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O texto discorre sobre o crescimento do interesse pelas expressões

tradicionais de cultura, traçando um histórico sobre alguns dos


movimentos artísticos brasileiros que tinham entre seus objetivos o
resgate do folclore e sua inserção e apreciação na cena musical da época,
mesmo que de diferentes formas. O que é destacado repetidamente ao
longo do texto é que esse redescobrimento do folclore quase sempre se
caracterizou por ser uma bandeira levantada pelos jovens, notadamente
uma juventude universitária abastada, de classe média ou classe média
alta, e que são muito antigas as discussões sobre este paradoxo, afinal, a
chamada música folclórica seria, por definição, uma criação das classes
populares, muito distante, portanto, desta classe média que resolve
desfrutá-la nos grandes centros urbanos, longe até mesmo de onde ela é
produzida. É comicamente atual a crítica de Ruy Castro que encontramos
no texto, quando acusa o lendário show Opinião de promover uma
“ideologia da pobreza” (CASTRO, 1997), “que fez com que artistas da Zona
Sul do Rio de Janeiro [...] passassem a cantar a dura vida dos pobres”
(TRAVASSOS, 2014, p. 96). Tem sentido esta provocação de Ruy Castro,
que poderia muito bem ser atualizada na discussão atual sobre o consumo
de outras formas de música popular, como o funk, por parte de jovens
universitários, que não fazem parte do meio onde essa música se produz?
A autora aponta que é justamente a distância entre estes jovens de classe
média e os produtores de música folclórica que cria esta fascinação.
Outra discussão importante do texto é a parte em que a autora
descreve os movimentos de música popular dos anos 60, que conviveram
com o golpe militar e os primeiros anos do regime. À época, era esperado
dos artistas que tivessem uma postura politicamente engajada e canções
que refletissem o momento político do país: “Na canção engajada ou de
protesto, denúncias do imperialismo norte-americano e da concentração
da propriedade da terra podiam aparecer com as vestes do baião, do
samba, da bossa nova...” (TRAVASSOS, p. 96). Mesmo que de maneiras
diferentes, a chamada “nova MPB” e a Tropicália utilizavam-se do
folclorismo como ferramenta composicional, que lhes permitia alcançar
um público além dos frequentadores dos tradicionais Festivais da Canção
ou além dos telespectadores dos grandes centros urbanos, numa época
em que era a televisão e não mais o rádio a grande difusora de cultura no
Brasil, mesmo que uma grande parte dos brasileiros e brasileiras ainda
não tivessem acesso à mesma.

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