Tendo por certo isto mesmo que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo.” - Filipenses 1:6
Temos aqui o que muito bem se pode descrever
como o versículo chave da Epístola inteira. E neste único versículo que o apóstolo nos apresenta desde logo o fundamento da sua confiança concernente a si mesmo e a seu futuro pessoal, bem como ao futuro da igreja de Filipos. Penso que todos concordamos que este é um dos grandes pronunciamentos que tanto caracterizam os escritos de Paulo. Há pessoas que falam em ter versículos ou textos favoritos; Nunca fiquei muito contente com a teologia dessa declaração... Mas, se existe tal coisa, devo confessar que, indubitavelmente, este versículo é um dos meus. E uma das declarações magníficas, fundamentais e profundas e que nos leva às reais profundezas da doutrina cristã e da teologia cristã. Sem dúvida, é um fato extraordinário que um homem, na situação em que Paulo estava quando escreveu esta carta, pôde publicar estas palavras. Ele estava sofrendo na prisão, vocês se lembram, estava sendo perseguido e atacado por inimigos... Por pessoas que faziam tudo para desacreditá-lo... E para desfazer a obra realizada por ele nas igrejas delas. Assim, ele tem algum conhecimento das dificuldades que cercavam a igreja de Filipos e, todavia, apesar disso, tem esta profunda confiança, tanto com respeito a si próprio como com respeito aos membros daquela igreja. E ele nos diz logo aqui, não somente neste versículo mas também nos que estão a seu redor, que existem duas coisas principais que produzem nele este sentimento de confiança. A primeira é que ele sabe da obra que está sendo levada adiante nos membros da igreja de Filipos e entre eles. Ele está confiante por causa do caráter da obra e porque sabe que é uma obra que nada nem ninguém pode sustar. A segunda, ele sabe que há muitos membros da igreja de Filipos, na verdade, senão todos, dos quais se pode dizer que esta obra continua sendo realizada neles. Os dois pontos são importantes. A confiança de Paulo não é tanto nos membros da igreja de Filipos como na obra de Deus que vai operando neles e entre eles... Ou, para dizê-lo de outro modo... O que explica realmente a confiança do apóstolo é sua clara compreensão da natureza da vida cristã... Seu entendimento do que acontece quando um homem se torna cristão... E do poder e da vida que constituem a Igreja Cristã. E seu profundo conhecimento e entendimento do plano divino de salvação que realmente leva a esta sua confiança. Penso que todos nós devemos admitir que é nossa evidente incapacidade de entender e captar essa verdade central e extraordinária que explica muito da nossa aflição e dos nossos maus presságios... Muito da nossa infelicidade e da nossa preocupação. Somente a pessoa que compreende o plano de salvação... Seu significado... Seu caráter... E seu poder é que pode chegar a sentir o que o apóstolo sentia, e que pode partilhar a experiência dele. Ora, certamente é porque muitos de nós falhamos justamente aí é que nos afligimos, por exemplo, acerca de nós mesmos e da nossa posição e condição. Quando examinamos a nós mesmos e tomamos o nosso pulso espiritual.... Ficamos sabendo de algumas lacunas que há dentro de nós... E isso nos causa tormento... E nos leva à introspecção... E talvez até a certa morbidez e a muita infelicidade, e nos inclinamos instintivamente a pensar que a vida cristã é muito difícil. Mas eu me disponho a dizer que esses abalos no temperamento e esses estados ou condições são, em imensa medida, devidos à nossa incapacidade de compreender esta realidade extraordinária que o apóstolo coloca diante de nós aqui. Não seria igualmente certo que muitos dos nossos presságios concernentes ao futuro da Igreja Cristã provêm da mesma fonte? E lamentável, mas quase veio a ser uma característica do povo cristão falar em tons de queixume, pesar e tristeza... “Que será que vai acontecer? Vejam o povo, que indiferença!” Eles pintam esse quadro melancólico do mundo, e até da Igreja, e depois clamam: “Haverá algo como um cristianismo organizado dentro de vinte ou trinta anos?” “Que é que o futuro nos