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História

O Palácio Nova Friburgo, atual Palácio do Catete, construído entre 1858 e 1867 pelo comerciante
e fazendeiro de café Antônio Clemente Pinto, Barão de Nova Friburgo, consagrou-se como um
monumento de grande importância histórica, arquitetônica e artística. Erguido no Rio de Janeiro,
então Capital Imperial, tornou-se símbolo do poder econômico da elite cafeicultora escravocrata
do Brasil oitocentista. Sua concepção em estilo eclético é resultado do trabalho de artistas
estrangeiros de renome, como o arquiteto Gustav Waehneldt e os pintores Emil Bauch, Gastão
Tassini e Mario Bragaldi. Em 1889, passados vinte anos da morte do Barão e de sua esposa, o
Palácio foi vendido à Companhia do Grande Hotel Internacional e, posteriormente, antes que
fosse instalada qualquer empresa hoteleira no imóvel, foi vendido ao maior acionista da
Companhia, o conselheiro Francisco de Paula Mayrink. Em 18 de abril de 1896, durante o
mandato do presidente Prudente de Moraes, à época exercido em caráter interino pelo vice
Manuel Vitorino, o Palácio foi adquirido pelo Governo Federal para sediar a Presidência da
República, anteriormente instalada no Palácio do Itamaraty.
Condessa de Nova Friburgo (sentada com seu neto Rodolpho no colo), Conde de Nova Friburgo
entre suas filhas Laura e Ada, Renato de Nova Friburgo, Braz de Nova Friburgo, Maria José de
Souza Dantas de Nova Friburgo e primos.
Condessa de Nova Friburgo (sentada com seu neto Rodolpho no colo), Conde de Nova Friburgo
entre suas filhas Laura e Ada, Renato de Nova Friburgo, Braz de Nova Friburgo, Maria José de
Souza Dantas de Nova Friburgo e primos.

Para receber os presidentes e seus familiares, ampla reforma foi executada sob a orientação do
engenheiro Aarão Reis. Dela participaram importantes pintores brasileiros como Antônio
Parreiras e Décio Villares e o paisagista Paul Villon, este responsável pela remodelação dos
jardins. A instalação de luz elétrica no Palácio, desde então, acentuaria o brilho dos
acontecimentos políticos e sociais que ali teriam lugar.
Marianne, símbolo da República. Bronze e Mármore. Autoria: Paul Louis Emile Loiseau Rousseau,
s/d.
Marianne, símbolo da República.
Bronze e Mármore. Autoria: Paul Louis Emile Loiseau Rousseau, s/d.

Também chamado de Palácio das Águias, o Palácio do Catete foi palco de intensas articulações
políticas, como as declarações de guerra à Alemanha, em 1917, e ao Eixo, em 1942, e, nesse
mesmo ano, da implantação do Cruzeiro como sistema monetário nacional. Entre os grandes
acontecimentos sociais, destacam-se a recepção aos Reis da Bélgica, em 1920, e a hospedagem
do Cardeal Pacelli, posteriormente Papa Pio XII , em 1934. Grande repercussão gerou o polêmico

