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Sistemas Elétricos de Potência

3. Elementos de Sistemas Elétricos de


Potência

Professor: Dr. Raphael Augusto de Souza Benedito


E-mail:raphaelbenedito@utfpr.edu.br
disponível em: http://paginapessoal.utfpr.edu.br/raphaelbenedito
3. Elementos de Sistemas Elétricos de Potência

• Tradicionalmente os elementos essenciais de um sistema


elétrico de potência são:
– Barras ou Barramentos;
– Chaves e Disjuntores;
– Linhas de Transmissão;
– Transformadores;
– Geradores;
– Motores;
– Cargas;
– Elementos “shunt”, etc.

• Importa observar que as linhas de transmissão, os


transformadores, os geradores e as cargas merecem destaque
especial dentro do estudo de Sistemas Elétricos e, portanto,
serão abordados com mais detalhes a seguir:
3. 1 Parâmetros e Modelos de Linhas de Transmissão
3. 1 Parâmetros e Modelos de Linhas de Transmissão

• Uma linha de transmissão de energia elétrica apresenta


quatro parâmetros distintos que afetam o transporte de
energia:
– Resistência;
– Indutância;
– Condutância;
– Capacitância.

Fig. 1: Modelo “π” de uma linha de transmissão


3. 1.1 Resistência das Linhas de Transmissão

• A resistência dos condutores de uma linha de transmissão é a


causa mais importante da perda de potência em uma linha de
transmissão.
• A resistência efetiva de um condutor, independentemente de
ser corrente contínua ou alternada, pode ser definida como:
Perda de Potência
r= 2
⋅ (Ohm / km) (1)
(corrente eficaz )
• A resistência de um condutor pode ser decomposta em três
parcelas:
r = rcc + ra + rad (Ohm / km) (2)
rcc ⇒ resistência à passagem da corrente contínua;
ra ⇒ resistência aparente, que é provocada pela existência de fluxos
magnéticos no interior do condutor;
rad => resistência aparente adicional.
3. 1.1 Resistência das Linhas de Transmissão

Observação:
A resistência é um parâmetro que varia com a temperatura de
modo praticamente linear.
Assim, considerando condutores padronizados, os fabricantes
de condutores fornecem tabelas de resistências dos condutores,
seja à corrente contínua, seja à corrente alternada, e em
diversas freqüências industriais.
3. 1.1 Resistência das Linhas de Transmissão

Resistência à Corrente Contínua (rcc)


• Esta resistência depende essencialmente dos seguintes fatores:
– Natureza do material do condutor, que é caracterizada pela sua
resistividade (ρ);
– Dimensões do condutor, sendo diretamente proporcional ao
comprimento (l) e inversamente proporcional à área de sua secção
transversal (S).
l
rcc = ρ ⋅ (Ohm) (3)
S
• A resistividade (ρ) de um condutor, por sua vez, depende de
outros fatores ou características:
i) Têmpera do material;
ii) Pureza do material;
iii) Encordoamento;
iv) Temperatura
3. 1.1 Resistência das Linhas de Transmissão

Resistência à Corrente Contínua (rcc)


i) Têmpera do material: é um tratamento térmico para modificar o
endurecimento do material condutor. Por exemplo, têmpera mole =>
material mais maleável que outro de têmpera dura.

ii) Pureza do material: quanto maior o grau de impureza de um


condutor de cobre, maior será a resistividade.

iii) Encordoamento: o encordoamento de filamentos afeta a resistência


de cabos condutores, sendo homogêneos ou não. Por exemplo, o
enrolamento em forma de espiral em torno de um fio central faz com que o
comprimento real de um filamento enrolado seja maior que o comprimento
do cabo todo, tornando maior a resistência do que o esperado.
Obs.: Estima-se num aumento de 1% ou 2% da resistência em relação ao
mesmo condutor cilíndrico de mesma secção.
3. 1.1 Resistência das Linhas de Transmissão

Resistência à Corrente Contínua (rcc)


iv) Temperatura: a resistividade cresce com aumento da temperatura.
Essa variação é linear dentro da faixa de valores de operação de uma linha
de transmissão.

R2 T + t 2
= ( 4)
R1 T + t1

sendo que a constante T representa a temperatura para resistência nula, e


varia com a natureza e a têmpera do material.

