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[...] o relato oral se apresentava como técnica útil para registrar o que
ainda não se cristalizara em documentação escrita, o não-
conservado, o que desapareceria se não fosse anotado; servia pois
para captar o não-explícito, quem sabe mesmo o indizível [...] A
história oral pode captar a experiência efetiva dos narradores, mas
destes também recolhe tradições e mitos, narrativas de ficção,
crenças existentes no grupo [...] (QUEIROZ, 1991, p. 1,2 e 5).
No começo minha mãe não era religiosa, até os meus dez anos
minha mãe não era religiosa, meu pai é católico, mas ele era um
pouco religioso, ele conheceu pela minha mãe. Ela nunca foi muito
católica, mas aí depois entrou na religião protestante e foi ser
evangélica, meu padrasto acompanha ela também. Estamos muito
evangélicos, mas temos fases durante nossa vida, tem fases que são
mais religiosas. Normalmente essas fases estavam ligadas como
momentos que não estava com estabilidade na vida, a vida está mais
difícil aí fica mais religioso, quando a vida está mais fácil fica menos
religioso. A religião é uma coisa pra (sic) sustentar melhor [...]
Lá em casa quando eu comecei a ser ateu assim, minha mãe não era
tão fervorosa, ela era católica ainda, ela virou evangélica de um
tempo pra (sic) cá, foi aumentando o ateísmo, porque antigamente eu
era cético, agnóstico, era a pessoa que não tem tanta certeza. [...]
Quando ela virou evangélica ela tentava me converter, "Vamos pra
igreja" e não sei o quê, ai viu que eu não tenho mais jeito e liberou
assim, desde sempre, nunca teve um confronto.
[...] teve uma tia minha que teve câncer de mama, aí ela começou a
se apegar muito na questão da religião e minha mãe estava
convivendo muito com ela nesse período aí acho que eu percebi
minha mãe um pouco mais católica nessa época, mas só isso
mesmo. Não faz parte da vida dela assim religião, acho que só em
momentos que ela está com alguém assim, como minha tia que
precisou e tal [...]
[...] acho que foi uma fase, tipo uns 15, 16 anos que eu comecei a
mais questionar, pensar sobre isso, no começo mais pela raiva, a
revolta, porque você está revoltado, "Não, é tudo mentira, como
assim?", porque passaram pra (sic) você como se fosse a verdade. Aí
você começa a saber que não, não é assim, começa a ter outras
visões e foi aquela época dos 15, 16 que eu comecei a ficar mais
militante, agressivo, aquele que tem orgulho de dizer que é ateu, que
quer que todo mundo seja ateu e a religião é o mal do mundo.
Meu irmão não. No começo a gente era forçado a ir pra igreja quando
mais jovem, mas aí dava muita briga nisso e ele foi o primeiro a não
ir, eu até aceitava ir pra fazer amigo e conversar, mas comecei a não
querer, não gostar das coisas que falam, não gostar da posição que
edifica lá que é muito, sei lá, muito cordeiro [...] aí eu comecei a não
gostar e a parar de ir, mas minha mãe também nas fases que ela
diminui, tem hora que ela vai pouco, tem hora que ela vai mais, ela
não é muito ligada também.
Minha tia, ela é "rato" de igreja, ela está lá sábado e domingo, todo
dia que ela tem oportunidade, mas ela é uma pessoa muito má. Ela
fala mal de todo mundo, ela zomba de pessoas, sabe, ela é
homofóbica, ela é machista, ela é extremamente homofóbica. Quando
ela vai falar que meu primo é gay, ela cochicha como se estivesse
falando uma coisa extremamente suja [...] meu tio inclusive não fala
com meu primo, porque ele é gay, porque ele teve a decisão
horrorosa de ficar com gente que ele gosta. As pessoas que eu
conheço hipócritas em relação a religião são todas da minha família.
[...] vivia num colégio onde todo mundo era hetero e as pessoas que
se consideravam homossexuais eram taxadas de "sapatão",
"caminhoneiras" e os meninos eram "bichas loucas", você era
coagido a se encaixar no padrão de heteronormatividade, mas a partir
dos meus 14 anos eu comecei a conhecer gente diferente, gente que
se abria pra outros caminhos e eu tive a experiência de ficar com
umas amigas minhas, achei muito legal, não achei nada diferente
assim, mas eu achei muito legal e comecei a ficar com menina.
Entretanto, para aqueles que não possuem religião isso não é possível
por não conseguirem ver sentido e por perderem a fé nas explicações
religiosas oferecidas pelas religiões. Para Weber (2009), a Modernidade se
apresenta como um período em que a influência religiosa passou a ser
fortemente questionada, dando lugar à uma forma de pensamento que preza
cada vez mais por um saber racionalizado e a sociedade ocidental vivenciaram
um processo de “desencantamento do mundo”, que depois ficou mais
comumente conhecido como secularização.
Tendo em visto tudo que foi discutido, considero que a análise das
histórias de vida desses jovens possibilitou iluminar certos pontos sobre o
processo de afastamento da religiosidade, assim como estabelecer uma
compreensão de como esses sujeitos significam a religião em suas vidas e na
dinâmica social. Além disso, acredito ter conseguido perceber aspectos
representativos da mudança do cenário religioso brasileiro que sinaliza para o
crescimento da juventude sem religião, como mostram os dados das pesquisas
do Censo de 2010 e da FGV (2009). No próximo capítulo realizarei uma breve
discussão sobre juventude e sexualidade objetivando compreender melhor
essa esfera da vida dos jovens através do que enunciam alguns autores, além
de apresentar minha conclusão desse trabalho.