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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

Samantha Nascimento Alves (20212100261)

O THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE


JANEIRO E O ECLETISMO

Rio de Janeiro
2022
Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise sobre o movimento
eclético usando como objeto de análise o Theatro Municipal do Rio de Janeiro,
utilizando os conhecimentos adquiridos em sala de aula durante o curso de história
da arte. Como projeto de divulgação será feito uma postagem no instagram usando
as informações desta pesquisa para falar sobre a obra escolhida.
O ecletismo é um movimento que teve sua origem em um período de
transição, começando no final do século XIX e continuando durante o início do
século XX, fortemente influenciado pela Primeira Revolução Industrial. A palavra
eclético tem como significado: “aquele que é partidário de diversas formas de
conduta ou opinião”, sendo assim a principal marca do movimento eclético é ser
uma polifonia, ou seja ele incorpora diversos elementos de vários outros
movimentos de épocas diferentes em uma única obra.
Tendo surgido durante o período da Primeira Revolução Industrial, que foi
marcado por várias novas invenções e
descobertas no campo da engenharia, o
ecletismo também introduziu novas técnicas de
construção, como a utilização de materiais como
o aço, o vidro, ferro forjado e vidro laminado.
As principais características do
movimento eclético são sua simetria,
composição e proporção, sua busca pela
grandiosidade, sua riqueza decorativa em
fachadas ornamentadas, com o uso de estátuas,
colunas gregas e outros ornamentos. Alguns
exemplos internacionais de arquitetura eclética
são a Ópera de Garnier na França, o Palácio de Reichstag na Alemanha, o Museu
Metropolitano de Arte e o Capitólio nos Estados Unidos, o Palácio Legislativo de
Montevidéu no Uruguai, o Palácio do Congresso da Nação Argentina, entre outros.
No Brasil, o ecletismo chegou durante um
período em que o país prosperava economicamente
com o auge do café e um acelerado crescimento das
cidades. Algumas obras do movimento eclético no
Brasil são a Pinacoteca e Mercado Municipal em São
Paulo, o Palácio da Liberdade em Belo Horizonte, o
Museu de Nacional de Belas Artes e a Biblioteca
Nacional no Rio de Janeiro, o Theatro Municipal do
Rio de Janeiro que será a obra de estudo deste
trabalho, entre outros.
O Theatro Municipal se encontra na Praça
Marechal Floriano Peixoto, também conhecida
popularmente como Cinelândia, no centro da cidade
do Rio de Janeiro. Sua construção foi realizada
durante o período da primeira república brasileira e fez parte da proposta de reforma
urbana da cidade do Rio de Janeiro organizada pelo então prefeito da cidade na
época, Francisco Pereira Passos.
Na época a cidade era considerada como capital do Brasil e no século
anterior a cidade havia sofrido um crescimento demográfico que fez com que a
cidade se desenvolvesse desordenadamente com ruas e vielas estreitas e mal
traçadas, casas mal iluminadas e sem ventilação, construções muito antigas do
período colonial em ruínas, o que gerou diversos problemas de infraestrutura,
saneamento básico e principalmente de saúde pública. Neste período, a cidade era
conhecida mundialmente como “Porto das Doenças” em função das constantes
epidemias que aconteciam na cidade, varíola, febre amarela, até mesmo a peste
negra que já havia sido erradicada na Europa.
Em função destas condições precárias de
saúde pública, as elites do Rio de Janeiro
acabaram se retirando do centro e se
mudando para outras regiões da cidade
tentando assim evitar a aglomeração, deixando
vários casarões e sobrados vazios que
começaram a ter seus alugados cada um por
uma família, também conhecidos como
cortiços ou casas de cômodo, o que agrava as
questões de saúde pública na cidade.
Com a cidade neste estado, o engenheiro
Pereira Passos é assim indicado pelo
presidente Rodrigues Alves como prefeito do Rio de Janeiro para realizar uma
reforma urbana que copiaria um modelo de cidade europeia, seguindo os seguintes
princípios como norteadores da reforma: embelezamento, higienização e
modernização.
Durante a reforma foi adotada uma política do bota-abaixo, que consistia na
demolição dos cortiços para abrir espaço para as construções, ruas e bulevares da
reforma, excluindo assim as camadas mais pobres da população que depois de
terem suas moradias destruídas avançaram com o processo de favelização nas
encostas do Rio de Janeiro.
A reforma foi iniciada no ano de 1903, além do edifício do Theatro Municipal,
também foram feitas várias outras obras como a modernização da Zona Portuária, a
Avenida Central, hoje conhecida como Avenida Rio Branco, a Escola de Belas
Artes, que hoje é o Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional, a Vista
Chinesa, a Avenida Passos, o alargamento da rua Vala para a criação da
Uruguaiana, entre outras.
Mesmo tendo uma atividade teatral intensa no final do século XIX, a cidade
não dispunha de uma sala de teatral que estivesse à altura da capital do país e
desde 1894 existia uma campanha para a construção de um teatro para ser sede de
uma companhia municipal O projeto do Theatro Municipal foi criado pela junção das
propostas ganhadoras de um concurso público, do engenheiro Francisco de Oliveira
Passos, filho do prefeito Pereira Passos, e do arquiteto francês Albert Gilbert,
ambas inspiradas no projeto da Ópera Garnier de Paris de 1875.
Sua construção se iniciou em em janeiro de
1905 e o prédio precisou de 280 operários
