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ARTE COMO RECURSO MEDIADOR E ESTUDO NAS ATIVIDADES

DO ENSINO RELIGIOSO COM BASE NOS SABERES DOCENTES.

Gilcélia Maria O. da Silva1

RESUMO

Quando a criança brinca de ser outra pessoa, ela está representando, e além da diversão existe
o aprendizado ao repetir as intenções e as ações dos outros. Isto acontece nos gestos, nos
movimentos, nas palavras. O cenário pode ser real ou imaginário. Com a observação e
imaginação se cria novas e fantásticas histórias. A arte de representar é tão antiga quanto a
religião, e porque não dizer, a própria humanidade. Nossos antepassados se utilizavam das
artes cênicas quando praticavam seus ritos de magia ou para louvar aos seus deuses,
utilizando-se de movimentos corporais, pinturas e elementos musicais.A arte é capaz de
transpor o tempo e o espaço, ela tem algo de transcendente, que nos leva para além dos
limites físicos. É possível observar como o ensino religioso e as artes se relacionam,
possibilitando o aprender e ensinar de forma significativa e prazerosa. De uma forma criativa
a arte é um recurso mediador nas aulas de ensino religioso, pois ela não é somente um
elemento formador do patrimônio artístico cultural de uma sociedade, mas também uma
forma de comunicação transmissora de sentimento, entendida e construída como
conhecimento do mundo cultural historicamente elaborada pelo ser criança, jovem e adulto.

Palavras chaves: Artes; Mediador; Religioso

ABSTRACT

When the child plays at being someone else, she is representing, and besides the fun is
learning to repeat the intentions and actions of others. This happens in the gestures,
movements, words. The scenario can be real or imaginary. With the observation and
imagination creates new and fantastic stories.The art of acting is as old as religion, and why
not say, humanity itself. Our ancestors used the performing arts when practiced their rites of
magic or to praise their gods, using body movements, paintings and musical elements.
Art is able to overcome time and space, she has something transcendent, that takes us beyond
the physical boundaries.It can be seen as religious education and the arts are related, enabling
learning and teaching in a meaningful and enjoyable.In a creative art is a feature mediator in
religious education lessons, for she is not only a formative element of the artistic culture of a

1
Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia do Norte do Brasil ( FACETEN); Licenciada em Ciências
Biológicas pela Instituição UNIASSELVI; Acadêmica do 8º semestre do curso de Ciências da Religião – Furb –
Sistema Parfor. Professora na Rede Municipal de Balneário Camburiú nos anos finais na disciplina de Ensino
Religioso. Bettogil@ibest.com.br

1
society, but also a form of communication transmitting feeling understood and constructed as
knowledge of the cultural historically be prepared by children, young and adult.

Keywords: Arts; Mediator; Religious

1 INTRODUÇÃO

O objetivo desse trabalho é refletir sobre a experiência do estágio IV, e ao mesmo


tempo justificar o tema proposto. “ Arte como recurso mediador e estudo nas atividades do
Ensino Religioso’’, com base nos saberes docentes.
A arte é o foco central dessa reflexão, na intenção de que, o exposto aqui possa
servir de subsídio não somente para o Ensino religioso, mas para que outras disciplinas
possam também desenvolver seus conteúdos de uma maneira mais dinâmica e dentro de uma
proposta interdisciplinar.
De acordo com as experiências obtidas e desenvolvidas assistematicamente não só
durante as aulas dos estágios anteriores, mas também atuando como professora nas series
finais do ensino fundamental com a disciplina de ensino Religioso, permiti a mim mesma
pesquisar um pouco sobre as artes, o que veio de encontro com a minha pratica docente no
estágio. Apesar da complexidade de informações sobre o tema, acrescida pela inexperiência
no trato da implementação das artes nos conteúdos de ensino religioso, entendi que abordar a
artes, mesmo que não ampliada, abre possibilidades de analise e incita não só a mim enquanto
educadora, mas a outros reordenar, recriar a arte e a tarefa de ensinar / aprender com paixão e
ousadia.
Dentre os muitos conceitos de arte, neste trabalho me refiro á arte de expressão de
construir, fazer trabalhar, como expressão de sentimento, uma arte entendida e construída
como conhecimento do mundo cultural historicamente elaborada pelo ser criança, jovem e
adulto.

