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Oásis
#


Ed

ETNA, A MORADA
DOS DEUSES
“Vulcão-menino” vira
patrimônio da humanidade

OS CÉUS
INCRÍVEIS
De Alan Dyer

PODEMOS FALAR
A LÍNGUA DOS
GOLFINHOS?
É certo: eles
conversam entre si

Como lucrar com os


nossos desejos

NEUROMARKETING
“Os neuromarqueteiros conseguem
entrar na mente das pessoas e descobrir
por desejos antes mesmo que elas tenham
consciência da sua existência”

Luis
Pellegrini
Editor

V
ocê acredita que é perfeitamente capaz de escolher
o que consome? E que ninguém no mundo pode te
empurrar algo que não queira? Cuidado! A arte de
convencer a comprar é, na verdade, uma ciência chamada
neuromarketing. Ela se baseia na psicologia e em equipamen-
tos empregados pela medicina.
Essa nova disciplina emprega técnicas e tecnologias da medici-
na, da psicologia e do marketing para estudar o comportamen-
to do consumidor. Descobre-se assim, com rigor científico, o
que leva as pessoas a consumir. Primeira constatação: acreditar
que escolhemos o que consumimos é pura ilusão.
Entre muitas outras tecnologias, os pesquisadores do neuro-
marketing utilizam a das imagens por ressonância magnética
funcional (IRMf) para medir a quantidade de sangue oxigena-
do no cérebro visando identificar com precisão as variações
das suas atividades. Essas variações depois são traduzidas em
termos de desejos, gratificações sensoriais, reação a estímulos

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oásis .
Editorial
de toda ordem, etc. Para que? Simplesmente para descobrir
quais os modos mais eficazes de acionar o botão de compras
por
que todos nós temos no cérebro. Quando acionado, esse

Luis
Pellegrini
impulso faz algumas pessoas consumirem mais, outras menos.
Até há pouco tempo, o que motivava esse comportamento era
uma verdadeira incógnita. Agora não é mais, já que a arte de
Editor convencer o indivíduo a comprar tornou-se uma ciência. Os
neuromarqueteiros conseguem entrar na mente das pessoas e
descobrir desejos antes mesmo que elas tenham consciência
da sua existência.

Um exemplo? Entre as “armas” que os neuromarqueteiros


usam para nos forçar a consumir está o branding sensorial: os
nossos sentidos são seduzidos por aromas e percepções que
nos estimulam a comprar. Você sabe o que é RTX9338PJS?
Código esquisito, não é? Mais estranho ainda é o produto: um
spray que contém aroma de cheeseburger com bacon. Quan-
do é pulverizado nos dutos de ventilação de uma hamburgue-
ria todo mundo lá dentro fica estimulado pelo aroma e acaba
consumindo o dobro da comida e da bebida que teria consu-
mido sem esse estímulo artificial.

O neuromarketing é o tema da nossa matéria de capa, muito


bem explicado pela jornalista Fabíola Musarra.

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oásis .
Editorial
comportamento
Como lucrar com
os nossos desejos
oásis .
comportamento
NEUROMARKETING
Uma nova disciplina emprega
técnicas e tecnologias da medicina,
da psicologia e do marketing para
estudar o comportamento do comprar tornou-se uma ciência. O neu-
consumidor. Descobre-se assim, romarketing, como é chamada a nova
disciplina, baseia-se em pesquisas sobre
com rigor científico, o que leva o comportamento do consumidor, mas
as pessoas a consumir. Primeira emprega técnicas e tecnologia da me-
dicina e do marketing para avaliar com
constatação: acreditar que

V
rigor científico o que leva as pessoas a
escolhemos o que consumimos é consumir. Auxiliados pela ressonância
magnética e pela tomografia computa-
pura ilusão dorizada, os neuromarqueteiros con-
Por: Fabíola Musarra
seguem entrar na mente das pessoas e
descobrir desejos antes mesmo que elas
tenham consciência da sua existência.

Parece complicado... E é. Na prática,


ocê acredita que é perfeitamente porém, não é difícil entender como fun-
capaz de escolher o que conso- ciona o neuromarketinkg. Nem tampou-
me? E que ninguém no mundo co perceber aonde ele pretende chegar.
pode te empurrar algo que não Basta refletir sobre as “armas” que são
queira? Cuidado! A arte de con- usadas para nos forçar a consumir. En-
vencer a comprar é, na verdade, tre elas, o branding sensorial: os nos-
uma ciência chamada neuroma- sos sentidos são seduzidos por aromas
rketing. Ela se baseia na psico- e percepções que nos estimulam a com-
logia e em equipamentos empre- prar. Por exemplo, você sabe o que é
gados pela medicina. RTX9338PJS? Código esquisito, não é?
Todo mundo tem um botão de compras Mais estranho ainda é o produto: um
no cérebro. Quando acionado, esse impul- spray que contém aroma de cheesebur-
so faz algumas pessoas consumirem mais, ger de bacon. Quando é pulverizado nos
outras menos. Até há pouco tempo, o que dutos de ventilação de uma lanchonete,
motivava esse comportamento era uma o seu proprietário vende uma quantida-
verdadeira incógnita. Agora não é mais, de muito maior de sanduíches.
já que a arte de convencer o indivíduo a

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comportamento 5/38
Enquanto nós, reles mortais, estamos intoxicados
com o que acreditamos ser o cheiro de um saboroso
hambúrguer, involuntariamente estamos nos ren-
dendo à última fronteira do marketing: o branding
sensorial, um conjunto de estratégias empregadas
pelos experts da publicidade para “seduzir” os nos-
sos sentidos. Em lanchonetes, shopping centers,
supermercados e em muitos outros lugares.

