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Texto de Apoio CRI n.

Autor/Proponente Sérgio Azevedo Data 06/2015

Documento Original Coletânea de Textos X

CAPÍTULO III – CORRENTE TRIFÁSICA

1. SISTEMAS TRIFÁSICOS

A utilização dos sistemas trifásicos em toda a cadeia de energia tem um carácter


praticamente exclusivo. Somente a nível da utilização vamos encontrar um significativo e
variado número de aparelhos, assim como instalações de pequena potência alimentadas com
tensões monofásicas.

2. VANTAGENS DOS SISTEMAS TRIFÁSICOS

Para a mesma potência a fornecer, um alternador trifásico tem menor volume, preço e maior
fiabilidade de serviço do que a correspondente unidade monofásica.

As redes de transporte e de distribuição resultam mais simples e económicas. Utilizam três


condutores de fase e eventualmente um quarto condutor de neutro, dispensando seis
condutores que são requeridos por uma rede monofásica equivalente. À economia do cobre e
menores perdas em linha aliam-se os menores custos e maior simplicidade de concepção e
implantação das estruturas de apoio das linhas.

A simplicidade de construção, menores custos e grande fiabilidade de funcionamento dos


transformadores trifásicos e ainda dos motores assíncronos de campo girante de emprego
generalizado e que não têm equivalente em monofásico, justificam só por si a existência de
sistemas trifásicos.

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3. REPRESENTAÇÕES CARTESIANA E VECTORIAL

400
u1 u2 u3
300
u1
200

100

0
90 180 270 360 120º 120º
-100
120º
-200 u3 u2
-300

-400

(1) (2)

Fig.1 - Representação cartesiana (1) e vectorial (2) de um sistema trifásico de tensões. Notar
que estão desfasadas entre si de 120º, ou seja, 1/3 de período.

Na fig. 1, podemos ver em representação cartesiana a evolução das tensões de um


sistema trifásico a partir dos respectivos valores instantâneos.
Pode ainda fazer-se uma representação vectorial do mesmo sistema, fig.1 - (2), se
atendermos a que um desfasamento no tempo de 1/3 de período equivale a uma diferença
angular de 120º entre os vectores representativos das tensões. Supõe-se todo o sistema
rodando a uma velocidade angular  no sentido indicado, que arbitramos como positivo.

U1,U 2,U 3, Constituem assim um conjunto de três vectores girantes cuja grandeza mede as
referidas tensões em valor eficaz.

4. SEQUÊNCIA DE FASES

Da análise da fig.1 – (1) vemos que U3 está em avanço relativamente a U 1. De facto, se


escolhermos, por exemplo, a origem dos tempos como referência, verificamos que U 3 tem já
um certo valor positivo numa fase decrescente da sua alternância, enquanto que U 1 é nulo e
só agora irá iniciar a alternância positiva por valores sucessivamente crescentes.
Verificamos igualmente que U2 está em atraso relativamente a U1. Isto significa que se
admitirmos todo o sistema rodando no sentido indicado na fig.1-2 e tomarmos como

referência a posição ocupada a dado momento por um desses vetores, por exemplo U 1 , que
esta será sucessivamente ocupada pelos vetores U 2 e U3.
A sequência de fases indicada é 1, 2, 3 e chama-se SEQUÊNCIA DE FASES
POSITIVA. Portanto, a sequência de fases é a ordem pela qual se sucedem as fases num
sistema trifásico.

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5. TENSÕES SIMPLES E COMPOSTA

5.1. TENSÃO SIMPLES

Consideremos um sistema trifásico com neutro, (cujas linhas de alimentação são constituídas
por três condutores de fase e pelo condutor neutro, referenciados, respectivamente, por L1
(R), L2 (S), L3 (T) e N.
Consideremos ainda os pontos 1, 2, 3 e N correspondentes aos terminais de ligação.

L1 1

L2 2

3
L3

U1 U2 U3
N

Fig. 2 - Tensões simples ou tensões de fase.

