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Acórdão do Tribunal da Relação do Porto http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/56a6e7121657f91e80257cda00381fdf/15f3...

Acórdãos TRP Acórdão do Tribunal da Relação do Porto


Processo: 117/07.0TYVNG.P1
Nº Convencional: JTRP000
Relator: MARIA DE DEUS CORREIA
Descritores: DELIBERAÇÃO SOCIAL
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA
ACÇÃO DE ANULAÇÃO
DELIBERAÇÕES ABUSIVAS
Nº do Documento: RP20110217117/07.0TYVNG.P1
Data do Acordão: 17-02-2011
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: APELAÇÃO.
Decisão: CONFIRMADA.
Indicações Eventuais: 3ª SECÇÃO
Área Temática: .
Sumário: I - O Tribunal de Comércio é materialmente competente para conhecer do pedido
formulado pela autora fundado no direito a indigitar membros para os órgãos
sociais da sua participada, por se tratar de um direito social;
II - A formação de uma maioria correspondente a determinada parte do capital
social, também maioritária, não é sinónimo de abuso da posição de domínio;
III - Sendo a sociedade titular do direito a indigitar membros para os órgãos
sociais de uma SGPS, não têm aplicação os princípios da proporcionalidade e
da igualdade, por serem aplicáveis apenas aos direitos dos sócios;
IV - Não é abusiva a deliberação em que não se verificou qualquer benefício
especial para os sócios maioritários, em detrimento dos sócios minoritários ou
com prejuízo para a sociedade.
Reclamações:
Decisão Texto Integral: Processo n.º117/07.0TYVNG.P1

Autora: B…, SA

Rés: C…, LDA


D…, LDA

(Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia – 1.º Juízo)

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

I-RELATÓRIO

B…, S.A, veio requerer contra, C…, LDA. e D…, LDA., acção de anulação de
deliberações sociais e acção de condenação, nos termos expostos na PI,
formulando os seguintes pedidos:
a) Anulação da deliberação social tomada na Assembleia Geral de 19 de
Janeiro de 2007, constante da Acta nº 40, referida acima no artigo 31º;
b) Condenação da 1ª e 2ª rés a observar o princípio da proporcionalidade dos
direitos dos sócios da 1ª ré, na indigitação de membros para os corpos sociais
da 2ª ré;
c) Designação como representante da 1ª ré na Assembleia Geral da 2ª ré, em que
se delibere a eleição de órgãos sociais, de E…, gerente da 1ª ré, ou pessoa
idónea escolhida pelo Tribunal, em substituição de F…, com a cominação de
fazer cumprir o princípio da proporcionalidade na indigitação dos corpos
sociais da 2ª ré;
d) Declarada judicialmente tomada a deliberação nos termos da proposta
apresentada pela autora (arts. 31º e 32º da P.I.), aquando da realização da
Assembleia Geral de 19 de Janeiro de 2007.
Alegou, em síntese e para o efeito, que existem dois grupos de famílias – por um
lado a família G…, de que faz parte a A. e as sócias H… e I…, somando quotas
que representam 48% do capital da 1ª R. C…; por outro lado, a família J…, que
agrupa as quotas das sócias K…, Limited, L…, F…, M…, N… e O… que
conjuntamente detêm 52% do capital social da 1ª R..

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Referiu ainda que, o sócio F… foi eleito em assembleia geral de 05.04.1991 como
representante da 1ª R. nas assembleias da 2ª R. D… e, desde tal data, nunca foi
designado como membro ninguém indicado pela família G… ou elementos desta,
sendo que tal posição da família J… é reveladora de clara preterição dos direitos
sociais da família G… e o afastamento da A. dos órgãos sociais das
participadas da 1ª R., pelo menos desde 1991, causa àquela danos apreciáveis.
Contestou a 1ª R. C…, nos termos expostos a fls. 133 e ss., alegando que as
deliberações negativas e positivas tomadas, nada têm de abusivas, pois o
exercício de cargos nos órgãos de administração de sociedades participadas não
constitui o gozo de qualquer “bem social”. A A. não alegou qualquer facto
concreto passível de consubstanciar a lesão pela R. de qualquer direito social,
não existindo nos estatutos da C… ou da D… qualquer direito especial no
sentido de privativo ou exclusivo de um sócio ou grupo de sócios. Conclui pela
improcedência da acção.
Também a 2ª R. contestou, a fls. 192 e ss., deduzindo excepção de incompetência
material do tribunal com fundamento em que não é este o competente, para
conhecer da matéria, porquanto a A. peticionou, relativamente à D…, apenas a
sua condenação na observância do principio da proporcionalidade. Invocou
ainda que foram cumulados pedidos e partes, não podendo cumular-se, quando a
coligação ou cumulação ofenda as regras da competência internacional ou em
razão da matéria ou da hierarquia. Invocou ainda a ineptidão da PI, a ilegitimidade
da A. e inexistência do direito.