A embalagem de um café instantâneo exala um sa-


boroso aroma do produto quando aberta. A ideia foi
concebida pelos engenheiros de alimentos da em-
presa, com o intuito de aumentar as vendas.

Aliás, exemplos de como somos fisgados mesmo


sem saber não faltam. Em 2007, o psicólogo Eric
Spangenberg, da Universidade de Washington
(EUA), descobriu que o cheiro de baunilha difuso
em uma loja de roupas femininas foi o responsável
pelo dobro das vendas de saias, blusas e vestidos
(as norte-americanas são malucas por essa fragrân-
cia). Posteriormente, ele repetiu a mesma experi-
ência, desta vez usando um odor considerado mas-
culino, com aroma amadeirado, o que duplicou a
venda de roupas masculinas.

Por sua vez, os engenheiros de alimentos do fabri-


cante de um conceituado café instantâneo traba-
lharam pesado para criar uma embalagem capaz de
liberar um delicioso aroma quando a tampa do pro-
duto fosse aberta. Fácil? Teoricamente, sim. Afinal,
esse café instantâneo tem um cheiro divino, como
poucos de seus concorrentes têm. O único detalhe é

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que nós, os consumidores, jamais deveríamos saber
disso.

Não é à toa também que as padarias de diversos


hipermercados estão localizadas perto da porta
de entrada: o aroma exalado pelo pão quentinho e
recém-saído do forno estimula o apetite e também
nos ajuda a pensar como os produtos ali comerciali-
zados são fresquinhos.

A origem de tudo

O neuromarketing surgiu no final da década de


1990, a partir de estudos acadêmicos feitos por um
grupo de pesquisadores nos Estados Unidos. Um
deles, Gerald Zaltman, médico e pesquisador da
Universidade Harvard, teve a ideia de empregar
aparelhos de ressonância magnética para fins de
marketing, e não estudos médicos. O termo neuro-
marketing, no entanto, apenas seria conhecido em
2002, cunhado por Ale Smidts, um professor de
marketing na Erasmus University, em Roterdã, na
Holanda. A partir daí é que a nova disciplina, que
estuda as variáveis capazes de influenciar o proces-
so de decisão da compra com o emprego de ferra-
mentas da psicologia e da medicina, passou a ser
utilizada.
Embora o neuromarketing ainda esteja em seus pri-
meiros passos, várias corporações estão desenvol-
vendo pesquisas nessa área. É o caso das empresas
Nielsen, General Motors, Ford, Daimler, GE, Coca-
-Cola, McDonald’s, K-Mart, Kodak, Levi-Strauss e
Delta Airlines.

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Nada é por acaso

Em 2001, uma ação de branding sensorial usada


pela Bauducco foi bastante comentada pelas pesso-
as e talvez você até se lembre (ou tenha participa-
do) dela: no Natal daquele ano, a empresa espalhou
o aroma de panetone em 32 salas de cinema de São
Paulo, enquanto imagens do produto eram exibidas
na tela, antes de o filme começar. Nem é preciso
contar como foram as suas vendas de panetones na-
quele ano.

Os aromas são armas tão poderosas que, quando os


hipermercados começaram a surgir, a preocupação
inicial dos empresários era diminuir o incômodo
cheiro de peixe. Para solucionar a situação, começa-
ram a colocar aromas, como os de cravo e baunilha,
que deixavam as pessoas com fome durante as com-
pras.

Embora a disposição dos produtos no supermerca-


do pareça aleatória, não se iluda: não é. Muito pelo
contrário, ela respeita critérios bem específicos.
Você já reparou que na entrada e no espaço onde
se dão os primeiros dez passos em seu interior não
existem produtos. Sabe por quê? Porque nesse mo-
mento você não vai comprá-los. Por isso, esses lo-
cais são utilizados apenas para adaptar a sua visão
ao novo ambiente.

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Já os produtos frescos (o pão, os legumes e as fru-
tas) são colocados logo após a entrada, para dar
uma sensação de frescor. Produtos de consumo di-
ário, como o sal e o açúcar, são dispostos em locais
distantes uns dos outros para forçar os clientes a
olhar e a percorrer todo o interior da loja. Doces,
balas e gomas estão sempre perto dos caixas, para
encorajar as crianças a pedir aos pais. E eles aca-
bam comprando as guloseimas porque estão estres-
sados com a fila e sem disposição alguma para bri-
gar com os filhos.

Mexer com o pudor e o senso de decência

Cenas eróticas são usadas em anúncios para chocar


as pessoas e mexer com o seu pudor e senso de de-
cência. Nesse caso, não é o sexo em si que é usado
para atrair a atenção, mas a provocação e a reper-
cussão que ele causa.

Cientificamente, o olfato parece ser o sentido mais


fortemente manipulável. Afinal, os odores se fixam
no cérebro humano de forma bem duradoura. Eles
são armazenados no nível do sistema límbico, sob
a forma de emoções ligadas ao contexto em que nos
marcaram. Se sentirmos novamente esses odores,
reviveremos tudo aquilo que havíamos vivenciado
anteriormente.

O cheiro é uma eficiente arma usada pela publicida-


de, mas ele não é a única maneira de sermos alve-
jados. Você notou que a casca dos ovos vem se tor-
nando amarronzadas ao longo dos anos? Pelo

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menos já percebeu que esses ovos estão sempre em
locais mais privilegiados nas prateleiras, dispostos
em lugares mais visíveis do que os de cascas bran-
cas. Já tentou imaginar o motivo disso?

Em primeiro lugar, a mudança na casca dos ovos


não ocorre por conta de uma mutação genética das
galinhas. Trata-se, sim, de uma solução encontrada
por um especialista em marketing. De acordo com
os estudos dele, o marrom parece nos lembrar pai-
sagens bucólicas, e vende mais. Para obter ovos com
cascas dessa cor, os agricultores já sabem que basta
dar vitaminas para as galinhas. Mas e você? O que
deseja colocar em sua panela? E no seu organismo?

