foco em setores de alto valor
No longo prazo, a desigualdade de renda e de oportunida- agregado e intensivos em mão-de-obra
des prejudica o crescimento econômico e o alcance do desen- 8.1 Sustentar o crescimento econômico per capita, de acor-
volvimento sustentável. Os mais vulneráveis, muitas vezes, têm do com as circunstâncias nacionais e, em particular, pelo menos
menores expectativas de vida e apresentam dificuldades de se um crescimento anual de 7% do produto interno bruto nos paí-
libertarem de um círculo vicioso de insucesso escolar, baixas ses de menor desenvolvimento relativo
qualificações e poucas perspectivas de empregos de qualidade.
Objetivo 9.
A revitalização econômica contribui para criar melhores con- Indústria, Inovação e Infraestrutura
dições para a estabilidade e a sustentabilidade do país. É possí- Construir infraestruturas resilientes, promover a industriali-
vel promover políticas que incentivem o empreendedorismo e a zação inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
criação de empregos de forma sustentável e inclusiva. O ODS 8 Investimentos em infraestrutura e em inovação são condi-
reconhece a urgência de erradicar o trabalho forçado e formas ções básicas para o crescimento econômico e para o desenvol-
análogas ao do trabalho escravo, bem como o tráfico de seres vimento das nações. Garantir uma rede de transporte público
humanos, de modo a garantir a todos e todas o alcance pleno de e infraestrutura urbana de qualidade são condições necessárias
seu potencial e capacidades. para o desenvolvimento sustentável. Por meio da promoção de
eficiência energética e inclusão social, o progresso tecnológico é
Metas do Objetivo 8 também uma das chaves para as soluções dos desafios econômi-
8.b Até 2020, desenvolver e operacionalizar uma estratégia cos e ambientais. Garantir a igualdade de acesso à tecnologias
global para o emprego dos jovens e implementar o Pacto Mun- é crucial para promover a informação e conhecimento para to-
dial para o Emprego da Organização Internacional do Trabalho dos. O ODS 9 lista metas que visam à construção de estruturas
8.a Aumentar o apoio da Iniciativa de Ajuda para o Comércio resilientes e modernas, ao fortalecimento industrial de forma
(Aid for Trade) para os países em desenvolvimento, particular- eficiente, ao fomento da inovação, com valorização da micro e
mente os países de menor desenvolvimento relativo, inclusive pequena empresa e inclusão dos mais vulneráveis aos sistemas
por meio do Quadro Integrado Reforçado para a Assistência Téc- financeiros e produtivos.
nica Relacionada com o Comércio para os países de menor de-
senvolvimento relativo Metas do Objetivo 9
8.10 Fortalecer a capacidade das instituições financeiras na- 9.c Aumentar significativamente o acesso às tecnologias de
cionais para incentivar a expansão do acesso aos serviços bancá- informação e comunicação e se empenhar para procurar ao má-
rios, financeiros, e de seguros para todos ximo oferecer acesso universal e a preços acessíveis à internet
8.9 Até 2030, conceber e implementar políticas para promo- nos países menos desenvolvidos, até 2020
ver o turismo sustentável, que gera empregos, promove a cultu- 9.b Apoiar o desenvolvimento tecnológico, a pesquisa e a
ra e os produtos locais inovação nacionais nos países em desenvolvimento, inclusive
8.8 Proteger os direitos trabalhistas e promover ambientes garantindo um ambiente político propício para, entre outras coi-
de trabalho seguros e protegidos para todos os trabalhadores, sas, diversificação industrial e agregação de valor às commodi-
incluindo os trabalhadores migrantes, em particular as mulheres ties
migrantes, e pessoas com emprego precário 9.a Facilitar o desenvolvimento de infraestrutura sustentá-
8.7 Tomar medidas imediatas e eficazes para erradicar o vel e robusta em países em desenvolvimento, por meio de maior
trabalho forçado, acabar com a escravidão moderna e o tráfico apoio financeiro, tecnológico e técnico aos países africanos, aos
de pessoas e assegurar a proibição e eliminação das piores for- países de menor desenvolvimento relativo, aos países em de-
mas de trabalho infantil, incluindo recrutamento e utilização de senvolvimento sem litoral e aos pequenos Estados insulares em
crianças-soldado, e até 2025 acabar com o trabalho infantil em desenvolvimento
todas as suas formas 9.5 Fortalecer a pesquisa científica, melhorar as capaci-
8.6 Até 2020, reduzir substancialmente a proporção de jo- dades tecnológicas de setores industriais em todos os países,
vens sem emprego, educação ou formação particularmente nos países em desenvolvimento, inclusive, até

28
DIREITOS HUMANOS
2030, incentivando a inovação e aumentando substancialmente 10.a Implementar o princípio do tratamento especial e dife-
o número de trabalhadores de pesquisa e desenvolvimento por renciado para países em desenvolvimento, em particular os paí-
milhão de pessoas e os gastos público e privado em pesquisa e ses de menor desenvolvimento relativo, em conformidad e com
desenvolvimento os acordos da Organização Mundial do Comércio
9.4 Até 2030, modernizar a infraestrutura e reabilitar as in- 10.7 Facilitar a migração e a mobilidade ordenada, segura,
dústrias para torná-las sustentáveis, com eficiência aumentada regular e responsável de pessoas, inclusive por meio da imple-
no uso de recursos e maior adoção de tecnologias e processos mentação de políticas de migração planejadas e bem geridas
industriais limpos e ambientalmente adequados; com todos os 10.6 Assegurar uma representação e voz mais forte dos paí-
países atuando de acordo com suas respectivas capacidades ses em desenvolvimento em tomadas de decisão nas instituições
9.3 Aumentar o acesso das pequenas indústrias e outras econômicas e financeiras internacionais globais, a fim de garan-
empresas, particularmente em países em desenvolvimento, aos tir instituições mais eficazes, críveis, responsáveis e legítimas
serviços financeiros, incluindo crédito acessível e sua integração 10.5 Melhorar a regulamentação e monitoramento dos mer-
em cadeias de valor e mercados cados e instituições financeiras globais, e fortalecer a implemen-
9.2 Promover a industrialização inclusiva e sustentável e, tação de tais regulamentações
até 2030, aumentar significativamente a participação da indús- 10.4 Adotar políticas, especialmente fiscal, salarial e políti-
tria no emprego e no produto interno bruto, de acordo com as cas de proteção social, e alcançar progressivamente uma maior
circunstâncias nacionais, e dobrar sua participação nos países de igualdade
menor desenvolvimento relativo 10.3 Garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as de-
9.1 Desenvolver infraestrutura de qualidade, confiável, sus- sigualdades de resultado, inclusive por meio da eliminação de
tentável e robusta, incluindo infraestrutura regional e transfron- leis, políticas e práticas discriminatórias e promover legislação,
teiriça, para apoiar o desenvolvimento econômico e o bem-estar políticas e ações adequadas a este respeito
humano, com foco no acesso equitativo e a preços acessíveis 10.2 Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, eco-
para todos nômica e política de todos, independentemente da idade, sexo,
deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou
Objetivo 10. outra
Redução da Desigualdades 10.1 Até 2030, progressivamente alcançar e sustentar o
Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles crescimento da renda dos 40% da população mais pobre a uma
O mundo é mais desigual hoje do que em qualquer momen- taxa maior que a média nacional
to da história desde 1940. A desigualdade de renda e na distri-
buição da riqueza dentro dos países têm disparado, incapacitan- Objetivo 11.
do os esforços de alcance dos resultados do desenvolvimento e Cidades e Comunidades Sustentáveis
de expansão das oportunidades e habilidades das pessoas, espe- Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos,
cialmente dos mais vulneráveis. seguros, resilientes e sustentáveis
Em 2014, 54% da população mundial vivia em áreas urbanas,
A desigualdade é um problema global que requer soluções com projeção de crescimento para 66% em 2050. Em 2030, são
integradas. A visão estratégica deste objetivo se constrói sob o estimadas 41 megalópoles com mais de 10 milhões de habitan-
objetivo da erradicação da pobreza em todas suas dimensões, tes. Considerando que a pobreza extrema muitas vezes se con-
na redução das desigualdades socioeconômicas e no combate às centra nestes espaços urbanos, as desigualdades sociais acabam
discriminações de todos os tipos. sendo mais acentuadas e a violência se torna uma consequência
das discrepâncias no acesso pleno à cidade. Transformar signifi-
Seu alcance depende de todos os setores na busca pela cativamente a construção e a gestão dos espaços urbanos é es-
promoção de oportunidades para as pessoas mais excluídas no sencial para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado.
caminho do desenvolvimento. Foco importante do ODS 10 é o Temas intrinsecamente relacionados à urbanização, como mobi-
desafio contemporâneo das migrações e fluxos de pessoas des- lidade, gestão de resíduos sólidos e saneamento, estão incluídos
locadas entre países e regiões devido a conflitos, eventos climá- nas metas do ODS 11, bem como o planejamento e aumento
ticos extremos ou perseguições de quaisquer tipo. O alcance de de resiliência dos assentamentos humanos, levando em conta as
suas metas é estruturante para a realização de todos os outros necessidades diferenciadas das áreas rurais, periurbanas e urba-
16 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. nas. O objetivo 11 está alinhado à Nova Agenda Urbana, acor-
dada em outubro de 2016, durante a III Conferência das Nações
Metas do Objetivo 10 Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável.
10.c Até 2030, reduzir para menos de 3% os custos de tran-
sação de remessas dos migrantes e eliminar “corredores de re- Metas do Objetivo 11
messas” com custos superiores a 5% 11.c Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por
10.b Incentivar a assistência oficial ao desenvolvimento e meio de assistência técnica e financeira, para construções sus-
fluxos financeiros, incluindo o investimento externo direto, para tentáveis e robustas, utilizando materiais locais
os Estados onde a necessidade é maior, em particular os países 11.b Até 2020, aumentar substancialmente o número de ci-
de menor desenvolvimento relativo, os países africanos, os pe- dades e assentamentos humanos adotando e implementando
quenos Estados insulares em desenvolvimento e os países em políticas e planos integrados para a inclusão, a eficiência dos re-
desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus planos e pro- cursos, mitigação e adaptação à mudança do clima, a resiliência a
gramas nacionais desastres; e desenvolver e implementar, de acordo com o Marco
de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030, o ge-
renciamento holístico do risco de desastres em todos os níveis

29
DIREITOS HUMANOS
11.a Apoiar relações econômicas, sociais e ambientais po- 12.a Apoiar países em desenvolvimento para que fortaleçam
sitivas entre áreas urbanas, periurbanas e rurais, reforçando o suas capacidades científicas e tecnológicas em rumo à padrões
planejamento nacional e regional de desenvolvimento mais sustentáveis de produção e consumo
11.7 Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços 12.8 Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares,
públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, em particular tenham informação relevante e conscientização sobre o desen-
para as mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com defi- volvimento sustentável e estilos de vida em harmonia com a na-
ciência tureza
11.6 Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per ca- 12.7 Promover práticas de compras públicas sustentáveis,
pita das cidades, inclusive prestando especial atenção à qualida- de acordo com as políticas e prioridades nacionais
de do ar, gestão de resíduos municipais e outros 12.6 Incentivar as empresas, especialmente as empresas
11.5 Até 2030, reduzir significativamente o número de mor- grandes e transnacionais, a adotar práticas sustentáveis e a in-
tes e o número de pessoas afetadas por catástrofes e diminuir tegrar informações de sustentabilidade em seu ciclo de relató-
substancialmente as perdas econômicas diretas causadas por rios
elas em relação ao produto interno bruto global, incluindo os 12.5 Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resí-
desastres relacionados à água, com o foco em proteger os po- duos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso
12.4 Até 2020, alcançar o manejo ambientalmente adequa-
bres e as pessoas em situação de vulnerabilidade
do dos produtos químicos e de todos os resíduos, ao longo de
11.4 Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o pa-
todo o ciclo de vida destes, de acordo com os marcos interna-
trimônio cultural e natural do mundo
cionalmente acordados, e reduzir significativamente a liberação
11.3 Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentá-
destes para o ar, água e solo, para minimizar seus impactos ne-
vel, e a capacidade para o planejamento e a gestão participativa, gativos sobre a saúde humana e o meio ambiente
integrada e sustentável dos assentamentos humanos, em todos 12.3 Até 2030, reduzir pela metade o desperdício de alimen-
os países tos per capita mundial, em nível de varejo e do consumidor, e
11.2 Até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de trans- reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção
porte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita
todos, melhorando a segurança rodoviária por meio da expansão 12.2 Até 2030, alcançar gestão sustentável e uso eficiente
dos transportes públicos, com especial atenção para as neces- dos recursos naturais
sidades das pessoas em situação de vulnerabilidade, mulheres, 12.1 Implementar o Plano Decenal de Programas Sobre Pro-
crianças, pessoas com deficiência e idosos dução e Consumo Sustentáveis, com todos os países tomando
11.1 Até 2030, garantir o acesso de todos a habitação segu- medidas, e os países desenvolvidos assumindo a liderança, ten-
ra, adequada e a preço acessível, e aos serviços básicos e urba- do em conta o desenvolvimento e as capacidades dos países em
nizar as favelas desenvolvimento

Objetivo 12. Objetivo 13.


Consumo e Produção Responsáveis Ação Contra a Mudança Global do Clima
Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima
Para alcançar as metas deste ODS, a mudança nos padrões e seus impactos*
de consumo e produção se configuram como medidas indispen- A mudança do clima é um evento transnacional, cujos im-
sáveis na redução da pegada ecológica sobre o meio ambien- pactos estão desregulando economias nacionais e afetando pes-
te. Essas medidas são a base do desenvolvimento econômico e soas em todos os lugares, principalmente aquelas em situação
social sustentável. As metas do ODS 12 visam a promoção da de maior vulnerabilidade nos países em desenvolvimento. Sem
eficiência do uso de recursos energéticos e naturais, da infraes- a ação imediata frente à mudança do clima, a temperatura ter-
trutura sustentável, do acesso a serviços básicos. Além disso, o restre está projetada para aumentar mais de 3 ºC até o final do
objetivo prioriza a informação, a gestão coordenada, a transpa- século XXI. Uma das metas para esse objetivo é mobilizar 100 mi-
lhões de dólares por ano até 2020 para ajudar os países em de-
rência e a responsabilização dos atores consumidores de recur-
senvolvimento no plano de mitigação de desastres relacionados
sos naturais como ferramentas chave para o alcance de padrões
ao clima. O estabelecimento do ODS 13 apenas para lidar com a
mais sustentáveis de produção e consumo.
questão do clima é encarado como estratégico para a mobiliza-
ção dos atores capazes de promover as mudanças necessárias
Metas do Objetivo 12 para impedir estas projeções de se tornarem realidade.
12.c Racionalizar subsídios ineficientes aos combustíveis
fósseis, que encorajam o consumo exagerado, eliminando as Metas do Objetivo 13
distorções de mercado, de acordo com as circunstâncias nacio- 13.b Promover mecanismos para a criação de capacidades
nais, inclusive por meio da reestruturação fiscal e a eliminação para o planejamento relacionado à mudança do clima e à gestão
gradual desses subsídios prejudiciais, caso existam, para refle- eficaz, nos países menos desenvolvidos, inclusive com foco em
tir os seus impactos ambientais, tendo plenamente em conta as mulheres, jovens, comunidades locais e marginalizadas
necessidades específicas e condições dos países em desenvol- 13.a Implementar o compromisso assumido pelos países de-
vimento e minimizando os possíveis impactos adversos sobre senvolvidos partes da Convenção Quadro das Nações Unidas so-
o seu desenvolvimento de maneira que proteja os pobres e as bre Mudança do Clima para a meta de mobilizar conjuntamente
comunidades afetadas US$ 100 bilhões por ano até 2020, de todas as fontes, para aten-
12.b Desenvolver e implementar ferramentas para monito- der às necessidades dos países em desenvolvimento, no contexto
rar os impactos do desenvolvimento sustentável para o turismo de ações significativas de mitigação e transparência na implemen-
sustentável que gera empregos, promove a cultura e os produtos tação; e operacionalizar plenamente o Fundo Verde para o Clima,
locais por meio de sua capitalização, o mais cedo possível

30
DIREITOS HUMANOS
13.3 Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a e diferenciado adequado e eficaz para os países em desenvolvi-
capacidade humana e institucional sobre mitigação global do cli- mento e os países de menor desenvolvimento relativo deve ser
ma, adaptação, redução de impacto, e alerta precoce à mudança parte integrante da negociação sobre subsídios à pesca da Orga-
do clima nização Mundial do Comércio
13.2 Integrar medidas da mudança do clima nas políticas, 14.5 Até 2020, conservar pelo menos 10% das zonas costei-
estratégias e planejamentos nacionais ras e marinhas, de acordo com a legislação nacional e internacio-
13.1 Reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação a nal, e com base na melhor informação científica disponível
riscos relacionados ao clima e às catástrofes naturais em todos 14.4 Até 2020, efetivamente regular a coleta, e acabar com
os países * a sobrepesca, ilegal, não reportada e não regulamentada e as
práticas de pesca destrutivas, e implementar planos de gestão
Objetivo 14. com base científica, para restaurar populações de peixes no me-
Vida na Água nor tempo possível, pelo menos a níveis que possam produzir
Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos, dos rendimento máximo sustentável, como determinado por suas
mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento susten- características biológicas
tável 14.3 Minimizar e enfrentar os impactos da acidificação dos
Os oceanos tornam a vida humana possível por meio da pro- oceanos, inclusive por meio do reforço da cooperação científica
visão de segurança alimentar, transporte, fornecimento de ener- em todos os níveis
gia, turismo, dentre outros. Além, por meio da regulação da sua 14.2 Até 2020, gerir de forma sustentável e proteger os
temperatura, química, correntes e formas de vida, os oceanos ecossistemas marinhos e costeiros para evitar impactos adver-
regulam muitos dos dos serviços ecossistêmicos mais críticos do sos significativos, inclusive por meio do reforço da sua capacida-
planeta, como ciclo do carbono e nitrogênio, regulação do clima, de de resiliência, e tomar medidas para a sua restauração, a fim
e produção de oxigênio. Além, os oceanos representam aproxi- de assegurar oceanos saudáveis e produtivos
madamente US$ 3 trilhões da economia global por ano, ou 5% 14.1 Até 2025, prevenir e reduzir significativamente a po-
do PIB global. luição marinha de todos os tipos, especialmente a advinda de
atividades terrestres, incluindo detritos marinhos e a poluição
40% dos oceanos estão sendo afetados incisiva e diretamen- por nutrientes
te por atividades humanas, como poluição e pesca predatória,
o que resulta, principalmente, em perda de habitat, introdução
de espécies invasoras e acidificação. Nosso lixo também ajuda Objetivo 15.
na degradação dos oceanos – há 13.000 pedaços de lixo plástico Vida Terrestre
em cada quilômetro quadrado. É frente a esses desafios que os Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecos-
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável indicam metas para sistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, com-
gerenciar e proteger a vida na água. bater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e
deter a perda
Metas do Objetivo 14 Os seres humanos e outros animais dependem da natureza
14.c Assegurar a conservação e o uso sustentável dos oce- para terem alimento, ar puro, água limpa e também como um
anos e seus recursos pela implementação do direito internacio- meio de combate à mudança do clima. As florestas, que cobrem
nal, como refletido na Convenção das Nações Unidas sobre o 30% da superfície da Terra, ajudam a manter o ar e a água limpa
Direito do Mar,, que provê o arcabouço legal para a conservação e o clima da Terra em equilíbrio – sem mencionar que são o lar
e utilização sustentável dos oceanos e dos seus recursos, confor- de milhões de espécies. Promover o manejo sustentável das flo-
me registrado no parágrafo 158 do “Futuro Que Queremos” restas, o combate à desertificação, parar e reverter a degradação
14.b Proporcionar o acesso dos pescadores artesanais de da terra, interromper o processo de perda de biodiversidade são
pequena escala aos recursos marinhos e mercados algumas das metas que o ODS 15 promove. Usar sustentavel-
14.a Aumentar o conhecimento científico, desenvolver ca- mente os recursos naturais em cadeias produtivas e em ativida-
pacidades de pesquisa e transferir tecnologia marinha, tendo em des de subsistência de comunidades, e integrá-los em políticas
conta os critérios e orientações sobre a Transferência de Tecno- públicas é tarefa central para o atingimento destas metas e a
logia Marinha da Comissão Oceanográfica Intergovernamental, a promoção de todos os outros ODS.
fim de melhorar a saúde dos oceanos e aumentar a contribuição
da biodiversidade marinha para o desenvolvimento dos países Metas do Objetivo 15
em desenvolvimento, em particular os pequenos Estados insula- 15.c Reforçar o apoio global para os esforços de combate à
res em desenvolvimento e os países de menor desenvolvimento caça ilegal e ao tráfico de espécies protegidas, inclusive por meio
relativo do aumento da capacidade das comunidades locais para buscar
14.7 Até 2030, aumentar os benefícios econômicos para os oportunidades de subsistência sustentável
pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os países de 15.b Mobilizar significativamente os recursos de todas as
menor desenvolvimento relativo, a partir do uso sustentável dos fontes e em todos os níveis, para financiar o manejo florestal
recursos marinhos, inclusive por meio de uma gestão sustentá- sustentável e proporcionar incentivos adequados aos países em
vel da pesca, aquicultura e turismo desenvolvimento, para promover o manejo florestal sustentável,
14.6 Até 2020, proibir certas formas de subsídios à pesca, inclusive para a conservação e o reflorestamento
que contribuem para a sobrecapacidade e a sobrepesca, e eli- 15.a Mobilizar e aumentar significativamente, a partir de to-
minar os subsídios que contribuam para a pesca ilegal, não re- das as fontes, os recursos financeiros para a conservação e o uso
portada e não regulamentada, e abster-se de introduzir novos sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas
subsídios como estes, reconhecendo que o tratamento especial

31
DIREITOS HUMANOS
15.9 Até 2020, integrar os valores dos ecossistemas e da bio- 16.10 Assegurar o acesso público à informação e proteger
diversidade ao planejamento nacional e local, nos processos de as liberdades fundamentais, em conformidade com a legislação
desenvolvimento, nas estratégias de redução da pobreza, e nos nacional e os acordos internacionais
sistemas de contas 16.9 Até 2030, fornecer identidade legal para todos, incluin-
15.8 Até 2020, implementar medidas para evitar a introdu- do o registro de nascimento
ção e reduzir significativamente o impacto de espécies exóticas 16.8 Ampliar e fortalecer a participação dos países em de-
invasoras em ecossistemas terrestres e aquáticos, e controlar ou senvolvimento nas instituições de governança global
erradicar as espécies prioritárias 16.7 Garantir a tomada de decisão responsiva, inclusiva,
15.7 Tomar medidas urgentes para acabar com a caça ilegal participativa e representativa em todos os níveis
e o tráfico de espécies da flora e fauna protegidas, e abordar 16.6 Desenvolver instituições eficazes, responsáveis e trans-
tanto a demanda quanto a oferta de produtos ilegais da vida sel- parentes em todos os níveis
vagem 16.5 Reduzir substancialmente a corrupção e o suborno em
15.6 Garantir uma repartição justa e equitativa dos benefí- todas as suas formas
cios derivados da utilização dos recursos genéticos, e promover 16.4 Até 2030, reduzir significativamente os fluxos financei-
o acesso adequado aos recursos genéticos ros e de armas ilegais, reforçar a recuperação e devolução de
15.5 Tomar medidas urgentes e significativas para reduzir a recursos roubados, e combater todas as formas de crime organi-
degradação de habitat naturais, estancar a perda de biodiversi- zado
dade e, até 2020, proteger e evitar a extinção de espécies amea- 16.3 Promover o Estado de Direito, em nível nacional e inter-
çadas nacional, e garantir a igualdade de acesso à justiça, para todos
15.4 Até 2030, assegurar a conservação dos ecossistemas de 16.2 Acabar com abuso, exploração, tráfico e todas as for-
montanha, incluindo a sua biodiversidade, para melhorar a sua mas de violência e tortura contra crianças
capacidade de proporcionar benefícios, que são essenciais para 16.1 Reduzir significativamente todas as formas de violência
o desenvolvimento sustentável e as taxas de mortalidade relacionada, em todos os lugares
15.3 Até 2030, combater a desertificação, e restaurar a terra
e o solo degradado, incluindo terrenos afetados pela desertifica- Objetivo 17.
ção, secas e inundações, e lutar para alcançar um mundo neutro Parcerias e Meios de Implementação
em termos de degradação do solo Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parce-
15.2 Até 2020, promover a implementação da gestão sus- ria global para o desenvolvimento sustentável
tentável de todos os tipos de florestas, deter o desmatamento, Os ODS só serão realizados mediante um compromisso re-
restaurar florestas degradadas e aumentar substancialmente o novado de cooperação entre a comunidade internacional e uma
florestamento e o reflorestamento globalmente parceria global ampla que inclua todos os setores interessados
15.1 Até 2020, assegurar a conservação, recuperação e uso e as pessoas afetadas pelos processos de desenvolvimento. Os
sustentável de ecossistemas terrestres e de água doce interiores meios de implementação e as parcerias para o desenvolvimen-
e seus serviços, em especial, florestas, zonas úmidas, montanhas to sustentável são vitais para o crescimento sustentado e para
e terras áridas, em conformidade com as obrigações decorrentes o desenvolvimento sustentável das nações. O ODS 17 propõe
dos acordos internacionais o caminho para a realização efetiva da Agenda 2030 por todos
os países, e a coordenação de esforços na arena internacional é
Objetivo 16. essencial para isso. A Cooperação Sul-Sul e triangular, a transfe-
Paz, Justiça e Instituições Eficazes rência de tecnologia, o intercâmbio de dados e capital humano,
Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvol- bem como a assistência oficial ao desenvolvimento são alguns
vimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos dos principais meios para o alcance dos ODS.
e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em to-
dos os nívei Metas do Objetivo 17
Promover instituições fortes, inclusivas e transparentes, a 17.19 Até 2030, valer-se de iniciativas existentes, para de-
manutenção da paz e o respeito aos direitos humanos baseados senvolver medidas do progresso do desenvolvimento susten-
no Estado de direito são a base para o desenvolvimento humano tável que complementem o produto interno bruto e apoiar o
sustentável. Estes são alguns dos princípios que sustentam as desenvolvimento de capacidades em estatística nos países em
metas do ODS 16, que também inclui temas sensíveis, como o desenvolvimento
combate à exploração sexual, ao tráfico de pessoas e à tortura. 17.18 Até 2020, reforçar o apoio ao desenvolvimento de ca-
Outros temas incluídos nas metas do ODS 16 são o enfrentamen- pacidades para os países em desenvolvimento, inclusive para os
to à corrupção, ao terrorismo, a práticas criminosas, especial- países de menor desenvolvimento relativo e pequenos Estados
mente aquelas que ferem os direitos humanos. insulares em desenvolvimento, para aumentar significativamen-
te a disponibilidade de dados de alta qualidade, atuais e confiá-
Metas do Objetivo 16 veis, desagregados por renda, gênero, idade, raça, etnia, status
16.b Promover e fazer cumprir leis e políticas não discrimi- migratório, deficiência, localização geográfica e outras caracte-
natórias para o desenvolvimento sustentável rísticas relevantes em contextos nacionais
16.a Fortalecer as instituições nacionais relevantes, inclu- 17.17 Incentivar e promover parcerias públicas, público-
sive por meio da cooperação internacional, para a construção -privadas, privadas, e com a sociedade civil eficazes, a partir da
de capacidades em todos os níveis, em particular nos países em experiência das estratégias de mobilização de recursos dessas
desenvolvimento, para a prevenção da violência e o combate ao parcerias Dados, monitoramento e prestação de contas
terrorismo e ao crime

32
DIREITOS HUMANOS
17.16 Reforçar a parceria global para o desenvolvimento 17.3 Mobilizar recursos financeiros adicionais para os países
sustentável complementada por parcerias multissetorias, que em desenvolvimento a partir de múltiplas fontes
mobilizem e compartilhem conhecimento, experiência, tecnolo- 17.2 Países desenvolvidos implementarem plenamente os
gia e recursos financeiros para apoiar a realização dos objetivos seus compromissos em matéria de assistência oficial ao desen-
do desenvolvimento sustentável em todos os países, particular- volvimento, inclusive o compromisso apresentado por vários pa-
mente nos países em desenvolvimento íses desenvolvidos de alcançar a meta de 0,7% da renda nacional
17.15 Respeitar o espaço político e a liderança de cada país bruta para assistência oficial ao desenvolvimento (RNB/AOD)
para estabelecer e implementar políticas para a erradicação da aos países em desenvolvimento, e 0,15 a 0,20% da RNB/AOD
pobreza e o desenvolvimento sustentável para os países de menor desenvolvimento relativo; provedores
17.14 Aumentar a coerência das políticas para o desenvolvi- de AOD são encorajados a considerarem definir uma meta para
mento sustentável prover pelo menos 0,20% da RNB/AOD para os países de menor
17.13 Aumentar a estabilidade macroeconômica global, in- desenvolvimento relativo
clusive por meio da coordenação e da coerência de políticas 17.1 Fortalecer a mobilização de recursos internos, inclusive
17.12 Concretizar a implementação oportuna de acesso por meio do apoio internacional aos países em desenvolvimen-
a mercados livres de cotas e taxas, de forma duradoura, para to, para melhorar a capacidade nacional para arrecadação de
todos os países de menor desenvolvimento relativo, de acordo impostos e outras receitas
com as decisões da Organização Mundial do Comércio, inclusive
por meio de garantias de que as regras de origem preferenciais Fonte: http://www.agenda2030.org.br/ods/17/
aplicáveis às importações provenientes de países de menor de-
senvolvimento relativo sejam transparentes e simples, e contri-
buam para facilitar o acesso ao mercado Questões sistêmicas SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS
17.11 Aumentar significativamente as exportações dos paí-
ses em desenvolvimento, em particular com o objetivo de dupli- PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 4.226,
car a participação dos países de menor desenvolvimento relativo DE 31 DE DEZEMBRO DE 2010
nas exportações globais até 2020
17.10 Promover um sistema multilateral de comércio univer- Estabelece Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de
sal, baseado em regras, aberto, não discriminatório e equitativo Segurança Pública.
no âmbito da Organização Mundial do Comércio, inclusive por
meio da conclusão das negociações no âmbito de sua Agenda de O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA e o MINISTRO DE ESTA-
Desenvolvimento de Doha DO CHEFE DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊN-
17.9 Reforçar o apoio internacional para a implementação CIA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhes conferem
eficaz e orientada do desenvolvimento de capacidades em pa- os incisos I e II, do parágrafo único, do art. 87, da Constituição
íses em desenvolvimento, a fim de apoiar os planos nacionais Federal e,
para implementar todos os objetivos de desenvolvimento sus-
tentável, inclusive por meio da cooperação Norte-Sul, Sul-Sul e CONSIDERANDO que a concepção do direito à segurança pú-
triangular blica com cidadania demanda a sedimentação de políticas pú-
17.8 Operacionalizar plenamente o Banco de Tecnologia e blicas de segurança pautadas no respeito aos direitos humanos;
o mecanismo de desenvolvimento de capacidades em ciência,
tecnologia e inovação para os países de menor desenvolvimento CONSIDERANDO o disposto no Código de Conduta para os
relativo até 2017, e aumentar o uso de tecnologias capacitado- Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotado pela
ras, em particular tecnologias de informação e comunicação Assembléia Geral das Nações Unidas na sua Resolução 34/169,
17.7 Promover o desenvolvimento, a transferência, a dis- de 17 de dezembro de 1979, nos Princípios Básicos sobre o Uso
seminação e a difusão de tecnologias ambientalmente corretas da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela
para os países em desenvolvimento, em condições favoráveis, Aplicação da Lei, adotados pelo Oitavo Congresso das Nações
inclusive em condições concessionais e preferenciais, conforme Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delin-
mutuamente acordado qüentes, realizado em Havana, Cuba, de 27 de Agosto a 7 de
17.6 Melhorar a cooperação regional e internacional Norte- setembro de 1999, nos Princípios orientadores para a Aplicação
-Sul, Sul-Sul e triangular e o acesso à ciência, tecnologia e inova- Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis
ção, e aumentar o compartilhamento de conhecimentos em ter- pela Aplicação da Lei, adotados pelo Conselho Econômico e So-
mos mutuamente acordados, inclusive por meio de uma melhor cial das Nações Unidas na sua resolução 1989/61, de 24 de maio
coordenação entre os mecanismos existentes, particularmente de 1989 e na Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos
no nível das Nações Unidas, e por meio de um mecanismo global ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotado pela As-
de facilitação de tecnologia global sembléia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada
17.5 Adotar e implementar regimes de promoção de investi- em Nova York em 10 de dezembro de 1984 e promulgada pelo
mentos para os países de menor desenvolvimento relativo Decreto n.º 40, de 15 de fevereiro de 1991;
17.4 Ajudar os países em desenvolvimento a alcançar a sus-
tentabilidade da dívida de longo prazo, por meio de políticas co- CONSIDERANDO a necessidade de orientação e padroniza-
ordenadas destinadas a promover o financiamento, a redução ção dos procedimentos da atuação dos agentes de segurança
e a reestruturação da dívida, conforme apropriado, e tratar da pública aos princípios internacionais sobre o uso da força;
dívida externa dos países pobres altamente endividados para re-
duzir o superendividamento

33
DIREITOS HUMANOS
CONSIDERANDO o objetivo de reduzir paulatinamente os ín- a) ao Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis
dices de letalidade resultantes de ações envolvendo agentes de pela Aplicação da Lei, adotado pela Assembléia Geral das Nações
segurança pública; e, Unidas na sua Resolução 34/169, de 17 de dezembro de 1979;
b) os Princípios orientadores para a Aplicação Efetiva do Có-
CONSIDERANDO as conclusões do Grupo de Trabalho, cria- digo de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplica-
do para elaborar proposta de Diretrizes sobre Uso da Força, ção daLei, adotados pelo Conselho Econômico e Social das Na-
composto por representantes das Polícias Federais, Estaduais e ções Unidas na sua resolução 1989/61, de 24 de maio de 1989;
Guardas Municipais, bem como com representantes da socieda- c) os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de
de civil, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei,
República e do Ministério da Justiça, resolvem: adotados pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas para a Pre-
venção do Crime e o Tratamento dos Delinqüentes, realizado em
Art. 1º Ficam estabelecidas Diretrizes sobre o Uso da Força Havana, Cuba, de 27 de Agosto a 7 de setembro de 1999;
pelos Agentes de Segurança Pública, na forma do Anexo I desta d) a Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Portaria. penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assem-
Parágrafo único. Aplicam-se às Diretrizes estabelecidas no bléia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada em
Anexo I, as definições constantes no Anexo II desta Portaria. Nova York em 10 de dezembro de 1984 e promulgada pelo De-
creto n.º 40, de 15 de fevereiro de 1991.
Art. 2º A observância das diretrizes mencionadas no artigo
anterior passa a ser obrigatória pelo Departamento de Polícia 2. O uso da força por agentes de segurança pública deverá
Federal, pelo Departamento de Polícia Rodoviária Federal, pelo obedecer aos princípios da legalidade, necessidade, proporcio-
Departamento Penitenciário Nacional e pela Força Nacional de nalidade, moderação e conveniência.
Segurança Pública. 3. Os agentes de segurança pública não deverão disparar ar-
§ 1º As unidades citadas no caput deste artigo terão 90 dias, mas de fogo contra pessoas, exceto em casos de legítima defesa
contados a partir da publicação desta portaria, para adequar própria ou de terceiro contra perigo iminente de morte ou lesão
seus procedimentos operacionais e seu processo de formação e grave.
treinamento às diretrizes supramencionadas. 4. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra pessoa em
§ 2º As unidades citadas no caput deste artigo terão 60 dias, fuga que esteja desarmada ou que, mesmo na posse de algum
contados a partir da publicação desta portaria, para fixar a nor- tipo de arma, não represente risco imediato de morte ou de le-
matização mencionada na diretriz Nº- 9 e para criar a comissão são grave aos agentes de segurança pública ou terceiros.
mencionada na diretriz Nº- 23. 5. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra veículo que
§ 3º As unidades citadas no caput deste artigo terão 60 dias, desrespeite bloqueio policial em via pública, a não ser que o ato
contados a partir da publicação desta portaria, para instituir Co- represente um risco imediato de morte ou lesão grave aos agen-
missão responsável por avaliar sua situação interna em relação tes de segurança pública ou terceiros.
às diretrizes não mencionadas nos parágrafos anteriores e pro- 6. Os chamados “disparos de advertência” não são conside-
por medidas para assegurar as adequações necessárias. rados prática aceitável, por não atenderem aos princípios elen-
cados na Diretriz n.º 2 e em razão da imprevisibilidade de seus
Art. 3º A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da efeitos.
República e o Ministério da Justiça estabelecerão mecanismos 7. O ato de apontar arma de fogo contra pessoas durante os
para estimular e monitorar iniciativas que visem à implementa- procedimentos de abordagem não deverá ser uma prática roti-
ção de ações para efetivação das diretrizes tratadas nesta porta- neira e indiscriminada.
ria pelos entes federados, respeitada a repartição de competên- 8. Todo agente de segurança pública que, em razão da sua
cias prevista no art. 144 da Constituição Federal. função, possa vir a se envolver em situações de uso da força,
deverá portar no mínimo 2 (dois) instrumentos de menor poten-
Art. 4º A Secretaria Nacional de Segurança Pública do Minis- cial ofensivo e equipamentos de proteção necessários à atuação
tério da Justiça levará em consideração a observância das dire- específica, independentemente de portar ou não arma de fogo.
trizes tratadas nesta portaria no repasse de recursos aos entes 9. Os órgãos de segurança pública deverão editar atos nor-
federados. mativos disciplinando o uso da força por seus agentes, definindo
objetivamente:
Art. 5º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação. a) os tipos de instrumentos e técnicas autorizadas;
LUIZ PAULO BARRETO b) as circunstâncias técnicas adequadas à sua utilização, ao
Ministro de Estado da Justiça ambiente/entorno e ao risco potencial a terceiros não envolvi-
PAULO DE TARSO VANNUCHI dos no evento;
Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos c) o conteúdo e a carga horária mínima para habilitação e
da Presidência da República atualização periódica ao uso de cada tipo de instrumento;
d) a proibição de uso de armas de fogo e munições que pro-
ANEXO I voquem lesões desnecessárias e risco injustificado; e
DIRETRIZES SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO e) o controle sobre a guarda e utilização de armas e muni-
PELOS AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA ções pelo agente de segurança pública.

1. O uso da força pelos agentes de segurança pública deverá 10. Quando o uso da força causar lesão ou morte de pes-
se pautar nos documentos internacionais de proteção aos direi- soa(s), o agente de segurança pública envolvido deverá realizar
tos humanos e deverá considerar, primordialmente: as seguintes ações:

34
DIREITOS HUMANOS
a) facilitar a prestação de socorro ou assistência médica aos 18. A renovação da habilitação para uso de armas de fogo
feridos; em serviço deve ser feita com periodicidade mínima de 1 (um)
b) promover a correta preservação do local da ocorrência; ano.
c) comunicar o fato ao seu superior imediato e à autoridade 19. Deverá ser estimulado e priorizado, sempre que possí-
competente; e vel, o uso de técnicas e instrumentos de menor potencial ofen-
d) preencher o relatório individual correspondente sobre o sivo pelos agentes de segurança pública, de acordo com a espe-
uso da força, disciplinado na Diretriz n.º 22. cificidade da função operacional e sem se restringir às unidades
especializadas.
11. Quando o uso da força causar lesão ou morte de pes- 20. Deverão ser incluídos nos currículos dos cursos de for-
soa(s), o órgão de segurança pública deverá realizar as seguintes mação e programas de educação continuada conteúdos sobre
ações: técnicas e instrumentos de menor potencial ofensivo.
a) facilitar a assistência e/ou auxílio médico dos feridos; 21. As armas de menor potencial ofensivo deverão ser sepa-
b)recolher e identificar as armas e munições de todos os en- radas e identificadas de forma diferenciada, conforme a neces-
volvidos, vinculando-as aos seus respectivos portadores no mo- sidade operacional.
mento da ocorrência; 22. O uso de técnicas de menor potencial ofensivo deve ser
c) solicitar perícia criminalística para o exame de local e ob- constantemente avaliado.
jetos bem como exames médico-legais; 23. Os órgãos de segurança pública deverão criar comissões
d) comunicar os fatos aos familiares ou amigos da(s) pes- internas de controle e acompanhamento da letalidade, com o
soa(s) ferida(s) ou morta(s); objetivo de monitorar o uso efetivo da força pelos seus agentes.
e) iniciar, por meio da Corregedoria da instituição, ou órgão 24. Os agentes de segurança pública deverão preencher um
equivalente, investigação imediata dos fatos e circunstâncias do relatório individual todas as vezes que dispararem arma de fogo
emprego da força; e/ou fizerem uso de instrumentos de menor potencial ofensivo,
f) promover a assistência médica às pessoas feridas em de- ocasionando lesões ou mortes. O relatório deverá ser encami-
corrência da intervenção, incluindo atenção às possíveis seqüelas; nhado à comissão interna mencionada na Diretriz n.º 23 e deve-
g) .promover o devido acompanhamento psicológico aos rá conter no mínimo as seguintes informações:
agentes de segurança pública envolvidos, permitindo-lhes supe- a) circunstâncias e justificativa que levaram o uso da força
rar ou minimizar os efeitos decorrentes do fato ocorrido; e ou de arma de fogo por parte do agente de segurança pública;
h) h.afastar temporariamente do serviço operacional, para
b) medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar ins-
avaliação psicológica e redução do estresse, os agentes de se-
trumentos de menor potencial ofensivo, ou as razões pelas quais
gurança pública envolvidos diretamente em ocorrências com re-
elas não puderam ser contempladas;
sultado letal.
c) tipo de arma e de munição, quantidade de disparos efe-
tuados, distância e pessoa contra a qual foi disparada a arma;
12. Os critérios de recrutamento e seleção para os agentes
d) instrumento(s) de menor potencial ofensivo utilizado(s),
de segurança pública deverão levar em consideração o perfil psi-
especificando a freqüência, a distância e a pessoa contra a qual
cológico necessário para lidar com situações de estresse e uso da
foi utilizado o instrumento;
força e arma de fogo.
e) quantidade de agentes de segurança pública feridos ou
13. Os processos seletivos para ingresso nas instituições de
segurança pública e os cursos de formação e especialização dos mortos na ocorrência, meio e natureza da lesão;
agentes de segurança pública devem incluir conteúdos relativos f) quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pelos dispa-
a direitos humanos. ros efetuados pelo(s) agente(s) de segurança pública;
14. As atividades de treinamento fazem parte do trabalho g) número de feridos e/ou mortos atingidos pelos instru-
rotineiro do agente de segurança pública e não deverão ser rea- mentos de menor potencial ofensivo utilizados pelo(s) agente(s)
lizadas em seu horário de folga, de maneira a serem preservados de segurança pública;
os períodos de descanso, lazer e convivência sócio-familiar. h) número total de feridos e/ou mortos durante a missão;
15. A seleção de instrutores para ministrarem aula em qual- i) quantidade de projéteis disparados que atingiram pessoas
quer assunto que englobe o uso da força deverá levar em con- e as respectivas regiões corporais atingidas;
ta análise rigorosa de seu currículo formal e tempo de serviço, j) quantidade de pessoas atingidas pelos instrumentos de
áreas de atuação, experiências anteriores em atividades fim, re- menor potencial ofensivo e as respectivas regiões corporais atin-
gistros funcionais, formação em direitos humanos e nivelamento gidas;
em ensino. Os instrutores deverão ser submetidos à aferição de k) ações realizadas para facilitar a assistência e/ou auxílio
conhecimentos teóricos e práticos e sua atuação deve ser ava- médico, quando for o caso; e
liada. l) se houve preservação do local e, em caso negativo, apre-
16. Deverão ser elaborados procedimentos de habilitação sentar justificativa.
para o uso de cada tipo de arma de fogo e instrumento de menor
potencial ofensivo que incluam avaliação técnica, psicológica, fí- 25. Os órgãos de segurança pública deverão, observada a
sica e treinamento específico, com previsão de revisão periódica legislação pertinente, oferecer possibilidades de reabilitação e
mínima. reintegração ao trabalho aos agentes de segurança pública que
17. Nenhum agente de segurança pública deverá portar ar- adquirirem deficiência física em decorrência do desempenho de
mas de fogo ou instrumento de menor potencial ofensivo para o suas atividades.
qual não esteja devidamente habilitado e sempre que um novo
tipo de arma ou instrumento de menor potencial ofensivo for
introduzido na instituição deverá ser estabelecido um módulo
de treinamento específico com vistas à habilitação do agente.

35
DIREITOS HUMANOS
ANEXO II Uso Diferenciado da Força: Seleção apropriada do nível de
GLOSSÁRIO uso da força em resposta a uma ameaça real ou potencial visan-
do limitar o recurso a meios que possam causar ferimentos ou
Armas de menor potencial ofensivo: Armas projetadas e/ mortes.
ou empregadas, especificamente, com a finalidade de conter,
debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas, preservando
vidas e minimizando danos à sua integridade. EXERCICIOS

Equipamentos de menor potencial ofensivo: Todos os arte- 1. (Prefeitura de Pedrão/BA – Psicólogo – IDCAP/2021) So-
fatos, excluindo armas e munições, desenvolvidos e empregados bre gênero, violência e saúde analise as assertivas abaixo:
com a finalidade de conter, debilitar ou incapacitar temporaria- I. A violência contra a mulher é um fenômeno extremamente
mente pessoas, para preservar vidas e minimizar danos à sua complexo, com raízes profundas nas relações de poder baseado
integridade. no gênero, na sexualidade, na autoidentidade e nas instituições
sociais.
Equipamentos de proteção: Todo dispositivo ou produto, II. Esta realidade da violência contra a mulher não se apre-
de uso individual (EPI) ou coletivo (EPC) destinado a redução de senta em todas as classes sociais, grupos étnicos-raciais e cultu-
riscos à integridade física ou à vida dos agentes de segurança ras, sendo questão especifica de um grupo social determinado.
pública. III. Trata-se a violência doméstica de fenômeno democrati-
camente distribuído da mesma forma que acontece com a distri-
Força: Intervenção coercitiva imposta à pessoa ou grupo de buição da riqueza.
pessoas por parte do agente de segurança pública com a finali- Após análise, assinale a alternativa CORRETA:
dade de preservar a ordem pública e a lei. (A) Somente a alternativa III está correta.
(B) Somente a alternativa I está correta.
Instrumentos de menor potencial ofensivo: Conjunto de ar- (C) As alternativas I, II e III estão corretas.
mas, munições e equipamentos desenvolvidos com a finalidade (D) As alternativas I e III estão corretas.
de preservar vidas e minimizar danos à integridade das pessoas.
2. (Prefeitura de Jacinto Machado/SC – Psicólogo – PS CON-
Munições de menor potencial ofensivo: Munições projeta- CURSOS/2021) Violência doméstica é um padrão de comporta-
das e empregadas, especificamente, para conter, debilitar ou mento que envolve violência ou outro tipo de abuso por parte
incapacitar temporariamente pessoas, preservando vidas e mi- de uma pessoa contra outra num contexto doméstico, como no
nimizando danos a integridade das pessoas envolvidas. caso de um casamento ou união de facto, ou contra crianças ou
idosos. Quando é perpetrada por um cônjuge ou parceiro numa
Nível do Uso da Força: Intensidade da força escolhida pelo relação íntima contra o outro cônjuge ou parceiro denomina-se:
agente de segurança pública em resposta a uma ameaça real ou (A) Violência marital.
potencial. (B) Violência moral.
(C) Violência conjugal.
Princípio da Conveniência: A força não poderá ser empre- (D) Violência mental.
gada quando, em função do contexto, possa ocasionar danos de (E) Violência emocional.
maior relevância do que os objetivos legais pretendidos.
3. (Prefeitura de Mata Grande/AL – Psicólogo - ADM&-
Princípio da Legalidade: Os agentes de segurança pública só TEC/2020) Leia as afirmativas a seguir:
poderão utilizar a força para a consecução de um objetivo legal e I. O trabalho de atendimento à mulher em situação de vio-
nos estritos limites da lei. lência pressupõe necessariamente o fortalecimento de redes de
serviços que, tomando como base o território, possam articular
Princípio da Moderação: O emprego da força pelos agentes saberes, práticas e políticas, pensando e viabilizando estratégias
de segurança pública deve sempre que possível, além de pro- ampliadas de garantia de acesso, equidade e integralidade. Fa-
porcional, ser moderado, visando sempre reduzir o emprego da zem-se necessários ainda investimentos constantes na sensibili-
força. zação e na qualificação dos profissionais envolvidos na rede para
que as mulheres sejam acolhidas e assistidas de forma humani-
Princípio da Necessidade: Determinado nível de força só zada e com garantia de direitos.
pode ser empregado quando níveis de menor intensidade não II. O atendimento psicológico nos serviços de atenção à mu-
forem suficientes para atingir os objetivos legais pretendidos. lher em situação de violência deve ser direcionado para mulheres
Princípio da Proporcionalidade: O nível da força utilizado com o objetivo de preservar a confiança nas relações estabeleci-
deve sempre ser compatível com a gravidade da ameaça repre- das com o profissional. No entanto, entende-se que a abordagem
sentada pela ação do opositor e com os objetivos pretendidos da violência deve também incluir o autor da violência em espaço
pelo agente de segurança pública. específico para tal, conforme prevê a Lei Maria da Penha.

Técnicas de menor potencial ofensivo: Conjunto de proce- Marque a alternativa CORRETA:


dimentos empregados em intervenções que demandem o uso (A) As duas afirmativas são verdadeiras.
da força, através do uso de instrumentos de menor potencial (B) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.
ofensivo, com intenção de preservar vidas e minimizar danos à (C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
integridade das pessoas. (D) As duas afirmativas são falsas.

36
DIREITOS HUMANOS
4. (CFP – Especialista em Psicologia Social – QUADRIX/2020) 7. (UFCG – Assistente Social – UFCG/2019) O trabalho de
Em uma universidade de renome, um professor reconhecido por assistentes sociais tem relação direta com as demandas da po-
sua empatia com os estudantes, respeitoso e tido como um ex- pulação negra que reside nos morros, nas favelas, no sertão, no
celente pesquisador em sua área, foi duramente criticado por campo e na cidade. Assistentes sociais estão nos serviços públi-
dizer que negros não entram nos cursos mais concorridos da cos como os de saúde, educação, habitação e assistência social,
universidade por uma lacuna na formação básica e não reúnem que devem ser garantidos para toda a população. O combate ao
conhecimento suficiente para obter notas excelentes no ENEM. preconceito é inclusive um compromisso do Código de Ética dos/
Ele também se manifestou contra cotas, por considerá-las como as Assistentes Sociais. Sobre a questão do racismo e Serviço So-
antidemocráticas, já que não respeitam o critério do mérito. cial, marque a opção correta.
Ele ficou chocado com as críticas por se considerar uma pessoa (A) Historicamente, o debate acerca da questão étnico-racial
aberta e não racista. Com base nessa situação hipotética, é cor- no Serviço Social tem assumido uma centralidade diante da
reto afirmar que o professor se enquadra no(na) discussão da questão social, colocando-o como um dos prin-
(A) incoerência dos professores universitários. cipais temas de reflexão na produção teórica da profissão.
(B) racismo estrutural. (B) É posicionamento ético o empenho na eliminação de
(C) racismo institucional. todas as formas de preconceito, sejam por nacionalidade,
(D) discriminação provocada pelo ódio racial. gênero, etnia, classe social e religião; enquanto questão
(E) equívoco dos movimentos negros na universidade. não estrutural, o racismo deve ser combatido no âmbito
institucional, cultural e ambiental.
5. (Prefeitura de Ministro Andreazza/RO – Assistente Social (C) O Atlas de Violência (2017) afirma que a cada 100 pes-
– IBADE/2020) Recentemente a questão racial ganhou grande soas assassinadas no Brasil, 71 são jovens, negras e do sexo
visibilidade em função do assassinato de George Floyd, cidadão masculino. Reitera que houve avanços nos indicadores so-
norte-americano estrangulado por um policial branco em maio cioeconômicos (2005 a 2015) e diminuição da violência letal
de 2020. Pode-se dizer que o racismo é um dos elementos fun- contra pessoas negras.
damentais para compreender e enfrentar a violência policial nos (D) A raiz latente da questão social no Brasil colônia é a es-
Estados Unidos e no Brasil. Sendo assim, assinale a expressão mais cravidão, baseada na extrema exploração da força de traba-
adequada para a análise desse fenômeno na realidade brasileira: lho escravizada; seu enfrentamento deu-se pelo abolicionis-
(A) democracia racial. mo, particularizado na formação social brasileira.
(B) ações afirmativas.
(E) O Conjunto CFESS-CRESS tem se posicionado contra as
(C) racismo estrutural.
leis de cotas (nº 12.711/2012 e nº 12.990/14) pois, ao invés
(D) transfobia.
de promoverem reparos sociais, têm produzido desigualda-
(E) feminicídio.
des e condições diferentes de oportunidades no âmbito das
políticas sociais.
6. (Prefeitura de Capim/PB - Agente Administrativo - FACET
CONCURSOS/2020) Leia texto a seguir:
8. (CRN-9 – Auxiliar Administrativo – QUADRIX/2019) Jul-
No Brasil, os casos de homicídio de pessoas negras (pretas
gue o item a respeito dos direitos sociais.
e pardas) aumentaram 11,5% em uma década, de acordo com
O mínimo existencial está aquém do princípio da dignidade
o Atlas da Violência 2020 […] publicado pelo Instituto de Pes-
quisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Se- da pessoa humana, isto é, congrega parcela de direitos absoluta-
gurança Pública (FBSP). Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018, mente básicos, que, respeitados, ainda não chegam a assegurar
período avaliado, a taxa entre não negros (brancos, amarelos e uma existência digna, mas, sim, existência, pura e simples.
indígenas) fez o caminho inverso, apresentando queda de 12,9% (....) CERTO
(Fonte:https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-08/ (....) ERRADO
atlas-da-violencia-assassinatos-de-negros-crescem-115-em-
10-anos, acessado em outubro de 2020). 9. (Prefeitura de Carneiros/AL – Nutricionista - ADM&-
Sobre a questão do racismo no Brasil, marque V para Verda- TEC/2019) Leia as afirmativas a seguir e marque a opção COR-
deiro e F para Falso: RETA:
( ) O racismo é praticamente inexistente no Brasil, sendo (A) O direito à igualdade é vedado na Constituição Federal
mais forte em países como os Estados Unidos. de 1988.
( ) O racismo tem relação histórica com a escravidão no (B) A Constituição Federal de 1988 procura assegurar o exer-
Brasil. cício dos direitos individuais.
( ) A miscigenação fez com que o país se transformasse num (C) A República Federativa do Brasil busca promover o an-
dos mais plurais do mundo. Apesar da desigualdade econômica tissemitismo.
no país, os negros conseguem ter, em termos proporcionais, a (D) A dignidade da pessoa humana não é um dos fundamen-
mesma renda dos brancos no nosso país. tos da República Federativa do Brasil.
( ) O racismo institucional não existe no Brasil, apenas nos (E) A República Federativa do Brasil busca promover os pre-
Estados Unidos. conceitos relacionados à cor.

A alternativa que apresenta o termo correto é a letra:


(A) V, V, V, V. 10. (Prefeitura de Porto Nacional/TO – Assistente Social -
(B) F, V, V, V. COPESE – UFT/2019) O advento da modernidade ressignificou
(C) V, F, V, V. vários âmbitos da vida cotidiana, e dentre eles podemos citar
(D) F, V, F, F. os tipos de organização familiar, o mundo do trabalho, o casa-
(E) F, V, F, V. mento, a concepção de novos seres que foi dissociada da união

37
DIREITOS HUMANOS
entre um homem com uma mulher, assim como a violência. Esta 12. (DPE/RJ – Defensor Público – FGV/2021) Segundo a ju-
última trata-se de um fenômeno complexo e abrangente que risprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, re-
abarca diferentes contextos da vida humana, pois não é autoe- forçada no “Caso Ximenes Lopes vs. Brasil”, são fundamentos da
xplicável e é pluricausal. Destarte, no Brasil evidencia-se que responsabilidade internacional do Estado:
crianças, adolescentes e jovens sejam vítimas em potencial das (A) as ações atribuíveis aos órgãos ou funcionários do Estado;
mais diversas formas de violência, tanto no âmbito familiar, ins- (B) somente as ações dos particulares, desde que atribuíveis
titucional, urbano, através do aliciamento pelo tráfico de drogas às omissões do Estado;
ou ainda sexual. Analise as afirmativas a seguir. (C) as ações dos particulares que violem qualquer direito
I. As camadas pobres estão mais suscetíveis à violência, consagrado na Convenção Americana de Direitos Humanos;
considerando-se que muitas vezes os adolescentes e jovens que (D) as ações de qualquer pessoa ou órgão estatal que este-
vivem nas áreas periféricas estão expostos a maiores riscos, e ja autorizado pela legislação do Estado a exercer autorida-
mesmo diante da intensificação do isolamento da vida pública de governamental, seja pessoa física ou jurídica, sempre e
e privada não é possível garantir a segurança dos mesmos e de quando estiver atuando na referida competência;
suas famílias. (E) tanto as ações ou omissões atribuíveis aos órgãos ou fun-
II. O aumento da violência no Brasil se coloca como priorida- cionários do Estado, como a omissão do Estado em prevenir
de na agenda das políticas sociais públicas, visto que a luta dos que terceiros vulnerem os bens jurídicos que protegem os
movimentos sociais por melhores condições de vida e garantia direitos humanos consagrados na Convenção Americana de
de direitos sociais tem alcançado reconhecimento em suas ações Direitos Humanos.
e de seus interlocutores, atenuando a desigualdade social e ele-
vando os níveis de mobilização da sociedade. 13. (DPE/RJ – Defensor Público – FGV/2021) Sobre o “Caso
III. O individualismo exacerbado coloca-se como uma das Favela Nova Brasília”, é correto afirmar que:
consequências produzidas pela violência, pois está diante da im- (A) os representantes reclamaram que, se a investigação dos
possibilidade da construção de uma esfera pública marcada pela fatos tivesse sido registrada como “auto de resistência”, te-
desregulamentação do Estado e pela ausência ou insuficiência ria sido diligente e efetiva;
de políticas sociais universais. (B) para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o
IV. A violência na sociedade brasileira tem seu recrudesci- dever de investigar é uma obrigação de resultado que cor-
mento também pela anulação da política que exclui o debate responde ao direito das vítimas à justiça e à punição dos
público, responsabilizando a sociedade civil por suas agruras e perpetradores;
mazelas, delegando as providências para o âmbito privado e atri- (C) para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o
buindo suas causas aos aspectos socioeconômicos e culturais. cumprimento da obrigação de empreender uma investiga-
ção séria, imparcial e efetiva do ocorrido, no âmbito das ga-
Com base nas afirmativas, assinale a alternativa CORRETA. rantias do devido processo, implica também um exame do
(A) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. prazo da referida investigação e independe da participação
(B) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. dos familiares da vítima durante essa primeira fase;
(C) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. (D) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos res-
(D) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. saltou que as investigações policiais foram realizadas pelas
mesmas delegacias da Polícia Civil que haviam realizado as
11. (DPE/RJ - Técnico Superior Jurídico – FGV/2019) A co- operações, o que gerou a falta de independência das autori-
missão externa da Câmara dos Deputados criada para acom- dades encarregadas pelas investigações, violando os artigos
panhar as investigações dos assassinatos de Marielle Franco e 7.1 e 25.1, em relação ao artigo 1.1 da Convenção America-
Anderson Gomes aprovou em dezembro de 2018 o seu relatório na de Direitos Humanos;
final, no qual cobra a federalização do caso. Como é sabido, no (E) a Corte Interamericana de Direitos Humanos considera
Brasil é possível que haja federalização de casos de grave viola- essencial, em uma investigação penal sobre morte decorren-
ção de direitos humanos. te de intervenção policial, a garantia de que o órgão inves-
Segundo a Constituição da República de 1988, qual seria a tigador seja independente dos funcionários envolvidos no
finalidade desse deslocamento de competência para a justiça fe- incidente. Essa independência implica a ausência de relação
deral é: institucional ou hierárquica, bem como sua independência
(A) garantir a Lei e a Ordem nos casos em que há o esgota- na prática.
mento das forças tradicionais de segurança pública, em gra-
ves situações de perturbação da ordem; 14. (DPE/SC – Defensor Público Substituto – FCC/2017) O
(B) dar efetividade ao sistema de garantia de direitos funda- caso Favela Nova Brasília em que o Estado Brasileiro foi julgado
mentais previstos no âmbito da Constituição e da legislação perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos, trata
federal; (A) do direito das minorias, especialmente negros e indíge-
(C) promover a atuação integrada, no plano estadual e fede- nas.
ral, de administradores e responsáveis pelas investigações (B) do direito de petição e o acesso à justiça.
de casos que envolvam violação de direitos humanos; (C) de violações do direito à vida e à integridade física.
(D) combater a eventual morosidade dos agentes do sistema (D) do direito à moradia em condições precárias nas grandes
de justiça que comprometa a imagem do país junto aos orga- cidades.
nismos multilaterais de cooperação internacional; (E) da convivência entre o direito ao meio ambiente e a in-
(E) assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tervenção humana.
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Bra-
sil seja parte.

38
DIREITOS HUMANOS
15. (DPE/RJ – Defensor Público – FGV/2021) No âmbito da (C) desvinculadas das ordens social, econômica e política es-
ADPF 635 se questionam a política de segurança pública do go- tabelecidas.
verno do Estado do Rio de Janeiro, os índices injustificáveis de (D) atribuídas às características determinadas pela bagagem
letalidade promovida pelas intervenções policiais nas favelas e o genética.
uso desproporcional da força por parte dos agentes de seguran- (E) entendidas como uma inabilidade para o desempenho
ça contra a população negra e pobre. dos papéis sociais.
Diante de dados que comprovam que os efeitos de determi-
nadas políticas públicas violam desproporcionalmente os direi- 18. (DPE/RJ - Técnico Superior Especializado – Psicologia –
tos fundamentais de grupos vulneráveis identificáveis, é correto FGV/2019) A expressão “ideologia de gênero” passou a ser usa-
afirmar que tais políticas podem ser questionadas com funda- da por setores conservadores da sociedade brasileira, embora
mento no(a): não corresponda a nenhuma linha de pensamento, e sim a um
(A) princípio da moralidade administrativa; slogan que tende a reafirmar valores morais tradicionais e negar
(B) princípio da igualdade formal; a igualdade de direitos às mulheres e pessoas LGBTI+. Por sua
(C) teoria da discriminação indireta; vez, os estudos de gênero têm como objetivo mapear diferenças
(D) princípio da legalidade; sociais entre gêneros e mostrar como surgem as desigualdades,
(E) princípio da impessoalidade. jamais impor um estilo de vida.
De acordo com o glossário proveniente desses estudos, se
a pessoa se identifica com o gênero feminino apesar de ter sido
16. (CFP - Especialista em Psicologia – Social – QUA- biologicamente designada ao nascer como pertencente ao sexo
DRIX/2020) O jornal Folha de São Paulo do dia 29/12/2019 masculino, e sente atração sexual e afetiva por pessoas do gêne-
entrevistou Guilherme Terreri, que se apresenta como a drag ro feminino, ela é denominada:
queen Rita Von Hunty. Segundo a matéria, Guilherme está mais (A) mulher trans homossexual;
para a turma queer, “uma galera que entendeu que o gênero é (B) homem trans homossexual;
uma construção social”, afirma o entrevistado. A temática LGBT, (C) homem trans heterossexual;
questão atualmente muito estudada pela psicologia social, en- (D) agênero pansexual;
frenta uma de suas últimas barreiras de inclusão, representada (E) não binário heterossexual.
pelo T da sigla. Alguns consideram que a sigla deveria ser LGBT-
QI+, representando, além das lésbicas, dos gays e dos bissexuais, 19. (TJ/AP - Estagiário - Nível Superior – TJ/AP/2019) “A sessão
os transexuais, travestis e transgêneros, os queers e os interse- desta quinta foi iniciada com a votação da ministra Cármen Lúcia.
xuais; o + incluiria a assexualidade e a pansexualidade, resumin- Ao apresentar o voto, afirmou que o STF deve proteger o direito
do uma sigla com doze possibilidades de expressão de gênero e do ser humano à convivência pacífica. Também destacou que ‘todo
sexualidade. Considerando os estudos psicossociais sobre esse preconceito é violência e causa de sofrimento’” (Revista Veja on
fenômeno, assinale a alternativa correta. line, 13 jun. 2019). Nessa sessão, ocorrida no dia 13/6/2019, o Ple-
(A) O movimento LGBT ganhou expressão a partir de lutas nário do Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento da Ação
contra a discriminação e o preconceito e suas conquistas Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26 e do Man-
permitiram uma maior expressão da diversidade sexual hu- dado de Injunção (MI) 4733, entendendo que houve omissão in-
mana, fazendo valer a expressão do entrevistado de que gê- constitucional do Congresso Nacional e que, até que seja editada
nero é uma construção social, mas há muito a ser conquista- lei específica, devem ser consideradas criminosas as condutas de:
do e essa é uma batalha que está no seu início. (A) racismo e homofobia.
(B) Os estudos psicossociais não são conclusivos e não há (B) racismo e intolerância religiosa.
comprovação científica para a expressão LGBTQI+, que re- (C) homofobia e transfobia.
presenta apenas interesses dos militantes mais radicais des- (D) nenhuma das anteriores.
se campo.
(C) Os transexuais, travestis e transgêneros não podem ser 20. (Prefeitura de Cerquilho/SP - Auxiliar de Escritório –
incluídos na temática homoafetiva, por corresponderem VUNESP/2019) Em 13 de junho, com a decisão de enquadrar a
apenas a uma expressão de cunho comportamental. homofobia e a transfobia no racismo, o Brasil se tornou o 43º
(D) Evidentemente, a fala do entrevistado pela FSP repre- país a criminalizar as práticas. (G1-Globo – https://glo.bo/2ZD-
senta uma realidade, mas pessoas como ele deveriam se ex- Z8Es – Acesso em 15.06.2019. Adaptado)
pressar em lugares fechados e protegidos para preservar a A decisão foi tomada
moral de crianças e pessoas idosas. (A) pela Câmara dos Deputados.
(E) O preconceito e a discriminação sexual são um câncer (B) pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
social e a psicologia social deveria assumir claramente a (C) pelo Senado Federal.
bandeira LGBTQI+. (D) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
(E) pelo Congresso Nacional.
17. (Prefeitura de Valinhos/SP – Psicólogo – VUNESP/2019)
No contexto atual, o termo gênero é usado em contraste com 21. (Câmara de Petrolina/PE - Agente Administrativo
os termos sexo e diferença sexual com o objetivo de criar um – IDIB/2019) Várias são as nuances da criminalidade e suas
espaço no qual as diferenças de comportamento entre homens e manifestações se diferenciam a depender das regiões do país e
mulheres, mediadas socialmente, possam ser dos estados. É imprescindível salientar a seriedade da violência
(A) exploradas independentemente das diferenças biológicas. doméstica e da violência de gênero contra as mulheres, assim
(B) eliminadas, para o surgimento de um padrão único de como de crimes como o racismo e a homofobia. Esses crimes são
conduta. menos conhecidos, publicamente, porque:

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DIREITOS HUMANOS
(A) Algumas manifestações de afeto são compreendidas 24. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/CEBRAS-
como assédio. PE/2021) A respeito da identificação criminal, do crime de tortu-
(B) São menos delatados e oficialmente registrados. ra, do abuso de direito, da prevenção do uso indevido de drogas,
(C) A homossexualidade é elencada como doença no CID - da comercialização de armas de fogo e dos crimes hediondos,
Código Internacional de Doenças. julgue o item que se segue.
(D) Os órgãos oficiais manipulam quais dados devem ser di- Praticam o crime de tortura policiais rodoviários federais
vulgados. que, dentro de um posto policial, submetem o autor de crime a
sofrimento físico, independentemente de sua intensidade.
22. (PC/PA - Delegado de Polícia Civil - INSTITUTO (....) CERTO
AOCP/2021) A Declaração Universal dos Direitos Humanos (....) ERRADO
(1948) prevê, em seu art. 5º, que “Ninguém será submetido a
tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degra- 25. (Prefeitura de Cariacica/ES – Guarda Municipal – IBA-
dante”. Da mesma forma, o art. 5º, III, da Constituição Federal DE/2020) Sobre “Garantias Judiciais”, a Convenção Americana
Brasileira (1988) reitera o referido texto. Com o Decreto nº 40, de Direitos Humanos (“Pacto de San José da Costa Rica”), prevê
de 15 de fevereiro de 1991, o Brasil internalizou a Convenção que toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma
Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desu- sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa.
manos ou Degradantes adotada em 1984 pela ONU em Assem- Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualda-
bleia Geral. Acerca da referida Convenção, assinale a alternativa de, de:
correta. (A) ser torturada.
(A) A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou (B) ficar por pelo menos 5 (cinco) dias incomunicável.
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984) não pode (C) confessar o crime, mesmo que seja coagida a fazê-lo.
servir de base legal à extradição de acusado de crime de (D) não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a decla-
tortura se não houver entre os Estados envolvidos tratado rar-se culpada.
de extradição prevendo, dentre as hipóteses extraditáveis, (E) não ser assistido por um defensor, ainda que deseje o
o crime de tortura. auxílio de um.
(B) Entende o Supremo Tribunal Federal que o sistema pe-
nitenciário brasileiro se encontra em um “estado de coisas 26. (DPE/SP – Defensor Público – FCC/2019) Com relação
inconstitucional” que desrespeita a Convenção Contra a Tor- às garantias penais e processuais penais no âmbito do Sistema
tura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Interamericano de Direitos Humanos, é correto afirmar:
Degradantes (1984). (A) O direito de recorrer de sentença criminal a juiz ou tri-
(C) A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou bunal superior tem como exceção os casos de competência
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984), em razão originária da Suprema Corte de um Estado, pela impossibili-
do seu status constitucional de tratado de direitos humanos, dade prática inerente.
alcança anistias anteriormente à sua vigência consumadas, (B) Toda prisão, salvo aquela decorrente de ordem judicial
de forma que a Lei nº 6.683/79 – Lei da Anistia – deixou de prévia, enseja o direito da pessoa a ela submetida a ser con-
vigorar no Brasil a partir da internalização da Convenção ao duzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autori-
ordenamento jurídico brasileiro em 1991. dade autorizada por lei a exercer funções judiciais.
(D) Segundo o entendimento pacífico do Supremo Tribunal (C) De acordo com o texto da Convenção Americana de Direi-
Federal, o crime de tortura praticado pelo policial militar tos Humanos, toda pessoa acusada de um delito tem direito
que, a pretexto de exercer atividade de repressão criminal a que se presuma sua inocência até o trânsito em julgado da
em nome do Estado, inflige, mediante desempenho funcio- sentença penal condenatória.
nal abusivo, danos físicos à pessoa eventualmente sujeita ao (D) O direito à proteção judicial previsto na Convenção Ame-
seu poder de coerção, valendo-se desse meio executivo para ricana de Direitos Humanos engloba a proteção contra vio-
intimidá-lo e coagi-lo à confissão de determinado delito, fica lação de direitos previstos na Constituição e na lei, além da
sujeito a julgamento de competência da Justiça Militar do própria Convenção.
Estado-membro. (E) O Estado ocupa a posição de garantidor dos direitos
(E) A Convenção nada prevê sobre a obrigação dos Estados humanos de todas as pessoas privadas de liberdade, salvo
signatários de reparar danos provocados por atos de tortura. daquelas em prisão administrativa decorrente de serviço
militar.
23. (ANM - Técnico em Segurança de Barragens – CESPE/
CEBRASPE/2021) No que diz respeito aos direitos e às garantias 27. (SBMG/PR – Auxiliar Administrativo – FAUEL/2019)
fundamentais, bem como aos direitos do servidor público, asse- Quando analisamos os Direitos e Garantias Fundamentais, en-
gurados na Constituição Federal de 1988, julgue o item a seguir. contramos alguns ligados a liberdade e a igualdade, e que estão
positivados no plano internacional. Estes tipos de direitos são
As práticas de tortura e de racismo são consideradas crimes conhecidos como:
inafiançáveis, porém, entre esses dois, apenas o crime de tor- (A) Direitos Humanos.
tura deve ser considerado, pela lei, insuscetível de graça ou de (B) Direitos Administrativos.
anistia. (C) Direitos Organizacionais.
(....) CERTO (D) Direitos Corporativos.
(....) ERRADO (E) Direitos Empresariais.

40
DIREITOS HUMANOS
28. (Prefeitura de Jacutinga/MG – Guarda Municipal –
IBGP/2019) De acordo com a Convenção Americana de Direitos Hu- GABARITO
manos (“Pacto de San José da Costa Rica”), é CORRETO afirmar que:
(A) Em alguns casos é permitida a pena de morte ser aplica-
da a delitos políticos e a delitos comuns, desde que conexos
1 B
com delitos políticos.
(B) Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integrida- 2 C
de física, psíquica e moral. 3 A
(C) As torturas e as penas cruéis, podem ser liberadas por
4 B
autoridades judiciárias.
(D) Os processados não precisam ficar separados dos conde- 5 C
nados, mas devem ser submetidos a tratamento adequado à 6 D
sua condição de pessoas não condenadas.
7 D
29. (Prefeitura de Barra dos Coqueiros/SE – Educador So- 8 ERRADO
cial - CESPE / CEBRASPE/2020) Entre os princípios da Política 9 B
Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê In-
tersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, instituídos 10 C
pelo Decreto n.º 7.053/2009, estão incluídos 11 E
(A) o direito à convivência familiar e comunitária bem como 12 E
a garantia de formação e capacitação permanente da popu-
lação de rua. 13 E
(B) a liberdade de pensamento e o pluralismo de ideias. 14 C
(C) a valorização e o respeito à vida e à cidadania bem como 15 C
o respeito à dignidade da pessoa humana.
(D) o atendimento humanizado e universalizado e a moradia 16 A
provisória. 17 A
(E) o direito a habilitação e reabilitação e a reestruturação 18 A
de serviços de acolhimento.
19 C
30. (AVAREPREV/SP – Assistente Social – VUNESP/2020) A 20 D
população em situação de rua não é um segmento homogêneo
21 B
na medida em que, cada vez mais, a rua é ocupada por indiví-
duos diversos e que trazem consigo histórias múltiplas e dife- 22 B
rentes formas de viver. De outra parte, a rua tem seu ritmo, sua 23 CERTO
constituição cultural, contextual e política e os processos envol-
24 ERRADO
vidos nessa situação são complexos e dinâmicos. A preocupação
com o enfrentamento da problemática que afeta a população 25 D
em situação de rua está presente nas várias políticas públicas 26 D
brasileiras, prevendo a construção de ações intersetoriais, aces-
27 A
so pleno aos direitos e a integralidade no atendimento a esse
segmento populacional. Trata-se de uma lógica de intervenção 28 B
social, que compreende os sujeitos 29 C
(A) como necessitados.
(B) na condição de apartados. 30 D
(C) como dependentes. 31 A
(D) na sua totalidade.
(E) potencialmente engajados.

31. (Prefeitura de Barra dos Coqueiros/SE – Educador So-


cial - CESPE / CEBRASPE/2020) No texto introdutório da Políti-
ca Nacional para a Inclusão Social da População em Situação de
Rua, apresentada à sociedade brasileira pelo governo federal em
2008, são mencionados alguns fatores que motivam a existência
de pessoas em situação de rua. Entre os fatores chamados estru-
turais incluem-se
(A) ausência de moradia e inexistência de trabalho e renda.
(B) ausência de moradia e rompimento dos vínculos fami-
liares.
(C) alcoolismo e mudanças econômicas e institucionais de
forte impacto social.
(D) drogadição e perda dos bens.
(E) enchentes, incêndios e inexistência de trabalho e renda.

41
DIREITOS HUMANOS

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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42
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. Sistema Operacional Windows 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Microsoft Word 2016: Edição e formatação de textos. LibreOffice Writer 7.1.6: Edição e formatação de textos. Microsoft Excel 2016:
Elaboração, cálculos e manipulação de tabelas e gráficos. LibreOffice Calc 7.1.6: Elaboração, cálculos e manipulação de tabelas e grá-
ficos. Microsoft PowerPoint 2016: estrutura básica de apresentações, edição e formatação. LibreOffice Impress 7.1.6: estrutura básica
de apresentações, edição e formatação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Microsoft Outlook 2016: Correio Eletrônico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4. Google Chrome 93.x ou superior: Navegação na Internet. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. Segurança: Tipos de vírus, Cavalos de Tróia, Malwares, Worms, Spyware, Phishing, Pharming, Ransomwares, Spam. . . . . . . . . . . . 26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Área de trabalho
SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS 10

Conceito de pastas e diretórios


Pasta algumas vezes é chamada de diretório, mas o nome “pas-
ta” ilustra melhor o conceito. Pastas servem para organizar, armaze-
nar e organizar os arquivos. Estes arquivos podem ser documentos
de forma geral (textos, fotos, vídeos, aplicativos diversos).
Lembrando sempre que o Windows possui uma pasta com o
nome do usuário onde são armazenados dados pessoais.
Dentro deste contexto temos uma hierarquia de pastas.

Área de transferência
A área de transferência é muito importante e funciona em se-
gundo plano. Ela funciona de forma temporária guardando vários
tipos de itens, tais como arquivos, informações etc.
– Quando executamos comandos como “Copiar” ou “Ctrl + C”,
estamos copiando dados para esta área intermediária.
– Quando executamos comandos como “Colar” ou “Ctrl + V”,
estamos colando, isto é, estamos pegando o que está gravado na
área de transferência.

No caso da figura acima temos quatro pastas e quatro arquivos. Manipulação de arquivos e pastas
A caminho mais rápido para acessar e manipular arquivos e
Arquivos e atalhos pastas e outros objetos é através do “Meu Computador”. Podemos
Como vimos anteriormente: pastas servem para organização, executar tarefas tais como: copiar, colar, mover arquivos, criar pas-
vimos que uma pasta pode conter outras pastas, arquivos e atalhos. tas, criar atalhos etc.
• Arquivo é um item único que contém um determinado dado.
Estes arquivos podem ser documentos de forma geral (textos, fotos,
vídeos e etc..), aplicativos diversos, etc.
• Atalho é um item que permite fácil acesso a uma determina-
da pasta ou arquivo propriamente dito.

1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Uso dos menus

• O recurso de backup e restauração do Windows é muito im-


portante pois pode ajudar na recuperação do sistema, ou até mes-
Programas e aplicativos e interação com o usuário mo escolher seus arquivos para serem salvos, tendo assim uma có-
Vamos separar esta interação do usuário por categoria para en- pia de segurança.
tendermos melhor as funções categorizadas.
– Música e Vídeo: Temos o Media Player como player nativo
para ouvir músicas e assistir vídeos. O Windows Media Player é uma
excelente experiência de entretenimento, nele pode-se administrar
bibliotecas de música, fotografia, vídeos no seu computador, copiar
CDs, criar playlists e etc., isso também é válido para o media center.

Inicialização e finalização

– Ferramentas do sistema Quando fizermos login no sistema, entraremos direto no Win-


• A limpeza de disco é uma ferramenta importante, pois o pró- dows, porém para desligá-lo devemos recorrer ao e:
prio Windows sugere arquivos inúteis e podemos simplesmente
confirmar sua exclusão.

• O desfragmentador de disco é uma ferramenta muito impor-


tante, pois conforme vamos utilizando o computador os arquivos
ficam internamente desorganizados, isto faz que o computador fi-
que lento. Utilizando o desfragmentador o Windows se reorganiza
internamente tornando o computador mais rápido e fazendo com
que o Windows acesse os arquivos com maior rapidez.

2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Iniciando um novo documento
MICROSOFT WORD 2016: EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE
TEXTOS. LIBREOFFICE WRITER 7.1.6 EDIÇÃO E FOR-
MATAÇÃO DE TEXTOS. MICROSOFT EXCEL 2016: ELA-
BORAÇÃO, CÁLCULOS E MANIPULAÇÃO DE TABELAS
E GRÁFICOS. LIBREOFFICE CALC 7.1.6: ELABORAÇÃO,
CÁLCULOS E MANIPULAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS.
MICROSOFT POWERPOINT 2016: ESTRUTURA BÁSICA
DE APRESENTAÇÕES, EDIÇÃO E FORMATAÇÃO. LIBRE-
OFFICE IMPRESS 7.1.6: ESTRUTURA BÁSICA DE APRE-
SENTAÇÕES, EDIÇÃO E FORMATAÇÃO

Microsoft Office

A partir deste botão retornamos para a área de trabalho do


Word, onde podemos digitar nossos textos e aplicar as formatações
desejadas.

• Alinhamentos
Ao digitar um texto, frequentemente temos que alinhá-lo para
atender às necessidades. Na tabela a seguir, verificamos os alinha-
mentos automáticos disponíveis na plataforma do Word.

GUIA PÁGINA TECLA DE


ALINHAMENTO
INICIAL ATALHO
Justificar (arruma a
direito e a esquerda de Ctrl + J
acordo com a margem
O Microsoft Office é um conjunto de aplicativos essenciais para
uso pessoal e comercial, ele conta com diversas ferramentas, mas Alinhamento à direita Ctrl + G
em geral são utilizadas e cobradas em provas o Editor de Textos –
Word, o Editor de Planilhas – Excel, e o Editor de Apresentações – Centralizar o texto Ctrl + E
PowerPoint. A seguir verificamos sua utilização mais comum:
Alinhamento à es-
Ctrl + Q
querda
Word
O Word é um editor de textos amplamente utilizado. Com ele
• Formatação de letras (Tipos e Tamanho)
podemos redigir cartas, comunicações, livros, apostilas, etc. Vamos
Presente em Fonte, na área de ferramentas no topo da área de
então apresentar suas principais funcionalidades.
trabalho, é neste menu que podemos formatar os aspectos básicos
de nosso texto. Bem como: tipo de fonte, tamanho (ou pontuação),
• Área de trabalho do Word
se será maiúscula ou minúscula e outros itens nos recursos auto-
Nesta área podemos digitar nosso texto e formata-lo de acordo
máticos.
com a necessidade.

GUIA PÁGINA INICIAL FUNÇÃO

Tipo de letra

Tamanho

Aumenta / diminui tamanho

Recursos automáticos de caixa-


-altas e baixas

3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Limpa a formatação

• Marcadores
Muitas vezes queremos organizar um texto em tópicos da se-
guinte forma:

Podemos então utilizar na página inicial os botões para operar


diferentes tipos de marcadores automáticos:
– Podemos também ter o intervalo A1..B3

• Outros Recursos interessantes:

GUIA ÍCONE FUNÇÃO


- Mudar
Forma
Página - Mudar cor
inicial de Fundo
- Mudar cor
do texto – Para inserirmos dados, basta posicionarmos o cursor na cé-
lula, selecionarmos e digitarmos. Assim se dá a iniciação básica de
- Inserir uma planilha.
Tabelas
Inserir
- Inserir • Formatação células
Imagens

Verificação e
Revisão correção ortográ-
fica

Arquivo Salvar

Excel
O Excel é um editor que permite a criação de tabelas para cál-
culos automáticos, análise de dados, gráficos, totais automáticos,
dentre outras funcionalidades importantes, que fazem parte do dia
a dia do uso pessoal e empresarial.
São exemplos de planilhas:
– Planilha de vendas;
– Planilha de custos.

Desta forma ao inserirmos dados, os valores são calculados au-


tomaticamente. • Fórmulas básicas

• Mas como é uma planilha de cálculo? ADIÇÃO =SOMA(célulaX;célulaY)


– Quando inseridos em alguma célula da planilha, os dados são
calculados automaticamente mediante a aplicação de fórmulas es- SUBTRAÇÃO =(célulaX-célulaY)
pecíficas do aplicativo. MULTIPLICAÇÃO =(célulaX*célulaY)
– A unidade central do Excel nada mais é que o cruzamento
DIVISÃO =(célulaX/célulaY)
entre a linha e a coluna. No exemplo coluna A, linha 2 ( A2 )

4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Fórmulas de comum interesse Especificamente sobre o PowerPoint, um recurso amplamente
utilizado a guia Design. Nela podemos escolher temas que mudam
MÉDIA (em um interva- a aparência básica de nossos slides, melhorando a experiência no
=MEDIA(célula X:célulaY) trabalho com o programa.
lo de células)
MÁXIMA (em um inter-
=MAX(célula X:célulaY)
valo de células)
MÍNIMA (em um inter-
=MIN(célula X:célulaY)
valo de células)

PowerPoint
O PowerPoint é um editor que permite a criação de apresenta-
ções personalizadas para os mais diversos fins. Existem uma série
de recursos avançados para a formatação das apresentações, aqui
veremos os princípios para a utilização do aplicativo.

• Área de Trabalho do PowerPoint

Com o primeiro slide pronto basta duplicá-lo, obtendo vários


no mesmo formato. Assim liberamos uma série de miniaturas, pe-
las quais podemos navegador, alternando entre áreas de trabalho.
A edição em cada uma delas, é feita da mesma maneira, como já
apresentado anteriormente.

Nesta tela já podemos aproveitar a área interna para escre-


ver conteúdos, redimensionar, mover as áreas delimitadas ou até
mesmo excluí-las. No exemplo a seguir, perceba que já movemos as
caixas, colocando um título na superior e um texto na caixa inferior,
também alinhamos cada caixa para ajustá-las melhor.

Percebemos agora que temos uma apresentação com quatro


slides padronizados, bastando agora editá-lo com os textos que se
fizerem necessários. Além de copiar podemos mover cada slide de
Perceba que a formatação dos textos é padronizada. O mesmo uma posição para outra utilizando o mouse.
tipo de padrão é encontrado para utilizarmos entre o PowerPoint, As Transições são recursos de apresentação bastante utilizados
o Word e o Excel, o que faz deles programas bastante parecidos, no PowerPoint. Servem para criar breves animações automáticas
no que diz respeito à formatação básica de textos. Confira no tópi- para passagem entre elementos das apresentações.
co referente ao Word, itens de formatação básica de texto como:
alinhamentos, tipos e tamanhos de letras, guias de marcadores e
recursos gerais.

5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Estão disponíveis também o recurso de edição colaborativa
de apresentações.

Office 2016
O Office 2016 foi um sistema concebido para trabalhar junta-
mente com o Windows 10. A grande novidade foi o recurso que
permite que várias pessoas trabalhem simultaneamente em um
mesmo projeto. Além disso, tivemos a integração com outras fer-
ramentas, tais como Skype. O pacote Office 2016 também roda em
smartfones de forma geral.