No despacho saneador foram julgadas procedentes as excepções deduzidas pela


2.ª Ré – de incompetência material do tribunal e de coligação ilegal de partes e de
pedidos e, consequentemente foi julgado o Tribunal de Comércio, incompetente,
em razão da matéria para apreciar o segundo pedido formulado pela Autora e,
como tal, ilegal a coligação de partes e cumulação de pedidos e, em
consequência, foi absolvida a 2.ª Ré da instância.

Por se considerar que a questão de mérito é de direito e de facto, mas os autos


reuniam todos os elementos necessários para que fosse proferida decisão, foi a
mesma elaborada decidindo-se julgar a acção improcedente e absolvendo a 1.ª
Ré dos pedidos formulados.

Inconformada com a decisão proferida, a Autora veio interpor recurso de


apelação, formulando as seguintes conclusões de recurso:

1. Com o devido respeito, a decisão tem por base uma visão desfocada e
redutora da situação apresentada pela Recorrente, razão pela qual vem apenas
aparentemente fundamentada, não atingindo o cerne da questão, que ficou por
decidir.

2. Duas determinações expressas do pacto social da 2.ª Recorrida atribuem à 1.ª


Recorrida, enquanto sócia detentora de mais de 20% do capital social desta sua
participada, o direito a nomear um elemento para o Conselho Geral e um ou dois
elementos para o Conselho de Gerência da 2.ª Recorrida – cfr. artigos 4.º a 7.º da
petição inicial e pontos 4 a 6 dos factos assentes na sentença.

3. Este direito da 1.ª Recorrida a indigitar membros para os corpos sociais das
participadas configura um bem social, que, como tal, deve ser usufruído por
todos os sócios em termos igualitários, leia-se, proporcionais à respectiva
participação social – cfr. princípio da paridade de tratamento.

4. Só assim não seria se tivesse sido atribuído a algum sócio da 1.ª Recorrida um
direito especial, por expressa estipulação do contrato de sociedade desta última,
o que in casu não sucedeu. – cfr. artigo 24.º, n.º1, do CSC e artigos 56.º a 58.º da
petição.

5. A partilha por todos os sócios deste bem social da 1.ª Recorrida a nomear
membros para órgãos das participadas é especialmente importante na concreta
situação em análise, porque a 1.ª Recorrida é uma sociedade gestora de
participações sociais (SGPS) que não tem outra actividade que não seja deter as
participadas, colhendo os dividendos destas e dividindo-os entre os sócios.

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6. Ora, a pretensão da Recorrente na presente lide é justamente exercer o direito


à parcela que proporcionalmente lhe cabe no direito social da SGPS que detém
em 48% (da 1.ª Recorrida), a indigitar membros para os órgãos sociais da 2.ª
Recorrida (direito que a 1.ª Recorrida tem, por via dos referidos estatutos), com
fundamento no princípio da igualdade de tratamento, que desemboca no
princípio da paridade.

7. O direito da Recorrente a, enquanto sócia da 1.ª Recorrida, usufruir, na


proporção que lhe cabe, desse bem social da 1.ª Recorrida, configura, ele
mesmo, um direito social.

8. O exercício judicial deste direito na presente acção é motivado pelo facto de a


Recorrente estar a ser contínua e sistematicamente impedida de fruir de tal bem
social da sua participada, aqui 1.ª Recorrida.

9. Com efeito, este bem social da 1.ª Recorrida tem sido gozado, de forma
reiterada e insistente, exclusivamente pelos membros da família J…, que têm
instrumentalizado a participação maioritária (52%) que têm no capital social da
1.ª Recorrida, para impedirem os sócios que integram a família G… (48%) a
acederem e gozarem dessa regalia social, na parte que lhes cabe.

10. O facto de a situação já ser recorrente agrava a iniquidade cometida,


revelando de forma mais impressiva e séria a preterição que tem sido feita dos
direitos dos sócios que integram a família J… e a insustentabilidade dessa
situação, ao invés de a justificar como parece entender o meritíssimo a quo.

11. Verifica-se, pois, uma discriminação dos sócios da 1.ª Recorrida que integram
a família G…, em que se encontra a Recorrente, em benefício especial dos sócios
que compõe a família J…, dado que não lhes foi validamente concedido qualquer
direito especial que lhes permita usufruir 100% do bem social da 1.ª Recorrida de
indigitar membros para os corpos sociais da 2.ª Recorrida, nela detendo apenas
52%.

12. Esta discriminação é causadora de prejuízos para a Recorrente, que passam


pela perda das avultadas remunerações a que têm direito os membros dos
órgãos sociais, e pela perda de controlo e informação das participadas da
sociedade SGPS que a Recorrente detém (que, ademais, é o seu único
património).

13. Por tudo, com o devido respeito, que é muito, o tribunal a quo não interpretou
convenientemente a presente lide, desde logo porque, ao contrário do que
afirma, nela não está em causa qualquer direito da Recorrente a exercer cargos
na 2.ª Recorrida. (Como se disse, o que está em causa é o direito da 1.ª Recorrida
a indigitar membros para os órgãos sociais da sua participada, aqui 2.ª
Recorrida, que lhe advém dos estatutos sociais desta última, direito, esse, que
deve ser repartido e usufruído de forma paritária por todos os sócios da 1.ª
Recorrida). Da mesma forma, de nada interessa à pretensão da Recorrente o
disposto no artigo 390.º, n.º4 do CSC para as sociedades anónimas (pois que o
direito em exercício decorre, em primeira linha (para a 1.ª Recorrida), do pacto
social da 2.ª Recorrida).