Além dos cheiros e das cores, também a sensuali-


dade tem um poder de persuasão semelhante. Es-
pecialmente quando é feita para provocar. Bom
exemplo disso é a publicidade de Calvin Klein. Seus
anúncios “eróticos” são elaborados para chocar as
pessoas e mexer com o seu pudor e senso de decên-
cia. Nesse caso, não é o sexo em si que é usado para
atrair a atenção, mas a provocação e a repercussão
que ele causa nas pessoas: no final, todo mundo
acaba comentando o assunto.

Mas esses truques não são os únicos usados pelos


neuromarqueteiros. Dois pesquisadores da Univer-
sidade de Leicester (Inglaterra) constataram que
as vendas de vinhos de um hipermercado variavam
de acordo com a música. Nos dias em que eram to-
cadas músicas facilmente reconhecidas como fran-
cesas, os vinhos da França vendiam mais. Em con-

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comportamento
trapartida, o mesmo acontecia com as músicas e os
vinhos italianos, portugueses, alemães...

Como funciona o “imageamento”

Auxiliados por equipamentos de ressonância mag-


nética, os neurocientistas conseguem registrar ins-
tantaneamente as atividades cerebrais e a formação
de sinapses e reações, monitorando as emoções que
sentimos durante as compras. Enquanto somos ex-
postos a mensagens relacionadas com experiências
de consumo, essas sofisticadas técnicas de imagea-
mento identificam na tela do computador, por meio
de gráficos coloridos e em terceira dimensão, as
zonas do cérebro estimuladas e o funcionamento de
cada pedaço de nossa mente.

Já com a tomografia de ressonância magnética fun-


cional, os cientistas produzem imagens coloridas
da troca de substâncias no cérebro e registram ins-
tantâneos da localização e intensidade da atividade
cerebral. Sinais de radiofrequência fornecem a ima-
gem das alterações no fluxo sanguíneo e na oxige-
nação em determinadas áreas cerebrais. O processo
também mostra como a intensidade cerebral se al-
tera diante de anúncios publicitários.

É assim, por meio da atividade elétrica cerebral,


que os neurocientistas esperam explicar o que move
a decisão das compras e obter dados e informações
relevantes sobre os processos e as variáveis mentais
que possam explicar melhor as expectativas, prefe-
rências, motivações e comportamentos relacionados

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com o consumo, ajustando as estratégias de marke-
ting das empresas.

Entretanto, os neuropsicólogos asseguram que não


existe um botão para o consumo porque a tomada
de decisões envolve diversas regiões do cérebro que
atuam de forma sequencial num curto espaço de
tempo. Por isso, segundo eles, a atividade prática
do neuromarketing até agora se limita à fotografia
do cérebro no instante exato da tomada de decisão.
O grande avanço científico é conseguir ver na prá-
tica como as funções cerebrais (emoção, memória e
raciocínio) são ativadas diante de um estímulo.

Ficção científica, lógica do consumo

Essas cenas parecem ser de uma ficção científica,


mas não é nada disso. Essas e outras “façanhas”
sensoriais são narradas no livro A Lógica do Consu-
mo. O autor, Martin Lindstrom, é um dos maiores
especialistas no mundo da sedução dos bens. Em
228 páginas, revela o que nos leva a comprar um
produto em detrimento de outro e quais as sutis es-
tratégias que são utilizadas para as grandes marcas
captarem mais.

Lindstrom conhece todas essas armas porque pes-


quisa o consumidor a fundo, em nome de grandes
marcas. São experiências reais, como ele conta em
seu livro, mesmo quando exigem o uso de métodos
científicos e equipamentos da medicina, como a to-
mografia computadorizada ou a ressonância magné-
tica, para saber o que acontece com nossos cérebros

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comportamento
quando estamos na presença de um produto nas
prateleiras dos supermercados ou quando assisti-
mos a um comercial na televisão.

No relato dessas experiências reais, fica claro que


o neuromarketing já faz parte da realidade. E veio
para ficar. Ao mapear como cada um dos nossos
neurônios reage ao estímulo de uma marca, ao sa-
bor de um refrigerante ou aos apelos de um ou-
tdoor na rua, a expectativa é de que, em breve, as
empresas consigam entender com um nível de de-
talhamento inédito quais são os fatores que desen-
cadeiam toda a corrente de desejos, necessidades e
anseios que levam uma pessoa a comprar um deter-
minado produto.

Essa possibilidade abre espaço para algumas po-


lêmicas e para muita reflexão. Se, de um lado, os
neuromarqueteiros usarem com consciência o co-
nhecimento adquirido sobre os desejos dos consu-
midores, as empresas poderão conhecer melhor as
suas necessidades e fabricar produtos que realmen-
te os satisfaçam. De outro, não há como não pensar
na questão ética: a nova ciência será usada para
manipular a mente do consumidor?

Ela é mesmo apenas um inofensivo método de estu-


dos dos hábitos de consumo ou não? Afinal, traba-
lha em cima de estímulos que não são conscientes,
uma ação eticamente condenável. Na realidade,
ninguém tem essas respostas. No entanto, dá para
antever que, como tudo que foi criado no mundo, o
neuromarketing poderá ser usado com boas ou más

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intenções, tornando o marketing mais honesto ou
não. É esperar para ver!

