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N O TA T É C N I C A

A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde
pública no Brasil
4ª Fase

Pesquisadores(as)
r e s p on s á v e i s
Gabriela Lotta
Michelle Fernandez
Giordano Magri
Claudio Aliberti de Campos Mello
Marcela Garcia Corrêa
Mariela Campos Rocha
Eduardo Ryo Tamaki
Brunah Schall
Denise Nacif Pimenta

realizaç ão

EAESP

a p oio

abr/2021
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde
pública no Brasil
4ª Fase
Em média, 87,6% 96,6% dos(as)
Sente dos(as) profissionais respondentes
de saúde sentem afirmaram conhecer
medo? medo da COVID-19 algum companheiro
de trabalho
Não Sim
80% com suspeita ou
diagnosticado com
acs/ace 9,9% 90,1% COVID-19
Profissional de disseram que já
enfermagem
17,1% 82,9% 31,2% tiveram a doença
Médico(a) 21,2% 78,8%

Outros(as) 10,0% 90,0%


Recebeu equipamentos de proteção (EPI)?
Do total de respondentes,
6,2% não receberam em nenhum momento,
72,6% 49,4% r eceberam uma ou poucas vezes e
44,5% receberam de forma contínua
durante a crise.
dos(as) respondentes não
receberam treinamento Não receberam Receberam uma Receberam de
em nenhum vez ou poucas vezes forma contínua
Não Sim momento durante a crise durante a crise
85,5% 14,5% acs/ace 6,2% 59,7% 34,1%

55,2% 44,8% Profissional de 1,6% 28,9% 69,5%


enfermagem
54,0% 46,0% Médico(a) 5,1% 30,8% 64,1%

64,4% 35,6% Outros(as) 10,5% 26,1% 63,3%

dos(as) respondentes
86,8% dos(as) 80,2% sentiram que sua saúde
respondentes disseram mental foi afetada
negativamente pela
já ter recebido pelo pandemia
menos a primeira
dose da vacina Apenas 19%
dos(as) respondentes
afirmaram ter recebido
algum tipo de apoio para
cuidar da saúde mental
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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde
pública no Brasil
4ª Fase

Apresentação1

A crise sanitária, a perda de milhares de vidas e o exacerbamento de desigualdades estruturais são apenas
uma parte do rol de consequências geradas pela pandemia da COVID-19 no Brasil e no mundo. Ao longo
de 2020, houve diversas discussões sobre o papel do Estado, dos sistemas de proteção social (CARVALHO,
2020) e, em especial, a área da saúde se tornou o foco dos debates internacionais e nacionais. A rápida
disseminação do vírus, a desigualdade territorial na distribuição dos equipamentos de saúde, a falta de
investimentos em ações na Atenção Básica para prevenção da disseminação do vírus se materializam
como desafios do complexo mosaico de problemas agravados pela COVID-19 no Brasil (LIMA, PEREIRA e
MACHADO, 2020). Ao longo dos últimos meses, o país transformou-se no epicentro mundial da pandemia
(OMS, 2020) e, em março de 2021, a situação de calamidade pública levou a Fiocruz a declarar que vivemos
o “maior colapso sanitário e hospitalar da história” (FIOCRUZ, 2021). Foi também em março de 2021, com
ocupação de quase 100% dos leitos das capitais e municípios de grande porte, o Brasil experienciou o
pior mês da pandemia com mais de 66 mil mortes. No dia 31 desse mês, o país contabilizava mais de 12.7
milhões de casos acumulados no último ano, e 321.515 óbitos, além de uma média móvel em contínua
ascensão (Ministério da Saúde, 2021a). Com a lenta vacinação e o surgimento de novas cepas, mais
contagiosas, é difícil vislumbrar um horizonte para o fim da crise.

Nesse contexto, a política de saúde, em especial, o Sistema Único de Saúde (SUS) demandou olhares
atentos de especialistas e autoridades do governo. Conforme pontuou Maria Helena Machado (2020),
pesquisadora da Fiocruz, “o Brasil tem dois patrimônios no âmbito da saúde: o SUS e os mais de 3
milhões e meio de profissionais de saúde que nele atuam”. Na linha de frente e em contato direto
com a população, os(as) profissionais de saúde brasileiros(as) estão constantemente expostos ao risco
de contaminação do vírus da COVID-19 (MEDEIROS, 2020; ADAMS e WALLS, 2020). Segundo boletim
epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde no dia 4 de março de 2021, mais de 144 mil casos
suspeitos entre profissionais de saúde foram notificados em 2021, sendo cerca de 39 mil confirmados.
As profissões de saúde com maiores registros dentre os casos confirmados foram técnicos(as)/auxiliares
de enfermagem (11.779; 29,8%), seguidos de enfermeiros(as) (6.747; 17,1%), médicos(as) (4.690;
11,9%), Agentes Comunitários de Saúde (1.941; 4,9%) e farmacêuticos (1.845; 4,7%) (Ministério da
Saúde, 2021b). O Conselho Nacional de Enfermagem (Cofen) mantém um painel de monitoramento que
atualiza estes dados para a categoria, e até 31 de março de 2021 foram registrados 51.235 casos e 723

1 Agradecemos o apoio das diversas instituições que auxiliaram na divulgação da pesquisa, em especial: Conacs, Cofen, Coren-SP, SindSaúde-
DF, CONASS, Conasems, Coletivo Adelaides, IEPS, GV Saúde e Instituto República. Também agradecemos a colegas que ajudaram de diversas
formas na pesquisa: Pesquisadores do Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB), Thaynah Gutierrez, Débora Lira, João Pedro Haddad, Amanda Luise
Beck, Mario Aquino Alves, Lauro Gonzalez, Mario Monzoni, Ana Maria Malik e Adriano Massuda.

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

óbitos2. No que tange à categoria médica, a estimativa divulgada pelo Conselho Federal de Medicina
(CFM) é de 624 vidas perdidas3.

A crise sanitária e suas consequências sócio-econômicas não afetam a todos por igual, e embora o vírus
não discrimine, o racismo, machismo, capitalismo e a xenofobia sim (BUTLER, 2020). Assim, diversas
especialistas chamam atenção para o fato de que a pandemia no Brasil atinge desigualmente grupos
vulneráveis, sobretudo a população negra, as mulheres, populações LGBT e identidades não-binárias
(CARLI, 2020). No Brasil, assim como nos Estados Unidos, a população negra foi a mais acometida pela
doença - o que escancara, mais uma vez, o racismo estrutural destas sociedades (OLIVEIRA et al., 2020).

No caso dos(as) profissionais de saúde da linha de frente no Brasil, estima-se que a participação das
mulheres no setor saúde chegue a quase 70% do total, sendo 62% para as categorias de nível superior
e 74% de nível médio e elementar. Em Enfermagem e Psicologia as mulheres são 80% das profissionais,
enquanto na categoria médica representam 36% (PIRES, 2020). A partir desta constatação, uma
perspectiva de gênero (e de raça) sobre os impactos e situação de vulnerabilidade desproporcional a qual
as mulheres profissionais de saúde têm sido expostas é fundamental para lançar luz sobre as distintas
realidades da linha de frente (KOPEL et al., 2020).

No atual panorama de continuidade, criticidade e agravamento da pandemia em território nacional,


compreender sob quais condições os(as) profissionais de saúde pública estão atuando é uma forma de investigar
as respostas estatais oferecidas pelo SUS à crise. Isso porque, enquanto profissionais de linha de frente, esses(as)
trabalhadores(as) são os(as) principais responsáveis pela entrega dos serviços à população (LIPSKY, 2019). O
presente relatório, organizado pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB/FGV-EAESP), em parceria com a Fiocruz
e a Rede Covid-19 Humanidades, apresenta de forma sintética os resultados da quarta etapa de uma pesquisa
voltada à investigação da vivência destes(as) profissionais na linha de frente. Buscamos mapear suas condições
de trabalho, seu bem-estar e modos de agir cotidianamente em meio à pandemia. Os dados apresentados aqui
foram extraídos de um survey online realizado com 1.829 profissionais da saúde pública no Brasil.

Nota metodológica

A coleta dos dados foi realizada a partir da aplicação de um survey online4 entre os dias 1º e 20 de março de
2021. Os resultados são fruto de uma amostra coletada por conveniência (não probabilística), constituída
a partir de respostas voluntárias ao questionário5. Esse tipo de amostragem é comumente utilizado por
estudos exploratórios, principalmente no campo de estudos organizacionais, (BRYMAN, 2016) e não nos
permite fazer generalizações para todo o universo de profissionais da saúde pública no Brasil.

