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A belle époque é o tempo entre o final do século XIX e 1914, quando a

Europa, em um período de paz, conseguiu desenvolver tecnologia para


desenvolver suas cidades e outros aspectos intelectuais. Paris passou por
grandes reformas para torná-la reconhecida como a "Ville Lumière"
(Cidade da Luz). Por exemplo, além da construção da Torre Eiffel, o
alargamento de ruas e o processo de urbanização 1889 Torre de exposição
universal. Essas influências francesas se espalharam não só pela Europa,
mas também pelo mundo. A era da beleza chegou no Brasil durante o
começo século XX e durou até a década de 1920, marcando a
modernidade em algumas cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de
Janeiro, Manaus e Belém.
Belém experimentou a modernidade na última década do século XIX. A
palavra é gramaticalmente muito ampla, mas quando aplicada à cidade de
1890/1900, não pode ser entendida desta forma. Nesse contexto, a capital
passou por uma ampla produção, extração e comercialização internacional
de látex, desde meados do século XIX até por volta da década de 1920, e
reflexos sobre as grandes transformações urbanas e valores culturais
como a moda da intimidade mantida pela elite através da França que
circularam no Pará. Nas primeiras décadas do século XX, Belém estudou os
costumes do lazer para encontrar um registro de uma cidade que respira
arte e cultura. A cidade foi tomada pela bela e requintada arquitetura,
atraindo o olhar internacional e mostrando seu cenário de
desenvolvimento, produto da política.
O responsável pelas mudanças estruturais em Belém na época era Antônio
Lemos, que foi o administrador de Belém e que a governou de 1987 a
1910. Dos seus feitos, os patrimônios levantados são os mais perceptível,
embora não seja o único. Nos bulevares e edifícios como a Paris’n
América, o estilo de vida urbano também mudara. A paisagem de Belém
foi modificada para se tornar um verdadeiro exemplo de urbanização em
uma das cidades mais importantes da região amazônica na época. A
política era de restaurar as várias avenidas, como a Avenida 15 de Agosto
(hoje Presidente Vargas) e a Avenida Castilhos França, muitas receberam
infraestrutura urbana como calçadas, árvores, linhas de bonde e
principalmente iluminação. Ao lado do Theatro da Paz, o quiosque de
informações I Life, hoje Bar do Parque, foi construído para a
comercialização de produtos de varejo como café, charutaria e revistas.
A Belle Époque representa em uma cidade como Belém o contexto de sua
ocorrência, ao entender o processo de urbanização daquela época o
sentido moderno era sinônimo de mudança, e a cidade é um reflexo ou
produto direto desse entendimento. Ao mesmo tempo, esta é uma
filosofia de vida, adotada pelo governador de Belém e outras elites, cheios
de entusiasmo e ávidos de imprimir uma vida completamente diferente da
vida desde a chegada do Esquadrão Francisco Caldera Castro Blanco o
ritmo que a vida estava em 1616. A Belle Époque deixou marcas
substantivas na cidade como a decoração de muitos prédios públicos,
como é o caso da obra em análise.
O Theatro da Paz é um edifício de estilo neoclássico que anseia perfeitas
condições acústicas e de visibilidade. A riqueza da época impulsionou o
rápido desenvolvimento econômico da região amazônica e fez com que os
nobres locais ansiassem por um grande teatro que pudesse promover
diversas apresentações. Embora o governo provincial tivesse sancionado
uma lei, em 1863, determinando a construção do teatro, apenas em 3 de
março de 1869 foi lançada a pedra fundamental, com início das obras em
julho do mesmo ano. O projeto arquitetônico foi encomendado pelo
governo quando era ainda uma monarquia, assinado pelo engenheiro
militar José Tibúrcio de Magalhães, e inspirado no Teatro Scalla de Milão,
na Itália. Outro alvo de críticas foi o orçamento da construção, quase 800