2 SABERES DOCENTES

Mas como foi dito anteriormente, o tema trabalhado no estágio teve base nos saberes

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docentes, mas o que vem a ser esse saberes docentes?
Para Tardif (2002), os saberes são plurais, é formado pelos saberes da formação
profissional, curriculares, disciplinares, e experienciais. Aínda Tardif (2002) o professor é
“alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos
conhecimentos relativos às ciências da educação e à pedagogia e desenvolver um saber
prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos” (p. 39). Além do conhecimento
do conteúdo específico, o professor deve encontrar formas além do tradicional, outras formas
de transferir esses conhecimentos para os outros, uma forma de ensinar que garanta um
aprendizado com sucesso.
Gauthier (1998), aponta dois obstáculos da docência: ´´ De um ofício sem saberes, e
de saberes sem ofício``.
Os saberes relacionados ao conteúdo, e à experiência são essenciais no exercício da
atividade docente, mas "tomá-los como exclusivos é mais uma vez contribuir para manter o
ensino na ignorância" (Gauthier, 1998, p. 25).
De acordo com TARDIF (2002), o trabalho, e o saber se relacionam, sendo que o
saber do professor está implícito na relação dele com seu trabalho na escola e dentro da sala
de aula. ´´O saber é construído de vários momentos da história da vida, ele não surge de
apenas uma fonte, mas de várias, e é impossível não relacionar esses saberes com a pratica
profissional``.

3 SABERES DOCENTES DO ENSINO RELIGIOSO

Conforme o artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96,

O Ensino Religioso é matrícula facultativa e faz parte da formação


básica do cidadão constituindo disciplina dos horários normais das
escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurando o respeito à
diversidade cultural religiosa do Brasil e a isenção de quaisquer
formas de proselitismo. (BRASIL, 1997).

Segundo a Resolução do Conselho Nacional de Educação n.02/98 é uma disciplina de


área do conhecimento que busca valorizar o pluralismo religioso e a diversidade cultural
presente na sociedade brasileira, onde “facilita a compreensão das diversas formas que

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exprimem o Transcendente visando à superação da finitude humana e que determinam o
processo histórico da humanidade” (FONAPER, 1997, p. 30).
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso
(FONAPER, 1997, p.30-31), este componente curricular objetiva:
- “Proporcionar o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno
religioso, a partir das experiências religiosas percebidas no contexto do educando”. A cultura
dos educandos precisa ser respeitada e levada em consideração antes mesmo do professor
preparar seu plano de aula. É necessário fazer um diagnóstico a fim de observar a realidade
religiosa dos alunos. A partir disso podem-se direcionar conceitos que possam agregar como
conhecimento e que o farão conhecer a diversidade.
- “Subsidiar o educando na formulação do questionamento existencial, em
profundidade, para dar sua resposta devidamente informado´´; para isso o educador precisa ter
clareza dos conceitos trabalhados.
- “Analisar o papel das tradições na estruturação e manutenção das diferentes culturas
e manifestações socioculturais’’. O Ensino Religioso deve fundamentar a importância da
cultura do indivíduo, possibilitar uma compreensão de sua cultura para que possa entender o
diferente.
- “Facilitar a compreensão do significado das afirmações e verdades de fé das
tradições religiosas’’. As tradições religiosas possuem dogmas e diversas formas de entender
o fenômeno religioso. Sendo, assim o Ensino Religioso passa a ter um papel fundamental no
processo de discernimento das convicções religiosas dos educandos.
- “Refletir o sentido da atitude moral, como consequência do fenômeno religioso
expressão da consciência e da resposta pessoal e comunitária do Ser Humano’’. A atitude
moral é imprescindível no processo de entendimento do fenômeno religioso. Tal ação leva a
uma consciência crítica a fim de fortalecer seu vínculo religioso e acima de tudo
entendimento sobre o diferente.
- “Possibilitar esclarecimentos sobre o direito à diferença na construção de estruturas
religiosas que têm na liberdade o seu valor inalienável’’. A escola como local de
aperfeiçoamento e pesquisa, precisa levar o educando a ter fundamentos que serão subsídios
capazes de entender que o outro tem o direito de pensar e de se expressar de forma diferente.
A diversidade deve auxiliar no processo de fortalecimento de sua fé e também possibilitar o
diálogo inter-religioso.
Assim, o Ensino Religioso, na atualidade da educação brasileira,
manifesta-se como um dos lugares e espaços em que se destacam e
discutem posições sobre o sentido da vida, do ser humano, na