Designa-se por TENSÃO SIMPLES a tensão existente entre qualquer condutor


de fase e o condutor neutro.

Num sistema trifásico com neutro temos três tensões simples, que designamos por U1, U2
e U3. São iguais em grandeza e vectorialmente formam uma estrela trifásica de tensões
(fig.3).

U1

120º
120º

120º
U3 U2

Fig.3 - Estrela trifásica de tensões.

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5.2. TENSÃO COMPOSTA

U1
U31 U12

U3 U2
0

3 2
U23

Fig.4 – Tensões compostas.

Define-se TENSÃO COMPOSTA como a tensão existente entre duas quaisquer


fases do sistema trifásico.

Na fig.4 assinalamos as referidas tensões com simbologia já nossa conhecida, isto é:

U12  U1  U 2 U 23  U 2  U 3 U 31  U 3  U 1

que representam, respectivamente as tensões entre as fases R e S, S e T, T e R.


Estas expressões possibilitam-nos desenhar os vectores representativos das tensões
compostas de um sistema trifásico a partir das respectivas tensões simples.

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5.3. RELAÇÃO DE GRANDEZA ENTRE AS TENSÕES SIMPLES E COMPOSTA

Do respectivo diagrama vectorial vamos retirar a relação entre a tensão composta e a tensão
simples: os três vectores formam um triângulo isósceles, cujo ângulo obtuso corresponde ao

desfasamento existente entre U 1 e U 2 isto é, 120º.


Os restantes dois ângulos valem 30º cada um.

3
U12 = 2 x U2 cos (30º) como cos (30º) =
2
Então fica U12 = 3 U2

Sendo U1 = U2 = U3 = US
e U12 = U23 = U31 = UC

temos que UC = 3 US

onde Us representa a tensão simples e Uc a tensão composta.

Quando nos sistemas trifásicos se indica um determinado valor da tensão sem


qualquer adjectivação, deve subentender-se que se refere a uma tensão composta.
Por exemplo, se dissermos que uma determinada linha de MT é de 15 kV, devemos entendê-
la como a tensão composta.
Outras vezes aparecem-nos duas tensões escritas apenas com um traço oblíquo a separá-las.
Por exemplo, uma rede 230/400 V. A primeira designa então a tensão simples e a
segunda a tensão composta.

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6. LIGAÇÃO DE CARGAS TRIFÁSICAS

Existem duas formas típicas de associação, as chamadas:

6.1. LIGAÇÃO EM ESTRELA

 Ligação em TRIÂNGULO ou DELTA.


U

z x y
x

z y
U V W

W V

L1 L2 L3

Fig.5 - Ligação em estrela de 3 cargas monofásicas utilizando um único condutor comum


central (condutor neutro). Neste condutor não circula corrente, IN = 0 poderia mesmo
suprimir-se.

As três cargas representadas caracterizam-se pelo mesmo valor de impedância, isto é, Z1


= Z2 = Z3. As respectivas extremidades estão ligadas aos terminais de cada um dos
enrolamentos do alternador e são referenciadas pelas letras UX, VY, WZ.

Nos condutores de alimentação estabelecem-se assim três correntes com o mesmo valor
eficaz mas desfasadas de 120º.

Os valores instantâneos dessas correntes diferem, contudo, em cada momento e em cada


uma das fases.

Poderíamos retirar o CONDUTOR NEUTRO do circuito sem alteração ou prejuízo das


condições de funcionamento. E só não o fazemos por uma medida preventiva,
salvaguardando assim a hipótese das três cargas poderem sofrer qualquer alteração.

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Estas ligações configuram uma estrela, tanto na fonte como na carga. O ponto comum
designa-se por PONTO NEUTRO.

