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BRASIL E PARAGUAI
João E. Fabrini
Universidade Federal da Grande Dourados
joaofabrini@ufgd.edu.br
INTRODUÇÃO
O espaço de fronteira entre o Brasil e o Paraguai é caracterizado pela presença
de conflitos sociais diversos, dentre os quais se destaca aqueles existentes entre o
agronegócio e o campesinato. Nesse contexto de conflitos ressalta-se a presença dos
camponeses brasiguaios. Os brasiguaios são sujeitos sociais territorializados
precariamente, meio-brasileiro e meio paraguaio e muitos estão vinculados aos
movimentos sociais de luta pela terra no Brasil
Se no passado recente (década de 1980) os brasiguaios se organizaram num
movimento de luta pela terra, o Movimento dos Brasiguaios, meio pelo qual se
constituíram enquanto sujeitos sociais, nos dias atuais eles estão organizados,
sobretudo no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que atua na
fronteira. Mas, existe também na fronteira um brasiguaio desvinculado dos
movimentos de luta pela terra e trata-se de um sujeito meio errante, que vive e trabalha
ora no Paraguai, ora no Brasil.
Forjada pelos meios de comunicação, principalmente, existe a compreensão de
que todos os brasileiros que vivem na fronteira Leste do Paraguai, independente da sua
condição social, são brasiguaios. Mas, diferentemente de brasiguaios são os
fazendeiros brasileiros do agronegócio da soja no Paraguai, muitos dos quais têm terras
ocupadas por campesinos, principalmente carperos, daquele país. Os latifundiários do
agronegócio são os que exploram, subordinam e expropriam campesinos paraguaios.
Portanto, é a condição social de classe que identifica o sujeito, se brasiguaio ou
fazendeiro brasileiro do agronegócio no Paraguai, e não necessariamente a
nacionalidade e a identidade dela derivada. Mas, existem também os campesinos que
ocupam terras de pequenos agricultores brasileiros no Paraguai, muitos dos quais
retornam e entram nas fileiras da luta pela terra no Brasil.
As lutas dos campesinos paraguaios organizados em diversos movimentos e
entidades se intensificaram a partir de 2008, sobretudo depois da eleição de Fernando
Lugo para presidente do Paraguai. Um dos conflitos entre campesinos e fazendeiros do
agronegócio (muitos deles brasileiros) na fronteira do Paraguai com o Brasil resultou na
morte de 17 pessoas em Curuguaty, no Departamento de Canindeyú em junho/2012,
motivaram inclusive a derrubada de Fernando Lugo da presidência do Paraguai pelo
parlamento daquele país.
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