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perspectiva da liberdade do ensino, como forma de construção da
liberdade humana. O Ensino Religioso deve estar atento para essa
questão, pelo fato de haver, nas escolas, diferentes opções e
dimensões de fé. (OLIVEIRA, 2007 p.36)

4 ARTE NA EUCAÇAO

A arte não é somente o elemento formador do patrimônio artístico cultural de uma


sociedade, mas também uma forma de comunicação transmissora por meio de códigos que
precisam ser entendidos.
A arte faz parte da vida da criança independente da educação, ela por si só propicia
uma mediação entre criança e mundo, apropriando-se da leitura do mundo e da realidade.
Isso é realizado de diferentes formas, através de teatro, jogos, musica, ritmos, pinturas, sem
esquecer que a arte é um fenômeno universal e em todos os grupos sociais ela esta presente.
Segundo MARTINS (1992), “ a leitura de mundo se da pelos olhos, por todos os
sentidos como sensações táteis, visuais, auditivas, etc. e volta ao mundo através das artes
plasticas, musica, artes cênicas,, ou qualquer outra linguagem artística realizada pelo
individuo-criança’’.
Pode-se realizar atividades do Ensino religioso de uma forma esteticamente criativa:
visitando galerias de artes, visitando e observando os diferentes templos religiosos,
entrevistando a comunidade, e fazendo uso das artes cênicas que inclui os teatros (fantoches,
dedoches, palitoches, teatro de sombra), a criação de máscaras na temática ritos, a criação de
símbolos com materiais diversos, danças circulares, entre outros.
Nesse aspecto, é possível ver que a arte desde a infância contribui para a socialização
do individuo. A partir do envolvimento com os colegas em sala de aula e trabalhando os
temas da cultura local, participando da realidade e saberes da comunidade, ele consegue
produzir novos valores e atitudes, alem de compreender melhor o seu papel de cidadão.

5 VIGOSTSKY E A CRIAÇÃO ARTÍSTCA

O papel criativo na formação escolar do educando ganhou destaque com o processo


de escolarização em massa que caracterizou a democratização do ensino ao longo do século
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XX. No final do século XIX e inicio do século XX as concepções relativas à infância estavam
sendo radicalmente modificadas nesse período em função dos resultados obtidos com a
afirmação da Psicologia como ciência.
Considerada importante aspecto da inteligência humana – e via para potencializar a
capacidade de resolução de problemas – a criativa deveria então ser estimulada na educação
escolar.
A atividade criadora ou criatividade foi conceituada por Vygotsky como “toda
realização humana criadora de algo novo, quer se trate de reflexos de algum objeto do mundo
exterior, que quer de determinadas construções do cérebro ou do sentimento, que vivem e se
manifestam apenas no próprio ser humano”. (1982:7).
Vygotsky esclarece que é exatamente a atividade criadora das mulheres e dos
homens que faz com que a espécie humana possa projetar-se no futuro, transbordando a
realidade e modificando o presente. Imaginação ou fantasia é como ele denomina esta
atividade do cérebro humano.
Vygotsky explica que a Psicologia atribui a estas palavras um significado diferente
daquele que o senso comum costuma lhes emprestar. Geralmente, imaginação e fantasia estão
associadas ao irreal, a tudo aquilo que não se ajusta à realidade e que carece de qualquer valor
prático. No entanto, para a Psicologia, a imaginação – base de toda atividade criadora – se
manifesta em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e
técnica.
De acordo com Vygotsky, absolutamente tudo que nos rodeia e que foi criado pela
mão do ser humano, ou seja, todo o mundo da cultura, ao contrário do mundo natural, todo ele
é produto da imaginação e da criação humana baseada na imaginação: “Todos os objetos da
vida diária, sem excluir os mais simples e habituais, vem a ser algo assim como fantasia
cristalizadora” (1982:10).
Quando se compreende a criatividade, não é difícil reconhece à relevância a
capacidade criadora infantil no âmbito da educação escolar nem o seu papel e importância
para o desenvolvimento cultural da criança. A fantasia nutre-se de matérias tomados da
experiência vivida pela pessoa. A partir disso, Vygotsky postula a principal lei à qual se
subordina a função imaginativa: quando mais rica for à experiência humana, tanto maior será
o material colocando à disposição da imaginação.
No sentido de entender melhor como se dá a vivencia de experiência a partir do
imaginário ele chama nossa atenção para o enlace emocional que caracteriza os vínculos entre
imaginação e realidade, referindo-se à lei da dupla expressão ou da realidade dos sentimentos.