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sarau organizado, em 1914, pela caricaturista Nair de Teffé, esposa do presidente Hermes da
Fonseca, durante o qual foi executado o famoso “Corta- Jaca” de Chiquinha Gonzaga,
compositora e maestrina carioca. Pela primeira vez a música popular era interpretada nos salões
de um Solar aristocrático.
Do Palácio emergem, ainda, memórias de momentos de consternação e comoção nacional, como
o velório do presidente Afonso Pena, em 1909, e o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, desfecho
de uma das mais contundentes crises político-militares republicanas. No ano de 1938, durante o
Estado Novo, o Palácio e seus jardins foram tombados pelo então Serviço do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional – atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Sede
do Poder Republicano por quase de 64 anos, 18 presidentes utilizaram suas instalações. Coube a
Juscelino Kubitschek encerrar a era presidencial do edifício, com a transferência da Capital
Federal para Brasília em 21 de abril de 1960. O Palácio do Catete, com base em Decreto
Presidencial de 08 de março de 1960, passou então a ser organizado para abrigar o Museu da
República, inaugurado a 15 de novembro do mesmo ano.
Jardim
O Palácio do Catete foi erguido no século XIX, no então chamado “Caminho do Catete”, atual
bairro do Catete, região que surgiu com o aterramento de uma área coberta por mangues.
Iniciada a construção do Palácio, o Barão de Nova Friburgo adquiriu novas terras, incorporando a
área ao fundo do terreno e a aléia central do parque, onde já então havia as palmeiras existentes
até hoje. Segundo alguns historiadores, tanto o jardim do Palácio quanto o do Palácio São
Clemente, em Nova Friburgo, também de propriedade do Barão, teriam sido feitos pelo
paisagista francês Auguste Marie Françoise Glaziou.
A remodelação do jardim do Palácio para a sua ocupação pela sede do Poder Executivo Nacional
ficou sob a coordenação de Paul Villon, discípulo do paisagista francês Auguste Marie Françoise
Glaziou, com quem Villon já havia trabalhado à época da reforma do Campo da Aclamação, atual
Praça da República.
Um antigo pavilhão do parque foi transformado em coreto, seguindo a tendência dos logradouros
públicos tanto em voga no período. Foram, também, construídas dependências para os
mordomos e criados da presidência, atualmente residências de antigos funcionários e seus
familiares. Ainda no parque, seriam adaptados um piquete de cavalaria e cocheiras, próximos à
entrada da Praia do Flamengo, no local onde hoje é o prédio da Reserva Técnica do Museu.
As instalações elétricas representaram uma grande inovação tecnológica na reforma de
adaptação do Palácio. Coube ao engenheiro Adolfo Aschoff a coordenação dos trabalhos, citados
como pioneiros pela imprensa da época. Foi construída uma oficina elétrica e, especialmente
para abrigá-la, erguido um prédio de três compartimentos, na lateral do terreno voltada para a
Rua Princesa do Catete, atual Rua Ferreira Viana.
Tendo em vista assegurar o transporte de carvão para a usina elétrica do Palácio, foi também
construído um novo ramal para a linha férrea que atendia ao bairro do Catete. Alguns anos mais
tarde, essa construção foi transformada em garagem presidencial, atualmente funcionando no
local parte das instalações do Museu do Folclore. A usina elétrica foi desativada.

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Na área do jardim voltada para a Praia do Flamengo, havia um embarcadouro, construído pelo
Conselheiro Mayrink, para a atracação de seu iate. Quando o Palácio se tornou sede do Governo
Federal, este cais passou a ser de uso exclusivo da Presidência da República. Na década de 1960,
quando foi construído o Aterro do Flamengo, foi demolido o que restava do embarcadouro.
Em 06 de abril de 1938, o Palácio do Catete e seu respectivo Jardim foram tombados pelo recém-
criado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), hoje Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O tombamento do jardim do Palácio é um instrumento de proteção e preservação de seus traços
paisagísticos, que não podem ser alterados sem autorização prévia do IPHAN.
No ano de 1960, com a criação do Museu da República, o jardim foi aberto ao público.
Em 1995, um novo projeto paisagístico foi elaborado para o parque, sendo realizada uma ampla
reestruturação de toda a sua rede elétrica e de escoamento de água e implantado um sistema
automático de irrigação.
No final dos anos 90, uma nova intervenção substituiu os muros do parque erguidos ao longo da
Rua Silveira Martins e da Praia do Flamengo por gradis idênticos aos que já existiam nas demais
margens do Palácio, permitindo uma maior visibilidade do seu jardim.
Palácio do Catete
1º Andar
A entrada do Palácio se faz por um portão de ferro, fundido em Jlsenburg am Harz, em 1864. O
Hall chama a atenção pela imponência da sequência de seis colunas de mármore que levam à
escada principal. Construída em módulos pré-fabricados de ferro fundido, foi uma das primeiras a
serem utilizadas no Brasil. Para seu assentamento foi contratado o serviço do arquiteto alemão
Otto Henkel, em outubro de 1864.
Na reforma para a chegada da Presidência, o hall recebeu esculturas, luminárias e estuques no
teto com as Armas da República, que podem ser observados até hoje.
No andar térreo, o requinte das pinturas e ornatos e a distribuição e localização dos cômodos
sugerem ter sido esse espaço, inicialmente, destinado às salas de visita e de estar, conforme o
costume da época.
Durante a república, a área foi redefinida, passando a abrigar setores burocráticos como
secretaria, biblioteca, gabinetes, salas de despachos e de audiências.
Há ainda, nesse piso, o Salão Ministerial, utilizado, na época do Barão, para pequenas recepções.
Com a instalação da Presidência, foi chamado de Salão de Despacho e Conferências e,
posteriormente, Salão Ministerial, pois passou a servir para as reuniões do presidente com seus
ministros. Seu teto, apesar de vários retoques, apresenta ainda a decoração original, em que se
destaca a composição Baco e Ariadne.
Atualmente, à direita, uma exposição de longa duração apresenta a constituição do Palácio e a
família do barão de nova Friburgo.