contos de réis, considerado alto de mais para Belém ainda carente de
serviços básicos de saneamento. Porém, Magalhães não conseguiu
acompanhar a execução da obra, que foi executada pelo engenheiro
Antônio Augusto Calandrini de Chermont, cujo fez diversas alterações na
proposta original, modificando toda a fachada e criando aberturas laterais.
Em primeiro lugar, considerando o fim da Guerra do Paraguai, o teatro
passou a se chamar Teatro Nossa Senhora da Paz, que logo em seguida foi
renomeado oficialmente como Theatro da Paz. Inicialmente se chamava
Theatro Nossa Senhora da Paz, este nome ainda tem dúvidas sobre sua
origem. Uma visão é que esta será uma homenagem ao fim da Guerra do
Paraguai (1864-1870). Outro atribuiu o batismo ao bispo Dom Macedo
Costa. O atual nome foi oficialmente anunciado dois dias após a
inauguração, ocorrida em 15 de fevereiro de 1878, quatro anos após a
conclusão do projeto. Também é dito que as autoridades religiosas locais
estavam preocupadas com "obras malignas e cômicas” que não
combinavam com os nomes dos santos.
Nos primeiros tempos o teatro era decorado com modéstia. A sala de
espetáculos, toa pintada de branco, possuía mobiliário simplório. Havia
um grande ventilador no teto facilitando a renovação do ar, pois a
iluminação era feita a gás. Posteriormente, várias intervenções foram
feitas, modificando suas feições. Em 1887, o artista italiano Domenico de
Angelis foi contratado pelo governo provincial para, inicialmente, decorar
a sala de espetáculos. Apoiado por uma equipe, da qual fazia parte o
artista Capranesi, ele projetou a pintura do teto, na qual se vê Apolo, deus
das artes, da poesia e da luz, conduzido por um carro puxado por cavalos,
ladeado por musas, entrando majestosamente na Amazônia. Também se
vê Diana, a caçadora, na pele de uma tupia. A equipe ainda trabalhou na
pintura florais dos camarotes e, mais tarde, na pintura do teto do salão
nobre.
Em 1890 foi inaugurado o famoso pano de boca, que celebra a República e
a afirmação do positivismo no Pará. O painel "Alegoria à República reúne,
de forma ufanista, índios, mestiços e lusitanos, saudando os novos
tempos. O painel foi pintado no ateliê Carpezat, em Paris, mas ainda há
dúvidas sobre a sua autoria: poderia ter sido feito por Carpezat, como se
convencionou registrar, ou pelo cenógrafo pernambucano Chrispim do
Amaral, que estudou na Itália, trabalhou na França e realizou cenografias
no Theatro da Paz e Teatro Amazonas.
Entre o Império e o início da República fizeram-se alterações na sala de
espetáculos e serviços de manutenção, para aplacar os efeitos das chuvas.
No entanto, a mais importante foi executada em 1904, com a
transformação completa do teatro para moldá-lo aos padrões da belle
époque, período entre 1890 e 1914 marcado pela importação de valores
da cultura francesa. No auge da exportação do látex, Belém se tornara a
"Paris n' América" e seu principal teatro, por isso, fo dotado de luxo, brilho
e requinte.
A intervenção profunda começou pelo recuo da fachada, subtraindo a
polêmica sétima coluna, com o acréscimo dos bustos que simbolizam a
poesia, a música, a dança e a tragédia - e entre eles o brasão do Estado. O
prédio passou a ter seis saídas, no lugar da três originais , e foi reduzindo o
número de portas do alpendre da entrada principal. A escadaria do hall de
entrada recebeu balaustrada de pedra francesa e os bustos de Gonçalves
Dias e José de Alencar, em mármore de Carrara. Portas e pisos foram
refeitos com madeiras nobres da região, como o acapu e p pau amarelo;
os pisos redesenhados em forma de mosaico.
Provido de iluminação elétrica desde 1893, o teatro ganhou os belos
lustres de cristal do hall de entrada, da sala de espetáculos, do salão nobre
e dos camarotes. Estatuetas-luminárias foram instaladas no terraço e na
escadaria principal. Candelabros passaram o ornar as escadarias e o
letreiro de gesso da fachada foi substituído por outro de vidro polido e
iluminado.

