Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Texto 09-Larenz-Cap II A Doutrina Da Proposio Jurdica
Texto 09-Larenz-Cap II A Doutrina Da Proposio Jurdica
METODOLOGIA
DA CIÊNCIA
DO DIREITO
3.a edição
Tradução de
José Lamego
(3) Direito e Moral, qualquer que possa ser de resto a sua relação,
coincidem em que ambos se servem de uma linguagem «prescritiva», que
é característicamente diferente da linguagem em que se emitem afirmações
sobre factos. Cf. a este propósito, HARE, ob. cit., pág. 19 e segs.
(3a) Acertadamente, diz WEINBERGER, ob. cit., pág. 259, que a
função do conceito de validade em relação à norma jurídica é em ampla
medida análoga ao papel do conceito de verdade em relação às proposições
enunciativas.
352
(4) Die Sprache der Moral, trad. alemã, 1972 (ed. inglesa, 1952).
354
357
Com isto não se quer dizer que não possam existir também
normas jurídicas que ao mesmo tempo expressem um comando
ou uma proibição e que, nestes termos, se possam também con
ceber como imperativos gerais. Mas também neste caso intentam
outorgar validade a consequências jurídicas. Assim, na norma jurí
dica que impõe ao locador o dever de conservar a coisa locada
pode ver-se um imperativo, a saber: o comando dirigido a todos
os locadores de se comportarem em conformidade. Independente
mente de que se observe ou não este comando, independente
mente, portanto, da sua eficácia como imperativo, a norma jurí
dica tem, todavia, como consequência, que em relação a todo
e qualquer locador surge a obrigação mencionada. Esta conse
quência, que se situa só no plano do juridicamente vigente, têm-
-na porque não só é um imperativo, mas sobretudo porque é,
em primeiro lugar, uma norma dispositiva que contém uma orde
nação de vigência. A confusão entre normas dispositivas e impe
rativos está ainda amplamente difundida não só entre os juristas,
como também entre os lógicos e os filósofos da moral. Reconhece-
-se, é certo, a diferença entre proposições enunciativas, que contêm
uma afirmação, e proposições preceptivas ou imperativos. Ao ter
reconhecido que as proposições jurídicas não são proposições enun
ciativas, porque não afirmam algo, mas ordenam algo, crê-se então
poder ainda associá-las à classe das proposições preceptivas (impe
rativos). Na verdade, as proposições dispositivas constituem de
per si uma classe de proposições adicional, sendo as proposições
jurídicas o seu caso de aplicação mais importante, se é que não
único (10).
(10) Cf. a este respeito o meu contributo para o Festschrift für Engisch,
1969, pág. 150.
1
360
362
(12) Foi o que LEENEN, Typus und Rechtsfindung, päg. 162 e segs.,
pos a claro. Com mais pormenor, a este respeito, cf. infra, cap. m, 4 c (pag. 424
e segs.).
363
(13) Esta nota distintiva pode ser também uma nota distintiva nega
tiva; exemplos: os §§ 285 [não há mora sem culpa (N. do T.)] e 400
[exclusão da cessão nos créditos impenhoráveis (N. do T.)] do BGB.
(14) A este propósito, cf. JUTTA MINAS-von SAVIGNY, Negative
Tatbestandsmerkmale, ein Beitrag zur Rechtssatz und Konkurrenzlehre, 1972.
364
tantes ao preço da compra não são aplicáveis, visto que este não
é de todo objecto de acordo na troca. Isto acarreta certas difi
culdades no que toca à realização de uma «minoração», questão
que não é para ser aqui abordada (15). Inclusivamente quando
isto não é expressamente referido na lei, a aplicação da norma,
para a qual se remete na norma remissiva, só pode ser «corres
pectiva». Há que evitar, portanto, equiparações e não podem
excluir-se as diferenças que se apresentam a partir da coisa, isto
é, das relações da vida a regular.
A remissão é um meio técnico-legislativo para evitar repeti
ções incômodas. A lei pode conseguir o mesmo resultado que
o alcançado através de uma remissão, mediante uma ficção.
(15) Cf. o meu Lehrbuch des Schuldrechts, vol. II, 1, 13.a ed., § 46.
(16) Da quase inabarcável bibliografia sobre a ficção legal há que
salientar: BERNHÖFT, Beiträge zur Erläuterung des Bürgerlichen Gesetz
buchs, fascículo 6, 1905; do mesmo autor, Festschrift für Ernst Imanuel
Bekker, 1907, pág. 241 e segs.; BIERLING, Juristische Prinzipienlehre,
vol. I, pág. 101 e segs,; DEMELIUS, Die Rechtsfiktion in ihrer geschich
tlichen und dogmatischen Bedeutung, 1958; ESSER, Wert und Bedeutung
der Rechtsfiktionen, 1940; HANS ALBERT FISCHER, «Fiktionen und Bilder
in der Rechtswissenschaft», AcP 117, pág. 134 e segs.; SOMLÓ, Juris
tische Grundlehre, pág. 524 e segs.; STAMMLER, Theorie der Rechts
wissenschaft, 2.a ed., pág. 199 e segs.; von THUR, Der Allgemeine Teil
des Deutschen Bürgerlichen Rechts, vol. I, pág. 24; vol. 2, parte I, págs. 13
e 422 e segs.