14. Uma vez identificado correctamente o direito em exercício, deve concluir-se


que se trata de um direito social e, por isso, que o tribunal de comércio é
materialmente competente para conhecer do pedido B), sendo, por isso, também
válida a coligação de pedidos e de partes, que se apresentam como um todo
indissociável para atingir o efeito jurídico pretendido. – cfr. artigo 89.º, n.º1 e 3 da
LOFTJ e 31.º do CPC.

15. Em consequência, deverá ser proferida decisão de mérito sobre o pedido B),
sendo devidamente interpretada a lide.

16. Acresce que, ainda em virtude de não ter sido atendido o verdadeiro sentido e
alcance da acção, o tribunal recorrido considerou não haver um benefício

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especial para os sócios da 1.ª Recorrida que integram a família J…, nem prejuízo
para a 1.ª Recorrida ou para a aqui Recorrente, conclusão que fundamentou no
simples facto de a situação ser recorrente.

17. No entanto, uma vez que, como se explicou, não está em causa a mera
manutenção da família J… nos cargos, mas a negação do mesmo direito aos
membros da família G…, na proporção devida, facilmente se percebe que se
verifica efectivamente uma discriminação ofensiva do princípio da paridade de
tratamento, pela atribuição aos sócios da 1.ª Recorrida que integram a família J…
do gozo exclusivo de um bem social que devia ser distribuído por todos os
sócios em paridade. Tal sucede, pois, em detrimento dos sócios que integram a
família G…, sem que exista uma causa objectiva que o permita validamente.

18.A situação ofende, assim, de forma clamorosa o princípio da igualdade e da


boa fé, que naturalmente se sobrepõem ao princípio maioritário.

19. Nos termos do disposto no artigo 58.º, n.º1, alínea b) do CSC, são anuláveis
as deliberações que sejam apropriadas para satisfazer o propósito de um dos
sócios de conseguir, através do exercício do direito de voto, vantagens especiais
para si ou para terceiros, em prejuízo da sociedade ou de outros sócios ou
simplesmente de prejudicar aquela ou estes.

20. Ora, a situação em análise cabe como uma luva nesta norma.

21. Com efeito, a deliberação posta em crise no pedido A) da acção visa, única
e exclusivamente, permitir que apenas os sócios da família J… acedam aos
lucrativos lugares dos órgãos sociais das participadas da 1ª Recorrida, que
estes sócios alcançam através do respectivo voto e dos votos que com eles
formam o grupo familiar maioritário dentro da 1.ª Recorrida.

22. A reiterada eleição dos sócios da família J… para os corpos sociais das
participadas da 1ª Recorrida constitui uma vantagem especial para estes, porque
não respeita o princípio da proporcionalidade que deve presidir na distribuição
dos bens sociais, e não resulta, de modo algum, do pacto social da 1ª Recorrida,
bem como não é adequada, nem se destina à prossecução de qualquer interesse
social.

23. Essa vantagem especial apenas é possível em prejuízo dos sócios


minoritários. Na verdade, o que a mais é dado aos sócios maioritários é retirado
dos minoritários, que, detendo 48% do capital social da 1.ª Recorrida, em nada
usufruem do seu fundamental bem social que consiste em ter poder de acesso à
gestão das participadas, onde a actividade operacional se desenvolve.

24. Assim, a deliberação aprovada impede os sócios da família G… de receber


uma parte das avultadas remunerações que os cargos em causa propiciam, bem
como, não lhes propicia a possibilidade de intervir directamente na gestão, de
ser informados do normal desenvolvimento dos negócios dessas mesmas
participadas, uma vez que, tal é reservado, em virtude das deliberações
tomadas, incluindo a deliberação cuja anulação ora se requer, única e
exclusivamente aos sócios da família J…, em claro prejuízo da Recorrente e da
família G….

25. Desta forma, os sócios da 1.ª Recorrida que integram a família J… vêm
excedendo manifestamente os limites impostos pela boa fé, pelos bons
costumes ou pelo fim social ou económico do direito de voto que lhes assiste,
agindo de forma desleal e incorrecta para com as restantes sócias da 1.ª
Recorrida, de modo a alcançar resultados opostos aos que uma consciência
razoável poderia tolerar.

26. Por tudo, a deliberação em crise é abusiva, sendo anulável, nos termos do
disposto no artigo 58.º, n.º1, alínea b) do CSC e artigo 334.º do CC.