Tendo passado pelos aspectos básicos da criação de uma apre- • Atualizações no Word
sentação, e tendo a nossa pronta, podemos apresentá-la bastando – No Word 2016 vários usuários podem trabalhar ao mesmo
clicar no ícone correspondente no canto inferior direito. tempo, a edição colaborativa já está presente em outros produtos,
mas no Word agora é real, de modo que é possível até acompanhar
quando outro usuário está digitando;
– Integração à nuvem da Microsoft, onde se pode acessar os
documentos em tablets e smartfones;
– É possível interagir diretamente com o Bing (mecanismo de
pesquisa da Microsoft, semelhante ao Google), para utilizar a pes-
quisa inteligente;
– É possível escrever equações como o mouse, caneta de to-
que, ou com o dedo em dispositivos touchscreen, facilitando assim
a digitação de equações.
Um último recurso para chamarmos atenção é a possibilidade
de acrescentar efeitos sonoros e interativos às apresentações, le- • Atualizações no Excel
vando a experiência dos usuários a outro nível. – O Excel do Office 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
riores, mas agora com uma maior integração com dispositivos mó-
Office 2013 veis, além de ter aumentado o número de gráficos e melhorado a
A grande novidade do Office 2013 foi o recurso para explorar questão do compartilhamento dos arquivos.
a navegação sensível ao toque (TouchScreen), que está disponível
nas versões 32 e 64. Em equipamentos com telas sensíveis ao toque • Atualizações no PowerPoint
(TouchScreen) pode-se explorar este recurso, mas em equipamen- – O PowerPoint 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
tos com telas simples funciona normalmente. riores, agora com uma maior integração com dispositivos moveis,
O Office 2013 conta com uma grande integração com a nuvem, além de ter aumentado o número de templates melhorado a ques-
desta forma documentos, configurações pessoais e aplicativos po- tão do compartilhamento dos arquivos;
dem ser gravados no Skydrive, permitindo acesso através de smar- – O PowerPoint 2016 também permite a inserção de objetos
tfones diversos. 3D na apresentação.

• Atualizações no Word Office 2019


– O visual foi totalmente aprimorado para permitir usuários O OFFICE 2019 manteve a mesma linha da Microsoft, não hou-
trabalhar com o toque na tela (TouchScreen); ve uma mudança tão significativa. Agora temos mais modelos em
– As imagens podem ser editadas dentro do documento; 3D, todos os aplicativos estão integrados como dispositivos sensí-
– O modo leitura foi aprimorado de modo que textos extensos veis ao toque, o que permite que se faça destaque em documentos.
agora ficam disponíveis em colunas, em caso de pausa na leitura;
– Pode-se iniciar do mesmo ponto parado anteriormente;
– Podemos visualizar vídeos dentro do documento, bem como
editar PDF(s).

• Atualizações no Excel
– Além de ter uma navegação simplificada, um novo conjunto
de gráficos e tabelas dinâmicas estão disponíveis, dando ao usuário
melhores formas de apresentar dados.
– Também está totalmente integrado à nuvem Microsoft.

• Atualizações no PowerPoint
– O visual teve melhorias significativas, o PowerPoint do Offi-
ce2013 tem um grande número de templates para uso de criação
de apresentações profissionais;
– O recurso de uso de múltiplos monitores foi aprimorado;
– Um recurso de zoom de slide foi incorporado, permitindo o
destaque de uma determinada área durante a apresentação;
– No modo apresentador é possível visualizar o próximo slide
antecipadamente;

6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Atualizações no Word
– Houve o acréscimo de ícones, permitindo assim um melhor
desenvolvimento de documentos;

• Atualizações no PowerPoint
– Foram adicionadas a ferramenta transformar e a ferramenta
de zoom facilitando assim o desenvolvimento de apresentações;
– Inclusão de imagens 3D na apresentação.

– Outro recurso que foi implementado foi o “Ler em voz alta”.


Ao clicar no botão o Word vai ler o texto para você.

• Atualizações no Excel
– Foram adicionadas novas fórmulas e gráficos. Tendo como
destaque o gráfico de mapas que permite criar uma visualização de
algum mapa que deseja construir.

Office 365
O Office 365 é uma versão que funciona como uma assinatura
semelhante ao Netflix e Spotif. Desta forma não se faz necessário
sua instalação, basta ter uma conexão com a internet e utilizar o
Word, Excel e PowerPoint.

Observações importantes:
– Ele é o mais atualizado dos OFFICE(s), portanto todas as me-
lhorias citadas constam nele;
– Sua atualização é frequente, pois a própria Microsoft é res-
ponsável por isso;
– No nosso caso o Word, Excel e PowerPoint estão sempre atu-
alizados.

7
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
LibreOffice

O LibreOffice é uma suíte de escritório livre compatível com os principais pacotes de escritório do mercado. O pacote oferece todas
as funções esperadas de uma suíte profissional: editor de textos, planilha, apresentação, editor de desenhos e banco de dados1. Ele é uma
das mais populares suítes de escritório multiplataforma e de código aberto.

O LibreOffice é um pacote de escritório assim como o MS Office2. Embora seja um software livre, pode ser instalado em vários sistemas
operacionais, como o MS Windows, Mac OS X, Linux e Unix. Ao longo dos anos, passou por várias modificações em seu projeto, mudando
até mesmo de nome, mas mantendo os mesmos aplicativos.

Aplicativos do LibreOffice
Writer: editor de textos.
Exatensão: .odt
Calc: planilhas eletrônicas.
Extensão: .ods
Impress: apresentação de slides.
Extensão: .odp
Draw: edição gráfica de imagens e figuras.
Extensão: .odg
Base: Banco de dados.
Extensão: .odb
Math: fórmulas matemáticas.
Extensão: .odf

ODF (Open Document Format)


Os arquivos do LibreOffice são arquivos de formato aberto e, por isso, pertencem à família de documentos abertos ODF, ou seja, ODF
não é uma extensão, mas sim, uma família de documentos estruturada internamente pela linguagem XML.

LibreOffice Writer
Writer é o editor de textos do LibreOffice. Além dos recursos usuais de um processador de textos (verificação ortográfica, dicionário
de sinônimos, hifenização, autocorreção, localizar e substituir, geração automática de sumários e índices, mala direta e outros), o Writer
fornece importantes características:
- Modelos e estilos;
- Métodos de layout de página, incluindo quadros, colunas e tabelas;
- Incorporação ou vinculação de gráficos, planilhas e outros objetos;
- Ferramentas de desenho incluídas;
- Documentos mestre para agrupar uma coleção de documentos em um único documento;
- Controle de alterações durante as revisões;
- Integração de banco de dados, incluindo bancos de dados bibliográficos;
- Exportação para PDF, incluindo marcadores.

1 https://www.edivaldobrito.com.br/libreoffice-6-0/
2 FRANCESCHINI, M. LibreOffice – Parte I.

8
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Principais Barras de Ferramentas

– Barra de Títulos: exibe o nome do documento. Se o usuário não fornecer nome algum, o Writer sugere o nome Sem título 1.
– Barra de Menu: dá acesso a todas as funcionalidades do Writer, categorizando por temas de funcionalidades.
– Barra de ferramentas padrão: está presente em todos os aplicativos do LibreOffice e é igual para todos eles, por isso tem esse nome
“padrão”.
– Barra de ferramentas de formatação: essa barra apresenta as principais funcionalidades de formatação de fonte e parágrafo.
– Barra de Status: oferece informações sobre o documento e atalhos convenientes para rapidamente alterar alguns recursos.

Principais Menus
Os menus organizam o acesso às funcionalidades do aplicativo. Eles são praticamente os mesmos em todos os aplicativos, mas suas
funcionalidades variam de um para outro.

Arquivo
Esse menu trabalha com as funcionalidades de arquivo, tais como:
– Novo: essa funcionalidade cria um novo arquivo do Writer ou de qualquer outro dos aplicativos do LibreOffice;
– Abrir: abre um arquivo do disco local ou removível ou da rede local existente do Writer;
– Abrir Arquivo Remoto: abre um arquivo existente da nuvem, sincronizando todas as alterações remotamente;
– Salvar: salva as alterações do arquivo local desde o último salvamento;
– Salvar Arquivo Remoto: sincroniza as últimas alterações não salvas no arquivo lá na nuvem;
– Salvar como: cria uma cópia do arquivo atual com as alterações realizadas desde o último salvamento;

Para salvar um documento como um arquivo Microsoft Word4:


1. Primeiro salve o documento no formato de arquivo usado pelo LibreOffice (.odt).
Sem isso, qualquer mudança que se tenha feito desde a última vez em que se salvou o documento, somente aparecerá na versão
Microsoft Word do documento.
2. Então escolha Arquivo → Salvar como. No menu Salvar como.
3. No menu da lista suspensa Tipo de arquivo (ou Salvar como tipo), selecione o tipo de formato Word que se precisa. Clique em Salvar.
A partir deste ponto, todas as alterações realizadas se aplicarão somente ao documento
Microsoft Word. Desde feito, a alterado o nome do documento. Se desejar voltar a trabalhar com a versão LibreOffice do documento,
deverá voltar a abri-lo.

3 https://bit.ly/3jRIUme
4 http://coral.ufsm.br/unitilince/images/Tutoriais/manual_libreoffice.pdf

9
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Navegador: permite navegar nos vários objetos existentes no
documento, como tabelas, links, notas de rodapé, imagens etc.

(F5);

– Galeria: exibe imagens e figuras que podem ser inseridas no


documento;
– Tela Inteira: suprime as barras de ferramenta e menus (CTR-
L+SHIFT+J).

Inserir
Nesse menu, é possível inserir inúmeros objetos ao texto, tais
como:
– Quebra de página: insere uma quebra de página e o cursor é
posicionado no início da próxima página a partir daquele ponto em
que a quebra foi inserida;
– Quebra manual: permite inserir uma quebra de linha, de co-
luna e de página;
– Figura: insere uma imagem de um arquivo;
Salvando um arquivo no formato Microsoft Word. – Multimídia: insere uma imagem da galeria LibreOffice, uma
imagem digitalizada de um scanner ou vídeo;
– Exportar como PDF: exporta o arquivo atual no formato PDF. – Gráfico: cria um gráfico do Calc, com planilha de dados em-
Permite definir restrições de edição, inclusive com senha; butida no Writer;
– Enviar: permite enviar o arquivo atual por e-mail no formato. – Objeto: insere vários tipos de arquivos, como do Impress e do
odt,.docx,.pdf. Também permite compartilhar o arquivo por blue- Calc dentre outros;
tooth; – Forma: cria uma forma geométrica, tipo círculo, retângulo,
– Imprimir: permite imprimir o documento em uma impresso- losango etc.;
ra local ou da rede; – Caixa de Texto: insere uma caixa de texto ao documento;
– Assinaturas digitais: assina digitalmente o documento, ga- – Anotação: insere comentários em balões laterais;
rantindo sua integridade e autenticidade. Qualquer alteração no – Hiperlink: insere hiperlink ou link para um endereço da in-
documento assinado viola a assinatura, sendo necessário assinar ternet ou um servidor FTP, para um endereço de e-mail, para um
novamente. documento existente ou para um novo documento (CTRL+K);
– Indicador: insere um marcador ao documento para rápida
Editar localização posteriormente;
Esse menu possui funcionalidades de edição de conteúdo, tais – Seção: insere uma quebra de seção, dividindo o documento
como: em partes separadas com formatações independentes;
– Desfazer: desfaz a(s) última(s) ação(ões); – Referências: insere referência a indicadores, capítulos, títu-
– Refazer: refaz a última ação desfeita; los, parágrafos numerados do documento atual;
– Repetir: repete a última ação; – Caractere Especial: insere aqueles caracteres que você não
– Copiar: copia o item selecionado para a área de transferência; encontra no teclado do computador, tais como ©, ≥, ∞;
– Recortar: recorta ou move o item selecionado para a área de – Número de Página: insere numeração nas páginas na posição
transferência; atual do cursor;
– Colar: cola o item da área de transferência; – Campo: insere campos de numeração de página, data, hora,
– Colar Especial: cola o item da área de transferência permitin- título, autor, assunto;
do escolher o formado de destino do conteúdo colado; – Cabeçalho e Rodapé: insere cabeçalho e rodapé ao docu-
– Selecionar Tudo: seleciona todo o documento; mento;
– Localizar: localiza um termo no documento;
– Localizar e Substituir: localiza e substitui um termo do docu-
mento por outro fornecido;
– Ir para a página: permite navegar para uma página do docu-
mento.

Exibir
Esse outro menu define as várias formas que o documento é
exibido na tela do computador. Principais funcionalidades:
– Normal: modo de exibição padrão como o documento será
exibido em uma página;
– Web: exibe o documento como se fosse uma página web
num navegador;
– Marcas de Formatação: exibe os caracteres não imprimíveis,
como os de quebra de linha, de parágrafo, de seção, tabulação e es-
paço. Tais caracteres são exibidos apenas na tela, não são impressas
no papel (CTRL+F10);

10
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Formatar
Esse menu trabalha com a formatação de fonte, parágrafo, página, formas e figuras;
– Texto: formata a fonte do texto;
Pode-se aplicar vários formatos de caracteres usando os botões da barra de ferramentas Formatação.

Barra de Formatação, mostrando ícones para formatação de caracteres.

– Espaçamento: formata o espaçamento entre as linhas, entre os parágrafos e também o recuo do parágrafo. A
– Alinhar: alinha o parágrafo uniformemente em relação às margens.
Pode-se aplicar vários formatos para parágrafos usando os botões na barra de ferramentas Formatação.

Ícones para formatação de parágrafos.

– Listas: transforma os parágrafos em estrutura de tópicos com marcadores ou numeração.


– Clonar Formatação: essa ferramenta é chamada de “pincel de formatação” no MS Word e faz a mesma função, ou seja, clona a
formatação de um item selecionado e a aplica a outro ;

– Limpar Formatação Direta: limpa a formatação do texto selecionado, deixando a formatação original do modelo do documento;
Nessa janela, é possível formatar o tipo de fonte, o estilo de formatação (negrito, itálico, regular), o efeito de formatação (tachado, su-
blinhado, sombra etc.), a posição do texto (sobrescrito, subscrito, rotação, espaçamento entre as letras do texto), inserir hiperlink, aplicar
realce (cor de fundo do texto) e bordas;
– Caractere...: diferentemente do MS Word, o Write chama a fonte de caractere.
Nessa janela, é possível formatar o tipo de fonte, o estilo de formatação (negrito, itálico, regular), o efeito de formatação (tachado, su-
blinhado, sombra etc.), a posição do texto (sobrescrito, subscrito, rotação, espaçamento entre as letras do texto), inserir hiperlink, aplicar
realce (cor de fundo do texto) e bordas;
– Parágrafo...: abre a caixa de diálogo de formatação de parágrafo.
– Marcadores e Numeração: abre a caixa de diálogo de formatação de marcadores e de numeração numa mesma janela. Perceba
que a mesma função de formatação já foi vista por meio dos botões de formatação. Essa mesma formatação é encontrada aqui na caixa
de diálogo de marcadores e numeração;
– Página...: abre a caixa de diálogo de formatação de páginas. Aqui, encontramos a orientação do papel, que é se o papel é horizontal
(paisagem) ou vertical (retrato);
– Figura: formata figuras inseridas ao texto;
– Caixa de Texto e Forma: formata caixas de texto e formas inseridas no documento;
– Disposição do Texto: define a disposição que os objetos como imagens, formas e figuras ficarão em relação ao texto.
– Estilos: esse menu trabalha com estilos do texto. Estilos são o conjunto de formatação de fonte, parágrafo, bordas, alinhamento,
numeração e marcadores aplicados em conjunto. Existem estilos predefinidos, mas é possível também criar estilos e nomeá-los. Também
é possível editar os estilos existentes. Os estilos são usados na criação dos sumários automáticos.

11
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Tabelas CTRL+Q: fechar o aplicativo Writer.
Esse menu trabalha com tabelas. As tabelas são inseridas por CTRL+R: alinhar à direita (right).
aqui, no menu Tabelas. As seguintes funcionalidades são encontra- CTRL+S: salvar o documento (save).
das nesse menu: CTRL+T: sem ação.
– Inserir Tabela: insere uma tabela ao texto; CTRL+U: sublinhar.
– Inserir: insere linha, coluna e célula à tabela existente; CTRL+V: colar.
– Excluir: exclui linha, coluna e tabela; CTRL+X: recortar.
– Selecionar: seleciona célula, linha, coluna e tabela; CTRL+W: fechar o arquivo.
– Mesclar: mescla as células adjacentes de uma tabela, trans- CTRL+Y: refazer última ação.
formando-as em uma única tabela. Atenção! O conteúdo de todas CTRL+Z: desfazer última ação.
as células é preservado;
– Converter: converte texto em tabela ou tabela em texto; LibreOffice Calc
– Fórmulas: insere fórmulas matemáticas na célula da tabela, O Calc é o aplicativo de planilhas eletrônicas do LibreOffice. As-
tais como soma, multiplicação, média, contagem etc. sim como o MS Excel, ele trabalha com células e fórmulas.
Outras funcionalidades oferecidas pelo Calc incluem5:
Ferramentas – Funções, que podem ser utilizadas para criar fórmulas para
Esse menu trabalha com diversas ferramentas, tais como: executar cálculos complexos;
– Ortografia e Gramática: essa ferramenta aciona o corretor – Funções de banco de dados, para organizar, armazenas e fil-
ortográfico para fazer a verificação de ocorrências de erros em todo trar dados;
o documento. Ela corrige por alguma sugestão do dicionário, permi- – Gráficos dinâmicos; um grande número de opções de gráficos
te inserir novos termos ao dicionário ou apenas ignora as ocorrên- em 2D e 3D;
cias daquele erro (F7); – Macros, para a gravação e execução de tarefas repetitivas; as
linguagens de script suportadas incluem LibreOffice Basic, Python,
– Verificação Ortográfica Automática: marca automaticamen- BeanShell, e JavaScript;
te com um sublinhado ondulado vermelho as palavras que possuem – Capacidade de abrir, editar e salvar planilhas no formato Mi-
erros ortográficos ou que não pertencem ao dicionário (SHIF- crosoft Excel;
T+F7); – Importação e exportação de planilhas em vários formatos,
incluindo HTML, CSV, PDF e PostScript.
– Dicionário de Sinônimos: apresenta sinônimos e antônimos
da palavra selecionada; Planilhas e células
– Idioma: define o idioma do corretor ortográfico; O Calc trabalha como elementos chamados de planilhas. Um
– Contagem de palavras: faz uma estatística do documento, arquivo de planilha consiste em várias planilhas individuais, cada
contando a quantidade de caracteres, palavras, linhas, parágrafos uma delas contendo células em linhas e colunas. Uma célula parti-
e páginas; cular é identificada pela letra da sua coluna e pelo número da sua
– Autocorreção: substitui automaticamente uma palavra ou linha.
termo do texto por outra. O usuário define quais termos serão subs- As células guardam elementos individuais – texto, números,
tituídos; fórmulas, e assim por diante – que mascaram os dados que exibem
– Autotexto: insere automaticamente um texto por meio de e manipulam.
atalhos, por exemplo, um tipo de saudação ou finalização do do- Cada arquivo de planilha pode ter muitas planilhas, e cada uma
cumento; delas pode conter muitas células individuais. No Calc, cada planilha
pode conter um máximo de 1.048.576 linhas e 1024 colunas.
– Mala Direta: cria uma mala direta, que é uma correspondên-
cia endereçada a vários destinatários. É formada por uma corres-
pondência (carta, mensagem de e-mail, envelope ou etiqueta) e
por uma lista de destinatários (tabela, planilha, banco de dados ou
catálogo de endereços contendo os dados dos destinatários).

Principais teclas de atalho


CTRL+A: selecionar todo o documento (all).
CTR+B: negritar (bold).
CTRL+C: copiar.
CTRL+D: sublinhar.
CTRL+E: centralizar alinhamento.
CTRL+F: localizar texto (find).
CTRL+G: sem ação.
CTRL+H: localizar e substituir.
CTRL+I: itálico.
CTRL+J: justificar.
CTRL+K: adicionar hiperlink.
CTRL+L: alinhar à esquerda (left).
CTRL+M: limpar formatação.
CTRL+N: novo documento (new).
5 WEBER, J. H., SCHOFIELD, P., MICHEL, D., RUSSMAN, H., JR, R. F., SA-
CTRL+ O: abrir documento existente (open).
FFRON, M., SMITH, J. A. Introdução ao Calc. Planilhas de Cálculo no Li-
CTRL+P: imprimir (print).
breOffice

12
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Janela principal
Quando o Calc é aberto, a janela principal abre. As partes dessa janela estão descritas a seguir.

Janela principal do Calc e suas partes, sem a Barra lateral.

Principais Botões de Comandos

Assistente de Função: auxilia o usuário na criação de uma função. Organiza as funções por categoria.

Autossoma: insere a função soma automaticamente na célula.

Formatação de porcentagem: multiplica o número por 100 e coloca o sinal de porcentagem ao final dele.

Formatação de número: separa os milhares e acrescenta casas decimais (CTRL+SHIFT+1).

Formatação de data: formata a célula em formato de data (CTRL+SHIFT+3).

Adiciona casas decimais.

Diminui casas decimais.

Filtro: exibe apenas as linhas que satisfazem o critério do filtro da coluna.

Insere gráfico para ilustrar o comportamento dos dados tabulados.

Ordena as linhas em ordem crescente ou decrescente. Pode ser aplicada em várias colunas.

Mesclar e centralizar células: transforma duas ou mais células adjacentes em uma única célula.

Alinhar em cima: alinha o conteúdo da célula na parte superior dela.

Centralizar verticalmente: alinha o conteúdo da célula ao centro verticalmente.

13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Alinhar embaixo: alinha o conteúdo da célula na parte inferior dela.

Congelar linhas e colunas: fixa a exibição da primeira linha ou da primeira coluna ou ainda permite congelar as linhas
acima e as colunas à esquerda da célula selecionada. Não é proteção de células, pois o conteúdo das mesmas ainda pode ser
alterado.

Insere linha acima da linha atual.

Insere linha abaixo da linha atual.

Exclui linhas selecionadas.

Insere coluna à esquerda.

Insere coluna à direita.

Exclui colunas selecionadas.

Barra de título
A barra de título, localizada no alto da tela, mostra o nome da planilha atual. Quando a planilha for recém-criada, seu nome é Sem
título X, onde X é um número. Quando a planilha é salva pela primeira vez, você é solicitado a dar um nome de sua escolha.

Barra de Menu
A Barra de menu é onde você seleciona um dos menus e aparecem vários submenus com mais opções.
– Arquivo: contém os comandos que se aplicam a todo o documento, como Abrir, Salvar, Assistentes, Exportar como PDF, Imprimir,
Assinaturas Digitais e assim por diante.
– Editar: contém os comandos para a edição do documento, tais como Desfazer, Copiar, Registrar alterações, Preencher, Plug-in e
assim por diante.
– Exibir: contém comandos para modificar a aparência da interface do usuário no Calc, por exemplo Barra de ferramentas, Cabeçalhos
de linhas e colunas, Tela Inteira, Zoom e assim por diante.
– Inserir: contém comandos para inserção de elementos em uma planilha; por exemplo, Células, Linhas, Colunas, Planilha, Figuras e
assim por diante.

Inserir novas planilhas


Clique no ícone Adicionar planilha para inserir uma nova planilha após a última sem abrir a caixa de diálogo Inserir planilha. Os se-
guintes métodos abrem a caixa de diálogo Inserir planilha onde é possível posicionar a nova planilha, criar mais que uma planilha, definir
o nome da nova planilha, ou selecionar a planilha de um arquivo.
– Selecione a planilha onde deseja inserir uma nova e vá no menu Inserir > Planilha; ou
– Clique com o botão direito do mouse na aba da planilha onde você deseja inserir uma nova e selecione Inserir planilha no menu de
contexto; ou
– Clique no espaço vazio no final das abas das planilhas; ou
– Clique com o botão direito do mouse no espaço vazio no final das abas das planilhas e selecione Inserir planilha no menu de con-
texto.

14
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Caixa de diálogo Inserir planilha.

– Formatar: contém comandos para modificar o leiaute de uma planilha; por exemplo,
Células, Página, Estilos e formatação, Alinhamento e assim por diante.
– Ferramentas: contém várias funções que auxiliam a verificar e personalizar a planilha, por exemplo, Ortografia, Compartilhar docu-
mento, Macros e assim por diante.
– Dados: contém comandos para manipulação de dados em sua planilha; por exemplo, Definir intervalo, Selecionar intervalo, Classi-
ficar, Consolidar e assim por diante.
– Janela: contém comandos para exibição da janela; por exemplo, Nova janela, Dividir e assim por diante.
– Ajuda: contém links para o sistema de ajuda incluído com o software e outras funções; por exemplo, Ajuda do LibreOffice, Informa-
ções da licença, Verificar por atualizações e assim por diante.

Barra de ferramentas
A configuração padrão, ao abrir o Calc, exibe as barras de ferramentas Padrão e Formatação encaixadas no topo do espaço de trabalho.
Barras de ferramentas do Calc também podem ser encaixadas e fixadas no lugar, ou flutuante, permitindo que você mova para a po-
sição mais conveniente em seu espaço de trabalho.

Barra de fórmulas
A Barra de fórmulas está localizada no topo da planilha no Calc. A Barra de fórmulas está encaixada permanentemente nesta posição
e não pode ser usada como uma barra flutuante. Se a Barra de fórmulas não estiver visível, vá para Exibir no Menu e selecione Barra de
fórmulas.

Barra de fórmulas.

Indo da esquerda para a direita, a Barra de Fórmulas consiste do seguinte:


– Caixa de Nome: mostra a célula ativa através de uma referência formada pela combinação de letras e números, por exemplo, A1. A
letra indica a coluna e o número indica a linha da célula selecionada.

– Assistente de funções : abre uma caixa de diálogo, na qual você pode realizar uma busca através da lista de funções disponí-
veis. Isto pode ser muito útil porque também mostra como as funções são formadas.

– Soma : clicando no ícone Soma, totaliza os números nas células acima da célula e então coloca o total na célula selecionada. Se
não houver números acima da célula selecionada, a soma será feita pelos valores das células à esquerda.

– Função : clicar no ícone Função insere um sinal de (=) na célula selecionada, de maneira que seja inserida uma fórmula na Linha
de entrada.

– Linha de entrada: exibe o conteúdo da célula selecionada (dados, fórmula, ou função) e permite que você edite o conteúdo da célu-
la. Você pode editar o conteúdo da célula diretamente, clicando duas vezes nela. Quando você digita novos dados numa célula, os ícones
de Soma e de Função mudam para os botões Cancelar e Aceitar .

15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Operadores aritméticos

Operadores aritméticos.

Operadores aritméticos.

Operadores comparativos

Operadores comparativos.

• Principais fórmulas
=HOJE(): insere a data atual do sistema operacional na célula. Essa data sempre será atualizada toda vez que o arquivo for aberto.
Existe uma tecla de atalho que também insere a data atual do sistema, mas não como função, apenas a data como se fosse digitada pelo
usuário. Essa tecla de atalho é CTRL+;.
=AGORA(): insere a data e a hora atuais do sistema operacional. Veja como é seu resultado após digitada na célula.

=SOMA(): apenas soma os argumentos que estão dentro dos parênteses.


=POTÊNCIA(): essa função é uma potência, que eleva o primeiro argumento, que é a base, ao segundo argumento, que é o expoente.
=MÁXIMO(): essa função escolhe o maior valor do argumento.
=MÍNIMO(): essa função faz exatamente o contrário da anterior, ou seja, escolhe o menor valor do argumento.
=MÉDIA(): essa função calcula a média aritmética ou média simples do argumento, que é a soma dos valores dividida pela sua quan-
tidade.
Atenção! Essa função será sempre a média aritmética. Essa função considera apenas valores numéricos e não vazios.
=CONT.SE(): essa função é formada por dois argumentos: o primeiro é o intervalo de células que serão consideradas na operação; o
segundo é o critério.
=SE(): essa função testa valores, permitindo escolher um dentre dois valores possíveis. A sua estrutura é a seguinte:

A condição é uma expressão lógica e dá como resultado VERDADEIRO ou FALSO. O resultado1 é escolhido se a condição for verdadeira;
o resultado2 é escolhido se a condição for falsa. Os resultados podem ser: “texto” (entre aspas sempre), número, célula (não pode inter-
valo, apenas uma única célula), fórmula.
A melhor forma de ler essa função é a seguinte: substitua o primeiro “;” por “Então” e o segundo “;” por “Senão”. Fica assim: se a
condição for VERDADEIRA, ENTÃO escolha resultado1; SENÃO escolha resultado2.

16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
=PROCV(): a função PROCV serve para procurar valores em um intervalo vertical de uma matriz e devolve para o usuário um valor de
outra coluna dessa mesma matriz, mas da mesma linha do valor encontrado.

Essa é a estrutura do PROCV, na qual “valor” é o valor usado na pesquisa; “matriz” é todo o conjunto de células envolvidas; “coluna_re-
sultado” é o número da coluna dessa matriz onde o resultado se encontra; “valor_aproximado” diz se a comparação do valor da pesquisa
será apenas aproximada ou terá que ser exatamente igual ao procurado. O valor usado na pesquisa tem que estar na primeira coluna da
matriz, sempre! Ou seja, ela procurará o valor pesquisado na primeira coluna da matriz.

Entendendo funções
Calc inclui mais de 350 funções para analisar e referenciar dados6. Muitas destas funções são para usar com números, mas muitos
outros são usados com datas e hora, ou até mesmo texto.
Uma função pode ser tão simples quanto adicionar dois números, ou encontrar a média de uma lista de números. Alternativamente,
pode ser tão complexo como o cálculo do desvio-padrão de uma amostra, ou a tangente hiperbólica de um número.
Algumas funções básicas são semelhantes aos operadores. Exemplos:
+ Este operador adiciona dois números juntos para um resultado. SOMA(), por outro lado adiciona grupos de intervalos contíguos de
números juntos.
* Este operador multiplica dois números juntos para um resultado. MULT() faz o mesmo para multiplicar que SOMA() faz para adicionar

Estrutura de funções
Todas as funções têm uma estrutura similar.
A estrutura de uma função para encontrar células que correspondam a entrada de critérios é:
=BDCONTAR(Base_de_dados;Campo_de_Base_de_dados;CritériosdeProcura)
Uma vez que uma função não pode existir por conta própria, deve sempre fazer parte de uma fórmula. Consequentemente, mesmo
que a função represente a fórmula inteira, deve haver um sinal = no começo da fórmula. Independentemente de onde na fórmula está a
função, a função começará com seu nome, como BDCONTAR no exemplo acima. Após o nome da função vem os seus argumentos. Todos
os argumentos são necessários, a menos que especificados como opcional. Argumentos são adicionados dentro de parênteses e são sepa-
rados por ponto e vírgula, sem espaço entre os argumentos e o ponto e vírgula.

LibreOffice Impress
O Impress é o aplicativo de apresentação de slides do LibreOffice. Com ele é possível criar slides que contenham vários elementos
diferentes, incluindo texto, listas com marcadores e numeração, tabelas, gráficos e uma vasta gama de objetos gráficos tais como clipart,
desenhos e fotografias7.
O Impress também é compatível com o MS PowerPoint, permitindo criar, abrir, editar e salvar arquivos no formato.PPTX.

Janela principal do Impress


A janela principal do Impress tem três partes: o Painel de slides, Área de trabalho, e Painel lateral. Além disso, várias barras de ferra-
mentas podem ser exibidas ou ocultas durante a criação de uma apresentação.

6 Duprey, B.; Silva, R. P.; Parker, H.; Vigliazzi, D. Douglas. Guia do Calc, Capítulo 7. Usando Formulas e Funções.
7 SCHOFIELD, P.; WEBER, J. H.; RUSSMAN, H.; O’BRIEN, K.; JR, R. F. Introdução ao Impress. Apresentação no LibreOffice

17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Área de trabalho
A Área de trabalho (normalmente no centro da janela principal) tem cinco abas: Normal, Estrutura de tópicos, Notas, Folheto e Clas-
sificador de slides. Estas cinco abas são chamadas de botões de visualização A área de trabalho abaixo da visualização de botões muda
dependendo da visualização escolhida. Os pontos de vista de espaço de trabalho são descritos em “Visualização da Área de trabalho”’.

Janela principal do Impress; ovais indicam os marcadores Ocultar/Exibir.

Painel de slides
O Painel de slides contém imagens em miniaturas dos slides em sua apresentação, na ordem em que serão mostradas, a menos que
você altere a ordem de apresentação de slides. Clicando em um slide neste painel, este é selecionado e colocado na Área e trabalho. Quan-
do um slide está na Área de trabalho, você pode fazer alterações nele.
Várias operações adicionais podem ser realizadas em um ou mais slides simultaneamente no Painel de slides:
– Adicionar novos slides para a apresentação.
– Marcar um slide como oculto para que ele não seja exibido como parte da apresentação.
– Excluir um slide da apresentação se ele não for mais necessário.
– Renomear um slide.
– Duplicar um slide (copiar e colar)

Também é possível realizar as seguintes operações, embora existam métodos mais eficientes do que usar o Painel de slides:
– Alterar a transição de slides seguindo o slide selecionado ou após cada slide em um grupo de slides.
– Alterar o design de slide.

Barra lateral
O Barra lateral tem cinco seções. Para expandir uma seção que você deseja usar, clique no ícone ou clique no pequeno triângulo na
parte superior dos ícones e selecione uma seção da lista suspensa. Somente uma seção de cada vez pode ser aberta.

PROPRIEDADES

Mostra os layouts incluídos no Impress. Você pode escolher o que você quer e usá-lo como ele é, ou modificá-lo para atender às
suas necessidades. No entanto, não é possível salvar layouts personalizados.

PÁGINAS MESTRE

Aqui você define o estilo de página (slide) para sua apresentação. O Impress inclui vários modelos de páginas mestras (slide mestre).
Um deles – Padrão – é branco, e o restante tem um plano de fundo e estilo de texto.

ANIMAÇÃO PERSONALIZADA

Uma variedade de animações podem ser usadas para realçar ou melhorar diferentes elementos de cada slide. A seção Animação
personalizada fornece uma maneira fácil para adicionar, alterar, ou remover animações.

18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

TRANSIÇÃO DE SLIDES

Fornece acesso a um número de opções de transição de slides. O padrão é definido como Sem transição, em que o slide seguinte
substitui o existente. No entanto, muitas transições adicionais estão disponíveis. Você também pode especificar a velocidade de tran-
sição (Lenta, Média, Rápida), escolher entre uma transição automática ou manual, e escolher quanto tempo o slide selecionado será
mostrado (somente transição automática).

ESTILOS E FORMATAÇÃO

Aqui você pode editar e aplicar estilos gráficos e criar estilos novos, mas você só pode editar os estilos de apresentação existentes.
Quando você edita um estilo, as alterações são aplicadas automaticamente a todos os elementos formatados com este estilo em sua
apresentação. Se você quiser garantir que os estilos em um slide específico não sejam atualizados, crie uma nova página mestra para o
slide.

GALERIA

Abre a galeria Impress, onde você pode inserir um objeto em sua apresentação, quer seja como uma cópia ou como um link. Uma
cópia de um objeto é independente do objeto original. Alterações para o objeto original não têm efeito sobre a cópia. Uma ligação per-
manece dependente do objeto original. Alterações no objeto original também são refletidas no link.

NAVEGADOR

Abre o navegador Impress, no qual você pode mover rapidamente para outro slide ou selecionar um objeto em um slide. Recomen-
da-se dar nomes significativos aos slides e objetos em sua apresentação para que você possa identificá-los facilmente quando utilizar a
navegação.

• Principais Funcionalidades e Comandos

Inicia a apresentação do primeiro slide (F5).

Inicia a apresentação do slide atual (SHIFT+F5).

Insere áudio e vídeo ao slide.

Insere caixa de texto ao slide.

Insere novo slide, permitindo escolher o leiaute do slide que será inserido.

Exclui o slide selecionado.

Altera o leiaute do slide atual.

Cria um slide mestre.

Oculta o slide no modo de apresentação.

Cronometra o tempo das animações e transições dos slides no modo de apresentação para posterior exibição automática
usando o tempo cronometrado.

Configura as transições dos slides, ou seja, o efeito de passagem de um para o outro.

Configura a animação dos conteúdos dos slides, colocando efeitos de entrada, ênfase, saída e trajetória.

19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

MICROSOFT OUTLOOK 2016: CORREIO ELETRÔNICO

O Microsoft Outlook é um gerenciador de e-mail usado principalmente para enviar e receber e-mails. O Microsoft Outlook também
pode ser usado para administrar vários tipos de dados pessoais, incluindo compromissos de calendário e entradas, tarefas, contatos e
anotações.

Funcionalidades mais comuns:

PARA FAZER ISTO ATALHO CAMINHOS PARA EXECUÇÃO


1 Entrar na mensagem Enter na mensagem fechada ou click Verificar coluna atalho
2 Fechar Esc na mensagem aberta Verificar coluna atalho
3 Ir para a guia Página Inicial Alt+H Menu página inicial
4 Nova mensagem Ctrl+Shift+M Menu página inicial => Novo e-mail
5 Enviar Alt+S Botão enviar
6 Delete Excluir (quando na mensagem fechada) Verificar coluna atalho
7 Pesquisar Ctrl+E Barra de pesquisa
Barra superior do painel da mensa-
8 Responder Ctrl+R
gem
Barra superior do painel da mensa-
9 Encaminhar Ctrl+F
gem
Barra superior do painel da mensa-
10 Responder a todos Ctrl+Shift+R
gem
11 Copiar Ctrl+C Click direito copiar
12 Colar Ctrl+V Click direito colar
13 Recortar Ctrl+X Click direito recortar
14 Enviar/Receber Ctrl+M Enviar/Receber (Reatualiza tudo)
15 Acessar o calendário Ctrl+2 Canto inferior direito ícone calendário
16 Anexar arquivo ALT+T AX Menu inserir ou painel superior
Mostrar campo cco (cópia
17 ALT +S + B Menu opções CCO
oculta)

Endereços de e-mail
• Nome do Usuário – é o nome de login escolhido pelo usuário na hora de fazer seu e-mail. Exemplo: joaodasilva, no caso este é nome
do usuário;
• @ – Símbolo padronizado para uso;
• Nome do domínio – domínio a que o e-mail pertence, isto é, na maioria das vezes, a empresa. Vejamos um exemplo real: joaodasil-
va@solucao.com.br;
• Caixa de Entrada – Onde ficam armazenadas as mensagens recebidas;
• Caixa de Saída – Onde ficam armazenadas as mensagens ainda não enviadas;

20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• E-mails Enviados – Como próprio nome diz, e aonde ficam os Criar nova mensagem de e-mail
e-mails que foram enviados;
• Rascunho – Guarda as mensagens que ainda não terminadas;
• Lixeira – Armazena as mensagens excluídas;

Escrevendo e-mails
Ao escrever uma mensagem, temos os seguintes campos:
• Para – é o campo onde será inserido o endereço do destina-
tário do e-mail;
• CC – este campo é usado para mandar cópias da mesma men-
sagem. Ao usar este campo os endereços aparecerão para todos os
destinatários envolvidos.
• CCO – sua funcionalidade é semelhante ao campo anterior,
no entanto os endereços só aparecerão para os respectivos donos;
• Assunto – campo destinado ao assunto da mensagem. Ao clicar em novo e-mail é aberto uma outra janela para digita-
• Anexos – são dados que são anexados à mensagem (imagens, ção do texto e colocar o destinatário, podemos preencher também
programas, música, textos e outros.) os campos CC (cópia), e o campo CCO (cópia oculta), porém esta
• Corpo da Mensagem – espaço onde será escrita a mensagem. outra pessoa não estará visível aos outros destinatários.

Contas de e-mail
É um endereço de e-mail vinculado a um domínio, que está
apto a receber e enviar mensagens, ou até mesmo guarda-las con-
forme a necessidade.

Adicionar conta de e-mail


Siga os passos de acordo com as imagens:

Enviar
De acordo com a imagem a seguir, o botão Enviar fica em evi-
dência para o envio de e-mails.

A partir daí devemos seguir as diretrizes sobre nomes de e-mail,


referida no item “Endereços de e-mail”.

21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Encaminhar e responder e-mails Adicionar assinatura de e-mail à mensagem
Funcionalidades importantes no uso diário, você responde a Um recurso interessante, é a possibilidade de adicionarmos
e-mail e os encaminha para outros endereços, utilizando os botões assinaturas personalizadas aos e-mails, deixando assim definida a
indicados. Quando clicados, tais botões ativam o quadros de texto, nossa marca ou de nossa empresa, de forma automática em cada
para a indicação de endereços e digitação do corpo do e-mail de mensagem.
resposta ou encaminhamento.

Adicionar, abrir ou salvar anexos


A melhor maneira de anexar e colar o objeto desejado no corpo
do e-mail, para salvar ou abrir, basta clicar no botão corresponden-
te, segundo a figura abaixo:

22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Imprimir uma mensagem de e-mail Vejamos de acordo com os símbolos da imagem:
Por fim, um recurso importante de ressaltar, é o que nos pos-
sibilita imprimir e-mails, integrando-os com a impressora ligada ao
computador. Um recurso que se assemelha aos apresentados pelo
pacote Office e seus aplicativos. 1 Botão Voltar uma página

2 Botão avançar uma página

3 Botão atualizar a página

4 Barra de Endereço.

5 Adicionar Favoritos

6 Usuário Atual
Exibe um menu de contexto que iremos relatar
7
seguir.
GOOGLE CHROME 93.X OU SUPERIOR: NAVEGAÇÃO
NA INTERNET O que vimos até aqui, são opções que já estamos acostuma-
dos ao navegar na Internet, mesmo estando no Ubuntu, percebe-
mos que o Chrome é o mesmo navegador, apenas está instalado
Google Chrome
em outro sistema operacional. Como o Chrome é o mais comum
atualmente, a seguir conferimos um pouco mais sobre suas funcio-
nalidades.
• Favoritos
No Chrome é possível adicionar sites aos favoritos. Para adi-
cionar uma página aos favoritos, clique na estrela que fica à direita
da barra de endereços, digite um nome ou mantenha o sugerido,
e pronto.
Por padrão, o Chrome salva seus sites favoritos na Barra de Fa-
O Chrome é o navegador mais popular atualmente e disponi-
voritos, mas você pode criar pastas para organizar melhor sua lista.
biliza inúmeras funções que, por serem ótimas, foram implementa-
Para removê-lo, basta clicar em excluir.
das por concorrentes.
Vejamos:

• Sobre as abas
No Chrome temos o conceito de abas que são conhecidas tam-
bém como guias. No exemplo abaixo temos uma aba aberta, se
quisermos abrir outra para digitar ou localizar outro site, temos o
sinal (+).
A barra de endereços é o local em que se digita o link da página
visitada. Uma outra função desta barra é a de busca, sendo que ao
digitar palavras-chave na barra, o mecanismo de busca do Google é
acionado e exibe os resultados.

23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Histórico • Sincronização
O Histórico no Chrome funciona de maneira semelhante ao Uma nota importante sobre este tema: A sincronização é im-
Firefox. Ele armazena os endereços dos sites visitados e, para aces- portante para manter atualizadas nossas operações, desta forma,
sá-lo, podemos clicar em Histórico no menu, ou utilizar atalho do se por algum motivo trocarmos de computador, nossos dados esta-
teclado Ctrl + H. Neste caso o histórico irá abrir em uma nova aba, rão disponíveis na sua conta Google.
onde podemos pesquisá-lo por parte do nome do site ou mesmo Por exemplo:
dia a dia se preferir. – Favoritos, histórico, senhas e outras configurações estarão
disponíveis.
– Informações do seu perfil são salvas na sua Conta do Google.

No canto superior direito, onde está a imagem com a foto do


usuário, podemos clicar no 1º item abaixo para ativar e desativar.

• Pesquisar palavras Safari


Muitas vezes ao acessar um determinado site, estamos em
busca de uma palavra ou frase específica. Neste caso, utilizamos
o atalho do teclado Ctrl + F para abrir uma caixa de texto na qual
podemos digitar parte do que procuramos, e será localizado.

• Salvando Textos e Imagens da Internet


Vamos navegar até a imagem desejada e clicar com o botão
direito do mouse, em seguida salvá-la em uma pasta.

• Downloads
Fazer um download é quando se copia um arquivo de algum
site direto para o seu computador (texto, músicas, filmes etc.). Nes- O Safari é o navegador da Apple, e disponibiliza inúmeras fun-
te caso, o Chrome possui um item no menu, onde podemos ver o ções implementadas.
progresso e os downloads concluídos.

24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Vejamos:

• Guias

– Para abrirmos outras guias podemos simplesmente teclar CTRL + T ou

Vejamos os comandos principais de acordo com os símbolos da imagem:

1 Botão Voltar uma página

2 Botão avançar uma página

3 Botão atualizar a página

4 Barra de Endereço.

5 Adicionar Favoritos

6 Ajustes Gerais

7 Menus para a página atual.

8 Lista de Leitura

25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Perceba que o Safari, como os outros, oferece ferramentas • Pesquisar palavras
bastante comuns. Muitas vezes, ao acessar um determinado site, estamos em
Vejamos algumas de suas funcionalidades: busca de uma palavra ou frase específica. Neste caso utilizamos o
atalho do teclado Ctrl + F, para abrir uma caixa de texto na qual
• Lista de Leitura e Favoritos podemos digitar parte do que procuramos, e será localizado.
No Safari é possível adicionar sites à lista de leitura para pos-
terior consulta, ou aos favoritos, caso deseje salvar seus endere- • Salvando Textos e Imagens da Internet
ços. Para adicionar uma página, clique no “+” a que fica à esquerda Vamos navegar até a imagem desejada e clicar com o botão
da barra de endereços, digite um nome ou mantenha o sugerido e direito do mouse, em seguida salvá-la em uma pasta.
pronto.
Por padrão, o Safari salva seus sites na lista de leitura, mas você • Downloads
pode criar pastas para organizar melhor seus favoritos. Para remo- Fazer um download é quando se copia um arquivo de um al-
vê-lo, basta clicar em excluir. gum site direto para o seu computador (texto, músicas, filmes etc.).
Neste caso, o Safari possui um item no menu onde podemos ver o
progresso e os downloads concluídos.

SEGURANÇA: TIPOS DE VÍRUS, CAVALOS DE TRÓIA,


• Histórico e Favoritos MALWARES, WORMS, SPYWARE, PHISHING, PHAR-
MING, RANSOMWARES, SPAM

Segurança da informação é o conjunto de ações para proteção


de um grupo de dados, protegendo o valor que ele possui, seja para
um indivíduo específico no âmbito pessoal, seja para uma organi-
zação8.
É essencial para a proteção do conjunto de dados de uma cor-
poração, sendo também fundamentais para as atividades do negó-
cio.
Quando bem aplicada, é capaz de blindar a empresa de ata-
ques digitais, desastres tecnológicos ou falhas humanas. Porém,
qualquer tipo de falha, por menor que seja, abre brecha para pro-
blemas.
A segurança da informação se baseia nos seguintes pilares9:
– Confidencialidade: o conteúdo protegido deve estar disponí-
vel somente a pessoas autorizadas.

8 https://ecoit.com.br/seguranca-da-informacao/
9 https://bit.ly/2E5beRr

26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Disponibilidade: é preciso garantir que os dados estejam • Política de confidencialidade: define como são tratadas as
acessíveis para uso por tais pessoas quando for necessário, ou seja, informações institucionais, ou seja, se elas podem ser repassadas
de modo permanente a elas. a terceiros.
– Integridade: a informação protegida deve ser íntegra, ou seja,
sem sofrer qualquer alteração indevida, não importa por quem e Mecanismos de segurança
nem em qual etapa, se no processamento ou no envio. Um mecanismo de segurança da informação é uma ação, técni-
– Autenticidade: a ideia aqui é assegurar que a origem e auto- ca, método ou ferramenta estabelecida com o objetivo de preservar
ria do conteúdo seja mesmo a anunciada. o conteúdo sigiloso e crítico para uma empresa.
Ele pode ser aplicado de duas formas:
Existem outros termos importantes com os quais um profissio- – Controle físico: é a tradicional fechadura, tranca, porta e
nal da área trabalha no dia a dia. qualquer outro meio que impeça o contato ou acesso direto à infor-
Podemos citar a legalidade, que diz respeito à adequação do mação ou infraestrutura que dá suporte a ela
conteúdo protegido à legislação vigente; a privacidade, que se re- – Controle lógico: nesse caso, estamos falando de barreiras
fere ao controle sobre quem acessa as informações; e a auditoria, eletrônicas, nos mais variados formatos existentes, desde um anti-
que permite examinar o histórico de um evento de segurança da vírus, firewall ou filtro anti-spam, o que é de grande valia para evitar
informação, rastreando as suas etapas e os responsáveis por cada infecções por e-mail ou ao navegar na internet, passa por métodos
uma delas. de encriptação, que transformam as informações em códigos que
terceiros sem autorização não conseguem decifrar e, há ainda, a
Alguns conceitos relacionados à aplicação dos pilares certificação e assinatura digital, sobre as quais falamos rapidamente
– Vulnerabilidade: pontos fracos existentes no conteúdo pro- no exemplo antes apresentado da emissão da nota fiscal eletrônica.
tegido, com potencial de prejudicar alguns dos pilares de segurança
da informação, ainda que sem intenção Todos são tipos de mecanismos de segurança, escolhidos por
– Ameaça: elemento externo que pode se aproveitar da vulne- profissional habilitado conforme o plano de segurança da informa-
rabilidade existente para atacar a informação sensível ao negócio. ção da empresa e de acordo com a natureza do conteúdo sigiloso.
– Probabilidade: se refere à chance de uma vulnerabilidade ser
explorada por uma ameaça. Criptografia
– Impacto: diz respeito às consequências esperadas caso o con- É uma maneira de codificar uma informação para que somen-
teúdo protegido seja exposto de forma não autorizada. te o emissor e receptor da informação possa decifrá-la através de
– Risco: estabelece a relação entre probabilidade e impacto, uma chave que é usada tanto para criptografar e descriptografar a
ajudando a determinar onde concentrar investimentos em seguran- informação11.
ça da informação. Tem duas maneiras de criptografar informações:
• Criptografia simétrica (chave secreta): utiliza-se uma chave
Tipos de ataques secreta, que pode ser um número, uma palavra ou apenas uma
Cada tipo de ataque tem um objetivo específico, que são eles10: sequência de letras aleatórias, é aplicada ao texto de uma mensa-
– Passivo: envolve ouvir as trocas de comunicações ou gravar gem para alterar o conteúdo de uma determinada maneira. Tanto
de forma passiva as atividades do computador. Por si só, o ataque o emissor quanto o receptor da mensagem devem saber qual é a
passivo não é prejudicial, mas a informação coletada durante a ses- chave secreta para poder ler a mensagem.
são pode ser extremamente prejudicial quando utilizada (adultera- • Criptografia assimétrica (chave pública):tem duas chaves re-
ção, fraude, reprodução, bloqueio). lacionadas. Uma chave pública é disponibilizada para qualquer pes-
– Ativos: neste momento, faz-se a utilização dos dados cole- soa que queira enviar uma mensagem. Uma segunda chave privada
tados no ataque passivo para, por exemplo, derrubar um sistema, é mantida em segredo, para que somente você saiba.
infectar o sistema com malwares, realizar novos ataques a partir da Qualquer mensagem que foi usada a chave púbica só poderá
máquina-alvo ou até mesmo destruir o equipamento (Ex.: intercep- ser descriptografada pela chave privada.
tação, monitoramento, análise de pacotes). Se a mensagem foi criptografada com a chave privada, ela só
Política de Segurança da Informação poderá ser descriptografada pela chave pública correspondente.
Este documento irá auxiliar no gerenciamento da segurança A criptografia assimétrica é mais lenta o processamento para
da organização através de regras de alto nível que representam os criptografar e descriptografar o conteúdo da mensagem.
princípios básicos que a entidade resolveu adotar de acordo com Um exemplo de criptografia assimétrica é a assinatura digital.
a visão estratégica da mesma, assim como normas (no nível táti- • Assinatura Digital: é muito usado com chaves públicas e per-
co) e procedimentos (nível operacional). Seu objetivo será manter mitem ao destinatário verificar a autenticidade e a integridade da
a segurança da informação. Todos os detalhes definidos nelas serão informação recebida. Além disso, uma assinatura digital não permi-
para informar sobre o que pode e o que é proibido, incluindo: te o repúdio, isto é, o emitente não pode alegar que não realizou a
• Política de senhas: define as regras sobre o uso de senhas nos ação. A chave é integrada ao documento, com isso se houver algu-
recursos computacionais, como tamanho mínimo e máximo, regra ma alteração de informação invalida o documento.
de formação e periodicidade de troca. • Sistemas biométricos: utilizam características físicas da pes-
• Política de backup: define as regras sobre a realização de có- soa como os olhos, retina, dedos, digitais, palma da mão ou voz.
pias de segurança, como tipo de mídia utilizada, período de reten-
ção e frequência de execução.
• Política de privacidade: define como são tratadas as infor-
mações pessoais, sejam elas de clientes, usuários ou funcionários.

10 https://www.diegomacedo.com.br/modelos-e-mecanismos-de- 11 https://centraldefavoritos.com.br/2016/11/19/conceitos-de-
-seguranca-da-informacao/ -protecao-e-seguranca-da-informacao-parte-2/

27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Firewall
Firewall ou “parede de fogo” é uma solução de segurança baseada em hardware ou software (mais comum) que, a partir de um con-
junto de regras ou instruções, analisa o tráfego de rede para determinar quais operações de transmissão ou recepção de dados podem
ser executadas. O firewall se enquadra em uma espécie de barreira de defesa. A sua missão, por assim dizer, consiste basicamente em
bloquear tráfego de dados indesejado e liberar acessos bem-vindos.

Representação de um firewall.12

Formas de segurança e proteção


– Controles de acesso através de senhas para quem acessa, com autenticação, ou seja, é a comprovação de que uma pessoa que está
acessando o sistema é quem ela diz ser13.
– Se for empresa e os dados a serem protegidos são extremamente importantes, pode-se colocar uma identificação biométrica como
os olhos ou digital.
– Evitar colocar senhas com dados conhecidos como data de nascimento ou placa do seu carro.
– As senhas ideais devem conter letras minúsculas e maiúsculas, números e caracteres especiais como @ # $ % & *.
– Instalação de antivírus com atualizações constantes.
– Todos os softwares do computador devem sempre estar atualizados, principalmente os softwares de segurança e sistema operacio-
nal. No Windows, a opção recomendada é instalar atualizações automaticamente.
– Dentre as opções disponíveis de configuração qual opção é a recomendada.
– Sempre estar com o firewall ativo.
– Anti-spam instalados.
– Manter um backup para caso de pane ou ataque.
– Evite sites duvidosos.
– Não abrir e-mails de desconhecidos e principalmente se tiver anexos (link).
– Evite ofertas tentadoras por e-mail ou em publicidades.
– Tenha cuidado quando solicitado dados pessoais. Caso seja necessário, fornecer somente em sites seguros.
– Cuidado com informações em redes sociais.
– Instalar um anti-spyware.
– Para se manter bem protegido, além dos procedimentos anteriores, deve-se ter um antivírus instalado e sempre atualizado.

Códigos maliciosos (Malware)


Códigos maliciosos (malware) são programas especificamente desenvolvidos para executar ações danosas e atividades maliciosas em
um computador14. Algumas das diversas formas como os códigos maliciosos podem infectar ou comprometer um computador são:
– Pela exploração de vulnerabilidades existentes nos programas instalados;
– Pela autoexecução de mídias removíveis infectadas, como pen-drives;
– Pelo acesso a páginas Web maliciosas, utilizando navegadores vulneráveis;
– Pela ação direta de atacantes que, após invadirem o computador, incluem arquivos contendo códigos maliciosos;
– Pela execução de arquivos previamente infectados, obtidos em anexos de mensagens eletrônicas, via mídias removíveis, em páginas
Web ou diretamente de outros computadores (através do compartilhamento de recursos).

Uma vez instalados, os códigos maliciosos passam a ter acesso aos dados armazenados no computador e podem executar ações em
nome dos usuários, de acordo com as permissões de cada usuário.
Os principais motivos que levam um atacante a desenvolver e a propagar códigos maliciosos são a obtenção de vantagens financeiras,
a coleta de informações confidenciais, o desejo de autopromoção e o vandalismo. Além disto, os códigos maliciosos são muitas vezes usa-
dos como intermediários e possibilitam a prática de golpes, a realização de ataques e a disseminação de spam (mais detalhes nos Capítulos
Golpes na Internet, Ataques na Internet e Spam, respectivamente).

12 Fonte: https://helpdigitalti.com.br/o-que-e-firewall-conceito-tipos-e-arquiteturas/#:~:text=Firewall%20%C3%A9%20uma%20solu%-
C3%A7%C3%A3o%20de,de%20dados%20podem%20ser%20executadas.
13 https://centraldefavoritos.com.br/2016/11/19/conceitos-de-protecao-e-seguranca-da-informacao-parte-3/
14 https://cartilha.cert.br/malware/

28
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A seguir, serão apresentados os principais tipos de códigos ma- A comunicação entre o invasor e o computador infectado pelo
liciosos existentes. bot pode ocorrer via canais de IRC, servidores Web e redes do tipo
P2P, entre outros meios. Ao se comunicar, o invasor pode enviar
Vírus instruções para que ações maliciosas sejam executadas, como des-
Vírus é um programa ou parte de um programa de computador, ferir ataques, furtar dados do computador infectado e enviar spam.
normalmente malicioso, que se propaga inserindo cópias de si mes- Um computador infectado por um bot costuma ser chamado de
mo e se tornando parte de outros programas e arquivos. zumbi (zombie computer), pois pode ser controlado remotamente,
Para que possa se tornar ativo e dar continuidade ao processo sem o conhecimento do seu dono. Também pode ser chamado de
de infecção, o vírus depende da execução do programa ou arquivo spam zombie quando o bot instalado o transforma em um servidor
hospedeiro, ou seja, para que o seu computador seja infectado é de e-mails e o utiliza para o envio de spam.
preciso que um programa já infectado seja executado. Botnet é uma rede formada por centenas ou milhares de com-
O principal meio de propagação de vírus costumava ser os putadores zumbis e que permite potencializar as ações danosas
disquetes. Com o tempo, porém, estas mídias caíram em desuso e executadas pelos bots.
começaram a surgir novas maneiras, como o envio de e-mail. Atu- Quanto mais zumbis participarem da botnet mais potente ela
almente, as mídias removíveis tornaram-se novamente o principal será. O atacante que a controlar, além de usá-la para seus próprios
meio de propagação, não mais por disquetes, mas, principalmente, ataques, também pode alugá-la para outras pessoas ou grupos que
pelo uso de pen-drives. desejem que uma ação maliciosa específica seja executada.
Há diferentes tipos de vírus. Alguns procuram permanecer ocul- Algumas das ações maliciosas que costumam ser executadas
tos, infectando arquivos do disco e executando uma série de ativi- por intermédio de botnets são: ataques de negação de serviço,
dades sem o conhecimento do usuário. Há outros que permanecem propagação de códigos maliciosos (inclusive do próprio bot), coleta
inativos durante certos períodos, entrando em atividade apenas em de informações de um grande número de computadores, envio de
datas específicas. Alguns dos tipos de vírus mais comuns são: spam e camuflagem da identidade do atacante (com o uso de pro-
– Vírus propagado por e-mail: recebido como um arquivo ane- xies instalados nos zumbis).
xo a um e-mail cujo conteúdo tenta induzir o usuário a clicar sobre
este arquivo, fazendo com que seja executado. Spyware
– Vírus de script: escrito em linguagem de script, como VBS- Spyware é um programa projetado para monitorar as ativida-
cript e JavaScript, e recebido ao acessar uma página Web ou por des de um sistema e enviar as informações coletadas para terceiros.
e-mail, como um arquivo anexo ou como parte do próprio e-mail Pode ser usado tanto de forma legítima quanto maliciosa, de-
escrito em formato HTML. pendendo de como é instalado, das ações realizadas, do tipo de
– Vírus de macro: tipo específico de vírus de script, escrito em informação monitorada e do uso que é feito por quem recebe as
linguagem de macro, que tenta infectar arquivos manipulados por informações coletadas. Pode ser considerado de uso:
aplicativos que utilizam esta linguagem como, por exemplo, os que – Legítimo: quando instalado em um computador pessoal, pelo
compõe o Microsoft Office (Excel, Word e PowerPoint, entre ou- próprio dono ou com consentimento deste, com o objetivo de veri-
tros). ficar se outras pessoas o estão utilizando de modo abusivo ou não
– Vírus de telefone celular: vírus que se propaga de celular para autorizado.
celular por meio da tecnologia bluetooth ou de mensagens MMS – Malicioso: quando executa ações que podem comprometer
(Multimedia Message Service). A infecção ocorre quando um usu- a privacidade do usuário e a segurança do computador, como mo-
ário permite o recebimento de um arquivo infectado e o executa. nitorar e capturar informações referentes à navegação do usuário
ou inseridas em outros programas (por exemplo, conta de usuário
Worm e senha).
Worm é um programa capaz de se propagar automaticamen- Alguns tipos específicos de programas spyware são:
te pelas redes, enviando cópias de si mesmo de computador para – Keylogger: capaz de capturar e armazenar as teclas digitadas
computador. pelo usuário no teclado do computador.
Diferente do vírus, o worm não se propaga por meio da inclu- – Screenlogger: similar ao keylogger, capaz de armazenar a po-
são de cópias de si mesmo em outros programas ou arquivos, mas sição do cursor e a tela apresentada no monitor, nos momentos em
sim pela execução direta de suas cópias ou pela exploração auto- que o mouse é clicado, ou a região que circunda a posição onde o
mática de vulnerabilidades existentes em programas instalados em mouse é clicado.
computadores. – Adware: projetado especificamente para apresentar propa-
Worms são notadamente responsáveis por consumir muitos gandas.
recursos, devido à grande quantidade de cópias de si mesmo que
costumam propagar e, como consequência, podem afetar o desem- Backdoor
penho de redes e a utilização de computadores. Backdoor é um programa que permite o retorno de um invasor
a um computador comprometido, por meio da inclusão de serviços
Bot e botnet criados ou modificados para este fim.
Bot é um programa que dispõe de mecanismos de comunicação Pode ser incluído pela ação de outros códigos maliciosos, que
com o invasor que permitem que ele seja controlado remotamente. tenham previamente infectado o computador, ou por atacantes,
Possui processo de infecção e propagação similar ao do worm, ou que exploram vulnerabilidades existentes nos programas instalados
seja, é capaz de se propagar automaticamente, explorando vulne- no computador para invadi-lo.
rabilidades existentes em programas instalados em computadores. Após incluído, o backdoor é usado para assegurar o acesso fu-
turo ao computador comprometido, permitindo que ele seja aces-
sado remotamente, sem que haja necessidade de recorrer nova-
mente aos métodos utilizados na realização da invasão ou infecção
e, na maioria dos casos, sem que seja notado.

29
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Cavalo de troia (Trojan) Outro jeito de contaminar é através de dispositivos de armaze-
Cavalo de troia, trojan ou trojan-horse, é um programa que, namentos móveis como HD externo e pen drive. Nestes casos de-
além de executar as funções para as quais foi aparentemente proje- vem acionar o antivírus para fazer uma verificação antes.
tado, também executa outras funções, normalmente maliciosas, e Existem diversas opções confiáveis, tanto gratuitas quanto pa-
sem o conhecimento do usuário. gas. Entre as principais estão:
Exemplos de trojans são programas que você recebe ou obtém – Avast;
de sites na Internet e que parecem ser apenas cartões virtuais ani- – AVG;
mados, álbuns de fotos, jogos e protetores de tela, entre outros. – Norton;
Estes programas, geralmente, consistem de um único arquivo e ne- – Avira;
cessitam ser explicitamente executados para que sejam instalados – Kaspersky;
no computador. – McAffe.
Trojans também podem ser instalados por atacantes que, após
invadirem um computador, alteram programas já existentes para Filtro anti-spam
que, além de continuarem a desempenhar as funções originais, Spam é o termo usado para referir-se aos e-mails não solici-
também executem ações maliciosas. tados, que geralmente são enviados para um grande número de
pessoas.
Rootkit Spam zombies são computadores de usuários finais que foram
Rootkit é um conjunto de programas e técnicas que permite comprometidos por códigos maliciosos em geral, como worms,
esconder e assegurar a presença de um invasor ou de outro código bots, vírus e cavalos de tróia. Estes códigos maliciosos, uma vez ins-
malicioso em um computador comprometido. talados, permitem que spammers utilizem a máquina para o envio
Rootkits inicialmente eram usados por atacantes que, após in- de spam, sem o conhecimento do usuário. Enquanto utilizam má-
vadirem um computador, os instalavam para manter o acesso pri- quinas comprometidas para executar suas atividades, dificultam a
vilegiado, sem precisar recorrer novamente aos métodos utilizados identificação da origem do spam e dos autores também. Os spam
na invasão, e para esconder suas atividades do responsável e/ou zombies são muito explorados pelos spammers, por proporcionar o
dos usuários do computador. Apesar de ainda serem bastante usa- anonimato que tanto os protege.
dos por atacantes, os rootkits atualmente têm sido também utili- Estes filtros são responsáveis por evitar que mensagens indese-
zados e incorporados por outros códigos maliciosos para ficarem jadas cheguem até a sua caixa de entrada no e-mail.
ocultos e não serem detectados pelo usuário e nem por mecanis-
mos de proteção. Anti-malwares
Ferramentas anti-malware são aquelas que procuram detectar
Ransomware e, então, anular ou remover os códigos maliciosos de um computa-
Ransomware é um tipo de código malicioso que torna inacessí- dor. Antivírus, anti-spyware, anti-rootkit e anti-trojan são exemplos
veis os dados armazenados em um equipamento, geralmente usan- de ferramentas deste tipo.
do criptografia, e que exige pagamento de resgate (ransom) para
restabelecer o acesso ao usuário15.
EXERCÍCIOS
O pagamento do resgate geralmente é feito via bitcoins.
Pode se propagar de diversas formas, embora as mais comuns 1. (CESP -UERN) Na suíte Microsoft Office, o aplicativo
sejam através de e-mails com o código malicioso em anexo ou que (A) Excel é destinado à elaboração de tabelas e planilhas eletrô-
induzam o usuário a seguir um link e explorando vulnerabilidades nicas para cálculos numéricos, além de servir para a produção
em sistemas que não tenham recebido as devidas atualizações de de textos organizados por linhas e colunas identificadas por nú-
segurança. meros e letras.
(B) PowerPoint oferece uma gama de tarefas como elaboração
Antivírus e gerenciamento de bancos de dados em formatos .PPT.
O antivírus é um software de proteção do computador que eli- (C) Word, apesar de ter sido criado para a produção de texto, é
mina programas maliciosos que foram desenvolvidos para prejudi- útil na elaboração de planilhas eletrônicas, com mais recursos
car o computador. que o Excel.
O vírus infecta o computador através da multiplicação dele (có- (D) FrontPage é usado para o envio e recebimento de mensa-
pias) com intenção de causar danos na máquina ou roubar dados. gens de correio eletrônico.
O antivírus analisa os arquivos do computador buscando pa- (E) Outlook é utilizado, por usuários cadastrados, para o envio
drões de comportamento e códigos que não seriam comuns em e recebimento de páginas web.
algum tipo de arquivo e compara com seu banco de dados. Com
isto ele avisa o usuário que tem algo suspeito para ele tomar pro- 2. (FUNDEP – UFVJM-MG) Assinale a alternativa que apresenta
vidência. uma ação que não pode ser realizada pelas opções da aba “Página
O banco de dados do antivírus é muito importante neste pro- Inicial” do Word 2010.
cesso, por isso, ele deve ser constantemente atualizado, pois todos (A) Definir o tipo de fonte a ser usada no documento.
os dias são criados vírus novos. (B) Recortar um trecho do texto para incluí-lo em outra parte
Uma grande parte das infecções de vírus tem participação do do documento.
usuário. Os mais comuns são através de links recebidos por e-mail (C) Definir o alinhamento do texto.
ou download de arquivos na internet de sites desconhecidos ou (D) Inserir uma tabela no texto
mesmo só de acessar alguns sites duvidosos pode acontecer uma
contaminação.

15 https://cartilha.cert.br/ransomware/

30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
3. (CESPE – TRE-AL) Considerando a janela do PowerPoint 2002 8. (CESP-MEC WEB DESIGNER) Na utilização de um browser, a
ilustrada abaixo julgue os itens a seguir, relativos a esse aplicativo. execução de JavaScripts ou de programas Java hostis pode provocar
A apresentação ilustrada na janela contém 22 slides ?. danos ao computador do usuário.
( ) CERTO
( ) ERRADO

9. (FGV – SEDUC -AM) Um Assistente Técnico recebe um e-mail


com arquivo anexo em seu computador e o antivírus acusa existên-
cia de vírus.
Assinale a opção que indica o procedimento de segurança a ser
adotado no exemplo acima.
(A) Abrir o e-mail para verificar o conteúdo, antes de enviá-lo
( ) CERTO ao administrador de rede.
( ) ERRADO (B) Executar o arquivo anexo, com o objetivo de verificar o tipo
de vírus.
4. (CESPE – CAIXA) O PowerPoint permite adicionar efeitos so- (C) Apagar o e-mail, sem abri-lo.
noros à apresentação em elaboração. (D) Armazenar o e-mail na área de backup, para fins de moni-
( ) CERTO toramento.
( ) ERRADO (E) Enviar o e-mail suspeito para a pasta de spam, visando a
analisá-lo posteriormente.
5. (CESPE – TCE) Com relação a programas usados em aplica-
ções associadas à Internet, assinale a opção correta.
(A) O Outlook Express permite, entre outras coisas, enviar e re-
ceber mensagens de e-mail e ingressar em grupos de notícias. GABARITO
(B) O Messenger é um programa cuja principal função é a cria-
ção de páginas da Web usando linguagem Java.
(C) Para acessar mensagens de e-mail por meio de sítios do 1 A
tipo webmail, é essencial que esteja instalado no computador
o programa Eudora. 2 D
(D) Cookie é a denominação comumente usada para os chama- 3 CERTO
dos programas antivírus.
4 CERTO
6. (CESPE MPS) No Microsoft Outlook 2003, não é possível criar 5 A
assinaturas distintas para novas mensagens e para respostas e en-
6 ERRADO
caminhamentos.
( ) CERTO 7 E
( ) ERRADO 8 CERTO
7. (VUNESP – PREF ITAPEVI ) Observe a mensagem de correio 9 C
eletrônico que está sendo digitada no MS-Outlook 2010, na sua
configuração padrão, apresentada a seguir.
ANOTAÇÕES

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Assinale a alternativa que contém a conta de e-mail que tam-
bém receberá a mensagem e que estará visível para o destinatário ______________________________________________________
prefeitura@itapevi.sp.gov.br.
(A) analista@itapevi.sp.gov.br ______________________________________________________
(B) vunesp@concursos.com.br
(C) concurso@itapevi@sp.gov.br ______________________________________________________
(D)analistas@itapevi.sp.gov.br
(E) meioambiente@itapevi.sp.gov.br ______________________________________________________

31
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
1. Criminologia: conceito, cientificidade, objeto, método, sistema e funções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Fundamentos históricos e filosóficos da Criminologia: precursores, Iluminismo e as primeiras escolas sociológicas. Marcos científicos
da Criminologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. A escola liberal clássica do Direito Penal e a Criminologia positivista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
4. A Moderna Criminologia científica: modelos teóricos explicativos do comportamento criminal. Biologia criminal, Psicologia Criminal e
Sociologia Criminal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
5. Teoria Estrutural-Funcionalista do desvio e da anomia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
6. Teoria das Subculturas Criminais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
7. Do “Labeling Approach” a uma criminologia crítica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
8. A sociologia do conflito e a sua aplicação criminológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
9. Sistema penal e reprodução da realidade social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
10. Cárcere e marginalidade social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
11. Modelo consensual de Justiça Criminal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
12. Criminologia, policiamento e segurança pública no século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Socialização Secundária: são as lições sociais adquiridas no âm-
CRIMINOLOGIA: CONCEITO, CIENTIFICIDADE, OBJETO, bito da escola, grupo de amigos, ambiente de trabalho, etc.
MÉTODO, SISTEMA E FUNÇÕES Cifra Negra: Todos os crimes que não chegam ao conhecimen-
to da Autoridade Policial. (PÁDUA, 2015)
Ciência do ser que se dedica de forma interdisciplinar e me- Cifras Douradas: Representa a criminalidade de ‘colarinho
diante análise das experiências humanas, de forma predominan- branco’, definida como práticas antissociais impunes do poder po-
temente empírica, portanto esta ciência se reporta ao estudo do lítico e econômico (a nível nacional e internacional), em prejuízo da
delito como fenômeno social, dos processos de elaboração das leis, coletividade e dos cidadãos e em proveito das oligarquias econômi-
das várias formas de delinquência e das relações sociais do crime, co-financeiras. (CABETTE, 2013)
passando pelas causas da criminalidade, pela posição da vítima, e Cifras Cinzas: São resultados daquelas ocorrências que até são
percorrendo os sistemas de justiça criminal e as inúmeras formas registradas porém não se chega ao processo ou ação penal por se-
de controle social. (castro, 2015) rem solucionadas na própria Delegacia de Polícia seja por concilia-
A criminologia é uma ciência social, filiada à Sociologia, e não ção, seja por retratação.
uma ciência social independente, desorientada. Em relação ao seu Cifras Amarelas: são aquelas em que as vítimas são pessoas
objeto — a criminalidade — a criminologia é ciência geral porque que sofreram alguma forma de violência cometida por um funcio-
cuida dela de um modo geral. Em relação a sua posição, a Crimino- nário público e deixam de denunciar o fato aos orgãos responsáveis
logia é uma ciência particular, porque, no seio da Sociologia e sob por receio, medo de represália. (PÁDUA, 2015)
sua égide, trata, particularmente, da criminalidade. Cifras Verdes: Consiste nos crimes não chegam ao conhecimen-
Na concepção de Newton Fernandes e Valter Fernandes, crimi- to policial e que a vítima diretamente destes é o meio ambiente.
nologia é o “tratado do Crime”. (PÁDUA, 2015)
A interdisciplinaridade da criminologia é histórica, bastando,
para demonstrar isso, dizer que seusfundadores foram um médico Método
(Cesare Lombroso), um jurista sociólogo (Enrico Ferri) e um magis- Preponderantemente empírico. Indução através das experiên-
trado (Raffaele Garofalo). cias, observações e análises sociais. Enquanto o operador do direi-
Assim, além de outras, sempre continuam existindo as três cor- to parte de premissas corretas para deduzir delas suas conclusões
rentes: a clínica, a sociológica e a jurídica, que, ao nosso ver, antes (método dedutivo), o criminólogo analisa dados e induz as corres-
de buscarem soluções isoladas, devem caminhar unidas e interre- pondentes conclusões (método indutivo).
lacionadas.
A criminologia radical busca esclarecer a relação crime/for- Objeto da criminologia
mação econõmico-social, tendo como conceitos fundamentais re- O objeto da moderna criminologia é o crime, suas circunstân-
lações de produção e as questões de poder econômico e político. cias, seu autor, sua vítima e o controle social. Deverá ela orientar
Já a criminologia da reação social é definida como uma atividade a política criminal na prevenção especial e direta dos crimes social-
intelectual que estuda os processos de criação das normas penais e mente relevantes, na intervenção relativa às suas manifestações
das normas sociais que estão relacionados com o comportamento e aos seus efeitos graves para determinados indivíduos e famílias.
desviante. Deverá orientar também a Política social na prevenção geral e indi-
O campo de interesse da criminologia organizacional compre- reta das ações e omissões que, embora não previstas como crimes,
ende os fenômenos de formação de leis, o da infração às mesmas e merecem a reprovação máxima.
os da reação às violações das leis. A criminologia clínica destina-se Objeto da criminologia é o crime, o criminoso (que é o sujeito
ao estudo dos casos particulares com o fim de estabelecer diag- que se envolve numa situação criminógena de onde deriva o cri-
nósticos e prognósticos de tratamento, numa identificação entre me), os mecanismos de controle social (formais e informais) que
a delinquência e a doença. Aliás, a própria denominação já nos dá atuam sobre o crime; e, a vítima (que às vezes pode ter inclusive
ideia de relação médico-paciente. certa culpa no evento).
A relevância da criminologia reside no fato de que não existe
A criminologia estuda: sociedade sem crime. Ela contribui para o crescimento do conheci-
1 - As causas da criminalidade e da periculosidade preparatória mento científico com uma abordagem adequada do fenômeno cri-
da criminalidade; minal. O fato de ser ciência não significa que ela esteja alheia a sua
2 - As manifestações e os efeitos da criminalidade e da pericu- função na sociedade. Muito pelo contrário, ela filia-se ao princípio
losidade preparatória da criminalidade e, de justiça social.
3 - A política a opor, assistencialmente, à etiologia da crimi- Então lembre-se:
nalidade e da periculosidade preparatória da criminalidade, suas - o delito (crime): Enquanto no Direito Penal o crime é ana-
manifestações e seus efeitos. lisado em sua porção individualizada, a criminologia faz o estudo
do crime enquanto manifestação social ou de uma comunidade
Conceitos criminológicos introdutórios importantes para se- específica. A criminologia indaga os motivos pelos quais determi-
rem guardados: nada sociedade resolveu, em um momento histórico, criminalizar
Alteridade: é a ideia de que o indivíduo depende do outro, da uma conduta, ou procura uma forma de controle social mais efetivo
sociedade para a satisfação plena de suas potencialidades. A velo- para um determinado caso. A criminologia busca o porquê ideológi-
cidade e a pressa cotidiana vêm minando a solidariedade e a alte- co do apenamento de algumas condutas humanas.
ridade, substituindo tais conceitos para uma ideia de sobrevivência - a vítima: Vítima é o sujeito que sofreu delito, que foi pre-
e sucesso. judicada direta e indiretamente, ou seja, sofreu a ação danosa do
Socialização Primária: é a fase como momento inicial em que agente criminoso. Atualmente é esquecida do sistema de Justiça
a criança aprende os rudimentos de linguagem, a comunicação, a Criminal, entretanto, no inicio das civilizações (tempo da vingança
moral e os limites na família. Falhas nesse primeiro processo acar- privada) era ela quem decidia e aplicava o Direito de Punir. Passou-
retam problemas na fase subsequente de socialização secundária. -se para o Estado tal incumbência.

1
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
- o controle social: São mecanismos de freios e contrapesos Antropologia criminal: o período dos percursores da Crimina-
que interferem direta ou indiretamente nas atitudes dos sujeitos lística foi do século XV até o ano de 1875. Foi Instituída por Cesare
no meio social. Lombroso, pode ser resumida com o momento em que o direito
- Controle formal: aqueles instituídos e exercidos pelo Estado. Penal renunciou o âmbito do abstrato, campo de estudo da Escola
P. ex. Polícia, Justiça, Forças Armadas, Administração Penitenciária, Clássica, adotando o concretismo das verificações objetivas sobre
etc. o crime e, sobretudo, sobre o seu autor. Entre os principais desses
- Controle informal: mais implícitos, sutis e informais, p.ex. fa- percursores estão:
mília, igreja, escola, no sentido de gradativamente incutir no ser • O filósofo Thomas Morus, autor da obra Utopia, em que nar-
humano as normas sociais tradicionais de uma comunidade. Quan- rava uma série de crimes que afligia a Inglaterra, onde os delin-
do mais controle informal, menos atividade do controle informal. quentes eram penalizados com a pena capital.
• O teólogo Erasmo de Roterdã, teólogo que criticava os hábi-
Finalidade tos e os membros do clero, e considerava as condições socioeconô-
A criminologia tem por finalidade mostrar para o Direito Penal micas um grande motivador de transgressões.
e para sociedade os abismos e as armadilhas aparentemente im- • O teólogo Martinho Lutero foi pioneiro na distinção entre as
perceptíveis, na coesão estatal. Segundo Antônio Garcia-Pablos de criminalidades urbana e rural.
Molina e Luiz Flávio Gomes: • Os filósofos René Descartes e Francis Bacon, defendiam a mi-
(...) A função básica da Criminologia consiste em informar a so- séria como princípio da marginalidade.
ciedade e os poderes públicos sobre o delito, o delinquente, a vítima • O padre Jean Mabilon, da França, foi pioneiro na criação de
e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos - o mais prisões monásticas (1632).
seguro e contrastado - que permita compreender cientificamente • Filippo Franci criou, em 1677, a primeira prisão constituída
o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo por células.
positivo no homem delinquente (...) • Por meio da de Rafael Hitlodeu, protagonista do seu livro,
Os estudos em criminologia têm como finalidade, entre outros Morus defendia que, quando o povo é miserável, a riqueza e a gló-
aspectos, determinar a etiologia do crime, fazer uma análise da ria permanecem nas mãos das camadas mais altas, e essa realidade
personalidade e conduta do criminoso para que se possa puni-lo antagônica favorece a incidência da criminalidade, especialmente
de forma justa (que é uma preocupação da criminologia e não do pela moralidade implicada à ostentação de riqueza por parte dos
Direito Penal), identificar as causas determinantes do fenômeno abastados.
criminógeno, auxiliar na prevenção da criminalidade; e permitir a
ressocialização do delinquente. O Iluminismo
Os estudos em criminologia se dividem em dois ramos que não Síntese: a corrente intelectual que vigorou no século XVIII ti-
são independentes, mas sim interdependentes. Temos de um lado nha como principais fundamentos o raciocínio crítico, o foco na
a Criminologia Clínica (bioantropológica) - esta utiliza-se do méto- ciência e o questionamento filosófico, o que acarretava, natural-
do individual, (particular, análise de casos, biológico, experimen- mente, na renúncia aos dogmas e a quaisquer outros tipos de ra-
tal), que envolve a indução. De outro lado vemos a Criminologia ciocínios anti - argumentativos, em especial aos das disciplinas reli-
Geral (sociológica), esta utiliza-se do método estatístico (de grupo, giosas e políticas convencionais. O século das luzes, como também
estatístico, sociológico, histórico) que enfatiza o procedimento de é denominado o movimento, colaborou, de forma definitiva, para
dedução.1
revoluções nas concepções penais, constituindo base fértil e sólida
para as escolas criminais e para a estruturação científica do Direito
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA CRI- Penal das matérias relacionadas.
MINOLOGIA: PRECURSORES, ILUMINISMO E AS PRI-
MEIRAS ESCOLAS SOCIOLÓGICAS. MARCOS CIENTÍFI- Panorama penal do período: os magistrados proferiam as sen-
COS DA CRIMINOLOGIA tenças com imparcialidade e arbitrariedade, e a confissão, conside-
rada rainha das provas, sendo a tortura o principal meio para para
obtê-la.
Precursores
A História da Criminalística é fragmentada em quatro períodos:
Antiguidade, Antropologia Criminal, Sociologia Criminal e Política A importância do Iluminismo para a criminologia
Criminal. Os dois primeiros momentos, em especial o segundo, Diante do cenário, iluministas e humanistas de vários lugares
apresentavam as primeiras ideias e os estudiosos percursores dos conseguiram, empreendendo revoltas, abolir a prática da tortura.
outros períodos em que, de fato, a Criminologia passou a existir Primeiramente, a revolução aconteceu na França (1780); depois,
como a ciência que se baseia nas teorias da sociologia e da psico- foi a vez da Espanha (1817); A cidade de Hanover, na Alemanha, e
logia para estudar o comportamento antissocial do ser humano e o reino da Prússia também estão em entre os percursores na extin-
suas motivações. ção do martírio, nos anos de 1840 e 1851, respectivamente.