reserva?” Há também aqueles que profetizam o fim das grandes reuniões cristãs e falam sobre a possibilidade de pequenos grupos. Bem, não me cabe dizer que eles estão totalmente errados, mas o que me preocupa quanto a isso é que em sua prosa e em suas conversas detecta-se uma nota de profundo pessimismo concernente ao futuro geral da Igreja Cristã e do evangelho. E isso se deve unicamente a uma coisa... A saber... A incapacidade de compreender a natureza da vida cristã... A incapacidade de captar esta doutrina com a qual nos defrontamos aqui, nesta magnífica declaração do apóstolo. Portanto, para nós não há nada que seja mais importante do que entender de maneira absolutamente clara estas coisas. Como temos visto, Paulo tem um maravilhoso consolo e encorajamento para oferecer nesta carta... Mas de nada nos valerá isso, não significará nada para nós, se não concordarmos com a declaração do versículo seis. Pois se ela não for verdadeira... Então nada do resto da Epístola será verdadeiro. Tudo não passará de mera aspiração; Mas se é verdadeira, tudo mais na carta é verdadeiro. Não se pode edificar sem alicerce, e aqui mais uma vez voltamos a ele. Noutras palavras, neste versículo o apóstolo torna a descrever para nós a natureza do homem cristão... E ele descreve também a real essência do processo cristão de salvação. Ele o faz desta maneira: Ele afirma que o cristão é alguém em quem está sendo realizada uma boa obra. Por isso devemos considerar algo do que o apóstolo nos diz aqui acerca desta boa obra... E o assunto se divide naturalmente nos seguintes aspectos: Primeiramente e antes de tudo, há o AUTOR da obra “Tendo por certo isto mesmo, que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará (completará) até o dia de Jesus Cristo”. Quem é Ele? Quem foi que começou esta boa obra nos membros da igreja de Filipos? Bem, certo é que há somente uma resposta a essas perguntas: outro não é senão o próprio Deus. Esse é o primeiro e fundamental postulado. Este, penso eu, ajuda a examinar o assunto negativamente. Paulo não se refere à boa obra que ele própria tinha realizado em Filipos. Vocês se lembram de que Paulo tinha atravessado o mar para a Macedônia e tinha pregado a algumas mulheres reunidas à beira do rio; Então pregou a outros e depois que foi posto na prisão, pregou ao carcereiro de Filipos. Paulo realizou grande obra nessa cidade. Foi um grande trabalho de evangelização; Ele estabeleceu uma igreja lá, e a edificou. Todavia, quando escreve esta carta, de modo algum se refere à obra que tinha realizado. Não, foi obra de Deus mediante Paulo. Naturalmente o método era sempre o de Paulo. Há uma declaração muito interessante no fim de Atos, capítulo 14, onde nos é feito um relato sobre a volta de Paulo e Barnabé à igreja de Antioquia depois da sua primeira viagem missionária. Somos informados ali de que eles reuniram a igreja e apresentaram um relatório de “tudo o que Deus tinha feito por meio deles” (Atos 14:27). “Aquele que em vós começou a boa obra” - não foi Paulo que a iniciou, mas Deus. Ou permitam que eu expresse o ponto com outra negativa. Paulo não diz que os Filipenses tinham começado alguma coisa. A origem de uma igreja não é como a de uma sociedade. Ás vezes homens se reúnem e dizem: “Não acham que seria uma boa coisa ter uma sociedade assim e assim?” Montes Claros está repleta de tais sociedades... A Igreja Cristã está repleta delas... O povo está sempre começando novas organizações. Um grupo se reúne, forma a sociedade, elabora suas regras e seus regulamentos - é o que vão fazer. Mas Paulo não diz que os filipenses começaram a igreja filipense - não foi outra senão obra de Deus. Pois bem, a Bíblia não argumenta sobre isso - ah, nós muitas vezes fazemos isso - ela simplesmente o declara! A Bíblia simplesmente nos diz que a salvação é inteira e completamente obra de Deus. Ela nos diz que o homem, em seu estado pecaminoso, é contra Deus, não deseja Deus e jamais voltaria para Deus. Nunca existiria uma igreja, nem tampouco haveria salvação, se Deus não tivesse começado a agir. “Aquele que em vós começou a boa obra” - é tudo de Deus. Claro