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CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


Disciplina: Direito Civil VI - Família e Sucessões
Professora: Aline Antunes Gomes

Material para as aulas de Direito de Família


Semestre 2021.01

Aula 3

IMPEDIMENTOS PARA O CASAMENTO

Existem duas ordens de impedimentos matrimoniais: (a) impedimentos de caráter absoluto


(art. 1.521, CC/02) e (b) impedimentos relativos, chamados de causas suspensivas (art. 1.523, CC/02).
No caso dos impedimentos absolutos, a lei estabelece que “não podem casar”, e caso ocorra, o
casamento será considerado nulo (art. 1.548, inciso II, CC/02). Já nos impedimentos relativos, a lei
estabelece que “não devem casar”, e caso ocorra será imposta sanção de natureza patrimonial, qual
seja, a adoção doo regime da separação de bens (art. 1.641, inciso I, CC/02). Além disso, há nos
artigos 1.550 e seguintes do Código Civil, outras situações que ensejam a invalidade do casamento,
motivo pelo qual podem ser anulado.

ATENÇÃO: Impedimento é diferente de incapacidade. A incapacidade para o casamento é a


inaptidão genérica frente a qualquer pessoa, ou seja, alguém que não pode casar com quem quer que
seja. Já o impedimento, em sentido estrito, é a impossibilidade de alguém casar com determinada
pessoa. Trata-se de proibição que atinge uma pessoa com relação a outra ou outras. Assim, não podem
casar, por exemplo, ascendentes com descendentes. Não se trata de incapacidade para o casamento,
mas apenas de impedimento para casar com certa pessoa, estando livre, no entanto, para casar com
quem lhe aprouver.

Impedimentos de caráter absoluto:

São aqueles impedimentos considerados NULOS, ou seja, sem produção de efeitos jurídicos.

ATENÇÃO: Para que sejam considerados nulos é necessário, segundo o artigo 1.549, CC/02, o
ajuizamento de uma ação judicial, por qualquer interessado ou pelo Ministério Público, cuja sentença
irá declarar a nulidade, garantindo que os efeitos sejam retroativos à data da celebração do negócio
jurídico (efeitos ex tunc), salvo nos casos previstos no artigo 1.561, parágrafos 1º e 2º, CC/2002.

Art. 1.561. [...] § 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus
efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.
§ 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis
só aos filhos aproveitarão.

Além disso, ressalta-se, que não há prazo prescricional ou decadencial. A nulidade pode ser
reconhecida a qualquer tempo.

ATENÇÃO: Se o casamento ainda não tiver ocorrido, os impedimentos, segundo o artigo 1.522 do
CC/02, podem ser opostos, até o momento da celebração por qualquer pessoa capaz. E se o juiz, ou
o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-
lo.

ATENÇÃO: A nulidade das situações que configuram impedimento para o casamento é reconhecida
pelo artigo 1.548/CC: É nulo o casamento contraído: I - (Revogado); II - por infringência de
impedimento.

→ Conforme o artigo 1.521, CC/02: Não podem casar:

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;


Natural: biológico
Civil: adoção

II - os afins em linha reta; (sogro e sogra, nora e genro, enteado e enteada, madrasta e padrasto).

III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;

IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;

ATENÇÃO: Apesar da proibição do casamento até o terceiro grau, o Decreto-Lei n° 3.200/1941


suavizou a vedação, tornando possível a sua realização mediante autorização judicial. Exemplo: tio e
sobrinha.
→ Os colaterais do terceiro grau, que pretendam casar-se, ou seus representantes legais, se forem
menores, requererão ao juiz competente para a habilitação que nomeie dois médicos de reconhecida
capacidade, e que não sejam suspeitos, para examiná-los e atestar-lhes a sanidade, afirmando não
haver inconveniente, sob o ponto de vista da sanidade e sob o ponto de vista da saúde de qualquer
deles e da prole, na realização do matrimônio. Havendo empate, o juiz pode nomear um terceiro
médico.
→ Poderá o exame médico concluir não apenas pela declaração da possibilidade ou da irrestrita
inconveniência do casamento, mas ainda pelo reconhecimento de sua viabilidade em época ulterior,
uma vez feito, por um dos nubentes ou por ambos, o necessário tratamento de saúde. Nesta última
hipótese, provando a realização do tratamento, poderão os interessados pedir ao juiz que determine
novo exame médico.
→ O exame médico será feito extrajudicialmente, sem qualquer formalidade, mediante simples
apresentação do requerimento despachado pelo juiz.

V - o adotado com o filho do adotante;


ATENÇÃO: O adotado possui duplo impedimento: com a família adotiva e com a família biológica.

VI - as pessoas casadas;

VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.