Antiguidade: na antiga Babilônia, já existia, por exemplo, o • Montesquieu: um dos filósofos iluministas que mais tiveram
Código de Hamurabi, que dispunha de mecanismo específico para importância no sentido de inovação penal, inaugurou um conceito
punir os altos funcionários do governo por prática de corrupção; reeducador da pena, declarava que, para ser considerado bom, um
na Grécia, no século VI a.C, Alcmeon foi pioneiro a se empenhar no legislador não deveria, somente empenhar-se na punição do delito,
estudo das características biopsíquicas dos criminosos, a disseca- mas, antes disso, deveria buscar por medidas para evitá-lo. Além
ção de animais. Aristoteles, Platão e seus discípulos apresentaram disso, foi Montesquieu quem estabeleceu diferenciação entre os
obras contendo prognóstico que, em geral, a pobreza forja o cami- crimes (delitos que ferem os costumes, a paz, a segurança e a re-
nho para a revolta e a delinquência. ligião). Assim, abriu o caminho para a classificação dos crimes de
acordo com o bem jurídico afetado, quanto aos aspectos pessoais
1 Fonte: www.brunobottiglieri.jusbrasil.com.br/Por Alexandre Her- dos infratores e à natureza do delito.
culano

2
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
• Jean Jacques Rousseau: para ele, todos os conflitos sociais 2. O surgimento de movimentos intelectuais jurídicos-filosófi-
tinham sua causa na propriedade privada e, em sua obra, Enciclo- cos
pédia, afirmava que “a miséria é a mãe de todos os delitos”; em 3. O surgimento das chamadas Escolas Penais (Escola Clássica
Contrato Social, o filósofo defendia que, em um Estado organizado e Escola Positiva), convertendo toda a especulação em torno do cri-
adequadamente, existirão menos criminosos. me em ciência, cujo principal objeto de estudo era a anormalidade
• Voltaire: era contra a tortura e a pena de morte, tendo, in- endógena do indivíduo, ou seja, a disfunção interna do autor do
clusive, lutado para que o trabalho forçado fosse aplicado em subs- delito.
tituição desta. Para ele, furto e roubo eram delinquências dos de-
sabastecidos.
• César Bonesana: entre as principais ideias defendidas por Bo- A ESCOLA LIBERAL CLÁSSICA DO DIREITO PENAL E A
nesana, estava a que dizia que a finalidade da pena não consiste em CRIMINOLOGIA POSITIVISTA
torturar o suspeito, mas em evitar que haja reincidência, além de
servir como desestímulo para que outros pratiquem delitos. Tam- Escola clássica
bém conhecido como Marquês de Beccaria, este iluminista é autor Surgiu como resistência ao sistema político, jurídico e social
de uma das mais importantes obras (e leitura obrigatória) quando que vigorava na época, o ancien régime, com a finalidade de asse-
o interesse é criminologia: Dos delitos e das penas, que é conside- gurar os direitos individuais. Tem sua origem nas escolas gregas de
rada uma grande afronta às práticas penais naquela época. entre as filosofia, que entendiam o delito como uma consolidação da isono-
principais ideias defendidas por Bonesana, estava a que dizia que mia social (justiça).
a finalidade da pena não consiste em torturar o suspeito, mas em
evitar que haja reincidência, além de servir como desestímulo para Principais características:
que outros pratiquem delitos. A obra é tão relevante que modificou • Recorria-se ao método lógico-abstrato ou de dedução.
integralmente os estudos das penalidades criminais e foi precurso- • Compreendia o delito como o um elemento jurídico; para
ra da Escola Clássica do Direito Penal. eles, o delito era uma antítese entre a Lei e o real.
• Defendia que a moral e o livre-arbítrio eram o cerne da res-
Escolas sociológicas ponsabilidade.
Escola Clássica Metafísica: grande parte de seus adeptos con- • Por considerar que a vontade do ser humano é determinada
sideravam que o livre-arbítrio é que propicia a criminalidade. Em de forma natural e livre, o comportamento mal nada mais é que
geral, essa doutrina compreendia crime como uma infração e a re- uma opção, por isso, a pena possui cunho repressivo.
pressão era a sua pena. • No que diz respeito ao criminoso, entende-se que cada ser
Escola Positiva Determinista: entende o crime como ato anti humano possui saúde mental, portanto, agir criminosamente é
- social e revelador do criminoso; coação da temibilidade do de- uma escolha; apoia-se no fundamento do determinismo.
linquente, correção e intimidação constituem pena, que, segundo
essa escola, contribui para a segurança social. Escola Positivista
Escola Antropológica ou Nuova Scuola: defende que o crimi- Seu principal representante e criador foi Cesare Lombroso.
noso é nada mais que um ente anormal (anômalo), qualificado nato Baseia-se no método de observação e indutivo, principal distinção
para a prática da criminalidade ou com potencial para tal. Sobre entre o Positivismo e a Escola Clássica.
ele, influenciam não somente aspectos antropológicos / intrínse-
cos, mas também o contexto físico (fatores extrínsecos) o ambien- Principais características:
te; esse, porém, é de menor relevância. • Estudava o fenômeno do delito a partir do seu autor, por
Escola Neo - Clássica: compreende o delito como ilícito jurí- meio de observações empíricas. Descreveu aspectos individuais
dico, ato ilegal, cuja penalidade consiste na repressão eventual e para cada tipo de delito.
advertência geral. Já o autor do delito é entendido como respon- • Fundamentava seus estudos nos pormenores do desenvolvi-
sável social. mento do corpo humano, do cérebro e da calota craniana.
Escola da Política Criminal: entre as principais conquistas des- • Defendia a ideia de que os criminosos tinham algum tipo de
sa escola, estão o tratamento de infratores menores de idade, o problema, de ordens diversas: biológica, psicológica, evolucionária,
livramento condicional e a sursis (suspensão condicional). etc.
Escola Neo - Positiva: entende o delito como uma conduta • Entendia que, contra o criminoso de nascença, as penas de
biossocial e indicativo do grau de periculosidade do delinquente, caráter moral não eram cabíveis, defendendo, assim, as aplicações
o que auxilia nas medidas de segurança para de proteção dos ci- de prisão perpétua e até de pena capital.
dadãos.
Escola Crítica: também chamada de Terza Scuola ou Escola
Eclética, entende o delinquente como fruto de contextos sociais A MODERNA CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA: MODELOS
carentes. É dessa doutrina a famosa sentença “a sociedade tem os TEÓRICOS EXPLICATIVOS DO COMPORTAMENTO CRI-
criminosos que merece”. MINAL. BIOLOGIA CRIMINAL, PSICOLOGIA CRIMINAL
Escola Cartográfica: baseada nas três leis térmicas do belga E SOCIOLOGIA CRIMINAL
Lambert Adolphe Quetelet, essa doutrina contribuiu para a afir-
mação do método aplicado atualmente na Criminologia, o método A moderna criminologia científica é uma abordagem cuja fina-
estatístico. lidade é a verificação do ato delituoso a partir da busca das suas
motivações, a despeito da efetivação do fato, ou seja, baseia-se em
Marcos científicos da Criminologia uma perspectiva pluridimensional. Esse aspecto atribui à criminolo-
1. O maior marco científico da criminologia data de 1876, e gia o caráter de ciência multidisciplinar.
trata-se da publicação do livro L’Uomo Delinquente (O homem de-
linquente), de autoria do pai da Antropologia Criminal, Cesar Lom-
broso

3
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Biologia Criminal: trabalha com base nos transtornos natos do • O delito leva às transformações necessárias dos sentimentos
indivíduo, nas disfunções e nas patologias, observando a atividade comunitários, preparando, inclusive para determinadas mudanças
dos variados sistemas corporais, visando à identificação de um as- que constituirão, futuramente, a moral daquela sociedade.
pecto distinto que conduza ao delito. • Assinala que a liberdade de expressão e pensamento que
desfrutada na sociedade atual só foi possível graças às violações
Psicologia Criminal: fundamenta-se na investigação dos de- das Leis que as condenavam.
senvolvimentos anormais da psique, no aprendizado e na vivência, • Por fim, Durkheim defendia que, se o delito predetermina
buscando elucidação para anormalidades psíquicas do autor do de- e prediz a moralidade futura, da mesma forma, o criminoso tem
lito. Envolve conceitos da psiquiatria criminal, da psicopatologia e papel importante na sociedade.
da psicanálise.

Sociologia Criminal: baseia-se em fatores que vão além daque- TEORIA DAS SUBCULTURAS CRIMINAIS
les próprios do indivíduo, realizando a análise dos aspectos extrín-
secos existentes na sociedade; sendo assim, inclui o estudo dos âm- A Teoria das Subculturas Criminais, que esse desenvolveu
bitos cultura, social e ecológico em que o criminoso está inserido. entre 1910 e 1960, foi importante no sentido de apresentar uma
nova abordagem a respeito da criminalidade, que, até então, era
compreendida sob a perspectiva ecológica do delito, fundamenta-
TEORIA ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA DO DESVIO E da na Escola de Chicago. Em síntese, essa teoria parte do princípio
DA ANOMIA da existência de normas e valores próprios de cada grupo social, e
usa esse argumento para negar que o crime possa ser visto como a
Como sociologia de essência funcional, a teoria do desvio e da manifestação de uma conduta adversa às regras da sociedade em
anomia foi introduzida na matriz das teses estruturais funcionalis- geral e aos seus padrões morais. A negação da culpabilidade é o
tas, que tinham como principal aspecto a busca pela análise e rein- princípio mais importante dessa teoria.
terpretação do delito como ocorrência normal, social e funcional.
Seu precursor foi o filósofo francês David Émile Durkheim, no final Objetivos:
do século XIX. • Investigação das relações sociais e culturais que envolvem a
criminalidade
Características da teoria: • Fazer oposição às teorias que compreendem o crime como
• Oposição ao Positivismo, que, como vimos, defendia o crime consequência de conflitos sentimentais inerentes ao próprio indiví-
tinha origens patológicas ou biológicas e que os criminosos eram duo ou de suas disfunções psicológicas
parasitas antissociais
• Caráter estrutural O delito, segundo a Teoria das Subculturas Criminais: o cri-
• Determinismo sociológico me é uma atitude de contestação e protesto, ao contrário do Po-
• Defendia a ideia de que o desvio ou falta de referenciais cole- sitivismo, que via utilidade no ato delituoso. Exemplificando: ao se
tivos normativos que norteiam o convívio social é a razão pela qual analisar um caso de furto, o item subtraído não será consumido ou
a solidariedade dentro de uma sociedade perde a força sequer utilizado na obtenção de qualquer lucro; conforme a teoria
• Normalidade e inevitabilidade do delito da subcultura, o real propósito do delito não repousa sobre a vanta-
• Funcionalidade do delito gem materialista, mas constitui uma contestação do padrão social
que prestigia a posse em demasiado.
A normalidade do delito
• Pressupões que o crime é inevitável, pois se apresenta em Malícia da conduta: isto é, sadismo, satisfação no sofrimento
toda sociedade.
• Para que não haja delito em uma sociedade, é necessário que Negativismo: fundamenta-se em outros valores, negando o
valores e emoções dignos de preservação fossem disseminados da valor predominante. O comportamento criminoso fundamenta-se
mesma forma na consciência de cada indivíduo e com tamanha in- nos princípios do grupo, contrapondo, consequentemente, a con-
tensidade que os tornasse aptos a reprimir suas turbações e impul- duta modelo social. Pichação é um dos melhores exemplo para essa
sos delituosos, assim… característica, pois constitui ato de protesto, uma confrontação à
• A normalidade constitui um processo longo e constante de ordem majoritária.
constatação das ocorrências criminais.
• O crime antecipa ou prenuncia uma provável transformação Aplicação da pena segundo a Teoria das Subculturas Crimi-
social . nais: o combate ao crime no âmbito da subcultura delinquente não
pode ocorrer por vias de dispositivos convencionais de controle de
A funcionalidade do crime marginalidade. Em vez da repressão, esses atos delinquentes são
• Durkheim defende que “o crime é um fator de saúde pública combatidos por meio da integração e da associação desses grupos
e é parte integrante de toda sociedade sã” (VIANA, 2016)2 . marginalizados, com delegacias especializadas ou inserindo os jo-
• A ocorrência de crimes é inerente em uma sociedade e carac- vens, se for o caso, no mercado de trabalho.
terística fundamental de sua evolução, então, a ausência de crimes
denota primitivismo.
• O delito é útil, pois está diretamente relacionado às circuns-
tâncias elementares da vida em sociedade “está ligado às condi-
ções fundamentais de qualquer vida social, pois essas tais circuns-
tâncias são imprescindíveis para a evolução natural da moralidade
e do direito.
2 VIANA, Eduardo. Criminologia. UESC. Santa Catarina, 4a ed., 2016

4
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

DO “LABELING APPROACH” A UMA A SOCIOLOGIA DO CONFLITO E A SUA APLICAÇÃO


CRIMINOLOGIA CRÍTICA CRIMINOLÓGICA

Labelling Approach: é um inovador conceito criminológico que A Sociologia do conflito pode ser definida como um grupo de
transforma drasticamente o objeto de análise da criminologia clás- teorias que trabalham com a pressuposição de que o organismo
sica, pois recusa a investigação do delito e do seu autor com base social se fundamenta no conflito; além disso, o entendimento da
na etiologia, optando por analisar de monitoramento dos grupos sociedade compete ao pesquisador, mesmo que essa compreensão
sociais, bem como sua conduta na tendência de combate ao crime não esteja evidente no primeiro plano. Geralmente, o conjunto de
ou mesmo o comportamento desviante. Labeling Approach defen- estudos que reconhece a partir dessa perspectiva recebe o nome
de a tese de que os entendimentos sobre crime e criminoso são de Sociologia crítica.
construídos em sociedade com base na jurisdição e nas medidas O que aqui estamos denominando de “Sociologia do conflito”
oficiais de controle social em torno comportamento dos indivíduos. é um conjunto de teorias que parte do pressuposto que a “existên-
cia” da sociedade baseia-se no conflito e cabe o pesquisador com-
Teoria do Etiquetamento Social: essa outra forma de designar preender o mundo social observando-o, ainda que não aparente à
o Labeling Approach se justifica pela perspectiva de que a crimina- primeira vista. Normalmente o grupo de pesquisas que parte desse
lidade não se trata de uma qualidade intrínseca de um indivíduo, modo de ler a sociedade é denominado de “Sociologia crítica”. O
constituindo, portanto, uma etiqueta conferida a sujeitos entendi- pensamento originado por Karl Marx é um exemplo dessa aborda-
dos pela sociedade como transgressores. Assim, o comportamento gem.
desviante é uma construção social.
Teoria do conflito: essa teoria foi reintroduzida na década de
Transição: o Labeling Approach rompeu com a criminologia 1950, tanto por intelectuais marxistas e não adeptos, a partir da
tradicional, porém, não aderiu aos critérios marxistas da teoria sub- investigação da condição de minorias étnicas específicas e de revol-
sequente, caracterizando-se, portanto, como período de transição tas da juventude, além de outros atos considerados desvios sociais,
entre as criminologias clássica e crítica, constituindo base teórica combatidos nos países europeus e também nos Estados Unidos, e
para esta. que apresentavam incentivos para a ruptura da sociologia com o
conceito de uma sociedade homogênea a invariável. O corpo social
Criminologia crítica: o objetivo de estudo da criminologia, que é diversificado e contrastante, com variados grupos que competem
antes era a criminalidade, passou a ser os meios de criminalização, pelo mesmo espaço na sociedade e pelo poder político.
para os operadores de controle social, pois constituem produtores
de criminalização de comportamentos indivíduos por meio da tria- Conflito social: de acordo com a escola crítica, o conflito social
gem de características conferidas pela interação em sociedade, “de representa a declaração de poder político-econômico pleno e ina-
acordo com a disseminação de poder na sociedade, a criminalidade cessível a camadas sociais desfavorecidas. O delito é o resultado
deve ser distinguida como um ‘bem negativo’, distribuído com base anormal e histórico desse confronto de parcelas sociais adversas,
na desigualdade social, respeitando uma hierarquia de interesses em que uma classe se sobrepõe às demais, definindo a eleição dos
determinados pelo sistema socioeconômico e a diversidade econô- interesses dos feitos desviados socialmente.
mica na sociedade” (ARGUELLO, 2012).3
Aplicação: como vimos, a Sociologia do conflito é também de-
Principais características da Criminologia crítica: nominada de Criminologia Crítica, e esta, por sua vez, tem base no
• Extingue com a ideia da existência de um direito penal uni- labeling approach. Assim, a sua aplicação na criminologia abrange
versal pensamentos deste último:
• Além do sistema penal formal, admite-se o sistema penal in- 1. Além de ir do delinquente ao delito, a teoria passou a dire-
formal, sendo que o primeiro se sucede sob o controle social exe- cionar-se ao sistema penal e à vítima.
cutado por regulamentos legais; no segundo, o controle social se 2. O esquema de reação social, como também é chamado o
exerce por meio do trabalho, da assistência à saúde, da educação, labeling approach, negava a existência do delito como episódio on-
e todos os demais mecanismos que operam na regulamentação e tológico, a não ser como concepção social.
na conservação das interações sociais (BIANCHINI; GOMES, 2019). 4 3. Aponta para o caráter produtor das desigualdades sociais do
• Concepção conflitante da sociedade e do direito (o direito pe- sistema penal, que opera com seleção discriminatória;
nal se ocupa de proteger os interesses do grupo social dominante) 4. Defende que somente a partir de uma intensa denúncia e
• Reclama compreensão e até apreço pelo criminoso; crítica criminológica seria viável determinar um novo sistema de
• Critica severamente a criminologia tradicional; justiça criminal, cuja principal preocupação não envolvesse o ma-
• O capitalismo é a base da criminalidade” niqueísta e utópica promessa de extermínio do crime, e mais com-
• Propõe reformas estruturais na sociedade para redução das prometida com a preservação das pessoas vítimas em todos os ti-
desigualdades e consequentemente da criminalidade” (PENTEADO, pos de hostilidade.
2015). 5
3 ARGÜELLO, Katie. Processo de criminalização e marginalidade social.
Estudos críticos sobre o sistema penal: homenagem ao Professor Doutor
Juarez Cirino dos Santos por seu 70º aniversário. Zilio, J.; Bozza, F. (Org.).
Curitiba: LedZe Editora, 2012.
4 BIANCHINI, Alice; GOMES, Luiz Flávio. Controle social e direito pe-
nal. 2013. Disponível em: < http://professoraalice.jusbrasil.com.br/arti-
gos/121814345/controle-social-edireito- penal >. Acesso em: 10 fev. 2021
5 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de crimin-
ologia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

5
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
6. Transformação da identidade social dos indivíduos delin-
SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA quentes e estigmatização penal: a desequilibrada distribuição, pre-
REALIDADE SOCIAL judicando a população mais insignificante, ou seja, que possuem
uma relação precária e desprivilegiada com a população e o mer-
De acordo com Augusto Baratta (2001)6, o sistema penal reite- cado de trabalho, se sucede conforme as leis de um regulamento
ra a realidade social em seis principais contextos. São eles: social (Second code) que estabelece o emprego das normas teóricas
por parte das camadas da sociedade.
1. O sistema escolar como porção inicial da máquina de dis-
tinção e de marginalização social: a complexidade das atividades
sementadas pelos sistemas penais e escolares atende à premissa CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL
de reprodução e de garantia das relações sociais estabelecidas, ou
seja, de preservar a realidade coletiva, que se expressa com uma As principais características da categoria carcerária nas socie-
desequilibrada distribuição de bens e privilégios. Essa abordagem dades capitalistas dos dias atuais:
corresponde a um dos fundamentos do capitalismo, onde as socie- • Os atributos do modelo de cárcere social podem ser defini-
dades geram zonas de marginalização e subdesenvolvimento. dos pelas aspecto de que as entidades de encarceramento geram
impactos adversos à reeducação do sentenciado e à sua reinserção
2. O papel ideológico da premissa meritocrática escolar: o na sociedade, convenientes à sua sólida reinserção na criminalida-
considerado mau estudante propende a ser menosprezado pelos de.
demais alunos e, para essa situação, coopera também a influência • Uma vida encarcerada, no contexto educativo, tem caráter
de que gozam os pais nas interações escolares, influência tal que, uniformizador e repressor, enquanto a instrução escolar favorece
normalmente, tende a promover a discriminação daqueles nasci- os sentimentos de espontaneidade e de liberdade do indivíduo.
dos nas classes mais insignificantes. • O cárcere é contraditório às modernas convicções didáticas,
e o auto respeito e a individualidade somente são favorecidos por
• Self-fulfilling prophecy: fator para o qual a perspectiva do meio da educação, pois, na relação educacional o educador de-
ambiente estabelece, em relevantes proporções, a conduta do in- monstra respeito pelo indivíduo.
divíduo. • Estudos clínicos efetuados com os tradicionais testes de per-
sonalidade evidenciaram os impactos negativos da clausura sobre a
3. Vínculo funcional entre o sistema de discriminação penal mente dos detidos, bem como a correspondência destes impactos
e escolar: o elo funcional entre ambos os sistemas, no contexto com o enclausuramento.
de um dispositivo universal de reprodução das marginalizações e
relações sociais, é comprovado pela constatação de uma série de Relação entre o encarcerado e a sociedade
dispositivos oficiais, que, introduzidos entre ambos os sistemas, ga- • Relação entre o excluído e o agente da exclusão, sendo o pri-
rantem a sua continuação. meiro o encarcerado e o último, a sociedade; uma relação inviável,
pois, não é possível excluir e incluir ao mesmo tempo. O cárcere re-
4. O papel seletivo e elitista do sistema penal: a regularida- presenta a sociedade, principalmente nos seus aspectos negativos.
de entre os sistemas escolar e penal dá-se por exercerem, funda- • A reeducação ideal deveria ter início não no condenado e,
mentalmente, o mesmo papel de reprodução das relações sociais e sim, na sociedade. Para se chegar ao sistema de exclusão, primeira-
preservação da ordenação vertical da sociedade, compondo contra mente deve-se modificar a sociedade que exclui, antes mesmo de
estímulos eficiente à introdução das camadas operárias marginali- se pretender modificar os sentenciados.
zadas e mais baixas, ou mesmo, apresentado de forma direta ações • As relações de poder e sociais da subcultura carcerária pos-
marginalizantes. suem um conjunto de aspectos que constituem ampliação dos ele-
mentos próprios da sociedade contemporânea capitalista: intera-
5. Os preconceitos, os estereótipos das ideias de senso co- ções sociais fundamentadas na hostilidade e no individualismo, na
mum na aplicação do Direito Penal: estudos práticos têm eviden- qual os cidadãos mais insignificantes são submetidos a exploração
ciado as diferenças de conduta de valor e emocional dos magistra- e subordinação.
dos, diante os membros das diversas camadas da sociedade. Assim,
os juízes são predispostos, mesmo que de forma inconsciente, a Hipótese de Foucault: extensão do ambiente carcerário ao as-
julgamentos distintos que variam de acordo com a posição que o sessoramento nos períodos anterior pós encarceramento, de for-
indivíduo ocupa na sociedade. Ao contrário disso, portanto, é per- ma que este universo permaneça continuamente debaixo da pers-
tinente a afirmação de que há uma inclinação por parte dos ma- pectiva de uma observação científica e que se transforma em um
gistrados de expectar por uma conduta em concordância às regras dispositivo de controle e de monitoramento de toda a sociedade;
dos indivíduos relacionados aos às categorias altas e intermediá- o que aparenta a realidade muito semelhante à corrente de de-
rias, exatamente o oposto do que se sucede com os indivíduos cuja senvolvimento que o sistema penal adotou na sociedade capitalista
origem está nas classes desfavorecidas. contemporânea.

Pós pena: uma sociedade que pune despreza a assistência ao


encarcerado após o término de seu período de detenção. Isso pode
ser compreendido como a intenção de tornar permanente o estig-
ma que a punição tornou irreversível no indivíduo.

6 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal.


Introdução à Sociologia do Direito Penal. 6º ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011

6
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Para se ter uma ideia, o próprio Artigo 5º da Constituição Fe-
MODELO CONSENSUAL DE JUSTIÇA CRIMINAL deral descreve a segurança como uma garantia constitucional. Sen-
do assim, a função do Estado é manter a organização dos serviços
Os modelos de solução de conflitos penais partem do pressu- administrativos com o objetivo de que o seu funcionamento seja
posto de que o crime é um fenômeno de conflito social e interpes- satisfatório e garanta a prevenção dos atos criminosos e violentos.
soal, e a solução determinante seria obtida por meio de um proces-
so que envolvesse interação, comunicação e negociação entre as Por isso, torna-se de vital importância a adoção de medidas
partes relacionadas, ou seja, vítima e autor. preventivas no que tange à segurança pública, já que com isso a re-
Também chamado de modelo consensuado, o Modelo Con- dução da criminalidade seria visível e significativa, além de forçar o
sensual de Justiça Criminal se manifesta com a finalidade de dar serviço público a prestar a segurança da maneira como está prevista
prosseguimento ao sistema de integração das partes para a resolu- na Constituição.
ção do confronto pela, assinalando que é necessária a sucessão da
flexibilização das sanções e dos processos, prescrevendo um acor- Em 1998 houve a implantação do policiamento comunitário,
do entre os envolvidos, pois este pode significar uma solução mais considerada uma verdadeira revolução na segurança pública bra-
adequada ao conflito, em oposição à estipulação de pena prescrita sileira. Mas para que isso funcionasse foram criados os Conselhos
de forma abstrata. Comunitários.
De acordo com Flávio Gomes e Antônio Molina7 existem duas
subdivisões do Modelo Consensual de Justiça Criminal: Esses Conselhos são formados pelos mais diferentes segmen-
• Modelo restaurativo ou pacificador: por meio da reparação tos de um bairro ou cidade, formados por policiais, bombeiros, mé-
dos prejuízos causados à vítima, objetiva a pacificação e satisfação dicos, professores, comerciantes, estudantes, associações, igrejas e
social e entre as partes conflito etc. E tem também os seguintes deveres:
• Modelo da Justiça Penal negociada: visa à solução do conflito
pela por meio da confissão do crime, da aceitação da culpa e/ou — Fazer um levantamento das áreas de risco;
acordo no montante da pena prescrita, bem como na sua aplicação,
que pode consistir em serviços prestados à sociedade, reparação — Sugerir medidas preventivas;
de danos ou mesmo perda de bens.
— Mediar conflitos entre os integrantes da comunidade;
Principais ferramentas para a implementação do modelo con-
sensual: — Promover campanhas de assistência e recuperação das pes-
1. Conciliação: solução do litígio por decisão das partes, sem soas que foram vítimas da violência.
intermediações
2. Mediação penal: um mediador auxilia as partes a estabele- O governo, por sua vez, em 2000, através de uma medida provi-
cerem acordo sória de número 2029, criou o “Plano Nacional de Segurança Públi-
3. Negociação: consenso auferido entre acusado e entidade ca” citado anteriormente. Esse plano possui 124 medidas, onde se
acusadora, envolvendo a negociação em torno a tipificação do cri- destaca a preocupação com a importância que a sociedade deve ter
me, bem como a pena a ser prescrita e suas formas de execução e suas atuações na luta pela diminuição da violência.

Todo esse processo envolveu e envolve a comunidade, com o


estabelecimento de políticas descentralizadoras e a criação de con-
CRIMINOLOGIA, POLICIAMENTO E SEGURANÇA PÚ- selhos de segurança pública nos âmbitos federal, estadual e munici-
BLICA NO SÉCULO XXI pal, bem como a criação de agentes comunitários de segurança pú-
blica e de justiça, com o objetivo de promover uma maior eficiência
Com a chegada do século XXI, à medida que a criminalidade nas decisões judiciais pela atuação dos próprios cidadãos.
foi aumentando, a população percebeu que algo deveria ser fei-
to, porém de uma maneira diferente e efetiva. Essa ideia também Nesse plano foram elaboradas estratégias comunitárias, que
atormentava as cabeças dos cientistas sociais, sociólogos e demais têm como objetivo estimular inúmeros debates entre os órgãos de
profissionais. segurança pública e a sociedade, com destaque para a criação de
um serviço comunitário nas universidades brasileiras, para estimu-
A segurança pública dentro da Constituição brasileira é dever lar o contato dos jovens com a realidade social dos excluídos.
do Estado, direito e responsabilidade de todos, sendo exercida para
a preservação da ordem pública. Já nos itens 89, 91 e 92 do Plano Nacional de Segurança Pública
houve a criação de Centros Integrados da Cidadania em áreas con-
Portanto, sabemos que a participação da sociedade é muito im- sideradas críticas nas cidades e a elaboração de um Centro Nacional
portante em todo esse processo, porém o governo tem uma grande de Formação Comunitária com o importante objetivo de capacitar
parcela de responsabilidade e quando não realiza suas ações de for- líderes comunitários.
ma efetiva, prejudica todo o processo.
Em 2000, houve também a 7ª Conferência Nacional de Direitos
Humanos, que teve como tema “Um Brasil sem violência: tarefa de
todos”.

7 GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, António; GOMES, Luiz Flavio. Criminolo-


gia. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. Acesso em 10 fev 2021

7
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Em 2003, houve a criação do Programa Nacional de Segurança 3. (PC-GO — DELEGADO DE POLÍCIA- UEG - 2018) Em Vigiar
Pública do Governo Federal, amparado pela Secretaria de Seguran- e Punir, Michel Foucault (1926-1984) aborda a transformação dos
ça Pública, que teve como objetivo a criação de um modelo policial métodos punitivos a partir de uma tecnologia do corpo, dentre
no país, com uma maior qualidade de formação profissional, me- cujos aspectos fundamentais destaca-se:
lhores salários, políticas de incentivo e de valorização. (A) a coexistência entre diversas economias políticas do casti-
go, mas, fundamentalmente, a mudança qualitativa que repre-
Esse programa é responsável também por promover a estabili- sentou substituição do carcerário pelo patibular.
dade democrática, amparada nos direitos humanos e voltada para a (B) o pensamento criminológico centrado na figura do homem
presença constante da paz, através de políticas públicas que envol- delinquente, o que constitui a força motriz para o surgimento e
vam todos os segmentos da sociedade. consolidação da prisão como mecanismo de controle.
(C) o cumprimento dos fins declarados da pena de prisão na
Então, fica claro que a sociedade é parte vital em todo esse medida em que separa os espaços sociais livres de castigo e os
processo, é mais que uma atitude cidadã, o indivíduo deve sempre que devem ser objeto da repressão estatal.
se preocupar com a integridade física e moral dos outros, além da (D) o abandono completo do suplício corporal como tecnologia
manutenção da ordem pública. encarceradora que passa ser utilizada a partir do século XIX.
(E) o cárcere como dispositivo preponderante sobre o qual se
FONTE: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/ ergue a sociedade disciplinar.
artigos/educacao/a-seguranca-publica-no-seculo-xxi/61702
4. (DPE-RO — DEFENSOR PÚBLICO SUBSTITUTO - VUNESP -
2017) Assinale a alternativa correta em relação aos estudos e con-
EXERCÍCIOS tribuições de Lombroso para o desenvolvimento histórico da crimi-
nologia.
(A) Fundadas nas demonstrações de Lombroso, todas as teo-
1. (PC-SP — INVESTIGADOR DE POLÍCIA - VUNESP - 2017) O rias criminológicas defendem que não se deve punir aqueles
modelo de resposta ao delito que foca na punição do criminoso, que cometem crimes em virtude do determinismo genético e
proporcional ao dano causado, mediante um Estado atuante e inti- biológico.
midatória, denomina-se: (B) As ideias desenvolvidas por Lombroso fundamentaram as
(A) Padrão consensual bases da teoria do distanciamento.
(B) Modelo ressocializado (C) Lombroso sustentava que era de suma importância estudar
(C) Modelo segregador as circunstâncias do delito em detrimento do delinquente.
(D) Padrão associativo (D) Os estudos de Lombroso inserem-se no contexto de ideias
(E) Modelo dissuasório que contrapõem o conceito de livre arbítrio.
(E) Os estudos desenvolvidos por Lombroso demonstram-se
2. (PC-MG — DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - FUMARC como um retrocesso às ideias e conceitos da Escola Clássica,
- 2018) Sobre o sistema penal e a reprodução da realidade social, motivo pelo qual não contribuíram para o desenvolvimento da
segundo Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar: Criminologia como ciência.
(A) A cada sucessiva recomendação do menor às instâncias ofi-
ciais de assistência e de controle social corresponde uma di- 5. (PC-SP — ESCRIVÃO DE POLÍCIA - PS-SP — 2017) A asso-
minuição das chances desse menor ser selecionado para uma ciação entre hereditariedade / delito e anomalias cromossômicas /
“carreira criminosa”. comportamento criminal inserem-se no modelo da:
(B) A homogeneidade do sistema escolar e do sistema penal (A) Biologia Criminal
corresponde ao fato de que realizam, essencialmente, a mes- (B) Sociologia Criminal
ma função de reprodução das relações sociais e de manuten- (C) Psicologia Criminal
ção da estrutura vertical da sociedade. (D) Psiquiatria Criminal
(C) A teoria das carreiras desviantes, segundo a qual o recru- (E) Frenologia Criminal
tamento dos “criminosos” se dá nas zonas sociais mais débeis,
não é confirmada quando se analisa a população carcerária. 6. (PC-SP — INVESTIGADOR DE POLÍCIA - VUNESP - 2017) A ex-
(D) O suficiente conhecimento e a capacidade de penetração plicação acerca das causas da conduta delitiva possui fundamentos
no mundo do acusado por parte do juiz e das partes no pro- biológicos, dentre outros. Assinale a alternativa que corresponde a
cesso criminal são favoráveis aos indivíduos provenientes dos uma das teorias biológicas da criminalidade.
estratos econômicos inferiores da população. (A) Teoria das Funções
(B) Teoria Analítica
(C) Estrutural-Funcionalismo
(D) Teoria dos Instintos
(E) Teoria do Consenso

8
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
7. (PC-BA — DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP - 2018) No to-
cante às teorias da subcultura delinquente e da anomia, assinale a
ANOTAÇÕES
alternativa correta.
(A) Uma das principais críticas às teorias da subcultura delin- ______________________________________________________
quente é a de que ela não consegue oferecer uma explicação
generalizadora da criminalidade, havendo um apego exclusivo ______________________________________________________
a determinado tipo de criminalidade, sem que se tenha uma
abordagem do todo. ______________________________________________________
(B) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Durkheim, define-
-se a partir do sintoma do vazio produzido no momento em ______________________________________________________
que os meios socioestruturais não satisfazem as expectativas
______________________________________________________
culturais da sociedade, fazendo com que a falta de oportuni-
dade leve à prática de atos irregulares para atingir os objetivos ______________________________________________________
almejados.
(C) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Merton, define-se ______________________________________________________
a partir do momento em que a função da pena não é cumprida,
por exemplo, instaura-se uma disfunção no corpo social que ______________________________________________________
desacredita o sistema normativo de condutas, fazendo surgir a
anomia. Portanto, a anomia não significa ausência de normas, ______________________________________________________
mas o enfraquecimento de seu poder de influenciar condutas
______________________________________________________
sociais.
(D) O utilitarismo da ação é um dos fatores que caracterizam ______________________________________________________
a subcultura deliquencial sob a perspectiva de Albert Cohen.
(E) O sentimento de impunidade vivenciado por uma sociedade ______________________________________________________
é antagônico ao conceito de anomia identificado sob a ótica de
Durkheim. ______________________________________________________

8. (PC-SE — DELEGADO DE POLÍCIA - CESPE/CEBRASPE - 2018) ______________________________________________________


Texto associado:
Em seu início, a sociologia criminal buscava associar a gênese ______________________________________________________
delituosa a fatores biológicos. Posteriormente, ela passou a englo-
______________________________________________________
bar as chamadas teorias macrossociológicas, que não se limitavam
à análise do delito segundo uma visão do indivíduo ou de pequenos ______________________________________________________
grupos, mas consideravam a sociedade como um todo.
Tendo esse fragmento de texto como referência inicial, julgue ______________________________________________________
o item a seguir, relativo a teorias sociológicas em criminologia.
Relacionada a movimentos conservadores e a orientações po- ______________________________________________________
líticas também conservadoras, a teoria sociológica do conflito con-
sidera que a harmonia social advém da coerção e do uso da força, ______________________________________________________
pois as sociedades estão sujeitas a mudanças contínuas e são pre-
______________________________________________________
dispostas à dissolução.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________

GABARITO _____________________________________________________

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1 E ______________________________________________________
2 B
______________________________________________________
3 B
4 B ______________________________________________________
5 A ______________________________________________________
6 C
______________________________________________________
7 C
8 ERRADO ______________________________________________________

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NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
1. Perícias e Peritos. Documentos médico-legais. Quesitos oficiais. Perícias médicas. Ética médica e pericial. .5 Legislação sobre perícias
médico-legais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Antropologia Médico-legal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3. Identidade e identificação Identificação judiciária. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4. Traumatologia Médico-legal. Lesões corporais sob o ponto de vista jurídico. Energias de Ordem MecânicaEnergias de Ordem Química,
cáusticos e venenos, embriaguez, toxicomanias. Energias de Ordem Física: Efeitos da temperatura, eletricidade, pressão atmosférica,
radiações, luz e som. Energias de Ordem Físico-Química: Asfixias em geral. Asfixias em espécie: por gases irrespiráveis, por monóxido
de carbono, por sufocação direta, por sufocação indireta, por afogamento, por enforcamento, por estrangulamento, por esganadura,
por soterramento e por confinamento. Energias de Ordem Biodinâmica e Mistas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Tanatologia Médico-legal. Tanatognose e cronotanatognose. Fenômenos cadavéricos. Necropsia, necroscopia. Exumação. “Causa
mortis”. Morte natural e morte violenta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6. Direitos sobre o cadáver. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
7. Sexologia Médico-legalCrimes contra a dignidade sexual e provas periciais. Gravidez, parto, puerpério, aborto, infanticídio. Reprodu-
ção assistida. Transtornos da sexualidade e da identidade sexual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
8. Psicopatologia Médico-legalImputabilidade penal e capacidade civil. Limite e modificadores da responsabilidade penal e capacidade
civil. Repercussões médico-legais dos distúrbios psíquicos. Simulação, dissimulação e supersimulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
9. Embriaguez alcoólica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
10. Alcoolismo. Aspectos jurídicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
11. Toxicofilias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Vestígio: é tudo aquilo que pode ser encontrado no local do
PERÍCIAS E PERITOS. PERÍCIAS MÉDICAS. LEGISLAÇÃO crime ou no cadáver;
SOBRE PERÍCIAS MÉDICO-LEGAIS Indício: é todo vestígio relacionado diretamente com o evento;
Corpo de delito: é o conjunto de vestígios materiais deixados
A Medicina Lehal é o estudo e a aplicação dos conhecimentos pelo crime;
científicos da Medicina para o esclarecimento de inúmeros fatos Exame de corpo de delito: é o exame pericial, com a finalidade
de interesse jurídico; é a ciência de aplicação dos conhecimentos de se materializar o crime. Encontra-se regulado pelo CPP.
médico-biológicos aos interesses do Direito constituído, do Direito
constituendo e à fiscalização do exercício médico-profissional. A Medicina Legal atua:
- Sobre o vivo: com a finalidade de determinar a idade, diagnos-
A ampla abrangência do seu campo de ação e íntimo relacio- ticar doença ou deficiência mental, loucura, doença venérea, lesão
namento entre o pensamento biológico e o pensamento jurídico corporal, personalidades psicopáticas, conjunção carnal, doenças
explicam por que até o momento não se definiu, comprecisão, a profissionais, acidentes de trabalho...
Medicina Legal. Assim os autores têm, ao longo dos anos, intentado - Sobre o morto: diagnostica a realidade da morte, determina a
inúmeras definições dentre as quais se destacam: causa jurídica da morte, data da morte, diferencia lesões intravitam
“É a arte de fazer relatórios em juízo”. (Ambrósio Paré) e post-mortem, examina toxicologicamente os fluídos e vísceras
“É a aplicação de conhecimentos médicos aos problemas judi- corporais, extração de projetis, exumação...
ciais”. (Nério Rojas) - Exames sobre coisas: (objetos) roupas, panos, instrumentos,
“É a ciência do médico aplicada aos fins da ciência do Direito”. manchados de substâncias (leite, sangue, urina, líquido amniótico,
(Buchner)”É a arte de pôr os conceitos médicos ao serviço da admi- massa cerebral, saliva, pus blenorrágico, colostro...)
nistração da justiça”. (Lacassagne) - Exame clínico médico-legal: abrange o que é praticado no vivo
“É o estudo do homem são ou doente, vivo ou morto, somente e visa esclarecer os objetivos das perícias sobre pessoas;
naquilo que possa formar assunto de questões forense”. (De Crec- - Exame necroscópico: exames realizados diretamente no ca-
chio) dáver;
“É a disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para - Exame de exumação: refere-se à hipótese de haver a necessi-
dar respostas às questões jurídicas”. (Bonnet) dade de examinar o cadáver já enterrado;
“É a aplicação dos conhecimentos médico - biológicos na ela- - Exames de laboratório: pesquisas técnicas diversas (toxicoló-
boração e execução das leis que deles carecem”. (F. Favero) gica, microscópica, bioquímica, citológica...).
“É a medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais”. (Geni-
val V. de França) Divisão da Medicina Legal
“É o conjunto de conhecimentos médicos e para médicos desti-
nados a servir ao direito, cooperando na elaboração, auxiliando na Relações: Serve mais a área Jurídica, do que à própria medicina
interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais, uma vez que foi criada em prol das necessidades do Direito. Desta
no seu campo de ação de medicina aplicada”. (Hélio Gomes) maneira, com as Ciências Jurídicas e Sociais relaciona-se, comple-
tando-se ambas sem nenhum embate.
Trata-se de uma especialidade que, utilizando-se os conheci- Colabora com o Direito Penal, quando são realizados exames
mentos técnico-científicos das ciências que subsidiam a medicina, periciais avaliando lesões corporais; analisando a realidade ou não
tais como: a Biologia, Química, Física... Presta esclarecimentos à da ocorrência do infanticídio; examinando o cadáver interna e ex-
atuação da Justiça. ternamente em casos de homicídio; avaliando indícios e vestígios
“É o conjunto de conhecimentos médicos destinados a servir o em casos de estupro; apresenta interesse na constatação da pe-
Direito, cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e riculosidade do sentenciado e da imputabilidade plena, parcial ou
elaborando na execução dos dispositivos legais” Hélio Gomes. nula do indiciado etc. Com o Direito Civil no que tange a problemas
de paternidade, comoriência, impedimentos matrimoniais, gravi-
Fundamentos. dez, impotência .lato sensu., concepção de defeito físico irreme-
- No direito brasileiro: CP, artigo 1°: “Não há crime sem lei an- diável etc.
terior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Com o Direito do Trabalho quando cuida das doenças profissio-
Crime: Infração penal a que a lei comina com pena de reclusão nais, acidentes do trabalho, insalubridade e higiene. Quando trata
ou detenção. de questões sobre a dissolubilidade do matrimônio, a proteção da
O Código de Processo Penal em seu artigo 386 caput: “O juiz infância e à maternidade se presta ao Direito Constitucional.
absolverá o réu (...) se, parágrafo II: “não haver prova da existência Com o Direito Processual Civil quando trata a concepção da in-
do fato” (...). terdição e da avaliação da capacidade civil e, Penal quando cuida da
insanidade mental se estuda a psicologia da testemunha, da confis-
Prova: é o conjunto de meios regulares e admissíveis emprega- são e da acareação do acusado e da vítima.
dos para demonstrar a verdade ou falsidade de um fato conhecido O Direito Penitenciário também não permanece fora do campo
ou controvertido; de ação da Medicina Legal na medida em que trata da psicologia do
Prova penal: no processo penal, apura o fato delituoso e, sua detento, concessão de livramento condicional bem como da psicos-
autoria, para exata aplicação da Lei (“senctiu iuris”); sexualidade nos presídios. É uma ciência social vez que trata ainda
O ônus da prova caberá a quem fizer a alegação do fato; dos diagnósticos e tratamentos de embriaguez, toxicofilias. Rela-
Prova objetiva: (prova pericial) é aquela que advém do exame ciona-se ainda com o Direito dos Desportos, Internacional Público,
técnico-científico dos elementos materiais remanescentes da infra- Internacional Privado, Direito Canônico e Direito Comercial.
ção penal; Não raro uma perícia médico-legal, para a elucidação dos fatos
Prova testemunhal: ou subjetiva. Trata-se da prova descrita/ ocorridos, necessita ainda dos préstimos da Química, Física, Biolo-
narrada por outrem; gia, Toxicologia, Balística, Dactiloscopia, Economia, Sociologia, En-
Prova ilícita: inadmissível no processo. tomologia e Antropologia (FRANÇA, 2004, p. 02).

1
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Divisão Didática: A Medicina Legal possui uma parte geral, Muitas vezes é preciso distinguir o certo do que está duvidoso,
onde se estuda a Jurisprudência Médica, ou a Deontologia Médica explicar de maneira clara todos os indícios relacionados ao ocorrido,
que ensina aos profissionais da área médica seus direitos e deveres. não sendo omitidas particularidades, para que haja uma conclusão
Tem também uma parte especial dividida nos seguintes capítulos: correta. Nem sempre tem valor para a medicina convencional algo,
- Antropologia Forense ou Médico-legal: É o estudo da identi- que para a Medicina Legal apresenta extraordinária importância.
dade e identificação médico-legal e judiciária. O juiz, não pode prescindir desta ciência auxiliar do direito,
- Traumatologia Forense ou Médico-legal: Capítulo extenso e para ter condições de avaliar e sopesar a verdade, analisando os
denso que estuda as lesões corporais e os agentes lesivos. documentos resultantes das perícias, adquirindo uma consciência
- Tanatologia Forense ou Médico-legal: Estuda a morte e o técnica dos fatos que envolvem o problema jurídico. Para a maioria
morto. Conceito, momento, realidade e causa da morte. Tipos de dos autores, a mais importante missão do exame pericial é orien-
morte. Sinais de morte. Destino legal do cadáver, direito sobre o tar e iluminar a consciência do magistrado. Erros periciais podem
cadáver etc. ocorrer, mas conhecendo a Medicina Legal o aplicador da lei terá
- Asfixiologia Forense ou Médico-legal: Trata das asfixias de ori- novos elementos de convicção ao apreciar a prova, podendo anali-
gem violenta. As asfixias mecânicas como enforcamento, estrangu- sar melhor as informações técnicas, prolatando sentenças, livres de
lamento, esganadura, afogamento, soterramento, sufocação direta relatórios viciados. Para França (2004, p.04-05), a necessidade de
e indireta e as asfixias por gases irrespiráveis. dar cumprimento às exigências penais, corroboram com a necessi-
- Toxicologia Forense ou Médico-legal: Analisa os cáusticos e dade de conhecimento da Medicina Legal,
os venenos. o juiz não deve apenas examinar o criminoso. Deve também
- Sexologia Forense ou Médico-legal: É um capítulo social e cul- verificar as condições que o motivaram e os mecanismos da exe-
tural. É informativo e analisa a sexualidade sob o ponto de vista cução. Assim, deve ser analisada a gravidade do crime, os motivos,
normal, patológico e criminoso. circunstâncias e a intensidade do dolo ou culpa. A qualidade e quan-
- Psicologia Forense ou Médico-legal: Estuda as causas que po- tidade do dano.
dem deformar um psiquismo normal, bem como, a capacidade de Deve ele ter um conhecimento humanístico e jurídico, uma sen-
entendimento da testemunha, da confissão, do delinqüente e da sibilidade na apreciação quantitativa e qualitativa da prova (Idem,
vítima. ibidem.).
- Psiquiatria Forense ou Médico-legal: Neste capítulo a análise O advogado, no exercício da profissão, também precisa, e
é mais profunda, pois trata dos transtornos mentais e da conduta, muito, destes conhecimentos médico-legais, sendo um crítico da
da capacidade civil e da responsabilidade penal. Criminalística: Es- prova, não aceitando como absolutos certos resultados, somente
tuda a dinâmica do crime, analisando seus indícios e vestígios ma- pelo simples fato de constituírem avanços recentes da ciência ou
teriais. da tecnologia. Deve saber pedir aos peritos e por outro lado precisa
- Criminologia: Preocupa-se com o criminoso, com a vítima e saber interpretar, e requisitar, em relação aos casos em estudo. O
com o ambiente. Estuda a criminogênese. pedido formulado deve estar dentro das possibilidades da ciência e
- Infortunística: Estuda os acidentes e doenças do trabalho, do- técnica médico-legal.
enças profissionais, higiene e insalubridade laborativas. Devendo O promotor de justiça tendo o ônus da prova, justificando-a e
sempre lembrar-se da necessidade do exame pericial do local do explicando-a, necessita mais do que ninguém dos conhecimentos
trabalho para que se estabeleça um nexo de causalidade entre aci- médico-legais, para uma correta interpretação de todos os laudos
dente ou doença e o trabalho. envolvidos nos casos a serem julgados.
- Genética Forense ou Médico-legal: Especifica as questões liga- Trata-se de uma contribuição de alta valia e é a soma de to-
das à herança e ao vínculo genético da paternidade e maternidade. das as especialidades médicas, cada uma colaborando à sua ma-
- Vitimologia: Analisa a vítima como elemento participativo na neira para que a ordem seja restaurada. Por tudo o que vimos a
ocorrência do delito. Medicina Legal em seu estudo e aplicação, coopera na execução
- Policiologia Científica: Considera os métodos científicos-mé- de leis já existentes, interpretando os textos legais com significado
dico-legais usados pela polícia na investigação e elucidação dos cri- médico, bem como ajuda elaborar novas normas relacionadas com
mes. a medicina. É uma ciência ímpar em seus aspectos usuais, pois une
o conhecimento biológico, cuidadoso e artesanal a técnicas labo-
Importância da Medicina Legal ratoriais avançadas, com a finalidade de dar à Justiça elementos
O Direito é uma ciência humana, desta forma mister se faz que de convicção, para a solução das variadas questões dos ramos do
os profissionais da área tenham um bom conhecimento do que é conhecimento humano. A perícia hoje não é igual à de ontem, nem
o ser humano em sua totalidade. Para tanto não é preciso possuir será igual à de amanhã. O papel de árbitro e perito, levando à de-
conhecimentos como um profissional de biomédica, no entanto, o cisões e sanando as dúvidas na sociedade e na justiça é que dão à
mínimo para essa compreensão é necessário, sendo a Medicina Le- Medicina Legal extensão e dela se espera pronunciamentos claros,
gal um suporte para essa finalidade. A evolução tecnológica e das comprovados e inegáveis.
áreas do conhecimento humano, fizeram com que o exercício do Qualquer um que opere na área do direito, precisa reunir con-
direito moderno dependa cada vez mais da contribuição desta ci- dições para ler, interpretar e saber rejeitar um documento falho,
ência e, os operadores da área jurídica não têm como desprezar os incompleto ou que não traduza, com clareza e confiança a reali-
conhecimentos técnicos de peritos preparados para dar o respaldo dade do espetáculo. Tudo tem que estar fiel. Num único processo,
científico aos trabalhos forenses, pois somente assim é viável che- não raro, há mais de um laudo, em mais de uma área e todas as
gar-se o mais próximo possível da verdade dos fatos. No entanto, dificuldades periciais surgem no dia-a-dia, caso a caso exigindo do
ela não vem recebendo a merecida atenção por parte dos profissio- advogado das partes, promotor público, delegado de polícia e da
nais do campo para o qual é destinada. justiça atenção para que não fiquem perguntas sem respostas.

2
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Considerando seu extenso campo de ação, é claro que seria Os peritos atuam na fase de inquérito policial ou processo judi-
pretensão tentar esgotar o estudo acerca dessa matéria apaixo- cial, sendo considerados auxiliares da Justiça.
nante que nos assusta inicialmente, mas que depois nos abre uma A Lei 12.030/2009 considera peritos de natureza criminal os
longa cortina do tempo, demonstrando que está inexoravelmente médico-legistas, peritos odontologistas e peritos criminais, sendo
ligada com a própria história da humanidade.1 importante frisar que, embora sejam requisitados pelo Delegado
de Polícia ou pelo Juiz para procederem a determinados exames,
Corpo de Delito as autoridades requisitantes não possuem ingerência sobre a ela-
Corpo de delito são os elementos imperceptíveis da infração boração do laudo, sendo garantida a autonomia técnica, científica
penal, isto é, são os vestígios deixados pelo ilícito penal, os elemen- e funcional dos peritos.
tos através do dos quais podem ser verificados a ocorrência de um Os peritos podem ser oficiais ou não oficiais, conforme exposto
crime. abaixo:
Assim, o exame de corpo de delito é aquele realizado sobre tais a) Perito Oficial – É o profissional concursado e de carreira que
vestígios, visando comprovar a ocorrência de um crime. exerce função pública. É um servidor público.
É a maneira pela qual se comprova a materialidade do delito b) Perito Não Oficial / nomeado (ad hoc) – É o profissional por-
praticado. tador de diploma superior, designado pelo Delegado de Polícia ou
Duas são as espécies de exame de corpo de delito: direto e Juiz para realização de perícia, os quais prestam compromisso para
indireto. desempenhar o encargo.

a) Exame de corpo de delito direto é aquele realizado pelo pe- ATENÇÃO:


rito em contato direto e imediato com os vestígios do crime. Para a realização da perícia por perito não oficial, será exigido
b) Exame de corpo de delito indireto é aquele realizado atra- legalmente a participação de 2 (dois) peritos idôneos, portadores
vés da análise de outros elementos que não propriamente os vestí- de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
gios deixados pela prática criminosa. os quais prestarão o compromisso com a verdade. (art. 159, §1º, do
Código de Processo Penal)
Para efeitos de realização do exame de corpo de delito, as Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão
infrações penais subdividem-se em infrações penais que deixam realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
vestígios materiais ou infrações penais intranseuntes, e infrações §1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
penais que não deixam vestígios, também chamadas de infrações (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
penais transeuntes. preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili-
Note-se que por força do artigo 158 do CPP, quando tratar-se tação técnica relacionada com a natureza do exame.
de infrações penais intranseuntes a realização de exame de corpo Os peritos estão suscetíveis a responsabilização civil e admi-
de delito será necessária. nistrativa, quando por dolo ou culpa, cometerem um ato ilícito que
Questão controvertida surge com relação ao que vem a ser que ocasione danos a terceiros, nos termos do artigo 158, do Código de
o exame de corpo de delito indireto, tendo vista o disposto no arti- Processo Penal e art. 186, do Código Civil, respectivamente. Veja-
go 167 do CPP. Com efeito, o referido dispositivo legal dispõe que mos:
não sendo possível o exame de corpo de delito, por haver desapa- CPC – Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar infor-
recido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhes a falta. mações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e
Fernando da Costa Tourinho Filho, ao lado de Espínola Filho, ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois)
entende que referido artigo não exige nenhuma formalidade para a a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas
em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de clas-
constituição do exame de corpo de delito indireto, sendo o simples
se para adoção das medidas que entender cabíveis.
testemunho de que presenciou o crime ou viu seus vestígios sufi-
CC – Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
ciente para suprir o exame direto.
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
Já para Guilherme de Souza Nucci e Hélio Tornaghi, uma coisa
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
não se confunde com a outra, sendo que o testemunho é a prova
Os peritos também estarão suscetíveis a responsabilização pe-
pela qual os peritos deverão realizar o exame, apresentando suas
nal em virtude dos seus atos praticados, nos termos da legislação
conclusões.
penal em vigor. Vejamos os principais crimes relacionados à atua-
Exames periciais – dispõe o artigo 159 do CPP, com a nova re-
ção dos peritos, tipificado no Código Penal:
dação que lhe foi dada pela lei 11.690/2008, que os exames peri-
ciais devem ser realizados por um perito oficial, o qual deve portar Violação do segredo profissional
diploma de curso superior. CP – Art. 154 – Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de
A finalidade da perícia é auxiliar o julgador em questões situ- que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão,
adas fora de sua área de conhecimento profissional, é o juízo de e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
valorização exercido por um especialista, o perito. Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Violação de sigilo funcional
Perito CP – Art. 325 – Revelar fato de que tem ciência em razão do
É o auxiliar da justiça, cuja função é fornecer ao juiz dados ins- cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a reve-
trutórios, de ordem técnica, realizando a verificação e a formação lação:
do exame do corpo de delito. Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato
São profissionais com conhecimentos técnico-científicos em não constitui crime mais grave.
áreas do saber humano, os quais fornecem informações técnicas §1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
sobre determinado assunto em um caso concreto e procedem a
exames em pessoas ou coisas.
1 Fonte: www.mackenzie.br – Por Irene Batista Muakad

3
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e Realização das perícias
empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pesso- Para a realização da perícia, de acordo com o artigo 161, do
as não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados CPP, pode ser designado qualquer dia e horário, de acordo com a
da Administração Pública; necessidade e disponibilidade dos peritos. Ressalte-se, contudo,
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. que o perito não pode recusar a nomeação e tampouco deixar de
§2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Públi- comparecer para a realização do exame, de acordo com o que dis-
ca ou a outrem: põe os artigos 277 e 278 do CPP, salvo motivo justificável.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Exame necroscópico (autópsia)
Falso testemunho ou falsa perícia É o exame realizado por peritos das partes internas de um ca-
CP – Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verda- dáver, tendo como finalidade principal constatar a morte e sua cau-
de como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em sa, servindo, contudo, para a verificação de outros aspectos, como
processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo por exemplo, a trajetória do projétil e o número de ferimentos rea-
arbitral: lizados, bem como os orifícios de entrada e saída dos instrumentos
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. utilizados.
Excepcionalmente, a autópsia pode ser dispensada, nos ter-
ATENÇÃO: mos do parágrafo único do artigo 162 do CPP.
São aplicáveis aos peritos as regras de suspeição, incompatibi- O artigo 162 do CPP determina que a autópsia deverá esperar
lidade e impedimento, conforme artigos 1125 e 2806 do Código de pelo menos 6 horas para que possa ser realizada, tempo este ne-
Processo Penal. cessário para o surgimento dos sinais tanatológicos, a não ser que
o perito, com base nas evidências da morte, julgue que possa ser
Perícia realizado antes daquele prazo, o que deverá constar no auto.
É um procedimento médico, realizado através de requisição do
Delegado de Polícia ou do Juiz, objetivando esclarecer fatos de inte- Outras perícias
resse da justiça, através da análise médica de vestígios. Outras perícias vêm discriminadas nos artigos 163 a 175 do
Genival França define a perícia médico-legal com sendo “um CPP. São elas:
conjunto de procedimentos médicos e técnicos que tem como fina- - Exumação;
lidade o esclarecimento de um fato de interesse da justiça.” (FRAN- - Exame de corpo de delito em caso de lesões corporais;
ÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 10ª ed. Rio de Janeiro: GEN, - Exame de local;
2015. p. 46.) - Exame laboratorial;
É importante, para fins didáticos, distinguir a perícia geral da - Perícia furto qualificado e crimes afins;
perícia médica. A primeira é realizada por perito criminal e recai so- - Laudo de avaliação;
bre objetos ou instrumentos relacionados ao local de crime. Já a se- - Exame de local de incêndio;
gunda é realizada pelo perito médico-legal e recai sobre os vestígios - Exame grafotécnico;
que possuem interesse médico-legal como perícia de identificação Exame dos instrumentos utilizados nos crimes.
antropológica, perícia traumatológica, tanatoscópica, etc.
São objetos da perícia: Resumidamente, devemos nos lembrar que, não existe um
a) Pessoas vivas: visa diagnosticar as lesões corporais e suas exame de corpo de delito padrão. Como o objetivo é detectar le-
espécies, determinar idade, sexo, etc. sões causadas por qualquer ato ilegal ou criminoso, ele pode ser
b) Mortos: visa diagnosticar a causa morte, o tempo da morte, aplicado em diversas situações, como após uma batida de carro, em
identificar o cadáver, etc. casos de agressão ou quando um detento é transferido de presídio.
c) Esqueletos: visa à identificação da espécie, do sexo e do tem- O exame também é uma prova fundamental para esclarecer casos
po da morte. de tentativa de suicídio, homicídio e estupro. “A vítima é analisada
As perícias, por possuírem base científica, constituem um for- minuciosamente e todas as lesões encontradas são descritas com
te elemento de convicção judicial no processo criminal, porém o fidelidade”.
juiz não estará vinculado aos laudos periciais, podendo rejeitá-los, O único profissional habilitado a realizar esse exame é o mé-
conforme inteligência do artigo 182 do Código de Processo Penal. dico legista. O procedimento precisa ser solicitado por uma auto-
ridade, como um delegado ou promotor. O médico legista procura
Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo responder a perguntas básicas, que investigam a extensão e a gra-
ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. vidade dos danos físicos e psicológicos causados à vitima. Ele deve
tentar descobrir também como as lesões foram provocadas e se
ATENÇÃO: houve requintes de crueldade, como o uso de fogo, asfixia ou enve-
A perícia pode recair sobre fatos a serem analisados tecnica- nenamento. São levadas em conta ainda as consequências dos fe-
mente pelo perito (perícia percipiendi), bem como sobre outras pe- rimentos, desde a incapacidade temporária para trabalhar até uma
rícias já realizadas, ou documentos (perícia deducendi). deformidade permanente. As lesões são classificadas como leves,
graves ou gravíssimas.
ATENÇÃO: O laudo final é encaminhado ao promotor público e ao juiz, que
A perícia também pode recair sobre análise de fatos anteriores usarão as informações no processo. O exame de corpo de delito
(retrospectiva, como ex.: perfil psiquiátrico), bem como sobre fatos também pode ser feito em pessoas mortas. Nesse caso, é feita a
futuros (prospectiva, como ex.: cessação da periculosidade). necropsia, que ajuda o legista a encontrar as lesões que levaram
ao óbito. “Todos os casos de morte não natural, como as causadas
ATENÇÃO: por acidentes, homicídio e suicídio, devem passar pelo exame ne-
A perícia também pode consistir em exames realizados na víti- croscópico”.2
ma, no indiciado, testemunhas ou em jurados.
2 Fonte: www.super.abril.com.br/ Junior Campos Ozono/www.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Quadro resumo: 1.Doenças, agravos e eventos em saúde pública constantes da
portaria n 104 de 25.01.2011 do ministério da saúde.
Perícias e peritos médico-legais 2.Crime de ação penal pública incondicionada cujo conheci-
mento se deu em função do exercício da medicina.
Perícias É um procedimento médico, realizado através 3.Comunicação de lesão ou morte causada por atuação de não
de requisição do Delegado de Polícia ou do Juiz, médico.
objetivando esclarecer fatos de interesse da 4.Esterilizações cirúrgicas.
justiça, através da análise médica de vestígios. 5.Diagnóstico de morte encefálica, independentemente se for
A perícia pode recair sobre fatos anteriores, fatos autorização da família para a doação de órgãos.
futuros, documentos e até mesmo perícias já re- Crime de ação penal pública incondicionada cujo conhecimen-
alizadas. to se deu em função do exercício da medicina: Ex.: aborto, estou
Exame de cor- É um exame feito sobre os vestígios materiais em um pronto socorre chega uma mulher morrendo com infecção
po de delito da infração penal. Por sua vez, o corpo de delito generalizada, pensa na possibilidade da infecção decorrer de abor-
é o conjunto de vestígios materiais sensíveis to, uma forma utilizada para o aborto tem uma planta que passa
ou perceptíveis deixados pelo fato criminoso. pelo colo do útero e mansa a mulher para casa aquilo vai absorvido
O exame pode ser direto, quando persistirem água e vai dilatando o colo do útero, só vai quando não consegue
os vestígios da infração, ou indireto, quando os mais reagir. Se percebe que foi um aborto provocado se colocar isso
vestígios materiais deixaram de existir. no prontuário está incriminando o paciente, tem obrigação legal.
Ex.: uma moça com câncer de colo de útero pequeno a chance
Peritos São profissionais com conhecimento técnico-
de curo é altíssima, na época tinha uma vacina contra o câncer, a
-científico em áreas do saber humano, forne-
mulher foi tomar as vacinas retorna duas semanas depois com in-
cendo informações técnicas sobre determinado
fecção generalizada e morre, mas não pelo câncer.
assunto em um caso concreto, procedendo a
Se pega um caso de aborto provocado e fala que foi em uma
exames em pessoas ou coisas. Os peritos atuam
aborteira, fala que tem algumas lesões.
na fase de inquérito policial ou processo judicial,
Esterilizações cirúrgicas. – método definitivo, ligadura de trom-
sendo considerados auxiliares da Justiça.
pa e etc.
Podem ser oficiais (servidores públicos) ou não
É de notificação compulsória o diagnóstico de morte encefá-
oficiais (nomeados pela autoridade).
lica. O médico diz que ela está morta e pode captar os órgãos,
desencadeia a possibilidade da captação de órgãos desde que a
DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS. QUESITOS OFICIAIS família concorde.
Diagnóstico de morte encefálica, independentemente se for
autorização da família para a doação de órgãos. Informado a cen-
São as notificações compulsórias, relatórios, pareceres e os
tral de notificação, capitação e distribuição de órgãos.
atestados.
A central de notificação capitação e distribuição de órgãos que
deve ser informado.
NOTIFICAÇÕES COMPULSÓRIAS
Art. 269, CP Deixar o médico de denunciar à autoridade pública
Definição: São comunicações obrigatórias feitas pelo médico
doença cuja notificação é compulsória:
às autoridades competentes, por razões sociais ou sanitárias.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
É indispensável para o planejamento da saúde; definição de
Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia
prioridades de intervenção; avaliação do impacto das interven-
ou medicinal
ções.
Nesse caso só incide sobre o médico. O que está destacado na
Relatório feito por determinados órgãos por motivo social ou
portaria 104 do ministério da saúde.
de saúde pública.
- Ex.: HIV. Essa notificação permite planejamento em saúde.
RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL
- Ex.: surtos de febre amarela. Permite montar um esquema
Definição: Narração detalhada da perícia, com emissão de juí-
para intervir.
zo valorativo. Quando redigido pelo perito é chamado de laudo, e
Essa notificação também permite avaliar se a ação realizada
quando ditado ao escrivão, de auto.
ajudou no efeito ou não. Geralmente são tratadas no centro de
Sete partes:
saúde.
1.Preambulo: Introdução, na qual consta a qualificação da au-
Será que está quebrando sigilo fazendo essa notificação? To-
toridade solicitante, dos peritos, do diretor que solicitou, exami-
dos que tem contato com essa notificação tem direito de sigilo, mas
nado, além de local, data, hora e tipo de perícia. Aqui o Art. 159,
a população tem que saber o que está acontecendo para se preve-
parágrafo 3º, CPP dá os quesitos das partes
nir. O sigilo é sobre os dados das pessoas. Não configuram quebra
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão
de sigilo profissional, assim como os relatórios periciais, porque
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
prevalece o interesse público ou o dever legal.
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de
E se deixar de notificar? Todos os médicos, enfermeiros, dire-
acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação
tores, etc, são obrigados a notificar.
de quesitos e indicação de assistente técnico.
O que não pode ser passado para a população são informações
2.Quesitos: perguntas sobre fatos relevantes que originaram
pessoais da pessoa contaminada.
o processo penal, oficiais e padronizadas em impressos utilizados
Quem pode notificar é o médico. A enfermeira tem o dever se
pelas instituições médico-legais de cada Estado. Nas perícias psiqui-
o médico não notificar.
átricas e exumações não existe padronização.
Falta de notificação – artigo 269 CP – onde ela é obrigatória é
3.Histórico ou comemorativo: breve relato dos fatos ocorridos
crime. Só vale para o médico, os outros não.
por informação da vítima ou indiciado, ou dos dados da guia de
Situações que envolvem notificação:
remoção do cadáver.
editorajuspodivm.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
4.Descrição: Principal parte do laudo, perito descreve, minu- Falsidade: O atestado é falso quando afirmar uma inverdade,
ciosamente, aquilo que encontrou no exame. (lesões – descrever negar ou omitir uma verdade, ou se for emitido sem exame do pa-
de uma maneira que qualquer um que ler visualize essas lesões, até ciente. A falsidade do atestado médico é ideológica, afetando seu
porque, ele é o único que vê – visam et repertum – parte principal conteúdo. O fim a que se propõe não tem imortal ia para sua anti-
do relatório) juridicidade.
5.Discussão: lesões são analisadas cientificamente e compara- Se tiver como consequência um tempo de repouso ou de afas-
das com os dados do histórico, dando origem à formulação de hipó- tamento do trabalho, deve o profissional especificar o tempo con-
t4eses a respeito da mecânica do crime. (tudo que ele quiser falar) cedido de dispensa à atividade, necessário para a recuperação do
6.Conclusão: tomada de postura quanto a ocorrência ou não paciente.
do fato (tem que ser objetivo – ex.: houve conjunção carnal.) Presunção de verdade: O atestado médico goza de presunção
7.Resposta aos quesitos: finalidade estabelecer a existência de veracidade, devendo ser acatado por quem de direito, salvo se
de um fato típico sem deixar dúvidas. Deve responder de forma houver divergência de entendimento por médico da instituição ou
sucinta e objetiva. (ex.: quesito prejudicado – falta de elementos perito.
significantes e conclusivos). Valor Probatório: Os relatórios e os atestados, como documen-
tos médico-legais, têm o mesmo valor probante, diferenciando-se
PARECER MÉDICO-LEGAL por versarem sobre assuntos diferentes.
Definição: Documento utilizado para dirimir divergências na Sigilo: O médico sofre restrições decorrentes do dever de si-
interpretação dos achados de uma perícia, sendo solicitado a uma gilo, a presença do diagnostico no corpo do atestado, seja de for-
pessoa de renome. É dado sobre o relatório médico-legal e, por ma escrita ou pela sua sigla na CID-10, pressupõe consentimento
isso, constam apenas quatro partes: expresso do paciente, justa causa ou dever legal. Essas restrições
1.Preâmbulo: qualificação do solicitant4e e do parecerista. estendem-se à revelação de informações confidenciais quando do
2.Exposição dos motivos: breve relato dos quesitos formulados exame médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos pró-
e histórico. prios dirigentes de empresas ou de instituições, salvo se o silêncio
3.Discussão: parecerista demonstra sua competência na ma- puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade (art. 76
téria. do CEM).
4.Conclusão: síntese clara dos pontos relevantes para discus- Dessa forma, constatada a aptidão, o diagnóstico de gravidez
são. de uma candidata só poderá constar do atestado se houver consen-
Prazo: fixado em audiência. timento da mesma. Por outro lado, se o cargo pleiteado trouxer ris-
Assistente técnico faz parecer, peritos oficiais fazem laudos. cos à gestação, a colocação de tal diagnóstico será por justa causa,
Não comporta descrição das lesões. independendo da anuência da candidata.

ATESTADO MÉDICO ATESTADO DE ÓBITO


Definição: É a afinação pura e simples, por escrito, deforma sin- Definição: São os dados de ordem médica constantes do blo-
gela, resumida e objetiva de um fato médico e suas consequências, co IV da Declaração de Óbito (DO), que é o documento-base do
ou de um estado de sanidade. Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde
Emissão: Pode ser emitido no próprio receituário ou em papel (SIM/MS).
timbrado É composta de três vias sendo fornecida pelo Ministério da
Objetivo: após exame do paciente, informar um estado de sa- Saúde e distribuída pelas Secretarias Estaduais e Municipais de
nidade ou de doença, anterior ou atual, para fins de licença, dispen- saúde.
sa ou justificativa de faltas, ente outros, diferentemente do laudo Função: Tem as funções de:
pericial que exige detalham entorno dos achados. - Marcar o fim da pessoa natural (função legal)
É parte integrante do ato médico, sendo seu fornecimento di- - Conhecer a situação de saúde da população por meio dos da-
reito inalienável do paciente. dos de óbitos
O atestado pode ser: - Gerar ações, com base nesses dados, visando à melhoria das
- Oficioso: que é aquele fornecedor gratuitamente, quando vai condições de saúde
ao médico e constata alguma patologia e atesta dizendo o tempo - Fornecer dados para as estatísticas de mortalidade.
necessário de afastamento. A falsidade está no que ele fala que a É indispensável para assentamento do óbito no cartório de
pessoa tem, omite ou emite o atestado sem examinar. Solicitado registros civil (art. 77, Lei 6.015/1973), que retém uma das vias.
para atender a interesses particulares.
- Administrativo: atestado de vacinação são administrativos, se
viajar para algum lugar onde ocorre febre amarelo exigem atesta-
do de vacinação, atestados em concurso. Exigidos por autoridade
administrativas para funcionários públicos, nos casos de concessão
de licença, de aposentadoria, para atestar vacinação antivariólica e
para atestar sanidade física e menta, nas admissões em escolas e
repartições públicas.
- Judiciário: aquele que é solicitado pelo juiz para abono de fal-
ta de jurado. Requisitado pelo juiz, mais comum ente, para justifi-
car falta de jurado.

Compromisso: Não exige compromisso legal, mas não significa


que o médico não esteja obrigado a relatar a verdade (artigo 302
do CP).

6
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Morte natural Morte violenta Morte suspeita


É a que ocorre por doença É a decorrente de energias externas:
É a morte inesperada, sem sinais de violência,
ou envelhecimento. crime, suicídio ou acidente, inclusive
mas que ocorreu em condições estranhas.
acidente de trabalho.

Perda fetal precoce Perda fetal intermediária Perda fetal tardia

Menos de 20 semanas de gestação 20 a 28 semanas de gestação Mais de 28 semanas de gestação

Feto com peso inferior a 500 gramas Feto com peso entre 500 a 1.000 gramas Feto com peso superior a 1.000 gramas;

Feto com estatura abaixo de 25 centímetros. Feto com estatura entre 25 e 35 centímetros Feto com estatura acima de 35 centímetros

A família recebe a Certidão de Óbito necessária ao sepultamento ou cremação.


Quem pode atestar o óbito e assinar o DO? De acordo com o artigo 77, Lei 6015:
Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de
óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado
ou verificado a morte.
Mortes naturais: o médico assistente está obrigado a assinar o atestado de óbito, mas se na localidade inexistirem médicos, o atesta-
do pode ser assinado por qualquer pessoa qualificada (enfermeira, dentista, biólogo, médico veterinário, parteira).
Causa mal definida ou indeterminada: Se não sei do que a pessoa morreu coloca causa mal definida. Pode ser que na autópsia tam-
bém não se encontre a causa da morte e é colocada como causa indeterminada.
Muitas vezes tem material dessa pessoa que é guardo, sangue, tecido, porque pode ser que a causa da morte não consiga detectar e
aí depois de um tempo consegue dar diagnóstico daquele caso.

Dependendo das condições em que ocorre, considera-se:

Médico obrigado a atestar o óbito:

ØMorte natural
Médico impedido de atestar o óbito (= autópsia).
Morte por causa natural com assistência médica: médico que prestava assistência médica.

ØMorte natural (SVO - serviço de verificação de óbito)


- sem assistência já chega no hospital morto, sem diagnóstico ficou internado, mas não chegou no diagnóstico (menos de 24 horas
de internação)
--Como não há suspeita de violência a família pode se negar, o médico não tem diagnóstico ele coloca como mal definida, a família
se nega a permitir a autópsia e o diretor clínico vai atrás do juiz para suprir essa autorização.
---Essa autópsia é importante, pois as vezes envolve interesse público.
---Que não tenha dado assistência;
---Sem diagnóstico da causa mortis, mesmo após internação por curto período, isto é, menos de 24 horas.

- Sem diagnóstico (menos de 24 horas de internação)

ØMorte violenta ou suspeita (IML): morte violenta aquela que decorre de crime, suicido, acidente, acidente de trabalho também,
aquele vizinho que caiu em casa e quebrou, tem uma pneumonia e morre o médico estou impedido de atestar o óbito porque a queda é
um acidente.Nestes casos, há necessidade de autópsia, sendo o atestado fornecido pelo médico que a realizar.
Nas mortes violentas ou suspeitas, a autópsia é obrigatória, sendo realizada no Instituto Médico Legal (IML).
Havendo nexo causal entre a morte e a violência, mesmo que a morte ocorra tardiamente em relação ao momento do fato, o corpo
deve ser encaminhado ao IML para autópsia.
Nos casos de morte natural de causa mal definida, a autópsia será feita pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO), pertencente ao
Serviço de Anatomia Patológica do hospital. Entretanto, como a família pode opor-se, já que esta autópsia não é compulsória, resta, nes-
ses casos, recorrer ao suprimento judicial.
- Acidentes
- Crimes
- Suspeita: inesperada, em condições estranhas mas sem sinal de violência
--Cara vem se hospedar no hotel, quando entram no quarto está caído no banheiro, tem arranhão justificado pela queda, é uma
morte inesperada em condições estranhas, mas sem sinal de violência. Pessoa que chega com dor no peito, e faz um eletrocardiograma e
morre, se enquadra como morte suspeita de repente encontra uma ossada, um cadáver é morte suspeita, encontra morto dentro de casa
em avançado estado de putrefação, morte suspeita tem que saber o que aconteceu.

7
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- Quem atesta o óbito é o médico que faz a autópsia. A obrigatoriedade de atestar o óbito e leva-lo a registro recai-
ria apenas sobre as perdas fetais tardias.
- Localidades sem SVO. - As perdas intermediárias e precoces seriam consideradas
-- D.O. emitida por médicos do serviço público de saúde mais aborto, ficando o médico desobrigado a fornecer o atestado de
próximo do local onde ocorreu o evento e, na sua ausência, por óbito.
qualquer médico da localidade. - Havendo obrigatoriedade, o corpo é considerado cadáver e
tem de ser enterrado ou cremado. Nos demais casos, como não
- Localidade sem IML podem ser tratados como lixo comum, devem ser incinerados.
-- D.O. emitida por qualquer médico da localidade, ou outro - A regra com base na Classificação Internacional das Doenças
profissional investido pela autoridade judicial ou policial. (NOME- (CID-10), que substituiu a anterior, considerado período perinatal:
ADO). -- A partir de 22 semanas de gestação;
--Fato com 500 gramas ou mais de peso;
- Localidade sem médico -- Feto com estatura acima de 16,5 centímetros (medida cra-
-- Emissão de 3 vias da D.O. deverá ser solicitada ao Cartório niocaudal de feto até 20 a 22 semanas de gestação, tirada da ca-
do Registro Civil de Referência, pelo responsável pelo falecido, beça até o cóccix em virtude de os membros interiores estarem
acompanhado de duas testemunhas, em conformidade com os em flexão).
fluxo acordados com as corregedorias de Justiça local.
-Abaixo disso, seria aborto, não necessitando atestado de óbi-
- D.O. com duas causas da morte
to.
-- Pode ocorrer, se leva tiro em 2 locais fatais, por exemplo.
- Em outras palavras, se o feto nascer com peso, estatura e
-- As vezes se encontra duas lesões mortais. Se pega uma per-
tempo de gestação que permitiriam sua sobrevivência se nascido
furação no tórax e no abdômen, o que matou foi a última, porque
já sangrou demais na primeira. Ou coloca as duas ou coloca que a vivo, é considerado natimorto e o médico está obrigado a atestar
última lesão foi aquela. o óbito.
-- O atestado de óbito pode conter duas causas da morte - A mudança de parâmetros se deveu à evolução tecnológica,
quando, diante de duas lesões possivelmente mortais, não se que tornou possível a sobrevivência de fetos prematuros cada vez
consegue determinar qual delas desencadeou a morte, seja por menores, dependendo dos recursos disponíveis na localidade.
terem a mesma intensidade, seja por ser impossível saber qual - Nesses casos, o médico não está impedido de dar o atestado
delas ocorreu primeiro. de óbito, mas desobrigado, podendo e devendo fornecê-lo sempre
que possível.
- Identidade do cadáver desconhecida - Aditam-se, atualmente, os parâmetros constantes da Reso-
-- Faz a ficha datiloscópica. lução da Diretoria Colegiada – RDC Nº 306, de 07 de dezembro de
-- Foto, digital (registro civil para comparar) 2004 (ANVISA)
- Uma coisa é a criação que nasce viva e morre.
- Óbito de recém-nascido. - Nasceu viva e morreu a seguir, manifestou vida de alguma
-- Nasceu vivo: registra-se o nascimento e morte. Art. 53, §2º, maneira, respirou, registra-se sempre nascimento e morte, quando
Lei 6015 nasce com vida adquiriu direitos, e depois transmitiu. Não importa
-- Nasce morte: registro no livro “C Auxiliar”, com elementos o tamanho nem o tempo gestação nalgum.
que couberem. Art. 53, §1º, Lei 6015. - Se nasceu morta, uma criança que já está bem formada, mes-
---Médico desobrigado, quando abaixo de 20 semanas ou peso mo que leve dias para o organismo expulsar e mesmo que esteja
corporal inferior a 500g, e/ou estatura igual ou superior a 25 cen- em decomposição, o grande problema é quando é uma gravidez
tímetros. de pouco tempo, uma gravidez de 4 meses por exemplo, faz o ul-
-- Não é obrigado a registrar se estiver em tamanha composi- trassom e está morto, pode aguardar um prazo para o organismo
ção que não é possível reconhecer. eliminar se for expulso dali uns 3 ou 4 dias o organismo expeli, na
-- Quando se tratar de óbito de recém-nascido, se nascido vivo, hora que nasce não consegue identificar que era uma criança, não
o médico está obrigado a fornecer o atestado de óbito. Registra-se tem como dar atestado de óbito.
o nascimento e o óbito sempre, independentemente do tempo de
- Tem alguns critérios onde o médico era obrigado a dar o óbi-
gestação e das características do feto.
to, e outros critérios onde ele era desobrigado (não quer dizer im-
-- O art. 53, caput, e §1º da Lei nº 6.015/1973, determina que o
pedido) de dar o atestado de óbito.
registro do óbito deve ser feito mesmo que a criança nasça morta,
- Em princípio se o fato nasceu de uma gestação de 20 sema-
sendo esse o procedimento ideal, inclusive porque as estatísticas
oficiais são feitas com base na via da Declaração de Óbito que é nas ou mais, peso de 500g ou mais, estatura de 25cm ou mais, se
encaminhada para a Secretaria Municipal de Saúde. ele tivesse nascido vivo já teria condições de sobreviver dentro da
-- Entretanto, se o tempo de gestação for pequeno e se o fato tecnologia. Se ele nascer morto o médico é obrigado a atestar o
morto ficou dias retido no útero materno, ao nascer já estará em óbito mesmo que nasça morto, abaixo disso o médico está deso-
processo destrutivo e muitas vezes não individualizado. brigado.
-- Neste caso, temos três regras. - Artigo 53 da lei 6.015 diz que o médico é obrigado a atestar
--- A regra antiga, preconizada pela Organização Mundial de o óbito e levar em registro em cartório mesmo que a criança nasça
Saúde (OMS), considerava inicialmente o tempo gestacional, mas morta.
foi complementada com o peso e estatura do feto porque muitas - Quando o médico está desobrigado é encorado como produ-
vezes essas características fetais não condiziam com o tempo ale- to de aborto e o médico pode incinerar.
gado pela gestante. - Se a família não pede, pode incinerar os fetos.3

3 Fonte: www.estudandodireito123.blogspot.com

8
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
IDENTIDADE PESSOAL E A IDENTIFICAÇÃO II – o documento apresentado for insuficiente para identificar
Faz-se necessário diferenciar Identidade, Identificação e Reco- cabalmente o indiciado;
nhecimento. A identidade, de forma objetiva, é aquela que permite III – o indiciado portar documentos de identidade distintos,
afirmar que determinada pessoa é ela mesma por meio de elemen- com informações conflitantes entre si;
tos positivos e mais ou menos perenes que a distingue das demais. IV – a identificação criminal for essencial às investigações poli-
A identificação é o processo pelo qual se determina a identidade de ciais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que
uma pessoa, enquanto o reconhecimento significa apenas o ato de decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade poli-
certificar-se, é a afirmação laica, de parente ou conhecido, sobre cial, do Ministério Público ou da defesa;
alguém que se diz conhecer ou de sua convivência. A identificação V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou di-
pode ser baseada na comparação entre características conhecidas ferentes qualificações;
de um indivíduo (dados ante mortem) com características desco- VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da
bertas de um corpo desconhecido (dados post mortem). localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a
completa identificação dos caracteres essenciais.
Dispõem o artigo 5.º, inciso LVIII da CRBF/1988 que: Além de que as cópias dos documentos apresentados pelo in-
“o civilmente identificado não será submetido a identificação divíduo submetido ao processo de identificação criminal deverão
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.” ser juntadas nos autos do processo investigatório ou criminal, afim
Na Constituição Federal o art. 5º, inciso LVIII é regulamentado de justificar os meios e os fins utilizados no procedimento de iden-
pela lei n.º 12.037, de 1.º de outubro de 2009 que dispõe sobre a tificação bem como as justificativas que embasaram os agentes na
identificação criminal do civilmente identificado diante de tais nor- desconfiança do documento inicialmente apresentado a autorida-
mas é certo que existem regras para que haja a identificação de de. Logicamente, tais documentos na iminência de dúvida quanto
determinadas pessoas em sede policial, ou seja, o civilmente identi-
à sua validade ou formas de identificação de veracidade deverão
ficado aquele que possui um mero registro civil capaz de identifica-
ser confrontados em bases de dados e apreendidos para exames
-lo de forma inquestionável perante ao seu registro de nascimento
periciais e até mesmo para o futuro enquadramento do indivíduo
assentado junto ao sistema de identificação estatal não poderá ser
em crimes de falsificação e/ou uso de documento público.
identificado de forma criminal, pois existe uma garantia constitu-
cional fundamental que veda o abuso estatal em face da preserva- Não restam dúvidas que se o documento apresentar dúvida de
ção da dignidade humana em tela. veracidade e validade quanto a identificação do agente constitui a
Anteriormente ao advento da CRFB/88 o STF através da súmu- necessidade do exame de corpo de delito pois configura materia-
la 568 entendia que não havia constrangimento ilegal caso houve lidade – é um fato não transeunte que necessita da prova técnica
uma identificação civil previamente identificando aquele indivíduo para efetiva confirmação da falsificação, salvo se for grosseira cuja
submetido ao procedimento identificador, porém em 05.10.1988 a verificação é imediata.
com a promulgação da Constituição Federal em vigência em nosso A identidade de determinado indivíduo nada mais é do que o
ordenamento jurídico como documento máximo o asseguramento conjunto de propriedades particulares que o individualizam peran-
dos direitos foi assegurado como referência máxima e a inviolabi- te a sociedade, é uma qualidade de ser sempre o mesmo, podendo
lidade ao direito foi consagrado de forma expressa. Diante disto a a identidade de um indivíduo ser: (i) subjetiva: referente a consci-
súmula 568 do STF esta superada com o seguinte texto: ência individual ou (ii) objetiva: conjunto de características físicas.
“A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NÃO CONSTITUI CONSTRANGI- O processo de identificação de um homem segundo a Medicina
MENTO ILEGAL, AINDA QUE O INDICIADO JÁ TENHA SIDO IDENTI- Legal esta elencada dentro do tem: Antropologia Forense, que é o
FICADO CIVILMENTE.” estudo da identidade e identificação podendo ser dividida a identi-
Obviamente, que se o agente prontamente se identificar com ficação em (i) médica-legal ou (ii) judiciária.
um dos documentos abaixo: Esta é dada pelo conjunto fisiológico e biológico de determi-
I – carteira de identidade; nado homem, aquela é configurada por dados, antropometria e
II – carteira de trabalho; datiloscopia.
III – carteira profissional; A identificação não se confunde com identidade, pois todos
IV – passaporte; possuem uma identidade personalíssima com uma identificação
V – carteira de identificação funcional; comum, ou seja, enquanto a identidade é característica própria a
VI – outro documento público que permita a identificação do identificação é a forma de determinação que pode ser um conjunto
indiciado. de técnicas, métodos e sistemas para determinar a identidade de
Estará amplamente protegido pelo artigo 2º da lei 12.037/2009 alguém que precisa ser identificado. Toda identificação se faz por
o que impedirá por força legal que o agente público de segurança
meios que provam quem é aquela pessoa que esta a ser identifica-
não poderá submetê-lo ao processo de identificação criminal, logi-
da, podendo ser o ser humano vivo ou morto.
camente, a regra disposta no artigo 2.º da referida lei não comporta
o caráter absoluto para que não ocorra o processo de identificação
A IDENTIFICAÇÃO COMO TÉCNICA:
criminal, pois tais documentos elencados no rol taxativo da “lei de
Identificação” podem apresentar dúvidas onde pelo princípio da O ato de identificar é determinar quem é quem, porém não é
obrigatoriedade o agente público possui o dever de sanar de forma um meio engessado e único é uma ciência multidisciplinar e dinâ-
legal para confirmar a validade plena ou a invalidade daquele do- mica, pois pode ser:
cumento duvidoso. IDENTIFICAÇÃO MÉDICA-LEGAL ou IDENTIFICAÇÃO POLICIAL/
Na referida lei em seu artigo 3.º fica evidente que o caráter do JUDICIAL
artigo 2.º não é absoluto, muito menos quando conjugado com o A primeira é realizada através de conhecimento técnicos com
artigo 5.º, inciso LVIII da CF, pois o agente público poderá identificar a aplicação da medicina, a segunda é realizada através de confron-
o agente “identificado civilmente” quando: to de dados e estatísticas. Quando realizada através da medicina
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsifi- busca-se raça, sexo, idade e estigmas, quando realizada de forma
cação; policial ou judicial não há a rigorosidade do conhecimento médico,