Optamos por este método dadas as dificuldades de pesquisa impostas pela pandemia, e o contexto de
urgência permite maior aceitabilidade do uso da amostra por conveniência (BRYMAN, 2016), pois preenche

2 Disponível em: http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/


3 Disponível em: https://memorial.cfm.org.br/
4 O survey corresponde a um método de coleta de dados e se delimita a partir da construção de um roteiro estruturado de perguntas
elaboradas e ordenadas a partir da pergunta de pesquisa (research question) delimitada pelos(as) pesquisadores(as).
5 Para ampla divulgação do questionário, o link de acesso à web page foi difundido em redes sociais de profissionais de saúde de todo
o país (WhatsApp, Facebook, Twitter etc.). Inclusive, antigos contatos estabelecidos na primeira, segunda e terceira fases da pesquisa foram
retomados. Outros grupos como representantes dos profissionais de saúde como o Conacs, os Corens e o Cofen também foram acionados.
Ademais, disponibilizamos o questionário a todas as secretarias de saúde do país.

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

uma lacuna de falta de informações sintéticas e descritivas sobre a realidade desses(as) profissionais
na linha de frente. O formato de pesquisa adotado na presente investigação também foi utilizado por
outros grupos de pesquisa no mundo que buscaram investigar as condições dos(as) profissionais de saúde
no combate à COVID-19 (FELICE et al., 2020; LAI et al., 2020; NOGUEIRA et al., 2020) e no contexto de
pandemias passadas (KHALID et al., 2016; LIN et al., 2007).

A crise da COVID-19 demanda diagnósticos emergenciais e respostas rápidas. Dessa forma, a estatística realizada
nos resultados ora apresentados é puramente descritiva, uma vez que só pode ser vista como uma espécie de
balanço sobre a população “entrevistada” (isto é, 1829 respostas válidas dos(as) profissionais respondentes)6.
É exclusivamente sobre a percepção dessas pessoas que se pode afirmar algo. A falta de inferência estatística,
portanto, não invalida os dados, apenas circunscreve a análise a um universo específico (n = 1829).

O presente esforço corresponde à quarta fase da pesquisa “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais
de saúde pública no Brasil”7, em parceria com a Fiocruz e da Rede Covid-19 Humanidades. A continuidade
da investigação iniciada em abril de 2020 se fez necessária à medida que o cenário nacional da pandemia
da COVID-19 permanece crítico. Conforme pontuado anteriormente, o mês de março de 2021 foi o pior
desde o início da crise, com recordes no contágio e número de vítimas pela doença.

A quarta rodada da pesquisa sofreu algumas adaptações. Adicionou-se uma lente de gênero com novas
perguntas para compreender melhor os impactos da COVID-19 na vida de mulheres, populações LGBT e
identidades não-binárias. Buscamos mapear também um possível acúmulo da carga de trabalho doméstico
no contexto de pandemia, sobretudo das mulheres. Além disso, adicionaram-se algumas questões relativas
às percepções sobre ciência e contexto político. O desenho do instrumento de coleta foi revisado e
aprimorado, sendo composto por 52 perguntas de distintas naturezas (abertas, binárias, múltipla escolha,
etc.). O questionário foi revisado e testado por pares, especialistas e profissionais de saúde voluntários(as).

A amostra de 1.829 respondentes diz respeito a profissionais de saúde pública que atuam no Brasil em todas
as Unidades da Federação (UF). As análises presentes neste relatório são, como já pontuado, referentes à
estatística descritiva do total de respondentes. Em concomitância, no que tange às informações qualitativas
coletadas (oriundas das perguntas abertas), foram realizados procedimentos de categorização (com auxílio do
software MaxQDA) a fim de encontrar possíveis padrões e tendências (MILES, HUBERMAN e SALDAÑA, 2014).

Resultados
Perfil dos(as) respondentes

Os dados de perfil da amostra detalhados na Tabela 01 são apresentados a partir da distribuição por
profissões, indicando a parcela correspondente a cada uma das características listadas em seguida.

A distribuição profissional indica uma concentração dos(as) respondentes entre Agentes Comunitários(as)
de Saúde e Agentes de Combate a Endemias (ACS/ACE), os(as) quais representam 51,7% do total de
participantes. Em seguida, trabalhadores(as) classificados em outras profissões (dentistas, psicólogos(as),
farmacêuticos(as), profissionais de gestão, etc.)8 correspondem a 20,3% da amostra, seguido de profissionais

6 No total, foram recebidas 1939 respostas iniciais, das quais 110 eram duplicadas e por isso foram retiradas da presente análise.
7 Para mais detalhes sobre, conferir as notas técnicas das rodadas anteriores em: https://neburocracia.wordpress.com/publicacoes/
8 A opção por agregar estas profissões em uma categoria única se deu pelo baixo número de respostas das diversas categorias, impossibilitando
uma análise comparada.

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

de enfermagem (17,2%) e médicos(as) (10,8%). Nas demais categorias, destaca-se a predominância de


mulheres, especialmente entre profissionais de enfermagem (92,1%) e a discrepância entre ACS/ACE, onde
há predominância de profissionais negros(as) (70,4%) e médicos(as), onde prevalecem trabalhadores(as)
brancos(as) (78,8%). Ainda, enquanto respondentes ACS/ACE se concentram na região Nordeste (68%),
os(as) demais profissionais estão mais presentes na região Sudeste, principalmente médicos(as) (73,7%).
Cumpre salientar, portanto, que há uma sobrerrepresentação dos(as) ACS/ACE na amostra.

Tabela 01 - Perfil dos(as) respondentes


Profissional de
ACS/ACE Médico(a) Outros(as)
Enfermagem
Total de respondentes n(%) n(%) n(%) n(%)
945(51,7) 315(17,2) 198(10,8) 371(20,3)
Gênero
Feminino 709(75,0) 290(92,1) 140(70,7) 291(78,4)
Masculino 235(24,9) 25(7,9) 58(29,3) 76(20,5)
Preferiu não responder 1(0,1) 0(0) 0(0) 4(1,1)
Cor/Raça
Branca 265(28) 185(58,7) 156(78,8) 230(62)
Parda 557(58,9) 102(32,4) 32(16,2) 105(28,3)
Preta 109(11,5) 22(7) 1(0,5) 19(5,1)
Amarela 10(1,1) 3(1) 8(4) 12(3,2)
Indígena 3(0,3) 3(1) 0(0) 1(0,3)
Prefiro não declarar 1(0,1) 0(0) 1(0,5) 4(1,1)
Região
Centro-Oeste 50(5,3) 25(7,9) 12(6,1) 22(5,9)
Nordeste 643(68) 51(16,2) 23(11,6) 75(20,2)
Norte 62(6,6) 15(4,8) 2(1) 11(3)
Sudeste 103(10,9) 151(47,9) 146(73,7) 173(46,6)
Sul 87(9,2) 73(23,2) 15(7,6) 90(24,3)
Serviço
Atenção Básica 945(100) 106(33,7) 44(22,2) 123(33,2)
Atenção Especializada 0(0) 37(11,7) 48(24,2) 68(18,3)
Atenção Hospitalar 0(0) 141(44,8) 86(43,4) 76(20,5)
Gestão 0(0) 3(1) 2(1) 10(2,7)
Outro 0(0) 28(8,9) 18(9,1) 94(25,3)
Faixa Etária
19-29 anos 51(5,4) 32(10,2) 21(10,6) 46(12,4)
30-39 anos 278(29,4) 124(39,4) 49(24,7) 118(31,8)
40-49 anos 402(42,5) 96(30,5) 43(21,7) 115(31)
50-59 anos 195(20,6) 51(16,2) 53(26,8) 69(18,6)
60-69 anos 18(1,9) 11(3,5) 27(13,6) 23(6,2)
70-79 anos 1(0,1) 1(0,3) 5(2,5) 0(0)

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Adicionalmente, o Gráfico 01 apresenta a distribuição dos(as) respondentes a partir de uma perspectiva


interseccional de gênero e raça. Embora haja variações em todas as profissões, o aspecto mais marcante a
ser destacado é a forte predominância de mulheres negras entre ACS/ACE, diferente do que encontramos
nas demais categorias profissionais, em que há maior concentração de mulheres brancas entre o total
de respondentes. Vale destacar, ainda, a discrepância do percentual de homens brancos entre médicos
(26,8%) com relação às demais profissões, onde esse perfil é menos representativo.