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Está lei diz respeito à capacidade de retroalimentação de um sentimento ou estado emocional
através da fantasia ou imaginação.
Portanto exerce a criatividade, a criação e a apreciação artísticas pressupõe um
comportamento tipicamente humano que auxilia no entendimento da condição sociocultural,
historicamente determinada que nos caracterizem a todos e a cada um de nós sermos de
natureza cultural, criadora, transformadora, simbólica.

6 INTERFACES ENTRE RELIGIAO E ARTE

A religião e a arte nasceram com o despertar da humanidade. Suas manifestações


culturais universais estão presentes nas sociedades humanas desde os primórdios até nos dias
atuais. Embora diferentes, caminham juntas numa constante interação, prezando a mesma
realidade.
A arte tem algo de transcendente, ela é capaz de transpor o tempo e o espaço e nos
leva para além dos limites físicos essencial do nosso cotidiano. A religião, por sua vez
encontra na arte uma linguagem para expressar a experiência daquilo que não se pode dizer
ou exprimir com palavras.
A religião e a arte fazem parte do cotidiano dos seres humanos, mesmo que não se
deem conta. Contudo, ambas andam juntas, se entrelaçam e podem até mesmo se
confundirem.
A Arte favorece o educando relacionar-se criativamente com outras disciplinas, em
especial no momento com o Ensino Religioso, além de propiciar o desenvolvimento do
pensamento artístico. Outra questão é que o conhecimento da arte de outras culturas faz com
que o aluno possa perceber sua realidade cotidiana, de forma mais abrangente através de um
exercício de observação critica do que existe na sua cultura dando sentido, valor e significado,
ao que lhe é próprio.
Outra função do Ensino diz respeito à dimensão social das manifestações artísticas,
ou seja, cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular significados e valores que
norteiam as relações humanas numa sociedade.

A presença das expressões artísticas no cotidiano da sala de aula


pode ter duas funções específicas: como objetos de aprendizagem e
como estratégias de aprendizagem. No entanto, pode-se depreender
desta questão que a vivencia e a construção de um conhecimento em

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arte, oferecendo condições para a construção de um individuo
autômato independente e critico a arte, portanto, não deveria ser
considerada estratégia, mas essência. (MELO 2005 apud Cava, 2009
p. 96-116).

No Ensino Religioso, como estratégia de aprendizagem, as artes apresenta diversas


ferramentas, como os desenhos, releituras de obras, danças, confecções de objetos,
encenações, teatros, entre outros. Entre essas ferramentas a arte de representar encontra várias
formas e sido usado com diferentes propósitos. Nas salas de aula, como linguagem podem
contribuir para o diálogo, para o fortalecimento das relações e respeito mútuo, além de
reflexão e aceitação das diferenças, tema tão discutido nas aulas de ensino religioso.

6 .1 A ARTE DE REPRESENTAR

A arte de representar floresceu em terrenos sagrados à sombra dos templos, de todas


