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Material Teórico

Direito Civil
Parte Geral

Sistema de Normas no Direito


Brasileiro

Profª Marlene Lessa

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Introdução

O ser humano é cercado por regras que são a base


de comportamentos verificados na própria natureza:
das mais simples reações químicas até os mais
diversos mistérios que constituem a matéria.

Tanto os fenômenos naturais como os


comportamentos humanos seguem padrões que
merecem relevância.

Toda norma se constitui como resultado da


observação de comportamentos que se repetem e
dão origem à uma “regra abstrata”.

As normas de cunho físico e de cunho ético são as que captam a atenção do


ser humano, dada a relevância que possuem para as sociedades e para seu
futuro.

Interessa, para nossa aula, as normas de comportamento humano, eis que


serão estas as que tratam da sociedade. Estão elas dispostas, desde os
primórdios da civilização, como padrão do homem médio, como o ideal do
corpo societário, como o “dever ser” do comportamento individual frente ao
social.

As normas jurídicas, por sua vez, são caracterizadas, no que tange à sua
incidência, pela determinação e obrigatoriedade de seus comandos. Para
Ritinha A. S. Georgakilas “em outras palavras, se considerarmos a norma do
direito positivo como um signo discursivo, veremos que existe algo de muito
peculiar na situação comunicativa que se instaura, a partir do momento em que
a norma está apta a incidir, podendo produzir os seus efeitos típicos,
vinculativos. Este “algo” peculiar, que distingue a situação comunicativa
normativa das demais espécies de comunicação humana, vem a ser,
justamente, a imperatividade da norma, ou seja, a obrigatoriedade da
obediência aos seus comandos pelas pessoas a quem eles se dirigem”1.

Direito é a palavra que revela aquele que não se


desvia, que mantém o curso reto, que se encaixa
no padrão, no caso, da norma.

1FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia /
Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo:
Atlas, 1989, p. 98.

2
Daí podermos afirmar que Direito é o conjunto de
normas jurídicas e se destina a promover o
controle da sociedade, permitindo que haja
adequada inserção do indivíduo no corpo social.

O Direito permite a pacificação social, a medida que traça regras que delimitam
a esfera individual de cada um, em respeito ao seu próximo, impondo sanções
em caso de descumprimento. O Direito organiza o ente social ao proporcionar:
estabilidade nas relações jurídicas, direção para objetivos de alcance social e
atendimento das necessidades humanas.

Nas palavras de Tercio Sampaio Ferraz Júnior: “a ciência dogmática do direito


costuma encarar seu objeto, o direito posto e dado previamente, como um
conjunto compacto de normas, instituições e decisões que lhe compete
sistematizar, interpretar e direcionar, tendo em vista uma tarefa prática de
solução de possíveis conflitos que ocorram socialmente. O jurista
contemporâneo preocupa-se, assim, com o direito que ele postula ser um todo
coerente, relativamente preciso nas suas determinações, orientado para uma
ordem finalista, que protege a todos indistintamente 2.”.

A quem foi incumbida a


tarefa de discutir e
aprovar estas regras tão
importantes ao ser
humano no ente social?

É sabido, que foi entregue ao Estado. O Poder Legislativo tem a atribuição


constitucional, no Brasil, de elaborar as leis velando pela sua conformação com
o sistema jurídico vigente.

A lei, no nosso país, é uma norma escrita e aprovada por um processo


legislativo que tramita perante o Poder Legislativo.

Nos lembra Kelsen que “norma é o sentido de um ato através do qual uma
conduta é prescrita, permitida ou, especialmente, facultada, no sentido de
adjudicada à competência de alguém 3”.

2 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução do estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São
Paulo: Altas, 1988, p. 83.
3 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1987, p.5.

3
Ainda, conforme as lições de Tércio Sampaio Ferraz Júnior 4 “todo ato de
legislação, realizado pelo poder competente e obedecidos os requisitos do
ordenamento, é lei. (...) Leis materiais são caracterizadas por sua natureza
(produção solene e institucionalizada de normas gerais) e leis formais ou
caracterizadas pela forma (conteúdos que adquirem o caráter de lei porque
obedecem à sua forma de produção)”.

Enfatiza, também, Miguel Reale que “lei, no sentido técnico da palavra, só


existe quando a norma escrita é constitutiva de direito, ou esclarecendo melhor,
quando ela induz algo de novo com caráter obrigatório no sistema jurídico em
vigor, disciplinando comportamentos individuais ou atividades públicas 5”.

As leis brasileiras passam por controle orgânico, sendo elaboradas de acordo


com ditames constitucionais. Estudaremos a importância das leis e suas
facetas neste encontro.

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

O Decreto 4.657, de 1942 é o diploma que estabeleceu todo o regime de


princípios norteadores das leis e normas do direito.

A denominação “Lei de Introdução ao Código Civil” foi utilizada por conta do


então Código de 1916 que tratava de um código de normas (ou “a lei das
leis”) em seu início. Posteriormente alterada pelo Decreto de 1942, não perdeu
o caráter de regular situações jurídicas de todos os ramos do nosso
ordenamento. Em 2010, com o advento da Lei 12.376/10, passou a ter
expresso reconhecimento para alcance de todos os tipos normativos e não
apenas no ramo do Direito Civil, como alguns argumentavam - que era o que
lhe conferia o nome. Atualmente recebe o nome de LINDB, Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro.

A função primordial da LINDB é explicitar a aplicação das normas em nosso


sistema jurídico, como nos ensina a Prof. MARIA HELENA DINIZ6:

1. Início da obrigatoriedade legal – art.1o


2. Tempo da obrigatoriedade legal – art. 2o;
3. Eficácia da Ordem Jurídica – art. 3o;
4. Integração de lacunas – art. 4o;
5. Interpretação – art. 5o;
6. Direito Intertemporal – art.6o;
7. Direito Internacional Privado brasileiro – arts. 7º a 17;
8. Atos civis, no estrangeiro, das autoridades consulares brasileiras – arts.
18 e 19;
9. Normas para criação e aplicabilidade de preceitos de Direito Público –
arts. 20 a 30 (decorrentes da vigência da Lei No. 13.655/2018 e Decreto
nº 9.830/2019).

4 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução do estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São
Paulo: Altas, 1988, p. 211.
5 REALE, Miguel. Lições Prelimianres de Direito. – 17 ed rev e atual – São Paulo: Saraiva, 1990, p.163.
6 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1989, p.45.

4
Início da Obrigatoriedade Legal

Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em


todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada.

Vigência

É a aptidão para a lei incidir, para dar significação jurídica aos fatos.

Se a Lei é vigente, ocorrem os fatos e efeitos nela previstos. A lei é apta para
incidir sobre a sociedade. Se a lei é vigente sua observância é obrigatória.

Para Hans Kelsen “a norma pode valer (ser vigente) quando o ato de vontade
de que ela constitui o sentido já não mais existe”7.

Nas lições de Miguel Reale8 “a vigência ou validade formal é a executoriedade


compulsória de uma regra de direito, por haver preenchido os requisitos
essenciais à sua feitura ou elaboração (...) o primeiro (requisito) se refere à
ordem das competências do poder político, legitimidade do órgão emanador da
regra. É necessário que o órgão que promulgou a regra tenha legitimidade pra
fazê-lo, por ter sido constituído para tal fim”.

Há ainda uma importante conceituação de Maria Helena Diniz no que diz


respeito à vigência, a saber, “designaria, então, a existência específica da
norma em determinada época, caracterizando o preceito normativo, que rege
relações sociais aqui e agora (hic et nunc)9”.

Também é necessário que tenha a competência para legislar sobre a matéria


enfocada e que o procedimento de elaboração da lei tenha sido respeitado.