27. Acresce que a anulação da deliberação que foi aprovada com os votos
abusivos da família J… não se revelará suficiente para acautelar os legítimos

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interesses da Recorrente, pois não garante o exercício da prerrogativa social da


1.ª Recorrida, nas assembleias da 2.ª Recorrida, de forma consentânea com o
princípio da proporcionalidade. Por isso, torna-se absolutamente necessário que
a 1ª Recorrida seja obrigada a observar o princípio da proporcionalidade dos
direitos dos sócios na indigitação de membros para os corpos sociais da 2ª
Recorrida, o que só se alcança se for designada uma pessoa, em substituição do
Sr. F…, para representar a 1ª Recorrida na Assembleia Geral da 2ª Recorrida em
que se delibere a eleição dos membros dos órgãos sociais (pedido C)).

28. Por fim, a deliberação proposta pela família G… deve ser considerada
aprovada, por ser inválido o concurso dos votos da família J… e por ter o voto
favorável da totalidade dos votos válidos emitidos. Afinal, a declaração judicial
da validade da deliberação e a sua aprovação, em virtude da “neutralização”
dos votos abusivos, constitui um mero “corolário” do reconhecimento da
existência de abuso de direito (pedido D)).

29. A decisão recorrida violou os princípios da igualdade, da paridade de


tratamento, da proporcionalidade e da boa fé, assim como o disposto nos artigos
89.º da LOFTJ, 31.ºe 668.º do CPC, 58.º do CSC e 334.º do CC.

Ambas as recorridas apresentaram contra – alegações, nas quais pugnaram pela


confirmação da decisão.

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir:

II-OS FACTOS

Na 1.ª Instância foram dados como provados os seguintes factos:

1 - A autora é sócia da 1ª ré, em cujo capital social de € 200.000,00 detém uma


quota no valor de € 84.028,85.

2 - O restante capital da 1ª ré está dividido da forma seguinte:


- K…, Limited, uma quota no valor de € 91.031,25;
- L…, uma quota no valor de € 200,35;
- F…, uma quota no valor de € 249,40:
- M…, N… e O…, que detêm uma quota no valor de € 4.173,00, cada um deles;
- H…, uma quota no valor de € 5.898,58 e
- I…, com uma quota no valor de €
5.985,57.

3 - Por sua vez, a 1ª ré é sócia da 2ª ré, em cujo capital social detém três quotas,
uma no valor de € 8.100.000,00 e duas no valor de € 300.00,00 que juntas
representam 29% do capital social da 2ª ré, no valor actual de € 30.000.000,00.

4 - A 2ª ré tem como órgãos sociais a Assembleia Geral, o Conselho Geral e o


Conselho de Gerência, sendo aquele composto por três elementos e esta por
cinco ou sete.

5 - Nos termos do artigo Quarto, B, nº 4, do pacto social da 2ª ré, uma minoria que
represente pelo menos 20% do capital social tem direito a designar um elemento
para o Conselho Geral, caso tenha votado contra a proposta que fizer
vencimento.

6 - Disposição semelhante existe para o Conselho de Gerência – cfr. Artigo


Quarto, C, nº 3 do Pacto Social, nos termos do qual, uma minoria representativa
de pelo menos 20% do capital social tem direito a designar um ou dois
elementos, conforme este Conselho seja formado por cinco ou sete elementos,
respectivamente.

7 - Na primeira composição do capital social da autora os sócios eram, por


determinação do referido fundador, o próprio P… e F…, com uma quota de
duzentos contos cada um e as aludidas filhas, com uma quota de dois mil e
trezentos contos cada uma.

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8 – O sócio F…, foi eleito, em Assembleia Geral de 05 de Abril de 1991, como


representante da 1ª ré nas Assembleias da 2ª ré.

9 – A solicitação da família G…, através do gerente que esta indigitou para a 1ª


ré, E…, foi convocada uma Assembleia Geral da 1ª Requerida, para o dia 19 de
Janeiro de 2007, com a seguinte ordem de trabalhos:
1- Designação das pessoas para ocupar um lugar no Conselho Geral e dois
lugares no Conselho de Gerência da participada D…, Lda., para o mandato do
triénio 2007 a 2009.
2- Definição de critérios futuros para a distribuição dos cinco lugares atribuídos à
Sociedade pelos Pactos Sociais das Participadas.

10 - No dia 19 de Janeiro de 2007 teve lugar a Assembleia Geral da 1ª ré e o


representante da autora apresentou a seguinte proposta para o primeiro ponto da
ordem de trabalhos:
“Considerando que:
a) A C…, Lda. tem sempre a possibilidade de designar um membro do Conselho
Geral e dois membros do Conselho de Gerência da sua participada D…, Lda.
b) A C…, Lda. pode sempre acautelar a referida designação, quer através de
negociação com os restantes sócios da D…, Lda., quer através do voto contra a
lista de membros para os corpos sociais que fizer vencimento;
c) Os cargos acima referidos são remunerados e permitem, a quem os exerce, um
conhecimento privilegiado da actividade da participada;
d) O acesso a esses cargos emana de um direito da sociedade, constituindo um
bem social;
e) A nenhum sócio é legítimo gozar em exclusivo dos benefícios de um bem
social, devendo esse gozo, por princípio e em última análise, reverter em favor de
todos os sócios na proporção das respectivas participações;
f) Em Março próximo, a D…, Lda. elegerá os novos membros dos Conselhos
Geral e de Gerência, para um novo mandato de três anos.
Propõe-se:
1º - Que a sociedade adopte o princípio de que as designações para os corpos
sociais das participadas devem traduzir da melhor forma possível as
participações relativas dos sócios no capital social.”