Para saber mais:

A Lógica do Consumo – Verdades e Mentiras Sobre


Por Que Compramos, Martin Lindstrom, Editora
Nova Fronteira, 207 págs., R$ 24,40.

oásis .
comportamento
UNESCO
ETNA,
A MORADA
DOS DEUSES
“Vulcão-menino” vira
patrimônio da humanidade
oásis .
UNESCO
O maior vulcão da Europa é
relativamente jovem e tem hoje
erupções quase constantes. A
Unesco acaba de inseri-lo na O Etna atende a todas as expectativas e
lista do patrimônio natural da não costuma decepcionar: ele tem ofere-
cido, na atualidade, entre 7 e 35 erupções
humanidade, definindo-o como um ao ano – quase 1,5 erupção ao mês.
dos vulcões mais emblemáticos e Assim, se você quiser ser espectador de
uma delas, basta ir à Sicília, instalar-se
ativos do mundo

C
numa das muitas cidadezinhas que exis-
tem ao redor da montanha – de preferên-
cia a encantadora Taormina, à beira do
Por: Equipe Oásis
mar – e esperar alguns dias. O Etna não
se fará de rogado e dará o seu show.

Uma história muito antiga

Na verdade, não se tratam de várias erup-


om “apenas” 550 mil anos, apro- ções, mas sim de uma única, que começou
ximadamente, o Etna é considera- a cerca 2700 anos e não parou até hoje.
do um vulcão jovem. Talvez essa Esse vulcão parece estar vivo.
seja a causa de ele ser tão irre- Apresenta até um curioso fenômeno que
quieto e nervoso. Montanha mais foi batizado de “respiração do Etna”, no
bela da Sicília, integrado à lista qual, após uma erupção, ele recomeça a
do patrimônio da humanidade da acumular lava e gases em seu interior, até
Unesco no dia 21 de junho 2013, chegar a um grau de pressão insuportável,
o Etna vive este ano um dos seus quando erupta novamente. Durante o pro-
ciclos eruptivos mais intensos. cesso desses “respiros” o solo na região
Espetaculares erupções no seu topo, com do Etna chega a subir e baixar dezenas de
jatos de lava incandescente que atingem centímetros.
centenas de metros de altura, proporcio-
nam shows noturnos que atraem multidões Como suas cercanias são habitadas pelo
de turistas que querem, pelo menos uma homem desde o início dos tempos históri-
vez na vida, ver um vulcão em plena ativi- cos, e talvez até mesmo antes, as ativida-
dade. des do Etna estão entre as mais bem

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documentadas de toda a vulcanologia. Sabe-se, por
exemplo, que a grande maioria das suas erupções
ocorre nas crateras localizadas no seu cume. Elas são
mais espetaculares, porem muito menos perigosas do
que aquelas que acontecem nos seus flancos. Estas
últimas derramam grandes quantidades de lava que
formam verdadeiros rios que, às vezes, atingem al-
deias e vilarejos situados nas imediações. Felizmente,
as erupções laterais acontecem na média de uma a
cada quatro anos. A lava da erupção lateral de 1669,
no entanto, chegou até a grande cidade de Catânia,
correndo pelas suas ruas até chegar ao mar. Até hoje
podem ser observados em Catânia vestígios bem evi-
dentes dos estragos que produziu.

Ele é simplesmente gigantesco

Além de ser o mais alto vulcão da Europa e um dos


mais altos do mundo, atingindo aproximadamente
3340 metros de altitude, o Etna é simplesmente gi-
gantesco. A extensão total da sua base é de 1190 qui-
lômetros quadrados, com uma circunferência de 140
quilômetros, superando em quase três vezes o tama-
nho do Vesúvio.

É um dos vulcões mais ativos do mundo, mas, nor


malmente, as erupções não oferecem grande risco à
população que vive nas localidades próximas. Os so-
los vulcânicos em redor propiciam bons campos para
a agricultura, com vinhedos e hortas espalhados nas
faldas da montanha e em toda planície de Catânia, a
sul.

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Lendas do mundo romano

O Etna era conhecido na Roma Antiga como ÆTNA,


um nome derivado provavelmente do grego antigo
“aitho” (queimar violentamente). As frequentes e por
vezes dramáticas erupções fizeram da montanha um
tema recorrente na mitologia clássica, traçando-se
paralelos entre o vulcão e vários deuses e gigantes das
lendas do mundo romano e grego.
Éolo, o rei dos ventos, teria confinado os ventos em
cavernas sob o Etna. O gigante Tifão foi preso sob o
vulcão, de acordo com o poeta Ésquilo e foi a causa de
suas erupções. Outro gigante, Encélado, revoltou-se
contra os deuses e foi morto e sepultado sob o Etna.

Diz-se também que Vulcano (Hefesto na mitologia


grega), o deus do fogo e da forja, tinha sua fundição
sob o Etna e atraiu o deus de fogo Adrano para fora
da montanha, enquanto os ciclopes mantinham uma
forja em que fabricavam raios para que Zeus os usasse
como armas. Supõe-se que o submundo grego, Tárta-
ro, encontrava-se abaixo do Etna.
Empédocles, um importante filósofo pré-socrático e
homem público do quinto século antes de Cristo, te-
ria encontrado a morte numa das crateras do vulcão
Etna.

No mundo católico, acredita-se que o Etna entrou em


erupção em respeito ao martírio de Santa Águeda no
ano 251, fazendo com que os muçulmanos posterior-
mente a invocassem contra ameaças do fogo e relâm-
pagos.

Video: Uma incrível erupção do vulcão Etna


oásis .
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OS CÉUS

ASTRO
INCRÍVEIS
DE ALAN DYER

oásis .
ASTRO
As cores radiantes das auroras
boreais, o prateado das nuvens
mesosféricas atravessadas pelos
raios do Sol: o fotógrafo canadense
Alan Dyer clica os fenômenos
astronômicos que enfeitam os céus
nas altas latitudes

E
Por: Equipe Oásis.
Fotos: Alan Dyer - amazingsky.net

scritor e produtos de programas


de ciência para o Telus Spark
Science Centre, em Calgary, Ca-
nadá, Alan Dyer é o mais conheci-
do fotógrafo de fenômenos astro-
nômicos do seu país. Astrônomo
amador, seus interesses incluem
a astrofotografia e a observação
do céu profundo.