Exemplo: A Lei 13.655/2018 entrou em vigor no dia da sua publicação, a saber,


dia 25 de abril de 2018. Todavia, o artigo 29 observou prazo para vigência de
180 dias após sua publicação.

7 KELSEN, Hans. Op. cit p. 11.


8 REALE, Miguel. Op. cit p. 108.
9 FERRAZ, Júnior; Tércio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia /

Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo:
Atlas, 1989, p.68.

5
Elaboração da Lei

A lei para poder incidir deve ser submetida a processo de elaboração. A Lei
Complementar 95/1998 determina as regras para estruturação legal:

Art. 3o A lei será estruturada em três partes básicas:


I - parte preliminar, compreendendo a epígrafe, a ementa, o preâmbulo,
o enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das
disposições normativas;
II - parte normativa, compreendendo o texto das normas de conteúdo
substantivo relacionadas com a matéria regulada;
III - parte final, compreendendo as disposições pertinentes às medidas
necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, às
disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a
cláusula de revogação, quando couber.

Art. 8o A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a


contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento,
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as
leis de pequena repercussão.

§ 1o A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que


estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da
publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia
subsequente à sua consumação integral.
§ 2o As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a
cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de
sua publicação oficial.

Art. 9o A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as


leis ou disposições legais revogadas.

Assim, a lei federal formalmente elaborada, incide sobre todo o território


nacional. Alguns doutrinadores apontam esta incidência nacional da lei como
resultado do “princípio da vigência síncrona” da lei, a saber, ao mesmo
tempo ela deve ser obedecida no Brasil e onde for obrigatória a norma
brasileira no exterior.

Prazo

Se nada estiver estipulado a lei começa a viger 45 dias após sua publicação.

No estrangeiro o prazo é de 3 (três) meses:

LINDB, Art. 1O, § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei


brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente
publicada.

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Vacatio Legis

É a “vacância da lei”, ou seja, o período, o lapso temporal entre a


PUBLICAÇÃO da lei (em Diário Oficial) e sua vigência. Não adianta a lei ser
publicada e todos desconhecerem seu conteúdo - no mundo real. Para que a
coletividade possa ser cientificada da lei há este prazo para cumprimento do
preceito que vigorará.

LINDB, Art. 1O, § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova
publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e
dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Interessante é observação do fenômeno descrito por Kelsen acerca da


cronologia entre a vigência e a eficácia da norma jurídica: “uma norma jurídica
entra em vigor antes ainda de se tornar eficaz, isto é, antes de ser seguida e
aplicada. (...) Porém uma norma jurídica deixa de ser considerada válida
quando permanece por muito tempo ineficaz. A eficácia é, nesta medida,
condição da vigência, visto que ao estabelecimento de uma norma deve seguir
a sua eficácia para que ela não perca sua vigência”.

Acerca da eficácia da norma, deve ser enfatizado que esta qualidade “diz
respeito às condições fáticas, axiológicas e técnicas da atuação da norma
jurídica. A eficácia vem a ser a qualidade do preceito normativo vigente de
produzir efeitos jurídicos concretos, supondo, não só a questão de sua
condição técnica de aplicação, observância ou não, pelas pessoas a quem se
dirige, mas também de sua adequação em face da realidade social, por ele
disciplinada, e aos valores vigentes nesta sociedade10” (como Maria Helena
Diniz bem detalha).

Exemplo: A vacatio legis do art. 29 da Lei 13.655/2018 é de 180 dias. Entre a


publicação da lei e a vigência há este período para todos se adaptarem:

Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por


autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser
precedida de consulta pública para manifestação de interessados,
preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na
decisão. Vigência

§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e


demais condições da consulta pública, observadas as normas legais e
regulamentares específicas, se houver.

Este artigo determinou, portanto, a possibilidade de consulta pública. Como há


uma demora para os destinatários da norma se adaptarem, há este período. No

10FERRAZ, Júnior. Tércio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia /
Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo:
Atlas, 1989, p. 68.

7
caso do artigo de lei citado, verifica-se que, envolve - cada consulta - várias
etapas. Se o Ministério da Educação (federal), através da Diretoria de
Administração, propôs oitiva de críticas e sugestões pela população acerca de
projeto para construção de escolas padronizadas para as crianças, ele deve
avisar que há a consulta pública em edital. Depois de ouvir a população e
consolidar o texto final, deve confeccionar relatório de análise de contribuições,
publicando-o na internet, com a deliberação do Fundo Gestor, etc. Só depois
de escoadas todas estas fases, então, pode ser foi iniciado o processo para
licitar e, enfim, contratar.

Um pequeno artigo com grandes repercussões práticas.

Tempo da Obrigatoriedade Legal

Revela o caráter temporal, o período em que uma


lei está em vigor - já que ela pode ser criada para
existir durante certo período (que são as chamadas
leis de vigência temporária) ou por período
indeterminado (que são as leis de vigência
permanente).

LINDB - Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá


vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a
matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par
das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por
ter a lei revogadora perdido a vigência.

Portanto, o tempo da lei rege sua vigência. Na lei temporária, finalizado seu
prazo de “validade”, ela também cessará. Ex. leis orçamentárias. Por exemplo,
a Lei 13.587/2018 determinou a receita e despesa estimada da União para o
exercício financeiro de 2018 em 3 trilhões e meio de reais. Esta lei estimou a
receita dos orçamentos fiscais e da Seguridade Social, refinanciamento da
dívida pública, a fixação das despesas, aberturas de créditos suplementares
etc. Tudo se refere ao período de 2018.

Na lei permanente, por outro lado, ela só deixará de existir se for REVOGADA
(Princípio da Continuidade). Exemplo: A Lei Complementar 69, de 23 de julho
de 1991 que dispunha sobre as normas gerais para organizar, preparar e
empregar as Forças Armadas está revogada.

Há que se esclarecer que uma norma, mesmo que não esteja mais em vigor,
poderá continuar vinculando seus destinatários, uma vez que já teve seus

8
efeitos cumpridos no mundo concreto, em atendimento ao art. 6o da LINDB e à
Constituição Federal (art. 5o, XXXVI).
Revogação

É o fim, a extinção da norma, a perda da vigência da lei. Ela se torna sem


efeito, sem obrigatoriedade. Espécies de revogação:

a. TOTAL ou “ab-rogação” – Exemplo: Lei 10.406/2002 – Novo Código


Civil revogou totalmente a Lei 3.071/1916, o antigo Código Civil e a
Primeira Parte da Lei 556/1850, o Código Comercial.

b. PARCIAL ou “derrogação” – Exemplo: Lei 11.698 de 2008 revogou


parcialmente o Novo Código Civil nos artigos 1583 e 1584, mas atribuiu
a esses artigos nova redação, sobre a guarda compartilhada.

A revogação só existe se há conflito entre os textos das normas. Se o conteúdo


se complementa ou um detalha o que o outro generaliza não é caso de
revogação. A revogação expressa define quais leis ou disposições legais ela
está revogando (art. 9o. da Lei Complementar 95/98), enquanto a tácita
incompatibiliza o texto anterior com o posterior, prevalecendo o que a lei nova
modificou.

Repristinação

É o “restabelecimento” da lei revogada. Ele é vedado, em regra, no nosso


ordenamento jurídico. Está detalhado no § 3o do art. 2o da LINDB:

A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par


das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

Eficácia da Ordem Jurídica

Para que o ordenamento jurídico seja eficaz,


ele deve ser obedecido.