Impedimentos de caráter relativo (causas suspensivas):

Com a advertência de “não devem casar”, a lei traz um rol de hipóteses em que o casamento
não é proibido, mas há a recomendação para que as pessoas não casem. Apesar da expressão
mencionar “causas suspensivas”, elas não invalidam o ato matrimonial, pois são meramente
penalizadoras na esfera patrimonial dos contraentes, uma vez que é imposto o regime da separação
de bens com o intuito de evitar o embaralhamento de patrimônios (art. 1.641, inciso I, CC/02).

→ Conforme o artigo 1.523 do CC/02, não devem casar:

I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do
casal e der partilha aos herdeiros;

II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses
depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;
ATENÇÃO: Durante esse período existe a presunção de que o filho é do marido (art. 1.597, inciso
II, CC/02).

III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;

IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a


pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as
respectivas contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas
suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo,
respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso
do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do
prazo.

ATENÇÃO: Conforme o artigo 1.524 do CC/02, as causas suspensivas da celebração do casamento


podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins,
e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins. E a declaração deve ser
feita por escrito e com as provas do fato alegado (art. 1.529, CC/02).

Outras situações de anulabilidade do casamento (invalidades do casamento):

O artigo 1.550 do CC/02 estabelece situações em que o casamento não é válido e, por isso,
pode ser anulado.

ATENÇÃO: A anulação do casamento deve ser feita por meio de Ação judicial. Conforme previsão
do artigo 1.563 do CC/02, a sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data da sua
celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a
resultante de sentença transitada em julgado.

Além disso, quando o casamento for anulado por culpa de um dos cônjuges, este incorrerá: I-
na perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente; II- na obrigação de cumprir as promessas
que lhe fez no contrato antenupcial, conforme previsão do artigo 1.564 do CC/02.

Art. 1550: É anulável o casamento:

I - de quem não completou a idade mínima para casar;


→ Prazo para propor a anulação: 180 dias (art. 1.560, § 1°, CC/02).
→ Legitimidade: próprio cônjuge menor, seus representantes legais ou seus ascendentes (art. 1.552,
incisos I, II e III, CC/02).
→ Alcançada a idade núbil, é possível confirmar o casamento com autorização de seus representantes,
se necessária, ou com suprimento judicial, conforme artigo 1.553 do CC/02.
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
→ Prazo: 180 dias
→ Legitimidade: próprio cônjuge menor (desde que o faça no prazo máximo de 180 dias contados da
data em que tenha cessado a incapacidade – art. 1.555, § 1° e 1.560, § 1° do CC/02), seus
representantes (prazo conta da data de celebração do casamento) ou herdeiros necessários (prazo
conta a partir da morte do incapaz).
ATENÇÃO: Segundo o § 2°, do artigo 1.555 do CC/02, não se anulará o casamento quando à sua
celebração houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo,
manifestado sua aprovação.

III - por vício da vontade, nos termos dos artigos 1.556 a 1.558 do CC/02:
a) eivado por erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge.
→ Prazo: 3 anos
→ Legitimidade: cônjuge que incidiu em erro.
→ Possibilidade de o vício ser sanado pela coabitação, nos termos do artigo 1. 559 do CC/02.
ATENÇÃO: Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge, segundo o artigo 1.557 do
CC/02: I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II - a ignorância de
crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III - a
ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e
transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
descendência.

b) celebrado com vício de vontade, consistente em coação: Conforme artigo 1.558 do CC/02, é
anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges
houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a
honra, sua ou de seus familiares.
→ Prazo: 4 anos
→ Legitimidade: cônjuge que sofreu coação.
→ Possibilidade de o vício ser sanado pela coabitação, nos termos do artigo 1.559 do CC/02.

IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;


→ Prazo: 180 dias.
→ Legitimidade ativa: não estabelecida pelo Código Civil.
ATENÇÃO: Conforme o artigo 6° do Estatuto da pessoa com deficiência (Lei nº 13.146/2015), a
deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa para casar-se e constituir união estável. Em
razão disso, o § 2° do artigo 1.558 do CC/02, estabelece que a pessoa com deficiência mental ou
intelectual em idade núbil poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por
meio de seu responsável ou curador.

V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do
mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
→ Prazo: 180 dias a contar do conhecimento da celebração do casamento.
→ Legitimidade ativa: cônjuge que revogou a procuração.
→ Possibilidade de o vício ser sanado pela coabitação.

VI - por incompetência da autoridade celebrante.


→ Prazo: 2 anos.
→ Legitimidade ativa: cônjuges, seus representantes legais e seus ascendentes.
ATENÇÃO: Conforme o artigo 1.554 do CC/02: Subsiste o casamento celebrado por aquele que,
sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e,
nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil.

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