Gráfico 01 - Composição interseccional de gênero e raça - por profissão (%)


100%
90%
80%
70%
60% 55,6%
52,5% 52,0% 51,5%
50%
40% 34,6%
26,8%
30% 21,5% 23,5%
20% 17,9% 14,6%
9,4% 10,5%
10% 6,6% 4,8% 4,5% 5,1%
1,5% 3,2% 2,0%
1,9%
0%
ACS/ACE Profissional de Médico(a) Outros(as)
enfermagem
Mulheres negras Homens negros Mulheres brancas Homens brancos Outro

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.
Nota: o 100% corresponde ao total de respondentes de cada profissão.

Bem-estar e condições de trabalho dos(as)


profissionais da saúde

A análise do cotidiano de trabalho dos(as) profissionais da saúde pública frente à pandemia de COVID-19
requer, inicialmente, um diagnóstico das condições de trabalho às quais estão sujeitos(as). Diversos
estudos têm relatado o medo generalizado da população (ORNELL et al., 2020; FARO et al., 2020), e,
no atual contexto de crise sanitária, o alto risco de contaminação é um agravante na rotina dos(as)
trabalhadores(as) do SUS (MEDEIROS, 2020). Por sua vez, isso se torna evidente à medida que, no presente
estudo, 87,6% do total de respondentes disseram ter medo da COVID-19.

Os resultados dessa percepção, desagregados por região, não mostram uma variação muito acentuada, a
ver: Centro Oeste (85,3%), Nordeste (89,9%), Norte (83,3%), Sudeste (84,3%) e Sul (90,2%) - o que indicaria
um sentimento generalizado de medo e insegurança por parte dos(as) profissionais de saúde em todo o
país. No Gráfico 02 abaixo é possível observar que os(as) ACS e as outras categorias (fisioterapeutas,
psicólogos, dentistas, gerentes de serviço etc.) são aqueles(as) que proporcionalmente mais declaram
sentir medo (90%) em comparação aos(às) médicos(as) (resultado de 78,8%) e os(as) profissionais de
Enfermagem (82,9%).

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Gráfico 02 - Medo da COVID-19 - por profissão (%) “Medo do excesso


100%
9,9% 17,1% 21,2% 10,0%
de pessoas, e com
90%
gravidade que
80%
70% demanda excesso
60% de cuidados,
50%
serem bem maior
40% 90,1% 82,9% 78,8% 90,0%
30%
do que os recursos
20% disponíveis.
10%
Profissionais
0%
ACS/ACE Profissional de Médico(a) Outros(as) que estão na
enfermagem
Sim Não
Atenção Básica
Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” sendo recrutados
(n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.
para cuidados
intensivos, não
A ameaça “invisível”, a imprevisibilidade da doença e o iminente colapso do habitual à nossa
sistema são narrados pelos(as) respondentes como principais catalisadores rotina.”
das sensações de insegurança e o medo de contaminação - não só sua, mas
de entes queridos como familiares, amigos(as) e colegas de trabalho. Por
um lado, 96,6% dos(as) respondentes afirmaram conhecer algum(a) colega
de trabalho com suspeita ou diagnosticado com COVID-19 e 31,2% informaram que já foram
contaminados com a doença. O Gráfico 03 segmenta estes resultados por profissão - apenas em relação
à contaminação da doença há uma diferenciação entre as categorias, com médicos(as) e profissionais
de Enfermagem com 35% de declarações de infecção contra 30,6% dos(as) ACS e 26,7% de outros
profissionais.

Gráfico 03 - Contaminação pela COVID-19 - por profissão (%)


95,7% 97,8% 99,0% 96,5%
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40% 35,9% 35,4%
30,6%
30% 26,7%

20%
10%
0%
ACS/ACE Profissional de Médico(a) Outros(as)
enfermagem
Conhece algum companheiro(a) que já pegou ou está com Covid Já pegou Covid
Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.
Nota: os percentuais correspondem às respostas positivas (Sim =1), sendo o 100% o total de respondentes de cada categoria profissional.

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Por outro lado, 86,8% dos(as) respondentes alegaram que já receberam pelo menos a primeira dose da
vacina - o que sinaliza um horizonte de esperança no combate à crise e garantia de proteção dos(as)
profissionais do SUS. O percentual de profissionais vacinados(as) por profissão também segue uma
tendência de alta, com ACS/ACE (89%), profissionais de enfermagem (88,9%) e médicos(as) (86,9%)
próximos dos 90%, enquanto profissionais inseridos na categoria “outros” apresentam parcela
ligeiramente menor, chegando a 79,5%.

A alta exposição à doença na linha de frente é um dos aspectos centrais para pensar estratégias de
proteção e apoio aos(às) profissionais de saúde (ADAM e WALLS, 2020). No contexto atual, a maioria
dos(as) respondentes (69,9%) disseram se sentir despreparados(as) para lidar com a crise. Ao segmentar
este dado pela região de atuação do(a) participante da pesquisa é possível observar maiores índices de
sensação de despreparo no Nordeste e Norte (76% e 75,6%, respectivamente) se comparado às demais
(Centro Oeste: 69,7%; Sul: 70,2%; Sudeste: 60,6%). O Gráfico 04 expõe os resultados desagregados por
profissão. Destaca-se que os(as) ACS/ACE são aqueles que, proporcionalmente, mais declararam se sentir
despreparados(as) (78,9%) em relação aos(às) médicos(as) (56,6%), profissionais da Enfermagem (59,4%)
e outras categorias (63%)

Gráfico 04 - Sensação de preparo - por profissão (%)


100%
90% 21,0% 40,6% 43,4% 36,9%
80%
70%
60%
50%
40%
30% 79,0% 59,4% 56,6% 63,1%
20%
10%
0%
ACS/ACE Profissional de Médico(a) Outros(as)
enfermagem
Não se sente preparado(a) Sim, se sente preparado(a)

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.

Quando indagamos sobre os motivos que contribuem para que o(a) profissional se sinta despreparado(a),
foram 1529 relatos que fazem menção, principalmente, a: (i) situação política e má condução da pandemia
pelo Governo Federal, além do negacionismo disseminado entre a população (presente em 307 relatos
de despreparado, ou seja 20% do total de 1529); (ii) medo e insegurança por ser profissional da linha de
frente e estar exposto(a) ao vírus e/ou contaminar a família (em 305 relatos, 19,9%); (iii) falta de apoio
dos superiores e gestão municipal, que não oferecem treinamento e orientações (em 219 relatos, ou seja,
14,3%); (iv) falta de EPIs, vacinas e testagem (em 204 relatos, 13,4%); (v) falta de informações consolidadas
sobre a doença e incertezas (em 194 relatos, em 12,6%); (vi) aumento do número de casos e óbitos (em
128 relatos, isto é, 8,3%) e sistema de saúde colapsando (em 110 relatos, ou seja, 7,2% dos relatos).

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

“Tive vários contatos com pessoas Já aqueles(as) que se sentem preparados(as),


as principais tendências encontradas entre
infectadas. Apesar de estar com as 586 narrativas compartilhadas foram: (i)
máscara e com devidos cuidados conhecimento científico e manter-se informado(a)
eu não tenho medo de enfrentar a (presente em 200 relatos, que corresponde a 34,1%
do total de narrativas positivas sobre preparo); (ii)
pandemia e lutar por vidas. Graças profissionalismo e experiência na linha de frente (em
a Deus sou uma ACS há 20 anos 114 relatos, 19,45%); (iii) fé (em Deus) e resiliência
e nunca me desanimei diante das (em 87 relatos, 14,8%); (iv) cuidados pessoais (em 71

situações difíceis. Estou pronta relatos, 12,1%); (v) uso de EPIs (43 relatos, 7,3%), vacina
(37 relatos, 6,3%) e treinamento (19 relatos, 3,2%).
para ajudar. Não tenho medo de
atender pessoas contaminadas, Outras pesquisas argumentam que existe uma associação
mas eu tomo os devidos entre sentimentos de medo, despreparo e insegurança
e as condições de proteção e de trabalho desses(as)
cuidados.” profissionais da saúde (SANT’ANNA et al., 2020; NOGUEIRA
et al., 2020). A escassez de equipamentos de proteção
individual (EPIs) é uma preocupação constante na linha
de frente (MEDEIROS, 2020), sendo os protocolos adequados de biossegurança a principal forma de se
proteger do vírus (OMS, 2020). Na presente pesquisa, 49,4% dos(as) respondentes disseram que têm
recebido EPIs de forma contínua, 44,4% alegaram ter recebido uma ou poucas vezes e 6,2% informaram
que não receberam em nenhum momento durante o último ano de pandemia no país. Em termos regionais,
13,3% dos(as) respondentes localizados na região Norte disseram que não receberam EPIs em nenhum
momento - se diferenciando, portanto, da média geral de 6,2% (seguida pelas demais regiões). O Gráfico 05
expõe que mais de 60% dos(as) médicos(as), profissionais da Enfermagem e outras categorias receberam
EPIs de forma contínua - contra 34% dos(as) respondentes ACS/ACE.