1
Obs.: α t1 = (1 / o C ) é o coeficiente de aumento da resistência com a temperatura.
T + t1
3. 1.1 Resistência das Linhas de Transmissão

Resistência à Corrente Alternada (ra)


• Quando uma corrente alternada flui ao longo de um condutor
metálico cilíndrico, a densidade de corrente no seu interior é menor
junto ao seu eixo longitudinal e máxima junto à sua superfície.

• Isto porque, em corrente alternada, não existe apenas uma queda de


tensão ôhmica, mas também uma tensão induzida pelo fluxo
magnético alternado.

• Esta tensão induzida será menor junto à superfície do condutor, já


que o enlace de fluxo magnético é menor na parte mais externa do
condutor se comparada ao enlaçamento de fluxo magnético em
regiões do condutor mais próximo do seu eixo. Consequentemente a
reatância indutiva é menor na periferia do condutor, ocasionando um
fluxo maior de corrente elétrica nesta região.
3. 1.1 Resistência das Linhas de Transmissão

Resistência à Corrente Alternada (ra)


• Esse fenômeno recebe o nome de efeito pelicular ou skin
effect, e de modo geral causa um aumento da resistência do
condutor e uma diminuição em sua reatância interna.
• Para fins práticos, é usual o emprego de valores tabelados em
manuais e catálogos do fabricante do condutor, com os quais se
pode obter razoável precisão.
3. 1.1 Resistência das Linhas de Transmissão

Resistência Aparente Adicional (rad)


• Além do aumento aparente da resistência provocada pelo efeito
pelicular, outros efeitos podem causar variação na resistência,
tais como correntes parasitas (Foucault).
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona

• A condutância entre condutores ou entre condutores e terra considera a


corrente de fuga nos isoladores de linhas aéreas ou através da isolação dos
cabos.
• Desde que a fuga nos isoladores de linhas aéreas seja desprezível, a
condutância entre condutores de uma linha suspensa é considerada como
zero.
• Por outro lado, a condutância de dispersão (g) entre uma fase (um condutor)
e o neutro não é tão desprezível como a condutância entre fases, e
representa as perdas proporcionais à tensão elétrica da linha. Por definição,
temos:

∆P
g= 2
⋅ 10 −3 ( Siemens / km) (5)
V fase
sendo ∆P a soma das perdas de energia por dispersão em uma fase da linha
em kW/km.
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona
• As perdas por dispersão englobam as perdas devido:
– ao Efeito Corona;
– e as perdas nos isoladores.
Perdas nos Isoladores
• As perdas de energia nos isoladores são provocadas pelo escape de
corrente elétrica através do material pelo qual é fabricado o isolador
(por ex.: vidro ou porcelana), como também ao longo de sua
superfície.
• Dentre os fatores que influenciam as perdas nos isoladores, podemos
citar:
- qualidade do material;
- condições superficiais do isolador;
- geometria do isolador;
- Freqüência da tensão aplicada;
- Potencial elétrico ou tensão na linha;
- Condições meteorológicas, etc.
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona
Perdas nos Isoladores
• Estimar ou calcular as perdas nos isoladores não é tarefa simples e
exata, além disso dependerá essencialmente das condições
meteorológicas de determinada região, aumentando
substancialmente sob chuvas fortes.
• Felizmente, tais perdas são suficientemente pequenas, a ponto de
serem desprezadas para efeito de análise de sistemas elétricos.
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona
Efeito Corona
• O efeito Corona aparece na superfície dos condutores de uma linha
aérea de transmissão quando o valor do gradiente de potencial aí
existente excede o valor do gradiente crítico disruptivo do ar.

• Mesmo num campo elétrico uniforme, uma série de condições


afetam essa tensão disruptiva, como:
- Pressão do ar;
- Presença de vapor d’água;
- Fotoionização incidente.

• Na presença de campo elétrico não-uniforme em torno de um


condutor, a divergência do campo elétrico exerce influência
adicional, e qualquer partícula contaminadora (como poeira)
transforma-se em fonte pontual de descargas elétricas.
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona
Efeito Corona
• Nas linhas em médias e altas tensões, a escolha das secções dos
condutores geralmente se baseia num equacionamento econômico
entre perdas por efeito Joule e os investimentos necessários dos
condutores.