No salão nobre foi preservada apenas a pintura de Domenico de angelis e


Capranesi, acrescentando-se os busto de mármore belga dos maestros
Carlos Gomes e Henrique Gurjão, de autoria de Achille Canessa.

A obra chegou ao palco e ao fosso da orquestra, readaptados ao estilo da


escola wagneriana. Os arcos do proscênio também receberam rica
decoração, com pintura em folhas de ouro. E, ainda, todo o calçamento ao
redor do prédio foi modificado, com a decoração de paralelepípedos de
asfalto comprimido, para abafar o ruído de carruagens e bondes, que
prejudicava os espetáculos.

A maior parte do material e dos elementos decorativos empregados na


reforma veio da Itália. França e Estados Unidos. A exceção foi o mobiliário,
parte confeccionado em Belém pelos alunos da escola Profissional do
Estado, parte no Rio de Janeiro.

Em 1905, o teatro foi reaberto pela companhia lírica italiana de Donato


Rolli, em temporada de dois meses, quando forma apresentadas as óperas
Tosca, de Puccini, Moema, de Assis Pacheco, Iris, de Mascagni e
Mefistófeles, de Boito. As companhias que se apresentaram nos anos
seguintes eram menores, com artistas locais encenando peças mais
modestas, como operetas, revistas e comédias. Anunciava-se assim a
decadência do ciclo da borracha, pois com a queda do preço do látex no
mercado internacional, o Estado não dispunha de tantos recursos para
incentivar espetáculos de grande porte. Além da crise econômica, a
epidemia de febre amarela agravou ainda mais o setor cultural, uma vez
elencos internacionais foram atingidos pela doença. Uma companhia
francesa dissolveu-se por causa da morte de cinco integrantes.

As atividades, contudo, prosseguiram. Na década de 30, houve as


legendárias apresentações da bailarina Ana Pavlova e da cantora lírica
Bidu Sayão. Mas foi também o período do desabamento da pintura do
teto do Foyer, perdendo-se completamente a obra dos artistas italianos. A
partir de 1947, a Sociedade Artística Internacional (SAI) passou a
coordenar a pauta do teatro, nas áreas de música e artes plásticas,
promovendo exposições e salões de arte. Na década de 50, organizou-se
uma espécie de revival das estações operísticas, com a regência de Nino
Gaioni, mas já era visível a precariedade das instalações físicas do teatro.

Ao longo da década de 60, houve várias reformas. Na primeira delas


contratou-se o artista brasileiro Armando Balloni para realizar nova
pintura no teto do Foyer, desta vez com temática amazônica, o que gerou
grande polêmica. Em 1963, o teatro foi tombado pelo serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e, em seguida,
iniciaram-se novas obras de reforma, com a reconstrução do palco,
camarins e outras dependências. Foram substituídas estruturas de taipa
apodrecidas por outras de concreto. Posteriormente, o teatro recebeu
novos equipamentos de cenotécnica e de som, um piano Steinway de
cauda inteira e órgão elétrico.

Entre 1971 e 1975, fez-se a reconstrução das estruturas frontais e laterais,


remanejamento estrutural e telhado e platibandas, restauração da rede
elétrica e restauração da rede elétrica e de esgoto. Houve também
recuperação do painel da Armando Balloni e da cor original da pintura
externa do prédio, o ocre, não muito aceito pela população. A reabertura
se deu em 15 de fevereiro de 1975, com a apresentação do Ballet Stagium
e a comemoração dos 70 anos do maestro Waldemar Henrique, diretor do
teatro por mais de uma década, entre os anos 60 e 70.
Em 1977, às vésperas do centenário, o teatro foi fechado para restauro,
gerando grande debate entre a classe teatral, que não possuía alternativa
para ensaios e apresentações. As obras abrangeram a recuperação do
sistema acústico e instalação do sistema de ar condicionado, assim como
de novos equipamentos de luminotécnica e cenotécnica. O pano de boca,
por muitos anos em completo abandono, foi restaurado. Na reabertura
em 15 de fevereiro de 1978, apresentou-se o coral Ettore Bosio, regido
por João Bosco Castro, acompanhado pela Orquestra de Câmara
Brasileira.

Em 1988, em comemoração aos 111 ano, foram restaurados os lustres de


cristal, o mobiliário, a decoração do proscênio, com a reposição de folhas
de ouro, e foi feita a descupinização de todo o prédio.

Nos anos 90, o teatro recebeu nova pintura e equipamentos de luz e som
modernos. Dessa forma, abriu as portas novamente e companhias
internacionais, como o Ópera Nacional de Sofia, para encenação de fosca,
de Carlos Gomes, e o Ballet Kirov (1998). No ano seguinte, foi encenada a
ópera O Escravo, de Calos Gomes, pela Ópera Brasil do Maranhão.

