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ANÁLISE COMPUTACIONAL DO TESTE DE POÇO VERTICAL EM

RESERVATÓRIO RADIAL COMPOSTO

Igor de Almeida Ferreira

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Mestre em Engenharia
Civil.

Orientadores: José Luis Drummond Alves

Paulo Couto

Rio de Janeiro

Março de 2016
ANÁLISE COMPUTACIONAL DO TESTE DE POÇO VERTICAL EM
RESERVATÓRIO RADIAL COMPOSTO

Igor de Almeida Ferreira

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA
(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. José Luis Drummond Alves, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Paulo Couto, Dr.Eng.

________________________________________________

Prof. Virgilio José Martins Ferreira Filho, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Renato Nascimento Elias, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MARÇO DE 2016
Ferreira, Igor de Almeida
Análise computacional do teste de poço vertical em
reservatório radial composto/Igor de Almeida Ferreira. –
Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2016.
XVII, 107 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: José Luis Drummond Alves
Paulo Couto
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 93-95.
1. Modelo Radial Composto. 2. Análise
Computacional de Teste de Poço 3. Curvas-Tipo. I. Couto,
Paulo et al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPE, Programa de Engenharia Civil. III. Título.

iii
Dedico este trabalho à minha
família, pelo apoio e valores que me
foram passados.

iv
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus orientadores, Prof. Paulo Couto e Prof. José Luis Drummond Alves,
pelos ensinamentos durante este período, pela confiança e oportunidade de realizar este
estudo.

Aos membros da banca examinadora, pela participação e contribuição para o


aperfeiçoamento deste trabalho.

À Rafaela Presta, pela paciência e companheirismo no decorrer deste estudo.

Aos meus amigos, principalmente ao Marcelo Marsili pelo apoio e esclarecimentoss


técnicos, fundamentais para a conclusão do trabalho, e Yuri Torreão pelo incentivo de
sempre.

v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE COMPUTACIONAL DO TESTE DE POÇO VERTICAL EM


RESERVATÓRIO RADIAL COMPOSTO

Igor de Almeida Ferreira

Março/2016

Orientadores: José Luis Drummond Alves

Paulo Couto

Programa: Engenharia Civil

Este trabalho tem como objetivo avaliar computacionalmente a influência das


propriedades do modelo radial composto e modelos derivados desse na pressão de
fundo de um poço vertical aberto para o fluxo em toda sua extensão. Também foi
avaliado o limite para a utilização do modelo radial composto na representação de
reservatórios com poço fraturado.

Para isso, foi construído um modelo numérico radial composto base e este foi
validado com soluções analíticas, comumente utilizadas para interpretação de testes de
poços. A partir do modelo numérico validado, suas propriedades foram alteradas
individualmente e a resposta na pressão de fundo do poço foi avaliada em gráficos de
interpretação de testes de poço.

Através das análises realizadas neste trabalho, é possível compreender melhor a


aplicação deste modelo de reservatório, amplamente utilizado em ajustes de testes de
poço. Com a rotina adotada para a elaboração de curvas-tipo, pode-se elaborar qualquer
curva-tipo particular com a utilização de modelos numéricos.

vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

A COMPUTATIONAL ANALYSIS OF A VERTICAL WELL TESTING IN


COMPOSITE RESERVOIR

Igor de Almeida Ferreira

March/2016

Advisors: José Luis Drummond Alves

Paulo Couto

Department: Civil Engineering

The main objective of this work is to verify computationally the influence of the
properties of the radial composite reservoir model and sub models in the well bottom-
hole pressure of a vertical well opened to flow along its entire length. It was also
evaluated the limit for the use of the radial composite reservoir to represent fractured
wells with infinite conductivity.

With this purpose, a numerical radial composite model was build and verified
with analytical solutions, commonly used for the interpretation of well testing. With the
numerical model validated, its properties were individually changed and the well
bottom-hole pressure response was evaluated through well test interpretation graphs.

Through the analysis performed in this work, it is possible to understand the


application of this reservoir model, widely used in well test adjustments, better. With
the adopted routine for the construction of type-curves, any particular type-curve can be
created by using numerical models.

vii
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ................................................................................................... V
ÍNDICE DE FIGURAS................................................................................................... X
ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................... XIV
NOMENCLATURA ..................................................................................................... XV
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO........................................................................................ 1
1.1 Motivação ................................................................................................................... 1
1.2 Objetivo do Trabalho .................................................................................................. 4
1.3 Organização do Texto ................................................................................................. 4

CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................... 5


2.1 O Teste de Poço .......................................................................................................... 5
2.1.1 O surgimento do teste de poço ......................................................................... 9
2.1.2 Conceitos e Soluções Fundamentais .............................................................. 13
2.1.3 Técnicas de interpretação de testes de poço................................................... 21
2.2 O Modelo Radial Composto ..................................................................................... 28
2.2.1 Regimes de Fluxo do Modelo Radial Composto ........................................... 31
2.3 O Simulador Numérico ............................................................................................. 35
2.4 Contribuição do Trabalho ......................................................................................... 39

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA .................................................................................. 40


3.1 Modelo Físico ........................................................................................................... 40
3.2 Modelo Matemático .................................................................................................. 41
3.2.1 Variáveis Adimensionais ............................................................................... 41
3.2.2 Solução Analítica ........................................................................................... 42
3.2.3 Solução Numérica .......................................................................................... 44
3.3 Metodologia .............................................................................................................. 45

CAPÍTULO 4 – DESENVOLVIMENTO .......................................................................... 48


4.1 Modelo Numérico ..................................................................................................... 48
4.2 Sensibilidade aos parâmetros do modelo .................................................................. 55
4.3 Geração das novas curvas-tipo ................................................................................. 58

CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................... 61


5.1 Estudo de sensibilidade dos parâmetros do modelo radial composto clássico ......... 61
viii
5.2 Avaliação Modelo Fraturado .................................................................................... 79
5.3 Curvas-tipo ............................................................................................................... 84
5.4 Aplicação das novas curvas-tipo............................................................................... 87

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES...................................................................................... 91
6.1 Propostas para Trabalhos Futuros ............................................................................. 92

CAPÍTULO 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 93


APÊNDICE A – ROTEIRO DE INTERPRETAÇÃO DE TESTES DE CRESCIMENTO DE
PRESSÃO ....................................................................................................... 97
APÊNDICE B – A EQUAÇÃO DA DIFUSIVIDADE HIDRÁULICA ................................... 99
APÊNDICE C – MÉTODO IMPES – SOLUÇÃO COMPLETA PARA UM SISTEMA
BIFÁSICO ..................................................................................................... 104

ix
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxo de trabalho desde a interpretação do teste de formação até calibração


do modelo de fluxo 3D (modificado de CORBETT et al., 2012). ................................... 3

Figura 2 - Representação do problema inverso (modificado de SPIVEY; LEE, 2013). .. 7

Figura 3 - Teste de fluxo (HORNE, 1995). ...................................................................... 8

Figura 4 - Teste de crescimento de pressão (modificado de HORNE, 1995). ................. 9

Figura 5 - Ajuste de histórico do teste de poço obtido por Moore et al., 1933
(modificado de Kuchuk et al., 2010). ............................................................................. 11

Figura 6 - Poço danificado (pskin > 0) e poço estimulado (pskin < 0) (modificado de
HORNE, 1995). .............................................................................................................. 16

Figura 7 - Regimes de fluxo em diferentes períodos - gráfico diagnóstico p’ x t


(modificado de Pooster Fekete WellTesting Fundamentals, 2015). ............................... 19

Figura 8 - Histórico de vazão de um teste com um fluxo seguido de uma estática


(modificado de BOURDET, 2002). ................................................................................ 20

Figura 9 - Histórico de vazão de um teste com um fluxo seguido de uma estática


utilizando o princípio da superposição (modificado de BOURDET, 2002)................... 21

Figura 10 - Exemplo do gráfico diagnóstico (modificado de SPIVEY; LEE, 2013). .... 23

Figura 11 - Exemplo do gráfico semilog (modificado de SPIVEY; LEE, 2013). .......... 25

Figura 12 - Exemplo do gráfico de Horner (modificado de SPIVEY; LEE, 2013). ...... 26

Figura 13 - Ajuste de um teste de poço utilizando o método das curvas-tipo de


Gringarten-Bourdet (modificado de SPIVEY; LEE, 2013)............................................ 27

Figura 14 - Esquema do modelo radial composto (OLAREWAJU; LEE, 1987)........... 29

Figura 15 - Gráfico log-log do modelo radial composto infinito com razão de


armazenagem constante S2/S1=1(SPIVEY; LEE, 2013). ................................................ 32

Figura 16 - Gráfico log-log do modelo radial composto infinito com razão de


mobilidade constante M2/M1=0.03(SPIVEY; LEE, 2013). ............................................ 32

Figura 17 - Gráfico log-log do modelo radial composto infinito com razão de


mobilidade constante M2=M1=1(SPIVEY; LEE, 2013). ................................................ 33

x
Figura 18 - Gráfico semilog do modelo radial composto (modificado de BOURDET,
2002). .............................................................................................................................. 34

Figura 19 - Grid unidimensional, bidimensional e tridimensional (COATS, 1982). ..... 36

Figura 20 - Modelo de fluxo 3D criado neste estudo (região interna – cor vermelha e
região externa – cor azul). .............................................................................................. 46

Figura 21 - Fluxograma da metodologia adotada no estudo. ......................................... 47

Figura 22 - Refinamento do grid do modelo numérico. ................................................. 50

Figura 23 - Mapa de topo do modelo numérico radial composto, com detalhe do


refinamento do grid na região do poço. .......................................................................... 50

Figura 24 - Seção transversal ao poço do modelo numérico, com detalhe para as


diferentes permeabilidades da região 1 e região 2. ......................................................... 51

Figura 25 - Cronograma de vazão do poço com pressão de fundo simulada (caso base).
........................................................................................................................................ 52

Figura 26 - Diferencial de pressão no modelo (instante inicial – instante final -


representação de um modelo semi-infinito). .................................................................. 52

Figura 27 - Comparação da pressão de fundo do poço, modelo analítico x modelo


numérico (caso base). ..................................................................................................... 53

Figura 28 - Gráfico log-log, comparação do modelo analítico x numérico (caso base). 54

Figura 29 - Gráfico semilog, comparação do modelo analítico x numérico (caso base).54

Figura 30 - Comparativo dos casos em que a altura da região interna é menor que a
espessura do reservatório (exagero vertical = 20 vezes). ............................................... 57

Figura 31 - Comparativo dos casos em que a altura da região interna é igual a 11,5
metros e o raio varia de 40 a 90 metros (exagero vertical = 20). ................................... 58

Figura 32 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 1. ............................................................ 62

Figura 33 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 1. ........................................................ 63

Figura 34 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 2. ............................................................ 64

Figura 35 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 2. ........................................................ 64

Figura 36 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 3. ............................................................ 65

Figura 37 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 3. ........................................................ 66

xi
Figura 38 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 4. ............................................................ 67

Figura 39 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 4. ........................................................ 67

Figura 40 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 5. ............................................................ 68

Figura 41 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 5. ........................................................ 68

Figura 42 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 6. ............................................................ 69

Figura 43 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 6. ........................................................ 70

Figura 44 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 7. ............................................................ 71

Figura 45 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 7. ........................................................ 71

Figura 46 - Comparação da permeabilidade da região 1, calculada pelo modelo radial


composto e pela média ponderada da permeabilidade pela altura da região 1. .............. 72

Figura 47 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 8. ............................................................ 73

Figura 48 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 8. ........................................................ 73

Figura 49 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 9. ............................................................ 74

Figura 50 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 9. ........................................................ 75

Figura 51 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 10. .......................................................... 76

Figura 52 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 10. ...................................................... 76

Figura 53 - Mapa de pressão @ datum (psi) para os casos de ID 10 (k2=2 e k2=50), para
tempo = 72horas. ............................................................................................................ 77

Figura 54 - Modelo de poço fraturado com condutividade infinita (HORNE, 1995). ... 80

Figura 55 - Regimes de fluxo do modelo de poço fraturado com condutividade infinita


(modificado de HORNE, 1995). ..................................................................................... 80

Figura 56 - Gráfico log-log do modelo de poço fraturado com condutividade infinita


(modificado de BOURDET, 2002). ................................................................................ 80

Figura 57 - Avaliação do limite da razão de mobilidade para a representação do modelo


de poço fraturado com condutividade infinita (R1=15m). .............................................. 82

Figura 58 - Interpretação do caso h1=30m e r1=15m utilizando o modelo analítico de


poço fraturado com condutividade infinita. .................................................................... 82

Figura 59 - Avaliação do limite da razão de mobilidade para a representação do modelo


de poço fraturado com condutividade infinita (R1=30m). .............................................. 83
xii
Figura 60 - Avaliação da espessura da região interna para a representação do modelo de
poço fraturado com condutividade infinita (h1=15m). ................................................... 84

Figura 61 - Geometria do reservatório o qual foram elaboradas curvas-tipo. ................ 85

Figura 62 - Curva-tipo para determinação da razão de mobilidade (M) para casos onde
razão hres/h1 =2, h1/R1 =1 e skin = 0. ............................................................................... 86

Figura 63 - Curvas-tipo para determinação do skin para casos onde hres/hr =2, h1/R1 =1 e
M = 0,1............................................................................................................................ 87

Figura 64 - Modelo utilizado para a geração das curvas-tipo (esquerda) x modelo


utilizado para o estudo de caso (direita). ........................................................................ 88

Figura 65 – Interpretação do teste utilizando as curvas-tipo geradas neste estudo. ....... 88

Figura 66 – Interpretação do teste utilizando as curvas-tipo do modelo radial composto


clássico. .......................................................................................................................... 89

Figura 67 – Comparação do perfil de produção (interpretação correta x interpretação


errada). ............................................................................................................................ 90

Figura A 1 - Volume de controle para derivação das equações de conservação. ........... 99

xiii
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Conversão de Unidades ............................................................................... xvii

Tabela 2 - Dados de entrada do modelo numérico (caso base). ..................................... 49

Tabela 3 - Casos avaliados no estudo de sensibilidade. ................................................. 56

Tabela 4 - Casos avaliados na geração das curvas-tipo. ................................................. 60

Tabela 5 - Resumo dos resultados da análise de sensibilidade....................................... 78

Tabela 6 - Comparação da interpretação utilizando as curvas-tipo deste estudo e as


curvas-tipo do modelo radial composto clássico. ........................................................... 89

xiv
NOMENCLATURA

A - Área da seção transversal ao fluxo


Bo - Fator volume de formação do óleo
C - Coeficiente de estocagem
ct - Compressibilidade total do sistema
cg - Compressibilidade do gás
co - Compressibilidade do óleo
cw - Compressibilidade da água
cf - Compressibilidade da formação
cfluido - Compressibilidade do fluido
k - Permeabilidade
kf - Permeabilidade da fratura
L - Comprimento de um meio poroso
M - Razão de mobilidade
p - Pressão
P* - Pressão extrapolada
pw - Pressão de fundo do poço
pwf - Pressão de fluxo no fundo do poço
Pb - Pressão de bolha do óleo
pi - Pressão inicial do reservatório
p(t) - Pressão em determinado tempo
p(t=0) - Pressão no momento de fechamento do poço
q - Vazão
rw - Raio do poço
R - Raio
s - Skin do poço
S - Razão de armazenagem
Sg - Saturação de gás
So - Saturação de óleo
sT - Skin total
Sw - Saturação de água

xv
t - Tempo
te - Tempo equivalente de Argawal
tp - Tempo de fluxo
Vpoço - Volume do poço
Vo(p,t) - Volume de óleo em determinada pressão e temperatura
Vo(std) - Volume de óleo em condições de superfície
Vt - Volume total da formação
Vv - Volume de vazios da formação
wf - Espessura da fratura
xf - Meia asa da fratura

Letras Gregas

 - Razão de difusividade
µ - Viscosidade
ρ - Massa específica
π - Número pi ( = 3,1415...)
ɸ - Porosidade
 - Incremento ou decremento

Subscritos

1 - Região interna
2 - Região externa
D - Adimensional

Abreviaturas

ANP - Agência Nacional do Petróleo


BSW - Basic sediment and water
EDP - Equação diferencial parcial
NTG - Net-to-Gross
TFR - Teste de formação em poço revestido
TLD - Teste de longa duração

xvi
Tabela 1 - Conversão de Unidades

Comprimento
Sistema de unidades Darcy Sistema de unidades Americano Sistema de unidades Petrobras Sistema de unidades SI

Centímetro (cm) Pé (ft) Metro (m) Metro (m)

100 3,280840 1 1

Volume
Sistema de unidades Darcy Sistema de unidades Americano Sistema de unidades Petrobras Sistema de unidades SI

Centímetro cúbico (cm3) Barril (bbl) Metro cúbico (m3) Metro cúbico (m3)

1,0 X106 6,289810 1 1

Pressão
Sistema de unidades Darcy Sistema de unidades Americano Sistema de unidades Petrobras Sistema de unidades SI

Atmosfera (atm) lbf/in² (psi) kgf/cm² Pa

0,9678411 14,22334 1 0,09806650

Permeabilidade
Sistema de unidades Darcy Sistema de unidades Americano Sistema de unidades Petrobras Sistema de unidades SI

Darcy Milidarcy (md) Milidarcy (md) m²

1 1000 1000 9,86923 X10-13

Viscosidade

Pascal-segundo (Pa.s) dina.s/cm² Centipoise (cP)

1X10-3 1X10-2 1

xvii
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

O principal objetivo de um engenheiro de reservatório é otimizar planos de


desenvolvimentos de campos de hidrocarbonetos, buscando sempre o maior fator de
recuperação em conjunto com maior economicidade de um projeto. Para isso, uma das
principais ferramentas de trabalho de um engenheiro de reservatório são os simuladores
de fluxo em meios porosos.