as crenças e em todas as épocas, na Índia, Egito, Grécia, China, entre outras nações e nas
igrejas da Idade Média, sendo a forma que o homem descobriu para manifestar seus
sentimentos de amor, dor e ódio.
A tragédia nascida na Grécia segue três características: antiga, média e nova. É a
representação viva das paixões e dos interesses humanos, tendo por fim a moralização de um
povo ou de uma sociedade.
A comédia representa os ridículos da humanidade ou os maus costumes de uma
sociedade e também segue três vertentes: a política, a alegórica e a moral.
A tragicomédia é a transição da comédia para o drama. Representa personagens
ilustres ou heróis, praticando atos irrisórios.
Já o drama é representado acompanhado por música. No palco, episódios
complicados da vida humana como a dor e a tristeza combinados com o prazer e a alegria.
Na Grécia antiga, os festivais aconteciam anualmente em homenagem ao deus
Dionísio que compreendiam, entre seus eventos, a representação de tragédias e comédias.
Todos os papéis eram representados por homens, pois as mulheres eram proibidas de
participarem e os escritores participavam, tanto das atuações como dos ensaios e da
idealização das coreografias. Em Atenas o espaço utilizado para as encenações era apenas um
grande círculo. Com o passar do tempo, surgiram inovações adicionadas ao teatro grego,
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assim como a profissionalização, a estrutura dos espaços cênicos (surgimento do palco
elevado) etc.
Os romanos nesse mesmo período, já possuíam seu teatro, grandemente influenciado
pelo teatro grego, do qual tirou todos os modelos. Roma não possuiu um teatro permanente
até o ano de 55 A.C., mas eram montadas enormes tendas.
Apesar de ter sido baseado nos moldes gregos, o teatro romano criou suas próprias
inovações, com a pantomima, em que apenas um ator representava todos os papéis, com a
utilização de máscara para cada personagem e sendo acompanhado por músicos e por coro.
Com o Cristianismo, o teatro foi considerado pagão e como não era apoiado por
patrocinadores as representações teatrais desapareceram completamente. O renascimento do
teatro se deu justamente, através da própria igreja, na Era Medieval através da representação
da história da ressurreição de Cristo. Deste modo o teatro era utilizado como veículo de
propagação de conteúdos bíblicos, tendo sido representados por monges e os padres.
Desde o século XV, grupos teatrais chamado teatro elisabetano tinham como atores
homens que eram empregados pela nobreza e por membros da realeza. Podemos citar
Shakespeare, Otelo e Hamlet, que foram empregados pelo Lorde Chamberlain, e mais tarde
pelo próprio rei.
Já na Espanha, os profissionais trabalhavam por conta própria, e tendo como
empresários os chamados autores de comédia. As companhias realizavam anualmente
festivais religiosos, e no século XVII, as representações foram influenciadas pelas encenações
italianas. E foi justamente na Itália que o teatro renascentista rompeu com as tradições
medievais.
O teatro italiano experimentou grandes evoluções cênicas, no século XVII. O próprio
palco recebeu mecanismos que foram adicionados à infraestrutura interna permitindo a
mobilidade dos cenários. Também a participação das mulheres que passaram a fazer parte das
atuações, isto na Inglaterra e também na França onde os papéis femininos eram representados
por atores aprendizes.

6.2 ARTE CENICA

É a forma de arte apresentada em um palco ou lugar onde se acomoda espectadores.


Entende-se de palco qualquer local onde acontece uma representação, que pode ser também
praças e mesmo em ruas.

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A arte Cênica abrange o estudo e a prática de toda forma de expressão que necessita
de uma representação, como o teatro, a música ou a dança. O teatro divide-se em cinco
gêneros: Trágico, que imita a vida por meio de ações completas; Dramático ou drama que
descreve os conflitos humanos; Cômico, ou comédia que apresenta o lado irônico e
contraditório; Musical que é desenvolvido através de músicas, não importando se a história é
cômica, dramática ou trágica e a dança, que se utiliza da música e das expressões propiciadas
pela “mímica”.

7 VALOR PEDAGÓGICO DO TEATRO

O trabalho com teatro proporciona a criança um conhecimento mais amplo, pois a


mesma se deixa conhecer intimamente quando escolhe o personagem que mais lhe agrada.
Auxilia na recuperação e socialização da criança tímida e inibida, pois com o teatro se expõe
sentindo-se perfeitamente a vontade em viver os personagens personificados pelos bonecos. O
teatro na escola tem um grande valor, levando a criança conhecimentos e enriquecendo com
suas experiências atuando ainda no seu desenvolvimento psicológico. Além de educar, através
do teatro o educador tem chance de orientar a criança para a vida.

Os exercícios de expressão dramática estão relacionados à fantasia e a


imaginação, ao mundo do sonho e da representação, desenvolvendo a
comunicação e a criatividade. Pelo seu modo de ser, a linguagem
teatral desperta nas crianças maiores aquela antiga sensação das
brincadeiras de quando eram pequenas, do faz de conta. (CAVA,
2009, p.112)

Dramatizar é uma forma de autoexpressão, a criança gosta de ouvir historias desde


que ela tenha a oportunidade de se transformar e viver a história junto com os personagens. A
utilização de bonecos na dramatização ou encenação das histórias podem levar as crianças a
um mundo do faz de conta e ao mesmo tempo despertar sensações onde ela materializa seu
mundo de sonhos.