11 - A autora apresentou uma proposta semelhante para o segundo ponto da


ordem de trabalhos.

12 - Ambas as propostas foram rejeitadas porque contra elas votaram os ditos


sócios Q…, L…., F…, M…, N… e O… que constituem o grupo maioritário J….

13 - O sócio F… propôs, na mesma Assembleia, que os sócios aprovassem que


deveria merecer a aprovação do representante da 1ª ré na Assembleia Geral da 2ª
ré, uma proposta de eleição de elementos para os órgãos sociais da 2º ré que o
incluísse a ele próprio e ao seu filho, N….

14 - Esta proposta foi aprovada com os ditos votos dos sócios que constituem o
grupo maioritário, aqui denominado J….

15 - A autora e os demais sócios do grupo G… votaram contra.

III-O DIREITO

Tendo em conta as conclusões de recurso que delimitam o respectivo âmbito de


cognição sem prejuízo das que sejam de conhecimento oficioso, as questões que
importa conhecer são as seguintes:

1. Excepção da incompetência do Tribunal de Comércio em razão da matéria e


legalidade da coligação de pedidos;

2.Nulidade da deliberação social

1.Na decisão recorrida foi considerado que o pedido formulado na alínea B)[1],

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não se integra no art.º 89.º n.º1 c) da LOFTJ, pelo que não seria o Tribunal de
Comércio competente para o apreciar e decidir. E argumenta do seguinte modo:
A Autora considera que através de tal pedido está a exercer um direito social.
Ora, na categoria de direitos sociais cabem os indicados no art.º 21.º do Código
das Sociedades Comerciai (CSC), designadamente o direito de ser nomeado para
os órgãos sociais. “no caso sub judice , a Autora não é titular do direito de
exercer cargos na 2.ª Ré, como é o de gerente, já que para as sociedades de
quotas não existe uma solução idêntica à que a lei encontrou no art.º 390.º n.º4
para as sociedades anónimas, o que, consequentemente, impede a pretendida
nomeação do indigitado E…. E assim, parece-nos que o pedido formulado na
alínea B), não se integra no art.º 89.º n.º1 c) da LOFTJ.”
Nas suas alegações a Apelante reafirma a tese de que está em causa o direito da
1.ª Recorrida a indigitar membros para os órgãos sociais da sua participada,
aqui 2.ª Recorrida, que lhe advém dos estatutos sociais desta última, direito
esse que deve ser repartido e usufruído de forma paritária por todos os sócios da
1.ª Recorrida. Deve, portanto concluir-se que se trata de um direito social e, por
isso, o tribunal de comércio é materialmente competente para conhecer do
pedido B).
Quid juris?
Na verdade, estabelece o art.º 89.º n.º 1 c) da LOFTJ que “compete aos tribunais
de comércio preparar e julgar as acções relativas ao exercício de direitos
sociais.”
A lei não define o que são direitos sociais. Dela resulta, porém, segundo o labor
jurisprudencial mais autorizado, que tais direitos se inscrevem na esfera jurídica
dos sócios das sociedades em razão de nestas participarem por via de contrato e
que se traduzem em posição jurídica envolvente da protecção dos seus
interesses societários[2].
A Doutrina tem, por sua vez, procedido a estudo aprofundado sobre a temática
dos direitos sociais e da sua classificação[3].
Como refere PAULO OLAVO CUNHA[4] “a posição jurídica de cada sócio não se
traduz unicamente em direitos sobre o património social; trata-se de uma
situação (recheada de direitos, deveres, ónus, expectativas jurídicas) ou posição
complexa (que resulta da sua participação, do regime legal, do tipo de sociedade
e das cláusulas que subscreveu) perante a pessoa jurídica societária”.
Situando-nos nos direitos dos sócios perante a sociedade, distinguem-se de um
lado os direitos extracorporativos ou extrasociais e, de outro, os corporativos ou
sociais.
Os primeiros são os direitos de que os sócios são titulares independentemente
da qualidade de sócios, como terceiros face à relação jurídica social. Os
segundos são os que têm por pressuposto a qualidade de sócio[5].
Na categoria de direitos sociais, cabem os indicados no art.º 21.º do Código das
Sociedade Comerciais (sob a epígrafe “Direitos dos sócios) que se podem
considerar como direitos principais ou essenciais dos sócios: direito aos lucros;
direito a participar nas deliberações dos sócios; direito a informação sobre a
vida da sociedade ou direito de ser nomeado para os órgãos sociais. Mas na
mesma categoria se incluem outros direitos, tais como: direitos de acção judicial
de sócio (v.g. direito de impugnação de deliberações anuláveis; direito de
requerer inquérito judicial por falta de apresentação das contas; direito de propor
acção social de responsabilidade contra membros da administração), direitos de
preferência nos aumentos de capital por novas entradas em dinheiro, direito à
quota de liquidação[6].
No caso em apreço, o que se discute é o direito da 1.ª Ré C…, LDA a indigitar
membros para os órgãos sociais da sua participada D…, LDA, direito esse que a
Autora entende dever ser repartido e usufruído de forma paritária por todos os
sócios da 1.ª Ré, ou seja, incluindo a Autora. O que está em causa para efeitos de
aferir a competência do Tribunal é a natureza do direito invocado e não a questão
de mérito sobre se a Autora é ou não titular desse direito. Parece-nos, portanto,
que o direito invocado é um direito social e, por isso, o tribunal de comércio seria
materialmente competente para conhecer do pedido formulado em B)
Assim, estando em causa um direito social, a competência para a presente acção
é do Tribunal de Comércio, de acordo com o estabelecido no art.º 89.º n.º 1 c) da
Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro.
Procedem, por conseguinte, as conclusões do Apelante. O Tribunal recorrido é
competente, em razão da matéria para conhecer do pedido formulado.