está que não é de admirar que Paulo, acima de todos os demais, ensine isso. Ele jamais esqueceu o que ele próprio tinha sido; Ele se via na lembrança como um blasfemo e um perseguidor da Igreja... E sabia perfeitamente bem que teria continuado nesse estado se naquela ocasião, ao meio-dia, enquanto viajava para Damasco onde tencionava perseguir um grupo de cristãos, o Senhor não lhe aparecesse de repente. Paulo nunca decidiu ser cristão, nunca pensou nisso, ele não iniciou a obra em si mesmo. Foi Deus que o fez, e por isso Paulo sempre atribuía a obra a Ele. E naturalmente isso não somente era verdade a respeito de Paulo, mas também o era, patentemente, no caso da igreja de Filipos. A fim de demonstrar isso, basta ler a história registrada em Atos, capítulo 16. Nos versículos 6 e 7 somos informados de que Paulo queria ir para outro lugar, mas o Espírito não lhe permitiu que o fizesse. Esse é o primeiro passo - ele queria pregar nalgum lugar da Ásia, o que lhe parecia ser o que era certo fazer; “Mas o Espírito de Jesus não lho permitiu” (Atos 16:7). E depois, a próxima coisa que sucedeu foi que Paulo teve uma visão durante a noite. Ele não criou, não produziu a visão, não a gerou; Ele estava dormindo, e a visão lhe foi dada. Quem lha deu? Deus. Um homem da Macedônia lhe apareceu e disse: “Passa à Macedônia, e ajuda-nos”. E Paulo, vocês se lembram, cruzou o mar e desembarcou pela primeira vez na Europa, como fruto daquela visão. Depois, tendo chegado a este lugar chamado Filipos, o apóstolo foi induzido a falar àquelas mulheres que se reuniam regularmente à beira do rio para oração. O texto nos diz que o Senhor abriu o coração de Lídia; Não nos é dito que Lídia estava muito impressionada com a mensagem e que decidiu experimentá-la e abraçá-la. Não, o Senhor que trouxera Paulo para pregar, abriu o coração de Lídia e o dos membros da sua família... E Paulo passou a pregar sediado na casa dela. Depois há o caso da jovem possessa de um espírito de adivinhação; Ela foi libertada pelo poder de Deus, o que produziu mudança em sua vida e ocasionou a prisão de Paulo e Silas. Depois houve o terremoto... Certamente Paulo não o produziu - e a conversão do carcereiro de Filipos. Foi assim que a igreja de Filipos veio à existência. A Bíblia não argumenta sobre isso... Ela expõe sua doutrina, a qual declara que não é nada nem ninguém... Exceto unicamente Deus, que pode erguer o homem das profundezas do pecado. “Somos feitura sua”, diz Paulo, “criados em Cristo Jesus” (Efésios 2:10); Ele é o Mestre, o Artífice, o Modelador, foi Ele, e somente Ele, que nos trouxe à luz. Além disso, Paulo não somente nos diz aqui que esta obra é de Deus, mas também que é obra de Deus levada a efeito do princípio ao fim. “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoara”. Ele continuará a efetuá-la até havê-la completado e havê-la aperfeiçoado, até à consumação final. Deus não inicia meramente a obra e depois a deixa; Ele a continua; Ele a leva adiante, dirigindo, manipulando as nossas circunstâncias, ora nos restringindo, ora nos impulsionando. A concepção geral de Paulo sobre a Igreja é que é um lugar onde Deus age no coração dos homens e das mulheres. Isso é básico e fundamental. O cristianismo é fruto da ação de Deus e da atividade de Deus. Não é ideia do homem, nem teoria do homem; Não é elevação moral; Não é nada que o homem possa fazer; É Deus, verdadeiramente do princípio ao fim. “Somente a Ele seja a glória” - a grande senha da Reforma Protestante. E, naturalmente, a Bíblia nos mostra que nesta obra maravilhosa as três Pessoas da Trindade santa e bendita estão envolvidas. Deus o Pai inicia a obra. Deus o Filho a realiza concretamente e torna tudo possível; Deus o Espírito a aplica e a realiza no íntimo de nossas almas. “Aquele que em vós começou a boa obra”. Deus, o bendito Deus trino, é o autor desta boa obra.
Primeiramente e antes de tudo, há o AUTOR da
obra. Mas, permitam-me passar ao segundo princípio, que é a natureza da obra e me parece que a chave para entender esse princípio é a palavra em - “aquele que” - não entre vós mas “em vós” - “começou a boa obra”.
