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Relação interior x exterior

As fachadas, marcadas por jogos de volumes prismáticos e sem cor contrastam


significamente com o seu interior amarelado. As salas começam a passar uma atmosfera
mais clássica e ao mesmo tempo intima, apresentando os vínculos com a arquitetura
tradicional tais como esmalte prateado e a madeira escura. O mobiliário foi também
projetado por Warchavchik, em plena sintonia com os espaços interiores.]

Em 1928, um jornal chamava a atenção sobre a incorporação de tais elementos


tradicionais na casa da rua Santa Cruz em seu artigo:

[...] o mais curioso é que Warchavchik pôde e soube extrair para ela interessantes
elementos do nosso colonial, e isso porque, ao contrário dos demais pesquisadores
que, preocupados exclusivamente com o ornamental do nosso velho estilo, se
esqueceram de ver nele, como Warchavchik, o essencial.
E foi assim que o ilustre arquiteto russo [...] chegou, sem esforço, a lançar as
bases de uma arquitetura, essa sim puramente brasileira, ou melhor, tropical, de tal
modo se adapta às condições e circunstâncias do meio ambiente e corresponde às
necessidades do nosso clima, temperamento, tradição, costumes etc.

Fica claro que a casa modernista, não somente as brasileiras, mas as diversas obras
executadas durante o século XX por uma grande diversidade de arquitetos que
acreditaram, estudaram ou até mesmo questionaram os conceitos de Le Corbusier e
seus discípulos, contribuíram muito para a transformação de uma sociedade e a forma
de se morar no “mundo moderno”.
Entorno

É visivelmente curioso o que pode-se notar


observando a obra com o seu entorno, trata-se de
uma pequena área verde, passando-se quase
por uma chácara em pleno centro urbano.

A residência em si situa-se ligeiramente


afastada do alinhamento com o passeio público
escondida entre os arvoredos presentes, e por
um grande muro de blocos de concreto, que a
deixa oculta aos olhos da opulação.

A natureza do projeto é
altamente contrastante com o que tornou
a cidade após anos de desenvolvimento.
Muitas vezes a população passa cerca da
área sem notar do que se trata, salvos os
que percebem o recém emplacamento da
área entitulada como Parque Modernista,
caracterizando uma propriedade passível
de visitas.

Os jardins realizados por sua esposa, Mina Warchavchik, são considerados pioneiros no
uso de plantas tropicais como cactos e mandacarús.
Foi elaborado no mesmo contexto que o delineado para a arquitetura de seu marido,
obras de transição e fundação de uma nova sensibilidade obras mais características e
marcantes igualmente esperariam até o início da década de 40, com os trabalhos
notáveis de Burle Marx no Rio de Janeiro e seu entorno.
O uso de cactáceas e espécies tropicais pouco usuais em jardins da época conferiu um
aspecto singular ao paisagismo brasileiro. A fórmula, influenciada com toda certeza pela
simplificação cromática e figurativa da pintura de Tarsila do Amaral, se mostrou bastante
eficaz, estabelecendo, a partir daí, uma identidade clara para o desenvolvimento do
paisagismo moderno. O que podemos, portanto, é compreender as intenções projetuais
que Mina teve ao pensar esse espaço, bem como as demandas de uso presentes em seu
tempo. Intenções essas como o uso de plantas exclusivamente brasileiras, como
Palmeiras, Mandacarus, Agaves, Dracenas, Azaleias e Guapuruvus, bem como a
disposição das espécies seguindo formas e contornos rígidos, complementando as linhas
da casa e cumprindo funções que a própria arquitetura não podia, como os cactos que
subiam junto as janelas de canto dando ao usuários certo nível de privacidade, ou
guiando os caminhos da área externa para os ambientes que pretendiam ser mais
frequentados. Os jardins de Mina foram elementos importantíssimos para que pudesse
definir, ainda que em suas primeiras intenções, como o movimento Moderno poderia
atuar dentro do paisagismo contemporâneo brasileiro. Nesse aspecto, é indiscutível o seu
sucesso.

Estado atual

Na década de 1980, os herdeiros de Gregori pretendiam


vender o imóvel e em seu lugar seriam construídas torres
de apartamento.

A comunidade do entorno se mobilizou e o protesto ganhou a


imprensa – com pioneirismo do jornal São Paulo Zona Sul.
Uma associação – Pró Parque Modernista foi criada na
época e reforçou a luta contra a destruição do patrimônio. E foi
assim que já no ano seguinte ao início das manifestações
populares, em 1984, o Condephaat considerou o conjunto
Casa/Jardins como patrimônio histórico.

A partir daí, se desenvolveria um embate judicial entre os


proprietários do imóvel e o Governo do Estado, já que o
negócio da venda havia sido inviabilizado. Só 10 anos
depois o processo seria concluído, com a indenização à
família. A casa, entretanto, ficou por muitos anos
abandonada e foi se deteriorando, até que sua transferência à Prefeitura em 2000 se
concretizou.

A casa foi restaurada como foi deixada pelo arquiteto, aceitando as intervenções do
próprio Warchavchik como essenciais para compreender a obra como parte integrante de
um processo de transição e discussão. A obra foi iniciada em 2002.

Ao longo dos anos, intenções para a ocupação do parque foram realizadas, seja por
organizações civis, ou por incentivo da própria curadoria do museu, que promove saraus,
visitas guiadas e atividades culturais. Contudo, nenhumas dessas intenções se
concretizaram em mudanças efetivas que pudessem repercutir no espaço a longo prazo.
A realidade é que durante os quase 30 anos em que a Casa Modernista se transformou
em parque, poucas iniciativas foram realizadas para transformar o que antes era uma
casa de família em um parque-museu público.

Entretanto, dar o nome de “Parque” a um espaço não é suficiente para transformá-lo em


um local apto a cumprir suas novas funções. Parte de suas limitações se deve aos
profundos desencontros de decisões políticas em âmbito administrativo. Não é possível
ignorar o fator “negligência” da equação. Compreender o porquê de tantas falhas em sua
manutenção é, talvez, o primeiro passo para contornar essa situação.

http://verdesp.com.br/o-parque-modernista/

https://jornalzonasul.com.br/parque-modernista-elege-conselho-gestor-nesse-domingo-14/

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