Sempre que pode, Alan visita também o he-


misfério sul para fotografar os fenômenos
celestes que ocorrem nessas latitudes.

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ASTRO 2/6
1. Todas as cores do céu A luminosidade verde que se percebe no céu é provoca-
da por uma perene luminescência estratosférica devida
As cores desta foto chamam a atenção em primeiro lu- à liberação de energia dos átomos de oxigênio na parte
gar. Mas a aurora nela imortalizada não é a única coisa superior da atmosfera. À esquerda da casa, no horizon-
que atrai o nosso olhar. Nessa visão panorâmica reali- te, percebe-se o brilho amarelado da poluição atmosfé-
zada pelo fotógrafo e jornalista astronômico canadense rica urbana e, à esquerda, nota-se um hóspede especial:
Alan Dyer, realizada em Alberta, Canadá, no dia 5 de a nave de carga Einstein ATV, retratada na sua viagem
junho 2013, aparecem diversos fenômenos celestes que, em direção à Estação Espacial Internacional.
sozinhos, já valeriam um inteiro serviço fotográfico.

Comecemos com o arco da Via Láctea, que se estende


em toda a sua beleza à direita da imagem; na direção
norte, um pouco mais à esquerda do centro da foto, sur-
ge a luminosidade amarelada do crepúsculo perene que
se contempla na latitude do clique (51° Norte), nos dias
próximos ao solstício de verão. Logo acima, podem ser
observadas as camadas verde e violeta de uma aurora
boreal baixa.

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ASTRO 25/38
2 Nuvens de ouro e prata

Quatro noites depois, a 9 de junho, Alan capturou


com sua câmera um outro céu tira-fôlego produzido
pelo encontro entre uma aurora boreal e as luzes de
uma imensa nuvem mesosférica, na mesma área geo-
gráfica, ao sul da cidade de Alberta.

As nuvens mesosféricas, raramente observadas, cons-


tituem um fenômeno atmosférico algumas vezes
visível no final dos crepúsculos em regiões de alta
latitude. São mais frequentes nos meses de verão,
formando-se a cerca de 80 quilômetros de altitude, e
constituídas de minúsculos cristais de gelo suspensos
na atmosfera. Quando a luz solar as atravessa, podem
produzir extraordinárias luminosidades.

oásis .
saúde 26/38
3 No lugar certo, no momento adequado

“A principal dificuldade para se fotografar as auro-


ras boreais e as nuvens mesosféricas está no fato de
que é preciso estar no lugar certo e no momento cer-
to quando tais fenômenos ocorrem”, explica Dyer. “A
aurora é parcialmente previsível, mas será que você
estará num lugar adequado para fazer belas fotos?
Isso tem de acontecer longe das áreas urbanas e com
um fundo fotogênico. Sobretudo, com o céu limpo.
Nas últimas semanas perdi fenômenos celestes muito
interessantes por causa das más condições meteoro-
lógicas”.

Na foto, um outro mix perfeito entre nuvens mesosfé-


ricas e aurora boreal.

4 Quando você menos espera

Quando se trata de nuvens mesosféricas não existem


sistemas de previsão. Captar belas fotos dessas nu-
vens significa, muitas vezes, permanecer acordado e
atento a noite toda. Dorme-se pouco ou nada!”, diz
Dyer.

oásis .
ASTRO 27/38
5 Tentativas e erros

“Quando finalmente um belo fenômeno celeste se ma-


nifesta, é relativamente simples obter boas fotos deles
com uma câmera digital. Os tempos de exposição de-
pendem do brilho e claridade do fenômeno e do céu,
mas isso fica fácil de se conseguir depois de alguns
testes. A câmera irá captar intensidades sempre maio-
res, em termos de estrutura e cores, daquilo que o
olho humano consegue ver”.

Veja o vídeo das nuvens mesosféricas surgidas na noi-


te de 9 de junho: http://youtu.be/HyNZV28N_1k

6 Triângulo astronômico

Em outras ocasiões, o espetáculo tem de ser busca-


do muito além dos limites da nossa atmosfera. Nesta
foto, a conjunção de planetas que foi captada por Dyer
a 26 de maio 2013. Mercúrio, Vênus e Júpiter se en-
contram dentro de um estreito “triângulo” no céu.

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astro 28/38
7 Olha quem aparece!

Um outro evento muito frequente mas difícil de fo-


tografar: a passagem da Estação Espacial Internacio-
nal (ISS) sobre nossas cabeças. Nessa foto, feita com
objetiva “olho-de-peixe”) aparece a passagem da ISS
sobre o Canadá, a 5 de junho. No centro aparece a Via
Láctea e ao fundo as luzes de uma baixa aurora bore-
al.