Vale ressaltar que nem só de arte viveu o teatro. Ao longo do século 20,
foram oferecidos jantares e banquetes, promoveram-se convenções
político-partidárias e até mesmo a Assembléia legislativa do Estado
realizou ali sessões, em 1959, quando do incêndio ocorrido em sua sede.

Por ser símbolo de um dos momentos mais importantes da história do


Pará, a era da borracha, o Theatro da Paz suscita uma eterna saudade: a
efervescência artística daqueles tempos. A cada novo esforço
empreendido em favor da manutenção do teatro, os discursos registrados
pela imprensa expressam a vontade de Belém fazer reviver um tempo que
já não existe, mas se cristalizou na memória coletiva. Na verdade, manter
ativo o Theatro da Paz e reativar sua vida artística não é apenas uma
demonstração de zelo pela história, mas de dinamização da própria
história, para que a população se reduza a condição do "viajante
indefinido" do poema "O contra-símbolo", de Fernando Pessoa, aquele
que "ouve contar-se só a história/Do cais morto do barco ido". A cidade
precisa protagonizar os novos tempos.
História artística do Theatro da Paz vai de Carlos Gomes a Ballet Kirov,
passando por intérpretes e compositores paraenses do mais alto gabarito.
Já era tempo de a Província do Grão-Pará ter uma casa de espetáculos.
Porque o Teatro Providência, que recebera tantas companhias itinerantes
e acolhera um público ansioso por diversão - o velho Providência, em
1872, ardera quase todo em chamas.

Recomposto superficial e sumariamente, o teatrinho Providência ainda


por vários anos receberia troupes de fora e grupos locais, sendo ali como
que a germinação de um futuro teatro paraense, apresentando o colorido
de grupos pastoris, recitais de poesias, concertos do clubes Mazart, Verdi
e Sociedades Musicais, enquanto a lenta burocracia não entregava ao
povo o novo Theatro Nossa Senhora da Paz.

Os espectadores, que eram os cidadãos mais abastados da Província, nas


noites de espetáculo acorriam ao pequeno prédio de madeira, levando
seus criados, uns a clarear as ruas do percurso com archotes, outros a
carregar cadeiras e bilhas com água para que seus senhores pudessem
aplaudir o que iria acontecer no palco tosco, á luz de lampiões de óleo de
andiroba. A lágrima e riso se alternavam nos dramas e farsas, juntamente
com o boquiaberto espanto ante a representações circenses de
contorcionismo de malabaristas e truques de engole-fogo. As óperas
Trovador, Rigoletto, Macbeth de Verdi e Barbeiro de Servilhai de Rossini
eram apresentadas de maneira adaptadas às condições da casa. Essa era o
menu que o Teatro Providência apresentava, sacudindo a quietude de
uma população ainda sem gosto artístico definido.

15 de Fevereiro de 1878. Noite de gala. Inauguração do Theatro Nossa


Senhora da Paz, de pois Theatro da Paz. A festa de abertura foi montada
pelo empresário pernambucano Vicente Pontes de Oliveira, contratado
pelo governo municipal para exercer, durante um ano, a direção dos
espetáculos no teatro a ser entregue aos paraenses. O maestro
maranhense Francisco Libânio Colás, incumbido de organizar uma grande
orquestra para tocar nessa noite, arregimentou músicos de quatro bandas
para o evento no novo espaço. A peça de estréia foi o drama de A.
D'Ennery, As sociedades como a Phil'Euterpe, Lyra Paraense de Santa
Cecília e o conservatório Dramático Paraense já movimentavam o perfil
artístico da Província. A sociedade estava sendo progressivamente
preparada para realizar os seus momentos de arte com pessoas da terra.
Durante dois anos o público continuaria a ver nesse teatro, grupos
membembes com apresentações de cunho farsesco e dramas de
conteúdo lacrimoso.

Na verdade a acústica excelente, o interior luxuoso, a arquitetura original


que introduzia o prédio logo ao nível da rua, sem intervenção de escadaria
externa, davam ao teatro um encanto todo próprio e a sociedade
começava a entender que o novo ambiente deveria transmitir muito mais
do que dramas de gosto incerto e bailes de carnaval.

Em 1880 chega a Belém a Companhia Lírica Italiana de Tomas Passini.