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À esquerda, sala destinada a exposições de curta duração, privilegiando temas voltados à história
e às temáticas contemporâneas.
Logo que se inicia a subida do primeiro para o segundo andar, os visitantes vêem o Hall da
Escada, decorado com motivos que homenageiam as artes: a pintura, o desenho, a arquitetura e
a escultura. Cenas mitológicas que copiam os afrescos pintados pelo renascentista italiano Rafael
(1483-1520) na Villa Farnesiana completam a decoração que tem ainda visão central de uma
cópia em metal da escultura Afrodite de Cápua, que está no Museu Nacional de Nápoles.
2º Andar
Nesse andar, no chamado “piso nobre”, destinado a recepções e cerimônias (tanto na época do
Barão quanto da Presidência da Republica), nota-se o luxo e a diversidade temática dos salões,
cada um deles retratando, ainda, seu uso específico no período imperial. A riqueza e os esquemas
decorativos dos salões mostram como a rica burguesia da época procurava demonstrar um poder
social que se consolidava.
Uma galeria, com vitrais executados na Alemanha e representando musas e outras figuras
mitológicas, no período imperial fazia a ligação entre a escada íntima e a de serviços, além de
servir de antecâmara da Capela. Como sede da República, esse espaço recebeu sofás e cadeiras
de balanço.
A Capela era o local de recolhimento e oração dos moradores do Palácio. Ela apresenta o teto
decorado por painéis reproduzindo a figura de apóstolos e duas telas, cópias das obras A
Transfiguração, do italiano renascentista Raphael Sanzio, e Imaculada Conceição, do espanhol
barroco Bartolomé Murillo. Para a instalação da Presidência da República, a decoração foi
conservada, mas a sala teve sua utilização modificada. No período republicano, só foi usada como
capela no casamento da filha do presidente Rodrigues Alves e no velório do presidente Afonso
Pena.
O Salão Francês, também chamado de Salão Azul, localizado entre a Capela e o Salão Nobre,
servia de refúgio e apoio às recepções oferecidas no Palácio. Ele tem estilo Luiz XVI, como se vê
nos ornatos do teto, nas molduras dos espelhos e nas sanefas. Mais tarde, as paredes receberam
nova pintura com toques art-nouveau, adaptada à coloração pastel da sala.
O Salão Nobre ou Salão de Baile relembra a vida social e o luxo da corte. Nele eram realizadas as
principais recepções do Palácio. As pinturas verticais representam cenas mitológicas associadas à
música e às artes, e, na parte superior das paredes, pinturas em semicírculo referem-se à vida de
Apolo, deus da música e da poesia. A presença da música é notada, ainda, na lira que aparece no
parquet do piso.
Como sede da Presidência, esse salão continuou sendo o espaço mais nobre, tendo recebido
sobre as portas as Armas da República. A recente iluminação elétrica refletia-se nos espelhos
bizotadas, por ocasião das festas. Em 1938, o painel do teto foi refeito pelo pintor acadêmico
brasileiro Armando Vianna.
A função do Salão Pompeano era a de apoio aos Salões Nobre e Veneziano. Esse espaço é
decorado com cenas que se reportam às descobertas artísticas das escavações da cidade de