Para que o resultado de uma simulação de fluxo seja satisfatório, o modelo


geológico precisa estar o mais próximo da realidade, o mais próximo da geologia do
reservatório. Engenheiros de reservatório utilizam os testes de poços para a calibração
dos modelos geológicos e, assim, com o modelo de fluxo reproduzindo os dados reais e
medidos em campo, o mais próximo da realidade o seu modelo geológico estará e
melhor será a sua previsão de produção.

Uma das dificuldades na interpretação de um teste de poço é que, por se tratar de


um problema inverso, admitem-se inúmeras soluções para um mesmo dado de pressão.
É possível obter um bom ajuste de pressão de um teste com mais de um modelo
geológico distinto. Por isso, para calcular os valores das propriedades o mais próximo
da realidade, é fundamental a correta escolha do modelo geológico a ser utilizado na
interpretação de um teste de poço.

O modelo radial composto é um dos possíveis modelos geológicos disponíveis em


software comerciais para o ajuste de um teste de formação. Ele pode ser utilizado para
representar reservatórios de dupla-porosidade, reservatórios com zona de dano ou zona
estimulada, reservatórios naturalmente fraturados, reservatórios com lentes de alta
permeabilidade, entre outros.

1.1 MOTIVAÇÃO

Grandes quantidades das reservas de hidrocarboneto do mundo se encontram em


reservatórios heterogêneos como reservatórios carbonáticos (“Schlumberger Market
Analysis”, 2007) e reservatórios não convencionais como shale reservoir (“EIA/ARI
World Shale Gas and Shale Oil Resource Assessment”, 2013). Para estes tipos de
reservatórios, as soluções analíticas, comumente utilizadas para ajuste de teste de poço,

1
passam a não representar a geologia do reservatório devido às simplificações intrínsecas
ao método. Nesse caso, os modelos numéricos são mais indicados para a representação
dos reservatórios e se tornam a principal ferramenta para interpretação de um teste de
formação.

A análise de teste de poço é uma das ferramentas mais poderosas para obter
informações de um reservatório. Essas informações podem ser tanto qualitativas quanto
quantitativas e são de grande importância para o engenheiro de reservatório, pois de
posse delas, é possível calibrar modelos de fluxo, aumentando a confiabilidade na
otimização do projeto de desenvolvimento de campos de hidrocarboneto e a precisão da
previsão de produção dos fluidos.

Normalmente, para a interpretação de testes de poço são utilizados modelos


matemáticos, através de soluções analíticas, para reproduzir as pressões obtidas com as
vazões medidas. Uma vez que o modelo matemático reproduz os dados do campo com
determinados parâmetros de entrada, infere-se que as propriedades do reservatório são
daquela ordem de grandeza.

Um grande problema das soluções analíticas é que é necessária uma série de


simplificações para a solução das equações diferenciais parciais, como: porosidade,
permeabilidade, viscosidade e compressibilidade constantes, fluido de pequena
compressibilidade, sistema monofásico e efeitos de pressão capilar e gravidade
negligenciados. Por isso, para reservatórios heterogêneos, com geometria complexa, a
interpretação utilizando um modelo numérico é mais indicada.

Nos modelos numéricos tem-se a flexibilidade de variar as propriedades do


reservatório no espaço, de representar geometrias mais complexas, de descrever o
comportamento das propriedades de fluidos em função da pressão e de levar em
consideração fluxo multifásico, efeitos de pressão capilar e gravidade.

A interpretação de um teste de formação é uma tarefa multidisciplinar, onde


engenheiros e geólogos trabalham juntos para se chegar ao resultado final; um modelo
de fluxo reproduzindo os dados de campo. As informações de perfil e afloramento
auxiliam na elaboração do modelo geológico, que precisa reproduzir os dados medidos
no teste de formação. Após a execução do teste de poço, o histórico de vazão do teste se
torna um dado de entrada do modelo de fluxo, e a pressão calculada pelo modelo precisa
reproduzir a pressão medida durante o teste. Caso isso não ocorra, retorna-se ao modelo

2
de fluxo, ajustam-se as propriedades (localmente ou globalmente) e uma nova
simulação é realizada. Este processo ocorre até que o resultado esteja satisfatório,
conforme workflow na Figura 1.

Figura 1 - Fluxo de trabalho desde a interpretação do teste de formação até


calibração do modelo de fluxo 3D (modificado de CORBETT et al., 2012).

O modelo radial composto pode ser utilizado para representar reservatórios


carbonáticos (WARSZAWSKI; FERREIRA, 2013) e reservatórios não convencionais
como shale reservoir (BORGES; JAMIOLAHMADY, 2009). Dado a sua importante
representatividade é fundamental o conhecimento das propriedades deste modelo na
resposta da pressão de fundo do poço e sua derivada, para a correta interpretação de um
teste de poço.

Um modelo numérico radial composto foi criado no software IMEX (Implicit-


Explicit Black Oil Simulator da CMG – Canada), que consiste de um simulador Black
Oil comercial na indústria do petróleo, capaz de modelar fluxo trifásico em
reservatórios de hidrocarbonetos. Após a validação do modelo numérico simplificado
com a solução analítica desenvolvida por Satman et al. (1980), foram feitas alterações
nas propriedades modelo numérico e o impacto na pressão de fundo do poço foi
avaliado. Os resultados foram interpretados e comparados em gráficos diagnósticos de
interpretação de testes de poços.
3
Foram avaliados também casos particulares derivados do modelo radial composto
clássico, onde a região interna do reservatório não possui a mesma espessura do
reservatório. Para estes casos, a utilização da solução analítica do modelo radial
composto clássica para interpretação do teste de poço não é apropriada. Novas curvas-
tipo foram elaboradas a partir dos modelos numéricos para um destes casos.

1.2 OBJETIVO DO TRABALHO

O objetivo deste trabalho é avaliar computacionalmente a influência das


propriedades do modelo radial composto e modelos derivados deste, que não possuem
solução analítica implementada em software de interpretação de testes, na pressão de
fundo de um poço vertical. Para os casos sem solução analítica, foram geradas novas
curvas-tipo de interpretação de teste de poço.

Também serão avaliadas neste trabalho as condições de aplicação do modelo


radial composto na representação de poços fraturados com condutividade infinita. Com
isso, busca-se compreender melhor a aplicação e o comportamento do modelo radial
composto, além de ampliar a sua utilização para novos cenários.

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

No capítulo a seguir será feita uma revisão bibliográfica sobre o teste de poço, o
modelo radial composto e o simulador numérico de fluxo.

O terceiro capítulo descreverá as equações que regem o escoamento de fluido em


meio poroso para o modelo radial composto e a metodologia adotada para este estudo.

O quarto capítulo detalhará o processo do desenvolvimento do trabalho, desde a


construção do modelo numérico até a obtenção das curvas-tipo para os casos em que a
solução analítica não se aplica.

O quinto capítulo apresentará os resultados obtidos nesta análise, assim como um


exemplo de aplicação das curvas-tipo geradas. Por fim, no sexto capítulo são feitas as
conclusões e recomendações.

Detalhes das equações apresentadas no terceiro e quinto capítulos se encontram no


apêndice do documento, aliviando o texto principal.

4
CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo será apresentada uma revisão bibliográfica sobre o teste de poço, o
modelo radial composto e o simulador numérico de fluxo em meio poroso.

Na revisão bibliográfica do teste de poço são abordados assuntos desde o seu


surgimento na indústria do petróleo até as técnicas utilizadas para a interpretação dos
dados obtidos durante um teste.

Na seção do modelo radial composto, é feita uma descrição do modelo e são


citados estudos já realizados sobre este reservatório.

Por fim, são abordados princípios e fundamentos do simulador numérico de fluxo


em meio poroso, pois esta será a ferramenta utilizada para a geração das pressões de
fundo de poço dos casos que serão apresentados neste trabalho.

2.1 O TESTE DE POÇO

O teste de formação é um método de avaliação das formações que equivale a uma


completação provisória que se faz no poço. O poço é aberto para a produção de forma
controlada e registra-se a pressão, preferencialmente no fundo do poço para diminuir o
efeito da estocagem da coluna de produção, durante o período de fluxo e de estática. Já
as vazões são medidas em superfície (THOMAS, 2011).

Através da alteração da vazão do poço, cria-se um pulso de pressão no


reservatório poroso e permeável, a pressão se difunde para longe do poço e traz
informações das propriedades e características do reservatório. Essas informações são
essenciais, pois refletem as propriedades em condições dinâmicas in situ do
reservatório.

Os objetivos de um teste de poço podem ser classificados em três categorias


majoritárias: (i) avaliação do reservatório, (ii) gerenciamento do reservatório e (iii)
descrição do reservatório (HORNE, 1995), onde podemos destacar os seguintes itens:

 Determinação do índice de produtividade de um poço;


 Obtenção de fluidos da formação;
 Determinação da pressão média do reservatório;
 Determinação da permeabilidade média da zona testada;
5
 Cálculo do skin e estocagem do poço;
 Determinação de heterogeneidades do reservatório (fraturas, falhas).

As informações obtidas da interpretação de um teste de poço são de suma


importância para a calibração de modelos de fluxo e otimização da previsão de
produção de campos de hidrocarboneto, auxiliando nas tomadas de decisão de uma
companhia de petróleo e gás.

Uma das grandes vantagens dos testes de poço em relação a outros métodos de
avaliação de formação se deve ao maior volume e extensão do reservatório avaliado.
Enquanto perfis elétricos, testemunhos e plugues investigam alguns centímetros do
reservatório, os testes de poço podem facilmente investigar quilômetros do reservatório,
dependendo do tempo de fluxo ou estática e características da rocha e do fluido (XIAN;
CARNEGIE, 2004). Assim, a representatividade da informação obtida de um teste de
formação é muito maior quando comparada com outros métodos.

A interpretação de um teste de poço é classificada como um problema inverso


(Figura 2), onde os parâmetros de um modelo são inferidos através da análise da
resposta deste para um determinado dado de entrada. No caso de teste de poço, as
vazões (geralmente medidas em superfície) e pressões (geralmente medidas no fundo do
poço) são conhecidas enquanto que o modelo de reservatório e suas propriedades são
desconhecidos.

A grande dificuldade na interpretação de um teste de poço é que por se tratar de


um problema inverso, a solução não é única. Diversos modelos podem produzir as
pressões medidas com as vazões de entrada.

6
Figura 2 - Representação do problema inverso (modificado de SPIVEY; LEE,
2013).

Existem diversos tipos de testes de poço que podem ser executados. A escolha do
teste a ser realizado depende do objetivo que se deseja alcançar com os resultados do
teste. Os tipos de testes mais realizados em poços de óleo são os testes de fluxo
(drawdown), demostrado na Figura 3, e de crescimento de pressão (buildup),
demonstrado na Figura 4.

No teste de fluxo, o poço encontra-se fechado, com pressão inicial constante e


uniforme no reservatório, e é aberto para o fluxo, idealmente com vazão constante, o
que na prática é muito difícil de conseguir. Durante o período de fluxo o diferencial de
pressão (p) gerado é expresso por:

 ( ) (2-1)

onde pi é a pressão inicial do reservatório e p(t) é a pressão em qualquer instante de


tempo t.

No teste de crescimento de pressão, o poço encontra-se em fluxo estável


(idealmente em vazão constante), e é fechado para a medição da pressão no fundo do

7
poço. Quando o poço é fechado, o crescimento de pressão (buildup) gerado é expresso
por:

 ( ) ( ) (2-2)

onde p(t=0) é a pressão de fluxo no instante do fechamento do poço.

Na prática, os testes de crescimento de pressão são preferidos por engenheiros de


reservatório, pois além de representar um período idealmente com vazão constante (q =
0), os dados de pressão possuem menos ruído, visto que a pressão é medida sem fluxo
de fluido pela coluna de produção (fonte de ruído).

Figura 3 - Teste de fluxo (HORNE, 1995).

8
Figura 4 - Teste de crescimento de pressão (modificado de HORNE, 1995).

No Brasil, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), um teste de


formação em poço revestido (TFR) pode ter a duração de até 72 horas de fluxo franco
(produção após a limpeza do poço). Caso seja necessário um tempo maior de fluxo, o
concessionário deve encaminhar à ANP uma carta contemplando todas as justificativas
técnicas que fundamentam a extensão do tempo de fluxo e o teste passa ser chamado de
teste de longa duração (TLD) (ANP, 2015).

Como na grande maioria dos casos de teste de poço não é necessária extensão do
prazo estipulado pela ANP, para o cronograma de poço nas análises deste trabalho foi
considerado um fluxo (drawdown) de 72 horas com vazão constante, seguido de um
fechamento (buildup) de até 1.000 horas.

2.1.1 O surgimento do teste de poço

A realização do teste de poço como método de obtenção de informações do


reservatório é amplamente utilizado pela indústria do petróleo. Seu início ocorreu na
década de 1920, onde inicialmente foram utilizados para amostragem de fluidos e
obtenção da pressão média do reservatório. Gradativamente, com a evolução dos
medidores, coluna de testes e técnicas de interpretação, ampliou-se sua utilização para a
obtenção da permeabilidade da formação, skin (dano ou estímulo do poço),
heterogeneidades do reservatório, entre outras informações possíveis de se obter hoje
com a interpretação dos dados de pressão de um teste de poço. A seguir, é feita uma
9
descrição da evolução das técnicas do teste de formação, de acordo com Kuchuk et al.
(2010).

Desenvolvido na década de 1920, pelos irmãos Johnston em Arkansas EUA, o


primeiro sistema confeccionado para testar reservatórios de hidrocarboneto era chamado
de testador de formação “formation tester”. Este sistema era basicamente composto por
um packer, que isolava temporariamente a zona a ser testada da pressão hidrostática do
poço, e um conjunto de válvulas retainer de fundo que controlavam a abertura ou
fechamento do poço para a produção. Neste sistema, a vazão e pressão eram medidas na
superfície, e a pressão de fundo era obtida através da pressão hidrostática do fluido
contido na coluna de teste e dos dados medidos em superfície.

Em 1929, a empresa Geophysical Research of Amerada desenvolveu o primeiro


medidor “gauge” de pressão de fundo de poço, chamado Amerada gauge. Em 1930,
Millikan e Sidwell (1931) relataram que o medidor Amerada havia sido utilizado em
diversos poços em Oklahoma.

Desde o início da indústria do petróleo, reservatórios cilíndricos com ou sem


manutenção de pressão foram bastante estudados e as primeiras soluções analíticas para
este sistema foram apresentadas por Moore et al. (1933) e Hurst (1934), baseados em
equações de transferência de calor. Na apresentação de Moore foi mostrado um ajuste
de histórico de um teste de formação (Figura 5), com a sua solução radial infinita 1D,
para estimativa de permeabilidade da formação. Sua solução não levava em
consideração a estocagem e skin do poço, introduzidos por van Everdingen e Hurst em
1949 e 1953 respectivamente apud Kuchuk et al. (2010).

10
Figura 5 - Ajuste de histórico do teste de poço obtido por Moore et al., 1933
(modificado de Kuchuk et al., 2010).

Muskat, em 1937, escreveu um livro sobre problemas de fluxo transiente, onde


foram desenvolvidas diversas soluções analíticas para fluido monofásico incompressível
e compressível no meio poroso e a relação com a vazão (como dado de input) e a
pressão (como dado de output) utilizando a integral de convolução (principio de
Duhamel’s).

Muitas das equações utilizadas hoje em dia na interpretação de testes de poço e


conhecimento teórico do comportamento do reservatório e do poço se devem à
aplicação da transformada de Laplace e funções de Green nos problemas de fluxo em
meio poroso.

Na engenharia de reservatórios, van Evergingen e Hurst (1949) foram os


primeiros a utilizar a transformada de Laplace para a solução de equações relacionadas
ao escoamento monofásico de fluido compressível em um sistema 1D radial infinito,
com pressão constante nas fronteiras e vazão constante. Também foi apresentada por
eles uma equação que descrevia o fenômeno de estocagem de poço. Muskat (1937)
utilizou as funções de Green para resolver problemas de fluxo em regime permanente e
transiente.

Já em 1951, Horner aplicou o princípio da superposição na solução da linha-fonte


com vazão constante para obter a equação da pressão de buildup. Horner também
11
apresentou uma técnica de interpretação (hoje em dia chamado de método de Horner)
para estimar permeabilidade da formação, distância à falha selante e pressão estática do
reservatório através das pressões obtidas do buildup de um teste de formação. Por volta
da mesma época, Miller et al. (1950) apresentou uma metodologia diferente de
interpretação semilog, onde a pressão de fechamento do poço é plotada em função do
logarítmico do tempo de fechamento para testes de buildup.