Apresentou Ernani, de Verdi. Trazia como regente da orquestra o maestro
Enrico Bernardi, largamente conhecido nos palcos europeus.

Nesse mesmo ano O Guarani teve sua estréia no Teatro da Paz, com
regência de Enrico Bernardi. Era a primeira ópera de autor brasileiro com
assunto nacional. Delírio na platéia, mesmo que Carlos Gomes não
estivesse presente. No ano seguinte em 1881, o público aplaude Henrique
Gurjão na estréia de sua Idália, primeira ópera de compositor paraense,
sob regência do maestro Cimini. Foi uma verdadeira consagração.

Em 1882 ouve-se novamente a música de Carlos Gomes no Teatro da Paz,


desta ves com a presença do Maestro campineiro. A ópera é Salvador
Rosa, regida por Enrico Bernardi. É conhecida a grandiosa homenagem
que o Pará prestou ao genial compositor. Flores, fitas com o nome do
maestro em fios de ouro, marche flambeaux, poesias, cobertura intensa
dos jornais, homenagem dos músicos e poetas locais, ovações prendendo
ao palco o vitorioso compositor de O Guarani.

Em 1890 José Cândido da Gama Malcher estréia no Theatro da Paz sua


ópera Bug Jargal e em 1891 Ettore Bosio leva a cena O Duque de Vizeu.
Helena e Ulysses Nobre apresentam-se nesse palco, em 1906. Ela canta
Mia Picirella, da ópera Salvador Rosa.

Em 1908 houve o fechamento do Instituto Carlos Gomes. É então que João


Pereira de Castro, José Domingues Brandão, Cincinato Ferreira de Souza e
Ettore Bosio agrupam professores e alunos, passando à história como os
reorganizadores do Instituto. Maria Helena Coelho Cardoso, aluna dessa
segunda fase viria a ser uma das glórias do canto lírico no Pará, com belas
exibições nessa casa de espetáculos.

Em 1917 a platéia aplaude o músico Alípio Cesar, da cidade de Cametá. É a


estréia de sua ópera Notte Bizarra, talvez a única ópera cômica de autor
paraense.

Pelo palco de Theatro da Paz haveriam de passar grandes nomes de artes,


além dos já citados, como Anna Pavlova, Bidu Sayão, Tito Schipa,
Beniamino Gigli, Waldemar Henrique, Guiomar Novaes, Tamara
Taumonova, Procópio Ferreira, Cacilda Becker, Margarida Lopes de
Almeida, Renato Vianna, Henritte Morineau, Natalia Thimberg, Bibi
Ferreira, Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Glauce Rocha, Maria Della
Costa, Tonia Carrero, Francisco Mignoni, Oriano de Almeida, Arthur
Moreira Lima, Nelson Freire, Arnaldo Cohen, Miguel Proença, Maria Lucia
Godoy, Leila Guimarães, Lenice Priolli, Victoria Kerbauy, corpo de baile do
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Ballet Kirov, Les Etoilles de I'Opera de
Paris, Ballet Stagium. Impossível e até entediante a enumeração completa
dos artistas que aqui se apresentaram ao longo de 124 anos, daí porque,
muitos deles não constam deste artigo.
Refletir na presença do Theatro da Paz e no que ele representa para os
paraenses, apenas vislumbrando o brilho de importantes, porém
esporádicas figuras que por seu palco passaram, seria fazer uma leitura
tanto mais direta quanto mais incompleta do muito que artistas tiveram e
têm oferecido, sob as luzes mágicas dos refletores.

Ressaltem-se intérpretes que imortalizaram nesta casa as composições de


Altino Pimenta, Waldemar Henrique, Jayme Ovalle, Paulino Chaves,
Meneleu Campos, Raymundo Pinheiro, Tó Teixeira, Wilson Fonseca. Vozes
paraenses, na tradição do canto lírico como Maria Helena Coellho
Cardoso, Adelermo Matos, Marina Monarcha, Alpha Oliveira, Márcia
Aliverti, Adriana Queiroz, João Augusto Ó de Almeida, Reginaldo Pinheiro.