9
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
pode ser realizada pela impressão digital do indivíduo buscando um tais, mas às vezes é um meio necessário para que não se incorra em
retrocesso pregresso daquele indivíduo frente à sua situação com dúvidas ou em excessos pois a identificação criminal por sí só é uma
o Estado. intervenção corporal no indivíduo, portanto o Estado deve garantir
Quando se fala em identificação médica busca-se três carac- que esta coação direta não se mostre abusiva e traga a certeza da
terísticas no avaliando: físicas, funcionais e psíquicas. Nas físicas: finalidade que se busca.
preocupa-se com o caráter biológico e fisiológico, as funcionais: pe- A simples identificação criminal justificável não viola a incolu-
las características como voz, escritas, caminhar e outras e por fim midade física do averiguado, pois não ocorre um meio agressivo a
as psíquicas: busca traços interiores inerentes aquele indivíduo em dignidade ou exposição midiática daquela identificação, assim sen-
específico. do meio legal e prudente do Estado de direito quando realizada de
Nas identificações policiais e/ou judiciais utiliza-se a fotogra- forma justificável e legal.4
fia, antropometria, datiloscopia e descritivos dados informativos e
qualitativos, hoje ainda se utilizam dois métodos o de Bertillon que Métodos de Identificação
consiste na medida do homem que se complementa pela fotografia A realização dos processos de Identificação Humana é impres-
e a outra de Vucetich que consiste no estudo dos desenhos indivi- cindível na Ciência Forense, por razões legais e humanitárias, sendo
duais das impressões digitais. com bastante frequência iniciada antes mesmo de se determinar
Os meios de identificação no nosso ordenamento jurídico ti- a causa da morte. Muitos indivíduos são vítimas de homicídios ou
veram grandes alterações e considerações legislativas, iniciando- encontram-se desaparecidos e a investigação desses casos depen-
-se pelas leis 5.553/68 alterada pela lei 9.453/97, 12.037/2009 e de primeiramente da correta identificação. Assim, o processo de
9.455/97. identificação passou a ser considerado parte essencial da autóp-
sia forense. Métodos rotineiros incluem reconhecimento visual de
A IDENTIFICAÇÃO E O CONSTRANGIMENTO: vestimentas, de objetos pessoais e de impressões digitais, análises
Apesar de ser um método invasivo quando necessário é não de DNA, bem como investigação médica, esquelética, sorológica,
saudável para ninguém em caso de dúvida ser conduzido muitas de cabelos e dentes, peculiaridades morfológicas da dentição entre
vezes embaixo de vara a uma delegacia de polícia para melhor
outros.
identificação, o simples meio é constrangedor por sí só, porém algo
A identificação forense do vivo ou falecido pode ser um traba-
necessário para que o próprio agente público não cometa o equí-
lho árduo, mas é abrangente, envolvendo os esforços coordena-
voco de liberar alguém que se mascara por trás de um documento
dos de uma equipe multidisciplinar, empregando diversas técnicas
inválido ou duvidoso.
Logicamente na lei 12.037/2009 não encontramos em seu tex- e métodos acessórios. Os meios de identificação primários e mais
to legal qualquer sanção administrativa, cível ou penal ao agente confiáveis são a análise de impressões digitais, a análise odontoló-
que submete o indivíduo a identificação desnecessária, mas nada gica comparativa e estudo do perfil de DNA. Os meios secundários
impede de que se processe por outras vias um eventual abuso de de identificação incluem a descrição pessoal, os dados médicos, as-
autoridade ou outra sanção a cargo da instituição que o agente sim como as evidências e roupas encontradas no corpo. Estes ser-
pertencer, porém deve-se ter em mente o princípio da supremacia vem para reforçar a identificação estabelecida por outros meios, e
do interesse público sobrevém ao interesse particular e o próprio geralmente por si só não são suficientes para certificá-la.
caput do artigo 4.º da lei 12.037/2009 permite que o agente pro- Quanto à escolha do método de identificação humana, deve
ceda aos meios necessários para prover a identificação, desde que sempre prevalecer o bom senso investigativo. O importante a con-
não seja constrangedor ao averiguado. siderar nesse momento é o estado do cadáver (putrefeito? carbo-
nizado? esqueletizado? mumificado?) e o custo, a praticidade e a
O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A IDENTIFICAÇÃO viabilidade do método possível. Os principais métodos de identi-
CRIMINAL: ficação humana possuem vantagens e limitações, dependendo do
Apesar da existência da uma identidade civil, a autoridade tem caso, eles podem se complementar ou reforçar um ao outro. No
o dever de checar a validade daquela informação, pois esta agindo entanto, todos os métodos de identificação, isolados ou combina-
sobre o manto do princípio da legalidade – tal atitude dá segurança dos entre si, têm o objetivo de, através dos dados obtidos e devida-
não só à sociedade, mas também à autoridade no cumprimento de mente tabulados, viabilizar o processo de identificação. O objetivo
suas atribuições. é tão só a busca da verdade real.
O ato de identificar é lícito, mas a forma como se identifica as
vezes ocorre com desvio de finalidade e abuso de poder do próprio Odontologia Legal
agente identificador, sendo vedado mencionar a identificação cri- Um dentista forense carrega uma responsabilidade conside-
minal em eventuais certidões e/ou atestados de antecedentes ou rável, uma vez que, com frequência, sua opinião científica faz-se
em informações não judiciais, sob a ótica da violação do princípio necessária quando todos os outros caminhos de identificação se es-
da presunção de inocência antes do trânsito em julgado de senten- gotaram. Em muitos casos, os dentes são os únicos restos humanos
ças condenatórias.
preservados, representando o único meio de identificação, e nesse
O que a CRFB/1988 veda é a identificação criminal quando há a
caso, o processo final pode depender da correspondência odonto-
identificação civil, porém, nada restringe quanto a identificação ci-
lógica específica dos dados dentários ante mortem e post mortem.
vil, o que se exemplifica pela verificação do indivíduo através de sua
As estruturas e traços únicos dos dentes humanos e maxilares
identificação para cumprir requisitos obrigatório em detrimento de
determinadas regras, não há o que se falar em constrangimento prontamente se prestam para a identificação de vítimas vivas ou fa-
ilegal e/ou inconstitucionalidade do artigo 5.º, LVIII – pois a medida lecidas. Os dados odontológicos podem ser recuperados e registra-
não visa saber quem é o indivíduo tão somente visa o impedimento dos no momento do exame post mortem e comparados aos dados
de fraude quanto à pessoa. ante mortem fornecidos por dentistas generalistas e / ou especialis-
Ainda temos muito que evoluir em tema relacionados a identi- tas que trataram a vítima durante a vida. Os dentes estão bem pro-
ficação criminal, pois há quem defenda a violação à integridade físi- tegidos na cavidade oral e são capazes de suportar muitas influên-
ca, à dignidade da pessoa humana entre outros direitos fundamen-
4Fonte: www.thiagochiminazzo.jusbrasil.com.br

10
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
cias externas, próximas ou algum tempo após a morte, mantendo
as características dentárias acessíveis, tais como aquelas oriundas ÉTICA MÉDICA E PERICIAL
de procedimentos odontológicos, como coroas restaurativas e es-
téticas, tratamentos de canal radicular e próteses dentárias, todas Ética Médica
feitas sob medida para cada indivíduo, além de traços anatômicos
e morfológicos quando não houve o tratamento, mas que também A Deontologia Médica é um conjunto de deveres e obrigações
servem para comparação com a finalidade de identificação. que tem por princípio conduzir o médico dentro de uma orientação
Além de oferecer meios de comparação para o processo inves- moral e jurídica, nas suas relações com os doentes e seus familia-
tigativo, a cavidade oral é uma fonte rica e não-invasiva de DNA, res, com os colegas e com a sociedade, e ao mesmo tempo tentar
podendo ser usada para identificação de indivíduos através da explicar uma forma de comportamento, tomando, como objeto de
comparação genética. sua reflexão, a ética e a lei.
A Medicina como instituição, consagrada por princípios, neces-
Necropapiloscopia sita não apenas de uma sedimentação técnica, mas também estar
O termo papiloscopia é relativo à “papila” e, erroneamente, se determinada para um fim. Esta determinação é imposta pela Ética.
refere às estruturas responsáveis pela formação dos desenhos ca- À medida que a Medicina avança em suas conquistas e investi-
racterísticos nas superfícies palmares e plantares. Essas estruturas, gações, maior se torna o risco desse desenvolvimento. Longe de se
corretamente denominadas de cristas de fricção, estão presentes atenuar ou diluir a significação da Ética, faz-se ela, doravante, mais
na superfície da pele e são formadas por dobras de tecido epitelial. mister do que nunca.
A datiloscopia aplicada para a identificação post mortem é denomi- O conjunto de regras que baliza o comportamento do profis-
nada no Brasil de necropapiloscopia. sional da Medicina constitui o Código de Ética Médica.
Em 1903, o sistema Vucetich, baseado na Ciência Papiloscópi-
ca, ou seja, a partir da coleta, classificação e confronto de impres- Código de Ética Médica (versão de 1988) - Resolução CFM nº
sões digitais, é adotado no Brasil, constituindo-se no método mais 1.246/88
barato, seguro e prático de identificação humana reconhecido pela Produzido durante a 1ª Conferência Nacional de Ética Médica,
legislação brasileira. realizada entre 24 e 28 de novembro de 1987 no Rio de Janeiro, o
Os bancos de dados periciais civis e criminais dispensam a Código de Ética Médica foi um marco histórico para o país6.
apresentação de padrões de comparação por terceiros, já que o re- Seu texto, atualizado e revisado constantemente, instituiu os
gistro padrão encontra-se arquivado e disponível. Assim, a partir de princípios da prática profissional e normatizou a relação entre mé-
dicos, pacientes e instituições de saúde. Ao estabelecer normas e
algoritmos formados pela disposição dos pontos característicos de
deveres para a conduta do médico, o documento tornou a profis-
cada impressão e da identificação das regiões do delta e do núcleo,
são mais respeitada e, com isso, a sociedade passou a ter mais con-
tornou-se possível a pesquisa de forma automatizada por padrões
fiança no trabalho dos profissionais de saúde.
papiloscópicos.
Ele foi revogado pela Resolução CFM nº 1.931, de 17 de setem-
Esse método de identificação pode ser aplicado buscando a
bro de 2009.
identificação de corpos cadavéricos nas mais variadas fases dos fe-
nômenos transformativos, sejam destrutivos, como autólise, putre-
Código de Ética Médica (versão 2009/2010) – Resolução CFM
fação e maceração ou conservadores, como saponificação, mumifi-
nº 1.931/09
cação, corificação e petrificação. Cada vez mais a necropapiloscopia Revisado e atualizado após 20 anos, o sexto Código de Ética
tem ganhado importância, pois traz resultados positivos e conclu- Médica apresentava novidades em diversos temas: previsão de
sivos de forma mais célere, sendo, portanto, um eficiente método cuidados paliativos, reforço à autonomia do paciente, regras para
primário de identificação, inclusive nos acidentes de massa. reprodução assistida e manipulação genética, entre outros.
Sendo coordenado pela Comissão Nacional de Revisão do Códi-
Análise de DNA go de Ética Médica, a reformulação contou com a participação ativa
A revolução causada em 1953 por Watson e Crick, que des- de diversas entidades e de toda a comunidade médica. Foram re-
cobriram a estrutura de dupla hélice do DNA, levou a mudanças cebidas mais de 2.600 contribuições, que tiveram um papel muito
importantes em quase todos os campos da ciência. Esta descoberta importante na democratização de todo o processo.
foi a base para o desenvolvimento de técnicas que permitem ca- O novo código foi publicado no Diário Oficial da União (Resolu-
racterizar a individualidade de cada pessoa com base na sequência ção CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009) e continha as nor-
de DNA. mas éticas que deviam ser seguidas pelos médicos no exercício da
A análise do DNA é única na sua habilidade de fornecer infor- profissão, independentemente da função ou cargo que ocupem. O
mações de identidade a partir de qualquer tipo de tecido, como documento entrou em vigor em 13 de abril de 2010.
tecido ósseo, bulbo capilar, amostra de biópsia, saliva, sangue e ou- Ele foi revogado pela Resolução CFM nº 2.217 de 27 de setem-
tros, podendo variar em quantidade e qualidade do DNA extraído bro de 2018.
de cada tecido.
Este método requer uma amostra ou fonte, podendo utilizar- Código de Ética Médica (versão 2018) – Resolução CFM nº
-se perfis de familiares ou amostras extraídas da própria vítima ou 2.217/18
de seus objetos de uso pessoal; trata-se do único método de iden- A publicação da Resolução nº 2.217/2018 marca o fim de um
tificação primário independente da comparação direta (impressões processo de quase três anos de discussões e análises, conduzido
digitais e arquivos dentais). pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), cujo resultado visível e
As técnicas de análise de DNA também podem ser usadas em esperado pela sociedade era a revisão do Código de Ética Médica
combinação com outros métodos utilizados na identificação de ví- (CEM).
timas, sendo essa associação crucial em acidentes em que a frag-
mentação corpórea é severa.5
5 Fonte: www.perspectivas.med.br 6 https://cem.cfm.org.br/

11
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Com o novo texto, em vigor a partir de 30 de abril de 2019, a) Deveres de informação. Neste tipo de dever, estão todos os
atualizou a versão anterior, de 2009, incorporando abordagens esclarecimentos que se considerem necessários e imprescindíveis
pertinentes às mudanças do mundo contemporâneo. Temas como para o correto desempenho quando da elaboração de uma perícia,
inovações tecnológicas, comunicação em massa e relações em so- principalmente se ela é mais complexa, de maior intimidade e de
ciedade foram tratados. interesse discutível. O fundamento destes deveres de informação
Ressalte-se que ao atender uma necessidade natural e perma- encontra-se justificado pela existência dos princípios da transpa-
nente de aperfeiçoamento, a revisão do Código de Ética Médica foi rência e da vulnerabilidade do periciando e pelas razões que justifi-
feita sob o prisma de zelo pelos princípios deontológicos da medi- cam a obtenção de um consentimento livre e esclarecido, qualquer
cina, sendo um dos mais importantes o absoluto respeito ao ser que sejam os motivos que levem o indivíduo a submeter-se a essa
humano, com a atuação em prol da saúde dos indivíduos e da cole- perícia.
tividade, sem discriminações. O dever de informar é imprescindível como requisito prévio
O novo CEM mantém o mesmo número de capítulos, que abor- para o consentimento e a legitimidade do ato pericial a ser utili-
dam princípios, direitos e deveres dos médicos. Do conjunto apro- zado. Isso atende ao princípio da autonomia ou princípio da liber-
vado, há alguns trechos que merecem destaque, como o artigo que dade, em que todo indivíduo tem por consagrado o direito de ser
estabelece no Código de Ética os limites para o uso de redes sociais autor de sua vontade e de escolher o caminho que lhe convém.
pelos médicos no exercício da profissão.
Outro ponto relevante se refere às normas que definem a res- b) Deveres de atualização profissional. Para o pleno e ideal
ponsabilidade do médico assistente, ou seu substituto, ao elaborar exercício da atividade pericial, não se exige do facultativo apenas
e entregar o sumário de alta. No que se refere aos direitos dos mé- uma habilitação legal. Há também de se requerer deste perito um
dicos, o novo CEM prevê a isonomia de tratamento aos profissio- aprimoramento sempre continuado, adquirido através de conheci-
nais com deficiência e reforça a necessidade de criação de comis- mentos recentes da profissão, no que se refere às técnicas dos exa-
sões de ética nos locais de trabalho. mes e dos meios modernos de diagnóstico, através de publicações
O Código também assegura ao profissional o direito de recusa especializadas nos congressos, cursos de especialização ou estágios
do exercício da medicina em qualquer instituição (pública ou priva- em centros e instituições de referência.
da) sem condições de trabalho dignas, colocando em risco a saúde
dos pacientes. c) Deveres de abstenção de abusos. É necessário também sa-
Entre as proibições, ficam vedadas ao médico a prescrição e a ber se o perito agiu com a cautela devida e, portanto, descaracte-
comercialização de medicamentos, órteses, próteses ou implantes rizada de precipitação, de inoportunismo ou de insensatez. Isso se
(de qualquer natureza) cuja compra decorra de influência direta, explica por que a norma moral exige das pessoas o cumprimento de
em virtude de sua atividade profissional. A regra reforça o compro- certos cuidados cuja finalidade é evitar danos aos bens protegidos.
misso ético da categoria com o bem-estar e a saúde dos pacientes,
coibindo interações com fim de lucro, incompatíveis com os princí- d) Deveres de vigilância, de cuidados e de atenção. Na avalia-
pios da boa medicina. ção de um ato pericial, quanto a sua legitimidade e licitude, deve
É o atual Código de Ética Médica vigente. ele estar isento de qualquer tipo de omissão que venha a ser carac-
terizada por inércia, passividade ou descaso. Portanto, este modelo
Ética Pericial de dever obriga o facultativo a ser diligente, agir com cuidado e
atenção, procurando de toda forma evitar danos e prejuízos que
Peritos venham a ser apontados como negligência ou incúria.
Peritos são profissionais com conhecimentos técnico-cientí-
ficos em áreas do saber humano, os quais fornecem informações O Código de Ética do Perito Oficial dispõe o seguinte em rela-
técnicas sobre determinado assunto em um caso concreto e proce- ção à Ética do Perito Criminal:
dem a exames em pessoas ou coisas. Os peritos atuam na fase de
inquérito policial ou processo judicial, sendo considerados auxilia- CAPÍTULO I
res da Justiça. DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
A Lei 12.030/2009 considera peritos de natureza criminal os
médico-legistas, peritos odontologistas e peritos criminais, sendo (....)
importante frisar que, embora sejam requisitados pelo Delegado
de Polícia ou pelo Juiz para procederem a determinados exames, Artigo 2º - São fundamentais, no desempenho do exercício da
as autoridades requisitantes não possuem ingerência sobre a ela- profissão de Perito Criminal, os Princípios Deontológicos e Ideoló-
boração do laudo, sendo garantida a autonomia técnica, científica gicos, segundo os quais o Perito deverá se conduzir em relação aos
e funcional dos peritos. seguintes aspectos:
Os peritos podem ser oficiais ou não oficiais, conforme exposto I - a formação de uma consciência profissional no ambiente de
abaixo: trabalho e fora dele;
a) Perito Oficial – É o profissional concursado e de carreira que II - a responsabilidade pelos atos praticados na esfera adminis-
exerce função pública. É um servidor público. trativa, assim como na Judicial;
b) Perito Não Oficial / nomeado (ad hoc) – É o profissional III - o resguardo do sigilo profissional;
portador de diploma superior, designado pelo Delegado de Polícia IV - a colaboração com as autoridades constituídas, dentro dos
ou Juiz para realização de perícia, os quais prestam compromisso limites de suas atribuições e competência do órgão onde trabalha;
para desempenhar o encargo. V - o zelo pela dignidade da função, pela defesa dos postulados
Deveres de conduta do perito da criminalística e pelos objetivos das Associações de classe a que
As regras de conduta, arguidas quando de uma avaliação da pertença ou não;
responsabilidade do perito, são relativas aos seguintes deveres:

12
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
VI - a liberdade de convicção para formalizar suas conclusões Exame de indivíduo vivo ou cadáver
técnico-científicas em torno da análise do(s) fato(s), objeto das pe- - Identidade - É o conjunto de caracteres físicos, funcionais ou
rícias, sem contudo infringir os preceitos de ordem moral e legal, de psíquicos, normais ou patológicos, que individualizam determinada
modo a ser obrigado a desprezar tais conclusões. pessoa. (Ernani Simas Alves - 1965)
- Identificação - conjunto de procedimentos diversos para indi-
vidualizar uma pessoa ou objeto.
ANTROPOLOGIA MÉDICO-LEGAL Reconhecimento e Identificação
- Reconhecimento é a identificação empírica.
Tradicionalmente, a Antropologia Forense ocupa-se de vários - Identificação é o reconhecimento científico.
aspetos da investigação médico-legal relacionada com a morte, no-
meadamente quando o cadáver do individuo se encontra em avan- A identificação pode ser:
çado estado de decomposição ou esqueletizados. Nestes casos, o - Identificação Genérica: Compreende a determinação da espé-
antropólogo forense aplica conhecimentos e princípios teóricos cie, raça, sexo, idade, estatura etc.
e práticos desenvolvidos e utilizados pela antropologia biologia e - Identificação Específica: Compreende a pesquisa de tudo
pela arqueologia para responder a questões relacionadas com a aquilo que passa individualizar o examinado; cicatrizes, tatuagens,
identidade, como seja o sexo ou a idade, assim como com as cir- sinais profissionais, mutilações etc.
cunstâncias da morte, através da análise e estudo detalhado dos
restos ósseos e dentários do individuo e do contexto físico em que Princípiosda identificação:
ele foi encontrado. Mais recentemente, na Europa e noutras par- - Unicidade
tes do mundo, a aplicação de conhecimentos e princípios de antro- - Imutabilidade
pologia biológica tem-se estendido a áreas da medicina-legal que - Perenidade
envolvem indivíduos vivos. Nomeadamente a estimativa da idade - Praticabilidade
em indivíduos sobre os quais recai a suspeita de menoridade, em - Classificabilidade
casos de investigação da imputabilidade criminal ou de atribuição
de asilo politico. Métodos de Identificação
É a aplicação prática de conhecimentos científicos básicos Métodos Simples
como a anatomia, fisiologia, bioquímica, patologia, tanatologia e - Cédulas de identidade ou registros.
criminalística, etc., no estudo analítico do corpo humano completo - Fotografias.
ou despojos, visando a identificação antropológica, a identidade ci- - Testemunhas.
vil, data e causa provável da morte. - Retrato falado.
A pesquisa antropológica nos permite reconhecer, ou seja, co- - Vídeo.
nhecer de novo, afirmar, admitir como certo a identidade antro- - Sinais individuais.
pológica (pela antropometria); e a identidade civil em razão de in-
formações peculiares e imutáveis que caracterizam cada indivíduo Métodos Complexos
(arcada dentária, papiloscopia, DNA, íris). - Estudo Antropológico (antropometria)
- Métodos laboratoriais, químico/físicos. DNA – cabelo, secre-
Análise Antropológica de Cadáver ou Restos ções, manchas e etc.
Investigação e reconstituição do indivíduo ante mortem: idade - Superposição de imagens.
quando da morte, sexo, estatura, peso, filiação racial, patologias e - Estudos de pontos
história médica do indivíduo. - Datiloscopia (papiloscopia)
CAUSA MORTIS – homicídio - Arcada dentária
Nos grandes desastres e catástrofes os peritos têm que tentar - Íris
responder com precisão às seguintes questões:
- São restos humanos? Identificação Odontolegal
- Quantos são os corpos? Documentação produzida em função de atendimento odon-
- Sexo, idade, cor (raça), estatura? tológico: prontuário odontológico, radiografias, modelos de gesso,
- A quem pertence este corpo fotografias.
- Qual a causa da morte? Por se tratar de uma metodologia comparativa, é dividida em
- Qual o tempo de morte? três etapas:
- exame dos arcos dentais do cadáver,
Etapas da identificação - exame da documentação odontológica
1º etapa- Arqueologia forense. É feita uma escavação minucio- - confronto odontolegal.
sa do local onde se encontra o corpo.
2º etapa- Antropologia social. Consiste na coleta de informa- A identificação odontolegal é um dos procedimentos mais ro-
ções ao redor da área do crime (entrevistas às pessoas da região, tineiramente executados nos departamentos de odontologia legal
consulta em arquivos municipais, eclesiásticos e militares, etc.) situados nos inúmeros Institutos Médico-Legais do país.Entretanto,
3º etapa- Investigação laboratorial. Há uma aplicação de técni- para que esta metodologia de identificação proporcione resultados
cas como a osteologia humana (área que se debruça sobre o estudo confiáveis, torna-se necessário que dois requisitos sejam atendidos:
dos ossos que compõe o esqueleto), paleopatologia (ramo da ciên- 1) Os arcos dentários do cadáver, ou seja, os objetos alvos do
cia que se dedica ao estudo das doenças do passado) e tafonomia exame pericial, devem apresentar-se satisfatoriamente íntegros,
(estudo sistemático da evolução de fósseis). Pode ainda ser feita permitindo que as particularidades anatômicas ou restauradoras/
uma reconstrução facial do cadáver e superposição fotográfica. reabilitadoras possam ser adequadamente analisadas;

13
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
2) A documentação odontológica produzida em vida deve apre- identificado de forma criminal, pois existe uma garantia constitu-
sentar-se registrada em detalhes quando confeccionada pelo Cirur- cional fundamental que veda o abuso estatal em face da preserva-
gião-dentista, principalmente durante o preenchimento do prontu- ção da dignidade humana em tela.
ário odontológico. Além disso, as radiografias, modelos em gesso, Anteriormente ao advento da CRFB/88 o STF através da súmu-
fotografias e outros exames complementares, quando produzidos la 568 entendia que não havia constrangimento ilegal caso houve
para subsidiar diagnóstico, planejamento ou execução dos planos uma identificação civil previamente identificando aquele indivíduo
de tratamento odontológico, devem ser devidamente confecciona- submetido ao procedimento identificador, porém em 05.10.1988
dos dentro dos padrões técnicos estabelecidos, sendo os mesmos com a promulgação da Constituição Federal em vigência em nosso
posteriormente arquivados junto ao prontuário odontológico. 
 ordenamento jurídico como documento máximo o asseguramento
dos direitos foi assegurado como referência máxima e a inviolabi-
Fatores que atrapalham identificação odontolegal lidade ao direito foi consagrado de forma expressa. Diante disto a
- inerentes à vítima (arcos dentários destruídos) súmula 568 do STF esta superada com o seguinte texto:
- ao profissional (documentação odontológica incompleta ou “A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NÃO CONSTITUI CONSTRANGI-
pobremente registrada), associadas às particularidades circunstan- MENTO ILEGAL, AINDA QUE O INDICIADO JÁ TENHA SIDO IDENTI-
ciais, como a falta de informações sobre a vítima examinada ou so- FICADO CIVILMENTE.”
bre o dentista que a atendia. Obviamente, que se o agente prontamente se identificar com
um dos documentos abaixo:
Em ambas as situações, vivos e mortos, se pode investigar: I – carteira de identidade;
-averiguação da identidade de criminosos e alienados II – carteira de trabalho;
-averiguação da idade verdadeira III – carteira profissional;
-averiguação da paternidade IV – passaporte;
-averiguação da maternidade V – carteira de identificação funcional;
-averiguação de consangüinidade VI – outro documento público que permita a identificação do
-averiguação do sexo indiciado.
Estará amplamente protegido pelo artigo 2º da lei 12.037/2009
Exame de DNA o que impedirá por força legal que o agente público de segurança
Pode ser realizado em qualquer tecido ou líquido orgânico. não poderá submetê-lo ao processo de identificação criminal, logi-
camente, a regra disposta no artigo 2.º da referida lei não comporta
A identificação pelo DNA tornou obsoleta quaisquer outras téc-
o caráter absoluto para que não ocorra o processo de identificação
nicas prévias.
criminal, pois tais documentos elencados no rol taxativo da “lei de
Métodos Dermopapiloscópicos
Identificação” podem apresentar dúvidas onde pelo princípio da
- Impressões digitais
obrigatoriedade o agente público possui o dever de sanar de forma
- Impressões palmares
legal para confirmar a validade plena ou a invalidade daquele do-
- Impressões plantares
cumento duvidoso.
- Poroscopia
Na referida lei em seu artigo 3.º fica evidente que o caráter do
artigo 2.º não é absoluto, muito menos quando conjugado com o
IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO. IDENTIFICAÇÃO artigo 5.º, inciso LVIII da CF, pois o agente público poderá identificar
JUDICIÁRIA o agente “identificado civilmente” quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsifi-
cação;
IDENTIDADE PESSOAL E A IDENTIFICAÇÃO II – o documento apresentado for insuficiente para identificar
Faz-se necessário diferenciar Identidade, Identificação e Reco- cabalmente o indiciado;
nhecimento. A identidade, de forma objetiva, é aquela que permite III – o indiciado portar documentos de identidade distintos,
afirmar que determinada pessoa é ela mesma por meio de elemen- com informações conflitantes entre si;
tos positivos e mais ou menos perenes que a distingue das demais. IV – a identificação criminal for essencial às investigações poli-
A identificação é o processo pelo qual se determina a identidade de ciais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que
uma pessoa, enquanto o reconhecimento significa apenas o ato de decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade poli-
certificar-se, é a afirmação laica, de parente ou conhecido, sobre cial, do Ministério Público ou da defesa;
alguém que se diz conhecer ou de sua convivência. A identificação V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou di-
pode ser baseada na comparação entre características conhecidas ferentes qualificações;
de um indivíduo (dados ante mortem) com características desco- VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da
bertas de um corpo desconhecido (dados post mortem). localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a
completa identificação dos caracteres essenciais.
Dispõem o artigo 5.º, inciso LVIII da CRBF/1988 que: Além de que as cópias dos documentos apresentados pelo in-
“o civilmente identificado não será submetido a identificação divíduo submetido ao processo de identificação criminal deverão
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.” ser juntadas nos autos do processo investigatório ou criminal, afim
Na Constituição Federal o art. 5º, inciso LVIII é regulamentado de justificar os meios e os fins utilizados no procedimento de iden-
pela lei n.º 12.037, de 1.º de outubro de 2009 que dispõe sobre a tificação bem como as justificativas que embasaram os agentes na
identificação criminal do civilmente identificado diante de tais nor- desconfiança do documento inicialmente apresentado a autorida-
mas é certo que existem regras para que haja a identificação de de. Logicamente, tais documentos na iminência de dúvida quanto
determinadas pessoas em sede policial, ou seja, o civilmente identi- à sua validade ou formas de identificação de veracidade deverão
ficado aquele que possui um mero registro civil capaz de identifica- ser confrontados em bases de dados e apreendidos para exames
-lo de forma inquestionável perante ao seu registro de nascimento periciais e até mesmo para o futuro enquadramento do indivíduo
assentado junto ao sistema de identificação estatal não poderá ser em crimes de falsificação e/ou uso de documento público.

14
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Não restam dúvidas que se o documento apresentar dúvida de A IDENTIFICAÇÃO E O CONSTRANGIMENTO:
veracidade e validade quanto a identificação do agente constitui a Apesar de ser um método invasivo quando necessário é não
necessidade do exame de corpo de delito pois configura materia- saudável para ninguém em caso de dúvida ser conduzido muitas
lidade – é um fato não transeunte que necessita da prova técnica vezes embaixo de vara a uma delegacia de polícia para melhor
para efetiva confirmação da falsificação, salvo se for grosseira cuja identificação, o simples meio é constrangedor por sí só, porém algo
a verificação é imediata. necessário para que o próprio agente público não cometa o equí-
A identidade de determinado indivíduo nada mais é do que o voco de liberar alguém que se mascara por trás de um documento
conjunto de propriedades particulares que o individualizam peran- inválido ou duvidoso.
te a sociedade, é uma qualidade de ser sempre o mesmo, podendo Logicamente na lei 12.037/2009 não encontramos em seu tex-
a identidade de um indivíduo ser: (i) subjetiva: referente a consci- to legal qualquer sanção administrativa, cível ou penal ao agente
ência individual ou (ii) objetiva: conjunto de características físicas. que submete o indivíduo a identificação desnecessária, mas nada
O processo de identificação de um homem segundo a Medicina impede de que se processe por outras vias um eventual abuso de
Legal esta elencada dentro do tem: Antropologia Forense, que é o autoridade ou outra sanção a cargo da instituição que o agente
estudo da identidade e identificação podendo ser dividida a identi- pertencer, porém deve-se ter em mente o princípio da supremacia
ficação em (i) médica-legal ou (ii) judiciária. do interesse público sobrevém ao interesse particular e o próprio
Esta é dada pelo conjunto fisiológico e biológico de determi- caput do artigo 4.º da lei 12.037/2009 permite que o agente pro-
nado homem, aquela é configurada por dados, antropometria e ceda aos meios necessários para prover a identificação, desde que
datiloscopia. não seja constrangedor ao averiguado.
A identificação não se confunde com identidade, pois todos
possuem uma identidade personalíssima com uma identificação
O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A IDENTIFICAÇÃO
comum, ou seja, enquanto a identidade é característica própria a
CRIMINAL:
identificação é a forma de determinação que pode ser um conjunto
Apesar da existência da uma identidade civil, a autoridade tem
de técnicas, métodos e sistemas para determinar a identidade de
o dever de checar a validade daquela informação, pois esta agindo
alguém que precisa ser identificado. Toda identificação se faz por
meios que provam quem é aquela pessoa que esta a ser identifica- sobre o manto do princípio da legalidade – tal atitude dá segurança
da, podendo ser o ser humano vivo ou morto. não só à sociedade, mas também à autoridade no cumprimento de
suas atribuições.
A IDENTIFICAÇÃO COMO TÉCNICA: O ato de identificar é lícito, mas a forma como se identifica as
O ato de identificar é determinar quem é quem, porém não é vezes ocorre com desvio de finalidade e abuso de poder do próprio
um meio engessado e único é uma ciência multidisciplinar e dinâ- agente identificador, sendo vedado mencionar a identificação cri-
mica, pois pode ser: minal em eventuais certidões e/ou atestados de antecedentes ou
em informações não judiciais, sob a ótica da violação do princípio
IDENTIFICAÇÃO MÉDICA-LEGAL ou IDENTIFICAÇÃO POLICIAL/ da presunção de inocência antes do trânsito em julgado de senten-
JUDICIAL ças condenatórias.
A primeira é realizada através de conhecimento técnicos com O que a CRFB/1988 veda é a identificação criminal quando há a
a aplicação da medicina, a segunda é realizada através de confron- identificação civil, porém, nada restringe quanto a identificação ci-
to de dados e estatísticas. Quando realizada através da medicina vil, o que se exemplifica pela verificação do indivíduo através de sua
busca-se raça, sexo, idade e estigmas, quando realizada de forma identificação para cumprir requisitos obrigatório em detrimento de
policial ou judicial não há a rigorosidade do conhecimento médico, determinadas regras, não há o que se falar em constrangimento
pode ser realizada pela impressão digital do indivíduo buscando um ilegal e/ou inconstitucionalidade do artigo 5.º, LVIII – pois a medida
retrocesso pregresso daquele indivíduo frente à sua situação com não visa saber quem é o indivíduo tão somente visa o impedimento
o Estado. de fraude quanto à pessoa.
Quando se fala em identificação médica busca-se três carac- Ainda temos muito que evoluir em tema relacionados a identi-
terísticas no avaliando: físicas, funcionais e psíquicas. Nas físicas: ficação criminal, pois há quem defenda a violação à integridade físi-
preocupa-se com o caráter biológico e fisiológico, as funcionais: pe- ca, à dignidade da pessoa humana entre outros direitos fundamen-
las características como voz, escritas, caminhar e outras e por fim tais, mas às vezes é um meio necessário para que não se incorra em
as psíquicas: busca traços interiores inerentes aquele indivíduo em dúvidas ou em excessos pois a identificação criminal por sí só é uma
específico. intervenção corporal no indivíduo, portanto o Estado deve garantir
Nas identificações policiais e/ou judiciais utiliza-se a fotogra-
que esta coação direta não se mostre abusiva e traga a certeza da
fia, antropometria, datiloscopia e descritivos dados informativos e
finalidade que se busca.
qualitativos, hoje ainda se utilizam dois métodos o de Bertillon que
A simples identificação criminal justificável não viola a incolu-
consiste na medida do homem que se complementa pela fotografia
midade física do averiguado, pois não ocorre um meio agressivo a
e a outra de Vucetich que consiste no estudo dos desenhos indivi-
duais das impressões digitais. dignidade ou exposição midiática daquela identificação, assim sen-
Os meios de identificação no nosso ordenamento jurídico ti- do meio legal e prudente do Estado de direito quando realizada de
veram grandes alterações e considerações legislativas, iniciando- forma justificável e legal.7
-se pelas leis 5.553/68 alterada pela lei 9.453/97, 12.037/2009 e
9.455/97. Métodos de Identificação
A realização dos processos de Identificação Humana é impres-
cindível na Ciência Forense, por razões legais e humanitárias, sendo
com bastante frequência iniciada antes mesmo de se determinar
a causa da morte. Muitos indivíduos são vítimas de homicídios ou
encontram-se desaparecidos e a investigação desses casos depen-
7 Fonte: www.thiagochiminazzo.jusbrasil.com.br

15
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
de primeiramente da correta identificação. Assim, o processo de Em 1903, o sistema Vucetich, baseado na Ciência Papiloscópi-
identificação passou a ser considerado parte essencial da autóp- ca, ou seja, a partir da coleta, classificação e confronto de impres-
sia forense. Métodos rotineiros incluem reconhecimento visual de sões digitais, é adotado no Brasil, constituindo-se no método mais
vestimentas, de objetos pessoais e de impressões digitais, análises barato, seguro e prático de identificação humana reconhecido pela
de DNA, bem como investigação médica, esquelética, sorológica, legislação brasileira.
de cabelos e dentes, peculiaridades morfológicas da dentição entre Os bancos de dados periciais civis e criminais dispensam a
outros. apresentação de padrões de comparação por terceiros, já que o re-
A identificação forense do vivo ou falecido pode ser um traba- gistro padrão encontra-se arquivado e disponível. Assim, a partir de
lho árduo, mas é abrangente, envolvendo os esforços coordena- algoritmos formados pela disposição dos pontos característicos de
dos de uma equipe multidisciplinar, empregando diversas técnicas cada impressão e da identificação das regiões do delta e do núcleo,
e métodos acessórios. Os meios de identificação primários e mais tornou-se possível a pesquisa de forma automatizada por padrões
confiáveis são a análise de impressões digitais, a análise odontoló- papiloscópicos.
gica comparativa e estudo do perfil de DNA. Os meios secundários Esse método de identificação pode ser aplicado buscando a
de identificação incluem a descrição pessoal, os dados médicos, as- identificação de corpos cadavéricos nas mais variadas fases dos fe-
sim como as evidências e roupas encontradas no corpo. Estes ser- nômenos transformativos, sejam destrutivos, como autólise, putre-
vem para reforçar a identificação estabelecida por outros meios, e fação e maceração ou conservadores, como saponificação, mumifi-
geralmente por si só não são suficientes para certificá-la. cação, corificação e petrificação. Cada vez mais a necropapiloscopia
Quanto à escolha do método de identificação humana, deve tem ganhado importância, pois traz resultados positivos e conclu-
sempre prevalecer o bom senso investigativo. O importante a con- sivos de forma mais célere, sendo, portanto, um eficiente método
siderar nesse momento é o estado do cadáver (putrefeito? carbo- primário de identificação, inclusive nos acidentes de massa.
nizado? esqueletizado? mumificado?) e o custo, a praticidade e a
viabilidade do método possível. Os principais métodos de identi- Análise de DNA
ficação humana possuem vantagens e limitações, dependendo do A revolução causada em 1953 por Watson e Crick, que des-
caso, eles podem se complementar ou reforçar um ao outro. No cobriram a estrutura de dupla hélice do DNA, levou a mudanças
entanto, todos os métodos de identificação, isolados ou combina- importantes em quase todos os campos da ciência. Esta descoberta
dos entre si, têm o objetivo de, através dos dados obtidos e devida- foi a base para o desenvolvimento de técnicas que permitem ca-
mente tabulados, viabilizar o processo de identificação. O objetivo racterizar a individualidade de cada pessoa com base na sequência
é tão só a busca da verdade real. de DNA.
A análise do DNA é única na sua habilidade de fornecer infor-
Odontologia Legal mações de identidade a partir de qualquer tipo de tecido, como
Um dentista forense carrega uma responsabilidade conside- tecido ósseo, bulbo capilar, amostra de biópsia, saliva, sangue e ou-
rável, uma vez que, com frequência, sua opinião científica faz-se tros, podendo variar em quantidade e qualidade do DNA extraído
necessária quando todos os outros caminhos de identificação se es- de cada tecido.
gotaram. Em muitos casos, os dentes são os únicos restos humanos Este método requer uma amostra ou fonte, podendo utilizar-
preservados, representando o único meio de identificação, e nesse -se perfis de familiares ou amostras extraídas da própria vítima ou
caso, o processo final pode depender da correspondência odonto- de seus objetos de uso pessoal; trata-se do único método de iden-
lógica específica dos dados dentários ante mortem e post mortem. tificação primário independente da comparação direta (impressões
As estruturas e traços únicos dos dentes humanos e maxilares digitais e arquivos dentais).
prontamente se prestam para a identificação de vítimas vivas ou fa- As técnicas de análise de DNA também podem ser usadas em
lecidas. Os dados odontológicos podem ser recuperados e registra- combinação com outros métodos utilizados na identificação de ví-
dos no momento do exame post mortem e comparados aos dados timas, sendo essa associação crucial em acidentes em que a frag-
ante mortem fornecidos por dentistas generalistas e / ou especialis- mentação corpórea é severa.8
tas que trataram a vítima durante a vida. Os dentes estão bem pro-
tegidos na cavidade oral e são capazes de suportar muitas influên-
cias externas, próximas ou algum tempo após a morte, mantendo TRAUMATOLOGIA MÉDICO-LEGAL. LESÕES CORPO-
as características dentárias acessíveis, tais como aquelas oriundas RAIS SOB O PONTO DE VISTA JURÍDICO. ENERGIAS DE
de procedimentos odontológicos, como coroas restaurativas e es- ORDEM MECÂNICA. ENERGIAS DE ORDEM QUÍMICA,
téticas, tratamentos de canal radicular e próteses dentárias, todas CÁUSTICOS E VENENOS, EMBRIAGUEZ, TOXICOMA-
feitas sob medida para cada indivíduo, além de traços anatômicos NIAS. ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA: EFEITOS DA TEM-
e morfológicos quando não houve o tratamento, mas que também PERATURA, ELETRICIDADE, PRESSÃO ATMOSFÉRICA,
servem para comparação com a finalidade de identificação. RADIAÇÕES, LUZ E SOM. ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-
Além de oferecer meios de comparação para o processo inves- -QUÍMICA: ASFIXIAS EM GERAL. ASFIXIAS EM ESPÉCIE:
tigativo, a cavidade oral é uma fonte rica e não-invasiva de DNA, POR GASES IRRESPIRÁVEIS, POR MONÓXIDO DE CAR-
podendo ser usada para identificação de indivíduos através da BONO, POR SUFOCAÇÃO DIRETA, POR SUFOCAÇÃO
comparação genética. INDIRETA, POR AFOGAMENTO, POR ENFORCAMENTO,
POR ESTRANGULAMENTO, POR ESGANADURA, POR
Necropapiloscopia SOTERRAMENTO E POR CONFINAMENTO. ENERGIAS
O termo papiloscopia é relativo à “papila” e, erroneamente, se DE ORDEM BIODINÂMICA E MISTAS
refere às estruturas responsáveis pela formação dos desenhos ca-
racterísticos nas superfícies palmares e plantares. Essas estruturas, A Traumatologia Forense é o ramo da Medicina Legal que es-
corretamente denominadas de cristas de fricção, estão presentes tuda as lesões corporais resultantes de traumatismos de ordem
na superfície da pele e são formadas por dobras de tecido epitelial. material ou moral, danoso ao corpo ou à saúde física ou mental
A datiloscopia aplicada para a identificação post mortem é denomi- (Croce; 115)
nada no Brasil de necropapiloscopia.
8Fonte: www.perspectivas.med.br

16
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Tem por objeto o estudo dos efeitos na pessoa das agressões As lesões corporais podem ser leves (sem consequência para
físicas e morais, como também a determinação de seus agentes a vítima, são as mais comuns na perícia e as mais frequentes são
causadores. Este reconhecimento é feito através do exame pericial as causadas por ação contundente como edema traumático, es-
na vítima, bem como no local do crime, denominado exame de cor- coriações, equimoses), graves (lesões que ofendem a integridade
po de delito, o corpo do delito ao contrario do que muitos pensam corporal, incapacitam por mais de um mês ou debilitam permanen-
não é apenas a vitima, mas todo o local e instrumentos utilizados temente quaisquer de seus membros, sentidos, funções, acelera o
para a pratica do delito, pelo qual se atribui a extensão dos danos parto, se mulher grávida, ou põe em perigo a vida do indivíduo)
provocados. e gravíssimas (resulta em incapacidade permanente, enfermidade
incurável, perda, inutilização de membro, sentido, função, defor-
Exame pericial midade permanente e aborto, em caso de grávidas), segundo a lei
O exame deve ser requerido por autoridade legalmente com- penal, sendo classificadas pelo resultado (consequências) sob o cri-
petente (p. ex., um delegado de polícia), dirigido a um médico legis- tério anatômico e funcional, no organismo da vítima.
ta competente (ou órgão do qual o mesmo seja funcionário). Este Outros tipos de lesão:
requerimento deve conter alguns elementos imprescindíveis para a a) Lesões corporais seguida de morte: ofende a integridade
realização do laudo, tais como a completa identificação da pessoa, corporal ou a saúde do paciente, provoca-lhe a morte sem querer
a hora, local e finalidade do exame. esse resultado, nem assumir o risco de produzi-lo.
O laudo pericial tem como norma geral uma narrativa contí- b) Lesão corporal qualificadora agravante: produzida por meio
nua, que é feita à medida que o exame é realizado. Nele deve cons- de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio
tar, de forma abreviada e sucinta, apenas constando-se o que for insidioso ou cruel.
essencial, a narrativa dos fatos proferida pela vítima. Os agentes lesivos – forma ou instrumento que resulta em le-
O perito deve assinalar as lesões ou sua ausência (hipótese em são no organismo – podem ser classificados em natureza física (me-
que o perito esquivar-se de proceder a exame, expondo seus moti- cânica, térmica, elétrica), química (tóxicos, venenos e cáusticos),
vos), os locais e tipos de lesão. biológicas (agentes infecciosos) ou mistos (naturezas diversas).

Exame complementar Lesão corporal.


Por diferir o Direito penal a natureza delituosa da lesão cor- Definição: qualquer simples alteração causada à integridade
poral consoante sua gravidade, é mister um exame suplementar, corporal de maneira culposa ou dolosa, na estrutura anatômica ou
decorridos trinta dias do fato. Neste exame o perito assinala a pre- mesmo histológica de uma pessoa.
sença ou não das seqüelas da(s) lesão(ões), bem como o grau de Um beliscão ou um tapa é o bastante para caracterizar uma
incapacitação gerada por ela(s) na vítima. ofensa à integridade corporal de outrem.
Registros Lesão corporal leve: lesões resultantes da ofensa a integridade
O exame traumatológico deve ser indicado através de meio fí- corporal ou à saúde de outrem, excetuando-se as lesões graves e
sico apropriado - desde o preenchimento de planilhas impressas, gravíssimas.
até a filmagem do examinado. Lesão corporal grave: quando resultam em incapacidade para
Conforme asseveram William Douglas, Abouch V. Krymchan- as ocupações habituais por mais de trinta dias, perigo de vida, de-
towki & Flávio Granato Duque, na obra Medicina Legal à luz do Di- bilidade de membro, sentido ou função, deformidade permanente,
reito Penal e Processual Penal, 2ª edição. Rio de Janeiro: Impetus, aceleração de parto.
2001: “A Traumatologia Forense estuda os traumas, lesões, instru- Lesão corporal gravíssima: incapacidade permanente para o
mentos e ações vulnerantes, visando elucidar a dinâmica dos fatos. trabalho, perda ou inutilização de membro, sentido ou função, de-
Trauma é o resultado da ação vulnerante que possui energia capaz formidade permanente, aborto.
de produzir a lesão, como ensina Roberto Blanco. Lesão nada mais Lesão corporal seguida de morte: resulta quando, o agente
será que o dano tecidual temporário ou permanente, resultante do alheio ao dolo, lesa a vítima produzindo-lhe a morte. O agente não
trauma.” assumiu quis o desfecho. A ação é dolosa, mas o resultado é cul-
“Nas contusões ativas, o instrumento vulnerante vem de en- poso.9
contro à superfície corpórea . Ex.: soco. Nas contusões passivas, a
superfície corpórea (a vítima) vai de encontro ao instrumento vul- Lesões e mortes por arma branca
nerante. Ex.: a pessoa cai e bate a cabeça no solo. Assim, a atuação As armas podem ser manuais (instrumentos perfurantes, cor-
pode ser ativa/direta, passiva/indireta ou mista (a combinação de tantes, perfuro-cortantes e corto-contundentes, embora possam
ambas)”. ser arremessados) ou de arremesso, que podem ser simples (são
totalmente jogadas contra o oponente) ou complexas (dispararam
Quantificação do Dano: Lesões Corporais projéteis contra o oponente).
O artigo 186, do código civil brasileiro, declara como lesão
corporal “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência Instrumentos Perfurantes
ouimprudência, violar direito ou causar dano a outrem, ainda que São instrumentos formados por uma ponta continuada com
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. O dano deve resultar em uma haste mais cilíndrica e de acordo com o diâmetro podem ser
alteração objetiva, mensurável, observável, mesmo que fugaz na de pequeno calibre (alfinetes, agulhas e espinhos) e médio cali-
estrutura orgânica ou psíquica da pessoa, relacionada à ação cau- bre (pregos pequenos, furador de gelo e a sovela). Transformam a
sadora. energia cinética através de uma ponta, exercendo pressão e afas-
tando as fibras dos tecidos conforme a penetração.

9Fonte: www.aulademedicinalegal.blogspot.com.br

17
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Para a ocorrência das lesões, a ação pode ser ativa, quando o instrumento atinge o corpo parado ou quase em repouso (picada por
agulha de injeção, agressões com furadores) e passiva, quando o corpo em movimento choca com o instrumento localizado em um ante-
paro (pisar em um prego ou cair sobre grade com elemento pontiagudo).

Instrumentos cortantes
Nesta categoria destacam-se os instrumentos cortantes como cacos de vidro, pedaços de folha metálica e até mesmo folha de papel.
Transferem energia cinética por deslizamento e leve pressão através de uma borda aguçada (gume ou fio).
As lesões possuem predomínio da extensão em relação à profundidade. Podem ser superficiais, no entanto podem ser observadas
feridas mais profundas penetrando em cavidades, pois dependem da região do corpo atingida e da força, bem como o estado do gume.
As lesões apresentam bordas regulares, com vertentes planas e ângulo muito agudo, com profundidade maior na porção correspondente
ao terço inicial. Podem causar mutilações em nariz, orelha, ponta dos dedos, pênis.
A gravidade está relacionada com a região atingida. As lesões mais graves são as de engorjamento podendo até levar ao óbito. Em
certos casos, o agressor não possui a intenção de matar e sim deformar a vítima.
Em relação aos aspectos médico-legais, a causa jurídica em caso de morte deve ser orientada pela disposição, número e localização
das feridas. Nos casos que apresentam ferida incisa na face anterior do punho, existência de cicatrizes anteriores e presença de lesões de
defesa podem contribuir para a investigação de suicídio e homicídio. Dentro das lesões por instrumento cortante, predominam as aciden-
tais, principalmente as decorrentes de atividades profissionais.

Intrumentos perfuro-cortantes
Estes instrumentos possuem uma ponta e um ou mais gume e transferem a sua energia cinética por pressão através da ponta e por
deslizamento dos gumes que seccionam as fibras dos tecidos. De acordo com as faces apresentadas no instrumento, lisas ou ásperas, as
bordas das feridas se apresentarão normais ou escoriadas, respectivamente. As lesões possuem predominância da profundidade sobre a
extensão, no entanto a sua forma varia com o número de gumes.
As lesões em botoeira com um dos ângulos bem mais agudo que o outro são ocasionadas por instrumentos que apresentam apenas
um gume. As lesões em fenda com ângulos bastante agudos são ocasionadas por instrumentos de dois gumes. As lesões estreladas com
bordas curvas e convexas em direção ao centro da ferida são ocasionadas por instrumentos com mais de dois gumes.
As lesões podem ser classificadas em superficiais, penetrante (mais graves) e transfixantes. O trajeto constitui-se por um túnel em
forma de fenda nas feridas por instrumentos de um ou dois gumes. Observa-se retração dos tecidos, ao longo do trajeto, tendo a fenda
bordas afastadas de modo desigual, principalmente nos planos musculares. Em superfícies ósseas, a penetração pode deixar a sua forma
impressa em baixo relevo e pode ocorrer da própria lamina quebrar e ficar parcialmente encravada.
O agravamento se dá pela penetração de grandes cavidades do organismo ou acometimento de víscera ou vaso sanguíneo calibroso,
mas nas feridas superficiais pode ocorrer secção de vasos arteriais, nervos e tendões, principalmente se predominar a ação cortante.
Em relação aos aspectos médico-legais, interessam os casos de suicídio, com lesões em região precordial, punho ou pescoço. No ato
da perícia ou necrópsia, é importante deixar a pele desnuda para avaliar o golpe. Para o diagnóstico, é importante que não haja lesões de
defesa, porém a existência de apenas uma lesão não descarta a hipótese de homicídio.

18
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Instrumentos corto-contundentes Tipos de lesões produzidas por instrumentos cortantes: Nos
São associação de instrumento cortante + instrumento contun- instrumentos cortantes provocados por lesões no pescoço, pode-
dente = machado, guilhotina. mos classificar em:
Têm uma massa significativa e gume. 1) Esgorjamento,
O mecanismo de ação = massa + pressão (ou vibração ou velo- 2) Degolamento e
cidade) + deslizamento. 3) Decapitação
Massa + Pressão + Deslizamento = Decapitação
Traumatologia forense. 1) Esgorjamento: São lesões incisas, de profundidade variável,
Estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios, situando-se na face anterior ou antero – lateral do pescoço, entre
produzidos sobre o corpo humano. a laringe e o osso hióide, ou sobre a laringe, raramente acima ou
O meio ambiente pode impor ao ser humano, as mais diversifi- abaixo desses limites. Pode ser única ou múltipla, e a profundidade
cadas formas de energias causadoras de danos pessoais. da lesão é variável, detendo-se, em geral, na laringe, dependendo
da intensidade do uso do instrumento, alcançando a coluna cervi-
Classificação: cal.
1- Agentes mecânicos (instrumentos) Deve-se observar também que, se o ferimento for numa dire-
2- Agentes físicos ção transversal ou obliqua, entende-se como elementar para deter-
3- Agentes químicos minar a causa jurídica da morte, daí, poderemos analisar se houve
4- Agentes físico-químicos suicídio, ao qual o instrumento cortante é empunhado pela mão
5- Agentes biológicos (contágios) direito, em que se predomina a direção transversal ou descendente
6- Agentes mistos para a direita, também pode ocorrer em direção oposta, se quando
for canhoto.
1-Agentes mecânicos ou instrumentais: denominam-se como A profundidade da lesão é maior no inicio e no final a vitima
conjuntos de objetos, agidos de uma mesma maneira, produzem perde suas forças.
lesões semelhantes, sendo divididos em: Nos homicídios, aparecem características distintas, pois o au-
a) Instrumento perfurante tor da lesão coloca-se por trás da vitima, provocando um ferimento
b) Instrumento cortante da esquerda para a direita, se destro, em sentido horizontal, se vol-
c) Instrumento contundente tado para cima.
d) Instrumento perfuro-cortante 2) Degolamento: São lesões provocadas por instrumento cor-
e) Instrumento corto-contundente tante na região posterior do pescoço, na nuca. É indicio de homicí-
f) Instrumento perfuro-contundente dio, principalmente se o ferimento for profundo e a lesão encontra-
-se localizada na medula.
A) Instrumento perfurante: 3) Decapitação: É a separação da cabeça do corpo, podendo
Ação: por pressão, por meio de sua ponta, empurrados por ser oriunda de outras formas de ação além da cortante. Pode ser
uma força cujo sentido corresponde ao seu eixo longitudinal. Obje- acidental, suicida ou homicida.
tos longos e de pontas afiladas.
Ex. Pregos, alfinetes, agulhas, estiletes, etc. C) Instrumento contundente:
Ferimento: punctório ou puntiforme É todo agente mecânico, liquido gasoso ou sólido, rombo,
Características: a ferida apresenta uma forma da projeção da que, atuando violentamente por pressão, explosão, flexão, torção,
secção transversa do objeto. Profundidade sobre a superfície exter- sucção, percussão, distensão, compressão, descompressão, arras-
na, que é muito pequena. tamento, deslizamento, contragolpe, ou mesmo de forma mista,
Atravessa-se o instrumento um segmento ou órgão do corpo, traumatiza o organismo (CROCE: 272).
chama-se punctório transfixaste. Ação: por pressão e/ou deslizamento sobre uma superfície
mais ou menos plana.
B) Instrumento cortante: Ex. tijolos, pedras, mãos, pés, cassetetes, etc. Tais ferimentos
Ação: por pressão e deslizamento sobre o seu fio ou gume. O podem ter como conseqüência ações como explosão, compressão,
aprofundamento depende da pressão ou fio, mas a extensão da le- descompressão, tração, torção, contragolpe, ou, formas mistas.
são depende do deslizamento do instrumento. Deverá ser forte o
bastante para vencer a resistência da pele. Objetos que apresen- Tipos de lesões:
tem um bordo longo e fino. - Contusão: é a denominada como genérica do derramamen-
Ex. Navalhas, lâminas de barbear, bisturi, faca, estilhaço de vi- to de sangue nos interstícios tissulares, sem qualquer efração dos
dro, papel, capim-navalha, etc. tegumentos, consequente a uma lesão traumática sobre o orga-
Ferimento: Inciso nismo. Trata-se de uma lesão fechada com comprometimento do
Características: a ferida apresenta forma linear reta ou cur- tecido celular subcutâneo e integridade real ou aparente na pele e
vilínea, com predomínio do comprimento sobre a profundidade, nas mucosas.
margens nítidas e regulares; ausência de contusão em torno da le- - Ferida contusa: é a contusão que adveio da continuidade pela
são, devido gume se limitar a secção dos tecidos, sem mortificação; ação traumática do instrumento vulnerante; é a contusão aberta.
predomínio sobre a largura e a profundidade, extremidade mais Características: apresenta forma irregular, por vezes estrelada,
superficial e em forma de cauda de escoriação, ao qual é produzida com bordos irregulares, anfractuosos e macerado, fundo irregular,
na epiderme no instante que precede a ação final do instrumento com pontes de tecido unindo uma borda à outra. Os tecidos próxi-
sobre a pele; corte perpendicular, aspecto angular em formato de mos apresentam-se também como traumatizados, como às vezes
um “v” de abertura externa, se o instrumento cortante agiu linear- esmagados, conforme o caso.
mente; hemorragia abundante.

19
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Há uma classificação médico-legal, portanto: Ex. espeto sem ponta, chaves de fenda, ponteira de guarda-
• Eritema: área avermelhada no local contundido devido a al- -chuva e, classicamente, projéteis de arma de fogo (balas)
teração local da circulação. É transitório, desaparecendo nas próxi- Ferimento: Pérfuro-contuso
mas 24 horas. Temos como exemplo: tapas, empurrões, bofetadas, Características: apresentam bordos irregulares, com maior
etc. predomínio da profundidade sobre a superfície e caráter penetran-
• Edema traumático: aumento difuso de volume, por acumu- te ou transfixante.
lo de líquido intercelular. Por motivo de alteração traumática da Normalmente, as lesões tidas típicas são armas de fogo, ao
permeabilidade dos vasos capilares ocorre um extravasamento de qual, agem por impulsão e rotação, determinando a formação de
líquido nos espaços intersticiais. Podem desaparecer em menos de um orifício e de zonas de contorno junto à pele em que depende
24 horas. da incidência do tiro, portanto, se for obliquo, perpendicular, ou
• Equimose: extravasamento de sangue para dentro dos teci- mesmo tangencial, como também sua distancia.
dos, cujas malhas ficam aprisionadas as hemácias, formando uma Podemos analisar uma breve classificação, quanto aos tipos de
mancha de coloração, de inicio, violácea. zona, como:
• Hematoma: solução de continuidade superficial que atinge a • Zona de contusão: caracteriza-se por uma aréola apergami-
epiderme e eventualmente parte da derme. Tem sua evolução, sem nhada, escura, de poucos milímetros de largura, que circunda o
deixar cicatriz ou produzindo alterações muito discretas na pele, bordo do orifício, resultante do impacto e da pressão rotatória feita
formando manchas hipocrômicas como único sinal. pelo projétil contra a pele.
• Zona de equimose: é uma aréola violácea, originada duran-
Há que mencionar também que as lesões tidas profundas são te a passagem do projétil através da pele, quando pequenos va-
causadas pela forma do instrumento gerando uma violência consi- sos sanguíneos e capilares são tracionados e rompidos, formando
derada grande. Assim, temos: equimoses em torno do ferimento. Somente podem ser produzidos
• Fratura: perda de continuidade óssea, parcial ou total quando a vitima estiver com vida.
• Luxação perda de continuidade de articular, podendo ou não • Zona de tatuagem: trata-se de disparos à queima-roupa ou
se acompanhar de ruptura de ligamentos articulares. apoiados, pelos grânulos de pólvora combusta ou incombusta, que
• Ruptura visceral: lesão que atinge órgãos das cavidades cra- acompanham a bala de perto, incrustando-se mais ou menos pro-
nianas, torácica e abdominal. Frequentemente, as vísceras mais le- fundamente na pele da região atingida. Além disso, é uma incidên-
sadas são o fígado e o baço. cia de que o orifício de entrada de tiro ser de curta distancia.
• Zona de esfumaçamento: Também conhecida pela doutrina,
D) Instrumento pérfuro-cortante: como zona de tatuagem falsa, resulta do depósito de fumaça e de
Ação: predomínio de profundidade sobre o comprimento; os partículas de carvão, muito leves, que se acumulam sobre a epider-
bordos nítidos e lisos e as margens não apresentam traumas de me, mas tem ter força suficiente de penetração. Pode ser removida
contusão. A lesão provocada chama-se “ferimento em botoreira”, simplesmente pela lavagem da pele.
por apresentar-se um ângulo agudo e outro canto arredondado, • Zona de queimadura ou chamuscamento: decorre da ação do
nos instrumentos de gume só, ou ambos os ângulos agudos, como calor e dos gases quentes que saem do cano da arma, queimando
instrumentos com dois gumes, mas se houver três gumes, a forma pelos e a epiderme. Se localizado na região da pele, apresenta a
de ferimento poderá reproduzir a forma do instrumento quanto ao aparência enrugada e seca, de aparência vermelho-escura, e com
número de gumes. cheiro característico. Já nos pelos, apresentam-se queimados e
Há, portanto, uma classificação quanto aos ferimentos pode quebradiços.
ser: Nos disparos de arma de fogo, o projétil ocasiona o orifício de
• Penetrantes: atingem uma cavidade, com tórax ou abdômen, entrada e elementos de vizinhança ou zona de contornos, indepen-
e terminam em fundo-de-saco; dente do tipo de tiro.
• Transfixantes: atravessam um segmento do corpo, tendo por Assim, há três situações:
característica física, uma pequena cauda no local do gume. 1) Tiro encostado ou apoiado: neste caso, o projétil pode pene-
Não poderemos nos esquecer que, o tamanho do ferimento trar ou mesmo refluir, produzindo o chamado efeito “mina”
nem sempre corresponde à largura da lâmina que o produzir, po- Características: orifício de bordas denteadas, desarranjadas e
dendo, inclusive ser menor, devido a elasticidade da pele, ou maior evertidas, este último decorre da violência da força de expansão
devido a retração dos tecidos adjacentes. dos gases. O diâmetro é maior que o projétil, com bordas volta-
das para fora, devido à explosão dos tecidos subcutâneos. Normal-
E) Instrumento corto-contundente: mente, não há a presença de zona de esfumaçamento e de zona de
Ação: contunde por pressão devido a animação e corta pelo tatuagem, eis que os elementos de disparo penetram no próprio
fio ou gume grosseiro. São objetos pesados com superfície romba ferimento.
e gume pouco afiado. 2) Tiro a queima roupa ou de pequena distancia: o alvo é atin-
Ex. Facão, machado, enxada, dentes, etc. gido pelos gases aquecidos dos disparos e pela chama resultante da
Tipo de ferimento: Corto-contundente queima da pólvora.
Características: apresentam bordos pouco regulares, sem cau- Características: ocorrência de calor, fumaça e grânulos de pól-
da, fundo anfractuoso e presença de equimose e edema traumático vora em combustão, bem como todas as impurezas provindas do
junto às margens. São ferimentos extensos, profundos e provoca- cano da arma. Predomina-se pelo arrancamento da epiderme devi-
dos por fraturas, conforme o peso do instrumento e da força com do o movimento rotatório do projétil, enxugo, tatuagem, esfuma-
que conduziu o instrumento. çamento e queimadura.

F) Instrumento perfuro-contundente:
Ação: inicialmente “amassa” e afasta o os tecidos por ação de
sua ponta romba devido sua extremidade, porém de diâmetro pe-
queno.

20
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
3) Tiro a distancia: o alvo é atingido pelo projétil somente. 1. RUBEFAÇÃO – Congestão de pouca intensidade. Ex.: uma bo-
Características: a boca de fogo fica a mais de 50 centímetros fetada de mão aberta.
do alvo e só projétil alcança o alvo, formando um orifício de bordos Por desaparecer em pouco tempo (minutos ou horas), é pre-
invertidos com orla de contusão e enxugo e orla equimotica. Não ciso rapidez na efetivação do exame pericial para configurá-la em
apresenta os efeitos secundários do tiro.10 função do seu caráter fugaz.
Há, em grau menor, o eritema leigamente chamado de verme-
Lesões e mortes por ação contundente lhidão ou eritema traumático, que é a forma mais insignificante ou
Instrumento contundente é todo objeto rombo, capaz de agir branda de lesão.
traumaticamente sobre o organismo. Tanto é assim que os tribunais, em geral, sequer consideram
A ação causadora da lesão contusa pode ser por pressão, por o eritema como ofensa à integridade física ou à saúde. Por vezes,
deslizamento ou ambas. A regra é a causação por instrumento duro nesse caso, punem a agressão como contravenção (vias de fato).
e rombo, como é o caso de paus, pedras, barras de ferro etc. Em um grau um pouco maior que o eritema traumático, en-
Vale consignar que, excepcionalmente, a água e o ar podem contraremos a rubefação, que desaparece com cerca de seis a 24
causar lesões contundentes. Não é incomum pessoas terem lesões, horas, dependendo da área ou local atingido, da sua irrigação san-
muitas delas graves, derivadas de mergulhos, cujo choque com a guínea e da intensidade da ação contundente.
água vem a causar danos. A água funciona como um verdadeiro
“muro” em que a pessoa se choca, a depender de velocidade, al- 2. ESCORIAÇÃO – O instrumento contundente age tangen-
tura, incidência etc. O deslocamento abrupto de ar, causado por cialmente à superfície corpórea, produzindo o arrancamento da
explosões, também pode causar lesões contundentes. epiderme, deixando a derme descoberta. Em suma, é toda perda
Os instrumentos contundentes têm como seus maiores exem- epidérmica traumática. A epiderme é a primeira camada do tecido
plos, como já dissemos, paus, pedras, martelos, bastões, bengalas, humano, ao passo que a derme é a segunda.
barras de ferro etc. Entre a epiderme e a derme, encontramos a crista da papila,
Também são contundentes as ações provocadas por chutes, onde ficam os vasos sanguíneos, linfáticos e os terminais nervosos.
socos, cabeçadas ou outras formas de ataque e defesa usadas pelo Nas escoriações, que são feridas contusas superficiais, não
homem. ocorre cicatrização, mas sim regeneração. A pele se regenera, de
Sabemos que outros podem ser os geradores dessas lesões, baixo para cima. No início deste processo, é possível determinar-se
como, por exemplo, os atropelamentos. Por fim, note-se que tam- a data da lesão.
bém pode funcionar como instrumento contundente uma super- A crosta se forma com a substância que escorre da escoriação.
fície resistente contra a qual o corpo se choque (uma parede, o Ela nos fornece dois importantes elementos de informação: sua cor
chão), nas lesões passivas. e o seu deslocamento. Com o tempo, a crosta vai escurecendo e se
Não deve ser esquecida, em momento algum, a classificação descolando, das bordas para o centro.
quanto à atuação ativa ou passiva dos instrumentos. Reprisando, Quando a lesão atinge só a epiderme, temos a ruptura de vasos
nas contusões ativas o instrumento vulnerante vem de encontro à linfáticos, ficando a crosta amarelada. Na lesão que atinge a derme,
superfície corpórea (ex.: um martelo que atinja o rosto da vítima); a crosta já é pardo-avermelhada, pois a lesão atinge os vasos san-
nas contusões passivas, a superfície corpórea (a vítima) vai de en- guíneos que passam na derme.
contro ao instrumento vulnerante (ex.: a pessoa se lança contra um Havendo pressão acentuada no local, a lesão ficará apergami-
muro, a vítima cai e sua cabeça vai de encontro ao solo, ou, ainda, nhada, tanto no vivo quanto no morto. Não havendo infecção (que
o indivíduo que despenca de um precipício). Também são chama- gera tom amarelado e purulento), a regeneração leva de 20 a 30
das de diretas (ativas) ou indiretas (passivas). Há a combinação de dias.
ambas, as lesões mistas. Pouco antes da morte ou após esta, não há tempo para a for-
Em geral, as lesões são classificadas também em leves (super- mação da crosta. Forma-se apenas uma placa apergaminhada. Nos
ficiais) ou profundas. casos de comprometimento da derme, há resolução com formação
Como já foi mencionado, a localização das lesões tem grande de cicatriz.
valor médico-legal, porque ajuda na elucidação da verdade. Lesões Segundo Roberto Blanco, é importante a observação da forma,
na face interna das coxas, nas nádegas: dão notícia, geralmente, de da localização e da evolução das escoriações, pois podem determi-
agressões sexuais, como estupro consumado ou tentado. nar como foram produzidas, o motivo do seu aparecimento e a data
Lesões semilunares no pescoço noticiam tentativa de esga- em que foram produzidas.
nadura. Lesões no antebraço e nas mãos (principalmente nas pal-
mas) podem ser as conhecidas lesões de defesa. Lesões de defesa, 3. EQUIMOSE – O agente vulnerandi age com maior intensi-
diga-se logo, são aquelas resultantes do esforço da vítima em se dade do que na rubefação, mas ainda se preserva a integridade e
defender. Por exemplo, ao tentar evitar uma agressão a facadas, a elasticidade da pele. Os vasos superficiais rompem-se, causando
a vítima certamente terá lesões em suas mãos e braços. Roberto extravasamento de sangue internamente, o qual fica entremeado
Blanco anota ainda as lesões de hesitação que, de acordo com ele, nas tramas teciduais. O fenômeno dá coloração à pele, em virtude
são aquelas produzidas pela hesitação, incerteza da vítima em pro- da transparência desta. A pele não se arrebenta, mas sim os vasos
duzir uma lesão fatal; são as lesões características de suicídio. abaixo dela.
A depender de inúmeros fatores, principalmente a forma e Em resumo, equimoses são derrames sanguíneos nos quais o
força da agressão, existirão diversas modalidades de lesões com sangue extravasado se infiltra e coagula nas malhas dos tecidos do
repercussões e consequências diferentes, que devem ser estuda- corpo.
das de acordo com suas particularidades: rubefações, escoriações, As equimoses podem ser superficiais ou profundas. Há tam-
equimoses, bossas e hematomas, feridas contusas, fraturas, luxa- bém as equimoses causadas pela emoção (equimoses emotivas).
ções, subluxações, roturas viscerais e esmagamentos. A equimose à distância ocorre quando a lesão está em um lu-
gar e a equimose, em outro. Isto acontece pela ação da gravidade
sobre o sangue.
10Por Luiz Fernando Pereira

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Saiba-se também que as equimoses profundas podem levar de g) Equimose retrofaringeana de Brouardel – indica constrição
quatro a cinco dias para aparecer sob a pele. do pescoço (compressão da faringe contra a coluna vertebral).
Espectro equimótico é a mudança da coloração da equimose, h) Equimose nos tecidos moles subjacentes à pele do pescoço –
com o passar do tempo. O estudo da variação da cor da equimose indica agressão, por estrangulamento, enforcamento, esganadura
no processo de recuperação é útil para determinar a data aproxi- ou mera contusão local.
mada da lesão. Foi observado primeiramente por Legrand du Saul- i) Equimoses de etiologia não mecânica – devem-se diferenciar
le, que emprestou seu nome ao fenômeno. as equimoses decorrentes de trauma mecânico ou psíquico e as
Este fenômeno só ocorre nos vivos. Toma por base lesões de chamadas equimoses espontâneas. As equimoses não traumáticas
tamanho médio. A mudança é causada pela decomposição do san- são chamadas de púrpura e decorrem de entidades mórbidas que
gue. O pigmento da hemácia (glóbulo vermelho) tem ferro, que é o evoluem deixando manchas arroxeadas (equimoses) pelo corpo.
elemento cuja decomposição dá a variação cromática, ao longo do j) Equimose à distância – equimoses que surgem em pontos
tempo e da recuperação tecidual. O fenômeno ocorre até haver a completamente diferentes do local onde ocorreu a lesão. Podem
reabsorção completa do sangue extravasado pelo organismo. decorrer dos efeitos sistêmicos que o trauma exerce no organismo
As equimoses nas regiões conjuntival e da bolsa escrotal, por ou do escoamento de sangue, em razão da força da gravidade.
serem estas regiões densamente vascularizadas, não passam pelo Roberto Blanco classifica, ainda, como tipos especiais de equi-
espectro equimótico. Normalmente, estas regiões ficam vermelhas mose, os hematomas e as bossas sanguíneas (o material que se
até a cura. O ex-diretor do IML, Iran Barbieri, apresenta a seguinte acumula na cavidade neoformada é o sangue) e serosa (o material
sequência: cor avermelhada (um a dois dias), cor azulada (três a que se acumula na cavidade é a linfa extravasada).
cinco dias), cor violácea (seis a oito dias), cor esverdeada (nove a 12
dias), cor amarelada (13 a 20 dias) e, após este prazo, volta a pele 4. HEMATOMA – Aqui, a pele resiste pela sua elasticidade, mas
à coloração normal. os vasos (artérias e veias) mais calibrosos, que estão em camadas
Hélio Gomes dá a seguinte sequência na coloração: vermelho- abaixo da mesma, podem se romper, resultando em extravasamen-
-escuro, violeta, negro, azul, verde, amarelo. Flamínio Fávero apre- to de sangue para o tecido subcutâneo. Como o sangue não conse-
senta uma quase igual: vermelho-escuro, roxo, violáceo, azul, verde gue se espalhar por todos os tecidos moles, permanece agrupado
e amarelo. Devergie e Tourdes, embora com datações diferentes, (colecionado), formando o hematoma. Em suma, os hematomas
consignam a seguinte ordem: vermelho, violáceo, azulado, esver- são coleções sanguíneas produzidas pelo sangue derramado.
deado, amarelado. Os prazos, lembre-se, variam em consequência,
A bossa ocorre quando o hematoma faz protrusão na pele. Isto
principalmente, da extensão da equimose.
ocorre na hipótese de a lesão estar sobre região óssea (ex.: canela,
É importante o conhecimento sobre como diferençar uma
testa) e abaixo de pele com pouco tecido mole na circunvizinhança.
equimose intra vitam de uma equimose post mortem. Naquela, o
O sangue, sem poder “empurrar” a pele e os tecidos subjacentes
sangue se coagula entre as malhas dos tecidos, existe infiltração
para os lados e para baixo, pressiona a própria pele para cima. São
leucocitária na região, verifica-se o índice de Verderau, há reação
os famosos “galos”.
inflamatória etc.; já na equimose post mortem, o sangue não se co-
Flamínio Fávero difere a bossa do hematoma de forma diferen-
agula, não existe infiltração leucocitária, não há alteração do índice
te. Para ele, as bossas são coleções pequenas e, os hematomas, as
de Verderau, não há reação inflamatória etc.
coleções maiores.
Roberto Blanco anota os tipos especiais de equimoses.
a) Petéquias – equimoses puntiformes, como cabeças de alfi- No entanto, discordamos porque a presença de uma bossa
nete, frequentes nas mortes rápidas, septicemias, asfixias, coquelu- depende fundamentalmente do local onde houve extravasamento
che. Decorrem do aumento da permeabilidade dos vasos capilares sanguíneo, e não da quantidade do mesmo.
por hipoxia (diminuição do oxigênio) e/ou aumento da pressão nes- Diferença entre equimose e hematoma. Na equimose, o san-
tes vasos (hipertensão capilar). gue se infiltra nas malhas do tecido subcutâneo; no hematoma, o
b) Manchas equimóticas lenticulares de Tardieu – têm o tama- sangue se coleciona (aglomera) em determinado ponto, formando
nho de uma lentilha, sendo patognomônicas de asfixias mecânicas verdadeiras bolsas. No entanto, ambos podem ocorrer simultane-
do tipo sufocação direta (patognomônicas vem de patognomonia, amente e aparecer aos olhos do examinador em períodos de dias
que é o estudo dos sinais e/ou sintomas considerados característi- que se seguem.
cos das doenças). Hélio Gomes ensina que “algumas das indicações citadas a pro-
c) Manchas subpleurais de Paltauf – ocorre nos casos de afo- pósito do valor médico-legal das escoriações podem aplicar-se aos
gamento e insuficiência respiratória aguda. São extensas e de con- hematomas.”
tornos irregulares.
d) Cianose cérvico-facial ou máscara equimótica de Morestin 5. FERIDA CONTUSA – Aqui, o agente agressor promove a per-
– ocorre nos casos de compressão do tórax (sufocação indireta). da da integralidade da pele ou vence a sua elasticidade. A integri-
A pressão do tórax mantém os vasos cervicais e faciais cheios de dade tecidual da pele passa a não ser suficiente para mantê-la e a
sangue, causando o fenômeno. pele é rompida. As feridas contusas são lesões abertas. Esta arre-
e) Equimoses perianais ou vulvo-vaginais – ocorrem como de- bentação atinge a derme (camada abaixo da epiderme ou pele) e
corrência de parasitoses locais e das alterações dermatológicas possui várias graduações, desde as lesões mais leves até as lesões
provenientes da coceira ou prurido, que obrigam o seu portador lácerocontundentes.
a coçar e arranhar a região, sobretudo em infecções, comuns no A graduação varia de acordo com a profundidade atingida pela
Brasil, pelo verme oxiúros. lesão e, portanto, da dimensão da ação contundente aplicada. As
Não confundir com aquelas causadas por atos libidinosos. lesões lácerocontundentes são as mais graves, uma vez que podem
f ) Mobilidade equimótica – noticiam-se aqui as equimoses que atingir e comprometer os músculos, os tendões e até as articula-
se deslocam do ponto de contusão para regiões mais afastadas e as ções. Além disso, podem gerar prejuízos funcionais ou estéticos, já
equimoses profundas, que só se fazem visíveis com quatro a cinco que a derme é atingida e a resolução tecidual se dá por cicatrização,
dias. com consequências penais (art. 129, e §§, do CP).

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Características das feridas contusas. As feridas contusas apre- parciais, que aparentemente não provocam alterações na vítima
sentam bordos de ângulos irregulares, com feridas escoriadas ou até terem decorrido várias horas, quando os sintomas decorrentes
equimosadas. Os tecidos apresentam traves de tecido íntegro e de do extravasamento interno de sangue e/ou do conteúdo visceral
tecido ferido. O fundo da lesão é “sujo”, isto é, desigual, irregular, começam a provocar sintomas e sinais no organismo. Logo, nem
com traves de tecido são e traves de tecido lesionado. sempre uma rotura visceral, de um baço, por exemplo, após um
A pele próxima ao ferimento se descola. São feridas de cicatri- golpe ou trauma direto causado por outro agente, pode se mani-
zação difícil. festar durante as primeiras 12 horas do mecanismo causador da
A ferida contusa é o contrário da ferida incisa, que é aquela agressão.
feita por instrumento cortante, que fica com a cicatrização “certa”
(ex.: feita por faca, lâmina de barbear). O corte feito com bisturi é 9. ESMAGAMENTO – Se atinge a maior parte da superfície cor-
denominado por alguns lesão cirúrgica poral, pode representar uma das lesões mais graves, causadas por
A diferença entre lesões/feridas contusas e incisas é constan- ação contundente. Consiste na compressão completa e destrutiva
temente objeto de questionamento em concursos. do corpo, resultando da forte pressão apenas uma massa amorfa.
Deve-se ressaltar a importância médico-legal e trabalhista das le-
6. FRATURAS – Correspondem a uma solução de continuidade sões por esmagamento parcial ou setorizado. Por vezes, o esma-
dos ossos. Podem ser diretas ou indiretas, fechadas ou abertas, co- gamento do dedo polegar destrói a capacidade que o homem tem
minutivas (ou fragmentadas) etc. É direta quando o trauma atinge o de fazer a apreensão de objetos, o que, para alguns, pode significar
local fraturado, e indireta em caso contrário. A fratura fechada não toda sua capacidade de trabalho ou lazer.
se comunica com o exterior do corpo e a aberta é aquela em que Deve–se conhecer a definição de síndrome de esmagamento
a ferida permite ver o foco da fratura (ex.: numa ferida contusa ou ou de CRUSH.
cortocontusa). Fratura exposta é aquela em que os fragmentos ós- É o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam as conse-
seos extrapolam os limites do corpo da vítima. Fratura cominutiva é quências deletérias, causadas pela compressão do corpo por lon-
aquela em que fragmentos ósseos ficam isolados do osso fraturado. go período, liberando produtos tóxicos (mioglobina, ureia etc.), os
As fraturas podem ser classificadas, ainda, como traumáticas quais atacarão principalmente os rins e, geralmente, são fatais. É
ou verdadeiras. Existem fraturas causadas pelo próprio peso do importante então que, diante de situações de esmagamento de ex-
corpo da vítima, por patologias ou esforço imoderado. Aqui, temos tremidades, como braços e pernas, aplique-se imediatamente um
as fraturas espontâneas ou patológicas, que devemos exemplificar garrote ou torniquete, para impedir que a mioglobina tenha acesso
com uma situação bastante comum e litigante com os idosos. A à corrente sanguínea e ocorram suas consequências. A mioglobina
fratura patológica do colo do fêmur é geralmente decorrente de é o pigmento muscular liberado quando a fibra é esmagada e ento-
osteoporose (porosidade óssea por desmineralização ou perda de pe os túbulos renais, impedindo a filtração do sangue e levando à
cálcio pelo osso, comum no envelhecimento, principalmente entre morte por insuficiência renal aguda.
idosos que não ingerem cálcio suficiente e que não se exercitam
regularmente) e acarreta a queda aparentemente espontânea do 10. Lesões produzidas por artefatos explosivos – “Chama-se de
idoso. Tanto este como sua família frequentemente interpretam a explosão um mecanismo produzido pela transformação química de
fratura como consequência da queda, e não como deve ser encara- determinadas substâncias que, de forma violenta e brusca, produz
da, sendo a queda a consequência de uma fratura. Aqui, o simples uma quantidade excessiva de gases com capacidade de causar ma-
fato de o idoso se virar para olhar para trás ou se levantar mais lefícios à vida ou à saúde de um ou de vários indivíduos. (...) As
rapidamente pode ocasionar a fratura e a queda consequente. De lesões produzidas por esses artefatos podem ser por ação mecâni-
acordo com Roberto Blanco, as fraturas podem ocorrer pela com- ca e por ação da onda explosiva. As primeiras são provenientes do
pressão, flexão ou torção. material que compõe o artefato e dos escombros que atingem as
vítimas. As outras são decorrentes das ondas de pressão e sucção,
7. LUXAÇÃO – É a perda definitiva (mas não irreversível) de que compõem a chamada síndrome explosiva ou blast injury.
contato entre as superfícies articulares, e segue-se, via de regra, de A blast injury é um conjunto de manifestações violentas e pro-
rotura de ligamentos. Esta perda pode ser transitória, com o retor- duzida pela expansão gasosa de uma explosão potente, acompa-
no da articulação e suas superfícies ao seu sítio anatômico normal, nhada de uma onda de pressão ou de choque que se desloca brusca
mas deve ser lembrado que, apesar disto, as lesões ligamentares e rapidamente numa velocidade muito grande, a pouca distância
que permitiram a ocorrência da luxação permanecem e devem ser da vítima e, mais grave, em locais fechados.
lembradas e citadas na caracterização da gravidade da lesão para Segundo William, essa força, para produzir lesões no homem,
efeito de pena. deve ser no mínimo de 3 libras por polegada quadrada.
Como exemplos, citamos a luxação de quadril, ombro, joelho As lesões provocadas pela expansão gasosa atingem diversos
e mandíbula. Nesses casos, será comum a ocorrência repetida da órgãos e se caracterizam de acordo com a sua forma, disposição e
luxação até que a mesma seja corrigida cirurgicamente. As sublu- consistência. A lesão mais comum é a rotura do tímpano”.
xações também podem ocorrer e não representam perda definitiva
das superfícies articulares, mas sim parciais e, consequentemente, 11. Encravamento – “É uma modalidade de ferimento produzi-
com menores sequelas funcionais e médico-legais. da pela penetração de um objeto afiado e consistente, em qualquer
parte do corpo”. Quase sempre é acidental.
8. ROTURA VISCERAL – O traumatismo, aqui, atinge as vísceras;
ocorre ruptura dos órgãos internos. As vísceras maciças e mais frá- 12. Empalamento – Forma especial de encravamento. “Carac-
geis irão se romper. Ex.: o baço, o fígado. teriza-se pela penetração de um objeto de grande eixo longitudinal,
A ruptura visceral pode ser gerada pela ação de onda de expan- na maioria das vezes consistente e delgado, no ânus ou na região
são gasosa e onda de vácuo (sucção), causadas, sequencialmente, perianal. As lesões são sempre múltiplas e variadas, sua profun-
por explosão (BLAST), ou seja, situações que provoquem grande didade varia de acordo com o impacto e as dimensões do objeto
pressão no organismo. É importante notar que pode haver roturas contusivo.”

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13. A tropelamento ferroviário – Ocorre a redução do corpo a diversos e irregulares fragmentos conhecidos como espostejamento.
“Nos casos de suicídio, em geral se observa a secção transversal do corpo ao nível do pescoço ou do abdome. Nos acidentes, é mais
comum a secção das pernas. Em ambas as situações, o que chama a atenção é a presença acentuada das reações vitais das lesões como
manchas equimóticas, infiltrados hemorrágicos dos tecidos e placas de sangue coagulado.
Nos atropelamentos post mortem para dissimular homicídio, nota-se um grande número de lesões sem reação vital e apenas se veem
tais reações nas lesões produzidas dolosamente. Por fim, nas situações de dissimulação de morte natural, por vezes para adquirir vanta-
gens de seguro, observam-se vestes manchadas de sangue e todas as lesões sem qualquer manifestação de reação vital”.

14. Lesões por precipitação – “Pele intacta ou pouco afetada, roturas internas e graves das víceras maciças e fraturas ósseas de ca-
racterísticas variáveis”.11

Lesões por armas brancas


A “arma branca” mais comummente utilizada é a tradicional faca de cozinha (Daéid, Cassidy, & McHugh, 2008) (Hainsworth, Delaney,
& Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). A maioria das mortes, que são atribuídas a facadas, é causada por objectos cuja função principal
não é a de uma arma ofensiva (Daéid, Cassidy, & McHugh, 2008).
Daí que para caracterizar as lesões corporais infligidas por arma branca, baseamo-nos na definição actual: “todo o objecto ou instru-
mento portátil dotado de uma lâmina ou outra superfície cortante, perfurante, ou corto-contundente…”. Portanto, não podemos assumir
que quando se fala de arma branca, se destina apenas a descrever lesões provocadas por facas.
As armas brancas, assim como outros objectos lançados manualmente, são considerados portadores de baixa energia. Causam lesões
pela sua superfície cortante, pela sua ponta ou por ambas (Calabuig, 2005). No entanto, algumas armas brancas além de causar lesões ao
longo do seu trajecto, podem originar, ocasionalmente, lesões secundárias em redor (Carvalho, 2005).
De acordo com lei e com o mecanismo de acção, as armas brancas podem causar quatro tipos distintos de lesões, que se denominam
respectivamente, feridas incisas, feridas perfurantes, feridas perfuro-incisas e por último feridas corto-contundentes.
Estas armas têm, normalmente, lâminas planas, semelhantes às facas de cozinha, canivetes ou navalhas com comprimento entre os
dez e os treze centímetros (DiMaio & DiMaio, 2001).
Uma faca é composta por duas secções fundamentais: a lâmina (ver a figura 3A) e o punho (ver a figura 3B). São diversas as partes
que as constituem (ver a figura 3).