O período de 1950 até 1960 foi muito produtivo para o melhor entendimento do
comportamento da pressão no reservatório e no poço. Novos fenômenos foram
introduzidos como dano à formação (Hawkins, 1956; Hurst, 1953; van Everdingen,
1953), skin geométrico (Brons & Marting, 1961; Hantush, 1957; Nisle, 1958) e
estocagem do poço (Moore et al., 1933; van Everdingen & Hurst, 1949), além de novas
técnicas de interpretação, como a determinação da pressão média (Matthews et al.,
1954), slug tests para estimativa da transmissibilidade da formação (Ferris & Knowles,
1954), testes isócronos para poços de gás (Cullender, 1955) e o efeito do fluxo
multifásico na pressão de buildup de um teste (Perrine, 1956) apud Kuchuk et al.
(2010).

Nos anos de 1970, os estudos se voltaram para a interpretação de testes mais


complicados, como testes com pequeno período de fluxo e afetados pela estocagem de
poço e skin. Ramey (1970) e McKinley (1971) apresentaram o método de interpretação
através das curvas-tipo em escala log-log, de grande utilidade na interpretação de testes
de poços dominados pelos efeitos de estocagem de poço e skin. Para muitos casos, estas
curvas-tipo eram suficientes para um bom ajuste de pressão e interpretação dos testes de
formação. Neste período, também foi importante a evolução dos sensores de pressão
(principalmente com a introdução dos sensores de cristal de quartzo), equipamentos de
fundo de poço, tecnologia dos computadores, modelos de reservatório e da matemática
aplicada. Stehfest desenvolveu novos métodos, melhores e mais rápidos, para a inversão
das soluções de transiente do domínio da transformada de Laplace para o domínio do
tempo. A técnica da transformada de Laplace foi um dos métodos mais utilizados para a
solução de modelos matemáticos avançados com equações de difusão de pressão. As
curvas-tipo e métodos de análise baseados na derivada da pressão (Bourdet et al., 1983;
Tiab & Crichlow, 1979; Tiab & Kumar, 1980) foram introduzidos na literatura da
engenharia de petróleo apud Kuchuk et al.(2010).

12
De 1930 até os dias de hoje, muito se evoluiu na disciplina de teste de poço.
Diversas soluções analíticas para fluxo monofásico e modelos mais complexos
(fraturado, estratificado, composto) foram desenvolvidas, além do surgimento de novas
ferramentas, sensores de maior resolução e software de interpretação que contribuíram
bastante no entendimento da ciência de testes de poços.

2.1.2 Conceitos e Soluções Fundamentais

Para a interpretação de testes de poço é necessário o conhecimento de algumas


propriedades de rocha e fluido relacionados ao reservatório e dados de poço. Nesta
seção serão apresentadas definições dos principais parâmetros.

Porosidade. A porosidade (ɸ) mede a capacidade de armazenamento de fluidos.


É definida como sendo a relação entre o volume de vazios de uma rocha e o volume
total da mesma, expressa em percentual.

(2-3)

onde Vv é o volume de vazios e Vt é o volume total da rocha.

Saturação de fluido. A saturação de fluido é definida como a fração do volume


de vazios de uma rocha ocupado por determinado fluido. Assim como a porosidade,
também é expressa em percentual.

(2-4)

(2-5)

(2-6)

onde So é a saturação de óleo, Sg é a saturação de gás e Sw é a saturação de água.

13
Permeabilidade. A permeabilidade (k) é a medida da capacidade de um meio
poroso de transmitir um fluido. A equação (2-7) é uma expressão da lei de Darcy para
fluxo linear em regime permanente de uma única fase que pode ser usada para a
definição de permeabilidade.

(2-7)
( )

onde q é a vazão de fluido (cm³/s), A é a área da seção transversal aberta para o fluxo
(cm²), L é o comprimento total a ser percorrido pelo fluido (cm), p1 e p2 são pressões de
entrada e de saída, respectivamente, (atm), µ é a viscosidade do fluido em centipoise
(cP) e k é a permeabilidade do meio poroso (Darcy).

Pressão de bolha. A pressão de bolha (Pb) é a pressão na qual se inicia a


liberação de gás da solução.

Fator volume de formação do óleo. O fator volume de formação do óleo (Bo) é a


razão entre o volume que a fase líquida (óleo mais gás dissolvido) ocupa em condições
de pressão e temperatura quaisquer e o volume do que permanece como fase líquida
quando a mistura alcança as condições-standard (condições de superfície).

( )
(2-8)
( )

onde Vo(p,t) é o volume de óleo numa dada pressão e temperatura e Vo(std) é o volume de
óleo na pressão e temperatura em condições de superfície.

Compressibilidade do meio poroso. A compressibilidade do meio poroso, ou


compressibilidade efetiva da formação (cf), definida como a variação fracional do
volume poroso da rocha com a variação unitária da pressão.

(2-9)

onde Vp é o volume poroso da rocha.


14
Compressibilidade do óleo. A compressibilidade do óleo (co), definida como a
variação fracional do volume do óleo com a variação unitária da pressão. Normalmente
é obtido em análises de PVT em laboratório, mas na ausência desse tipo de dado,
existem correlações da compressibilidade em função da densidade.

(2-10)

Compressibilidade total. A compressibilidade total (ct) é igual à soma das


compressibilidades dos fluidos com a compressibilidade da formação.

(2-11)

onde cf é a compressibilidade da formação, co é a compressibilidade do óleo, cg é a


compressibilidade do gás e cw é a compressibilidade da água.

Skin de poço. O skin de poço, ou dano de formação, é definido como uma região
ao redor do poço cuja permeabilidade foi reduzida (por interação com o fluido de
perfuração ou completação, inchamento de argila), resultando em uma queda de pressão
maior (pskin > 0) ou aumentada (acidificação), ocasionando uma queda de pressão
menor (pskin < 0), quando comparada com a queda de pressão se a zona ao redor do
poço não tivesse sido alterada. A Figura 6 ilustra o skin de poço para os casos de poço
danificado e poço estimulado.

15
Figura 6 - Poço danificado (pskin > 0) e poço estimulado (pskin < 0)
(modificado de HORNE, 1995).

O fator skin (s) é uma variável adimensional utilizada para quantificar o efeito do
skin definida por:

(2-12)

Estocagem do poço. Normalmente, em um teste de poço, as pressões são medidas


no fundo do poço e as vazões são medidas em superfície. Apesar de a vazão ser
constante na superfície, pode haver um transiente na vazão junto aos canhoneados do
poço devido à compressibilidade dos fluidos. Este efeito é chamado de estocagem do
poço, onde o coeficiente de estocagem (C) é definido por:

(2-13)

onde cfluido é a compressibilidade do fluido existente no poço e Vpoço é o volume do poço.

Equação da difusividade. A equação matemática que governa a transmissão da


pressão em um meio poroso preenchido por fluido de pequena compressibilidade (em
coordenadas cilíndricas) é:

16
(2-14)

Onde são assumidos:

 Aplicação da Lei de Darcy;


 Porosidade, permeabilidade, viscosidade e compressibilidade são constantes;
 Fluido de pequena compressibilidade;
 Pequeno gradiente de pressão no reservatório;
 Fluxo monofásico;
 Gravidade e efeitos térmicos desprezíveis.

Considerando a permeabilidade isotrópica e fluxo apenas nas direções radial e


vertical, a equação 2-14 se reduz à:

(2-15)

A equação 2-15 é conhecida como equação da difusividade e o termo k/ɸµct é a


constante da difusividade hidráulica (). Assumindo fluxo somente na direção radial, a
equação da difusividade hidráulica em coordenadas cilíndricas fica sendo:

( ) (2-16)

A equação da difusividade hidráulica é uma equação diferencial parcial (EDP) e


possui infinitas soluções. Por isso, precisamos definir um conjunto de condições de
contorno e uma condição inicial. No Capítulo 3 serão detalhadas essas condições para o
modelo radial composto.

Regimes de fluxo. Os regimes de fluxo dos fluidos do reservatório para o poço


variam em função do tempo de produção e das características do reservatório, como:
formato, tamanho e mecanismo de recuperação. Os três principais regimes de fluxo são:
regime permanente, regime pseudo-permanente e regime transiente.

17
Regime permanente: No regime permanente, a pressão não varia com o tempo.
Este regime de fluxo é observado em reservatórios com grandes volumes de
hidrocarboneto, ou em reservatórios com manutenção de pressão por aquífero associado
ou capa de gás associada.

(2-17)

No gráfico diagnóstico, que será explicado na seção 2.1.3.1, este regime de fluxo
é identificado quando a derivada da pressão possui uma queda significativa, enquanto a
pressão permanece constante (para interpretação de testes de build-up).

Regime pseudo-permanente: No regime pseudo-permanente, a queda de pressão


é constante com o tempo, para uma vazão constante. Este regime de fluxo é observado
em reservatórios de pequena extensão.

(2-18)

No gráfico diagnóstico, este regime de fluxo é identificado quando a derivada da


pressão tem uma inclinação constante no período tardio “late-time”, quando o limite do
reservatório é percebido.

Regime transiente: No regime transiente, a queda de pressão do reservatório com


o tempo é função da geometria do poço e parâmetros do reservatório, como
permeabilidade e heterogeneidades. A interpretação de testes de poço é focada nos
problemas de regime transiente.

( ) (2-19)

No gráfico diagnóstico, este regime de fluxo normalmente é identificado quando a


derivada da pressão tem uma inclinação igual à zero. A derivada da pressão realça os

18
detalhes do comportamento da pressão, facilitando a identificação dos regimes de fluxo
dos diversos modelos de reservatório.

A Figura 7 ilustra o comportamento da derivada da pressão de fundo de um poço,


para diferentes modelos de reservatório. Os regimes de fluxo foram divididos de acordo
com os tempos de fluxo (inicial, intermediário e final).

O tempo de fluxo inicial, normalmente, diz respeito a fenômenos que ocorrem no


poço ou em sua proximidade como: estocagem de poço, fluxo linear ou fluxo bilinear
(fluxo controlado por fratura). No tempo intermediário, o reservatório já está
controlando o regime de fluxo. Neste período são interpreta parâmetros do reservatório
(fluxo radial e dupla porosidade). No tempo final pode ser identificado, por exemplo, o
limite do reservatório ou mecanismo de manutenção de pressão.

Figura 7 - Regimes de fluxo em diferentes períodos - gráfico diagnóstico p’ x t


(modificado de Pooster Fekete WellTesting Fundamentals, 2015).

Raio de investigação. O raio de investigação (rinv) é o ponto mais distante do


reservatório em que o efeito da produção é percebido. Pode ser expresso, no sistema de
unidades Americano, por:

19
√ (2-20)

Princípio da superposição. Para obter a solução da equação da difusividade


hidráulica em testes de crescimento de pressão, utilizamos o princípio da superposição
no espaço e no tempo. Como a equação da difusividade utilizada para gerar as soluções
para análises de teste de poço é linear, podemos somar diversas soluções individuais da
EDP que também será uma solução desta EDP.

Para o caso de um teste de crescimento de pressão após um único fluxo de vazão q


e duração tp (Figura 8), o histórico de vazão é substituído sobrepondo um período com
injeção de vazão –q a partir do tempo tp, a um fluxo de vazão q do período t=0 se
estendendo até o final do teste tp+t (Figura 9).

Figura 8 - Histórico de vazão de um teste com um fluxo seguido de uma estática


(modificado de BOURDET, 2002).

20
Figura 9 - Histórico de vazão de um teste com um fluxo seguido de uma estática
utilizando o princípio da superposição (modificado de BOURDET, 2002).

Através do princípio da superposição, qualquer histórico de vazão pode ser


representado. No caso do histórico da Figura 8, a pressão do período de crescimento de
pressão seria:

( ) ( ) ( ) ( ) (2-21)

2.1.3 Técnicas de interpretação de testes de poço

As técnicas de interpretação de testes de poço podem ser divididas em três


categorias: análise por linhas retas (straight-line analysis), análise por curvas-tipo (type-
curve analysis) e simulação/ajuste de histórico (simulation/history matching). Uma
rotina comum utilizada para interpretação é a identificação do modelo do reservatório e
estimativas preliminares das suas propriedades com as técnicas das curvas-tipo e linhas-
retas e, posteriormente, o ajuste de histórico com um modelo analítico ou um modelo
numérico para verificação e, se necessário, ajuste fino da interpretação preliminar.

Neste subcapítulo serão abordadas as técnicas do gráfico diagnóstico (diagnostic


plot), também conhecido como gráfico log-log, o método semilog, ambas da categoria
de análise por linhas retas, e das curvas-tipo (“type curve matching”) para testes de
crescimento de pressão.

21
2.1.3.1 O gráfico diagnóstico

No gráfico diagnóstico são plotados, em um mesmo gráfico de escalas


logarítmicas, o diferencial da pressão de fundo do poço (pw) e sua derivada em relação
ao logaritmo natural do tempo (pw’) pelo tempo (t). Este gráfico é bastante utilizado
para a identificação dos regimes de fluxo de um teste, pois nele diversos regimes de
fluxos possuem assinaturas características.

A escala logarítmica no eixo do tempo, tanto no gráfico log-log quanto no gráfico


semilog, tem como objetivo expandir dos dados de pressão para os tempos curtos e
comprimir para os tempos longos, facilitando a identificação dos regimes de fluxo.

No fluxo radial, a resposta da pressão é uma função linear do logaritmo do tempo,


no fluxo linear é uma função linear da raiz quadrada do tempo, no fluxo esférico é uma
função linear do inverso da raiz quadrada do tempo e no fluxo bilinear é uma função da
raiz quarta do tempo. Por isso, no gráfico diagnóstico, as derivadas da pressão ficam
representadas, respectivamente, por uma linha reta horizontal, linha reta de inclinação
½, linha reta de inclinação -½, linha reta de inclinação ¼.

Um dos maiores avanços na interpretação de teste de poço foi a introdução da


derivada da pressão nas análises por Bourdet et al. (1983). Através do gráfico da
derivada da pressão é possível identificar diversas características do fluxo em apenas
um único gráfico, quando antes eram necessários diversos gráficos para isto.

A Figura 10 mostra um exemplo de um gráfico diagnóstico com o regime radial


identificado na curva da derivada da pressão de fundo. Na figura, a curva azul é o
diferencial de pressão (p) e a curva vermelha a derivada do diferencial de pressão
(p’).

22
Figura 10 - Exemplo do gráfico diagnóstico (modificado de SPIVEY; LEE, 2013).

O algoritmo de Bourdet é o mais utilizado para a obtenção da derivada da pressão,


pois ele leva em consideração a derivada em relação ao logaritmo natural do tempo
(para enfatizar o regime radial). Assim, a derivada da pressão é expressa por:

(2-22)

O algoritimo proposto por Bourdet et al. 1989, conhecida como método dos três
pontos, utiliza três pontos para o cálculo da derivada da pressão, pois desta forma evita-
se a amplificação de algum ruído no dado.

Utilizando a expansão da série de Taylor chega-se a seguinte expressão:

( ) ( ) ( ⁄ ) ( ) ( ) ( ⁄ )
( ) (2-23)
( ⁄ ) ( ⁄ ) ( ⁄ ) ( ⁄ )

Para testes de crescimento de pressão, o tempo equivalente de Argawal é utilizado


para que a visualização no gráfico log-log dos dados da estática fique com aspecto
similar ao do gráfico log-log do teste de fluxo (BOURDET, 2002), e facilite na

23
identificação dos regimes. Assim, para o período da estática, a derivada é tomada em
relação ao logaritmo natural do tempo equivalente (te).


 (2-24)

No APÊNDICE A é descrito um roteiro de interpretação de testes de crescimento


de pressão através do gráfico log-log.

2.1.3.2 O método semilog

No fluxo radial, em reservatórios homogêneos, a queda da pressão varia


logaritmicamente com o tempo, conforme a seguinte equação:

 [ ] (2-25)

No gráfico semilog, as pressões de fundo do poço (pw) são plotadas contra o


tempo em escala semilog, evidenciando o regime radial. A partir da inclinação da linha
reta (m), traçada do alinhamento dos pontos do regime radial, calcula-se a
permeabilidade média do sistema e obtêm-se a pressão média do reservatório, caso a
fronteira não tenha afetado a pressão de fundo, através da interceptação da reta no
tempo igual a uma hora (p1hr).

A Figura 11 ilustra um exemplo de gráfico semilog com o regime radial


identificado e a pressão média do reservatório obtida no intercepto da reta quando
tempo é igual a uma hora.

24
Figura 11 - Exemplo do gráfico semilog (modificado de SPIVEY; LEE, 2013).

Em 1951, Horner desenvolveu um método para avaliação de testes de crescimento


de pressão através do gráfico semilog, simplificando a superposição no tempo. A
constante tp é ignorada da equação 2-21 e a pressão do período de crescimento é plotada
em função de log[(tp+t) /t]. No gráfico de Horner, o formato da curva é simétrico ao
do gráfico semilog, com os dados de tempos curtos na direita do gráfico. A inclinação
da reta de ajuste possui a mesma inclinação (m) do método semilog e a pressão
extrapolada (p*) é a pressão inicial do resevatório quando este for um sistema infinito.

A Figura 12 mostra um exemplo de um gráfico de Horner, com a pressão


extrapolada (p*) e regime radial identificado.

25
Figura 12 - Exemplo do gráfico de Horner (modificado de SPIVEY; LEE, 2013).

No APÊNDICE A é descrito um roteiro de interpretação de testes de crescimento


de pressão através do gráfico de Horner.

2.1.3.3 O método das curvas-tipo

O método das curvas-tipo (type-curves) foi introduzido na indústria do petróleo


por Ramey nos anos 70 e aprimorado por Bourdet, com a introdução do método das
derivadas, no início da década de 80.