trabalhando em dois turnos para ser construído.
Também contou com importantes pintores e
escultores da época, como: Eliseu Visconti,
Rodolfo Amoedo e os irmãos Bernadelli, além da
vinda de outros artistas europeus para a criação
dos vitrais e mosaicos.
As fachadas do prédio incorporam
principalmente elementos dos movimentos
clássico, como a presença de colunas e o
equilíbrio entre as formas de uma construção, do
barroco, como uso de metais preciosos e a forte
presença de espaços e formas ovais, e do art-nouveau, nas pinturas de Eliseu
Visconti. Elas contêm esculturas de formas masculinas e femininas feitas pelos
irmãos Bernadelli, nomes de mestres da música e dramaturgia nacionais e
mundiais, em um pequeno frontão os anos de construção do edifício, 1905 e 1909,
em números romanos, rotundas com cúpulas e o principal elemento da fachada:
uma águia revestida em ouro que pesa 350 kg e tem seis metros de envergadura.
Entrando pela entrada principal se adentra no hall de entrada que possui um
pé direito altíssimo, no vestíbulo se encontra uma escadaria que leva pelas laterais
até a plateia e as frisas do teatro. A escada é feita de ônix, bronze e cristais, ela
possui duas esculturas nos corrimões feitas por
Paul Verlaine que representam a da direita
poesia e a da esquerda a dança e mais uma
escultura em seu patamar feita por Jean
Antoine Injalbert que representa a verdade, em
cima das escadas há um vitral que representa
o deus Apolo.
No segundo pavimento fica a entrada para
o balcão nobre, decorado em um estilo francês
e onde se encontram três grandes vitrais que
representam as musas gregas da música, arte
e poesia e da dança e cantos. No teto, se
encontram pinturas de Eliseu Visconti.
O teatro também possui duas rotundas, que funcionam como lugar de
descanso para o público. Uma direcionada para a Rua Treze de Maio com pinturas
representando as danças antigas e outra virada para a Avenida Rio Branco, esta
com pinturas representando as danças modernas, ambas com as pinturas da
parede feitas por Rodolfo Amoedo e as de teto por Henrique Bernadelli.
Na sala de espetáculos, logo na entrada ficam os lugares da plateia junto
com as frisas, acima delas se encontram o balcão nobre, os camarotes e a cabine
de luz e som, por fim no andar superior se encontra o balcão simples e a galeria,
todos os assentos são feitos de madeira com veludo vermelho. Ao redor do friso do
palco se encontra a obra “A poesia e o amor afastando a virtude do vício” de
Visconti. Nas laterais do palco, ficam dois grandes camarotes, o da esquerda
pertencente ao governador do Rio de Janeiro e o
da direita ao Presidente da República. Em frente
ao palco se encontra o fosso da orquestra que
fica em um plano inferior ao da plateia.
No teto da sala de espetáculos se encontra
o lustre central, feito de bronze, com mais de 100
lâmpadas e pingentes de cristal, ao seu redor fica
mais obra de Visconti chamada “a dança das
horas”, com 24 dançarinas que representam as
horas do dia, metade em cores claras como as
horas do dia e a outra metade em cores escuras
representando as horas da noite.
No subsolo do teatro se encontra o salão
assyrio que já foi lar dos primeiros grandes bailes
de máscara da cidade, sua decoração foi inspirada na junção dos estilos babilônico,
assírio e persa fazendo oposição ao estilo do resto do teatro. O espaço possui um
pé direito baixo, com o teto sustentado por colunas que terminam com figuras de
cabeças de touro em estilo persa, suas paredes são revestidas com cerâmica
esmaltada e são decoradas com painéis de mosaico. O salão também possui duas
fontes, uma com uma imagem do rei Gilgamesh da
Suméria e outra do imperador Dario da Pérsia.
O teatro foi inaugurado em julho de 1909, agora
durante a prefeitura de Souza Aguiar, e tinha
capacidade para 1.739 pessoas, hoje com lugares
para capacidade de até 2.244 pessoas. Desde sua
inauguração até hoje, o teatro já passou por quatro
grandes reformas em 1934, 1975, 1996 e 2008 para
aumento da capacidade de lugares, a criação da
Central Técnica de Produção, a construção de um
edifício anexo com salas de ensaio e obras de
restauração e modernização.
O Theatro Municipal é um edifício muito rico em seus detalhes, que foi feito
com materiais e artistas vindos de diferentes lugares pelo mundo, fazendo uma
colcha de retalhos de diferentes estilos artísticos diferentes como se é esperado de
uma obra do movimento eclético. Também é um edifício rico em sua história que
não só está só fortemente interligada com a história da cidade do Rio de Janeiro,
mas também com um processo histórico no país de exclusão das camadas mais
pobres da sociedade em favor da elite brasileira.
Referências
1. Tour Virtual gratuito para a população. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=cAw7FjX6MUw>.
2. ARQUITETURA, I. P.-G. - E. O ecletismo na Arquitetura dos séculos XIX e
XX. Disponível em:
<https://inbec.com.br/blog/o-ecletismo-arquitetura-seculos-xix-xx>. Acesso
em: 11 jun. 2022.
3. Apresentação. Disponível em:
<http://theatromunicipal.rj.gov.br/apresentacao/>. Acesso em: 11 jun. 2022
4. GLOBO, R. E. Reforma Urbanística de Pereira Passos, o Rio com cara de
Paris. Disponível em:
<http://educacao.globo.com/artigo/reforma-urbanistica-de-pereira-passos-o-ri
o-com-cara-de-paris.html>.
5. Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz - Reforma Pereira Passos. Disponível
em:
<http://oswaldocruz.fiocruz.br/index.php/biografia/trajetoria-cientifica/na-direto
ria-geral-de-saude-publica/reforma-pereira-passos>.

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