Gráfico 05 - Distribuição de equipamentos de proteção (EPI) - por profissão (%)


6,2%
ACS/ACE 59,7% 34,1%

1,6%
Profissionais de 28,9% 69,5%
enfermagem

5,1%
Médico(a) 30,8% 64,1%

10,5%
Outros(as) 26,2% 63,3%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Não recebeu em nenhum momento


Recebeu uma ou poucas vezes durante a crise
Recebeu de forma contínua durante a crise

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.

10
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

A cobertura das condições materiais de trabalho


durante a pandemia envolve também o treinamento “Falta de treinamento, de
específico para o enfrentamento à crise, uma vez
que o cenário de incertezas, conflitos políticos, alta
EPI, insegurança em relação à
vulnerabilidade e condições extremas exigem assistência médica e hospitalar
mais atenção à capacitação dos(as) profissionais não ter ainda um tratamento
de saúde. Apesar disso, os dados mostram que
realmente eficaz contra o vírus e
apenas 27,4% dos(as) respondentes alegaram ter
recebido treinamento sobre os protocolos para muito medo de contaminar meus
enfrentar a pandemia. Os(As) respondentes familiares, que têm pessoas com
do Nordeste são aqueles(as) que declararam, comorbidade.”
proporcionalmente, ter recebido menos
treinamento (18,7%) - comparado a 21,1% do
Norte, 28,4% do Centro Oeste, 39,7% do Sudeste e 30,6% do Sul. Nos
resultados expostos no Gráfico 06, mais uma vez os(as) ACS/ACE (majoritariamente atuantes no Nordeste)
encontram-se em desvantagens em relação às demais categorias (apenas 14,5% receberam treinamento).

Gráfico 06 - Treinamento - por profissão (%)


100%
90%
80%
70% 85,5% 55,2% 54,0% 64,4%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
14,5% 44,8% 46,0% 35,6%
0%
ACS/ACE Profissional de Médico(a) Outros(as)
enfermagem
Sim, recebeu treinamento Não recebeu treinamento

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.

Em um cenário de incertezas e potencial subnotificação dos casos (sobretudo os assintomáticos), os testes


tipo PCR9 são materiais indispensáveis para garantir o monitoramento e gestão da pandemia. Mais do que
isso, pesquisadores(as) indicam que a testagem em massa é uma das principais estratégias de contenção
do vírus (MAGNO et al., 2020; PETO, 2020). No Brasil, essa estratégia não foi priorizada ((MAGNO et al.,
2020) e a presente pesquisa aponta para a mesma direção: 38,3% disseram que não receberam materiais
de testagem do serviço; 46,3% informaram que isso aconteceu uma ou poucas vezes e 15,4% receberam
de forma contínua. Comparando profissões, o Gráfico 07 mostra que ACS/ACE se destacam pelo alto
percentual de profissionais que não recebeu material de testagem em nenhum momento (43,3%) contra
uma margem de 30% para as demais categorias.

9 Considerado o “padrão ouro” ou “padrão de referência”, o RT-PCR é o exame que identifica o vírus e confirma a Covid-19. Para isso, o teste
busca detectar o RNA do vírus por meio de uma extração de amostra coletada na cavidade nasal do(a) paciente.

11
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Gráfico 07 - Testagem - por profissão (%)

ACS/ACE 43,3% 47,4% 9,3%

Profissionais de 31,3% 43,9% 24,7%


enfermagem

Médico(a) 31,7% 41,6% 26,7%

Outros(as) 34,8% 48,8% 16,4%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Não recebeu em nenhum momento


Recebeu uma ou poucas vezes durante a crise
Recebeu de forma contínua durante a crise

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.

Os dados sobre as condições materiais de trabalho durante a pandemia de COVID-19 não apresentam padrão
razoável capaz de proporcionar um ambiente adequado aos(às) trabalhadores(as) em um contexto crítico e de
recrudescimento das contaminações e óbitos. Além disso, a diferença entre profissões (e consequentemente
regional, tendo em vista maioria de ACS/ACE no Nordeste) é evidente em todos os aspectos analisados. O
Gráfico 08 apresenta um resumo do panorama das condições materiais de trabalho. A perspectiva observada
aqui parte, dessa vez, da segmentação por tipo de serviço em que os(as) respondentes trabalham - Atenção
Básica, Atenção Especializada, Atenção Hospitalar e Gestão - e sugere que a Atenção Básica apresenta
percentuais mais baixos em todas as variáveis de condições de trabalho consideradas.

12
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Gráfico 08 - Resumo das percepções positivas sobre preparo, equipamentos, treinamento e


testagem - por serviço (%)
24,0%
40,5%
Sente-se preparado(a) 46,5%
46,7%
34,3%

41,5%
62,1%
Recebeu EPI* 75,2%
53,3%
47,9%

19,0%
37,3%
Recebeu treinamento 53,1%
20,0%
34,3%

13,5%
15,7%
Recebeu testagem* 21,8%
33,3%
15,7%

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%


Atenção Básica Atenção Especializada Atenção Hospitalar Gestão Outro

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.
Nota: *Consideramos aqui apenas a opção “Recebeu de forma contínua durante a crise’’ .

As condições institucionais foram analisadas como exposto no Gráfico 09 e Gráfico 10. Em geral, 47,8%
dos(as) respondentes disseram que receberam suporte do superior direto - sem variação considerável entre
regiões e profissões (embora os(as) ACS/ACE sejam aqueles que declararam perceber proporcionalmente
menos esse apoio).

Gráfico 09 - Suporte de superiores - por profissão (%)


100%
90%
80%
55,2% 49,2% 49,5% 48,2%
70%
60%
50%
40%
30%
44,8% 50,8% 50,5% 51,8%
20%
10%
0%
ACS/ACE Profissional de Médico(a) Outros(as)
enfermagem
Sim, tem recebido suporte do superior direto Não tem recebido suporte do superior direto

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.

13
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

O contexto político mais amplo também é um aspecto importante no diagnóstico das condições
institucionais do trabalho. Dessa forma, esta pesquisa se propôs a abordar a percepção dos(as)
profissionais da saúde pública quanto à qualidade da ação das três esferas de governo na proteção dos(as)
trabalhadores, cujas respostas indicaram que a percepção positiva sobre governos municipais (54%) é
superior à de governos estaduais (50,4%) e, mais ainda, à do Governo Federal (24,8%). A descoordenação
federativa e as dificuldades impostas pelo Governo Federal na condução da crise foram indicadas nos
relatos dos(as) profissionais como agravantes para as sensações de medo, insegurança e despreparo
(sendo identificado em 307 narrativas). A Tabela 02 apresenta os resultados por profissão e os(as) ACS/
ACE são os mais desacreditados da instância municipal, o que parece coerente, uma vez que eles são
os(as) profissionais que mais se relacionam diretamente com as Secretarias Municipais e também os que
mais relatam falta de apoio, treinamento, EPI e testagem.

Gráfico 10 - Percepção sobre o apoio dos governos (%)


100%
90%
46,0% 49,6% 24,8%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
54,0% 50,4% 75,2%
20%
10%
0%
Municipal Estadual Federal

Não Sim

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas,
2020/2021.