Pode ser utilizado para a própria interpretação do teste de poço ou, mais
comumente utilizado para conferir os resultados de uma interpretação pelo método
convencional.

As curvas-tipo são construídas a partir das soluções analíticas dispostas de forma


gráfica com termos adimensionais. Neste trabalho, foram construídas a partir de um
modelo numérico, resultante da variação do modelo radial composto clássico.

Para a interpretação de um teste de formação com a técnica das curvas-tipo, as


escalas dos gráficos com as pressões do teste e das curvas-tipo precisam estar com a
mesma quantidade de ciclos log. Inicialmente, ajusta-se a derivada da pressão obtida no
teste de formação com a derivada da pressão adimensional própria para interpretação.

26
Após ajuste das derivadas, ajusta-se a pressão obtida com a pressão adimensional da
curva-tipo.

A posição e o formato dos dados medidos em relação ao gráfico das curvas-tipo


fornecem informações como: permeabilidade da formação, coeficiente de estocagem de
poço, skin do poço, comprimento de fratura e outros parâmetros do reservatório. A
Figura 13 ilustra um ajuste dos dados de um teste pelo método das curvas-tipo.

Figura 13 - Ajuste de um teste de poço utilizando o método das curvas-tipo de


Gringarten-Bourdet (modificado de SPIVEY; LEE, 2013).

Existem diversas curvas-tipo, com diferentes eixos, disponíveis na literatura. As


curvas-tipo mais utilizadas na indústria são as de Gringarten-Bourdet (PD e PD’ x
tD/CD).

Gringarten (1979) publicou uma série de curvas-tipo para um poço vertical com
estocagem e skin constantes em reservatório infinito homogêneo e, propôs o eixo tD/CD
no eixo das abscissas, pois assim, a estocagem do poço sempre será representada por
um reta de inclinação unitária. Mais tarde, Bourdet et al. (1983), propôs a utilização das
curvas-tipo também para a derivada da pressão de fundo do poço. Esta prática trouxe
grande benefício para a interpretação de testes de poço, facilitando na identificação dos
regimes de fluxo.
27
Para testes de crescimento de pressão, é necessária a utilização do tempo
equivalente de Agarwal, descrito na seção 2.1.3.2, na variável de tempo do tempo
adimensional.

Após o ajuste dos dados medidos com uma das curvas disponíveis no conjunto de
curvas-tipo, a permeabilidade é calculada através da fórmula da pressão adimensional
(PD), o coeficiente de estocagem é calculado através da fórmula do coeficiente de
estocagem adimensional (CD) e o skin é calculado através da fórmula:

( ) (2-26)

onde CD é o coeficiente de estocagem adimensional.

Neste trabalho foram elaboradas curvas-tipo com os eixos PD e PD’ x tD dado que
a estocagem do poço foi considerada nula para todos os casos.

2.2 O MODELO RADIAL COMPOSTO

O modelo radial composto é constituído de duas ou mais regiões, separadas por


uma descontinuidade, onde cada região pode conter propriedades de rocha e fluido
distintas, mas uniformes. A Figura 14 ilustra esquematicamente um modelo radial
composto de duas regiões.

28
Figura 14 - Esquema do modelo radial composto (OLAREWAJU; LEE, 1987).

O modelo radial composto é um dos modelos mais utilizados para a representação


de reservatórios de petróleo (SPIVEY; LEE, 2013). Sistemas compostos podem
representar reservatórios com bancos de fluido (poço injetor de água, polímero ou
químicos), reservatórios com uma frente de avanço quente (métodos de recuperação
avançada), reservatórios com menor permeabilidade ao redor do poço devido à invasão
do fluido de perfuração, reservatórios com maior permeabilidade ao redor do poço
devido a uma operação de acidificação e até mesmo reservatórios com poços de
faturamento hidráulico (OLAREWAJU; LEE, 1987).

O modelo radial composto também pode ser utilizado para representar


reservatórios carbonáticos e reservatórios não convencionais, como os shale reservoirs.
Por possuir duas ou mais regiões distintas, é possível representar lentes de alta
permeabilidade, presentes em reservatórios carbonáticos, e uma região fraturada de
maior permeabilidade, comum no desenvolvimento de reservatórios não convencionais
que normalmente são desenvolvidos com faturamento hidráulico do poço.

Os primeiros estudos com aplicação de modelos compostos para descrever o


comportamento da pressão se deram no ano de 1960. Hurst (1960) apresentou uma
solução com um ponto fonte (point-sink solution) para um reservatório composto
infinito, e aplicou sua solução para avaliar a interferência entre dois campos de petróleo
produzindo com um aquífero em comum, mas com propriedades diferentes. Um ano
depois Loucks et al. (1961) desenvolveu uma solução para um reservatório radial

29
composto infinito utilizando a transformada de Laplace. Em seu estudo as regiões,
interna e externa, possuíam diferentes valores de permeabilidade. Loucks também
avaliou qualitativamente o comprimento da região interna.

Em 1966, Carter apresentou a solução analítica para o modelo radial composto


finito, com um poço produzindo com vazão constante. Também foi notada em sua
análise uma relação entre a mobilidade das regiões através da distância entre as retas
dos regimes de fluxo radial no gráfico semilog.

Satman et al. (1980) publicou um artigo de interpretação de testes de poços de


injeção de vapor. Para isso, foi desenvolvida uma solução para um sistema radial
composto, onde as propriedades de rocha e de fluido poderiam ser consideradas
diferentes para cada região. Além disso, na sua solução, foi levado em consideração os
efeitos de estocagem e skin do poço. A solução analítica apresentada por Satman em
1980 é utilizada até hoje em software comerciais para representação do modelo radial
composto e, por isso, foi utilizada neste trabalho para comparação dos resultados que
serão obtidos numericamente.

Brown (1985) investigou o comportamento da pressão de fundo de um poço e sua


derivada no modelo radial composto de duas regiões com extensão infinita. Em seu
estudo, Brown limitou a razão de mobilidade (M) nos valores de 0,4 até 2 e razão de
armazenagem (S) de 0,3 até 3,0. Através dos gráficos diagnósticos, Brown concluiu que
era possível calcular o raio da região interna do modelo, assim como outros parâmetros
do modelo.

Nos anos seguintes, outros estudos foram publicados como os trabalhos de


Olarewaju et al. (1987), Lee (1989), Chu (1993) e Ragavan (1995), todos com a
finalidade de complementar as soluções analíticas já existentes para o modelo radial
composto clássico.

Em estudos mais recentes, Knudsen (2010) estudou a otimização da produção de


poços em reservatórios não convencionais (shale reservoirs) através de múltiplas
aberturas e fechamento dos poços. Para a representação do reservatório, Knudsen
utilizou um modelo radial composto, onde a região interna do modelo representava a
região de fraturamento do poço (região de maior permeabilidade) enquanto que a região
externa representava a matriz do reservatório.

30
Lipovetsky (2013) desenvolveu um código numérico para representar
reservatórios carbonáticos com lentes de alta permeabilidade interceptando um poço
vertical. Para a validação do seu código, foi utilizado um simulador numérico
comercial, onde foi modelado um reservatório radial composto com a espessura da
região interna menor que a espessura do reservatório para a representação do problema.

Como este trabalho tem como motivação os reservatórios carbonáticos com lentes
de alta permeabilidade na região do poço e reservatórios não convencionas (shale
reservoirs), foram avaliados somente casos onde a permeabilidade da região interna é
maior que a permeabilidade da região externa (k1>k2) no estudo de sensibilidade aos
parâmetros do modelo radial composto.

2.2.1 Regimes de Fluxo do Modelo Radial Composto

O modelo radial composto de duas regiões possui dois regimes de fluxo radiais. O
primeiro radial ocorre na região interna, mais próxima ao poço, e o comportamento do
reservatório é idêntico ao de um reservatório radial homogêneo. O segundo radial
ocorre quando a região externa passa a contribuir para o fluxo. A razão de mobilidade
(M = M2/M1 = k2µ2/k1µ1) determina a posição relativa das derivadas para os dois
períodos do fluxo radial, enquanto que a razão de armazenagem (S = S2/S1 = ɸ2ct2/ɸ1ct1)
controla o formato da derivada na zona de transição entre os dois períodos radiais.

Para exemplificar, a Figura 15 mostra a resposta da pressão (curva azul) e


derivada da pressão (curva vermelha) para um modelo radial composto com razão de
armazenagem constante (S2/S1=1) e razão de mobilidade variando de 0,03 a 30; a Figura
16 mostra a resposta da pressão (curva azul) e derivada da pressão (curva vermelha)
para um modelo radial composto com razão de mobilidade constante (M2/M1=0,03) e
razão de armazenagem variando de 0,01 a 100; e a Figura 17 mostra a resposta da
pressão (curva azul) e derivada da pressão (curva vermelha) para um modelo radial
composto com razão de mobilidade constante (M2/M1=1) e razão de armazenagem
variando de 0,01 a 100.

Podemos notar que quanto menor a razão de mobilidade maior será o nível do
segundo regime radial na curva da derivada da pressão, e o seu formato no regime de
transição (período entre os dois regimes radiais) depende fortemente da razão de
armazenagem.
31
No primeiro radial são interpretados dados de permeabilidade da região interna,
região mais próxima ao poço, enquanto que no segundo radial são interpretados dados
de permeabilidade da região externa.

Figura 15 - Gráfico log-log do modelo radial composto infinito com razão de


armazenagem constante S2/S1=1(SPIVEY; LEE, 2013).

Figura 16 - Gráfico log-log do modelo radial composto infinito com razão de


mobilidade constante M2/M1=0.03(SPIVEY; LEE, 2013).

32
Figura 17 - Gráfico log-log do modelo radial composto infinito com razão de
mobilidade constante M2=M1=1(SPIVEY; LEE, 2013).

No gráfico semilog, ou gráfico de Horner, o modelo radial composto apresenta


duas tendências de alinhamento dos pontos de pressão, conforme mostrado na Figura
18. Durante o radial inicial, na região interna, a inclinação da reta é m, e a partir desta
inclinação calcula-se a permeabilidade da região interna. Enquanto que no segundo
radial, a inclinação da reta é mM e dessa, calcula-se a permeabilidade da região externa.

Durante o fluxo radial inicial, como o modelo se comporta como um modelo


homogêneo (ver equação 2-25), a queda de pressão é expressa por (no sistema de
unidades Americano):

( ) (2-27)
( )

E a inclinação da reta (m) pode ser expressa por:

(2-28)

33
A análise da primeira reta do gráfico semilog fornece informações da mobilidade
da região interna e do skin do poço (s).

Já no radial final, na região externa, a queda de pressão é expressa por (no sistema
de unidades Americano):

( ) (2-29)
( )

E a inclinação da reta (mM) pode ser expressa por:

(2-30)

A análise da segunda reta do gráfico semilog fornece informações da mobilidade


da região externa e skin total (sT). O skin total é composto por duas componentes: o skin
do poço e o efeito de skin do modelo radial composto, que é função da razão de
mobilidade das regiões e do raio adimensional da interface entre as regiões.

( ) (2-31)

Figura 18 - Gráfico semilog do modelo radial composto (modificado de


BOURDET, 2002).
34
2.3 O SIMULADOR NUMÉRICO

A simulação de reservatórios consiste em utilizar cálculos para prever o


comportamento de um reservatório de hidrocarboneto. Embora exista desde o início da
engenharia de petróleo, na década de 1930, até a década de 1960 os cálculos consistiam
amplamente de métodos analíticos (COATS, 1982).

Os simuladores de fluxo se tornaram populares na década de 1950, justamente


quando os computadores eletrônicos programáveis começavam a surgir juntamente com
a teoria das diferenças finitas.

Os métodos clássicos para a previsão de produção de um campo de petróleo,


empregados desde o início da engenharia de petróleo, tratam o reservatório como um
todo homogêneo, através da utilização das propriedades médias, sem levar em
consideração variações espaciais e temporais. Com o desenvolvimento dos métodos
numéricos, tornou-se possível detalhar o estudo de um reservatório através da
subdivisão do reservatório em blocos com propriedades individualizadas. Através de
uma malha (grid) de simulação, é possível incorporar características do modelo
geológico, permitindo a definição de regiões com propriedades de fluido e rocha
distintas. Assim, a resposta do problema passou a ser obtida pela solução das equações
de fluxo para cada elemento.

Os simuladores de fluxo podem ser classificados de acordo com o tratamento


matemático como: modelo volumétrico ou Black Oil, modelo composicional ou modelo
térmico; de acordo com o número de dimensões como: unidimensional, bidimensional e
tridimensional; e de acordo com o número de fases como: monofásico, bifásico e
trifásico.

No modelo Black Oil, o tratamento matemático envolve funções da pressão e


saturação dos fluidos do reservatório. São bem mais simples que os modelos
composicionais e atendem a maioria das aplicações de Engenharia de Reservatório.
Admite-se que cada uma das fases (água, óleo e/ou gás) eventualmente presentes no
reservatório seja constituída de um único componente.

O modelo composicional considera, além da pressão e temperatura do


reservatório, as composições das diversas fases presentes no meio poroso. Este tipo de
simulador passa a ter importância para reservatórios de gás retrógrado ou para projetos

35
com métodos de recuperação avançada, que geralmente evolvem mudança da
composição do óleo na condição de reservatório. Já o modelo térmico leva em
consideração os efeitos da variação da temperatura no interior do reservatório. São
aplicados para avaliação de recuperação de petróleo através dos métodos térmicos
como: injeção de vapor, injeção de água quente, combustão in situ.

Um simulador numérico de fluxo unidimensional admite fluxo em uma única


direção, o bidimensional em duas direções e o tridimensional nas três direções. A Figura
19 ilustra estes três casos possíveis de número de dimensões.

Os simuladores monofásicos consideram a presença de apenas de uma só fase no


reservatório (gás, óleo ou água), enquanto que o bifásico considera a presença de duas
fases, (óleo e água quando for um reservatório de óleo e gás e água quando for um
reservatório de gás) e o trifásico considera a ocorrência das três fases no reservatório
(água, óleo e gás).

Figura 19 - Grid unidimensional, bidimensional e tridimensional (COATS,


1982).

O simulador de fluxo utilizado neste trabalho foi o simulador IMEX (Implicit-


Explicit Black Oil Simulator da CMG – Canada). Trata-se de um simulador Black Oil,
tridimensional e trifásico. Por simplificação, será considerado fluxo de apenas uma das

36
fases do reservatório (óleo), o que na prática é bastante comum de ocorrer em testes de
formação, onde o poço produz acima da pressão de bolha do óleo e, normalmente, no
período de fluxo de medição o BSW (basic sediment and water) do poço está abaixo de
2%.

Após a definição do tipo de simulador a ser utilizado em uma análise, o próximo


passo é definir o número de células do modelo. Este procedimento é chamado de
“gridagem” e possui grande importância, pois impactará diretamente nos resultados das
simulações, assim como no tempo de simulação. Quanto menor o número de células
(maior o volume das células), menor será a variação de pressão e da saturação das
células, podendo ocasionar um maior erro no balanço de materiais. Quanto maior o
número de células (menor o volume das células), maior é o tempo de simulação do caso,
podendo inviabilizar uma análise numérica.

Depois da criação do grid do reservatório, é feita a “população” do modelo


(atribuição das propriedades de cada célula). As sessões aqui detalhadas serão referentes
ao simulador utilizado no estudo, mas outros simuladores comerciais possuem seções
semelhantes.

Normalmente, os simuladores de fluxo são divididos em 7 seções que precisam


ser preenchidas com informações do caso desejado, que são:

 Seção de entrada e saída de dados;


 Seção de dados do reservatório;
 Seção de componentes;
 Seção de rocha-fluidos;
 Seção de condições iniciais;
 Seção de dados numéricos;
 Seção de poços e dados recorrentes.

A seção de entrada e saída de dados é onde se define sistema de unidades que será
utilizado, quais parâmetros se deseja visualizar no grid ou em forma de gráfico e
frequência de escrita dos resultados.

37
Na seção de dados do reservatório são informadas as dimensões e formato do grid,
assim como as propriedades estáticas do reservatório, como: porosidade,
permeabilidade e Net-to-Gross1 (NTG). As propriedades dos fluidos são preenchidas na
seção de componentes, enquanto que as propriedades de rocha-fluidos (permeabilidade
relativa e pressão capilar) são informadas na seção de rocha-fluidos.

As condições iniciais, como pressão inicial do reservatório e contatos de fluidos,


são definidas na seção de condições iniciais. Na seção de dados numéricos, são
informados parâmetros de controle da solução numérica, como: tamanho do timestep,
número máximo de iteração e por fim, a trajetória dos poços, condições de contorno dos
poços e cronograma são definidos na seção de poços e dados recorrentes.

Os simuladores numéricos são baseados no princípio da conservação da massa:


massa que entra no sistema – massa que sai do sistema = massa acumulada. Pela
combinação das equações da continuidade, lei de Darcy e equações de estado, são
obtidos os sistemas não lineares que regem o problema de fluidos em meios porosos.

A maioria dos simuladores numéricos comerciais utiliza a técnica das diferenças


finitas na resolução das equações diferenciais parciais. A técnica consiste em substituir
todas as derivadas por suas formas finitas correspondentes. O domínio espacial é
substituído por um conjunto de pontos discretos e o domínio do tempo passa a se referir
a instantes espaçados (regularmente ou não).