(17) Cf. DEMELIUS, ob. cit., págs. 39 e 76; FISCHER, ob. cit.,
pág. 144.
(18) Nestes termos, acertadamente, BIERLING, ob. cit., pág. 101.
r
367
(22) ESSER, ob. cit., pág. 98 e segs., fala nestes casos de «ficções
definitórias».
(23) Sobre este ponto, von THUR, ob. cit, pág. 25 e segs.
(24) Note-se bem que aqui se fala da fundamentação da sentença.
O juízo decisório é, enquanto tal, ordenação de vigência, na medida em
que pode alcançar força de caso julgado; está assim submetido ainda a
outros critérios de apreciação.
370
ele saiba, ou pelo menos isto devia ser-lhe claro, que na realidade
assim não é. A jurisprudência dos tribunais operou durante muito
tempo com declarações de vontade Accionadas, por exemplo
quando queria chegar a uma exclusão de responsabilidade. A ficção
encobre aqui os fundamentos determinantes da decisão; reduz a
fundamentação a uma fundamentação aparente.
374
dito assim de um modo tão geral, isso não é exacto (27). Com
efeito, sempre que as consequências juídicas das proposições jurí
dicas concorrentes são entre si compatíveis, trata-se de saber se
as consequências jurídicas da norma especial só complementam,
nos termos da intenção reguladora da lei, a norma mais geral,
a modificam, ou, ao invés, a devem substituir no seu âmbito de
aplicação. Esta é uma questão de interpretação (teleológica e sis
temática). Só quando as consequências jurídicas se excluem é que
a relação lógica de especialidade conduz necessariamente ao afas
tamento da norma mais geral, já que no caso contrário a norma
especial não teria qualquer âmbito de aplicação. É de uma relação
de especialidade no sentido de uma norma restritiva que se trata,
sem dúvida, na relação do parágrafo segundo com o parágrafo
primeiro do § 565 do BGB. O parágrafo primeiro regula os prazos
de denúncia das relações arrendatícias sobre «terrenos, locais ou
navios inscritos no registo de navios» em geral. O parágrafo
segundo regula, em derrogação a isto, os prazos de denúncia
para as relações de arrendamento para «habitação». Segundo o
escopo da lei (protecção do arrendamento para habitação), é claro
que em relação ao arrendamento para habitação só devem valer
os prazos do parágrafo segundo e não os do primeiro. Por isso, o
parágrafo primeiro deve ler-se de tal modo que por detrás da palavra
«local» se deva intercalar, de acordo com o sentido, «excepto
locais para habitação». Com o que se expressa claramente a limi
tação da regra do parágrafo primeiro pela do segundo. Coisa dis
tinta ocorre no caso do § 463 do BGB*. Todos os casos em que
falte à coisa vendida uma qualidade garantida logo à data do con
trato de compra e venda e ainda no momento de transferência
do risco são também, por certo, casos do § 459, parágrafo 2 **
das duas normas não deve ser considerada como regulação exaus
tiva, então ambas as normas são aplicáveis de par uma com a
outra, sempre que as suas previsões sejam coincidentes e as con
sequências jurídicas se não excluam mutuamente. Assim, a jeito
de exemplo, uma perturbação da propriedade pode ser julgada
tanto segundo o § 1004 do BGB, como segundo o § 832, pará
grafo 1. As consequências jurídicas — pretensão de abstenção e
pretensão de indemnização por danos — não se excluem, antes
se complementam reciprocamente. Trata-se, na terminologia de
ENNECCERUS-NIPPERDEY, de um «concurso cumulativo».
É dela que se trata também nos casos do denominado «concurso
de pretensões» e «concurso de normas de pretensão» (29).
Não são só proposições jurídicas singulares que podem
entrecortar-se entre si no seu âmbito de aplicação, mas também
complexos de regulação globais. Uma das questões de concurso
mais discutidas em Direito civil é a de relação entre responsabili
dade contratual e extracontratual. A lei contém para ambas normas
numerosas e, em parte, muito diferenciadas, cujas previsões se
podem entrecortar entre si de diversos modos. Decerto que nem
toda a violação de um contrato é já também, enquanto tal, uma
«acção ilícita», no sentido dos §§ 823 e segs. do BGB, de modo
que a relação de «especialidade» não ocorre aqui. Não obstante,
muitas violações de contratos, em especial as violações dos deveres
de protecção contratual, realizam concomitantemente a previsão
de uma acção ilícita. Poder-se-ia pensar que a lei regulou exausti
vamente os casos de violação de contrato, tendo em vista justa
mente a relação especial existente, de modo a que, enquanto tal,
a regulação jurídico-delitual fosse afastada pela regulação contra
tual. Esta não é, no entanto, a posição da doutrina largamente
dominante. Parte ela antes de que ambos os complexos de regu
lação são aplicáveis, em princípio, um de par com o outro (30).
p1 -> c P2 -» C
P1__________________ S = P2_
S -> C (P1) S C (P2)
P1 ->C P2 —C
S não = P1________ S __ =P2_______
S não C (de P1) S C (de P2)
(42) Querer negar isto seria, na minha opinião, tão errado como a
tese de que a coordenação ocorre sempre pela via de uma subsunção.
388