Figura 3- Partes constituintes de uma faca A - Lâmina B – Punho Fonte: http://www.armabranca.com/2009/10/16/a-anatomia-da-


-faca/

11 Fonte: www.impetus.com.br

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LESÕES INCISAS
As lesões incisas, normalmente, não são fatais (DiMaio &
DiMaio, 2001). A maior parte das vítimas, dão entrada habitual-
mente em serviços de urgência e são tratadas com alguns pontos
de sutura, não acarretando grandes cuidados de saúde. Resultam
cicatrizes finas e de aspecto linear (DiMaio & DiMaio, 2001).
Na terminologia utilizada pelos vários autores, este tipo de le-
são por mecanismo de ação cortante, pode ter diferentes denomi-
nações, lesões cortantes ou lesões incisas (DiMaio & DiMaio, 2001).
A utilização do termo lesão incisa, deriva do resultado da inci-
são verificada numa intervenção cirúrgica (França, 2008) (Jorge &
Dantas, 2003). O termo lesão cortante está relacionado com a ação
do instrumento utilizado (Martins, 2005). Assim, a lesão resultante
de qualquer instrumento de ação cortante, é denominada incisa
(Martins, 2005)(Saukko & Knight, 2004).
A faca é um exemplo clássico de instrumento cortante, que
provoca lesões incisas. Co-existem outro tipo de instrumentos que
possuem também uma aresta cortante (como um pedaço de vidro,
papel ou metal), que são capazes de provocar o mesmo tipo de fe- Figura 4 - Bordos das feridas incisas sobre pregas cutâneas
rimento (DiMaio & DiMaio, 2001). A - Ferida em “zig-zag” B - Ferida interrompida Fonte: Aguiar, A.
As feridas incisas são, em geral, mais compridas do que pro- (1958). Medicina Legal: Traumatologia Forense. Lisboa: Empresa
fundas (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, Universidade Editora.
2001) (Aguiar, 1958). Este facto encontra explicação na ação desli-
zante do instrumento, na extensão usual do gume, no movimento Nas feridas incisas, normalmente, a hemorragia é abundante.
“em arco” exercido pelo braço do agressor e nas curvaturas das Quanto mais reduzida for a espessura do instrumento e mais afiado
muitas regiões ou segmentos do corpo. No entanto, a extensão da o gume, maior a profundidade da lesão e a maior riqueza vascular
ferida é quase sempre menor da que realmente foi produzida, pela da região atingida, mais abundante será a hemorragia. A hemorra-
elasticidade da pele e pela retração dos tecidos moles lesados. Nas gia deve-se à maior retração dos tecidos superficiais e à fácil secção
regiões onde esses tecidos estão mais ou menos fixos, como por dos vasos, que, não sofrendo hemostasia traumática, deixam os
exemplo, nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, essas dimen- seus orifícios naturalmente permeáveis. A distância entre os bor-
sões são teoricamente iguais (França, 2008) (Aguiar, 1958). dos da ferida relaciona-se com a elasticidade e a tonicidade dos
A forma linear das feridas incisas deve-se à ação cortante por tecidos (França, 2008) (Wolfbert, 2003).
deslizamento empregue pelo instrumento. Quando o instrumento
atua perpendicularmente à pele, no sentido das fibras musculares, A distância é maior onde os tecidos cutâneos são mais tensos
a ferida conserva-se linear, retilínea e com bordos aproximados. Se pela ação muscular, como no pescoço, e, ao contrário, como na pal-
o instrumento percorre os tecidos moles num sentido transversal ma das mãos e na planta dos pés, onde estas tensões não são tão
às fibras musculares, a ferida assume uma forma ovalar ou elíptica evidentes (França, 2008).
com considerável afastamento dos bordos. Possuem as paredes li- Como a elasticidade e a retração dos tecidos moles são dife-
sas e regulares (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958). rentes nos diversos planos corporais, mais acentuados à superfície
A regularidade dos bordos das feridas, bem como a regularida- do que na fáscia subjacente, as vertentes da ferida são cortadas
de do fundo da lesão são devidas ao gume mais o menos afiado do obliquamente (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958).
instrumento utilizado. Os bordos das feridas são, geralmente retilí- Apresentam perfil de corte de aspecto angular, de abertura
neos, pela ação de deslizamento. As feridas podem apresentar-se para fora, ou seja, bem afastadas da superfície e o seu término em
curvas ou em “zig-zag” (ver a figura 4A), ou com aspecto interrom- ângulo agudo, em forma de V quando o instrumento atua de forma
pido pelo enrugamento momentâneo ou permanente da região perpendicular (ver a figura 5). Quando o instrumento atua em sen-
atingida (ver a figura 4B). No entanto, a regularidades dos bordos tido oblíquo, ou em forma de bisel, não apresenta término em face
das feridas é mantida (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (DiMaio & angular (França, 2008).
DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958).
A ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida é outra
característica díspar. É raro observar-se escoriações, feridas contu-
sas ou equimoses nos bordos ou à volta da ferida devido à ação rá-
pida e deslizante do instrumento e ainda, pelo fio de gume afiado,
que não permite uma forma de pressão muito intensa sobre os te-
cidos lesados. Também não se observam pontes de tecido íntegro a
unir as vertentes da ferida (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (DiMaio
& DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958).

Figura 5 - Vertente angular das feridas incisas Fonte: Payne-Ja-


mes, J., Crane, J., & Hinchliffe, J. A. (2005). Injury assesment, docu-
mentation, and interpretation. In M. M. Stark, Clinical Forensic Me-
dicine, Second Edition A Physician’s Guide (pp. 127-158). Totowa:
Humana Press.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Por norma, o instrumento cortante deixa no final da lesão, e apenas na epiderme, uma pequena escoriação, chamada cauda de es-
coriação. Ao determinar-se cauda de escoriação, subentende-se que é a parte final da acção que provocou a lesão (França, 2008) (Saukko
& Knight, 2004).
Por outro lado, outros autores, consideram que cauda de escoriação é consequente do contato inicial do instrumento com a epider-
me e pode ocorrer na entrada, na saída ou na entrada e na saída do instrumento (Wolfbert, 2003)(Aguiar, 1958).
Contudo, poderemos estar perante um pleonasmo, visto que caudal é o término, sinónimo de terminal, fim ou saída, e não início
da ação ou entrada. Este elemento tem grande importância na determinação da direção do ferimento, no tipo de crime e na posição do
agressor, elementos fundamentais no diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio e acidente (França, 2008) (Aguiar, 1958).
A profundidade da ferida é mais superficial no início e no fim (Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958). O centro da
ferida é mais profunda, dado ao deslizamento do instrumento e direção semicurva reflexa do braço do agressor ou pela curvatura da re-
gião corporal atingida (ver a figura 6). No entanto, esta profundidade raramente é acentuada. O prognóstico desses ferimentos é de pouca
gravidade, a não ser que sejam profundos e venham a atingir grandes vasos, nervos, e até mesmo órgãos (França, 2008).

Figura 6 - Vista lateral e superior de uma lesão incisa Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm

Existem algumas exceções relativas as extremidades e profundidade das feridas cortantes, entre elas (Aguiar, 1958):
- Se um instrumento atuar em qualquer direção sobre uma região corporal curva (joelhos, região glútea), a lesão resultante terá as
duas extremidades ou cauda de escoriação, ou seja, dois traços escoriados na superfície da epiderme.
- Se um instrumento atuar perpendicularmente e transversalmente sobre uma região corporal de forma cilíndrica ou semi-cilíndrica
(braço, perna, dedo, dorso pé, dorso da mão, dorso do nariz), a lesão resultante terá as duas extremidades com características de cauda
de escoriação.
- Se o instrumento abordar uma região corporal encurvada na direção oblíqua ou transversa à curvatura percorrendo tecidos moles
até encontrar algo que o detenha (ossos, dentes), a lesão resultante terá as extremidades invertidas, ou seja, a extremidade inicial com
aspecto de cauda e a extremidade final talhada a pique.
- Caso do instrumento atue com violência sobre regiões corporais convexas, percorrendo a pele sobre tecido ósseo, em direção a um
dos seus bordos, até encontrar uma camada de tecidos moles (omoplata). A lesão resultante terá a extremidade inicial com características
de cauda e a extremidade final talhada a pique e profunda, dado a repentina falta de apoio ósseo.
- Se o instrumento atuar com obstinação nos tecidos moles poucos consistentes até atingir uma abertura natural (boca, narina), a
lesão resultante terá a extremidade inicial com aspecto da cauda, e a extremidade final espessa e profunda.
Embora os “cortes” nos tecidos, sejam a forma mais comum deste tipo de lesões, existe um conjunto suis generis de ferimentos, que
está associado a formas mais violentas, com nomenclatura e propriedades específicas:
- Esquartejamento, caracteriza-se pela divisão do corpo em partes (França, 2008) (Wolfbert, 2003); Espostejamento, despedeçamen-
to, seccionamento ou esquartejamento, os dois primeiros preferíveis a este último que, à letra significa divisão em quatro (Pinto da Costa,
2004).
- Decapitação, quando há separação da cabeça do tronco. Embora, possa também ser oriunda de outros tipos de instrumentos, para
além dos cortantes (França, 2008) (Wolfbert, 2003);
- Esgorjamento é representado pela presença de uma longa ferida transversal na face anterior do pescoço, com significativa profun-
didade, lesando não só os tecidos subcutâneos como também estruturas internas (França, 2008) (Wolfbert, 2003); Quando a lesão se
encontra na face posterior do pescoço denomina-se, degolamento (Wolfbert, 2003).
- Haraquiri são feridas profundas da parede abdominal, as lesões resultantes deste ritual são as grandes hemorragias, eviscerações e
eventrações (França, 2008)
O diagnóstico das feridas produzidas por ação cortante é relativamente fácil. No entanto, a dificuldade encontrada prende-se com
a distinção dos mais diversos instrumentos, porventura, utilizados (França, 2008) (Lynch, 2006) (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
Distintos instrumentos podem provocar lesões com características semelhantes.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Por exemplo, um corte na pele com sete vírgula seis centímetros de comprimento pode ter sido provocado por uma lâmina de quinze
vírgula seis centímetros, uma lâmina de cinco vírgula um centímetros, uma lâmina de barbear, uma navalha, ou até mesmo por um pedaço
de vidro (DiMaio & DiMaio, 2001).
É também difícil de assegurar a quantidade de força aplicada no instrumento para produzir a lesão, visto que depende diretamente
da configuração e forma afiada do instrumento, bem como da resistência, quando existe, da roupa da vítima (Lynch, 2006).
Contudo, existe alguma relação entre a lesão e o tipo de instrumento utilizado, estado e número de gumes e a maneira de sua apli-
cação (Aguiar, 1958).
No caso de existir uma série de feridas incisas que se cruzem, é importante conhecer a ordem de entrada do instrumento na pele, a
fim de relacionar com a possível direção do instrumento. Como a segunda lesão foi produzida sobre a primeira, os bordos, já afastados,
cooptando-se as margens de uma das feridas, sendo ela a primeira a ser produzida, a outra não segue um trajeto em linha reta, chamado
Sinal de Chavigny (ver a figura 7) (França, 2008) (Aguiar, 1958).

Figura 7 – Ordem das feridas. Sinal de Chavigny Fonte: http://www.malthus.com.br

Juridicamente a avaliação das feridas incisas, pode ser um dado de exclusão ou inclusão, num possível crime, daí a sua descrição
pormenorizada ser essencial à investigação forense.

LESÕES PERFURANTES
A força implicada na agressão, capaz de perfurar a pele, depende da configuração e a agudeza da ponta do instrumento. Quanto mais
pontiaguda for a ponta, menos força é necessária aplicar, logo, mais fácil de penetrar na pele (DiMaio & DiMaio, 2001). Uma vez entrada
a ponta, mais facilmente todo instrumento penetrará na pele e tecidos adjacentes com pouca força aplicada, a não ser que encontre uma
estrutura sólida, como um osso ou dente (DiMaio & DiMaio, 2001).
Pregos, florete, estiletes e furador de gelos são exemplos de instrumentos mais comuns neste tipo de lesões. (Calabuig, 2005)
A dimensão e tipo de instrumento são essenciais para a compreensão das lesões, bem como para a investigação criminal (Saukko &
Knight, 2004). As características das lesões perfurantes devem ser precisas no que respeita à abertura e ao trajecto. A abertura da lesão
não depende apenas da dimensão e forma do instrumento, mas também depende da região anatómica e propriedades da pele atingida
(França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
O orifício de entrada da lesão pode ter várias configurações, de acordo com o tipo de instrumento utilizado e a região anatómica
atingida (Aguiar, 1958).
A superfície de secção tem uma configuração variável consoante a forma do instrumento, e por outro lado, conforme a disposição
das linhas de Langer.
A configuração do ferimento permite presumir a da secção transversal do instrumento perfurante. Devido à elasticidade da pele, os
bordos da lesão tendem a ser mais curvilíneos que os bordos da secção do instrumento (ver a figura 8) (Calabuig, 2005).

Figura 8 – Configurações de lesões por instrumentos perfurantes Adaptado: Calabuig, G. (2005). Medicina Legal e Toxicologia. Barce-
lona, 6ª Edição: Masson.

27
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Se o instrumento perfurante é cilíndrico – cónico ou cónico, LESÕES PERFURO-INCISAS
de ponta aguçada, o orifício produzido é punctiforme, circular ou Estas lesões resultam sempre de um objeto suficientemente
linear; se tem ponta romba, o orifício originado apresenta forma afiado e estreito, capaz de rasgar os tecidos cutâneos (Lynch, 2006).
irregular (Aguiar, 1958). A arma mais comumente utilizada na produção deste tipo de
O orifício de saída, quando existe, é muito parecido ao da en- lesão é também a faca, em virtude da sua forma cortante e ponta
trada, no entanto, tem os bordos invertidos (França, 2008). aguçada (Lynch, 2006) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio,
Quando o instrumento perfurante penetra a pele, a forma das 2001).
lesões assume um aspecto diferente, obedecendo às Leis de Filhos Este tipo de lesão perfuro-incisa é descrito como o mais asso-
e Langer (França, 2008) (Calabuig, 2005) (Wolfbert, 2003): ciado a homicídios (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio
- Primeira Lei de Filhos: As soluções de continuidade dessas & DiMaio, 2001). Considerando que a maioria apenas causa lesões
feridas, quando é retirado o instrumento, assemelham-se às pro- superficiais, atingindo a pele e tecido adiposo, tornam-se muitas
duzidas por instrumentos de dois gumes ou tomam a aparência de vezes fatais quanto penetram estruturas vitais (Saukko & Knight,
“casa botão” ou botoeira; 2004) (Jorge & Dantas, 2003) (Aguiar, 1958).
- Segunda Lei de Filhos: Quando essas feridas se mostram
numa região onde as linhas de força tenham um só sentido, o seu As lesões perfuro-incisas são capazes de refletir mais informa-
maior eixo tem sempre a mesma direção; ção sobre o instrumento casuístico ou arma que a causou, pois ob-
- Lei de Langer: Quando um instrumento perfurante lesa um jetos redondos, deixam marcas arredondadas, objetos quadrados
ponto ou uma zona de convergência de diferentes sistemas de fi- produzem uma lesão quadrada, etc., algo que não se verifica numa
bras elásticas com direção divergente, a extremidade da lesão as- lesão incisa (Lynch, 2006).
sume o aspecto da ponta de seta, de triângulo ou mesmo de qua- A aparência de uma lesão originada por instrumentos perfuro-
drilátero. -cortantes depende da forma (ver a figura 9) e força aplicada, e da
As feridas produzidas por instrumentos perfurantes, de acordo parte do instrumento que é penetrada e/ou que entra em contato
com a região atingida, tomam as seguintes direções (França, 2008): com a pele (DiMaio & DiMaio, 2001).
- Pescoço: Linha média: no sentido dos músculos hióides; Face
lateral: no sentido do músculo esternocleidomastoídeo; Face pos-
terior: no sentido do músculo trapézio.
-Tórax: Face antero-lateral: no sentido dos feixes do músculo
peitoral maior ou no sentido do músculo serrátil maior; Face poste-
rior: no sentido do músculo romboíde.
- Abdómen: Linha média: no sentido dos músculos retos ab-
dominais; Face antero-lateral: no sentido dos feixes do músculo
oblíquo maior; Face posterior: no sentido dos feixes do músculo
transverso.
- Membro superior: Face anterior: Braço - no sentido dos feixes
do músculo bicep braquial. Antebraço - no sentido dos feixes do
pronador redondo e do flexor radial do carpo; Face posterior: Braço
- no sentido dos feixes do deltoíde; no sentido do tríceps braquial.
Antebraço - no sentido dos feixes do músculo extensor dos dedos.
- Membro inferior: Face anterior: Coxa - no sentido dos feixes
do músculo costureiro; no sentido dos feixes do músculo reto da
perna. Perna - no sentido dos feixes do músculo tibial anterior; Face
posterior: Coxa - no sentido dos feixes dos músculos isqui-tibiais.
Perna - no sentido dos feixes do músculo gémeo.
- Região glútea: No sentido dos feixes do músculo grande glú-
teo.
O trajeto dependerá, no que diz respeito à sua profundidade,
do tamanho do instrumento ou da pressão exercida pelo agressor.
No entanto, não se pode estabelecer o comprimento do meio Figura 9 - Formas de lesões associadas aos diferentes instru-
perfurante pela profundidade da penetração, uma vez quem de mentos A – Elíptica B – “Cauda de peixe” C – Oval com contusão
nem sempre é penetrado em toda a sua extensão e pode variar, essa Fonte: Payne-James, J., Crane, J., & Hinchliffe, J. A. (2005). Injury
profundidade, com a posição da vítima. Por outro lado, a profundi- assesment, documentation, and interpretation. In M. M. Stark,
dade da penetração pode ser maior que o próprio comprimento do Clinical Forensic Medicine, Second Edition A Physician’s Guide (pp.
instrumento, quando atinge uma região onde haja depressibilidade 127-158). Totowa: Humana Press.
dos tecidos superficiais, como no abdómen. Lacassagne apelidou
estas lesões de “feridas em harmónio” (França, 2008). A descrição das características da lesão depende da relação
A importância desses instrumentos perfurantes na Medicina existente entre o tipo de arma utilizado, e particularidades da mes-
Legal centra-se no facto de serem esses instrumentos inoculares ma, como o gume, o tipo de ponta e as suas dimensões, parale-
de infecção, pois as feridas produzidas, embora aparentemente pe- lamente, a profundidade, a direção, a inclinação, os movimentos
quenas, são profundas. dentro dos tecidos, a extração da arma bem como as propriedades
A gravidade destas lesões depende do carácter vital dos órgãos da pele nos diferentes locais anatómicos (Saukko & Knight, 2004)
e estruturas atingidas ou da eventualidade de infecções superve- (DiMaio & DiMaio, 2001).
nientes.
A sua causa jurídica é, na maioria das vezes, homicida e, mais
raramente, de origem acidental ou suicida (França, 2008).

28
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Se o instrumento possui ponta e arestas, as lesões produzidas As lesões assumem forma de botoeira ou “casa botão”, quando
diferenciam-se conforme a forma arredondada ou afiada das mes- infligidas por instrumentos de um gume, com uma fenda regular, e
mas. Os instrumentos com arestas afiadas originam feridas em fen- quase linear, com um ângulo agudo (gume) e outro arredondado
da ou rasgo com bordos ou irradiações de acordo como o número (costas) (França, 2008) (Aguiar, 1958) (Wolfbert, 2003). É caracte-
de gumes. São tanto mais nítidos, quanto mais afiadas forem es- rístico de lesões provocadas por facas, canivetes, navalhas, pedaços
tas arestas. Se os instrumentos possuem arestas rombas, resultam de vidro, etc. (ver a figura 11) (Aguiar, 1958).
feridas irregulares, acrescidas de pequenas lacerações em redor,
compatíveis com as arestas (Aguiar, 1958).
O tipo de fio de gume determina a aparência dos bordos das fe-
ridas: linear e recta, esfolada e macerada ou irregular e contundida.
Se o fio de gume é rombo, os bordos da ferida são incertos (DiMaio
& DiMaio, 2001).
Também é possível encontrar junto dos bordos da ferida, con-
tusões ou equimoses modeladas impressas pelo impacto do cabo
da arma na pele (Lynch, 2006) (Hammer, Moynihan, & Pagliaro,
2006) (Wolfbert, 2003).
Se uma lesão é provocada pela superfície plana de uma lâmina
obliquamente, a ferida terá uma margem biselada de um lado e
arredondada do outro, indicando a direção a partir do qual o instru-
mento entrou (DiMaio & DiMaio, 2001). Figura 11 - Configuração da lesão produzida por lâmina com
O orifício de entrada e o aspecto da lesão na pele é determina- um gume Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinafo-
do não só pela forma da lâmina, mas também pelas propriedades rense.htm
da pele e local anatómico (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
Se a pele é penetrada enquanto esticada ou estirada, resulta As lesões causadas por instrumentos de dois gumes apresen-
uma lesão comprida e fina, enquanto que, quando os tecidos estão tam uma fenda de bordos iguais e ângulos agudos (ver a figura 12)
relaxados a ferida apresenta menores dimensões. (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958). Os instrumentos
As linhas de Langer influenciam o aspecto da lesão, pois estas correlacionados são os punhais e as facas de dois gumes (Aguiar,
são aproximadamente iguais de indivíduo para indivíduo, o que tor- 1958).
na mais fácil estabelecer padrões de lesões.
Se uma lesão é provocada perpendicularmente a estas fibras,
o aspecto é uma fenda mais ou menos larga, pois as fibras elásti-
cas da pele esticam os bordos da ferida, separando-os (ver a figura
10A).
Se a lâmina penetrar paralelamente às linhas de Langer, a lesão
resultante é uma fenda fina e estreita, com pouco espaço entre os
bordos (ver a figura 10B). A elasticidade dos tecidos não produz
grande deformação no orifício de entrada e, com frequência é pos-
sível presumir a configuração do instrumento.

Figura 12 - Configuração da lesão produzida por lâmina com


dois gumes Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicina-
forense.htm

Figura 10 - Características do orifício de entrada em lesões


produzidas pelo mesmo instrumento Adaptado: DiMaio, V. J., &
DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC
Press

29
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Os instrumentos de três gumes originam feridas com forma
triangular ou estrelada (ver a figura 13) (França, 2008) (Wolfbert,
2003).

Figura 15 - Lesão característica em “cauda de andorinha”


Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology.
Nova York - 2 Edição: CRC Press

Uma primeira lesão é causada pela penetração da lâmina, e


uma segunda pelo movimento da vítima ou de retirada do instru-
Figura 13 - Configuração da lesão produzida por lâmina com mento. Uma variação desta lesão é observada na extremidade da
três gumes Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicina- lesão, quando o instrumento é apenas ligeiramente rodado, ou o
forense.htm movimento da vítima é discreto, ganhando a forma de um V inver-
tido ou bifurcado (ver a figura 16).
Por vezes, há deformação do orifício de entrada, face à movi-
mentação da mão que manipula o instrumento ou movimento da
própria vítima, quer alargando a lesão quando há inclinação na sa-
ída (ver a figura 14A), quer mudando a forma, quando há rotação
depois de introduzida no corpo (ver a figura 14B) (França, 2008)
(Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 16 - Lesão em forma de V invertido ou bifurcado Adap-


tado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova
York - 2 Edição: CRC Press

Outra possível configuração de uma lesão, causada por um


Figura 14 - Modificações da lesão pelo movimento da mão A - instrumento perfuro-cortante, que pode assemelhar-se à forma de
alargamento por inclinação B - rotação da mão Fonte: http://www. uma lágrima (ver a figura 17). Este formato deve-se à introdução
pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm total da lâmina até ao ricasso, pequeno espaço entre o fim do fio de
gume e a guarda da faca, zona esta não cortante, daí o formato dos
Deste modo, devido ao movimento nestas lesões, o compri- bordos não ser angulado (DiMaio & DiMaio, 2001).
mento da ferida pode ser igual, superior ou inferior à largura da
lâmina do instrumento (DiMaio & DiMaio, 2001).
Esta movimentação do instrumento ou da vítima, produz le-
sões em forma de L ou Y, chamadas também de ferimentos em
“cauda de andorinha” (ver a figura 15). O aspecto destas lesões
deve-se ao facto do agressor cravar a lâmina numa direção e, ao
retirá-la (possivelmente para desferir outro golpe), o fazer noutra
direção ou por, entretanto, a vítima se ter movido.

Figura 17 - Lesão em formato de lágrima A –Zona mais superfi-


cial (Ricasso) B – Zona mais profunda da lesão originada pelo gume
Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology.
Nova York - 2 Edição: CRC Press

30
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Se uma faca é introduzida numa região corporal com muita vio-
lência, a sua guarda pode ficar “tatuada” na pele, uma vez que não
é penetrada (DiMaio & DiMaio, 2001).
Se o instrumento é cravado num movimento descendente a
marca da guarda é visível na região superior (ver a figura 18A) e
viceversa (ver a figura 18B). A marca da guarda é simétrica se o
instrumento é introduzido em linha reta na pele. (ver a figura 18C).
Assim sendo, por vezes os bordos são redondos ou contundidos,
pela entrada da lâmina até a guarda, eliminando angulações deixa-
das pelo fio de gume.

Figura 19 - Diferentes tipos de lâmina A- Lâmina de forma uni-


forme em todo o comprimento e largura B- Lâmina de forma trian-
gular Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Patho-
logy. Nova York - 2 Edição: CRC Press

Com a lâmina A (figura 19A), independentemente da profun-


didade a largura da lesão é no mínimo do tamanho da lâmina. As
dimensões da lesão dependem da profundidade com que a lâmina
B (figura 19B) penetra nos tecidos.
Figura 18 – Tipo de “tatuagens” da guarda da faca A- Senti- Na maioria dos casos, através da observação da lesão, o sumo
do descendente B- Sentido ascendente C- Sentido recto D- Sentido de informação possível de deduzir é a largura máxima da lâmina,
esquerda direita e obliquo Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. uma estimativa do comprimento da lâmina e se possui apenas um
(2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press único gume. Ao proceder à medição das dimensões da lesão con-
vém aproximar o mais possível os bordos da ferida, no caso de uma
Se a direção for oblíqua, a tatuagem é mais evidente na mar- lesão perpendicular ou oblíqua as linhas de Langer, para se tentar
gem da lesão compatível com o sentido da penetração, (ver a figura corrigir as deformações introduzidas pela tensão elástica dos teci-
18D), inclinação de baixo para cima e da esquerda para a direita. dos (DiMaio & DiMaio, 2001).
Se o instrumento possui ponta com um ou dois gumes, o orifí- Nunca se pode vincular um determinado instrumento a uma
cio de entrada vai variar nas suas dimensões de acordo com: estado lesão, a menos que o instrumento tenha ficado retido no corpo ou
do gume, grau de inclinação do instrumento, mudança de posição pequenos fragmentos soltos pertencentes ao instrumento. Por ou-
do instrumento ao ser extraído do corpo, movimentos do instru- tro lado, se o instrumento é identificado, por comparação é possível
mento dentro corpo e características dos tecidos na área corporal associar o instrumento à lesão causada (DiMaio & DiMaio, 2001).
infligida (Aguiar, 1958). Assim: Na maioria dos casos quando se questiona se determinada
- Se o instrumento possui gumes afiados e atuar perpendicular- arma foi a que produziu um ferimento específico, pode-se apenas
mente à região corporal, as dimensões do orifício de entrada cor- referir que pode ter sido. Aferir com certeza que a lâmina do crime
respondem, sensivelmente, à largura do instrumento. era de serrilha ou dentada é raro (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio
- Se por outro lado, o instrumento possui gumes rombos e atu- & DiMaio, 2001).
ar perpendicularmente, as dimensões do orifício de entrada são Todos os instrumentos presumíveis de terem causado um cri-
menores do que a sua penetração, relacionado com a elasticidade me, devem ser analisados quanto à presença de sangue ou tecidos.
dos tecidos. Qualquer vestígio de sangue ou tecido, presente no instrumento,
- Se o instrumento atuar em direção oblíqua à epiderme, as pode ser extraído o ADN, para possível identificação da vítima e/ou
dimensões da ferida serão superiores às do instrumento em cau- do agressor (DiMaio & DiMaio, 2001).
sa, e tanto maiores quanto mais tangenciais for a penetração e a É possível que o instrumento não tenha vestígios de sangue a
amplitude dos movimentos no momento da saída. Após o crivar do nível microscópico mesmo após a sua utilização (DiMaio & DiMaio,
instrumento nos tecidos, a ferida adquirirá maiores dimensões, se 2001). Na perfuração de órgãos sólidos, a hemorragia ocorre ape-
o mesmo for manipulado no interior dos tecidos, ou em movimen- nas quando o instrumento é retirado, porque a sua pressão in situ,
tos de luta, defesa ou fuga da vítima. previne-a (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
A determinação da largura da lâmina do instrumento perfu- Durante a retirada do instrumento as fibras elásticas e mus-
ro-cortante, a partir da dimensão da lesão em fenda só é possível culares dos órgãos sólidos atingidos, ou o tecido elástico da pele
quando se tem noção do tipo de instrumento utilizado. No caso podem contrair-se de encontro à lâmina e limpar os vestígios de
de instrumentos perfuro-cortantes com uma lâmina de feitio trian- sangue presentes na mesma. A roupa pode também eliminar vestí-
gular, as dimensões do ferimento dependem da profundidade do gios de sangue do instrumento no momento da retirada. Se a lâmi-
canal de penetração (ver a figura 19B). Noutros casos, a largura da na não tem sangue, é necessário verificar se existe no cabo, ou local
lâmina é mais ou menos uniforme pelo que as dimensões do feri- onde o agressor segurou a arma. Analisar o instrumento na totali-
mento refletem, com aproximação, as da lâmina qualquer que seja dade é vital, pois pode conter algum vestígio biológico passível de
o seu grau de penetração (ver a figura 19A) (Calabuig, 2005). ser recolhido ADN, para análise (DiMaio & DiMaio, 2001).

31
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
São raras as situações em que a arma fica retida no corpo, para a remover o dedo polegar e o dedo indicador devem agarrar os lados
do cabo imediatamente adjacentes à pele. Isto permite evitar que o profissional de saúde toque ou manipule local que esteve em contato
com a mão do agressor, onde poderão estar as impressões digitais do mesmo (DiMaio & DiMaio, 2001).
Quanto à profundidade atingida pode ser igual, superior ou inferior ao comprimento da lâmina do instrumento (DiMaio & DiMaio,
2001).
Se a lâmina do instrumento não for introduzida na sua totalidade, a profundidade da lesão será, assim, menor que o seu comprimen-
to. Quando atinge uma região corporal em que a superfície é depressível (como a parede de abdomen) a lâmina produz uma lesão mais
profunda do que o seu próprio comprimento (ver a figura 20) (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 20 - Superfície do corpo depressível (parede de abdómen). A lâmina produz uma lesão mais profunda do que o seu próprio
comprimento. Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm

Portanto, a maior ou menor penetração do instrumento, assim como a sua maior ou menor gravidade, dependem não só das carac-
terísticas dos instrumentos e da força imprimida, mas também da região corporal afetada (França, 2008) (Jorge & Dantas, 2003) (DiMaio
& DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
A distância mínima entre a pele e os diferentes órgãos internos foi determinada por Connor et al. (Connor et al. citado por DiMaio &
DiMaio, 2001) (ver a tabela 1). No entanto, estas distâncias estimadas podem ser menores dependendo da força da compressão na pele
e no tecido subcutâneo pelo impulso do instrumento (DiMaio & DiMaio, 2001).

A determinação da força necessária para perfurar os tecidos é muito subjetiva e difícil de ser quantificada (Hainsworth, Delaney, &
Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). A única forma de mensurar a força é baseada no conhecimento de senso comum como: “força
ligeira”, “força moderada”, “força considerável” e em alguns casos “força extrema” (Hainsworth, Delaney, & Rutty, 2008) (Payne-James,
Crane, & Hinchliffe, 2005) (Saukko & Knight, 2004).

32
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Esta última classificação fica reservada para situações em que Contudo, não é possível quantificar a força exata utilizada pelo
o instrumento colide com um osso e fica empalado, quando pene- agressor para causar uma lesão fatal (Hainsworth, Delaney, & Rut-
tra o crânio ou quando o instrumento deixa contusões ou equimo- ty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). Porém, após a comparação e
ses modeladas impressas pelo impacto da sua extremidade na pele correlação da relação de cada uma das seguintes quatro variáveis,
(Saukko & Knight, 2004). é possível indicar em termos comparativos a força necessária para
infligir um golpe fatal (DiMaio & DiMaio, 2001):
Alguns Investigadores desenvolveram um projeto na medição - Características do instrumento utilizado. Ponta e fio de corte
da força máxima necessária para a penetração do instrumento na afiado ou rombo, lâmina espessa ou fina, o número de gumes, o
pele, no momento do impacto. Resultaram as seguintes conclusões tipo e espessura da lâmina. Um instrumento cortante com ponta
generalistas (Saukko & Knight, 2004): afiada, de duplo gume, com lâmina fina requer pouca força ou pou-
- À parte o osso e cartilagens calcificadas, a pele é o tecido mais co esforço para penetrar os tecidos ou órgãos do que um instru-
resistente à penetração, seguida pelos músculos. mento de lâmina não afiada, romba e de um gume.
- O fator mais importante na penetração é a argúcia da ponta - Resistência dos diferentes tecidos e órgãos. As estruturas
do instrumento. O fio de gume, depois do instrumento penetrado é resistentes como a pele, as cartilagens e os ossos, necessitam de
de, relativamente, de menor importância. maior força para serem penetrados do que os tecidos moles, como
- A velocidade de aproximação do instrumento à pele é, parti- o tecido adiposo. Através dos órgãos ou tecidos lesados, ajudam
cularmente, importante na forma da penetração. Se o instrumento a quantificar a força que foi necessária para os lesar. Num estudo
é firmemente empurrado contra a pele, requer mais força para a realizado por O´Callaghan et al. foi quantificada a força necessária
penetrar do que se pelo contrário, o instrumento tiver sido proje- para penetrar uma lâmina de dez centímetros de profundidade, em
tado. diferentes tecidos e peças anatómicas em cadáveres (O´Callaghan
- É mais fácil de penetrar a pele quando está esticada ou tensa et al. citado por DiMaio & DiMaio, 2001).
do que quando está enrugada ou mole. Na parede torácica, onde a Determinou-se que a força média necessária para penetrar na
pele tende a ser intermitentemente suportada pelas costelas, tor- pele, no músculo e no tecido subcutâneo era de cinco quilogramas
na-se relativamente fácil de ser perfurada, uma vez que os tecidos (quarenta e nove newton) com um desvio padrão entre os três vir-
estão esticados sobre os espaços intercostais, como a membrana gula cinquenta e oito quilogramas aos cinco vírgula sessenta e oito
de um “tambor”. quilogramas. Para o tecido adiposo e músculo, três vírgula cinquen-
- Apesar da pele ser mais espessa nas palmas das mãos e plan- ta e três quilogramas (trinta e cinco newton). Para o músculo iso-
tas dos pés do que no resto do corpo, a variação da resistência aos lado três vírgula cinquenta e oito quilogramas (trinta e sete vírgula
instrumentos perfuro-cortantes assume pouca importância quando cinco newton) e para o tecido adiposo isolado apenas zero vírgula
comparado com outros fatores. Da mesma forma, a pele do idoso, vinte e dois quilogramas (dois newton).
ou de uma mulher, não é sensivelmente menos resistente do que a - A profundidade e o comprimento da lesão. Para que uma
dos homens ou jovens. lâmina com cinco centímetros de comprimento cause uma lesão
- Quando um instrumento é empurrado contra a pele, ondula- com dez centímetros de profundidade, é necessária a utilização de
ções e resistências da pele ocorrem até que a penetração aconte- muita força.
ça. Quando é excedido o limiar da resistência das fibras elástica da - A quantidade de roupa e a sua própria composição. O cinto
pele, o instrumento penetra os tecidos subcutâneos sem qualquer de pele, casacos de pele grossos e duros entre outros requerem
força adicional, exceto se interceptado por um osso ou cartilagem. mais força para serem penetrados, do que na ausência de roupa,
Deste modo, para que ocorra a completa penetração do instrumen- ou roupas finas e macias. Pode ser estimada a quantidade de força
to até ao punho ou para que a extremidade do instrumento alcan- aplicada pela indumentária.
ce regiões mais profundas, não é necessário suplementar a força Alguns Investigadores desenvolveram um projeto na medição
exercida. É incorreto afirmar que para causar uma lesão profun- da força máxima necessária para a penetração do instrumento na
da é necessário aplicar uma força extrema. Algumas experiências pele, no momento do impacto. Resultaram as seguintes conclusões
mostram que após a ocorrência da penetração é difícil, ou mesmo generalistas (Saukko & Knight, 2004):
impossível, impedir que haja uma penetração ainda mais profunda, - À parte o osso e cartilagens calcificadas, a pele é o tecido mais
devido a ruptura repentina dos tecidos. resistente à penetração, seguida pelos músculos.
- Quando o instrumento penetra rapidamente nos tecidos, por - O fator mais importante na penetração é a argúcia da ponta
exemplo, quando a vítima cai ou corre em direção à lâmina, não do instrumento. O fio de gume, depois do instrumento penetrado é
é necessário segurar firmemente na mesma, com intuito de evitar de, relativamente, de menor importância.
que esta não penetre ou seja mesmo empurrada. A sua inércia, se - A velocidade de aproximação do instrumento à pele é, parti-
a ponta é afiada, é mais do que suficiente para a manter segura cularmente, importante na forma da penetração. Se o instrumento
enquanto o próprio corpo se espeta sozinho. é firmemente empurrado contra a pele, requer mais força para a
- Cartilagem não calcificada, como na região da grade costal, penetrar do que se pelo contrário, o instrumento tiver sido proje-
é facilmente penetrável, principalmente em jovens ou adultos de tado.
meia-idade. Contudo é necessária mais força do que se de um espa- - É mais fácil de penetrar a pele quando está esticada ou tensa
ço intercostal se trata-se. As costelas e os ossos são mais resisten- do que quando está enrugada ou mole. Na parede torácica, onde a
tes, mas um violento golpe de uma rígida e afiada lâmina pode facil- pele tende a ser intermitentemente suportada pelas costelas, tor-
mente penetrar uma costela, esterno ou mesmo o crânio. Tecidos na-se relativamente fácil de ser perfurada, uma vez que os tecidos
tensos como o miocárdio, fígado e rim são facilmente trespassados estão esticados sobre os espaços intercostais, como a membrana
por todos os instrumentos, a sua resistência é muito menor do que de um “tambor”.
a da pele e da cartilagem.

33
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- Apesar da pele ser mais espessa nas palmas das mãos e plan- - A profundidade e o comprimento da lesão. Para que uma
tas dos pés do que no resto do corpo, a variação da resistência aos lâmina com cinco centímetros de comprimento cause uma lesão
instrumentos perfuro-cortantes assume pouca importância quando com dez centímetros de profundidade, é necessária a utilização de
comparado com outros fatores. Da mesma forma, a pele do idoso, muita força.
ou de uma mulher, não é sensivelmente menos resistente do que a - A quantidade de roupa e a sua própria composição. O cinto
dos homens ou jovens. de pele, casacos de pele grossos e duros entre outros requerem
- Quando um instrumento é empurrado contra a pele, ondula- mais força para serem penetrados, do que na ausência de roupa,
ções e resistências da pele ocorrem até que a penetração aconte- ou roupas finas e macias. Pode ser estimada a quantidade de força
ça. Quando é excedido o limiar da resistência das fibras elástica da aplicada pela indumentária.
pele, o instrumento penetra os tecidos subcutâneos sem qualquer
força adicional, exceto se interceptado por um osso ou cartilagem. CARACTERIZAÇÃO DAS LESÕES CORPORAIS POR OUTROS OB-
Deste modo, para que ocorra a completa penetração do instrumen- JETOS
to até ao punho ou para que a extremidade do instrumento alcan- Quando o instrumento utilizado para causar lesão não é a arma
ce regiões mais profundas, não é necessário suplementar a força branca típica, uma faca, a ferida pode ter uma aparência particular
exercida. É incorreto afirmar que para causar uma lesão profun- devido à natureza incomum da arma. São diversos os instrumentos
da é necessário aplicar uma força extrema. Algumas experiências utilizados como arma, desde picadores de gelo, garfos, chaves de
mostram que após a ocorrência da penetração é difícil, ou mesmo fenda, tesouras, dardos, flechas, entre outros (DiMaio & DiMaio,
impossível, impedir que haja uma penetração ainda mais profunda, 2001).
devido a ruptura repentina dos tecidos. As características gerais das lesões originadas por facas apli-
- Quando o instrumento penetra rapidamente nos tecidos, por cam-se igualmente a outros objetos cortantes. Ambos atuam por
exemplo, quando a vítima cai ou corre em direção à lâmina, não corte e perfuração.
é necessário segurar firmemente na mesma, com intuito de evitar Lâminas de barbear e pedaços de vidro partido têm bordos
que esta não penetre ou seja mesmo empurrada. A sua inércia, se extremamente afiados de modo que, quando aplicados tangencial-
a ponta é afiada, é mais do que suficiente para a manter segura mente à pele ou num pequeno ângulo, o resultado pode ser uma le-
enquanto o próprio corpo se espeta sozinho. são exuberante (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
- Cartilagem não calcificada, como na região da grade costal, Embora estas armas casuais sejam normalmente utilizadas
é facilmente penetrável, principalmente em jovens ou adultos de para cortar, longos pedaços de vidro podem ser, por vezes inad-
meia-idade. Contudo é necessária mais força do que se de um espa- vertidamente, agentes de perfuração. O longo pedaço pode partir
ço intercostal se trata-se. As costelas e os ossos são mais resisten- e permanecer numa ferida profunda, que pode ser ignorada se a
tes, mas um violento golpe de uma rígida e afiada lâmina pode facil- entrada é pequena (Saukko & Knight, 2004).
mente penetrar uma costela, esterno ou mesmo o crânio. Tecidos As feridas infligidas por garrafas partidas tendem a ter como
tensos como o miocárdio, fígado e rim são facilmente trespassados características um aglomerado de lesões de diferentes tamanhos,
por todos os instrumentos, a sua resistência é muito menor do que formas e profundidades. Apresentam gumes afiados, mas ásperos
a da pele e da cartilagem. e provocam diferenças na profundidade de penetração na pele. A
Contudo, não é possível quantificar a força exata utilizada pelo maioria das feridas fatais, provocadas por garrafas partidas tem in-
agressor para causar uma lesão fatal (Hainsworth, Delaney, & Rut- tenção homicida, ocasionalmente suicídio, e, raramente acidental
ty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). Porém, após a comparação e (DiMaio & DiMaio, 2001).
correlação da relação de cada uma das seguintes quatro variáveis, Feridas provocadas com picador de gelo são pouco encontra-
é possível indicar em termos comparativos a força necessária para das atualmente, visto já não ser um objeto comum. Os picadores
infligir um golpe fatal (DiMaio & DiMaio, 2001): de gelo produzem uma lesão pequena e redonda, ou em fenda que
- Características do instrumento utilizado. Ponta e fio de corte pode ser facilmente confundida com estilhaços ou balas de calibre
afiado ou rombo, lâmina espessa ou fina, o número de gumes, o vinte e dois. Uma única ferida provocada pelo picador pode ser
tipo e espessura da lâmina. Um instrumento cortante com ponta perdida num exame superficial do corpo, especialmente se hou-
afiada, de duplo gume, com lâmina fina requer pouca força ou pou- ver pouca ou ausência de hemorragia externa (DiMaio & DiMaio,
co esforço para penetrar os tecidos ou órgãos do que um instru- 2001).
mento de lâmina não afiada, romba e de um gume. Se a vítima é ferida com um garfo de churrasco, grupos de duas
- Resistência dos diferentes tecidos e órgãos. As estruturas ou três lesões, dependendo do número de dentes do mesmo, sur-
resistentes como a pele, as cartilagens e os ossos, necessitam de gem na pele. Cada uma destas lesões está igualmente espaçada de
maior força para serem penetrados do que os tecidos moles, como acordo com o espaço existente entre os dentes do garfo (DiMaio &
o tecido adiposo. Através dos órgãos ou tecidos lesados, ajudam DiMaio, 2001).
a quantificar a força que foi necessária para os lesar. Num estudo A perfuração da pele com um garfo de cozinha geralmente não
realizado por O´Callaghan et al. foi quantificada a força necessária é possível. O que se constata é um padrão de três ou quatro, de-
para penetrar uma lâmina de dez centímetros de profundidade, em pendendo do número de dentes, abrasões ou feridas penetrantes
diferentes tecidos e peças anatómicas em cadáveres (O´Callaghan superficialmente na pele (DiMaio & DiMaio, 2001).
et al. citado por DiMaio & DiMaio, 2001). Lesões provocadas por chaves de fendas podem mostrar con-
Determinou-se que a força média necessária para penetrar na figurações muito particulares, por exemplo se a arma é uma chave
pele, no músculo e no tecido subcutâneo era de cinco quilogramas estrela. Em tais casos, a ponta em forma de X causa uma ferida
(quarenta e nove newton) com um desvio padrão entre os três vir- circular com quatro cortes espaçados e uma margem de abrasão. A
gula cinquenta e oito quilogramas aos cinco vírgula sessenta e oito chave de fendas tradicional, de apenas um raio, produz uma fenda,
quilogramas. Para o tecido adiposo e músculo, três vírgula cinquen- como uma arma branca, com extremidades quadradas e com mar-
ta e três quilogramas (trinta e cinco newton). Para o músculo iso- gens escoriadas. Assim, não se pode ter certeza absoluta se esta
lado três vírgula cinquenta e oito quilogramas (trinta e sete vírgula ferida foi produzida por uma chave de fenda ou se por uma faca
cinco newton) e para o tecido adiposo isolado apenas zero vírgula com uma lâmina estreita e romba, introduzida até a guarda (DiMaio
vinte e dois quilogramas (dois newton). & DiMaio, 2001).

34
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
As feridas causadas por espadas e lanças são praticamente Qual é o mecanismo fisiológico dos ferimentos por armas de
desconhecidas. Existem algumas descrições apenas de lesão por fogo?
espada e ocasionalmente, a referência de mortes causadas por fle- Quando a bala atravessa os tecidos, inicialmente esmagando-
chas ou virotões. A aparência da ferida depende da ponta da flecha. -os e depois dilacerando-os, o espaço deixado forma uma cavidade.
Flechas de tiro ao alvo, têm a ponta com terminação cónica. Eles Balas de alta velocidade criam uma onda de pressão que força os
produzem feridas em que a entrada na pele tem aparência seme- tecidos para longe, criando uma cavidade temporária ou cavidade
lhante a ferimentos de bala. As flechas de caça têm entre dois a secundária, que muitas vezes é maior que a própria bala.
cinco gumes cortantes (quatro ou cinco são os mais comuns). As O grau de rompimento dos tecidos causado por um projétil
feridas produzidas são cruzadas ou em forma de X com os quatro está relacionado à cavitação que o projétil cria ao passar pelos te-
gumes. Os bordos da ferida são incisos, sem qualquer escoriação cidos. Uma bala com energia suficiente terá um efeito de cavitação
(DiMaio & DiMaio, 2001). maior que a lesão penetrante. A cavidade temporária é dada pelo
Lesões por tesouras são triviais, são um objeto comum e de alongamento radial do dano ao tecido em redor da ferida da bala,
fácil acesso (Saukko & Knight, 2004). As características das lesões que momentaneamente deixa um espaço vazio causado por altas
realizadas com tesouras, diferem consoante a forma da tesoura e pressões em torno do projétil.
dependem se a tesoura estava aberta ou fechada no momento da A velocidade da bala é o determinante mais importante da le-
invasão na pele (DiMaio & DiMaio, 2001). são tecidual, embora a massa do projétil também contribua para a
Se está fechada, a ponta da tesoura rasga a pele em vez de a energia total que danifica os tecidos. A velocidade inicial de uma
cortar, produzindo uma lesão linear ou ovalar, mas com margens bala é amplamente dependente do tipo da arma de fogo. As balas
escoriadas. Se estiver aberta e apenas uma lâmina espetar os te- geralmente viajam em uma linha relativamente reta ou fazem uma
cidos da vítima, então as lesões são praticamente idênticas às de volta se um osso for atingido. Mais comumente, as balas não se
uma ferida provocada por uma faca (Calabuig, 2005). fragmentam, mas os danos secundários causados por fragmentos
Mais característico é a lesão produzida quando as duas lâminas de osso quebrado são uma complicação comum.
da tesoura estão fechadas e penetram a pele. Uma tesoura com
lâminas longas e estreitas, e que as mesmas se fecham quase com- Quais são as principais características dos ferimentos por ar-
pletamente uma na outra, o aspecto da ferida é compatível com mas de fogo?
uma faca espessa (Saukko & Knight, 2004). Assumem uma forma Os danos ocasionados por projéteis disparados por armas de
oval com margens escoriadas (Calabuig, 2005) (ver a figura 9C). fogo dependem da potência da arma, das características da bala, da
No entanto algumas tesouras, têm as lâminas de aço rebita- sua velocidade, do ponto de entrada no corpo e das estruturas atin-
das a um suporte contínuo com os punhos. Isso pode produzir uma gidas por ele. As feridas de bala podem ser devastadoras, porque a
marca que pode alterar o padrão normal, provocando bordos irre- trajetória e a fragmentação das balas podem ser imprevisíveis após
gulares (Saukko & Knight, 2004). a entrada. Além disso, ferimentos por arma de fogo envolvem um
Quando a tesoura tem os ramos abertos é comum observar-se grande grau de destruição do tecido nas proximidades, devido aos
duas pequenas feridas de forma linear e que se colocam em for- efeitos físicos do projétil.
ma de V completo ou incompleto, podendo inclusive mostrar nas O efeito prejudicial imediato de uma bala é tipicamente uma
extremidades proximais, que correspondem ao lado cortante da hemorragia grave e com ela o risco potencial de choque hipovolê-
tesoura, uma pequena cauda de escoriação (Calabuig, 2005). mico. Isso é tanto mais verdadeiro quando o projétil rompe algum
Algumas tesouras têm uma dupla ponta afiada, mas a maio- vaso sanguíneo de grande calibre. Efeitos devastadores e às vezes
ria das tesouras domésticas, de alfaiate ou tesoura de costura são letais podem ocorrer quando uma bala atinge um órgão vital, como
bastante rombas, quando fechadas, logo, é necessário uma força o coração, os pulmões ou o fígado, ou danifica um componente do
considerável para a fazer atravessar a pele. São prova contra o sistema nervoso central, como a medula espinhal ou o cérebro.
argumento de defesa acidental e a favor da utilização como arma Causas comuns de morte após ferimento por arma de fogo in-
(Saukko & Knight, 2004). cluem hemorragia, hipóxia causada por pneumotórax, lesão catas-
Às vezes, há pequenas separações laterais, no centro da ferida trófica no coração e vasos sanguíneos maiores e danos no cérebro
projetando a dobradiça ou parafuso no centro da tesoura (Saukko ou em outras partes do sistema nervoso central. Ferimentos por
& Knight, 2004). Isto é, se o parafuso que une as duas lâminas é pro- arma de fogo, quando não são fatais, frequentemente deixam se-
eminente, pode produzir uma laceração angular na parte média de quelas severas e duradouras e, por vezes, incapacitantes.
uma das margens da pele. Se as duas lâminas estão separadas, duas
lesões serão produzidas, uma por cada lâmina (DiMaio & DiMaio, Como o médico trata os ferimentos por armas de fogo?
2001). O manejo pode variar conforme o caso, desde observação e
Existem também outras referências de lesões fatais, infligidas tratamento de feridas locais até intervenção cirúrgica urgente. As
por canetas, lápis e tacos de bilhar partidos, com configurações atenções iniciais para uma ferida por arma de fogo são as mesmas
pouco padronizadas (DiMaio & DiMaio, 2001). Todos estes instru- que para qualquer outro caso de traumatismo agudo.
mentos acima descritos, com exceção das flechas e dos virotões, Para assegurar que as funções vitais estejam intactas, deve-se
não são consideradas legalmente armas brancas. Não estão expres- avaliar e proteger as vias aéreas e a coluna cervical, manter venti-
sos na letra da lei como tal.12 lação e oxigenação adequadas, avaliar e controlar o sangramento
para manter a perfusão orgânica, realizar exame neurológico bá-
Lesões por projéteis de fogo sico, expor todo o corpo e procurar por outras lesões, pontos de
O ferimento por arma de fogo, também conhecido como trau- entrada e pontos de saída e manter a temperatura corporal.
ma balístico, é uma forma de trauma físico ocasionado por projéteis O conhecimento do tipo de arma, número de disparos, direção
disparados por armas de fogo. Os traumas balísticos mais comuns e distância do tiro, perda de sangue e avaliação dos sinais vitais
derivam de armas usadas em conflitos armados, esportes civis, podem ser úteis para direcionar o gerenciamento.
atividades recreativas e atividades criminosas. Os ferimentos por
armas de fogo podem, pois, ser intencionais ou não intencionais.
12 Fonte: www.repositorio-aberto.up.pt

35
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Os efeitos dos ferimentos por arma de fogo dependem da Projéteis de alta velocidade têm energia suficiente para atra-
região atingida. Um ferimento de bala no pescoço pode ser parti- vessar o crânio e sair (lesão dita perfurante). O calor e a aceleração
cularmente perigoso devido ao grande número de estruturas ana- radial produzidos pela bala são maiores. O aumento instantâneo da
tômicas vitais existentes (laringe, traqueia, faringe, esôfago, vasos pressão intracraniana pode ser da ordem de 40 atmosferas, o que
sanguíneos importantes, tireoide, medula espinhal, nervos crania- chega a provocar fraturas no teto das órbitas e contusões distantes,
nos, nervos periféricos, cadeia simpática e plexo braquial). como nas amígdalas cerebelares.13
Tiros no tórax podem causar sangramento grave, comprome-
timento respiratório, hemotórax, contusão pulmonar, lesão tra- ENERGIAS DE ORDEM QUÍMICA
queobrônquica, lesão cardíaca, lesão7 esofágica e lesão do sistema
nervoso. Isso porque a anatomia do tórax inclui a parede torácica, O local de crime constitui-se em uma diligência das mais im-
costelas, coluna vertebral, medula espinhal, feixes nervosos inter- portantes na Criminalística moderna. Preservá-lo significa garantir
costais, pulmões, brônquios, coração, aorta, grandes vasos, esôfa- a sua integridade para a colheita de vestígios que esclarecerão ou
go, ducto torácico e diafragma. auxiliarão no esclarecimento da mecânica dos fatos. É, pois, a con-
As atenções iniciais são particularmente importantes, devi- tribuição concreta e decisória no esclarecimento da causa jurídica
do ao alto risco de lesões diretas nos pulmões, no coração e nos da morte.
grandes vasos. O primeiro exame deve ser uma radiografia de tó- Assim, entende-se por local de crime a região do espaço em
rax. Adicionalmente podem ser feitas ultrassonografia, tomografia que o mesmo ocorreu, bem como toda uma porção do espaço com-
computadorizada de tórax, ecocardiograma, angiografia, esofagos- preendida em um raio que, tendo por origem o ponto no qual é
copia, esofagografia e broncoscopia. Pessoas assintomáticas com constatado o fato, se estenda de modo a abranger todos os lugares
radiografia normal de tórax podem ser observadas com repetição em que se presume que hajam sido praticados, pelo criminoso, ou
de exames clínicos e de imagem a cada 6 horas, para garantir que criminosos, os atos materiais, preliminares ou posteriores à consu-
não haja desenvolvimento de pneumotórax ou hemotórax. mação do delito, e que com esses tenha relação direta.
No abdômen estão o estômago, o intestino delgado, o cólon, o O local de crime pode ser subdividido entre corpo de delito e
fígado, o baço, o pâncreas, os rins, a coluna vertebral, o diafragma, os vestígios. Do ponto de vista da perícia técnica atual, corpo de de-
a aorta descendente e outros vasos e nervos abdominais. Os tiros lito se trata de qualquer ente material relacionado a um crime, no
no abdômen podem, pois, causar sangramento grave, liberação do qual se possa fazer um exame pericial. É, pois, o elemento principal
conteúdo intestinal, peritonite, ruptura de órgãos, comprometi- de um local de crime, em torno do qual estão os vestígios e para o
mento respiratório e déficits neurológicos. A avaliação inicial mais qual convergem as evidências, de modo que, se retirado do local
importante de uma ferida a bala no abdômen é se há sangramento da morte, descaracterizaria por completo a ocorrência, tornando-a,
descontrolado, inflamação do peritônio ou derrame de conteúdo via de regra, inexistente.
intestinal. A ultrassonografia ajuda a identificar sangramento intra- Já os vestígios constituem-se em qualquer marca, objeto ou
-abdominal e radiografias podem ajudar a determinar a trajetória e sinal que possa ter relação com o fato investigado. A existência
a fragmentação da bala. No entanto, o modo preferido de geração do vestígio pressupõe a existência de um agente provocador (que
de imagens é a tomografia computadorizada. o causou ou contribuiu para tanto), bem como do local em que o
Os quatro principais componentes das extremidades são os- vestígio se materializou. Aquele vestígio que, após analisado pelo
sos, vasos, nervos e tecidos moles. As feridas de bala podem, assim, perito, apresenta relação direta com o fato investigado, trata-se da
causar sangramentos graves, fraturas, déficits nervosos e danos aos evidência.
tecidos moles. Dependendo da extensão da lesão, o tratamento O termo “indício” está explícito no artigo 239 do Código de
pode variar desde o cuidado superficial da ferida até a amputação Processo Penal: “Considera-se indício a circunstância conhecida e
do membro. provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, con-
Pessoas com sinais graves de lesão vascular também requerem cluir-se a existência de outra ou outras circunstância.” Embora o
intervenção cirúrgica imediata, no entanto, nem todas as pessoas conceito seja semelhante, não se confunde com o termo “evidên-
feridas por tiros no peito exigem cirurgia. Para pessoas sem sinais cias”, por ser aquele definido na fase processual, além de carregar
graves de lesão vascular, deve-se comparar a pressão arterial no consigo elementos não só materiais, mas também outros de natu-
membro lesionado à do membro não lesionado, a fim de avaliar reza subjetiva.
melhor a possível lesão vascular. Se os sinais clínicos forem sugesti- O exame dos objetos e das vestes do morto, bem como o pró-
vos de lesão vascular, a pessoa pode ser submetida à cirurgia. Além prio exame do cadáver e pesquisas em laboratório, são hoje tarefas
do manejo vascular, as pessoas devem ser avaliadas quanto a le- da Perícia Criminal, uma vez que se entende não incluir nesse tipo
sões nos ossos, tecidos moles e nervos. de atividade pericial apenas o exame do óbito externo do cadáver,
As lesões por projéteis de alta energia têm se tornado mais fre- mas tudo que é encontrado em suas imediações ou que se relacio-
quentes ultimamente, em função do aumento da violência urbana nem ao fato.
associado ao contrabando de armas de guerra para traficantes e Destarte, hodiernamente, a presença do médico legista no
mafiosos. Isto leva à necessidade de cirurgiões e médicos-legistas local de crime não tem mais grande relevância, uma vez que tais
conhecerem os mecanismos e as lesões causadas por estes agentes atividades podem ser perfeitamente executadas pelos técnicos em
lesivos. As lesões de entrada, os trajetos e as saídas são estudados Criminalística. Nesses casos, a atuação indispensável do médico le-
com base na experiência pessoal do autor e em revisão de literatu- gista se dá no necrotério, no estudo das lesões violentas provenien-
ra. A variação da forma das entradas de acordo com a velocidade e tes de diferentes formas de energias, a fim de sondar e investigar a
a forma dos projéteis é interpretada sob a luz dos princípios físicos natureza de tais lesões.
da balística terminal. As cavidades permanente e temporária são
estudadas quanto ao seu mecanismo de formação, sua forma, vo-
lume e posição ao longo do trajeto.

13 Fonte: www.abc.med.br/www.anatpat.unicamp.br

36
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
França (2014) menciona que, sendo a Criminalística moderna Quando se estuda o critério da natureza do local do ato cri-
uma ciência bem definida, exercida por profissionais de alto nível minoso, foca-se em duas questões que se pautam na natureza da
que contam inclusive com conhecimentos de Medicina Legal em área e na natureza do ato, sendo elas respectivamente: onde o ato
seu currículo, podem esses realizar seus trabalhos sem a interferên- ocorreu e o que ocorreu?
cia de outros profissionais. Ademais, esta interferência, quando se Por fim, o critério do local do crime onde os vestígios podem
dá, pode não ajudar. Isso por que ainda que o médico legista possa ser encontrados são classificados como idôneos, inidôneos ou re-
auxiliar na natureza jurídica da lesão ou da morte, em sua formação lacionados. Este é compreendido como qualquer lugar sem ligação
médico-científica não há nenhuma noção de criminalística e, tendo geográfica direta com o local do crime, mas que, no entanto possa
seus laudos conflitados com os dos peritos criminais, pode acabar conter alguma informação que se relacione ou auxilie no exame
por contribuir para o trabalho da defesa. pericial.
Quando da ocorrência de um crime, a polícia militar ou outra O local do crime idôneo são aqueles locais que não foram vio-
autoridade competente, como primeiro a chegar, na condição de lados se mantendo preservados. Ao contrário os inidôneos se refe-
representante do Estado, tem o dever de zelar para que os proce- rem aqueles que foram violados perdendo a sua integridade.
dimentos implementados no local obedeça aos parâmetros legais. Conforme estabelecido no artigo 158 do Código de Processo
A perícia no local de crime trata-se de uma diligência proces- Penal (CPP), quando a infração deixar vestígios, a perícia será ne-
sual penal veiculada em um instrumento chamado laudo do local, cessária e indispensável mesmo quando houver a confissão do acu-
uma das colunas sobre as quais se apoiará no diagnóstico delimita- sado. In verbis:
dor da causa jurídica da morte. Por isso, deve haver no local uma Art. 158 Quando a infração deixar vestígios, será indispensável
preservação rigorosa, a fim de resguardar todas as evidências, evi- o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo
tando ao máximo alterações produzidas por curiosos ou profissio- a confissão do acusado.
nais despreparados. Ressalta-se, ainda, o cuidado e respeito à le- Assim, quando a análise preliminar demonstrar a existência de
galidade dos procedimentos de inquérito e processuais, posto que vestígios ou evidências que possam elucidar os eventos do crime e
as provas devem ser obtidas de modo lícito, conforme aduz Greco justifiquem a necessidade da perícia, esta deve ser acionada para
(2013). que o processamento do local do crime seja feito de forma ade-
Dessa forma, percebe-se a relevância dos procedimentos de quada.
isolamento e preservação do local de crime, para a ocorrência de No entendimento de como deve ser realizada a perícia, subdi-
um trabalho pericial que proporcione a máxima exatidão no que vide-se o trabalho da polícia e do perito propriamente dito. Ambos
concerne a análise dos vestígios. possuem acesso ao local a ser analisado e funções e atribuições
2. Local do crime e o trabalho dos policiais e peritos distintas de como proceder.
Para que ocorra uma elucidação eficaz na ocorrência de um A entrada da autoridade policial no local do crime deve ocorrer
crime, necessário se faz a realização da perícia no local da pratica pela parte mais acessível, sendo feita, se possível, uma trajetória
do ato criminoso. Para tanto, a autoridade que primeiro chegar ao retilínea única entre o corpo de delito e a entrada do local. É essen-
local, seja ela socorrista, segurança ou brigadista, deverá providen- cial que toda a movimentação do policial seja meticulosa e cautelo-
ciar que o mesmo não se altere até a chegada dos peritos. Assim sa, a fim de não comprometer o trabalho dos peritos.
preceitua o art. 169 do Código de Processo Penal (CPP). A cautela dos policiais ao adentrarem o local só pode ser inob-
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido pra- servada em caso de socorro da vítima, para o real conhecimento do
ticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para fato ou para se evitar um mal maior, como no caso dos incêndios.
que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que Após constatar a veracidade da denúncia, cabe ao policial, ain-
poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esque- da, comunicar a autoridade competente do ocorrido e isolar o local
mas elucidativos. (CPP) a fim de preservar todos os vestígios lá existentes. Todo o procedi-
Não obstante cada local de crime obter suas peculiaridades, mento está estabelecido no Código de Processo Penal bem como
qualquer ambiente pode ser local de ato criminoso. O local do cri- na Lei 8.862/1994 que parcialmente o modificou.
me constitui-se frágil e delicado sendo, portanto necessário extre- O perito criminal Décio de Moura Mallmith, leciona o seguinte
mo cuidado para que provas não se percam. acerca do trabalho do perito em locais de crime:
Cada local de crime é único e exige do perito criminal uma sé- A presença dos peritos no local do delito, todavia, não substituí
rie de cuidados no planejamento e na organização de suas funções as ações da autoridade policial, a qual caberá, além dos procedi-
visando alcançar a verdade dos fatos. Durante o transcorrer do exa- mentos para isolar a cena do crime e impedir o acesso de qualquer
me pericial, os requisitos podem mudar à medida que novos ele- elemento alheio à equipe da perícia, ações que possibilitem a segu-
mentos sejam reconhecidos, e o perito criminal terá que se adaptar rança dos peritos e sua equipe, viabilizando deste modo a conclusão
ao novo cenário. (BRANDÃO, Humberto. 2012) do trabalho pericial. Os trabalhos periciais no local de uma ocor-
Quatro são os critérios que classificam o local do crime. Tais rência findam quando o peritoesgotar todas as possibilidades de
critérios fazem referência à localização, à área, à natureza e os ves- exames e se der por satisfeito com os mesmos, momento em que ele
tígios existentes no local do ato ilícito. O primeiro critério é de sim- autorizará à Autoridade Policial a remover a interdição do sítio do
ples identificação, a localização refere-se apenas a identificação do delito. A Autoridade Policial, entretanto, poderá optarpor manter o
perímetro do local do crime, ou seja, se a área é urbana ou rural. local isolado, quando a interdição mostrar-se imprescindível para
Já o segundo critério diz respeito à área: se o ato criminoso os trabalhos preliminares de investigação.
ocorreu em local interno ou externo, ou seja, se o ato criminoso Com a chegada dos peritos, os policiais devem discorrer sobre
ocorreu dentro de um ambiente físico fechado (residências, lojas) todo o ocorrido, narrando inclusive uma possível “contaminação”
ou em local aberto (rua, praça). do local do crime. Ou seja, deve ser passado aos peritos como foi
Os locais internos e externos se subdividem em ambiente me- a movimentação policial no sítio e se algum vestígio foi acidental-
diato ou imediato. Este se compreende como o espaço ocupado mente ou deliberadamente retirado do ambiente.
pelo corpo de delito e o seu entorno e aquele se refere à área adja-
cente ao local imediato.

37
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Nos casos em que o local do crime observou um resultado mor- A Organização Mundial de Saúde, preferiu definir toxicomania:
te, o procedimento padrão está descrito no CPP. Em geral, quando estado de intoxicação crônica e periódica, produzido pelo contínuo
o crime resultar em uma vítima fatal, trabalha-se com cautela e consumo de uma droga. Suas características essenciais são: 1. A ne-
eficiência redobrada, posto que nestes casos é comum a aglome- cessidade ou o desejo dominador de continuar a tomar a droga e
ração popular que pode comprometer significativamente a cena do de obtê-la por qualquer meio; 2. tendência ao aumento da dose;
crime. 3. dependência psíquica, e, geralmente, física do uso da droga; 4.
O trabalho do perito em si, deve ser exercido com demasiada efeito prejudicial ao indivíduo e à sociedade.
paciência, atenção e metodologia criteriosa. É a correta análise dos Muito difundida é a definição de Dr. MATTEI: “Venenos que
vestígios do local o ponto crucial para entender como ocorreu o ato agem eletivamente sobre o cortex cerebral, suscetíveis de promo-
criminoso. A título de curiosidade citam-se exemplos de como ob- ver agradável ebriedade, de serem ingeridos em doses crescentes,
jetos e vestígios do ambiente onde ocorreu o crime, podem auxiliar sem determinar envenenamente agudo e morte, mas capazes de
em sua definição e, se necessário, na identificação do criminoso. gerar estado de necessidade tóxica, graves e perigosos distúrbios
Para o olho do perito, objetos quebrados e móveis desarru- de abstinência, alterações somática e psíquicas profundas e pro-
mados podem significar luta, perseguição ou tentativa de fuga. Por gressivas”. Essa definição refere-se, no entanto, a um grupo peque-
outro lado, cartas, bilhetes, embalagens de medicamentos e copos no de entorpecentes, e mesmo assim impropriamente. Ela assinala
com restos de bebida, demonstram um ato criminoso sem o uso como características, a ação sobre o cortex cerebrasl, a euforia, a
da violência, ou mesmo um suicídio. A presença de manchas de tolerância e a dependência física. Nesse sentido são as definições
sangue ou produtos de limpeza distantes do cadáver revela, por farmacológicas de um modo geral, as quais somente se aplicam aos
vezes, uma mobilização do corpo, enquanto impressões digitais e/ opiáceos e às drogas sintéticas de efeitos análogos, bem como aos
ou pegadas determinam geralmente quantas pessoas participaram barbitúricos, anfetaminas e possivelmente aos tranqüilizantes. Essa
do ato e auxiliam na identificação da vítima ou do criminoso. definição não se aplica à cocaina e seus derivados, nem à maconha,
Durante o processamento da cena do crime, principalmente pois nelas a tolerância é nula ou muito reduzida, não havendo de-
nos casos de morte violenta, a arma do crime pode ser encontrada. pendência física.
Neste momento o perito em ação conjunta com o médico legista, Chama-se tolerância a alteração provocada no organismo, es-
deve comparar as possíveis lesões que o objeto pode inferir com as tabelecendo a necessidade de doses crescentes, sem provocar en-
reais lesões evidenciadas no corpo da vítima. venenamento agudo. A dependência física não se confunde com
Ao fim do trabalho pericial, o perito elaborará um laudo com o hábito, que é substancialmente um fenômeno psíquico e emo-
todas as informações percebidas no ambiente do crime, incluindo cional, como o vício de fumar. A dependência física implica numa
nesse até se a movimentação policial prejudicou na análise do lo- modificação da composição química do organismo, de tal sorte que
cal. Através desse laudo o perito informa a autoridade policial e deixa de existir funcionamento normal se a droga não estiver pre-
judiciária todas as suas percepções acerca da cena do crime e do sente. Há aqui uma ação físico-química, podendo ser tornados to-
ato delituoso em si. xicômanos também os animais. Em conseqüência, as crises de abs-
A elaboração do laudo deve atender a critérios objetivos e ser tinência, quando há dependência física, constituem uma realidade
didático. É composto por preâmbulo, introdução, transcrição de dramática, que não pode ser simulada.
quesitos, conclusão, em que se é emitido o juízo de valor, e fecho, Assim a descreve DE ROPP: “Cerca de doze horas após a última
onde há a autenticação do documento a fim de que o mesmo possa dose de morfina ou heroína, o viciado começa a tornar-se intran-
servir como prova judicial. A metodologia exigida é essencial, posto qüilo. Uma sensação de fraqueza o domina; ele boceja, tem clafrios
que cabe ao laudo pericial a função de informar, esclarecer, de-
e súa, tudo a um só tempo, enquanto uma
monstrar e convencer, através de seu conteúdo lógico, quem tem
descarga d’água vem de seus olhos e dentro do nariz, a qual ele
o poder de julgar.
compara a “água quente escorrendo na boca”. Por algumas horas,
O trabalho dos peritos é fundamental e demasiadamente meti-
lança-se ele em agitação anormal e sono intranqüilo, que os vicia-
culoso. Este ao chegar ao local do crime deve se atentar para qual-
dos chamam de yen sleep. Ao despertar, dezoito ou vinte horas
quer vestígio que possa elucidar como o ato delituoso aconteceu.
após a sua última dose da droga, o viciado começa a penetrar nas
Ao fim da análise do local, é competência do perito a elaboração de
últimas profundezas de seu inferno pessoal. Os bocejos podem ser
um laudo, o qual constará as percepções do especialista acerca do
tão violentos que causem deslocamento das mandíbulas; o muco
local do crime e do possível culpado pelo ato delituoso. Essencial,
aquoso escorre pelo nariz e lágrimas copiosas caem dos olhos, As
este laudo será de grande importância para a formação de um juízo
de valor daqueles que possuem o condão de julgamento acerca do pupilas ficam largamente dilatadas; os cabelos e pelo ficam eriça-
caso em análise. dos, tornando-se a pele fria, com o aspecto típico da pele de ganso,
https://erikatamires.jusbrasil.com.br/ o que, na linguagem dos viciados é chamado de cold turkey, nome
que também se aplica ao tratamento da toxicomania por meio de
Toxicomanias e embriaguez abrupta retirada do tóxico. Então, acrescentando-se às misérias do
viciado, seu abdome começa a agir com violência fantástica: gran-
A toxicomania é geralmente expressão de um desajuste da des ondas de contração passam sobre as paredes do estômago, cau-
personalidade, sendo raro os casos de pessoas emocionalmente sando vômitos explosivos, frequentemente manchados de sangue.
estáveis que se tornam viciadas. O recurso às drogas ocorre, em Tão extremas são as contrações dos intestinos, que a superfície do
regra, em casos de debilidade mental e graves defeitos de caráter, abdome parece corrugada e cheia de nós, como se um emaranha-
constituindo processo de fuga diante de problemas e dificuldades. do de serpentes estivesse em luta sob a pele. A dor abdominal é
A escassa margem de recuperações e curas efetivas, nos casos gra- severa e aumenta rapidamente. Depois de oito a doze horas, os
ves de toxicomania de opiáceos e drogas de efeitos semelhantes, sintomas constantes começam de novo. Se não se ministra a droga,
bem demonstra que a ação repressiva em relação ao viciado cons- os sintomas começam a decrescer por si mesmo ao sexto ou séti-
titui remédio inadequado, a ser empregado com cautela, dentro de mo dia, mas o paciente é deixado desesperadamente enfraquecido,
visão mais ampla do problema. nervoso, inquieto, sofrendo de renitente colite”. A crise de absti-

38
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
nência provoca também, segundo outros observadores, fortes alu- A compreensão do fenômeno da dependência, pelo modelo
cinações. A subministração da proga transforma imediatamente o biológico de doença é criticável na medida em que: [...] baseia-se
quadro. HARRIS ISBELL, diretor do Centro de Pesquisas do Hospital em modelos genéticos controversos e em generalizações questio-
de Lexington, destinado à cura de toxicômanos, afirmou: “Constitui náveis de determinados experimentos para o fenômeno da de-
uma experiência dramática observar uma pessoa miseravelmente pendência como um todo; não descreve uma história natural da
mal receber uma injeção endovenosa de morfina, e vê-la dentro de relação do indivíduo com o produto, prescindindo, portanto, de
trinta minutos barbeada, limpa, rindo e dizendo pilhérias”. uma teoria da dependência; não abrange grande contingente de
casos que, embora não preencham critérios para sua inclusão nes-
O consumo de substâncias psicoativas nem sempre foi enten- ta categoria nosológica, correlacionam-se com taxas de morbidade
dido como uma doença. Até o séc. XIX atrelava-se à uma deficiência e mortalidade diretamente ligadas ao consumo de álcool e drogas
de caráter, cujo indivíduo tinha o poder de escolha entre o consu- (SILVEIRA, 1996 p.11).
mo ou não. No entanto, com a distinção entre o controle sobre o Se por um lado, a ideia de doença implica na ausência ou
uso e a falta dele, a concepção de doença sobre este último (sem abrandamento da responsabilidade do sujeito sobre seus atos,
controle), passa a ser largamente adotada. Dessa maneira, por ser principalmente sobre a condição de estar doente, acompanhado
considerada como doença, diversos investimentos são feitos com por concepções que perpetuam a noção de incurabilidade e impo-
o objetivo de identificar a(s) causa(s) da dependência (BERRIDGE, tência diante do mal (CRUZ, 2002). O compartilhamento massivo
1994; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006). da perspectiva que analisa o problema através de suposições sobre
Nas ciências biológicas, as hipóteses etiológicas, baseiam-se distúrbios de personalidade, oriundos de causas orgânicas, endos-
na ideia de predisposição orgânica e hereditária de alguns sujei- sam o imaginário de que o contexto social, pouco tem a ver com
tos, que interferem na vulnerabilidade para o desenvolvimento da o desenvolvimento e a manutenção da condição de dependente
dependência. Essas concepções surgiram num contexto em que as (MOTA, 2007).
ciências positivistas, ganhavam notoriedade ao propor medidas
combativas para os problemas sociais, a exemplo da criminalidade, Compreensões psicológicas
do alcoolismo e da prostituição (MOTA, 2007). Formada por sistemas teóricos distintos, a psicologia não dis-
No trecho abaixo, podemos vislumbrar o entendimento do fe- põe de uma teoria comum sobre a (s) causa (s) da dependência
nômeno, no século XIX, através das ideias da predisposição fisioló- de substâncias psicoativas. Como resultado, encontramos a elabo-
gica: [...] a insanidade hereditária deve-se à transmissão de pai para ração de diferentes hipóteses, que dão destaque a determinados
filho, não de pensamentos anormais, mas sim do próprio tecido elementos, de acordo com sua leitura acerca do funcionamento
cerebral mórbido, onde originam-se tais pensamentos. De maneia psíquico e/ou as relações estabelecidas entre os homens e o meio.
Contudo, as teorias da personalidade (modelo psicanalítico) e de
similar, o bebedor não transmite a sua prole o desejo intenso pelo
aprendizagem (modelo comportamental) se destacaram na produ-
álcool, mas sim o tecido corporal orgânico anormal, que dá origem
ção de possíveis explicações para uma conduta adicta. De forma
a este desejo (HARLEY, 1884 apud BERRIDGE, 1994, p. 18).
resumida, nos modelos psicanalíticos, a dependência é compre-
A medicina foi uma das disciplinas que se entusiasmaram, com
endida como um sintoma e não necessariamente como causa. Na
as possibilidades de resolução dos problemas sociais, através da
tentativa de viver continuamente sobre o domínio do princípio do
aplicação dos conhecimentos hereditários, que caracteriza a eu-
prazer, o sujeito incorpora a sua rotina um hábito de consumo de
genia, utilizando-as para fundamentar suas práticas (MOTA, 2007).
substâncias psicoativas que vem a gerar a dependência (MOTA,
Seguindo essa tendência, as associações entre a hereditarie-
2007).
dade e a dependência continuam a ser pesquisados, com vistas a Por sua vez, no modelo inspirado nas teorias de aprendizagem,
esclarecer os enigmas da etiologia que as categorias diagnósticas a dependência se originaria a partir de uma estratégia habitual de
psiquiátricas, não foram capazes de solucionar. Para tal, emprega- automedicação, na tentativa de debelar sentimentos como ansie-
-se o modelo epigenético que “compreende a herança genética das dade, raiva ou depressão (MOTA, 2007).
vulnerabilidades e sua modulação ao longo dos anos pelos efeitos Na abordagem sistêmica, o foco da atenção terapêutica recai
ambientais” (p.55) Por seu caráter complexo, a dependência quí- sobre as relações interpessoais que se dão no seio familiar, enten-
mica é comparada a doenças como a diabetes e a hipertensão, em dida como um sistema de forças (SEADI, 2007). Nessa perspectiva,
decorrência do seu efeito genético ser proveniente de vários genes o conceito de dependência é entendido enquanto um mecanismo
que atuam em conjunto, gerando uma situação de vulnerabilidade, natural de adaptação, em que o sujeito busca uma solução para
junto à ação ambiental (MESSAS; VALLADA FILHO, 2004). questões que exigem uma resposta adaptada. Desta maneira, re-
No relatório de neurociências sobre o consumo e a dependên- corre-se a droga como algo que irá conferir ao sujeito uma com-
cia de substâncias psicoativas, produzido pela OMS, a dependência petência relacional que lhe falta em determinados contextos (SU-
é vista como um transtorno cerebral, que causa alterações nas fun- DBRACK, 2000).
ções cerebrais, desde o nível molecular e celular até alterações em Outra visão, dentro da abordagem sistêmica, enxerga o sujeito
processos cognitivos complexos. A possibilidade de herança genéti- dependente como portador do sintoma da disfunção familiar, que
ca, que venha a explicar as variações de consumo também é abor- contribui para a manutenção da mesma, na medida em que seu
dada no documento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004). consumo retira o foco dos problemas relacionais existentes entre
Além da perspectiva dos determinantes hereditários, as ciên- os outros membros da família (ORTH, 2005).
cias biológicas se valeram de outro modelo explicativo, baseado Na abordagem fenomenológico-existencial, a dependência
nas descrições dos quadros explicativos da abstinência, que justifi- constitui-se como uma possibilidade de escolha dentre as possíveis
cavam o uso contínuo de uma substância, para evitar o sofrimento disponíveis no mundo. Essa escolha, pelo uso de psicoativos, é tida
causado por sua falta no organismo. Mesmo não sendo corrobora- como inautêntica e deliberada, ao transferir para a droga o seu pro-
da pela prática, a ideia da abstinência como suficiente para explicar jeto de existir (OLIVEIRA, 2007).
a causa da dependência e outras questões do uso de drogas, foram
e são até hoje, bastante difundidas (CRUZ, 2002; GARCIA-MIJARES;
SILVA, 2006).