Tabela 02 - Percepção positiva sobre apoio dos governos - por profissão (%)
Governo Municipal Governo Estadual Governo Federal
ACS/ACE 40,3% 50,2% 28,7%
Profissional de Enfermagem 51,4% 48,3% 22,5%
Médico(a) 51,5% 48,5% 22,2%
Outros(as) 53,1% 49,9% 28,3%
Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas,
2020/2021.Nota: o 100% corresponde ao universo de respondentes de cada profissão e as porcentagens expressas na tabela dizem respeito
às percepções positivas (Sim = 1)

14
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

“Antes meus filhos iam à escola, Trabalho na linha


de frente e trabalho
a empregada doméstica podia doméstico
transitar mais em transporte público,
atualmente, meus filhos ficam o Ao longo do último ano, diversos relatos
que se tornaram públicos pela mídia
dia todo em casa e a secretária tem expuseram sobrecarga de trabalho dos(as)
períodos que não vem por conta profissionais da linha de frente. Considerando
do risco de contágio no transporte principalmente o montante de mulheres na

público. Então antes eu não gastava linha de frente e as dificuldades de conciliar


as atividades produtivas e de cuidado com
muitas horas, era em torno 30, filhos(as) e casa (sobretudo em contexto de
cuidando das crianças, teletrabalho isolamento social e fechamento das escolas)
(além do trabalho do hospital) (WENHAM, 2020; FARRE et al., 2020; CHAUHAN,
2020), a presente pesquisa mapeou a carga
limpeza da casa, ajudando os filhos horária dos(as) profissionais na pandemia.
nas aulas on-line. A rotina está
muito mais cansativa.” No que tange às horas trabalhadas por semana,
observou-se a seguinte distribuição: 0 a 10 horas
(15,3%); 10 a 20 horas (4,4%); 20 a 30 horas (8,1%);
30 a 40 horas (54,1%); mais de 40 horas (18,1%).
Assim, a maioria (72,2%) trabalha semanalmente mais de 30 horas. Já em relação ao trabalho doméstico,
os(as) respondentes informaram que gastam na semana: 0 a 7 horas (27,1%); 8 a 14 horas (24,5%); 15 a 21
horas (13,1%); 22 a 28 horas (11%); 29 a 49 horas (12,7%); 50 a 70 horas (7,4%); mais de 70 horas (4,2%).

Além disso, 68,3% dizem que aumentou o número de horas em atividade doméstica durante a pandemia.
Nos relatos em que os(as) respondentes compartilham suas rotinas domésticas, encontramos as seguintes
tendências: (i) exaustão e cansaço por ter que combinar a dupla jornada de trabalho (como profissional de
saúde e “dona de casa”); (ii) o exacerbamento da preocupação com higienização; (iii) cuidado com filhos(as),
principalmente nas tarefas escolares à distância; (iv) isolamento social, mais tempo em casa, o que leva a
maior preocupação com o ambiente; (v) mais estresse e dificuldade de manter “as coisas em ordem”.

Dinâmicas de trabalho e interação com o usuário

A literatura de profissionais de linha de frente considera que o alto nível de interação entre os(as)
trabalhadores(as) com os(as) usuários das políticas é a sua principal característica (LIPSKY, 2019). Nesse
sentido, buscamos mapear a percepção dos(as) profissionais da saúde sobre as alterações de suas relações
com os(as) usuários(as) dos serviços e dos seus procedimentos e dinâmicas de trabalho. Em relação
ao primeiro ponto, 91,2% dos(as) respondentes afirmaram ter havido mudanças na
interação com os usuários, enquanto 92,4% também declararam
alterações nos procedimentos de trabalho.
“Mudou, o dia-a-dia é
No caso de reconhecimento de alteração na interação com o(a) sempre com receio de
usuário(a), os relatos dos(as) profissionais sinalizam os seguintes
motivos: (i) nova forma de abordagem, com maior distanciamento
perder um paciente,
por isso, tento não
criar vínculo com mais
15 nenhum paciente.”
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

“Mudou toda a logística do


hospital em que trabalho. e evitando tocar no paciente (em 62% dos casos); (ii) visitas
domiciliares suspensas ou reconfiguradas no portão das casas (em
Mudança de setores, 13,7% dos casos); (iii) necessidade de uso de EPI constantemente,
paramentações, cuidados paramentação e outros protocolos de biossegurança (em 13,2% dos
com o paciente, itinerário, casos); (iv) medo e ansiedade por risco de contaminar-se, tanto dos(as)

muitas horas extras...” profissionais como dos(as) usuários(as) (5,4% dos casos); (v) mais empatia,
proximidade e paciência com os(as) usuários(as) (em 4,3% dos casos).

Já entre as mudanças nos procedimentos de trabalho, observamos as seguintes tendências nas narrativas: (i)
nova forma de atender e abordar os pacientes (aparece em 45,3% dos relatos); (ii) paramentação, uso de EPI e
mais cuidado com higienização (presente em 22% dos relatos); (iii) novos fluxos e protocolos internos (em 14%
dos relatos); (iv) rotina , sem especificar (em 8,6%) (v) exaustão mental e física (em 6,4%); (vi) procedimentos
suspensos (como cirurgias, atendimentos coletivos, consultas,
etc.) (em 4,5%); entre outros.

“Agora eu passo álcool em


A discricionariedade é outra característica dos(as) profissionais
de linha de frente salientada por Lipsky (2019) e corresponde
tudo, me nego a ficar no
à capacidade de tomada de decisão, necessária em trabalhos mesmo local com colegas
altamente complexos, marcados pela escassez de recursos e sem máscara, tenho
ambiguidades (LOTTA, 2019). Nesse sentido, foi perguntado aos(às)
respondentes sobre a disposição de passar por cima das regras
dificuldade de me alimentar
(Gráfico 11) e se isso mudou no contexto da pandemia (Gráfico 12). e tomar água, estresse
e preocupação a cada
Ao observar o Gráfico 11 é possível perceber que 36,3% dos(as)
segundo”
profissionais de saúde se dispõem a passar por cima das regras em
benefício do paciente e que 31,1% deles(as) têm essa disposição em passar por cima
das regras em benefício do trabalho. De acordo com o Gráfico 12, a maior parte dos entrevistados afirma
que sua disposição em passar por cima das regras em benefício do paciente (52,43%) ou do processo de trabalho
(55,71%) se manteve constante em comparação com o período pré-pandemia.

Gráfico 11 - Disposição para passar por cima de regras (%)


30%
26,2% 26,9%
25,4%
25% 23,9% 23,8%
21,2%
20% 18,7% 18,3%

15%
10,1%
10%
5,7%
5%

0%
Disposição para passar por cima de Disposição para passar por cima de regras
regras em benefício do paciente em benefício do processo de trabalho

Muito provável Provável Nem provável, nem improvável Improvável Muito improvável

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021. Nota: o
total de respondentes a essas perguntas é n = 1199.

16
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Gráfico 12 - Mudança na disposição em passar por cima de regras (%)


60% 55,7%
52,5%
50%

40%
29,7%
30% 26,4%

20% 17,8% 17,9%

10%

0%
Mudança na disposição para passar por cima de Mudança na disposição para passar por cima de
regras em benefício do paciente regras em benefício do processo de trabalho

Sim, diminuiu em relação ao pré-pandemia


Sim, aumento em relação ao pré-pandemia
Não, pois permaneceu igual

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.Nota: o
total de respondentes a essas perguntas é n = 1199.

Emoções e saúde mental dos(as)


profissionais de saúde

Além dos aspectos institucionais e da percepção dos(as) profissionais da linha de frente em relação a esses
elementos, a carga emocional e psicológica trazida pelo contexto pandêmico aos(às) profissionais da saúde
tem aparecido como uma preocupação central nesse momento (The Lancet, 2020; PARTHASARATHY et
al., 2021; SCHMIDT et al., 2020). No Brasil, isso se reforça diante do prolongamento do descontrole sobre a
crise, que, entre outras questões, exacerba a sensação de exaustão e de sofrimento destes trabalhadores
diante do contexto precário em que têm atuado. Diversos estudos têm demonstrado as consequências
da pandemia na saúde mental dos(as) profissionais de saúde, com aumento dos quadros de estresse,
síndrome de burnout, depressão, ansiedade etc (TEXEIRA et al., 2020; ORNELL et al., 2020).

Dessa forma, mais uma vez, procuramos identificar também quais os impactos desta crise na saúde
mental e nas emoções desses(as) trabalhadores(as), assim como quais os suportes com os quais contam
para lidar com esse impacto. Neste momento, 80,2% dos(as) respondentes indicaram que sua saúde
mental foi afetada negativamente pela pandemia. Por região, as respostas afirmativas encontradas
mostram um cenário ligeiramente mais crítico nas regiões Sul (89,8%), Centro-Oeste (85,3%) e Sudeste
(83,8%), em comparação com o Nordeste (74,5%) e o Norte (73,3%). Cumpre salientar que os resultados
para o Nordeste são influenciados pelos(as) ACS/ACE, maioria dos(as) respondentes da região. O Gráfico
13 descreve a percepção sobre os impactos na saúde mental por profissionais, e aponta distribuições
similares entre as categorias profissionais analisadas, com exceção dos(as) ACE/ACS que percebem esse
impacto em escala comparativamente menor, provavelmente dada sua dinâmica de atuação.

17
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

“Espero que tudo esteja próximo de se


normalizar. Acredito que o dano mental às
equipes de saúde é irreparável, principalmente
àqueles que não tiveram apoio psicológico. Mas
nós somos fortes e passaremos por essa crise, como
já passamos por inúmeras outras. Espero que cada um
de nós receba apoio para que não aumentem os índices de
depressão, pois infelizmente a enfermagem que já estava
doente antes da pandemia, pós ela pode piorar muito.”