8 Um novo encontro

Uma outra passagem da ISS, desta vez na noite de 9


de junho. O céu parece mais azul, enquanto a base em
órbita corre do oeste para o leste.

oásis .
ASTRO 29/38
PODEMOS FALAR A

animal
LÍNGUA DOS GOLFINHOS?
É certo: eles conversam entre si

oásis .
animal
A pesquisadora Denise Hersing

Há 28 anos, Denise Herzing


passa cinco meses a cada verão
vivendo com um grupo selvagem
de golfinhos-pintados-do-Atlântico,
seguindo três gerações de relações
familiares e seus comportamentos.
Está claro que eles se comunicam
entre si - mas isso é uma linguagem?
Os humanos podem usá-la
também? Ela compartilha um
experimento inédito e fascinante

D
para testar esta ideia
Vídeo: TED Ideas Worth Spreading
Tradução para o português: Francisco
Dubiela. Revisão: Rodrigo Beltrão
área marítima junto ao arquipélago das
Bahamas, como parte do Wild Dolphin
Project. Esse trabalho possibilitou a De-
nise entender melhor a estrutura social
do grupoo de cetáceos que observa, seu
enise Herzing passou três dé- comportamento, meios de comunicação
cadas pesquisando e se comu- e o seu habitat natural.
nicando com golfinhos selva-
gens em seu meio natural e Um dos aspectos mais notáveis de sua
respeitando as suas condições pesquisa são os equipamentos que in-
e exigências. No livro “Dolphin ventou para possibilitar aos humanos
Diaries” ele conta a sua extra- uma forma de comunicação com os gol-
ordinária experiência com es- finhos.
ses cetáceos.

Desde 1985 ela passa os verões numa

oásis .
animal 31/38
Tradução integral da palestra de Denise Hersing proferida no TED

oásis .
animal 32/38
Tradução integral da palestra de Denise Hersing proferida no TED

“Bem, agora estamos indo para as Bahamas encontrar um correlacionar som e comportamento. E a maior par-
grupo notável de golfinhos com quem trabalhei na nature- te de nosso trabalho é praticamente não invasivo.
za nos últimos 28 anos. Tentamos seguir a etiqueta dos golfinhos enquanto
Sou interessada por golfinhos por causa de seus grandes estamos na água, já que estamos realmente obser-
cérebros e pelo que podem estar fazendo com esse poder vando-os fisicamente na água. O golfinho-pintado-
cerebral na natureza. Sabemos que eles usam parte desse -do-atlântico é uma espécie muito boa para traba-
poder cerebral para viver vidas complicadas, mas o que lhar por algumas razões. Eles nascem sem pintas, e
realmente sabemos sobre a inteligência dos golfinhos? ganham as pintas com a idade, e passam por fases
Bem, sabemos algumas coisas. Sabemos que sua razão de desenvolvimento muito distintas, então é inte-
cérebro-corpo, que é uma medida física de inteligência, ressante rastrear seu comportamento. Ao chegar na
é superada apenas pelos humanos. Cognitivamente, eles idade de 15 anos, eles estão cheios de pintas brancas
podem entender línguas criadas artificialmente. E eles e pretas.
passam no teste de autopercepção nos espelhos. Em algu- A mãe que vocês veem aqui é a Mugsy. Ela tinha 35
mas partes do mundo, usam ferramentas, como esponjas anos nessa foto, mas os golfinhos podem viver até os
para caçar peixes. Mas resta ainda uma questão: Eles têm 50, na verdade. E como todos os golfinhos em nos-
linguagem, e se tiverem, o que eles estão falando? sa comunidade, fotografamos a Mugsy e rastreamos
Décadas atrás, não anos atrás, eu me dispus a buscar um suas pintinhas e as marcas de sua barbatana dorsal,
lugar no mundo onde pudesse observar golfinhos dentro e também seus padrões únicos de pintas enquanto
d’água para tentar decifrar o código de seu sistema de
comunicação. Em muitas partes do mundo a água é mui-
to turva, então é muito difícil observar animais dentro
d’água, mas encontrei uma comunidade de golfinhos que
vivem nesses lindos bancos de areia transparentes e ra-
sos das Bahamas que estão a leste de Flórida. Eles passam
o dia descansando e socializando com segurança nesses
bancos superficiais, mas à noite eles parte para a borda e
caçam no fundo do mar.
Agora, não é lugar ruim para ser um pesquisador, tam-
bém. Então saímos por cerca de cinco meses a cada verão
num catamarã de 20 metros, e vivemos, dormimos e tra-
balhamos no mar por semanas a cada vez. Minha princi-
pal ferramenta é uma câmera subaquática com um hidro-
fone que é um microfone subaquático, para que eu possa

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Tradução integral da palestra de Denise Hersing proferida no TED

ela crescia. E eles têm tato. E o som pode ser sentido na água,
Agora, golfinhos jovens aprendem muito enquanto enve- pois a impedância acústica do tecido e da água são
lhecem, e eles usam seus anos de adolescente para prati- as mesmas. Então os golfinhos podem se chamar e
car habilidades sociais. Aos nove anos e idade as fêmneas se cutucar à distância.
se tornam sexualmente maduras, então podem engravi- Agora, sabemos algumas coisas sobre como os sons
dar, e os machos amadurecem um pouco mais tarde, aos são usados com certos comportamentos. O assobio
15 anos de idade. Os golfinhos são muito promíscuos, e de assinatura é um assobio que é específico para um
nós temos de determinar quem são os pais, então fazemos golfinho individual, e é como um nome. (Sons de as-
testes de paternidade coletando material fecal da água e sobios de golfinhos) Este é o som mais bem estuda-
extraindo o DNA. Isso quer dizer que, depois de 28 anos, do, pois é fácil de medir, na verdade, e encontramos
estamos rastreando três gerações, incluindo avôs e avós. esse assobio quando as mães e seus bebês estão se
Agora, os golfinhos são especialistas em som. Eles produ- reunindo, por exemplo.
zem sons dez vezes mais altos escutam sons 10 vezes mais Outro som bem estudado são os cliques de eco-loca-
altos que nós. Mas eles têm outros sinais de comunicação ção. Este é o sonar do golfinho. (Sons de eco-locação
que usam. Eles têm boa visão, então eles usam posturas de golfinhos) Eles usam esses cliques para caçar e
corporais para se comunicar. Eles têm paladar, não olfato. se alimentar. Mas eles podem comprimir esses cli-
ques juntos em chamados e usá-los socialmente. Por
exemplo, os machos estimulam uma fêmea durante
uma perseguição de corte. Vocês sabem, eu fui cha-
mada na água. (Risos) Não contem para ninguém.
É um segredo. E vocês podem sentir o som. Esse foi
meu ponto sobre isso. (Risos)
Então os golfinhos são animais políticos, e eles pre-
cisam resolver conflitos. (Sons de golfinhos) E eles
usam esses sons de rajadas em pulsos assim como
seus comportamentos cabeça-a-cabeça quando bri-
gam. E esses são sons muito pouco estudados pois
são difíceis de medir.
Este é um vídeo de uma briga típica de golfinhos.
(Sons de golfinhos) Vocês vão ver dois grupos, e vo-
cês vão ver a postura cabeça-a-cabeça, algumas bo-
cas abertas, muitos grasnidos. Aparece uma bolha. E
basicamente, um desses grupos vai meio que recuar