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Consequentemente, não se verificando a incompetência do tribunal para


conhecer de tal pedido, não há qualquer obstáculo legal à cumulação dos
pedidos, nos termos em que foi formulada e fica sem suporte jurídico a
absolvição da 2.ª Ré da instância.
Coloca-se, porém, a questão: julgadas improcedentes as excepções da
incompetência do tribunal, em razão da matéria e da cumulação de pedidos,
deverão os autos ser remetidos à 1.ª instância, a fim de ali serem apreciados os
pedidos formulados nas alíneas b) e c) da petição inicial? Se o Tribunal de 1.ª
instância não conhece de uma questão por se considerar incompetente para
apreciar essa matéria, mas tal decisão vem a ser revogada pelo Tribunal superior,
este reenviará o processo, para que seja o tribunal de 1.ª instância a pronunciar-
se sobre a questão e, só depois, se vier a ser interposto recurso dessa decisão, o
tribunal da Relação virá a apreciar de mérito. Cremos, porém, que o caso
concreto apresenta uma especificidade que impõe um tratamento diverso do
habitual. Na verdade, se bem repararmos, os pedidos constantes das alíneas b)
c) e d) pressupõem a procedência do pedido formulado na alínea a). Caso este
venha a ser definitivamente julgado improcedente, ficará prejudicado o
conhecimento dos demais, pelo que deixará de fazer sentido remeter os autos à
1.ª instância para a respectiva decisão.

2.Apreciemos agora a questão de saber se são anuláveis, por abusivas, as


deliberações tomadas na assembleia geral da 1.ª Ré C…, realizada em 19 de
Janeiro de 2007.
A Autora formulou pedido de anulação da deliberação social realizada em
19-01-2007, ao abrigo do disposto no art.º 58.º do Código das Sociedades
Comerciais (CSC) porque considerou que a mesma pretendeu satisfazer o
propósito de um dos sócios proporcionar vantagens especiais para si, em
prejuízo dos outros sócios, frustrando o fim societário, constituindo abuso de
direito. Considera a Autora que o exercício do direito de voto, na situação em
apreço, se traduziu num abuso de direito que conduziu à atribuição de uma
vantagem especial a membros da família J…, em prejuízo da Autora.
Analisando a acta da assembleia geral de 10-01-2007, verifica-se que foram
tomadas três deliberações:
Duas delas de cariz negativo consistiram na rejeição da proposta apresentada
pela Autora, no sentido de designar uma pessoa da sua confiança e por si
indicada, para o conselho de gerência da D…, Lda que seria E…. Estas propostas
foram a rejeitadas por 52%dos votos.
A deliberação de carácter positivo foi a aprovação da proposta do sócio F… no
sentido de que os elementos para os órgãos sociais da 2.ª Ré o incluíssem a ele
e ao filho N…. Essa deliberação foi aprovada com 52% dos votos.
Na tese da Autora, “a deliberação tomada consubstancia um abuso de direito já
que constitui uma monopolização e instrumentalização dos direitos de voto por
parte da família J…, titular de 52% do capital social da 1.ª Ré., em prejuízo dos
outros sócios que detêm 42% da sociedade e constituem a família G…. Na
verdade, o pacto social da C…, Lda não atribui qualquer direito especial ao F…
ou ao filho que justifiquem e fundamentem o gozo exclusivo de tal bem social
que se tem verificado ao longo dos anos, auto deliberado pela família J… que,
tirando partido da posição maioritária que detém, na 1.ª Ré, não respeita o
princípio da proporcionalidade que deve presidir na distribuição dos bens
sociais”. Conclui, assim, pela nulidade dos votos abusivos, não podendo ser
tomados em conta para a formação da maioria, a qual passa a ser constituída
apenas pelos votos válidos da família G….
Será assim? Vejamos:
Preceitua o art.º 58.º n.º 1 b) do CSC que “são anuláveis as deliberações que
sejam apropriadas para satisfazer o propósito de um do sócios de conseguir,
através do exercício do direito de voto, vantagens especiais para si ou para
terceiros, em prejuízo da sociedade ou de outros sócios ou simplesmente de
prejudicar aquela ou estes, a menos que se prove que as deliberações teriam
sido tomadas mesmo sem os votos abusivos.”
Como resulta do texto da lei, a deliberação é abusiva quando, sem violar
disposições específicas da lei ou dos estatutos da sociedade, é apropriada para
satisfazer o propósito do sócio de conseguir vantagens especiais para si ou para
outrem, em prejuízo da sociedade ou de outros sócios ou o propósito de
prejudicar aquela ou estes.