Segundo, há um INDIVIDUO na obra.
Ora, isso também é vital e central.
A obra à qual Paulo se refere aqui é a que o Novo Testamento noutras partes descreve como o novo nascimento, ou a nova criação, ou a regeneração - vocês estão familiarizados com essas expressões. O que acontece com o cristão não é mera reforma ou melhoramento da superfície. O evangelho não é algo que muda o homem no sentido de torná-lo um pouco melhor... Não realiza uma obra de reforma... Ou melhoramento moral, no sentido cultural. Não, é uma obra vital realizada por Deus na alma e sobre a alma, no centro mesmo e nos órgãos vitais da vida e da existência do homem. Se o Novo Testamento é verdadeiro, o cristianismo é a mudança mais profunda e vital que a pessoa humana já experimentou. Permitam-me agora fazer um sumário deste ponto. A primeira coisa que Deus faz é despertar-nos para o nosso estado e condição. Deus o Espírito Santo age em nós e nos faz ver que somos culpados diante de Deus; Que estamos perdidos. Ele nos faz ver que até o nosso interesse por Deus é pecaminoso, porque consideramos Deus apenas como um vocábulo, e não hesitamos em criticá-Lo. O Espírito Santo nos desperta para a nossa necessidade. Há uma vivificação que nos sobrevêm... E começamos a ver-nos como somos realmente... E isso, por sua vez, leva-nos a um estado de arrependimento e de tristeza pelo pecado. Depois... O Espírito Santo cria dentro de nós um desejo de Deus, o desejo de uma diferente ordem de vida, de uma vida melhor. De repente compreendemos que estamos vivendo uma pequena vida egocêntrica e alheia a Deus; Enxergamos o perigo disso... As terríveis possibilidades que decorrem de tal vida... E começamos a anelar por conhecer Deus. Ansiamos pela nossa libertação deste pecado que agora vemos que nos acorrenta e nos prende. Tentamos encontrar Deus... Mas descobrimos que não podemos. E então o Espírito Santo realiza a bendita obra de revelar-nos Cristo em toda a perfeição de Sua obra. Subitamente Ele abre os nossos olhos para vermos o real significado de Cristo e Sua cruz; Ele nos mostra a obra objetiva que Cristo realizou uma vez por todas, e aplica tudo isso a nós. Ele nos faz compreender que isso não é algo teórico, mas sim algo de relevante interesse para nós. E depois, Ele realiza um feito que, num sentido, é ainda mais maravilhoso. Ele nos perdoa os nossos pecados. Ele introduz uma nova vida em nós; Tomamos consciência de um novo homem... Uma nova natureza. Ele faz com que nos examinemos e que perguntemos: “Sou mesmo ainda a mesma pessoa?” - como Paulo disse: “Vivo, não mais eu...” (Gálatas 2:20). Ficamos cientes de que há evidência de um novo ser... Uma nova natureza dentro de nós... E já não gostamos das coisas das quais gostávamos. Começamos a gostar da Bíblia... Começamos a orar... Frequentar as reuniões de oração... E é o Espírito Santo que realiza isso tudo. Ele nos cria de novo segundo o modelo e o estilo de Cristo. Essa é a boa obra que Deus começa em nós e continua em nós. Depois Ele prossegue e vai aperfeiçoando “o novo homem”... Por meio de Sua Palavra... Por meio de outras pessoas... Por meio das circunstâncias, ou do que frequentemente consideramos acaso. Ele nos modela amaciando as nossas arestas... Esculpindo uma ponta aqui, outra ali... Essa é a concepção que Paulo tem do que é ser cristão, membro da Igreja Cristã. Paulo usa uma analogia estranha em 1 Coríntios, capítulo 4, onde ele diz que somos um teatro de Deus, o lugar onde Deus atua e realiza certas coisas. Ou tomemos outra analogia: A Igreja é uma fábrica de Deus, e os cristãos são artigos que Deus está formando e modelando. Ele opera em nós; A obra de Deus não é algo que acontece uma vez por todas quando somos convertidos. Deus continua Sua obra em nós... E tudo o que acontece faz parte deste grande processo. Talvez haja um desapontamento, perdemos dinheiro ou o emprego; Podemos não ver isso agora, mas no futuro o veremos como parte do grande processo de Deus em andamento com a boa obra que Ele já começou em nós. Pois bem, ser cristão não é menos que isso; É experimentar esta boa obra de Deus sendo efetuada dentro de nós; É estar ciente do fato de que isso está ocorrendo. Se você tiver consciência de que está sendo manipulado... de que estão lidando com você... diga então a si mesmo: isto é Deus, Ele está realizando algo em mim. Não entendo isso, mas sei que é Deus, e Lhe dou graças, muito embora não possa examinar a fundo este fato neste momento. A boa obra é, noutras palavras, aquela poderosa obra de Deus... Mediante o Espírito Santo... Na qual a vida, a morte e a ressurreição de Cristo se tornam reais para nós e são aplicados a nós... E nós somos criados de novo à Sua imagem.... “Um novo homem” em Cristo Jesus. Primeiramente e antes de tudo, há o AUTOR da obra. Segundo, há um INDIVIDUO na obra.