Diz Miguel Reale que “reconhecido o Direito, é ele incorporado à maneira de


ser e de agir da coletividade (...) Não há norma jurídica sem um mínimo de
eficácia, de execução ou aplicação no meio do grupo. (...) a regra de direito
deve, por conseguinte, ser formalmente válida e socialmente eficaz”11.

11 MIGUEL, Reale. Op. cit. p. 113.

9
Arremata Theodor Viehweg12, que é possível utilizar a tópica como técnica de
argumentação na análise da vigência e eficácia de uma norma. A tópica, neste
caso “é uma técnica que busca assinalar sugestões, indicar possibilidades,
desvendando caminhos ou vias, tendo por finalidade uma decisão”. Para saber
se uma lei se mostra eficaz são enfatizadas “premissas (topoi), sistemas e
fundamentos que levam a uma conclusão plausível, mas não única”. Portanto,
o interessado é levado a conhecer – de modo dinâmico, o conjunto de
condições que estão sendo utilizadas – mas permitindo que o mesmo seja
adaptado e maleável à outras mudanças necessárias.”.

A eficácia vem a ser a qualidade do preceito normativo vigente de produzir


efeitos concretos, supondo, não só a questão de sua condição técnica de
aplicação, observância, ou não, pelas pessoas a quem se dirige, mas também
de sua adequação em face da realidade social, por ele disciplinada, e aos
valores vigentes nessa sociedade. (...)

Por exemplo, a lei que determina a possibilidade de utilização de equipamento


de vigilância indireta de condenado (tornozeleira: monitoração eletrônica) – Lei
12.258/2010: a eficácia do uso de equipamento de monitoração eletrônica está
sempre passando por aperfeiçoamentos para verificar se há condições, na
realidade, de abranger mais pessoas condenadas que devem ficar à parte do
sistema carcerário, mas com restrições à liberdade. O uso da tópica é relevante
para soluções. Havendo perguntas, que ficam sempre abertas, há condições
de se indicar mais premissas e, deste modo, ajustar às mudanças
comportamentais do grupo social em questão.

Em sentido técnico a eficácia de uma norma indica que ela teria possibilidade
de ser aplicada, de produzir efeitos jurídicos, porque foram cumpridas as
condições para isto requeridas (eficácia jurídica), sem que haja qualquer
relação de dependência de sua observância ou inobservância pelos seus
destinatários.

Daí a necessidade de APLICAÇÃO DA LEI no mundo fático.

Lei

Neste contexto, pode ser definida como uma regra geral de direito, abstrata e
permanente, dotada de sanção, expressa pela vontade de uma autoridade
competente, de cunho obrigatório e forma escrita (VENOSA13).

LINDB - Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que


não a conhece.

12 VIEHWEG, Theodor apud DINIZ, Maria Helena. FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Constituição de
1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz,
Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: Atlas, 1989, p 84.
13 VENOSA, Sílvio de Salvo.Direito Civil:parte geral – 2a ed. – São Paulo: Altas, 2002, p.37. – (Coleção

direito civil; V.1).

10
A publicação da lei tem como finalidade marcar o momento de obrigatoriedade
da lei. Publicar é tornar conhecido, público. A publicação determina que não
será aceita a desculpa de ignorância do conteúdo legal 14.

Entre a publicação da lei e o prazo de vigência, temos a vacância da lei


(vacatio legis), como vimos, para preparar a população para cumprir as
exigências ou determinações que lhe serão impostas.

Exemplo: Necessidade de uso de farol baixo, durante o dia – Lei 13.290/2016 -


foi aprovada e publicada em Diário Oficial em 24 de maio de 2016 e entrou em
vigor 45 dias depois para todos os motoristas se adaptarem.

Integração de Lacunas

Nem toda a situação jurídica pode ser antecipada pelo


legislador ou prevista pela lei. E então, como agir em
caso de omissão, falta de previsão da lei?

Podemos exemplificar a questão dos danos causados por


“hackers”, questões sobre “barriga de aluguel”, aplicação
de células tronco, “bitcoins”, criptomoedas, “blockchain”
enfim, um infinito mundo de novos fatos e conflitos que
podem ocasionar dúvidas sobre a incidência e aplicação da
lei.

Como o Poder Judiciário não pode se eximir de julgar, em observância ao


Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, há um sistema para equacionar os
possíveis “brancos” na legislação. São os chamados mecanismos
complementares do direito legislativo. O sistema jurídico autoriza o julgador a
inovar (até certo ponto) - numa concepção individual de norma - para o caso
específico.

O artigo 4o da LINDB justamente aponta para a Teoria das Lacunas:

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

Na chamada autointegração, a lei - aplicada em casos de similaridade - deverá


ser a primeira opção do Magistrado para equacionar a falta da norma
específica. Isso porque, a autointegração é o método no qual o próprio
ordenamento se completa. Ex. utilizava-se a lei das estradas de ferro para
julgar casos ocorridos nas estradas de rodagem (uma Lei de 1912 utilizada
para casos de 1975). Vejamos com maior detalhe este assunto.

14 É o princípio da irrelevância do desconhecimento da lei, o qual afasta a “exceptio ignorantiae juris”.

11
Analogia

É o processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende o preceito legal a


casos não diretamente compreendidos na descrição legal (VENOSA)15.

Por exemplo, no caso da lei de arrendamento mercantil ou leasing, aplica-se o


instituto da compra e venda e locação caso haja omissão de previsão expressa
no caso concreto (analogia legal ou individual, se funda em dispositivo, já
existente).

Em havendo dificuldade para encontrar textos semelhantes é possível extrair


de um complexo de normas a razão de identidade entre a norma encontrada e
o caso a ser solucionado (analogia jurídica ou conjunta, vários dispositivos
usados e agrupados para decidir certa situação).

Exemplo de analogia: mesmo antes de haver o Código Civil (1916) era utilizado
o citado Decreto No. 2.681/1912 (das estradas de ferro) para casos em que se
precisava aferir indenizações decorrentes de responsabilidade civil e culpa (art.
20 do Decreto).

Portanto, como leciona Maria Helena Diniz16 “para integrar lacunas o juiz
recorre, preliminarmente, à analogia, que consiste em aplicar, a um caso não
regulado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma prescrição
normativa prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não
contemplado, fundando-se na identidade do motivo da norma e não na
identidade do fato”.

Outra técnica - que o julgador pode se socorrer - é a heterointegração (fontes


diferentes da norma contida nas leis, podem ser utilizadas):

Costume

Estudiosos apontam que os hábitos, os costumes são anteriores à lei escrita.


Os romanos o apontavam como consenso popular tácito. Significa aplicar o
uso e a convicção jurídica, sendo, portanto, a norma jurídica que deriva da
longa prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato com a
convicção de sua necessidade (MARIA HELENA DINIZ)17.

Podem ser secundum legem (aqueles previstos na lei); praeter legem (aquele
que não está previsto na lei, mas é admitido em caráter supletivo). Exemplo:
cheque pós-datado = o cheque é ordem de pagamento à vista, mas tornou-se
costume a sua emissão pós-datada; contra legem (aquele se forma em
sentido contrário à lei) - SHIKICIMA18.

15 VENOSA, Sílvio de Salvo. Op. Cit. p.48.


16 DINIZ, Maria Helena. As lacunas do Direito – 2 ed aum e atual – São Paulo: Saraiva, 1989, p.142.
17 DINIZ,Maria Helena. Op. Cit.p. 55.
18 SHIKICIMA, Nelson Sussumu et al. Direito civil – 3.ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: DJP Editora,

2008. – Coleção lições do direito para exame da OAB.

12
Exemplo na doutrina é o uso das águas em pequenas glebas de terra no
sertão. Desde os tempos de sua ocupação pelas famílias, as fontes de água
são compartilhadas sem lei escrita, mas por consideração e interesse coletivo.

