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CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


Disciplina: Direito Civil VI - Família e Sucessões
Professora: Aline Antunes Gomes

Material para as aulas de Direito de Família


Semestre 2021.01
Aula 1

FORMAÇÃO E ESPÉCIES DE FAMÍLIAS

A origem da família está diretamente ligada à história da civilização, uma vez que surgiu como
um fenômeno natural, fruto da necessidade do ser humano em estabelecer relações afetivas de forma
estável. Porém, não possuía um regramento jurídico, pois tinha como base os costumes.
Foi somente com a formação da família antiga Romana que a entidade familiar passou a ter
uma ordenação jurídica, tendo em vista que foram estabelecidos princípios normativos, que definiram
o casamento como a base da família. Além disso, foram sistematizadas uma série de normas que
fizeram com que a família passasse a ser uma sociedade patriarcal, organizada preponderantemente,
no poder e na posição do pai, chefe da comunidade, que comandava toda a família.
No Brasil, o Código Civil de 1916, foi a primeira legislação privada a regular a entidade
familiar. Tratava-se de uma família patriarcal, centralizada na figura paterna e patrimonial, herdada
dos patriarcas antigos e dos senhores medievais.
Em sua versão original, o Código de 1916 trazia uma visão da família limitada ao casamento.
Impedia sua dissolução, fazia distinções entre seus membros e trazia qualificações discriminatórias
às pessoas unidas sem casamento e aos filhos havidos dessas relações. As referências feitas aos
vínculos extramatrimoniais e aos filhos ilegítimos eram punitivas e serviam exclusivamente para
excluir direitos, como forma de tentar preservar o casamento.
Contudo, a evolução pela qual passou a família acabou forçando sucessivas alterações
legislativas. Uma das mais expressiva foi o Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4.121/1962), que
devolveu a plena capacidade à mulher casada e deferiu-lhe bens reservados a assegurar-lhe a
propriedade exclusiva dos bens adquiridos com o fruto de seu trabalho. A instituição do divórcio (Lei
nº 6.515/1977), também, foi muito importante, pois acabou com a indissolubilidade do casamento,
eliminando a ideia da família como instituição sacralizada.
Entretanto, a principal alteração nas entidades familiares ocorreu com a Constituição Federal
de 1988, que instaurou a igualdade entre o homem e a mulher e alargou o conceito de família,
passando a proteger de forma igualitária todos os seus membros. Estendeu proteção à família
constituída pelo casamento, bem como à união estável e à comunidade formada por qualquer dos pais
e seus descendentes, que recebeu o nome de família monoparental. Consagrou a igualdade dos filhos,
havidos ou não do casamento, ou por adoção, garantindo-lhes os mesmos direitos e qualificações.
A família passou a ser pensada a partir do afeto, do princípio da afetividade. Segundo
Madaleno (2013, p. 6) o afeto é que conjuga, pois apesar da ideologia da família parental de origem
patriarcal pensar o contrário, o fato é que não é requisito indispensável para haver família que haja
homem e mulher, nem pai e mãe. Há famílias só de homens ou só de mulheres, como também sem
pai ou mãe.
Em razão disso, o ordenamento jurídico passou a perceber a necessidade do reconhecimento
de outras famílias que estavam se formando e não detinham previsão na Constituição Federal. A lei
da adoção (Lei nº 12.010/2009) é um exemplo nesse sentido, pois trouxe em seu texto o
reconhecimento da família natural, da família ampliada ou reconstituída e da família substituta. O
Supremo Tribunal Federal (STF) também passou a atuar nesse contexto ao reconhecer, por meio da
Ação direta de inconstitucionalidade n° 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental n° 132, a união entre pessoas do mesmo sexo.
Além disso, o Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), assim como alguns
parlamentares, tem tentado ampliar ainda mais o reconhecimento das famílias, com a elaboração de
projetos de lei, como PLS n° 470/2013, a fim de que sejam reconhecidos os diversos modelos
familiares que existem atualmente, bem como que as demandas familiares sejam analisadas a partir
de valores jurídicos como afeto, cuidado, solidariedade e pluralidade. O referido projeto, no entanto,
foi arquivado em 2018. E em contraposição há o PL n° 6.583/2013, conhecido como Estatuto da
Família, que está em tramitação na Câmara dos Deputados e busca delimitar como família apenas
aquelas formadas por um homem e uma mulher.
Ressalta-se, também, que apesar dessa abertura inicial da Constituição Federal de 1988, com
base nos princípios constitucionais, como o princípio da dignidade humana, da liberdade e da
autonomia, da solidariedade familiar e da afetividade; o Código Civil de 2002, que é a legislação que
regulamenta o direito de família, reconheceu, em seu texto, apenas as famílias matrimoniais e as
famílias informais, não aderindo à proteção das novas entidades familiares que estavam e estão
surgindo.

ESPÉCIES DE FAMÍLIAS

1) Família matrimonial: é a família formada a partir do casamento.