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Acórdão do Tribunal da Relação do Porto http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/56a6e7121657f91e80257cda00381fdf/15f3...

Há, portanto, duas espécies de deliberações abusivas: (i)aquelas que são


apropriadas a satisfazer o propósito de conseguir vantagens especiais para o
sócio ou para terceiros e (ii) aqueloutras cujo propósito é de prejudicar os outros
sócios ou a sociedade (deliberações emulativas)
Ambas têm pontos em comum: como pressuposto subjectivo, o “propósito” de
um ou mais votantes; e como pressuposto objectivo que a deliberação seja
objectivamente apropriada para satisfazer o propósito.
Porém, têm também pontos distintos: nas primeiras, o propósito relevante é o de
alcançar vantagens especiais, quanto às segundas, o propósito relevante é o de
causar prejuízos[7].
Ou seja, o art.º 58.º b) do CSC sanciona com a anulabilidade as deliberações
tomadas com o objectivo de um dos sócios conseguir, com o seu direito de voto,
vantagens especiais para si ou para terceiros, à revelia do interesse social ou
contra este, nada mais traduzindo do que uma modalidade de abuso de direito,
subsumível aos princípios do art.º 334.º do Código Civil.
O referido dispositivo legal constitui, pois, a consagração da figura do abuso de
direito em matéria de deliberações sociais, estando em causa as
“deliberações que se apresentem formalmente como regulares – que não
contrariam formalmente a lei nem o contrato de sociedade - mas que lesam ou
ameaçam interesses da sociedade ou dos sócios, em termos tão chocantes que
se impõe e justifica a possibilidade da sua impugnação”[8]. Com efeito, “essas
deliberações por vezes escondem objectivos perversos: elas encerram a
possibilidade – o risco – de abuso da maioria ou de desconsideração dos
interesses das minorias, sem corresponderem a qualquer interesse real dos
aspectos organizativos e funcionais da sociedade, ou das políticas de gestão
societária. Daí que se tenha sentido a necessidade de implementação de
instrumentos jurídicos de defesa dessas minorias, sendo um de tais
instrumentos a acção de anulação de deliberações sociais viciadas. Esta
acção é hoje vista, não tanto como instrumento de defesa da legalidade
societária, mas sobretudo como instrumento de defesa da participação social e
como meio de garantir a protecção da situação das minorias, perante a maioria e
os seus instrumentos de poder.”[9][10]
Na verdade, não parece razoável que a maioria, só pelo facto de o ser, imponha
uma solução prejudicial aos interesses minoritários em flagrante violação da
paridade de tratamento e sem que se encontre uma justificação adequada para
esse sacrifício[11]. E o disposto no art.º 58.º b) do CSC constitui o mecanismo
adequado a evitá-lo, devidamente integrado e iluminado pelo estatuído no art.º
334.º do Código Civil[12].
Portanto, para que possamos concluir que estamos perante uma deliberação
abusiva é necessário, na definição clarividente de Ferrer Correia, “que os sócios
que formaram a maioria procurem com o respectivo voto servir interesses extra-
sociais, seus ou de terceiros, em prejuízo da sociedade ou em detrimento dos
sócios minoritários[13]”.
Clarificado o enquadramento dogmático da questão com os contributos
doutrinais e jurisprudenciais referidos, chegou o momento de perguntar se os
factos provados integram os requisitos apontados para se concluir pela
existência de uma deliberação social abusiva.
Será que os sócios maioritários, através da deliberação em causa, tiveram o
propósito de conseguir vantagens especiais para si em detrimento dos sócios
minoritários em termos de constituir um excesso manifesto, “tornando-se
intoleravelmente ofensiva do nosso sentido ético-jurídico”[14]’?
Acompanhamos a decisão recorrida ao entender que não.
Com efeito, pelo facto de numa sociedade se formar uma maioria correspondente
a determinada parte do capital social, também maioritária, não é sinónimo de
abuso da posição de domínio[15]. Por definição, como consequência natural do
funcionamento de uma sociedade de quotas, é o sócio ou são os sócios
maioritários que conseguem a aprovação das suas propostas, o que se reflectirá
igualmente no consequente controlo dos destinos da sociedade. A Autora detém
apenas 42% da sociedade Ré C…, Lda, pelo que é mais do que natural que não
consiga obter vencimento em muitas das deliberações sociais. E
relativamente à questão, sub judice, tendo a 1.ª Ré direito a indigitar membros
para os órgãos sociais da 2.ª Ré (D…, LDA) também é expectável que seja
indigitado para tais funções, precisamente, quem tenha o apoio maioritário da
sociedade. E, assim, segundo alega a Autora, desde 1991, que não é designado