39
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Para a Gestalt-terapia, de base fenomenológica- existencial, as A estratégia de escolha que controla o comportamento do in-
pessoas reconhecidas como dependentes, estão fora de seu equi- divíduo é base da explicação para o desenvolvimento da depen-
líbrio ótimo, frequentemente incapazes de perceber quais as suas dência. Nesses casos, o sujeito se vale da estratégia de melhoração
necessidades. Ocorrendo então, alterações nos processos funcio- (sic), que tem como objetivo obter o maior benefício no momento,
nais de contato e afastando, distorcendo a existência do sujeito ou seja, escolhem-se as alternativas, que possuam maior taxa de
enquanto ser unificado (TELLEGEN, 1984; PIMENTEL, 2003 Apud reforço local. A escolha em recorrer a essa estratégia varia de acor-
OLIVEIRA, 2007). do com as contingências. (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
Com o foco na reestruturação de cognições disfuncionais, a te- Outra teoria que visa explicar a dependência é a teoria da sen-
oria cognitiva acredita que a dependência é resultado da interação sibilização, que propõe que a dependência acontece porque a ad-
entre o contato inicial com a droga e as cognições que se formarão ministração repetida de uma substância psicoativa causa mudanças
por influência das crenças básicas (SILVA; SERRA, 2004). cerebrais (sensibilização neural), que tornam os sistemas associa-
A partir de crenças básicas disfuncionais, o sujeito faz suposi- dos à motivação, hipersensíveis aos efeitos das substâncias. Desta
ções de como deverá agir diante de situações específicas, criando forma, qualquer estímulo associado à substância psicoativa acar-
uma espécie de ciclo, repetindo o mesmo comportamento em oca- retará num comportamento de procura e consumo da substância
siões similares. Para aliviar o desconforto, em decorrência dos sen- (GARCIAMIJARES;SILVA, 2006).
timentos suscitados pela crença básica disfuncional, criam-se então Por fim, a teoria neurobiológica de Kalivas e outros (2005
as chamadas estratégias compensatórias. Nesse caso o consumo de apud GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006), integra as duas primeiras,
uma substância psicoativa, como estratégia compensatória, poderá descrevendo as mudanças no circuito do reforço que acontecem
desenvolver um novo grupo de crenças que manterá relação com a no processo de dependência. O consumo repetido de psicoativos
crença básica (SILVA, 2004). produziria mudanças no sistema nervoso, em vias dopaminérgicas
Por representarem os modelos que mais contribuíram para o e glutamatérgicas especificas, que ocasionariam a diminuição do
entendimento da dependência, iremos discorrer sobre as hipóteses valor reforçador de estímulos naturais, com o aumento da resposta
comportamentais mais atuais para a etiologia do problema. à estímulos associados com a substancia, alterando o comporta-
mento de escolha (GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006).
Perspectiva comportamental No que concernem as técnicas, a abordagem comportamen-
Para a teoria comportamental, todo comportamento é conse- tal possui grande reconhecimento no tratamento da dependência,
quência da interação do indivíduo com seu ambiente. São os even- sendo largamente recomendados por guias terapêuticos médicos,
tos ambientais que determinam o comportamento, e não a cons- pela sua aceitabilidade na área psiquiátrica (SONENREICH; ESTE-
ciência e o autocontrole. No modelo do reforço, a manutenção e VÃO; FILHO, 2000).
a extinção de determinados comportamentos são explicadas pelos É importante ressaltar a existência de diversas terapias deno-
conceitos de reforço e punição. minadas cognitivocomportamentais, havendo em comum entre
Pensando no consumo de substâncias psicoativas, estas são elas a influência da cognição sobre o comportamento e a modifi-
entendida como um estímulo cuja função dependerá das consequ- cação do comportamento que pode ser realizado por mudanças
ências produzidas e do contexto em que é administrada. A repe- cognitivas (MARQUES; SILVA, 2000).
tição do consumo ocorreria pelo papel reforçador da substancia, Entretanto, mesmo com o reconhecimento e a recomendação
ou seja, a substancia pode desempenhar um papel de reforçador sobre a utilização das técnicas oriundas das teorias comportamen-
positivo, onde o aumento da probabilidade de repetir o uso estaria tais e cognitivas, nos casos de dependência de álcool, cerca de 50
relacionado às consequências recompensadoras, prazerosas, desse a 60% dos pacientes não se beneficiam desses procedimentos (RA-
consumo. Na função de reforçador negativo, o aumento do consu- MOS; WOITOWITZ, 2004). Para nós, esse tipo de dado é importan-
mo da substância se justificaria pela retirada de algo aversivo, de- te na medida em que aponta para a necessidade de produção de
explicações plurais, que explorem elementos distintos do fenôme-
sagradável, à exemplo, afastar/ aliviar os sintomas da abstinência
no, e assim, contribuam na construção de propostas terapêuticas
(GARCIAMIJARES; SILVA, 2006).
capazes de agregar aqueles que não se beneficiem dos métodos
Entretanto, o modelo do reforço possui restrições para expli-
padrões.
car a dependência. Se o comportamento não é controlado somente
pelos reforçadores, mas também pelos punidores (que diminuem a
Perspectiva psicanalítica
probabilidade do comportamento), como justificar a manutenção
O foco deste conteúdo na compreensão da teoria psicanalíti-
do comportamento de consumir substâncias psicoativas, quando as
ca, em relação ao fenômeno da dependência, se deu em virtude
consequências aversivas (na saúde, trabalho, família) são maiores
do reconhecimento da influência fundamental da psicanálise, para
do que os reforços propiciados pelo consumo (GARCIA-MIJARES; a clínica psicológica. O método psicanalítico, operou uma mudan-
SILVA 2006)? ça em relação aos métodos terapêuticos da clínica médica, ao dar
Frente a essas objeções, teorias atuais da dependência que en- à escuta o lugar central na busca diagnóstica, em contraponto às
tendem o problema como resultante de um processo de aprendi- observações e uso de complexas tecnologias, lançados mão pela
zagem, onde a substância e os estímulos associados a seus efeitos clínica biomédica (MOREIRA et al., 2007).
adquirem controle potente sobre o comportamento, são propostas A tarefa diagnóstica passou a objetivar o conhecimento e re-
para explicar a etiologia da dependência. Apresentaremos essas te- conhecimento das formas de aparecimento dos transtornos, indo
orias, que se diferenciam quanto aos processos de aprendizagem além da identificação categórica, mas detectando e interpretando
envolvidos (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006). o funcionamento de organizações psíquicas inconscientes, próprias
A teoria comportamental como escolha, desenvolvida por das alterações manifestas (SAURÍ, 2001).
Heyman (1996 apud GARCIAMIJARES; SILVA, 2006), entende que a
dependência é um processo em que o consumo repetido da subs-
tância, diminui progressivamente o valor reforçador de outras ati-
vidades, por serem as substâncias psicoativas um reforçador atípico
(GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Para a investigação de um consumo prejudicial de substân- A influência dessa perspectiva fez com que surgissem inter-
cias psicoativas (dependência), o método psicanalítico foi além das pretações que abordam uma relação materna insatisfatória, como
constatações biológicas e observáveis através do comportamento se o toxicômano buscasse com a substância psicoativa, uma figura
do sujeito. Pois, diante das particularidades que diferenciam as to- materna preenchedora, que lhe faltou na história infantil (BUCHER,
xicomanias dos outros fenômenos psicopatológicos, o conhecimen- 1992; BIRMAN, 2005; MOTA, 2007).
to sobre este, só se dá a partir da fala do sujeito identificado como As críticas direcionadas a essa interpretação da toxicomania,
toxicômano (BUCHER, 1992). se dão pela falta de relação com uma dimensão estrutural dessa
Então, à constatação de que a dinâmica inconsciente possuía modalidade de funcionamento mental (BIRMAN, 2005). A busca
um papel importante no desenvolvimento da dependência, abriu- por uma estrutura exclusiva da toxicomania provoca discordância
-se espaço para a produção de várias teorias dinâmicas sobre a gê- entre os trabalhos pósfreudianos, Zafiropoulos (1984) e Olivenstein
nese dos comportamentos aditivos (MOTA, 2007). (1983) pressupõem uma estrutura, ou uma preexistência para a
A produção dessas teorias não garantiu à psicanálise um cor- toxicomania, que é de difícil definição (BUCHER, 1992). Por outro
pus teórico consistente, que se atenha sobre a drogadição, em suas lado, Melman (1989), acredita que é a droga que cria o estado de
diversas formas de uso, incluindo a toxicomania. Essa constatação adição por provocar “a suspensão da existência” (MELMAN, 1989
é vista com surpresa, tendo em vista que o fenômeno pode suscitar apud BUCHER, 1992). Ao questionar essa ideia, Freda (1989), en-
diversos questionamentos passíveis de serem explorados pela psi- dossa o lugar do sujeito no desenvolvimento de uma dependência,
canálise (BUCHER, 1992). No entanto, as críticas apresentadas por dizendo que “é o toxicômano que faz a droga”, pois conceder aos
Bucher (1992), sobre a escassez de estudos na teoria psicanalítica efeitos das substâncias psicoativas a preeminência sobre o desen-
sobre a toxicomania, não desconsidera as reflexões psicanalíticas volvimento da toxicomania é concordar com um determinismo me-
sobre o assunto, mas a falta de articulação entre as hipóteses de- cânico que torna inviável uma concepção de sujeito (FREDA, 1989
senvolvidas pelas diversas escolas. apud BUCHER, 1992).
Porém, antes de expor algumas interpretações, é preciso fa- Sem chegar a uma resposta final, sobre a existência ou não de
zer algumas considerações sobre o termo toxicomania, que nasceu uma quarta estrutura, permanece a ideia de que a manifestação to-
no campo médico, no fim do século XIX, associado aos sentidos de xicomaníaca, não é exclusiva de uma das três estruturas propostas
degenerescência, imoralidade e paixão. A psicanálise passa a utili- (neurose, psicose, perversão). Sendo a importância de cada estru-
zá-lo para se referir à intoxicação crônica de substâncias psicoativas tura, na relação estabelecida com o objeto droga (GIANESI, 2005).
(BENTO, 2006; RIBEIRO, 2008). As primeiras investigações de Freud, A manutenção das hipóteses do estado-limite e a hipótese da
sobre as substâncias psicoativas, em especial a cocaína, foram rea- problemática narcísica, por considerá-las mais cautelosas, críticas,
lizadas enquanto atuava como neurologista. Seu interesse era em autocríticas e mais adequadas para passarem pelo “crivo da ex-
relação aos possíveis benefícios da cocaína ao organismo. Desde
periência clínica” (BUCHER, 1992 p.281), é defendida por Bucher
este momento que podemos chamar de pré psicanalíticos, a abor-
(1992), tendo o estado atual da questão. A primeira, desenvolvida
dagem empreendida por Freud ia de encontro com as formulações
por Glover (1932), postula que tal estado é criado por uma rea-
psiquiátricas da época, que creditavam à cocaína a causa por algu-
ção específica em decorrência de fantasias sexuais primitivas. Estas
ma espécie de lesão funcional (RIBEIRO, 2008).
operariam uma transição entre a fase psicótica precoce e a fase
Inicialmente, as hipóteses freudianas sobre o consumo de co-
neurótica (BUCHER, 1992).
caína, acreditavam que o organismo poderia ser capaz de realizar
A referência ao narcisismo, concebida por Freud, destaca as
uma maior quantidade de trabalho com um menor gasto de ener-
substâncias psicoativas como a alternativa mais interessante na
gia, promovendo um efeito econômico. Em seguida, surgiu a pro-
posição de que os efeitos da cocaína seriam diferentes para cada tentativa de amenizar o mal-estar, causado pela renúncia da satis-
pessoa. A semelhança entre os efeitos da cocaína e os efeitos da fação total dos desejos. Essa característica dos psicoativos passou a
libido, que intoxicam o corpo, produzindo o efeito da economia da ser vista, como capaz de promover um redirecionamento da libido
energia, também é observada nas formulações pré-psicanalíticas investida nos objetos, para o eu (ego), de tal forma que há um de-
e são reconsideradas quando, uma possível relação entre as toxi- sinvestimento do mundo externo, que quando bem-sucedido, oca-
comanias e o narcisismo são propostas. Foi a partir da fundação siona o abandono de outras atividades (RIBEIRO, 2008).
da psicanálise, que Freud passou a enfatizar o papel desempenha- Por fim, o recurso da droga pode ser usado para lidar com a
do pelas substâncias psicoativas na economia psíquica (RIBEIRO, dor de existir, o sofrimento de sua divisão subjetiva, o insuportável
2008). Em suas teorizações e constantes mudanças, Freud situou do impossível da relação sexual e o mal-estar existente na cultura
a dependência não na relação do humano com a substância, mas e nos laços sociais. E é essa diversidade de objetivos, para os quais
no vinculo desenvolvido com o objeto, ou ainda, na forma como o as substâncias psicoativas podem ser utilizadas, que denotam as
objeto permite ao sujeito relacionar-se com os outros ao seu redor singularidades que cada sujeito irá estabelecer com as drogas (OLI-
(RIBEIRO, 2008). VEIRA, 2010).14
Apesar dessas investigações com a cocaína, a problemática das
toxicomanias se encontra escassa no percurso freudiano. Existem A toxicomania como doença mental e seus efeitos no proces-
referências esparsas à psicose alcoólica e indagações sobre a re- so penal brasileiro
lação da mania com a ingestão das drogas estimulantes (BIRMAN, A compreensão exata das doenças mentais incapacitantes e
2005). seus efeitos no processo penal é assunto de alta relevância jurídi-
Foram as investigações de Radó (1926), com a elaboração do ca com expressivos efeitos na relação processual. Especialmente,
conceito de orgasmo farmacogênico (apoiado no conceito de orgas- se ficar comprovado mediante exame de insanidade mental que o
mo alimentar do erotismo oral), que tiveram um efeito marcante acusado, ao momento da ação ou omissão, era incapaz de entender
no pensamento psicanalítico. O consumo da substância psicoativa e querer o caráter ilícito do fato será ele absolvido com aplicação
é articulado no registro da oralidade, de forma que o sujeito toxi- de medida de segurança com especial finalidade terapêutica. Esta é
cômano viveria a demanda repetida da incorporação de um objeto a previsão expressa do artigo 26 em combinação com o artigo 96 e
capaz de lhe restituir a completude perdida do orgasmo alimentar. incisos do Código Penal (Brasil, 2012)
(BUCHER, 1992; BIRMAN, 2005).
14 Fonte: www.psicologia.pt/www.fragoso.com.br

41
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O estudo das doenças mentais é assunto alta relevância e que Neste contexto, podemos dizer que que a drogadição ou to-
corriqueiramente assola os juristas do Brasil em face a sua comple- xicomania pode gerar ou a isenção de pena quando total ou a re-
xidade na medicina legal. Da mesma forma, os limites dos efeitos dução facultativa da pena quando parcial e ocorrida no momento
da dependência química, seja ela qual for, devem ser estudados conduta.
com precisão a fim de se ter a melhor resposta penal possível. Júlio Fabrini Mirabete (1985), em abalizada doutrina leciona
O vício ou drogadição tem sido causa de grandes estudos e a sobre o assunto que:
medicina legal tem se dedicado ferozmente a pontuar os proble- “O agente que pratica a conduta quando sujeito à ação dessas
mas sociais e jurídicos causados pelo uso indiscriminado de subs- substâncias tóxicas é tratado pela lei nos mesmos termos reserva-
tânciaspsicoativas. Esta questão toma um contorno mais profundo dos ao ébrio etílico (excetuados os crimes relacionados ao tráfico e
quando avaliada para a caracterização da responsabilidade penal. porte de drogas, sujeitos a legislação especial.”
A presença de tais substâncias o organismo pode ter reflexos Tecnicamente falando, a luta do direito processual penal ho-
sobre a culpabilidade do agente, a saber: dierno é justamente o de tentar chegar o mais próximo possível de
“O princípio da culpabilidade deve ser entendido, em primeiro uma verdade real ou substancial, tornando inadmissível na esfera
lugar, como repúdio a qualquer espécie de responsabilidade pelo penal as constatações baseadas em ficções ou presunções.
resultado, ou responsabilidade objetiva. Mas deve igualmente ser A Constituição Federal alerta para a necessidade da utilização
entendido como exigência de que a pena não seja infligida senão do máximo de cautela na busca das provas quando do julgamento
quando a conduta do sujeito, mesmo associada causalmente a um de uma determinada conduta. Assim, a prova deve gerar no ma-
resultado, lhe seja reprovável. … Para além de simples laços subjeti- gistrado a convicção de que necessita para o seu pronunciamento,
vos entre o autor e o resultado objetivo de sua conduta, assinala-se declarando a existência ou não da responsabilidade criminal.
a reprovabilidade da conduta como núcleo da ideia de culpabilida- Dessa feita, se o réu faz uso de substâncias químicas psicoa-
de, que passa a funcionar como fundamento e limite da pena. As tivas capazes de alterar a sua conduta e compreensão dos fatos
relações entre culpabilidade e pena constituem matéria polêmica, sociais que o cercam, necessita-se consequentemente de peritos
que integra a teoria do crime, onde a estrutura e as funções dog- determinem qual o grau de intervenção física que estas substâncias
máticas da culpabilidade, seja na economia do crime, seja na funda- provocam no mesmo. Logo, a constatação de insanidade mental do
mentação da pena, são minuciosamente examinadas. Em primeiro acusado associada a produção de provas é assunto tecnicamente
lugar, pois, o princípio da culpabilidade impõe a subjetividade da interligado e que pode gerar reflexos no conteúdo do julgamento.
responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma responsa- Para se delimitar melhor a extensão das toxicomanias e segun-
bilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação causal entre a do as pesquisas de saúde pública, sociais e educacionais da Organi-
conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem jurídico. zação das Nações Unidas, constantes do site do Instituto de Medi-
É indispensável a culpabilidade. No nível do processo penal, a exi- cina Social e Criminologia de São Paulo, podemos distinguir quatro
gência de provas quanto a esse aspecto conduz ao aforisma ‘a cul- tipos de usuários:
pabilidade não se presume’, que, no terreno dos crimes culposos “Usuário experimental ou experimentador: limita-se a experi-
(negligentes), nos quais os riscos de uma consideração puramente mentar uma ou várias drogas, por diversos motivos, como curio-
causal entre a conduta e o resultado são maiores, figura como cons- sidade, desejo de novas experiências, pressão de grupo etc. Via de
tante estribilho em decisões judiciais: ‘a culpa não se presume’. A regra, este contato não ultrapassará as primeiras vezes.
responsabilidade penal é sempre subjetiva’ (BATISTA,1990) Usuário ocasional: utiliza um ou vários produtos, de vez em
A embriaguez provocada pelo álcool ou outra substância de quando, se o ambiente for favorável e a droga disponível. Nestes
efeitos análogos, voluntária ou culposa, não exclui a imputabilidade casos, os pesquisadores não identificam o desenvolvimento de de-
penal. A respeito, ver inciso II do art. 28 do Código Penal. Todavia, pendência, nem corte das relações afetivas, sociais ou profissionais.
os parágrafos desse artigo fazem duas exceções na apuração da Usuário habitual ou “funcional”: faz uso frequente de drogas.
responsabilidade penal. O primeiro diz respeito à embriaguez com- Em suas relações sociais já é possível se verificar uma certa dissolu-
pleta decorrente de caso fortuito ou força maior, que retira total- ção. Mesmo assim, ainda tem uma vida social razoável, embora de
mente, ao tempo da ação ou da omissão, a capacidade de entendi- forma precária e correndo riscos de dependência. É aquele usuário
mento do caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com vulgarmente chamado como “viciado”.
esse entendimento – inteira incapacidade. No segundo momento, Usuário dependente ou “disfuncional” (dependente, toxicôma-
a Lei se manifesta sobre a embriaguez proveniente de caso fortuito no, drogativo, farmacodependente, dependente químico): estes são
ou força maior que diminui, mas não extermina, ao tempo da ação os casos mais severos. O indivíduo que alcança esse estágio vive
ou omissão, a capacidade de entendimento do caráter ilícito do pela droga e para a droga, quase que exclusivamente. Rompe vín-
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento – não culos sociais e afetivos, o que acaba por leva-lo ao isolamento e
possuir plena capacidade. à marginalização, acompanhados, eventualmente, de decadência
Observa-se, portanto, a necessidade premente de se definir física e moral.”
com a máxima exatidão possível o que se compreende tecnicamen- Temos que aceitar, portanto, que a identificação do grau de
te por embriaguez ou intoxicação aguda provocada por substâncias envolvimento dos autores de delitos com substâncias psicoativas
químicas conhecida como drogadição. Levando em consideração as depende de informação fornecida por perito da área após análise
consequências legais, normalmente se adota o conceito do CID-10, clínica e laboratorial e deve ser devidamente considerada pelo juiz
que assim é discriminado: de direito de acordo com o seu livre convencimento motivado e se
“Estado consequente ao uso de uma substância psicoativa e balizando em todas as características acima descritas.
compreendendo perturbações da consciência, das faculdades cog-
nitivas, da percepção, do afeto ou do comportamento, ou de outras
funções e respostas fisiológicas. As perturbações estão na relação
direta dos efeitos farmacológicos agudos da substância consumida
e desaparecem com o tempo, com cura completa, salvo nos casos
em que surgiram lesões orgânicas ou outras complicações. (on line,
2017)

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Os artigos 45 até 47 da própria Lei Federal nº 11.343, de 26 de 9) Em caso positivo de sete (7) ou oito (8), pela gravidade e vio-
agosto de 2006, dizem expressamente que: lência do ato criminoso praticado pelo Réu, pode-se afirmar, ou pelo
“Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependên- menos supor, com razoável margem de acerto, que o réu estava sob
cia, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de o efeito de uma ou algumas das drogas mencionadas em sete (7) ou
droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha oito (8), quando da prática dos atos descritos na Denúncia ?
sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 2ª. SÉRIE
entendimento. 1) Se pelas características fisiológicas-psiquícas apresentadas
Parágrafo único.Quando absolver o agente, reconhecendo, por pelo réu é possível concluir, pelo menos aproximadamente, ser ele
força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste portador de distúrbio mental predisponente a atos de violência
artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá deter- 2) Se estando o réu sob o efeito de bebida alcoólica, maconha
minar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento ou cocaina, perdeu a capacidade de entender o caráter criminoso
médico adequado. do fato que estava praticando?
Art. 46.As penas podem ser reduzidas de um terço a dois ter- 3) Em caso negativo de dois (2), mesmo entendendo o caráter
ços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, criminoso do fato que praticava, estava impossibilitado de determi-
o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena nar-se diante deste entendimento?”
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se A proposta de quesitos como acima exemplificados atende a
de acordo com esse entendimento. necessidade de se questionar dos peritos responsáveis a extensão
Art. 47.Na sentença condenatória, o juiz, com base em avalia- dos efeitos das substâncias químicas que, se incapacitantes, podem
ção que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para levar a absolvição dos réus com a aplicação de medidas de seguran-
tratamento, realizada por profissional de saúde com competência ça com especial finalidade terapêutica.
específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, obser-
vado o disposto no art. 26 desta Lei.” Posição da jurisprudência sobre o tema.
Diante das descrições legais supra ditas, podemos entender A questão da toxicomania ou drogadição tem sido objeto de
que se o corpo probatório contido nos autos indicar que o réu é intensos debates na jurisprudência, havendo vários precedentes
dependente do uso de substâncias psicoativas, será imprescindível sobre o assunto que já reconheceram que a sua incidência ocasio-
a realização de exame pericial para a averiguação da capacidade na importantes reflexos na decisão judicial impondo-se medida de
plena de entendimento do caráter ilícito do fato e/ou de autode- segurança com especial finalidade terapêutica.
terminação conforme esse entendimento. Vale ressaltar que a Lei Em julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já se
Penal mantém o critério biopsicológico na apuração da responsa- entendeu que se o réu ao tempo da ação, por doença mental (in-
bilidade penal. toxicação por múltiplas substâncias psicoativas, estado alterado de
consciência e distimia) é totalmente incapaz de entender o caráter
Proposta de quesitos acerca da toxicomania ou drogadição. ilícito de seus atos e, também, totalmente incapaz de determinar-
Havendo, portanto, a possibilidade técnica de que os acusados -se de forma diversa da que se conduziu deve-se nos termos do
em processo penal sofram de transtornos de comportamento de- artigo 26 do Código Penal impor o reconhecimento da inimputabili-
correntes da dependência química, fato que poderá influenciar no dade penal que isenta o agente de pena (Brasil, 2014).
livre convencimento motivado do julgador e nos termos do artigo No mesmo sentido, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais já en-
149[iii] do Código de Processo Penal propõe-se a seguinte forma de tendeu que é necessária a internação de dependente químico para
quesitos a serem respondidos pelos peritos técnicos: tratamento psiquiátrico e de desintoxicação, atestado em relatório
médico como meio hábil a reduzir o risco de morte bem como o
1ª. SÉRIE perigo de dano irreparável à saúde do paciente interessado (Brasil,
1) Se é possível, através dos exames clínicos ou de laboratório, 2013).
procedidos na pessoa do Réu, concluir ser ele dependente de subs- Não menos importante é o entendimento proferido pelo Supe-
tâncias químicas psicoativas capazes de causar distúrbios compor- rior Tribunal Militar que, na mesma esteira do raciocínio exarou a
tamentais de natureza violenta? decisão que se o réu no incidente de insanidade mental respondeu
2) Qual é a diagnose? positivamente ao quesito relativo à existência de doença mental
3) Em caso positivo, que substância pode ter sido usada pelo sofrendo de síndrome de dependência de cocaína e transtorno de
réu, quando da prática criminosa? personalidade emocionalmente instável impõe-se medida de segu-
4) Em função do transtorno diagnosticado, qual é o estado da rança na modalidade de tratamento ambulatorial (Brasil, 2004).
capacidade de entendimento? Normal, abolida, reduzida. Por fim, em importante e recente julgado, o Supremo Tribunal
5) Em função do transtorno diagnosticado, qual é o estado da Federal no voto proferido pela Excelentíssima Ministra Rosa Weber
capacidade de determinação? normal, abolida, reduzida. entendeu que a prisão preventiva não é o instrumento processual
6) Se o próprio réu afirmou ao perito ser usuário de substância penal hábil para enfrentar a situação pessoal do paciente diante
entorpecente? dos fortes indícios de que seja portador de enfermidade mental
7) Em caso positivo, se quando fez essa afirmação informou ao capaz de sujeitá-lo a medida de segurança futura com relatos de
perito qual a substância mais consumida por ele? internamentos e de tratamento ambulatorial anteriores, de diag-
8) Em caso positivo de sete (7), se dentre essas substâncias pos- nósticos psicóticos, de adição a drogas e de déficit de atenção. No
sivelmente usadas pelo Réu, pode-se incluir a erva cannabis cativa caso julgado a “dúvida sobre a integridade mental do acusado” (ar-
lineu, vulgarmente conhecida como maconha e∕ou cocaína e∕ou tigo 149 do Código de Processo Penal) orientou a Corte Suprema
cack? que a prisão fosse substituída por regime de internação provisória
compulsória conforme artigo 319, VII do CPP (Brasil, 2015).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Como se pode notar pelos julgados compilados o processo pe- ultravioleta (como a luz solar ou camas de bronzeamento). As le-
nal não pode desprezar o fato de que a drogadição ou toxicomania sões térmicas podem afetar qualquer pessoa, mas tendem a afetar
pode causar doenças mentais graves e, desde que provada tal situ- as crianças e as pessoas mais velhas com mais frequência do que
ação, é juridicamente possível imposição de medidas de segurança. adolescentes e adultos. As lesões térmicas provavelmente ocorrem
A luta do processo penal é a busca da verdade real para o al- por acidente, mas também podem ser um sinal de abuso.
cance da justiça. Se ficar comprovado através de exame técnico,
denominado incidente de insanidade mental que réu em razão de Sintomas
dependência de drogas não poderia entender o caráter ilícito a con- Os sintomas e a aparência de uma queimadura dependem do
duta ser-lhe-á aplicada medida de segurança com especial finalida- grau de queimadura (profundidade da pele afetada pela queimadu-
de terapêutica. ra). Existem três graus diferentes. As queimaduras de primeiro grau
Embora a compreensão de limitações mentais incapacitantes ou superficiais causam pele vermelha, inchada e dolorida, e não
em razão de toxicomania seja tecnicamente difícil é notório que causam bolha. As queimaduras de segundo grau causam a forma-
determinadas substâncias que geram drogadição causam incapaci- ção de bolhas e a pele sob a bolha pode estar ligeiramente entorpe-
dade de entender o caráter ilícito de condutas criminosas e de se cida. As queimaduras de terceiro grau fazem com que a pele fique
determinar de acordo com o livre arbítrio e entendimento pessoal. preta ou branca, e geralmente é indolor devido a danos nos nervos.
A lei 11.343 de 2006, conhecida como lei de drogas proíbe em Diagnóstico
todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cul- O diagnóstico é feito com base nos sintomas e examinando a
tura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais pele queimada.
possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese
de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabele- Tratamento
ce a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias O tratamento depende do grau e da extensão das lesões. Em
Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente primeiro lugar, a pessoa deve ser removida da fonte do calor. Pe-
ritualístico-religioso (Brasil, 2006). quenas queimaduras de primeiro ou segundo grau podem ser res-
Delimitar o mecanismo de ação das drogas sob o organismo friadas sob água corrente durante alguns minutos. As pessoas que
humano é questão de elevada importância. Se através do incidente sofrem queimaduras maiores e mais graves devem ser tratadas por
de insanidade mental se comprovar que a droga usada foi deter- serviços de emergência e unidades de queimados especializadas.
minante ou influenciadora na compreensão e entendimento sob a O tratamento de emergência envolve dar fluidos, manter a pessoa
prática do crime impor-se-á, inevitavelmente, a medida de segu- aquecida e prevenir infecções. Uma vez que o perigo imediato te-
rança com especial finalidade terapêutica.15 nha passado, a pessoa afetada pode receber enxertos de pele para
ajudar a pele a crescer e reduzir as cicatrizes. Complicações, como
Lesões e morte por ação térmica, por ação elétrica, por baro- infecções em feridas, são tratadas com antibióticos à medida que
patias e por ação química ocorrem.
A lesão térmica, também conhecida como queimadura, é uma
das lesões domésticas mais comuns, principalmente causadas por Prevenção
líquidos quentes ou fogo. Podem ser leves ou emergências com A melhor prevenção para queimaduras é seguir as precauções
risco de vida, dependendo da porcentagem de superfície do cor- de segurança ao manusear fogo, líquidos quentes ou produtos quí-
po queimada. O tratamento depende da gravidade da lesão e das micos. Isso inclui supervisionar as crianças enquanto cozinham, en-
possíveis complicações, varia de cuidados com feridas menores ao quanto tomam banho e quando estão próximas de uma fonte de
tratamento em uma unidade especial de queimaduras, incluindo calor ou chama.
medicamentos, curativos ou cirurgia. A recuperação após pequenas
queimaduras superficiais geralmente é boa. Quanto mais profun- Prognóstico
da a queimadura, maior a probabilidade de ficar com cicatriz. As O prognóstico para pequenas queimaduras superficiais é bom
queimaduras que cobrem grandes áreas do corpo têm perspectivas visto que raramente formam grandes cicatrizes ou infectam, e
piores. curam dentro de alguns dias ou semanas. Queimaduras extensas
Quanto à profundidade, as queimaduras podem ser classifica- exigem tratamento intensivo e a pele geralmente forma cicatrizes.16
das como:
- 1º grau: atingem as camadas superficiais da pele. Apresentam Lesões elétricas
vermelhidão, inchaço e dor local suportável, sem a formação de Poucas descobertas têm tido um impacto tão grande na cultu-
bolhas; ra da humanidade quanto à geração e distribuição de energia elé-
- 2º grau: atingem as camadas mais profundas da pele. Apre- trica produzida pelo homem, pois o desenvolvimento desta mudou
sentam bolhas, pele avermelhada, manchada ou com coloração hábitos e possibilitou o avanço tecnológico da sociedade moderna.
variável, dor, inchaço, despreendimento de camadas da pele e Níveis danosos de corrente elétrica passando através dos te-
possível estado de choque; cidos corporais causam lesão por vários e distintos mecanismos
- 3º grau: atingem todas as camadas da pele e podem chegar fisiopatológicos voltagem-dependente. Durante décadas a lesão
aos ossos. Apresentam pouca ou nenhuma dor e a pele branca ou elétrica era vista simplesmente como uma forma de queimadura
carbonizada. térmica. Embora a queimadura térmica seja um componente que
às vezes possa ser dominante, existem outros efeitos do campo
Riscos elétrico fisiopatologicamente significantes. Estes efeitos são de-
Uma queimadura térmica é um dano à pele causado pelo calor. pendentes do circuito, da voltagem e da amperagem da corrente
A gravidade das queimaduras é classificada por quão profunda é a que flui através dos tecidos. Forças elétricas podem alterar e des-
queimadura e quanto do corpo é afetado. As causas comuns são o truir tecidos biológicos e seus vasos de um modo totalmente não
fogo, líquidos quentes (especialmente em crianças), radiação e luz dependente do calor.
15 Fonte: www.ambitojuridico.com.br 16 Fonte: www.ada.com

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O trauma elétrico é verdadeiramente um problema médico Quando um corpo se torna condutor de corrente elétrica para
interdisciplinar: envolve cirurgia, imaginologia, anestesia, neuro- o solo, as lesões produzidas resultam da conversão de energia elé-
logia, psiquiatria, fisioterapia, medicina ocupacional, enfermagem, trica em energia térmica. A extensão da lesão tecidual e o calor
dentre outros. Uma discussão das características fisiopatológicas gerados pelas correntes elétricas se dão em função da resistência
dessas lesões envolvem teorias de campo elétrico, eletroquímica, de cada tecido e sua sensibilidade à destruição térmica, sendo ex-
biologia celular, fisiologia, neuropsicologia e outras disciplinas. plicados pela fórmula de Joule, onde: a quantidade de calor (DQ) é
Avanços recentes no diagnóstico por imagem são importantes diretamente proporcional ao quadrado da intensidade da corrente
na compreensão de mudanças significativas nos tecidos lesados (I2), à resistência dos tecidos (DR)e à duração do contato (DT).
pela ação direta da corrente elétrica quando isto não é facilmente
detectado pela inspeção ou exame físico. DQ = I2 x DR x DT
Assim, podemos afirmar que as lesões elétricas assumem im-
portância considerável não só devido aos graus variáveis de lesão A voltagem e a duração do contato são os principais fatores
cutânea associada a grande destruição de tecidos profundos. Mas que determinam a extensão e profundidade das lesões. A ampe-
também devido ao alto índice de seqüelas resultantes, na maioria ragem, estreitamente relacionada à lesão tecidual e mortalidade,
dos casos em pessoas jovens, e que não raro tornam-se definitiva- raramente pode ser determinada, uma vez que no geral a resistên-
mente incapacitados. cia nos diferentes tecidos não pode ser determinada nos acidentes
elétricos, sendo conhecida apenas a voltagem.
Epidemiologia: A resistência varia com a limpeza, umidade e espessura da
Queimaduras causadas por eletricidade representam uma pe- pele (estrato cutâneo), podendo ir de 10.000 ohms/cm a menos de
quena porção das admissões em unidades de queimados, porém 1.000 ohms/cm, com uma média de 5.000 ohms/cm de pele seca
revelam um dos mais agressivos tipos de injúria térmica. Corres- normal. A elevação do gradiente de voltagem na pele produzirá
pondem de 5 a 15% dos casos de pacientes hospitalizados por quei- rupturas com voltagens relativamente baixas permitindo a passa-
maduras e a superfície corporal média atingida é de 15%. gem da corrente para o interior do corpo.
A maioria das vítimas com quadros sérios está entre 20-30 anos As correntes elétricas são arbitrariamente divididas em baixa
de idade e geralmente se acidenta no trabalho, onde predominam voltagem, de 500-1.000 volts, e alta voltagem, superior a 1.000
as lesões com alta voltagem (aproximadamente dois terços de to- volts. Os acidentes domésticos comumente se enquadram no pri-
dos os acidentes fatais ocorrem no trabalho e mais de um quarto meiro tipo, enquanto que os de trabalho, no segundo.
ocorrem em atividades domésticas). A corrente de alta tensão tende a percorrer um caminho mais
Na casuística do HU-FMUSP, dos 818 pacientes internados por
curto entre o ponto de entrada e a terra e freqüentemente a vítima
queimaduras no período de julho de 1991 a setembro de 1993,
é atirada longe e as alterações cardíacas (fibrilação ou assistolia)
2,81% foram vítimas de queimaduras elétricas. Destes, 65,2% tive-
são mais raras, sendo mais comum a depressão do centro respira-
ram acometimento dos membros superiores. Este estudo está de
tório com parada respiratória.As lesões por baixas tensões produ-
acordo com anteriores, que mostram o membro superior como o
zem queimaduras menos extensas, mas podem causar a morte por
local mais freqüente atingido. Isso se deve ao fato destes acidentes
fibrilação ventricular.
ocorrer, na maioria das vezes, o ato de segurar um objeto eletrica-
Se compararmos entre corrente alternada e contínua, a pri-
mente carregado.
meira é muito mais perigosa, pois produz contraturas musculares
Acidentes elétricos em crianças se devem principalmente ao
que mantém a vítima presa ao condutor e pode levar a fraturas e
contato com fios e tomadas, e ao fato de puxa-los ou coloca-los
na boca. Em geral, encontram-se abaixo dos 5-8 anos, com mãos parada cardio-respiratória. A corrente contínua, por sua vez, causa
ou faces comprometidas. São queimaduras raras, porém sua gravi- uma contratura muscular que afasta a vítima do condutor interrom-
dade reside na ocorrência de lesões desfigurantes. Realizou-se um pendo rapidamente o circuito. As correntes que mais interferem na
estudo retrospectivo, considerando 19 casos consecutivos opera- contratilidade miocárdica estão entre 40 e 150 ciclos por segundo.
dos na Clínica Ivo Pitanguy. Em todos eles havia lesão em lábio por A corrente de uso doméstico, na maioria dos paises, encontra-se
queimadura elétrica e a faixa etária mais acometida foi de 0 a 8 nessa faixa (em geral 60 ciclos por segundo).
anos, sendo mais freqüente no sexo masculino. Crianças maiores Embora não seja possível predizer-se o caminho exato que a
são mais propensas a acidentes por alta voltagem peridomiciliar re- corrente irá seguir no organismo, se ela atravessar órgão vitais,
lacionados a atividades lúdicas ou de caráter experimental (soltar como coração e cérebro, os danos serão maiores. Observa-se, con-
pipa, subir no telhado). Em nosso meio são cada vez mais freqüen- tudo, que qualquer órgão pode ser acometido, seja por lesão direta
tes as lesões apresentadas pelos “surfistas ferroviários”. ou por falência de outros órgãos afetados.
Acredita-se também que o risco de choque elétrico aumente Os vários tecidos do corpo possuem resistência específicas ao
durante os dias quentes de verão porque a resistência do corpo é fluxo da corrente sendo em ordem decrescente, osso, gordura, ten-
freqüentemente diminuída pela sudorese. dão, pele, músculo, vaso sanguíneo e nervo. O osso, por sua maior
resistência, gera mais calor local, mas sua estrutura torna-o mais
Fisiopatologia das lesões produzidas pela corrente elétrica resistente à lesão térmica, ao passo que vasos e nervos possuem
Eletricidade pode ser conceituada como um fluxo de elétrons menos resistência mas são mais susceptíveis à lesão térmica.
de átomo a átomo através de um condutor. O efeito de uma cor- Quanto maior a resistência da pele, tanto mais grave a queima-
rente elétrica sobre o tecido biológico depende da voltagem (for- dura local, quanto menor a resistência maior os efeitos sistêmicos.
ça que faz com que os elétrons passem de um átomo para outro), Devido à grande resistência da pele, a eletricidade ao atravessa-la
amperagem (quantidade de corrente que passa por um condutor produz intensas alterações estruturais conhecidas como “marcas
durante um determinado período de tempo), resistência (força que de corrente”. Estas lesões têm características diferentes daquelas
se opões ao fluxo de elétrons) e tipo de corrente (contínua – fluxo que habitualmente se observam nas lesões térmica comuns.
de elétrons se dá num único sentido, ou alternada – se o fluxo de
elétrons se alterna em direções opostas de forma regular).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Após a penetração da corrente elétrica na pele, ela passa ra- Pacientes com trauma elétrico por alta voltagem geralmen-
pidamente através do corpo ao longo das linhas de menor resis- te possuem uma lesão em forma de “casaco negro” na superfície
tência, isto é, através dos fluidos tissulares e ao longo dos vasos da pele que é resultante da vaporização do contato com o metal.
sanguíneos, onde pode causar degeneração das paredes e forma- Quando esta cobertura é retirada da pele, a injúria, propriamente
ção de trombos. A lesão vascular freqüentemente ocorre a alguma dita, é visível.
distância da lesão inicial e concorre para a natureza progressiva da As feridas da lesão elétrica são extremamente variáveis, de-
destruição tecidual. Em certos casos, parece que todo o corpo ser- pendendo do tipo e da intensidade da corrente, dos tecidos pelos
ve como um condutor, pois surgem sinais retardados de destruição quais a corrente passou e o grau de contato.
vascular e nervosa. Essas lesões podem ser divididas em 3 categorias:
Nas lesões por alta voltagem, a corrente faz um percurso direto a) a verdadeira lesão elétrica é causada pela passagem de uma
entre os pontos de entrada e saída, geralmente divergindo entre 2 corrente elétrica através da pele após o contato com o condutor.
pontos e reduzindo a lesão centralmente. Além disso, observa-se As feridas de entrada e saída características geralmente significam
que o meio interno funciona como condutor de resistência unifor- destruição local dos tecidos profundos. A ferida de entrada típica é
me, sendo o calor gerado com a passagem da corrente uma conse- irregular e deprimida. A ferida de saída tem bordos secos, deprimi-
qüência do diâmetro do condutor. Isso explica a presença de lesões dos e dá a aparência que a corrente elétrica explodiu quando fez
mais intensas nos membros que no tronco, uma vez que quanto sua saída. Geralmente a lesão aparece como uma área isquêmica,
menor o diâmetro de um condutor, maior a resistência e o calor de um amarelo esbranquiçado ou pode apresentar-se chamuscado.
gerado. Por isso as lesões dos membros costumam ser mais graves. Ela é seca e indolor, com bordos geralmente bem definidos, sendo
Nos membros superiores as temperaturas mais elevadas são ob- a necrose o aspecto dominante da lesão. A necrose profunda no
servadas ao nível do punho e da musculatura flexora do antebraço tecido subcutâneo e músculos é comum. Partes da túnica média
onde o diâmetro é menor e a concentração de estruturas é menor. podem estar enfraquecidas pela desintegração celular, e se a trom-
bose não ocorrer, as lesões podem levar a hemorragias graves.
Arco Voltaico: b) As queimaduras que se seguem ao salto de um arco elétrico
Ocorre por uma diferença de potencial elétrico entre os cor- de um condutor para a pele estão associados principalmente com
pos, nele o circuito se completa mesmo sem que a vítima tenha as correntes de alta tensão.
tocado no condutor. A vítima torna-se parte do circuito. A corrente
c) O terceiro tipo de lesão é a queimadura por chama, quei-
elétrica, nesse caso, move-se externamente ao corpo, a partir do
maduras essas que resultam da ignição das roupas por centelhas
ponto de contato para o solo.
elétricas ou arcos elétricos. Essas queimaduras em características
Essas queimaduras estão associadas à corrente de alta ten-
de queimadura térmica comum. Elas são freqüentemente de es-
são e a profundidade depende de quão próxima está da pele. As
mesmas são graves já que o arco elétrico tem uma temperatura pessura total pela prolongada exposição do paciente estonteado
de 2.500oC. O problema do arco elétrico é de particular interesse à chama.
médico legal. Acredita-se que o arco ocorra em condições atmos- Lesões por eletricidade são descritas como feridas tipo “ice-
féricas comuns, em linhas de alta tensão aproximadamente 2.5 cm berg” porque, muitas vezes, a aparência da queimadura na pele
para cada 20.000 volts. não indica a quantidade de danos musculares e ósseos subjacentes.
Geralmente, a lesão cutânea é menor do que a destruição profunda
Lesão por raio: das estruturas adjacentes.
A lesão por raio é muito rara. Os efeitos da lesão por raio são Grande parte dos pacientes possui sítios cutâneos demons-
extremamente varáveis. Geralmente a vítima está desacordada. Ela tráveis de entrada e saída de corrente. As regiões de entrada são
pode conservar a respiração espontânea ou tornar-se inconsciente, comumente notadas nas extremidades superiores ou dorso, e os
sem pulso e com parada respiratória. Não deve necessariamente pontos de saída nos membros inferiores como joelhos e pés.
ser tida como morta, devendo iniciar manobras de ressuscitação As vítimas de queimaduras por alta tensão freqüentemente,
oferecendo assistência respiratória e cardíaca. Pacientes submeti- perdem momentaneamente a consciência e em alguns casos po-
dos a grave lesão por raio parecem suportar períodos prolongados dem entrar em coma por hemorragia ou edema cerebral secundá-
de apnéia, talvez por cessação do metabolismo, de modo que o rio à lesão elétrica do Sistema Nervoso Central.
processo degenerativo é retardado. Nervos periféricos são muito sensíveis a forças elétricas e são
Se o paciente vítima de raio sobrevive, o tratamento precoce comumente acometidos em vítimas de choque elétrico. Os sinto-
deve incluir a administração de diuréticos osmóticos, grandes volu- mas incluem anestesia, parestesias ou disestesias. Paralisias são
mes de líquidos e alcalinização da urina visto que há extensos da- pouco comuns. Algumas vezes os sintomas são permanentes. Os
nos musculares levando a mioglobinúria. nervos mediano, ulnar e radial apresentam uma alta incidência de
disfunção persistente. É muito comum haver sintomas neurológi-
Características Clínicas: cos periféricos a despeito de estudos neurofisiológicos normais.
A lesão local pode variar desde uma lesão puntiforme a uma Vítimas de choque elétrico freqüentemente apresentam de-
necrose extensa de todas as estruturas. Os pontos de entrada, em sordens do Sistema Nervoso Autônomo, em particular, distrofia
geral, apresentam carbonização com depressão central e os pontos
simpática reflexa e hipertensão.
de saída são em geral menores e mostram a pele evertida como
Quando a disfunção nervosa periférica é documentada, a asso-
se a corrente houvesse “empurrado” a pele para sair. As lesões
ciação da desordem autonômica chamada de causalgia.
extensas se comportam como a síndrome de esmagamento e os
Alterações da função cerebral podem ser tanto transitórias
músculos lesados podem liberar grande quantidade de mioglobina,
que atinge o máximo em torno da primeira hora podendo levar à quanto permanentes, com possíveis mudanças permanentes mes-
obstrução dos túbulos renais e necrose tubular aguda. mo sem injúria tecidual.
Em áreas de maior resistência (diâmetro menor), as lesões tem Quando a corrente elétrica passa através do cérebro ou medu-
a característica de serem “progressivas” e de manifestação tardia. la espinhal podem ocorrer lesões permanentes.

46
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
É comum também ocorrer lesões permanentes da personalida- A queimadura elétrica na cabeça ou pescoço pode resultar tar-
de, confusão, problemas de aprendizagem e memória, concentra- diamente em catarata de um ou ambos os olhos.
ção, funções intelectuais e, o que é mais raro, afasia. A mais comum Às vezes, os sintomas são permanentes impedindo o paciente
complicação neurofisiológica é a perda de memória. Problemas de retornar ao trabalho.
psiquiátricos incluem fobia, ansiedade, irritabilidade, depressão e
psicose. Tratamento:
As alterações cardíacas, em geral, regridem espontaneamente
algumas horas após a lesão e a mais freqüente é a fibrilação ventri- a) Princípios Gerais
cular, mas em alguns casos, observamos alterações do segmento ST
e taquicardia persistirem por algumas semanas. Decorre, em geral, · Reanimação Inicial:
da ação direta da corrente elétrica sobre a musculatura cardíaca, Em primeiro lugar a vítima deve ser afastada da corrente o
ou então, sobre as células ganglionares nela contidas. Em outros ca- mais rapidamente possível. Aquele que presta socorro deve estar
sos, a parada cardíaca pode resultar de uma inibição do coração por certo de que a corrente está desligada antes de tocar a vítima para
estímulos dos centros vagais da medula. Os pacientes que morrem evitar ser lesado também.
nesta situação se apresentam pálidos e é chamada “morte branca”. O acidente elétrico de alta ou baixa voltagem pode produzir
A parada cardíaca mais tardia pode surgir em seguida a uma mortes imediatas por parada cardíaca ou cardiorrespiratória, por
parada respiratória não suficientemente tratada. O fator deter- isto as manobras de reanimação mediante massagem cardíaca
minante neste caso é a anóxia do miocárdio. Os doentes quando externa e respiração artificial são necessárias para evitar a morte
morrem se apresentam cianosados, sendo este tipo de acidente imediata da vítima.
conhecido por “morte azul”. Se o coração não está batendo, há provavelmente fibrilação
Uma queixa comum é dor precordial semelhante à angina de ventricular e a massagem cardíaca deve ser feita até que o paciente
peito associada à dispnéia. possa ser removido para um local onde seja possível a desfibrilação.
Complicações pulmonares agudas estão limitadas a danos A recuperação das vítimas de energia elétrica será tanto mais
pleurais, resultando em efusões e pneumunites lobulares, direta- problemática quanto mais tardiamente for instituída a terapêutica
mente adjacentes à área do ponto de contato. Essas complicações apropriada. Isto porque, a anóxia que então se estabelece, pode
são freqüentemente evidentes ao fim da primeira semana. As in- lesar de modo irreversível os tecidos mais nobres tais como os do
fecções pulmonares são geralmente o resultado de infecções sistê- sistema nervoso.
micas ou complicações da terapêutica inalatória prolongada. Além da avaliação cardiorrespiratória é necessário verificar
Quanto às lesões vasculares, a trombose venosa se observa o estado hemodinâmico e as lesões apresentadas pela vítima na
mais freqüentemente em queimaduras de membros superiores e chegada ao hospital. Sabe-se que na queimadura elétrica por alta
membros inferiores. voltagem não existe relação entre superfície de pele queimada e a
As lesões arteriais se observam em zonas expostas como a face lesão tecidual profunda. É importante avaliar a situação vascular
palmar das mãos e podem ocasionar quadros isquêmicos distais dos membros, possíveis lesões viscerais e traumatismos associados
por trombose aguda. A perfusão distal do membro pode também (fraturas, traumatismos de tórax, ferimentos em geral, etc).
ser comprometida por edema importante. Existem também possi- É necessário monitorizar o paciente através de: registro cardí-
bilidades de complicações tardias como as dilatações aneurismáti- aco e saturação de oxigênio, temperatura, diurese e monitorização
cas com perfurações da parede arterial que provocam hemorragias hemodinâmica (cateter de Swan Ganz) em determinados casos. Se
agudas, quadros de trombose, infecções e trombose de zonas ad- a urina tem a cor de vinho do Porto ou um vermelho escurecido,
jacentes. há indubitavelmente lesão muscular maciça, e a urina contém mio-
A lesão renal manifestada como insuficiência caracteriza uma globina.
complicação freqüente devido ao choque hipovolêmico, depósito Em relação à reposição hídrica nas vítimas de queimadura elé-
de mioglobina nos túbulos renais, CID por destruição de hemácias e trica não é útil a utilização de fórmulas orientativas em função da
liberação de hemoglobina. superfície corporal queimada. As lesões elétricas resultam numa
As lesões hematológicas caracterizam-se por uma leucocitose perda imediata de líquidos para a área dos tecidos subseqüente
na fase aguda associada a hemoconcentração e maior liberação de a liberação de mioglobina a partir das células musculares para a
granulócitos a nível medular. A trombocitopenia ocorre em uma faz circulação. A administração de líquidos deve realizar-se em função
mais tardia.Uma leucopenia neutropênica pode ser indício de uma da resposta hemodinâmica e renal. A excessiva eliminação de pig-
sepse por Gram negativo. mentos pela urina e seu depósito nos túbulos renais resulta num
Como complicação rara de acidente por alta voltagem pode- risco aumentado de insuficiência renal aguda, por isso é prioritário
mos citar aplasia medular aguda com depleção total da mielopoie- manter uma diurese horária entre 50 e 100 ml/hora em adultos
se. e 2ml/Kg/hora em crianças, podendo ser útil o uso de diuréticos
Um achado freqüente em autópsia após lesões elétricas são as osmóticos, como o manitol, sempre que o aporte de líquido for su-
hemorragias submucosas espalhadas através do trato gastrointes- ficiente. A alcalinização da urina com a utilização de bicarbonato
tinal. Essas sugerem que haja uma lesão intra-abdominal por efeito de sódio IV (1 mEq/Kg) reduz também a precipitação de pigmentos
direto da corrente. nos túbulos. Na falta de resposta renal, mesmo em situações de
Um problema diagnóstico ocorre nas lesões elétricas do abdo- hiperhidratação, pode-se utilizar cloridrato de dopamina em doses
me, pois é difícil determinar se há ou não lesão intra-abdominal baixas (1-2 ug/Kg/min).
presente. A avaliação cuidadosa dos sinais e sintomas intra-abdo- Na reposição inicial deve-se utilizar líquido isotônico. Para as
minais é importante, deve-se evitar fazer um diagnóstico de íleo queimaduras menores de pequena voltagem, pouca terapêutica
paralítico associado com lesão elétrica e esquecer-se de que a lesão de reposição é necessária. Já quando há um maior dano elétrico,
intestinal como resultado da corrente pode estar presente. grandes volumes de líquidos são necessários. Nestes casos, a lesão
Em alguns casos pode haver fraturas ósseas geradas pela vio- elétrica é bastante similar à lesão por esmagamento, e uma quanti-
lenta contratura muscular induzida pelas lesões de corrente alter- dade maciça de líquidos deve ser usada para reposição.
nada.

47
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Está indicada a utilização de hemofiltração artério-venosa con- Na avaliação e tratamento das lesões causadas por eletricidade
tínua na IRA aguda precoce e no curso da evolução do paciente deve-se levar em conta uma série de fatores tais como: caracterís-
que não responde ao tratamento médico habitual. A hemofiltração ticas evolutivas próprias das lesões elétricas, topografia das lesões
permite o controle e ajuste constante do balanço hidroeletrolítico elétricas, extensão e localização das queimaduras associadas.
com vantagens evidentes sobre a hemodiálise intermitente. A necrobiose das lesões por eletricidade apresenta caráter
Quando a lesão é meramente uma queimadura térmica e não progressivo, sendo difícil o reconhecimento precoce da quantida-
há evidência de lesão elétrica verdadeira, a manipulação hídrica de de tecidos cuja vitalidade foi ou será comprometida de modo
deve seguir os princípios usuais de reposição em queimaduras tér- irreversível. Geralmente um segundo e algumas vezes um tercei-
micas. ro desbridamento serão necessários. A trombose após uma lesão
Os pacientes com lesões elétricas merecem controles analíti- elétrica priva as fibras musculares de seu suprimento sangüíneo,
cos sangüíneos como hemograma, provas de coagulação, bioquími- seguindo-se sua morte.
ca geral incluindo eletrólitos, gasometria, etc... .
. Queimadura elétrica por baixa voltagem
· Profilaxia antibiótica Esses pacientes requerem internação hospitalar para observa-
A antibioticoterapia sistêmica deve ser instituída mais incisi- ção. Podem ocorrer alterações eletrocardiográficas que se resol-
vamente no queimado por eletricidade do que nas queimaduras vem espontaneamente.
térmicas, por causa da grande destruição tecidual, entretanto esta O tratamento cirúrgico, que raramente tem caráter de urgên-
abordagem precoce continua sendo controversa. cia, deve considerar a localização das lesões para evitar seqüelas
A cobertura antibiótica, quando indicada, deve atuar sobre funcionais importantes.
Staphylococcus aureus. Em queimaduras com necrose tissulares Uma atitude habitual é esperar a resolução do edema em zo-
profundas importantes também pode-se realizar cobertura frente nas próximas e a demarcação das queimaduras menos profundas,
a antibióticos. periféricas e da lesão principal, em torno de até 72 horas.
Mesmo para um cirurgião experiente, é difícil estabelecer a di-
·Profilaxia antitetânica ferenciação de tecidos viáveis nas excisões imediatas. Em queima-
A profilaxia antitetânica é obrigatória por ser o tétano uma duras de mãos e dedos com comprometimento de tecidos profun-
complicação de extrema freqüência em queimados. dos, deve-se considerar prioritária a excisão precoce com cobertura
dos defeitos no mesmo ato cirúrgico. As queimaduras em dedos
b) Evolução das queimaduras elétricas.
exigem, muitas vezes, a utilização de retalhos da vizinhança ou pe-
Geralmente as queimaduras elétricas afetam uma superfície
diculados com bom aporte vascular.
cutânea relativamente pequena, especialmente as produzidas por
correntes de baixa voltagem. Estas últimas, exceto no período ini-
. Queimadura elétrica por alta voltagem
cial não apresentam complicações importantes.
O tratamento cirúrgico tem por objetivo eliminar grandes
As queimaduras de relativa extensão por alta voltagem elevam
massas de tecidos desvitalizados para favorecer a recuperação dos
consideravelmente o número de complicações devido à magnitude
transtornos gerais do grande queimado, controlar a infecção e di-
das lesões, aparentemente ocultas, dos tecidos profundos, sendo o
tratamento cirúrgico inicial mais extenso. Nestes pacientes a com- minuir a morbidade de seqüelas.
plicação mais grave na fase inicial é a insuficiência renal aguda, sen- A localização mais freqüente da queimadura é nas extremida-
do as causas mais freqüentes de morte a sepse, o choque séptico e des, especialmente as superiores. Na avaliação das lesões, deve-se
a falência de múltiplos órgãos. Estas complicações podem ser evi- valorizar os pontos de entrada e saída, a localização da queimadu-
tadas pela detecção precoce dos primeiros sinais de infecção, por ra, a evidência de dano muscular e a situação vascular do membro.
alteração nos parâmetros clínicos e culturas seriadas. Deve-se considerar possíveis lesões nervosas em queimaduras lo-
A infecção por Pseudomonas aeruginosa pode aparecer tar- calizadas sobre o antebraço e punho, a intensidade do edema pro-
diamente, sendo que hemoculturas negativas não excluem essa ximal e a possível instalação de uma síndrome compartimental. Em
possibilidade; e sempre deve ser suspeitada na vigência de sinais lesões torácicas e abdominais é importante verificar a possibilidade
de gravidade como: deterioração da função renal, instabilidade he- de dano visceral. No comprometimento da cabeça, o crânio oferece
modinâmica com decréscimo da saturação de oxigênio, febre alta, na maioria dos casos, proteção suficiente para evitar comprometi-
aparecimento brusco ou agravamento da coagulopatia de consumo mento cerebral.
e leucopenia neutropênica. Nas queimaduras por alta voltagem, pode ser necessária algu-
No queimado elétrico a evolução clínica vai influenciar a preco- mas medidas cirúrgicas urgentes, como escaratomia, fasciotomia e
cidade do tratamento cirúrgico. amputação em alguns casos.
A escaratomia está indicada em queimaduras de membros
c) Conduta em relação aos tecidos desvitalizados circulares, semicirculares ou quando existe um edema intenso. As
incisões devem evitar que fiquem expostos os troncos nervosos ou
Nas queimaduras por eletricidade o tempo da ressecção dos as artérias principais. As queimaduras da parede torácica também
tecidos desvitalizados é controverso. Enquanto um grupo de auto- requerem uma atuação imediata.
res preconiza ressecção imediata, outro grupo prefere faze-la mais A fasciotomia está indicada quando há edema importante em
tardiamente. membros ou em tecidos profundos que elevem a pressão intracom-
Realmente, nem todas as queimaduras resultantes de acidente partimental acima de 30 mmHg ou quando o critério clínico assim o
por eletricidade podem ser consideradas como verdadeiras quei- aconselhe. Ao realizar a fasciotomia gera-se uma ferida ampla, sen-
maduras elétricas. Muitas dessas queimaduras comuns e o trata- do aconselhável sua cobertura com retalhos ou enxertos de pele
mento em nada se diferenciam daquele empregado nas queimadu- se os tecidos profundos que ficam expostos não estão queimados.
ras por outros agentes. Se, ao contrário, os tecidos profundos apresentam-se afetados pela
queimadura, é aconselhável o tratamento com antimicrobianos tó-
picos (creme de sulfadiazina de prata).

48
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Não é freqüente que se proceda como medida urgente a am- Quando as amputações em grandes segmentos não podem ser
putação de um membro, exceto naqueles casos nos quais deve-se feitas com boa margem de segurança, deve ser preferido o método
evitar complicações ou quando o membro ou segmento distal seja aberto. Neste caso faz-se o desbridamento de tecidos mortificados,
absolutamente inviável. Nestes casos, o nível proximal de amputa- preservando os tecidos viáveis. Em tempo posterior, quando hou-
ção é difícil de estabelecer, pela existência de grave deterioração ver estabilização das condições locais e gerais dos pacientes, serão
muscular próximos a zonas de laceração cutânea. feitas as correções necessárias no coto.

d) Conduta em relação ao fechamento das áreas cruentas As características de patogênese e fisiopatologia das lesões
elétricas são muito mais complexas do que se pensava. As contri-
Na cobertura de áreas cruentas onde há exposição de estru- buições de dano térmicas e puramente elétricas dependem da du-
turas profundas como tendões, vasos, nervos e ossos, retalhos ração da passagem da corrente elétrica, na orientação das células,
pediculados são preferidos, pois estas áreas constituem mau leito na localização, e outros fatores. Se o tempo de contato é curto,
nutriente aos enxertos de pele. Os transplantes pediculados garan- mecanismos não-térmicos de destruição celular serão mais impor-
tem sua própria nutrição assim como nutrem e protegem melhor tantes e a destruição será relativamente restrita à membrana celu-
as estruturas expostas. lar. Entretanto se o tempo de contato é maior, destruição por calor
Nos casos em que se torna difícil a utilização de retalhos devido predomina e toda a célula é afetada diretamente. Esses parâmetros
a localização e extensão das lesões, inicialmente são usados os en- também determinam a destruição anatômica da lesão.
xertos de pele. Estes devem ser colocados de preferência sobre as A lesão pelo mecanismo de Joule não está esclarecida como
áreas granulantes que circundam as estruturas que não granulam. dependente do tamanho celular, embora células maiores são mais
Em alguns casos, ocorre até a integração de enxertos coloca- vulneráveis à lise de sua membrana por eletroplessão. Células so-
dos sobre pequenas porções de tendões expostos. brevivem a uma ruptura temporária da membrana plasmática sob
Nos casos de enxertos colocados como pontes sobre peque- apropriadas circunstâncias ou se a terapia for rapidamente instituí-
nas áreas de ossos expostos, a nutrição é garantida através de sua da. Se a permeabilidade de membrana é a condição patológica pri-
periferia pelas porções restantes dos enxertos que se apóiam em mária celular, então, a lesão tecidual pode ser evitável e o próximo
bom leito nutriente. Mesmo quando os enxertos em contato com passo é identificar a técnica que reverta a lesão prontamente.
ossos e tendões expostos não sobrevivem, a melhoria das condi- O padrão atual de tratamento para lesão elétrica requer uma
ções locais resultantes do fechamento das áreas granulantes cir- equipe multidisciplinar, UTI bem equipada e avaliações periódicas
cunvizinhas favorece a cobertura de tais estruturas pelo tecido de por médicos especialistas. Hospitais universitários com Centro de
granulação. A posterior retração desse tecido e sua cobertura pelo Queimados devem ser os locais ideais de tratamento de vítimas por
epitélio vizinho resolve o problema, se não de modo definitivo, pelo trauma elétrico. Após ressuscitação inicial, esforços são direciona-
menos provisoriamente. dos primariamente para prevenção de perda tecidual através da
Quando segmentos maiores de ossos são expostos, deve ser síndrome compartimental, neuropatias compressivas ou presença
feito o reavivamento do osso através da ressecção de toda a tábua de tecido necrótico. Insuficiência cardíaca e renal causados por li-
externa, pondo-se a descoberto a medular de ossos chatos ou, nos beração de mioglobina na circulação deve ser prevenida. Atenção
ossos longos, a ressecção de porções variáveis da camada compac-
deve ser direcionada maximizando manutenção tecidual e preve-
ta até planos onde o sangramento seja mais fácil. A cobertura do
nindo tardiamente complicações esqueléticas e neuromusculares.
osso pelo tecido de granulação acontece dias depois.
Procedimentos reconstrutivos de transferência tecidual sadio à
A técnica da utilização de enxertos de pele é mais simples, de
distância são necessários para otimizar a transferência de tecidos
execução mais rápida e interfere menos intensamente com o trata-
remanescentes. Finalmente, a menos que o paciente esteja em re-
mento das demais lesões. É freqüente o enxerto intermediário de
abilitação psicológica, o real benefício de outros tratamentos mais
pele constituir boa cobertura definitiva para estas áreas. Quando
sofisticados podem não ser plenamente satisfatórios. Essas ressal-
isto não ocorre, eles podem, em qualquer tempo, ser substituídos
vas são importantes para que o tratamento do paciente obtenha
por retalhos pediculados, os quais serão executados em melhores
condições (ausência de infecção ou grave comprometimento do es- êxito.
tado geral do paciente). No futuro, novos “guidelines” para o tratamento de trauma
elétrico serão baseados num claro entendimento das característi-
e) Conduta em relação às amputações cas fisiopatológicas. Essas estratégias irão permitir uma melhora do
diagnóstico por imagem e a reversão da lesão da membrana celu-
As amputações nas lesões por eletricidade são mais freqüentes lar. Além do mais, interações fisiopatológicas do sistema orgânico e
do que nas queimaduras por outros agentes. complexos bioquímicos não requerem cuidados especiais. Se alcan-
Nas lesões por eletricidade, a indicação da amputação não çado sucesso pesquisas devem melhorar o prognóstico de vítimas
apresenta caráter de urgência, pois as necrobioses dos tecidos que após o choque elétrico.17
levam à amputação se apresentam secas, produzindo no organis-
mo repercussões relativamente pequena nos primeiros dias. Baropatia
A espera de alguns dias fornecerá uma melhor delimitação dos
tecidos a serem ressecados e evita a possibilidade de novas necro- Um barotrauma é uma manifestação patológica ligada a varia-
bioses no coto de amputação. Este fato é mais importante quando ções de pressão no interior do corpo. Pode ser causado, por exem-
se trata de pequenos segmentos lesados, pois as necrobioses pro- plo, por um avião mal pressurizado ou por problemas durante um
duzem pouca repercussão sobre o estado geral dos pacientes e, por mergulho.
menor que sejam os segmentos poupados, há um grande benefício Podem ser cavitárias ou plasmáticas.
do ponto de vista funcional. A doença da descompressão é um distúrbio no qual o nitrogê-
nio dissolvido no sangue e nos tecidos devido a uma pressão eleva-
da forma bolhas quando a pressão diminui.
17 Fonte: www.siteantigo.portaleducacao.com.br

49
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- Os sintomas podem incluir fadiga e dor nos músculos e arti- - A doença de descompressão tipo II, que pode trazer risco à
culações. vida, muitas vezes afeta os sistemas dos órgãos vitais, incluindo o
- No tipo mais grave, os sintomas podem ser semelhantes aos cérebro e a medula espinhal, o sistema respiratório e o sistema cir-
do acidente vascular cerebral ou podem incluir dormência, formi- culatório.
gamento, fraqueza no braço ou perna, instabilidade, vertigem (ton-
teira), dificuldade respiratória e dor no peito. Sintomas
- As pessoas são tratadas com oxigenoterapia e recompressão Os sintomas da doença de descompressão geralmente mani-
(oxigênio de alta pressão ou hiperbárico). festam-se de forma mais lenta do que os da embolia gasosa e do
- Limitar a profundidade e duração dos mergulhos e a velocida- barotrauma pulmonar. Apenas metade das pessoas com doença
de da subida pode ajudar a prevenir. de descompressão apresenta sintomas ao fim de 1 hora depois de
chegar à superfície, ao passo que 90% manifestam sintomas após 6
O ar é composto principalmente por nitrogênio e oxigênio. Vis- horas. É normal que os sintomas comecem aos poucos e demorem
to que o ar submetido a uma pressão elevada se comprime, cada algum tempo até alcançar o seu ponto máximo de efeito. Os pri-
inspiração efetuada em profundidades contém muito mais molé- meiros sintomas podem ser
culas do que uma inspiração feita à superfície. Como o organismo - Fadiga
utiliza continuamente o oxigênio, de forma geral, o excesso de mo- - Perda de apetite
léculas de oxigênio respiradas sob uma pressão elevada não se acu- - Dor de cabeça
mula. Contudo, o excesso de moléculas de nitrogênio se acumula - Vaga sensação de doença
no sangue e nos tecidos.
À medida que a pressão externa diminui durante a subida após Doença de descompressão tipo I (menos grave)
o mergulho ou ao deixar um ambiente de ar comprimido, o nitro- O tipo menos grave (ou forma musculoesquelética) da doen-
gênio acumulado, que não pode ser expirado de imediato, forma ça de descompressão, muitas vezes chamada doença dos mergu-
bolhas no sangue e nos tecidos. Essas bolhas podem se expandir e lhadores, normalmente provoca dor. A dor tende a se manifestar
lesionar os tecidos ou obstruir os vasos sanguíneos de muitos ór- geralmente nas articulações dos braços ou das pernas, costas ou
gãos, quer seja diretamente, quer seja dando origem a pequenos músculos. Por vezes, é difícil localizar a região. A dor pode ser leve
coágulos de sangue. Essa obstrução dos vasos sanguíneos causa ou intermitente no início, mas pode se intensificar de forma cons-
dor e vários outros sintomas às vezes semelhantes, por exemplo, tante e tornar-se grave. A dor pode ser aguda ou pode ser descrita
aos do acidente vascular cerebral (como fraqueza súbita num lado como profunda ou como algo que está perfurando o osso. Piora
do corpo, dificuldade respiratória, tontura) ou até mesmo sintomas com o movimento.
parecidos com os da gripe. As bolhas de nitrogênio também provo- Os sintomas menos comuns incluem coceira, pele mosqueada,
cam inflamação, causando inchaço e dor em músculos, articulações linfonodos inchados, erupção cutânea e fadiga aguda. Esses sinto-
e tendões. mas não são potencialmente mortais, mas podem preceder proble-
mas mais perigosos.
O risco de desenvolver a doença de descompressão aumenta
com muitos dos seguintes fatores: Doença de descompressão tipo II (mais grave)
- Certos defeitos cardíacos, como forame oval patente ou de- O tipo mais grave de doença de descompressão tem como
feito do septo atrial consequência mais frequente o aparecimento de sintomas neuro-
- Água fria lógicos, que vão desde um entorpecimento até paralisia e morte. A
- Desidratação medula espinhal é particularmente vulnerável.
- Viagem aérea após mergulhar Os sintomas de envolvimento da medula espinhal podem in-
- Esforço cluir dormência, formigamento, fraqueza ou uma combinação des-
- Fadiga ses nos braços, pernas ou em ambos. Uma leve debilidade ou for-
- Aumento de pressão (ou seja, a profundidade do mergulho) migamento pode evoluir em horas para uma paralisia irreversível.
- Tempo despendido em um ambiente pressurizado A incapacidade de urinar ou incapacidade de controlar a micção ou
- Obesidade a defecação também pode ocorrer. A dor no abdômen e nas costas
- Idade avançada também é comum.
- Subida rápida Os sintomas de envolvimento cerebral que, em sua maioria,
Visto que o excesso de nitrogênio se mantém dissolvido nos te- são semelhantes aos da embolia gasosa, incluem
cidos corporais durante, pelo menos, 12 horas depois de cada imer- - Dor de cabeça
são, as pessoas que realizam várias imersões durante um dia têm - Confusão
mais probabilidade de sofrer da doença de descompressão do que - Dificuldade para falar
quem realiza uma única imersão. Uma viagem aérea 12 a 24 horas - nVisão dupla
após o mergulho (como no final de umas férias) expõe as pessoas
a uma pressão atmosférica ainda mais baixa, fazendo com que a A perda de consciência é rara.
doença de descompressão seja ligeiramente mais provável. Os sintomas de envolvimento do ouvido interno, como ver-
É possível que se formem bolhas de nitrogênio nos pequenos tigem grave, zumbido nos ouvidos e perda de audição, ocorrem
vasos sanguíneos ou nos próprios tecidos. Os tecidos adiposos, quando os nervos do ouvido interno são afetados.
como os do cérebro e medula espinhal, são particularmente pro- Os sintomas de envolvimento dos pulmões causados por bo-
pensos a sofrer da doença, porque o nitrogênio se dissolve rapida- lhas de gases que percorrem as veias até os pulmões provocam
mente na gordura. tosse, dor no peito e agravam progressivamente a dificuldade para
- A doença de descompressão tipo I tende a ser leve e afeta respirar (a asfixia). Os casos graves, que são raros, podem resultar
principalmente as articulações, a pele e os vasos linfáticos. em choque e morte.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Efeitos tardios da doença de descompressão Além de se guiar por um gráfico ou por tabelas computadoriza-
A osteonecrose disbárica (às vezes chamada necrose óssea das para a subida, muitos mergulhadores fazem uma parada de se-
avascular) pode ser um efeito tardio da doença de descompres- gurança durante uns minutos, a cerca de 4,5 metros da superfície.
são, ou pode ocorrer na ausência de doença de descompressão. No entanto, o cumprimento desses procedimentos não elimi-
Ela envolve a destruição de tecido ósseo, sobretudo nos ombros na o risco de sofrer da doença de descompressão. Um pequeno
e no quadril. A osteonecrose disbárica pode produzir dor persis- número de casos de descompressão ocorre depois de mergulhos
tente e incapacidade grave. Essas lesões raramente ocorrem entre sem paradas. A persistência da doença de descompressão pode se
os mergulhadores recreativos, mas são mais comuns entre as pes- dever ao fato de tabelas e programas existentes não fazerem re-
soas que trabalham num ambiente de ar comprimido e entre os ferência completa à variação nos fatores de risco entre diferentes
mergulhadores que trabalham num habitat subaquático em águas mergulhadores ou ao fato de algumas pessoas não respeitarem as
profundas. Muitas vezes, não há eventos iniciais específicos que a recomendações das tabelas ou dos computadores.
pessoa possa identificar como a fonte dos sintomas, quando eles Também são necessárias outras precauções:
aparecem. - Após vários dias de imersões, recomenda-se passar um perí-
Esses trabalhadores ficam expostos a uma pressão elevada du- odo de 12 a 24 horas (por exemplo, 15 horas) na superfície, antes
rante longos períodos e a sua doença pode não ser detectada. Os de se fazer uma viagem aérea ou de se deslocar a uma altitude su-
mergulhadores técnicos, que mergulham em grandes profundida- perior.
des em comparação aos mergulhadores recreativos, podem correr - As pessoas que se recuperaram por completo de uma doen-
um maior risco que os mergulhadores recreativos. A osteonecrose ça de descompressão leve devem evitar praticar mergulho durante
disbárica geralmente não causa sintomas, mas se ocorrer perto de um período de, pelo menos, duas semanas. Após a doença de des-
uma articulação pode progredir gradualmente, ao longo de meses compressão grave, é melhor esperar mais tempo (pelo menos um
ou anos, a uma artrite grave e incapacitante. Quando ocorre um mês) e ser avaliado por um médico antes de mergulhar novamente.
dano articular grave, o único tratamento possível é a substituição - As pessoas que sofreram uma doença de descompressão,
da articulação. apesar de terem seguido as recomendações da tabela de imersão
Problemas neurológicos permanentes, como uma paralisia ou do computador, poderão voltar a mergulhar apenas depois de
parcial, geralmente resultam de tratamento tardio ou inadequado uma meticulosa avaliação médica para detectar fatores subjacen-
para os sintomas da medula espinhal. No entanto, em alguns casos, tes de risco, como uma anomalia cardíaca.
o dano é tão grave que não pode ser corrigido nem mesmo com tra-
tamento adequado. Os tratamentos repetidos com oxigênio numa Tratamento
câmara de pressão elevada parecem ajudar algumas pessoas a se - Oxigênio
recuperarem de danos na medula espinhal. - Às vezes, terapia de recompressão
Cerca de 80% das pessoas se recuperam completamente.
Diagnóstico Os mergulhadores com apenas prurido, erupção cutânea e fa-
- Avaliação de um médico diga em geral não precisam ser submetidos à recompressão, mas
A doença de descompressão é reconhecida pela natureza dos devem permanecer sob observação, pois podem apresentar sin-
sintomas e por seu aparecimento associado ao mergulho. Exames tomas mais sérios. A respiração de oxigênio puro através de uma
como tomografia computadorizada (TC) ou imagem por ressonân- máscara bem ajustada pode proporcionar algum alívio.
cia magnética (RM), por vezes, demonstram anomalias no cérebro Terapia por recompressão
ou na medula espinhal, mas não são confiáveis. No entanto, a tera- Qualquer outro sintoma da doença de descompressão indica
pia de recompressão é iniciada antes de se obterem os resultados a necessidade de um tratamento numa câmara de pressão eleva-
de uma TC ou de uma RM, exceto quando o diagnóstico não está da (de recompressão ou de oxigênio hiperbárico), porque a terapia
claro ou quando o estado do mergulhador é estável. A RM costuma de recompressão repõe a circulação sanguínea normal e o oxigênio
ser o diagnóstico de osteonecrose disbárica. nos tecidos afetados. Depois da recompressão, a pressão é redu-
zida aos poucos, com pausas preestabelecidas, para que os gases
Prevenção em excesso tenham tempo de abandonar o organismo sem causar
Os mergulhadores procuram prevenir a doença de descom- lesões. Uma vez que os sintomas podem voltar a surgir ou podem
pressão evitando a formação de bolhas gasosas. Eles fazem isso li- piorar após as primeiras 24 horas, submete-se a tratamento mes-
mitando a profundidade e a duração dos mergulhos até o ponto em mo as pessoas que apresentam apenas dor moderada ou transitó-
que não seja necessário fazer paradas de descompressão durante a ria ou sintomas neurológicos.
subida (aquilo que entre os mergulhadores é conhecido como limi- A terapia de recompressão é benéfica até 48 horas depois do
tes sem paradas) ou, então, subindo com paradas de descompres- mergulho e deve ser aplicada mesmo que chegar à câmara mais
são, como se especifica em diretrizes confiáveis, como na tabela de próxima suponha uma viagem longa. Durante o tempo de espera e
descompressão em Descompressão gasosa, um capítulo do United o de transporte, deve ser administrado oxigênio com uma máscara
States Navy Diving Manual (Manual de Mergulho da Marinha dos facial muito bem ajustada e líquidos por via oral ou por via intra-
Estados Unidos). venosa. Um atraso prolongado no tratamento aumenta o risco de
Nestes textos, é descrito um padrão de subida que, geralmen- lesões permanentes.18
te, permite eliminar o excesso de nitrogênio sem causar lesões.
Muitos mergulhadores levam consigo um dispositivo computado- Ação química
rizado portátil submersível que analisa continuamente a profundi- Toxicologia é a ciência que estuda a natureza e o mecanismo
dade e o tempo de permanência. O computador calcula a tabela das lesões tóxicas nos organismos vivos expostos aos venenos. Se-
de descompressão para um regresso seguro à superfície e indica gundo definição deCasarett: “Toxicologia é a ciência que define os
quando são necessárias paradas de descompressão. limites de segurança dos agentes químicos, entendendo-se como
segurança a probabilidade de uma substância não produzir danos
em condições especiais”.
18 Fonte: www.msdmanuals.com

51
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Veneno é toda substância que incorporada ao organismo vivo, 5. Conscientização da população: campanhas educativas, divul-
produz por sua natureza, sem atuar mecanicamente, e em determi- gação das medidas de prevenção e controle.
nadas concentrações, alterações da fisico-química celular, transitó-
rias ou definitivas, incompatíveis com a saúde ou a vida. Epidemiologia das Intoxicações
Paracelso, no século XVI já estabelecia o aforismo básico: “To- Os produtos químicos são indispensáveis para o desenvolvi-
das as coisas são venenosas, é a dose que transforma algo em ve- mento das atividades do homem, à prevenção e cura das doenças
neno”. e ao aumento da produtividade agrícola. Entretanto, o uso inade-
Intoxicação Exógena ou Envenenamento: quado e abusivo tem causado efeitos adversos à saúde humana e à
É o resultado da contaminação de um ser vivo por um produto integridade do meio ambiente, ocasionando acidentes individuais,
químico, excluindo reações imunológicas tais como alergias e in- coletivos e de grandes proporções: as catástrofes químicas.
fecções. A ocorrência de envenenamentos é um grave problema de
Para que haja a ocorrência do envenenamento são necessários saúde pública em todos os países do mundo, tendo duplicado nos
três fatores: substância, vítima em potencial e situação desfavorá- últimos 10 anos, devido principalmente à grande quantidade de
vel. produtos químicos lançados, anualmente, no mercado para consu-
Toxicidade é a capacidade de uma substância produzir efeitos mo das populações.
prejudiciais ao organismo vivo. Nos países desenvolvidos pode atingir a 2% da população e
naqueles em desenvolvimento a 3%. Os Estados Unidos estimam
Fases da Toxicologia a ocorrência anual de 4 milhões de exposições tóxicas, sendo regis-
A Toxicologia tem sido caracterizada através dos séculos por trados cerca de 2 milhões, 50% em menores de 5 anos. No Brasil, as
circunstâncias que podem situá-la em três fases: estimativas são de 3 milhões de intoxicações anuais, a maioria sem
a) Descoberta dos tóxicos na natureza: alimentos, plantas e registro devido à subnotificação e às dificuldades de diagnóstico.
animais; As estatísticas variam em função dos padrões culturais, sociais e
b) Fins primitivos e homicidas: arsênico, cianeto, estricnina, econômicos. Nos países desenvolvidos há maior ocorrência de in-
etc; toxicações por produtos químicos e medicamentos e nos países em
c) Toxicologia Moderna: Intoxicações profissionais, alimenta- desenvolvimento, além desses agentes, por animaispeçonhentos,
res, iatrogênicas, etc. plantas venenosas e pesticidas agrícolas. O Brasil, sendo um grande
pólo industrial tem elevado percentual de intoxicações por produ-
Ciências Da Toxicologia tos químicos em todas as fases: fabricação, manipulação, transpor-
A Toxicologia busca o conhecimento das manifestações pro- te, e descarte. É grande consumidor de medicamentos sendo estas
duzidas pelos venenos no organismo e tudo que se relaciona aos intoxicações provocadas por automedicação, superdosagens, ia-
mesmos. Por suas variadas áreas de interesse é uma ciência multi- trogenias, acidentes e tentativas de suicídio. Nosso país é também
disciplinar, pois é integrada por várias ciências: grande consumidor de pesticidas, e estas intoxicações ocorrem
• Química Toxicológica: Estrutura Química e Identificação dos devido ao uso excessivo e indiscriminado destes produtos, desco-
Tóxicos. nhecimento dos trabalhadores rurais dos perigos dos mesmos, falta
• Toxicologia Farmacológica: Efeitos Biológicos e Mecanismos de equipamento de proteção individual (EPI) e principalmente pelo
de Ação. uso doméstico de pesticidas de elevado potencial tóxico, fabricados
• Toxicologia Clínica: Sintomatologia, Diagnóstico e Terapêu- exclusivamente para fins agrícolas.
tica. Há também elevada ocorrência de acidentes por animais peço-
• Toxicologia Ocupacional: Prevenção, Higiene do Trabalho. nhentos representando para alguns estados do Brasil o maior per-
• Toxicologia Forense: Implicações de Ordem Legal e Social. centual de envenenamentos registrados.
• Epidemiologia das Intoxicações.
• Toxicologia Ambiental. Alguns grupos de agentes que causam intoxicações e suas ca-
• Toxicologia dos Alimentos. racterísticas
Estas ciências interessam, portanto, aos profissionais de várias Medicamentos:
áreas: médicos, sanitaristas, farmacêuticos, ecologistas, veteriná- Tipo mais freqüente de intoxicação em todo o mundo, inclusi-
rios, biólogos, psicólogos, etc., cada um visualizando o veneno por ve no Brasil. Ocorre frequentemente em crianças e em tentativas
uma determinada ótica. de suicídio.
Domissanitários:
Programas de Toxicovigilancia Produtos de composição e toxicidade variada, responsável por
Centros Antiveneno têm como missão e responsabilidade o muitos envenenamentos.
controle, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das intoxica- Alguns são produzidos ilegalmente por “fábricas de fundo de
ções exógenas, e para isto devem desenvolver ações de toxicovigi- quintal”, e comercializados de “porta em porta”.
lância permanentes. Geralmente tem maior concentração, causando envenena-
mentos com maior freqüência e de maior gravidade que os fabri-
Ações de Toxicovigilância cados legalmente.
1. Identificação de problemas: estudos epidemiológicos, ava- Inseticidas de uso Doméstico:
liação de riscos; São pouco tóxicos quando usados de forma adequada. Podem
2. Medidas de controle dos produtos: proibição, restrição, uso causar alergias e envenenamento, principalmente em pessoas sen-
controlado; síveis. A desinsetização em ambientes domiciliar, comercial, hospi-
3. Desenvolvimento de ações conjuntas com órgãos de Saúde, talar, etc., por pessoa ou “empresa” não capacitada pode provocar
Vigilância e Meio Ambiente públicos e privados, Justiça, Órgãos de envenenamento nos aplicadores, moradores, animais domésticos,
Classe, etc.; trabalha-dores e principalmente em pessoas internadas, ao se utili-
4. Capacitação de profissionais em Toxicologia; zarem produtos tóxicos nestes ambientes.

52
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Pesticidas de Uso Agrícola: Nas análises toxicológicas post mortem estabelece a causa e a
São as principais causas de registro de óbitos no Brasil, princi- forma de intoxicação ou morte por meio da análise de vários fluidos
palmente pelo uso inadequado e nas tentativas de suicídio. e tecidos obtidos durante a necropsia. As amostras utilizadas neste
Raticidas: caso são humor vítreo, conteúdo gástrico, sangue periférico, san-
No Brasil, só estão autorizados os raticidas à base de anticoa- gue cardíaco, fígado, bile, cérebro, urina, que pode determinar se
gulantes cumarínicos. São grânulos ou iscas, pouco tóxicos e mais ocorreu uma overdose, suicídio, intoxicação acidental, homicídio e
eficazes que os clandestinos, porque matam o rato, eliminam as qual a substância utilizada, seja fármaco ou drogas lícitas ou ilícitas.
colônias. A utilização de produtos altamente tóxicos, proibidos para Ao final das análises toxicológicas, o profissional emite um lau-
o uso doméstico tem provocado envenenamentos graves e óbitos19 do que deverá constar os resultados das análises e este será funda-
mental para encerrar o caso policial.
A toxicologia forense é uma ciência multidisciplinar que busca Essa é uma área de atuação que está em alta, pois os concur-
mostrar a verdade de um fato perante a lei, mas também identificar sos estão cada vez mais concorridos e as vagas cada vez maiores.
e quantificar os efeitos prejudiciais associados a produtos tóxicos, Para ser um toxicologista forense, necessita possuir graduação em
ou seja, qualquer substância que pode provocar danos ou produzir bacharel e realizar uma especialização em toxicologia, já para ser
alterações no organismo, no seguimento de solicitações processu- perito criminal, precisa ter diploma de graduação em bacharel nas
ais de investigação criminal, sendo apoiada fundamentalmente na áreas determinadas pelo edital e prestar concurso público.20
toxicologia analítica.
Em 1958, Gisbert Calabuig o definiu como um conjunto de co- Caustico e Veneno
nhecimentos aplicáveis na resolução dos problemas toxicológicos  Energias de Ordem Química
que levantam em sede do Direito; já Paul Matte, 1970 disse que é Segundo Flamínio Fávero, são aquelas que atuam por substân-
um estudo e aplicação da toxicologia ao direito para encontrar a
cias que entram em reação com os tecidos.
verdade em causas civis, criminais e sociais com o objetivo de que
São as que agem através de reações químicas com os tecidos.
não causem injustiças a nenhum membro da sociedade.
Modos de ação.
É uma ciência importantíssima e ligada diretamente ao Direito,
Podem agir de modo localizado ou de modo sistêmico, daí a
pois com ela e a partir dela, pode- se inocentar ou acusar um réu,
no caso de suspeita de homicídio utilizando drogas ou venenos, es- divisão em cáusticos e venenosos.
tabelecendo um nexo causal entre o evento e o efeito tóxico. É essa
ciência que determina o agente químico causador da morte, e pos- Cáusticos
sibilita quantificá-lo, dando a sociedade uma resposta sobre o fato. Cáustico é toda substância que quando colocada em contato
Mas, para que isso ocorra de forma idônea e segura, neces- com um tecido, com ele reage desorganizando-o.Podem agir exter-
sita de um procedimento anterior à análise que se chama cadeia namente ou internamente.
de custódia, que é um procedimento onde se documenta toda a Classificação
ação desde o recipiente, coleta, até o descarte final da amostra. Classificam-se em coagulantes e liquefacientes.São substâncias
Segundo CHASIN, ela se divide em duas fases, externa e interna: a coagulantes os ácidos fortes, como o sulfúrico, o clorídrico, nítrico,
fase externa seria o transporte do local de coleta até a chegada ao sais metálicos como nitrato de prata, permanganato de potássio,
laboratório. A interna refere-se ao procedimento interno no labo- essências como terebentina, sabina.
ratório, realizado pelo toxicologista, até o descarte das amostras. As substâncias coagulantes desidratem os tecidos, formando
Uma cadeia de custódia, realizada com seriedade faz com que escaras endurecidas, de cores diferentes, dependendo da substân-
todo o procedimento seja confiável. Com as amostras preserva- cia.Por exemplo, o ácido sulfúrico provoca escaras esbranquiçadas.
das corretamente, a análise mostra um resultado real, apontando As substâncias liquefacientes são os álcalis, soda cáustica, li-
como ocorreu o fato. quefacientes provocam escara úmida, amolecidas pela liquefação
Em uma morte súbita, por exemplo, primeiramente é aciona- dos tecidos.
da a polícia militar que irá até o local do crime para averiguação e Sua ação depende não só da natureza química da substância
isolamento da área para preservação correta das evidências para como também da sua concentração e da região atingida, assim áci-
poder determinar o que é vestígio; a autoridade policial (delegado), do e álcalis diluídos não danificam a pele.Uma substância que não
chega em seguida e os últimos são os peritos criminais. produz dano à pele pode lesar irreparavelmente a córnea.Importa
Os peritos criminais iniciam a cadeia de custódia, que contri- também o tempo de contato entre a substância e o tecido atingido.
bui para manter e documentar a história cronológica da evidência, As lesões provocadas por cáusticos são denominadas generica-
para rastrear a posse e o manuseio da amostra a partir do preparo mente vitiolagem, qualquer que seja a substância usada, em razão
do recipiente coletor, da coleta, do transporte, do recebimento, da
do nome popular do ácido sulfúrico, óleo de vitríolo, que foi muito
análise e do armazenamento.
usado no passado.
As amostras devem ser manuseadas de forma cautelosa, para
Causa jurídica-geralmente a intenção é provocar lesão corpo-
tentar evitar futuras alegações de adulteração ou má conduta que
ral, deformar a vítima daí a região mais atingida ser a face, o pes-
possam comprometer as decisões relacionadas ao caso em ques-
tão. O detalhamento dos procedimentos deve ser minucioso, para coço, tórax e escápulas. Esta eventualidade é hoje em dia rara no
tornar o procedimento robusto e confiável, deixando o laudo téc- nosso meio.São comuns os acidentes, domésticos e industriais.
nico produzido, com teor irrefutável. A sequência dos fatos é es- A morte por ação cáustica é também eventualidade rara mas
sencial: quem e como manuseou, onde o vestígio foi obtido, como não impossível.
armazenou.