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e tudo vai ficar bem, e isso não aumenta muito para vio-
lência.
Nas Bahamas nós também temos golfinhos-nariz-de-
-garrafa que interagem socialmente com os golfinhos-
-pintados. Por exemplo, eles cuidam dos bebês uns dos
outros. Os machos têm expressões de dominância que
usam quando estão perseguindo outras fêmeas. As duas
espécies formam alianças temporárias quando estão afas-
tando os tubarões. E um dos mecanismos que eles usam
para comunicar sua coordenação é a sincronia. Eles sin-
cronizam seus sons e suas posturas corporais para parecer
mais fortes e soar mais alto. (Sons de golfinhos) Agora,
estes são golfinhos-nariz-de-garrafa e vocês vão vê-los
começar a sincronizar seus comportamentos e seus sons.
(Sons de golfinhos)Vocês veem, eles se sincronizam com
seu parceiro assim como a outra dupla. Eu gostaria de ser
coordenada assim.
Agora, é importante lembrar que vocês estão escutando
apenas as partes humanamente audíveis dos sons dos gol-
finhos, e os golfinhos fazem sons ultra sônicos, e usamos
equipamentos especiais na água para coletar esses sons.
Agora, os pesquisadores mediram realmente a complexi-
dade dos assobios usando a teoria da informação, e esti-
ma-se que os assobios pulsos estão muito relacionados às
linguagens humanas. Sons de rajadas em pulsos são mis-
teriosos.
Vejam estes três espectrogramas. Dois são de palavras
humanas, e um é de uma vocalização de golfinho. Então
tente adivinhar na sua mente qual deles é o do golfinho.
Acontece que sons de rajadas em pulsos parecem um pou-
co com fonemas humanos.
Uma forma de decifrar o código é interpretar esses sinais
e descobrir o que eles significam, mas é um trabalho di

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fícil, e nós ainda não temos uma Pedra de Roseta. Uma posturas, e eles estavam nos convidando para as
segunda forma de decifrar o código é desenvolver alguma brincadeiras dos golfinhos. Agora, os golfinhos são
tecnologia, uma interface para fazer comunicação bimo- mamíferos sociais, então eles amam brincar, e um
dal, e é o que nós estamos tentando fazer nas Bahamas e dos seus jogos favoritos é levar algas marinhas, ou
em tempo real. Agora, os cientistas usam interfaces de te- sargaço nesse caso, por aí. E eles são muito adeptos.
clado para tentar ligar os pontos com outras espécies in- Eles gostam de trazer e jogar isso de membro para
cluindo os chimpanzés e os golfinhos. Este teclado aquá- membro. Neste vídeo, a adulta é a Caroh. Ela tem 25
tico em Orlando, Flórida, no Epcot Center, foi a interface anos, e esse é seu recém nascido, Cobalt, e ele está
bimodal mais sofisticada já criada, projetada para huma- aprendendo a brincar nesse jogo.(Sons de golfinhos)
nos e golfinhos trabalharem juntos embaixo d’água e tro- Ela está meio que provocando e caçoando dele. Ele
car informações. Então nós queríamos desenvolver uma realmente quer esse sargaço. Agora, quando os gol-
interface como essa nas Bahamas, mas num contexto mais finhos pedem para os humanos brincarem, eles
natural. E uma das razões pela qual pensamos que podí- frequentemente afundam verticalmente na água,
amos fazer isso é porque os golfinhos estavam começan- e trazem um pequeno sargaço na sua nadadeira, e
do a nos mostrar muita curiosidade mútua. Eles estavam eles meio que lançam e soltam às vezes no fundo e
imitando espontaneamente nossas vocalizações e nossas nos deixam pegá-lo, e então nós fazemos um jogo
de bobinho com o sargaço. Mas quando não mergu-
O golfinho-pintado-do-Atlântico lhamos para pegá-lo, eles o trazem para superfície e
eles meio que agitam isso na frente da gente com sua
cauda e o jogam para nós como fazem com seus be-
bês, e então nós pegamos e fazemos um jogo.
E começamos a pensar, bem, não seria legal se cons-
truíssemos uma tecnologia que permitisse que os
golfinhos pedissem essas coisas em tempo real, seus
brinquedos favoritos? A proposta original era ter um
teclado pendurado no barco acoplado a um compu-
tador, e os mergulhadores e golfinhos iriam ativar as
teclas do teclado e trocar alegremente ia nformação
e pedir brinquedos um ao outro. Mas rapidamen-
te descobrimos que os golfinhos simplesmente não
iriam acompanhar o barco usando um teclado. Eles
tinham coisas melhores para fazer na natureza. Eles
podiam fazer isso em cativeiro, mas na natureza...

