CASO DO ASILO
(Colémbia v. Pert)
Tribunal Internacional de Justiga, 1950
1950 1.C.J. 266
[0 caso diz respeito a figura do asilo diplomatico na América
Latina, Em 1949, um dirigente politico peruano, Victor Raul
Haya de la Torre, obteve asilo na embaixada da Colémbia em
Lima, no Pert. O embaixador colombiano solicitou ao governo
do Pert que permitisse a saida de Haya de la Torre do pais, tendo
como fundamento a qualificagao deste pelo governo da Colémbia
como refugiado politico. O Peri recusou aceitar o direito da
Colémbia de definir unilateralmente o tipo de ofensa de Haya de
la Torre e a consequente caracterizagéo do mesmo. Apés corres-
pondéncia diplomatica, 0 caso foi submetido ao Tribunal Interna-
cional de Justiga.
Na sua petigéo, a Colémbia invocou o direito de qualificar
(ie. caracterizar) a natureza da ofensa por decisao unilateral vincu-
lativa para o Pert. Baseou a sua pretengdo em varios acordos
internacionais entre estados latino-americanos e, adicionalmente
no “Direito Internacional americano”. Quanto a este ultimo
ponto, o Tribunal afirmou:]
O Governo da Colémbia invocou, por fim, o “Direito Inter-
nacional americano em geral”. Para além de normas consagradas
=m acordos que ja foram analisados, baseou-se num eventual cos-
‘ame local ou regional especifico dos Estados Latino-Americanos.
A Parte que se baseia num costume deste tipo tem que mos-
‘rar que esse costume esta estabelecido de tal modo que se tornou
obrigatorio para a outra Parte. O governo da Colémbia tem que
provar que a norma por si invocada constitui um uso constante €
seniforme levado a cabo pelos Estados em questo, ¢ que este uso40 Fontes de Direito Internacional Puiblico
€ expressdo de um direito pertencente ao Estado que concede asilo
e de um dever do Estado territorial. Esta concluséo deriva do
Artigo 38.° do Estatuto do Tribunal, que refere o costume inter-
nacional “como prova de uma pratica generalizada aceite como
Direito”.
eee
O advogado do Governo da Colémbia baseou-se fundamen-
talmente na Convenc&o de Montevideu de 1933 em relag&o a esta
matéria. Afirmou que esta Convengao se limitou a codificar prin-
cipios ja anteriormente reconhecidos como costume na América-
Latina, e que era oponivel ao Pert como prova de Direito Con-
suetudindrio. O numero limitado de paises que ratificou esta
convencao revela a fraqueza deste argumento, sendo este sobre-
tudo invalidado pelo preambulo que afirma que a dita Conven-
cao modifica a Convengao de Havana.
Finalmente, 0 Governo da Colémbia invocou um grande
numero de casos particulares em que o asilo diplomatico foi efec-
tivamente concedido e respeitado. Mas nao mostrou que a alegada
norma de qualificag&o unilateral e definitiva tenha sido invocada
nem que — se é que em alguns casos a qualificagdo foi invocada —
esta tenha sido, salvo casos de normas convencionais, exercida
pelos Estados que concedem asilo como um direito a eles perten-
cente e respeitada pelos Estados territoriais como dever a que
esto sujeitos e ndo apenas como mera quest4o de conveniéncia
politica. Os factos levados ao conhecimento do Tribunal revelam
tal incerteza e contradigao, tamanha flutuagdo e discrepancia no
exercicio do asilo diplomatico e nos pontos de vista oficiais
expressos em variadas ocasiGes, tal inconsisténcia na rapida suces-
sdo de convengées sobre asilo, ratificadas por uns Estados e rejei-
tadas por outros, uma pratica de tal modo influenciada por consi-
deragdes de convivéncia politica no caso concreto, que n&o é
possivel discernir em tudo isto uso algum uniforme e constante
aceite, como Direito, referente 4 alegada norma de qualificagao
unilateral e definitiva de ofensa.
Assim sendo, o Tribunal n&o pode concluir que 6 Governo
da Colémbia tenha demonstrado a existéncia de tal costume. MasCaso do Asilo 41
mesmo que pudesse supor-se a existéncia de tal costume apenas
entre alguns Estados da América-Latina, tal nao poderia ser invo-
cado contra o Perti que, em vez de ter, pela sua atitude, a ele
aderido, o repudiou, nao tendo ratificado as Convengdes Monte-
videu de 1939, que foram as primeiras a incluir uma norma rela-
tiva a qualificac&o de ofensas em assuntos de asilo diplomatico.