Como não se lembrar das grandes concentrações de orfeões regidos por


Margarida Schiwazappa, Maria Luzia Vella Alves, Maria Araújo Figueiredo;
das regências marcantes de Nivaldo Santiago, João Bosco da Silva Castro e
Silvério Maia? Isso sem falar na atuação da Fundação Carlos Gomes, como
o seu Festival Internacional de Música do Pará, que atrai jovens para o
nosso teatro; e da Escola de Música da UFPA, que promove o Encontro de
Arte. Também é importante registrar o surgimento da Orquestra sinfônica
do Theatro da Paz, atualmente regida pelo maestro Barry Ford, cujo
contingente de músicos é formado quase integralmente por paraenses.

As efemérides em torno da figura fundamental de Carlos Gomes jamais


passaram em branco na programação do teatro. Em 1986, no
sesquicentenário de nascimento do compositor, a então Secretaria de
Cultura, Desportos e Turismo do Pará e a Secretaria de Cultura de São
Paulo trouxeram a Belém uma montagem de O Guarani, com Niza de
Castro Tank como Ceci e Benito Juarez na regência. Dez anos mais tarde
no centenário da morte de Carlos Gomes, a Secretaria de Estado da
Cultura do Pará homenagearia novamente o compositor, com o
espetáculo 100 Anos de Saudade, que apresentou obras raras e inéditas.
Num cenário mais recente, nosso teatro tem assistido aos arranjos e
composições de Paulo André Barata, Luiz Pardal, Tinoco, Salomão Habib e
Serguei Firsanov, em uma visão moderna de peças de Waldemar
Henrique. Outro espetáculo marcante foi a montagem de Fosca, com Gail
Gilmore e a National Opera Sofia sob regência do maestro Luiz Fernando
Malheiro.

Tal como uma viagem a um lugar muito rico de belezas e informações, de


cujo manancial não conseguimos nos apropriar, assim é o nosso passeio
pelos espetáculos de arte que o Theatro da Paz nos tem oferecido. Como
na viagem, ficarão sempre muitas coisas que se viu e das quais nem é
possível falar. E temos vontade de voltar, de ver e ouvir de novo, num
eterno recomeço.
1878, 15 de fevereiro, sexta-feira. Belém do Pará viveu um dia de grande emoção. A emoção da abertura do
Theatro de Nossa Senhora da Paz pela companhia do ator pernambucano Vicente Pontes de Oliveira com o
drama As duas órfãs, do escritor francês A. D´Ennery. Desempenho a cargo de Manuela Lucci, Emília Câmara,
Maria Bahia, Vicente Pontes de Oliveira, Joaquim Infante da Câmara, Xisto Bahia, Júlio Xavier de Oliveira,
também ensaiador.

A primeira temporada de arte foi interrompida logo em seguida para dar lugar a um espetáculo insólito. O
teatro foi especialmente preparado para os bailes carnavalescos. Palco e platéia transformaram-se num vasto
salão caprichosamente e elegantemente decorado. No dia 24, domingo, deu-se o primeiro baile das máscaras.
O jornal católico A Boa Nova, editado pelo bispado, manifestou estranheza.

Como os bailes atendiam aos interesses da nossa bisonha aristocracia e burguesia, que muito estimavam os
costumes da " corte" como das " metrópoles" européias, os bailes foram considerados indispensáveis e
aconteceram animados durante o tríduo momesco, 3, 4 e 5 de março. Para evitar constrangimentos, deliberou
o Conselho do Conservatório Dramático Paraense sugerir ao Presidente da Província a substituição do nome
respeitoso Theatro Nossa Senhora da Paz para Theatro da Paz.

A sugestão foi acatada. E o bispo Dom Antônio de Macedo Costa, que não vira com bons olhos o nome de
Nossa Senhora ostentado na fachada do templo pagão, no qual tudo podia acontecer, deu-se por satisfeito.
Os espetáculos da Companhia Vicente Pontes de Oliveira recomeçaram na quinta-feira, 7 de março. A primeira
temporada de arte durou até dezembro e apresentou nada menos de 126 récitas. Merece consideração essa
temporada porque as principais figuras eram velhos companheiros de Vicente Pontes de Oliveira que há muito
explorava as artes cênicas no Pará. Entre elas duas glórias brasileiras: Xisto Bahia e Manuela Lucci. E havia
uma paraense: Eugênica Câmara, casada com o ator português Joaquim Infante de Câmara, célebre atriz, que
fora namorada do poeta Castro Alves.