Miguel Reale afirma que o costume jurídico é caracterizado por elementos


fundamentais: “um é a repetição habitual de um comportamento durante certo
período de tempo; o outro é a consciência social da obrigatoriedade deste
comportamento (tal conduta é vista como necessária ou conveniente ao
interesse social). De maneira mais objetiva poderíamos dizer que um costume
adquire a qualidade de costume jurídico quando passa a se referir
intencionalmente a valores do Direito, tanto para realizar um valor positivo,
considerado de interesse social, como para impedir a ocorrência de um valor
negativo, um desvalor”19.

Alf Ross20 enfatiza e reitera que os costumes deram origem às regras


tradicionais que os juízes se utilizavam para julgar, mas que - aos poucos –
diante de situações novas, exigiram que tais julgadores fossem descobrindo o
que era adequado e correto para ser aplicado: “o costume é o ponto de partida
natural da evolução jurídica (...). Uma decisão norueguesa refere-se ao caso do
proprietário de um sítio em Trysil que apresentou uma demanda sustentando
que, segundo o costume daquela região, os pequenos proprietários tinham o
direito de se apropriarem da madeira caída que se encontrava em terra alheia.
A existência desse costume não foi aceita”. Conclui o doutrinador que este
caso seria um típico exemplo de costume jurídico, se tivesse sido acolhido. Não
o foi porque o que regula a propriedade é a lei.

Princípios Gerais de Direito

São as regras antiquíssimas que se originam de valores e fundamentos


inseridos, implícita ou explicitamente, nas sociedades de que se tem notícia e
que acabaram se incorporando ao nosso sistema jurídico.

Roberto Senise Lisboa nos lembra que se resumem a: honestae vivere (viver
de modo honesto); neminem laedere (não prejudicar ou lesionar o próximo) e
suum cuique tribuere (dar a cada um o que é seu).

Exemplo: a liberdade contratual é um destes princípios, existe desde que o ser


humano surgiu.

Pablo Jimenez Serrano21 aponta outros cuja relevância os incorporou ao nosso


sistema legal: “A ignorância da lei não exime de seu cumprimento”; “ninguém
deve fazer justiça com as próprias mãos”; “liberdade é a faculdade natural de
agir livremente em tudo o que a lei não proíbe”. Podemos, ademais,
exemplificar a aplicabilidade de outros princípios gerais:

Por exemplo: a Teoria da Aparência e o princípio da segurança jurídica.

19 REALE, Miguel. Op. cit. p. 158.


20
ROSS, Alf. Direito e Justiça – tradução Edson Bini – revisão técnica Alysson Leandro Mascaro –
Bauru, SP: EDIPRO, 2000. p. 121.
21 SERRANO, Pablo Jimenez. Interpretação jurídica – 1 ed – São Paulo: Desafio Cultural, 2002, p.66.

13
No próprio direito administrativo, a teoria da aparência encontra aplicação,
como acontece em relação ao funcionário de fato, cuja validade de seus atos é
reconhecida em relação aos terceiros de boa-fé. Na verdade, a exigência da
preservação da segurança das relações jurídicas e o registro da boa-fé de
terceiro devem justificar o acolhimento da teoria da aparência 22(NERY).

Interpretação

Método no qual são perseguidos: o significado e o alcance da lei que se


pretende aclarar, detalhar. Interpretar compreende aplicar “a hermenêutica”
jurídica, ou seja, realizar uma atividade lógica de aplicação de regras e normas
que solucionarão um caso concreto. As regras viabilizam entender o significado
da norma, sem acrescentar, sem inovar, sem exceder o sentido legal.

Segundo Pablo Jimenez Serrano23 a interpretação “é o processo pelo qual se


determina o sentido e alcance da norma, ao ser identificada com uma relação
jurídica. A hermenêutica é parte da ciência jurídica que tem por objeto o estudo
e a sistematização de processos interpretativos.”

A doutrina24 aponta como Métodos de Interpretação: a verificação gramatical


(pelo sentido, pela etimologia e sintaxe das palavras), o histórico (comparação
entre os projetos de lei, debates parlamentares, enfim, a história da aprovação
da norma), sistemático (leva em conta todo o regramento, o conjunto, e não a
norma isoladamente considerada) e o teleológico (o fim, o objetivo da norma):

Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum.

22 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Novo código civil e legislação extravagante
anotados: atualizado - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 1081.
23 SERRANO, Pablo Jimenez. Op. cit. p. 21.
24 Já mencionada: Maria Helena Diniz, Silvio Venosa, Ada Pellegrini Grinover.

14
Direito Intertemporal

Está previsto no art. 6o da LINDB. Envolve entendermos a


regra de IRRETROATIVIDADE da lei.

Então, uma nova lei que entra em vigor gera seus efeitos a
todos (efeito geral) IMEDIATAMENTE, como regra.

Exceção: A lei deve respeitar o ATO JURÍDICO PERFEITO, o DIREITO


ADQUIRIDO e a COISA JULGADA:

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato


jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei
vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou
alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício
tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio
de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que
já não caiba recurso.

Vejamos os exemplos...

RE 205193 / RS - RIO GRANDE DO SUL


RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 25/02/1997
Órgão Julgador: Primeira Turma

E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO - CADERNETA DE


POUPANÇA - CONTRATO DE DEPÓSITO VALIDAMENTE
CELEBRADO - ATO JURÍDICO PERFEITO - INTANGIBILIDADE
CONSTITUCIONAL - CF/88, ART. 5º, XXXVI -
INAPLICABILIDADE DE LEI SUPERVENIENTE À DATA DA
CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE DEPÓSITO, MESMO
QUANTO AOS EFEITOS FUTUROS DECORRENTES DO
AJUSTE NEGOCIAL - RE NÃO CONHECIDO. CONTRATOS
VALIDAMENTE CELEBRADOS - ATO JURÍDICO PERFEITO -
ESTATUTO DE REGÊNCIA - LEI CONTEMPORÂNEA AO
MOMENTO DA CELEBRAÇÃO. - Os contratos submetem-se,
quanto ao seu estatuto de regência, ao ordenamento normativo
vigente à época de sua celebração. Mesmo os efeitos futuros
oriundos de contratos anteriormente celebrados não se expõem
ao domínio normativo de leis supervenientes. As consequências
jurídicas que emergem de um ajuste negocial válido são regidas

15
pela legislação em vigor no momento de sua pactuação. Os
contratos - que se qualificam como atos jurídicos perfeitos (RT
547/215) - acham-se protegidos, em sua integralidade, inclusive
quanto aos efeitos futuros, pela norma de salvaguarda constante
do art. 5º, XXXVI, da Constituição da República. Doutrina e
precedentes. INAPLICABILIDADE DE LEI NOVA AOS EFEITOS
FUTUROS DE CONTRATO ANTERIORMENTE CELEBRADO -
HIPÓTESE DE RETROATIVIDADE MÍNIMA - OFENSA AO
PATRIMÔNIO JURÍDICO DE UM DOS CONTRATANTES -
INADMISSIBILIDADE. - A incidência imediata da lei nova sobre os
efeitos futuros de um contrato preexistente, precisamente por
afetar a própria causa geradora do ajuste negocial, reveste-se de
caráter retroativo (retroatividade injusta de grau mínimo),
achando-se desautorizada pela cláusula constitucional que tutela
a intangibilidade das situações jurídicas definitivamente
consolidadas. Precedentes. LEIS DE ORDEM PÚBLICA -
RAZÕES DE ESTADO - MOTIVOS QUE NÃO JUSTIFICAM O
DESRESPEITO ESTATAL À CONSTITUIÇÃO - PREVALÊNCIA
DA NORMA INSCRITA NO ART. 5º, XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO.
- A possibilidade de intervenção do Estado no domínio econômico
não exonera o Poder Público do dever jurídico de respeitar os
postulados que emergem do ordenamento constitucional
brasileiro. Razões de Estado - que muitas vezes configuram
fundamentos políticos destinados a justificar, pragmaticamente, ex
parte principis, a inaceitável adoção de medidas de caráter
normativo - não podem ser invocadas para viabilizar o
descumprimento da própria Constituição.