Exemplo: Se considerarmos os valores de I1, I2, I3 (fig.5) correspondendo a uma corrente


eficaz de 8 A por fase e relativos ao momento em que  t = 90º, temos:

t  90 0
Imáx = I /0,707 ↔ Imáx = 8/0,707 ↔ Imáx = 11,32A

I1 = Imáx sen t I1 = 11,32 x sen 90º = 11,32 A


I2 = Imáx sen (  t – 120º) I2 = 11,32 x sen (-30º) = -5,66 A
I3 = Imáx sen (  t +120º) I3 = 11,32 x sen (210º) = -5,66 A

Neste, como em qualquer outro instante, a soma algébrica das correntes é zero:
IN = I1 + I2 + I3 = 11,32 - 5,66 - 5,66 = 0 A
em que IN representa a corrente no neutro.

A fig.6 mostra este sistema de correntes em representação cartesiana, onde para cada
instante, a soma das ordenadas correspondentes à intersecção da vertical com as respectivas
sinusóides é sempre igual a zero.

I(A) I3
I1 I2
11,32

0
90 180 270 360
5,66
-5,36

Fig.6 – Sistema de correntes em representação cartesiana

6.1.1. SISTEMAS ESTRELA EQUILIBRADO

Quando todas as cargas têm o mesmo valor, isto é, a mesma impedância, o sistema diz-se
equilibrado e as correntes em cada uma das fases são iguais.

Foi o caso abordado no ponto anterior.

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Num sistema trifásico equilibrado a soma vectorial das correntes é igual a zero.

I N  I1  I 2  I 3  0
I N Corrente no neutro é igual ao 0 (vetor nulo)

6.2. LIGAÇÃO EM TRIÂNGULO

U z L1
z x y

U V W x W L
3
V y
L2

L1 L2 L3

Fig.7 - Várias perspectivas de uma mesma ligação em triângulo.

Numa ligação em triângulo, as três cargas ligam-se sequencialmente configurando uma


malha fechada triangular (fig.7), sendo cada ponto comum ligado a uma fase.
Podemos verificar que:
 Não existe condutor neutro por não haver ponto comum às três fases.
 A tensão aplicada a cada uma das cargas é a tensão composta.

- CORRENTES NA LINHA E NA FASE


As correntes de linha IL, como a própria designação indica, são as correntes que
circulam nos condutores de alimentação e que na figura foram notadas por I1, I2 e I3.
Chamam-se correntes de fase If às correntes que circulam nos ramos do triângulo. São
as correntes I12, I23 e I31 da fig. 7.
Todas têm o mesmo sentido de circulação {arbitrado}.

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6.2.1. TRIÂNGULO EQUILIBRADO

Um sistema trifásico diz-se em triângulo equilibrado quando todas as cargas do triângulo são
idênticas e portanto têm a mesma impedância.
Nesta situação as correntes nas linhas são todas iguais, isto é, I1 = I2 = I3 assim como as
correntes nas fases, ou seja, I12 = I23 = I31 em qualquer caso desfasadas 120º entre si.

6.2.2. RELAÇÃO ENTRE CORRENTE DE LINHA E CORRENTE DE FASE

IL= 3 If

Esta relação permite-nos enunciar que a corrente na linha é 3 vezes maior que a corrente
de fase.

7. SISTEMAS TRIFÁSICOS DESEQUILIBRADOS

Diz-se que um sistema trifásico é desequilibrado ou de cargas desequilibradas se as


impedâncias por fase não forem todas iguais.
Nesta situação, o papel desempenhado pelo condutor NEUTRO é fundamental, como
veremos.
Iremos então estudar o funcionamento de uma carga trifásica desequilibrada ligada em
estrela com neutro, e seguidamente sem neutro, e avaliar os resultados.

7.1. ESTRELA COM NEUTRO

Fig.8 - Determinação vectorial da corrente no condutor neutro em sistemas trifásicos


desequilibrados.

Circulará assim uma corrente no neutro I N correspondente à resultante da soma vectorial


das correntes nas três fases.
Concluímos que:

Num sistema em estrela desequilibrado circula sempre uma corrente no neutro.

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Essa corrente é igual à soma vectorial das correntes das fases


I N  I1  I 2  I 3

É imprescindível o condutor neutro para dar passagem à corrente de defeito.