19 Fonte: www.saude.ba.gov.br 20 Fonte: www.portaleducacao.com.br

53
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Veneno B) Urina (cobra, arsênico, antimônio, fósforo)
A legislação atual não define o que seja venenoso, deixando a
critério do perito esta conceituação. C) Pulmões – (arsênico, cobre, substâncias voláteis-álcool, éter,
A Consolidação das Leis Penais diz em seu artigo 296 parágrafo gasolina, querosene, clorofórmio, ácido cianídrico, gás sulfídrico).
único: “Veneno é toda substância mineral ou orgânica que ingerida
no organismo ou aplicada ao seu exterior, sendo absorvida, deter- D) Suor – (chumbo, antimônio, arsênico)
mine a morte, ponhe em perigo a vida ou altere profundamente a
saúde.” Esta definição satisfaz as exigências médico legais. E) Saliva – (mercúrio, morfina, cocaína)
Em outras palavras – Veneno é toda substância que absorvida
e atuando química ou bioquimicamente sobre o organismo lesa a F) Leite – (bismuto, mercúrio)
integridade corporal ou a saúde do indivíduo.
Envenenamento são as lesões mortais ou não, provocadas pe- G) Cabelos – (arsênico)
los venenos.
Da definição de veneno, podemos inferir diferença fundamen- H) Unhas – (arsênico)
tal com os cáusticos.Para atuar como veneno, a substância precisa I) Placenta – (sabina)
ser absorvida e por reação química ou bioquímica determinar uma
lesão corporal ou perturbação funcional que pode chegar à morte. O tempo de eliminação do veneno varia conforme sua nature-
Encontramos substâncias venenosas nos 3 reinos da natureza: za, dose, via de absorção, estado de saúde da vítima, etc.
mineral, vegetal e animal.Não se inclui no grupo de venenos a ação Quanto à forma de eliminação, existem também variações
de microorganismo e suas toxinas, incluímos poréma secreção de conforme as substâncias.Assim, muitas substâncias são eliminadas
certos animais, cobra, insetos, aracnídeos.Em medicina legal, não in natura (éter).Outras são oxidadas ou reduzidas e eliminadas após
se faz a clássica distinção da parasitologia entre peçonha e veneno. sua transformação (barbitúricos, cocaína); isto é muito importante
Vias de absorção dos venenos. em uma perícia.
Os venenos podem ser introduzidos no organismo pelas mes- Modificação da Ação dos Venenos
mas vias que são introduzidas os medicamentos. A ação ou efeito das substâncias sobre os indivíduos variam
A ação de certas substâncias varia de acordo com a via de pe- não só pela natureza da substância como também com outros fato-
netração (curare veneno de cobra são inócuos por via oral, pois são res que podem modificar esta aça.Temos fatores que são ligados à
digeridos no estômago). própria substância, outros referentes ao individuo.

A) Pele.A pele é impermeável à maioria das substâncias, porém Condições Modificadoras da Ação Referente ao Veneno:
alguns inseticidas, gases de guerra podem ser absorvidos pela pele
íntegra. Dose
As substâncias só agem a partir de uma determinada quanti-
B) Mucosas.Aparelho digestivo (gástrica, intestinal, retal) dade que é calculada por quilo de peso.Dependendo da dose, uma
Aparelho respiratório substância poderá ser alimento, medicamento ou veneno.Potássio,
Ocular por exemplo, é alimento, medicamento, porém se injetado na veia
Nasal rapidamente e em quantidade grande causará a morte.A própria
Genito urinária água quando ingerida em grande quantidade como acontece com
alguns doentes mentais, causará distúrbios eletrolíticos; será vene-
C) Serosas. no.
D) Tecido celular subcutâneo.
E) Via muscular. Forma de Administração
F) Via sanguínea. Quanto mais solúvel, mais eficaz sua ação.Para ser absorvida e
ser eficaz, a substância deve ser solúvel ou tornar-se solúvel.
Eliminação dos Venenos
Absorvida a substância cai na corrente sanguínea, em tempo Associação com Outras Substâncias ou Veículos
variável, de acordo com a substância e a via de introdução (mais Esta associação poderá diminuir ou aumentar a ação do vene-
rápida por via sanguínea e respiratória que por via oral e cutânea), no.Associação de cianeto de potássio com ácido, fósforo com gor-
distribuindo-se por todo o organismo, sendo metabolizada princi- dura aumentam a ação dos venenos.Cianeto com açúcar tem sua
palmente no fígado, fixando-se nos órgãos, de acordo com as afini- ação diminuída.
dades da substância com os diversos componentes do organismo. Via de Penetração
Por exemplo: álcool com grande afinidade pela água concentra-se Tem grande importância a via de penetração do veneno.Cura-
mais no sangue e no liquor; fósforo com grande afinidade pela gor- re, veneno de cobra, por via oral são inativos. Estricnina, tártaro
dura é encontrado na medula óssea, embora suas ações possam se hemético têm sua ação aumentada por via oral.
fazer seletivamente em outros órgãos, dependendo aí das altera-
ções que provoquem nas funções destes.Serão então eliminados Com Relação ao Indivíduo
na forma da própria substância ou então transformados. Idade
Como principais vias de eliminação, temos: De um modo geral, as idades extremas são mais sensíveis aos
A) Aparelho digestivo: venenos (criança e velhos).As crianças são mais sensíveis aos opiá-
vômito – (mercúrio,cobre) ceos, porém são mais resistentes à atorpina.
diarréia – (mercúrio, cobre)
bile – (cobre, arsênico, mercúrio)

54
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Estado de saúde b) quando é verificada compressão mecânica das vias aéreas;
Doenças hepáticas, renais, pulmonares que prejudicarão a me- c) quando há alterações na dinâmica respiratória (compressão
tabolização ou a eliminação ou a eliminação do veneno aumentará do tórax, pneumotórax, derrames pleurais, paralisias diafragmáti-
a ação do veneno. cas); e
d) quando há dificuldade nas trocas gasosas alveolares (EAP,
Tolerância silicoses e esclerose pulmonar).
Algumas pessoas têm resistência a determinadas por uso repe- Em tais situações, é verificada oxigenação insuficiente do san-
tido da substância.Viciados em morfinas fazem uso de dose muitas gue nos pulmões.
vezes maior que a dose letal para as pessoas não habituadas ao
2. Anoxia anêmica: é verificada quando há diminuição qualita-
seu uso.
tiva e/ou quantitativa de hemoglobina (e. G. intoxicação pelo CO2
ou venenos meta-hemoglobinizantes, nas anemias crônicas ou nas
Idiossincrasia
grandes hemorragias). Nesses casos, há diminuição da capacidade
Do mesmo modo que uma pessoa pode ter sua resistência au- de oxigenação do sangue.
mentada, poderá tê-la diminuída.21
3. Anoxia de circulação e de estase: derivada de alterações
ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA que afetam a pequena e grande circulação (e. G. Insuficiência circu-
latória periférica, embolia das artérias pulmonares e coarctação da
A palavra “asfixia” é derivada da palavra grega asphyxia, que aorta). Desta forma, ocorrem transtornos circulatórios que dificul-
significa “sem pulso” (a + sphyxia), pois anteriormente acreditava- tam ou inviabilizam a chegada de sangue oxigenado aos capilares.
-se que nas artérias circulava o pneuma. No entanto, atualmente a
asfixia é entendida como a supressão ou retardamento da circula- 4. Anoxia tissular ou histotóxica: surge quando da queda da
ção do sangue. tensão diferencial arteriovenosa de oxigênio ou quando ocorre a
O termo acima mencionado refere-se à situação na qual o ho- inibição de enzimas oxidantes celulares, como nos casos de intoxi-
mem é sujeito a energias físico-químicas que impedem a passagem cações pelo ácido cianídrico e/ou pelo hidrogênio sulfurado. Ocor-
de ar nas vias aéreas, causando alteração na função respiratória, de rem em tais situações mecanismos tóxicos que impedem o aprovei-
forma a inibir a hematose, podendo levar à óbito o indivíduo. tamento de oxigênio pelos tecidos.
O oxigênio chega aos tecidos por meio dos mecanismos, de
acordo com a sequência abaixo: Evolução das asfixias:
1) Ventilação pulmonar; Na evolução das asfixias podem ocorrer 2 tipos de anoxias: (i)
2) Hemoglobina; com acapnéia (sem acúmulo de gás carbônico); ou com hipercap-
3) Circulação; e neia (com a presença de gás carbônico). Na primeira hipótese são
3) Trocas gasosas. englobadas as asfixias mecânicas e no segundo o mal das monta-
nhas.
Asfixiologia: Na anoxia com acapneia, há a perda de CO2 derivado do au-
Entende-se por Asfixologia, de acordo com entendimento mé- mento da frequência respiratória, o que torna o sangue mais alca-
dico-legal, como a síndrome causada pela ausência de oxigênio no lino. Pode-se verificar transtornos psíquicos, sensoriais, motores e
com frequência hiper-reflexia. É produzido poliglobulia e irritabili-
ar, em diversas circunstâncias, derivado de impedimento por causa
dade dos centros nervosos, ainda com a consciência mantida. Pos-
fortuita, violenta e externa.
teriormente, a respiração é diminuída até que em um momento há
Desta forma, quando a asfixia é verificada, o oxigênio contido
o aumento da pressão arterial e a diminuição dos batimentos, sur-
nos pulmões é consumido, de forma que o gás carbônico é acumu-
gindo os espasmos musculares, convulsões e inconsciência. Depois
lado. disso, há depressão dos centros nervosos, parada da respiração, co-
lapso vascular, vasodilatação profunda, relaxamento vascular, arre-
Fisiopatologia e Sintomatologia: flexia e morte aparente de 3 (três) minutos, até sobrevir a morte.
As síndromes hipoxêmicas ou anoxêmicas podem ter causas Na anoxia com hipercapnéia, os efeitos iniciais diferem-se da
externas ou internas. anoxia com acapnéia, mas os momentos finais são semelhantes.
Verifica-se que as asfixias mecânicas ocorrem mais frequente- Isto se explica em razão da hipercapnéia atuar sobre os centros ner-
mente por causas externas. Entretanto, é válido mencionar que por vosos, o que aumenta as reações próprias da anoxia, principalmen-
diversas situações as trocas gasosas são obstadas em virtude de di- te no que se refere à taquicardia e a pressão arterial, bem como
ficuldade de oxigenação em órgãos distintos dos respiratórios, tais as convulsões tônico-clônicas oriundas da ação excitadora do gás
como o tecido, sangue ou nervos, o que gera uma asfixia derivada carbônico. Nesta forma de asfixia, consome-se o oxigênio existente
de causa interna. nos pulmões e no sangue, ao mesmo tempo em que o CO2 progres-
Conforme verificado acima, o oxigênio chega aos tecidos por sivamente se acumula.
meio da ventilação pulmonar, hemoglobina, circulação e trocas ga- Com todas essas alterações fisiológicas, é possível se estabele-
sosas. Cada mecanismo poderá ocasionar anoxia diferente, confor- cer um cronograma, estabelecendo-se suas diversas fases da asfixia
me abaixo: com o aparecimento das manifestações clínicas:

1. Anoxia de ventilação ou anoxica: 1ª fase


Pode ocorrer nas seguintes hipóteses: Fase cerebral
a) quando há diminuição da concentração de ar no ambiente, Surgimento de enjoos, vertigens, sensação de angústia e lipo-
de forma que a hemoglobina do sangue arterial atinge nível de con- timias. Em cerca de um minuto e meio, ocorre a perda do conheci-
centração baixo; mento de forma brusca e rápida, surgindo bradipnéia taquisfigmia.
21 Fonte: www.juridicohightech.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
2ª fase Equimoses da pelé e das mucosas:
Fase de excitação cortical e medular Arredondadas e de pequenas dimensões, formando agrupa-
Caracterizada convulsões generalizadas e contração dos mús- mentos em determinadas regiões, principalmente na face, no tórax
culos respiratórios e faciais, além de relaxamento dos esfíncteres e pescoço, tomando tonalidade mais escura nas áreas de declive.
com emissão de matéria fecal e urina devido aos movimentos pe- As equimoses das mucosas são encontradas mais frequentemente
ristálticos do intestino e da bexiga. Há também a presença de bra- na conjuntiva palpebral e ocular, nos lábios e, mais raramente, na
dicardia e aumento da pressão arterial. mucosa nasal.

3ª fase Fenômenos cadavéricos:


Fase respiratória Livores de decúbito mais extensos, escuros e precoces. O es-
Verifica-se lentidão e superficialidade dos movimentos respira- friamento do cadáver se verifica em proporção mais lenta; a rigidez
tórios e insuficiência ventricular direita, o que contribui para acele- cadavérica, ainda que mais lenta, mostra-se intensa e prolongada e
rar o processo de morte. a putrefação é muito mais precoce mais acelerada que nas demais
causas de morte.
4ª fase Cogumelo de espuma:
Fase cardíaca Formado por uma bola de finas bolhas de espuma que cobre a
sofrimento do miocárdio, quando os batimentos do coração boca e as narinas que continua pelas vias aéreas inferiores.
são lentos, arrítmicos e quase imperceptíveis ao pulso, embora
possam persistir por algum tempo até a parada dos ventrículos em Projeção da língua e exoftalmia:
diástole e somente as aurículas continuam com alguma contração, Verificados comumente nas asfixias mecânicas. No entanto,
mas incapazes de impulsionar o sangue. podem ser verificados os sinais em cadáveres por causa diversa.

Características Gerais das Asfixias Mecânicas: Afogamento:


Características que podem originar um diagnóstico se verifica- Modalidade de asfixia mecânica, originada pela entrada de um
das em conjunto. No entanto, os sinais verificados não são constan- meio líquido ou semi-líquido nas vias respiratórias, impedindo a
tes, tampouco patognomônico. Em outras palavras, as caracterís- passagem do ar até os pulmões.
ticas são abundantes e variáveis, sendo divididas de acordo com a
situação, em internas e externas. Fisiopatologia e sintomas:
A morte por afogamento geralmente passa por 3 fases:
Sinais internos: (I) fase de defesa (dividida em dois períodos: o de surpresa e
Equimoses viscerais (ou Manchas de Tardieu): o de dispneia);
Equimoses puntiformes dos pulmões e do coração. São peque- (II) fase de resistência (caracterizada pela parada dos movi-
nas e localizam-se geralmente sobre a pleura visceral, no pericár- mentos respiratórios como mecanismo de defesa); e
dio, no pericrânio e, em crianças, no timo. São manchas de tonali- (III) fase de exaustão (término da resistência pela exaustão e
dade violácea, de número variável, esparsas ou em aglomerações. início de inspiração profunda e do processo de asfixia, com perda
São mais comuns na infância e na adolescência. de consciência, insensibilidade e morte). Tourdes descreve 3 perío-
dos no afogamento experimental em animais:
Aspectos do sangue: 1) Período de resistência ou de dispnéia:
Tonalidade do sangue negra, exceto quando a morte se deu Após uma inspiração de surpresa, retém, energicamente a
por monóxido de carbono, na qual a tonalidade será acarminado. respiração, procurando ao mesmo tempo defender-se, enquanto
Não é encontrado no coração coágulos cruóricos (negros) ou fibri- a consciência permanece lúcida, conservando os movimentos re-
nosos (brancos) e a fluidez, embora de alto valor do diagnóstico, flexos.
não constitui sinal patognomônico. 2) Período de grandes inspirações e convulsões:
É caracterizado por uma série de inspirações profundas com
Congestão polivisceral: penetração violenta de líquidos nos pulmões e perda da consciên-
Os órgãos que se apresentam mais congestos são o fígado e o cia.
mesentério, sendo que o baço, na maioria das vezes, se mostra com 3) Período de morte aparente:
pouco sangue devido as suas contrações durante a asfixia (Sinal de Ausência da respiração e dos reflexos, perda da sensibilidade;
Étienne Martin). o coração permanece batendo até surgir à morte real.

Distensão e edema dos pulmões: Sinais cadavéricos do afogado:


Presença de quantidade relativa de sangue líquido espumoso
nos pulmões. A) Sinais externos:
1.Pelé anserina: ocorre com a contração dos músculos eretores
Sinais externos: dos pêlos, tornando os folículos salientes, devido à rigidez cadavé-
rica;
Manchas de hipóstase: 2.Retração do mamilo, do pênis e do saco escrotal;
Precoces, abundantes e de tonalidade escura, variando essa 3.Temperatura baixa da pelé: os corpos dos afogados têm a
tonalidade, nas asfixias por monóxido de carbono. temperatura diminuída rapidamente, devido ao equilíbrio térmico
no meio líquido;
Congestão da face: 4.Maceração da epiderme: localizam-se principalmente nas
Sinal constante e frequente em tipos especiais de asfixia, espe- mãos e nos pés, destacando-se como se fossem verdadeiros dedos
cialmente na compressão torácica, ocasionando a máscara equimó- de luva, inclusive desprendendo-se das unhas;
tica da face, por estase mecânica da veia cava superior.

56
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
5.Tonalidade mais clara dos livores cadavéricos: atingem tona- Diagnóstico do afogamento: há três ocasiões no afogamento
lidade rósea; que se tornam importantes num estudo médico-legal. Primeira-
6.Erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sob as mente, se a morte ocorreu por afogamento típico, se foi de modo
unhas: ocorre pela resistência do indivíduo ao se debater no plano natural ou violenta. Depois, se o indivíduo morreu dentro da água
mais profundo da água; ou se o cadáver foi colocado no meio líquido para simular um afo-
7.Mancha verde de putrefação: localiza-se na parte inferior do gamento.
pescoço;
8.Equimose da face das conjuntivas: a região ocular recebe to- Local do afogamento: Nem sempre o local de onde é retirado
nalidade avermelhada; o cadáver corresponde ao local onde se verificou o afogamento.
9.Lesões post mortem produzidas por animais aquáticos: Isso dependerá de um estudo maior, que dependerá, principalmen-
ocorre devido ao tempo que o cadáver permanece em ambiente te, das correntes aquáticas.
aquático;
10.Embebição cadavérica: os tecidos ficam mergulhados, difi- Cronologia do afogamento: É muito importante saber o tem-
cultando a desidratação. po de permanência do cadáver dentro da água e sua transforma-
ção após a morte. Isso é feito analisando o estado de maceração e
B) Sinais internos: do estágio de putrefação cadavérica, levando-se em conta que nos
1.Presença de líquido nas vias respiratórias; afogados esses processos são sempre mais rápidos.
2.Presença de corpos estranhos no líquido das vias respirató- Enforcamento:
rias dos afogados macro e microscópicos; O enforcamento é uma modalidade de asfixia mecânica que se
3.Diluição do sangue: esse fenômeno é devido à entrada de caracteriza pela interrupção do ar atmosférico até as vias respira-
água no sistema circulatório; tórias, em decorrência da constrição do pescoço por um laço fixo,
4.Lesões dos pulmões: os pulmões podem encontrar-se au- agindo o peso do próprio corpo da vitima como força ativa. É mais
mentados, crepitantes e distendidos, e com enfisema aquoso e comum em suicídios, entretanto nada impede ocorrer acidentes,
equimoses subpleurais; ou até mesmo homicídio. A morte pode ocorrer por oclusão da tra-
5.Presença de líquidos no ouvido médio; quéia, por compressão dos vasos do pescoço, por estimulação do
6.Presença de líquidos no sistema digestivo: encontra-se no es- pneumogástrico, por inibição nervosa ou por herniação bulba.
tômago e nas primeiras alças do intestino delgado, sob a forma de
conteúdo espumoso; Modo de Execução:
7.Hemorragia etmoidal: zona azulada no compartimento ante- Deve-se considerar: a natureza e disposição do laço, o ponto
rior da base do crânio de cada lado; de inserção superior e o ponto de suspensão do corpo.
8.Hemorragia temporal: zona azulada na face ântero-superior O laço que aperta do pescoço pode ser de várias naturezas; e
da parte petrosa do osso temporal; podemos classificá-los de acordo com sua consistência: os chama-
9.Exame radiológico: mostra a opacidade dos seios maxilares, dos laços moles, constituídos por lençóis, cortinas e gravatas; os
chamados laços duros, constituídos por cordões, cordas, e fios de
como prova de reação vital.
arame; e os chamados semirrígidos, como os cintos de couro. Sua
10.Exame histológico: do pulmão do afogado.
disposição é sempre em torno do pescoço, sendo mais frequente
11.Sinais gerais de asfixia: congestão polivisceral, equimoses
a presença de uma única volta, porém existem casos onde são en-
nos músculos do pescoço e do tórax.
contradas várias voltas. A posição é sempre na parte posterior ou
12.Laboratório: existem exames laboratoriais considerados in-
lateral e, muito raramente o nó pode assumir uma posição anterior
dispensáveis no estudo do afogado. A princípio no caso de cadáver
do pescoço.
putrefeito ou desconhecido, no sentido de descobrir uma identifi-
São múltiplos os locais que servem como ponto de apoio para
cação. Depois, os chamados exames específicos, com o propósito
prender o laço, desde telhados, ramos de árvores, trinco de portas,
de diagnosticar o próprio afogamento, do tipo de líquido e, quando entre outros.
possível, também, o local onde se verificou o afogamento; Chama-se de suspensão típica ou completa aquela em que o
corpo fica totalmente sem tocar em qualquer ponto de apoio; e
Putrefação e flutuação dos afogados: o cadáver que é retirado suspensão atípica ou incompleta, quando se apoia parcialmente os
da água sofre com o ar, uma aceleração do processo putrefativo. pés, joelhos, ou qualquer outra parte do corpo.
Numa primeira fase, em virtude da densidade do corpo ser maior
que a do líquido de imersão, a tendência do cadáver é ir para o Evolução:
fundo. Numa segunda fase, com o aparecimento dos gases da pu- As lesões por enforcamento dependerão da gravidade, que po-
trefação, o cadáver flutuará. Numa terceira fase, com a rotura dos dem ser classificadas como lesão local ou à distância, que determi-
tecidos moles e o esvaziamento dos gases, a densidade do corpo nará a velocidade da morte por enforcamento.
volta a prevalecer sobre a da água e ocorre a segunda imersão. Fi- De acordo a evolução da lesão surgem fenômenos apresenta-
nalmente numa quarta fase, com a diminuição do peso específico dos durante o enforcamento:
do corpo, o cadáver voltará a superfície, ocorrendo a segunda flu-
tuação. - Período Inicial – Começa com o corpo, abandonado e sob
ação de seu próprio peso, levando a constrição do pescoço, zum-
Causas jurídicas de morte no afogamento: Em muitas oportu- bidos, sensações luminosas na vista, sensação de calor e perda da
nidades, a tarefa de determinar se o afogamento foi causado por consciência produzida pela interrupção da circulação cerebral.
homicídio, suicídio ou acidente passa a ser o mais importante. Essa
é uma questão que nem sempre pode ser respondida pelos legistas,
mas sim pela perícia criminal, junto das provas obtidas durante a
investigação.

57
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- Período intermediário – Caracteriza-se por convulsões e ex- ·Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas punctiformes ao
citação do corpo proveniente dos fenômenos respiratórios, pela fundo do sulco.
impossibilidade de entrada e saída de ar, diminuindo o oxigênio (hi- ·Sinal de Azevedo-Neves: livores punctiformes por cima e por
poxemia) e aumentando o gás carbônico (hipercapnéia). Associa-se baixo das bordas do sulco.
a esses fenômenos a pressão do feixe vásculo-nervoso do pescoço, ·Sinal de Bonnet: marca de trama no laço
comprimindo o nervo vago. ·Sinal de Ambroise Paré: pele enrugada e escoriada no fundo
do sulco.
- Período final: Surgem sinais de morte aparente ate o apare- ·Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco.
cimento da morte real, com cessação da respiração da circulação. ·Sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e violácea.

Fenômenos da sobrevivência: Existem casos de pessoas que Não confundir o sulco dos enforcados com o sulco natural do
ao serem retiradas ainda com vida, morrem depois sem voltar à pescoço das crianças, com sulcos produzidos pela gravata, com os
consciência devido ao grande sofrimento cerebral. Ou ainda que, sulcos patológicos, com o sulco dos adultos obesos e com os sulcos
mesmo recobrando a consciência, tornam-se fatais algum tempo artificiais causados pelo laço das gravatas apertadas.
depois. Por fim existem os que sobrevivem acompanhados de uma
ou outra desordem. Tais manifestações podem ser locais ou gerais: Sinais Internos:
Locais: O sulco, tumefeito e violáceo, escoriando ou lesando Os sinais internos existem em grande número, e podem ser di-
profundamente a pelé. Dor, afasia e disfagia relativas à compressão vididos em:
dos órgãos cervicais e congestão dos pulmões. 1) Sinais Locais
Gerais: São referentes aos fenômenos asfíxicos e circulatórios, ·Lesões dos vasos: incidem sobre as artérias. Excepcionalmente
levando, às vezes, ao coma, amnésia, perturbações psíquicas, liga- podem incidir sobre as veias. O Sinal de Amussat, constituído da
das a confusão mental e à depressão; paralisia da bexiga, do reto secção transversal da túnica íntima da artéria carótida, é comum
e da uretra. nas proximidades de sua bifurcação. Essas roturas podem ser úni-
cas ou múltiplas, superficiais ou profundas, visíveis a olho nu ou
Tempo necessário para morte no enforcamento: Será variável não. São mais encontradas nos laços finos e duros. O referido sinal
de indivíduo para indivíduo. A morte pode ser rápida, por inibição, é mais encontrado na artéria do lado oposto do nó.
ou demorar cerca de 5 a 10 minutos. ·Lesões na parte profundada pelé e da tela subcutânea do pes-
coço: caracterizada por sufusões hemorrágicas da parte profunda
Aspecto do cadáver: A posição da cabeça se mostra voltada da pelé e da tela subcutânea. Essas alterações são mais frequentes
para o lado contrário do nó, tocando o tórax. A face pode apre- e intensas no lado contrário ao nó.
sentar-se branca ou arroxeada (variando de acordo com o grau de ·Lesões da coluna vertebral: nos casos de queda brusca do cor-
compressão vascular), e equimoses palpebrais. Pode se verificar a po, podem surgir fraturas ou luxações de vértebras cervicais.
presença de líquido ou sangue pela boca e narinas. A língua é cia- ·Lesões do aparelho laríngeo: fratura das cartilagens tireóide e
nótica e sempre projetada além das arcadas dentárias e os olhos cricóide, e fratura do osso hióide.
protusos. No enforcamento completo, os membros inferiores estão
suspensos e os superiores, colados ao corpo, com os punhos cerra- 2) Sinais a Distância
dos mais ou menos fortemente. Na forma incompleta os membros São encontrados das asfixias em geral, como congestão poli-
assumem as mais variadas posições. visceral, sangue fluido e escuro, pulmões distendidos, equimoses
A rigidez cadavérica é mais tardia no enforcamento. As man- viscerais e espuma sanguinolenta na traquéia e nos brônquios.
chas de hipóstase se apresentam na metade inferior do corpo com
maior intensidade nas extremidades dos membros, surgindo tam- Mecanismos da morte por enforcamento:
bém equimoses post mortem. Devido ao tempo de suspensão e a Morte por asfixia mecânica: naturalmente, é levado a pensar
fluidez do sangue, podem-se observar as áreas manchas de hipós- que a ação do laço no pescoço interrompe a passagem de ar res-
tases as chamadas púrpurashipostásticas, as quais podem ser con- pirável aos pulmões. Porém existem argumentos que fogem a esse
fundidas com petéquias hemorrágicas. princípio:
1) Nos cadáveres enforcados, nem sempre se encontram as le-
Sinais Externos: A maior evidência está no sulco do pescoço, sões típicas de asfixia;
de suma importância no diagnóstico do enforcamento. Estão pre- 2) A constrição do laço não se manifesta exatamente sobre a
sentes em todos os casos, exceto nas suspensões de curta duração, traquéia e a laringe, e sim muito mais acima.
nos laços excessivamente moles ou quando é introduzido, entre o 3) Certas observações experimentais demonstram que mesmo
laço e o pescoço, um corpo mole. Na maioria das vezes, sulco é úni- os animais traqueostomizados e, por conseguinte, com passagem
co, podendo, no entanto, apresentar-se duplo, triplo ou múltiplo de ar livre, morrem invariavelmente por enforcamento. Então pen-
quando esse laço envolve várias vezes o pescoço. O sulco situa-se samos que se o indivíduo morre por asfixia mecânica no enforca-
na posição superior do pescoço, mais alta do que o ponto onde mento, não é precisamente por constrição da laringe e da traquéia,
fixou primeiro laço, para depois deslizar até o ponto de apoio da e sim por outro mecanismo de asfixia, como obstrução das vias res-
cabeça, dirigindo em sentido do nó, obliquamente, de baixo para piratórias pelo rechaçamento da base da língua para cima e para
cima e de diante para trás (sulco típico). Quanto mais delgado o trás, por ação do próprio laço sobre a parede posterior da laringe.
laço mais profundo o sulco, levando-se em consideração, ainda, o Morte por obstrução da circulação: Interrupção da circulação
tempo de permanência do corpo sob a ação do laço. venosa pela constrição do laço no pescoço contribui apenas no fe-
nômeno da constrição da face. Sem dúvidas o mais importante é a
Sinais encontrados nos sulcos dos enforcados: obstrução da passagem de sangue arterial pelas carótidas, acarre-
·Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco. tando em perturbações cerebrais pela anóxia.
·Sinal de Ponsold: livores cadavéricos em placas, por cima e por
baixo das bordas do sulco.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Morte por inibição devido à compressão dos elementos nervo- d) Lesões das artérias carótidas: Manifestadas macroscopica-
sos do pescoço: O laço exerce pressão sobre o feixe vásculo-ner- mente quase sempre em ambos os lados, na túnica íntima, pelos
voso do pescoço. Principalmente o nervo vago. Isso de demonstra sinais de Amussat e Lesser (roturas transversais) e, na túnica adven-
basicamente nos casos de sobrevivência nos quais se manifestam tícia, pelos sinais de Friedberg (infiltração hemorrágica) e de Étien-
sinais laríngeos ou manifestações cardíacas e respiratórias observa- ne Martin (rotura transversal). Pelas mesmas razoes alegadas para
das pela compressão daquele nervo ou dos seios carotídeos. os tecidos moles do pescoço, essas lesões arteriais têm, em quase
todas às vezes, a mesma intensidade e se colocam numa mesma
Estrangulamento altura.
No estrangulamento, a morte se dá pela constrição do pescoço
por um laço acionado por uma força estranha, obstruindo a pas- Fisiopatologia: Na morte por estrangulamento, três são os fa-
sagem de ar aos pulmões, interrompendo a circulação do sangue tores que interferem:
ao encéfalo e comprimindo os nervos do pescoço. Nesse tipo de
morte, ao contrario do enforcamento, o corpo da vitima atua passi- 1.Compressão dos vasos do pescoço: Compromete mais inten-
vamente e a força constritiva do laço age de forma ativa. samente as veias jugulares que as artérias carótidas, e estas menos
O acidente e o suicídio nesta modalidade são raríssimos. Mais que as artérias vertebrais, fazendo com que o sangue do segmento
comum é o estrangulamento-homicidio, principalmente quando a cefálico fique bloqueado.
vítima é inferior em forças ou é tomada de surpresa. Constitui uma
forma não muito rara de infanticídio. 2.Compressão dos nervos do pescoço: tem influência mais de-
Sintomatologia: No estrangulamento, os sintomas são varia- cisiva na morte por estrangulamento, cujo mecanismo mais bem
dos conforme a sua maneira: lenta, violenta ou contínua. Normal- explicado é a inibição.
mente, o estrangulamento passa por três períodos: resistência,
perda da consciência e convulsões, asfixia e morte aparente. De- 3.Asfixia: Resulta da interrupção da passagem do ar atmosfé-
pois, surge a morte real. rico ate os pulmões pela constrição do pescoço comprimindo a la-
ringe. Na morte por estrangulamento, a asfixia é mais decisiva que
Sinais: no enforcamento, principalmente devido à posição do laço. Expe-
riências demonstram que a traquéia se oblitera com uma pressão
A) Sinais externos: de 25kg.
1) Aspecto da face e do pescoço: A face no estrangulamento
geralmente se mostra tumefeita e violácea devido à obstrução qua- Enforcamento / Estrangulamento
se sempre completa da circulação venosa e arterial; os lábios e as Força
orelhas arroxeados, podendo surgir espuma rósea ou sanguinolen- - para cima
ta das narinas e boca. A língua se projeta alem das arcadas den- - variável
tarias e é extremamente escura. Dos meatos acústicos externos,
poderá fluir sangue. Equimoses de pequenas dimensões na face, Sulco
nas conjuntivas, pescoço e face anterior do tórax. - acima da laringe
2) Sulco: Quanto mais consistente e duro for o laço, mais cons- - alto
tante é o sulco. Pode ser único, duplo ou múltiplo. A direção é di- - interrompido no nó
ferente do enforcamento, pois se apresenta no sentido horizontal, - pergaminhado
podendo, no entanto, ser ascendente ou descendente, como nos - profundidade variável
casos de homicídio, em que o agente puxa o laço para trás e para - direção oblíqua ascendente
cima. Sua profundidade é uniforme e não há descontinuidade, po- - sobre o laringe
dendo verificar-se a superposição do sulco onde a parte do laço se - baixo
cruza. As bordas são cianóticas e elevadas, e o leito é deprimido e - contínuo
apergaminhado. Geralmente o sulco está situado por baixo da car- - não pergaminhado - escoriado
tilagem tireóide. Não é raro se encontrarem nas proximidades do - profundidade uniforme
sulco do estrangulamento rastros ou estrias ungueais. -direção horizontal

B) Sinais internos: Violência


- sem outros sinais
Lesões nos planos profundos do pescoço: - sinais de violência

a) Infiltração hemorrágica dos tecidos moles do pescoço: A tela Fraturas


subcutânea e a musculatura subjacente ao sulco apresentam-se in- - laringe
filtradas por sangue. Essas lesões, quando se trata de estrangula- - hióide
mento, pelo fato de o laço imprimir força de mesma intensidade - lig. Intervertebrais
em torno do pescoço e agir em sentido horizontal, apresentam a - raras
mesma distribuição e altura em todo o perímetro nos planos inter-
nos do pescoço.
b) Lesões da laringe: Podem acarretar lesões nas cartilagens
tireóide e cricóide e no osso hióide.

c) Lesões à distância: Estão representadas pelos sinais clássicos


de asfixia vistos no estudo geral sobre o tema.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Cianose A conceituação da morte é de extremamente dificultosa, assim
- bloqueio carotídeo como, em algumas oportunidades, o diagnóstico da realidade de
- menos comum morte.
- sem bloqueio carotídeo Há 460 a .C., Hipócrates definia o quadro de morte: “Testa
- cianose cérvico-facial enrugada e árida, olhos cavos, nariz saliente cercado de coloração
- congestão meníngica escura, têmporas endurecidas, epiderme seca e lívida, pêlos das
- congestão cerebral narinas e cílios encobertos por uma espécie de poeira, córneas de
- equimose palpebral um branco fosco, pálpebras semi-cerradas e fisionomia nitidamen-
- equimose conjuntival te irreconhecível”. Durante muitos anos definiu-se morte como a
cessação da circulação (morte circulatória) e da respiração (morte
Esganadura respiratória).
É um tipo de asfixia mecânica que se verifica pela constrição Até recentemente aceitava-se conceituar a morte como o ces-
do pescoço pelas mãos, ao obstruir a passagem do ar atmosférico sar total e permanente das funções vitais. Atualmente, este con-
pelas vias respiratórias até os pulmões. É sempre homicida, sendo ceito foi ampliado a partir do conhecimento de que a morte não
impossível a forma suicida ou acidental. é um puro e simples cessar das funções vitais, mas sim uma gama
de processos que se desencadeiam durante um período de tempo,
Sintomatologia: Pela própria dinâmica da esganadura, é difícil comprometendo diferentes órgãos.
precisar exatamente os períodos e o tempo decorrido nestes tipos Atualmente prevalecem dois conceitos de morte: a morte ce-
de morte, que tanto pode ser por asfixia, como por inibição, devido rebral, indicada pela cessação da atividade elétrica do cérebro e a
à compressão dos elementos nervosos do pescoço. A esganadura morte circulatória, indicada por parada cardíaca irreversível às ma-
vem sempre acompanhada de outras lesões, principalmente as nobras de ressuscitação e outras técnicas.
traumáticas, provenientes de outras agressões como ferimentos na A Organização Mundial de Saúde (OMS) define morte como:
região posterior da cabeça, equimoses em redor da boca, escoria- Cessação dos sinais vitais a qualquer tempo após o nascimento
ções nas mãos e nos antebraços, todas elas decorrentes da luta e, sem possibilidade de ressuscitamento. Como a morte se apresenta
por isso, chamadas de lesões de defesa. como um processo (dinâmico) e não como um evento (estático),
quando se coloca a questão: “Quando ocorreu a morte?” a respos-
Fisiopatologia: Na esganadura, interferem, principalmente ta é dada quando se consegue definir o momento em que o proces-
no mecanismo de morte, a asfixia e os fenômenos decorrentes da so de morte atingiu o seu ponto irreversível
compressão nervosa do pescoço. A obliteração vascular é interesse
insignificante. Aqui, tudo faz crer que a asfixia é o principal elemen- Modalidades do Evento Morte:
to responsável pelo êxito letal. - morte anatômica - É o cessamento total e permanente de
Entender a profundidade e complexidade por trás de cada de- todas as grandes funções do organismo entre si e com o meio am-
talhe que passaria despercebido pela maioria das pessoas torna a biente.
figura do médico-legista ainda mais essencial na sociedade. - morte histolôgica - Não sendo a morte um momento, com-
No presente trabalho, inegável alegar que a asfixia pode ser preende-se ser a morte histológica um processo decorrente da an-
considerada um dos processos mais importantes do ponto de vista terior, em que os tecidos e as células dos órgãos e sistemas morrem
da medicina legal. paulatinamente.
Desta forma, foi possível compreender cada fase que o orga- - morte aparente – estados patológicos do organismo simulam
nismo passa nos diferentes tipos de anóxia e, desta forma, encaixá- a morte, podendo durar horas, sendo possível a recuperação pelo
-la em um dos processos mecânicos de asfixia, sejam as produzidas emprego imediato e adequado de socorro médico. O adjetivo “apa-
por confinamento, monóxido de carbono, sufocação, soterramen- rente” nos parece aqui adequadamente aplicado, pois o indivíduo
to, afogamento, enforcamento, estrangulamento e esganadura. assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil per-
Assim, as diversas interpretações são absolutamente funda- sistência da circulação. O estado de morte aparente poderá durar
mentais para esclarecer duvidas e chegar a diversas conclusões horas. É possível a recuperação de indivíduo em estado de morte
essenciais não só legalmente, mas também socialmente, trazen- aparente pelo emprego de socorro médico imediato e adequado.
do inclusive esclarecimentos e conforto à família das vítimas, bem - morte relativa – estado em que ocorre parada efetiva e dura-
como possibilitando traçar o caminho para se chegar até o suspeito dora das funções circulatórias, respiratórias e nervosas, associada
do crime.22 à cianose e palidez marmórea, porém acontecendo a reanimação
com manobras terapêuticas.
- morte intermédia - É admitida apenas por alguns autores.
TANATOLOGIA MÉDICO-LEGAL. TANATOGNOSE E CRO- é a que precede a absoluta e sucede a relativa, como verdadeiro
NOTANATOGNOSE. FENÔMENOS CADAVÉRICOS. NE- estágio inicial da morte definitiva. Experiências fora do corpo são
CROPSIA, NECROSCOPIA. EXUMAÇÃO. “CAUSA MOR- relatadas neste tipo de morte.
TIS”. MORTE NATURAL E MORTE VIOLENTA - morte absoluta ou morte real – estado que se caracteriza pelo
desaparecimento definitivo de toda atividade biológica do organis-
A TANATOLOGIA vem do grego tanathos (morte) tem como raiz mo, podendo-se dizer que parece uma decomposição. Fim da vida
o Indo-europeu dhwen, “dissipar-se, extinguir-se” + logia (estudo), inicio da decomposição.
MORTE: do latim “mors, mortis”, de “mori” (morrer) e CADÁVER:
do latim “caro data vermis” (carne dada aos vermes). Temos então
Tanatologia a área da medicina legal que se ocupa da morte e os
fenômenos a ela relacionados.

22 Fonte: www.marianareina.jusbrasil.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Tanotognose Macroscopicamente, o primeiro sinal de putrefação é o apa-
É a parte da Tanatologia Forense que estuda o diagnóstico da recimento da mancha verde abdominal na região inguinal direita
realidade da morte. Esse diagnóstico será tanto mais difícil quanto (porção direita, inferior do abdome). Tal mancha é originada pela
mais próximo o momento da morte. Antes do surgimento dos fenô- produção bacteriana de hidreto de enxofre que, por sua vez, deter-
menos transformativos do cadáver. Então, o perito observará dois mina a formação de sulfohemoglobina, ou seja, na morte o enxofre
tipos de fenômenos cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais ne- “ocupa” o lugar do oxigênio ou do dióxido de carbono na hemo-
gativos, imediatos e consecutivos, e os transformativos, destrutivos globina.
ou conservadores. A mancha aparece de 16 a 24 horas após a parada cardíaca,
progride para as outras regiões abdominais e depois para o corpo
Fenômenos abióticos ou imediatos ou avitais ou vitais negati- todo, caracterizando a fase cromática da putrefação. Nos afogados
vos a mancha verde pode aparecer no tórax.
Logo após a parada cardíaca e o colapso e morte dos órgãos e Os fenômenos transformativos compreendem os destrutivos
estruturas, como o pulmão e o encéfalo, surgem os sinais abióticos (autólise, putrefação e maceração) e os conservadores (mumifica-
imediatos ou precoces. Tais sinais são considerados de probabilida- ção e saponificação). Resultam de alterações somáticas tardias tão
de, ou seja, indicam a possibilidade de morte e são denominados intensas que a vida se torna absolutamente impossível. São, por-
por alguns autores como período de morte aparente, por outros tanto, sinais de certeza da realidade de morte.
são chamados de morte intermediária. Fenômenos destrutivos
1. perda da consciência; - Autólise
2. abolição do tônus muscular com imobilidade; Após a morte cessam com a circulação as trocas nutritivas in-
3. perda da sensibilidade; tracelulares, determinando lise dos tecidos seguida de acidificação,
4. relaxamento dos esfíncteres; por aumento da concentração iônica de hidrogênio e conseqüente
5. cessação da respiração; diminuição do pH. A vida só é possível em meio neutro; assim, por
6. cessação dos batimentos cardíacos; diminuta que seja a acidez, será a vida impossível, iniciando-se os
7. ausência de pulso; fenômenos intra e extracelulares de decomposição.
8. fácies hipocrática; - Putrefação
9. pálpebras parcialmente cerradas. É uma forma de transformação cadavérica destrutiva, que
se inicia, logo após a autólise, pela ação de micróbios aeróbios,
Fenômenos consecutivos anaeróbios e facultativos em geral, sobre o ceco, porção inicial do
Algum tempo depois aparecem os sinais abióticos mediatos, grosso intestino muito próximo a parede abdominal; o sinal mais
tardios ou consecutivos, indicativos de certeza da morte. Tais sinais precoce da putrefação é a mancha verde abdominal, a qual, pos-
constituem uma tríade – livor, rigor e algor –, ou seja, alterações teriormente, se difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a
de coloração, rigidez e de temperatura, indicativos de certeza da tonalidade verde-enegrecida conferindo ao morto aspecto bastan-
morte (morte real). te escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem exceção;neles
1. resfriamento paulatino do corpo; a putrefação invade o cadáver por todas as cavidades naturais do
2. rigidez cadavérica; corpo, especialmente pelas vias respiratórias.
3. espasmo cadavérico; Na dependência de fatores intrínsecos e de fatores, a marcha
da putrefação, se faz em quatro períodos:
4. manchas de hipóstase e livores cadavéricos;
1.º) Período de coloração - Tonalidade verde-enegrecida dos
5. dessecamento: decréscimo de peso, pergarninhamento da
tegumentos, originada pela combinação do hidrogênio sulfurado
pele e das mucosas dos lábios; modificações dos globos oculares;
nascente com a hemoglobina, formando a sulfometemoglobina,
mancha da esclerótica; turvação da córnea transparente; perda da
surge, em nosso meio, entre 18 e 24 horas após a morte, durando,
tensão do globo ocular; formação da tela viscosa.
em média, 7 dias.
2.°) Período gasoso - Os gases internos da putrefação migram
De modo geral, admite-se em nosso meio o abaixamento da
para a periferia provocando o aparecimento na superfície corporal
temperatura em 0,5°C nas três primeiras horas, depois 1°C por
de flictenas contendo líquido leucocitário hemoglobínico. Confe-
hora, e que o equilíbrio térmico com o meio ambiente se faz em re ao cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco, espe-
torno de 20 horas nas crianças, e de 24 à 26 horas nos adultos. cialmente na face, no tronco, no pênis e bolsas escrotais. A com-
Os livores, alterações de coloração, variam da palidez a man- pressão do útero grávido produz o parto de putrefação. As órbitas
chas vinhosas. São observados nas regiões de declive, devido ao esvaziam-se, a língua exterioriza-se, o pericrânio fica nu. O ânus
acúmulo (deposição) sangüíneo por atração gravitacional. Apare- se entreabre evertendo a mucosa retal. A força viva dos gases de
cem ½ hora após a parada cardíaca, podendo mudar de posição putrefação inflando intensamente o cadáver pode fender a parede
quando ocorrer mudança na posição do corpo. Após 12 horas não abdominal com estalo. O odor característico da putrefação se deve
mudam mais de posição, fenômeno denominado de fixação. ao aparecimento do gás sulfidrico. Esse período dura em média
A rigidez, contratura muscular, tem início na cabeça, uma hora duas semanas.
após a parada cardíaca, progredindo para o pescoço, tronco e ex- 3.°) Período coliquativo - A coliquação é a dissolução pútrida
tremidades, ou seja, de cima para baixo (da cabeça para os pés). O das partes moles do cadáver pela ação conjunta das bactérias e da
relaxamento se faz no mesmo sentido. Tal observação é denomina- fauna necrófaga. O odor é fétido e o corpo perde gradativamente
da Lei de Nysten. O tempo de evolução é variável. a sua forma. Pode durar um ou vários meses, terminando pela es-
queletização.
Fenômenos Transformativos
Microscopicamente, horas após a parada cardíaca, ocorre um
processo de auto-destruição celular denominado autólise, caracte-
rizada por auto-digestão determinada por enzimas presentes nos
lisossomos, uma das organelas citoplasmáticas.

61
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
4.º) Período de esqueletização - A ação do meio ambiente e A saponificação atinge comumente segmentos limitados do
da fauna cadavérica destrói os resíduos tissulares, inclusive os liga- cadáver; pode, entretanto, raramente, comprometê-lo em sua to-
mentos articulares, expondo os ossos e deixando-os completamen- talidade. Tal processo, embora factível de individualidade, habitu-
te livres de seus próprios ligamentos, os cabelos e os dentes resis- almente se manifesta em cadáveres inumados coletivamente em
tem muito tempo à destruição. Os ossos também resistem anos a valas comuns de grandes dimensões.
fio, porém terminam por perder progressivamente a sua estrutura
habitual, tornando-se mais leves e frágeis. - Outros tipos
São conhecidos outros fenômenos conservativos como:
- Maceração - Refrigeração: em ambientes muito frios.
Ocorre quando os restos mortais ficam imersos em meio líqui- - Corificação: desidratação tegumentar com aspecto de couro
do, sendo caracterizada por putrefação atípica, enrugamento teci- submetido a tratamento industrial.
dual e exsangüinação (saída do sangue pela pele desnuda). - Fossilização: fenômeno conservativo de longa duração.
São conhecidas duas formas: - Petrificação: substituição progressiva das estruturas biológi-
·Séptica: mais comum, ocorre geralmente nos corpos que per- cas por minerais, dando um aspecto de pedra com manutenção da
manecem, após a morte, em lagos, rios e mares. morfologia dos restos mortais.
·Asséptica: observada na morte e permanência do feto intra-
-útero. Tipos de Morte
É um fenômeno de transformação destrutiva em que a pele do Quanto ao modo, as mortes são classificadas em naturais, vio-
cadáver, que se encontra em meio contaminado, se torna enruga- lentas ou suspeitas. Alguns autores incluem outros tipos, como a
da e amolecida e facilmente destacável em grandes retalhos, com morte reflexa (“congestão”), determinada por mecanismo inibitó-
diminuição de consistência inicial, achatamento do ventre e libera- rio, como nos casos de afogados brancos, estudados em Asfixiolo-
gia. As mortes violentas são divididas em acidentais, homicidas e
ção dos ossos de suas partes de sustentação, dando a impressão de
suicidas.
estarem soltos; ocorre quando o cadáver ficou imerso em líquido,
como os afogados, feto retido no útero materno.
Quanto ao tempo, as mortes são classificadas em:
Compreende três graus: no primeiro grau, a maceração está
- Súbita: aquela que não é precedida de nenhum quadro, que
representada pelo surgimento lento, nos três primeiros dias, de é inesperada.
flictenas contendo serosidade sanguinolenta. No segundo grau, a - Agônica: aquela precedida de período de sobrevida. Neste
ruptura das flictenas confere ao líquido amniótico cor vermelho- item cabe lembrar das situações de sobrevivência, em que o indiví-
-pardacenta, e a separação da pele de quase toda a superfície cor- duo realiza atos conscientes e elaborados no período de sobrevida;
poral, a partir do oitavo dia, dá ao feto aspecto sanguinolento. No por exemplo, após ter sido atingido mortalmente com um tiro no
terceiro grau, destaca-se o couro cabeludo, à maneira de escalpo, coração, o indivíduo tem tempo para reagir e ferir ou matar o de-
do submerso ou do feto retido intrauterinamente, e, em torno do safeto; ou então o suicida que, após ter dado um tiro na cabeça,
15.° dia post mortem, os ossos da abóbada craniana cavalgam uns escreve bilhete de despedida (situações não usuais, mas possíveis).
sobre os outros, os ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna O diagnóstico diferencial entre as formas “súbita” e “agônica”
vertebral torna-se mais flexível e, no feto morto, a coluna adquire é possível com provas especiais, denominadas docimásticas, que
acentuada cifose, pela pressão uterina. estudam as células, tecidos e substâncias presentes no organismo,
como glicogênio e adrenalina.
Fenômenos conservadores Nas mortes naturais, regra geral, o médico deverá fornecer
- Mumificação “Declaração de Óbito”, documento que contém o Atestado de Óbi-
É a dessecação, natural ou artificial, do cadáver. Há de ser rápi- to e que originará a Certidão de Óbito.
da e acentuada a desidratação. Nas mortes naturais, sem diagnóstico da causa básica (doença
A mumificação natural ocorre no cadáver insepulto, em regiões ou evento que deu início à cadeia de eventos que culminou com a
de clima quente e seco e de arejamento intensivo suficiente para morte), há necessidade de autópsia pelos Serviços de Verificação
impedir ação microbiana, provocadora dos fenômenos putrefatí- de Óbitos e, nas mortes violentas, as autópsias devem ser realiza-
vos. Assim podem ser encontradas múmias naturais, sem caixão. das pelos Institutos Médico-Legais.
A mumificação por processo artificial foi praticada historicamente
pelos egípcios e pelos incas, por embalsamamento, após intensa - Morte natural
dessecação corporal. É aquela que sobrevém por causas patológicas ou doenças,
As múmias têm aspecto característico: peso corporal reduzido como malformação na vida uterina.
em até 70%, pele de tonalidade cinzenta-escura, coriácea, resso-
- Morte suspeita
ando à percussão, rosto com vagos traços fisionômicos e unhas e
É aquela que ocorre em pessoas de aparente boa saúde, de
dentes conservados.
forma inesperada, sem causa evidente e com sinais de violência de-
finidos ou indefinidos, deixando dúvida quanto à natureza jurídica,
- Saponificação daí a necessidade da perícia e investigação.
É um processo transformativo de conservação em que o cadá-
ver adquire consistência untuosa, mole, como o sabão ou cera (adi- - Morte súbita
pocera), às vezes quebradiça, e tonalidade amarelo-escura, exalan- É aquela que acontece de forma inesperada e imprevista, em
do odor de queijo rançoso; as condições exigidas para o surgimento segundos ou minutos.
da saponificação cadavérica são: solo argiloso e úmido, que permi-
te a embebição e dificulta, sobremaneira, a aeração, e um estágio
regularmente avançado de putrefação.

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- Morte agônica Cristais do sangue putrefato
É aquela em que a extinção desarmônica das funções vitais São os chamados cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde, lâ-
ocorre em tempo longo e neste caso, os livores hipostáticos for- minas cristalóides muito frágeis, entrecruzadas e agrupadas, inco-
mam-se mais lentamente. lores, que adquirem coloração azul pelo ferrocianeto de potássio, e
castanha, pelo iodo, passíveis de ser encontradas a partir do 3.° dia
- Morte reflexa no sangue putrefato.
É aquela em que se faz presente a tensão emocional, ou seja,
uma irritação nervosa (excitação) de origem externa, exercida em Fauna cadavérica
certas regiões, provoca, por via reflexa, a parada definitiva das fun- O seu estudo em relação ao cadáver exposto ao ar livre tem
ções circulatórias e respiratórias. relativo valor conclusivo na determinação da tanatocronognose,
embora os obreiros ou legionários da morte surjam, com certa se-
Cronotanatognose qüência e regularidade, nas diferentes fases putrefativas adianta-
É a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da das do cadáver, as turmas precedentes preparando terreno para as
morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos, não obedecendo ao legiões sucessoras, representadas por um grupo de oito.
rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os dife- São elas:
rentes corpos e com a causa mortis e influência de fatores extrín- 1ª Legião: aparece entre o 8.º e o 15.º dia;
secos, como as condições do terreno e da temperatura e umidade 2ª Legião: surge com o odor cadavérico, cerca de 15 à 20 dias;
ambiental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte 3ª Legião: aparece 3 a 6 meses após a morte;
tão exatamente quanto possível, porém não com certeza absoluta. 4ª Legião: encontrada 10 meses após o óbito;
O seu estudo importa no que diz respeito à responsabilidade cri- 5ª Legião: é encontrada nos cadáveres dos que morreram há
minal e aos processos civis ligados à sobrevivência e de interesse mais de 10 meses;
sucessório. A cronotanatognose baseia-se num conjunto de fenô- 6ª Legião: desseca todos os humores que ainda restam no ca-
menos, a saber: dáver, 10 à 12 meses;
Resfriamento do cadáver 7ª Legião: aparece entre 1 e 2 anos e destrói os ligamentos e
Em nosso meio é de 0,5°e nas três primeiras horas; a seguir, tendões deixando os ossos livres.
o decréscimo de temperatura é de 1°e por hora, até o restabeleci- 8ª Legião: consome, cerca de 3 anos após a morte, todos os
mento do equilíbrio térmico com o meio ambiente. resquícios orgânicos porventura deixados pelas precedentes.23
Rigidez cadavérica Premoriência
Pode manifestar-se tardia ou precocemente. Segundo Nys- Há situações que podem ser identificadas como a perda do
ten-Sommer, ocorre obedecendo à seguinte ordem: na face, nuca direito sucessório, um delas é a chamada premoriência, ou seja,
e mandíbula, 1 a 2 horas; nos músculos tóraco-abdominais, 2 a 4 a morte do herdeiro antos do falecimento do autor da herança,
horas; nos membros superiores, 4 a 6 horas; nos membros infe- exemplo, morrendo o filho antes do pai, não há que se falar em
riores, 6 a 8 horas post mortem. A rigidez cadavérica desaparece direito sucessório, pois o pré-morto esta excluído da sucessão.
progressivamente seguindo a mesma ordem de seu aparecimento, Segundo Maria Berenice, na sucessão legítima, somente os
cedendo lugar à flacidez muscular, após 36 a 48 horas de perma- descendentes do herdeiro pré-morto é que herdam, mas por direi-
nência do óbito. to de representação do pré-morto.
Na sucessão testamentária, o falecimento do beneficiado an-
Livores tes do testador não gera direito de representação, o legado caduca.
Podem surgir 30 minutos após a morte, mas surgem habitual- Havendo outros herdeiros instituídos com relação ao mesmo bem,
mente entre 2 a 3 horas, fixando-se definitivamente no período de a morte de um transfere o seu quinhão aos demais, ocorrendo o
8 a 12 horas após a morte. direito de acrescer. Se não houver a nomeação de substitutos, o
quinhão retorna a legítima.
Por fim, a premoriência é o evento determinante da época da
Mancha verde abdominal
morte de uma pessoa, que é anterior a o autor da herança.
Influenciada pela temperatura do meio ambiente, surge entre
18 a 24 horas, estendendo-se progressivainente por todo o corpo
Comoriência
do 3.° ao 5.° dia após a morte
Quando acontece o falecimento, no mesmo evento de dois
ou mais parentes ou de pessoas vinculadas por liame sucessório,
Gases de putrefação
a falta de precisão sobre o momento da morte de cada um pode
O gás sulfidrico, surge entre 9 a 12 horas após o óbito. Da mes-
trazer sérias complicações e dificultar a transmissão da herança aos
ma forma que a mancha verde abdominal, significa putrefação.
herdeiros.
A comoriência é a presunção de morte simultânea entre duas
Decréscimo de peso ou mais pessoas.
Tem valor relativo por sofrer importantes variações determina- De acordo com Maria Berenice, não havendo a possibilidade
das pelo próprio corpo ou pelo meio ambiente. Aceita-se, no entan- de saber quem é o herdeiro de quem, a lei presume que a mor-
to, nos recém-natos e nas crianças uma perda em geral de 8g/kg de te ocorreu simultaneamente, desaparecendo o vínculo sucessório
peso nas primeiras 24 horas após o falecimento. entre ambos, assim, um não herda do outro e os bens de cada um
passam aos seus respectivos herdeiros.
Crioscopia do sangue
O ponto crioscópico ou ponto de congelação do sangue é de
-0,55°C a -0,57°C. A crioscopia tem valor para afirmar a causa ju-
rídica da morte na asfixia-submersão e indicar a natureza do meio
líquido em que ela ocorreu.

23 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Conforme Maria Berenice cita Carvalho dos Santos, sustentado Algumas das alterações do ritmo cardíaco podem ser poten-
que, ocorrendo o falecimentos mesmo de lugares diversos, se exis- cialmente mortais muito rapidamente se não forem prontamente
tir mútuo direito sucessório entre os mortos, não havendo meios revertidas (Ex. fibrilação ventricular). Nestes casos os achados de
de se verificar quem faleceu primeiro, é possível por analogia reco- autópsia são muito escassos, inespecíficos e há uma dificuldade no
nhecer a comoriência.24 diagnóstico.
Principais causas de morte no adulto
Morte Súbita - doença coronária/enfarte
É a morte inesperada que acontece em pessoa considerada - cardiomiopatias
saudável ou tida como tal, e pela forma como ocorre levanta sus- - miocardites
peita de poder tratar-se de uma morte violenta. - aneurisma dissecante da aorta
Na maioria dos casos, no fim da autópsia chega-se à conclusão - arritmias
que estas mortes súbitas são mortes de causa natural, por proces-
sos patológicos mais ou menos insidiosos que nunca levaram a ví- Principais causas de morte súbita com origem no sistema ner-
tima ao médico ou a referenciar queixas objetivas ou subjetivas a voso central :
familiares e amigos. Estes, colhidos pelo inesperado da situação, e - acidentes vasculares
perante a perda de um ente querido, colocam por vezes a hipótese - meningites
de se tratar de uma morte violenta e daí que muitas destas mortes - estado de mal epiléptico
acabem por ser submetidas a autópsia médico-legal.
Infelizmente, muitos médicos, alguns por desconhecimento do Principais causas de morte morte súbita com origem no siste-
conceito médico-legal de morte súbita, outros por um medo atávi- ma respiratório:
co inexplicável de atribuir a causa de morte mais provável face aos - tromboembolia pulmonar
elementos clínicos e circunstânciais disponíveis, acabam por escre- - estado de mal asmático
ver no certificado de óbito “morte súbita de causa indeterminada”. - hemoptise
Todos os dias, os serviços médico-legais são confrontados com - aspiração de corpo estranho
a “morte súbita de causa indeterminada” na sequência de mortes - pneumotórax espontâneo
de indivíduos com antecedentes patológicos relevantes, de doen-
ças crónicas com agudizações potencialmente letais, de doenças Principais causas de morte morte súbita com origem no siste-
neoplásicas em fases terminais, de doenças infecto-contagiosas em ma digestivo:
fase terminal, no decurso de internamentos hospitalares de dias ou - hematemeses (ruptura de varizes esofágicas, úlceras)
semanas por doença de causa natural. - pancreatite aguda necro-hemorrágica
Este tipo de prática, leva a que os serviços médico-legais aca- - peritonite
bem por ser confrontados por uma percentagem de “morte súbita - enfarte intestinal
de causa indeterminada” que ronda os 40% do total das autópsias Principais causas de morte morte súbita com origem no siste-
realizadas, o que como é óbvio não deveria acontecer. ma endócrino
É evidente que a maior parte desta percentagem não corres- - diabetes - bioquímica do humor vítreo ( glicose > 200 mg/dl )
ponde efetivamente à verdadeira situação médico-legal de morte - insuficiência suprarrenal aguda (Sindrome de Waterhouse-
súbita, talvez nem 5% deste total corresponda a casos com verda- -Friederichesen)25
deiro interesse médico-legal.
Morte Suspeita
Questões médico-legais a responder pela autópsia em casos de As mortes de causa suspeita compreendem parte da morte
morte súbita violenta, até que se prove em contrário, trazendo para a sua com-
- causa da morte preensão a dúvida quanto ao nexo causal. Para que exista a suspei-
- morte natural ou violenta ção deve haver uma pergunta: suspeita de quê? Ou seja, para que
- se morte violenta haja a suspeição, há que existir o interesse ativo de quem suspeita,
-- suicídio vinculado a uma justificativa. É o caso do familiar ou de terceiros
-- homicídio que conhecem desvios do contexto social e comportamental do
-- acidente falecido, ou mesmo suspeitam de peculiaridades durante um tra-
tamento médico e até de ação de terceiros. Em qualquer destes
Principais causas de morte súbita por aparelhos e sistemas no casos, o cidadão que protagoniza a suspeição tem a obrigação de
adulto comunicar a uma autoridade policial ou ao Ministério Público, que
Morte súbita com origem no sistema cardio-vascular solicitarão, pelos procedimentos habituais, a perícia médico-legal.
É a causa de morte súbita mais frequente no mundo ocidental. A morte de causa suspeita é bem diferente da morte por causa
Em cerca de 25% dos casos, a morte súbita é a primeira manifesta- desconhecida, mesmo que súbita. Esta é um tipo de morte natu-
ção de doença cardio-vascular. ral que não compõe o rol de possibilidades com natureza jurídica
Normalmente durante a autópsia dispensa-se uma atenção es- para classificação como morte suspeita. A “causa mortis” para ser
pecial ao coração e ao estudo das artérias coronárias. Muitas des- conhecida, merecerá avaliação necroscópica clínica e anátomo-pa-
tas mortes revelam doença coronária de pelo menos dois vasos. tológica para a sua verificação e conclusão, porém nunca uma pe-
Nem sempre o diagnóstico macroscópico de enfarte agudo de rícia médico-legal. A perícia oficial é desnecessária e somente será
miocárdio é fácil (menos de 25% para alguns autores) e até o exame solicitada pela autoridade policial, nestes casos, por intuição oca-
histológico pode não dar grandes informações. sional, por desconhecimento de causa em sua função ou por falta
Dado que o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a de mecanismo administrativo institucional municipal de Serviço de
morte por vezes é muito curto, não permite um conjunto de altera- Verificação de Óbitos.
ções a nível celular que possibilite um diagnóstico histológico.
24 Por Ricardo K. Foitzik 25 Fonte: www.medicina.med.up.pt

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
É importante que todo médico entenda que quando enganado 2) Retração dos tecidos - Os ferimentos incisos e os cortocon-
em sua boa fé, tendo ele exarado a Declaração de Óbito e, após, tundentes mostram as margens afastadas, devido à retração dos
surgir a descoberta de alguma causa violenta, ele, médico, não tecidos, o que não ocorre nos feitos no cadáver, pois neste os mús-
terá culpa por ter sido enganado. Até dentro de hospitais isto pode culos perdem a contratilidade.
acontecer, conforme casos recentemente estampados em notici- 3) Escoriações - A presença de crosta recobrindo as escoriações
ário. significa lesão intra vitam. Dessarte, pergaminhamento da pele es-
O médico, quando responsável pelo paciente que falece, não coriada é sinal seguro de lesão pos mortem.
deverá gratuitamente alegar suspeição distância, ou criar suspeita 4) Equimoses - Sobrevêm de repente no vivo após o traumatis-
sem fundamentação. mo, e se apagam lenta e paulatinamente. No cadáver não ocorrem
Exemplos contumazes podem ser citados: essas contínuas variações de tonalidades cromáticas.
- Médico assiste há muitos meses paciente com doença crônica 5) Reações inflamatórias - Manifestadas pelos quatro sintomas
ou incurável, como neoplasias, vindo o doente a óbito longe das cardinais: dor, tumor, rubor e calor. Desse modo, é a inflamação
vistas do médico, geralmente no domicílio. O médico assistente, importante elemento afirmativo de que a lesão foi produzida bem
conhecedor de todo o histórico do paciente, não poderá se furtar antes da morte.
a fornecer o atestado de óbito, pois se “suspeita” de alguma coisa 6) Embolias - São acidentes cujas principais manifestações de-
tem a obrigação de pessoalmente avisar a autoridade policial do pendem do órgão em que ocorrem. Chama-se embolia à oblitera-
quê suspeita. ção súbita de um vaso, especialmente uma artéria, por coágulo ou
- No mesmo caso, situam-se pacientes de consultório e ambu- por um corpo estranho líquido, sólido ou gasoso, chamado êmbolo.
latório hospitalar ou posto de saúde. Ninguém melhor do que o mé- 7) Consolidação das fraturas - O tempo de consolidação de
dico assistente para formular as hipóteses de “causa mortis”. Não uma fratura varia conforme o osso. Amiúde demanda 1 ou 2 meses.
é porque o paciente não se encontra hospitalizado que o médico 8) O eritema, simples e fugaz afluxo de sangue na pele, e as
poderá classificar a morte como de causa suspeita. flictenas contendo líquido límpido ou citrino, leucócitos, cloreto de
Suspeita de quê ? sódio e albuminas (sinal de Chambert), e o retículo vasculocutâ-
- O paciente chega a um Pronto-Socorro em tempo de serem neo afirmam queimaduras intra vitam. No cadáver não se forma
verificadas as queixas e de se fazer um diagnóstico clínico ou atra- nenhum desses sinais vitais. E as bolhas porventura existentes as-
vés de exames complementares, um infarto agudo do miocárdio, sestam-se em áreas edemaciadas contendo gás e, às vezes, líquido
por exemplo. O médico assistente é o único profissional que poderá desprovido de albuminas e de glóbulos brancos.
9) O cogumelo de espuma traduz fenômeno vital, pois só se
atestar a veracidade dos fatos e é quem deverá fornecer o atestado
forma nos afogados que reagiram à proximidade da morte cedo fo-
de óbito, mesmo que o paciente tenha poucos minutos ou horas
ram retirados do meio líquido.
de hospital. Um infarto do miocárdio recente tem grande proba-
10) A diluição do sangue e a presença de líquido nos pulmões e
bilidade de não ser macroscopicamente observado e ter um fácil
no estômago, nos asfixiados por submersão, de substâncias sólidas
diagnóstico clínico (gráfico mais laboratorial).26 no interior da traquéia e dos brônquios, no soterramento, de fuli-
Diagnose Diferencial Das Lesões “Ante” E “Post Mortem” gem nas vias respiratórias e monóxido de carbono no sangue dos
O legisperito esclarecerá à Justiça se as lesões encontradas fo- que respiraram no foco de incêndio, de aeração pulmonar e conte-
ram causadas: a) bem antes da morte; b) imediatamente antes da údo lácteo no tubo digestivo de recém-nascido são sinais certos de
morte c) logo após a morte; d) certo tempo após a morte. reação vital.27
- Lesões Intra- Vitam- são lesões que ocorrem no corpo huma-
no durante a vida, com características específicas como: infiltração Provas microscópicas
da malha tecidual, coagulação, presença abundante de leucóci- Prova de Verderau: determinação de leucócitos/hemácias no
tos,etc. Reação Vital. foco da lesão e em qualquer uma outra parte do corpo afastada
- Lesões Post- Mortem- são lesões que ocorrem após a morte, dele.
não possuem Reação Vital. Prova histológica: verificação microscópica da presença de um
infiltrado ou exsudato leucocitário em volta de lesão.
As lesões adquiridas quando a pessoa estava viva (in vitam)
devem ser diferenciadas daquelas que adquiridas depois da morte Avaliação histopatológica:
(post mortem), principalmente para estimar a causa da morte. 4-8 horas: infiltração de leucócitos neutrófilos polimorfonucle-
A reação vital será o elemento diferencial entre as lesões intra ares.
vitam e post mortem e consiste em um conjunto de sinais macros- 12 horas: presença de monócitos
cópicos, microscópicos e químicos tissulares (histoquímicos, enzi- 48 horas: máximo de exsudação (em traumatismos assépticos)
máticos e bioquímicos) e que ocorrem somente quando as lesões 30 dia: crescimento epitelial, proliferação de fibroblastos e ne-
forma provocadas com a vítima estando viva e não após a sua mor- oformação vascular (capilares de neoformação).
te (Vanrell, 2007) 40 a 50 dia: aparecimento de fibras colágenas
Utilizando-se como referência Vanrell (2007), resumi-se a se- 70 dia: tecido fibroso cicatricial (nas lesões de pequena exten-
guir os sinais característicos de lesões ante mortem: são).

Prova histoquímicas enzimáticas: aumento de algumas enzi-


Sinais macroscópicos
mas como a fosfatase alcalina, fosfatase ácida, aminopeptidade,
1) Hemorragia - A hemorragia interna proveniente de lesão
esterase e ATP-ase podem auxiliar na estimativa da idade em horas
produzida no vivo aloja-se no interior do corpo sob forma de gran-
da lesão, variando de 1 a 8 horas.
des coleções hemáticas. No morto, a coleção hemática interna é
sempre de reduzidíssima dimensão, ou não existe, e o sangue não
coagula..

26 Fonte: www.portalmedico.org.br 27 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Provas bioquímicas: análise quantitativa da presença de hista- Direitos do indivíduo
mina ou serotonina presentes em traumas teciduais, no entanto, O direito do homem sobre seu cadáver é da mesma nature-
só são reconhecíveis se realizadas até uma hora antes da morte e za que tem sobre seu próprio corpo. Se o homem tem o direito
estão presentes no corpo até 5 dias após a morte.28 de viver conforme suas concepções filosóficas e religiosas, ele tem
também o direito de exigir que suas vontades sejam respeitadas e
executadas após sua morte.
DIREITOS SOBRE O CADÁVER O homem que cede seu cadáver a uma instituição científica é
amparado pela lei e consagrado pelos costumes. Se a questão se
Posse do cadáver passa em termos de cessão, é plenamente aceitável.
A valorização do corpo humano, como reserva de tecidos e de A lei não faz obstáculo. Não impõe que o cadáver seja inuma-
órgãos, não deixa de suscitar certas dificuldades de ordem ética e do nem quando essa inumação seja feita, levando-se em conta a
jurídica pelo fato de que o corpo é, em princípio, inviolável e inalie- doação.
nável. Mesmo assim, tais práticas não podem ser, em nome desta No entanto, é impossível concluir até onde vai a licitude dessa
inviolabilidade, de todo proibidas. cessão, muito embora todo ato deva ser de acordo com o que exige
Cabe, entretanto, uma regulamentação a fim de que se lhes a ordem pública e os bons costumes. Se a vontade do de cujus é
definam as condições operacionais, propiciando-se, destarte, um vinculante no que se refere ao seu testamento, nada mais justo que
caráter de aceitabilidade. o seja também no que se refere à disposição de seu cadáver.
Em primeiro lugar, o consentimento do doador é fundamental.
Mas ele não será por si só suficiente para garantir a licitude dessa Direitos da família
operação porque quem legitima um ato não é apenas a permissão, Teoricamente, nenhum conflito poderá surgir entre a vontade
mas a sua indiscutível e imperiosa necessidade. do morto e a vontade da família, a não ser que esta vontade venha
O cadáver é hoje em dia valorizado pelo progresso das ciências a contrariar a ordem pública ou a moral, ou, ainda, que a família
biológicas. Ele começa a ter uma importância pouco a pouco cres- não tenha condições materiais de executar a última vontade do
cente no mundo dos vivos. Dá-se que, se o cadáver pode ser um morto.
arsenal de órgãos e tecidos de grande valor para o vivo, isto não No entanto, poderá haver conflitos entre os membros da famí-
obriga em um sacrifício aos princípios da inviolabilidade do morto e lia, que, por sua vez, é composta de várias pessoas em graus de pa-
ao respeito que se deve ter à família. rentesco mais ou menos aproximados. Em geral, a prioridade será
O notável progresso das ciências biológicas e o aprimoramen- dada àqueles a quem a lei civil assegura a hierarquia da sucessão.
to vertiginoso da técnica trouxeram uma nova conceituação, no Assim, por exemplo, é muito justo respeitar-se a vontade da
campo social, moral, jurídico e médico, no que se refere ao direito família que nega a doação de órgãos de seu parente morto, mesmo
sobre o cadáver. Esse progresso impõe uma profunda repercussão que essa tenha sido sua manifestação quando vivo. Por isso, a cha-
sobre a ordem jurídica constituída. mada “doação presumida” é inconsequente e arbitrária.
O cadáver tem um estatuto que lhe é próprio, determinado A família jamais poderá ceder o cadáver a uma instituição cien-
pela tradição e pela piedade, baseado no culto dos mortos, muito tífica se esta não era a vontade do morto. Essa regra é absoluta.
antigo, mas ainda atual. Assenta-se essencialmente sobre os valo- Qualquer que seja a sua importância, a necropsia clínica ou
res afetivos que ele representa e não sobre a matéria de que se científica nos casos de morte natural só poderá ser realizada com o
compõe. consentimento da família. Uma necropsia feita fora dos casos pre-
É essencialmente um objeto de piedade e de homenagem. Essa vistos pela lei, ou sem autorização de quem por direito possa dar,
existência material tem uma significação secundária. constitui abuso.
Os valores morais que ela representa são de importância trans- Nas mortes violentas ou suspeitas, já previstas por lei, os peri-
cendente. Daí, uma das razões por que é difícil determinar quando tos nomeados ou oficiais por solicitação da autoridade competente
o corpo humano deixa de existir. só poderão realizar a necropsia após 6 h de verificado o óbito, con-
E é esse material anatômico que começa a despertar um evi- forme estabelece nossa lei processual penal. Isso está justificado
dente interesse, constituindo-se, paulatinamente, em fator de pelo fato de somente após esse prazo começarem a surgir os fe-
grande importância no mundo atual. Seu uso não se restringe ape- nômenos consecutivos, a não ser que a morte esteja devidamente
nas aos fins didáticos, clínicos ou científicos, mas, agora, à finalida- evidenciada.
de terapêutica.
Pertence, em sentido estrito, à família, cabendo de início a pos- Direitos da sociedade
se ao Estado para o cumprimento de normas específicas e, definiti- Para a sociedade, o corpo representa igualmente um valor. O
vamente, aos parentes, embora em qualquer tempo tenha o Poder reconhecimento do direito da família sobre o cadáver, respeitando
Público direitos sobre essa posse. o princípio da piedade, é, em última análise, a proteção dos direitos
O cadáver não pode ser utilizado para fins lucrativos, bem da sociedade em seus interesses superiores.
como não faz parte da sucessão. A necropsia é em si própria de capital importância social no
A família do morto tem deveres e direitos. Tem como dever interesse coletivo do progresso científico ou na determinação da
primordial respeitar e executar a sua vontade, se essa vontade é lí- causa jurídica de morte.
cita, a não ser que ela entre em contradição com a lei. Tem também É necessário, no entanto, que se entenda que o cadáver não é
direitos, mas não pode ultrapassar a norma estatuída. simplesmente matéria inanimada. É, antes de tudo, o que foi um
homem na plena acepção do termo.
Deve ser considerado como integrante da personalidade. Po-
rém, ao lado desse respeito, segue paralelamente um direito novo,
nascido do grande progresso das ciências biológicas, que, conse-
quentemente, trouxe uma nova estruturação na ordem jurídica
constituída.
28 Fonte: www.portaleducacao.com.br

66
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O ideal será que se encontre uma maneira de ajustar o respeito Objetivos periciais
à dignidade do morto, com os interesses da família e da sociedade A perícia em Sexologia Criminal tem um significado muito par-
dentro das normas estabelecidas e dos costumes consagrados. ticular e grave pelos fatos e circunstâncias que ela encerra: tanto
pela complexidade das estruturas estudadas como em face da deli-
cadeza do momento. Por isso, toda prudência é pouca quando dos
SEXOLOGIA MÉDICO-LEGAL. CRIMES CONTRA A DIG- procedimentos periciais e quando da afirmação ou negação da exis-
NIDADE SEXUAL E PROVAS PERICIAIS. GRAVIDEZ, tência das práticas contra a liberdade sexual.
PARTO, PUERPÉRIO, ABORTO, INFANTICÍDIO. REPRO- Além disso, o laudo deve ser redigido em uma linguagem cla-
DUÇÃO ASSISTIDA. TRANSTORNOS DA SEXUALIDADE ra, objetiva, inteligível e simples, sem a presunção das tipificações
E DA IDENTIDADE SEXUAL penais, mas de modo a permitir àqueles que venham a analisá-lo
condições de uma compreensão fácil sobre o fato que se quer apu-
Sexologia Médico-legal rar. Cabe, dessa maneira, descrever minuciosamente as lesões e as
Em Sexologia médico-legal vê-se a sexualidade do ponto de vis- particularidades ali encontradas, ajudando a entender o que de in-
ta normal, anormal e criminoso. Sexologia criminal, também cha- sondável e misterioso existe nelas, não só em relação à quantidade
mada de Sexologia forense, é a parte da Medicina Legal que trata e à qualidade do dano, mas também como o modo ou a ação pela
das questões médico-biológicas e periciais ligadas aos delitos con- qual foram produzidas.
tra a dignidade e a liberdade sexual. Desse modo, não se pode aceitar pura e simplesmente a no-
A violência sexual não é apenas uma agressão ao corpo, à sexu- minação do achado, mas em que elementos e alterações funda-
alidade e à liberdade do homem ou da mulher, mas acima de tudo mentou-se o perito para fazer a afirmação ou a negação de uma
uma agressão à própria cidadania. Apesar de tudo que já se disse conjunção carnal, por exemplo. Só assim o laudo alcançará seu ver-
sobre essa violação à liberdade sexual e de todas as propostas em dadeiro destino: o de apontar com clareza à autoridade julgadora,
favor de penas mais severas para seus autores, fica a amarga sen- no momento de valorizar a prova, as condições para o seu melhor
sação de que pouco se fez até agora. entendimento.
Hoje a tendência é ampliar seu conceito para além do ato ou da Para se terem as necessárias condições de exercer tal ativida-
tentativa de uma prática sexual, incluindo também as insinuações, de legispericial, é preciso não apenas que o exame se verifique em
os comentários e as divulgações de caráter sexual, desde que de local recatado, em respeito à dignidade e à privacidade de quem se
forma coativa ou constrangedora. examina, mas ainda em ambiente com condições de higiene e de
Vendo sob a ótica da saúde pública, a OMS definiu a violência fácil e tranquila visualização dos possíveis achados periciais, sendo
sexual como “o uso intencional da força ou o poder físico, de fato recomendável que o exame seja feito em mesas ginecológicas com
ou como ameaça, contra uma pessoa ou um grupo ou comunidade, suporte para os pés e, sempre que possível, com a presença de fa-
que cause ou tenha possibilidade de causar lesões, morte, danos miliares adultos ou pessoa de confiança da vítima ou de enfermei-
psicológicos, transtornos do desenvolvimento ou privações”. ras, a não ser que a presença delas possa inibir a vítima de contar
A violência sexual é um fenômeno universal que atinge todas os detalhes necessários à investigação dos fatos.
as classes sociais, culturas, religiões e etnias e tem conotações Resta evidente, portanto, que a função do perito, em casos
muito próximas dos demais delitos, em seus aspectos etiológicos dessa ordem, é descrever minuciosamente as lesões e as particula-
e estatísticos, em que se sobrelevem no conjunto de suas causas ridades, quando existentes, explorando bem as características que
os fatores socioeconômicos. O êxodo que favorece o crescimento elas encerram e respondendo com clareza aos quesitos formulados.
populacional da periferia das grandes cidades, o desemprego, o uso Por outro lado, em face da gravidade que cerca algumas das in-
de drogas, o alcoolismo, a influência dos meios de comunicação, a frações que resultam de tais exames, exige-se que o indicado para
falta de justiça e a insegurança são os elementos que fomentam e essa perícia médico-legal seja alguém não apenas com habilitação
fazem crescer esses tipos de crimes. legal e profissional em medicina, mas que tenha também a capa-
As maiores vítimas dessa violência são exatamente as frações citação e a experiência necessárias no trato dessas questões, pois
mais desprotegidas da sociedade: as mulheres e as crianças. E o para tanto não se exigem apenas o título de médico, mas educação
estupro é a forma de violência sexual mais comum. médico-legal, conhecimento da legislação que rege a matéria, no-
Por outro lado, o registro crimino gráfico da violência sexual e ção clara da maneira como deverá responder aos quesitos e prática
seu conteúdo perverso projetam-se além da expectativa mais alar- na redação de laudo.
mista. Verifica-se nos dias que correm uma prevalência delinquen- Diga-se também, que, em exames desse jaez, não se devem
cial que extrapola os índices tolerados e as feições convencionais. usar expressões de sentido dúbio ou vago nem utilizar palavras
Uma criminalidade diferente, anômala e muito estranha na sua inúteis e imprecisas, pois, se assim o fizer, o laudo, além de não
maneira de agir e na insensata motivação. Esses tipos de delitos, permitir uma decisão exata, só servirá para criar dúvidas e confusão
mesmo com seus vestígios bem evidentes, são deixados sem re- em quem julga.
paração porque a vítima quando criança não é capaz de entender
o caráter da ofensa, ou ciente se cala por medo, vergonha ou por Reprodução assistida
culpa de seus responsáveis. Entende-se por reprodução assistida (RA) o conjunto de pro-
Muito mais que antes, esses tipos de delitos se tornam muito cedimentos que contribui na resolução dos problemas da infertili-
frequentes e ameaçadores, e impõe-se a necessidade de investir dade humana, facilitando assim o processo de procriação quando
cada vez mais na contribuição técnica e científica como fator de outras terapêuticas ou condutas tenham sido ineficazes para a so-
excelência da prova, assim como no aprimoramento dos quadros lução e obtenção da gravidez desejada.
periciais. Não havia uma denominação satisfatória para essa técnica:
Torna-se imperioso que se amplie e melhore a qualidade das fertilização artificial, fecundação artificial, fecundação por meios
perícias médico-legais, pois só assim os elementos constitutivos do artificiais, impregnação artificial, concepção artificial, semeadura
corpo de delito terão seu destino ligado ao interesse da justiça. Não artificial, inseminação artificial, fecundação in vitro, ou fertilização
há outra forma de avaliar um fato de origem criminal que não seja matrimonial. Hoje, a expressão mais aceita é reprodução assistida
através da análise da prova. (RA).