Gráfico 13 - Percepção sobre impactos na saúde mental - por profissão (%)


100%
90%
80%
70%
60% 75,1% 85,1% 85,4% 86,3%
50%
40%
30%
20%
10%
24,9% 14,9% 14,6% 13,7%
0%
ACS e ACE Profissional de Médico(a) Outros(as)
enfermagem
Não teve a saúde mental afetada Sim, teve a saúde mental afetada

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas,
2020/2021.

Em que pese o impacto relevante na saúde mental dos(as) profissionais da saúde, somente 19,1% dos(as)
respondentes afirmaram contar com algum apoio para cuidar de sua saúde mental neste momento,
número que sofreu uma queda importante (mais de 9%) em relação à rodada de outubro da pesquisa,
retornando ao patamar obtido pela segunda rodada da pesquisa, realizada em julho. Por região, as
respostas afirmativas encontradas na amostra seguem da seguinte forma: Centro-Oeste (26,6%); Sudeste
(22,3%); Sul (21,5%); Norte (18,9%); Nordeste (14,9%). O Gráfico 14 a seguir apresenta essa distribuição
por profissão, e aponta uma disparidade na percepção dos(as) ACE/ACS quanto ao apoio recebido para
cuidar da saúde mental em comparação às demais categorias.

18
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Gráfico 14 - Percepção sobre apoio para cuidar da saúde mental - por profissão (%)
100%
12,9% 22,5% 28,8% 26,7%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
87,1% 77,5% 71,2% 73,3%
30%
20%
10%
0%
ACS e ACE Profissional de Médico(a) Outros(as)
enfermagem
Não teve apoio Sim, teve apoio

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas,
2020/2021.

Entre os que indicaram receber apoio para cuidar


da saúde mental, questionamos quais tipos de apoio “Temos que trabalhar sempre
recebem e 61% dos(as) desses(as) respondentes
com medo de contrair a
indicaram receber apoio de psicólogos e 10,6% citaram
o apoio de psiquiatras. Ainda, a indicação de recebimento doença, fazer as visitas
de apoio foi de 10% em relação a amigos e familiares e de distante das pessoas, evitar
3,7% em relação à religião ou espiritualidade. entrar nas residências pra
Além do questionamento sobre quais tipos de apoio
proteger o usuário e nos
recebem, pedimos que os(as) respondentes indicassem proteger. Vejo colegas toda
a quem recorrem para cuidar da saúde mental. 42% dos hora se infectando, é um
profissionais indicou recorrer à família, 37,8% a profissionais
pesadelo, afeta o psicológico
da área da saúde mental (psicólogos e psiquiatras), 26,4%
a amigos, 19,5% a colegas de trabalho, e 13,8% a um guia da gente, temos família,
religioso. Ainda, 15,4% indicaram não recorrer a ninguém. queremos também nos
proteger. Linha de frente e
Perguntamos também quais foram as principais emoções
que os(as) profissionais têm sentido durante o trabalho
um risco constante”
na pandemia, tanto em relação às suas emoções pessoais,
quanto na interação com os usuários. O Gráfico 15 apresenta
o percentual das respostas a cada uma das emoções listadas, sendo
que os profissionais podiam escolher mais de uma emoção. Os(as) respondentes
experimentaram majoritariamente sentimentos negativos durante o trabalho, o que sugere um cenário
crítico de atuação, com destaque para o estresse/ansiedade (67,8%), medo (58,8%), cansaço (57,7%)
e tristeza (50,6%). Sentimentos positivos apareceram com menor frequência, e se concentraram,
principalmente, em esperança (54,1%) e empatia (29,5%).

19
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Gráfico 15 - Emoções pessoais dos(das) profissionais de saúde (%)

Estresse/ansiedade 67,8%
Medo 58,8%
Cansaço 57,7%
Esperança 54,1%
Tristeza 50,6%
Empatia 29,5%
Solidão 26,8%
Desesperança 26,2%
Distanciamento/frieza 21,8%
Raiva 21,6%
Reconhecimento 12,5%
Indiferença 9,0%
Outro 0,2%

0,0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%
Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas,
2020/2021.

Além das emoções pessoais impostas pela pandemia e pelas condições de trabalho, questionamos
também sobre as emoções sentidas no contato direto com o cidadão, pergunta em que também podiam
indicar mais de um sentimento. Como respostas mais predominantes obtivemos: empatia (48,9%), medo
(45,8%), afeto/carinho (43,8%), distanciamento/frieza (22,5%), pena (20,3%), desconfiança (20%), raiva
(12%) e indiferença (8,3%). Como percebemos, são sentimentos muitas vezes conflituosos e que acabam
por impactar na forma como estes profissionais interagem com os usuários.

Também perguntamos sobre a ocorrência de assédio moral durante a pandemia. No geral, 33,5% dos(as)
profissionais afirmam ter sofrido assédio moral no trabalho em decorrência da crise: 6,4% dizem ter
iniciado com o novo contexto, 18,6% dizem ter aumentado com o mesmo e 8,6% disseram que se manteve
igual ao que era antes. O Gráfico 16 mostra a ocorrência de assédio por categoria profissional.

“Estava amamentando quando começou a pandemia


e trabalhava numa área insalubre, solicitei
transferência para uma área não insalubre, o chefe
não queria atender e ainda por cima perguntou até
quando eu iria amamentar”

20
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Gráfico 16 - Ocorrência de assédio moral aos profissionais de saúde durante a pandemia -


por profissão (%)

ACS e ACE 68,4% 16,3% 7,6% 7,6%

Profissionais de 57,8% 24,4% 3,8% 14,0%


enfermagem

Médico(a) 68,2% 17,2% 8,1% 6,6%

Outros(as) 68,2% 20,2% 4,0%7,5%

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Não Sim, e aumentou no contexto da pandemia


Sim, e se iniciou com a pandemia Sim, mas continua igual ao que era antes

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas,
2020/2021.

Nesta rodada, decidimos avançar na questão do


assédio sofrido durante a pandemia em relação às
“Minha chefe chegou a dizer que
rodadas anteriores, questionando também quem
teria sido o agente assediador. Ao perguntar “Quem
eu estava usando minha gravidez
te assediou?” aos(às) respondentes que indicaram para não trabalhar. Que não
haver sofrido assédio, identificamos que 45,5% foram podia fazer nada para o grupo
assediados por usuários(as) do serviço, 44,7% pela chefia,
20,1% por colegas e 18,8% por pessoas nas ruas, e 17,3%
de risco, a menos que eu
por governantes. tivesse banco de horas, e me
cobrava atendimento em
quantidade.”
Percepção sobre ciência e
reabertura das atividades

Ao longo da pandemia da COVID-19, a divulgação em massa de informações controversas


sobre temas antes já consensuais no debate científico vem sendo um dos problemas centrais no
enfrentamento à crise. Embora esse fenômeno ocorra ao redor do mundo, a particularidade do caso
brasileiro reside no fato de que a desinformação parte institucionalmente do Governo Federal, à medida que
a inversão de prioridades se concretiza em atrasos na compra de vacinas e em gastos com medicamentos
cuja eficácia no tratamento da COVID-19 não é comprovada cientificamente (SHALDERS, 2021).

Tendo em vista esse cenário, elaboramos três perguntas, expostas na Tabela 03, com o objetivo de
captar a percepção dos(as) profissionais da linha de frente da saúde sobre os assuntos concernentes ao
combate ao vírus.

21
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Tabela 03 - Percepções sobre temas científicos (%)


Um(a) paciente diagnosticado(a) com COVID19 solicita um tratamento que não é consensual na ciência,
mas muito falado na internet. Na sua opinião, nessa situação, os(as) profissionais:
Devem dar acesso ao tratamento. O(A) usuário(a) tem o direito de escolha. 34,4%
Não devem dar acesso ao tratamento. A palavra final deve ser dos(as) profissionais 65,6%
de saúde

Na pandemia, têm se recorrido a medicamentos desenvolvidos para outras doenças, já que ainda não
há tratamento específico para COVID-19. Você acha que essa estratégia:
Deve ser utilizada mesmo que não haja comprovação da eficácia desses 33,7%
medicamentos já que devemos fazer tudo o que é possível pelo(a) usuário(a)
Só devem ser usados medicamentos com comprovação de eficácia 66,3%

Você acredita que a vacinação é:


Um pacto coletivo. Portanto, todos(as) devem ser persuadidos ou obrigados a tomar 67,6%
a vacina.
Uma escolha individual. Nesse sentido, toma vacina quem quiser. 32,4%

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.