2) Família informal: Formada a partir da união estável.

3) Família monoparental: São aquelas famílias em que há um dos progenitores, que convive e é
exclusivamente responsável por seus filhos biológicos ou adotivos. Pode ser por opção (inseminação
artificial, por exemplo), por viuvez, pai desconhecido, falta de reconhecimento da paternidade etc.

ATENÇÃO: Pode se enquadrar nesse conceito também as famílias monoparentais em que os filhos
vivem com a mãe, por exemplo, e tem o reconhecimento da paternidade, mas não possuem uma
convivência com o pai.

4) Família anaparental: é considerada uma família ampliada que engloba parentes, consanguíneos
ou não, a partir do elemento afetivo e ausente de relações sexuais. Exemplo: família formada apenas
pelos irmãos, sem a figura dos ascendentes.

5) Família reconstituída, mosaica, ampliada ou pluriparental: formada entre mãe/pai, seus filhos
e um novo marido/esposa ou companheiro (a). É a estrutura familiar originada em um casamento ou
uma união estável de um par afetivo, em que um deles ou ambos os integrantes têm filhos
provenientes de um casamento ou de uma relação precedente.

6) Relações paralelas: São as relações não eventuais, entre o homem e a mulher, impedidos de casar,
conforme previsão do artigo 1727 do Código Civil. Exemplo: concubinato.

ATENÇÃO: Havendo casamento em vigor entre uma das partes da relação, como regra, não seria
possível o reconhecimento do concubinato como união estável. Porém, a jurisprudência tem
possibilitado a divisão patrimonial entre o/a cônjuge e o/a concubina (o) nos casos de constituição do
patrimônio mediante esforço comum, conforme súmula 380 do STF: “Comprovada a existência de
sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do
patrimônio adquirido pelo esforço comum”. E, também, há decisões judiciais de reconhecimento das
uniões putativas, com divisão do patrimônio entre esposa (o) e companheira (o).

7) União poliafetiva: Quando a relação é formada por mais de duas pessoas, por exemplo, um homem
e duas mulheres ou dois homens e uma mulher. O primeiro caso que buscou o reconhecimento foi
um triângulo de Tupã, em São Paulo, formado por um homem e duas mulheres. A base para o
reconhecimento foi o princípio constitucional da afetividade. Ressalta-se, contudo, que esse
reconhecimento só pode ser requerido judicialmente, pois é o princípio da monogamia que vigora
majoritariamente, motivo pelo qual o reconhecimento não pode ser feito diretamente nos registros
públicos.

8) União homoafetiva: União entre pessoas do mesmo sexo, reconhecida pelo Supremo Tribunal
Federal, por meio da ADI n° 4.277 e da ADPF n° 132 (que alteraram a interpretação do artigo 1723
do CC/02), assim como pela Resolução n° 175 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

9) Família Unipessoal: É a família formada por uma única pessoa, solteira, separada, divorciada ou
viúva. Possui reconhecimento por meio da Súmula nº 364 do STJ, que protege a impenhorabilidade
do bem de família formada por apenas um indivíduo.

10) Família Substituta: É a família que passa a substituir a família biológica de uma
criança/adolescente, quando há perda ou suspensão do poder familiar. Ocorre tanto de forma
permanente, como no caso da adoção, quanto de forma transitória, como no caso da guarda e da tutela.
O reconhecimento dessa família está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei da
Adoção (Lei nº 12.010/09).

11) Família natural: entendida como a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes (art. 25, caput, ECA).

12) Família extensa ou ampliada: aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da
unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e
mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25, parágrafo único, ECA).

A doutrina traz, ainda, alguns outros modelos, como a família eudemonista, que busca a
felicidade de seus membros, mas que não tem reconhecimento por lei ou jurisprudência até o
momento.

RELAÇÕES DE PARENTESCO

O Código Civil, ao disciplinar as relações de parentesco, classifica os parentes em linha reta


e linha colateral ou transversal. Além disso, delimita que o parentesco pode ser natural ou civil, a
depender se existe consanguinidade ou relação por meio do casamento.
O art. 1.591 do CC/02 dispõe que “são parentes em linha reta as pessoas que estão umas para
com as outras na relação de ascendentes e descendentes”.
Já os parentes em linha colateral ou transversal são aqueles até o quarto grau, provenientes de
um só tronco, sem descenderem uma da outra (art. 1.592, CC/02).
O art. 1.593 do CC/02 estabelece que “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consanguinidade ou outra origem”. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade, sendo que o parentesco por afinidade, limita-se aos ascendentes, aos
descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro (art. 1.595, CC/02). Além disso, é importante
ressaltar, que na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união
estável (art. 1.595, § 2º, CC/02).
Com relação a contagem, o art. 1.594 do CC/02 prevê que “Contam-se, na linha reta, os graus
de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um
dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente”.

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