As normas de ordem pública - que também se sujeitam à cláusula


inscrita no art. 5º, XXXVI, da Carta Política (RTJ 143/724) - não
podem frustrar a plena eficácia da ordem constitucional,
comprometendo-a em sua integridade e desrespeitando-a em sua
autoridade.
Indexação
CV1642, CORREÇÃO MONETÁRIA, ÍNDICE DE ATUALIZAÇÃO,
CADERNETA DE POUPANÇA, EFEITOS FUTUROS, LEI NOVA,
INAPLICAÇÃO, ATO JURÍDICO PERFEITO,
RECONHECIMENTO.

SÚMULA VINCULANTE No.1 (STF): Ofende a garantia constitucional do ato


jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso
concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de
adesão instituído pela Lei Complementar 110/2001.

16
Direito Internacional Privado Brasileiro

A LINDB vai tratar também, de regras que nosso país impõe à casos em que
pode haver mais de duas legislações regendo uma determinada situação
jurídica. O Brasil, por sua lei, vem dar limites ao ordenamento jurídico alheio. É
uma forma de equacionar as relações jurídicas - de interesse do país - no
cenário internacional.

É sabido que existem fatos jurídicos que suplantam limites territoriais dos
países. Portanto, nossa legislação vem suprir isso e regulamentar certos casos.

A LINDB destina-se a apontar a resolução destas situações frente a conflitos


entre normas internas e internacionais, considerando que a maior parte das
relações jurídicas regulamentadas pelo Direito Internacional Privado tem
natureza civil.

Portanto, os arts.7 a 17 da LINDB destinam-se a regular as


situações em que leis de países estrangeiros e leis
brasileiras são aplicadas em relações jurídicas que não
coincidem exatamente com seus espaços territoriais ou
fronteiras.

São exemplos da eficácia da lei no espaço: herdeiro brasileiro possui bens


localizados em diversos países – pode ser aplicada nossa lei; empresas
nacionais que celebram contrato com empresas estrangeiras para cumprimento
de obrigações em certo país - pode ser aplicada nossa lei ou a do local em que
foi realizado o negócio, etc.

São basicamente os princípios que regem tais questões: o da Territorialidade


(a norma se restringe ao território do país em que foi aprovada) e o da
Extraterritorialidade (a norma estrangeira pode ser aplicada por outros países
em seus territórios, em casos específicos).

O nosso país adotou o Princípio da Territorialidade Moderada, ou seja, o


Brasil mescla os dois princípios acima, permitindo aplicação de norma
estrangeira com relação ao “estatuto pessoal” do estrangeiro (ou seja, a
situação jurídica do estrangeiro é considerada pela lei de seu país de origem,
obedecendo, entretanto, o art. 17 da LINDB - soberania nacional, ordem
pública e bons costumes).

17
Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os
direitos de família.
§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira
quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante
autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.
§ 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade
do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em
que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro
domicílio conjugal.
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante
expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega
do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime
de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e
dada esta adoção ao competente registro.
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges
forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano
da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação
judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito
imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das
sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na
forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do
interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de
sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem
a produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de
2009).
§ 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-
se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou
curador aos incapazes sob sua guarda.
§ 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada
no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.

Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles


concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.
§ 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário,
quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte
para outros lugares.
§ 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja
posse se encontre a coisa apenhada.

Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país


em que se constituírem.
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo
de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades
da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar
em que residir o proponente.

Art. 10 A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em


que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a
natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos

18
brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do de cujus.
§ 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para
suceder.

Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como


as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se
constituírem.
§ 1o Não poderão, entretanto, ter no Brasil filiais, agências ou
estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo
Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.
§ 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer
natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de
funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou
susceptíveis de desapropriação.
§ 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos
prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos
agentes consulares.

Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu


domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 1o Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações,
relativas a imóveis situados no Brasil.
§ 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e
segundo a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências
deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei
desta, quanto ao objeto das diligências.

Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei
que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não
admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.

Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem
a invoca prova do texto e da vigência.

Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro,


que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à
revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necessárias para a execução no lugar em que, foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal (atualmente a
competência é do STJ).Parágrafo único. Revogado

Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de


aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem
considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei.

Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem
a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

19
Atos civis, no estrangeiro, das autoridades
consulares brasileiras.

As autoridades consulares brasileiras possuem


competência para realização dos atos de Registro Civil e
tabelionato para os brasileiros que estejam no exterior:

Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades


consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de
Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de
óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do
Consulado.

§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a


separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não
havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os
requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva
escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos
bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à
retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do
nome adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº
12.874, de 2013). Vigência
§ 2º É indispensável a assistência de advogado, devidamente
constituído, que se dará mediante a subscrição de petição, juntamente
com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua
advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do
advogado conste da escritura pública. (Incluído pela Lei nº 12.874, de
2013). Vigência

Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e


celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº
4.657, de 4 de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os
requisitos legais.

Parágrafo único. No caso em que a celebração desses atos tiver sido


recusada pelas autoridades consulares, com fundamento no artigo 18
do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido
dentro em 90 (noventa) dias contados da data da publicação desta lei.

20
Normas Referentes ao Direito Público: Disposições

Aqui trataremos das normas referentes ao Direito Público, no que concerne às


disposições para elevar o nível de segurança jurídica e eficiência na
criação e aplicação do Direito Público.

Decorrem, os artigos subsequentes - do advento da Lei 13.655/2018 e do


Decreto n° 9.830/2019 - os quais pretendem elevar a qualidade decisória
pública no Brasil:

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com
base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da


medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. (Incluído pela Lei
nº 13.655, de 2018)

O artigo 20 e os subsequentes foram incluídos pela Lei 13.655/2018 para


determinar regras sobre segurança jurídica e eficiência sobre decisões que
tratam de Direito Público.

Interpretar estes artigos significa levar em conta que seu âmbito de atuação,
sua finalidade se dá na seara do Direito: Tributário, Financeiro, Administrativo e
nos orçamentos – como disposto no artigo 20.

O Decreto regulamenta este dispositivo e aponta:

Motivação e decisão

Art. 2º A decisão será motivada com a contextualização dos fatos, quando


cabível, e com a indicação dos fundamentos de mérito e jurídicos.

§ 1º A motivação da decisão conterá os seus fundamentos e apresentará a


congruência entre as normas e os fatos que a embasaram, de forma
argumentativa.

§ 2º A motivação indicará as normas, a interpretação jurídica, a jurisprudência


ou a doutrina que a embasaram.

§ 3º A motivação poderá ser constituída por declaração de concordância com o


conteúdo de notas técnicas, pareceres, informações, decisões ou propostas
que precederam a decisão.

21
Há responsabilidade nas decisões prolatadas com aplicação de normas
jurídicas genéricas. Há a proibição para amplitude nas decisões. Não se pode
motivar a decisão sem considerar o valor econômico resultante do que for
analisado. Diz a doutrina que: termos como “moralidade, interesse público e
boa-fé”, necessariamente, deverão ficar expressos na decisão no antecedente
e no consequente. Cumpre ao prolator analisar os problemas com fatos e
impactos reais.