As equações diferenciais na forma aproximada são então escritas para cada ponto
do espaço, a cada instante (ou nível de tempo) considerado, e o sistema de equações
algébricas assim obtido é resolvido por meio de um algoritmo. Dessa forma, se obtém
soluções aproximadas para a variável dependente em cada um dos pontos e a cada nível
de tempo (ROSA et al., 2006).

No APÊNDICE C encontra-se a solução completa para um sistema bifásico


através do método IMPES (Implicit Pressure. Explicit Saturation).

1
Razão entre espessura efetiva que contribui para o fluxo e a espessura total do reservatório.

38
2.4 CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO

Dado a grande aplicabilidade do modelo radial composto na interpretação de


testes de poços, este trabalho tem como objetivo compreender a influência dos
parâmetros deste modelo na pressão de fundo e sua derivada, quando um poço vertical
produz no centro do reservatório com todo seu comprimento aberto para o fluxo.

Foram criadas também variações do modelo radial composto clássico, onde a


espessura da região interna é menor que a espessura do reservatório, que podem
representar reservatórios carbonáticos com lentes de alta permeabilidade. Para este
cenário, foram elaboradas novas curvas-tipo, que podem ser utilizadas para a
interpretação de reservatórios com características compatíveis.

As condições necessárias para a utilização do modelo radial composto para a


representação de poços fraturados com condutividade infinita também foram
verificadas, auxiliando na correta utilização deste modelo para a representação de
reservatórios não convencionais com poços fraturados.

39
CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA

Este capítulo descreve a metodologia empregada para a obtenção dos gráficos log-
log, semilog ou Horner e curvas-tipo para os casos avaliados. Inicialmente é feita uma
descrição dos modelos físico e matemático do problema estudado e em seguida são
detalhadas as propriedades do modelo numérico construído para a análise. Por fim, a
descrição da metodologia para obtenção dos gráficos de interpretação.

3.1 MODELO FÍSICO

O modelo físico aqui estudado é o reservatório radial composto, que consiste de


duas regiões concêntricas com diferentes propriedades, com um poço vertical no centro
do reservatório aberto para o fluxo em toda a sua extensão. No modelo radial composto
clássico, a espessura da região interna é igual à espessura da região externa, que por sua
vez é igual à espessura do reservatório. Neste trabalho foram estudadas também
variações do modelo radial composto clássico, onde a espessura da região interna é
menor do que a espessura da região externa.

O reservatório foi considerado infinito na direção radial e limitado no topo e base.


A região interna do reservatório possui permeabilidade uniforme k1 enquanto que a
região externa possui permeabilidade uniforme k2, diferente de k1.

Inicialmente o reservatório se encontra em equilíbrio, com pressão inicial igual à


pressão estática do reservatório (reservatório não depletado) e então, o poço, que se
encontra no centro da região interna e centro do reservatório, é aberto para fluxo à vazão
constante.

Este tipo de modelo é bastante abrangente, e pode representar diversas situações


do cotidiano da indústria do petróleo. Neste trabalho, serão avaliados somente os casos
em que a permeabilidade da região interna é maior que a da região externa, como é o
caso de poços estimulados, reservatórios carbonáticos com lentes de alta permeabilidade
e reservatórios não convencionais (shale reservoir) após operação de faturamento de
poço.

40
3.2 MODELO MATEMÁTICO

Nesta seção são descritas as equações matemáticas que regem o problema


estudado; escoamento de fluidos em meios porosos em um modelo radial composto.
Como será feita uma validação do modelo numérico com a solução analítica proposta
por Satman et al.(1980) para este modelo, também será apresentada a sua solução
analítica.

3.2.1 Variáveis Adimensionais

Na interpretação de testes de poços, normalmente utiliza-se variáveis


adimensionais. A principal vantagem na utilização de variáveis adimensionais é que a
solução adimensional é valida para qualquer conjunto de propriedades de rocha e fluido,
e não somente para um conjunto de dados particular. Aqui serão definidas algumas
variáveis adimensionais utilizadas na disciplina de teste de poço, para o sistema de
unidades Americano.

Pressão adimensional (PD):

( ) (3-1)

Tempo adimensional (tD):

(3-2)

Raio adimensional (rD):

(3-3)

Raio da região interna adimensional (RD):

41
(3-4)

onde r1 é o raio da região interna e rw é o raio do poço.

Coeficiente de estocagem adimensional (CD):

(3-5)

Com a combinação das variáveis tD e CD temos:


(3-6)

Razão de mobilidade:

( ⁄ )
(3-7)
( ⁄ )

Razão de armazenagem:

( )
(3-8)
( )

3.2.2 Solução Analítica

A equação diferencial parcial (EDP) e as condições de contorno na forma


adimensional, desenvolvidas por Satman et al., que representam um reservatório radial
composto de duas regiões (Figura 14), assumindo fluido de pequena compressibilidade,

42
reservatório horizontal de espessura uniforme e homogêneo e efeitos da gravidade e
pressão capilar depressíveis são:

EDP para região 1:

( ) (3-9)

EDP para região 2:

( ) (3-10)

Condição de contorno interna:

[ ] (3-11)

e:

[ ] (3-12)

As condições iniciais e de contorno são:

( ) (3-13)

( ) (3-14)

( ) ( ) (3-15)

43
(3-16)

( ) (3-17)

3.2.3 Solução Numérica

O simulador numérico usado neste estudo utiliza a técnica das diferenças finitas
para resolver o sistema de equações diferenciais parciais não lineares, que descrevem o
escoamento de fluido em meios porosos. Para isso, o modelo de reservatório é dividido
em blocos ou células e para cada uma delas são calculadas pressão e saturação dos
fluidos para cada intervalo de tempo.

A equação de fluxo de óleo em meios porosos, unidimensional, discretizada


temporal e espacialmente pela técnica das diferenças finitas, é:

( ) ( )

[( ( ) ( )( ) ( )( (3-18)

)) ( ) ( )]

onde:
( )
(3-19)

[( ) ( )]
( ) (3-20)
( )

(3-21)

44
[ ] (3-22)

A equação acima é resultante da combinação da equação da conservação da


massa, equação de pressão capilar e soma das saturações dos fluidos. Por ser uma
equação não linear, é necessária a utilização de um método para a sua linearização.

O simulador de fluxo de reservatórios calcula para as três direções do grid (x,y.z)


e para as três fases de fluido do reservatório (óleo, gás, água) as pressões e saturações a
cada timestep.

A dedução completa para a fase óleo e água pela formulação IMPES encontra-se
no APÊNDICE C.

3.3 METODOLOGIA

Para a geração das pressões de fundo através da solução analítica, foi utilizado o
software PanSystem®. Este é um software comercial de interpretação de testes de poço,
que utiliza a solução de Satman et al. para o modelo radial composto.

Para a geração das pressões de fundo através da solução numérica, foi utilizado o
simulador IMEX (Implicit-Explicit Black Oil Simulator da CMG – Canada).

Após geração das pressões, essas foram exportadas para uma tabela e sua derivada
foi calculada através do algoritmo de Bourdet (seção 2.1.3.1) para a criação dos gráficos
log-log.

Um modelo de fluxo 3D de um reservatório composto clássico foi criado (Figura


20) e validado a partir da solução analítica desenvolvida por Satman et. al., descrita na
seção 3.2.2. Após a validação do modelo numérico, suas propriedades foram alteradas e
a influência na pressão de fundo do poço avaliada em gráficos diagnósticos de
interpretação de testes.

Dentre os parâmetros avaliados está a espessura da região interna. Foram


admitidos valores menores que a espessura do reservatório. Como este caso foge do
conceito de radial composto clássico, foram elaboradas novas curvas-tipo de
interpretação de testes de poço que poderão ser utilizadas para a interpretação de teste
de poços para reservatórios com características similares.
45
Figura 20 - Modelo de fluxo 3D criado neste estudo (região interna – cor vermelha
e região externa – cor azul).

O seguinte procedimento descreve a metodologia adotada no trabalho:

1) Criação de um modelo numérico radial composto base;


2) Definição da vazão do poço e tempo de fluxo para representatividade de um
modelo semi-infinito;
3) Exportação da pressão simulada, derivação da pressão através do algoritmo de
Bourdet e elaboração dos gráficos de interpretação (log-log e semilog);
4) Validação do modelo numérico através da solução analítica de Satman;
5) Após validação do modelo numérico, alteração de suas propriedades,
individualmente, para estudo de sensibilidade;
6) Exportação da pressão simulada, derivação da pressão através do algoritmo de
Bourdet e elaboração dos gráficos de interpretação (log-log e semilog);
7) Interpretação e análise dos resultados;
8) Estudo dos casos não tratados pelas soluções analíticas disponíveis na literatura
e elaboração das curvas-tipo;
9) Retorno ao item 5 até que todas as análises tenham sido realizadas.
A Figura 21 ilustra o fluxograma da metodologia adotada no estudo.

46
Figura 21 - Fluxograma da metodologia adotada no estudo.

47
CAPÍTULO 4 – DESENVOLVIMENTO

Neste capítulo serão detalhadas as etapas descritas na metodologia do trabalho


(seção 3.3.). Inicialmente é feita uma descrição do modelo numérico criado para o
desenvolvimento do trabalho. Em seguida são detalhados os casos avaliados na análise
de sensibilidade e os casos levados em consideração para elaboração das curvas-tipo.

4.1 MODELO NUMÉRICO

Para gerar os dados de pressão de fundo, para posterior avaliação, foi utilizado o
simulador IMEX (Implicit-Explicit Black Oil Simulator da CMG – Canada). Um caso
base do modelo radial composto foi criado com as propriedades da Tabela 2.

O contato óleo/água foi posicionado abaixo da base do reservatório e o contato


gás/óleo foi posicionado acima do topo do reservatório, assim, apenas a fase óleo foi
levada em consideração no fluxo, já que o poço não operou abaixo da pressão de bolha
do óleo.

A dimensão do modelo construído foi de 35 x 2 x 13 células, onde, para


otimização do tamanho das células do modelo (mais refinado na região próxima ao poço
e mais grosseiro na região mais afastada do poço), foi utilizada uma progressão
geométrica para o incremento do raio das células do grid, onde o raio das células do
centro do modelo (células canhoneadas) é igual a 1 metro, e o incremento do raio nas
células mais afastadas do poço chega a 370 metros. Desta forma, o raio externo do
reservatório possui 1.417 metros.

Para a espessura das células, foi considerada uma espessura constante igual a 2,3
metros. A Figura 22 ilustra o tamanho das células do reservatório com o afastamento da
célula do centro do modelo. Na Figura 23, onde é mostrado o mapa de topo do
reservatório, pode-se observar o incremento do raio das células à medida que se afastam
da proximidade do poço.

48
Tabela 2 - Dados de entrada do modelo numérico (caso base).

Espessura do reservatório (h) 98,42 ft 30 m

Raio da Região 1 (r1) 98,42 ft 30 m

Raio da Região 2 (r2) 4.648,95 ft 1.417 m

Porosidade da região 1 (ɸ1) 0,1 0,1

Porosidade da região 2 (ɸ2) 0,1 0,1


Parâmetros de
Permeabilidade da região 1 (k1) 100 mD 100 mD
Reservatório
Permeabilidade da região 2 (k2) 10 mD 10 mD

Net-to-Gross (NTG) 1 1

Compressibilidade da rocha (cf) 3,1x10-6 1/psi 4,4 x 10-5 1/kgf/cm2

Compressibilidade total do sistema (ct) 1,47x10-5 1/psi 2,1x10-5 1/kgf/cm2

Pressão inicial (Pi) @ 1.405 m 2.397,8 psi 168,6 kgf/cm2

Viscosidade do óleo (µo) @ Pi 2,9 cP 2,9 cP

Fator volume de Formação (Bo) @ Pi 1,13 1,13


Parâmetros de Fluido
Pressão de bolha (Pb) 1.160 psi 81,6 kgf/cm2

Densidade do óleo (°API) 30 30

Raio do poço (rw) 0,25 ft 0,0762 m

Skin 0 0

Dados de poço Estocagem 0 bbl/psi 0 m3/ kgf/cm2

Mínima Pressão de fundo 1.161 psi 81,6 kgf/cm2

Vazão de óleo (qo) 700 bbl/dia 111,29 m3/dia

49
1.000

Tamanho da célula em metros 100

10

1
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35
Célula onde o poço está posicionado

Índice da Célula (direção radial)

Figura 22 - Refinamento do grid do modelo numérico.

Figura 23 - Mapa de topo do modelo numérico radial composto, com detalhe do


refinamento do grid na região do poço.

Para a permeabilidade da região interna (k1) do modelo radial composto caso base,
foi considerado 100 mD, enquanto que para a região externa (k2), 10 mD, resultando em
uma razão de mobilidade (M) de 0,1. Inicialmente, as porosidades das duas regiões

50
foram consideradas iguais a 0,1, o que resultou em uma razão de armazenagem (S) igual
a 1.

Na Figura 24, onde é mostrada uma seção transversal ao poço com a propriedade
permeabilidade, pode-se observar a região interna e externa do modelo.

Figura 24 - Seção transversal ao poço do modelo numérico, com detalhe para as


diferentes permeabilidades da região 1 e região 2.

O poço foi posicionado no centro do reservatório, inicialmente com skin e


estocagem de poço nulos. Para o seu cronograma, adotou-se um fluxo contínuo de 700
bbl/dia durante 72 horas, seguido por uma estática de até 1.000 horas (Figura 25). Com
este cronograma, a pressão de fundo do poço não atingiu a mínima estabelecida como
condição de contorno, mantendo a vazão constante durante todo o período de fluxo para
todos os casos avaliados. Além disso, não foi observada queda de pressão significativa
na fronteira do reservatório, mantendo a representatividade de um modelo semi-infinito.

A Figura 26 ilustra a queda de pressão no modelo (pressão no instante inicial –


pressão no instante final), onde se pode constatar a representatividade de um modelo
semi-infinito. A queda de pressão não atingiu a fronteira do reservatório.

51
Figura 25 - Cronograma de vazão do poço com pressão de fundo simulada (caso
base).

Figura 26 - Diferencial de pressão no modelo (instante inicial – instante final -


representação de um modelo semi-infinito).

Após construção, população e definição do cronograma do poço do modelo


numérico, foi realizada uma simulação para obtenção da pressão de fundo para o caso

52
base. Estas foram comparadas com as pressões obtidas pela solução analítica de Satman
et al. (1980) para validação do modelo numérico (Figura 27).

Modelo h=30 m | lente= 30 m | k1=100md | k2=10md (CASO BASE)


2.500

2.400

2.300

2.200
Pressão (psi)

2.100

2.000

1.900
Pressão (psi) (MODELO ANALÍTICO - SATMAN 1980)
1.800
Pressão (psi) (MODELO NUMÉRICO)
1.700

1.600

1.500
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.000
t (horas)

Figura 27 - Comparação da pressão de fundo do poço, modelo analítico x modelo


numérico (caso base).

Os gráficos de interpretação de teste de poço (log-log e semilog) foram


construídos para ambos os casos (numérico e analítico), onde os dados também foram
comparados (Figura 28 e Figura 29).

53
Modelo h=30 m | lente= 30 m | k1=100md | k2=10md (CASO BASE)
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (MODELO ANALÍTICO - SATMAN 1980)

∆P' (psi) (MODELO ANALÍTICO - SATMAN 1980)

∆P (psi) (kregião1 = 100 mD)

∆P' (psi) (kregião1 = 100 mD)


1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 28 - Gráfico log-log, comparação do modelo analítico x numérico (caso


base).

Modelo h=30 m | lente= 30 m | k1=100md | k2=10md (CASO BASE)


2.900
Pressão (psi) (MODELO ANALÍTICO - SATMAN 1980)
2.700
Pressão (psi) (MODELO NUMÉRICO)
2.500
Pressão (psi)

2.300

2.100

1.900

1.700

1.500
0,1 1,0 10,0 100,0 1.000,0 10.000,0 100.000,0
t (horas)

Figura 29 - Gráfico semilog, comparação do modelo analítico x numérico (caso


base).

Dado o bom ajuste das pressões obtidas numericamente com as pressões obtidas
analiticamente, o modelo numérico foi considerado validado. Isto posto, foi realizado

54
um estudo de sensibilidade aos seus parâmetros na resposta da pressão de fundo e sua
derivada.

A pequena diferença entre os resultados observados nos gráficos de pressão e


semilog pode ser justificada pelo fato da solução numérica admitir a representação das
propriedades dos fluidos em função da pressão, enquanto que na solução analítica as
propriedades dos fluidos são constantes.

4.2 SENSIBILIDADE AOS PARÂMETROS DO MODELO

Após calibração do modelo base com a solução analítica, foi realizada uma análise
de sensibilidade aos parâmetros do reservatório radial composto, na resposta da pressão
de fundo e sua derivada. Os casos avaliados estão descritos na Tabela 3. Para os casos
de uma mesma análise (mesmo parâmetro avaliado), foi atribuído um mesmo número de
identificação (ID).

Os casos de ID 7, ID 8, ID 9 e ID10, não possuem solução analítica. Para estes


casos foram elaboradas curvas-tipo que podem ser utilizadas para interpretações de
testes de poço para reservatórios com características semelhantes. A Figura 30 ilustra os
casos de ID 7 e a Figura 31 ilustra os casos de ID 8.