Embora não haja algo próximo a um consenso entre os(as) respondentes, é possível notar que há uma
predominância de respostas alinhadas ao que autoridades nacionais e internacionais da área da saúde
vêm reforçando, como, por exemplo, a importância da vacina como um pacto coletivo e como instrumento
mais efetivo no combate ao vírus. Ainda, os(as) profissionais responderam, em maior proporção, em favor
de não se utilizarem medicamentos sem comprovação científica, ainda que solicitados pelo(a) paciente.

Ao segmentarmos os dados por profissão, notamos que médicos(as) e profissionais inseridos na categoria
“Outros” tendem a convergir com maior percentual de profissionais que entendem que a palavra final
sobre um tratamento deve ser dos(as) profissionais de saúde, que só devem ser usados medicamentos
cuja eficácia é comprovada cientificamente e que vacinação é um pacto coletivo e, portanto, todos(as)
devem ser persuadidos(as) ou obrigados(as) a aderir. Por outro lado, ACS/ACE, embora também
apresentem uma maioria de profissionais cuja perspectiva é semelhante à de médicos(as) e outros(as)
profissionais, o percentual observado é consideravelmente menor, assim como entre profissionais de
enfermagem (estes, porém, em um patamar intermediário entre médicos(as)/outros(as) e ACS/ACE). A
Tabela 04 detalha esse cenário:

22
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Tabela 04 - Percepções sobre temas científicos - por profissão (%)


Um(a) paciente diagnosticado(a) com COVID19 solicita
um tratamento que não é consensual na ciência, mas Profissional de
ACS/ACE Médico(a) Outros(as)
muito falado na internet. Na sua opinião, nessa situação, Enfermagem
os(as) profissionais:
Devem dar acesso ao tratamento. O(A) usuário(a) tem o 39,4% 38,4% 27,3% 22,4%
direito de escolha.
Não devem dar acesso ao tratamento. A palavra final deve 60,6% 61,6% 72,7% 77,6%
ser dos(as) profissionais de saúde

Na pandemia, têm se recorrido a medicamentos


desenvolvidos para outras doenças, já que ainda não há Profissional de
ACS/ACE Médico(a) Outros(as)
tratamento específico para COVID-19. Você acha que Enfermagem
essa estratégia:
Deve ser utilizada mesmo que não haja comprovação da
eficácia desses medicamentos já que devemos fazer tudo 40,2% 34,3% 22,2% 22,6%
o que é possível pelo(a) usuário(a)
Só devem ser usados medicamentos com comprovação de 59,8% 65,7% 77,8% 77,4%
eficácia

Profissional de
Você acredita que a vacinação é: ACS/ACE Médico(a) Outros(as)
Enfermagem
Um pacto coletivo. Portanto, todos(as) devem ser 57,2% 72,7% 81,8% 82,2%
persuadidos ou obrigados a tomar a vacina.
Uma escolha individual. Nesse sentido, toma vacina quem 42,8% 27,3% 18,2% 17,8%
quiser.

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.

Reabertura

Considerando o recente cenário de agravamento profundo


“Acredito que os casos da pandemia da COVID-19 com o número de mortes
voltarão a aumentar devido ultrapassando os 300 mil e constantes recordes na média
ao processo de reabertura móvel semanal , e os debates acerca das medidas restritivas
10

à circulação da população na tentativa de conter o avanço da


que não está sendo feito contaminação, buscamos entender a opinião dos(as) profissionais
de forma adequada e sobre a reabertura das atividades. Em termos gerais, temos que
devido à falta de inspeção 32% dos(as) respondentes se colocam contrários à reabertura,

dos estabelecimentos outros 45,3% são favoráveis a uma reabertura apenas de serviços
essenciais e com uso de máscara de proteção, 22,1% afirmam ser
sobre a questão de favoráveis a uma reabertura total com uso de máscaras de proteção
cuidados relacionados e 0,6% favoráveis a uma reabertura total sem obrigatoriedade de uso
à diminuição da de máscara. O Gráfico 17 traz um panorama das respostas a partir da
distribuição por profissões, em que chama atenção o fato de quase 40%
propagação do vírus.” dos(as) trabalhadores inseridos na categoria “Outros” serem contrários
à reabertura - muito acima dos cerca de 30% observados nas demais
subdivisões profissionais.

10 G1. “Brasil passa de 328 mil mortos por Covid; média fica acima dos 3 mil pelo segundo dia seguido”. 02. de abril de 2021. Disponível em
<https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/04/02/brasil-passa-de-328-mil-mortos-por-covid-media-fica-acima-dos-3-mil-pelo-
segundo-dia-seguido.ghtml>. Acesso em 02 de abr. de 2021

23
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Gráfico 17 - P
 ercepções dos(as) profissionais de saúde sobre a reabertura dos serviços -
por profissão (%)

ACS/ACE 30,6% 47,6% 21,3% 0,5%

Profissionais de 29,2% 47,9% 22,2% 0,6%


enfermagem

Médico(a) 29,3% 42,9% 26,8% 1,0%

Outros(as) 39,6% 38,3% 21,6% 0,5%

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Sou contrário à reabertura


Sou favorável a uma reabertura apenas de serviços essenciais e com uso de máscara de proteção
Sou favorável a uma reabertura total com uso de máscaras de proteção
Sou favorável a uma reabertura total sem obrigatoriedade de uso de máscara

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas,
2020/2021. Cada 100% corresponde ao universo de profissionais das respectivas categorias: ACS/ACE, Médico(a), Profissional de
Enfermagem e Outros

Desigualdade na linha de frente

O acúmulo histórico a partir de experiências com pandemias e a vivência do cenário atual da crise permitem
observar que esse fenômeno atinge a sociedade de maneira desigual (AHMED et al., 2020). Os efeitos
do aprofundamento de desigualdades têm sido notórios quando constatadas as condições precárias de
moradia em que vive boa parte da população, a falta de acesso aos serviços de saúde, a informações centrais
na prevenção à doença e à internet, que privam essa parcela da sociedade de enfrentarem a pandemia de
forma segura (AHMED et al., 2020). Ainda, no Brasil, as dimensões continentais e o histórico de desigualdades
estruturais que dividem regiões, territórios e grupos sociais impõem um desafio adicional ao enfrentamento
dos efeitos da pandemia da COVID-19 sobre grupos historicamente vulnerabilizados (PIRES et al., 2020).

Ao longo deste trabalho, foi possível observar, para além dos aspectos supracitados, a discrepância
existente entre as diferentes categorias profissionais da área da saúde. Em termos gerais, enquanto
ACS/ACE recebem menos equipamentos de proteção individual (EPI), menos treinamento para o
enfrentamento adequado à pandemia, menos testagem e se sentem mais desamparados tanto por
superiores(as) diretos quanto por governos; médicos(as) e, em alguns casos, profissionais de enfermagem
enfrentam a pandemia em melhores condições de trabalho e com maior apoio institucional - ainda que,
também no caso dessas profissões, as condições sejam ruins e o apoio seja baixo.

O desequilíbrio entre as categorias profissionais é atravessado, também, por desigualdades interseccionais


de raça e gênero. Homens e mulheres negros(as) têm maior participação em ocupações informais e com

24
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

menor rendimento médio em


comparação a trabalhadores(as)
brancos(as) (SANTOS et al., 2020), “Com a minha filha em casa e meu marido
o que os(as) torna mais sujeitos(as) desempregado tenho o compartilhamento
aos efeitos de curto, médio e longo
das tarefas com ele, no entanto as
prazo da crise econômica e social
ocasionada pela pandemia. Além disso, demandas ligadas a refeição, limpeza
as profissões historicamente ligadas a de casa e lavagem de roupas
atividades de cuidado, com alta participação aumentou muito com a intensidade
de mulheres, sobretudo negras, são ainda
mais demandadas em momentos de emergência
da presença de todos em casa.”
(WENHAN, 2020), o que, se somado à intensificação
da dupla ou tripla jornada dessas profissionais devido
ao fechamento de escolas e creches, se torna um mecanismo
potente de aprofundamento das já graves desigualdades (ONU Mulheres, 2020;
BEAMAN et al., 2020; Gênero e Número, 2020). O Gráfico 18 ilustra esse cenário a partir da informação
sobre a quantidade de horas dedicadas às atividades domésticas por profissionais de acordo com o perfil
interseccional de raça e gênero.