O Teatro viveu vida gloriosa nos tempos áureos da borracha, vida medíocre nos tempos das vacas magras.
Somando tudo, agora temos para festejar 125 anos. Escrever a história desse templo é tarefa de Hércules.
Exaustivo falar dos espetáculos, incontáveis, variados, todos os gêneros possíveis e imagináveis - até colação
de grau e convenções políticas - mobilizando gente de toda parte, nobres e plebeus.

Uma pessoa especial, porém, se identifica com esta casa - o maestro Waldemar Henrique da Costa Pereira.
Nasceu ele exatamente no dia 15 de fevereiro de 1905, quando completou 28 anos. Neste dia do primeiro
vagido de Waldemar Henrique não houve espetáculo. O teatro estava fechado para obras externas e internas,
que lhe deram o aspecto atual.

A casa voltaria a funcionar normalmente a partir do dia 03 de maio de 1905, solene reabertura e estréia da
Companhia Lírica Italiana, de Donato Rotolli, com a ópera Tosca, pela primeira vez executada no Pará. A
Companhia procedia do Rio de Janeiro, tendo atuado antes em São Paulo. Era empresariada pelo maestro
brasileiro Dr. Assis Pacheco.

Novo período de atividades se estendeu a partir desse momento e durou pouco, atropelado pela quebra da
borracha por volta de 1910. No meio da crise, 1918, esta casa viveu outro momento de raro esplendor: a
temporada da companhia de balé de Anna Pávlova. A célebre bailarina deixou marcas profundas, e duas
meninas paraenses se transformaram em " estrelas" do balé clássico no Rio de Janeiro: Naruna Jordan e Bela
Yara. E o balé baixou ao nível das "pastorinhas", adotado por grupos mais sofisticados, o Filhas de Japhet e o
Belemitas, neste despontando outro talento que cedo feneceu, Natércia Mendonça.

Waldemar Henrique viveu, por sua vez, a primeira emoção artística indo assistir aos espetáculos de Anna
Pávlova no Theatro da Paz. Era menino e ficou deslumbrado. Em 1920 já compunha. Em 1923-4 divulgou as
primeiras peças para canto e piano. Em 1934, com boa bagagem e estilo definido, que refletia a identidade
amazônica, resolveu com sua irmã Mara desembocar no Rio de Janeiro para viver longa experiência artística.
Vitorioso, ganhou também aplauso internacional. Ele e Mara foram " embaixadores da canção brasileira", com o
patrocínio do Itamaraty.
Em 1958, a convite de Benedito e Maria Sylvia Nunes, corpo e alma do Norte Teatro-Escola, escreveu música
para o poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, apresentado no 1º Festival Nacional de
Teatro de Estudantes, aplaudido e premiado com medalha de bronze.

As raízes paraenses o chamaram de volta. Em 1962 foi contratado pela UFPa para prestar colaboração ao Coral
Ettore Bosio. Mas o retorno definitivo só aconteceu em 1965, para assumir o cargo de diretor do Departamento
de Cultura da SEDEC - Secretaria de Estado de Educação e Cultura -, e depois diretor do Theatro da Paz, por
ato de 12 de novembro do mesmo ano. A partir de então, durante 15 anos, o maestro comemorou duplo
aniversário: o dele e o do Teatro. Dirigiu esta casa com tanto empenho que nela chegou a residir. Um dentro do
outro. Fez da casa de dramas e óperas mais que um ato de presença cultural. Chegou a gastar de seu bolso
para a manutenção da vida do Theatro, contigências da burocracia por vezes perversa.

Aqui se encontrava atento a todos os movimentos de uma reforma projetada para festejar o centenário do
Theatro. A festa custou-lhe amarga decepção: ao se descerrar a placa comemorativa, faltava um nome - o do
diretor em exercício, Waldemar Henrique. Ele, humilde, sufocou insólito vagido. Todos comentaram e a
imprensa não perdoou o esquecimento. O fato ecoou mundo afora. Ocupa capítulo do livro de José Cláver Filho,
Waldemar Henrique - O canto da Amazônia, livro que reparou esta e outras injustiças.

Waldemar Henrique identificou-se definitivamente com esta casa. O vínculo vai além dos pequenos episódios.
Não é possível esquecê-los, porém. Todos eles compõem o maravilhoso espetáculo da vida. Ocupam Tempo e
Gente.

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