Passemos agora ao terceiro princípio.
Terceiro, há um PROPOSITO da obra.
Já vimos que é obra de Deus, e que é uma boa obra
em vós, e então, qual é o propósito da obra? Paulo dá a resposta: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”. Esse é o grande objetivo, o fim disso tudo. Estamos sendo modelados e preparados para o dia de Jesus Cristo. Notem que Paulo não diz que nós estamos preparados para o dia da nossa morte; Não, nós estamos sendo preparados para o grande dia que aguardamos, o dia de Jesus Cristo. Em certo sentido, esta é uma das coisas mais maravilhosas e estupendas da Bíblia... E é devido à sua clara concepção deste “dia de Jesus Cristo” que Paulo pode fazer todas as coisas que nos conta. Que é, então, este dia? E o dia da grande consumação, a finalização da obra de salvação. Permitam-me explicar este ponto nestes termos: Assim que o homem pecou e caiu da comunhão com Deus, Ele começou o grande processo. Lembram-se da promessa feita com relação à “semente da mulher”? Começou ali, Deus continuou Sua obra: Separou um homem chamado Abraão e fez dele uma nação; E através da Bíblia toda vemos a continuidade da obra. Mas a quê essa obra está sendo levada? Bem, o objetivo final é que este mundo, que foi amaldiçoado por causa do pecado do homem, será restaurado e será feito absolutamente perfeito; Haverá “novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2 Pedro 3:13); E o Filho de Deus voltará para governar como Rei. Esse é o dia do Senhor. Os “espíritos dos justos aperfeiçoados” receberão seus corpos glorificados” ... “Tendo ressuscitado dos mortos” ... “E habitarão nesta nova terra, sob o novo céu, com Cristo, para todo o sempre”; É o dia glorioso da emancipação final, a redenção suprema por vir. E o que Paulo diz aos membros da igreja de Filipos neste ponto é que está tudo bem, e que eles irão avante, com Deus operando neles, até torná-los absolutamente perfeitos naquele grande dia. Seja o que for que aconteça comigo ou com vocês, diz Paulo, está tudo certo. Deus está continuando Sua obra, e quando Cristo voltar, vocês estarão diante dEle e receberão sua recompensa. Vocês entrarão em sua herança, naquela magnífica e maravilhosa consumação, o dia de Jesus Cristo, o dia do Seu glorioso retorno para reinar. Vocês estarão prontos e não perderão nada do que vai ocorrer. Esse é o fim e o propósito da grande e boa obra que Deus tinha começado (1 Pedro 1:4). São essas as coisas que os ladrões não podem arrombar e roubar, nem a traça e a ferrugem podem estragar; Estão seguras com Deus no céu, fora do alcance do homem e de todos os seus esforços e maquinações. Se você é cristão, está sendo preparado para aquele dia, e está sendo preparado para isso por Deus. Permitam-me só dizer uma palavra sobre a certeza desta obra. Não há dúvida sobre isso, diz Paulo: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”. Minha garantia é nada menos que o caráter do próprio Deus. Minha confiança está baseada na santidade, na justiça e no poder de Deus. Deus jamais começa uma obra e a deixa inacabada; seria uma contradição do Seu caráter. Deus é diferente do homem: Começamos coisas e não as continuamos. Nosso entusiasmo dura uma semana ou duas. Fazemos o propósito de realizar algo, começamos a fazê-la, mas não há continuidade. Graças a Deus, a minha esperança do dia de Jesus Cristo e Sua glória não está firmada no poder da minha vontade, nem em meu desejo, nem em meu entendimento. Firma-se neste fato: Ele nunca teria começado a obra, se não estivesse decidido a terminá-la. Como sobre isso fala Paulo, dizendo a Timóteo: “O firme fundamento de Deus permanece” (2 Timóteo 2:19); E quando escreve aos coríntios