• Entretanto, nas linhas em extra alta tensão (EAT) e ultra alta tensão
(UAT), o controle do efeito Corona (e suas manifestações) pode ser
o elemento dominante para orientar a escolha das secções dos
condutores.

• A literatura da área indica 3 manifestações do efeito Corona que


mais trazem preocupações nos projetos das linhas, sendo:
a) Radiointerferência; problemas de comunicação via rádio
b) Ruídos auditivos; poluição ambiental sonora
c) Perdas de energia elétrica. problema econômico
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona
Efeito Corona
• De modo geral, as manifestações do efeito Corona ocorrem
simultaneamente e se relacionam diretamente com o gradiente de potencial
dos condutores.
• A determinação das perdas de energia por efeito Corona não é exata (longe
disso), e baseia-se em expressões analíticas empíricas observadas por
pesquisadores que divergem muito sob condições de chuva, neve ou de
tempo seco.
Efeito Corona – Gradiente de Potencial
na Superfície de um Condutor
• Agora, vamos analisar o gradiente de potencial em um condutor cilíndrico
de raio r (m), conduzindo uma carga Q (em Coulomb/m) uniformemente
distribuído sobre a sua superfície.
r
r D
E= (V )
ε m
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona
Efeito Corona – Gradiente de Potencial
na Superfície de um Condutor

r
r D
E= (V )
ε m

• Considerando um comprimento unitário do cilindro (1 m), o gradiente de


potencial elétrico, ou intensidade de campo elétrico, na superfície do
cilindro pode ser calculado como:
r Q
Er = (V ) ( 6)
2π ⋅ r ⋅ ε m
sendo ε a permissividade do meio.
Para o ar, temos:
r Q Q
E r = 18 ⋅ 10 9 (V ) = 18 ⋅ 10 6 (kV ) (7 )
r m r m
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona
Efeito Corona – Gradiente de Potencial
na Superfície de um Condutor
Geralmente, o valor da carga é dado em Coulomb/km e o raio em cm. Desse
modo, o gradiente de potencial na superfície de um condutor fica:
r C Q
Er = 18 ⋅10 6 = 18 ⋅105 (kV )
3
10 m ⋅10 m −2
r m
(8)
r Q
Er = 18 ⋅103 (kV )
r cm
• Para que uma linha de transmissão tenha desempenho satisfatório frente ao
efeito Corona, é necessário que o gradiente de potencial na superfície dos
condutores (ou subcondutores) seja inferior ao valor do gradiente crítico
dessa linha, ou seja:
r
E r < Ecr (9)

sendo Ecr o gradiente crítico do ar (varia entre 21,6 kV/cm e 30,5 kV/cm).
3. 1.2 Condutância de Dispersão e Efeito Corona
Efeito Corona – Gradiente de Potencial
na Superfície de um Condutor
• Em termos práticos, pode-se esperar um desempenho razoável das linhas
com valores de potencial da ordem de 15kV/cm ou 17kV/cm, seja no que
diz respeito a perdas, seja quanto ao nível de intensidade de ruídos de
radiointerferência.

• A partir da equação (8), concluímos que quanto maior o raio dos


condutores, menor será o gradiente de potencial na superfície dos
condutores. Por outro lado, o aumento do raio (ou bitola dos condutores)
traz como conseqüências:
i) Aumento significativo dos gastos financeiros com condutores
elétricos;
ii) Aumento da flecha de cada condutor devido ao aumento da massa
(peso) do próprio condutor.

Como devemos projetar os condutores a fim de evitar o Efeito


Corona sem aumentar excessivamente o raio do condutor?
Referências Bibliográficas

[1] MONTICELLI, A. J.; GARCIA, A. Introdução a Sistemas de


Energia Elétrica. Editora UNICAMP, 1ª. Edição, Campinas, 2003.

[2] STEVENSON, W. D. Elementos de Análise de Sistemas de


Potência. 2ª ed. Editora MacGraw-Hill do Brasil. São Paulo.1986.

[3] FUCHS, RUBENS DARIO. Transmissão de Energia Elétrica:


linhas aéreas; teoria das linhas em regime permanente. 2ª. Edição;
Editora Livros Técnicos e Científicos, Rio de janeiro, 1979.

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