Exemplos: decisão na esfera da controladoria motivar com base em números e


contas de gestor público – enumerar fatos e consequências. No âmbito judicial:
magistrado que defere melhores condições em presídio deverá mencionar
expressamente atos de melhorias e considerar parte econômica. O mesmo
para deferir vagas em creches municipais, entrega de medicamento de alto
custo para um paciente, cumprimento do Estatuto do Deficiente na rede
pública, etc.

Os termos da decisão não podem ser vagos ou abstratos. Nos termos do


Decreto:

Motivação e decisão baseadas em valores jurídicos abstratos

Art. 3º A decisão que se basear exclusivamente em valores jurídicos abstratos


observará o disposto no art. 2º e as consequências práticas da decisão.

§ 1º Para fins do disposto neste Decreto, consideram-se valores jurídicos


abstratos aqueles previstos em normas jurídicas com alto grau de
indeterminação e abstração.

§ 2º Na indicação das consequências práticas da decisão, o decisor


apresentará apenas aquelas consequências práticas que, no exercício diligente
de sua atuação, consiga vislumbrar diante dos fatos e fundamentos de mérito e
jurídicos.

§ 3º A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida


imposta, inclusive consideradas as possíveis alternativas e observados os
critérios de adequação, proporcionalidade e de razoabilidade.

Entende a doutrina que foi uma tentativa do Poder Legislativo tentar segurar as
rédeas da força que os princípios constitucionais possuem no nosso
ordenamento jurídico.

O art. 20 veda a motivação vazia, vaga, por isso o uso de “consequências


práticas”. No fundo, o legislador pretende a análise ECONÔMICA do direito.

22
O parágrafo único quer vincular o julgador a motivar sua decisão no binômio
necessidade e adequação, eliminando outras e possíveis soluções.

Diz a doutrina que isso provém do princípio da proporcionalidade, englobando:


se a solução é apta/ capaz para a atingir a finalidade pública exposta; se não
há excesso; se compensa o custo-benefício da providência.

As críticas, no entanto, colocam que o artigo faria com que o julgador tivesse
que conhecer alternativas que nem sempre foram trazidas aos autos pelas
partes – argumento que o TCU, colocou.

Outro ponto: a invalidação de atos e negócios jurídicos e o dever de


responsabilidade.

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas
e administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Em caso de tornar sem efeito relação jurídica, o julgador deve demonstrar, na


decisão, maior detalhamento, devido aos vínculos com bens, direitos e
entidades.

Exemplo dado - no Parecer de Juristas, que combateu críticas à lei - coloca o


seguinte: “a autoridade pública julgadora que determinar a invalidação de
contrato administrativo deverá definir se a lei aplicada garante ou não a
preservação de alguns dos efeitos do contrato, como se: terceiros de boa-fé
impactados terão seus direitos garantidos, se é caso de pagamento de
indenização àquele que já executou sua prestação, etc. A decisão deve
abranger as consequências advindas da invalidação.”

Diz o Decreto:

Motivação e decisão na invalidação

Art. 4º A decisão que decretar invalidação de atos, contratos, ajustes,


processos ou normas administrativos observará o disposto no art. 2º e indicará,
de modo expresso, as suas consequências jurídicas e administrativas.

§ 1º A consideração das consequências jurídicas e administrativas é limitada


aos fatos e fundamentos de mérito e jurídicos que se espera do decisor no
exercício diligente de sua atuação.

§ 2º A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida


imposta, consideradas as possíveis alternativas e observados os critérios de
proporcionalidade e de razoabilidade.

23
§ 3º Quando cabível, a decisão a que se refere o caput indicará, na modulação
de seus efeitos, as condições para que a regularização ocorra de forma
proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais.

§ 4º Na declaração de invalidade de atos, contratos, ajustes, processos ou


normas administrativos, o decisor poderá, consideradas as consequências
jurídicas e administrativas da decisão para a administração pública e para o
administrado:

I - restringir os efeitos da declaração; ou

II - decidir que sua eficácia se iniciará em momento posteriormente definido.

§ 5º A modulação dos efeitos da decisão buscará a mitigação dos ônus ou das


perdas dos administrados ou da administração pública que sejam anormais ou
excessivos em função das peculiaridades do caso.

Ainda sobre o artigo 21 da LINDB:

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá,


quando for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de
modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se
podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018)

Outro exemplo que o TCU já faz é decidir que, em caso de punição de


inidoneidade, os efeitos são ex nunc, não dando ensejo à imediata rescisão de
todos os contratos entre as empresas sancionadas e o Poder Público Federal.

Sobre a interpretação normativa e a gestão pública:

A lei se baseia na premissa que o administrador público age de acordo com a


realidade de seu território, com problemas e necessidades específicas. Cada
realidade difere entre os entes públicos. Estas diferenças devem ser
consideradas quando das decisões, bem como as seguintes condicionantes:

I. os obstáculos e a realidade fática do gestor;

II. as políticas públicas acaso existentes;

III. o direito dos administrados envolvidos.

24
É o texto da lei:

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados


os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas
públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.

Os juristas que defendem a lei colocaram a questão interpretativa no âmbito


sistemático: “mencionando Juarez Freitas – a interpretação sistemática,
compreendida em novas e realistas bases, é a que se realiza em consonância
com aquela rede hierarquizável, máxime na Constituição, tecida por princípios,
regras e valores considerados dialeticamente e em conjunto na interpretação
com o intérprete, positivador derradeiro. (...) Assim, ao se aplicar uma norma,
percebe-se estar sendo aplicado e (re)construindo o sistema inteiro” (...).

O Decreto preocupou-se com a posição dos efeitos para com os administrados,


dos atos praticados e as peculiaridades – repetindo o texto da lei:

Interpretação de normas sobre gestão pública

Art. 8º Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados


os obstáculos, as dificuldades reais do agente público e as exigências das
políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.

§ 1º Na decisão sobre a regularidade de conduta ou a validade de atos,


contratos, ajustes, processos ou normas administrativos, serão consideradas
as circunstâncias práticas que impuseram, limitaram ou condicionaram a ação
do agente público.

A própria LINDB, ainda no artigo 22, em seus parágrafos esclarece:

§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato,


ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as
circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a
ação do agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da


infração cometida, os danos que dela provierem para a administração pública,
as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do
agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria


das demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)

25
Chamado de “primado da realidade”. Tentativa para minimizar erros na atuação
dos gestores quando suas responsabilidades são verificadas.

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer


interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado,
impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime
de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento
de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem
prejuízo aos interesses gerais.

Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Chamado de modulação dos efeitos de uma nova interpretação. A comissão de


juristas chamou este tema de “mudança de interpretação normativa, regime de
transição e compromisso para o ajustamento da conduta.”.

Defendem que, se o julgador modificar seu entendimento, instituindo uma nova


interpretação ou orientação sobre norma de conteúdo indeterminado, deve
estabelecer um regime de transição para seu cumprimento, caso disso resulte
um novo dever ou condicionamento de direito aos envolvidos. O prazo deve ser
assinalado para que se obedeçam as novas regras, adaptando-se no período
da transição.