55
Tabela 3 - Casos avaliados no estudo de sensibilidade.

ID Parâmetro avaliado Unidade Valores

Permeabilidade da região interna (k1) mD 25 50 100 150 200


1
Razão de Mobilidade (M) - 0,4 0,2 0,1 0,07 0,05

Permeabilidade da região externa (k2) mD 2 5 10 20 50


2
Razão de Mobilidade (M) - 0,02 0,05 0,1 0,2 0,5

3 Raio da região interna (R1) m 10 15 30 60 90

Porosidade da região interna (ɸ1) vol/vol 0,06 0,08 0,1 0,2 0,3
4
Razão de Armazenagem (S) - 1,7 1,25 1 0,5 0,33

Porosidade da região externa (ɸ2) vol/vol 0,06 0,08 0,1 0,2 0,3
5
Razão de Armazenagem (S) - 0,6 0,8 1 2 3

6 Skin do poço (s) - -6 -3 0 3 6

7 Altura da região interna (h1) m 11,5 15 30 20,7 25,4

Raio da região interna (R1) quando


8 m 40 55 30 65 90
h1=11,5 m

Permeabilidade da região interna (k1)


9 mD 25 50 100 150 200
quando h1=11,5 m e R1=90 m

Permeabilidade da região externa (k2)


10 mD 2 5 10 20 50
quando h1=11,5 m e R1=90 m

56
Figura 30 - Comparativo dos casos em que a altura da região interna é menor que
a espessura do reservatório (exagero vertical2 = 20 vezes).

2
Relação entre as escalas horizontal e vertical.

57
Figura 31 - Comparativo dos casos em que a altura da região interna é igual a 11,5
metros e o raio varia de 40 a 90 metros (exagero vertical = 20).

4.3 GERAÇÃO DAS NOVAS CURVAS-TIPO

Uma vez que a espessura da região interna é menor do que a espessura do


reservatório (Figura 30), não se pode aplicar a solução analítica do modelo radial
composto clássica para interpretação do teste de poço. Caso isso seja feito, a
permeabilidade da região interna interpretada será menor do que a permeabilidade real.

Neste trabalho foram geradas novas curvas-tipo de interpretação de teste, onde a


relação espessura do reservatório pela espessura da região 1 é igual a 2 (hres/hr1 = 2) e a
58
relação espessura da região 1 e raio da região 1 é igual a 1 (hr1/Rr1 = 1). Estas curvas-
tipo podem ser utilizadas na interpretação de poços verticais testados em reservatórios
com características semelhantes, como no caso de reservatórios carbonáticos com lentes
de alta permeabilidade, onde a lente não compreende toda espessura do reservatório.

Para a geração das novas curvas-tipo, foi tomado como base o caso de espessura
de lente igual a 15 metros do grupo ID 7, detalhado na Tabela 3. A partir deste caso,
foram alteradas as propriedades do modelo (permeabilidade e skin) e os novos casos
foram simulados para a geração de novas pressões.

As curvas tipo aqui elaboradas possuem no eixo das ordenadas PD e P’D e abscissa
tD. Na equação da pressão adimensional (3-1) foi utilizada permeabilidade e espessura
da região 2, resultando na seguinte equação :

( ) (4-1)

A Tabela 4 detalha os casos simulados para a geração das curvas-tipo. As


propriedades destacadas em negrito são do caso utilizado para aplicação das curvas-tipo
na seção 5.4.

Outras curvas-tipo podem ser elaboradas, com diferentes relações de altura,


espessura e raio da região interna, a depender da geometria esperada para a
interpretação de um teste de poço.

O seguinte procedimento foi adotado na elaboração das curvas-tipo deste estudo:

1. Definição das relações espessura do reservatório pela espessura da região 1 e


espessura da região 1 pelo raio da região 1 que se deseja avaliar.
2. Construção do modelo numérico com as relações escolhidas e população do
modelo com qualquer razão de mobilidade das regiões.
3. Simulação do modelo e posterior exportação das pressões de fundo do poço.
4. Adimensionalização da pressão e do tempo.
5. Cálculo da derivada da pressão adimensional pelo agorítimo de Bourdet.
6. Construção do gráfico PD x tD e P’D x tD.
7. Variação da permeabilidade da região interna (consequentemente da razão de
mobilidade).
59
8. Caso ainda não se tenha curvas suficientes retorna ao passo 3.

Tabela 4 - Casos avaliados na geração das curvas-tipo.

Parâmetro avaliado Valores

Razão de Mobilidade (M) 0,05 0,1 0,2 0,3 0,4 1 2 3

Skin do poço -1 -2 0 1 2

60
CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos na análise de sensibilidade


aos parâmetros do modelo radial composto clássico e variações deste modelo. Também
é apresentada a avaliação para o limite de aplicação do modelo radial composto na
representação de modelos com poços fraturados e as curvas-tipo elaboradas para um
caso particular da variação do radial composto clássico.

Os resultados do estudo de sensibilidade estão dispostos da Figura 32 a Figura 52,


por ordem de identificação do caso (ID) da Tabela 3.

Na última seção do capítulo é apresentada uma aplicação para a curva-tipo


elaborada neste trabalho.

5.1 ESTUDO DE SENSIBILIDADE DOS PARÂMETROS DO MODELO RADIAL

COMPOSTO CLÁSSICO

Para o estudo de sensibilidade dos parâmetros do modelo radial composto


clássico, foi adotado como referência o modelo radial composto base, detalhado na
seção 4.1. A partir dele, as propriedades foram alteradas, isoladamente, para a avaliação.

Os resultados estão dispostos de forma gráfica, através de gráficos utilizados na


interpretação de testes de poços (gráficos log-log e semilog).

Nos gráficos log-log, as pressões de fundo correspondem às séries com


marcadores de ponto e as derivadas das pressões correspondem às séries de linha
contínua. Para todas as avaliações, o modelo base está representado pelas séries de cor
preta.

Como foram avaliados somente casos onde a permeabilidade da região interna é


maior que a permeabilidade da região interna (k1>k2), em todos os casos as razões de
mobilidade ficaram abaixo de 1. Pode-se observar no gráfico log-log o patamar do
segundo regime radial sempre em um nível mais elevado do que o primeiro radial.

O cronograma dos casos avaliados no estudo foi dimensionado de forma a não


haver influência da fronteira do reservatório na pressão (representando um modelo
semi-infinito). Para todos os casos, a pressão extrapolada (p*) no gráfico de Horner
corresponde à pressão inicial do reservatório.
61
Casos ID 1 - Parâmetro avaliado: Permeabilidade da região interna (k1).

Na avaliação da permeabilidade da região interna (k1), esta foi alterada para: 25,
50, 100, 150 e 200 mD. As razões de mobilidade (M) destes casos são: 0,4, 0,2, 0,1,
0,06 e 0,05, respectivamente. As razões de armazenagem (S) são constantes e iguais a 1.

A diferença de estabilização entre os dois períodos radias é proporcional à razão


de mobilidade (diferença de estabilização = 0,1/ M ciclos log). Quando M = 0,1 a
diferença de altura é igual a 1 ciclo log, quando M = 0,2 a diferença de altura é igual a 2
ciclos log. Quanto menor a diferença de permeabilidade entre as regiões, menor a
diferença do patamar de estabilização dos regimes radiais.

Dado que a permeabilidade da região externa tem o mesmo valor para todos estes
casos, as derivadas das pressões convergem para o mesmo patamar no segundo radial.
No gráfico de Horner, pode-se observar as pressões convergindo para um mesmo
alinhamento dos pontos, no intervalo de tempo entre 1 e 10 horas (regime de fluxo
corresponde ao segundo regime radial).

Através do gráfico log-log, pode-se notar um maior período de transição entre os


regimes radiais para os casos de maior transmissibilidade na região 1 (k1 h/µ1).

Casos ID 1
10.000

1.000
P e P' (psi)

100

∆P (psi) (kregião1 = 100 mD)


∆P' (psi) (kregião1 = 100 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 25 mD)
10 ∆P' (psi) (kregião1 = 25 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 50 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 50 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 150 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 150 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 200 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 200 mD)
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 32 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 1.

62
Casos ID 1
3.000
Gráfico de Horner

Pressão (psi) (kregião1 = 100 mD)


2.800
Pressão (psi) (kregião1 = 25 mD)
Pressão (psi) (kregião1 = 50 mD)
2.600 Pressão (psi) (kregião1 = 150 mD)
Pressão (psi)

p*= 2398 psi Pressão (psi) (kregião1 = 200 mD)


2.400

2.200

2.000

1.800

1.600

1.400
1,0 10,0 100,0 1.000,0 10.000,0
(tp+t)/t

Figura 33 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 1.

Casos ID 2 - Parâmetro avaliado: Permeabilidade da região externa (k2).

Na avaliação da permeabilidade da região externa (k2), esta foi alterada para: 2, 5,


10, 20 e 50 mD. As razões de mobilidade (M) destes casos são: 0,02, 0,05, 0,1, 0,2 e
0,5, respectivamente. As razões de armazenagem (S) são constantes e iguais a 1.

Dado que as permeabilidades das regiões internas têm o mesmo valor para todos
estes casos, as derivadas das pressões partem de um mesmo patamar no radial inicial.
No gráfico de Horner, pode-se observar uma mesma inclinação do alinhamento dos
pontos de pressão para grandes intervalos de tempos (regime de fluxo corresponde ao
primeiro regime radial).

Através do gráfico log-log, pode-se notar um maior período de transição entre os


regimes radiais para os casos de menor transmissibilidade na região 2 (k2 h/µ2).

No gráfico de Horner, cada caso terá uma reta de ajuste do segundo radial, mas
todas as retas interceptam o mesmo valor de pressão extrapolada, correspondente à
pressão inicial do reservatório.

63
Casos ID 2
10.000

P e P' (psi) 1.000

100

∆P (psi) (kregião2 = 10 mD)


∆P' (psi) (kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião2 = 2 mD)
10 ∆P' (psi) (kregião2 = 2 mD)
∆P (psi) (kregião2 = 5 mD)
∆P' (psi) (kregião2 = 5 mD)
∆P (psi) (kregião2 = 20 mD)
∆P' (psi) (kregião2 = 20 mD)
∆P (psi) (kregião2 = 50 mD)
∆P' (psi) (kregião2 = 50 mD)
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 34 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 2.

Casos ID 2
Gráfico de Horner
2.900
Pressão (psi) (kregião2 = 10 mD)
Pressão (psi) (kregião2 = 2 mD)
2.700 p*= 2398 psi
Pressão (psi) (kregião2 = 5 mD)
Pressão (psi) (kregião2 =20 mD)
2.500
Pressão (psi)

Pressão (psi) (kregião2 = 50 mD)

2.300

2.100

1.900

1.700

1.500

1.300
1,0 10,0 100,0 1.000,0 10.000,0
(tp+t)/t

Figura 35 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 2.

Casos ID 3 - Parâmetro avaliado: Raio de região interna (R1).

Na avaliação do raio da região interna (R1), este foi alterado para: 10, 15, 30, 60 e
90 metros. As razões de mobilidade (M) destes casos são constantes e iguais a 0,1 e as
razões de armazenagem (S) são constantes e iguais a 1.

64
Dado que as permeabilidades das regiões internas e externa têm o mesmo valor
para todos estes casos, as derivadas das pressões partem de um mesmo patamar no
radial inicial e convergem para um mesmo patamar no radial final, no gráfico log-log.
Pode-se notar que quanto menor o raio da região interna, menor o período de transição
entre os regimes radiais.

No gráfico de Horner, pode-se observar uma mesma inclinação do alinhamento


dos pontos de pressão para grandes intervalos de tempos e pequenos intervalos de
tempo (regime de fluxo corresponde ao primeiro e segundo regime radial).

Casos ID 3
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (r1 = 30 m)
∆P' (psi) (r1 = 30 m)
∆P (psi) (r1 = 10 m)
∆P' (psi) (r1 = 10 m)
∆P (psi) (r1 = 15 m)
∆P' (psi) (r1 = 15 m)
∆P (psi) (r1 = 60 m)
∆P' (psi) (r1 = 60 m)
∆P (psi) (r1 = 90 m)
∆P' (psi) (r1 = 90 m)
1
0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 36 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 3.

65
Casos ID 3
3.000
Gráfico de Horner

Pressão (psi) (r1 = 30 m)


2.800
Pressão (psi) (r1 = 10 m)
Pressão (psi) (r1 = 15 m)
2.600
Pressão (psi) (r1 = 60 m)
Pressão (psi)

p*= 2398 psi Pressão (psi) (r1 = 90 m)


2.400

2.200

2.000

1.800

1.600

1.400
1,0 10,0 100,0 1.000,0
(tp+t)/t

Figura 37 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 3.

Casos ID 4 - Parâmetro avaliado: Porosidade da região interna (ɸ1).

Na avaliação da porosidade da região interna (ɸ1), esta foi alterada para: 0,06,
0,08, 0,1, 0,2 e 0,3. As razões de mobilidade (M) destes casos são constantes e iguais a
0,1. As razões de armazenagem (S) são: 1,7, 1,25, 1, 0,5 e 0,3, respectivamente.

Dado que as permeabilidades das regiões internas e externa têm o mesmo valor
para todos estes casos, as derivadas das pressões partem de um mesmo patamar no
radial inicial e convergem para um mesmo patamar no radial final, no gráfico log-log.

No gráfico de Horner, pode-se observar uma mesma inclinação do alinhamento


dos pontos de pressão para grandes intervalos de tempos e curtos intervalos de tempo.

A porosidade influencia apenas no período de fluxo de transição entre os dois


regimes radiais, alterando praticamente o formato da curva neste período.

66
Casos ID 4
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (Phi1 = 0,1)


∆P' (psi) (Phi1 = 0,1)
∆P (psi) (Phi1 = 0,06 )
∆P' (psi) (Phi1 = 0,06 )
∆P (psi) (Phi 1 = 0,08)
∆P' (psi) (Phi1 = 0,08)
∆P (psi) (Phi 1 = 0,2)
∆P' (psi) (Phi 1 = 0,2)
∆P (psi) (Phi1 = 0,3)
∆P' (psi) (Phi 1 = 0,3)
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 38 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 4.

Casos ID 4
3.000
Gráfico de Horner

2.800 Pressão (psi) (Phi 1 = 0,1)


Pressão (psi) (Phi 1 = 0,06 )
2.600 Pressão (psi) (Phi 1 = 0,08)
Pressão (psi) (Phi 1 = 0,2)
Pressão (psi)

p*= 2398 psi


2.400 Pressão (psi) (Phi 1 = 0,3)

2.200

2.000

1.800

1.600

1.400
1,0 10,0 100,0 1.000,0
(tp+t)/t

Figura 39 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 4.

Casos ID 5 - Parâmetro avaliado: Porosidade da região externa (ɸ2).

Na avaliação da porosidade da região externa (ɸ2), esta foi alterada para: 0,06,
0,08, 0,1, 0,2 e 0,3. As razões de mobilidade (M) destes casos são constantes e iguais a
0,1. As razões de armazenagem (S) são: 0,6, 0,8, 1, 2 e 3, respectivamente.

67
Assim como no caso anterior, a porosidade da região externa influencia apenas na
região de transição entre os dois regimes radiais, alterando praticamente o formato da
curva neste período.

Casos ID 5
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (Phi2 = 0,1)


∆P' (psi) (Phi2 = 0,1)
∆P (psi) (Phi2 = 0,06 )
∆P' (psi) (Phi2 = 0,06 )
∆P (psi) (Phi 2 = 0,08)
∆P' (psi) (Phi2 = 0,08)
∆P (psi) (Phi 2 = 0,2)
∆P' (psi) (Phi 2 = 0,2)
∆P (psi) (Phi2 = 0,3)
∆P' (psi) (Phi 2 = 0,3)
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 40 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 5.

Casos ID 5
3.000
Gráfico de Horner

Pressão (psi) (Phi 2 = 0,1)


2.800 Pressão (psi) (Phi 2 = 0,06 )
Pressão (psi) (Phi 2 = 0,08)
2.600 Pressão (psi) (Phi 2 = 0,2)
Pressão (psi) (Phi 2 = 0,3)
Pressão (psi)

p*= 2398 psi


2.400

2.200

2.000

1.800

1.600

1.400
1,0 10,0 100,0 1.000,0
(tp+t)/t

Figura 41 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 5.

68
Casos ID 6 - Parâmetro avaliado: Skin do poço (s).

Na avaliação do skin do poço (s), este foi alterado para: -2, -1, 0, 1 e 2. As razões
de mobilidade (M) destes casos são constantes e iguais a 0,1. As razões de
armazenagem (S) são constantes e iguais a 1.

Como o skin não é função do tempo de fluxo, ou do tempo de estática, não se nota
uma variação da derivada da pressão quando este parâmetro é alterado. O skin do poço
representa um dano ou estímulo na região do poço, influenciando apenas na curva da
pressão, transladando para cima ou para baixo, a depender se o skin for positivo ou
negativo. Neste caso, a derivada da pressão é igual para todos os casos.

Casos ID 6
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (skin =0)


∆P' (psi) (skin = 0)
∆P (psi) (skin = -2)
∆P' (psi) (skin = -2)
∆P (psi) (skin = -1)
∆P' (psi) (skin = -1)
∆P (psi) (skin = 1)
∆P' (psi) (skin = 1)
∆P (psi) (skin = 2)
∆P' (psi) (skin = 2)
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 42 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 6.

69
Casos ID 6
3.000
Gráfico de Horner

Pressão (psi) (skin = 0)


2.800 Pressão (psi) (skin = -2)
Pressão (psi) (skin = -1)
2.600 Pressão (psi) (skin = 1)
Pressão (psi) (skin = 2)
Pressão (psi)

p*= 2398 psi


2.400

2.200

2.000

1.800

1.600

1.400
1,0 10,0 100,0 1.000,0
(tp+t)/t

Figura 43 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 6.