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Pompéia. Nas obras de adaptação feitas no prédio, apenas o teto sofreu alteração, com a
colocação das Armas Nacionais e das datas históricas: Descobrimento, Independência, Abolição e
República.
O Salão Veneziano (também chamado de Salão Amarelo) era usado como sala de visitas. Seu
nome decorre do estilo do mobiliário, com móveis pesados e ricamente decorados. Nele há um
lustre central em bronze e cristal, candelabros e grandes espelhos.

Na República, o salão foi usado como sala de música e para a realização de saraus. Consta que,
nele, realizou-se o famoso e polêmico sarau com músicas da compositora e maestrina Chiquinha
Gonzaga, promovido por D. Nair de Teffé, segunda esposa do presidente Hermes da Fonseca, no
qual ela apresentou um novo ritmo, o Corta-jaca, escandalizando a sociedade da época.
Um dos espelhos existentes na época da corte foi substituído por painel executado pelos pintores
Antonio Parreiras e Décio Vilares.
O Salão Mourisco, em mais um diferente estilo (tem esse nome por sua decoração inspirada na
arte islâmica), era um local masculino, usado como sala de jogos e de fumar. Tem um lustre de
bronze dourado e cristal rubi, mobiliário em marfim e palhinha e é decorado por esculturas e um
cinzeiro em forma de crocodilo.
O Salão de Banquetes tem sua função definida pela própria decoração. Foi também utilizado,
durante o período em que Getúlio Vargas ocupou o Catete, como um espaço para reuniões
ministeriais. No teto do salão vêem-se estuques com frutos, pinturas de naturezas mortas nos
arcos, e o painel central é uma cópia adaptada da obra Diana, a caçadora, do italiano
Domenichino.
3º Andar
O último andar do Palácio era destinado aos aposentos privados da família do barão de Nova
Friburgo e, mais tarde, das famílias dos presidentes. Com o passar do tempo, o mobiliário e a
decoração foram sendo alterados de acordo com as necessidades de cada morador.
Com a instalação da Presidência, novos móveis e objetos funcionais e de decoração foram
encomendados. Alguns exemplos deste mobiliário estão integrados ao circuito histórico.
A galeria circunda todo o centro do prédio e possibilita uma visão mais aproximada da clarabóia
composta por 266 peças e decorada por um vitral que confere um belo colorido à iluminação
natural que invade o Palácio.
O quarto presidencial foi marcado pelo suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954.
Área Externa
Além do jardim, o Museu possui pátio interno e varanda, que podem ser usados tanto como área
de lazer como para eventos. Originária da construção do Palácio, a varanda tem piso em
mármore branco e guarda-corpo em ferro fundido. É sustentada por seis colunas coríntias, com

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saia decorada com cartelas e palmetas. Foi palco de várias reuniões e solenidades como atestam
diversas fotos pertencentes ao Arquivo do Museu.
Acervo
O Museu da República, por intermédio de suas ambientações, das exposições temporárias, de
longa duração e dos eventos culturais, busca oferecer ao visitante um panorama da história
republicana. Fotos, documentos, objetos, mobiliário e obras de arte dos séculos XIX e XX
integram seu acervo, exposto nos diversos salões do Palácio. Oferece ainda, desde
novembro/2007, uma nova forma de interlocução com o visitante: o Espaço de Atualização, no
qual a informação está à disposição através de jornais do dia, noticiários na TV etc, deixando em
evidência que a História está em permanente movimento, recriando-se a partir das ações
humanas.

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