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8 BREVE HISTÓRIA DO TEATRO DE BONECOS

Boneco é uma figura humana, animal ou abstrata movimentada de forma manual por
uma pessoa e não por nenhum meio mecânico autônomo, sendo também conhecidos pelo
nome de Títeres. Definição essa que abrange uma enorme variedade de gêneros teatrais e
grande variedade de figuras. Mas nem toda boneca é uma Títeres. Só é considerada Títere a
boneca que é usada para apresentação teatral. Os teatros de Títeres existiram em quase todas
as civilizações e em quase todas as épocas.
Os registros escritos de outras civilizações são menos antigos, mas na China, na
Índia, em Java e em muitas outras do Oriente o teatro de bonecos tem uma tradição tão antiga
que é impossível determinar quando tudo começou. Os norte-americanos e os indígenas usam
tradicionalmente figuras semelhantes às títeres em seus rituais mágicos. Há poucos registros
de títeres na África, mas a máscara é traço importante de quase todas as cerimônias
ritualísticas africanas. Pode-se afirmar que o teatro de títeres ou de bonecos surgiu antes do
teatro escrito.

8.1 CARACTERÍSTICAS DO TEATRO DE TÍTERES OU DE BONECOS

Há suposições de que o teatro de bonecos é uma forma mais antiga de teatro, que
dele surgiu à arte dramática. Não há comprovações de que essas suposições sejam verdadeiras
ou não. Mas esta provada de que o teatro de bonecos e o teatro humano se desenvolvem lado a
lado, e que muito provavelmente um influenciou o outro.
Esses dois tipos de teatros originam-se na magia, nos rituais de fertilidade, no
instinto humano de representar aquilo que se deseja que aconteça na realidade.
O teatro de bonecos ao longo do seu desenvolvimento foi perdendo essa
característica mágica, que foi substituída por um maravilhado infantil ou por teorias mais
sofisticadas de arte e drama, mesmo para as plateias de hoje o fascínio do teatro esta mais
perto do seu sentido mágico primitivo. Mesmo tendo a origem do teatro humano, o teatro de
bonecos tem características especiais, que garantiram a sua sobrevivência ao longo dos
séculos, e conservaram seu fascínio. Este fascínio do teatro de bonecos encontra-se em um
nível mais profundo, os bonecos possuem traços impessoais. Num teatro impessoal, em que
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não existe a projeção da personalidade do ator, a essência do relacionamento entre interprete e
o público tende a ser estabelecida por outros meios. É necessário ter uma plateia envolvida,
atuante, o espectador não pode ser um mero espectador, ele tem que usar sua imaginação para
projetar na máscara do ator as emoções do drama.
A comunhão entre o ator e a plateia é o coração e a alma do teatro, e essa comunhão
pode se dar uma maneira muito especial.
Existem muitos tipos de bonecos, cada tipo tem suas características especificas, exige
sua linguagem dramática especial. Alguns tipos só se desenvolvem sob determinadas
condições culturais e geográficas.
Os tipos mais comuns são os fantoches, que são bonecos de mão ou de luva, possui
corpo de tecido, que é manipulado com a mão, encaixam-se os dedos na cabeça e nos braços
para movimenta-los. A figura é vista só da cintura para cima e geralmente não tem pernas. A
cabeça pode ser feita de madeira, papel-maché, ou borracha, as mãos são de madeira ou de
feltro.
A vantagem do fantoche de mão é a sua agilidade e rapidez, a imitação é seu
tamanho e os movimentos de braços pouco diferentes.

9 TEATRO DE FANTOCHE

A expressão teatral que caracteriza as encenações realizadas com fantoches,


marionetes ou bonecos é o Teatro de Fantoches, que remonta aos tempos ancestrais e executa
um significado na história das civilizações. Está ligado aos primitivos cultos animistas, pois
consideram que tudo no Universo possui alma e, por extensão sentimentos, desejos e
inteligência. Alguns objetos eram considerados sagrados, entre eles as máscaras e os
fantoches.
Os fantoches eram usados como instrumentos teatrais, e quem os usassem utilizavam
poderes mágicos. Eram caracterizados como intermediário dos povos primitivos e os deuses.
As pessoas conferiam tal sacralidade ao fantoche que eles realmente acreditavam parecia
sustenta-las espiritualmente. Ao se tornar portador de um fantoche, o personagem adquiria
poderes que o convertia em um profeta, um ser sagrado, um exorcista. Somente os que
possuíam conhecimentos sacros poderiam usar suas mãos para dar vida ao fantoche em uma
cerimônia especialmente preparada para essa encenação.