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Então construímos um teclado portátil que podíamos car- quedo do lenço, e vou tentar levar o golfinho até o
regar até a água, e marcamos quatro objetos que eles gos- teclado para mostrar a ela o sinal visual e o sinal
tam de brincar, o lenço, a corda, o sargaço, e também uma acústico. Agora esse golfinho, vamos chamá-la de
boia, que é uma atividade divertida para um golfinho. “ladra do lenço”, pois ao longo dos anos ela fugiu
(Som) E este é o assobio do lenço, que está associado com com uma dúzia de lenços. Na verdade, a gente acha
um símbolo visual. E há assobios criados artificialmente. que ela tem uma butique em algum lugar nas Baha-
Eles estão fora do repertório normal dos golfinhos, mas mas. Então estou me aproximando. Ela pega o lenço
eles são facilmente imitados pelos golfinhos. E eu pas- pelo lado direito. E tentamos não tocar muito nos
sei quatro anos com meus colegas Adam Pack e Fabienne animais, não queremos habituá-los demais conosco.
Delfour,trabalhando no mar com esse teclado usando en- E estou tentando levá-la de volta ao teclado. Então o
tre a gente para pedir brinquedos enquanto os golfinhos mergulhado ali vai ativar o som do lenço para pedir
nos assistiam. E os golfinhos podiam entrar no jogo. Eles por ele. Então eu tento dar a ela o lenço. Opa. Quase
podiam apontar o objeto visual, ou podiam imitar o asso- o perdi. Mas este é o momento quando tudo se tor-
bio. na possível. O golfinho está no teclado. Temos sua
Este é um vídeo de uma sessão. O mergulhador tem um atenção total. E às vezes isso levou horas. E eu quis
brinquedo de corda, e estou no teclado à esquerda, e aca- compartilhar esse vídeo com vocês não para mostrar
bei de apertar a tecla da corda, e isso é o pedido dos hu- grandes descobertas, pois elas não aconteceram ain-
manos pela corda. Então eu recebi a corda, estou mergu- da, mas para mostrar a vocês o nível de intenção e
lhando, e estou basicamente tentando chamar a atenção foco que esses golfinhos têm, e seu interesse no sis-
dos golfinhos, pois eles são meio que crianças. Você preci- tema.
sa prender sua atenção. Eu vou jogar a corda, e ver se eles E por causa disso, decidimos que precisávamos de
se aproximam. Aí vem eles, e então eles pegam a corda e a alguma tecnologia mais sofisticada. Então juntamos
levam como um brinquedo. Agora, estou no teclado à es- forças com a Georgia Tech, com o grupo de compu-
querda, e na verdade esta é a primeira vez que tentamos tação portátil de Thad Starner para nos construir
isso. Eu vou tentar pedir pelo brinquedo, a corda, dos um computador portátil aquático que chamamos de
golfinhos usando o som da corda. Vamos ver se eles po- CHAT. [Cetacean Hearing and Telemetry: Teleme-
dem entender o que isso significa. (Som) Este é o assobio tria e Audição de Cetáceos] Agora, ao invés de car-
da corda. Aí vem os golfinhos, e eles jogam a corda. Oba! regar um teclado dentro d’água, o mergulhador está
Uau! vestindo o sistema completo, e é apenas acústico,
(Aplausos) então basicamente o mergulhador ativa o som num
Isso foi só uma vez. Não sabemos com certeza se eles re- teclado em seu antebraço, o som é emitido por um
almente entenderam a função dos assobios. Muito bem, fone aquático, se um golfinho imita o assobio ou um
aqui está o segundo brinquedo na água. Este é o brin- humano toca o assobio, o sons chegam e são locali

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zados pelos dois hidrofones. O computador pode localizar para o golfinho que pediu e eles vão nadar alegre-
quem pediu pelo brinquedo se houver correspondência de mente para o pôr-do-sol brincando com o sargaço
palavra. E o verdadeiro poder do sistema está nesse siste- para sempre.
ma de reconhecimento em tempo real, de forma que pode- Agora, até que ponto essa comunicação pode ir?
mos responder aos golfinhos rapidamente e com precisão. Bem, o CHAT é projetado especificamente para ca-
Estamos no estágio do protótipo, mas isso é como espe- pacitar os golfinhos a pedir coisas de nós. É proje-
ramos que funcione. O Mergulhador A e o Mergulhador B tado para ser bimodal. Agora, eles vão aprender a
vestem um computador portátil e o golfinho escuta o as- imitar os assobios funcionalmente? Esperamos e
sobio como um assobio, o mergulhador escuta o assobio pensamos que sim. Mas enquanto deciframos seus
como assobio na água, mas também como uma palavra sons naturais, estamos planejando em colocá-los no
pela condução óssea. Então o Mergulhador A toca o asso- sistema computadorizado. Por exemplo, agora mes-
bio do lenço ou o Mergulhador B toca o assobio do sarga- mo podemos colocar seus próprios assobios de assi-
ço para pedir um brinquedo para quem tiver. O que espe- natura no computador e pedir para interagir com um
ramos que aconteça é que o golfinho imite o assobio, e se golfinho específico. Da mesma forma, podemos criar
o Mergulhador A tiver o sargaço, se este for o som que foi nossos próprios assobios, nossos próprios assobios
tocado e pedido, então o mergulhador vai dar o sargaço de nomes, e fazer os golfinhos chamar por mergu-
lhadores específicos para interagir.
Agora, pode ser que toda nossa tecnologia portátil
seja a mesma tecnologia que nos auxilie a nos comu-
nicar com outras espécies no futuro. No caso de um
golfinho, vocês sabem, é uma espécie que provavel-
mente está próxima de nossa inteligência de muitas
formas, e pode ser que sejamos incapazes de admitir
isso agora, mas eles vivem num ambiente diferente,
e ainda precisamos ligar os pontos entre sistemas
sensoriais.
Quero dizer, imaginem como seria entender real-
mente a mente de outras espécies inteligentes no
planeta.
Obrigada.

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