7.1.2. ESTRELA SEM NEUTRO

A supressão do condutor neutro num sistema desequilibrado origina um desequilíbrio das


tensões simples sujeitando os diversos receptores a suportar nuns casos sobretensões,
noutros tensões inferiores ao respectivo valor nominal.

7.2. TRIÂNGULO DESEQUILIBRADO

Quando as cargas não são todas iguais, o triângulo é desequilibrado. As correntes de linha
deixam de ser iguais, assim como as correntes de fase. Mantêm-se contudo, as tensões de
fase nos terminais de cada uma das cargas.

8. POTÊNCIA EM CIRCUITOS TRIFÁSICOS

8.1. FORMULAÇAO MATEMÁTICA

O cálculo de potências em c.a. trifásica, nomeadamente das potências activa, reactiva e


aparente, sintetiza e segue uma formulação idêntica à dos consumos por fase.
Considerando o caso geral que contempla todas as situações de carga a que temos vindo a
fazer referência - cargas equilibradas ou não, ligação em estrela ou em triângulo -, pode ser
assim equacionado:
- CASO GERAL
- POTÊNCIA ACTIVA P = P1 + P2 + P3

- POTÊNCIA REACTIVA Q = Q1 + Q2 + Q3

- POTÊNCIA APARENTE S= P2  Q2

Cada uma das parcelas indexadas representa uma potência por fase, e as respectivas
equações são:

Pf = UF IF cos F
Qf = UF IF sen F

A potência activa representa a uma potência consumida, é sempre positiva e a referida soma
é aritmética.

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A potência reactiva total é o balanço da potência que circula entre os componentes reactivos
e a rede. É negativa quando consumida e positiva quando fornecida. A sua soma é, portanto,
algébrica ou vectorial.

- CARGAS EQUILIBRADAS
Quando as cargas são iguais nas três fases, as expressões para as potências resultam mais
simples. Analisemos, então, as ligações em estrela e em triângulo.

8.2. LIGAÇÃO EM ESTRELA

Nesta montagem e nas condições enunciadas, temos que:


 As correntes de fase são iguais em grandeza e iguais às correntes de linha.
 Nos terminais de cada carga está aplicada uma tensão simples.

Nestas considerações baseiam-se as deduções para as diferentes potências:


- POTÊNCIA ACTIVA

P1 = P2 = P3 = US IL cos 
P = P1 + P2 + P3 = 3.US IL cos 
UC
Como U S 
3
UC
P=3 IL cos 
3
e portanto
P= 3 UC IL cos  W (Watt)

- POTÊNCIA REACTlVA
De forma análoga chegaríamos à expressão:

Q= 3 UC IL sen  VAr (Volt-Ampere reactivo)

POTÊNCIA APARENTE

S= 3 UC IL VA (Volt-Ampere)

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8.3. LIGAÇÃO EM TRIÂNGULO

Nesta montagem e nas condições enunciadas, temos que:

 As correntes nas linhas são 3 superiores às correntes nas fases e têm o


mesmo valor em todas elas.
 A tensão aplicada a cada um dos elementos do triângulo é a tensão
composta.

Sendo assim, deduzamos as expressões para as diferentes potências:


- POTÊNCIA ACTIVA

P1 = P2 = P3 = UC If cos 
IL
P = 3 UC If cos  = 3 UC cos 
3
e portanto

P= 3 UC IL cos  W (watt)

- POTÊNCIA REACTIVA
De forma análoga chegaríamos à expressão:

Q= 3 UC IL sen 
VAr (volt-ampere reactivo)

- POTÊNCIA APARENTE

S= 3 UC I L
VA (volt-ampere)

9. EXPRESSÃO GERAL DA POTÊNCIA EM SISTEMAS TRIFÁSICOS EQUILIBRADOS

Comparando as expressões que deduzimos no caso da ligação em triângulo e em estrela


verificamos que são iguais, pelo que podemos escrever para ambos os casos:

P= 3 UC I cos  Q= 3 UC I sen  S= 3 UC I

BIBLIOGRAFIA
Compilação Sérgio Azevedo, Documentação IEFP e Documentação CENFIM

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