Casos ID 7 - Parâmetro avaliado: altura da região interna (h1).

Na avaliação da altura da região interna, esta foi alterada para: 11,5, 15, 20,7, 25,4
e 30 metros. As razões de mobilidade (M) destes casos são constantes e iguais a 0,1. As
razões de armazenagem (S) são constantes e iguais a 1.

Fazendo uma analogia ao modelo radial composto clássico, pode-se notar no


gráfico log-log que quanto menor a altura da região interna, maior o patamar de
estabilização do radial inicial. Isto se deve ao fato da menor permeabilidade média da
região próxima ao poço, ao diminuir a altura da região 1 o poço entra em contato com a
região 2, de menor permeabilidade.

A permeabilidade calculada no regime radial inicial foi comparada com a média


ponderada da permeabilidade pela sua altura e, verificou-se que os valores calculados
são menores que os valores da média ponderada (Figura 46).

Para o segundo radial, o patamar de estabilização é igual para todos os casos, pois
a permeabilidade da região externa é a mesma.

Como este caso não corresponde ao modelo radial composto clássico, a solução
analítica de Satman et al. não pode ser aplicada para este modelo na interpretação de um
teste de poço. Caso isto ocorra, a permeabilidade da região interna será sub ou
superestimada.

70
Casos ID 7
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (hregião 1 = 30 m)
∆P' (psi) (hregião 1 = 30 m)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m)
∆P (psi) (hregião1 = 15 m)
∆P' (psi) (hregião1 = 15 m)
∆P (psi) (hregião1 = 20,7 m)
∆P' (psi) (hregião1 = 20,7 m)
∆P (psi) (hregião 1 = 25,4 m )
∆P' (psi) (hregião 1 = 25,4 m )
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 44 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 7.

Casos ID 7
2.600
Gráfico de Horner

Pressão (psi) (hregião 1 = 30 m)


2.500 Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m)
p*= 2398 psi Pressão (psi) (hregião1 = 15 m)
2.400 Pressão (psi) (hregião 1 = 20,7 m)
Pressão (psi) (hregião 1 = 25,4 m )
Pressão (psi)

2.300

2.200

2.100

2.000

1.900

1.800
1,0 10,0 100,0 1.000,0
(tp+t)/t

Figura 45 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 7.

71
110
100 interpretação regime radial
média ponderada
90
80
Permeabilidade mD
70
60
50
40
30
20
10
0
h1 = 11,5 m h1 = 15 m h1 = 20 m h1 = 25 m h1 = 30 m

Espessura da Região 1

Figura 46 - Comparação da permeabilidade da região 1, calculada pelo modelo


radial composto e pela média ponderada da permeabilidade pela altura da região
1.

Casos ID 8 - Parâmetro avaliado: raio da região interna (r1), quando h1<hres.

Na avaliação do raio da região interna, quando a altura da região interna é menor


que a altura do reservatório, este foi alterado para: 30, 40, 55, 65, e 90 metros. As razões
de mobilidade (M) destes casos são constantes e iguais a 0,1. As razões de
armazenagem (S) são constantes e iguais a 1.

Fazendo uma comparação ao caso de ID 3, pode-se notar no gráfico log-log que


quanto menor o raio da região 1, menor o período de transição entre os regimes radiais.
Uma diferença observada em relação ao modelo radial composto clássico é que, para
este modelo, o raio da região interna afetará no patamar do radial inicial, dado que
quanto maior o raio desta região maior será a permeabilidade média da zona próxima ao
poço.

Para o segundo radial, o patamar de estabilização é igual para todos os casos, pois
permeabilidade da região externa é a mesma.

Assim como o caso anterior, não se pode aplicar a solução analítica do modelo
radial composto clássica para interpretação deste modelo.

72
Casos ID 8
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 30 m)


∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 30 m)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 40 m)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 40 m)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 55 m)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 55 m)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 65 m)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 65 m)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m)
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 47 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 8.

Casos ID 8
2.600
Gráfico de Horner

Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 30 m)


2.500 Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 40 m)
p*= 2398 psi Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 55 m)
2.400 Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 65 m)
Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m)
Pressão (psi)

2.300

2.200

2.100

2.000

1.900

1.800
1,0 10,0 100,0 1.000,0
(tp+t)/t

Figura 48 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 8.

Casos ID 9 - Parâmetro avaliado: permeabilidade da região interna (k1),


quando h1<hres.

Na avaliação da permeabilidade da região interna, quando a altura da região


interna é menor que a altura do reservatório, esta foi alterada para: 25, 50, 100, 150, e

73
200 mD. As razões de mobilidade (M) destes casos são: 0,4, 0,2, 0,1, 0,06 e 0,05,
respectivamente. As razões de armazenagem (S) são constantes e iguais a 1.

Fazendo uma comparação ao caso de ID 1, pode-se notar no gráfico log-log o


mesmo comportamento observado para um modelo radial composto clássico. Quanto
maior a permeabilidade da região 1, maior a permeabilidade média da zona próxima ao
poço, resultando em um menor patamar de estabilização do radial inicial. Nestes casos,
porém, não existe a relação entre a distância dos regimes radiais com a razão de
mobilidade.

Para o segundo radial, o patamar de estabilização é igual para todos os casos, pois
permeabilidade da região externa é a mesma.

Assim como o caso anterior, não se pode aplicar a solução analítica do modelo
radial composto clássica para interpretação deste modelo.

Casos ID 9
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 100)


∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 100)
∆P (psi) ((hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 25)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 25)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 50)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 50)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 150)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 150)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 200)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 200)
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 49 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 9.

74
Casos ID 9
2.600
Gráfico de Horner
Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 100)
2.500 Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 25)
Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 50)
p*= 2398 psi Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k1 = 150)
Pressão (psi) (hres/hr1 = 2,6 Rr1/hres =3 k1 = 200)
2.400
Pressão (psi)

2.300

2.200

2.100

2.000

1.900

1.800
1,0 10,0 100,0 1.000,0 10.000,0
(tp+t)/t

Figura 50 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 9.

Casos ID 10 - Parâmetro avaliado: permeabilidade da região externa (k2),


quando h1<hres.

Na avaliação da permeabilidade da região externa (k2), esta foi alterada para: 2, 5,


10, 20 e 50 mD. As razões de mobilidade (M) destes casos são: 0,02, 0,05, 0,1, 0,2 e
0,5, respectivamente. As razões de armazenagem (S) são constantes e iguais a 1.

Este caso não pode ser comparado com nenhum dos casos do modelo radial
composto clássico. Ao variar a permeabilidade da região externa, esta impactará tanto
na permeabilidade média da região próxima ao poço, influenciando também no regime
radial inicial, quanto na região externa, influenciando o segundo regime radial.

Pode-se notar no gráfico log-log que quanto menor a permeabilidade da região


externa, maior o patamar de estabilização dos regimes de fluxo radial inicial e radial
final.

Outro importante fato observado na análise deste caso, foi o surgimento de um


provável efeito “V-shape” para casos de grande contraste entre as permeabilidades da
região 1 e região 2 (curva verde). Segundo Horne (1995), este fenômeno pode ocorrer
em reservatórios estratificados com fluxo cruzado entre as camadas e reservatórios de
dupla-porosidade.

75
A Figura 53 ilustra o caso em que a permeabilidade da região externa é igual a 2 e
50 mD. Nota-se que quanto maior o contraste entre as regiões, maior é a depleção da
região de maior permeabilidade, podendo acarretar no fluxo cruzado entre as regiões.

A Tabela 5 ilustra o resumo dos resultados obtidos na análise de sensibilidade dos


parâmetros do modelo radial composto.

Casos ID 10
1.000

100
P e P' (psi)

10 ∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 10)


∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 10)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 2)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 2)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 5)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 5)
∆P (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 20)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 20)
∆P (psi) ((hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 50)
∆P' (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 50)
1
0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 51 - Gráfico log-log, sensibilidade ID 10.

Casos ID 10
2.600
Gráfico de Horner
Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 10)
2.500 Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 2)
Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 5)
p*= 2398 psi Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 20)
Pressão (psi) (hregião1 = 11,5 m R1 = 90 m k2 = 50)
2.400
Pressão (psi)

2.300

2.200

2.100

2.000

1.900

1.800
1,0 10,0 100,0 1.000,0 10.000,0
(tp+t)/t

Figura 52 - Gráfico de Horner, sensibilidade ID 10.


76
Figura 53 - Mapa de pressão @ datum (psi) para os casos de ID 10 (k2=2 e k2=50),
para tempo = 72horas.

77
Tabela 5 - Resumo dos resultados da análise de sensibilidade.

ID Parâmetro avaliado Comentário

 Altera apenas o patamar de estabilização do regime radial inicial.


 Quanto maior o valor de k1, menor o valor do patamar de
estabilização.
1 Permeabilidade da região interna (k1)  Quanto maior o valor de k1, maior o período de transição entre
os regimes radiais.
 Parâmetro pode ser calculado pela inclinação da reta (m) no
gráfico semilog.
 Altera apenas o patamar de estabilização do regime radial final.
 Quanto maior o valor de k2, menor o valor do patamar de
estabilização.
2 Permeabilidade da região externa (k2)  Quanto maior o valor de k2, menor o período de transição entre
os regimes radiais.
 Parâmetro pode ser calculado pela inclinação da reta (mM) no
gráfico semilog.
 Altera apenas o tempo de início de transição entre os regimes
3 Raio da região interna (R1) radial inicial e final.
 Quanto maior o valor de R1, maior o tempo do início da
transição.
 Altera apenas o formato da curva no período de transição.
4 Porosidade da região interna (ɸ1)

 Altera apenas o formato da curva no período de transição.


5 Porosidade da região externa (ɸ2)

 Altera apenas o valor de p. Por ser independente do tempo de


6 Skin do poço (s) fluxo ou estática, não influencia na derivada da pressão.
 Quanto maior o valor de s, maior o valor de p para uma mesma
vazão.
 Altera o patamar de estabilização do regime radial inicial.
 Quanto menor o valor de h1, maior o patamar de estabilização do
7 Altura da região interna (h1) regime radial inicial.
 Quando h1<hres a permeabilidade da região interna não pode ser
calculada pela inclinação da reta (m) no gráfico semilog.
 Altera o patamar de estabilização do regime radial inicial.
Raio da região interna (R1) quando  Quanto menor o valor de R1, maior o patamar de estabilização do
8 regime radial inicial.
h1=11,5 m
 A permeabilidade da região interna não pode ser calculada pela
inclinação da reta (m) no gráfico semilog.
 Altera o patamar de estabilização do regime radial inicial.
Permeabilidade da região interna (k1)  Quanto menor o valor de k1, maior o patamar de estabilização do
9 regime radial inicial.
quando h1=11,5 m e R1=90 m
 A permeabilidade da região interna não pode ser calculada pela
inclinação da reta (m) no gráfico semilog.
 Altera o patamar de estabilização do regime radial inicial e final.
Permeabilidade da região externa (k2)  Quanto menor o valor de k2, maior o patamar de estabilização do
10 regime radial inicial e final.
quando h1=11,5 m e R1=90 m
 A permeabilidade da região externa não pode ser calculada pela
inclinação da reta (Mm) no gráfico semilog.

78
5.2 AVALIAÇÃO MODELO FRATURADO

No modelo de poço fraturado com condutividade infinita, o poço intercepta um


plano simétrico vertical da fratura de comprimento de meia asa3 (xf) e a altura da fratura
é igual a altura do reservatório, conforme ilustrado na Figura 54.

A permeabilidade e espessura adimensionais da fratura são expressas,


respectivamente, por:

(5-1)

(5-2)

onde k é a permeabilidade do reservatório, kf é a permeabilidade da fratura, w é a largura


da fratura.

Segundo HORNE (1995), se o produto kfD wfD for maior que 300, a condutividade
da fratura pode ser considera infinita. A resposta da pressão da fratura de condutividade
infinita é caracterizada por um fluxo linear (Figura 55), onde a queda de pressão é
expressa por:


( ) (5-3)

No gráfico loglog, o regime de fluxo linear é identificado por uma reta com
inclinação de ½, seguido pelo regime de fluxo pseudo-radial, quando as linhas de fluxo
convergem de todas as direções do reservatório, identificado por uma linha reta
horizontal (Figura 56).

3
Meia asa da fratura representa a metade do comprimento total de propagação da fratura.

79
Figura 54 - Modelo de poço fraturado com condutividade infinita (HORNE, 1995).

Figura 55 - Regimes de fluxo do modelo de poço fraturado com condutividade


infinita (modificado de HORNE, 1995).

Figura 56 - Gráfico log-log do modelo de poço fraturado com condutividade


infinita (modificado de BOURDET, 2002).

80
Na avaliação da aplicação do modelo radial composto para a representatividade do
modelo de poço fraturado com condutividade infinita, a permeabilidade da região
interna foi alterada para 200, 500, 1.000, 2.000 e 3.000 mD, enquanto que a
permeabilidade da região externa foi mantida constante igual a 10 mD. As razões de
mobilidade foram respectivamente 0,05, 0,02, 0,01, 0,0005 e 0,0033.

Para esta análise, o reservatório possui 30 m de espessura e o raio da região


interna (R1) é igual a 15 m.

Conforme ilustrado na Figura 57, o regime radial inicial não é percebido a partir
de k1 = 1.000 mD (curva laranja), o que seria equivalente a uma razão de mobilidade
(M) igual a 0,01, ou ainda, k1 100 vezes maior que k2.

As pressões deste caso (k1 = 1.000 mD) foram importadas no Pansystem e foi feita
uma interpretação utilizando o modelo analítico de poço fraturado de condutividade
infinita.

Conforme mostrado na tabela com o resultado da interpretação na Figura 58, a


permeabilidade interpretada para o reservatório foi de 8,8 mD e o comprimento da meia
asa da fratura (xf) foi de 14,7m. Os valores interpretados foram coerentes com os valores
do modelo radial composto (k2 = 10 mD e R1 =15 m).

81
Verificação do limite de poço fraturado
1.000,0 Modelo Radial Composto

100,0
P e P' (psi)

10,0 ∆P (psi) (kregião1 = 200 mD | kregião2 = 10 mD)


∆P' (psi) (kregião1 = 200 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 500 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 500 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 1000 mD | kregião2 = 10 mD)
1,0 ∆P' (psi) (kregião1 = 1000 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 2000 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 2000 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 3000 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 3000 mD | kregião2 = 10 mD)
0,1
0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 57 - Avaliação do limite da razão de mobilidade para a representação do


modelo de poço fraturado com condutividade infinita (R1=15m).

Figura 58 - Interpretação do caso h1=30m e r1=15m utilizando o modelo analítico


de poço fraturado com condutividade infinita.

Para avaliar a influência do comprimento do raio da região interna na aplicação do


modelo radial composto como modelo de poço fraturado com condutividade infinita,
este parâmetro foi alterado para 30 m e os resultados foram comparados com os
resultados do caso anterior.
82
Conforme ilustrado na Figura 59, pode-se notar que quanto maior o comprimento
do raio da região interna, maior deve ser a permeabilidade desta região para que o
regime radial inicial não seja notado. Para o caso de R1 = 30 m, a permeabilidade da
região interna precisou ser na ordem de 2.000 mD, ou seja, k1 200 vezes maior do que
k2.

Conclui-se assim que o limite para a aplicação do modelo radial composto na


representação do modelo de poço fraturado com condutividade infinita é função do
comprimento da meia asa da fratura e da relação k2/k1. Quanto maior o comprimento da
meia asa da fratura, maior deve ser a o valor da relação k2/k1. Para comprimentos de
meia asa da fratura na ordem de 15 m, a relação k2/k1 = 100 é suficiente, já para
comprimentos de meia asa da fratura na ordem de 30 m seria necessário valores na
ordem de 200 para a relação k2/k1.

Verificação do limite de poço fraturado


1.000,0 Modelo Radial Composto

100,0
P e P' (psi)

10,0 ∆P (psi) (kregião1 = 200 mD | kregião2 = 10 mD)


∆P' (psi) (kregião1 = 200 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 500 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 500 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 1000 mD | kregião2 = 10 mD)
1,0 ∆P' (psi) (kregião1 = 1000 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 2000 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 2000 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P (psi) (kregião1 = 3000 mD | kregião2 = 10 mD)
∆P' (psi) (kregião1 = 3000 mD | kregião2 = 10 mD)
0,1
0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 1.000,00
t (horas)

Figura 59 - Avaliação do limite da razão de mobilidade para a representação


do modelo de poço fraturado com condutividade infinita (R1=30m).

Outro cenário avaliado foi para o caso do modelo radial composto onde a
espessura da região interna é menor do que a espessura do reservatório. Isso seria
equivalente a um caso onde a altura da fratura também não corresponde à espessura do
reservatório.

83
Para esta avaliação, foi considerado 20 metros para a espessura da região interna
(h1=20 m), 15 metros para o raio da região 1 (R1 = 15) e os mesmos valores de
permeabilidade dos casos anteriores (200, 500, 1.000, 2.000 e 3.000 mD para região
interna e 10 mD para a região externa).

As pressões e derivadas de pressões desses casos foram plotadas no mesmo


gráfico da análise do modelo radial composto clássico, onde o raio da região 1 era igual
à 15 m. Conforme ilustrado na Figura 60, não foi observado o mesmo comportamento
do modelo radial composto clássico. Todos esses casos apresentaram um longo período
radial inicial, indicando que o regime de fluxo se mantém no regime radial ao invés do
regime linear.