67
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A reprodução assistida tecnicamente pode ser realizada por Se este instinto se equilibra dentro dos padrões de normali-
métodos de fecundação interna, por transferência transabdomi- dade, teremos o ideal. Todavia, vez por outra, surgem distúrbios,
nal, intrauterina e intra-abdominal de gametos, fecundação in vitro transtornos, perversões e alterações da identidade sexual capazes
com transferência uterina de ovo fecundado, com doação de óvulo, de comprometer a segurança das pessoas e o equilíbrio da socieda-
com doação de embrião e transferência de embriões congelados, de. Isto nada tem a ver com a preferência sexual como é o caso da
podendo essas técnicas ser efetivadas de forma homóloga (mate- homossexualidade.
rial do marido) ou heteróloga (material de doador). A sexualidade é sempre um assunto que, ao ser tratado, im-
A reprodução assistida pode adotar duas modalidades com- põe certo cuidado. Ultimamente vem-se notando uma irrefreável
pletamente distintas em seus aspectos morais, filosóficos, sociais, inflação dessa forma de literatura, cujo interesse é atrair os menos
jurídicos e religiosos: avisados a veredas da sexomania e do erotismo. Tem sido comum
1. a reprodução assistida intraconjugal, homóloga ou autorre- falar de sexo a qualquer pretexto, ou até sem pretexto algum, utili-
produção; zando-se falsos conceitos científicos ou escamoteados por propósi-
2. a reprodução assistida extraconjugal, heteróloga ou heteror- tos pouco recomendáveis.
reprodução. No relacionamento sexual nos homens e nas mulheres, não
A reprodução assistida homóloga é plenamente aceita e não existe apenas a satisfação da posse carnal. Há, isto sim, uma com-
fere os princípios da Moral e do Direito. Essa prática, feita em uma pensação afetiva que ultrapassa a simples exigência instintivo-ma-
mulher com o sêmen de seu próprio esposo, em casos de infertili- terial e que oferece significações maiores.
dade matrimonial, é hoje plenamente admitida. O perigo está no fato de que a juventude, ávida de inovações,
A reprodução assistida heteróloga envolve várias pessoas ao impregnada de sexo e erotismo, possa deixar-se arrastar por uma
mesmo tempo, cujas funções, responsabilidades, direitos e reações ideologia sexual, definida por alguns como forma de realização,
temos que avaliar com todo cuidado a fim de darmos uma definição mas que, na maioria das vezes, leva-os a terríveis frustrações.
mais precisa. Essas pessoas são: a mulher, o esposo (quando exis- Assim, transtornos da sexualidade são distúrbios qualitativos
te), o médico, o doador, a esposa do doador (quando existe), o filho ou quantitativos do instinto sexual, fantasias ou comportamento
que venha a nascer e a sociedade (pessoa moral). recorrente e intenso que ocorrem de forma inabitual, também cha-
Os autores que defendem a heterorreprodução são concordes mados de parafilias, podendo existir como sintoma em uma pertur-
em dois pontos de vista: bação psíquica, como intervenção de fatores orgânicos glandulares
1. A receptora não deve conhecer a identidade do doador; e simplesmente como questão da preferência sexual.
2. o doador não deve conhecer a identidade da receptora.
Isto implica que apenas uma pessoa pode conhecer a identida- Anafrodisia
de de uma e de outro: o médico responsável pela operação, o que É a diminuição ou deteriorização do instinto sexual no homem
faz a eleição do doador, tendo em vista consequências que possam devido, geralmente, a uma doença nervosa ou glandular, podendo
surgir na gravidez e na higidez do novo ser. Assim, toda responsabi- acometer indivíduos jovens e aparentemente sadios, ou como sin-
lidade recai única e exclusivamente na pessoa do operador. toma de pré-impotência.
Além disso, não se pode deixar de cogitar algumas situações Não se pode admitir a normalidade em uma pessoa inteira-
que continuam reclamando uma posição, tais como: mente incapaz ao coito, e sua importância médico-legal está nos
1. o tempo de congelação; casos de anulação de casamento, por defeito físico irremediável,
2. o destino dos embriões excedentes; anterior e desconhecido na época do matrimônio.
3. a condição jurídica do embrião congelado;
4. a natureza jurídica da obrigação na reprodução assistida; Frigidez
5. a comercialização do material genético; Trata-se do distúrbio do instinto sexual que se caracteriza pela
6. a doação do útero. diminuição do apetite sexual na mulher, devido a vaginismo ou do-
enças psíquicas ou glandulares.
Consentimento dos interessados Há uma frigidez temporária, e a mulher só alcança um limiar
O médico deve ter da paciente e de seu esposo ou companhei- sexual máximo em torno dos 25 a 30 anos. É também o mais co-
ro, quando houver, o consentimento, pois esse é o primeiro dever: mum dos distúrbios sexuais, chegando-se até a acreditar não se
o de informação. Esse consentimento deve ser obtido depois das tratar de casos de anomalia.
informações necessárias, em que fiquem bem claras as vantagens Em muitas situações, a culpa cabe ao marido ou aos parceiros,
e desvantagens, assim como os riscos inerentes aos procedimentos que não procuram levar a mulher ao orgasmo, pelo egoísmo da an-
utilizados em uma reprodução assistida. tecipação, acabando por torná-la frígida, ou pela forma desastrosa
Em suma, a exigência que obriga o médico a obter o consen- e violenta dos primeiros coitos, criando um verdadeiro horror ao
timento esclarecido das partes está justificada pelo fato de elas ato sexual. Finalmente, pode ter como causa certas condutas se-
terem o direito de autodeterminar-se no que é suficiente e neces- xuais, como a homossexualidade, cada vez mais insinuante e mais
sário sobre a conduta proposta, não só porque elas querem, mas comum.
porque na opinião do profissional é o melhor para elas.
Tudo isso na medida da compreensão das pessoas envolvidas. Anorgasmia
Deve ficar patente que o médico não as induziu, e se existia ou não É uma disfunção sexual rara e se constitui, como o próprio
um tratamento alternativo. nome sugere, na condição de o homem não alcançar o orgasmo.
Aqui o indivíduo se instrumentaliza para o coito, mas não atinge o
Transtornos da sexualidade e da identidade sexual clímax da relação sexual, não lhe faltando, inclusive, as manifesta-
Faz parte da sexualidade de um indivíduo seu instinto sexual. ções eróticas e o desejo sexual.
Esta qualidade se manifesta pela atração sexual que ele tem por O mais comum nestes casos é o homem perder pouco a pouco
outra pessoa, levando em conta certos valores culturais positivos o interesse pela relação sexual. Esta síndrome não tem por contra-
construídos como um patrimônio durante toda sua existência. ponto a frigidez (feminina), pois esta se caracteriza desde o início
pela perda ou profunda diminuição do apetite sexual.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Erotismo Fetichismo
Manifesta-se pela tendência abusiva dos atos sexuais. No ho- Este transtorno se apresenta como uma fixação sexual por uma
mem, chama-se satiríase e, na mulher, ninfomania. determinada parte do corpo ou por objetos pertencentes à pessoa
Na satiríase, existem a ereção, o ardor sexual e a consumação amada. É próprio desta perturbação o apego aos olhos, mãos, ma-
do ato com ejaculação. Tem sempre uma causa patológica. mas, cabelos, lenços, luvas ou qualquer outro objeto pertencente
Não se deve confundir com priapismo, cuja característica é a ao ente querido.
ereção patológica, contínua, dolorida, sem ejaculação, proveniente Esse objeto deixa de ser uma lembrança para personificar-se e
quase sempre de causas psíquicas. A satiríase é manifestada por tornar-se elemento primordial na excitação do sexo.
ereção quase permanente, repetidas ejaculações e excessivo ardor
genésico, podendo estar ou não acompanhada de delírios e aluci- Travestismo fetichista
nações. Também conhecido como eonismo fetichista ou autoginefília é
A ninfomania ou uteromania pode levar a doente ao crime, ao uma forma de parafilia. É muito mais comum em indivíduos do sexo
escândalo e à prostituição. Há duas formas: uma crônica, menos masculino, adultos e heterossexuais.
perigosa, que se caracteriza por grande exaltação sexual, e outra, Em geral, trata-se de situações em que o portador utiliza diver-
de forma aguda, de prognóstico sombrio, levando à loucura ou à sos tipos de roupas femininas na ocasião da relação sexual.
morte. Muitos complementam tal ritual utilizando maquiagem, ador-
nos e alguns trejeitos do sexo oposto. Fora essas manifestações da
Autoerotismo sexualidade, ele se apresenta e se comporta como heterossexual.
É o transtorno no qual o gozo sexual prescinde da presença
do sexo oposto. É o coito sem parceiro, apenas na contemplação Lubricidade senil
de um retrato, de uma escultura ou na presença de uma pessoa A manifestação sexual exagerada, em idades mais avançadas,
amada. é sempre sinal de perturbações patológicas, como demência senil
Por isso, é chamado de coito psíquico de Hammond, em que ou paralisia geral progressiva. Em geral, a idade da vítima é bem
o erotismo e o orgasmo surgem independentemente de manobras inversa da idade do delinquente.
ou da presença de alguém. Alguns deles podem ser até impotentes, satisfazendo-se ape-
nas em ver e apalpar as partes sexuais, principalmente de crianças.
Erotomania Ou na satisfação de relatar em detalhes as cenas eróticas.
É uma forma de erotismo extremamente mórbida. O indivíduo E o mais triste e desolador é saber que essa lubricidade cos-
é levado por uma ideia fixa de amor e tudo nele gira em torno desta tuma surgir em pessoas cuja longa existência foi proba, honesta e
paixão, que domina e avassala todos os seus instantes. É a hipérbo- correta.
le do amor platônico.
Quase sempre é casto e virgem e, muito raramente, a eroto- Pluralismo
mania surge como sintoma isolado. Também chamado de troilismo. Manifesta-se pela prática se-
xual em que participam três ou mais pessoas. Os franceses cha-
Frotteurismo mam-no de ménage à trois, e, no Brasil, é conhecido vulgarmente
Esta modalidade de desvio da sexualidade, não muito rara, como “suruba”.
caracteriza-se pela forma como certos indivíduos aproveitam-se Os participantes podem ser em número variado de pessoas,
das aglomerações em transportes públicos ou em outros locais de predominando homens ou mulheres, e as ações se manifestam
ajuntamento humano, com o objetivo de esfregar ou encostar seus desde a prática de cópula vaginal até as últimas das perversões
órgãos genitais, principalmente em mulheres, ou tocar seus seios sexuais. Esses distúrbios traduzem um elevado grau de desajusta-
e genitais, sem que a outra pessoa perceba ou identifique suas in- mento moral e sexual.
tenções.
Swapping
Exibicionismo É uma prática heterossexual que se realiza entre integrantes
Os portadores deste transtorno da preferência sexual são leva- de dois ou mais casais, em que se verifica a troca de parceiros de
dos pela obsessão impulsiva de mostrar seus órgãos genitais, sem forma consentida, havendo inclusive em certos casos o sorteio de
convite para a cópula, apenas por um estranho prazer incontrolá- cômodos onde a mulher aguarda o sorteado.
vel. Uma maneira irresistível e curiosa de satisfação sexual.
Procuram quase sempre os mesmos lugares, em horas certas. Gerontofilia
Chama-se de autagonistofilia o estímulo de ser visto por outras pes- Conhecida também por cronoinversão, ou presbiofilia, a ge-
soas durante o ato sexual. rontofilia é a atração de certos indivíduos ainda jovens por pessoas
de excessiva idade. Na maioria das vezes, são do sexo masculino e
Narcisismo procuram, em ambientes reservados, mulheres velhas para a prá-
É a admiração pelo próprio corpo ou o culto exagerado de sua tica sexual.
própria personalidade e cuja excitação sexual tem como referência
o próprio corpo. Cromoinversão
É a propensão erótica de certos indivíduos por outros de cor
Mixoscopia diferente. Como exemplo, podemos citar os portugueses na sua ir-
Este transtorno da preferência sexual, também conhecido resistível predileção às nossas mulatas.
como escoptofilia, caracteriza-se pelo Isto, dentro de um certo limite, não há o que se considerar
prazer erótico despertado em certos indivíduos em presenciar anormal. O fato constitui gravidade quando se torna obsessivo e
o coito de terceiros. Também proposto como a expressão “teleag- compulsivo.
nia” – volúpia de ver.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Etnoinversão Coprofilia
Não deixa de ser uma variante de cromoinversão e de fetichis- Também chamada escatofilia, é a perversão em que o ato sexu-
mo. A etnoinversão é a manifestação erótica por pessoas de raças al se prende ao ato da defecação ou ao contato das próprias fezes.
diferentes. Os portadores dessa inacreditável aberração costumam rondar
Além de constituir um tipo raro de distúrbio sexual, não se as latrinas públicas pelo prazer de observarem o ato de defecar, o
mostra como problema médico-legal relevante. Nesta forma de que lhes traz profunda excitação.
predileção sexual, não se considera apenas a cor da pele, mas um
conjunto de caracteres somatopsicoculturais que integram deter- Clismafilia
minadas etnias e que se fazem chamativos e atrativos da etnoin- Caracteriza-se esta preferência sexual pelo prazer obtido pelo
versão. indivíduo que introduz ou faz introduzir grande quantidade de água
ou líquidos no reto, sob a forma de enema, lavagem ou clister.
Riparofilia Seu nome vem do grego klisma, que quer dizer clister. É uma
Essa estranha perversão da sexualidade é mais comum no sexo modalidade muito rara nessas preferências mais bizarras.
masculino e se manifesta pela atração de certos indivíduos por mu-
lheres desasseadas, sujas, de baixa condição social e higiênica. Há Coprolalia
homens que preferem manter relações sexuais com mulheres em Esta aberração consiste na necessidade de alguns indivíduos
época da menstruação. em proferir ou ouvir de alguém palavras obscenas a fim de excitá-
Entre tais pervertidos, há aqueles que, mesmo pertencendo às -los. Tais palavras poderão ser ditas antes do coito, no sentido de se
classes sociais privilegiadas, procuram manter relações sexuais com estimularem sexualmente.
os chamados “moradores de rua”. Entre as mulheres, estes casos Outros preferem ouvi-las durante o ato, no intuito de alcan-
são mais raros. çarem o orgasmo. É muito conhecido o sabor mórbido de certas
pessoas em escrever obscenidades em banheiros públicos ou dese-
Dolismo nharem figuras imorais.
Esta expressão é oriunda de um anglicismo (doll = boneca) e
caracteriza-se pela atração que o indivíduo tem por bonecas e ma- Edipismo
nequins, mirando-as ou exibindo-as, ou até mesmo chegando à re- É a tendência ao incesto, isto é, o impulso do ato sexual com
lação sexual com elas. parentes próximos. Pesquisadores da sexologia, chegaram à con-
Em geral, nesta forma de perversão sexual, o indivíduo utiliza a clusão, em seus estudos, de que a relação incestuosa é muito rara,
boneca como fetiche ou se identifica com a figura humana que ela e, quando acontece, o autor ou os autores padecem de profundas
personifica. alterações do caráter, sendo mais comum entre as personalidades
psicopáticas do tipo amoral.
Donjuanismo Bestialismo
Não é uma entidade muito rara. Compõe-se de uma persona- Também chamado zoofilismo, ou coitus bestiarum, é a satis-
lidade que se manifesta compulsivamente às conquistas amorosas, fação sexual com animais domésticos. Indivíduos portadores desta
sempre de maneira ruidosa e exibicionista, que noutra coisa não
aberração muitas vezes são impotentes com mulheres.
reflete senão em uma forma consciente ou inconsciente de auto-
Realizam-se sexualmente com galinhas, patos, cavalos, vacas
afirmação.
ou cabras. É mais frequente no campo, entre os pastores, vaqueiros
Em geral, ocorre no sexo masculino, e as pessoas não têm a
e moços de estrebaria.
virilidade que tentam aparentar, podendo, inclusive, ser hiposse-
xuais.
Onanismo
É o impulso obsessivo à excitação dos órgãos genitais, comum
Travestismo
na puberdade. Atingindo essa obsessão na idade adulta, tem a co-
O travestismo é um transtorno da identidade sexual. Pode
ocorrer entre indivíduos heterossexuais, que se sentem impelidos notação de psicopatia.
a vestir-se com roupas de pessoas do sexo oposto, fato esse que
lhes rende gratificação sexual. Vampirismo
Em geral, nesse tipo de erotopatia, o indivíduo é reservado e Forma rara de transtorno da sexualidade, caracterizando-se
comedido e se traveste de maneira discreta e quase furtiva; muitos pelo modo de satisfação erótica quando na presença de certa quan-
deles, apenas no recato dos seus lares e para satisfação somente tidade de sangue, ou, em algumas vezes, obtida através de morde-
sua. duras na região lateral do pescoço.

Andromimetofilia e ginemimetofilia Necrofilia


É uma forma de parafilia que se caracteriza pela atração que Um dos tipos mais torpes de perversão sexual é a necrofilia.
tem determinado indivíduo do sexo masculino só por mulheres Manifesta-se pela obsessão e impulsão de praticar atos sexuais
vestidas de homem, as quais agem e se representam sexualmente com cadáveres.
como homem, adotando ele o comportamento de mulher. Quando Muitos desses indivíduos chegam a penetrar nos cemitérios e
ocorre o inverso, chama-se ginemimetofilia. violar os corpos retirados dos túmulos. Outros se satisfazem com o
ato de masturbar-se diante do cadáver.
Urolagnia
É o prazer sexual pela excitação de ver alguém no ato da mic- Sadismo
ção ou apenas em ouvir o ruído da urina ou ainda urinando sobre É o desejo e a satisfação sexual realizados com o sofrimento da
a parceira ou esta sobre o parceiro. É também chamado de undi- pessoa amada, exercido pela crueldade do pervertido, indo muitas
nismo. vezes até a morte. Os atrativos e os predicados da outra pessoa não
são bastantes para incitar-lhe o instinto.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
É também chamado algolagnia ativa (algor – dor; lagnea – de- Transexualidade
vassidão). A transexualidade ou síndrome de disforia sexual é aquele que
mais chama a atenção, pela sua complexidade e por seus desafios
Masoquismo às questões sociais e jurídicas. Define-se como uma pseudossíndro-
É o prazer sexual infligido pelo sofrimento físico ou moral. me psiquiátrica, profundamente dramática e desconcertante, na
qual o indivíduo se conduz como se pertencesse ao gênero oposto.
Autoestrangulamento erótico Trata-se, pois, de uma inversão psicossocial, uma aversão e
Também chamado de autoasfixia ou hipoxifilia, o autoestran- uma negação ao sexo de origem, o que leva esses indivíduos a pro-
gulamento tem sido incluído nos tipos de sadismo e masoquismo testarem e insistirem em uma forma de cura por meio da cirurgia
e constitui-se em uma modalidade de transtorno da sexualidade de reversão genital, assumindo, assim, a identidade do seu deseja-
caracterizado pelo prazer obtido por meio da privação do oxigê- do gênero.
nio. São utilizados garrotes, ataduras, sacos de plásticos, máscaras,
compressão torácica e até mesmo certas substâncias químicas à
base de nitritos voláteis, as quais reduzem temporariamente o oxi- PSICOPATOLOGIA MÉDICO-LEGAL. IMPUTABILIDADE
gênio cerebral. PENAL E CAPACIDADE CIVIL. LIMITE E MODIFICADO-
Não é tão rara a morte por acidente nestes tipos de parafilias RES DA RESPONSABILIDADE PENAL E CAPACIDADE
(accidental autoerotic death – AAD) devido principalmente à falta CIVIL. REPERCUSSÕES MÉDICO-LEGAIS DOS DISTÚR-
de controle na administração destas substâncias ou por defeito no BIOS PSÍQUICOS. SIMULAÇÃO, DISSIMULAÇÃO E SU-
funcionamento dos artefatos utilizados. PERSIMULAÇÃO

Pigmalianismo
É o amor desvairado pelas estátuas. É também conhecido Psicopatologia Médico-legal
como agalmatofilia. Psicologia e psiquiatria forense são ramos da Medicina Legal
que estudam os limites e as modificações da responsabilidade pe-
Pedofilia nal e da capacidade civil, bem como os doentes mentais, oligofrê-
Pedofilia, também conhecida como paidofilia, efebofilia ou he- nicos, etc.
befilia, é um transtorno da sexualidade que se caracteriza por uma A Psicologia médico-legal analisa o psiquismo normal e as cau-
predileção sexual primária por crianças ou menores pré-púberes, sas que podem deformar a capacidade de entendimento da teste-
que vai dos atos obscenos até a prática de atentados violentos ao munha, da confissão, do delinquente e da própria vítima. Estuda os
pudor e ao estupro, denotando sempre graves comprometimentos transtornos mentais e da conduta, os problemas da capacidade civil
psíquicos e morais de seus autores. e da responsabilidade penal sob o ponto de vista médico-forense.
Qualquer que seja o modelo político-social, a tendência das so-
Homossexualidade ciedades modernas é orientar o indivíduo nos interesses coletivos
Nota-se, com o passar dos anos, que a homossexualidade dei- e organizar a vida em termos de civilidade e nivelação dos tipos e
xou de ser um transtorno da identidade sexual para se constituir dos modos de viver. Essa integração, no entanto, vem registrando
em mais uma forma de manifestação da sexualidade. Também não um aumento assustador nos conflitos de relação interpessoal e de
se pode dizer que ela seja uma opção sexual. grupos, com seus desajustes e suas contradições, provocando um
Não é mais aceita, como se pensava antes, uma opção da sexu- somatório alarmante de violência e criminalidade.
alidade porque nesta o indivíduo escolheria suas preferências. Na As reações antissociais que hoje espocam em todo o mundo
homossexualidade ele não tem o que escolher porque ele já nasce caracterizam-se pela ausência de motivação compreensível, inopi-
determinado por um conjunto de fatores que o faz se entender e se nadamente violentas, de um vandalismo feroz; organizando-se
realizar sexualmente com pessoas do mesmo sexo. para a maior eficácia quanto ao exercício do mal, às vezes se com-
Esta orientação sexual é inata, determinada biologicamente e pletam pelo saque, pelo abuso sexual, pelas drogas, pelos slogans
antes mesmo do nascimento do indivíduo. Assim, o termo correto de surrado conteúdo político demagógico, em nome da liberdade
para designar a heterossexualidade ou homossexualidade é “prefe- que negam, e em nome da humanidade que lesam e insultam.
rência sexual” ou “orientação sexual”.
Não existe algo mais insondável e misterioso que o fenôme-
Quando feminina, a homossexualidade também pode ser cha-
no criminal. Embora se trate de fatos da própria essência humana,
mada por alguns de safismo, lesbianismo ou tribadismo.
vem de ensejar configurações tão estranhas e complexas que a in-
Há necessidade de que se faça distinção entre a homossexuali-
teligência mais arguta não é capaz de compreender.
dade, intersexualidade, transexualidade e travestismo:
Na homossexualidade existe uma atração entre indivíduos do A história do crime começa com a própria história do homem.
mesmo sexo. Na intersexualidade, ou sexo dúbio, o indivíduo apre- Alguém até já considerou o delito, em determinadas proporções,
senta-se com a genitália externa e/ou interna sem diferença, como como um fato eminentemente social e próprio da convivência co-
se a natureza não tivesse se definido sobre o gênero do indivíduo. letiva.
Na transexualidade, o indivíduo sente-se inconformado com Deve-se entender também que a pessoa humana é dotada
seu estado sexual, o qual geralmente, não admite a prática homos- de um poder de arbítrio, capacitada para determinar-se sobre a
sexual. No travestismo, a pessoa sente-se gratificada com o uso de vontade de sua própria natureza e, sobre isso, uma multidão de
vestes, maneirismos e atitudes do sexo oposto e tende à homosse- fatores biológicos e sociológicos influenciando essa personalidade
xualidade. que pode agir de forma antissocial. Daí, dizer-se que o arbítrio nem
sempre é livre.

71
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Esses fatores crimino genéticos surgem da própria constitui- Optou pelos critérios biológicos e psíquicos de que resultam
ção do indivíduo infrator ou são oriundos do meio em que ele vive, uma incapacidade completa ou incompleta de entendimento. Por
podendo-se afirmar que em toda ação delituosa existiram fatores isso, não basta provar a condição de doente mental ou de portador
que a motivaram, que foram capazes de minar a resistência indi- de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, mas que o
vidual, permitindo que o arbítrio se tornasse cúmplice da conduta agente seja de fato incapaz de compreender o caráter criminoso
antissocial, rompendo o dique repressor das manifestações deliti- do seu gesto ou de determinar-se de acordo com essa forma de
vas do indivíduo. Esse sistema intimidativo está representado pelos entendimento, na época da ação ou da omissão.
fatores crimino-repelentes, entre eles a educação, o sobrenatural A inimputabilidade não pode ser presumida. Terá de ser neces-
e o senso ético, forças capazes de manter o equilíbrio e evitar a sariamente provada, em condições de absoluta certeza. Já a capaci-
explosão delituosa. dade civil é a situação que permite à pessoa adquirir direitos e con-
Para se entender o ser humano, é necessário penetrar nos es- trair obrigações por conta própria, por si mesma, sem necessidade
conderijos de sua mente, invadindo-lhe a intimidade. Quanto mais de um representante legal.
se aprofunda, mais se descobre segredos e conflitos do “eu”, os A capacidade ou faculdade de exercício dos direitos civis deriva
motivos de diferentes reações. da aptidão que tem para dirigir-se na vida todo homem maduro e
são de espírito, por possuir as noções jurídicas que regulam as con-
Imputabilidade penal e capacidade civil vivências sociais, poder aplicar essas regras ao caso concreto que
A lei reputa, para os efeitos da responsabilidade penal e da ca- lhe interessa a ser independente de suas deliberações.
pacidade civil, que possua o indivíduo saúde mental e maturidade
psíquica. A imputabilidade caracteriza uma capacidade de compre- Limite e modificadores da responsabilidade penal e capaci-
ensão e uma vontade de agir. dade civil
A capacidade civil como uma aptidão para gerir sua pessoa e Os mais destacados limites e modificadores biopsicossociais da
seus bens. imputabilidade penal e da capacidade civil são descritos a seguir.
Imputabilidade é a condição de quem é capaz de realizar um
ato com pleno discernimento. É um fato subjetivo, psíquico e abs- Raça
trato. Dificilmente, poder-se-ia considerar raças superiores e raças
Ao cometer uma infração, o indivíduo transforma essa capaci- inferiores. O que existe, na verdade, são grupos raciais privilegiados
dade em um fato concreto. Denomina-se isso imputação. e outros econômica e culturalmente empobrecidos.
Já a responsabilidade é uma consequência de quem tinha ple- Também não se pode sentenciar que existe atualmente, em
no entendimento e deverá pagar por isso. A responsabilidade penal nossa comunidade, compreensão diversa no que diz respeito aos
se traduz na declaração de que um indivíduo é, em concreto, impu- aspectos religiosos, morais, jurídicos e sociais.
tável e efetivamente idôneo para sofrer as consequências jurídico- Dizer que determinadas comunidades brasileiras apresentam
-penais de um delito, como autor ou participante dele, declaração maior incidência criminal entre pessoas de raça negra e querer com
pronunciada pelos órgãos de jurisdição competente. isso justificar a própria raça como fator fundamental da eclosão de
A imputabilidade é o crédito que goza o indivíduo e a responsa- certos delitos é um contrassenso, tendo em vista que a prevalência
bilidade já é conta aberta, é débito legitimamente anotado. É claro delitual entre ela não passa de um estado de marginalização, de
que essa responsabilidade deve ser vista de situação para situação pobreza, de discriminação e de miséria.
e de pessoa para pessoa, levando-se em conta o grau de imputabi-
lidade de cada um. Idade
Portanto, não se deve confundir imputabilidade com responsa- A idade tem um valor significativo tanto no que se refere à im-
bilidade. A primeira é atribuição pericial, através de diagnóstico ou putabilidade, como no que tange à capacidade civil, pelas suas múl-
prognóstico de uma conclusão médico-legal, e a responsabilidade tiplas implicações psicológicas e, diga-se, pedagógicas e biológicas.
penal um fato da competência judicial, o qual será analisado junta- A Lei Penal brasileira rotula os menores de 18 anos como to-
mente com outros dados processuais. talmente imunes à sanção penal, ficando apenas sujeitos às consi-
Em toda responsabilidade há uma imputabilidade, mas nem derações do Estatuto da Criança e do Adolescente. Este Estatuto
todos os imputáveis são legalmente responsáveis por determina- diz que nenhum adolescente (maior de 12 e menor de 18 anos)
das infrações. Uma é capacidade de direito penal e a outra, obriga- será privado de liberdade, senão quando pego em flagrante ou por
ção de responder penalmente. ordem escrita e fundamentada da autoridade pública (artigo 106).
Nossa legislação penal atinente ao aspecto da imputabilidade E em casos de internação em nenhuma hipótese o período má-
assegura que “é isento de pena o agente que, por doença men- ximo de internação será maior do que 3 anos, sendo o adolescente
tal ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao colocado, então, em regime de semiliberdade ou liberdade assisti-
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender da, e cuja liberdade compulsória se dará aos 21 anos (artigo 121).
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse Na faixa etária de 18 a 21 anos, nosso Diploma Legal concede aos
entendimento”; ou, ainda, que “a pena pode ser reduzida de um a infratores atenuação da pena e a regalia de não permanecerem em
dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde men- prisões comuns juntamente com delinquentes adultos.
tal ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não Nenhum menor poderá sofrer ação repressiva, nem muito me-
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de nos ser chamado de criminoso ou delinquente.
determinar-se de acordo com esse entendimento”. Pelo visto, a idade guarda uma relação muito estreita com a
Pelo visto, o legislador pátrio não quis optar pela conceituação imputabilidade, pois o Código Penal brasileiro diz que é isento de
da responsabilidade. Preferiu outra abordagem, através da negati- pena o agente que tem “desenvolvimento mental incompleto”,
va, quando as suas condições não existem. quando inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

72
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
E redução de pena quando o agente por desenvolvimento men- xas, extemporâneas e imprevistas, partindo da premissa de que
tal incompleto não era inteiramente capaz daquele entendimento eles não dispõem dos meios de reação de defesa que se encontram
ou daquela determinação. Depreende-se que nessas idades os in- no indivíduo normal.
divíduos não têm previsão e consciência absoluta do ato praticado. Em eles não poderem ouvir e tendo dificuldades em se fazerem
Todavia, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da entender, logicamente suas noções, suas ideias e seus conhecimen-
Criança e do Adolescente), no seu artigo 104, mesmo admitindo tos são fatalmente prejudicados.
a inimputabilidade dos menores de 18 anos, aponta algumas pro- Pela Lei Civil, os que sofrem dessa deficiência são considera-
vidências, como: advertência, obrigação de reparar o dano, pres- dos incapazes, desde que não possam expressar sua vontade. Ainda
tação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em submete à curatela os privados da capacidade de expressão por si
regime de semiliberdade e internação em estabelecimento educa- mesmos e, depois de pronunciada a interdição do surdo-mudo, o
cional em até 3 anos. juiz assinalará, segundo o desenvolvimento do interdito, os limites
da curatela.
Sexo
O sexo é modificador tanto da responsabilidade penal quan- Hipnotismo
to da capacidade civil. O Estatuto Penal em vigor, no tocante ao Conceitua-se hipnotismo como um estado de sugestão pro-
sexo, alude unicamente ao infanticídio, em que a atenuação da vocado por manobras especiais, fazendo com que os detentores
pena mostra a evidente complacência do Estado, em virtude do as- desse transtorno obedeçam passivamente às ordens recebidas. Os
pecto psicossomático e da pressão social sofrida pela mulher que defensores do transe hipnótico afirmam verificar-se uma verdadei-
mata seu próprio filho, durante ou logo após o parto. Faz alusão, ra transformação da personalidade do hipnotizado. Uma exaltação
também, o nosso Código ao aborto praticado pela gestante ou ao da suscetibilidade sugestiva.
consentimento para que alguém o pratique. Muito se tem discutido sobre a validade científica da ação hip-
Alguns autores admitem que certos estados fisiológicos, como nótica. Alguns propugnadores do hipnotismo explicam-no pela su-
a gravidez, a menstruação e a menopausa, possam influir decidi- gestão, mas que o hipnotizado só fará aquilo que normalmente fa-
ria em plena lucidez, preservando sua própria individualidade, não
damente na capacidade de entendimento e, por isso, interferem
se convertendo em instrumento nas mãos do agente hipnotizador.
como modificadores da responsabilidade penal.
Persistem os motivos de sua própria personalidade.
O que se observa são personalidades neuróticas, com transtor-
Agonia
no dissociativo e simuladoras prestarem-se, em espetáculos públi-
Este estado interessa quase exclusivamente ao prisma civil. A cos ou em reuniões íntimas, a esse tipo de farsa ou comédia.
capacidade de um moribundo não pode ser refutada simplesmente
pelo fato de estar ele em uma situação mais grave, haja vista sua Temperamento
vontade e sua consciência poderem corresponder à normalidade. Entende-se por temperamento o aspecto dinâmico-humoral
Essa circunstância não é só um período de iminência de morte e de da personalidade. É, portanto, diferente do caráter, expressão essa
penoso sofrimento, como se fosse o começo da morte. usada para representar o perfil psicológico da individualidade.
É também um estado que pode prolongar-se por muito tem- O primeiro é de conotação afetivo-ativa e o segundo, afetivo-
po, com interrupção da agonia e períodos de plena lucidez. Tudo -volitiva. É também diferente de personalidade, a qual representa
depende de vários fatores, pessoais e circunstanciais, os quais de- o conjunto psicológico da individualidade humana.
verão ser estudados cuidadosamente. Pode-se dizer que o temperamento seja a forma mais habi-
Há agonizantes que se conservam permanentemente lúcidos tual como alguém aceita, de uma ou outra maneira, as situações
até a morte, dialogando, pedindo, mandando, tratando de inte- ambientais e suas consequências, e como elas se verificam no seu
resses, despedindo-se dos parentes, como se fora fazer uma breve entendimento. É um conjunto de tendências congênitas, de uma
viagem. A Lei Civil permite o casamento in extremis, a doação e o predisposição inicial para sentir e reagir diante da atenuação do
testamento dos que estão agonizando. meio físico e social.
A capacidade civil é sempre presumida. Por isso, qualquer con- Levando-se em consideração que a fórmula humoral produz
testação no sentido de anular um desses atos deve ser bem funda- efeitos sobre o corpo e sobre o temperamento, alguns autores bus-
mentada, não apenas por provas testemunhais, mas, de preferên- cam estabelecer morfologicamente, no indivíduo, certas particula-
cia, pelo depoimento do médico assistente, a quem cabe informar ridades através da Biotipologia.
sobre a natureza e a duração da doença, sobre a conduta e o en- Cegueira
tendimento do paciente, principalmente quanto ao seu estado de Entende-se ser inconcebível a cegueira, por si só, um modica-
lucidez. dor da responsabilidade penal e da capacidade civil, a menos que
Dessa forma, é sempre aconselhável a presença de um pro- ela esteja associada a outra perturbação, privando assim o indi-
fissional da medicina na realização de um testamento dado por víduo de sua capacidade de entendimento. No entanto, há quem
afirme que o cego, pelo fato de estar privado de um órgão sensorial
um moribundo, a fim de avaliar seu estado mental e evitar futuras
da maior importância, fica privado do conhecimento completo do
contestações, mormente quando a doença encerra implicações na
mundo real.
esfera psíquica. A perícia póstuma é sempre dificultosa e temerária.
Principalmente quando essa cegueira é congênita, admitem a
A literatura médico-legal registra inúmeros casos de moribun-
falta de um elemento significativo da imputabilidade.
dos com períodos agônicos e períodos lúcidos.
Prodigalidade
Surdimutismo Pródigo, na doutrina civil, é aquele que dilapida seu patrimônio
O surdo e o mudo congênitos, especialmente, destituídos des- com gastos injustificáveis ou fúteis. O Código Civil em vigor, em seu
sas duas importantes funções, ficam parcialmente limitados de per- artigo 4º, estatui: “São incapazes, relativamente a certos atos, ou à
ceber o mundo de relação. Não se podem desconhecer as reações maneira de os exercer: (…); IV – os pródigos. E, por isso, no artigo
dos surdos-mudos diante de circunstâncias embaraçosas, comple- 1.767, diz que eles “estão sujeitos a curatela.”

73
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Embora alguns transtornos mentais ou comportamentais O modelo médico da normalidade é inaceitável e impróprio,
possam apresentar prodigalidade como sintoma, seu conceito na pois, a se seguir por tal determinação, quase toda a população seria
maioria das vezes é meramente jurídico e não psiquiátrico, pois os mentalmente enferma: os angustiados, os deprimidos, os agressi-
indivíduos que assim agem não apresentam nenhuma sintomatolo- vos, os apáticos e os solitários. Muitas dessas pessoas têm apenas
gia de transtorno mental ou comportamental. problemas existenciais, cuja reparação seria através do afastamen-
to e da adaptação, fazendo com que elas aprendam a modificar
Civilização seus pensamentos, sentimentos e ações.
A civilização é fator fundamental no desenvolvimento cultural, A expressão “doença mental” não se ajusta bem ao que se
contribuindo decididamente na conduta, no caráter, nas ideias e quer atingir, porque se entende como sinônimo de enfermidade da
nos instintos dos indivíduos. É diferente, em regra, o entendimento mente. Não sendo a mente algo material, tecnicamente não admite
do homem das metrópoles com relação aos das pequenas comunas uma doença.
interioranas. A mente não é local do corpo, mas uma atividade, uma função.
Ademais, doença mental não pode ser igual a doença do cérebro.
Repercussões médico-legais dos distúrbios psíquicos Enfermidade do cérebro é, a saber, um tumor, uma esclerose
Os fatos mais hodiernos mostram a necessidade de um novo múltipla, uma neurossífilis. E, na hora em que as enfermidades de-
projeto capaz de conduzir a psiquiatria forense por novos cami- nominadas mentais demonstram doença, os pacientes começam a
nhos. Isso porque, embora as reações antissociais sejam parte da ser transferidos da psiquiatria para outros setores.
própria existência humana, há um açodamento terrível, de propor- O retardo mental para a Pedagogia; a neurossífilis, para a Neu-
ções inimagináveis e de manifestações estranhas exigindo explica- rologia; o delírio das doenças infecciosas, para a Medicina Interna.
ção e remissão. Na verdade, a mente não pode adoecer, assim como o intelecto
O registro criminográfico desse transtorno e seu conteúdo não pode ter um abscesso. Doença é algo que o indivíduo tem,
cruel projetam-se além da expectativa mais alarmista. Verifica-se, comportamento é algo que o indivíduo faz.
nos dias de hoje, uma prevalência delinquencial que extrapola os Segue-se a conceituação clássica, ou seja, a classificação e a
índices tolerados e as feições convencionais. nosologia em uso na Psiquiatria Médico-Legal – ciência que visua-
Um transtorno diferente, anômalo e muito perverso na sua liza o indivíduo em suas estruturas psicocaracterológicas, nas suas
maneira de agir e na sua insensata motivação. Some-se a isso o fato manifestações antissociais, não se limitando só ao aspecto do diag-
de que, hoje, existe um número assustador de novos transtornos nóstico e do assessoramento do Direito, mas ampliando-se como
mentais que não é sabido se já existiam ou se são oriundos destes uma ciência do comportamento, e que procura desvendar os fatos
novos tempos. obscuros da mente e as razões implicativas da criminogênese, além
O pior de tudo é que, por mais que se esforce, não existe uma de avaliar os limites da capacidade civil de cada um; uma Psiquiatria
conceituação adequada de “doença mental”, e a própria definição que procura fugir do aspecto legista, formal e penal, transcendendo
de “normalidade mental” tem sido um tormento, pois não tem pa- ao preventivo e ao reconstrutor da reabilitação social, cuja tendên-
drão absoluto. Ela nunca é igual a si mesma, e ainda que existisse cia não seja a preocupação de aplicar um diagnóstico psiquiátrico a
seria difícil de apontá-la. toda conduta anormal, de forma indiscriminada.
A fronteira entre o “normal” e o “anormal” é tão sutil e fugidia Determinados tecnicismos e fórmulas de terminologia psico-
que seria um risco demarcá-la. Por esse motivo, esta normalidade patológica não podem desaparecer facilmente, ainda mais quando
procurada se aproxima de um mito que se cria para um interesse não se dispõe de conceitos e significações mais precisos.
próprio. As síndromes mais comuns entre os transtornos mentais e do
O conceito de normalidade psíquica é relativo, e não absoluto. comportamento são as seguintes:
Esse estado tem uma conotação que implica fatores sociais, cultu-
rais e estatísticos. Pode-se dizer que a normalidade psíquica é um Esquizofrenias
estado de clarividência centralizado por um ideal excepcional, mas É um transtorno psicótico, de origem endógena, de forma
cujos limites periféricos, indistinguíveis e obscuros, vão-se ofuscan- episódica ou progressiva, de manifestações polimorfas e variadas,
do até a anormalidade. comprometendo o psiquismo na esfera afetivo-instintiva e intelec-
Essa normalidade não pode ser apenas a ausência de enfer- tiva, sobrevindo, quase sempre, na adolescência e sendo de etiolo-
midade mental porque se sabe ainda o que seja doença mental. gia desconhecida. Não se sabe se esse mal é uma entidade clínica,
Daí porque, hoje, preferiu-se a expressão “transtorno mental e de uma síndrome ou um modo existencial.
comportamento” para rotular tais situações. Os transtornos esquizofrênicos caracterizam-se por uma dis-
A normalidade, ainda que não o pareça, não tem padrão, por- torção do pensamento e da percepção e por um afeto inadequado.
que jamais é igual a si mesma e, se bem existe, é impossível de É a mais frequente das psicoses, abrangendo cerca de 50 por cento
concretá-lo. Isso não traduz a sua inexistência, mas a dificuldade de das populações manicomiais.
padronizá-la, ou mesmo conceituá-la. Surgem, na maioria das vezes, entre os 15 e 25 anos, incidindo
Sob o ângulo médico-legal, define-se a então chamada doença igualmente no homem e na mulher. Um terço desses pacientes se
mental como um transtorno geral e persistente das funções psíqui- cura; outro terço se cura com defeito; um terço não se recupera,
cas, cujo caráter patológico é ignorado ou mal compreendido pelo agravando dia a dia seu psiquismo.
paciente e que impede a adaptação lógica e ativa às normas do
meio ambiente, sem proveito para si nem para a sociedade. Transtornos bipolares do humor ou transtornos afetivos
Anormal é o que se afasta da norma, o que está desregrado, É um transtorno mental cíclico, com crises de excitação psico-
e que dificulta ou obsta a adaptação do indivíduo ao meio, tudo o motora e estado depressivo, isoladas, combinadas ou alternadas,
que é contrário à conservação ou ao desenvolvimento ontogênico de intensidade, duração e disposição variáveis, sem maior reper-
e filogenético. cussão sobre a inteligência. Antes era chamado de “psicose manía-
Não existe ainda qualquer conceito satisfatório para doença co-depressiva”, expressão inadequada pois muitos são os pacientes
mental e pouco seria ganho ao definir-se um conceito vago em ter- maníacos ou deprimidos que não são psicóticos.
mos de ausência de outro não muito mais preciso.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Transtornos de personalidade Transtornos do controle dos impulsos
Antes chamados de “personalidades psicopáticas”, hoje são Este tipo de transtorno caracteriza-se por um conjunto de atos
rotulados como portadores de transtornos de personalidade, ou psicomotores e automáticos ou semiautomáticos, instantâneos e
transtorno antissocial da personalidade, ou personalidade disso- explosivos, irrefreáveis e instintivos, revelados de forma súbita e
cial, transtorno dissocial, transtorno psicopático ou sociopatia, pois inesperada. Essa atividade leva ao indivíduo que a pratica um certo
a expressão psicopata não tem mais a mesma conotação de an- grau de prazer ou cessação de tensão.
tigamente, embora continuem ainda as dúvidas por parte dos es- Pode-se dizer que esta modalidade de transtorno está repre-
pecialistas em seu conceito, classificação, prognóstico e aplicações sentada por um leque de entidades residuais e heterogêneas não
forenses. classificadas em outros grupos nosológicos.
Os portadores de transtornos de personalidade são grupos Os transtornos do controle dos impulsos mais conhecidos são
nosológicos que se distinguem por um estado psíquico capaz de os descritos a seguir:
determinar profundas modificações do caráter e do afeto, e para
muitos de etiologia congênita. Não são, essencialmente, personali- → Tricotilomania
dades doentes ou patológicas, por isso seria melhor denominá-las Caracteriza-se pelo ato de arrancar os próprios cabelos e ou-
personalidades anormais, pois seu traço mais marcante é a pertur- tros pelos corporais como sobrancelhas, cílios, pelos axilares e pu-
bação da afetividade e do caráter, enquanto a inteligência se man- bianos de maneira compulsiva e recorrente.
tém normal ou acima do normal. Pode ser realizada por prazer ou por alívio de tensão. Também
As personalidades anormais (não são doentes mentais), dispo- pode ocorrer o arrancamento disfarçado de cabelos de outras pes-
sicionalmente (nada de ambiental influindo; permanente, sempre soas.
assim), caracterizam-se por grave alteração de conduta, fazendo,
desde bem cedo na vida, sofrer os outros. É grande esse contingen- → Dermatotilexomania
te psicopático no mundo criminológico. Forma também recorrente e compulsiva da extração de peque-
Como a grave alteração de conduta lhes é disposicional (consti- nos fragmentos da própria pele a fim de aliviar a tensão ou ter pra-
tucional), significa serem incorrigíveis os psicopatas. Logo, as perso- zer. Esse transtorno do controle dos impulsos é mais raro.
nalidades psicopáticas nascem, vivem e morrem psicopatas.
Não conseguem gratificarem-se dentro da mediania e, sim, → Jogo patológico
fora dela, matando sem remorso, ganhando para matar, trafican- Ato em que o indivíduo participa de jogos de azar e de apostas
do desabrida e pesadamente, estuprando, assaltando friamente, de maneira descontrolada e compulsiva. É também conhecido por
sequestrando, fraudando. Psicopatas há frios e inteligentes que cibomania.
arquitetam planos que se tornam funestos à sociedade em geral. Sua evolução pode ser contínua ou episódica. Muitos afirmam
É comum a conquista a curto ou a curtíssimo prazo, lesando que, neste transtorno, o indivíduo não busca o lucro no jogo, mas
os outros. Nenhum sentimento de culpa ao fazer o mal. Não têm a emoção de jogar. O dinheiro é apenas o caminho para suas emo-
delírios nem alucinações e não perdem o senso da realidade. ções.
As características mais comuns neste tipo de transtorno são:
Transtorno de personalidade borderline intensa preocupação com o jogo, impulso para apostar quantias
Este tipo de transtorno caracteriza-se por um padrão de rela- cada vez maiores para sentir maiores emoções, fracassos nas ten-
tativas de deixar de jogar, irritação com aqueles que querem demo-
cionamento emocional intenso, confuso e desorganizado. Seu traço
vê-lo do ato impulsivo da permanência no jogo e a prática de atos
mais forte é a instabilidade das emoções que se apresenta de ma-
ilícitos para pagamentos das dívidas.
neira variada e injustificada de humor.
Os indivíduos portadores dele procuram explicar seus impulsos
→ Compra compulsiva
com argumentos e justificativas não convincentes. Trata-se de uma
Também conhecida como oniomania e caracteriza-se por uma
patologia muito complexa.
forma recorrente e persistente de fazer compras desnecessárias e,
São chamados de “fronteiriços”, pois eles estão entre um es-
muitas das vezes, sem consumir ou usar o que foi adquirido. Em
tado normal e um quadro psicótico ou de instabilidade do humor,
geral esse transtorno tem passado sem os comentários dos espe-
ou seja, entre a demência e a normalidade. O estado fronteiriço da cialistas que não chegam a considerar como transtorno.
loucura compreende um grande número de pessoas que passam a Mas as observações têm demonstrado que estatisticamente
vida toda próximos desta linha, tanto de um lado como de outro. eles já se mostram bem evidentes e preocupantes. É mais comum
Os portadores desse transtorno têm dificuldade de compreen- entre as mulheres depressivas e ansiosas, e os bens mais adquiridos
der e aceitar as necessidades das outras pessoas. Ficam agressivos são aqueles que têm relação com a aparência pessoal.
e reagem de modo explosivo quando não têm o apoio dos demais,
assumindo comportamento grosseiro e violento. → Explosivos intermitentes
Sentem-se rejeitados, sem apoio e esquecidos. Têm uma labi- Essa forma de transtorno do controle e dos impulsos se ca-
lidade muito rápida do humor, podendo passar da depressão para racteriza por manifestações agressivas, desmotivadas, despropor-
um estado de exaltação e aparente bem-estar. cionais e impulsivas contra pessoas ou contra propriedade própria
Alguns apresentam comportamento autodestrutivo, tentativas ou alheia. Em geral, seus portadores são do sexo masculino e têm
de suicídio, paixões repentinas e desencanto imediato, depressão, trauma de infância.
bulimia e transtornos de ansiedade. Para uns, este descontrole tem caráter hereditário e para ou-
Muitos acreditam que a causa estaria nas reais ou imaginárias tros, é adquirido na convivência familiar. Um episódio de compor-
vivências traumáticas na infância, as quais podem englobar desde tamento agressivo não caracteriza um diagnóstico de transtorno
a separação dos pais até os abusos sexuais. Outros acham que a explosivo intermitente, pois há outros transtornos mentais que
causa está na combinação de muitos fatores e que seria precipitado podem apresentar tal manifestação como, por exemplo, o trans-
atribuir tal fato a uma causa única. torno da personalidade antissocial, o transtorno da personalidade
borderline e o transtorno psicótico.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Narcisistas, obsessivos e paranoides podem apresentar surtos * Demência vascular. Antes chamada de demência arterios-
explosivos de raiva, quando estão submetidos à ação de estresse. clerótica ou demência multi-infarto, é a perda da capacidade cogni-
tiva que se dá por alterações causadas por doenças cerebrovascu-
→ Cleptomania lares, na maioria das vezes de caráter tromboembólico e produção
Falta de controle ou resistência de furtar. Em geral, os objetos de múltiplas zonas de infartos.
furtados são insignificantes e de pouco valor, desnecessários para Tem como origem principalmente a hipertensão arterial com
seu uso e necessidades. seus acidentes vascular cerebral (AVC) e hemorrágico. Pode sur-
Pelo local mais comum dos furtos são chamados de “ladrões de gir também em decorrência da ruptura de aneurisma cerebral, de
lojas” (shoplifters). É muito comum o embaraço causado à família grandes traumas cranianos isolados ou repetidos a exemplo dos
principalmente quando se trata de famílias de certa projeção social causados entre lutadores de boxe.
e econômica. Os indivíduos portadores da demência vascular apresentam
Geralmente, surge na adolescência e ocorre em todas as clas- lapsos mentais devido a distúrbios de memória, preservação da
ses sociais. A razão da prática do ato da cleptomania não está no personalidade, consciência da sua doença até o estágio final, emo-
valor dos objetos subtraídos nem na sua utilidade, mas na gratifica- ções lábeis e pequenos AVCs repetidos.
ção e alívio encontrados no próprio ato de furtar. Às vezes o objeto Sua diferença com a doença de Alzheimer está em que a pro-
nunca chega a ser usado ou consumido. gressão crônica se desenvolve com lentidão e surge quase sempre
As justificativas mais comuns para este impulso seriam a rea- no final da vida.
ção de estresse, a busca inconsciente de satisfação, representação
simbólica de comportamento regressivo e manipulação consciente → Delirium
ou inconsciente. A cleptomania não deve ser confundida com os Caracteriza-se por estado de consciência alterado, com total
atos de roubos e furtos planejados e praticados por motivação e distorção da ideação do seu portador em relação à realidade, o
interesse do uso ou do lucro quando são levados em conta o valor que o faz ter uma convicção errada em relação à média das pes-
e a utilidade do objeto furtado. soas, levando a uma alteração total da sua personalidade e a uma
→ Piromania perturbação do seu comportamento levadas por esta distorcida
Ato caracterizado pelo prazer que o indivíduo tem de produzir convicção. Há também quem admita ser “um estado de confusão
pequenos incêndios, podendo o autor provocar incêndios de gran- mental acompanhado de perturbações da consciência, e distúrbios
des proporções. Os piromaníacos se sentem aliviados ou gratifica- psicomotores e dos padrões de sono-vigília”.
dos com as ações realizadas. Este estado também pode surgir sem etiologia específica. Pode
Têm interesse, fascinação e atração pelo fogo. O comporta- ser motivado pelo uso imoderado de álcool e outras substâncias
mento incendiário se repete algumas vezes e não visa qualquer psicoativas.
interesse financeiro, político, criminoso ou vingativo. É de ocorrên- O diagnóstico do delirium se fundamenta na desorganização
cia rara na população, e é mais comum entre os homens, podendo da consciência. Seu diagnóstico diferencial deve ser feito com uma
surgir em qualquer idade. demência preexistente em progressão.
Apresenta ainda perda acentuada da clareza da consciência e
Transtornos mentais orgânicos pouco domínio sobre a atenção. Alteração da linguagem, memória
Neste grupo estão os indivíduos que apresentam uma série de fraca e perturbação na cognição.
transtornos mentais motivados por disfunções encefálicas identi- Na fase delirante podem ocorrer erros ilusórios e fantásticos
ficáveis, com repercussão nas esferas cognitiva e funcional, geral- quando o paciente vê sair dos papéis de parede figuras alucinantes
mente crônicos, progressivos e de caráter adquirido. Portanto, esse ou objetos que se transformem em outros. Além das mais variadas
tipo de transtorno psiquiátrico tem como responsável uma doença alucinações óticas e auditivas.
alheia ao transtorno diagnosticado. Nas apreciações forenses desse quadro, é muito importante
Estão representados principalmente pelas demências e pelo observar os chamados “estados crepusculares”, que são estados
delirium. letárgicos mais ou menos intensos com compreensão obscura,
retardada da ideação, dificultando o indivíduo em sua orientação
→ Demências através de sensações alucinatórias e delirantes. Esse estado pode
Esse transtorno caracteriza-se por perturbação adquirida e durar horas e até dias.
progressiva da função cognitiva sem alteração do nível de consciên- Ele pode ser hiperativo, com agitação, euforia, alucinações,
cia. A perda cognitiva afeta a memória, a orientação, o juízo crítico, agressividade e verborragia; e hipoativo, com lentidão psicomoto-
as funções habituais, a linguagem, o pensamento, a compreensão, ra, apatia e falta de interesse.
a capacidade de aprender e o julgamento.
Embora a perda da memória seja importante para o diagnósti- Simulação, dissimulação e supersimulação
co desse transtorno há outras intercorrências na relação familiar e
social que devem ser ponderadas quando da avaliação da gravida- Com o advento da instituição das leis de acidente do trabalho,
de deste quadro, entre elas a alteração da personalidade. concedendo certos benefícios, surgem oportunidades em que, para
As causas mais comuns são a doença de Alzheimer, a demência auferir vantagens, alguns indivíduos alegam perturbações inexis-
vascular, a demência associada à doença de Parkinson e algumas tentes, exageram as que existem ou omitem aquelas de que verda-
formas mistas. deiramente eles são portadores, conhecendo-se como simulação,
metassimulação e dissimulação, respectivamente.
* Doença de Alzheimer. Essa forma de demência é a mais co-
mum entre os transtornos mentais orgânicos. Sua progressão é len- → Na simulação, o examinado alega situações inexistentes;
ta e tem início pouco aparente sem sinais neurológicos que → Na supersimulação ou metassimulação, existindo o trauma-
chamem atenção. É um transtorno progressivo e irreversível. tismo, a consequência alegada é bem superior à de que realmente
ele é portador;

76
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
→ Na dissimulação, o acidentado, para conseguir melhores Dessa forma, a imagem infravermelha pode ser utilizada jun-
vantagens com a volta ao trabalho, omite certas perturbações, tamente com outros exames complementares, levando-se em con-
muitas delas até de caráter mais grave. Esta última modalidade é ta o fato de que ela é o único meio conhecido de registrar objeti-
mais rara. vamente a fisiologia por imagem da alteração ou lesão de nervos
sensitivos e simpáticos e de tecidos moles. Ou seja, torna possível
Na simulação, são referidos os fenômenos subjetivos, como um registro de irritação ou lesão de nervos sensitivos ou simpáticos
dores, neuroses, paralisias, epilepsias, surdez, anosmia, ageusia, e que alguma coisa está fora dos padrões de normalidade, contri-
cegueira, mutismo e anestesias, e, ainda, fenômenos objetivos sem buindo assim na avaliação de simulação ou dissimulação da dor.
nexo de causa e efeito, como hérnias, tumores, afecções cutâneas A aplicação da imagem infravermelha como recurso comple-
e até ferimentos simulados como acidentes. São fatos conhecidos mentar de diagnóstico em acidentes do trabalho ou doenças pro-
os chamados “acidentados da segunda-feira”, manifestações essas fissionais é de muita importância na medida em que sobrevêm
produzidas, na maioria das vezes, por futebol ou outras atividades dúvidas sobre as queixas e alegações apresentadas. Finalmente,
recreativas do domingo. deve ficar bem claro que a imagem infravermelha não identifica o
A metassimulação tem como sintoma mais referido a dor. Sen- fenômeno dor nem mostra sua intensidade, mas apenas permite
do um fator eminentemente de referência, deve a perícia ter todo demonstrar uma perturbação fisiológica capaz de explicar a origem
o cuidado para não rotular como inverídica uma situação real. da dor pelas alterações da atividade neurovegetativa simpática re-
No estudo da dor, devem-se levar em conta vários fatores: lacionada com cada tipo de queixa.
Sexo – as mulheres suportam mais as dores que os homens;
Idade – os jovens são mais sensíveis à dor que os velhos;
O Trabalho e a fadiga potencializam a dor; as perturbações
mentais chegam a abolir a sensação dolorosa. O lado direito dos EMBRIAGUEZ ALCOÓLICA
destros dói mais, justificado pela inervação mais acentuada no pla-
no muscular mais desenvolvido. Embriaguez
Para pesquisar a realidade ou irrealidade desse fenômeno físi- É interessante fazer, sob a ótica médico-legal, a distinção entre
co-psíquico, utilizam-se os chamados sinais da dor: embriaguez alcoólica, alcoolismo e alcoolemia. Assim, embriaguez
alcoólica é um conjunto de manifestações neuro psicossomáticas
* Sinal de Müller: marca-se, com um compasso adequado, a resultantes da intoxicação etílica aguda de caráter episódico e pas-
região onde a dor é referida. Em seguida, assinala-se o ponto do- sageiro. Já o termo alcoolismo, empregou-se para denominar uma
loroso dentro desse círculo doloroso e, mantendo o indivíduo de síndrome psico-orgânica, caracterizada por um elenco de pertur-
olhos vendados, comprime-se com o dedo um ponto que não seja bações resultantes do uso imoderado do álcool e de caráter crôni-
sensível à dor. co, independendo, no momento do exame, de um maior ou menor
Dentro do mesmo círculo, passa-se rapidamente a comprimir consumo ou concentração de bebida alcoólica.
o ponto doloroso. Quando há simulação, o examinado não percebe E alcoolemia é o resultado da dosagem do álcool etílico na cir-
a mudança; culação sanguínea e seus percentuais traduzidos em gramas ou de-
cigramas por litro de sangue examinado. Essa taxa de concentração
* Sinal de Levi: pede-se ao examinado que olhe a distância, e, hoje é feita com maior segurança por meio do exame em cromatina
no local referido como doloroso, faz-se uma compressão. Quando a gasosa, e tem como elemento de maior credibilidade metodológica
dor existe, verificam-se contrações e dilatações pupilares; o fato de seus resultados serem de caráter específico.
Dessa forma, a embriaguez é um estágio, a alcoolemia uma
* Sinal de Imbert: esse processo é utilizado na simulação dolo- taxa e o alcoolismo, um estado. O consumo exagerado de bebidas
rosa dos membros. Coloca-se o paciente em repouso e contam-se alcoólicas leva sempre à embriaguez e até mesmo ao alcoolismo,
as pulsações radiais. criando assim problemas de ordem médica, psiquiátrica, psicológi-
Em seguida, manda-se que ele fique apoiado na perna referida ca, policial, médico-legal, bem como ações que podem desdobrar-
ou que segure um peso com o braço ofendido. Quando a dor alega- -se no âmbito dos tribunais, problemas esses que crescem dia a dia
da é real, há um aumento das pulsações. pelo aumento assustador do consumo de bebidas alcoólicas e sua
No estudo das simulações, é necessário o cuidado para não se contribuição criminógena.
afirmar aquilo que inexiste ou negar uma existência real de dano.
Autores vêm demonstrando que a termografia, teletermografia ou As bebidas alcoólicas podem ser classificadas em três grupos:
termometria, hoje conhecida como imagem térmica infraverme-
lha de alta resolução, é capaz de contribuir de maneira objetiva no → bebidas fermentadas (vinho, sidra, cerveja e a mais antiga
diagnóstico da dor e documentar através de imagens em tempo de todas, o cauim), as quais se caracterizam por apresentarem o
real. menor teor de álcool, por se originarem da fermentação natural de
Equipamentos modernos permitem uma imagem de alta reso- substâncias terciárias;
lução, com mais de 60.000 pontos precisos de temperatura a uma → bebidas destiladas, de grande concentração alcoólica, ob-
distância de 50 cm entre câmera e paciente capazes de distinguir tidas por destilação em alambiques (aguardentes, uísque, conha-
diferenças de temperatura menor que 0,07°C em menos de 0,01 que);
segundo. Embora tal metodologia não possa assegurar com plena → bebidas alcoolizadas conseguidas artificialmente pelo adi-
certeza que alguém sente dor, porque ela é subjetiva e varia entre cionamento de álcool aos produtos fermentados (vinho do Porto,
as pessoas, pode-se afirmar que existe algo anormal e diferente nas vinho Madeira).
fibras nervosas sensitivas e simpáticas capazes de produzir sensa-
ções dolorosas. Às bebidas alcoólicas podem ser acrescentadas substâncias di-
ferentes do álcool, tais como essências, éteres, aldeídos, corantes
como campeche e a anilina, e ainda produtos para conservação do
tipo sulfitos e ácido salicílico.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Consideram-se bebidas alcoólicas, para efeitos da lei, as bebi- Loquaz e bem-humorado, sua atenção é diminuída, sua memó-
das potáveis que contenham álcool em sua composição, com grau ria intensamente prejudicada e pobre é a capacidade de julgamen-
de concentração igual ou superior a meio grau Gay-Lussac. to. Avalia as coisas intempestivamente, em virtude da deficiência
das inibições morais e intelectivas.
Embriaguez Alcoólica Aguda Audacioso e impulsivo, chega muitas vezes a atentar contra a
A embriaguez alcoólica aguda se caracteriza por um conjunto moral pública. O ato sexual fica prejudicado, embora na embria-
de manifestações somatoneuropsíquicas ou psiconeurossomáticas guez possa o paciente apresentar uma tendência ao obsceno e ao
resultantes da intoxicação etílica imediata, de caráter episódico e exibicionismo, explicados pela regressão às fases primárias da libi-
de curso passageiro. do.
Salvo exceções, as perturbações produzidas pelo uso excessivo Manifesta impulsos homossexuais pela expansão carinhosa de
do álcool estão mais em razão direta da tolerância individual do beijos e abraços repetidos e demorados, atitudes que fogem mui-
que da quantidade ingerida. A ação tóxica sobre o organismo reve- tas vezes à conduta habitual.
la-se por manifestações físicas, neurológicas e psíquicas.
Formas de embriaguez
→ Manifestações físicas Devem-se levar em conta, na embriaguez, o estado primitivo,
Nestas, os dados somáticos são de menor interesse e se tra- isto é, anterior ao estado do álcool, e, muito mais, o grau de com-
duzem por congestão das conjuntivas, taquicardia, taquipneia, ta- portamento do indivíduo. Assim, denominam-se as formas a seguir:
quiesfigmia e hálito alcoólico-acético. Um indício isolado não per-
mite ao perito a firme convicção de um diagnóstico de embriaguez Embriaguez culposa - Decorrente da imprudência ou negligên-
para aquilo que a lei prevê. cia de beber exageradamente e de não conhecer os efeitos reais do
Ao contrário, tal diagnóstico deve assentar-se no estado asso- álcool. Também não isenta de responsabilidade;
ciativo e comprometedor das perturbações neurológicas e psíqui- Embriaguez preterdolosa - O agente não quer o resultado, mas
cas, tudo isso após análise cuidadosa de uma série de elementos sabe que, em estado de embriaguez, poderá vir a cometê-lo, assu-
encontrados no exame clínico. mindo, mesmo assim, o risco de produzi-lo. Não isenta de respon-
sabilidade;
→ Manifestações neurológicas Embriaguez fortuita - É a embriaguez ocasional, rara, em mo-
Estão ligadas a alterações clínicas do equilíbrio, da marcha e mentos especiais, tendo origem em um erro compreensível e não
das perturbações da coordenação motora. As alterações do equilí- em uma ação predeterminada ou imprudente, por isso, pode isen-
brio manifestam-se pelo sinal de Romberg simples e Romberg com- tar o agente de pena;
binado. Embriaguez acidental - Seria o exemplo de um indivíduo que,
A marcha do embriagado tem a denominação de marcha por engano, tomasse uma bebida como inócua e se tratasse de uma
ebriosa, cerebelar ou em ziguezague, e devem ser afastadas outras de grande teor alcoólico, ou ingerisse remédio que potencializasse
causas que produzem estas alterações. As perturbações da coor- os efeitos de pequenas doses de bebida considerada inócua; quan-
denação motora traduzem-se por ataxia (incoordenação motora do caracterizada, o agente pode gozar o benefício da isenção de
na orientação dos movimentos); dismetria (perturbação na medi- responsabilidade;
da dos movimentos); dissinergia ou assinergia (incoordenação da Embriaguez por força maior - É aquela que a capacidade hu-
harmonia de certos conjuntos de movimentos); disdiadococinesia mana é incapaz de prever ou resistir. Por exemplo, no carnaval,
(desordem na realização de movimentos rápidos e opostos). em que todos bebem, alguém se entrega a tal procedimento a fim
Deve-se ter o cuidado de afastar outras causas que possam de não ficar em desacordo com o meio e não contrariar os cir-
levar a estas desordens, como, por exemplo, um trauma cranioe- cunstantes, ou, em razão do trabalho, é obrigado a permanecer
ncefálico. em local saturado de vapores etílicos. É possível a redução da pena;
A disartria se manifesta pelo distúrbio na articulação da pala- Embriaguez preordenada - É a forma de embriaguez em que o
vra. É a dificuldade na prolação dos vocábulos. agente se embriaga com o propósito de adquirir condições psíqui-
Entre as manifestações neurológicas, podem evidenciar-se al- cas que favoreçam a prática criminosa. Nesses casos, a lei consi-
terações do tônus muscular caracterizadas pela lentidão dos movi- dera circunstância agravante da pena. No entanto, se o agente já
mentos. Finalmente, além da inibição relativa da sensibilidade tátil, se achava embriagado antes dos fatos e tão somente se aproveita
dolorosa e térmica, fenômenos vagais como o soluço, o vômito e de suas condições para a prática do crime, afasta-se a agravante;
o embotamento das funções sensoriais podem surgir, provocando Embriaguez habitual - Há indivíduos que vivem sob a depen-
um baixo rendimento da visão, audição, gustação e olfação. dência do álcool. Assumem um estado de “normalidade” sob o
efeito da bebida, equilibrando suas reações e escondendo suas ini-
→ Manifestações psíquicas bições em condições de frequente embriaguez;
Essas perturbações apresentam-se de maneira progressiva. Ini- Embriaguez patológica - Resulta da ingestão de pequenas do-
cialmente, atingem as funções mais elevadas do córtex cerebral e, a ses, com manifestações intempestivas. Surpreendem pela despro-
seguir, comprometem sucessivamente as esferas menores. porção entre a quantidade ingerida e a intensidade dos efeitos.
Começam pelas alterações do humor, do senso ético, da aten-
ção, da sensopercepção, do curso do pensamento, da associação Ressalte-se, a propósito, que todas as formas de embriaguez
de ideias até atingirem os impulsos menores. patológica são objeto de grande interesse médico-legal. Quando
Pouco a pouco, o indivíduo apresenta atitudes caracterizadas bem caracterizada pode chegar à inimputabilidade.
pelo exagero e pelo ridículo. Falastrão, inconveniente, dando des-
frutes, soltando a língua sobre fatos muitas vezes comprometedo-
res.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Para fins criminais do que trata o artigo 306 do Código de Trân-
ALCOOLISMO. ASPECTOS JURÍDICOS sito Brasileiro está determinado:
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psico-
Alcoolismo. Aspectos jurídicos motora alterada em razão da influência de álcool ou de outra subs-
tância psicoativa que determine dependência:
O alcoolismo tem como causa a ingestão continuada e imode- Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão
rada de bebida alcoólica, a qual vai produzindo no paciente uma sé- ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
rie de perturbações, terminando por configurar um perfil anormal veículo automotor.
não psicótico que poderia ser chamado de personalidade alcoolista. § 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por:
Seu estudo é de fundamental importância pelos seguintes motivos: I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por
→ por apresentarem seus portadores transtornos de conduta litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por
e relativo perigo a si próprios e aos outros; litro de ar alveolar; ou
→ por serem tendentes a outras formas de transtornos men- II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran,
tais; alteração da capacidade psicomotora.
→ por apresentarem modificações do juízo crítico e da capaci- § 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida
dade de administrar seus interesses. mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perí-
cia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito
Da mesma maneira que na embriaguez alcoólica aguda, o diag- admitidos, observado o direito à contraprova.
nóstico clínico do alcoolismo baseia-se nas manifestações somáti- § 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos
cas, neurológicas e psíquicas. testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização
do crime tipificado neste artigo.
Aspectos jurídicos § 4º Poderá ser empregado qualquer aparelho homologado
Nossa lei substantiva penal considera ser imputável quem se pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - IN-
colocou em condições de inconsciência ou descontrole, de forma METRO - para se determinar o previsto no caput. (Incluído pela Lei
culposa ou dolosa, e, em tal situação, comete o delito. Adota-se, nº 13.840, de 2019)
portanto, o princípio em que se indica a responsabilidade do agen-
te no momento em que ele delibera beber para embriagar-se e não
no instante em que, no estado de embriaguez, comete ele o crime. TOXICOFILIAS
A norma substantiva penal reconhece como responsável a pes-
soa que comete o crime em estado de embriaguez aguda, ainda A Organização Mundial da Saúde definiu toxicomania ou toxico-
que completa, se essa embriaguez resulta de ato voluntário ou cul- filia “como um estado de intoxicação periódica ou crônica, nociva
poso (artigo 28, II). Se um indivíduo se coloca deliberadamente em ao indivíduo ou à sociedade, produzida pelo repetido consumo de
um estado de embriaguez, a fim de criar maiores condições para uma droga natural ou sintética”.
a prática do delito, a responsabilidade é agravada (artigo 61, II, l). Por “tóxico” ou “droga” entende-se um grupo muito grande de
No entanto, a respeito, principalmente, da embriaguez culpo- substâncias naturais, sintéticas ou semissintéticas que podem cau-
sa, o agente não tem o propósito deliberado de embriagar-se para sar tolerância, dependência e crise de abstinência. Chama-se tole-
determinados fins, mas por imprudência ou negligência chega ele rância a necessidade de doses cada vez mais elevadas.
ao estado de ebriez. Não tinha conscientemente, antes de beber, Dependência, uma interação que existe entre o metabolismo
nenhuma intenção delituosa. orgânico do viciado e o consumo de uma determinada droga. E de
Nesse caso, comete-se um duplo equívoco: nem tinha o agente crise de abstinência uma síndrome caracterizada por tremores, in-
a capacidade de entendimento do caráter ilícito do fato e a capaci- quietação, náuseas, vômitos, irritabilidade, anorexia e distúrbios do
dade de autodeterminar-se conforme esse entendimento, e man- sono.
têm-se os vícios da culpabilidade objetiva. Transferiu-se o princípio Assim, esses estados toxicofílicos caracterizam-se pela compul-
da imputabilidade do momento da ação ou da omissão para o da são irresistível e incontrolável que têm suas vítimas de continuar
ingestão de bebida. seu uso e obtê-los a todo custo, pela dependência psíquica, pela
O crime estaria no fato de alguém se colocar deliberadamen- tendência a aumentar gradativamente a dosagem da droga e pelo
te em estado de inimputabilidade e nesse estado praticar um ato efeito nocivo individual e coletivo.
ilícito. No entanto, se a embriaguez é absoluta e por força maior, O aumento assustador do número de viciados em tóxicos tem
acidental, patológica ou em caso fortuito, a responsabilidade não assumido proporções alarmantes no mundo inteiro, tanto sob o
existe. E, na embriaguez relativa, a pena é atenuada de um a dois ponto de vista social como o de saúde pública.
terços (Código Penal, artigo 26 e seu parágrafo único). Diversos fatores têm contribuído para esse aumento vertigi-
Muitos consideram que a embriaguez habitual (alcoolismo) noso: os laboratórios, que passaram a produzir, graças ao avanço
não exclui nem diminui a imputabilidade. Todavia, é necessário sa- tecnológico, um número cada vez maior de alcaloides e seus de-
ber que o alcoólatra não é somente um bebedor incontrolado, mas, rivados; a expansão do comércio internacional pela facilidade dos
acima de tudo, um doente, um desequilibrado, e, por isso, merece transportes, diminuindo as distâncias; a relação entre o tráfico de
tratamento penal diferenciado. narcóticos com a vida miserável e o crime organizado.
O atual Código Penal determina a medida de segurança para Mesmo sendo a toxicofilia um problema médico, sob o ponto
tratamento imprescindível do agente, a fim de restaurar a ordem de vista de tratamento, nenhum país pode defender-se sozinho,
comum, fazer a profilaxia do crime e recuperar o indivíduo. É a con- principalmente pelo tráfico organizado cada vez mais intenso e de
clusão prognóstica da periculosidade. ramificações internacionais.
Assim, a medida de segurança deve efetuar-se com o interna- Parece que, quanto mais se criam campanhas de prevenção a
mento compulsório do agente em estabelecimentos de custódia e esta forma de vício, piores são suas consequências. Tanto maior a
tratamento. repressão policial, maior é o número de viciados que vão surgindo
cotidianamente.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A droga é um problema fundamentalmente urbano e mais co- Cocaína
mum na juventude. Sua maior incidência é na faixa etária de 14 a Colocado na mucosa nasal por aspiração, é esse alcaloide ab-
25 anos. sorvido rapidamente para o organismo. A continuação do uso da
cocaína por via nasal termina perfurando o septo nasal, lesão esta
Tipos de Tóxicos muito significativa para o diagnóstico da cocainomania.
As principais substâncias utilizadas pelos viciados são descritas Um dos fatos que mais chama a atenção em um viciado por essa
a seguir: droga é o contraste arrasador entre uma decadência física lamentá-
vel e um humor imoderado e injustificável.
Maconha
Também denominada marijuana, diamba, liamba, fumo-de-an- LSD 25
gola, erva maldita, erva-do-diabo, cannabis, birra, haxixe e maria- É uma droga eminentemente alucinógena, um produto semis-
-joana. Alguns não a consideram propriamente um tóxico por não sintético, extraído da ergotina do centeio (dietilamina do ácido li-
trazer dependência, tolerância, nem crises de abstinência. sérgico).
Outros já a aprovam para uso médico em casos de glaucoma e Consome-se em tabletes de açúcar ou em um fragmento de car-
como analgésico e calmante nos casos de câncer terminal. Mas é tolina manchado sutilmente da droga, dissolvido na água e ingeri-
um excitante de graves perturbações psíquicas e leva o viciado a do. É a droga de maior poder alucinógeno conhecido.
associar outro tipo de droga.
Muitos viciados permanecem em completa prostração, en- Barbitúricos
quanto outros se tornam agitados e agressivos. Traz, como regra, Chama-se barbiturismo ao uso abusivo e vicioso dos barbitú-
a lassidão, o olhar perdido a distância, um comportamento excên- ricos. Os barbitúricos são drogas muito usadas pelos viciados, na
trico, uma memória afetada e uma falta de orientação no tempo e falta de outro tóxico.
no espaço. Quando utilizadas em doses adequadas e por indicação médica,
Perdem a ambição, valorizam apenas o presente. Têm uma estas drogas não chegam a trazer incômodos e são benéficas ao
ilusão de prolongamento de vida e uma sensação de flutuar entre paciente. Porém, quando ingeridas de forma imoderada e sem con-
nuvens. trole médico, acarretam sérios distúrbios ao organismo.
Sua percepção é deformada e surgem problemas psicológicos
como: fuga à realidade, indiferença e desligamento completo na Ópio
fase mais aguda. As ilusões, alucinações e dissociação de ideias são O viciado em ópio tem uma fase de excitação geral, principal-
manifestações mais raras. mente sobre o aparelho circulatório, daí sua hiperatividade funcio-
Sua nocividade é relativa, pois não leva à dependência física, nal com estímulos, entre outros, das funções psíquicas. Em seguida,
não causa crises de abstinência e os viciados podem ser recupe- passa o drogado para uma fase de depressão, de indiferença e de
rados com certa facilidade, principalmente os usuários leves. No abatimento que o impede de qualquer movimentação ou esforço.
entanto, os usuários pesados podem apresentar a “síndrome de A inteligência torna-se obscura, a memória, prejudicada, o es-
abstinência”. tado físico é de prostração e a angústia começa a se intensificar.
Como o ópio leva o organismo a uma hiperatividade mais ilusória
Morfina do que real, a vítima gasta intensamente suas reservas e, muito
Morfinomania ou morfinofilia é o uso vicioso de morfina. Os cedo, se depaupera e se aniquila.
mais fracos, com predisposição ao vício, com uma primeira dose
dessa droga facilmente se escravizam. Há profissões que facilitam Anfetaminas
a aquisição da substância, como médicos, farmacêuticos e enfer- O consumo abusivo de anfetaminas – “bolinhas” – constitui, no
meiras momento, o maior problema médico e social no que se refere aos
No início do uso da droga, o paciente sente-se eufórico, dispos- tóxicos no país. Têm sido usadas essas drogas por todos os viciados
to, extrovertido, loquaz e alegre. Esta fase é chamada de “lua-de- que não dispõem do seu tipo de tóxico.
-mel da morfina”. Usam para evitar a sonolência, para desinibir, para euforizar. A
Com o passar dos tempos, o viciado emagrece, torna-se pálido, intoxicação aguda pelas anfetaminas caracteriza-se pela inquieta-
de costas arqueadas e cor de cera. Envelhece precocemente, a pele ção psicomotora, incapacidade de atenção, obnubilação da consci-
se enruga e o cabelo cai. ência, estado de confusão com manifestações delirantes.
Surgem a insônia, os suores, os tremores, a angústia, o desespe- Seu uso é por ingestão com água, dissolvidas em bebidas alcoó-
ro, a inapetência, a impotência sexual e os vômitos. Entra no “pe- licas ou dissolvidas e injetadas na veia. Essa é a droga mais usada e
ríodo de estado”, passa à fase de caquexia, vindo a falecer quase mais facilmente adquirida no Brasil.
sempre de tuberculose ou de problemas cardíacos.
Crack
Heroína O crack tem um efeito muito semelhante ao da cocaína, entre-
É um produto sintético (éter diacético da morfina – diacetilmor- tanto percebido mais rapidamente e com poder maior de viciar e
fina). Tem a forma de pó branco e cristalino. Após a diluição, ele é produzir danos. Praticamente ele é constituído da pasta base da
injetado. Pode, ainda, ser misturado ao fumo do cigarro. cocaína, como um subproduto, e por isso é muito mais usado entre
O aspecto do intoxicado é semelhante ao da morfina. Sua de- os viciados de poder aquisitivo reduzido.
cadência é maior e mais rápida, pois a heroína é cinco vezes mais
potente que a morfina. Oxi
Em poucas semanas, o drogado torna-se um dependente; com Droga produzida a partir de restos do refino das folhas de coca
30 dias de uso, o viciado já necessita de tomar uma injeção em cada adicionados ao querosene ou gasolina, cal e ácido sulfúrico. Tal de-
duas horas. nominação é derivada do termo “oxidado”.

80
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O crack, por sua vez, é o resultado da pasta de cocaína com bi-
carbonato de sódio e solventes. Conhecida como a “droga da mor- EXERCÍCIOS
te”, o oxi é mais letal e mais barata que o crack, por isso, torna-se
mais perigosa pela fácil aquisição e gravíssimos efeitos que produz. 1. (VUNESP/2018 – TJ/SP) Em relação à prova testemunhal, é
Essa droga agride severamente o sistema nervoso central, correto afirmar:
emagrece rapidamente o consumidor, traz muitos problemas para (A) a testemunha não é obrigada a comparecer para depor so-
o fígado e o estômago, torna a pele amarelada e leva a diarreias bre fatos que lhe acarretem grave dano.
constantes. Além disso, pode causar convulsões, arritmias cardía- (B) ela não comporta a qualificação jurídica de prova nova para
cas, infarto agudo do miocárdio e morte. efeito de ação rescisória.
(C) reputa-se impedido de depor sob compromisso legal aque-
Desirée le que tiver interesse no litígio.
Esta droga, conhecida como desirée, também chamada de cra- (D) como regra, ela será indeferida quando o fato só puder ser
conha ou criptonita é uma mistura de crack com maconha, cuja comprovado por documento ou prova pericial.
ação é potencializada pelo efeito de ambas as drogas.
2. (VUNESP/2017 – DPE/RO) É correto afirmar sobre o exame
Cogumelo de corpo de delito e das perícias em geral:
Certos cogumelos de alta toxicidade, pertencentes ao grupo de (A) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realiza-
alucinógenos naturais, são capazes de provocar reações as mais va- dos por dois peritos oficiais, portadores de diploma de curso
riadas, inclusive levando ao delírio e às alucinações. Seus usuários superior.
referem percepção de sons incomuns e cores mais vivas e brilhan- (B) não há previsão legal no Código de Processo Penal acerca
tes. da formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
Seu uso é através da infusão proposital ou pela ingestão aci- (C) quando a infração deixar vestígios, é possível dispensar o
dental ou ainda de forma comestível. Sua ação é geralmente de exame de corpo de delito.
aparição tardia e apresenta as vítimas três tipos de manifestações: (D) em caso de lesões corporais, a falta de exame complemen-
→ as manifestações coléricas que têm como sintomas vômitos, tar não pode ser suprida pela prova testemunhal.
cólicas, diarreia, cãibras e desmaios; (E) se desaparecerem os vestígios, é possível que a prova teste-
→ as manifestações hepatorrenais que se caracterizam pelo munhal supra a ausência de exame de corpo de delito.
aparecimento de icterícia, hematúria e oligúria;
→ as manifestações neurológicas que se traduzem por sinto- 3. (CESPE/2018 - PC-SE) A respeito de identificação médico-le-
mas como agitação, delírios, euforia paradoxal, convulsões, poden- gal, de aspectos médico-legais das toxicomanias e lesões por ação
do chegar ao coma. elétrica, de modificadores da capacidade civil e de imputabilidade
penal, julgue o item que se segue.
Cola O termo eletroplessão é utilizado para se referir a lesões pro-
A cola é constituída de hidrocarbonetos de efeitos muito rápi- duzidas por eletricidade industrial, enquanto o termo fulguração
dos sobre o sistema nervoso, embora de pouca duração. Pode levar é empregado para se referir a lesões produzidas por eletricidade
à euforia e à alucinação. natural.
Em uma fase mais avançada, a cola pode causar lesões graves ( ) CERTO
na medula, nos rins, fígado e nervos periféricos. Seu uso é por ina- ( ) ERRADO
lação.
4. (CESPE/2016 – PC-PE) Sexologia forense é o ramo da medici-
Merla na legal que trata dos exames referentes aos crimes contra a liber-
A merla é uma opção mais barata do crack, obtida a partir da dade sexual, além de tratar de aspectos relacionados à reprodução.
pasta de coca, fabricada em laboratórios improvisados, com a ajuda Acerca do exame médico-legal e dos crimes nessa área, assinale a
de produtos químicos, como benzina, querosene, gasolina, ácido opção correta.
sulfúrico, éter e metanol. (A) Para a configuração do infanticídio, são necessários dois as-
Os efeitos dessa droga duram cerca de 15 min e sua sensação pectos: o estado puerperal e a mãe matar o próprio filho.
a princípio é de bem-estar e leveza, depois segue-se uma sensa- (B) O crime de aborto configura-se com a expulsão prematura
ção desagradável e de inquietação, deixando o indivíduo agitado do feto, independentemente de sua viabilidade e das causas
e nervoso. da eliminação.
Pode levar até às alucinações mais graves. Tem um poder des- (C) O crime de abandono de recém-nascidos, que consiste na
trutivo muito maior que o do crack. ausência de cuidados mínimos necessários à manutenção das
A pele do indivíduo que consome a merla tem cheiro perma- condições de sobrevivência ou exposição à vulnerabilidade, só
nente e desagradável em virtude das substâncias a ela adicionadas estará caracterizado se for cometido pela mãe.
no refino da droga. O primeiro órgão a ser atingido é o fígado, com (D) Para se determinar um estupro, é necessário que respostas
agressão às células hepáticas, podendo até levar à hepatite tóxica. aos quesitos sobre a ocorrência de conjunção carnal ou ato li-
Depois é o cérebro, com a destruição dos neurônios, tendo bidinoso sejam afirmativas: essas ocorrências sempre deixam
como consequência a perda progressiva da memória e problemas vestígios.
da coordenação motora. Pode ainda provocar a fibrose pulmonar e (E) Para a resposta ao quesito sobre virgindade da paciente,
a alteração do ritmo cardíaco. a integridade do hímen pode não ser necessária, desde que
outros elementos indiquem que a periciada nunca manteve
Referências Bibliográficas relação sexual.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 11ª ed. - Rio de Ja-
neiro: Guanabara Koogan, 2017.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
5. (CESPE/2016 - PC-PE) Psiquiatria forense é o ramo da medi- (E) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevêm instanta-
cina legal que trata de questões relacionadas ao funcionamento da neamente e sem causa manifesta, atingindo pessoas em apa-
mente e sua interface com a área jurídica. O estabelecimento do rente estado de boa saúde.
estado psíquico no momento do cometimento do delito e a capa-
cidade de entendimento desse ato são dependentes das condições 8. (FUNDATEC/2018 - PC-RS) Em relação às asfixias por constri-
de sanidade psíquica e desenvolvimento mental, que também in- ção cervical, analise as afirmações abaixo, assinalando V, se verda-
fluenciam na forma de percepção e no relato do evento, com im- deiras, ou F, se falsas.
portância direta para o operador do direito, na tomada a termo ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
e na análise dos depoimentos. A respeito de psiquiatria forense e quando diagnosticado indica a ocorrência de suicídio.
dos múltiplos aspectos ligados a essa área, assinale a opção correta. ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
(A) A surdo-mudez é motivo de desqualificação do testemu- necessita que o peso do corpo da vítima acione o laço. Desta forma,
nho, da confissão e da acareação, pois, sendo causa de desen- os casos descritos como enforcamento, mas nos quais a vítima não
volvimento mental incompleto, impede a comunicação. estava completamente suspensa (pés não tocando o solo) devem
(B) Nos atos cometidos, pode haver variação na capacidade de ser classificados como “montagem” (tentativa de ocultação de ho-
entendimento, por doente mental ou por indivíduo sob efeito micídio).
de substâncias psicotrópicas ou entorpecentes, do caráter ilíci- ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
to do ato por ele cometido; cabe ao perito buscar determinar, não necessita do peso do corpo da vítima para ocorrer.
e assinalar no laudo pericial, o estado mental no momento do ( ) A esganadura pode ser consequência de suicídio ou de ho-
delito. micídio.
(C) A perturbação mental, por ser de grau leve quando compa- A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima
rada a doença mental, não reflete na capacidade cível nem na para baixo, é:
imputabilidade penal. (A) V – V – F – F.
(D) Em indivíduos com intoxicação aguda pelo álcool, obser- (B) V – F – V – V.
vam-se estados de automatismos e estados crepusculares. (C) F – V – F – F.
(E) O desenvolvimento mental incompleto ou retardado, tecni- (D) F – F – V – V.
camente denominado oligofrenia, está diretamente relaciona- (E) F – F – F – F.
do à ocorrência de epilepsia.
9. (CESPE/2016 - PC-GO) No que diz respeito às provas no pro-
cesso penal, assinale a opção correta.
6. (FUNCAB/PC-RO)Identidade médico-legal é o conjunto de
(A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova
características apresentadas por um indivíduo que o torna único.
pericial médica, que não pode ser suprida por testemunho.
Assinale a opção INCORRETA acerca da identificação médico-legal.
(B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
(A) O sistema de identificação dactiloscópica de Vucetich é um ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se
processo de grande valia e de extraordinário efeito, porque desnecessária a produção de outras provas.
apresenta os requisitos essenciais para um bom método: unici- (C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão
dade, praticabilidade, imutabilidade e classificabilidade; só não ser avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar
apresenta o requisito de perenidade. o livre convencimento do magistrado, quando amparadas em
(B) Identificação médico-legal pode ser realizada em um indi- outros elementos de prova.
víduo vivo ou em cadáver, inteiro, espostejado ou reduzido a (D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos
ossos. relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen-
(C) Na identificação médico-legal, são considerados os seguin- to, menoridade, filiação e cidadania.
tes parâmetros: idade, sexo, raça, estatura e peso, pois, partin- (E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha
do-se do geral, chega-se ao particular, ao indivíduo. é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser presi-
(D) Características ocasionais, tais como a presença de tatua- dido pelo delegado de polícia.
gens, calos de fraturas ósseas e próteses dentárias, ósseas ou
de outros tipos, não possuem valor para a antropologia foren- 10. (FUNDEP (Gestão de Concursos)/2019 - MPE-MG) Marque
se. a alternativa incorreta:
(E) Medidas de dimensões de ossos longos e comparações com (A) Em relação ao crime de infanticídio, a lei brasileira não ado-
tabelas podem dar ideia da estatura de indivíduos quando vi- tou o critério psicológico, mas sim o critério fisiopsicológico, le-
vos. vando em conta o desequilíbrio oriundo do processo do parto.
(B) A incidência da qualificadora do feminicídio, prevista no
7. (FUNCAB/2015 - PC-AC) Acerca dos tipos de morte, assinale artigo 121, § 2°, VI, do Código Penal, reclama situação de vio-
a assertiva correta. lência praticada por homem ou por mulher contra a mulher
(A) A morte natural é a que resulta da alteração orgânica ou em situação de vulnerabilidade, num contexto caracterizado
perturbação funcional provocada por agentes naturais, de cau- por relação de poder e submissão. Pode-se ainda afirmar que,
sa externa. segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a qua-
lificadora em análise é de natureza subjetiva.
(B) A causa médica da morte se divide em natural ou violenta.
(C) O perdão judicial constitui causa extintiva de punibilidade
(C) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevêm instan-
que afasta os efeitos da sentença condenatória e, diferente-
taneamente e sem causa manifesta, atingindo pessoas com es-
mente do perdão do ofendido, não precisa ser aceito para ge-
tado de saúde delicado.
rar efeitos.
(D) A morte violenta é aquela que tem como causa determi- (D) No que concerne ao crime de homicídio, é possível a coexis-
nante a ação abrupta e intensa, física ou química, sobre o orga- tência das circunstâncias privilegiadoras com as qualificadoras
nismo, de causa interna. de natureza objetiva.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
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GABARITO
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1 D ______________________________________________________
2 E
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3 CERTO
4 A ______________________________________________________
5 B ______________________________________________________
6 D
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7 E
8 E ______________________________________________________
9 C ______________________________________________________
10 B
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ANOTAÇÕES
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