O Decreto assim regulamenta:

Revisão quanto à validade por mudança de orientação geral

Art. 5º A decisão que determinar a revisão quanto à validade de atos, contratos,


ajustes, processos ou normas administrativos cuja produção de efeitos esteja
em curso ou que tenha sido concluída levará em consideração as orientações
gerais da época.
§ 1º É vedado declarar inválida situação plenamente constituída devido à
mudança posterior de orientação geral.
§ 2º O disposto no § 1º não exclui a possibilidade de suspensão de efeitos
futuros de relação em curso.
§ 3º Para fins do disposto neste artigo, consideram-se orientações gerais as
interpretações e as especificações contidas em atos públicos de caráter geral
ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária e as adotadas por
prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.
§ 4º A decisão a que se refere o caput será motivada na forma do disposto nos
art. 2º, art. 3º ou art. 4º.

26
Motivação e decisão na nova interpretação de norma de conteúdo
indeterminado

Art. 6º A decisão administrativa que estabelecer interpretação ou orientação


nova sobre norma de conteúdo indeterminado e impuser novo dever ou novo
condicionamento de direito, preverá regime de transição, quando indispensável
para que o novo dever ou o novo condicionamento de direito seja cumprido de
modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.
§ 1º A instituição do regime de transição será motivada na forma do disposto
nos art. 2º, art. 3º ou art. 4º.
§ 2º A motivação considerará as condições e o tempo necessário para o
cumprimento proporcional, equânime e eficiente do novo dever ou do novo
condicionamento de direito e os eventuais prejuízos aos interesses gerais.
§ 3º Considera-se nova interpretação ou nova orientação aquela que altera o
entendimento anterior consolidado.

Regime de transição

Art. 7º Quando cabível, o regime de transição preverá:


I - os órgãos e as entidades da administração pública e os terceiros
destinatários;
II - as medidas administrativas a serem adotadas para adequação à
interpretação ou à nova orientação sobre norma de conteúdo indeterminado; e
III - o prazo e o modo para que o novo dever ou novo condicionamento de
direito seja cumprido.

A LINDB é clara acerca do tema:

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à


validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja
produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da
época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação
geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas. (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)

Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e


especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência
judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018)

Art. 25. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Este próximo artigo estabelece o chamado “regime jurídico geral de negociação


entre autoridades públicas e particulares.”

27
Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa
na aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a
autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o
caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante
interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a
legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação
oficial. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo: (Incluído pela Lei nº


13.655, de 2018)

I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com


os interesses gerais; (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

II – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou


condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral; (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)

IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu
cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

O artigo 26 quer evitar litígios entre aqueles envolvidos em negócios público-


privados. Diz o Parecer que este regime visa eliminar eventual irregularidade,
incerteza jurídica ou conflitos, como no caso de expedição de licenças, desde
que presentes razões de relevante interesse social.

Exemplos citados pelos juristas: no caso de vedação à desoneração


permanente pretenderia evitar que uma negociação ou transação admitisse
que o concessionário se escusasse de seu dever de cumprir regras
regulatórias de qualidade do serviço público. No caso de vedação à fragilização
de condicionamento de direito o foco seria reiterar que limitações
administrativas não fossem desrespeitadas, exemplo: não pode a autoridade
permitir que a indústria jogue poluição tóxica na atmosfera. Estes deveres não
podem ser objeto de transação pela autoridade administrativa por se tratarem
de casos de orientação geral (art. 24).

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Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou
judicial, poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos
anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos
envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as


partes sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado


compromisso processual entre os envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018)

Diz o Decreto acerca da possibilidade de compensação:

Compensação

Art. 9º A decisão do processo administrativo poderá impor diretamente à


pessoa obrigada compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais
ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos, com a
finalidade de evitar procedimentos contenciosos de ressarcimento de danos.
§ 1º A decisão do processo administrativo é de competência da autoridade
pública, que poderá exigir compensação por benefícios indevidamente fruídos
pelo particular ou por prejuízos resultantes do processo ou da conduta do
particular.
§ 2º A compensação prevista no caput será motivada na forma do disposto nos
art. 2º, art. 3º ou art. 4º e será precedida de manifestação das partes obrigadas
sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

O artigo 28 da LINDB trata da responsabilidade pessoal do agente público


quando suas opiniões, decisões se fundarem em dolo ou erro grosseiro,
inclusive situações de negligência, imperícia ou imprudência graves. Este
dispositivo pretende abarcar também advogados públicos e procuradores que,
em parecer ou atuação, perante órgãos públicos, causem danos a clientes/
terceiros por erros graves ou omissões. Seria responsabilizado por oferecer
opinião técnica divergente da tese adotada pelo controlador ou pelo Judiciário,
sem fundamento, sem tese aceitável.

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Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Esclarece o Decreto:

Responsabilização na hipótese de dolo ou erro grosseiro

Art. 12. O agente público somente poderá ser responsabilizado por suas decisões ou
opiniões técnicas se agir ou se omitir com dolo, direto ou eventual, ou cometer erro
grosseiro, no desempenho de suas funções.

§ 1º Considera-se erro grosseiro aquele manifesto, evidente e inescusável praticado


com culpa grave, caracterizado por ação ou omissão com elevado grau de
negligência, imprudência ou imperícia.

§ 2º Não será configurado dolo ou erro grosseiro do agente público se não restar
comprovada, nos autos do processo de responsabilização, situação ou circunstância
fática capaz de caracterizar o dolo ou o erro grosseiro.

§ 3º O mero nexo de causalidade entre a conduta e o resultado danoso não implica


responsabilização, exceto se comprovado o dolo ou o erro grosseiro do agente
público.

§ 4º A complexidade da matéria e das atribuições exercidas pelo agente público serão


consideradas em eventual responsabilização do agente público.

§ 5º O montante do dano ao erário, ainda que expressivo, não poderá, por si só, ser
elemento para caracterizar o erro grosseiro ou o dolo.

§ 6º A responsabilização pela opinião técnica não se estende de forma automática ao


decisor que a adotou como fundamento de decidir e somente se configurará se
estiverem presentes elementos suficientes para o decisor aferir o dolo ou o erro
grosseiro da opinião técnica ou se houver conluio entre os agentes.

§ 7º No exercício do poder hierárquico, só responderá por culpa in vigilando aquele


cuja omissão caracterizar erro grosseiro ou dolo.

§ 8º O disposto neste artigo não exime o agente público de atuar de forma diligente e
eficiente no cumprimento dos seus deveres constitucionais e legais.

Análise de regularidade da decisão

Art. 13. A análise da regularidade da decisão não poderá substituir a atribuição do


agente público, dos órgãos ou das entidades da administração pública no exercício de
suas atribuições e competências, inclusive quanto à definição de políticas públicas.

§ 1º A atuação de órgãos de controle privilegiará ações de prevenção antes de


processos sancionadores.

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§ 2º A eventual estimativa de prejuízo causado ao erário não poderá ser considerada
isolada e exclusivamente como motivação para se concluir pela irregularidade de atos,
contratos, ajustes, processos ou normas administrativos.

Direito de regresso, defesa judicial e extrajudicial

Art. 14. No âmbito do Poder Executivo federal, o direito de regresso previsto no § 6º do


art. 37 da Constituição somente será exercido na hipótese de o agente público ter
agido com dolo ou erro grosseiro em suas decisões ou opiniões técnicas, nos termos
do disposto no art. 28 do Decreto-Lei nº 4.657, de 1942, e com observância aos
princípios constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade.

Art.15. O agente público federal que tiver que se defender, judicial ou


extrajudicialmente, por ato ou conduta praticada no exercício regular de suas
atribuições institucionais, poderá solicitar à Advocacia-Geral da União que avalie a
verossimilhança de suas alegações e a consequente possibilidade de realizar sua
defesa, nos termos do disposto no art. 22 da Lei nº 9.028, de 12 de abril de 1995, e
nas demais normas de regência.