Neste caso, este modelo não poderia ser utilizado para representar o poço vertical
fraturado com condutividade infinita.
Verificação do limite de poço fraturado
10,000 Modelo Radial Composto

1,000
P e P' (psi)

100

∆P (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=200 )


∆P' (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m| k=200 )
∆P (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=500 )
10 ∆P' (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=500 )
∆P (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=1000 )
∆P' (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=1000 )
∆P (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=2000 )
∆P' (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=2000 )
∆P (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=3000 )
1 ∆P' (psi) (h região1 = 20 m | r região1 = 15 m | k=3000 )
0.01 0.10 1.00 10.00 100.00 1,000.00
t (horas)

Figura 60 - Avaliação da espessura da região interna para a representação do


modelo de poço fraturado com condutividade infinita (h1=15m).

5.3 CURVAS-TIPO

Neste trabalho foram geradas novas curvas-tipo de interpretação de teste, onde a


relação espessura do reservatório pela espessura da região interna é igual a 2 (hres/h1 =
2) e a relação espessura da região interna e raio da região interna é igual a 1 (h1/R1 = 1).
A Figura 61 ilustra esse tipo de reservatório.

84
Conforme procedimento descrito na seção 4.3, foram elaboradas as curvas tipo
ilustradas na Figura 62 que podem ser utilizadas para a determinação das
permeabilidades em reservatórios com proporções detalhadas nesta seção e skin de poço
igual a zero.

Figura 61 - Geometria do reservatório o qual foram elaboradas curvas-tipo.

85
Type-Curves
1.E+02
Razão de Mobilidade
CD = 0
Skin = 0
S=1
h(res)/h(r1) = 2
h(r1)/L(r1) = 1

1.E+01 M=3
M=2
Pd e Pd'

M=1

M = 0,4
M = 0,3
M = 0,2

M = 0,1

M = 0,05

1.E+00 M=3
M=2
M=1
M = 0,4
M = 0,3
M = 0,2
M = 0,1
M = 0,05

1.E-01
1.E+04 1.E+05 1.E+06 1.E+07 1.E+08
td

Figura 62 - Curva-tipo para determinação da razão de mobilidade (M) para casos


onde razão hres/h1 =2, h1/R1 =1 e skin = 0.

Normalmente, para a interpretação do skin pela técnica das curvas-tipo, após o


ajuste da derivada de pressão do teste com a derivada da pressão adimensional da curva-
tipo adequada, ajusta-se a pressão do teste com a pressão adimensional da curva-tipo
adequada.

Na tentativa de elaboração das curvas de pressão adimensional para um caso


particular deste estudo, foram obtidas diferentes derivadas adimensionais (Figura 63)
para o mesmo modelo de reservatório. Este fato não foi observado no modelo radial
composto clássico (Figura 42). Neste caso, as curvas-tipo aqui elaboradas só podem ser
utilizadas para os casos em que o poço não esteja danificado ou estimulado.

Uma vez que o skin do poço não é função do tempo de fluxo e nem de estática,
não era esperada essa resposta na derivada da pressão. Este fato merece ser melhor
investigado em trabalhos futuros.

86
Type-Curves
1.E+01 Skin

skin = 2
skin = 1
skin = 0
skin = -1

skin = -2
1.E+00
Pd e Pd'

skin = 2
skin = 1
skin = 0
skin = -1
skin = -2

1.E-01

CD = 0
M = 0,1
h(res)/h(r1) = 2
h(r1)/L(r1) = 1

1.E-02
1.E+04 1.E+05 1.E+06 1.E+07 1.E+08
td

Figura 63 - Curvas-tipo para determinação do skin para casos onde hres/hr =2, h1/R1
=1 e M = 0,1.

5.4 APLICAÇÃO DAS NOVAS CURVAS-TIPO

Para demostrar a aplicação das curvas-tipo geradas neste estudo, foi realizado um
estudo de caso onde são comparados os valores de permeabilidade interpretados com a
utilização das curvas-tipo elaboradas neste estudo e as curvas-tipo do modelo radial
composto clássico.

Foi construído um modelo com o dobro das dimensões do modelo utilizado para a
criação das curvas tipo, com espessura do reservatório igual a 60 m e espessura da
região interna igual a 30 m, de forma a preservar a relação espessura do reservatório
pela espessura região interna igual a 2 (hres/h1 =2). A Figura 64 ilustra
esquematicamente a comparação destes dois modelos.

Após a simulação do novo modelo com o dobro das dimensões, as pressões foram
exportadas e o gráfico log-log foi construído. A partir do gráfico log-log, foram
interpretadas as permeabilidades do modelo com as curvas-tipo geradas neste trabalho
(Figura 65) e com as curvas tipo do modelo radial composto clássico (Figura 66).

Conforme demostrado na Tabela 6, os resultados das interpretações apresentam


grande diferença permeabilidade da região interna. Isto se deve pelo fato da solução

87
analítica do modelo radial composto clássico considerar o valor da permeabilidade da
região 1 para toda a espessura do reservatório.

Figura 64 - Modelo utilizado para a geração das curvas-tipo (esquerda) x modelo


utilizado para o estudo de caso (direita).

Figura 65 – Interpretação do teste utilizando as curvas-tipo geradas neste estudo.

88
Figura 66 – Interpretação do teste utilizando as curvas-tipo do modelo radial
composto clássico.

Tabela 6 - Comparação da interpretação utilizando as curvas-tipo deste estudo e as


curvas-tipo do modelo radial composto clássico.

Parâmetro Valor

Interpretação utilizando as curva- k1 201,55 mD


tipo gerada neste estudo k2 40,30 mD

Interpretação utilizando as curva- k1 58,93 mD


tipo do modelo radial composto k2 35,36 mD

k1 200 mD
Valor do modelo numérico
k2 40 mD

Para a avaliação do impacto de uma interpretação incorreta na previsão de


produção de um campo de petróleo, foram comparadas as previsões de produção
durante 5 anos para um modelo com as propriedades interpretadas corretamente e
incorretamente. A comparação dos perfis de produção está ilustrada na Figura 67.

89
Apesar de se conseguir um bom ajuste do teste de poço com as duas soluções, os
perfis de produção dos dois modelos podem ser bastante diferentes, acarretando em
tomadas de decisão divergentes. Através da figura, é possível observar uma redução no
tempo de patamar de produção e na acumulada de óleo final para o caso em que foi
utilizada a interpretação errada.

Figura 67 – Comparação do perfil de produção (interpretação correta x


interpretação errada).

90
CAPÍTULO 6 – Conclusões

Neste trabalho, foi avaliada computacionalmente a influência das propriedades do


modelo radial composto na pressão de fundo de um poço vertical.

Através da análise de sensibilidade realizada neste estudo, foi possível verificar,


através de gráficos de interpretação de testes de formação, o comportamento da pressão
de fundo e sua derivada para diversos valores de permeabilidade das regiões interna e
externa, porosidade das regiões interna e externa, skin do poço e raio da região interna.

Foi verificada também a aplicabilidade do modelo radial composto na


representação do modelo de poço fraturado com condutividade infinita. A depender do
comprimento do raio da região interna, valores de razão de mobilidade (M) na ordem de
0,01 já são suficientes para tal representatividade. Porém, quanto maior o raio da região
interna, que equivale à meia asa da fratura, maior deve ser o valor de M.

Para os casos em que a altura da região interna não é igual a altura do reservatório,
não é possível utilizar o modelo radial composto na representação do modelo de poço
fraturado.

Foram elaboradas curvas-tipo de interpretação de teste de poço para os casos


derivados do modelo radial composto clássico, onde a espessura da região interna é
menor do que a espessura do reservatório. Essas podem ser utilizadas para a
interpretação de testes para reservatórios com características similares. Através da
aplicação da metodologia adotada neste trabalho para a geração das curvas-tipo, é
possível criar novas curvas-tipo para qualquer geometria da região interna ou externa.

O estudo de caso mostrou a importância da escolha correta do modelo de


interpretação para o cálculo das propriedades de um reservatório. No caso da escolha do
modelo errado, poderia haver uma super ou subestimação das propriedades, podendo
impactar na previsão de produção de um campo.

O simulador numérico demostrou ser uma poderosa ferramenta para auxiliar na


interpretação de testes de formação. Para modelos de reservatórios mais simples, as
soluções analíticas são suficientes, mas para modelos heterogêneos e de geometria mais
complexa, a solução numérica é mais indicada.

91
6.1 PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS

Outros estudos envolvendo o modelo radial composto clássico e seu derivado


(onde a espessura da região interna é menor do que a espessura do reservatório) podem
ser feitos para complementar este estudo:

1) Não foram avaliados casos em que a região de maior permeabilidade se encontra


no topo ou na base do reservatório. Uma investigação da influência do
posicionamento desta região na pressão de fundo do poço se faz necessária.

2) Na elaboração das curvas-tipo, para os casos onde h1<hres, foi observada uma
variação do posicionamento do patamar de estabilização do radial inicial, na
curva da derivada da pressão, quando o skin do poço foi variado. Este
comportamento não era esperado e merece uma maior investigação, dado que o
skin do poço não é função do tempo de estática ou tempo de fluxo.

3) Investigação da relação da permeabilidade interpretada com a média ponderada


da permeabilidade com a espessura na região interna, para os casos em que a
espessura da região interna é menor do que a espessura do reservatório.

4) Investigação da relação do raio e permeabilidade da região interna para o limite


de aplicação do modelo radial composto na representação do modelo fraturado
com condutividade infinita.

92
CAPÍTULO 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, J. H. A.; JAMIOLAHMADY, M. “Well Test Analysis in Tight Gas


Reservoirs”. Spe 121113, n. SPE EUROPEC/EAGE annual conference and exhibition,
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Reservoir”. SPE 28393, n. 8, p. 241–246, 1995.

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Composite Reservoir”. SPE 20579, v. 9, n. 4, p. 306–307, 1993.

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Formation and Well Testing Convolution, Deconvolution and Nonlinear
Estimation. First edition. ELSEVIER, 2010.

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2011, 2013.

XIAN, C.; CARNEGIE, C. “Efficient Approach To Perform IPTT Interpretation”.


SPE 88561, 2004.

95
APÊNDICES

APÊNDICE A – ROTEIRO DE INTERPRETAÇÃO DE TESTES DE CRESCIMENTO DE


PRESSÃO ....................................................................................................... 97
APÊNDICE B – A EQUAÇÃO DA DIFUSIVIDADE HIDRÁULICA ................................... 99
APÊNDICE C – MÉTODO IMPES – SOLUÇÃO COMPLETA PARA UM SISTEMA
BIFÁSICO ..................................................................................................... 104

96
APÊNDICE A – ROTEIRO DE INTERPRETAÇÃO DE
TESTES DE CRESCIMENTO DE PRESSÃO

Roteiro do gráfico log-log, utilizando sistema de unidade Americano:

1. Identifique o valor da pressão ao final do período de fluxo no instante de


fechamento do poço (pwf,s);
2. Calcule ps = pws(t) - pwf,s para todos os pontos de estática;
3. Determine o tempo de fluxo (tp). Calcule para cada tempo de fechamento (t) o
valor associado do tempo equivalente (te) com a equação:


 (A-1)

4. Calcule a derivada de os em relação ao log natural do tempo equivalente


usando o algoritmo de Bourdet;
5. Plote os dados de ps x te e de p’s x te num mesmo gráfico log-log;
6. Identifique os regimes de fluxo (estocagem pura, radial infinito, falha selante,
linear, etc).

Roteiro do gráfico semilog ou gráfico de Horner:

1. Faça um gráfico das pressões medidas na estática contra o log {(tp+t)/t}


2. Trace uma reta pelos pontos do gráfico, onde se pode observar uma tendência
linear (regime radial);
3. Calcule a inclinação da reta (- m) e (-mM) se forem observados os dois regimes
radiais do modelo radial composto;
4. A permeabilidade da região interna é calculada por:

(A-2)

5. A permeabilidade da região externa é calculada por:

97
(A-3)

6. Extrapole a linha reta para um tempo de fechamento infinito, ou seja, para


(tp+t)/t = 1 para obter a pressão p* conhecida como pressão extrapolada.
7. Calcule o skin do poço (s) pela equação:

( ) (A-4)

Observações:

1) Para testes de formação com comportamento de reservatório de extensão


infinita, a pressão extrapolada p* obtida do gráfico de Horner é igual a pressão
inicial do reservatório pi.
2) Nos testes em que as fronteiras afetam o comportamento das pressões no poço,
p* não pode ser usado para estimar a pressão inicial.

98
APÊNDICE B – A EQUAÇÃO DA DIFUSIVIDADE
HIDRÁULICA

Equação da conservação da Massa (Continuidade)

A aplicação do princípio geral da conservação de uma propriedade ao volume de


controle da Figura A1 nos fornece, para o caso monofásico:

∑ ̇ ̇ ̇ (B-1)

Figura A 1 - Volume de controle para derivação das equações de


conservação.

Sabendo que:

( ) (B-2)

( ) ( ( )) (B-3)

̇ ̇ (B-4)

99
E que a massa que entra no volume de controle é dada por:

[( ) ( ) ( ) ] (B-5)

Enquanto que a massa que deixa o volume de controle é:

( ( )) ( ( )) ( ( )) (B-6)

Podemos aplicar na equação (A-1) e obter:

( ) [( ) ( ) ( ) ] ̇ (B-7)

Fazendo o limite para t, x, y, z tenderem a zero obtemos:

( ) ( ) ( ) ( )
̇ (B-8)

Ou ainda:

( )
⃗ ( ⃗) ̇ (B-9)

Que é a equação da conservação da massa.

A Lei de Darcy

A equação de maior utilização prática em meios porosos foi formulada por Henry
Darcy, em 1856, ao estudar problemas de tratamento de água, através de filtros de areia.
Sua conclusão foi a de que a vazão através de um meio poroso é proporcional à área de
fluxo, ao diferencial de pressão, e inversamente proporcional ao comprimento.

100
Posteriormente sua equação foi aprimorada para poder descrever o escoamento de
outros fluidos, além da água.

A equação de Darcy tem a seguinte forma:

̂
(B-10)

Ou ainda:

̂
⃗ (B-11)

Onde ̂ é o tensor permeabilidade dado por:

̂ [ ] (B-12)

Substituindo a equação da Lei de Darcy na equação da continuidade temos:

( ) ̂
⃗ ( ) ̇ (B-13)

Rearranjando temos:

( ) ̂
⃗ ( ) ̇ (B-14)

Onde o primeiro termo da equação é o termo transiente:

( )
(B-15)

101
Como ( )e ( ) a equação A-15 pode ser escrita como:

( )
(B-16)

Por definição e , substituindo na equação A-16:

( )
(B-17)

( )
(B-18)

O segundo termo da equação A-14 é o termo difusivo:

̂ ̂ ̂
⃗ ( ) ⃗ ( ) (B-19)

̂ ̂ ̂
⃗ ( ) ⃗ ( ) (B-20)

̂ ̂ ̂
⃗ ( ) ⃗ ( ) ( ) (B-21)

Como a compressibilidade dos líquidos é muito pequena e constante, então para


baixas velocidades (gradiente de pressão pequeno), o produto ( ) é desprezível.
Assim, podemos reescrever a equação A-14 da seguinte forma:

̂
⃗ ( ) ̇ (B-22)

Dividido ambos os lados por :


102
̂
⃗ ( ) ̇ (B-23)

Que é a equação da difusividade hidráulica.

103
APÊNDICE C – MÉTODO IMPES – SOLUÇÃO
COMPLETA PARA UM SISTEMA BIFÁSICO

Para um sistema bifásico, as equações de conservação de massa para cada uma


das fases são representadas por:

a) Fase óleo:

( ) ( ) ( ) ( ) (C-1)

b) Fase água:

( ) ( ) ( ) ( ) (C-2)

Para completar o sistema, necessita-se das equações de pressão capilar e soma das
saturações das fases:

(C-3)

(C-4)

Substituindo-se as pressões da fase água e obtém-se:

a) Fase óleo:

[ ( )] [ ( )] [ ( )]
( ) (C-5)
( )

104
b) Fase água:

[ ( )] [ ( )]
(C-6)
[ ( )] ( )

Introduzindo a seguinte notação:

[ ] [ ] [ ] (C-7)

[ ] [ ] [ ] (C-8)

[ ] [ ] [ ] (C-9)

E substituindo na equação de balanço de massa:

a) Fase óleo:

( )
[ ] [ ] [ ] ( ) (C-10)

b) Fase água:

[ ] [ ] [ ]
(C-11)
( )

Considerando:

(C-12)

(C-13)

105
A discretização geométrica pelo método das diferenças finitas para um sistema
unidimensional resulta em:

a) Fase óleo:

( )
( ) ( ) [ ] (C-14)

b) Fase água:

( ) ( ) [ ] (C-15)

Fazendo a discretização temporal do sistema acima, obtém-se:

a) Fase óleo:

( ) ( )

[( ( ) )( )( ) (C-16)

( ) ( )]

b) Fase água:

( ) ( )

[( ( )) ( ) ( ) ( )] (C-17)

onde:

( )
(C-18)
( )

106
[( ) ( )]
(C-19)
( )
( )

As equações acima representam a discretização espacial e temporal de um sistema


bifásico e unidimensional

107

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