ele diz: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios 3:11). Deus lançou esta pedra fundamental firme e segura. São-nos dadas duas explicações disto: “O Senhor conhece os que são seus” (2 Timóteo 2:19), E, em segundo lugar, este versículo de Filipenses, que nos garante que, quando Deus começa uma obra numa alma, Ele “a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”. Paulo, novamente, escrevendo aos romanos, diz - esta é a lógica: “Se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Romanos 5:10). Paulo quer dizer o seguinte: Se Cristo morreu por você quando você era um inimigo e um rebelde, e O odiava, se Ele morreu por você quando você estava nessa condição, quanto mais, então. Deus manterá e sustentará você e o manterá seguro, e terminará a obra pelo amor de Cristo - é lógica incontestável. O caráter de Deus garante a completa ação da obra. Primeiro, há o AUTOR da obra.
Segundo, há um INDIVIDUO na obra.
Terceiro, há um PROPOSITO da obra.
Concluamos agora com uma aplicação prática.
Quanto a nós, penso que todos concordaremos, a questão vital é que saibamos, com certeza, que esta obra está acontecendo em nós. Teria Ele começado esta boa obra em mim? Será que sei que Ele vai dando continuidade a ela e que eu vou ser perfeito no dia de Jesus Cristo? Como posso sabê-lo? Paulo, num sentido, dá-nos a resposta neste texto, quando dá graças a Deus pelo companheirismo destes filipenses no evangelho. Que significa isso? Significa que eles estavam interessados nestas coisas. Estas pessoas de Filipos preferiam reunir-se como igreja para dialogar sobre estas coisas, antes que qualquer outra. Os filipenses eram cidadãos romanos. Eram cultos, mas uma vez que tinham visto isso, tiveram ciência de que era o que há de importante. Assim eles se reuniam e trabalhavam juntos. Esta era sua comunhão, sua participação no evangelho. Isso é um sinal muito bom. Se estas verdades constituem o seu primeiro e maior interesse, penso que você pode dar-se por feliz por ter sido iniciada em você a boa obra. No versículo sete Paulo diz: “Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho”. Ele quer dizer que toda vez que você ouve alguém ridicularizar o evangelho... Você lhe replica e o defende... E se você ouve falar indignamente de Cristo, você defende o nome na defesa do evangelho. Claro está que todos estes pontos merecem um sermão... Estou simplesmente traçando uma vista abrangente, oferecendo uma visão panorâmica. Se você defende o evangelho, pode sentir-se feliz porque a boa obra começou em seu ser. E quando Paulo se refere à “confirmação do evangelho”, refere-se à propagação do evangelho. Temos que defendê-lo e proclamá-lo. Que outros testes haveria aqui? Eis alguns: Se cada vez mais você odeia o pecado, certamente significa que a boa obra de Deus está sendo efetuada em você, ninguém mais pode lhe dar isso. Se cada vez mais você deseja a santidade em sua vida... Se tem um crescente interesse em agradar a Deus... E em ser bem visto por Ele... É sinal que a obra vai tendo prosseguimento. Você tem um crescente sentimento de amor e gratidão a Deus? Estaria você mais e mais disposto a dizer: “Graças a Deus pelo seu dom inefável” ... E, “Pela graça de Deus sou o que sou”? São estes os testes e os sinais. Se estas coisas verdadeiramente podem ser ditas de nós... Há somente uma explicação... Não é o homem natural, porque o homem natural não deseja nenhuma destas coisas. Quem quer que tenha tais desejos os tem porquê... Deus começou e continua a Sua boa obra nele. Portanto, queira Deus conceder-nos que possamos juntar-nos ao grande apóstolo e dizer: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo”. Amém.