Decisão que impuser sanção ao agente público

Art. 16. A decisão que impuser sanção ao agente público considerará:


I - a natureza e a gravidade da infração cometida;
II - os danos que dela provierem para a administração pública;
III - as circunstâncias agravantes ou atenuantes;
IV - os antecedentes do agente;
V - o nexo de causalidade; e
VI - a culpabilidade do agente.
§ 1º A motivação da decisão a que se refere o caput observará o disposto neste
Decreto.
§ 2º As sanções aplicadas ao agente público serão levadas em conta na dosimetria
das demais sanções da mesma natureza e relativas ao mesmo fato.

Art. 17. O disposto no art. 12 não afasta a possibilidade de aplicação de sanções


previstas em normas disciplinares, inclusive nos casos de ação ou de omissão
culposas de natureza leve.

O Decreto se preocupa, ainda, em mencionar os instrumentos para eliminação


de conflitos na seara administrativa, impedindo prejuízos ao ente público e à
sociedade:

Compromisso

Art. 10. Na hipótese de a autoridade entender conveniente para eliminar


irregularidade, incerteza jurídica ou situações contenciosas na aplicação do direito
público, poderá celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação
aplicável e as seguintes condições:

I - após oitiva do órgão jurídico;

II - após realização de consulta pública, caso seja cabível; e

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III - presença de razões de relevante interesse geral.

§ 1º A decisão de celebrar o compromisso a que se refere o caput será motivada na


forma do disposto no art. 2º.

§ 2º O compromisso:

I - buscará solução proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses


gerais;

II - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de


direito reconhecido por orientação geral; e

III - preverá:

a) as obrigações das partes;

b) o prazo e o modo para seu cumprimento;

c) a forma de fiscalização quanto a sua observância;

d) os fundamentos de fato e de direito;

e) a sua eficácia de título executivo extrajudicial; e

f) as sanções aplicáveis em caso de descumprimento.

§ 3º O compromisso firmado somente produzirá efeitos a partir de sua publicação.

§ 4º O processo que subsidiar a decisão de celebrar o compromisso será instruído


com:

I - o parecer técnico conclusivo do órgão competente sobre a viabilidade técnica,


operacional e, quando for o caso, sobre as obrigações orçamentário-financeiras a
serem assumidas;

II - o parecer conclusivo do órgão jurídico sobre a viabilidade jurídica do compromisso,


que conterá a análise da minuta proposta;

III - a minuta do compromisso, que conterá as alterações decorrentes das análises


técnica e jurídica previstas nos incisos I e II; e

IV - a cópia de outros documentos que possam auxiliar na decisão de celebrar o


compromisso.

§ 5º Na hipótese de o compromisso depender de autorização do Advogado-Geral da


União e de Ministro de Estado, nos termos do disposto no § 4º do art. 1º ou no art. 4º-
A da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997, ou ser firmado pela Advocacia-Geral da
União, o processo de que trata o § 3º será acompanhado de manifestação de
interesse da autoridade máxima do órgão ou da entidade da administração pública na
celebração do compromisso.

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§ 6º Na hipótese de que trata o § 5º, a decisão final quanto à celebração do
compromisso será do Advogado-Geral da União, nos termos do disposto no parágrafo
único do art. 4º-A da Lei nº 9.469, de 1997.

Termo de ajustamento de gestão

Art. 11. Poderá ser celebrado termo de ajustamento de gestão entre os agentes
públicos e os órgãos de controle interno da administração pública com a finalidade de
corrigir falhas apontadas em ações de controle, aprimorar procedimentos, assegurar a
continuidade da execução do objeto, sempre que possível, e garantir o atendimento do
interesse geral.

§ 1º A decisão de celebrar o termo de ajustamento de gestão será motivada na forma


do disposto no art. 2º.

§ 2º Não será celebrado termo de ajustamento de gestão na hipótese de ocorrência de


dano ao erário praticado por agentes públicos que agirem com dolo ou erro grosseiro.

§ 3º A assinatura de termo de ajustamento de gestão será comunicada ao órgão


central do sistema de controle interno.

Finalmente, a intenção de se padronizar o agir do administrador público,


permitindo o conhecimento das motivações com transparência, determinou a
inclusão de tal dispositivo:

Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na
aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e
respostas a consultas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter


vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior
revisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
(LINDB)

Sobre o mesmo tema o Decreto regulamentou:

Consulta pública para edição de atos normativos

Art. 18. A edição de atos normativos por autoridade administrativa poderá ser
precedida de consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente
por meio eletrônico.

§ 1º A decisão pela convocação de consulta pública será motivada na forma do


disposto no art. 3º.

§ 2º A convocação de consulta pública conterá a minuta do ato normativo,


disponibilizará a motivação do ato e fixará o prazo e as demais condições.

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§ 3º A autoridade decisora não será obrigada a comentar ou considerar
individualmente as manifestações apresentadas e poderá agrupar manifestações por
conexão e eliminar aquelas repetitivas ou de conteúdo não conexo ou irrelevante para
a matéria em apreciação.

§ 4º As propostas de consulta pública que envolverem atos normativos sujeitos a


despacho presidencial serão formuladas nos termos do disposto no Decreto nº 9.191,
de 1º de novembro de 2017.

Segurança jurídica na aplicação das normas

Art. 19. As autoridades públicas atuarão com vistas a aumentar a segurança jurídica
na aplicação das normas, inclusive por meio de normas complementares, orientações
normativas, súmulas, enunciados e respostas a consultas.

Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput terão caráter vinculante em


relação ao órgão ou à entidade da administração pública a que se destinarem, até
ulterior revisão.

Parecer do Advogado-Geral da União e de consultorias jurídicas e súmulas da


Advocacia-Geral da União

Art. 20. O parecer do Advogado-Geral da União de que tratam os art. 40 e art. 41 da


Lei Complementar nº 73, 10 de fevereiro de 1993, aprovado pelo Presidente da
República e publicado no Diário Oficial da União juntamente com o despacho
presidencial, vincula os órgãos e as entidades da administração pública federal, que
ficam obrigados a lhe dar fiel cumprimento.

§ 1º O parecer do Advogado-Geral da União aprovado pelo Presidente da República,


mas não publicado, obriga apenas as repartições interessadas, a partir do momento
em que dele tenham ciência.

§ 2º Os pareceres de que tratam o caput e o § 1º têm prevalência sobre outros


mecanismos de uniformização de entendimento.

Art. 21. Os pareceres das consultorias jurídicas e dos órgãos de assessoramento


jurídico, de que trata o art. 42 da Lei Complementar nº 73, de 1993, aprovados pelo
respectivo Ministro de Estado, vinculam o órgão e as respectivas entidades
vinculadas.

Orientações normativas

Art. 22. A autoridade que representa órgão central de sistema poderá editar
orientações normativas ou enunciados que vincularão os órgãos setoriais e seccionais.

§ 1º As controvérsias jurídicas sobre a interpretação de norma, instrução ou orientação


de órgão central de sistema poderão ser submetidas à Advocacia-Geral da União.

§ 2º A submissão à Advocacia-Geral da União de que trata o § 1º será instruída com a


posição do órgão jurídico do órgão central de sistema, do órgão jurídico que divergiu e
dos outros órgãos que se pronunciaram sobre o caso.

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Enunciados

Art. 23. A autoridade máxima de órgão ou da entidade da administração pública


poderá editar enunciados que vinculem o próprio órgão ou a entidade e os seus
órgãos subordinados.

Transparência

Art. 24. Compete aos órgãos e às entidades da administração pública manter


atualizados, em seus sítios eletrônicos, as normas complementares, as orientações
normativas, as súmulas e os enunciados a que se referem os art. 19 ao art. 23.

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