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nenhum membro da família G…, para os órgãos sociais da D…, mas apenas da
família J…. Ora, não nos parece que tal configure uma situação de abuso.
Decorre, naturalmente, das regras de funcionamento das sociedades comerciais.
Note-se que, por força dos estatutos da D…, Lda, a sócia desta, C…, Lda, tem
direito a designar um elemento para o Conselho Geral e um ou dois elementos
para o Conselho de Gerência. O direito é da sociedade, não é um direito de cada
um dos sócios da C… e, portanto, não é um direito da Autora. Logo, também não
se aplica à presente situação o princípio da proporcionalidade na designação dos
membros dos órgãos sociais, pois, como ficou referido, o direito em apreço é da
sociedade e não dos sócios. Direitos dos sócios são o direito ao voto, o direito à
informação, ou o direito aos lucros de exercício e quanto aos direitos dos sócios
é que faz sentido falar do princípio da proporcionalidade. É também ao nível do
exercício dos direitos dos sócios que se coloca a questão do princípio da
igualdade. Os sócios têm direito a um tratamento paritário, mas isso não quer
dizer que o tribunal se possa sobrepor às deliberações dos sócios,
transformando as minorias em maiorias.
A eleição dos sócios F… e N… para os corpos sociais da Ré D… não constitui
uma vantagem especial para estes, no sentido de lhe ser atribuída uma situação
privilegiada em relação aos outros sócios. Nem estes se podem considerar
prejudicados por não receberem as remunerações que os cargos em causa
propiciam. A 1.ª Ré/ Recorrida tem direito a indigitar um ou dois elementos para
os órgãos sociais da 2.ª Ré/ Recorrida, com vista a poder ali defender os
interesses societários. O objectivo desta cláusula do pacto social da 2.ª
Recorrida não é, certamente, garantir uma elevada remuneração a tais elementos.
A remuneração é uma consequência inerente ao exercício de tais funções, mas
não se configura com um direito de que devam usufruir, rotativamente, os sócios
da 1.ª Ré.
Em suma, através da deliberação em crise não se verificou qualquer benefício
especial ou qualquer prejuízo para a sociedade.
Por tudo o que fica exposto e acompanhando o que foi referido na sentença
recorrida, entendemos que não estamos perante uma deliberação social
abusiva, concluindo pela validade da deliberação em apreço. Improcedem,
portanto, conclusões de recurso a esse respeito.
Prejudicado fica, consequentemente, o conhecimento dos demais pedidos
formulados pois estes pressupunham a anulação da deliberação social
impugnada.
A sentença recorrida tem de ser confirmada, mas com a alteração decorrente
daquilo que ficou decidido no ponto 1. ou seja, a absolvição de ambas as Rés do
pedido.

IV- DECISÃO

Face ao exposto, acordamos neste Tribunal da Relação do Porto em confirmar a


sentença recorrida, abrangendo-se na absolvição do pedido ambas as Rés e
julgando prejudicado o conhecimento dos pedidos formulados em b) c) e d).

Custas pela Apelante.

Porto, 17 de Fevereiro de 2011


Maria de Deus Simão da Cruz Silva Damasceno Correia
Joana Salinas Calado do Carmo Vaz
Pedro André Maciel Lima da Costa
____________________
[1] Condenação das 1.ª e 2.ª Rés a observar o princípio da proporcionalidade dos
direitos dos sócios da 1.ª Ré, na indigitação de membros para os corpos sociais
da 2.ª Ré
[2] Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 18-12-2008, Processo 08B3907,
www.dgsi.pt.
[3] Vide, entre outros, FERRER CORREIA, Sociedade Comerciais, p.348, BRITO
CORREIA, Direito Comercial, Sociedades Comerciais, Vol.II, p.305, PUPO
CORREIA, Direito Comercial, p. 517 e COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito
Comercial, Vol.II, Das Sociedades, p.205.
[4] “Novas Perspectivas do Direito Comercial”, Breve nota sobre os direitos dos
sócios (das sociedades de responsabilidade limitada) no âmbito do Código das

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Sociedades Comerciais, p.230 e ss.


[5] Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 20-05-2002, Processo 0250621,
www.dgsi.pt
[6] COUTINHO DE ABREU, ob.cit., p.205.
[7] Coutinho de Abreu, Curso de Direito Comercial, Vol. II, Sociedades
Comerciais, Almedina, 3.º edição.
[8] Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 9-10-2003 (P.03B1816) in
www.dgsi.pt
[9] Idem.
[10] Manuel António Pita, A protecção das minorias in Novas Perspectivas do
Direito Comercial, Almedina, 1988, p.357.
[11] Armando Manuel Triunfante, A tutela das minorias nas sociedades anónimas
– Direitos de minoria qualificada, Coimbra editora, 2004, p. 61.
[12] Pinto Furtado, Deliberações dos sócios, Comentário ao Código das
Sociedades Comerciais, Almedina, 1993, p.384.
[13] Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, Vol.II, p. 364.
[14] Moitinho de Almeida, Anulação e suspensão das deliberações sociais.
[15] Acórdão do STJ de 16-12-2003, P.04A1663, www.dgsi.pt

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