DOCENTE: RAONI PERRUCCI TOLEDO MACHADO DISCENTE: RODRIGO DE SOUZA ALVES
O Surf e suas características
Simplesmente é de tirar o fôlego. O surf, umas das atividades esportivas de aventura
mais radicais do mundo, ascendeu à vontade em milhares de jovens a buscar um estilo de vida livre e de encontrar um propósito que não fosse somente seguir as regras da sociedade. Assim como os oceanos que estão em constante fluxo, esses praticantes que estão frequentemente em contato com o meio-líquido, se veem como uma garrafa flutuante e dentro dela uma mensagem de coragem, resistência e determinação. Mesmo sabendo da possibilidade de se estar à mercê dos ventos e correntes, de que a rendição pode ser a única e boa opção diante da grandeza de uma onda, ainda assim, são capazes de se tornarem flexíveis como a alga marinha e ao mesmo tempo ágeis como um peixe, chegando ao ponto de equilíbrio sobre a prancha e juntos se tornarem a própria água. O surf como muito já se sabe é uma atividade que surgiu no auge do movimento de contracultura, o que foi vantajoso para fortalecer e influenciar o esporte, assim como a gênese de práticas corporais na natureza que antes ocorriam à margem de uma sociedade conservadora, ou por meio de fuga da esfera urbana e que agora ocupa lugar nas diferentes intersecções do cotidiano. Transformações na areia e no mar, atraíram diferentes grupos, que compartilhavam a sensação de liberdade que se gerou nesses espaços. Para melhor compreender as características dessa modalidade e entender a relação entre a prática esportiva e o contexto sociocultural, é preciso perceber como os sentidos e significados de um esporte vão se ressignificando ao longo do tempo. Dessa forma, as transformações econômicas, sociais, políticas e culturais analisadas na segunda metade do século XX, nos chama a atenção que é comum a indústria cultural se apropriar dos conceitos presentes nas modalidades e transformá-los. A cultura midiática impulsionou esse processo, tonando-se um catalizador para a sociedade de consumo, propiciando o esporte-espetáculo esportivo, se transformasse em meio de propaganda de capitais de consumo destinados a públicos de massa e ressignificando seus conceitos. Mesmo assim, muitos praticantes concebem o surf e seu ímpeto como estilo de vida alternativo e não como esporte, ou seja, a questão não é o sucesso e sim a experiência. É perseguir a verdadeira liberdade e manter o espírito livre bem diferente dos valores disciplinares, hierárquicos e nacionalistas que são vivenciados no regime olímpico. Por isso, é importante entendermos o contexto histórico dessas transformações sem darmos juízo de valor à essas metamorfoses que continuarão ocorrendo. Quando pensamos em surf, naturalmente pensamos em ondas, sejam grandes, pequenas, curvas, cheias, ou dos mais vários tipos, as ondas estão no centro da prática do surf. A formação das ondas é essencialmente a consequência de um fenômeno meteorológico, resultado da interação entre a energia solar e nosso planeta Terra. Nesse contexto, a formação e a mecânica das ondas podem se dar pela transformação do aquecimento solar em ventos, a transmissão da energia do vento para as águas do oceano – formando as ondas – e a dispersão da energia da onda quando essa quebra na área costeira. A ligação do praticante com o meio- líquido – nesse caso as ondas – está diretamente relacionada com a exploração do medo, coragem e ambição. Aprender a surfar é aprender a ler o oceano e as ondas, passar um tempo observando, estudando e vivenciando as ondas na praia é o primeiro passo para se entender o surf. Ainda como lugar de fuga, atraídos pelo conceito de liberdade e a sensitividade pela energia do oceano, os praticantes desafiavam a própria hierarquia do esporte em buscar fazer algo diferente como pegar ondas grandes, abrindo o mar e mudando o cenário do próprio surf. Neste sentido, podemos perceber como os sentidos e significados de um esporte vão mudando no decorrer do tempo. Existem muitas transformações e possibilidades que o surf é capaz de fazer na vida de quem o pratica ensinando os benefícios da simplicidade voluntária. Em sua essência, é quando se renuncia a coisas materiais em troca de ter mais tempo para aproveitar uma vida simples, mas muito mais prazerosa. O que move muitos desses surfistas é a concepção de que é possível uma ligação íntima com o mar, proporcionando aberturas para uma nova consciência. O próprio funcionamento do surf favorece atitudes de contemplação: um indivíduo, sozinho, em profunda harmonia com a natureza, tendo que observar e entender os seus sinais para pegar a melhor onda. Tornando-se como uma prática de meditação para muitos, um momento de grande equilíbrio e sintonia entre o ser humano e o meio líquido.
Referências:
ALVES, Vladimir Zamorano; MELO, Victor Andrade. Um novo barato: surfe e
contracultura no Rio de Janeiro dos anos 1970. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 39, n. 1, p. 2-9, 2017.