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Os fantoches na era clássica estavam dispostos dentro dos templos e eram bonecos de
grande porte conduzidos durante as procissões de iniciação. É a partir do século VII que ele
se desenvolve, e por causa da semelhança com as feições humanas eram escolhidos para
eventos religiosos.

No entanto, por lembrar demais os antigos ritos animistas, a Igreja proibiu as


encenações dentro dos templos. A partir daí as encenações itinerantes com suas
apresentações, especialmente pelas ruas e em festas empreendidas no interior dos palácios
sofreram algumas restrições, mas ao longo do renascimento a Igreja resgata novamente o
envolvimento das encenações, fazendo apresentações nos pátios das residências e em festas
realizadas durante as feiras. O teatro de fantoches assume uma postura mais sátira
impregnando o humor e sua plateia se populariza, passando a ter um papel importante neste
período. Seguindo a evolução histórica, os fantoches transformaram-se conforme a
necessidade da época, não se atendo mais ao passado. Por isso estão sempre em
transformação constante assumindo novas formas.

O fantoche é conhecido mundialmente e dependendo do país recebe


vários nomes: Portugal, Espanha, Alemanha, França, Itália, Rússia e
Inglaterra são exemplos de regiões onde ele foi bem difundido. As
marionetes de luvas também são bem conhecidas no Brasil, na
região nordeste costuma-se chamar de mamulungo e comemora-se
no dia 09 de maio o Dia do Fantoche. “... a encenação proporciona o
desenvolvimento da intuição, do raciocínio e da imaginação:
destrezas da expressão e comunicação“. (BEST, apud MELO, 2005
p. 99).

10 BONECOS DE VARA E MARIONETES

Os bonecos de vara são figuras manipuladas por baixo, mas de tamanho grande,
sustentadas por uma vara que atravessa todo corpo, até a cabeça. Outras varas mais finas
podem ser usadas para movimentar as mãos e, se necessário, as pernas. O boneco de vara é
adequado a peças de ritmo lento e solene, mas são muitas as suas potencialidades e grande a
sua variedade. Porém é muito exigente quanto ao número de manipuladores, exigindo sempre
uma pessoa por boneco, e as vezes duas ou três para uma única figura.

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Já as marionetes são figuras controladas por cima, normalmente são movimentadas
por cordão ou fios. Os movimentos são feitos por meio de inclinação ou oscilação da cruzeta
de controle, mas os fios são também puxados um a um quando se deseja um determinado
movimento. Uma marionete simples pode chegar a ter nove fios: um em cada perna, um em
cada mão, um em cada ombro, um em cada orelha (para mexer a cabeça) e um a base da
coluna, para fazer o boneco inclinar. Para esta manipulação com muitos fios é uma operação
que exige bastante treinamento. Alguns títerianos acharam que o controle com fios era
indireto demais e muito sem firmeza para obter certos efeitos dramáticos, por isso passaram a
utilizar bonecos de vara. Mas nas mãos de um intérprete sensível a marionete continua sendo
a forma mais delicada e mais exigente da arte do teatro de bonecos.

11 CONCLUSÃO

Trabalhar o ensino religioso de forma interdisciplinar com as artes é garantir a


construção de um conhecimento maior, ultrapassando assim os limites da disciplina.
Além do professor ampliar seu conhecimento, os alunos aprendem a estabelecer um
relacionamento de colaboração pois trabalham em grupo. Utilizando o teatro como ferramenta
por exemplo, os alunos são envolvidos em uma experiência de aprendizado onde aumentam
inclusive a interação com os colegas e integração dos conteúdos, ao mesmo tempo,
proporcionando horas de recreação educativa.
O teatro, no processo de formação da criança, cumpre não só a função integradora,
mas dá oportunidade para que ela se aproprie construtivamente dos conteúdos.

Neste sentido, o Ensino Religioso, enquanto área de conhecimento, integra uma


esfera mais ampla: a das culturas. E se um dos objetivos conforme a proposta curricular é
analisar o papel das tradições das diferentes culturas e manifestações sociais ao mesmo tempo
que se busca conhecer, compreender e vivenciar os diferentes conhecimentos religiosos
elaborados pela humanidade, por que não através das artes?

12 REFERÊNCIAS:

14
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brasília, 1997

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Espaço Pedagógico,
1992

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