Gráfico 18 - Horas por semana dedicadas às atividades domésticas - por raça e gênero (%)
40%
35,4% 36,0%
35%

30% 26,8% 26,9%


25,9%
22,9% 23,8%
25%
22,0%
20%
13,9% 13,5% 15,6%
13,7% 12,2%
15% 11,2% 11,8%
10,5% 11,6%
9,4% 9,1%
10% 8,1% 7,9%
7,4%
4,9% 5,5%
4,3%
5% 3,1% 3,6% 3,0%

0%
Mulheres negras Homens negros Mulheres brancas Homens brancos

0 a 7 horas por semana 8 a 14 horas por semana 15 a 21 horas por semana 22 a 28 horas por semana

29 a 49 horas por semana 50 a 70 horas por semana Mais de 70 horas por semana

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas, 2020/2021.
Nota: o 100% corresponde ao universo de profissionais de cada grupo social identificado: mulheres negras, homens negros, mulheres brancas, homens
brancos.

Embora não seja possível fazer um recorte de classe, uma análise preliminar do cenário permite observar
que, enquanto mulheres, especialmente negras (51,5%), se concentram na faixa superior a 30 horas de
trabalho doméstico não remunerado por semana, os homens, especialmente brancos (59,8%), estão mais
representados na faixa que vai de 0 a 28 horas. Cumpre salientar que as análises se baseiam unicamente
no universo de respondentes desta pesquisa e as conclusões aqui expostas refletem o conjunto de dados
da amostra, não podendo, portanto, ser expandidas para toda a sociedade.

25
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Outros dados desagregados por gênero também expõem percepções desiguais entre os(as) participantes.
84% das mulheres informaram que a pandemia afetou a sua saúde mental contra 67% dos homens. Elas
foram as que proporcionalmente mais declararam sentir tristeza (53% contra 42% dos homens), estresse
(72% no caso das mulheres e 52% dos homens) e cansaço (62% versus 43%). Ademais, proporcionalmente,
as mulheres são as que menos se sentem preparadas para enfrentar a crise (28% contra 39% no caso dos
respondentes homens).

Tais resultados reforçam a importância de um olhar interseccional entre gênero e raça para compreender
as complexidades da realidade experienciada pelos(as) profissionais da linha de frente durante a
pandemia. As soluções e políticas públicas devem acompanhar este tipo de diagnóstico, considerando
uma perspectiva de gênero e raça enquanto transversal às ações, diretrizes e planejamentos das políticas
de saúde (LOTTA et al., 2021; WENHAM, MORGAN e SMITH, 2020; ONU Mulheres, 2020).

O que parece ter mudado entre as rodadas

Embora não seja possível fazer uma relação exata sobre o antes e depois com os dados coletados entre
as rodadas da pesquisa - já que os(as) respondentes não são necessariamente os(as) mesmos(as) - ainda
assim é possível construir algumas hipóteses do que parece ter mudado entre os meses que separam
as coletas de dados realizadas. Assim, traçamos algumas comparações iniciais sobre como as condições
parecerem (ou não) ter se alterado entre abril de 2020 e março de 2021.

Gráfico 19 - Percepção positiva sobre as condições materiais de trabalho nas quatro


rodadas da pesquisa (%)
100%
88,7% 87,6%
90% 85,5%
79,9%
80%
69,3% 69,9%
70% 65,1% 63,9%
60%
50,0% 48,0% 49,4%
50%

40% 47,8%
33,0% 35,2%
29,2% 27,4%
30%
21,9% 31,2%
20% 15,4%

10%

0%
Maio/20 (1ª rodada) Julho (2ª rodada) Outubro (3ª rodada) Março/21 (4ª rodada)

Medo Despreparo EPI* Treinamento Testagem*

Fonte: Survey online “A pandemia de COVID-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil” (n = 1829). Fundação Getúlio Vargas,
2020/2021. Nota: *Consideramos aqui apenas a opção “Recebeu de forma contínua durante a crise’’ .

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Embora a pandemia causada pelo novo coronavírus já dure mais de 12 meses, o momento atual no Brasil
é talvez o mais grave em termos de aceleração de mortes e contaminações. Com isso, as condições de
trabalho enfrentadas por profissionais de saúde compõem um conjunto de aspectos importantes no
diagnóstico do combate à crise. O Gráfico 19 indica que, apesar da melhora observada na terceira rodada
em algumas variáveis como fornecimento de EPI, treinamento e sensação de despreparo, a quarta rodada,
em março de 2021, voltou a apresentar um quadro desfavorável na maioria dos indicadores. Além da
queda no percentual de profissionais que afirmaram ter recebido EPI, treinamento e testagem, os dados
também apontam que a parcela de respondentes que se dizem despreparados(as) para o enfrentamento
à crise aumentou. Por fim, o percentual de profissionais que disseram ter sido testados(as) também
apresentou queda - algo esperado dada a crescente despriorização da testagem em massa como estratégia
no enfrentamento à pandemia.

Adicionalmente, como possível reflexo do agravamento da crise após um longo período de


enfrentamento e cargas emocionais intensas, o percentual de profissionais com a saúde mental afetada
seguiu aumentando - já havia aumentado de 78,2% para 79% entre julho e outubro e agora chega a
80,2%. Em linha com a tendência que observamos nas condições de trabalho, o apoio para cuidar da
saúde mental também apresentou queda em março de 2021 após uma melhora em outubro. Em julho,
apenas 19,6% dos(as) profissionais diziam ter recebido apoio para cuidar da saúde mental, percentual
que subiu para 28,4% em outubro mas caiu para 19,1% na quarta rodada, em março deste ano, patamar
inferior ao de 9 meses atrás.

Finalmente, mantendo o patamar de outubro, o percentual de profissionais que afirmaram ter sofrido
assédio moral chegou a 33,5% nesta rodada, apenas 0,5% abaixo dos 34% encontrados na terceira rodada,
em outubro, e 5% acima do observado na segunda rodada, em julho.

27
A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

Recomendações

A partir dos resultados apresentados acima, sugerimos um conjunto de recomendações que deveriam
ser atendidas pelas autoridades nas três esferas de governo (União, estados e municípios). Essas
recomendações visam melhorar a situação em que os(as) profissionais de saúde atuam durante a crise
sanitária. As sugestões abrem uma agenda de políticas públicas que não se esgotam nas linhas abaixo.

Ainda que os dados coletados estejam circunscritos dentro do universo amostral (n = 1829), as análises
demonstram que é preciso atenção com a saúde e a vida desses(as) profissionais. É fundamental garantir a
todos(as) recursos, informações adequadas, proteção e condições satisfatórias de trabalho. Desta forma, a
partir das análises deste estudo, recomenda-se priorizar a imunização, pela vacinação, da integralidade dos
profissionais da linha de frente da saúde, garantindo a aplicação das duas doses de imunizante a esses
trabalhadores(as). Além disso, reafirmamos as recomendações que têm sido feitas nas outras três rodadas
da pesquisa. Isso porque, mesmo um ano depois do início da pandemia, com tantas experiências acumuladas
e com o avanço da ciência, vemos uma situação similar em vários âmbitos. Neste sentido, repetimos parte das
recomendações, reforçando sua relevância imediata e já com um ano de atraso. São elas:

(i) 
distribuir recursos materiais de qualidade que garantam a segurança dos(as) trabalhadores,
principalmente EPIs e materiais de testagem para todos os(as) profissionais dos diferentes níveis
de atenção;

(ii) disseminar informações adequadas/oficiais sobre fluxos de trabalho, procedimentos, práticas de


proteção, etc.;

(iii) investir em estratégias territoriais que permitam o controle do contágio e a cobertura de locais com
maiores índices de contaminação;

(iv) consolidar canais de teleatendimento médico (teleconsulta) na Atenção Básica para a manutenção
da assistência médica com baixo risco de contágio para profissionais e pacientes;

(v) garantir de forma efetiva políticas de suporte emocional e psicológico para os(as) profissionais da
ponta utilizando estratégias que facilitem o acesso;

(vi) fortalecer os mecanismos para denúncia e enfrentamento a práticas de assédio moral contra os
trabalhadores da saúde;

(vii) divulgar dados desagregados sobre gênero, sexo, raça, classe, território, dentre outros marcadores
sociais para melhor compreensão sobre os impactos diferenciados entre a população brasileira.

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A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil 4ª Fase

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31
N O TA T É C N I C A

A pandemia de Covid-19
e os(as) profissionais de saúde
pública no Brasil
4ª Fase

realizaç ão

EAESP

a p oio

d ia g r a m a ç ã o

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